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� � � � � � � � � �� ��� �������� � ����� ���� � �� �� � ��������� �������� � ������� Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED® EDITORA S.A. Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO Av. Embaixador Macedo Soares, 10.735 - Pavilhão 5 - Cond. Espace Center Vila Anastácio 05095-035 São Paulo SP Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333 SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Obra originalmente publicada sob o título Biology, 8th Edition ISBN 9780805368444 Authorized translation from the English language edition, entitled BIOLOGY, 8th Edition, by NEIL A. CAMPBELL and JANE B. REECE, published by Pearson Education, Inc., publishing as Benjamin Cummings, Copyright © 2008. All rights reserved. No part of this book may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying, recording or by any information storage retrieval system, without permission from Pearson Education, Inc. Portuguese language edition published by Artmed Editora, Copyright © 2010. Tradução autorizada a partir do original em língua inglesa da obra intitulada BIOLOGY, 8ª EDIÇÃO, de autoria de NEIL A. CAMPBELL e JANE B. REECE, publicado por Pearson Education, Inc., sob o selo de Benjamin Cummings, Copyright © 2008. Todos os direitos reservados. Este livro não poderá ser reproduzido nem em parte nem na íntegra, nem ter partes ou sua íntegra armazenada em quaisquer meios, seja mecânico ou eletrônico, inclusive fotocópia, sem permissão da Pearson Education, Inc. A edição em língua portuguesa desta obra é publicada por Artmed Editora, Copyright © 2010. Capa: Mário Röhnelt Preparação de originais: Henrique de Oliveira Guerra Leitura final: Magda Regina Chaves Editora Sênior – Biociências: Letícia Bispo de Lima Editora Júnior – Biociências: Carla Casaril Paludo Editoração eletrônica: Techbooks Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922 C187b Campbell, Neil. Biologia [recurso eletrônico] / Neil Campbell, Jane Reece; tradução Daniel Lorenzini ... [et al.]. – 8. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2010. Editado também como livro impresso em 2010. ISBN 978-85-363-2351-0 1. Biologia. I. Reece, Jane. II. Título. CDU 573 1250 Campbell & Cols. de controle. Existem mais de 50.000 espécies introduzidas ape- nas nos Estados Unidos. Sobre-exploração O termo sobre-exploração geralmente se refere à colheita de seres vivos silvestres pelo homem em taxas que excedem a habilidade das populações de se recuperarem. Espécies que vivem em hábi- tats restritos, como pequenas ilhas, são particularmente vulnerá- veis à sobre-exploração. Uma dessas espécies era o arau-gigante (Pinguinus impennis), grande ave marinha não voadora encon- trada em ilhas do Oceano Atlântico setentrional. Na década de 1840, o homem havia caçado o arau-gigante até a extinção para satisfazer a demanda por suas penas, ovos e carne. Espécies de grande porte com baixas taxas reprodutivas, como elefantes, baleias e rinocerontes, também são suscetíveis à sobre-ex- ploração. O declínio dos maiores animais terrestres atuais da Terra, os elefantes africanos, é um exemplo clássico do impacto da sobre- caça. Principalmente por causa do comércio de marfim, as popula- ções de elefante foram reduzidas na maior parte da África durante os últimos 50 anos. Uma proibição internacional da venda de mar- fim provocou o aumento da caça ilegal, e a proibição teve pouco efeito em grande parte do Centro e Leste da África. Somente na África do Sul, onde rebanhos previamente dizimados vinham sendo bem protegidos por quase um século, as populações de elefante se estabilizaram ou cresceram (ver Capítulo 53). Os biólogos da conservação têm aumentado o uso das ferra- mentas da genética molecular para rastrear a origem dos tecidos comercializados de espécies ameaçadas de extinção. Por exemplo, Samuel Wasser e seus colegas da Universidade de Washington, EUA, criaram um mapa de referência de DNA para os elefantes afri- canos usando DNA isolado das fezes. A comparação de uma peque- na amostra de DNA isolada de marfim obtido legalmente ou por caçadores clandestinos com esse mapa de referência permite de- terminar o local onde o elefante foi morto com precisão de poucas centenas de quilômetros. De forma semelhante, biólogos utilizaram