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Linguagem Jurídica Curso Profissionalizante Autor Ivone Fernandes Morcilo Lixa Indaial – 2022 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2022 Elaboração: Ivone Fernandes Morcilo Lixa Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI SUMÁRIO UNIDADE 1 - LINGUAGEM, LINGUAGEM JURÍDICA E VOCABULÁRIO JURÍDICO ....1 TÓPICO 1 - LÍNGUA E LINGUAGEM ......................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3 2 LÍNGUA E LINGUAGEM – CONCEITOS INICIAIS ................................................ 4 3 FUNÇÕES DA LINGUAGEM ...................................................................................12 4 NÍVEIS DE LINGUAGEM ......................................................................................... 17 5 LINGUAGEM ORAL E ESCRITA .............................................................................19 RESUMO DO TÓPICO 1 .............................................................................................24 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................25 TÓPICO 2 - LINGUAGEM JURÍDICA ...................................................................... 27 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 27 2 LINGUAGEM JURÍDICA – CONCEITOS INICIAIS .............................................28 3 JARGÃO JURÍDICO E PODER SIMBÓLICO ........................................................31 4 AS CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM JURÍDICA .....................................36 4.1 TÉCNICO-CIENTÍFICA ........................................................................................36 4.2 LÓGICA E ESTILO ...............................................................................................39 4.3 CONCISÃO ...........................................................................................................40 4.4 ESTÉTICA ..............................................................................................................41 RESUMO DO TÓPICO 2 ............................................................................................43 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................44 TÓPICO 3 - VOCABULÁRIO JURÍDICO .................................................................45 1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................45 2 POLISSEMIA ............................................................................................................45 3 HOMONÍMIA ............................................................................................................ 47 4 SINONÍMIA E PARONÍMIA .....................................................................................48 5 AMBIGUIDADE E VAGUEZA .................................................................................49 RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................56 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................ 57 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................58 UNIDADE 2 - PRODUZIR E INTERPRETAR TEXTOS: CONSIDERAÇÕES.......59 TÓPICO 1 - DECODIFICANDO E INTERPRETANDO TEXTOS .............................61 1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................61 2 A PRÁTICA DE LEITURA .......................................................................................62 2.1 A MOTIVAÇÃO PARA LER .................................................................................63 2.2 OS TIPOS DE LEITORES ...................................................................................64 3 NOÇÕES METODOLÓGICAS DE LEITURA E INTERPRETAÇÃO ................... 67 3.1. É POSSÍVEL APRENDER A LER? ....................................................................69 3.2 VOCABULÁRIO TÉCNICO: COMO INTERPRETAR? ..................................... 70 3.3 A LEITURA DO PARÁGRAFO ............................................................................ 72 4 ESTRATÉGIAS DE LEITURA ................................................................................. 72 4.1 SKIMMING E SCANNING ................................................................................... 73 RESUMO DO TÓPICO 1 ............................................................................................. 75 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................ 76 TÓPICO 2 - A PRODUÇÃO DE TEXTOS POR ESCRITO .......................................77 1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................77 2 LEITURA, ANÁLISE E PRODUÇÃO TEXTUAL: CONSIDERAÇÕES ...............77 2.1 PARA ESCREVER É PRECISO ANTES APRENDER A LER .......................... 79 2.2 OS OBJETIVOS DA ESCRITA ............................................................................ 81 3 COESÃO E COERÊNCIA ....................................................................................... 81 3.1 CONCEITO DE COESÃO .....................................................................................82 3.2 A COESÃO NA PRÁTICA ....................................................................................84 3.3. CONCEITO DE COERÊNCIA .............................................................................86 3.4 A COERÊNCIA NA PRÁTICA ............................................................................88 3.4.1 Coerência semântica......................................................................................88 3.4.2 Coerência sintática ........................................................................................89 3.4.3 Coerência estilística ......................................................................................89 3.4.4 Coerência pragmática ...................................................................................89 RESUMO DO TÓPICO 2 .............................................................................................91 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................92 TÓPICO 3 - A PRODUÇÃO DE TEXTOS ORAIS ....................................................93 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................93 2 A ARGUMENTAÇÃO COMO RECURSO PERSUASIVO ....................................93 2.1 A PERSUASÃO E A ARTE DO CONVENCIMENTO .........................................95 2.2 OS TIPOS DE ARGUMENTOS ...........................................................................96 2.3 COMO SE DEVE FAZER UM DISCURSO ....................................................... 97 3 A EXPRESSÃO ORAL COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO EFICAZ ..................98 3.1 OS RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO ORAL ..........................................................99 3.2 DICAS PARA UMA COMUNICAÇÃO ORAL EFICAZ ....................................100 3.3 PRATICANDO O IMPROVISO ...........................................................................101 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................... 102 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................... 103 REFERÊNCIAS .........................................................................................................104 UNIDADE 3 - DIREITO MODERNO E INTERPRETAÇÃO JURÍDICA ............... 107 TÓPICO 1 - O DIREITO MODERNO E A QUESTÃO INTERPRETATIVA ............ 109 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 109 2 A RACIONALIDADE CIENTÍFICA MODERNA ................................................... 109 3 O POSITIVISMO JURÍDICO COMO EXPRESSÃO DO DIREITO MODERNO .115 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................... 123 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................... 124 TÓPICO 2 - DIREITO, ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA JURÍDICA........................127 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................127 2 ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA ..............................................................................127 3 O DIREITO COMO SISTEMA LÓGICO ................................................................ 135 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................... 146 AUTOATIVIDADE .......................................................................................................147 TÓPICO 3 - A REDEFINIÇÃO INTERPRETATIVA E ARGUMENTATIVA DO DIREITO CONTEMPORÂNEO ................... 149 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 149 2 A CRISE DO POSITIVISMO JURÍDICO .............................................................. 150 3 EMERGÊNCIA DO NOVO CONSTITUCIONALISMO COMO PARADIGMA DE DIREITO E DE INTERPRETAÇÃO ........................................ 153 4 A ARGUMENTAÇÃO E A NORMATIVIDADE DOS PRINCÍPIOS .................... 158 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................... 162 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................... 