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31 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 2 Alocação de custos nas empresas com processo de produção conjunta Sabemos que é muito difícil encontrar indústrias com apenas um pro- duto em seu processo de fabricação. Assim, este capítulo trata sobre a alocação de custos em empresas com processo de produção conjunta. Ou seja, empresas que possuem mais de um produto derivado do mes- mo processo de produção e dos mesmos materiais utilizados na produ- ção, como matérias-primas, embalagens, entre outros. Quando uma empresa possui mais de um produto derivado do mes- mo processo produtivo e dos mesmos materiais, chamamos esses 32 Análise e gestão de custos Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . produtos de coprodutos e subprodutos, ou seja, eles incorrem nos mesmos custos. Esses custos em comum são chamados de custos conjuntos. Os custos conjuntos trazem mais um desafio para a contabilidade e a gestão de custos, uma vez que dependemos de critérios arbitrários para alocar esses custos a cada um dos coprodutos. Este capítulo tem o objetivo de esclarecer os diferentes métodos de alocação de custos conjuntos. 1 Produção conjunta e custos conjuntos Martins (2018) define produção conjunta como o aparecimento de diversos produtos a partir da mesma matéria-prima, isto é, a partir de um mesmo material, existem diversos produtos conjuntos. Esses pro- dutos conjuntos podem ser classificados em coprodutos e subprodutos. Um tipo muito comum de produção conjunta são os produtos derivados da agroindústria, por exemplo, a soja e seus derivados, como o óleo e o farelo (MARTINS, 2018). Coprodutos ou produtos conjuntos são dois ou mais produtos pro- venientes de um mesmo conjunto de materiais, enquanto subprodutos são produtos secundários obtidos durante a fabricação do produto prin- cipal. Em outras palavras, os coprodutos são os próprios produtos prin- cipais, que provêm de uma mesma matéria-prima e são a principal fonte de faturamento da empresa. Quando comparados com o produto princi- pal, os subprodutos têm um pequeno valor. À medida que os subprodu- tos são fabricados, eles têm seu valor líquido de realização considerado como redução do custo de elaboração dos produtos principais. Assim, a diferença entre coproduto e subproduto está no valor de mercado, pois os subprodutos têm menor valor comercial, enquanto os coprodutos possuem maior valor (LEONE, 2012; MARTINS, 2018). 33 Alocação de custos nas empresas com processo de produção conjunta M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. IMPORTANTE Valor líquido de realização é: o valor de venda menos as despesas de venda, os custos eventualmente necessários ao término e preparação para venda desses subprodutos e, eventualmente, uma margem normal de lucro bruto. (MARTINS, 2018, p. 151) Há também outro termo comum utilizado em indústria: sucata. As sucatas podem ou não surgir como decorrência normal do processo de produção. Nesse caso, as sucatas não têm valor de venda e não rece- bem atribuição de nenhum custo, mesmo sendo inerentes ao processo. As sucatas surgem como itens normais em uma produção e, quando são vendidas, têm suas receitas registradas como outras receitas ope- racionais (MARTINS, 2018). IMPORTANTE Os produtos de uma empresa não são definitivamente caracterizados como produtos principais ou secundários. Essa distinção é bastante transitória e depende do valor relativo comercial dos produtos. O subpro- duto tem como características básicas o valor de venda e as condições de comercialização normais. A sucata, por sua vez, surge como decor- rência normal do processo produtivo, porém possui pouca relevância dentro do faturamento da empresa (LEONE, 2012; MARTINS, 2018). O principal problema de uma empresa com coprodutos e subprodutos são os custos conjuntos, uma vez que esses não podem ser divididos en- tre os produtos sem critérios de rateio arbitrários. Custos