análises filogenéticas com base no DNA mitocondrial (DNAmt) para denunciar que parte da carne de baleia vendida em mercados japoneses provinha de espécies exploradas ilegalmente, incluindo a baleia-fin (Balaenoptera physalus) e a baleia-jubarte (Megaptera no- vaeangliae), estando a primeira ameaçada de extinção na categoria Em Perigo pela Lista Vermelha da IUCN de 2008 (ver Figura 26.6). Muitas populações de peixes marinhos comercialmente im- portantes, consideradas inesgotáveis no passado, têm sido redu- zidas drasticamente pela sobrepesca. A crescente demanda por proteína decorrente da explosão populacional humana, aliada a novas tecnologias de exploração, como a pesca com espinhéis e redes de arrasto, reduziram essas populações a níveis que não su- portam mais exploração. O destino do atum-verdadeiro (Thun- nus thynnus) do Atlântico Norte é apenas um exemplo. Até as últimas décadas, esse grande atum era considerado um peixe esportivo de baixo valor comercial – custava apenas poucos cen- tavos por quilo e era utilizado para a produção de ração para ga- tos. Então, na década de 1980, os atacadistas começaram a enviar atum fresco congelado por via aérea para o Japão para a produ- 56.2 A conservação de populações enfoca o tamanho populacional, a diversidade genética e os hábitats críticos Os biólogos que enfocam a conservação em nível de população e espécie utilizam duas abordagens principais: a abordagem da população pequena e a abordagem da população em declínio. esaito Retângulo Biologia 1251 Abordagem da população pequena Uma espécie é considerada ameaçada quando suas populações são muito pequenas. Populações pequenas são particularmente vulneráveis à sobre-exploração, à perda de hábitat e às outras ameaças à biodiversidade que aprendemos no item 56.1. Após esses fatores terem retirado sua fatia da população, o pequeno ta- manho populacional em si pode levar uma população à extinção. Os biólogos da conservação que adotam a abordagem da popula- ção pequena estudam os processos que causam extinção quando o tamanho da população foi severamente reduzido. O vórtice (ou espiral) de extinção Uma população pequena está sujeita à retroalimentação positiva em decorrência do endocruzamento e deriva genética que condu- zem a população para um vórtice da extinção em direção a tama- nhos cada vez menores até que não existam mais indivíduos (Figura 56.10). Um fator essencial que leva ao vórtice da extinção é a perda de variação genética necessária para permitir respostas evolutivas frente a mudanças ambientais, como o surgimento de novas linha- gens de agentes patogênicos. Tanto o endocruzamento quanto a de- riva genética podem provocar perda de variação genética (ver Capí- tulo 23), e os efeitos de ambos os processos são mais significativos à medida que a população encolhe. O endocruzamento frequente- mente reduz o valor adaptativo porque a prole tem maior probabili- dade de apresentar homozigose para genes recessivos deletérios. Nem todas as populações pequenas estão predestinadas à extin- ção pela baixa diversidade genética, e a baixa variabilidade genética não conduz automaticamente a populações permanentemente pe- quenas. Por exemplo, a sobrecaça dos elefantes-marinhos-do-norte (Mirounga angustirostris) na década de 1890 reduziu a espécie a apenas 20 indivíduos– obviamente um gargalo populacional com reduzida variação genética. Desde essa época, no entanto, as po- pulações de elefante-marinho-do-norte se recuperaram, atingindo cerca 150.000 indivíduos atualmente, embora sua variação genética permaneça relativamente baixa. Além disso, muitas espécies vege- tais parecem possuir variabilidade genética inerentemente baixa. Por exemplo, muitas populações do capim Spartina anglica, que se desenvolve em marismas, são geneticamente uniformes em muitos lócus. Spartina anglica originou-se de poucas plantas-mãe há ape- nas cerca de um século pela hibridação e alopoliploidia (ver Figura 24.11). Tendo se propagado por clonagem, essa espécie agora do- mina grandes áreas de planos arenolodosos entremarés na Europa e Ásia. Assim, em casos raros, baixa diversidade genética não tem impedido o crescimento populacional. Estudo de caso: o tetraz-das-pradarias e o vórtice da extinção Quando os europeus chegaram à América do Norte, o te- traz-das-pradarias (Tympanuchus