163 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 165 UNIDADE 1 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a diferença entre língua, linguagem e fala com a finalidade de identificar língua como o conjunto de palavras organizadas por meio de re- gras gramaticais específicas; • identificar o processo de comunicação como um interativo entre sujeitos; • diferenciar a linguagem oral da escrita como modalidades distintas; • particularizar a linguagem jurídica como uma metalinguagem e manifesta- ção específica da língua portuguesa; • caracterizar a linguagem jurídica em sua particularidade técnica e científica; • compreender o vocábulo jurídico como um conjunto de termos que devem ser utilizados de maneira adequada. PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – LÍNGUA E LINGUAGEM TÓPICO 2 – LINGUAGEM JURÍDICA TÓPICO 3 – VOCABULÁRIO JURÍDICO LINGUAGEM, LINGUAGEM JURÍDICA E VOCABULÁRIO JURÍDICO 3 1 INTRODUÇÃO A linguagem é parte integrante de nosso cotidiano e é o instrumento que nos permite dialogar com os demais para transmitirmos ideias, desejos, necessida- des, sentimentos etc. Por meio da linguagem, nomeamos coisas e fatos e também organizarmos nosso pensamento sobre o mundo a nossa volta. Desde o nascimento nos comunicamos, primeiro, por meio de formas de lin- guagem simples e espontânea, como choro, sons, olhares e gestos, que são com- preendidos por nossos familiares. Aos poucos, adquirimos a cultura do meio em que vivemos, vamos mudando e sofisticando nossa linguagem, utilizando diversos meios de comunicação. Em síntese, a linguagem é o instrumento de comunicação pelo qual é pos- sível a atividade ou a ação entre os membros de um grupo social, sendo construída por um conjunto de sinais e respectivas regras que estabelecem combinação entre eles, podendo ser classificada em verbal, não verbal e mista. Variando os níveis de linguagem – desde a coloquial, que é a linguagem co- mum, cotidiana e informal, até a mais sofisticada e culta – podemos utilizar as mo- dalidades oral e escrita como “recursos” expressivos de acordo com a oportunidade e necessidade persuasiva. Neste primeiro momento, vamos refletir sobre o conceito de linguagem, seus elementos, formas e funções. Pronto para iniciar os estudos? Vamos adiante!!! TÓPICO 1 LÍNGUA E LINGUAGEM 4 2 LÍNGUA E LINGUAGEM – CONCEITOS INICIAIS Embora no cotidiano as palavras “linguagem, língua e fala” sejam utilizadas sem rígida distinção, são expressões que não podem ser confundidas. Apesar de serem conceitos relacionados entre si, são aspectos diferentes da comunicação humana estudados pela linguística. FIGURA 1 – O QUE É LINGUÍSTICA? FONTE: <https://bit.ly/3vEculW>. Acesso em: 25 abr. 2022. Então, a linguagem é estudada por especialistas, os linguistas, que, desde teorias e estudos específicos, se dedicam a compreender as transformações das línguas e seus desdobramentos em distintos idiomas. Ainda, também têm a preo- cupação de analisar a estrutura das palavras, expressões e a particularidade fonéti- ca de cada idioma. A linguística não estuda regras ou normas de escrita porque não se confunde com a gramática tradicional, mas tem como preocupação a linguagem em si mesma com a finalidade de possibilitar domínio da comunicação, o que é es- sencial na área jurídica, como veremos adiante. “Linguagem”, em termos gerais, é definida como instrumento de comunica- ção, e a língua é um “código” pelo qual se estabelece a comunicação entre um emis- sor (aquele que codifica) e um receptor (aquele que decodifica). Observe a Figura 2, veja que a comunicação ou processo comunicativo envolve diferentes elementos: • Emissor: também chamado de locutor ou remetente. É aquele que emite a men- sagem para um ou mais receptores, o que comunica, que solicita ou que expres- sa algo. https://bit.ly/3vEculW 5 • Receptor: conhecido por interlocutor, destinatário ou ouvinte. É aquele que re- cebe a mensagem emitida pelo emissor. • Mensagem: é o conteúdo ou conjunto de informações transmitidas pelo emis- sor. Pode ser um texto verbal (uso de palavra oral ou escrita) ou não (corporal, gestos ou sinais). • Código: é o conjunto de signos utilizados na mensagem que são comuns tanto para o emissor como para o receptor. • Canal de comunicação: meio utilizado para a transmissão da mensagem, tais como: televisão, revista, meios virtuais etc. • Contexto: podendo ser chamado também de referente. É a situação comunica- tiva que emissor e receptor estão inseridos. • Ruídos na comunicação: ocorre quando a mensagem não é decodificada de forma correta pelo interlocutor, causados por diversos fatores, tais como: código utilizado pelo locutor desconhecido pelo interlocutor; barulho no local; tom de voz do locutor etc. FIGURA 2 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3vbYznW>. Acesso em: 25 abr. 2022. No processo comunicativo, há um componente relevante a ser acrescen- tado: a cultura. Não basta apenas que o emissor e receptor partilharem o mesmo código – linguagem – para haver uma comunicação eficiente. Também é necessário 6 que pertençam a meios comunicativos ou tradições culturais semelhantes ou co- muns, uma vez que os códigos linguísticos não são homogêneos para indivíduos que falam a mesma língua e nem sempre compartilham a mesma competência – domínio e sofisticação – linguística. Portanto, a linguagem é uma interação entre sujeitos históricos e culturais que a utilizam para agirem e transformarem seu meio social. Esta concepção é aceita pelo moderno conceito de linguagem e é importante na análise do discurso e na argumentação. Neste sentido, nos explica Mikhail Bakhtin (2006.p. 72): [...] para observar o fenômeno da linguagem, é preciso situar os sujeitos – emissor e receptor ao som -, bem como o próprio som, no meio social. Com efeito, é indispensável que o locutor e o ouvinte pertençam à mes- ma comunidade linguística, a uma sociedade organizada. E mais, é indis- pensável que estes dois indivíduos estejam integrados na unicidade da situação social imediata, quer dizer, que tenham relação de pessoa para pessoa sobre terreno bem definido. Apesar da dificuldade em reduzir o termo linguagem a um único conceito, é possível afirmar que é um sistema de sinais complexo utilizado pelo ser humano para exprimir e transmitir ideias e pensamentos. Podemos sintetizar afirmando que, atualmente, considera-se a linguagem como ação, atividade, que permite a um determinado grupo social a prática de di- versos atos que exige do semelhante reações, comportamentos e vínculos. Há que se lembrar que a comunicação não é exclusiva de seres humanos, existindo também entre os animais não humanos. No entanto, embora tendo a ca- pacidade comunicativa por meio de linguagem própria, os animais não humanos não desenvolvem a língua. Apesar de ser complexa em algumas espécies, a co- municação naturais dos animais não humanos é muito diferente por utilizar uma linguagem natural como cheiro, toque, movimento, sinais visuais e faciais. Para os animais em geral, humanos e não humanos, a linguagem é um con- junto de sinais adquiridos genericamente ou ensinado pela vida em grupo, servindo para procriação, afastar inimigos, como forma de submissão etc. Embora demons- trando possuir raciocínio analítico e capacidade de emitir sons e pronunciar pala- vras, animais não humanos não elaboram cultura e, ao que parece, a linguagem é limitada e sem capacidade de combinar e aprimorar informações. Em síntese, a linguagem sempre estará presente no processo comunicati- vo tornando possível a relação entre os comunicadores. Tradicionalmente, é definida 7 como um sistema de sinais utilizados pelos seres humanos desde os tempos mais remotos para exprimir e transmitir ideias e pensamentos. Muitas foram as formas de linguagem utilizadas pelo ser humano ao longo da história, desde sistemas de sinais, como gestos e gritos, até a fala e meios técnicos sofisticados como nos dias de hoje. Veja a Figura 3, que nos mostra a evolução da linguagem e da comunicação ao longo do tempo. FIGURA 3 – A EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/37IzU1s>. Acesso em: 25 abr. 2022. A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO O homem começou a sentir a necessidade de comunicar-se desde que começou a viver em sociedade, fosse para alertar sobre alguma coisa ou expressar sua cultura ou sentimento. Ao longo dos tempos, a comunicação evoluiu paralelamente com o homem até hoje. IMPORTANTE https://bit.ly/37IzU1s 8 A evolução da comunicação pode-se dividir em duas partes: Pré-His- tória e História. Pré-História, é toda a forma de civilização anterior à invenção da escrita. O surgimento da escrita marca o início da História. Paleolítico e Mesolítico de 500.000 a.C. a 18.000 a.C. Foi quando o homem começa a dominar a natureza, fabricar utensílios, usar trajes para se proteger do frio, usar o fogo e, dentre outras coisas, desenvolver a linguagem para se comunicar. Nesse processo, inicia-se o que hoje conhecemos como pinturas rupestres, ou seja, desenhos feitos em cavernas ou pedras para con- seguir expressar-se. FONTE: <https://bit.ly/3vIOpdr>. Acesso em: 25 abr. 2022. Neolítico de 18.000 a.C. a 5.000 a.C. O homem passou a viver em grupos maiores, as habitações passaram de cavernas a casas construídas por ele próprio, os trajes eram feitos por tear, e a comunicação passou a ser ex- pressa por meio da técnica de gravar o cotidiano em ossos, pedras e madeiras, assim como apareceu a modelagem em argila. Idade dos metais de 5.000 a.C. a 4.000 a.C. É assim denominada porque o homem começou a utilizar cobre, ferro e bronze no seu dia a dia; as civilizações viram centros urbanos e o homem descobre a importância de se desenvolver perto de rios. Os seus meios de locomoção também se desenvol- vem, porém, o meio de comunicação continua o mesmo. https://bit.ly/3vIOpdr 9 A transição da Pré-história para a História se dá no final da Idade dos Metais, que foi por volta de 4.000 a.C. Os historiadores aceitam como certo o aparecimento da escrita na Mesopotâmia e no Egito. Agora chegamos à História que é assim denominada, pois, nessa Era, temos arquivos que registram e datam os acontecimentos. Através dessa época é que temos uma real noção de como o homem vivia e se comunicava, o que pensava e o que sentia em relação ao mundo ao seu redor. Se o surgimento da escrita marca o início da história, a invenção da téc- nica de imprimir ilustrações, símbolos e a própria escrita, promove a possibili- dade de tornar a informação acessível à