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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
Política
Prof.ª Márcia da Silva 
Prof.ª Tatiellen Cristina Prudentes
1a Edição
GeoGrafia
Impresso por:
Elaboração:
Prof.ª Márcia da Silva 
Prof.ª Tatiellen Cristina Prudentes
Copyright © UNIASSELVI 2020
Revisão, Diagramação e Produção:
 Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
 Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI
S586g
Silva, Márcia da
Geografia política. / Márcia da Silva; Tatiellen Cristina Prudentes. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
268 p.; il.
ISBN 978-65-5663-081-6
1. Geografia política. - Brasil. I. Prudentes, Tatiellen Cristina. II. Centro 
Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 320.12
Olá, caro estudante! Seja bem-vindo!
Este material foi planejado com a finalidade de colaborar para a sua formação 
acadêmica. Pensando nisso, discutiremos nesta disciplina sobre a Geografia Política, 
apresentando os fundamentos e conceitos que lhe ajudarão no seu processo de ensino 
e aprendizagem. 
Nesta disciplina, abordaremos diversos assuntos de grande importância para 
sociedade atual, pois queremos que você perceba as dinâmicas dos processos políticos 
que se desenvolvem no espaço geográfico. Então, vamos discutir os fundamentos 
básicos de uma área de conhecimento fascinante que é a Geografia Política. 
Entendemos que os conhecimentos que serão compartilhados, são de extrema 
importância para os acadêmicos do curso de Geografia, pois eles serão os responsáveis 
por compreender os conceitos como espaço geográfico, território, política, poder, 
globalização, conflitos, e outros que são fundamentais para o entendimento mais 
aprofundado sobre a realidade e as implicações da sociedade contemporânea. 
Assim sendo, a disciplina tem como objetivo apresentar as origens e a evolução da 
Geografia Política, seus temas e conceitos principais, compreendendo as mudanças ocor-
ridas no espaço geográfico, interpretando as relações de poder com vários atores, que par-
ticipam como agentes de criação, transformação e a elaboração dos espaços geográficos. 
As discussões sobre os temas que trataremos na disciplina serão, por muitas 
vezes, atuais. Tratamos também de esquematizar a disciplina em três unidades que se 
apresentam em uma ordem de tópicos e subtópicos. 
Na unidade 1, discutiremos sobre os conceitos básicos da Geografia Política, com 
uma abordagem evolutiva da Geografia Política através dos seus teóricos e clássicos. 
Passaremos, primeiramente, pelos fundamentos da Geografia Política e Geopolítica e, 
por fim, analisaremos a Geografia Política Brasileira. 
Já na Unidade 2, intitulada “Geografia Política no mundo contemporâneo”, serão 
apresentadas as análises sobre a configuração do mundo nestes últimos anos, advindos 
da Globalização e suas consequências na forma de organização mundial. Passando 
pelos conceitos básicos e exemplificando a nova conjuntura mundial. 
Na Unidade 3, denominada “Temas e Problemas da Geografia Política 
Contemporânea”, discutimos os temas e problemas da geografia política contemporânea, 
a exemplo de conflitos que tenham dimensão territorial, deslocamentos populacionais, 
processos migratórios e situações de refúgio. 
APRESENTAÇÃO
GIO
Você lembra dos UNIs?
Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas 
vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico 
como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará 
você a entender melhor o que são essas informações 
adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura 
dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará 
informações adicionais e outras fontes de conhecimento que 
complementam o assunto estudado em questão.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os 
acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir 
de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual 
– com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a 
leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que 
você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados 
através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo 
continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada 
com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo 
o espaço da página – o que também contribui para diminuir 
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por 
exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto 
de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este 
livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a 
possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, 
tablet ou computador. 
Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo 
layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual 
adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de 
relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os 
materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, 
possa continuar os seus estudos com um material atualizado 
e de qualidade.
Acreditamos que este material será útil para acompanhar a disciplina de 
Geografia Política, possibilitando, assim, conhecer e compreender o desenvolvimento 
da geografia. 
Portanto, o texto está estruturado a partir do desenvolvimento das unidades e 
tópicos. Em cada unidade, aparecem alguns ícones interativos UNI, como, por exemplo, 
dicas de estudo, glossário etc. Contamos com sua participação e empenho para extrair o 
máximo de proveito deste momento. Sucesso e mãos à obra!
Prof.a Márcia da Silva 
Prof.a Tatiellen Cristina Prudentes
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a 
você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo 
interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse 
as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade 
para aprimorar os seus estudos.
QR CODE
ENADE
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma 
disciplina e com ela um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conheci-
mento, construímos, além do livro que está em 
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, 
por meio dela você terá contato com o vídeo 
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de 
auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que 
preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um 
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de 
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar 
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem 
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo 
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, 
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
SUMÁRIO
UNIDADE 1 - FUNDAMENTOS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E O CONTEXTO BRASILEIRO ......... 1
TÓPICO 1 - GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA .............................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3
2 CONCEITOS, ORIGENS, LIMITES E NOVAS ABORDAGENS ...............................................3
3 TEORIAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E DA GEOPOLÍTICA ............................................... 12
4 A GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA E O DISCURSO GEOPOLÍTICO .............................. 19
RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 29
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 30
TÓPICO 2 - GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS .......................... 31
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................31
2 GEOGRAFIA POLÍTICA: ESPAÇO E PODER ...................................................................... 31
3 OS DIFERENTES CAMPOS DO PODER ............................................................................ 36
4 O PODER E O TERRITÓRIO ............................................................................................... 40
RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 45
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 46
TÓPICO 3 - GEOPOLÍTICA BRASILEIRA ............................................................................ 49
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 49
2 O PROJETO GEOPOLÍTICO DA MODERNIDADE NO BRASIL .......................................... 49
3 A GESTÃO DO ESTADO CENTRALIZADOR ...................................................................... 60
4 A CRISE E OS DESAFIOS DO PAÍS COMO POTÊNCIA REGIONAL .................................. 62
5 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E A TENDÊNCIA À GESTÃO PRIVADA DO TERRITÓRIO ..... 68
LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................78
RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................79
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 80
UNIDADE 2 — GEOGRAFIA POLÍTICA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO ............................ 83
TÓPICO 1 — GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO ..................................................... 85
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 85
2 TEORIAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E DA GLOBALIZAÇÃO .......................................... 85
3 ORIGENS, LIMITES E NOVAS ABORDAGENS .................................................................. 93
4 ESTADO, FRONTEIRAS E SEGREGAÇÃO DO TERRITÓRIO..............................................97
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 112
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 113
TÓPICO 2 - A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS
 DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS .......................................... 115
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 115
2 O SISTEMA MUNDIAL, HEGEMONIAS E CONTRA HEGEMONIAS .................................. 115
3 O PODER GLOBAL DOS ESTADOS UNIDOS E OS NOVOS ATORES MUNDIAIS ............. 119
4 UMA NOVA CONJUNTURA MUNDIAL? A GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES NA 
 ATUALIDADE DO SÉCULO XXI ........................................................................................126
RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................134
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................135
TÓPICO 3 - A CONSTITUIÇÃO DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER ................................... 137
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 137
2 CONSTITUIÇÃO TEÓRICA DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER SOCIAL......................... 137
3 BIOPOLÍTICA E DESLOCAMENTO DE MULTIDÕES: SEGURANÇA JURÍDICA E POLÍTICA ..... 141
4 BIOPODER: RAÇA, POPULAÇÃO E REPRODUÇÃO NO MUNDO GLOBAL .....................142
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 144
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 147
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................148
UNIDADE 3 — TEMAS E PROBLEMAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA ...149
TÓPICO 1 — CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES ........................................... 151
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 151
2 CONFLITOS QUE PERSISTEM: AS GUERRAS DO SÉCULO XXI .....................................152
3 AS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E O DRAMA DOS REFUGIADOS ............................ 161
4 SOCIEDADES, MOBILIDADES, DESLOCAMENTOS: OS TERRITÓRIOS DA ESPERA .... 173
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 181
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................182
TÓPICO 2 - GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA ...................................185
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................185
2 A ÁFRICA É O MUNDO E O MUNDO NÃO É A ÁFRICA .....................................................185
3 CAMINHOS E DESCAMINHOS DA POLÍTICA NA AMÉRICA LATINA ..............................201
4 FORMAÇÕES NACIONAIS E DIFERENTES FORMAS DE INSERÇÃO REGIONAL ..........212
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 217
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................218
TÓPICO 3 - GEOGRAFIA POLÍTICA E O MEIO AMBIENTE, GESTÃO DOS RECURSOS 
 E SUSTENTABILIDADE...................................................................................221
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................221
2 GEOGRAFIA POLÍTICA E MEIO AMBIENTE ................................................................... 222
3 GEOGRAFIA POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ................................... 229
4 GEOGRAFIA POLÍTICA E GESTÃO INTERNACIONAL DE RECURSOS NATURAIS ........241
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................. 246
RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 250
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................251
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 253
1
UNIDADE 1 - 
FUNDAMENTOS DA 
GEOGRAFIA POLÍTICA E O 
CONTEXTO BRASILEIRO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender as origens e a evolução da Geografia Política, seus conceitos principais, 
teorias, temas e pensadores;
• perceber as relações entre a Geografia Política e a Geopolítica, examinando a 
Geografia Política clássica e o discurso geopolítico;
• analisar as abordagens recentes sobre espaços, poder e território, com espaço na 
perspectiva do poder, que significa entender o espaço na sua complexidade e em 
diferentes escalas de relações, em sua dinâmica histórica e geográfica;
• identificar o projeto e o contexto da Geografia Política Brasileira, verificando as 
relações entre espaço e poder nas escalas nacional, regional e local. Entendendo 
a relação à questão do componente político sobre o território e da importância 
do Estado no processo de organização territorial e da força para dominar e gerir 
territórios.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontraráautoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
TÓPICO 2 – GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E TERRITÓRIOS
TÓPICO 3 – GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
2
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 1!
Acesse o 
QR Code abaixo:
3
GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, por meio de uma abordagem histórica, estudaremos a evolução 
do pensamento em Geografia Política, seus elementos e a sua finalidade. Para iniciarmos 
o estudo relacionado à produção da Geografia Política é necessário ter clareza acerca 
dos conceitos básicos que dão suporte à disciplina. Para tanto, discutiremos, neste 
primeiro tópico, alguns aspectos conceituais que permitem entender e inteirar como 
a Geografia Política é importante como disciplina no curso de graduação em Geografia.
Portanto, dividiremos o tópico em três partes. Na primeira serão abordados os 
fundamentos dos conceitos e origens da Geografia Política, a ciência que analisa as rela-
ções de poder no espaço geográfico. Diante disso, estudaremos também as relações de 
poder e a sua correlação com o espaço. Na segunda parte, abordaremos as teorias da Ge-
ografia Política e da Geopolítica, com uma grandeza de conceitos, termos e seus primeiros 
pensadores que corroboraram para a construção do conhecimento e foram fundamentais 
para a Geografia Política. Por fim, a terceira parte, com a discussão de dois geógrafos que 
produziram com todos os seus apontamentos conceituais, reflexões críticas, estudos pio-
neiros da historicidade e a contextualização dos temas sobre a Geografia Política.
TÓPICO 1 - UNIDADE 1
2 CONCEITOS, ORIGENS, LIMITES E NOVAS ABORDAGENS
Para começar, precisamos deixar claro sobre o que estamos falando. O que é 
Geografia Política? 
Para compreensão do significado de Geografia Política é importante definir 
o que é Geografia Política e Geopolítica, pois os dois termos terão em conjunto sua 
conceituação. Dessa forma, estes campos teóricos da Geografia apresentam importância 
ímpar para o entendimento do desenrolar dos fatos históricos no espaço geográfico, 
ajudando termos uma análise crítica em relação a ordem internacional vigente. 
4
A geografia política pode então ser compreendida como um conjunto 
de ideias políticas e acadêmicas sobre as relações da geografia com 
a política e vice-versa. O conhecimento por ela produzido resulta 
da interpretação dos fatos políticos, em diferentes momentos e em 
diferentes escalas, com suporte em uma reflexão teórico-conceitual 
desenvolvida na própria geografia ou em outros campos como a 
ciência política, sociologia, antropologia, relações internacionais 
etc. A dupla necessidade de dar uma resposta acadêmica sobre os 
fundamentos geográficos para eventos políticos e a preocupação 
de legitimar a sua análise a partir de um enquadramento intelectual 
em modelos teóricos reconhecidos resultaram em uma forte 
contextualização da disciplina, tanto em termos dos temas centrais 
como das opções metodológicas, além das práticas, de muitos dos 
seus formuladores. Desse modo, da mesma forma que em outras 
áreas do conhecimento, também na geografia política não é possível 
defender um total desinteresse ou imparcialidade dos pesquisadores 
e analistas. Pois, como bem lembra John Agnew, “em um mundo da 
ação humana não é possível falar em uma visão singular, de lugar 
nenhum, para justificar esta ou aquela perspectiva como melhor 
que outra” (AGNEW, 2002, p. 8), apesar do esforço da disciplina em 
oferecer coerência entre fundamento teórico e evidência empírica 
para discussão de situações particulares (CASTRO, 2005, p. 17).
A Geografia Política é, portanto, a interpretação dos fatos políticos e relações po-
líticas, nas suas diferentes escalas, ou seja, relações de poder de atores e agentes, que 
exercem autoridade e poder, e que geram por vezes conflitos e jogos de interesses. Pela 
natureza da Geografia, os pesquisadores e analistas não conseguem se desvincular de sua 
perspectiva, não conseguindo ter o desinteresse e a imparcialidade do estudo proposto. 
Neste contexto, vemos que a geografia política leva em consideração o território 
de um determinado país e região. Na geografia humana é percebida como a ciência que 
analisa as relações de poder no espaço geográfico, estudando as relações de poder e a 
sua correlação com o espaço. 
Temos a perspectiva do espaço geográfico conexo a uma Geografia Política com 
o território, da arena privilegiada da ação política e do poder (SUERTEGARAY, 2001). 
Portanto, o objeto desta, é nas relações entre o território, poder e política, investigando 
as relações do poder, tanto dentro quanto entre os Estados-nação, em todo o processo 
intrínseco da apropriação do espaço geográfico. 
A identificação da geografia com a geografia política surge “através das 
análises dos conjuntos de estudos sistematizados mais afetos a geografia e restritos as 
relações entre o espaço e o Estado, como as questões relacionadas à posição, situação, 
características das fronteiras” (COSTA, 2010, p. 18). 
A Geografia Política, em sua origem, teve como compromisso de compreender 
o modo pelo qual a política era influenciada pela geografia (CASTRO, 2005). Portanto, 
o objeto de estudo da Geografia Política são as relações entre o espaço e o poder ou o 
5
Você conhece Ratzel?
Friedrich Ratzel (1844-1904) foi um teórico pensador da institucionalização 
da Geografia, enquanto ramo autônomo do saber científico. Percursor dos 
“clássicos” da ciência geográfica, além de também ser um dos pensadores e 
teóricos da Geografia Política.
DICAS
estudo geográfico da política. Os estudos iniciam na obra de Ratzel, publicada em 1987, 
intitulada Politische Geographie. Ratzel era o principal agente que exercia poder sobre o 
território era o Estado, no início destes estudos. 
Verifica-se, que na atualidade, em Geografia Política, teremos também as 
análises de questões ambientais como é o caso da Amazônia, que assume uma 
importância política muito grande, tanto nacional como internacional, visto que é uma 
fonte imensurável de riqueza naturais. Considerando o texto, observe as figuras, a seguir: 
FIGURA 1 – CHARGE SOBRE A DESTRUIÇÃO DA FLORESTA NA AMAZÔNIA, POR CHICO MARINHO
FONTE: <https://jornalggn.com.br/sites/default/files/2019/08/uma-charge-sobre-a-destruicao-da-flores-
ta-na-amazonia-por-chico-marinho-amazonia-chico-marinho-696x529.jpeg>. 
Acesso em: 5 set. 2019.
6
FIGURA 2 – MANCHETE SOBRE A DISCUSSÃO DA AMAZÔNIA NA ONU EM 2019
FONTE: <https://cdn.domtotal.com/img/noticias/2019-09/1390166_419833.jpg>. 
Acesso em: 24 set. 2019.
Conforme figuras acima, Costa (2010, p. 25) esclarece que “são de suma 
importância as análises das formas de distribuição do poder no espaço nacional, regional, 
e internacional etc., e os modos de repartição desse poder no interior da sociedade, 
cada vez mais territorializada em suas práticas sociais cotidianas”. Bem como, vemos 
a importância do conceito de escala nos estudos da geografia, compreendida como 
“níveis em que o espaço é subdividido” para melhor ser compreendido e analisado. As 
diferentes escalas são interligadas, uma vez que todas são maneiras de compreender o 
espaço geográfico” (LISBOA, 2007, p. 30-31). 
7
Lisboa (2007) exemplifica os níveis de escalas, bem como, cada fenômeno 
pode ser analisado em uma escala primária e se relacionar a outras 
análises escalares, quando se adquire a habilidade de reflexão transescalar. 
A influência dos EUA pode ser pensada internacionalmente e chegar a 
identificação de elementos dessa atuação nas pequenas cidades brasileiras; 
da mesma forma, um fenômeno que a princípio pareça apenas de nível 
local pode ganhar proporções mundiais como o gás carbônico liberado 
localmente, que pode contribuir para o fenômeno do aquecimento global.
IMPORTANTE
Surge, assim, o campode atuação da Geografia Política, “Geografia e a relação 
entre a política e o território, expressão e modo de controle dos conflitos sociais e a base 
material e simbólica da sociedade” (CASTRO, 2005, p. 15-16).
As bases materiais e Simbólicas são consideradas por HAESBAERT (2004), como:
Base Material: relacionada com a dominação (jurídico-política) da terra e com a inspiração 
do terror, do medo – especialmente para aqueles que, com esta dominação, ficam alijados 
da terra, ou no territorium são impedidos de entrar. 
Base Simbólica: relacionada com a apropriação. Podemos dizer que, para aqueles que têm o 
privilégio de usufrui-lo, o território inspira a identificação (positiva) e a efetiva “apropriação”.
Território, assim, em qualquer acepção, tem a ver com poder, mas não apenas ao tradicional 
“poder político”. Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto e de dominação 
quanto ao poder no sentido mais simbólico de apropriação. Lefebvre distingue apropriação 
de dominação (“possessão”, “propriedade”), o primeiro sendo um processo muito mais 
simbólico, carregado das marcas do “vivido”, do valor de uso, o segundo mais concreto, 
funcional e vinculado ao valor de troca. Segundo o autor: o uso reaparece em acentuado 
conflito com a troca no espaço, pois ele implica “apropriação” e não “propriedade”. Ora, 
a própria apropriação implica tempo e tempos, um ritmo ou ritmos, símbolos e uma 
prática. Quanto mais o espaço é funcionalizado, mais ele é dominado pelos “agentes” 
que o manipulam tornando-o unifuncional e, menos ele se presta à apropriação. Por 
quê? Porque ele se coloca fora do tempo vivido, aquele dos usuários, tempo 
diverso e complexo (LEFEBVRE, 1986 p. 411-412). Como decorrência deste 
raciocínio, é interessante observar que, enquanto “espaço-tempo vivido”, o 
território é sempre múltiplo, “diverso e complexo”, ao contrário do território 
“unifuncional” proposto pela lógica capitalista hegemônica.
FONTE: HAESBAERT, R. Dos múltiplos territórios a multiterritorialidade. In: HEIDRICH, 
A.; COSTA, B.; PIRES, C.; UEDA, V. (Org.). A emergência da multiterritorialidade: a ressig-
nificação da relação do humano com o espaço. Canoas/Porto Alegre: Editora ULBRA/
Editora UFRGS, 2008.
DICAS
8
Você saberia citar alguns exemplos de temas de estudo da Geografia Política?
Para ilustrar os estudos da geografia política, observe este resumo de uma tese de 
doutorado de Daniel Cirilo Augusto (2017, p. 13), com o título “Comportamento geográfico 
do voto: a identificação pessoal e a identificação partidária em Portugal e no Brasil”. 
Resumo: esta pesquisa tem como objetivo analisar a identificação pessoal e a identificação 
partidária na decisão do voto de eleitores portugueses e brasileiros no período entre as eleições 
de 2011 e 2013 (Portugal) e 2012 e 2014 (Brasil). Procurou-se, ainda, identificar a importância dos 
partidos políticos para a decisão do voto, bem como, os diferentes elementos que contribuem 
para o voto. As escalas de pleitos eleitorais são utilizadas aqui para averiguar os diferentes níveis 
de identificação pessoal e de identificação partidária no eleitorado. Metodologicamente, este 
trabalho foi desenvolvido através de três eixos: leituras para a construção do referencial teórico, 
entrevistas com políticos brasileiros e aplicação de questionários aos eleitores portugueses e 
brasileiros. Para estes, foram traçados critérios para as amostras que levaram a escolha de 
Braga, Évora e Lisboa (Portugal) e Curitiba, Laranjeiras do Sul e Maringá (Brasil). A pesquisa 
foi conduzida pelo comportamento geográfico do voto, através de vinculações (aproximações 
e distanciamentos) entre a realidade portuguesa e a brasileira. Os resultados apresentados 
revelam a decisão do voto fundamentada principalmente na identificação pessoal, com 
exceção às eleições de nível nacional em Portugal, que obtiveram uma considerável 
parte dos eleitores a votar por meio da identificação partidária. Ademais, concluiu-
se que o voto é híbrido, em especial entre o eleitorado brasileiro. As mudanças 
ocorridas entre a decisão do voto do eleitor brasileiro permitem-nos identificar que 
este eleitor possui um caráter mudancista em suas decisões eleitorais, tornando-o 
sensível às variações ocasionadas no contexto territorial (sistema eleitoral, 
partidos políticos, meios de comunicação, efeito vizinhança etc.). Diante disso, 
considera-se que os elementos intrínsecos ao território contribuem para a 
formação dos cenários político partidários, condicionando o comportamento 
geográfico do voto.
DICAS
Como procuramos apontar, todas essas mudanças quanto aos novos temas são 
de suma importância, e quando em foco verificarem as relações de poder e o território, 
teremos espaços que são campos de grande importância de pesquisa da Geografia 
Política. 
Segundo as concepções de Castro (2005, p. 67), a contribuição do pensamento 
de Ratzel, que era um intelectual do seu tempo e, que ele, “foi quem melhor compreendeu 
e explicitou a importância do território como um suporte duradouro para o poder das 
instituições políticas”. 
Para Castro (2005, p. 19), “Ratzel procurou elaborar uma verdadeira teoria das 
relações entre a política e o espaço. A Geografia Política de Ratzel tinha, portanto, como 
tarefa demonstrar que o Estado é fundamentalmente uma realidade humana que só se 
completa sobre o solo do país”. 
9
Castro (2005, p. 71) valoriza o trabalho de Ratzel e dá-nos uma nova dimensão da 
importância do seu trabalho em Geografia Política. Segundo o autor: “sua preocupação 
era compreender este poder que faz mover o mundo, que abre as rotas e desenvolve o 
comércio, joga as nações uma contra as outras, empurra as armas para frente e finalmente 
engendra desequilíbrios de todos os tipos, verificado em cada escala das relações.”
Outro autor de destaque na Geografia política foi La Blache, ao qual se atribui 
a ideia do possibilismo, teoria segundo a qual o homem tem a possibilidade de intervir 
no meio. Para La Blache (1982) a geografia política constitui, em sentido estrito, um 
desenvolvimento especial da geografia humana. Nas aplicações da geografia ao homem, 
trata-se sempre do homem por sociedades ou por grupos, de modo que se pode crer 
autorizado a dar ao nome de geografia política um sentido mais amplo, e estendê-lo ao 
conjunto da geografia humana. 
Indicamos, para a leitura mais aprofundada do tema, o livro: RATZEL, de 
Antônio Carlos Robert. Coleção de um dos grandes cientistas sociais. nº 59, 
São Paulo, Ed. Ática S/A. 1990. Por meio do Link a seguir, você consegue 
acessar e baixar o livro: https://sites.google.com/site/flamariongeografia/
historia-do-pensamento. Acesso em: 20 jan. 2020.
DICAS
Por meio da análise de escalas dentro da Geografia Política, como a análise 
nacional e global, diante dos pressupostos constituídos por esta disciplina, surge como 
uma linha direta a geopolítica, a qual, segundo Costa (2010, p. 55), pode ser considerada: 
“[…] antes de tudo um subproduto e um reducionismo técnico e pragmático da geografia 
política, na medida em quem se apropria de parte de seus postulados gerais para aplicá-
los na análise de situações concretas interessando ao jogo de forças estatais projetado 
no espaço”.
Para Costa (2010) a Geopolítica caberia a formulação das teorias e projetos de 
ação voltadas às relações de poder entre os Estados e às estratégias de caráter geral para 
os territórios nacionais e estrangeiros, como exemplo a União Europeia ou as conquistas 
marítimas, de modo que estaria mais próxima das ciências políticas aplicadas, sendo assim 
mais interdisciplinar e utilitarista que a Geografia Política. 
 O surgimento da Geografia Política e, sobretudo, da Geopolítica, “são um produto 
do contexto europeu na virada do século XIX para XX, marcados pela emergência 
das potências mundiais e o imperialismo como forma histórica de relacionamento 
internacional” (COSTA, 2010, p. 58).
10
O pioneiro da Geopolítica foi Rudolf Kjellen, a quem se atribui o termo geopolítica“para expressar as suas concepções sobre as relações entre o Estado e o território”. 
Seus princípios tiveram muita discussão junto aos círculos de poder de diversos países. 
“Kjellen não escondia sua admiração pelo Estado Maior alemão e nem o desejo de que 
a Europa viesse a ser unificada sob um imenso império germânico” (COSTA, 2010, p. 57). 
Vários autores vão demostrar que a Geopolítica é uma ciência da ação e um campo 
de um saber estratégico. A geoestratégia (situações de conflito e emprego de meios de 
coerção) é apropriada pela Geopolítica, em seus mecanismos, pois tem como preocupação 
básica a correlação de forças entre os estados ou os agentes atuantes em determinado 
conflito. Considerado por um estudo das constantes e das variáveis do espaço. 
A Geoestratégia é o estudo das constantes e das variáveis do espaço 
que, ao objetivar-se na construção de modelos de avaliação e emprego 
de formas de coação, projeta o conhecimento geográfico na atividade 
estratégica (CORREIA, 2012). 
Coação: coação consiste na ação de coagir, ou seja, forçar alguém a fazer 
algo contra a sua vontade. Do ponto de vista jurídico, o crime de coação é 
caracterizado como o ato de agir com pressão ou violência (física ou verbal) 
perante outra pessoa, com o propósito de obter algo contra a sua vontade.
IMPORTANTE
Para mais detalhes sobre os conceitos de Geopolítica e Geoestratégia, leia 
os textos: Campello (2018). Atores, interesses e diferentes concepções 
sobre as reservas do pré-sal brasileiro: comparando os marcos regulatórios 
de 2010 e 2016. 24 p. Revista Oikos. Volume 17, n. 3. 
FONTE: https://bit.ly/3GMcy81. Acesso em: 11 fev. 2020.; MELLO, L. I. A. Quem tem 
medo da geopolítica? 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?scrip-
t=sci_arttext&pid=S0104-44782000000100011. Acesso em: 20 jan. 2020.
ATENÇÃO
11
Vemos aqui, por meio das afirmações, o início uma reflexão: a Geopolítica não é 
uma abreviação de Geografia Política? 
De forma mais simplificada, a Geopolítica se diferencia da Geografia Política, 
pois a primeira é mais específica focada na atuação territorial estatal direta, e por outro 
lado, a Geografia Política é mais ampla e tem como foco outros atores além do Estado, 
como movimentos sociais, grupos de poderes, entre outros. 
A Geopolítica de forma clássica preocupa-se em compreender os diferentes 
conflitos que existem na posse e dominação territorial, é um instrumento analítico 
focado nas divergências territoriais. Trata-se de uma ciência do conflito.
Por fim, ressaltamos que a Geografia política estuda as relações políticas, sendo 
assim, relações em que existem atores exercendo poder, o que muitas vezes gera 
conflitos, interesses e intervenções políticas.
 A partir dos pressupostos estabelecidos por este ramo da ciência geográfica, 
abordam-se conflitos entre atores e agentes (movimentos sociais, as multinacionais, 
shopping centers, associações de bairro, sindicatos, traficantes ou milícias nos morros 
e favelas das grandes cidades, grupos terroristas, as empresas transnacionais, os 
governos de países) em que há um caráter espacial. No conjunto desses conflitos, 
podemos incluir conflitos entre nações e povos, conflitos urbanos, conflitos de natureza 
ambiental. Conforme as explanações de Costa (2010, p. 58): 
É sem sombra de dúvida que o surgimento da Geografia Política e, 
sobretudo, da Geopolítica são um produto de contexto europeu na 
virada do século XIX para o XX, com F. Ratzel e R. Kjéllen, respectiva-
mente. Num plano mais geral, entretanto, não se pode esquecer que 
o interesse pelos fatores referentes à relação entre espaço e poder 
também manifesta um momento histórico que envolvia o mundo em 
escala global, caracterizado pela emergência das potências mundiais 
e, com elas, o imperialismo como forma histórica de relacionamento 
internacional. Em outros termos, as estratégias dessas potências tor-
naram-se antes de tudo globais, isto é, projetos nacionais tenderam a 
assumir cada vez mais um conteúdo necessariamente internacional.
Realizamos, até o momento, uma breve reflexão da origem e a sistematização 
da Geografia Política e Geopolítica como conceito. Assim, para conhecer e entender 
o processo e contexto de toda a sua formalização, é preciso aprender sobre seus 
conceitos e seus desdobramentos direcionados pelas pesquisas e produções clássicas. 
Estes conceitos ajudarão você, acadêmico, a iniciar um importante percurso acerca da 
geografia política clássica. 
12
3 TEORIAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E DA GEOPOLÍTICA
As teorias da Geografia Política e da Geopolítica tem uma grandeza de conceitos e 
termos. A Geografia Política se desenvolve na relação entre a política, o poder e o território, 
nomeadamente no que diz respeito a sua gestão (CASTRO, 2005). 
Com a evolução da Geografia Política, durante o século XIX, com características 
marcadas de um cenário de sistematização da Geografia na ciência, seguindo paradigmas 
como o Determinismo e o Possibilismo, origina-se como uma subárea, com autores e 
obras derivadas de teóricos renomados e respeitados da Geografia (COSTA, 2010). 
Você sabe o que é determinismo e possibilismo?
Para compreender melhor esses conceitos, indicamos que assista ao vídeo: 
“Determinismo e Possibilismo Geográfico na Compreensão da Sociedade”, 
com o professor Thiago Hernandes, graduado em Geografia pela Unesp, 
mestre em Geografia pela UEM e doutorando em História pela Unesp. O 
vídeo tem cerca de cinco minutos. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=ZjkO1tlS1-E. 
Outro material que pode acrescentar na temática sobre os conceitos da 
geografa é o vídeo do professor José Willian Vesentini, professor da USP e 
autor, em que explica de forma objetiva alguns conceitos básicos da Geografia 
que são espaço, escala, território, região, paisagem e lugar. Com duração 
de cerca de seis minutos, o professor explana sobre o cotidiano do fazer 
geográfico. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kWeDhaNelyk.
DICAS
Seguindo orientações do Determinismo Ambiental, ou seja, uma visão naturalista 
aplicada ao estudo da sociedade, de Friedrich Ratzel, a Geografia Política conduz e 
inicia suas bases, com o pensamento sobre o poder e as estratégias de controle e de 
dominação do território, concebendo o Estado por meio desse território (COSTA, 2010). 
Por meio dessa problematização e contextualização, as diretrizes em torno da 
Geografia Política Clássica de Ratzel, uma “Geografia estatal”, foi defendida por Raffestin, 
com questões a uma categoria que constituía o Estado como um ator excepcional. 
Para o autor, a Geografia Política tem a particularidade de múltiplas relações de 
poder, determinados pelas mais diferentes ações antrópicas, adjacente há uma escala 
de atores e agentes sociais, onde atuam em articular ações, conflitos e intervenções a 
seus interesses (RAFFESTIN, 1993). 
13
Nessa perspectiva, devemos reconhecer que os estudos e trabalhos de Ratzel 
contribuíram para a construção de um conhecimento fundamental para a Geografia 
Política, com todos os seus apontamentos conceituais, reflexões críticas, historicidade 
e a contextualização dos temas. Neste processo, durante as décadas de 1970 e 1980, 
entram as estratégias de temas e escalas que são agregados a esta, com a adoção 
de um conjunto de questões marcadas pelo contexto mundial. Com a direção a novas 
interpretações na análise espacial, conforme Castro (2005), o poder do Estado recebe 
novas organizações administrativas, a gestão administrativa em espaços nacionais, 
entre outros elementos, acrescentando-se assim abordagens com grande amplitude e 
uma renovação a disciplina, estabelecendo novos interesses por ações políticas. 
Castro (2005, p. 78) esclarece em um capítulo do seu livro, que o tema Estado:
É um recorte explicativo importante para a geografia política porque 
constitui a escala dos fenômenos oriundos do universo decisório ins-
titucional da política territorialmente centralizada. É inegável que as 
decisões desse universo afetama organização do espaço e o cotidia-
no dos seus habitantes, mesmo a partir do final do século XX o poder 
regulatório das instituições políticas localizadas no aparato estatal 
tenha que incorporar os interesses a outras instituições supranacio-
nais, como o FMI, a OMC, o Banco Mundial e o mercado financeiro. Da 
mesma forma que nos séculos XIX os Estados incorporaram os inte-
resses da burguesia industrial e, no século XX, incorporaram os inte-
resses dos trabalhadores na constituição do Estado de Bem-Estar. 
 
Castro (2005) vai trazer a ideia de reencontrar a política na geografia, tentando 
relacionar como a política, no seu sentido institucional e operacional, invadiu as mais 
diferentes dimensões do mundo contemporâneo, recorrendo a um pluralismo teórico-
conceitual, relevantes a compreender o espaço como arena de conflitos. Que foram 
definidos por temas e questões clássicos e outros que vem se impondo pela própria 
realidade do mundo contemporâneo: 
• A geografia política do século XXI.
• A Renovação do debate temático e teórico na geografia política.
• As relações entre o território e conflito: o campo da geografia política.
Por outro lado, Costa (2010) trabalha sobre as tendências e perspectivas atuais 
da Geografia Política, disposta a interdisciplinaridade cada vez maior entre Geografia 
Política, Ciência Política e Economia, pois “não há política e poder dissociados da 
economia” (COSTA, 2005, p. 317). Para ele, existe um vasto campo de pesquisa para a 
Geografia Política, por exemplo, temas como:
• O Estado Moderno e o seu significado atual.
• As fronteiras, seus velhos e novos significados.
• O debate recorrente sobre a questão das nações e as nacionalidades.
14
Para Castro (2005), a geografia política do século XXI é mais abrangente, sendo 
composta por agentes/atores que não se deixam aprisionar pelos limites institucionais 
do Estado. 
Foram muitas as transformações a partir do capitalismo, acompanhada de 
guerras e conquistas de mercados, territórios, povos e nações (COSTA, 2010). Essas 
transformações alteram tanto a relação entre os Estados quanto dentro dos Estados.
Na atualidade, Costa (2010) concorda que o Estado perdeu força e o princípio 
da soberania nacional e as fronteiras como conteúdo militar não possui grande sentido, 
dada a facilidade de arrebentação dos limites pelas armas estratégicas. De acordo com 
Costa (2010, p. 282) restam apenas os conteúdos: 
• Legal: o conjunto das leis de um país.
• Fiscal: cada vez mais relativizado pelos acordos tarifários.
• Controle: especialmente o controle de migrações.
Desse modo, o autor relata o estudo sobre a Geografia Política “Universal”, que 
entenderá examinar os fenômenos fronteiriços contemporâneos na Europa, América, 
África e Ásia, e particularmente antigos e novos significados das fronteiras em cada 
macrorregião do globo. Veja a reportagem a seguir, do site História online, do dia 24 de 
novembro de 2018: 
• Fronteiras fortificadas e muros no mundo.
Da fronteira entre o México e os EUA à questão da Cisjordânia e das Coreias, 
passando pelos muros que visam impedir a entrada de imigrantes e refugiados na 
Europa, atualmente, há diversas crises para as quais os governos envolvidos optaram 
por um fechamento físico das fronteiras. O mundo de hoje tem mais muros do que o 
período da Guerra Fria, justamente às vésperas de entrarmos em 2019: ano que marca 
o trigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim, o grande símbolo da era bipolar.
A seguir, você poderá analisar um mapa com as principais fronteiras fortificadas, 
muros e um resumo bem pontual das questões.
15
FIGURA 3 – PRINCIPAIS FRONTEIRAS NO MUNDO
FONTE: <https://historiaonline.com.br/fronteiras-fortificadas-no-mundo-atual/>. Acesso em: 21 set. 2019.
FIGURA 4 – SOLDADOS NA FRONTEIRA ENTRE COREIA DO NORTE E COREIA DO SUL
FONTE: <https://jornalggn.com.br/sites/default/files/imagens/coreia_norte_sul.jpg>. 
Acesso em: 20 out. 2019. 
16
Como se viu, Costa (2010) nos instiga a ver que as clássicas definições 
de conteúdo sobre a fronteira tem sido pouso úteis quando se tenta aplicá-las as 
situações geopolíticas encontradas na nossa realidade atual, sendo assim, é de 
grande importância verificar, mesmo que empiricamente, cada processo em si, pois 
cada fronteira é uma singularidade. 
O conceito de Fronteira é definido como limite ou linhas que dividem territórios político, 
sociais e jurídicos distintos. Um limite físico é uma barreira que ocorre naturalmente 
entre duas áreas. Rios, cadeias de montanhas, oceanos e desertos podem servir 
como limites físicos. Muitas vezes, fronteiras políticas entre países ou estados 
se formam ao longo de fronteiras físicas. Por exemplo, a fronteira entre a França 
e a Espanha segue os picos das montanhas dos Pirenéus, enquanto os Alpes 
separam a França da Itália. O Estreito de Gibraltar é a fronteira entre o 
sudoeste da Europa e o noroeste da África. Esta via navegável estreita 
entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo é uma importante 
fronteira política, econômica e social entre os continentes.
FONTE: https://www.nationalgeographic.org/encyclopedia/boundary/. Acesso em: 20 
out. 2019.
IMPORTANTE
Portanto, trazemos uma periodização realizada por um grande pensador e 
pesquisador sobre a Geografia Política, o Geógrafo José Willian Vesentini (1986, p. 24-
27). Ele apresenta a Geografia Política em três fases/períodos: 
• 1a fase: “Inaugurada por Ratzel”, estende-se do final do século XIX até o final da 
segunda Guerra Mundial em 1945.
• 2a fase: entre 1945 e o início dos anos 1970, quando ocorre um “rompimento com a 
geopolítica”.
• 3a fase: a partir de meados da década de 1970 aos dias atuais.
Por outro lado, trazemos a contribuição de Becker (2012, p. 117): 
Embora o projeto político da Geografia remonte a sua origem, 
associado à sua prática estratégica, não foi ele desenvolvido 
no plano teórico. Nem a Geografia Política nem a Geopolítica 
conseguiram satisfatoriamente explicitar a dimensão política do 
espaço, o que certamente imobilizou a reflexão da própria Geografia. 
Hoje, a questão das relações entre a Geografia e a Geopolítica se 
insere no contexto de velocidade espantosa de transformação do 
planeta no segundo pós-guerra e da crise de ciência social, que 
não consegue dar conta do movimento da sociedade e das novas 
estruturas de poder nem propor soluções para o futuro. Novas 
problemáticas têm que ser incorporadas à explicação da crescente 
globalização e complexidade do mundo na era tecnológica. A busca 
de novos paradigmas da ciência e o rompimento das barreiras entre 
17
as disciplinas – a transdisciplinaridade – parecem hoje tornar-se 
uma exigência, e o rompimento de barreira entre a Geografia e a 
Geopolítica numa perspectiva crítica, integrado à natureza holística e 
estratégica do espaço, pode representar um passo importante nesse 
caminho, pois que o poder e o espaço e suas relações são, sem 
dúvida, problemáticas contemporâneas significativas. 
Nesse item, a autora considerava necessário “superar as concepções natu-
ralizadas que têm imobilizado a contribuição maior a essa análise: os determinismos 
geográfico e econômico.” Como apresenta a seguir, em uma parte integral de seu 
texto original:
A Geografia Política, de Ratzel (1897), representou, sem dúvida, um avanço 
na teorização geográfica do Estado. Ratzel foi dos poucos geógrafos a assumir 
explicitamente o valor estratégico do espaço e da Geografia. Sua obra pode ser 
considerada como o primeiro momento epistemológico da Geografia (RAFFESTIN, 
1980), ainda que, sob influência do contexto histórico marcado pela consolidação 
e expansão dos Estados-Nação europeus, só, tenha proposto uma concepção 
unidimensional e naturalizada do político, encarado exclusivamente pelo Estado 
como um fato dado e fortemente condicionado pelo solo de seu território.
A herança de Ratzel, embora por alguns exacerbada, foi, em geral, negada 
pelos geógrafos, que, ao recusarem sua concepção determinista, negaram também 
toda asua riqueza teórica. Sua herança foi por outro apropriada.
A legitimidade científica para a prática estratégica estatal, que crescente e sis-
tematicamente instrumentalizada o espaço (e o tempo) visando objetivos econômicos 
e de controle social, passou a ser dada por uma nova disciplina, a Geopolítica, criada 
em 1917 a partir da apropriação justamente do organicismo contido na obra de Ratzel e 
também das informações descritivas e “apolíticas” produzidas pelos geógrafos.
As deformações da Geopolítica nazista afastaram os geógrafos dessa 
reflexão teórica ainda mais. Embora muitos, em sua prática, não deixassem de 
colaborar com o aparelho do Estado no planejamento da guerra e/ou do território.
Assim, a Geografia permaneceu à margem de todo um conjunto de técnicas 
e de um saber que instrumentalizam e pesam o espaço a partir da ótica do Estado (e 
também da grande empresa) – embora com ele colaborando direta ou indiretamente 
–, o que certamente a esvaziou de seu conteúdo.
Negar, portanto, a prática estratégica, seja das origens da disciplina ou da 
teoria dada por Ratzel, seja da Geopolítica explícita do Estado Maior, ou da implícita 
na prática dos geógrafos, é negar a própria Geografia, que foi, assim, prejudicada no 
seu desenvolvimento teórico e na sua função social.
18
Repensar a Geografia envolve, necessariamente, o desvendar da Geopolítica, 
sua avaliação crítica e seu resgate, e trazer esse conhecimento para debate na 
sociedade.
Em outras palavras, nesse campo de preocupações, à Geografia caberia a 
teorização sobre a prática estratégica desenvolvida pela Geopolítica. Embora essa 
conscientização se faça sentir na retomada dos estudos de Geografia Política e 
Geopolítica na década de 1970, inclusive pela criação de um grupo de trabalho sobre 
“O Mapa Político do Mundo” na União Geográfica Internacional, em 1984, a questão 
teórica está longe de ser resolvida.
Dentre esses estudos, desenvolvidos com as mais várias abordagens e 
temáticas, destacam-se duas contribuições.
A de Lacoste, que privilegia a Geopolítica e o potencial político do espaço; 
sua proposta, contudo, é mais metodológica do que teórica. A de geógrafos 
neomarquixistas, que, por sua vez, privilegiam a teorização da Geografia Política à 
luz do materialismo histórico, mas reduzem o Estado e o espaço a meras derivações 
do econômico; é o determinismo econômico e, mais uma vez, uma concepção 
naturalizada e unidimensional do poder.
A naturalização do Estado e do espaço pelo determinismo geográfico e a 
reação extrema a essa postura criam, assim, um impasse para a análise das relações 
entre o espaço, o político e a sociedade em geral.
Ora se considera o espaço como determinante da ação humana e o Estado 
como única fonte de poder, ora se nega essa determinação substituindo-a pela 
econômica, mas sem precisar o papel do espaço e do Estado nessas relações 
(BECKER, 1983). E mais: tal impasse é simplificador do real, na medida em que não 
abre espaço para a identificação de novas fontes de poder e para a imprevisibilidade 
dos processos sociais.
FONTE: BECKER, B. K.; SILVA J. X. Espaço aberto. 2012. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/
EspacoAberto/issue/viewFile/217/52. Acesso em: 21 jan. 2020.
Por fim, podemos compreender que a tentativa desse resgate aqui apresentado 
por questões constituem e definem as Teorias Geopolíticas Clássicas e Contemporâneas, 
que surgem, em geral, “para as explicações da importância estratégica de determinados 
territórios e da necessidade de expansão territorial e/ou controle de espaços, bem como 
as rotas marítimas ou aéreas estratégicas, como forma de fortalecimento do Estado e 
de adquirir hegemonia” (VESENTINI, 1986, p. 16).
19
4 A GEOGRAFIA POLÍTICA CLÁSSICA E O DISCURSO 
GEOPOLÍTICO
Vamos agora examinar as ideias acerca da Geografia Política Clássica, que 
trará em destaque dois geógrafos: o alemão Friedrich Ratzel e o geógrafo francês 
Camille Vallaux, que produziram, através de seus estudos e reflexões que formularam 
pioneiramente, conceitos e teorias fundamentais que marcaram profundamente o 
desdobramento posterior desse ramo do conhecimento. 
Observa-se nos conceitos e teorias fundamentais da Geografia Política, que 
há um consenso a importância que essa disciplina teria sido “fundada ou pelo menos 
redefinida por Friedrich Ratzel, que viveu entre os anos de 1844 e 1904, período em que 
importantes acontecimentos marcavam a relação entre os grandes impérios da época” 
(COSTA, 2010, p. 31). Segundo o autor, Ratzel faz parte da Geografia Política Clássica. 
FIGURA 5 – FRIEDRICH RATZEL (1844-1904)
FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/friedrich-ratzel-um-dos-fundadores-
-geografia-moderna-519b866539cfc.jpg>. Acesso em: 24 set. 2019.
A Geografia Política Clássica, o estudo geográfico da política e das relações 
entre o espaço e poder surge com Ratzel, que redefine o seu conteúdo em seu contexto 
histórico, político e geográfico de sua época. 
Com a sua principal obra: antropogeografia – fundamentos da Aplicação da 
Geografia à História, Ratzel tornou-se um dos fundadores da Geografia Humana, bem 
como posteriormente um dos fundadores da Geografia Política. 
20
Trazendo em foco o objeto da Geografia: o estudo da influência que as condições 
naturais exercem sobre a humanidade. Para ele, o meio natural teria influência tanto na 
psicologia (caráter) dos indivíduos na sociedade quanto na constituição da sociedade 
como um todo em função dos recursos naturais disponíveis. 
Todo o estudo de Ratzel foi largamente utilizada para embasar conceitos, bem 
como: o determinismo, o colonialismo e o imperialismo. Faça uma pesquisa 
sobre como isso aconteceu.
DICAS
Para Ratzel, o senso geográfico ou o Estado territorial foi entendido pela ideia 
de organismo (biogeografia), que para ele o solo condicionava as formas elementares 
e complexas da vida, portanto “o Estado, como forma de vida, tenderia a comportar-
se segundo as leis que regem os seres vivos da terra, isto é, nascer, avançar, recuar, 
estabelecer relações, declinar etc.” (COSTA, 2010, p. 35). 
Nesse sentido, é inegável a importância do alemão Friedrich Ratzel e do conjunto 
de suas contribuições, especialmente a obra Geografia Política, de 1897, cuja segunda 
edição (1902) apareceu com o subtítulo de Uma Geografia dos Estados, do Comércio 
e da Guerra. “A geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos 
desígnios expansionistas do Estado Alemão recém-constituído” (COSTA, 2010, p. 31). 
Assim, para compreendermos a geografia de Ratzel, principalmente, em seus principais 
conceitos, retomaremos as suas bases no fragmento a seguir: 
Ratzel entra mais precisamente em uma geografia política pragmática, 
tentando dar cobertura científica ao comportamento territorial do Estado. Na obra 
Geografia Política (1897) entendem-se melhor estas explicações: sobre o Estado e o 
mar, a localização e a expansão dos Estados, a fronteira, a demografia e o potencial 
dos Estados, as imigrações – um tema que ele havia estudado durante a sua estadia 
nos Estados Unidos e que considerava fundamental. De acordo com Lescano apud 
Miyamoto (1995), em 1901, ao publicar a obra Sobre as Leis da Expansão Territorial do 
Estado. Baseando-se em sete princípios elementares, Ratzel consegue evidenciar 
a importância e a ligação existente entre o Estado e o espaço, princípios estes que 
ficariam conhecidos como Teoria do Espaço Vital (Lebensraum): 
1- O espaço dos Estados aumenta com o crescimento da cultura.
2- O crescimento dos Estados apresenta sintomas de desenvolvimento cultural, 
ideias, produção comercial e industrial etc., os quais necessariamente precedem 
a expansão efetiva do Estado. 
21
3- O crescimento dos Estados verifica-se pela gradual integração e coerência de 
pequenas unidades, mediante a amalgamação e a absorção de elementos 
menores.
