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Universidade Federal do Piauí Centro de Educação Aberta e a Distância COMÉRCIO EXTERIOR Ricardo Alaggio Ribeiro Ministério da Educação - MEC Universidade Aberta do Brasil - UAB Universidade Federal do Piauí - UFPI Universidade Aberta do Piauí - UAPI Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD Ricardo Alaggio Ribeiro Comércio Exterior PRESIDENTE DA REPÚBLICA MINISTRO DA EDUCAÇÃO GOVERNADOR DO ESTADO REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRESIDENTE DA CAPES COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA DA UFPI Dilma Vana Rousseff Linhares Aloizio Mercadante Wilson Nunes Martins José Arimatéia Dantas Lopes Jorge Almeida Guimarães João Carlos Teatini de S. Clímaco Gildásio Guedes Fernandes COORDENADORES DE CURSOS ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FILOSOFIA FÍSICA LETRAS PORTUGUÊS LETRAS INGLÊS MATEMÁTICA PEDAGOGIA QUÍMICA SISTEMAS DE INFORMAÇÃO Antonella Maria das Chagas Sousa Fabiana Rodrigues de Almeida Castro Maria da Conceição Prado de Oliveira Zoraida Maria Lopes Feitosa Miguel Arcanjo Costa José Vanderlei Carneiro Lívia Fernanda Nery da Silva José Ribamar Lopes Batista Vera Lúcia Costa Oliveira Milton Batista da Silva Leonardo Ramon Nunes de Sousa Djane Oliveira de Brito Ubirajara Santana Assunção Zilda Vieira Chaves Roberto Denes Quaresma Rêgo Samuel Falcão Silva Francinaldo da Silva Soares Carmem Lúcia Portela Santos CONSELHO EDITORIAL DA EDUFPI Prof. Dr. Ricardo Alaggio Ribeiro (Presidente) Des. Tomaz Gomes Campelo Prof. Dr. José Renato de Araújo Sousa Profª. Drª. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz Profª. Francisca Maria Soares Mendes Profª. Iracildes Maria de Moura Fé Lima Prof. Dr. João Renór Ferreira de Carvalho TÉCNICOS EM ASSUNTOS EDUCACIONAIS EDIÇÃO PROJETO GRÁFICO DIAGRAMAÇÃO REVISÃO EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO © 2013. Universidade Federal do Piauí - UFPI. Todos os direitos reservados. A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é do autor. O conteúdo desta obra foi licenciado temporária e gratuitamente para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através da UFPI. O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia deste obra sem autorização expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sansões previstas no Código Penal. É proibida a venda ou distribuição deste material. Prezado estudante: Certamente você deve ter uma excelente expectativa em relação à disciplina de Comércio Exterior, uma vez que os temas estudados aqui são assuntos muito explorados na mídia e, de forma crescente, fundamentais para mercado de trabalho da área de administração. A globalização econômica e financeira, a maior abertura dos mercados mundiais, a integração crescente do Brasil nestes fluxos de mercadorias, serviços e moedas são fatos de extraordinária importância para a vida das pessoas e para a gestão das empresas, o que justifica o estudo de todo este conteúdo que resolvemos denominar de Comércio Exterior. Os temas abordados na disciplina começam, na primeira unidade, com os conceitos fundamentais que regem o tema, sendo apresentadas a seguir noções básicas dos determinantes teóricos dos negócios internacionais, que tentaremos mostrar de forma sucinta, mas sem perder o rigor teórico que deve sempre prevalecer em qualquer situação de ensino. Para contrabalançar a teoria com a prática, veremos nesta unidade o assunto extremamente prático de como os países, no dia a dia de sua política comercial, estabelecem barreiras ao comércio visando algum ganho racional. A segunda unidade possui o objetivo de mostrar as diversas estratégias de entrada e operação das empresas nos mercados internacionais: exportações, investimento direto, franquias, licenciamento e o global sourcing. São também estudadas questões vinculadas ao marketing no âmbito da empresas internacionalizadas, assunto de grande interesse para o aluno de administração de empresas. Na terceira unidade, onde assoma um grande viés prático, aborda-se o comércio exterior brasileiro, o exame dos blocos regionais e dos organismos multilaterais vinculados ao comércio internacional, informações de grande importância estratégica para o aluno e a empresa moderna. A área do comércio exterior de um ponto de vista prático e teórico é imensamente dinâmica, na qual os fatos mudam rapidamente – veja-se por exemplo o recente “boom” das exportações brasileiras” suscitando, por sua vez, um contínuo esforço de compreensão e estudo para análise dos fatos. Hoje é impossível que uma empresa trabalhe sem informação e capacidade de análise do que acontece no mundo globalizado. As exportações, as importações de produtos, o fluxo de investimento direto e de dinheiro buscando rendimento afetam toda a macroeconomia do país e o seu ambiente de negócios. Faço votos de que o caminho de vocês por esta disciplina seja o melhor possível e que colabore para o crescimento pessoal de cada um, assim como escrever este livro colaborou para o meu, Um abraço! Ricardo Alaggio Ribeiro UNIDADE 01 COMÉRCIO EXTERIOR: CONCEITOS BÁSICOS, TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E APLICAÇÕES Os conceitos fundamentais Teorias de comércio internacional Barreiras ao comércio e esquemas de protecionismo UNIDADE 02 ESTRATÉGIAS E OPORTUNIDADES DA INTERNACIONALIZAÇÃO As exportações O investimento direto externo (IDE) Principais tipos de licenciamento Marketing global UNIDADE 03 FLUXOS COMERCIAIS E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO Comércio exterior e taxa de câmbio Exportações e importações brasileiras Brasil e os blocos comerciais Os organismos internacionais multilaterais 11 43 79 11 17 28 48 53 64 70 79 88 95 100 Objetivo O objetivo desta unidade será o de discutir os conceitos básicos referentes ao comércio internacional; fornecer a base teórica fundamental para a compreensão deste comércio e ainda discutir pontos importantes relacionados com a aplicação prática da teoria. Serão discutidas a teoria das vantagens absolutas e das vantagens comparativas, bem como as abordagens críticas ao livre-comércio. Por último, apresentaremos as restrições ao comércio como política econômica - tarifas e barreiras não tarifárias. UNIDADE 01 Comércio Externo: Conceitos Básicos, Teorias do Comércio Internacional e Aplicações COMÉRCIO EXTERIOR 11 COMÉRCIO EXTERNO: CONCEITOS BÁSICOS, TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL E APLICAÇÕES Os conceitos fundamentais Caro estudante, Para se entender o comércio exterior como elemento importante de um sistema econômico, devemos antes de mais nada conhecermos alguns conceitos fundamentais para a compreensão do tema. Veremos quais são os principais conceitos de comércio e investimento internacionais, como o comércio internacional se difere do interno e quem participa deste nosso objeto de estudo. Então vamos apresentar as principais teorias sobre a natureza do comércio internacional, mostrando as diferentes abordagens já pensadas sobre a questão. Vamos ter a oportunidade de estudarmos como os países envolvidos nos negócios internacionais têm buscado formas de proteger os seus produtos e assim defender os interesses internos de seus produtores agrícolas e industriais. O que é comércio internacional? Dada a grande expansão hoje verificada nas trocas de bens e serviços entre as fronteiras das nações criou-se o conceito de negócios internacionais que se refere ao engajamento de empresas em atividades de comércio e investimento, cruzando as fronteiras dos países. Trata-se de uma atividade interfronteiras. De uma forma geral, existe uma grande quantidade de empresas que organizam a sua produção, fabricam bens e os distribuem em escala global, buscando muitas vezes parceriasde outras empresas fora do seu território original, com o intuito de aumentar o número de clientes e com um olhar no consumidor estrangeiro. Não se deve esquecer que existe também um grande fluxo de capital, UNIDADE 0112 produtos e serviços determinados pela ação de governos e instituições internacionais. Os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, por exemplo, disponibilizam grandes somas de recursos humanos e materiais para a ajuda econômica e humanitária a nações em desenvolvimento ou em meio a graves problemas tais escassez de alimentos, catástrofes naturais etc. Estes recursos vão cruzar fronteiras e fomentar os negócios internacionais ao multiplicar as oportunidades de transações. O grande crescimento das transações internacionais a partir do final dos anos 80 do século passado é um fenômeno por demais conhecido. Existe hoje uma vasta rede mundial globalizando produtos, capital, conhecimento; conectando países, sociedades, economias, em diversos níveis e possibilitando oportunidades econômicas nunca antes pensadas como possíveis. A emergência de grupos empresariais cada vez mais poderosos se contrapõe, neste cenário, uma formidável afirmação de indivíduos como empreendedores privados ou como usuários, permitida por estes novos fundamentos da economia mundial. O recente crescimento das transações internacionais é reflexo do aprofundamento da globalização; uma palavra que nos anos 1990, no Brasil, esteve intensamente presente na mídia, nas discussões acadêmicas e entre os membros da sociedade em geral, os quais viam tal fenômeno como se novo fosse. O termo globalização, na realidade, é um neologismo que acabou se tornando uma das palavras-chave mais em voga dos anos oitenta, adentrando os anos 1990 com muita força e seguindo até aos dias atuais. Entretanto, o termo não é garantia de significado claro ou sequer emprego consistente, pois, como os demais neologismos, são utilizados como se fossem novos conceitos quando na verdade sabe-se que o fenômeno é bem antigo e remonta ao tempo das descobertas marítimas de Portugal e Espanha