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Indaial – 2020 Saúde Prof.a Carla Eunice Gomes Correa Prof.a Denise da Hora Ferreira 1a Edição avaliação de ambiente e arquitetura de ServiçoS de Elaboração: Prof.a Carla Eunice Gomes Correa Prof.a Denise da Hora Ferreira Copyright © UNIASSELVI 2020 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C824a Correa, Carla Eunice Gomes Avaliação de ambiente e arquitetura de serviços de saúde. / Carla Eunice Gomes Correa; Denise da Hora Ferreira. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 185 p.; il. ISBN 978-65-5663-303-9 ISBN Digital 978-65-5663-299-5 1. Arquitetura de hospitais. - Brasil. I. Ferreira, Denise da Hora. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 725.5 Prezado acadêmico, bem-vindo a disciplina de Avaliação de ambiente e arquitetura dos serviços de saúde. Todos sabemos que realizar a gestão dos serviços de saúde tem se tornado desafiador para o gestor. As mudanças rápidas do mercado têm influenciado na busca pela qualidade e competitividade. Nesta disciplina você terá oportunidade de estudar, na Unidade 1 a trajetória da arquitetura de saúde no decorrer dos anos. Veremos como ocorreu esta evolução e como hoje as instituições estão se adequando as exigências legais, como por exemplo, criar espaços acessíveis, humanizado e seguro. Dentro dos hospitais. Na Unidade 2 você estudará sobre a arquitetura de AES em nível primário e secundários, mas especificamente as Unidades Básicas de Saúde e Unidades de atendimento especializado. E na Unidade 3 veremos como a humanização influência nos projetos das instituições de saúde bem como auxilia no tratamento dos pacientes. Precisamos lembrar que na maioria das vezes o paciente procura a instituição quando apresenta algum problema de saúde, por isso, atende-lo num espaço humanizado faz toda a diferença na avaliação deste em relação ao atendimento da instituição. Boa Leitura! Prof.a Carla Eunice Gomes Correa Prof.a Denise da Hora Ferreira APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ARQUITETURA DE SAÚDE E TIPOLOGIAS ............. 1 TÓPICO 1 - A HISTÓRIA DA ARQUITETURA DA SAÚDE ........................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 O SURGIMENTO DOS HOSPITAIS ......................................................................................3 2.1 OS PRIMEIROS HOSPITAIS NO BRASIL ............................................................................................. 9 3 ARQUITETURA PARA ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE (EAS) ...........11 3.1 DIMENSÕES DAS ARQUITETURAS PARA ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE .....................................................................................................................16 4 LEGISLAÇÃO APLICADA À ARQUITETURA DE SERVIÇOS DE SAÚDE ..........................18 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 22 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 23 TÓPICO 2 - O ESPAÇO FÍSICO-HOSPITALAR E A DEPARTAMENTALIZAÇÃO ................. 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 25 2 OS ESPAÇOS FÍSICOS DO HOSPITAL ............................................................................. 25 2.1 PLANO DIRETOR .................................................................................................................................28 3 DEPARTAMENTOS DO HOSPITAL ................................................................................... 29 3.1 CENTRO CIRÚRGICO ..........................................................................................................................29 3.2 CENTRO OBSTÉTRICO ......................................................................................................................30 3.3 PRONTO-SOCORRO ...........................................................................................................................32 3.4 UNIDADES DE INTERNAÇÃO EM ENFERMARIA ..........................................................................33 3.5 UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) .......................................................................................34 3.6 DIAGNÓSTICOS POR IMAGEM .......................................................................................................... 37 RESUMO DO TÓPICO2 ........................................................................................................ 40 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 41 TÓPICO 3 - NOVAS TENDÊNCIAS DA ARQUITETURA DOS EAS ....................................... 43 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 43 2 ACESSIBILIDADE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE ................................................................ 43 3 SUSTENTABILIDADE NA ARQUITETURA DOS EAS ....................................................... 44 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................. 51 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 54 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 55 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 56 UNIDADE 2 — ELABORAÇÃO DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS NA ATENÇÃO BÁSICA ................................................................................... 61 TÓPICO 1 — ARQUITETURA NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA .............. 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 63 2 ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ........................................................................................ 65 3 UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE ..................................................................................... 66 3.1 PRIMEIRO PLANO ................................................................................................................................70 3.2 SEGUNDO PLANO ...............................................................................................................................71 3.3 TERCEIRO PLANO ............................................................................................................................... 73 3.4 QUARTO PLANO .................................................................................................................................. 76 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................78 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................79 TÓPICO 2 - ARQUITETURA NA ATENÇÃO BÁSICA: CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ...........................................................................81 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................81 2 A REFORMA PSIQUIÁTRICA E OS NOVOS OLHARES ..................................................... 83 3 REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ............................................................................... 84 3.1 CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL- CAPS ..........................................................................85 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 94 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................95 TÓPICO 3 - PROJETOS DE INVESTIMENTO E AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA ..............97 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................97 2 SISTEMA DE APOIO À ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS EM SAÚDE (SOMASUS) ...................................................................... 98 3 SISTEMA DE MONITORAMENTO DE OBRAS (SISMOB) E REQUALIFICA UBS ...............99 4 PROGRAMA NACIONAL DE MELHORIA DO ACESSO E DA QUALIDADE DA ATENÇÃO BÁSICA ................................................................................102 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................105 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 110 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................111 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 114 UNIDADE 3 — HUMANIZAÇÃO DOS AMBIENTES DAS UNIDADES DE SAÚDE ................123 TÓPICO 1 — BASES CONCEITUAIS DA HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE ................................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................125 2 HISTÓRIA DA HUMANIZAÇÃO .......................................................................................125 3 A HUMANIZAÇÃO NO CONTEXTO DA SAÚDE ................................................................128 4 CULTURA ORGANIZACIONAL E ATENDIMENTO HUMANIZADO .................................. 131 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................135 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................136 TÓPICO 2 - EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO ..............139 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................139 2 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO – HUMANIZASUS ...................................... 140 3 NUANCES DA HUMANIZAÇÃO DO NASCER AO MORRER ............................................ 144 3.1 HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA AO PARTO ............................................................................145 3.2 HUMANIZAÇÃO NO CONTEXTO HOSPITALAR ...........................................................................149 3.3 MANEJO DO PACIENTE PORTADOR DE TRANSTORNOS MENTAIS ...................................... 153 3.4 HUMANIZAÇÃO NA ATENÇÃO BÁSICA .......................................................................................154 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 157 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................158 TÓPICO 3 - HUMANIZAÇÃO E GESTÃO ............................................................................. 161 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 161 2 DESAFIOS DO GESTOR NA MELHORIA CONTÍNUA E QUALIDADE DO ATENDIMENTO .....................................................................................162 3 DESAFIO DA SEGURANÇA E CUIDADO CENTRADO NO PACIENTE .............................165 4 DESAFIO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL ................................................................ 167 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................169 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 173 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 174 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 176 1 UNIDADE 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ARQUITETURA DE SAÚDE E TIPOLOGIAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • ter clareza da origemdos estabelecimentos de saúde; • entender como os pilares históricos da arquitetura hospitalar se estruturaram; • ter o entendimento de como a arquitetura influencia na saúde através do estudo das tipologias arquitetônicas; • observar de que maneira a tendência arquitetônica atual influencia na humanização da saúde. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A HISTÓRIA DA ARQUITETURA DA SAÚDE TÓPICO 2 – O ESPAÇO FÍSICO-HOSPITALAR E A DEPARTAMENTALIZAÇÃO TÓPICO 3 – NOVAS TENDÊNCIAS DA ARQUITETURA DOS EAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 A HISTÓRIA DA ARQUITETURA DA SAÚDE TÓPICO 1 - UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Os serviços de saúde, com o passar dos anos, passaram por um processo evolutivo, tanto em relação aos processos de trabalhos com a inclusão de novas tecnologias como em relação à arquitetura dos espaços físicos. A história da arquitetura de saúde tem, como base, a construção dos primeiros hospitais mantidos por entidades religiosas, com o objetivo de acomodar pessoas doentes. São vistos como locais inadequados para o tratamento integral e de qualidade da saúde (AMORA; COSTA, 2019). A partir desse contexto, vamos estudar, neste tópico, a evolução da arquitetura dos serviços de saúde até os dias atuais, quando a preocupação é oferecer, ao paciente, um local humanizado, seguro e confortável para o tratamento da saúde. 2 O SURGIMENTO DOS HOSPITAIS O estudo da arquitetura dos estabelecimentos de saúde, no decorrer dos anos, sempre esteve alinhado às práticas médicas da época. Por isso, diz-se que a história da arquitetura de edifícios para a saúde se confunde com a evolução do conceito de hospital (CARVALHO, 2014). Dessa forma, vamos iniciar nosso estudo com o surgimento dos hospitais no mundo. Durante muito tempo, os espaços voltados ao tratamento de saúde eram vinculados aos saberes sagrados e religiosos e, posteriormente, na filosofia, para as explicações das propostas de cura. Com relação aos saberes sagrados, estes tinham o poder da cura e colocavam o motivo das dores humanas no poder das crenças, enquanto as bases filosóficas se voltavam para tratamentos mais naturais, fazendo uso do que mais se aproximava da medicina, como o naturismo, acupuntura e alopatia (CARVALHO, 2014). Desde a Grécia antiga, as construções voltadas para o atendimento da saúde eram divididas em públicas, privadas e religiosas, das quais as públicas serviam de hospedagem e realizavam o atendimento dos idosos. 4 As privadas foram criadas pelos médicos para atendimento dos pacientes, e as religiosas eram vinculadas aos chamados sacerdotes-médicos que, a partir dos sonhos, determinavam o tratamento para os doentes. Em Roma, as primeiras construções eram destinadas ao atendimento de pessoas de posse que utilizavam o local como uma forma de realizar terapias naturais no tratamento de doenças, enquanto no oriente, o objetivo desses locais era dar uma hospedagem aos peregrinos, além de tratar das enfermidades, quando necessário (MIQUELIN, 1992). Antes de continuar nosso estudo dos hospitais, é importante compreender de onde surgiu esse termo. A origem da palavra hospital é do latim hospitalis, um adjetivo derivado de hospes (hóspede, estrangeiro, viajante, conviva). Por extensão, o que dá agasalho, que hospeda. Surgiram designações em outros idiomas, hospital, hospedale etc. No início da era cristã, a terminologia mais usada era de origem grega ou latina, como: • Nosocomium: lugar para tratar doenças, asilo, enfermo. • Nosodochium: lugar para receber doentes. • Ptochotrophium: asilo para pobres. • Poedotrophium: asilo para crianças. • Xenotrophium: asilo de refúgio para viajantes estrangeiros. • Gynetrophium: hospital par mulheres. • Gerontokomium: asilo para velhos. • Hospitium: lugar onde os hóspedes eram recebidos, daí o nome “hospício”, para estabelecimentos que recebiam enfermos pobres, incuráveis ou insanos. A literatura a respeito da história e das tipologias das arquiteturas hospitalares demonstra que, na antiguidade, os hospitais eram construídos em templos religiosos, ou seja, uma arquitetura aberta em forma de alojamento. Na Idade Média, até os fins do século XIX, predominaram três formas de projeto arquitetônico dos serviços de saúde: a nave e o claustro, o sistema radial e o pavilhonar. O sistema nave [e claustro] “era organizado ao redor de pátios ou claustros, que ajudavam na iluminação e no deslocamento entre os diversos setores do hospital, sistema inspirado, também, nas soluções de monastérios” (CARVALHO, 2014. p. 16). Apresentava-se em forma de hospedagem asilar e de atendimento de caridade. Tratando-se de prédios públicos, chegavam a colocar mais de um paciente na mesma cama, formando um amontoado de pessoas, independentemente do tipo de enfermidade, o que agravava ainda mais a saúde dos pacientes. A medicina era praticada por entidades religiosas. Um exemplo de hospital construído com essas características é o Hospital de Santa Cruz, em Barcelona. 5 FIGURA 1 – HOSPITAL SANTA CRUZ (BARCELONA/ESPANHA) EM 1900 FONTE: <https://www.europeana.eu/en/item/9200579/ybj3gtzn>. Acesso em: 11 out. 2020. O sistema radial já se apresentava de forma mais evoluída e separava as patologias uma das outras, para facilitação da vigilância. Era organizado em forma de cruz, predominando o sagrado na recuperação e cura dos doentes. “As naves em cruz obedeciam à necessidade de maior sofisticação do programa hospitalar” (CARVALHO, 2014, p. 17). O hospital de Santa Maria Nuova, em Florença, começado em 1286, é considerado o primeiro a utilizar a tipologia em cruz. Serviu como modelo para diversos hospitais italianos, como o de Mantua (1450) e o Pammatone, de Génova (1442). INTERESSANTE FIGURA – HOSPITAL DE SANTA MARIA NUOVA, EM FLORENÇA FONTE: <https://cutt.ly/ygaH9Yz>. Acesso em: 11 out. 2020. 6 O sistema pavilhonar, como o nome já sugere, era formado por pavilhões, construídos em blocos de internação. Embora o Hospital Naval de Stonehenge (1756), na Inglaterra, seja considerado o primeiro a utilizar uma forma semelhante a pavilhões, foi o hospital Lariboisière, de 1848, na França, que apresentou um modelo mais completo, que serviria de inspiração para os hospitais pavilhonares adotados no mundo ocidental (CARVALHO, 2014). “O sistema pavilhonar representou um claro avanço formal e funcional na história da arquitetura hospitalar. Nessa fase, os hospitais deixam de ser locais, para exclusão e aguardo da morte, para a transformação em instrumentos efetivos de recuperação e cura” (CARVALHO, 2014, p. 20). FIGURA 2 – HOSPITAL LARIBOISIÈRE, DE 1848 FONTE: <https://www.courtauldprints.com/image/167939/gauthier-martin-pierre-hopital-lariboisiere>. Acesso em: 11 out. 2020. O exposto a seguir retratará o hospital em 2009. https://www.courtauldprints.com/image/167939/gauthier-martin-pierre-hopital-lariboisiere 7 FIGURA 3 – HOSPITAL LARIBOISIÈRE ATUALMENTE FONTE: Carvalho (2014, p. 19) A seguir, será possível observar, de forma resumida, a evolução do modelo de hospitais desde a antiguidade até a idade contemporânea. FIGURA 4 – EVOLUÇÃO DA FORMA DOS EDIFÍCIOS HOSPITALARES FONTE: Sampaio (2005, p. 82) 8 Você, com certeza, ao longo dos seus estudos, já deve ter ouvido falar da enfermeira Florence Nightingale em vários temas. Podemos destacar que seus preceitos na área da saúde foram muito importantes, inclusive no que se refere às arquiteturas e ambientes dos hospitais. A seguir, poderemos compreender qual foi sua contribuição nesse contexto. Estudos de Foucault (1989) apontam que o hospital, nos moldes de hoje, ou seja, um hospital terapêutico com objetivos de cura e tratamento de doentes, deu- se no fimdo século XVIII. O personagem ideal do hospital até o século XVIII não é o doente que é preciso curar, mas o pobre que está morrendo, é alguém a quem se deve dar os últimos cuidados e o último sacramento. Essa é a função essencial do hospital [...], e o pessoal hospitalar não era fundamentalmente designado a realizar a cura do doente, mas conseguir sua própria salvação. Era um pessoal caritativo (religioso ou leigo) que estava no hospital para fazer uma obra de caridade que lhe assegurasse salvação eterna (FOUCAULT, 1989, p. 101-102). A partir da reconstrução do Hotel Dieu, de Paris, que foi acometido por um incêndio em 1772, que, até então, era uma construção velha, insalubre e que abrigava centenas de enfermos agrupados, é que se formatou o hospital contemporâneo. Como esse hospital era de suma importância para o atendimento na época, formou-se uma comissão, para pensar em um projeto diferente e adequado, principalmente, em relação à iluminação e ventilação dos ambientes, que até então eram vistos como um dos maiores problemas de insalubridade e propagação de doenças. A enfermeira inglesa Florence Nightingale desempenhou papel muito importante na consolidação da tipologia pavilhonar em hospitais. Organizadora da profissão de enfermeira, ela fundou, em 1860, uma escola de enfermagem com o hospital londrino St. Thomas, e também publicou diversas obras. Em Notes on Hospital (1859), ela selecionou os elementos mínimos para o bom funcionamento de um edifício hospitalar, sendo pioneira na percepção de que a saúde dos pacientes não dependia só de cuidados médicos, mas também da organização e da configuração espacial do edifício. Nightingale estabeleceu as bases e dimensões do que ficou posteriormente conhecido como Enfermaria Nightingale, sugerindo que os defeitos dos hospitais existentes residiam, principalmente, na falta de modelos adequados de iluminação e ventilação naturais, áreas mínimas por leito e na própria superlotação (MARCHRY, 2010, p. 130). ATENÇÃO 9 A partir do fim do século XIX e durante o século XX, houve um avanço em relação aos hospitais. Novas tecnologias foram incorporadas e novo conceito de saúde fez com que as intuições se reestruturassem em relação à disponibilização dos espaços adequados para o atendimento médico-hospitalar. A tendência da verticalização de prédios aparece já a partir da segunda metade do século XIX, com o surgimento dos “arranha- céus”, em Chicago. Na mesma época, observamos o aumento do custo dos terrenos urbanos, a escassez de mão de obra de enfermagem, o anseio de reduzir os percursos existentes nos hospitais pavilhonares e, ainda, a questão da inadequação dos longos corredores de circulação ao clima rigoroso da América do Norte. O aprimoramento de tecnologias da construção civil, como o emprego das estruturas metálicas, é a base para o estabelecimento da nova tipologia na construção de hospitais. O uso de elevadores, circulações otimizadas, o emprego de sistemas de ventilação mecânica e facilidades na implantação da infraestrutura predial determinam o desenvolvimento da verticalidade das construções. Surge o hospital monobloco que, mais tarde, transforma-se em estruturas de múltiplos blocos verticais, configurando a tipologia marcante do século XX (COSTEIRA, 2014, p. 60). 2.1 OS PRIMEIROS HOSPITAIS NO BRASIL Os primeiros hospitais construídos na América Latina foram o Hospital de Jesus Nazareno, em 1524, no México, e, no Brasil, a Santa Casa de Misericórdia de Olinda, inaugurada em 1540 (LIMA, 2010). Nos anos subsequentes, foram inaugurados a Santa Casa de Misericórdia de Santos, Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e a Faculdade de Medicina de São Paulo (GÓES, 2012). As construções das primeiras casas de misericórdia se deram em Portugal e, posteriormente, nas colônias, sendo, o Brasil, o segundo país da América do Sul a realizar as construções exclusivas para atendimento dos enfermos (TOLEDO, 2018). 10 A HISTÓRIA DE MISERICÓRDIA DAS SANTAS CASAS O vocábulo “misericórdia” tem sua origem no latim e significa, em sentido estrito, “doar seu coração a outrem” (misere e cordis). Em sentido mais amplo, quer dizer “doar a quem necessita”. As Santas Casas de Misericórdia trabalham com o objetivo de contemplar o princípio, recebendo os mais necessitados. A primeira Santa Casa do mundo foi criada em 15 de agosto de 1498, em Lisboa, pela rainha Leonor de Lencastre, esposa de Dom João II, originando a "Confraria de Nossa Senhora de Misericórdia", em um período da história lembrado por tragédias, guerras e pelas grandes navegações. Nesse cenário, o surgimento das Santas Casas ficou marcado pela retomada de sentimentos, como a fraternidade e a solidariedade. Prova disso é que, muitas vezes, a Irmandade não precisou de uma instituição física: ela foi ao encontro dos enfermos e inválidos, onde quer que eles estivessem. Assim, chegou à Ásia, África, espalhou-se pela Europa e, claro, pelas Américas. Naquele mesmo ano, foram fundadas dez filiais, sendo oito em Portugal e duas na Ilha da Madeira. No Brasil, as primeiras Santas Casas surgiram logo após o seu descobrimento, precedendo a própria organização jurídica do Estado brasileiro, criado através da Constituição Imperial de 25 de março de 1824. Até essa data, já haviam sido fundadas as Santas Casas de Santos (1543); Salvador (1549); Rio de Janeiro (1567); Vitória (1818); São Paulo (1599); João Pessoa (1602); Belém (1619); São Luís (1657); Campos (1792); e Porto Alegre (1803). Destas, derivaram outras entidades similares, como as beneficências portuguesas, hospitais filantrópicos das comunidades judaica, japonesa, sírio-libanesa, ou mesmo ligadas a movimentos das igrejas católica, protestante, evangélica, espírita etc., totalizando, até os dias atuais, cerca de 2.100 estabelecimentos de saúde espalhados por todo o território brasileiro. Uma vez criadas, passaram a se dedicar ao atendimento aos enfermos e, em alguns casos, em mais de uma direção, ou seja, no amparo à velhice, à criança, aos hansenianos, à educação etc. Cabe destacar que, na maioria dos continentes e países onde foram fundadas, as Misericórdias se anteciparam às atividades estatais de assistência social e à saúde. No Brasil, e em alguns outros países, também foram as responsáveis pela criação de alguns dos primeiros cursos de Medicina e Enfermagem, como é o caso daquelas fundadas na Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e Porto Alegre. Atualmente, as Santas Casas são responsáveis pelo maior número de residências médicas, contribuindo com a formação dos profissionais da medicina. No Brasil, a atuação dessas instituições apresentou duas fases: a primeira compreendeu o período de meados do século XVIII até 1837, de natureza caritativa; a segunda, o período de 1838 a 1940, com preocupações de natureza filantrópica [...]. FONTE: <https://www.cmb.org.br/cmb/index.php/institucional/ quem-somos/historico>. Acesso em: 11 out. 2020. IMPORTANTE 11 A seguir, poderemos observar algumas ações pioneiras que marcaram a história da arquitetura hospitalar no Brasil. QUADRO 1 – AÇÕES QUE MARCARAM A EVOLUÇÃO DA ARQUITETURA HOSPITALAR NO BRASIL ANO AÇÕES 1942 Construção do Hospital da Universidade do Brasil. 1943 Construção do Hospital Geral de Natal, atual Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 1950 Inicia o 1º curso de Administração Hospitalar na USP. 1954 Construção do Hospital Israelita Albert Einstein. 1959 Hospital de Base de Brasília. 1994 Criação da Fundação da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Edifícios Hospitalares. FONTE: Adaptado de Góes (2012) 3 ARQUITETURA PARA ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE (EAS) A arquitetura para Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) é uma tipologia considerada, pela literatura, como antiga, foi criada para cuidar de doentes e passa por um processo evolutivo, assim como as alterações que foramsurgindo na medicina no decorrer dos anos (FLEMMING, 2000). Nas primeiras décadas do século XIX, o Brasil passava por sérias dificuldades com a falta de saneamento básico e a proliferação de doenças. O exercício da medicina era praticado apenas por físicos e cirurgiões habilitados e licenciados pelo cirurgião- mor do reino, conforme determinava o regulamento de 23 de maio de 1800. A situação mudou com a chegada da família real ao Brasil, quando foram implementadas medidas administrativas, políticas e sociais de impacto na saúde e medicina do país. Porém, foi a partir da necessidade de se combater as enfermidades que, na primeira metade do século XIX, iniciou-se a instalação das casas de saúde no Rio de Janeiro. Ainda, foram criadas, ao longo dos anos, subsequentes várias medidas de salubridade da cidade (FONSECA, 2008). De acordo com Fonseca (2008, p. 39): [a] institucionalização da higiene e da saúde pública no Brasil está igualmente relacionada à história da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro (atual Academia Nacional de Medicina), criada em 30 de junho 12 de 1829, com o objetivo de viabilizar o crescimento das diversas áreas da medicina, além de ampliar a participação desses profissionais no governo imperial, especialmente, em questões referentes à higiene e às políticas de saúde pública. Na segunda metade do século XIX, o Brasil passa por diversos problemas de saúde pública, “a cidade do Rio de Janeiro apresentava um quadro sanitário caótico, caracterizado pela presença de diversas doenças graves que acometiam à população, como a varíola, a malária, a febre amarela, e, posteriormente, a peste” (POLIGNANO, 2006, p. 4), e, com isso, surgia a necessidade de serem estabelecidas unidades hospitalares para atendimento dos doentes. Tendo em vista os perigos ocasionados pela febre amarela, o governo imperial cria a Comissão Central de Saúde Pública e comissões paroquiais, com os objetivos de “velar, durante a epidemia, pela observância das leis, ordens e providências relativas à saúde pública, e visitar, gratuitamente, todos os doentes pobres da freguesia” (FONSECA, 2008, p. 40). Durante todo o século XIX, foi crescente, entre os administradores e os médicos, a preocupação com as condições de salubridade da cidade, conforme expressam a extensa legislação, a criação de órgãos públicos e a elaboração de inúmeros estudos. A assistência médico-hospitalar, na cidade do Rio de Janeiro, realizou-se, ao longo de todo esse período, notadamente, em instituições assistenciais, laicas ou confessionais. Procurava-se, por esses meios, combater as enfermidades que grassavam na cidade, e, assim, torná-la mais salubre e mais “civilizada” (FONSECA, 2008, p. 45). Nesse período, inicia-se, também, a preocupação com a EAS, pois os hospitais existentes na época, e mantidos por entidades religiosas ou filantrópicas, eram vistos como locais úmidos, insalubres e identificados como focos de epidemias. No início do século XX, a partir dos anseios do sanitarista Oswaldo Cruz com o projetista Luís de Morais Junior, a arquitetura em saúde começa a receber mais destaque, a partir dos parâmetros já utilizados pelos centros europeus (IBAM, 1996; CARVALHO, 2002). A evolução da arquitetura sanitária, no âmbito da saúde pública, teve, como ponto de partida, a preocupação com a construção de desinfetórios para cuidar de pessoas com doenças infecciosas. Em 1893, foi construído o Desinfectório Central, na cidade de São Paulo, e, em 1905, foi construído o Desinfectório de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1906, o Desinfectório Central, na mesma cidade, onde as condições de saúde e saneamento propagavam doenças nas cidades e, por isso, havia a necessidade de controle das doenças (IBAM, 1996). 13 FIGURA 5 – FACHADA DO PRÉDIO DO DESINFECTÓRIO CENTRAL (SP) EM 1910 FONTE: <https://saopauloantiga.com.br/imagens/locais/desinfectoriocentral/desinfectoriot1.jpeg>. Acesso em: 11 out. 2020. “O desinfectório realizava a desinfecção de casas, objetos pessoais etc. de doentes notificados de doenças contagiosas, e a remoção destes para os hospitais de isolamento determinados” (OLIVEIRA, 2007, p. 327). NOTA https://www.saopauloantiga.com.br/desinfectorio-central/ 14 Com a reforma do sistema estadual de saúde, iniciado na década de 60, ocorreram, a partir de 1967, uma descentralização administrativa e uma reestruturação dos serviços de saúde pública, o que esvaziou, consideravelmente, as atividades do outrora movimentado prédio público. Com isso, surgiu-se um debate a favor da construção de um museu da saúde pública e da figura do antigo diretor do Serviço Sanitário do Estado, Dr. Emílio Ribas. Assim, em 1979, foi inaugurado o Museu da Saúde Pública – Emílio Ribas. Desde a criação, consagrou-se como depositário de um dos mais importantes acervos documentais da saúde brasileira, composto por documentos textuais, iconográficos, sonoros, audiovisuais e objetos, e representados por séries históricas de documentos da Secretaria de Estado da Saúde, fundos institucionais e pessoais, públicos e privados, referentes à saúde, desde o fim do século XIX até o presente. Há uma área de exposição com temas relacionados à história da saúde, concebida a partir do seu acervo, cuja visitação a grupos de interesse é feita mediante agendamento. FONTE: <https : / /saopauloant iga .com.br/ imagens/ locais/ desinfectoriocentral/desinfectoriot1.jpeg>. Acesso em: 11 out. 2020. IMPORTANTE Outro acontecimento importante da saúde pública, que marcou a evolução da arquitetura dos serviços de saúde, foi a construção da sede da Diretoria-Geral de Saúde Pública no Rio de Janeiro, cuja obra foi iniciada em 21 de novembro de 1905, durante o período em que Oswaldo Cruz assumiu o cargo de diretor geral da saúde pública. Entretanto, devido à ausência de recursos e planejamento, a conclusão da obra foi se arrastando por vários governos e foi concluída somente em 1914 (OLIVEIRA, 2007). https://www.saopauloantiga.com.br/desinfectorio-central/ 15 FIGURA 6 – FACHADA PRINCIPAL DO PRÉDIO DA DIRETORIA GERAL DE SAÚDE PÚBLICA FONTE: Oliveira (2007, p. 331) FIGURA 7 – PRÉDIO DA DIRETORIA GERAL DE SAÚDE PÚBLICA FONTE: <https://storage.myseldon.com/news_pict_B5/B505C91894D89828CA0E92DFFC9F43F3>. Acesso em: 11 out. 2020. 16 Leia o artigo: OLIVEIRA, B. T. de. Da antiga sede da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) ao atual Instituto Nacional do Câncer (Inca). História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 325-346, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/hcsm/v14n1/15.pdf. Acesso em: 11 out. 2020. DICA No período de 1931 a 1936, o prefeito Pedro Ernesto deu continuidade aos projetos de Oswaldo Cruz e construiu “seis dispensários, unidades com atribuições distintas dos antigos desinfectórios em consonância com o novo quadro sanitário da cidade” (IBAM, 1996, p. 11). No primeiro governo Vargas (1930-1945), foi criado o Ministério da Educação e Saúde, e também se ampliava a rede de atenção a partir de uma arquitetura moderna. Em 1960, surge, na cidade do Rio de Janeiro, o Centro Médico Sanitário (CMS). 3.1 DIMENSÕES DAS ARQUITETURAS PARA ESTABELECIMENTOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE Ao pensar nas EAS, é necessário que o profissional de arquitetura considere algumas questões geográficas, de urbanização e dados epidemiológicos. Contudo, por que todos esses parâmetros são necessários ao pensar em uma unidade de saúde? No que se refere às questões geográficas, inicialmente, podemos considerar, por exemplo, que, ao se projetar uma unidade de saúde, é necessário pensar na capacidade de atendimento, ou seja, no volume estimado de pessoas que deve fazer uso do espaço. De acordo com Carvalho (2014, p. 23), “o conjunto dos diversos fatores de indução da ida do paciente ao edifício responsável pelo abrigo dos serviços de saúde constitui sua acessibilidade, o que indica a distribuição hierárquica desses serviços, segundo as chamadas teoriasde localização”, desenvolvidas por Loch (1954) e Christaller (1966) e utilizadas na análise da distribuição dos serviços de saúde, principalmente, pelo fato de a oferta desses serviços obedecer a uma diferenciação por níveis de complexidade. Nesse contexto, a distribuição espacial dos serviços de saúde impacta diretamente no deslocamento do paciente para o acesso ao serviço. Entretanto, nem sempre as questões de localização fazem com que o paciente se desloque para o atendimento mais próximo. Muitas vezes, fatores, como qualidade dos serviços prestados, são decisórios na escolha do paciente (CARVALHO, 2002). 17 Considerando a teoria da localização central, de Christaller, apresentaremos um modelo de saúde hierarquizado, dividido pelos níveis das atenções primária (unidade básica e centro de saúde), secundária (atendimento, especialidades e hospital local) e terciária (hospital regional). FIGURA 8 – ESQUEMA SIMPLIFICADO DE UM SISTEMA DE SAÚDE HIERARQUIZADO COM BASE NA TEORIA DA LOCALIZAÇÃO CENTRAL FONTE: Carvalho (2014, p. 24) Ainda nesse contexto, é preciso considerar as questões ambientais e o desenvolvimento de doenças. Desde a época de Hipócrates, a famosa obra Dos Mares, das Águas e dos Lugares, do século IV a.C., já apresentava as influências ambientais nas condições de saúde da população, passando por diversas abordagens teóricas da geografia médica, geografia da saúde e da doença e geografia da fome, estas que relacionavam os determinantes da qualidade de vida do indivíduo com o ambiente (CARVALHO, 2002; NARDOCI, 2008). Carvalho (2002) destaca, também, a importância das questões relacionadas ao planejamento de saúde. Ao tratarmos do planejamento da saúde em determinada região, as questões vão além dos fatores geográficos e envolvem as dimensões econômicas, políticas, históricas, epidemiológicas e sociais, que constituem o primeiro aspecto a ser considerado em uma intervenção. O planejamento deve ser realizado considerando as particularidades de cada local, ou seja, um planejamento de saúde para a região amazônica, por exemplo, deve apresentar particularidades diferentes da região sul. A seguir, será possível observar, de forma detalhada, o fluxo e os fatores que influenciam no planejamento da saúde. 18 FIGURA 9 – FLUXO E FATORES QUE INFLUENCIAM NO PLANEJAMENTO DA SAÚDE FONTE: Adaptado de IBAM (1996) Nesse sentido, Carvalho (2002) destaca a necessidade do profissional projetista de conhecer as reais necessidades do local ao projetar uma EAS, visto que as legislações existentes não fazem essa consideração em relação às especificidades regionais. 