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0 UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL CAROLINA FLORES REGINATTO O REAJUSTE DOS SALÁRIOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS NO PERÍODO DE CONVERSÃO DA URV – LEGISLAÇÃO ADOTADA Ijuí (RS) 2017 1 CAROLINA FLORES REGINATTO O REAJUSTE DOS SALÁRIOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS NO PERÍODO DE CONVERSÃO DA URV – LEGISLAÇÃO ADOTADA Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Economia, do Departamento de Ciências da Administração, Contábeis e Econômicas e da Comunicação Social (Dacec), da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Economia. Orientadora: Ms. Marlene Köhler Dal Ri Ijuí (RS) 2017 2 A Banca Examinadora abaixo-assinada aprova a Monografia: O REAJUSTE DOS SALÁRIOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS NO PERÍODO DE CONVERSÃO DA URV – LEGISLAÇÃO ADOTADA elaborada por CAROLINA FLORES REGINATTO como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Economia. Apresentada em: _____ / _____ / _____. BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Ms. Marlene Köhler Dal Ri Orientadora _______________________________________ Prof. Examinador Titular 3 AGRADECIMENTOS À minha família, pelo apoio incondicional. À minha orientadora, mestre Marlene Dal Ri, pela orientação segura na elaboração deste estudo. Aos professores do curso de Economia da Unijuí, pelos valiosos ensinamentos. Aos colegas com quem compartilhei novos conhecimentos e experiências. 4 RESUMO O presente estudo constitui-se numa pesquisa bibliográfica e de estudo de caso, cujo objetivo é analisar, teórica e empiricamente, uma perícia de análise econômico- financeira de reajuste dos salários dos servidores públicos no período de conversão da URV em Real, segundo a Lei Federal n 8.880/1994. O Brasil enfrentou uma grave inflação entre os anos de 1985 e 1993, cujos níveis chegaram a 1.783% ao ano, castigando trabalhadores, cujos salários perdiam diariamente o seu poder aquisitivo. Depois de várias tentativas frustradas de conter a inflação, foi no governo do presidente Itamar Franco que o seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, criou o Plano Real, com a proposta de conter a crise financeira e a alta descontrolada dos preços. O Plano consistiu, inicialmente, da criação da Unidade Real de Valor (URV) e, posteriormente, da nova moeda brasileira: o Real. A queda da inflação e a estabilização da moeda garantiram o sucesso do Plano Real, entretanto, ele foi palco de muitas discussões referentes à correta conversão de salários de servidores públicos. A fim de evitar perdas salariais muitos servidores públicos buscaram, de forma judicial, a revisão dos seus salários, baseados na Legislação Federal de conversão da URV em Real. O estudo destaca, também, a atuação do perito judicial que não pode emitir julgo de valor, devendo tão somente cumprir a ordem do magistrado. O assistente técnico, por sua vez, tem em suas funções dar embasamento e sustentabilidade aos advogados no esclarecimento de questões constantes na inicial do processo. A realização do estudo permite concluir que a aplicação da Lei Federal 8.880/94 aos salários dos servidores não contemplou a totalidade das perdas salariais, haja vista existirem defasagens salariais comprovadas pelos cálculos periciais. Palavras-chave: Conversão salarial. Plano Real. URV. Inflação. Lei 8.880/94. 5 ABSTRACT The present study is a bibliographical and case study research whose objective is to analyze, theoretically and empirically, an analysis of economic and financial analysis of the salaries of public servants in the period of conversion of the URV into Real, according to the Law No. 8,880 / 1994. Brazil faced severe inflation between 1985 and 1993, which reached 1,783% a year, punishing workers whose wages lost their purchasing power daily. After several failed attempts to contain inflation, it was under the government of President Itamar Franco that his Finance Minister, Fernando Henrique Cardoso, created the Real Plan, with the proposal of containing the financial crisis and the uncontrolled rise of prices. The Plan consisted initially of the creation of the Real Value Unit (URV) and, later, of the new Brazilian currency: the Real. The fall of inflation and the stabilization of the currency ensured the success of the Real Plan, however, it was the scene of many discussions regarding the correct conversion of salaries of public servants. In order to avoid wage losses many public servants sought a judicial review of their salaries, based on the Federal Law of URV conversion into Real. The study also highlights the performance of the judicial expert who can not issue judgment of value, and must only comply with the order of the magistrate. The technical assistant, in turn, has in its functions to provide background and sustainability to lawyers in clarifying issues in the initial process. The study allows to conclude that the application of Federal Law 8.880 / 94 to the salaries of the servants did not include all the salary losses, since there are salary delays verified by the expert calculations. Key words: Salary conversion. Real plan. URV. Inflation. Law 8.880/94. 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Composição do IPG-M ............................................................................... 20 Figura 2. Ponderação das despesas (IPCA) ............................................................. 21 Figura 3. Variação mensal da inflação ...................................................................... 21 Figura 4. Como é calculada a inflação ...................................................................... 22 Figura 5. IPCA referente ao período de janeiro de 1980 a junho de 1994 ................ 24 Figura 6. IGP-M anual (%) ........................................................................................ 24 Figura 7. Comparação entre IPCA e IGP-M .............................................................. 25 Figura 8. Inflação anual após 1994 ........................................................................... 27 Figura 9. Variação percentual dos últimos cinco dias de cada mês (nov./93 a jun./94) ...................................................................................... 35 Figura 10. Variação comparativa entre novembro de 1993 a junho de 1994 ............ 39 7 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Peso dos grupos de produtos e serviços ................................................. 23 Quadro 2. Variações acumuladas entre o IPCA e o IGP-M – junho de 1989 a junho de 1994 ....................................................................................... 25 Quadro 3. Mudanças na moeda brasileira – janeiro de 1989 a julho de 1994 .......... 26 Quadro 4. Variação diária da URV (Unidade Real de Valor) ..................................... 35 Quadro 5. Valores monetários recebidos pelos funcionários públicos ...................... 36 Quadro 6. Cálculo para apuração dos valores revisionais ........................................ 36 Quadro 7. Evolução do salário do servidor em URVs ............................................... 37 Quadro 8. Valores devidos no período, conforme a Lei n 8.880/1994 ..................... 37 Quadro 9. Valores devidos no período com base no dia do pagamento ...................38 Quadro 10. Evolução do salário do servidor em URVs, com base no dia do vencimento ............................................................................................. 38 Quadro 11. Evolução do salário do servidor em URVs com base no dia do vencimento ............................................................................................. 39 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 13 1.1 Desenvolvimento econômico ............................................................................... 13 1.2 Renda, consumo e poupança .............................................................................. 16 1.3 Efeitos inflacionários no desenvolvimento econômico ........................................ 18 1.3.1 IGP-M ............................................................................................................... 19 1.3.2 IPCA ................................................................................................................. 20 1.4 Plano Real e a conversão de moedas (Cruzado Real x URV x Real) ................. 22 1.5 Perícia econômico-financeira .............................................................................. 28 1.5.1 Competências e responsabilidades do perito judicial e do assistente técnico.. 29 1.6 A legislação federal na conversão da URV em Real ........................................... 32 2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................... 35 2.1 Dados do salário do funcionário público .............................................................. 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 41 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43 ANEXOS ................................................................................................................... 46 Anexo I – Tabela da URV (Unidade Real de Valor) .................................................. 47 Anexo II – Lei n 8.880, de 27 de maio de 1994 ....................................................... 