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CARACTERIZAÇÃO MINERALÓGICA POR DIFRATOMETRIA DE RAIOS-X (DRX) DE SEDIMENTOS DO MANGUEZAL GUARAPUÁ DA COSTA DO DENDÊ, BAHIA. Mariana da Silva Gomes1 1Universidade de Brasília (UnB), Programa de Pós-Graduação em Geologia, Disciplina: Identificação de Argilominerais por Difratometria de Raios-X, Brasília, Brasil. RESUMO Manguezais são ambientes de transição entre os ecossistemas terrestres e marinho, característicos de regiões tropicais e subtropicais, sujeitos ao regime das marés. O trabalho consiste na análise da composição mineralógica por difratometria de Raios-X e interpretação de três amostras (5334, 5344 e 5354) de sedimentos cenozóicos inconsolados do Manguezal Guarapuá localizado na Ilha de Tinharé, próximo à praia de Guarapuá no município de Cairu, Costa do Dendê no Litoral Sul da Bahia. Foi feita a análise da composição mineralógica da amostra total dos sedimentos, da fração argila, da fração argila solvatada com etileno-glicol e aquecida a 490ºC por 4h para observar o comportamento dos argilominerais das amostras. A amostra mais próxima ao mar (5334) tem mais influência dos bioclástos de aragonita das algas calcárias e a mais próxima do continente (5344) tem mais influência de minerais detríticos como quartzo, microclínio, albita e muscovita. Palavras-Chave: Argilominerais, Difratometria de Raios-X e Manguezal. INTRODUÇÃO Trabalho de conclusão da disciplina Identificação de Argilominerais por Difratometria de Raios-X ministrada pela Professora Edi Guimarães do Programa de Pós Graduação em Geologia da Universidade de Brasília. O objetivo do trabalho consiste na análise da composição mineralógica por difratometria de Raios-x e interpretação de três amostras de sedimentos cenozóicos inconsolados do Manguezal Guarapuá localizado na Ilha de Tinharé, próximo à praia de Guarapuá no município de Cairu, Costa do Dendê no Litoral Sul da Bahia (Figura 1). Figura 1. Mapa de localização das amostras 5334, 5344 e 5354 do Manguezal Guarapuá, objetos de estudo do presente trabalho. Manguezais são ecossistemas estuarinos, ou seja, ambientes de transição entre os ecossistemas terrestres e marinho, característicos de regiões tropicais e subtropicais, sujeitos ao regime das marés. Portanto, os sedimentos que formam os solos dos manguezais são de origem terrestre e marinha (Andrade et al., 2013). O manguezal de Garapuá tem um aspecto diferenciado e único no país. A vegetação do mangue invade a bancada de corais do mar, algo visto em poucos lugares no mundo, como na região caribenha e em algumas regiões da porção oeste do Oceano Pacífico e leste do Oceano Índico (Stoddart, 1980). CONTEXTO GEOLÓGICO A zona litorânea da Costa do Dendê é caracterizada por estar inserida na Bacia de Camamu. Sua geologia se diferencia dos demais trechos da costa baiana pela ausência do Grupo Barreiras e pela presença de rochas sedimentares mesozóicas bordejando a linha de costa e formando falésias de até 40 m nas ilhas de Tinharé e Boipeba (Rebouças, 2006). Marcando o limite com o embasamento, as rochas sedimentares da Bacia de Camamu, são representadas pelos Grupos Brotas e Camamu. O grupo Brotas, datado do Jurássico, abrange toda a área e é composto pelas Formações Aliança e Sergi (Rebouças, 2006). Os depósitos quaternários são representados pelos terraços marinhos pleistocênicos, terraços marinhos holocênicos, pântanos e mangues atuais, que têm idade holocênica e são compostos de materiais argilo-siltosos ricos em matéria orgânica (Martin et al., 1980 apud Rebouças, 2006). Margeando a linha de costa das ilhas de Tinharé e Boipeba, e na costa atlântica da Península de Maraú são encontrados recifes de coral e de algas calcárias (Martin et al., 1980 apud Rebouças, 2006). De acordo com Freitas (2002 apud Rebouças, 2006), sedimentos de praia coletados na Ilha de Tinharé e Boipeba, e na Península de Maraú têm uma grande contribuição de biodetritos, compostos por fragmentos de algas calcárias, principalmente Halimeda, e também de ouriços e conchas de moluscos. Esta contribuição de biodetritos foi atribuída à presença de recifes em franja que bordeja aquelas praias. MATERIAIS E MÉTODOS Para a análise composicional das amostras por Difratometria de Raios-X (DRX) foi feita a elaboração de lâmina de amostra total e lâmina de fração argila. Amostra Total - o preparo da amostra total consistiu na pulverização da amostra com um gral e pistilo de ágata. A amostra pulverizada foi acomodada em um porta amostra (lâmina de vidro com cavidade rasa) e desorientada com movimentos aleatórios e sem