4 LEGISLAÇÃO APLICADA À ARQUITETURA DE SERVIÇOS DE SAÚDE No Brasil, as normas e diretrizes para a elaboração de projetos de estabelecimentos de saúde são de responsabilidade do Ministério da Saúde, sob a coordenação da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (ANVISA), obedecendo, hierarquicamente, às Leis Orgânicas da Saúde, Resoluções, Planos Diretores (estaduais e locais) e Códigos de Obras de cada município. A Portaria nº 400, de 15 de dezembro de 1977, foi o primeiro instrumento normativo voltado aos projetos arquitetônicos para construção, reforma e ampliação de estabelecimentos de saúde, que perpetuou no período de 1977 a 1994, ou seja, durante os governos Geisel, Figueiredo, Sarney, Collor e Itamar Franco (BARRETO, 2002). 19 Em 1984, foi publicada a Portaria nº 1.884, de 11 de novembro de 1994, que alterava e apresentava mudanças em relação ao programa arquitetônico e projetos de AES (BARRETO, 2002). Essa portaria foi substituída pela RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002, instituída no âmbito da Anvisa, com o objetivo de regulamentar, tecnicamente, o planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Art. 1º - Aprovar o Regulamento Técnico destinado ao planejamento, programação, elaboração, avaliação e aprovação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde, em anexo a esta Resolução a ser observado em todo território nacional, nas áreas pública e privada, compreendendo: a) as construções novas de estabelecimentos assistenciais de saúde de todo o país; b) as áreas a serem ampliadas de estabelecimentos assistenciais de saúde já existentes; c) as reformas de estabelecimentos assistenciais de saúde já existentes e os anteriormente não destinados a estabelecimentos de saúde (BRASIL, 2002a, p. 1). A RDC nº 50/2002 foi dividida em três partes: QUADRO 2 – DIVISÃO DAS RDC Nº 50, DE 21 DE FEVEREIRO DE 2002 Parte 1 Projeto de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde: Apresenta as normas para elaboração dos projetos físicos, envolvendo: etapas do projeto, responsabilidades, apresentação de desenhos e documentos, tipos e siglas adotados e avaliação de projetos. Parte 2 Programação Físico-Funcional dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde Determina as ações a serem desenvolvidas e as metas a serem alcançadas. Compreende a organização físico-funcional e subdivide de acordo com as suas atribuições: (1) prestação de atendimento em regime ambulatorial e hospital-dia; (2) prestação de atendimento imediato de assistência à saúde; (3) prestação de atendimento em regime de internação; (4) prestação de atendimento de apoio ao diagnóstico e terapia; (5) prestação de serviços de apoio técnico; (6) formação e desenvolvimento de recursos humanos em pesquisa; (7) prestação de serviços de apoio à gestão administrativa; (8) prestação de serviço de apoio logístico. Parte 3 Critérios para Projetos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde: São apresentadas variáveis que orientam e regulam as decisões a serem tomadas nas diversas etapas do desenvolvimento do projeto, compreendendo: Circulações externas e internas; Condições ambientais de conforto; Condições ambientais de controle de infecção hospitalar; Instalações prediais ordinárias e especiais; e Condições de segurança contra incêndio. FONTE: Adaptado de Brasil (2002a) 20 Cabe salientar que a RDC nº 50/2002, no anexo parte 1 – projeto de estabelecimentos assistenciais de saúde – elaboração de projetos físicos, apresenta orientações do que deve constar no projeto físico. Usa, como apoio, também, as normas brasileiras (NBR) descritas a seguir: QUADRO 3 – NORMAS BRASILEIRAS COMPLEMENTARES NA ELABORAÇÃO DE PROJETOS FÍSICOS Normas Descrição NBR 6492 Representação de projetos de arquitetura. NBR 13532 Elaboração de projetos de edificações – Arquitetura. NBR 5261 Símbolos gráficos de eletricidade – Princípios gerais para desenho de símbolos gráficos. NBR 7191 Execução de desenhos para obras de concreto simples ou armado. NBR 7808 Símbolos gráficos para projetos de estruturas. NBR 14611 Desenho técnico – Representação simplificada em estruturas metálicas. NBR 14100 Proteção contra incêndio – Símbolos gráficos para projetos. FONTE: Brasil (2002a, p. 3) De acordo com Vasserman (2014), as normas vinculadas à RDC nº 50/2002 devem ser consideradas em todas as etapas, ou seja, desde o planejamento e concepção dos projetos de construções, reformas e/ou ampliações das estruturas existentes, uma vez que são elementos fundamentais que influenciam na segurança dos ambientes para os pacientes e equipes que atuam nos locais. Atualmente, com a preocupação de manter a segurança do paciente, cada tipo de AES tem uma legislação específica em relação à regulação sanitária, que deve ser atendida para que possa oferecer um atendimento de qualidade à população. Embora as normas tratem de todos os edifícios de saúde, genericamente, como EAS, determinam a adequação às especificidades locais (peculiaridades epidemiológicas, populacionais e geográficas) (VASSERMAN, 2014). Para saber mais a respeito das atribuições de cada unidade funcional, acesse: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/legislacao/item/ rdc-50-de-21-de-fevereiro-de-2002. DICA 21 A regulação sanitária da infraestrutura de EstabelecimentosAssistenciais de Saúde (EAS) compreende a definição de requisitos técnicos para o planejamento, a programação, a elaboração e a avaliação de projetos físicos, favorecendo a segurança e a qualidade dos serviços prestados ao paciente, além de haver a redução dos riscos sanitários à saúde da população. A Anvisa é responsável pela especificação normativa desses requisitos técnicos, visando à segurança e bem-estar dos usuários dos estabelecimentos. Por sua vez, a fiscalização do cumprimento de requisitos nos projetos físicos dos estabelecimentos é de responsabilidade das vigilâncias sanitárias locais. Assim, em 18 de julho de 2020, foi criada, pela Gerência de Processos Regulatórios (GPROR), Gerência Geral de Regulamentação e Boas Práticas Regulatórias (GGREG) e Terceira Diretoria, a publicação denominada Biblioteca dos Serviços de Saúde. Nesse documento, é possível acessar toda a legislação pertinente em termos de projetos arquitetônicos e em relação à vigilância sanitária. Acesse o documento na íntegra: http://portal.anvisa.gov.br/docu- ments/33880/4967127/Biblioteca+dos+Temas+de+Servi%C3%A7os+de+- Sa%C3%BAde_Portal.pdf/55e4ab14-e99f-41c1-aea9-cc6e8875b5e4. NOTA 22 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • No decorrer dos anos, os serviços de saúde passaram por uma evolução em relação à arquitetura dos prédios e ao atendimento do paciente. • As características dos edifícios de saúde são reflexos dos processos tecnológicos e da forma de pensar da sociedade. • No Brasil, as primeiras construções que marcaram o surgimento dos hospitais foram as Santas Casas de Misericórdia. • As normas e as diretrizes para a elaboração de projetos de estabelecimentos de saúde são de responsabilidade do Ministério da Saúde, sob a coordenação da ANVISA. RESUMO DO TÓPICO 1 23 1 O termo hospital é muito antigo. No decorrer da história podemos observar uma evolução entre os primeiros hospitais até os dias de hoje. Com relação aos hospitais na Grécia Antiga, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Os espaços voltados ao tratamento de saúde eram vinculados aos saberes sagrados e religiosos e posteriormente na filosofia para as explicações das propostas de cura. b) ( ) Até finais do século XIX, predominou três formas de projeto arquitetônico dos serviços de saúde: a nave e o claustro, o sistema radial e o pavilhonar. c) ( ) Eram organizadas ao redor de pátios ou claustros, que ajudavam na iluminação e no deslocamento entre os diversos setores do hospital, sistema inspirado também nas soluções de monastérios. d) ( ) As construções eram voltadas para ao atendimento de saúde e divididas em público, privado e religioso, onde os públicos serviam de hospedagem e também realizavam o atendimento de idosos. 2 Fazem parte do cotidiano da vida algumas situações que implicam enfermidades que possam ocorrer em decorrência de algum tipo de doença ou acidente. Nesse caso, busca-se a cura e a assistência por meio de atendimentos médicos realizados em instituições hospitalares. Considerando que a estrutura física dos hospitais compreende vários setores, de que forma é estruturado o espaço do pronto-socorro? a) ( ) Ter espaços que necessitam de isolamento de contato, reservados para tratamento de doenças infecciosas. b) ( ) Deverá ser adequado para atendimentos de emergência, disponibilizando equipamentos para o primeiro atendimento, com salas próximas à porta de acesso de ambulâncias e entrada da instituição. c) ( ) Instalação de salas amplas, dentro da unidade, para facilitar o acesso de acompanhantes e visitas. d) ( ) Contém sala de parto normal, posto de enfermagem e área de apoio para recém- nascido. 3 Com a preocupação em melhorar o ambiente hospitalar para que os usuários possam usufruir um pouco mais de conforto quando acometidos de alguma doença, procurou-se ao longo do tempo adequar a arquitetura hospitalar com a satisfação do atendimento. Considerando a parte inicial da evolução da arquitetura hospitalar pelo mundo, no que se refere ao conceito, assinale a alternativa CORRETA que define o sistema hospitalar em pavilhão: AUTOATIVIDADE 24 a) ( ) Nessa fase, os hospitais deixam de ser locais para exclusão e aguardo da morte para se transformarem em instrumentos efetivos de recuperação e cura devido ao espaço ser mais adequado e ventilado. b) ( ) Sistema de internação com características de alojamento com ações médicas de ótica religiosa. c) ( ) A sua característica principal é a economia da mão de obra com a separação de certos tipos de doença. d) ( ) Os atendimentos hospitalares obedeciam ao cronograma estabelecido de atividades médicas em ambientes únicos e fechados. 25 ESPAÇO FÍSICO-HOSPITALAR E A DEPARTAMENTALIZAÇÃO UNIDADE 1 TÓPICO 2 - O 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico, até aqui, fizemos uma viagem pela história, para compreender como surgiram os primeiros estabelecimentos para o cuidado da saúde. Nesse contexto, é possível observar que a arquitetura desses locais, com o passar dos anos, foi evoluindo, à medida que também evoluíam a medicina e os tratamentos de saúde. Neste tópico, dando continuidade aos nossos estudos, vamos ver, de forma mais detalhada, os espaçosos físicos hospitalares e como estes são divididos para o atendimento dos pacientes. Sabemos que, ao procurar uma unidade de saúde, muitas vezes, uma pessoa está passando por momentos delicados e/ou de dor. Assim, o espaço físico tem se tornado muito importante para o conforto do paciente e, também, para que ele se sinta seguro. Vamos lá?! 2 OS ESPAÇOS FÍSICOS DO HOSPITAL Conforme vimos anteriormente, no decorrer da história, os hospitais passaram por um processo evolutivo muito grande. Atualmente, quando pensamos nos espaços físicos de um hospital, levamos em consideração as questões da sustentabilidade e da humanização. Nesse sentido, Souza (2008, p. 108) coloca que “através da história, percebe-se que a arquitetura, inclusive a hospitalar, é o reflexo de uma série de fatores políticos, sociais e econômicos. Dessa forma, o principal desafio do hospital do futuro é agregar as diretrizes e tendências atuais nessas diferentes áreas à concepção espacial”. Considerando o cenário atual da saúde, principalmente, no que se refere aos países mais desenvolvidos, pensar na gestão de espaços físicos em hospitais faz desenvolver espaços físicos inteligentes, multifuncionais, que acompanhem os avanços tecnológicos e a inovação dos equipamentos médicos hospitalares. Ainda, é possível trabalhar, de forma ininterrupta, “com unidades de negócio integradas na geração de conhecimento de excelência e na produção das práticas assistenciais na promoção da saúde: prevenção, diagnóstico, tratamento e cura” (VASSERMAN, 2014, p. 53). 26 A incorporação tecnológica à área da saúde, tendo em vista a perspectiva coletiva e as implicações médicas, econômicas, sociais e éticas, possui grande valor transformador para os hospitais, e provoca uma ruptura no modelo médico-hospitalar tradicional [...]. Atuar no âmbito da saúde deixou de ser "manual-artesanal" para fazer uso da tecnologia à disposição, remodelando, assim, a configuração do fazer saúde em suas várias ligações profissionais que se intercruzam no meio hospitalar [...]. Consequentemente, o edifício deve se adaptar aos novos processos. São necessárias constantes reformulações e ampliações que correspondam às evoluções tecnológicas e humanas (LEMOS, 2017, p. 8). O Brasil, atualmente, conta com, aproximadamente, 7.029 estabelecimentos hospitalares, sendo que, desse total, muitos ainda foram ampliados em forma de “puxadinho”, à medida que necessitavam atender às demandas existentes, ou seja, sem planejamento e sem acompanhar os avanços técnico-tecnológicos e compatíveis com a real necessidade de atendimento da população. De acordo com Vasserman (2014), os motivos que geram essa falta de planejamento são diversos: ausência de políticas públicas voltadas aos investimentosem construções e/ou reformas de EAS; ausência de processo de gestão eficiente e compatível com as reais necessidades; e capacidade financeira dos hospitais. Assim como em qualquer projeto, ao pensar nos espaços hospitalares, estes são divididos em etapas: planejamento, construção e pré-operação. Cada uma dessas etapas corresponde a um período específico de tempo. Lembrando que, nos edifícios de saúde, cada espaço físico pode ser considerado, também, uma unidade de negócio, fonte de geração de renda e oferta de serviços assistenciais (VASSERMAN, 2014). A seguir, será possível observar as atividades que compreendem cada uma das etapas do processo. FIGURA 10 – DIAGRAMA ILUSTRATIVO DAS ETAPAS DA GESTÃO DO ESPAÇO FÍSICO DE HOSPITAIS FONTE: Adaptado de Vasserman (2014) 27 Planejamento: compreende a fase de decisões técnicas, baseadas em programas, necessidades e estudos de viabilidade. Podem ser consideradas diversas variáveis durante essa fase, desde o perfil epidemiológico da população atendida, até as políticas de inovação tecnológicas (MOYSES FILHO et al., 2011; VASSERMAN, 2014). Góes (2004) coloca que alguns documentos legais devem ser observados, como a NBR 5984 – Norma Geral de Desenho Técnico; disposições da ABNT e códigos; leis municipais, estaduais e federais. Construção/execução: neste momento, o processo sai da mesa do escritório para levar todas as informações a campo, para a construção dos espaços físicos. Esta etapa exige, do gestor, acompanhamento, garantindo que a obra seja entregue rigorosamente dentro dos critérios e padrões de custos estabelecidos. Pré-operação: o prazo para a operação assistida é o mais curto das atividades, desde que todas as etapas da obra tenham ocorrido dentro de todas as previsibilidades. Geralmente, nos casos dos hospitais, são necessários três meses, sendo que algumas ações podem ter início bem antes dessa previsão. Ainda, no contexto do planejamento dos espaços físicos, principalmente, quando se tratam de hospitais, a definição de fluxos e circulações é importante, pois influencia diretamente nos processos de trabalho. Devido ao grande contingente de pessoas que transita em um hospital, pensar nos fluxos bem definidos contribui para a eficiência dos processos de trabalho, pois alguns setores necessitam de mais interação, por exemplo, o centro cirúrgico, centro obstétrico, a Central de Material Esterilizado (CME), ou, ainda, o centro obstétrico com a ala de internação da maternidade. Entenderemos mais dessa relação nos próximos temas, quando trataremos dos setores dos hospitais e seus detalhamentos. Você, com certeza, já entrou em um ou mais hospitais, e, certamente, percebeu que os acessos e fluxos de circulação são diferenciados. Agora, é preciso conhecer algumas tipologias de fluxos que são utilizadas. De acordo com Toledo (2018), os fluxos podem ser divididos em: interfuncionais e intrafuncionais. Outros fatores influenciam no ciclo do projeto, como licenças, alvarás, con- tratos, contratação de pessoal, aspectos financeiros etc. Por isso, ao elaborar o cronograma de execução, esses fatores necessitam ser considerados em relação ao tempo de execução. ATENÇÃO 28 Os interfuncionais são aqueles utilizados para acessos entre as unidades funcionais (pacientes externos, colaboradores, visitantes, acompanhantes, resíduos sólidos, cadáveres entre outros. Já os chamados intrafuncionais são aqueles fluxos que ocorrem dentro de uma mesma unidade, como, por exemplo, uma lavanderia hospitalar cujo fluxo compreende: entrada da roupa suja, lavagem e depois segue para a rouparia (onde estão somente as roupas higienizadas que serão passadas, dobradas e guardadas). Também é importante destacar que os órgãos certificadores de qualidade já possuem, entre seus critérios exigíveis, o acesso único para o público externo e interno. Porém, cabe destacar que o acesso ao pronto-socorro, por exemplo, precisa ter um acesso amplo, inclusive com espaços próprios para o estacionamento de ambulâncias. 2.1 PLANO DIRETOR Quando ouvimos falar em plano diretor, geralmente, nos remetemos a uma cidade e/ou área de planejamento urbano, que são as formas mais comuns da aplicabilidade do conceito, ou seja, um instrumento de planejamento da cidade. Assim, o que vem a ser um plano diretor hospitalar? Em 1955, foi publicado o primeiro Relatório Nuffield Provincial Hospitals Trust, na Grã-Bretanha, o qual tratava do planejamento físico de hospitais. Esse documento foi construído com base numa equipe multidisciplinar formada por diversos profissionais da área da saúde, foi responsável pela implantação do Plano Diretor como orientador do planejamento de expansões de espaços hospitalares (MIQUELIN, 1992). De acordo com Nardino (2016, p. 1), entende-se por “Plano Diretor Hospitalar (PDH), instrumento norteador de transformações dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS), sejam elas tecnológicas, administrativas ou espaciais, que configuram o hospital do futuro”. A elaboração do PDH tem por objetivo descrever as variáveis para a programação e elaboração do projeto arquitetônico, incluindo a flexibilidade, expansividade, contiguidade, setorização, fluxos e custos (NARDINO, 2016). Assim, para que se elabore um Plano Diretor de excelência, tanto em hospitais novos como nos mais antigos, Góes (2012, p. 48-49) coloca que é necessário priorizar alguns pontos: 29 Conformidade: Conceito de projeto que determina o estado necessário para que os espaços hospitalares que tenham e que possam aplicar as funções da forma que foram projetados. Contiguidade: Conceito de projeto pelo qual a forma do edifício hospitalar é organizada para diminuir as distâncias e a comunicação entre departamentos e setores. Expansibilidade: Conceito de projeto pelo qual se estuda o aspecto arquitetônico aplicado na sua forma mais ampla, prevendo ampliações. Flexibilidade: Conceito de projeto que cogita a execução dos espaços hospitalares, suas frequentes adaptações, ampliações e modificações, forçando a se ter soluções rápidas, sem modificar o funcionamento do hospital. Valência: Conceito de projeto que cumpre uma forma necessária na percepção e na modernização de instituições de saúde; na organização funcional e na junção lógica e racional dos elementos fins; no contato entre as relações qualitativas e quantitativas; na importância entre organizar e aproximar urgência, necessidade, peculiaridade, distância e prioridade; no melhoramento de elementos, aplicação de custo benefício; na fortificação de diálogo praticável de recursos humanos e produção. Os planos diretores geralmente são construídos para um período de médio e longo prazo. Apresentam estimativas e estudos de viabilidade para cinco ou dez anos, por isso sua importância para a tomada de decisão técnica e gerencial. 3 DEPARTAMENTOS DO HOSPITAL Nas instituições hospitalares a estrutura geralmente é dividida por setores especializados como: pronto-socorro, pediatria, centro-cirúrgico, unidade de terapia intensiva entre outros, e varia de acordo com o tamanho da instituição. Veremos, a seguir, alguns detalhamentos e particularidades destes setores. 3.1 CENTRO CIRÚRGICO Considerando que, cada vez mais, as populações adoecem por diversas causas, e que o fator os acidentes e a violência são fatores que movimentam cada vez mais os serviços de urgência e emergência, centro cirúrgicos, e UTI´s. é inegável a importância do centro cirúrgico dentro dos hospitais. O funcionamento e organização do espaço físico dos centros cirúrgicos devem seguir as recomendações da RDC nº 50/2002 (VECINA NETO, 2011). Geralmente, o centro cirúrgico comporta em sua estrutura física os seguintes espaços: recepção, salas cirúrgicas, salas cirúrgicas especializadas, sala de pré e pós anestesia, salas de recuperação, sala de apoio a engenharia clínica e vestuários. Cabe salientar que quantidade de espaços e equipamentos que compõe uma sala cirúrgica vai depender do porte e tipode do hospital. 30 FIGURA 11 – EXEMPLO DE UMA SALA CIRÚRGICA FONTE: <https://setorsaude.com.br/wp-content/uploads/2013/01/Sala_Cirurgica-450x298.jpg>. Acesso em: 19 out. 2020. Em relação ao funcionamento, este é necessário ser organizado de forma que atenda às necessidades dos processos e rotinas de trabalho da equipe. Assim, é importante ter uma rotina adequada voltada para o atendimento dos protocolos de cirurgia segura, bem como zelar pela segurança do paciente e também da equipe (VECINA NETO, 2011). 3.2 CENTRO OBSTÉTRICO O Centro Obstétrico é um espaço físico muito semelhante ao centro cirúrgico, voltado ao atendimento do parto normal, cirúrgico e humanizado. Considerado nas instituições hospitalares um espaço de acesso restrito, ou seja, conhecido como setor fechado. O acesso ao interior do centro obstétrico requer a utilização de equipamentos de vestuários específicos e o uso de Equipamentos de proteção individual. A estruturação do centro obstétrico tem causado discussão entre os profissionais da saúde e técnicos responsáveis pela estruturação do espaço físico obstétrico devido a adoção de diferentes modelos de partos humanizados. Além disso, destaca-se, nesse contexto, a prática do alojamento conjunto, onde mãe e filhos permanecem no mesmo ambiente (VECINA NETO, 2011). O Programa Rede Cegonha, criado pelo Ministério da Saúde para diminuir os índices de mortalidade materna nos hospitais que realizam o atendimento pelo SUS, estabelece que os hospitais adequem suas estruturas para o atendimento do parto humanizado ou parto normal de acordo com o estabelecido na Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Na Figura 12, podemos observar uma sala de parto preparada para o atendimento das gestantes assegurando a elas diferentes tipos de partos. https://setorsaude.com.br/sala_cirurgica/ 31 FIGURA 12 – MODELO DE UMA SALA DO CENTRO OBSTÉTRICO FONTE: <https://www.reviders.com.br/media/upload/ckeditor/2017/03/30/obst.jpg>. Acesso em: 19 out. 2020. A localização e estruturação do centro obstétrico vai depender do porte dos hospitais, por exemplo, em hospitais pequenos, o centro obstétrico ocupa uma sala dentro do centro cirúrgicos, em hospitais de maior porte, geralmente, o centro obstétrico comtempla os seguintes espaços físicos: área de recepção da parturiente, sala de exame, admissão e higienização da parturiente, sala pré-parto; posto de enfermagem, sala de guarda e preparo anestésicos; sala de indução anestésica, sala de escovação, sala de parto normal, sala de parto cirúrgico/curetagem, sala de Aspiração Manual Intrauterina (AMIU), área para assistência ao recém-nascido, salas para partos humanizados (parto de cócoras, parto na banheira, parto na suíte obstétrica), posto de enfermagem e serviços obstétricos e sala de prescrição médica (GÓES, 2004; VECINA NETO, 2011). Para saber mais da ambiência em centros obstétricos, acesse a publicação A Ambiência como Promotora da Mudança do Modelo Obstétrico e Neonatal. Disponível em https://bit.ly/3yG59oZ. DICA https://www.reviders.com.br/index.fcgi/edicoes/editoria/publieditorial/centro-obstetrico-exclusivo-2/ 32 3.3 PRONTO-SOCORRO O pronto-socorro também conhecido como unidade urgência e emergência, em algumas instituições é uma unidade intra-hospitalar voltada para o atendimento de urgência e emergência. Seu funcionamento é interrupto, atendendo 24 horas por dia e 365 dias do ano. Geralmente, em hospitais gerais, um pronto-socorro contempla diversas áreas clínicas, como clínica geral, pediatria, clínica cirúrgica, ginecologista (CASTELLANOS; VECINA NETO, 2011). A Portaria nº 354, de 10 de março de 2014, apresenta a proposta de Projeto de Resolução. • Emergência: constatação médica de condições de agravo a saúde que impliquem sofrimento intenso ou risco iminente de morte, exigindo, portanto, tratamento médico imediato. • Urgência: ocorrência imprevista de agravo a saúde como ou sem risco potencial a vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata (BRASIL, 2014, s.p.). O funcionamento de um pronto-socorro vai depender das rotinas e também da sua capacidade de atendimento. Atualmente, a maioria dos hospitais utilizam o sistema de triagem por classificação de risco para o atendimento dos pacientes. A Figura 13 apresenta, de forma resumida, como funciona a classificação de risco nos hospitais. A Resolução nº 36, de 3 de junho de 2008 dispõe sobre Regulamento Técnico para Funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica e Neonatal. Essa resolução está disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ anvisa/2008/res0036_03_06_2008_rep.html. DICA http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2008/res0036_03_06_2008_rep.html http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2008/res0036_03_06_2008_rep.html 33 FIGURA 13 – MODELO DE ATENDIMENTO PELO SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO Necessitam de atendimento imediato. Necessitam de atendimento praticamente imediato. Necessitam de atendimento rápido, mas podem aguardar. podem aguardar atendimento ou serem encaminhados para outros serviços de saúde. FONTE: <http://www.hcfmb.unesp.br/wp-content/uploads/2016/09/PS2-768x436.jpg>. Acesso em: 19 out. 2020. 3.4 UNIDADES DE INTERNAÇÃO EM ENFERMARIA As unidades de internação dos hospitais é outro espaço físico que não segue um padrão, elas são criadas com o objetivo de atender a um paciente que necessita ser internado, e o leito hospitalar é a unidade de medida utilizada para se mensurar o porte do hospital. Nesse cenário, não são contabilizados os leitos hospitalares, aqueles localizados no pronto-socorro, centro obstétrico e centro cirúrgicos, pois tratam-se de leitos de apoio, ou seja, são os leitos de observação, “uma vez que não rebem paciente internado e sim pacientes em processo de atendimento” (VECINA NETO, 2011, p. 220). Quantificar a quantidade de leitos em um hospital é complexo. Primeiro por que a melhor construção, segundo Vecina (2011), passa por definir a relação entre necessidade, oferta e demanda. Segundo a ampliação de leitos hospitalares influencia diretamente nos custos do processo de atenção, pois, à medida que aumenta o número de leitos, aumenta consequentemente os investimentos em equipamentos e equipes de atendimento. 34 Vecina (2011) coloca que a unidade de internação é um espaço onde o paciente fica a maior parte do tempo e a maneira de olhar esse espaço tem sofrido importantes mudanças, deixando de ser um local técnico assistencial, para se tornar um local humanizado e com acessibilidade, sendo projetado de forma que atenda as questões de observalidades (onde a equipe consegue manter a observação do paciente), privacidade (a colocação de biombos ou cortinas entre os leitos do pacientes, tornando-o um espaço mais individualizado) e comodidade (deixar o paciente acomodado da melhor forma possível utilizando cores que induzam ao bem-estar nas paredes e temperaturas agradáveis). FIGURA 14 – EXEMPLO DE INTERNAÇÃO VISANDO À PRIVACIDADE DO PACIENTE FONTE: <https://cutt.ly/dgseF0a>. Acesso em: 19 out. 2020. Os aspectos técnicos, ou seja, os parâmetros básicos de como deve ser projetada uma unidade de internação, são descritos na RDC nº 50/2002 e na RDC nº 307, de 14 de novembro de 2002. 3.5 UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI) A unidade de terapia intensiva (UTI) tem por objetivo o atendimento de pacientes instáveis que necessitam de um acompanhamento mais imediato de uma equipe multiprofissional e que precisam ser monitorados com o apoio da ventilação mecânica, monitores cardíacos, desfibriladores entre outros. A equipe de profissionais que atuam em UTI precisa ser treinada e a legislação no Brasil exige que nesta equipe tenha um coordenador especialista na área de tratamento intensivo. De acordo com Vecina (2011), as UTIs podem ser classificadas em adultos, pediátrica e neonatal ou de acordo com o atendimento em: https://ndmais.com.br/ndtv/florianopolis-ao-vivo/ 35 • Geral: atendepacientes com qualquer tipo de patologia e é o tipo que encontramos mais frequentemente nas instituições hospitalares brasileiras. • Especialidades: encontrada mais frequentemente nos hospitais de referência em determinada especialidade, como, por exemplo, em Blumenau (SC) temos um hospital filantrópico que atende pelo SUS e ele, além da UTI Geral, possui também uma UTI Coronariana, pois é referência no atendimento de pacientes cardíacos para a região formada por 14 municípios. Da mesma forma, em outras regiões do Brasil, deve haver vários tipos de UTIs de especialidades. • Semi-intensiva: este tipo de UTI é encontrado frequentemente em hospitais dia ou até mesmo nos demais hospitais como forma de diminuir a demanda de pacientes nas UTIs Gerais. Trata-se de um local onde também são alocados pacientes graves, porém, que necessitam de uma equipe menor para atendimento. Assim como os demais espaços físicos dos hospitais, as UTIs precisam contemplar as normas regulamentadoras voltadas aos projetos arquitetônicos e de funcionamento: QUADRO 4 – ALGUMAS LEGISLAÇÕES VOLTADAS À ESTRUTURAÇÃO DE ESPAÇOS DE UNIDADE DE TRATA- MENTO INTENSIVO Normas Descrições Portaria nº 3.432/1998 Estabelece critérios de classifica classificação entre diferentes unidades de tratamento intensivo de tratamento intensivo – UTI. Resolução nº 50/2002 Apresenta os requisitos básicos de instalações prediais (elétricas, hidro sanitárias), instalações especiais (eletrônicas, fluidos mecânicos, oxigênio, ar comprimido), ambientais (climatização, proteção contra incêndio, controle de infecções). Portaria nº 332/2000 Alteração da Portaria n º 3.432/GM. Resolução nº 2.271/2020. Def ine as unidades de terapia intensiva e unidades de cuidado intermediário conforme sua complexidade e nível de cuidado, determinando a responsabilidade técnica médica, as responsabilidades éticas, habilitações e atribuições da equipe médica necessária para seu adequado funcionamento. Resolução nº 7/2010 Dispõe sobre os requisitos mínimos para funcionamento de Unidades de Terapia Intensiva e dá outras providências. FONTE: As autoras Prezado acadêmico, além dessas legislações citadas, sempre que se for projetar qualquer construção e/ou reformas em UTI, é necessário que o gestor de saúde, como também as equipes técnicas, consultem a legislação vigente em nível, federal, estadual e municipal, visto que as legislações aplicadas aos EAS passam por um processo de evolução continua. 36 Inicialmente, as UTIs eram projetadas de forma retangular (onde os leitos ficam lado a lado, utilizando apenas numa extremidade da parede) ou quadrada (os leitos ficam dispostos em forma de um quadrado), conforme ilustrado nas Figuras 15 e 16. FIGURA 15 – EXEMPLO DE UTI RETANGULAR FONTE: <https://agenciapara.com.br/midias/2020/medias/up_ag_19072_11b1afc1-8bea-59cb-f3f5-3b- 268fb3390b.jpg>. Acesso em: 19 out. 2020. FIGURA 16 – EXEMPLO DE UTI QUADRADA FONTE: <https://cutt.ly/Pgsuogs>. Acesso em: 19 out. 2020. 37 Devido à necessidade de se pensar na segurança dos pacientes, muitos hospitais já estão adotando o modelo circular (que favorece a visão da equipe de profissionais em relação aos leitos do paciente) (GÓES, 2004). FIGURA 17 - MODELO DE UTI CIRCULAR DO HOSPITAL SANTO ANTÔNIO (BLUMENAU/SC) FONTE: <https://cutt.ly/agsupfx>. Acesso em: 19 out. 2020. 3.6 DIAGNÓSTICOS POR IMAGEM Geralmente, quando nos referimos a diagnóstico por imagem, a primeira ideia é o raio-X, ou seja, os exames radiológicos. Descoberto no final do século XIX, inicialmente, o uso dos raios-X era para o apoio de atendimento às emergências, na detecção de fraturas em traumas (ROSTENBERG, 2006). Após esse descobrimento, logo, a radiologia se tornou uma especialidade médica que tem, por objetivo, servir de apoio no diagnóstico médico no atendimento do paciente. As novas tecnologias, que evoluíram nas últimas décadas, têm influenciado diretamente na área de diagnóstico por imagem e favoreceram a inovação de equipamentos na área. Por exemplo, até algumas décadas atrás, era muito difícil ter acesso a um tomógrafo, mamógrafo, ressonância magnética e, hoje, muitas regiões brasileiras já contam com estes serviços à disposição para contribuir no diagnóstico mais preciso. 38 Assim, contemplam o diagnóstico por imagem os seguintes exames: • Raio-X. • Mamografia, ou radiografia das mamas. • Densitometria óssea. • Tomografia computadorizada. • Ultrassonografia. • Ressonância magnética. • Fluoroscopia. • Medicina nuclear. • PT-CET etc. Nesse sentido, a informação sobre saúde está cada vez mais acessível ao leigo, fazendo com que o indivíduo, de certa forma, também se responsabilize com sua saúde, e, com isso, aumenta a demanda de pacientes que inserem em seus check-ups de saúde a realização de exames por imagens. Com relação à estruturação dos espaços físicos dos serviços de diagnóstico: [No] Brasil, as normas de maior importância relativa à utilização de radiações ionizantes são a Portaria nº 483/1998 (BRASIL, 1998) e a RE nº 64/2003 (BRASIL, 2003), sendo que, para os espaços físicos, a referência é a RDC nº 50/2002 (BRASIL, 2004), da Agência Nacional de Vigilância (Anvisa). A RDC nº 50/2002 (BRASIL, 2004) aconselha a adoção de posto de enfermagem e serviços em área de tomografia e ressonância magnética (BRASIL, 2013, p. 13). O tamanho da estrutura dependerá do porte do hospital e da disponibilidade de equipamentos. Você encontrará, na literatura sobre o tema, diversos modelos de projetos de centro de diagnóstico por imagem. A Figura 18 representa uma planta de uma unidade de diagnóstico que contempla dois corredores. 39 FIGURA 18 – UNIDADE DE DIAGNÓSTICO COM CORREDOR DUPLO FONTE: Brasil (2013, p. 15) Veja, na íntegra: BRASIL. Ministério da Saúde. Apoio ao diagnóstico e à terapia (imagenologia). Brasília: Diário Oficial [da] União, 2013. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/soma_sus_sistema_apoio_ela- boracao_vol3.pdf. Acesso em: 11 out. 2020. DICA 40 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O planejamento pode contribuir para facilitar o trabalho das equipes no hospital e oferecer um serviço de qualidade. • Os projetos hospitalares, assim como todo processo de gestão, passam por ciclos que envolvem planejamento, construção (execução) e pré-operação. • Um hospital pode adotar várias opções de circulação: corredor único, sistema de corredor duplo, sistema em T e sistemas de circulações secundárias. 41 1 As estruturas das construções dos serviços de saúde, de maneira geral, estão ainda contam com modelos antigos que possuem mais de 50 anos. As novas construções, atendem aos critérios estabelecidos e norteados pela arquitetura e engenharia de serviços de saúde, voltados para novas tecnologias médicas, sustentabilidade e humanização dos setores. Diante desta premissa, considerando os setores hospitalares, associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Unidade de Terapia Intensiva – UTI. II- Unidade de Radiologia. III- Unidade de Internação em Enfermaria. IV- Pronto Socorro. ( ) Considerado a porta de entrada nas instituições hospitalares. Requer muito planejamento dado a complexidade de se realizar atendimentos de emergência. ( ) Tem como característica principal atendimento a pacientes em estado grave, necessitando de atenção contínua no tratamento. ( ) Voltada para a realização de atendimentos que necessitam de estrutura hospitalar que disponibilize ações específicas, como cuidados de alimentação. ( ) Utilizado para aplicação de serviços com equipamentos de imagens para verificação de diagnósticos. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) IV - I - III - II. b) ( ) I - IV - II - III. c) ( ) III - II - IV - I. d) ( ) II - IV - I - III. 2 A finalidade do plano diretor, entre outros conceitos, é orientar a administração pública e o setor privado na qualificação dos espaços de uma cidade paraque haja um crescimento ordenado que venha ao encontro do interesse da população. No sentido de organização e eficiência de espaços físicos, o plano diretor hospitalar também objetiva o processo gerencial e operacional das instalações hospitalares. Sobre a elaboração do plano diretor hospitalar, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) É através do planejamento estratégico que são colhidas as informações sobre o processo de reconhecimento da realidade na instituição. b) ( ) O diagnóstico é a ação utilizada para definir prioridades para dispêndio de recursos financeiros com o planejamento de diversas planilhas. AUTOATIVIDADE 42 c) ( ) O plano diretor é a fase do envolvimento de diversos setores, como área administrativa, de engenharia clínica e outros para elaboração e planejamento das unidades de saúde da instituição. d) ( ) A escolha do corpo clínico do hospital é requisito essencial na aprovação do plano diretor hospitalar. 3 Os hospitais são instituições que operam 24 horas por dia em todos os 365 dias do ano, priorizando no atendimento os casos que representam uma ameaça a vida. Considerando os tipos de estrutura de unidade de atendimento, analise as sentenças a seguir: I- O nível terciário é responsável por atendimentos considerados complexos, que abrangem além dos casos de urgência e emergência, a internação. II- O nível primário compreende o atendimento é realizado no sistema de alta complexidade, incluindo a internação em UTI. III- O nível secundário: o atendimento é focado nas especialidades básicas, como clínica médica, obstétrica e pediátrica. IV- O nível ambulatorial: setor específico responsável pelo atendimento administrativo do hospital. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e III estão corretas. b) ( ) As sentenças II e IV estão corretas. c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. d) ( ) As sentenças II e III estão corretas. 43 TÓPICO 3 - NOVAS TENDÊNCIAS DA ARQUITETURA DOS EAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Estudamos, até aqui, toda a evolução que ocorreu na arquitetura dos EAS, mais especificamente, nas unidades hospitalares, por serem as pioneiras no tratamento da saúde. Se olharmos atentamente para essa evolução, veremos que ela favoreceu muito o atendimento do paciente. Agora, neste tópico, vamos estudar um pouco das questões de acessibilidade e sustentabilidade na arquitetura hospitalares. Sabemos que, nas últimas décadas, muito se discute sobre presentar o meio ambiente para as gerações futuras, tanto em relação aos recursos naturais, que são finitos, como também para preservar a saúde humana, pois, hoje, muitos estudos já apontam a implicação das alterações ambientais na saúde humana. Assim, vamos estudar um pouco de como o conceito de sustentabilidade poderá contribuir na gestão de hospitais e também colaborar com as questões do desenvolvimento sustentável. Vamos lá! 2 ACESSIBILIDADE NOS SERVIÇOS DE SAÚDE Atualmente, o Brasil, de acordo com o IBGE (2010), temos 23,9% de pessoas que apresentam algum tipo de deficiência, assim, diante desse cenário, cada vez mais é necessário se pensar em empreendimento acessível. Tal regra se torna ainda mais necessária quando se trata dos prédios dos EAS, pois eles atendem a dois tipos de deficiência, os que são portadores de deficiência e os que apresentam uma deficiência temporária, necessitando de equipamentos específicos para sua locomoção. Assim, esta temática tem sido discutida amplamente entre os grupos que compreendem o contexto da saúde. Tal discussão também vem sendo amparada pela legislação: 44 QUADRO 5 – LEGISLAÇÃO APLICADA AOS PROJETOS ARQUITETÔNICOS EM RELAÇÃO ACESSIBILIDADE Legislação Descrição Resolução – RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde, o qual dispõe que, para a execução de qualquer obra nova, de reforma ou de ampliação de Estabelecimento Assistencial de Saúde – EAS, é exigida a avaliação do projeto físico em questão pela Vigilância Sanitária local (estadual ou municipal); Lei nº 8.080/90 Lei Orgânica da Saúde. Portaria nº 2.226 de 18 de setembro de 2009 em especial, a recomendação de metragem mínima = 153,24 m² para uma Unidade Básica de Saúde Portaria nº 2.838, de 1º de dezembro de 2011. A programação visual das Unidades Básicas de Saúde reformadas, devem ser padronizadas em suas áreas externas e internas, de acordo com as marcas nacionais do SUS MANUAL DE ESTRUTURA FÍSICA DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE Elaborado pelo Ministério da Saúde / Secretaria de Atenção à Saúde - Departamento de Atenção Básica; FONTE: As autoras 3 SUSTENTABILIDADE NA ARQUITETURA DOS EAS A sustentabilidade em projetos na área de saúde é uma tendência que vem sendo utilizada em diversos países. O hospital é uma instituição que abriga funções, tornando-se um espaço dinâmico da sociedade contemporânea, envolvendo uma multiplicidade de envolvidos no meio hospitalar (LEMOS, 2011). Esta nova tendência se dá devido aos hospitais serem uma das instituições que mais consomem energia. Além disso, Gonçalves (2019) afirma que um prédio sustentável contribui na recuperação do paciente. Assim, nesse contexto, o arquiteto hospitalar juntamente com o gestor da unidade ou instituição são desafiados a encontrar soluções que atendam às necessidades anseios dos atuantes e usuários destes espaços, associando as soluções a sustentabilidade ambiental e financeira. Neste momento é imprescindível que a instituição tenha um plano diretor bem definido, considerando as possibilidades de crescimento tanto estrutural como também de reformulações ou expansões de suas atividades, considerando também as mudanças não previsíveis. 45 Você talvez esteja pensando, por que mudanças imprevisíveis se, normalmente, as mudanças estão previstas no planejamento? As mudanças imprevisíveis são muito comuns nesses locais, afinal, estamos falando de um espaço complexo e que precisa acompanhar as tendências tecnológicas, de legislações e principalmente, do atendimento aos mais variados tipos de doenças que possam vir a surgir. Assim as novas tendências das EAS requerem que sejam cada vez mais inclusas nas modificações e/ou construções o compromisso com a sustentabilidade e humanização nos diversos níveis de atenção de EAS. Na Unidade 3, vamos conversar exclusivamente sobre as questões de humanização nas EAS. Aqui, nosso foco será a sustentabilidade ambiental e por isso vamos começar compreendendo quais as ações que podem ser desenvolvidas para que elas se tornem mais sustentáveis ambientalmente. A literatura apresenta diversas iniciativas que estão sendo adotadas tanto em nível internacional como nacional. Alguns hospitais, por exemplo, já integram o Projeto Hospitais Verdes e Saudáveis. Você já conhece a iniciativa do Projeto Hospitais Saudáveis? PROJETO HOSPITAIS SAUDÁVEIS O Projeto Hospitais Saudáveis (PHS) é uma associação sem fins econômicos, dedicada a transformar o setor saúde em um exemplo para toda a sociedade em aspectos de proteção ao meio ambiente e à saúde do trabalhador, do paciente e da população em geral. Participam do PHS profissionais de saúde, instituições prestadoras de serviços, instituições de ensino e de pesquisa em saúde, organizações da sociedade civil em geral e demais organizações, públicas ou privadas, com- prometidas com os objetivos e valores por nós advogados. A assistência à saúde, como toda atividade produtiva, gera impactos ambientais e sanitários. No Brasil, assim como em diversas partes do mundo, esses impactos são agravados pela precariedade da infraestrutura nas regiões mais pobres e pela falta de informação e de ações coordenadas. FONTE: <https://www.hospitaissaudaveis.org/quemsomos.asp>. Acesso em: 28 out. 2020. INTERESSANTE https://www.hospitaissaudaveis.org/quemsomos.asp 46 Devido à complexidade dessasEAS, o projeto não consegue atuar de forma completa em todos os temas. Assim, elegeram como prioridades as ações voltadas a redução dos impactos ambientais e sanitários resultantes das atividades prestadas e que diretamente atingem também à saúde humana. Foram elencadas como ações prioritárias: • Desafio a Saúde pelo Clima • Desafio Resíduos de Serviço de Saúde • Desafio Energia Renovável • Campanha Compras Sustentáveis • Saúde Sem Mercúrio • Rede Global Hospitais Verdes e Saudáveis • Seminário Hospitais Saudáveis Em cada uma destas ações vamos encontrar outros projetos e subprojetos em que as EAS são convidadas a participar e, também, aderir voluntariamente, conforme termos de adesão voluntário que é assinado pela EAS no momento que é inserida no Projeto Hospitais Saudáveis. Além desses projetos, outras metodologias estão surgindo com o objetivo de contribuir com as ações sustentáveis em vários países. Algumas não são tão recentes, considerando que a preocupação com o meio ambiente e a saúde humana vem se estendendo desde a Conferencia de Estocolmo em 1972, algumas iniciativas começara a surgir já na década de 1990, como é o caso da metodologia BREEAM criada pelo Building Research Establishment (BRE), na Inglaterra, utilizada em nível mundial pelo Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (CSTB). Esta metodologia é utilizada para avaliar o desempenho de edifícios e projetos em termos de uso de energia, impacto ambiental e indicadores de qualidade ambiental (BITTENCOURT, 2007). Outro exemplo, é a metodologia desenvolvida pelo National Resources Canada NRCan – CANMET Energy Technology Centre, em parceria com o Environmental Research Group da British Columbia University, no Canadá, o que realiza avaliação de edifícios comerciais (BITTENCOURT, 2007). Nos Estados Unidos, foi desenvolvido pelo U.S. Green Building Council (USGBC), instituição financiada pelo National Institute Standards and Technology (NIST), o Leadership in Energy & Environmental Design (LEED), oferece um esquema de classificação e certificação para edifícios (BITTENCOURT, 2007). Para saber mais sobre o Projeto Hospitais Saudáveis acesse: https://www.hospitaissaudaveis.org/quemsomos.asp. DICA 47 Bittencourt (2007) ainda apresenta a iniciativa do Green Building Council (GBC), um consórcio internacional que tem o objetivo de desenvolver um novo método para avaliar o desempenho ambiental de edifícios. No contexto nacional, podemos citar como exemplo a iniciativa da Prefeitura da cidade de São Paulo, que elaborou diretrizes de sustentabilidade a serem seguidas na elaboração de projetos de edifícios hospitalares (SÃO PAULO, 2011). O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (INTO), localizado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 2011, também inseriu nas suas construções algumas ações de sustentabilidade em sua estrutura física estação de tratamento de efluentes, energia solar, aproveitamento da água de chuva, destinação correta de seus resíduos e substituição dos equipamentos que utilizam mercúrio por equipamentos livres de produtos tóxicos (INTO, 2011). Outro exemplo que se destaca a muitos anos são as iniciativas desenvolvidas pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, que possui a Política do Sistema de Gestão Integrado (SGI) de Saúde e Segurança Ocupacional, Uso Racional de Energia e Meio Ambiente . Além disso, a construção de seu plano diretor em 2019 teve como base os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). As ações na área ambiental abrangem água, energia, resíduos, emissões de gases do efeito estufa e outras emissões atmosféricas (RELATÓRIO, 2019). Em 2015, o Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan Americana de Saúde, lançou a publicação Qualificação e Sustentabilidade das Construções dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde – Volume 4 do Eixo 3 de um projeto que reúne informações sobre sustentabilidade. O custo de implantação de conceitos de sustentabilidade nos edifícios do SUS pode ser compensado pelas economias futuras, decorrentes de medidas para o uso mais racional dos equipamentos e espaços dos estabelecimentos de saúde. Edificações sustentáveis contribuem para a redução do impacto ambiental e a minimização das emissões de carbono, e devem servir de exemplo para a sociedade (BRASIL, 2015, p. 15). Nessa publicação são apresentadas várias iniciativas de promoção da sustentabilidade, uma delas é as bioclimáticas que compreende uma série de princípios divididos em cinco estratégias de acondicionamento de lugar, de resfriamento, de acondicionamento do lugar, de iluminação natural e de eficiência energética. O Hospital Sara Kubitschek, se destaca como modelo de implantação destas estratégias em seus prédios, como, por exemplo, o espaço com vegetação ativa que ajuda no resfriamento e no sombreamento dos espaços (Figura 19). 48 FIGURA 19 - HOSPITAL SARA KUBITSCHEK FONTE: Brasil (2015, p. 16) Em relação aos aspectos de conforto e qualidade destaca-se o prédio do Hospital de Base do Distrito Federal – Brasília/DF (Figura 20), que adotou uma Fachada com brise-soleils nas janelas, controle in loco da radiação solar incidente (BRASIL, 2015). FIGURA 20 – FACHADA DO HOSPITAL DE BASE DE BRASÍLIA (DF) FONTE: <https://cdn.jornaldebrasilia.com.br/wp-content/uploads/2019/05/Hospital-de-Base- -2-1-1024x768.jpg>. Acesso em 28 out. 2020. Outros hospitais se destacam nesse quesito, considerando a iluminação novas cores nas paredes dos quartos de internação, varandas ventiladas como o Hospital Sara Kubitschek e suas unidades e o Hospital de Câncer de Barretos (SP) (BRASIL, 2015). As EAS no âmbito do SUS no nível de atenção primária também têm adotado princípios de sustentabilidade nas construções. Nas construções mais recentes, o município é orientado para seguir os princípios de sustentabilidade adotando uma fachada harmoniosa, implantação de área de lazer (como, por exemplo, as academias da saúde) que incentivam a comunidade á práticas de atividades físicas (Figura 21). 49 FIGURA 21 – PROJETO ACADEMIA DA SAÚDE FONTE: <https://aps.saude.gov.br/public/img/portaldab/geral/ape_academia/fotos/academia6.jpg>. Acesso em: 28 out. 2020. No nível secundário, as questões de sustentabilidade têm sido sugeridas para serem inseridas nos projetos das Unidades de Pronto Atendimento as UPAs. FIGURA 22 – PROJETO DE CONSTRUÇÃO UPA NA LOCALIDADE DA BARRA (ITAJAÍ/SC) FONTE: <https://www.pagina3.com.br/imagens/materia/manchete/saude20208142.jpg>. Acesso em 28 out. 2020. A Green Building Council (GBC) é a certificadora de edificações clinicas como hospitais sustentáveis em nível nacional e internacional. Devido à complexidade e à importância de um hospital que o LEED® for Healthcare foi criado, o LEED® for Healthcare é uma certificação voltada para as particularidades de um hospital e em tese são totalmente diferentes de um prédio convencional. 50 A Certificação LEED, analisa as construções com base em nove categorias: processo integrado, localização e transporte, terrenos sustentáveis, eficiência hídrica, energia e atmosfera, materiais e recursos, qualidade do ambiente interno, inovação e prioridade regional e, de acordo com a pontuação atingida, o hospital recebe uma certificação. As tipologias de certificação são: novas construções, design de interiores, edifícios existentes, bairros. A partir da pontuação recebida nesta avaliação, o hospital passa a receber um tipo de certificação. As tipologias são: BD + C (novas construções), ID + C (design de interiores), O + M (edifícios existentes) e ND (bairros). FIGURA 23 – TIPOLOGIA DE CERTIFICAÇÕES LEDD FONTE: <https://www.gbcbrasil.org.br/wp-content/uploads/2017/09/Compreenda-o-LEED-1.pdf>. Acesso em 28 out. 2020. Caro acadêmico, chegamos ao final da Unidade 1 deste Livro Didático, nas próximas unidades você vai estudar os projetos da EAS em nível primário e secundário e também sobre a humanização nestes ambientes. BonsEstudos! Para maiores informações, acesse para conhecer quais os critérios analisa- dos em cada tipologia: https://bit.ly/3sFfrld. DICA 51 INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DO SETOR HOSPITALAR Sandra Rocha Um dos grandes desafios das empresas na atualidade é conseguir colocar em prática o desenvolvimento sustentável e medir o grau de sua sustentabilidade, uma vez que o cenário organizacional a cada dia se apresenta mais desafiador e competitivo. Assim, é preciso produzir mais e, nos casos dos prestadores de serviços de necessidade básica da população – como é o caso dos hospitais –, é preciso não só atender as necessidades dos usuários cidadãos, mas fazê-lo de forma otimizada, superando as expectativas das partes interessadas sem causar impactos a todo o sistema que envolve a sustentabilidade de uma organização, sendo ela pública ou privada. É necessário também preservar a saúde e a segurança dos trabalhadores, além do atendimento aos requisitos legais e outros, de maneira a tornar ou manter a organização sustentável. Essa realidade não é diferente no caso da organização se tratar de hospitais cujos impactos da insustentabilidade atingem diretamente a qualidade da assistência ao usuário cidadão no que se tem de maior valor: a saúde e até mesmo a própria vida. As unidades hospitalares, independentemente do tipo de financiamento ou de gestão, lidam com vidas humanas e sua sustentabilidade é fator fundamental no desenvolvimento e qualidade de vida de uma sociedade. Quando se trata da sustentabilidade dessas unidades, além dos aspectos relacionados às dimensões básicas, como a econômica, social e ambiental, outros aspectos são importantes para sua avaliação. Tais aspectos estão associados à saúde e segurança dos trabalhadores que desenvolvem atividades de atendimento assistencial à população e à gestão estratégica dessas unidades, compondo respectivamente as dimensões de sustentabilidade técnica e estratégica. Sendo assim, uma vez estabelecidas as dimensões que impactam a sustentabilidade dos hospitais, torna-se necessária a definição dos indicadores de cada dimensão a serem utilizados para avaliação multidimensional. Dessa forma, apresenta-se um modelo para essa avaliação, por meio da definição de indicadores para cada uma das cinco dimensões: estratégica, econômica, social, ambiental e técnica, a serem usados. As organizações, sejam públicas ou privadas, necessitam estabelecer LEITURA COMPLEMENTAR 52 estratégias e políticas públicas, como também implementar ferramentas de gestão para conhecer, monitorar e controlar os gaps (lacunas) que as distanciam do nível de organizações sustentáveis. Para avaliação multidimensional da sustentabilidade do setor hospitalar, é preciso definir e selecionar os indicadores, por dimensão de sustentabilidade. Por exemplo, a dimensão estratégica está relacionada à atuação dos dirigentes frente à gestão estratégica dos recursos humanos, financeiros, de infraestrutura etc., e também no estabelecimento das diretrizes que nortearão o desenvolvimento das atividades de prestação de serviços hospitalar de forma ética e com qualidade nos seus diversos atributos. Outro ponto importante dessa dimensão é o papel fundamental do líder como agente de mudança no ambiente organizacional, não só os líderes dirigentes, mas aqueles que coordenam e gerenciam ações das pessoas que formam sua equipe com vistas a atingir objetivos compartilhados, além de serem influenciadores de vários outros pontos, tais como o clima institucional que incentiva atitudes inovadoras da equipe, estratégias, motivação do grupo, dentre outros. Outros princípios importantes para a avaliação da sustentabilidade pela dimensão estratégica é a visão sistêmica na gestão da qualidade e a abordagem por processos. Dessa forma, a dimensão de sustentabilidade estratégica avaliará os aspectos relacionados à atuação do corpo diretivo dos hospitais na definição e desdobramento das diretrizes estratégicas, assim como, agente de mudança na proposta de padrões de trabalho, operacionalização destes pelos funcionários e também no estabelecimento e manutenção de um clima organizacional motivador para se tornarem ou se manterem sustentáveis. Por sua vez, a dimensão econômica avalia o quão eficiente uma organização gerencia os recursos financeiros disponíveis. Essa eficiência deve ser avaliada com ênfase nas questões macrossociais, ao invés dos critérios de lucratividade microempresarial, que são importantes, porém não devem ser considerados como principal. Já a avaliação da sustentabilidade econômica tem por fundamento o pensamento sistêmico, definido pela Fundação Nacional da Qualidade em seu Modelo de Excelência da Gestão – MEG, 23ª edição, uma vez que esta dimensão impacta todas as outras dimensões de sustentabilidade. Nesse sentido, a definição dos indicadores da dimensão de sustentabilidade econômica partiu dos aspectos relacionados à gestão dos recursos financeiros realizada pelos dirigentes e se ocorre o investimento de recursos financeiros nos aspectos das demais dimensões de sustentabilidade estratégica, social, ambiental e técnica. A dimensão de sustentabilidade social se refere aos aspectos que buscam a redução da distância entre as classes sociais no que se refere aos padrões de vida de uma sociedade. E quando se trata do setor hospitalar, esta dimensão avalia o quão sustentável é um hospital quanto ao impacto dos serviços prestados na saúde da população. 53 Nesta dimensão, são avaliados os aspectos relacionados à prestação de serviços de atendimento hospitalar que influenciam o padrão de vida da sociedade atendida. Tais aspectos estão relacionados à qualidade do atendimento aos pacientes, níveis de controle de infecção hospitalar, qualidade da água utilizada, qualidade da alimentação servida, conduta ética dos funcionários no desenvolvimento de suas atividades, dentre outros aspectos que impactam direta ou indiretamente a saúde e qualidade de vida dos pacientes, que é a base para o desenvolvimento do “ser” na busca mais equilibrada do “ter” (SACHS, 1993). O foco principal aqui é avaliação da qualidade dos serviços prestados e dos aspectos que contribuem para a percepção da qualidade desses serviços pelos pacientes. A dimensão de sustentabilidade ambiental é avaliada por meio dos aspectos: Uso dos recursos naturais com um menor dano possível aos diversos ecossistemas; Redução da geração de resíduos sólidos e de poluição, bem como uso de alternativas que minimizem os impactos negativos no meio ambiente; Definição de regras e procedimentos voltados para proteção ambiental e estabelecimento de requisitos legais, administrativos e outros que assegurem o cumprimento das regras definidas. A dimensão ambiental tem como foco os aspectos relacionados à gestão dos Resíduos Sólidos de Saúde (RSS), principalmente os aspectos relacionados à legislação ambiental aplicável, as Resoluções da Diretoria Colegiada (RDCs) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), dentre outras. A dimensão de sustentabilidade técnica consiste na avaliação dos aspectos de saúde e segurança do trabalhador no ambiente hospitalar e dos requisitos legais aplicáveis à prestação dos serviços hospitalares. Os principais pontos da NR-32, norma regulamentadora voltada para estabelecimentos de saúde, que são avaliados pela dimensão de sustentabilidade técnica, são os relacionados à exposição dos funcionários aos riscos biológicos e de acidentes com perfurocortantes; aos riscos químicos (exposição aos muitos produtos químicos tóxicos durante as atividades laborativas nos hospitais) e aos riscos físicos, como a exposição às radiações ionizantes. Vale destacar que outros pontos também importantes da NR-32 são avaliados nas dimensões de sustentabilidade ambiental, os RSSs por exemplo, e na estratégica nas questões relativas às capacitações dos funcionários. Por fim, omodelo final proposto de avaliação multidimensional da sustentabilidade do setor hospitalar se constitui por 14 indicadores da dimensão estratégica, 13 indicadores da dimensão econômica, 14 indicadores da dimensão social, 13 indicadores da dimensão ambiental e por 13 indicadores da dimensão técnica, totalizando 67 indicadores multidimensionais a serem utilizados para identificar quais as dimensões e quais os aspectos que estão impactando na sustentabilidade dos estabelecimentos avaliados [...]. FONTE: <https://revistapreven.org/10/2020/edicoes/saude-e-meio-ambiente/indicadores-para-avaliacao- -da-sustentabilidade-do-setor-hospitalar/>. Acesso em: 28 out. 2020. 54 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Pensar em um espaço hospitalar humanizado é de fundamental importância nos processos de cura e promoção da saúde. • A percepção da importância psicológica dos fatores climáticos concebe um hospital como um local arejado e iluminado naturalmente. • A sustentabilidade hospitalar contribui para a saúde de quem vive nele. • O papel da sustentabilidade dos hospitais, como instrumento da melhoria da qualidade de vida do paciente, é fundamental. 55 1 A arquitetura hospitalar é um componente fundamental quando pensamos no bem- estar do paciente. A hospitalização é um processo traumático, tanto pelo fato da pessoa, no momento, estar com sua saúde fragilizada, como pela ruptura se que faz do convívio social. Assim, analise as afirmações que seguem, indicando se são verdadeiras (V) ou falsas (F): ( ) A arquitetura sempre esteve relacionada com o adequado aproveitamento dos recursos naturais, de acordo com as técnicas disponíveis em cada época. ( ) No século XIX a principal temática da arquitetura hospitalar foi a preocupação referente à salubridade das edificações e ao conforto ambiental. ( ) Em 1893, a tuberculose matava milhões de pessoas, e para Karl Turban, médico alemão, a ventilação e a insolação, assim como a higiene, eram fundamentais para o tratamento das doenças pulmonares. ( ) Até o século XX, considerava-se saúde apenas ausência de doença. A sequência CORRETA é: a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) V – V – F – F. c) ( ) F – V – F – V. d) ( ) V – V – V – V. 2 Os hospitais poderão desenvolver projetos em vários eixos temáticos. Porém, quais os projetos de sustentabilidade um hospital poderá implantar? Com relação à área ambiental, assinale qual tipo de projeto está CORRETO: a) ( ) Instalação de equipamentos sem uso de mercúrio. b) ( ) Implantação e construção de estacionamentos amplos. c) ( ) Implantação de placas para de sinalização correta dos setores. d) ( ) Captação da água de chuvas para utilização especificamente no setor cirúrgico. 3 Ainda a respeito dos projetos de sustentabilidade que um hospital poderá implantar, em relação as ÁREAS ECONÔMICA E SOCIAL, assinale qual tipo de projeto está CORRETO. a) ( ) Gestão de custos e protocolos ambientais. b) ( ) Campanhas de consumo com controle de energia elétrica e água. c) ( ) Projeto de tratamento de efluentes. d) ( ) Projeto de segregação de resíduos de saúde. AUTOATIVIDADE 56 REFERÊNCIAS AMORA, A. M. G. A.; COSTA, R. G. R. A modernidade na arquitetura hospitalar: contribuições para a historiografia. Rio de Janeiro: UFRJ, 2019. (Volume 1). BARRETO, F. F. P. 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TÓPICO 1 – ARQUITETURA NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA TÓPICO 2 – ARQUITETURA NA ATENÇÃO BÁSICA: CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL TÓPICO 3 – PROJETOS DE INVESTIMENTO E AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 62 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 63 TÓPICO 1 — ARQUITETURA NA ATENÇÃO BÁSICA: ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Temos uma diversidade de espaços de promoção de saúde com incontáveis especialidades, porém, dependendo da abrangência e do público atendido nesses locais, encontramos um acervo de singularidades relacionadas aos profissionais e usuários, os quais constroem momentos únicos por meio de diálogos e ações para o suprimento das necessidades pertinentes a cada um (MATUMOTO et al., 2002). Uma rede complexa, composta por órgãos públicos e privados que competem e se complementam, foi formada após a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988. Muitos são os desafios para o alcance da universalidade, equidade e integralidade, que, apesar das enormes riquezas encontradas no país, depararam-se com as barreiras impostas pelas desigualdades social e econômica e dificultaram a construção de uma sociedade justa e igualitária (OLIVEIRA et al., 2017). Ao analisarmos a obra Donabedian (The Definition of Quality and Approaches to its Assessment), entendemos a estrutura como um dos pilares da qualidade nas instituições de saúde, pois engloba os contextos físico e organizacional (instrumentos, recursos humanos e materiais). Os resultados obtidos e a satisfação dos usuários estão diretamente ligados à adequação das estruturas para o desenvolvimento dos processos assistenciais de forma integral (BOUSQUAT et al., 2017). 64 FIGURA – AVEDIS DONABEDIAN FONTE: <https://bit.ly/3FVchzq>. Acesso em: 6 out. 2020. No campo de atuação do gestor em saúde, um dos seus compromissos é garantir que toda a população-alvo dos seus programas tenha acesso a um atendimento de qualidade, e que esse movimento aconteça da forma mais harmoniosa possível, indo além da disponibilização de um serviço em determinados momento e local, mas entender a acessibilidade como duas dimensões: sócio-organizacional e geográfica (MENDES et al., 2012). Todos os aspectos relacionados ao funcionamento de um serviço e que impactam na relação estabelecida com usuário correspondem à dimensão sócio-organizacional, como o tempo de espera pelo atendimento e o acolhimento experenciado. No âmbito geográfico, estão presentes questões, como o tempo de deslocamento, custo e segurança da viagem, ou seja, a localização da unidade. De forma ampla, podemos entender que a acessibilidade demanda um gerenciamento que reflita a respeito dos recursos humanos e físicos para o atendimento das necessidades de uma população (AMARAL et al., 2012). Avedis Donabedian(1919-2000): Médico de origem libanesa, mundialmente reconhecido pelo seu trabalho como administrador hospitalar, foi autor de importantes obras acerca da qualidade dos serviços de saúde e da utilização de metodologias para a avaliação. Donabedian entendia que um serviço de qualidade promovia a obtenção de um maior número de benefícios e menores riscos e danos aos pacientes, considerando os recursos disponíveis para a prestação da assistência e valores sociais. CHAMADA 65 A história, o contexto sociocultural e as percepções pessoais impactam diretamente na mobilidade das pessoas, assim, só é possível disponibilizar um espaço com acessibilidade quando nós estamos atentos às necessidades dos usuários em todos os níveis de atenção. Porém, ainda tem sido um grande desafio que o SUS tem enfrentado desde a sua criação, seja pelas extensas filas ou adaptação do espaço físico das unidades de saúde, este que converte uma demanda de “clientes” significativa aos planos de saúde. A ferramenta do controle social, defendida pelo SUS, é um importante mecanismo para o envolvimento dos usuários na efetivação de políticas e programas que fomentam uma assistência à saúde universal, em especial, na atenção básica. Com outros atores, os usuários têm a possibilidade de aprimorar o cuidado experenciado por sua comunidade. Neste tópico, nos aprofundaremos nas nuances dos diferentes cenários de promoção de saúde e nas demandas específicas de determinados grupos, trazendo luz às legislações que direcionam as ações e cuidados recomendáveis aos ambientes, além de refletir acerca do atendimento das expectativas dos usuários com base nas necessidades de saúde. 2 ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE Dentre os princípios do SUS, encontramos o controle social como um mecanismo pelo qual os usuários auxiliam na construção de políticas e ações do sistema de saúde, além da efetivação. Sem o envolvimento da comunidade, é inviável a construção do cuidado qualificado, universal e integral, especialmente, na atenção básica, na qual se pressupõe um estreitamento de laços por meio do respeito mútuo entre profissionais, gestores e população (MENDES et al., 2012). A conferência de Alma-Ata foi um marco histórico na construção da atenção primária à saúde no nosso país, pois, dentre as diversas questões discutidas durante a realização, destacou-se a necessidade do provimento de cuidados essenciais que utilizassem tecnologias e métodos científicos sem desconsiderar os aspectos socioculturais. Outro ponto de atenção é a disponibilização desses serviços, a qual deve permitir a fácil locomoção dos usuários, ou seja, deve considerar os aspectos geográficos do local onde as pessoas residem, trabalham e estudam, provendo, assim, um alcance universal (ALMEIDA et al., 2018). No anseio para atingir esse propósito, profissionais, gestores e usuários devem manter os espírito de reflexão para a reestruturação dos serviços por meio das práticas e valores, sem desconsiderar o contexto vivenciado, assim, elos de corresponsabilidade empoderam todos os sujeitos, e a oferta de cuidado vai de encontro aos anseios e necessidades da saúde, ao passo que constrói novos saberes (COELHO; JORGE; DE ARAUJO, 2012). 66 A Constituição Federal de 1988, como base para a criação do SUS, considera a saúde como um conceito ampliado que vai além da ausência de doença, e determina que a saúde passe a ser dever do Estado e direito de todos (BRASIL, 1988). Para a efetivação dessa concepção, o modelo de atenção à saúde, até então utilizado no Brasil, necessitou ser repensado e reestruturado, levando ao fortalecimento da Atenção Básica, termo adotado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e entendido como a porta de entrada do sistema de saúde, que foca na prevenção de doenças, soluciona agravos, e, quando necessário, direciona para instituições que atendem casos de maior complexidade, organizando o fluxo das necessidades dos usuários, desde as mais simples até as mais complexas (SILVA et al., 2013) (PEREIRA; LIMA, 2008). O modelo da Atenção Básica embasa sua organização e expansão na Estratégia Saúde da Família (ESF), a qual é vista como uma agenda prioritária que oportuniza um acesso ampliado e resolutivo à saúde por meio de equipes responsáveis por uma população de uma área geográfica circunscrita, prestando assistência às questões de saúde de modo individual e coletivo (MENDES et al., 2012). 3 UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE As Unidades Básicas de Saúde (UBS), como porta de entrada do SUS, têm o objetivo de atender 80% das questões de saúde de uma determinada população, realizando atividades preventivas, reduzindo o agravamento de doenças e, consequentemente, melhorando o fluxo de atendimento das unidades de maior complexidade. O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) descreve as UBS como um local onde questões básicas de saúde de uma população são resolvidas (BRASIL, 2020, s.p.): Unidade para realização de atendimentos de atenção básica e integral a uma população, de forma programada ou não, nas especialidades básicas, podendo oferecer assistência odontológica e de outros profissionais de nível superior. A assistência deve ser permanente e prestada por médico generalista ou especialista nessas áreas. Podendo ou não oferecer: SADT e atendimento 24 horas. O público atendido nas UBS pode ter acesso a serviços básicos de saúde, como clínica geral, pediatria, ginecologia, cuidados de enfermagem e atenção odontológica. Como apoio a esses atendimentos, é possível administrar medicamentos injetáveis, além de realizar inalações, imunizações, fornecimento de medicamentos dos programas de saúde e coleta de exames laboratoriais (CRUZ, 2016). As equipes de ESF são organizadas nas UBS conforme o porte (BRASIL, 2013c): • UBS porte I: abriga, no mínimo, uma equipe de Saúde da Família (população máxima coberta de quatro mil pessoas). • UBS porte II: abriga, no mínimo, duas equipes de Saúde da Família (população máxima coberta de oito mil pessoas). 67 • UBS porte III: abriga, no mínimo, três equipes de Saúde da Família (população máxima coberta de 12 mil pessoas). • UBS porte IV: abriga, no mínimo, quatro equipes de Saúde da Família (população máxima coberta de 20 mil pessoas, quando apresenta 5 ESF). FIGURA 1 – UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE FONTE: <http://www2.maringa.pr.gov.br/sistema/imagens/gd_ce48a5ee53d4.