Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A DISSOLUÇÃO TOTAL DE PLENO DIREITO DA SOCIEDADE LIMITADA: HIPÓTESES E CONTROVÉRSIAS Débora Lessa S. Alcaraz RESUMO As sociedades limitadas são espécies de sociedades de pessoas, ou contratuais. A vontade de se associar a outras pessoas para a consecução de um determinado fim comum, de forma organizada e com o intuito de lucro é o que dá início a essa modalidade de negócio jurídico. A sociedade adquire, assim, personalidade jurídica própria, a qual apenas se extinguirá com a sua dissolução, que pode ser total ou parcial, de pleno direito ou judicial. O presente trabalho visa elucidar pontos controvertidos acerca da dissolução total de pleno direito das sociedades do tipo limitada, regidas pelas normas do Código Civil, conceituando o instituto, suas hipóteses e trazendo à baila a construção jurisprudencial acerca do tema e seus principais conflitos. Palavras-chave: dissolução total; dissolução de pleno direito; extinção de sociedade limitada 1. INTRODUÇÃO A dissolução total difere da dissolução parcial na medida em que a primeira extingue a sociedade, enquanto esta outra resolve a sociedade apenas em relação a um sócio, de modo que a sociedade continuará a existir, embora com composição do quadro societário diverso e, no mais das vezes, com alterações em seu acervo social. É da primeira hipótese de dissolução, a total, que trata o presente trabalho. Para maior aprofundamento na temática, o corte epistemológico será as hipóteses de dissolução de pleno direito, ou seja, aquelas que independem de pronunciamento judicial para a sua configuração. Para tanto, este artigo se debruçará sobre as disposições do art. 1.033 e seguintes do Código Civil, mediante a abordagem doutrinária e jurisprudencial na aplicação prática do tema. 2. Conceituação de Dissolução 2 A dissolução total está para a pessoa jurídica assim como a morte está para a pessoa natural. Como conceitua Alfredo de Assis Gonçalves Neto: É um acontecimento que a lei reputa determinante da extinção da sociedade. Mas, para que a sociedade seja extinta, desapareça do mundo jurídico, é preciso, normalmente, que ela entre em liquidação – fase ou período em que são concluídos os negócios pendentes, convertidos em dinheiro os bens que compõe o patrimônio social, pagas as dívidas e divididas as sobras entre sócios ou acionistas”1. Ensina o mesmo autor que a dissolução pode ser compreendida em seu sentido estrito ou amplo, sendo que o diploma civilista “separa, nitidamente, a dissolução (momento) da liquidação (processo) e da extinção (término da existência da sociedade)”2. A dissolução em sentido amplo abarca, portanto, três fases distintas: a) a dissolução em sentido estrito, que tem por objetivo o rompimento da relação jurídica entre os sócios; b) a liquidação, que visa a apuração do ativo, pagamento do passivo e partilha do saldo remanescente entre os sócios; c) a extinção, que contempla a prestação final de contas e o arquivamento do ato no registro competente. A dissolução em sentido estrito é aquela que coloca a sociedade em “situação jurídica típica de liquidação”, destinada a extingui-la. Equivale, portanto, “à causa, ou, como já se sustentou, ao ‘motivo jurídico’ que (...) leva à extinção da sociedade”3. A doutrina tem classificado as causas de dissolução em duas espécies, sendo que a primeira delas reúne as causas que se dão de pleno direito, pela implementação de determinada condição ou por vontade social manifestada em deliberação de sócios e que se operam pelo mero registro do ato no órgão competente, independentemente de pronunciamento judicial. A segunda espécie reúne as causas que dependem de pronunciamento judicial de natureza constitutiva para serem reconhecidas, chamadas de causas de dissolução judicial, ou contenciosa. É das primeiras que o presente trabalho tratará. 3. Disciplina Tratando das sociedades limitadas regidas pelo Código Civil (não pela Lei das Sociedades Anônimas), sua disciplina encontra-se no Capítulo IV do Livro II do Código Civil. Na seção VIII, dispõe o diploma civilista em seu artigo 1.087: 1 NETO, Alfredo de Assis Gonçalves, Direito de Empresa: Comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil p. 326 2 NETO, Alfredo de Assis Gonçalves, Op. cit. p. 326 3 Dissolução e liquidação de sociedades, n. 21, p. 62 3 Art. 1.087. A sociedade dissolve-se, de pleno direito, por qualquer das causas previstas no art. 1.044. Por sua vez, o art. 1.0444 remete o intérprete ao art. 1.033 do Código Civil, inserido no Capítulo I, concernente às Sociedades Simples. A remissão reflete a regra geral de regência estatuída pelo art. 1.053, o qual dispõe que: Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples. Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima. É na disciplina dos artigos 1.033, 1.034, 1.035 e 1.044 que estão previstas as principais causas de dissolução das sociedades limitadas. Trataremos aqui das elencadas no art. 1.033 e 1.035 do Código Civil, bem como da falência, prevista no art. 1.044. 4. Classificação doutrinária Como dito, a doutrina classifica as hipóteses de dissolução em duas espécies: dissolução judicial ou “contenciosa”, tratando daquela que se opera apenas mediante pronunciamento judicial; e dissolução extrajudicial ou “de pleno direito”, que se opera por ato da própria sociedade e de seus sócios, atendidas certas condições e em determinadas hipóteses. Segundo ensinamento de Alfredo de Assis Gonçalves Neto: (...) a dissolução judicial requer processo de conhecimento para verificá-la e seus efeitos produzem-se ex nunc, ou seja, a partir da data em que transitar em julgado a sentença que a determinar. (...) Entendendo-se por dissolução de pleno direito a que se opera instantaneamente, pela simples ocorrência de um fato reputado pela lei como suficiente para caracterizá-la (...) Vale lembrar, de outro lado, que mesmo nas hipóteses de dissolução de pleno direito previstas no diploma legal, caso a dissolução seja contestada por qualquer sócio, a questão pode ser levada à apreciação do Judiciário, por corolário do princípio constitucional da inafastabilidade de jurisdição. 4 Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência. 4 Neste caso, a natureza da decisão será declaratória, pois reconhece a implementação de uma situação jurídica que conduziu à dissolução da sociedade no momento de sua ocorrência e seus efeitos retroagirão à data da implementação desta condição. Por tal razão, os efeitos da decisão serão ex tunc, como tem se reconhecido doutrinariamente e no âmbito de nossos Tribunais. A título de exemplo, o STJ já decidiu no REsp 646.221 PR que quando do exercício do direito potestativo de retirada da sociedade, causa de dissolução parcial de pleno direito, a natureza jurídica da decisão é declaratória. Confira-se o acórdão a seguir ementado: "Direito societário. Recurso especial. Dissolução parcial de sociedade limitada por tempo indeterminado. Retirada do sócio. Apuração de haveres. Momento. - A data- base para apuração dos haveres coincide com o momento em que o sócio manifestar vontade de se retirar da sociedade limitada estabelecida por tempo indeterminado. - Quando o sócio exerce o direito de retirada de sociedade limitada por tempo indeterminado, a sentença apenas declara a dissolução parcial, gerando, portanto, efeitos ex tunc. Recurso especial conhecido e provido." (REsp nº 646.221/PR. Rel. Min. Nancy Andrighi. J. 19.04.2005). A grande maioria das lides levadas aos Tribunais tratam dos efeitos da dissolução parcial, seja de pleno direito ou judicial, haja vista que nos casos de dissolução total omomento em que se opera não implicará em conflitos entre sócios na apuração de haveres, pois a sociedade já se encontra, nesses casos, em situação de liquidação e a apuração dos haveres terá a uniformidade de data-base para todos. No entanto, o que importa ressaltar é que operando-se qualquer das causas de dissolução de pleno direito, ainda que sejam contestadas por qualquer sócio, a data da dissolução e seus efeitos retroagirão ao ato que dá origem à causa da dissolução. 5. Causas de dissolução extrajudicial ou de pleno direito As causas de dissolução extrajudicial, ou de pleno direito, estão inseridas no art. 1.033 do Código Civil, que assim dispõe: Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: I – o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; II – o consenso unânime dos sócios; III – a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; IV – (Revogado pela Lei nº 14.195, de 2021) V – a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar. 5 Há ainda outras hipóteses de dissolução parcial que podem ser inseridas pela vontade dos sócios no bojo do contrato social, como preconiza o art. 1.035 do Código Civil, abordado mais adiante. Passa-se, então, a discorrer sobre cada uma das hipóteses do art. 1.033 do Código Civil. 