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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA NUCLEAR JÉSSICA ALMEIDA DE OLIVEIRA DETERMINAÇÃO DOS FATORES DE TRANSMISSÃO EM BLINDAGEM DE AÇO UTILIZADA EM INSTALAÇÕES DE PET/CT Rio de Janeiro 2018 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA JÉSSICA ALMEIDA DE OLIVEIRA DETERMINAÇÃO DOS FATORES DE TRANSMISSÃO EM BLINDAGEM DE AÇO UTILIZADA EM INSTALAÇÕES DE PET/CT Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Nuclear do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Nuclear. Orientador: Prof. Sérgio Gavazza– PhD. Prof. Cláudio Luiz de Oliveira - PhD. Prof. Domingos de Oliveira – D.Sc. Prof. Rudnei Karam Morales – M.Sc. Rio de Janeiro 2018 2 c2018 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha Rio de Janeiro – RJ CEP: 22290-270 Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de arquivamento. É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e do(s) orientador(es). Oliveira, Jéssica Almeida de Determinação dos fatores de transmissão em blindagem de aço utilizada em instalações de PET/CT / Jéssica Almeida de Oliveira; orientado por Sérgio Gavazza, Domingos D’Oliveira Cardoso, Claudio Luiz Oliveira, Rudnei Karam Morales – Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2018. Dissertação (Mestrado) – Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, 2018. 1. Curso de Engenharia Nuclear – teses e dissertações. 2. Fator de transmissão. 2. Aço. I. Gavazza, Sérgio. II. Cardoso, Domingos D’Oliveira. III. Oliveira, Cláudio Luiz de. IV. Morales, Rudnei Karam. V. Instituto Militar de Engenharia. 3 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA JÉSSICA ALMEIDA DE OLIVEIRA DETERMINAÇÃO DOS FATORES DE TRANSMISSÃO EM BLINDAGEM DE AÇO UTILIZADA EM INSTALAÇÕES DE PET/CT Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Nuclear do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Nuclear. Orientador: Prof. Sérgio Gavazza– PhD. Co-orientador: Prof. Cláudio Luiz de Oliveira - PhD. Prof. Domingos de Oliveira – D.Sc Prof. Rudnei Karam Morales – M.Sc. Aprovada em 29 de agosto de 2018 pela seguinte Banca Examinadora: Prof. Sérgio Gavazza – PhD. do IME Prof. Domingos D´Oliveira Cardoso- D.Sc. do IME Prof. Cláudio Luiz de Oliveira – PhD. do IME Prof. Rudnei Karam Morales - M.Sc. do IME _____________________________________________________________________________ Prof. Marcos Paulo Cavaliere de Medeiros - D.Sc. do IME _____________________________________________________________________________ Prof. Avelino dos Santos - D.Sc. do CTEx _____________________________________________________________________________ Profª. Samanda Cristine Arruda Correa - D.Sc. da CNEN Rio de Janeiro 2018 4 Dedico este trabalho a todos os professores e profissionais que me auxiliaram no desenvolvimento do mesmo e acreditaram na minha capacidade. Obrigada pelo apoio e incentivo. Dedico também à minha família, ao meu noivo Diego e a todos meus amigos. Obrigada pela ajuda, compreensão e paciência. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por ter chegado ao fim de mais uma etapa de minha vida, sabendo que Ele esteve à frente o tempo todo, me guiando e me amparando nos momentos difíceis, e que sem Ele, jamais poderia alcançar; Aos meus pais, Onélia e José Carlos, e ao meu irmão, Carlos Alberto, que sempre esteve ao meu lado em todas as minhas decisões; À minha avó Tereza, em memória, que sempre incentivou os meus estudos e acreditou em todos meus sonhos; Ao meu noivo e futuro marido Diego Miranda pela enorme paciência, carinho e por sempre incentivar minha carreira profissional; Aos professores Sérgio Gavazza, Domingos D’Oliveira e Rudnei Karam Morales, por acreditar que eu sempre posso fazer ainda mais do que me é proposto e pela excelente orientação; Aos professores Claudio Luiz e Marcos Paulo, pelo suporte que forneceram durante o andamento da dissertação; Ao professor Júlio, por conseguir o material aço e por todo apoio durante o trabalho; À Servidora civil Viviane, por todo suporte na parte experimental do trabalho; À amiga Mariana Soares, que acompanha meu trajeto desde a nossa graduação, em 2011, e que estudamos em grupo de estudo durante todo o primeiro ano; Aos demais amigos que conquistei ao longo do curso e que me ajudaram a chegar onde estou. 6 “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” Albert Einstein 7 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES .............................................................................................. 10 LISTA DE TABELAS........................................................................................................ 12 LISTA DE SIGLAS ........................................................................................................... 13 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 16 1.1 Relevância do Trabalho ...................................................................................... 18 1.2 Objetivos do Trabalho ........................................................................................ 18 2 MEDICINA NUCLEAR ................................................................................... 20 2.1 Tomografia por Emissão de Pósitrons ................................................................. 24 2.2 Tomografia Computadorizada ............................................................................. 26 2.3 PET/CT .............................................................................................................. 29 2.4 18 F-FDG ............................................................................................................. 29 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................... 31 3.1 Interação da Radiação Eletromagnética com a Matéria ........................................ 31 3.1.1 Efeito Fotoelétrico .............................................................................................. 32 3.1.2 Efeito Compton .................................................................................................. 33 3.1.3 Produção de Pares ............................................................................................... 34 3.2 Atenuação Exponencial ...................................................................................... 35 3.3 Radiação Colidida e Não Colidida ...................................................................... 37 3.4 Fator de Buildup (b) ............................................................................................ 39 3.4.1 Fórmula de Berger ..............................................................................................41 3.4.2 Fórmula de Taylor .............................................................................................. 41 3.5 Fator de Correção de Buildup Infinito para Buildup Finito (Feixe Largo) ............ 42 3.6 Grandezas Dosimétricas ...................................................................................... 43 3.6.1 Exposição (χ) ...................................................................................................... 43 3.6.2 Kerma (k) ........................................................................................................... 44 3.6.3 Dose Absorvida (d) ............................................................................................. 44 3.6.4 Dose Equivalente (h) .......................................................................................... 45 3.7 Norma CNEN para Dose Equivalente ................................................................. 46 8 4 METODOLOGIA ............................................................................................. 47 4.1 Cálculo da Dose Analítica em Ambiente de PET/CT .......................................... 47 4.1.1 Fatores para o Cálculo da Dose Equivalente Semanal ......................................... 48 4.1.2 Metodologia de Cálculo da Dose Equivalente Semanal – AAPM-108 ................. 48 4.1.2.1 Sala de Administração ........................................................................................ 48 4.1.2.2 Sala do Tomógrafo ............................................................................................. 50 4.1.3 Cálculo da Dose Equivalente Semanal – Abordagem do Trabalho....................... 51 4.2 Desenvolvimento Teórico para os Fatores de Correção ....................................... 53 4.2.1 Método de Monte Carlo (MMC) e o Código MCNP ........................................... 53 4.2.1.1 Entrada e Saída de Dados no MCNP ................................................................. 534 4.2.1.1.1 Células................................................................................................................ 53 4.2.1.1.2 Superfícies .......................................................................................................... 53 4.2.1.1.3 Dados ................................................................................................................. 53 4.2.2 Fator de Correção ............................................................................................... 58 4.2.3 Fator de Transmissão Numérico .......................................................................... 