quando se criou todo um arcabouço de comércio mundial. Relevante para nosso estudo é a definição de globalização de mercados que consiste na integração econômica e na crescente interdependência entre os países, verificados em escala global. Se olharmos mais de perto podemos ver que esta integração e interdependência se dá basicamente entre as empresas transnacionais – entidades empresariais que pensam suas estratégias e organizam a sua produção em bases internacionais, perdendo crescentemente o vínculo com o país de origem – e seus clientes e fornecedores, de maior ou menor porte, espalhados pelo planeta. A estratégia de internacionalização de uma empresa, quando esta deseja expandir as suas fronteiras, passa pelo aumento das exportações ou do investimento direto. As exportações são uma estratégia de entrada COMÉRCIO EXTERIOR 13 em um mercado pela qual uma firma vende bens e serviços para outra empresa-clientes em outro país. Como contrapartida a este conceito temos as importações que são a compra por parte de empresas ou pelo governo de um país de bens e serviços produzidos no exterior. A estratégia de exportação, hoje bastante difundida, dado o sucesso dos países asiáticos em tornar as exportações um modelo de projeto nacional de desenvolvimento, pode esbarrar numa falta conjuntural ou estrutural de produtos a serem ofertados pra o mercado externo. As exportações são muito importantes por gerarem recursos em moeda de troca internacional, dotando o país de capacidade de importar. Uma baixa capacidade de importar pode mesmo asfixiar uma economia nacional. Por outro lado, as importações são muito importantes devido ao fato que hoje não existem economias que não sejam interdependentes e conectadas. Nenhuma nação produz todos os produtos e serviços que precisa, em maior ou menor grau. Para isto concorre o fato de que recursos naturais estão desigualmente distribuídos pelo planeta – caso do petróleo, por exemplo - que os bens com alto grau de conhecimento embutido, softwares por exemplo, não podem ser produzidos em qualquer lugar. Assim, a importação pode ser um bom negócio quando um país adquire um produto relevante que de outra forma estaria não disponível para os seus consumidores. Uma vacina produzida através de uma pesquisa cara, em um determinado centro de pesquisa em um país desenvolvido, pode ser o retrato deste tipo de vantagem. Muitas vezes é melhor importar quando isto permite comprar produtos muito mais baratos do que similares produzidos internamente. Mais recentemente surgiu o conceito de global sourcing referente ao fato das empresas transnacionais adquirirem/importarem bens e serviços através de um monitoramento dos custos mais baixos possibilitados pela oferta mundial, indo buscar o fator de produção mais barato onde ele estiver. Em oposição à decisão de exportar bens para um dado mercado internacional, uma empresa pode pensar em investir neste mercado, produzindo bens e serviços através do investimento direto, decisão que possui efeitos bem diversos. Segundo Ha-Joon Chang (2009), existem três elementos principais nos fluxos estrangeiros de capitais nos países em desenvolvimento, realizados pelos países desenvolvidos, que são os auxílios, as dívidas e os investimentos. Os auxílios dizem respeito à ajuda externa; as dívidas ocorrem mediante os empréstimos bancários e títulos do governo e de empresas; e os investimentos são realizados através de duas modalidades: os investimentos de portfólio (compra de ações visando apenas aos retornos financeiros) - UNIDADE 0114 PARA SABER MAIS O termo empresa multinacional, que significa simplesmente uma empresa de grande porte que atua em muitas nações, tem sido substituído pelo conceito de “transnacional” a partir de uma recomendação da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Developmente), um órgão da ONU. muito voláteis - e os investimentos estrangeiros diretos (compra de ativos visando influenciar a gestão da empresa no país receptor deste tipo de investimento) - que são mais estáveis. O investimento direto estrangeiro – IDE, de grande importância no cenário mundial e brasileiro é uma estratégia de internacionalização pela qual a firma estabelece uma presença física no exterior de várias maneiras. Conforme Krapp Tavares (2007), o IDE é um investimento que pode ser realizado através de: i) fusões e aquisições (mediante a compra de participações societárias de empresas que já existem e estão em operações), ii) novos investimentos ou greenfields (construção de novas instalações ou expansão das já existentes para a produção de bens ou oferecimento de serviços), iii) empréstimos intercompanhias (capitalização da empresa receptora pela matriz, para aprimorar suas atividades, que resultarão em aumento da capacidade produtiva do país hospedeiro do IDE, apesar dos juros que serão pagos pelo empréstimo), iv) reinvestimento de lucros e v) aquisição de marcas já conhecidas em um determinado mercado. Geralmente, o investidor busca obter a propriedade, o controle ou o gerenciamento da empresa. A OCDE é uma organização internacional e intergovernamental formada pelos países mais desenvolvidos e industrializados. Tem a sua sede em Paris, França. Originalmente possuía 20 países membros, hoje acrescidos de mais 10 estados. Entre eles figuram os EUA, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Austrália, México, Portugal, Japão, Dinamarca etc. Os objetivos principais da organização são aumentar o crescimento econômico, o emprego e a qualidade de vida dos países membros; favorecer a expansão do comércio mundial sobre uma base multilateral e contribuir para um desenvolvimento econômico saudável dos países membros e não-membros. Os participantes do comércio externo mundial Como já foi falado as transnacionais são as organizações básicas deste comércio.Para Reinaldo Gonçalves (2002), no atual processo de globalização, as empresas transnacionais tornaram-se o locus principal de acumulação e de poder econômico, uma vez que elas detêm o controle de ativos específicos - capital e tecnologia - além de capacidades gerenciais, organizacionais e metodológicas. Segundo o autor, as mesmas estão cada vez mais identificadas com a categoria grupo econômico do que com a categoria empresa. Uma empresa desta categoria possui uma matriz e realiza negócios através de uma rede de afiliadas localizadas em diferentes países. GLOSSÁRIO Uma matriz é definida como uma empresa que controla ativos de outras entidades de outros países, que não o país de origem, geralmente por possuir participação de capital, ou seja, equivalente ao conceito de investidor direto. Esta definição é da UNCTAD (2008). COMÉRCIO EXTERIOR 15 Outras visões de quem sejam estes atores privilegiam uma divisão mais aguda dos participantes do processo. Segundo Gilberto Dupas (2005, 94), Os atores da economia global podem ser divididos entre dois grandes grupos principais, fortemente entrelaçados por interesses comuns. De um lado estão as corporações financeiras e os grandes detentores de estoque de capital, incluindo pessoas físicas; de outro, as empresas industriais e de serviços. As zonas de interesses comuns entre estes atores são intensas, haja vista que as grandes empresas industriais ou de serviços investem em serviços financeiros e aplicam seus caixas líquidos no mercado financeiro. As corporações financeiras, por sua vez, auferem grandes lucros com os serviços financeiros prestados, fornecimento de empréstimos e apoio às operações das primeiras em bolsas de valores. A diferença essencial está na lógica financeira que é a preferência pela liquidez e na lógica industrial, pois, no setor produtivo, a rentabilidade do capital investido é pensada no longo prazo. Quanto a natureza das grandes empresas transnacionais, elas participam dos mais diversos mercados. No Brasil temos uma forte penetração delas no mercado automobilístico, onde podemos citar a Volkswagen, Fiat, Ford, General Motors, Toyota, Honda, Renault, Citroen, Mercedes-Benz e outros. Outro setor onde elas possuem grande presença é o de produção de aparelhos celulares onde dominam a Nokia, Samsung, Motorola, Apple e outras. Conforme a revista Forbes que leva em conta a receita, o lucro, os ativos e o valor de mercado das empresas a maior empresa do mundo neste ano foi o banco norte-americano JPMorgan Chase, um conglomerado altamente globalizado, que passou a General Electric, que levou o primeiro lugar no ano passado. Em 2009, o JPMorgan Chase estava em 16º lugar. O conglomerado norte-americano General Electric ficou em segundo lugar em 2010, seguido pelo Bank of America, em terceiro, a ExxonMobil e o banco chinês ICBC, em quinto lugar. Segundo a Forbes, as 2.000 empresas escolhidas neste ano vieram de 62 países, com Estados Unidos (515 empresas) e Japão (210 membros) com as maiores representações. A Petrobras passou da 25ª posição para a 18ª posição no ranking das maiores empresas do mundo feito pela revista. A empresa é a brasileira mais bem colocada na lista, mas está atrás de concorrentes do setor de petróleo como a americana ExxonMobil (4º lugar), Royal Dutch Shell (8º), BP (10º), UNIDADE 0116 PetroChina (12º) e Gazprom (16º). Além das transnacionais, o comércio entre as nações passa por um conjunto de pequenas e médias empresas – PME, que possuem grande relevância para o setor externo. Na Itália, na Coréia do Sul e na China, elas respondem por mais de 50 por cento das exportações. No Brasil existem cadastradas mais de 4,1 milhões de empresas, onde as PME e micros empresas respondem por cerca de 98% deste total. Em relação ao mercado de trabalho, existiam cerca de 30,5 milhões de trabalhadores no Brasil, nas empresas formais, onde as PMEs respondem por cerca de 45% deste total. Para o ano de 2000, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior indica que havia 16016 empresas