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A Moralidade Objetiva2

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A Moralidade Objetiva 
A moralidade objetiva é a ideia da liberdade enquanto vivente bem, que 
na consciência de si tem o seu saber e o seu querer e que, pela ação desta 
consciência, tem a sua realidade. Tal ação tem o seu fundamento em si e para 
si, e a sua motora finalidade na existência moral objetiva. É o conceito de 
liberdade que se tornou mundo real e adquiriu a natureza da consciência de si. 
O conteúdo objetivo da moralidade que se substitui ao bem abstrato é, 
através da subjetividade como forma infinita, a substância concreta. Em si 
mesma, portanto, estabelece tu diferenças que, assim, são pelo conceito ao 
mesmo tempo determinadas; por elas a realidade moral objetiva obtém um 
conteúdo fixo, necessário para si, e que está acima da opinião e da subjetiva boa 
vontade. É a firmeza que mantém as leis e instituições, que existe em si e para 
si. 
A Família 
Como substancialidade imediata do espírito, a família determina-se pela 
sensibilidade de que é una, pelo amor, de tal modo que a disposição de espírito 
correspondente é a consciência em si e para si e de nela existir como membro, 
não como pessoa para si. 
O direito que pertence ao indivíduo em virtude da unidade familiar e que 
é, primeiro, a sua vida nessa unidade só adquire a forma de um direito como 
momento abstrato da individualidade definida quando a família começa a se 
decompor e aqueles que devem ser os seus membros se tornam, psicológica e 
realmente, pessoas independentes. O que eles traziam à família e era apenas 
um momento constitutivo do todo, recebem-no agora no isolamento, quer dizer, 
só segundo aspectos exteriores (fortuna, alimentação, despesas de educação, 
etc.). 
A família realiza-se em três aspectos: 
 a) na forma do seu conceito imediato, como casamento; 
b) na existência exterior: propriedade, bens de família e cuidados 
correspondentes; 
c) na educação dos filhos e na dissolução da família. 
A - O Casamento 
Como fato moral imediato, o casamento contém, em primeiro lugar, o 
elemento da vida natural, e até como fato substancial contém a vida na sua 
totalidade, quer dizer, como realidade da espécie e da sua propagação (cf. 
Enciclopédia, §§ 167Q e 2882). Porém em segundo lugar, na consciência de si, 
a unidade dos sexos naturais, que só é interior a si ou existente em si e que, 
portanto, na sua existência apenas é unidade exterior, transforma-se numa 
unidade espiritual, num amor 'consciente. 
Nessa parte o autor aponta diversos pontos para que funcione um 
casamento, como deve se desenvolver. 
Pode acontecer que o ponto de partida subjetivo do casamento seja ou 
uma particular inclinação de duas pessoas ou a precaução e arranjo dos pais, 
etc., mas sempre o ponto de partida objetivo é o consentimento livre das pessoas 
e, mais precisamente, o consentimento em constituírem apenas uma pessoa, em 
abandonarem nesta unidade a sua personalidade natural e individual, o que, 
deste ponto de vista natural, é uma limitação, mas onde elas ganham a 
consciência de si substancial e por isso a sua libertação. 
A Educação dos Filhos e a Dissolução da Família 
A unidade do casamento, que, enquanto substancial, é interioridade e 
sentimento, mas que, enquanto existência, está separada em dois sujeitos, 
torna-se, nos filhos, uma existência também para si e, como unidade, um objeto. 
Os pais amam os filhos como o amor que se tem, como o seu ser 
substancial. Do ponto de vista natural, a existência imediata da pessoa dos pais 
aparece neles como um resultado, o encadeamento que se prolonga no 
progresso infinito das gerações que se reproduzem e supõem. É essa a maneira 
como a simplicidade espiritual dos Penates manifesta a sua existência, em forma 
das crianças e na sua vontade. 
Têm os filhos o direito de ser alimentados e educados pela fortuna coletiva 
da família. O direito dos pais ao serviço dos filhos funda-se no interesse coletivo 
para manter a família e a isso se limita. Do mesmo modo, o direito dos pais sobre 
o livre-arbítrio dos filhos é determinado pelo fim de os manter na disciplina e de 
os educar. O fim que os castigos têm em vista não pertence à justiça como tal, 
mas é de natureza subjetiva, faz parte da moralidade abstrata, é a intimidade de 
uma liberdade. 