60 4.3 Desenvolvimento Experimental para os Fatores de Transmissão ......................... 61 4.3.1 Avaliação do Diâmetro do Feixe e Fator de Transmissão (FT) Experimental ....... 62 5 ANÁLISES E RESULTADOS ......................................................................... 64 5.1 Composição do Aço Estudado ............................................................................ 64 5.2 Massa Específica do Aço (ρ) ............................................................................... 65 5.3 Coeficiente de Atenuação de Massa do Aço ........................................................ 66 5.4 Resultados Teóricos ............................................................................................ 66 5.5 Resultados Numéricos ........................................................................................ 68 5.5.1 Validação da Simulação do MCNP ..................................................................... 68 5.5.2 Cálculo do Buildup Numérico Através do MCNP ............................................... 69 5.5.3 Fatores de Correção ............................................................................................ 71 5.5.4 Fator de Transmissão .......................................................................................... 72 5.5.5 Fatores de Transmissão deste Trabalho Comparados com os Fatores de Transmissão da AAPM ....................................................................................... 74 5.6 Resultados Experimentais ................................................................................... 75 5.6.1 Material do Aço .................................................................................................. 75 9 5.6.2 Fabricação dos Colimadores de Chumbo ............................................................ 76 5.6.3 Aparato Experimental ......................................................................................... 77 5.6.4 Diagrama de Blocos ............................................................................................ 80 5.6.5 Ajustes Eletrônicos ............................................................................................. 81 5.6.6 Avaliação do Diâmetro do Feixe Rxperimental ................................................... 83 5.6.7 Calibração do Sistema ........................................................................................ 85 5.6.8 Fator de Transmissão Experimental .................................................................... 88 5.7 Fator de Transmissão do MCNP Comparado com Fator de Transmissão da AAPM... ............................................................................................................. 89 5.8 Comparação dos Fatores de Transmissão (AAPM-108, MCNP e Experimental) ..90 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES ..................................................................... 94 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 97 10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: FDG. ..................................................................................................................... 17 Figura 2: Imagem tomógrafa de um estudo cerebral. ............................................................ 21 Figura 3: Imagem de um estudo de captação óssea de corpo inteiro. ..................................... 21 Figura 4: Esquema ilustrativo das imagens obtidas por um sistema PET/CT......................... 22 Figura 5: Radiofármacos e respectivos órgãos de estudo. ..................................................... 23 Figura 6: Princípio de funcionamento do PET. ..................................................................... 26 Figura 7: “Layout" da Tomografia Computadorizada. .......................................................... 27 Figura 8: Obtenção da imagem da Tomografia Computadorizada. ........................................ 28 Figura 9: Esquema da Tomografia computadorizada. ........................................................... 28 Figura 10: Formação da imagem PET/CT. (A) Imagem CT, (B) Imagem PET e (C) – Fusão das Imagens. ........................................................................................................................ 29 Figura 11: Probabilidade de ocorrência dos efeitos Compton, Fotoelétrico e Produção de pares de acordo com a energia do raio e número atômico do material absorvedor. ......................... 32 Figura 12: Representação do efeito fotoelétrico. ................................................................... 33 Figura 13: Representação do efeito Compton. ...................................................................... 34 Figura 14: Representação do efeito produção de pares.......................................................... 35 Figura 15: I é a radiação não colidida e Irs é a radiação colidida, produzindo uma radiação secundária. ........................................................................................................................... 38 Figura 16: Feixe de radiação colimado. ................................................................................ 39 Figura 17: Feixe de radiação não colimado...........................................................................40 Figura 18: Configuração de buildup finito. ........................................................................... 42 Figura 19: Configuração de buildup infinito. ........................................................................ 42 Figura 20: Representação para o meio finito. ........................................................................ 59 Figura 21: Representação para o meio infinito. ..................................................................... 60 Figura 22: “Cavacos” do aço estudado. ................................................................................ 64 Figura 23: “Cavacos” do aço estudado prontos para o EDS. ................................................. 64 Figura 24: Comparação dos resultados da AAPM-108 e analítica (sala de administração). ... 67 Figura 25: Comparação dos resultados da AAPM-108 e analítica (sala de tomógrafo). ......... 68 Figura 26: Fatores de transmissão do aço, calculado neste trabalho. ..................................... 74 Figura 27: Fator de transmissão numérico do aço comparado com o da AAPM-108 do Ferro. ............................................................................................................................................ 75 11 Figura 28: Colimadores de chumbo com diferentes diâmetros de colimação. ........................ 77 Figura 29: Aparato experimental. ......................................................................................... 80 Figura 30: Diagrama de blocos do aparato experimental....................................................... 80 Figura 31: Exemplo de espectro obtido com o programa Maestro. ........................................ 82 Figura 32: Validação experimental do diâmetro do colimador. ............................................. 84 Figura 33: Fontes padrão emissoras de gama ( 152 Eu, 60 Co e 137 Cs). ....................................... 85 Figura 34: Fonte de 22 Na. ..................................................................................................... 85 Figura 35: Reta de calibração obtida com o 152 Eu. ................................................................ 88 Figura 36: Fator de transmissão experimental do aço. .......................................................... 89 Figura 37: Fator de transmissão numérico do aço comparado com o da AAPM-108 do Ferro. ............................................................................................................................................ 90 Figura 38: Comparação entre os fatores de transmissão até 18 cm. ....................................... 92 Figura 39: Comparação entre os fatores de transmissão até 6cm. .......................................... 92 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Radionuclídeos utilizados na tomografia por emissão de pósitrons........................ 25 Tabela 2: Tipos de radiações secundárias provenientes da interação da radiação eletromagnética com a matéria. ............................................................................................ 38 Tabela 3: Limites de doses efetiva e equivalente estabelecidas pela CNEN. ......................... 46 Tabela 4: Grandezas disponíveis no código MCNP. ............................................................. 57 Tabela 5: Erro relativo para cada tipo de tally....................................................................... 58 Tabela 6: Composição química do aço. ................................................................................ 65 Tabela 7: Massa específica do aço estudado. ........................................................................ 65 Tabela 9: Comparação entre fator de correção do MCNP e do Wood (1982) para buildup infinito para o ferro. ............................................................................................................. 69 Tabela 10: Cálculo do buildup finito no MCNP. ................................................................... 