Buscar

O SISTEMA TEME UM JOVEM POBRE QUE SABE PENSAR- MULHERES E CARCERE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 11 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

“O SISTEMA TEME UM JOVEM POBRE QUE SABE PENSAR”: MULHERES E 
CÁRCERE 
Francisca Emmanuella S. Martins 
RESUMO 
O trabalho se refere ao diálogo estabelecido com distintos autores que trabalham a temática 
relativa a políticas públicas de juventude e mulheres jovens encarceradas, discutidos na 
disciplina Políticas Públicas de Juventude. Além do objetivo de responder aos 
questionamentos indicados pela professora da citada disciplina, realizamos a conexão entre 
estes debates e a temática de pesquisa proposta como investigação a ser realizada durante o 
curso, relacionada a mulheres encarceradas a partir da experiência como Assistente Social no 
Presídio Feminino Auri Moura Costa. A discussão destaca a compreensão dos autores acerca 
dos obstáculos e dificuldades para a implementações de ações de políticas públicas voltadas 
para jovens e principalmente da condição de gênero e tendo a condição de encarceramento. 
Concluímos com o rico debate que procura entender a necessidade de olhar mais de perto para 
essas pessoas é ter reconhecimento das diferenças humanas, sob pena de perda do norte entre 
o vivido e o pensado e a construção da própria história enquanto sujeitos autônomos e de ter a 
oportunidade do recomeço e de uma construção de identidade de ser cidadão de direitos e 
deveres. 
 
Palavras-chave: mulheres jovens; políticas públicas de juventude; mulheres encarceradas. 
 
INTRODUÇÃO 
Mulheres jovens. Mulheres e jovens, categorias que devem ser pensadas em 
consonância com os recortes de gênero. Por mais simples que sejam estes recortes continuam 
apresentando diferentes formas de ver e perceber mulheres, jovens e mulheres jovens 
encarceradas. 
As dificuldades para pensar políticas públicas para estes grupos, mesmo que políticas 
públicas tardias, denunciam o descaso com grupos sociais que são fundamentais no apoio a 
segmentos privilegiados da sociedade. E, por isso mesmo, devem ser negadas, por diversas 
vezes, sua contribuição na conformação de sociedades desigualdades. A partir do trabalho 
moroso e contínuo de negação e absorção por estes grupos, mais distantes se tornam sua 
organização para reivindicar políticas públicas de apoio para si. 
Esta discussão surge tendo como apoio empírico a experiência com mulheres 
encarceradas em presídio feminino, de Fortaleza, quando de minha atuação como Assistente 
Social, no apoio à mulheres encarceradas. Situações de denegação, pois sua presença como 
mulher que luta para alcançar suas metas culturais, na perspectiva mertoniana, continua sendo 
negada no cárcere, com os esquecimentos e apagamentos de direitos fundamentais 
consagrados na Carta Magna como o direito à vida digna, à integridade física, à tratamento 
humano, dentre outros. 
Como apoio teórico, as discussões realizadas por autores que apresentam diferentes 
perspectivas para o entendimento do fenômeno da juventude e sua relação com as políticas 
públicas que, mesmo apoiadas na Constituição Federal do país, são silenciadas. Mas ganham 
visibilidade com os movimentos sociais, o contexto político e econômico, o apoio de 
entidades e instituições de defesa a grupos marginalizados, sejam locais ou internacionais. 
 
1 A JUVENTUDE DEIXOU DE SER APENAS UMA PALAVRA: TORNOU-SE 
“PROBLEMA” DO ESTADO 
Bourdieu, com propriedade, confirmou que a “juventude” era apenas uma palavra. 
Entretanto, torna-se conceito, persegue sendo apropriada pelo poder e pelo Estado; torna-se, 
para muitos deles, apenas força de trabalho; poucos jovens privilegiados, prosseguiram sendo 
poupados para assumir o controle da maioria e dar continuidade ao sistema de privilégios 
políticos e sociais. 
A juventude tem se tornado tema de debate no que diz respeito à sua concepção 
enquanto conceito (ARIÈs, 1981) e, posteriormente, à necessidade de classificar e vigiar a 
passagem pela infância, à fase adulta para controle das rebeldias etárias e, por fim, à velhice. 
