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ENSINO DE CIÊNCIAS: Trabalhando as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Estudo de Botânica. 
Angélica Luciana da Silva1 Cristiane Correa da Silva2
Resumo
O ensino de botânica deve ser desenvolvido de forma contextualizada visando à reflexão do sujeito sobre o seu papel no meio em que vive. Nesse sentido é possível articular a temática “PANC” aos estudos de botânica na Educação Básica. O objetivo desse estudo é analisar e identificar os conhecimentos dos alunos do 8° ano do ensino fundamental de uma instituição pública da zona rural do município de Rolante/RS em relação a temática PANC através de uma sequencia didática. Para coleta de dados foi utilizado um questionário semiestruturado. Para identificar os conhecimentos prévios dos alunos foi aplicado um pré-teste, logo em seguida foi desenvolvida uma sequência didática (SD) permeada por atividades práticas, posteriormente ocorreu um pós-teste para verificar se os alunos assimilaram as informações sobre a temática em discussão. Os resultados evidenciaram que os alunos se apropriaram da temática de estudo e conseguiram identificar potencialidades nessas plantas para a diversificação do cardápio nutricional, mas evidencias mostram que ainda faltam ações de divulgação cientifica no meio escolar, principalmente acerca das propriedades nutricional das PANC. A utilização de estratégias de ensino diferenciadas pode contribuir efetivamente para o entendimento do conteúdo desenvolvendo habilidade e competências importantes para a formação, ressaltado ainda que a exploração através da SD permite despertar o lado investigativo dos discentes. 
Palavras-chave: Ensino de Botânica. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC). Sequência Didática (SD). Ensino Fundamental.
1 Graduado em Ciências Biológicas, pela universidade Feevale. Pós-graduando em Metodologia do Ensino de Ciências Biológicas pela UNIASSELVI/IERGS. E-mail: angelicalucianadasilva@yahoo.com.br
2 Graduada em Pedagogia pela Universidade Anhanguera-Uniderp.. Pós-graduada em Administração Escolar, Supervisão e Orientação pela UNIASSELVI/IERGS. E-mail: cristiane.correadasilva@hotmail.com
1 INTRODUÇÃO
A iniciativa deste trabalho surgiu pelo fato que as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) merecem uma maior divulgação cientifica no âmbito educacional, pois são vegetais pouco conhecidos e consumidos pela população humana. Segundo Kinupp (2007, p. 14), nativas ou exóticas, muitas são denominadas como “mato, daninhas, invasoras e até nocivas”, por brotarem espontaneamente entre as espécimes cultivadas ou em locais onde não permitimos que isso ocorra. Ainda de acordo com Kinupp (2007, p. 14), “[...] estudos revelam que as PANC são mais ricas nutricionalmente do que plantas domésticas. Devido a isso, milhares de espécies com alto valor nutritivo são negligenciadas por grande parte da população [...]”. 
As PANC tem potencial para complementação alimentar, diversificação dos cardápios e dos nutrientes ingeridos e na diversificação das fontes de renda familiar, como a venda de partes das plantas ou de produtos processados (geleias, pães e farinhas) e através do turismo rural ou gastronômico. Sendo assim uma possibilidade de complementar os cardápios do cotidiano agregando diversas PANC.
Nessa perceptiva Reis (2014) afirma que as PANC apresentam potencial como temática geradora de projetos pedagógicos, no âmbito do ensino formal e informal. Com isso a partir da escolha da temática PANC, optou- se por organizar e desenvolver um projeto educacional explorando a articulação de uma sequência didática (SD) como mecanismo de organização do planejamento didático. De acordo com Zabala (2002), uma SD trata-se de um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para realização de um determinado objetivo educacional, que tem um principio e um fim conhecido. 
Tendo como objetivo analisar e identificar os conhecimentos dos alunos do 8° ano do ensino fundamental de uma instituição pública da zona rural de Rolante/RS sobre as PANC, através do estudo de Botânica, utilizou-se uma metodologia de abordagem de pesquisa, sendo ela qualitativa e exploratória, de acordo com Prodanov e Freitas (2013, p. 128) “[...] o ambiente natural é fonte direta para coleta de dados, interpretação de fenômenos e atribuição de significados [...]”. Para explorar o conhecimento prévio do aluno foi utilizada uma SD, de cunho teórico-prático, seguido por um questionário semiestruturado como pré-teste e pós-teste, com intuito de abordar a temática de estudo e dinamizar os processos de ensino e de aprendizagem nas aulas de Ciências Biológicas. 
2 AS PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS (PANC) NO ESTUDO DE BOTÂNICA ATRAVÉS DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA. 
Neste item, serão apresentados os procedimentos utilizados para o desenvolvimento da presente pesquisa.
 2.1 A Botânica no Ensino Fundamental.
A Botânica é um ramo da Biologia que estuda as plantas, ou seja, essa é uma das disciplinas em que o aluno vai estudar a importância dos vegetais e as características mais relevantes de cada táxon (SILVA, 2015).
O estudo das plantas vem se desenvolvendo há milhares de anos, e como toda a área das ciências, (RAVEN et al., 2001) a Botânica era um ramo da medicina, estudada basicamente só por médicos; já nos tempos de hoje, é uma área de conhecimento importante e apresenta diversas subdivisões como: fisiologia vegetal, anatomia vegetal, morfologia vegetal, classificação das plantas e a paleobotânica. Raven et (2001, p. 7) ainda explicam que: 
Uma das características da botânica é que ela estuda a si própria e a natureza dos outros organismos vivos, incluindo as plantas. Talvez o estudo da biologia tenha se desenvolvido nas comunidades humanas devido à domesticação das plantas. A área da biologia que estuda as plantas por tradição as bactérias, fungos e algas são chamados de botânica ou biologia vegetal. 
