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Universidade Federal do Piauí
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EXTERIOR
Ricardo Alaggio Ribeiro
Ministério da Educação - MEC
Universidade Aberta do Brasil - UAB
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Universidade Aberta do Piauí - UAPI
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Ricardo Alaggio Ribeiro
Comércio Exterior
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
GOVERNADOR DO ESTADO
REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRESIDENTE DA CAPES
COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA DA UFPI
Dilma Vana Rousseff Linhares
Aloizio Mercadante
Wilson Nunes Martins
José Arimatéia Dantas Lopes
Jorge Almeida Guimarães
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Gildásio Guedes Fernandes
COORDENADORES DE CURSOS
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Antonella Maria das Chagas Sousa
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Miguel Arcanjo Costa
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José Ribamar Lopes Batista
Vera Lúcia Costa Oliveira
Milton Batista da Silva
Leonardo Ramon Nunes de Sousa
Djane Oliveira de Brito
Ubirajara Santana Assunção
Zilda Vieira Chaves
Roberto Denes Quaresma Rêgo
Samuel Falcão Silva
Francinaldo da Silva Soares
Carmem Lúcia Portela Santos
CONSELHO EDITORIAL DA EDUFPI
Prof. Dr. Ricardo Alaggio Ribeiro (Presidente)
Des. Tomaz Gomes Campelo
Prof. Dr. José Renato de Araújo Sousa
Profª. Drª. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz
Profª. Francisca Maria Soares Mendes
Profª. Iracildes Maria de Moura Fé Lima
Prof. Dr. João Renór Ferreira de Carvalho
TÉCNICOS EM ASSUNTOS EDUCACIONAIS
EDIÇÃO
PROJETO GRÁFICO
DIAGRAMAÇÃO
REVISÃO
EQUIPE DE DESENVOLVIMENTO
© 2013. Universidade Federal do Piauí - UFPI. Todos os direitos reservados.
A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é do autor. O conteúdo desta obra foi licenciado temporária e gratuitamente para utilização 
no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através da UFPI. O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado 
pessoal, sendo que a reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos acadêmicos e/ou 
profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia deste obra sem autorização expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a 
propriedade intelectual, com sansões previstas no Código Penal. É proibida a venda ou distribuição deste material.
Prezado estudante:
Certamente você deve ter uma excelente expectativa em relação à 
disciplina de Comércio Exterior, uma vez que os temas estudados aqui são 
assuntos muito explorados na mídia e, de forma crescente, fundamentais para 
mercado de trabalho da área de administração. A globalização econômica e 
financeira, a maior abertura dos mercados mundiais, a integração crescente 
do Brasil nestes fluxos de mercadorias, serviços e moedas são fatos de 
extraordinária importância para a vida das pessoas e para a gestão das 
empresas, o que justifica o estudo de todo este conteúdo que resolvemos 
denominar de Comércio Exterior.
Os temas abordados na disciplina começam, na primeira unidade, com 
os conceitos fundamentais que regem o tema, sendo apresentadas a seguir 
noções básicas dos determinantes teóricos dos negócios internacionais, que 
tentaremos mostrar de forma sucinta, mas sem perder o rigor teórico que deve 
sempre prevalecer em qualquer situação de ensino. Para contrabalançar a 
teoria com a prática, veremos nesta unidade o assunto extremamente prático 
de como os países, no dia a dia de sua política comercial, estabelecem 
barreiras ao comércio visando algum ganho racional.
A segunda unidade possui o objetivo de mostrar as diversas 
estratégias de entrada e operação das empresas nos mercados internacionais: 
exportações, investimento direto, franquias, licenciamento e o global sourcing. 
São também estudadas questões vinculadas ao marketing no âmbito da 
empresas internacionalizadas, assunto de grande interesse para o aluno de 
administração de empresas.
Na terceira unidade, onde assoma um grande viés prático, aborda-se 
o comércio exterior brasileiro, o exame dos blocos regionais e dos organismos 
multilaterais vinculados ao comércio internacional, informações de grande 
importância estratégica para o aluno e a empresa moderna.
 A área do comércio exterior de um ponto de vista prático e teórico é 
imensamente dinâmica, na qual os fatos mudam rapidamente – veja-se por 
exemplo o recente “boom” das exportações brasileiras” suscitando, por sua 
vez, um contínuo esforço de compreensão e estudo para análise dos fatos. 
Hoje é impossível que uma empresa trabalhe sem informação e capacidade 
de análise do que acontece no mundo globalizado. As exportações, as 
importações de produtos, o fluxo de investimento direto e de dinheiro 
buscando rendimento afetam toda a macroeconomia do país e o seu ambiente 
de negócios.
 Faço votos de que o caminho de vocês por esta disciplina seja o 
melhor possível e que colabore para o crescimento pessoal de cada um, 
assim como escrever este livro colaborou para o meu,
Um abraço!
Ricardo Alaggio Ribeiro
UNIDADE 01
COMÉRCIO EXTERIOR: CONCEITOS BÁSICOS, TEORIA DO 
COMÉRCIO INTERNACIONAL E APLICAÇÕES
Os conceitos fundamentais
Teorias de comércio internacional
Barreiras ao comércio e esquemas de protecionismo
UNIDADE 02
ESTRATÉGIAS E OPORTUNIDADES DA INTERNACIONALIZAÇÃO
As exportações
O investimento direto externo (IDE)
Principais tipos de licenciamento
Marketing global
UNIDADE 03
FLUXOS COMERCIAIS E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
Comércio exterior e taxa de câmbio 
Exportações e importações brasileiras
Brasil e os blocos comerciais
Os organismos internacionais multilaterais
11
43
79
11
17 
28
48
53
64
70
79
88
95
100
Objetivo
O objetivo desta unidade será o de discutir os conceitos básicos referentes ao comércio internacional; 
fornecer a base teórica fundamental para a compreensão deste comércio e ainda discutir pontos 
importantes relacionados com a aplicação prática da teoria. Serão discutidas a teoria das vantagens 
absolutas e das vantagens comparativas, bem como as abordagens críticas ao livre-comércio. Por último, 
apresentaremos as restrições ao comércio como política econômica - tarifas e barreiras não tarifárias.
UNIDADE 01
Comércio Externo: Conceitos 
Básicos, Teorias do Comércio 
Internacional e Aplicações
COMÉRCIO EXTERIOR 11
COMÉRCIO EXTERNO: 
CONCEITOS BÁSICOS, TEORIAS 
DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 
E APLICAÇÕES
Os conceitos fundamentais
Caro estudante, 
Para se entender o comércio exterior como elemento importante de 
um sistema econômico, devemos antes de mais nada conhecermos alguns 
conceitos fundamentais para a compreensão do tema. Veremos quais são 
os principais conceitos de comércio e investimento internacionais, como o 
comércio internacional se difere do interno e quem participa deste nosso 
objeto de estudo. Então vamos apresentar as principais teorias sobre a 
natureza do comércio internacional, mostrando as diferentes abordagens já 
pensadas sobre a questão. Vamos ter a oportunidade de estudarmos como 
os países envolvidos nos negócios internacionais têm buscado formas de 
proteger os seus produtos e assim defender os interesses internos de seus 
produtores agrícolas e industriais.
O que é comércio internacional? 
Dada a grande expansão hoje verificada nas trocas de bens e 
serviços entre as fronteiras das nações criou-se o conceito de negócios 
internacionais que se refere ao engajamento de empresas em atividades de 
comércio e investimento, cruzando as fronteiras dos países. Trata-se de uma 
atividade interfronteiras. De uma forma geral, existe uma grande quantidade 
de empresas que organizam a sua produção, fabricam bens e os distribuem 
em escala global, buscando muitas vezes parceriasde outras empresas fora 
do seu território original, com o intuito de aumentar o número de clientes e 
com um olhar no consumidor estrangeiro. 
Não se deve esquecer que existe também um grande fluxo de capital, 
UNIDADE 0112
produtos e serviços determinados pela ação de governos e instituições 
internacionais. Os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico – OCDE, por exemplo, disponibilizam grandes somas de recursos 
humanos e materiais para a ajuda econômica e humanitária a nações em 
desenvolvimento ou em meio a graves problemas tais escassez de alimentos, 
catástrofes naturais etc. Estes recursos vão cruzar fronteiras e fomentar os 
negócios internacionais ao multiplicar as oportunidades de transações. 
O grande crescimento das transações internacionais a partir do final 
dos anos 80 do século passado é um fenômeno por demais conhecido. Existe 
hoje uma vasta rede mundial globalizando produtos, capital, conhecimento; 
conectando países, sociedades, economias, em diversos níveis e 
possibilitando oportunidades econômicas nunca antes pensadas como 
possíveis. A emergência de grupos empresariais cada vez mais poderosos 
se contrapõe, neste cenário, uma formidável afirmação de indivíduos como 
empreendedores privados ou como usuários, permitida por estes novos 
fundamentos da economia mundial. 
O recente crescimento das transações internacionais é reflexo do 
aprofundamento da globalização; uma palavra que nos anos 1990, no Brasil, 
esteve intensamente presente na mídia, nas discussões acadêmicas e entre 
os membros da sociedade em geral, os quais viam tal fenômeno como se 
novo fosse.
O termo globalização, na realidade, é um neologismo que acabou se 
tornando uma das palavras-chave mais em voga dos anos oitenta, adentrando 
os anos 1990 com muita força e seguindo até aos dias atuais. Entretanto, o 
termo não é garantia de significado claro ou sequer emprego consistente, 
pois, como os demais neologismos, são utilizados como se fossem novos 
conceitos quando na verdade sabe-se que o fenômeno é bem antigo e 
remonta ao tempo das descobertas marítimas de Portugal e Espanha quando 
se criou todo um arcabouço de comércio mundial.