Trânsito da Família à Sociedade Civil 
De um modo natural e, essencialmente, de acordo com o princípio da 
personalidade, divide-se a família numa multiplicidade de famílias que em geral 
se comportam como pessoas concretas independentes e têm, por conseguinte, 
uma relação extrínseca entre si. Noutros termos: os momentos, reunidos na 
unidade da família como ideia moral objetiva que ainda reside no seu conceito, 
por este conceito devem ser libertados a fim de adquirirem uma realidade 
independente. É o grau da diferença; de início expresso abstratamente, confere 
a determinação à particularidade que tem, no entanto, uma relação com o 
universal. Mas nesta relação o universal é apenas o fundamento interior e, por 
conseguinte, só de uma maneira formal, e limitando-se a aparecer, existe no 
particular. Assim, esta situação produzida pela reflexão apresenta primeiro a 
perda da moralidade objetiva ou, como esta enquanto essência é 
necessariamente aparência (enciclopédia, §§ 64s e 812), constitui a região 
fenomênica dessa moralidade: a sociedade civil. Nota - A extensão da família, 
como trânsito a um outro princípio, é, na existência, tanto o simples 
desenvolvimento num povo, numa nação, que por isso tem uma origem natural 
comum, como a reunião de coletividades familiares dispersas, seja pela força de 
um chefe, seja pelo consentimento livre, reunião que é requerida pelas 
exigências que comunizam ou pela recíproca ação em que elas são satisfeitas. 
SEGUNDA SEÇÃO 
Sociedade civil 
A pessoa concreta que é para si mesma um fim particular como conjunto 
de carências e como conjunção de necessidade natural e de vontade arbitrária 
constitui o primeiro princípio da sociedade civil. Mas a pessoa particular está, por 
essência, em relação com a análoga particularidade de outrem, de tal modo que 
cada uma se afirmar e satisfaz por meio da outra e é ao mesmo tempo obrigada 
a passar pela forma da universalidade, que é o outro princípio. 
183 - Na sua realização assim determinada pela universalidade, o fim 
egoísta é a base de um sistema de dependências recíprocas no qual a 
subsistência, o bem-estar e a existência jurídica do indivíduo estão ligadas à 
subsistência, ao bem-estar e à existência de todos, em todos assentam e só são 
reais e estão assegurados nessa ligação. Pode começar por chamar-se a tal 
sistema o Estado extrínseco, o Estado da carência e do intelecto. 
184 - Nesta divisão de si, a ideia atribui a cada um dos seus momentos 
uma existência própria: a particularidade tem o direito de se desenvolver e 
expandir em todos os sentidos e a universalidade tem o direito de se manifestar 
como fundamento e forma necessária da particularidade bem como potência que 
a domina e seu fim supremo. 
188 - Contém a sociedade civil os três momentos seguintes: 
A - A mediação da carência e a satisfação dos indivíduos pelo seu trabalho 
e pelo trabalho e satisfação de todos os outros: é o sistema das carências; 
 B - A realidade do elemento universal de liberdade implícito neste sistema 
é a defesa da propriedade pela justiça; 
C - A precaução contra o resíduo de contingência destes sistemas e a 
defesa dos interesses particulares como algo de administração e pela 
corporação. 
A - O Sistema das Carências 
189 - O particular, inicialmente oposto, como o que em geral é 
determinado à universalidade da vontade (§ 60s), é a carência subjetiva que 
alcança a objetividade, isto é, a sua satisfação: 
a) por meio de coisas exteriores que são também a propriedade e o 
produto das carências ou da vontade dos outros; 
b) pela atividade e pelo trabalho como mediação entre os dois termos. O 
fim da carência é a satisfação da particularidadesubjetiva, mas aí se afirma o 
individual na relação com a carência e a vontade livre dos outros; esta aparência 
de racionalidade neste domínio finito é o intelecto, objeto das presentes 
considerações e que é o fator de conciliação no interior desse domínio. 
