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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIODIVERSIDADE E BIOTECNOLOGIA DA REDE BIONORTE PROPAGAÇÃO IN VITRO E BIOPROSPECÇÃO DE EXTRATOS DE PLÂNTULAS DE Libidibia ferrea (FABACEAE) DANIEL DA SILVA MANAUS-AMAZONAS Fevereiro/2019 DANIEL DA SILVA PROPAGAÇÃO IN VITRO E BIOPROSPECÇÃO DE EXTRATOS DE PLÂNTULAS DE Libidibia ferrea (FABACEAE) Tese apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede BIONORTE, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Biotecnologia e Biodiversidade. Orientador: Prof. Dr. Paulo de Tarso Barbosa Sampaio MANAUS-AMAZONAS Fevereiro/2019 FICHA CATALOGRÁFICA Dedicatória. “Maxime” Dedico este trabalho à minha avó “In memorian” Palmira Nonata da Silva Pereira e a minha mãe Maria das Dores Nonata da Silva, que através de suas orientações sempre me exigiram um pouco mais, fazendo-me crescer intelectualmente e moralmente, e por ter me ensinado a importância da educação. Aos meus queridos irmãos Danilo e Adonias, vocês dois sãos os melhores irmãos que a vida me proporcionou! “Epígrafe”. “Não existe felicidade maior na Terra do que aquela que um espírito belo e produtivo encontra em si mesmo nos momentos felizes”. Arthur Schopenhauer “Os grandes feitos são conseguidos não pela força, mas pela perseverança”. Samuel Johnson AGRADECIMENTOS Esta tese é o resultado de um esforço conjunto, e sua produção seria impossível sem a generosidade de Deus, por sempre estar ao meu lado, ter me dado esperança, força de vontade e acima de tudo a sabedoria para a conquista de mais uma vitória pessoal e profissional. Minha gratidão ao Dr. Paulo de Tarso de Barbosa Sampaio, meu orientador e amigo, pela orientação e estímulo ao meu desenvolvimento acadêmico, profissional e pessoal. Agradeço à Dra. Angela Maria Imakawa que ajudou a desenvolver o plano de revisão desde o 1º até o 3º capítulo deste trabalho, fez muitas sugestões úteis, cujas contribuições foram significativas e evidentes no texto. Nosso técnico do Laboratório de Silvicultura e Tecnologias Digitais do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (LASTED-INPA), Eng. Florestal, Flávio Mauro Souza Bruno, de todas as formas manteve o funcionamento do laboratório e nos forneceu opiniões extremamente úteis sobre diferentes capítulos. Agradeço à Dra. Suely de Souza Costa pelo seu talento estatístico e na interpretação das análises de dados. Minha gratidão vai também para Dr. Luiz Augusto Gomes de Souza pela identificação da espécie vegetal e fornecimentos das sementes. Um agradecimento muito especial vai para Dra. Cecília Verônica Nunez, que me supervisionou no seu Laboratório de Biotecnologia e Bioprospecção do INPA e contribuiu muito para a realização deste projeto. Também estou profundamente agradecido à Fundaçao de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e a Coordenação de Pesquisas de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro da bolsa de estudo junto ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia – Rede Bionorte. Agradeço ao reitor da Universidade do Estado do Amazonas, Dr. Cleinado de Almeida Costa, meu amigo, por sua extraordinária ajuda na aquisição de passagens aéreas e diárias para participação em diversos eventos científicos nacionais e internacionais, assim como para custeio da taxa de publicação dos artigos, frutos desta tese. Sinto-me muito feliz por ter tido Dr. Spartaco Astolfi Filho, como Coordenador Geral da Rede Bionorte, o qual aprendi bastante durante a Representação Estudantil (2015-2016) e, sobretudo, foi um importante “interlecutor” nos bastidores durante a realização do doutorado sanduíche no exterior – uma mão amiga. Agradeço ao Coordenador Estadual do PPG-Bionorte/Amazonas, Dr. Jair Maia por sua ajuda e por fornecer assistência administrativa em muitas ocasiões. Em Leeds, Dra. Christine H. Foyer foi minha supervisora e crítica de primeira linha durante o meu estágio de doutoramento-sanduíche na Universidade de Leeds, Reino Unido. Dra. Barbara Kampiska contribuiu bastante para o ensino de técnicas biotecnológicas, especialmente a microscopia confocal. Muitos colegas tiveram um papel especial em momentos importantes durante o meu estágio e por suas intervenções oportunas. Destaco: o maravilhoso casal Jonas Alvim e Fernanda Alvim, e aos colegas de laboratório: Philipa Siclair, Hayati Razak, Sarah Alomran, Yousef Hajaya todos fizeram muitos comentários incisivos e principalmente ao estímulo do network que foi fundamental durante a minha experiência nesta Universidade. Muitos outros colegas e amigos, que me auxiliaram a dar forma a este trabaho com seus comentários, sugestões e críticas. Sou profundamente grato a todos eles: MSc. Messe Elmer Torres da Silva, Universidade do Estado do Amazonas MSc. Weison Lima da Silva, Universidade Federal do Amazonas MSc. Maria Teresa Fachin Espinar, Universidade Federa do Amazonas MSc. Maria Izabel Correia Osorio, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia MSc. Adrian Arturo Arispe, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Aos velhos amigos, por compreenderem as infinitas horas de minha ausência e que, mesmo tão longe, continuam tão perto. Não tenho espaço espaço aqui para agradecer a todas as pessoas cujos esforços contribuíram para o desenvolvimento deste projeto. Ofereço meu sincero agradecimento – e a tese pronta que eles ajudaram a finalizar. Assumo, é claro, total responsabilidade por eventuais incorreções. Quero agradecer, de modo especial, aos meus meus alunos de PIBIC e de TCC da Univesidade do Estado do Amazonas por suas inúmeras contribuições que me ajudaram a equilibrar as demandas com o tempo e o estudo. Finalmente, expresso minha profunda gratidação à minha família, especialmente a minha querida mãe - Maria das Dores Nonato da Silva - e a minha querida companheira e mulher - Josilene Cavalcante Cunha - que tiveram extraordinária paciência e me apoiaram na realização deste sonho, e dando-me força para ser um vencedor. Muito obrigado! vii DA SILVA, Daniel. Propagação in vitro e bioprospecção de extratos de plântulas de Libidibia ferrea (Fabaceae). 2019. 125 f. Tese (Doutorado em Biodiversidade e Biotecnologia) – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, 2019. RESUMO O estudo teve por objetivo estabelecer e avaliar métodos de propagação in vitro e bioprospecção de extratos de plântulas de Libidibia ferrea (Fabaceae), que possibilitará a multiplicação de genótipos superiores com potencial para uso medicinal. Os experimentos foram desenvolvidos no Laboratório de Silvicultura e Tecnologia Digitais (LASTED) e Laboratório de Bioprospecção e Biotecnologia (LABB), ambos, vinculados ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA, Manaus, AM), em parceria com o Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais (LCTV) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA, Manaus, AM). A pesquisa contempla quatro capítulos. Capítulo I – Cultura in vitro de embriões zigóticos e sementes de L. ferrea e as respostas morfogenéticas dos explantes em relação a diferentes concentrações de reguladores de crescimento.Os resultados indicaram a viabilidade técnica da cultura de embriões zigóticos e germinação de sementes in vitro, tornando-se uma técnica alternativa para propagação in vitro desta espécie. No capítulo II - Foi avaliado o efeito de diferentes concentrações de 2,4-D e ANA isoladamente ou em combinação com BAP e TDZ para a indução de calos friáveis em explantes foliares e segmentos nodais. Os resultados demonstraram que ambos os tipos de explantes apresentaram diferenças significativas (p<0,05) na indução, morfologia e coloração dos calos. A indução máxima de calos friáveis (90%) foi obtida a partir de explantes de segmentos nodais cultivados em meio MS suplementado com 1,0 mg L-1 de 2,4-D e 5,0 mg L-1 de TDZ. Em relação ao capítulo III – Foi avaliada a influência da luz de LED azul-vermelha e LED branca na calogênese e na regeneração de plântulas in vitro de L. ferrea. A luz LED azul-vermelha estimulou a maior formação de calos friáveis e a regeneração in vitro de plântulas em relação à luz LED branca. Os resultados confirmam a eficiência da utilização da luz de LED azul-vermelha e LED branca para calogênese e a regeneração in vitro de L. ferrea. No capítulo V – Foi realizado o estudo químico e biológico diferentes metabólitos secundários, e atividades antibacterianas, antioxidantes e tóxicos. A avaliação dos extratos mostrou a presença de diferentes metabólitos secundários, e atividades antibacterianas, antioxidantes e tóxicos. Palavras-chave: Biotecnologia, Multiplicação in vitro, Otimização de protocolo, Libidibia ferrea, Planta medicinal. viii DA SILVA, Daniel. In vitro propagation and bioprospecting of seedling extracts of Libidibia ferrea (Fabaceae). 2019. 