exportando, das quais 63,7% eram micro e pequenas empresas, tendo participado com 12,4% do total exportado. Estas empresas estão muito presentes nas exportações brasileiras de vestuário, jóias e gemas, móveis, calçados e outros. Além das empresas que buscam lucro nas transações internacionais, chamadas de empresas focais, existem organizações sem fins lucrativos que buscam projetar-se além de seu país de origem. São entidades beneficentes ou organizações não governamentais, que possuem muitas vezes, grande capacidade de mobilizar recursos. No Brasil atuam centenas destas instituições, entre elas podemos destacar a CARE, a fundação Konrad Adenauer etc. Conforme a estratégia das empresas que buscam lucro em um dado mercado externo, podem aparecer outras categorias. Quando uma empresa busca vender serviços e bens intangíveis, temos o licenciamento que é uma forma de aliança estratégica pela qual se negocia o uso de certo conhecimento, patente, processo ou experiência. O licenciador geralmente é uma empresa que permite o licenciamento por um preço acertado. A parte que recebe a licença é o licenciado. Ainda existe a estratégia da franquia, que consiste em um contrato pelo qual o franqueador é uma empresa que permite a uma outra, o direito de usar todo um sistema de negócios já estabelecido, sob as regras estritas estabelecidas. O franqueador fornece um modelo empresarial pronto para ser usado. As vantagens básicas são as de redução de riscos advindos do investimento feito. Conforme a conveniência, a firma pode trabalhar através de distribuidores, agentes ou representantes em outros países, que são modalidades de intermediários baseados no mercado externo. O distribuidor externo é um intermediário que atua com um contato de distribuição pelo qual ele é responsável pela distribuição, marketing, e atendimento após venda de um produto importado. São atacadistas com grande capacidade financeira e física. O representante do fabricante é um intermediário, um GLOSSÁRIO Bens intangíveis são bens não materiais, ou seja, não possuem existência física. Por exemplo, temos os direitos de exploração de um serviço público, marcas e patentes, softwares ou um fundo de comércio adquirido. COMÉRCIO EXTERIOR 17 vendedor contratado pelo exportador com pouca autonomia e sem grande poder financeiro. Neste caso, o fabricante exportador mantém as prerrogativas de assumir a titularidade do negócio e bancar o embarque, o marketing e a assistência ao consumidor. O agente ou corretor, figura muito comum no mercado de commodities, não assume a posse do produto, apenas compra e vende um produto recebendo uma comissão por isto. Teorias do comércio internacional O mercantilismo No começo da idade moderna, os séculos XVI e XVII foram o momento do surgimento do estado nacional, cuja emergência, então esboçada, traz a necessidade de organização interna e de combate e defesa no campo das relações externas. Para executar suas tarefas principais de monopolizar a violência e coordenar a vida econômica, logo o Estado se vê premido pela falta de dinheiro, em vista do lento progresso de sua fiscalidade e da organização imperfeita de suas finanças. O resultado é que os gastos excedem normalmente as receitas. A perseguição dos contribuintes e a invenção de novos impostos e loterias não raro conduziam a uma exacerbação da função fiscal que, entretanto, pouco resolve do problema: o déficit persistia. Esse dinheiro tão valorizado não podia ser suprido pela moeda bancária, papéis cuja aceitação ainda se mantinha restrita, mas necessariamente pelo metal precioso, amoedado para as necessidades econômicas ordinárias e, ainda mais, para o pagamento dos soldados, mercenários e equipamentos de guerra. A paz constituía exceção neste período em que as nações procuravam afirmar-se politicamente e em que os governantes e seus súditos alimentavam para comos Estados vizinhos um ânimo de rivalidade. O surto de nacionalismo, de defesa das fronteiras não só pelas armas, mas também pela aduana, se refletiu numa série de medidas de política econômica, galgadas na seguinte base teórica: “A grandeza e o poderio de um Estado se medem pela quantidade de dinheiro que possui” como afirmava Colbert - um ministro francês. Assim, em meados do século XV, o monarca francês Luiz XI toma medidas para limitar a saída de ouro e prata em direção a Roma, bem PARA SABER MAIS Commodities é um termo muito usado nas relações econômicas internacionais, (derivado do inglês commodity, literalmente mercadoria), que significa produtos primários – agrícolas ou minerais – ou ainda produtos industriais muito homogêneos, o aço, por exemplo, cujo preço ou cotação são determinados em um mercado mundial, geralmente bolsas de mercadorias estabelecidas em centro financeiros mundiais. Entre estas se destaca a bolsa de mercadorias de Chicago, a maior do mundo em comercialização de commodities agrícolas. Exemplo: café, soja, minério de ferro, suco de laranja etc. UNIDADE 0118 como Fernando e Isabel, os “reis católicos”, que proíbem a saída de metais preciosos ao mesmo tempo em que diligenciam atrair as moedas estrangeiras pela elevação da taxa de juros. A teoria do comércio internacional baseada nestas premissas foi chamada de mercantilismo. A ideia norteadora do comércio internacional neste período era a de que este serviria para o acúmulo de moeda por parte do país com superávit nas transações externas. Para Thomas Mun(1571-1641), teórico do mercantilismo inglês e diretor da Companhia das Índias Orientais, a hipótese básica do mercantilismo podia ser assim enunciada: “Devemos observar sempre esta regra: vender mais aos estrangeiros anualmente do que consumimos de seus produtos em valor, pois parte de nosso estoque que não retornar em produtos deve necessariamente ser trazida em tesouro (moeda)”. Já William Petty(1623-1687), também um mercantilista defensor das vantagens do comércio exterior argumentava que “se nos tornássemos tão frugais que usássemos pouco ou nenhum produto estrangeiro, como poderíamos então vender nossos próprios bens? Esperamos que outros países tenham dinheiro para todos os nossos produtos, sem que compremos ou permutemos com alguns dos seus?”. E arrematava afirmando que um rei que deseje acumular muito dinheiro deve empenhar-se ao máximo por manter e aumentar seu comércio exterior, o único meio de enriquecer seus súditos. Adam Smith e a doutrina das vantagens absolutas A obra “Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações” foi justamente o veículo por meio do qual Adam Smith (1723- 1790) empreendeu a primeira grande construção da ciência econômica. Boa parte do texto é dedicada à crítica do sistema mercantilista, tanto quanto ao aspecto contido neste de defesa do acúmulo de moeda providenciado pelo comércio externo, como também à política interna mercantilista de intervenção e controle do estado sobre toda atividade comercial e industrial. Contra esta intervenção ele vai opor a ideia do “sistema da liberdade natural” – na prática uma defesa do livre comércio, livre competição e da não intervenção do estado na atividade econômica, que deve ser deixada preferencialmente ao interesse pessoal do individuo que busca o lucro. Focado na questão das “causas da riqueza das nações”, ou seja, porque um país é mais rico do que outro, Adam Smith iria desenvolver dois importantes argumentos. O primeiro é o de que uma das causas do progresso e da riqueza COMÉRCIO EXTERIOR 19 é a divisão do trabalho, definida como a especialização e a divisão de tarefas em uma fábrica, operada dentro de um ambiente de contínuo avanço técnico. O outro argumento é o de que a riqueza, que ele entende como sendo o produto, os bens e serviços produzidos por uma nação, seria maximizada caso as unidades produtoras fossem deixadas livres para agir conforme o seu interesse. À luz da concepção do princípio da livre competição, condena a intervenção governamental nos negócios dos indivíduos, pressuposta pelo sistema mercantilista, argumentando que é na busca do interesse próprio de cada um que os recursos são empregados de forma mais vantajosa, promovendo o enriquecimento da nação. Nas palavras do texto: “Orientando sua atividade de tal forma que sua produção possa ser de maior valor, o indivíduo visa apenas o próprio ganho. Todavia, a procura de sua própria vantagem individual natural leva-o a preferir aquela aplicação que acarreta as maiores vantagens para a sociedade” (SMITH, p. 378). A teoria das vantagens absolutas decorre da aplicação do princípio da divisão do trabalho ao comércio entre os países, trazendo o mesmo benefício para o comércio externo que traz para o comércio interno. Smith explica que quando a produção de determinado setor, incentivada pelo aumento da produtividade, ultrapassa a demanda do próprio país, o excedente deve ser exportado e trocado por algo que esteja em falta no país. Sem essa exportação, cessará necessariamente uma parte do trabalho produtivo do país, diminuindo o valor de sua produção anual. Neste sentido, Smith é um grande defensor do comércio entre as nações, pois considerava evidente que a riqueza de uma nação cresce caso os mercados se expandam, abrangendo continuamente novas rotas e mercados. Conforme a teoria das vantagens absolutas cada país deveria se especializar na produção daqueles produtos nos quais possui menor custo de produção do que outros países, custo este medido em horas de trabalho necessárias para produzi-los. Todo país ganharia caso pudesse comprar mercadoria de outro país por um custo menor do que o verificado dentro de suas fronteiras. O quadro abaixo, de construção a partir de dados fictícios, ajuda a compreender o conceito, considerando dois países, cada um com custos menores para produzir um dado produto , no caso vinho e tecido: Quadro 01 – Valores de custos por país Pais Horas para produzir uma garrafa