pressão de outra lâmina sobre a lâmina com a amostra. A amostra pulverizada deve possuir orientação randômica para representar todas os planos de difração e as partículas devem ser suficientemente pequenas para não mascarar fases menores. Fração Argila seca ao ar - para a preparação da fração argila, a amostra foi desagregada, mas não pulverizada para que os minerais que não estavam na fração argila não passassem para ela por interferência humana. A elaboração da lâmina da fração argila consistiu em usar 5g de amostra (que foi apenas desagregada e não pulverizada) misturada com 50ml de pirofosfato de sódio na concentração de 3g/1000ml de água destilada e a mistura foi processada no ultrassom com pulsos de 1 ciclo e aplitude 50% por 4 minutos para desfloculação. Em seguida, a amostra líquida foi centrifugada por 7 minutos em 700rpm, retirado o sobrenadante e descartada a fração decantada (>2µm). O sobrenadante foi centrifugado novamente por 30 minutos em 3000rpm, descartou-se a água e usou-se a argila decantada do fundo do recipiente. Por fim, com o auxílio de uma espátula, colocou-se um pouco da amostra em estado pastoso sobre a lâmina e foi feita a orientação do material, deslizando outra lâmina de vidro sobre a pasta, sempre no mesmo sentido. A lâmina foi deixada para secar ao ar. A orientação da lâmina da fração argila é feita visando intensificar as reflexões dos planos cristalinos característicos dos argilominerais (filossilicatos), os planos (0 0 L). Solvatação com Etileno-Glicol - a solvatação com etileno-glicol é o procedimento adotado para diferenciar argilominerais com distância interplanar semelhante, mas propriedades físico-químicas distintas, portanto é feita após a primeira passagem da lâmina da fração argila pelo difratômetro. A técnica baseia-se na capacidade de alguns argilominerais permitirem em sua estrutura ligações com álcoois e estes por sua vez com água. Desta forma, aumenta-se a distância interplanar de argilominerais 2:1 expansivos sendo perceptível no difratograma por um aumento do valor da distância interplanar (d). Para a solvatação com etileno-glicol, a lâmina da fração argila foi colocada em um dissecador de vidro com um recipiente com etileno-glicol. Por meio da produção de vácuo, foi simulada uma atmosfera de etileno-glicol em que a lâmina ficou por 12h antes de passar novamente no difratômetro. Aquecimento - outro tratamento para diferenciar argilominerais com distância interplanar semelhante é o aquecimento da lâmina da fração argila. O aquecimento busca eliminar as moléculas de água presentes na intercamada dos argilominerais resultando na redução da distância interplanar (d) e permitindo a identificação do argilomineral. As lâminas da fração argila foram aquecidas em mufla a 490ºC por 4h. O equipamento utilizado foi o difratômetro RIGAKU, modelo ULTIMA IV, equipado com tubo de cobre e filtro de níquel sob 35kV, 15mA e detector DTEX/ULTRA com passo de 0,05, velocidade de 5°/min e varredura no intervalo 2Ɵ de 2° a 60° para amostra total (tot) e de 2° a 40° para fração argila seca ao ar (n), solvatada com etileno- glicol (eg) e aquecida a 490ºC por 4hmin (aq). A identificação dos minerais foi realizada com o auxílio do programa Jade XRD 9.0 (Materials Data) com bancode dados PCPDF (Powder Diffraction File – PDF para PC – ICDD) (Fazio, 2018). RESULTADOS O resultado da análise por Difratometria de Raios-X da amostra total (tot) e da fração argila (n) solvatada com etileno-glicol (eg) e aquecida (aq) é dada pelo empilhamento de difratogramas para facilitar a visualização da mudança de comportamento da assembleia mineralógica das amostras 5334, 5344 e 5354 (Figuras 2, 3 e 4). Figura 2. Empilhamento dos difratogramas da amostra total (tot), fração argila orientada seca ao ar (n), fração argila solvatada com etileno-glicol (eg) e fração argila aquecida a 490º por 4h (aq) da amostra 5334. Principais picos: d~3,39 Å (Aragonita), d~3,34 Å (Quartzo), d~7,16 Å (Caulinita) e d~9,98 Å (Ilita) e d~ 3,03 Å (Calcita), aquecida. Figura 3. Empilhamento dos difratogramas da amostra total (tot), fração argila orientada seca ao ar (n), fração argila solvatada com etileno-glicol (eg) e fração argila aquecida a 490º por 4h (aq) da amostra 5344. Principais picos: d~3,39 Å (Aragonita), d~3,34 Å (Quartzo), d~7,16 Å (Caulinita) e d~9,98 Å (Ilita) e d~ 3,03 Å (Calcita), aquecida. Figura 4. Empilhamento dos difratogramas da amostra total (tot), fração argila orientada seca ao ar (n), fração argila solvatada com etileno-glicol (eg) e fração argila aquecida a 490º por 4h (aq) da amostra 5354. Principais