48 file:///C:/Users/Ana/Dropbox/Back-up/Documentos/ANA/Documentos/2017/Economia/Carolina%20Flores%20Reginato.docx%23_Toc473642382 9 INTRODUÇÃO A política econômica do Brasil possui uma trajetória histórica marcada pela instabilidade, causada pelas políticas monetárias adotadas pelos diferentes governos ao longo dos anos. Os equívocos cometidos, especialmente com os planos econômicos das décadas de 1980 e 1990 resultaram em situações de caos inflacionário e de perdas financeiras, as quais atingiram diretamente a população brasileira. A inflação é o aumento progressivo e generalizado dos preços, tanto dos bens de consumo como dos serviços, elevando taxas de juros e causando grande desestruturação produtiva. Ela pode ser considerada a grande responsável pela queda do poder aquisitivo da população, pelo desemprego e, consequentemente, pelo empobrecimento do país, uma vez que provoca um desequilíbrio em todos os setores, sejam públicos ou privados. O Brasil enfrentou o ápice do processo inflacionário entre os anos de 1985 e 1993, quando os níveis da inflação chegaram a 1.783% ao ano, castigando trabalhadores cujos salários perdiam diariamente o seu poder aquisitivo. Depois de várias tentativas frustradas de conter a inflação, foi no governo do presidente Itamar Franco que o seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, criou o Plano Real, com a proposta de conter a crise financeira e a alta descontrolada dos preços. O Plano consistiu, inicialmente, da criação da Unidade Real de Valor (URV)1 e, posteriormente, da nova moeda brasileira: o Real. Para colocar em prática esse novo plano econômico, contudo, foi necessária a edição da Medida Provisória n 434/94, e sua reedição por meio das Medidas Provisórias n 457/94 e 482/94, posteriormente convertidas na Lei n 8.880/942. Com essa iniciativa foi possível indexar a economia brasileira por um determinado espaço de tempo a fim de que o mercado pudesse se reorganizar e passar a trabalhar com a nova moeda. 1 A URV foi a unidade de conversão da transição da moeda do Cruzeiro para o Real, em fevereiro de 1994, quando os valores em Cruzeiro passaram a ser expressos em URV. A Lei nº 8.880/94 previu que a partir de 1º março daquele ano fosse feita a conversão com indexadores temporários, a fim de refletir a variação inflacionária da época. 2 Lei n 8.880/1994: Dispõe sobre o Programa de Estabilização Econômica e o Sistema Monetário Nacional, institui a Unidade Real de Valor (URV) e dá outras providências (Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8880.htm). https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8880.htm 10 Aprovada a Medida Provisória, a conversão da antiga moeda (o Cruzeiro Real) em URV aconteceu no dia 1º de março de 1994 e, após três meses, em 30 de junho de 1994, o Brasil ganhou uma nova moeda – o Real. A queda da inflação e a estabilização da moeda garantiram o sucesso do Plano Real, entretanto, ele foi palco de muitas discussões referentes à correta conversão de salários de servidores públicos. A discussão adveio do fato de que muitos servidores recebiam seus proventos antes do dia 1º de cada mês, enquanto outros os recebiam após essa data, restando a dúvida quanto à correta aplicação dos parâmetros de conversão dos salários. A fim de evitar perdas salariais os servidores públicos buscaram, de forma judicial, a revisão dos seus salários, baseados na Legislação Federal de conversão da URV em Real. O tema do presente estudo, portanto, constitui-se numa revisão pericial, com base na Lei Federal 8.880/1994, que orientou o reajuste dos salários dos servidores públicos, ocorrido no período de conversão da URV em Real. O estudo tem como objetivo principal analisar, teórica e empiricamente, uma perícia de análise econômico-financeira de reajuste dos salários dos servidores públicos no período de conversão da URV em Real, segundo a Lei Federal n 8.880/1994. Como objetivos específicos o estudo elenca os seguintes: a) analisar a Lei Federal 8.880/1994, adotada por ocasião da introdução do Plano Real no Brasil e no consequente reajuste dos salários dos servidores públicos no período da conversão da URV em Real; b) analisar e comparar os reajustes adotados por essa lei com a inflação brasileira no período do estudo; c) verificar os resultados obtidos na revisão pericial com a aplicação da lei aos salários dos servidores públicos. O estudo constitui-se numa pesquisa bibliográfica e de estudo de caso. A pesquisa bibliográfica é elaborada a partir de material publicado em livros, periódicos e sites eletrônicos, proporcionando as estruturas necessárias para o estudo. Segundo Vergara (2000, p. 112), a pesquisa bibliográfica “é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas. Fornece instrumental analítico para qualquer outro tipo de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mesma”. O estudo de caso, por sua vez, é considerado por Gil (2002, p. 54) como um “estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu 11 amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros delineamentos já considerados.” Quanto à sua forma de abordagem, o estudo se identifica como uma pesquisa qualitativa, uma vez que busca analisar, com base no referencial teórico, a legislação adotadano reajuste dos salários dos servidores públicos no período da conversão da URV em Real mediante a aplicação da Lei Federal 8.880/1994. Constitui-se, também, como uma pesquisa quantitativa, pois compara os dados salariais resultantes da revisional judicial com a inflação do período, de forma a quantificar os resultados. O estudo está composto de dois capítulos, sendo que o primeiro se refere à Fundamentação Teórica, onde são apresentados os conceitos de desenvolvimento econômico, renda, consumo e poupança, efeitos inflacionários no desenvolvimento econômico, Plano Real e a conversão da moeda, perícia econômico-financeira, competência do perito, e legislação federal na conversão da URV em Real. Destaca-se neste primeiro capítulo um levantamento de dados em material periódico e em sites eletrônicos referentes ao grave processo inflacionário que acometeu o Brasil nas duas últimas décadas do século XX. De posse desses dados analisou-se a pertinente legislação estadual e federal no que tange à reposição das perdas salariais decorrentes do período de implantação do Plano Real e a conversão da URV no Real. O segundo capítulo deste estudo apresenta os resultados da pesquisa, frutos da coleta de dados realizada nos processos do Judiciário e em sites eletrônicos que trazem as variações diárias da URV, os salários do funcionalismo público, os cálculos para apuração dos valores revisionais, com destaque para a variação comparativa entre a inflação (IPCA), URV e salários. A realização do estudo se justifica em função do interesse da acadêmica em exercer a atividade de perita judicial após a sua formatura no curso de Economia. O interesse pela área surgiu nas aulas de Perícia Econômico-Financeira do curso de Ciências Econômicas, que lhe despertaram o interesse pela profissão, seja como perita judicial ou como assistente técnica na assessoria de advogados. A função de perito judicial tem suas particularidades, como por exemplo, ele não pode emitir julgo de valor, devendo tão somente cumprir a ordem do magistrado. O assistente técnico, por sua vez, tem em suas funções dar embasamento e sustentabilidade aos advogados no esclarecimento de questões constantes na inicial do processo. 12 O presente estudo também visa servir de sustentação teórica para trabalhos futuros que possam ser solicitados pelos Fóruns, uma vez que há uma carga expressiva de processos de serviços públicos que ainda aguardam a revisão dos cálculos salariais. Por fim, cumpre esclarecer que a identificação da autoria desses processos é mantida em sigilo, por questões éticas, haja vista que foram extraídos de processos em andamento e que ainda não foram julgados. 13 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Este capítulo apresenta a fundamentação teórica relativa a temas como desenvolvimento econômico, renda, consumo e poupança, efeitos inflacionários no desenvolvimento econômico, Plano Real e a conversão de moedas, perícia econômico-financeira, e a legislação federal na conversão da URV para o Real. Para tanto, apresenta o entendimento de autores renomados, como Sandroni (2004), Souza (1997), Sen (2000), Veiga (2008), entre outros, os quais refletem a respeito dos temas, fundamentais para a compreensão deste estudo. 