de vinho Horas para produzir uma peça de tecido Portugal Inglaterra 20 40 100 50 Fonte: de autoria própria UNIDADE 0120 Pelo quadro, vê-se de imediato a vantagem de Portugal. Internamente seriam necessárias 5 (cinco) (100/20) garrafas de vinho para comprar uma peça de tecido. Mas para comprar uma peça de tecido produzida por um industrial inglês bastariam 2,5 (duas e meia) garrafas de vinho. Para a Inglaterra também existem vantagens: uma peça de tecido internamente custaria quase o mesmo que uma garrafa de vinho ( 50 horas comparadas com 40 horas), mas caso haja comércio com Portugal, uma peça de tecido pode comprar até 2,5 (duas e meia) garrafas de vinho(50/20). Esta é a teoria de Smith, importante por ter sido a primeira a mostrar de forma tão convincente a conveniência do comércio entre as nações. Uma crítica contumaz a esta teoria é a de que ela falha ao não considerar os custos de produção em uma base mais realista. Como se sabe os custos não se resumem às horas de trabalho pagas, mas também incluem os recursos despendidos com a matéria-prima ou insumos de produção e o pagamento do capital na forma de juros. Contudo estas ressalvas não atingem o conjunto da argumentação, que é significativa até os dias de hoje. David Ricardo e a teoria das vantagens comparativas Conjuntamente com Adam Smith, o pensamento de David Ricardo compõe o cerne da Teoria Clássica da economia. Sua principal obra chama- se “Princípios de economia política e tributação”, publicada em 1817. Possuía grande experiência no mercado de capitais ingleses e sua teoria é matizada pela sua participação no debate público sobre os principais problemas econômicos do Reino Unido de então. Neste debate assomava a questão fundamental das “Corn Laws”- Lei dos cereais – que proibia as importações de cereais pelo Reino Unido, com o objetivo de proteger a produção agrícola da Grã-Bretanha, aumentando os lucros dosarrendatários capitalistas da terra e a renda da aristocracia que arrendava estas terras. Para Ricardo, isto tinha como consequência o aumento do custo da mão de obra industrial, obrigada a consumir alimentos mais caros, e o aumento do preço de insumos agrícolas para a indústria, reduzindo os lucros. Em outros termos, tratava-se de decidir se a Inglaterra seria um país agrícola ou industrial. O argumento de Ricardo se baseava no seguinte raciocínio: a princípio a produção agrícola se estabelece nas terras mais férteis de um território. Com o tempo e o aumento da população e da demanda haveria uma tendência para que fossem ocupadas as terras menos férteis. Tendo em vista que o preço dos bens agrícolas é determinado pela produtividade COMÉRCIO EXTERIOR 21 das terras menos férteis, devido ao aumento dos custos, surge uma “renda diferencial da terra” apropriada pelos proprietários das terras mais férteis. Ao mesmo tempo, este fenômeno tende a gerar redução geral nas taxas de lucros dos setores industrializados e o aumento dos salários que possui o mesmo efeito. Este ciclo negativo era extremamente favorável a aristocracia inglesa, uma classe improdutiva que alugava suas terras por preços cada vez maiores. Ricardo alertava que isto poderia levar ao “estado estacionário” situação na qual os capitalistas não investiriam mais devido a taxa de lucro declinante nos diversos setores industriais. A saída para o problema era o comércio externo. O Reino Unido deveria abolir as suas leis dos Cereais e possibilitar a importação de bens agrícolas que a cada vez maior classe trabalhadora necessitava. Além do mais, Ricardo alargou a concepção das vantagens oriundas das trocas internacionais, substituindo o conceito de vantagens absolutas pelo de vantagens comparativas. A nova concepção considerava que mesmo quando um país seja absolutamente superior em produtividade em relação a qualquer produto produzido em outro país, ele deve comerciar com o exterior, se especializando naqueles produtos nos quais internamente ele é mais produtivo, ou seja, usando os recursos produtivos, o investimento, para as vantagens de produzir nos setores internos comparativamente mais avançados, enquanto compra de outros países produtos de setores nos quais ele é menos produtivo comparativamente. Para usar uma nomenclatura moderna, Ricardo está propondo que se leve em conta os custos de oportunidade alternativos para os recursos disponíveis pela nação, e que se aplique estes recursos de forma a termos uma especialização onde os custos de oportunidade sejam os menores possíveis para a sociedade. O quadro 02 abaixo mostra o argumento de David Ricardo. Considera-se dois países, Portugal e Alemanha, e que Portugal hipoteticamente seria mais produtivo na produção dos dois produtos, tal como se vê: Quadro 02 – Comparação de produção entre países Pais Peça de tecido Barril de vinho Portugal Alemanha 50 horas 60 horas 100 horas 150 horas GLOSSÁRIO O conceito de custo de oportunidade se refere ao fato de todo recurso disponível pra um individuo, empresa ou país possuir pelo menos uma aplicação alternativa. Os custos de oportunidade seriam aqueles benefícios, lucros ou rendas que se deixou de ganhar ao se fazer uma dada opção de investimento. No caso da teoria das vantagens comparativas, se toda a economia de um país se concentra em setores mais ou menos homogêneos de alta tecnologia e alta produtividade supõe-se que os custos de oportunidade – o que se deixa ganhar ao fazermos uma aplicação nestes setores - é cada vez menor dada a convergência tecnológica dos setores. UNIDADE 0122 O quadro mostra que embora Portugal seja mais produtivo nas duas mercadorias, ele deve transferir trabalhadores e outros recursos produtivos do setor de tecidos para o de vinhos, que possui produtividade comparativamente maior. A Alemanha deve transferir seus recursos do setor de vinho para o de tecidos, no qual possui menor desvantagem. Lembre-se que conforme a teoria das vantagens absolutas não haveria comércio externo neste caso. A teoria de Ricardo assim, ampliava a justificativa deste comércio ao afirmar que mesmo que uma nação A não produza uma mercadoria a um custo mais baixo do que outra nação B, ainda assim existem benefícios para ambas as nações. Contudo deve-se lembrar que esta abordagem do comércio internacional pressupõe a liberdade de comércio, a mão invisível do mercado – ou seja, os recursos são mais bem aplicados porque o são pelo interesse do lucro – e o livre cambismo, situações nem sempre encontradas nas transações internacionais. Teoria neoclássica da dotação relativa dos fatores Já no século XX os economistas suecos Eli Heckscher e Bertil Ohlin desenvolveram a chamada teoria neoclássica da dotação dos fatores, que se baseia na ideia de que os países se especializam em produzir aqueles bens para os quais eles estão bem dotados de recursos. Estes podem ser de três tipos: a) Recursos naturais: existem mercadorias que dependem muito de recursos naturais disponíveis, que são produtos agrícolas ou minerais/extrativistas de valor econômico. A própria disponibilidade natural de terras e água abundante são recursos naturais importantes. O Brasil, por exemplo, é o maior produtor mundial de cana de açúcar, café, carne de gado, suco de laranja e é o terceiro maior exportador mundial de produtos agrícolas, superado apenas pelos EUA e a União Européia considerada como um todo. Os estudos econômicos projetam que o Brasil deve se tornar o maior exportador agrícola do mundo até o ano de 2020. Países pequenos com pouca dotação de recursos naturais tendem em se especializar em produtos de alta tecnologia e/ou na distribuição comercial de mercadorias como é o caso da Holanda. b) Mão-de-obra: da mesma forma existem mercadorias que são bastante exigentes de um grande estoque de mão-de-obra barata, disciplinada e PARA SABER MAIS Livre cambismo é a doutrina econômica que sustenta a proposição de que o valor das moedas nacionais deve flutuar livremente sem a participação dos governos no estabelecimento do preço destas. O mecanismo de formação dos preços relativo das moedas, por exemplo, o preço do dólar em reais, deveria ser resultado da oferta e demanda por moeda nos mercados cambiais de cada país. A Inglaterra, logo após a divulgação da teoria de David Ricardo fez valer a sua posição de potência econômica dominante para tornar o ouro a moeda internacional de troca, construindo para isto um ambiente internacional livre-cambista. COMÉRCIO EXTERIOR 23 com certo grau de instrução. É o caso de indústrias de baixa tecnologia e extensivas em trabalho, típicas da Ásia oriental, especialmente localizada na China, mas também encontradas em todo o Oriente e na Índia. Para estes produtos tais como têxteis, calçados, brinquedos, siderurgia, eletrônicos baratos, existem diferenças salariais que são relevantes em termos econômicos; c) Capital: por outro lado existem mercadorias intensivas em capital, cuja produção tende a se concentrar onde este recurso é abundante. É o caso da indústria norte-americana de alta tecnologia e informática localizada no Vale do Silício, no estado da Califórnia. Também é o caso da indústria alemã de bens de capital. Assim, o foco desta teoria é o fato de que, de forma geral, mas não necessariamente, o comércio internacional favorece o uso dos recursos mais abundantes no território de uma nação. Mais recentemente, na década de 1940, o economista Paul Samuelson usou de métodos matemáticos para demonstrar que em condições de concorrência perfeita existe uma tendência a equiparação da remuneração dos fatores de produção usados na produção de mercadorias exportadas. A teoria da CEPAL e a substituição de importações No final dos anos 40, a ONU formulou um programa de assistência econômica para os países membros que propunha a adoção por estes países de um sistema de contas nacionais.Estas seriam um instrumento necessário para a política macroeconômica, permitindo