um número cada vez mais crescente de pessoas, alterando assim o modo de viver e de pensar de uma sociedade. FONTE: <https://bit.ly/3kbAreN>. Acesso em: 25 abr. 2022. Define-se a linguagem como atividade ou ação que possibilita a interação entre os membros de um grupo social para a prática de diversos e distintos atos que exigem reações e/ou comportamentos que estabeleçam vínculos entre os indivídu- os. É constituída por um conjunto de sinais e respectivas regras que estabelecem combinação entre eles e utilizada como instrumento de comunicação. Em síntese, podemos afirmar que linguagem é todo sistema de sinais convencionais, por meio dos quais os sujeitos interagem uns com outros. São inúmeras as formas de lingua- gem, exemplo: linguagem corporal, linguagem falada, linguagem da informática etc. Nos dias de hoje, considera-se que, de acordo com o sistema de sinais que se utiliza, a linguagem é classificada em: • Linguagem verbal: é aquela que utiliza, para a comunicação, as palavras. O termo “verbal” é de origem latina “verbale” que vem de “verbu” que significa “pa- lavra”. Esta é a maneira mais convencional de linguagem utilizada por ser mo- mentânea e pode transmitir ideias e pensamentos de qualquer nível de comple- xidade. Podemos classificar a linguagem verbal em dois tipos: o Escrita: esta maneira de se comunicar verbalmente é utilizada, em geral, quando o receptor não está presente na conversa e, na maioria das vezes, a interação não é momentânea. https://bit.ly/3kbAreN 10 o Oral: diferente da escrita, em sua maioria apresenta a interação imediata. Ela pode ocorrer independente do fato de o interlocutor estar no mesmo local, como é o caso de uma conversa por telefone. Para uma boa comunicação oral, é preciso estar atento à naturalidade e à objetividade da mensagem. • Linguagem não verbal: é aquela que utiliza qualquer outro tipo de sinal como gestos, sons, imagens etc. Por exemplo, quando alguém, por alguma razão, não tem ou perde a capacidade de fala, utiliza linguagem não verbal. • Linguagem mista: é quando ocorre uma mescla entre a linguagem verbal e a não verbal, utilizando simultaneamente palavras e sinais (ou outros códigos) para comunicar uma mensagem ao interlocutor. Por exemplo: quando chama- mos alguém pelo nome ou concordamos com um “sim” ao mesmo tempo que movimentamos a cabeça com sinal positivo. FIGURA 4 – LINGUAGEM VERBAL, NÃO VERBAL E MISTA FONTE: <https://bit.ly/3xVTRfQ>. Acesso em: 25 abr. 2022. É comum utilizarmos a combinação da linguagem verbal e não verbal, do tipo mista. Atualmente, utilizamos mensagens via internet com palavras (mensa- gem verbal) e com emojis (linguagem não verbal). 11 FIGURA 5 – EMOJIS – UMA LINGUAGEM COMUNICATIVA FONTE: <https://bit.ly/3kcYj1C>. Acesso em: 25 abr. 2022. Você já notou como utilizamos constantemente as várias formas de linguagem? Uma vez compreendido o que é linguagem, vamos discutir o que é língua. A língua é a linguagem que utiliza a palavra como sinal de comunicação, sendo, assim, um aspecto de linguagem. Para Terra (2018, p. 13), em geral, define-sea língua como um “sistema de natureza gramatical, que pertence a um grupo de indivíduos, formado por um con- junto de sinais (o léxico) e por um conjunto de regras para a combinação (gramática em sentido amplo)”. A língua é uma construção social de caráter abstrato que se concretiza por meio da fala, que é um ato individual de vontade e inteligência que não se confun- de com fala. Para Ferdinand de Saussure (1972, p. 27) há uma clara distinção entre língua e fala: [...] esses dois tipos objetos (língua e fala) estão estreitamente ligados e se implicam mutuamente: a língua é necessária para que a fala seja in- teligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária para que a língua se estabeleça; historicamente o fato da fala vem sempre antes ... Existe, pois, interdependência da língua e da fala; aquela é ao mesmo tempo o instrumento e produto desta. Tudo isso, porém não impede que sejam duas coisas absolutamente distintas. A língua, portanto, é uma construção sociocultural que existe independente do comunicador. Ao nascermos, a língua já está formada e partilhada pelo grupo humano e subsistirá independente de nossa existência. Em geral, em todas as so- ciedades a escrita é posterior à língua, e não é raro que se faça uso da língua sem que se saiba utilizar sua escrita. 12 Você já ouviu falar em culturas ágrafas? O que é uma sociedade ágra- fa? Sociedade ágrafa” é aquela que não desenvolveu por si mesma um siste- ma próprio de escritura. Exemplo: os Incas foram uma civilização avançada, mas nunca tiveram uma escritura; eram ágrafos. Como se registra a história de uma sociedade ágrafa, já que a escrita é uma das mais conhecidas fontes histórias? Com a colaboração de outras ciências, como antropologia, arqueologia e paleontologia, novos materiais passaram a servir de indícios do passado de um povo: imagens, relatos orais, vestígios, artefatos, ossos, armas, fotografias, mú- sicas, construções e outros objetos. Essas podem ser tão importantes quanto a escrita no processo de resgate do passado de uma civilização ou comunidade. Sendo assim sabendo que as sociedades ágrafas ou que fazem parte da história antiga não possuíam recursos como, fotografias, músicas e outras fontes mais modernas, para estudarmos essas sociedades, utilizamos as fontes mate- riais. Que são os vestígios materiais. Sinais que o homem deixa pelos lugares por onde passa, que podem ser vistos em vários sítios arqueológicos abertos à visita- ção pública ou em museus especializados. Exemplos: cerâmicas com elementos femininos, pedras talhadas e polidas, fósseis, ruínas entre outros FONTE: <https://bit.ly/3Ozki0S>. Acesso em: 25 abr. 2022. NOTA A língua é o elemento que possibilita a interação entre os indivíduos em um determinado grupo social que torna os signos realidade por meio da associação entre significantes sonoros e significados. É um fenômeno de grande diversidade e complexidade, cujas forças que lhe dão dinâmica são inúmeras, tais como os meios de comunicação em massa. 3 FUNÇÕES DA LINGUAGEM Segundo a utilização da linguagem pelo comunicador ou falante, a lingua- gem possui diferentes funções que dependem dos elementos utilizados na co- municação, ou seja, do emissor, receptor, mensagem, código, canal e contexto. As 13 combinações desses elementos determinam o objetivo do ato comunicativo. Segundo Petri (2017, p. 22), as funções da linguagem podem ser classifica- das em: função referencial, função emotiva, função conotativa, função poética e função metalinguística. Cada qual possuindo características bastante particulares. • Função referencial ou denotativa: é também chamada de função informati- va, a função referencial tem como objetivo principal informar ou referenciar algo. Por sua função, este tipo de texto é escrito na terceira pessoa (singular ou plural) enfatizando seu caráter impessoal. Como exemplo: a linguagem de textos jornalísticos e científicos. São textos que, por meio de uma linguagem denotati- va (sentido literal ou real), informam a respeito de algo, sem explicitar aspectos subjetivos ou emotivos à linguagem. São textos claros e objetivos. o exemplo: na linguagem jurídica tem-se função referencial, por exemplo, em uma qualificação de parte. Observe a objetividade do texto reproduzido no Quadro 1: QUADRO 1 – FUNÇÃO REFERENCIAL João Paulo de Souza Filho, brasileiro, casado, comerciante, portador do documento de iden- tidade RG nº 1.234.567-8, inscrito no CPF sob nº 109.876.543-21, com endereço eletrônico jpsilva@marte.com.br, domiciliado e residente na Rua: Das Flores nº 67, Bairro Oliveira, São Caetano do Sul, SP. CEP: 89.056-240, nesta Comarca, onde recebe intimações, vem respeito- samente ante Vossa Excelência propor: FONTE: A autora • Função emotiva ou expressiva: esta função traz as emoções do emissor e é também chamada de função expressiva e tem como objetivo principal trans- mitir suas emoções, sentimentos e subjetividades por meio da própria opinião. É o tipo de função que explicita, que evidencia as opiniões e emoções de quem escreve a mensagem, por isso o texto é escrito em primeira pessoa e está volta- do para o emissor, porque possui um caráter pessoal. o exemplo: textos poéticos, cartas, diários etc. Em geral, são textos marcados pelo uso de sinais de pontuação, por exemplo, reticências, ponto de exclama- ção etc. a fim de dar ênfase à mensagem transmitida. 14 FIGURA 6 – FUNÇÃO EMOTIVA FONTE: <https://bit.ly/3vOuOca>. Acesso em: 25 abr. 2022. • Função conativa ou apelativa: o objetivo é influenciar o receptor a partir do apelo, por esta razão é chamada também de apelativa. É caracterizada por uma linguagem persuasiva que tem o intuito de convencer o leitor. Por isso, o grande foco é no receptor da mensagem. Essa função é muito utilizada nas pro- pagandas, publicidades e discursos políticos, de modo a influenciar o receptor por meio da mensagem transmitida. Este tipo de texto costuma se apresentar na segunda ou na terceira pessoa com a presença de verbos no imperativo e o uso do vocativo. FIGURA 7 – FUNÇÃO APELATIVA FONTE: <https://bit.ly/3KbYXXR>. Acesso em: 25 abr. 2022. 