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Teologia Sistemática III
Aula 1: O Espírito Santo no Antigo Testamento
Apresentação
Nesta aula, estudaremos as afirmações e indicações incoativas (veladas) acerca do Espírito Santo no âmbito do Antigo Testamento.
Você já pensou sistematicamente nos significados da Pessoa e do Mistério do Espírito Santo na existência da Igreja, do mundo e na sua própria? Como pode ser importante aprofundar os valores da existência no espírito?
Mas o que nos foi revelado plenamente nas Escrituras sobre o Espírito Santo não se inicia, como se poderia imaginar, nos escritos do Novo Testamento. Os textos e eventos do Velho Testamento estão repletos de uma forte e decisiva revelação acerca do Espírito Santo.
Por isso, para compreender melhor a Pessoa do Espírito Santo, será preciso estudar de que maneira, ao longo dos séculos, gradativamente, Deus, nas Sagradas Escrituras, nos revelou a Identidade e a Missão do Espírito Santo.
Objetivos
Analisar a doutrina pneumatológica (pneuma = espírito ou sopro) no desenvolvimento da história de Israel;
Reconhecer o que se diz do Espírito de Deus nas etapas da História da Salvação antes do Evento Cristo.
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(Fonte: Artit Fongfung AF / Shutterstock)
Espírito Santo
Como discernir, com efeito, a presença do Espírito de Deus na história?
Só podemos dar uma resposta a essa pergunta recorrendo às Sagradas Escrituras que, inspiradas pelo paráclito, nos revelam progressivamente Sua ação e Sua identidade.
Elas manifestam, de certo modo, a “linguagem” do Espírito, o Seu “estilo”, a Sua “lógica”. A realidade em que Ele atua, é possível lê-la também com olhos que penetram para além duma simples observação exterior, captando atrás das coisas e dos eventos os traços de Sua presença.
A própria Escritura, desde o Antigo Testamento, nos ajuda a compreender a Identidade e a Ação do Espírito Santo ao longo da história humana.
O Espírito de Deus na criação
"O Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas."
(Gn 1,2)
O primeiro pressuposto que devemos considerar quando pesquisamos sobre o Espírito Santo é que a Bíblia não é um dicionário que responda sistematicamente a perguntas precisas que possamos elaborar. Mas na Bíblia se encontram os núcleos do conhecimento elaborado pela teologia, como
“ciência humana do conhecimento de Deus”.
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Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
A teologia (teo + logia = conhecimento de Deus) é a compreensão racional e sistemática de tudo aquilo que Deus revelou ao longo das Escrituras do Antigo e Novo Testamentos. As Sagradas Escrituras funcionam como
“fontes” e referências na elaboração das tradições compreensivas da Revelação.
Uma primeira referência ao Espírito encontra-se nas primeiras linhas da Bíblia, no hino a Deus criador na abertura do livro do Gênesis (Gn 1,2), “O Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas”. Para dizer “espírito” usa-se aqui a palavra hebraica ruach, que significa “sopro”, e pode designar tanto o vento como o respiro, que foi traduzida para o grego (pneuma) e para o latim (spiritus). As duas
palavras ainda acusam o sentido sensível de “vento”, “vento que sopra”, e que também no significado
de espírito acentuam a dimensão de dinamismo de maneira muito mais forte do que as dimensões do insensível ou da reflexão.
Saiba mais
O significado básico de ruach é simultaneamente “vento” e “respiração” – ambos não como essencialmente presentes, mas como força que se encontra no golpe do sopro do vento cujos de onde e aonde permanece enigmático.
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"Como se sabe, este texto pertence à chamada ‘fonte sacerdotal’ que remonta ao período do exílio babilônico (séc. VI a.C.), quando a fé de Israel tinha chegado explicitamente à concepção monoteísta de Deus. Ao tomar consciência do poder criador do único Deus, graças à luz da revelação, Israel chegou a intuir que Deus criou o universo com a força da Sua palavra."
(AQUINO, 1998)
Nessas primeiras concepções veterotestamentárias, a questão em torno do conceito ou identidade do Espírito Santo reside em sua realidade “impessoal”. Não se encontra na Bíblia do Antigo Testamento uma concepção trinitária explícita. A teologia clássica gosta de se referir a isso com a expressão “Trindade Imanente”, em relação à “Trindade Econômica”.
A Revelação da Trindade, isto é, do Mistério Divino, foi- nos comunicado em duas etapas: a primeira, aquela do Antigo Testamento, acerca do Deus Uno, base do monoteísmo bíblico; a segunda, no Novo Testamento, pela revelação do Cristo, tivemos o Conhecimento do Deus, Uno e Trino.
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Quanto à questão econômica, refere-se aos sinais e às palavras que Deus dispôs para que O Página 5 de 46
conhecêssemos através da história da salvação, um saber disposto pelo seu agir histórico. De outra parte, Deus, em Cristo, faz conhecer-Se a Si mesmo: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9) ou, ainda,
“Ninguém vai ao Pai, senão por Mim” (Jo 14, 6).
“Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, pelo sopro (ruach) da Sua boca, todos os seus
exércitos” (Sl 33,6); ao longo dos livros do Antigo Testamento, sempre se relacionou o ato da Criação ao Espírito Santo, pois o ato criador provém dos lábios divinos, de seu sopro. Aqui, Palavra e Sopro
estão associados.
Esse sopro vital e vivificante de Deus não está limitado ao instante inicial da criação, mas sustém em permanência e vivifica toda a criação, renovando-a continuamente: “Se lhes enviais o Vosso espírito, voltam à vida, e renovais a face da terra” (Sl 104,30).
O Espírito Santo e a história de Israel
O Espírito de Deus não á manifestado na Bíblia dissociado das “intervenções divinas” ao longo da história do Povo de Israel. No decorrer do percurso de Israel se vê nas suas narrativas que Deus é causa dos sucessos sobre adversidades e inimigos e ao mesmo tempo, sob a forma de correção, castigo e punição.
No tocante aos personagens humanos (fora os anjos), não há alusão a seres humanos excepcionais (poderes mágicos). Mas é claro que aqueles que foram ungidos pelo Espírito de Deus para cumprir tarefas e missões específicas são dotados de força, coragem e sabedoria extraordinárias.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
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Clique nos botões para ver as informações.
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Sobre a figura central de Moisés, não faltam acenos à convicção de que ele fora ungido pelo Espírito de Deus, para cumprir sua missão. Aliás, por diversas vezes, Moisés é tido como um profeta, o maior. O elogio deriva da intimidade que goza em seu relacionamento com Deus:
Nessa passagem, fica claro ao leitor a consciência da atuação “carismática” de Moisés, agora compartilhada com outros juízes:
Espírito Santo e Moisés
"Então o Senhor desceu na nuvem e lhe falou; e, tirando do espírito que estava sobre ele, pô-lo sobre aqueles setenta anciãos; e aconteceu que, quando o espírito repousou sobre eles profetizaram, mas depois nunca mais o fizeram."
(Nm 11,25)
"Não se levantou mais em Israel profeta comparável a Moisés, com quem o Senhor conversava face a face."
(Dt 24,10)
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e
e
uma babá e os carregue no colo como criancinhas para a terra que juraste dar
aos seus antepassados? Onde poderia eu conseguir carne para dar a todo est povo? Eles vêm chorar perto de mim e dizem que querem comer carne. Eu
sozinho não posso cuidar de todo este povo; isso é demais para mim! Se vais m tratar desse jeito, tem pena de mim e mata-me! Se gostas de mim, não deixes que eu continue sofrendo deste jeito!"
(Nm 11.11-15)
Em cada etapa, como na chegada da terra prometida ao auge da teologia do Espírito na experiência dos profetas, tem-se um belo panorama da identidade e da ação do Espírito Divino. Com a fixação na terra prometida e os desafios religiosos e bélicos que Israel tem de enfrentar,
Deus suscita alguns homens e mulheres a serem, em situações de crise, em tribos e períodos determinados,uma referência da Unção divina, que exprime eleição e proteção da parte de Deus.
Mas o Espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão; e tocando ele a trombeta, os abiezritas se ajuntaram após ele (Jz 6,34);
Então o Espírito do Senhor veio sobre Jefté, de modo que ele passou por Gileade e
Manassés, e, chegando a Mizpá de Gileade, dali foi ao encontro dos amonitas (Jz 11,29);
E o Espírito do Senhor começou a incitá-lo em Maané-Dã, entre Zorá e Estaol (Jz 13,25);
Então o Espírito do Senhor se apossou dele, de modo que ele, sem ter coisa alguma na mão, despedaçou o leão como se fosse um cabrito. E não disse nem a seu pai nem a sua mãe o que tinha feito (Jz 14, 6);
Então o Espírito do Senhor se apossou dele, de modo que desceu a Asquelom, matou trinta dos seus homens e, tomando as suas vestes, deu-as aos que declararam o enigma; e, ardendo em ira, subiu à casa de seu pai (Jz 14,19).
A ação carismática dos “juízos” revela a atuação do Espírito como fonte de força e fidelidade a
Deus. Ungidos do Espírito, cumprem uma função social e religiosa fundamental naquele início de caminho de Israel após a Páscoa e o período do deserto.
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"Pouco depois do reinício da viagem, a partir do monte Sinai, Moisés teve uma crise de cansaço e desânimo. Chegou a fazer um desabafo longo e sentido diante de Deus: ‘Por que me tens tratado tão mal? Por que estás aborrecido
comigo? Por que me deste um trabalho tão pesado de dirigir todo este povo? Eu não fiz este povo, neOmEdsepi àíriltuozSeasntatogeenotes! JPuoírzeqsue me pedes que faça como
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Com o advento da monarquia davídico-salomônica, essa força divina, que até então se
manifestara de modo imprevisível e intermitente, alcança certa estabilidade. E isso é bem constatado na consagração régia de David:
O Espírito Santo estrutura e dirige a história monárquica de Israel. O Espírito de Deus comanda a coroa, o rei é o servo de Deus diante do povo. O gesto da coroação é a unção (o óleo consagra). Ele se apossa de Saul, de Davi, do oficial do exército Amasai (1Cr 12.18), de Azarias (2Cr 15.1) e de Zacarias (2Cr 24.20).
E o Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e tornar-te-ás outro homem (Saul: 1Sm 10, 6);
E, chegando eles ao outeiro, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; e o Espírito de Deus se apoderou dele, e profetizou no meio deles (Saul: 1Sm 10, 10);
Então foi para Naiote, em Ramá; e o mesmo Espírito de Deus veio sobre ele, e ia profetizando, até chegar a Naiote, em Ramá (Saul: 1 Sm 19, 23).
Mas também ocorre que a legitimidade do rei passa pela posse do espírito de Deus, corresponde a sua investidura. Quando há outro espírito atuando, o rei está fora da sua verdadeira função,
sem a garantia da fidelidade a Deus, no serviço do governo do Povo:
E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do Senhor. Então os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora o espírito mau da parte de Deus te atormenta (Saul: 1 Sm 16, 14.15);
Então Samuel tomou o chifre do azeite, e ungiu-o no meio de seus irmãos; e desde aquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi; então Samuel se levantou, e voltou a Ramá (Davi: 1 Sm16,13).
A monarquia que se estabelece a partir do século X a.C. é a demonstração que Deus atua por meio das instituições de Israel. Na lei e na ordem do Estado, Deus é quem, pelo seu Espírito,
governava Israel.
O Espírito Santo e os reis de Israel
"A partir daquele dia, o Espírito do Senhor apoderou-Se de David."
(1 Sm 16,13)
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"O Espírito sai de um para falar a outro (1Rs 22.24). O Espírito não era uma pessoa desconhecida. Prova-o que Obadias, o fiel adorador do Senhor, admitiu que o Espírito do Senhor, por ser soberano, poderia levar o profeta Elias para qualquer lugar e em qualquer momento."
(AQUINO, 1998)
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Durante e depois do exílio na Babilônia, toda a história de Israel é relida como um longo diálogo estabelecido por Deus com o povo eleito, pelo Seu Espírito, pelo ministério dos profetas do
passado. O fenômeno da profecia é o auge da revelação do Espírito de Deus nas Sagradas
Escrituras. Deus coloca suas palavras nos lábios dos profetas. Eles são os “tímpanos” da ação e da revelação divina no meio de Israel, como se lê no relato vocacional de Jeremias:
O Espírito Santo e os profetas
"Sim, fizeram os seus corações como pedra de diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito por intermédio dos primeiros profetas; daí veio a grande ira do Senhor dos Exércitos."
(Zc 7, 12)
"Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor: Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações. E eu respondi: Ah! Senhor JAVÉ, eu nem sei falar, pois que sou apenas uma criança. Replicou, porém, o Senhor: Não digas: ‘Sou apenas uma criança’: porquanto irás procurar todos aqueles aos
quais te enviar, e a eles dirás o que eu te ordenar. Não deverás temê-los porque estarei contigo para livrar-te – oráculo do Senhor. E o Senhor, estendendo em seguida a sua mão, tocou-me na boca. E assim me falou: Eis que coloco minhas palavras nos teus lábios. Vê: dou-te hoje poder sobre as nações e sobre os reinos para arrancares e demolires, para arruinares e destruíres, para edificares e
plantares."
(Jer 1, 4-10)
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Ou ainda no relato da vocação de Ezequiel:
Em todos os profetas, como em Ezequiel torna-se explícito o ligame entre o espírito e a profecia,
"Filho do homem – falou-me –, come o rolo que aqui está, e, em seguida, vai falar à casa de Israel. Abri a boca, e ele mo fez engolir. ‘Filho do homem’ – falou-me –, ‘nutre o teu corpo, enche o teu estômago com o rolo que te dou.’ Então o comi, e era doce na boca, como o mel. 4. Em seguida, acrescentou: ‘Filho do homem, vai até a casa de Israel para lhe transmitir as minhas palavras"
(Ez 3, 1-4)
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No entanto, a perspectiva profética aponta, sobretudo, no futuro o tempo privilegiado em que se cumprirão as promessas no sinal do ruach divino. Aqui se apresenta outro elemento importante do Espírito de Deus no Antigo Testamento e a profecia: a dimensão escatológica. A afirmação do domínio divino sobre a história, o anúncio do Messias (Ungido) e do juízo definitivo de Deus
sobre a humanidade.
Isaías anuncia o nascimento de um descendente, sobre o qual “repousará o espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de temor do Senhor” (Is 11,2-3). No conjunto do Antigo Testamento, nos diversos livros e narrativas o Espírito de
Deus, o Espírito Santo ainda não surge com uma identidade “pessoal”, como a conheceremos na plena revelação em Cristo, mas Ele é o princípio dinâmico da ação e da presença divina no meio do povo de Israel e anima seus dirigentes (juízes, reis e profetas)
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"Filho do homem – dizia-me –, fica de pé, porque eu te falo! Enquanto ela me falava, entrou o espírito em mim, e ele me fez ficar de pé; então, ouvi aquele que me falava. Filho do homem – dizia-me –, envio-te aos israelitas, a essa nação de rebeldes, revoltada contra mim, a qual, do mesmo modo que seus pais, vem
pecando contra mim até este dia. É a esses filhos de testa dura e de coração
insensível que te envio, para lhes dizer: oráculo do Se¬nhor Javé. Quer te ouçam ou não (pois é uma raça indomável), hão de ficar sabendo que há um profeta no meio deles! 6. Quanto a ti, filho do homem, não os temas, nem te arreceies dos seus intentos, conquanto estejas entre moitas de abrolhos e de espinhos e vivas entre escorpiões; não te deixes intimidar por suas palavras nem te espantes com sua atitude, porque é uma raça rebelde. Tu lhes transmitirás os meus oráculos, quer te deem ouvidos ou não; é uma raça pertinaz. E tu, filho do homem, escuta o que eu te digo:não sejas rebelde, como essa raça de rebelados. Abre a boca e
come o que te vou dar. Olhei e vi avançando para mim uma mão, que segurava
um manuscrito enrolado, que foi desdobrado diante de mim: estava coberto com escrita de um e de outro lado: eram cânticos de luto, de queixumes e de
gemidos"
(Ez 2, 1-10)
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Senhor ‘é torrente transbordante’ (Is 30,28). Por isso,
"A concepção bíblica do ruach indica uma energia
Atençsãou! pAqruei emxistae mumea vnidteeoaualat, iavceass,o ppeolodcoenrteoúdsoao,nliinreresistível: o Espírito do
quando o Pai intervém com o seu Espírito, o caos transforma-se em cosmo, no mundo acende-se a vida, e a
Ativhiidstaódriae põe-se novamente em caminho."
Leia(AoQaUrItNigOo, O19E9s8p) írito Santo, de Welker (2008) e colete suas afirmações principais usando as questões apresentadas pelo próprio autor:
O Espírito enche todo o mundo, mas “foge e se distancia”. O que Welker quis afirmar sobre a identidade do Espírito Santo?
O Espírito não existe na realidade.
O Espírito é material e físico.
O Espírito é divino e transcendente.
O Espírito vive sempre para além da razão.
O Espírito é um ser oculto.
No Credo antigo, dito niceno-constantinopolitano, se lê o seguinte: “Creio no Espírito Santo,/ Senhor que dá a vida,/ e procede do Pai e do Filho;/ e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado:/ Ele que
falou pelos profetas.” O que isso significa?
O Espírito Santo só existia no Antigo Testamento.
Só os profetas eram portadores do Espírito Santo.
Deus falou em ambos os testamentos pelo Espírito.
Os profetas eram visionários em nome do Espírito.
O Espírito é um evento exclusivo do Novo Testamento.
Referências
AQUINO, F. O Espírito Santo no Antigo Testamento. L’Osservatore Romano, n. 20, v. 272, 16 maio
1998. Disponível em: https://cleofas.com.br/o-espirito-santo-no-antigo-testamento. Acesso: 10 fev. 2019.
NEGRO, M. Profetas e profetismo: identidade e missão. Revista de Cultura Teológica, São Paulo, n. 6,
p. 157-176, 2009. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/culturateo/article/view/15459.
Acesso em: 10 fev. 2019.
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WELKER, M. O Espírito Santo. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 1, n. 48, p. 5-17, 2008.
Próxima aula
Diversos aspectos da teologia do Espírito Santo no Novo Testamento em geral.
Explore mais
Leia os textos:
Dietz, M. T. Pneumatologia no tratado “Da liberdade cristã”, de Martim Lutero. In: I CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADE EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais [...]. São Leopoldo: EST, 2012;
JOÃO PAULO II (PAPA). Dominum et Vivificantem: sobre o Espírito Santo na vida da Igreja e do mundo. São Paulo: Paulinas, 1986.
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Teologia Sistemática III
Aula 2: O Espírito Santo no Evangelho
Apresentação
Esta aula apresenta o desenvolvimento da doutrina e da experiência do Espírito Santo no âmbito das tradições evangélicas: Mateus, Marcos, Lucas e João.
Como já pudemos ver na aula passada, o Espírito de Deus age e se mostra aliado de modo inseparável da Ação e do Mistério de Deus, e não foi revelado de modo
“pessoal”. Nos Evangelhos, o Cristo revela a verdadeira Identidade do Espírito Santo como Dom e Pessoa, já que o Jesus é, Ele mesmo, uma realidade do Espírito de Deus na História da Salvação.
Você sabia que a cada etapa da vida/história de Jesus Cristo pode-se perceber o Dom do Espírito Santo? Ao estudarmos os Evangelhos, veremos de que maneira isso se verifica.
Objetivos
Reconhecer a doutrina do Espírito Santo nos Evangelhos;
Verificar de que maneira a vida de Jesus, narrada nos Sinóticos (Mt, Lc e Mc), é o fundamento da pneumatologia bíblica (cristã);
Compreender como o termo “Messias”, que caracteriza a missão central de Jesus, é um conceito pneumatológico central no Novo Testamento.
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(Fonte: Jacob_09 / Shutterstock)
O Espírito Santo no Evangelho
Na aula anterior, vimos como o Espírito Santo é apresentado no Antigo Testamento, isto é, como realidade do Mistério Pessoal do Pai, essencialmente “Espírito do Pai”. Parece que não havia nas páginas do Antigo Testamento uma nítida consciência de que o
Espírito Santo tivesse uma “personalidade” própria, diversa da do Pai. Parecia ser simplesmente Aquele que atuava a partir de Deus de Israel.
Ao mesmo tempo, vimos como, nos diversos estágios da vida e da história de Israel, esse “Espírito de Deus” atuava diante das situações difíceis. Os Juízes, por exemplo, eram sujeitos que, por sinais extraordinários, como a força (Sansão), a coragem (Judite), a astúcia militar (Gedeão) ou a sabedoria (Samuel). Ou a figura dos reis, por essência,
ungidos por Deus (dom do Espírito), também foram muito privilegiados, como Davi, que venceu o gigante Golias e se tornou um exímio rei-guerreiro; ou Salomão, protótipo da sabedoria.
Por fim, tínhamos os protagonistas do Espírito (de Deus) no Antigo Testamento, os
profetas, homens que traziam nos lábios a própria Palavra de Deus. Neles, Deus, pelo seu Espírito, imprimia credibilidade às palavras de revelação, comunicava-se efetivamente com Israel e realizava prodígios – e, sobretudo, provocava conversão e mudança de vida de Seu povo.
Atenção
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No entanto, em todas essas etapas, não se pode afirmar que o Espírito Santo ou o
Espírito de Deus fosse uma manifestação autônoma, uma “Pessoa”, como afirmará a Igreja em sua antiga Profissão de Fé.
Afinal, quem é o Espírito Santo?
O que os Evangelhos têm a dizer sobre Ele, diversamente do que já sabemos pelos livros do Antigo Testamento?
Que relações se podem estabelecer entre Jesus e o Espírito Santo? Jesus revelou o Espírito Santo como o professamos hoje?
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(Fonte: Kris L / Shutterstock)
O Espírito Santo ePáogina 19 de 46
Messias
O Espírito Santo nos lábios e nas ações dos profetas tem a missão de anunciar
como um evento futuro da parte de Deus o envio a Israel de um escolhido, um
Ungido, um “Cristo”. A própria profecia é um evento do Espírito Santo, pois coloca o desconhecido, o Futuro, diante dos olhos dos crentes, que acolhem a
profecia.
O termo ‘messias’ deriva do grego messias que, por sua vez, deriva do aramaico mashiha e do hebraico mashiach (‘ungido’). O termo grego
aparece no Evangelho de João (1:42;
4:25) de forma a indicar que, no período da escrita do Novo Testamento, já se
inseria no contexto de um discurso com o qual pelo menos uma parcela da
população judaica já se encontrava familiarizada.
O messianismo foi uma corrente do tardio judaísmo, que trazia à tona a esperança de que, em meio a tantos
desastres e catástrofes, Deus continuava a consolar, a conduzir e a salvar Seu
povo.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
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O Messias era a esperança da Ação Divina e futura que reconduziria Israel ao seu verdadeiro esplendor. Uma das vertentes que se ocupara disso anuncia o Messias como sendo um descendente de Davi; outra corrente, ancorada na tradição apocalíptica,
acreditava que o Messias era uma figura misteriosa. Quando surgisse, Deus o daria a conhecer através do Espírito Santo a sua descendência.
Leia mais:
Descendência do Messias
Clique no botão acima.
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Descendência do Messias
Descendência a partir de Davi:
E, quanto a ti, se andares diante de mim, como andou Davi teu pai, e fizeres conforme a tudo o que te ordenei, e guardares os meus estatutos e os meus juízos, também confirmarei o trono do teu reino, conforme a aliança que fiz com Davi, teu pai, dizendo: Não te faltará sucessor que domine em Israel. (2 Crônicas 7, 17-18).
A tradição salmódica, Sl. 132, 11-12 afirma o mesmo:
O Senhor jurou a Davi com verdade, e não se desviará dela: Do fruto das tuas entranhas porei sobre o teu trono. 12. Se os teus filhos
guardarem o meu pacto, e os meus testemunhos, que eu lhes hei de ensinar, também os seus filhos se assentarão perpetuamente no teu trono.
Outra corrente, ancorada na tradiçãoapocalíptica, acreditava que o Messias era uma figura misteriosa. Quando surgisse, Deus o daria a conhecer através do
Espírito Santo a sua descendência, ao resto de Israel, que fielmente esperava em Deus.
É preciso remontar, antes de mais nada, à profecia de Isaías, algumas vezeschamada “o quinto Evangelho”, ou “o Evangelho do Antigo Testamento”.
Isaías, fazendo alusão à vinda dum personagem misterioso, que a revelação
neotestamentária identificará em Jesus, liga a sua pessoa e a sua missão a uma ação particular do Espírito de Deus — Espírito do Senhor. São estas as palavras do profeta:
Despontará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará da sua raiz. Sobre ele pousará o espírito do Senhor, espírito de
sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor de Deus, o no temor do Senhor está a sua inspiração (Is 53, 5-6. 8).