1.1 Desenvolvimento econômico O desenvolvimento econômico é um tema que tem permeado as discussões mundiais na atualidade, entretanto, costuma ser confundido com crescimento econômico. É preciso ter claro que “crescimento econômico é uma simples variação quantitativa do produto, enquanto o desenvolvimento envolve mudanças qualitativas no modo de vida das pessoas e das instituições” (SUSINI; CABRERA, 2016). Pode-se compreender, assim, que a expressão “desenvolvimento econômico” denota um significado mais amplo, pois engloba as melhorias na qualidade de vida da população, ou seja, ele passa a ter mais significado quando a renda obtida com a produção é melhor distribuída. Historicamente, o desenvolvimento econômico foi amplamente discutido por Adam Smith e Joseph Schumpeter, os quais relatam que as disparidades entre os povos ocasionaram a concentração de riqueza e a distribuição desigual da renda, bem como as diferenças entre nações ricas e pobres (SOUZA, 1997). Adam Smith defendia a produção de excelentes para a evolução do mercado e o crescimento da riqueza” (SOUZA, 1997, p. 93), além de uma produção sem a interferência do Estado, o qual deveria apenas intervir em questões relacionadas à defesa ou à justiça, dando liberdade aos agentes econômicos. Joseph Schumpeter, por sua vez, desenvolveu suas teorias no sentido de defender o lançamento de novos produtos aliado à liderança no mercado mundial e, em decorrência, obtendo lucro nas transações comerciais (SOUZA, 1997). Para Souza (1997), o desenvolvimento econômico de um país é o processo de acumulação de capital e o progresso técnico do trabalho, levando ao aumento da 14 capacidade produtiva da economia, dos salários, e do padrão médio de vida da população. Esse aumento da capacidade produtiva pode ser medido por variáveis, tais como produto interno bruto e produto nacional bruto. E a medida mais geral de desenvolvimento econômico é a do aumento da renda por habitante, porque esta mede o aumento geral aproximado da produtividade por idade. Em contrapartida, Amartya Sen (2000, p. 28) manifesta que uma adequada concepção de desenvolvimento econômico deve ir além da noção de acumulação de riquezas ou de acúmulo de renda. O economista compartilha da ideia de que a qualidade de vida da população de uma nação não deve ser medida pela sua riqueza do país, mas sim pela liberdade individual que é proporcionada aos cidadãos, especialmente na área política, econômica, social e de segurança. Tais liberdades geralmente vêm acompanhadas de políticas governamentais, como saúde, educação, saneamento básico e de habitação, os quais atendem as necessidades básicas dos cidadãos. Ao serem expandidas, essas liberdades criam oportunidades de desenvolvimento econômico, mediante melhorias da qualidade de vida e desenvolvimento humano. Complementa afirmando que: “se toda a riqueza conseguida por um país for revertida em investimentos sociais, este país não só apresentará um crescimento econômico, mas também um desenvolvimento econômico.” (SEN, 2000, p. 35). No Brasil, o crescimento econômico foi historicamente o maior objetivo do país e, com base nesse objetivo, foram feitos esforços em prol da industrialização e da urbanização do país. Essas medidas, todavia, resultaram em uma sociedade profundamente desigual, com uma grande distância entre aqueles que têm poder aquisitivo e os despossuídos, o que gerou grande desigualdade no desenvolvimento regional e na distribuição da renda e da riqueza (SUSINI; CABRERA, 2016). O processo de desenvolvimento econômico no país, portanto, tem sido marcado por desigualdades históricas ao longo do tempo entre grupos populacionais, regiões e nações. Cardoso (1978) afirma que, ao mesmo tempo em que ocorrem essas desigualdades, existe também um processo em que os indivíduos, comunidades e grupos sociais se organizam e interagem coletivamente com o objetivo de melhorar as condições de vida, procurando sobrepor-se às injustiças e desigualdades que marcam a história da Humanidade. 15 A ênfase brasileira no crescimento econômico como o maior objetivo do desenvolvimento, levando a altos níveis de industrialização e urbanização, teve como resultado uma sociedade profundamente desigual, com uma grande distância entre os que possuem e os despossuídos, uma profunda desigualdade no desenvolvimento regional e na distribuição da renda e riqueza resultante deste crescimento. (CARDOSO, 1978, p. 145). Ao analisar este quadro pelo ângulo otimista da teoria da modernização, percebe-seque as desigualdades sociais deveriam simplesmente diminuir depois de um período de transição para a modernidade, de tal forma que, segundo Wood e Carvalho (apud SOUZA, 1997, p. 16), a pobreza crescente e persistente seria o custo necessário do estágio primeiro do desenvolvimento. A teoria da dependência econômica desenvolvida por Cardoso (1978) argumenta que o desenvolvimento, quando dependente, intensifica as desigualdades. Assim, o rápido desenvolvimento econômico não teria na América Latina o mesmo resultado daquele encontrado nos países mais desenvolvidos, devido ao controle da economia latino-americana pela introdução externa de tecnologias de capital intensivo, enfim, pelas condições econômicas, políticas, sociais e culturais da região, relatadas anteriormente por Amartya Sen (2000). A concepção de desenvolvimento relacionado com o atendimento às necessidades sociais básicas, portanto, vem desviando a ênfase no crescimento econômico para o aumento do bem-estar social. Estudos de Sandroni (2004) revelam que um indicador do nível de desenvolvimento é o Produto Interno Bruto (PIB), que é calculado pela quantidade de bens e serviços finais produzidos dentro do território nacional em determinado período de tempo. Este período é de um ano e inclui somente a produção corrente, além disso são considerados somente os bens e serviços finais, os quais são vendidos a preço de mercado, por isso a sigla PIBpm (Produto Interno Bruto a preços de mercado). Esse índice ajuda a demonstrar o nível de produção, que é um fator importante para a análise do desenvolvimento de uma determinada nação ou região. O PIB, portanto, exclui do seu cálculo, as transações intermediárias e pode ser calculado sob três ângulos. Ótica da produção, o PIB corresponde à soma dos valores agregados líquidos dos setores primário, secundário e terciário da economia, mais os impostos indiretos, mais a depreciação do capital, menos os subsídios governamentais. Ótica da renda, é calculado a partir das remunerações pagas dentro do território econômico de um país, sob a 16 forma de salários, juros, aluguéis e lucros distribuídos; somam-se a isso os lucros não distribuídos, os impostos indiretos e a depreciação do capital e, finalmente, subtraem-se os subsídios. Ótica do dispêndio, resulta da soma dos dispêndios em consumo das unidades familiares e do governo, mais as variações de estoque, menos as importações de mercadorias e serviços e mais as exportações. Sob essa ótica o PIB é denominado Despesa Interna Bruta. (SANDRONI, 2004, p. 459). A partir do cálculo do PIB pode-se determinar o PIB per capita, o qual é obtido dividindo-se o valor do PIB pela população total. Este demonstra o quanto cada indivíduo receberia se a produção interna bruta fosse distribuída igualmente entre seus habitantes. Trata-se, pois, de um indicador auxiliar do conhecimento sobre o grau de desenvolvimento de um país e consiste na divisão da renda nacional (produto nacional bruto menos os gastos de depreciação do capital e os impostos indiretos) pela sua população. Por se tratar, contudo, de uma média, esconde várias disparidades na distribuição de renda. Um país pode ter uma boa renda per capita, mas um alto índice de concentração de renda e grande desigualdade social. Outro fator que demonstra a complexidade das questões envolvidas quando da análise do indicativo renda per capita diz respeito às diferenças registradas entre os preços dos vários produtos e serviços consumidos por cada parcela da população e, também, às diferenças entre os preços dos produtos e serviços consumidos pelas diferentes camadas sociais. Em outros termos, a renda per capita, sendo uma média geral, nem sempre evidencia realmente o grau de acesso das pessoas aos bens e serviços necessários à qualidade de suas vidas. A informação desse indicativo socioeconômico, portanto, por mais precisa que seja, por si só não oferece elementos suficientes para uma análise coerente da realidade socioeconômica local. O item a seguir traça um percurso entre os principais tópicos derivados do desenvolvimento econômico, como renda, consumo e poupança, em busca do entendimento do tema central deste estudo. 1.2 Renda, consumo e poupança A renda também é chamada de Produto Interno Bruto (PIB), e representa todos os bens e serviços produzidos no país. Fazem parte do cálculo do PIB, o consumo do período e variáveis como investimentos, gastos do governo e exportações (SANDRONI, 2004). 17 Estudos realizados pela Penn World Table em 190 países, o consumo representa cerca de 70% do PIB, revelando uma forte relação entre consumo e renda. John Maynard Keynes afirma que o consumo depende da renda disponível, ou seja, daquela que está disponível para o consumo, livre das obrigações fiscais. Deduz-se daí que se a renda de um país cai, o consumo também cairá em grande proporção, entretanto, se a renda aumenta o consumo também aumentará (NEPON, 2016). Nesse mesmo rumo, Milton Friedman, igualmente economista e escritor, criou uma teoria do consumo que dividia o produto em renda permanente e renda transitória. A renda permanente é aquela constituída pelos salários, os quais garantem a sobrevivência do indivíduo ao longo da sua vida. Na outra ponta, a renda transitória seria aquela composta por acontecimentos extras, tanto de ganhos ou de perdas, as quais afetam a renda de uma pessoa. Para evitar situações imprevisíveis e para ter um rendimento médio garantido que possa lhe garantir um padrão de consumo ao longo da vida, o indivíduo passa a poupar parte da sua renda. Surge assim, a poupança, que é uma espécie de renda que está à disposição para momentos em que a renda permanente deixa de ser suficiente para manter o consumo (DEPON, 2016). No Brasil, a primeira década deste novo século foi marcada pelo aumento da renda e o acesso ao consumo de milhões de brasileiros. Isso decorreu, principalmente, da ampliação do número de empregos e da