No ensino fundamental, o exercício do professor de Biologia em nosso país variou bastante desde décadas de 1950, 1960,1970 e 1990. “[...] Na década de 1950, o estudo de ciências naturais era subdividida em Botânica, Zoologia e Biologia Geral, tópicos que compunham com mineralogia a disciplina História Natural [...].” (KRASILCHIK, 2008, p. 16)
De acordo com os PCNs (BRASIL, 1998, p. 80), no ensino fundamental, deve-se buscar o estudo de botânica como forma dos alunos entenderem como a vida se diversificou a partir de uma origem comum e dimensionar a biodiversidade atual.
 2.3 Sequência Didática (SD) no Ensino de Botânica.
Gonçalves (2013 ) identificou que alunos do ensino fundamental apresentam escassez de informações sobre conteúdos botânicos, isso porque aparentemente o que se aprende na sala de aula pouco tem relação com o mundo que se vivencia. É neste tipo de situação que se percebe o quanto é deficiente o ensino baseado unicamente em aulas teóricas no ambiente escolar. Hoernig (2003, p. 165) enfatiza que “[...] a maior parte dos professores de Ciências Naturais não desenvolvem aulas com atividades práticas e isto é um fato conhecido”. Neste sentido, Krasilchik (2008) comenta que em atividades práticas nas aulas de Ciências Naturais, os estudantes são levados a observar, a experimentar e a buscar explicações ao seu redor, e a analisar suas implicações para a melhoria das condições de vida individual e coletiva. Para Fonseca (2014, p. 85), 
É no confronto com a experiência que se propicia um saber refletivo e prolífero para elaboração de posteriores relações significativas, permitindo ao aluno a elaboração de sua própria interpretação e a utilização de espaços não formais podem proporcionar isso. 
Por isso, a população em geral não se dá conta da importância das PANC para o nosso dia a dia, como Lorenzi e Kinupp (2014, p.13) relatam: 
[...] a grande maioria é analfabeto botânico, ou seja, não consegue ler nada ou quase nada do verde que nos rodeia, que mesmo nas grandes cidades insiste em aparecerem nas frestas das calçadas, nos quintais, nos terrenos baldios, bem como o espaçomanejado e cuidado pelo homem. 
Kinupp (2007) afirma que as PANC estão intrinsecamente ligadas aos alimentos orgânicos, à agroecologia, à sustentabilidade, à resiliência, à segurança e especialmente, à soberania alimentar. Nesse sentido, vale destacar o expressivo valor nutricional e o fácil manejo das espécies botânicas consideradas PANC. A esse respeito, Lorenzi e Kinupp (2014, p. 20) compreendem que somos:
[...] seres onívoros, precisamos conhecer mais e fazer melhor uso da nossa agrobiodiversidade e tirar das pessoas esse preconceito em relação a essas plantas ditas silvestres. Muitos acham que é comida de pobre, de quem está passando por uma situação de vulnerabilidade social; o que não é verdade. São plantas com alto teor nutritivo, fontes riquíssimas de zinco, molibdênio e muitas outras vitaminas. 
Sendo assim o uso da SD conforme Paiva (2014) é importante na construção do saber, o que faz com que os alunos construam uma história do conhecimento científico, trabalhando a compreensão da natureza das ciências, relacionando com os outros conhecimentos a partir da cultura e de um diálogo intracultural. Nesse sentido, a avaliação a ser aplicada a partir do uso da SD pode adquirir um caráter amplo no processo de ensino, para além do que por vezes encontrado e discutido na literatura (GIORDAN et al, 2011).
 3 METODOLOGIA E RESULTADOS
 Será apresentado procedimentos metodológicos e os resultados aplicados no desenvolvimento da presente pesquisa.
 3.1 Procedimento para coleta de dados e sequência didática (SD).
Para coleta de dados foi utilizado um questionário semi-estruturado, adaptado de Silva (2015), com um total de 15 perguntas (Apêndice A), sendo 10 abertas (dissertativas) e 5 fechadas (objetivas). O público-alvo da pesquisa foi composto por 20 (vinte) alunos, do 8° ano do Ensino Fundamental de uma instituição pública, da zona rural do município de Rolante/RS. Dentre os discentes 70% pertencem ao gênero feminino e 30% ao gênero masculino, com idades que variam de 13 a 15 anos.
Para identificar os conhecimentos prévios dos alunos, foi aplicado um pré-teste. Segundo Prodanov e Freitas (2013, p. 106), “[...] o pré-teste refere-se ao teste do questionário em uma pequena amostra de entrevistados, com o objetivo de identificar e eliminar problemas potenciais [...]”. Em seguida, para obtenção de dados, foi desenvolvida uma SD. Tendo como finalização a aplicação de um pós-teste, com a mesma estrutura do pré-teste, com objetivo de avaliar a construção do conhecimento botânico dos discentes. Segundo Costa (2013), a SD é um conjunto de atividades ligadas entre si, para ensinar um conteúdo por etapas. O quadro 1 apresenta as etapas SD aplicadas durante a execução do presente projeto de pesquisa. 
Quadro 1- Etapas da Sequência Didática.
	ALUNOS DO 8°ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA
	PROCEDIMENTOS
	AÇÕES 
	Questionário de Pesquisa.
Aula expositiva e dialogada sobre as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC).
Estudo Dirigido.
	1° O questionário de pesquisa será aplicado com o intuito de identificar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema PANC.
2° Compreender que as PANC podem ser inseridas na refeição diária, tendo um grande valor nutricional.
3° Pesquisa de campo e exploração individual de cada aluno com o objetivo de encontrar e reconhecer as PANC disponíveis em sua residência ou localidade onde mora. Após esse momento os alunos deverão trazer as PANC para aula e apresenta- lá aos colegas, respondendo os questionamentos que surgirem. 
	
