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8 Bacilos gram-positivos (Bacteriologia II)

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NEAD – Núcleo de Educação a Distância 
ROTAS DE APRENDIZAGEM 
Bacteriologia II | Bacilos gram-positivos | Aula 08 
Onde Chegar 
• Identificar e caracterizar os principais gêneros de bacilos gram-positivos. 
 
O que Aprender 
• Bacillus e Clostridium; 
• Lactobacillus e Listeria; 
• Streptomyces, Actonomyces e Nocardia; 
• Corynebacterium e Mycobacterium. 
AULA 
08 
Bacilos gram-positivos 
Bacteriologia II 
 
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Desenvolvimento 
Este Guia de Aprendizagem tem o objetivo de apresentar as principais características, 
patologias e diagnósticos relacionados às bactérias bacilares gram-positivas. 
 
Classificação 
Como discutido anteriormente na Rota de Aprendizagem 6, de acordo com o Bergey’s 
Manual, as bactérias gram-positivas são divididas de acordo com seu índice de G+C 
(Guanina + Citosina): 
• Firmicutes: apresentam baixo índice de G + C, incluindo bactérias comuns do solo, 
bactérias do ácido láctico e diversos patógenos humanos, sendo exemplos os gêneros 
Bacillus, Clostridium, Lactobacillus e Listeria. 
• Actinobacteria: apresentam alto índice de G + C, incluindo alguns gêneros como 
Corynebacterium e Mycobacterium, além de bactérias polimórficas e filamentosas, como 
Streptomyces, Actinomyces e Nocardia. 
 
Firmicutes formadores de esporos: 
Os bacilos gram-positivos formadores de esporos são representados pelas espécies 
Bacillus e Clostridium, bacilos onipresentes e que, em virtude de sua capacidade de 
formar esporos, podem sobreviver no meio ambiente durante muitos anos. As espécies 
Bacillus são aeróbias, enquanto as espécies de Clostridium são anaeróbias. 
• Bacillus: compreende cerca de 250 espécies. Felizmente, as espécies de interesse 
clínico são relativamente poucas. Bacillus anthracis, o microrganismo responsável pelo 
antraz, é o membro mais importante desse gênero. Esta espécie é considerada um dos 
agentes mais temidos em ações de bioterrorismo. Outra espécie clinicamente 
importante desse gênero é o Bacillus cereus, responsável por gastrenterites, infecções 
oculares traumáticas, sepse associada a cateteres e, mais raramente, pneumonia grave. 
Além disso, B. subtilis produz o antibiótico bacitracina e B. thuringiensisi é utilizada no 
controle de pragas. 
• Clostridium: é constituído por um grupo heterogêneo de bacilos anaeróbios grandes e 
formadores de esporos. Esses organismos são ubíquos em solo, água e esgotos e fazem 
parte da microbiota gastrointestinal residente no homem e nos animais. A maioria dos 
clostrídios é saprófita e inofensiva, mas alguns são patógenos humanos bem 
 
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reconhecidos e com histórico claramente documentado de causar doenças como o 
tétano (C. tetani), botulismo (C. botulinum), mionecrose ou gangrena gasosa (C. 
perfringens), diarreia e colite (C. perfringens). A maioria das infecções atualmente 
observadas é de pele, tecidos moles, intoxicação alimentar, diarreia e colite associadas 
com antibióticos. A notável capacidade de Clostridium causar doenças é atribuída (1) à 
sua habilidade de sobreviver em condições ambientais adversas, graças à formação de 
esporos; (2) ao rápido crescimento em ambiente nutricionalmente rico e sem oxigênio; 
e (3) à produção de inúmeras toxinas histolíticas, enterotoxinas e neurotoxinas. 
 