15 • Função poética: esta função tem como objetivo enfatizar a mensagem, res- saltando a maneira como ela é estruturada para dar destaque ao seu sig- nificado. Ao se escolher a função poética, a preocupação é muito mais com as rimas, que pode ser tanto em prosa como em verso, com a estrutura e com a imagem do que com as palavras em si. O texto não é objetivo e transmite pouca informação. FIGURA 8 – CARACTERÍSTICAS DA FUNÇÃO POÉTICA FONTE: <https://bit.ly/3ODwJc4>. Acesso em: 25 abr. 2022. • Função metalinguística: a função metalinguística é caracterizada pelo uso da metalinguagem, ou seja, a linguagem que se refere a ela mesma, como a que se usa nos dicionários, cujos verbetes explicam a própria palavra. Ou ainda, no filme que tem por próprio tema o cinema. No poema que tem por tema o fazer literário ou em uma peça de teatro que tem por tema o teatro e demais gêneros em que a linguagem está preocupada com o próprio código. Nestes casos, o emissor explica um código utilizando o próprio código. https://www.todamateria.com.br/metalinguagem/ 16 FIGURA 9 – FUNÇÃO METALINGUÍSTICA NAS TIRINHAS DE HUMOR FONTE: <https://bit.ly/3xZdJi2>. Acesso em: 25 abr. 2022. Em síntese, pode-se afirmar que, de acordo com a intenção do falante, a linguagem pode ser utilizada de distintas maneiras tornando mais eficiente a comu- nicação, assim, cada indivíduo pode organizar sua fala de acordo com o que deseja transmitir, adquirindo a linguagem distintas funções. É muito útil conhecer adequa- damente as distintas funções da linguagem. FIGURA 10 – SÍNTESE: AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM FONTE: <https://bit.ly/3Mu2D8Z>. Acesso em: 25 abr. 2022. 17 4 NÍVEIS DE LINGUAGEM Você já deve ter percebido que são inúmeras as variações linguísticas de um idioma como resultado de contínuas e dinâmicas relações comunicativas de um determinadogrupo social. O Brasil, por exemplo, é um país com imensa varie- dade de línguas. Somos, atualmente, o oitavo país com maior número de línguas em uso, sendo a maioria delas dos povos indígenas. São 190 línguas indígenas que atualmente estão em perigo de extinção. O Brasil, além dos diferentes sotaques regionais, é um país multilíngue. Ao longo do tempo, nossa língua sofreu mudanças constantes. Por exemplo, a palavra “você”; antigamente era “vossa mercê”, que se transformou sucessivamente em “vossemecê”, “vosmecê”, “vancê” e, com o passar do tempo, foi sendo modificada, por populações, culturas, povos diferenciados. Assim, vamos nos dando conta que é comum nos depararmos com linguajares diversificados de uma região a outra, o que vai contribuindo de maneira significativa para a complexidade de nosso idioma. Contudo, como unificar essa grande variedade linguística? Isso é possível? A escola é o centro de referência para o ensino da língua vernácula, a língua “pura” sem “estrangeirismos”, a chamada linguagem culta, sem elementos descaracteri- zadores, constituída por normas gramaticais. Entretanto, há uma permanente di- cotomia entre a norma culta e o universo linguístico dos indivíduos, em que o falar/ escrever “certo” se sobrepõe às variantes linguísticas. Há um “falar brasileiro”, que é um modo de se utilizar a língua portuguesa, que é a língua nacional, com enormes variedades linguísticas. Haveria uma forma “certa” para uso da língua? Para Marcos Bagno (2007), a língua é um enorme iceberg que flutua no mar do tempo e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível, que é a chamada “língua culta”. No entanto, essa é parcial e não pode ser aplicada a todo o resto da língua, sob o risco de ser reproduzido um tipo de preconceito comum na sociedade brasi- leira: o preconceito linguístico. Chamando a atenção para o preconceito linguístico, afirma Bagno (2007, p. 16): Como a educação ainda é privilégio de muita pouca gente em nosso país, uma quantidade gigantesca de brasileiros permanece à margem do domí- nio de uma norma culta. Assim, da mesma forma como existem milhões de brasileiros sem-terra, sem escola, sem teto, sem trabalho, sem saúde, também existem milhões de brasileiros sem língua. Afinal, se formos acre- ditar no mito da língua única, existem milhões de pessoas neste país que não têm acesso a essa língua, que é a norma literária, culta, empregada pelos escritores e jornalistas, pelas instituições oficiais, pelos órgãos do poder — são os sem-língua. É claro que eles também falam português, 18 uma variedade de português não-padrão, com sua gramática particular, que, no entanto, não é reconhecida como válida, que é desprestigiada, ridicularizada, alvo de chacota e de escárnio por parte dos falantes do português-padrão ou mesmo daqueles que, não falando o português-pa- drão, o tomam como referência ideal — por isso podemos chamá-los de sem-língua. Superar o preconceito linguístico é um enorme desafio, porque são muitos os aspectos comunicativos do nosso idioma. Desde o espaço físico, no qual intera- gimos, que é um campo de atividade social de grande importância quando se refere à atuação linguística que, por natureza, se concretiza no terreno geográfico, onde suas qualidades geológicas e produtivas influenciam significativamente em nossa maneira de se comunicar, de se comportar, de agir, de viver (SANTOS, 2018). Em região de floresta densa, por exemplo, a linguagem local/regional será repleta de termos que se referem às especificidades da natureza local, como, por exemplo, a palavra “buriti” – do tupi-guarani: mbur (alimento) + iti (árvore alta) = árvore alta de alimento ou de vida. Conforme as relações sociais vão se desenvolvendo, vão sendo criadas no- vas palavras e expressões que condizem com a necessidade de nomear novos bens de consumo e entretenimento. Um exemplo é o estrangeirismo que atribui valores linguísticos a produtos e bens de serviço por meio da língua do país de origem, como é o caso de internet, pen drive, hot-dog, videogame, shampoo etc. Ainda, Santos (2018, p. 6), nos esclarece que: Toda sociedade é heterogênea, ou seja, ela é portadora de diferentes tipos de cenários onde as ações humanas podem se manifestar: cenários cul- turais, religiosos, artísticos, profissionais, de lazer, comerciais etc., e entre esses cenários há um elemento divisor de águas que difere entre si e es- tabelece limites de comportamentos que acabam restringindo, de certa forma, o desenvolvimento da outra, são as classes sociais dos indivíduos. O modo de comunicação das diferentes classes sociais se estabelece pe- rante o modo de vida dos falantes e de suas formas de expressões carac- terísticas. Tem-se, superficialmente, disseminado a ideia de que, depen- dendo da classe social, pode-se estabelecer um determinado linguajar para cada uma delas; todavia, essa ideia acaba entrando em contradição ao inferir-se que mesmo inseridos em uma classe social específica um ou mais indivíduos podem possuir e exercer maior ou menor domínio linguís- tico em qualquer classe social. Portanto, as diferenças sociais não podem servir de condição para que os indivíduos sejam considerados aptos a exercer a comunicação “certa ou errada”. Na verdade, são adequações e conformidades da língua estabelecidas que não podem excluir indivíduos, mas sim, contribuir para coesão e coerência em momentos que necessitam de maior ou menor dedicação de atenção. A escolarização pode levar a se pensar que a linguagem correta é a linguagem escrita, que é, por natureza, 19 lógica, clara, explícita, ao passo que a linguagem falada é confusa, incompleta, sem lógica etc. Esta percepção é equivocada. A fala tem elementos contextuais e prag- máticos que a escrita pode revelar, e, por outro lado, a escrita tem elementos que a linguagem oral não utiliza. Utiliza-se a expressão “linguagem culta” para designar uma variedade lin- guística representada pelas pessoas de alta escolarização formal e com acesso à cultura letrada. Linguagem de nível culto é aquela considerada ideologicamente como “certa” e é definida como aquela que o grupo social atribui valor distinto da linguagem popular que é aquela que se constrói nas múltiplas relações comunica- tivas entre os indivíduos de diferentes espaços e vivencias sociais. É aquela que tende a ser coloquial e, muitas vezes, é responsável pelo surgimento de termos comuns como gírias, jargões e figuras de linguagem, dentre outras manifestações e expressões linguísticas. FIGURA 11 – LINGUAGEM CULTA E LINGUAGEM COLOQUIAL FONTE: <https://bit.ly/37BNV12>. Acesso em: 25 abr. 2022. 5 LINGUAGEM ORAL E ESCRITA A linguagem comporta duas modalidades distintas e bastante utilizadas: a linguagem oral e a linguagem escrita. São formas diferentes tanto em “recursos https://uniasselvi01-my.sharepoint.com/personal/carolina_branco_uniasselvi_com_br/Documents/Documents/2022/2 - LIVROS PÓS/01 - LINGUAGEM JURÍDICA/%3c 20 expressivos” como gramaticalmente. Não há dúvida de que a linguagem falada é o primeiro e mais importante meio de comunicação. Não é sem razão que o ser hu- mano é considerado um “animal que fala”. Como adiante veremos, sob o ponto de vista argumentativo, a comunicação oral possui vantagens em relação à escrita, apesar de algumas desvantagens tam- bém. Usando-se a oralidade, é possível mais agilidade e interação comunicativa, além de outras formas de linguagem como a corporal, o que garante mais eficácia da comunicação. Ao estarmos presencialmente com nosso interlocutor, podemos estar mais atentos à reação dos que nos ouvem, sendo possível “moldar” ou reorientar a linha argumentativa de acordo com a interação com os receptores. Gestos ou postura corporal podem indicar necessidade de reformular ou reforçar a argumentação a fim de persuadir o público-alvo. A linguagem oral, ou a “palavra falada”, possui relevância e validade no cam- po jurídico produzindo efeitos, como veremos. Imagine,por exemplo, uma situação em que ocorreu grave ofensa verbal a alguém que pleiteia danos morais em juízo. Como produzir prova se não há documento escrito para produzir o convencimento do magistrado? É possível provar o alegado por meio de prova testemunhal, audio- visuais, depoimento pessoal do ofendido etc. Evidente que a escrita representa maior segurança jurídica porque fica o registro de um ato ou um fato com relevância na vida social e jurídica. No entanto, a informalidade da palavra falada permite mais agilidade nas revisões e possibilidade de persuasão. Em síntese, segundo Petri (2017, p. 26), são características da linguagem oral: 1. É mais abrangente uma vez que mesmo pessoas não alfabetizadas, mas que conheçam o código, são capazes de se comunicar, usando essa modalidade; 2. Faz uso de recursos da linguagem não verbal como gestos, olhares etc.; 3. Entonação e ritmo que se modificam de acordo com o sentido da mensagem; 4. Maior interação entre emissor e receptor uma vez que estão “face a face”; 5. Pode ser mais repetitivo a fim de reforçar o significado da mensagem; 6. Não há possibilidade de ser apagada a mensagem como ocorre na escrita; 7. A frase pode utilizar complementos e ser feito o uso de pausas; 8. É possível o uso de marcadores conversacionais, ou seja, expressões utilizadas para confirmação como: “ne”?; “certo?”; “não é mesmo?” etc. 9. Pode utilizar expressões populares e gírias. 