Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ciências do Ambiente e Bioclimatologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Esp. Valéria Leite Aranha Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos Ciência Ambiental e Problemas Ambientais, Causas e Sustentabilidade • Introdução • Princípios de Sustentabilidade • Sustentabilidade • Recursos Naturais • Pegada Ecológica • Sociedade Sustentável • Síntese da Unidade · Compreender como a Terra funciona, como afetamos seus sistemas de suporte à vida e como poderemos reduzir nosso impacto no meio ambiente. · Questões e conceitos fundamentais: · Quais são os princípios da sustentabilidade? · De que maneira nossa pegada ecológica influencia a Terra? · Por que temos problemas ambientais? · Qual o conceito de uma sociedade ambientalmente sustentável? OBJETIVO DE APRENDIZADO Ciência Ambiental e Problemas Ambientais, Causas e Sustentabilidade Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Ciência Ambiental e Problemas Ambientais, Causas e Sustentabilidade Ciência Ambiental Ciência Ambiental é o estudo de como a Terra funciona. Um estudo interdisciplinar que usa as informações das ciências físicas (biologia, química e geologia) e das ciências sociais (economia, política e ética) para aprender como a Terra funciona, como interagir com ela e como lidar com os problemas ambientais. O ambientalismo é um movimento social dedicado a proteger os sistemas de suporte à vida na Terra para nós e para outras espécies (MILLER JUNIOR, 2012). Nossa espécie está intimamente ligada aos recursos que nosso planeta oferece: ar, água, terra, minerais, plantas e animais. A extensão do impacto humano sobre a Terra depende do número de pessoas existentes e da quantidade de recursos utilizados por cada pessoa. O uso máximo de recursos que o planeta ou uma determinada região pode sustentar define a sua capacidade de provisão. Esta capacidade pode ser aumentada pela agricultura e pela tecnologia, e em geral isto ocorre à custa da redução da diversidade biológica ou da perturbação de processos ecológicos. A capacidade de provisão é limitada pela capacidade da natureza de se recompor ou absorver resíduos de modo seguro. As nossas civilizações estão hoje ameaçadas porque utilizamos mal os recursos e perturbamos os sistemas naturais. Estamos pressionando a Terra até o limite de sua capacidade. Fig.1 – Estamos pressionando a Terra até o limite de sua capacidade Fonte: iStock/Getty images Então qual seria a melhor definição de Meio Ambiente em Ciência Ambiental? Como podemos notar, as atividades dos seres humanos sobre a Terra produzem tanta influência que sua cultura faz parte da definição de meio ambiente, e para uma melhor definição faz-se necessário considerar os aspectos políticos, éticos, econômicos, sociais, ecológicos, culturais, entre outros, para que se obtenha uma visão global sobre os problemas ambientais e as possíveis soluções. 8 9 Dentro dessa visão, o meio ambiente é formado por: - Fatores Abióticos (Água, ar, solo, energia etc.) - Fatores Bióticos (Organismos vivos – ora, fauna, microrganismos) - Cultura humana (Paradigmas, valores �losó�cos, políticos, morais, cientí�cos, artísticos, sociais, econômicos, religiosos etc.) Meio Ambiente + + Fig. 2 Adaptado de DIAS, G.F. Ecopercepção, 2004 Princípios de Sustentabilidade A natureza tem se sustentado por bilhões de anos por meio da energia solar, da biodiversidade e da ciclagem de nutrientes. Nossas vidas e economias dependem da energia do sol, e dos recursos e serviços naturais fornecidos pela Terra (MILLER JUNIOR, 2012). Fig. 3 Os três princípios da sustentabilidade Fonte: MILLER JUNIOR, 2012 9 UNIDADE Ciência Ambiental e Problemas Ambientais, Causas e Sustentabilidade Perante as drásticas mudanças ambientais, há três grandes temas relacionados diretamente à sustentabilidade de longo prazo da vida no planeta: a energia solar, a biodiversidade e a ciclagem química, conforme esquematizado na figura acima. Depender do sol, fomentar as várias formas de vida e reduzir o desperdício são os três princípios da