70 Tabela 11: Cálculo do buildup infinito no MCNP. ................................................................ 71 Tabela 12: Fatores de correção encontrados para o aço deste trabalho. ................................. 72 Tabela 13: Fatores de transmissão numérico do aço. ............................................................ 73 Tabela 14: Medidas em cm do aço estudado. ........................................................................ 76 Tabela 15: Diâmetro dos colimadores de chumbo................................................................. 77 Tabela 16: Configuração do módulo. .................................................................................... 82 Tabela 17: Valor da área líquida para os feixes. .................................................................... 84 Tabela 18: Informações sobre as fontes padrão. .................................................................... 86 Tabela 19: Comparação entre as energias teóricas e experimentais do Európio ( 152 Eu). ........ 86 Tabela 20: Comparação entre as energias teóricas e experimentais do Cobalto ( 60 Co). ......... 87 Tabela 21: Comparação entre as energias teóricas e experimentais do Césio ( 137 Cs). ............ 87 Tabela 22: Fatores de transmissão experimental do aço. ....................................................... 89 13 LISTA DE SIGLAS AAPM Associação Americana de Física Médica CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear CT Tomografia Computadorizada CTEx Centro Tecnológico do Exército EDS Espectroscopia de Raio X por Dispersão de Energia 18 F-FDG Fluordesoxiglicose marcado com Flúor-18 FT Fator de Transmissão HPGe Detector de Germânio de Alta Pureza HPGe Detector de Germânio de Alta Pureza IOE Indivíduo Ocupacionalmente Exposto MCNPx Monte Carlo N-Particle Transport Code MMC Método de Monte Carlo PET Tomografia por Emissão de Pósitrons PET/CT Tomografia por Emissão de Pósitrons / Tomografia Computadorizada SPECT Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton Único 14 RESUMO A medicina diagnóstica cresceu nos últimos anos e com isso provocou o aumentou do uso das radiações ionizantes. Atualmente, com grande conceituação na área médica, faz-se uso da técnica PET/CT. PET significa tomografia por emissão de pósitrons e CT, tomografia computadorizada. PET/CT é um exame onde radiofármacos são administrados ao paciente, como o 18 F-FDG (fluorodesoxiglicose), e é absorvido nas regiões que apresentam problemas metabólicos. O local, por ter seu metabolismo mais acelerado, absorverá mais o 18 F-FDG, tendo uma maior concentração na emissão de pósitron, com maior probabilidade de ser aniquilado no entorno da área de interesse, resultando em dois raios gama de energia de 0,511 MeV emitidos em direções opostas. O paciente após receber esse radiofármaco, se torna uma fonte de radiação, sendo necessário o cálculo das doses na sala de administração do radiofármaco e na sala de imagem, analisando em diversas distâncias. A CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) baseada nos estudos da AAPM (Associação Americana de Física Médica) propõe procedimentos para blindagens nessas instalações com radiações e estabelece limites de doses para áreas controladas e não controladas da instalação. O objetivo deste trabalho é determinar os fatores de transmissão para blindagem de aço utilizado em instalações de PET/CT. O código MCNP foi utilizado para modelagem de duas condições de transmissão da radiação (meio finito e meio infinito). A partir das parcelas colidida e não colidida da radiação oriunda de uma fonte pontual, incidente em um detector simulado em cada condição, foram calculados os fatores de buildup correspondentes. Estes foram utilizados para obtenção dos fatores de correção necessários para o cálculo dos fatores de transmissão segundoa expressão proposta por Taylor. Além disso, foram calculados esses fatores de transmissão experimentalmente, para poderem ser comparados com os valores apresentados pela AAPM. Espera-se que as informações contidas neste trabalho possam servir de base para os que pretenderem se aprofundar nos estudos de proteção radiológica e dosimetria da radiação gama em instalações, que ofereçam o serviço de radiodiagnóstico, empregando a técnica PET/CT. 15 ABSTRACT Diagnostic medicine has grown in recent years and has led to an increase in the use of ionizing radiations. Currently, with great conceptualization in the medical area, PET / CT is used. PET stands for positron emission tomography and CT, computed tomography. PET / CT is an examination where radiopharmaceuticals are administered to the patient, such as 18F- FDG (fluorodeoxyglucose), and is absorbed in regions with metabolic problems. The site, because of its faster metabolism, will absorb more 18F-FDG, having a higher concentration in the positron emission, more likely to be annihilated around the area of interest, resulting in two energy gamma rays of 0.511 MeV emitted in opposite directions. The patient after receiving this radiopharmaceutical becomes a source of radiation, being necessary the calculation of the doses in the administration room of the radiopharmaceutical and in the imaging room, analyzing at different distances. The CNEN (National Commission for Nuclear Energy) based on the studies of the AAPM (American Medical Physics Association) proposes procedures for shielding in these facilities with radiations and establishes dose limits for controlled and uncontrolled areas of the installation. The objective of this work is to determine the transmission factors for steel shielding used in PET / CT installations. The MCNP code was used to model two conditions of radiation transmission (finite medium and infinite medium). From the collided and uncorrelated portions of the radiation from a point source, incident on a simulated detector in each condition, the corresponding buildup factors were calculated. These were used to obtain the correction factors necessary for the calculation of the transmission factors according to the expression proposed by Taylor. In addition, these transmission factors were calculated experimentally to be comparable with the values presented by the AAPM. It is hoped that the information contained in this paper will serve as a basis for those who wish to study radiological protection and gamma radiation dosimetry in facilities that offer radiodiagnostic service using the PET / CT technique. 16 1 INTRODUÇÃO O PET (tomografia por emissão de pósitron) juntamente com o CT (tomografia computadorizada) captura a fisiologia humana para ter informações de diagnósticos de alta resolução da anatomia humana. A crescente utilização do PET/CT tem a finalidade de detectar prematuramente os desarranjos biológicos no corpo humano e é muito importante para diagnóstico na medicina nuclear. Radionuclídeos são administrados aos pacientes e, através de seu comportamento, têm-se informações anatômicas e fisiológicas de um tecido alvo. A técnica PET utiliza radionuclídeos emissores de pósitron (beta + ). Quando um pósitron, após perder sua energia cinética, combina com um elétron do meio, a matéria de ambas as partículas (pósitron e elétron) é transformada em energia, sendo emitidos dois raios gama, em sentidos opostos com energia de 0,511 MeV cada (que corresponde a energia de repouso do elétron). Esses raios gama são capturados através de detectores posicionados em torno do paciente, dando origem a imagens tridimensionais computadorizadas. A tomografia computadorizada (CT) é uma técnica não invasiva de diagnóstico por imagem radiológica. No processo de formação das imagens, um feixe estreito de raio X é direcionado ao paciente e rapidamente rotacionado, como um leque, em torno de seu corpo, produzindo os sinais que são processados e digitalizados por computadores, gerando as imagens transversais ou “fatias” (imagens tomográficas) de um determinado tecido alvo (FÉLIX, 2009). Os radionuclídeos administrados na técnica PET/CT têm meia-vida curta, como principal característica, suficiente para atender, ao período em que o paciente se submete ao exame. Por essa razão, esses compostos são produzidos (em larga escala) em cíclotrons localizados próximos ou na própria instalação. O rafiofármaco mais adequado para essa técnica é o 18 F- FDG (Fluordesoxiglicose), usado principalmente em áreas de oncologia, que tem a capacidade de acumular-se em altas concentrações em tumores metabolicamente ativos. Na figura 1, mostra-se como o FDG é constituído. 