Firmicutes não formadores de esporos: 
Os bacilos gram-positivos não formadores de esporos incluem uma diversidade de 
bactérias anaeróbias facultativas ou estritas que colonizam a pele e mucosas. 
• Lactobacillus: são bacilos anaeróbios facultativos ou estritos. Eles são encontrados 
como parte da microbiota normal da cavidade oral, estômago, intestino e trato 
geniturinário. Os organismos são comumente isolados em culturas de urina e sangue. 
Uma vez que lactobacilos são os organismos mais comuns na uretra, seu isolamento em 
cultura de urina quase sempre é decorrente da contaminação do espécime, mesmo 
quando existe grande número de organismos. A razão de os lactobacilos raramente 
causarem infecções urinárias deve-se à incapacidade de crescerem na urina. Invasão da 
corrente sanguínea pode ocorrer em razão de três fatores: (1) bacteremia transitória a 
partir de sítios do trato geniturinário (p. ex., após o parto ou procedimentos 
ginecológicos); (2) endocardite; e (3) septicemia oportunista em pacientes 
imunocomprometidos. Cepas de lactobacilos são utilizadas como probióticos e têm sido 
ocasionalmente relacionadas com infecções em seres humanos, mais comuns em 
pacientes imunocomprometidos. 
• Listeria: consiste em 10 espécies, sendo reconhecidas como patógenos apenas Listeria 
monocytogenes, sendo este um patógeno humano significativo, e L. ivanovii, que é 
primariamente um patógeno animal. L. monocytogenes é um bacilo pequeno (0,4 a 0,5 × 
0,5 a 2 μm), não ramificado, gram-positivo, anaeróbio facultativo, capaz de crescer em 
uma ampla faixa de temperatura (1° a 45 °C) e em altas concentrações de sal. Esses 
pequenos bacilos aparecem isolados, em pares, ou em cadeias curtas e podem ser 
confundidos com Streptococcus pneumoniae ou Enterococcus. Isto é particularmente 
importante porque tanto S. pneumoniae como L. monocytogenes podem causar 
meningite. Os organismos são móveis à temperatura ambiente e a motilidade diminui a 
 
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37 °C; eles exibem uma mobilidade “em cambalhota” característica, quando uma gota de 
meio de cultura em caldo é examinada microscopicamente. Também exibe uma 
β-hemólise fraca quando é cultivada em placa de ágar sangue de carneiro. Estas 
características diferenciais são úteis para a identificação preliminar de Listeria. Embora 
as bactérias sejam amplamente distribuídas na natureza, doenças humanas são 
incomuns e restritas a populações bem definidas: recém-nascidos, idosos, gestantes e 
pacientes com imunidade celular comprometida. 
 
Actinobacteria 
• Streptomyces: são reconhecidas mais de 500 espécies de Streptomyces. Os filamentos 
normalmente apresentam diâmetro de 0,5 a 1,0μm, comprimento indefinido e 
geralmente são desprovidos de paredes transversais na fase vegetativa. Embora alguns 
estreptomicetos sejam aquáticos, eles são, primordialmente, organismos do solo. 
Possivelmente, a propriedade mais notável dos estreptomicetos seja a extensa produção 
de antibióticos (mais de 500 antibióticos diferentes, e suspeita-se que esse número possa 
ser ainda maior; a maioria já foi identificada quimicamente). Evidências da produção de 
antibióticos podem frequentemente ser observadas em placas de meios sólidos 
empregadas no isolamento inicial de Streptomyces: colônias adjacentes de outras 
bactérias exibem zonas de inibição. Cerca de 50% de todos os Streptomyces já isolados 
demonstraram ser produtores de antibióticos. 
• Actinomyces: bacilos gram-positivos anaeróbios facultativos ou estritos. Não 
apresentam acidorresistência (ao contrário das espécies de Nocardia, morfologicamente 
semelhantes), crescem lentamente em cultura e tendem a produzir processos infecciosos 
crônicos de desenvolvimento lento. Em espécimes clínicos ou quando isolados em 
cultura, tipicamente desenvolvem formas filamentosas delicadas ou hifas (lembrando 
fungos). Entretanto, esses organismos são bactérias verdadeiras, uma vez que não 
possuem mitocôndria nem membrana nuclear, replicam-se por fissão binária e são 
inibidos pela penicilina, mas resistentes aos antifúngicos. Têm sido descritas numerosas 
espécies, mas Actinomyces israelli, A. naeslundii, A. radingae e A. turicensis são 
responsáveis pela maioria das infecções em seres humanos. 
• Nocardia: são bacilos aeróbios estritos que formam filamentos ramificados em tecidos 
e em culturas.Esses filamentos lembram as hifas formadas pelos bolores, e, por um 
período, pensou-se que Nocardia era um fungo; no entanto, esses organismos 
apresentam parede celular gram-positiva e outras estruturas celulares que são 
 