picos: d~3,39 Å (Aragonita), d~3,34 Å (Quartzo), d~7,16 Å (Caulinita) e d~9,98 Å (Ilita) e d~ 3,03 Å (Calcita), aquecida. DISCUSSÃO Amostras 5334 e 5354 (Figuras 2 e 4) – a assembleia mineralógica das amostras consiste em aragonita proveniente do componente bioclástico de granulometria areia grossa que tem altas intensidades na amostra total (tot), mas diminui na fração argila; quartzo de contribuição detrítica que diminui na fração argila; caulinita e ilita com presença mais significativa na fração argila, podem ser provenientes de solos desenvolvidos sobre matérias geológicos da região e alteração de micas detríticas ou autigênicos; halita presente apenas na amostra total (tot) é em função do ambiente salino em que a amostra está inserida (manguezal); mg-calcita que se mantém presente na amostra total e fração argila; e a calcita que aparece com alta intensidade na fração argila aquecida, pois a aragonita (polimorfo da calcita) se transforma irreversivelmente em calcita quando aquecida a cerca de 400ºC (Oliveira, 2005). A caulinita some completamente na fração argila aquecida. Amostra 5344 (Figura 3) – a assembleia mineralógica da amostra consiste em aragonita proveniente do componente bioclástico; quartzo, microclínio, albita e muscovita de contribuição detrítica que desaparecem na fração argila; caulinita e ilita com presença mais significativa na fração argila, podem ser provenientes de solos desenvolvidos sobre matériais geológicos da região e alteração de micas detríticas ou autigênicos; halita presente apenas na amostra total (tot) é em função do ambiente salino em que a amostra está inserida (manguezal); mg-calcita que se mantém presente na amostra total e fração argila; e a calcita que aparece com alta intensidade na fração argila aquecida, pois a aragonita (polimorfo da calcita) se transforma irreversivelmente em calcita quando aquecida a cerca de 400oC (Oliveira, 2005). A caulinita some completamente na fração argila aquecida e a muscovita (apesar de ter os mesmos picos da ilita) foi identificada, pois o pico de d ~10 Å na amostra total está com a largura da base menor (indicando uma maior organização cristalográfica) e na fração argila essa base fica mais alargada e menor itensidade, sendo um indício da presença da ilita. CONCLUSÃO O ponto 5344 está mais a montante (Figura 5) em relação ao mar e tem mais influência do continente, característica observável na presença de microclínio, albita e muscovita detríticos que não aparecem nos outros dois pontos. A amostra total da 5344 apresenta ilita e caulinita com maior intensidade que os outros dois pontos, porém com menor intensidade na fração argila. A amostra 5354 está entre as outras duas e se destaca por ser a amostra com caulinita e calcita com maior intensidade na fração argila, porém não apresenta caulinita na amostra total. A amostra 5334 é a que está mais a jusante em relação ao mar, ou seja, a que tem maior influência marinha, apresenta os picos da aragonita com intensidades maiores que os outros dois pontos e tem mais quartzo na amostra total. A 5334 é a amostra que apresenta menores intensidades de caulinita e calcita na fração argila e a que apresenta maiores intensidades de quartzo. Ou seja, a amostra mais próxima ao mar (5334) tem mais influência dos bioclástos de aragonita das algas calcárias e a mais próxima do continente (5344) tem mais influência de minerais detríticos como quartzo, microclínio, albita e muscovita. Figura 5. Disposição das amostras 5344, 5354 e 5334 em relação ao continente e ao mar. (Fonte: Google Earth, acessado no dia 06 de outubro de 2022). REFERÊNCIAS DE ANDRADE, Consuelo Lima Navarro et al. Biogeoquímica da matéria orgânica e metais em um manguezal na zona estuarina urbana, Bahia, Brasil. Geonomos, 2012. FAZIO, Gabriella. Significado deposicional e diagenético de argilominerais na transição Ediacarano-Cambriano: formações Tamengo e Guaicurus (Grupo Corumbá, MS). 2018. REBOUÇAS, R. C. Biografia das areias da Costa do Dendê: um estudo da composição das areias de praia entre os rios Jequiriçá e Tijuípe. 2006. 2006. Tese de Doutorado. Dissertação (Mestrado)-Programa de Pós-Graduação em Geologia Costeira e Sedimentar, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, Salvador. STODDART, D. R. Mangroves as successional stages, inner reefs of the northern Great Barrier Reef. Journal of Biogeography, v. 7, p. 269-284, 1980. OLIVEIRA, Felipe Ventura. Processamento de carbonato de cálcio para aplicação nas indústrias de papel e de plástico. 2005.
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