cenários, intervenções ao estilo heterodoxo. Coerentemente, a ONU evoluiu para uma nova posição que defendia o progresso mais rápido dos países subdesenvolvidos, considerada como fundamental para aumentar o emprego produtivo dos recursos e o nível de vida da população. Colocava-se a necessidade de definir uma política efetiva de combate ao subdesenvolvimento. Os pressupostos de tal programa eram: 1) as economias latino-americanas necessitavam de ajuda para a ‘reconstrução’ , uma vez que haviam sido fustigadas por um desgaste anormal durante a guerra; 2) observava- se uma tendência à deterioração dos termos de troca , prejudicial à América Latina; 3) as economias dessa região tendiam a um crescimento excessivamente lento. Assim, surge a CEPAL, em 1951, dentro de um ambiente dominado pela UNIDADE 0124 fé na intervenção estatal e no planejamento econômico. Duas questões em jogo ligavam a instituição ao keynesianismo como que ampliando a doutrina ao nível mundial. Ressaltava-se o caráter cíclico do subdesenvolvimento, com as economias do terceiro mundo (expressão na época não conhecida) dependentes dos ciclos de alta do capitalismo mundial. O desemprego disfarçado, reflexo e causa da baixa produtividade destes sistemas, era um problema fundamental. O economista Raul Prebisch, um dos idealizadores desta revisão e principal condutor da CEPAL em seus primeiros anos, era, sobre muitos aspectos, afinado com o pensamento de Keynes do qual era um estudioso. Prebisch foi buscar no texto do economista inglês aquilo que, de imediato, era matéria aplicável à construção da análise dos condicionantes estruturais do crescimento: repúdio ao laissez-faire como sistema de alocação de recursos; a ideia de que poupança e investimento não entram automaticamente em equilíbrio sendo necessária a intervenção do Estado para regular esta disfunção estrutural; a insuficiência, em muitos aspectos também estrutural, da demanda agregada nos países da América Latina. Para Prebisch a vulnerabilidade da região em relação aos ciclos econômicos se devia ao fato de que a América Latina produzia basicamente produtos agrícolas cujos preços eram muito dependentes da demanda internacional de tal forma que quando esta diminuía, como ocorreu durante a Grande Depressão, os preços destes produtos caiam em uma proporção mais do que proporcional a queda da demanda, deprimindo seriamente a receita de exportação dos países latino-americanos. Outra tese importante defendida por Prebisch era a tendência à deterioração dos termos de troca. Ao contrário do que prometia a teoria das vantagens comparativas, a maior lentidão do progresso técnico dos produtos primários em relação aos industriais levava ao encarecimento destes últimos em relação aos bens agrícolas ou minerais. Assim haveria um problema quando um país como os latino-americanos se especializavam em exportar bens primários cada vez mais baratos em relação aos produtos industrializados do Primeiro Mundo. Estes bens industrializados possuíam também a característica de perder pouco valor durante uma crise conjuntural. Nos países do Primeiro Mundo os salários eram importantes na formação dos preços dos produtos industriais garantidos por sindicatos organizados dentro de uma estrutura produtiva oligopolizada e concentrada. Assim os preços dos produtos industrializados não possuíam uma grande tendência a queda quando o ciclo econômico estava em baixa. A solução seria a industrialização pelo mecanismo da “substituição COMÉRCIO EXTERIOR 25 de importações”. Essa consistia em substituir os produtos importados por produtos industrializados localmente, estratégia que exigia um forte protecionismo, para proteger a indústria nascente, e um papel dinâmico do Estado em conduzir a proteção, gerir a estratégia e mesmo participar ativamente quando necessário na produção de insumos e outros bens. O protecionismo também era justificado pelo fato de que mesmo supondo uma eficiência menor da produção industrial na periferia, esta eficiência seria maior que a obtida na aplicação alternativa de recursos produtivos na agricultura. Contudo, o início do processo de industrialização, na própria concepção da CEPAL não levaria imediatamente ao fim dos problemas em um dado país da região. As razões seriam muitas: continuação da condição essencial de exportador de produtos primários; a demanda não muito elástica dos países industrializados por estes bens; dependência da importação de produtos industriais; a falta de divisas para comprar insumos e bens de capital. Estes estudos tiveram grande importância na região, e ajudaram a construir a ideologia do desenvolvimentismo, elemento fundamental na industrialização do Brasil. Outros países da América latina também usaram dessa estratégia para se industrializarem como o México, a Argentina e o Chile, mas o Brasil foi o mais bem sucedido nesta direção. Teorias do investimento direto externo – IDE O investimento direto externo pode ser entendido como a expansão da capacidade produtiva de uma empresa no exterior através da inversão de capital externo criando novas empresas, abrindo subsidiárias ou ainda ganhando participação acionária em empresas já existentes em outro país. Vernon, em 1966, fez uma relação direta entre comércio internacional e IDE, através da Teoria do Ciclo de Vida do Produto. A teoria de Vernon consiste na definição de três etapas básicas do ciclo de vida do produto: inovação, maturidade e padronização do produto, enquanto a localização da produção depende do estágio do ciclo, a qual é escolhida pelos custos de produção e níveis de ingresso dos consumidores. A primeira etapa - a inovação - requer mão de obra muito qualificada e grande quantidade de capital para pesquisa e desenvolvimento; neste primeiro estágio, o produto é introduzido no mercado doméstico da empresa transnacional e depois é exportado para países com necessidades, preferências e rendimentos semelhantes ao país da matriz. UNIDADE 0126 Nesta etapa inicial, os primeiros consumidores não se importam com o preço, dada a novidade e qualidade do produto comparado com outros da indústria. Conforme a produção se expande, o produto vai se padronizando e a demanda de mão de obra qualificada declina quando o produto é copiado. É o caso da indústria de celulares, na qual os lançamentos de novidades alcançam preços bem altos que depois diminuem. A empresa inovadora, ao chegar ao ciclo de maturidade de um lançamento (por exemplo o Ipod da Apple) tem que decidir entre perder participação de mercado para fabricantes com sedes no estrangeiro, que utilizam mão de obra mais barata (imitadores do Ipod) ou investir no exterior para manter sua participação no mercado explorando as vantagens competitivas dos custos de fatores em outros países (fabricar o Ipod no Brasil). Na etapa final, o produto já está completamente padronizado, (surge um grande mercado produtor de Ipod e similares) e então as margens de lucro decrescem e a competição é acirrada. Os benefícios agora somente podem vir dos excedentes do comércio líquido. Para Vernon, a teoria do ciclo do produto possui uma dinâmica internacional: cada novo produto introduzido para suprir o mercado doméstico da firma oligopolista é depois exportado e, quando o processo se torna disponível para os competidores, a concorrência induz a firma oligopolista que o criou a substituir a exportação pela produção no exterior, uma vez que estas firmas já dispõem de subsidiárias no estrangeiro. De qualquer forma, deve-se ter em mente que como o processo de inovação em firmas sujeitas a concorrência internacional é muito forte e fundamental. O processo nunca para de sempre começar e ir em frente. Hoje, certamente o ciclo é mais curto do que era quando o autor expôs a teoria. Em parte isto se deve ao fato de que a sociedade de consumo naqual vivemos exige uma constante apresentação de novas tecnologias e produtos para satisfazer a vontade de consumir existente. Outra teoria importante pra explicar o investimento direto externo é o modelo do “paradigma eclético” de John Dunning (1988). Este tentou mostrar que as teorias clássica e neoclássica do comércio internacional eram fundamentalmente insuficientes para explicar o comércio mundial, mas criou um referencial teórico amplo, baseando-se nas teorias que explicavam as trocas internacionais pela dotação de fatores e pelas falhas de mercado. Neste sentido o autor fundamenta-se em abordagens tais como a teoria das vantagens comparativas; na teoria das vantagens competitivas – que sustenta a ideia de que empresas podem se aproveitar de competências bem dominadas por elas em mercados em que operam tais como custo, COMÉRCIO EXTERIOR 27 tamanho ou capacidade tecnológica; na teoria da dotação dos fatores e ainda na teoria das vantagens monopolistas que afirma a proposição de que empresas fazem sucesso no mercado internacional por desenvolverem habilidades e recursos monopolizados em algum momento de sua trajetória. Assim, Dunning (1988) concebe que existem três determinantes simultâneos do IDE, os dois primeiros inerentes as vantagens diversas que podem ser utilizadas pelas empresas em suas estratégias de mundialização e o terceiro referente ao país onde este tipo de investimento é realizado. Seriam eles: As vantagens específicas de propriedade de ativos tangíveis e intangíveis, que dão poder de mercado à empresa transnacional. Estas vantagens estão ligadas às vantagens competitivas, ou seja, conhecimentos, capacidades, habilidades que possibilitam a firma competir vitoriosamente em um dado mercado. Podem ser vantagens de ativos - patentes e marcas, por exemplo - bem como todo um conjunto de elementos tais como domínio de uma dada tecnologia, capacidade gerencial, economias de escala e acesso a recursos financeiros. Vantagens de internalização ou capacidade de agregar valor ao ativo