sustentabilidade. Dependência da energia solar: o sol é a fonte de energia que aquece o planeta e permite a realização de um processo químico fundamental para a manutenção da vida dos seres vivos, a fotossíntese. Realizada pelos vegetais e algas, fornece as substâncias químicas das quais a maioria dos seres vivos necessitam para sobreviver e reproduzir. Indiretamente, o sol alimenta outras formas de energia como o vento e a água corrente, utilizados para produzir eletricidade. Biodiversidade: “Riqueza de vida na Terra, os milhões de plantas, animais e microrganismos, os genes que eles contêm e os intrincados ecossistemas que ajudam a construir no meio ambiente. ” (Fundo Mundial para a Natureza, 1989). Biodiversidade, variedade de organismos e sistemas naturais onde estes existem e interagem, e os serviços naturais que esses organismos e sistemas vivos nos fornecem, como renovação do solo, controle de pragas, e a purificação do ar e da água. A biodiversidade propicia inúmeras maneiras para que a vida se adapte às mudanças das condições ambientais. Ciclagem química: é a ciclagem dos nutrientes num processo denominado de ciclos biogeoquímicos. Os elementos químicos que os seres vivos necessitam em grandes quantidades – carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre – circulam através dos indivíduos e destes para o ambiente físico e vice-versa. Os processos naturais são os mantenedouros desses ciclos, e a Terra não recebe nenhum novo suprimento desses produtos químicos. Para a vida se sustentar, esses nutrientes devem ser reciclados indefinidamente. Sem essa ciclagem química não haveria ar, água, solo, alimento ou vida. Sustentabilidade Desde o início da era industrial, o número de seres humanos multiplicou-se e esse aumento na quantidade de seres humanos e de suas atividades causou um grande impacto sobre o meioambiente. A diversidade da vida na Terra diminuiu. Em menos de duzentos anos, o planeta perdeu seis milhões de quilômetros quadrados de florestas. Há uma grande quantidade de terras desgastadas pela erosão e o volume de sedimentos nos rios cresceu três vezes nas principais bacias e oito vezes nas bacias menores e mais utilizadas. Os sistemas atmosféricos foram perturbados, gerando ameaças ao padrão climático; a poluição invadiu nosso ar, nossa terra e nossa água e tornou-se uma ameaça crescente à saúde. Centenas de milhões de pessoas lutam na pobreza, privadas de uma qualidade de vida tolerável. A cada ano, milhões de pessoas morrem de desnutrição e de 10 11 doenças que podem ser evitadas. Esta situação não é apenas injusta, ela ameaça a paz e a estabilidade de muitos países e do mundo. Se tantas pessoas padecem hoje de uma qualidade de vida inadequada, como farão tantos bilhões a mais para conseguir a comida, a água, os cuidados médicos e o abrigo de que necessitam? Como poderemos sustentar este enorme aumento de seres humanos sem causar danos irreversíveis ao nosso planeta? Com certeza, não será continuando a viver como fazemos hoje. É preciso encontrar novas maneiras de viver e se desenvolver, maneiras que preservem a vitalidade da Terra e que sejam, portanto, sustentáveis em um longo prazo. Os recursos naturais são a base do desenvolvimento econômico; proteção ambiental e desenvolvimento são inseparáveis, com isso, os recursos naturais e os serviços naturais que nos mantém constituem o capital natural. Capital Natural: recursos e serviços naturais que mantêm a nossa e outras espécies vivas e que dão suporte às nossas economias. (MILLER JUNIOR, 2012).Ex pl or Ativos Ambientais Serviços de Ecossistemas Recursos Naturais Biodiversidade Ecossistemas CAPITAL NATURAL Fig. 4: O que é capital natural? Fonte: Adaptado de Istock/getty images O desenvolvimento não pode ser sustentado com uma base de recursos naturais deteriorados, e o meio ambiente não pode ser protegido quando os projetos teimam em não levar em consideração o preço da destruição ambiental e em dispor de recursos para preveni-la. Para que as economias nacionais cresçam e sejam promissoras, os recursos naturais devem ser conservados. Esse objetivo pode ser alcançado através do desenvolvimento sustentável, um programa que satisfaz hoje as necessidades dos indivíduos, sem destruir os recursos necessários no futuro, baseado em planejamento em longo prazo e no reconhecimento de que, para manter o acesso aos recursos que tornam nossa vida diária possível,devemos admitir os limites de tais recursos. 