cupido) era comum do estado da Nova Inglaterra ao estado da Virgínia, EUA, e ao longo das pradarias ocidentais do continente. Conforme vimos no Capítulo 23, o cultivo da terra pela agricultura fragmentou as populações dessa espécie, e sua abundância diminuiu drasticamente. No Es- tado de Illinois, EUA, existiam milhões de tetrazes-das-pradarias no século XIX, mas restavam menos de 50 indivíduos em 1993. Os pesquisadores descobriram que o declínio na população de Illinois estava associado a uma diminuição na fertilidade. Para testar a hipótese do vórtice da extinção, os cientistas importaram variação genética através da translocação de 271 aves de popu- lações maiores de outras áreas (Figura 56.11). A população de Illinois se recuperou, confirmando que ela estava a caminho do vórtice da extinção antes de ser resgatada pela importação de va- riação genética de outras populações. Tamanho populacional mínimo viável Quão pequena precisa ser uma população antes de entrar em um vórtice de extinção? A resposta depende do tipo de ser vivo e de outros fatores. Por exemplo, grandes predadores que ocupam o topo da cadeia alimentar geralmente necessitam de grandes áreas de vida individuais, o que resulta em densidades populacionais muito baixas. Portanto, nem todas as espécies raras preocupam os biólogos da conservação. Contudo, todas as populações preci- sam ter um tamanho mínimo para se manterem viáveis. O tamanho populacional mínimo em que uma espécie é ca- paz de se sustentar e sobreviver é conhecido como a população mínima viável (PMV). A PMV é geralmente estimada para uma determinada espécie usando modelos de computador que inte- gram muitos fatores. O cálculo pode incluir, por exemplo, uma estimativa de quantos indivíduos em uma pequena população podem morrer em decorrência de catástrofes naturais, como tempestades. Depois de entrar em vórtice de extinção, dois ou três anos seguidos com condições climáticas adversas podem pôr um fim a uma população que já estiver abaixo da PMV. População pequena Endo- cruzamento Redução do valor adaptativo individual e da adaptabilidade da população Redução na reprodução Aumento na mortalidade Deriva genética População pequena Perda de variabilidade genética Figura 56.10 � Processos que culminam em um vórtice de extinção. 1252 Campbell & Cols. Tamanho populacional efetivo A variabilidade genética é a questão-chave na abordagem da po- pulação pequena. O tamanho total de uma população pode enga- nar porque apenas certos membros da população procriam com sucesso e passam os seus alelos para a prole. Dessa forma, uma estimativa significativa da PMV requer que o pesquisador deter- mine o tamanho efetivo da população, que se baseia no poten- cial reprodutivo da população. A fórmula a seguir incorpora a razão sexual dos indivíduos reprodutores na estimativa do tamanho efetivo da população, abreviada como Ne: onde Nf e Nm são, respectivamente, o número de fêmeas e o nú- mero de machos que reproduzem com sucesso. Se aplicarmos essa fórmula a uma população idealizada com tamanho total de 1.000 indivíduos, Ne será 1.000 se todos os indivíduos reproduzirem e a razão sexual for de 500 fêmeas para 500 machos. Nesse caso, Ne � (4 × 500 × 500)/(500 � 500) � 1.000. Qualquer desvio dessas condições (nem todos os indivíduos reproduzem ou a razão se- xual não é de 1:1) reduz Ne. Por exemplo, se o tamanho total da população for de 1.000 indivíduos, mas somente 400 fêmeas e 400 machos reproduzirem, então Ne � (4 × 400 × 400)/(400 � 400) � 800 ou 80% do tamanho total da população. Muitas características bionômicas podem influenciar o Ne, e fórmulas alternativas para estimá-lo levam em consideração o tamanho do grupo familiar, a idade da maturidade sexual, o parentesco genético entre os mem- bros da população, os efeitos do fluxo gênico entre populações separadas geograficamente e as flutuações populacionais. Em populações de estudo reais, Ne sempre é uma fração da população total. Assim, a simples determinação do número to- tal de indivíduos em uma pequena população não fornece uma boa medida para avaliar se a população é suficientemente grande para evitar extinção. Sempre que possível, os programas de con- servação procuram sustentar tamanhos populacionais totais que incluem, pelo menos, o número mínimo viável de indivíduos re- produtivamente