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Esse texto é importante para toda a compreensão do Espírito Santo
(pneumatologia = teologia do espírito) do Antigo Testamento, porque constitui como que uma ponte entre o antigo conceito bíblico do “espírito”, entendido
primeiramente como “sopro carismático”, e o “Espírito”, como pessoa e como dom, dom para a pessoa.
Os textos proféticos que acabam de ser apresentados devem ser lidos por nós à luz do Evangelho; o Novo Testamento, por sua vez, adquire um esclarecimento particular da admirável luz contida
nestes textos veterotestamentários. O Profeta apresenta o Messias como aquele que vem com o Espírito Santo, como aquele que
possui em si a plenitude deste Espírito; e, ao mesmo tempo, é
portador d’Ele para os outros, para Israel, para todas as nações, para toda a humanidade. A plenitude do Espírito de Deus é acompanhada por múltiplos dons, os bens da salvação, destinados de modo
particular aos pobres e aos que sofrem ― a todos aqueles que abrem os seus corações a esses dons: isso acontece, algumas vezes mediante as experiências dolorosas da própria existência;
mas, primeiro que tudo, por aquela disponibilidade interior que vem da fé. (JOÃO PAULO II, 1986).
Portanto, o novo Testamento, que tem Cristo no centro, é aquele espaço e tempo no qual se revela a Pessoa do Espírito Santo.
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As etapas históricas do Messias-Jesus e o Espírito Santo
Como se percebe no desenvolvimento da narrativa evangélica – Mt, Mc, Lc e Jo –, pode- se deferir que são três as partes que funcionam como disposição do quadro histórico-
narrativo de Jesus.
Todos os Evangelista têm sua tradição teológico-literária do Espírito. Porém, não é possível entender os Evangelhos sem a perspectiva pneumatológica, sem a qual os
fatos seriam somente “cronologia” religiosa, e interessariam somente às histórias da religião e ao passado.
"Em relação aos outros dois sinópticos, o evangelista Lucas apresenta-nos uma pneumatologia muito mais desenvolvida. No Evangelho ele tem em vista mostrar que Jesus é o único a possuir o Espírito Santo em plenitude. Certamente, o
Espírito intervém também em Isabel, Zacarias, João Baptista e sobretudo em Maria, mas só Jesus, ao longo de toda a Sua existência terrena, detém
plenamente o Espírito de Deus. Ele é concebido por obra do Espírito Santo (cf. Lc 1, 35). A respeito d’Ele João Baptista dirá: ‘Eu batizo-vos em água, mas vai chegar Quem é mais poderoso do que eu […]: Batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo’ (Lc 3,16)."
(AQUINO, 1998)
A infância ou início da missão
Em Mt (1,1-2,23) e Lc (1,5-2,52) se encontram os relatos da infância de Jesus. Nesse
universo, desde o início encontramos a centralidade da Revelação do Espírito Santo nas diversas etapas e mesmo nos personagens que povoam as cenas da infância de Jesus:
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Maria, a Mãe
Lc 1, 34-35: Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço homem?” Respondeu-lhe o anjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do
Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.”
Mt 1, 19: “José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo.”
O filho de Maria é obra do Espírito Santo. A concepção do Messias tem sua lógica na promessa profética do Messias, Ungido. Outra expressão presente no
paralelismo poético da mensagem de Gabriel, “força do Altíssimo”, indicada na obra lucana.
Isabel, a estéril
Lc 1, 39-41: “Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel
ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.”
O encontro com Maria, Isabel, no sexto mês da gravidez (estéril), é um tema típico dos relatos de messianismo ou ao menos de escolhidos de Deus para missões especiais (Isaque, Sansão, Samuel...). Esse encontro é tipicamente “pneumático”: “Isabel ficou cheia do Espírito Santo”, indicando que as duas grávidas estavam
envolvidas nos processos messiânicos dos últimos tempos.
Até o esposo, inicialmente incrédulo (mudo), profetizará, na forma de um cântico carismático, o “Benedictus”.
Lc 1, 67-68: Zacarias, seu pai, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou, nestes termos: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo.”
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Lc 1, 25-27: Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Esse homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele.
Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor. Impelido pelo Espírito Santo, foi ao templo, tendo os pais apresentado o
menino Jesus, para cumprirem a respeito dele os preceitos da Lei.
Deles se diz que eram conduzidos pelo Espírito Santo – “Impelido pelo Espírito Santo, foi ao templo” – sob o qual agem e profetizam, como ocorrerá no Templo. “Espírito Santo estava nele.”
Simeão, profeta do Templo de Jerusalém
Uma experiência profética neotestamentária, mas ainda ancorada nas tradições
messiânicas davídico-salomônicas que perpassavam os círculos de Jerusalém. Em torno do nascimento de Jesus, todos os eventos e os personagens envolvidos.
Os evangelhos, em sua segunda parte, também retratam a vida pública de Jesus, envolvido com a pessoa e o mistério do Espírito Santo, de um lado, em continuidade
com as tradições pneumatológicas do “Espírito do Senhor”, como vimos na aula anterior
– na dimensão nova, da revelação do Espírito como Pessoa, diversa do Pai e do Filho.
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A ação pública de Jesus inicia-se com o batismo, no Jordão, e segue até a sua paixão e morte.
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A vida pública de Jesus e o Espírito Santo Página 27 de 46
Segundo o livro dos Atos, a promessa cumpre-se no dia do Pentecostes: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes
inspirava que se exprimissem” (At 2,4).
Realiza-se assim a profecia de Joel: “Nos últimos dias, diz o Senhor, derramarei o Meu Espírito sobre toda criatura. Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de-profetizar” (Jl 2, 17).
Lucas vê nos apóstolos os representantes do povo de Deus dos tempos finais, e ressalta com razão que esse Espírito de profecia envolve o inteiro povo de Deus: “Uma das
características marcantes na obra de Lucas é a presença do Espírito Santo. Tanto o Evangelho quanto os Atos estão repletos de notícias sobre sua ação”. Vejamos onde e em que circunstâncias o Espírito Santo age no Evangelho de Lucas.
Os primeiros capítulos apresentam de modo marcante a ação do Espírito Santo
1,15
Sua presença com João Batista é prometida a Zacarias.
1,35
O anjo Gabriel anuncia a Maria o nascimento de Jesus que somente será possível através doEspírito Santo.
1,41
Isabel cheia do Espírito Santo saúda Maria.
1,67
Zacarias profetiza através do Espírito Santo.
2,25-	Simeão vai ao Templo movido pelo Espírito Santo.
27
3,16
João anuncia o Batismo no Espírito Santo através de Jesus.
3,22
O Espírito Santo em forma corpórea desce sobre Jesus no Batismo.
4,1	Jesus cheio do Espírito Santo é levado para o deserto.
4,14
Jesus é levado para a Galileia pelo Espírito Santo.
4,18
Na Sinagoga, Jesus anuncia a sua missão pela força do Espírito Santo.
23,46
Jesus entrega seu Espírito a Deus antes de morrer.
24,49
Promessa de Jesus sobre a presença do Espírito Santo junto aos discípulos.
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No coração de todos os relatos evangélicos, encontramos uma forte atenção à teologia
do Espírito Santo. Trata-se de uma compreensão de Jesus, uma visão teológica (identidade messiânica) e da plena revelação do mistério trinitário, como já vimos na primeira aula:
No Evangelho de Lucas, portanto, a presença do Espírito Santo se dá como preparação da chegada de Jesus. Muitos anunciam, profetizam, louvam sempre inspirados por sua força e presença. Da mesma forma, no livro dos Atos é o Espírito Santo novamente
quem vai animar os discípulos e comunidade a levar adiante a Boa Nova de Jesus. O
Espírito anima a missão. Com Jesus a missão acontece. A Boa Nova se torna realidade: ‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres;
enviou-me para anunciar aos aprisionados a libertação, aos cegos a recuperação da vista, para pôr em liberdade os oprimidos, e para anunciar um ano de graça do Senhor’ (Lc 4,18-19). Esta dimensão missionária, voltada para os pobres, cativos, marginalizados não pode nem deve ser esquecida. De nada adianta louvar ou orar ao Espírito Santo se
não nos colocamos nesta sua real dimensão. Deixar o Espírito agir, neste sentido, é colocar-se à disposição, a serviço do Reino de Deus.
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Atividade
“A Messianidade de Jesus de Nazaré, em todas as suas etapas, é a exibição e a revelação da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade: O Espírito Santo.” Explique de que modo Jesus, o Messias, é o Revelador do Espírito Santo:
Jesus foi gerado no Espírito e toda a sua existência se realiza no Espírito (Lc 1).
Jesus não revela o Espírito em sua etapa histórica, só em Pentecostes.
A Messianidade de Jesus é política e humana, por isso termina na Cruz.
Jesus é o Cristo porque Deus o ressuscitou, não o Dom do Espírito.
O Espírito é um dom pós-pascal, não pertence ao messianismo histórico.
Em relação à pneumatologia de Lucas, o que se pode afirmar sobre a Missão de Jesus?
Pode-se afirmar que no início do Evangelho a presença do Espírito Santo não é intensa.
Lucas não fala da presença do Espírito Santo só em Cristo, mas em outros personagens.
Lucas fala do Espírito como promessa aos discípulos.
Jesus não exercita o Espírito na sua missão, mas o Poder do Pai.
O messianismo de Jesus em Lucas é de natureza histórica.
O messianismo foi uma corrente do tardio judaísmo, que trazia à tona a esperança que, em meio a tantos desastres e catástrofes, Deus continuava a consolar, conduzir e salvar seu Povo.
Assinale a alternativa correta que justifica ou retifica a afirmação acima.
O messianismo começa no Gênesis, e segue por toda a Bíblia.
Não se entende o messianismo judaico senão por ser político e imediato.
O messianismo fez parte da pregação profética a partir do exílio da Babilônia.
Somente João Batista preparou o Messias em toda a Bíblia.
Reef) eDreêusnncãioacsonsolou o Povo, pelo contrário – o castigava.
AQUINO, F. O Espírito Santo no Antigo Testamento. L’Osservatore Romano, n. 20, v. 272, 16 maio 1998. Disponível em: https://Pcálgeinoafa29s.dceo1m61.br/o-espirito-santo-no-antigo-
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testamento. Acesso: 10 fev. 2019.
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JOÃO PAULO II (PAPA). Dominum et Vivificantem: sobre o Espírito Santo na vida da Igreja e do mundo. São Paulo: Paulinas, 1986. Disponível em:
https://fasfhic.eu/storage/default/documents/090-dominum-et-vivificantem.pdf. Acesso em: 16 fev. 2019.
SCHLAEPFER, Carlos Frederico. O Espírito Santo no Evangelho de Lucas. Aleteia, 8 ju. 2014. Disponível em: https://pt.aleteia.org/2014/06/08/o-espirito-santo-no- evangelho-de-lucas.
Welker, M. O ESPÍRITO SANTO. Estudos Teológicos, ano 48, n. 1, p. 5-17, 2008. Disponível em:
//periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/396/0.
Próxima aula
A Teologia do Espírito Santo no Evangelho de São João; A Teologia do Espírito Santo no Epistolário Paulino;
ExplAoTreeolmogaiaisdo Espírito Santo no Livro do Apocalipse.
Leia os textos:
ADRIANO FILHO, J. Expectativas messiânicas sacerdotais no judaísmo e as origens da cristologia. Oracula, v. 1, n. 1, p. 1-50, 2005. Disponível em:
//estudosteologicos.6te.net/doc/Expectativas_Messianicas.pdf.
HACKMANN, G. L. B. (org.). O espírito santo e a teologia. Porto Alegre: EdPUCRs, 1998.
IWASHITA, P. K. O espírito santo na vida e na missão de Maria. Revista de Cultura Teológica, v. 19, n. 75, jul./set. 2011. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/culturateo/article/view/15329/11451.
RIDOUT, G. W. O poder do espíritoPásgainnat3o0. dSeã1o61Paulo: Imprensa Metodista, 1993.
Disponível em: //www.metodistavilaisabel.org.br/docs/O-poder-do-
Esp%C3%ADrito-Santo.pdf.
WACHHOLZ, W. O progresso do espírito: o céu como alvo e o inferno como
consequência. O paradigma trinitário em Agostinho, Fiori, Comte e Hegel no diálogo com o pensamento de Lutero. Estudos Teológicos, v. 47, n. 2, p. 5-26, 2007.
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Teologia Sistemática III
Aula 3: O Espírito Santo no Evangelho de São João
Apresentação
Esta aula apresenta o desenvolvimento da doutrina e da experiência do Espírito
Santo no âmbito do Evangelho de João. Em particular, o termo “Espírito da Verdade”.
O estudo da Doutrina do Espírito Santo na tradição do Evangelho de São João
constitui uma fascinante aventura da teologia no âmbito do Novo Testamento, pois o termo “Espírito da Verdade” é a marca exclusiva de uma experiência eclesial e de
uma tradição teológica que se imporá no campo da pneumatologia.
Verdade é Cristo, e o Espírito Santo no Evangelho de João é o porta-voz do próprio Ressuscitado na Igreja.
Objetivos
Compreender a doutrina do Espírito Santo no conjunto dos Evangelhos;
Reconhecer os âmbitos da pneumatologia (teologia do Espírito Santo) no Evangelho de João (Jo 14-16).
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(Fonte: GD Arts / Shutterstock)
Premissa
Nesta aula, analisaremos o termo “Espírito da Verdade”, que aparece somente no Evangelho de João, entre os caps. 14-16, também chamados, “Discursos de Adeus”. (Nas aulas da Unidade II, teremos a oportunidade de nos ocupar com o problema do Paráclito.) Sobre esse vasto assunto, todas as Igrejas têm produzido muita reflexão pertinente.
Trata-se da seção das promessas do Espírito Santo – cinco ditos do Espírito, dos quais três se referem ao Espírito com o termo “da Verdade”. Ampla e diversificada é a
afirmação de fé e, sobretudo a experiência do Espírito Santo no Novo Testamento. Aqui nos cabe uma análise do ponto de vista da Igreja, seja porque ela o experimenta, seja
porque fala sobre o Espírito Santo até formular um artigo de fé, no qual afirma a “Personalidade” do Espírito de Deus revelado definitivamente em Jesus Cristo.
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Atenção
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No corpo joanino (Evangelho e Cartas), a antropologia teológica depende da
pneumatologia, isto é, o Homem, como Imagem e Semelhança Divina redimido pelo Cristo, necessita do Espírito Santo para experimentar a si mesmo nessa novidade, e, ao mesmo tempo, formular uma linguagem “ortodoxa” do Ministério que se porta e que nos autorredefine.
Por isso, em João, a pneumatologia é a fonte do agir revelador da existência “em Cristo”. O Discípulo Perfeito é o sinal da economia do “Espírito” em ação no mundo. Trata-se de limpar vidros e janelas da existência humanadefinitivamente radicada no Ministério da Redenção do Cristo, mas, ao mesmo tempo, tornar eloquente, aos olhos do mundo e da mentalidade pagã, o alcance da Salvação em Cristo.
No âmbito da tradição do Evangelho de João, temos dois termos que são únicos no Novo Testamento: “O Paráclito” e “O Espírito da Verdade”. Teremos uma aula sobre a compreensão do termo “Paráclito” no movimento pentecostal, mas aqui trataremos desse termo em comparação com o “Espírito da Verdade”.
I. Jo 14, 16-17
E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco. É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque permanecerá convosco e estará em vós.
II. Jo 15, 26-27
Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que
procede do Pai, ele dará testemunho de mim. Também vós dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio.
III. Jo 16, 13-15
Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ele vos ensinará toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e vos anunciará as coisas que virão. Ele
me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse: Há de receber do que é meu, e vo-lo anunciará.
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Como se percebe, os textos da tradição joanina justapõem estes dois termos: Paráclito e do outro, Espírito da Verdade.
A origem do termo “verdade” nos escritos joaninos
Quando se fala de Espírito Santo na tradição de João, no seu Evangelho, devemos ao menos considerar a questão da “verdade”, termo que determina a Pessoa do Espírito, nesse âmbito eclesial.
O problema inicial da análise do termo “verdade” no contexto da literatura joanina seria aquele da sua origem sociorreligiosa. O problema é muito complexo. De fato, diversos autores divergem na explicação das fontes socioliterárias do termo “verdade” nos
escritos Joaninos.
Constata-se, com frequência, uma aproximação vocabular com tantos ambientes culturais como aquele gnóstico, de Qumran, hermético, e da filosofia platônico-
helenística. No entanto, parece que se pode afirmar uma originalidade “joanina” no uso desse termo, em relação a todos os pontos de contatos em nível de vocabulário/tipo ou mesmo conteúdo.
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A concepção teológico-joanina
No conjunto da teologia joanina, o termo “verdade” pertence à esfera do campo cristológico, e em particular, à sua função de Revelação. A palavra “verdade”, no
sistema teológico joanino, jamais aplicado a Deus, é uma realidade da “economia” da Salvação. Trata-se de uma verdadeira cristologia joanina, na forma de uma
“cristologia da verdade”.
A primeira fonte literária do termo “Espírito da Verdade” no Novo Testamento são os chamados “discursos de Adeus” do Evangelho de João. São capítulos muito
complexos, onde a elaboração definitiva de uma teoria coerente sobre sua
colocação atual e das suas recíprocas relações está longe de se propor. No entanto, pode-se dizer que vêm classificados dentro de um gênero literário clássico, muito difuso tanto na literatura veterotestamentária como greco-romana.
A promessa do espírito da verdade (Jo 14, 16-17)
No cap. 14 do Evangelho de João entramos na primeira seção dos chamados “Discursos de Adeus”. Nesses versículos, analisaremos os diversos elementos que pela primeira vez configuram esse título joanino do Espírito.
A maioria dos estudiosos está de acordo, ao menos, sobre a complexidade de estruturar esse discurso, sobretudo pela quantidade e variedade de propostas de estruturação. A fragilidade de soluções para esse problema é perceptível.
Leia mais sobre o termo “verdade”:
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Delimitação: Jo 14, 15-17
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Delimitação: Jo 14, 15-17
O primeiro passo na pesquisa exegética de um texto consiste na sua
constituição. Isto é, ao buscar analisar o termo Espírito da Verdade, que se encontra pela primeira vez no Evangelho de João (v. 17, cap. 14), é
metodologicamente necessário estabelecer os limites mínimos, que nos
permitem situar uma palavra ou expressão dentro de um contexto literário,
denominando assim a unidade a que pertence. Esse título do espírito joanino se encontra no parecer da maioria absoluta dos estudiosos na unidade dos v. 15-
17. O v. 15 constitui o limite inicial dessa perícope.
Dentro do grande contexto da partida de Jesus, que ocupa todo o capítulo, Ele assegura à comunidade que não permanecerá sozinha no seu caminho (vv. 1- 14). E, ao mesmo tempo, com a promessa de um novo “socorredor”, o “Espírito da Verdade”, inicia-se uma segunda unidade do capítulo (vv. 15-26).
Os vv. 15-17, ou seja, a promessa do Espírito da Verdade constitui, por sua parte, uma verdadeira unidade literária, seja pela introdução de um novo tema, que, no entanto não é abrupta, graças à preparação dos vv. 13-14, seja com o tema da intercessão de Jesus pela clara separação criada pelo v. 18.
Sobre o contexto de Jo 14, 15, "Se me amais, guardareis os meus
mandamentos", esse versículo parece ter a função literária de introduzir o tema da Promessa do “Outro Paráclito”, o “Espírito da Verdade”, no conjunto dessa
unidade, que se limita aos vv. 16-17. Ele impede, assim, um abrupto início do tema, em relação àquilo que se dizia antes, ou seja, o tema da oração e glorificação recíproca do Pai e do Filho (Jo 14, 13-14).
De fato, em Jo 14, 14, Jesus aparece como “Intercessor”, no Seu Nome se
intercederá para a maior Glória do Pai. Todos os verbos desse versículo estão no futuro, dentro da lógica da glorificação do Pai e do Filho.
O v. 15 não somente enquadra a unidade referente ao tema do Espírito da Verdade prometido aos discípulos, mas também condiciona e qualifica a
condição de recebê-lo: “se me amais” é uma “prótase” (aquele que, subordinado ou dependente, cria uma expectativa para a enunciação do segundo (apódose)) de um discurso hipotético que se prolonga até o v. 17a.
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Em outras palavras, o amor a Jesus condiciona toda a unidade, seja na
observação dos “seus” mandamentos, seja como condição para o cumprimento da promessa do Espírito. No v. 15 encontra-se a resposta à questão da “futura” relação dos discípulos com o Revelador, que está por partir junto ao Pai (o
contexto dos “discursos de Adeus”). A esse problema a resposta é clara: o amor, fonte segura dessa relação, permanece forte e presente, através da observância dos seus mandamentos.
Aqui percebemos as conexões com 13, 31-34, mas também com toda a
estrutura literária do próprio cap. 14, pois o observar os meus mandamentos do
v. 15 está em paralelo com os v 23: "e alguém me ama, guardará a minha palavra".
E isto quer dizer simplesmente crer: quem deseja uma relação de “amor” com Jesus, deseja, na verdade, viver uma relação de fé.
Talvez o Evangelista pense as exigências do v. 15 à luz da problemática mais ampla dos discursos de Adeus, a saber, manter-se efetivamente em Cristo,
como garantia e antecipação da União Definitiva com o Pai.
Um estudo de Jo 14, 16 nos mostra diversas questões sobre o original termo “outro Paráclito”: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que
fique eternamente convosco.” Com esse versículo entra-se diretamente na lógica literária da primeira promessa do “Espírito da Verdade”. Parte-se da exigência dos mandamentos de Jesus, como sinal concreto do amor a Jesus, que “de Sua Parte” intercede junto ao Pai, pelos seus.
A originalidade e a síntese desse versículo estão concentradas sobre a questão do “outro Paráclito”. Isso torna possível, após a partida de Jesus (o primeiro Paráclito?), a continuidade dessa relação de amor com os discípulos, por meio da fé, como obediência aos mandamentos.
Sob o aspecto teológico central, pode-se dizer que, apesar davisão paralela entre o outro Paráclito (v. 16) e o Espírito da Verdade (v. 17) em relação à
pneumatologia no Evangelho joanino, a questão só pode ser bem situada a
partir da perspectiva cristológica. Isto é, em que sentido a função reveladora de Jesus, que supõe a ação do Espírito na sua fase terrena, relaciona-se com a fase pós-pascal, decisiva para os discípulos, na sua compreensão e visão de Jesus?
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Em relação ao “ser-com Jesus”, para sempre, como elemento que faz “ver” ePágina 40 de 46
“permanecer”, é muito mais decisivo ainda o fator da unidade/Amor ao Ressuscitado-Elevado, e também entre si, como sinal que testemunha a
Verdade. Veja, por exemplo, Jo 13, 35: “Nisso todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”
Nessa primeira promessa, o termo “Outro Paráclito” é muito importante, porque estabelece claramente uma continuidade entre a obra de Jesus e aquela do
Espírito da Verdade. Esse outro Paráclito é apresentado como continuador da “obra terrestre” de Jesus, junto aos discípulos. A expressão por isso não
procede, apesar do paralelo com 1 Jo 2, 1, de afirmar em plena forma, que
durante o ministério terrestre de Jesus, Ele tenha recebido esse título, apesar de encontrarmos diversos elementos de intercessão e defesa.
Essa função será reservada ao Espírito da Verdade, no contexto da perseguição aos discípulos (mais claramente em Jo 15) e do juízo contra o mundo (Jo 15,
12-16, 13).
Quanto ao problema dos sujeitos que enviam o Espírito, não é secundário
indicar que Pai, nessa perícope (assim como em Jo 14, 26), constitui o doador do Espírito da Verdade, por intercessão de Jesus. Aqui se coloca a questão Trinitária, que na nossa primeira aula começávamos a tratar.
Em Jo 15, 26, 16, 7 e 1 Jo 2, 20,27 é o próprio Cristo glorificado a fazê-lo. Essa questão, no entanto, se insere no contexto teológico das relações entre o Pai e o Filho. “Para que permaneça convosco para sempre.” O problema não é outro senão aquele da relação da Comunidade e Jesus Cristo, que vem garantida a
partir da doação do Espírito da Verdade. Uma relação que se qualifica como
permanente. Em outras palavras, a experiência da Igreja pode ser traduzida, sob essa ótica, como contato permanente com Cristo.
Esse contato criado pelo Espírito da Verdade constitui a significação Divina de sua Revelação e, ao mesmo tempo, é a Comunidade no Espírito que interpreta e atualiza o “ser-em-Cristo”, como Revelador Permanente do Pai, na Comunhão Nova, possível no Espírito.
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Em Jo 14, 17 chegamos então à expressão original do Evangelho Joanino soPbárgeina 41 de 46
o Espírito Santo, dito da “Verdade”: “É o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece, mas vós o conhecereis, porque
permanecerá convosco e estará em vós.” A função dessa primeira promessa do Espírito é aquela de coordenar os diversos aspectos dessa comunidade, na qual realiza-se fundamentalmente o tempo pós-pascal como tempo da presença do Espírito entre os fiéis.