Plantar um espécime de PANC.
Elaboração de cartaz sobre as PANC.
	1° Em um recipiente reciclável, cada aluno irá plantar um espécime de PANC e depois será levada embora para ser cuidada pelo aluno.
2° Será elaborado um cartaz com diversas espécies de PANC. Ao lado de cada espécime terá uma legenda descrevendo os nutrientes que ela possui e em que parte do nosso organismo ela age.
	Elaboração de uma receita utilizando as PANC.
Questionário para pesquisa.
	1° Após os alunos ter conhecido as PANC e seus nutrientes, a turma do 8° ano fará uma receita de um prato utilizando as PANC. A receita será degustada pela turma.
2° O questionário de pesquisa será aplicado para avaliar o conhecimento adquiridos pelos alunos após os estudos.
Fonte: Elaborado pela autora da pesquisa.
Para analisar os dados obtidos no questionário, optou- se por desenvolver categorizações, aplicando assim análise de conteúdo (BARDIN, 2011). Segundo Prodanov e Freitas (2013, p. 102), “[...] a análise de conteúdo é uma técnica de ler e interpretar o conteúdo de toda classe de documento[...].” Oliveira (2008) refere- se à análise de conteúdo como um instrumento de pesquisa científica com múltiplas aplicações, usando técnicas de análise de conteúdo temático- categorial, de forma de contribuir ao ensino. Sendo assim, os resultados poderão ser analisados através de diferentes elementos para compreender a mensagem.
3.2 Análise dos Resultados 
Em relação ao saberes acerca das PANC, cerca de 50% dos discentes souberam discorrer no pré-teste sobre o que é uma PANC, de forma superficial, já no pós- teste, 85% conseguiram definir, com exemplificações, a temática abordada, o que mostra uma apropriação do tema trabalhado durante a SD. As argumentações dos respondentes passaram por categorização seguindo Bardin (2011), e estão apresentadas no (quadro 2).
Quadro2- Definição sobre as PANC 
	Categoria
	Subcategoria
	Pré-teste
	Pós-teste
	Plantas comestíveis.
	Plantas que podemos comer normalmente e não sabemos por falta de costume.
	A2, A3, A6, A8
	A8, A11, A14,A16, A2, A1, A6, A17.
	