5.1. Término do Prazo de Duração (art. 1.033, I) As sociedades podem ser firmadas com prazo de duração indeterminado, determinado ou determinável5. A hipótese prevista no inciso I do art. 1.033 retrata a situação da sociedade cujo prazo de duração estipulado em seu contrato social escoou. Trata-se, assim, de causa de dissolução de pleno direito, ou seja, opera-se meramente pelo registro competente, após a sua liquidação. A questão que releva atualmente é a hipótese de nenhum dos sócios promover a liquidação e extinção da sociedade. Ocorre que, findo o prazo previsto no contrato social, caso nenhum dos sócios manifeste o interesse e promova a dissolução da sociedade, esta continuará existindo para todos os fins. Na vigência do diploma legal anterior, as sociedades com prazo determinado que continuassem operando após seu termo final seriam consideradas irregulares, com sua sujeição ao regime das sociedades em comum, com suas nefastas consequências6. Alinhando-se à atual regra legal, a MP 1.040/2021, convertida em Lei nº 14.195, de 2021, revogou o art. 35, IV da Lei 8.934/94 que dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências. Dispunha-se que não poderia ser arquivada “a prorrogação do contrato social, depois de findo o prazo nele fixado”. A celeuma encontra-se atualmente superada, pois se a sociedade não entrar em liquidação, seu prazo de duração será prorrogado automaticamente por tempo indeterminado ou por outro prazo previsto em seu contrato social, como dita o art. 1033, I, em sua parte final7. 5 NETO, Alfredo de Assis Gonçalves, Op. cit. p. 329 6 NETO, Alfredo de Assis Gonçalves, Op. cit. p. 329 7 Assim também determina a Instrução Normativa 81/2020 do DREI, que dita “4.9. PRORROGAÇÃO DO PRAZO DA SOCIEDADE/DISSOLUÇÃO. No vencimento do prazo determinado de duração, a sociedade se dissolve salvo se, vencido este prazo e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado (inciso I do art. 1.033 do Código Civil). 6 Exsurge ainda a pergunta, com relação aos negócios jurídicos celebrados por sociedade cujo prazo se extinguiu, qual a sua existência e validade? Neste sentido, interessante o voto do Corregedor-Geral do Foro Extrajudicial Roberto Lucas Pacheco na suscitação de dúvida pelo Interventor do Registro de Imóveis da comarca de Itapema, a pedido da Associação dos Moradores do Edifício Residencial Alphaville8, em virtude da discordância da interessada em relação à sua negativa de registro de contrato particular de cessão de direitos de promessa de compra e venda relativa a garagens de um edifício residencial. Trata-se de hipótese em que o prazo de duração da Associação se dava por prazo determinado, até a fundação do condomínio do mesmo edifício. Celebrado o negócio pela Associação após o término de seu prazo e após a constituição do condomínio, o negócio foi levado a registro em cartório, sendo recusado pelo registrador, levando à suscitação de dúvida em questão. Votou o relator no sentido de aplicar à Associação as disposições do art. 1.033, I do Código Civil: Todavia, é cediço que a extinção de uma associação não ocorre de forma automática, sendo necessários alguns atos para que ela ocorra, notadamente o cancelamento de sua inscrição no registro civil de pessoas jurídicas, momento em que deixa de existir legalmente para todos os fins. Com efeito, as associações civis são pessoas jurídicas de direito privado (Código Civil, art. 44, I) e, portanto, deve-se considerar o disposto no art. 51 do Código Civil em relação à sua extinção: Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua. § 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução. § 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado. § 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica. Ainda, tem-se que, para a associação, deve-se utilizar as mesmas regras previstas para a dissolução de sociedade. Nesse sentido, extrai-se do art. 1.033, I, do Código Civil: Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; Verifica-se que, no caso em comento, o estatuto de fundação da associação estipulou tempo determinado de duração, que teria se esgotado com a instituição do condomínio. Entretanto, nesses casos, estabelece o Código Civil, em seu art. 1.033, I - utilizado por analogia - que, vencido o prazo de duração, não entrando a associação em liquidação e não havendo oposição de sócio, o prazo de duração passa a ser por tempo indeterminado. 