ativos. A meta conservacionista de sustentar um tamanho efetivo de população (Ne) acima da PMV se baseia na preocupação de manter as populações com diversidade genética suficiente para se adaptarem a mudanças ambientais. A PMV de uma população é frequentemente utilizada em análises de viabilidade populacional. O objetivo dessa análise é predizer as probabilidades de sobrevivência de uma população, geralmente expressa como probabilidade de sobrevivência espe- cífica (por exemplo, uma probabilidade de 95%) ao longo de um certo intervalo de tempo (por exemplo, 100 anos). Tais aborda- gens de modelagem permitem aos biólogos da conservação ex- plorar as consequências potenciais de planos de manejo alterna- tivos. Tendo em vista que a modelagem depende de informações confiáveis sobre as populações de estudo, a biologia da conserva- ção é mais consistente quando as modelagens teóricas são combi- nadas com estudos de campo sobre as populações manejadas. Figura 56.11 � Pesquisa O que provocou o drástico declínio na população do tetraz-das-pradarias do estado de Illinois, EUA? EXPERIMENTO Os pesquisadores observaram que o colapso popula- cional do tetraz-das-pradarias foi acompanhado por uma redução na fertili- dade, medida pela taxa de eclosão dos ovos. Uma comparação de amostras de DNA da população do Condado de Jasper, Illinois, com o DNA de penas de espécimes depositados em museus mostrou que a variabilidade genética havia diminuído na população de estudo (ver Figura 23.10). Em 1992, Ro- nald Westemeier, Jeffrey Brawn e seus colegas iniciaram um programa de translocação de tetrazes-das-pradarias dos estados de Minnesota, Kansas e Nebraska na tentativa de aumentar a variabilidade genética. RESULTADOS A viabilidade dos ovos aumentou rapidamente após a translocação (seta azul) e a população se recuperou. N úm er o de t et ra ze s m ac ho s O vo s ec lo di do s (% ) 200 150 100 50 0 1970 1975 1980 1985 Ano (a) Dinâmica populacional. (b) Taxa de eclosão. Anos 1990 1995 Translocação 70 80 90 60 50 40 30 1970-‘74 ‘75-‘79 ‘80-‘84 ‘85-‘89 ‘90 ‘93-‘97 100 CONCLUSÃO A reduzida variabilidade genética estava conduzindo a população de tetrazes-das-pradarias do Condado de Jasper para um vór- tice de extinção. FONTE R. L. Westemeier et al., Tracking the long-term decline and recovery of an isolated population, Science 282:1695-1698 (1998). Pesquisaemação Leia e analise o artigo original em Pesquisa em ação: interpretando artigos científicos. E SE...? Considerando o sucesso no uso de aves translocadas como ferramenta para aumentar a porcentagem de ovos eclodidosem Illinois, por que não translocar imediatamente mais aves para Illinois? Biologia 1253 Estudo de caso: análise das populações do urso-pardo Uma das primeiras análises de viabilidade populacional foi con- duzida em 1978 por Mark Shaffer da Universidade de Duke, EUA, como parte de um estudo de longo prazo com os ursos-pardos do Parque Nacional Yellowstone e áreas adjacentes (Figura 56.12). O urso-pardo (Ursus arctos horribilis), espécie ameaçada de ex- tinção nos estados Unidos, é encontrado atualmente em apenas 4 dos 48 estados contíguos do país. Suas populações nesses estados têm sido reduzidas e fragmentadas drasticamente: estima-se que em 1800 havia 100.000 ursos-pardos distribuídos em uma área de aproximadamente 500 milhões de hectares de hábitat geralmen- te contínuo, e hoje existem apenas cerca de 1.000 indivíduos em seis populações relativamente isoladas distribuídas em menos de 5 milhões de hectares. Shaffer tentou determinar o tamanho viável para a população de ursos-pardos de Yellowstone. Ele simulou os efeitos de fatores ambientais sobre a sobrevivência e a reprodução dos ursos usan- do dados bionômicos obtidos de indivíduos de Yellowstone em um período de 12 anos. Seus modelos predisseram que, na presença de hábitat adequado, uma população de ursos-pardos de Yellowstone com 70 a 90 indivíduos teria uma probabilidade de sobrevivência nos próximos 100 anos de cerca de 95%, ao passo que uma popula- ção de 100 ursos teria uma probabilidade de sobrevivência de 95% pelo dobro do tempo, cerca de 200 anos. Como o tamanho real da população de ursos-pardos de Yello- wstone se compara com as estimativas de PMV de Shaffer? Uma estimativa atual sugere que a população total de ursos-pardos do