125 f. Thesis (Doctorate in Biodiversity and Biotechnology) - National Institute of Amazonian Research, Manaus, 2019. ABSTRACT The objective of this study was to establish and evaluate methods of in vitro propagation and bioprospecting of seedlings extracts of Libidibia ferrea (Fabaceae), which will allow the multiplication of superior genotypes with potential for medicinal use. The experiments were developed at the Laboratory of Silviculture and Digital Technology (LASTED) and Laboratory of Bioprospecting and Biotechnology (LABB), both linked to the National Institute of Amazonian Research (INPA, Manaus, AM), in partnership with the Laboratory of Plant Tissue Culture (LCTV) of the Amazonas State University (UEA, Manaus, AM). The research includes four chapters. Chapter I - In vitro culture of zygotic embryos and seeds of L. ferrea and the morphogenetic responses of explants in relation to different concentrations of growth regulators. The results indicated the technical viability of zygotic embryo culture and seed germination in vitro, becoming as an alternative technique for in vitro propagation of this species. In Chapter II - The effect of different concentrations of 2,4-D and ANA alone or in combination with BAP and TDZ for the induction of friable calli from leaf explants and nodal segments was evaluated. The results showed that both types of explants presented significant differences (p <0.05) in callus induction, morphology and coloring. Maximum induction of friable calli (90%) was obtained from nodal segment explants cultured in MS medium supplemented with 1.0 mg L-1 of 2,4-D and 5,0 mg L-1 of TDZ. In relation to chapter III - The light influence from red-blue LED and white LED on the calogenesis and in vitro seedling regeneration of L. ferrea was evaluated. The red-blue LED light stimulated the greater formation of friable calli and the in vitro regeneration of seedlings in relation to the white LED light. The results confirm the efficiency of using red-blue LED and white LED light for calogenesis and the in vitro regeneration of L. ferrea. In chapter V - Chemical and biological study was carried out on hexane, methanolic and aqueous extracts obtained from the leaves, stems and roots of seedlings originated from the in vitro culture of L. ferrea. The evaluation of the extracts showed the presence of different secondary metabolites, and antibacterial, antioxidant and toxic activities. Keywords: Biotechnology, In vitro multiplication, Protocol optimization, Libidibia ferrea, Medicinal plant. ix LISTA DE TABELAS REFERENCIAL TEÓRICO Tabela 1. Classificação taxonômica de Libidibia var. ferrea ................................................... 20 Tabela 2. Alguns nomes populares de Libidibia ferrea conhecidos no Brasil ......................... 20 Tabela 3. Aplicações terapêuticas de Libidibia ferrea na medicina popular............................ 22 Tabela 4. Atividades biológicas de Libidibia ferrea. ............................................................... 24 Tabela 5. Comparação entre o conteúdo energético de três comprimentos de ondas .............. 32 Tabela 6. Exemplos de fármacos obtidos de matérias-primas vegetais ................................... 33 CAPÍTULO I Tabela 1. Percentagem de germinação (GER) e plantas normais (PN), número de brotos (NB), número de gemas (NG) e número de folhas (NF), comprimento dos brotos (CB), número de raízes (NR) e taxa de multiplicação (TM) obtidos de embriões zigóticos e sementes de Libidibia ferrea após 30 dias de inoculação em meio de cultura MS. .................................................... 61 CAPÍTULO II Tabea 1. Efeito de diferentes concentrações de auxinas e citocininas na indução de calos friáveis em explantes foliares e segmentos nodais de Libidibia ferrea ................................................. 73 CAPÍTULO III Tabela 1. Produção de calos friáveis obtidos de segmentos nodais de Libidibia ferrea, em resposta a diferentes concentrações do meio MS e da auxina 2,4-D e cultivados na ausência e presença de luz (LED azul-vermelha 470 nm e LED branca 530 nm). .................................... 88 Tabela 2. Produção de calos friáveis obtidos de explantes de segmentos nodais de Libidibia ferrea, em resposta a diferentes concentrações do meio B5 e da auxina 2,4-D e cultivados na ausência e presença de luz (LED azul-vermelha 470 nm e LED branca 530 nm). .................. 89 CAPÍTULO IV Tabela 1. Resultado da atividade antibacteriana dos extratos de Libidibia ferrea obtido pelo método de microdiluição em caldo. ........................................................................................ 110 Tabela 2. Escala para interpretação dos resultados da atividade antioxidante ...................... 111 Tabela 3. Resultados da avaliação da capacidade antioxidante de extratos de Libidibia ferrea obtidos pelas metodologias de DPPH e Fe3+/Fenantrolina. .................................................... 112 x LISTA DE FIGURAS REFERENCIAL TEÓRICO Figura 1. Libidibia ferrea (Mart. Ex Tul.) L.P. QUEIROZ. (A) Aspecto geral da floração; (B) Detalhe do caule; (C) Fruto maduro; (D) Aspecto geral da semente; (E) Distribuição e ocorrência. ................................................................................................................................ 21 Figura 2. Substâncias isoladas de Libidibia ferrea ................................................................... 23 Figura 3. Princípio geral da cultura de células e tecidos vegetais ........................................... 25 Figura 4. Esquema geral das vias de biosíntese do metabolismo vegetal secundário (retângulos rosas) e suas conexões com o metabolismo primário (retângulos vermelhas), em detalhe os metabólitos primários (verde) e os secundários (azul). ............................................................ 34 Figura 5. Esquema de processo de descoberta de produtos naturais. ....................................... 35 Figura 6. Processo de partição com solventes de polaridade crescente.................................... 36 Figura 7. Reação de estabilização do RadicalDPPH frente a um composto fenólico doador de hidrogênio. ................................................................................................................................ 40 Figura 8. Reação da atividade redutora do íon Fe3+ a íon Fe2+ ................................................ 40 CAPÍTULO I Figura 1. Plântulas germinadas in vitro oriundas de embriões zigóticos (a) e sementes (b) de Libidibia ferrea inoculados em meio MS após 30 dias de cultivo (b). .................................... 62 Figura 2. Percentagem de regeneração (A), número de brotos (B), número de gemas (C), número de folhas (D), taxa de multiplicação (E), altura das brotações (F), número de raízes (G) e formação de calos (I) obtidos de embriões zigóticos de Libidibia ferrea após 30 dias de cultivo in vitro em meio MS suplementado com diferentes concentrações de BAP e ANA. Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Duncan (p<0,05)......... ........................................................................................................................... 63 Figura 3. Fases de desenvolvimento de embrião zigótico e formação de plântula de Libidibia ferrea no meio MS suplementado com 0,9 mg L-1 de BAP: Cultivo inicial do embrião zigótico (A); Germinação do embrião zigótico aos 10 dias (B); Plântula com brotos, gemas e raíz primária aos 20 dias (C); e Plântula normal após 30 dias de cultivo in vitro (D). ................... 65 xi CAPÍTULO II Figura 1. Plântula de Libidibia ferrea cultivada in vitro como fonte de explantes utilizadas para a indução de calos friáveis (A). Segmentos nodais com formação de calos cultivados em meio MS suplementado com 2,4 D (B), ANA (C), 2,4-D e BAP (D), 2,4-D e TDZ (E), ANA e BAP (F) e ANA e TDZ (G), mantidos a 25°C±2°C sob fotoperíodo de 16 horas por 30 dias. ........ 74 CAPÍTULO III Figura 1. Aspectos da morfologia e coloração de calos friáveis de Libidibia ferrea obtidos de segmentos nodais cultivados em diferentes concentrações de meio MS e suplementado com 2,4-D, na ausência e presença de luz, após 30 dias de cultivo. (A) MS, (B) MS/2 e MS/4 (C) cultivados no escuro; (D) MS, (E) MS/2 e MS/4 (F) cultivados sob LED azul-vermelha 470 nm; (G) MS, (H) MS/2 e MS/4 (I) cultivados sob LED branca 530 nm. Barras = 3 cm. ........ 86 Figura 2. Aspectos da morfologia e coloração de calos friáveis de Libidibia ferrea obtidos de segmentos nodais cultivados em diferentes concentrações de meio B5 e suplementado com 2,4-D, na ausência e presença de luz, após 30 dias de cultivo. (A) B5, (B) B5/2 e B5/4 (C) cultivados no escuro; (D) B5, (E) B5/2 e B5/4 (F) cultivados sob LED azul-vermelha 470 nm; (G) B5, (H) B5/2 e B5/4 (I) cultivados sob LED branca 530 nm. Barras = 3 cm. ................... 87 Figura 3. Eletromicrografia de varredura de células de calos friáveis de Libidibia ferrea. Calos do tipo globular originados de explantes de segmentos nodais, inoculados em meios MS (A) e B5 (B), suplementado com 2,4-D e mantidos sob LED azul-vermelha; Aspectos de calos embriogênicos vistos de cima (C) e ligados por segmentos semelhantes a suspensores (seta branca) (D). ............................................................................................................................... 91 Figura 4. Eletromicrografia de transmissão da caracterização de estruturas e organelas das células meristemáticas em diferenciação após 60 dias de cultivo in vitro originados de calos friáveis de Libidibia ferrea. (A) Núcleo (seta preta) e parede celular (seta verde); Células com elevada relação núcleo citoplasmática (círculo preto) com diferenciação celular (B); Núcleos proeminentes com início da divisão celular (seta preta) formados da diferenciação do sistema vascular (C); Aspectos em vista longitudinal dos elementos vasculares das mitocôndrias (seta preta), núcleo (seta vermelha) e cloroplastos (seta verde) (D). ................................................ 92 Figura 5. Valores médios de números de brotos (A), número de gemas (B), taxa de multiplicação (C) e comprimento das brotações (D) por explante, em resposta a diferentes concentrações de 6-benzilaminopurina (BAP) e cultivadas sob diferentes fontes de luz (LED azul-vermelha 470 nm e LED branca 530 nm) na multiplicação in vitro de Libidibia ferrea, 30 xii dias após a inoculação. Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente, entre si, ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. ............................................................. 94 Figura 6. Plântula de Libidibia ferrea cultivada in vitro como fonte de explantes utilizadas para a regeneração in vitro (A). Aspectos das brotações cultivadas em meio de cultura MS suplementado com 0,05 mg L-1 de BAP mantidos sob LED azul-vermelha 470 nm (B-C) e LED branca 530 nm (D-E). ............................................................................................................... 95 CAPÍTULO IV Figura 1. Extratos metanólicos de folhas (Fo), Caules (Ca) e Raízes (Ra) de plantas microprapagadas de Libidibia ferrea, eluídos com hexano/acetona 9:1 (v/v) analisadas por Cromatografia em Camada Delgada Comparativa (CCDC) sob luz vísivel (A), UV 254 nm (B) e UV 365 nm (C) e reveladas com diferentes reagentes NP/PEG (D), anisaldeído sulfúrico (E), dragendorff (F) e sulftato cérico (G). ..................................................................................... 105 Figura 2. Extratos hexânicos de folhas (Fo), Caules (Ca) e Raízes (Ra) de Libidibia ferrea, eluídos com DCM/MeOH 1:1 (v/v) analisadas por Cromatografia em Camada Delgada Comparativa (CCDC) sob luz vísivel (A), UV 254 nm (B) e 365 UV nm (C) e reveladas com diferentes reagentes NP/PEG (D), anisaldeído sulfúrico (E), dragendorff (F) e suftato cérico (G). .......................................................................................................................................... 105 Figura 3 Espectro de RMN de 1H em CDCl3 (300 MHz) obtidos de extratos hexânicos de folhas (a), caules (b) e raízes (c) de Lidibia ferrea ........................................................................... 106 Figura 4. Espectro de RMN de 1H em DMSO (300 MHz) obtidos de extratos metanólicos de folhas (a), caules (b) e raízes (c) de Lidibia ferrea ................................................................. 107 Figura 5. Espectro de RMN de 1H em DMSO-d6 (300 MHz) obtidos dos extratos metanólicos da raiz em fase DCM (a) e AcOEt (b) de plantas micropropagadas de Libidibia ferrea. ...... 108 Figura 6. Espectro de massas da fase DCM obtida do extrato metanólico da raiz de L. ferrea. A: Ionização por electrospray (ESI -). B: Ionização química pressão atmosférica (APCI -). C: Ionização química pressão (APCI +). ..................................................................................... 109 Figura 7. Taxa de mortalidade de larvas de Artemisa salina em função dos extratos testados de Libidibia ferrea. ...................................................................................................................... 114 xiii LISTA DE ABREVIATURAS 2,4-D: Ácido 2,4-Diclorofenoxiacético 2ip: Isopenteniladenina AIA: Ácido 3-indol-acético ANA: Ácido naftalenoacético ANOA: Ácido beta-naftoxiacético ApCFA: Ácido p-clorofenoxiacético B5: Meio de Cultura de B5 Gamborg (1968) BAP: 6-benzilaminopurina DMSO: Dimetilsulfóxido ou sulfóxido de dimetilo EST: Escola Superior de Tecnologia IBA: Ácido 3-indol-butírico INPA: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia KIN: 6-furfurilaminopurina ou cinetina LCTV: Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais LABB: Laboratório de Bioprospecção e Biotecnologia LASTED: Laboratório de Silvicultura e Tecnologias Digitais MS: Meio de Cultura de Murashige & Skoog (1962) TDZ: Tidiazuron ou N-fenil-N´-1,2,3-tiadizol-5,1-uréiaUEA: Universidade do Estado do Amazonas WPm: Meio de cultura Woody Plant de Lloyd & McCown (1980) ZEA: Zeatina xiv SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 17 2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 19 2.1 Aspectos e características botânica, distribuição geográfica e uso de Libidibia ferrea ..... 19 2.2 Propriedades teraupêuticas, químicas e farmacológicas de Libidibia ferrea ..................... 22 2.3 Aspecto geral da cultura de células e tecidos vegetais ....................................................... 25 2.4 Técnicas utilizadas para estudos de cultura de tecidos e células vegetais .......................... 26 2.4.1 Micropropagação ............................................................................................................ 26 2.4.2 Cultura de embriões zigóticos ......................................................................................... 26 2.3.3 Embriogênese somática ................................................................................................... 26 2.3.4 Cultura de calos .............................................................................................................. 26 2.3.5 Suspensão celular ............................................................................................................ 27 2.3.6 Microscopia eletrônica .................................................................................................... 27 2.4 Fatores que inflenciam no sucesso da cultura de tecidos ................................................... 27 2.4.1 Explante ........................................................................................................................... 28 2.4.2 Assepsia ........................................................................................................................... 28 2.4.3 Meios de cultura .............................................................................................................. 29 2.4.4 Sacarose .......................................................................................................................... 30 2.4.5 Vitaminas ......................................................................................................................... 30 2.4.6 Inositol ............................................................................................................................. 30 2.4.7 Reguladores de crescimento vegetal ............................................................................... 30 2.4.8. Luz .................................................................................................................................. 31 2.5 Metabólitos secundários de plantas .................................................................................... 32 2.6 Metodologias utilizadas na busca de substâncias bioativas................................................ 35 2.7 Fracionamento, isolamento e purificação de metabolótios secundários............................. 35 2.8 Bioensaios para determinação do potencial medicinal de extratos de plantas ................... 36 2.9 Ensaios antibacterianos ...................................................................................................... 37 2.9.1 Métodos de difusão .......................................................................................................... 37 2.9.2 Métodos de diluição ........................................................................................................ 37 2.9.3 Bioautografia ................................................................................................................... 38 2.10 Antioxidantes .................................................................................................................... 38 2.10.1 Ensaio antirradicalar de sequestro do radical DPPH. ................................................. 39 2.10.2 Atividade redutora do íon férrico (Fe3+) a íon ferroso (Fe2+) ...................................... 39 xv 3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 42 4. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 43 4.1 Geral ................................................................................................................................... 43 4.2 Específicos .......................................................................................................................... 43 5. REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 44 CAPÍTULO I .......................................................................................................................... 55 Cultura in vitro de embriões zigóticos e sementes de Libidibia ferrea .................................... 55 Introdução ................................................................................................................................. 58 Material e Métodos ................................................................................................................... 59 Resultados e Discussão ............................................................................................................. 60 Conclusões ................................................................................................................................ 66 Agradecimentos ........................................................................................................................ 66 Literatura citada ........................................................................................................................ 66 CAPÍTULO II ........................................................................................................................ 69 Indução de calos em explantes foliares e segmentos nodais de Libidibia ferrea (Fabaceae), uma notável planta de valor medicinal ............................................................. 69 Introdução ................................................................................................................................. 