11 UNIDADE Ciência Ambiental e Problemas Ambientais, Causas e Sustentabilidade Recursos Naturais De acordo com a lei no 6.938/81, que criou a Política Nacional de Meio Ambiente, são considerados recursos naturais os diversos componentes ecológicos da natureza, como as reservas hídricas (superficiais e subterrâneas), o solo, o mar territorial, a atmosfera e a nossa diversidade biológica. Recurso natural é qualquer insumo de que os organismos, populações e ecossistemas necessitam para sua manutenção. Existe um envolvimento entre recursos naturais e tecnologia, uma vez que há necessidade da existência de processos tecnológicos para a utilização de um recurso. Recursos naturais e economia interagem de modo bastante evidente, uma vez que algo é recurso à medida que sua exploração é economicamente viável. Algo se torna recurso natural quando sua exploração, processamento e utilização não causam danos ao meio ambiente. Assim, na definição de recurso natural, encontramos três tópicos relacionados: tecnologia, econômia e meio ambiente (BRAGA, 2002). Classificação dos recursos naturais: os recursos naturais podem ser classificados em dois grandes grupos, os renováveis e os não renováveis. • Recursos renováveis: são recursos que, depois de serem utilizados, ficam disponíveis novamente graças aos ciclos naturais. A água, em seu ciclo hidrológico, é um exemplo; a biomassa, o ar a energia eólica são outros exemplos de recursos naturais renováveis. • Recursos não renováveis: são recursos que, depois de utilizados, não podem mais ser aproveitados. Um exemplo característico é o combustível fóssil, depois de ser utilizado para mover o automóvel, está perdido para sempre. Dentro deste grupo, identificamos duas classes: a dos minerais não energéticos como o fósforo e o cálcio e a dos minerais energéticos, os combustíveis fósseis e o urânio. Os minerais energéticos ainda podem se renovar, mas após um período de tempo tal que não serão relevantes para a existência humana. Recursos Não renováveis Minerais energéticos: combustíveis Renováveis Água, ar biomassa, vento, sol Minerais não energéticos: fósforo, cálcio Fig. 5: Classificação dos recursos naturais 12 13 Os recursos variam de quão rapidamente podemos utilizá-los, depois de te- rem sido utilizados. A energia solar, por exemplo, é considerada um recurso perpétuo, por sua oferta ser contínua, e estima-se que deva durar, pelo menos, 6 bilhões de ano. Um recurso que leva de vários dias a várias centenas de anos para ser reposto por processos naturais, como vimos, é chamado de recurso re- novável, desde que não o utilizemos mais rapidamente do que a natureza pode renová-lo. Já os recursos não renováveis, existem em uma quantidade fixa, ou estoque, na crosta da Terra. Em uma escala de tempo de milhões a bilhões de anos, os processos geológicos podem renová-los, mas numa escala de tempo humana, muito mais curta, de centenas de milhares de anos, podemos esgotá- -los muito mais rapidamente do que a natureza pode formá-los. Para que exista sustentabilidade em termos econômicos, é preciso proteger o capital com gastos cuidadosos, assim, ele pode durar infinitamente. Da mesma forma, o capital natural pode manter a diversidade de espécies na Terra, desde que utilizemos seus recursos e serviços naturais de forma sustentável. Como vimos, a ciclagem de nutrientes é um serviço natural vital, observamos sua importância nas camadas superficiais dos solos, fornecendo nutrientes que permitem que plantas, animais e microrganismos vivam no ambiente terrestre. Sem esse processo, a vida como a conhecemos não poderia existir. Está na base de um dos três princípios da sustentabilidade. Assim como a ciclagem de nutrientes, o sol faz arte dos três princípios