ecossistema do Grande Yellowstone seja de cerca de 400 indivíduos. A relação entre essa estimativa e o tamanho efetivo da população, Ne, depende de vários fatores. Geralmente, apenas um pequeno nú- mero de machos dominantes reproduz e pode ser dif ícil para eles encontrar fêmeas, pois os indivíduos habitam áreas muito extensas. Além disso, as fêmeas somente conseguem reproduzir quando há abundância de alimento. Como consequência, Ne é de apenas cerca de 25% do tamanho populacional total ou cerca de 100 ursos. Tendo em vista que populações pequenas tendem a perder va- riabilidade genética ao longo do tempo, várias equipes de pesquisa têm analisado proteínas, DNAmt e repetições curtas em tandem (STRS, em inglês Short tandem repeats) (ver Capítulo 21) para avaliar a variabilidade genética da população de ursos-pardos de Yellowstone. Até o momento, todos os resultados indicam que a população de Yellowstone possui variabilidade genética menor que as outras populações de ursos-pardos da América do Norte. Con- tudo, o isolamento e o declínio da variabilidade genética da popu- lação de Yellowstone foram graduais durante o século XX e não tão severos quanto se temia: espécimes de museu coletados no início dos anos 1900 demonstram que a variabilidade genética entre os ursos-pardos de Yellowstone já era baixa desde aquela época. Como os biólogos da conservação poderiam aumentar o tamanho efetivo e a variabilidade genética da população de ur- sos-pardos de Yellowstone? A migração entre populações isoladas de ursos poderia aumentar os tamanhos efetivo e total da popula- ção. Modelos de computador predizem que a translocação de ape- nas dois ursos não aparentados a cada década para uma população de 100 indivíduos reduziria pela metade a perda de variabilidade genética. Para o urso-pardo, e provavelmente para muitas outras espécies cujas populações são muito pequenas, a descoberta de mecanismos que promovam a dispersão entre populações pode ser uma das necessidades de conservação mais urgentes. Esse estudo de caso e aquele do tetraz-das-pradarias demons- tram a conexão dos modelos de populações pequenas com suas aplicações práticas para a conservação. A seguir, apresentaremos uma abordagem alternativa para entender a biologia da extinção. Abordagem da população em declínio A abordagem da população em declínio enfoca populações ame- açadas que apresentam tendência de declínio, mesmo que a po- pulação esteja muito acima da PMV. A distinção entre população em declínio (nem sempre pequena) e população pequena (nem sempre em declínio) é menos importante que as diferentes prio- ridades dessas duas abordagens de conservação básicas. A abor- dagem da população pequena enfatiza a pequenez em si como uma causa distal da extinção de uma população, especialmen- te por meio da perda de diversidade genética. Por outro lado, a abordagem da população em declínio enfatiza os fatores ambien- tais que causaram o declínio populacional. Se, por exemplo, uma área é desmatada, as espécies que dependem das árvores sofrerão redução numérica e se extinguirão localmente, independente de reterem variabilidade genética ou não. Etapas de análise e intervenção A abordagem da população em declínio requer que reduções po- pulacionais sejam avaliadas caso a caso, e que os pesquisadores desvendem cuidadosamente as causas do declínio antes de toma- rem atitudes para corrigi-las. Se, por exemplo, a magnificação bio- lógica de um poluente tóxico estiver comprometendo algum con- sumidor de topo de cadeia, como uma ave de rapina (ver Capítulo 55), então os gestores precisam reduzir ou eliminar o poluente no Figura 56.12 � Monitoramento de longo prazo de uma popula- ção de ursos-pardos. O ecólogo está implantando um colar de radio- telemetria nesse urso anestesiado para que o seu deslocamento possa ser comparado com o de outros indivíduos da população do Parque Nacional de Yellowstone. 1254 Campbell & Cols. ambiente para restaurar as populações vulneráveis da ave. Embora a maioria das situações seja mais complexa, podemos usar as se- guintes etapas para analisar populações em declínio: 1. Confirme, usando dados populacionais, que a espécie está hoje em declínio ou que já foi mais amplamente distribuí- da ou mais abundante. 