Relevante para nosso estudo é a definição de globalização de mercados 
que consiste na integração econômica e na crescente interdependência 
entre os países, verificados em escala global. Se olharmos mais de perto 
podemos ver que esta integração e interdependência se dá basicamente 
entre as empresas transnacionais – entidades empresariais que pensam 
suas estratégias e organizam a sua produção em bases internacionais, 
perdendo crescentemente o vínculo com o país de origem – e seus clientes e 
fornecedores, de maior ou menor porte, espalhados pelo planeta. 
A estratégia de internacionalização de uma empresa, quando esta 
deseja expandir as suas fronteiras, passa pelo aumento das exportações 
ou do investimento direto. As exportações são uma estratégia de entrada 
COMÉRCIO EXTERIOR 13
em um mercado pela qual uma firma vende bens e serviços para outra 
empresa-clientes em outro país. Como contrapartida a este conceito temos 
as importações que são a compra por parte de empresas ou pelo governo de 
um país de bens e serviços produzidos no exterior.
A estratégia de exportação, hoje bastante difundida, dado o sucesso 
dos países asiáticos em tornar as exportações um modelo de projeto nacional 
de desenvolvimento, pode esbarrar numa falta conjuntural ou estrutural de 
produtos a serem ofertados pra o mercado externo. As exportações são muito 
importantes por gerarem recursos em moeda de troca internacional, dotando 
o país de capacidade de importar. Uma baixa capacidade de importar pode 
mesmo asfixiar uma economia nacional.
Por outro lado, as importações são muito importantes devido ao 
fato que hoje não existem economias que não sejam interdependentes 
e conectadas. Nenhuma nação produz todos os produtos e serviços que 
precisa, em maior ou menor grau. Para isto concorre o fato de que recursos 
naturais estão desigualmente distribuídos pelo planeta – caso do petróleo, por 
exemplo - que os bens com alto grau de conhecimento embutido, softwares 
por exemplo, não podem ser produzidos em qualquer lugar. 
Assim, a importação pode ser um bom negócio quando um país 
adquire um produto relevante que de outra forma estaria não disponível para 
os seus consumidores. Uma vacina produzida através de uma pesquisa cara, 
em um determinado centro de pesquisa em um país desenvolvido, pode ser 
o retrato deste tipo de vantagem. Muitas vezes é melhor importar quando isto 
permite comprar produtos muito mais baratos do que similares produzidos 
internamente. Mais recentemente surgiu o conceito de global sourcing 
referente ao fato das empresas transnacionais adquirirem/importarem bens e 
serviços através de um monitoramento dos custos mais baixos possibilitados 
pela oferta mundial, indo buscar o fator de produção mais barato onde ele 
estiver. 
Em oposição à decisão de exportar bens para um dado mercado 
internacional, uma empresa pode pensar em investir neste mercado, 
produzindo bens e serviços através do investimento direto, decisão que 
possui efeitos bem diversos.
 Segundo Ha-Joon Chang (2009), existem três elementos principais 
nos fluxos estrangeiros de capitais nos países em desenvolvimento, 
realizados pelos países desenvolvidos, que são os auxílios, as dívidas e os 
investimentos. Os auxílios dizem respeito à ajuda externa; as dívidas ocorrem 
mediante os empréstimos bancários e títulos do governo e de empresas; e os 
investimentos são realizados através de duas modalidades: os investimentos 
de portfólio (compra de ações visando apenas aos retornos financeiros) - 
UNIDADE 0114
PARA SABER MAIS
O termo empresa 
multinacional, que 
significa simplesmente 
uma empresa de grande 
porte que atua em 
muitas nações, tem sido 
substituído pelo conceito 
de “transnacional” a partir 
de uma recomendação da 
UNCTAD (United Nations 
Conference on Trade and 
Developmente), um órgão 
da ONU. 
muito voláteis - e os investimentos estrangeiros diretos (compra de ativos 
visando influenciar a gestão da empresa no país receptor deste tipo de 
investimento) - que são mais estáveis. 
 O investimento direto estrangeiro – IDE, de grande importância no 
cenário mundial e brasileiro é uma estratégia de internacionalização pela 
qual a firma estabelece uma presença física no exterior de várias maneiras.
 Conforme Krapp Tavares (2007), o IDE é um investimento que pode 
ser realizado através de: i) fusões e aquisições (mediante a compra de 
participações societárias de empresas que já existem e estão em operações), 
ii) novos investimentos ou greenfields (construção de novas instalações 
ou expansão das já existentes para a produção de bens ou oferecimento 
de serviços), iii) empréstimos intercompanhias (capitalização da empresa 
receptora pela matriz, para aprimorar suas atividades, que resultarão em 
aumento da capacidade produtiva do país hospedeiro do IDE, apesar dos 
juros que serão pagos pelo empréstimo), iv) reinvestimento de lucros e v) 
aquisição de marcas já conhecidas em um determinado mercado. Geralmente, 
o investidor busca obter a propriedade, o controle ou o gerenciamento da 
empresa.
A OCDE é uma organização internacional e intergovernamental 
formada pelos países mais desenvolvidos e industrializados. Tem a sua sede 
em Paris, França. Originalmente possuía 20 países membros, hoje acrescidos 
de mais 10 estados. Entre eles figuram os EUA, Alemanha, França, Reino 
Unido, Itália, Austrália, México, Portugal, Japão, Dinamarca etc. Os objetivos 
principais da organização são aumentar o crescimento econômico, o emprego 
e a qualidade de vida dos países membros; favorecer a expansão do comércio 
mundial sobre uma base multilateral e contribuir para um desenvolvimento 
econômico saudável dos países membros e não-membros.
Os participantes do comércio externo mundial
 Como já foi falado as transnacionais são as organizações básicas 
deste comércio.Para Reinaldo Gonçalves (2002), no atual processo de 
globalização, as empresas transnacionais tornaram-se o locus principal de 
acumulação e de poder econômico, uma vez que elas detêm o controle de 
ativos específicos - capital e tecnologia - além de capacidades gerenciais, 
organizacionais e metodológicas. Segundo o autor, as mesmas estão cada vez 
mais identificadas com a categoria grupo econômico do que com a categoria 
empresa. Uma empresa desta categoria possui uma matriz e realiza negócios 
através de uma rede de afiliadas localizadas em diferentes países.
GLOSSÁRIO 
Uma matriz é definida como 
uma empresa que controla 
ativos de outras entidades 
de outros países, que não o 
país de origem, geralmente 
por possuir participação de 
capital, ou seja, equivalente 
ao conceito de investidor 
direto. Esta definição é da 
UNCTAD (2008).
COMÉRCIO EXTERIOR 15
Outras visões de quem sejam estes atores privilegiam uma divisão 
mais aguda dos participantes do processo. Segundo Gilberto Dupas (2005, 
94),
Os atores da economia global podem ser divididos entre 
dois grandes grupos principais, fortemente entrelaçados 
por interesses comuns. De um lado estão as corporações 
financeiras e os grandes detentores de estoque de capital, 
incluindo pessoas físicas; de outro, as empresas industriais 
e de serviços.
As zonas de interesses comuns entre estes atores são intensas, 
haja vista que as grandes empresas industriais ou de serviços investem em 
serviços financeiros e aplicam seus caixas líquidos no mercado financeiro. 
As corporações financeiras, por sua vez, auferem grandes lucros com os 
serviços financeiros prestados, fornecimento de empréstimos e apoio às 
operações das primeiras em bolsas de valores. A diferença essencial está na 
lógica financeira que é a preferência pela liquidez e na lógica industrial, pois, 
no setor produtivo, a rentabilidade do capital investido é pensada no longo 
prazo.
Quanto a natureza das grandes empresas transnacionais, elas 
participam dos mais diversos mercados. No Brasil temos uma forte penetração 
delas no mercado automobilístico, onde podemos citar a Volkswagen, Fiat, 
Ford, General Motors, Toyota, Honda, Renault, Citroen, Mercedes-Benz e 
outros. Outro setor onde elas possuem grande presença é o de produção 
de aparelhos celulares onde dominam a Nokia, Samsung, Motorola, Apple e 
outras.
 Conforme a revista Forbes que leva em conta a receita, o lucro, 
os ativos e o valor de mercado das empresas a maior empresa do mundo 
neste ano foi o banco norte-americano JPMorgan Chase, um conglomerado 
altamente globalizado, que passou a General Electric, que levou o primeiro 
lugar no ano passado. Em 2009, o JPMorgan Chase estava em 16º lugar.
O conglomerado norte-americano General Electric ficou em segundo 
lugar em 2010, seguido pelo Bank of America, em terceiro, a ExxonMobil 
e o banco chinês ICBC, em quinto lugar. Segundo a Forbes, as 2.000 
empresas escolhidas neste ano vieram de 62 países, com Estados Unidos 
(515 empresas) e Japão (210 membros) com as maiores representações. A 
Petrobras passou da 25ª posição para a 18ª posição no ranking das maiores 
empresas do mundo feito pela revista. A empresa é a brasileira mais bem 
colocada na lista, mas está atrás de concorrentes do setor de petróleo 
como a americana ExxonMobil (4º lugar), Royal Dutch Shell (8º), BP (10º), 
UNIDADE 0116
PetroChina (12º) e Gazprom (16º).
Além das transnacionais, o comércio entre as nações passa por um 
conjunto de pequenas e médias empresas – PME, que possuem grande 
relevância para o setor externo. Na Itália, na Coréia do Sul e na China, elas 
respondem por mais de 50 por cento das exportações. No Brasil existem 
cadastradas mais de 4,1 milhões de empresas, onde as PME e micros 
empresas respondem por cerca de 98% deste total. Em relação ao mercado 
de trabalho, existiam cerca de 30,5 milhões de trabalhadores no Brasil, nas 
empresas formais, onde as PMEs respondem por cerca de 45% deste total. 