Cada momento considerando suas especificidades para criação de novas necessidades e algum 
usufruto lucrativo para o sistema. Instituições, entidades, empresas, religiões, se apropriam de 
um cadinho e passam a ressignificar condutas, valores, imperativos, legislação como controle 
na organização da vida coletiva. 
Portanto, pensar acerca de uma fase da vida humana, no caso, a juventude, nos remete, 
dentre outros diferentes momentos, à distintas discussões como à ideia da “melhor fase da 
vida” contrapondo-se à vida adulta no mundo do trabalho e suas diversas responsabilidades; 
ou ainda, à velhice, fase final da vida, para quem tem o privilégio de vivê-la. Aqui implica as 
questões das mudanças, sexualidade, entretenimentos, descobertas, crises... 
Evidente que consideramos o conceito de juventude entendendo que diferentes 
culturas pensam de distintas formas esta fase da vida. No caso deste texto, a ênfase recai sobre 
a violência, sem a pretensão de generalizar e esquecer as especificidades encontradas em 
espaços urbanos e rurais, na periferia ou bairros privilegiados das cidades. Mas, é fato que as 
políticas públicas apresentam como objetivos centrais o controle desta fase da vida humana – 
e de todas as outras –, principalmente, quando se refere ao enfrentamento da violência que 
emerge a partir do descaso, da carência de atenção, da falta de perspectivas para se atingir 
determinados objetivos tão valorizados pela sociedade; e, certamente, dado o aumento da 
população juvenil. Mas, não podemos esquecer os diferentes usos e abusos desta fase da vida, 
pelo poder estabelecido, como bem lembra Bourdieu (1983, p. 1). “O reflexo profissional do 
sociólogo é lembrar que as divisões entre as idades são arbitrárias. [...] De fato, a fronteira 
entre a juventude e a velhice é um objeto de disputas em todas as sociedades”. Lembra ainda, 
o autor, se referindo a Georges Ouby ao afirmar que “na Idade Média, os limites da juventude 
eram objeto de manipulação por parte dos detentores do patrimônio, cujo objetivo era manter 
em estado de juventude, isto é, de irresponsabilidade, os jovens nobres que poderiam 
pretender à sucessão”. 
Portanto, não podemos dizer que faltaram políticas públicas de atenção a este grupo e 
que elas apenas foram implantadas e condensadas a partir do governo do Partido dos 
Trabalhadores (PT). Muitos estudiosos da área destacam este debate como é o caso de 
Abramo (1997), Sposito e Carrano (2003), Kuenzer (2000a e 2000b) e outros. Mas podemos 
constatar a ausência de atenção e de escuta dos interessados e o entendimento de que se são 
todos iguais, merecem tratamentos semelhantes, desconsiderando a cultura, valores e 
costumes arraigados por diferentes grupos sociais. Bourdieu (1983, p. 2), lembra que: 
Isto é muito banal, mas mostra que a idade é um dado biológico socialmente 
manipulado e manipulável; e que o fato de falar dos jovens como se fossem uma 
unidade social, um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e relacionar 
estes interesses a uma idade definida biologicamente já constitui uma manipulação 
evidente. 
Interesse e controle pelas e nas diferentes fases da vida, sempre existiu, como destaca 
Bourdieu (1983, p. 2): “quando digo jovens/velhos, tomo a relação em sua forma mais vazia. 
Somos sempre o jovem ou o velho de alguém. É por isto que os cortes, seja em classes de 
idade ou em gerações, variam inteiramente e são objeto de manipulações”. 
Este rápido contexto serve de orientação para a discussão acerca das políticas públicas 
voltadas para a juventude; desta feita, escutando a voz delas e deles para o desenvolvimento 
de programas, ações, equipamentos, debates e reflexões para evitar, em muitos casos, ter que 
“correr atrás do leite derramado”, mas, sim, em caráter preventivo. 
Assim, criava-se um contexto propício ao crescimento de debates e movimentos em 
torno da juventude, principalmente com a abertura que o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA) proporcionou denunciando situações de descaso, violência, desemprego,abandono de 
escolas e, consequentemente, o aumento da população carcerária. 
