Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
REDE DE ENSINO DOCTUM – DIREITO – 2º PERÍODO MATUTINO IARA VASCONCELOS VIEIRA FELÍCIO DIREITO CIVIL – SUJEITOS DE DIREITO: PESSOA JURÍDICA Caratinga 2021 2 NOÇÃO DE PESSOA JURÍDICA E SEUS REQUISITOS As pessoas jurídicas são entidades a que a lei empresta personalidade, são seres que atuam na vida jurídica ao lado dos indivíduos humanos e aos quais a lei atribui personalidade diversa da dos indivíduos que os compõem. A pessoa jurídica é um sujeito de direito personalizado, assim como as pessoas físicas, em contraposição aos sujeitos de direito despersonalizados, como o nascituro, a massa falida, etc. Desse modo, a pessoa jurídica tem a autorização genérica para a prática de atos jurídicos bem como de qualquer ato, exceto o expressamente proibido. Feitas tais considerações, cabe conceituar pessoa jurídica como o sujeito de direito inanimado personalizado. Pode- se então conceituar pessoa jurídica como sendo” a unidade de pessoas naturais ou de patrimônios, que visa à consecução de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações. Pessoa jurídica consiste num conjunto de pessoas ou bens, dotado de personalidade jurídica própria e constituído na forma da lei. São três os requisitos para a existência da pessoa jurídica: organização de pessoas ou bens, laicidade de propósitos ou fins e capacidade jurídica reconhecida por norma. NATUREZA DA PESSOA JURÍDICA A pessoa jurídica surge para suprir a própria deficiência humana, quando o homem não encontra recursos necessários para uma empresa maior, se estabelece com outros homens, constituir um organismo capaz de alcançar os objetivos. Há teorias que afirmam que a pessoa jurídica não tem existência, ou seja, personalidade própria. São as chamadas teorias negativistas. Por outro lado, as teorias afirmativas afirmam ao contrário, e são divididas em teorias da ficção e teorias da realidade. 3 Teorias da ficção: tiveram maior influência no século XIX e são divididas em teoria da "ficção legal" e teoria da "ficção doutrinária". A primeira foi desenvolvida por Savigny e nela a pessoa jurídica é uma criação artificial da lei e somente a pessoa natural pode ser sujeito da relação jurídica e titular de direitos subjetivos. A teoria da “ficção doutrinária" afirma que a pessoa jurídica não tem existência real, mas apenas intelectual; sendo assim, uma mera ficção criada pela doutrina. Atualmente, as teorias da ficção não são aceitas, uma vez que não explicam a existência do Estado como pessoa jurídica. Teorias da realidade: as pessoas jurídicas são realidades vivas e não só mera abstração, tendo existência própria como os indivíduos. Essa teoria ainda se divide nas seguintes: 1) Teoria da realidade objetiva ou orgânica: sustenta que a pessoa jurídica é uma realidade sociológica, que nasce por imposição das forças sociais. Seus adeptos principais: Gierke e Zitelmann. 2) Teoria da realidade jurídica ou institucionalista: defendida por Hauriou, ela considera as pessoas jurídicas como organizações sociais destinadas a um serviço e por isso são personificadas. 3) Teoria da realidade técnica: seus adeptos são, especialmente, Saleilles e Colin e Capitant. Essa teoria considera que a personificação dos grupos sociais é expediente de ordem técnica. A personificação é atribuída a grupos em que a lei reconhece vontade e objetivos próprios. 4) Teoria Institucionalista de Hauriou, uma instituição preexiste ao momento em que a pessoa jurídica nasce. CAPACIDADE E REPRESENTAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA A capacidade da pessoa jurídica é, por sua própria natureza, especial. Considerando sua estrutura organizacional, moldada a partir da técnica jurídica, esse ente social não poderá, por óbvio, praticar todos os atos jurídicos admitidos para a pessoa natural. “O seu campo de atuação jurídica encontra-se delimitado no 4 contrato social, nos estatutos ou na própria lei. Não deve, portanto, praticar atos ou celebrar negócios que extrapolem da sua finalidade social, sob pena de ineficácia. Por se tratar de um ente cuja personificação é decorrência da técnica legal, sem existência biológica ou orgânica, a pessoa jurídica, dada a sua estrutura, exige órgãos de representação para poder atuar na órbita social. Em verdade, mais técnico seria falar em apresentação da pessoa jurídica. Isto é, por não poder atuar por si mesma, a sociedade ou a associação age, faz-se presente, por meio das pessoas jurídicas que compõem os seus órgãos sociais e conselhos deliberativos. Essas pessoas praticam atos como se fosse o próprio ente social. CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS Conforme o artigo 40 do Código Civil de 2002, as pessoas jurídicas (admitidas pelo Direito brasileiro) são de direito público (interno ou externo) e de direito privado. As primeiras encontram-se no âmbito da disciplina do direito público, e as últimas, no do direito privado. Pessoas jurídicas de Direito Público Pessoas jurídicas de direito público interno conforme o artigo 41 do Código Civil de 2002 são a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, os municípios, as autarquias (como o INSS, etc.) e as demais entidades de caráter público criadas por lei (por exemplo, fundações públicas como as universidades federais ou estaduais). Sua existência legal (personalidade), ou seja, sua criação e extinção ocorrem pela lei. Pessoas jurídicas de direito público externo são os Estados nacionais, considerados reciprocamente, além de organismos internacionais (ONU, OEA, União Européia, Mercosul, etc.). Eles se constituem e se extinguem geralmente mediante fatos históricos (guerras, revoluções, etc.). Pessoas jurídicas de Direito Privado Dividem-se em duas categorias: de um lado, as estatais; de outro, as particulares. Para essa classificação interessa a origem dos recursos empregados na constituição da pessoa, posto que seja estatais aquelas para cujo capital houve 5 contribuição