4- A fronteira é o órgão periférico do Estado e, como tal, a prova de crescimento 
estatal; é a força e as mudanças desseorganismo.
5- Em seu crescimento o Estado tende a incluir seções politicamente valiosas, como 
os rios, as linhas de costa, as planícies e outras regiões ricas em recursos.
6- O primeiro impulso para o crescimento territorial chega ao Estado primitivo vindo 
de fora, de uma civilização superior.
7- A orientação geral para a conexão territorial transmite a tendência de crescimento 
territorial de espaço em espaço, incrementando sua identidade. 
Cabe ainda destacar que, segundo esta concepção, o Estado deveria assumir 
uma política de poder, de expansão territorial. É essa política de poder que deve orientar 
as diretrizes governamentais na realização de seus objetivos. Trata-se de uma teoria 
ratzeliana em grande medida eclipsada devido a sua implicação com os destinos da 
Alemanha. Isso porque, Ratzel intervém na Weltpolitik de Guilherme II (de quem será 
partidário), a qual possuía ideias opostas às ideias de um Bismarck que saía de cena. 
Aposta na consolidação de uma grande frota capaz de competir com a britânica, na 
Alemanha imperial, no fomento das migrações alemãs como estratégia colonial, em 
uma Mitteleuropa unida sob o comando do Kaiser, expressando novamente o sonho 
do pangermanismo, defendido anteriormente por Von Büllow, List, Herder e Fichte. 
Por fim, cabe salientar que Ratzel foi um dos teóricos capazes de “fazer escola” no 
campo da ciência geográfica, pois influenciou uma vasta gama de estudiosos por 
meio de suas obras. Sua influência é particularmente perceptível na França, onde 
Paul Vidal de La Blache (1845-1918) seguiu atentamente as publicações do geógrafo 
alemão. Já nos países anglo-saxônicos os temas ratzelianos foram divulgados por 
seus discípulos, que segundo Moraes (2003) foram os responsáveis pela radicalização 
de suas colocações, constituindo o que se denomina “escola determinista” de 
Geografia, ou a doutrina do “determinismo geográfico”. Os autores dessa corrente 
partiram da definição ratzeliana do objeto da reflexão geográfica e simplificaram-
na. Orientaram seus estudos por máximas como “as condições naturais determinam 
a História” ou “o homem é um produto do meio” empobrecendo bastante as 
formulações de Ratzel, que falava de influências. Na verdade, todo o trabalho desses 
autores se constituía na busca de evidências empíricas para teorias formuladas a 
priori. Seus mais eminentes representantes foram: Ellen Churchill Semple (1863-
1932) e Ellsworth Huntington (1876-1947). A primeira, geógrafa americana, aluna de 
22
Ratzel, foi a responsável pela divulgação de suas teses nos Estados Unidos. Já as 
teorias do geógrafo inglês Huntington eram um pouco mais elaboradas. Este autor 
concebia um determinismo invertido, isto é, para ele, as condições naturais mais 
hostis seriam as que propiciariam o maior desenvolvimento. Outro desdobramento 
apontado por Moraes (2003) refere-se à proposta de Ratzel que se manifestou na 
constituição da Geopolítica. Esta corrente, dedicada ao estudo da dominação dos 
territórios, partiu das colocações ratzelianas referentes à ação do Estado sobre o 
espaço. Esses autores desenvolveram teorias e técnicas que operacionalizaram e 
legitimaram o imperialismo, isto é, discorreram sobre as formas de defender, manter 
e conquistar os territórios. Os autores mais conhecidos dessa corrente foram: Rudolf 
Kjellén (1864-1922), Halford John Mackinder (1861-1946) e Karl Ernst Haushofer 
(1869-1946). O primeiro, um sueco, criador do termo Geopolítica. O segundo, um 
almirante inglês, trouxe a discussão para o nível dos estados maiores, tratando temas 
como o domínio das rotas marítimas, as áreas de influência de um país e as relações 
internacionais. Mackinder, cuja principal obra intitula-se O Pivô Geográfico da História 
(1904), desenvolveu uma importante teoria sobre as “áreas pivôs”, as quais seriam 
o coração de um dado território: para ele, quem as dominasse, dominaria todo o 
território. O general alemão Haushofer conferiu a Geopolítica um caráter diretamente 
bélico, definindo-a como parte da estratégia militar. Este autor, que desenvolveu 
teorias referentes à ação do clima sobre os soldados, criou uma escola e influenciou 
diretamente os planos de expansão nazista. Até hoje, a Geopolítica persiste, sendo 
debatida nos departamentos de estado e nas academias militares. Uma última 
perspectiva levantada por Moraes (2003) demonstra que a partir das formulações de 
Ratzel, originou-se a chamada “escola ambientalista”. Isso porque, o geógrafo alemão 
foi, sem dúvida, o formulador de suas bases. Esta corrente propõe o estudo do homem 
em relação aos elementos do meio em que ele se insere. O conjunto dos elementos 
naturais é abordado como o ambiente vivenciado pelo homem. O ambientalismo 
representa um determinismo atenuado, sem visão fatalista e absoluta. A natureza 
não é vista mais como determinação, mas como suporte da vida humana. Mantém-
se a concepção naturalista, porém sem a causalidade mecanicista. Modernamente, 
o ambientalismo se desenvolveu bastante, apoiado na Ecologia. A ideia de estudar 
as inter-relações dos organismos, que coabitam em determinado meio, já estava 
presente em Ratzel, pela influência que ele sofreu de Haeckel, o primeiro formulador 
da Ecologia, de quem havia sido aluno. Entretanto, é mais ao determinismo que ao 
ambientalismo que o nome de Ratzel acabou identificado.
FONTE: ARCASSA, W. S. Friedrich Ratzel: a importância de um clássico. 2017. Disponível em: http://
www.uel.br/seer/index.php/Geographia/article/viewFile/31840/22924. Acesso em: 21 jan. 2020.
23
Portanto, demonstra a grande importância da compreensão do espaço e sua 
relação com a política, se apresentado como uma ferramenta de grande apoio para 
expansão territorial de um determinado país. Ratzel enfatizou que a existência de 
uma sociedade está representada em território, ou seja, a perda de território aponta 
a decadência de uma sociedade, e para a sociedade progredir, avançar, ela precisaria 
conquistar novas terras (MORAES, 1990).
Outro desdobramento da proposta de Ratzel manifestou-se na 
constituição da Geopolítica. Esta corrente, dedicada ao estudo da 
dominação dos territórios, partiu das colocações ratzelianas, refe-
rentes à ação do Estado sobre o espaço. Estes autores desenvolve-
ram teorias e técnicas, que operacionalizavam e legitimavam o im-
perialismo. Isto é, discorriam sobre as formas de defender, manter 
e conquistar os territórios. Os autores mais conhecidos dessa cor-
rente foram: Kjellen, Mackinder e Haushofen. O primeiro, um sueco, 
foi o criador do rótulo Geopolítica. O segundo, um almirante inglês, 
trouxe a discussão para o nível dos estados-maiores, tratando te-
mas como o domínio das rotas marítimas, as áreas de influência 
de um país, e as relações internacionais. Halford Mackinder, cuja 
principal obra intitula-se O pivô geográfico da História, desenvolveu 
uma curiosa teoria sobre as “áreas pivôs”, que seriam o coração de 
um dado território; para ele, quem o dominasse, dominaria todo o 
território. O general alemão Karl Haushofer, amigo de Hitler e presi-
dente da Academia Germânica no seu governo, foi outro teórico da 
Geopolítica. Deu a esta um caráter diretamente bélico, definindo-a 
como parte da estratégia militar. Este autor, que desenvolveu teo-
rias referentes à ação do clima sobre os soldados, criou uma escola 
e influenciou diretamente os planos de expansão nazistas. Até hoje, 
a Geopolítica persiste, sendo debatida nos Departamentos de Esta-
do e nas Academias militares (MORAES, 2002, p. 20).
No que se refere a contribuição do pensamento de Ratzel, Castro (2005, p. 
67) ressalta que “Ratzel era um intelectual do seu tempo e, para ele, o nacionalismo 
como estratégia de consolidação do império alemão, era bem mais importante do que a 
adesão à ética política de defesa dos povos e dos Estados mais fracos”. 
Castro (2005, p. 67) enfatiza também:
“O geógrafo alemão Ratzel foi quem melhor compreendeu e explicitou a 
importância do território como um suporte duradouro para o poder das 
instituiçõespolíticas”. 
“A Geografia Política de Ratzel tinha, portanto, como tarefa demonstrar que 
o Estado é fundamentalmente uma realidade humana que só se completa 
sobre o solo do país”.
ATENÇÃO
24
Castro (2005) faz pensar que o legado de Ratzel é muito maior, valorizando o 
trabalho com uma nova dimensão da importância do seu trabalho em Geografia Política. 
Por outro lado, surge Camille Vallaux, que desde Ratzel, tem o mérito de apresentar o 
primeiro estudo completo e sistemático em geografia política. O título de seu trabalho, 
O solo e o Estado, é proposital, já que ao longo de toda exposição ele praticamente 
estabelece com o famoso geógrafo alemão um diálogo exaustivo, aceitando, contrapondo 
e superando cada conceito e teoria ali expostos. Abordando a relação do Estado com 
o solo, que se inicia com uma crítica as teorias sociológicas racionalistas e românticas 
sobre este, para ele o Estado deve ser considerado como uma forma essencialmente 
geográfica da vida social (COSTA, 2010). 
Vallaux coloca que o objeto da geografia política é o estudo das sociedades 
políticas e dos Estados como entidades particulares, sugerindo que o método da 
geografia política vai se desenvolver em duas metodologias: A Analogia e a Determinação 
do tipo (COSTA, 2010), que procedem de uma da outra. 
Analogia e a determinação
Analogia é uma relação de semelhança estabelecida entre duas ou mais 
entidades distintas. O termo tem origem na palavra grega “analogía” que 
significa “proporção”. Pode ser feita uma analogia, por exemplo, entre 
cabeça e corpo e entre capitão e soldados. Cabeça (cérebro) e capitão são 
duas entidades análogas.
Ao se expressar, desse modo, a sua concepção do problema metodológico 
em geografia, Vallaux se aproxima bastante das posições de Vidal de La 
Blache, que também vê na busca das analogias um recurso metodológico 
capaz de permitir ao geógrafo o estabelecimento de generalizações 
projetadas acima das descrições dos casos específicos (COSTA, 2010, p. 
46). Portanto, a analogia é o princípio geográfico responsável por buscar 
semelhanças ou diferenças entre regiões geográficas. Junto com o princípio 
da extensão é fundamental nos estudos de geografia regional.
IMPORTANTE
25
Para ele, o Estado deve ser considerado como uma forma essencialmente 
geográfica da vida social. Definindo em dois tipos de Estados em Costa (2010): 
Os Estados Simples: caracteriza-se pelo fato de que seu nível de coesão 
interna é baixo, de modo que mesmo na hipótese de um desmembramento de partes 
de seu território, isso não alteraria em muito o curso da história dessa sociedade. Nesse 
aspecto, concorda com Ratzel em sua análise de alguns Estados-Chefias africanos. 
Os Estados Complexos: apresentariam tendências a uma forte coesão interna, 
de modo que o domínio político sobre o território se faria de modo completo, havendo, 
assim, uma maior interdependência entre as suas partes. Essa distinção nada tem a 
ver com a dimensão dos territórios controlados pelos Estados, importando aí, antes de 
tudo, o grau do domínio político e de articulação interna dos estados em cada território, 
concordando também com Ratzel. 
Nas suas abordagens realizadas dentro da Geografia Política, Vallaux se destaca 
em três temas de análises: problemas da circulação, problemas das cidades e 
problemas das fronteiras. 
Segundo ele, dever-se-ia pensar na circulação sob outro prisma, uma dimensão 
essencialmente política. Com uma concepção mais estreita, porque o fenômeno da 
circulação não se restringe às “coisas”, e a “rede de circulação” esses fenômenos no 
geral desenvolvem-se sob a “sombra dos Estados”. 
Nas análises das cidades, considera sua expressão política do fenômeno urbano. 
Para ele, o Estado interfere nesse processo ao estabelecer uma hierarquia político-
administrativa entre as cidades, como exemplo, distinguindo as capitais das demais. 
E em terceira análise, a interpretação das fronteiras, que deve ser concebida 
muito mais como zonas que como linhas formais. A zona-fronteira constituiria antes de 
tudo, uma área que se destinaria simultaneamente às interpenetrações e às separações 
entre os Estados sendo um campo de forças em muitos casos de disputa. Pela sua 
natureza complexa, as fronteiras constituiriam antes de tudo uma zona viva, sejam elas: 
• Naturais: tem identificação com elementos naturais. 
• Artificiais: linhas formais. 
26
Formação de blocos econômicos
A formação de blocos econômicos estreita as relações econômicas, financeiras e comerciais 
entre os países membros.
Com o fenômeno da globalização, o mercado internacional tornou-se bastante competitivo, 
diante disso, somente os mais fortes prevalecem. O que acontece é uma disputa por 
mercados em âmbito global. 
Muitos países, com o intuito de se fortalecer economicamente, unem-se para alcançar 
mercados e verticalizar a sua participação e influência comercial no mundo. A criação de 
blocos econômicos estreitou as relações econômicas, financeiras e comerciais entre os 
países que compõem um determinado bloco econômico.
Atualmente existem muitos blocos econômicos, formados há décadas.
O MERCOSUL (Mercado Comum do Sul) foi fundado em 1991, constituído por Brasil, 
Paraguai, Uruguai e Argentina, países da América do Sul que buscam a integração e o 
fortalecimento econômicos dos países-membros.
A União Europeia (UE) foi instituída no final dos anos 50, embora tenha sido oficializada 
somente em 1992, os países que fazem parte são: Alemanha, França, Reino Unido, Irlanda, 
Holanda, Bélgica, Dinamarca, Itália, Espanha, Portugal, Luxemburgo, Grécia, Áustria, Finlândia 
e Suécia, nesses países corre uma moeda única, o euro, com exceção da Dinamarca (coroa 
dinamarquesa), Suécia (coroa sueca) e Reino Unido (libra esterlina). 
Exemplos como a UE e o MERCOSUL ocorrem a partir de acordos comerciais estabelecidos 
entre os países membros. Nesse caso, implantam medidas que eliminam total ou 
parcialmente as barreiras alfandegárias, como eliminação de tributos, além da circulação 
de mercadorias, capitais, serviços, pessoas e outros pontos que o bloco julgar necessário.
O que se espera com a formação de blocos econômicos é a intensificação econômica e a 
flexibilização comercial entre os integrantes.
Existem outros órgãos comerciais, como por exemplo, a OMC (Organização Mundial do 
Comércio), que integram todos os países que participam do comércio internacional, essas 
instituições têm como objetivo fiscalizar e mediar as relações comerciais para que não haja 
partes favorecidas.
 
Os principais blocos econômicos do mundo são União Europeia (UE), 
MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), Apec (Cooperação Econômica da Ásia 
e do Pacífico) e o NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio).
Para complementar seus estudos, assista ao vídeo sobre A Nova Ordem 
Mundial – com o Professor Vesentini. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=iC9mTkfDHn0 >. Acesso em: 21 out. 2019.
FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/formacao-blocos-economicos.htm>. 
Acesso em: 20 out. 2019.
IMPORTANTE
27
Segundo Vallaux (apud COSTA, 2010, p. 54), toda “fronteira é uma demarcação 
política, portanto longe de poder ser considerada como Natural, mesmo que referenciada 
a um traço físico dos territórios em questão. Considerando como um campo de força 
e, em muitos casos, de disputa, o estabelecimento sempre envolvera negociações ou 
conflitos entre os Estados envolvidos”.
Para compreender melhor conceitualmente e terminologicamente a definição 
da geopolítica, iremos estudar através de Costa (2010), o discurso político, sendo que 
o autor direciona um capítulo de seu livro para embasar toda a discussão. Divide-a em 
três partes, sendo elas:
• O Imperialismo, as grandes potencias e as estratégias globais como contextos da 
geopolítica.
• T. Mahan, o poder marítimo e os Estados Unidos como potência mundial.
• H. J. Mackinder, o coração continental e o realismo geográfico. 
O discurso geopolítico
Assim, entendemos que a geopolítica é antes detudo um subproduto e um 
reducionismo técnico e pragmático da geografia política. O pioneiro da geopolítica 
foi Rudolf Kjéllen, sua fama deve-se praticamente ao fato de ter cunhado o termo 
geopolítico para expressar as suas concepções sobre relações entre Estado e o 
Território, direcionado sua “nova ciência” aos “estados maiores” dos impérios centrais 
da Europa, em especial a Alemanha. Com isso, inaugura a mais controvertida 
de suas vertentes, a geografia política da guerra ou a geopolítica. A relação entre 
espaço e poder manifestava um momento histórico que envolvia o mundo em 
escala global, caracterizado pela emergência das potências mundiais e, com elas, 
o imperialismo como forma histórica específica de relacionamento internacional. O 
caráter imperialista da economia e das políticas territoriais das grandes potências 
assentavam-se em dois processos, envolvendo estratégias de dominação em escala 
global: disputas hegemônicas de vizinhanças e competição de domínio dos territórios 
de expansão colonial. Durante a segunda metade do século XIX essa política 
expansionista, além de intensificar-se, assume novos rumos que caracterizarão os 
EUA como uma nova potência mundial de fato, mesmo que situado à margem do 
jogo comandado pelas antigas potências europeias. O mundo agora estava divido 
por áreas de influência de cada uma delas. As fronteiras formais serão apenas uma 
das linhas de eventuais tensões, somadas às “zonas de Vallaux parte de uma ideia 
de espaço concreto, isto é, uma, “extensão fricções” em escala global. Dentro desse 
contexto surge A. T. Mahan com uma “ótica norte americana” é reconhecido como o 
precursor das teorias geopolíticas sobre o poder marítimo na época contemporânea. 
A sua argumentação baseia-se na premissa de que um governo só terá sucesso em 
sua política voltada para a construção de um poder marítimo. Ainda dentro dessa 
abordagem, surge o geografo inglês H. Mackinder que ocupara lugar de destaque 
28
na discussão da geopolítica. O pragmatismo dele caracteriza-se por uma tentativa 
permanente de aliar a análise política do equilíbrio de poder do quadro internacional 
e os elementos empíricos (para ele concretos) fornecidos pelos estudos correntes 
produzidos pela geografia, ele defende a ideia de que a disputa pela hegemonia 
em escala global dependia da importância cada vez maior do que chamou “poder 
terrestre”, destacando assim pelo autor dois fatores recentes (na época) que 
produziram resultados diversos: primeiro o Canal de Suez e segundo as Ferrovias. 
FONTE: COSTA, W. M. Geografia política e geopolítica: discurso sobre o território e o poder. 2017. 
Disponível em: http://www.geoamazonia.net/index.php/revista/article/view/155/pdf_104. Acesso em: 
21 jan. 2020.
Após essa pequena abordagem sobre o discurso Geopolítico, acesse a obra base 
citada anteriormente e realize uma resenha crítica. Utilize de referência também a 
resenha de Araújo (2017).
DICAS
29
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A Geografia Política é um dos ramos da Geografia, que busca compreender as 
relações de poder no espaço geográfico. A Geografia Política visualiza o Estado 
através da organização do espaço. 
• A Geopolítica é uma ciência da ação e um campo de um saber estratégico, tem uma 
preocupação fundamental com a correlação de forças, antes militar, hoje econômico 
e tecnológica, cultural e social a nível territorial e com ênfase no espaço mundial. 
• As teorias da Geografia Política e da Geopolítica têm uma grandeza de conceitos e 
termos.
• Os estudos e trabalhos de Ratzel contribuíram para a construção do conhecimento 
e foi fundamental para a Geografia Política, com todos os seus apontamentos 
conceituais, reflexões críticas, historicidade e a contextualização dos temas. 
• Cada fronteira é uma singularidade. 
• O conceito de fronteira é definido como limite ou linhas que dividem territórios 
político, sociais e jurídicos distintos. Um limite físico é uma barreira que ocorre 
naturalmente entre duas áreas.
• A Geografia Política Clássica foi sistematizada inicialmente através de dois geógrafos, 
o alemão Friedrich Ratzel e o geógrafo francês Camille Vallaux.
RESUMO DO TÓPICO 1
30
1 Quais são os conceitos fundamentais da Geografia Política?
a) ( ) Espaço, paisagem e lugar.
b) ( ) Espaço, rede e território.
c) ( ) Território, poder e política.
d) ( ) Território, Estado e região.
e) ( ) Política, espaço e lugar.
2 Quem foi o pioneiro da Geopolítica, a quem se atribui o termo geopolítica “para 
expressar as suas concepções sobre as relações entre o Estado e o território”?
a) ( ) Ratzel.
b) ( ) La Blache.
c) ( ) Camille Vallaux.
d) ( ) Humboldt.
e) ( ) Rudolf Kjellen.
3 Os conceitos da geopolítica começaram a ser desenvolvidos a partir da segunda metade 
do século XIX, em decorrência da redefinição de fronteiras na Europa e do expansionismo 
das nações europeias. Sobre a temática da geopolítica, julgue os itens a seguir:
I- Em 2004 fez um século que o geógrafo inglês Halford John Mackinder formulou, na 
Real Sociedade Geográfica de Londres, em uma conferência que leva por nome The 
Geografic Pivot of History, sua teoria geopolítica e estratégica do poder terrestre.
II- O surgimento da Geografia Política e sobretudo da Geopolítica são um produto de 
contexto europeu na virada do século XIX para o XX, com F. Ratzel e R. Kjéllen, 
respectivamente.
III- Vidal de La Blache criou uma doutrina, o Possibilismo, e fundou a escola francesa de 
Geografia. Além disso, trouxe para a França o eixo da discussão geográfica, situação 
que se manteve durante todo o primeiro quartel do século XX. 
Estão CORRETOS:
a) ( ) Somente o item I.
b) ( ) Os itens I e III.
c) ( ) Todos os itens.
d) ( ) Os itens II e III.
4 Faça uma síntese do que você compreendeu sobre como cada fronteira é uma 
singularidade. Justifique e exemplifique.
AUTOATIVIDADE
31
GEOGRAFIA POLÍTICA, ESPAÇOS, PODER E 
TERRITÓRIOS
1 INTRODUÇÃO
Vislumbramos, de maneira breve, a evolução do pensamento em Geografia Políti-
ca desde a sua conceitualização até a discussão da Geografia Política clássica, que tinha 
Estado como tema central. Neste tópico, discutiremos e nomearemos os conceitos fun-
damentais para a Geografia Política, bem como, o espaço, o poder, a política e o território. 
O tópico que segue, procura apresentar as relações entre espaço e poder 
que se materializam no território e suas implicações. O estudo sobre tais processos é 
complexo e, aqui, pretendemos demonstrar uma apresentação síntese das principais 
ideias e autores dessa temática, buscando sempre a participação do personagem mais 
importante dessas histórias: você, nosso caro leitor.
Esta unidade é composta de três seções: na primeira, discutiremos o espaço e o 
poder; na segunda, os diferentes campos do poder; e, por último, o poder e o território. 
Ao final deste tópico esperamos que você, acadêmico, possa compreender 
melhor qual a relação do espaço, poder e território, analisando como o poder é um 
processo complexo e profundo. Buscamos, assim, destacar os principais autores e 
ideias dessa temática, além de apontar novos caminhos de leitura e pesquisa para 
compreensão do papel do Estado e seus atores/agentes. 
UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 
2 GEOGRAFIA POLÍTICA: ESPAÇO E PODER
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e 
contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não 
considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a 
história se dá […]. Os objetos não têm realidade filosófica, isto é, não 
nos permitem o conhecimento, se os vemos separados dos sistemas 
de ações. Os sistemas de ações também não se dão sem os sistemas 
de objetos (SANTOS, 2012, p. 63). 
Como sabemos, a Geografia Política Clássica foi relacionada com a geografia do 
Estado pelos seus pares e, com isso, atribui uma postura de que o poder exercido no 
espaço adquire uma visão relacional, multidimensional e interescalar. Portanto, como a 
geografia focaliza o espaço,que é constituído por formas naturais e formas transforma-
32
das pelos seres vivos e, bem como as relações sociais, sendo este o espaço geográfico 
à geografia. Portanto, cabe à abordagem de problemas territoriais reais, fontes de trans-
formações da paisagem natural e da dinâmica socialmente organizada espacialmente.
Nesse cenário, é importante entender que o espaço e o território não são: 
termos equivalentes. Por tê-los usado sem critério, os geógrafos 
criaram grandes confusões em suas análises, ao mesmo tempo que, 
justamente por isso, se privavam de distinções úteis e necessárias. 
Não discutiremos aqui se são noções ou conceitos, embora nesses 
últimos vinte anos tenham sido feitos esforços no sentido de conce-
der um estatuto de noção ao espaço e um estatuto de conceito ao 
território (RAFFESTIN, 1993, p. 143). 
Você sabe qual é a diferença entre os termos “noção” e “conceito”?
Noção é conhecimento imediato, intuitivo, de algo; ideia, consciência.
Conceito é a definição, concepção ou caracterização. É a formulação de uma ideia 
por meio de palavras ou recursos visuais.
ATENÇÃO
Raffestin (1993) conduz ao pensamento que o espaço geográfico atua como 
substrato, ou seja, é pré-existente ao território, sendo esse o resultado de uma ação 
conduzida por um ator ou por um grupo de atores. Sobre isso, devemos compreender 
que o espaço é anterior ao território: 
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação 
conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) 
em qualquer nível. Ao seja apropriar de um espaço, concreta ou 
abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator "territorializa" 
o espaço. Lefebvre mostra muito bem como é o mecanismo para 
passar do espaço ao território: "A produção de um espaço, o território 
nacional, espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas 
redes, circuitos e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas 
de ferro, circuitos comerciais e bancários, autoestradas e rotas 
aéreas etc." (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
Cabe salientar que o território é o local, no qual as pessoas estão inseridas, 
onde as relações entre esses atores sociais ocorrem, construindo um ordenamento (ou 
desordenamento) do território, conforme a importância/força de poder de cada ator 
social. Raffestin (1993, p. 150-151) esclarece: 
33
Pode ser uma interação política, econômica, social e cultural que 
resulta de jogos de oferta e de procura, que provém dos indivíduos 
e/ou dos grupos. Isso conduz a sistemas de malhas, de nós e redes 
que se imprimem no espaço e que constituem, de algum modo, o 
território. Não somente se realiza uma diferenciação funcional, mas 
ainda uma diferenciação comandada pelo princípio hierárquico, que 
contribui para ordenar o território segundo a importância dada pelos 
indivíduos e/ou grupos às suas diversas ações. 
Observou-se, no decorrer da abordagem, que o processo de intervenção sobre 
o território acontece por meio dos diversos atores sociais – poder público, empresas, 
sociedade – e se constitui a partir do ordenamento ou desordenamento do território. 
Para Raffestin (1993, p. 143): “O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se 
projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela 
relações marcadas pelo poder. O espaço é a "prisão original", o território é a prisão que 
os homens constroem para si”.
Em suma, considera-se que o espaço preexiste a qualquer ação e é o "Local" 
de possibilidades, que se manifesta como uma realidade preexistente a qualquer 
conhecimento e prática e, na concepção de Raffestin (1993), será o objeto, a partir do 
momento em que um ator manifestar, a intenção de dele se apoderar. 
Santos (1997) define o conceito de espaço “como um conjunto indissociável, 
solidário e também contraditório de sistemas de objetos e de sistemas de ações” 
(SANTOS, 1997, p. 51). 
Para que se possa entender melhor esse conceito, vamos delimitar alguns pontos: 
• O espaço é um sistema de objetos, ações e com comportamentos orientados, ou 
seja, que tem certos objetivos e finalidades.
• O domínio sobre o espaço, é, portanto, formas de criação de territórios, que permitem 
a implantação de materialidade no espaço, como exemplo as construções de 
estradas que são todas ações com algum fim.
Com isso, entendemos que o poder que se exerce no espaço significa a 
territorialização. E esse poder se manifesta através de ações. 
Significado de territorialização: Ato ou efeito de tornar ou tornar-se territorial 
(ex.: a territorialização da política através do poder local). Ato ou efeito de atribuir 
território. Segundo Haesbaert (2006), em um sentido mais amplo, multidimensional 
e multiescala, jamais se restringiu a um espaço uniescalar como o Estado-
nação. Território é visto como controle de processos sociais e pelo controle da 
acessibilidade através do espaço.
NOTA
34
Justamente por se tratar de um processo complexo, emerge daí a necessidade 
de entender o espaço na perspectiva do poder, que significa entender o espaço na 
sua complexidade e em diferentes escalas de relações em sua dinâmica histórica e 
geográfica. 
De início, podemos dizer que: o poder é a capacidade de realizar ações, e para 
Castro (2005, p. 98) a “ideia de poder tem intrinsecamente um componente de relação 
e de assimetria, ou seja, o poder se manifesta em situações relacionais assimétricas”. 
Castro (2005, p. 98-99) também salienta cinco proposições sobre a condição 
do poder, através de Michel Foucault: 
1- Que o poder não é algo que se adquira, arrebate ou compartilhe, algo que se guarde 
ou se deixe escapar, o poder se exerce a partir de inúmeros pontos em meio a relações 
desiguais e imóveis.
2- Que as relações de poder não se encontram em posição de exterioridade a outras 
relações, como econômicas e de conhecimento, são efeitos imediatos das partilhas 
desigualdade e desequilíbrios que se produzem nas relações entre desiguais.
3- Que o poder vem de baixo, isto é, não há no princípio das relações de poder uma 
oposição binária e global entre os dominadores e os dominados. Deve-se, ao contrário, 
supor que as correlações de forças múltiplas se formam e atuam nos aparelhos de 
produção, nas famílias, nos grupos sociais e nas instituições.
4- Que as relações de poder são, ao mesmo tempo, intencionais e não subjetivas. São 
atravessadas de fora a fora por um cálculo: não há poder que se exerça sem uma 
série de miras e objetivos. Estes não são individuais, mas estão na base da rede de 
poderes que funciona em uma sociedade.
5- Que lá onde há poder, há resistência, as correlações de poder só podem existir em função 
de uma multiplicidade de pontos de resistência que representam, nas relações de poder, 
o papel de adversário, de alvo, de apoio. Estes pontos estão presentes em toda a rede 
de poder. As resistências são o outro termo das relações de poder, inscrevem-se nestas 
relações como um interlocutor irredutível. 
Como exemplo de assimetria (onde há diferença, falta de igualdade e de semelhança) 
teremos as assimetrias regionais que vão representar as desigualdades nas 
atividades econômicas, existindo em vários níveis de desenvolvimento entre as 
regiões de um mesmo país ou entre países. Refletindo nos diferentes níveis de taxas, 
bem como, a de crescimento do produto interno bruto e a taxa de desemprego, e 
com esses níveis conseguimos identificar as regiões assimétricas, ou seja, mais ou 
menos desenvolvidas.
DICAS
35
O conceito de poder engloba sempre a esfera da ação, ele designa uma 
capacidade de agir, direta ou indiretamente, sobre coisas ou pessoas. Por apresentar 
um significado complexo, a palavra poder envolve elementos em toda a sociedade, com 
abrangência social e se constitui por um campo de forças e de disputas, onde se ganha 
ou se perde. Dessa forma, não é possível analisar o poder fora dos marcos estabelecidos 
pelos contextos temporais e espaciais das sociedades (CASTRO, 2005). 
Em certo sentido, o poder, como se pode perceber, tema probabilidade de 
impor-se à vontade própria, ou seja, ter o poder é uma capacidade de realizar ações 
com sucesso, relacionando o conceito com outros, bem como: 
FIGURA 6 – AÇÕES DO PODER
FONTE: A autora (2019)
Afinal, o poder compreende a esfera política, econômica, cultural e social. Assim, 
ele é considerado amplo, complexo e profundo, que ninguém está isento dele, ou de 
seus efeitos. Raffestin (1993, p. 6) afirma que “o poder não é nem uma categoria espacial 
nem uma categoria temporal, mas está presente em toda produção que se apoia no 
espaço e no tempo. O poder não é fácil de ser representado, mas, é, contudo, decifrável. 
Falta-nos somente saber fazê-lo, ou então poderíamos sempre reconhecê-lo.”
36
Tal é o contexto, de espaço e tempo como categorias universais, vê-se a 
complexidade do tema poder, mas, representar o poder não é fácil, mas ele é, 
contudo, decifrável, como veremos nas próximas páginas.
ESTUDOS FUTUROS
3 OS DIFERENTES CAMPOS DO PODER
Nomeados os conceitos fundamentais para a Geografia Política, bem como, o 
espaço, poder e o território, apontamos que o território é a base material e também 
simbólica da sociedade, e que o poder se institui através de ações. 
Vimos que o espaço é político, se apresentando como um campo do poder, 
tanto no fenômeno de práticas e discursos, dentro das instituições e nas formas de 
governar quanto da organização da vida social. 
A partir desses avanços vamos definir os tipos de poder que foram definidos 
por vários autores ao logo da história. Sendo classificados essencialmente em duas 
vertentes: a primeira de acordo com a tipologia clássica, como ele é exercida, e a 
segunda de acordo com a tipologia moderna, os fins do seu exercício. 
Iniciaremos apresentando as três formas elementares de poder, reveladas 
por Castro (2005), fundamentadas nas elaboradas de Hannah Arendt, Max Weber, Michel 
Foucault, entre outros que: “são aquelas que se encontram na essência do poder. Estas 
surgem nas suas muitas manifestações e podem ser diferenciadas pelas sanções ou 
instrumentos mobilizados para exercê-lo, e são as mais comuns na literatura sobre o 
tema” (CASTRO, 2005, p. 101). 
37
QUADRO 1 – FORMA OU TIPO DE PODER
Formas e 
tipos de 
poder
Conceitualização
Diferenças 
em um modelo 
ideal
Despótico - 
Dominação
Nesta forma, o motivo primeiro do acordo tácito em rela-
ção ao poder pode ser simplesmente o medo, e o instru-
mento do poder será então a coerção pela força, a ame-
aça da destruição do outro, ou seja, a violência. Esta é a 
potência desse poder. É a ação de uma força que contra-
ria a vontade do outro. Este é um poder que, paradoxal-
mente, tem pouco poder porque não se fundamenta na 
vontade do outro e por isso encontra-se sujeito à possi-
bilidade de uma escolha trágica, que o anula. É um poder 
que visa ao bem privado de quem o exerce. Está voltado 
sobre si mesmo e sobre a Força da Força.
Pelo bem 
privado daquele 
que o exerce.
Autoridade
Nesta forma, o poder é aquele fundado na autoridade. Este é 
um poder exercido como uma concessão, o que torna uma 
forma legitimada pela aceitação e pelo reconhecimento da-
queles que a ele se submetem. É nesse reconhecimento e 
concordância dos que se submetem que ele se justifica e 
funda a sua legitimidade. A autoridade é a capacidade de 
se fazer obedecer através da mediação da lei, da tradição 
ou do carisma. Repousa no consentimento, na adesão das 
vontades pelo reconhecimento de uma superioridade de 
ordem moral, intelectual, de competência, de coragem, da 
experiência, ou seja, de valores ou de funções que aquele 
que detém a autoridade representa. O poder da autoridade 
tem mais força do que o poder da dominação, pois a autori-
dade repousa sobre o consentimento social como fonte de 
estima e legitimidade. Sua característica essencial é que ela 
visa ao bem daquele sobre o qual ela se exerce. A autorida-
de é concedida porque reivindicada para assegurar alguma 
forma de interesse individual ou coletivo.
Pelo bem 
daquele que é o 
objeto da ação.
Político
Nesta forma, o poder compreende, tanto a possibilidade 
de coerção, típica do poder despótico quanto a autori-
dade, de fundamento legal. Ambos constituem os dois 
polos opostos e extremos contidos nesta modalidade. 
Ambos colocam em jogo uma capacidade oriunda da in-
terpretação de uma vontade dirigente, de um querer co-
mum sem o recurso fundamental e exclusivo da coerção 
ou da transcendência da autoridade. Contudo, podendo 
fazer uso de ambos para alcançar o bem comum, que é a 
última justificativa da sua existência e aceitação.
Pelo bem 
comum. 
FONTE: Castro (2005, p. 101-106)
38
Aristóteles formulou a tipologia clássica das formas de poder com base no 
interesse em favor do qual o poder é exercido: 
• Poder paterno: exercido pelo pai sobre o filho no interesse do filho.
FIGURA 7 – EXEMPLO DE PODER PATERNO
FONTE: <https://pbs.twimg.com/media/CSWb9nRW0AAP1ky.png>. Acesso em: 20 de set. 2019.
• Poder despótico: exercido pelo senhor sobre o escravo no interesse do senhor.
FIGURA 8 – A HISTÓRIA NA CHARGE, POR WALTER PINTO / EDIÇÃO 110
FONTE: <http://www.jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/images/beiradorio/beira110/com%C3%A9rcio%20
de%20escravos%20-%20C%C3%B3pia.jpg>. Acesso em: 20 set. 2019.
39
FIGURA 9 – TRÁFICO DE NEGREIROS
FONTE: <https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2016/03/3c1b7312-7aaa-4469-8fc4-d791fb-
6cac80.jpg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
• Poder político: exercido pelos governantes sobre os governados no interesse de 
ambos. 
FIGURA 10 – SISTEMA POLÍITICO: A CHARGE DO CARTUNISTA CACO GALHARDO
FONTE: <http://umbrasil.com/wp-content/uploads/2019/07/0107-845x438.jpg>/. 
Acesso em: 20 set. 2019. 
Baseado em Weber, a tipologia moderna das formas de poder, além de ser 
construída a partir dos meios pelos quais o poder é exercido, foi formulada por Bobbio 
(1984, p. 7-8):
• O poder econômico: é exercido por todo aquele que “[...] se vale da posse de 
certos bens, necessários ou considerados necessários, numa situação de escassez, 
para induzir aqueles que não os possuem a certo comportamento, que pode ser, 
principalmente, certo tipo de trabalho”.
40
• O poder ideológico: “[...] influência que as ideias formuladas de certa maneira, 
ou emitidas em certas circunstâncias, por uma pessoa revestida de autoridade, e 
difundidas por certos meios, têm sobre o comportamento dos comandados.”
• O poder político: “[...] posse dos instrumentos através dos quais se exerce a força 
física, isto é, através das armas de qualquer espécie e grau.”
FILME - Título: 12 anos de escravidão, 2013 - Drama/História - 2h14m
Sinopse: em 1841, Solomon Northup é um negro livre, que vive em paz ao 
lado da esposa e filhos. Um dia, após aceitar um trabalho que o leva a outra 
cidade, ele é sequestrado e acorrentado. Vendido como se fosse um escravo, 
Solomon precisa superar humilhações físicas e emocionais para sobreviver. 
Ao longo de doze anos, ele passa por dois senhores, Ford e Edwin Epps, que, 
cada um, a sua maneira, exploram seus serviços.
Atividades: utilização conforme o objetivo de aprendizagem do conteúdo, e trata-
se de um filme muito interessante para quem já assistiu e para aqueles que 
ainda não assistiram devem vê-lo a fim de estabelecer a relação com os temas 
abordados nessa unidade, principalmente com os tipos de poder apresentados
DICAS
4 O PODER E O TERRITÓRIO
Em contrapartida, a tamanha reconversão do espaço e os movimen-
tos reivindicatórios para uso do espaço tornam-se um fenômeno 
mundial; não se resumem às reivindicações por trabalho, mas sim 
também pelo espaço inteiro, pela vida cotidiana. No cerne desses 
movimentos está um conflito agudo pelo espaço e, no espaço, a 
oposição entre o espaço que se tornou valor de troca e o espaço que 
permanece valor de uso, de usos múltiplos do espaço vivido pela po-
pulação. E, nesse contexto, a questão territorial começa a se colocar 
para cada um e para todos; coletividades, vilas, regiões, nações (LE-
FEBVRE, 1978, apud BECKER, 2012,p. 127). 
O estudo do território sempre foi fundamental para a análise geográfica, pois, 
a geografia estuda as relações entre a natureza e a sociedade e as transformações e 
influências dessa relação no espaço geográfico. Neste vasto campo de investigação, 
a geografia tem cinco categorias/conceitos analíticos essenciais: o espaço, o lugar, a 
paisagem, o território e a região, que abordam as diferentes dimensões da realidade.
41
Essas categorias ou conceitos-chave representam diferentes 
abordagens sobre o espaço a partir de diferentes perspectivas, 
influenciadas por diferentes correntes do pensamento geográfico. É 
importante ressaltar que “cada conceito expressa uma possibilidade 
de leitura de espaço geográfico delineando, portanto, um caminho 
metodológico” (SUERTEGARAY, 2001, p. 1).
Aprender a ler e interpretar o espaço, facilmente nota-se que a categoria 
fundamental em geografia vai ser o espaço, que pode ser percebida nas várias dimensões 
da relação entre a técnica e o espaço geográfico. 
[...] o espaço organizado pelo homem é como as demais es-
truturas sociais, uma estrutura subordinada subordinante. É 
como as outras instâncias, o espaço, embora submetido à lei 
da totalidade, dispõe de uma certa autonomia (SANTOS, 1978, 
p. 145). O espaço deve ser considerado como uma totalidade, 
a exemplo da própria sociedade que lhe dá vida (...) o espaço 
deve ser considerado como um conjunto de funções e formas 
que se apresentam por processos do passado e do presente 
[...] o espaço se define como um conjunto de formas repre-
sentativas de relações sociais do passado e do presente e por 
uma estrutura representada por relações sociais que se mani-
festam através de processos e funções (SANTOS, 1978, p. 122).
De tal maneira, percebe-se que, na Geografia política, a categoria que mais nos 
interessa é o território. O conceito de território faz parte da esfera da política, refere-se ao 
espaço geográfico a partir de uma concepção que privilegia o político ou a dominação-
apropriação. Portanto, compreende-se que o território e o poder podem contribuir com 
os estudos da Geografia Política e Geopolítica, permeando as espacialidades das ações 
humanas, ou seja, “a geograficidade como condição histórica” (SANTOS, 2006, p. 13). 
Ressalta-se, ainda, como indica o autor, que nenhuma realização é possível no mundo 
que não seja a partir do conhecimento do que é território, isso porque esse é o lugar em 
que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, 
todas as fraquezas, isto é: no qual a história do homem realiza-se plenamente, a partir 
das manifestações de sua existência. Dessa forma, a geografia passa a ser a ciência 
melhor capacitada para mostrar os dramas do mundo, da nação e do lugar.
O território é o resultado de um processo de formação em sentido amplo, 
cabendo “à Geografia como ciência da relação sociedade e natureza, tomar consciência 
de sua importância técnica, teórica e política em qualquer processo e escala de 
planejamento, ordenamento e gerenciamento territorial” (CUSTÓDIO, 2005, p. 103). O 
autor ainda afirma:
Particularmente, defendemos que a ciência geográfica, com seus 
vários ramos, disciplinas e concepções, tem fundamental papel na 
elaboração de políticas públicas (territoriais). A perspectiva da relação 
natureza-sociedade, por parte da Geografia Física Aplicada, contribui 
tecnicamente, e o aporte teórico das Ciências Sociais e Humanas da 
Geografia Humana, na perspectiva da relação sociedade-natureza, 
contribui social e politicamente para o diagnóstico de problemas 
territoriais e para arrolar alternativas. 
42
Isto é valido, pois, o elo entre a política e a ação pública é o território, com 
fundamentos das relações políticas. Conforme Mello-Théry (2011, p. 13) ressalta, cujo 
mecanismo está pautado em: 
A cada escala em que se considerem as relações sociais ocorrerão 
conflitos espaciais, pois a política representa o jogo de interesses 
sociais contrapostos. Os primeiros reflexos são representados 
pela dinâmica social, pois são significativos a apropriação, os 
processos de controle e a política como gestão. A política implica no 
estabelecimento de estratégia e táticas frente aos outros membros 
da sociedade para impor critérios e formas de atuação. Definir 
estratégias e organizar táticas requer articular a gestão do poder. 
Poder com a capacidade de intervir sobre o espaço e modificá-lo, 
aspecto pelo qual se distinguirão as políticas territoriais.
Você sabe o que são conflitos espaciais?
São conflitos que se estabelecem espacialmente, ou seja, corresponde ao estudo 
da distribuição espacial de fenômeno de conflitos, à procura de padrões espaciais.
INTERESSANTE
Contudo, o conceito de território está ligado à ideia de poder, de domínio e de 
gestão de determinada área. Neste sentido, para Raffestin (1993, p. 7-8) o território é o 
produto dos atores sociais enquanto sociedade.
São esses atores que produzem o território, partindo da realidade ini-
cial dada, que é o espaço. Há, portanto, um "processo" do território, 
quando se manifestam todas as espécies de relações de poder, que 
se traduzem por malhas, redes e centralidades cuja permanência é 
variável, mas que constituem invariáveis na qualidade de categorias 
obrigatórias. O território é também um produto "consumido", ou, se 
preferirmos, um produto vivenciado por aqueles mesmos persona-
gens que, sem haverem participado de sua elaboração, o utilizam 
como meio. É então todo o problema da territorialidade que intervém 
permitindo verificar o caráter simétrico ou dissimétrico das relações 
de poder (RAFFESTIN, 1993, p. 7-8). 
Observou-se, no decorrer da abordagem, que o processo de intervenção sobre 
o território acontece por meio dos diversos atores sociais – poder público, empresas, 
sociedade – e se constitui a partir do ordenamento ou desordenamento do território. 
Exemplificamos uma forma de perceber o conceito de território: o território como um 
campo de futebol (GOMES, 2002).
43
FIGURA 11 – EXEMPLO DE TERRITÓRIO: CAMPO DE FUTEBOL
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2018/07/quadra-de-futebol.jpg>. 
Acesso em: 23 set. 2019.
Neste exemplo, vemos o campo de futebol como um território, pois, em uma 
partida de futebol, é o seu controle que está em jogo. Aquele que controla e se mantém 
no campo do adversário é quem impõe o seu poder sobre o outro (GOMES, 2002).
Por meio desta análise, Raffestin (1993) conduz ao pensamento que o espaço 
geográfico atua como substrato, ou seja, é pré-existente ao território, sendo esse o 
resultado de uma ação conduzida por um ator ou por um grupo de atores. 
O território é o local, no qual as pessoas estão inseridas, onde as relações entre 
esses atores sociais ocorrem, construindo o território, conforme a importância/força de 
poder de cada ator social. Tendo como base o Estado, que passou a regular as normas 
que se estabelecem no território, mas mesmo sendo um dos principais agentes, o Estado 
não é o único na construção do território. Vejamos o que Raffestin (1933) defende sobre 
os agentes que produzem o território: 
 
Do Estado ao indivíduo, passando por todas as organizações pequenas 
ou grandes, encontram-se atores sintagmáticos que produzem 
o território. De fato, o Estado está sempre organizando o território 
nacional por intermédio de novos recortes, de novas implantações 
e de novas ligações. O mesmo se passa com as empresas ou outras 
organizações, para as quais o sistema precedente constitui um 
conjunto de fatores favoráveis e limitantes. O mesmo acontece 
com um indivíduo que constrói uma casa ou, modestamente ainda, 
para aquele que arruma um apartamento. Em graus diversos, em 
momentos diferentes e em lugares variados, somos todos atores 
sintagmáticos que produzem territórios (RAFFESTIN, 1993, p. 152).
44
A partir das contribuições de Raffestin (1993), podemos concluir que todos 
nós (o Estado, os indivíduos, os grupos econômicos ou empresariais) produzimos, de 
alguma forma,territórios em diferentes escalas de ação e de intensidade. Cada um 
desses agentes elabora estratégias de produção, que, muitas vezes, se chocam com 
outras relações de poder.
Esses atores não se opõem; agem e, em consequência, procuram 
manter relações, assegurar funções, se influenciar, se controlar, se 
interditar, se permitir, se distanciar ou se aproximar e, assim, criar 
redes entre eles. Uma rede é um sistema de linhas que desenham 
tramas. Uma rede pode ser abstrata ou concreta, invisível ou 
visível. A ideia básica é considerar a rede como algo que assegura a 
comunicação, mas, por natureza, a rede que desenha os limites e as 
fronteiras não assegura a comunicação. É uma rede de disjunção. Mas 
mesmo uma rede de comunicações pode, a um só tempo, assegurar 
aquilo para o que foi concebida e impedir outras comunicações. 
Quantas cidades foram cortadas em duas, secionadas por redes de 
comunicação rodoviárias ou ferroviárias! A ambivalência surge em 
escalas diferentes (RAFFESTIN, 1993, p. 156).
Teoricamente, como foi exposto, o Estado representa um papel determinante 
na formação dos territórios, e como é visível, o território compreende um campo da ação 
política ou da dominação e da apropriação. No caso, vemos também que o território envolve 
uma teia de relações de poder projetadas no espaço.
Após essa pequena abordagem sobre o território e o poder, assista ao filme sugerido! 
Título: Getúlio (João Jardim) – 2014.