Por isso, o texto vem entendido como uma composição, onde a promessa dos Espíritos torna-se chave hermenêutica das Promessas de Jesus, que parte da sua Comunidade.
Atenção
O importante é reforçar a ideia da relação entre Jesus e o Espírito como fundamento, sobre o qual o mesmo Espírito, Representante mandado do Pai, pode fazer valer, que Jesus, permaneça como “alma” desta relação nova, na história entre o Mestre e os seus discípulos-amigos, após Sua Glorificação.
No contexto imediato do v. 17, convém imediatamente enfrentar a temática literária e teológica da relação entre o Espírito da Verdade e o “outro Paráclito”.
Outros apresentaram diversas teorias literárias, separando em distintas camadas, no “discurso de Adeus”, como explicação para as diversas
incongruências “aparentes” que se encontram nos textos de Jo 13-17.
Ambos os termos virão utilizados nos textos das cinco promessas do Espírito – Jo 14, 16-17 (1), 26-27 (2); 15, 25-27 (3); 16, 7-10 (4); 12-15 (5) – e constituem o
grande patrimônio da pneumatologia joanina no conjunto daquelas do Novo Testamento, que terá uma grande influência sobre a teologia do espírito na história da teologia.
Na exegese das promessas do Espírito, fala-se em paráclito quando, com esse título, busca-se relacionar as funções do Espírito em conexão pessoal com aquelas de Jesus, durante seu ministério terreno.
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Sendo um complemento adnominal em relação ao Espírito, exige que se busPqáugeina 42 de 46
no conteúdo cristológico da verdade Joanina as consequentes demarcações de significado. Em outras palavras, essa forma qualifica o Espírito.
Segundo a etimologia, este significa olhar um espetáculo, observar com atenção e concentração, em sentido figurado contemplar. O acento recai evidentemente sobre o aspecto ativo da ação. Quando esse verbo se aplica à realidade religiosa, constata-se que Jesus não é jamais sujeito, mas como objeto, Ele
mesmo, ou Sua ação. Em Jo 6, 40; 12, 45;14, 9; 17, 24, equivale ao conjunto da visão do Mistério Pessoal do Filho, em Jesus.
O problema que se coloca diante da exegese consiste em saber em que sentido o mundo não vê ou contempla o Espírito da Verdade. E, de novo, é a partir da
cristologia que encontramos os elementos justos para interpretar a pneumatologia Joanina.
De fato, o Espírito pode ser “visto” através da vida-existência de Jesus; suas palavras e obras são os meios sensíveis para “ver” o Espírito da Verdade.
Ao terminar a seção exegética dessa primeira promessa do Espírito da Verdade, convém destacar os elementos principais, assumidos até agora. Dois
elementos, a seguir, devem ser sublinhados.
A questão cristológica: o outro paráclito
Destacamos desde o início, que uma característica principal da pneumatologia joanina (Evangelho e Cartas) baseia-se na relação de dependência direta do discurso teológico sobre a pessoa e a ação do Espírito, em relação a Cristo.
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E não poucas vezes, quando problemas semânticos se mostravam
demasiadamente complicados, era a via cristológica a única efetivamente a
iluminar, não somente as questões
pneumatológicas, mas também aquelas de origem eclesiológica.
A maioria dos autores está de acordo que se deve afirmar que o termo “outro Paráclito”, aliás, característica original desta primeira promessa, evidencia esse aspecto da relação de “continuidade” entre o Jesus terreno e a presença do
Cristo Glorificado na Comunidade pós- pascal.
Teríamos assim, com esta expressão, não tanto a afirmação do Cristo como
“paráclito”, mas a acentuação do “Paralelismo” entre a presença
messiânica de Jesus Cristo junto à sua Comunidade, antes e depois da Páscoa de Ressurreição.
(Fonte: Jacob_09 / Shutterstock)
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Comentário
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As relações entre o “outro paráclito” e o “espírito da verdade”.
Ambos, de modos diversos, acentuaram as duas etapas da presença de Cristo, como critério para distinguir o valor desses dois termos.
Ao percorrer os verbos dessa unidade, interpretava os dois tempos, aquele do
presente, aplicando-os ao Paráclito, como presença atual e incoativa do Espírito junto aos discípulos e aqueles do futuro, que constituem o cerne da promessa de outra forma de presença do mestre, denominada Espírito da Verdade.
Propõe-se como critério de distinção desses dois termos, caso se quisesse distingui- los, relacionar o termo Paráclito ao período pré-pascal da relação entre Jesus e a
comunidade. Em outras palavras, cada termo acentua diferentemente as formas de presenças de Cristo na Igreja.
Atividade
1. Leia o artigo de Santos (2000) e responda:
Como o Espírito Santo na tradição joanina pode ser entendido como Pessoa Trinitária?
De que maneira Cristo é o Referente do Espírito na Igreja?
O que significa a expressão “Espírito da Verdade” na tradição pneumatológica do Evangelho de João?
Essa expressão não pertence à tradiçãode João sobre o Espírito.
O Espírito Santo faz revelações inéditas sobre o Cristo.
Verdade é uma característica exclusiva do Cristo, não do Espírito.
O Espírito Santo na tradição de João funciona como uma nova profecia do futuro.
O Espírito ensina e recorda a Verdade do Evangelho à Igreja.
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Qual é o papel de Cristo Glorificado na evocação e no envio do Espírito Santo nPoágina 45 de 46
Evangelho de São João?
Cristo Glorificado intercede ao Pai pelo Envio do Espírito Santo à Comunidade.
O Espírito sucede Cristo após sua Missão, sem que Cristo possa interferir.
A Igreja, agora sem Cristo, com sua partida, depende exclusivamente do Espírito.
O Cristo glorioso não interfere na Vinda do Espírito, pois é uma prerrogativa do Pai.
Cristo nunca em sua vida terrena prometeu o Espírito para a Comunidade.
Referências
SANTOS, P. P. A. A tradição joanina: história e teologia. Coletânea, Rio de Janeiro, v. 16, p. 39-62, 2017.
 	. Jo 14, 15-17: tò pnêma tes alethéias: as promessas do espírito da verdade. Exegese e hermenêutica na tradição teológica do quarto Evangelho. Um exercício teológico-literário. Communio, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2-3, p. 519-551, 2005.
WELKER, M. O Espírito Santo. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 1, n. 48, p. 5-17, 2008.
Próxima aula
Concluiremos a questão do Espírito Santo no conjunto do Novo Testamento: Pneumatologia nas Cartas Paulinas;
Pneumatologia no Apocalipse.
Explore mais
Leia os textos:
HACKMANN, G. L. B. (org.). O Espírito Santo e a teologia. Porto Alegre: EdPUCRs, 1998;
Oliveira, d. m. Os pentecostais, o Espírito Santo e a Reforma. Pistis & Praxis:
Teologia e Pastoral, Curitiba, v. 9, nPá. g2in, a54359d-e551631, maio/ago. 2017;
RIDOUT, G. W. O poder do espírito santo. São Paulo: Imprensa Metodista, 1993;
SANTOS, P. P. A. dos. Jo 15,26: Cristo envia-nos do Pai o Espírito da Verdade:
dimensão trinitária no Evangelho de João. Communio. Rio de Janeiro, v. XV, n.82, p. 89-101, 2000;
 	. Verdade e espírito no âmbito da teologia do Novo Testamento. Communio, Rio de Janeiro, v. XV, n. 83, p. 173-199, 2000.
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Teologia Sistemática III
Aula 4: Espírito Santo no Novo Testamento em geral
Apresentação
Esta aula apresenta o desenvolvimento da doutrina e da experiência do Espírito Santo no âmbito da literatura paulina.
Estudar a doutrina teológica do Espírito Santo no Novo Testamento é mergulhar nas significações da ação de Cristo Ressuscitado e assim aceder às experiências pentecostais própria da comunidade dos discípulos. O Novo Testamento é um testemunho dessa ampla ação do Espírito Santo, primeiro na vida e na ação do Cristo, e depois nas de seus discípulos.
Objetivos
Compreender a doutrina do Espírito Santo no âmbito do restante dos escritos neotestamentários;
Reconhecer os âmbitos da pneumatologia (teologia do Espírito Santo) na literatura paulina e do Apocalipse.
(Fonte: Paolo Gallo / Shutterstock)
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Premissa
O Espírito Santo é o intercessor que nos introduz na vida da Trindade, para a realização do projeto de Deus, na adoção filial, na glorificação dos filhos de Deus e da própria criação (Rm 8,19-27). Habitando em nós (Rm 8,9), faz morrer as obras do pecado (Rm 8,12). Ele comunica a verdadeira paz, que é comunhão na vida feliz de Deus. É Aquele que "vem em auxílio de nossa fraqueza porque nem sabemos o que convém pedir" (Rm 8,26).
Nesta aula trataremos de uma importante tradição do Novo Testamento, indispensável para conhecermos o patrimônio pneumatológico. Já pudemos ver isso nos Evangelhos (de Lucas, em particular, e de João, com as promessas do Espírito da Verdade), e agora é a vez do grande São Paulo, teólogo da primeira hora cristã.
Sobre o Espírito Santo no Novo Testamento, temos na teologia de São Paulo1 um grande acervo de compreensão acerca da identidade e da ação da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
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É muito ampla e diversificada a afirmação de fé e, sobretudo, muito rica a experiência do Espírito Santo no Novo Testamento.
Comentário
Aqui nos cabe uma análise do ponto de vista da Igreja, seja porque ela o experimenta, seja porque fala sobre Ele, até formular um artigo de fé, onde afirma a “Personalidade” do Espírito de Deus, revelado definitivamente em Jesus Cristo.
Como dissemos, o Espírito é um objeto complexo em relação à Igreja, pois, de um lado, Ele mediu o conhecimento que a Igreja tem de si própria; e, por outro, é a Igreja que fixa uma linguagem sobre o Espírito que corresponda à consciência Divina da terceira pessoa da Trindade, como a conhecemos na linguagem da tradição ortodoxa da Trindade.
O Mistério da Igreja ela o conhece, somente em contato com o Espírito, pois este dá acesso ao âmago do Cristo e, assim, ao epicentro de sua consciência, enquanto Igreja.
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O cristão, pela graça batismal, é introduzido na intimidade da vida trinitária, partilhando da sua riqueza na comunidade eclesial. A plena comunhão da Trindade manifesta-se na Comunidade-Igreja e oferece vida nova (Ef 4,24; Cl 3,10) de relacionamento de filhos com o Pai (Gl 4,6). O Espírito ensina, santifica e conduz o Povo de Deus através da pregação e da acolhida da Palavra, da celebração dos sacramentos e da orientação dos pastores. Distribui também graças ou dons especiais "a cada um como lhe apraz" (1Cor 12,11), sempre "para a utilidade comum". Por essas graças, Ele "os torna aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para a renovação e maior incremento da Igreja” (1Cor 12,2).
O Espírito Santo distribui seus dons aos fiéis, de tal forma que ninguém possui todos eles, como ninguém está totalmente privado deles (1Cor 12,4ss). Esses dons são sempre para o serviço da comunidade (1Cor 14). Não é a experiência dos carismas que exprime a perfeição da salvação, mas a caridade que deve perpassar toda a vida do cristão (Mc 12, 28-31; 1Cor 13). Procurá-la é o primeiro e melhor caminho para a edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja (1Cor 12,31-13,13). (BORGES, 2013).
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A figura histórica de Paulo
Cronologia
Para a maioria dos autores, é bastante fácil delinear o quadro geral da vida de Paulo. Nascido pelo início da Era Cristã, por volta do ano 5 d.C., converte-se e entra no círculo dos seguidores de Cristo, e sobe muitas vezes a Jerusalém (encontrando-se com Pedro).
A partir de uma intensa atividade missionária, ele se tronou um peregrino e percorreu todo o arco do Mediterrâneo Oriental, com paradas prolongadas em Antioquia da Síria, Corinto, Éfeso e Roma, onde morreu sob o período de Nero (64-66?).
É mais difícil precisar cronologicamente os episódios da vida, as viagens e a morte, esta indicada por alguns autores como ocorrida no início do período de Nero, enquanto para outros se deu no fim. O referimento mais seguro é a inscrição de Delfi, que indica o pró-cônsul romano Galião no período 50- 51 como residente em Corinto (cf. At 18,12).
Dois esquemas cronológicos nos ajudam a compreender sua vida:
Ato dos Apóstolos
Segundo as Cartas
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Tendo como clássico e tradicional referimento. Missão Paulina vem escalonada em diversos momentos:
1. Concílio de Jerusalém (49-50) depois da primeira viagem;
2. A prisão em Cesareia, entre 58-60;
4. 57-58, viagem a Roma;
3. Em 60-62, período do cárcere romano;
5. 58-60, domicílio forçado em Roma;
4. Em 64 ou 67, a segunda prisão e a morte.
1. Concílio de Jerusalém: 50-51, depois da segunda viagem que levou Paulo à Grécia;
2. 52-55, Éfeso, pela segunda vez;
3. 56, prisão em Jerusalém, prisão em Cesareia;
6. 60, martírio sob Nero.
A conversão
Os textos Gal 1,13 e At 8,1 são elementos hermenêuticos importantes na compreensão das cartas (literatura paulina), relatados por Atos, três vezes, At 9,22 (Paulo), 26 (Paulo).
Nas Cartas, torna-se um argumentoconstante, de modo apologético ou polêmico, defender-se dos adversários e indicar o fundamento que sustenta sua vida (1 Cor 15,8; Gal 1,15-16; Fil 3,12).
A conversão de Paulo, como lemos nos diversos textos, apesar do seu caráter autobiogrográfico, aparece sensivelmente teologizada e reflete uma leitura retrospectiva do evento à luz de toda a vida do apóstolo e do caminho
da Igreja.
Homem de três culturas
Paulo possui a envergadura de um verdadeiro "cosmopolita" (expressão de A. Deissmann).
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Hebreu: At 21,39
No interrogatório após a prisão a Jerusalém, ele se identifica como pertencente à diáspora hebraica dispersa no mundo helenizado.
2Cor 11,22; contra os contestadores da sua autoridade apostólica; Fil 3,5-6; faz polêmica contra o argumento "carnal" da descendência;
Rom 9,3-5; surge a lúcida consciência teológica de pertencer por nascimento ao povo chamado por Deus para um desígnio de Salvação a favor de toda a Humanidade;
Em Gal 2,15 quase com orgulho separatista;
Convertido a Cristo, Paulo vive em um clima espiritual hebraico: seu calendário é hebraico (1Cor 16,8) duas vezes, nos Atos se relatam votos (AT 18,18; 21, 17-26);
As Escrituras: LXX como o TM vem utilizados com destreza, através das técnicas de interpretação mais profundas: 1Cor 10, 1-10: Midrash de Páscoa;
At 22,3: Gamaliel (Mesh, Sotr 9,15: o Ancião).
Paulo, hebreu de origem
Sobre o rio Adno, era naquele tempo como Elade no Apogeu esplendor de estudo helenístico e cosmopolita, Pátria do estoicismo:
O ideal da autossuficiência ética (Til 4,11);
Filosófico-religioso: a transparência de Deus no mundo (Rom 1,19-20).
Todo o quadro da sua atividade se coloca dentro de uma moldura cultural helenística:
Uso gramatical e retórico da língua grega (Rom 5,20; 8,26; 2Cor 7,4; verbos com diversas preposições);
Uso gramatical de "syn" para indicar a "simbiose" com colaboradores e amigos na comunicação vital com Cristo, na morte, na ressurreição e na Glória (cf. Rom 6,45; Gal 2,19; Fil 3,10; Ef 2,6; Col 2,12; 3,1ss).
Não são raros os casos nos quais diversos termos contemporâneos à língua grega de Paulo vêm utilizados e dobrados ao uso e intenção de Paulo.
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Paulus, nome latino, provavelmente desde a infância vê o império Romano de certa forma como uma estrutura a serviço das disposições diurnas (Rom 13,2-5):
Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus. Assim, aquele que resiste à autoridade opõe-se à ordem estabelecida por Deus; e os que a ela se opõem atraem sobre si a condenação. Em verdade, as autoridades inspiram temor, não porém a quem pratica o bem, e sim a quem faz o mal! Queres não ter o que temer a autoridade? Faze o bem e terás o seu louvor. Porque ela é instrumento de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, porque não é sem razão que leva a espada: é ministro de Deus, para fazer justiça e para exercer a ira contra aquele que pratica o mal. Portanto, é necessário submeter-se, não somente por temor do castigo, mas também por dever de consciência.
At 22,28 - direito de cidadania Romano, desde o nascimento;
Roma nos seus programas missionários estava no vértice: Rom 15,22-24, outro lado do Carta dos Romanos.
Romano
Leia mais sobre Paulo:
O maior missionário do cristianismo
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O maior missionário do cristianismo
O Livro dos Atos oferece uma narração ordenada da obra missionária de Paulo. Esta se desenvolve provavelmente naquela parte da costa Mediterrânea denominada “a elipse da oliveira”, tocando as cidades de Damasco, Tarso, Antioquia, Chipre e Anatólia Sul-oriental: Filipos, Tessalônia, Bereca, Atenas, Corinto na Europa, e Éfeso, capital da Província romana da Ásia, e Roma, do capital do Império. Os dados provenientes das Cartas confirmam tal quadro mesmo se não permitem de seguir a linearidade e de ancorá-lo sobre confirmar o esquema de uma tríplice expedição, como vem delineada em Atos.
Importância e característica
Ele escolhia intencionalmente os grandes aglomerados urbanos, sobretudo aqueles ainda não tocados pelo Evangelho, onde buscava fazer surgir ao menos uma pequena comunidade cristã, animada e presidida por pessoas em particular, dedicadas e generosas (1 Ts 5,12-13; 1 Cor 16,15-16).
Tudo faz pensar que no âmago da metodologia missionária de Paulo, ele tinha em mira muito mais os povos, como tal, como seria comum aos pregadores ambulantes do seu tempo. O que ressalta o fato singular que ele não tinha se interessado por Alexandria no Egito.
Paulo tem a consciência, desde o início, de ter sido chamado a evangelizar aos gentios (Gal 1,16), e essa vocação vem confirmada por Pedro e pelos Apóstolos (Gal 2,9-10). Seu método de comunicação do Evangelho se prende na palavra, no exemplo e no amor, e unia à Palavra, que não é simples transmissão verbal, mas permeada pelo Espírito e pela potência de Deus que interpela os homens por meio de seus (2 Cor 5,20; 1 Tes 2,13; Rom 1,16 ): Revelação!
A Palavra vem corroborada pela força do “modelo humano”
A Exemplaridade ética tem sua origem da humanidade de Jesus e é particularmente importante para Paulo. Porque o Evangelho não é uma teoria, mas um modo de existência. Paulo sabe que deve transmiti-lo com sua própria existência no "exercício" que isso comporta.
Os dois termos maiores que são usados neste contexto são "modelo" e "imitadores" (1 Cor 4,16; 1 Ts 1,6; Fil 4,9; 2 Ts 3,7).
O Amor
A Palavra, porém, parte do amor, e tende à edificação, isto é, à construção e ao crescimento espiritual dos singelos indivíduos e da comunidade (cf. 1 Ts 2,7-8; 2 Cor 4,15; 5,15; 6,12; Gal 4,15). É pronunciada em fidelidade e lealdade de espírito diante de Deus e diante dos homens (cf. 1 Ts 2,1-12) com a franqueza (parresia; 2 Cor 3,12; Fil 1,20, Ef 3,12) e a limpidez cristalina (cilikrineia: 2 Cor 2,17), própria dos ministros da Nova Aliança. Além do aspecto "encarnatório" da Palavra (1 Cor 9, 12-23), que conduz o ministro ao âmago de seu tempo.
O conteúdo essencial da sua mensagem é aquele da "Tradição" (parádosis = tradição) apostólica (1 Cor 15, 1-5). De tal "verdade do Evangelho" nada pode ser subtraído (Gal 1,6-8; 2,5-14). Porém, em tal "tradição", enquanto o Evangelho exigia sua "tradução" em um estilo de vida e era destinado a produzir uma "nova criatura" (2 Cor. 5,17), Paulo se faz educador, pastor.
Diversos são os verbos que indicam a complexidade do projeto missionário Paulino: exortar, admoestar, instruir, dizer, evangelizar, anunciar, desejar, encorajar, dispor, ensinar, tornar conhecido, confortar.
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Paulinismo/antipaulinismo
"Reconhecei que a longa paciência de nosso Senhor vos é salutar, como também vosso caríssimo irmão Paulo vos escreveu, segundo o dom de sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz em todas as suas cartas, nas quais fala nesses assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras."
Paulo e sua tradição (2 Pd 3,13-16)
Origem: termo à Escola de “Tübingen”, isto é, protestantismo racionalista alemão: Paulo, herói protestante contra Pedro (petrinismo).
O fato: Nenhum outro personagem é tão documentado como Paulo.
Centro da Teologia Paulina
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Centro da Teologia Paulina
1º) A posição protestante
A dimensão antropológica do evento salvífico – impacto sobre o homem da obra redentora de Cristo, que se desenvolve em duas posições:
Tese luterana clássica (R. Bullman, E. Käsemann) – o centro do paulinismo é a doutrina da justificação pela fé sem obras, isto é, o Evangelho da Graça (Rom 4,5).
Schweitzer: participação do batizado, a vida (mesma) de Cristo, e, por isso, a experiência tendencialmente“mística” do Cristo (Rom 6,11; Rom 3,21-26).
Crítica: Não se deve confundir paulinismo com Paulo: o evento de Cristo tem um valor primário e fundante em relação ao seu resultado soteriológico.
2º) Posição católica
Privilegia a dimensão objetiva do evento salvífico (ad extra/extra nos).
Apesar de poder objetar, sobre a decisiva mediação da fé, aqui a cristologia é colocada em primeiro lugar, como centro do pensamento paulino.
Segundo Lucian Cerfaux, a intuição fundamental de Paulo está na concepção da Divindade de Cristo – onde está Cristo, existe a Presença de Deus, e Deus opera e se comunica somente mediante Cristo (Cf. 2 Cor. 5,19).
Para Rudolf Schnackenbrurg, no entanto, a base sobre a qual se constrói e se concentra toda a cristologia paulina é o Kerygma primitivo da morte e Ressurreição de Cristo, que Paulo retoma e mantém como ponto focal de seu sistema.
Segundo Romano Penna é melhor concentrar-se sobre a figura de Cristo como tal a prescindir de suas especificações. Se pudéssemos comparar a teologia paulina a um círculo, deveríamos dizer que Jesus Cristo é o centro; tudo aquilo que se afirma de Cristo é constituído de raios, enquanto aquilo que constitui a soteriologia forma um círculo virtuoso.
Atenção
De fato, sobre a figura de Cristo e sua centralidade em Paulo, estão todos de acordo, desde S. Tomás até Lutero, mesmo que o luteranismo considere central o ponto de vista soteriológico. Porém, isso se pode afirmar de todo o Novo Testamento, isto é, a "centralidade" da figura de Cristo, na variação dos diversos escritos.
Mas o que distingue a centralidade de Cristo no paulinismo de origem pode ser observado entre níveis:
1
Vê-se bem como Jesus Cristo, para Paulo, não é narrado no passado da sua vida terrena, bem que se compendia essencial, e em termos fulgurantes na figura do Crucificado-ressuscitado (1 Cor 1, 23 s). Dessa maneira é assumida a formulação do KePryággminaaP5ri5mditeivo16(11Cor 15, 3 - 5), mas se
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desenvolve o conteúdo em formas e dimensões que não são constatáveis em nenhum outro autor do cânon.
2
É possível constatar e documentar sobre a base dos seus textos epistolares e mesmo de maneira detalhada, como Paulo constituiu o conjunto de sua partitura teológica sobre o único teclado da Pessoa de Cristo, sem separar a ontologia da funcionalidade.
Nesse ponto R. Penna expõe os traços fundamentais da cristologia, como centro do pensamento Paulino. Para Paulo, Deus mesmo é definido em função de Cristo (cf. Rom 15,6; 2 Cor 1,3; 11,31; Col 1,3; Ef 1,3); Ele enviou Jesus ( Rm 8, 3; Gal 4,4). Também o Espírito é denominado em termos de "Espírito de Cristo" (Rom 8,9), "do Filho" (Gal 4,6), de "Jesus Cristo" (Fil 1,19 ), uma formulação tipicamente paulina.
O Evento Salvífico decisivo, mesmo que tendo em Deus sua origem e seu principal agente, é claramente dominado pelo Cristo e com o seu sangue como protagonista histórico, através de uma diversidade de termos, como Reconciliação, Libertação, Resgate, Redenção, Expiação, Justificação.