conjuntos são os custos incorridos em uma produção conjunta. Assim, em uma produção conjunta, ou seja, uma produção que resulta em vários produtos derivados 34 Análise e gestão de custos Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . dos mesmos materiais, mão de obra, entre outros, temos os mesmos cus- tos, os quais denominamos custos conjuntos (MARTINS, 2018). É importante salientar que a alocação não afeta o custo total, pois este não é reduzido nem aumentado pela alocação. Contudo, as quan- tidades de custo atribuídas às unidades dos produtos podem ser afe- tadas pelo procedimento de alocação escolhido. Como a alocação de custos pode afetar os preços de venda, a rentabilidade de produtos in- dividuais e o comportamento dos gerentes, este é um tópico de suma importância para determinar metas e medidas de desempenho a serem utilizadas (HANSEN; MOWEN, 2005). IMPORTANTE Custos conjuntos são os “custos comuns de bens ou serviços empre- gados na produção simultânea de dois ou mais produtos ou, então, empregados em operações relacionadas, comerciais ou de serviços” (KOHLER, 1952, p. 279). Esses custos conjuntos precisam ser alocados para os produtos conjuntos. Porém, por se tratarem de custos indivisíveis, é necessá- rio decidir como fazer essa divisão. Quaisquer que sejam os crité- rios de alocação, eles serão muito arbitrários. “O importante é que a alocação de custos conjuntos seja realizada sempre com base em critérios racionais e de maneira consistente ao longo do tempo” (MARTINS, 2018, p. 152). NA PRÁTICA Como mencionado, o caso da produção conjunta é muito comum quando falamos sobre produtos da agroindústria. Podemos utilizar como exemplo o caso de um boi que será cortado em várias partes. Veja a figura 1. 35 Alocação de custos nas empresas com processo de produção conjunta M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Figura 1 – Produtos que são produzidos a partir de uma única matéria-prima Boi (matéria-prima) e as operações de corte e limpeza (custo do boi – R$ 5.000,00; custo das operações de corte e limpeza – R$ 2.000,00) Carnes nobres: filé mignon, acém, patinho, alcatra, picanha e outras Carnes de segunda: com osso, sebo, costelas Órgãos: rins, coração, fígado, miolo, língua, testículos e outros Outras partes: orelhas, patas, ossos com tutano, pele Sucata: ossos, chifres e sangue Perdas: todos os demais órgãos e partes que não alcançam valor de mercado Fonte: adaptado de Leone e Leone (2010, p. 219). Podemos ver que algumas dessas partes serão vendidas diretamente no mercado, alcançando valores altos, e outras, valores uns pouco mais baixos, como é o caso das carnes nobres e de segunda (coprodutos). Enquantoisso, há os órgãos e outras partes que ainda serão processa- das, trazendo um certo retorno (subprodutos). Há também partes que podem ser vendidas como sucata e algumas perdas. Assim, as carnes nobres e de segunda (coprodutos) e os órgãos e outras partes (subpro- dutos) são produtos conjuntos (LEONE; LEONE, 2010). Pode-se ver que, desse processo de produção conjunta, resultam-se vá- rios produtos conjuntos, os quais possuem os mesmos custos. Esses custos são chamados de custos conjuntos. No exemplo, os custos con- juntos são a matéria-prima (o boi) e a mão de obra. 36 Análise e gestão de custos Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 2 Ponto de separação Hansen e Mowen (2005) explicam que os produtos conjuntos são dois ou mais produtos fabricados simultaneamente pelo mesmo pro- cesso até um ponto de separação. O ponto de separação é o ponto em que os produtos conjuntos passam a ser separados e identificáveis (HANSEN; MOWEN, 1952). É claro que alguns produtos conjuntos podem exigir processamento além do ponto de separação. Porém, o que vale destacar é que os ma- teriais diretos, a mão de obra direta e os custos gerais incorridos até o ponto de separação inicial são custos conjuntos que podem ser alocados ao produto final apenas de maneira