internalizando etapas de produção quando necessário. A internalização é o processo de aquisição e manutenção de uma ou mais atividades dentro da empresa com o intuito de racionalizar a produção, evitando os custos de terceirização. Isto leva muitas vezes a favorecer as estratégias de integração horizontal e vertical da empresa. Vantagens específicas de localização, referentes as vantagens comparativas existentes em outros países no qual a firma quer produzir. Podem estar relacionadas à legislação política de governo, estrutura de mercado e ambiente institucional do país receptor do IDE, bem como a infraestrutura disponível, a abundância de recursos naturais ou humanos, o tamanho do mercado, estabilidade econômica e política, etc. As vantagens evidentes da integração vertical, muito praticadas pelas empresas japonesas, por exemplo, são: um maior controle sobre a qualidade, prazos e cadência de entrega, etc. dos fatores de produção; um melhor controle sobre a distribuição dos produtos e serviços produzidos e sobre os serviços pós-venda associados; aumento do poder de barganha sobre os fornecedores ou sobre os clientes mediante a integração; um aumento dos benefícios associados a economias de escala e a poupanças de custos com o fornecimento de insumos de produção ou ainda com a distribuição dos produtos que compõe a oferta da firma SAIBA MAIS Integração horizontal e vertical são estratégias de crescimento das firmas, nacional ou internacionalmente. A integração horizontal consiste em aquisição de plantas industriais semelhantes as da atividade principal da firma visando expandir sua produção e oferta de bens ou serviços no mercado externo ou interno; a integração vertical consiste na ação de assegurar o fornecimento de matérias-primas ou insumos, comprando ou integrando empresas que os produzam - integração para trás - ou estão adquirindo todo um sistema de distribuição e venda de bens e serviços - integração para frente -, evitando os custos de terceirização destas atividades. UNIDADE 0128 Barreiras ao comércio e esquemas protecionistas Nesta seção serão estudadas as diversas estratégias que os governos nacionais usam para proteger o seu comércio externo. Primeiro, serão examinados as doutrinas que cuidaram de tratar do assunto com objetivos e propósitos diferentes como veremos. A seguir, cuidaremos de expor a política de barreiras ao livre-comércio, estudando a política tarifária, as cotas de importação, os subsídios, o uso diferenciado da taxa de câmbio; as ações anti-dumping; os controles sanitários e outras barreiras usadas comumente na prática pelas nações. Teorias da proteção do comércio internacional Existe um relato liberal da evolução do capitalismo que defende a seguinte sequência de fatos como sendo a verdadeira história do capitalismo (Ha-Joon Chang, 2003): a) Ainda no século XVIII, o sucesso industrial da Inglaterra “laissez-faire” provou a superioridade do mercado livre e das políticas de livre comércio sobre os competidores intervencionistas. A Inglaterra liquidou as Corn Laws que proibiam a importações de alimentos para todo o Reino Unido. b) Uma ordem liberal mundial, instaurada a partir de 1870, foi baseada em políticas liberais internas; baixas barreiras ao fluxo internacional de bens, capital e mão de obra; estabilidade macroeconômica interna e externa garantida pelo padrão ouro. c) Seguiu-se uma época de ouro de prosperidade internacional, mas as coisas começaram a andar erradas com a primeira guerra mundial e a instabilidade que se seguiu levou ao protecionismo – mesmo os EUA, um país comprovadamente liberal aprovaram a lei Smoot-Hawley aumentando significativamente as suas tarifas protecionistas e, de uma forma geral, a contração do comércio durou até o final da segunda guerra. d) No pós-guerra verificou-se a construção de instituições multilaterais liberais, que impulsionaram positivamente o comércio internacional, contudo o terceiro mundo ficou dominado por políticas dirigistas – promovidas, por exemplo, pelo estruturalismo cepalino. e) Estas políticas intervencionistas foram abandonadas por volta dos anos 80 do século XX, uma vez mostrado os limites do velho dirigismo. Criou-se um novo sistema global liberal de enorme potencial. Esta construção histórica, largamente aceita pelas principais universidades do mundo ocidental e pelas principais instituições internacionais COMÉRCIO EXTERIOR 29 multilaterais (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio), não possui porém um consenso que a legitime plenamente. No começo do século XIX, o economista alemão Friedrich List desenvolveu uma crítica ao sistema liberal de Adam Smith e ao princípio das vantagens comparativas. Ele se opôs ao livre-comércio, entendido como um instrumento que a Inglaterra usava para impor a sua superioridade industrial aos outros países e passou a defender um nacionalismo econômico, baseado na ideia de que o desenvolvimento de cada país exigia medidas especiais conforme as circunstâncias e o grau de evolução de sua economia. Assim, para defender a indústria nascente da Alemanha, retardatária em relação a da Inglaterra era necessário um ativo protecionismo para que as indústrias nacionais pudessem crescer suficientemente até atingirem uma escala capaz de permiti-las concorrer em mercados internacionais sujeitos a uma forte competição. Contemporaneamente, existe a obra do autor coreano radicado nos Estados Unidos Ha-Joon Chang que, na trilha de List, vem criticando o pensamento liberal e as “boas” políticas preconizadas pelas instituições internacionais: política macroeconômica conservadora, liberalização do comércio e do investimento internacional, privatização e desregulação econômica. O principal argumento do autor, desdobrado no livro “Chutando a escada” é o de que os países atualmente desenvolvidosquando estavam no processo de desenvolvimento não adotaram praticamente nenhuma das políticas liberais que hoje defendem e ativamente usaram do intervencionismo industrial, comercial e tecnológico para proteger as suas indústrias nascentes. Na Inglaterra, próprio paradigma do modelo liberal, durante todo período da revolução industrial até 1846, foi aplicada uma agressiva política de proteção industrial e comercial. Altas tarifas perduraram até duas gerações após a revolução industrial. Para List, a Inglaterra foi a primeira a “chutar a escada” – esconder o jogo e preconizar algo diferente do que fez para se industrializar – e adotar o liberalismo somente quando este já lhe era bastante conveniente. Os EUA foram o maior promotor de proteção de indústrias nascentes, um bastião do moderno protecionismo. Entre 1816 e o fim da segunda guerra mundial, os EUA tiveram uma das mais altas tarifas de importação de bens manufaturados do mundo e a sua indústria talvez tenha sido a mais protegida do mundo, dadas as tarifas, os altos custos de transporte, especialmente após a guerra civil americana. Para Chang, quase todos os países atualmente desenvolvidos UNIDADE 0130 usaram de alguma forma de promoção de suas indústrias quando estavam em processo de “catch-up” – equiparação aos mais desenvolvidos - . As exceções seriam a Holanda e a Suíça talvez por sempre estarem perto da fronteira tecnológica. França, Alemanha e Japão usaram do protecionismo, mas não de forma tão forte quanto os EUA e o Reino Unido. Para o Japão e outros, o protecionismo nem era a principal estratégia e sim, crédito estatal, planejamento de investimento, direitos de monopólio, apoio à pesquisa. A pesquisa histórica mostra também que os países liberais na tentativa de “pull away”, ou seja, adiantar-se mais do que outros na competição internacional, trataram suas colônias de forma não-liberal. A orientação que vigorou era a de incentivar a produção de produtos primários; a proibição da produção de bens manufaturados com valor adicionado impedindo exportações competitivas. em relação aos países concorrentes não teria vigorado a livre difusão do progresso técnico, pelo contrário, as nações concorrentes lançaram mão de espionagem industrial, recrutamento da mão–de-obra da concorrência, violação de patentes e de outros direitos de propriedade. Considerando estes fatos vemos que o protecionismo é mais a regra do que a exceção. Todos os países, levados por uma forte racionalidade econômica, praticam algum tipo, em algum grau, de esquemas protecionistas, que gera muitos benefícios aos setores privilegiados, embora haja dúvidas se tais benefícios se estendem a sociedade como um todo. As barreiras ao comércio Deixando de lado este enfoque histórico, pode-se dizer que existem muitos argumentos econômicos que defendem a atuação do Estado no sentido de propiciar uma proteção à indústria de uma nação, ou setores específicos desta indústria. Podemos enumerar: a) corrigir as imperfeições do mercado: muitas vezes certos mercados internacionais apresentam sérias distorções, que impedem que a indústria de um país ganhe escala e possa ser competitiva. Os casos mais conhecidos são os mercados onde vigoram o monopólio, mercados oligopolizados, trustes e cartéis. Tanto o monopólio quanto o oligopólio são situações de mercado onde o produtor possui grande capacidade de controlar o preço do produto bem como a sua oferta. O truste consiste na fusão de várias empresas de forma a estabelecer- se um monopólio. A possibilidade de manipulação do mercado é enorme, geralmente com a imposição de preços e condições de contrato desfavoráveis COMÉRCIO EXTERIOR 31 aos compradores do produto. O Brasil, como outros países possui uma legislação específica contra a formação de trustes. Os cartéis consistem em um acordo entre os principais produtores de uma mercadoria, pelo qual eles distribuem entre si cotas de mercado e acertam o preço do produto, suprimindo a concorrência. Ao contrário do truste, cada firma mantém a sua autonomia individual. Outra