Sinopse: o filme relata as intrigas da Presidência da República e as entranhas do poder nos 
últimos 19 dias de vida de Getúlio, mostrando as conspirações e tramas nos bastidores 
para que o presidente seja deposto ou renuncie. Getúlio foi um ditador confesso, admite 
no filme ter rasgado duas Constituições enquanto esteve no comando, com o objetivo de se 
manter no poder. Apesar de ter sido um ditador, voltou à presidência novamente 
por voto democrático. O filme mostra muito do que vivemos no território e nas 
relações de poder, expondo que o hábito das negociatas,  lobby, conchavos, 
chantagem, alianças ilícitas vêm de muitos anos e não acontecem somente na 
atualidade. Getúlio é um filme que deve ser visto, seja para conhecer um pouco 
melhor a história da política do Brasil ou para conferir o homem por trás do 
presidente interpretado por Tony Ramos.
DICAS
45
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O espaço preexiste a qualquer ação, sendo o local de possibilidades, que se 
manifesta como uma realidade preexiste a qualquer conhecimento e prática. 
• Entender o espaço na perspectiva do poder, é ver sua complexidade e em diferentes 
escalas de relações, em sua dinâmica histórica e geográfica.
• O conceito de poder engloba sempre a esfera da ação, ele designa uma capacidade 
de agir, direta ou indiretamente, sobre coisas ou pessoas. 
• O poder compreende a esfera política, econômica, cultural e social. Assim, ele é 
considerado amplo, complexo e profundo, que ninguém está isento dele, ou de seus 
efeitos.
• O território é a base material e também simbólica da sociedade, e que o poder tem 
a realizações de ações. 
• Existem três formas elementares de poder: despótico/dominação, autoridade e o 
político. 
• A tipologia moderna das formas de poder é construída a partir dos meios pelos quais 
o poder é exercido: o poder econômico, o poder ideológico, o poder político.
• Na Geografia Política, a categoria que mais nos interessa é o território. 
• O conceito de território faz parte da esfera da política, refere-se ao espaço geográfico 
a partir de uma concepção que privilegia o político ou a dominação-apropriação. 
• O território e o poder podem contribuir com os estudos da Geografia Política 
e Geopolítica, permeando as espacialidades das ações humanas, ou seja, “a 
geograficidade como condição histórica”.
• O território envolve uma teia de relações de poder projetadas no espaço.
46
1 O estudo do território sempre foi fundamental para a análise geográfica, pois a geografia 
estuda as relações entre a natureza, a sociedade e as transformações e influências 
dessa relação no espaço geográfico. Portanto, verifique as asserções abaixo: 
I- O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um 
ator sintagmático.
II- O território é a prisão que os homens constroem para si.
III- O território é o espaço na sua complexidade e em diferentes escalas de relações, em 
sua dinâmica tal e geográfica. 
IV- Território é visto como controle de processos sociais e pelo controle da acessibilidade 
através do espaço.
Acerca das asserções, assinale a opção CORRETA:
a) ( ) Os itens II, III e IV.
b) ( ) Os itens I, II e IV.
c) ( ) Os itens I e III.
d) ( ) Os itens II e III.
e) ( ) Todos os itens. 
2 As três formas elementares de poder apresentam conceitos diferentes. Identifique 
quais são as ideias principais de cada poder, colocando:
I- Poder de dominação. 
II- Poder de autoridade.
III- Poder político. 
( ) Pelo bem comum.
( ) Este é um poder exercido como uma concessão.
( ) Pelo bem daquele que é o objeto da ação.
( ) O instrumento do poder será então a coerção pela força.
( ) Pelo bem privado daquele que o exerce.
( ) Interpretação de uma vontade dirigente.
3 Explique com suas palavras o que é o poder familiar. Justifique e exemplifique. 
 
4 Explique o conceito de territorialização. 
AUTOATIVIDADE
47
5 Você consegue perceber como as formas e tipos de poder, conceitualizados no 
decorrer do Tópico 2, se materializam no espaço geográfico? A partir das definições 
apresentadas de poder econômico, poder ideológico e poder político, podemos, agora, 
desenvolvê-las por meio dos exemplos das charges. Portanto, analise a figura a seguir:
POLÍTICA
FONTE: <https://anexositecp.webnode.pt/_files/200000519-e1ebce2ea5-public/face%2029.jpg>. 
Acesso em: 17 jan. 2020.
Qual é a forma de poder exercida na charge apresentada? Justifique sua resposta.
48
49
TÓPICO 3 - 
GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico será apresentada a Geopolítica Brasileira, com objetivos de melhor 
ocupação territorial, proteção nas fronteiras, que se desenvolvem e integram ações 
governamentais, surgindo querendo fortalecer o Estado-Nação, e que na atualidade se 
materializa como uma potência regional. 
Nesta parte do material, abordaremos as seguintes seções em ordem de 
apresentação. Na primeira, a questão do projeto geopolítico da modernidade no Brasil, 
em segundo a gestão do estado centralizador, no terceiro momento trabalharemos a 
crise e os desafios do país como potência regional, e por fim, analisaremos planejamento 
estratégico e a tendência à gestão privada do território. 
Com isso, busca-se apresentar diversos exemplos das áreas estudadas, além de 
indicar possibilidades teóricas de análise e interpretação do espaço geográfico. O nosso 
intuito é que você, acadêmico, possa ao final da unidade ter uma opinião, teoricamente 
fundamentada, a respeito dos processos políticos geográficos. 
Então, vamos aos estudos!
UNIDADE 1
2 O PROJETO GEOPOLÍTICO DA MODERNIDADE NO BRASIL
A Geopolítica do Brasil deve ser compreendida, historicamente, a 
partir da constituição do Estado nacional após a Independência e do 
seu papel essencial e crescente na formação de um país-continente 
cuja organização econômica, social e política foi forjada sob o do-
mínio colonial. A insuficiência da iniciativa privada nacional, de uma 
classe burguesa stricto sensu devido à fraca disponibilidade de ca-
pital e de potência empresarial ou à falta de interesse –, a ideologia 
nacionalista, que coloca, a independência política no cerne da identi-
dade nacional, e a motivações políticas e estratégicas quanto à uni-
ficação do território e da estrutura do poder em face dos interesses 
agrários regionais são alguns dos elementos que explicam a presen-
ça marcante do Estado brasileiro, que não pode ser reduzido a mero 
instrumento ou reflexo do capital privado (BECKER, 2012, p. 130-131).
50
A Geopolítica Brasileiraadvém e está vinculada ao papel crescente do Estado, 
na conformação da sociedade e do espaço nacional, não se desenvolvendo como 
potência, que é determinada por sua geografia. 
Tal como fazem supor obras e generais que justificam a forma 
autoritária de atuação estatal. Isto não significa que os militares 
não tenham um papel importante na constituição do próprio Estado 
e da sua Geopolítica, inicialmente na construção do espaço físico 
do Estado, o Território Nacional e, recentemente, construindo o 
espaço político. A constituição das Forças Armadas – FA foi parte 
ativa e integrante da história recente do país, particularmente 
na Proclamação da República. Atuando na conquista, defesa e 
ratificação das fronteiras e na sustentação da unidade territorial 
interna, em resposta aos diferentes interesses e pressões regionais, 
as Forças Armadas imperiais articularam-se profissionalmente. 
Parte da oficialidade média do Exército integra-se à nascente classe 
média urbana na luta pela valorização do trabalho não manual e 
pela conquista de um espaço no aparelho de Estado, rompendo 
com os critérios de recrutamento calcados em relações de favor 
(BECKER, 2012, p. 131). 
No Brasil, Becker (2012, p. 131) apresenta que os militares e a classe média 
promovem e dirigem a transformação do Estado brasileiro, constituindo-se em uma 
modernização conservadora. Constituindo no pensamento militar a autopercepção de 
fundador de Nação e de ordem nacional, ou seja, quando no Brasil surge problemas 
em relação com outros países e o desenvolvimento na escala nacional, destaca-se o 
papel do Estado e dos militares. Além disso, como um fator de expansão do Estado, o 
nacionalismo condiciona a constituição do Estado:
Processo em que a constituição do Estado precede a constituição da 
Nação (Becker, 1986). Não é, portanto, de admirar que a Geopolítica 
brasileira remonte às décadas iniciais do século XX, precedendo o 
estabelecimento da Geografia como disciplina acadêmica, com 
os estudos pioneiros de Everardo Backheuser (1926), fortemente 
influenciado por Ratzel e as teorias orgânicas do Estado de Kjellen, 
e de Delgado de Carvalho (1929), pelo contrário, influenciado pela 
escola francesa de Vidal de la Blache (BECKER, 2012, p. 131). 
É nesse sentido, que com a nova crise mundial de 1929 e o Estado Novo de 
Getúlio Vargas, que o nacionalismo (com intervenção estatal) e a modernização se 
fundam. O Estado se aproxima dos meios de produção essenciais e a indústria de base 
ao desenvolvimento nacional, com o apoio de capital estrangeiro (BECKER, 2012). 
Ao mesmo tempo, os estudos sobre a Geopolítica se intensificam nas décadas 
de 1930 e 1940, que se desenvolvem por professores de colégios militares, como Becker 
(2012, p. 312), salienta: 
51
Destacando-se, dentre eles, Mário Travassos, com a sua “Projeção 
Continental do Brasil”. O tema central desses trabalhos era uma nova 
interpretação geopolítica da história brasileira, focalizando a marcha 
para o oeste do Estado, desde sua origem na costa atlântica, e 
enfatizando a necessidade de o Brasil continuar sua projeção para o 
oeste, especialmente ao longo de dois eixos, um em direção à Bolívia 
e o outro à Amazônia. A expansão política para o ocidente do século 
XIX (Acre) deveria ser seguida de ocupação efetiva e integração 
espacial, revitalizando as “fronteiras mortas” e tornando-as ”vivas”. 
Esse desenvolvimento interno era associado à ascensão de grandeza 
continental para o país, o que era visto elos Estados vizinhos como 
ameaça e expansionismo.
Você sabe como foi realizada a expansão do território brasileiro?
A expansão territorial brasileira inicia com a ampliação dos limites do território 
brasileiro que aconteceu entre o descobrimento e o Tratado de Madri em 1750. 
Com o passar da história, o país aumentou sua área em mais de duas vezes. 
Essa expansão é decorrente do desenvolvimento econômico da colônia e dos 
interesses político-estratégicos da colonização.
IMPORTANTE
Na figura 12, verifique como foi realizada a marcha para o oeste do Estado, desde 
sua origem a costa atlântica e por fim, o estado do Acre. 
52
FIGURA 12 – CAPITANIAS HEREDITÁRIAS
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/Ficheiro:Bra-
zil_(1534).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
FIGURA 13 – 1573 ESTADO DO MARANHÃO E ESTADO DO BRASIL
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e8/Brazil_%281572%29.svg/800px-
-Brazil_%281572%29.svg.png>. Acesso em: 20 jan. 2020.
53
FIGURA 14 – 1709 SÃO PAULO NO SEU MÁXIMO TAMANHO
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/Ficheiro:Bra-
zil_(1709).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020. 
FIGURA 15 – DEPOIS DO TRATADO DE MADRID
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/83/Brazil_%281750%29.svg/800px-
-Brazil_%281750%29.svg.png>. Acesso em: 20 jan. 2020.
54
FIGURA 16 – DEPOIS DA REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/Ficheiro:Bra-
zil_(1817).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
FIGURA 17 – PROVÍNCIAS IMPERIAIS
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/Ficheiro:Bra-
zil_(1822).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
55
FIGURA 18 – INÍCIO DA REPÚBLICA
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/Ficheiro:Bra-
zil_(1889).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
FIGURA 19 – TERRITÓRIOS DE FRONTEIRA
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/Ficheiro:Bra-
zil_(1943).svg>. Acesso em: 20 jan. 2020.
56
FIGURA 20 – CONFIGURAÇÃO ATUAL DESDE A PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988
FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o_territorial_do_Brasil#/media/Ficheiro:Bra-
zil,_administrative_divisions_(states)_-_en_-_colored.svg>. Acesso em: 20 jan. 2020. 
Para o autor, a partir da Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou por um projeto 
geopolítico para a modernidade: 
A partir da Segunda Guerra Mundial, período marcado pela 
imbricação da Ciência e Tecnologia, com as estruturas sociais do 
poder, e pelo planejamento, constitui-se no Brasil um novo padrão de 
inserção na ordem política planetária. Se o papel político e a relativa 
autonomia da burocracia estatal, particularmente dos militares, 
foram uma constante na história recente do país, eles se alteram 
qualitativamente, manifestando-se num projeto geopolítico para a 
modernidade do Brasil (BECKER, 2012, p. 132). 
No entanto, surge um domínio da racionalidade em todos os setores e no 
pensamento social dentro da modernização, com vários projetos em diferentes 
segmentos, contudo, que convergem em um projeto governamental gerido por militares. 
Nesse sentido, o Estado atribui-se um papel cada vez mais abrangente, “pois que se 
entende que só ele poderá, através de um planejamento racional, acelerar o ritmo de 
desenvolvimento, permitindo ao país ingressar na nova era” (BECKER, 2012, p. 132). Por 
meio disso, o Estado produzirá o seu espaço político, não mais se reduzirá a conquista 
e a defesa do território (atuação setorial e pontual), e com uma ação sistemática e com 
acesso a todos os setores e a todo o espaço nacional. 
57
Nesta fase de sistematização e de integração do projeto de modernização 
brasileiro, Becker (2012) baseada nas concepções e metodologias da Geografia Política 
Brasileira, aponta algumas características: 
• É na obra do General Golbery do Couto e Silva (1955, 1967 e 1981) que se encontraram 
mais explícitas as bases doutrinarias do projeto geopolítico da modernidade no 
Brasil, desenvolvidas pelo General Carlos de Meira Mattos na década de 1970 (1975, 
1977, 1980). 
• Iniciado antes do golpe militar de 1964 que pôs em prática sistematicamente, o 
projeto assume novas feições a partir dos anos 1970, quando, em face das tensões 
internas e da prioridade de produção de tecnologia, o governo é transferido para os 
civis através de transição política, eos militares passam a participar diretamente 
na implantação de um complexo científico-tecnológico-industrial, em que o setor 
bélico é parte expressiva.
• Como base da estratégia e da prática do novo papel dirigente do Estado, a Geopolítica 
brasileira se altera consideravelmente. 
• Sem abandonar as preocupações tradicionais de integração do Território Nacional, 
e sem abandonar os princípios gerais da Geopolítica, o General Couto e Silva amplia 
o seu escopo em vários pontos e gera um pensamento geopolítico nacional: uma 
visão global, e não mais apenas continental, é agora o quadro de referência para o 
Brasil; uma visão ampliada da Geopolítica em termos de preocupação com teorias 
realista sobre a natureza do Estado e o papel da política e do poder, em torno do tema 
central do conceito de Segurança Nacional; este, relacionado ao desenvolvimento, 
é entendido não mais apenas no sentido restrito militar ou econômico, mas em 
um sentido político muito mais amplo e em um sentido técnico, de planificação e 
racionalidade: uma preocupação não mais apenas com relações externas do Estado, 
mas com a segurança interna: enfim, uma preocupação com a especificidade do 
papel do Estado nos países subdesenvolvidos e, no Brasil, país entendido como um 
dos bastiões-chave dos valores ocidentais.
• Trata-se indiscutivelmente de um pensamento nacional para o crescimento de um 
Estado subdesenvolvido, o Brasil, segundo o modelo econômico vigente nos países 
capitalista. 
• É de se notar a antecedência com que foram captadas feições da Geopolítica contem-
porânea: a questão do tempo acelerado para superar o subdesenvolvimento, as ques-
tões tecnológicas da gestão, da logística – guerra permanente, contida nos conceitos 
de Poder Nacional, e no novo significado da Estratégia –, dos conflitos internos. 
• São de se notar, também, as ambiguidades contidas nesse pensamento – a 
necessidade de um planejamento democrático e, ao mesmo tempo, a necessidade 
de restrições à cidadania e ao bem-estar social e a total exclusão da participação 
social no projeto.
• Diante de tais pressupostos, que pelo menos em tese indicam as bases para se 
assentar um projeto de modernização brasileira,  Hage (2015, p. 115), pensa a 
geopolítica brasileira a por meio de três peculiaridades: 
58
• Trata-se de manifestação que beira à experiência deixada pelos portugueses. Esse 
legado foi comum ao Itamaraty e ao Exército, e teve como ponto de sustentação 
a cartografia, a historiografia, o direito internacional e a geografia. A peculiaridade 
brasileira é que o ponto de amparo não estava exclusivamente nas forças armadas, 
mas no concurso entre elas e o patrimônio político-diplomático (RODRIGUES; 
SEITENFUS, 1995, p. 28). 
• A geopolítica nacional é industrializante. A saber, nos primeiros anos da década 
do século XX, seus estudiosos acreditavam que o Brasil tinha de se industrializar 
nos níveis mais adiantados, como na indústria pesada e de bens de capital. O país 
deveria ter condições de fabricar aço e de dominar seus recursos naturais para fins 
produtivos. Poderíamos dizer que os estudiosos de geopolítica brasileira procuravam 
uma economia de progresso, de desenvolvimento, mesmo que esse conceito seja 
tão fluido para ser atribuído a teóricos, estudiosos e políticos da Primeira República 
(1889-1930).
• O desenvolvimento conceitual da geopolítica não se deu na universidade e nos 
centros de ensino superior. A preocupação para estudar e fazer da geopolítica um 
instrumento de ação se deu, à primeira vista, nos quadros do Exército brasileiro. 
Nossa hipótese para essa peculiaridade é que, historicamente, somente o Exército e 
Igreja Católica eram instituições, de fato, nacionais, encontradas em todo o território 
a partir de 1889; para a primeira, já que a história da segunda se confunde a do 
Brasil colonial.
Com relação às principais visões da Geopolítica Brasileira, Santos (2015), 
sistematiza em uma retrospectiva sobre os seus principais autores e concepções, como 
podemos verificar no quadro a seguir: 
59
QUADRO 2 – RETROSPECTIVA DA GEOPOLÍTICA BRASILEIRA
FONTE: Santos (2015, p. 64) 
60
3 A GESTÃO DO ESTADO CENTRALIZADOR
A constituição do Estado nacional parte de duas dimensões estratégicas 
(CASTRO, 2005): 
• Externa: com disputas territoriais com outros Estados, objeto central de uma 
geografia política que pode ser chamada de clássica. 
• Interna: com a centralização do poder, controle social e estratégia territorial, um 
dos objetos da geografia política contemporânea. 
Conforme Castro (2005, p. 124), surgem duas escalas de ação do Estado “Ele é 
o locus primário do poder mundial e garante/responsável abonador e fiador da ordem 
territorial”. Assim, configuram-se a organização territorial do Estado Moderno, com 
o controle sobre o território e seus conteúdos. Tendo como marco de nascimento a 
centralidade territorial do poder político, com um processo simultâneo de formação de 
uma estrutura administrativa desse Estado, com a criação de uma rede conectiva, única 
e unitária. Se constituindo como “uma estrutura organizativa formal da vida associada, 
transformando-se em um autêntico aparelho de gestão do poder sobre a sociedade e o 
território” (CASTRO, 2005, p. 126-127): 
A administração pública é constituída de um conjunto de organizações 
que participam da execução de múltiplas tarefas de interesse geral 
que cabem ao Estado. Neste sentindo, a função administrativa 
é o prolongamento da função política que compreende a função 
legislativa e a função governamental.
No Brasil, existe uma estrutura federativa definida pela Constituição de 1988, na 
qual o exercício do poder sobre o território é responsabilidade partilhada da União (poder 
central), dos Estados (unidades da federação) e dos Municípios (poder local). De acordo 
com Castro (2005, p. 165):
No Brasil, o processo de construção de uma federação teve um 
movimento em sentido contrário, ou seja, a República adotou a 
estrutura federativa como mecanismo de descentralização do poder 
imperial, definindo três esferas político-administrativas: Federal, 
Estadual e Municipal. Porém, os mecanismos do federalismo no Brasil 
não garantiram nem a autonomia das decisões dessas esferas nem 
asseguraram o controle democrático da política. 
Pacto federativo: por definição é um acordo de base territorial no qual os grupos 
localizados em diferentes partes de um território organizam-se em busca da 
harmonização entre suas demandas particulares e os interesses gerais da 
sociedade que tem por objetivo construir (CASTRO, 2005).
ATENÇÃO
61
O pacto federativo fundador do Estado republicano brasileiro permitiu, nas 
décadas iniciais de sua implantação, situações contraditórias, como posto por Castro 
(2005): 
• A convivência com o centralismo, que apenas em curtos períodos da história, como 
aquele entre a implantação da República e a Revolução de 1930, foi mais brando. 
• O mandonismo local, que recentemente vem tendo o seu poder reduzido.
• Longos períodos de poder autoritário. 
Federalismo: “é uma forma de organização territorial das instituições políticas que 
tem por objetivo fundamental acomodar as tensões decorrentes da necessidade 
de uma união das diferenças para formar uma unidade. Este processo que 
incorpora e tenta resolver institucionalmente esta contradição faz emergir para 
a geografia uma dupla questão: aquela colocada pelo fundamento territorial do 
Estado, que se constitui através da soberania sobre um território, e aquela que 
surge a partir da territorialidade da sociedade, ou seja, das formas de inserção dos 
interesses, dos atores e sujeitos sociais no espaço” (CASTRO, 2005, p. 164).
ATENÇÃO
Nestas abordagens, emerge a organização federativa brasileira, com a contra-
dição da perspectiva da unidade nos corações e mentes da elite dirigente do país. Ca-
racterizada por um processo histórico de lutas para a consolidação do território e para 
a construção da nação (CASTRO, 2005). Estabelecendo-se, desde a República, por doiscaminhos com alternâncias entre momentos de centralização e de descentralização 
político-administrativa: 
• Difusão entre um formato político-administrativo pensado e desenvolvido para 
acomodar a representação das diferenças territoriais.
• Perspectiva de manutenção de uma unidade que deveria ser preservada a qualquer 
custo. 
62
DICA DE LEITURA!
HIRT, Carla. O desenvolvimento, a definição de um bloco no poder e as cenas políticas ao 
longo do período desenvolvimentista, 2016. Em seu capitulo II, a autora possui sua forma 
própria de expressar sobre o conteúdo que abordamos nesse Caderno de Estudos. 
Por meio do que foi pontuado sobre a gestão do Estado centralizador a autora Carla 
Hirt, desenvolveu entender em suas pesquisas o Desenvolvimento Brasileiro, sendo 
assim, foi necessário realizar um resgate histórico sobre o Estado brasileiro, os blocos 
no poder, a sociedade brasileira e os ideários de desenvolvimento que guiaram as 
políticas públicas e definiram as estratégias e os projetos espaciais de Estado. Assim, 
buscou-se entender como o BNDES, enquanto principal instituição estatal de fomento 
ao desenvolvimento, foi redimensionado e reorientado a cada período. Só assim seria 
possível contribuir de forma consistente com a compreensão sobre o lugar e o 
papel desta instituição nas estratégias atuais de desenvolvimento no Brasil. 
Para uma elucidação sobre os informes e propostas oriundas do BNDS (Banco 
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a construção de um recurso 
de poder, consulte o site do banco de teses do Instituto de Pesquisa e Planejamento 
Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. 
FONTE: http://objdig.ufrj.br/42/teses/859255.pdf.
DICAS
4 A CRISE E OS DESAFIOS DO PAÍS COMO POTÊNCIA 
REGIONAL
Vários estudos contemporâneos, dos mais diversos matizes teóricos, concebem 
que o Brasil, foi considerado por muito tempo, como um país que não priorizava a região, 
vivenciando uma baixa identidade regional, privilegiando a sua relação com os EUA. Com 
isso, a partir de 1980, foi promovido a cooperação em relação à vizinhança, legitimando 
as relações regionais (CARVALHO; GONÇALVES, 2016). 
Carvalho e Gonçalves (2016) vão observar três tipos de liderança que se 
manifestam na política regional brasileira, buscando-se obter evidências a partir da 
análise do comportamento do país na América do Sul.
• A liderança cooperativa, consensual e empreendedora, que salienta a capacidade 
da potência regional de criar consensos e investir em uma relação cooperativa com 
seus vizinhos, seja através da ativa participação em organizações regionais, da 
proposição de criação de instituições ou de atitude conciliadora em crises regionais.
63
• A liderança normativa e intelectual, que se reflete na capacidade da potência 
regional de projetar ideias e valores que influenciam a região e sustentam o projeto 
regional.
• A liderança estrutural e distributiva, que implica um papel de paymaster, em que 
sua liderança se reflete na posse e utilização dos recursos materiais, através da 
provisão de bens públicos, sejam esses a estabilidade regional, a infraestrutura da 
região ou os custos econômicos da cooperação. 
FIGURA 21 – AMÉRICA DO SUL
FONTE: <http://nucleodeestudos.weebly.com/uploads/2/8/6/4/28646851/7297031.png?660>. Acesso 
em: 22. out. 2019.
64
O conceito de paymaster
O Estado líder tem a função de paymaster, ou seja, o Estado líder a aderir uma 
parte maior dos custos gerados pelo próprio desenvolvimento da integração. 
Normalmente o Estado líder tem a atribuição de grande sustentador de todo 
o processo financeiro, e também fundamentalmente institucional e político.
NOTA
Colocadas essas observações preliminares, consideramos o Brasil como 
potência regional, no domínio da América do Sul, como podemos ver na Figura a seguir. 
Ocupando as potências secundárias os países da Argentina, Chile, Colômbia e Venezuela. 
Conforme Carvalho e Gonçalves (2016, p. 227) apresentam os dados de 2014, vemos 
os indicadores que permitem analisar comparativamente a capacidade material desses 
países na região:
“As potências secundárias são países que possuem recursos de poder 
ideacionais e materiais relativamente menores do que as potências regionais 
e, portanto, ocupam uma segunda posição de poder regional” (FLEMES, 2012; 
WEHNER, 2011 apud CARVALHO E GONÇALVES, 2016, p. 227).
IMPORTANTE
TABELA 1 – RECURSOS MATERIAIS: BRASIL, ARGENTINA, CHILE, COLÔMBIA E VENEZUELA, 2014
FONTE: Carvalho; Gonçalves (2016, p. 227)
65
Uma forma de perceber a capacidade material, por meio da tabela acima, o 
Brasil se destaca como potência regional, como podemos ver: 
• Capacidade material com uma grande concentração no Brasil. 
• A população brasileira é a maior da região, correspondendo a quase 50% da 
população sul-americana. 
• O território brasileiro é três vezes maior que o argentino, que ocupa o 2º lugar no 
ranking. 
• Brasil possui uma localização geográfica privilegiada, com acesso ao Atlântico e o 
seu litoral se estende por mais de 7.000 quilômetros. 
• Faz fronteira com todos os países sul-americanos, com exceção do Chile e do 
Equador. 
• Abundância em recursos naturais, como florestas, recursos hídricos, petróleo, gás 
natural e minerais, terras férteis para a agricultura e enorme biodiversidade.
• Indicadores econômicos expressivos. O PIB brasileiro é o maior da região.
• O maior efetivo militar e os maiores gastos no setor em números absolutos.
• A capacidade de exportação e o peso de seus investimentos se mostraram 
elementos de barganha fundamentais nas negociações internacionais brasileiras. 
Assim, hoje facilmente pode ser percebida a potência regional que o Brasil 
buscou promover, pois, foi a partir dos anos 1990 que a região teve importância para a 
política externa brasileira, “seja como forma de ampliar a participação no mundo através 
da integração regional, seja como forma de ampliar o poder de negociação que se 
inscreve nas alianças Sul-Sul e que amplia a margem de manobra do país no exterior” 
(CARVALHO; GONÇALVES, 2016, p. 232).
Um exemplo disso foi a prioridade da agenda brasileira na América do Sul, com 
expressivas atuações, bem como: criação do MERCOSUL (ver Figura 22), em 1991; o Brasil 
sediou a primeira reunião de presidentes da América do Sul, no ano 2000; a importante 
atuação como mediador no conflito entre Equador e Peru acerca da definição de limites 
territoriais; e a mediação com os EUA da criação da ALCA, conduzida pelo governo 
através do bloco regional. 
66
FIGURA 22 – PAÍSES QUE COMPOEM O MERCOSUL
FONTE: <https://journals.openedition.org/confins/docannexe/image/6107/img-1-small480.png>. 
Acesso em: 17 jan. 2020.
De modo geral, o Brasil, em diversas ocasiões, desempenhará a liderança como 
potência regional, desenvolvendo promoção consensual, cooperativa, empreendedora. 
Segundo Becker (2012), o Brasil transforma e se caracteriza como produtor de seu 
espaço transnacional, se tornando o oitavo PNB do mundo, não ficando apenas como 
potência regional do Atlântico Sul. Tais atividades envolveram a implantação da fronteira 
tecnológica, a expansão econômica e política. Becker (2012, p. 142.), ao propor sua 
interpretação na produção de um espaço extranacional, divide-a em três atores: 
67
• O aparelho de Estado, através das negociações bilaterais ou 
multilaterais, que, por sua vez, abrem caminho para a atuação de 
empresas públicas e privadas. A intensificação das relações com 
a América Latina, com os países de língua portuguesa e com 
a Nigéria, na África, e a composição de cunho político com um 
“Terceiro Mundo” parecem comprovar a política de barganha leal.
• As empresas estatais que, em seu processo de expansão 
tecnológica e econômica, se transnacionalizam, como é o caso 
da PETROBRAS e da EMBRAER, e a tendência da CVRD e da 
ELETROBRAS nesse sentido.
• A corporação militar associada à empresa privada (e pública), que 
alarga a atuação do Brasil pela venda de armas, particularmentepara o mundo árabe.
Você pode enriquecer sua leitura sobre o tema abordado com a leitura do artigo sobre O 
Brasil como potência regional e a importância estratégica da América do Sul na sua política 
exterior, do autor Luiz Alberto Moniz Bandeira (2016), conforme o resumo a seguir: 
O artigo aborda a história da política externa brasileira em relação a América do Sul 
durante o século XX, bem como da diplomacia brasileira relacionada aos interesses dos 
Estados Unidos no Continente. O governo brasileiro considerou a América do Sul como 
um conceito geopolítico e sua principal referência para a formação de uma integração 
econômica, como caracterizam as relações com a Argentina, a criação do Mercosul e a 
cláusula democrática que orienta sua diplomacia nos casos de instabilidades de governos, 
como ocorreu no Paraguai, em 1996, e na Venezuela, em 2001. A política exterior do Brasil 
esteve orientada para a ampliação do Mercosul e em detrimento da ALCA, conforme vem 
sendo idealizado pelo projeto da União de Nações Sul-americanas (UNASUL). 
FONTE: BANDEIRA, L. A. M. O Brasil como potência regional e a importância estratégica da América do 
Sul na sua política exterior. 2008. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/temasemati-
zes/article/view/2477/1902. 
Outro material que pode acrescentar na temática sobre o Brasil na América do 
Sul é o artigo do professor Wanderley Messias da Costa: O Brasil e a América 
do Sul: cenários geopolíticos e os desafios da integração. Confira o artigo 
e aproveite a leitura! Disponível em: <https://journals.openedition.org/
confins/6107?amp%3Bid=6107&lang=pt>. Acesso em: 20 jan. 2020.
DICAS
68
5 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E A TENDÊNCIA À 
GESTÃO PRIVADA DO TERRITÓRIO
Antes de discutir as características do planejamento estratégico e a gestão 
do território, vamos entender e propor significados sobre seus conceitos, por meio da 
discussão realizada por Becker (2012, p. 128). 
1 Significado da Territorialidade
a. O território é o espaço da prática. Por um lado, é um produto da prática espacial: 
inclui a apropriação de um espaço, implica a noção de limite – um componente de 
qualquer prática –, manifestando a intenção de poder sobre uma porção precisa 
do espaço. Por outro lado, é também um produto usado, vivido pelos atores, 
utilizando como meio para sua prática (RAFFESTIN, 1980).
b. A territorialidade humana é uma relação com o espaço que tenta afetar, influenciar 
ou controlar ações através do reforço do controle sobre uma área geográfica 
específica e, o território (SACK, 1986). É a face vivida do poder.
c. A territorialidade manifesta-se em todas as escalas, desde as relações pessoais e 
cotidianas até as complexas relações sociais. Ela se fundamenta na identidade e 
pode repousar na presença de um estoque cultural que resiste à reapropriação do 
espaço, i.e., em uma identidade de base territorial (BRODEUIL E OSTROWESKY, 1979).
d. A malha territorial vivida é uma manifestação das relações de poder, da oposição 
do local ao universal, dos conflitos entre a malha concreta e a malha abstrata, 
concebida e imposta pelos poderes hegemônicos.
2 Significado da Gestão do Território
a. Gestão é um conceito associado à modernidade: é a prática estratégica científico-
tecnológica que dirige, no tempo, a coerência de múltiplas decisões e ações para 
atingir uma finalidade.
b. A gestão é eminentemente estratégica: segue um princípio de finalidade econômica 
– expressa em múltiplas finalidades específicas – e um princípio de realidade, das 
relações de poder, i.e., de absorção de conflitos, necessários à consecução de suas 
finalidades; envolve não só a formulação das grandes manobras – o cálculo das 
forças presentes e a concentração de esforços em pontos selecionados – como dos 
instrumentos – tática e técnicas – para execução. 
c. A gestão é científico-tecnológica: para articular coerentemente múltiplas decisões 
e ações necessárias para alcançar as finalidades específicas e dispor da coisa 
de modo conveniente, instrumentalizou o saber de direção política, de governo, 
desenvolvendo-se, hoje, como uma ciência.
d. Como estratégia cientificamente formulada e tecnicamente praticada, a gestão é 
um conceito que integra elementos de administração de empresas e elementos 
governamentais (FOUCAULT, 1979); 
69
e. A gestão tende a se identificar com a logística, no sentido da poderosa preparação 
de meios e da velocidade de sua atuação, referente esta não só à rapidez como à 
projeção para o futuro.
f. A gestão do território é a prática estratégica científico-tecnológica do poder no 
espaço-tempo. 
Becker (2012, p. 129 e 130), conforme os conceitos apresentados, vai verificar 
e embasar a discussão por ordens de grandezas, com uma base teórica, para definir e 
articular as escalas de análises, ou seja, apresenta cinco escalas com uma expressão de 
uma prática espacial coletiva embasada em conflitos de interesses e relações de poder. 
1. O espaço cósmico: corresponde à produção de uma escala extraplanetária pela 
máquina de guerra mundial, as corporações multinacionais e alguns Estados, 
somente os EUA e a URSS. Trata-se de uma nova fronteira do ecúmeno (universal), 
científico-tecnológica, povoada por satélites e naves espaciais. Laboratório 
avançado movido pela logística, é também um posto avançado de gestão do 
planeta Terra que tende a se constituir como um território no espaço cósmico. 
2. O espaço global: corresponde ao espaço planetário unificado contemporaneamente 
pelas estratégias conjuntas, embora não isentas de conflitos, da economia 
mundial, da máquina de guerra e do sistema interdependente de Estados-Nação. 
Movimentos sociais de origem local e regional têm crescentemente atuado nessa 
escala, como é o caso dos movimentos ecológico e pacifista e do renascimento do 
regionalismo europeu, respectivamente.
3. O Estado-Nação: os Estados-Nação não são meros instrumentos manipulados 
pela acumulação do capital e a guerra; são também seus produtores e gestores e 
expressam processos em cursos nas escalas intra Estado, o que lhes confere um 
grau de autonomia relativa manifesto em projetos e políticas nacionais distintos e 
lhes atribui validade como escala de análise. A ideologia não se resume a uma visão 
distorcida imposta por interesses de um só grupo social; é um sistema particular 
de representações sobre o mundo capaz de dirigir o comportamento dos homens 
em uma situação, sistema de representações que, forjado em condições históricas 
e culturais diversas, é componente fundamental na atitude política diferenciada 
dos Estados-Nação. 
70
4. região: a região é fruto da prática dos detentores do poder e da prática social 
coletiva. Corresponde a um nível de agregação das comunidades locais no interior 
do Estado-Nação que têm em comum diferenças de base econômica, política e 
cultural em relação às demais, capazes de gerar uma identidade da população 
com seus territórios. Manifesta em uma finalidade social e política própria que 
determina contradições e modos específicos de relacionamento com o poder 
hegemônico. 
5. O lugar: corresponde à escala local, do espaço vivido das atividades da vida 
cotidiana, do uso do espaço – da família, da casa, do trabalho, do consumo, do 
lazer. A escala local é submetida às determinações de todas as demais e nela são 
mais visíveis as práticas estratégicas dos diferentes atores e mais materiais dos 
conflitos. Aí também os movimentos de resistência popular têm origem. 
A escala geográfica como princípio de organização é um princípio 
integrador, focalizando os vários processos em curso de forma integrada, 
bem como a forma como se manifestam em diferentes ordens de 
grandeza (BECKER, 2012).
NOTA
Embora se pode dizer que as escalas geográficas, apresentadas por Becker, tem 
um princípio de organização da investigação política, apreendida como arenas políticas 
que são articuladas e dinâmicas, vão permitir “quebrar compartimentações fossilizadas 
do espaço” (BECKER, 2012, p. 212):E não se trata apenas do Estado e da região. Trata-se também, por 
exemplo, da visão obsoleta do Terceiro Mundo. Projetos nacionais 
distintos alteraram a divisão internacional do trabalho, tais como os 
da URSS e da China, através da via socialista, e do Japão, que tende 
hoje a uma economia dominante no cenário internacional. Os países 
“semiperiféricos” ou “de industrialização recente”, como Brasil, México, 
Coreia, Cingapura, não são mais meros exportadores de produtos 
primários e importadores de bens manufaturados dos países centrais, 
representando uma alteração na divisão internacional do trabalho e 
o fim de um “Terceiro Mundo” calcado na pretensa homogeneidade 
de países periféricos. É claro que a pobreza não foi eliminada nesses 
países, mas há que se reconhecer que a dissolução do “Terceiro 
Mundo” é em grande parte decorrente de metas nacionais que têm 
o Estado como ator, e a manutenção desse conceito, hoje, serve a 
interesses ideológicos perversos. 
71
No caso brasileiro, no que se refere aos ideais geopolíticos dentro do Estado-
nação, pode-se dizer que o tema integração nacional, sempre esteve em primeira 
discussão, bem como um projeto político: as formas de ocupação do território (mudança 
da Capital Federal), proteção das fronteiras terrestres, comunicações viárias, e a divisão 
territorial (MIYAMOTO, 2002). Nesse sentindo, todo o processo de integração regional 
passa a ser dirigido pelo Estado. 
Você sabe o que é integração regional? Vamos entender o conceito por meio das 
elucidações sistematizadas por Santos (2017): 
INTEGRAÇÃO REGIONAL E REGIONALISMO
Diversas são as definições de Integração Regional e Regionalismo, com muitos teóricos 
apontando uma interpretação específica para o significado de cada um dos termos. 
Por exemplo, o cientista político Karl Deutsch define integração como a obtenção, em 
determinado território, de um sentido de comunidade e de instituições de práticas fortes, 
suficientemente difundidas para assegurar as expectativas de mudança pacífica para 
as populações envolvidas (BATTISTELLA, 2014). Por sua vez, Ernst Haas, considera que 
integração é uma tendência de criação voluntária de unidades políticas amplas, evitando 
conscientemente o recurso à força em suas relações com outras unidades que participem 
do processo (BATTISTELLA, 2014).
O autor Bela Balassa (1961), ao tratar sobre Integração Econômica Regional, estabelece 
cinco etapas. A primeira delas seria a Zona de Livre Comércio, os países participantes 
desta etapa eliminam as barreiras tarifárias e não-tarifárias de forma a favorecer a 
circulação de bens entre eles. A segunda etapa é a da União Aduaneira, cujos países 
adotam uma Tarifa Externa Comum (TEC). A terceira etapa é a do Mercado Comum, em 
que se estabelecem a livre circulação de pessoas, serviços e capitais e trabalho. A quarta 
etapa é a da União Econômica, esta estabelece a harmonização das legislações nacionais 
que tenham relação com as áreas integradas previamente. 
A quinta e última etapa é a da Integração Econômica Total, em que as políticas dos países 
integrados são comumente discutidas e adotadas de forma integral.
Haas pontua que a integração não deve ser vista como uma condição, mas como um 
processo. Faz parte do processo a interação entre diferentes grupos para além de suas 
fronteiras nacionais, de forma a resolver problemas comuns (HAAS, 2004). Desta forma, 
Haas define a integração política como a mudança de lealdades e das expectativas 
políticas de grupos em direção a um novo centro decisório, como órgãos supranacionais. 
Já o autor Andrew Moravcsik (1998) não foca na importância dos órgãos supranacionais, 
mas, sim, dos Estados. Nesta visão, os Estados são os atores centrais do processo de 
negociação e o processo avança através de negociações intergovernamentais, mais do 
que através de uma autoridade central que, caso exista, apenas toma e reforça decisões 
políticas já discutidas nas reuniões intergovernamentais (MORAVCSIK, 1998).
DICAS
72
Hurrel (1995) auxilia a ter uma visão mais especificada do termo regionalismo, que 
pode ser entendido como a intensidade da coesão social, econômica, política ou 
organizacional entre as unidades. Ele pontua cinco categorias que ao serem vistas 
em conjunto, ajudam no entendimento do que é regionalismo. A primeira é a ideia de 
Regionalização, caracterizando o aumento de circulação de pessoas e criações de canais 
de rede e comunicação, não necessariamente conduzidos de forma institucionalizada; a 
segunda categoria é a de Consciência e Identidades Regionais, com ênfase no discurso do 
regionalismo e nos processos políticos que procuram definir identidades em comum nas 
regiões; a terceira é a Cooperação Regional entre Estados, tanto formal como informal, 
que procuram responder aos desafios em comum dos países da região; A quarta é a 
Integração Econômica Regional Promovida pelo Estado, nesta existem decisões políticas 
de governo com o intuito de promover o comércio entre os atores, muitas vezes, 
eliminando barreiras comerciais; por fim, a quinta categoria é a de Coesão Regional, 
consolidando a formação de uma unidade regional coesa que acumula de maneira 
aprofundada as categorias anteriores (HURRELL, 1995).
Logo, tanto a ideia de integração regional quanto a de regionalismo não devem ser 
entendidas de forma estanque. Dependendo de cada caso a ser estudado e analisado, a 
integração regional pode ter um viés mais econômico, sendo válidas as etapas propostas por 
Bela Balassa como ponto de partida. Da mesma maneira, dependendo do caso analisado, as 
definições de Deutsch, Haas, Moravcsik, entre outros, podem ser de fundamental relevância. 
Há também casos em que a definição de regionalismo e suas etapas, propostas por 
Hurrel, são extremamente válidas. Desta forma, de acordo com Mariano (2015), os 
processos de integração regional, bem como os casos de regionalismo, podem se 
originar por diversas motivações, logo, cada iniciativa tem seus motivos e impulsos. 
Nesse sentido, a integração regional é também uma cooperação entre países, 
mas que pode gerar mudanças e transformações institucionais entre ele, e, 
portanto, é mais ampla que uma mera cooperação regional (MARIANO, 2015).
FONTE: Disponível em: <http://observatorio.repri.org/artigos/glossary/integracao-
-regional-e-regionalismo/>. Acesso em: 23 out. 2019.
Para ilustrar o conceito de integração regional, vamos examinar alguns aspectos 
relacionados ao processo de integração regional da Amazônia, que a partir do ano de 
1980 vai ser expressa a nova geopolítica das corporações transnacionais, configurando-
se como uma nova fronteira para o século XXI. Com relações do Estado com empresas 
públicas e privadas, para apropriação do espaço, iniciada e marcada pelo Programa 
Grande Carajás: constituído pela implantação de grandes projetos de exploração mineral 
(BECKER, 2012). 
O papel do estado se amplia, para ser compatível com a nova escala 
de mobilização de recursos prevista: a) institucionaliza uma nova 
esfera de poder em 1980 (o Conselho Interministerial do PGC, junto à 
SEPLAN), diretamente vinculada ao novo governo central; b) cria um 
novo território (90 milhões de ha) superposto a parte dos territórios 
do Pará, Goiás e Maranhão; c) implanta a infraestrutura básica para a 
produção do espaço transnacional: o sistema viário logístico global e 
um novo tipo de rede, a hidrelétrica, que produz o insumo básico para 
a produção da alumina e do alumínio (BECKER, 2012, p. 141). 
73
E ao longo do tempo inicia um projeto de modernidade no Brasil, com efeitos de 
homogeneização tecnológica da sociedade e do espaço nacionais, com planos e projetos 
governamentais que aceleram a modernização econômica, espacial e do Estado. Com isso, 
vemos a consolidação de uma industrialização orientada para as necessidades nacionais, 
permitindo a entrada de novos atores, formando a tecnoburocracia, e a classe médias nas 
cidades, intensificando o processo de urbanização e metropolização brasileira. 
Novosatores sociais entram em cena, alterando o conteúdo da 
sociedade nacional – forma-se a tecnoburocracia e a classe média 
nas cidades, subsidia-se a formação de empresários rurais e, em 
menor escala, de produtores capitalizados médios e pequenos; um 
verdadeiro substratum de população móvel é formado a através de 
políticas explícitas e implícitas, para atender à imposição de uma nova 
ordem espacial, que estimula a formação de polos de investimento 
na escala nacional, unificando-se o mercado de trabalho nacional à 
custa da desterritorialização de pequenos produtores rurais, de seu 
fracionamento social e forte impacto na cultura regional. Expande-se 
a fronteira e intensifica-se sobremaneira o processo de urbanização e 
metropolização. Todo o crescimento, contudo, se fez sem distribuição 
da renda e deixando pelo menos um terço da população brasileira à 
margem dos benefícios por ele trazidos (BECKER, 2012, p. 142). 
O termo tecnoburocracia, refere-se à ideia de um modelo de 
governabilidade funcional, que busca soluções mais eficientes possíveis 
do ponto de vista técnico, responsáveis pelo Estado e pela população.
NOTA
E a modernização do Estado se impõe em uma malha sociopolítica viva, que 
passa por uma transformação constante. Neste espaço de modernização vemos a 
tendência de um projeto privado para o território, sendo assim, um dos efeitos desde 
projeto geopolítico da modernidade, implantando de forma autoritária, e constando com 
o crescimento do Estado e não da nação. Becker (2012, p. 143), salienta que se forma um 
Estado moderno, mas “com a repressão à centralização da decisão e da informação, à 
exclusão de grande parcela da população da modernidade imposta, às formas violentas 
de reapropriação do espaço e que resultam na crise do projeto e do próprio Estado”. 
A consolidação do Geopolítico do Brasil demonstra que “a Geopolítica é uma 
expressão e um instrumento das relações de poder atuantes na produção do complexo 
espaço global contemporâneo e que seu resgate é um instrumento que amplia a leitura 
e a compreensão desse processo” (BECKER, 2012, p. 144). Portanto, vemos que a relação 
de poder econômico, político, ideológico com o espaço, ocorre de forma imperativa 
estratégica, variando no tempo e espaço. 
74
No espaço, em decorrência das especificidades da organização 
social em várias escalas; no caso dos Estados, desenvolvem eles 
geopolíticas nacionais que correspondem a vias específicas para a 
modernidade, como o Brasil que seguiu uma via autoritária em que 
cresceu o Estado, mas não a Nação, em que o país assumiu feições 
de país central, mas sem perder as de país periférico, como a URSS, 
que hoje caminha para a Perestroika etc. (BECKER, 2012, p. 144).
Como vemos, o Estado é histórico a organização da sociedade, mas no decorrer 
do espaço e tempo, se transforma criando novas formas e contextos, coerentes a novas 
estratégias. Para Becker (2012), em vários de seus estudos, entende o Estado como uma 
grande empresa, ampliando sua visão para os movimentos de privatização e estatização, 
e que inclui o Estado como ator fundamental participante. 
Hoje, essa visão, a partir do Brasil, se amplia: sua fragmentação está 
associada a um movimento de “privatização/estatização” que parece 
muito amplo e complexo, na medida em que incluem o próprio Estado 
como ator participante. É certo que as grandes empresas privadas 
com autonomia crescente assumem funções governamentais, 
tal como exposto em nosso conceito de gestão, configurando-
se como verdadeiros Estados dentro do Estado. Mas, num sentido 
inverso, embora o Estado-Nação deixe de ser a unidade econômica 
da realidade histórica, o Estado recompõe sua intervenção como 
ator econômico internacional, competindo com o setor privado, 
segundo uma estratégia que concentra esforços no setor industrial, 
particularmente o bélico (BECKER, 2012, p. 145). 
Neste conjunto complexo de configuração, surge o próprio Estado que se 
privatiza, como verdadeira corporação formada no seio do Estado, se torna o Estado 
Corporado, respondendo a não mais o aparelho do Estado e a sociedade, mas a grandes 
empresas estatais, que tem autonomia e lógica empresarial, como exemplo PETROBRAS, 
EMBRAER, CVRD, ELETROBRAS (BECKER, 2012). Dessa forma, é nítido o processo da 
gestão privada dos espaços nacionais.
 
No entanto, deve ser lembrado que todo esse processo, representa interesses 
minoritários, passando bem longe dos reais interesses da sociedade brasileira em sua 
totalidade. Contando com a mídia massiva que legitima as práticas do Estado e da elite 
nacional, que é a verdadeira beneficiária de todo o projeto, desde a modernização ao 
o Estado corporado. E com todas essas contradições, inicia um novo conflito e novas 
tensões entre todos os atores sociais, econômicos, políticos e culturais, cada um 
defendendo suas práticas políticas com articulações convencionais e logicas próprias, 
em níveis espaciais que configuram o complexo Estado contemporâneo. 