Muitas ações até então voltadas para a juventude somente eram pensadas e 
implementadas como remédio para sanar determinadas situações, como é o caso das 
instituições socioeducativas bem como as medidas socioeducativas, que apresentam caráter 
punitivo e a crença no processo de ressocialização. 
Desenvolvido no Departamento da Criança e do Adolescente, da Secretaria de 
Estado de Direitos Humanos, possui âmbito nacional, sendo dirigido a adolescentes 
em conflito com a lei que cumprem medidas judiciais socioeducativas não-privativas 
da liberdade. Sua missão é articular e estimular os esforços do sistema 
socioeducativo instituído pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Essa iniciativa 
foi apresentada como uma resposta institucional a propostas de ações 
governamentais de proteção ao adolescente em situação de conflito com a lei 
consignadas no Programa Nacional de Direitos Humanos. (SILVA e SILVA, 2003, p. 
24) 
Podemos refletir ainda sobre as instituições que são pensadas e implementadas para 
receber crianças, adolescentes e jovens, no caso, as escolas, instituições que se preocupavam 
apenas com papel formativo voltado para o mundo do trabalho, mas não preventivo no sentido 
de ouvir, orientar, dialogar, preparar e formar para a vida. 
Portanto, as consequências e dificuldades de pensar a juventude como grupo em 
processo de formação, de transição, de mudanças que acarretam inúmeros conflitos e, por isso 
mesmo, que precisa de atenção e de propostas de apoio, de formação, de segurança e cuidados 
preventivos, passam a ser prioridade em contexto diferente do que a sociedade brasileira for 
formada; contexto em que os privilégios e benefícios, geralmente, eram pensadas para grupos 
privilegiados. Diferentes ações desenvolvidas pela sociedade civil, e implementadas, em sua 
maioria, por partidos de esquerda, pensando em termos de alianças para disputa eleitoras, se 
originam de trabalhos anteriores impulsionadas por organizações não-governamentais, como 
destacam Sposito e Carrano (2003, p. 25), “que, por meio de sua militância juvenil ou de 
setores organizados do movimento estudantil, incluíram na sua plataforma política demandas 
desses segmentos que aspiravam pela formulação de ações específicas destinadas aos jovens”. 
Observa-se, a partir de meados dos anos 1990, nos planos local e regional, o 
aparecimento de organismos públicos destinados a articular ações no âmbito do 
poder executivo e estabelecer parcerias com a sociedade civil, tendo em vista a 
implantação de projetos ou programas de ação para jovens, alguns financiados pela 
esfera federal. Esse fato é bastante recente e decorre sobretudo de compromissos 
eleitorais de partidos, principalmente de esquerda e de centro-esquerda. (SPOSITO e 
CARRANO (2003, p. 25) 
Os autores citam levantamento realizado pela Ação Educativa, organização não-
governamental voltada para o trabalho com os segmentos juvenis, identificando iniciativas 
organizadas pelos grandes partidos do país: “cinco na gestão do Partido dos Trabalhadores; 
cinco de partidos no campo de centro-esquerda que realizaram alianças no segundo turno com 
o candidato Lula, para as eleições presidenciais de 2002 (um do PDT, dois do PPS e um do 
PSB); dois do PFL (partido à direita do espectro político); e, finalmente, dois do PSDB”. 
(SPOSITO e CARRANO, 2003, p. 25) 
Inicia-se, então, um período de constituição de políticas públicas direcionada aos 
jovens e que “marca uma ampliação desses novos organismos”, como lembra estes autores. 
Entretanto, em uma perspectiva e leitura mais abrangente e considerando os reveses políticos 
próprios de sociedades com heranças de extrema desigualdade social, ainda citando estes 
autores que apontam para prováveis cenários que se distanciam destas políticas, como a que 
ocorre com a eleição de representantes de extrema direita no Brasil, no ano de 2018. 