da sustentabilidade pois, sem energia solar, esse capital e a vida que ele sustenta entrariam em colapso. Portanto, nossas vidas e economias dependem da energia do sol, dos recursos e dos serviços naturais fornecidos pela Terra. Energia Solar Capital Natural = Recursos Naturais + Serviços Naturais Veios de carvão Gás naturalPretróleo Ar Puri�cação do ar Regulação do clima Proteção UV (camada de ozônio) Água Puri�cação da água Tratamento de resíduos Minerais não renováveis (ferro, areia) Energia renovável (sol, vento, uxos de água) Vida (biodiversidade) Controle populacional Controle de pragas Terra Produção de alimentos Reciclagem de nutrientes Renovação do solo Solo Energia não renovável (combustíveis fósseis) Capital Natural Recursos naturais Serviços naturais Fig.6: Capital natural. Esses importantes recursos naturais (verde) e serviços naturais (azul) sustentam a vida do planeta e das economias humanas Fonte: MILLER JUNIOR, 2012 13 UNIDADE Ciência Ambiental e Problemas Ambientais, Causas e Sustentabilidade Pegada Ecológica Para Freire (2004), a pegada ecológica é definida como a área de terras produtivas que uma pessoa precisa para sustentar o seu consumo e absorver seus resíduos pelo período de um ano (ha/pessoa/ano). A pegada ecológica de uma pessoa ou população depende de seus padrões de consumo.Atualmente, cada habitante da Terra tem apenas 1,6 hectare de terras produtivas disponíveis ao ano. Os países mais industrializados têm uma pegada ecológica superior a 6 ha/pessoa/ano, gerando deficit global, o que significa que essas nações, para atender às suas necessidades de energia e materiais, apoderam-se da produção de outras nações. Poucos países são capazes de se sustentar com suas próprias terras, entre eles estão o Brasil e a Argentina. Para manter os padrões de consumo da humanidade, precisamos hoje de um planeta 30% maior. Esse deficit é provocado pela degradação do capital ambiental e pela miséria de muitos povos. Fig. 7: Componentes da pegada ecológica Fonte: WWWF-Brasil Fornecer recursos a cada pessoa e absorver os resíduos do uso desses recursos cria uma grande pegada ecológica ou impacto ambiental. “A Pegada Ecológica do Brasil é de 2,9 hectares globais por habitante, indicando que o consumo médio de recursos ecológicos do cidadão brasileiro é bem próximo da média mundial (2,7 hectares globais por habitante). Isso significa que, se todas as pessoas do planeta consumissem como o brasileiro, seria necessário 1,6 planeta para sustentar esse estilo de vida. A média mundial é de 1,5 planeta. Ou seja, estamos consumindo 50% além da capacidade anual do planeta. ” Quer saber mais? Acesse o link: https://goo.gl/zu7oSW Ex pl or Degradação ambiental: quando excedemos a taxa de reposição natural de um recurso, as provisões disponíveis começam a diminuir, esse processo é conhecido como degradação ambiental e, como exemplos, podemos citar a urbanização de terras produtivas, erosão excessiva da superfície dos solos, poluição, desmatamento, uso exaustivo de águas subterrâneas, redução das formas de vida selvagem (biodiversidade) devido à eliminação de habitat e espécies. Problemas ambientais: as principais causas dos problemas ambientais são o crescimento populacional, desperdício de recursos, pobreza, falta de responsabilidade ambiental e a ignorância ecológica. • Crescimento populacional: em razão do crescimento exponencial da população humana, em 2010, havia cerca de 6,9 bilhões de pessoas no planeta. Coletivamente, elas consomem grandes quantidades de comida, água, 14 15 matérias-primas e energia, produzindo enormes quantidades de poluição e resíduos durante esse processo. A cada ano, adicionamos mais de 80 milhões de pessoas à população da Terra. A menos que a taxa de mortalidade suba vertiginosamente, provavelmente, haverá 9,5 bilhões de pessoas até 2050. Esse acréscimo projetado de 2,6 bilhões de pessoas é equivalente a cerca de oito vezes a população atual dos Estados Unidos, e duas vezes a da China, o país mais populoso do mundo. Em 2010, foram adicionadas por volta de 83 milhões de pessoas ao