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Palmas- TO Novembro de 2022 MARIA JULIA QUEIROZ O objetivo desse capitulo é, desvendar os precedentes históricos que permitiram que fosse deflagrado o processo de internacionalização e universalização dos direitos humanos. a) Primeiros precedentes- o Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho: Defende este estudo a historicidade dos direitos humanos, na medida em que estes não são um dado, mas um construído, uma invenção humana, em constante processo de construção e reconstrução. Norberto Bobbio- os direitos humanos nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos particulares (quando cada Constituição incorpora Declaração de Direitos) para finalmente encontrar a plena realização como direitos positivos universais. Quais os precedentes históricos da moderna sistemática da proteção internacional desses direitos? - O Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho situam-se como os primeiros marcos do processo de internacionalização dos direitos humanos. Este cap. Pretende revelar que essas noções contemporâneas encontram seu precedente histórico no desenvolvimento do Direito Humanitário, da Liga das Nações e da Organização Internacional do Trabalho. Thomas Buergenthal: o Direito Humanitário constitui o componente de direitos humanos da lei da guerra. O Direito humanitário foi a primeira expressão de que, no plano internacional, há limites á liberdade e á autonomia dos Estados, ainda que na hipótese de conflito armado. A Liga das Nações, de 1920, continha previsões genéricas relativas aos direitos humanos. A Convenção da Liga estabelecia sanções econômicas e militares a serem impostas pela comunidade internacional contra os Estados que violassem suas obrigações. A Organização do Trabalho também contribuiu para o processo de internacionalização dos direitos humanos - Tinha por finalidade promover padrões internacionais de trabalho e bem-estar. O advento da Organização Internacional do Trabalho, Liga da Nações e do Direito Humanitário registra o fim de uma época em que o Direito Internacional era confinado a regular relações entre Estados, no âmbito estritamente governamental. Essas obrigações internacionais, voltavam-se á selvaguarda dos direitos Palmas- TO Novembro de 2022 do ser humano e não das prerrogativas dos Estados. Tais institutos rompem, assim, com o conceito tradicional que situava o Direito Internacional apenas como a lei da comunidade internacional dos Estados e que sustentava a ser o Estado o único sujeito de Direito Internacional. Rompem ainda com a noção de soberania absoluta, na medida em que admitem intervenções no plano nacional, em prol da proteção dos direitos humanos. Prenuncia-se o fim da era em que a forma pela qual o Estado tratava seus nacionais era concebida como um problema de jurisdição doméstica, restrito ao domínio reservado do Estado, decorrência de sua soberania, autonomia e liberdade. b) A internacionalização dos direitos humanos- o pós-guerra: Thomas Buergenthal:” O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno do pós-guerra. Seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos na era Hitler e à crença de que parte destas violações poderiam ser prevenidas se um efetivo sistema de proteção internacional de direitos humanos existisse”. Apresentando o Estado como o grande violador de direitos humanos. A era Hitler foi marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana, o que resultou no extermínio de onze milhões de pessoas. A barbárie do totalitarismo significou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, por meio da negação do valor da pessoa humana como valor fonte do direito. A Segunda Guerra significou a ruptura com os direitos humanos, o pós guerra deveria significar a sua reconstrução. A violação dos direitos humanos não pode ser concebida como questão doméstica do Estado, e sim como problema de relevância internacional, como legitima preocupação da comunidade internacional. O processo de internacionalização dos direitos humanos, pressupõe a delimitação da soberania estatal- passa, assim, a ser resposta na busca de reconstrução de um novo paradigma, diante do repudio internacional ás atrocidades cometidas no holocausto. Com a ascensão e a decadência do Nazismo na Alemanha- que a doutrina da soberania estatal foi dramaticamente alterada. - A doutrina em defesa de uma soberania ilimitada passou a ser crescentemente atacada. Durante o sec xx, em especial em face das consequências da revelação dos horrores e das atrocidades cometidas pelos nazistas contra os judeus durante a Segunda Guerra, o que fez com que muitos doutrinadores concluíssem que a soberania estatal não é um principio absoluto, mas deve