“Somente uma perspectiva longitudinal, incorporando uma série histórica maior, poderá aferir 
tendências, descontinuidades e formas de consolidação de uma nova institucionalidade nas 
políticas de juventude no Brasil”. (SPOSITO e CARRANO, 2003, p. 25-26) 
 
2 MULHERES JOVENS E A CRIMINALIDADE 
Até aqui utilizamos o conceito de jovem como se considerássemos apenas os do 
gênero masculino, os meninos adorados pelo poder masculino; mas as meninas também se 
tornam parte adorada por este poder, mas em situação de inferioridade aos garotos. Esta 
condição imposta às meninas tende a ser mais violenta, situação explicada pela cultura do 
patriarcado que privilegia meninos e homens adultos ou idosos. Portanto, quando situamos 
conjunturas de descaso aos jovens observamos um contexto de extrema violência às meninas 
e mulheres adultas ou idosas. 
Em dados de 2019, encontramos o país vivendo outra conjuntura política e econômica 
de extremo desemprego, de desmantelamento de direitos sociais garantidos, dentre outras 
ameaças que colocou significativa parte da população em situação de descaso. Fatos que 
possibilitaram um aumento expressivo da violência, conforme indica os dados do Ministério 
da Justiça, através do Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional – 
SISDEPEN, em que se atingiu uma população carcerária de 755.274, ou seja, a cada 100 mil 
habitantes temos um percentual de 359,40% de pessoas presas. Para identificar a juventude 
encarcerada é necessário definir juventude na perspectiva da Política Nacional de Juventude 
(PNJ) que define juventude a partir de três grupos: adolescente – 15 a 17 anos; jovens-jovens, 
de 18 a 24; e, jovens-adultos, de 25 a 29 anos. (BRASIL, 2019, online) 
Portanto, de uma população encarcerada de 755.274, encontramos o segundo e terceiro 
grupos, totalizando 335,032 mil, ou seja 44% de jovens. Destes, 37.197 são do gênero 
feminino, totalizando 37,26%. (BRASIL, 2019, online). Estas são jovens que, de um lado, 
sofrem carência estrutural, que não tem referência de família e nem apoio educacional; e do 
outro, uma super-oferta de imagens e objetos de fácil acesso, na tentativa de construir seu 
desejo opta pelo caminho do crime e essas saídas não são fáceis. 
Diante da precariedade de significação social cultural contemporânea, o sujeito tenta 
encontrar novas formas de estabelecer laço social, buscando alguma amarra coletiva. 
A entrada numa gangue ou num circuito criminoso oferece, diante dessa carência 
simbólica, uma promessa de sentido social, com uma ilusão comunitária. O sujeito 
fica submetido aos ideais narcísicos impostos pela cultura local. Na verdade, o poder 
desses coletivos existe porque o sujeito atribui a eles esse poder, em função da sua 
carência simbólica, ou seja, diante de sua precária consistência subjetiva. 
(GUERRA, 2010, p. 451) 
O contexto de descaso e de carência extrema da população proporciona algumas 
“oportunidades” duvidosas que são aceitas não sem reflexões, medos, incertezas. Mas diante 
da necessidade urgente de atender demandas familiares ou, mesmo de satisfação de desejos 
para obter bens valiosos, naquele momento, acabam realizando atos ilícitos até serem 
encarceradas. 
Portanto, em termos de Estado do Ceará, a população carcerária em 2019, era de 
33.953 mil pessoas; 2.440 destas, são mulheres; a faixa etária diz mais sobre este grupo: 18 a 
24 – 688 mulheres; 25 a 29 – 436. Fato que corrobora a afirmação inicial da fragilidade de 
políticas públicas preventivas, pois se em 2015 tinham 1.181 mulheres encarceradas, em 2019 
temos um crescimento de 48%, ou seja, 1.259 novas mulheres, em apenas quatro anos. 
Quando nos referimos às políticas de caráter preventivo estamos falando da ausência 
de debates, discussões e outras tantas atividades que podem e devem ser desenvolvidas em 
espaços institucionais como escolas, em que encontramos adolescentes, com diferentes faixas 
etárias, distintas orientações sexuais, diferentes condições sociais, raciaise étnicas. Neste 
espaço observamos que, dificilmente conteúdos como direitos humanos, o estatuto da criança 
e do adolescente, sexualidades, dentre outros temas, são discutidos. Dúvidas frequentes são 
sanadas por outros colegas às vezes de forma equivocada; e são dúvidas que geralmente não 
podem ser respondidas em casa, pelos pais ou parentes, por uma série de motivos; resta, 
portanto, alguns ambientes em que se poderia conversar sobre estes temas, não ficando 
limitado à escola; organizações não-governamentais, igrejas, associações, sindicatos, são 
outros locais profícuos às discussões. Quem sabe, preventivos a partir da apropriação de 
conhecimentos, direitos e deveres, por adolescentes e jovens. 