nosso planeta, uma média de cerca de 227 mil pessoas por dia. Isso é aproximadamente o equivalente a acrescentar uma nova cidade de Los Angeles, na Califórnia, a cada duas semanas, uma nova França a cada nove meses, ou um novo Estados Unidos – o terceiro país mais populoso do mundo – a cada quatro anos (MILLER JUNIOR, 2012). Fig.8: crescimento exponencial: a curva em forma de J representa os crescimentos populacionais exponenciais do passado, com projeções para 2100 mostrando uma possível estabilização, à medida que a curva assume uma forma de S Fonte: Adaptado de MILLER JUNIOR, 2012 Até o momento, ainda não conseguimos mensurar exatamente a quantidade de extração de recursos para consumo e de pessoas a consumi-los que a Terra pode suportar sem que seja seriamente degradada. Fato é, que a pegada ecológica mundial e per capita é um preocupante sinal de alerta. • Desperdício de recursos: nos atuais padrões de produção e consumo, surge a cultura do desperdício, que ultrapassa as camadas de alta renda e atinge as camadas menos favorecidas. Essa cultura está pautada no estilo de vida de muitos consumidores em países mais e menos desenvolvidos, tais como a Índia e a China. Este estilo é construído sobre uma crescente afluência, termo empregado hoje para descrever o vício insustentável do superconsumismo e materialismo, resultando em elevados níveis de consumo e desperdício 15 UNIDADE Ciência Ambiental e Problemas Ambientais, Causas e Sustentabilidade desnecessário de recursos. Tal afluência é lastreada principalmente no pressuposto, alimentado pela publicidade de massa, de que a contínua compra de bens materiais traz satisfação e felicidade. O Brasil desperdiça 40 mil toneladas de alimentos todos os dias. Essa quantia toda, que poderia alimentar 19 milhões de pessoas, com café da manhã, almoço e jantar, vai parar no lixo diariamente. A maior parte disso, é desperdiçada no preparo das refeições. Segundo MILLER, a população dos Estados Unidos é de apenas cerca de um quarto da população da Índia. No entanto, o norte-americano médio consome cerca de 30 vezes mais do que o indiano médio, e 100 vezes a média por pessoa nos países mais pobres do mundo. Como resultado, a média do impacto ambiental, ou pegada ecológica, por pessoa nos Estados Unidos é muito maior do que aquela medida nos países menos desenvolvidos. • Pobreza: a maioria das pessoas pobres no mundo não tem acesso às condições básicas para uma vida sustentável, produtiva e digna. Essas pessoas passam o seu dia a dia a encontrar alimento, água e abastecimento suficientes para a sua sobrevivência. Muitas vezes, desesperadas para que a terra produza alimento suficiente, acabam destruindo florestas, degradando o solo, a vida selvagem, em troca da sobrevivência em curto prazo. Outro ponto importante, é que a pobreza também afeta o crescimento populacional, pois, geralmente, essas pessoas têm muitos filhos como garantia de sua segurança econômica. As crianças ajudam na busca por suprimentos como água potável, madeira, cuidar de plantações, trabalhar e pedir esmolas. Segundo MILLER e de acordo com um estudo realizado em 2008 pelo Banco Mundial, 1,4 bilhão de pessoas, uma em cada cinco no planeta, e quase cinco vezes o número de pessoas nos Estados Unidos, vivem em extrema pobreza e lutam para sobreviver com o equivalente a menos de US$ 1,25 por dia, menos de R$ 4,00 reais no Brasil. Você conseguiria? Sociedade Sustentável O desenvolvimento sustentável apoia-se no reconhecimento de que: a qualidade ambiental e o desenvolvimento econômico estão ligados, desenvolvimento e economia devem estar integrados desde o início dos processos de formulação de decisões; os desgastes ambientais estão inter-relacionados como, por exemplo, a derrubada de árvores implica não apenas na destruição de florestas, mas também na aceleração da erosão do solo e assoreamento de rios e lagos; problemas econômicos e ambientais estão relacionados a muitos fatores sociais e políticos e ao rápido crescimento populacional. Só se pode compreender o mundo atual como uma conjugação de processos múltiplos