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Depois desses elementos, vale a pena destacar que, para Paulo, o Espírito, mesmo “autônomo”, com personalidade, é Espírito do Filho, que age e atua em nós a favor da Salvação trazida por Cristo.
Destacamos agora o texto mais paradigmático de Paulo sobre o Espírito Santo: O Capítulo 8 da Carta aos Romanos (STOOT, 1994).
Carta aos Romanos – Capítulo 8
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Carta aos Romanos – Capítulo 8
Rm 8, 1-2: De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A Lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte.
A maneira pela qual o apóstolo começa sua discussão sobre o Espírito Santo no capítulo VIII da Carta aos Romanos é verdadeiramente surpreendente:
“Portanto, não há mais condenação para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito, que dá vida em Cristo, libertou-te da lei do pecado e da morte.”
Ele passou todo o capítulo anterior para estabelecer que "o cristão está livre da lei", e aqui começa o novo capítulo falando em termos positivos e edificantes sobre a lei. "A lei do Espírito" significa a lei que é o Espírito; é um genitivo ou explicação epesegética, isto é, explicativa.
O que é a lei do Espírito e como ela funciona, A nova lei, ou do Espírito, não é, portanto, estritamente falando, aquela promulgada por Jesus no Sermão da Montanha, mas aquela que ele gravou nos corações no Pentecostes.
Rm 8, 5-12: “Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele. Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas o Espírito vive pela justificação. Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis.”
Os preceitos evangélicos são certamente mais altos e mais perfeitos que os mosaicos; no entanto, sozinhos, eles também teriam permanecido ineficazes.
Se fosse o suficiente para proclamar a nova vontade de Deus através do Evangelho, não seria possível explicar que havia a necessidade de Jesus morrer e que o Espírito Santo viesse.
Mas os próprios apóstolos mostram que isso não era suficiente; apesar de terem escutado tudo – por exemplo, que você deve se voltar para aquele que bate em você, a outra face –, no momento da paixão eles não encontram a força para executar qualquer um dos mandamentos de Jesus.
Rm 8, 14: “De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.”
De fato, aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus, estes são filhos de Deus.
Tendo dito que devemos mortificar, isto é, deixar nossa carne morrer, Paulo explica que – guiado pelo Espírito de Deus, não simplesmente por nossa própria iniciativa, mas iluminado e guiado pelo Espírito Santo, o que significa que não podemos fazer nada e devemos fazer o que não isto é de acordo com a vontade de Deus – somente essa obediência testifica que somos filhos de
Deus.
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Rm 8, 16: “Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus.”
De fato, o próprio Espírito testifica que somos filhos de Deus. Somente na interioridade do nosso coração encontramos a certeza de que somos filhos de Deus; ninguém pode garantir por si mesmo que é filho de determinado pai.
Outro deve testemunhar para nós: alguém que conhece bem a nossa história e está presente não apenas quando nascemos, mas também quando fomos concebidos.
Não há necessidade de ir longe e procurar por Deus sabe onde. É o próprio Espírito Santo que testifica ao nosso espírito que somos filhos de Deus; no Espírito Santo fomos concebidos, e no Espírito Santo nascemos para uma nova vida. Qual testemunha é mais real e segura? Você quer saber quem é seu filho? Pergunte a sua mãe.
Se o Pai é o mistério de toda paternidade, o Espírito é o mistério de toda maternidade. Então o Filho é o mistério da nossa adoção como filhos.
Atividade
Diante do exposto sobre a pneumatologia de Paulo, por que se deve relacionar a figura histórica de Paulo com sua teologia?
2. “De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A Lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte” (Rm 8, 1-2”). A partir dos primeiros versículos do capítulo 8, temos um verdadeiro embate entre a Lei e o Espírito. Explique como Paulo esclarece as relações entre a vida no Espíritoe a lei mosaica para os cristãos.
Em 1Cor 12,4ss, Paulo relaciona o Espírito Santo aos dons ou carismas. Qual é o significado de dons e carismas na pneumatologia paulina?
Carismas são ações mágicas do Espírito Santo.
O Espírito age extraordinariamente pelos carismas.
Os dons e carismas são poderes dados para fins individuais.
O cristão recebe os carismas para obter poder humano.
Dons e carismas são ações do Espírito a serviço da Igreja.
Notas
Teologia de São Paulo 1
São Paulo, antes de qualquer coisa, quer falar de Cristo, que ele conheceu pessoalmente pelas estradas de Damasco, e que a ele se dirigiu e reorientou sua vida. O Cristo Ressuscitado é o “kérygma” central da pregação paulina. O Cristo que Paulo prega, ou seja, “seu Evangelho”, não se baseia na “carne”, mas no Espírito, pois Paulo não passou pela experiência histórica de Jesus de Nazaré, como
os outros doze apóstolos.
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Segundo o pensamento teológico de Paulo, o Espírito revela à Igreja quem é o Cristo, ou melhor, em
RequfeersêennticdioaJsesus é o Cristo. Ele exibe a radicalidade da existência humana de Jesus, sua Divindade e,
portanto, o conteúdo soteriológico do seu agir como homem até a sua Páscoa.
BORGES, R. D. O Espírito Santo nas cartas paulinas. Blog É missão de todos nós. Belo Horizonte, 23 out. 2013. Disponível em: //renatosdn.blogspot.com/2013/10/o-espirito-santo-nas-cartas- paulinas.html.
FERREIRA, F. Karl Barth: uma introdução à sua carreira e aos principais temas de sua teologia. Fides Reformata, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 29-62, 2003. Disponível em:
//www.escolacharlesspurgeon.com.br/files/pdf/Karl_Barth_Uma_Introducao_a_Sua_Carreira_e_aos_Principais_Temas_de_Sua_Teologia_-
_Franklin_Ferreira.pdf.
JACOB, O. L. G. Atitude: revista do jovem cristão. Rio de Janeiro, ano CXII, n. 445, 2017. Disponível em:
//www.convencaobatista.com.br/sig/modulos/site/comunicacao/uploads/documentoDownloadSite/29373350020032018150751.pdf
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STOOT, J. A mensagem de Romanos. São Paulo: ABU, 1994. Disponível em:
//www.adevic.com.br/imagens/downloads/06022016123400.pdf.
VOUGA, F. Eu Paulo. São Paulo: Paulinas, 2014.
Próxima aula
O Espírito Santo no pentecostalismo;
A experiência do Espírito Santo nas igrejas da Reforma e no catolicismo romano; A criação da renovação carismática católica.
Explore mais
Leituras:
CAMPOS, L. S. O pentecostalismo no Brasil. Revista USP, São Paulo, n. 67, p. 100-115, set./nov. 2005.
DAMASCENO, G. Pentecostalismo brasileiro. São Paulo: Reflexão, 2014.
Vídeos:
Pastor Franklin Ferreira;
Sobre a Renovação Carismática Católica (RCC).
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Teologia e Exegese Bíblica
Aula 5: Introdução à exegese do Pentateuco aos livros proféticos
Apresentação
A crítica das tradições procura identificar as tradições subjacentes a um texto, situando-o nas correntes históricas cuja evolução ela busca determinar.
Entende-se tradição como o panorama cultural amplo em que um texto se situa. Ela evoca uma concepção transmitida através das gerações. Se o estudo das tradições inclui sua colocação em ordem cronológica, descreve-se então a história das tradições.
Existem, por conseguinte, duas perspectivas na crítica das tradições: o estudo das tradições que estão por trás de um texto preciso; e a comparação com outras formulações da mesma tradição em uma linha cronológica a fim de se perceber melhor a orientação conceitual do texto.
Vamos em frente? Bom estudo!
Objetivo
Interpretar o texto bíblico utilizando os gêneros literários corretos;
Desenvolver determinados gêneros literários junto aos textos bíblicos.
Conceito de tradição
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Escultura de Moisés e os 10 mandamentos
A tradição é um complexo de concepções em torno de uma ideia central, veiculado por imagens e temáticas, utilizando muitas vezes um vocabulário recorrente ou do mesmo campo semântico. Quando se estuda o panorama tradicional de um texto, busca-se por motivos e temas.
Motivo é um elemento, ou conjunto de elementos, que expressa um pensamento ou modo de conceber algo e é empregado de forma mais ou menos fixa (característica) em diversos textos. Por isso, evoca temáticas e orienta o leitor para um determinado mundo conceitual. O motivo expressa-se através de imagens.
Por isso, evoca temáticas e orienta o leitor para um determinado mundo conceitual. O motivo expressa-se através de imagens.
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A imagem de flores, de erva, que rapidamente fenecem de sopro, indicando a fugacidade da vida humana (Jó 8,12; SI 103,15-16; 144,3; Is 37,27; Tg 1,10-11: 1Pd
1,24);
A imagem de Deus como rochedo e como fortaleza para indicar a proteção e a segurança que Ele oferece (25m 22,3; SI 18,3; 91,2);
A imagem da rocha como símbolo de firmeza (Mt 7,24-25; Lc 6,48);
A pedra de tropeço ou simplesmente a imagem do tropeçar (SI 38,17; 64,9; Is 8,14; Os 4,5; Ml 2,8; Rm 9,33; 1Pd 2,8);
A imagem das águas abundantes como sinal de vida plena (SI 65,9; Ez 47,1-12; Jo 4,10-15; Ap 7,17; 22,1);
As grandes águas como indicação de ameaças, de desastre ou de força (SI 32,6; Ct 8,7; Is 44,3; Ap 1,15; 14,2; 19,6);
As ovelhas que se perdem, simbolizando o afastamento do Senhor e a falta de orientação (Is 53,6; Ez 34,5-6 Mt 10,6; 15,24; Lc 15,6; 1Pd 2,25);
A imagem da taça da ira, a ira versada, como indicação de grave punição (SI 75.8: Is 51,17; Ez 7,8; Os 5,10; Zc 12,2; Ef 5,6; Ap 14.10.19: 15.7; 16,1.19; 19,15);
A árvore verdejante como símbolo da vida (Gn 2,9; Os 14,9; Ap 22,2) ou da vida humana em particular (Sl 1,3; Jr 17,8; Jó 14,7-10: 19.10; 24,20);
A palha seca que se disperde ao vento em sentido de ruína (SI 1,4; 35,5; Is 17,13; Os 13,3; Sf 2,2; Mt 3,12; Lc 3,17).
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A diferença entre motivo e tema reside basicamente no acento dado. Um motivo Psáegminap1re7 de 48 traz consigo o aspecto conceitual, mas o integra em expressões e imagens. Os temas, diferentemente, focalizam o aspecto conceitual, sendo mais livres no uso do
vocabulário: são propriamente elementos conceituais.
Tanto o Antigo como o Novo Testamento apresentam temáticas que se repetem em diversos textos:
A do justo sofredor (o livro de Jó; Is 53);
A correlação entre abaixamento e exaltação, de um lado, e de auto exaltação e humilhação, de outro (15m 2,7-8; SI 113,7-8; Lc 1,51-53; Mc 10,31);
O tema da mulher estéril que gera um grande homem (Gn 16,1; Jz 13,2; 15m 1,2);
A impureza legal (Lv 10,10; 11,47; Dt 12,15; 2Cr 23,19; At 10,14-15; 2Cor 6,17), que pode ligar-se a algumas realidades (o espírito imundo: Mt 14,43; Mc 1,23.26; 3,30; 5,2.8; 7,25; 9,25; Lc 8,29; 9,42; 11,24).
A distinção entre tradição, tema e motivo não é sempre clara. Em linha de princípio, a diferença reside na complexidade: a tradição pode abarcar diversos temas e motivos. Por outro lado, uma tradição está ligada a um círculo que se empenha em cultivar e transmitir uma determinada forma de pensar e conceber o real.
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"The Flight Into Egypt"
Gêneros literários bíblicos
Ler é mais importante do que estudar, pois o conceito de gênero literário pertence ao campo da literatura universal e induz mais precisamente à ideia de literatura comparada, segundo a qual todo gênero literário é definido por um conjunto de regras e de caracteres comuns. Ele atravessa literaturas diferentes no tempo e no espaço e é, portanto, reconhecível de um campo e de uma época a outra.
Uma leitura correta de qualquer texto bíblico nos levará, inicialmente, a fazer algumas distinções, por vezes, espontâneas:
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Com isso, estamos praticando um primeiro exercício de distinção entre os gêneroPságina 19 de 48 literários. As respostas a tais perguntas nos oferecem a orientação elementar para classificarmos o texto. Mas, como acabamos de afirmar, são distinções espontâneas. O trabalho científico começa depois.
Nossos estudiosos exegetas já realizaramum precioso trabalho de ordenação e catalogação, do qual podemos e devemos lançar mão. Uma boa exposição do assunto não trará somente o esquema do gênero literário em questão. Mais que isso, discutirá também o contexto existencial no qual, provavelmente, tal gênero era utilizado, bem como sua finalidade. Manuais de metodologia procurarão identificar dentro de cada tradição bíblica (histórica, profética, sapiencial, apocalíptica etc.), quais os gêneros literários que lhe são típicos.
Dizer que determinado gênero literário é típico de determinada tradição não significa dizer que é exclusivo dela. Há alguns que perpassam toda a Sagrada Escritura. Igualmente, pode acontecer uma justaposição de gêneros dentro da mesma perícope. Com efeito, lembremo-nos que o gênero literário puro existe só na abstração.
Quando aplicado e inserido em um contexto, sofrerá influências e alterações.
Vejamos, pois, algumas das informações que os estudiosos já sistematizaram ao longo dos anos. Normalmente, nós as encontramos em publicações (metodologias, introduções e comentários) que deem especial enfoque ao aspecto literário.
Normalmente, a terminologia, as subdivisões e a classificação dos textos variam de autor para autor. Além das divergências metodológicas, some-se outro fator: a enorme variedade do material a ser estudado.
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Apesar dos grandes avanços dos estudos, ainda não temos uma publicação que catalogue, analise e sistematize todos os gêneros literários, tanto do Antigo como do Novo Testamento. De nossa parte, como nosso objetivo é fornecer ferramentas para o trabalho exegético, apresentaremos alguns
deles. Nossa apresentação, portanto, será sumária. Os casos que
abordaremos abaixo estarão agrupados segundo a tradição da qual são mais típicos. Para cada tradição, indicaremos a passagem bíblica consultada, que servirá para um aprofundamento do assunto.
Orações e cânticos
Nem sempre é possível separar os dois gêneros. Muitos salmos são orações em forma de cânticos. A Escritura, porém, apresenta também exemplos de orações em prosa.
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	Cantos da vida cotidiana	Orações em prosa	Página 21
	Canto de vitória: Ex 15,21; Js 10,12b-13; Jz 5,2-18; 15m 18,7;
Canto da vida de trabalho: Nm 21,17-18; Is 21,11-12; Ne 4,4;
Canto de amor e matrimônio: Ct 3,6-11; 7,1-6; SI 45;
Canção satírica: Nm 21,27-30; Jz 5,28-30;
2Rs 19,21-28; Is 23,15-16; 44,19-20; 47,1-15;
Cântico fúnebre: 2Sm 1,18-27; 3,33-34; Lm
1,1-11.12-22; 2,1-9.
A lamentação fúnebre é utilizada, muitas vezes, como forma de oráculo de juízo e lamenta a punição anunciada, dando-lhe a conotação de que ela levará à morte.
Exemplos: Is 14,4-21; Jr 9,9-15; Ez 19,5
11.16-21; 26,17-18; 28,12-19; 32,1-8. 17-32;
Am 5,7-17.	Ocorrem na Escritura também exemplos de orações em prosa, com temáticas variadas, conforme exemplos abaixo:
Súplicas: Gn 32,10-
13; Jz 16,28; 2Sm
7,18-29; 1Rs 3,6-9;
2Cr 20,6-12; Jt 9,9-
14;
Pedidos de perdão: Jz 10,10; Esd 9,6-15;
Dn 9,4-19;
Orações que ensinam (doutrinais): 1Rs 8,23-53; 1Cr 29,10-
19.
Lamentação ou súplica
Apresenta à Deus uma situação de dificuldade e pede Seu auxílio. Pode ser individual ou coletiva (nacional). Esta última versa sobre alguma ameaça ou catástrofe para o povo inteiro. A estrutura literária completa apresenta três personagens (o orante, Deus e o inimigo). O canto pode apresentar uma introdução (com a invocação a Deus e/ou os motivos do lamento) e se desenvolve normalmente em três momentos, cada um dos quais considera uma fase da vida do orante (indivíduo ou nação):
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Em geral, termina com uma promessa de louvor pela restauração recebida ou com uma ação de graças (exceção é o Sl 88).
Exemplo
Alguns exemplos de súplica são: Sl 6; 7; 12; 13; 22; 35: 38; 44; 51; 60; 69; 86; 102; 142; Lm
5.1-22.
Narrativas
O paradigma é uma narrativa breve que se concentra em um ensinamento de Jesus relativo à vida de fé ou ao comportamento cristão. O fato narrado serve como comprovação da pessoa de Jesus e traz um ensinamento paradigmático. Apresenta o modelo para o crer e o agir cristãos. A palavra de Jesus é o ponto de chegada da narração. Exemplos: Mc 2,1-12; 2,23-28; 3,16; 14,3-9.
Uma forma especial de paradigma é a narrativa de vocação. Estruturada basicamente sobre o esquema chamado de Jesus e resposta ao chamado, indica o modelo da resposta que o cristão deve dar ao encontro com o Mestre (Mc 1,16-20; 2,14 e paralelos; Lc 5,1-11; 9,57-62).
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Tipos de Narrativas
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Narrativa de milagre
Diferentemente do paradigma, é a narrativa de milagre, pois, nesta, o centro é o próprio milagre e não um ensinamento particular. Propõe-se a indicar o poder (de Jesus; ou de Deus, no caso dos apóstolos) sobre o mal e a morte, mostrar a compaixão divina para com a dor humana e a chegada do tempo de salvação (Is 35,5-6, citado em Mt 11,4-6). Geralmente seguem a mesma estrutura e podem ser distinguidas entre:
Curas e ressurreições
Aproximação entre taumaturgo e a pessoa;
Indicação da necessidade, descrição do doente / doença, constatação da morte;
Realização da cura ou ressurreição (por palavra e/ou gesto). Muitas vezes é precedida de diálogo e da menção da fé do doente ou dos circunstantes;
Constatação do milagre;
Consequências: admiração do povo, palavras de louvor ou observação do redator.
Exemplos: Mt 9,1-8; Mc 7,31-37; Lc 7,11-17; Jo 2,1-11; At 3,1-10.
Multiplicações e milagres sobre a natureza Aproximação de Jesus e do povo/discípulos; Indicação da necessidade;
Preparação da cena do milagre; Realização do milagre;
Conclusão, em forma de constatação do milagre.
Exemplos: Mt 8,1-10; Mc 6,32-44; Lc 5,4-10.
Exorcismos
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Apresentam em geral os seguintes elementos:
Encontro de Jesus com o endemoninhado;
Oposição do demônio ao exorcismo; Ameaça da parte do exorcista; Ordem de silêncio dada ao demônio; Expulsão do demônio;
Saída do demônio; Espanto dos circunstantes; Difusão do acontecido.
Exemplos: Mc 1,23-28; 5,1-20 (e paralelos); 9,14-29 (e paralelos); Lc 4,31-37.
Narração de epifania
Toda narrativa de milagre pode ser considerada, em sentido largo, uma epifania. Há, no entanto, relatos propriamente epifânicos, nos quais a divindade é revelada na pessoa de Jesus (e não em seu agir em favor de outros). Em geral, apresentam também uma palavra de revelação. Dois exemplos, nos evangelhos, são a transfiguração de Jesus (Mc 9,2-8 e paralelos) e seu caminhar sobre o mar (Mc 6,45-52 e paralelos). O esquema seguido é semelhante nos dois casos:
		Mc 9,2-8	Mc 6,45-52
	Preparação da cena	v. 2	v. 45-48a
	Epifania	v. 3-4	v. 48b
	Reação dos expectadores	v. 5	v. 49-50a
	Revelação pela palavra	v. 7	v. 50b
	Conclusão	v. 8	v. 51-52
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"Christ in the Synagogue"
Um gênero literário à parte chama-se apocalíptico. Está presente nos textos qPuágein, a 25 de 48
com descrições às vezes aterradoras, falam sobre o fim do mundo, em que reinam poderes contrários ao de Deus (Mc 13). A interpretação ao pé da letra desses textos até se tornou marca característica de algumas confissões cristãs ou afins (adventistas, Testemunhas de Jeová).
Na realidade, o gênero apocalíptico é uma maneira de expressar a decepção com a presente realidade, mas também a esperança de uma realidade melhor, escondida ainda. Diante do texto apocalíptico, o visionário, por ordem de Deus, serve para animar seu povo e fazê-lo resistir aos poderes idolátricos deste mundo que pretendem competir com Deus. O próprio escritor apocalíptico sabe que suas visões não são objeto de ciência profana, pois ninguém conhece o dia nem a hora da partida (Mc 13,32). A verdade do gênero apocalíptico não está nas imagens que ele usa, mas na atitude de firmeza e esperança queprovoca.
O leitor moderno talvez preferisse colocar o termo históricos visto que a noção de história no universo bíblico (a historiografia bíblica) não é científica e menos ainda neutra. É uma história interpretada e não se interessa por informar, de modo objetivo, os acontecimentos. Antes, ao mesmo tempo em que reporta o fato, fornece critérios para dele colher significação. Nessas narrativas, portanto, encontramos um jogo linguístico, no qual aparecem elementos objetivos mesclados a elementos ideológicos ou teológicos (interpretação religiosa):
Elemento objetivo (1 Sm 18,10-16); Elemento teológico (vv10b-12;1Rs 16,23-26).
Dizemos que se trata de uma narrativa histórica.
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Atividade
1. Quais tipos de narrativas e exemplos que temos na bíblia?
Novela
Como qualquer relato histórico, o tempo da novela é o passado. Não se trata de um acontecimento isolado e sim de uma série deles. Além disso, não são acontecimentos públicos, mas fatos da vida pessoal e privada de um personagem, seus sentimentos e suas reações. Na realidade, tais fatos são importantes porque estão diretamente relacionados ao povo: O que significa tal personagem para a comunidade israelita? A trama se desenvolve em três tempos:
Início: uma situação de conflito ou tensão; Meio: o conflito se complica cada vez mais;
Fim: resolução do conflito e esvaecimento das complicações.
Exemplo: José no Egito (Gn 37-50)
Dentre os vários tipos de saga, destacamos:
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Clique nos botões para ver as informações.
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a) Saga de uma tribo ou de um povo:
Narra a história de um ancestral, real ou fictício, cujos traços essenciais e destino se prolongam em seus descendentes. É muito comum nos relatos do período dos patriarcas. Dentre elas, podemos citar a bênção e a maldição dos filhos de Noé (Gn 9,20-27), bem como a adoção de Efraim e Manassés por Jacó (Gn 48);
b) Saga de um herói:
O centro do relato é um herói (personagem positivo) ou um vilão (personagem negativo). O contexto vital que fez surgir e se desenvolver esse tipo de saga parece ter sido o período dos confrontos de Israel com outros povos, desde a saída do Egito, passando pela conquista da Terra Prometida, até a consolidação do reino de Davi diante dos povos vizinhos:
Vitória sobre os amalecitas (Ex 17,8-16); Vitória sobre os reis amorreus (Js 10); Davi e Golias (1Sm 17,1-54);
Davi e Saul (1Sm 26);
c) Saga de um lugar:
Esse tipo de relato quer explicar a origem de um lugar, de uma cidade, de uma particularidade impressionante - tal como a cidade e a torre de Babel (Gn 11,1-9) ou a origem e a esterilidade do Mar Morto (Gn 19,1-29) e apresenta um caráter fortemente etiológico (explicam a origem e o nome de coisas e lugares). Mas, os estudiosos chamam a atenção para o seguinte: é necessário distinguir entre as narrativas compostas em seu todo como uma etiologia (tal como Gn 21,22-31: os
vv. 22-30 foram gerados a partir da etiologia presente no v. 31) e narrativas com apêndices ou acréscimos etiológicos (Ex 2,1-10: no 10, a filha do Faraó egípcio conhece filologia hebraica).
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Atividades
Qual livro bíblico que segue as genealogias?
Amós.
Juízes.
Mateus.
Mateus.
d) Cântico dos Cânticos.
Qual livro bíblico que nos remete o gênero de romance?
Apocalipse.
Provérbios.
Salmos.
Juízes.
Reef) eLirvêrondceiaRuste.
A BÍBLIA. Bíblia católica online. Disponível em: https://www.bibliacatolica.com.br/
N<ohtttapss://www.bibliacatolica.com.br/> . Acesso em: 15 maio 2019.
A BÍBLIA. Bíblia protestante online. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/
<https://www.bibliaonline.com.br/> . Acesso em: 15 maio 2019.
BACON, B. Estudos na Bíblia Hebraica: exercícios de exegese. São Paulo: Vida Nova, 1991.