Becker (2008, p. 47) destaca aspectos que confirmam esta nossa suspeita ao dizer 
que “a prisão pode não levar ao desvio crescente se a situação na qual o indivíduo é detido 
pela primeira vez ocorrer num momento em que ainda lhe é possível escolher entre linhas 
alternativas de ação”. O que significa dizer que ainda há mais uma chance, caso alguém lhe 
estenda a mão e oriente. Prossegue o autor: 
Confrontado pela primeira vez com as possíveis consequências finais e drásticas do 
que está fazendo, talvez decida que não quer tomar o caminho desviante, e volte 
atrás. Se fizer a escolha certa, será bem recebido na comunidade convencional; mas 
se der o passo errado, será rejeitado e iniciará um ciclo progressivo de desvios. 
Uma das presidiárias, em atendimento pela assistente social, destacou a situação 
contrária à indicada por Becker, que depois de cometer o delito deixou de se ver e se 
reconhecer como cidadã, como pessoa que tem direitos e deveres, devido as escolhas erradas 
que fez. Destacou ainda que se tivesse tido oportunidade de estudar a sua vida poderia ter 
tomado outro rumo. E por oportunidade não se trata apenas pelo fato de ter escolas próximas, 
mas o ambiente familiar conturbado, gravidez precoce e a obrigação de contribuir com a 
renda familiar afastando-a das possibilidades de tomar um rumo diferente do “sedutor e fácil” 
mundo do crime. 
Estudos apontam o crescimento significativo do número de mulheres encarceradas, 
assim como também identificam a principal motivação de entrada destas no do mundo crime, 
na relação com namorados ou maridos que são integrantes de organizações criminosas. 
(MOURA, 2005; BARCINSKI, 2007; MAGALHÃES, 2008). 
A especificidade do encarceramento de mulheres pelo cometimento de atos ilícitos 
assim como o aprisionamento de homens é, deverasmente relevante e deve ser melhor 
analisado. Entretanto, retirar mulheres de seu cotidiano com a família tem implicações que 
não são observadas com a ausência dos homens. Magalhães (2008) também se refere à 
especificidade do encarceramento de mulheres, o que implica ter que falar no afastamento dos 
filhos, de cuidados com pais idosos ou doentes, da gravidez vivida em cárcere e da entrega do 
filho para o juizado da infância, caso não tenha parentes que assuma a responsabilidade por 
ele. Outro aspecto que o citado autor destaca, de cunho sociológico, diz respeito à discussão 
sobre as motivações que homens recebem para cometer mais crimes que mulheres. 
Merton, em textos apresentados por Magalhães (2008) e Sabadell (2013) defende, 
tendo como referência, os Estados Unidos, que a sociedade oferece oportunidades de 
crescimento e sucesso para todos. Entretanto, o citado autor reconhece que as mesmas 
oportunidades legítimas não estão disponíveis para todos e todas, em igual condição, em 
qualquer lugar, e, em se tratando de sociedades capitalistas. A tensão e conflitos que surgem 
diante desta situação pode levar a adaptações desviantes, seja em homens ou mulheres. 
Quando nos referimos aos jovens, como citado anteriormente, e a crimes, somos 
levados à pensar especificamente em jovens do gênero masculino. Mas, mesmo quando nos 
lembramos de refletir sobre a situação de mulheres em citação de criminalidade ou de cárcere, 
a ideia é continuar utilizando os mesmos modelos mentais construídos para as análises 
masculinas. Assim, desviamos de situações típicas e específicas relacionadas às mulheres. 
Mesmo a estrutura física de confinamento em cárcere, inicia a partir de modelos masculinos 
que, aos poucos se alteram conforme à correlação de forças e o contexto sociopolítico e 
econômico. 