Para o ano de 2000, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e 
Comércio Exterior indica que havia 16016 empresas exportando, das quais 
63,7% eram micro e pequenas empresas, tendo participado com 12,4% do 
total exportado. Estas empresas estão muito presentes nas exportações 
brasileiras de vestuário, jóias e gemas, móveis, calçados e outros. Além 
das empresas que buscam lucro nas transações internacionais, chamadas 
de empresas focais, existem organizações sem fins lucrativos que buscam 
projetar-se além de seu país de origem. São entidades beneficentes ou 
organizações não governamentais, que possuem muitas vezes, grande 
capacidade de mobilizar recursos. No Brasil atuam centenas destas 
instituições, entre elas podemos destacar a CARE, a fundação Konrad 
Adenauer etc. Conforme a estratégia das empresas que buscam lucro em 
um dado mercado externo, podem aparecer outras categorias. Quando uma 
empresa busca vender serviços e bens intangíveis, temos o licenciamento 
que é uma forma de aliança estratégica pela qual se negocia o uso de certo 
conhecimento, patente, processo ou experiência. O licenciador geralmente 
é uma empresa que permite o licenciamento por um preço acertado. A parte 
que recebe a licença é o licenciado. 
Ainda existe a estratégia da franquia, que consiste em um contrato 
pelo qual o franqueador é uma empresa que permite a uma outra, o direito 
de usar todo um sistema de negócios já estabelecido, sob as regras estritas 
estabelecidas. O franqueador fornece um modelo empresarial pronto para 
ser usado. As vantagens básicas são as de redução de riscos advindos do 
investimento feito.
Conforme a conveniência, a firma pode trabalhar através de 
distribuidores, agentes ou representantes em outros países, que são 
modalidades de intermediários baseados no mercado externo. O distribuidor 
externo é um intermediário que atua com um contato de distribuição pelo 
qual ele é responsável pela distribuição, marketing, e atendimento após 
venda de um produto importado. São atacadistas com grande capacidade 
financeira e física. O representante do fabricante é um intermediário, um 
GLOSSÁRIO 
Bens intangíveis são bens 
não materiais, ou seja, não 
possuem existência física. 
Por exemplo, temos os 
direitos de exploração de 
um serviço público, marcas 
e patentes, softwares ou um 
fundo de comércio adquirido. 
COMÉRCIO EXTERIOR 17
vendedor contratado pelo exportador com pouca autonomia 
e sem grande poder financeiro. Neste caso, o fabricante 
exportador mantém as prerrogativas de assumir a titularidade 
do negócio e bancar o embarque, o marketing e a assistência 
ao consumidor. O agente ou corretor, figura muito comum no 
mercado de commodities, não assume a posse do produto, 
apenas compra e vende um produto recebendo uma 
comissão por isto.
Teorias do comércio internacional
O mercantilismo
 No começo da idade moderna, os séculos XVI e 
XVII foram o momento do surgimento do estado nacional, 
cuja emergência, então esboçada, traz a necessidade de 
organização interna e de combate e defesa no campo das relações externas.
Para executar suas tarefas principais de monopolizar a violência e 
coordenar a vida econômica, logo o Estado se vê premido pela falta de dinheiro, 
em vista do lento progresso de sua fiscalidade e da organização imperfeita 
de suas finanças. O resultado é que os gastos excedem normalmente as 
receitas.
A perseguição dos contribuintes e a invenção de novos impostos 
e loterias não raro conduziam a uma exacerbação da função fiscal que, 
entretanto, pouco resolve do problema: o déficit persistia. Esse dinheiro tão 
valorizado não podia ser suprido pela moeda bancária, papéis cuja aceitação 
ainda se mantinha restrita, mas necessariamente pelo metal precioso, 
amoedado para as necessidades econômicas ordinárias e, ainda mais, para 
o pagamento dos soldados, mercenários e equipamentos de guerra.
A paz constituía exceção neste período em que as nações procuravam 
afirmar-se politicamente e em que os governantes e seus súditos alimentavam 
para comos Estados vizinhos um ânimo de rivalidade.
O surto de nacionalismo, de defesa das fronteiras não só pelas armas, 
mas também pela aduana, se refletiu numa série de medidas de política 
econômica, galgadas na seguinte base teórica: “A grandeza e o poderio de 
um Estado se medem pela quantidade de dinheiro que possui” como afirmava 
Colbert - um ministro francês.
Assim, em meados do século XV, o monarca francês Luiz XI toma 
medidas para limitar a saída de ouro e prata em direção a Roma, bem 
PARA SABER MAIS
Commodities é um termo muito usado 
nas relações econômicas internacionais, 
(derivado do inglês commodity, 
literalmente mercadoria), que significa 
produtos primários – agrícolas ou 
minerais – ou ainda produtos industriais 
muito homogêneos, o aço, por exemplo, 
cujo preço ou cotação são determinados 
em um mercado mundial, geralmente 
bolsas de mercadorias estabelecidas 
em centro financeiros mundiais. Entre 
estas se destaca a bolsa de mercadorias 
de Chicago, a maior do mundo em 
comercialização de commodities 
agrícolas. Exemplo: café, soja, minério de 
ferro, suco de laranja etc.
UNIDADE 0118
como Fernando e Isabel, os “reis católicos”, que proíbem a saída de metais 
preciosos ao mesmo tempo em que diligenciam atrair as moedas estrangeiras 
pela elevação da taxa de juros. 
A teoria do comércio internacional baseada nestas premissas foi 
chamada de mercantilismo. A ideia norteadora do comércio internacional 
neste período era a de que este serviria para o acúmulo de moeda por parte 
do país com superávit nas transações externas.
 Para Thomas Mun(1571-1641), teórico do mercantilismo inglês e 
diretor da Companhia das Índias Orientais, a hipótese básica do mercantilismo 
podia ser assim enunciada: “Devemos observar sempre esta regra: vender 
mais aos estrangeiros anualmente do que consumimos de seus produtos 
em valor, pois parte de nosso estoque que não retornar em produtos deve 
necessariamente ser trazida em tesouro (moeda)”.
Já William Petty(1623-1687), também um mercantilista defensor 
das vantagens do comércio exterior argumentava que “se nos tornássemos 
tão frugais que usássemos pouco ou nenhum produto estrangeiro, como 
poderíamos então vender nossos próprios bens? Esperamos que outros 
países tenham dinheiro para todos os nossos produtos, sem que compremos 
ou permutemos com alguns dos seus?”. E arrematava afirmando que um 
rei que deseje acumular muito dinheiro deve empenhar-se ao máximo por 
manter e aumentar seu comércio exterior, o único meio de enriquecer seus 
súditos.
Adam Smith e a doutrina das vantagens absolutas 
A obra “Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza 
das Nações” foi justamente o veículo por meio do qual Adam Smith (1723-
1790) empreendeu a primeira grande construção da ciência econômica. Boa 
parte do texto é dedicada à crítica do sistema mercantilista, tanto quanto 
ao aspecto contido neste de defesa do acúmulo de moeda providenciado 
pelo comércio externo, como também à política interna mercantilista de 
intervenção e controle do estado sobre toda atividade comercial e industrial.
Contra esta intervenção ele vai opor a ideia do “sistema da liberdade 
natural” – na prática uma defesa do livre comércio, livre competição e da 
não intervenção do estado na atividade econômica, que deve ser deixada 
preferencialmente ao interesse pessoal do individuo que busca o lucro.
Focado na questão das “causas da riqueza das nações”, ou seja, porque um 
país é mais rico do que outro, Adam Smith iria desenvolver dois importantes 
argumentos. O primeiro é o de que uma das causas do progresso e da riqueza 
COMÉRCIO EXTERIOR 19
é a divisão do trabalho, definida como a especialização e a divisão de tarefas 
em uma fábrica, operada dentro de um ambiente de contínuo avanço técnico.
O outro argumento é o de que a riqueza, que ele entende como sendo 
o produto, os bens e serviços produzidos por uma nação, seria maximizada 
caso as unidades produtoras fossem deixadas livres para agir conforme o 
seu interesse. À luz da concepção do princípio da livre competição, condena 
a intervenção governamental nos negócios dos indivíduos, pressuposta pelo 
sistema mercantilista, argumentando que é na busca do interesse próprio 
de cada um que os recursos são empregados de forma mais vantajosa, 
promovendo o enriquecimento da nação. Nas palavras do texto: “Orientando 
sua atividade de tal forma que sua produção possa ser de maior valor, o 
indivíduo visa apenas o próprio ganho. Todavia, a procura de sua própria 
vantagem individual natural leva-o a preferir aquela aplicação que acarreta 
as maiores vantagens para a sociedade” (SMITH, p. 378).
A teoria das vantagens absolutas decorre da aplicação do princípio da 
divisão do trabalho ao comércio entre os países, trazendo o mesmo benefício 
para o comércio externo que traz para o comércio interno. Smith explica 
que quando a produção de determinado setor, incentivada pelo aumento 
da produtividade, ultrapassa a demanda do próprio país, o excedente deve 
ser exportado e trocado por algo que esteja em falta no país. Sem essa 
exportação, cessará necessariamente uma parte do trabalho produtivo do 
país, diminuindo o valor de sua produção anual.
Neste sentido, Smith é um grande defensor do comércio entre as 
nações, pois considerava evidente que a riqueza de uma nação cresce 
caso os mercados se expandam, abrangendo continuamente novas rotas e 
mercados.
Conforme a teoria das vantagens absolutas cada país deveria se 
especializar na produção daqueles produtos nos quais possui menor custo 
de produção do que outros países, custo este medido em horas de trabalho 
necessárias para produzi-los. Todo país ganharia caso pudesse comprar 
mercadoria de outro país por um custo menor do que o verificado dentro de 
suas fronteiras. O quadro abaixo, de construção a partir de dados fictícios, 
ajuda a compreender o conceito, considerando dois países, cada um com 
custos menores para produzir um dado produto , no caso vinho e tecido:
Quadro 01 – Valores de custos por país
Pais Horas para produzir uma 
garrafa de vinho
Horas para produzir uma peça 
de tecido
Portugal
Inglaterra
20
40
100
50
Fonte: de autoria própria
UNIDADE 0120
Pelo quadro, vê-se de imediato a vantagem de Portugal. Internamente 
seriam necessárias 5 (cinco) (100/20) garrafas de vinho para comprar uma 
peça de tecido. Mas para comprar uma peça de tecido produzida por um 
industrial inglês bastariam 2,5 (duas e meia) garrafas de vinho. 