21 Portanto, no uso da linguagem oral, é comum que o emissor utilize recursos que permite ao receptor sentir-se participante ativo da comunicação. A informali- dade, típica da linguagem oral, pelo desapego gramatical e forma de interação pos- sibilita agilidade na comunicação e, em alguns casos, dependendo da competência e habilidade do comunicador, maior convencimento. A linguagem escrita, historicamente posterior à oral em todas as culturas, estima-se que teve sua origem na Antiga Mesopotâmia, há cerca de 5.000 anos, por meio da chamada escrita cuneiforme, dado a seu formato em forma de “cunha”, e também no Egito Antigo, por meio dos hieróglifos. Sem dúvida, a escrita foi um grande marco para o desenvolvimento da hu- manidade permitindo, entre outras coisas, o acúmulo e aprimoramento do conheci- mento. Portanto, a escrita não é apenas uma questão de mero registro de saberes, sentimentos, ideias e culturas, mas representa a possibilidade de agregar conheci- mento o que permitiu o avanço da ciência. 22 FIGURA 12 – A EVOLUÇÃO DA ESCRITA FONTE: <https://bit.ly/3958jaY>. Acesso em: 25 abr. 2022. 23 Sob o ponto de vista argumentativo, a linguagem escrita possui a vantagem de ser produzida antes de ser apresentada ao receptor, o que permite planejar com cuidado a produção textual, escolher o nível de linguagem a ser utilizado e rever antecipadamente antes de sua exposição. Por outro lado, não há interação imediata com o receptor, não havendo a possibilidade de correção ou esclarecimento caso a mensagem não seja bem com- preendida, uma vez que, em regra geral, a leitura do texto não é feita na presença do escritor. Assim, a escrita de um texto exige clareza, coerência e coesão na exposição das ideias e enunciados de forma a afastar obscuridades ou lacunas. Por exemplo, um jurista deve ter muito cuidado na elaboração de um texto, em razão de que, apesar dos modernos e ágeis meios virtuais de comunicação, no campo jurídico, a maioria dos atos processuais se realiza por meio da escrita: petições, atas, docu- mentos, certidões, mandados, laudos, despachos, sentenças, acórdãos etc. apesar de a comunicação oral ser bastante presente na seara jurídica. Por segurança jurí- dica, os atos praticados devem ser devidamente registrados a fim de serem consul- tados a qualquer momento. Para Petri (2017, p. 26-27), são características da linguagem escrita: 1. É menos abrangente uma vez que apenas pessoas alfabetizadas po- dem fazer uso dela; 2. Não aproveita os mesmos recursos da linguagem oral; 3. Não é possível ao emissor perceber a reação do leitor; 4. Não há normalmente repetição de palavras; 5. Há a possibilidade de correção; 6. Utiliza raramente gírias e expressões populares; 7. É mais permanente que a linguagem oral; 8. Utiliza pontuação para representação a entonação e ritmo da modali- dade oral; 9. É mais prestigiada socialmente. Na linguagem oral, há compartilhamento de situação espaço-temporal o que permite ao emissor direcionar sua atividade de maneira a garantir um discurso explícito. Já na linguagem escrita, há outros recursos importantes como a pontua- ção que indica pausas, dando mais função expressiva à comunicação. 24 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Embora os termos linguagem, língua e fala sejam utilizados sem distinção, um estudo mais atento permite compreender que são aspectos diferentes utilizados na comunicação humana e estudados pela linguística. • A linguagem é definida como um instrumento utilizado no processo comuni- cativo, e envolve emissor, receptor, mensagem, código, canal de comunicação, contexto e ruídos. • Ao longo da história da civilização humana, a linguagem tem servido para a in- teração dos membros de um grupo social e se manifesta de distintas formas, sendo classificada em: verbal, não verbal e mista. • A linguagem possui distintas funções, quais sejam: denotativa, emotiva, conota- tiva, poética, metalinguística, dentre outras. • É possível a utilização da linguagem em diferentes níveis, servindo todas para a comunicação de acordo com o contexto e necessidade. • É um equívoco admitir a linguagem culta, a “escolarizada”, como a “correta”. Tal concepção é uma forma de segregação ideológica que desconsidera e margina- liza as diferentes formas de comunicação. • A linguagem, tanto escrita como oral, são modalidades de comunicação e recur- sos expressivos, cada qual com vantagens e desvantagens, ambas utilizadas no campo jurídico exigindo cuidado e domínio linguístico. 25 AUTOATIVIDADE 1 A linguagem além de ser o meio pelo qual estabelecemos diálogo com os demais, nomeamos as coisas e os fatos dando sentido ao mundo em que vive- mos. Nós, seres humanos, nos comunicamos de distintas formas desde o nos- so nascimento e, ao longo da vida, temos a capacidade de aprimorar e sofisticar a linguagem. Acerca do conceito de linguagem, assinale a afirmação CORRETA: a) ( ) Língua, linguagem e comunicação são sinônimas. b) ( ) Linguagem é uma capacidade humana que permite a comunicação. c) ( ) A linguagem é uma atividade exclusivamente oral d) ( ) A escrita não é uma forma de linguagem 2 A linguagem verbal é a forma mais convencional de comunicação que pode ser escrita ou oral. A linguagem escrita é utilizada, em geral, quando o re- ceptor não está presente na conversa, enquanto a oral é aquela que ocorre quando há uma interação imediata entre o emissor e o receptor. Acerca da linguagem oral, assinale a afirmação CORRETA: a) ( ) A linguagem oral apenas pode ser utilizada quando emissor e receptor estão no mesmo local. b) ( ) Na linguagem oral utiliza-se a escrita como forma de comunicação c) ( ) A linguagem oral pode ser utilizada independente de receptor e emis- sor estarem no mesmo local. d) ( ) A linguagem oral não é instantânea. 3 A língua é definida como um sistema de natureza gramatical que pertence a um grupo de indivíduos que partilham uma mesma cultura. A língua é forma- da por sinais e regras que se manifestam, também, por meio da fala. Acerca da língua, assinale a afirmação CORRETA: a) ( ) Língua é uma capacidade humana universal que independe da cultura do grupo social. b) ( ) A existência da língua em um grupo social independe da existência da escrita. c) ( ) Necessariamente, para existir a língua, deve haver a fala e a escrita. d) ( ) A língua não é uma forma de comunicação entre os membros de um grupo social. 26 27 TÓPICO 2 LINGUAGEM JURÍDICA 1 INTRODUÇÃO Como vimos anteriormente, comunicar utilizandodiferentes tipos de lin- guagem é parte das relações humanas. Cada profissão cria e aprimora expressões próprias com características comuns que são utilizadas por seus membros, definin- do-se, assim, a linguagem jurídica de cada campo técnico. No campo jurídico não é diferente. Para os profissionais do Direito a linguagem e seu domínio é a principal fer- ramenta utilizada para convencer, transigir, demandar, enfim, atuar na luta pela de- fesa e garantia de direitos. Você verá em seus estudos como é importante o domínio do vocabulário ju- rídico. Conhecer o sentido dos termos utilizados nas leis e códigos, as relações das palavras nos textos jurídicos e as variações nas estruturas sintáticas das palavras que permitem dar ênfase ao discurso. O conhecimento e domínio do vocabulário jurídico, com o cuidado de não cometer excessos, é a primeira tarefa que se impõe aos que abraçam o campo pro- fissional do Direito. Por meio da palavra, o Direito se concretiza. Além de falar bem para as ne- cessidades do cotidiano, aos que se dedicam ao mundo jurídico é necessário ir além: é dominar a linguagem jurídica com precisão. Manter o formalismo, o estilo e a ética, os profissionais do Direito devem ser modernizar constantemente para persuadir e convencer. Sem o “juridiquês” desen- freado, que é filho da inútil e ingênua afetação, para não cair no ridículo, a lingua- gem jurídica deve ser clara e precisa, porém culta e erudita. Vamos conhecer um pouco da linguagem jurídica? 