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. Mais de 39 mil equipes de ESF atuam em todo o território nacional, e isso, por si só, é uma grande conquista para o SUS, porém, alguns entraves ainda dificultam o acesso a serviços qualificados, como a inadequação das estruturas físicas das unidades, recursos financeiros restritos, trabalho em rede com os demais níveis de complexidade e recursos humanos (BOUSQUAT et al., 2017). Para os profissionais de saúde, as práticas assistenciais e seus resultados são fortemente impactados pela estrutura física, que, quando não organizada adequadamente, impede que suas potencialidades sejam exploradas ao máximo durante a prestação de cuidado, ficando à mercê das capacidades de improvisos individual e coletivo. Cabe, ao gestor, prover recursos humanos e materiais que permitam o atendimento integral e qualificado da comunidade e condições de trabalho mínimas à equipe de saúde (PEDROSA; CORRÊA; MANDÚ, 2011). Conforme determinação da Portaria nº 2.436 do Ministério da Saúde, todas as esferas do governo têm a responsabilidade de garantir a infraestrutura e boas condições para o funcionamento das UBS, por meio dos espaços físicos, mobiliário e equipamentos, atentando-se, ainda, para a acessibilidade das pessoas com deficiência (BRASIL, 2017a). Alguns fatores norteiam a organização da infraestrutura das UBS, a densidade demográfica da área adscrita e as especificidades da comunidade, considerando, ainda, o espaço necessário para a formação e a capacitação dos profissionais e estudantes dos níveis médio e superior. 68 Na Portaria nº 2.436 do Ministério da Saúde,estão descritos três tipos de unidades de saúde abrangidos pela Atenção Básica: Unidade Básica de Saúde, a Unidade Básica de Saúde Fluvial e a unidade odontológica móvel. Recomenda-se que disponham, minimamente, de alguns espaços (BRASIL, 2017a): a) Unidade Básica de Saúde: • consultório médico e de enfermagem, consultório com sanitário, sala de procedimentos, sala de vacinas, área para assistência farmacêutica, sala de inalação coletiva, sala de procedimentos, sala de coleta/exames, sala de curativos, sala de expurgo, sala de esterilização, sala de observação e sala de atividades coletivas para os profissionais da Atenção Básica. Se forem compostas por profissionais da saúde bucal, será necessário consultório odontológico com equipe odontológica completa; • área de recepção, local para arquivos e registros, sala multiprofissional de acolhimento à demanda espontânea, sala de administração e gerência, banheiro público e para funcionários e outros ambientes, conforme a necessidade. b) Unidade Básica de Saúde Fluvial: • consultório médico; consultório de enfermagem; área para assistência farmacêutica, laboratório, sala de vacina; sala de procedimentos; e, se forem compostas por profissionais da saúde bucal, será necessário consultório odontológico com equipe odontológica completa; • área de recepção, banheiro público; banheiro exclusivo para os funcionários; expurgo; cabines com leitos em número suficiente para toda a equipe; cozinha e outro ambientes, conforme necessidade. c) Unidade Odontológica Móvel: • Recomenda-se veículo devidamente adaptado para a finalidade de atenção à saúde bucal, equipado com: compressor para uso odontológico com sistema de filtragem; aparelho de raios-x para radiografias periapicais e interproximais; aventais de chumbo; conjunto peças de mão contendo micromotor com peça reta e contra ângulo, e alta rotação; gabinete odontológico; cadeira odontológica, equipe odontológica e refletor odontológico; unidade auxiliar odontológica; mocho odontológico; autoclave; amalgamador; fotopolimerizador; e refrigerador. 69 Um ponto importante, antes de iniciar a construção de uma Unidade Básica de Saúde, é a escolha do local para construção. Durante a seleção do terreno, além da proximidade em relação às áreas de responsabilidade da equipe de saúde, os gestores devem se manter atentos às orientações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e das Secretarias Estaduais de Saúde (BRASIL, 2016). Ao iniciarmos os processos relacionados à escolha do local de construção da UBS, deve-se iniciar com um estudo do impacto ambiental que considere as questões biogeofísicas, tendo em mente as proposições estabelecidas para a edificação e os materiais a serem utilizados. Ao conhecermos o ambiente, poderemos prever as mudanças e os impactos futuros para aquela área, sendo importante o debate coletivo, para discutir os resultados e propiciar uma tomada de decisão mais acertada (BRASIL, 2008). Existem duas dimensões durante o planejamento de um projeto arquitetônico: uma exógena, que foca na salubridade, mantendo o distanciamento entre o público e as questões ambientais externas, porém, sem desconsiderar as normas sanitárias vigentes, como em locais onde existe uma grande ocorrência de mosquitos e insetos, é possível pensar na instalação de telas que os mantenham fora da unidade. As UBS poderão ter pontos de apoio para o atendimento de populações dispersas (rurais, ribeirinhas, assentamentos, áreas pantaneiras etc.), com reconhecimento no CNES e nos instrumentos de monitoramento e avaliação. A estrutura física dos pontos de apoio deve respeitar as normas gerais de segurança sanitária. Na construção de qualquer edificação de assistência à saúde, além de atender às normas estabelecidas pela RDC n° 50/2002, que estudamos na Unidade 1, é imprescindível verificar as legislações aplicáveis nos âmbitos estadual e municipal que norteiam o desenvolvimento das obras públicas. ATENÇÃO IMPORTANTE 70 A segunda dimensão se denomina endógena e se concentra no impacto positivo ou negativo que a construção pode gerar ao meio ambiente. Imaginemos construções em áreas de mangue, onde foi realizado o aterramento, sem atentar às resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). O evento pode gerar enchentes e o afundamento do imóvel a longo prazo (BRASIL, 2008). Na construção de qualquer imóvel que preste assistência à saúde, o projeto sempre deve ser construído com os profissionais da saúde, pois é imprescindível que a unidade atenda às necessidades dos fluxos de trabalho. Uma sugestão do Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas de Saúde é o agrupamento por planos, nos quais, no primeiro, deveriam ser estruturadas a recepção e sala de espera; em segundo plano, os consultórios médicos, de enfermagem e odontológico (atentar para que o ruído gerado não impacte na atividade dos outros consultórios); em seguida, sala de procedimentos; e, por último, áreas de apoio (BRASIL, 2008). 3.1 PRIMEIRO PLANO • Sala de Recepção: este local deverá conter um balcão para o primeiro atendimento ao usuário por meio de informações, agendamento ou encaminhamentos. É recomendada a ausência de grades ou vidros que separem o profissional da população, tornando o ambiente mais humanizado e cordial, aberto ao contato. Com relação ao mobiliário, deve conter cadeiras, prateleiras, quadro de avisos, computadores e telefones, além de um espaço para a guarda de prontuários, os quais devem ser agrupados por família (BRASIL, 2008). A guarda de prontuários permite informações de saúde, organizadas por tópicos que registram o histórico e facilitam o diagnóstico de uma pessoa. Porém, prontuários de papel podem, por vezes, ser um ferramenta obsoleta que, apesar de usada até os dias atuais, pode não contemplar todas as necessidades de usuários e profissionais, tornando o prontuário eletrônico uma alternativa que, por meio de uma conexão em rede, pode auxiliar no cuidado, independentemente do local ou profissional que atenda (LOURENÇÃO; FERREIRA JUNIOR, 2016). • Sala de Espera: os usuários e acompanhantes que aguardam atendimento da equipe de saúde devem ter um espaço planejado para proporcionar conforto e tranquilidade com adequação da luminosidade, temperatura e ruídos, além de assentos que se adequem às necessidades da população, como assentos para pessoas obesas. As salas de espera devem ser planejadas, conforme o número populacional da área ou equipes de saúde da família que a unidade comporta (BRASIL, 2008). 71 QUADRO 1 – DIMENSIONAMENTO DE SALAS DE ESPERA - UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE N° EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA DIMENSIONAMENTO SALA DE ESPERA 1 ESF Aproximadamente, 15 pessoas 2 ESF Aproximadamente, 30 pessoas 3 ESF Aproximadamente, 45 pessoas 4 ESF Aproximadamente, 60 pessoas 5 ESF Aproximadamente, 75 pessoas FONTE: Brasil (2008, p. 16) FIGURA 2 – PLANTA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE COM UMA EQUIPE SAÚDE DA FAMÍLIA FONTE: Leite Filho (2014, p. 18) 3.2 SEGUNDO PLANO • Atendimento clínico: os consultórios da UBS devem propiciar o atendimento individualizado aos usuários, conforme a programação estabelecida pela unidade, e serem compartilhados com os demais membros da equipe, pois, ao contrário que o senso comum tende a pensar, estes não são exclusivos aos médicos e enfermeiros, mas pertencem à equipe multiprofissional. É recomendado um layout que permita o uso de uma mesa de escritório que comporte, minimamente, um usuário e acompanhante sentados, uma maca para exame clínico, lavatório para higienização das mãos e dimensão mínima de 9 m2. Nos consultórios utilizados para atendimento ginecológico, devem existir mesa de exame clínico adaptável com perneiras e sanitário privativo anexo (BRASIL, 2008). 72 FIGURA 3 – PLANTA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE - CONSULTÓRIOS FONTE: Adaptada de Leite Filho (2014) • Consultório Odontológico: durante a montagem e utilização dos equipamentos odontológicos, é essencial que se mantenha atentoàs especificações técnicas do fabricante, e isso também se aplica à composição do layout dentro do consultório. Acerca do mobiliário, é essencial uma mesa de escritório com três cadeiras (profissional, usuário e acompanhante), além de evitar materiais de superfícies reflexivas para evitar ofuscamentos, permitir a ventilação e iluminação natural, favorecendo a dissipação de vapores de mercúrio, além de pia e bancada para higienização das mãos e processamento de instrumentais. Na montagem do consultório odontológico, sugerimos a leitura do Manual Serviços Odontológicos Prevenção e Controle de Riscos da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA). Esse material disponibiliza as informações da estrutura física, segurança ocupacional e do paciente, além de recomendações do processamento de artigos odontológicos. DICA 73 FIGURA 4 – PLANTA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE - CONSULTÓRIO ODONTOLÓGICO FONTE: Leite Filho (2014, p. 32) 3.3 TERCEIRO PLANO • Farmácia: é recomendado, pelo Ministério da Saúde, que, em cada UBS, seja disponibilizada uma farmácia, exceto nos casos em que o município centraliza a dispensação de medicamentos para a população. Independentemente do local onde a farmácia está localizada, é indispensável que disponha de estrutura física, recursos humanos e materiais que auxiliem na realização da assistência farmacêutica de qualidade (LEITE et al., 2017). A estrutura física da farmácia deve, basicamente, impedir a circulação desnecessária no ambiente, além de uma área de estocagem e dispensação. Nas UBS, é recomendável que o profissional possa realizar a assistência farmacêutica em local reservado, de modo a preservar a privacidade do usuário e orientar o uso adequado das medicações, ação que, consequentemente, aumenta as chances de adesão ao tratamento. Estantes, armários com chave, computadores, ar- condicionado, controle de temperatura, geladeira, computadores, mesas e cadeiras compõem o mobiliário básico, e, no Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas de Saúde: Saúde da Família, há a descrição das composições da farmácia, dependendo do perfil da UBS (BRASIL, 2008): 74 É recomendável considerar, entre os modelos apresentados a seguir, qual melhor se adapta à realidade da UBS. • modelo A: 1. uma área para dispensação com dimensão mínima de 10 m2; 2. uma área para armazenamento com dimensão mínima de 6 m2. • modelo B: 1. uma área para o seguimento farmacoterapêutico do farmacêutico com a dimensão de 9 m2. (Observação: planejar esse espaço no próprio ambiente da farmácia). 2. uma área para dispensação com dimensão mínima de 10 m2; 3. uma área para armazenamento com dimensão mínima de 6 m2 (BRASIL, 2008, p. 36). • Sala de Procedimentos: na UBS, pequenos procedimentos, como a administração de medicações injetáveis, a realização de inalações e a terapia de reidratação oral, são ofertados na sala de procedimentos. Sua distribuição e quantidade de mobiliário dependem do número de equipes de saúde da família que atuam na unidade, porém, sua área não deve ser menor que 9 m2. Em alguns casos, por limitações no espaço físico, ela também pode ser utilizada como uma sala de coleta de material de análises clínicas, porém, essa atividade só deve ser realizada nesse ambiente com horários definidos apenas para esse fim, desde que a estrutura atenda às necessidades técnicas do profissional (BRASIL, 2008). • Sala de Vacinas: a vacinação é um dos carros-chefes da atenção básica, por garantir proteção da população e prevenção contra agravos provocados por agentes imunizáveis. Seu adequado manejo, dentro da unidade de saúde, garante a credibilidade perante a população, aumentando a adesão (MARINELLI; CARVALHO; ARAÚJO, 2015). No espaço destinado à administração de imunobiológicos, normalmente, circulam usuários saudáveis, então, sua localização, dentro da edificação, deve ser pensada, preferivelmente, de forma que as pessoas a serem vacinadas não fiquem transitando por várias áreas, desnecessariamente, até acessá-la. Seu mobiliário deve ser constituído, basicamente, de mesa tipo escritório, com gavetas, três cadeiras, armários, bancada, pia, um refrigerador 260 litros e computador, além de garantir que não tenha luz solar incidente sobre a sala (BRASIL, 2008). 75 FIGURA 5 – PLANTA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE - SALA DE VACINAS FONTE: Leite Filho (2014, p. 21) • Sala de Curativos: espaço direcionado ao tratamento de lesões e, igualmente, à sala de vacina, deve ter acesso facilitado ao usuário, sem a necessidade de ter contato com as demais áreas da unidade. No caso de restrições arquitetônicas que não permitam a delimitação, pode ser usada a sala de procedimentos, com horário específico e planejado, desde que apresente condições técnicas para a realização da atividade. O mobiliário deve ser composto por bancada com pia, torneiras com fechamento que dispense o uso das mãos, armários, mesa tipo escritório com gavetas, três cadeiras, mesa de exame clínico, lava-pé que possibilite a higienização dos pés dos pacientes, mesa auxiliar ou carro de curativo, escada com dois degraus e biombo. Um aspecto importante é a proximidade da área suja (Central de Material e Esterilização), para reduzir os riscos de contaminação cruzada (BRASIL, 2008). 76 FIGURA 6 – SALA DE CURATIVOS FONTE: <https://folhadolitoral.com.br/uploads/editor/files/sala2.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. 3.4 QUARTO PLANO • Administração e gerência: nesta sala, é possível realizar as atividades administrativas da unidade, devendo ter acesso controlado por usuários e facilitado aos funcionários. Segue os modelos clássicos da área administrativa, com mesas, cadeiras, computadores, impressoras, telefones e murais. Dimensão mínima recomendada 5,50 m2 (BRASIL, 2008). • Sala de reuniões: espaço planejado para a realização de ações educativas (nas unidades de saúde pequenas, as atividades de educação em saúde podem ser realizadas na sala de espera) e reuniões da equipe, com a possibilidade de ser usada, também, pelos agentes comunitários de saúde. Basicamente, é composta por mesa de trabalho, computadores, cadeiras, arquivos, quadro negro e mural (BRASIL, 2008). • Sanitários: na UBS, devem existir dois tipos de sanitários: os de usuários e de funcionários. No segundo, acrescentam-se box e armários individuais. Os banheiros devem ser separados por sexo e compostos por lavatório e pias sanitárias, além de garantir a acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida (BRASIL, 2008). • Copa e Cozinha: utilizadas por funcionários, esses espaços permitem a preparação de lanches e alimentação. Devem ser bem iluminados e ventilados, para garantir os preceitos da Política Nacional de Humanização; ser restritos aos trabalhadores; e ser responsáveis por garantir a higienização e cuidados, conforme as normas da vigilância sanitária. Dimensionamento mínimo: 4,5 m2 (BRASIL, 2008). • Depósito de material de limpeza: neste ambiente, os profissionais realizam a guarda de todos os materiais utilizados para a higienização da unidade. Deve conter tanque, bancadas e armários. Dimensionamento mínimo: 3 m2 (BRASIL, 2008). • Sala de utilidades: também conhecida como expurgo, a sala de utilidades contém hampers e lixeiras, além de bancada com pia e armários. Caso o reprocessamento de artigos seja realizado em uma CME, fora da unidade, devem ser instaladas pias de despejos e duchas de lavagem. Dimensionamento mínimo: 4 m2 (BRASIL, 2008). 77 • Depósitos de resíduos: o descarte de resíduos ocupa dois locais específicos dentro da UBS: o depósito de lixo, onde é acondicionado o resíduo comum removido pelo serviço de limpeza urbana; e o abrigo de resíduos sólidos, para a guarda do lixo contaminado. Ambos os ambientes devem ter acesso restrito aos usuários, proteção contra roedores e área mínima de 4 m2 cada (BRASIL, 2008). A atenção primária tem evoluído desde a criação do SUS, sempre traçando estratégias para defender os direitos à saúde dos usuários. A Estratégia Saúde da Famíliafoi um marco histórico, que proporcionou um salto no cuidado à população, reduzindo a mortalidade infantil e os agravos de doenças crônicas, e repercutindo, diretamente, nas filas dos serviços especializados. A melhoria da estrutura da atenção básica é uma importante ferramenta na redução das desigualdades socioeconômicas, levando atendimento de qualidade a todas as classes da sociedade e, consequentemente, fortalecendo o Sistema Único de Saúde (BOUSQUAT et al., 2017). Ao planejar a construção, reforma ou ampliação de uma UBS, o gestor deve se atentar para a acessibilidade das Pessoas com Deficiência (PcD), pois contar com uma equipe qualificada e salas devidamente equipadas de nada serve se, por exemplo, um usuário, em uso de cadeira de rodas, não consegue exercer autonomia, para entrar na unidade, pela falta de rampas. Esses aspectos promovem a invisibilidade, afastam uma parte da população e impossibilitam a participação nas ações de promoção, prevenção e manutenção da saúde (MARQUES et al., 2018). Tradicionalmente, as UBS enfrentam muitos desafios para, de fato, ofertar um cuidado integral aos cidadãos, sendo, a infraestrutura, um ponto crucial na garantia e defesa dos princípios do SUS, pois, por meio dela, melhores resultados podem ser alcançados, e o acesso universal é facilitado, sendo um importante ponto de atenção do gestor em saúde (PEDROSA; CORRÊA; MANDÚ, 2011). As Unidades Básicas de Saúde devem disponibilizar uma Central de Material e Esterilização (CME) para o reprocessamento de artigos. ATENÇÃO 78 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • As Unidades Básicas de Saúde (UBS) são a porta de entrada do SUS e têm o objetivo de atender 80% das questões de saúde de uma determinada população. • Alguns fatores norteiam a organização da infraestrutura das UBS: a densidade demográfica da área adscrita e as especificidades da comunidade, considerando, ainda, o espaço necessário para a formação e capacitação dos profissionais e estudantes dos níveis médio e superior. • Existem duas dimensões durante o planejamento de um projeto arquitetônico: exógena, que foca na salubridade, por meio do distanciamento entre o público e as questões ambientais externas; e endógena, que se concentra no impacto positivo ou negativo que a construção pode gerar ao meio ambiente. • As UBS devem ter, minimamente, os seguintes ambientes para a realização de um atendimento qualificado: recepção, sala de espera, atendimento clínico (consultórios), consultório odontológico, farmácia, sala de procedimentos, sala de vacinas, sala de curativos, sala de administração e gerência, sala de reuniões, sanitários, copa, cozinha, depósito de material de limpeza, sala de utilidades e depósito de resíduos. 79 RESUMO DO TÓPICO 1 1 Referente aos estudos do Tópico 1, classifique em verdadeiras ou falsas as questões a seguir: ( ) O depósito de material de limpeza da UBS tem, como mobiliário básico, um tanque, bancadas e armários, e seu dimensionamento mínimo é de 3 m2. ( ) A sala de vacina deve ser pensada de forma que os usuários não fiquem transitando por várias áreas, desnecessariamente, antes acessá-la, pois, normalmente, atende pessoas saudáveis. ( ) O modelo da atenção básica embasa sua organização e expansão na criação de novas UBS, pois são uma agenda prioritária que oportuniza um acesso ampliado e resolutivo à saúde. ( ) Uma UBS pode abrigar até dez Equipes de Saúde da Família. ( ) Para os profissionais de saúde, as práticas assistenciais e seus resultados são fortemente impactados pela estrutura física que, quando não organizada adequadamente, impede que suas potencialidades sejam exploradas ao máximo durante a prestação de cuidado, ficando à mercê das capacidades de improvisos individual e coletivo. ( ) As salas de reunião das UBS devem ser utilizadas somente nas reuniões de feedback do gestor para a equipe. ( ) No planejamento de consultórios odontológicos, deve-se evitar materiais de superfícies reflexivas, pela ocorrência de ofuscamentos; permitir a ventilação e a iluminação natural, favorecendo a dissipação de vapores de mercúrio; além de pia e bancada, para a higienização das mãos e processamento de instrumentais. ( ) Durante o planejamento de construção, reforma ou ampliação de uma UBS, o gestor não precisa adequar a estrutura física para acessibilidade das Pessoas com Deficiência (PcD), desde que o município tenha uma unidade de referência para essa população. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – F – V – V – F – V – F. b) ( ) V – V – F – F – V – F – V – V. c) ( ) V – V – F – F – F – F – V – V. d) ( ) V – V – F – F – V – F – V – F. e) ( ) V – F – F – V – V – F – F – F. 2 Com base na figura a seguir, de uma Unidade Básica de Saúde, você acredita que seria possível realizar alguma adequação estrutural? Caso sim, quais componentes você alteraria na recepção e sala de espera? AUTOATIVIDADE 80 FIGURA – RECEPÇÃO DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE FONTE: <https://infonet.com.br/wp-content/uploads/2019/02/IMG_0027.jpg>. Acesso em: 14 out. 2020. 3 A estrutura física de uma Unidade Básica de Saúde pode aproximar e acolher ou afastar a população, que não percebe aquele espaço como uma conquista social que tem, por dever, defender seus direitos constitucionais à saúde. Os profissionais que atuam nessas unidades também podem ser afetados pelas questões estruturais? Justifique a sua resposta. 4 O SUS tem encontrado grandes desafios desde sua criação até os tempos atuais, pois, apesar do seu caráter universal, ainda encontramos uma parcela da população que prefere contratar planos de saúde privados por conta da superlotação, extensas filas, incertezas acerca da qualidade dos serviços e espaços físicos inadequados. De que forma o controle social pode ajudar a melhorar a experiência dos usuários em relação ao nosso sistema de saúde, além de defender a sua existência? 5 Marque a opção correta acerca dos fatores que devem nortear a organização da infraestrutura de uma UBS. a) ( ) Densidade demográfica da área adscrita, especificidades da comunidade e espaços de formação e capacitação dos profissionais. b) ( ) População do município versus o número de Equipes de Saúde da Família e características geográficas da área. c) ( ) Formação de novos profissionais de saúde, densidade demográfica municipal e especificidades da comunidade. d) ( ) Densidade demográfica da área adscrita, características geográficas do município e formação profissional. e) ( ) Formação de novos profissionais de saúde, estruturas políticas municipal e estadual e especificidades da comunidade. 81 ARQUITETURA NA ATENÇÃO BÁSICA: CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 1 INTRODUÇÃO Os transtornos mentais estão entre as patologias mais incidentes na população mundial, conforme dados do Global Burden of Disease Study 2010, além do aumento do período de incapacidade experenciado pelas pessoas no decorrer da vida (GLOBAL, 2012). Apesar dessas evidências, as doenças neuropsíquicas ainda carregam estigmas e, em comparação a problemas físicos, são menos estudadas no Brasil (SMOLEN; ARAÚJO, 2017). Em geral, os transtornos mentais geram, nos portadores, alterações de pensamento e comportamento, por meio de diversos sintomas, estes que geram sofrimento e alteram a rotina até dos que os cercam, como irritabilidade, insônia, expressões psicossomáticas, falta de concentração etc. Geralmente, apresentam caráter depressivo, ansioso ou somatoformes (FONSECA; GUIMARÃES; VASCONCELOS, 2008). A concepção e o olhar sobre a vida social dos portadores de transtornos mentais não evoluíram de forma homogênea e ao mesmo tempo em todas as sociedades ocidentais. Enquanto no Brasil, os pacientes eram totalmente afastados do convívio social e presos em manicômios, na Europa, iniciavam as discussões acerca da eficácia do tratamento e as internações compulsóriasa todos que, de algum modo, destoavam do que se acreditava ser “normal” (OLIVEIRA; CIRILO; COSTA, 2013). As Santas Casas de Misericórdia eram hospitais generalistas, porém, foram as instituições que, até o início do século XIX, abrigavam, nos porões, os então denominados “loucos”. Alguns médicos, ao perceberem a impossibilidade de cura dessas pessoas pelo afastamento social, higiene precária, violências físicas e morais, pleitearam a criação de um local específico para os portadores de transtornos mentais (BATISTA, 2014). A chegada da família real portuguesa foi um dos fatores responsáveis pela urbanização das cidades brasileiras e, através da visão colonizadora, consequentemente, iniciou a intervenção do Estado sobre a loucura, quando os “alienados” foram privados da liberdade e não possuíam permissão para andar pelas ruas. Em 1841, após decreto de D. Pedro II, foi fundada, no Rio de Janeiro, a primeira instituição psiquiátrica do Brasil, Hospício de Alienados Pedro II (YASUI; BARZAGHI, 2018). 82 FIGURA 7 – HOSPÍCIO DE ALIENADOS PEDRO II, ATUAL INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (IPUB) FONTE: <http://historiaeloucura.gov.br/uploads/r/instituto-de-psiquiatria-da-universidade-federal-do-rio- -de-janeiro/conf/logo.png>. Acesso em: 6 out. 2020. Todo o conceito arquitetônico do Hospício de Alienados Pedro II foi concebido de forma a facilitar a vigilância dos pacientes pelos profissionais da saúde. Sua construção original possuía a forma de um retângulo, que, nas extremidades, alocava as alas feminina e masculina de lados opostos, com um bloco central separador. Em cada ala, os internos eram classificados e alojados conforme os quadros sintomáticos (limpos, sujos, tranquilos, agitados, portadores de doenças infecciosas) (BATISTA, 2014). O ócio era entendido como nocivo aos pacientes, dessa forma, o trabalho era utilizado como método terapêutico e gerador de renda para a instituição, reproduzindo oficinas de costura, bordados, flores artificiais, alfaiataria, estopa, acolchoaria, escovas, móveis, calçados, enquanto os menos aptos para essas funções trabalhavam na jardinagem, construção civil e limpeza e organização das instalações (BATISTA, 2014). No início do século XX, entre os anos de 1920 e 1930, o campo da psiquiatria, no Brasil, entendia, de forma geral, com base nas concepções científicas da época, que a melhor assistência prestada a esse público era a internação, ideia fortalecida pelas crenças erroneamente norteadas da eugenia. Baseada em uma perspectiva paternalista, a psiquiatria entendia que a sociedade devia ser protegida das ameaças derivadas da “alienação mental” (GOULART; DURÃES, 2010). 83 2 A REFORMA PSIQUIÁTRICA E OS NOVOS OLHARES O quadro da atenção psiquiátrica no Brasil chegou em ponto de alerta no fim da década de 1970, pois, até o momento, não existia nenhuma política nacional de saúde mental, sendo, o sistema, um amontoado de grandes instituições asilares com cuidados de qualidade duvidosa e desrespeito aos direitos humanos, sendo urgente a discussão acerca de uma reforma psiquiátrica no Brasil (ALMEIDA, 2019). Com o fim da ditadura militar e do processo de redemocratização atravessado nos anos de 1980, o modelo de atenção psiquiátrica, claramente, não se encaixava nas novas perspectivas do nosso país. Os profissionais da saúde mental encabeçaram as críticas a respeito da segregação social imposta há séculos pelo modelo tradicional, fundamentada na internação manicomial, movimento conhecido com Reforma Psiquiátrica, que objetivava substituir o cuidado em saúde mental por redes de atenção psicossocial de envolvimento comunitário (OLIVEIRA; CIRILO; COSTA, 2013). Apesar de iniciada pelos profissionais da saúde, a reforma psiquiátrica só foi concretizada após a união para debate com as várias camadas da sociedade e de referências provenientes de órgãos internacionais. Diversos hospitais psiquiátricos foram fechados, e muitas pessoas voltaram ao seio familiar, fortalecidos e respaldados pela Política de Saúde Mental, presente na Lei n° 10.216/2001 (OLIVEIRA; CIRILO; COSTA, 2013). Após todas as evoluções conquistadas no campo da saúde mental, o Brasil passou a ser reconhecido internacionalmente, pois, apesar de ainda ser um país subdesenvolvido, implantou uma Política de Saúde Mental a nível nacional, descentralizadora de forma exitosa. Esse fato despertou o interesse de estudiosos de outros países para entenderem a experiência brasileira no cuidado universal e integral aos portadores de transtornos mentais (ALMEIDA, 2019). Nise da Silveira (1905-1999) foi uma médica psiquiatra, aluna de Carl Jung, que teve enormes contribuições para a saúde mental nacional e internacionalmente. Seus trabalhos combatiam práticas desumanas, frequentemente utilizadas em pacientes de instituições manicomiais, como eletrochoque, coma insulínico e lobotomia. Promoveu ateliês da Seção de Terapêutica Ocupacional do Centro Psiquiátrico Pedro II (Rio de Janeiro) ainda nos anos de 1940, onde os pacientes realizavam atividades relacionadas à pintura e modelagem. Na década seguinte, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, com as obras produzidas pelos pacientes, mantendo exposições até os dias atuais. NOTA 84 Muitas são as histórias que rondam os antigos hospitais psiquiátricos, e esse conhecimento deve estar claro na mente de todos os profissionais da saúde, de modo que não se repita. O maior manicômio do Brasil, o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena (MG), foi cenário de vários episódios de desrespeito à dignidade humana e maus tratos, e chegou a ser conhecido como corredor da loucura, onde, a cada duas consultas e meia, uma pessoa era institucionalizada (PERON, 2013). Historicamente, o modelo de atenção promovido, no século passado, pelos hospitais psiquiátricos, baseava-se na tutela e afastamento dos internos da sociedade, fazendo com que a institucionalização por si só gerasse a cronificação das doenças e aparecimento de novas. Quando se pensa no processo de retorno desses indivíduos para o convívio social, ao passo que os saberes acerca do cuidado do portador de transtornos mentais são construídos conjuntamente, deve-se problematizar todos os impactos e aplicabilidade dessas ações nos campos social e político, assim, é possível fortalecer, além de qualificar uma Rede de Atenção Psicossocial (SOUSA; JORGE, 2018). 3 REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL Em 2011, por meio da Portaria n° 3.088, foi instituída a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) que, dentro do SUS, articula ações de assistência de pessoas com sofrimento ou transtorno mental e de necessidade de uso de álcool e outras drogas (BRASIL, 2011a). Como falado anteriormente, a atenção básica é a porta de entrada do usuário ao SUS, enquanto isso, a RAP promove ações e serviços dentro dessa mesma perspectiva. Seguindo as ideias de universalização, equidade e integralidade, sua atuação é realizada de forma descentralizada (MEDEIROS et al., 2017). Livro: Holocausto Brasileiro: Genocídio: 60 Mil Mortos no Maior Hospício do Brasil. Autora: Daniela Arbex. Neste livro, a jornalista denuncia um dos maiores genocídios do Brasil ocorrido no maior manicômio do país, que atendia, além de pacientes com doenças mentais, homossexuais, prostitutas, epiléticos, mães solteiras, meninas problemáticas, mulheres engravidadas pelos patrões, moças que tinham perdido a virgindade antes do casamento, mendigos, alcoólatras, melancólicos, tímidos e outros, sendo maltratados e mortos sob a tutela do Estado, profissionais de saúde e sociedade DICA 85 Dentre as diretrizes que norteiam a Rede de Atenção Psicossocial (RAP), destacam- se o respeito aos direitos humanos e proteção contra as opressões e violências; entender os determinantes sociais de saúde, de modo a promover a equidade, oferta de serviço qualificado, humanizado e integral a todo cidadão por meio de equipe multiprofissional; promover a inclusão social, autonomia e exercícioda cidadania; adequar estratégias de redução de danos; e construir um projeto terapêutico individualizado sob a lógica da base territorial da sua responsabilidade (BRASIL, 2015a). O Ministério da Saúde estrutura a RAP por meio de diversas estruturas, dependendo do perfil e necessidades do usuário. A composição das equipes, em todos os casos, é multiprofissional, com o foco para além do uso de medicamentos, sendo essas atividades desenvolvidas nas Unidades Básicas de Saúde, equipes Consultório de Rua (pessoas em situação de rua e usuários de drogas), atenção psicossocial especializada (Centro de Atenção Psicossocial – CAPS), atenção de urgência e emergência, atenção hospitalar e residencial de caráter provisório (MOREIRA; ONOCKO-CAMPOS, 2017). Com relação aos recursos financeiros, os maiores investimentos, atualmente, no campo da saúde mental, são voltados para iniciativas que vão de encontro ao conceito de internação manicomial, sendo uma conquista alcançada pela reforma psiquiátrica. Os Centros de Atenção Psicossocial e as Residências Terapêuticas são entendidos como a alternativa mais acertada no cuidado ao portador de transtornos mentais, entretanto, o debate não deve estagnar, mas crescer e envolver as mais diversas camadas sociais, para a garantia do direito dos usuários e suporte à família e comunidade (MIRANDA; OLIVEIRA; SANTOS, 2014). 3.1 CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL- CAPS No início da reforma psiquiátrica, ocorreram movimentos que buscavam melhorias estruturais e assistenciais dos hospitais psiquiátricos. Em seguida, por conta da necessidade de desinstitucionalização, foi modificado o modelo de atenção, de modo a ir ao encontro dos preceitos do SUS, surgindo, assim, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), inspirados em algumas experiências italianas em redes de serviços de saúde mental com envolvimento da comunidade (ALMEIDA, 2019). Os CAPS se tornaram uma estratégia viável na desativação de leitos em hospitais psiquiátricos, pois agregaram diferentes níveis de atenção para o atendimento de uma área geográfica definida e aliada a fortes raízes na comunidade, buscando entender e respeitar a cultura e os costumes. Naturalmente, nem tudo são flores dentro dessa relação com indivíduo, família e comunidade, pois, no decorrer do caminho, os profissionais enfrentam situações desafiadoras inerentes à relação do transtorno mental e todos estigmas e problemas sociais (QUINDERÉ; JORGE; FRANCO, 2014). 