No território, de um ponto de vista social, que os atores e agentes procuram 
um movimento de outra ordem, com a lógica mais profundamente na resistência e no 
contrapoder, exigindo contraespaços/tempo (BECKER, 2012). Nesta escala local, como 
exemplo, trazemos a defesa do território pela demarcação da Terra Indígena, que é uma 
luta grande contra os grandes proprietários de terra. 
75
A demarcação da Terra Indígena tem objetivo de garantir o direito indígena 
à terra, estabelecendo a real extensão da posse indígena, assegurando a 
proteção dos limites demarcados e impedindo a ocupação por terceiros. 
Para complementar seus estudos, assista ao vídeo disponível no link a seguir, 
que discorre sobre Terras indígenas: por que tanta resistência? 
FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=UFmxlbttdEw.
INTERESSANTE
FIGURA 23 – ENTREVISTA SOBRE INVASÕES EM TERRAS INDÍGENAS 
FONTE: <https://www.conversaafiada.com.br/brasil/relatorio-contabiliza-160-invasoes-a-terras-indigenas-
-em-2019/Indios.jpg/@@images/d5b71be0-f4a5-491d-b43a-7e840a8a753e.jpeg>. Acesso em: 2 out. 
2019. 
76
Entrevista sobre invasões em terras indígenas
Em entrevista à TV Afiada, Sonia Guajajara falou sobre o aumento dos ataques 
contra as terras indígenas desde a eleição de Jair Bolsonaro. Principalmente, sobre 
os crimes ambientais e as invasões de grileiros e garimpeiros.
Segundo a ativista – uma das mais importantes lideranças indígenas do 
Brasil atualmente – as declarações do presidente Jair Bolsonaro a respeito do meio 
ambiente e dos povos indígenas – como os recentes ataques ao cacique Raoni ou 
as críticas sem fundamento às demarcações de reservas – servem como um incentivo 
aos ataques e garantia de impunidade. Essa posição é compartilhada, também, por 
outros grupos dedicados à defesa dos direitos das populações originárias.
O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), grupo ligado à Conferência 
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançou, na terça-feira (24/09), em Brasília, a 
nova edição do relatório "Violência contra os Povos Indígenas do Brasil".
Entre 2017 e 2018, o número de ataques a áreas indígenas cresceu de 96 para 
109. Entretanto, com a explosão da quantidade de registros desse tipo de ocorrência 
neste ano, o CIMI decidiu divulgar também dados preliminares: até setembro de 2019, 
o estudo contabilizou 160 casos de invasão em 153 terras indígenas de 19 estados.
Segundo o CIMI, as invasões agora seguem um novo padrão: os criminosos 
estabelecem bases dentro das próprias terras indígenas para demarcar lotes 
irregulares, derrubada ilegal de madeiras nobres ou abertura de pastagens e garimpos.
"Esses números mostram as consequências do discurso do presidente. Há um 
grande avanço das ocupações, as queimadas são um retrato disso", disse o presidente 
do CIMI, D. Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, em entrevista à Piauí.
Na última terça-feira, o presidente Bolsonaro voltou a atacar os  direitos 
da população indígena  e a defesa do meio ambiente: segundo o Jair Messias,  "o 
interessena Amazônia não é no índio, nem na porra da árvore, é no minério"...
FONTE: <https://www.conversaafiada.com.br/brasil/relatorio-contabiliza-160-invasoes-a-terras-indige-
nas-em-2019>. Acesso: 2 out. 2019.
77
Vídeo sugerido para debate: Ao Sul da Fronteira
Sinopse: O diretor Oliver Stone viaja por seis países da América do Sul 
e Cuba, em uma tentativa de compreender o fenômeno que levou esses 
países a terem governos de esquerda na primeira década do século XXI. Em 
conversas com Hugo Chávez (Venezuela), Cristina Kirchner (Argentina), Evo 
Morales (Bolívia), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Fernando Lugo (Paraguai), 
Rafael Correa (Equador) e Raul Castro (Cuba), é analisado o modo como a 
mídia acompanha cada governo e a maneira como esses governos lidam com 
os Estados Unidos e órgãos mundiais como o FMI.
Orientações de utilização para objetivo do conteúdo: o documentário pode 
esclarecer e elucidar alguns dos mitos criados pela mídia, desmascarando 
as mentiras noticiadas frequentemente, trazendo uma mensagem de 
esperança para o surgimento de sociedades mais justas e equânimes. Pode 
servir, ainda, como discussão do tema da Integração Latina Americana, que 
está atualmente embasada no fortalecimento do MERCOSUL, da UNASUL 
(União das Nações da América do Sul) como foi tratado no texto.
DICAS
78
GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA BRASILEIRA NO SÉCULO XXI 
BRAZILIAN POLITICAL GEOGRAPHY AND GEOPOLITICAL IN THE 21ST CENTURY
Gutemberg de Vilhena Silva et Hervé Théry
Refletir sobre o pensamento geopolítico brasileiro em termos históricos nos faz recor-
dar os estudos pioneiros de Everaldo Backheuser (1926; 1933; 1952), Mário Travassos (1935) e 
vários outros autores que edificaram tal pensamento no Brasil em consonância e de maneira 
adaptada com as grandes teorias geopolíticas. Inclusive, este país foi um dos pioneiros a pro-
duzir estudos geopolíticos strictu sensu no mundo (Miyamoto, 1981). De maneira imediata, e 
em certa medida objetiva e pragmática, avaliar o sobre o pensamento geopolítico brasileiro 
nos reporta aos escritos dos generais da época da ditadura militar deste país (1964-1985), em 
especial aos estudos de Golbery do Couto e Silva (1957; 1967; 1981) e de Carlos de Meira Mattos 
(1975; 1977; 1980). Sem negar o uso histórico e factual muito ideológico feito com a palavra ge-
opolítica e o peso que ela carregou durante muito tempo no mundo e no Brasil, devemos, no 
entanto, pôr os episódios que a relegaram a um estreito sentido de conhecimento produzido 
para a guerra e para o determinismo social e geográfico. Hoje, por exemplo, a geopolítica bra-
sileira se “civilizou” (no sentido etimológico do termo), ao passar de um “conhecimento” emi-
nentemente militar aos civis, como se vê, por exemplo, nos congressos CONGEO (Congressos 
de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território), nas reuniões da ABED (Associação 
brasileira de estudos de defesa), em dossiês organizados no Brasil e revelou-se produtora de 
uma série de textos em múltiplos caminhos, tendências e escalas.
A Geografia Política por seu turno ganhou destaque nos estudos geográficos bra-
sileiros com os trabalhos produzidos por Bertha Becker nos anos 1970 em diante, mesmo 
que a autora tenha transitado também com bastante intensidade em escritos geopolíticos. 
Na última década do século passado autores como Lia Machado (2005; 2010; 2011), Iná de 
Castro (2005) e Wanderley Costa (1991; 1992; 1995) também tomaram a dianteira e elabora-
ram vários estudos científicos de destaque na produção nacional. Neste século XXI, a relação 
entre espaço e política, alicerce da Geografia Política, e a interface entre espaço e poder, pilar 
da Geopolítica, têm sido repensadas na produção intelectual brasileira. No presente trabalho, 
nosso intuito é reunir textos que representem uma amostra da produção de pesquisadores 
brasileiros, tomando por eixos norteadores a Geografia Política e a Geopolítica. No entanto, 
nos pareceu necessário situar primeiro as pesquisas nestes dois campos na evolução da 
pesquisa brasileira nos últimos vinte anos, ou seja, na transição do antigo para o novo século.
FONTE: Gutemberg  de  Vilhena  Silva  et Hervé  Théry. Geografia Política e Geopolítica Brasileira no século 
XXI, L’Espace Politique  [En ligne], 31  | 2017-1, mis en ligne le 04 avril 2017. Disponível em: URL: http://
journals.openedition.org/espacepolitique/4116. Acesso em 23 out. 2019.
LEITURA
COMPLEMENTAR
79
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A geopolítica científica brasileira surgiu nos anos 30 do século XX, com vistas a 
fortalecer o Estado Nacional.
• A expansão territorial brasileira inicia com a ampliação dos limites do território.
• O Brasil passa por um projeto geopolítico de modernidade. 
• O exercício do poder sobre o território é responsabilidade partilhada da União (poder 
central), dos Estados (unidades da federação) e dos Municípios (poder local), uma 
estrutura federativa. 
• O Estado brasileiro é um líder que tem a função de paymaster, consideramos que 
Brasil vai desempenhar a liderança como potência regional. 
• O tema integração nacional, no caso brasileiro, sempre esteve em primeira discussão, 
bem como um projeto político: as formas de ocupação do território (mudança 
da Capital Federal), proteção das fronteiras terrestres, comunicações viárias, e a 
divisão territorial. 
• A Amazônia se configura como uma nova fronteira par o século XXI, iniciada e 
marcada pelo Programa Grande Carajás. 
• O Estado é histórico a organização da sociedade, mas no decorrer do espaço e tempo, 
se transforma criando novas formas e contextos, coerentes a novas estratégias.
• O Estado se transforma, existem no território os atores e agentes que surgem com 
o movimento de contrapoder e contraespaços.
80
1 (SANTOS, 2017) Nessa conjuntura, a relação geopolítica do Brasil com os países da 
América do Sul aponta que não prevalece mais o quadro de concorrências entre os 
Estados Nacionais. Com a redemocratização e a decisão pela integração regional, 
constituíram se novas bases para as estratégicas dos Estados-Nacionais. Os impactos 
gerados nos sistemas de negociações acarretavam atritos nas relações de vizinhança. 
Atribui-se uma natureza civil aos procedimentos de elaboração das políticas de 
defesa nacional cujas finalidades fundamentam-se no direito internacional. Nesse 
sentido, a geopolítica do Brasil acoplou-se à da América do Sul. 
FONTE: <https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/5448/1/JULIANA_SOUTO_SANTOS.pdf>. Acesso em: 18 out. 2019. 
Com relação ao exposto no texto, assinale a opção INCORRETA:
a) ( ) A relação Geopolítica do Brasil com a América do Sul aponta que não prevalece 
mais as concorrências entre os Estados Nacionais.
b) ( ) Neste fragmento há a afirmação de que a nova Geopolítica brasileira congregou 
a sua relevância no contexto regional. 
c) ( ) Inicia a negociação entre as entidades nacionais, como o Mercado Comum do Sul 
(MERCOSUL) e a União das Nações Sul-Americanas (UNASUL).
d) ( ) Ao ingressar no século XXI, ocorreram debates sobre a brasilidade nos círculos 
geográficos, haja vista a consolidação do Estado-Nacional.
2 O pacto federativo fundador do Estado republicano brasileiro permitiu, nas décadas 
iniciais de sua implantação. Com relação às situações contraditórias, assinale a 
alternativa CORRETA: 
a) ( ) A convivência com a descentralização, que apenas em curtos períodos da 
história, como aquele entre a implantação da República e a Revolução de 1930, 
foi mais brando.
b) ( ) Longos períodos de poder econômico, político e social. 
c) ( ) O mandonismo local, que recentemente vem tendo o seu poder reduzido.
3 O Brasil se destaca como potência regional, EXCETO: 
a) ( ) A população brasileira é a maior da região, correspondendo a quase 50% da 
população sul-americana. 
b) ( ) Abundância em recursos naturais, como florestas, recursos hídricos, petróleo, 
gás natural e minerais, terras férteis para a agricultura e enormebiodiversidade.
AUTOATIVIDADE
81
c) ( ) Faz fronteira com todos os países sul-americanos, com exceção do Chile e do 
Equador. 
d) ( ) Brasil possui uma localização geográfica privilegiada, com acesso ao Pacífico e o 
seu litoral se estende por mais de 7.000 quilômetros. 
e) ( ) Indicadores econômicos expressivos. O PIB brasileiro é o maior da região. 
4 Estabeleça as diferenças dos conceitos: territorialidade e gestão do território. 
82
83
GEOGRAFIA POLÍTICA NO 
MUNDO CONTEMPORÂNEO
UNIDADE 2 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• conhecer as transformações e a evolução do fenômeno globalização, suas origens, 
limites e variadas abordagens;
• compreender as relações do Estado e o território, processo em que o papel do 
Estado aparece enquanto regulador;
• reconhecer que o território é habitado por distintas ações e objetos, ele é configurado 
por um conjunto de agentes que modificam e modelam seu espaço;
• identificar os elementos constitutivos do Estado, bem como suas transformações 
frente à nova geopolítica mundial e quais seus discursos e práticas; 
• estudar e compreender a constituição da Biopolítica e do Biopoder, frente às 
discussões de seu pensador Michel Foucault.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará 
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
TÓPICO 2 – A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A CONSTRUÇÃO DE NOVOS 
DISCURSOS E SUAS PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
TÓPICO 3 – A CONSTITUIÇÃO DA BIOPOLÍTICA E DO BIOPODER
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
84
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 2!
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QR Code abaixo:
85
TÓPICO 1 — 
GEOGRAFIA POLÍTICA E GLOBALIZAÇÃO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Na atualidade, a globalização se tornou um grande tema de discussão dentro 
da Geografia Política, pois é um fenômeno que transformou e altera nosso espaço 
geográfico até aos dias de hoje. Nesta unidade, apresentaremos uma breve discussão 
sobre a globalização e sua consequência frente à nova ordem mundial dos Estados, 
com suas fronteiras e a segregação do território. 
Esta disciplina envolve teorias da geografia política e da globalização, as origens, 
os limites, o Estado, as fronteiras e a segregação do território. Esperamos que você, 
acadêmico, tenha uma noção da complexidade envolvida no conceito de globalização 
e, ainda, tenha noção dos prós e contras desse processo para o desenvolvimento das 
nações. Por fim, esperamos que você saiba compreender as transformações existentes 
no território e na formação do Estado. 
2 TEORIAS DA GEOGRAFIA POLÍTICA E DA GLOBALIZAÇÃO
"O espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo senão como metáfora. 
Todos os lugares são mundiais, mas não há um espaço mundial. Quem se globaliza 
mesmo são as pessoas" (SANTOS, 1993, p. 16).
Iniciaremos este tópico com uma breve discussão sobre o tema globalização, 
lembrando que o assunto foi muito discutido pelo geógrafo Milton Santos. Entre 
esses estudos desenvolvidos com as mais várias abordagens e temáticas, destacam-
se: os aspectos econômicos, como o papel das empresas na internacionalização do 
capital, desenvolvendo críticas e teorias do mundo contemporâneo. 
Neste contexto, a globalização é um processo que possibilita a formação de 
uma tendência de relações culturais, econômicas, políticas e sociais, aprofundadas 
através das técnicas de informação, ciência e comunicação entre os atores políticos 
globais e entre toda a sociedade. Segundo Bezerra (2019), está caracterizada como: 
• Integração social, econômica e política.
• União de mercado mundial (relações comerciais e financeiras).
86
• Fortalecimento das relações internacionais.
• Aumento da produção e do consumo de bens e serviços.
• Avanço tecnológico e dos meios de comunicação.
• Instantaneidade e velocidade das informações (por exemplo, via internet).
• Aumento da concorrência econômica e do nível de competição.
• Surgimento dos blocos econômicos e desaparição das fronteiras comerciais.
• Ampliação do uso de máquinas na execução de tarefas.
• Crescimento da economia informal.
• Valorização de mão de obra qualificada.
• Privatização de empresas estatais.
A globalização tem sua origem por um longo processo de evolução da tecnologia 
e de seu uso, com formas espaciais específicas. A sua propagação ocorreu através da 
imprensa financeira internacional, na década de 1980. Assim, sinônimo de aplicações 
financeiras e de investimentos, Ribeiro (2002, p. 1) corrobora para o fato: 
A difusão do termo globalização ocorreu por meio da imprensa 
financeira internacional, em meados da década de 1980. Depois 
disso, muitos intelectuais dedicaram-se ao tema, associando-a à 
difusão de novas tecnologias na área de comunicação, como satélites 
artificiais, redes de fibra ótica que interligam pessoas por meio de 
computadores, entre outras, que permitiram acelerar a circulação 
de informações e de fluxos financeiros. Globalização passou a 
ser sinônimo de aplicações financeiras e de investimentos pelo 
mundo afora. Além disso, ela foi definida como um sistema cultural 
que homogeneíza, que afirma o mesmo a partir da introdução de 
identidades culturais diversas que se sobrepõem aos indivíduos. Por 
fim, houve quem afirmasse estarmos diante de um cidadão global, 
definido apenas como o que está inserido no universo do consumo, o 
que destoa completamente da ideia de cidadania. 
Apresenta-se, então, a globalização baseada na política, segundo as categorias 
tempo e espaço, como um sistema mundo, como um paradigma para a ação, refletindo 
nos Estados-Nação, exigindo um protecionismo, para alguns teóricos, a globalização 
requer protecionismo estatal, enquanto outros, privilegiam práticas comerciais com 
menor intervenção do Estado, que em tese se contradiz com a demanda "livre e global" 
apregoada pelos liberais de plantão, evidenciando a perversidade e os conflitos existentes 
na globalização (RIBEIRO, 2002). 
O conceito de paradigma entende-se como: teorias, normas, metodologias, 
regras, técnicas e, sobretudo, consenso sobre algo.
NOTA
87
A globalização é discutida, segundo as categorias tempo/espaço, no 
âmbito do sistema-mundo, na pós-modernidade e à luz dos conceitos 
de nação, mercado mundial e lugar. Tornado paradigma para a ação, a 
globalização reflete nos Estados-nação. Porém, ao olhar para o lugar, 
para onde as pessoas vivem seu cotidiano, identifica-se o lado per-
verso e excludente da globalização, em especial quando os lugares 
ficam nas áreas pobres do mundo. Ao reafirmar o mesmo, a globaliza-
ção econômica não consegue impedir que aflorem os outros, resul-
tando em conflitos que muitos tentam dissimular como competitivi-
dade entre os Estados-nação e/ou corporações internacionais, sejam 
financeiras ou voltadas à produção. A globalização é fragmentação ao 
expressar no lugar os particularismos étnicos, nacionais, religiosos e os 
excluídos dos processos econômicos com objetivo de acumulação de 
riqueza ou de fomentar o conflito (RIBEIRO, 2002, p. 2). 
Estado-nação: é uma porção do espaço geográfico com características 
políticas, administrativas e econômicas particulares, e do ponto de vista da 
Geografia Política, o Estado está caracterizado pelo seu território.
NOTA
Como podemos definir o processo de globalização? Quais são as suas 
consequências para o Estado, para a geografia política e o território na atualidade?
De acordo com Ribeiro (2002), o processo de globalização está vinculado 
nas transformações e na predominância da competição desenfreada por mercados e 
tecnologias com a busca incessante por recursos naturais e a intensa exploração do 
trabalhador, mesmo diante da diminuição de postos de trabalho. 
Pode-se perceber na obra de Milton Santos, uma busca ao pensamento crítico 
a esse processoda vida contemporânea. Poderíamos pensar em: 
• Globalizar o conhecimento e seu uso.
• Definir a inserção dos lugares em uma rede de relações humanas de modo a valorizar 
a singularidade em meio à totalidade.
• Viver um mundo mais solidário (RIBEIRO, 2002).
Essas possibilidades de pensar, representar e propor relações humanas 
caminham na contramão da história. Santos, em várias passagens de seus livros e artigos 
ele afirmou pretender construir um mundo diferente daquele em que vivemos. Todas as 
obras de Milton Santos contribuíram para entender o fenômeno da globalização. Em 
um dos seus livros ele chegou a propor outra globalização, baseada na solidariedade, 
embora reconhecesse que ela afetou a cultura atual. Propondo, ao final de sua vida, 
88
uma globalização solidária, baseada em outros valores que a da hegemônica. Estas 
ideias são tratadas em um diálogo com autores que também estudaram a globalização 
e suas consequências (RIBEIRO, 2002). 
Com isso, apresentamos três formas de análise do autor, tratada em sua 
dimensão cultural, econômica e por fim, solidária, promovendo um diálogo com outros 
autores que trataram do tema.
FIGURA 1 – TRÊS FORMAS DE ANÁLISE SOBRE GLOBALIZAÇÃO
FONTE: (RIBEIRO, 2002, p. 2)
Na globalização e cultura, Milton Santos entende que a globalização parte da 
dimensão que "cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão 
local, convivendo dialeticamente" (SANTOS, 1996, p. 273). Portanto, “a importância de 
estudar os lugares reside na possibilidade de captar seus elementos centrais, suas virtudes 
locacionais de modo a compreender suas possibilidades de interação com as ações 
solidárias hierárquicas” (RIBEIRO, 2002, p. 2). 
Santos entende que "o homem vai impondo à natureza suas próprias formas, 
a que podemos chamar de formas ou objetos culturais, artificiais, históricos" (SANTOS, 
1988, p. 89). 
89
O processo de culturalização da natureza torna-se, cada vez mais, 
o processo de sua tecnificação. As técnicas, mais e mais, vão 
incorporando-se à natureza e esta fica cada vez mais socializada, 
pois é, a cada dia mais, o resultado do trabalho de um maior número 
de pessoas. Partindo de trabalhos individualizados de grupos, hoje 
todos os indivíduos trabalham conjuntamente, ainda que disso não 
se apercebam. No processo de desenvolvimento humano, não há 
uma separação do homem e da natureza. A natureza se socializa e o 
homem se naturaliza (SANTOS, 1988, p. 89).
A tecnificação a que Santos se refere, permite um meio-técnico-científico 
internacional "no qual a construção ou reconstrução do espaço se dará com um conteúdo 
de ciência e de técnica" (SANTOS, 1991, p. 11), formando uma paisagem estética, como 
entende e exemplifica Ribeiro (2002, p. 3): 
Um tecido urbano que contém valores culturais transpassados 
pela afirmação do mesmo, que oprimem o singular, sintetizados, 
por exemplo, em formas urbanas reproduzidas a partir de modelos 
de arquitetura oriundos de países hegemônicos, uma das críticas 
às cidades contemporâneas, como aponta o geógrafo espanhol 
Horacio Capel (2001). Isso é facilmente observável na paisagem 
de São Paulo, uma megacidade brasileira localizada em plena faixa 
tropical, na qual identificam-se milhares de prédios envidraçados, 
tal qual preconiza a arquitetura de países temperados. Ora, os 
ambientes produzidos por tal concepção resultam extremamente 
quentes, gerando a necessidade do uso de aparelhos para resfriar 
o ar, aumentando o consumo energético. Seria muito mais simples 
edificar prédios segundo a boa arquitetura colonial brasileira, com 
seus tetos elevados e amplas janelas que permitem desde a entrada 
de luz natural, abundante nos trópicos, quanto a circulação do ar, 
refrescando o ambiente. Mas o esteticismo a que se refere Jameson 
prevalece e a paisagem paulistana aquece quem vive nela. 
 
Na globalização econômica, Santos (1994) analisa e se interessa no fluxo que o 
sistema de objetos se permite fluir e como se conduz na forma de espaço geográfico. O 
espaço geográfico é uma funcionalização da globalização, sendo construído de acordo 
com as demandas de quem o idealiza, para permitir fluir suas necessidades. Entende 
que o espaço geográfico é um "conjunto indissociável de sistemas de objetos naturais 
ou fabricados e de sistemas de ações, deliberadas ou não" (SANTOS, 1994, p. 49). Assim, 
o espaço geográfico viabiliza a globalização, dado que ele materializa três de seus 
pressupostos: 
• A unicidade técnica: compreendida como a capacidade de instalar qualquer 
instrumento técnico produtivo em qualquer parte do mundo.
• A convergência dos momentos: é possibilitada pela unificação técnica, pela 
capacidade de comunicação em tempo real.
• A unicidade do motor: é a direção centralizada, exemplificada pela direção do mun-
do econômico e das finanças pelos executivos que atendem aos interesses dos donos 
das empresas transnacionais e do sistema financeiro internacional (SANTOS, 1994)
90
Santos enfatiza que existe um "mercado hierarquizado e articulado pelas firmas 
hegemônicas, nacionais e estrangeiras que comandam o território com apoio do Estado" 
(SANTOS, 1991, p. 13). Contudo, Ribeiro (2002) compreende que Santos reconhece uma 
subordinação aos imperativos externos: 
Os recursos totais do mundo ou de um país, quer seja o capital, 
a população, a força de trabalho, o excedente etc., dividem-se 
pelo movimento da totalidade, através da divisão do trabalho e na 
forma de eventos [...]. Cada momento histórico [...] acarreta uma 
diferenciação no interior do espaço total e confere a cada região ou 
lugar sua especificidade e definição particular. Sua significação é 
dada pela totalidade de recursos (SANTOS, 1996, p. 131).
Deste modo, Ribeiro (2002, p. 5) aponta que “conhecer os recursos e 
potencialidades de um estado-nação passam a ser vitais para a inserção no cenário da 
globalização relacionada à esfera do capital". 
O capitalismo se defronta com sua própria criatura, ou seja, quanto 
mais se mundializa valor, mais necessários se tornam os mecanismos 
nacionais e, mesmo, regionais, em alguns casos. A atual centralização 
descentralizada do Globo tem algo a ver com isso. De uma parte, a 
centralização dá origem ao seu contrário: os movimentos separatistas 
e regionalistas. De outra, obriga a formação de grandes alianças 
territoriais, ampliando espacialmente os mercados (SILVA, 1993, p. 77).
Neste tipo de ordem, as relações sociais contemporâneas apontadas por Ribeiro 
(2002) e Silva (1993) produzem arranjos, como os blocos de alguns países: a União 
Europeia, o Mercosul, o Nafta, entre outros, que buscam ampliar o território apenas para 
a circulação de mercadorias, restringindo o fluxo de pessoas ao limite do desejável. 
Portanto, Santos (1996, p. 271) nos alerta que: 
Não existe um espaço global, mas, apenas, espaços da globalização. 
O Mundo, porém, é apenas um conjunto de possibilidades, cuja 
efetivação depende das oportunidades oferecidas pelos lugares. Mas 
o território termina por ser a grande mediação entre o Mundo e a 
sociedade nacional e local, já que, em sua funcionalização, o ‘Mundo’ 
necessita da mediação dos lugares, segundo as virtualidades destes 
para usos específicos. Num dado momento, o ‘Mundo’ escolhe alguns 
lugares e rejeita outros e, nesse movimento, modifica o conjunto dos 
lugares, o espaço como um todo. É o lugar que oferece ao movimento 
do mundo a possibilidade de sua realização mais eficaz. Para se tornar 
espaço, o Mundo depende das virtualidades do Lugar. 
91
Você se recorda qual é o significado da palavra virtualidade?
 
O termo virtualidade significa algo que existe em potência e não em ato, 
resgatando a sua terminologia da escolástica medieval, o termo virtual 
vem de virtus, que significa força, potência. Indicamos, para a leitura mais 
aprofundada do tema, o artigo intitulado “Os sentidos do termo virtual em 
Pierre Lévy”, do autor Galvão (2017). 
FONTE: GALVÃO. C. L. Os sentidos do termo virtual em Pierre Lévy. Revista Filosofiada informação, Rio de Janeiro, v. 3 n. 1, p. 108-120, fev. 2017.
NOTA
Quando Milton Santos aponta a globalização solidária, ele estava preocupado 
em construir um caminho metodológico capaz de congregar pessoas em escala 
internacional, conduzidas pela solidariedade, em prol da cidadania, tornando os 
consumidores cidadãos (RIBEIRO, 2002). 
Quem seria, então, o cidadão para Milton Santos? "O cidadão é 
multidimensional. Cada dimensão se articula com as demais na 
procura de um sentido para a vida. Isso é o que dele faz o indivíduo 
em busca do futuro, a partir de uma concepção de mundo" (SANTOS, 
1987, p. 41-42). Poder projetar o futuro, vislumbrar perspectivas dignas 
da existência, poder expressar sua maneira de entender o mundo, por 
meio de crenças, manifestações culturais e práticas sociopolíticas, 
com qualidade de vida, isto é, habitando um ambiente agradável e 
sustentável, provido de água, calor e energia na medida adequada, 
com assistência médica e alimento de qualidade são características 
que sintetizariam o cidadão do mundo contemporâneo, em meu 
entendimento. Neste sentido, não há cidadão no mundo entre os 
que apregoam os valores da sociedade ocidental, ocaso e criação da 
cidadania (RIBEIRO, 2002, p. 6). 
Sobre o movimento das relações humanas, Milton Santos idealizava construir 
bases na solidariedade, revisando a globalização, com mais humanidade:
 
Essa é a proposta do geógrafo baiano: alterar o uso da base técnica 
criada para a circulação de capital para veicular valores humanos, 
para permitir uma efetiva integração de laços culturais distintos que 
permitam a construção do "acontecer solidário", como definiu. Enfim, 
Milton Santos queria um mundo diferente. Sua visão otimista do 
futuro é expressa no trecho: "Não cabe, todavia, perder a esperança, 
porque os progressos técnicos [...] bastariam para produzir muito 
mais alimentos do que a população atual necessita e, aplicados à 
medicina, reduziriam drasticamente as doenças e a mortalidade. 
Um mundo solidário produzirá muitos empregos, ampliando um 
intercâmbio pacífico entre os povos e eliminando a belicosidade 
do processo competitivo, que todos os dias reduz a mão de obra. É 
possível pensar na realização de um mundo de bem-estar, onde os 
homens serão mais felizes, um outro tipo de globalização (SANTOS, 
2002, p. 80 apud RIBEIRO, 2002, p. 6).
92
Por fim, compreende as rugosidades, como as marcas do tempo através do 
trabalho que instituem uma base material difícil de ser rompida. Indicando, por meio, de 
uma visão geográfica que a mudança poderia vir da política: 
As mudanças não virão "dos Estados Unidos ou da Europa. Virá dos 
pobres, dos ‘primitivos’ e ‘atrasados’, como nós, do Terceiro Mundo, 
somos considerados. Estas não poder vir das classes obesas. Estas 
não podem ver muito. São os pobres os detentores do futuro. O 
problema de todas as épocas é saber como vai se dar a ruptura. E 
as rupturas se deram antes que todos soubessem como elas iam se 
dar..." (SANTOS, 2000a. p. 66).
Abordamos a visão do geógrafo professor Dr. Milton Santos, mas entendem-
se que vários autores iram debater e compreender a globalização, mas 
com o olhar geográfico neste processo, Milton Santos foi e tem a grande 
contribuição para o entendimento deste fenômeno chamado globalização, 
por meio de várias obras dedicadas a esse tema, bem como “O mundo 
como fábula, como perversidade e como possibilidade”.
 
Vivemos em um mundo confuso e confusamente percebido. 
Haveria nisto um paradoxo pedindo uma explicação? De um lado, é 
abusivamente mencionado o extraordinário progresso das ciências e das 
técnicas, das quais um dos frutos são os novos materiais artificiais que 
autorizam a precisão e a intencionalidade. De outro lado, há, também, 
referência obrigatória à aceleração contemporânea e todas as vertigens 
que cria, a começar pela própria velocidade. Todos esses, porém, são 
dados de um mundo físico fabricado pelo homem, cuja utilização, aliás, 
permite que o mundo se torne esse mundo confuso e confusamente 
percebido. De fato, se desejamos escapar à crença de que esse mundo 
assim apresentado é verdadeiro, e não queremos admitir a permanência 
de sua percepção enganosa, devemos considerar a existência de pelo 
menos três mundos num só. O primeiro seria o mundo tal como nos 
fazem vê-lo: a globalização como fábula; o segundo seria o mundo tal 
como ele é: a globalização como perversidade; e o terceiro, o mundo 
como ele pode ser: uma outra globalização.
FONTE: SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único 
à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 17-18.
IMPORTANTE
93
3 ORIGENS, LIMITES E NOVAS ABORDAGENS
FIGURA 2 – QUEDA DO MURO DE BERLIN
FONTE: <http://entendendoaguerrafria.blogspot.com/p/charges.html>. Acesso em: 23 out. 2019.
A Charge da Figura 2 menciona o processo de globalização e faz referência a 
um momento que para alguns autores é entendido como o ponto de ruptura entre a 
nova e a velha ordem mundial: a queda do muro de Berlim. A queda da estrutura física 
simbolizou, na história, o fim de tudo aquilo que impedia o avanço sem fronteiras do 
capitalismo: a queda do socialismo. 
 
As grandes navegações europeias do século XVI e o imperialismo das 
grandes potências capitalistas dos séculos XIX e XX romperam essa 
situação e começaram a criar um mercado e uma sociedade globais. 
O termo globalização se refere, porém, a enorme aceleração desse 
processo nos últimos anos, quando a queda do bloco comunista 
abriu a última fronteira fechada ao capitalismo e a tecnologia de 
transportes e comunicações se desenvolveu a ponto de permitir o 
acesso instantâneo a todo o mundo (BERTONHA, 2006, p. 40). 
E do ponto de vista geográfico, a intensificação da comunicação e circulação de 
mercadorias e pessoas foi fundamental para o funcionamento das relações entre os luga-
res, condicionando uma noção de progressiva redução do planisfério, conforme Figura 3. 
94
FIGURA 3 – COMPRESSÃO ESPAÇO E TEMPO
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/as-caracteristicas-da-globalizacao/compressao-espaco-tempo/>. 
Acesso em: 4 out. 2019.
1500-1840 A melhor média de velocidade 
das carruagens e dos barcos a vela 
era de 16 km/h.
1850-1930 As locomotivas a vapor 
alcançavam em média 100km/
hora, os barcos a vapor, 57km/h.
Anos 1950 Aviões e propulsão: 480-640 km/h.
Anos 1960 Jatos de passageiros: 800-11000 
km/h.
O que se apresenta na Figura 3 é a evolução dos meios de circulação, 
intensificando a circulação de mercadorias e pessoas, e com isso vai reduzindo 
as distâncias, realizando uma mudança na esfera política, econômica, social e na 
percepção de mundo. Surgindo várias teorias para o fenômeno de globalização, como 
nos apresenta Ianni (2007, p. 15-16): 
Há metáforas, bem como expressões descritivas e interpretativas 
fundamentadas, que circulam combinadamente pela bibliografia so-
bre a globalização: “economia-mundo”, “sistema-mundo”, “shopping 
Center global”, “Disneylândia global”, “nova visão internacional do tra-
balho”, “moeda global”, “cidade global”, “capitalismo global”, “mundo 
sem fronteiras”, “tecnocosmo”, “planeta terra”, ‘’desterritorialização”, 
“miniaturização”, “hegemonia global”, “fim da geografia”, “fim da histó-
ria” e outras mais. Em parte, cada uma dessas e outras formulações 
abrem problemas específicos também relevantes. Suscitam ângulos 
diversos de análise, priorizando aspectos sociais, econômicos, po-
líticos, geográficos, históricos, geopolíticos, demográficos, culturais, 
religiosos, linguísticos etc.
95
Para entender e analisar o fenômeno da globalização, partiremos de algumas 
reflexões e apontamentos elaborados por Campos e Canavezes (2007) acerca de 
fatos, contextos e circunstâncias associados à globalização. Vamos aqui apresentar 
os exemplos elencados pelos autores dos diversos fatos, contextos e circunstâncias 
associados à globalização: 
a) da deslocalização de uma fábrica;
b) de grandes marcas de produtos desportivos, de cadeias alimentares etc.;
c) dautilização da internet;
d) dos produtos em um supermercado;
e) do funcionamento dos mercados (de trabalho, de capitais, de bens e serviços);
f) de problemas ambientais;
g) da competitividade das empresas;
h) das migrações internacionais;
i) do comércio internacional.
Notamos que a noção de globalização surge de vários domínios da vida e tem ex-
presso em todas as grandes línguas do mundo, portanto, a noção de globalização nem 
sempre é clara, existindo em sentidos e usos muito diversos (CAMPOS; CANAVEZES, 2007). 
É, pois, importante clarificar a noção de Globalização. Um bom ponto 
de partida é nos atentarmos em diferentes discursos, aproximações 
e definições de globalização – oriundas não só do mundo acadêmico, 
mas também de organizações internacionais como a OIT e do 
mundo sindical. Deste modo, não fechamos a nossa visão sobre o 
fenômeno e podemos enriquecer a nossa noção com visões que, 
sendo diferentes, não são exclusivas, nem são necessariamente 
contraditórias entre si, podendo mesmo ser complementares e, 
sobretudo, convocam a debate diferentes dimensões e perspectivas 
sobre a Globalização (CAMPOS E CANAVEZES, 2007, p. 9). 
Os autores Campos e Canavezes (2007) consideram sete definições e formas de 
se definir a globalização, por meio do caráter multidimensional do processo; pela dimensão 
econômica da globalização e, em certos casos, associam o processo de globalização ao 
sistema econômico capitalista e à ideologia neoliberal; pelas dimensões políticas ou culturais 
que são particularmente sublinhadas; sublinham que se trata de um processo conduzido 
pelos homens; e por fim à globalização enquanto motor de um processo civilizacional, 
deixando implícita a sua naturalidade e inevitabilidade. E com esses pensamentos, os autores 
sublinham alguns aspectos comuns, por meio de seus entendimentos da globalização: 
• Trata-se de um processo à escala mundial, ou seja, transversal ao conjunto dos 
Estados-Nação que compõem o mundo. 
• Uma dimensão essencial da globalização é a crescente interligação e interdependência 
entre Estados, organizações e indivíduos do mundo inteiro, não só na esfera das 
relações econômicas, mas também em nível da interação social e política. Ou seja, 
acontecimentos, decisões e atividades em determinada região do mundo têm 
significado e consequências em regiões muito distintas do globo.
96
• Uma característica da globalização é a desterritorialização, ou seja, as relações 
entre os homens e entre instituições, sejam elas de natureza econômica, política ou 
cultural, tendem a desvincular-se das contingências do espaço.
• Os desenvolvimentos tecnológicos que facilitam a comunicação entre pessoas 
e entre instituições e que facilitam a circulação de pessoas, bens e serviços, 
constituem um importante centro nevrálgico da globalização. 
Para trabalhar com os diversos enfoques que a globalização reflete, estará no 
modo em que se pensa e define globalização, pois estamos em frente de um fenômeno 
complexo e abrangente, e, assim, estará este pensamento associado aos princípios, 
valores e visões de mundo (CAMPOS E CANAVEZES, 2007, p. 11): 
O entendimento que se faz da globalização e dos seus impactos tem 
fortes implicações sobre as leituras possíveis do mundo contemporâ-
neo, assim como sobre o papel dos homens e mulheres na sua constru-
ção e as suas possibilidades de atuação e de luta. Algumas perspectivas 
sobre a Globalização tendem a negar a possibilidade de intervir e gover-
nar o processo. A Globalização surge como uma entidade sagrada, do 
domínio estritamente econômico, que existe de um modo independen-
te da atuação dos homens e mulheres e que deve ser aceite porque é 
inevitável. Nesta perspectiva a esfera política tende a ser secundarizada 
tanto nas suas responsabilidades pelo atual curso do processo de Glo-
balização, como nas possibilidades de o regular ou alterar.
Portanto, Campos e Canavezes (2007) vão entender e sublinhar que nem todas 
as dimensões e consequências do processo de globalização estão dadas de uma vez 
por todas. A globalização é um processo em curso, dinâmico e mutável, e esclarecem 
suas concepções sobre ela: 
• A globalização tem uma história que se insere na trajetória do capitalismo e da 
economia de mercado.
• A globalização não é um fenómeno puramente econômico e tecnológico, é um 
processo complexo e multidimensional (envolvendo diferentes atores e tocando 
diversos âmbitos da vida dos homens e mulheres contemporâneos).
• A globalização não evolui de forma imparcial e os seus impactos podem e devem 
ser discutidos.
• Há um importante espaço para a atuação dos Estados-Nação, bem como para a 
intervenção individual e organizada das pessoas, com destaque para a atuação sindical. 
Partindo dessas abordagens desse grande tema de estudo, Costa (2010, p. 315) obser-
va uma “multiplicidade de abordagens em Geografia Política e fora dela que reflete essa com-
plexidade atual e aponta tendências e perspectivas bastante diversificadas”. Apoiando essa 
complexidade dos temas e problemas em Geografia Política, Castro (2005, p. 81) elenca que: 
 
O paradigma mais amplamente aceito por algumas correntes da 
Geografia política contemporânea, em que se examina a Globalização 
e seu impacto sobre localidades, encontra-se na teoria de sistemas-
mundo de Immanuel Wallerstein, com forte influência na elaboração 
da chamada “Nova Geografia Política”.
97
Por consequência, vemos a globalização como uma matéria histórica, econômica, 
política e geográfica, sendo vista como complexa e articulada entre as múltiplas escalas 
de “ocorrência dos fenômenos políticos, nem sempre sincrônicos, e o modo como 
cada um reflete em escalas territoriais diferenciadas” (CASTRO, 2005, p. 83). A partir 
das contribuições da autora, que considera os fenômenos políticos podem ser além de 
globais, nacionais, regionais ou locais, é necessário a Geografia política incorporar os 
fenômenos políticos, identificando os modos como eles se territorializam e recortam 
espaços significativos das relações sociais, dos seus interesses, solidariedades, conflitos, 
controle, dominação e poder (CASTRO, 2005). Portanto, vemos como é complexa, ampla 
e necessária a agenda dos debates nesta subárea do conhecimento.
4 ESTADO, FRONTEIRAS E SEGREGAÇÃO DO TERRITÓRIO
[...] um dos principais papéis do Estado é mediar conflitos de 
interesses entre agentes-atores que expressam seu poder no 
território. Esse papel é exercido induzindo ações e agindo por meio de 
políticas públicas que contêm propostas voltadas para intervir sobre 
determinadas questões que constituem problemas da sociedade 
(STEINBERGER, 2013, p. 89).
Entretanto, as formas de poder são colocadas em pratica a partir de necessidades 
da população, onde essa necessidade é imposta muitas vezes pelo próprio Estado. 
Milton Santos (1982) evidência que o espaço reproduz a totalidade social na medida em 
que essas transformações são determinadas por necessidades sociais, econômicas e 
políticas. Silva (2009, p. 2) nos relata “tudo que está entrelaçado com temas do Estado 
ou a ele relacionados dá-se o nome de política”.
O Estado é definido como o soberano, aquele que está com o poder, uma 
organização social que detém o poder político. Bobbio (1986, p. 94) denomina que o 
Estado tem sido definido através de três elementos constitutivos “o povo, o território e a 
soberania”. Assim, o povo torna-se limite de validade pessoal do direito do Estado, onde 
este exerce seu poder. O poder político ao longo do tempo vai se identificando com o 
exercício da força, que para deter algo ou efeito desejado, tem direito de utilizar a força 
e se tornar o soberano do território. “Estado é o povo estabelecido territorialmente, que 
mantém sua soberania” (SILVA; BASSI, 2012, p. 23). 
Para os autores analisados, o Estado e a política têm em comum o fenômeno 
poder, Bobbio (1986) afirma que o “Estado” e a “política” têm em comum (e é inclusive a 
razão da sua intercambialidade) é a referência ao fenômeno do poder. 
Silva (2009,p. 2) nos relata que: 
98
O Estado e a política têm em comum a referência ao poder. Não 
há teoria política que não parta, direta ou indiretamente, de uma 
definição de poder e de uma análise do fenômeno do poder. Assim, 
é no poder político, a princípio aquele que tem exclusividade do 
uso da força, mas não necessariamente a física, que se estabelece 
mais eficazmente essa relação. Além de concebido como órgão de 
produção jurídica, o Estado é uma forma de organização social e não 
se dissocia da sociedade e das relações sociais subjacentes.
Considera-se que o poder está em foco das relações do Estado com a 
política, onde o poder é representado por individualidades associadas pelo Estado, 
que é soberano. Considerando a possibilidade de que o poder esteja localizado em 
uma instituição ou em uma pessoa. Portanto, o Estado e a política são associados e 
interligados, constantemente criando relações, onde quem tem mais poder estabelece 
sua vontade. 
Em seu significado mais geral, poder é a capacidade ou a possibilidade de agir, 
de produzir efeitos em indivíduos e grupos humanos como objetos ou a fenômenos 
naturais. Contudo, se verticalizarmos para o homem em sociedade, o poder torna-se 
mais preciso, e tende-se a capacidade geral de agir, até a capacidade do homem em 
determinar o comportamento de outro homem. O poder de um homem consiste nos 
meios de alcançar alguma aparente vantagem, onde vemos o poder como algo que se 
possui. Onde, na sociedade, vemos o poder como forma de uma pessoa ou grupo tem 
ou exerce sobre outra pessoa ou grupo, sendo esta relação entre homens, relações de 
poder (BOBBIO, 2000).
Bobbio (1986, p. 77) afirma que na filosofia política o poder foi apresentado 
sob três aspectos, à base dos quais se podem distinguir as três teorias 
fundamentais do poder: “a substancialista, subjetivista e a relacional”. 
Segundo o autor, na primeira teoria temos o poder usado como convém, se 
possui e se usa, como outro bem qualquer. A segunda não se fundamenta 
em alcançar o objetivo, mas sim na capacidade do sujeito em obter certos 
efeitos, como o soberano tem o poder de fazer leis e, fazendo as leis, de influir 
sobre a conduta de seus súditos. A terceira teoria advém de relações entre 
sujeitos, onde um obtém um comportamento do outro pela sua influência.
NOTA
Com as teorias de poder vemos que o Estado tem muita força e exerce sua 
vontade política, temos um exemplo evidenciado por Castro (2005), que nem as empresas 
transnacionais e nem as instituições supranacionais dispõem de força normativa para 
impor, sozinhas, dentro de cada território, sua vontade político-econômica. O Estado 
que regula o mundo financeiro, econômico, social e político, construindo infraestruturas, 
atribuindo assim, as políticas públicas escolhidas à condição de sua viabilidade.
99
Deve ser enfatizado que o Estado assume papel de gestor e articulador de 
políticas públicas por meio de instâncias políticos-administrativas (VITTE, 2003). 
Para a autora, nas cidades ocorrem várias ações e estratégias de desenvolvimento 
implementadas por vários agentes e, em especial, o Estado. 
O Estado é o que desencadeia a discussão sobre o seu desenvolvimento e quais 
as políticas que o fomentam sendo a instituição central do capitalismo moderno: 
O Estado é um ponto chave do debate atual sobre o desenvolvimento 
e as políticas que se voltam para estimulá-lo. A base territorial 
constitui uma condição vital de sua existência. E lhe cabe um papel 
importante nos arranjos político-institucionais que organizam a vida 
moderna e os projetos de desenvolvimento. Sua função de mediador 
dos conflitos e construtor de consensos possíveis justifica, em grande 
medida, seu enorme sucesso com instituição central do capitalismo 
moderno. (STEINBERGER, 2013, p. 17)
Gottdiener (1997) nos apresenta as que as investigações da relação entre Estado 
e o Espaço preservaram o mesmo enfoque sobre a importância da intervenção. De outra 
perspectiva, Pereira (2013) dispõe que o Estado surge na sociedade e se afasta dela 
com a finalidade de intervir no conflito de classes. Essa intervenção não se dá com o 
intuito de arbitrar as diferenças entre as classes, mas sim de evitar que elas se destruam 
no conflito. Exemplificando o conceito de Engels (1980) que define o Estado capitalista 
como “um produto da sociedade numa certa fase do seu desenvolvimento”.
O debate pode ser empreendido por meio da expansão nos padrões de consumo, 
sendo assim, uma maior dificuldade para se estabelecer as necessidades da sociedade, 
e de acordo com Rodrigues (2014, p. 154), “gestão, eficiência, transparência, flexibilidade 
e governança passaram a ser termos de uso corrente para se explicitar as expectativas 
em relação ao Estado”. Trata-se de uma reformulação da concepção clássica do Estado: 
A rigidez e inoperância da burocracia precisavam ser substituídas 
por meios racionais para o alcance de objetivos precisos. A eficácia 
do mercado na prestação de serviços foi valorizada, notadamente por 
aqueles partidários da perspectiva neoliberal de Estado mínimo. Sendo 
assim, a concepção clássica do Estado como exclusivo prestador de 
bens públicos foi sendo progressivamente substituída pelo formato do 
Estado como um aparato regulador que deveria estimular as iniciativas 
da sociedade civil e dos indivíduos (RODRIGUES 2014, p. 154).
100
Você sabe como é realizada a gestão, eficiência, transparência, flexibilidade e governança 
dentro do seu município? 
Para atender a necessidades da população e executar políticas públicas, União, estados e 
municípios utilizam diversas formas de gerenciamento do seu território, e uma das formas 
é a captação de recursos junto ao governo federal. Confira o link a seguir, que é um 
vídeo sobre as transferências de recursos do governo federal. 
Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=rGqukhYYjyg&pbjreload=10.
Vale lembrar e entender o pacto federativo também, que tem sua base na 
Constituição Federal nos artigos 145 a 162. Que define que a União, os 
Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes 
tributos: impostos, taxas, contribuição de melhoria. 
Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=cgpT7fk6Pgg.