arbitrária (HANSEN; MOWEN, 2005). A figura 2 apresenta um exemplo de produção conjunta e seu ponto de separação. Figura 2 – Processo de produção conjunta Matéria-prima: porco Processamento Ponto de Carne de porco Couro separação Fonte: adaptado de Hansen e Mowen (2005). Podemos comparar o processo de produção conjunta com o proces- so de produção de vários produtos separados a partir de uma mesma matéria-prima, como ilustrado pela figura 3. Figura 3 – Produção independente de múltiplos produtos usando o mesmo material Matéria-prima: metal Processamento Processamento Carro modelo A Carro modelo B Fonte: adaptado de Hansen e Mowen (2005). 37 Alocação de custos nas empresas com processo de produção conjunta M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. A partir das figuras anteriores, podemos ver a diferença entre os dois tipos de processos. No processo de produção conjunta, temos os mes- mos materiais e o mesmo processamento resultando em diferentes produtos (produtos conjuntos). Na produção independente, temos os mesmos materiais, porém os processamentos de cada produto são in- dependentes, cada um resultando em um produto diferente. NA PRÁTICA Por exemplo, petróleo e gás natural são produtos conjuntos. Quando uma empresa perfura para petróleo, ela também recebe gás natural. Como resultado, os custos de exploração, aquisição de direitos minerais e perfuração são incorridos até o ponto inicial de divisão. Tais custos são necessários para tirar o petróleo e o gás natural do solo, e são cus- tos comuns a ambos os produtos. Assim, o petróleo pode ser proces- sado posteriormente em combustíveis e outros produtos petroquímicos (HANSEN; MOWEN, 1952). 3 Métodos de alocação dos custos conjuntos Como principais critérios para a apropriação de custos conjuntos temos os métodos: do valor de mercado, dos volumes produzidos, da igualdade do lucro bruto e das ponderações. 3.1 Método do valor de mercado O método do valor de mercado é o mais utilizado na prática. Esse método consiste em distribuir de maneira homogênea o resultado aos coprodutos (MARTINS, 2018). Vejamos um exemplo elaborado por Martins (2018). 38 Análise e gestão de custos Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . NA PRÁTICA Imagine uma indústria com os custos e produtos descritos na tabela 1 (MARTINS, 2018, p.153). Custos e produtos Matéria-prima processada R$ 30.000.000,00 Mão de obra e custos industriais R$ 15.000.000,00 Custos conjuntos totais R$ 45.000.000,00 Tabela 1 – Exemplo de custos conjuntos VALOR DE VENDA QUANTIDADE PRODUZIDA VALOR DE VENDA TOTAL Coproduto A R$ 400,00/kg 55.000 kg R$ 22.000.000,00 Coproduto B R$ 200,00/kg 100.000 kg R$ 20.000.000,00 Coproduto C R$ 300,00/kg 60.000 kg R$ 18.000.000,00 R$ 60.000.000,00 Dessa produção, R$ 45.000.000,00 são custos conjuntos que devem ser alocados aos coprodutos A, B e C. De acordo com o método do valor do mercado, esses custos conjuntos devem ser alocados de maneira pro- porcional. Essa distribuição seria feita do seguinte modo por coproduto: Alocação dos custos conjuntos pelo método do valor de mercado R$ 22.000.000A R$ 60.000.000 × R$ 45.000.000 = R$ 16.500.000,00 B R$ 20.000.000 R$ 60.000.000 × R$ 45.000.000 = R$ 15.000.000,00 C R$ 18.000.000 R$ 60.000.000 × R$ 45.000.000 = R$ 13.000.000,00 R$ 45.000.000,00 Esse resultado traria os seguintes custos por kg: Custos por kg R$ 16.500.000A = R$ 300,00/kg 55.000 kg R$ 15.000.000 B = R$ 150,00/kg 100.000 kg R$ 13.500.000 C = R$ 225,00/kg 60.000 kg 39 Alocação de custos nas empresas com processo de produção conjunta M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 3.2 Método dos volumes produzidos O método dos volumes produzidos consiste em apropriar custos iguais por unidade de produto elaborado (MARTINS, 2018). Vamos uti- lizar o exemplo anterior para comparar os resultados de cada método. NA PRÁTICA Imagine uma indústria com os custos e produtos descritos na tabela 2 (MARTINS, 2018, p. 54). Matéria-prima