71 Material e métodos ................................................................................................................... 72 Resultados e discussão ............................................................................................................. 72 Conclusões ................................................................................................................................ 75 Agradecimentos ........................................................................................................................ 75 Referências bibliográficas ........................................................................................................ 76 CAPÍTULO III ....................................................................................................................... 80 Calogênese e regeneração de plantas in vitro de Libidibia ferrea (Fabaceae) ................... 80 Introdução ................................................................................................................................. 82 Material e métodos ................................................................................................................... 83 Obtenção do material vegetal ................................................................................................... 83 Estabelecimento in vitro ...........................................................................................................83 Indução de calos em meios nutritivos com 2,4-D na ausência e presença de luz .................... 83 Regeneração in vitro ................................................................................................................. 84 Análise ultraestrutural de calos................................................................................................. 84 Análise estatística ..................................................................................................................... 85 Resultados e discussão ............................................................................................................. 85 xvi Efeito de diferentes concentrações de 2,4-D, meios de cultura e fontes de luz no processo calogênico ................................................................................................................................. 85 Análise ultraestrutural de calos................................................................................................. 90 Regeneração in vitro ................................................................................................................. 93 Conclusão ................................................................................................................................. 96 Agradecimentos ........................................................................................................................ 96 Referências ............................................................................................................................... 96 CAPÍTULO IV ....................................................................................................................... 99 Bioprospecção de extratos de plantas micropropagadas de Libidibia ferrea....................99 Introdução ............................................................................................................................... 101 Material e métodos ................................................................................................................. 101 Coleta e identificação do material vegetal .............................................................................. 101 Obtenção dos extratos vegetais............................................................................................... 102 Análise fitoquímica e fracionamento ...................................................................................... 102 Avaliação da atividade antibacteriana. ................................................................................... 103 Preparo das culturas bacterianas.............................................................................................103 Atividade antioxidante ............................................................................................................ 103 Curvas de calibração com ácido ascórbico. ............................................................................ 103 Ensaio com 2,2-difenil-1-picrilhidrazila (DPPH). .................................................................. 104 Fe3+ / fenantrolina. .................................................................................................................. 104 Ensaio de toxicidade sobre Artemia salina............................................................................. 104 Análise estatística: . ................................................................................................................ 104 Resultados e discussão ........................................................................................................... 105 Análise fitoquímica. ............................................................................................................... 105 Avaliação da atividade antibacteriana. ................................................................................... 110 Atividade antioxidante. ........................................................................................................... 111 Toxicidade frente à Artemia salina. ....................................................................................... 113 Conclusão ............................................................................................................................... 114 Agradecimentos ...................................................................................................................... 114 Referências ............................................................................................................................. 115 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 117 ANEXO 1 ............................................................................................................................... 118 ANEXO 2 ............................................................................................................................... 120 ANEXO 3 ............................................................................................................................... 122 17 1. INTRODUÇÃO A floresta Amazônica possui umas das biotas mais ricas do planeta ocupando 49% do território brasileiro, considerada uma fonte de oportunidades para o Brasil, em especial na pesquisa científica e tecnológica dos produtos naturais. A região Amazônica abrange uma grande diversidade de espécies que funcionam como um reservatório genético ainda pouco explorado, mas com grande potencial ornamental, cosmético, perfumaria, alimentício e farmacêutico para o bem estar humano (FERRAZ et al., 2009). Neste contexto, destaca-se a Libidibia ferrea (Fabaceae), popularmente conhecida como “pau-ferro” ou “jucá”, amplamente utilizada na medicina popular principalmente na região Norte e Nordeste do Brasil (COELHO-FERREIRA, 2009; OLIVEIRA et al., 2010). É uma espécie de notável valor medicinal, devido ao potencial do princípio ativo denominado de “Pau- ferrol A” que atua contra a topoiosomerase II humana, e inibe o crescimento das células tumorais por meio da indução de apoptose, podendo ser utilizado como importante ferramenta no tratamento da leucemia HL60 humana (NOZAKI et al., 2007; OHIRA et al., 2013a). Diversas propriedades terapêuticas já foram avaliadas revelando resultados promissores para diversas finalidades, tais como: antidiarréicos, antianêmico, antidiabético, anticancerígeno, tratamento de tuberculose, fito-fortificantes de corpo, antitérmico, antidiarréico, antifúngica, anti-inflamatório e cicatrizante e outras (FERNANDES et al., 2016; GALLÃO et al., 2013; LIMA et al., 2011; LOPES et al., 2013a; NAKAMURA et al., 2002a; NAWWAR et al., 2015; PEREIRA et al., 2012). Essa espécie vem sofrendo um intenso processo de extrativismo praticado de maneira indiscriminada de suas populações naturais, provocando a erosão genética e a a destruição do seu habitat na Amazônia (BENEDITO et al., 2012). Estudos indicam que a propagação desta espécie é viável por sementes (FILHO et al., 2005; SCALON et al., 2011), por micropropagação (SILVA et al., 2018) e por regeneração de mudas em condições ex vitro (LENHARD et al., 2013; LENHARD et al., 2010; LIMA et al., 2008; SANTOS et al., 2013). Entretanto, a baixa e irregular produção de sementes aliada, à elevada dormência tegumentar (COELHO et al., 2010a), tem limitado a produção de mudas para a recomposição das populações naturais e os plantios ex situ. Frente a esta realidade, a cultura de células e tecidos vegetais, é uma alternativa eficiente para promover a reprodução de genótipos superiores através de condições in vitro (GEORGE et al., 2008; LOYOLA-VARGAS e OCHOA-ALEJO, 2012). É uma das ferramentas biotecnológicas mais importantes que podem ser usadas nos procedimentos da engenharia celular, engenharia genética e genômica funcional (BHOJWANI e DANTU2013a; 18 MIROSHNICHENKO et al., 2016), bem como na conservação de genótipos a longo prazo (BHOJWANI e DANTU, 2013c; LOYOLA-VARGAS; OCHOA-ALEJO, 2012). Entretanto, a cultura de células e tecidos baseia-se no fenômeno denominado de totipotência, ou seja, qualquer célula no organismo vegetal contém toda a informação genética necessária à regeneração de uma planta completa (CID e TEIXEIRA, 2014). Umas das peculiaridades da cultura de células e tecidos é a multiplicação sistematizada de plantas elites pelo processo da propagação in vitro (MORAIS et al., 2012). Além disso, pode ser empregada na produção de metabólitos secundários para fins teraupêuticos e farmacológicos (ARNALDOS et al., 2001; PEREIRA, 2009). Considerando a importância desta espécie e as vantagens das técnicas aplicadas ao cultivo in vitro, neste estudo, são abordados os métodos de propagação e produção de mudas e metabólitos secundários, na tentativa de solucionar o problema da demanda de mudas com alta qualidade genética. No primeiro capítulo foram avaliados a cultura in vitro de sementes e embriões zigóticos. No segundo capítulo, foram induzidos calos friáveis obtidos de explantes foliares e segmentos nodais. No terceiro capítulo, foi realizado a influência da luz de LEDs na calogênese e regeneração in vitro de plantas. No quarto capítulo foi realizado o estudo químico e biológico dos extratos obtidos de plantas micropropagadas de L. ferrea. 