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Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021 251 QUESTÕES EXISTENCIAIS NO CURRÍCULO DA ESCOLA BRASILEIRA: REFLEXÕES A PARTIR DA BNCC Dionísio Felipe Hatzenberger1 Pedro Vinícius Francisco Reisdorfer2 RESUMO O presente artigo objetiva aprofundar a discussão a respeito da inserção de temáticas existenciais, como a construção de sentidos pessoais de vida, a morte e o autoconhecimento no currículo da escola brasileira, tendo como ponto de partida o que se propõe na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017). O cenário de caos gerado pela pandemia intensifica os questionamentos existenciais em toda a sociedade, justificando a nova discussão da temática no contexto educativo. Por meio de pesquisa bibliográfica exploratória e documental em normativas da educação nacional, revisa o conteúdo da concepção de integralidade educacional a partir do ponto de vista de Delors (2004) e Scussel (2013), vislumbrando a relação entre a construção de sentidos pessoais de vida com o ato de “aprender a ser”; apresenta um breve panorama das condições de saúde mental envolvendo jovens e adolescentes, que se apresenta com uma crise marcada por lesões autoprovocadas e pelo suicídio crescente neste grupo, vislumbrando a relação de tais fatos com a crise de valores da sociedade pós moderna; discute a respeito das possibilidades de contribuição da religiosidade para a edificação e sentidos pessoais de vida, trazendo elementos da filosofia e de pesquisadores da educação e apresenta caminhos pedagógicos para o componente de Ensino Religioso contribuir no desenvolvimento do sentido pessoal de vida e autoconhecimento por parte dos estudantes. Por fim, aponta ser imperativo à escola um fazer pedagógico que contemple o “aprender a ser”, enquanto expressão de uma espiritualidade, oportunizando aos estudantes momentos de reflexões sobre os enigmas e os sentidos da existência. Palavras-chave: currículo; juventude; Ensino Religioso. 1 Mestre em Educação (UERGS). Licenciado em História, Especialista em Filosofia, com formação continuada em Ensino Religioso e Mediação de Conflitos. Membro da Associação de Professores de Ensino Religioso do Rio Grande do Sul (APER/RS) e redator do Referencial Curricular Gaúcho de Ensino Religioso. E-mail: dionisiofh@edu.nh.rs.gov.br. Atualmente é assessor pedagógico na Secretaria Municipal de Educação. Coordenador do curso de Pós graduação em Docência no Ensino Religioso (FASEC). Novo Hamburgo, RS, Brasil. 2 Licenciado em História pelo Centro Universitário Internacional UNINTER. E-mail: vinireisdorfer@gmail.com. Coordenador do Projeto MOVE, na EMEF Ver. Arnaldo Reinhardt. Novo Hamburgo, RS, Brasil. Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021252 Dionísio Felipe Hatzenberger e Pedro Vinícius Francisco Reisdorfer INTRODUÇÃO “Por que viver? Para que viver? Qual o sentido da existência? Quem sou eu? O que é a morte?” Essas são algumas das perguntas que a humanidade se faz há milênios e para as quais já elaborou uma série de hipóteses ou respostas. Essas perguntas nunca ecoaram tanto quanto nesse momento de pandemia do Coronavírus. Mas há lugar para essas questões na escola brasileira? Há um bom tempo que alguns pesquisadores da educação apontam para a fragilidade e a parcialidade do ensino catedrático ou tecnicista. A escola do século XX, após grandes embates, incluiu a esfera social (das relações interpessoais) em seu currículo, porém, ainda apresentava grandes dificuldades em fazer o estudante olhar para si mesmo e perceber que viver (e ser) é a matéria mais importante que se pode estudar. Nesse contexto, o século XXI inicia-se com a constante discussão curricular e a edificação de um documento normativo e balizador em nível nacional no Brasil. Esse documento, que veio a ganhar a sigla de BNCC (Base Nacional Comum Curricular), propõe uma educação para a plena cidadania que, segundo ele mesmo, perpassa pela formação de “competências” individuais. As competências são o conjunto de ferramentas internas de um indivíduo para viver a sua vida, um aparato técnico, moral e conceitual que fornecerá caminhos para a vivência pessoal em sociedade. Nesse contexto, o documento propõe, entre as 10 Competências Gerais, uma das metas aos educandos, no percurso educacional, “Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas” (BRASIL, 2017, p. 10). A BNCC, ao adentrar especificamente em cada componente curricular, também define que “[...] o Ensino Religioso deve atender os seguintes objetivos: […] d) Contribuir para que os educandos construam seus sentidos pessoais de vida a partir de valores, princípios éticos e da cidadania” (BRASIL, 2017, p. 436). Portanto, o quarto objetivo político-pedagógico do Ensino Religioso diz respeito à tarefa de colaborar