	Plantas que todos os seres vivos podem consumir.
	
	A13, A2, A10, A5.
	
	Plantas consideradas inços, daninhas, mas que são comestíveis por qualquer ser vivo.
	
	A19, A20.
	
	Plantas que servem de alimento para insetos.
	A4.
	
	Ecologia e potencial nutricional.
	São plantas invasoras, matos e brejos, com expressivo potencial nutricional para a alimentação humana. 
	A1, A5, A7, A9, A10.
	
	
	Plantas que nascem de forma espontânea.
	
	A4. 
	Vegetais sem agroquímicos.
	Tratam-se de alimento orgânico.
	
	A9, A5. 
Fonte: Dados da pesquisa.
Nota Explicativa: A letra A representa a palavra aluno. O número logo após a letra A representa os alunos que participaram da pesquisa.
Constatou-se, nos resultados apresentados no quadro 2, que houve predominância de três subcategorias. A primeira refere- se a “Plantas que podemos comer normalmente e não sabemos por falta de costume”. Essa afirmação apareceu tanto no pré-teste como no pós- teste. Segundo Kinupp (2007), esse pensamento ocorre pelo fato de que o homem sabe que obtém seu alimento dos recursos naturais e para isso os vegetais contribuem majoritariamente; por isso, desde sempre precisou e precisa saber diferenciar as espécies de vegetais. 
A segunda subcategoria que se destacou foi sobre as “plantas invasoras, mato se brejos, com expressivo potencial nutricional para a alimentação humana”; aparecendo somente no pré-teste. Acredita-se que este resultado tenha relação com a realidade sociocultural.
Ainda sobre a definição de PANC, dentre os argumentos dos alunos, a resposta “são plantas que todos os seres vivos podem consumir” foi apresentada por quatro discentes no pós-teste. A esse respeito, Kinupp (2007) afirma que todos os organismos vivos podem consumir as PANC, pois elas apresentam alto teor de fibras e sais minerais e se adaptam com facilidade à biodiversidade local. 
Lorenzi e Kinupp (2014, p. 13) ainda afirmam que: 
[...] quando uma espécie é considerada uma PANC, essa espécie possui uma ou mais parte que podem ser utilizadas diretamente na alimentação humana, tais como: raízes tuberosas, tubérculos, bulbos, rizomas, cormos, talos, folhas, brotos, flores, frutos e sementes ou ainda látex, resina e goma, ou indiretamente quando são usadas para obtenção de óleos e gorduras alimentícios. 
Já em relação ao cardápio dos alunos são utilizadas verduras tradicionais como couve-flor, beterraba, cenoura, alface e pepino. Isso ocorre pelo fatodo estudo de botânica no Ensino Fundamental, demonstrar deficiências na hora de ensinar o aluno, pois a utilização do livro didático é muito forte tendo foco somente na utilização do livro e não utilizando o campo ou ambiente onde o aluno vive como forma de estudo. 
Segundo Silva (2008), os livros didáticos não podem ser a única ferramenta de ensino e aprendizagem no ensino de botânica, principalmente quando o tema trabalhado refere-se aos vegetais; o reconhecimento de que a variedade de cores, formas, texturas, tamanhos e diversidade de espécies são características evidenciadas durante o trabalho prático de campo, sendo impossíveis tais observações em sala de aula, inclusive tendo como único recurso o livro didático.
Já no pós- teste aplicado da sequência didática, Madi (2014, p.16) diz que:
[...] para que os alunos possam conhecer e praticar os vários usos da linguagem em novas situações comunicativas, nas atividades oferecer modelos didáticos, dando pistas, indicando caminhos, ensinando e colocando em prática conceitos que culminem com o desenvolvimento de diversas capacidades e habilidades. 
 Os alunos voltaram a responder o questionário e nos seus cardápios ocorreram mudanças acrescentando o consumo das Plantas Alimentícias Não Convencionais como caruru, picão, taboa e serralha.
As estratégias de ensino e aprendizagem utilizadas nas aulas demonstraram nos discentes, segundo Lima (1999, p. 78):