processada R$ 30.000.000,00 Mão de obra e custos industriais R$ 15.000.000,00 Custos conjuntos totais R$ 45.000.000,00 Tabela 2 – Dados dos coprodutos VALOR DE VENDA QUANTIDADE PRODUZIDA VALOR DE VENDA TOTAL Coproduto A R$ 400,00/kg 55.000 kg R$ 22.000.000,00 Coproduto B R$ 200,00/kg 100.000 kg R$ 20.000.000,00 Coproduto C R$ 300,00/kg 60.000 kg R$ 18.000.000,00 R$ 60.000.000,00 De acordo com o método dos volumes produzidos, devemos apropriar custos iguais por unidade de produto elaborado. Nesse caso, os custos conjuntos seriam alocados da maneira descrita na tabela 3. Tabela 3 – Alocação dos custos conjuntos pelo método dos volumes produzidos Coproduto A VOLUME PRODUZIDO (KG) 55.000 PROPORÇÃO (%) 25,58 CUSTO CONJUNTO ALOCADO ($) R$ 11.511.628,00 CUSTO POR UNIDADE ($/ KG) R$ 209,30 Coproduto B 100.000 46,51 R$ 20.930.232,00 R$ 209,30 Coproduto C 60.000 215.000 27,91 100 R$ 12.558.140,00 R$ 45.000.000,00 R$ 209,30 40 Análise e gestão de custos Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 3.3 Método da igualdade do lucro brutoO método da igualdade do lucro bruto consiste em “distribuir o cus- to conjunto de tal forma que cada produto tivesse o mesmo lucro bru- to por unidade” (MARTINS, 2018, p. 154). Novamente, vamos utilizar o mesmo exemplo dos métodos anteriores, como maneira de comparar os resultados. NA PRÁTICA Vamos imaginar uma indústria com os custos e produtos descritos na tabela 4 (MARTINS, 2018, p. 155): Matéria-prima processada R$ 30.000.000,00 Mão de obra e custos industriais R$ 15.000.000,00 Custos conjuntos totais R$ 45.000.000,00 Tabela 4 – Dados de produção VALOR DE VENDA QUANTIDADE PRODUZIDA VALOR DE VENDA TOTAL Coproduto A R$ 400,00/kg 55.000 kg R$ 22.000.000,00 Coproduto B R$ 200,00/kg 100.000 kg R$ 20.000.000,00 Coproduto C R$ 300,00/kg 60.000 kg R$ 18.000.000,00 R$ 60.000.000,00 De acordo com o método da igualdade do lucro bruto, devemos distri- buir o custo conjunto de tal modo que cada produto tenha o mesmo lucro bruto por unidade. A alocação do custo conjunto deve ser feita da seguinte maneira (tabela 5): Receita total R$ 60.000.000,00 (–) Custo total conjunto (R$ 45.000.000,00) Lucro bruto total R$ 15.000.000,00 Lucro bruto por kg: R$ 15.000.000 215.000 kg = R$ 69,77/kg 41 Alocação de custos nas empresas com processo de produção conjunta M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Tabela 5 – Alocação dos custos conjuntos pelo método da igualdade do lucro bruto PREÇO DE VENDA (A) LUCRO BRUTO (B) CUSTO (A) – (B) Coproduto A R$ 400,00/kg R$ 200,00/kg R$ 300,00/kg R$ 69,77/kg R$ 69,77/kg R$ 69,77/kg R$ 330,23/kg R$ 30,23/kg R$ 230,23/kg Coproduto B Coproduto C 3.4 Método das ponderações O método das ponderações é uma maneira também subjetiva de rea- lizar os cálculos, mas às vezes oferece bons resultados. Esse método consiste em ponderar cada coproduto em termos de grau de dificuldade, importância, facilidade de venda, entre outras carac- terísticas (MARTINS, 2018). Assim, é necessário um estudo do proces- so produtivo e dos produtos comercializados para adotar uma dessas características e, então, aplicar o método das ponderações. Porém, há metodologias de ponderação que utilizam apontamen- tos de produção específicos para esse método, muitas vezes empre- gando a distribuição por centro de custo e só depois para os coprodu- tos, ou mesmo metodologias de pesquisa operacional que identificam gargalos (com base na teoria das restrições, tema que será abordado no capítulo 6 desta obra) que podem alocar mais custos fixos para certos coprodutos. Vamos utilizar o mesmo exemplo dos métodos anteriores para estu- dar o método das ponderações. 