DICAS
Para Rodrigues (2014, p. 155) em face de esclarecimentos, o Estado deve 
assegurar a sociedade o acesso aos bens e serviços públicos essenciais: 
Em outras palavras, é ao Estado que cabe assegurar aos indivíduos 
acesso aos bens e serviços públicos essenciais para que o exercício 
dos seus direitos civis, sociais e políticos seja possível, ainda que a 
isonomia, ou melhor dizendo, a ausência dela, persista como desafio 
social, político e intelectual. Em suma, as políticas públicas, a despeito 
das mudanças nos modos de regulação, devem estar por princípio 
orientadas para a garantia de acesso a bens, serviços públicos e 
justiça social a todos os habitantes do território, indistintamente.
A isonomia é a igualdade material. Assegura às pessoas oportunidades 
iguais, considerando suas condições diferentes, ou seja, princípio geral do 
direito segundo o qual todos são iguais perante a lei; não devendo ser feita 
nenhuma distinção entre pessoas que se encontrem na mesma situação.
IMPORTANTE
101
Ferreira (2009) relata que o papel do Estado aparece enquanto regulador e, em 
muitos casos, facilitador das relações econômicas internacionais. Esse papel se estende 
aos níveis Federal, Estadual e Municipal, seguindo essa lógica aqui apresentada, vemos 
o Estado como grande regulador de todo esse processo espacial. 
O processo de intervenção sobre o território que acontece por meio dos 
diversos atores sociais – poder público, empresas, sociedade, se constitui da constante 
utilização do termo Ordenamento do território. Nessa acepção, é relevante levar em 
conta a interpretação do conceito de Ordenamento do Território estabelecido pela Carta 
Europeia de Ordenação do Território: 
O Ordenamento Territorial é a tradução espacial das políticas econô-
mica, social, culturale ecológica da sociedade. [...] O ordenamento do 
território deve ter em consideração a existência de múltiplos poderes 
de decisão, individuais e institucionais que influenciam a organização 
do espaço, o caráter aleatório de todo o estudo prospectivo, os cons-
trangimentos do mercado, as particularidades dos sistemas adminis-
trativos, a diversidade das condições socioeconômicas e ambientais. 
Deve, no entanto, procurar conciliar estes fatores da forma mais har-
moniosa possível (CONSELHO DA EUROPA, 1988, p. 9-10).
A Constituição Brasileira de 1988 colocou o ordenamento territorial como 
um instrumento de planejamento, elemento de organização e de ampliação 
da racionalidade espacial das ações do Estado, em seu artigo 21, inciso IX, 
que “compete à União elaborar e executar planos nacionais e regionais de 
ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social”.
INTERESSANTE
O ordenamento do território em seu termo varia muito de uma área do conhe-
cimento a outra, não apenas porque ele consiste em uma intervenção sobre e dentro 
do espaço. O espaço da intervenção é dotado de propriedades particulares, que con-
cernem ao conjunto dos especialistas interessados no ordenamento (FISCHER, 2008).
102
Sobre o debate acerca do ordenamento do território, indicamos que assista ao vídeo: 
“Cidades: ação e reflexão”, entrevista da pesquisadora Raquel Ronik, professora titular da 
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. A autora construiu uma singular trajetória de 
pesquisa e intervenção na questão urbana, passando por movimentos sociais, instituições 
governamentais e organismos internacionais, além da docência e da produção científica. 
O vídeo tem cerca de 22 minutos e se encontra disponível no link: <https://www.youtube.
com/watch?v=CJGw3f91LEc>. Acessado em: 4 jan. 2020.
Outro material que pode acrescentar na temática sobre ordenamento do 
território é o blog da pesquisadora Raquel Ronik, onde se encontram vários 
trabalhos, artigos e reportagens sobre as cidades e seus problemas. 
FONTE: <https://raquelrolnik.wordpress.com/>. Acesso em: 4 jan. 2010.
DICAS
Logo, no que concerne à concepção de território, aponta-se que esta 
categoria é apreendida como um espaço definido por e a partir de relações de poder, 
que têm origem nas apropriações e usos dos substratos físicos espaciais, mas que se 
materializam nas relações sociais presentes nessa espacialidade, desde sua gênese a 
sua gestão (SOUZA, 1995).
Quando se fala de planejamento e gestão, necessariamente se fala de um 
território, onde o objeto e a finalidade do planejamento e gestão do território são o 
ordenamento do território, significando esta expressão a análise da distribuição dos 
locais destinados à habitação e a atividades produtivas e outras num dado espaço, bem 
como das formas de utilização pelos diversos agentes envolvidos (MAFRA; SILVA, 2004).
Fischer (2008) afirma que o ordenamento do território, por vezes, inicia com uma 
política objetivando a melhoria da acessibilidade do território em que se quer intervir, 
uma vez que o espaço só é atrativo na medida em que se torna acessível: 
O espaço de intervenção é, também, um espaço no qual se 
pode modificar o valor relativo, o lucro, a capacidade de atração, 
particularmente melhorando suas condições de acessibilidade; aí 
está uma das preocupações maiores do ordenamento (a importância 
das infraestruturas e dos equipamentos de transporte para tudo o 
que concerne às diferenciações e à segregação quantitativa dos 
espaços geográficos) (FISCHER, 2008, p. 109).
Para Fischer (2008, p. 79) o ordenamento supõe a “existência de um projeto 
social” que integra metas da sociedade ao todo, em que busca um “equilíbrio entre 
os imperativos econômicos e as necessidades sociais” e “o homem não atua somente 
103
no espaço, ele atua igualmente no tempo. A dimensão temporal é uma dimensão 
fundamental de toda política de ordenamento do território. Não se pode planejar se 
não se dispõe de tempo”. O ordenamento é, também, “uma combinação de ações 
setoriais que correspondem a tantos objetivos particulares, como: habitação, emprego, 
equipamentos coletivos, grandes infraestruturas, dentre outras” (FISCHER, 2008, p. 83)
Complementando o conceito de ordenamento do território, Moraes (2005, p. 
12) demonstra que o ordenamento do território “é uma questão política associada à 
mudança de natureza do Estado e do território, e da relação do Estado com seu território. 
É também, portanto, um desafio conceitual”. 
O conceito de território é amplo, para os geógrafos é de uns conceitos 
fundamentais, “onde há uma dimensão da realização da vida em sociedade que 
nomeamos de território [...] território é o fundamento do trabalho, o lugar da residência, 
das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida” (SANTOS, 2002, p. 10). 
Andrade (2004) destaca algumas considerações sobre o território, vinculando a 
questão do território à análise de espaço e tempo, a partir da superposição de estruturas 
de escalas diferentes. Atribuindo o território nas ciências naturais e sociais: 
Em ciências sociais, a expressão território vem sendo muito utilizada 
desde o século passado, por geógrafos, como Frederico Ratzel, 
preocupado com o papel desempenhado pelo Estado no controle do 
território, e por Elisée Reclus que procurava estabelecer as relações 
entre classes sociais e espaço ocupado e dominado. Os especialistas 
em Teoria do Estado costumam afirmar que o Estado se caracteriza 
por três elementos essenciais: o território, o povo e o governo, ao 
passo que a nação é caracterizada pela coexistência do território e 
do povo, mesmo inexistindo governo, e consequentemente, o Estado 
(ANDRADE, 2004, p.19)
Contudo, o conceito de território deve estar sempre ligado à ideia de poder, 
não deve ser confundido com o de espaço ou de lugar, estando muito ligado à ideia de 
domínio e de gestão de determinada área (ANDRADE, 2004). Raffestin (1993, p. 7-8) nos 
esclarece que o território poderia ser nada mais que: 
 
[...] o produto dos atores sociais. São esses atores que produzem 
o território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço. Há, 
portanto, um "processo" do território, quando se manifestam todas 
as espécies de relações de poder, que se traduzem por malhas, redes 
e centralidades cuja permanência é variável, mas que constituem 
invariáveis na qualidade de categorias obrigatórias. O território é 
também um produto "consumido", ou, se preferirmos, um produto 
vivenciado por aqueles mesmos personagens que, sem haverem 
participado de sua elaboração, o utilizam como meio. É então todo 
o problema da territorialidade que intervém permitindo verificar o 
caráter simétrico ou dissimétrico das relações de poder.
104
Conforme exposto acima, o território é o produto dos atores sociais e um produto 
consumido, um espaço urbano vivenciado, são eles que produzem o território, partindo 
da realidade inicial dada, que é o espaço. Evidenciando que o poder é conceito-chave 
para o estudo do território, agora compreendido não só como capacidade do Estado, 
mas também exercido por atores que emergem da população. O espaço geográfico atua 
como substrato, ou seja, pré-existente ao território, como podemos observar a seguir: 
É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O 
território se forma a partir do espaço, é resultado de uma ação condu-
zida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qual-
quer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente 
(por exemplo, pela representação), o ator "territorializa" o espaço. Le-
febvre mostra muito bem como é o mecanismo para passar do espaço 
ao território: "A produção de um espaço, o território nacional, espaço 
físico, balizado, modificado, transformado pelas redes, circuitos e flu-
xos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas de ferro, circuitos 
comerciais e bancários, autoestradas e rotas aéreas etc." O território, 
nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um trabalho, sejaenergia e informação, e que, por consequência, revela relações marca-
das pelo poder. O espaço é a "prisão original", o território é a prisão que 
os homens constroem para si (RAFFESTIN, 1993, p. 143).
Em vista disto, o território é onde as pessoas estão e onde as relações entre esses 
indivíduos ocorrem, se configurando e interagindo, contribuindo para o ordenamento do 
território, conforme Raffestin (1993, p. 150-151) nos esclarece: 
Os indivíduos ou os grupos ocupam pontos no espaço e se distribuem 
de acordo com modelos que podem ser aleatórios, regulares ou con-
centrados. São, em parte, respostas possíveis ao fator distância e ao 
seu complemento, a acessibilidade. Sendo que a distância pode ser 
apreendida em termos espaciais (distância física ou geográfica), tem-
porais, psicológicos ou econômicos. A distância se refere à interação 
entre os diferentes locais. Pode ser uma interação política, econômi-
ca, social e cultural que resulta de jogos de oferta e de procura, que 
provém dos indivíduos e/ou dos grupos. Isso conduz a sistemas de 
malhas, de nós e redes que se imprimem no espaço e que constituem, 
de algum modo, o território. Não somente se realiza uma diferencia-
ção funcional, mas ainda uma diferenciação comandada pelo princípio 
hierárquico, que contribui para ordenar o território segundo a impor-
tância dada pelos indivíduos e/ou grupos as suas diversas ações. 
O ordenamento do território é literalmente “a organização dos elementos de 
um conjunto de acordo com uma relação de ordem, isto é, da disposição (ou arranjo) 
conveniente dos meios – segundo certas relações – para se obterem os fins desejados” 
(MORAES, 2005, p. 16). Propõe-se, assim como conceito de ordenamento territorial a partir 
da regulação das tendências de distribuição das atividades produtivas e equipamentos 
no território nacional ou supranacional decorrente das ações de múltiplos atores, 
segundo uma visão estratégica e mediante articulação institucional e negociação, de 
modo a alcançar os objetivos desejados (MORAES, 2005). 
105
Em suma, considera-se que o conceito de ordenamento do território é a ideia 
de organizar a ocupação, uso e transformação do território com a finalidade de atender 
às demandas econômicas, sociais e ambientais, considerado como um modelo de 
governabilidade, como visto a seguir:
Parte-se do reconhecimento de que o ordenamento territorial 
é um conceito polissêmico. No entanto, na acepção proposta, 
contém implicitamente a ideia de organizar a ocupação, uso e 
transformação do território com o objetivo de satisfazer as demandas 
econômicas, sociais e ambientais. Implica tanto na incorporação 
da dimensão territorial no desenho das políticas públicas setoriais, 
quanto na elaboração de estratégias territoriais integradas para o 
desenvolvimento dos diferentes âmbitos espaciais ou escalas do 
país. O conceito de ordenamento territorial pressupõe, ainda, um 
modelo de governabilidade, que pode ser definido como as formas 
como se conjugam as ações do Estado com os outros dois âmbitos, 
o Mercado e a Sociedade Civil, para que exista uma capacidade 
de implementação e administração dos processos de decisão 
incorporados nas políticas territoriais. (MORAES, 2005, p. 18).
Moraes (2005, p. 18) ainda nos esclarece com uma visão histórica que o 
ordenamento do território é: 
[...] visto como um conjunto de arranjos formais, funcionais e 
estruturais que caracterizam o espaço apropriado por um grupo 
social ou uma nação, associados aos processos econômicos, sociais, 
políticos e ambientais que lhe deram origem. Sob uma ótica de 
gestão, o ordenamento territorial constitui-se de políticas públicas 
concertadas, ações que visam ao “equilíbrio” regional e organização 
física do espaço com o objetivo de criar uma racionalidade visando 
maior competitividade.
Tal perspectiva traz que o conceito não é claro e definido, mas em construção. 
Nessa linha, Galvão (2013) aponta como um aspecto importante o território, uma 
categoria de análise social, quando se presta atenção nele, torna explícitos os embates, 
as diferenças e as tensões que permeiam as relações sociais. Lembrando que existem 
vários e múltiplos atores:
Ele produz o curso da história, no qual indivíduos, classes e 
instituições, com engenho e arte, ocupam posições no cenário 
da disputa e procuram determinar o dia a dia e o desdobrar dos 
acontecimentos. Não é demais lembrar: múltiplos atores, variadas 
expectativas do uso do território (GALVÃO, 2013, p. 17). 
Compreendendo que a história dos espaços é efetivada das possibilidades que 
o mundo lhes oferece, ou seja, a efetivação de um conjunto de ações, que por sua 
vez se tornam materializadas no território. Deste modo, mesmo que o território seja 
habitado por distintas ações e objetos, ele é configurado por um conjunto de agentes 
que modificam e modelam seu espaço. Rodrigues (2014, p. 161) nos esclarece que a 
partir que:
106
O território se torna a referência para se pensar problemas e soluções 
locais, cabe à geografia contribuir para uma reflexão acerca dos usos 
e desdobramentos espaciais de processos políticos que ocorrem 
em recortes territoriais e escalas diferenciados, e que podem contar 
com a participação dos mais diversos atores – de representantes 
do Estado, passando por associações de moradores, sindicalistas, 
empresários e outros setores da sociedade civil organizada.
Podemos aqui exemplificar, por meio dessas ações e objetos, como o 
nacionalismo tem sido um sentimento marcante na história, em nome de um país ou 
de uma bandeira, exércitos se formam, pessoas se identificam ou obras grandiosas são 
erguidas. Toda essa estrutura pode ser denominada como Estado-nação. 
O Estado-nação é uma porção do espaço geográfico com particularidades 
políticas, administrativas e econômicas. Pensar sobre o olhar da Geografia Política o 
Estado está caracterizado pelo seu território. Como já mencionado no Tópico 1, vemos o 
território como condição de poder, de posse ou de domínio, estabelecendo determinadas 
regras e leis institucionais ou reconhecidas pela sociedade. 
O território, portanto, pode ser instituído nas mais variadas escalas, como 
veremos nos exemplos nas figuras a seguir: 
A) Um território nacional:
FIGURA 4 – TERRITÓRIO BRASILEIRO
FONTE: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/mapa-brasil.htm>. 
Acesso em: 27 fev. 2020. 
107
B) Uma tribo indígena:
FIGURA 5 – TERRAS INDÍGENAS
FONTE: <https://mirim.org/terras-indigenas>. Acesso em: 29 nov. 2019. 
C) Uma área controlada por um grupo de traficantes de drogas:
FIGURA 6 – TERRITÓRIO OCUPADO PARCIALMENTE PELAS FARC
FONTE: <https://onial.wordpress.com/2014/05/08/as-farc-e-o-governo-colombiano-meio-seculo-de-con-
flito/>. Acesso em: 29 nov. 2019.
108
D) Por um conjunto de países, como a União Europeia, anu, o FMI, a OMC etc.
FIGURA 7 – PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/uniao-europeia/>. Acesso em: 29 nov. 2019. 
A organização do Estado-nação se detém no controle sobre o território e 
seus conteúdos, sendo ele o fundador de organizações sociais políticas em todas as 
sociedades. A centralidade territorial do poder político só foi possível pela submissão 
e controle do território, destacando-se o principal meio utilizado: a racionalização do 
direito ou força militar profissional permanente (GUIBERNAU,1997). Não dependendo do 
tipo de organização política (estados liberais, democráticos, comunistas), toda forma de 
organização do Estado-Nação vai possuir um exército, um território, uma bandeira e o 
sentimento de pertencimento das pessoas que ali vivem.
109
Castro (2005, p. 124), identificam-se dois modelos básicos de Estado-nação:
a) O estado unitário e centralizado: melhor exemplo é a França, em que 
existe muita homogeneidade interna e coesão e a administração se exerce 
somente a partir da capital.
b) O estado federalista: o melhor exemplo são os Estados Unidos, que se 
funda na diversidade e têm sua origem na aliança ou pacto de coexistência,e a administração é diferenciada para cada estado membro.
Exemplo: O Estado-nação brasileiro é considerado um Estado centralizado 
aproximando-se do modelo francês como outros países latinos como a 
Argentina e o Uruguai. 
O Estado-nação norte-americano é menos difundido. O que ambos 
possuem em comum é a presença marcante do Estado nas diversas esferas 
de interesse da sociedade desde a política à econômica.
NOTA
Quando falamos de Estado-nação com o fenômeno globalização, transforma-se 
o termo independência em um sinônimo de dependência. Que será dependente de duas 
maneiras: na economia internacional que ele não pode normalmente tentar influenciar 
individual e especificamente, na proporção inversa de seu tamanho, as das grandes 
potências e conglomerados transnacionais. Assim, a independência de um país está 
indiretamente relacionada às suas condições de negociação, em especial no cenário 
internacional (MAGNOLI, 1997). 
Os elementos constitutivos da soberania do Estado, bem como, a sua moeda, 
a capacidade de estruturar, as formas de comunicação, a língua nacional, o sistema 
educativo, correspondendo ao território, terão o controle efetivo exercido pelo governo 
central (o Estado territorial) e delimitados pelas fronteiras. 
Assim, a divisão dos diferentes territórios, para vários autores é um fenômeno 
historicamente dado, com a forma espacial e política transformadas, aparecendo assim, 
variadas tipologias de fronteiras. No início, as demarcações de fronteiras eram realizadas 
por montanhas, os rios e os elementos físicos naturais correspondendo barreiras mais ou 
menos estanques e permeáveis. No entanto, com as transformações das relações entre 
os países, outros fenômenos e fatores passam a delimitar na demarcação dos territórios. 
Sobre o movimento das fronteiras, Silva (2008, p. 8) expõe que é “um perímetro 
instaurado por um poder cujo projeto político é de afirmar e distinguir-se das outras 
entidades territoriais”. Para o autor é uma fronteira política, pelo exposto, é um lugar 
privilegiado de afirmação e reconhecimento de poderes políticos. É o atributo de um 
110
poder que fixa limites, muitas vezes imposto. Na esteira da definição e o papel da 
fronteira política, encontram-se outras duas noções: zona de fronteira e faixa de 
fronteira (SILVA, 2008, p. 8): 
Zona de fronteira: é composta por 'faixas' territoriais de cada lado do limite 
internacional, sendo sua extensão geograficamente limitada a algumas dezenas de 
quilômetros a ambos os lados da linde. 
Faixa de fronteira: a faixa de fronteira trata-se de uma extensão maior em 
relação à anterior (zona de fronteira), mas seu papel é restrito a cada Estado-Nação, ou 
seja, o programa das ações conjuntas se define para ser aplicado às jurisdições políticas 
internas de cada país. São também denominadas de regiões de programação as quais 
abarcam em alguns países superfícies consideráveis. Na América do Sul, a região de 
programação mais extensa é a Brasileira com 150 km a partir do limite internacional. 
FIGURA 8 – FAIXA DE FRONTEIRA DO BRASIL
FONTE: Silva (2008, p. 8)
Conforme a Figura 8, conseguimos analisar que a faixa de fronteira brasileira 
tem 15.719 km, insere 588 municípios de 11 estados federados, total ou parcialmente, 
representando cerca de 27% do território nacional e com uma população de cerca de 10 
milhões de habitantes (SILVA, 2008). 
111
A Lei Ordinária nº 6.634, implementada pelo ex-presidente João Figueiredo 
em 1979, normativa a organização, competência e o funcionamento da faixa 
de fronteira brasileira.
IMPORTANTE
Contudo, verifica-se que esses territórios localizados em zona e faixa de fronteira 
possuem, principalmente, nessas últimas décadas, papel estratégico do ponto de vista 
econômico e da circulação, por estarem em áreas mais avançadas da soberania do con-
texto de cooperação e da integração regional. E com isso, são identificados vários proble-
mas e segregações dentro deste território, como exemplo: o fluxo de contrabando e dro-
gas, prostituição, garimpo ilegal, e muitos mais que vão incidir negativamente no território. 
Em junho de 2011, o governo federal, por meio do Decreto nº 7.496, instituiu 
o Plano Estratégico de Fronteiras, pelo qual buscava “o fortalecimento da 
prevenção, controle, fiscalização e repressão dos delitos transfronteiriços 
e dos delitos praticados na faixa de fronteira brasileira” (art. 1º). A diretriz 
que norteia o decreto claramente aponta para a necessidade de integração: 
“I – a atuação integrada dos órgãos de segurança pública e das Forças 
Armadas; e II – a integração com os países vizinhos” (incisos I e II do art. 2º).
IMPORTANTE
Neste tópico foi possível observar o que é o fenômeno da globalização e quais 
etapas e fases compõem essa estruturação no território. Assim, caro acadêmico, vamos 
juntos relembrar o que foi aprendido até o momento.
112
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A globalização é um processo que possibilita a formação de uma tendência de 
relações culturais, econômicas, políticas e sociais, aprofundadas através das 
técnicas de informação, ciência e comunicação entre os atores políticos globais e 
entre toda a sociedade.
• O processo de globalização está vinculado nas transformações e na predominância 
da competição desenfreada por mercados e tecnologias. 
• Milton Santos vai entender que a tecnificação permite um meio técnico-científico 
internacional.
• O espaço geográfico viabiliza a globalização, dado que ele materializa três de seus 
pressupostos: a unicidade técnica, a convergência dos momentos, a unicidade do 
motor. 
• Milton Santos foi e tem a grande contribuição para o entendimento deste fenômeno 
chamado globalização, por meio de várias obras dedicadas a esse tema, bem como 
O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade. 
• A queda do muro de Berlim foi o ponto de ruptura entre a nova e a velha ordem 
mundial. 
• Um dos principais papéis do Estado é mediar conflitos de interesses entre agentes-
atores que expressam seu poder no território.
• O Estado é definido como o soberano, aquele que está com o poder, uma organização 
social que detém o poder político.
• O conceito de território é amplo, para os geógrafos é de uns conceitos fundamentais, 
onde há uma dimensão da realização da vida em sociedade que nomeamos de 
território.
• O território, portanto, pode ser instituído nas mais variadas escalas.
• Toda forma de organização do Estado-Nação vai possuir um exército, um território, 
uma bandeira e o sentimento de pertencimento das pessoas que ali vivem.
• Na esteira da definição e o papel da fronteira política, encontram-se outras duas 
noções: zona de fronteira e faixa de fronteira.
113
1 Analise a afirmação: “A difusão do termo globalização ocorreu por meio da imprensa 
financeira internacional, em meados da década de 1980. Depois disso, muitos 
intelectuais dedicaram-se ao tema, associando-a à difusão de novas tecnologias na 
área de comunicação, como satélites artificiais, redes de fibra ótica que interligam 
pessoas por meio de computadores, entre outras, que permitiram acelerar a circulação 
de informações e de fluxos financeiros” (RIBEIRO, 2002, p. 1).
Com base no fragmento de texto, assinale a alternativa CORRETA sobre os estudos da 
globalização:
a) ( ) A globalização é estar diante de um cidadão global, definido apenas como o que 
está inserido no universo do consumo, o que nos leva a ideia de cidadania.
b) ( ) A globalização é um fenômeno que interliga as pessoas por meio de computadores. 
c) ( ) Foi definida como um sistema cultural que homogeneíza, que afirma o mesmo 
a partir da introdução de identidades culturais diversas que se sobrepõem aos 
indivíduos.
d) ( ) Globalização passou a ser sinônimo de aplicações financeiras e de investimentos 
pelo Estados Unidos e França. 
2 Estado-nação: é uma porção do espaço geográfico com características políticas, 
administrativas e econômicas particulares que, do pontode vista da Geografia 
Política, portanto o Estado está caracterizado: 
a) ( ) Em viver um mundo mais solidário.
b) ( ) Pelo seu território.
c) ( ) Por um mercado hierarquizado e articulado.
d) ( ) Pela comunicação e circulação de mercadorias.
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas. 
3 (Enem-2015) Um carro esportivo é financiado pelo Japão, projetado na Itália e 
montado em Indiana, México e França, usando os mais avançados componentes 
eletrônicos, que foram inventados em Nova Jérsei e fabricados na Coreia. A campanha 
publicitária é desenvolvida na Inglaterra, filmada no Canadá, a edição e as cópias, 
feitas em Nova York para serem veiculadas no mundo todo. Teias globais disfarçam-
se com o uniforme nacional que lhes for mais conveniente.
FONTE: REICH, R. O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo no século XXI. São Paulo: Edu-
cator, 1994 (adaptado).
AUTOATIVIDADE
114
A viabilidade do processo de produção ilustrado pelo texto pressupõe o uso de:
a) ( ) Linhas de montagem e formação de estoques.
b) ( ) Empresas burocráticas e mão de obra barata.
c) ( ) Controle estatal e infraestrutura consolidada.
d) ( ) Gestão centralizada e protecionismo econômico.
e) ( ) Organização em rede e tecnologia de informação. 
4 (UFPI) A organização dos países em blocos econômicos visa facilitar a economia 
dos países, estimulando as trocas e a produção. Sobre os principais blocos, suas 
características e finalidades, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) ALCA – constituída por países africanos, promove a valorização de seus produtos, 
possibilitando a concorrência com a economia asiática.
b) ( ) MERCOSUL – reúne todos os países da América Latina e visa ampliar as trocas 
comerciais e o fluxo de pessoas entre os seus membros.
c) ( ) CEI – reúne os países da Europa Ocidental que são liderados pela Inglaterra que, 
por sua vez, detém a hegemonia econômica desta parte de continente.
d) ( ) União Europeia – formada por todos os países da Europa, permite a livre circulação, 
no continente, de pessoas e mercadorias.
e) ( ) NAFTA – formado pelos países da América do Norte, eliminou as barreiras tarifárias 
entre os seus membros.
115
A NOVA GEOPOLÍTICA DAS NAÇÕES E A 
CONSTRUÇÃO DE NOVOS DISCURSOS E SUAS 
PRÁTICAS GEOPOLÍTICAS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, nós vamos discutir a evolução do sistema mundial e como dispõe o 
tema central de Estado até as discussões contemporâneas, nesta área de conhecimento, que 
investiga como as relações entre Estado e poder se materializam no território e suas implica-
ções. Retomamos o pensamento sobre as reflexões dos processos derivados da globalização, 
discutindo as formas estratégicas da Globalização Hegemônica e Contra-hegemônica. 
Para o acadêmico do curso de Geografia, acreditamos que quanto mais 
informações e conhecimento ele dispuser sobre uma determinada área, mais 
compreensão terá a respeito da importância do trabalho a ser desenvolvido com os 
alunos dos ensinos fundamental e médio. 
Assim, este tópico está organizado da seguinte maneira: o sistema mundial, 
hegemonias e contra hegemonias, em seguida o poder global dos Estados Unidos e 
os novos atores mundiais, e por fim uma nova conjuntura mundial?, a geopolítica das 
nações na atualidade do século XXI.
Ao final do tópico é esperado que você tenha compreendido noções sobre a 
Geografia Política, passando pelo conceito de globalização, além dos temas atuais que 
compreendem uma área ampla, complexa e necessária.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 
2 O SISTEMA MUNDIAL, HEGEMONIAS E CONTRA 
HEGEMONIAS
É importante que façamos agora uma reflexão sobre os processos derivados 
da globalização, bem como as alterações sociais, políticas, econômicas e geográficas 
mundiais, que passam por vários processos de transformação, e que alguns autores 
fazem a análise de dois processos e formas de globalização: a estratégia da globalização 
hegemônica e contra-hegemônica.
Boaventura de Sousa Santos (2001) traz um quadro teórico sobre os processos 
de globalização em hegemônicos e contra-hegemônicos, entendendo todo esse 
processo por meio dos conflitos dinâmicos de transição dos modelos de Estado, da 
economia, culturais e sociais, conforme Miranda E Merladet (2012). 
116
1- Os processos hegemônicos são orientados para a acumulação e apropriação 
capitalistas, e a sua hegemonia assenta-se na identificação dos interesses do bloco 
no poder com interesses gerais, ou seja, em um consenso que favorece os grupos 
dominantes. 
2- Os processos contra-hegemônicos agrupam os diversos movimentos locais, 
por vezes articulados globalmente, que lutam contra os efeitos perversos da 
globalização hegemônica e são orientados para a solidariedade e o bem comum. 
Apesar de distintos, esses processos são complexos e, por vezes, interpenetram-se 
e confundem-se, sendo necessário analisá-los de caso a caso.
Acerca dos processos hegemônicos, Miranda e Merladet (2012) nos revelam que 
este não é um processo novo, e que se inicia com a descoberta da América, no século 
XV, desenvolvendo o processo de integração das diferentes partes do mundo em um 
sistema de acumulação de capital. 
Desde aquela época, os diferentes espaços foram sendo organizados 
em dominantes e dominados, o que transformou as periferias e 
semiperiferias do mundo em espaços de subordinação política e 
econômica para a expropriação de riquezas por parte dos países 
centrais, processo que, obviamente, não foi livre de contradições e 
oposições (MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 12).
E a intensificação desse processo acontece a partir da década de 1970: 
Foi, contudo, a partir da década de 1970 até os dias atuais, que a 
globalização hegemônica intensificou o processo de integração 
mundial com o avanço das tecnologias de comunicação e transporte 
que possibilitou transações internacionais mais rápidas e intensas. 
Essa integração, nos últimos anos, vem acompanhada da difusão dos 
pressupostos e das práticas econômicas e políticas do neoliberalismo. 
(MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 12-13).
Você sabe o que é o neoliberalismo?
O neoliberalismo defende medidas diversas para alavancar a economia 
de mercado, o sistema financeiro e a concorrência em nível mundial, 
apresentando soluções para a crise do período antecessor, marcado por 
forte intervenção estatal na vida econômica e social. Na prática, o que 
neoliberalismo busca defender é um Estado mínimo para as políticas sociais 
e, ao mesmo tempo, um Estado máximo para a economia. Além disso, 
esse paradigma considera a desigualdade um fator essencial para o bom 
funcionamento do mercado sendo, por isso, até mesmo desejável. Em 
suma, a acumulação flexível neoliberal baseia-se na desigualdade e a produz 
incessantemente (MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 12).
IMPORTANTE
117
A partir do que foi acima exposto, na década de 1980, essas medidas foram 
empregadas com maior intensidade, e foram orientadas por cinco específicas, 
apresentadas por Miranda e Merladet (2012): 
• A liberalização do comércio internacional.
• A expansão dos investimentos externos.
• A crescente privatização de serviços públicos.
• A flexibilização de direitos trabalhistas.
• A crescente desregulação da economia.
“Por meio da leitura de David Harvey (2008), em seu texto O neoliberalismo: 
história e implicações, mostra como as mudanças estruturais na economia, 
promovidas pelas reformas neoliberais, deslocam o poder de 
classe, com a perda da qualidade de vida pela parcela da população 
correspondente à classe média e à classe baixa, e com a ascensão de um novo 
grupo de pessoas muito ricas relacionadas com as operações no sistema 
financeiro e com os novos ramos da produção, como as novas tecnologias 
de informação, a biotecnologia, as multinacionais de produção de energia, de 
cultivo de sementes transgênicas etc. Esse grupo poderia ser definido como 
uma espécie de classe hegemônica transnacional “porque seus membros, 
apesar da diversidade dos seus interesses setoriais, partilham uma situação 
comum de privilégiosocioeconômico e um interesse comum de classe nas 
relações do poder político e do controle social que são intrínsecas ao modo 
de produção capitalista” (EVANS apud SANTOS, 2001, p. 38). Nos últimos 
anos, essa dita classe conseguiu manter uma relação privilegiada com o 
poder estatal dos diferentes países e com os organismos internacionais, 
constituindo uma enorme capacidade de influenciar processos políticos” 
(MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 13).
NOTA
Diante do que foi visto até agora, percebe-se que com o déficit democrático e 
as consequências da globalização, surgem novas arenas e novos atores, e como um 
elemento essencial para a política, as organizações das sociedades civis, como exemplo, 
os sindicatos, organizam-se para a formulação de uma luta política global “Contra-
hegemônica”, que vai aprofundar o olhar com traços antiglobalização, antineoliberalismo 
e anti-imperialismo (MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 13). 
118
Você já deve ter relacionado a palavra neoliberalismo e déficit democrático! 
Para compreender melhor esses conceitos confira o artigo que discute a 
relação entre os regimes democráticos a partir da década de 1980 na América 
do Sul e o modelo econômico e político neoliberal implementado na região, e 
tem como exemplo os três atores sul-americanos que passaram por regimes 
autoritários e representam economias expressivas: Argentina, Brasil e Chile. 
Disponível no link: https://revistas.ufpr.br/conjgloblal/issue/view/2878. 
FONTE: NASCIMENTO. V. M. Neoliberalismo e democracia na América do Sul um 
estudo sobre Argentina, Brasil e Chile. Revista Conjuntura Global v. 8, n. 2. 2019.
IMPORTANTE
Na articulação desses movimentos, conseguimos identificar quatro caracterís-
ticas centrais fundadoras desse projeto contra-hegemônico, por meio das análises de 
Boaventura de Sousa Santos (2002) (apud MIRANDA; MERLADET, 2012, p. 17): 
• a ampliação do conceito de opressão pela identificação de que a exclusão social não é 
única e monolítica (conjunto rígido, indivisível,) não diz respeito a uma classe e sim a toda 
a humanidade e, por isso, devem ser plurais as lutas emancipatórias; 
• a exigência de equivalência entre a igualdade e a diferença (os indivíduos têm o direito 
de expressar a sua pluralidade em condições iguais de direitos e dignidade e têm de 
ser tratados como diferentes quando a igualdade os oprime); 
• a valorização da via democrática, participativa, “desde abaixo” para a conquista do 
poder e para a realização de inovações no Estado, com a construção de vias mais 
diretas; 
• a construção de um “cosmopolitismo subalterno” (luta contra a exclusão social em 
nome da globalização alternativa) que envolve ações que combatem a opressão 
não apenas atacando o centro, o Estado e a Empresa, mas o vasto conjunto de 
interações sociais estruturadas pela desigualdade de poder.
119
Para ilustrar os estudos do projeto contra-hegemônico, observe o exemplo 
evidenciado sobre as comunidades tradicionais indígenas do artigo com 
o título: “A globalização hegemônica frente à problemática da identidade 
cultural e dos conhecimentos tradicionais indígenas: uma busca pelas 
significações locais”, no link: http://periodicos.unesc.net/amicus/article/
view/1296/1246.
FONTE: SPAREMBERGER, R. F. L. A globalização hegemônica frente a problemática 
da identidade cultural e dos conhecimentos tradicionais indígenas: uma busca pe-
las significações locais. Revista Amicus Curiae, v. 10, p. 1-25, 2013.
DICAS
3 O PODER GLOBAL DOS ESTADOS UNIDOS E OS NOVOS 
ATORES MUNDIAIS
Para relembrar, o campo político mundial após a Guerra Fria denomina-se Nova 
Ordem Mundial ou Nova Ordem Geopolítica Mundial, visando a um plano geopolítico inter-
nacional dos poderes e forças entre os Estados Nacionais. Portanto, com a queda do Muro 
de Berlim, já citado anteriormente, em 1989, e com o esfacelamento da União Soviética, 
em 1991, se caracteriza em uma nova configuração política mundial (PENA, s.d.). E com 
isso, a soberania dos Estados Unidos e do capitalismo se proliferou por todo o mundo e a 
OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) se mantém como o maior e mais pode-
roso tratado militar internacional, e segundo o autor “o planeta, que antes se encontrava 
na denominada “Ordem Bipolar” da Guerra Fria, passou a buscar um novo termo para de-
signar o novo plano político”. Seguem três expressões utilizadas por Pena (s.d. p. 1): 
• UNIPOLARIDADE – sob o ponto de vista militar, os EUA se tornaram soberanos 
diante da impossibilidade de qualquer outro país rivalizar com os norte-americanos 
nesse quesito.
• MULTIPOLARIDADE – após o término da Guerra Fria, o poderio militar não era mais 
o critério principal a ser estabelecido para determinar a potencialidade global de 
um Estado Nacional, mas sim o poderio econômico. Nesse plano, novas frentes 
emergiram para rivalizar com os EUA, a saber: o Japão e a União Europeia, em um 
primeiro momento, e a China em um segundo momento, sobretudo a partir do final 
da década de 2000.
• UNIMULTIPOLARIDADE – sendo a mais casual, a expressão é utilizada para 
designar o duplo caráter da ordem de poder global: “uni” para designar a supremacia 
militar e política dos EUA e “multi” para designar os múltiplos centros de poder 
econômico.
120
Ordem de classificação hierarquia entre os Estados Nacionais. 
Outra mudança acarretada pela emergência da Nova Ordem Mundial foi a necessidade 
da reclassificação da hierarquia entre os Estados nacionais. Antigamente, costumava-se 
classificar os países em 1º mundo (países capitalistas desenvolvidos), 2º mundo (países 
socialistas desenvolvidos) e 3º mundo (países subdesenvolvidos e emergentes). Com o fim 
do segundo mundo, uma nova divisão foi elaborada. A partir de então, divide-se o mundo 
em países do Norte (desenvolvidos) e países do Sul (subdesenvolvidos), estabelecendo uma 
linha imaginária que não obedece inteiramente à divisão norte-sul cartográfica, conforme 
podemos observar na figura a seguir.
IMPORTANTE
FIGURA – MAPA COM A DIVISÃO NORTE-SUL E A ÁREA DE INFLUÊNCIA DOS PRINCIPAIS CENTROS 
DE PODER
FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/nova-ordem-mundial.htm>. 
Acesso em: 25 de novembro de 2019. 
É possível perceber, no mapa acima, que a divisão entre norte e sul não corresponde à 
divisão estabelecida usualmente pela Linha do Equador, uma vez que os critérios utilizados 
para essa divisão são econômicos, e não cartográficos. Percebe-se que alguns países 
do hemisfério norte (como os Estados do Oriente Médio, a Índia, o México e a China) 
encontram-se nos países do Sul, enquanto os países do hemisfério sul (como Austrália e 
Nova Zelândia), por se tratar de economias mais desenvolvidas, encontram-se nos países 
do Norte. No mapa acima também podemos visualizar as áreas de influência política dos 
principais atores econômicos mundiais. Vale lembrar, porém, que a área de 
influência dos EUA pode se estender para além da divisão estabelecida, uma 
vez que sua política externa, muitas vezes, atua nas mais diversas áreas do 
mundo, com destaque para algumas regiões do Oriente Médio.
FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/nova-ordem-mundial.htm>. Acesso 
em: 25 de novembro de 2019.
121
Os Estados Unidos destacam-se como uma hegemonia, mesmo com vários 
momentos de dificuldades, se mantém com um papel de extrema importância no 
cenário econômico mundial, e para alguns autores, consideram que não esteja em 
declínio e não será substituído por outro país. 
Em um contexto de transformações, Menozzo (2008) relata que após as duas 
grandes guerras, o desempenho dos Estados Unidos na supremacia econômica mundial 
se estabeleceu, e, assim, em 1970, há uma diminuição do poderio mundial norte-
americano, muito vem sendo dito e escrito sobre a questão da sua hegemonia mundial.
Arrighi (1996, p. 27) adota o conceito de hegemonia mundial como 
“capacidade de um Estado exercer funções de liderança e governo sobre 
um sistema de nações soberanas”. Salientando que este poder é superior 
e diferentede uma simples dominação. Dominação pode ser vista neste 
sentido como algo fundamentado na coerção, e hegemonia como um 
poder conquistado, via uma capacidade superior de um grupo ou Estado 
dominante (MENOZZO, 2008, p. 10).
NOTA
Segundo Menozzo (2008), alguns autores mostram-se favoráveis e outros não 
ao poder global da hegemonia dos Estados Unidos, bem como alguns afirmam que 
setores econômicos estão em declínio, não sendo mais respeitado por outros Estados. 
Outros falam que os Estados Unidos estão sempre em ascensão, que são um poder global 
ou uma hegemonia, e alguns admitem “o período conturbado e crescentes dificuldades 
nos próximos anos para manter o controle global político e econômico, contudo não 
há sinais econômicos ou militares que estas dificuldades sejam parte de uma crise 
terminal” (MENOZZO, 2008, p. 10). Como exemplos, vemos algumas reportagens sobre 
os Estados Unidos nas figuras a seguir: 
122
FIGURA 10 – REPORTAGEM DO SITE EL PAÍS SOBRE POLÍTICAS DOS EUA NA ECONOMIA GLOBAL
FONTE: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/10/economia/1565433442_441047.html>. Acesso em: 
2 fev. 2020.
FIGURA 11 – REPORTAGEM SOBRE O REINO UNIDO PÓS-BREXIT
FONTE: <https://brasil.elpais.com/internacional/2020-02-01/o-arduo-caminho-britanico-entre-feridas-in-
ternas-e-a-inferioridade-frente-as-potencias.html>. Acesso em: 2 fev. 2020.
123
FIGURA 12 – REPORTAGEM SOBRE A POLÍTICA INTERNA DOS EUA
FONTE: <https://brasil.elpais.com/internacional/2020-02-05/discurso-do-estado-da-uniao-exibe-a-hostili-
dade-politica-nos-eua.html>. Acesso em: 2 fev. 2020.
Como vemos nas reportagens, os EUA veem a hegemonia como uma relação de 
forças, até mesmo dentro do país, alguns autores adotam como argumento o fato de 
que neste momento “não há nenhum país, ou outro poder qualquer, que possa ser uma 
ameaça contra-hegemônica ao poder dos Estados Unidos, não há no mundo atual um 
movimento contra-hegemônico capaz de mudar tal situação” (MENOZZO, 2008, p. 10). 
E mesmo que a hegemonia dos EUA se estabeleça de forma “maléfica e arrogante”, ela 
existe desde sua retomada após a década de 1970 (MENOZZO, 2008)
De acordo com Harvey (2004 apud MENOZZO, 2008), a hegemonia e o domínio 
dos EUA estão mais uma vez sob ameaça, e desta vez o risco parece maior. Suas raízes 
estão no emprego desequilibrado do capital financeiro como meio de afirmar a hegemonia 
“o que parece ter sido uma manobra autodestrutiva” dentro de sua lógica territorial do 
poder (HARVEY, 2004, p. 65). Porém Harvey adverte que os EUA ainda detêm um grande 
poder – o artefato militar – e que com ele os EUA têm condições “de jogar a sua carta mais 
124
forte, se necessário coercitivamente”. Só que para isso não vão ter que sacrificar apenas 
“sangue precioso em troca de petróleo e da sustentação de uma hegemonia adoecida; 
eles podem ter de sacrificar também todo o seu modo de vida” (HARVEY, 2004, p. 71-72).
Por meio da intensificação de fluxos econômicos e de comunicação existentes, 
desde a década de 1970, houve uma transformação no sistema internacional, bem 
como, Paiva e Scotelaro (2010, p. 91) apresentam as mudanças cruciais na redefinição 
do sistema internacional contemporâneo: 
A perda de centralidade da agenda de segurança na política 
internacional e a consequente ampliação da agenda temática das 
relações internacionais, sobretudo no que se refere à descentralização 
da execução política no cenário mundial, foram mudanças cruciais na 
redefinição do sistema internacional contemporâneo. Em decorrência 
dos impactos da globalização e da interdependência complexa, o 
Estado tem seu papel redefinido com a emergência das unidades 
subnacionais frente às demandas de níveis locais e regionais. 
Segundo Paiva e Scotelaro (2010, p. 106), com o fim da Guerra Fria, verificou-se a 
existência de novos atores além do Estado no sistema mundial, bem como, os múltiplos 
canais de comunicação e a ausência de hierarquia temática, sendo as “multinacionais e 
as demais agências não estatais seriam agentes igualmente importantes às negociações 
internacionais; e, por último, a ausência de hierarquia na agenda, uma vez que existem 
múltiplos atores interagindo no ambiente internacional”. 
O advento da globalização foi central para o surgimento desses 
novos atores e para a mudança da agenda internacional, tornando o 
mundo mais interligado e interdependente economicamente. Dentre 
o surgimento desses novos atores percebeu-se a ação internacional 
das unidades subnacionais, nesse caso, as cidades, com o escopo 
de possibilitar o desenvolvimento econômico de suas regiões, 
gerando maior renda e empregos, e melhorando a infraestrutura. A 
globalização modificou as transações econômicas, tornando-as mais 
complexas (PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 106). 
Complementando a análise sobre as transformações ocorridas a partir de 
1970, Paiva e Scotelaro (2010) nos evidenciam que a relação entre o livre comércio e os 
investimentos externos diretos demonstrou ser eficiente para melhorar a redistribuição 
da riqueza entre as empresas grandes e pequenas. Também verificou a geração de 
empregos locais e promoção do crescimento e possibilitou redes duradouras com as 
economias que abrigam as multinacionais. Além disso, com esse contexto da Nova 
Ordem Mundial, a regionalização e a globalização são duas faces da mesma moeda. 
Como exemplificado, vemos como toda decisão estava concentrada no Estado Central, 
responsável pelas ações de política externa, e com a existência de um novo papel 
político das unidades subnacionais, exemplificado na figura a seguir: 
125
Isso é fundamental na análise, na medida em que a cidade que abriga 
a multinacional é responsável por organizar as questões econômi-
cas que concernem a sua região, viabilizando assim o desenvolvi-
mento e a promoção local. Dessa maneira, a crescente participação 
das cidades nas transações econômicas e políticas transnacionais 
contemporâneas é resultado de um movimento de descentralização 
do poder estatal, concomitante à iniciativa delas para satisfazer suas 
demandas locais. Como processo em contínua ampliação, a inserção 
internacional dos atores não gera, de imediato, benefícios para o de-
senvolvimento regional, mas é cada vez mais um caminho promissor 
para as unidades subnacionais (PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 106).
FIGURA 13 – REPORTAGEM SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE A UNIDADE SUBNACIONAL NO BRASIL
FONTE: <https://nacoesunidas.org/evento-em-brasilia-debate-alcance-dos-objetivos-globais-em-nivel-sub-
nacional-no-brasil/>. Acesso em: 4 fev. 2019.
Assim, em tese, o fenômeno da globalização define teoricamente bem a 
conjuntura econômica e política contemporânea (PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 100), e 
com o intuito de diminuir a importância de barreiras físicas para a promoção das relações 
internacionais, Paiva e Scotelaro (2010) evidenciam que é preciso verificar o novo 
processo que surge paralelamente a essa tendência: “uma reaproximação deliberada de 
atores políticos para a obtenção de ganhos, um novo conceito de região, ligado menos 
a questões fronteiriças do que a questões políticas concretas. Um rearranjo político: o 
regionalismo”. 
126
Deixamos uma dica de vídeo no link a seguir, intitulado “O poder global 
dos Estados Unidos”, de José Luís Fiori. O vídeo apresenta o ponto de vista 
sobre as grandes potências mundiais, relatando a historicidade de todo o 
processo. 
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=uBF8qQ73b4I>. Acesso em: 26 
nov. 2019.
DICAS
4 UMA NOVA CONJUNTURA MUNDIAL? A GEOPOLÍTICA 
DAS NAÇÕES NA ATUALIDADE DO SÉCULO XXI
As transformações no espaço internacional nos últimos anos resultaram em 
um novo arranjo político e econômico, conferindo uma nova importância à noção 
de região, bem como, ao desenvolvimento econômico mundial, a reorganização da 
produção e o lugar na economia global (PAIVA; SCOTELARO, 2010, P. 99). De tal modo, 
Paiva e Scotelaro (2010, p. 100) reconhecem que as regiões despontam no ambiente 
internacional de acordo com motivações de ordem:• Econômica, como a busca por investimentos, mercados e 
tecnologias para modernização.
• Cultural, como a atração de recursos e apoio internacional.
• Política, no intuito de buscar reconhecimento e legitimação de 
suas ações a fim de influenciar decisões públicas locais, bem 
como promover campanhas políticas internacionais. 
E com o fenômeno da globalização, as regiões passam a ter uma maior 
autonomia de ação e alteram as condições de administração dos Estados nacionais, 
e tendem a se organizar para serem competitivas na economia global e conseguirem 
estabelecer redes de cooperação no sistema mundial, com as instituições regionais e 
empresas, sendo cada vez mais dinâmicas (PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 100). 
O Estado passa por um processo de descentralização do poder 
político, cujo objetivo, além de desafogar as demandas para a União, 
também é atender à recente demanda de autonomia dos entes 
subnacionais que constituem determinado país. A despeito das 
mudanças, a União ainda legisla sobre os poderes cabíveis a cada 
um dos entes federados; contudo, uma vez adquiridos tais poderes, 
União, estados e municípios (ou quaisquer outras subdivisões 
interestatais) se tornam concorrentes diretos por recursos ao mesmo 
tempo em que precisam estar coordenados pela interdependência 
natural existente entre eles.