“a experimentação inter-relaciona o aprendiz e os objetos de seu conhecimento, a teoria e a prática, ou seja, une a interpretação do sujeito aos fenômenos e processos naturais observados, pautados não apenas pelo conhecimento científico já estabelecido, mas pelos saberes e hipóteses levantadas pelos estudantes, diante de situações desafiadoras”. 
A maioria dos discentes relatou que adquirem suas verduras, legumes e frutas em mercados ou fruteiras, somente (5%) utilizam a horta para plantar. Mas através da aplicação SD abordando o tema PANC no estudo de botânica, valorizando a participação ativa do estudante: “Os objetivos que eram somente informativos deram lugar aos objetivos formativos” (ROSA, 2010, p.2). Com essa mudança no Ensino de Botânica no Ensino Fundamental, pode ocorrer um olhar diferente no discente, fazendo com que ele saiba cultivar seu próprio alimento ou PANC.
Sendo assim, como afirma Moraes (1998) à construção de novos conhecimentos deve sempre partir da noção prévia dos alunos, mesmo que intuitivos e derivados, levando- se em consideração que os processos de ensino e aprendizagem implicam na desestruturação e consequentemente na reformulação dos conhecimentos através do diálogo e da reflexão. 
Para sair da rotina de sala de aula, os alunos ainda puderam ter contato direto com essas plantas, pois realizaram uma caminhada pelo pátio da escola e fizeram um cartaz (FIGURA 1), sendo este, um recurso de ensino aprendizagem que facilita o desenvolvimento da independência. Os alunos pesquisaram as quantidades de PANC encontradas ao redor de sua residência e ainda cultivaram uma espécie de PANC para trazer no último dia do tema “alimentação”. Prepararam uma receita utilizando uma espécie de PANC: Caruru (Amaranthus deflexsus L.), Cacau (Theobroma cacao L.) (FIGURAS 2).
Figura 1- Elaboraçã do cartaz com espécies de PANC e seus valores nutricionais.
Fonte: Acervo particular da autora (2018)
Figura 2 – Degustação do bolo de Caruru com Cacau.
Fonte: Acervo particular da autora (2018)
As estratégias de ensino e aprendizagem desenvolveram habilidades nos alunos, que segundo Rosa “[...] essa pratica educativa trabalhada com seriedade, deixa de ser uma ruptura das atividades realizadas em classe com os alunos, tornando- se, ao contrário, um aprofundamento, que contribui no crescimento e desenvolvimento das suas habilidades” (2010, p.08).
Ainda no pré-teste foi questionado aos alunos sobre o uso de agroquímicos nos vegetais e o que poderiam causar, a resposta deles foi surpreendente; a maioria respondeu que “tem consciência da quantidade de agroquímicos que são utilizados nos vegetais, e que isso pode ocasionar um câncer”. Isso mostra que a palavra “agroquímica” já faz parte do vocabulário dos alunos antes da utilização das temáticas necessárias, sendo algo corriqueiro que os alunos já relatam do seu cotidiano.
A afirmação que Bizzo relata sobre isso é “[...] forma semelhante, o professor, durante as aulas de ciências, não deve incutir nos alunos a crença de que ele seja uma espécie de enciclopédia que detém todas as respostas possíveis para as amais insólitas perguntas”. (2001, p.49)
Os alunos tiveram esse contato direto com o ambiente onde se encontra as PANC, um ensino de botânica utilizando diversas ferramentas de ensino e aprendizagem, como afirma Figueiredo (2012, p. 15) “[...] o desejo de ensinar sobre os vegetais parece ser intenso, não sendo um conteúdo a ser vencido, mais apresentado com uma temática agradável de estudar, entendendo o papel do aluno nesta relação”. 
Por isso Zabala (2002) afirma que, para haver aprendizagem de um novo conteúdo, o núcleo central deve situar-se na capacidade de atualizar e de utilizar os conhecimentos prévios do estudante, com o novo conteúdo, identificando a dificuldade no aluno em conceituar o conteúdo estudado. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo teve a intenção de organizar o desenvolvimento de um projeto educacional, com o intuito de explorar a articulação de SD, em um grupo de discentes do 8° ano do Ensino Fundamental. A SD envolve o conteúdo de Botânica, a partir da escolha da temática PANC, através de uma abordagem científica, dentro do espaço socioambiental em que o aluno convive. 
