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TÓPICO 02: DIREITOS DA MULHER: ALGUNS MARCOS DESSA LUTA SOCIAL Como uma "minoria" consegue reivindicar a palavra para protestar contra a inferiorização a que é submetida? Nem sempre esses processos históricos ficam registrados ao longo do tempo, pois a história é, de modo geral, escrita considerando as preocupações de grupos em posições de superioridade. Contudo, se olharmos para o passado – procurando com atenção e nos lugares certos – é possível identificar alguns exemplos esclarecedores sobre como se dá essa luta. Desde 1965, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu que era preciso regular por meio de Convenções Internacionais direitos de sujeitos tidos como "minorias", portanto mais vulneráveis socialmente, que deveriam ser protegidos pelos Estados. A elaboração e adoção de tratados relacionados aos direitos humanos consolidam os direitos sociais e políticos e econômicos: o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1965), o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), por entender que estes direitos estão na matriz do respeito à dignidade humana. É a partir de desdobramentos dos princípios reconhecidos nestes acordos que foi proclamada em 1979, a Convenção pela Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher – CEDAW. VERSÃO TEXTUAL DO FLASH O documento foi marco histórico na afirmação dos direitos da mulher, na medida em que contemplou direitos sociais, políticos, econômicos e culturais assegurados pelos instrumentos anteriores e avançou na garantia e proteção às mulheres. Contudo, a Convenção da Mulher é uma das que mais encontra resistência com relação ao seu endosso integral pelas nações, apesar de já ter sido ratificada por mais de 170 países. O não-endosso se dava, na maior parte, porque certas recomendações da Convenção contrariavam a legislação local de alguns países signatários. O Estado Brasileiro ratificou o documento em 1984. Entretanto, na ocasião, fez reservas aos artigos que tratam da "igualdade no casamento", ou seja, a igualdade entre homens e mulheres no âmbito familiar. Esta posição conservadora foi revista somente no ano de 1994. Os direitos das mulheres ganharam, progressivamente, o reconhecimento na esfera internacional e passam a ser fonte de inspiração para as legislações regionais e locais sobre o tema. No Brasil, a história da luta pela igualdade e direitos das mulheres surge com a primeira lei sobre educação que contemplava as mulheres. Em 1827, foi permitido que frequentassem as escolas elementares. As instituições de ensino avançado não eram franqueadas às mulheres; o acesso aos cursos superiores só foi conquistado em 1879. MODULO II - INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS AULA 02: EMBATES E CONQUISTAS NO CENÁRIO DA POLÍTICA: OS DIREITOS DA MULHER É importante destacar o legado de muitas mulheres brasileiras que em seu tempo já lutavam por direitos, reivindicando o acesso à educação e o direito ao voto, dentre outros. Vejamos: RITA LOBATO VELHO LOPES Fonte (HTTP://FAUUFPA.FILES.WORDPRESS.COM/2012/03/RITA_LOBATO.JPG) Rita Lobato Velho Lopes tornou-se a primeira mulher a receber o grau de médica, no Brasil, em 1887. MARIA AUGUSTA SARAIVA Fonte (HTTP://WWW.OABSP.ORG.BR/PORTALDAMEMORIA/VULTOS-DA-ADVOCACIA/MARIA-IMMACULADA XAVIER-DA-SILVEIRA/IMAGE_MINI) Em 1889, Maria Augusta Saraiva foi a primeira mulher a conquistar uma vaga na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, em São Paulo. NÍSIA FLORESTA Fonte (HTTP://WWW.ONORDESTE.COM/ADMINISTRADOR/PERSONALIDADES/IMAGEMPERSONALIDADE/7 37B588C4B77512EFC6F09AB943225B4809.JPG) A escritora do Rio Grande do Norte, Dionísia Gonçalves Pinto, mais conhecida como Nísia Floresta, foi uma figura marcante na história da luta pela emancipação das mulheres. Ela publicou no ano de 1832, em Recife, o livro "Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens". Nele, defende