19 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Aspectos e características botânica, distribuição geográfica e uso de Libidibia ferrea A classificação taxonômica de Libidibia ferrea encontra-se descrita na Tabela 1 (FORZZA et al., 2010). Recentemente, a nomenclatura de Libidibia ferrea foi modificada taxonômicamente, sendo anteriormente conhecida como Caesalpinia ferrea (QUEIROZ, 2009). Diversos estudos químicos e farmacológicos, bem como a propagação vegetativa foram relatados utilizando-se a sinonímia desta espécie, incluindo os dois primeiros capítulos publicados desta Tese. Esta espécie, pode alcançar 10-15 m de altura, com um diâmetro do tronco de 40 a 60 cm (Figura 1B). Suas folhas de árvore adulta podem medir cerca de 7-20 cm de comprimento (Figura 1A). Suas flores são pequenas e amarela com características aglomeradas (Figura 1A). Sua floração ocorre entre abril e maio e a frutificação entre maio e agosto (GALDINO et al., 2007). Os frutos são denominados de vagens, cuja dimensões médias são de 8,3 x 1,8 x 0,8 cm e tem a cor verde quando imaturo, tornando-se marrom quando maduros (Figura 1C). Eles são indeiscente, com um lado oblongo, ligeiramente achatado, na forma sinuosa. As sementes são de forma discóide ou ovoide, com uma base achatada e ápice arredondado. O tamanho médio das sementes é 0,9 x 0,5 x 0,5 cm e suas cores variam de verde claro a amarelado (Figura 1D). As sementes apresentam características opacas, firmes em consistência, e são separados em poços individuais (Figura 1F) (GALDINO et al., 2007; LORENZI e MATOS, 2002) O jucá ou pau-ferro é nativo do Brasil (Figura 1E) e é endêmico nas regiões Norte (RODRIGUES et al., 2012) e Nordeste (QUEIROZ, 2009), sendo conhecida por vários nomes descritos em diferentes estados brasileiros, conforme mostrado na Tabela 2. Além disso, a espécie é cultivada em outros países para o uso de reflorestamentos de parques e ruas conhecida como “Brazilian ironwood” (MATOS, 2007). Além disso, essa espécie pode ser utilizada para o paisagismo, proporcionando boa sombra em ruas e avenidas. Também é indicada para reflorestamentos destinados à recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APP) que foram degradadas. Apresenta uma grande importância também na indústria madeireira, por apresentar madeira muito dura e de longa durabilidade natural. Também é empregada na construção civil, na forma de vigas, esteios, caibros, escadas (LORENZI, 1992; MAIA, 2004) e utilizada na fabricação de móveis de luxo na Índia e Sri Lanka (MAIA, 2012, 2004; STASI, 2002). 20 Tabela 1. Classificação taxonômica de Libidibia ferrea Fonte: (QUEIROZ, 2009; FORZZA et al., 2010) Tabela 2. Alguns nomes populares de Libidibia ferrea conhecidos no Brasil Fonte: STASI (2002) Nome científico Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroz var. ferrea Sinonimia Caesalpinia ferrea (Mart. ex Tul.) L. P. Queiroz Reino Plantae Filo Magnoliophyta (Angiospermae) Classe Magnoliopsida (Dicotiledonae) Subclasse Rosidae Ordem Fabales Família Fabaceae Subfamília Libidibiaceae (Caesalpinioideae, Leguminosae) Espécie Libidibia ferrea (Mart. Ex Tul) L.P. Queiroz var. ferrea Nome Estado Jucá Amazonas Ibirá-obi; imirá-obi; imirá-itá; jucá e pau-ferro-da-mata Espirito Santo Muirá-itá; muirá-obi; muirapixuma; mururé; pau-ferro-do-norte Pernambuco Pau-ferro-verdadeiro Rio Grande do Sul Peroba-sobro Bahia Quiripiranga Rio de Janeiro 21 Figura 1. Libidibia ferrea (Mart. Ex Tul.) L.P. QUEIROZ. (A) Aspecto geral da floração; (B) Detalhe do caule; (C) Fruto maduro; (D) Aspecto geral da semente; (E) Distribuição e ocorrência. Fonte: SANTOS et al., (2018) 22 2.2 Propriedades teraupêuticas, químicas e farmacológicas de Libidibia ferrea Na medicina popular, algumas das suas propriedades terapêuticas têm sido relatada para diferentes tipos de tratamentos de doenças (Tabela 3). Além disso, é considerada uma das 71 espécies da lista de plantas medicinais de interesse para o Sistema de Saúde Brasileiro e foi incluída no Formulário Nacional de Ervas Medicinais (BRASIL, 2011; MEDEIROS et al., 2013; RIBEIRO et al., 2014). Tabela 3. Aplicações terapêuticas de Libidibia ferrea na medicina popular Estudos fitoquímicos (Figura 2) dos extratos hidroalcoólicos do caule, casca e folhas mostraram a presença de flavonóides, saponinas, taninos, cumarinas, esteróis e substâncias fenólicas. Da casca, derivados antracenicos e de saponinas, glicosídeos cardiotônicos, e os alcalóides também foram relatados (GONZALEZ et al., 2004). O ácido gálico e galato de metila foram isolados dos extratos etanólicos dos frutos (NAKAMURA et al., 2002b). Parte usada Uso na medicina popular Referências Casca Expectorante (RIBEIRO et al., 2014) Antidiarréicos (SIQUEIRA et al., 2012) Frutos Antianêmico e antidiabético para tratamento de distúrbios hemolíticos pulmonares (OLIVEIRA et al., 2010) Prevenção do câncer (NAKAMURA et al., 2002a) Tratamento de tuberculose (STOREY e SALEM, 1997) Fito-fortificantes de corpo (RODRIGUES, 2006) Sementes Tratamentos de hematomas e contusões (SOUZA et al., 2010) Casca do caule Antidiabético, antidiarreico e descongestivo para tratamento de feridas, enterocolites, reumatismo e para perda de peso; sopro, dor na coluna, tosse, dor inflamatória dos órgãos internos e externos, dor nos ossos (RIBEIRO et al., 2014; SANTOS et al., 2010) Pó da casca Tratamento de feridas cutâneas (OLIVEIRA et al., 2010) Raízes Antitérmico (MAIA, 2004) Frutos Antidiarréico, anticatarra e cicatrizante (LORENZI e MATOS, 2002; MAIA, 2004) 23 Figura 2. Substâncias isoladas de Libidibia ferrea Fonte: Costa et al., (2015) CAULE FRUTOS Pau-ferrol A Trímero chalcona Acidos palmítico e octacosanoico Ácidos graxos Ácido elágico Polifenol Sitosterol Terpenóide R = H, Ácido gálico R = CH3, Galato de metila R = C2H5, Galato de etilo Ácidos fenólicos 24 O extrato de benzeno dos frutos desta planta forneceu sitosterol e ácidos palmítico e octacosanóico. O extrato alcoólico também forneceu ácido gálico, além do galato de etilo e ácido elágico (REBOREDO et al., 2007). O Pau-ferrol, um trímero de chalcona isolado a partir de um extrato de acetona das hastes (NOZAKI et al., 2007), éum marcador fitoquímico importante da espécie. Estudos comprovam que o jucá possui diversas propriedades farmacológicas (Tabela 4). Tabela 4. Atividades biológicas de Libidibia ferrea Extratos avaliados Atividades biológicas Referências Folhas Atividade antioxidante (PORT’S et al., 2013) Atividades antibiofilme (TRENTIN et al., 2011) Atividade larvicida (CAVALHEIRO et al., 2009; DE S. LUNA et al., 2005) Frutos Atividade antifúngica (MARTINS et al., 2014) Atividade antioxidante (BARROS et al., 2014; DA SILVA et al., 2011) Atividade hepatoprotetiva (BARROS et al., 2014) Atividade antifertilidade (LUCINDA et al., 2010) Atividade reprodutiva (PETERS et al., 2008) Atividade antimicrobiana (MARREIRO et al., 2014) Atividade citotóxica e clastogênica (BÊCCO DE SOUZA et al., 2006) Atividade anti-tumoral (NAKAMURA et al., 2002b) (UEDA et al., 2001) Atividade anti-inflamatória e analségica (CARVALHO et al., 1996; DIAS et al., 2013; LIMA et al., 2012; PEREIRA et al., 2012) Sementes Atividade antinociceptiva (SAWADA et al., 2014) Atividade de inibição enzimática (CAVALHEIRO et al., 2009) Atividade antivírus (LOPES et al., 2013b) Atividade antifúngica (BARIANI et al., 2012) Casca Atividades anti-inflamatória, analgésica e antimicrobiano (DE ARAÚJO et al., 2014) Atividades antioxidadentes e hepatoprotetiva (BARROS et al., 2014) Atividade hipoglicêmica (VASCONCELOS et al., 2011) Atividade cardiovascular (MENEZES et al., 2007) Atividade inibitória da proliferação celular e topoisomerase II humana (NOZAKI et al., 2007; OHIRA et al., 2013b) Atividade antibacteriana (PEREIRA et al., 2006) 25 2.3 Aspecto geral da cultura de células e tecidos vegetais A cultura de células e tecidos vegetais é o conjunto de técnicas utilizadas para cultivar in vitro células e tecidos vegetais em meio nutritivo sintético, de composição química definida, sob condições adequadas de assepsia, nutrição e fatores ambientais visando produzir uma nova planta. Essas técnicas apresentam importância prática para área agrícola e florestal, onde aparecem como uma das metodologias mais polivalentes que tem como um dos principais objetivos a manipulação de plantas, inclusive ao nível molecular quando necessário. Além disso, tem conquistado destacada posição na recuperação de plantas; na propagação comercial; no melhoramento genético; no manejo, no intercâmbio e na conservação de germoplasma; e em outras aplicações com as pesquisas em fisiologia vegetal e produção industrial in vitro de metabólitos secundários (CARVALHO et al., 2013). A cultura de tecidos de plantas possibilita fornecer ao produtor mudas de alta qualidade genética e quantidade suficiente para suprir a necessidade do mercado em curto espaço de tempo (BHOJWANI e DANTU, 2013b). Dentre as técnicas de cultura de tecidos vegetais, destacam-se a micropropagação, a embriogênese somática, a calogênese (cultura de calos), a cultura de embriões e a suspensão celular visando à produção de metabólitos secundários (MORAIS et al., 2012), conforme mostrado na figura 3. Figura 3. Princípio geral da cultura de células e tecidos vegetais Fonte: KERBAUY (1997) 26 2.4 Técnicas utilizadas para estudos de cultura de tecidos e células vegetais 2.4.1 Micropropagação A micropropagação de plantas representa uma alternativa para a propagação comercial de espécies de interesse econômico, entre as quais as que apresentam propriedades medicinais com valor farmacológico reconhecido. A crescente demanda da indústria farmacêutica por plantas com alta qualidade genética e fisiológica, bem como com capacidade de síntese de metabólitos secundários, por meio do melhoramento genético, justificam a utilização desta técnica (BHOJWANI e DANTU, 2013d; DEBERGH e READ, 1991; GRATTAPAGLIA e MACHADO, 1998). 