86 FIGURA 8 – CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL FONTE: <http://twixar.me/pSbm>. Acesso em: 6 out. 2020. Para a reabilitação psicossocial, é necessária a utilização de diversos recursos afetivos de toda a estrutura social que o indivíduo se relaciona, pois, além dos problemas de saúde, os usuários ainda precisam enfrentar desafios nos espaços sociais (trabalho, escola, esporte, comunidades religiosas). Os CAPS entram com o cuidado ao usuário como um articulador entre os serviços de saúde e realidade coletiva, sendo um catalizador das potencialidades de pessoas socialmente excluídas (BRASIL, 2004). Um dos pilares do cuidado de saúde mental é o acolhimento, assim, essas instituições mantêm suas portas abertas para o atendimento de novos usuários de demanda espontânea e sem agendamento prévio. Para o atendimento das demandas levantadas, a equipe multiprofissional envolverá a família na construção de um projeto terapêutico individualizado, entretanto, não deve se restringir aos muros da unidade, mas envolver camadas da sociedade e outros serviços públicos, ou seja, são trabalhados o usuário, a família e o território, o que demanda envolvimento com a comunidade (MEDEIROS et al., 2017). Todo o trabalho desenvolvido dentro dos Centros de Atenção Psicossocial visa prover um modelo de atenção, uma atenção diária por meio de projetos terapêuticos e cuidado clínico individualizado, além de reorganizar toda a rede de serviços de saúde mental do território. Essas instituições têm, como responsabilidade (BRASIL, 2004): • promover a inserção social dos usuários através de ações intersetoriais que envolvam educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, montando estratégias conjuntas de enfrentamento dos problemas; • dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede básica; • regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental da área; 87 • coordenar, com o gestor local, as atividades de supervisão de unidades hospitalares psiquiátricas que atuem no território; • manter atualizada a listagem dos pacientes da região que utilizam medicamentos para a saúde mental. Existem algumas modalidades de CAPS que são implantadas, considerando o perfil da população a ser atendida e número de habitantes da área (BRASIL, 2011a): QUADRO 2 – MODALIDADE DOS CAPS MODALIDADE Perfil de usuários POPULAÇÃO CAPS I Pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e também com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas de todas as faixas etárias. Acima de 20 mil habitantes CAPS II Pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, podendo, também, atender pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, conforme a organização da rede de saúde local. Acima de 70 mil habitantes CAPS III Pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feriados e fins de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno a outros serviços de saúde mental, inclusive, CAPS Ad. Acima de 200 mil habitantes CAPS i Crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e persistentes e os que fazem uso de crack, álcool e outras drogas. Acima de 150 mil habitantes CAPS AD Adultos ou crianças e adolescentes, considerando as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Acima de 70 mil habitantes CAPS AD III Adultos ou crianças e adolescentes, considerando as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades de cuidados clínicos contínuos. Serviço com, no máximo, 12 leitos para observação e monitoramento, de funcionamento 24 horas, incluindo feriados e fins de semana. Acima de 200 mil habitantes FONTE: Adaptado de Brasil (2011a) 88 FIGURA 9 – DIFERENÇAS ENTRE O PORTE POPULACIONAL E AS ATIVIDADES DOS CAPS FONTE: Medeiros et al. (2017, p. 14) Dentre as diretrizes da Política Nacional de Humanização (PNH), a ambiência tem um importante papel no planejamento das unidades de atenção à saúde mental, entendendo o espaço como fator determinante durante a prestação da assistência. Na estrutura física do CAPS, fatores, como a iluminação, ventilação, som e cor, podem auxiliar ou dificultar a aproximação entre profissionais e usuários, para construírem, juntos, vínculos de corresponsabilidade e confiança (MEDEIROS et al., 2017). Foi um desafio pensar na inserção dos pacientes no contexto urbano após a desconstrução do modelo manicomial, porém, uma questão crucial é que esse local não deveria lembrar as instituições asilares tradicionais ou hospitais, mas lembrar uma residência que segue as recomendações da vigilância sanitária. Essa composição auxilia a população a relacionar aquele espaço com o ambiente familiar acolhedor, assim, pessoas podem se refugiar para realizar seus tratamentos de saúde mental (VIECELI, 2014). Pensando no atendimento às demandas de saúde das pessoas, a estrutura física do CAPS deve ser constituída, basicamente, por consultórios individuais, sala de atividades em grupo, espaço de convivência, oficinas, refeitório, sanitários e área externa (BRASIL, 2004). Esses espaços devem levar em consideração a manutenção de portas abertas (literal e simbolicamente), propiciar cuidado, apoio e suporte, transparecer a ideia de cuidado com liberdade e suscitar, na comunidade, a imagem de referência do serviço especializado de saúde mental dentro do território(BRASIL, 2015a). 89 • Espaço de acolhimento: nele, o usuário e a comunidade têm o primeiro contato com a unidade e a equipe, diferenciando-se de um consultório por quebrar a imagem tradicional de atendimento por meio do espaço com sofás, poltronas e cadeiras que acomodem os que chegam ao CAPS. Além da mesa para recepção, poderá abrigar, também, os prontuários, que deverão ter acesso facilitado apenas para a equipe (BRASIL, 2015a). FIGURA 10 – ESPAÇO DE ACOLHIMENTO CAPS FONTE: <http://twixar.me/tSbm>. Acesso em: 6 out. 2020. • Sala de atendimento individualizado: destinada à realização de entrevistas, consultas, terapias e orientação pela equipe multiprofissional, tem uma estrutura parecida com a de um consultório, porém, deve se manter acolhedora, ao passo que resguarda a privacidade do usuário e família. Mobiliário básico: mesa com gavetas, cadeiras, sofá, armário, pia para higienização das mãos, maca para avaliação clínica ou psíquica e algum recurso terapêutico (BRASIL, 2015a). • Sala de atividades coletivas: neste espaço, ocorrem atividades para o fortalecimento dos protagonismos individual e familiar e desenvolvimento das habilidades sociais. Pode ser utilizada para atendimentos em grupo ou práticas corporais, expressivas e comunicativas, o que demanda que os móveis possam ser descolados ou realinhados, conforme a atividade. Sugere-se equipamento de projeção, além de armário, para guarda dos recursos terapêuticos, e pia, para higienização das mãos (BRASIL, 2015a). 90 FIGURA 11 – SALA DE ATIVIDADE COLETIVA FONTE: <https://www.aesc.org.br/wp-content/uploads/2019/10/caps_noroesteED_3967.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. • Espaço interno de convivência: local para encontros informais, onde usuários, famílias e profissionais podem dialogar, trocar experiências ou realizar programas culturais (BRASIL, 2015a). • Sanitários públicos: compostos por bacia hidrossanitária e pia, devem ser divididos por gênero e ter garantia de acessibilidade a pessoas com deficiência (BRASIL, 2015a). • Posto de enfermagem: geograficamente, deve estar próximo aos quartos, por se tratar do espaço onde a equipe de enfermagem realiza as atividades técnicas e administrativas. Mobiliário básico: bancada, pia, armários e mesa com computador (BRASIL, 2015a). • Farmácia: tem, como responsabilidades, o recebimento, estoque, controle, preparo e distribuição das medicações utilizadas na unidade, sendo importantes a climatização do ambiente e o controle da temperatura, além de pias, armários, mesa, cadeira e computador. Por ter acesso restrito, deve contar com porta-guichê que permita a interação, mas mantenha a segurança das drogas armazenadas (BRASIL, 2015a). • Sala de medicação: estrutura pensada para a administração de medicações por via oral ou endovenosa: bancada para preparo de medicação, espaço para ministrar as medicações oral e endovenosa e pia e armários para o armazenamento de medicamentos dispensados no dia. Uma porta-guichê auxiliará no contato com o usuário ao mesmo tempo que mantém a área restrita a funcionários (BRASIL, 2015a). • Quartos coletivos e de plantão: apesar dos quartos coletivos abrigarem os usuários e os funcionários de plantão do CAPS, eles compartilham algumas características estruturais, como: são disponibilizados para CAPS com atendimento 24h; e devem ter banheiro contíguo e armário para a guarda de objetos pessoais e camas (os CAPSad III devem possuir duas camas do tipo hospitalar). É primordial que esse espaço seja acolhedor e passe a mensagem de hospitalidade, afastando o conceito tradicional das residências asilares (BRASIL, 2015a). 91 FIGURA 12 – QUARTO COLETIVO CAPSAD III FONTE: <https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/25159723.jpg?w=594>. Acesso em: 4 out. 2020. • Sala administrativa: escritório padrão organizado conforme o número de funcionários administrativos do CAPS. Mobiliário: mesa, computador, cadeiras e armários. A sala de reuniões deve ser separada da administrativa, e deve ser utilizada para discussões da equipe acerca das questões administrativas e assistenciais, reuniões com pessoas fora da unidade, educação permanente e deve contar com cadeiras e mesa com equipamentos para apresentações (BRASIL, 2015a). • Almoxarifado: espaço para guarda de materiais utilizados na unidade de saúde, devem ser equipados com prateleiras e armários, e seu acesso e controle devem ser realizados de modo a evitar desperdício de recursos públicos (BRASIL, 2015a). • Refeitório: seu planejamento dependerá do perfil do CAPS, sendo o ideal que ele comporte e ofereça refeições conforme os planos terapêuticos dos usuários. Mantê- lo aberto todo o dia e não apenas nos horários de refeições fortalece a imagem de casa que é passada pela unidade, bem como a distribuição de mesas pequenas organizadas para fornecer um espaço agradável de convivência e alimentação (BRASIL, 2015a). • Cozinha: espaço para manipulação e preparo das alimentações servidas na unidade, podendo ser utilizada, também, para atividade junto aos usuários. O gestor deve estar atento às determinações da ANVISA sobre as boas práticas na manipulação de alimentos e no abrigo para botijão de gás. Dividida em ambientes para higienização, depósito de mantimentos e de utensílios seu mobiliário básico é comporto por: pias, bancadas, fogão, refrigerador e armários (BRASIL, 2015a). 92 • Sala de utilidades: enquanto o depósito de material de limpeza (DML) armazena todos os equipamentos e utensílios utilizado na limpeza da unidade, a sala de utilidades é destinada à guarda dos materiais e das roupas utilizadas na assistência aos usuários do serviço, além de guarda temporária de resíduos. No caso do resíduo comum (lixo doméstico), a unidade deverá transportar até o abrigo externo de resíduos comuns conforme o Plano de Gerenciamento de Resíduos da unidade (BRASIL, 2015a). • Área de serviços: área de apoio utilizada para na limpeza de materiais e roupas por funcionários e usuários caso seja necessário. Mobiliário básico: tanque, lavadora de roupas e varal para secagem (BRASIL, 2015a). • Rouparia: espaços com armários para guarda de roupas limpas. Pode ser um anexo do DML ou, no caso da inviabilidade espacial, pode ser substituído por um carrinho de roupas (BRASIL, 2015a). • Área externa de convivência: espaço reservado para atividades coletivas ao ar livre ou convivência e circulação de pessoas. Na área externa podem ser desenvolvidas rodas de conversas, reuniões, terapias em grupo, oficinas, ações culturais ou atividades individuais como descanso ou leitura. Sua configuração pode ser diversa, com gramado ou varanda, mas deve trazer a ideia de uma praça pública e pode ser modificada conforme as questões socioculturais da comunidade (redes, hortas, bancos, jardins etc.). Lembrando que uma área externa também deve ser reservada para o embarque e desembarque da população atendida no CAPS, facilitando a entrada e saída de carros e ambulâncias (BRASIL, 2015a). Leia a Cartilha Sobre Boas Práticas para Serviços de Alimentação, com base na Resolução-RDC nº 216/2004. Disponível no endereço: http://www.rio.rj.gov.br/ dlstatic/10112/5796272/4151178/CartilhaBoasPraticas_Livreto.pdf. FONTE: <http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/5796272/4151178/ CartilhaBoasPraticas_Livreto.pdf>. Acesso em: 4 out. 2020. DICA 93 FIGURA 13 – ESPAÇO EXTERNO DE CONVIVÊNCIA DURANTE ATIVIDADE ABERTA À COMUNIDADE FONTE: <https://bit.ly/3lIeyVv>. Acesso em: 6 out. 2020. O gestor deve atentar para os fatores ambientais, como iluminação e ventilação e o contato com a área externa, com sol e com plantas, pois estes auxiliam os usuários a perceberem a passagem do tempo. Os pisos podem ser sujos com frequência, assim é importante que eles sejam de fácil limpeza e passível de utilização de água e sabão. No esforço de se distanciar das imagens clássicas dos antigos manicômios devem ser abolidas grades, cobogós e mobiliário fixo de concreto ou alvenaria, além de prover equipamento e utensíliosresistentes ao impacto, para garantir que aquele material não ficará em falta por escassez de recursos financeiros. O ambiente tem a capacidade de afastar ou aproximar as pessoas, facilitar ou impedir a comunicação e o entendimento; e envolver recursos psicológicos na arquitetura pode favorecer as relações interpessoais e alcançar melhores resultados nos cuidados de saúde. Dessa forma, não podemos pensar na estrutura física de uma unidade de saúde separada do conforto ambiental e das percepções que desejamos que o outro tenha em relação àquele local (TIBURCIO, 2013). Um ponto importante conquistado pela reforma psiquiátrica foi o investimento no processo de reterritorialização e reconexão de laços sociais. Para que o CAPS possa cumprir seu propósito de forma eficaz, pressupomos o envolvimento nas relações com a família, comunidade e todos os aspectos culturais que envolvem o sujeito, se fazendo parte da vizinhança e se mantendo-se aberto à participação social (OLIVEIRA; ABDALLA, 2019). Na construção de um projeto arquitetônico de um Centro de Atenção Psicossocial, é importante refletir sobre a visão do usuário e como este acessará os recursos disponíveis, e quais as demandas da equipe de saúde para a prestação do cuidado garantindo sua própria segurança e daqueles que presta assistência. 94 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Até o fim da década de 1970, não existia nenhuma política nacional de saúde mental, sendo o sistema um amontoado de grandes instituições asilares com cuidados de qualidade duvidosa e desrespeito aos direitos humanos. • No início da reforma psiquiátrica, para que ocorresse a desinstitucionalização dos pacientes dos hospitais psiquiátricos, foi modificado o modelo de atenção de modo a ir ao encontro dos preceitos do SUS, surgindo, assim, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). • Os CAPS se tornaram uma estratégia viável na desativação de leitos em hospitais psiquiátricos, pois agregaram diferentes níveis de atenção para o atendimento de uma área geográfica definida e aliada a fortes raízes na comunidade. • Pensando no atendimento às demandas de saúde das pessoas, a estrutura física do CAPS deve ser constituída basicamente por consultórios individuais, sala de atividades em grupo, espaço de convivência, oficinas, refeitório, sanitários e área externa. • Os espaços físicos dos CAPS devem levar em consideração a manutenção de portas abertas (literal e simbolicamente), propiciar cuidado, apoio e suporte, transparecer a ideia de cuidado com liberdade e suscitar na comunidade a imagem de referência em serviço especializado de saúde mental dentro do território. 95 AUTOATIVIDADE 1 Imagine que você é o gestor que um Centro de Atenção Psicossocial e que, após consultoria com um profissional da área de arquitetura, foi enviado como modelo a imagem a seguir para organização das salas de atendimento individualizado. Quais considerações você poderia fazer para atender requisitos propostos na Política Nacional de Saúde Mental? FIGURA – SALA DE ATENDIMENTO INDIVIDUALIZADO FONTE: <https://www.demervallobao.pi.leg.br/institucional/fotos/usb/dscf4909.jpg/@@images/31e7a- 260-a896-4348-a8fe-e0e8dfc5908a.jpeg>. Acesso em: 6 out. 2020. 2 Pensando ainda no mesmo contexto da questão anterior, é solicitado que você participe de uma reunião em que será discutida a preocupação de alguns membros da comunidade sobre a prática do CAPS em manter suas portas abertas, pois algumas pessoas acreditam que os “pacientes” e outros cidadãos correm risco com essa prática, por deixar o portador de transtorno mental livre para circulação conforme sua vontade. Qual o seu posicionamento em relação à essa discussão? 3 Cite alguns motivos pelos quais o modelo de atenção psiquiátrica promovido pelas instituições asilares do século passado não mais se aplicam à realidade atual, dentro da Política Nacional de Saúde Mental? 4 Com base no conteúdo estudado sobre a Reforma psiquiátrica e os novos modelos de promoção e proteção de saúde mental, leia as afirmações a seguir e assinale a alternativa CORRETA. 96 a) ( ) No início da reforma psiquiátrica, ocorreram movimentos que buscavam melhorias estruturais e assistenciais dos hospitais psiquiátricos, em seguida houve a necessidade de institucionalização dos usuários, para ir ao encontro dos preceitos do SUS. b) ( ) Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) foram inspirados em experiências italiana de rede de serviços de saúde mental com envolvimento da comunidade c) ( ) Os CAPS se tornaram uma estratégia viável na desativação de leitos em hospitais psiquiátricos, pois a internação permanente passa a ser realizada na unidade deixando o paciente próximo da família. d) ( ) Os modelos de CAPS agregaram um único nível de atenção para o atendimento de uma área geográfica definida aliada a fortes raízes na comunidade e) ( ) O trabalho dos profissionais de saúde no CAPS apresenta desafios por conta do envolvimento com indivíduo, família e comunidade, pois é ilegal a realização de contenção mecânica nos pacientes. 5 Correlacione a estrutura física dos Centros de Atenção Psicossociais e suas características: (1) Espaço de acolhimento. (2) Espaço interno de convivência. (3) Sala de medicação. (4) Posto de enfermagem. (5) Sanitários públicos. (6) Sala de atividades coletivas. ( ) Neste espaço ocorrem atividades para a fortalecimento do protagonismo individual e familiar e desenvolvimento de habilidades sociais. Pode ser utilizado para atendimentos em grupo ou práticas corporais, expressivas e comunicativas, o que demanda que os móveis possam ser descolados ou realinhados conforme a atividade. ( ) Geograficamente, deve estar próximo aos quartos por se tratar do espaço onde a equipe de enfermagem realiza suas atividades técnicas e administrativas. ( ) Este local é composto minimamente por bancada para preparo de medicação, espaço para administrar medicação oral e endovenosa, pia e armários para armazenamento de medicamentos dispensados no dia. Uma porta-guichê auxiliará no contato com o usuário ao mesmo tempo que mantém a área restrita a funcionários ( ) Nele o usuário e a comunidade têm o primeiro contato com a unidade e a equipe, diferenciando-se de um consultório por quebrar a imagem tradicional de atendimento por meio do espaço com sofás, poltronas e cadeiras que acomodem os que chegam ao CAPS. ( ) Compostos por bacia hidrossanitária e pia devem ser divididos por gênero e ter garantia de acessibilidade às pessoas com deficiência ( ) Local para encontros informais onde usuários, famílias e profissionais podem dialogar, trocar experiências ou realizar programas culturais 97 TÓPICO 3 - PROJETOS DE INVESTIMENTO E AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO No decorrer do livro didático, podemos perceber que a estrutura física dos estabelecimentos de saúde está diretamente relacionada à atividade desenvolvida no local. Para a proteção e promoção de saúde dos usuários além de profissionais de saúde capacitados e insumos de qualidade são necessários conhecimentos na área de administração, arquitetura, engenharia, manutenção, engenharia clínica e outros (AMORIM et al., 2013). Assim como o modelo de atenção tem mudado do biomédico para o multiprofissional focado na saúde, a arquitetura dos ambientes assistenciais tem se adequado a essa nova perspectiva. Além de garantir a segurança do paciente, as unidades têm que se organizar de forma a promover um espaço humanizado e preocupado com as necessidades dos usuários, surgindo, assim, a necessidade de construção de conhecimentos sobre a adequação e construção de novos ambientes (SOETHE; LEITE, 2015). O SUS, de fato, foi uma enorme conquista após anos de luta da saúde coletiva, porém, quando analisamos outros países que também apresentam um sistema público de saúde universal, percebemos uma discrepância em relação ao financiamento. Enquanto, no Brasil, noano de 2014, foi destinado 3,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para o SUS, países europeus como Alemanha, Reino Unido e Suécia investiram em média 8% do PIB na saúde, confirmando o que podemos ver na prática: as escassez de recursos e todos os desafios derivados disso (MENDES; FUNCIA, 2016). Sem dúvidas o financiamento do SUS, mesmo após 30 anos de sua criação, ainda é uma questão espinhosa, porém que precisa ser tratada. Afinal, muitos aspectos envolvem o financiamento das redes que pressupõem que os recursos investidos tenham a capacidade de sanar todas as demandas de saúde da população, ao passo que fazem uso racional por meio de planejamento estratégico. As redes de atenção à saúde devem estar alinhadas com os preceitos de responsabilidade compartilhada entre todos os níveis hierárquicos e alinhada com estratégias que permitam o uso coerente de recursos para qualidade na promoção à saúde (AMORIM et al., 2013). 98 Até hoje, ainda temos muitos municípios com grandes dificuldades na efetivação de todos os pressupostos e legislações ligadas ao Sistema Único de Saúde. Os desafios para tal missão se deve ao subfinanciamento crônico, recursos humanos insuficientes ou com baixa qualificação, acesso limitado a recursos tecnológicos, estrutura física inadequada entre outros, colocando os gestores em uma posição desafiadora com necessidades criativas para estruturar alternativas de gestão. 2 SISTEMA DE APOIO À ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTOS EM SAÚDE (SOMASUS) Ao perceber os desafios dos gestores na melhoria estrutural das unidades de saúde, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria no 2.481/2007 instituiu o Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos em Saúde (SOMASUS) que no decorrer da década publicou manuais e site para consulta democratizando o acesso à informações técnicas nem sempre familiar aos profissionais de saúde (AMORIM; PINTO JUNIOR; SHIMIZU, 2015). O SOMASUS trata-se de um sistema desenvolvido pela Secretaria Executiva do Ministério da Saúde para auxiliar todos os níveis de hierárquicos (município, estado e união) na elaboração e execução de projetos de investimento em infraestrutura de forma qualificada. Dentro desse sistema são disponibilizadas as configurações requeridas nos mais diversos estabelecimentos de saúde, além de conteúdo para aquisição, instalação e operacionalização de equipamentos médicos-assistenciais. É primordial que unidades de saúde tenham regras que estabeleçam com clareza quais as recomendações mínimas para a entrega de uma assistência de qualidade, e o SOMASUS surge sob essa perspectiva, capacitando e auxiliando a rede de atenção na estruturação das unidades por meio do planejamento e de compatível com os com todas as legislações, recomendações da ANVISA e serviços disponibilizados no SUS (SOUSA, 2019). Atualmente, temos quatro volumes do SOMASUS divididos conforme a área de atenção à saúde: atendimento ambulatorial e atendimento imediato, internação e apoio ao diagnóstico e terapia (reabilitação), apoio ao diagnóstico e terapia (imagenologia) e apoio ao diagnóstico e à terapia: anatomia patológica, hemoterapia e hematologia, medicina nuclear e patologia clínica; todos disponibilizados no site do Ministério da Saúde. Esta série apresenta ilustrações, plantas e os equipamentos e mobiliários necessários na montagem das unidades (AMORIM; PINTO JUNIOR; SHIMIZU, 2015). https://www.saude.gov.br/images/pdf/2018/julho/06/SOMASUS-sistema-apoio-elaboracao-vol3.pdf https://www.saude.gov.br/images/pdf/2018/julho/09/somaus-apoio-diagnostico-terapia-anatomia-somasus-vol4.pdf https://www.saude.gov.br/images/pdf/2018/julho/09/somaus-apoio-diagnostico-terapia-anatomia-somasus-vol4.pdf 99 FIGURA 14 – MANUAIS SOMASUS FONTE: As autoras 3 SISTEMA DE MONITORAMENTO DE OBRAS (SISMOB) E REQUALIFICA UBS Dentro da Política Nacional de Atenção Básica, encontramos como se caracteriza o financiamento da mesma: de forma tripartite (pelas três esferas de governo), fundo a fundo e considerando os planos de saúde estabelecidos pelos municípios e Distrito Federal, por meio de conta aberta específica para este fim, de forma transparente para acompanhamento dos Conselhos de Saúde (BRASIL, 2012). Nesse documento, encontramos ainda que parte dos incentivos direcionados para a Estratégia Saúde da Família serão investidos na estruturação e reforma das Unidades Básicas de Saúde que abrigam essas equipes. Porém acompanhar a alocação dos recursos de todas as UBS do Brasil e analisar seus projetos era um desafio para o SUS até a criação do Sistema de Monitoramento de Obras (SISMOB) (BRASIL, 2008). Quando estados e municípios desejam pleitear recursos financeiros para obras de construção, ampliação e reforma junto ao Governo Federal, é necessário o cadastramento do projeto no SIMOB, disponível no site do Fundo Nacional de Saúde. Dentro da plataforma será realizado o cadastro e análise da proposta de obra ou reforma, além do monitoramento de sua execução. Essa ferramenta permite que o gestor federal avalie os investimentos realizados nas estruturas físicas e os gestores estaduais e municipais gerenciem as obras (BRASIL, 2017b). Para que o projeto seja aprovado e os recursos liberados, o gestor deverá atentar para alguns aspectos imprescindíveis à sua proposta (BRASIL, 2017b): • todas as obras deverão estar inseridas na programação anual e discutidas e pactuadas com a comissão intergestores bipartite, com o levantamento dos recursos necessários e as responsabilidades de cada esfera sobre esse custeio; • não é possível cadastrar a proposta do projeto no sistema sem responder ao questionário eletrônico sobre o atendimento dos requisitos estabelecidos na política ou programa a qual a obra pertence e a capacidade técnica de execução, gestão e manutenção; 100 • quando o projeto pleitear ampliação ou reforma, o gestor deverá informar quais ambientes serão contemplados, e o resultado esperado que, caso aprovado, deverá seguir em acompanhamento durante a realização da obra; • Quando o projeto pleitear construção de UBS, após análise dos dados inseridos na plataforma, o sistema informará a configuração mínima de ambiente desejada para aquele tipo de unidade. No ano de 2011, com o intuito de criar incentivo financeiro para reforma, ampliação e a construção de Unidade Básica de Saúde (UBS) de modo a ofertar as condições necessárias para promoção de saúde com qualidade dentro das UBS, o Ministério da Saúde lançou o programa de Requalificação de UBS (BICALHO, 2012). Caso o terreno no qual se encontra a UBS seja do município ou cedido por outro ente federativo, com metragem superior a 153,24 m² e devidamente documentado, será possível solicitar, em caso de reforma, uma gama de serviços cobertos no pelo Requalifica UBS: demolições e retiradas, infraestrutura, estrutura, alvenaria, cobertura, esquadrias, instalações hidrossanitárias, instalações elétricas, rede lógica, instalações especiais, pisos, revestimentos, vidros, pinturas e limpeza de obra (BRASIL, 2013c). Para que um município seja contemplado com recursos para construção ou melhoria das Unidades Básicas de Saúde, os valores deverão constar no Orçamento Geral da União por meio de: Recurso de Programa: é a dotação orçamentária na qual as entidades públicas e privadas têm a iniciativa de cadastrar propostas de projetos mediante programas previamente elencados pelo órgão público concedente. Os recursos de programação são executados conforme o planejamento da política/programa e disponibilidade orçamentária. Recurso de Emenda Parlamentar: é a dotação orçamentária na qual o Poder Legislativo pode participar e influir no Orçamento Geral da União com vistas a aperfeiçoar as propostas encaminhadas pelo Poder Executivo. O Ministério da Saúde realizará o processamento das emendas de acordo com a legislação vigente (BRASIL, 2019, p. 22, grifo nosso). 101 Lembramos ainda que todos os projetos de construção, ampliação e reforma deestabelecimentos de saúde, no país, devem passar por análise do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, bem como vistoria e inspeções recorrentes enquanto prestadores de serviços de assistência à saúde. Todos os projetos básicos de arquitetura apresentados deverão conter as plantas baixas, cortes e fachadas, com escalas não menores que 1:100, exceto as plantas de locação, de situação e de cobertura, que podem ter a escala definida pelo autor do projeto ou por legislação local pertinente; nomenclatura em todos os ambientes, todas as dimensões, alocação de louças sanitárias e bancadas, posição dos leitos (quando houver), locação dos equipamentos não portáteis médico-assistenciais e de infraestrutura, equipamentos de geração de água quente e vapor, equipamentos de geração de energia elétrica regular e de emergência, equipamentos de fornecimento ou geração de gases medicinais, equipamentos de telefonia e dados e equipamentos de climatização, locais para armazenamento e de tratamento (quando houver) dos resíduos de serviço de saúde (BRASIL, 2011b). • Requalifica UBS: Manual Instrutivo: https://bit.ly/3sNb9bQ. • Requalifica UBS: Respostas às Perguntas mais Frequentes: http://189.28.128.100/ dab/docs/portaldab/publicacoes/requalificaubs_faq.pdf. FONTE: As autoras DICA 102 4 PROGRAMA NACIONAL DE MELHORIA DO ACESSO E DA QUALIDADE DA ATENÇÃO BÁSICA Quando desejamos analisar qualquer sistema de saúde é importante entendermos quais são as bases de sua estruturação, funcionamento, articulação institucional, financiamento e a percepção que a população tem dele. A rede de saúde brasileira teve seu foco alterado após a criação do SUS, que antes focava numa entrega desigual de procedimentos médicos e exames diagnósticos para a priorização da atenção primária e todo o arcabouço que envolve o cumprimento do dever do Estado de prover saúde para todos (AMORIM et al., 2013). Em janeiro de 2011, iniciaram discussões, a nível federal, sobre de que forma o Ministério da Saúde poderia trabalhar a priorização da Atenção Básica (AB), surgindo, assim, diversos programas. Durante os debates para operacionalização deste projeto obteve-se o levantamento de alguns desafios que deveriam ser enfrentados dentro da AB por meio de definição de ações, estes foram: • financiamento insuficiente da atenção básica; • infraestrutura das UBS inadequada; • baixa informatização dos serviços e pouco uso das informações disponíveis para a tomada de decisões na gestão e a atenção à saúde; • necessidade de ampliar o acesso, reduzindo tempos de espera e garantindo atenção, em especial, para grupos mais vulneráveis; • necessidade de melhorar a qualidade dos serviços incluindo acolhimento, resolubilidade e longitudinalidade do cuidado; • pouca atuação na promoção da saúde e no desenvolvimento de ações intersetoriais; • desafio de avançar na mudança do modelo de atenção e na mudança de modelo e qualificação da gestão; • inadequadas condições e relações de trabalho, mercado de trabalho predatório, déficit de provimento de profissionais e contexto de baixo investimento nos trabalhadores; • necessidade de contar com profissionais preparados, motivados e com formação específica para atuação na atenção básica; • importância de ampliar a legitimidade da atenção básica junto aos usuários e de estimular a participação da sociedade (PINTO; SOUSA; FERLA, 2014, p. 360). Diante desse cenário, surge, então, o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), para realizar uma evolução nos aspectos de funcionamento das UBS, ampliando o acesso e qualificando a gestão da AB. O PMAQ-AB consegue nos ajudar a compreender, de forma ampla, a atuação da atenção primária e das Equipes de Saúde da Família, pois seus instrumentos coletam dados da estrutura e condições de funcionamento das UBS, acesso e qualidade da atenção, incluindo a organização do processo de trabalho, coordenação e continuidade do cuidado na rede; e acesso e utilização para diversas necessidades, participação e satisfação do usuário (FAUSTO et al., 2014). 103 Atualmente, o PMAQ-AB é entendido com a principal ferramenta para análise da AB no Brasil, enquanto aumenta o acesso e a qualidade dos serviços. Mesmo que os resultados encontrados não produzam mudanças instantâneas, são esses dados que poderão nortear as ações futuras, afinal, a construção e proteção do SUS é uma tarefa realizada por várias mãos, além de todo esse movimento fortalecer a cultura de avaliação e melhoria contínua da AB (BOUSQUAT et al., 2017) No desenvolvimento do trabalho realizado pelo PMAQ-AB, encontram-se vários desafios, como a precariedade das estruturas físicas das UBS, que, por vezes, funcionam em situação irregular e com ambiência não acolhedora; condições de trabalho insalubres, qualificação insuficiente para contemplar a população de forma resolutiva e clareza nas metas e resultados almejados pela gestão pública; comprometimento do vínculo com a comunidade pela rotatividade de profissionais; gestão que trabalha de forma tímida no acompanhamento de qualidade; baixa integração entre as equipes e integralidade de práticas e financiamento insuficiente com credenciamento de ESF independentemente dos resultados alcançados por elas (BRASIL, 2015b). O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica está em seu terceiro ciclo e seu planejamento foi baseado em quatro fases interdependentes (BRASIL, 2017c): • Adesão e contratualização: nesta fase, o município ao qual pertencem as Equipes de Saúde da Família, Equipes de Saúde Bucal e Núcleos de Apoio à Saúde da Família, de forma voluntária, faz a (re)contratualização junto ao Ministério da Saúde que homologa as unidades que serão verificadas in loco para avaliação da gestão, da UBS e da equipe. • Certificação: neste momento, ocorre o reconhecimento dos esforços dos gestores para a melhoria do acesso e qualidade da AB, ou seja, as equipes serão certificadas conforme a avaliação externa (aplicação de instrumento de avaliação in loco por entrevistadores capacitados por instituições de ensino e/ou pesquisa, verificando as evidências de padrões gerais, essenciais e estratégicos), verificação da realização de autoavaliação dos profissionais das equipes e avaliação de desempenho do conjunto de indicadores contratualizados junto ao Ministério. • Recontratualização: a última fase consiste na pactuação dos Municípios no alcance de padrões e indicadores de qualidade. Sendo, os resultados encontrados, uma fonte de esclarecimento sobre onde estamos e onde ansiamos chegar, identificando tendências e fazendo ajuste de forma que os resultados sejam comparáveis mesmo dentro de diferentes realidades, além do acompanhamento da evolução da equipe. 