2. Estude a história natural dessa espécie e de espécies apa- rentadas, incluindo uma revisão da literatura científica, para determinar os requerimentos ambientais da espécie. 3. Elabore hipóteses para todas as possíveis causas do declí- nio, incluindo atividades humanas e eventos naturais, e liste as predições de cada hipótese. 4. Considerando que muitos fatores podem estar correlacio- nados com o declínio, teste as hipóteses mais prováveis em primeiro lugar. Por exemplo, remova o agente suspeito do declínio para verificar se a população experimental se recupera em comparação a uma população controle. 5. Aplique os resultados do diagnóstico para manejar a espé- cie ameaçada e monitorar a sua recuperação. O estudo de caso a seguir é um exemplo de como a aborda- gem da população em declínio foi aplicada recentemente a uma espécie ameaçada de extinção. Estudo de caso: o declínio do pica-pau Picoides borealis O pica-pau Picoides borealis é uma espécie ameaçada de extinção endêmica do Sudeste dos Estados Unidos. Essa espécie precisa de florestas de pinheiro maduras como hábitat, preferencialmente aquelas dominadas pelo pinheiro Pinus palustris. A maioria dos pica-paus nidifica em árvores mortas, mas Picoides borealis cava o ninho em pinheiros maduros vivos. Esse pica-pau também abre pequenos buracos na volta da entrada do ninho, fazendo a resina da árvore escorrer pelo tronco. A resina parece repelir certos pre- dadores, como as cobras-do-milho, que comem ovos e ninhegos. Outro fator crucial do hábitat para essa espécie de pica-pau é a altura do sub-bosque ao redor dos troncos, que deve ser baixa (Figura 56.13a). As aves reprodutoras tendem a abandonar os ni- nhos quando a vegetação entre os pinheiros é densa e mais alta que cerca de 4,5 m (Figura 56.13b). Aparentemente, as aves precisam de um caminho de voo limpo entre a sua árvore domiciliar e as áreas de alimentação vizinhas. Incêndios periódicos têm historica- mente invadido essas florestas e mantido osub-bosque baixo. Entre os fatores que provocam o declínio desse pica-pau está a destruição ou fragmentação de hábitats adequados pela extração de madeira e agricultura. Os gestores ambientais têm auxiliado na restauração do hábitat que sustenta populações viáveis através do reconhecimento dos fatores-chave do hábitat, da proteção de algumas florestas de pinheiro e do uso controlado do fogo para reduzir o sub-bosque da floresta. Contudo, a elaboração de um programa de recuperação foi complicada pela organização social das aves. Essa espécie de pica-pau vive em grupos contendo um casal reprodutor e até quatro “ajudantes”, principalmente machos (um exemplo de altruísmo; ver Capítulo 51). Os ajudantes são descendentes do casal que não dispersam e não reproduzem, mas que permanecem no grupo para ajudar na incubação dos ovos e na provisão de alimento para os ninhegos. Eventualmente, eles podem atingir o status de reprodutor dentro do bando quando indivíduos mais velhos morrem, mas a espera pode demorar anos e, mesmo assim, os ajudantes devem competir para reproduzir. Aves jovens que dispersam como membros de novos grupos tam- bém têm um caminho dif ícil para alcançar o sucesso reprodutivo. Os novos grupos geralmente ocupam territórios abandonados ou se estabelecem em um novo local e começam a escavar seus ni- nhos, o que pode demorar vários anos. Os indivíduos geralmente Pica-pau As florestas que não sustentam pica-paus possuem sub-bosque alto e denso que afeta o acesso dos pica-paus às areas de alimentação. (b)As florestas que sustentam os pica-paus possuem sub-bosque baixo.(a) Figura 56.13 � Necessidades de hábitat dos pica-paus Picoides borealis. ? Como a perturbação do hábitat é absolutamente necessária para a sobrevivência de longo prazo dos pica-paus? Biologia 1255 têm melhor chance de reproduzir se ficarem para trás (permane- cendo no grupo natal) do que se dispersarem e despenderem o esforço de escavar suas casas em novos territórios. Para testar a hipótese de que esse comportamento social con- tribui para o declínio dos pica-paus, Carole Copeyon, Jeffrey Wal- ters e Jay Carter da Universidade Estadual da Carolina do Norte construíram cavidades em pinheiros em 20 locais. Os resultados foram dramáticos. As cavidades em 18 dos 20 locais foram colo- nizadas por pica-paus e novos grupos reprodutores foram forma- dos apenas nesses locais. O experimento deu suporte à hipótese