8 Conforme art. 198 e seguintes da Lei n. 6.015/73 7 Dessarte, tem-se que não ocorreu a dissolução, liquidação e consequente cancelamento da inscrição da associação no registro de pessoas jurídicas, não havendo falar em sua extinção. (g.n.) Nota-se, assim, que para todos os efeitos a personalidade jurídica da associação foi preservada para além de seu prazo de duração. Da mesma forma no âmbito das limitadas, os sócios que pretendam se servir da dissolução da sociedade pela modalidade do art. 1.033, I, devem providenciar sua liquidação e o arquivamento do respectivo ato, sob pena de ter a prorrogação do prazo de duração da sociedade e não poder dissolvê-la sob esse fundamento posteriormente, caso continue operando. A problemática que tem sido levada aos Tribunais reside na possibilidade de manutenção da sociedade por apenas parte de seus sócios e se estes podem, aproveitando-se do término do prazo de duração originalmente entabulado, determinar a exclusão de outro sócio. A jurisprudência tem considerado possível a manutenção da sociedade por apenas um, ou parte de seus sócios, em prestígio ao princípio da preservação da empresa, porém desde que se opere a dissolução em relação aos sócios retirantes por alguma das outras causas de dissolução parcial previstas em lei. Ou seja, o término do prazo de duração não é pretexto para a exclusão de sócio se a atividade social se mantiver. Esse foi o entendimento do TJ-MG aplicando tal preceito: EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL -JULGAMENTO CONJUNTO COM O PROCESSO Nº 0024.11.342500-3 - AÇÃO DE LIQUIDAÇÃO DE SOCIEDADE IRREGULAR E AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE CONTRATUAL EMPRESARIAL - ILEGITIMIDADE DE UMA DAS PARTES - RECONHECIMENTO - PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE DURAÇÃO INICIAL DO CONTRATO SOCIETÁRIO - CONSTATAÇÃO DE SUA OCORRÊNCIA - EXCLUSÃO ABUSIVA DE SÓCIO - DEMONSTRAÇÃO - DANOS MORAIS - CONFIGURAÇÃO - QUANTUM - RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE - HONORÁRIOS PERICIAIS - COISA JULGADA - INEXISTÊNCIA. Não tendo os sócios da empresa autora celebrado em nome próprio o contrato de parceria que deu origem à empresa cuja liquidação é pretendida, não têm eles legitimidade para figurar no polo ativo/passivo da demanda. Restando devidamente comprovado nos autos que a empresa constituída pelas partes funcionou por prazo superior a 12 meses, prazo de duração inicial estipulado no contrato, de rigor o reconhecimento de que houve prorrogação do mesmo prazo, por mais 12 meses, como também consta do mesmo contrato. Ninguém é obrigado a permanecer associado, porém, pretendendo a parte encerrar a sociedade, deve ela respeitar os termos do contrato firmado. Ficando demonstrado nos autos que o réu, em razão de sua exclusão da sociedade, perdeu oportunidades de negócios, deve a autora indenizá-lo por tais perdas. Os transtornos e constrangimentos causados ao réu em razão de sua exclusão da sociedade, sem qualquer aviso prévio ou observância ao previsto no contrato celebrado entre as partes, ensejam dano moral passível de reparação. (TJ-MG - AC: 10024112603709002 MG, Relator: José de Carvalho Barbosa, Data de Julgamento: 21/05/2020, Data de Publicação: 29/05/2020). 8 De outro lado, nos parece possível a retirada apenas do sócio que se opõe à continuação da sociedade, desde que se proceda à liquidação de sua quota e dissolução parcial, sem a extinção da pessoa jurídica. Corrobora tal entendimento Alfredo de Assis Gonçalves Neto, que pondera: Capitulada a hipótese de dissolução, ainda assim (...) parece-me possível dar-se sua dissolução parcial, para permitir que o sócio, que se opõe à continuação da sociedade, receba seus haveres, como se dissolução e liquidação houvesse, prosseguindo a sociedade com os demais sócios9. 