grave distorção dos mercados é a política de “dumping”. Trata- se da adoção intencional por parte de uma empresa de um país, muitas vezes com o apoio de seu governo, de uma política de preços abaixo de seus custos, ou então, de impor preços externos menores que os usuais no mercado de origem da firma. O objetivo do dumping é eliminar os produtores locais através do preço mais baixo e então dominar o mercado. b) outra razão para a intervenção do Estado é a existência de uma política oficial de substituição de importações. Caso um país em desenvolvimento adote uma política de substituir as importações através do incentivo a produzir estas mercadorias internamente, ele deve agir de forma a proteger esta indústria nascente, desestimulando a importação, mediante a taxação desta, com o objetivo de criar uma situação interna favorável a produção local. No Brasil, durante longo tempo, enquanto existiu o “Estado Desenvolvimentista”, estas políticas protecionistas foram usadas de forma intencional pelos diversos governos. Veremos a seguir as principais políticas protecionistas que podem ser adotadas por uma autoridade estatal: tarifas, cotas de importação, subsídios, barreiras técnicas, barreiras sanitárias, taxas múltiplas de câmbio e ações anti-dumping. A teoria econômica costuma dividir estas políticas em barreiras alfandegárias – o caso das tarifas – e as barreiras não-alfandegárias que incluem todas as outras que não se referem ao pagamento de impostos e que podem se referir as necessidades de atendimento de requisitos técnicos ou administrativos. Tarifas ou barreiras alfandegárias As tarifas, também conhecidas como barreiras alfandegárias, por serem impostas, fiscalizadas e recolhidas pela autoridade fiscal da nação – no Brasil, a Receita Federal – são taxas ou impostos cobrados sobre a importação de SAIBA MAIS O Estado desenvolvimentista é um tipo de Estado nacional onde se torna predominante uma ideologia de transformação da sociedade através da industrialização como via de superação da pobreza e do subdesenvolvimento. Neste projeto o Estado seria fundamental como planejador e mesmo como investidor naqueles setores onde claramente existiriam falta de recursos. No caso brasileiro, pode-se perfeitamente verificar a existência de tal estado desde o segundo governo Vargas (1951-54), passando pelo governo de Juscelino Kubitscheck (1956-61), período no qual a ideia de desenvolvimento alcança um auge no Brasil. No período 1961-64, a dinâmica partidária e das lutas sociais em um ambiente democrático cria um novo objetivo: reformas de base e não mais desenvolvimentismo. Mas o golpe militar vai redimensionar a experiência anterior. Durante os anos de 1964 - 1979, temos um desenvolvimentismo militar dentro de um sistema político com alto grau de fechamento, onde a boa gestão econômica é usada como forma de legitimar o regime. UNIDADE 0132 mercadorias. Existem três tipos de tarifação sobre mercadorias: a) Tarifa ad valorem: neste caso é cobrado um percentual sobre o valor do produto, que varia conforme a política fiscal em vigor. Exemplo: 20% sobre o preço do produto importado. b) Tarifa específica: é cobrado um valor fixo sobre uma dada quantidade de produto importado. Exemplo: R$ 1000,00 sobre a tonelada de um produto importado. c) Tarifa mista: caso no qual a autoridade fiscal utiliza ao mesmo tempo a tarifa ad valorem e a específica. Como se pode inferir, as tarifas interferem diretamente no preço final da mercadoria. O aumento do imposto de importação, ou a sua própria existência fazem com que o preço da mercadoria fique mais alto, o que, conforme a teoria leva à queda de sua demanda. Neste caso, pode haver um aumento da produção interna, uma vez que o produto do concorrente externo ficou mais caro, estabelecendo um novo equilíbrio no mercado. Contudo este equilíbriopode não vir a acontecer, pois podem ocorrer pelo menos dois tipos de problemas. Primeiro, a falta de concorrência externa pode elevar, no curto prazo, os preços da produção interna da mercadoria similar protegida. Segundo, uma política tarifária mais rigorosa, quando a produção interna não é autossuficiente, pode levar a aumentos de preços do produto e de outros que dependem dele para serem produzidos, no caso de ser um insumo industrial, por exemplo. No que diz respeito à arrecadação da receita governamental, a imposição de uma tarifa ou o seu aumento podem levar a dois efeitos: a) a receita aumenta devido ao aumento da produção industrial/agrícola interna protegida do bem em questão; b) a receita pode aumentar diretamente com o aumento do imposto de importação sobre um bem econômico importado. Mas este aumento vai depender do grau de inelasticidade do produto em questão. Quando o produto é muito importante para a economia, como fertilizantes, por exemplo, o aumento do preço leva a uma queda na demanda em uma proporção menor do que a alta verificada no preço dos fertilizantes, caracterizando uma situação de “inelasticidade do produto”. Neste caso a receita do governo irá aumentar. O aumento do imposto sobre produtos de demanda elástica tais como bebidas importadas ou brinquedos eletrônicos, podem fazer cair a receita do imposto de importação sobre este tipo de produto. A imposição de tarifas alfandegárias pode, em um primeiro instante, melhorar a situação do balanço de pagamentos do país devido ao decréscimo das importações, mas pode expô-lo a medidas de retaliação pelos países COMÉRCIO EXTERIOR 33 que ao se sentirem prejudicados busquem arbitragem junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). Um bom exemplo de questões tarifárias de importância para a economia brasileira é a guerra da laranja travada entre os EUA e o Brasil, desde a década de 80 do século XX. O principal interesse americano é proteger o produtor da Flórida em relação ao suco de laranja concentrado brasileiro e a própria laranja in natura exportada pelos produtores brasileiros, muito mais competitivos que os americanos. Em 2008, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos determinou a adoção de tarifas antidumping ao suco de laranja brasileiro, convencido de que existia esta prática por parte dos produtores brasileiros. A sobretaxa média ficou em 15,42%. Em agosto de 2007, o Departamento havia adotado sobretaxas preliminares que variavam de 24,62% a 60,29%. Posteriormente o governo americano decidiu que o suco de laranja brasileiro devia pagar taxas menores, entre 9,73% e 60,29%, para adentrar o território americano. De qualquer forma, o suco brasileiro pagava então uma taxa específica elevadíssima de U$$ 418 por tonelada, para poder entrar no mercado norte-americano. Cotas de importação e exportação O sistema de cotas de importação constitui-se em uma barreira quantitativa às importações, através da qual é acordada uma quantidade máxima de um produto que pode ser importada de um país ou de um bloco econômico. Este mecanismo é largamente usado para a proteção da indústria, quando existe uma política de substituição de importações, ou para proteger a agricultura diante de concorrentes internacionais mais produtivos. Comparativamente com a estratégia de barreiras alfandegárias, como é o caso da imposição de tarifas, o sistema de cotas pode oferecer certas vantagens bem marcadas: a) Neste caso o governo possui uma noção bem precisa da quantidade de mercadoria que entrará no país em um dado setor do mercado; b) O sistema de cotas de importação não leva ao aumento do preço do produto causado pela tarifa aplicada; c) O sistema de cotas pode ser bem regulado de forma a possibilitar a mais ou menos exata importação do déficit de produção interna de um dado produto. Isto impede que ocorra falta de produto e que a falta de oferta pressione o preço do produto. Existe também o sistema de cotas de exportação caracterizado pela UNIDADE 0134 imposição do governo de cotas de exportação sobre os produtores nacionais que exportam uma dada mercadoria. Este tipo de medida é geralmente realizado em um contexto de pressões externas em que um país importador luta para que um outro reduza as suas exportações “voluntariamente”, fazendo uso de ameaças de sanções maiores e mais incisivas sobre as importações. Subsídios O subsídio a exportação é um benefício concedido pela autoridade estatal para uma empresa que exporta mercadorias. O objetivo básico é tornar estas mercadorias competitivas a nível internacional. Geralmente ocorre na forma de uma contribuição financeira e, para ser considerado como tal, o benefício deve conter um custo para o governo. No Brasil foi internalizado o Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias celebrado na Rodada Uruguai da OMC. Este acordo normatiza as questões envolvendo os subsídios entre os países-membros e aponta para as práticas proibidas, especialmente subsídios para empresas ou setores da economia específicos envolvendo práticas tais como: isenções de impostos, remissões fiscais, concessão de garantias de crédito para exportação, programas de seguro a taxas subsidiadas, créditos para a exportação com taxas mais baixas que as praticadas pelo mercado, utilização excessiva de “drawback”. Além dos subsídios à exportação, existem os subsídios que os governos fazem a empresas ou mesmo setores de sua economia interna como forma de proteger estes mercados. No mundo atual, uma das principais questões envolvendo o comércio internacional é a dos subsídios dados pelos países ricos aos seus agricultores. Nos EUA e na Europa, os produtores rurais recebem um valor monetário por unidade de produto que eles produzem para o mercado interno ou então exportam. Conforme a agência de notícias européia Deustsche Welle, a metade do orçamento da UE é destinado ao pagamento de subsídios agrícolas - um total expressivo de 55 bilhões de euros - apesar de menos de 3% da população do bloco viver da