para que “sentidos pessoais de vida” sejam elaborados pelos educandos a partir de valores elevados. Em dias nos quais a vida humana tem sido desvalorizada e o sentido da vida reduzido ao potencial de consumo de cada indivíduo, proporcionar essa reflexão a respeito do sentido da vida torna-se valoroso. O presente artigo aprofundará a discussão a respeito da construção desses sentidos pessoais de vida e de aspectos ligados ao autoconhecimento na escola brasileira, por meio de pesquisa bibliográfica exploratória e documental em normativas da educação nacional. Na primeira sessão, discutir-se-á a concepção de integralidade educacional a partir do ponto de vista de Delors (2004) e Scussel (2013), vislumbrando a relação entre a construção de sentidos pessoais de vida com o ato de “aprender a ser”. A sessão seguinte apresentará um breve panorama das condições de saúde mental envolvendo jovens e adolescentes, que se apresenta com uma crise marcada por lesões autoprovocadas e pelo suicídio crescente nesse grupo, vislumbrando a relação de tais fatos com a crise de valores da sociedade pós-moderna. Na terceira sessão apresenta-se a discussão a respeito de até que ponto a religiosidade pode contribuir para a construção Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021 253 Questões existenciais no currículo da escola brasileira: reflexões a partir da BNCC de sentidos pessoais de vida, trazendo elementos da filosofia e de pesquisadores da educação. O penúltimo capítulo aborda questões que envolvem a finitude, como vem sendo enfrentado o tabu da morte tão recorrente devido a complicações do coronavírus. Na última parte, objetivamente, apresentam-se caminhos de como o componente de Ensino Religioso pode contribuir em espaço escolar para o desenvolvimento do sentido pessoal de vida por parte dos estudantes. CONSTRUIR SENTIDOS PESSOAIS DE VIDA: “APRENDER A SER” Bem antes da promulgação da BNCC, um relatório, elaborado por Delors (2004) para a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação), já afirmava que a educação para o século XXI necessitava estar baseada em quatro pilares a serem desenvolvidos ao longo da vida toda de formação pessoal e social: “Aprender a conhecer, [...] Aprender a fazer, [...] Aprender a viver juntos, [...] Aprender a ser” (DELORS, 2004, p.101). Essa concepção de educação integral perpassa dimensões socioemocionais e vai muito além da antiga proposição de uma escola que “passa conteúdos” ou como simples “lugar do saber”. A partir da compreensão do que são essas quatro dimensões, depreende-se que “aprender a ser” torna-se o objetivo final desse processo, esfera na qual estão incluídas todas as demais. Pois ser é muito mais do que ter ou saber: ser significa a edificação do indivíduo em si, autônomo, com sentido próprio para sua vivência. Pensando na relação entre essas esferas, pode-se expressá-la no seguinte gráfico: Gráfico 1: As esferas do aprendizado por competências Fonte: Produzido pelo Autor, baseado nos aprendizados de Delors (2004). Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4n.1 out. 2021254 Dionísio Felipe Hatzenberger e Pedro Vinícius Francisco Reisdorfer Nessa visão holística, conhecer é apenas parte inicial. De pouco adianta ter muita informação se não souber o que fazer com ela. Além disso, ser habilidoso tecnicamente não é suficiente para o viver em sociedade. E pensando na satisfação pessoal, de pouco serve todo o resto se não houver a aceitação de simplesmente “ser”. Porém, ser não é apenas a soma das outras dimensões. Alguém não é meramente a soma do que sabe, faz e de como convive. O ser humano é deveras mais complexo que isso. Há pessoas com grande conhecimento, que fazem inúmeras atividades, têm ótima relação com as pessoas e ainda assim são infelizes, buscando até mesmo pelo fim de suas vidas. Destarte, ser é mais uma esfera importante da vida, não dissociada das demais, mas inteiramente relacionada com as outras. Ser é o que está dentro, no mais íntimo, o espírito do homem. Portanto, nessa perspectiva, a educação integral precisa contemplar essas dimensões: intelectual, técnica, social e espiritual (ser). A esse respeito, também escreve Scussel (2013): Há uma dimensão de funcionalidade dessas aprendizagens que precisam ter sentido e significado na vida. Porém essa capacitação adquirida contempla todas as dimensões humanas. Muito mais do que o saber fazer determinada tarefa, o desenvolvimento de competências melhora o desempenho intelectual, relacional, comunicativo e de conduta. (SCUSSEL, 2013, p.45) A discussão de educação que perpassa a dimensão “espiritual” do ser não pode ser confundida com uma educação religiosa. A religiosidade é uma das expressões possíveis para a vivência espiritual e é diversa, sendo de livre adesão pelos indivíduos. A dimensão