17 Figura 1: FDG. (Fonte: FUJITA, 2008) O Fluordesoxiglicose é o mais comum, pois entre os radionuclídeos emissores de pósitron, ele possui o maior tempo de meia vida, aproximadamente 110 minutos (HAYS ET AL, 2002). Esse radiofármaco é excelente para diagnósticos de metabolismo cerebral, metabolismo miocárdio, e imagem de tumores. Após administrado o radiofármaco 18 F-FDG no paciente, o mesmo torna-se uma fonte de radiação enquanto permanecer no local. Com isso, torna-se necessário um projeto de blindagem para garantir a segurança em áreas controladas ou não controladas da clínica evitando doses excessivas de radiação em indivíduos ocupacionalmente expostos (IOEs) e indivíduos do público. O projeto deve avaliar o tipo de equipamento, a característica e a energia da radiação que será emitida na instalação. Com essas informações, estima-se a espessura da parede e o tipo de material compatível para aquela instalação. A AAPM (Associação Americana de Física Médica) apresenta um relatório, AAPM-108, a fim de simplificar o projeto, estimando a espessura adequada para que a dose equivalente 1 em determinado ponto, esteja em acordo com os limites estabelecidos por norma. Essa estimativa é feita em função do fator de transmissão do material empregado para blindagem (FRUTUOSO, 2017). O trabalho está divido em 8 capítulo. O primeiro capítulo consiste em apresentar os conceitos introdutórios dessa pesquisa. O segundo capítulo abordará sobre a medicina nuclear, a técnica de PET/CT e o radiofármaco 18 F-FDG. O terceiro capítulo será baseado em toda 1 dose equivalente: Descreve o efeito relativo dos distintos tipos de radiações ionizantes sobre os tecidos vivos. 18 fundamentação teórica do trabalho. O quarto capítulo consiste na metodologia aplicada neste trabalho, o qual abordará o cálculo da dose equivalente do paciente na sala de administração e na sala de imagem, o cálculo dos fatores de transmissão utilizando o buildup de Taylor corrigido (utilizando o MCNP) e o cálculo dos fatores de transmissão experimentalmente. O quinto capítulo consistirá em analisar os resultados das doses e dos fatores de transmissão de uma blindagem de aço empregada em instalações de PET/CT, comparando com os valores fornecidos na AAPM-108. Por fim, o sexto capítulo tem a finalidade de mostrar todas as conclusões finais, além de apresentar as sugestões para trabalhos futuros. 1.1 RELEVÂNCIA DO TRABALHO A grande relevância desse trabalho é devida aos seguintes itens: Aplicabilidade dos cálculos da taxa de dose para uma comparação com os valores fornecidos pela AAPM-108; Determinação do coeficiente de atenuação linear (µ) do aço estudado para raios gama de energia de 0,511 MeV, o qual não se encontra disponível na literatura; Realização de cálculos dos fatores de transmissão (FT) que serão de grande importância para futuros projetos de blindagem em instalações com PET/CT e Incentivar diversos setores a participar das comparações realizadas, formando assim um grupo multidisciplinar de pesquisa.1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO Os objetivos do trabalho são: Calcular o coeficiente de atenuação linear (µ) do aço para a energia de 0,511 MeV, já que esse dado não se encontra na literatura, tendo que ser calculado através da interpolação e Determinação dos fatores de transmissão para uma blindagem de aço em instalações utilizando PET/CT, utilizando o Buildup de Taylor corrigido. Determinação dos 19 fatores de transmissão através de cálculos baseados nas medidas experimentais. A seguir, comparar os valores experimentais e teóricos com os publicados pela AAPM- 108. 20 2 MEDICINA NUCLEAR A medicina nuclear utiliza, como uma opção de diagnóstico, a radiação ionizante, com origem em substâncias radioativas de meia-vida curta, conhecidas como radiofármacos. Essas substâncias seguem caminhos funcionais ou metabólicos específicos dentro dos pacientes (órgão ou tecido de interesse), o que confere a essa modalidade diagnóstica uma característica de natureza biológica que as outras modalidades não possuem (RABILOTTA, 2006). A finalidade da medicina nuclear é, através do uso de radiofármacos, investigar, diagnosticar e tratar doenças com métodos praticamente indolores, minimamente invasivos (através de administração intravenosa, inalação ou ingestão de determinados traçadores no corpo humano) e de custo relativamente baixo, obtendo informações anatômicas e metabólicas. Os métodos mais conhecidos são os radiofármacos administrados “in vitro”, através da retirada de amostras de urina, sangue ou tecidos do corpo humano, e “in vivo”, ou seja, por via venosa, oral, subcutânea ou inalatória no próprio paciente (CNEN/IRD, 2011). O diagnóstico PET/CT se enquadra no segundo caso. Gama câmara (câmara de cintilação) é o sistema de detecção na medicina nuclear posicionado em torno do paciente. A formação da imagem se dá pela detecção da radiação emitida pelo radiofármaco e posterior processamento digital dos sinais gerados. Esse equipamento transforma as emissões captadas em imagens e fornece informações de como se encontra a função do órgão em estudo. O médico nuclear interpreta essas imagens ou cintilografias e determina qual a causa da doença. As imagens obtidas devem ser interpretadas como imagens funcionais, que precedem as alterações morfológicas, o que permite a detecção precoce de alguma doença. Visando a segurança dos pacientes e público em geral, os procedimentos diagnósticos em medicina nuclear obedecem à seguinte sequência básica (GARCEZ; SILVA; PAES, Acessado em 2018): Primeiramente, ocorre a administração do radiofármaco específico para o exame proposto no paciente, que pode ser por ingestão, por injeção ou por inalação; Após, o paciente deverá aguardar na sala de repouso o tempo que for necessário até que o radiofármaco seja metabolizado pelo corpo humano e 21 Em seguida, o paciente é encaminhado à sala de exames, onde o detector de radiação irá escanear a área de interesse. O detector de radiação fornecerá informações que serão transmitidas por um sistema computacional, transformando os sinais obtidos em imagens (cintilografia). A seguir são apresentadas as figuras 2, 3 e 4, que tratam de exemplos de imagens obtidas por PET/CT. Figura 2: Imagem tomógrafa de um estudo cerebral. (Fonte: GARCEZ; SILVA; PAES, Acessado em 2018) Figura 3: Imagem de um estudo de captação óssea de corpo inteiro. (Fonte: GARCEZ; SILVA; PAES, Acessado em 2018) http://rle.dainf.ct.utfpr.edu.br/hipermidia/images/mednu/imagtomo.png http://rle.dainf.ct.utfpr.edu.br/hipermidia/images/mednu/captossea.png 22 Figura 4: Esquema ilustrativo das imagens obtidas por um sistema PET/CT. (Fonte: GARCEZ; SILVA; PAES, Acessado em 2018) Como mencionado anteriormente, a medicina nuclear também tem a finalidade de tratar doenças com a ação da própria radiação ionizante que é distribuída no tecido alvo usando um radiofármaco apropriado emissor de partícula β de curto alcance. Como exemplos tem-se o uso dos radioisótopos Iodo-131, em tratamentos de patologias da tireóide. A figura 5 mostra os radiofármacos e respectivos órgãos de estudo. http://rle.dainf.ct.utfpr.edu.br/hipermidia/images/mednu/petct.png 23 Figura 5: Radiofármacos e respectivos órgãos de estudo. (Fonte: GARCEZ; SILVA; PAES, Acessado em 2018) 24 A tecnologia PET se fixou definitivamente em 1990, com o uso cada vez mais constante do 18 F-FDG análogo à glicose. Apesar da grande consolidação do PET, o SPECT 2 ainda vem sendo utilizado para procedimentos clínicos (COUTO & BARROS, 2001). No Brasil, em 1998, entrou em operação, na Cidade de São Paulo, o primeiro sistema capaz de produzir imagens tomográficas com o uso de emissores de pósitron. O equipamento, uma câmara PET/SPECT, podia também ser usado para a obtenção de imagens SPECT (RABILOTTA, 2006). Conforme dados da CNEN (Comissão nacional de Energia Nuclear - consulta realizada em 19/05/2018), existem 432 instalações autorizadas para o uso da medicina nuclear. Um pouco mais de 50% está localizada no Sudeste, como Rio de Janeiro e São Paulo. Tem-se a grande preocupação com a dose equivalente tanto para IOE quanto para público em geral. Dose equivalente é uma grandeza física que descreve o efeito relativo dos distintos tipos de radiações ionizantes sobre os tecidos vivos. Para redução da mesma, faz-se necessário a introdução da blindagem nesses locais. 2.1 TOMOGRAFIA POR EMISSÃO DE PÓSITRONS A tomografia por emissão de pósitrons (PET) utiliza um radiofármaco emissor de pósitron (β+), que através dos raios detectados provenientes da aniquilação elétron-pósitron gera uma imagem tomográfica. É um mapa de um radiofarmaco emissor de pósitrons distribuído em determinado local no corpo humano. Recolhem-se dados fisiológicos de um tecido para investigar problemas em um determinado órgão (FUJITA, 2008). O decaimento por emissão de pósitron pode ser descrito, conforme a equação 1. 𝑋𝑍 𝐴 → 𝑌𝑍−1 𝐴 + 𝛽+ + 𝜐 (1) onde ocorre o decaimento do radionuclídeo pai ( 𝑋𝑍 𝐴 ) para um radionuclídeo filho ( 𝑌𝑍−1 𝐴 ), com a emissão de um pósitron (β+) e um neutrino (υ). 2 SPECT: Método de diagnóstico por imagem, permitindo a realização de tomografias de fótons únicos. 