interconectados. A percepção de novos fenômenos globais vem reforçar 16 17 a necessidade de encarar a nossa biosfera por um prisma sistêmico, um mecanismo de ligação entre processos econômicos, ecológicos e culturais. Se uma atividade é sustentável, em termos práticos, ela pode continuar para sempre. Desempenhar uma atividade sustentável agora não irá pôr em risco esta mesma atividade no futuro. Uma sociedade sustentável é aquela que não coloca em risco o ar, a água, a terra, a vida vegetal e animal dos quais o nosso bem-estar depende. Para que uma sociedade seja de fato sustentável, é necessário estabelecer os princípios da vida sustentável. Como vimos, é preciso respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos, melhorar a qualidade de vida humana, conservar a vitalidade e a diversidade do planeta Terra, permanecer nos limites da capacidade de suporte do planeta modificando atitudes e práticas pessoais,permitir que as comunidades cuidem de seu próprio meio ambiente, é preciso gerar uma estrutura nacional para integração de desenvolvimento e conservação e construir uma aliança global. Desenvolvimento sustentável refere-se, assim, à melhoria na qualidade de vida humana, respeitando-se ao mesmo tempo os limites da capacidade de provisão dos ecossistemas nos quais vivemos. Uma economia sustentável, por sua vez, é o produto do desenvolvimento sustentável. Ela conserva sua fonte de recursos naturais, mas consegue se desenvolver pela adaptação e pelo aprimoramento no conhecimento, na organização, na eficácia e, não menos importante, na sabedoria. Estudo de Caso 1 “Os problemas a serem enfrentados são vastos e complexos. 6,5 bilhões de pessoas estão procriando exponencialmente, os processos de atender aos seus desejos e suas necessidades está privando a Terra de sua capacidade biótica de produzir vida; uma explosão de consumo por uma única espécie está afetando os céus, a terra, as águas e a fauna.” China Que êxito a China teve na diminuição do crescimento populacional? Desde 1970, a China tem se esforçado consideravelmente para alimentar seus habitantes e manter o crescimento populacional sob controle. Entre 1972 e 2005, o país reduziu a taxa bruta de natalidade à metade e diminuiu sua TFT (Taxa de Fertilidade Total – figura no final do texto) de 5,7 para 1,6 criança por mulher. Para apresentar essa drástica queda na fecundidade, a China estabeleceu o programa de controle populacional mais extenso, invasivo e estrito do mundo. Os casais são praticamente obrigados a adiar o casamento e a ter não mais de um filho. Casais que se comprometem em ter apenas um filho recebem alimentos, pensões maiores, melhores moradias, serviços médicos gratuitos, bônus salariais, mensalidades gratuitas para o filho e tratamento preferencial no emprego quando seu filho entra no mercado de trabalho. Casais que quebram esse acordo perdem todos esses benefícios. O governo também oferece aos casados pronto acesso à esterilização gratuita, con- traceptivos e aborto. Como consequência, 86% das mulheres na China utilizam con- traceptivos modernos. Nos anos de 1960, os oficiais do governo perceberam que a única alternativa para o estrito controle da população era a inanição em massa. 17 UNIDADE Ciência Ambiental e Problemas Ambientais, Causas e Sustentabilidade Na China (como na Índia), há uma grande preferência por filhos homens devido à falta de um sistema de previdência social eficiente. Um ditado popular diz: “Crie um filho e proteja-se quando estiver mais velho”. Muitas gestantes fazem ultrasso- nografia para saber o sexo do feto e fazer um aborto se for menina. Resultado: um crescente desequilíbrio de sexos na população chinesa. Prevê-se que, até 2020, haverá cerca de30 milhões a 40 milhões de homens a mais na China. A China é responsável por 20% da população mundial, mas somente 7% da água potável e do solo fértil, 4% das florestas e 2% do petróleo. A erosão do solo chinês é um problema sério e parece estar piorando. Os demógrafos esperam que a população da China atinja um pico em 2040 e depois diminua lentamente. Essa projeção