Para a Inglaterra também existem vantagens: uma peça de tecido 
internamente custaria quase o mesmo que uma garrafa de vinho ( 50 horas 
comparadas com 40 horas), mas caso haja comércio com Portugal, uma peça 
de tecido pode comprar até 2,5 (duas e meia) garrafas de vinho(50/20). 
Esta é a teoria de Smith, importante por ter sido a primeira a mostrar 
de forma tão convincente a conveniência do comércio entre as nações. Uma 
crítica contumaz a esta teoria é a de que ela falha ao não considerar os 
custos de produção em uma base mais realista. Como se sabe os custos não 
se resumem às horas de trabalho pagas, mas também incluem os recursos 
despendidos com a matéria-prima ou insumos de produção e o pagamento do 
capital na forma de juros. Contudo estas ressalvas não atingem o conjunto 
da argumentação, que é significativa até os dias de hoje.
David Ricardo e a teoria das vantagens comparativas
Conjuntamente com Adam Smith, o pensamento de David Ricardo 
compõe o cerne da Teoria Clássica da economia. Sua principal obra chama-
se “Princípios de economia política e tributação”, publicada em 1817. Possuía 
grande experiência no mercado de capitais ingleses e sua teoria é matizada 
pela sua participação no debate público sobre os principais problemas 
econômicos do Reino Unido de então.
Neste debate assomava a questão fundamental das “Corn Laws”- Lei 
dos cereais – que proibia as importações de cereais pelo Reino Unido, com 
o objetivo de proteger a produção agrícola da Grã-Bretanha, aumentando 
os lucros dosarrendatários capitalistas da terra e a renda da aristocracia 
que arrendava estas terras. Para Ricardo, isto tinha como consequência o 
aumento do custo da mão de obra industrial, obrigada a consumir alimentos 
mais caros, e o aumento do preço de insumos agrícolas para a indústria, 
reduzindo os lucros. Em outros termos, tratava-se de decidir se a Inglaterra 
seria um país agrícola ou industrial.
O argumento de Ricardo se baseava no seguinte raciocínio: a 
princípio a produção agrícola se estabelece nas terras mais férteis de um 
território. Com o tempo e o aumento da população e da demanda haveria 
uma tendência para que fossem ocupadas as terras menos férteis. Tendo 
em vista que o preço dos bens agrícolas é determinado pela produtividade 
COMÉRCIO EXTERIOR 21
das terras menos férteis, devido ao aumento dos custos, surge uma “renda 
diferencial da terra” apropriada pelos proprietários das terras mais férteis. 
Ao mesmo tempo, este fenômeno tende a gerar redução geral nas taxas de 
lucros dos setores industrializados e o aumento dos salários que possui o 
mesmo efeito.
Este ciclo negativo era extremamente favorável a aristocracia inglesa, 
uma classe improdutiva que alugava suas terras por preços cada vez maiores. 
Ricardo alertava que isto poderia levar ao “estado estacionário” situação na 
qual os capitalistas não investiriam mais devido a taxa de lucro declinante 
nos diversos setores industriais. 
A saída para o problema era o comércio externo. O Reino Unido 
deveria abolir as suas leis dos Cereais e possibilitar a importação de bens 
agrícolas que a cada vez maior classe trabalhadora necessitava. Além 
do mais, Ricardo alargou a concepção das vantagens oriundas das 
trocas internacionais, substituindo o conceito de vantagens absolutas 
pelo de vantagens comparativas.
 A nova concepção considerava que mesmo quando um país 
seja absolutamente superior em produtividade em relação a qualquer 
produto produzido em outro país, ele deve comerciar com o exterior, se 
especializando naqueles produtos nos quais internamente ele é mais 
produtivo, ou seja, usando os recursos produtivos, o investimento, para 
as vantagens de produzir nos setores internos comparativamente mais 
avançados, enquanto compra de outros países produtos de setores 
nos quais ele é menos produtivo comparativamente. 
Para usar uma nomenclatura moderna, Ricardo está propondo 
que se leve em conta os custos de oportunidade alternativos para os 
recursos disponíveis pela nação, e que se aplique estes recursos de 
forma a termos uma especialização onde os custos de oportunidade 
sejam os menores possíveis para a sociedade.
O quadro 02 abaixo mostra o argumento de David Ricardo. 
Considera-se dois países, Portugal e Alemanha, e que Portugal 
hipoteticamente seria mais produtivo na produção dos dois produtos, 
tal como se vê:
Quadro 02 – Comparação de produção entre países
Pais Peça de tecido Barril de vinho
Portugal 
Alemanha 
50 horas
60 horas
100 horas
150 horas
GLOSSÁRIO
O conceito de custo de 
oportunidade se refere ao fato 
de todo recurso disponível 
pra um individuo, empresa ou 
país possuir pelo menos uma 
aplicação alternativa. Os custos 
de oportunidade seriam aqueles 
benefícios, lucros ou rendas 
que se deixou de ganhar ao 
se fazer uma dada opção de 
investimento. No caso da teoria 
das vantagens comparativas, 
se toda a economia de um país 
se concentra em setores mais 
ou menos homogêneos de alta 
tecnologia e alta produtividade 
supõe-se que os custos de 
oportunidade – o que se deixa 
ganhar ao fazermos uma 
aplicação nestes setores - é cada 
vez menor dada a convergência 
tecnológica dos setores.
UNIDADE 0122
O quadro mostra que embora Portugal seja mais produtivo nas 
duas mercadorias, ele deve transferir trabalhadores e outros recursos 
produtivos do setor de tecidos para o de vinhos, que possui produtividade 
comparativamente maior. A Alemanha deve transferir seus recursos do setor 
de vinho para o de tecidos, no qual possui menor desvantagem. Lembre-se 
que conforme a teoria das vantagens absolutas não haveria comércio externo 
neste caso.
 A teoria de Ricardo assim, ampliava a justificativa deste comércio 
ao afirmar que mesmo que uma nação A não produza uma mercadoria a um 
custo mais baixo do que outra nação B, ainda assim existem benefícios para 
ambas as nações.
 Contudo deve-se lembrar que esta abordagem do comércio 
internacional pressupõe a liberdade de comércio, a mão invisível do mercado 
– ou seja, os recursos são mais bem aplicados porque o são pelo interesse 
do lucro – e o livre cambismo, situações nem sempre encontradas nas 
transações internacionais.
Teoria neoclássica da dotação relativa dos fatores
Já no século XX os economistas suecos Eli Heckscher e 
Bertil Ohlin desenvolveram a chamada teoria neoclássica da 
dotação dos fatores, que se baseia na ideia de que os países se 
especializam em produzir aqueles bens para os quais eles estão 
bem dotados de recursos. Estes podem ser de três tipos: 
a) Recursos naturais: existem mercadorias que dependem muito 
de recursos naturais disponíveis, que são produtos agrícolas ou 
minerais/extrativistas de valor econômico. A própria disponibilidade 
natural de terras e água abundante são recursos naturais 
importantes. O Brasil, por exemplo, é o maior produtor mundial de 
cana de açúcar, café, carne de gado, suco de laranja e é o terceiro 
maior exportador mundial de produtos agrícolas, superado apenas 
pelos EUA e a União Européia considerada como um todo. Os 
estudos econômicos projetam que o Brasil deve se tornar o maior 
exportador agrícola do mundo até o ano de 2020. Países pequenos 
com pouca dotação de recursos naturais tendem em se especializar em 
produtos de alta tecnologia e/ou na distribuição comercial de mercadorias 
como é o caso da Holanda.
b) Mão-de-obra: da mesma forma existem mercadorias que são bastante 
exigentes de um grande estoque de mão-de-obra barata, disciplinada e 
PARA SABER MAIS
Livre cambismo é a doutrina econômica 
que sustenta a proposição de que o 
valor das moedas nacionais deve flutuar 
livremente sem a participação dos 
governos no estabelecimento do preço 
destas. O mecanismo de formação 
dos preços relativo das moedas, por 
exemplo, o preço do dólar em reais, 
deveria ser resultado da oferta e 
demanda por moeda nos mercados 
cambiais de cada país. A Inglaterra, 
logo após a divulgação da teoria de 
David Ricardo fez valer a sua posição 
de potência econômica dominante para 
tornar o ouro a moeda internacional 
de troca, construindo para isto um 
ambiente internacional livre-cambista.
COMÉRCIO EXTERIOR 23
com certo grau de instrução. É o caso de indústrias de baixa tecnologia e 
extensivas em trabalho, típicas da Ásia oriental, especialmente localizada 
na China, mas também encontradas em todo o Oriente e na Índia. Para 
estes produtos tais como têxteis, calçados, brinquedos, siderurgia, 
eletrônicos baratos, existem diferenças salariais que são relevantes em 
termos econômicos;
c) Capital: por outro lado existem mercadorias intensivas em capital, cuja 
produção tende a se concentrar onde este recurso é abundante. É o caso 
da indústria norte-americana de alta tecnologia e informática localizada 
no Vale do Silício, no estado da Califórnia. Também é o caso da indústria 
alemã de bens de capital.
Assim, o foco desta teoria é o fato de que, de forma geral, mas não 
necessariamente, o comércio internacional favorece o uso dos recursos mais 
abundantes no território de uma nação. Mais recentemente, na década de 
1940, o economista Paul Samuelson usou de métodos matemáticos para 
demonstrar que em condições de concorrência perfeita existe uma tendência 
a equiparação da remuneração dos fatores de produção usados na produção 
de mercadorias exportadas.