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características de bactérias. Muitos dos isolados são fracamente corados com coloração 
de Gram e parecem ser gram-negativos, com grânulos intracelulares gram-positivos. A 
explicação para essa propriedade morfotintorial é que as nocárdias possuem uma parede 
celular com estrutura semelhante àquela das micobactérias, contendo ácidos graxos de 
cadeia ramificada. O comprimento dos ácidos micólicos em nocárdia (de 50 a 62 átomos 
de carbono) é menor do que o das micobactérias (de 70 a 90 átomos de carbono). Essa 
diferença pode explicar por que embora ambos os gêneros sejam álcool-
acidorresistentes, Nocardia é descrito como “fracamente álcool-acidorresistente”; ou 
seja, uma solução descolorizante fraca de ácido hidroclórico deve ser utilizada para 
demonstrar a capacidade de álcool-acidorresistência das nocárdias. Essa 
álcoolacidorresistência é também uma característica útil para se distinguir Nocardia de 
outros organismos morfologicamente similares, como Actinomyces. O fator corda é um 
importante fator de virulência que facilita a sobrevivência intracelular. 
• Corynebacterium: um amplo e heterogêneo grupo de microrganismos, formado por 
mais de 100 espécies e subespécies que possuem parede celular contendo arabinose, 
galactose, ácido meso-diaminopimélico (meso-DAP) e (na maioria das espécies) ácidos 
micólicos de cadeia curta (22 a 36 átomos de carbono). Embora organismos que possuem 
ácidos micólicos de cadeias média e longa sejam corados por coloração álcool 
acidorresistente, os organismos pertencentes ao gênero Corynebacterium não são 
acidorresistentes. Na coloração de Gram, são observados bacilos gram-positivos 
irregulares (claviformes) agregados ou em cadeias curta. As corinebactérias são aeróbias 
ou anaeróbias facultativas, imóveis e catalase-positivas. A maioria das espécies (mas não 
todas) produz ácido lático como subproduto da fermentação de carboidratos. Muitas 
espécies crescem bem em meios de cultura comumente utilizados nos laboratórios. No 
entanto, algumas espécies necessitam de suplementação dos meios com lipídios (cepas 
lipofílicas) para que ocorra um bom crescimento. 
• Mycobacterium: consiste em bacilos aeróbios, imóveis, não formadores de esporos, 
que medem de 0,2 a 0,6 μm × 1 a 10μm. Os bacilos, ocasionalmente, formam filamentos 
ramificados que podem ser interrompidos. A parede celular é rica em lipídios, o que torna 
a superfície hidrofóbica e a micobactéria resistente a vários desinfetantes e colorações 
comuns de laboratório. Uma vez corados, os bacilos não podem ser descorados com 
soluções ácidas; por isso são chamados de bactérias acidorresistentes. Pelo fato de a 
parede celular das micobactérias ser complexa e este grupo de microrganismo ser 
exigente, muitas micobactérias crescem lentamente, dividindo-se a cada 12-24 horas e 
requerendo um período de oito semanas para que o crescimento seja detectado em 
 
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culturas de laboratório. São uma causa significativa de morbidade e mortalidade, 
principalmente em países com recursos médicos limitados. Atualmente, mais de 150 
espécies de micobactérias já foram descritas, muitas das quais associadas a doenças 
humanas. Apesar da abundância de espécies de micobactérias, apenas as seguintes 
espécies e grupos causam a maioria das infecções humanas: M. tuberculosis, M. leprae, 
complexo M. avium, M. kansasii, M. fortuitum, M. chelonae e M. abscessus. 
 
Comparação entre os bacilos gram-positivos 
 
FONTE: Anvisa (Manual de Microbiologia Clínica para o Controle de Infecção em Serviços de Saúde) 
 
Vá mais Longe 
Capítulo Norteador: Capítulos 28, 29, 30, 51, 52, 56 e 57. TRABULSI, Luiz Rachid; 
ALTERTHUM, Flávio (ed.). Microbiologia. 6. ed. São Paulo: Atheneu, 2015. 919 p. 
Biblioteca Virtual. 
 