de que essa espécie de pica-pau estava deixando muita área de hábitat adequado desocupada pela falta de cavidades para nidificar. Com base nesse experimento, os biólogos da conservação iniciaram um programa de manutenção do hábitat que incluiu queimada contro- lada e escavação de novas cavidades para ninhos, permitindo que essa espécie ameaçada começasse a se recuperar. Comparando demandas conflitantes A determinação do tamanho de uma população e das necessidades de hábitat de uma espécie é apenas parte do esforço para salvá-la. Os cientistas também precisam comparar as necessidades biológi- cas e ecológicas de uma espécie com outras demandas conflitantes. A biologia da conservação frequentemente salienta a relação en- tre a ciência, a tecnologia e a sociedade. Por exemplo, um debate atual e às vezes acirrado no noroeste do Pacífico dos EUA opõe a preservação do hábitat para as populações de uma espécie de co- ruja, de lobo, de urso e de truta com as oportunidades de trabalho nas indústrias madeireira, de mineração e de extração de outros recursos. Os programas de translocação de lobos para o Parque Nacional Yellowstone receberam oposição de alguns recreacionis- tas preocupados com a segurança humana e de muitos pecuaristas preocupados com a perda potencial de suas criações. Vertebrados grandes e atraentes nem sempre são o ponto focal desses conflitos. A questão é quase sempre o uso do hábitat. Os trabalhos de construção de uma nova ponte sobre uma autoestrada deveriam continuar se ela destruísse o único hábitat remanescente de uma espécie de mexilhão de água doce? Se você fosse proprie- tário de uma plantação de café que cultiva variedades que se adap- tam a ambientes com alta incidência de luz solar, estaria disposto a mudar para variedades tolerantes à sombra que produzem menos café por área, mas que crescem sob árvores que sustentam grandes números de aves canoras? Outra importante consideração é o papel ecológico de uma es- pécie. Considerando que não seremos capazes de salvar todas as espécies ameaçadas, devemos determinar quais espécies são mais importantes para conservar a biodiversidade como um todo. A identificação de espécies-chave e a descoberta de mecanismos que sustentem suas populações pode ser central para manter comuni- dades e ecossistemas. O manejo visando à conservação de uma única espécie traz consigo a possibilidade de afetar negativamente populações de outras espécies. Por exemplo, o manejo de florestas de pinheiros abertas para o pica-pau Picoides borealis poderia afetar aves mi- gratórias que usam florestas em estágio sucessional mais avançado. Para testar esses impactos, os ecólogos compararam as comunida- des de aves próximas a grupos de cavidades em florestas de pinhei- ros manejadas com comunidades em florestas sem manejo para os pica-paus. Ao contrário do esperado, os locais manejados susten- taram números maiores e uma diversidade mais alta de outras aves do que as florestas controle. Nesse caso, o manejo para beneficiar uma espécie de ave aumentou a diversidade de toda a comunidade de aves. Na maioria das situações, a conservação deve ir além de uma única espécie e considerar a comunidade e o ecossistema na sua totalidade como uma importante unidade de biodiversidade. R E V I S à O D O C O N C E I T O 1. Por que a diversidade genética reduzida de populações pe- quenas as torna mais vulneráveis à extinção? 2. Considere uma população hipotética de 100 tetra- zes-das-pradarias, espécie em que as fêmeas escolhem um par dentre um grupo de machos em exibição. Qual é o tamanho efetivo da população se 35 fêmeas e 10 machos dessa espécie reproduzirem? 3. E SE...? Em 2005, pelo menos dez ursos-pardos foram mortos no ecossistema do Grande Yellowstone devido ao contato com pessoas. Três agentes causaram a maioria dessas mortes: colisões com automóveis, caçadores (não de ursos-pardos) que atiram quando atacados por fêmeas com filhotes nas imediações e gestores ambientais que matam ursos que repetidamente atacam criações. Se você fosse um gestor ambiental, que medidas tomaria para mi- nimizar esses encontros em Yellowstone? Ver as respostas sugeridas no Apêndice A. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Página em branco Página em branco Página em branco
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