28 2 LINGUAGEM JURÍDICA – CONCEITOS INICIAIS A linguagem jurídica é uma das manifestações específicas da língua portu- guesa aplicada a uma área específica do conhecimento com características pró- prias. Embora, em não raras vezes, utilizando signos linguísticos da linguagem co- mum, não é compreendida imediatamente por um não jurista – por um leigo. Sem dúvida, este é um obstáculo a ser superado quando do início da formação profissio- nal no campo jurídico. As definições e conceitos específicos com que o Direito opera são elemen- tares e necessários para o campo jurídico, mas sem sentido fora do Direito, porque não tem outra função a não ser exprimir termos e expressões que apenas possuem significado exclusivamente jurídico. Veja a Figura 13, que diferencia os termos “segredo de justiça” e “sigilo judi- cial”. Para os que não são da área jurídica, podem parecer sinônimos, mas não são. Cada um possui um sentido específico e são bem diferentes. No entanto, quem sabe a diferença? Apenas aqueles que conhecem a linguagem jurídica. FIGURA 13 – TERMOS JURÍDICOS ESPECÍFICOS: SEGREDO DE JUSTIÇA E SIGILO JUDICIAL FONTE: <https://bit.ly/3KnCuY3>. Acesso em: 25 abr. 2022. A linguagem jurídica é específica por duas razões, basicamente: 29 • porque há um vocabulário jurídico próprio; • porque dá sentido ao discurso e à argumentação jurídica. A linguagem jurídica é utilizada em situações particulares pela necessidade de, no exercício profissional, serem conceituados fenômenos relacionados ao Direi- to e estabelecer seu sentido jurídico, que, em regra geral, não têm o mesmo ou não encontram qualquer significado no uso corrente. Isto ocorre porque tem natureza técnico-científica própria, uma vez que utiliza de palavras para o campo teórico- -prático do Direito, onde reside o problema do vocabulário jurídico. Aí está o primeiro obstáculo a ser enfrentado, porque, como qualquer ci- ência, os termos devem ser utilizados com exatidão, devendo o termo técnico ser empregado adequadamente, sendo absolutamente indispensável não só para a compreensão rápida dos argumentos utilizados como também para a correta iden- tificação dos fenômenos discutidos. Há que se observar que nenhum termo está dissociado de sua significação comum ou lexical (da língua, da linguagem natural ou do código abstrato), em geral relacionada a sua etimologia (origem), e que, quando se estabelece sentido mais específico (técnico-científico), há necessidade de ser verificado seu sentido contex- tual que identificará a forma mais precisa ou técnica. A linguagem jurídica é uma metalinguagem, ou seja, é uma linguagem que descreve outra linguagem artificial, termos utilizados para designar fatos da vida social que possuem sentido e relevância no campo jurídico. Qual a razão do Direito construir uma linguagem própria? Como já discutido no tópico anterior, a própria natureza intrínseca ao ser humano é social, vive em sociedade para atender suas necessidades, interesses e realizar suas potencialidades. Esta característica inata do ser humano em colocar “seu eu”, seu pensar, em comum com o próximo, é o ato comunicativo próprio da convivência, de relação de grupo e da prática social. Porém, o estudo da comunicação jurídica se justifica pela relação inerente entre o Direito e a sociedade, na qual a atuação daquele tem como objetivo nor- matizar as relações sociais e os seus efeitos. E, diante do universo jurídico, se pode afirmar que as ações humanas que verdadeiramente importam à ciência jurídica di- zem respeito aos efeitos que estas podem gerar ao grupo social ou a algum de seus membros, já que a própria existência do Direito tem por objetivo regular os atos que afetam os membros da sociedade, são os chamados valores jurídicos. 30 Valores jurídicos tais como a ordem, a segurança, a liberdade, as justiças, dentre outros, são inerentes à condição humana e são compreendidos de maneira distinta pelos indivíduos e o Direito estabelece uma espécie de “consenso” a fim de estabelecer critérios que possibilitem a vida em comum, e é aí que surge a neces- sidade de uso de linguagem própria e complexa. Assim como outros profissionais, o advogado, por exemplo, ao ser solicitado para prestação de um trabalho específico, é necessário relatar o fato valorado juridicamente, bem como o que deve ser feito de acordo com critérios técnicos. FIGURA 14 – A ESPECIFICIDADE DA LINGUAGEM JURÍDICA FONTE: <https://bit.ly/38nFgyX>. Acesso em: 25 abr. 2022. Na Figura 14, percebe-se a dificuldade de compreensão da linguagem jurídi- ca por aqueles que não são profissionais da área. Observe que os termos utilizados são conceitos que regulam e protegem valores. No caso, utiliza-se a expressão in dubio pro reo o que significa que, na dúvida, a “balança deve pender” para o acusa- do uma vez que a liberdade integra o conjunto de bens inerentes à condição huma- na e de grande relevância no mundo do Direito. Sem dúvida, o Direito é, por excelência, se comparado a outros campos do conhecimento, a ciência da palavra, o que exige o aprimoramento do domínio da palavra no exercício da profissão, pois é, na linguagem, o espaço em que o Direito se efetiva. Assim, pode-se afirmar que a capacidade de realizar uma boa comunicação, permite recriar os fatos com consistência e credibilidade e de estabelecer relações de causa e efeito entre estes, e as leis formarão um parâmetro decisório que irá amparar o Direito requerido. https://uniasselvi01-my.sharepoint.com/personal/carolina_branco_uniasselvi_com_br/Documents/Documents/2022/2 - LIVROS PÓS/01 - LINGUAGEM JURÍDICA/%3c 31 O Direito é um espaço de comunicação relevante para as relações humanas uma vez que a sociedade humana é uma coletividade constituída por entes comu- nicantes. É neste sentido que Miguel Reale (1992, p. 34) considera o Direito uma linguagem indissociável das relações humanas: O Direito é, por conseguinte, um fato ou fenômeno social; não existe senão na sociedade e não pode ser concebido fora dela. Uma das características da realidade jurídica é, como se vê, a sua socialidade, a sua qualidade de ser social. Logo, ... desde que passou a viver em sociedade, o homem vem sentindo cada vez mais a necessidade imperiosa de se comunicar, pois já foi dito que o homem é aquilo que consegue comunicar aos seus semelhantes. Por meio da palavra é que o profissional do Direito atua, devendo ter claro que, se comunicar para atender às necessidades comuns e diárias de comunicação,é diferente de falar com precisão no exercício da profissão jurídica, havendo a necessi- dade de domínio da linguagem para que tenha cautela na escolha das palavras. Isso não significa que linguagem jurídica se confunda com “jargão profissio- nal”, para que o profissional acabe se encapsulando em um hermetismo vocabular somente acessível e compreendido por poucos iniciados. 3 JARGÃO JURÍDICO E PODER SIMBÓLICO Jargão é o vocabulário típico de uma especialidade profissional e é utilizado especificamente por pessoas que compõem determinado segmento ou grupo tec- nicamente especializado. Por exemplo, existem jargões de médicos, engenheiros, técnicos de informática etc. Evidente que o jargão é importante para a compreen- são dos procedimentos e documentos jurídicos por sua complexidade, com signifi- cados incompreensíveis para leigos. 32 FIGURA 15 – JARGÃO JURÍDICO FONTE: <https://bit.ly/3vFgylP>. Acesso em: 25 abr. 2022. Como veremos adiante, o uso exagerado e impróprio da linguagem jurídica sob uma falsa roupagem de tecnicismo, nada mais é do que uma preocupação de efeitos “pirotécnicos” da palavra com compromisso de rigor profissional. https://uniasselvi01-my.sharepoint.com/personal/carolina_branco_uniasselvi_com_br/Documents/Documents/2022/2 - LIVROS PÓS/01 - LINGUAGEM JURÍDICA/%3c 33 QUADRO 2 – CONHEÇA ALGUNS JARGÕES JURÍDICOS. UM GLOSSÁRIO NO TRIBUNAL Expressões e palavras que fazem a pompa do jargão do Direito Abroquelar: fundamentar. Apelo extremo: recurso extraordinário. Areópago: tribunal. Autarquia Ancilar: Insti- tuto Nacional de Previdên- cia social. Cártula chéquica: folha de talão de cheques. Com espeque no artigo: com base no artigo Com fincas no artigo: com base no artigo. Com supedâneo no arti- go: com base no artigo. Consorte supérstite: viú- vo(a). Digesto obreiro: consoli- dação das Leis do Trabalho. Diploma provisório: me- dida provisória. Ergástulo público: cadeia. Estipêndio funcional: sa- lário. Estribado no artigo: com base no artigo. Egrégio pretório supre- mo: Supremo Tribunal Fe- deral. Excelso sodalício: Supre- mo Tribunal Federal. Exordial: peça ou petição inicial. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/38iS8GH>. Acesso em: 25 abr. 2022. Entretanto, o domínio da linguagem jurídica é também um meio de promo- ção social, política ou cultural que exprime relação de poder. É obvio que, por ser o Direito objeto de ciência, este desenvolve seu próprio discurso com lógica e termi- nologia peculiares, e aqueles que se dedicam à árdua tarefa de estudar cientifi- camente o Direito, poderão ter domínio sobre seu aparato conceitual. Não se pode conceber o Direito sem sociedade, ou mesmo uma sociedade sem nor- matização que venha a se valer de regras (ou princípios) para controlar/limitar as condutas dos indivíduos que integram o grupo social. Sob certo ponto de vista, o Direito é um instrumento de sustentação social criado para impor condutas coercitivamente obrigatórias e independentes da von- tade da parte. É evidente que nem toda sociedade deverá obrigatoriamente possuir códigos, tal qual concebemos na cultura jurídica ocidental, para reger a convi- vência humana, mas sempre haverá um conjunto de normas que lhe possibilite estabilidade e que permita o desenvolvimento de atividades econômicas, políticas, familiares etc., a fim de garantir relativa segurança para os indivíduos e para as re- lações surgidas entre eles, para evitar que somente a força (individual), por si só, seja o único elemento para solucionar conflitos. Ao longo da história, a luta foi a condição para a construção e manutenção de direitos, uma vez que não são dados espontaneamente pela natureza nem tampouco graciosamente concedido pelos donos do poder. 34 No entender de Ihering (2006), é um dever do interessado para consigo mes- mo e também um dever para com a sociedade a luta pelo direito. E afirma Ihering (2006, p. 1): “Todos os direitos da humanidade foram conquistados na luta: todas as regras importantes do Direito devem ter sido, direito de um povo ou direito de um particular, faz-se presumir que se esteja decido a mantê-lo com firmeza”. Portanto, o Direito não são palavras, são vivencias e experiências humanas construídas e garantidas pela força e luta. “O Direito não é pura teoria, mas uma força viva [...]