o direito da mulher à instrução e ao trabalho. O livro, inspirado no livro da feminista inglesa, Mary Wollstonecraft, "Vindications of the Rights of Woman" – Uma Defesa dos Direitos da Mulher - introduzia situações de preconceitos existentes no Brasil contra o sexo feminino, exigindo que as mulheres fossem consideradas como seres inteligentes e merecedoras de respeito pela sociedade (CARRARA et al, 2010). MARIA LACERDA DEMOURA Fonte (HTTP://1.BP.BLOGSPOT.COM/_2D1EDOCTK2W/TS_NYLU_CRI/AAAAAAAABTC/NWHWG3KIQ NU/S320/LACERDA_MARIA.JPG) A educadora mineira Maria Lacerda de Moura (1887-1945) foi uma dessas figuras de modo geral pouco conhecidas e relembradas pelos livros de história - personagens esquecidas, talvez, pelo fato de que os livros didáticos (e por vezes a própria pesquisa histórica) apresentem, de modo geral, um passado narrado por homens sob uma ótica masculina. Precursora do feminismo contemporâneo, Maria Lacerda denunciava a forma como a sexualidade das mulheres era controlada pelos homens através do casamento e da religião, criticando a obrigatoriedade da monogamia, sugerindo a possibilidade de se "amar" simultaneamente mais de uma pessoa, defendendo o direito feminino à liberdade sexual, ao livre pensamento e a participação na política. Escreveu inúmeros livros apresentando suas ideias e propostas, consideradas bastante controversas para a época – algumas talvez até para os dias de hoje. MULTIMÍDIA Para conhecer um pouco mais sobre a história desta mulher questionadora da realidade social a sua volta, assista o documentário Maria Lacerda Moura: trajetória de uma rebelde (http://vimeo.com/35898796) , produzido pela cientista social Miriam Moreira Leite, professora da Universidade de São Paulo (USP), ligada ao Laboratório de Imagem e Som em Antropologia. A grande batalha das mulheres brasileiras pela igualdade data da Constituição do Império, quando – no artigo 178, XII, XIII – assegurou-se que: A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, o recompensará em proporção dos merecimentos de cada um. Este artigo, ainda que não estabelecesse de forma clara o direito à igualdade, assegurou à mulher a conquista ao direito a admissão em cargos públicos, civis, militares, sem distinção. As Cartas seguintes mantiveram o princípio da igualdade em seus artigos, entretanto, de forma dissimulada as desigualdades de gênero prevaleciam na legislação. VOCÊ CONHECE A HISTÓRIA DAS LUTAS PELAS QUAIS AS MULHERES CONQUISTARAM A IGUALDADE DE DIREITOS CIVIS? Fonte (HTTP://ESSENCEFEMININE.BLOGSPO T.COM.BR/2010/09/MULHERES-NO- SECULO-XX.HTML) Leolinda Ribeiro funda em 1910 o Partido Republicano feminino e lidera uma passeata em 1917, no Rio de Janeiro, exigindo o voto feminino. Foi no Rio Grande do Norte, em 1927, que se deu o direito ao voto feminino. Na terra de Nísia Floresta, as mulheres saíam à frente e logo a novidade era exigida nos outros estados da Federação. A primeira eleitora do Brasil que garantiu o registro eleitoral foi Celina Guimarães , no Rio Grande do Norte. No ano seguinte, Alzira Soriano foi eleita a primeira prefeita do Brasil, em Lage, Rio Grande do Norte. O Manifesto Feminista, também chamado de Declaração dos Direitos da Mulher, assinado por Bertha Lutz (Rio de Janeiro) e outras mulheres da época exigiam o mesmo direito. Fonte (HTTP://2.BP.BLOGSPOT.COM/-LBM0TKSLYGU/T0F1_4- VAFI/AAAAAAAABW8/0IUDFY1MXK4/S1600/CELINA+GUIMAR%25C3% 25A3ES+VIANA.JPG) Fonte (HTTP://WWW.TRE-RN.JUS.BR/INSTITUCIONAL/CENTRO-DE-MEMORIA/OS-80-ANOS-DO-VOTO -DE-SAIAS-NO-BRASIL-TRE-RN) Berta Maria Júlia Lutz nasceu em São Paulo, em 1894. Em 1919, assumiu o cargo de Secretária do Museu Nacional do Rio de Janeiro, época em que o acesso ao funcionalismo público era vedado às mulheres. Em 1922, criou a Fundação Para o Progresso Feminino, dando início à luta pelo direito ao voto das mulheres brasileiras. Organizou o Primeiro Congresso Feminista do