25 Na tabela 1, mostram-se os radionuclídeos utilizados na tomografia por emissão de pósitrons manipulados em diagnósticos médicos, com suas respectivas características, destacando-se a meia-vida curta (intervalo de tempo em que a quantidade de radionuclídeos presentes na amostra se reduz à metade). Tabela 1: Radionuclídeos utilizados na tomografia por emissão de pósitrons (Fonte: Adaptado de MADSEN ET AL, 2005) No PET, tem-se dois equipamentos diferentes para se detectar os raios: os baseados em câmara de cintilação e os sistemas dedicados. Os dois tipos registram os eventos de coincidência utilizando a colimação eletrônica. Sistemas Dedicados: são formados por mais de 15.000 elementos de detecção, cristais de cintilação de BGO (bismuto-germanato) ou LSO (oxiortosilicato de lutécio), dispostos em anéis adjacentes, que vão registrar os eventos de coincidência dentro de intervalos da ordem de 10 a 12 nanosegundos. Esses elementos são agrupados e acoplados a tubos fotomultiplicadores, e esses tubos alimentam um sistema complexo de análise, discriminação e processamento, que irá gerar a imagem tomográfica (ROBILOTTA, 2006). Câmara de Cintilação: Composta de dois detectores cintiladores, um oposto ao outro, com o paciente colocado no meio. Os tubos de fotomultiplicadores ficam conectados a 26 amplificadores, e estes são conectados a um sistema complexo de análise, gerando a imagem tomográfica (CHERRY ET AL., 2012). O PET estuda traçadoresmoleculares com emissores de pósitron. Um pósitron (carga elétrica positiva), que é uma antipartícula do elétron (carga elétrica negativa) com a mesma massa, interage rapidamente com um elétron ocorrendo uma aniquilação e liberação de dois raios gama com energia de 0,511 MeV (energia da massa de repouso do elétron/pósitron) diametralmente opostos. Estes são detectados por cristais de cintilação presentes no equipamento, como pode ser visto na figura 6 (CIMOL, Acessado em 2018). Figura 6: Princípio de funcionamento do PET. (Fonte: Adaptado de CIMOL, Acessado em 2018) 2.2 TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA A tomografia computadorizada (CT) é um exame feito por imagem com uma técnica não invasiva, que faz uso de um feixe estreito de raio X para ter uma maior precisão e eficiência no diagnóstico. Os raios X são direcionados ao paciente, rapidamente rotacionando e captando imagens com uma ótima resolução do corpo humano, dos órgãos e ossos, além de 27 outras partes específicas de estudo. Essas imagens são processadas nos computadores, gerando as imagens transversais ou “fatias” (imagens tomográficas) de um determinado tecido alvo. A qualidade de imagem da tomografia computadorizada é superior à das radiografias. Isso já é uma vantagem, pois faz com que se possibilite um diagnóstico muito mais eficiente e nítido de anomalias nos ossos, tecidos, órgãos e em outras estruturas do corpo, independentemente do seu tamanho. Com esse exame é possível ter diagnósticos de vasos pulmonares, identificar tumores e nódulos no corpo humano, detectar fraturas e obstruções circulatórias, apontar alterações nas estruturas orgânicas, entre outras anomalias de tecido. A técnica CT surgiu devido às limitações da radiografia convencional, como a absorção ineficiente, alta taxa de espalhamento dos raios X primários e baixa resolução. Atualmente, a técnica CT utiliza detectores de xenônio fixos radialmente formando um anel de detecção, e um tubo de raio X próximo aos detectores que gira ao redor do paciente. A formação da imagem ocorre através das várias fatias do tecido alvo que são produzidos a partir da emissão dos raios X em vários pontos ao redor do paciente, gerando a imagem anatômica (GOLDMAN, 2007). Nas figuras 7, 8 e 9, mostra-se o “layout” da Tomografia Computadorizada, a obtenção da imagem dessa técnica e o esquema dessa tomografia. Figura 7: “Layout" da Tomografia Computadorizada. (Fonte: GOLDMAN, 2007) 28 Figura 8: Obtenção da imagem da Tomografia Computadorizada. (Fonte: GOLDMAN, 2007) Figura 9: Esquema da Tomografia computadorizada. (Fonte: BRENNER ET AL, 2007) 29 2.3 PET/CT PET/CT é uma modalidade de diagnostico da medicina nuclear que foi proposta em 2000 por David Townsend e colaboradores. Tem-se uma combinação da tomografia por emissão de pósitrons (PET), que mostram as imagens metabólicas, com a tomografia computadorizada (CT), que fornece as imagens anatômicas. Com esse exame, consegue-se detectar desarranjos biológicos no corpo humano de forma prematura. PET/CT é um exame especialmente útil nos casos em que há suspeita de metástases que não aparecem em outros exames de imagem, além de auxiliar no diagnóstico diferencial entre nódulos benignos e malignos. Na figura 10, tem-se a imagem do CT, a imagem do PET e a fusão das duas, o PET/CT. Figura 10: Formação da imagem PET/CT. (A) Imagem CT, (B) Imagem PET e (C) – Fusão das Imagens. (Fonte: SURESHBABU & MAWLAWI, 2005) 2.4 18F-FDG O radiofármaco 18 F-FDG, fluorodesoxiglicose, é bastante utilizado na Oncologia, Neurologia e Cardiologia, marcado com o isótopo radioativo 18 F. Sua função é a emissão de 30 raios gama com energia de 0,511 MeV, decorrentes da aniquilação do pósitron. O Flúor- 18 tem um período de meia vida de 109,8 minutos. Além disso, ele é facilmente removido pelas vias naturais do corpo humano. Tendo em vista que o 18 F é emissor de radiação ionizante, o paciente se torna uma fonte de radiação. https://www.wolframalpha.com/input/?i=F-18 https://www.wolframalpha.com/input/?i=F-18 31 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO ELETROMAGNÉTICA COM A MATÉRIA Radiação é uma forma de propagação da energia pelo espaço. Quando se tem apenas energia é chamada de radiação eletromagnética, como por exemplo, os raios gama e raios X (também conhecidos como fótons, com carga elétrica nula, massa de repouso zero e velocidade da luz no vácuo). Se possuir matéria, é dita radiação corpuscular, como por exemplo, os prótons e as partículas beta. Além disso, as radiações podem ser ionizantes (que conseguem arrancar elétrons de um átomo, como por exemplo, raio gama, raio X, próton e partícula beta) e não-ionizantes (como o raio ultravioleta e a luz) (MARTINS, acesso em 2018). As radiações eletromagnéticas de interesse neste trabalho são as radiações X e gama. A energia a radiação eletromagnética é dada pela equação 2. 𝐸 = ℎ𝜈 = ℎ 𝑐 𝜆 (2) onde: h = constante de Planck; λ = comprimento de onda; c = velocidade da luz e ν = frequência. A diferença entre raios X e gama é que o raio X tem sua emissão a partir de transições atômicas (excitações e ionizações) e o raio gama ocorre a partir de transições nucleares (decaimentos radioativos, por exemplo) (TSOULFANIDIS, 1995). Devido às suas características, essas radiações podem percorrer grandes espessuras de um material, antes de sofrer a primeira interação (probabilidade de interação depende da energia do raio e do tipo de material atravessado). Os raios X e gama tem uma penetrabilidade muito maior do que as 32 radiações com partículas carregadas. Os principais modos de interação da radiação eletromagnética com a matéria excluindo as reações nucleares são o efeito fotoelétrico, o efeito Compton e a produção de pares. A figura 11 mostra os principais modos de interação de acordo com o número atômico do material e com a energia do raio incidente. Tem-se a predominância de efeito fotoelétrico para energias baixas e número atômico do material alto. O efeito Compton ocorre para energias intermediárias e a produção de pares ocorre predominantemente com energias altas. No caso do aço, que é o material estudado, tem-se a predominância do efeito Compton, devido ao número atômico baixo e energia de 0,511 MeV, que é a energia estudada. Figura 11: Probabilidade de ocorrência dos efeitos Compton, Fotoelétrico e Produção de pares de acordo com a energia do raio e número atômico do material absorvedor. (Fonte: Adaptado de ATTIX, 1986). 3.1.1 EFEITO FOTOELÉTRICO O efeito fotoelétrico ocorre quando um fóton incide em um elétron orbital fortemente ligado ao núcleo atômico. Ocorre uma transferência total da energia (radiação X ou gama) do fóton (hυ) a um único elétron que é expelido do átomo, provocando ionização, com uma energia cinética (Ec). A energia é absorvida completamente pelo elétron e com isso o raio gama deixará de existir. Expressa-se esse efeito como mostra a equação 3. 33 Ec = h . υ - Be (3) onde: h = constante de Planck; ν = frequência da radiação e Be = energia de ligação do elétron orbital. Na figura 12, mostra-se a representação do efeito fotoelétrico. Figura 12: Representação do efeito fotoelétrico. (Fonte: TAUHATA, 2014). Esse efeito é predominante para baixas energias e para elementos químicos que possuem um elevado número atômico Z (muitos prótons em seu núcleo, tendo assim mais elétrons que estarão ligados fortemente). 3.1.2 EFEITO COMPTON No efeito Compton, um raio gama interage com um elétron fracamente ligado ao núcleo do átomo. Parte da energia do raio gama é perdida devido ao espalhamento com um elétron de baixaenergia de ligação. O raio gama continua sua trajetória dentro do material com direção diferente e com uma energia menor. Por sua vez, o elétron será ejetado de sua camada orbital e seguirá trajetória distinta no meio material. Na figura 13, mostra-se a representação do efeito Compton. 34 Figura 13: Representação do efeito Compton. (Fonte: TAUHATA, 2014). A energia do raio espalhado E´γ , depende da energia do raio incidente Eγ e do ângulo de espalhamento θ, em relação à direção do raio incidente, como pode-se observar conforme as equações 4 e 5 (KAPLAN, 1978). 𝐸𝛾 ´ = 𝐸𝛾 1+ 𝛼(1−𝑐𝑜𝑠𝜃) (4) onde, 0 𝛼 = 𝐸𝛾 𝑚𝑜𝑐 2 (5) Quando se considera o ângulo θ igual a 0º, a energia do raio espalhado é máxima, já para o ângulo θ igual a 180º, a energia do raio espalhado é mínima. Com isso, tem-se a máxima energia cinética do elétron ejetado representa pela equação 6. 