renda, possibilitando o aumento do poder de compra. Fato inverso ocorreu nos anos seguintes, quando o desemprego assolou o mercado de trabalho, diminuindo a renda da população e, consequentemente, o seu poder de consumo (NORONHA; BARBOSA, 2016). A poupança faz parte desse tripé – renda, consumo e poupança – e está diretamente associada à renda. Ela é o montante que sobra da renda de um indivíduo que passa a guardá-la para ser usada num momento posterior. O Banco, ao guardar esse valor, o empresta para outras pessoas ou instituições financeiras mediante a cobrança de juros mais altos, cuja margem permite a manutenção do sistema financeiro. Ao depositante, o Banco costuma pagar 70% da taxa Selic + TR no caso de a taxa Selic ficar igual ou menor que 8,5% ao ano (NORONHA; BARBOSA, 2016). Sabe-se hoje que quanto mais se poupar, mais recursos estarão disponíveis para empréstimos e investimentos. Em consequência, maior será o nível de crescimento do país. Segundo dados estatísticos de 2000, o Brasil é um país cuja 18 população poupa pouco, isto é, em torno de 16% do PIB, enquanto países como o Japão a poupança fica em 30% do PIB (NORONHA; BARBOSA, 2016). Um fato curioso revelado pelo Nepon (2016) é com relação à proporção entre consumo e renda, a qual pode variar segundo as expectativas dos indivíduos. Assim, quando a economia está em crescimento, há tendência de aumento do consumo; entretanto, se a economia está em baixa com ameaça de desemprego, o indivíduo passa a poupar. Isso confirma a hipótese de que o indivíduo está sempre atento, procurando se antecipar às intempéries econômicas e financeiras. 1.3 Efeitos inflacionários no desenvolvimento econômico A inflação pode ser caracterizada como a elevação contínua dos preços em um determinado período. Sandroni (2004, p. 302), em seu Novíssimo Dicionário de Economia, tem a seguinte definição de inflação:“Aumento persistente dos preços em geral, de que resulta uma contínua perda do poder aquisitivo da moeda”. O Brasil já viveu longos e difíceis períodos inflacionários, principalmente nas décadas de 1980 e 1990, quando o PIB era baixo e a inflação alta. A inflação acumulada do ano de 1985 foi de 235,13%; em 1987 a inflação anual atingiu 415,87%; em 1989 a inflação chegou a 1.782.85%; em 1990 ela chegou a 1.476,71%. A economia brasileira somente se estabilizou em 1993, com a implantação, lenta e gradual, do Plano Real. Atualmente, mesmo estando sob controle, a ameaça da inflação ainda é constante. Por essa razão o assunto está sempre presente em meio a debates políticos e acadêmicos (BRASIL ECONÔMICO, 2014). A origem histórica da inflação vem da ideia de que a causa do aumento de preços é o resultado de uma emissão excessiva de papel-moeda que “infla” o volume de dinheiro em circulação, e com isso provoca a redução do valor real da moeda em relação a determinado padrão monetário. Tempo depois, os economistas viram que sob determinadas condições políticas e sociais, a inflação também pode ser considerada uma estratégia racional dos governos, colocando mais dinheiro em circulação para facilitar os aumentos de preços como forma de desestimular a poupança, estimular a produção e combater o subemprego. Os economistas, porém, tanto marxistas como keynesianos, concordam que o aumento do volume de dinheiro mais rápido que o aumento do volume da produção pode resultar no aumento geral de preços. 19 A partir dos anos 80, os economistas neoliberais começaram um movimento que passou a ser chamado de monetarismo, em que procuraram estabelecer uma hegemonia do aumento do volume de papel-moeda como causa única da inflação. Mas o êxito desse pensamento foi apenas parcial, porque se continuou a pensar na inflação como aumento de preços e não tanto em volume de dinheiro. Na prática, a maioria dos bancos centrais deixa a inflação subir um pouco acima do esperado pelo mercado como uma estratégia frente à ameaça de recessão. Isso resulta na ligeira redução dos salários reais sem provocar uma reação que seria gerada por um corte salarial anunciado pelo governo e, consequentemente, um aumento do emprego e da produção. Sandroni (2004) enfatiza que a inflação favorece os devedores e os especuladores, prejudica os credores, as classes de renda fixa, os pensionistas e os investidores conservadores. Além disso, ela tende a mudar os hábitos de consumo, podendo também, estimular a queda da poupança se sua remuneração não se adaptar aos novos níveis de aumento de preços. Existem vários índices que medem a inflação, sendo os principais os Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que é representado pelo Índice Geral de preços (IPCA), e os Índice Geral de Preços (IGP), representado pelo Índice geral de preços de Mercado (IGP-M). A finalidade dos índices é mostrar o comportamento das variações de preços de um grupo de bens e serviços. No Brasil, a inflação é medida por meio de diversos índices, divulgados por várias instituições, tais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Fundação Getúlio Vargas (FGV), e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Nos itens que seguem descreve-se a funcionalidade do IGP-M e do IPCA, índices fundamentais utilizados nos cálculos de reajustes salariais e dos preços de produtos e serviços. 1.3.1 IGP-M O IGP-M (Índice Geral de Preços) é calculado pela Fundação Getúlio Vargas, e registra a inflação de preços desde matérias primas agrícolas e industriais até bens e serviços finais. Tem por objetivo medir a inflação de uma forma ampla, ou seja, considera não somente a variação dos preços finais ao consumidor. Composto por 60% da variação de preços no atacado (sendo 18% agrícola e 42% indústria), 30% do 20 varejo (Índice de Preços ao Consumidor) e 10% da construção civil, o IGP-M indica a variação de preço dos principais produtos e serviços). A Figura 1, a seguir, de forma ilustrativa, apresenta os índices que compõem o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), conforme referenciado anteriormente. Figura 1. Composição do IPG-M Fonte: FGV (2013). Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV, 2013), o IGP possui três funções, ou seja: é um indicador macroeconômico que acompanha a evolução dos preços; é, também, um deflator de valores das contas nacionais; e, finalmente, é uma referência para a correção de preços e valores contratuais. A particularidade do IGP-M, contudo, é que esse índice resulta da média ponderada de outros três índices, que são: o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M). Para fins de cálculo do IGP-M, os preços são coletados no período compreendido entre o dia 21 do mês anterior até o dia 20 do mês subsequente; a cada mês o índice é conferido três vezes, ou seja, a cada 10 dias; apenas o último resultado é o índice definitivo do mês. Os resultados são divulgados mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), em data pré-estabelecida (FGV-IBRE, 2016). 1.3.2 IPCA O Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo (IPCA) é o índice oficial de inflação do país, normalmente utilizado para indicar a variação no salário do trabalhador. Sendo assim, é o índice utilizado para correção de salários e atualização de ativos, como Imposto de Renda e demonstrações financeiras das empresas. Esse índice é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e tende a refletir fielmente os preços nos pontos de venda de bens ao 21 consumidor final. A metodologia empregada corresponde a 100% desse índice, diferentemente do IGP-M que tem a sua composição variada. Na sequência, a Figura 2 permite visualizar os tipos de gastos que compõem o IPCA, e o peso que cada item possui na sua constituição final. Figura 2. Ponderação das despesas (IPCA) Fonte: FGV (2013). O período de coleta IPCA vai do dia 01 a 30 de cada mês, e abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre um e 40 salários mínimos, de qualquer fonte de rendimento e residentes nas áreas urbanas das principais cidades do país, abrangendo cerca de 90% da população dessas áreas (IBGE, 2013). A Figura 3, a seguir, apresenta a variação mensal da inflação medida pelo IPCA no período de 1980 até 2010. Figura 3. Variação mensal da inflação Fonte: IBGE (2013). 22 Ainda com base nos cálculos do IPCA, a Figura 4 revela a forma como é calculada a inflação, que tem o IPCA como ferramenta principal, considerado o índice oficial de inflação no Brasil. Figura 4. Como é calculada a inflação Fonte: IBGE (2013). Neste cálculo são considerados nove grupos de produtos e serviços, quais sejam: alimentação e bebidas, artigos domésticos, comunicação, despesas pessoais, educação, habitação, saúde e cuidados pessoais, transportes e vestuário, os quais são subdivididos em outros itens. Ao todo, são consideradas as variações de preços de 465 subitens (IBGE, 2013). Após discorrer brevemente sobre alguns aspectos da economia brasileira, passa-se a analisar aspectos referentes ao Plano Real e à conversão de moedas, fato ocorrido com a implantação do referido plano econômico. 