Brasil, enquanto delegada do Museu Nacionalao Congresso de Educação. Fonte (HTTP://QUADRODEMULHERES.BLOGSPOT.COM.BR/) Em 1932, Getúlio Vargas promulgou o Código Eleitoral que assegurou o direito ao voto feminino, lançando um novo horizonte na conquista dos direitos civis e políticos das mulheres. O direito ao voto, contudo, não trouxe uma mudança substancial na vida das mulheres, pois elas ainda viviam numa sociedade patriarcal e sua inserção na vida política dependia de muitas outras conquistas. Nas décadas posteriores, em todo o mundo, movimentos feministas problematizavam a violência de gênero. MULTIMÍDIA Em 2002, a TV Senado entrevistou a intelectual feminista Schuma Schumaher e a então Senadora Emília Fernandes sobre os 70 anos decorridos desde a conquista do voto pelas mulheres, no Brasil. O programa, com 37 minutos de duração, encontra-se disponível online na íntegra, em: 70 anos do voto das mulheres no Brasil - Entrevista com Schuma Schumaher e Emília Fernandes (http://vimeo.com/6150114) . LEITURA COMPLEMENTAR Para conhecer mais sobre o contexto político e cultural dos anos 1930, leia também o artigo da antropóloga e historiadora Rita de Cássia Barbosa de Araújo (2003), "O voto de saias: a Constituinte de 1934 e a participação das mulheres na política (Visite a aula online para realizar download deste arquivo.)". O texto analisa visões sobre a participação política entre mulheres da classe média e elite de três estados nordestinos, registradas em 1933 numa enquete do Diário de Pernambuco. Vale a pena conferir! No Brasil, por volta dos anos 1970, o feminismo expandia a reflexão sobre a cidadania das mulheres. A luta feminista fora impulsionada pelas ideias da filósofa e ensaísta Simone de Beauvoir. Desde 1949, com a publicação de seu livro O Segundo Sexo, a autora descartava a crença de que as mulheres seriam biologicamente inferiores aos homens. As ideias de Beauvoir sugeriam que homens e mulheres são produtos de uma realidade social, construída ao longo de processos históricos, em contextos culturais e sociedades distintas. A invenção e popularização da pílula anticoncepcional possibilitou, posteriormente, que as mulheres pudessem separar o exercício da sexualidade da reprodução. Para os homens, esta separação já fazia parte das convenções culturais vigentes: era perfeitamente possível manter sexo com uma ou mais mulheres, e caso estas engravidassem, negar a relação de filiação. VERSÃO TEXTUAL DO FLASH A descoberta da pílula possibilitou às mulheres o acesso a este tipo de experiência – o sexo 'não reprodutivo' – que até então era um privilégio exclusivo dos homens. Era possível retardar ou suspender indefinidamente a reprodução biológica, e deste modo se dedicar mais plenamente a atividades na esfera pública, investimento na carreira profissional, envolvimento e participação na política. O movimento feminista organizado participou ativamente do processo de redemocratização do país nos anos 1980, ampliando as discussões sobre cidadania e igualdade feminina. Nos anos 1990, a agenda no combate às discriminações se amplia e vai assegurar às mulheres direitos nas mais variadas dimensões da vida social. Tratados internacionais de combate à violência da mulher passam a ser debatidos em todo o mundo e logo após a II Conferência Nacional de Direitos Humanos em Viena, na Áustria, em 1993, entidades internacionais de direitos humanos convocam com o apoio das Nações Unidas, a I Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento do Cairo, em 1994 e a IV Conferência Mundial das Mulheres, de Pequim, em 1995. LEITURA COMPLEMENTAR Para aprofundar sobre as citadas convenções leia mais em: COMPARATO, F. K. A afirmação histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva Editora – 2007 ou acesse ONU BRASIL (http://www.onu.org.br/) . Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual
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