𝑇𝑚𝑎𝑥 = 𝐸𝛾 2𝛼 1+ 2𝛼 (6) 3.1.3 PRODUÇÃO DE PARES 35 O efeito de produção de pares ou produção de par elétron-pósitron ocorre quando um fóton se aproxima do núcleo atômico. Isso acontece quando raios gama que possuem energias superiores a 1,022 MeV passam próximo de núcleos com alto número atômico, tendo assim uma interação com o forte campo elétrico nuclear, e consequentemente aparecendo duas partículas (par elétron-pósitron) em seu lugar e a radiação desaparecendo. Não poderão sofrer interação de produção de pares fótons que possuam energia inferior a 1,022 MeV. Isso porque a energia mínima necessária para produção de um elétron ou de um pósitron é de 0,511 MeV, totalizando 1,022 MeV. Conforme pode ser visto na figura 12, quanto maior a energia do fóton, maior será a probabilidade da interação. A energia cinética após essa interação será o valor da energia excedente. Na figura 14, mostra-se a representação do efeito de produção de pares. Figura 14: Representação do efeito produção de pares. (Fonte: TAUHATA, 2014). 3.2 ATENUAÇÃO EXPONENCIAL Um feixe de radiação eletromagnética (estreito e monoenergético) ao atravessar perpendicularmente um meio absorvedor (por exemplo, aço) com uma determinada espessura x segue uma lei de absorção exponencial ou atenuação exponencial conforme a equação 7 (CEMBER, 2009). 𝐼 = 𝐼0 𝑒 −𝜇𝑥 (7) 36 onde: I0 = intensidade inicial dos raios antes da interação com o meio material; I = intensidade dos raios após atravessar o meio material; x = espessura do meio material e µ = coeficiente de atenuação linear, sendo definido pela probabilidade de interação dos raios com a espessura unitária do material atravessado. Para determinar a espessura de material necessária para atenuar o feixe, utiliza-se essa lei da atenuação exponencial. A literatura, não disponibiliza o coeficiente de atenuação linear dos materiais para a energia de 0,511 MeV. Também não oferece valores de coeficiente de atenuação linear para nenhuma energia do aço, já que o aço é uma mistura de diversos elementos. Devido a isso, foi necessário fazer um cálculo para encontrar o coeficiente de atenuação linear para as energias de 0,500 MeV e 0,600 MeV para todos os elementos que o aço é constituído, e após isso, fez uma interpolação linear para encontrar o coeficiente de atenuação linear do aço para energia de 0,511 MeV. Para encontrar o valor do coeficiente de atenuação linear de uma mistura ou substância química composta, faz-se necessário calcular o coeficiente de atenuação linear em massa (coeficiente de atenuação mássico µm) que é a razão entre o coeficiente de atenuação linear µ e a densidade do meio absorvedor ρ, de todos os elementos presentes na mistura, considerando suas respectivas frações em peso, conforme as expressões 8 e 9 (ATTIX, 1986). 𝜇𝑚 = 𝜇 𝜌 ( 𝑔 𝑐𝑚2 ) (8) 𝜇 𝜌 = ∑ 𝜇𝑖 𝜌𝑖 𝑖 × 𝑤𝑖 (9) onde: μm = coeficiente de atenuação mássico; wi = fração em peso do elemento i na mistura ou composto; 37 μi = coeficiente de atenuação do elemento i e ρi = densidade do elemento i. As equações 10 e 11 representam o conceito de livre caminho médio da radiação primária, definido pela distância média que um único raio se desloca através do meio atenuador, antes de sofrer interação (ATTIX, 1986). 𝜇 (𝑐𝑚−1) 𝑥 = 1 (10) 𝑥 = 1 𝜇 (𝑐𝑚) (11) 3.3 RADIAÇÃO COLIDIDA E NÃO COLIDIDA A radiação sofre atenuação exponencial ao passar por um determinado material através de duas formas: radiação não colidida (I) e radiação colidida (Irs). Essa atenuação é descrita como vários “eventos únicos” (discretos), com a possibilidade de sofrer os principais modos de interação com a matéria (efeito fotoelétrico, efeito Compton e formação de pares). A ocorrência do tipo de interação depende da característica do material atenuador e da energia do raio incidente. A radiação colidida é aquela que atravessa o material sofrendo interações, e devido ao espalhamento Compton e aos processos secundários, produz uma radiação secundária. Já a radiação não colidida é aquela que atravessa o meio material sem sofrer qualquer desvio. Na figura 15 é mostrado à interação do raio gama com o meio material e a radiação colidida e a não colidida. 38 Figura 15: I é a radiação não colidida e Irs é a radiação colidida, produzindo uma radiação secundária. (Fonte: DA COSTA, 1976) Na tabela 2 são apresentados os tipos de radiações secundárias provenientes da interação da radiação eletromagnética com a matéria. Tabela 2: Tipos de radiações secundárias provenientes da interação da radiação eletromagnética com a matéria. Tipo de interação Radiação produzida Efeito fotoelétrico Raios X produzidos pela remoção de elétrons orbitais Fotoelétrons Bremsstrahlung Elétrons Auger Efeito Compton Raios secundários do efeito Compton Raios X produzidos pela remoção de elétrons Elétrons emitidos pelo efeito Compton Bremsstrahlung Elétrons Auger Produção de pares Par elétron-pósitron Aniquilação de par (0,511 MeV) Espalhamento devido a aniquilação Emissão de elétrons causada pelos espalhamentos Raios X secundários (Fonte: DA COSTA, 1976) 39 3.4 FATOR DE BUILDUP (B) Um feixe de radiação ao passar por um material pode sofrer espalhamento devido às múltiplas interações. Este espalhamento cria a radiação secundária, que provoca um efeito relevante no feixe de radiação atenuado que atravessa o material. A radiação espalhada também atinge o ponto de interesse e causará um aumento da radiação primária nesse mesmo ponto. Há, assim, uma multiplicação do feixe primário e a esse fator multiplicativo, dá-se o nome de buildup (CHILTON, 1984). Esse efeito é descrito pela expressão 12. B = Radiação Total Radiação não colidida (12) Um sistema de medidas da radiação pode ser de boa geometria ou má geometria. O sistema de boa geometria é o que apresenta feixe colimado, e cujos raios espalhados são removidos do feixe completamente. A radiação não colidida é a radiação que interage com o detector. A colimação no detector e na fonte tem a finalidade de detectar somente a radiação primária, fazendo com isso que o fator de buildup seja 1, já que a radiação secundária seria zero. Na figura 16, mostra-se um feixe de radiação colimado ou feixe estreito. Figura 16: Feixe de radiação colimado. (Fonte: ATTIX, 2008) 40 O sistema de má geometria já nãopossui um feixe estreito, mas um feixe largo, onde inúmeros efeitos de interação eletromagnética com a matéria podem acontecer, e com isso ter um aumento da parcela de raios espalhados na direção do detector. A figura 17, mostra-se o feixe de radiação não colimado ou feixe largo. Figura 17: Feixe de radiação não colimado. (Fonte: ATTIX, 2008) Já no caso do sistema de má geometria, que é geralmente encontrado na natureza, obtém- se um fator de buildup maior que 1, devido a ocorrência dos espalhamentos, além da radiação primária. A fim de levar em conta esse acréscimo na intensidade da radiação, acrescenta-se a lei de atenuação exponencial ao fator multiplicativo, conforme a equação 13. 𝐼 = 𝐼0 𝑒 −𝜇𝑥 𝐵 (13) Com isso, o fator de buildup (B) é definido pela relação entre a intensidade total do feixe emergente de radiação (radiação primária e secundária) e a intensidade do feixe emergente que não sofreu interação com o meio material. O fator de buildup depende principalmente da natureza do meio atenuador (Z), energia da fonte (E), distância, em livres caminhos médios, entre a fonte e o ponto de interesse (𝜇𝑥) e a geometria da fonte (WOOD, 1982). Com isso, expressa-se o buildup conforme a equação 14. 𝐵(𝑍, 𝐸, 𝜇𝑥) (14) 41 onde: Z = número atômico do meio atenuador; E = energia da fonte monoenergética e µx = espessura de atenuação do meio intermediário, em livres caminhos médios do raio com energia E. 3.4.1 FÓRMULA DE BERGER A fórmula de Berger para o fator de buildup utiliza os parâmetros “α” e “β”, da literatura, que são inerentes ao material de blindagem a ser utilizado, bem como a energia da radiação, conforme a equação 15 (CHILTON, 1984). 𝐵(𝑍, 𝐸, µ𝑥) = 1 + 𝛼µ𝑥𝑒𝛽µ𝑥 (15) onde: α = radiação não colidida; β = espalhamento; μ = coeficiente de atenuação linear e x = distância entre a fonte e o detector. 3.4.2 FÓRMULA DE TAYLOR A fórmula de Taylor para o cálculo do fator de Buildup, apresentada na equação 16, é a mais utilizada. Os parâmetros “A”, “α1” e “α2”, da literatura, providenciam um melhor ajuste de dados para materiais com alto valor de "Z" (número atômico) do que materiais com baixo "Z", conforme a equação 16 (CHILTON, 1984). 42 𝐵(𝑍, 𝐸, µ𝑥) = 𝐴𝑒−𝛼1𝜇𝑥 + (1 − 𝐴)𝑒−𝛼2𝜇𝑥 (16) 3.5 FATOR DE CORREÇÃO DE BUILDUP INFINITO PARA BUILDUP FINITO (FEIXE LARGO) O propósito do fator de correção foi para calcular o fator de transmissão, tendo em vista que este fator de transmissão utiliza buildup finito e o mesmo não se encontrra disponivel na literatura. Com isso, fez-se necessário o cálculo dos fatores de correção considerando os meios finito e infinito. O buildup para meio finito (Bf) utiliza uma espessura de blindagem µx e a fonte e o detector estão bem próximo desse material. Já o buildup para meio infinito (B∞), a espessura da blindagem é infinita e a distância fonte-detector é caracterizada por µx. Esses valores são importantes para susbtituir na fórmula do fator de transmissão utilizando a fórmula de Taylor. As figuras 18 e 19 apresentam essas configurações de buildup. Figura 18: Configuração de buildup finito. (Fonte: AUTOR, 2018) Figura 19: Configuração de buildup infinito. (Fonte: AUTOR, 2018) 43 Obtem-se então o valor do fator de correção conforme a equação 17 (CHILTON, 1984). 𝐹𝐶 = 𝐵𝑓−1 𝐵∞−1 (17) onde: FC = fator de correção; Bf = buildup finito e B∞ = buildup infinito. 