espiritual, referenciada neste estudo, é mais ampla, correspondendo a toda experiência interior do ser humano. Nesse sentido, olhar para si mesmo, verificando que lá dentro há questões a serem respondidas e que a alma também precisa de alimento, ar e exercício, é um ato de sanidade. CONTEMPORANEIDADE: INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA EM CRISE A adolescência é, por si só, um período de mudanças e rupturas bastante acentuadas, que por vezes fazem a criança e o adolescente sentirem-se deslocados na família, na escola e no mundo. Esse sentimento é corroborado pela fluidez das relações sociais na pós-modernidade. Georgen (2013) escreve que: Nesse processo de mudanças é preciso, também através da disciplina de Ensino Religioso, levar o sujeito a se sentir ‘em casa no mundo’, mesmo que as incertezas de uma sociedade pós-moderna não permitam uma estabilidade por vezes desejada e, além disso, se a caminha cada vez mais para um sistema de vida individual e perverso. Nesse enfrentamento, o que pode ser contribuição do Ensino Religioso e, por que não, do próprio professor no que diz respeito à formação de indivíduos cada vez mais distantes de valores morais e de convívio coletivo? (GOERGEN, 2013, p.142) A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (IBGE, 2015) aponta dados preocupantes com relação à saúde emocional dos estudantes brasileiros. Um Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021 255 Questões existenciais no currículo da escola brasileira: reflexões a partir da BNCC dos pontos avaliados com alunos do 9º ano do ensino fundamental refere-se à sensação de solidão, no período do último ano. Em nível nacional, em torno de 16% declarou sentir-se sozinho. Essa situação é mais crítica em alguns estados, como Rio Grande do Sul, onde mais de 21% está nessa situação; fato que agrava- se entre o sexo feminino, pois 30% das meninas gaúchas sentem-se sozinhas. O sentimento de solidão, mesmo estando em meio a muitas pessoas, tem várias possíveis origens, uma delas é o individualismo e egoísmo da sociedade pós- moderna. Justo na adolescência, período crítico de formação do caráter e de habilidades socioemocionais que serão levadas para toda a vida, o adolescente precisa sentir-se acompanhado, amparado, acolhido. Esse indivíduo em formação necessita ser compreendido em suas aflições e angústias, no sentido global, como afirma Georgen (2013): Outra identificação que faço é a de que atualmente não se trata apenas de entender de modo crono e biológico as transformações físicas e psicológicas que ocorrem no sujeito em idade escolar. É preciso entendê-lo nas mudanças que ocorrem também no seio da organização familiar, entre as diferentes culturas que se miscigenam a todo momento, transformando tanto a sociedade como a economia, e além disso, entender as múltiplas religiões em que a pessoa busca a um deus. (GOERGEN, 2013, p.142) O resultado extremo dessa crise social, moral e de valores é expresso por meio do suicídio. Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2017) no Suicide data, em 2012 o suicídio representou 1,4% do total de todas as mortes no mundo, sendo a 15a causa de mortalidade na população geral, e a segunda principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos. No Brasil, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde lançou em 2017 o volume 48 de seu Boletim Epidemiológico tratando exclusivamente dos casos de suicídio e de autolesão no território nacional. Por meio de dados do perfil das lesões autoprovocadas e tentativas de suicídio registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), no período de 2011 a 2016, pode-se traçar o perfil dos grupos de maior risco no que diz respeito a essa prática. Na tabela abaixo, vê-se o recorte dos casos por idade: Quadro 1: Quantitativo dos casos de lesão auto provocada Fonte: Ministério da Saúde (2017). Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021256 Dionísio Felipe Hatzenberger e Pedro Vinícius Francisco Reisdorfer No quadro apresentado, fica expresso que adolescentes e jovens são o grupo de maior ocorrência de tentativas de suicídio, sendo que a faixa etária entre 10 e 29 anos é responsável por mais de 50% das ocorrências gerais. Esses dados alarmantes revelam que há uma crise existencial em curso entre adolescentes e jovens no Brasil. Como foi citado, a sensação de solidão, presente na narrativa dos adolescentes brasileiros, é acompanhada do desmantelamento da estrutura familiar e da crise identitária que marca a pós-modernidade. A atual crise demonstra que o modelo social capitalista, que propôs (e prometeu) bem estar por meio do consumo, não consegue atingir a satisfação pessoal, seja pela incapacidade de suprir a todos em suas expectativas de consumo, seja pela impossibilidade desse acúmulo de bens materiais