É ela uma das ciências que nos tempos modernos surgiram como em seu 
terreno próprio. Demonstra o seu desenvolvimento (e aí reside o interesse dela) 
como o pensamento (cf. Smith, Say, Ricardo) descobre, na infinita multiplicidade 
de minúcias que se lhe apresentam, os princípios simples da matéria, o elemento 
conceituai que os impele e dirige. 
Se constitui um fator de conciliação descobrir no domínio das carências 
esse reflexo de racionalidade que pela natureza das coisas existe e atua, 
também é esse, inversamente, o domínio onde o intelecto subjetivo e as opiniões 
de moral abstrata desafogam a sua insatisfação e azedume moral. 
a) As Modalidades das Carências e das suas Satisfações 
190 - Tem o animal um círculo limitado de meios e modalidades para satisfazer 
as suas carências também limitadas, mas o homem, até no que tem dessa 
dependência animal, manifesta o poder de lhe escapar, e bem assim a sua 
universalidade, primeiro pela multiplicação das carências e dos meios, depois 
pela divisão e distinção das carências concretas em particularizadas, portanto 
mais abstratas. 
b) As Modalidades do Trabalho 
196 - A mediação que, para a carência particularizada, prepara e obtém 
um meio também particularizado é o trabalho. Através dos mais diferentes 
processos, especifica a matéria que a natureza imediatamente entrega para os 
diversos fins. Esta elaboração dá ao meio o seu valor e a sua utilidade; na sua 
consumação, o que o homem encontra são sobretudo produtos humanos, como 
o que utiliza são esforços humanos. 
c) A Riqueza 199 - Na dependência e na reciprocidade do trabalho e da 
satisfação das carências, a apetência subjetiva transforma-se numa contribuição 
para a satisfação das carências de todos os outros. Há uma tal mediação do 
particular pelo universal, um tal movimento dialético, que cada um, ao ganhar e 
produzir para sua fruição, ganha e produz também para fruição dos outros. 
B – Jurisdição 
 209 - A relação recíproca das carências e do trabalho que as satisfaz 
reflete-se sobre si mesma, primeiro e em geral, na personalidade infinita, no 
direito abstrato. É, porém, o próprio domínio do relativo, a cultura, que dá 
existência ao direito. O direito é, então, algo de conhecido e reconhecido, e 
querido universalmente, e adquire a sua validade e realidade objetiva pela 
mediação desse saber e desse querer. 
 Nota - Cumpre à cultura, ao pensamento como consciência do indivíduo 
na forma do universal, que eu seja concebido como uma pessoa universal, termo 
em que todos estão compreendidos como idênticos. Deste modo, o homem vale 
porque é homem, não porque seja judeu, católico, protestante, alemão ou 
italiano. Tal conscientização do valor do pensamento universal tem uma 
importância infinita, e só se torna um erro quando cristaliza na forma do 
cosmopolitismo para se opor à vida concreta do Estado. 
a) O Direito como Lei 
211-0 que o direito é em si afirma-se na sua existência objetiva, quer dizer, 
define-se para a consciência pelo pensamento. É conhecido como o que, com 
justiça, é e vale; é a lei. Tal direito é, segundo esta determinação, o direito 
positivo em geral. 
Nota - Afirmar algo como universal, ou ter consciência de algo como 
universal, é, bem se sabe já, o pensamento (cf. notas 13 e 21). Dando a um 
conteúdo a sua forma mais simples, o pensamento dá-lhe sua última 
determinação. O que é direito deve vir a ser lei para adquirir não só a forma da 
sua universalidade, mas também a sua verdadeira determinação. Deste modo, 
a ideia de legislação não significa apenas que algo se exprime como regra de 
conduta válida para todos; a sua íntima essência é, antes disso, o 
reconhecimento do conteúdo em sua definida universalidade. 
b) A Existência da Lei 
215 - Do ponto de vista do direito da consciência de si (§ 132s), a 
obrigação para com a lei implica a necessidade de que a lei seja universalmente 
conhecida. 
Nota - Pendurar as leis tão alto, como fez Denis, o Tirano, que nenhum 
cidadão as pode ler, ou enterrá-las debaixo de um imponente aparato de sábios 
livros, de coleções de jurisprudência, opiniões de juristas e costumes, ainda por 
cima em língua estrangeira, de tal modo que o conhecimento do direito em vigor 
só seja acessível àqueles que especialmente se instruam, tudo isso constitui 
uma única e mesma injustiça. Os governantes que, como Justiniano, deram ao 
seu povo uma coleção, mesmo informe, de leis ou, melhor ainda, um direito 
nacional num código definido e ordenado, não só foram grandes benfeitores, 
como tal venerados, mas também efetuaram um grande ato de justiça. 