estar sujeita a certas limitações em prol dos direitos humanos. - Não mais poder-se-ia afirmar, no fim do sec XX, que o Estado pode tratar de seus cidadãos da forma que quiser, não sofrendo qualquer responsabilização na área internacional. Palmas- TO Novembro de 2022 Acordo de Londres de 1945, ficava convocado um Tribunal Militar Internacional para julgar os criminosos de guerra. O Tribunal de Nuremberg teve sua composição e seus procedimentos básicos fixados pelo Acordo de Londres, são crimes sob a jurisdição do Tribunal que demandam responsabilidade individual: a)crimes contra a paz (planejar, preparar, incitar ou contribuir para a guerra de agressão ou para a guerra, em violação aos tratados e acordos internacionais, ou participar de plano comum ou conspiração para a realização das referidas ações. b) crimes de guerra. C) ato desumano cometido contra a população civil, antes ou durante a guerra, ou perseguições baseadas em critérios raciais, políticos e religiosos. Corte Internacional de Justiça- deve aplicar: 1) As convocações internacionais, gerais ou particulares, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados-partes. 2) O costume internacional, como evidencias de uma pratica geral aceita como norma. 3) Os princípios gerais de direito reconhecidos pelas nações civilizadas 4) Em conformidade com o art 59 ( que prevê que as decisões da Corte não apresentam força vinculante, exceto entre as partes do caso). O costume Internacional tem eficácia erga omnes, aplicando- se a todos os Estados, diversamente dos tratados internacionais, que só se aplicam aos Estados que o tenham ratificado. TRIBUNAL DE NUREMBERG: o direito de guerra deve ser encontrado não apenas nos Tratados, mas nos costumes e nas práticas dos Estados, que gradualmente obtém reconhecimento universal e ainda nos princípios gerais de justiça aplicados por juristas e pelas Cortes Militares. - “ “: para o processo de internacionalização dos direitos humanos é duplo: não apenas consolida a ideia da necessária limitação de soberania nacional como reconhece que os indivíduos tem direitos protegidos pelo Direito Internacional. c) A Carta das Nações Unidas de 1945: O Direito Internacional pode ser classificado como o Direito anterior à o O Tribunal foi investido do poder de processar e punir as pessoas responsáveis pela pratica de crimes contra a paz. o Hans Kelsen: “Se indivíduos são diretamente obrigados pelo Direito Internacional, tais obrigações não invocam sanções especificas do Direito Internacional (represália ou guerra) ao comportamento dos indivíduos. o O Direito Internacional pode deixar a determinação e a execução dessas sanções a critérios da ordem jurídica nacional, como no caso dodelito internacional de pirataria Palmas- TO Novembro de 2022 Segunda Guerra Mundial e o Direito posterior a ela Em 1945, a vitória dos Aliados introduziu uma nova ordem com importantes transformações no Direito Internacional, simbolizadas pela Carta das Nações Unidas e pelas suas Organizações. NA ANÁLISE DO SECRETARIO GERAL DA ONU: “ não há desenvolvimento sem segurança: segurança sem desenvolvimento e tampouco segurança ou desenvolvimento sem o respeito pelos direitos humanos”. A coexistência pacifica entre os Estados, combinada com a busca de inéditas formas de cooperação econômicas e social de promoção universal dos direitos humanos, caracterizam a nova configuração da agenda da comunidade internacional. A Carta das Nações Unidas de 1945 consolida, assim. O movimento de internacionalização dos direitos humanos, a relação de um Estado com sues nacionais passa a ser uma problemática internacional. O conselho econômico e social, cabe fazer recomendações com o proposito de promover o respeito e a observância dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, bem como preparar projetos de Convençoes internacionais para esse fim, nos termos do art 62 da Carta da ONU. Thomas Buergenthal: a Carta das Nações Unidas “internacionalizou os direitos humanos, os Estados partes reconhecem que os ‘direitos humanos’, a que ela faz menção, são objeto de legitima preocupação internacional e, nesta medida, não mais de sua exclusividade jurisdição doméstica”1948. 