1.4 Plano Real e a conversão de moedas (Cruzado Real x URV x Real) No Brasil, as duas últimas décadas do século XX foram marcadas por uma inflação muito alta, que atingia diariamente os salários e os benefícios dos 23 trabalhadores. Em março de 1990 a inflação chegou ao patamar mensal de 82,39%, e agravou-se com o impeachment do então presidente Collor. Como já se referiu anteriormente, os índices IPCA e IGP-M têm por objetivo medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços que fazem parte das necessidadesde consumo das famílias, cujo rendimento varia entre 1 e 40 salários mínimos. Desde junho de 1999 o Banco Central do Brasil utiliza esse cálculo para acompanhar os objetivos estabelecidos no sistema de metas de inflação, sendo considerado o índice oficial de inflação do país. A partir de janeiro de 2012, o IPCA passou a ser calculado com base nos valores de despesa obtidos na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009). A POF é realizada a cada cinco anos pelo IBGE em todo o território brasileiro, o que permite atualizar os pesos (participação relativa do valor da despesa de um item consumido em relação à despesa total) dos produtos e serviços nos orçamentos das famílias. De julho de 2006 a dezembro de 2011 a base dos Índices de Preços ao Consumidor era a POF de 2002-2003 (IBGE, 2016). O Quadro 1, a seguir, representa esta forma de cálculo, bem como os itens que o compõem, cujos dados foram baseados no período anterior e posterior a 2012. Quadro 1. Peso dos grupos de produtos e serviços Tipo de gasto Peso (%) do gasto (até 31/12/2011) Peso % do gasto (a partir de 01/01/2012) Alimentação e bebidas 23,46 23,12 Transportes 18,69 20,54 Habitação 13,25 14,62 Saúde e cuidados pessoais 10,76 11,09 Despesas pessoais 10,54 9,94 Vestuário 6,94 6,67 Comunicação 5,25 4,96 Artigos de residência 3,90 4,69 Educação 7,21 4,37 Total 100,00 100,00 Fonte: IBGE (2016). O IPCA, portanto, ao se tornar o índice oficial para o cálculo da inflação, apresentou expressivas variações, especialmente no período de janeiro de 1980 a julho de 1994, como mostra a Figura 5, a seguir: 24 Figura 5. IPCA referente ao período de janeiro de 1980 a junho de 1994 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). Analisando o período anual anterior ao Plano Real (1980 a 1994), o percentual do IPCA chegou a 2.477,2% em 1993, o que refletia diretamente no poder aquisitivo da população. Na Figura 6, a seguir, apresenta-se a variação anual do IGP-M, ocorrida desde a sua criação até o período de julho de 1994. Figura 6. IGP-M anual (%) Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). O IGP-M, quando foi concebido, teve como princípio ser um indicador para balizar as correções de alguns títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e Depósitos 99.3% 95.7% 104.8% 164.0% 215.3% 242.2% 79.7% 363.4% 980.2% 1972.7% 1621.0% 472.7% 1119.1% 2477.2% 757.3% 0.0% 500.0% 1000.0% 1500.0% 2000.0% 2500.0% 3000.0% IPCA jan/1980 a jun/1994 805.8% 1699.9% 458.4% 1174.7% 2567.3% 732.3% 0.0% 500.0% 1000.0% 1500.0% 2000.0% 2500.0% 3000.0% Jun-89 1990 1991 1992 1993 Jun-94 IGP-M anual (%) 25 Bancários com rendas pós-fixadas após um ano. Posteriormente, passou a ser o índice utilizado para a correção de contratos de aluguel e como indexador de algumas tarifas como energia elétrica. Tomando por base o IGP-M, e ao comparar os índices que reajustam o salário (IPCA) e o aumento do custo de vida de alguns produtos (IGP-M), pode-se verificar que o reajuste dos salários ficou aquém do reajuste do custo de vida da população brasileira, conforme se pode verificar na Figura 7 e no Quadro 2, na sequência. Figura 7. Comparação entre IPCA e IGP-M Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). Ao analisar a variação acumulada entre o IPCA e o IGP-M no período de junho de 1989 a junho de 1994, o Quadro 2, a seguir, apresenta os seguintes índices: Quadro 2. Variações acumuladas entre o IPCA e o IGP-M – junho de 1989 a junho de 1994 Período Variação anual (%) IPC-A Acumulado (%) Variação Anual (%) IGP-M acumulado (%) Jun./dez. 1989 846 846,13 805,8 805,76 1990 1621 16182,58 1699,9 16202,50 1991 473 93148,73 458,4 90929,91 1992 1119 1136685,95 1174,7 1160231,00 1993 2477 29296579,23 2567,3 30949872,86 Jan./jun. 1994 757 251150449,77 732,3 257585153,79 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). 846% 1621% 473% 1119% 2477% 757% 805.8% 1699.9% 458.4% 1174.7% 2567.3% 732.3% 0% 500% 1000% 1500% 2000% 2500% 3000% Jun-89 1990 1991 1992 1993 Jun-94 IPC-A IGP-M 26 Durante este período foram tomadas medidas no sentido de conter a inflação, que incluíram até mesmo a mudança da moeda brasileira, conforme é possível verificar no Quadro 3, a seguir: Quadro 3. Mudanças na moeda brasileira – janeiro de 1989 a julho de 1994 Planos Econômicos Moeda vigente Símbolo Período de vigência Fundamento legal Equivalência Verão I Jan./1989 Verão II Maio/1989 Cruzado Novo NCz$ 16/01/1989 a 15/03/1990 Medida Provisória no 32, de 15/01/89, convertida na Lei no 7.730, de 31/01/89 NCz$ 1,00 = Cz$ 1.000,00 Collor I Mar./1990 Collor II Jan./1991 Cruzeiro Cr$ 16/03/1990 a 31/07/1993 Medida Provisória no 168, de 15/03/90, convertida na Lei no 8.024, de 12/04/90 Cr$ 1,00 = NCz$ 1,00 Transição para o Real Ago./1993 Cruzeiro Real CR$ 01/08/1993 a 30/06/1994 Medida Provisória no 336, de 28/07/93, convertida na Lei no 8.697, de 27/08/93, e Resolução BACEN no 2010, de 28/07/93 CR$ 1,00 = Cr$ 1.000,00 Real Jul./1994 Real R$ Desde 01/07/1994 Leis no 8.880, de 27/05/94 e 9.069, de 29/06/95 R$ 1,00 = CR$ 2.750,00 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). Após várias tentativas de criar planos econômicos que funcionassem, em julho de 1993 o Governo brasileiro lançou o Programa de Estabilização Econômica, na tentativa de acabar com a inflação e criar uma nova moeda para o país – o Real. Foi aplicado, segundo a Revista de Economia Política (1994, p. 55), um conjunto de medidas voltadas para a reorganização do setor público e que contribuiu para a redução e maior eficiência de gastos; a recuperação da receita tributária; o equacionamento da inadimplência de estados e Municípios com a União; o maior controle dos bancos estaduais; o início do saneamento dos bancos federais; e o aperfeiçoamento e ampliação do programa de privatização. A implantação do Programa de Estabilização Econômica conseguir neutralizar a principal causa da inflação, que era a desordem das contas públicas. A criação da Unidade Real de Valor (URV), por sua vez, proporcionou aos agentes econômicos uma fase de transição para a estabilização dos preços. Esta iniciativa deu certo e, 27 posteriormente, ela foi integrada ao Sistema Monetário Nacional, sendo a sua cotação fixada diariamente pelo Banco Central do Brasil, levando em conta a perda do poder aquisitivo do Cruzeiro Real (REVISTA DE ECONOMIA POLÍTICA, 1994). Finalmente, no dia 1° de julho de 1994 foi lançada a nova moeda no Brasil – o Real (R$). A partir desse momento toda a base monetária brasileira foi trocada de acordo com a paridade legalmente estabelecida: CR$ 2.750,00 para cada R$ 1,00. Em consequência, a estabilização da moeda fez com que a inflação mensal caísse rapidamente e, no mês de julho de 1994 os seus valores já não passavam de 3% no mês e 25% ao ano. Figura 8. Inflação anual depois de 1994 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). O sucesso do Plano Real foi imediato e foi registrado pelos órgãos competentes, que revelaram em 1993 um IPCA anual de 2.477,15%, enquanto que em 1995 o IPCA apresentou 22,41%. Esse valor foi caindo gradativamente até chegar ao recorde de 1,66%, em 1998. A aplicação e o sucesso do Programa de Estabilização Econômica, delineado pela Lei 8.880/94, representou o nascimento de uma nova nação, livre do fantasma da inflação e da insegurança. Este fato ficou registrado e faz parte da História do Brasil, pois proporcionou ao país a oportunidade de retomar o seu caminho de desenvolvimento econômico. Nesse sentido transcreve-se parte do texto contido na Apelação nº 0035176-32.2010.8.26.0053/SP, da qual foi relatorSérgio Luiz F. de Souza: 1 8 .6 % 2 2 .4 % 9 .6 % 5 .2 % 1 .7 % 8 .9 % 6 .0 % 7 .7 % 1 2 .5 % 9 .3 % 7 .6 % 5.7 % 3.1 % 4 .5 % 5 .9 % 4 .3 % 5 .9 % 6 .5 % 5 .8 % 5 .9 % 6 .4 % 1 0 .7 % 6 .3 % 0.0% 5.0% 10.0% 15.0% 20.0% 25.0% ju l a d ez /9 4 1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5 2 0 1 6 IPC-A % anual 28 É óbvio que a Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994, marco na História recente do Brasil, é legislação de validade nacional, que obriga não só a União, mas também os Estados, o Distrito Federal e o Município. Com efeito, a mencionada Lei, a par do Programa de Estabilização Econômica, instituiu um novo Sistema Monetário Nacional, como consta, ipsis litteris, da sua própria ementa. E, ao fazê-lo, o legislador teve de cobrir, o quanto possível, as hipóteses que poderiam implicar distorções e injustiças. Como a inventiva humana é pródiga, muitos casos concretos surgiram, ao longo da aplicação do diploma legal, a desafiar ajustes pontuais, que se deram na base de medidas provisórias cada vez mais casuísticas, num ingente esforço para conter a escalada inflacionária, que corroía o salário do empregado, a remuneração dos servidores, o preço dos produtos e serviços, lançando todos numa verdadeira barafunda econômica, que atulhou os tribunais, sem estrutura para conter tanta litigiosidade. Por isso, o chamado Plano Real veio como medida redentora, grande feito econômico, de inegável repercussão sociocultural, que já se inscreveu, de maneira definitiva e indelével, nas páginas da nossa História. (TJ/SP, 2011). Devido à complexidade do ato de conversão da moeda, muitos setores sentiram-se prejudicados e ingressaram com ações no Judiciário em busca da revisão e da reposição das perdas salariais. O Judiciário, destarte, se deparou com milhares de processos de servidores públicos, e precisou se concentrar no despacho de tais ações. Para tanto, buscou o auxílio de peritos e de assistentes técnicos que passaram a realizar os cálculos para serem apreciados e julgados pelos magistrados. Este é, portanto, o tema do item que segue. 