agricultura. O custo diário para os contribuintes de cada vaca europeia é de 2,50 euros, cerca de R$ 7,00. (www.msia.org.br) GLOSSÁRIO O drawback consiste no tratamento tributário especial dado aos insumos importados utilizados na produção de mercadorias destinadas a serem exportadas. A legislação brasileira considera o drawback um regime especial tributário de incentivo à exportação. Podem ocorrer três situações: restituição dos impostos pagos, suspensão dos impostos e isenção dos mesmos. . COMÉRCIO EXTERIOR 35 Barreiras técnicas e sanitárias As barreiras técnicas e sanitárias constituem-se em requisitos técnicos exigidos pelo país importador em relação às mercadorias importadas, que são geralmente diferentes das exigências técnicas em vigor no país exportador, criando assim uma dificuldade, uma barreira. Estes requisitos são fiscalizados pelas autoridades competentes que fazem um exame sistemático das características da mercadoria com o intuito de verificar a sua conformidade com os padrões, normas e regulamentos estabelecidos. Se a mercadoria, um serviço ou um processo é considerado como algo que atende aos requisitos especificados é dado um certificado de “garantia de conformidade”, que possibilita a importação do produto. Note-se que muitas vezes aos requisitos exigidos pelo governo, somam-se aquelas normas demandadas pelo mercado, que também exige qualidade das mercadorias importadas. A OMC, como responsável pela expansão do livre-comércio mundial, condena o uso de barreiras técnicas derivadas de normas não-transparentes ou em discordância com aquelas internacionalmente aceitas, consideradas como instrumentos disfarçados de uma política protecionista. Também são condenadas inspeções demasiadamente rigorosas, ou exigências onerosas para obter o certificado de conformidade. No caso brasileiro, por exemplo, os exportadores de carne bovina tem se esforçado para romperas barreiras técnicas e sanitárias muitas vezes encontradas pela carne de gado brasileira. As restrições muitas vezes dirigem-se às características do produto – carne fresca e saudável – ou então ao próprio processo de produção, o que inclui os requisitos sobre a higiene dentro do frigorífico ou o cuidado com a embalagem da mercadoria. Certos países cuja economia é basicamente voltada para a exportação como é o caso do Japão e da Alemanha, possuem um histórico negativo quanto às exigências de requisitos para aqueles que querem exportar pra estes países. Taxas de câmbio múltiplas Como se sabe e será melhor explorado no decorrer deste trabalho, a taxa de câmbio significa o preço de uma moeda nacional em relação a uma outra, por exemplo U$$ 1,0 = R$ 1,70 (ou seja, um dólar vale um real e setenta centavos). Para o exportador é importante que o a moeda de troca internacional, na qual ele recebe o pagamento pelo seu produto esteja valorizada, ou seja, um dólar valendo dois reais é melhor que valendo um UNIDADE 0136 real e setenta centavos pois ao trazer os dólares para o Brasil ele vai receber um valor maior. Para o importador a lógica é inversa, ou seja, quanto mais valorizada está a moeda nacional, melhor para o importador que precisa comprar dólares para comprar produtos no exterior. De qualquer forma a taxa de câmbio, como pode se ver, é um elemento importante na formação do preço do produto exportado e importado. De acordo com esta percepção muitas vezes as autoridades monetárias de um país manipulam a taxa de cambio para ajudar o comércio exterior, ou proteger o mercado nacional. Algumas opções são interessantes: a) Uma taxa de câmbio na qual a moeda nacional está mais desvalorizada, pode ser estipulada para um setor exportador que se deseja incentivar, diminuindo o preço do produto no exterior e aumentando a receita em reais, quando da internalização do dólar no país. b) No caso de se tentar uma proteção da economia contra produtos importados pode-se criar uma categoria especial de produtos sujeitos a uma taxa de câmbio na qual a moeda nacional está desvalorizada, tornando o produto importado mais caro para os possuidores desta moeda. Outras possibilidades também existem. A autoridade monetária pode criar uma taxa de câmbio pela qual a moeda nacional esteja valorizada e aplicá-la a setores importadores de insumos importantes para a industria e agricultura nacionais (fertilizantes, por exemplo). Recentemente, o governo de Hugo Chávez pressionado pela crise econômica que o país atravessa, com a queda do preço do petróleo que ocorreu após a crise mundial de 2008, desenvolveu um sistema múltiplo de taxas. O dólar passou de 2,15 para 2,60 bolívares para os bens importados considerados essenciais, enquanto passou a valer 4,30 bolívares para os bens importados considerados supérfluos. O objetivo é conter o consumo de importados no momento de crise, tentando estabilizar o comércio exterior, na esperança de que os preços do petróleo voltem a subir (dados citados em www.portaldocomércio.org.br). No Brasil, entre 1953 e 1961, vigoravam duas taxas de câmbio para a exportação e cinco taxas de câmbio para a importação de mercadorias. O objetivo destas últimas era fazer um controle seletivo das importações, em um momento em que o país lançava-se ao processo de substituições de importações – conduzido pelo Plano de metas do Presidente Juscelino Kubitscheck. COMÉRCIO EXTERIOR 37 Ações antidumping Como já foi definido neste texto, o dumping significa a adoção intencional por parte de uma empresa de um país, muitas vezes com o apoio de seu governo, de uma política de preços abaixo de seus custos, ou então, de impor preços externos menores que os usuais no mercado de origem da firma, tudo isto com o objetivo de dominar mercados externos ao da firma. As ações de antidumping são medidas protecionistas que tem como objetivo proteger a economia nacional ou empresas específicas contra a prática do dumping verificada como desleal e predatória. Por outro lado, nem sempre é fácil saber se um preço de um produto que chega a um mercado representa um dumping. Muitos países usam do instrumento antidumping sem uma verdadeira avaliação da questão, como parece ser o caso citado da ação americana contra o suco de laranja brasileiro. Nestes casos em que o protocolo antidumping esconde um protecionismo feroz, é afetado o processo concorrencial no mercado onde isto ocorre. No Brasil a normatização da prática obedece ao Decreto 1.602, de 23 de agosto de 1995, o qual regulamentou os procedimentos necessários para aplicação dos direitos previstos no Acordo Antidumping da Rodada Uruguai do GATT. No âmbito da administração federal, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) com o seu Departamento de Defesa Comercial (Decom) é responsável pelo exame de pedido de abertura de investigação da prática de dumping, criando um processo que termina com uma avaliação final que, no seu parecer, sanciona ou não o direito antidumping e ainda sugere às autoridades monetárias o percentual a ser aplicado. O protecionismo e novas barreiras Com o avanço da atuação do GATT e mais recentemente da OMC e o grau de consenso existente sobre as normas e princípios defendidos por essas instituições, tem ocorrido uma gradual diminuição do uso de tarifas alfandegárias como instrumento protecionista por parte dos países membros, que incluem, praticamente, todas as nações do planeta. Em contrapartida, as barreiras não-tarifárias têm sido cada vez mais acionadas para proteger mercados nacionais, conforme a política de comércio externo que um país segue. Além das barreiras não-tarifárias já citadas, pode-se falar também de: - Barreiras administrativas: existentes quando há uma exacerbação nos procedimentos relativos ao comércio externo, especialmente nas áreas UNIDADE 0138 de coleta, apresentação e processamento de dados necessários a avaliação das autoridades de um pedido de permissão para importar ou exportar. Isto também inclui rotinas de transporte e desembarque, pagamento de taxas, exigências de seguros e de financiamentos. Trâmites nas fronteiras podem consumir muito tempo e elevar gastos que oneram os produtos. No caso brasileiro são bastante conhecidos e discutidos os problemas de insuficiência de equipamentos, excessivo número de avaliações e documentos necessários aos trâmites, obsolescência das técnicas e procedimentos aduaneiros, falta de pessoal bem treinado nas funções. - Barreiras ecológicas: são exigências ambientais que colocam barreiras ao comércio internacional. As empresas trabalhando em mercados externos onde há grande suscetibilidade a questões ambientais, tendem a entender que estas tendem a ter uma importância cada vez maior na medida em que a consciência internacional do problema avança. Assim, a questão das barreiras ecológicas passam a ter um papel vital. Muitas empresas consideradas pouco afeitas a defesa ambiental passaram a sofrer discriminações ambientais, técnicas e administrativas. Grandes agências internacionais de desenvolvimento tais como o Banco Mundial exigem estudos de impacto ambiental das grandes empresas que porventura venham a trabalhar com recursos destas organizações. Por outro lado, estas empresas também estão sujeitas a exigências ambientais oriundas de consumidores, acionistas e mesmo da legislação existente em um mercado onde a firma deseja operar. A gestão ambiental deve levar em conta estas barreiras, que se consolidam em normas rígidas sob a pressão de órgãos reguladores e de comunidades organizadas. - Dumping social: o termo refere-se ao fato de empresas localizadas em certos países poderem obter custos mais baixos de seus produtos com base em custos sociais da mão-de-obra muito baixos vigentes nestas nações. Não se trata somente de salários baixos, mas de descumprimento de direitos trabalhistas internacionalmente reconhecidos e previstos, bem como a
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