CASTILLO, J. Jesus, a humanização de Deus. Petrópolis: Vozes, 2015. DE LA POTTERIE, I. et al. Exegese cristã hoje. Petrópolis: Vozes, 1996.
FRIESEN, A. Teologia bíblica pastoral na pós-modernidade. Curitiba: InterSaberes, 2016.
LIMA, M. L. C. Exegese Bíblica: teoria e prática. São Paulo: Paulinas, 2014. MICHELETTI, G. As 12 parábolas de Jesus. Petrópolis: Vozes, 2014.
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PEREIRA, S. Exegese do Antigo Testamento. Curitiba: InterSaberes, 2017.
PEREIRA, S. Exegese do Novo Testamento. Curitiba: InterSaberes, 2018.
SILVA, C. M. D. Metodologia de exegese bíblica. São Paulo: Paulinas, 2000.
Próxima aula
Os Profetas;
Exegese do Antigo Testamento.
Explore mais
Leia o artigo a seguir e aprenda mais um pouco:
Literatura no mundo bíblico: os gêneros literários na bíblia.
<https://www.webartigos.com/artigos/literatura-no-mundo-biblico-os-generos- literarios-na-biblia/156155>
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Teologia Sistemática III
Aula 6: A Igreja no Antigo Testamento
Apresentação
Nesta aula, apresentaremos a experiência de Israel como proto-Igreja de Deus.
Analisaremos de que maneira, a Igreja, em sua identidade coletiva de Salvação ofertada por Deus, está presente na vocação de Israel, como Povo de Deus.
Estudaremos alguns textos e questões que justifiquem a possibilidade de identificar um fenômeno evidente no Novo Testamento, a Igreja de Cristo, ao longo das páginas do Velho Testamento.
Bons estudos!
Objetivos
Analisar, no Antigo Testamento, as experiências e expressões da igreja (eclesiais), desde as promessas patriarcais até a mais refinada teologia dos profetas;
Explicar as expressões “Qahal” (hebraico) e “Laós” (grego da LXX) (povo ou assembleia) e de que maneira a Igreja de Cristo (conceito do Novo Testamento) está presente profeticamente no Antigo Testamento.
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Eclesiologia
Anteriormente estudamos com afinco os diversos aspectos acerca da pneumatologia, isto é, da teologia do Espírito Santo e das implicações da compreensão da ação do Espírito Santo a partir de Pentecostes (At 2) na vida das igrejas, através das experiências pentecostais. Agora chegou o momento de estudarmos a igreja (ekklesia), isto é, a Eclesiologia.
(Fonte: Christin Lola / Shutterstock)
Para começar, reflita sobre as questões:
De que maneira Deus quis a Igreja?
O que é a Igreja?
Qual é sua função no Plano de Deus?
Nesta aula, iremos conhecer de que maneira encontramos, no Antigo Testamento, uma série de indicações da realidade da Igreja, por meio da noção de Povo de Deus (‘Qahal Iaweh’), como uma forma de profecia da Igreja, segundo a lemos no Novo Testamento.
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O estudo da Igreja, isto é, da sua identidade, configuração e mensagem teológica não é um cPaámgipnoa 32 de 48
restrito ao Novo Testamento, no qual está plenamente revelada e esmiuçada pela teologia das tradições apostólicas de Paulo, João, entre outros escritos.
Ao contrário, o Antigo Testamento, com sua revelação própria e indispensável, é o único horizonte válido para entendermos e avaliarmos as evoluções das diversas formas da Igreja de Cristo.
Desde as primeiras revelações a Abraão (Gn 12) até o auge da formação das Doze Tribos dos Filhos de Jacó, temos um longo percurso de formação prototípica da Igreja nas Escrituras veterotestamentárias.
A descendência de Abraão foi o primeiro embrião da Igreja?
O início da Igreja
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O Eterno Pai, pelo libérrimo e insondável desígnio da Sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens à participação da vida divina e não os abandonou, uma vez caídos em Adão, antes, em atenção a Cristo Redentor “que é a imagem de Deus invisível, primogênito de toda a criação” (Col 1, 15) sempre lhes concedeu os auxílios para se salvarem. Aos eleitos, o Pai, antes de todos os séculos os “discerniu e predestinou para reproduzirem a imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito de uma multidão de irmãos” (Rom 8, 29). E, aos que creem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança, foi constituída no fim dostempos e manifestada pela efusão do Espírito, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos. Então, como se lê nos Santos Padres, todos os justos depois de Adão, “desde o justo Abel até ao último eleito”, se reunirão em Igreja universal junto do Pai.
Fonte: //www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat- ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html
Este texto acima foi publicado há mais de 50 anos, em um gigantesco movimento ecumênico, o Concílio Vaticano II. Bispos, teólogos de diversas denominações cristãs (católica, protestantes, ortodoxa) reuniram-se por três anos em RoPmágainpaa7r8a ddeis1c6u1tir diante dos desafios do século XX, os
rumos e os desafios que o Cristianismo deveria enfrentar e assumir.
Deste encontro surgiram não só inspirações para todas as igrejas, como também documentos, que até hoje, continuam a nortear um sadio diálogo e colaboração ecumênica entre as diversas igrejas no mundo.
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Saiba mais
Leia o texto “O Concílio Ecumênico Vaticano II ”.
Observe a citação a seguir.
E, aos que creem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança.
(LG 2)
Dois pontos destacam-se nesta questão quando se busca entender de que maneira a Igreja, que é um evento do Novo Testamento da Revelação de Cristo, pode ser vista ou concebida presente já na história de Israel e até mesmo antes. Vamos conhecê-los.
Primeiro:
A santa Igreja, a qual, prefigurada já desde o princípio do mundo.
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O Concílio entende aqui que o Desígnio de Salvação da Humanidade, da parte de Deus, não cPoángsintiatu3i4 de 48
um evento individual, como se os salvos fossem resgatados por Deus isoladamente uns dos outros.
O Mistério da Igreja, neste sentido, é a Decisão Divina de encerrar a todos, coletivamente, na esfera da Redenção.
Por isso, desde o início, a Teologia mais tradicional entendeu o pecado original como uma realidade que atingiu a todos os seres humanos e não somente o primeiro casal humano (Adão e Eva).
Em última instância, a Igreja está incoativa no destinatário da Salvação, a Humanidade, que, depois da queda do pecado original, torna-se objeto da Misericórdia Divina.
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Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador. Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.
(1 Tim 2, 3-5)
Segundo:
(...) E admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança (LG 2)
O Mistério da Igreja, enquanto rede social de Salvação, corresponde ao gênero humano, gregário, social e comunitário em sua essência. Foi um desastre, com consequências atuais, o surgimento de ideologias do individualismo moderno que, a partir do século XVII, junto com os racionalismos e empirismo, dominou o pensamento e a cultura europeia, até o auge do Iluminismo.
Saiba mais
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Assista aos seguintes vídeos:
O mundo pós-moderno e o mal-estar na civilização;
Rouanet define a Modernidade - Curso Livre de Humanidades; Sérgio Paulo Rouanet: a Pós-modernidade.
O cristianismo na modernidade
Qual o sentido desta discussão para nossa disciplina?
Simples. A religião não é um fenômeno isolado do mundo, de suas reviravoltas culturais, suas ideologias, seus sistemas econômicos.
O Cristianismo teria sido alvo de um mundo de individualismo?
Quais são as consequências, com a suposta contaminação ideológica, para a autocompreensão e a prática cristã?
Existiu um pensamento cristão influenciado pela modernidade?
Em outros termos, um dos universais da modernidade ocidental é a suposição dominante de que o homem, em sua subjetividade, na sua constituição mais íntima, é o centro e o fundamento do mundo (TAYLOR, 1997 e GIDDENS, 2002).
Em texto antológico, Rouanet (O Mal-estar da Modernidade, 2001) propôs uma intensa reflexão sobre a modernidade do ponto de vista de sua crise ou mal-estar. Este projeto civilizatório da modernidade, que está em plena crise, na opinião de diversos autores, tem como ingredientes principais os conceitos de:
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1
Universalidade
Significa “que ele visa todos os seres humanos, independentemente de barreiras nacionais, étnicas ou culturais” (ROAUNET, 2009, p. 9).
2
Individualidade
Significa “que esses seres são considerados como pessoas concretas e não como integrantes de uma coletividade e que se atribui valor ético à sua crescente individualização” (ROAUNET, 2009, p. 9).
3
Autonomia
Significa “que esses seres humanos individualizados são aptos a pensarem por si mesmos, sem a tutela da religião, ou da ideologia, a agirem no espaço público e a adquirirem pelo seu trabalho os bens e serviços necessários à sobrevivência material” (ROAUNET, 2009, p. 9).
Estes temas parecem um excursus, um desvio de nossos objetos de aula, mas não se pode entender corretamente o Judeu-Cristianismo sem estudar os desafios do pensamento moderno e das ideologias que se aninham em torno de filósofos, políticos e agentes culturais.
Em particular, como se pode viver a fé fora da esfera da Cidade, da esfera Pública, do entorno da cultura e da vida social?
Por isso, a segunda Tese de Lumen Gentium afirma que a Igreja se funda já no Desígnio Comunitário do Povo de Israel é o fundamento de uma eclesiologia veterotestamentária!
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Saiba mais
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Muitos autores se ocuparam destas reações filosóficas à modernidade, ainda nos séculos XPVáIgIIinea 37 de 48
XIX. Leia os textos:
>MARTINS, A. et alii (org.). As Ilusões do Eu. Spinoza e Nietzsche. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
HABERMAS, J. O Discurso Filosófico da Modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000. COMPAGNON, A. Os Antimodernos. De Joseph de Maistre a Roland Barthes. Belo Horizonte:
EDUFMG, 2011.
Leia, ainda, sobre os seguintes pontos:
As relações entre Cristianismo e Modernidade ZILLES, U. A Crítica da Religião na Modernidade.
INTERAÇÕES - Cultura e Comunidade / v. 3 n. 4 / p. 37-54 / 2008.
O Protestantismo como uma forma de Cristianismo da Modernidade? Riesebrodt, M. A ética protestante no contexto contemporâneo. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 24, n. 1, pp. 159-182, 2012.
Atividade
1. Diante do exposto sobre a questão do individualismo e a religião, responda às seguintes questões:
Como o individualismo que caracteriza a modernidade influencia o Cristianismo? Quais são as consequências dessas influências?
O conceito de Povo da Aliança
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"Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável a Deus aquele que O teme e obra justamente (cfr. At 10, 35). Contudo, aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para Seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santificando-o para Si. Mas todas estas coisas aconteceram como preparação e figura da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de ser estabelecida e da revelação mais completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feito carne. Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança... Porei a minha lei nas suas entranhas e a escreverei nos seus corações e serei o seu Deus e eles serão o meu povo... Todos me conhecerão desde o mais pequeno ao maior, diz o Senhor."
(Jer 31, 31-34; LG 9)
Deste cinquentenário texto surge a intuição a que nos referíamos ao ensejar dentro de uma aula de teologiauma reflexão sobre a individualismo na cultura moderna, que desde o século XVI vem influenciando a religião cristã:
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Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável a Deus aquele que O teme e obra justamente (cfr. At 10, 35). Contudo, aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para Seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santificando-o para Si.
Este texto demarca nosso objetivo de aula:
De um lado, as relações com Deus se estabelecem no modo interpessoal (“aquele que O teme e obra justamente”).
De outro, Deus estabelece o modo comunitário como forma ordinária da Revelação e da Salvação humana (“aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo”).
Em consequência, a escolha de Israel como Povo, pelos pactos e alianças, determinou o modus
operandi’ da Revelação e da Salvação, que de Israel, Povo de Deus, alcançará a Igreja de Cristo, no Novo Testamento, como poderemos estudar na próxima aula:
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O primeiro elemento é a escolha de um casal, em vista da formação de uma descendência, escolhida para celebrar uma forte aliança.
No núcleo da promessa (Gn 12), que será reiterada diversas vezes, encontram-se a terra, a descendência e a posteridade.
s
Escolheu, por isso, a nação israelita para Seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santificando-o para Si.
A igreja no período patriarcal
Em Gn 12-50 lemos as sagas patriarcais de Israel.
Nessas sagas fundadoras, Israel leu suas origens não à luz da mitologia, mas da intervenção histórica de Deus:
Abraão (Gn 12-25)
Destacam-se como dados da Eclesialidade veterotestamentária a forma de relação entre Deus e seu Povo.
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O Senhor disse a Abrão: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti”.
(Gn 12, 1-3)
O Senhor disse-lhe: “Sabe que teus descendentes habitarão como peregrinos numa terra que não é sua, e que nessa terra eles serão escravizados e oprimidos durante quatrocentos anos. Mas eu julgarei também o povo ao qual estiverem sujeitos, e sairão em seguida dessa terra com grandes riquezas. Naquele dia, o Senhor fez aliança com Abrão: “Eu dou – disse ele – esta terra aos teus descendentes, desde a torrente do Egito até o grande rio Eufrates: a terra dos cineus, dos ceneseus, dos cadmoneus, dos heteus, dos ferezeus, dos amorreus, dos cananeus, dos gergeseus e dos jebuseus”.
(Gn 15, 13-14; 18-21)
E, por fim, com o nascimento de Isaac, completa-se um ciclo de estabelecimento de pactos, promessas e alianças. A circuncisão será o sinal físico de uma pertença coletiva:
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Abrão tinha noventa e nove anos. O Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: “Eu sou o Deus Todo-poderoso. Anda em minha presença e sê íntegro; quero fazer aliança contigo e multiplicarei ao infinito a tua descendência”. Abrão prostrou-se com o rosto por terra. Deus disse-lhe: “Este é o pacto que faço contigo: serás o pai de uma multidão de povos. De agora em diante não te chamarás mais Abrão, e sim Abraão, porque farei de ti o pai de uma multidão de povos. Tornarei a ti extremamente fecundo, farei nascer de ti nações e terás reis por descendentes. Faço aliança contigo e com tua posteridade, uma aliança eterna, de geração em geração, para que eu seja o teu Deus e o Deus de tua posteridade. Darei a ti e a teus descendentes depois de ti a terra em que moras como peregrino, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o teu Deus”. Deus disse ainda a Abraão: “Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu e tua posteridade nas gerações futuras. Eis o pacto que faço entre mim e vós, e teus descendentes, e que tereis de guardar: todo homem, entre vós, será circuncidado. Cortareis a carne de vosso prepúcio, e isso será o sinal da aliança entre mim e vós.
(Gn 17, 1-11)
A Igreja no período mosaico
Com Moisés, as relações e pactos entre Deus e o Povo abraamico, que se estruturará a partir das 12 tribos de Jacó, neto de Abraão, tornaram-se definitivas por meio da experiência da Páscoa.
Essa narração estende-se pelos outros quatro livros do Pentateuco, onde se destacam dois livros:
Êxodo e Deuteronômio
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(Fonte: Masha Arkulis / Shutterstock)
A vocação de Moisés
De início, na história de Moisés, como lemos em Ex 2, sua iniciativa frustrada e desastrosa de assumir
responsabilidades diante do estado de opressão de Israel explica-se, seja pela atitude isolada do
Plano de Deus, que ele não conhecia (Deus de Abraão, Isaac e Jacó), como também pela falta de conexão com o Povo de Israel (que o rejeita como libertador!):
Saindo de novo no dia seguinte, viu dois hebreus que estavam brigando. E disse ao culpado: “Por que feres o teu companheiro?”. Mas o homem respondeu-lhe: “Quem te constituiu chefe e juiz sobre nós? Queres, porventura, matar-me como mataste o egípcio?”. Moisés teve medo e pensou: “Certamente a coisa já é conhecida”.
(Ex 2, 13-14)
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No relato de sua Vocação plena, não mais autoiniciativa, nem individualista, Deus se faz conhPeácgeinrae4m4 de 48
sua novidade, ao mesmo tempo em que se apresenta como o Deus da memória dos Pais:
Eu sou – ajuntou ele – o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. Moisés escondeu o rosto, e não ousava olhar para Deus. O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos. E desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel, lá onde habitam os cananeus, os hiteus, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Agora, eis que os clamores dos israelitas chegaram até mim, e vi a opressão que lhes fazem os egípcios”. Deus respondeu a Moisés: “Eu sou aquele que sou”. E ajuntou: “Eis como responderás aos israelitas: (Aquele que se chama) ‘Eu sou’ envia-me junto de vós”.* Deus disse ainda a Moisés: “Assim falarás aos israelitas: É Javé, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó, quem me envia para junto de vós. Esse é o meu nome para sempre, e é assim que me chamarão de geração em geração”. “Vai, reúne os anciãos de Israel e dize-lhes: O Senhor, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó apareceu- me. E disse-me: eu vos visitei, e vi o que se vos faz no Egito”.
(Ex 3, 6-9. 15-16)
Nesse momento crucial, além da identidade Divina, em duas disposições, no v. 6. 15.16 – Deus dos Pais e o novo Nome, v.14 – o “Eu Sou”, temos de relevante para a Eclesiologia do Antigo Testamento o conhecimento, o interesse e a compaixão de Deus não por indivíduos ou pelo próprio Moisés, mas pelo meu Povo, do qual ouviu clamores (“Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos.). Deus resgata a Promessa Abraamica da Terra, da nação e da Salvação.
O Deserto do Sinai: A Lei
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No núcleo da vocação libertadora de Moisés, ao longo dos 40 anos pelo deserto, uma peregrPináagçinãao45 de 48 purificou o Povo e constituiu uma aventura comunitária. As tribos, até então sem elos entre si, como veremos de certa maneirana terra prometida até Davi, que unifica Israel, na forma política do Reino, tiveram uma experiência de agrupamento.
Central, além da experiência da Páscoa, é o Encontro com o Decálogo no Sinai:
No terceiro mês depois de sua saída do Egito, naquele dia, os israelitas entraram no deserto do Sinai. Tendo partido de Rafidim, chegaram ao deserto do Sinai, onde acamparam. Ali se estabeleceu Israel em frente ao monte. Moisés subiu em direção a Deus, e o Senhor o chamou do alto da montanha nestes termos: Eis o que dirás à família de Jacó, eis o que anunciarás aos filhos de Israel: Vistes o que fiz aos egípcios, e como vos tenho trazido sobre asas de águia para junto de mim. Agora, pois, se obedecerdes à minha voz, e guardardes a minha aliança, sereis o meu povo particular entre todos os povos. Toda a terra é minha, mas vós me sereis um reino de sacerdotes e uma nação consagrada. Tais são as palavras que dirás aos israelitas.
(Ex 14, 1-6)
A Eclesiologia judaica se estabelece nesta promessa, com suas condições. Trata-se de um solene comunicado à família de Jacó ou aos filhos de Israel e não a indivíduos isolados. A condição divina é a vivência dos preceitos de Deus (LEI): (se obedecerdes à minha voz e guardardes a minha aliança).
Como consequência, esta multidão será constituída como Povo (meu), separado (consagrado) entre todos os Povos da terra: (sereis o meu povo particular entre todos os povos.) E, por fim, terá uma missão cultual e um testemunho sobre Deus no mundo: (sereis um reino de sacerdotes e uma nação consagrada). Ex 20 é primeira fórmula de uma nova condição do Povo de Deus: O Decálogo é a constituição daquela Nação criada por Deus.
A Igreja no Período Profético
O auge da compreensão da Lei (Torah) ocorre no período profético, antes do Exilio da Babilônia, durante e mesmo no retorno. Destacam-se os grandes Profetas do Sul.
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No Centro da Teologia ou do Anúncio Profética, está a relação de Israel com Deus, marcada pPeálgaina 46 de 48
infidelidade (idolatria) e pela injustiça social, judeus maltratam judeus. Eles foram os grandes teólogos da Aliança, da Fidelidade e da Observância social da Lei.
Eles atualizaram o conhecimento de Deus, pois não bastava mais conhecer a Deus através de uma experiência Enoteísta (Deus do Clã), mas era o momento de confessar o pleno Monoteísmo.
A crítica social dos profetas que atingia diretamente as instituições religiosas, como o Templo e o Culto, reclamava uma verdadeira identidade social da Fé judaica. Não bastava um culto tecnicamente ordenado se a social era marcada pela assimetria, a injustiça e a opressão da viúva, do órfão e do estrangeiro. Textos fortes sacodem a consciência religiosa e social de Israel:
Ouvi a palavra do Senhor, príncipes de Sodoma; escuta a lição de nosso Deus, povo de Gomorra: De que me serve a mim a multidão das vossas vítimas? – diz o Senhor –. Já estou farto de holocaustos de cordeiros e da gordura de novilhos cevados. Eu não quero sangue de touros e de bodes. Quando vindes apresentar- vos diante de mim, quem vos reclamou isto: atropelar os meus átrios? De nada serve trazer oferendas; tenho horror da fumaça dos sacrifícios. As luas novas, os sábados, as reuniões de culto, não posso suportar a presença do crime na festa religiosa. Eu abomino as vossas luas novas e as vossas festas; elas me são molestas, estou cansado delas. Quando estendeis vossas mãos, eu desvio de vós os meus olhos; quando multiplicais vossas preces, não as ouço. Vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos. Tirai vossas más ações de diante de meus olhos. Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; fazei justiça ao órfão, defendei a viúva.
(Is 1, 10-17)
Muitos outros conceitos análogos, assim como uma imensa diversidade de experiências ao longo de toda a narrativa bíblica do Antigo Testamento, fundamentam a necessidade de reconhecer que, apesar de ser um evento da Fundação do próprio Cristo, a Igreja estava incoativa e modelar na experiência do chamamento de Israel, como Povo de Deus, seu Reino particular, pela Aliança e a vivência dos Mandamentos. Por uma forma social de vida na fraternidade baseada na justiça.
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Atividade
2. Tomando as narrativas mosaicas, de que maneira nelas encontram-se os marcos da eclesialidade
(Igreja) no AT? Traga textos do Êxodo que exemplifiquem esta questão.
Que relações se podem estabelecer entre o Povo de Israel e a Igreja? Escolha a opção CORRETA:
Não há elos entre Israel no AT e a Igreja do NT.
O Povo de Israel é a versão falida da Igreja no NT.
A Igreja do NT anulou plenamente o Povo de Israel.
O Povo de Israel não pode ser comparado à Igreja do NT.
Ambos representam a Aliança de Deus com a Humanidade
Referências
LOEHRER, Magnus; FEINER, Johannes. Mysterium salutis: Compêndio de Dogmática histórico- salvífica. Vol. IV. Petrópolis: Vozes, 1975.
Morbiolo, R. G. A doutrina sobre a Igreja: aspectos gerais de evolução histórica. Revista de Cultura Teológica (18), 71, p. 61-78, 2010.ROL
O PROTESTANTISMO BRASILEIRO. Estudo de eclesiologia e de história, social. Disponível em:
//www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/34900/37636. Acesso em: 22 ago. 2019.
PIÉ-NINOT, S. Introdução à Eclesiologia. São Paulo: Loyola, 1998.
Próxima aula
Fundação da Igreja, por Cristo e os diversos conceitos e experiências eclesiais no conjunto do Novo Testamento;
Evangelhos; Cartas Paulina; Apocalipse.
Explore mais
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Leia os textos:
SANTOS, P. P. A. O Espírito e a Igreja: As perspectivas do Novo Testamento, em particular dos Escritos Joaninos. Atualidade Teológica 21, p. 73-93, 2002.
ROLOFF, J. A Igreja no Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 2005.
RABUSKE, J. I. A Igreja em suas origens: Revisitando os Atos dos Apóstolos. Teocomunicação 42/1, p. 5-18, 2012.
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Teologia Sistemática III
Aula 07: A Igreja no Novo Testamento
Apresentação
Nesta aula, estudaremos a Igreja à luz da Revelação do Novo Testamento. Pudemos ver antes, na aula anterior, de que maneira o Antigo Testamento delineou
profeticamente a figura da Igreja, em diversas etapas da História de Israel.
Agora iremos refletir como, a partir dos Evangelhos e dos outros textos do Novo Testamento, partindo de Jesus, a Igreja é o maior evento da Redenção em sua definitividade.
Passaremos, assim, pelos Evangelhos, pelas Cartas e pelo Apocalipse. Mas será mister aprofundar nosso estudo nos Atos dos Apóstolo, registro histórico-teológico da Igreja nascente.
Objetivos
Identificar de que maneira Jesus, em sua trajetória histórico-messiânica, funda a Igreja na pessoa dos Apóstolos/Discípulos;
Examinar a experiência da Igreja no Livro dos Atos dos Apóstolos e como a pena de São Lucas delineou a silhueta da Igreja apostólica (Pedro/Paulo);
Analisar, por fim, as experiências das Cartas Paulinas, do Evangelho e do Apocalipse de São João.
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Jesus quis e fundou a Igreja?
(Fonte: thanasus / Shutterstock)
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Para falarmos da Igreja no Novo Testamento temos que apreciar primeiro a pergunta sobre as relações entre a existência de Igreja e a Pessoa de Jesus. De fato, o conceito teológico mais abrangente da Igreja é ser “de Cristo”.