104 FIGURA 15 – FASES DO 3° CICLO DO PROGRAMA NACIONAL DE MELHORIA DO ACESSO E DA QUALIDADE DA ATENÇÃO BÁSICA FONTE: Brasil (2017c, p. 15) Conforme a Política Nacional de Atenção Básica, o gerente de AB tem o papel de aprimorar e qualificar os processos de trabalho da UBS, fortalecendo os serviços prestados pelos profissionais de saúde para uma população por meio de conhecimentos técnicos e gerenciais. Sendo, ainda, sua responsabilidade qualificar a infraestrutura e insumos, além de usar o recurso público de forma racional (BRASIL, 2017c). Através de ferramentas construídas no decorrer dos anos pelo poder executivo, foi possível questionar e problematizar a capacidade dos gestores municipais na gestão de políticas públicas em meio à realidade de subfinanciamento do SUS. E, nesse contexto, a descentralização permitiu que fosse ampliada a transferências de recursos e que os municípios tivessem autonomia sobre estratégias ajustadas ao seu município, entretanto, deve haver clareza sobre os papeis de cada esfera de governo com regulação e monitoramento por meio de avaliações regulares dos resultados alcançados (PINAFO; CARVALHO; NUNES, 2016) 105 ANÁLISE DA ESTRUTURA FÍSICA DAS UNIDADES BÁSICASDE SAÚDE NO BRASIL Pauline Cristine da Silva Cavalcanti Aristides Vitorino de Oliveira Neto Lariça Emiliana da Silva Maria Fátima de Sousa O presente estudo busca analisar a estrutura física das UBSs com base no conjunto de ambientes recomendados no Manual de Estrutura Física das UBSs do MS. Para isso, será realizada a caracterização destas, considerando cada ambiente do manual e a análise da quantidade de ambientes presentes nas UBSs, segundo o porte populacional dos municípios brasileiros e a região do país. Uma dificuldade observada na realização deste estudo está relacionada à baixa quantidade de pesquisas disponíveis para embasar a discussão e a comparação dos resultados. Além disso, os dados do Censo das UBSs e da avaliação do PMAQ-AB permitem diversos tipos de análises e evidenciam muitos aspectos interessantes da estrutura das unidades de saúde da AB no Brasil. Este estudo não pretende exaurir as possibilidades de análise, mas sim contribuir para o debate do tema. • Os ambientes que apresentaram redução nas UBSs, em todos os portes populacionais, do 1º para o 2º ciclo, foram o banheiro para funcionários e o consultório. A sala de armazenamento temporário de resíduos (expurgo) sofreu redução em quatro portes populacionais de um ciclo para o outro, apenas no terceiro porte houve um aumento pouco relevante. Todos os outros sete ambientes mostraram aumento nas UBSs, de um ciclo para o outro. • Em relação ao consultório, verificou-se que esse espaço diminuiu em todos os portes populacionais. A maior redução foi observada no porte de 50.001 até 100.000 e a menor, no porte de mais 500 mil habitantes. • A sala de nebulização (21,4%) foi o ambiente com maior variação nos resultados, considerando-se o porte populacional. O contrário ocorreu com consultório, com apenas 1% de variação. Isso significa que, mesmo tendo sofrido redução, o consultório ainda é o espaço que está mais presente nas UBSs, seja por porte populacional ou por ciclo do PMAQ-AB. • O consultório odontológico aumentou em todos os portes populacionais, mas o crescimento foi maior no 1º porte populacional e menor no último. A mesma situação foi observada para a sala de curativos/procedimentos. Para esses casos, quanto LEITURA COMPLEMENTAR 106 maior era o porte populacional, menos consultório odontológico e sala de curativos/ procedimentos havia nas UBSs. • Houve também crescimento do percentual de sala de nebulização em todos os portes populacionais, mas o aumento foi maior no 2º porte (mais que dobrou em relação ao valor verificado na última faixa). • Cresceu, ainda, a quantidade de UBSs com de sala de vacina e sala de reunião e atividades educativas em todos os portes populacionais. No entanto, o aumento foi menor na faixa de mais de 500 mil habitantes. • Os portes populacionais 2 e 3 apresentaram aumento de sala de recepção e espera, sala de curativos/procedimentos, sala de vacina, sala de nebulização; e sala de armazenamento temporário de resíduos (expurgo), sanitários, sala de reunião e atividades educativas, sala de vacina, respectivamente. • Cinco ambientes (consultório odontológico, sala de recepção e espera, sala de vacina, sala de reunião e atividades educativas, sala de nebulização) mostraram menor aumento no porte 6. Além disso, o último porte também apresentou maior redução de sala de armazenamento temporário de resíduos (expurgo), cerca de 17 vezes maior do que a média nacional. A respeito da quantidade de ambientes nas UBSs, por porte populacional: No que se refere à adequação das UBSs com base na quantidade de ambientes presentes por porte populacional, nota-se, que, do 1º para o 2º ciclo, as UBSs com uma três ambientes diminuíram no Brasil e nos portes populacionais. Sendo que a maior redução ocorreu nos três primeiros portes. Com relação às UBSs que possuem consultório odontológico, aconteceu o mesmo, e os resultados mostram que quanto maior o porte populacional, menor a redução de unidades com um a três ambientes. Do 1º para o 2º ciclo, as UBSs com quatro a seis ambientes também reduziram em todos os portes e no Brasil. A diminuição foi verificada com mais intensidade nos portes 3 e 4. No caso dessas UBSs que possuem o consultório odontológico, a redução foi maior nos portes 3 e 4 e menor no último porte, em que o resultado foi cerca de sete vezes menor que o do Brasil. As UBSs com sete a nove ambientes e as com todos os ambientes (nove ou dez) cresceram em todos os portes e no Brasil, de um ciclo para o outro. O maior aumento ocorreu nos portes 2 e 3 e o menor aumento, no último porte, que foi cerca de seis vezes menor que o resultado para o Brasil. O mesmo pode ser visto para as unidades com consultório odontológico. A diferença foi que, para estas, o menor aumento foi no último porte, o qual também foi cerca de seis vezes menor que o do Brasil. De um ciclo para o outro, as UBSs que possuem todos os nove ambientes (exceto consultório odontológico) recomendados aumentaram nos portes 1, 2, 3 e 4 mais que o resultado nacional; porém, quanto maior o porte, menor foi o aumento. As unidades que possuem consultório odontológico aumentaram em todos os portes e no Brasil. No porte 6, o aumento foi duas vezes menor que o nacional. Assim, quanto maior o porte, menor o aumento de UBSs com todos os ambientes. 107 Acerca das características estruturais das UBSs por região do país: • Metade dos ambientes recomendados no Manual de Estrutura Física das UBSs aumentou em todas as regiões do país, são eles: consultório odontológico, sala de curativos/ procedimentos, sala de vacina, sala de nebulização e sanitários. • Assim como ocorreu com os portes populacionais, os resultados mostram que o consultório também reduziu nas UBSs, em todas as regiões do país, porém a maior redução foi no Norte e a menor redução foi no Sudeste. • Os ambientes que os resultados mais variaram de um ciclo para o outro, considerando as regiões do país, foram os sanitários e a sala de nebulização. Os espaços que menos sofreram variação foram o consultório e o banheiro para funcionários. • Em todas as regiões, o consultório odontológico e a sala de nebulização apresentaram aumentos significativos. • Na região Sul, houve maior aumento em relação à sala de nebulização, ao consultório odontológico, à sala de armazenamento temporário de resíduos (expurgo) e ao banheiro para funcionários. • Na região Nordeste, observaram-se maiores aumentos de sala de vacina, sala de curativos/procedimentos e sala de reunião e atividades educativas. • No norte do país aumentou o número de os sanitários e de salas de recepção e espera nas UBSs. • A maior parte dos ambientes que foram reduzidos nas UBSs está no Centro-Oeste: sala de armazenamento temporário de resíduos (expurgo), consultório e sala de recepção e espera. • O Sudeste, comparando os resultados gerais com os de outras regiões do país, não apresentou destaque para um ou para outro ambiente específico. Nessa região, em particular, houve aumento importante de UBSs com consultório odontológico e sala de nebulização; e maior redução de UBSs com sanitários e salas de reunião e atividades educativas, de um ciclo para o outro. O percentual de adequação das UBSs segundo a quantidade de ambientes presentes por região do país. Observou-se que as UBSs com uma três ambientes e quatro a seis ambientes diminuíram em todas as regiões do país e nacionalmente, do primeiro para o segundo ciclo do PMAQ-AB. Os resultados revelam que a redução foi mais intensa nas regiões Norte e Nordeste, com percentuais acima do restante do Brasil. Esses tipos de UBS, com consultório odontológico, seguiram o mesmo padrão nas regiões e no Brasil. As UBSs com sete a nove ambientes e as que possuem os nove ambientes aumentaram em todas as regiões do país e no Brasil, de um ciclo para o outro, especialmente no Norte e no Nordeste. Destaca-se que as UBSs que têm todos os ambientes recomendados pelo MS estão principalmente nosul do país, que apresentou aumento pelo menos três vezes maior que o nacional. Ainda sobre essas unidades, mas que possuem o consultório odontológico, apenas na região Centro-Oeste não houve crescimento, e a região Sul, mais uma vez, desponta com crescimento que alcançou mais que o dobro do verificado para o Brasil. 108 A maior parte dos ambientes avaliados aumentou nas UBSs do Brasil. No geral, observou-se que as UBSs com menos ambientes reduziram-se no país (nos portes e nas regiões) e, consequentemente, as unidades mais adequadas foram aumentando. Um bom exemplo é que as unidades com menos ambientes foram diminuindo no Norte e no Nordeste, e, ao mesmo tempo, foram gradativamente aumentando as que possuem mais ambientes. Esse aumento também houve em outras regiões do país; no entanto, pode ter sido menor porque já possuíam uma certa quantidade de UBSs mais adequadas, ou, ainda, porque o investimento nesse sentido foi menos explorado. No Brasil, apesar de não passar de 15% o percentual de UBSs que têm todos os ambientes (nove ou dez), vimos que estas aumentaram, respectivamente, uma, 1, 8 e três vezes de um ciclo para o outro. A sala de nebulização e o sanitário foram os ambientes que mais passaram a existir nas UBSs, apresentando maiores aumentos percentuais do 1º para o 2º ciclo. Entretanto, o ambiente mais encontrado nas UBSs foi o consultório, em ambos os ciclos, mesmo com os resultados mostrando que houve redução desse espaço de um ciclo para o outro; na sequência, destacou-se a sala de recepção e espera. A redução de consultório nas UBSs, mesmo que pequena, é um sinal de alerta, pois é um espaço fundamental para desenvolvimento das atividades clínicas que também são importantes para melhoria do acesso e da resolutividade da AB. Como esse estudo não avalia a quantidade de consultórios por UBSs, mas sim a sua existência, é importante ressaltar que a quantidade de consultórios deve estar adequada aos profissionais existentes nas equipes, conforme destaca o Manual de Estrutura Física. Este estudo mostra que a adequação da estrutura física das UBSs desponta como uma questão central na agenda de gestores, trabalhadores de saúde e usuários. Os resultados revelam a ausência de diversos ambientes básicos e as precárias condições de funcionamento das unidades de saúde, o que dificulta a realização das ações de saúde pelas e AB e transmite uma imagem à população de serviço de baixa qualidade. Além disso, permite refletir sobre algumas questões importantes, que podem ser alvo de novos estudos do tema. Será que uma UBS com poucos ambientes pode proporcionar uma AB de qualidade? Quais seriam os ambientes mínimos? São estes recomendados no manual do MS ou haveria outros? Com que base é definida a estrutura adequada de um prédio em que funcionará um serviço de AB? Está se relacionando o que a equipe oferta ao que é preciso de estrutura na unidade? O governo federal tem se esforçado no sentido de melhorar a infraestrutura das UBSs, por meio do repasse de recursos destinadas a obras de reforma, ampliação, construção, a partir do programa Requalifica UBS. Apesar de reconhecermos iniciativas como o requalifica, de abrangência nacional e com considerável volume de recursos envolvidos, podemos afirmar que há um abismo enorme entre o que foi encontrado na pesquisa e o que está definido para a estrutura física das UBSs no Manual de Estrutura Física das UBSs. 109 Contudo, é fundamental o reconhecimento da situação das UBSs no país e a implementação e articulação de diferentes ações com maior investimento tripartite para induzir mais rapidamente um processo de melhoria das unidades de saúde da AB. Para isso, é importante a concretização de compromissos entre os governos federal, estadual e municipal para o desenvolvimento da AB. A saúde no Brasil é um projeto que envolve todos os níveis políticos, não só o federal, e as decisões finais são dos políticos dos municípios, o que pode ser uma das vantagens (e desvantagens) da descentralização. Isso reforça a necessidade de os gestores continuarem investindo nas unidades de saúde, negociando de forma tripartite os recursos e definindo as prioridades de adequação, sobretudo em função dos programas e políticas atuais da AB. Além de iniciativas que visam facilitar a execução da política em parceria com os gestores municipais, é importante a incorporação do monitoramento e avaliação como um componente importante para a tomada de decisão. FONTE: CAVALCANTI, P. C. da S. et al. Análise da estrutura física das unidades básicas de saúde no Bra- sil. In: GOMES, L. B.; BARBOSA, M. G.; FERLA, A. A. Atenção básica: olhares a partir do programa nacional de melhoria do acesso e da qualidade (PMAQ-AB). Porto Alegre: Rede Unida, 2016. p. 127-160. Disponível em: http://historico.redeunida.org.br/editora/biblioteca-digital/serie-atencao-basica-e-educacao-na-saude/ atencao-basica-olhares-a-partir-do-programa-nacional-de-melhoria-do-acesso-e-da-qualidade-2013-pma- q-ab-pdf/view. Acesso em: 6 out. 2020. 110 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O financiamento do SUS ainda é um desafio, e aspectos desse tema pressupõem que os recursos investidos tenham a capacidade de sanar todas as demandas de saúde da população, ao passo que fazem uso racional por meio de planejamento estratégico. • O Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos em Saúde (SOMASUS) se trata de um sistema desenvolvido pelo Ministério da Saúde para auxiliar todos os níveis de hierárquicos (município, estado e união) na elaboração e execução de projetos de investimento em infraestrutura de forma qualificada. • No SOMASUS, são disponibilizadas as configurações requeridas nos mais diversos estabelecimentos de saúde, além de conteúdo para aquisição, instalação e operacionalização de equipamentos médicos-assistenciais. • Quando estados e municípios desejam pleitear recursos financeiros para obras de construção, ampliação e reforma junto ao Governo Federal, é necessário o cadastramento do projeto no Sistema de Monitoramento de Obras (SISMOB), plataforma na qual é realizado o cadastro e análise da proposta de obra ou reforma, além do monitoramento de sua execução. • No ano de 2011, com o intuito de criar incentivo financeiro para reforma, ampliação e a construção de Unidade Básica de Saúde, de modo a ofertar as condições necessárias para promoção de saúde com qualidade dentro das UBS, o Ministério da Saúde lançou o programa de Requalificação de UBS. • O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ- AB) nos ajuda a compreender, de forma ampla, a atuação da atenção primária e das Equipes de Saúde da Família, pois seus instrumentos coletam dados da estrutura e condições de funcionamento das UBS, acesso e qualidade da atenção, incluindo a organização do processo de trabalho, coordenação e continuidade do cuidado na rede; e acesso e utilização para diversas necessidades, participação e satisfação do usuário. 111 1 O financiamento do Sistema Único de Saúde apresenta algumas especificidades em relação a realização de construções, ampliações e reformas, com base no conteúdo trabalhado no Tópico 3, classifique em verdadeiras ou falsas as questões a seguir: ( ) O SOMASUS trata-se de um sistema desenvolvido pela Secretaria Executiva do Ministério da Saúde para auxiliar todos as Unidades Básicas de Saúde na elaboração e execução de projetos de investimento em infraestrutura. ( ) O gerente de Atenção Básica tem o papel de aprimorar e qualificar os processos de trabalho da UBS, fortalecendo os serviços prestados pelos profissionais de saúde para uma população por meio de conhecimentos técnicos e gerenciais. É sua responsabilidade qualificar a infraestrutura e insumos, além de usar o recurso público de forma racional. ( ) Na segunda fase do PMAQ-AB (certificação), o município, de forma voluntária, faz a (re)contratualização junto ao Ministérioda Saúde. ( ) Na fase de recontratualização do PMAQ-AB, os Municípios pactuam resultados a serem alcançados conforme os padrões de qualidade estabelecidos. ( ) O PMAQ-AB foi criado para melhorar o funcionamento das UBS, ampliando o acesso e qualificando a gestão da Atenção Básica. ( ) Atualmente, o SOMASUS apresenta quatro volumes: atendimento ambulatorial e atendimento imediato, internação e apoio ao diagnóstico e terapia (reabilitação), apoio ao diagnóstico e terapia (imagenologia) e apoio ao diagnóstico e à terapia: anatomia patológica, hemoterapia e hematologia, medicina nuclear e patologia clínica. ( ) Para que um município seja contemplado com recursos para construção ou melhoria das Unidades Básicas de Saúde, os valores deverão constar no Orçamento Geral da União por meio de Emenda Parlamentar. ( ) Além de garantir a segurança do paciente, as unidades têm que se organizar de forma a promover um espaço humanizado e preocupado com as necessidades dos usuários, surgindo, assim, a necessidade de construção de conhecimentos sobre a adequação e construção de novos ambientes. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – F – V – V – F – V – F. b) ( ) V – V – F – F – V – F – V – V. c) ( ) F – V – F – V – V – V – F – V. d) ( ) V – V – F – F – V – F – V – F. e) ( ) V – F – F – V – V – F – F – F. AUTOATIVIDADE https://www.saude.gov.br/images/pdf/2018/julho/06/SOMASUS-sistema-apoio-elaboracao-vol3.pdf https://www.saude.gov.br/images/pdf/2018/julho/09/somaus-apoio-diagnostico-terapia-anatomia-somasus-vol4.pdf https://www.saude.gov.br/images/pdf/2018/julho/09/somaus-apoio-diagnostico-terapia-anatomia-somasus-vol4.pdf https://www.saude.gov.br/images/pdf/2018/julho/09/somaus-apoio-diagnostico-terapia-anatomia-somasus-vol4.pdf 112 2 Com base na Programação Arquitetônica de Unidades Funcionais de Saúde: Volume 1 - Atendimento Ambulatorial e Atendimento Imediato (disponível em: https://bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/programacao_arquitetonica_somasus_v1.pdf). Considerando que você seja o gestor de uma UBS, construa um rascunho do layout de uma sala de atendimento individualizado, sem esquecer os equipamentos necessários para o adequado funcionamento. Você pode, ainda, se inspirar em algum consultório de Unidade Básica de Saúde já visitado. 3 Qual o papel do gerente de Atenção Básica em relação à estrutura física e qualidade do atendimento? 4 Correlacione as fases e atividades realizadas no 3º Ciclo do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica. (1) Adesão e contratualização. (2) Certificação. (3) Recontratualização. ( ) Realização de avaliação externa de padrões gerais, essenciais e estratégicos, por meio de aplicação in loco de instrumento por entrevistadores, verificação da realização de autoavaliação pelos profissionais e acompanhamento de indicadores contratualizados junto ao Ministério da Saúde ( ) Pactuação dos Municípios no alcance de padrões e indicadores de qualidade. Sendo os resultados encontrados uma fonte de esclarecimento sobre onde estamos e onde planejamos chegar, identificando tendências e fazendo ajuste de forma que os resultados sejam comparáveis mesmo dentro de diferentes realidades. ( ) Nessa fase, o município, ao qual pertencem as Equipes de Saúde da Família, Equipes de Saúde Bucal e Núcleos de Apoio à Saúde da Família, de forma voluntária, formaliza, junto ao Ministério da Saúde, o desejo em ser homologado para avaliação in loco da UBS e equipes. 5 Para a liberação de recursos e aprovação de projetos de infraestrutura na plataforma SISMOB, o gestor de Atenção Básica deve contemplar, em sua proposta, algumas questões, exceto: a) ( ) Nos casos de ampliação ou reforma o gestor deverá informar quais ambientes serão contemplados e o resultado esperado b) ( ) Responder ao questionário eletrônico sobre o atendimento dos requisitos estabelecidos na política ou programa a qual a obra pertence e a capacidade técnica de execução, gestão e manutenção c) ( ) Quando o projeto pleitear construção de UBS, após análise dos dados inseridos na plataforma o sistema informará a configuração mínima de ambiente desejada para aquele tipo de unidade. 113 d) ( ) A obra deve estar inserida na programação anual e discutidas e pactuadas com a Comissão Intergestores Bipartite, com o levantamento dos recursos necessários e as responsabilidades de cada esfera sobre esse custeio. e) ( ) Apenas nos projetos de construção é realizado o acompanhamento na plataforma durante a realização da obra, nos casos de reforma e ampliação, somente as evidências de conclusão da obra serão encaminhadas. 114 REFERÊNCIAS ALMEIDA, E. R. de et al. Política Nacional de Atenção Básica no Brasil: uma análise do processo de revisão (2015-2017). Revista Panamericana de Salud Pública, Washington, v. 42, n. 1, p. 1-8, 2018. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/ handle/10665.2/49559/v42e1802018.pdf?sequence=3&isAllowed=y. Acesso em: 3 out. 2020. ALMEIDA, J. M. C. de. Política de saúde mental no Brasil: o que está em jogo nas mudanças em curso. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 35, n. 11, p. 1-6, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csp/v35n11/1678-4464-csp-35- 11-e00129519.pdf. Acesso em: 3 out. 2020. AMARAL, F. L. J. dos S. et al. Acessibilidade de pessoas com deficiência ou restrição permanente de mobilidade ao SUS. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 7, p. 1833-1840, 2012. AMORIM, A. S.; PINTO JUNIOR, V. L.; SHIMIZU, H. E. O desafio da gestão de equipamentos médico-hospitalares no Sistema Único de Saúde. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 39, n. 105, p. 350-362, 2015. 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Havana: Centro Nacional de Información de Ciencias Médicas, 2018. 122 123 HUMANIZAÇÃO DOS AMBIENTES DAS UNIDADES DE SAÚDE UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer as bases históricas e socioculturais da humanização e sua aplicabilidade na área de saúde; • entender os aspectos que norteiam a cultura organizacional humanizada; • aplicar os princípios e as diretrizes da Política Nacional de Humanização em contextos diversos; • traçar estratégias para superar os desafios para a efetivação da assistência humanizada. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – BASES CONCEITUAIS DA HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE TÓPICO 2 – EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO TÓPICO 3 – HUMANIZAÇÃO E GESTÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 124 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 125 TÓPICO 1 — BASES CONCEITUAIS DA HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Através da revolução tecnológica e das transformações socioeconômicas advindas do século passado, foi percebida a modificação dos padrões epidemiológicos da população mundial, que, anteriormente, apresentava um perfil de doenças infectocontagiosas e passou a predominar as crônico-degenerativas, que, em geral, necessitam de um suporte assistencial mais complexo (MICHELAN; SPIRI, 2018). O Sistema Único de Saúde, através da Lei n° 8.080, e fortalecido pelo Art. 198 da Constituição Federal de 1988, tem seus princípios doutrinários baseados na universalidade, equidade e integralidade. Esses princípios são os pilares que defendem o dever do Estado no provimento à assistência em qualquer nível para todo o cidadão, independentemente da origem ou características, da diminuição das desigualdades com investimentos intensos em populações mais vulneráveis e do atendimento de todas as necessidades relacionadas à saúde (BRASIL, 1990). A construção e a implantação de modelos assistenciais que garantam a promoção e a prevenção, além do tratamento e da reabilitação da saúde da população, são defendidas por meio do princípio da integralidade, o qual busca tornar a saúde mais do que ausência de doença, mas que provê valor social e cidadania (MEDEIROS et al., 2016). Acompanhando essas mudanças, foi possível observar a conscientização da população a respeito dos seus direitos e, consequentemente, houve um aumento da demanda de um cuidado de qualidade, apesar de nem sempre estarem claros, para o usuário, quais parâmetros devem medir a qualidade e a humanização do atendimento (MICHELAN; SPIRI, 2018). 2 HISTÓRIA DA HUMANIZAÇÃO Quando se reflete acerca dos aspectos que nos diferenciam dos animais, muitos antropólogos, no decorrer dos anos, discutiram as questões que vão além da materialidade. Considerando que o homem é um ser racional e social, que utilizou sua inteligência na construção de avanços tecnológicos e sociais, os homo sapiens podem ser explorados como uma parte excepcional da natureza (NEVES, 2015). 126 Nesse movimento de entendimento de quem somos e do que podemos fazer em relação ao ambiente no qual vivemos, a corrente filosófica do humanismo entende o homem como uma criatura singular e com liberdade, diferenciando-o dos demais animais que têm suas condições restritas na natureza. Um fator crucial para essa distinção é a possibilidade que temos de moldar nossa identidade e moral, entendendo que a escolha é o que nos permite ser livres (NEVES, 2015). O humanismo surgiu na Grécia antiga, mas esteve presente e se remodelando em vários outros momentos históricos, como no Renascimento e Iluminismo. Quando Sócrates iniciou seus questionamentos da real existência dos deuses e deu atenção aos problemas de impacto direto presentes na vida dos homens, foi condenado à morte. Dentre as acusações feitas contra o filósofo, uma era o seu poder de corrupção perante os jovens, por fazê-los refletirem acerca da vida e do bem e do mal (DESLANDES, 2006). Na Roma antiga, Epicteto, ao estudar a ética, baseava-se nas ideias socráticas e na filosofia estoica, esta que busca colocar a dignidade humana como um ponto crucial para o entendimento das questões sociais, acreditando que o homem era o responsável pela cumplicidade e compaixão nas relações interpessoais, e não mais os deuses, como era entendido pela maioria das pessoas da época. Os estoicos acreditavam, ainda, que era inválida a ideia da superioridade, seja ela de bases familiares ou política, e seus princípios e práticas estavam embasados no cuidado de si e dos outros (ROCHA, 2015). O humanismo busca valorizar o homem acima de tudo, não deixando de se importar com a generosidade, compaixão e valorização dos atributos e feitos humanos. No fim do século XIV, o Renascimento foi propagado pela Europa, quebrando as bases da Idade Média, quando a Igreja Católica determinava os pensamentos e ações aceitáveis socialmente, substituindo o teocentrismo pelo antropocentrismo, marcado pela liberdade de escolha, elevação da racionalidade e protagonismo na construção do futuro (CERVO, 2016). O século XVIII trouxe o fortalecimento do estado laico no mundo moderno, propiciando melhores condições de vida, produção e mudanças nas concepções de mundo, que, naquele momento, passaram a ter um apelo mais racional e científico. As revoluções americana, francesa e industrial foram determinantes nessa mudança de paradigma, pois as ideias desses movimentos históricos puderam se propagar em um número maior de pessoas através da imprensa, dos livros e panfletos. Os conceitos de Estado, indivíduo e economia se transformaram à medida que a burguesia se tornava mais participativa nas discussões sociais (SILVA, 2018). O crescimento do capitalismo na era pós-industrial levantou novas questões, porque, à medida que as tecnologias se desenvolviam com maior rapidez, ocorreram mudanças profundas no modo de vida e pensamento das pessoas, nas quais a problemática não está mais sobre o homem no centro de tudo ou o uso da razão, mas o 127 pensamento iluminista se fortaleceu ao elevar o debate para além do antropocentrismo, ao valorizar a ciência e desvalorizar emoções, sentimentos e subjetividades (DESLANDES, 2006). Em todo ser humano,independentemente da época que tenha vivido, existe o desejo genuíno de uma vida plena e cheia de felicidade, cabendo, a cada um, o entendimento da melhor forma de alcançar esse objetivo. As desesperanças e o distanciamento social, já experimentado em nosso tempo, antes mesmo de uma pandemia mundial, suscitaram sentimentos individualistas e narcisistas, baseados no consumo e desinteresse pelos fenômenos sociais que acontecem por meio das subjetividades de uma comunidade (CERVO, 2016). Ao entrar no século XXI, a sociedade aumentou suas demandas acerca do humanismo, requerendo uma relação mais solidária com a natureza e o perfeito equilíbrio entre razão e emoção. Para isso, é necessário, cada vez mais, humanizar a ciência e as técnicas (DESLANDES, 2006). Após todas essas discussões, Santos (2019) ressalta que uma pergunta permeia o movimento humanista em todas as épocas no qual ele se fez presente, que seria: quais barreiras o ser humano enfrenta para se desenvolver por completo e, de fato, vivenciar a dignidade? O ofício da medicina, utilizado como instrumento da diminuição das tensões sociais e neutralizador das desavenças entre trabalhadores, intermediadas por políticas públicas ou instituições, era uma das ideias defendidas por Boldanski. Em seus estudos para entender os conceitos de saúde de mulheres da periferia de Paris, ele notou que havia a normatização de uma prática médica que atuava na perspectiva de regular a vida privada dos trabalhadores com influências político-ideológicas, além do aumento do consumo de bens e serviços. Essas ideias se baseiam na concepção de um atendimento que ignora o enfermo, além da pesquisa científica, que utiliza um corpo como “objeto” de estudo e de negócio, pois, assim como hoje, geralmente, produtos da área médica apresentam valores elevados (BRAVO, 2014). Luc Boltanski é um sociólogo que nasceu em 1940, em Paris, e foi reconhecido como um expoente e o fundador do Grupo de Sociologia, Política e Moral na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), onde era professor. Seus trabalhos influenciaram não apenas a sociologia, mas a economia política e as histórias social e econômica. NOTA https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89cole_des_hautes_%C3%A9tudes_en_sciences_sociales 128 Por volta da década de 1980, os debates a respeito da humanização ganharam força na área de saúde, encorajados pela luta antimanicomial (reforma psiquiátrica) e movimentos feministas, estes que reivindicavam o parto humanizado e a garantia dos direitos reprodutivos. Houve, no Brasil, um aprofundamento das discussões do tema, que coincidiram com o período de redemocratização do país (VASCONCELOS et al., 2016). 3 A HUMANIZAÇÃO NO CONTEXTO DA SAÚDE A intolerância ao diferente nas relações pessoais, muitas vezes, revela a perda de princípios sociais e éticos que, agravada pelo narcisismo comum em nossos tempos, permite que o outro seja percebido como inimigo ou ameaça, naturalizando a violência na resolução de conflitos, haja vista a rapidez de respostas aos estímulos, além do pouco incentivo à reflexão acerca dos aspectos que favorecem a vida em sociedade (RIOS, 2009). A perda de valores humanos tem sido o tema central de diversas discussões e embates, apresentando uma realidade que barbariza o modo como lidamos com outros membros da sociedade. A tecnologia e o uso das redes sociais promovem o distanciamento entre as pessoas, que, na área da saúde, por todos os seus aspectos técnicos e científicos, pode, muitas vezes, inverter prioridades e colocar a dignidade e a individualidade em segundo plano (REIS, 2013). Conceituar a humanização é uma tarefa complexa, por esta apresentar diversos significados, mas seu entendimento deve caminhar de mãos dadas com a prática. Na saúde, a humanização pode ser entendida como a relação entre profissionais e usuários baseada no respeito, compreensão e valorização do protagonismo dos sujeitos, sempre refletindo acerca da ética e do laço humano envolvido. Outro prisma entende que esse movimento é intimamente ligado à qualidade da assistência, sem esquecer da valorização dos profissionais da saúde e da proteção aos direitos dos indivíduos (MOREIRA et al., 2015). Diversos autores buscam discutir o papel da humanização no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), levantando para além da relação entre trabalhadores e pacientes, mas discutindo as condições de trabalho, o modelo assistencial, a educação permanente dos profissionais, direito dos usuários e análise do processo de trabalho (MOREIRA et al., 2015). Ao integrar as relações no campo da saúde, defender o atendimento de qualidade e propiciar um ambiente favorável para o cuidado seguro, a humanização tem sido tema de diversos estudos, porém, as políticas públicas nem sempre demonstram clareza e aplicabilidade na área. Temos, então, um desafio para o SUS, que se trata de garantir o trabalho ético construído por meio do compartilhamento de ideias entre sujeitos, coletivos e analisadores sociais. 129 Os avanços advindos da aplicabilidade da humanização consideram o momento histórico e social em que vivemos sendo mais que uma luta entre o bem e o mal, mas aprofundam os vínculos dentro do plano de cuidados e dos processos relacionados à gestão (MONGIOVI et al., 2014). À primeira vista, o processo de humanização na saúde sugere a necessidade de profissionais sensíveis, além de um atendimento que acolha os usuários, ambicionando o bem-estar e felicidade, mas o tema se mostra muito mais complexo quando essas ações do campo imaginativo encontram a prática, e, inevitavelmente, demandam medidas passíveis de implementações (MACHADO; SABETZKI, 2017). A crença de que a humanização se restringe à relação entre profissionais da saúde, pacientes e familiares é limitante, pois, para a efetivação dessa prática, todos os ambientes da unidade de saúde devem assumir sua parcela de responsabilização, do porteiro ao profissional da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), da cordialidade ao preenchimento de um cadastro para dar uma má notícia. Além do fator humano, todas as condições ambientais interferem nas ações a serem desenvolvidas, além dos resultados. Nesse contexto, o gestor entra como uma figura importante para que, de fato, seja fornecido um cuidado de qualidade aos pacientes (RABAHI, 2018). Florence Nightingale, conhecida mundialmente como a precursora da enfermagem moderna, já no século XIX, iniciou seus estudos para a construção da teoria ambientalista, a qual entende o meio ambiente como um importante determinante no processo saúde-doença. Ela acreditava que a limpeza (normalmente precária nas instituições de saúde da época), iluminação e todo o entorno do paciente propiciavam as melhores condições para a ação da natureza na restauração da vitalidade (FREITAS et al., 2013). 130 FIGURA – FLORENCE NIGHTINGALE FONTE: <https://bit.ly/3MwSTey>. Acesso em: 6 out. 2020. O termo ambiência hospitalar se refere a todo o conceito utilizado no desenvolvimento de espaços físicos, sociais e relações interpessoais da assistência à saúde, que, por si só, gera acolhimento e resolutividade. Nos seus estudos, Ribeiro, Gomes e Thofehrn (2014) discutem a importância da ambiência e seus efeitos nas unidades de saúde: Através da construção da ambiência, é possível avançar qualitativamente no debate acerca da humanização, pois sua concepção pressupõe a valorização tanto das tecnologias médicas, que compõem o serviço de saúde, dos componentes estéticos ou sensíveis apreendidos pelos órgãos do sentido (como a luminosidade, os ruídos e a temperatura do ambiente), quanto da interação entre usuários, trabalhadores e gestores (RIBEIRO; GOMES; THOFEHRN, 2014, p. 531). Florence Nightingale (1820-1910), conhecida como mãe da enfermagem moderna, atuou como treinadora e líder das enfermeiras na Guerra da Criméia. Por meio das suas ideias inovadoras, reduziu a mortalidade dos soldados ingleses feridos de 40% para 2%. Desenvolveua teoria ambientalista, que se baseava na premissa de que os fatores ambientais (luminosidade, ruídos, temperatura etc.) tinham impacto direto no processo saúde-doença das pessoas. NOTA 131 Como já discutido anteriormente, a ambiência vai além do espaço físico, pois, por meio dela, é possível proporcionar encontros significantes aos sujeitos, além de viabilizar a humanização, com o apoio de uma estrutura adequada. É papel, das políticas públicas, fomentar a humanização nos espaços de saúde pela transformação dos modelos de gestão dentro dos sistemas de saúde. Inevitavelmente, precisará reconstruir as concepções e as relações entre usuários e trabalhadores de forma corresponsável (BESTETTI, 2014). O acolhimento é um importante facilitador do conforto experienciado pelo paciente, pois é comum, ao ser humano, a busca de um lugar de abrigo, seja ele físico ou emocional, aspecto que, através dos tempos, auxiliou na sobrevivência das pessoas e vitória no processo da seleção natural (BESTETTI, 2014). 