127
Consideramos o termo “região” de acordo com Hocking (2004), para 
quem o termo abarca quaisquer atores além dos Estados centrais – 
espaços políticos como cidades, governos federados, organizações 
subcontinentais e continentais – que se lancem ao ambiente internacional 
em busca de objetivos concretos que beneficiem suas localidades (PAIVA; 
SCOTELARO, 2010, p. 99).
NOTA
Observe aqui, que surgem novas práticas e atores no cenário contemporâneo, e 
os Estados não surgem mais como os principais atores do sistema mundial, mesmo sendo 
tratados como os mais importantes. Podemos perceber, depois dos nossos estudos sobre 
a região que “é no nível local que as ações políticas se expressam de forma mais visível, e 
se estendem aos níveis nacional e internacional na medida em que as atividades sujeitas 
à regulação extrapolam o nível municipal” (PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 101).
Como temos as chamadas “cidades-globais” (veja a figura 14, a seguir) que são 
conhecidas também como metrópoles mundiais, são grandes aglomerações urbanas 
que funcionam como centros de influência internacional. Sem dúvida, as cidades se 
modernizaram e são postos de comando da nova organização da economia mundial.
Lugares e mercados fundamentais para as indústrias, finanças 
e serviços especializados direcionados às empresas, incluindo a 
produção de inovações. Determinadas cidades já ocupam uma 
posição de destaque nessa nova dinâmica das estruturas mundiais, 
uma vez que são grandes centros financeiros ou comerciais 
internacionais, como Tóquio, Frankfurt, Paris, Londres, entre outros 
(PAIVA; SCOTELARO, 2010, p. 102).
FIGURA 14 – CIDADES-GLOBAIS
FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo/mapa-das-cidades-glo-
bais.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2019.
128
Para finalizar este tópico, vamos acompanhar a transcrição e a tradução da 
reportagem do autor Joseph Nye: mudança do poder global. O historiador 
e diplomata Joseph Nye apresenta a visão da mudança de poder entre 
China e EUA, e as implicações globais na mudança do poder econômico, do 
poder político e do "soft power" e as transformações no mundo.
IMPORTANTE
Joseph Nye: mudança do poder global
Vou falar sobre o poder no século XXI. E, basicamente, o que eu gostaria 
de falar é sobre a mudança no poder. Há dois tipos de mudança que eu gostaria de 
discutir. Um é o poder de transição, que é a mudança de poder entre os Estados. E a 
versão simples da mensagem, o movimento do Ocidente para o Oriente. O outro é o 
poder de difusão o modo pelo qual o poder está se movendo de todos os Estados, do 
Ocidente ou do Oriente, para atores não-estatais. Essas duas coisas são as grandes 
mudanças de poder no nosso século. Eu quero falar sobre cada uma separadamente 
e depois sobre como elas interagem e por que, no final, talvez haja uma boa notícia. 
Quando falamos de transição de poder, com frequência falamos da ascensão da Ásia. 
Na verdade, deveria chamar-se a recuperação, ou o retorno, da Ásia. Se olhássemos 
o mundo em 1800, encontraríamos mais da metade da população mundial morando 
na Ásia e eram responsáveis por mais da metade da produção mundial. Agora, 
dando um salto para 1900: metade da população mundial – mais da metade – ainda 
vive na Ásia, mas produzem apenas 1/5 da produção mundial. O que aconteceu? A 
Revolução Industrial, o que significou que, de repente, a Europa e os EUA tornaram-
se o centro dominante do mundo. Vamos ver que no século XXI é a Ásia que, aos 
poucos, volta a ter mais da metade da população mundial e mais da metade da 
produção mundial. É importante, e é uma mudança importante. No entanto, deixe-
me falar um pouco sobre outra mudança, que é a difusão de poder. Para entender 
difusão de poder tenham em mente o seguinte: o preço de produtos de computação 
e de comunicação ficaram mil vezes mais barato entre 1970 e o início deste século. 
Isso é um número muito grande e abstrato, mas para torná-lo mais real, se o preço 
de um carro caísse tão rápido quanto o preço da computação, hoje você poderia 
comprar um carro por cinco dólares. Quando o preço de algo tecnológica baixa tão 
drasticamente, caem as barreiras para a entrada; qualquer um pode entrar no jogo. 
Então, em 1970, se alguém quisesse se comunicar de Oxford para Johannesburg 
para Nova Deli para Brasília e qualquer outro lugar simultaneamente, conseguiria 
fazê-lo, pois havia tecnologia para isso. Contudo, para conseguir, era preciso ser 
muito rico – governo, empresa multinacional, talvez a Igreja Católica – teria que se 
ter muito dinheiro. Hoje, qualquer um pode, o que antes estava restrito, em razão do 
129
preço, a poucos atores, basta ter dinheiro para entrar em um cybercafé – a última vez 
que eu vi custava algo como uma libra a hora – e se tiverem Skype, é de graça. Então 
as capacidades que antes eram restritas agora estão disponíveis para todos. Isso 
não significa que a era do poder do Estado tenha terminado. O Estado ainda importa. 
Mas o palco está cheio. O Estado não está sozinho. Há muitos, muitos atores. Em 
parte, isso é bom. Oxfam, um bom ator não-governamental. Em parte, isso é ruim. Al 
Qaeda, outro ator não-governamental. No entanto, pense em como isso afeta como 
pensamos em termos e conceitos tradicionais. Pensamos em termos de guerra e 
guerra entre Estados. E vocês podem voltar a 1941, quando o Japão atacou os EUA 
em Pearl Harbor. Vale a pena notar que um ator não-estatal ao atacar os EUA em 
2001 matou mais americanos que o Japão em 1941. Vocês podem considerar isso 
como uma privatização da guerra. Então estamos observando uma grande mudança 
em termos de difusão do poder. 
O problema de agora é que nós não estamos pensando nisso de forma 
inovadora. Então, deixe-me voltar e perguntar: o que é poder? Poder é simplesmente 
a capacidade de afetar os outros para conseguir os resultados desejados, e vocês 
podem conseguir de três maneiras. Podem fazer ameaças, ou coerção – chicotes, 
podem fazer utilizando pagamentos – cenouras, ou podem fazer que os outros 
queiram o que você quer. E essa capacidade de fazer com que os outros queiram 
aquilo que você quer, para obter os resultados que você deseja, sem coerção ou 
pagamento, é o que eu chamo de 'soft power' (poder brando). E o 'soft power' tem 
sido bastante negligenciado e bastante mal-entendido. E mesmo assim é bastante 
importante. De fato, se aprenderem a usar mais o soft power, podem poupar muitas 
cenouras e chicotes. Tradicionalmente, o modo que as pessoas pensavam sobre 
poder era basicamente em termos militares. Por exemplo, o grande historiador de 
Oxford que lecionou aqui nesta universidade, A. J. P. Taylor, definiu uma grande 
potência como sendo umpaís capaz de vencer a guerra. Precisamos de uma nova 
narrativa se vamos entender o que é poder no século XXI. Não é apenas ganhar a 
guerra, apesar de ainda haver guerras. Não é qual o exército que vence; é qual a 
história que prevalece. Precisamos pensar mais em termos de narrativas e quais 
dessas narrativas serão efetivas. 
Bem, agora vou voltar à questão da transição de poder entre os Estados 
e o que está acontecendo lá. As narrativas que usamos hoje tendem a falar da 
ascensão e queda das grandes potências. E a narrativa atual é sempre sobre 
a ascensão da China e o declínio dos Estados Unidos. Na verdade, com a crise 
financeira de 2008, muitas pessoas falaram que era o início do fim do poder 
americano. As placas tectônicas do mundo político estão se deslocando. O 
Presidente Medvedev, da Rússia, por exemplo, declarou, em 2008, que era o início 
do fim do poder dos Estados Unidos. No entanto, na verdade, está metáfora do 
declínio é frequentemente enganosa. Se observarem a história, a história recente, 
130
verão os ciclos da crença do declínio americano indo e vindo a cada 10 ou 15 anos, 
mais ou menos. Em 1958, depois que os soviéticos lançaram o Sputnik, era: "Esse 
é o fim dos EUA." Em 1973, com o embargo do petróleo e o fim do padrão dólar-
ouro, era o fim dos EUA. Na década de 1980, quando os EUA passavam por uma 
transição no governo Reagan, da economia do 'rust belt' (cinturão da ferrugem) 
no meio Oeste para a do Vale do Silício na Califórnia, esse era o fim dos EUA. De 
fato, o que vimos é que nada disso era verdade. Na verdade, as pessoas estavam 
muito entusiasmadas no início dos anos 2000, pensando que os EUA poderiam 
fazer qualquer coisa, o que nos levou a algumas desastrosas aventuras na política 
externa, e agora estamos novamente de volta ao declínio. 
A moral da história é que todas essas narrativas sobre ascensão e queda 
nos falam mais sobre psicologia que sobre realidade. Se tentarmos enfocar na 
realidade, teremos de centrar no que acontece realmente em termos de China e 
EUA. A Goldman Sachs fez uma projeção que a China, a economia chinesa, vai 
superar os EUA em 2027. Então temos, o quê, 17 anos, mais ou menos, pela frente 
antes de a China nos ultrapassar. Agora, um dia, com 1,3 bilhão de pessoas ficando 
mais ricas, eles ficarão maiores que os Estados Unidos. Tenham cuidado com essas 
projeções, tais como a da Goldman Sachs, se quiserem fazer uma imagem precisa da 
transição de poder neste século. Deixe-me mencionar três razões do porquê de ser 
tão simples. Primeiro, é uma projeção linear. Vocês sabem, tudo diz: aqui está a taxa 
de crescimento da China, aqui está a dos EUA, aqui vai – linha reta. A história não 
é linear. Com frequência há obstáculos no meio do caminho, acidentes na estrada. 
A segunda razão é que a economia chinesa supere a economia dos EUA, digamos, 
em 2030, que é possível, considerando o tamanho da economia total, mas não da 
renda per capita – não vai lhes dizer sobre como se compõe a economia. A China 
ainda tem grandes áreas subdesenvolvidas. E a renda per capita é uma medida 
melhor da sofisticação da economia. E isso os chineses não vão igualar ou superar 
os americanos até a última parte deste século, depois de 2050. 
A outra questão que vale a pena ressaltar é que essa projeção é unidimensional. 
Como vocês sabem, a base é o poder econômico medido pelo PIB. Não fala muito 
sobre o poder militar, não fala muito sobre o 'soft power'. É apenas unidimensional. 
E mais, quando pensamos sobre a ascensão da Ásia, ou o retorno da Ásia, como 
eu chamei anteriormente, é importante lembrar que a Ásia não é uma coisa só. Se 
estiver no Japão, ou em Nova Deli, ou em Hanói, sua perspectiva da ascensão da 
China será um pouco diferente se você estiver em Beijing (Pequim). Na verdade, uma 
das vantagens que os americanos terão em termos de poder na Ásia é que todos 
aqueles países querem a política de segurança americana contra a ascensão da 
China. É como se o México e o Canadá fossem vizinhos hostis dos Estados Unidos, o 
que eles não são. Então essas projeções simples do tipo da Goldman Sachs não nos 
dizem o que precisamos saber sobre transição do poder. 
131
Vocês podem se perguntar, e aí? O que importa? Quem se preocupa? É 
apenas um jogo que os diplomatas e os acadêmicos utilizam? A resposta é que 
isso importa bastante. Porque, se acreditarem em declínio e tiverem as respostas 
incorretas, os fatos, não os mitos, terão políticas muito perigosas. Deixe-me dar um 
exemplo histórico. A Guerra do Peloponeso foi um grande conflito no qual o sistema 
de cidade-estado grego desmantelou-se há 2.500 anos. Qual foi a causa? Tucídides, 
o grande historiador da Guerra do Peloponeso, disse que foi o aumento do poder de 
Atenas e o medo que isso criou em Esparta. Notem as duas metades dessa explicação. 
Muitas pessoas argumentam que o século XXI repetirá o século XX, onde a 
Primeira Guerra Mundial, a grande conflagração na qual o sistema de estado europeu 
desmantelou-se e destruiu a centralidade do mundo, que foi causada pela ascensão 
do poder da Alemanha e o medo que isso criou na Grã-Bretanha. Então, há pessoas 
que nos dizem que isso será reproduzido nos dias de hoje, que vamos ver isso neste 
século. Não, está errado. É uma leitura ruim. Por uma razão, a Alemanha superou a 
Grã-Bretanha no poderio industrial em 1900. E, como disse antes, a China não superou 
os Estados Unidos. No entanto, se acreditarem nisso e isso criar uma sensação de 
medo, pode levar a uma reação exagerada. O perigo maior que há em lidar com essa 
transição de poder da mudança para o Oriente é o medo. Parafraseando Franklin 
Roosevelt, em um contexto diferente, a única coisa que devemos temer é o próprio 
medo. Não devemos temer a ascensão da China ou o retorno da Ásia. E, se tivermos 
políticas nas quais tomamos uma grande perspectiva histórica, seremos capazes de 
administrar esse processo. 
Agora, deixe-me falar um pouco sobre a distribuição de poder e como se 
relaciona com a difusão de poder e depois os dois conceitos. Se perguntarem como 
o poder está distribuído no mundo de hoje, a resposta será: bem parecido com um 
jogo de xadrez tridimensional. No topo: poder militar entre os Estados. Os Estados 
Unidos são a única potência, e parece que vai continuar desse jeito por duas ou 
três décadas. A China não vai substituir os EUA no tabuleiro militar. No tabuleiro 
do meio desse jogo de xadrez tridimensional: o poder econômico entre Estados. O 
poder é multipolar. Há os que equilibram. Os EUA, a Europa, a China, o Japão podem 
manter o equilíbrio entre si. A parte de baixo desse jogo tridimensional: a das relações 
transnacionais, coisas que cruzam as fronteiras sem o controle dos governos, coisas 
como mudança climática, tráfico de drogas, fluxos financeiros, pandemias, todas 
essas coisas que cruzam as fronteiras foram do controle dos governos, ninguém 
controla. Não faz sentido chamar de unipolar ou multipolar. O poder está distribuído 
de forma caótica. E a única forma de resolver esses problemas – e é aí que se 
localizam muitos dos grandes desafios deste século – é mediante a cooperação, por 
meio do trabalho conjunto, que significa que o “soft powe” torna-se mais importante, 
essa habilidade de criar redes para lidar com esse tipo de problema e ser capaz de 
conseguir a cooperação. 
132
Dito com outras palavras, é assim que pensamos em poder no século XXI, 
queremos fugir da ideia que o poder é sempre um jogo de soma zero – meu ganho 
é a sua perda e vice-versa. O poder também pode ser de soma positiva, no qual o 
seu ganho pode ser o meu ganho. Se a China desenvolver uma melhor segurança 
energética e uma maior capacidade para lidar com seus problemas de emissão de 
carbono, é tão bom para nós como é para a China e assim como é bom para todos 
os outros. Portanto, fortalecer a China para lidar com seus próprios problemas de 
emissão de carbono é bom para todos, e isso não é soma zero – eu ganho, você perde. 
É um caso em que todos nós podemosganhar. Então, quando pensamos em poder 
neste século, queremos fugir dessa visão que é tudo: eu ganho, você perde. Eu não 
quero ser Pollyana a respeito desse tema. As guerras continuam. O poder persiste. O 
poder militar é importante. Manter o equilíbrio é importante. Tudo isso permanece. O 
“hard power” está aí, e permanecerá. Entretanto, somente se aprenderem a mesclar 
'hard power' e 'soft power' nas estratégias que eu chamo de "smart power" (poder 
inteligente), poderão lidar com esses novos tipos de problemas que enfrentamos. 
Então a pergunta-chave que precisamos fazer ao olhamos isso é como 
podemos trabalhar juntos para produzir bens públicos globais, coisas das quais 
todos nós possamos nos beneficiar? Como definimos nossos interesses nacionais de 
forma a não ser um jogo de soma zero, mas um de soma positiva. Nesse sentido, se 
definirmos nossos interesses, por exemplo, para os Estados Unidos do modo que a 
Grã-Bretanha definiu seus interesses no século XIX, mantendo um sistema comercial 
aberto, mantendo uma estabilidade econômica, mantendo a liberdade de navegação 
– isso tudo foi bom para a Grã-Bretanha, e foi bom para os outros também. E, no 
século XXI, devem fazer algo análogo a isso. Como produzir bens públicos globais, 
que sejam bons para nós, e, ao mesmo tempo, sejam bons para todos? E essa vai ser 
a dimensão da boa notícia do que precisamos para refletir enquanto pensamos no 
poder no século XXI. 
Há formas de definir nossos interesses nas quais, enquanto nos protegemos 
com o “hard power”, podemos criar redes para produzir, não apenas bens públicos, 
mas formas que ampliarão nosso “soft power”. Então, se olharem as declarações 
feitas a esse respeito... fiquei impressionado quando Hilary Clinton descreveu 
a política externa do governo Obama; ela disse que a política externa do governo 
Obama seria de “smart power”, como ela colocou, "usando todas as ferramentas da 
nossa caixa de ferramentas da política externa." E, se formos lidar com essas grandes 
mudanças de poder que descrevi, a mudança de poder representada pela transição 
entre os Estados, a mudança de poder representada pela difusão do poder longe 
de todos os Estados, teremos de desenvolver uma nova narrativa do poder na qual 
combinamos 'hard' e 'soft power' com estratégias de 'smart power'. E essa é a boa 
notícia. Podemos fazer isso.
133
Se você, acadêmico, preferir pode assistir a essa reportagem acima 
mencionada, é só acessar o link: https://www.ted.com/talks/joseph_nye_
global_power_shifts?language=pt-br.
DICAS
134
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Foi visto o quadro teórico sobre os processos de globalização em hegemônicos e 
contra-hegemônicos, entendendo todo o processo por meio dos conflitos dinâmicos 
de transição dos modelos de Estado, da economia, da cultura e dos processos 
sociais. Como foi caracterizado a ordem de classificação hierarquia entre os 
Estados Nacionais, surgindo novas práticas e atores no cenário contemporâneo, e 
os Estados não surgem mais como os principais atores do sistema mundial, mesmo 
sendo tratados como os mais importantes
• O neoliberalismo defende medidas diversas para alavancar a economia de mercado, 
o sistema financeiro e a concorrência em nível mundial, apresentando soluções 
para a crise do período antecessor, marcado por forte intervenção estatal na vida 
econômica e social.
• Na prática, o que neoliberalismo busca defender é um Estado mínimo para as 
políticas sociais e, ao mesmo tempo, um Estado máximo para a economia.
• O campo político mundial após a Guerra Fria denomina-se Nova Ordem Mundial ou 
Nova Ordem Geopolítica Mundial, visando a um plano geopolítico internacional dos 
poderes e forças entre os Estados Nacionais.
• A década de 1980 se caracteriza em uma nova configuração política mundial.
• A hegemonia mundial é a capacidade de um Estado exercer funções de liderança e 
governo sobre um sistema de nações soberanas.
• O Estado passa por um processo de descentralização do poder político, cujo 
objetivo, além de desafogar as demandas para a União, também é atender à recente 
demanda de autonomia dos entes subnacionais que constituem determinado país.
• As cidades-globais se modernizaram e são postos de comando da nova organização 
da economia mundial, como lugares e mercados fundamentais para as indústrias, 
finanças e serviços especializados direcionados às empresas, incluindo a produção 
de inovações.
• Há dois tipos de mudança na nova ordem mundial dos Estados, um é o poder 
de transição, que é a mudança de poder entre os Estados. E a versão simples da 
mensagem, o movimento do Ocidente para o Oriente. O outro é o poder de difusão 
o modo pelo qual o poder está se movendo de todos os Estados, do Ocidente ou do 
Oriente, para atores não estatais.
135
1 O mundo é atualmente dividido entre países do Norte e países do Sul. Sobre essa 
divisão, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) A divisão Norte-Sul não se trata de dividir o mundo em dois hemisférios, mas em 
ordenar a diferenciação entre os países ricos (majoritariamente localizados no 
Sul) e os países pobres (majoritariamente localizados no Norte).
b) ( ) A desigualdade mundial fica latente quando se observa que os países do Norte 
detêm 60% da riqueza mundial e apenas 26% da população total do globo 
terrestre. 
c) ( ) A inclusão da Austrália e da Nova Zelândia no eixo dos países do Norte é errônea, 
uma vez que esses países pertencem ao Hemisfério Sul.
d) ( ) O Norte se caracteriza por ter um PIB (Produto Interno Bruto) superior ao dos 
países do Sul, entretanto, as desigualdades sociais e os índices de miséria são 
mais acentuados.
e) ( ) A divisão Norte-Sul é imutável, não havendo possibilidades de nação 
subdesenvolvida se tornar desenvolvida e vice-versa.
2 Com relação às características centrais fundadoras do projeto contra-hegemônico, 
por meio das análises de Boaventura de Sousa Santos, analise as informações a 
seguir e marque a opção INCORRETA:
 
a) ( ) A ampliação do conceito de opressão pela identificação de que a exclusão social 
não é única e monolítica, não diz respeito a uma classe e sim a toda a humanidade 
e, por isso, devem ser plurais as lutas emancipatórias.
b) ( ) A exigência de equivalência entre a igualdade e a diferença (os indivíduos têm o 
direito de expressar a sua pluralidade em condições iguais de direitos e dignidade 
e têm de ser tratados como diferentes quando a igualdade os oprime).
c) ( ) A valorização da via democrática participativa, “desde cima” para a conquista do 
Território e para a realização de inovações no Estado, com a construção de vias 
mais internas. 
d) ( ) A construção de um “cosmopolitismo subalterno” que envolve ações que 
combatem a opressão não apenas atacando o centro, o Estado e a Empresa, mas 
o vasto conjunto de interações sociais estruturadas pela desigualdade de poder.
3 Dominação pode ser vista neste sentido como algo fundamentado na coerção, e 
hegemonia como um poder conquistado, via uma capacidade superior de um grupo 
ou Estado dominante (MENOZZO, 2008, p. 10). Explique o conceito de hegemonia 
mundial. 
AUTOATIVIDADE
136
4 “Não podemos negar que a 'nova ordem' que está se desenhando começou a sua 
gestação dentro da Guerra Fria. Durante toda a sua evolução, de 1945-1985, a Guerra 
Fria envolveu outros aspectos que para a época foram considerados secundários 
pelos analistas, mas que acabaram aflorando à superfície após o colapso do socialismo 
no Leste europeu. Talvez, o aspecto mais marcante das relações internacionais nos 
últimos anos tenha sido o deslocamento da preocupação essencial com a questão 
militar e a guerra nuclear que foi dando lugar a uma preocupação mais urgente com 
os movimentos da economia mundial”.
FONTE: MARTINEZ, A., TANAKA, H. Sobre a Geopolítica Atual. Akrópolis: Rev. de Ciências Humanas da 
UNIPAR. v. 4, n. 13, p. 15, 1996. 
A geopolítica da Nova Ordem Mundial diferenciou-se do cenário configurado no âmbitoda ordem da Guerra Fria por:
a) ( ) Multiplicação dos centros de disputa global.
b) ( ) Alteração dos núcleos de poder.
c) ( ) Proliferação dos conflitos armados de grande porte.
d) ( ) Eliminação das intervenções imperialistas.
e) ( ) Bipartidarização do sistema econômico.
137
TÓPICO 3 - 
A CONSTITUIÇÃO DA BIOPOLÍTICA E DO 
BIOPODER
1 INTRODUÇÃO
O pensamento sobre os conceitos da geografia ocorre de várias formas e com 
enfoques de ordem cultural, econômica, estratégica e entre outras. A valorização do 
poder, pensando fora do campo do Estado, que é um gerador de conflitos de interesses 
de diversas ordens, altamente complexo, que na atualidade é uma fonte de conflitos e 
alianças, e que vários especialistas tentam explicar e descrever, dentre eles o grande 
pensador e filósofo Michel Foucault. 
Esta é a temática que abordaremos a seguir. Nesta parte do material de Geografia 
Política, abordaremos as seguintes seções em ordem de apresentação: na primeira, a 
questão constituição teórica da biopolítica e do biopoder social, em segundo biopolítica 
e deslocamento de multidões: segurança jurídica e política, no terceiro momento, 
analisaremos biopoder: raça, população e reprodução no mundo global. 
Com isso, busca-se apresentar diversos exemplos de áreas e além de indicar 
algumas possibilidades teóricas de análise e interpretação dos fatos. A nossa intenção é que 
você, acadêmico, possa ao final da unidade ter uma opinião, teoricamente fundamentada, 
a respeito dos fenômenos geopolíticos que compõem a vida social na atualidade. 
UNIDADE 2
2 CONSTITUIÇÃO TEÓRICA DA BIOPOLÍTICA E DO 
BIOPODER SOCIAL
A constituição teórica do pensamento de Foucault é uma fonte de conhecimento 
para diversos interessados, como uma teoria e gestão estratégica, e que é utilizada por 
numerosas áreas de conhecimento, bem como, nas ciências sociais, história, geografia, 
entre outras. Uma de suas premissas é analisar e entender o exercício do poder humano 
em diversas particularidades: poder político, poder social, poder organizacional, 
micropoderes. O seu trabalho torna-se uma reflexão sobre o poder, iniciada em suas 
primeiras publicações, e a partir de 1970 vai ter notoriedade. 
138
O trabalho de Foucault tornou-se conhecido por sua reflexão sobre 
o poder. Temática já encontrada em suas primeiras publicações, ela 
ganhará destaque a partir do ano de 1970, quando o filósofo passará a 
ministrar cursos no Collège de France, nos quais examinará as diversas 
estruturas políticas engendradas pelas sociedades ocidentais, desde 
a antiguidade greco-romana à contemporaneidade. Para ele, o poder 
encontra-se sempre associado a alguma forma de saber (FURTADO; 
CAMILO, 2016, s.p.). 
A metodologia que Foucault realizou em sua investigação sobre a questão 
do poder, que está escrito em quase toda a sua obra, constituindo-se como uma 
categoria de análise que se destaca em algumas obras implicitamente e em outras 
explicitamente, e não tem por meta fundar uma ciência, teoria ou formular sistemas 
(ALVES, 2006). Corroborando, Alves (2016, p. 234) relata que “uma coisa é certa: Foucault 
não estabelece, propositalmente, uma teoria única e geral do poder, pois o autor prefere 
deixar a questão conceitual do poder em aberto devido às múltiplas possibilidades de 
dispersão que as práticas do poder podem assumir no âmbito social”. 
A questão é que Foucault não formula teorias gerais universais. A 
metodologia empregada pelo autor, independente de seus objetos 
de investigação, se abstém dos conceitos universais, da ideia 
de totalidade, uma vez que Foucault lança mão das múltiplas 
possibilidades de dispersão das práticas sociais que possuem em 
seu cerne inúmeras variedades e descontinuidades, rompendo, 
assim, com a universalidade dos conceitos (ALVES, 2016, p. 234).
O autor supracitado explana sobre o fato de que para Foucault: 
A concepção marxista geral do poder é economicista, isto é, se 
restringe a esfera econômica, pois considera apenas a funcionalidade 
econômica do poder onde seu papel é “manter relações de produção 
e reproduzir uma dominação de classe que o desenvolvimento e uma 
modalidade própria da apropriação das forças produtivas tornaram 
possível”. A abordagem genealógica de Foucault concede um sentido 
muito mais amplo e profundo ao poder (ALVES, 2016, p. 235). 
Conforme Furtado e Camilo (2016, s.p.), essa abordagem de Foucault se 
constitui em reflexões que “exercer o poder torna-se possível mediante conhecimentos 
que lhe servem de instrumento e justificação”. Diante dessa afirmativa, os autores 
complementam: 
Em nome da verdade legitimam-se e viabilizam-se práticas autoritárias 
de segregação, monitoramento, gestão dos corpos e do desejo. 
Inversamente, é no centro de aparatos sofisticados de poder que 
sujeitos podem ser observados, esquadrinhados, de maneira que deles 
sejam extraídos saberes produtores de subjetividade. Atendo-se a uma 
análise nominalista, Foucault recusa-se a pensar o poder enquanto 
coisa ou substância, as quais seriam possuídas por uns e extorquidas 
de outros. O poder opera de modo difuso, capilar, espalhando-se por 
uma rede social que inclui instituições diversas como a família, a escola, 
o hospital, a clínica. Ele é, por assim dizer, um conjunto de relações de 
força multilaterais (FOUCAULT, 1999 apud FURTADO; CAMILO, 2016, s.p.). 
139
Cabe também observar que as reflexões de francês Michel Foucault se 
fundam em uma tentativa de instituir uma investigação que escape às teorias políticas 
tradicionais estabelecidas, ou seja, “para as quais as relações de força são pensadas a 
partir do modelo do contrato social, da luta de classes, ou ainda da figura de um Estado 
absoluto e opressivo em oposição à sociedade civil” (FURTADO; CAMILO, 2016, s.p.). 
Considerando que o poder atua não em conformidade à lógica binária dos dominadores 
versus dominados. 
Segundo a análise de Pogrebinschi (2004), Foucault se cerca de certas 
precauções metodológicas ao tecer a sua análise genealógica do poder, estão elas 
descritas a seguir: 
A primeira dessas precauções, talvez possamos denominar como princípio da 
localidade. O poder é analisado por Foucault em suas formas e em suas instituições 
mais locais. Ao afastar sua genealogia de um suposto centro do poder, ao optar pela 
exegese (significado) de mecanismos específicos e não daqueles gerais, Foucault 
também faz uma opção metodológica em prol do afastamento de uma compreensão 
juridicizada do poder. Seu desejo é o de ir para além das regras de direito que organizam 
e delimitam o poder: é atrás delas que estão as técnicas, os instrumentos e até mesmo 
as instituições que Foucault quer trabalhar. É neste contexto que, por exemplo, o poder 
de punir se consolida no suplício: trata-se de um olhar voltado para extremidades, com 
a ressalva de que essas extremidades se situem para além do jurídico.
O segundo cuidado da ordem do método chamaremos de princípio da 
exterioridade ou da objetivação. Trata-se, nas palavras de Foucault, "de não analisar 
o poder no nível da intenção ou da decisão", mas sim de estudá-lo sob a perspectiva 
de sua externalidade, no plano do contato que estabelece com o seu objeto, com o 
seu campo de aplicação. Trata-se, afinal, de buscar o poder naquele exato ponto no 
qual ele se estabelece e produz efeitos (FOUCAULT 1999, p. 33). É aqui que podemos 
identificar talvez o incessante desejo de objetivação, o 'objetivismo irremediável' sobre 
qual fala Habermas ao desbravar a obra de Foucault (HABERMAS, 2002, p. 387).
A terceira preocupação metodológica denominaremos como princípio da 
circularidade ou transitoriedade, tendo em vista que consiste na ideia de que o poder 
se exerce em uma espécie de rede na qual os indivíduos estão, a cada momento, seja 
em posição de exercer o poder, seja em posição de serem submetidos a ele. Em outras 
palavras, o poder é algo que circula incessantemente sem se deter exclusivamente 
nas mãos de ninguém: potencialmente, todos são, ao mesmo tempo, detentorese 
destinatários do poder, seus sujeitos ativos e passivos – se é que podemos falar em 
sujeito aqui. Como diz Foucault, "o poder transita pelos indivíduos, não se aplica a 
eles (...) o poder transita pelo indivíduo que ele constituiu" (FOUCAULT, 1999, p. 35).
140
A quarta preocupação, Foucault orienta-se metodologicamente por aquilo 
que chamaremos de princípio da ascensão. Em sua empreitada de romper com a 
visão jurídica do poder cunhada pela filosofia política moderna, Foucault rejeita uma 
análise descendente, isto é, que parta de cima, do alto (do soberano, por exemplo) 
para baixo. Ao contrário, a trajetória que Foucault quer fazer parte de baixo para 
cima. Essa é a genealogia foucaultiana: uma análise ascendente do poder, que parte 
de seus mecanismos moleculares, infinitesimais, até chegar àqueles gerais e globais. 
Não é de se surpreender que, na contramão da produção teórica contemporânea 
– como a de Habermas e Rawls, por exemplo –, Foucault não busca compreender 
o poder pela via das instituições estatais, mas sim através de pequenas técnicas, 
procedimentos, fenômenos e mecanismos que constituem efeitos específicos – e 
não gerais ou globais – de poder.
A última das orientações metodológicas de que se cerca Foucault em sua 
análise do poder nos parece poder ser designada na forma de um princípio da não 
ideologização. Foucault quer afastar-se das compreensões ideológicas do poder 
e substituir, no lugar das ideologias; os saberes. O que está na base do poder, diz 
Foucault, não são as ideologias, mas instrumentos de formação e acúmulo de saber. 
Ao exercer-se, o poder forma, organiza e coloca em circulação um dispositivo de saber.
Para concluir, vemos o ponto de partida de Foucault ao analisar o tema 
do poder, portanto, parece ser o desejo de rompimento com aquilo que ele chama 
de teorias jurídicas do poder. Com efeito, trata-se de romper com todo o arsenal 
teórico produzido desde a filosofia política moderna no sentido de justificar o poder 
através do contratualismo. Quando Foucault afirma que é preciso estudar o poder 
fora do modelo do Leviatã, o que ele quer ressaltar é a necessidade de se pensar o 
poder fora do campo do Estado e, de forma mais específica, da soberania e de suas 
instituições. No entanto, isso também não significa que o poder deve ser pensado em 
termos marxistas. A noção de dominação também não é suficiente para dar conta 
do conceito de poder, diz Foucault; não se a ela não for concedida uma conotação 
eminentemente positiva – coisa que o marxismo, segundo ele, não fez.
FONTE: POGREBINSCHI, T.  Foucault, para além do poder disciplinar e do biopoder.  Lua Nova: Revis-
ta de Cultura e Política, n. 63, p. 179-201, 2004.  Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-
64452004000300008. Acesso em: 3 mar. 2020.
141
O método análise genealógica do poder foi utilizado pelo filósofo francês 
Michel Foucault (1926-1984) em suas reflexões sobre as tecnologias 
e dispositivos de saber-poder, o método genealógico consiste em um 
instrumental de investigação voltado à compreensão da emergência de 
configurações singulares de sujeitos, objetos e significações nas relações 
de poder. 
FONTE: MORAES, M. V. M. Genealogia – Michel Foucault. In: Enciclopédia de an-
tropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. 
2018. Disponível em: http://ea.fflch.usp.br/conceito/genealogia-michel-foucault. 
Acesso em: 1 fev. 2020.
IMPORTANTE
Assim, esse conjunto de reflexões referenciam as análises de Foucault sobre o 
biopoder e a biopolítica, portanto: 
O poder sobre a vida instala se como modo de administrar 
populações, levando em conta sua realidade biológica fundamental. 
Através dele, estabeleceu-se em nossas sociedades, desde o século 
XVII, um contingente significativo de conhecimentos, leis e medidas 
políticas, visando ao controle de fenômenos como aglomeração 
urbana, epidemias, transformação dos espaços, organização liberal 
da economia (FURTADO E CAMILO, 2016, s.p.).
3 BIOPOLÍTICA E DESLOCAMENTO DE MULTIDÕES: 
SEGURANÇA JURÍDICA E POLÍTICA
O termo “biopolítica” é utilizado por Foucault para nominar a forma na qual o 
poder tende a se modificar entre o século XIX e o século XX, conduzido que as práticas 
disciplinares utilizadas anteriormente alvejavam governar o indivíduo, e com isso a 
biopolítica tem como finalidade o conjunto dos indivíduos, ou seja, a população, e é 
a prática de biopoderes locais. Constituído pela população, que é tanto alvo quanto 
instrumento em uma relação de poder. Rabinow e Rose (2006, p. 28), esclarece que: 
enquanto Foucault é de algum modo impreciso em seu uso dos 
termos no campo do biopoder, podemos usar o termo ‘biopolítica’ 
para abarcar todas as estratégias específicas e contestações sobre 
as problematizações da vitalidade humana coletiva, morbidade 
e mortalidade, sobre as formas de conhecimento, regimes de 
autoridade e práticas de intervenção que são desejáveis, legítimas 
e eficazes. 
142
A biopolítica confronta como modelos tradicionais de poder baseados na ameaça 
de morte, representando uma “grande medicina social” que se aplica à população a fim 
de controlar a vida: a vida faz parte do campo do poder. O pensamento medicalizado 
utiliza meios de correção que não são meios de punição, mas meios de transformação 
dos indivíduos, e toda uma tecnologia do comportamento do ser humano está ligada a 
eles (FERNANDES; RESMINI, 2019). 
Além disso, a biopolítica vai aplicar à sociedade uma distinção entre o normal 
e o patológico e impor um sistema de normalização dos comportamentos e das 
existências, dos trabalhos e dos afetos. E por fim, “as disciplinas, a normalização por 
meio da medicalização social, a emergência de uma série de biopoderes e a aparição 
de tecnologias do comportamento formam, portanto, uma configuração do poder que, 
segundo Foucault, é ainda a nossa” (FERNANDES; RESMINI, 2019, p. 1). 
Verifique a sugestão que elencamos para ampliar o debate sobre o conceito 
de biopoder na atualidade. 
FONTE: RABINOW, P.; ROSE, N. O conceito de biopoder hoje. Revista de ciências so-
ciais – política e trabalho, n. 24, p. 27-57, 2006. Disponível em: https://periodicos.
ufpb.br/ojs/index.php/politicaetrabalho/article/view/6600. Acesso em: 5 dez. 2019.
DICAS
4 BIOPODER: RAÇA, POPULAÇÃO E REPRODUÇÃO NO 
MUNDO GLOBAL
De acordo com Fernandes e Resmini (2019), o biopoder é uma tecnologia de 
poder, um modo de exercer várias técnicas em uma única tecnologia. Permitindo o 
controle de populações inteiras, sendo em uma era em que o poder deve ser justificado 
racionalmente, o biopoder é utilizado pela ênfase na proteção de vida, na regulação do 
corpo, na proteção de outras tecnologias. 
Rabinow e Rose (2006, p. 28) menciona que: 
Neste nível mais geral, então, o conceito de ‘biopoder’ serve para 
trazer à tona um campo composto por tentativas mais ou menos 
racionalizadas de intervir sobre as características vitais da existência 
humana. As características vitais dos seres humanos, seres viventes 
que nascem, crescem, habitam um corpo que pode ser treinado e 
aumentado, e por fim adoecem e morrem. E as características vitais 
das coletividades ou populações compostas de tais seres viventes.
143
Portanto, os biopoderes se ocuparão então da gestão da saúde, da higiene, 
da alimentação, da sexualidade, da natalidade, dos costumes, tornando-se, ao longo 
do tempo, preocupações políticas (FERNANDES; RESMINI, 2019). Os autores em análise 
deste pensamento verificam que a emergência do biopoder só se dá a partir da firmação 
da governamentalidade. 
Governamentalidade é um conjunto de instituições, práticas e 
formas de pensamento próprias desta forma de exercer o poder, 
em que temos a população como alvo principal, a economia política 
como saber mais importante e os dispositivos de segurança como 
instrumento técnico essencial (FERNANDES; RESMINI, 2019, p. 1).
Para finalizar este tópico, deixamos como sugestão a entrevista sobre 
biopolítica, biopoder e o deslocamento das multidões.Entrevista com a 
professora doutora e pesquisadora do Laboratório Território e Comunicação 
Leonora Corsini. O conteúdo está disponível no Portal do Instituto Humanitas 
Unisinos. Acesse o link: http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/10015-
biopolitica-biopoder-e-o-deslocamento-das-multidoes-entrevista-especial-
com-leonora-corsini.
DICAS
144
A DIMENSÃO ESPACIAL DO PODER: DIÁLOGOS ENTRE FOUCAULT E A GEOGRAFIA
Fernando Roberto 
Jayme ALVES
RESUMO: O poder constitui uma complexa e ampla categoria de análise que se apoia 
em toda a produção do tempo e do espaço. O poder extrapola os limites do Estado, não 
é exclusivo de nenhuma ciência e se encontra nas relações sociais que tecem toda 
a sociedade. A partir das análises de Michel Foucault sobre o poder, abordaremos a 
histórica e importante relação entre espaço e poder. Para Foucault, não existe uma 
teoria geral do poder, ou melhor: o poder em si não existe, ele não é um objeto e sim 
algo que se exerce, que se encontra nas relações sociais. A genealogia do poder de 
Foucault estabelece relações entre saber, poder e verdade. Ele estabelece uma visão 
ontológica do poder que, em sua condição de existência, se manifesta na organização 
do espaço dentro das instituições. As formas locais e os efeitos do poder determinam 
esta organização. A disciplina, a vigilância e o controle envolvem diretamente a questão 
espacial. Através dessas e outras considerações, será abordada a dimensão espacial do 
poder com o objetivo de estabelecer algumas ligações entre a perspectiva genealógica 
de Foucault e o pensamento geográfico. 
PALAVRAS-CHAVE: Foucault. Poder. Espaço. Corpo. Disciplina.
INTRODUÇÃO 
A palavra poder possui uma significação bastante complexa, pois envolve uma 
série de elementos que abarcam toda a sociedade. Sua abrangência é inestimável uma 
vez que o poder envolve as relações sociais, constituindo um campo de forças, um 
afrontamento, uma disputa onde se ganha ou se perde. A questão do poder constitui 
um velho tema que já foi discutido e debatido incansavelmente. Diversos autores já 
analisaram esta categoria classificando o poder como a capacidade de exercer domínio 
através do binômio ordem/obediência, ou como mecanismo de controle e repressão 
social exercido predominantemente pelo Estado, dentre outras interpretações. 
O poder abrange as noções de soberania, potência, domínio, ordem, lei, regra, 
norma, obediência etc. Assim, o poder envolve a esfera política, econômica, cultural 
e social. Enfim, o poder é demasiadamente amplo, complexo e profundo, ao ponto de 
acreditarmos que ninguém está isento dele, ou pelo menos de seus efeitos. Raffestin 
(1993, p. 6) afirma que “o poder não é nem uma categoria espacial nem uma categoria 
LEITURA
COMPLEMENTAR
145
temporal, mas está presente em toda produção "que se apoia no espaço e no tempo”. 
Considerando que espaço e tempo são categorias universais, percebe-se a amplitude e, 
portanto, a complexidade do tema poder. Com certeza isso torna a tarefa de pontuá-lo com 
propriedade mais difícil. Representar o poder não é fácil, mas ele é, contudo, decifrável. 
Em sua amplitude, o poder perpassa várias barreiras e delimitações que existem 
entre as diversas áreas do conhecimento, sendo que ele não é exclusivo de nenhuma 
delas. O poder é constituído enquanto categoria de análise para a filosofia, ciência 
política, sociologia, geografia, história, direito, economia; isto para citar alguns exemplos. 
Sabe-se que cada ciência lança uma perspectiva diferente sobre o poder de acordo com 
suas especificidades que a caracteriza enquanto uma área do conhecimento. O caso da 
geografia é notório, pois esta ciência possui um estreito laço com o poder uma vez que 
“a organização espacial é um eficaz mecanismo do exercício do poder” permitindo-nos 
falar em uma dimensão espacial do poder. 
A relação entre espaço e poder é antiga e sempre permeou assuntos 
relacionados às preocupações da geografia como as batalhas e as guerras o que ficou 
nítido nas formulações de alguns teóricos da geografia política clássica no final do século 
XIX e início do século XX. Posteriormente, Yves Lacoste explicitou esta relação entre a 
geografia e o poder do Estado nação na obra A Geografia – isso serve, em primeiro lugar, 
para fazer a guerra. Uma característica forte desta abordagem do poder é entender o 
Estado como o aparelho central e exclusivo do poder, o que alguns autores chamarão 
de uma análise “estadocêntrica” do poder, como veremos adiante.
Compreendendo que o poder em sua plenitude extrapola os limites do Estado, 
pretende-se analisar esta complexa categoria, isto é, o poder, a partir das contribuições 
teóricas de Michel Foucault, pois acredita-se que este autor conseguiu introduzir 
algumas novidades no âmbito de suas análises acerca do poder, avançando, assim, nas 
discussões de tal categoria que, por sua vez, ecoaram no pensamento geográfico. 
Michel Foucault propõe um procedimento metodológico de análise do poder no 
qual recebe o nome de genealogia – metáfora biológica que o autor retira de Friedrich 
Nietzsche. Para Foucault não existe uma teoria geral do poder onde se encerra toda 
a problemática e complexidade que o envolve. Na perspectiva genealógica levantada 
pelo autor, o poder não é um objeto em si, ele não existe, pois o que existe são práticas 
ou relações de poder. Isto significa dizer que “o poder é algo que se exerce, que se 
efetua, que funciona [...] como uma maquinaria, como uma máquina social que não está 
situada em um lugar privilegiado ou exclusivo, mas se dissemina por toda a estrutura 
social. Não é um objeto, uma coisa, mas uma relação”. 
146
Portanto, nada está isento de poder, ele está em todos os lugares e é exercido 
constantemente. Se o poder realmente se estabelece através de uma relação, ele implica 
de forma irremediável em disputas e lutas que, consequentemente, se distribuem nas 
entranhas da dinâmica socioespacial das sociedades. Afinal, existe uma lógica espacial 
por trás do ordenamento dos mecanismos do poder? Há de fato uma dimensão espacial 
do poder em Michel Foucault? O que este autor tem a dizer para a geografia no que se 
refere à relação entre poder e espaço? Quais são as principais contribuições de Foucault 
para o pensamento geográfico contemporâneo? 
Tentaremos pontuar algumas características importantes da abordagem 
foucaultiana sobre o poder para que seja possível estabelecer alguns laços teóricos 
entre seu pensamento e algumas problemáticas espaciais que envolvem a geografia. 
Não pretendemos responder todas as questões suscitadas acima de forma pronta, 
acabada e fechada, pelo contrário, temos como objetivo levantar alguns debates e 
indagações pertinentes à geografia a partir da análise realizada por Foucault sobre o 
poder. Dessa forma, estamos em consonância com o pensamento de Raffestin (1993, p. 
8) que afirma ser “pelo questionamento e não pelas respostas que se alcança a medida 
do conhecimento”.
FONTE: ALVES, F. R. J. A dimensão espacial do poder: diálogos entre Foucault e a Geografia. 2013. 
Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/index.php/geoemquestao/article/view/6725/5793. Acesso em: 
3 mar. 2020.
147
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O professor e pesquisador Foucault é uma fonte de conhecimento para diversas 
áreas da ciência, como uma teoria e gestão estratégica, e que é inspiração e utilizada 
por numerosas áreas de conhecimento, bem como, nas ciências sociais, história, 
geografia e dentre outras.
• O trabalho de Foucault tornou-se conhecido por sua reflexão sobre o poder. Para 
ele, o poder encontra-se sempre associado a alguma forma de saber.
• O poder constitui uma complexa e ampla categoria de análise que se apoia em toda 
a produção do tempo e do espaço. O poder extrapola os limites do Estado, não é 
exclusivo de nenhuma ciência e se encontra nas relações sociais que tecem toda a 
sociedade.
• Para Foucault não existe uma teoria geral do poder, ou melhor, o poderem si não 
existe, ele não é um objeto e sim algo que se exerce, que se encontra nas relações 
sociais. Exercer o poder só é possível mediante conhecimentos que lhe servem de 
instrumento e justificação. 
• O poder opera de modo difuso, capilar, espalhando-se por uma rede social que inclui 
instituições diversas como a família, a escola, o hospital, a clínica. Ele é, por assim 
dizer, um conjunto de relações de força multilaterais.
• Essa é a genealogia foucaultiana: uma análise ascendente do poder, que parte de 
seus mecanismos moleculares, infinitesimais, até chegar àqueles gerais, globais.
• A genealogia do poder de Foucault estabelece relações entre saber, poder e verdade.
• Podemos usar o termo ‘biopolítica’ para abarcar todas as estratégias específicas e 
contestações sobre as problematizações da vitalidade humana coletiva, morbidade 
e mortalidade, sobre as formas de conhecimento, regimes de autoridade e práticas 
de intervenção que são desejáveis, legítimas e eficazes.
• O conceito de ‘biopoder’ serve para trazer à tona um campo composto por tentativas 
mais ou menos racionalizadas de intervir sobre as características vitais da existência 
humana. As características vitais dos seres humanos, seres viventes que nascem, 
crescem, habitam um corpo que pode ser treinado e aumentado, e por fim adoecem 
e morrem. E as características vitais das coletividades ou populações compostas de 
tais seres viventes.
148
1 A genealogia do poder de Foucault estabelece uma visão ontológica do poder que, 
em sua condição de existência, se manifesta na organização do espaço dentro das 
instituições. As formas locais e os efeitos do poder determinam esta organização. 
A disciplina, a vigilância e o controle envolvem diretamente a questão espacial. 
Portanto, a genealogia do poder estabelece relações entre: 
a) ( ) Inteligência, verdade e organização.
b) ( ) Saber, disciplina e controle. 
c) ( ) Organização, controle e poder. 
d) ( ) Saber, poder e verdade. 
e) ( ) Verdade, existência e saber. 
2 O conceito biopoder é considerado uma tecnologia de poder, um modo de exercer 
várias técnicas em uma única tecnologia. Ele permite o controle de populações 
inteiras. Em uma era onde o poder deve ser justificado racionalmente, o biopoder 
é utilizado pela ênfase na proteção de vida, na regulação do corpo, na proteção de 
outras tecnologias. Os biopoderes se ocuparão então da gestão da saúde, da higiene, 
da alimentação, da sexualidade, da natalidade, dos costumes etc., na medida em que 
essas se tornaram preocupações políticas (FERNANDES; RESMINI, 2019).