1.5 Perícia econômico-financeira A expressão “Perícia” vem do latim: Peritia, e significa conhecimento, experiência. Alberto (2000, p. 38) revela que “a partir do século XVII criou-se definitivamente a figura do perito como auxiliar da justiça, e do perito extrajudicial, permitindo assim a especialidade do trabalho judicial”. Na atualidade, alguns cenários de descontrole gerados pela instabilidade econômica exigem a atuação de peritos a fim de avaliar e informar aos órgãos competentes a veridicidade dos conteúdos. Neste contexto, destacam-se situações como análise da evolução de dívidas, empréstimos de curto e longo prazo, avaliação de empresas, lucros cessantes, danos emergentes e cálculos de liquidação de sentença trabalhista (GALVÃO, 2016). 29 O Novo Código de Processo Civil, regulamentado pela Lei n 13.105, de 16 de março de 2015, atualizou e definiu a Perícia Técnica que, no passado, era denominada de Perícia Contábil. Esse novo instrumento legal “reconhece a importância da prova pericial e apresenta grandes inovações para a designação do perito” (REIS, 2015). Segundo Reis (2015), a perícia técnica visa a auxiliar o juiz a compreender, de forma mais específica, um tema do qual ele não possui conhecimento, a fim de que possa tomar as suas decisões. Assim, o laudo emitido pelo perito tem a função de munir o magistrado de informações que irão formar a sua convicção. A perícia, portanto, tem o objetivo de trazer à tona a clareza dos fatos. Nesse sentido, a atuação do perito é no sentido de demonstrar claramente a forma como ocorreram. No item que segue faz-se um aprofundamento das responsabilidades e competências do perito judicial e do assistente técnico em suas atribuições. 1.5.1 Competências e responsabilidades do perito judicial e do assistente técnico O perito, para prestar os serviços com qualidade, além de se especializar em técnicas específicas, deve utilizar os conhecimentos da Ciência, da metodologia e das práticas profissionais. Sua função na área econômico-financeira é atuar de maneira imparcial e elaborar seus laudos de forma que facilitem a interpretação e o entendimento do conteúdo. Faz parte do seu trabalho na esfera judicial e extrajudicial a apresentação de demonstrações alusivas aos critérios e valores, considerando sempre o seu compromisso maior, que é o esclarecimento da verdade. A necessidade de se buscar o auxílio de um perito deve-se ao fato de que há inúmeras situações de conflitos em que as partes não encontram soluções amigáveis e, portanto, são encaminhadas ao Judiciário. Como há uma diversidade enorme de assuntos julgados, muitas vezes a prova do fato depende do conhecimento técnico ou científico no assunto determinado, e é neste momento que é necessária a participação do perito judicial. O perito atua como defensor do interesse público e da Justiça, podendo suas atividades serem desenvolvidas no âmbito arbitral, extrajudicial, administrativo, operacional ou judicial. Trata-se, pois, de um profissional que goza de extrema confiança do Juiz, pois tem em suas mãos a responsabilidade de analisar documentos, revisar cálculos e clarear fatos. 30 Os arts. 156 a 158 do Código de Processo Civil (CPC) (Lei 13.105/2015) confirmam esse fato: Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. Art. 157. O perito tem o dever de cumprir o ofício no prazo que lhe designar o juiz, empregando toda sua diligência, podendo escusar-se do encargo, alegando motivo legítimo. Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis. Sendo assim são auxiliares do juízo, além de outros, cujas atribuições são determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador e o intérprete. O perito assistente possui a mesma importância atribuída ao perito nomeado pelo juízo, o qual possibilita que se instaure o contraditório na matéria técnica para que não reine absoluto o entendimento do perito nomeado pelo juízo, que deve ter a mesma postura de imparcialidade do juiz que o nomeou. O Código de Ética Profissional e Disciplinar do Conselho Nacional dos Peritos Judiciais da República Federativa do Brasil (2010, p. 2), em seu art. 6º e parágrafo único, estabelece que: Art. 6º. O Perito Judicial é responsável pelos atos que, no exercício da profissão, praticar com dolo ou culpa. Parágrafo Único: O Assistente Técnico será solidariamente responsável com seu cliente, se produzir laudo pericial visando interpor ação temerária, desde que com aquele coligado para lesar a parte contrária, o que deverá ser apurado em ação própria. Em complemento, o Conselho Nacional dos Peritos Judiciais da República Federativa do Brasil (2010, p. 2) determina os princípios fundamentais do Perito judicial e Perito Assistente: Art. 8º. O Perito Judicial deve ter plena consciência de que é o auxiliar da Justiça, pessoal civil, nomeado pelo juiz ou pelo tribunal, devidamente compromissado, desenvolvendo, assim, um trabalho de extrema responsabilidade e relevância perante o Poder Judiciário, especialmente porque irá opinar e assisti-los na realização de prova pericial, consistente em exame, vistoria e avaliação. 31 Art. 9º.O Perito Judicial, quando indicado pelas partes para atuar como Assistente Técnico, assistindo-os, para realizar a prova pericial, deve seguir as mesmas normas e condutas previstas neste Código, como se nomeado o fosse, já que seu trabalho também é de extrema relevância ao Poder Judiciário. Quanto à competência técnico-profissional do economista, este profissional é indicado para atuar como perito judicial, além de outros, como administradores, contadores, engenheiros civis, arquitetos, médicos e agrônomos. Para fins deste estudo considera-se a atuação do economista, cuja formação lhe permite compreender questões como micro e macroeconomia, estatística, econometria, economia monetária, matemática financeira, finanças corporativas, bem como matérias relacionadas ao Direito. Os conhecimentos adquiridos em sua formação acadêmica podem ser utilizados na elaboração do Laudo, que conterá todas as informações a serem entregues ao magistrado (GALVÃO, 2016). Ademais, ressalta-se que a formação do economista lhe permite atuar no Judiciário, tendo em vista a sua capacitação para analisar as questões num ângulo econômico-financeiro. Por essa razão o mercado tem investido na carreira desses profissionais, os quais estão habilitados nos cuidados da saúde financeira das empresas. Segundo dados disponíveis em meio eletrônico (AGUIAIS, 2016), as funções do economista visam promover o crescimento da empresa, bem como proporcionar tranquilidade e bem-estar aos funcionários e consumidores mediante a viabilização das questões econômicas. A atividade pericial foi incluída no rol de atividades do economista, a qual consiste na demonstração da verdade por meio de cálculos e técnicas específicas, o que exige do profissional elevado conhecimento técnico e legal mediante a aplicação de métodos científicos adquiridos na sua formação acadêmica (AGUIAIS, 2016). A fim de concluir esta fundamentação teórica e, assim, fechar o conteúdo que permite analisar a questão central deste estudo, cabe, a partir de agora, analisar o que diz a legislação federal quanto à conversão da moeda brasileira por ocasião do Plano Real. 32 1.6 A legislação federal na conversão da URV em Real O primeiro passo para a implantação do Programa de Estabilização Econômica no Brasil aconteceu com a implantação da Unidade Real de Valor (URV), em 27 de fevereiro de 1994, por intermédio da Medida Provisória n 434. Em abril daquele mesmo ano foi editada a Medida Provisória n 482, que disponibilizava sobre o Programa de Estabilização Econômica, a ser implantado naquele mesmo ano por meio da Lei Federal 8.880/1994. A URV foi uma espécie de “estágio” para a implantação da nova moeda, tinha uma variação diária e funcionava como uma espécie de referência de valor. Durante os primeiros meses de 1994, o Banco Central divulgava diariamente o seu valor, o qual era divulgado pelos meios de comunicação, servindo de parâmetros de conversões. O Programa de Estabilização Econômica e o Sistema Monetário Nacional que instituiu a Unidade Real de Valor (URV) foi publicado em 27 de maio de 1994, por intermédio da Lei Federal nº 8.880/94, e entrou em vigor no dia 1º de julho de 1994. A partir de 1º de julho de 1994 a URV passou a ser convertida para a nova moeda – o Real, na proporção de 1 Real para 1 URV (Anexo I). A Lei 8.880/1994 determinou a conversão dos salários que até então eram pagos em Cruzeiros Reais para a URV e, em seguida, para a nova moeda – o Real. Concomitante a este fato, muitos Estados publicaram as suas próprias leis referentes à conversão dos salários do funcionalismo público, com cálculos diferentes da Lei federal, originando uma série de processos judiciais. O Estado do Rio Grande do Sul foi um desses Estados, e publicou a Lei 10.225/94 em 30 de junho de 1994. Nesse cenário, o Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestou alegando que nenhuma lei pode se sobrepor à Lei Federal e, portanto, determinou a suspensão das leis estaduais e o consequente pagamento das perdas salariais dos servidores públicos estaduais e municipais (CONPEJ, 2010). Na ocasião, o Juiz Luiz Sérgio Fernandes de Souza se manifestou a respeito da correção salarial do funcionalismo público, cujo texto faz parte da Apelação nº 0035176-32.2010.8.26.0053/SP: 33 É óbvio que a Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994, marco na História recente do Brasil, é legislação de validade nacional, que obriga não só a União, mas também os Estados, o Distrito Federal e o Município. Com efeito, a mencionada Lei, a par do Programa de Estabilização Econômica, instituiu um novo Sistema Monetário Nacional, como consta, ipsis litteris, da sua própria ementa. E, ao fazê-lo, o legislador teve de cobrir, o quanto possível, as hipóteses que poderiam implicar distorções e injustiças. Como a inventiva humana é pródiga, muitos casos concretos surgiram ao longo da aplicação do diploma legal, a desafiar ajustes pontuais, que se deram na base de medidas provisórias cada vez mais casuísticas, num ingente esforço para conter a escalada inflacionária, que corroía o salário do empregado, a remuneração dos servidores, o preço dos produtos e serviços, lançando todos numa verdadeira barafunda econômica, que atulhou os tribunais, sem estrutura para conter tanta litigiosidade. Por isso, o chamado Plano Real veio como medida redentora, grande feito econômico, de inegável repercussão sociocultural, que já se inscreveu, de maneira definitiva e indelével, nas páginas da nossa História (TJ/SP, 2010). Nos meses de março a junho de 1994, a inflação continuava alta, chegando a 40% ao mês. A implantação da URV, todavia, serviu para conservar o poder de compra dos salários. Posteriormente, com a aprovação da Lei 8.880/94, que regulamentou o Programa de Estabilização Econômica, a inflação foi perdendo força nos meses que se seguiram (BRASIL ECONÔMICO, 2014). Especificamente quanto à conversão da URV em Real, tema do presente estudo, passa-se a transcrever, na íntegra, os artigos da Lei 8.880/94 que tratam da conversão dos salários dos trabalhadores, em especial, dos servidores públicos. Art. 19. Os salários dos trabalhadores em geral são convertidos em URV no dia 1º de março de 1994, observado o seguinte: I - dividindo-se o valor nominal, vigente nos meses de novembro e dezembro de 1993 e janeiro e fevereiro de 1994, pelo valor em cruzeiros reais do equivalente em URV na data do efetivo pagamento, de acordo com o Anexo I desta Lei; e II - extraindo-se a média aritmética dos valores resultantes do inciso anterior. § 1º. Sem prejuízo do direito do trabalhador à respectiva percepção, não serão computados para fins do disposto nos incisos I e II do caput deste artigo: a) o décimo-terceiro salário ou gratificação equivalente; b) as parcelas de natureza não habitual; c) o abono de férias; d) as parcelas percentuais incidentes sobre o salário; e) as parcelas remuneratórias decorrentes de comissão, cuja base de cálculo não esteja convertida em URV. § 2º. As parcelas percentuais referidas na alínea "d" do parágrafo anterior serão aplicadas após a conversão do salário em URV. 34 § 3º. As parcelas referidas na alínea "e" do § 1º serão apuradas de acordo com as normas aplicáveis e convertidas, mensalmente, em URV pelo valor desta na data do pagamento. § 4º. Para os trabalhadores que receberam antecipação de parte do salário, à exceção de férias e décimo-terceiro salário, cada parcela será computada na data do seu efetivo pagamento. § 5º. Para os trabalhadores contratados a menos de quatro meses da data da conversão, a média de que trata este artigo será feita de modo a ser observado o salário atribuído ao cargo ou emprego ocupado pelo trabalhador na empresa, inclusive nos meses anteriores à contratação. § 6º. Na impossibilidade da aplicação do disposto no § 5º, a média de que trata este artigo levará em conta apenasos salários referentes aos meses a partir da contratação. § 7º. Nas empresas onde houver plano de cargos e salários, as regras de conversão constantes deste artigo, no que couber, serão aplicadas ao salário do cargo. § 8º. Da aplicação do disposto deste artigo não poderá resultar pagamento de salário inferior ao efetivamente pago ou devido, relativamente ao mês de fevereiro de 1994, em cruzeiros reais, de acordo com o art. 7º, inciso VI, da Constituição. § 9º. Convertido o salário em URV, na forma deste artigo, e observado o disposto nos arts. 26 e 27 desta Lei, a periodicidade de correção ou reajuste passa a ser anual. § 10. O Poder Executivo reduzirá a periodicidade prevista no parágrafo anterior quando houver redução dos prazos de suspensão de que trata o art. 11 desta Lei. [...] Art. 22. Os valores das tabelas de vencimentos, soldos e salários e das tabelas de funções de confiança e gratificadas dos servidores públicos civis e militares, são convertidos em URV em 1º de março de 1994, considerando o que determinam os arts. 37, XII, e 39, § 1º, da Constituição, observado o seguinte: I - dividindo-se o valor nominal, vigente nos meses de novembro e dezembro de 1993 e janeiro e fevereiro de 1994, pelo valor em cruzeiros reais do equivalente em URV do último dia desses meses, respectivamente, de acordo com o Anexo I desta Lei, independentemente da data do pagamento; II – extrai-se a média aritmética dos valores resultantes do inc. anterior. § 1º. O abono especial a que se refere a Medida Provisória nº 433, de 26 de fevereiro de 1994, será pago em cruzeiros reais e integrará, em fevereiro de 1994, o cálculo da média de que trata este artigo. § 2º. Da aplicação do disposto neste artigo não poderá resultar pagamento de vencimentos, soldos ou salários inferiores aos efetivamente pagos ou devidos, relativamente ao mês de fevereiro de 1994, em cruzeiros reais, em obediência ao disposto nos arts. 37, inciso XV, e 95, inciso III, da Constituição. [...]. Ao concluir este capítulo destaca-se a relevância do embasamento teórico para a compreensão deste estudo. Seu objetivo foi aprimorar os conhecimentos sobre o tema, a fim de possibilitar, no próximo capítulo, a realização de uma análise que definirá se os salários dos servidores públicos no período de conversão da URV em Real, segundo a legislação federal (Lei 8.880/1994), foram convertidos corretamente. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art37xii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art39§1. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art39§1. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/1990-1995/433.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/1990-1995/433.htm 35 2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Como destacado inicialmente, o objetivo principal deste estudo é analisar, teórica e empiricamente, uma perícia de análise econômico-financeira do reajuste dos salários recebidos por servidores públicos no período novembro de 1993 a junho de 1994, quando da conversão da URV em Real, segundo a legislação federal (Lei n 8.880/1994), que judicialmente buscou recuperar suas perdas financeiras impactadas pela inflação do período. A fim de facilitar a compreensão da realidade vivida naquele período de alta inflação e de baixo poder aquisitivo, apresenta-se, no Quadro 4 e na Figura 9, a seguir, a variação diária da URV nos últimos dias de cada mês ao longo de oito meses, isto é, de novembro de 1993 a junho de 1994. Quadro 4. Variação diária da URV (Unidade Real de Valor) Dia Nov/93 Dez/93 Jan/94 Fev/94 Mar/94 Abr/94 Maio/94 Jun/94 25 227,78 310,20 429,90 626,00 864,14 1.213,97 1.754,41 2.596,58 26 231,24 310,20 436,80 637,60 879,45 1.235,99 1.784,00 2.596,58 27 234,75 310,20 443,80 637,60 879,45 1.258,12 1.814,09 2.596,58 28 234,75 314,53 450,90 637,60 879,45 1.280,19 1.844,69 2.647,03 29 234,75 318,93 458,20 875,03 1.302,65 1.844,69 2.698,46 30 238,32 323,38 458,20 913,50 1.323,92 1.844,69 2.750,00 31 327,90 458,20 931,05 1.875,82 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). Figura 9. Variação percentual dos últimos cinco dias de cada mês (nov./93 a jun./94) Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). 0.00% 200.00% 400.00% 600.00% 800.00% 1000.00% 1200.00% 25 26 27 28 29 30 31 36 Os índices supracitados confirmam a crise em que a economia brasileira se encontrava no início dos anos 1990, e a depreciação monetária diária do valor da moeda. A URV consistiu numa moeda de transição, que preparou a economia brasileira para a instituição de uma nova moeda – o Real. Na prática, a conversão salarial dos servidores públicos adotou a URV do último dia do mês e, em função de divergências nas datas-bases, gerou uma redução salarial a partir de março de 1994. Este tema é analisado no item que segue. 2.1 Dados do salário do funcionário público Os valores monetários recebidos pelos funcionários públicos no período de novembro de 1993 a junho de 1994 variavam de acordo com o dia em que recebiam os seus vencimentos. Isso pode ser constatado no Quadro 5, a seguir. Quadro 5. Valores monetários recebidos pelos funcionários públicos Período Moeda Valor monetário (salário padrão) % mensal 28/11/93 CR$ 31.922,00 0,00 28/12/93 CR$ 31.922,00 0,00 28/01/94 CR$ 57.460,00 80,00 28/02/94 CR$ 57.460,00 0,00 28/03/94 CR$ 112.622,00 96,00 28/04/94 CR$ 112.622,00 0,00 28/05/94 CR$ 277.051,00 146,00 28/06/94 CR$ 277.051,00 0,00 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). A Lei Federal n 8.880/1994 prevê o último dia do mês para o pagamento dos salários, assim como o valor da URV e o salário base da categoria. Cada categoria profissional, orientada por seus respectivos sindicados, prevê um plano de carreira, o qual tem reflexos sobre o salário padrão. O cálculo para apuração dos valores revisionais pode ser assim representado, de acordo com o estipulado pela lei em vigor: Quadro 6. Cálculo para apuração dos valores revisionais Competência Valor (CR$) Valor (URV) Quant. (URV) 30/11/93 31.922,00 238,32 133,95 31/12/93 31.922,00 327,90 97,35 31/01/94 57.460,00 458,16 125,41 28/02/94 57.460,00 637,64 90,11 Média 111,71 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). 