216 - Pode-se, por um lado, esperar de um código público regras gerais 
simples, mas, por outro lado, a natureza da matéria finita conduz a 
determinações sem fim. Por um lado, o volume das leis deve constituir um todo 
fechado e acabado; por outro lado, há uma contínua exigência de novas regras 
jurídicas. Ora, esta antinomia desaparece com a especificação dos princípios 
universais que permanecem imutáveis, e o direito deve, portanto, estar 
inteiramente contido num código perfeito, quando os princípios simples 
universais para si estiverem concebidos e forem apresentados 
independentemente da sua aplicação. 
c) O Tribunal 
219 - Uma vez introduzido na existência com a forma de lei, o direito existe 
para si e opõe-se à vontade particular, à opinião subjetiva sobre o direito como 
sendo algo de autônomo. Deverá fazer-se valer como universal o ato de 
reconhecer e realizar o direito no caso particular; fora da impressão subjetiva dos 
interesses particulares, pertence a um poder público, ao tribunal. 
Nota - A aparição histórica da função de juiz assumiu as formas ou de 
uma instituição particular, ou de um ato de força, ou de uma escolha voluntária, 
o que é indiferente à natureza da coisa. Quando se considera que a introdução 
da jurisdição pelos príncipes e pelos governos é resultado de arbitrária 
benevolência ou um ato gracioso (como faz Von Haller na sua restauração da 
ciência do Estado), dá-se provas de incapacidade para pensar. O que na lei e no 
Estado está em questão é que as instituições, como racionais, sejam 
absolutamente necessárias; por conseguinte, nada interessa a quem considere 
o seu fundamento racional a forma como surgiram. 
C -Administração e Corporação 
230 - No sistema das carências, a subsistência e o bem de cada particular 
constitui uma possibilidade cuja atualização depende do livre-arbítrio e da 
natureza própria de cada um, bem como do sistema objetivo das carências. Pela 
jurisdição, a violação da propriedade e da pessoa é castigada, mas o direito real 
da particularidade implica também que sejam suprimidas as contingências que 
ameacem um ou outro daqueles fins, que seja garantida a segurança sem 
perturbações da pessoa e da propriedade, numa palavra, que o bem-estar 
particular seja tratado como um direito e realizado como tal. 
a) A Administração 
 231 - De início e na medida em que a vontade particular ainda continua 
a ser o princípio de que depende a realização de um e outro fins, o poder 
universal assegura uma ordem simplesmente exterior, que se limita aos círculos 
da contingência. 
232 - Fora dos crimes que o poder público universal deve impedir ou 
submeter a um tratamento judiciário, fora, pois, da contingência como volição do 
maldoso, o livre-arbítrio autoriza ações jurídicas e um uso da propriedade privada 
que implicam relações exteriores com outros indivíduos ou com instituições 
públicas de finalidades coletivas. Por este aspecto universal, minhas ações 
privadas tornam-se algo de contingente que escapa ao meu poder e é suscetível 
de ocasionar ou ocasionadanos ou prejuízos a outrem. 
b) A Corporação 
250 - Tem a classe agrícola em si mesma e imediatamente o seu universal 
concreto, na substancialidade da vida familiar e natural. A classe universal possui 
no seu destino o universal para si, como objeto, meio e fim da sua atividade. 
Medianeira entre as duas, a classe industrial está essencialmente orientada para 
o particular e por isso a corporação lhe é própria. 
251 - A natureza (de acordo com a sua particularidade) do trabalho na 
sociedade civil divide-se em vários ramos. O que há em si de uniforme nesta 
particularidade alcança a existência na confraria, como algo de comum, e então 
o fim, no particular interessado e para o particular orientado, é concebido 
também como universal. O membro da sociedade civil torna-se, segundo as suas 
particulares aptidões, membro da corporação cujo fim universal é, desde logo, 
concreto e não sai dos limites que são próprios aos negócios e interesses 
privados da indústria.

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