para suprir algo que é interior, da alma do homem. Símbolo da modernidade radical, o pensamento de Comte “A Ciência vai substituir a Religião” (LACERDA, 2009) demonstrava o quanto havia de expectativa pelo suprir emocional, espiritual e social nos bens científicos (seja de consumo ou intelectuais). Porém, se a ciência, por um lado, resolveu inúmeros problemas do homem que, por exemplo, teve a sua vida prolongada, por outro lado trouxe desafios grandes para a sociedade, dado que todo o conhecimento acumulado foi, por vezes, desumanizado. Exemplos dessa desumanização com uso do aparato tecnológico foram o colonialismo, o racismo, o totalitarismo e as grandes guerras. Revisando tais concepções - e como fruto da quebra da tradição (ARENDT, 2007) - emerge o pós-moderno. A pós-modernidade caracteriza-se pela mentalidade relativista, valorizando a diversidade de pensamento, crenças e filosofias, porém ela traz consigo os frutos desse capitalismo descolado: o mundo líquido. Bauman (2000) se debruça na tentativa descrever o mundo contemporâneo nas sociedades ocidentais, a partir do conceito de “modernidade líquida”, na qual as identidades são líquidas, os amores são líquidos. A liquidez diferencia o mundo atual do mundo anterior, que era sólido. Nessa modernidade líquida, as instituições, verdades e identidades escorrem entre os dedos, se desmancham lenta ou velozmente. Nesse contexto social, as pessoas sãomenos fiéis aos seus compromissos, sejam eles o casamento, a família, ou os próprios valores. O individualismo capitalista torna os indivíduos comprometidos apenas consigo mesmos e com seus interesses de consumo. Alianças que antes eram perpétuas agora vigoram como contratos transitórios. No seio dessa sociedade, nascem as crianças, que crescem com as mentes inundadas por desejos de consumo e fábulas de sucesso e alegria instantâneas, veiculados pela sua tutora: a mídia. Na adolescência ocorre o despertar desse grande sono da infância, momento em que, de uma forma ou de outra, o indivíduo se depara com o mundo real, com a frustração e com as desigualdades que estão para além da bolha da infância. Essa tomada de consciência, frequentemente solitária e desassistida da família, somada ao vazio existencial que, por vezes, não é suprido pelas transitórias identidades sociais, é elemento suficiente para que o adolescente, sem um sentido para sua vida, busque caminhos danosos. Em casos mais extremos, ocorre o uso de entorpecentes, envolvimento com gangues, atitudes violentas e o suicídio. Na busca por companhia e sentido, o adolescente, que está rompendo com a identidade familiar, busca em amigos ou grupos externos uma identidade. Construí-la pautada em princípios e valores éticos e de valorização da vida são formas de evitar comportamentos de risco. Um dos fundamentos do Ensino Religioso, segundo Ferreira Sá é: Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021 257 Questões existenciais no currículo da escola brasileira: reflexões a partir da BNCC A criação de condições para cada educando(a) construir sua identidade, para saber acolher, conhecer, conviver e aprender a ser, valorizando e respeitando o outro, superando preconceitos que desvalorizam qualquer experiência religiosa, tendo como referência os princípios estéticos da sensibilidade e da criatividade. (SÁ, 2015, p. 58) As revoluções industriais modificaram a forma de vida em sociedade como um todo, inserindo um novo ritmo à vida, que antes dependia dos lentos processos naturais, em que crianças e jovens eram educados no seio familiar. Nesse novo tempo, com a sofisticação tecnológica do trabalho, passou-se a exigir um tempo prolongado de formação, adquirida nos espaços pedagógicos, em especial na escola, local que reúne num mesmo espaço a juventude e os afasta do trabalho por algum tempo. O tempo de permanência na escola foi crescendo em todo o período da contemporaneidade, produzindo ao mesmo tempo conhecimento, habilidades técnicas e distanciamento dos pais e da família, oportunizando a aproximação com um grupo de iguais. Esses movimentos geraram a criação de um novo grupo social com padrão coletivo de comportamento: a juventude (e a adolescência). Há, porém, uma contradição letal: os mesmos adolescentes que estão estimulados a ter uma vida cada vez mais autônoma e distante de sua família se encontram afastados também das possibilidades de obter condições de sustento, aumentando o vínculo e a dependência do adulto, o que produz situações de “rebeldia”. Portanto, nem a escola e nem a rebeldia podem ser vistos como elementos naturais da adolescência, como pensam alguns. A busca por identidade em grupos e todo tipo de comportamento social que vemos na adolescência contemporânea são, por outro lado, frutos desse modelo social que afasta as gerações e pressiona os