Em que sentido na ação e ministério de Jesus se encontram alguns dos elementos essenciais do Mistério da Igreja? Podemos afirmar que Jesus quis e fundou a Igreja?
Um segundo elemento, que já estudamos e, por isso, se torna prévio às nossas reflexões eclesiológicas, é a Figura e Ação do Espírito Santo em relação à Igreja. Não por acaso, a dupla obra literária de São Lucas aponta para esta síntese: Onde está o Espírito Santo ali estará também a Igreja. Sem ele seria apenas um grupo empolgado de seguidores de um sujeito extraordinário.
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Ao contemplar este tema, deparamo-nos com uma tarefa enciclopédica, pois se aPbárgeina 3 de 67 para nósuma nova perspectiva, de certa maneira infinita de possibilidades, graças à multiplicidade de conceitos e experiências de Igreja que encontramos ao longo dos
diversos textos canônicos do Novo Testamento.
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Ora, por isso mesmo, traçaremos limites ao percurso pelo termo ekklesia no interior do Novo Testamento, restringindo-nos, assim, a alguns textos mais significativos na literatura Lucana, no Evangelho e nos Atos dos Apóstolos , na literatura Paulina, na qual faremos apenas uma breve alusão, tendo em vista a amplitude de uma tal empresa e, por fim, nos escritos Joaninos.
Na primeira parte de nossa exposição, buscaremos expor de modo sucinto os traços principais da eclesiologia bíblica, no âmbito dos Evangelhos Sinóticos e de Atos dos Apóstolos, onde se encontram juntos os dois paradigmas da realidade da Igreja no Novo Testamento.
De um lado, a experiência eclesiológica, como esta ocorre e vem experimentada. A Igreja
como realidade empírica.
Do outro, o conceito de Igreja, que surge da
consciência reflexiva, expressa na literatura
canônica como discurso de uma realidade.
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Os textos do Novo Testamento que selecionamos servirão de janelas, pelas quais, de
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certa maneira, pode-se captar o quadro geral da compreensão primitiva da Igreja Psáogbinrae4 de 67 si mesma e também sobre o Espírito Santo, atuante e imprescindível nesse processo de autoconsciência eclesial.
Em seguida, esboçaremos um perfil da Igreja no âmbito da realidade Joanina, determinando aquilo que se pode demonstrar a partir de uma visão oblíqua desta realidade, extraída dos textos mesmos.
De fato, a expressão ekklesia ocorre raramente nos textos Joaninos do Evangelho e das Cartas, estando mais presente no texto do Apocalipse. Contudo, como no conjunto da tradição literária neotestamentária, não se determina de modo inequívoco por uma determinada conceituação que respondesse à pergunta:
Mas afinal de contas, o que é a Igreja?
Une-se a esta questão outro elemento, não menos complexo, que é a ação do Espírito Santo no contexto do Cristianismo Primitivo. Trata-se da Esperança messiânica que se realiza através da Doação do Espírito Divino como um Sinal dos novos tempos, a superação do Mal e a instauração do definitivo Eon. A Igreja é o Novo Israel!
E, ao mesmo tempo, o discurso que a Igreja elabora sobre esta presença pneumática
em sua própria maneira de agir e anunciar o Cristo como único Salvador.
O Espírito Santo e o Mistério da Igreja no Novo Testamento
É muito ampla e diversificada a afirmação de fé e, sobretudo, muito rica a experiência do Espírito Santo no Novo Testamento.
Aqui cabe uma análise do ponto de vista da Igreja, seja porque ela o experimenta, seja porque ela fala sobre Ele, formulando um artigo de fé, em que afirma a Personalidade do Espírito de Deus, revelado definitivamente em Jesus Cristo.
(Fonte: legnda / Shutterstock)
Como dissemos, o Espírito é um objeto complexo em relação à Igreja, pois, de um lado, Ele mediu o conhecimento que a Igreja tem de si própria e, por outro lado, é a Igreja que fixa uma linguagem sobre o Espírito que corresponda à consciência Divina da 3ª Pessoa da Trindade, como a conhecemos na linguagem da tradição ortodoxa.
A Igreja só conhece seu Mistério quando em contato com o Espírito, pois este dá acesso ao âmago do Cristo e, assim, ao epicentro de sua consciência enquanto Igreja.
A Perspectiva Igreja-Espírito na obra de Lucas-Atos
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Leitura
Sobre este assunto leia:
RABUSKE, J. I. A IGREJA EM SUAS ORIGENS: Revisitando os Atos dos Apóstolos.
Teocomunicação 42/1, p. 5-18, 2012.
Muitos são os caminhos para demonstrar este axioma a partir do Novo Testamento. Assim, temos que enfrentar a questão sobre as relações históricas entre Jesus e a fundação da Igreja.
Sobre Loisy e o Modernismo
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Tomamos aqui o termo modernismo em sentido teológico, sabendo embora que outros sentidos lhe andam também ligados, como são os sentidos literário e artístico. Em sentido teológico trata-se de um movimento desencadeado na Igreja Católica na viragem do séc. XIX para o séc. XX com o objetivo de adaptar a doutrina e as estruturas do catolicismo às tendências do pensamento
contemporâneo. Os adeptos deste movimento pretenderam assumir-se como renovadores da Igreja para melhor a adaptar às condições modernas do pensamento e da ação. Na medida em que este foi um movimento que partiu do interior da Igreja, e para defesa da mesma Igreja, os modernistas não desejaram, pelo menos à partida, romper com o catolicismo, mas adaptá-lo às exigências da modernidade, e por isso chegou a ser apresentado como uma autêntica renascença católica. Em 1900 Adolfo Harnack publica o seu livro A Essência do Cristianismo, enquanto Loisy inicia um curso de ciências religiosas na Escola de Altos Estudos.
FELICIO, M. R. A Viragem do século (XIX-XX). O Modernismo. Mathesis 11 (2002), 373-387. Disponível em:
//www4.crb.ucp.pt/biblioteca/Mathesis/Mathesis11/mathesis11_373.pdf Acesso em 31 de julho de 2019
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Saiba mais
Leia também o documento oficial da Igreja sobre o Modernismo de Pio X.
Para esta corrente de pensamento já ultrapassada, a Igreja se institui a si própria diante da frustração da Parusia, entendida como tardia e, portanto, obrigando os dirigentes
eclesiásticos a remodelarem as expectativas e substituí-las por uma forma estável, institucional.
Os Evangelhos colocam o problema de outra maneira:
Cristo toma a iniciativa de compor um grupo de discípulos mais estreito às suaPságina 8 de 67
tarefas, que se distinguirá de outros, os 72 ou ainda discípulos da multidão, pela designação de ‘Apóstolos’.
É o que se lê, por exemplo em Lc 9, 1-6 e paralelos:
Reunindo Jesus os doze apóstolos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curar enfermidades. Enviou-os a pregar o Reino de Deus e a
curar os enfermos. Disse-lhes: “Não leveis coisa alguma para o caminho, nem bordão, nem mochila, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas. Em qualquer casa em que entrardes, ficai ali até que deixeis aquela localidade. Onde ninguém vos receber, deixai aquela cidade e em testemunho contra eles sacudi a poeira dos vossos pés”. Partiram, pois, e percorriam as aldeias, pregando o Evangelho e fazendo curas por toda parte.
(Mt 14,1s = Mc 6,14ss)
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Lumem Gentium, que lemos na aula passada, também indica elementos sobre esta questão das relações entre Cristo, em sua etapa histórica e a Igreja:
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Veio pois o Filho, enviado pelo Pai, que n'Ele nos elegeu antes de criar o mundo, e nos predestinou para sermos seus filhos de adopção, porque lhe aprouve reunir n'Ele todas as coisas (cf. Ef 1, 4-5. 10). Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos Céus e revelou-nos o seu mistério, realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. Tal começo e crescimento exprimem-nos o sangue e a água que manaram do lado aberto de Jesus crucificado (cf Jo 19,34), e preanunciam-nos as palavras do Senhor acerca da Sua morte na cruz: “Quando Eu for elevado acima da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32 gr). Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” (1 Cor 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção (LG 3).
(Paulo VI, 1965, 3) Disponível em: //www.vatican.va. Acesso em 31 de julho de 2019.
E ainda sob a lógica teológica do Reino de Deus (Mc 1,15: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho”), a mesma LGafirma:
O mistério da santa Igreja manifesta-se na sua fundação. O Senhor Jesus deu início à Sua Igreja pregando a boa nova do advento do Reino de Deus prometido desde há séculos nas Escrituras: “cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15; cf Mt 4,17). Pelo que a Igreja, enriquecida com os dons do seu fundador e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai crescendo, suspira pela consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao seu Rei na glória.
- (Paulo VI, 1965, 5.): cf.
//www.vatican.va
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Aqui cabe recordar que os estudiosos falam de Atos dos Apóstolos como obra histórico-teológica sob a égide do Evangelho Lucano que, de certa maneira, estende-se e autoexplicita-se na história e na práxis da Igreja das primeiras horas.
Nesses relatos surge um elemento
comum e paralelo entre o Espírito e a Igreja, em relação a Jesus o Cristo: o testemunho. Em todos eles o testemunho é ocular (trata-se de experiência da visão profético-pneumática). Por isso estes são considerados as testemunhas que
corroboram aos leitores/ouvintes do Evangelho seu caráter de portadores de anúncio do Evento Divino.
Esse processo encontra-se de modo definitivo e acabado nos Discursos de Pedro e dos Apóstolos nos Atos. Trata-se de uma voz humana. Divina aquela da Igreja, que anuncia e realiza com serrais o Evento Redentor e seu Epicentro no mundo! (Ao lado da autoridade Pétrea, aquela de Tiago cf. Atos 15,28).
Aqui, ressalta-se o centro da consciência da Igreja. Ela viu e sabe o que viu. Ele diz e afirma aquilo que Deus fizera através da Mediação Definitiva de seu Filho Jesus de Nazaré (cf Joel 3 coloca o acento da Revelação da Igreja sob a égide da escatologia pneumática, típica do ambiente primitivo).
Dois elementos unem-se e complementam-se nos textos da obra Lucana: Sinais- milagres, isto é, evento numinoso da continuidade histórica de Jesus o Ressuscitado em relação à sua Igreja, e a revelação do Plano Significado de sua obra. Ação Divina e
acesso a significação, ou seja, a consciência de ser intérprete autorizada dos Eventos que sinalizam uma Presença Potente. Pedro, na primeira parte de Atos, sinaliza no seu apostolado os gestos e situações de Jesus: ele sofre espancamentos (At 5, 40; 12,1-14), sua sombra cura doentes (At 5, 15s) e ele ressuscita uma pessoa (Tabita: At 9,37).
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A Perspectiva Igreja- Espírito no “Corpus Paulinum”
Não poderíamos abandonar o Novo Testamento sem uma rápida, mas
conclusiva, visão da obra Paulina nas Cartas. O Primeiro testemunho literário cristão, as cartas autênticas e dêuteropaulinas, oferece-nos um memorial muito importante da relação entre o Espírito e a missão-essência da Igreja.
Aqui é irrefutável dizer que Lucas-Paulo- João, como o conjunto dos textos canônicos do Novo Testamento, se inter- relacionam profundamente e ao mesmo tempo distinguem-se entre si como uma característica própria ao ambiente do Cristianismo Primitivo. Isto é, unidade e diferença equilibram-se sobre o fundamento de uma experiência de
Revelação e Testemunho do Conteúdo Vital da Redenção.
(Fonte: Janece Flippo / Shutterstock)
Arauto de Cristo, a Eclesiologia Paulina exibe traços carismáticos evidentes. Trata-se de uma forma social que se autocompreende a partir da Revelação do Espírito de Cristo.
Paulo entende que conhecer Cristo se realiza na Igreja.
Isto fica patente em sua própria experiência pessoal de Conversão na qual a Igreja e Cristo se identificam: At 9, 4s (Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia:
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“Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Saulo disse: “Quem és, Senhor?”
Respondeu ele: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues. [Duro te é recalcitrar contra o aguilhão]) pois aquilo que somos eclesialmente realiza-se somente na explicita comunhão com Ele, por meio do Dom e da Promessa (cf Rm 8,10).
A Igreja em João e o Evangelho de João na Igreja
(Fonte: Casezy idea / Shutterstock)
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O Cristianismo (Eclesialidade) em João é considerado distinto no que tange à questão do conceito de Igreja nos Escritos Joaninos e da discussão do uso destes documentos, particularmente do Evangelho, na Igreja Antiga.
Mesmo não encontrando o termo ekklesia no Evangelho, a discussão coloca-se a partir de textos como:
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Jo 10, 1-10; 15, 1-15, ou ainda o cap 17 com a oração sacerdotal de Jesus, mais claramente ainda nos discursos de Adeus (Jo 14-16).
Nestes discursos sublinha-se uma relação de continuidade entre Jesus Glorificado e a comunidade dos seus discípulos, indicando-nos assim uma forma de concepção Joanina de Igreja (suposição que encontra certa confirmação em 1 Jo).
O problema se coloca sobre a possibilidade de deduzir uma concepção Joanina de Igreja a partir de textos Joaninos relevantes.
O autor cita a discussão entre E. Schweizer, como representante da visão protestante e
R. E. Brown, como representante da tese católica.
Para Smith, mesmo considerando o valor do debate dogmático, isto é, sobre a doutrina eclesiológica desenvolvida tanto em campo católico como naquele Protestante, o
conceito de comunidade cristã ou Igreja não seria irrelevante para a definição e a
compreensão da realidade específica, concreta e histórica do Cristianismo Joanino.
Assim, enquanto o conceito de comunidade cristã ou da Igreja, na literatura Joanina,
certamente não é irrelevante para a definição e a compreensão da realidade concreta e específica da história do cristianismo Joanino, o esclarecimento deste conceito pode ser possível com base na própria exegese (SMITH, 1987, p. 3, tradução nossa).
Atenção
É importante ainda ressaltar que a exegese destas perícopes discutidas deverá ajudar- nos a superar o conflito das interpretações para obter a visão mais objetiva possível desta realidade eclesial tão específica.
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Elementos Eclesiológicos nos Escritos Joaninos
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I. Segregação-Separação
Uma simples leitura de diversos textos Joaninos deixa-nos a impressão de que por detrás de certas expressões existe um claro sentimento de distinção ou mesmo separação do que os circundava. Encontra-se, porém, nos textos Joaninos certa
concepção de missão.
Diversos elementos diferenciam a eclesiologia, isto é, a compreensão da Igreja na tradição Joanina em relação aquela Paulina ou Lucana. Destacam-se, entre outros elementos, os seguintes:
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O Paráclito
A questão da Pneumatologia seria um elemento importante na identificação dos elementos Joaninos (isto é, do material propriamente Joanino). O mais importante é a possibilidade de afirmar que os discursos de Jesus sobre o Espírito constituem, verdadeiramente, o principal material de constatação da existência de um conteúdo tradicionalmente joanino. Temos, entre os Capítulos 14-16, os discursos de Adeus sobre o Espírito e a Igreja, que constituem a matéria básica da identidade e da missão nas Igrejas Joaninas.
A Figura do Discípulo Amado
Esta figura tem uma significativa importância para o problema das origens do Joanismo. No cap. 21, ele é apresentado como uma figura histórica, conhecida por todos. Ele representa, desde o princípio, um elo entre a Teologia dos Escritos e a Tradição.
Neste sentido, os círculos de tradição Joanina, por meio do Discípulo Amado, eram associados à pregação genuína de Jesus, Ele mesmo. Pelo “nós”, presente em tantos textos do Evangelho e da Iª Carta, eles sentiam-se em continuidade com a Tradição de Jesus Histórico. Como testemunha desta Tradição de Jesus.
Outra maneira de afirmar este campo comum à chamada Tradição Joanina é o usopolêmico entre os diversos setores ao interno do ambiente Joanino em relação à interpretação ortodoxa (autêntica) da mesma tradição. Apesar da característica autonomia da tradição Joanina, esta encontra seu terreno de nascimento e evolução no solo comum das tradições da Igreja Primitiva.
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Outro elemento característico muito importante no Joanismo seria a atividade profético-carismática, que desempenhava um papel importante no desenvolvimento da Tradição Joanina. Se o Judaísmo sectário era presente na germinação da
Tradição Joanina, a profecia inspirada poderia muito bem prover uma ocasião específica para a emergência da afirmação cristã-joanina, na forma de Palavras de Jesus.
Contudo, este fenômeno se estenderia, sem dúvida, a toda literatura neotestamentária como uma forte característica do ambiente religioso da Cristandade Primitiva.
Dentro desta perspectiva, torna-se importante considerar o fenômeno da profecia inspirada e itinerante dentro do âmbito do movimento eclesial Joanino, como um dos elementos que ajuda a estabelecer a origem social e eclesial da pneumatologia e também como um elo de relação entre os escritos joaninos.
Vê-se nos ditos do Paráclito de 14, 5-6 e 16, 12-15, a enunciação de uma teoria sobre o fenômeno de expressão inspirada pelo espírito que visa, por um lado, fundamentar-se no próprio ministério histórico de Jesus e assim validá-lo (14, 26) e, por outro, conferir algum controle sobre ele, colocando-o dentro do contexto para uma representação de Jesus que não era apenas a palavra se tornar carne, mas aquele que falava palavras com o status irrevogável dos mandamentos divinos.
Quando na 1 Jo vê-se os vestígios do mesmo aspecto problemático do processo Joanino de criatividade inspirada pelo espírito, descobre-se que o autor invoca reiteradamente a Tradição (1, 1-4) como a pedra de toque da crença e a impõe a seus leitores para testar todo espírito (4, 1-6).
O ambiente profético-carismático:
A Igreja no Livro do Apocalipse
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(Fonte: Wesley Almeida / cancaonova.com)
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Se, a tradição Joanina das Igrejas estabelece-se, como vimos, a partir de uma leitura crítica do Evangelho/Cartas Joaninas, o Apocalipse une-se a este bloco, mesmo com profundas diferenças, sobretudo pela característica atividade profético-carismática da Comunidade dos profetas-Irmãos de João, o Vidente.
I. Apoc 1,10: Uma Joanina experiência “profética”?
Estamos diante de um elemento constitutivo da experiência “profética” neotestamentária, ou melhor, cristã?
Já no Antigo Testamento, os profetas experimentam a visão como instrumento privilegiado na Revelação Divina.
Na profecia clássica não ocorrem, como no ciclo de Elias e Eliseu e nas corporações proféticas, o fenômeno de uma recepção extática ou espetacular do Espírito por parte dos ungidos ou dos profetas. Parece que o próprio João reconhece-se, na linguagem desta experiência, inserido dentro da esfera profético-comunitária.
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João descreve as circunstâncias da sua chamada como uma atividade proféticaP, ápgoinisa 18 de 67
com o Espírito se estabelece um contato particular, novo, ao ponto de o Espírito tornar- se como âmbito no qual ele se move.
A Igreja no Apocalipse situa-se na experiência da visão/audição do vidente de Patmos (cf Ap 1,10; 4,2), no contexto da profecia cristã primitiva, sobretudo no atormentado momento eclesial sob o domínio de Domiciano.
São-nos revelados aspectos da vida da Igreja no período do cumprimento escatológico da promessa e do retorno glorioso de Cristo diante das concretas circunstâncias da perseguição e do sofrimento por causa do Evangelho.
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na paciência em união com Jesus, estava na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Em um domingo, fui arrebatado pelo Espírito, e ouvi, por trás de mim, voz forte como de trombeta (Ap 1, 9s).
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Para compreender a expressão de Ap 1,10, deve-se partir da premissa da mudança de papel da parte do Vidente, pois seu banimento teria sido o trauma mais forte no
conjunto das situações de tensão no interior das Igrejas. Ele se vê praticamente obrigado a escrever, a manter uma relação de correspondência com suas comunidades, que se tornam seus leitores.
Assim ele tenta demonstrar. A linguagem profética de João é justificada pela sua distância física, mas também pelo fato de que aqueles a quem ele envia sua mensagem (revelação) são, como ele, profetas, isto é, possuem o mesmo Espírito.
Por trás disso fundamenta-se a relação entre o livro e sua mensagem: a communPiátgaisna, 19 de 67
razão pela qual encontramos tal linguagem e um semelhante vocabulário difuso na cultura apocalíptica do mundo mediterrâneo e da Ásia Menor de então, devidamente
transformada, ou melhor, adaptada ao patrimônio (de fé) comum ao autor e às Igrejas do Apocalipse (como vemos nas Cartas às 7 Igrejas: Ap 2,1-3,22).
O Vidente de Patmos se autocompreende e se apresenta às comunidades baseado sobre a autoridade deste múnus profético e suas visões consistiriam em profecias de sustento e encorajamento.
“Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”
Neste momento terá lugar de relevo a questão do falar do Espírito, particularmente na seção de Ap 2–3, nas mensagens às Igrejas (comunidades) da Ásia Menor. Esta questão funcionará para compreender e situar o fenômeno da Profecia, como um fator enfático na relação lógica entre o Espírito e a Igreja, delineada a partir da irrupção deste Espírito. Na História, a Igreja atua A Palavra de Deus e o Testemunho de Jesus diante do mundo hostil.
Atividade
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1. A partir da leitura de A Igreja em suas origens: Revisitando os Atos dos Apóstolos, indique alguns elementos da Igreja nos Atos dos Apóstolos que sejam mais
característicos dela.
2. Em Ap 1,9-10, encontra-se uma citação sobre o Espírito e a Profecia. Explique de que maneira eles se relacionam na Igreja do Apocalipse.
A palavra Igreja vem do grego, ecclesia, que significa assembleia ou reunião. O qPuáegiinsas2o0 de 67
pode significar na realidade e na atuação das igrejas? Escolha a resposta CORRETA:
As igrejas devem, por isso, incentivar a fé pessoal e dissociada das relações sociais.
A atuação das igrejas deve realizar exclusivamente nas redes sociais que congregam as pessoas.
A Igreja é fruto das sociedades, sem as quais ela não tem sentido e razão de ser.
As igrejas são assembleias de privilegiados, de poucos que podem se salvar deste mundo.
A Igreja é sinal de unidade e de reunião de todos os Povos para a Salvação em Cristo.
Referências
SANTOS, P. P. A. O Espírito e a Igreja: As perspectivas do Novo Testamento, em particular dos Escritos Joaninos. Atualidade Teológica 21, p. 73-93, 2002.
ROLOFF, J. A Igreja no Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 2005.
RABUSKE, J. I. A IGREJA EM SUAS ORIGENS: Revisitando os Atos dos Apóstolos. Teocomunicação 42/1, p. 5-18, 2012.
Próxima aula
Questão da Igreja nas diversas tradições cristãs; Ecumenismo.
Explore mais
Leia os textos:
UNITATIS REDINTEGRATIO. SOBRE O ECUMENISMO;
Re-pensando ecumenismo;
BRAKEMEIER. ECUMENISMO: REPENSANDO O SIGNIFICADO E A ABRANGÊNCIA DE UM TERMO. Persp. Teo. 33, p. 195-216, 2001;
WOLFF, E. O ecumenismo no horizPoágnintea 1d1o4 dCeo1n6c1ílio Vaticano II. Atualidade TeolóMgaiucricaioS.aramago
Ano XV nº 39, p. 403-428, 2011;
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ALTMANN, W. EVANGELIZAÇÃO: Reflexão a partir de Lutero e no contexto
ecumênico protestante mundial. Estudos Teológicos. v. 16, n. 1, p. 18-29, 1976.
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Teologia Sistemática III
Aula 08: A Igreja nas diversas tradições cristãs
Apresentação
Nesta aula, exploraremos uma das tarefas mais complexas na vida das igrejas
cristãs no século XX, o Ecumenismo. Aquichamamos de complexa, pois se viveu durante séculos em uma atmosfera de contendas e conflitos violentos entre cristãos. Guerras, mortes, difamações e perseguições recíprocas construíram muros quase intransponíveis.
Mas o século XX, após o pavoroso panorama do Nazismo e da Segunda Guerra, exigiu novos comportamentos que buscassem construir uma atmosfera de paz e diálogo entre os povos.
A Religião e o próprio Cristianismo não poderiam ficar fora desse esforço humanitário. Religião, que indica não só comunhão com o Divino, com o
Transcendente, mas também união entre os seres humanos, a construção de uma rede fraterna e solidária.
As palavras voam velozes e lisonjeiras, mas a realidade é mais complicada. Nela sempre temos um arsenal de motivos para estar separados e em conflitos.
Por isso, pode-se denominar o Ecumenismo como a arte do Espírito Santo nas Igrejas de Cristo. Uma verdadeira revolução nos comportamentos e métodos de evangelização cristã.