42 Análise e gestão de custos Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . NA PRÁTICA Vamos imaginar uma indústria com os custos e produtos descritos na tabela 6 (MARTINS, 2018, p. 155). Matéria-prima processada R$ 30.000.000,00 Mão de obra e custos industriais R$ 15.000.000,00 Custos conjuntos totais R$ 45.000.000,00 Tabela 6 – Valor de venda dos coprodutos VALOR DE VENDA QUANTIDADE PRODUZIDA VALOR DE VENDA TOTAL Coproduto A R$ 400,00/kg 55.000 kg R$ 22.000.000,00 Coproduto B R$ 200,00/kg 100.000 kg R$ 20.000.000,00 Coproduto C R$ 300,00/kg 60.000 kg R$ 18.000.000,00 R$ 60.000.000,00 De acordo com o método das ponderações, devemos distribuir o cus- to conjunto por meio de uma ponderação de cada coproduto. Digamos que, após um estudo do processo produtivo e de cada coproduto, resol- va-se apropriar os custos conjuntos de tal modo que cada unidade de A equivale ao número índice 100; cada unidade de B, a 40; e cada uma de C, a 65. Nesse caso, a alocação dos custos conjuntos seria feita da maneira descrita na tabela 7. Tabela 7 – Alocação dos custos conjuntos pelo método das ponderações PESO QUANTIDADE PONDERAÇÃO TOTAL* PARTICIPAÇÃO CUSTO CONJUNTO Por Total unidade A 100 55.000 kg 5.500.000 41,04% R$ R$ 335,82/ 18.470.149 kg B 40 100.000 kg 4.000.000 29,85% R$ R$ 134,33/ 13.432.836 kg C 65 60.000 kg 3.900.000 29,10% R$ R$ 218,28/ 13.097.015 kg 13.400.000 100% R$ 45.000.000 *Peso de cada produto × seu volume. 43 Alocação de custos nas empresas com processo de produção conjunta M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Para encontrar a ponderação total, multiplicamos o peso de cada produ- to pela sua quantidade: A 100 × 55.000 = 5.500.000 B 40 × 100.000 = 4.000.000 C 65 × 60.000 = 3.900.000 A soma da ponderação total é 5.500.000 + 4.000.000 + 3.900.000 = 13.400.000. Assim, podemos ver a participação de cada produto: 5.500.000 A = 41,04% 13.400.000 4.000.000 B = 29,85% 13.400.000 3.900.000 C = 29,10% 13.400.000 Usamos esses percentuais de participação para alocar os custos con- juntos de valor total de R$ 45.000.000 (desconsiderar as casas deci- mais): A 41,04% × R$ 45.000.000 = R$ 18.470.149,00 B 29,85% × R$ 45.000.000 = R$ 13.432.836,00 C 29,10% × R$ 45.000.000 = R$ 13.097.015,00 Esses são os valores totais dos custos conjuntos a serem alocados para cada produto. Para saber o custo conjunto por kg, dividimos esses valo- res pela quantidade de cada produto: R$ 18.470.149 A = R$ 335,82/kg 55.000 kg R$ 13.097.015 B = R$ 134,33/kg 100.000 kg R$ 13.097.015 C = R$ 218,28/kg 100.000 kg 44 Análise e gestão de custos Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 4 Método do valor das vendas no ponto de separação O método do valor de venda no ponto de separação consiste em alocar o custo conjunto com base na participação proporcional de cada produ- to no mercado ou no valor de venda no ponto de separação. De acordo com esse método, quanto maior o valor de mercado, maior a participa- ção do custo conjunto cobrado sob o produto. Enquanto os preços no ponto de separação forem estáveis ou as flutuações de preços dos vá- rios produtos forem sincronizadas (quanto à taxa de variação), seus res- pectivos custos alocados permanecem constantes (HANSEN; MOWEN, 2005). Vamos ver um exemplo elaborado por Hansen e Mowen (2005). NA PRÁTICA Imagine uma serraria que processe toras em quatro classes de madeira serrada, totalizando 3 milhões de pés de tábua (tabela 8). Tabela 8 – Exemplo de custos conjuntos TORAS PÉS DE TÁBUA Primeira e segunda 450.000 Nº 1 comum 1.200.000 Nº 2 comum 600.000 Nº 3 comum 750.000 Total 3.000.000 O custo conjunto dessa serraria é de R$ 186.000,00. De acordo com o método do valor das vendas no ponto de separação, esse custo conjun- to deve ser alocado com base na participação proporcional de cada pro- duto no mercado ou no valor de venda no ponto de separação. Assim, determinado o valor de venda dos pés de tábua, podemos estabelecer seu valor de venda no ponto de separação e, então, ver a participação de cada um de seus produtos no mercado, alocando,por fim, os custos conjuntos (tabela 9). 