A teoria da CEPAL e a substituição de importações
No final dos anos 40, a ONU formulou um programa de assistência 
econômica para os países membros que propunha a adoção por estes países 
de um sistema de contas nacionais.Estas seriam um instrumento necessário 
para a política macroeconômica, permitindo cenários, intervenções ao estilo 
heterodoxo. Coerentemente, a ONU evoluiu para uma nova posição que 
defendia o progresso mais rápido dos países subdesenvolvidos, considerada 
como fundamental para aumentar o emprego produtivo dos recursos e o 
nível de vida da população. Colocava-se a necessidade de definir uma 
política efetiva de combate ao subdesenvolvimento. Os pressupostos de tal 
programa eram:
1) as economias latino-americanas necessitavam de ajuda 
para a ‘reconstrução’ , uma vez que haviam sido fustigadas 
por um desgaste anormal durante a guerra; 2) observava-
se uma tendência à deterioração dos termos de troca , 
prejudicial à América Latina; 3) as economias dessa região 
tendiam a um crescimento excessivamente lento. 
Assim, surge a CEPAL, em 1951, dentro de um ambiente dominado pela 
UNIDADE 0124
fé na intervenção estatal e no planejamento econômico. Duas questões em 
jogo ligavam a instituição ao keynesianismo como que ampliando a doutrina 
ao nível mundial. Ressaltava-se o caráter cíclico do subdesenvolvimento, 
com as economias do terceiro mundo (expressão na época não conhecida) 
dependentes dos ciclos de alta do capitalismo mundial. O desemprego 
disfarçado, reflexo e causa da baixa produtividade destes sistemas, era um 
problema fundamental.
O economista Raul Prebisch, um dos idealizadores desta revisão e 
principal condutor da CEPAL em seus primeiros anos, era, sobre muitos 
aspectos, afinado com o pensamento de Keynes do qual era um estudioso. 
Prebisch foi buscar no texto do economista inglês aquilo que, de imediato, era 
matéria aplicável à construção da análise dos condicionantes estruturais do 
crescimento: repúdio ao laissez-faire como sistema de alocação de recursos; 
a ideia de que poupança e investimento não entram automaticamente em 
equilíbrio sendo necessária a intervenção do Estado para regular esta 
disfunção estrutural; a insuficiência, em muitos aspectos também estrutural, 
da demanda agregada nos países da América Latina.
Para Prebisch a vulnerabilidade da região em relação aos ciclos 
econômicos se devia ao fato de que a América Latina produzia basicamente 
produtos agrícolas cujos preços eram muito dependentes da demanda 
internacional de tal forma que quando esta diminuía, como ocorreu durante 
a Grande Depressão, os preços destes produtos caiam em uma proporção 
mais do que proporcional a queda da demanda, deprimindo seriamente a 
receita de exportação dos países latino-americanos. 
Outra tese importante defendida por Prebisch era a tendência à 
deterioração dos termos de troca. Ao contrário do que prometia a teoria 
das vantagens comparativas, a maior lentidão do progresso técnico dos 
produtos primários em relação aos industriais levava ao encarecimento 
destes últimos em relação aos bens agrícolas ou minerais. Assim haveria 
um problema quando um país como os latino-americanos se especializavam 
em exportar bens primários cada vez mais baratos em relação aos produtos 
industrializados do Primeiro Mundo.
Estes bens industrializados possuíam também a característica de 
perder pouco valor durante uma crise conjuntural. Nos países do Primeiro 
Mundo os salários eram importantes na formação dos preços dos produtos 
industriais garantidos por sindicatos organizados dentro de uma estrutura 
produtiva oligopolizada e concentrada. Assim os preços dos produtos 
industrializados não possuíam uma grande tendência a queda quando o ciclo 
econômico estava em baixa.
A solução seria a industrialização pelo mecanismo da “substituição 
COMÉRCIO EXTERIOR 25
de importações”. Essa consistia em substituir os produtos importados 
por produtos industrializados localmente, estratégia que exigia um forte 
protecionismo, para proteger a indústria nascente, e um papel dinâmico 
do Estado em conduzir a proteção, gerir a estratégia e mesmo participar 
ativamente quando necessário na produção de insumos e outros bens.
O protecionismo também era justificado pelo fato de que mesmo 
supondo uma eficiência menor da produção industrial na periferia, esta 
eficiência seria maior que a obtida na aplicação alternativa de recursos 
produtivos na agricultura.
Contudo, o início do processo de industrialização, na própria 
concepção da CEPAL não levaria imediatamente ao fim dos problemas em 
um dado país da região. As razões seriam muitas: continuação da condição 
essencial de exportador de produtos primários; a demanda não muito elástica 
dos países industrializados por estes bens; dependência da importação 
de produtos industriais; a falta de divisas para comprar insumos e bens de 
capital.
Estes estudos tiveram grande importância na região, e ajudaram 
a construir a ideologia do desenvolvimentismo, elemento fundamental na 
industrialização do Brasil. Outros países da América latina também usaram 
dessa estratégia para se industrializarem como o México, a Argentina e o 
Chile, mas o Brasil foi o mais bem sucedido nesta direção.
Teorias do investimento direto externo – IDE
 O investimento direto externo pode ser entendido como a expansão 
da capacidade produtiva de uma empresa no exterior através da inversão 
de capital externo criando novas empresas, abrindo subsidiárias ou ainda 
ganhando participação acionária em empresas já existentes em outro país.
 Vernon, em 1966, fez uma relação direta entre comércio internacional 
e IDE, através da Teoria do Ciclo de Vida do Produto. A teoria de Vernon 
consiste na definição de três etapas básicas do ciclo de vida do produto: 
inovação, maturidade e padronização do produto, enquanto a localização 
da produção depende do estágio do ciclo, a qual é escolhida pelos custos 
de produção e níveis de ingresso dos consumidores. A primeira etapa - a 
inovação - requer mão de obra muito qualificada e grande quantidade de 
capital para pesquisa e desenvolvimento; neste primeiro estágio, o produto 
é introduzido no mercado doméstico da empresa transnacional e depois 
é exportado para países com necessidades, preferências e rendimentos 
semelhantes ao país da matriz. 
UNIDADE 0126
 Nesta etapa inicial, os primeiros consumidores não se importam com 
o preço, dada a novidade e qualidade do produto comparado com outros da 
indústria. Conforme a produção se expande, o produto vai se padronizando e 
a demanda de mão de obra qualificada declina quando o produto é copiado. 
É o caso da indústria de celulares, na qual os lançamentos de novidades 
alcançam preços bem altos que depois diminuem. 
A empresa inovadora, ao chegar ao ciclo de maturidade de um 
lançamento (por exemplo o Ipod da Apple) tem que decidir entre perder 
participação de mercado para fabricantes com sedes no estrangeiro, que 
utilizam mão de obra mais barata (imitadores do Ipod) ou investir no 
exterior para manter sua participação no mercado explorando as vantagens 
competitivas dos custos de fatores em outros países (fabricar o Ipod no 
Brasil).
Na etapa final, o produto já está completamente padronizado, (surge 
um grande mercado produtor de Ipod e similares) e então as margens de 
lucro decrescem e a competição é acirrada. Os benefícios agora somente 
podem vir dos excedentes do comércio líquido. 
 Para Vernon, a teoria do ciclo do produto possui uma dinâmica 
internacional: cada novo produto introduzido para suprir o mercado doméstico 
da firma oligopolista é depois exportado e, quando o processo se torna 
disponível para os competidores, a concorrência induz a firma oligopolista 
que o criou a substituir a exportação pela produção no exterior, uma vez que 
estas firmas já dispõem de subsidiárias no estrangeiro. De qualquer forma, 
deve-se ter em mente que como o processo de inovação em firmas sujeitas 
a concorrência internacional é muito forte e fundamental. O processo nunca 
para de sempre começar e ir em frente. Hoje, certamente o ciclo é mais 
curto do que era quando o autor expôs a teoria. Em parte isto se deve ao 
fato de que a sociedade de consumo naqual vivemos exige uma constante 
apresentação de novas tecnologias e produtos para satisfazer a vontade de 
consumir existente.
 Outra teoria importante pra explicar o investimento direto externo é 
o modelo do “paradigma eclético” de John Dunning (1988). Este tentou 
mostrar que as teorias clássica e neoclássica do comércio internacional eram 
fundamentalmente insuficientes para explicar o comércio mundial, mas criou 
um referencial teórico amplo, baseando-se nas teorias que explicavam as 
trocas internacionais pela dotação de fatores e pelas falhas de mercado. 
 Neste sentido o autor fundamenta-se em abordagens tais como a 
teoria das vantagens comparativas; na teoria das vantagens competitivas – 
que sustenta a ideia de que empresas podem se aproveitar de competências 
bem dominadas por elas em mercados em que operam tais como custo, 
COMÉRCIO EXTERIOR 27
tamanho ou capacidade tecnológica; na teoria da dotação dos fatores e 
ainda na teoria das vantagens monopolistas que afirma a proposição de 
que empresas fazem sucesso no mercado internacional por desenvolverem 
habilidades e recursos monopolizados em algum momento de sua trajetória.
Assim, Dunning (1988) concebe que existem três determinantes 
simultâneos do IDE, os dois primeiros inerentes as vantagens diversas que 
podem ser utilizadas pelas empresas em suas estratégias de mundialização 
e o terceiro referente ao país onde este tipo de investimento é realizado. 
Seriam eles: 
 As vantagens específicas de propriedade de ativos tangíveis 
e intangíveis, que dão poder de mercado à empresa transnacional. Estas 
vantagens estão ligadas às vantagens competitivas, ou seja, conhecimentos, 
capacidades, habilidades que possibilitam a firma competir vitoriosamente em 
um dado mercado. Podem ser vantagens de ativos - patentes e marcas, por 
exemplo - bem como todo um conjunto de elementos tais como domínio de 
uma dada tecnologia, capacidade gerencial, economias de escala 
e acesso a recursos financeiros.
 Vantagens de internalização ou capacidade de agregar 
valor ao ativo internalizando etapas de produção quando necessário. 