5.2. Deliberação dos sócios A sociedade também será extinta de pleno direito por deliberação dos sócios10. Dispõe o art. 1.033: Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: II – o consenso unânime dos sócios; III – a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; A leitura de ambos os incisos pode levar à conclusão de que há antinomia entre eles, porém enquanto o inciso III trata das sociedades de prazo indeterminado, o inciso II trata das sociedades de prazo determinado. Não obstante, o quórum de deliberação tem disciplina própria nas sociedades limitadas e nesse sentido, é de grande valia a lição de Gonçalves Neto a tal respeito: “A vontade da sociedade, manifestada pela somatória da vontade dos sócios é, também, causa de dissolução. Essa vontade pode ser formada por sócios que perfaçam a maioria, segundo o critério do art. 1.010, ou por consenso unânime. Aparentemente parece haver uma incongruência nessas alternativas, já que, se é possível uma deliberação por maioria, a outra fica por ela absorvida. Não é assim, porém. A dissolução por mútuo consentimento dos sócios é previsão que tem sua aplicação voltada, exclusivamente, para a sociedade com prazo determinado de duração (CC, art. 1033, II); a deliberação por maioria absoluta é causa de dissolução da sociedade ajustada por prazo indeterminado (inciso III)11.” 9 NETO, Alfredo de Assis Gonçalves, Op. cit. p. 330 10 Há aqueles que entendem que o legislador incorre em impropriedade técnica ao considerar a deliberação de sócios como causa de dissolução de pleno direito, posto que o que ocorre, na realidade, é uma dissolução convencional. Neste sentido, Rodrigo Pereira Ribeiro de Oliveira em Dissolução Total e Liquidação em Sociedade Limitada in Direito Societário na Atualidade: aspectos polêmicos. Belo Horizonte: Del Rey, 2007 11 NETO, Alfredo de Assis Gonçalves, Op. cit. p. 330 9 A distinção de quórum para a deliberação se dá em decorrência da maior estabilidade do vínculo nas sociedades de prazo determinado. Contudo, como dito, o regramento das sociedades limitadas tem previsão específica no que se refere ao quórum de deliberação para a dissolução da sociedade, previsto no art. 1.076, I, combinado com o art. 1.071, VI do Código Civil: Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato: VI – a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação; Art. 1.076. Ressalvado o disposto no art. 1.061, as deliberações dos sócios serão tomadas I – pelos votos correspondentes, no mínimo, a três quartos do capital social, nos casos previstos nos incisos V e VI do art. 1.071 Nessa toada, entende-se que a dissolução desse tipo societário deve ocorrer por deliberação de sócios que representem ¾ do capital social, sem distinção entre a sociedade ajustada por prazo determinado ou indeterminado12 tudo diante da especificidade, pois: Na interpretação sistemática de tais normas chega-se à conclusão de que ao estender à sociedade limitada as causas de dissolução previstas no art. 1.033, o art. 1.087 contém ressalva implícita de a ela não se aplicarem aos dos seus incisos II (limitada com prazo determinado) e III (deliberação por maioria absoluta), diante da previsão específica contida no art. 1.071, VI. Isso significa que a deliberação sobre a dissolução da sociedade limitada deve ser sempre tomada por sócios que a aprovem com maioria de, no mínimo, ¾ do capital social13. Em que pese o quórum de deliberação para dissolução total seja o de ¾, podem os sócios, no contrato social, estabelecer quórum diverso, a fim de adequar os critérios de deliberação à realidade das relações sociais. Na prática, o sócio dissidente da deliberação social aprovadora da dissolução total pode optar pela manutenção da atividade, desde que promova a liquidação dos haveres dos retirantes, operando-se, assim, a dissolução parcial da sociedade apenas em relação àqueles. É o que se tem decidido, em prestígio ao princípio da preservação da empresa. Neste sentido já se pronunciou o STJ: COMERCIAL. SOCIEDADE POR QUOTA. MORTE DE UM DOS SOCIOS. HERDEIROS PRETENDENDO A DISSOLUÇÃO PARCIAL. DISSOLUÇÃO TOTAL REQUERIDA PELA MAIORIA SOCIAL. CONTINUIDADE DA 12 Há quem entenda que nas sociedades com prazo determinado, o quórum de dissolução será a unanimidade. São exemplos Modesto Carvalhosa e Eduardo Pimenta. 13 NETO, Alfredo de Assis Gonçalves, Op. cit. p. 496 10 EMPRESA. SE UM DOS SOCIOS DE UMA SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA PRETENDE DAR-LHE CONTINUIDADE, COMO NA HIPOTESE, MESMO CONTRA A VONTADE DA MAIORIA, QUE BUSCA A SUA DISSOLUÇÃO TOTAL, DEVE-SE PRESTIGIAR O PRINCIPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA, ACOLHENDO-SE O PEDIDO DE SUA DESCONSTITUIÇÃO APENAS PARCIAL, FORMULADO POR AQUELE, POIS A SUA CONTINUIDADE AJUSTA-SE AO INTERESSE COLETIVO, POR IMPORTAR EM GERAÇÃO DE EMPREGOS, EM PAGAMENTO DE IMPOSTOS, EM PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DAS COMUNIDADES EM QUE SE INTEGRA, E EM OUTROS BENEFÍCIOS GERAIS. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (STJ - REsp: 61278 SP 1995/0008381-7, Relator: Ministro CESAR ASFOR ROCHA, Data de Julgamento: 25/11/1997, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJ 06.04.1998 p. 121 LEXSTJ vol. 108 AGOSTO.1998 p. 108 RDR vol. 12 p. 346 RSTJ vol. 106 p. 324) 5.3. Extinção de autorização para funcionar A hipótese retratada pelo inciso V do art. 1.033 do Código Civil trata da extinção da autorização para funcionar, que se relaciona com a autorização do Poder Executivo exigida para a consecução de certas atividades. Trata-se de um pressuposto genérico, exigido porlei em razão da nacionalidade ou da natureza da atividade14. A disciplina de tal autorização está expressa no art. 1.123 e seguintes do Código Civil, que dispõem: Art. 1.123. A sociedade que dependa de autorização do Poder Executivo para funcionar reger-se-á por este título, sem prejuízo do disposto em lei especial. Parágrafo único. A competência para a autorização será sempre do Poder Executivo federal. Art. 1.124. Na falta de prazo estipulado em lei ou em ato do poder público, será considerada caduca a autorização se a sociedade não entrar em funcionamento nos doze meses seguintes à respectiva publicação. Art. 1.125. Ao Poder Executivo é facultado, a qualquer tempo, cassar a autorização concedida a sociedade nacional ou estrangeira que infringir disposição de ordem pública ou praticar atos contrários aos fins declarados no seu estatuto. Findo o prazo da autorização, ou se esta for cassada ou revogada, incorrerá a sociedade na hipótese do art. 1.033, V, de modo que os sócios deverão providenciar a sua dissolução no prazo de 30 dias, como preceitua o art. 1.037: Art. 1.037. Ocorrendo a hipótese prevista no inciso V do art. 1.033, o Ministério Público, tão logo lhe comunique a autoridade competente, promoverá a liquidação judicial da sociedade, se os administradores não o tiverem feito nos trinta dias seguintes à perda da autorização, ou se o sócio não houver exercido a faculdade assegurada no parágrafo único do artigo antecedente. Parágrafo único. Caso o Ministério Público não promova a liquidação judicial da sociedade nos quinze dias subseqüentes ao recebimento da comunicação, a autoridade competente para conceder a autorização nomeará interventor com poderes para requerer a medida e administrar a sociedade até que seja nomeado o liquidante. 14 NETO, Alfredo de Assis Gonçalves, Op. cit. p. 334 11 Como se infere, caso não providenciada a dissolução pelos sócios, o Ministério Público possui legitimação extraordinária para pedi-la judicialmente, restando ainda a possibilidade de nomeação de interventor na inércia do parquet. São exemplos de sociedades que necessitam de autorização para funcionar, empresas de plano ou de seguro saúde, caso em que se entende que a própria inviabilidade do empreendimento pode conduzir à extinção da autorização para funcionar. Neste sentido: FALÊNCIA. OPERADORA DE PLANO DE SAÚDE. INTERPRETAÇÃO DAS LEIS Nº 9.656/98, Nº 6.024/74 E Nº 11.101/2005. PRÉVIA LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. AUTORIZAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE PARA O PEDIDO. REQUERIMENTO DO LIQUIDANTE. DETERMINAÇÃO JUDICIAL PARA A JUNTADA DOS DOCUMENTOS PREVISTOS NO ART. 105, DA LEI FALIMENTAR. PREVISÃO LEGAL. PEDIDO QUE DEVE ESTAR ADQUADAMENTE INSTRUÍDO. DECISÃO MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. Falência de operadora de plano de saúde. Liquidação extrajudicial sem sucesso. Autorização da Agência Nacional de Saúde para o pedido. Pedido formulado pelo liquidante. As operadoras de plano de saúde estão sujeitas à liquidação extrajudicial, que deve ser decretada pela Agência Nacional de Saúde. Constatado o insucesso do procedimento, referida autarquia pode autorizar o pedido de falência, que deve ser realizado pelo liquidante. Interpretação sistêmica das Leis nº 9.656/98, nº 6.024/74 e nº 11.101/2005. Pedido de falência de operadora de plano de saúde. A Lei de regência é a nova Lei Falimentar. Determinação judicial para a juntada dos documentos estabelecidos no rol do art. 105. Manutenção. O pedido deve estar regularmente instruído, situação que permite inclusive a apuração futura de responsabilidade. Decisão mantida. Recurso não provido. (...) Infere-se, assim, que as empresas de plano ou de seguro saúde submetem-se em