Entretanto, o modelo mertoniano não é capaz de explicar um número menor, embora 
a cada dia crescente, de mulheres que cometes atos desviantes. O fato é que as mulheres 
continuam, mesmo em sociedades modernas ou pós-modernas, sendo criadas para as 
atividades de casa e do cuidado com o outro. Questões relacionadas ao sucesso e ao dinheiro 
não as atinge da mesma forma que aos homens. Por isso, as tensões, frustrações e conflitos 
não as levam com a mesma frequência a cometer atos desviantes, ilegítimos. Magalhães 
(2003) se apoia nas discussões realizadas por Leonard (1982) e que apresentam estas 
situações mais gerais. Porém, observamos que a armadilha de utilizar modelos explicativos 
relacionados às causas masculinas para responder aos fenômenos que envolvem mulheres, 
podem se repetir aqui quando apontamos as mesmas questões culturais como predominantes e 
determinantes no comportamento coletivo de mulheres. 
É preciso reconhecer as especificidades dos lugares e contextos que estimulam atos 
ilegítimos para alcançar as metas culturais mertonianas de sucesso dos indivíduos. E ainda, 
até que ponto estas metas culturais motivam ou não a todos e todas e, da mesma maneira. 
Questões outras como o esfacelamento das certezas adotadas pela sociedade moderna 
e as incertezas dos tempos líquidos, devem ser consideradas. Guerra (2018) desenvolve 
interessante reflexão ao dialogar com Giddens (1997) e Bauman (1998, 2001); o primeiro 
destacando as certezas que a/ tradição proporcionava na construção da identidade dos 
indivíduos como “uma âncora para aquela confiança básica tão fundamental para a 
continuidade da identidade e para a sustentação do vínculo social”. Em crítica à esta mesma 
modernidade, Bauman (1998, 20021) apresenta o conceito de modernidade líquida em relação 
à sensação de instabilidade em que as relações são construídas, “pois todos os vínculos se 
‘derramam’ e escoam sem manter uma estabilidade”. E aqui, neste momento, Guerra (2018, p. 
443), levanta questionamentos que denunciam o estado em que se encontram os indivíduos 
em busca de suas identidades. 
Como os jovens, sujeitos de nossa reflexão, podem se relacionar com este campo de 
exclusão? Qual a relação entre esse campo e suas possibilidades de enlaçamento 
social? Mais especificamente, como se articulam com o desenvolvimento da 
criminalidade violenta? Quais são os efeitos da destradicionalização e do impacto da 
sociedade pós-moderna em seus processos de subjetivação? 
Como se organizam os diferentes sujeitos e sujeitas em diferentes territórios 
possibilitados pela vida vivida em quaisquer espaços, ocasionadas por oportunidades de 
trabalho, fugas de perseguições políticas, legais, dentre outras. A ausência de conexão com 
seu chão de origem e a formação de novas subjetividades desenlaça os sujeitos, fere 
sentimentos, leva ao esquecimento, apagamento parcial da memória, e outra histórias. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Pensar políticas públicas conectadas a quaisquer grupos considerados minoritários e, 
que trazem em si mesmos outras categorias esteriotipadoras de sua construção histórica, nos 
leva a refletir sobre boa parte da caminhada humana na luta por direitos, reconhecimento, 
respeito e vida digna. 
Este é o caso específico da palavra que se transforma em categoria: juventude, 
mulher, mulher encarcerada. E as inúmeras teorias que procuram refletir acerca delas não 
surgem, evidentemente, numa perspectiva crítica, pelo contrário, partem de ideias apoiadas no 
senso comum, refutadas concomitantemente por outros teóricos e membros coletivos oriundos 
da sociedadecivil organizada. 
A cada contexto político, econômico, social e cultural é possível observar 
transformações garantidoras de direitos, por um lado, e por outro, negadoras destes mesmos 
direitos. É neste movimento de transformação, negação e retomada de poder, que 
encontramos mulheres aproveitando seus momentos de liberdade, para, de forma, legal ou 
ilegal, alcançar a felicidade prometida pelas sociedades modernas, que se diluem nas pós-
modernas, pondo fim às certezas, para se abrir para novas formas de conexão com a vida e 
com o Planeta. 
 
REFERÊNCIAS 
ABRAMO, Helena. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. Revista 
Brasileira de Educação, no 5/6, p. 25-36, maio-dez, 1997. (Número especial sobre Juventude 
e Contemporaneidade). 