. A justiça sustenta numa mão a balança e que pesa o Direito e, na outra é a força bru- tal; a balança sem a espada é a impotência do Direito” (IHERING, 2006, p. 5) Neste sentido, os indivíduos ao edificarem o Direito, que tem como mediação a linguagem, para reger e limitar as relações sociais, aceitam como legítimo tanto o poder político que cria as normas, quanto válidos e aceitáveis os conteúdos destas, pois, em certo sentido, se assim não fosse, existiria, no mínimo, insubordinação social e política questionando o poder regulatório constituído e suas instituições. É neste ponto que ganha relevância o pensamento de Bourdieu (2007) sobre a con- cepção do Direito como poder simbólico e a noção de que o autor pressupõe que os dominados se submetem espontaneamente ao controle, porque possuem alguma crença nesse comando. […] como o poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo; poder quase mágico que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce se for reconheci- do, quer dizer, ignorado como arbitrário. Isto significa que o poder simbó- lico não reside nos “sistemas simbólicos” em forma de uma “illocutionary force” mas que se define numa relação determinada – e por meio desta – entre os que exercem o poder e os que lhe estão sujeitos, quer dizer, isto é, na própria estrutura do campo em que se produz e se reproduz a cren- ça. O que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder de manter a ordem ou de a subverter, é a crença na legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia, crença cuja produção não é da competência das palavras (BOURDIEU, 2007, p. 14-15, grifos nossos). A pergunta que fazemos é: como o poder político consegue impor o Direito em uma determinada sociedade? O Direito tem uma face simbólica que se manifes- ta por meio de uma linguagem aparentemente lógica e coerente capaz de garantir interesses e necessidades humanas, como se tivesse, por si mesmo, o poder de disciplinar a vida social. Assim, o Direito expresso na linguagem jurídica vai sendo visto como algo “natural” criando uma autonomia de um sistema que se autoexplica. 35 E é sob tal aspecto que Bourdieu (2007) considera que a reivindicação de uma autonomia absoluta do Direito e o esforço dos juristas em elaborar um corpo de doutrinas, regras e conceitos, independente de constrangimentos e pressões so- ciais elaborando em si seu próprio fundamento, é onde reside seu poder simbólico. São construídos modelos que, na realidade, são puras ficções da ciência ju- rídica, que vão construindo uma pretensa neutralidade valorativa, afastando o fe- nômeno social que lhe é subjacente, concepção que influencia diretamente a for- mação jurídica que privilegia o ensino estritamente técnico do Direito. E, assim, o sistema se autoalimenta afastando o futuro jurista dos fenômenos sociais, cons- truindo uma linguagem e discurso homogêneo que, no momento de suas escolhas juridicamente possíveis para um conflito, há pouca possibilidade de desfavorecer ou contrariar o modelo dominante. Desde tal crítica, chama-se a atenção para o fato de que a linguagem jurídica, que expressa as normas jurídicas, dá a falsa impressão de que é perfeita, pronta e acabada, independente de suas contradições e pressões sociais, e aí encontramos um aspecto importante para uma análise permanente crítica e cuidadosa da linguagem jurídica. Em síntese, se a linguagem jurídica procura criar e manter uma simbologia própria, que é fortalecida pelos jargõesjurídicos que apenas são compreendidos pelos profissionais aptos e treinados, os conflitos sociais são aparentemente man- tidos sob controle e dentro da expectativa do aceitável. Para melhor compreender o tema acerca do Direito como expressão do poder simbólico, sugere-se as seguintes leituras: • “O direito como expressão do poder simbólico”, de Daniel França: https:// bit.ly/3OCWd9i. • “A força do direito e a violência das formas jurídicas” de Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo: https://bit.ly/3rLt16n. DICA Sem dúvida, o campo do Direito é um espaço de concorrência de monopólio de “dizer o Direito” por meio de uma linguagem própria, na qual se confrontam sujei- tos competentes e de capacidade reconhecida, e de compreender e definir o justo e legítimo do caso concreto. Isso implica na necessidade de reforçar um discurso com estilo próprio que confere, ao mesmo tempo, capacidade técnica, política e social 36 para utilizá-lo na transformação da realidade social – um conflito entre partes – em realidade jurídico-judicial – debate entre profissionais que conhecem as “regras do jogo” e dominam a linguagem jurídica. 4 AS CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM JURÍDICA Como você já compreendeu, a linguagem jurídica possui algumas caracterís- ticas que a tornam singular em relação à língua nacional. Já vimos que possui parti- cularidades em função da existência de um vocabulário técnico-científico próprio e é exatamente destes tais aspectos específicos que a linguagem jurídica se distingue. Segundo Petri (2017, p. 44), a linguagem jurídica carrega em si ambiguida- de na medida em que “[...] é ao mesmo tempo culta (na sua origem), popular (por destinação) e técnica (por sua produção). Sua juridicidade a especializa quando sua finalidade é a de destinar a todos”. É linguagem de um grupo que “fala” o Direito, seja o legislador (o que o edita), aquele que o diz (o juiz), os profissionais do Direito em geral (advogados, defensores, membros do Ministério Público, estudantes de Direito etc.) e para os destinatários do Direito. Assim, é uma linguagem de caráter profissio- nal manejada por diferentes atores sociais sendo, portanto, uma linguagem cultural. 4.1 TÉCNICO-CIENTÍFICA A linguagem jurídica é, em grande parte, legada pela tradição, ou seja, foi sendo construída e reproduzida ao longo do tempo pelos pensadores do Direito e acumulada pelo saber jurídico. Embora tenha sido modificado o sentido das expres- sões do Direito, como veremos mais adiante, a grande marca da linguagem jurídica é sua perenidade inscrita na história. Porém, será uma linguagem ultrapassada e atrasada? Não porque os termos antigos, alguns deles até em latim, não perdem força, mas porque a renovação da linguagem jurídica é permanente, sobretudo pelos neologismos, que é a atribuição de novos sentidos às palavras já existentes na língua. A renovação permanente da linguagem jurídica é dada sobretudo pela juris- prudência e doutrina jurídica. No entanto, lembre-se que a linguagem jurídica deve ser prática e a serviço dos profissionais do Direito. É criada e realizada em função da atividade jurídica e judicial e, por esta tal razão, é definida como uma linguagem técnico-científica. 37 A característica técnico-científica ocorre em função do uso semântico (acepção) de uma palavra (lexia) no campo teórico-prático do Direito, o que é um primeiro problema de vocabulário jurídico a ser enfrentado quando iniciamos o es- tudo do Direito, pois a primeira dificuldade que existe em qualquer ciência, e precisa ser convenientemente enfrentada, é, sem dúvida, a da nomenclatura ou a da exa- tidão dos termos obrigatoriamente a serem utilizados tecnicamente para a perfeita comunicação. Há de se destacar que não há palavra sem significação comum ou mesmo lexical, o sentido do termo no texto, segundo o próprio idioma, da língua natural, é estabelecido geralmente por sua etimologia. Porém, ao ser utilizada em sentido técnico, é necessária a verificação de seu sentido contextual, o que permi- tirá a identificação precisa do termo. É uma linguagem que essencialmente nomeia institutos jurídicos (casamen- to, divórcio, posse etc., que são “agrupamentos” conceituais e legais que permitem sua “localização”, sua identificação no ordenamento jurídico), seu referente (a que o termo se refere juridicamente) e seu vocabulário específico. Petri (2017, p. 45) des- taca que a linguagem jurídica: [...] nomeia as realidades jurídicas, isto é, essencialmente as instituições e as operações jurídicas, entidades que o Direito cria, consagra ou modela. Assim, ela nomeia todos os níveis dos poderes públicos, todas as formas de atividade econômica, as bases da vida familiar, os contratos, as con- venções. O Direito nomeia igualmente as realidades naturais e sociais que ele apreende e transforma em “fatos jurídicos”, atribuindo-lhes efeitos de direito. Assim, ele nomeia os delitos e as situações jurídicas. O Direito, como toda ciência, desenvolve uma linguagem correspondente com terminologias próprias que se distanciam de seu sentido comum e originário e, assim, criam-se categorias próprias que também servem para neutralizar a lin- guagem natural, contribuindo não possibilitar aos não juristas as convenções e prá- ticas jurídicas. Confundir linguagem técnica com uso de “palavras difíceis”, termos “exclusivamente” jurídicos e rebuscamento desnecessário, corre o risco de cair em um cientificismo desnecessário e forma de exercício de poder que reforça o poder simbólico autolegitimador do Direito. É importante você se familiarizar com a linguagem que fará parte de seu cotidiano. Na internet, há diversos glossários e dicionários jurídicos. Su- gere-se consultar o seguinte material: https://bit.ly/3xTwCDc. DICA 38 Por fim, salienta-se que, no caso do Direito, linguagem técnica não se con- funde com latinismos. Apenas para esclarecer melhor, o chamado “latinismo” é uma reminiscência com emprego do uso de palavras latinas de maneira exagerada. Evi- dente que há termos como habeas corpus que é de uso comum e com significado próprio. No entanto, e quando nos deparamos com expressões como: cláusula re- bus sic stantibus; data venia; venia conecessa; mandamus; in casu? Embora, para alguns, o uso de expressões latinas demonstra erudição, mas como já dito, a função da comunicação no Direito não é pirotécnica. O uso inadequado e indiscriminado do latim pouco contribui para o acesso à justiça e garantia do Direito, até porque, em não raras vezes, sequer o usuário sabe o significado do termo empregado. QUADRO 3 – AS DEZ EXPRESSÕES LATINAS MAIS UTILIZADAS 1 Conditio sine qua non: essa expres- são significa a condição sem a qual algo não pode ser. Ela é aplicada para justifi- car que, se não for daquela forma, não haverá a devida validade. Uma das prin- cipais aplicações do termo é em casa- mentos. Nesse caso, a união só aconte- ce se houver a vontade mútua do casal, ou seja, conditio sine qua non. 2 Periculum in mora: o termo é utili- zado para mostrar que há o perigo na demora. Nesse caso, ele deixa explícito que a morosidade do processo judicial pode gerar algum dano aos envolvidos no processo. O advogado utiliza o ter- mo para justificar a necessidade de uma decisão mais rápida, como uma liminar, visando proteger seu cliente de riscos. 