2.4.2 Cultura de embriões zigóticos Este tipo de cultivo tem sido usado para superar a dormência de sementes, em virtude da imaturidade do embrião ou da presença de substâncias inibidoras no endosperma; estudar os aspectos nutricionais e fisiológicos do desenvolvimento do embrião; testar a viabilidade de sementes; recuperar híbridos raros de cruzamentos incompatíveis; e como fonte de explantes devido a elevada totipotência (DODEMAN et al., 1997; HASLAM e YEUNG, 2011). 2.3.3 Embriogênese somática Embriogênese somática, adventícia ou assexual são termos usualmente empregados para designar o processo pelo qual células haplóides ou somáticas desenvolvem-se por meio de diferentes estádios embriogênicos, dando origem a uma planta, sem que ocorra a fusão de gametas. A embriogênese somática é um método importante para propagação de plantas elite in vitro, em larga escala. Além de servir de modelo para estudos básicos relacionados com a fisiologia do desenvolvimento do embrião, esse sistema vem sendo utilizado para produção de plantas transgênicas e sementes sintéticas (DODEMAN et al., 1997; MORAIS et al., 2012; ZIMMERMANNN, 2014). 2.3.4 Cultura de calos Esta técnica possibilita a obtenção de grande quantidade de plantas a partir de um único explante, sendo um dos procedimentos mais eficientes na produção rápida de plantas in vitro (GALÁZ-ÁVALOS et al., 2012). O cultivo de calo in vitro é considerada uma técnica eficiente para obtenção de embriões somáticos, possibilitando elevadas taxas de multiplicação e resulta em embriões individualizados que se desenvolvem em plantas completas (BHOJWANI e DANTU, 2013b; HASLAM e YEUNG, 2011; ISAH, 2016). 27 2.3.5 Suspensão celular Este bioprocesso é utilizado para a obtenção e proliferação de células em meio líquido, sob condição de agitação contínua, para evitar possíveis gradientes nutricionais e gasosos no meio de cultura. Além de ser uma técnica eficiente de multiplicação rápida, as suspensões celulares tem uma grande aplicação para os estudos de bioquímica, genética, citologia, fisiologia vegetal e fitopatologia. Este tipo de cultivo também é empregado na produção de metabólitos secundários ou material clonal em escala comercial pela utilização de biorreatores (GALÁZ-ÁVALOS et al., 2012; MOSCATIELLO et al., 2013). 2.3.6 Microscopia eletrônica O microscópio eletrônico de transmissão (MET) foi introduzido como ferramenta de pesquisa em meados de 1950 e sua utilização trouxe contribuições significativa ao conhecimento humano possibilitando a visualização de detalhes das amostras ao nível de escalas nanométricas nas áreas biológicas e da ciências de materais. Simultaneamente, por volta de 1950 outro importante instrumento surge denominado de microscopia eletrônica de varredura (MEV), a qual influenciou uma segunda revolução no estudo da microscopia confocal, devido à alta profundidade de campo resultando aspecto de resolução tridimensional às imagens (ALVES, 2004). Para fins de culturas de tecidos vegetal, os aspectos morfolológicos de células embriogênicas vêm sendo bastante utilizados pelas análises ultraestrutural, por meio de MEV em diversos grupos de pesquisas. Esta análise tem sido descrita em estudos de embriogênese somática para diferentes espécies, a exemplo de Bysonima intermedia (NOGUEIRA et al., 2007) e Heliconia chartaceae (ULISSES et al., 2010). Este tipo de microscopia foi bastante adequado para análise das células, demonstrando aspectos tridimensionais da estruturas celulares e morfologia externas das mesmas. Muitas estruturas celulares e macromoléculas apresentam dimensões na escala dos nanômetros, por exemplo, mitocôndrias, membranas, vacúolos, leucoplastos, entre outros podem ser visualizados por meio da MET, como demonstrado em Bysonima intermedia (NOGUEIRA et al., 2007). 2.4 Fatores que inflenciam no sucesso da cultura de tecidos O sucesso da cultura de células e tecidos depende de vários fatores durante as etapas como: estado fisiológico da planta matriz, coleta de explantes, esterilizaçãodos meios de 28 cultura, condições de incubação, manipulação de subculturas, uso de reguladores de crescimento, meio de cultura, luminosidade, entre outros (CID e TEIXEIRA, 2014; QUISEN e ANGELO, 2008). 2.4.1 Explante A micropropagação é um termo utilizado exclusivamente para refere-se à propagação in vitro a partir de alguma parte específica da planta baseada na capacidade morfogenética e totipotencialidade das células (BHOJWANI e DANTU, 2013d). Qualquer tecido e/ou parte da planta destinada ao uso no cultivo in vitro denomina-se explante. Deste modo, podem ser usados nas culturas: fragmentos de raízes, hipocótilos, epicótilos, cotilédones, flores e folhas, embriões, gemas axilares ou apicais e outros (CID e TEIXEIRA, 2014). A escolha do explante poderá ser determinado por vários fatores, tais como: disponibilidade de material, nível de contaminação, juvenilidade e estação do ano (CID e TEIXEIRA, 2014; QUISEN e ANGELO, 2008). Segundo GRATTAPAGLIA e MACHADO (1998), a fonte de variação do crescimento in vitro entre os explantes pode estar relacionda com o seu tamanho e com a sua posição, quando seccionado do explante de origem. DHAR e JOSHI (2005) relatam que nem todos os explantes reagem da mesma forma a uma determinada condição in vitro, conforme observado no estudo de Saussurea obvallata (planta medicinal e ornamental), verificou-se que os explantes foliares apresentaram as melhores respostas quando comparados com raízes, hipocótilo e cotilédones usados na indução de calos e de organogênese. O suplemento nutricional é outro fator que poderá variar conforme o explante. Esse aspecto nutricional será abordado um pouco mais adiante. A viabilidade do explante é um aspecto vital a ser considerado, pois muitos embriões, especialmente de sementes recalcitrantes (a exemplo de seringueira e do café, etc.), podem estar em condições não viáveis para seu cultivo in vitro (CID e TEIXEIRA, 2014). 2.4.2 Assepsia A desinfestação, ou seja, a remoção de contaminantes existentes na superfície do explante oriundo de material de campo ou de casa de vegetação, é um passo inevitável na cultura in vitro. Na tentativa de produzir plantas sadias livres de patógenos, a propagação in vitro, a partir de sementes, apresenta-se como forma viável de produção, no entanto, diversos fatores podem afetar o potencial germinativo das sementes promovendo a formação de plântulas anormais, dentre eles, a presença de microrganismos, como fungos. Sendo assim, para que a propagação in vitro torne-se fonte confiável de material asséptico, os métodos de 29 desinfestação devem ser eficazes, proporcionando a ausência de agentes patológicos (CID e TEIXEIRA, 2014; MORAIS et al., 2012). Segundo EFFEGEM et al., (2014) as substâncias mais utilizadas nos processos de desinfestação são os compostos a base de cloro ativo (2,0% a 2,5%) e etanol (70%). O hipoclorito de sódio (NaOCl) poderá ser usado em uma formulação mais concentrada (10% a 12%). Nesse caso, dada a alta concentração, o produto deverá ser usado numa forma mais dilúida, conforme observado no estudo de Libidibia ferra (SILVA et al., 2018). Outra formulação comercial para a assepsia dos explantes é o hipoclorito de cálcio (CaOCl2), geralmente a 7% (p/v). Contudo, nesse caso é recomendado previamente filtrar o produto (CID e TEIXEIRA, 2014). O uso de hipoclorito pode ser testado a diferentes concentrações e tempo de imersão, como por exemplo 0,0; 5,0; 10; 20; 30 minutos, etc. É recomendado que, durante esse tempo, os explantes fiquem sob agitação. Após esse tratamento, os explantes devem ser lavados com água destilada e autoclavada para que os resíduos do hipoclorito sejam removidos. Com relação ao fungicida benomil (cabriotop), a experiência prática também tem sido satisfatória. Por exemlo, quando as sementes de L. ferrea colhidos no campo foram tratados com hipoclorito de sódio 0,25% (v/v) – depois com benomil a 2% (v/v) por 60 minutos – e, em seguida, foram inoculados em meios de cultura, a contaminação dos explantes foi reduzida (SILVA et al., 2018). Por fim, o tipo de explante de cada espécie usadas são questões muitos importantes que necessitam ser consideradas para as fases subsequentes da propagação in vitro (KUMAR e REDDY, 2011). 