BECKER, Howard Saul. Outsiders: estudo de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 
2008. 
BOURDIEU, Pierre. A “juventude” é apenas uma palavra. Entrevista com Pierre Bourdieu. 
Extraído de: BOURDIEU, Pierre. 1983. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero. 
P. 112-121. Disponível em: http://www.observatoriodoensinomedio.ufpr.br/wp-
content/uploads/2014/04/a-juventude-e-apenas-uma-palavra-bourdieu.pdf. Acesso em: 27 
mar. 2021. 
BARCINSKI, Mariana. Protagonismo e vitimização na trajetória de mulheres envolvidas na 
rede do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Centro Latino-Americano de Estudos 
Violência e Saúde Jorge Careli, Escola Nacional de Saúde Pública. Fiocruz. 2007. 
Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csc/2009.v14n2/577-586/pt/. Acesso em: 27 
mar. 2021. 
GUERRA, Andrea M. Campos e outros. Construindo ideias sobre a juventude envolvida com 
a criminalidade violenta. Estudos e pesquisas em Psicologia, 2010. UERJ, RJ, ano 10, n. 2, 
p. 434-456. Disponível em: http://www.revispsi.uerj.br/v10n2/artigos/pdf/v10n2a10.pdf. 
Acesso em: 27 mar. 2021. 
MAGALHÃES, Carlos Augusto Teixeira. Criminalidade feminina: um estudo sobre as 
particularidades do crime praticado por mulheres. 2008. De Jure - Revista Jurídica do 
Ministério Público de Minas Gerais. Disponível em: 
https://aplicacao.mpmg.mp.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/101/Criminalidade%20femi
nina_Magalhaes%5d.pdf?sequence=1. Acesso em: 27 mar. 2021. 
MOURA, Maria Juruema. Porta fechada, vida dilacera: mulher, tráfico de drogas e 
prisão. Estudo realizado no Presídio feminino no Ceará. 2005. Mestrado Acadêmico em 
Políticas Públicas e Sociedade. (Dissertação). Universidade Estadual do Ceará. 
PRADO, Tayná P; PEREIRA, Eliane R; PEGORARO, Renata F. Juventude, criminalidade e 
território: uma revisão da literatura. Fragmentos de Cultura. Pontifícia Universidade 
Católica de Goiás. Instituto de Filosofia e Teologia. Sociedade Goiana de Cultura. 2019. 
Disponível em: file:///C:/Users/Windows%2010/Downloads/7823-28284-1-PB.pdf. Acesso 
em: 28 mar. 2021. 
SABADELL, Ana Lúcia. Manual de sociologia jurídica: interpretação a uma leitura externa 
do direito. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Revista dos Tribunais Ltda, 2013. 
SANTOS, Thandara. (Org.). Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – 
INFOPEN Mulheres. 2017. 2. ed. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Departamento 
Penitenciário Nacional. Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen-
mulheres/infopenmulheres_arte_07-03-18.pdf. Acesso em: 18 ago. 2020. 
BRASIL. Ministério da Justiça. Sistema de Informação do Departamento Penitenciário 
Nacional (SISDEPEN). Relatório Consolidado Nacional. 2019. Disponível em: 
http://antigo.depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/relatorios-analiticos/br/br. Acesso 
em: 27 mar. 2021. 
SILVA, Roselani Sodré da. e SILVA, Vini Rabassa da. Política nacional de juventude: 
trajetória e desafios. Caderno CRH, Salvador, v. 24, n. 63, p. 663-678, 2011. Disponível em: 
https://www.scielo.br/pdf/ccrh/v24n63/13.pdf. Acesso em: 27 mar. 2021. 
SPOSITO, Marília Pontes e CARRANO, Paulo C. Rodrigues. Juventude e políticas públicas 
no Brasil. Revista Brasileira de Educação. Set /Out /Nov /Dez 2003 No 24. Disponível em: 
file:///C:/Users/Ilnar/Downloads/04.%20Juventude%20e%20Pol%C3%ADticas%20P%C3%
BAblicas%20no%20Brasil%20(1).pdf. Acesso em: 28 mar. 2021.

Continue navegando

Outros materiais