princípio à Lei nº 6.024/1.974, já que, sujeitas à autorização governamental para seu funcionamento e à fiscalização da Agência Nacional de Saúde, devem passar, necessariamente, pelo procedimento de liquidação extrajudicial e, se for o caso, após autorização de referida autarquia e por intermédio de pedido de seu liquidante, requerer sua falência. Assim, uma vez ultrapassada sem sucesso toda a fase de liquidação extrajudicial - que se inicia com o decreto da ANS deferindo o procedimento e se exaure com a autorização, também da autarquia, para o pedido de quebra - deve ser requerida a falência da empresa pelo liquidante, que será processada nos termos da Lei nº 11.101/2005, como determina o art. 197 da LFRJ e os arts. 23 e 24-D da Lei nº 9.656/98. Como bem anotam Maury Ângelo Bottesini e Mauro Conti Machado, “A exclusão da incidência da Lei 11.101/2005, de 09.02.2005, às operadoras de plano e seguros privados de assistência à saúde significa apenas que nenhum credor pode requerer a declaração da falência de uma dessas operadoras, e que nenhuma operadora pode requerer a recuperação judicial ou extrajudicial” (Lei dos Planos e Seguros Saúde Comentada, Ed. Forense, 2015, pg. 213). E esclarecem referidos autores: “O art. 24-D desta Lei 9.656/98, manda aplicar à liquidação das operadoras de planos privados de assistência à saúde as mesmas disposições aplicáveis às instituições financeiras e às companhias seguradoras, de modo que a relatividade da disposição do art. 2º da Lei de Recuperação e Falencias, excluindo as operadoras de planos e seguros privados de assistência à saúde, está bem esclarecida. O liquidante extrajudicial, constatando que a empresa da operadora ou seguradora se mostre inviável, solicitará a extinção da autorização para funcionar, dando causa à dissolução da sociedade com a consequente instauração dos procedimentos de liquidação da sociedade, se for 12 entidade civil, ou pedirá à Diretoria da ANS a autorização para requerer a falência da operadora” (op. cit., p. 215). (g.n.) (TJ-SP - AI: 21252935820148260000 SP 2125293-58.2014.8.26.0000, Relator: Carlos Alberto Garbi, Data de Julgamento: 05/10/2015, 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Data de Publicação: 08/10/2015) Por fim, nesta situação, caso os sócios não adotem os procedimentos dissolutórios, o herdeiro, cônjuge sobrevivente, inventariante do sócio falecido, credores da sociedade ou dos sócios são legitimados para requerê-la judicialmente, tendo em vista tratar-se de matéria de ordem pública15. 5.4. Outras causas de dissolução contratuais (art. 1.035) Os sócios podem de antemão prever no contrato social causas que levarão à dissolução de pleno direito. São exemplos a sociedade constituída para participar de licitação, que prevê em seu contrato social que, caso não vença o certame, a sociedade fica dissolvida de pleno direito. Há numerosos outros exemplos, como número mínimo de sócios, lucro mínimo, morte, incapacidade de sócio ou outras causas que poderiam levar à dissolução parcial. No entanto, a tendência hodierna é de restrição das hipóteses de dissolução total ao mínimo, face o interesse social e a preservação da empresa. Com esse espírito, como bem esclarecido por Gonçalves Neto: Para contrabalançar a redução de causas dissolutórias, com a eliminação daquelas que passam a ser causas de resolução da sociedade em relação ao sócio, o Código faculta que os sócios as ampliem. As causas de dissolução não são, portanto, taxativas como eram antes do Código Civil de 2.002. E apesar de algumas causas que antes levavam à dissolução total hoje acarretarem apenas a dissolução parcial16, essas mesmas causas podem ser previstas no contrato social para dissolução total. 5.5. Falência Pela dicção do Código Civil, se for empresária, a sociedade também se dissolve de pleno direito pela falência, como preceituam os artigos 1.087 e 1.044, que assim dispõe: Art. 1.044. 