levou alguns membros do parlamento chinês a exigir uma emenda à “política de filho único”, de modo que alguns casais urbanos possam ter um segundo filho. O objetivo seria prover mais trabalhadores para ajudar a manter a população idosa do país. A taxa de crescimento da economia chinesa é uma das mais altas do mundo visto que o país está passando por uma rápida industrialização. Sua classe média em expansão consumirá mais recursos por pessoa, aumentará a pegada ecológica da China e a pressão no capital natural do país e do mundo. Que lição os outros países podem aprender com o caso chinês? Eles deveriam tentar conter o crescimento populacional antes que seja necessário escolher a fome em massa e medidas coercivas que limitem a liberdade humana. Fonte: MILLER JUNIOR. Ciência Ambiental, 2012. p. 153 Porcentagem da população mundial População População (2050) (estimada) Analfabetismo (% de adultos) População com menos de 15 anos (%) Taxa de crescimento populacional (%) Taxa de fertilidade total Taxa de mortalidade infantil Expectativa de vida Porcentagem de pessoas que vivem com menos de US$ 2 por dia PIB-PPP per capita 17% 20% 1,1 bilhão 1,3 bilhão 1,44 bilhão 1,63 bilhão 47% 17% 36% 21% 1,6% 0,6% 3 �lhos por mulher (taxa que era de 5,3 em 1970) 1,7 �lhos por mulher (taxa que era de 5,7 em 1972) 64 27 62 anos 72 anos 81 47 $ 2.880 $ 4.980 Índia China Fig. 09: Panorama Global: dados demográficos básicos para a Índia e China em 2005. (Dados das Nações Unidas e do Population Reference Bureau.) 18 19 Estudo de Caso 2 A transformação ambiental de Chattanooga, Tennessee “Autoridades, empresários e cidadãos locais têm trabalhado em conjunto para transformar Chattanooga, no Tennessee, de uma cidade altamente poluída em uma das cidades mais sustentáveis e habitáveis nos Estados Unidos.” Durante os anos 1960, funcionários do governo dos Estados Unidos avaliaram essa cidade como uma das mais sujas do país. O ar estava tão poluído pela fumaça de suas indústrias que as pessoas, às vezes, tinham de ligar os faróis de seus veículos em pleno dia claro. O rio Tennessee, que corre através do centro industrial da cidade, borbulha cheio de resíduos tóxicos. Pessoas e indústrias fugiram do centro da cidade, deixando atrás de si um terreno baldio, infestado de fábricas abandonadas e poluentes, edifícios fechados com tábuas, alto nível de desemprego e criminalidade. Em 1984, a cidade decidiu levar a sério a melhoria da sua qualidade ambiental. Líderes civis iniciaram um processo que denominaram Visão 2000, com uma série de reuniões com a comunidade durante 20 semanas, as quais mais de 1.700 cidadãos de todas as esferas compareceram para chegar a um consenso sobre o que a cidade poderia ser na virada do século. Cidadãos identificaram os principais problemas da cidade, definiram metas e discutiram milhares de ideias para encontrar soluções. Em 1995, Chattanooga tinha atingido a maior parte de seus objetivos originais. A cidade incentivou as indústrias de emissão zero a se instalarem ali e substituiu seus ônibus a diesel por uma frota silenciosa de ônibus elétricos, com emissão zero, fabricados por uma nova empresa local. A cidade também lançou um inovador programa de reciclagem, depois que cidadãos ambientalmente preocupados impediram a construção de um novo incinerador de lixo que emitiria poluentes atmosféricos nocivos. Esses esforços foram recompensados. Desde 1989, os níveis dos sete principais poluentes atmosféricos em Chattanooga têm sido inferior aos exigidos pelas normas federais. Outro projeto envolveu a reforma de grande parte das moradias de baixa renda da cidade e a construção de novas unidades com o mesmo perfil para locação. Chattanooga também construiu o maior aquário de água doce do país, que se tornou a atração principal na revitalização do centro da cidade, e desenvolveu um parque ao longo das duas margens do rio Tennessee, no ponto onde ele corta a cidade, que passou a atrair mais de 1 milhão de visitantes por ano. À medida que as propriedades se valorizaram e as condições de vida melhoraram, as pessoas e empresas