A internalização é o processo de aquisição e manutenção de uma 
ou mais atividades dentro da empresa com o intuito de racionalizar 
a produção, evitando os custos de terceirização. Isto leva muitas 
vezes a favorecer as estratégias de integração horizontal e vertical 
da empresa. 
 Vantagens específicas de localização, referentes as 
vantagens comparativas existentes em outros países no qual 
a firma quer produzir. Podem estar relacionadas à legislação 
política de governo, estrutura de mercado e ambiente institucional 
do país receptor do IDE, bem como a infraestrutura disponível, 
a abundância de recursos naturais ou humanos, o tamanho do 
mercado, estabilidade econômica e política, etc.
As vantagens evidentes da integração vertical, muito 
praticadas pelas empresas japonesas, por exemplo, são: um 
maior controle sobre a qualidade, prazos e cadência de entrega, etc. dos 
fatores de produção; um melhor controle sobre a distribuição dos produtos e 
serviços produzidos e sobre os serviços pós-venda associados; aumento do 
poder de barganha sobre os fornecedores ou sobre os clientes mediante a 
integração; um aumento dos benefícios associados a economias de escala 
e a poupanças de custos com o fornecimento de insumos de produção ou 
ainda com a distribuição dos produtos que compõe a oferta da firma
SAIBA MAIS
Integração horizontal e vertical são 
estratégias de crescimento das firmas, 
nacional ou internacionalmente. A 
integração horizontal consiste em 
aquisição de plantas industriais 
semelhantes as da atividade principal 
da firma visando expandir sua produção 
e oferta de bens ou serviços no mercado 
externo ou interno; a integração vertical 
consiste na ação de assegurar o 
fornecimento de matérias-primas ou 
insumos, comprando ou integrando 
empresas que os produzam - integração 
para trás - ou estão adquirindo todo 
um sistema de distribuição e venda de 
bens e serviços - integração para frente 
-, evitando os custos de terceirização 
destas atividades. 
UNIDADE 0128
Barreiras ao comércio e esquemas protecionistas
Nesta seção serão estudadas as diversas estratégias que os governos 
nacionais usam para proteger o seu comércio externo. Primeiro, serão 
examinados as doutrinas que cuidaram de tratar do assunto com objetivos e 
propósitos diferentes como veremos. A seguir, cuidaremos de expor a política 
de barreiras ao livre-comércio, estudando a política tarifária, as cotas de 
importação, os subsídios, o uso diferenciado da taxa de câmbio; as ações 
anti-dumping; os controles sanitários e outras barreiras usadas comumente 
na prática pelas nações. 
Teorias da proteção do comércio internacional
 Existe um relato liberal da evolução do capitalismo que defende a 
seguinte sequência de fatos como sendo a verdadeira história do capitalismo 
(Ha-Joon Chang, 2003): 
a) Ainda no século XVIII, o sucesso industrial da Inglaterra “laissez-faire” 
provou a superioridade do mercado livre e das políticas de livre comércio 
sobre os competidores intervencionistas. A Inglaterra liquidou as Corn 
Laws que proibiam a importações de alimentos para todo o Reino Unido.
b) Uma ordem liberal mundial, instaurada a partir de 1870, foi baseada em 
políticas liberais internas; baixas barreiras ao fluxo internacional de bens, 
capital e mão de obra; estabilidade macroeconômica interna e externa 
garantida pelo padrão ouro. 
c) Seguiu-se uma época de ouro de prosperidade internacional, mas as 
coisas começaram a andar erradas com a primeira guerra mundial e a 
instabilidade que se seguiu levou ao protecionismo – mesmo os EUA, um 
país comprovadamente liberal aprovaram a lei Smoot-Hawley aumentando 
significativamente as suas tarifas protecionistas e, de uma forma geral, a 
contração do comércio durou até o final da segunda guerra. 
d) No pós-guerra verificou-se a construção de instituições multilaterais 
liberais, que impulsionaram positivamente o comércio internacional, 
contudo o terceiro mundo ficou dominado por políticas dirigistas – 
promovidas, por exemplo, pelo estruturalismo cepalino.
e) Estas políticas intervencionistas foram abandonadas por volta dos 
anos 80 do século XX, uma vez mostrado os limites do velho dirigismo. 
Criou-se um novo sistema global liberal de enorme potencial.
 Esta construção histórica, largamente aceita pelas principais 
universidades do mundo ocidental e pelas principais instituições internacionais 
COMÉRCIO EXTERIOR 29
multilaterais (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Organização 
Mundial do Comércio), não possui porém um consenso que a legitime 
plenamente. 
 No começo do século XIX, o economista alemão Friedrich List 
desenvolveu uma crítica ao sistema liberal de Adam Smith e ao princípio das 
vantagens comparativas. Ele se opôs ao livre-comércio, entendido como um 
instrumento que a Inglaterra usava para impor a sua superioridade industrial 
aos outros países e passou a defender um nacionalismo econômico, baseado 
na ideia de que o desenvolvimento de cada país exigia medidas especiais 
conforme as circunstâncias e o grau de evolução de sua economia. Assim, 
para defender a indústria nascente da Alemanha, retardatária em relação a 
da Inglaterra era necessário um ativo protecionismo para que as indústrias 
nacionais pudessem crescer suficientemente até atingirem uma escala capaz 
de permiti-las concorrer em mercados internacionais sujeitos a uma forte 
competição. 
 Contemporaneamente, existe a obra do autor coreano radicado 
nos Estados Unidos Ha-Joon Chang que, na trilha de List, vem criticando 
o pensamento liberal e as “boas” políticas preconizadas pelas instituições 
internacionais: política macroeconômica conservadora, liberalização do 
comércio e do investimento internacional, privatização e desregulação 
econômica. 
 O principal argumento do autor, desdobrado no livro “Chutando a 
escada” é o de que os países atualmente desenvolvidosquando estavam 
no processo de desenvolvimento não adotaram praticamente nenhuma das 
políticas liberais que hoje defendem e ativamente usaram do intervencionismo 
industrial, comercial e tecnológico para proteger as suas indústrias nascentes.
 Na Inglaterra, próprio paradigma do modelo liberal, durante todo 
período da revolução industrial até 1846, foi aplicada uma agressiva política 
de proteção industrial e comercial. Altas tarifas perduraram até duas gerações 
após a revolução industrial. Para List, a Inglaterra foi a primeira a “chutar 
a escada” – esconder o jogo e preconizar algo diferente do que fez para 
se industrializar – e adotar o liberalismo somente quando este já lhe era 
bastante conveniente. 
 Os EUA foram o maior promotor de proteção de indústrias nascentes, 
um bastião do moderno protecionismo. Entre 1816 e o fim da segunda guerra 
mundial, os EUA tiveram uma das mais altas tarifas de importação de bens 
manufaturados do mundo e a sua indústria talvez tenha sido a mais protegida 
do mundo, dadas as tarifas, os altos custos de transporte, especialmente 
após a guerra civil americana.
 Para Chang, quase todos os países atualmente desenvolvidos 
UNIDADE 0130
usaram de alguma forma de promoção de suas indústrias quando estavam 
em processo de “catch-up” – equiparação aos mais desenvolvidos - . As 
exceções seriam a Holanda e a Suíça talvez por sempre estarem perto da 
fronteira tecnológica. França, Alemanha e Japão usaram do protecionismo, 
mas não de forma tão forte quanto os EUA e o Reino Unido. Para o Japão e 
outros, o protecionismo nem era a principal estratégia e sim, crédito estatal, 
planejamento de investimento, direitos de monopólio, apoio à pesquisa.
 A pesquisa histórica mostra também que os países liberais 
na tentativa de “pull away”, ou seja, adiantar-se mais do que outros na 
competição internacional, trataram suas colônias de forma não-liberal. A 
orientação que vigorou era a de incentivar a produção de produtos primários; 
a proibição da produção de bens manufaturados com valor adicionado 
impedindo exportações competitivas. em relação aos países concorrentes 
não teria vigorado a livre difusão do progresso técnico, pelo contrário, as 
nações concorrentes lançaram mão de espionagem industrial, recrutamento 
da mão–de-obra da concorrência, violação de patentes e de outros direitos 
de propriedade. 
 Considerando estes fatos vemos que o protecionismo é mais a regra 
do que a exceção. Todos os países, levados por uma forte racionalidade 
econômica, praticam algum tipo, em algum grau, de esquemas protecionistas, 
que gera muitos benefícios aos setores privilegiados, embora haja dúvidas se 
tais benefícios se estendem a sociedade como um todo.
As barreiras ao comércio
 Deixando de lado este enfoque histórico, pode-se dizer que existem 
muitos argumentos econômicos que defendem a atuação do Estado no 
sentido de propiciar uma proteção à indústria de uma nação, ou setores 
específicos desta indústria. Podemos enumerar:
a) corrigir as imperfeições do mercado: muitas vezes certos mercados 
internacionais apresentam sérias distorções, que impedem que a 
indústria de um país ganhe escala e possa ser competitiva. Os casos 
mais conhecidos são os mercados onde vigoram o monopólio, mercados 
oligopolizados, trustes e cartéis. Tanto o monopólio quanto o oligopólio 
são situações de mercado onde o produtor possui grande capacidade de 
controlar o preço do produto bem como a sua oferta. 
 O truste consiste na fusão de várias empresas de forma a estabelecer-
se um monopólio. A possibilidade de manipulação do mercado é enorme, 
geralmente com a imposição de preços e condições de contrato desfavoráveis 
COMÉRCIO EXTERIOR 31
aos compradores do produto. O Brasil, como outros países possui uma 
legislação específica contra a formação de trustes.
 Os cartéis consistem em um acordo entre os principais produtores 
de uma mercadoria, pelo qual eles distribuem entre si cotas de mercado e 
acertam o preço do produto, suprimindo a concorrência. Ao contrário do 
truste, cada firma mantém a sua autonomia individual.