15 PIMENTA, Eduardo Goulart. Dissolução e Liquidação Total de Sociedades Contratuais in Tratado de Direito Comercial, volume 2: tipos societários, sociedade limitada e sociedade anônima / Fabio Ulhôa Coelho. São Paulo: Saraiva, 2015.P. 304 16 Como a renúncia (art. 1.029), falecimento de sócio (art.1.028), incapacidade, inabilidade, mau comportamento, descumprimento de obrigações (art. 1.030) e falência ou insolvência de sócio (1.030, p.u.) 13 A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência. Cabe lembrar, porém, que como salientado por Sacramone17 A dissolução de pleno direito da sociedade, por ocasião da decretação de sua falência, não implica sua extinção automática. A extinção da personalidade jurídica ocorre apenas com a conclusão da liquidação de seus ativos e o cancelamento de sua inscrição no Registro Público das Empresas Mercantis (art. 51, §3º do CC) Ocorre que a inclusão da falência como hipótese de dissolução de pleno direito é alvo de críticas pela doutrina, na medida em que para a decretação da falência se faz necessário um processo conhecimento e, portanto, a falência não poderia ser enquadrada como hipótese de dissolução extrajudicial, pois “depende do processo para ser decretada e passar a produzir efeitos”18. Como indica Eduardo Goulart Pimenta, “na verdade, a falência, como deve ser judicialmente declarada, deveria estar inscrita dentre as hipóteses de dissolução judicial, tal qual fez a Lei 6.604/76, em seu artigo 206, II, c”19. CONCLUSÃO Pela análise da evolução da legislação, do entendimento doutrinário e das decisões dos Tribunais, nota-se que o princípio da preservação da empresa e de sua função social tem norteado o instituto da dissolução e suas hipóteses. Tem-se buscado cada vez mais a preservação do ente coletivo, haja vista as múltiplas relações estabelecidas por ele, para além do interesse individual dos sócios. Na dissolução por vencimento do prazo de duração da sociedade, observa-se tal evolução da legislação, eis que o Código Civil de 1.916 previa que a prorrogação do prazo só poderia ocorrer por escrito, nas mesmas condições do contrato que a fixou (art. 1.399, I e art. 1.400). A previsão desembocava em tornar-se a sociedade uma sociedade de fato, ou sociedade irregular, o que atualmente restou expressamente afastado pelo art. 1.033, I do Código Civil. 17 SACRAMONE, Marcelo Barbosa. Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência -– 2. ed. – 2021 18 NETO, Alfredo de Assis Gonçalves, Op. cit. p. 356 19 PIMENTA, Eduardo Goulart. Op. cit. p. 270 14 A finalidade da dissolução é a dissolução dos vínculos societários, possibilitando ao sócio remisso se retirar e ter seus haveres apurados, o que resta atendido tanto nas hipóteses de dissolução total como parcial. É por essa mesma razão que mesmo a vontade da maioria do capital, qualificada, pode não levar à extinção de sociedade próspera, caso em que a solução será a sua dissolução apenas parcial. Isso porque não se deve levar a empresa viável à extinção pela vontade individual ou por capricho dos sócios majoritários. A jurisprudência é remansosa neste sentido. O princípio da preservação da empresa cumpre relevante papel social na manutenção da atividade econômica. O empreendimento representa uma fonte geradora de empregos e riquezas, além de ocupar importante posição no que diz respeito ao recolhimento de tributos. O interesse pela conservação da empresa estende-se aos empregados, credores, consumidores, fisco e a comunidade em geral. REFERÊNCIAS ANDERSON, S. Código Civil Comentado - Doutrina e Jurisprudência. 3ª ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN / Forense, 2021. CHAGAS, E.E. D. Esquematizado - Direito empresarial. Coordenador Pedro Lenza. 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2020. NEGRÃO, R. Manual de Direito Empresarial. 10ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2019. NETO, Alfredo de Assis Gonçalves. Comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil. 9ª ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019 NETO, Alfredo de Assis Gonçalves, Lições de direito societário: sociedade anônima OLIVEIRA, Rodrigo Pereira Ribeiro de, Dissolução Total e Liquidação em Sociedade Limitada in Direito Societário na Atualidade: aspectos polêmicos. Belo Horizonte: Del Rey, 2007 PIMENTA, Eduardo Goulart. Dissolução e Liquidação Total de Sociedades Contratuais in Tratado de Direito Comercial, volume 2: tipos societários, sociedade limitada e sociedade anônima / Fabio Ulhôa Coelho. São Paulo: Saraiva, 2015. PELUSO, C. Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência 13a ed. Barueri: Editora Manole, 2019. SACRAMONE, Marcelo Barbosa. Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência -– 2. ed. – 2021 TOMAZETTE, M. Curso de direito empresarial. Vol. 1 - teoria geral e direito societário. 11ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2019.
Compartilhar