recuperaram o centro da cidade. Em 1993, a comunidade deu início ao processo da Revisão 2000. Dessa vez, as metas previram a transformação de uma área abandonada e arruinada do Sul de Chattanooga em uma comunidade mista de residências, lojas e indústrias com emissão zero, onde funcionários podem viver perto de seus locais de trabalho. A maioria dessas metas foi implementada. A história de sucesso ambiental de Chattanooga, protagonizada por pessoas que trabalham em conjuntopara produzir uma cidade mais habitável e sustentável, é um exemplo brilhante do que outras cidades poderiam fazer por meio da construção de seu capital social. Fonte: MILLER JUNIOR. Ecologia e Sustentabilidade, 2012. p. 26-27 19 UNIDADE Ciência Ambiental e Problemas Ambientais, Causas e Sustentabilidade As pessoas fazem a diferença! Síntese da Unidade Genebaldo Freire faz uma síntese excelente em relação ao atual modelo de desenvolvimento, que se encaixa perfeitamente na síntese da unidade que estudamos. Para Freire, o atual modelo de desenvolvimento produz exclusão social e miséria por um lado, e consumismo, opulência e desperdício por outro. Está baseado no aumento crescente da produção e, consequentemente, do consumo. Ao se aumentar o consumo, aumenta-se a pressão sobre os recursos naturais, ou seja, necessita-se de mais água, mais eletricidade, mais combustíveis, mais solos férteis. Com isso, cresce a degradação ambiental em todas as suas formas. Perde- -se, então, qualidade de vida. Dentre os inúmeros problemas ambientais gerados por essa forma de viver, destacam-se: alterações climáticas, alterações da superfície da terra, solo, assoreamento dos rios, aumento da temperatura da terra, desflorestamento, queimadas, destruição de habitat, efeito estufa, erosão da diversidade cultural, erosão da ética, escassez da água potável, exclusão social, perda da biodiversidade (genética, de hábitats, de ecossistemas), poluição (do ar, da água, do solo, sonora, visual, eletromagnética), redução da camada de ozônio, entre outras. As causas humanas dessas mudanças podem ser elencadas como as alterações na estrutura social, no aumento do consumo global, no crescimento da atividade econômica, no crescimento populacional, na educação alienante, nas mudanças tecnológicas, nas alterações nos valores humanos. Quais seriam as soluções? Um novo modelo de desenvolvimento que pro- mova a melhoria de vida das pessoas, respeitando a capacidade de sustentação dos ecossistemas. O que é preciso fazer? Nós seres humanos precisamos modificar o quadro da insustentabilidade existente no planeta. Para tanto, será necessário buscar um novo estilo de vida baseado na ética global, resgatando e criando novos valores, e repensar nossos hábitos de consumo. É preciso viabilizar o desenvolvimento de sociedades sustentáveis. O que você pode fazer? Quando cada um de nós internalizar a necessidade dessas mudanças e fizer a sua parte, poderemos alcançar as mudanças de percepção em nossas relações com o ambiente e com nós mesmos, agindo, assim, em prol da sustentabilidade. “Seja você a mudança que espera ver no mundo.” (Gandhi) 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Pegada Ecológica https://goo.gl/yI4J8w Livros Recursos Naturais e Biodiversidade BARBOSA, Rildo Pereira; VIANA, Viviane Japiassú. Recursos Naturais e Biodiversida- de: Preservação e Conservação dos Ecossistemas. Érica, Acesso em: 06/2014. [e-book]. Ecopercepção DIAS, Genebaldo Freire. Ecopercepção: um resultado didático dos desafios socioam- bientais. São Paulo: Gaia, 2004. Leitura O Que é Desenvolvimento Sustentável? https://goo.gl/dtvrb3 21 UNIDADE Ciência Ambiental e Problemas Ambientais, Causas e Sustentabilidade Referências BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002. DIAS, G. F. Ecopercepção: um resultado didático dos desafios socioambientais. São Paulo: Gaia, 2004. MILLER JUNIOR, G. T., SPOOLMAN, S. E. Ecologia e sustentabilidade. Tradução da 6ª edição norte-americana. Cengage Learning Editores, 09/2012. MILLER JUNIOR, G.T. Ciência Ambiental. São Paulo. Cengage Learning, 2012. 22
Compartilhar