2.4.3 Meios de cultura Os meios nutritivos usados na cultura de tecidos, quanto aos nutrientes, baseiam-se nas exigências de crescimento e desenvolvimento das plantas, com algumas modificações para atender às necessidades específicas das condições in vitro (CALDAS et al., 1998). A composição dos meios de cultura utilizados na micropropagação varia de acordo com a espécie e as diferentes etapas do processo, ou seja, assepsia, multiplicação e enraizamento in vitro (CID e TEIXEIRA, 2014). Dentre os meios de cultura mais utilizados para a micropropagação, destacam-se o MS (MURASHIGE e SKOOG, 1962), Wood Plant Medium - WPM (LLOYD; MCCOWN, 1981) e Gamborg B5 (GAMBORG et al., 1968). Os ingredients tradicionais de um meio nutritivo são: compostos inorgânicos, orgânicos, inertes e complexas substâncias naturais (CID e TEIXEIRA, 2014). A seguir, serão elencados os ingredientes dos meios nutritivos de forma suscinta para a cultura de tecidos. 30 2.4.4 Sacarose O uso deste composto é fundamental para o crescimento das plantas, devido à fotossíntese da planta. A sacarose é um dos carboidratos mais usados na preparação de meios nutritivos. Sua concentração mais usual varia de 2% a 3%. Mas, ela pode ser utilizada em concentrações maiores de 6%, como no caso de embriões, na indução de bulbilhos de alho ou na tuberização em raízes de mandioca (CID e TEIXEIRA, 2014). 2.4.5 Vitaminas As vitaminas utilizadas na cultura de tecidos fazem parte do grupo das hidrosolúveis. Este grupo é composto por diferentes vitaminas, tais como: B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B6 (piridoxina), ácido pantotênico, ácido nicotínico (niacina), ácido fólico, ácido ascórbico, biotina e cobalamina. Dessa lista, a tiamina, o ácido nicotínico e a pirixodina estão presentes em sua grande maioria nos meios nutritivos. Enquanto que a biotina e o ácido pantotênico são de uso mais restritos (CID e TEIXEIRA, 2014). 2.4.6 Inositol Este composto orgânico de baixo peso molecular (180 g), é solúvel em água e rotineiramente usado na preparação de meios. Eventualmente, apresenta um efeito benéfico e não se conhecem respostas inibitórias ou essenciais nas concentrações utilizadas (50 mg L-1 a 100 mg L-1) (CID e TEIXEIRA, 2014). 2.4.7 Reguladores de crescimento vegetal Os fitormônios vegetais podem ser definidos como substâncias naturais ou sintéticas (fitorreguladores) que são adicionados ao meio de cultura, com a finalidade de induzir modificações nos padrões de crescimento e desenvolvimento do explante (CID e TEIXEIRA, 2014). Os reguladores vegetais são amplamente utilizados na suplementação dos meios de cultura para suprir deficiências hormonais, e também estimular o desenvolvimento da planta durante todo o processo de propagação in vitro (MIRANSARI e SMITH, 2014). As principais classes de hormônios são as citocininas e auxinas responsáveis pela indução e multiplicação de gemas na maioria das espécies vegetais, com variações nas concentrações exógenas necessárias. Entretanto, as concentrações mais utilizadas destes hormônios, normalmente, giram em torno de 0,1 e 5,0 mg L-1 (RADEMACHER, 2015) As auxinas mais utilizadas na técnica de cultura de tecidos são: AIA (ácido 3-indol- acético), o IBA (ácido 4-indol-butírico), o 2,4-D (ácido 2,4-diclorofenoxiacético), o ApCFA (ácido p-clorofenoxiacético) e o ANA (ácido 1-naftalenoacético) (PEIXOTO, 2011). A ação 31 das auxinas é verificada na indução do alongamento celular e diferenciação de raízes em culturas in vitro, indução de embriogênese, o aumento da friabilidade de calos, o alongamento de entrenós (QUISEN et al., 2008).As citocininas constituem um grupo de reguladores indispensáveis à divisão celular, quebra de dormência apical, indução e proliferação de gemas axilares e diferenciação de gemas adventícias, indução de parte aérea em calos (TAIZ et al., 2017). CID e TEIXEIRA (2014) descrevem que as citocininas mais usadas em cultura de tecidos são a KIN (6- furfurilaminopurina, também conhecida como cinetina), o BAP (6-Benzilaminopurina), o 2ip (N-Isopentinilaminopurina), Zea (Zeatina) e TDZ (Thidiazuron). 2.4.8. Luz A luz, por ser fonte primária de energia relacionada à fotossíntese (HEO et al., 2006) e fenômenos morfogenéticos (TAIZ et al., 2017), é considerado um dos principais fatores que influenciam o crescimento e o desenvolvimento das plantas (GUPTA e AGARWAL, 2017). Em um laboratório de cultura de tecidos, é preciso tomar cuidado com a energia radiante para promover um bom desenvolvimento do cultivo in vitro (CID e TEIXEIRA, 2014). Tradicionalmente, a iluminação das culturas in vitro por lâmpadas de descarga de gás (LDGs), comumente lâmpadas fluorescentes (Fls) emitem luz branca com padrões de emissão de 400 a 700 nm (nanômetros), que são os comprimentos efeitivos para a fotossíntese (BANTIS et al., 2018). A morfogênese das plantas e seus aspectos relacionados são regulados principalmente por vários fotorreceptores que são ativados por fótons nas regiões azul e vermelha do espectro de luz. De acordo com CID e TEIXEIRA (2014) os fótons apresentam diferentes valores de energia. Assim, os fótons da região ultravioleta são mais energéticos que os da região vermelha (Tabela 5). Uma parcela significativa da produção espectral provenientes por LDGs não é utilizada pelo cultivo de plantas in vitro (DUTTA GUPTA e JATOTHU, 2013). Além disso, o excesso de irradiação de luz pode causar danos e oxidação nas plantas (DIETZ et al., 2016). Além do desperdício de energia devido a fótons de comprimentos de onda indesejados e excesso de irradiação de luz, os LDGs também dissipam muita energia como calor. Assim, os LDGs podem não ser a escolha ideal para iluminar as culturas mantidas in vitro, e há uma necessidade de uma fonte de luz eficiente para melhorar a taxa de micropropagação com plantio de qualidade e reduzir o custo de propagação (GUPTA; AGARWAL, 2017). Com o avanço da tecnologia, os diodos emissores de luz (LEDs) foram propostos recentemente como uma fonte de luz eficiente em termos energéticos para várias aplicações de 32 cultura de tecidos vegetais. A emissão de faixa de onda estreita e o controle dinâmico da intensidade de luz em sistemas de iluminação baseados em LED permitem a personalização da qualidade espectral para atender às necessidades das plantas (BATISTA et al., 2018). A precisão na conversão de energia elétrica para fótons de comprimentos de onda específicos na densidade de fluxo de fótons fotossintéticos (DFFF) desejada, com perda de calor insignificante, torna os LEDs mais eficientes no consumo de energia do que todas as outras fontes de iluminação artificial disponíveis (GUPTA e AGARWAL, 2017). O sucesso da regeneração de plantas in vitro depende muito da qualidade dos espectros e da eficiência de fótons das fontes de luz artificial. Os LEDs são a fonte ideal que pode fornecer espectros necessários para estimular respostas organogênicas e embriogênicas. Painéis de LED com espectros de emissão correspondentes aos espectros de absorção de fotorreceptores vegetais podem culminar na formação de plântulas influenciando a morfogênese e o metabolismo das plantas (MASSA et al., 2008). Diversos estudos demostram as aplicações bem sucedidas de LEDs que favorece o crescimento in vitro e a morfogênese de várias espécies de plantas (DUTTA GUPTA e JATOTHU, 2013). Tabela 5. Comparação entre o conteúdo energético de três comprimentos de ondas Comprimento de onda (λ) Energia (KJ mol-1) UV (280 nm) 471 Azul (425 nm) 274 Vermelha (640nm) 181 Fonte: CID e TEIXEIRA (2014). 2.5 Metabólitos secundários de plantas Os metabólitos secundários acumuladas em plantas e microorganismos possuem um enorme valor agregado do ponto de vista econômico devido aos compostos identificados, pois poucos são aqueles utilizados como drogas, saborizantes, fragrâncias, inseticidas ou corantes (FILOVÁ, 2014). De todas as drogas usadas na medicina ocidental cerca de 25% são derivadas de plantas, quer como um composto puro (fármaco) ou como derivado de um produto de síntese natural. Mais de 50 mil metabólitos secundários já foram identificados em espécies de angiospermas, e são sintetizados em diferentes compartimentos celulares, por quatro vias de biossíntese, são elas: via do acetato malonato, do ácido mevalônico (MEV), do metileritritol fosfato (MEP) e do ácido chiquímico. Através dessas vias são formados os três principais 33 grupos de metabólitos secundários: terpenos, substâncias fenólicas e substâncias nitrogenadas (Figura 4) (MOREIRA 2015). Além destes grupos, também merecem destaque os derivados de ácidos graxos e os policetídeos aromáticos. (FRANÇA, 2017) Apesar do desenvolvimento nas áreas de síntese orgânica, microbioligia industrial e biologia molecular, parte dos fármacos continua sendo provenientes de matérias-primas vegetais. A seguir uma lista de fármacos com elevado valor terapêutica obtidos de matérias- primas vegetais é apresentada na Tabela 6. Tabela 6. Exemplos de fármacos obtidos de matérias-primas vegetais Fármaco Utilização terapêutica Espécie Artemisina (terpenos) Antimalárico Artemisia annua L. Atropina Anticolinérgico Atropa beladona L. Cafeína Estimulante central Coffea spp. Capsaicina Anestésico tópico Capsicum spp. Colchicina Antirreumático Colchium autumnale L. Digoxina, digitoxina Cardiotônicos Digitalis purpura L. Emetina Amebicida Carapichea ipecacuanha (Broth) L. Escopolamina Antiparkinsoniano Datura spp. Estrofantina (ouabaína) Cardiotônio Strophanthus spp. Fisostigmina Antiglaucomatoso Physostigma venenosum Balf. Galantamina Anticolinesterásico Galanthus woronowii Losinsk Hiosciamina Anticolinérgico Hyoscyanus