adolescentes ao consumo. Portanto, é na adolescência que se intensifica a procura por algo que confira um sentido à própria existência. Por um lado, o jovem inicia um processo de diferenciação em relação aos pais, elegendo novos valores e objetivos que guiarão sua própria vida (MICHEL apud KOLLER, 2017). Diante de tão grande crise humana, não é de se admirar que os gestores da educação e pesquisadores do currículo cada vez mais se interessem pela inserção de temáticas psicossociais e de inteligência emocional nos currículos escolares. Por isso, a BNCC afirma ao seu próprio respeito “Assim, a BNCC propõe a superação da fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento, o estímulo à sua aplicação na vida real, a importância do contexto para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida” (BRASIL, 2017, p. 14). Portanto, a definição de sentidos pessoais de vida é direcionada para um objetivo bem maior: a construção de um projeto de vida. Isso é reforçado na sessão destinada ao Ensino Médio, que afirma “a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida” (BRASIL, BNCC, 2017, p. 466). Alguns estados da Federação traduziram o valor deste eixo “projeto de vida”, criando um componente específico para trabalhar a questão, outros tratam como um eixo transversal ou interdisciplinar. Porém, ao analisarmos o rol dos componentes curriculares e suas habilidades, percebe-se que a BNCC investe na disciplina de Ensino Religioso como elemento de currículo que pode atender ao desenvolvimento Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021258 Dionísio Felipe Hatzenberger e Pedro Vinícius Francisco Reisdorfer do autoconhecimento. Cabe salientar que o Ensino Religioso na BNCC não é o mesmo que a velha aula de “Religião”, mas uma disciplina pautada nos saberes científicos e filosóficos da(s) Ciência(s) da(s) Religião(ões) e das Ciências Humanas. Apesar de não ensinar uma religião específica como verdade absoluta ou necessária, o Ensino Religioso analisa saberes oriundos da cultura religiosa e da religiosidade. No próximo tópico, apresenta-se qual pode ser a contribuição dessas esferas frente à tão grave crise que se vive. A RELIGIOSIDADE E O SENTIDO DA VIDA: DESCOBERTA DO PROPÓSITO Heine, poeta alemão do século XIX citado pelos marxistas, havia afirmado: “Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança” (HEINE, apud LÖWY, 2006). Apesar dessa afirmação ter sido muito utilizada com tom de crítica à religião, ela isoladamente não o é. Apenas reafirma uma verdade: a fé é um meio muito eficaz para conferir sentido à vida humana. Em meio ao caos dos problemas da humanidade, a certeza de fazer parte de algo maior traz paz e conforto ao coração. Sentido, motivo, esperança e paciência são alguns dos elementos que emanam da experiência religiosa e que podem contribuir para uma vida mais saudável e feliz. Alguns materialistas criticam a religião como mera teoria do sentido da vida. Questiona- se, porém, se conferir sentido à vida é um ato de menor valor, sendo que a existência de um indivíduo, por mais confortável que seja, torna-se vazia se não houver um sentido, uma direção. A respeito desse papel benéfico da religiosidade para com o aspecto psicológico humano, Aquino et al afirmam: [...] é preciso esclarecer que psicoterapia e religião não se encontram no mesmo nível ontológico, mas uma não anula a outra; ao contrário, elas se complementam. Assim, da mesma forma que a religião pode provocar a cura psíquica ao proporcionar bem-estar psicológico pelo alívio das aflições, a psicoterapia pode levar o paciente a reencontrar uma fonte de religiosidade inconsciente e reprimida, que vem à tona espontaneamente […]. (AQUINO et al, 2009, p. 235) A psicologia possui uma abordagem específica que trata de atender a essa busca por suprir esse “vazio”. Segundo Aquino et al, a logoterapia é uma das possibilidades: […] a logoterapia se interessa pela religião pelo simples fato de que logos significa “sentido”, sendo a vontade de sentido um dos seus pilares. E qual a religião que não aponta um sentido supra-humano que transcende a nossa percepção objetiva da vida? E qual a religião que, ao apontar um sentido que ultrapassa a nossa vontade, não está impregnada de Deus? (AQUINO et al, 2009, p. 235) Essa abordagem logoterápica vai ao encontrodas questões existenciais, tal qual a religião, sem que uma tome o lugar da outra. Porém, os psicólogos (AQUINO et al, 2019) admitem que, apesar de não indicarem a religiosidade como saída para os problemas existenciais, precisam admitir que Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021 259 Questões existenciais no currículo da escola brasileira: reflexões a partir da BNCC […] a mesma pode, por efeito colateral, proporcionar bem-estar psicológico, pois o ser humano religioso ancora