 Outra grave distorção dos mercados é a política de “dumping”. Trata-
se da adoção intencional por parte de uma empresa de um país, muitas 
vezes com o apoio de seu governo, de uma política de preços abaixo de 
seus custos, ou então, de impor preços externos menores que os usuais no 
mercado de origem da firma. O objetivo do dumping é eliminar os produtores 
locais através do preço mais baixo e então dominar o mercado.
b) outra razão para a intervenção do Estado é a existência de uma política 
oficial de substituição de importações. Caso um país em desenvolvimento 
adote uma política de substituir as importações através do incentivo a 
produzir estas mercadorias internamente, ele deve agir de forma a 
proteger esta indústria nascente, desestimulando a 
importação, mediante a taxação desta, com o objetivo de 
criar uma situação interna favorável a produção local. No 
Brasil, durante longo tempo, enquanto existiu o “Estado 
Desenvolvimentista”, estas políticas protecionistas foram 
usadas de forma intencional pelos diversos governos. 
 Veremos a seguir as principais políticas protecionistas 
que podem ser adotadas por uma autoridade estatal: tarifas, 
cotas de importação, subsídios, barreiras técnicas, barreiras 
sanitárias, taxas múltiplas de câmbio e ações anti-dumping. 
A teoria econômica costuma dividir estas políticas em 
barreiras alfandegárias – o caso das tarifas – e as barreiras 
não-alfandegárias que incluem todas as outras que não se 
referem ao pagamento de impostos e que podem se referir 
as necessidades de atendimento de requisitos técnicos ou 
administrativos.
 Tarifas ou barreiras alfandegárias
 As tarifas, também conhecidas como barreiras 
alfandegárias, por serem impostas, fiscalizadas e recolhidas 
pela autoridade fiscal da nação – no Brasil, a Receita Federal 
– são taxas ou impostos cobrados sobre a importação de 
SAIBA MAIS
O Estado desenvolvimentista é um tipo de 
Estado nacional onde se torna predominante 
uma ideologia de transformação da 
sociedade através da industrialização 
como via de superação da pobreza e do 
subdesenvolvimento. Neste projeto o Estado 
seria fundamental como planejador e mesmo 
como investidor naqueles setores onde 
claramente existiriam falta de recursos. No 
caso brasileiro, pode-se perfeitamente verificar 
a existência de tal estado desde o segundo 
governo Vargas (1951-54), passando pelo 
governo de Juscelino Kubitscheck (1956-61), 
período no qual a ideia de desenvolvimento 
alcança um auge no Brasil. No período 
1961-64, a dinâmica partidária e das lutas 
sociais em um ambiente democrático cria um 
novo objetivo: reformas de base e não mais 
desenvolvimentismo. Mas o golpe militar 
vai redimensionar a experiência anterior. 
Durante os anos de 1964 - 1979, temos um 
desenvolvimentismo militar dentro de um 
sistema político com alto grau de fechamento, 
onde a boa gestão econômica é usada como 
forma de legitimar o regime. 
UNIDADE 0132
mercadorias.
 Existem três tipos de tarifação sobre mercadorias:
a) Tarifa ad valorem: neste caso é cobrado um percentual sobre o valor do 
produto, que varia conforme a política fiscal em vigor. Exemplo: 20% sobre 
o preço do produto importado.
b) Tarifa específica: é cobrado um valor fixo sobre uma dada quantidade 
de produto importado. Exemplo: R$ 1000,00 sobre a tonelada de um 
produto importado.
c) Tarifa mista: caso no qual a autoridade fiscal utiliza ao mesmo tempo a 
tarifa ad valorem e a específica.
 Como se pode inferir, as tarifas interferem diretamente no preço 
final da mercadoria. O aumento do imposto de importação, ou a sua própria 
existência fazem com que o preço da mercadoria fique mais alto, o que, 
conforme a teoria leva à queda de sua demanda. Neste caso, pode haver um 
aumento da produção interna, uma vez que o produto do concorrente externo 
ficou mais caro, estabelecendo um novo equilíbrio no mercado.
 Contudo este equilíbriopode não vir a acontecer, pois podem ocorrer 
pelo menos dois tipos de problemas. Primeiro, a falta de concorrência externa 
pode elevar, no curto prazo, os preços da produção interna da mercadoria 
similar protegida. Segundo, uma política tarifária mais rigorosa, quando a 
produção interna não é autossuficiente, pode levar a aumentos de preços do 
produto e de outros que dependem dele para serem produzidos, no caso de 
ser um insumo industrial, por exemplo.
 No que diz respeito à arrecadação da receita governamental, a 
imposição de uma tarifa ou o seu aumento podem levar a dois efeitos: a) a 
receita aumenta devido ao aumento da produção industrial/agrícola interna 
protegida do bem em questão; b) a receita pode aumentar diretamente com 
o aumento do imposto de importação sobre um bem econômico importado. 
Mas este aumento vai depender do grau de inelasticidade do produto em 
questão. Quando o produto é muito importante para a economia, como 
fertilizantes, por exemplo, o aumento do preço leva a uma queda na demanda 
em uma proporção menor do que a alta verificada no preço dos fertilizantes, 
caracterizando uma situação de “inelasticidade do produto”. Neste caso a 
receita do governo irá aumentar. O aumento do imposto sobre produtos de 
demanda elástica tais como bebidas importadas ou brinquedos eletrônicos, 
podem fazer cair a receita do imposto de importação sobre este tipo de 
produto.
 A imposição de tarifas alfandegárias pode, em um primeiro instante, 
melhorar a situação do balanço de pagamentos do país devido ao decréscimo 
das importações, mas pode expô-lo a medidas de retaliação pelos países 
COMÉRCIO EXTERIOR 33
que ao se sentirem prejudicados busquem arbitragem junto à Organização 
Mundial do Comércio (OMC).
 Um bom exemplo de questões tarifárias de importância para a 
economia brasileira é a guerra da laranja travada entre os EUA e o Brasil, 
desde a década de 80 do século XX. O principal interesse americano é 
proteger o produtor da Flórida em relação ao suco de laranja concentrado 
brasileiro e a própria laranja in natura exportada pelos produtores brasileiros, 
muito mais competitivos que os americanos. 
 Em 2008, o Departamento de Comércio dos Estados Unidos 
determinou a adoção de tarifas antidumping ao suco de laranja brasileiro, 
convencido de que existia esta prática por parte dos produtores brasileiros. 
A sobretaxa média ficou em 15,42%. Em agosto de 2007, o Departamento 
havia adotado sobretaxas preliminares que variavam de 24,62% a 60,29%. 
Posteriormente o governo americano decidiu que o suco de laranja brasileiro 
devia pagar taxas menores, entre 9,73% e 60,29%, para adentrar o território 
americano. De qualquer forma, o suco brasileiro pagava então uma taxa 
específica elevadíssima de U$$ 418 por tonelada, para poder entrar no 
mercado norte-americano.
 Cotas de importação e exportação
 O sistema de cotas de importação constitui-se em uma barreira 
quantitativa às importações, através da qual é acordada uma quantidade 
máxima de um produto que pode ser importada de um país ou de um bloco 
econômico. Este mecanismo é largamente usado para a proteção da indústria, 
quando existe uma política de substituição de importações, ou para proteger 
a agricultura diante de concorrentes internacionais mais produtivos.
 Comparativamente com a estratégia de barreiras alfandegárias, como 
é o caso da imposição de tarifas, o sistema de cotas pode oferecer certas 
vantagens bem marcadas:
a) Neste caso o governo possui uma noção bem precisa da quantidade de 
mercadoria que entrará no país em um dado setor do mercado;
b) O sistema de cotas de importação não leva ao aumento do preço do 
produto causado pela tarifa aplicada;
c) O sistema de cotas pode ser bem regulado de forma a possibilitar a 
mais ou menos exata importação do déficit de produção interna de um 
dado produto. Isto impede que ocorra falta de produto e que a falta de 
oferta pressione o preço do produto.
 Existe também o sistema de cotas de exportação caracterizado pela 
UNIDADE 0134
imposição do governo de cotas de exportação sobre os produtores nacionais 
que exportam uma dada mercadoria. Este tipo de medida é geralmente 
realizado em um contexto de pressões externas em que um país importador 
luta para que um outro reduza as suas exportações “voluntariamente”, fazendo 
uso de ameaças de sanções maiores e mais incisivas sobre as importações.
 
Subsídios
 O subsídio a exportação é um benefício concedido pela autoridade 
estatal para uma empresa que exporta mercadorias. O objetivo básico é 
tornar estas mercadorias competitivas a nível internacional. Geralmente 
ocorre na forma de uma contribuição financeira e, para ser considerado como 
tal, o benefício deve conter um custo para o governo. 
 No Brasil foi internalizado o Acordo sobre Subsídios e Medidas 
Compensatórias celebrado na Rodada Uruguai da OMC. Este acordo 
normatiza as questões envolvendo os subsídios entre os países-membros e 
aponta para as práticas proibidas, especialmente subsídios para empresas 
ou setores da economia específicos envolvendo práticas tais como: isenções 
de impostos, remissões fiscais, concessão de garantias de crédito para 
exportação, programas de seguro a taxas subsidiadas, créditos para a 
exportação com taxas mais baixas que as praticadas pelo mercado, utilização 
excessiva de “drawback”.
 Além dos subsídios à exportação, existem os subsídios que 
os governos fazem a empresas ou mesmo setores de sua economia 
interna como forma de proteger estes mercados. No mundo atual, 
uma das principais questões envolvendo o comércio internacional é 
a dos subsídios dados pelos países ricos aos seus agricultores. Nos 
EUA e na Europa, os produtores rurais recebem um valor monetário 
por unidade de produto que eles produzem para o mercado interno ou 
então exportam. 