45 Alocação de custos nas empresas com processo de produção conjunta M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Tabela 9 – Alocação do custo conjunto PREÇO NO TORAS PÉS DE TÁBUA PONTO DE SEPARAÇÃO (POR MIL PÉS DE VALOR DA VENDA NO PONTO DE SEPARAÇÃO PORCENTAGEM DO VALOR TOTAL DO MERCADO ALOCAÇÃO DO CUSTO CONJUNTO TÁBUA) Primeira e segunda 450 mil R$ 300,00 R$ 135.000,00 26,9946% R$ 50.209,96 Nº 1 comum 1,2 milhão R$ 200,00 R$ 240.000,00 47,9904% R$ 89.262,15 Nº 2 comum 600 mil R$ 121,00 R$ 72.600,00 14,5171% R$ 27.001,80 Nº 3 comum 750 mil R$ 70,00 R$ 52.500,00 10,4979% R$ 19.526,09 Total 3 milhões R$ 500.100,00 R$ 186.000,00 PARA SABER MAIS Leia o artigo “Aplicação do custeio baseado em atividades – ABC no ge- renciamento dos custos conjuntos na atividade industrial de beneficia- mento e curtimento de couros” (BENDLIN et al., 2017) para aprender ou- tras formas de alocação dos custos conjuntos. Esse artigo tem o objetivo de aplicar o sistema de custeio por atividades ABC, contribuindo com a redução da arbitrariedade na apuração do custo total de fabricação. Considerações finais Neste capítulo, abordamos a alocação de custos em empresas com processo de produção conjunta. Vimos que a produção conjunta pode ser definida como o aparecimento de diversos produtos a partir da mesma matéria-prima, isto é, a partir de um mesmo material existem 46 Análise e gestão de custos Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . diversos produtos conjuntos. Esses produtos conjuntos podem ser classificados em coprodutos e subprodutos. Coprodutos ou produtos conjuntos são dois ou mais produtos provenientes de um mesmo con- junto de materiais, enquanto subprodutos são produtos secundários, obtidos durante a fabricação do produto principal. Os coprodutos são resultados de um mesmo processo produtivo e dos mesmos materiais. Assim, pode-se notar que eles possuem cus- tos em comum, os quais chamamos de custos conjuntos. Definimos custos conjuntos como os custos comuns de bens ou serviços empre- gados na produção simultânea de dois ou mais produtos. Esses custos trazem mais um desafio para as empresas por conta da arbitrarieda- de na sua alocação. Por isso, foram desenvolvidos diferentes métodos para realizar essa alocação. Os possíveis métodos para a alocação dos custos conjuntos são: do valor de mercado, dos volumes produzidos, da igualdade do lucro bruto, das ponderações e do valor das vendas no ponto de separação. O método do valor de mercado é o mais utilizado e consiste em dis- tribuir de maneira homogênea o resultado aos coprodutos. Por sua vez, o método dos volumes produzidos envolve apropriar custos iguais por unidade de produto elaborado. O método da igualdade do lucro bruto busca distribuir o custo conjunto de modo que cada produto tenha o mesmo lucro bruto por unidade. O método das ponderações trata-se de ponderar cada coproduto em termos de grau de dificuldade, importân- cia, facilidade de venda, entre outras características. Por último, o método do valor das vendas no ponto de separação con- templa alocar o custo conjunto com base na participação proporcional de cada produto no mercado ou no valor de venda no ponto de separação. 47 Alocação de custos nas empresas com processo de produção conjunta M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Referências BENDLIN, L.; GOMES, E. L.; VICHINHESKI, K. A. Aplicação do custeio baseado em atividades – ABC no gerenciamento dos custos conjuntos na atividade industrial de beneficiamento e curtimento de couros. Anais […]. Florianópolis: [s. n.], 2017. HANSEN, D. R.; MOWEN, M. M. Cost management: accounting and control. 5. ed. Mason: Thomson South Western, 2005. KOHLER, E. A dictionary for accountants. New York: Prentice Hall, 1952. LEONE, G. S. G. Custos: planejamento, implantação e controle. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012. LEONE, G. S. G.; LEONE, R. J. G. Curso de contabilidade de custos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MARTINS, E. Contabilidade de custos. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
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