Objetivos
Examinar os significados e desafios do conceito e da experiência do
Ecumenismo;
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Analisar, no estudo do Ecumenismo, os aspectos teológicos do Diálogo entPreágainsa 23 de 67
igrejas cristãs.
Os dois fundamentos
(Fonte: Sogno Lucido / Shutterstock)
Partiremos de dois Princípios fundamentais para iniciar nossa aula:
O primeiro fundamento se origina da Cristologia: a Fé em Cristo produz e garante a unidade dos cristãos?
O segundo fundamento perpassa a Eclesiologia: de que maneira a Igreja de Cristo
se traduz em diversas igrejas particulares e separadas?
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O Documento Unitatis Redintegratio (a Reintegração da Unidade)
Com alguns conceitos deste documento do Vaticano II, passamos às análises sobre a questão do Ecumenismo.
I. Significado
A palavra é de origem grega e significa o universo (casa) dos habitantes que
compartilham algo em comum entre si, mesmo pertencendo a etnias e regiões diversas do mundo:
Essa palavra tem origem no vocábulo grego oikoumene. Este, por sua vez, é derivado da palavra oikos, que significa casa, lugar onde se vive, espaço
onde se desenvolve a vida doméstica, onde as pessoas têm um mínimo de bem-estar. Ecumênico significa abranger toda espécie humana, em sentido
UNIVERSAL.
Esta universalidade engloba pelo menos as seguintes dimensões:
1
Geográfica
Se estende a todos os lugares e recantos da terra.
2
Cultural
Envolve os povos de diversas culturas ou modos de viver.
3
Política
Considera todos os povos, independentemente do sistema político em que vivam.
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4
De gênero
Supera as discriminações de gênero ou identidade sexual.
5
Social
Supera as discriminações sociais e de classe.
6
Racial
Supera as discriminações raciais ou as decorrentes da cor da pele.
Saiba mais
Sobre uma visão ecumênica não católica do Concilio Vaticano II, em particular deste Documento Unitatis Redintegratio: PEREIRA, G. L. Direções para a espiritualidade ecumênica: um olhar de um não católico sobre Unitatis Redintegratio. Atualidade Teológica 53, p. 281-293, 2016.
No Novo Testamento, essa palavra é usada em várias ocasiões para se referir ao mundo inteiro, a toda a terra e ao mundo vindouro.
Mateus 24, 14.
Lucas 2, 1; 4, 5; 21, 26.
Atos 11, 28.
Romanos 10, 18.
Hebreus 1, 6;2, 5.
Apocalipse 12, 9.
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Promover a restauração da unidade entre todos os cristãos (1) é um dos principPaáigsina 26 de 67
propósitos do sagrado Concílio Ecumênico Vaticano II. Pois Cristo Senhor fundou uma só e única Igreja (2). Todavia, são numerosas as Comunhões cristãs que se apresentam aos homens como a verdadeira herança de Jesus Cristo (3). Todos, na verdade, se professam discípulos do Senhor, mas têm pareceres diversos e caminham por rumos diferentes (4), como se o próprio Cristo estivesse dividido (Unitatis Redintegratio 1:) cf Fonte: //www.vatican.va.
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Unitatis Redintegratio (UR)
Clique no botão acima.
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O significado conotativo é mais complexo e desafiador. Partimos das definições dadas no documento Unitatis Redintegratio (UR):
Restauração da unidade entre todos os cristãos (UR 1)
Esta é a definição da tarefa ecumênica. Dar voz e corpo à vocação originária dos cristãos, a unidade. Encontrar aspectos comuns e válidos proveniente do Depósito da Fé, que estabeleçam pontes entre todos aqueles que professam a Fé em Cristo no mundo inteiro.
Pois Cristo Senhor fundou uma só e única Igreja (UR 1)
Este é um dos pontos mais complexos no diálogo ecumênico. Cristo que funda uma única Igreja. Na verdade, segundo o Novo Testamento, há um único Pastor, mas muitos rebanhos. A Igreja apostólica é a única igreja fundada pela morte e ressurreição de Cristo.
Todavia, são numerosas as Comunhões cristãs que se apresentam aos homens como a verdadeira herança de Jesus Cristo
Aqui se coloca o entrave entre a história, em sua sucessão de eventos concretos e os Princípios que pairam como critério sobre os fatos. De um lado, uma fé
confessada sobre os quatro Evangelhos, do outro, o desenvolvimento de
tradições eclesiásticas que se distinguem e identificam às vezes em contrastes as diversas identidades cristãs. Numerosas e contrastantes.
Todos, na verdade, se professam discípulos do Senhor, mas têm pareceres diversos e caminham por rumos diferentes.
O conceito de discípulos do Senhor reorganiza a vida eclesial. Não são as igrejas e suas estruturas o centro da questão ecumênica, mas o discipulado de Cristo, em torno do qual se legitimam as confissões cristãs.
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II. Princípios Teológicos (Cristológico)
(Fonte: Igoror / Shutterstock)
Jo 10. 16:
Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor.
(Fonte: Igoror / Shutterstock)
Efésios 4:1-6
Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.
Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.
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Por isso, muitas igrejas cristãs entenderam seu dever de buscar a unidade, construir uma cultura religiosa e teológica para reintegrar-se na unidade (Unitatis Redintegratio).
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Diálogos da Igreja Católica
(Fonte: Maleo / Shutterstock)
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A Igreja Católica, desde seu último Concílio (Vaticano II: 1962-1965), tem realizado esforços para realizar e concretizar práticas ecumênicas dentro de seu rebanho e estabelecer cada vez mais um diálogo frutuoso com as outras denominações cristãs.
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I. Concílio Vaticano
O Concílio Vaticano II (CVII), XXI Concílio Ecumênico da Igreja Católica, foi
convocado no dia 25 de Dezembro de 1961, através da bula papal Humanae salutis, pelo Papa João XXIII. Este mesmo Papa inaugurou-o, a ritmo extraordinário, no dia 11 de outubro de 1962. O Concílio, realizado em 4 sessões, só terminou no dia 8 de dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI. Nestas quatro sessões, mais de 2.000 Prelados
convocados de todo o planeta discutiram e regulamentaram vários temas da Igreja Católica. As suas decisões estão
expressas nas 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações elaboradas e aprovadas pelo Concílio.
(Font: //www.vatican.va)
(Fonte: Zaur Rahimov / Shutterstock)
II. Conselho Mundial das Igrejas
Este esforço já se concretizara também com a criação do Conselho Mundial das Igrejasque se dispôs a congregar e animar o diálogo e a convivência entre as diversas denominações cristãs:
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(Fonte: Jambronk / Shutterstock)
O Conselho Mundial de Igrejas (CPMágIin-a 31 de 67 World Council of Churches, WCC) é a principal organização ecumênica em nível internacional, fundada em 1948, em Amsterdam, Holanda. Com sede em
Genebra, Suíça, o CMI congrega mais de 340 igrejas e denominações em sua membresia. Estas igrejas e
denominações representam mais de 500 milhões de fiéis presentes em mais de 120 países.
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O atual secretário geral do CMI é Olav Fykse Tveit, luterano da Noruega, e o Moderador do Comitê Central é Walter Altmann, luterano do Brasil, eleito após a IX Assembleia Geral, realizada em Porto Alegre, Brasil, em fevereiro de 2006. Entre seus membros estão igrejas protestantes e ortodoxas, além de algumas
denominações pentecostais (evangélicas) e independentes.
A Igreja Católica não tem nenhum vínculo e não faz parte da organização, mas tem com ela um grupo de trabalho permanente e participa como membro pleno de algumas
comissões, como a Comissão de Fé e Ordem, e a Comissão de Missão e Evangelismo. Atualmente propugna-se por um Fórum Cristão Global, num intento sem vínculos institucionais, de trazer a uma só mesa de diálogo todas as grandes famílias cristãs: ortodoxa, católica, anglicana e protestante (incluindo esta última aos pentecostais ou evangélicos).
Após terem sido realizados encontros regionais - o Fórum Cristão Global Latino- americano e Caribenho tendo sido realizado em junho de 2007, em Santiago do Chile -, realizou-se o primeiro Fórum Cristão Global em Limuru, no Quênia, em novembro de 2007.
Ecumenismo
Importante retomarmos nossa leitura sobre os princípios teológicos do Ecumenismo:
O Senhor dos séculos, porém, prossegue sábia e pacientemente o plano de sua graça a favor de nós pecadores. Começou ultimamente a infundir de modo mais abundante nos cristãos separados entre si a compunção de coração e o desejo de união (1). Por toda a parte, muitos homens sentiram o impulso desta graça. Também surgiu entre os nossos irmãos separados, por moção da graça do Espírito Santo, um movimento cada vez mais intenso em ordem à restauração da unidade de todos os cristãos. Este movimento de unidade é chamado ecumênico. Participam dele os que invocam Deus Trino e confessam a Cristo como Senhor e Salvador, não só individualmente, mas também reunidos em assembleias (2). Cada qual afirma que o grupo onde ouviu o Evangelho é Igreja sua e de Deus. Quase todos, se bem que de modo diverso, aspiram a uma Igreja de Deus una e visível, que seja verdadeiramente universal e enviada ao mundo inteiro, a fim de que o mundo se converta ao Evangelho e assim seja salvo, para glória de Deus (3).
A Eclesiologia é outro princípio importante sobre a questão ecumênica. Trata-se de uma teologia acerca da Igreja.
O ecumenismo não é uma estratégia de boa vizinhança, mas um gesto de Fé. A Igreja é sinal da Unidade Humana adquirida pela Cruz e Ressurreição de Cristo, um desejo de Cristo.
(Fonte: thanasus / Shutterstock)
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Começou, ultimamente, a infundir de modo mais abundante nos cristãos sepaPráagdinoa s33 de 67
entre si a compunção de coração e o desejo de união. Os cristãos, espalhados em diversas denominações, devem se interessar pelo diálogo, o mesmo que a Igreja de Pedro e Paulo, nos Atos dos Apóstolos, estabeleceu com Judeus e Gregos.
Por toda a parte, muitos homens sentiram o impulso desta graça. Também surgiu entre nossos irmãos separados, por moção da graça do Espírito Santo, um movimento cada vez mais intenso em ordem à restauração da unidade de todos os cristãos. Este movimento de unidade é chamado ecumênico. Participam dele os que invocam Deus Trino e confessam a Cristo como Senhor e Salvador, não só individualmente, mas também reunidos em assembleias.
Uma ação do Espírito Santo, isso define o desejo irresistível dos cristãos separados propensos à UNIDADE: “um movimento cada vez mais intenso em ordem à restauração da unidade de todos os cristãos”.
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Atenção
O Ecumenismo, por isso, supõe dois elementos uníssonos: de um lado a Pneumatologia, que já pudemos apreciar em aulas passadas e, do outro, o primeiro fruto de Pentecostes, a Igreja, Mistério da Comunhão com Deus e entre os Homens.
Este é o sagrado mistério da unidade da Igreja, em Cristo e por Cristo, realizando o
Espírito Santo a variedade dos ministérios. Deste mistério o supremo modelo e princípio é a unidade de um só Deus, o Pai e o Filho no Espírito Santo, na Trindade de pessoas (UR 2)
(Fonte: //www.vatican.va)
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Aqui as Igrejas se inspiram nas palavras de São Paulo, citada acima em Ef 4:1-6. Será que este será o rumo do futuro? Igrejas com diferenças tão profundas serão capazes de produzir líderes menos sectários?
Video
Vejam este vídeo: União das igrejas e a profecia.
Um movimento ecumênico mundial?
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Por movimento ecumênico entendem-se as atividades e iniciativas, que são suscitadas e ordenadas, segundo as várias necessidades da Igreja e oportunidades dos tempos, no sentido de favorecer a uestanidade dos cristãos (1). Tais são: (2) primeiro, todos os esforços para eliminar palavras, juízos e ações que, segundo a equidade e a verdade, não correspondem à condição dos irmãos separados e, por isso, tornam mais difíceis as relações com eles; (2) depois, o «diálogo» estabelecido entre peritos competentes, em reuniões de cristãos das diversas Igrejas em Comunidades, organizadas em espírito religioso, em que cada qual explica mais profundamente a doutrina da sua Comunhão e apresenta com clareza as suas características.
Com este diálogo, todos adquirem um conhecimento mais verdadeiro e um apreço mais justo da doutrina e da vida de cada Comunhão. (3) Então estas Comunhões conseguem também uma mais ampla colaboração em certas obrigações que a consciência cristã exige em vista do bem comum. E onde for possível, reúnem-se em oração unânime. (4) Enfim, todos examinam a sua fidelidade à vontade de Cristo acerca da Igreja e, na medida da necessidade, levam vigorosamente por diante o trabalho de renovação e de reforma (UR 4)
Fonte: //www.vatican.va
Quatro aspectos nos ajudam a entender com lucidez quais seriam as propostas e desafios às eclesialidades cristãs diante da tarefa ecumênica.
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I. Primeiro
As atividades e iniciativas, que são suscitadas e ordenadas, segundo as várias necessidades da Igreja e oportunidades dos tempos, no sentido de favorecer a unidade dos cristãos.
É preciso traçar com clareza o significado do movimento ecumênico, em um
contexto socioeclesial, e todas as forças sociais empregadas na construção de um diálogo efetivo e concreto entre cristãos.
O ecumenismo, por suas óbvias dificuldades, exige um conjunto de ações ordenadas pelo sopro do Espírito Santo, que orienta as Igrejas na construção de horizontes mais francos de unidade.
II. Segundo
O diálogo estabelecido entre peritos competentes, em reuniões de cristãos das diversas Igrejas em Comunidades, organizadas em espírito religioso, em que cada qual explica mais profundamente a doutrina da sua Comunhão e apresenta com clareza as suas características.
O estabelecimento do diálogo significa uma ativação lúcida e humilde da vontade firme de criar pontes, escutas e conhecimento recíproco. Constitui a etapa mais difícil e fundamental na construção de um verdadeiro ecumenismo. Não há unidade sem conhecimento recíproco e aceitação dos valores do outro.
Ao mesmo tempo, este diálogo exigirá dos peritos competentes que dialoguem entre tradições que passaram séculos se ofendendo e por isso se desconhecem e não se respeitam. Exigirá também um grupo especializadoem conhecer a verdade do outro e expor a própria. O diálogo não se estrutura à base de opiniões e
preconceitos. Tudo começa com a disposição eclesial de se colocar em escuta recíproca.
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Também uma mais ampla colaboração em certas obrigações que a consciência cristã exige em vista do bem comum.
Estabelecidas as bases de conhecimento recíproco, por meio do diálogo, criam-se as condições para uma convivência que respeite os valores alheios.
Nesse momento, nascerá a ocasião de colaborar, em particular na construção de um mundo, do entorno das igrejas, mais semelhante. O diálogo ecumênico sem ação social comum entre as igrejas cristãs indica uma ação estéril entre amigos e
não transforma as energias boas do diálogo em bem repartido com o mundo (bem comum).
III. Terceiro
IV. Quarto
Todos examinam a sua fidelidade à vontade de Cristo acerca da Igreja e, na medida da necessidade, levam vigorosamente por diante o trabalho de renovação e de reforma.
Alguns conceitos-experiências brotarão frutuosos da consecução de atividades
ecumênicas entre igrejas somente se, como resultado do diálogo ecumênico, surgir nas igrejas, graças ao conhecimento daquilo que o Espírito Santo suscitou em todos os cristãos, um renovado e decidido trabalho de renovação e reforma.
Não se edifica a unidade com mesmices e apegos orgulhosos. Somente com uma
corajosa humildade oriunda do reconhecimento recíproco o ecumenismo levará as igrejas a um verdadeiro desenvolvimento.
Atividade
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1. Jo 10. 16: Leia esta passagem no seu contexto e, tendo em conta o conceito de ecumenismo, explique o que Jesus afirmou nesta passagem.
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2. “Também uma mais ampla colaboração em certas obrigações que a consciêncPiaágcinrais3t7ãde 67
Rexeigfeeermênvicsitaasdo bem comum”. De acordo com esta passagem de UR existe uma relação entre o ecumenismo e ao bem comum. Explique esta ilação.
ALTMANN, W. Evangelização: Reflexão a partir de Lutero e no contexto ecumênico
protestante mundial. Estudos Teológicos. v. 16, n. 1, p. 18-29, 1976.
BRAKEMEIER, G. Ecumenismo: Repensando o significado e a abrangência de um termo. Persp. Teo. 33, p. 195-216, 2001.
ROTTERDAN, Sandson. Re-pensando ecumenismo. Disponível em:
https://revistasenso.com.br/2017/07/31/re-pensando-ecumenismo/. Acesso em: 23 ago. 2019.
VATICAN. Decreto Unitatis redintegratio sobre o ecumenismo. Disponível em:
//www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat- ii_decree_19641121_unitatis-redintegratio_po.html. Acesso em: 23 ago. 2019.
WOLFF, E. O ecumenismo no horizonte do Concílio Vaticano II. Atualidade Teológica. Ano XV, nº 39, p. 403-428, 2011.
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Escatologia Cristã;
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Leia também:
ANCONA, G. A Escatologia Cristã. São Paulo: Loyola, 2013. ERICKSON, M. J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010.
LOPES, E. P. Escatologia e Milenarismo na História da Igreja Cristã. Ciências da
Religião – História e Sociedade.Pvá.g9in,an1.311,dpe.14661 -73, 2011.
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Teologia Sistemática III
Aula 09: A Escatologia Cristã
Apresentação
Nesta aula, trataremos dos problemas da ESCATOLOGIA CRISTÃ.
O que significa esta antiga palavra grega? E por que ainda a utilizamos no que diz respeito à nossa Fé, à sua inteligência (Teologia)?
O tempo tem significado na compreensão do Mistério de Deus para o Judeu- Cristianismo, então como o lemos na Tradição e nas Escrituras? A Revelação Divina e a Escatologia têm alguma relação?
O Evento Cristo, Verbo Encarnado e Glorioso, após a sua Paixão e Morte, pregado ao longo dos milênios e celebrado na Liturgia, implica em uma concepção escatológica da História e da Fé?
Muitas questões serão colocadas nesta aula com o objetivo de elucidarmos os conteúdos presentes sob o conceito de ESCATOLOGIA.
Objetivos
Definir a escatologia como conceito fundamental do Cristianismo;
Analisar as diversas questões implicadas no conceito de escatologia: a História, a Ressurreição e o Juízo Final;
Identificar os fundamentos cristológicos da Escatologia.
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I. O termo e conceito: Escatologia
(Fonte: Dream Perfection / Shutterstock)
De onde vem esta palavra? Qual seu significado? Por que a Teologia apreendeu e ainda utiliza este conceito?
1) A palavra escatologia se fundamenta em textos das Escrituras, por exemplo:
Isaías (2:2): “Nos últimos dias o momento do templo do SENHOR será estabelecido como o principal; será elevado acima das colinas, e todas as nações correrão para ele”.
Miqueias (4:1): “Nos últimos dias o momento do templo do SENHOR será estabelecido como o principal [...]”.
Primeira carta de Pedro (1:20): “[...] conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês”.
Primeira carta de João (2:18): “Filhos, esta é a última hora e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido”. (LOPES, 2011, p. 51).
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2) No âmbito religioso, a escatologia é considerada uma doutrina que estuda toPdáagsinaas40 de 67
coisas que acontecerão antes e depois do Juízo Final, ou seja, o fim da espécie humana no planeta Terra. Neste sentido, a escatologia pode assumir um tom apocalíptico e profético, tendo como verdade a ideia de morte e ressurreição
Diversos conceitos emergem desta ideia e experiência fundantes no Judaísmo e, sobretudo, no Cristianismo.
Tempo e História, isto é, o conceito de Revelação; Fim dos Tempos ou consumação da História; Apocalíptica e Profecia;
Ressurreição dos Mortos; Juízo Final.
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II. Fundamentos Teológicos da Escatologia: a esperança, a fé e caridade
“Quem come da minha carne e quem bebe do meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia”, diz Jesus no Evangelho de João (Jo 6,51) ou, o que é equivalente, “quem crer em mim, não terá mais sede” (Jo 6,35).
Assim, em poucas palavras, o SenhoPrárgeinsau1m34edteo1d6a1 a promessa do Pai para os que MauricioSaramago
acreditam n’Ele, seja por meio do renascimento batismal (cf. Jo 3,3-15), seja pelaPvágidinaa 41 de 67
eucarística (cf. Jo 6,30-58).
E o símbolo da Fé resume a mensagem bíblica em termos bem parecidos: “espero na ressurreição dos mortos e a vida do mundo futuro”.
Trata-se de uma promessa que determina, - ou deveria determinar - profundamente toda a vida do cristão e toda a predicação da Igreja. “Estamos feitos para o céu”, dizia João Paulo II numa catequese romana.
A promessa é grande, inimaginável e, por sua vez, simples, com a simplicidade das grandes coisas. Deus promete ao crente que perseverar até o fim (Mt 10,22) nada menos do que uma participação perpétua na sua própria vida trinitária.
E a causa do cristianismo cai ou - se mantém de pé - se essa promessa for ou não cumprida.
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Saiba mais
Dois elementos precisam ser analisados para entendermos a importância capital da ESCATOLOGIA no conjunto da Fé Cristã: o primeiro é a REVELAÇÃO e o segundo é a
RESSURREIÇÃO de Cristo, único e verdadeiro Evento escatológico na História Humana.
III. Revelação e Escatologia
Agora vamos recordar alguns princípios vistos nas aulas de Teologia fundamental: os conceitos de Revelação e Salvação, que distinguem o Judaísmo e sobretudo, o Cristianismo das gnoses, conhecimento sem perspectivas de salvação.
O Concílio Vaticano II, reunião máxima da Igreja desde o Concilio de Jerusalém, em que Pedro e Paulo se encontraram (At 15), foi celebrado nos anos 60 do século passado e
colocou algumas questões centrais sobre as relações entre a Revelação Divina e a História humana, como um dos seus suportes que vale apena examinar:
Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a
conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1,9),segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cf. Ef 2,18; 2 Ped 1,4). Em virtude desta revelação, Deus invisível (cf. Col 1,15; 1 Tim 1,17), na riqueza do seu amor fala aos homens como amigos (cf. Ex 33, 11; Jo 15,14 15) e convive com eles (cf. Bar 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele. Esta economia da
revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas
contido. Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifestasse-nos, por esta revelação, em Cristo, que é, simultaneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação (PAULO VI, 1965, 7.)
(PAULO VI) Constituição Dogmática ‘Sacrossanctum Concilium’. Roma: Vaticano, 1965. Disponível em: //www.vatican.va.
(Acesso 25 de maio de 2019)
Eis o axioma teológico que se infere dos textos bíblicos, como narrativas desta extraordinária ação de Deus:
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Em virtude desta revelação, Deus invisível (cf. Col 1,15; 1 Tim 1,17), na riquePzáagina 43 de 67
do seu amor fala aos homens
como amigos (cf. Ex 33, 11; Jo 15,1415) e convive com eles (cf. Bar 3,38), para os convidar e admitir à comunhão com Ele.
O que este texto nos diz?
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Primeiro que o modo da revelação exprime a intenção divina de conviver com os seres humanos.
Essa expressão pode parecer banal, mas sua verdadeira compreensão se origina no desastre da perda do Paraíso, como nos relata o livro do Gênesis, no capítulo 3:
O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado. E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida (Gn 3, 23-24).
Aqui, como se pode observar, trata-se do fato que após ou em consequência do pecado original perdemos o acesso a Deus e fomos expulsos de sua Presença, que, aliás, como afirma o amargo diálogo dos Vv 8-10, tornara-se motivo de medo e de escondimento:
E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me (Gn 3, 8-10).
Falar aos homens, como amigos, era algo impensável nas circunstâncias do pecado, mas ocorreu exclusivamente em virtude da Natureza amorosa de Deus. A revelação, por isso, pode ser entendida como um supremo gesto amoroso em nossa direção, uma declaração de amor de Deus aos Homens, como lemos em Jo 3, 16:
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Mas, mesmo no mais profundo antigo Testamento, abundam declarações de amor divino ao Povo de Israel, entre outros:
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O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multiPdáãgoina 45 de 67
era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos; mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito (Dt 7, 7-8).
Segundo o teólogo Estevão Bettencourt, o conceito, a prática ou a demonstração do amor verdadeiro descrevem ação de Deus e circunscrevem seu Ser Divino:
Ao falar de Deus Amor, tocamos o âmago da mensagem bíblica, única entre as mensagens religiosas da humanidade; requer a coragem de professar que Deus primeiro nos amou, e nos amou quando éramos ingratos e rebeldes. Platão julgava que a Divindade nem sequer respondia ao amor do homem, porque ela nada teria a ganhar com isso; portanto, se houve alguma atitude de amor para com a Divindade, nunca houve a recíproca segundo o mesmo. Ora foi
precisamente sobre este pano de fundo que ressoou a pregação evangélica; esta só pode ter tido origem no próprio Deus, que assim se revela, e não na mente do homem, por mais religioso que fosse. A singularidade do Cristianismo está nesta afirmação de que Deus é o primeiro a nos amar (BETTENCOURT, 2008, p. 145).