3 PROPÓSITOS CENTRAIS DA ONU- manter paz e segurança internacional; fomentar a cooperação internacional nos campos social e econômico; e promover os direitos humanos no âmbito universal. Competência do Conselho dos Direitos Humanos (DH): a. Promover a educação e o ensino em DH, bem como assistência técnica e programas de capacitação b. Servir como fórum de dialogo sobre temas de DH. c. Submeter recomendações á Assembleia Geral para o desenvolvimento do Direito Internacional dos DH. d. Promover plena implementação das obrigações do DH. - O mandado dos membros do Conselho é de 3 anos. d) A Declaração Universal dos DH em 1948: Confere a ela o significado de um código e plataforma comum de ação. René Cassin:” seja-me permitido, antes de concluir, resumir as características da Declaração, elaborada a partir de nossos debates no período de 1947 a 1948. Os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter- relacionados. Palmas- TO Novembro de 2022 Essa declaração classifica-se, primeiramente, por sua amplitude. Segundo, pela universalidade- o individuo é membro direto da sociedade humana. Austregésilio de Athade: “a sua força vem precisamente da diversidade de pensamento, de cultura e de concepção de vida de cada representante. Unidos, formamos a grande comunidade do mundo e é exatamente dessa união que decorre a nossa autoridade moral e política”. Objetiva delinear uma ordem publica mundial fundada no respeito a dignidade da pessoa humana, ao consagrar valores básicos universais. Ruptura com o legado Nazista, que condicionava a titularidade de direitos á pertinência á determinada raça ( a raça pura ariana). Estabelece duas categorias de direitos: os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais. A solução era limitar e controlar o poder do Estado, que deveria se pautar na legalidade e respeitar os direitos fundamentais. Ao conjugar o valor da liberdade com o da igualdade, a Declaraçao introduz a concepção contemporânea de direitos humanos, pela qual esses direitos passam a ser concebidos como uma unidade interdependente e indivisível. Partindo do critério metodológico que classifica os direitos humanos em gerações, compartilha-se do entendimento de que uma geração de direitos não substitui a outra, mas com ela interage. Louis Henkin: “os direitos considerados fundamentais incluem não apenas limitações que inibem a interferência dos governos nos direitos civis e políticos, mas envolvem obrigações governamentais de cunho positivo em prol da promçao do bem estar econômico e social. DH 1948- Não é um tratado, é uma resolução, que, por sua vez, não apresenta força de lei. Aqueles que defendem que a declaração teria força jurídica vinculante por integrar o direito costumeiro internacional e/ou os princípios gerais do direito, apresentando assim, força jurídica obrigatória e vinculante. a. Incorporação das previsões da Declaração atinentes aos direitos humanos pelas Constituições nacionais. b. As frequentes referências feitas por resoluções das nações unidas á obrigação legal de todos os Estados de observar a Declaração Universal. c. Decisões proferidas pelas Cortes nacionais que e referem á Declaração Universal como fonte de direito. Palmas- TO Novembro de 2022 Antonio Cassesse: um Estado que sistematicamente viola a Declaração não é merecedor de aprovação por parte da comunidade mundial. e) Universalismo e relativismo cultural: O debate entre os universalistas e os relativistas culturais retoma o velho dilema sobre o alcance das normas de direitos humanos: podem elas ter um sentido universal ou são culturalmente relativas? Para os relativistas, cada cultura possui seu próprio discurso acerca dos direitos fundamentais, que está relacionado às especificas circunstancias culturais e históricas de cada sociedade. -Há o primado do coletivismo (o indivíduo, sua liberdade e autônima, para só dps avançar na percepção dos grupos). R.J Vincent: “ é uma versão imperialista de tentar fazer com que valores de uma determinada cultura sejam gerais”. Qualquer afronta ao chamado “mínimo ético irredutível’ que comprometa a dignidade humana, ainda que em nome da cultura, importará em violação a direitos humanos. A noção universal de direitos humanos é identificada como uma noção construída pelo modelo ocidental. O universalismo induz, nessa visão, á destruição da diversidade cultural. Antonio augusto Cançado Trindade: “Compreendeu-se finalmente que a universalidade é enriquecia pela diversidade cultural, a qual jamais pode ser invocada para justificar a denegação ou violação dos direitos humanos. Jack Donnell: pode-se concluir que a Declaração de Direitos Humanos de Viena 199 acolheu a corrente do forte universalismo ou fraco relativismo cultural. Boa Ventura: em defesa de uma concepção multicultural de direitos humanos, inspirada no diálogo entre as culturas, a compor um multiculturalismo emancipatório. - Defende a necessidade de superar o debate sobre universalismo e relativismo cultural, a partir da transformação cosmopolita dos direitos humanos. Universalismo pluralista: catalogo de valores universais não etnocêntricos, por meio de um dialogo intercultural aberto, no qual os participantes decidam quais os valores a serem respeitados.
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