3.6 GRANDEZAS DOSIMÉTRICAS 3.6.1 EXPOSIÇÃO (χ) A exposição é a razão entre dQ por dm, onde dQ é o valor absoluto da carga total de íons de um dado sinal, produzidos no ar, quando todos os elétrons (negativos e positivos) liberados pelos raios gama no ar, em uma massa dm, são completamente freados no ar. A unidade expressa para a grandeza é Coulomb por quilograma (ATTIX, 2008). A exposição é representada através da equação 18. 𝜒 ( 𝐶 𝑘𝑔 ) = 𝑑𝑄 𝑑𝑚 (18) A unidade especial roentgen (R) está relacionada com a unidade do SI, Coulomb/quilograma (C.kg -1 ), conforme a expressão 19. 1R = 2,58 . 10 -4 C.kg -1 (19) 44 3.6.2 KERMA (K) O kerma (kinectic energy released per unit of mass) representa a energia transferida para partículas carregadas por unidade de massa do ar, são descontadas as perdas radioativas das partículas carregadas. Sua unidade é o Gray (Gy) (ATTIX, 2008). O kerma é representado através da equação 20. 𝐾 ( 𝐽 𝑘𝑔 ) = 𝑑𝐸𝑡𝑟 𝑑𝑚 (20) O kerma é o quociente entre dEtr e dm, onde dEtr é o somatório de todas energias cinéticas de todas as partículas carregadas liberadas por raios gama, incidentes em um material de massa dm. A unidade expressa para a grandeza é o Gray (RAMOS & TAHUATA, 2002). Essa grandeza dosimétrica inclui todas as energias que são recebidas pelas partículas carregadas (geralmente elétrons de ionização), e que são, posteriormente, dissipadas nas colisões sucessivas com outros elétrons, ou na produção de radiação de freamento (bremsstrahlung). Com isso pode-se escrever, conforme a equação 20 (ATTIX, 2008). K Kc Kr (20) onde: Kc = kerma de colisão (energia localmente dissipada por ionizações ou excitações) e Kr = kerma de radiação (energia dissipada longe do local em forma de raio X). 3.6.3 DOSE ABSORVIDA (D) A dose absorvida é a relação entre a energia absorvida e a massa do volume do material atingido. É a energia média depositada pela radiação no ponto P de interesse na matéria de 45 massa m. A unidade de medida para dose absorvida é o Gray. A equação 21 mostra a relação de dose absorvida (ATTIX, 2008). 𝐷 ( 𝐽 𝑘𝑔 ) = 𝑑𝐸 𝑑𝑚 (21) A expressão 22 relaciona a unidade antiga de dose absorvida, o rad (radiation absorved dose), e o Gray. 1 Gy 100 rad (22) 3.6.4 DOSE EQUIVALENTE (H) A dose equivalente está relacionada com o produto da dose absorvida em um ponto do tecido, pelo fator de ponderação Q da radiação e outros fatores modificadores N da radiação. A unidade de medida para dose equivalente é o Sievert. A equação 23 mostra a relação de dose equivalente (RAMOS & TAHUATA, 2002). 𝐻(𝑆𝑣) = 𝐷𝑄𝑁 (23) A expressão 24 relaciona a unidade antiga da dose equivalente, o rem (roentgen equivalente men), e o Sievert. 1 Sv = 100 rem. (24) Esses outros fatores modificadores N da radiação têm como valor assumido 1. O fator de qualidade Q é adimensional e constitui um fator de peso proveniente da simplificação dos valores da Efetividade (ou Eficácia) Biológica Relativa (Relative 152 Biological Effectiveness, RBE) dos diferentes tipos de radiação, na indução de determinado tipo de efeito biológico. (ATTIX, 2008). 46 3.7 NORMA CNEN PARA DOSE EQUIVALENTE O objetivo da Norma 3.05 da CNEN é apresentar todos os procedimentos básicos de proteção radiológica das pessoas em relação à exposição à radiação ionizante, estabelecendo os requisitos de segurança e proteção para os serviços de medicina nuclear. Conforme a tabela 3, a CNEN estabelece limites regulatórios de dose efetiva e equivalente para órgãos e tecidos, baseados na exposição normal de IOE (indivíduo ocupacionalmente exposto) e indivíduo do público. Esses limites devem ser respeitados, só podendo ser excedidos com a autorização da CNEN. Tabela 3: Limites de doses efetiva e equivalente estabelecidaspela CNEN. Limites de Dose Anuais Grandeza Órgão Indivíduo Ocupacionalmente Exposto Indivíduo do Público Dose Efetiva Corpo Inteiro 20 mSv 1 mSv Dose Equivalente Cristalino 150 mSv 15 mSv Pele 500 mSv 50 mSv Mãos e pés 500 mSv -------- (Fonte: Norma CNEN 3.05) Em relação a tabela 3 são estabelecidos os seguintes parâmetros: Dose anual – Período de janeiro a dezembro de cada ano; Dose efetiva para IOE – Média ponderada em 5 anos consecutivos, não excedendo o valor de 50 mSv/ano. Dose efetiva para indivíduo do público – Em casos especiais, pode haver autorização para o valor de dose efetiva de até 5 mSv, desde que a dose efetiva média não exceda 1 mSv/ano. Pele - Valor médio em 1 cm2 de área, na região mais irradiada. 47 4 METODOLOGIA As equações 29 e 30 permitem que sejam calculadas as doses equivalentes em qualquer ponto de interesse dentro da instalação que utilize PET/CT em função da gestão semanal da clínica, sem barreira de proteção. Para o cálculo de dose equivalente, utilizou-se o buildup de Berger, em função da disponibilidade de parâmetros. Enquanto que a AAPM-108 utilizou-se a constante de dose. No entanto, sabe-se que neste tipo de instalação existe normalmente blindagem a qual atenuará uma parcela da radiação incidente. À razão entre a radiação transmitida e a incidente dá-se o nome de fator de transmissão da barreira. Calculou-se os fatores de transmissão devido a existência desses materiais atenuadores e adicionalmente foram realizadas medidas experimentais para comparação dos resultados. O fator de transmissão calculado teoricamente será composto do produto de duas parcelas: a da atenuação exponencial e a do fator de buildup, conforme equação 12. Para o cálculo da atenuação exponencial serão utilizados fatores interpolados da literatura para o cálculo do coeficiente de atenuação linear do aço para energia do raio gama de 0,511 MeV. Ressalva-se o fato de que esse valor não existe tabelado. Para o cálculo do fator de transmissão foi utilizado a fórmula de buildup de Taylor, por ser a mais comumente utilizada. Como a literatura só disponibiliza fator de buildup para meio infinito, foi utilizado o código MCNP para determinar os fatores de correção, de acordo com a equação 17. Esses fatores são utilizados para obter os fatores de transmissão, conforme equação 34. O documento da AAPM-108 menciona que os fatores de transmissão nele contidos foram calculados com o MCNP, não sendo mencionada a comparação com dados experimentais. Neste trabalho será também proposto um aparato experimental para obtenção dos fatores de transmissão do aço e posterior comparação (capítulo 6). 4.1 CÁLCULO DA DOSE ANALÍTICA EM AMBIENTE DE PET/CT 48 Calculou-se a dose equivalente analítica em ambiente de PET/CT com a finalidade de validar os dados do trabalho realizado com o relatório da AAPM-108. 4.1.1 FATORES PARA O CÁLCULO DA DOSE EQUIVALENTE SEMANAL É necessário calcular a dose equivalente semanal na instalação, confirmando se as doses estão de acordo com as recomendações dos órgãos regulatórios. O objetivo é comparar a forma analítica deste trabalho para energia de 0,511 MeV, partindo da literatura, com a AAPM-108 que tem sua metodologia para calcular a dose equivalente baseado em alguns fatores. Os principais fatores que afetam a quantidade de blindagem requerida para PET/CT são: Atividade administrada por paciente; Número de pacientes semanais que realizaram os exames; O tempo de permanência do paciente na clínica e Localização do ponto considerado na instalação. 4.1.2 METODOLOGIA DE CÁLCULO DA DOSE EQUIVALENTE SEMANAL – AAPM-108 4.1.2.1 SALA DE ADMINISTRAÇÃO Na sala de administração o paciente recebe o radiofármaco 18 F-FDG para o exame. Ficará um tempo nessa sala para reduzir a absorção do radiofármaco nos músculos esqueléticos. O paciente, ao receber o radiofármaco, se torna uma fonte radioativa. Parte da radiação emitida é transmitida pelo paciente (fator de transmissão do corpo humano é conhecido na literatura como 0,64). O tempo de permanência varia de instalação para instalação, podendo ser de 60 a 90 minutos, de acordo com a AAPM. 49 A radiação emitida pelo paciente sofre redução ao longo do tempo. Segundo a AAPM- 108, os fatores de redução (Rt) da radiação para as salas de administração e do tomógrafo são dados pelas equações a seguir: R𝑡 = 1,433 × ( T1/2 t ) × [1 − 𝐹𝑡] (25 - a) Ft = 𝑒 −0,693 𝑡 𝑇1/2 (25 - b) Rtu = 1,433 × ( T1/2 𝑡𝑢 ) × [1 − 𝐹𝑢] (25 - c) Rti = 1,433 × ( T1/2 𝑡𝑖 ) × [1 − 𝐹𝑖] (25 - d) onde: Rt = fator de redução; T1/2 = tempo de meia vida da radiação; t = tempo de permanência no local (h); Ft = fator de decaimento da radiação; Rtu = razão de decaimento do radiofármaco na sala de administração; tu = tempo de permanência na sala de administração do radiofármaco (h); Fu = fator de decaimento da radiação devido a permanência na sala da administração; Rti = razão de decaimento do radiofármaco na sala de imagem; 𝑡𝑖 = tempo de permanência na sala de imagem (h) e Fi = fator de decaimento da radiação devido a permanência na sala de imagem. A dose equivalente semanal para o paciente na sala de administração, segundo a AAPM- 108, é conforme a equação 26. 𝐷𝑠 = 0,143 𝑥 0,64 𝑥 𝑁𝑤 𝑥 𝐴0 𝑥 𝑡𝑢 𝑥 𝑅𝑡𝑢 𝑥 1 𝑑2 (26) onde: 50 Ds = dose equivalente semanal (µSv); 0,143 = constante de taxa de dose do 18 F-FDG ( 𝜇𝑆𝑣 𝑥 𝑚2 𝑀𝐵𝑞 𝑥 ℎ ); 0,64 = fração de radiação transmitida pelo corpo humano; Nw = número de pacientes por semana; A0 = atividade inicial da fonte administrada no paciente (MBq); tu = tempo de permanência na sala de administração do radiofármaco (h); Rtu = razão de decaimento do radiofármaco na sala de administração e d = distância da fonte até o ponto de interesse (m); A atividade inicial da fonte administrada ao paciente depende da massa corporal do paciente, do tempo de permanência na sala de administração e do modo de aquisição das imagens. Para os cálculos, a AAPM-108 utiliza o valor para atividade inicial da fonte de 555 MBq (MADSEN et al, 2005). A AAPM-108 estabelece o tempo de 60 minutos como período de permanência na sala de administração (tu). 