Em um segundo momento, chegamos ao termo principal. A história é o campo decidido por Deus para se encontrar com os seres humanos:
Esta economia da revelação realiza-se por meio de ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido (PAULO VI, 1965, 2).
Cf. PAULO VI. Constituição Dogmática ‘Sacrossanctum Concilium’. Roma: Vaticano, 1965. Disponível em: //www.vatican.va. (Acesso 25 de maio de 2019).
A história humana é nosso ambiente exclusivo, por sermos medidos sempre nas coordenadas de tempo e espaço. Não existe significação humana sem as
coordenadas. A comunicação entre nós mesmos, como seres sociáveis, se dá na história e a constitui.
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IV. História da Salvação: Um conceito prévio à revelação?
(Fonte: rudall30 / Shutterstock)
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Deus amantíssimo, desejando e preparando com solicitude a salvação de todo o gênero humano, escolheu por especial providência um povo a quem confiar as suas promessas. Tendo estabelecido aliança com Abraão (cf. Gên 15,18), e com o povo de Israel por meio de Moisés (cf. Ex 24,8), revelou-se ao Povo escolhido como único Deus verdadeiro e vivo, em palavras e obras, de tal modo que Israel pudesse conhecer por experiência os planos de Deus sobre os homens, os compreendesse cada vez mais profunda e claramente, ouvindo o mesmo Deus falar por boca dos profetas, e os difundisse mais amplamente entre os homens (cf. Salm 21, 28-29; 95, 1-3; Is 2, 1-4; Jer 3,17). A economia da salvação de antemão anunciada, narrada e explicada pelos autores sagrados, encontra-se nos livros do Antigo Testamento como verdadeira palavra de Deus. Por isso, estes livros divinamente inspirados conservam um valor perene: “Tudo quanto está escrito, para nossa instrução está escrito, para que, por meio da paciência e consolação que nos vem da Escritura, tenhamos esperança” (Rom 15,4) (PAULO VI, 1965, 14).
Cf.. PAULO VI. Constituição Dogmática ‘Sacrossanctum Concilium’. Roma: Vaticano, 1965. Disponível em: //www.vatican.va. (Acesso 25 de julho de 2019).
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Alguns teólogos têm se debruçado sobre a temática das relações entre Deus que se dá conhecer a e história humana. Isto é, como estabelecer
parâmetros entre a revelação divina, como experiência transcendente, e a realidade humana da história (imanência)?
Vejamos o que nos diz WERBICK, Jürgen (1993) em seu artigo sobre esta questão. Ao mesmo tempo, em outra chave de leitura, vem sendo tratada também por LACOSTE, J.- Yves (2004).
V. A Profecia e a Apocalíptica: a história do agir de Deus na história?
Diferentemente dos judeus, os cristãos mantiveram, ou melhor, depois de um intervalo, retomaram seu interesse pela história. A espera do fim do mundo era um fato muito mais opressor entre os cristãos que entre judeus e resultou em
uma nova avaliação crítica contínua dos eventos como portentos. O pensamento apocalíptico era um estímulo à observação histórica. Além disso, e isto
foi decisivo – a conversão de Constantino implicou a reconciliação da maioria dos líderes cristãos com o Império Romano (especialmente oLeste) e deu à Igreja um lugar preciso nas questões humanas (MOMIGLIANO, A. 2004, p. 50).
(Fonte: IgorZh / Shutterstock)
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O pensamento de período profético que se constitui na literatura pré-exílica e especialmente no período pós-exílico (séc. VI a. C.) destaca-se por ter feito dos
princípios básicos da fé judaica os alicerces de uma potente narração de tipo histórico, na qual eles contam de modo coerente o Agir de Deus. Partem da eleição e da Páscoa até chegar aos eventos da Criação e do pecado.
Saiba mais
A profecia tomou a história como espaço de realização da santa e justa vontade de Deus. Mas fez falar também Javé como o Criador, que como Senhor da Criação, não deixa disputar duradouramente sua propriedade por usurpadores, mas será Rei e Senhor (WERBICK, 1993, p. 352).
No mesmo período, em época mais tardia, este projeto historiográfico, esta vontade de escrever e registrar o Desígnio Divino na história por parte dos teólogos de ambiente profético ou deuteronomista, será confrontada pela apocalíptica.
Escatologia Apocalíptica e Jesus e o Adiantamento da Parusia
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Temas e ideias da antiga mitologia judaica e da especulação helenística
compõem as diversas influências que determinamos nos escritos apocalípticos. Trata-se de uma verdadeira cosmovisão, que podemos traçar na estrutura dos apocalipses judaicos e cristãos. A fonte desta visão pode ser determinada pela antiga literatura bíblico-profética.
A perspectiva desta escatologia apocalíptica pode ser entendida como desenvolvida a partir da escatologia profética: comum entre ambas, a perspectiva é a crença de que, de acordo com o PLANO DIVINO, as condições adversas do mundo presente podem terminar no julgamento do mal e na vingança dos Justos, abrindo assim uma nova era de prosperidade e paz (Is 65,16b-17a).
Este ponto em comum faz com que, tanto a escatologia profética como a apocalíptica, sejam vistas como dois lados da mesma moeda. O
desenvolvimento de uma para a outra não é inelutavelmente cronológico, mas é inegável que ambas se entrelaçam com mudança nas condições sócio-políticas.
Trata-se daquelas condições de mudança que inspiram uma interpretação baseada no desígnio Divino: o esforço humano vem selado pela intervenção divina favorável.
Períodos de extremo sofrimento tendem a colocar em xeque a efetividade da reforma humana e assim propiciar uma radicalização da visão que a escatologia apocalíptica fornece da realidade, tendendo a propor uma rígida visão dualística da salvação divina, com a destruição deste mundo e a ressurreição do crente para a uma existência celestial abençoada.
Diante do passado judaico pleno de infidelidades e erros repetitivos, acompanhados de castigos e falimentos, a apocalíptica propõe uma
perspectivística do futuro que nasce a partir de crises profundas ocorridas entre os exílios, repatriações e invasões:
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A história perdeu sua transparência para o agir salvífico e educativo de Javé Página 50 de 67
para com o seu povo. A Apocalíptica, para manter a esperança do Deus que opera Salvação apelou não mais para os acontecimentos passados. A História – a velha – parecia dominada de tal forma pelo pecado e pelo mal, que parecia ir
caminhando de forma irredutível e irresistível rumo ao fim catastrófico (...) mas que se abreviassem as aflições do fim dos tempos e chegasse logo ao fim a velha era, que se tornara insuportável, com o seu agir salvífico escatológico, fazendo irromper em breve o seu reinado do fim dos tempos (WERBICK, 1993, p. 353).
2. Jesus e o adiantamento da Parusia
A apocalíptica cruzou-se com a ilusão de uma história da Salvação que se imporia sem cessar em Israel e desde Israel; este se evidenciou para a
apocalíptica como instrumento inútil nas Mãos de Deus; por isso não pôde mais apelar para as promessas ou para as manifestações graciosas de Javé.
Conforme essa visão apocalíptica, Javé levaria avante o seu projeto salvífico não em continuidade com o sucedido até o momento, mas em radical descontinuidade, e seria em favor dos que não se deixaram seduzir pela perversidade desta era (WERBICK, 1993, p. 353).
Eis um ponto fundamental de partida da obra cristã, do tempo, da palavra e da ação de Jesus. De um lado apresenta estes aspectos da descontinuidade em relação à interpretação da Torah, como se lê nos quatro Evangelhos: Senhor do Sábado é um episódio da vida de Jesus que aparece nos três evangelhos sinóticos:
Mateus 12:1-8,
Lucas 6:1-5 e
Marcos 2:23-28.
Relatam o encontro de Jesus, seus apóstolos e os fariseus na primeira de suas quatro controvérsias sobre o Sabbath. No versículo referido, lê-se a marca apocalíptica por causa da autointitulação como o Filho do Homem:
Porque eu, o Filho do Homem, sou Senhor do próprio sábado (Mt 12, 8).
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Expressão que procede da literatura profética de Daniel, com acentuado saboPrágina 51 de 67
apocalíptico. Por outro lado, Jesus em sua pregação e em sua práxis, diferencia- se da apocalíptica judaica ao pretender testemunhar a irrupção do Reino de Deus. Esta é a categoria mais escatológica da pregação de Jesus. Uma realidade que se exibe no tempo, mas que se realiza no futuro. As Parábolas do Reino, seção obrigatória nos três Evangelhos, bem demonstra isso.
O Cristianismo sabe ter iniciado com o pleno Mistério de Cristo, realizado em sua Cruz e Ressurreição, uma nova e verdadeira História humana e religiosa:
A História de Israel chegou ao seu termo. E porque essa história é biblicamente indissociável da história de todas as nações, a plenitude dos tempos (Gl 4,4) pode passar pelo fim puro e simples da história: O cristianismo primitivo sabe que saiu de uma história, sabe que um novo eon se abre com ele, não sabe nem se crê investido de outra missão a não ser a de chamar à conversão, esperando a volta iminente (a Parusia) do messias ressuscitado (LACOSTE, 2004, p. 835).
VI. A escatologia e a nossa esperança
É digna de observação a forma pela qual, no Novo Testamento, os crentes encontrariam toda a firmeza e a pujança de sua fé na experiência de encontrar-se com Jesus Cristo ressuscitado.
À simples lembrança da vida terrena do Senhor e do seu exemplo luminoso tinha para eles pouco sabor. Sua fé nova encontrou o conteúdo cabal, o ponto de apoio inabalável na Pessoa do Ressuscitado dentre os mortos, n’Aquele que é Vivo e intercede por nós junto ao Pai (Heb 7, 25).
(Fonte: MeSamong / Shutterstock)
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Efetivamente ressuscitando para sempre, o próprio Filho encarnado Deus demonPsátgrionau52 de 67
seu amor incondicional pelos homens que, matando-o na Cruz, haviam rejeitado esse amor. Seria preciso assinalar alguns pontos, quanto a esta Fé simples e incontestável da primeira hora da era cristã, uma fé talvez de certa forma domesticada entre os cristãos de épocas mais recentes.
Primeiro, pode-se observar que os que viram o Mestre depois de ressuscitado, logo vincularam esses encontros com a Promessa de uma ressurreição futura, destinada precisamente a eles. Cristo ressuscita, portanto, eles, que acreditaram no Senhor, tornam-se portadores da mesma Promessa de ressurreição.
(Fonte: Rachata Sinthopachakul / Shutterstock)
Atenção
Em outras palavras, a ressurreição de Cristo, em quem eles creram, foi percebida espontaneamente como um bem para os crentes.
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O discípulo de Cristo incorpora-se à Ressurreição do seu Senhor. São Paulo indagava aos Coríntios:
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“Pois se de Cristo se prega que ressuscitou dentre os mortos, como entre vós, alguns afirmam que não existe Ressurreição dos mortos? (1 Cor 15,12)
E também:
Sabemos que quem ressuscitou o Senhor Jesus, também com Jesus nos ressuscitará e nos fará estar entre vós" (2 Cor 4,14).
Como fruto da uniãodo crente com Cristo, de sua incorporação à Páscoa, a morte humana desempenhava um papel muito real, prático e imediato na vida dos novos
crentes, precisamente pela Vivacidade de sua esperança na ressurreição. Com efeito, estavam dispostos a morrer até mesmo uma morte injusta e cruel em troca da promessa da ressurreição, dando um testemunho (marturia) de sua fé em Jesus Cristo.
Em poucas palavras, a morte do cristão foi percebida e vivenciada como uma verdadeira participação na morte de Cristo e, consequentemente, em sua ressurreição: o que
aconteceu com Ele se tornaria presente, por força do Espírito Santo, nos que acreditam n’Ele, ou seja, nós somos incorporados à sua Páscoa.
Novamente e com força escatológica, comprova-se que a vida humana, desembocando inevitavelmente na morte, e a própria morte serão compreendidas e resolvidas principalmente à luz da imortalidade percebida ou Prometida.
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1. Segundo a Teologia de Paulo, em Cor 15, por que a Ressurreição é um conceito escatológico tão essencial à vida cristã?
2. O Conceito de Apocalíptica judaico-cristã ancora-se no conceito mais amplo de
escatologia. Explique esta afirmação usando o artigo de WERBICK, Jürgen (1993, p. 351- 361).
Quais são os Fundamentos Cristológicos da Escatologia? Escolha a questão COPRáRgiEnaT5A4.de 67
Cristo é Senhor do Tempo, sua Páscoa resultou na redenção do próprio tempo.
Não há uma verdadeira fundamentação cristológica para o fim dos tempos, um mistério.
O Cristianismo não possui, como o judaísmo, um sistema profético que se apoie nas visões do futuro.
d) A escatologia só possui fundamentos no Antigo Testamento, na velha profecia ou nos apocalipses.
Reef) eCrriêstno cfuinadsou no passado de Israel a visão do futuro e somente na ressurreição tem-se uma visão obscura do devir.
ANCONA, G. A Escatologia Cristã. São Paulo: Loyola, 2013.
BITTENCOURT, E. Com amor eterno eu te amei. Revista Pergunte e Responderemos. Rio de Janeiro: Lumen Christi, ano XLIX, abr. 2008, n. 550, p. 145.
ERICKSON, M. J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010.
LACOSTE, J. Yves. História. In: LACOSTE, J.-Yves. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas e Loyola, 2004, p. 834-839.
LOPES, E P. Escatologia e Milenarismo na História na Igreja Cristã. Ciências da Religião
– História e Sociedade. v. 9, n. 1, p. 46-73, 2011.
MOMIGLIANO, A. As raízes clássicas da Historiografia Moderna. Bauru: EdUSC, 2004, p. 50.
WERBICK, Jürgen História/Agir de Deus. In: EICHER, P. Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 351-361.
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Teologia Sistemática III
Aula 10: A Escatologia Cristã nas diversas tradições do cristianismo
Apresentação
Nesta aula, trataremos da variedade de concepções teológicas da escatologia no âmbito das diversas Tradições cristãs. O Cristianismo desenvolveu ao longo dos Milênios uma série de percepções e doutrinas acerca dos novíssimos, isto é, as
coisas últimas da existência humana.
A Morte, a Ressurreição, o Juízo Final, o Fim do Mundo, a Parusia, entre muitos temas foram se modificando na medida em que, de um lado, adensava-se a
compreensão do Evento Cristo, a fonte da escatologia Humana, e do outro, as diversas tradições cristãs, sobretudo, a partir da Reforma Protestante (sec. XVI), assimilando e modificando as doutrinas escatológicas cristãs, segundo os contextos interpretativos em que se encontravam.
Objetivos
Listar as doutrinas escatológicas no Catolicismo Romano;
Identificar as diversas vertentes escatológicas no universo plural do Protestantismo.
Palavras inicias
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A Escatologia, como vimos na aula anterior, não é um simples corolário da convicPçágãinoad5a7 de 67
Ressurreição de Cristo, sendo, ao mesmo tempo, seu Fundamento. Como todas as formas de pensamento humano, podemos rastrear seu desenvolvimento. Não existe pensamento humano no vácuo, sem referências históricas.
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Não se trata de reduzir a Doutrina, ou seja, a Revelação Divina a mero dado histórico, ao contrário, quando aceitamos a lógica Divina, da Encarnação, percebemos a relevância em não desencarnarmos os modos pelos quais, iluminados pelo Espirito Santo, a Igreja foi realizando (e continua) o itinerário da compreensão plena da Verdade (Jo 16,13).
Por isso, exporemos a doutrina escatológica a partir da premissa de sua recepção histórica, presente e detectável já nas Sagradas Escrituras, no decorrer da História de Israel.
Primeiramente, o Cristo é o fundamento da Escatologia, n’Ele se desenvolveu a nova e definitiva Lógica da redenção no tempo. O tempo redimido foi assumido pelo Verbo que se fez Carne (Jo 1, 14).
O Contexto da nova escatologia se dá no fato que Cristo é a realização definitivas das Promessas feitas a Israel. Na verdade, a compreensão das Verdades Divinas reveladas se encontra disposta à nossa inteligência no âmbito das coisas históricas.
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Uma verdade abstrata serve somente para explicitar uma falsa perenidade, pois, à moda platônica ideal, parece resistir intacta ao tempo, mas ao fugir da necessidade humana de configurar-se, permanece só... não morre... e assim, não frutifica na vida (Jo 12), na existência humana dos crentes.
Atenção
Em Jesus, Deus se diz e se revela inteiramente ao Homem, dizendo e revelando ao mesmo tempo o homem a si mesmo. Nele, a história e o cosmos adquirem uma
significação única. Contudo, o Homem, a história e o cosmos seguem, ainda, seu próprio curso. Deus não os obriga à cristificação, mas apresenta-lhes o modelo crístico como o único que pode levá-los à plenitude de sentido.
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O processo de conversão do Homem, da história e do cosmos ao Cristo é também feito da tensão inerente à escatologia do reino que se aproxima. No momento da acolhida deste reino, Deus se faz presente, lançando aquele que acolhe tal anúncio na aventura da esperança que o mesmo suscita.
É essa a perspectiva que parece desdobrar-se no ínterim que separa a ressurreição da ascensão-pentecostes ou na espera pela Parusia, que caracteriza de forma acentuada as gerações que
compuseram o NT. Assim, podemos avançar para os aspectos históricos da evolução do pensamento escatológico no interior das diversas tradições cristãs.
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Escatologia Milenarista
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Segundo Costa (2008), tais projetos, projeções e esperanças, que de ordinário receberiam por qualificação (geralmente negativa), no senso comum, o título de utopias, ao suporem a iminência da instauração do melhor dos mundos são aqui tomadas como resultantes de apropriações (mormente inconscientes) do milenarismo, como milenarismos implícitos.
"Ora nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que jamais será destruído e cuja realeza não será deixada a outro povo. Ele pulverizará e
aniquilará todos esses reinos, e subsistirá para sempre" (Daniel 2:44)
O termo messianismo é submetido aqui à mesma dilatação do raio de alcance aplicada ao termo anterior, uma vez que além de comunicar a crença no advento providencial (i.e., por obra e graça divina) de um personagem salvífico/redentor, remete também às
expectativas seculares de retificação da realidade depositadas sobre homens ou coletividades que se tomavam por especiais.
Por sua vez, o termo milenarismo tem, em primeiro plano, o sentido comum, e estrito, de crençareligiosa na qual se projeta a concretização futura dos mil anos de paraíso terreal.
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Entretanto, ainda no campo religioso, percebe-se o deslocamento desse sentido para um outro espaço, o celeste, de modo que essa conotação também será levada em conta aqui, principalmente porque a existência dessa segunda conotação, apesar de negligenciada pelos estudos milenaristas, divide, ainda em nossos dias, as opiniões sobretudo nos meios cristãos não católicos.
Para além disso, levando-se em conta o religioso implícito em formulações seculares, aqui o termo milenarismo refere-se também a determinados projetos, projeções e esperanças que, com maior ou menor grau de sofisticação, estabeleciam, em imagens, uma espécie de enfrentamento (e, ao mesmo tempo, fuga) da história vivida tendo em vistas fundar (e tomar por refúgio) um futuro marcado pela superação das estruturas atuais do mundo e pela instauração definitiva de uma ordem caracterizada pela
perfeição dos valores, das estruturas e das relações.
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Segundo Costa (2008), tais projetos, projeções e esperanças, que de ordinário receberiam por qualificação (geralmente negativa), no senso comum, o título de utopias, ao suporem a iminência da instauração do melhor dos mundos são aqui tomadas como resultantes de apropriações (mormente inconscientes) do milenarismo, como milenarismos implícitos.
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Escatologia messiânica
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Temas e ideias da antiga mitologia judaica e da especulação helenística compõem as diversas influências que determinamos nos escritos apocalípticos. Trata-se de uma verdadeira cosmovisão, que podemos traçar na estrutura dos apocalipses judaicos e cristãos.
A fonte desta visão pode ser determinada pela antiga literatura bíblico-profética. A perspectiva desta escatologia apocalíptica pode ser entendida a partir da escatologia profética: comum entre ambas as perspectivas é a crença que, de acordo com o plano divino, as condições adversas do mundo presente podem terminar no julgamento do mal e na vingança dos Justos, abrindo assim uma nova era de prosperidade e paz. (Is 65,16b-17a), a ponto de serem vistas, tanto a escatologia profética como a apocalíptica, como dois lados da mesma moeda.
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Segundo Rowley (1980), o desenvolvimento de uma para a outra não é
inelutavelmente cronológico, mas é inegável que ambas se entrelaçam com
mudança nas condições sociopolíticas. Trata-se daquelas condições de mudança que inspiram uma interpretação baseada no desígnio Divino: o esforço humano vem selado pela intervenção divina favorável.
Períodos de extremo sofrimento tendem a colocar em xeque a efetividade da reforma humana e assim propiciar uma radicalização da visão que a escatologia apocalíptica fornece da realidade, tendendo a propor uma rígida visão dualística da salvação divina, com a destruição deste mundo e a ressurreição do crente para a uma existência
celestial abençoada.
Milenarismo cristão
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Um simples sobrevoo sobre a longa história da Igreja mostra de que maneira evolui, não sem conflitos, a compreensão cristã primitiva sobre a escatologia após o período bíblico da formação e
consolidação do Cânon, ou seja, no decorrer da história da Igreja ao longo dos milênios cristãos.
No Universo do Catolicismo romano, diversos autores, entre os quais se destacam Agostinho de Hipona (sec. V), que, influenciado por seu contemporâneo Ticonius, irá sistematizar a vida
apocalíptica católica, baseada no princípio da historização da Escatologia.
As revoluções e novidades advindas dos fins dos tempos ocorrem paulatinamente na Igreja (história), pois nesta se realizam as últimas coisas, prometidas por Cristo, antes de seu Retorno.
Agostinho de Hipona (354 - 430)". Fonte:
//www.filosofia.com.br/
Saiba mais
Leia a História e milenarismo no apocalipse de João de Patmos e no expositio in apocalypsim de Joaquim de Fiore: um estudo comparativo.
A Reforma Protestante e as Concepções Escatológicas
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 	 Martinho Lutero por Lucas Cranach, o Velho. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Martinho_Lutero
A reforma Protestante propugnadPaápgionar 65 de 67 Martinho Lutero no século XVI pode ser entendida no contexto teológico do séc.
XVI, como uma luta escatológica contra a Igreja Católica. Isto é, ele entendeu que a corrupção do sistema religioso cristão era muito profunda.
As concepções escatológicas que inauguram a reforma baseavam-se, por isso, numa concepção do mundo, que, a partir de diversas referências históricas,
como Constantino (ano de 324 d.C.), ou a derrota da armada espanhola católica em 1588 para a inglesa protestante, somados aos 1.000 anos constituiriam os marcos de um novo Milênio.
Os representantes da Reforma, por isso, um renascimento do milenarismo, entendido a partir da noção de eventos históricos extraordinários que inseririam o mundo, e as Igrejas no Armaghedon, na batalha final, pela purificação total. A
recepção desta visão supõe a acolhida de uma teologia que anula a história como portadora de hecatombes em contraste
com a visão de Agostinho.
Atividade
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1. O que significa para a formação do pensamento escatológico cristão a noção de
Milenarismo?
2. Em que se caracteriza a escatologia da Reforma Protestante e que elementos sPeágina 66 de 67
distinguem?
O que é o fenômeno do Milenarismo cristão?
Demagogia de seitas cristãs desenvolvidas ao longo dos séculos para atrair seguidores.
A expectativa criada pela interpretação de textos apocalípticos sobre o futuro da Salvação em Cristo.
Interferência da Cabala judaica na interpretação do livro do Apocalipse durante a Idade Média.
Não existe milenarismo cristão, pois a fé não conhece crendices e superstições.
O fenômeno se refere às expectativas de Davi e da descendência de Judá sobre o
ReCfreistriêanniscmioa.s
ANCONA, G. A Escatologia Cristã. São Paulo: Loyola, 2013.
NCoOtSaTsA, V. M. De medos e esperanças - Uma história das crenças apocalípticas, messiânicas e milenaristas no contexto do movimento de Belo Monte (1874-1902). Dissertação de Mestrado. Bahia: UFBA, 2008.
Erickson, M. J. Escatologia. São Paulo: Vida Nova, 2010.
LACOSTE, J. Y. História. In: LACOSTE, J.Y. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas e Loyola, 2004, p. 834-839.
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Rowley, H. H. A Importância da Literatura apocalíptica. São Paulo: Paulinas, 1980.
SANTOS, P. P. A. O Apocalipse Cristão e os Rolos de Qumran. Literatura e Movimentos apocalípticos no Mundo Antigo e suas relações com Projetos Contemporâneos. In:
Communio, v. 22, n.1, p. 133-156, Rio de Janeiro, 2004.
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