Analise as seguintes afirmativas:
I- É uma tecnologia de poder. 
II- É utilizado pela ênfase na proteção de morte.
III- Utilizado na regulação do corpo.
IV- Utilizado na proteção de outras tecnologias. 
V- Utilizado para a vitalidade humana coletiva.
É CORRETO o que se afirma em:
a) ( ) I e IV. 
b) ( ) II e III. 
c) ( ) III e IV. 
d) ( ) I, II e III. 
e) ( ) I, III e IV.
3 Michel Foucault propõe um procedimento metodológico de análise do poder que recebe 
o nome de genealogia – metáfora biológica que o autor retira de qual autor base? 
a) ( ) Paul Vidal de La Blache.
b) ( ) Friedrich Nietzsche.
c) ( ) Friedrich Ratzel.
d) ( ) Carl Ritter.
AUTOATIVIDADE
149
TEMAS E PROBLEMAS DA 
GEOGRAFIA POLÍTICA 
CONTEMPORÂNEA
UNIDADE 3 — 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender os temas mais relevantes e os problemas característicos da geografia 
política contemporânea; 
• compreender os deslocamentos populacionais e as migrações como formas gerais 
de produção e de transformação do espaço a partir de conflitos que persistem ao 
longo dos séculos e de novos conflitos produzidos no século XXI;
• entender as migrações internacionais e os processos que coadunam nas diversas 
formas de refúgios, produzindo outros territórios, inclusive, os territórios da espera;
• compreender a geopolítica mundial a partir do continente africano, explorado e em 
abandono e a América Latina, por meio de seus caminhos e descaminhos;
• identificar o que são e como se dão as formações nacionais e as diferentes 
possibilidades de inserção regional;
• aprender a geografia política pelo recorte do meio ambiente, da gestão dos recursos e 
da sustentabilidade, incluindo as práticas de gestão internacional dos recursos naturais.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará 
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
TÓPICO 2 – GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA LATINA
TÓPICO 3 – GEOGRAFIA POLÍTICA E O MEIO AMBIENTE, GESTÃO DOS RECURSOS E 
SUSTENTABILIDADE
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure 
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
CHAMADA
150
CONFIRA 
A TRILHA DA 
UNIDADE 3!
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151
TÓPICO 1 — 
CONFLITOS, DESLOCAMENTOS E MIGRAÇÕES
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Esta unidade está dividida em três tópicos, sem perder o objetivo maior que os 
aglutina, ou seja, o estudo dos temas e problemas da geografia política contemporânea. 
Neles, perpassamos os conflitos mundiais em suas dimensões territoriais, os desloca-
mentos populacionais e os processos migratórios e as situações de refúgio. Além disso, 
será possível a compreensão da geografia política dos continentes considerados sub-
desenvolvidos, quais sejam, o africano e o latino americano. 
Neste tópico, por meio de uma abordagem teórico-empírica, estudaremos 
questões que margeiam o termo “conflito”: poder, disputas e guerras, que, somadas a 
outros elementos, fazem com que cada vez mais um contingente amplo de pessoas se 
desloque pelo planeta. 
A abordagem é textualmente única e remete às guerras ocorridas (e que ainda 
ocorrem) no século XXI. No seu interior, no entanto, destacamos os conflitos mais 
perenes e instáveis em termos geopolíticos, fundamentados por concepções teóricas 
e conceituais que permitem ao estudante a compreensão de termos, muitas vezes, 
banalmente utilizados no cotidiano das mídias. Os exemplos, então, são de eventos reais 
que transformaram a geopolítica mundial e regional das escalas nas quais ocorreram.
Além disso, apresentam-se os motivos indutores dos deslocamentos 
populacionais, especialmente, os socioeconômicos, os culturais e os geopolíticos, bem 
como aprofunda-se o conceito que fundamenta os deslocamentos, qual seja, o de 
migrações e seus derivados: migrações internacionais, migrações internas, emigração, 
imigração além do conceito de refúgio e de refugiado. 
152
2 CONFLITOS QUE PERSISTEM: AS GUERRAS DO SÉCULO XXI
O Jornal Argentino “El País”, em reportagem de 12 de fevereiro de 2017 
reproduzida a seguir, define com propriedade as duas características, dialeticamente 
opostas, que definem as guerras do século XXI das anteriores, quais sejam: a presença, 
compartilhada, de elementos bélicos muito específicos, tanques e ciberataques no 
mesmo campo de batalha. 
Assim, são também denominadas de guerras híbridas, de acordo com Korybko 
(2018, s.p.): 
As Guerras Híbridas são conflitos identitários provocados por agentes 
externos, que exploram diferenças históricas, étnicas, religiosas, so-
cioeconômicas e geográficas, em países de importância geopolítica, 
por meio da transição gradual das revoluções coloridas para a guer-
ra não convencional, a fim de desestabilizar, controlar ou influenciar 
projetos de infraestrutura multipolares por meio de enfraquecimento 
do regime, troca do regime ou reorganização do regime.
O autor afirma, ainda, que isso significa que países como os EUA se aproveitam 
de problemas identitários em um Estado-alvo a fim de mobilizar uma, algumas ou todas 
as questões identitárias mais comuns para provocar grandes movimentos de protesto, 
que podem então ser cooptados ou dirigidos por eles para atingir seus objetivos políticos.
Esses elementostornam as chamadas “guerras modernas” conceitualmente hí-
bridas e convencionais, de alta e de baixa intensidade, de vitórias e derrotas ambíguas, 
levando a história a escrever o momento de maiores incertezas dos tempos recentes.
FIGURA 1 – AS GUERRAS DO SÉCULO XXI
FONTE: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/10/internacional/1486742896_396520.html>. Acesso 
em: 3 jun. 2020.
153
Esta “nova” forma de fazer a guerra, assente na teoria da guerra 
híbrida, engloba uma combinação única de ameaças híbridas, Estados 
falhados e atores não estatais, apoiados por Estados), que exploram 
uma combinação de desafios, empregando todas as formas de guerra 
e táticas, mais frequentemente em simultâneo. É fundamental que 
entendamos essas características de mudança, a sua natureza, as 
suas relações e a sua história para uma compreensão aproximada do 
fenômeno (FERNANDES, 2016, p. 13).
FIGURA 2 – MODELO CONCEITUAL DE GUERRA HÍBRIDA
FONTE: U. S. Government Accountability Office (2010, p. 16)
E como começou o século das guerras híbridas? Ou como as guerras híbridas 
começaram no século XXI? 
O dia 11 de setembro de 2001 é considerado um marco para a geopolítica dos 
fluxos e dos fixos mundialmente e razoavelmente instáveis após o final da Guerra Fria. O 
ataque terrorista ao World Trade Center, um complexo formado por sete edifícios, sendo 
as Torres Gêmeas as mais conhecidas. Observe na figura as chamas decorrentes do 
impacto da queda de dois aviões comerciais tomados por terroristas, em Nova Iorque.
IRREGULAR
Defesa Interna
Terrorismo
Contra Terrorismo não convencional
Contrainsurgência (resistência a um 
movimento de insurgência)
Operações de Estabilização 
(operações de apoio à paz em conflitos)
HÍBRIDA
Convencional
Irregular
Criminalidade
Cyber
CONVENCIONAL
Conflito Internacional
Forças Regulares
154
FIGURA 3 – ATAQUE AS TORRES GÊMEAS, EM NOVA IORQUE, 2001
FONTE: <https://gazetaweb.globo.com/fotosPortal/portal_gazetaweb_com/noticias/foto_gran-
de/2017/09/201709110723_781ff506a4.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
O atentado foi realizado, com autoria declarada, pela organização terrorista 
conhecida como Al-Qaeda, surgida no final da década de 1980, durante a Guerra do 
Afeganistão. A organização tinha como líder Osama Bin Laden, além de ser um de seus 
fundadores.
O “11 de setembro” mudou tudo! Confira no link: https://brasil.elpais.com/
brasil/2017/02/10/internacional/1486742896_396520.html.
IMPORTANTE
Os desdobramentos dos acontecimentos do 11 de setembro têm resquícios 
até os dias atuais e são responsáveis pelas guerras do século XXI, guardadas algumas 
especificidades. Ainda em outubro de 2001, o exército americano invade o Afeganistão, 
com o objetivo de eliminar o Talibã, seu governo, que também era de orientação 
fundamentalista e que havia dado abrigo à Al-Qaeda.
A invasão realizada pelos americanos derrubou o Talibã e o país ainda vive em 
situação de instabilidade, com combates internos contra e a favor do Talibã, que busca 
recuperar o poder. Entre os anos de 2001 e 2016 aproximadamente 31 mil pessoas 
morreram, no Afeganistão, em consequência da guerra (BBC BRASIL, 2019b).
155
Os Estados Unidos, por sua vez, inflaram as normas de segurança de voos 
comerciais, tornando-as extremamente rígidas, bem como criou uma centena de duras 
medidas para combater o terrorismo. E assim, constituiu-se a primeira guerra declarada 
do século XXI, deflagrada, como não poderia deixar de ser, pela maior potência ou pela 
superpotência mundial. 
A única superpotência da atualidade [...] ocupa posição central nessa nova 
ordem capitalista "imperial". Seu espaço territorial, que não se confunde com 
as abertas fronteiras do Império capitalista, é o centro nervoso – dinâmico 
– de onde emanam e para onde convergem os fluxos dessa nova ordem 
econômica. Atores privilegiados, os EUA são também os "ordenadores" 
ou "regentes" do Império, extraindo dele os maiores dividendos. Natural, 
nesse contexto, que os EUA, império dentro do "Império", tenham logrado 
alçar-se, nos últimos anos, a uma situação de incontrastável superioridade 
em todos os campos do poder: econômico, tecnológico e militar. O poderio 
político, que nada mais é do que o exercício dessa superioridade no campo 
da relação entre os Estados, decorre direta e naturalmente dessa situação, 
que os EUA procurarão manter por todos os meios (BARBOSA, 2002, p. 73).
IMPORTANTE
Rupturas e continuidades do 11 de setembro sobre a ordem 
internacional – a Guerra do Iraque, 2003.
Após aprender sobre as Guerras do século XXI, você concorda que os 
eventos de 11 de setembro transformaram, de fato, a ordem global a ponto 
de constituir um divisor de águas na geopolítica mundial?
E a partir dessa geopolítica, quais seriam as consequências para os 
deslocamentos populacionais e para as migrações internas e externas?
ATENÇÃO
A Guerra do Iraque (2003-2010) foi a mais longa, até o momento, do século XXI. 
Ela envolveu um conjunto de elementos de cunho históricos, posto o Iraque ser parte 
da agenda americana de alertas, ou seja, de uma lista de países que são considerados 
ameaça ao país. Esses alertas, no entanto, eram como política de contenção e não de 
deposição do regime de Saddam Hussein. De acordo com Moura e Souza (2019), dois 
fatores indicaram a mudança na estratégia americana, que culminou com a guerra. 
156
O primeiro a eleição de George W. Bush e a nova equipe de governo 
contando com vários envolvidos na Guerra do Golfo de 1991, um 
grupo de pressão que acreditou ser o momento de terminar a 
tarefa inacabada na gestão de George Bush, pai do atual presidente 
americano. A Casa Branca considerou Saddam Hussein como uma 
ameaça aos interesses americanos na região, aos aliados dos Estados 
Unidos no mundo árabe e a Israel. O segundo motivo causa da 
guinada na política americana está nos atentados de 11 de setembro 
(MOURA; SOUZA, 2019, p. 10-11).
Assim, em 20 de março de 2003, as forças armadas americanas aliadas a 
britânicos e outras forças internacionais iniciaram a Guerra do Iraque ou a Segunda 
Guerra do Golfo, que perdurou até 2010. A troca de ofensivas foi iniciada a partir do 
discurso de Jorge W. Bush, que inseriu o Iraque, o Irã e a Coreia do Norte como “Eixo do 
Mal”, exaltando os ânimos entre os dois países. 
A alegação, além daquelas vinculadas ao 11 de setembro, era a de que o regime 
do presidente iraquiano Saddam Hussein desenvolvia armas químicas e de "destruição 
em massa". O conflito foi o mais longo, com participação norte-americana, desde a 
guerra do Vietnã, com consequências de “efeito dominó” até os dias de hoje na região. 
As suspeitas consideradas verídicas do governo norte-americano, ou seja, a existência 
de armas químicas e de destruição em massa nunca foram comprovadas. 
Uma cena emblemática, ocorrida em abril de 2003, foi a derrubada da estátua 
de Saddam Hussein, na praça Farduss, no coração de Bagdá, por comboios americanos. 
A cena foi transmitida para todo o mundo, pelos canais de TV, e demonstrava a ruína do 
regime do ditador no país. 
FIGURA 4 – QUEDA DA ESTÁTUA DE SADDAM HUSSEIN, NA PRAÇA CENTRAL DE BAGDÁ, 
EM 9 DE ABRIL DE 2003.
FONTE: <https://home.img.uol.com.br/0803/j/1903iraque.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
157
Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=xnx5VhwGKbA.
DICAS
Aproximadamente 650 mil iraquianos morreram na guerra, de acordo com 
a ONU (2010), entre eles o ditador Saddam Hussein, capturado pelo exér-
cito estadunidense. Entregue às autoridades iraquianas, foi condenado à 
morte e executado em dezembro de 2006. A guerra teve fim, mas não im-
pediu o fortalecimento da Al-Qaeda, do Estado Islâmico e de outros grupos.
DICAS
Apesar de quase nenhum país no mundo se opor à queda do regime de 
Hussein, a maioria das nações e a opinião pública eram contrárias à guerra. 
Até hoje, questionam-se as razões para a invasão, visto que as armas de 
destruição em massa não foram encontradas e não houve comprovação 
da relação de Hussein com a Al-Qaeda. Em 2016, um relatóriofeito pelo 
governo britânico para avaliar a decisão de participar da guerra concluiu 
que a ação militar não era o último recurso, e que as consequências da 
invasão foram subestimadas.
FONTE: <https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2019/08/o-
que-voce-precisa-saber-sobre-guerra-do-iraque.html>. Acesso em: 8 jul. 2020.
ATENÇÃO
A Segunda Guerra do Líbano (conflito árabe-israelita) teve início no dia 12 de 
julho de 2006. Por ela, o mundo presenciou mais um conflito armado, iniciado entre o 
Líbano e Israel, a partir de um ataque do grupo xiita libanês a Israel que levou à morte 
oito soldados (FREITAS, s.d.).
Esse ataque teve como pretexto testar os conhecimentos estratégicos do 
primeiro ministro israelense Ehudo Olmert e verificar como ele se comportaria em crises 
militares, devido a sua possível inexperiência com relação ao tema. Além desses fatos, 
a captura de dois soldados israelenses pelo grupo Hezbollah completou o conjunto de 
eventos que desencadeou a Guerra do Líbano. Rapidamente, essas ofensivas avançaram 
para um violento conflito armado. 
158
Várias tentativas de conter os acometimentos foram realizadas por diversos 
líderes mundiais e pela ONU que, por meio de seu Conselho de Segurança, propôs uma 
solução para o fim do conflito, ainda em 2006. 
FIGURA 5 – ISRAEL, LÍBANO, SÍRIA E JORDÂNIA, ALÉM DOS TERRITÓRIOS PALESTINOS
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6a/Lebmap_3rd_day.jpg/300px-Leb-
map_3rd_day.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
O Conselho de Segurança aprovou, então, a Resolução nº 1701, elaborada por 
americanos e franceses, pondo fim aos ataques do Hezbollah. Além disso, colaboraram 
para a retirada das tropas de Israel do território libanês, bem como colocaram ao longo 
da fronteira sul do Líbano um grupo de missão de paz, da ONU, libertando todos os 
soldados israelenses e colocando fim ao conflito. Em meio a essas e outras estratégias, 
ressurge politicamente Benjamin Netanyahu que se encontra no poder até hoje.
Hezbollah é uma organização com atuação política e paramilitar que 
segue a corrente xiita do islamismo e, em árabe significa “partido de Alá 
ou “partido de Deus” (SOARES, 2001). O Hezbollah é, ainda, reconhecido, 
por grande parte do mundo islâmico e árabe, como um movimento de 
resistência legítimo. Apesar de a União Europeia e o Reino Unido (Principal 
aliado dos Estados Unidos) classificarem dessa forma tão somente o braço 
militar da organização, o grupo é considerado uma organização terrorista 
pelos Estados Unidos e outros países
NOTA
159
Segundo a organização Human Rights Watch (HRW, 2018, p. 8), “o conflito 
resultou em ao menos 1.109 libaneses mortos, a grande maioria civis, 4.399 feridos 
e uma estimativa de um milhão de deslocados”. A organização também revelou que 
43 civis israelenses e 12 soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI) foram mortos 
durante o confronto.
Ainda sobre as guerras do século XXI, o que se denomina de operação 
chumbo fundido é uma longa e complicada guerra, com séculos de duração, entre 
israelenses e palestinos, sendo parte de um contexto maior, o conflito árabe-israelense. 
Quando pensamos em analisar as guerras do século XXI e como elas impactaram 
nos deslocamentos populacionais, era esse recorte escalar espacial e temporal que 
pensávamos expor. 
Assim, essa longa história não será explicada em detalhes aqui. Cabe a nós 
deixar um conjunto de indicações de literaturas para que seus estudos possam ser os 
mais produtivos possíveis.
SUGESTÕES DE LITERATURA
ARAGÃO, M. J. Israel X Palestina – Origens, história e atualidade do conflito. 
Rio de Janeiro: Revan, 2005.
BAEZA, C. O reconhecimento do Estado palestino: origens e perspectivas. 
Revista Meridiano 47, v. 12, n. 126, p. 34-42, jul/ago. 2011.
CHOMSKY, N. Rumo a uma nova guerra fria. São Paulo: Record, 2007.
GRESH, A. Israel X Palestina – Verdade sobre um conflito. Lisboa: Campo 
das Letras, 2002.
OZ, A. Como curar um fanático: Israel e Palestina: entre o certo e o certo. 
São Paulo: Cia. das Letras, 2016.
SAID, E. Orientalismo – O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: 
Cia das Letras, 2007.
SANTOS, G. L. Direito humano de acesso à água pelos palestinos: o problema 
hídrico no conflito árabe-israelense. 2018. Dissertação (Mestrado em 
Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito. UFSC: Florianópolis.
DICAS
160
A Operação Chumbo Fundido foi uma grande ofensiva militar das Forças de Defesa 
de Israel, realizada na Faixa de Gaza, a partir do dia 27 de dezembro de 2008, deixando um 
saldo negativo no plano humanitário: 1.417 mortos e 4.336 feridos, em sua maioria civis, 
segundo o Centro Palestino para os Direitos Humanos (PCHR) da ONU (2010). 
FIGURA 6 – ÁREA DA OPERAÇÃO FERRO FUNDIDO, 2008
FONTE: <https://issuu.com/ochaopt/docs/ocha_opt_gaza_crisis_overview_20100704_174329>. Acesso 
em: 3 jun. 2020.
O principal objetivo, de acordo com os israelenses, era o de deter os ataques 
de foguetes do Hamas contra o seu território. Para os palestinos, os ataques eram 
respostas ao fato de Israel não ter cessado os ataques ao território palestino, bem como 
não ter interrompido o bloqueio à Faixa de Gaza, mesmo com o cessar-fogo que vigorou 
por seis meses anteriormente a Operação Chumbo Fundido (BAEZA, 2011). 
Hamas é a denominação do partido político majoritário no Conselho 
Legislativo da Palestina, sendo responsável pelo controle da Faixa de Gaza. 
Considerado terrorista por vários países, o grupo radical islâmico governa 
a Faixa de Gaza desde 2006.
NOTA
161
Os meses que se seguiram foram marcados pelos esforços do presidente 
dos EUA, Barack Obama, para a retomada das negociações de paz, enfim seladas em 
setembro de 2010. Este acordo, no entanto, não põe fim aos conflitos nessa região do 
Oriente Médio que persistem até os dias atuais.
• Personagens atuais das relações Israel-Palestina.
• Benjamin Netanyahu (Primeiro Ministro israelense).
• Hamas (liderado por Ismail Haniyeh).
• Autoridade Nacional Palestina (ANP) (presidente Mahmoud Abbas).
De acordo com dados das ONU (2016), este tem sido um século de violência 
no Oriente Médio e no norte da África. Até 2015 eram nove guerras civis em países 
islâmicos entre o Paquistão e a Nigéria (Afeganistão, Iraque, Síria, sudeste da Turquia, 
Iêmen, Líbia, Somália, Sudão e nordeste da Nigéria). 
Cerca de 2,6 milhões de iraquianos se deslocaram por conta das 
ofensivas do Estado Islâmico (EI) no último ano e ocupam tendas 
ou prédios nunca terminados. Despercebidos pelo resto do mundo, 
cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram o Sudão do Sul desde que os 
conflitos no país foram retomados no final de 2013 (ONU, 2016, p. 13).
É nesse sentido que os conflitos e disputas por meio de guerras colocam tan-
tas pessoas em deslocamento, já que fogem por um motivo inquestionável, o de salvar 
suas vidas e dos seus familiares, abandonando pertences, em especial, suas identi-
dades territoriais. 
3 AS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS E O DRAMA DOS 
REFUGIADOS
Os estudos de processos reais nos fazem compreender as mudanças e as 
permanências das relações entre as sociedades e a natureza, mediadas pelas técnicas, 
de um determinado período histórico. No entanto, faz-se fundamental que esses estudos 
sejam ancorados em teorias, conceitos e categorias de análise que deem sustentação às 
vertentes observadas e metodologicamente pesquisadas e apreendidas. A abordagem 
sobre os deslocamentos e as migrações da população pelo espaço não é diferente. 
Em termos espaciais e sociológicos, a dinâmica da população de um local 
muda, não apenas em termos quantitativos, quando as pessoas nascem, morrem ou se 
mudam do ou para o local analisado. Os especialistas afirmam, assim, que existem três 
componentes da dinâmica populacional: a fecundidade, a mortalidade e a migração. 
Das três, a migração é a mais difícil de se definir, ainda mais quando, nos últimos anos: 
[...] a população mundial passou a vivenciar uma maior intensidade em 
seus deslocamentos no espaço.As trajetórias tornaram-se mais com-
plexas em termos de composição, distância e, sobretudo, no que se 
refere as suas causas e consequências (ZAPATA; GUEDES, 2017, p. 5).
162
Nesse sentido, nós gostaríamos de contribuir para a sua reflexão. Vamos 
continuar?
As pessoas se deslocam ou migram (e já vamos falar sobre o conceito de 
migrações!) por tantos motivos e em termos tão amplos que, por eles mesmos, incluem 
toda um conjunto de fenômenos muito distintos entre si. Por isso, possivelmente 
nenhuma explicação daria conta de abarcar a todos esses fenômenos. Buscamos, aqui, 
em termos de conhecimento-síntese, apresentar alguns desses fenômenos. As pessoas 
se deslocam, então, de forma geral e ampla, por:
1) Questões econômico-sociais, como a reestruturação recente dos mercados de 
trabalho (volatilidade de mercado, aumento da competitividade e do estreitamento 
das margens de lucros, enfraquecimento do poder sindical, grande quantidade de 
mão de obra excedente, dentre outros) que impôs regimes mais flexíveis, “reduzindo o 
emprego regular em favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário 
ou subcontratado” (OLIVEIRA, 2008, p. 5). 
2) Questões culturais, a exemplo da perseguição religiosa e ideológica. Por isso, para 
Lambert et al. (1980), a necessidade de aprofundamento na análise de enfoques 
interculturais, pois promovem uma visão ampla, dinâmica e flexível dos fenômenos 
psicossociais, entendendo o desenvolvimento humano e suas manifestações 
decorrentes da relação dialética entre o sujeito e os contextos.
3) Questões de ordem política e geopolítica como os conflitos por disputas de territórios, 
riquezas minerais, água, terras indígenas e de povos tradicionais e outros. 
4) Desastres naturais e ambientais. Em termos de valoração com relação a esses 
indivíduos, eles devem ser vistos ou respeitados como migrantes, ou seja, pessoas 
que se deslocam de um local para o outro em função de alguma necessidade ou 
induzidos por motivos para além de suas possibilidades de resolvê-las no local de 
origem. 
Aqui, para que você se aprofunde no tema, introduzimos o conceito de migração. 
De acordo Golgher (2004), a migração pode ser definida como uma mudança permanente 
de local de residência, mas somente isso não é suficiente para definir o que seja a migração. 
Uma grande ou pequena distância envolvida na troca de domicílio também não. No Brasil, 
uma definição comumente utilizada diz respeito a mudança de município. 
[...] o migrante é o indivíduo que morava em um determinado 
município e atravessou a fronteira deste município indo morar em um 
outro distinto. Se eu mudo de bairro em um mesmo município, eu não 
sou um migrante, pois continuei morando no mesmo município. Isso 
mesmo que a distância envolvida na troca de domicílio seja muito 
grande. Eu posso deslocar por muitos quilômetros, como no caso 
de São Paulo, e continuo não sendo um migrante se permanecer no 
mesmo município. Agora, se eu moro na cidadezinha na fronteira, 
mudo de lado na mesma rua e troco de país e de município, eu sou 
considerado um migrante (GOLGHER, 2004, p. 28). 
163
Outros conceitos de migração são utilizados de acordo com as áreas de 
conhecimento científico, como a Sociologia, a Demografia, a Economia etc. Cabe 
destacar, no entanto, que foi nos EUA, país que recebeu, ao longo do tempo, milhões 
de imigrantes de diferentes nacionalidades, que a migração se tornou um problema 
real com necessidades de ser analisado por essas e outras ciências, o que levou a 
problematização das concepções e imagens construídas sobre os migrantes. Quanto 
aos tratamentos jurídico, econômico e humanitário, estes são diferenciados de acordo 
com o local/país de destino e com o grupo de origem. Veja as duas figuras a seguir e 
busque pensar nos porquês dessa afirmação.
FIGURA 7 – IMIGRANTE DIANTE DO SÍMBOLO DA UNIÃO EUROPEIA CERCADO POR GRADES
FONTE: <https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo_legenda/861747e7ae-
5864200efc27db98cb18a0.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Em contraposição, a Alemanha tem sido um dos países mais sensíveis as causas 
das migrações (e de refúgios) na Europa/União Europeia, como mostra a ilustração a 
seguir.
FIGURA 8 – ALEMÃES RECEBENDO IMIGRANTES/REFUGIADOS
FONTE: <https://st2.depositphotos.com/1044737/8470/i/450/depositphotos_84705958-stock-photo-
-germany-group-of-young-multi.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
164
Importante destacar, no entanto, que a recepção ao migrante é realizada de 
formas bastante diferentes em relação à sociedade civil. Aqui, porém, falamos das 
instituições e do papel dos Estados em relação à causa, ou seja, se e como recebem 
ajuda em todos os sentidos da vida.
Derivados do conceito de migração, emigração e imigração também precisam 
ser definidos conceitualmente. A etimologia ensina que imigrar decorre da junção entre 
migrare, “mudar de residência/condição” + in “para dentro”, ou seja, imigrar é o ato de 
entrar em um outro país. Por oposição, emigrar é resultante decorre da junção entre 
migrare, “mudar de residência/ condição” + e “para fora”, ou seja, emigrar é o ato de 
entrar em um outro país. Estes termos são bastante difundidos no Brasil e tem uma 
larga história de utilização, o que, imaginamos, deve facilitar seu aprendizado. 
Você percebeu que... nessa perspectiva teórica, todo imigrante no país de 
destino é um emigrante no país de origem?
IMPORTANTE
Migrações internacionais são os deslocamentos que as pessoas fazem de 
imigrar e de emigrar. No entanto, essa dinâmica populacional é assim considerada 
quando espontânea ou planejada, por vontade própria, mesmo que o incentivo ao 
migrar seja algo aparentemente negativo, como o convite de uma empresa estrangeira 
para que a pessoa assuma um cargo em outro país. 
Migrações também ocorrem forçosamente, inclusive as internacionais. O que 
isso significa? Que eventos externos ao desejo da pessoa a obriga a migrar de um país 
para outro. Neste caso, muitos dos migrantes (emigrantes em seu país de origem e 
imigrantes no país de chegada) deslocam-se de um país para outro.
Quer conhecer histórias reais de imigrantes que chegaram ao Brasil ao longo do 
século XX? Visite (virtual ou pessoalmente) o Museu da Imigração, em São Paulo.
165
FIGURA 9 – QUAL CONCEITO USAR?
FONTE: <http://museudaimigracao.org.br/migrante-imigrante-emigrante-refugiado-estrangeiro-qual-pala-
vra-devo-usar/>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Em relação a termos teóricos relativos às migrações internacionais, há teorias 
que enfatizam os processos de (des)integração social e a assimilação cultural dos 
imigrantes, cuja matriz fundamental são os estudos da Escola de Chicago (escola 
formada nos EUA por iniciativa de sociólogos americanos do Departamento de 
Sociologia da Universidade de Chicago). Análises críticas posteriores questionaram o 
melting pot (crisol de raças ou caldeirão de raças) e verificaram a complexa inserção dos 
imigrantes no mercado de trabalho. Outras abordagens, ainda, tratam os movimentos 
populacionais internacionais: 
[...] a partir das teorias de redes sociais e do transnacionalismo, as 
quais enfatizam as múltiplas relações que os migrantes estabelecem 
com as sociedades tanto de origem quanto de destino, evidenciando 
que as categorias pelas quais os migrantes são analisados necessitam 
ser problematizadas (SASAKI; ASSIS, 2016, p. 2).
Os dados comparativos de 2017 e 2019 da Agência da ONU para Refugiados 
(ACNUR) apresenta, que demonstram que o número de pessoas que se deslocaram pelo 
mundo, no período, ultrapassa os 70 milhões, num aumento de 2,3 milhões. A matéria 
traz, ainda, o exemplo do deslocamento recente de venezuelanos (emigrantes em seu 
país de origem) para a Colômbia (imigrantes no país de destino) em razão da grave crise 
político-econômica e social que ocorre no país. 
166
FIGURA 10 – FAMÍLIAS VENEZUELANAS CRUZAM O RIO TACHIRA PARA CHEGAR À COLÔMBIA
FONTE: <https://nacoesunidas.org/numero-de-pessoas-deslocadas-no-mundo-chega-a-708-milhoes-
-diz-acnur/>.Acesso em: 3 jun. 2020.
Neste exemplo, os venezuelanos são migrantes internacionais, emigrantes em 
seu país de origem e imigrantes no país de destino, ou seja, a Colômbia. Eles também 
têm se deslocado em grande número para o Brasil, posto o país fazer fronteira com a 
Venezuela, o que, de certa forma, facilita os deslocamentos. 
Os venezuelanos são exemplo recente na América do Sul, da afirmação de 
Baeninger (2014, p. 8) de que as “[...] migrações internacionais no século 21 adquirem, 
cada vez mais, papel importante no cotidiano social, nos mercados de trabalho, nas 
sociedades de chegada e de partida, nos fluxos financeiros, na mobilidade da força de 
trabalho e na vida de populações imigrantes”. 
Esses são temas urgentes a serem pensados pelos governantes, que devem 
além de criar políticas públicas condizentes com as demandas impostas, também pensar 
em legislações que garantam aos imigrantes direitos humanitários, sociais, econômicos 
e outros daí decorrentes. E quando essas pessoas chegam aos países de destino em 
situação de refúgio ou como refugiados, o que acontece? Quem ou quais condições 
determinam que assim seja? Quais direitos lhe são garantidos, por que e como? 
167
As abordagens sobre o tema refúgio e refugiados contemplam um conjunto 
de estudos bastante importante na atualidade. Isso porque o tema é bastante sensível 
em termos de política internacional e perpassa legislações diferentes e divergentes em 
cada país ou Estado Nação, contemplando os aspectos socioculturais e humanitários.
Para a Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados 
(ACNUR, 2019, s.p.) estes são formados por:
[...] pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados 
temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, 
nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou 
opinião política, como também devido à grave e generalizada violação 
de direitos humanos e conflitos armados.
Importante destacar que os refugiados não podem ser considerados migrantes, 
pois migrante é aquela pessoa que por um motivo qualquer escolhe sair de seu país de 
origem para viver em outro. O refugiado, a seu turno, não tem escolha: ele sai do país de 
origem porque não pode mais viver ali, do contrário colocará sua vida e de sua família 
em risco.
Como já conversamos neste tópico de estudos, os conflitos mundiais (e em 
especial as guerras), bem como questões de ordem natural (desastres ambientais e 
outros), ao longo da “história da humanidade”, fizeram com que as pessoas fossem 
obrigadas a abandonar seus países. Num comparativo entre as duas Grandes Guerras 
Mundiais, por exemplo, a situação se agravou pois “enquanto a Primeira Guerra Mundial 
gerou 4 milhões de refugiados, a Segunda Guerra Mundial fez surgir mais de 40 milhões” 
(JUBILUT, 2007, p. 77). No século XXI não tem sido diferente. 
Diante dos conflitos emergentes, sempre haverá alguém que 
necessite de proteção. Por isso, a acolhida do refugiado é um ato 
humanitário de solidariedade. Todavia, muitas vezes, quando chegam 
a outro país, os refugiados se deparam com as fronteiras fechadas e, 
quando conseguem entrar, passam a ser estigmatizados (BELELLI; 
BORGES, 2016, p. 18).
Como um dispositivo de segurança da ONU, em 1947 foi criada a Organização 
Internacional para os Refugiados (OIR), dedicada aos problemas residuais dos refugiados 
da Segunda Guerra Mundial.
Em 1951, a Assembleia Geral da ONU criou o Alto Comissariado das 
Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), um órgão humanitário, 
apolítico e social, cujos objetivos básicos eram proteger homens, 
mulheres e crianças refugiadas e buscar soluções duradouras para 
que pudessem reconstruir suas vidas em um ambiente de civilidade 
(BELELLI; BORGES, 2016, p. 23). 
168
Você percebeu que...
No âmbito internacional global, o instituto do refúgio, em sua acepção 
moderna, surgiu apenas no século XX, à luz da Liga das Nações, precursora 
da atual Organização das Nações Unidas (ONU), como resposta aos 
problemas advindos da Primeira Guerra Mundial? 
O que você pensa sobre o assunto/tema? Como você entende o recebimento 
de migrantes e refugiados pelo Brasil? Qual seu parecer sobre o tema? 
Aproveite a oportunidade de sociabilidade e de debates sobre o tema e 
busque sugestões, por exemplo, para: quais políticas públicas e privadas 
poderiam ser implementadas para conciliar as necessidades dos refugiados 
que passam a residir em outro território (cidade, vila, comunidades etc.) 
com os anseios dos residentes locais?
NOTA
Em termos de serviços de saúde e de educação, por exemplo, como poderiam 
ser desenvolvidas políticas públicas para suprir as necessidades daqueles que chegam 
e dos residentes locais?
Discuta com seus colegas a partir de informações sobre os imigrantes/refugiados 
recebidos pelo Brasil: bolivianos, haitianos, venezuelanos, sírios, senegaleses e outros. 
A figura a seguir mostra exemplos de alguns povos e grupos sociais que tiveram 
que deixar seus países em consequência de conflitos e pressões políticas e geopolíticas 
ao longo da história. O Brasil está presente. Busque informações e debata via Fórum do 
curso o porquê.
169
FIGURA 11 – RELEVANTES CONTINGENTES DE REFUGIADOS PELO MUNDO E SUA DISTRIBUIÇÃO 
ESPACIAL
FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-KyJt9UwpflI/V8mPIi8alNI/AAAAAAAAAVw/7SXbFVsNvyw2Z3QVDR-
tww6y4kY7YCYoYACLcB/s640/REFUGIADOS.png>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Os documentos mais importantes de garantias a pessoas refugiadas, de ordem 
internacional, são o Protocolo Relativo ao Estatuto dos Refugiados, de 1967, instrumento 
de caráter universal e atemporal e o documento resultante da Convenção das Nações 
Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados (1951). O primeiro possui mais de 144 países 
signatários (PROTOCOLO ADICIONAL RELATIVO AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS, 1967).
FIGURA 12 – OS REFUGIADOS
FONTE: <https://www.un.org/fr/events/refugeeday/refugees.shtml>. Acesso em: 3 jun. 2020.
170
Em 1984, os dispositivos da Convenção de 1951 foram ampliados pela Declaração 
de Cartagena sobre Refugiados (DECLARAÇÃO DE CARTAGENA, 1984), desta vez, 
estendendo o conceito de refugiado àquelas pessoas cujos países de origem tivessem 
entrado em processo de degradação política e social, e tivessem permitido violência 
generalizada, violação dos direitos humanos e outras circunstâncias de perturbação 
grave da ordem pública.
Quais exemplos atuais você daria para esta condição de refugiado? 
Para ajudá-lo a pensar, somente no Brasil, de acordo com dados fornecidos 
pelo Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), entre os anos de 2010 e 2013, o 
número total de pedidos de refúgio aumentou de 566 para 5.882 e de 2013 a 2014 foram 
contabilizadas 8.302 solicitações, um vertiginoso aumento.
Episódios como o prolongamento do conflito armado na Síria, iniciado em 2011, 
e a persistência de conflitos como o do Afeganistão e do Sudão do Sul fizeram com que, 
em 2016, houvesse um novo recorde no número de pessoas que se deslocam de seus 
locais de origem por situações de violência e de perseguição (NEXOJORNAL, 2019). 
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados 
(NEXOJORNAL, 2019), existem atualmente 65,6 milhões fora de suas casas por razões 
ligadas principalmente a conflitos armados. Essa população é dividida, principalmente, 
em dois grandes grupos. Os refugiados (22,5 milhões) são aqueles que cruzam fronteiras 
internacionais. Os deslocados internos (40,3 milhões) se movem dentro das próprias 
fronteiras do país de origem. 
Assim, é muito importante saber de onde partem os maiores deslocamentos causados 
por conflitos nos últimos anos. Uma visão ampla pode ser observada na figura 13 abaixo. 
FIGURA 13 – CONFLITOS QUE MAIS CAUSARAM DESLOCAMENTO NOS ÚLTIMOS 5 ANOS (EM MILHÕES)
FONTE: Acnur (2018, s.p.)
171
• 55% dos refugiados do mundo têm origem na Síria, Afeganistão ou Sudão do Sul 
(ONU, 2016).
Com relação ao destino dos refugiados, ao contrário do que muitas vezes se 
pensa, a maior parte dosrefugiados realiza deslocamentos para nações vizinhas. Apesar 
dos países desenvolvidos serem o grande chamariz para quem deseja mudar de vida, 
a maioria acaba permanecendo em países próximos ao seu continente. Deste modo, 
ainda segundo o Acnur (2019), os países que mais acolhem refugiados são Turquia: 3,5 
milhões; Uganda: 1,4 milhões; Líbia: 1 milhão e Irã: 979 mil.
FIGURA 14 – PAÍSES QUE MAIS ACOLHEM REFUGIADOS NO MUNDO
FONTE: Acnur (2018, s.p.)
O Brasil, que projeta uma imagem de país tolerante e receptivo a migrantes 
e refugiados, havia se tornado, até 2018, segundo os dados a seguir, um destino de 
acolhida. 
172
FIGURA 15 – REFUGIADOS RECONHECIDOS NO BRASIL 
FONTE: <http://www.pf.gov.br/servicos-pf/imigracao/cedula-de-identidade-de-estrangeiro/documentos-
-necessarios-para-registro/refugiado-pelo-conare>. Acesso em: 17 jun. 2020.
Ainda não contabilizados na figura anterior, que tem os sírios como principal 
população refugiada no país, dados da Organização Internacional para Migrações (OIM) 
e da Agência das Nações Unidas para Migrações revelam que o Brasil, de 2015 a 2018, 
recebeu cerca de 30 mil venezuelanos, sendo que destes, apenas pouco mais de 8 mil 
pediram asilo como pessoas em situação de refúgio até 2017. Sem contar, então, os 
venezuelanos, os refugiados no Brasil somam apenas 0,05% da população total. 
Uma das justificativas, além da legislação ser ainda muito recente e insipiente, é 
a própria crise política e econômica interna pela qual passa o país, bem como episódios 
de xenofobia registrados recentemente que têm se tornado barreiras a permanência 
desses imigrantes/refugiados no país.
173
4 SOCIEDADES, MOBILIDADES, DESLOCAMENTOS: OS 
TERRITÓRIOS DA ESPERA
O tema apresentado a partir das mobilidades e dos deslocamentos, qual 
seja, os territórios da espera, fundamentam-se, aqui, nos estudos realizados pelos 
pesquisadores Laurent Vidal, Alain Musset e Dominique Vidal.
Aqui, no entanto, a inspiração ofertada pelos textos produzidos pelos 
pesquisadores citados caminha em sentidos mais amplos e menos audaciosos. 
Utilizamo-nos do conceito de territórios da espera porque entendemos, também, que 
os fenômenos de deslocamento e de migrações são efetivamente características 
essenciais das sociedades contemporâneas. 
Para tanto, longe de serem fluidos, homogêneos ou lineares, estes 
deslocamentos são pontuados de tempos, mais ou menos longos, 
de espera. Tendo por origens razões técnicas, administrativas ou 
políticas, tais momentos encontram bem frequentemente uma 
tradução espacial: territórios acolhem estas sociedades em espera 
(VIDAL; MUSSET; VIDAL, 2011, p. 17).
Nas figuras a seguir é possível perceber tempos e espaços diferentes 
relacionados aos territórios da espera. Na primeira figura a espera é para matar a fome 
dentro de uma espera ainda mais longa: a de ter vida digna para além de seu país de 
origem e do campo de refugiados. 
A figura traz a espera forçada, mas desta vez pelo deslocamento espontâneo. 
Ambos, no entanto, são territórios que acolhem estas sociedades, ou parte delas, em 
espera, apesar de coercitivo ou o espaço a se descobrir, como as zonas de exceção 
apresentadas a seguir, nas quais o poder é exercido de outra forma.
FIGURA 16 – REFUGIADOS FAZEM FILA PARA COMER NO CAMPO DE KAWERGOST, IRAQUE
FONTE: Lynsey Addario/The New York Times, 2014.
174
FIGURA 17 – IMAGENS DENUNCIAM SUPERLOTAÇÃO NOS CENTROS DE DETENÇÃO DE IMIGRANTES NOS 
EUA
FONTE: <https://abrilveja.files.wordpress.com/2019/07/relatorio-imigrantes-eua-02072019-003.jpg?qua-
lity=70&strip=info&w=321>. Acesso em: 2 jun. 2020.
Os territórios da espera, em termos analíticos, podem existir de três formas ou a 
partir de três campos de estudos, mas não mais motivados pelas mobilidades dos des-
locamentos (migração, refúgio, asilo), mas, sim, pelos tempos de parada, de pausa e de 
espera que pontuam os fluxos, como afirmam Vidal, Musset e Vidal (2011, p. 5), sendo eles: 
[...] a tipologia dos territórios da espera, marcadamente as 
configurações territoriais das situações de espera (portos, aeroportos, 
barcos, trens, rodoviárias, salas de órgãos do Estado); a economia da 
espera, como as atividades sociais ou econômicas originárias desses 
lugares (prostituição, venda ambulante); memórias e identidades 
podem tomar forma no partilhamento da espera (situação de 
fragilidade permite novos valores – religiosos, étnicos, culturais). 
Assim, as principais questões que devem ser apontadas como reflexão para a 
compreensão dos territórios da espera levam em consideração, de acordo com Vidal, 
Musset e Vidal (2011), algumas questões como:
• Como se constituem os territórios da espera?
• Por que se dão/existem?
• Qual a multiplicidade de formas com que se revestem?
• Quais as suas dimensões?
• Como compreender seus estatutos jurídicos, suas articulações com o espaço 
circundante, suas temporalidades específicas?
• Como compreender a variedade dos jogos econômicos e sociais que se desenha a 
partir e por eles?
As figuras 18 e 19 respondem em parte algumas dessas questões. Senão, 
vejamos:
175
O que consideramos importante na compreensão dos territórios da espera – e 
por isso seu conteúdo neste livro – contempla a perspectiva dos deslocamentos, das 
migrações e do refúgio, ou seja, apoia-se naquilo que a Geografia nos incita e conduz: 
a tradução espacial dos fenômenos. E é isso que você, estudante, precisa saber 
observar, ler, compreender, explicar.
Estes (os territórios da espera) remetem “[...] ao lugar onde se vive esta espera” [...] 
fechado, saturado ou coercitivo, experiência da tirania da espacialidade realizada pelo próprio 
homem [...]. Mede-se, a partir daí, quanto os territórios da espera induzem ou constrangem 
a possibilidade de ação: sonhados, geram a mobilidade; sofridos, impõem a imobilidade” 
(VIDAL; MUSSET; VIDAL, 2011, p. 3). 
Como não enxergar sofrimento e drama na imobilidade da espera no território 
apresentado na figura 18?!
FIGURA 18 – RESGATE DE 569 IMIGRANTES NO MAR MEDITERRÂNEO DEPOIS DE 3 DIAS À DERIVA
FONTE: <https://d1j6x7vjta8ieo.cloudfront.net/uploads/noticias/lg-24b1479f-bf8e-4b51-bd3a-e2653d-
ca0363.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Os territórios da espera perpassam, ainda e como conteúdo, as cidades de 
fronteira onde os imigrantes/refugiados procuram um meio para cruzar o muro ou os 
arames farpados ou a autoestrada urbana engarrafada, ou a sala de espera de um serviço 
administrativo, onde nascem solidariedades efêmeras e se instala uma economia da 
espera (VIDAL; MUSSET; VIDAL, 2011).
Assim, os territórios da espera designam especificamente os espaços destinados 
voluntariamente ou servindo involuntariamente a pôr em espera populações deslocadas 
ou em deslocamento enquanto dimensão coletiva, de clandestinidade ou não, como 
pode ser observado na figura 19 na sequência. 
176
FIGURA 19 – HOTEL NA PERIFERIA DE IZMIR – REFUGIADOS SÍRIOS E IRAQUIANOS ESPERAM A OPORTU-
NIDADE DE CHEGAR À EUROPA
FONTE: <http://twixar.me/mXdm>. Acesso em: 3 jun. 2020.
Os territórios, assim, acolhem estes tempos de espera e as relações que nele 
se estabelecem, como questões de ordem social e econômica e as identidades que 
ali se constroem. Hoje, estes territórios da espera, em sua maioria, são ocupados 
por  homens lentos de acordo com Santos (1994a), ou seja, os pobres, desprovidos 
e despossuídos, os excluídos da velocidade que a globalização impõe. Alguns deles, 
nesse sentido, podem alienar-se, perder a identidade individual e coletiva e muitas 
vezes renunciar ao futuro.
Assim, você, como futuro geógrafo, deverá se prender a observar e a explorar 
as maneiras como as sociedades de migrantes dão formas a territórios investidos do 
tempo de todo tipo de espera, como o observado na figura 20.
FIGURA 20 – SÍRIOS DORMEM FORA DAS TENDAS LOTADAS NO COMPO 
DE KAWERGOST, NO IRAQUE
FONTE: Lynsey Addario/The New York Times (2014)
177
Ao averiguarmos as configurações desse território no qual podem ocorrer 
diversas situações de espera, o quechama a atenção é o drama e a excepcionalidade 
em termos do valor da vida humana de migrantes e refugiados nas brechas que se 
abrem no cotidiano das sociedades que banalizam, cada vez mais, situações de espera 
como estas. 
Ainda sobre a figura 20, mais de 5 milhões de sírios foram forçados a se mudar 
dentro do país e outros 1 milhão e meio para fora do país. Segundo a ONU, a guerra civil 
síria já é o conflito com mais refugiados desde o genocídio de Ruanda, em 1994. Do total, 
1,1 milhão são crianças, 75% com menos de 12 anos. Muito possivelmente, trata-se de 
uma geração perdida de acordo com o Comissário das Nações Unidas para Refugiados 
(MAGALHÃES, 2016). 
Como geógrafos, ainda, cabe-nos analisar a maneira como os migrantes e 
refugiados dão forma a territórios investidos do tempo de todo tipo de espera. O que 
fazem enquanto esperam? A figura 21 apresenta um exemplo do tempo da espera, mas 
pode ser também um exemplo de territórios da espera? Quais as sociabilidades e as 
solidariedades dos tempos de espera? E as rugosidades? Discuta com seus colegas, via 
Fórum, e justifique.
FIGURA 21 – MEMBROS DA COMUNIDADE INDÍGENA VENEZUELANA WARAO DORMEM 
EM ABRIGO EM BOA VISTA
FONTE: <https://www.hrw.org/sites.d.efault/files/multimedia_images_2017/2017-04-americas-venbrazil-
-photo-05.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
Nesse sentido é possível afirmar também que, no mundo globalizado 
caracterizado por um “tempo desorientado”, ou seja, aquele em que “o tempo histórico 
está suspenso [...] situado entre dois abismos: um passado que não está abolido, mas 
que nenhuma orientação pode oferecer, e um futuro do qual não se faz ideia de como 
será” (JANSEN; PARADA, 2019, p. 407), os espaços da espera podem ser os lugares de 
reformulação da relação com o tempo, do simplesmente pensar e ver o tempo passar. 