do Poder Público (sociedades de economia mista, empresas públicas) e particular as constituídas apenas com recursos particulares. A pessoa jurídica de direito privado particular pode revestir três formas diferentes: a fundação, a associação e a sociedade. O traço característico dessas duas últimas é a união de esforços para a realização de fins comuns. Se esses fins são econômicos, a pessoa jurídica é uma sociedade. No âmbito do Direito Privado, as pessoas jurídicas podem ser: associações, sociedades, fundações. Associações se caracterizam pela reunião de pessoas com fins não lucrativos; a finalidade é sempre religiosa, desportiva, cultural, recreativa e outras afins. A constituição ou ato constitutivo é sempre escrito, público ou particular, denominado estatuto. Sociedades se caracterizam pelo intuito do lucro, seus membros são designados como sócios e o seu ato constitutivo deve ser feito por escrito e denomina-se contrato social, havendo interesse público na criação da sociedade terá a necessidade de autorização prévia do governo. No caso da sociedade, a falta de registro ocorre quando acontece o não cumprimento dos requisitos legais para a finalidade do ato, ou seja, a falta de documentos para se abrir o registro da pessoa jurídica. Já a falta de autorização ocorre quando o ato constitutivo (contrato social) é nulo por alguma falha na sua composição, possibilitando a criação da sociedade. A sociedade de fato ou irregular é quando ocorre a ausência do registro da pessoa jurídica, temos uma mera sociedade irregular ou de fato, tratada como ente despersonificado pelas regras do Direito Empresarial, caso em que os seus sócios passam a ter responsabilidade pessoal pelos débitos sociais. Fundações, por sua vez, surgem quando é atribuída a personalidade jurídica a determinado patrimônio, para realizar um determinado fim lícito. A vontade criadora pode ser de apenas uma pessoa, a pessoa que funda é sempre pessoa natural ou jurídica. A finalidade é sempre filantrópica voltada a um interesse cultural, social, científica.Não se tem sócios na fundação e sim patrimônio, que aparece como bens livres. O ato constitutivo denominado estatuto pode ser ato intervivos, com escritura pública, ou de última vontade, com testamento. Ela não produz lucro, 6 mas se sustenta com sua gestão. Sua finalidade não é econômica diretamente, mas pode gerar lucro eventualmente, e o lucro acaba sendo revertido para a própria atividade. Ou seja, apesar do lucro ter sido gerado, tem finalidade cultural, religiosa, educacional e etc. Para instituir uma fundação o instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim para o qual se destina. O instituidor ou aqueles a quem ele cometer a aplicação do patrimônio formularão o estatuto da fundação submetendo-o à aprovação do Ministério Público. Aprovado, o estatuto será levado para ser registrado no Cartório Civil de Pessoas Jurídicas da cidade onde se localiza a sede da Fundação. RESPONSABILIDADE CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS Responsabilidade contratual: Se as pessoas jurídicas se tornarem inadimplentes terão que responder por perdas e danos; Responsabilidade extracontratual: Varia conforme seja a pessoa jurídica de direito público ou privado. No caso das pessoas jurídicas de direito privado, elas responderão pelos atos de seus prepostos quer tenham ou não finalidade lucrativa. Já as pessoas jurídicas de direito público terão responsabilidade objetiva sobre os atos dos seus agentes, sendo que essa responsabilidade se estende às pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos. Neste sentido, proclama o artigo 43 do CC que "as pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, dolo ou culpa". DESCONSIDERAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS O Código Civil contempla essa regra em seu artigo 50, o qual diz que "em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do 7 Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica". Os efeitos dessa desconsideração serão patrimoniais e relativos a determinada obrigação. Pode ocorrer, ainda, a desconsideração inversa, que é observada quando se afasta o princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizar a sociedade por uma obrigação contraída por um de seus sócios. EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA A extinção da pessoa jurídica pode ser dar de forma convencional (vontade de seus integrantes); legal; administrativa (não obtêm aprovação do Poder Público para funcionamento ou quando praticam atos contrários ao seu fim); natural (com a morte de um de seus integrantes); e judicial (um dos sócios propõe sua extinção ao Juiz em decorrência da inobservância de uma norma extintiva legal). Ela pode variar conforme o tipo de pessoa jurídica. a) Sociedade: A extinção de uma sociedade pode se dar de duas formas: através da dissolução (quando acabam pela vontade dos sócios ou com o término de sua duração) e da liquidação (são extintas por força de ato de autoridade competente). Além dessas duas formas, podem se extinguir também através da consecução do fim social, da verificação da sua inexequibilidade, da morte ou incapacidade de um dos sócios, da insolvência ou da extinção do capital social. b) Associação: Uma Associação pode findar-se de três formas: através da extinção (quando falta um dos elementos essenciais da personalidade jurídica: falta de associação, falta de escopo ou perda de patrimônio), da dissolução (pela vontade geral dos sócios) e da supressão (por ato de autoridade competente). Havendo fim de uma dessas pessoas jurídicas, seu patrimônio terá destinação diversa: se for sociedade, será dividido entre os sócios; se for associação, será devolvido à pessoa apontada no estatuto e, sendo este omisso, para quem a lei determinar. REFERÊNCIAS RODRIGUES, Sílvio. DIREITO CIVIL PARTE GERAL. Ed. Saraiva, 2003. GONÇALVES, Carlos Roberto. DIREITO CIVIL PARTE GERAL. Ed. Saraiva, 2008.
Compartilhar