Agora é sua Vez! 
Interação 
• AZEVEDO, Ana Paula Chein Bueno de; COHEN, Simone Cynamon; CARDOSO, Telma 
Abdalla de Oliveira. Bioterrorismo: capacitar para responder. Saúde Debate, Rio de 
Janeiro, v. 43, n. Especial 3, p. 181-189, dez. 2019. Disponível em: 
https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2019.v43nspe3/181-189/pt Acesso em: 10 dez. 
2021. 
https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2019.v43nspe3/181-189/pt
 
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• MAGALHÃES, Raissa Delais Parente. Principais agentes bacterianos com potencial de 
uso no bioterrorismo. 2019. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em 
Biomedicina) – Centro Universitário de Brasília, Brasília. 2019. Disponível em: 
https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/prefix/13657/1/21602561.pdf Acesso 
em: 10 dez. 2021. 
• SILVA, Claudio Henrique Ladeira da; ALVES, Alexandre Rabello Costa. Zoonoses e 
bioterrorismo: principais patógenos zoonóticos com potencial para o uso como armas 
biológicas. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências Militares) –
Escola de Formação Complementar do Exército, 2020. Disponível em: 
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7989/1/CAM_QCO_2020_Cap%20Cl
audio%20Henrique.pdf Acesso em: 10 dez. 2021. 
Bacilos gram-positivos formadores de esporos, como dos gêneros Bacillus e Clostridium, 
estão entre os microrganismos mais propensos a serem utilizados como armas 
biológicas. Logo, é preciso capacitar profissionais de saúde para que haja uma 
identificação ágil dos possíveis casos, bem como rápido diagnóstico e tratamento 
adequado. Dessa forma, com base nos materiais acima, e em demais fontes, escolha uma 
das espécies com esse potencial de bioterrorismo (bacilos gram-positivos ou demais 
microrganismos) e faça uma reflexão no Fórum da Disciplina descrevendo o porquê de 
sua utilização para guerras biológicas, bem como formas de prevenção, identificação, 
tratamento, assim como outros tópicos e informações relevantes que devem ser de 
conhecimento dos profissionais de saúde para esse combate. 
 
Questão para Simulado 
1 – Qual dos seguintes bacilos aeróbios gram-positivos é corado com melhor qualidade 
pelo método de Ziehl-Neelsen? 
a) Lactobacillus acidophilus 
b) Bacillus anthracis 
c) Listeria monocytogens 
d) Actinomyces israelli 
e) Mycobacterium tuberculosis 
 
Resposta: Letra C 
 
https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/prefix/13657/1/21602561.pdf
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7989/1/CAM_QCO_2020_Cap%20Claudio%20Henrique.pdf
https://bdex.eb.mil.br/jspui/bitstream/123456789/7989/1/CAM_QCO_2020_Cap%20Claudio%20Henrique.pdf
 
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Comentário: Dentre as bactérias listadas, Mycobacterium tuberculosis é a única 
considerada acidorresistente, devido à sua estrutura diferenciada de parede celular, não 
sendo adequadamente corada por Gram, e sim pelo método de Ziehl-Neelsen. 
"Organize-se: 4 horas semanais – mínimo sugerido para autoestudo" 
REFERÊNCIAS 
KUMAR, Surinder. Textbook of microbiology. New Delhi: Jaypee Brothers Medical 
Publishers, 2012. 804 p. Biblioteca Virtual. (Capítulos 28, 29, 30, 32, 33, 35). 
MADIGAN, Michael T.; MARTINKO, Jhon M.; PARKER, Jack. Microbiologia de Brock. 10. 
ed. São Paulo: Prentice Hall, 2008. 960 p. Biblioteca Virtual. (Capítulo 12). 
SASTRY, Apurba S.; BHAT, Sandhya. Essentials of Medical Microbiology. 2nd ed. New 
Delhi: Jaypee Brothers Medical Publishers, 2019. 714 p. Biblioteca Virtual. (Capítulos 24, 
25, 26, 27 e 28).

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