4.1.2.2 SALA DO TOMÓGRAFO A AAPM-108 estabelece a dose equivalente semanal para o paciente na sala do tomógrafo, utilizando a equação 27. 𝐷𝑠 = 0,143 𝑥 0,64 𝑥 𝑁𝑤 𝑥 0,85 𝑥 𝐹𝑢 𝑥 𝐴0 𝑥 𝑡𝑖 𝑥 𝑅𝑡𝑖 𝑥 1 𝑑2 (27) onde: Ds = dose equivalente semanal (µSv); 0,143 = constante de taxa de dose do 18 F-FDG ( 𝜇𝑆𝑣 𝑥 𝑚2 𝑀𝐵𝑞 𝑥 ℎ ); 0,64 = fração de radiação transmitida pelo corpo humano; Nw = número de pacientes por semana; 0,85 = Fração restante do radiofármaco após as eliminações normais feitas pelo paciente; 51 Fu = fator de decaimento da radiação devido a permanência na sala da administração; A0 = atividade inicial da fonte administrada no paciente (MBq); ti = tempo de permanência na sala do tomógrafo (h); Rti = fator de redução da radiação inicial e d = distância da fonte até o ponto de interesse (m). A AAPM estabelece o tempo de 30 minutos como período de permanência na sala do tomógrafo (ti). 4.1.3 CÁLCULO DA DOSE EQUIVALENTE SEMANAL – ABORDAGEM DO TRABALHO O trabalho aborda o cálculo da dose equivalente em um determinado ponto d de interesse a partir da taxa de kerma em um tempo t. O objetivo é mostrar o valor da constante da taxa de dose de 0,143 apresentado pela AAPM-108, utilizando uma nova fórmula, baseada na literatura, mostrando o valor do coeficiente de atenuação linear para o ar interpolado para energia de 0,511 MeV, que não é apresentado pela AAPM-108. Esse cálculoé realizado para as instalações de PET/CT com os pacientes na sala de administração e na sala de imagem, conforme as expressões 28, 29 e 30. 4.1.3.1 TAXA DE DOSE PARA A SALA DE ADMINISTRAÇÃO E SALA DO TOMÓGRAFO �̇�𝐴𝑁 = 𝐴0 4×𝜋×𝑑2 × 0,511 × 𝐵(𝜇𝑑) × 𝑒−𝜇𝑑 × 1,6 × 10−13 × ( 𝜇𝑒𝑛 𝜌 ) 𝑎𝑟 × 2 × 1,1 (28) onde: �̇�𝐴𝑁 = equação analítica da taxa de dose no tecido (µSv/semana); A0 = atividade inicial da fonte administrada no paciente (MBq); 52 d = distância da fonte até o ponto de interesse (m); 0,511 = energia em MeV do raio gama de aniquilação; 𝐵(𝜇𝑑) = buildup de Berger para os raios gama de 0,511 MeV no ar para µd números de livres caminhos médios; 𝑒−𝜇𝑑 = atenuação exponencial para os raios gama de 0,511 MeV no ar; 1,6 x 10 -13 = fator de conversão de MeV para Joule; ( 𝜇𝑒𝑛 𝜌 ) 𝑎𝑟 = coeficiente mássico de absorção de energia para os raios gama de 0,511 MeV no ar ( 𝑚2 𝑘𝑔 ); 2 = número de raios gama de aniquilação emitidos no processo e 1,1 = fator de transformação de dose no ar para dose no tecido. 4.1.3.2 DOSE SEMANAL – PACIENTE NA SALA DE ADMINISTRAÇÃO 𝐷𝑊 = �̇�𝐴𝑁 × 0,64 × 𝑁𝑊 × 𝑡𝑢 × 𝑅𝑡𝑢 (29) onde: 𝐷𝑊 = equação da dose semanal no ponto de interesse (Sv); �̇�𝐴𝑁 = equação analítica da taxa de dose; 0,64 = fração transmitida pelo corpo humano; NW = número de pacientes por semana; tu = tempo de permanência na sala de administração do radiofármaco (h) e Rtu = razão de decaimento do radiofármaco na sala de administração. 4.1.3.3 DOSE SEMANAL – PACIENTE NA SALA DO TOMÓGRAFO 𝐷𝑊 = �̇�𝐴𝑁 × 0,64 × 𝑁𝑊 × 0,85 × 𝐹𝑢 × 𝑡𝑖 × 𝑅𝑡𝑖 (30) 53 onde: 𝐷𝑊 = equação da dose semanal no ponto de interesse (Sv); �̇�𝐴𝑁 = equação analítica da taxa de dose; 0,64 = fração transmitida pelo corpo humano; NW = número de pacientes por semana; 0,85 = fração restante do radiofármaco após as eliminações normais feita pelo paciente; 𝐹𝑢 = decaimento do radiofármaco; 𝑡𝑖 = tempo na sala de imagem (h) e 𝑅𝑡𝑖 = razão de decaimento do radiofármaco na sala de imagem. 4.2 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO PARA OS FATORES DE CORREÇÃO Seguindo a metodologia proposta, precisa-se obter os valores dos fatores de correção. Para tanto, utilizou-se o código MCNP para obtenção das intensidades de radiação colidida e não colidida, em meio finito e infinito, para então calcular-se os valores de buildup correspondentes, de acordo com as equações 12. Esses valores foram então utilizados na equação 17 para o cálculo dos fatores de correção. 4.2.1 MÉTODO DE MONTE CARLO (MMC) E O CÓDIGO MCNP A ideia geral do método de Monte Carlo (MMC) consiste na criação de um modelo tão similar quanto possível ao sistema real de interesse, e criar interações dentro do modelo que reproduzam eventos desse sistema, baseadas em probabilidades de ocorrência conhecida, com amostragens aleatórias de funções de densidade de probabilidade (probability density functions – pdf). À medida que o número de eventos individuais simulados e amostrados (chamados de “histórias”) aumenta, a qualidade do comportamento médio dos eventos no modelo melhora, significando uma diminuição na incerteza estatística (ZAIDI & SGOUROS, 2002). 54 O MCNP é um código multipropósitos desenvolvido pelo Los Alamos National Laboratory após a segunda guerra mundial. O MCNP é uma fusão de outros códigos que tinham suas particularidades, criando assim um único programa para simular situações diversas. O código que foi utilizado foi o MCNPx (Monte Carlo N-Particle Extended) (L.L. CARTER, 1975). Aplicações típicas: – Proteção radiológica – Dosimetria – Blindagem contra radiações – Radiografia – Física Médica – Cálculos de criticalidade – Projeto e análise de detectores – Perfilagem de poços de petróleo – Projeto de aceleradores – Reatores de fissão/fusão – Descontaminação – Descomissionamento O código utilizado neste trabalho é o MCNPx (Monte Carlo N-Particle code), o qual analisa o transporte de nêutrons, raios gama e elétrons pelo MMC, simulando processos nucleares. É utilizado para várias aplicações, inclusive para a proteção radiológica (SHULTS & FAW, 2011) 4.2.1.1 ENTRADA E SAÍDA DE DADOS NO MCNP 55 Para a realização de simulações, o programa demanda a criação de um arquivo de entrada de dados (input). Nele deverão constar todas as informações necessárias para caracterização do problema: materiais e fonte, geometria 3D e parâmetros de execução, dentre outros. O arquivo input deverá apresentar as informações divididas em três blocos de cartões (cards) descrevendo: Células; Superfícies e Dados Após executar a simulação o programa gerará um arquivo de saída de dados (output), contendo diversas informações, como o fluxo de radiação total, o fluxo de radiação não colidido, o número de efeitos comptons, efeitos fotoelétricos e de produção de pares, dentre outros. Cabe ao usuário informar ao programa quais quantidades de seu interesse deverão ser calculadas. 4.2.1.1.1 CÉLULAS O primeiro grupo (cartões de células) é utilizado para definição dos entes geométricos relevantes para o problema, em três dimensões e coordenadas cartesianas. No MCNP uma célula é uma região volumétrica definida no espaço, a partir de superfícies geométricas que a delimitam, à qual se atribui um material, densidade e importância relativa a cada tipo de partícula acompanhada na execução do programa. Todo o “universo” deve ser definido por células, ou seja, o volume de controle, que é a região onde as partículas serão efetivamente transportadas e as respostas de interesses calculadas, e o “resto do mundo” que representa a região onde todas as histórias de partículas que nela adentram são encerradas. Todas as células, portanto, possuirão volume finito, exceção feita à região exterior ao volume de controle. A cada célula é atribuído um número identificador único, bem como um material, densidade e importância relativa para as partículas sendo acompanhadas pelo programa (MEDEIROS, 2018). 56 4.2.1.1.2 SUPERFÍCIES O segundo grupo (cartões de superfícies) é utilizado para especificar as superfícies geométricas do problema. No MCNP as superfícies são, portanto, entes geométricos de referência utilizadas para definição das células e do volume de controle. Há 27 tipos de superfícies disponíveis para utilização no código que incluem planos, esferas, cilindros, cones (de uma ou duas folhas), elipsóides, hiperbolóides, parabolóides e toróides. Além das superfícies básicas, o programa ainda possibilita a utilização de macrobodies (macrocorpos), que são superfícies combinadas convenientemente para definição de sólidos geométricos comuns (MEDEIROS, 2018). 4.2.1.1.3 DADOS O terceiro e último grupo (cartões de dados) contém os cartões que definem os tipos de partículas a serem acompanhadas, os materiais empregados, as características da fonte de radiação, os controles dos modelos físicos utilizados, as bibliotecas de seções de choque, as técnicas de redução de variância, as respostas desejadas e vários outros aspectos atinentes ao problema. Em resumo, todas as informações necessárias à execução da simulação que não foram colocadas no bloco de células ou no bloco de superfícies deverão constar no bloco de dados (MEDEIROS, 2018). No primeiro momento, defina-se qual tipo de radiação será utilizada na simulação, como raios, nêutrons, elétrons ou uma combinação entre eles, além de mencionar a importância. Após define-se a fonte, através da configuração do comando SDEF, o qual mostra todas as informações necessárias de descrição da fonte que será utilizada e a posição que a mesma se encontra como a sua geometria, a energia,
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