muticus L. Morfina, codeína Analgésico/antitussígeno Papaver somniferum L. Pilocarpina antiglaucomatoso Pilocarpus jaborandi Holmes Quinina, quinidina Antimalárico/antiarrítmico Cinchona spp. Reserpina Anti-hipertensivo Rauvolfia spp. Tubocurarina Bloqueador neuromuscular Chondrodendron tomenstosum Ruiz & Pav. Vimblastina, vincristina Antineoplásicos Catharantus roseus L. Fonte: BERNARDES et al., (2017) 34 Figura 4. Esquema geral das vias de biosíntese do metabolismo vegetal secundário (retângulos rosas) e suas conexões com o metabolismo primário (retângulos vermelhas), em detalhe os metabólitos primários (verde) e os secundários (azul). Fonte: MOREIRA (2015) 35 2.6 Metodologias utilizadas na busca de substâncias bioativas O processo de caracterização é considerado uns dos principais métodos para a identificação de grupos de metabólitos de uma determinada espécie vegetal cuja constituição é desconhecida (REGINATTO, 2017). Esta busca pode ser feita através do fracionamento biomonitorado ou bioguiado ou de forma mais clássica, através do fracionamento dos extratos ativos e posterior avaliação das substâncias isoladas nos ensaios para o qual o extrato foi ativo (LAHLOU, 2013). Cada passo do fracionamento é geralmente guiado por um bioensaio e o processo é chamado de bioensaio (SARKER e NAHAR, 2007). O esquema a seguir (Figura 5) apresenta uma visão geral do processo tradicional biomonitorado de descoberta de drogas de um produto natural. Figura 5. Esquema de processo de descoberta de produtos naturais. Fonte: SARKER e NAHAR (2007) 2.7 Fracionamento, isolamento e purificação de metabolótios secundários. O procedimento para o fracionamento inicia com a avaliação biológica e também fitoquímica dos extratos vegetais atravésdo uso de técnicas como a cromatografia em camada delgada comparativa (CCDC) e de reveladores químicos e físicos. Desse modo, escolhe-se o extrato a fracionar, seja por apresentar elevada atividade biológica ou por indicar a presença de metabólitos de interesse para o grupo de pesquisa (AZMIR et al., 2013). O fracionamento é realizado utilizando diferentes técnicas como a cromatografia em coluna aberta, partição 36 liquido-liquido, cromatografia em camada delgada preparativa, cromatografia liquida de alta eficiência (CLAE), entre outras (LIANG et al., 2004). No acoplamento destas técnicas, faz-se uso de métodos eficientes de separação, como CLAE e CG, com técnicas espectrométricas que funcionam para detecção, como espectrofotometria de UV-Visível (DAD), espectrometria de massas (MS e MS-MS) e ressonância magnética nuclear (RMN), fornecendo importante informações adicionais sobre a estrutura química dos componentes da amostra (LIANG et al., 2004; MUKHERJEE, 2018). O fracionamento por partição tem por objetivo separar os compostos considerando sua solubilidade e seu coeficiente de partição em diferentes solventes (REGINATTO, 2017). Para esse procedimento, a escolha dos solventes é baseada no grau de polaridade crescente (Figura 6). Portanto, as substâncias isoladas são identificadas e avaliadas quanto a suas atividades biológicas através dos bioensaios (AZMIR et al., 2013). Figura 6. Processo de partição com solventes de polaridade crescente. Fonte: REGINATTO (2017) 2.8 Bioensaios para determinação do potencial medicinal de extratos de plantas Bioensaios ou ensaios biológicos são testes feitos em laboratório que determinam o grau ou o efeito biológico de uma substância desconhecida ou de uma substância-teste (como drogas, hormônio, químicos, etc). Entretanto, os bioensaios diferem principalmente quanto ao tempo de exposição do organismo-teste ao agente ou substância a ser testado (ADENUBI et al., 2018; ZOU et al., 2016). 37 Dentre os tipos de bioensaios, destacam-se: os ensaios in vivo que são aqueles realizados com organismos vivos e os ensaios in vitro, que são aqueles realizados em equipamentos laboratoriais, como placas de petri e microplacas (CARVALHO, 2016a). Nos últimos 30 anos, os ensaios biológicos in vitro tem sido bastante utilizado para descoberta de novas drogas devido ao seu potencial que podem testar muitas amostras para a atividade em um curto período de tempo e em pequenas escalas (microplacas), proporcionando resultados significativos quanto ao número de réplicas suficiente para efetuar a análise estatística, como o caso dos testes antibacterianos, antioxidantes e de toxicidade frente à Artemia salina (SOUZA-MOREIRA et al., 2010). 2.9 Ensaios antibacterianos As plantas podem contribuir na descoberta de novos antibióticos, pois é possível que produtos naturais antimicrobianos possam ser biossintetizados para prevenir e/ou combater o ataque de microorganismos patogênicos às plantas (GUIMARÃES et al., 2010). Os principais métodos microbiológicos para avaliar a atividade antibacteriana estão classificados em três tipos: métodos de difusão, métodos de diluição e bioautografía (RIOS et al., 1988). As técnicas de difusão têm sido amplamente usadas para avaliar extratos de plantas com atividade antimicrobiana (RAMIREZ e CASTAÑO, 2009). 2.9.1 Métodos de difusão De acordo com VANDEN BERGHE e VLIETINCK (1991), os ensaios de difusão são métodos quantitativos, nos quais o efeito pode ser graduado. A difusão consiste em uma substância a ser ensaiada em um meio de cultura sólido e inoculado com o microrganismo. A partir desse processo de difusão ocorre o aparecimento de um halo, no qual não há crescimento do microorganismo, denominado halo de inibição. Diversos tipos de reservatórios podem ser utilizados incluindo discos de papel, cilindros de porcelana ou de aço inoxidável e poços feitos no meio de cultura (VALGAS et al., 2007). RIOS et al., (1988) relata que a substância ou extrato a ser testado é colocado em contato com o meio de cultura inoculado, e a maneira como se processa esse contato define os diferentes métodos de difusão, dentre eles, método do disco difusão, método dos cilindros e método de poços 2.9.2 Métodos de diluição O método de diluição em caldo é uma técnica in vitro realizada através de macrodiluição em tubos, e microdiluição em microplacas de 96 poços, os quais são preparados adicionando- se concentrações seriadas da substância que está sendo avaliada, colocando-se uma solução 38 padrão do inóculo das bactérias teste, sendo estas posteriormente incubadas durante 24 horas (VALGAS, et. al., 2007). Após incubação, o crescimento do microrganismo é determinado pela leitura visual direta ou turbidimétrica pelo uso de espectrofotômetro em diferentes comprimentos de onda adequados (VANDEN BERGHE e VLIETINCK, 1991). A avaliação do método de diluição é observado de forma quantitativa à atividade de uma determinada substância antimicrobiana frente às bactérias, determinando a concentração mínima inibitória (CMI), cuja concentração mais baixa da substância testada é capaz de inibir o crescimento bacteriano após o tempo de incubação. Enquanto que a concentração mínima bactericida (CBM) é considerada como concentração da substância testada capaz de evitar ou impedir o crescimento de bactérias, a qual é determinada depois de realizar-se uma subcultura em placas de ágar sem o antibacteriano, com o conteúdo dos poços onde não houve aparente crescimento de bactérias no ensaio do CMI (CLSI 2002). 2.9.3 Bioautografia Conforme RIOS et al., (1988) relatam que os ensaios bioautográficos são aqueles que empregam placas de cromatografia de camada fina (CCF) para a análise. Neste contexto, os compostos separados por CCF são colocados por contato em placas de ágar previamente inoculadas com o microrganismo teste. Tais zonas de inibição de crescimento microbiano indicam a presença de substâncias antimicrobianas (BRANDÃO, 2004). Estes métodos apresentam enorme importância na pesquisa de compostos antimicrobianos vegetais, pois permitem a localização direta dos constituintes ativos a partir de uma matriz complexa sendo, portanto, considerado um método qualitativo (HOSTETTMANN e MARSTON, 1994; HOSTETTMANN e TERREAUX, 2000). 2.10 Antioxidantes Antioxidantes são substâncias químicas ou produtos biológicos capazes de agir contra os danos normais causados pelos efeitos do processo fisiológico de oxidação (ZAMORA, 2007). Tanto nutrientes (vitaminas e minerais) como enzimas (proteínas no corpo que ajudam as reações químicas) são considerados antioxidantes. Acredita-se que os antioxidantes ajudam na prevenção do desenvolvimento de doenças crônicas, como o câncer, doenças cardíacas, derrame, Mal de Alzheimer, artrite reumatoide e catarata, por esta razão têm sidos realizados estudos nas buscas dos compostos antioxidantes (KORGE et al., 2008; MANSUROĞLU et al., 2015; PAN et al., 2013). 39 O estresse oxidativo ocorre quando a produção de moléculas prejudiciais, denominadas de radicais livres, está além da capacidade protetora das defesas antioxidantes. Os radicais livres são átomos químicamente ativos ou moléculas que apresentam um número ímpar de elétrons na sua órbita externa, a exemplo de ânion superóxido, o radical hidroxila, os metais de transição, como o ferro e o cobre, o ácido nítrico e o ozônio, considerados radicais livres (GENESTRA, 2007). Ensaios in vitro têm demonstrado a importância de dietas ricas em frutas e vegetais pela presença de antioxidantes que ajudam no combate aos radicais livres, que em consumo moderado, são benéficos à saúde humana. Em contrapartida alguns testes in vitro e in vivo demonstram que, em certas condições e concentrações erradas, algumas das substâncias com efeitos antioxidantes podem apresentar o efeito contrário, sendo necessários mais
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