Constatou-se que a aplicação da SD, utilizando métodos de ensino e aprendizagem diversificados para o ensino de Botânica, propiciou a exploração das potencialidades dos alunos no próprio meio escolar e na comunidade, através do equilíbrio teoria e prática, e ainda que os estudantes pudessem observar que as PANCs podem promover ligações interdisciplinares, através da construção do conhecimento significativo. 
A partir dos dados coletados, foi possível observar que as PANC não são consumidas por falta de conhecimento, pois há deficiência de saberes discentes em relação ao tema abordado. Um dos caminhos alternativos, que poderia ajudar atenuar essa defasagem de saberes, é a contextualização do ensino de Botânica, a partir do fomento de atividades que explorem mais o ambiente escolar e a área geográfica onde a comunidade escolar está inserida. 
Observou-se que houve a construção do conhecimento Botânico, por parte dos alunos do Ensino Fundamental, pois a utilização da teoria com a prática quebrou muitos tabus em relação à forma de olhar para o estudo de Botânica. 
Portanto, a presente pesquisa ofertou a oportunidade de utilizar um SD no ensino de Botânica, voltada a temática PANC. Tal abordagem mostrou-se interessante e instigante para os alunos; além disso, a contextualização do ensino apresentou-se de forma natural e articulada à realidade social em que a comunidade escolar está inserida.
REFERÊNCIAS
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ZABALA, Antoni. Enfoque Globalizador e Pensamento Complexo: Uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002. 
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO
PRÉ E PÓS -QUESTIONÁRIO
Gênero: ( ) feminino ( ) masculino Idade:______
Zona: ( ) rural ( ) urbana
1- Em sua opinião, qual a importância de hábitos alimentares saudáveis? 
2- Você gosta de experimentar Legumes, verduras e frutas? 
( ) Sim 
( ) Não 
Se a resposta anterior for NÃO, justifique seu posicionamento. 
3- Cite os vegetais, frutas e legumes presentes na sua alimentação diária. 
4- Os legumes, hortaliças e frutas que você consome são cultivados em sua casa ou você compra no mercado? Explique. 
5- Explique o que você entende por alimentos orgânicos e como são cultivados. 
6- Você sabe qual a principal diferença entre um alimento orgânico de um alimento transgênico? Explique. 
7- Você já ouviu falar de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC)? 
( ) Sim 
( ) Não 
Se a sua resposta for SIM à pergunta anterior, explique com suas palavras o que são as Plantas Alimentícias Não Convencionais? 
8- Você já comeu alguma vez essas plantas? 
( ) SIM 
( ) NÃO 
Se resposta for SIM, qual seria a espécie de PANC? 
9- Como podemos identificar uma PANC no dia a dia? Explique? 
10- Em qual local podemos encontrar as PANC? 
( ) Roça; 
( ) Mato; 
( ) Horta; 
( ) Mercado ou Fruteiras; 47 
( ) Todas as alternativas;
( ) Nenhuma das alternativas;
11- Quem pode consumir as Plantas Alimentícias Não Convencionais? 
( ) Crianças; 
( ) Adultos; 
( ) Mulheres; 
( ) Homens; 
( ) Idosos; 
( ) Todas as alternativas estão corretas; 
( ) Nenhuma das alternativas anteriores. 
12- Para o consumo das PANC precisa algum preparo especial? Explique? 
13- Quais as partes das Plantas Alimentícias Não Convencionais podem ser consumidas? 
14- Você já consumiu alguma receita que utilizou PANC como ingrediente principal? Qual foi a espécie e o nome da receita? 
15- Sobre o uso de agroquímicos nos vegetais, o que ele pode causar no nosso organismo.

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