 Conforme a agência de notícias européia Deustsche Welle, a 
metade do orçamento da UE é destinado ao pagamento de subsídios 
agrícolas - um total expressivo de 55 bilhões de euros - apesar de 
menos de 3% da população do bloco viver da agricultura. O custo diário 
para os contribuintes de cada vaca europeia é de 2,50 euros, cerca de 
R$ 7,00. (www.msia.org.br)
GLOSSÁRIO 
O drawback consiste no tratamento 
tributário especial dado aos insumos 
importados utilizados na produção 
de mercadorias destinadas a serem 
exportadas. A legislação brasileira 
considera o drawback um regime 
especial tributário de incentivo à 
exportação. Podem ocorrer três 
situações: restituição dos impostos 
pagos, suspensão dos impostos e 
isenção dos mesmos.
. 
COMÉRCIO EXTERIOR 35
 Barreiras técnicas e sanitárias
 As barreiras técnicas e sanitárias constituem-se em requisitos 
técnicos exigidos pelo país importador em relação às mercadorias importadas, 
que são geralmente diferentes das exigências técnicas em vigor no país 
exportador, criando assim uma dificuldade, uma barreira. 
 Estes requisitos são fiscalizados pelas autoridades competentes que 
fazem um exame sistemático das características da mercadoria com o intuito 
de verificar a sua conformidade com os padrões, normas e regulamentos 
estabelecidos. Se a mercadoria, um serviço ou um processo é considerado 
como algo que atende aos requisitos especificados é dado um certificado 
de “garantia de conformidade”, que possibilita a importação do produto. 
Note-se que muitas vezes aos requisitos exigidos pelo governo, somam-se 
aquelas normas demandadas pelo mercado, que também exige qualidade 
das mercadorias importadas.
 A OMC, como responsável pela expansão do livre-comércio mundial, 
condena o uso de barreiras técnicas derivadas de normas não-transparentes 
ou em discordância com aquelas internacionalmente aceitas, consideradas 
como instrumentos disfarçados de uma política protecionista. Também são 
condenadas inspeções demasiadamente rigorosas, ou exigências onerosas 
para obter o certificado de conformidade.
 No caso brasileiro, por exemplo, os exportadores de carne bovina 
tem se esforçado para romperas barreiras técnicas e sanitárias muitas 
vezes encontradas pela carne de gado brasileira. As restrições muitas vezes 
dirigem-se às características do produto – carne fresca e saudável – ou então 
ao próprio processo de produção, o que inclui os requisitos sobre a higiene 
dentro do frigorífico ou o cuidado com a embalagem da mercadoria. Certos 
países cuja economia é basicamente voltada para a exportação como é o 
caso do Japão e da Alemanha, possuem um histórico negativo quanto às 
exigências de requisitos para aqueles que querem exportar pra estes países. 
Taxas de câmbio múltiplas
 Como se sabe e será melhor explorado no decorrer deste trabalho, 
a taxa de câmbio significa o preço de uma moeda nacional em relação a 
uma outra, por exemplo U$$ 1,0 = R$ 1,70 (ou seja, um dólar vale um real 
e setenta centavos). Para o exportador é importante que o a moeda de 
troca internacional, na qual ele recebe o pagamento pelo seu produto esteja 
valorizada, ou seja, um dólar valendo dois reais é melhor que valendo um 
UNIDADE 0136
real e setenta centavos pois ao trazer os dólares para o Brasil ele vai receber 
um valor maior. Para o importador a lógica é inversa, ou seja, quanto mais 
valorizada está a moeda nacional, melhor para o importador que precisa 
comprar dólares para comprar produtos no exterior. 
 De qualquer forma a taxa de câmbio, como pode se ver, é um 
elemento importante na formação do preço do produto exportado e importado. 
De acordo com esta percepção muitas vezes as autoridades monetárias de 
um país manipulam a taxa de cambio para ajudar o comércio exterior, ou 
proteger o mercado nacional. Algumas opções são interessantes:
a) Uma taxa de câmbio na qual a moeda nacional está mais desvalorizada, 
pode ser estipulada para um setor exportador que se deseja incentivar, 
diminuindo o preço do produto no exterior e aumentando a receita em 
reais, quando da internalização do dólar no país.
b) No caso de se tentar uma proteção da economia contra produtos 
importados pode-se criar uma categoria especial de produtos sujeitos 
a uma taxa de câmbio na qual a moeda nacional está desvalorizada, 
tornando o produto importado mais caro para os possuidores desta moeda.
 Outras possibilidades também existem. A autoridade monetária pode 
criar uma taxa de câmbio pela qual a moeda nacional esteja valorizada e 
aplicá-la a setores importadores de insumos importantes para a industria e 
agricultura nacionais (fertilizantes, por exemplo).
 Recentemente, o governo de Hugo Chávez pressionado pela crise 
econômica que o país atravessa, com a queda do preço do petróleo que 
ocorreu após a crise mundial de 2008, desenvolveu um sistema múltiplo de 
taxas. O dólar passou de 2,15 para 2,60 bolívares para os bens importados 
considerados essenciais, enquanto passou a valer 4,30 bolívares para os 
bens importados considerados supérfluos. O objetivo é conter o consumo de 
importados no momento de crise, tentando estabilizar o comércio exterior, na 
esperança de que os preços do petróleo voltem a subir (dados citados em 
www.portaldocomércio.org.br).
 No Brasil, entre 1953 e 1961, vigoravam duas taxas de câmbio para 
a exportação e cinco taxas de câmbio para a importação de mercadorias. 
O objetivo destas últimas era fazer um controle seletivo das importações, 
em um momento em que o país lançava-se ao processo de substituições 
de importações – conduzido pelo Plano de metas do Presidente Juscelino 
Kubitscheck.
 
COMÉRCIO EXTERIOR 37
Ações antidumping
 Como já foi definido neste texto, o dumping significa a adoção 
intencional por parte de uma empresa de um país, muitas vezes com o apoio 
de seu governo, de uma política de preços abaixo de seus custos, ou então, 
de impor preços externos menores que os usuais no mercado de origem da 
firma, tudo isto com o objetivo de dominar mercados externos ao da firma. 
 As ações de antidumping são medidas protecionistas que tem como 
objetivo proteger a economia nacional ou empresas específicas contra a 
prática do dumping verificada como desleal e predatória. 
 Por outro lado, nem sempre é fácil saber se um preço de um produto 
que chega a um mercado representa um dumping. Muitos países usam do 
instrumento antidumping sem uma verdadeira avaliação da questão, como 
parece ser o caso citado da ação americana contra o suco de laranja brasileiro. 
Nestes casos em que o protocolo antidumping esconde um protecionismo 
feroz, é afetado o processo concorrencial no mercado onde isto ocorre. 
 No Brasil a normatização da prática obedece ao Decreto 1.602, de 23 
de agosto de 1995, o qual regulamentou os procedimentos necessários para 
aplicação dos direitos previstos no Acordo Antidumping da Rodada Uruguai 
do GATT. No âmbito da administração federal, a Secretaria de Comércio 
Exterior (Secex) com o seu Departamento de Defesa Comercial (Decom) é 
responsável pelo exame de pedido de abertura de investigação da prática 
de dumping, criando um processo que termina com uma avaliação final que, 
no seu parecer, sanciona ou não o direito antidumping e ainda sugere às 
autoridades monetárias o percentual a ser aplicado.
 O protecionismo e novas barreiras
 Com o avanço da atuação do GATT e mais recentemente da OMC e 
o grau de consenso existente sobre as normas e princípios defendidos por 
essas instituições, tem ocorrido uma gradual diminuição do uso de tarifas 
alfandegárias como instrumento protecionista por parte dos países membros, 
que incluem, praticamente, todas as nações do planeta. Em contrapartida, 
as barreiras não-tarifárias têm sido cada vez mais acionadas para proteger 
mercados nacionais, conforme a política de comércio externo que um país 
segue. 
 Além das barreiras não-tarifárias já citadas, pode-se falar também de:
- Barreiras administrativas: existentes quando há uma exacerbação 
nos procedimentos relativos ao comércio externo, especialmente nas áreas 
UNIDADE 0138
de coleta, apresentação e processamento de dados necessários a avaliação 
das autoridades de um pedido de permissão para importar ou exportar. Isto 
também inclui rotinas de transporte e desembarque, pagamento de taxas, 
exigências de seguros e de financiamentos. 
Trâmites nas fronteiras podem consumir muito tempo e elevar gastos 
que oneram os produtos. No caso brasileiro são bastante conhecidos e 
discutidos os problemas de insuficiência de equipamentos, excessivo número 
de avaliações e documentos necessários aos trâmites, obsolescência das 
técnicas e procedimentos aduaneiros, falta de pessoal bem treinado nas 
funções.
- Barreiras ecológicas: são exigências ambientais que colocam 
barreiras ao comércio internacional. As empresas trabalhando em mercados 
externos onde há grande suscetibilidade a questões ambientais, tendem 
a entender que estas tendem a ter uma importância cada vez maior na 
medida em que a consciência internacional do problema avança. Assim, 
a questão das barreiras ecológicas passam a ter um papel vital. Muitas 
empresas consideradas pouco afeitas a defesa ambiental passaram a sofrer 
discriminações ambientais, técnicas e administrativas. Grandes agências 
internacionais de desenvolvimento tais como o Banco Mundial exigem 
estudos de impacto ambiental das grandes empresas que porventura venham 
a trabalhar com recursos destas organizações. 
Por outro lado, estas empresas também estão sujeitas a exigências 
ambientais oriundas de consumidores, acionistas e mesmo da legislação 
existente em um mercado onde a firma deseja operar. A gestão ambiental 
deve levar em conta estas barreiras, que se consolidam em normas rígidas 
sob a pressão de órgãos reguladores e de comunidades organizadas.
- Dumping social: o termo refere-se ao fato de empresas localizadas 
em certos países poderem obter custos mais baixos de seus produtos 
com base em custos sociais da mão-de-obra muito baixos vigentes nestas 
nações. Não se trata somente de salários baixos, mas de descumprimento 
de direitos trabalhistas internacionalmente reconhecidos e previstos, bem 
como a

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