a sua existência no Absoluto. Dessa forma, pode-se interpretar que a religiosidade seja um fator de proteção do vazio e do desespero existencial. Nesse sentido, a religiosidade poderia oferecer bem-estar psíquico ao sujeito; além do mais, a religiosidade poderia ajudar o homem na busca de respostas para as suas indagações de cunho filosófico-existencial. (AQUINO et al, 2009, p. 241) Einstein (1981, p.13), fez a seguinte indagação: “Tem um sentido a minha vida? A vida de um homem tem sentido? Posso responder a tais perguntas se tenho um espírito religioso”. O próprio fato da humanidade questionar-se quanto ao sentido da vida, quanto ao motivo das coisas, quanto à razão da existência, quanto ao pós- morte e tantas outras indagações demonstra que há algo intrínseco ao coração humano que urge por sentido e respostas. Importa interrogar que, se não houvesse uma resposta para tais indagações, qual seria o motivo de termos essas questões tão presentes? Assim como uma mola propulsora, os enigmas da vida e da morte impulsionam o homem em direção à religiosidade. As perguntas lançam-no na direção das respostas. O vazio move-o em direção ao transcendente. Tillich (1996, p. 68) afirma que “ser religioso significa fazer a pergunta apaixonada pelo sentido de nossa existência”. É a descoberta do (ou atribuição de um) propósito para a existência que dá a maior satisfação ao adepto de uma crença religiosa. O fato de sentir-se como parte integrante de um cosmos, um projeto divino maior, dá sentido à vida, uma razão aos sofrimentos e uma esperança de um futuro melhor. Em meio a um mundo de caos, saber que há um plano maior a seguir oferece segurança e conforto. No ponto de vista de um cristão, por exemplo, este pode crer que todas as coisas cooperam para seu bem, mesmo em meio a aflições ou injustiças, pois seu mestre também passou por dores e sofrimentos, mas no final não ficou preso ao túmulo, ressuscitando dentre os mortos. Assim, no cosmos cristão, nem mesmo a morte é um problema definitivo, pois a esperança da eternidade é muito mais do que um sonho. Porém, essa mesma religião, assim como as demais, não motiva seus fiéis a desistir da vida, visando a eternidade. Pelo contrário, prega que a existência nesse plano é uma parte inicial e importante, na qual há um propósito, uma vocação para cada indivíduo, devendo este buscar cumprir sua missão, guardando os princípios e valores da sua fé, que se resumem no amor ao próximo. Essa cosmovisão cristã é um pouco semelhante da judaica e da muçulmana, nesse sentido existencial. Para um espírita ou budista, a lógica geral do valor da vida assemelha-se à das religiões monoteístas, com a diferença de que a retribuição pelas ações constitui-se em elemento marcante na próxima encarnação. Nas tradições indígenas, espiritualistas ou ancestrais (africanas, por exemplo) a complementaridade do espírito no seu encontro com a natureza ou com os ancestrais exige um modo de viver ético e respeitoso para com todas as formas de vida. Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021260 Dionísio Felipe Hatzenberger e Pedro Vinícius Francisco Reisdorfer FINITUDE: ENFRENTANDO O TABU DA MORTE Em 9 de maio de 2021, foi dia das mães. Apesar da data comemorativa, muitas famílias nada tinham a celebrar, pois o Brasil chegava à terrível marca de 420 mil mortes por COVID-19. Certamente todos conhecem alguém que perdeu a vida com a pandemia. Comunidades escolares perderam professores ou funcionários. Em cada sala de aula, pela probabilidade, pelo menos um aluno terá perdido um ente querido. E o que a escola pode fazer a esse respeito? Será que a morte é ainda um tabu? Um tema do qual a escola foge de tratar? Longe disso, a BNCC afirma que é a morte que traz a necessidade da busca por sentido, discutida no currículo, no Ensino Religioso: A dimensão da transcendência é matriz dos fenômenos e das experiências religiosas, uma vez que, em face da finitude, os sujeitos e as coletividades sentiram-se desafiados a atribuir sentidos e significados à vida e à morte. Na busca de respostas, o ser humano conferiu valor de sacralidade a objetos, coisas, pessoas, forças da natureza ou seres sobrenaturais, transcendendo a realidade. (BRASIL, 2017, p. 436) A busca de respostas para os enigmas da vida e da morte é um dos motores da humanidade, uma das forças que move o ser humano em busca de respostas e ciência (conhecimento). Sendo a morte uma realidade objetiva da vida, a(s) Ciência(s) da(s) Religião(ões) usa(m) o termo “finitude” para designar essa condição à qual todos estamos sujeitos. Um dia, mais cedo ou mais tarde, todo ser humano enfrenta a morte, sendo seu tempo de vida finito. Dessa forma, é sábio afirmar que quem não está consciente da finitude dificilmente irá gerir de forma adequada seu tempo e energia de vida. O conceito de finitude ganhou um espaço de destaque no currículo do Ensino Religioso, por meio de várias habilidades que o discutem, do 4° ao 9° ano do Ensino Fundamental, como exposto na tabela: Tabela 1: Habilidades ligadas à vida e morte Fonte: BRASIL (2017). Ano do EF Habilidade 4º ano (EF04ER03) Caracterizar ritos de iniciação e de passagem em diversos grupos religiosos (nascimento, casamento e morte). 