3 Habeas corpus: uma das expressões jurídicas em latim mais conhecidas, ha- beas corpus significa “que tenha o cor- po”. Essa referência à liberdade é direta, já que o termo é utilizado na solicitação desse direito a alguém, evitando qual- quer ato abusivo. O habeas corpus é so- licitado para evitar uma prisão ou a con- tinuidade dela inadequadamente. 6 A posteriori: já a expressão a posteriori é o oposto. Ela já é aplicada em argumen- tações mais avançadas, tendo o efeito como principal avaliação, para então che- gar até a causa. Nessa etapa a análise já conta com provas mais concretas para justificar todo o contexto do caso. 7 Data venia: essa é uma expressão cordial,utilizada no contexto de argu- mentações jurídicas. Data venia pode ser entendida como uma licença ou per- missão para discordar de determinado ponto de vista. Sua aplicação é uma for- ma respeitosa de, diante de uma ideia, colocar outra colocação contrária com opiniões diferentes. 8 Modus operandi: essa é uma das ex- pressões jurídicas em latim mais utiliza- das também fora do Direito. Trata-se da indicação de uma forma de agir padro- nizada, ou um procedimento convencio- nal aplicado. Seu uso no Direito é muito comum na avaliação de criminosos em série, que sempre repetem a forma de praticar os atos. 9 Amicus curiae: é uma expressão simples que significa “amigo da corte”. https://cejur.unyleya.edu.br/blog/saiba-como-as-tecnicas-de-negociacao-podem-se-tornar-ferramentas-poderosas/ https://cejur.unyleya.edu.br/blog/saiba-como-as-tecnicas-de-negociacao-podem-se-tornar-ferramentas-poderosas/ 39 4 Erga omnes: seu significado é “para todos”, ou seja, é utilizada em decisões nas quais o efeito vale para todas as par- tes envolvidas. Suas implicações são vá- lidas para todos os casos, por isso a ex- pressão é utilizada como um método de eficácia. Assim, fica entendido que todos devem cumprir determinada decisão. 5 A priori: a priori é um termo que se aplica quando há a indicação de que um conceito ou argumento é fundamen- tado de maneira inicial. Nesse caso, as provas são fundamentadas apenas na razão, sem que tenha havido determi- nado estudo. Sua utilização ocorre em casos em que uma terceira pessoa é convocada para auxiliar o juiz para definir o veredito. O amicus curiae é uma figura muito co- mum em casos de grande apelo popular, com cobertura ampla das mídias tradi- cionais e mobilização considerável. 10 In dubio pro reu: in dubio pro reu significa “em dúvida pelo réu”. Nesses casos, o termo é utilizado quando se pressupõe a inocência do acusado. O artigo 5º da Constituição determina que, se houver dúvidas quanto à culpa, o ve- redito do juiz deve ser favorável ao réu, ou seja, ele é inocentado. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3MysEEd>. Acesso em: 25 abr. 2022. Observe, no Quadro 3, que as expressões latinas trazem em si complexos conceitos jurídicos. 4.2 LÓGICA E ESTILO Como expressão de um pensamento, a linguagem não pode ser tão somente informativa, mas uma comunicação racional e logicamente ordenada. Como nos lembra Telles Júnior (1980, p. 32), a “[...] lógica é a ciência da argumentação (ou produto do raciocínio), diretiva da operação de raciocinar”. Para se compreender a comunicação jurídica, é absolutamente indispensável a construção e manutenção de um raciocínio lógico durante o processo comunicativo, no sentido de “organizar” sistematicamente o discurso. Mais adiante estudaremos a lógica e argumentação jurídica de maneira es- pecífica, ao tratarmos o tema de interpretação, na Unidade 3. Entretanto, apenas para compreendermos que não é possível deixar de frisar que a linguagem jurídi- ca como exposição argumentativa não pode deixar de considerar a compreensão adequada das expressões utilizadas. Embora se possa expressar diferentes termos com distintas significações, os sentidos se estruturam e se interrelacionam, de for- ma a fixar limites de sentido contribuindo para a não ambiguidade e contradição, com vistas a melhor persuasão. 40 O discurso jurídico, em sua totalidade, tem por vetor principal o chamado princípio da interação entre emissor e receptor. Como já estudado, a comunicação tem como princípio básico a interação de ideias e pensamentos entre o emissor e o receptor por meio da fala e, para que ocorra o processo comunicativo e reações en- tre ambos, a construção do discurso há que ser lógica, coerente e, sobretudo, culta. O nível culto da linguagem jurídica é relacionado com a necessidade persu- asiva e lógica, a fim do operador demonstrar o domínio e capacidade de expressar a profundidade conceitual que serve para manejar a linguagem com autoridade. A logicidade se evidencia na clareza e uso semântico adequado da lingua- gem evitando-se a ambiguidade, vagueza ou obscuridade da mensagem, razão pela qual os termos devem estar em seu “devido lugar no discurso”, como se diz, usar “a palavra certa no lugar e sentido certo”. A correção da linguagem no Direito confunde-se com o seu inerente forma- lismo, rigor gramatical e precisão técnica. É por essa razão que os juristas possuem um estilo próprio utilizando pronomes de tratamento formais, títulos e adjetivos de tal maneira que acaba por ser bastante evidente no cotidiano do trabalho dos juris- tas o estilo jurídico de se expressar. O tradicionalismo no tratamento jurídico é bastante arraigado na formação e na cultura jurídica de tal maneira que são consolidadas pelo costume. Expressões como: “egrégio Tribunal de Justiça”; “nobre casuístico”; “eminente julgador”; “excel- so Supremo” etc., são expressões que conferem característica específica ao texto e discurso jurídico. Porém, há sempre que se ter cuidado no uso das expressões jurídicas, a fim de não pecar pela erudição exagerada e sem propósito como a falta de clareza e lógica na comunicação, o que é um fator que compromete o objetivo persuasivo. 4.3 CONCISÃO Outro atributo importante da linguagem jurídica é a concisão, ou objetivi- dade, que é a busca de expressão do pensamento de forma breve, privilegiando o essencial do que se pretende expor. É aqui que o uso de locuções e de máximas (brocardos, aforismos, provér- bios) latinas podem auxiliar, uma vez que são formas concisas que auxiliam na ex- pressão de significados jurídicos. Locuções latinas como ad judicia (procuração vá- 41 lida apenas para o juízo); data venia (com a devida licença para discordar); e mutatis mutandis (mudado o que deve ser mudado), por si só sintetizam o objetivo da co- municação. Ou mesmo brocardos jurídicos como pacta sunt servanda (os acordos devem ser cumpridos); nullum crimen sine lege (não há crime algum sem lei como princípio do Direito Penal) possuem a função de expressar de maneira concisa um complexo conceito. Destaca-se que, apesar na necessidade de objetividade e concisão, não é adequado o uso do que se denomina “frases de arrastão”, que são frases que utili- zam pouco e variados conectivos coordenativos, como, por exemplo, “pois é, é, en- tão, pois”. Ainda não são recomendáveis as chamadas “frases de ladainha”, que uti- lizam excesso de conectivos, tais como “viveu feliz e leu e amou e chorou e sofreu e morreu”. Ou mesmo as “frases telegráfica”, como: “o acusado entrou na audiência e sentou. Abaixou a cabeça. Estava triste. Sabia da condenação”. 4.4 ESTÉTICA Uma das características relevantes na comunicação jurídica é a elegância. O Direito e sua linguagem são produtos de uma acumulação histórica milenar que se reveste de técnica. É neste sentido que afirma Reale (1992, p. 87, grifos do original): Os juristas falam uma linguagem própria e devem ter orgulho de sua lin- guagem multimilenar, dignidade que bem poucas ciências podem invocar [...] antes exige os valores da beleza e da elegância” e devem “ter vaidade da linguagem jurídica, uma das primeiras a se revestir de forma científica, continuando a ter, desde as origens, o Direito Romano como fonte exem- plar e ponto de referência. Você já deve ter se dado conta que o Direito é, por excelência, a arte e a ciência da palavra e que deve ser boa e bem elaborada, pois é por meio dela que o profissional do Direito se expressa. Como o jurista busca, na prática, a realização do justo no caso concreto, no sentido de garantia e proteção a direitos, tendo na pessoa humana e sua dignidade como fonte valorativa, não há como dissociar a técnica da ética. https://jus.com.br/tudo/pacta-sunt-servanda https://jus.com.br/tudo/direito-romano 42 FIGURA 16 – CONCEITO DE ÉTICA FONTE: <https://bit.ly/3LeZutB>. Acesso em: 25 abr. 2022. A Figura 16, na qual brevemente se conceitua ética, chama a atenção para o fato de que, no manejo da linguagem
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