4 CULTURA ORGANIZACIONAL E ATENDIMENTO HUMANIZADO Diversos estudos na área da administração têm se debruçado sobre a cultura organizacional para tentar compreendê-la, utilizando as mais diversas abordagens teóricas e metodológicas. Apesar de muitos pesquisadores dedicarem anos discutindo o tema, este ainda se mostra relevante para os gestores, em especial, quando se tenta traçar o real conceito e suas implicações dentro das instituições (MACHADO et al., 2016). Para Reis e Azevedo (2015, p. 54), a cultura organizacional pode ser entendida como “um conjunto de crenças e valores compartilhados pelos integrantes de uma empresa que influencia os comportamentos”. Com base nessa ideia, entendemos que os produtos reais advindos desse conjunto, como normas, hierarquias e mitos, ajudam a compor o sistema social mantido por uma instituição, e se desdobrarão em procedimentos e costumes que configurarão o processo de trabalho e a tomada de decisão (REIS; AZEVEDO, 2015). Tentando reconhecer quais os perfis que, comumente, as empresas apresentam de cultura organizacional, alguns autores as classificaram em quatro tipos (CRUZ; FERREIRA, 2012): As discussões a respeito da ambiência e do acolhimento no contexto de saúde brasileiro serão aprofundadas no Tópico 2 – Experiência Brasileira na Humanização do Atendimento. ESTUDOS FUTUROS 132 • Cultura de clã: comum em locais muito familiares onde existe compartilhamento subjetivo. Os líderes são vistos como mentores dos demais, demonstrando sensibilidade e preocupação com as pessoas. • Cultura hierárquica: instituições controladas e estruturadas, apresentam, com clareza, o papel de cada funcionário, definido por políticas e regras formais. Seus líderes, normalmente, são vistos como organizados e potencializadores da eficiência da equipe. • Cultura de adocracia: espaço de trabalho dinâmico e criativo onde as pessoas são encorajadas a se expor e a se arriscar em novas ideias. Profundamente ligados à inovação, os líderes dessa cultura são reconhecidos como pessoas que aceitam desafios e estão dispostos a correr riscos para se manter na vanguarda dos acontecimentos. • Cultura de mercado: profundamente orientada para resultados e conclusão dos trabalhos, é formada, geralmente, por indivíduos competitivos e líderes dirigentes e produtivos. Os ganhos, a reputação e o sucesso são preocupações comuns nas empresas com essa cultura. A cultura de uma organização determina a sustentabilidade das mudanças propostas. O gestor de unidades de assistência à saúde deve envolver os profissionais nos processos de melhoria, além de que, ao utilizar uma ideia de sucesso de outro local, deve adaptá-la aos princípios e contextos da sua realidade, avaliando as restrições e oportunidades disponíveis (WILLIS et al., 2016). Independentemente do perfil da instituição, a busca pela inovação tem tomado um papel de destaque, haja vista o avanço tecnológico, além das rápidas mudanças que a sociedade e as organizações experienciam. Podem surgir diversas concepções, dimensões e aplicabilidades, dependendo da abordagem, campo do saber ou atividade desenvolvida (BRUNO-FARIA; FONSECA, 2014). Na busca pela inovação e melhoria contínua, é possível observar que uma empresa pode fortalecer essas ações ou sufocar, pois a cultura organizacional permite unificar os comportamentos dos profissionais, além de definir como aquela comunidade lidará com o novo, se permitirá que iniciativas individuais e coletivas sejam fortalecidas e quais os comportamentos de risco surgirão a partir de um novo paradigma (BRUNO- FARIA; FONSECA, 2014). A autenticidade dos profissionais de uma empresa pode ser um fator facilitador na inovação, e tem se mostrado cada vez mais presente nos anseios dos trabalhadores, pois encaram sua individualidade como uma parte importante de quem são e o que almejam dentro e fora da instituição, assim como afirmam Reis e Azedo (2015, p. 50): A literatura (por exemplo, Mainiero e Sullivan, 2006; Weick, 1995) tem enfatizado a ideia de que as pessoas têm almejado, cada vez mais, apropriar-se da construção de suas trajetórias profissionais, tornando-se os principais agentes na definição dos seus rumos profissionais. A possibilidade de um “agir autêntico” no trabalho tem https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-69712015000600048&script=sci_arttext&tlng=pt#B26 https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-69712015000600048&script=sci_arttext&tlng=pt#B47 133 sido tratada como uma dimensão importante para a construção de carreiras que tenham maior significado e sentido para a própria pessoa e, também, para a articulação de carreiras “sem fronteiras”, isto é, carreiras que transcendem as fronteiras das organizações. O comportamento autêntico, ou autenticidade, envolve um modo de agir e de se expressar que é consistente com crenças e experiências pessoais (pensamentos, emoções etc.). Ao entendermos os fatores macro para a implantação de uma cultura humanizada dentro de uma instituição de saúde, é importante entender que diversos paradigmas serão ressignificados, em especial, o entendimento a respeito da violência. Internacionalmente, entende-se a violência como uma questão social e de saúde. Uma instituição que, muitas vezes, precisa lidar com as restrições econômicas e estruturais, depara-se, ainda, com o desafio de combater as práticas violentas. Profissionais e usuários relatam que as ações violentas não são do campo pessoal ou se apresentam de forma pontual, mas, pela recorrência, podem ser entendidas como institucionais, que se revelam por meio da negligência na prestação do cuidado, discriminação de qualquer ordem ou violência física (AZEREDO; SCHRAIBER, 2017). Um contraponto significativo para a violência institucional é a assistência humanizada, que proporciona acolhimento e mudança no paradigma da atenção à saúde. Para que seja possível essa mudança, independentemente do cenário, devem existir deliberações de ordem organizacional, por meio de políticas e protocolos (MOURA et al., 2014). A capacidade de falar e a prática da escuta ativa de todos os sujeitos auxiliam na contemplação das demandas biopsicossociais dos usuários e profissionais. Para que exista harmonia nas relações sociais, o diálogo é indispensável, especialmente, quando são entendidas essas conexões pelo prisma da Organização Mundial da Saúde (OMS) e sua definição abrangente (estado de completo bem-estar físico, mental e social, não meramente ausência de doença ou enfermidade). Nesse cenário, abandona-se o modelo exclusivamente biomédico e se busca um mais abrangente, que permita defender e dar voz aos vulneráveis, fornecendo as ferramentas necessárias para ultrapassar as barreiras encontradas (OLIVEIRA; CONCONE; SOUZA, 2016). Também conhecidos como modelos de atenção ou intervenção em saúde, os modelos assistenciais podem ser definidos como diversas combinações tecnológicas de finalidades ímpares que buscam resolver problemasde saúde de uma comunidade. Permitem que os serviços de saúde sejam organizados conforme o perfil epidemiológico e os riscos que os usuários estão expostos, porém, não se trata, apenas, de uma ferramenta que se restringe ao desenho assistencial ou técnicas empregadas, mas foca na produção das ações e como a instituição se organiza para atingir os objetivos propostos (FERTONANI et al., 2015). 134 Modificar o paradigma de um modelo assistencial que é focado no “anti” (antibióticos, guerra contra drogas, combate às desigualdades) para um “pro” (bem- estar, equilíbrio, integração), que busca interdependência e cooperação, deve ser entendido como um importante desafio de uma instituição que tem compromisso com a humanização. Um ponto-chave para o alcance dessa realidade são as práticas do ensinar e aprender, com os sujeitos, as possibilidades de futuro e as formas de viabilizá- lo, com menor enfoque nas especialidades e melhoria da escuta ativa (HEMINGWAY, 2012). 135 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A humanização tem bases na filosofia humanista que remonta da Grécia antiga, mas esteve em várias épocas, transformando-se com a sociedade. • Na saúde, a humanização pode ser entendida como a relação entre profissionais e usuários baseada no respeito, compreensão e valorização do protagonismo dos sujeitos, sempre refletindo acerca da ética e do laço humano envolvido. • Ambiência hospitalar é todo o conceito utilizado no desenvolvimento de espaços físicos, sociais e relações interpessoais da assistência à saúde. • A cultura de uma organização determina a sustentabilidade das mudanças propostas, e é importante que o gestor envolva os profissionais nos processos de melhoria. • Um contraponto significativo para a violência institucional é a assistência humanizada, que proporciona acolhimento e mudança no paradigma da atenção à saúde. 136 1 Você acredita que, atualmente, todos os modelos assistenciais das instituições de saúde estão baseados na humanização do atendimento? Se não, quais os sinais demonstram essa realidade? 2 Correlacione os termos e os conceitos apresentados nas colunas a seguir: (A) Humanismo. (B) Ambiência. (C) Humanização. (D) Cultura organizacional. (E) Modelos assistenciais. ( ) Na saúde, pode ser entendida como a relação entre profissionais e usuários baseada no respeito, compreensão e valorização do protagonismo dos sujeitos, sempre refletindo acerca da ética e do laço humano envolvido ( ) Todo o conceito utilizado no desenvolvimento de espaços físicos, sociais e relações interpessoais, gerando acolhimento e resolutividade. ( ) Diversas combinações tecnológicas de finalidades ímpares que buscam resolver problemas de saúde de uma comunidade, organizando a assistência conforme o perfil epidemiológico e os riscos que os usuários estão expostos. ( ) Um conjunto de crenças e valores compartilhados pelos integrantes de uma empresa que influencia os comportamentos. ( ) Corrente filosófica que busca valorizar o homem acima de tudo, não deixando de se importar com a generosidade, compaixão e valorização dos atributos e feitos humanos. 3 Com base nos estudos do Tópico 1, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) No âmbito filosófico, o Humanismo entende o homem como uma criatura que se diferencia dos demais animais apenas pela sua capacidade de raciocínio. b) ( ) No decorrer dos séculos o Humanismo tem se preocupado em responder qual é o padrão que deve ser vivido para se viver em sociedade. c) ( ) Em estudos desenvolvidos por Boltanski, na Inglaterra, evidenciou-se que a prática médica no século XX lutava pela saúde e liberdade dos trabalhadores. d) ( ) Na década de 1980 os debates sobre humanização na saúde foram fortalecidos pela luta antimanicomial e movimentos feministas. e) ( ) Com o crescimento do capitalismo na era pós-industrial houve uma queda do pensamento iluminista e a valorização do homem como centro de todas as questões. AUTOATIVIDADE 137 4 O manejo das novas tecnologias e seu impacto nas relações humanas tem sido um tema recorrente nos debates dos trabalhadores de saúde sob os serviços prestados aos usuários. Qual estratégia você enquanto gestor hospitalar sugeriria para trabalhar a humanização de modo a aproximar uma unidade de saúde às pessoas que são atendidas neste local utilizando as tecnologias disponíveis hoje? 5 A cultura organizacional tem impacto direto nas ações de humanização de uma unidade de saúde e, conforme a classificação descrita por Cruz e Ferreira (2012), existem quatro tipos: clã, hierárquica, adocracia e mercado. Qual tipo melhor se encaixa na perspectiva do trabalho humanizado? Justifique sua resposta. 138 139 EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA HUMANIZAÇÃO DO ATENDIMENTO UNIDADE 3 TÓPICO 2 - 1 INTRODUÇÃO Quando a saúde passou a ser entendida como um bem fundamental e um direito humano, o controle social se tornou uma importante ferramenta para a busca da felicidade do maior número possível de pessoas dentro de uma sociedade, dando especial atenção às populações vulneráveis (OLIVEIRA; COLLET; VIERA, 2006). Nos primórdios, os hospitais eram vistos como prisões que isolavam aqueles que possuíam doenças crônicas e transmissíveis, além de abrigo para indigentes. No momento histórico em questão, havia segregação social nesses espaços, bem diferente do que os hospitais modernos desejam proporcionar de experiência para a sua clientela. Porém, essas instituições correm o risco de se tornar apenas instrumentos de controle social dos grupos de risco, com o poder de manipulação das minorias marginalizadas (OLIVEIRA; COLLET; VIERA, 2006). As pesquisas de saúde pública se basearam, por anos, na mensuração do risco de se adquirir uma enfermidade por uma determinada população. Nessa construção acadêmica, foi possível rotular, além de fragmentar pessoas, o que nos permitiu problematizar e conceituar riscos e necessidades associados a uma patologia, porém, em muitos casos, extraíram-se o contexto social e os desafios, além da realização de uma análise rasa dos determinantes sociais da saúde (HEMINGWAY, 2012). O ofício da promoção da saúde oportuniza a reflexão cultural e as contranarrativas que permeiam as existências dos indivíduos e da sociedade. A assistência, de fundo puramente biomédico, cria normas que apagam, excluem e limitam os sujeitos, entretanto, as práticas inovadoras reconhecem as diversidades, criam espaços propícios ao florescimento dos indivíduos e buscam entender as forças culturais que determinam a saúde e o adoecimento (GARDEN, 2018). Na estruturação de um cuidado inovador baseado na humanização, faz-se necessário entender o usuário de forma integral, respeitando seus saberes e cultura, estes que definem sua visão de mundo acerca do processo de adoecimento. 140 Em qualquer espaço de promoção da saúde, existe a união física de pessoas que buscam respostas ou respondem às demandas de bem-estar do usuário, porém, nem sempre é percebido que esse momento também proporciona o encontro da cultura e todos os desafios e possibilidades advindos desse cenário (BARBOSA et al., 2013). No fim da década de 1990, o Ministério da Saúde encabeçou diversas iniciativas para debater a humanização e suas ações futuras nos serviços públicos. Percebendo o perfil desvalorizador da assistência hospitalar, foram convidados alguns hospitais para serem pilotos na realização de ações que, posteriormente, ajudaram na construção do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), em 1999, e do Programa Nacional de Avaliação dos Serviços de Saúde (PNASS), que se tratava de um instrumento gerencial de avaliação da assistência, considerando a efetividade, eficiência e eficácia dos serviços oferecidos (MARTINS; LUZIO, 2012). Outra iniciativa pioneira no processo de humanização do SUS foi o Método Mãe Canguru, o qual objetivava acolher as famílias dos recém-nascidos que necessitavam de cuidadosintensivos, através do aleitamento materno e do contato precoce da mãe com o bebê, aumentando o vínculo desse binômio. Em 2001, por meio da Portaria Nº 540/GM, foi criado o prêmio Qualidade em Assistência Hospitalar, com o intuito de estimular as instituições a direcionarem esforços para aumentar a qualidade dos serviços e satisfação dos usuários (MARTINS; LUZIO, 2012). 2 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO – HUMANIZASUS O Sistema Único de Saúde é uma iniciativa inovadora instituída pela Constituição Federal de 1988, e regulamentado pela Lei Orgânica da Saúde (LOS), que surgiu após a reforma sanitária, movimento no qual colidiram as lutas das classes e a diversidade de pensamentos no âmbito da saúde pública, aumentando as tensões com as ideias da medicina liberal que, até hoje, fazem-se presentes no nosso país (MORI; OLIVEIRA, 2014). Entendendo que determinantes sociais eram fatores importantes a serem considerados nas desigualdades de saúde, o Estado encontrou entraves para o uso desse conhecimento na prática, por conta das bases teóricas biomédicas, que, até então, eram hegemônicas. A medicalização da saúde coloca o foco nas rotulagens, medicações e cálculos de risco, não priorizando o entendimento do impacto das desigualdades sociais nas condições de saúde e no desenvolvimento saudável de uma comunidade, sendo que alguns só têm sentido no contexto cultural (HEMINGWAY, 2012). Quando a saúde passa a ser direito de todo cidadão e o Estado vira responsável por promover políticas socioeconômicas de promoção, proteção e recuperação da saúde, é possível observar a melhoria da qualidade de vida da população, em especial, 141 da mais vulnerável. Em contrapartida, as questões relacionadas ao aperfeiçoamento na implementação das diretrizes do sistema persistem até os nossos dias, em especial, na capacitação dos recursos humanos que compõem as instituições credenciadas. Com o objetivo de agregar eficiências técnica e científica baseadas na ética e respeitando as diferenças, não apenas de usuários, mas de profissionais, o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar foi lançado em 1999. Esse movimento precedeu o lançamento, em 2003, pelo Ministério da Saúde, da Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do Sistema Único de Saúde (PNH), ampliando a humanização para além dos muros dos hospitais, mas a todos os serviços de atenção à saúde (BARBOSA et al., 2013). FIGURA – HUMANIZA SUS FONTE: <https://bit.ly/3Pwcm0R>. Acesso em: 6 out. 2020. A PNH é uma estratégia de fortalecimento do SUS, a qual busca melhorar a qualidade do atendimento prestado por meio da humanização transversal de toda a rede, entendendo que o modelo de atenção e o de gestão andam juntos e se retroalimentam. As prioridades dessa política são a construção do protagonismo de todos os sujeitos envolvidos na assistência, corresponsabilização da gestão e do cuidado, consolidação do controle social por meio das instâncias que gerenciam o SUS, promoção do trabalho multiprofissional, construção de redes produtoras de saúde, valorização da subjetividade e a garantia dos direitos inalienáveis do cidadão livre de qualquer preconceito (BRASIL, 2004). Leia a Política Nacional de Humanização, disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/humanizasus_2004.pdf. DICA 142 Buscando contrapor o modelo de gestão centralizada com estrutura organizacional verticalizada e burocrática, a PNH propõe uma assistência compartilhada dentro da equipe multiprofissional, opondo-se ao perfil hospitalocêntrico, médico- centrado e com baixa participação social, ofertando a ideia da tríplice inclusão, esta que envolve sujeitos, coletivos e conflitos decorrentes dessa aproximação, que gerem debates e remodelamento dos processos de trabalho (MORI; OLIVEIRA, 2014). Alguns termos são recorrentes dentro dessa política e devem ser entendidos e explorados de modo que o conhecimento teórico possa ser aplicado de forma categórica na prática (BRASIL, 2013): • Acolhimento: é o ato de entender as demandas de saúde de um indivíduo como algo singular e legítimo, de modo a sustentar a relação entre comunidade e profissionais. Esse movimento só pode ser realizado de forma coletiva, revisando os processos de trabalho para que fortaleçam os vínculos de confiança. Dentre as estratégias de acolhimento, há a escuta qualificada dos profissionais, que oportuniza o acesso adequado às tecnologias de forma efetiva, considerando a avaliação de vulnerabilidade, gravidade e risco. • Gestão participativa e cogestão: permite a inclusão de sujeitos aos processos decisórios por meio de análises e ampliação das ações gerenciais. Nesses espaços, é possível entender os contextos de forma geral e particular, além de pactuar tarefas e promover o aprendizado coletivo. Como dispositivos de cogestão, há os grupos nos quais são celebrados acordos entre os anseios dos usuários, trabalhadores e gestores e os canais de participação dos indivíduos e famílias nas unidades de saúde. Na prática, podem ser estabelecidos colegiados gestores, mesas de negociação, contratos internos de gestão, grupos de trabalho de humanização e gerência de porta aberta. • Ambiência: disponibilização de espaços saudáveis e acolhedores que promovem privacidade, apesar de ser um lugar de encontro de pessoas. O projeto arquitetônico ou de reformas deve ser compartilhado e discutido para o melhor atendimento do usuário, além do suprimento das necessidades profissionais. • Clínica ampliada e compartilhada: ferramenta que propõe uma abordagem clínica de valorização da subjetividade e da complexidade do processo saúde-doença. Nesse contexto, é possível combater a fragmentação do conhecimento e cuidados, os quais podem gerar ineficiência do serviço. Sua aplicabilidade suscita um diagnóstico que vai além das variáveis orgânicas, mantendo um diálogo qualificado, para, assim, permitir que decisões sejam compartilhadas e a autonomia dos sujeitos resguardada. • Valorização do trabalhador: ao permitir o compartilhamento das experiências dos trabalhadores do SUS e incluindo a equipe multiprofissional na tomada de decisão, é possível trabalhar a habilidade de análise, além de definir e qualificar a assistência. Temos algumas alternativas para implementação, como o Programa de Formação em Saúde e Trabalho e a Comunidade Ampliada de Pesquisa, que alinham o modus operandi do serviço e permitem a participação dos trabalhadores na gestão. 143 • Defesa dos direitos dos usuários: são deveres, dos serviços, defenderem e assegurarem os direitos dos usuários garantidos por lei, além de difundirem o conhecimento desses direitos desde a chegada até a saída do serviço entre a comunidade. Todo indivíduo tem o direito de ter uma equipe de saúde que lhe preste assistência, de ser informado do seu estado de saúde e da privacidade dos seus dados. Os resultados almejados pela Política Nacional de Humanização são a redução de filas e tempo de espera; atendimento acolhedor e resolutivo, que utiliza critérios de risco; modelo assistencial de corresponsabilização e formador de vínculos; defesa dos direitos dos usuários; e valorização profissional. Essas ações são norteadas por três macro objetivos: • Ampliar as ofertas da Política Nacional de Humanização aos gestores e aos conselhos de saúde, priorizando as atenções básica/fundamental e hospitalar, com ênfase nos hospitais de urgência e universitários. • Incentivar a inserção da valorização dos trabalhadores do SUS na agenda dos gestores, dos conselhos de saúde e das organizações da sociedade civil. • Divulgar a Política Nacional de Humanização e ampliar os processos de formação e produção de conhecimento em articulação com movimentos sociais e instituições. Como visto anteriormente, a PNH não inicia os trabalhos de humanização no SUS, porém, os programas anteriores à implementação não eram transversais e não conceituavam, de forma assertiva, os termos e objetos da humanização. Semdesmerecer os projetos pregressos e sua importância, é primordial frisar que suas concepções iam de encontro às ideias e princípios do SUS, que entende, como ser necessária, a corresponsabilização dos promotores de saúde na formulação e implantação de práticas, em especial, quando se compreende que a lógica de programas se baseia na homogeneização das práticas, enfraquecendo a capacidade criativa dos profissionais dentro das realidades, mantendo-os presos a metas e resultados, e não dando a devida importância aos processos que devem propiciar mudanças sustentáveis (PASCHE; PASSOS; HENNINGTON, 2011). A formulação e a consolidação da humanização como política pública foram realizadas dentro dos primeiros anos de PNH, quando ocorreu a sensibilização de instituições, gestores, trabalhadores da saúde e usuários. Após novos incentivos, focou-se no processo de formação e sistematização das atividades. Os cursos ofertados foram uma estratégia fundamental na capitalização e entendimento do desenvolvimento das diretrizes da política nos mais diversos cenários da rede (PASCHE; PASSOS; HENNINGTON, 2011). 144 A relação da sociedade com o SUS nem sempre é vista como satisfatória. A comunidade, vez ou outra, entra em contato com histórias que mostram experiências desumanizadoras na rede, o que a leva a entender o sistema como “filosófico demais” ou como “bonito no papel e ineficiente na prática”. Um dos desafios da PNH é melhorar o relacionamento da sociedade com o SUS, assim, para tal feito, aposta-se na transformação de práticas, tornando-as mais qualificadas, além da redução na precarização da gestão e intervenção dos espaços de promoção da saúde (VASCONCELOS; MARTINS; MACHADO, 2014). Merhy e Ceccim (202-) entendem a humanização como uma potência da afirmação da vida que possibilita a problematização das práticas no contexto do SUS, como podemos observar no trecho a seguir: A possibilidade de pensar a humanização como biopotência, potência de afirmação da vida ou a vida como afirmação de potência é a chave para desprivartizarmos as ações de saúde e instaurarmos o comum (Hardt e Negri, 2005). A produção do comum culmina na produção de confiança, confiança que provê acolhimento e autopoieses, autopoieses que culminam na produção de diferença (defasagem de si) e, portanto, singularização. Sem essa problematização, de fato, não construímos a possibilidade de um devir à humanização no bojo dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde que a paute pela produção da saúde como produção de vida, um modelo autopoiético e solidário de invenção das práticas de cuidado (MERHY; CECCIM, 202-, p. 30). As discussões teóricas, legais e sociais acerca da PNH são importantes para entender os desdobramentos e potencialidades dentro do SUS, pois cenários diferentes suscitam ajustes próprios para atender às demandas específicas da clientela. 3 NUANCES DA HUMANIZAÇÃO DO NASCER AO MORRER A relação entre trabalhadores da saúde e usuários é um campo muito explorado nos estudos acerca da humanização, em especial, nos produzidos por enfermeiros. Esse fato se deve à rotina de contatos constantes desses profissionais com os pacientes, pois o cuidado, por si só, requer essa aproximação. Ao pensar nesse processo de trabalho, fica fácil entender o motivo pelo qual é comumente associada a humanização com questões interpessoais e subjetivas (VASCONCELOS et al., 2016). Em uma pesquisa desenvolvida por Mori e Oliveira (2014) a respeito do processo de implantação da PNH nos serviços de saúde do Distrito Federal, foram evidenciados vários desafios ao movimento. Os autores encontraram dificuldade de diálogo na pactuação entre entes federados; o entendimento superficial da humanização, que era associada à caridade e à religiosidade; e ausência de domínio dos processos de trabalho 145 elencados pela PNH, os quais garantem qualidade à rede. Esse cenário não se distancia de outras experiências que exploram a humanização no SUS, independentemente da área de atenção (MORI; OLIVEIRA, 2014). Para vencer esses desafios, é valido utilizar a PNH como uma ferramenta de mobilização social para além do papel de denúncia ou reivindicação, mas promover a sensibilização da comunidade acerca da importância da participação social no enfrentamento das diferenças e das singularidades. Nesse paradigma, os sujeitos celebram acordos que objetivam a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva (PASCHE; PASSOS; HENNINGTON, 2011). 3.1 HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA AO PARTO Sem dúvidas, um momento singular na vida de uma mulher é o período gestacional, tendo em vista que algumas culturas entendem esse momento como o ápice da feminilidade, por se tratar de uma condição exclusiva à mulher. Vários sentimentos e condições fisiológicas são experenciados da concepção até o trabalho de parto, que demandam atenção e apoio emocional (MOTTA et al., 2016). Quando o parto passa a não ser realizado mais nas casas, mas é institucionalizado em hospitais, são inevitáveis, dado o período histórico, a medicalização e a incorporação de técnicas intervencionistas em que é descartado o protagonismo da mulher como sujeito que pode conduzir o nascimento do filho. Consequentemente, a assistência ao parto ganhou o caráter desumanizado, que descaracteriza as relações da mulher com seu corpo nesse momento ímpar (MOTTA et al., 2016). A Organização Mundial da Saúde, em 1985, fortaleceu as lutas para humanização do parto e nascimento por meio da publicação de um documento denominado Tecnologia Apropriada para Partos e Nascimentos. Nele, constavam os direitos das mulheres na assistência pré-natal; descrevia, ainda, as tecnologias aplicáveis no momento do parto e o papel das instituições. O modelo humanizado do parto impacta diretamente na mortalidade materna ao defender a redução das taxas de cesarianas, fortalecida pela inclusão de enfermeiras obstetras com o objetivo de incentivar o parto natural, o que gera diversos conflitos com a equipe médica (CAMACHO; PROGIANTI, 2013). O Plano de Qualificação das Maternidades fortaleceu as proposições da PNH, por se tratar de uma estratégia metodológica que promoveu a qualificação técnica e reafirmou o compromisso ético na saúde coletiva. É essencial o apoio institucional nesse processo, que atua nas micropolíticas do cotidiano para promoção de práticas mais humanizadas (VASCONCELOS; MARTINS; MACHADO, 2014). 146 Quando um profissional auxilia um parto de forma respeitosa, entende aquele momento como singular para mãe e para o bebê, e utiliza apenas as intervenções necessárias em um ambiente totalmente pensado para aquele processo, podemos afirmar que se trata de um parto humanizado. Porém, a cultura hospitalar nem sempre se mostra aberta para a ressignificação do atendimento obstétrico, concentrando suas atenções nas necessidades das parturientes e na família. A melhoria da estrutura física possibilita, ainda, a transformação de um ambiente frio e impessoal em um lugar acolhedor e favorável às práticas humanizadas (PORTO; COSTA; VELLOSO, 2015). Muitas maternidades, nos últimos anos, têm se esforçado para proporcionar uma ambiência que promova segurança, privacidade, acolhimento e conforto. As instituições têm investido em estratégias que promovam o protagonismo e respeito à mulher, garantam a presença de acompanhantes e doulas, estimulem a liberdade de mobilização e posicionamento, oferecimento de alimentação e abolição de práticas rotineiras de episiotomia (DIAS et al., 2019). A implementação de uma ambiência que converse com os pressupostos da assistência humanizada gera o gerenciamento e conforto da dor, e, ao trabalhar a autoconfiança da mulher, há incentivo do parto natural. Tecnologias não invasivas, como a bola suíça, as massagens lombar e perineal, musicoterapia, aromaterapia e hidroterapia, também têm sido observadas como estratégias que humanizam todo o período do parto, ao promoverem o relaxamento e enfrentamento da dor, descartandointervenções desnecessárias (DIAS et al., 2019). A ergonomia é uma disciplina que busca entender as relações entre as pessoas e o ambiente, e seu entendimento pode ser uma peça-chave para os projetos de humanização da assistência ao parto. Através dela, é possível a adaptação da estrutura física para prover segurança e conforto da mulher, atendendo às demandas das parturientes e trabalhando para que elas tenham a melhor experiência possível (SILVA, 2018). Para o Ministério da Saúde, alguns componentes têm propriedades modificadoras e qualificadoras dos espaços, que quando pensados considerando o perfil da população que receberá atendimento trazem equilíbrio e harmonia. No processo de produção de saúde a cinestesia, cor, iluminação, ventilação, arte, cheiro, som, privacidade e confortabilidade tem um potencial interessante para tornar o projeto arquitetônico acolhedor e ergonomicamente pensado para a produção de saúde (BRASIL, 2010). Para as mulheres em trabalho de parto e sua família a sensação de segurança provida pelo ambiente de uma unidade de saúde garante um maior relaxamento e bem estar, pois, ao sair de seu domicílio para um lugar singular como o hospital, somado a todas as inseguranças 147 e medos que esta experiência pode despertar, aumenta o estresse e a ocorrência de um parto traumático. Quando objetivamos produzir um ambiente seguro e agradável para o parto devemos estar atentos a aspectos sócios ambientais importantes (SILVA, 2018): • Privacidade: o respeito a privacidade acalma o neocórtex e facilita a liberação dos hormônios necessários ao trabalho de parto, quando este aspecto não é observado, pode ocorrer uma redução da liberação de oxitocina, hormônio que atua diretamente na contração da musculatura uterina, liberação de leite e fortalecimento do vínculo entre mãe e bebê. As janelas da sala de parto devem permitir a entrada da iluminação natural, porém impedir a exposição das parturientes, enquanto as portas devem ser instaladas de forma que sua abertura não seja direcionada aos locais de nascimento. A utilização de cortinas e telas também podem ajudar na preservação da privacidade ao passo que criam barreiras para visualização mesmo quando ocorre a abertura da porta. • Posicionamento da cama: a literatura obstétrica acredita que as posições verticais, como a de cócoras, facilitam a saída do bebê por contar com a ajuda da lei da gravidade, reduzir o canal do parto e permitir uma maior abertura vaginal. Dessa forma, deve ser uma preocupação das instituições dispor equipamentos que permitam que as mulheres adotem uma posição vertical caso se sintam confortáveis. • Possibilidade de partos imersos na água: o contato com a água no momento do trabalho de parto pode auxiliar na mobilidade, melhorar o conforto, proporcionar contrações uterinas mais eficientes e reduzir o risco de traumas físicos e emocionais. Para tal, devemos observar se as banheiras ou piscinas disponibilizadas permitem que as mães sentem ou ajoelhem e que a água cubra totalmente a barriga. • Banheiros individualizados com disponibilização de duchas: as mulheres, após o trabalho de parto, em sua maioria, consideram o banheiro privado que contam com duchas para o alívio da dor, um aspecto positivo na sua experiência de dar à luz. Além da privacidade, os banheiros devem ser construídos com o tamanho compatível para duas ou mais pessoas (acompanhante e profissional de saúde). • Iluminação: ambientes com luz brilhante e artificial pode aumentar a liberação de adrenalina que, consequentemente, inibe a fisiologia do parto, porém, pôr a sensibilidade à luz e suas repercussões emocionais se tratarem de aspectos subjetivos, deve ser dado à mulher o controle do brilho e intensidade da luz, o que ajuda a tornar o ambiente menos austero e mais caloroso. • Ruídos: o tratamento acústico das salas de parto é uma ação recomendável, acrescida, ainda, de orientações na redução do volume de ruídos produzidos por pessoas que não sejam a própria parturiente. Estas ações ajudam a preservar a privacidade da mãe que não se sente inibida para se expressar e não precisa lidar com os sons advindos do trabalho de parto de outras mulheres. 