5º ano (EF05ER03) Reconhecer funções e mensagens religiosas contidas nos mitos de criação(concepções de mundo, natureza, ser humano, divindades, vida e morte). 8º ano (EF08ER03) Analisar doutrinas das diferentes tradições religiosas e suas concepções de mundo, vida e morte. 9º ano (EF09ER03) Identificar sentidos do viver e do morrer em diferentes tradições religiosas, através do estudo de mitos fundantes. 9º ano (EF09ER04) Identificar concepções de vida e morte em diferentes tradições religiosas e filosofias de vida, por meio da análise de diferentes ritos fúnebres. 9º ano (EF09ER05) Analisar as diferentes ideias de imortalidade elaboradas pelas tradições religiosas (ancestralidade, reencarnação, transmigração e ressurreição). Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021 261 Questões existenciais no currículo da escola brasileira: reflexões a partir da BNCC Portanto, a escola é lugar de falar, significar e ressignificar a morte, visando a valorização da vida e a busca por sentidos. O estudo que se propõe em Ensino Religioso é um estudo do que as diferentes tradições religiosas já elaboraram sobre o assunto, conhecendo as diferentes perspectivas e encontrando (inevitavelmente) os pontos em comum: o valor e a singularidade da vida e a misteriosa esperança da transcendência. Ressalta-se que o tema deve ser tratado com todo respeito e cuidado, exigindo sensibilidade e empatia do docente. O ENSINO RELIGIOSO E AS QUESTÕES EXISTENCIAIS A unidade temática “Identidades e alteridades”, presente em toda progressão curricular do Ensino Religioso, com certeza é o lugar da reflexão a respeito de si e do outro em perspectiva. Não apenas dialogando sobre minha relação com o próximo, mas inferindo um olhar ao próprio “eu”. Identidade é saber quem sou, de onde vim, conhecer minhas forças e fraquezas e pensar aonde pretendo ir. Para realizar esse pensamento reflexivo, o docente precisará contar com muito mais do que qualquer cartilha ou livro didático pode oferecer. Ele precisará contar com sensibilidade e manejo com o grupo, usando-se de temáticas do dia a dia e/ou problemas da própria existência que nos atravessam e por vezes parecem mais um empecilho ao trabalho pedagógico. Nesse sentido, certamentea maior contribuição do Ensino Religioso com a humanização e o autoconhecimento seja oportunizar momentos de parada na rotina escolar, permitindo aos estudantes o movimento de olhar para dentro de si mesmos, identificando a presença ou ausência de um sentido pessoal de vida, percebendo o que está latente ou faltante. Dores, frustrações, fraquezas e medos são pontos que precisam ser percebidos propositalmente, antes que se tornem armadilhas para a alma. Não é papel do professor definir para o aluno qual deva ser o seu sentido, ou defender que precise ser conectado a uma religião ou outra, a uma filosofia ou outra, ou a nenhuma. Pelo contrário, a função do docente de Ensino Religioso é mediar um movimento de diálogo do indivíduo consigo mesmo, refletindo sobre sua vivência e despertando mais cedo para a percepção de que é necessário ao ser encontrar o seu sentido. Esse movimento de interiorização é indispensável para o autoconhecimento e o autocuidado, apesar de ser cada vez mais raro. Na escola contemporânea o estudante passa quase o tempo todo olhando para o quadro, o livro, o caderno, o celular, a TV, o estudo, os dados, a prova. Em casa e na vida social, olha para as múltiplas telas da comunicação e entretenimento. Olhar para si mesmo parece inicialmente algo sem sentido para quem está acostumado à informação rápida e indolor. Olhar para si significa, em certas ocasiões, revisitar um lugar de dor, descaso, fracasso, medo e vazio. Nesse caso, torna-se importante ressaltar a necessidade desse professor buscar subsídios da psicologia ou psicopedagogia para mediar esses encontros deles consigo mesmos. A ação pedagógica, porém, não deve ficar apenas no ato de incentivar o mergulho dentro de si mesmo, mas deve ir além, permitindo que, ao retornar à superfície esse estudante traga consigo suas inquietações, suas impressões e haja um meio para expressá-las, seja por meio de um trabalho artístico, um texto ou uma roda de conversa. Pensando em uma atividade pedagógica pontual como exemplo, oportunizar que se Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021262 Dionísio Felipe Hatzenberger e Pedro Vinícius Francisco Reisdorfer