37 O art. 21, inc. II, parágrafos 1º e 2º da Medida Provisória n 434, de 27 de fevereiro de 1994, posteriormente reeditada pela Medida Provisória n 457, de 29 de março de 1994, assim expressa: § 1º - O abono especial a que se refere a Medida Provisória nº 433, de 26 de fevereiro de 1994, será pago em cruzeiros reais e integrará, em fevereiro de 1994, o cálculo da média de que trata este artigo. § 2º - Da aplicação do disposto neste artigo não poderá resultar pagamento de vencimentos, soldos ou salários inferiores aos efetivamente pagos ou devidos, relativamente ao mês de fevereiro de 1994, em cruzeiros reais, em obediência ao disposto nos arts. 37, inciso XV, e 95, inciso III, da Constituição. No mês de fevereiro de 1994, portanto, foi garantido ao servidor público um acréscimo de 23,96% ao seu salário mensal. Como, porém, ocorreram aumentos nos salários durante o período de março a junho de 1994, é necessário que esses valores sejam apurados, a fim de que seja possível verificar quais são os seus vencimentos até o final do período, quando a moeda brasileira passou a ser o Real (CR$ 2.750 = 1 URV = R$ 1,00). Os referidos valores assim se apresentam: Quadro 7. Evolução do salário do servidor em URVs Período da competência URVs a serem pagas Valor URV Total devido conforme lei Total pago Total pago em URV Mar/94 111,71 913,50 102.044,13 112.622,00 123,29Abr/94 111,71 1.323,92 147.890,82 112.622,00 85,07 Maio/94 111,71 1.875,82 209.541,78 277.051,00 147,70 Jun/94 111,71 2.750,00 307.193,60 277.051,00 100,75 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). A revisão garantida pela Lei Federal 8.880/94 garante ao servidor público um ganho mínimo de 111,71 URVs, o que lhe garante as seguintes diferenças: Quadro 8. Valores devidos no período, conforme a Lei n 8.880/1994 Período Valor recebido (CR$) Valor da URV (CR$) Quant. URVs recebidas Quant. URVs devidas, conf. lei ≠ em URVs a receber ≠ em CR$ a receber Fev/94 57.460,00 637,64 90,11 111,71 21,60 13.770,76 Abr/94 112.622,00 1.323,92 85,07 111,71 26,64 35.273,10 Jun/94 307.193,60 2.750,00 100,75 111,71 10,96 30.151,50 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). 38 A partir de julho de 1994 o aumento do salário padrão foi de 10,96 URVs, equivalente a 10,87% do salário base, e teve reflexos em todos os direitos que o servidor conquistou ao longo de sua carreira profissional. A partir deste levantamento o perito deve atualizar os valores totais recebidos pelo servidor, conforme a determinação judicial. Muitos servidores recebiam o salário dentro do próprio mês trabalhado. Nesses casos, os Tribunais Superiores chegaram a um consenso de que os servidores teriam sido prejudicados, a exemplo do caso em estudo, cujo servidor recebeu no dia 28 de cada mês, ou seja, dentro do mês trabalhado. Para verificar a diferença que este servidor perdeu por receber antes do último dia do mês, passa-se a apresentar os cálculos, porém, com base na conversão da URV no dia do pagamento de seus salários. Quadro 9. Valores devidos no período com base no dia do pagamento Data do recebimento Valor (CR$) Valor URV (CR$) Quant. URV 28/11/93 31.922,00 234,75 135,98 28/12/93 31.922,00 314,53 101,49 28/01/94 57.460,00 450,9 127,43 28/02/94 57.460,00 637,6 90,12 Média 113,76 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). Depreende-se daí que o salário do servidor público, referente ao mês de fevereiro de 1994, teria o acréscimo de 23,64 URVs, ou seja, 26,23% a mais e não 23,96% conforme a lei determinou. Como já se demonstrou anteriormente, houve aumentos nos salários durante o período de março a junho de 1994. Em decorrência disso, os vencimentos do funcionalismo seriam os seguintes: Quadro 10. Evolução do salário do servidor em URVs, com base no dia do vencimento Data de recebimento URVs a serem pagas Valor URV Valores devidos (CR$) Valores pagos (CR$) Total pago em URV 28/02/94 113,76 879,45 100.043,44 112.622,00 128,06 28/04/94 113,76 1.280,19 145.630,35 112.622,00 87,97 28/05/94 113,76 1.844,69 209.846,07 277.051,00 150,19 28/06/94 113,76 2.647,03 301.117,72 277.051,00 104,66 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). 39 Caso a lei garantisse a revisão salarial do servidor público com base no dia do pagamento, este teria um ganho de mínimo de 113,76 URVs, o que lhe garantiria o recebimento das seguintes diferenças: Quadro 11. Evolução do salário do servidor em URVs com base no dia do vencimento Período Vlr recebido (CR$) Valor da URV URVs recebidas URVs devidas ≠ URVs a receber ≠ R$ a receber Fev/94 57.460,00 637,64 90,11 113,76 23,64 15.075,90 Abr/94 112.622,00 1.280,19 87,97 113,76 25,78 33.008,35 Jun/94 277.051,00 2.647,03 104,66 113,76 9,09 24.066,72 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). Outro cálculo que poderia ser considerado é que em 30 de julho de 1994 uma URV valia CR$ 2.750,00, então, o seu salário-base passaria a CR$ 312.831,26, ou seja, haveria um acréscimo de 12,915% e não de 10,87% como de fato ocorreu. A inflação medida pelo IPCA3, a variação da URV e o aumento salarial do servidor público no período de novembro de 1993 a junho se 1994 podem ser representadas graficamente, conforme segue: Figura 10. Variação comparativa entre novembro de 1993 a junho de 1994 Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2016). Cabe ressaltar ainda que, apesar de a Lei Federal determinar a revisão dos salários tomando por base o último dia do mês, em novembro de 1993 o servidor público recebia o equivalente a 135,98 URVs. Em nenhum dos outros meses houve 3 IPCA: índice usado nessa época para medir a inflação. 1073.08% 1053.91% 767.900% 0.00% 200.00% 400.00% 600.00% 800.00% 1000.00% 1200.00% 40 um valor igual ou maior do que este, representando uma perda do poder aquisitivo. Ao se considerar tão somente a correção de junho de 1994, o servidor público deveria ter ganho um reajuste de 34,976% para manter o mesmo salário de novembro de 1993. A Lei Federal, entretanto, lhe garantiu apenas 10,78%, razão porque todos os servidores públicos tiveram perdas salariais nesse período. Outras análises também podem ser feitas, embora nenhuma delas impactaria na mudança da lei. Economicamente, contudo, é importante fazer esta análise, pois a perda do poder aquisitivo da população reflete no consumo da economia. É importante, ainda, considerar que alguns servidores públicos recebem os seus pagamentos antes do final do mês, como é o caso do Judiciário, cujos vencimentos têm por base o dia 20 (data do repasse do duodécimo). Este dia deve ser observado para a conversão, conforme decisão do Relator Ministro Luiz Fux, a seguir apresentada: Aduza-se, a título de obiter dictum, que apenas terão direito ao índice de 11,98%, ou a um índice calculado em um processo de liquidação, os servidores que recebem as suas remunerações no próprio mês de trabalho, tal como ocorre no âmbito do Poder Legislativo Federal, do Poder Judiciário Federal e do Ministério Público Federal, em que o pagamento ocorre no dia 20 de cada mês. (STF, 2016). O entendimento do Ministro do Supremo Tribunal Federal se explica pela matemática da conversão, pois num cenário de alta inflação, como a dos anos de 1993 e 1994, o salário se desvalorizava muito no dia a dia. Numa inflação de aproximadamente 40% ao mês, em apenas 10 dias o salário perdia em torno de 10% a 15% do seu poder de compra. Ao se converter o salário pela URV do último dia do mês em comparação com a conversão pelo dia 20 do mês percebia-se, então, uma grande diferença, ou seja, uma perda no seu poder aquisitivo. Em alguns casos a Administração Pública simplesmente não realizou a conversão prevista na Lei Federal n 8.880/94. Cabe, portanto, verificar esses casos e lhes aplicar a correta conversão, verificando a diferença entre o que foi pago e o que é devido. Isso depende, contudo, da elaboração de um cálculo que comprove a redução do valor real do salário pago. 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo principal deste estudo foi analisar se a Lei Federal n 8.880/94, haja vista a sua supremacia, garantiu a reposição das perdas salariais aos servidores públicos com a conversão da URV para o Real. A partir da pesquisa teórica e da coleta de dados do processo em andamento no Judiciário, esses foram compilados e interpretados a fim de possibilitar a elaboração de uma análise que permitisse o entendimento dos fatos ocorridos. Ressalta-se que a autoria desses processos é mantida em sigilo por questões éticas, haja vista comporem processos em andamento que ainda não foram julgados. Analisou-se, portanto, o caso real de um servidor público cujos vencimentos recebidos no período de novembro de 1993 a fevereiro de 1994 foram calculados com base na Lei Federal 8.880/94, que definiu as regras de reposição salarial. Constatou- se, porém, que no referido período analisado o poder
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