178
Nos fluxos de passagem de um lugar ao outro ou no ato do deslocamento ou da 
migração, as etapas das paradas, sejam elas necessárias ou forçadas, de imposição e 
de controle, duradouras ou passageiras, virtuais ou empíricas, oficiais ou informais criam 
oportunidades para a compreensão do que acontece em seus intersticiais ou nestes 
momentos de transição. O que se produz em termos de tempo da espera quando a 
clandestinidade do deslocamento é descoberta? O que valeu a travessia, como apresenta 
o momento registrado nas figuras 22 e 23, a seguir, na sua relação com a espera?
FIGURA 22 – IMIGRAÇAO ILEGAL PARA OS EUA
FONTE: <https://www.fontoura.com>. Acesso em: 4 jun. 2020.
FIGURA 23 – MIGRAÇÃO PARA A EUROPA
FONTE: <https://g1.globo.com>. Acesso em: 4 jun. 2020.
Por fim, as duas figuras a seguir apresentam-se como possibilidades a 
esperança e as ilusões na vinculação entre migrações e refúgio (flexíveis) e os territórios 
da espera (fixos, a priori). Na primeira está a esperança (foto de José Medeiros) no olhar 
desvaído do migrante do tempo lento, mas que ainda pode lograr fluxos novos, apesar 
179
FIGURA 24 – A ESPERA
FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-loHNHaGTOqk/Vv5SNfZ_8WI/AAAAAAAA3AA/aLPGXSrcAYkRaY-
zK7l8n_eOyR6qHgREPA/s400/Medeiros_5.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
FIGURA 25 – CORPOS DE IMIGRANTES DE EL SALVADOR NO RIO BRAVO, NA FRONTEIRA
 DO MÉXICO COM OS EUA
Foto: Reuters
FONTE: <https://www.terra.com.br/noticias/foto-de-imigrantes-afogados-mostra-fracasso-em-lidar-com-
desespero-diz-acnur,5cda5f40754a64171f1b6813a2eaec444t83wtcs.html>. 
Acesso em: 4 jun. 2020.
da espera. Na segunda, a espera significa o fim. Corpos de migrantes flutuam, mas não 
se movimentam por eles próprios porque a espera significa o fim da esperança, das 
ilusões e da produção de territórios que ultrapassem a lógica formal da vida. 
Para você, estudante, fica a possibilidade de pensar: 
Como apreender as invariáveis ou as constantes da multiplicidade das formas 
que produzem os territórios da espera? Quais são as formas sociais presentes nas 
figuras seguintes? Como superá-las? 
180
Na figura 24, José Medeiros, famoso fotógrafo brasileiro, capturou a paisagem 
do homem do tempo lento em seu território da espera. Na figura 25, pai e filho, abraçados, 
chocaram o mundo, mesmo que momentaneamente, enquanto mortos definhavam 
antes do recolhimento em seu último território da espera. 
É possível, através dos aportes e estatutos jurídicos suprimir a dor, o sofrimento 
e o drama produzidos nos deslocamentos de migrantes e de refugiados? Como isso 
pode ser feito mediatizado pelos territórios da espera?
181
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• As questões que margeiam o termo “conflitos” (como poder, disputas e guerras), 
somados a outros elementos, fazem com que um contingente amplo de pessoas se 
desloque pelo planeta. 
• As principais guerras ocorridas e em ocorrência no século XXI são aquelas originárias 
dos conflitos mais perenes e instáveis em termos geopolíticos.
• Os motivos indutores dos deslocamentos populacionais, em especial, são os 
socioeconômicos, os culturais e os geopolíticos.
• Os principais conceitos vinculados ao tema deslocamentos, quais sejam, as 
migrações e seus derivados: migrações internacionais, migrações internas, 
emigração, imigração, além do conceito de refúgio e de refugiado. 
• As imobilidades que marcam os territórios da espera são transitórias, mas permitem 
a produção de identidades diversas na coletividade.
182
1 Andrew Korybko (2018) afirma que países como os EUA se aproveitam de problemas 
identitários em um Estado-alvo a fim de mobilizar uma, algumas ou todas as questões 
identitárias mais comuns para provocar grandes movimentos de protesto, que podem 
então ser cooptados ou dirigidos por eles para atingir seus objetivos políticos, ou seja, 
utilizam-se de “guerras híbridas”. Tendo como fundamento esta afirmação e o que 
você aprendeu sobre o tema, assinale a alternativa CORRETA que apresenta a junção 
das duas tipologias de guerras que compõem as guerras híbridas 
FONTE: KORYBKO, A. Guerras híbridas, das revoluções coloridas aos golpes – das revoluções co-
loridas aos golpes. São Paulo: Expressão Popular, 2018. 
a) ( ) Guerras oficiais e clandestinas.
b) ( ) Guerras flexíveis e fixas.
c) ( ) Guerras irregulares e convencionais.
d) ( ) Guerras irregulares e regulares.
e) ( ) Guerras convencionais e inconvencionais.
2 A Guerra Fria foi um período histórico que durou do fim da Segunda Guerra Mundial, 
em 1945, até o declínio da União Soviética, em 1991. Esses anos foram marcados 
por tensões significativas entre o bloco capitalista (liderado pelos Estados Unidos) 
e o socialista (chefiado majoritariamente por Josef Stalin, russo). No século XXI, no 
entanto, além das “guerras frias” (das ideologias e das estratégias), foram diversas 
também as denominadas “guerras quentes” de conflitos diretos. Assinale, a seguir, a 
alternativa CORRETA para as principais “guerras quentes” ocorridas no século XXI. 
a) ( ) Os desdobramentos do 11 de Setembro de 2021; a Guerra do Iraque em 2003; 
a Segunda Guerra do Líbano (conflito árabe-israelita) em 2006 e; a Guerra da 
Operação Chumbo Fundido em 2008.
b) ( ) Os desdobramentos do 11 de Setembro de 2001; a Guerra do Iraque em 2003; 
a Segunda Guerra do Líbano (conflito árabe-israelita) em 2006 e; a Guerra da 
Operação Chumbo Fundido em 2008.
c) ( ) Os desdobramentos do 11 de Setembro de 2001; a Guerra do Iraque em 2003; a 
Segunda Guerra do Líbano (conflito Irã x Iraque) em 2006 e; a Guerra da Operação 
Chumbo Fundido em 2008.
d) ( ) Os desdobramentos do 11 de Setembro de 2001; a Guerra do Iraque em 2003; a 
Segunda Guerra do Líbano (conflito árabe-israelita) em 2006 e; a Guerra do Golfo 
Pérsico em 2008.
e) ( ) Os desdobramentos do 11 de Setembro de 2001; a Guerra do Iraque em 2003; 
a Segunda Guerra do Sudão do Sul em 2006 e; a Guerra da Operação Chumbo 
Fundido em 2008.
AUTOATIVIDADE
183
3 Como forma de reflexão, observe a figura a seguir que demonstra as projeções 
de crescimento da população mundial de 2020 a 2100. Na sequência, assinalea 
alternativa que apresenta corretamente os três componentes que compõem a 
dinâmica populacional, influenciando no seu aumento e/ou na sua diminuição. 
TRÊS CENARIOS DE PROJEÇÕES POPULACIONAIS DO MUNDO: 2020-2100
a) ( ) A fecundidade, a mortalidade e a migração.
b) ( ) A fecundidade, a mortalidade e a emigração.
c) ( ) A fecundidade, a mortalidade e a imigração.
d) ( ) A migração internacional, a migração local e a migração regional.
e) ( ) A emigração, a imigração e a migração.
4 Os territórios da espera podem ser compreendidos de diversas formas. Uma delas 
pode ser o contado e cantado na música Pedro Pedreiro, do compositor e cantor Chico 
Buarque de Holanda. Leia a letra da música, abaixo, reflita e assinale a alternativa 
CORRETA para a definição de territórios da espera pensados por Vidal, Musset e Vidal 
(2011) (HOLANDA, Chico Buarque de. Pedro Pedreiro. Gravadora RGE, 1965).
184
a) ( ) São os territórios fluidos, homogêneos ou lineares.
b) ( ) São territórios destinados voluntariamente ou servindo involuntariamente a pôr 
em espera populações deslocadas ou em deslocamento pontuados de tempos, 
mais ou menos longos, na sua dimensão coletiva e transitória.
c) ( ) São os espaços luminosos e os espaços opacos estudados por Milton Santos.
d) ( ) São as rugosidades do espaço que compõem elementos fixos e fluxos no território.
e) ( ) São as multiplicidades que compõem os territórios usados, de Milton Santos.
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando para trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol, esperando o trem
Esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem [...]
185
GEOGRAFIA POLÍTICA: ÁFRICA E AMÉRICA 
LATINA
1 INTRODUÇÃO
Neste Tópico 2, apresentamos o continente africano, iniciando pelos principais 
reinos da Era Comum. Em seguida, comentaremos sobre os impactos que o Imperialismo 
e a Guerra Fria trouxeram ao continente e sobre os conflitos atuais que assolam algumas 
nações africanas. Da Europa à China, ao longo dos séculos, mudaram as potências que 
exerceram controle sobre os povos africanos, mas algo recorrente foi a espoliação dos 
seus recursos. 
Analisamos, ainda, sob perspectiva histórica, a Geopolítica da América Latina, 
desde a independência do Haiti até as guerrilhas de esquerda do fim do século XX, 
comentando sobre o escravismo e o papel que a potência estadunidense exerce sobre 
os destinos dos países latino-americanos
Além disso, abordam-se as regionalizações da África e da América Latina, 
bem como os países que compõem cada uma das suas regiões e os principais blocos 
econômicos regionais.
UNIDADE 3 TÓPICO 2 - 
2 A ÁFRICA É O MUNDO E O MUNDO NÃO É A ÁFRICA
A África é formada por 55 países, um território não autônomo (Saara Ocidental), 
Estados não reconhecidos (Somalilândia e outras áreas de fato autônomas) e territórios 
espanhóis (Ceuta, Melilla, Ilhas Canárias), portugueses (Ilha da Madeira), italianos (Ilhas 
Pelágias), britânicos (Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha) e franceses (ilhas 
Mayotte, Juan de Nova, Europa, Bassas da Índia, Glorioso, Tromelin e Reunião), como 
vemos na Figura 26 a seguir (DORLING KINDERSLEY [DK], 2016; ONU, 2019). 
A origem do termo África não é definida. É uma região comumente lembrada 
pela pobreza extrema, mas esse discurso encobre a enorme quantidade de recursos 
que o continente possui. Entrou na esfera de influência direta da Europa devido às 
Grandes Navegações, quando países europeus passaram a ocupar alguns trechos 
do continente e a comercializar negros como mercadorias. A imagem do continente 
africano ainda é marcada pela escravidão e muitos apenas a tem como memória tanto 
do continente quanto da população negra. Contudo, cabe a nós desconstruir isso por 
meio do conhecimento.
186
Para mais detalhes sobre a origem da palavra África, consulte o primeiro 
volume da coleção História da África (UNESCO, 2010). Consulte o mapa a 
seguir para conhecer os países que formam a África.
NOTA
Foram basicamente oito os grandes reinos africanos: Axum, Gana, Núbia, 
Kanem-Bornu, Benin, Mali, Zimbábue e Songai (DK, 2018). O Império de Axum se tornou 
um poder comercial por conta do controle do Mar Vermelho exercido pela cidade de 
Adúlis entre os anos 100 e 715 da Era Comum. 
Em princípios do século IV, o então rei converteu-se ao Cristianismo, e a partir 
do século VII, em razão da crescente influência islâmica nos territórios vizinhos, foi cada 
vez mais se isolando. Ainda assim, a religião cristã permaneceu em trechos do território 
até os dias de hoje. O território desse reino compreende trechos que hoje fazem parte 
da Etiópia, da Eritreia, da Arábia Saudita e do Iêmen (DK, 2018; UNESCO, 2010). 
FIGURA 26 – MAPA POLÍTICO DA ÁFRICA
FONTE: <https://www.guiageo.com/pictures/africa-político.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
187
 O antigo Império de Gana não se confunde com a atual República de Gana, uma 
vez que abrangia um território que se situa entre os atuais Mali e Mauritânia. Sua exis-
tência ocorreu entre os anos 500 e 1200, com auge ao redor do ano 800. Seu poderio 
deveu-se às minas de ouro e ferro e às rotas comerciais transaarianas. A invasão pelos Al-
morávidas do Marrocos levou ao seu declínio. A Núbia, por sua vez, tem ocupação desde o 
Egito Antigo, e estabeleceu-se como reino entre 500 e 1500, tendo sido por muito tempo 
cristão. Não resistiu, contudo, ao avanço de beduínos árabes muçulmanos, que consegui-
ram avançar com a influência do Islã em direção ao Sul (DK, 2018; UNESCO, 2010).
O Império Kanem-Bornu existiu entre 800 e 1380, tendo sido fundado 
inicialmente por grupos nômades. Por volta das décadas de 1070 e 1080, esses grupos 
se sedentarizam e se converteram ao Islã, ocupando uma área estratégica: o entorno 
do Lago Chade. O Reino do Benin foi estabelecido no século XII e durou até 1897, tendo 
tido bastante contato com europeus em um território que hoje pertence à Nigéria. 
Seu poderio decorre do contato com povos africanos mais ao norte por meio de rotas 
comerciais e dos reconhecidíssimos artesãos e metalúrgicos. Sua capital, Benin, já no 
século XV era uma grande cidade murada (DK, 2018; UNESCO, 2010).
O Reino do Mali se desenvolveu entre 1235 e 1660 no curso superior do Rio Níger, 
abrangendo territórios que vão desde a costa da Mauritânia, do Senegal, de Gâmbia, da 
Guiné Bissau e da Guiné, até o Mali, Níger, a Nigéria, Benin, Burkina Faso e a Costa do 
Marfim, acompanhando o curso do rio. O antigo Reino de Gana se situa em parte do 
território malinês. Sua riqueza decorria do controle das rotas comerciais transaarianas e 
da mineração e metalurgia. O homem mais rico da História foi um de seus governantes: 
Mansa Musa, que reinou de 1312 a 1337. Em 1324 realizou uma peregrinação a Meca tão 
enorme que causou súbita inflação de preços no Cairo e um grande aumento no preço 
do ouro (DK, 2018; UNESCO, 2010).
Além disso, estimulou o desenvolvimento de uma das mais importantes cidades 
do Mali. Timbuktu ou Tombuctu foi fundada no século V, e parte de seu esplendor posterior 
deve-se à fundação, em 989, da Mesquita Sankore, como vemos na Figura 27 a seguir, 
que se tornou epicentro de uma universidade e contribuiu para o desenvolvimento de 
Timbuktu como centro educacional e de difusão do conhecimento. Hoje, a cidade é 
considerada Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a 
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
188
FIGURA 27 – MESQUITA DE SANKORE, TIMBUKTU, MALI
FONTE: <http://whc.unesco.org/uploads/thumbs/site_0119_0001-500--20180216142824.jpg>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
O Reino do Zimbábue existiu entre 1220 e 1450 em área que hoje engloba 
territórios de Moçambique, Zimbábue, Botsuana e África do Sul. Para a época, foi um 
Estado com grande contingente populacional e com fortes relações econômicas com as 
cidades-Estados suaílis dacosta oriental africana (DK, 2018; UNESCO, 2010). 
Por fim, o Império Songai, que floresceu entre 1464 e 1591, ocupou terras que 
foram do antigo Reino de Gana e do Império do Mali. Sua opulência também esteve 
relacionada às rotas comerciais e ao ouro. O território songai estendeu-se pelos atuais 
Argélia, Mali, Mauritânia, Níger, Burkina Faso, contando com um exército que chegou a 
ter 200 mil homens espalhados por seus domínios (DK, 2018; UNESCO, 2010).
Com efeito, o conhecimento sobre esses reinos nos ajuda a entender que 
a História da África é muito mais ampla que aquela cuja visão eurocêntrica nos traz 
apenas guerras, fome e miséria, consubstanciadas na escravidão que abasteceria as 
colônias americanas com mão de obra. Ao contrário do que diz usualmente, a utilização 
de africanos escravizados não ocorreu porque os indígenas conheciam o território e, 
Revisando os principais reinos da África da Era Comum: Axum, Gana, Núbia, 
Kanem-Bornu, Benin, Mali, Zimbábue e Songai.
IMPORTANTE
189
por isso, conseguiam fugir. Após a antiguidade, a escravidão se tornará uma atividade 
econômica fundamental e será mais importante no Brasil que na América Espanhola, já 
que a maior parte da riqueza produzida no nosso país virá, inicialmente, das plantações 
de cana-de-açúcar. 
O domínio europeu sobre o continente africano se estenderá desde o século 
XV até 1956, quando ocorre a crise do Sinai e em definitivo a hegemonia política sobre 
a África será compartilhada por Estados Unidos e União Soviética. Nesse período, o 
continente foi retalhado entre diferentes nações europeias, a começar por Portugal. 
Acompanharam-no Espanha, França, Países Baixos, Inglaterra e tardiamente Bélgica, 
Alemanha e Itália (SARAIVA, 2007; UNESCO, 2010). Com o desenvolvimento do modo 
de produção capitalista, a África foi subordinada militarmente e passou a integrar 
diretamente a divisão internacional do trabalho, cujo ápice foi o Imperialismo do final do 
século XIX e início do século XX.
A industrialização, em seus primórdios, foi possível apenas devido à ferrenha 
competição entre os países e isso significou o controle geopolítico de grandes extensões 
– os Estados Unidos e o Destino Manifesto, com a submissão direta da América Central 
e do Caribe ao interesses norte-americanos; o Japão e a ocupação de áreas no Extremo 
Oriente; e a África, que foi dividida na Conferência de Berlim, ocorrida entre os anos de 
1884 e 1885. 
A animosidade entre as nações europeias culminou nos horrores da I Guerra 
Mundial que, por sua vez, trouxe ao mundo o fantasma do comunismo por conta da 
fundação da União Soviética. Desse modo, passou a existir uma alternativa à ferocidade 
do modo de produção capitalista não apenas teórica, mas também concretizada no 
regime soviético.
Ademais, enquanto o inimigo passava a ser o comunismo, a década de 1920 
assistia ao surgimento de diversos governos fascistas. A fim de não permitir que o Reino 
Unido perdesse sua hegemonia, Mackinder havia proposto no início do século XX que 
Alemanha e Rússia não se aproximassem, mas o cenário europeu de 1914 a 1941 tornou 
ambos inimigos ferozes (ITAUSSU, 1999; SANTOS JUNIOR, 2016a).
Por conseguinte, o caminho para a Segunda Guerra Mundial estava 
pavimentado. Diversas áreas do continente foram utilizadas como local de confronto 
entre as metrópoles europeias, com a participação direta de africanos. Ao fim da guerra, 
com o objetivo de não repetir os erros do passado e de afastar tanto o fascismo como o 
stalinismo das massas, a Europa optará pelo desenvolvimento do Estado de Bem-Estar 
Social, que garantia benefícios sociais e direitos a todos os cidadãos. Isso, contudo, 
não se estende às colônias, que continuam sendo alvo de exploração violenta por parte 
dos europeus. Estes resguardavam direitos para si, mas em um mundo colonial, outros 
povos não dispunham de garantias mínimas, sequer a própria autonomia. 
190
Com o início da Guerra Fria, em 1947, Estados Unidos e União Soviética passaram 
a disputar entre si todo o planeta. A teoria geopolítica estadunidense pregava que o 
poder soviético deveria ser contido e, para isso, os Estados Unidos criaram alianças 
políticas, bases militares e instituições que impedissem qualquer possibilidade de ganho 
de influência pelos soviéticos. 
Na África, em um território ainda bastante marginal, houve várias guerras em 
que não ocorreu confronto direto entre norte-americanos e soviéticos, mas que eram 
consequência das quedas de braço entre ambas as potências. Boa parte do processo 
de descolonização da África esteve marcado por essa rivalidade.
Sobre a Guerra Fria, leia o artigo on-line de Ribera (2012): http://www2.
marilia.unesp.br/revistas/index.php/novosrumos/article/view/2374/1934.
NOTA
Na década de 1950, apenas Libéria, Etiópia, Egito, independente em 1922, e 
África do Sul, independente em 1931, estavam livres do colonialismo europeu. O primeiro 
país a se tornar independente foi a Líbia, em 1951, seguida por Sudão, Tunísia e Marrocos 
em 1956. No ano seguinte, foi a vez de Gana; em 1958, Guiné. Em 1960, foram 17 países; 
em 1961, Serra Leoa e Tanganica, a parte continental da atual Tanzânia; em 1962, havia 
mais três países independentes; entre 1963 e 1966 foram mais dois novos países por 
ano. Em 1968, três novas nações. Entre 1974 e 1976, mais nove países, relacionados, 
principalmente, ao fim das ditaturas em Portugal e na Espanha. Vejamos alguns desses 
processos de independência (UNESCO, 2010; SARAIVA, 2012). 
O Egito se tornou formalmente independente em 1922, mas a monarquia egípcia 
sempre foi considerada um fantoche dos britânicos e foi derrubada em 1953. Anos depois, 
com a chegada ao poder de Gamal Abdel Nasser em 1956, houve a nacionalização do 
Canal de Suez, até então propriedade franco-britânica, e forte movimento nacionalista 
(UNESCO, 2010). 
Em vista disso, Israel, Reino Unido e França iniciaram uma guerra contra o Egito 
que foi rapidamente suprimida por Estados Unidos e União Soviética, a qual ameaçou 
intervir favoravelmente a Nasser. Isso aproximou os soviéticos das nações árabes e 
reafirmou a decadência colonial europeia. A figura a seguir mostra a localização do Canal 
de Suez, cuja importância reside na desnecessidade de contornar o continente africano, 
trazendo grande economia nos fretes internacionais.
191
FIGURA 28 – CANAL DE SUEZ
FONTE: Adaptado de Google Earth (2020)
A África do Sul foi inicialmente ocupada por holandeses a partir da Cidade do 
Cabo, em 1652. Bôeres e britânicos se enfrentaram no final do século XIX, e após derrotar 
também os zulus, o Reino Unido conseguir finalmente ter o controle sobre o território, 
unificado em 1910 e formalmente independente 21 anos depois (THE COMMONWEALTH, 
s.d.; UNESCO, 2010). 
O país nasceu sob a égide do racismo e da segregação e de fato estabeleceu 
um governo oficialmente racista – o apartheid – de 1948 até 1994. Gandhi contribuiu 
para a resistência contra a opressão, e nesse sentido foi imperativa a fundação do 
Congresso Nacional Africano, liderado posteriormente por Nelson Mandela, em 1912. 
Paulatinamente, a partir da década de 1960, a África do Sul foi sendo isolada da 
comunidade internacional.
A independência de Gana foi liderada por Kwame Nkrumah. Era pan-africanista 
e socialista e atuava contra o colonialismo. Teve contato com Fidel Castro e Patrice 
Lumumba; acreditava no desenvolvimento industrial contra a subordinação aos 
interesses estrangeiros. Foi deposto por um golpe militar em 1966 e se exilou em 
Conacri, governada então por Ahmed Sékou Touré, que exerceu a liderança no processo 
de independência da Guiné e se manteve no poder por 26 anos. Por diversas vezes, 
sofreu tentativas de deposição e é acusado de diversas violações aos direitos humanos 
de opositores do regime. De todo modo, as maiores reservas de bauxita do mundo não 
permitiram o desenvolvimento da Guiné (UNESCO, 2010; DW, 2018b).
Patrice Lumumba foi dos mais importantes políticos anticolonialistas da África e 
se tornou oprimeiro governante do Congo independente da Bélgica. Logo depois, teve de 
enfrentar o movimento separatista, apoiado pela Bélgica, das províncias de Katanga e do 
Kasai Sul, ricas em minérios. Ao tentar contornar a crise, solicitou auxílio de diversos países, 
inclusive da União Soviética, o que atraiu a ira da antiga metrópole e dos Estados Unidos. 
Assim, ambos se aliaram ao então chefe do Exército, Mobutu Sese Seko, que orquestrou um 
golpe e se manteve no poder de 1965 até 1997, quando foi deposto por uma guerrilha que se 
originou nos campos de refugiados ruandeses no leste do país (UNESCO, 2010; DW, 2018c).
192
A Guerra da Argélia, que ocorreu entre 1954 e 1962, foi um dos conflitos mais 
cruéis da África, em que técnicas de tortura foram testadas, aprimoradas e exportadas 
para outros regimes. Desde 1830, a França ocupava o território argelino, e decidiu que 
este era uma extensão do território francês, negando, obviamente, direitos básicos à 
população nativa, predominantemente árabe e berbere. A resistência teve liderança de 
Ahmed Ben Bella, que se tornaria o primeiro governante da Argélia independente, e o 
principal grupo político contra os franceses foi a Frente de Liberação Nacional (FLN). 
Houve diversos massacres, que muitas vezes foram comandados pelos franceses que 
tinham se fixado na Argélia, chamados pejorativamente de ‘pés pretos’ (pieds noirs) 
(UNESCO, 2010; DW, s/d).
A Rodésia se tornou independente de facto, em 1965, mas não obteve 
reconhecimento até 1980, quando terminou o governo racista e segregacionista da minoria 
branca. Rodésia é palavra derivada de Rhodes, o colono britânico oriundo da África do 
Sul que ocupou terras no país. Após a declaração unilateral de independência, surgiram 
as guerrilhas União Nacional Africana do Zimbábue (ZANU) e União Popular Africana do 
Zimbábue (ZAPU), liderados respectivamente por Robert Mugabe e Joshua Nkomo. Com 
o fim da guerra civil, Mugabe foi eleito, tornou-se ditador e permaneceu no poder por 37 
anos, levando, por fim, o país a uma crise econômica profunda (UNESCO, 2010).
As colônias portuguesas somente conseguiram a independência em meados 
da década de 1970, por meio de guerras sangrentas e longas, que opuseram capitalistas 
e comunistas. O primeiro país a se tornar independente de Portugal foi a Guiné 
Bissau, após o episódio conhecido como Massacre de Pindjiguiti, quando soldados 
portugueses mataram estivadores em greve. Isso deu visibilidade ao Partido Africano 
para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que recebeu apoio da China 
e do Marrocos. A luta armada começou em 1963 e, apesar de Portugal começar a 
ganhar terreno a partir de 1970, a Revolução dos Cravos contribuiu para o respeito à 
autodeterminação das então colônias (UNESCO, 2010; PAIGC, 2019).
A guerra pela independência de Angola começou em 1961, quando o Movimento 
Popular de Libertação de Angola (MPLA) passou a interiorizar as ações de guerrilha e 
tornou-se de fato o único movimento com abrangência nacional. A partir de 1970, outros 
dois movimentos adquirem maior projeção geopolítica: Frente Nacional de Libertação de 
Angola (FNLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). O MPLA 
foi apoiado por Cuba e União Soviética, enquanto a UNITA e a FNLA eram apoiadas, 
respectivamente, pela África do Sul e pelo Zaire (atual República Democrática do Congo). 
Os Estados Unidos apoiavam ambas, uma vez que buscavam combater a influência do 
bloco soviético (UNESCO, 2010; VISENTINI, 2012). 
193
Após a independência em 1975, o país entrou em uma guerra civil que durou 
até 2002, com a vitória do MPLA, cujo líder, José Eduardo dos Santos, governou o país 
de 1979 a 2017, cercado por denúncias de corrupção. Hoje, o país tem uma grande 
quantidade de minas terrestres que afetam diretamente a economia e a população. 
Angola teve participação também na guerra de independência da Namíbia, que durou 
de 1966 a 1990. Depois de a Alemanha perder o controle das colônias, o mandato sobre 
a Namíbia foi transferido para a África do Sul, que também instituiu o apartheid no 
país. Teve papel importante para a independência a Organização do Povo do Sudoeste 
Africano (SWAPO) (UNESCO, 2010; VISENTINI, 2012).
Em Moçambique, a realidade da guerra civil também opôs dois lados que 
refletiam o conflito ideológico da Guerra Fria e que contou com participação dos regimes 
racistas da Rodésia e da África do Sul. A guerra de independência começou em 1964 
e durou até 1974, quando houve um cessar-fogo entre tropas portuguesas e a Frente 
de Libertação de Moçambique (FRELIMO), de orientação marxista. Em 1977, dois anos 
após o fim do jugo português, iniciou-se a guerra civil entre a FRELIMO e a Resistência 
Nacional de Moçambique (RENAMO), que se estenderia até 1992 e tornaria o país um dos 
mais pobres do mundo (UNESCO, 2010; VISENTINI, 2012; YAHOO NEWS, 2019b). A figura 
a seguir traz a situação atual do país.
FIGURA 29 – MOÇAMBIQUE HOJE
FONTE: <https://news.yahoo.com/tensions-rise-mozambique-vote-counting-under-way-160458062.
html>. Acesso em: 4 jun. 2020.
194
O Saara Ocidental foi colônia espanhola até 1975, quando o governo do território 
passou a ser compartilhado entre Mauritânia e Marrocos, que reivindicavam a soberania 
sobre aquela região. Ambos entraram em guerra e um movimento nacionalista saarauí cha-
mado Frente Polisário emergiu durante o confronto, com um governo de exílio na Argélia. 
A Mauritânia desistiu posteriormente da reclamação de direitos e o Marrocos 
passou a ocupar militarmente a maior parte do território do país. Até hoje se espera a 
ocorrência de um referendo para legitimar ou não a independência do Saara Ocidental, 
e o Marrocos tem patrocinado movimentos migratórios no território. Por isso, o Saara 
Ocidental é considerado pela Organização das Nações Unidas um território não 
autônomo (HUGON, 2015; ONU, s.d.).
FIGURA 30 – SAARA OCIDENTAL HOJE
FONTE: <https://outraspalavras.net/wp-content/uploads/2018/08/Mapa-do-Sahara-Ocidental-485x340.
jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020.
Durante a Guerra Fria, alguns países foram aliados do bloco comunista, seja com 
apoio soviético, seja com apoio, mais restrito, de Cuba e da China. Os governos estáveis 
com tendência socialista ou marxista no continente foram Argélia, Egito, Guiné, Benin, 
Congo, Tanzânia, Senegal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Madagascar, Etiópia e 
Somália. A Somália virou-se contra o bloco comunista após a União Soviética oferecer 
apoio à Etiópia durante a guerra do Ogaden, em 1977 (VISENTINI, 2012; UNESCO, 2010; 
HUGON, 2015). Muitos desses países foram governados sem participação democrática, 
algo recorrente também em países alinhados com o bloco capitalista.
O fim da União Soviética trouxe consequências globais e na África isso significou 
a hegemonia norte-americana isolada, com o reforço da influência de algumas das 
antigas metrópoles, especialmente a França. Dez anos depois, os atentados terroristas 
nos Estados Unidos criaram o novo inimigo a ser combatido: o extremismo político de 
cunho religioso. 
195
Os principais grupos terroristas no continente hoje são a Al-Qaeda no Magrebe 
Islâmico (AQIM), o Al-Shabab, com atuação na Somália e no Quênia; e o Boko Haram, 
com atuação na Nigéria, em Camarões, no Chade e no Níger; os três são ligados à Al-Qa-
eda e de fé islâmica sunita. Há, ainda, o Exército de Resistência do Senhor, de fé cris-
tã e com atuação entre República Centro-Africana, República Democrática do Congo, 
Uganda e Sudão do Sul (ONU, 2019).
Esses grupos se desenvolvem também diretamente relacionados a conflitos 
armados que, em geral, atingem escala regional. Os principais conflitos na África, hoje, 
ocorrem na Líbia, no Mali, na República Centro-Africana, na Nigéria, no Sudão do Sul, na 
Somália e na República Democrática do Congo. 
Neste país, desde a queda do ditador Mobutu Sese Seko, não houve paz. São mais 
de vinte anos ininterruptos de guerra no leste do país, e algo em torno de 130 grupos arma-
dos que lutam paracontrolar a extração de nióbio, tântalo, ouro e platina, minérios funda-
mentais para a indústria de bens tecnológicos, como laptops e celulares, além das indústrias 
aeronáutica e bélica. São minérios estratégicos e raros, com alto valor comercial. A figura 31 
mostra a área do conflito: em vermelho, estão as áreas de guerra desde 1998; em marrom, 
áreas ricas em minério; em verde, a infraestrutura construída ou reformada pelos chineses.
FIGURA 31 – SITUAÇÃO POLÍTICA DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO
FONTE: <https://www.monde-diplomatique.fr/local/cache-vignettes/L890xH537/rdcGF-366fe.
jpg?1512062846>. Acesso em: 4 jun. 2020.
Sobre o fim da União Soviética, leia o artigo on-line de Suny (2008): http://www. 
scielo.br/pdf/ln/n75/05.pdf.
NOTA
196
A Somália colapsou em 1991, quando Mohammed Siad Barre foi deposto, após 
mais de vinte anos governando o país. Nesse mesmo ano, a Somalilândia se declarou 
independente. Houve intervenção militar da ONU no país, com a participação dos 
Estados Unidos, mas em 1995 as tropas se retiraram do país. Em 1998 foi a vez da 
Puntlândia se declarar independente. Em 2004 surgiu o grupo terrorista Al Shabab. Em 
2006, Galmudug se declarou autônomo; em 2009, a Somália do Sudoeste; em 2011 foi 
a vez de Jubalândia ou Azania; em 2016, Hirshabelle também se tornou autônomo. A 
guerra tem continuado na região de Mogadíscio até hoje (DERSSO, 2009). A figura 32 
seguir mostra a atual divisão da Somália.
FIGURA 32 – DIVISÃO DA SOMÁLIA DESDE 1991
FONTE: <https://www.hrw.org/pt/africa/somalia>. Acesso em: 4 jun. 2020.
O Sudão do Sul, de maioria negra, animista e cristã, conquistou sua independência 
do Sudão, de maioria árabe e muçulmana, em 2011, após décadas de guerra civil. Uma 
vez independente, outra guerra civil eclodiu em 2013, devido aos recursos minerais, 
especialmente petróleo. Quase 400 mil pessoas morreram no conflito. Houve tentativa 
de cessar-fogo em 2015, não cumprido, e outra tentativa em 2018, mas desde então 
o processo de paz tem avançado muito lentamente. Há grande número de refugiados 
e risco constante de ondas de fome, apesar da capacidade agrícola do país. A figura a 
seguir mostra o Sudão do Sul (ONU, 2019; CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE, 2016).
197
FIGURA 33 – GEOPOLÍTICA DO SUDÃO DO SUL
FONTE: <https://diplomatique.org.br/irmaos-inimigos-no-sudao-do-sul/>. Acesso em: 4 jun. 2020.
A Nigéria tem sua paz ameaçada desde 2009, quando o Boko Haram iniciou 
atividades terroristas. O episódio mais famoso ocorreu em 2014, quando 276 meninas 
foram sequestradas no nordeste nigeriano, muitas ainda desaparecidas. Desde então, o 
grupo, que afirma integrar o Estado Islâmico, tem ampliado suas atividades para os países 
vizinhos Camarões, Chade e Níger (ONU, 2019; AMERICAN SECURITY PROJECT, 2019). 
A área é bastante pobre, e tem sofrido bastante com as mudanças climáticas e 
as ações antrópicas, uma vez o Sahel tem sofrido intenso processo de desertificação e 
o Lago Chade tem secado (ONU, 2019; AMERICAN SECURITY PROJECT, 2019). 
A República Centro-Africana está em guerra civil há mais de seis anos, quando 
em 2013 a oposição armada ao então governo tomou o controle do país. A partir do ano 
seguinte, vários grupos armados entraram em combate, em um país rico em diamante 
e ouro e com elevado grau de corrupção. 
198
Os muçulmanos do Norte, chamados de Seleka, se viam preteridos pelos 
governantes e se aliaram, marchando até a capital Bangui. Em seguida, milícias cristãs, 
nomeadas de Anti-Balaka passaram a combater os Seleka (YAHOO NEWS, 2019b). A 
figura em seguida mostra a divisão entre esses grupos e a localização das minas. 
FIGURA 34 – OPOSIÇÃO ENTRE AS MILÍCIAS SELEKA E BALAKA
FONTE: <https://finance.yahoo.com/news/c-africa-14-armed-groups-one-poor-country-130632235.
html>. Acesso em: 4 jun. 2020. 
A Líbia entrou em guerra civil em 2011, quando Muammar Gaddafi, que 
governava há mais de 40 anos, foi deposto em consequência dos protestos da 
Primavera Árabe. O país entrou em colapso novamente após alguns anos de tensões. 
Hoje, o poder está dividido basicamente entre a Câmara dos Representantes da Líbia, 
liderado pelo general Khalifa Haftar, e o Governo do Acordo Nacional, liderado por 
Fayez al-Sarraj (MEGERISI, 2019). 
Contudo, outras milícias e o Estado Islâmico ainda atuam no território líbio, como 
vemos na figura em seguida. O colapso líbio foi fundamental para outra guerra civil, a 
do Mali, já que tuaregues apoiaram Gaddafi. Quando retornaram, em 2012, fundaram o 
Movimento Nacional de Libertação do Azauade (LIVERMORE, 2013).
199
FIGURA 35 – GUERRA CIVIL (LÍBIA)
FONTE: <https://www.spiegel.de/international/world/libya-s-grim-civil-war-escalates-a-1277817.html>. Acesso 
em: 4 jun. 2020.
O Azauade é a região norte do Mali, ao norte do rio Níger. É uma região rica 
em ouro e em hidrocarbonetos, de população predominantemente tuaregue e árabe 
e de religião muçulmana. A figura a seguir mostra a localização desse território que 
chegou a ter a independência decretada em 2012, antes da intervenção internacional 
(LIVERMORE, 2013). 
Houve assinatura de um acordo de paz em 2015, mas há grupos islâmicos 
armados em atuação, violência entre grupos étnicos e ações contraterroristas do Estado 
malinês. As Nações Unidas têm uma missão de paz na região, que é frequentemente 
alvo de ações militares e terroristas e têm elevado índice de mortalidade. 
Revisando os países africanos em guerra civil: Líbia, Mali, República Centro-
Africana, Nigéria, Sudão do Sul, Somália e República Democrática do Congo.
IMPORTANTE
200
FIGURA 36 – O PROCLAMADO AZAUADE E SEU ENTORNO
FONTE: <https://2.bp.blogspot.com/-hFcspIrFsMM/T4U0jw7fW2I/AAAAAAAABik/W7m-Me5dRGA/s400/
sahel-w-africa-club-map-csao-azawad-et-sous-sol-2.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2020. 
Por fim, no século XXI, a ascensão da China como potência global tem trazido 
mudanças geopolíticas importantes para o continente. Bilhões de dólares têm sido 
investidos principalmente em infraestrutura e extração de minérios. Há ferrovias em 
Angola e na Etiópia, conectando-a ao Djibouti. 
Além disso, há diversos portos com investimentos chineses. Isso é parte da 
iniciativa “Um Cinturão, Uma Rota” (OBOR, em inglês) ou “Nova Rota da Seda”, que promete 
ampliar o poderio e a influência econômicos chineses ao reorientar as infraestruturas do 
planeta de acordo com as necessidades daquela que será a maior economia do mundo 
por volta de 2030 (BETHELL, 2018). 
Sobre os interesses econômicos da China na África, leia o artigo on-line 
de Alves (2010): http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4751/1/
BEPI_n1_interesses.pdf.
NOTA
201
3 CAMINHOS E DESCAMINHOS DA POLÍTICA NA 
AMÉRICA LATINA
As Américas foram descobertas em 1492, em um contexto de disputa entre 
Portugal e Espanha pela conquista de novas rotas comerciais até as Índias. Ambos os 
países dividiram o mundo entre si, embora essa divisão não tenha sido seguida pelas 
outras potências marítimas europeias. Nos séculos seguintes, as Américas estavam 
controladas pelas nações ibéricas, pelos Países Baixos, pela França e pela Inglaterra. 
O período colonial se estendeu até o século XIX, quando as primeiras nações latino-
americanas adquiriram sua independência (BETHELL, 2018). 
A figura a seguir mostra as datas das independências. O primeiro foi o Haiti, 
e esse fato se torna ainda mais relevante quando lembramos que o país é formado 
por população negra, o que se tornou um choque em um contexto de racismo e de 
escravidão institucionalizados.
A Guerra de Independência do Haiti durou quase treze anos, de 1791 a 1804. Esse 
é um fato sem precedentes no mundo, porque a revolução foi liderada por negros, tido 
como inferiores no sistema colonial racista e escravocrata. Desse modo, toda a crença 
vigente foi deteriorada pela vitória dos ex-escravos. Enquanto era colônia francesa, a 
‘Pérola das Antilhas’ foi uma das mais lucrativas do mundo, chegando a produzir 75% do 
açúcar do mundo, apesar de seu exíguo território (BETHELL, 2018).Após a matança que libertou o país, o Haiti se viu obrigado a contrair uma dívida 
enorme, que levou 122 anos para ser paga. Nas outras colônias americanas, criou-se 
um sentimento de pavor das revoltas escravas, nomeada como haitianismo, que é 
considerado por Alencastro (2000) um dos fatores que contribuíram para a unidade 
territorial da América Portuguesa. 
202
FIGURA 37 – DATA DAS INDEPENDÊNCIAS DOS PAÍSES AMERICANOS
FONTE: <https://www.unifal-mg.edu.br/remadih/wp-content/uploads/sites/11/2018/11/045-Mapa.jpg>. 
Acesso em: 4 jun. 2020>.
203
Sete anos depois do Haiti, outros dois países tornar-se-iam independentes – 
Paraguai e Venezuela. O Paraguai manteve-se relativamente isolado até a Guerra da 
Tríplice Aliança. Quanto à Venezuela, esta passou por duas tentativas de se tornar 
independente, com Simon Bolívar tendo se exilado e recorrido ao apoio haitiano que, 
em troca, demandou a abolição da escravatura se o líder revolucionário fosse vitorioso 
(BETHELL, 2018). 
A partir da cidade de Angostura, Bolívar liderou uma campanha que seguiu pelos 
Andes e chegou à atual Colômbia que, após anos de batalhas, se tornou independente, 
por fim, em 1819. Três anos depois, o Equador também se libertaria da Espanha pelas mãos 
de Bolívar, sendo incorporado à Grã-Colômbia até 1830, quando Venezuela, Colômbia e o 
próprio Equador se constituem em entidades políticas distintas (BETHELL, 2018).
Cabe ressaltar que Buenos Aires declarou sua independência em 1810, mas 
não conseguiu controlar nenhum território próximo. No ano seguinte, Artigas liderou 
uma revolta no atual Uruguai, iniciando um processo longo de guerras que envolveram 
todos os países vizinhos. Em 1813, houve a declaração de independência uruguaia e 
em 1816, das Províncias Unidas, parte da atual Argentina. Nesse mesmo ano, o Brasil 
invadiu o Uruguai e após alguns anos de guerra, anexou-o como Província Cisplatina. 
Em 1825, outra guerra ocorreu e, três anos depois, o Uruguai tornou-se independente 
em definitivo. Contudo, o Rio da Prata continuou sendo o principal fator de tensão 
geopolítica da América do Sul (BETHELL, 2018; HOLANDA, 2010). 
Em 1817, o exército revolucionário de San Martín saiu do Norte da atual Argentina, 
cruzou os Andes, e venceu os espanhóis no atual território chileno. Bernardo O’Higgins 
acompanhou o general e posteriormente se tornou líder do Chile independente, cuja 
declaração ocorreu em 1818. San Martín, contudo, continuou a lutar e em 1821 declarou 
a independência do Peru. Esta foi efetivada com a Batalha de Ayacucho em 1824 e 
fundamental para a independência boliviana no ano subsequente. As últimas forças 
militares fiéis à Espanha foram derrotadas dois anos depois na Bolívia e no Chile. A figura 37 
mostra o processo de independência de toda a América Latina (BETHELL, 2018; DK, 2018). 
É importante ressaltar que os movimentos de independência começaram no 
final da primeira década do século XIX, em razão das Guerras Napoleônicas na Europa. 
Iniciaram-se em 1803 e se estenderam até o Concerto Europeu em 1815. Nesse período, 
as tropas napoleônicas invadiram a Península Ibérica, em um episódio denominado 
Guerra Peninsular, que durou de 1808 a 1814. Isso enfraqueceu Portugal e Espanha, 
cuja família real foi deposta, o que, por sua vez, serviu de pretexto aos movimentos 
independentistas na América Espanhola. Para o Brasil, a Guerra Peninsular foi 
importantíssima, uma vez que ocorreu a transmigração da Corte portuguesa para o Rio 
de Janeiro em 1808. Assim, a capital da América Portuguesa se tornou sede da Coroa 
e houve a abertura dos portos às nações amigas, o que representou o fim do exclusivo 
metropolitano – e, portanto, da própria condição de colônia (BETHELL, 2018).
204
Isso significou um avanço enorme para o Brasil, uma vez que Portugal sempre 
obstou o desenvolvimento de instituições em sua colônia, algo bem diferente do que 
ocorreu nas colônias espanholas. Lá, a Espanha permitiu, por exemplo, a criação de 
universidades, sendo a mais antiga a Universidade de São Domingos, fundada em 1538. 
No Brasil, a Universidade do Paraná, atual Universidade Federal do Paraná (UFPR), é 
a mais antiga do Brasil – fundada em 1913! Lá, os criollos, a elite nascida na América, 
lutaram por sua emancipação; aqui houve um processo chamado de interiorização da 
metrópole. Isso fez com que, por exemplo, houvesse a transmissão do poder, quando da 
independência em 1822, do rei português para seu filho, que se tornou o imperador D. 
Pedro I, também português (BETHELL, 2018).
Em 1821, o México tornou-se independente. A guerra começou em 1810 sob 
liderança do padre Miguel Hidalgo y Costilla e, a partir de 1815, transformou-se em luta 
de guerrilha. Posteriormente, um representante dos realistas, grupo vinculado à Coroa 
Espanhola, Agustín de Iturbide, negociou alianças com grupos patriotas, formados 
por colonos mexicanos, e modificou o caráter inicial do movimento de independência, 
que previa originalmente, por exemplo, uma reforma agrária e o fim da escravidão. Ao 
se tornar independente, o México tornou-se uma monarquia chefiada por Iturbide, 
experiência que durou pouco – em 1824 foi proclamada a República (BETHELL, 2018). 
Em 1821, os países do istmo centro-americano, exceto Belize, também 
conquistaram sua independência e se uniram ao México. Em 1823, agruparam-se na 
Federação Centro-Americana, existente até 1838, quando uma guerra civil que durou 
dois anos levou a sua dissolução (BETHELL, 2018). 
Devemos lembrar que Chiapas optou por se unir ao México em 1824 e que, 
nesse período, o Panamá pertencia ao território colombiano. Todo o Caribe era formado 
por colônias dos países europeus, exceto pelo Haiti; a República Dominicana se tornou 
independente em 1844, após mais de duas décadas de governo unificado com os 
haitianos (BETHELL, 2018). A primeira declaração de independência dos dominicanos 
ocorreu meses depois da Ata de Independência da América Central. 
Os Estados Unidos não ficaram impassíveis aos movimentos independentistas nas 
Américas. Em 1823, enunciaram a Doutrina Monroe que teve como slogan “América para os 
americanos”. Desse modo, defendiam uma América livre do intervencionismo europeu. A 
partir de 1845, os Estados Unidos passaram a agir de forma mais contundente em razão da 
ideologia do Destino Manifesto, expressão cunhada em 1845, que justificava a expansão 
territorial do país. A Flórida havia sido comprada em 1819; o Texas foi anexado em 1845; em 
1846, foi alcançado o acesso ao Oceano Pacífico pela incorporação do Oregon; em 1848, 
foi anexado território mexicano após uma guerra de dois anos (DIVINE, 1990).
205
Em 1850, uma mudança importantíssima ocorreu no Brasil – o fim do comércio de 
escravos, o penúltimo país a aboli-lo: Cuba registrou o último navio negreiro em 1867. A partir 
da metade do século XIX, a escravidão se tornará uma questão geopolítica importantíssima, 
à medida que o capitalismo se desenvolve e obriga a mudança nos padrões de trabalho 
vigentes, principalmente nas Américas. Basta lembrar que a Lei Eusébio de Queiroz foi uma 
imposição da Inglaterra ao governo brasileiro a fim de impedir o comércio de pessoas. O 
primeiro país a abolir a escravidão foi a Dinamarca em 1792, embora a medida tenha sido 
efetivada apenas em 1803; logo depois, a Inglaterra, em 1807, tomou ação semelhante 
(ALENCASTRO, 2000; HOLANDA, 2010; ISM, s.d.; REUTERS, 2007).
Ao longo das décadas seguintes, diversos países aboliram tanto o tráfico de 
escravos quanto a própria escravidão em seus países. Na década de 1860, os Estados 
Unidos entraram em guerra civil por conta do apoio que grupos davam à manutenção 
da escravidão. No Brasil, logo depois da proibição do tráfico, foi editada a Lei de Terras, 
substituindo o principal ativo econômico do país do comércio de pessoas escravizadas 
para a posse de terras. Cuba, também bastante dependente dessa horrenda atividade 
econômica, aboliu a escravidão em 1866; o Brasil foi o último país das Américas a proibir 
legalmente a escravidão