expresse o que tem em seu interior ou o que falta lá dentro é um meio para atenuar o sofrimento e refletir sobre caminhos possíveis de se tomar frente a atual realidade. Por fim, deve esta atividade de mediação pedagógica trazer esperança e caminhos que permitam a construção de novos sentidos pessoais de vida. Em uma ação do tipo, pode- se trazer elementos construtivos por meio da apresentação de algum filme, literatura ou até depoimento que remonte à temática existencial, apresentando personagem que superou seus medos e vazios encontrando sentido pessoal para sua existência. Por meio desse tipo de ação, é possível o Ensino Religioso contribuir para a reflexão não apenas sobre as questões existenciais, mas também quanto à forma com que os estudantes relacionam-se uns com os outros, uma vez que vários conflitos têm origem na insensibilidade para com os sentimentos do outro. Além disso, quando o estudante está seguro quanto à sua identidade, dificilmente irá se preocupar com o que os demais pensam ou falam a seu respeito. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo inicial denuncia a edificação de uma sociedade baseada em preceitos que não se sustentam e que atentam contra a vida. Uma sociedade de consumo produz jovens que pensam ser o que compram. Uma sociedade em crise produz juventudes em crise. Uma sociedade em crise de identidade produz jovens sem sentido. Jovens sem sentido não veem motivos para seguirem suas vidas ou tornam-se destrutivos (para consigo, com o próximo, com o mundo, com o futuro). Frente a essa conjuntura, demonstrada em diversas pesquisas e dados preocupantes, propõe-se a urgente necessidade de inserir no currículo escolar temáticas de valorização da vida e de reflexão sobre o sentido da mesma, ultrapassando os limites do academicismo e da educação profissionalizante, urge a edificação de uma educação realmente integral, onde a vida seja o centro. Uma nova escola, onde sorrir e aprender a ser feliz seja parte central das habilidades que se espera construir. Ao investigar sobre a inserção das temáticas existenciais no currículo da escola brasileira, apontou-se para sua presença na proposta de currículo trazida pela BNCC. Cabe, porém, ainda questionar se essa intenção constituir-se-á como prática pedagógica. Questiona-se se a escola está realmente disposta a fazer algo para mudar a conjuntura social que se apresenta. Até onde está disposta a “cavar”? Pode-se cavar tão fundo quanto às profundezas da alma, se houver as ferramentas próprias e o desejo de fazer isso. Tal desejo implica em abrir mão do tradicional distanciamento professor/aluno, que historicamente produzimos, ao subirmos em nosso palco da cátedra, no qual o estudante é mero espectador de nosso show do saber. Mas será que o professor está disposto a se aproximar? Está disposto a descer do palanque e olhar nos olhos? Quem sabe assim, com esse sacrifício, poder-se-ia humanizar a escola, havendo uma esperança para um futuro diferente. Acrescenta-se a este estudo a percepção dos autores de que o desafio de se aplicar nos espaços escolares uma educação tão profunda como a dessa proposta, talvez esteja em três elementos: (1) a resistência e (2) o despreparo de alguns profissionais da educação, que se enxergam meramente como “transmissores de conhecimento” ou Saberes em Foco Revista da SMED NH v.4 n.1 out. 2021 263 Questões existenciais no currículo da escola brasileira: reflexões a partir da BNCC que simplesmente não sabem como trabalhar com algo tão profundo, que nem lhes parece seu trabalho. Outro empecilho (3) é o sistema educacional vigente, marcado pela pressão do conteudismo, em que tudo precisa ser mensurado e testado, uma vez que as ações educativas que tratam com o “ser” dificilmente poderão ser mensuradas com os instrumentos avaliativos tradicionais. Como proposta de encaminhamento, defende-se que cabe aos gestores educacionais e aos educadores assumirem a função de colocar em prática nas escolas o que propõe a BNCC, com relação ao cumprimento de um currículo de educação integral, que inclua o “aprender a ser”. Para que se implemente tais ações, torna-se necessário um investimento pesado em capacitação aos educadores, com o desenvolvimento de ferramentas de gestão da inteligência emocional e autoconhecimento, além de possibilitar-lhes que primeiramente passem pela experiência de olhar para seu próprio “ser”, enquanto matéria a ser trabalhada em si mesmo. Certamente um médico doente conseguirá ajudar pouco os seus pacientes. Educadores sem esperança, sem sonhos e sem sentidos para suas vidas dificilmente poderão ajudar estudantes a encontrar os seus sentidos. REFERÊNCIAS AQUINO, Thiago Antônio Avellar de et al . Atitude religiosa e sentido da vida: um estudo correlacional. 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