148 • Design de interiores, móveis e equipamentos: espaços planejados considerando a paleta de cor, distribuição de obras de arte, móveis e equipamentos ajudam na percepção positiva da experiência do parto, para mulheres e familiares, além de proporcionar conforto e auxiliar no processo de recuperação. É recomendável o design minimalista com espaços abertos para a mobilização segura da parturiente e da equipe. • Respeito às tradições culturais: o parto é uma experiência natural às mulheres grávidas independente de sua origem, etnia e religiosidade, que basicamente varia de acordo com as necessidades assistenciais. Porém, existem grupos sociais que apresentam singularidades culturais que necessitam ser consideradas na construção do ambiente, para que elas possam também se sentir consideradas e acolhidas. Fatores importante na avaliação de uma política pública é a análise de sua eficácia, eficiência, efetividade e o nível de satisfação dos usuários contemplados. No caso da assistência ao parto, a ambiência e o relacionamento com os profissionais influenciam diretamente na percepção que as gestantes e puérperas têm sobre a qualidade dos cuidados prestados, porém, as melhorias alcançadas no campo da humanização devem ser sustentáveis e salvaguardar o direito do cidadão a partos e nascimentos seguros e o com menos traumas possível. Por fim, entendemos que o processo de humanização do pré-natal e parto só pode ser realizado em sua totalidade quando os profissionais e gestores modificarem suas práticas de modo a ressignificar as relações com os usuários e comunidade. A PNH tem se esforçado para fomentar a integralidade defendida pelo SUS por meio da cogestão e tratamento digno, acolhedor e promotor de vínculos do sistema de saúde com a população. Livro: Parto: O Outro Lado Invisível do Nascer. Autora: Letícia Ávila. Nesta obra, a autora discute a violência obstétrica e seu caráter silenciador através da perspectiva de várias mulheres, profissionais de saúde e ativistas. DICA 149 3.2 HUMANIZAÇÃO NO CONTEXTO HOSPITALAR Não é incomum entrarmos em contato com histórias de situações desumanas que teriam ocorrido em unidades hospitalares. Em geral, os pacientes que por algum motivo necessitam de internação apresentam uma diminuição da autonomia, mesmo que estes consigam expressar seus desejo e anseios, pois, normalmente, são orientados a seguir a rotina pré-estabelecida da instituição (CALEGARI; MASSAROLLO; SANTOS, 2015). Como visto anteriormente, tornar um serviço humanizado está diretamente relacionado a aceitação de mudanças e a flexibilidade para repensar práticas. Porém a equipe multiprofissional apesar de entender essa necessidade têm apontado desafios relacionados a comunicação e afetividades para com o usuário e a própria equipe. Uma ação comum no atendimento hospitalar é a realização de procedimentos cirúrgicos, que podem suscitar nos usuários conflitos internos e desequilíbrios biopsicossociais levando a ansiedade, medo e estresse. Esse quadro pode ser amenizado quando ocorre o acolhimento adequado desses pacientes, em especial quando todas as dúvidas sobre o processo cirúrgico são esclarecidas no pré-operatório, que, conforme preconiza a PNH, deve ser individualizado (BARBOSA; TERRA; CARVALHO, 2014). As Unidades de Terapia Intensivas (UTI) são locais onde é possível prestar suporte por meio de acompanhamento contínuo a pacientes graves com amplo aporte tecnológico que auxilia na substituição de sistemas vitais. O desenvolvimento da ciência e tecnologia permitiu que essas unidades viabilizarem a possibilidade de recuperação da saúde para um número maior de pessoas e impactou no aumento da expectativa de vida (SANTUZZI et al., 2013). Equipadas com tecnologias que permitem o cuidado e acompanhamentode pacientes graves, as UTIs dispõem de uma equipe multiprofissional de atendimento contínuo, o que não impede que essas unidades se tornem menos frias e hostis. Nesse ambiente é comum encontrarmos luzes intensas, procedimentos invasivos e ruídos recorrentes que podem gerar experiências traumatizantes aos usuários. Em contrapartida, o cuidado humanizado neste contexto pode auxiliar de maneira significativa na recuperação e melhoria do cuidado prestado (FARIAS et al., 2013). Conheça o livro Muito Além da Cadeira: A Experiência de Humanização Hospitalar, do Programa Família Participante do Hospital Pequeno Príncipe. Disponível em http://www.cepalforja.org/sistem/documentos/muito_alem_ da_cadeira.pdf. DICA 150 Por ser apontada como uma das unidades hospitalares que mais geram transtornos emocionais para pacientes, famílias e profissionais, entendemos que se faz necessário agir sobre as fragilidades, desafios, potencialidades e prioridades. O foco da humanização deve estar voltado para aumentar as chances de sobrevida com qualidade e preparar os sujeitos para lidarem com o processo de morte e morrer. Esses avanços não acontecem do dia para noite, mas fazem parte de um processo gradual de sensibilização de várias instâncias (SANTUZZI et al., 2013) (REIS; SENA; FERNANDES, 2016). Quando se foca apenas nos procedimentos técnicos de alta complexidade, os quais são importantes à segurança e à manutenção da vida, existe a possibilidade de supervalorizar o trabalho mecanizado e não atender paciente e família de forma holística. Com a comunicação e interpretação dos sinais não verbais subestimada, os profissionais desperdiçam oportunidades de captar dados cruciais para uma abordagem humanizada gerando um cuidado fragmentado e impositivo (REIS; SENA; FERNANDES, 2016). O fato de um paciente estar sob efeito de sedativos ou acamado não significa que, obrigatoriamente, este não ouve, não sente dor, não tem desconforto, não sente falta da família e não tem interesse em se orientar no tempo e espaço. Existem diversos momentos que eles são invadidos por pensamentos negativos, acarretando medo e solidão, sentimentos estes que também podem ser experienciados por pacientes lúcidos, cabendo à equipe dar atenção, conversar, respeitar a privacidade e prover um cuidado integral (BACKES et al., 2012). O gestor tem um papel ímpar no processo de humanização das UTI, pois, apesar de não estar à beira leito, ele deve estar comprometido com o aprimoramento profissional além de apoiar e valorizar a equipe, provendo os recursos necessários para ofertar um ambiente acolhedor aos pacientes e à família, buscando estratégias inovadoras e adaptando experiências de sucesso em sua realidade (FARIAS et al., 2013). Nos últimos anos, tem crescido os esforços na melhoria da ambiência para permitir uma atenção mais humana nas UTI, porém este movimento ainda encontra várias barreiras, pois demanda empenho individual, multiprofissional e gerencial. Outro perfil de atendimento que necessita de fortes movimentos de humanização é a assistência pediátrica. A internação promove o sofrimento intenso de crianças, pais e família, os quais necessitam se adaptar abruptamente às rotinas institucionais e manter relação (nem sempre harmoniosa) com toda a equipe da unidade, não incomum o surgimento de crises que desestabilizam todo um contexto familiar (VIVIAN et al., 2013). 151 Pela imaturidade pertinente a infância, o afastamento familiar, o contato com pessoas e procedimentos desconhecidos e a restrição do brincar, dificulta o entendimento da criança sobre o processo de internação, o que nos faz acreditar que o movimento de humanização dos cuidados é uma questão relevante e primordial nos cuidados pediátricos, que tem como pilar a ambiência, ao passo que recria e inova os processos de produção de saúde (ESTEVES; ANTUNES; CAIRES, 2014; RIBEIRO; GOMES; THOFEHRN, 2014). FIGURA 1 – SALA DE TOMOGRAFIA DO HOSPITAL ESTADUAL DA CRIANÇA (RIO DE JANEIRO) FONTE: <http://www.radiologiarj.com.br/wp-content/uploads/2013/03/hosp-da-crianca-inauguracao- -434web-300x200.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. Durante a hospitalização, os profissionais devem incentivar experiências que ocasionem sentimentos de proteção, amor, autoconfiança, confiança dos adultos que as cuidam e o acompanhamento contínuo de um membro da família. A equipe deve estar disposta a investir em ações que potencializem o desenvolvimento emocional e cognitivo com a satisfação de suas necessidades. Entre as experiências de humanização desse contexto, temos o incentivo a participação ativa dos pais nos cuidados, liberação de visitas, construção de espaços lúdicos como brinquedotecas, decoração temática e disponibilização de internet (ESTEVES; ANTUNES; CAIRES, 2014). Outra estratégia interessante desenvolvida com recém-nascidos (RN) é o uso de redes de balanço nas incubadoras. A prematuridade e todo o estresse que pode ser provocado dentro de uma UTI apresenta sinais fisiopatológicos de exaustão e gasto de reserva energética, enquanto o uso de redes reduz a irritabilidade, promove a manutenção da temperatura ideal e reduz o gasto energético, culminando no ganho de peso (LINO et al., 2015). Foi percebido que os RN que utilizavam essa técnica tinham maior relaxamento, eram mais estimulados sensorialmente, pois o balando proporcionava conforto, melhorando a frequência cardíaca e saturação de oxigênio (LINO et al., 2015). 152 A estruturação de grupo de reflexão para pais e familiares que são acompanhantes também é uma estratégia que pode ser usada por instituições com internação pediátrica. Nessas rodas de conversa é dado suporte e apoio, além de oportunizado o compartilhamento de sentimentos de frustração, culpa e medo que, em alguns participantes, promovia o alívio por meio do apoio mútuo (VIVIAN et al., 2013). A assistência multiprofissional prestada a pacientes sem possibilidade de cura é chamada cuidado paliativo. Comum em ambientes hospitalares, essa prática remonta do período dos hóspices (abrigos que atendiam viajantes e peregrinos doentes), muito comum em organizações religiosas pelo exercício da caridade (HERMES; LAMARCA, 2013). FIGURA – CUIDADO PALIATIVO FONTE: <http://www.cremesp.org.br/library/modulos/publicacoes/pdf/livro_cuida- do%20paliativo.pdf>. Acesso em: 6 out. 2020. LIVRO: Cuidado Paliativo. Autor: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/library/modulos/publicacoes/pdf/livro_cuidado%20paliativo.pdf. DICA http://www.cremesp.org.br/library/modulos/publicacoes/pdf/livro_cuidado paliativo.pdf 153 No Brasil, o debate sobre os cuidados paliativos tem se expandido e levado os profissionais de saúde a repensar o seu papel na promoção de bem estar no fim da vida. Muito mais que difundir as ideias voltadas para aceitação, é importante desenvolver a perspectiva do enfrentamento com dignidade na qual o paciente se posiciona ativamente nas tomadas de decisão e escolhe como julga adequado o seu modo de viver. Existe, ainda, uma negligência ao apoio familiar para o enfrentamento da perda breve de um ente querido (PAIVA; ALMEIDA JÚNIOR; DAMÁSIO, 2014). A comunicação nesses casos não deve ser apenas um instrumento pelo qual se deposita as informações, mas deve abranger uma escuta atenta, olhar e postura respeitosa que, comprovadamente, gera efeitos positivos nas pessoas em fase terminal. Ela permeia o cuidado integral e humanizado que demonstra empatia ao acolher pacientes e familiares (ANDRADE; COSTA; LOPES, 2013). 3.3 MANEJO DO PACIENTE PORTADOR DE TRANSTORNOS MENTAIS Historicamente, a visão cultural da “loucura” é permeada por exclusão e estigmas sociais. A restrição ao convívio social por portadores de transtornos mentais era comum na idade média e na comunidade burguesa ocorria a internação compulsória de pessoas consideradas nocivas aos demais. Aos “errantes sociais” restavam as prisões, hospícios e as casas de correção (FERNANDES; SOUSA,2016). O tratamento desumano a esses pacientes foi aceito socialmente por séculos e o abandono familiar era recorrente. Com o desenvolvimento das ciências e tecnologias foi aprofundado o estudo das doenças da mente, culminando em intervenções como eletrochoques, cirurgias e medicações (SANTOS, 2018). Esse cenário começa a ser alterado a partir dos anos 1970, com o advento da reforma psiquiátrica, que ressignificou os conceitos e as práticas usadas até então. Esse movimento se concentrava na desinstitucionalização e estruturação de redes e serviços, preocupando-se com o cuidado humanizado e, posteriormente, permitindo a implantação dos Centros de Atenção Psicossocial (MAYNART et al., 2014). A humanização na atenção à pessoa com transtornos mentais, parte da ideia que se faz necessário compreender esses sujeitos como parte da sociedade e cidadãos com direitos. A superação de modelos arcaicos e a criação de um cuidado que atenda a necessidade de pacientes, família e comunidade estão entre as principais lutas e discussões entre os profissionais, sendo a garantia do atendimento humanizado preconizada pela Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001 (SANTOS, 2018; FERNANDES; SOUSA, 2016). 154 Os movimentos de humanização no atendimento buscam quebrar preconceitos, superstições e a visão depreciativa e coercitiva que ocupou o imaginário e as ações da população durante anos, e reduziam o portador de transtorno mental a um “sub- humano” que não necessitava ter seus anseios e direitos preservados (SANTOS, 2018). A escuta qualificada e a visita domiciliar são estratégias que podem ser aplicadas pelas instituições de atendimento psiquiátrico. Pois, através dessas práticas, é possível entender as questões que envolvem o sofrimento mental e melhora o relacionamento interpessoal por criar fortes vínculos entre profissionais e pacientes, tornando a experiência um terreno fértil para a inovação o cuidado da saúde mental (MAYNART et al., 2014). Nas visitas domiciliares, o profissional de saúde tem a possibilidade de entender a realidade e os desafios enfrentados pelos pacientes e família, o que os ajuda a pensar em soluções que trarão impacto positivo a uma comunidade. Nessa ação é possível entender, de forma ampla, as necessidades e articular com outros serviços e órgãos comunitários o encaminhamento das demandas apresentadas (PEREIRA et al., 2014). 3.4 HUMANIZAÇÃO NA ATENÇÃO BÁSICA O SUS, desde seu nascimento, tem se dedicado a reorientação do modelo de assistência, para que este coloque como prioridade o respeito à pessoa e à promoção de saúde, invalidando a visão mercadológica e medicalizante. A atenção básica, por ser o primeiro acesso aos serviços públicos de saúde, permite efetivação dos princípios e diretrizes do SUS (SOUZA JÚNIOR, 2015). A atenção básica conta com vários dispositivos que podem auxiliar na humanização da assistência como grupos de trabalho de humanização, colegiado gestor, acolhimento com classificação de risco e outras, mas para tal o comprometimento de todos os sujeitos é indispensável e a sensibilização da comunidade sobre o tema faz parte deste processo de produção de saúde (NORA; JUNGES, 2013). Filme: Um estranho no ninho. Nesta produção, Jack Nicholson interpreta Randle MacMurphy, um prisioneiro que simula estar insano para não trabalhar e vai para uma instituição psiquiátrica. Lá, devido à forma que os pacientes são tratados, estimula os internos a se revoltarem contra as rígidas normas impostas pelos profissionais de saúde. DICA 155 A ambiência também deve ser um ponto de atenção neste cenário, considerando que não é incomum Unidades Básicas de Saúde com improvisação de espaços físicos de modo a não acolher o usuário, causar prejuízo na qualidade da assistência e expor o paciente ao não proteger sua privacidade (LIMA et al., 2014). Diversos estudos já demonstraram a inadequação dos espaços físicos na atenção básica como tamanho e disposição de salas mal projetados, cadeiras com número insuficiente para demanda e muitas vezes desconfortáveis, ausência de sala de espera pelo tamanho reduzido da unidade, pouca ventilação e estrutura física deteriorada. Como já esperado, os usuários entendem que esses espaços não atendem, em sua totalidade, às demandas que os levaram a procurar o serviço de saúde, pois a espera por atendimento se torna desagradável (NORA; JUNGES, 2013). A forma que o usuário é recepcionado na unidade de saúde também impacta na humanização do atendimento, para tal, é necessário que a equipe tenha um relacionamento harmonioso entre si. A implantação de uma recepção oportuna, o que necessita da mobilização dos profissionais e gestores, pode gerar a chegada de uma demanda reprimida, que, até então, não considerava aquele local como disposto ao acolhimento e resolução dos seus problemas de saúde, inevitavelmente criando expectativas (SANTOS et al., 2016). Na humanização da atenção básica, as atitudes individuais dos profissionais e dos gestores se mostram essenciais para a transformação do atendimento coletivo, porém o acolhimento é diretriz operacional que pode qualificar o modelo de assistência para de fato serem seguidos os princípios do SUS, em especial a integralidade. O acolhimento oportuniza a mudança dos processos de trabalho e das relações pertinentes aquele espaço de cuidado, e quando potencializado com o diálogo, postura e reorganização do serviço consolida o modelo de atenção ideal para a atenção básica (GUERRERO et al., 2013). Artigo: A Experimentação da Clínica Ampliada na Atenção Básica de Saúde: Articulando Princípios, Diretrizes e Dispositivos em Cotidianos Complexos. Autor: Bruno Mariani de Souza Azevedo. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_humanizasus_ atencao_basica.pdf. DICA 156 As ferramentas e tecnologias que apoiam a escuta qualificada, atenção permanente e o respeito às demandas do usuário, auxiliam na promoção de saúde de modo que o acompanhamento dos grupos de risco possa ser oportuno, integral e humanizado. Porém, para concretização dessas ações, a comunidade e os profissionais precisam de uma estrutura adequada e um ambiente confortável e acolhedor, levando o usuário a, de fato, entender a Estratégia Saúde da Família (ESF) como sua propriedade enquanto cidadão financiador do recurso público e, consequentemente, possa defender e apoiar o SUS (OLIVEIRA et al., 2014). Para que uma população comece a reconhecer a ESF como um ambiente acolhedor que promove a interação entre o usuário, família e equipe, ao passo que propaga as ideias de solidariedade, respeito e responsabilidade em rede, é importante que sejam abolidas as recepções com grades, além de estruturar salas de espera conforme o perfil daquela comunidade, instalar placas informativas dos serviços disponibilizados, sinalizar os fluxos, promover acessibilidade a portadores de deficiência e manter bebedouros e instalações sanitárias higienizadas em pleno funcionamento, sempre primando por ambientes iluminados, ventilados e bem acabados (GARCIA et al., 2015). 157 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do Sistema Único de Saúde (PNH) foi lançada em 2003, ampliando a humanização para todos os serviços de atenção à saúde públicos. • As prioridades PNH são o protagonismo de todos os sujeitos, corresponsabilização da gestão e do cuidado, consolidação do controle social, trabalho multiprofissional, construção de redes produtoras de saúde, e garantia dos direitos inalienáveis do cidadão. • Os resultados esperados após a implantação da PNH são: redução de filas e tempo de espera, atendimento acolhedor e resolutivo, modelo assistencial de corresponsabilização e formador de vínculos, defesa dos direitos dos usuários e valorização profissional. • O parto humanizado trata o momento como respeitoso e utiliza apenas as intervenções necessárias em um ambiente totalmente planejadopara a clientela a ser atendida. • No processo de produção de saúde, a cinestesia, cor, iluminação, ventilação, arte, cheiro, som, privacidade e confortabilidade têm um potencial interessante para tornar o projeto arquitetônico acolhedor. • O gestor hospitalar, apesar de não atender diretamente pacientes, deve estar comprometido com o aprimoramento profissional, além de apoiar e valorizar a equipe. 158 1 Identifique as afirmações como verdadeiras ou falsas: ( ) Para que uma população comece a reconhecer a ESF como um ambiente acolhedor é importante que as recepções não tenham grades, as salas de espera tenham o tamanho adequado e cadeiras confortáveis, sinalização do fluxo, placas informativas dos serviços oferecidos, prover acessibilidade a portadores de deficiência e outros ( ) Nas visitas domiciliares no campo da saúde mental é possível conhecer a família dos usuários, mas não entender, de forma ampla, as necessidades do indivíduo e comunidade. ( ) Clínica ampliada e compartilhada na perspectiva da PNH é a ferramenta que propõe uma abordagem clínica que valoriza a subjetividade e a complexidade dos processos de saúde. ( ) A PNH é uma política que auxilia a população a fazer denúncias e reivindicações, promovendo o controle social por meio da mídia especializada. ( ) No planejamento de espaços para partos imersos em água é importante atentar se as banheiras ou piscinas disponibilizadas permitem que as mães sentem ou ajoelhem e que a água cubra totalmente a barriga. ( ) A UTI é uma das unidades hospitalares que mais geram transtornos emocionais para pacientes, famílias e profissionais. O foco da humanização deve estar voltado para aumentar as chances de sobrevida com qualidade e melhoria do quadro de saúde, além de acolher a família no processo de morte e morrer. ( ) Entre as experiências de sucesso na humanização da assistência pediátrica é possível citar saída dos pais todas as vezes que a equipe precisa prestar um cuidado à criança, além da liberação de visitas, construção de espaços lúdicos como brinquedotecas, decoração temática e disponibilização de internet. a) ( ) V – V – F – V – F – F – V. b) ( ) F – V – F – V – F – V – V. c) ( ) V – V – F – V – F – F – V. d) ( ) F – V – V – V – F – V – V. e) ( ) V – F – V – F – V – V – F. 2 Imagine que você é gestor de uma unidade básica de saúde e tomou conhecimento, por meio da mídia local, que os usuários estão insatisfeitos com a baixa resolutividade da sala de curativos. Quais ações você desenvolveria para melhorar a satisfação dos sujeitos daquela comunidade? 3 A Política Nacional de Humanização (PNH) é um instrumento de fortalecimento do SUS e de aprimoramento do atendimento na saúde. Quais os resultados a PNH espera alcançar quando implantada pelas instituições? AUTOATIVIDADE 159 4 Na PHN temos três macros objetivos utilizados para nortear as ações de humanização. Dentre as opções a seguir, qual não consta política? a) ( ) Organizar a sociedade civil de modo que sejam realizadas denúncias para o aprimoramento dos serviços, permitindo que os usuários acompanhem e avaliem os serviços de saúde. b) ( ) Ampliar as ofertas da Política Nacional de Humanização aos gestores e aos conselhos de saúde, priorizando a atenção básica/fundamental e hospitalar, com ênfase nos hospitais de urgência e universitários. c) ( ) Divulgar a Política Nacional de Humanização e ampliar os processos de formação e produção de conhecimento em articulação com movimentos sociais e instituições. d) ( ) Incentivar a inserção da valorização dos trabalhadores do SUS na agenda dos gestores, dos conselhos de saúde e das organizações da sociedade civil. 5 Alguns aspectos em unidades de atendimento obstétrico são decisivos para permitir que o ambiente propicie uma assistência humanizada, gerenciando a dor e aumentando a autoconfiança da mulher. Cite, no mínimo, quatro aspectos sócios ambientais importantes para que o ambiente se torne acolhedor e seguro para as parturientes e bebês e justifique o seu uso? 160 161 TÓPICO 3 - HUMANIZAÇÃO E GESTÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Dentro do escopo da administração pública a área de saúde ainda é um dos maiores desafios para os governos e gestores. A universalidade, como princípio do SUS, só se torna possível por meio de políticas que reduzam as desigualdades socioeconômicas, em especial em um país de dimensões continentais e cheio de contrastes como o Brasil. Um dos avanços, nesse sentido, é a implementação da Política Nacional de Humanização nos anos 2000 (ALVES et al., 2015). A PNH busca a consolidação dos valores humanísticos no campo da promoção e recuperação da saúde, muito além do que belos discursos emocionados, existem grandes desafios para os gestores dos serviços que almejam criar a base de uma cultura organizacional que valoriza pessoas, preza por relações de qualidade entre trabalhadores da saúde que inevitavelmente reflete na boa assistência prestada ao paciente (RIOS; BATTISTELLA, 2013). É importante lembrar que o SUS é um sistema que está em contínua construção e desconstrução, buscando sempre mudanças que resultem em maiores retornos à população. Assim, ainda tem se debatido sobre as melhores alternativas de organização, do trabalho em saúde e a melhor alocação de recursos. Dentre os desafios que, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) ainda enfrentamos na melhoria do SUS, todos, em diferentes graus, têm atuação do gestor, são eles: • Qualificar o sistema de cogestão. • Fortalecer e qualificar a atenção básica. • Fortalecer os processos de regionalização cooperativa e solidária. • Considerar a diversidade cultural e desigualdade sócio econômica. • Considerar o complexo padrão epidemiológico. • Superar a disputa de recursos entre os entes federados. • Diminuir a interferência da lógica privada na organização da rede de saúde. • Superar o entendimento de saúde como ausência de doença. • Garantir recursos suficientes para o financiamento do SUS. • Superar a fragmentação do processo de trabalho e das relações entre os diferentes profissionais. 162 Existem alguns eixos de trabalho na gestão dos serviços de saúde devem atentar à lógica da PNH. Durante a formulação dos planos estaduais e municipais o poder público deve considerar as ideias de humanização, no gerenciamento do trabalho, garantir a participação dos profissionais de saúde no processo de decisão, bem como motivar e incentivar o desenvolvimento técnico científico, integrar recursos financeiros específicos para humanização por meio de repasse fundo a fundo e promover políticas que incentivam ações integrais e intersetoriais. No gerenciamento da PNH, destacam-se o planejamento, monitoração e avaliação, de modo a entender os ganhos referentes à humanização e gerar conhecimento específico para a rede (BRASIL, 2010). A desconstrução do modelo hegemônico da prática biomédica é lenta e processual, mas os gestores da saúde pública devem encontrar caminhos para romper essa lógica escutando os usuários e suas questões sociais e dando autonomia para os trabalhadores, de modo que juntos consigam atuar cada vez mais de forma assertiva nos determinantes de saúde (MAERSCHNER et al., 2014). 2 DESAFIOS DO GESTOR NA MELHORIA CONTÍNUA E QUALIDADE DO ATENDIMENTO Desde sua publicação, em 2003, a PNH tem auxiliado e dado base para experiências no campo da humanização nas mais diversas modalidades e resultados. Porém, alguns gestores desconhecem os aspectos políticos e gerenciais, o que resulta no baixo investimento financeiro e humano e dificulta a sustentação da política dentro das instituições. O desenvolvimento tímido de ações pontuais de planejamento e gerenciamento questionáveis geram falsas mudanças coletivas e bases incoerentes (RIOS; BATTISTELLA, 2013). Os resultados esperados na implantação da PNH traduzem algumas das insatisfações mais antigas e recorrentes dos serviços de saúde, como a redução de filas e resolutividade noatendimento por meio de um trabalho acolhedor. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) apresenta, ainda, outros resultados almejados pela política: Todo usuário do SUS saberá quem são os profissionais que cuidam de sua saúde e a rede de serviços que se responsabilizará por sua referência territorial e atenção integral; - As unidades de saúde garantirão os direitos dos usuários, orientando-se pelas conquistas já asseguradas em lei e ampliando os mecanismos de sua participação ativa, e de sua rede sociofamiliar, nas propostas de plano terapêutico, acompanhamento e cuidados em geral; - As unidades de saúde garantirão gestão participativa aos seus trabalhadores e usuários, com investimento na educação permanente em saúde dos trabalhadores, na adequação de ambiência e espaços saudáveis e acolhedores de trabalho, propiciando maior integração de trabalhadores e usuários em diferentes momentos (diferentes rodas e encontros); - Serão implementadas atividades de valorização e cuidado aos trabalhadores da saúde (BRASIL, 2010, p. 10). 163 O melhor andamento de um serviço de saúde e a cultura da melhoria contínua, em muito está ligado ao perfil do gestor, que deve ir além da das atividades administrativas, mas prover meios para que sua equipe tenha atitudes reflexivas e possam ter um olhar crítico de seus processos de trabalho. Mesmo diante de um cenário recheado de desigualdades sociais, banalização da vida, precariedade do trabalho que constantemente tomam as capas dos jornais (PAVAN; TRAJANO, 2014). No desafio para a construção de uma saúde pública de qualidade os gestores devem estar abertos para identificar as reais fragilidades do SUS e as possibilidades de mudança. Em um país como o Brasil tão marcado por iniquidades e desigualdades, nosso sistema de saúde tem um papel importante na transformação dessa realidade e necessita de um trabalho coletivo em sua construção (MARTINS; LUZIO, 2016). Muitos dos problemas apresentados em um serviço de saúde recaem sob a responsabilidade dos gestores. Para enfrentar os desafios diários aos quais são expostos algumas qualidades devem ser trabalhadas, como a sensibilidade, visão clara, pragmatismo e determinação, pois de não serem as pessoas que vão prestar assistência direta aos pacientes é por meio de seus modelos de planejamento e controle que garantirá a qualidade da assistência prestada (MARTINS; WACLAWOVSKY, 2015). Ao observar o processo de trabalho na área da saúde é possível perceber vários princípios tayloristas, que talvez não sejam os mais adequados tendo em vista a participação social desejada. Quando se entende a saúde como muito mais do que a ausência de doença, percebe-se que este modelo de trabalho não contempla os anseios dessa área em sua totalidade, e um modelo diferente baseado na democratização das instituições pode ser uma saída (PAVAN; TRAJANO, 2014). A aplicabilidade desse pensamento pode ser entendida de maneira mais simples ao considerar uma ideia comumente usadas na educação infantil e na cultura do samba, as rodas. O método da roda pode ser um recurso que pode auxiliar no processo de cogestão ao utilizar um apoiador institucional como um indivíduo estratégico nas práticas de saúde de uma unidade (PAVAN; TRAJANO, 2014). Na cogestão, os apoiadores institucionais trabalham como pontes entre a gestão e os profissionais, pois ele complementa a coordenação, interação e avaliação do trabalho de uma equipe e independente dos “graus de saber” e poder dos indivíduos. Para Bellini, Pio e Chirelli (2016) as funções dos apoiadores dependem do exercício de alguma forma de cogestão e suas funções são: 164 O apoiador institucional, portanto, tem como funções: ativar espaços coletivos que propiciem a interação entre os sujeitos, reconhecendo as relações de poder, afeto e a circulação de saberes; construir objetivos comuns e a viabilização dos projetos pactuados por atores institucionais e sociais; atuar em processos de qualificação das ações institucionais; e promover a ampliação da capacidade crítica dos grupos e a transformação das práticas em saúde, contribuindo para melhorar a qualidade da gestão no SUS (BELLINI; PIO; CHIRELLI, 2016, p. 24-25). Um dos desafios mais complexos para gestores do SUS é, sem dúvida, o seu financiamento, considerando que o sistema recebe como recurso menos da metade de todo o capital investido em saúde no país, enquanto contempla, pelo menos, 75% da população, o que corresponde à população que não plano privado ou até tem, mas em alguns momento vão precisar de serviços da rede pública (MENDES; BITTAR, 2014). Não existe receita de bolo para ser um gestor de saúde, mas o trabalho deste profissional deve incluir o seu aprimoramento de questões técnicas e políticas, pois existem diversas forças que disputam poder e geram conflitos inclusive nos serviços privados. Para o melhor manejo dessas disputas é necessário estabelecer mecanismos de regulação que assegurem o acesso aos serviços pela população e traçar estratégias de contratualização para a regulação da demanda conforme o tipo de atenção que de fato necessita de modo, agilizando os processos burocráticos (SHIMIZU, 2013). No exercício da gestão, um diferencial pode ser o olhar crítico dos problemas que ocorrem em uma unidade, evitando gastos financeiros e de energia desnecessários. Essa visão deve, também, estar atenta aos conflitos dentro de sua equipe, e à busca de soluções para eles, planejamento para o alcance da qualidade e as restrições orçamentárias, desenvolvendo estratégias para driblar o baixo financiamento (MARTINS; WACLAWOVSKY, 2015). De forma rotineira, os líderes dos serviços que estão de fato comprometidos com a qualidade e humanização da atenção à saúde, procurarão alternativas criativas para a melhoria da ambiência e disponibilização de tecnologias compatíveis com o serviço prestado na unidade. Ele deve se manter atento sobre a imagem que sua equipe passa ao usuário, a agilidade na resolução de problemas, definir, de forma clara, as atividades pertinentes a cada funcionário e priorizar sempre a satisfação e a segurança do paciente (CARVALHO; SHIMIZU, 2016). 165 3 DESAFIO DA SEGURANÇA E CUIDADO CENTRADO NO PACIENTE Falar sobre humanização além de todas as questões levantadas até este momento requer a junção de outras áreas que influenciam diretamente na percepção que os sujeitos envolvidos nos cuidados têm em relação da assistência prestada. Discutir ações de segurança e cuidado centrado no paciente fortalece o trabalho de humanização no campo da integralidade e respeito aos indivíduos. A segurança do paciente tem sido amplamente discutida nos últimos anos, por ser uma questão que atinge diversos sistemas de saúde independente do perfil e do nível de desenvolvimento do país. De acordo com dados divulgados pela OMS (2008) milhões de pessoas, todos os anos, morrem ou sofrem eventos incapacitantes no atendimento do serviço de saúde. No contexto hospitalar estima-se que um em cada dez paciente com acesso a tecnologias duras é prejudicado durante o seu tratamento, nos países subdesenvolvidos existe uma lacuna do tamanho do problema pelas subnotificações causadas pelas limitações de recursos humanos e infraestrutura (PASSOS et al., 2016). Há mais ou menos duas décadas, os debates sobre a segurança do paciente foram alavancados a partir de diversas publicações. As pesquisas de projeção mundial na área verificaram que a maioria das falhas estavam relacionadas a comunicação e aos processos de trabalho da equipe que culminaram na sensibilização de profissionais e gestores para a mudança da cultura de segurança (WEGNER et al., 2016). Não é justa a responsabilização dos profissionais, ou produtos, isoladamente sobre os eventos relacionados aos pacientes, pois os principais fatores relacionados à ocorrência são as deficiências encontradas nas concepções e modos de funcionamento dos serviços de saúde. Sendo necessário muito mais o ajuste do processo que atroca da equipe (PASSOS et al., 2016). As tecnologias em saúde, de acordo com Merhy (2002), podem ser classificadas em três tipos: • Leves: correspondem às relações, gestão do processo de trabalho, acolhimento e outras. • Leves-duras: conhecimentos estruturados e específicos no âmbito da saúde. • Duras: equipamentos tecnológicos, máquinas, normas, estruturas organizacionais. INTERESSANTE 166 A abordagem no momento da investigação de um evento deve ser feita de modo imparcial e focada em investigar as melhorias dos processos que pode beneficiar outros pacientes. Os líderes de uma instituição devem estar atentos à proteção também dos profissionais que, mesmo sem julgamento, já carregam o peso da culpa, vergonha, incapacidade, sendo que a formação acadêmica não os prepara para lidar com essas situações (WEGNER et al., 2016). A implementação de cultura de segurança que colocam o paciente no centro do cuidado deve fazer parte da estrutura de toda e qualquer instituição pública ou privada. Ela é um produto de valores, comportamentos, percepções e competências de individuais e coletivas, e sua avaliação é indispensável para medir as condições que a instituição fornece para proteção ou ocorrência de danos. Apesar de terem ciência de seus direitos e o dever do Estado na provisão de saúde para a população, muitas pessoas ainda têm medo de tecer qualquer críticas ao sistema de saúde, por medo de ser penalizado tanto pela equipe que “não prestaria o cuidado adequado” quanto pelo sistema que poderia “tirar a sua vaga”. Existe, ainda, aqueles que nutrem o sentimento de conformismo sobre a baixa qualidade dos serviços, pois, na sua visão, o fato daquele atendimento ser disponibilizado para pessoas pobres justifica a sua ineficiência (LIMA et al., 2014). Um exemplo claro desse pensamento é o atendimento a pessoas transsexuais, pois, apesar de a PNH defender o direito ao atendimento livre de discriminação e com respeito ao sujeito, existem detalhes, como o nome social, que as vezes não são respeitados, culminando em constrangimento e sofrimento a essa população. Essa falta de cuidado centrado no paciente pode afastar os indivíduos dos serviços de saúde aumentando os riscos de adoecimento (BORBA, 2014). A demanda de serviço de saúde pela população é a “tradução” das questões que o usuário procura resolver, que nem sempre serão trazidas de forma clara e objetiva, afinal o trabalho com a comunidade se dá de forma heterogênea, pois fica No Brasil, foi lançado pelo Ministério da Saúde e Anvisa, no ano de 2013, o Programa Nacional de Segurança do Paciente – PNSP, que recomenda as ações para a prevenção e redução de incidentes nos serviços de saúde. Outra iniciativa brasileira é a participação em uma das iniciativas focadas na segurança do paciente, a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, criada em 2004 pela OMS, com o objetivo de aumentar a segurança e a qualidade dos serviços de saúde pelo comprometimento político de seus componentes. ATENÇÃO 167 à mercê das subjetividades. Como os protocolos assistenciais não contemplarão todas essas particularidades é importante que gestores e profissionais de saúde criem caminhos para entender os anseios dos sujeitos que buscam atendimento, fornecendo um cuidado individualizado (SOUZA; BOTAZZO, 2013). O cuidado centrado no paciente também envolve os familiares no processo de atenção à saúde, pois, além de se inserirem na dinâmica da unidade, lutam pelo bem-estar e preservação da vida do familiar. As ações desenvolvidas nas unidades, em especial as de internação, que trazem a família do paciente para o centro do cuidado permite que o serviço atenda algumas das proposições do Programa Nacional de Segurança do Paciente e da Política Nacional de Humanização (PASSOS et al., 2016). O atendimento seguro, de caráter eficaz, oportuno e centrado no paciente permite uma tomada de decisão assertiva, além de respeitar as construções socioculturais das pessoas. Para Newell e Jordan (2015), ao abranger o paciente e suas experiências a nível clínico e organizacional, manifesta-se respeito e permite que informações úteis para o cuidado sejam compartilhadas de forma aberta e sem medo, tornando a individualidade um pilar do serviço. Atendimentos de qualidade em saúde são fortalecidos pelo cuidado centrado no paciente, pois formam parcerias entre profissionais, usuários e família para garantir o respeito aos pacientes e a participação nas tomadas de decisões sobre o seu estado de saúde. Sem dúvidas não é fácil a criação dessas frentes de trabalho, até mesmo pelo modelo tradicional que permeia muitos serviços, mas essa ação transformadora permite que o usuário se torne autônomo e desenvolva habilidades que permitam viver a vida de forma completa (GROENE et al., 2015). 4 DESAFIO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL A gestão tradicional de caráter centralizador e autoritário resulta na alienação do trabalhador ao passo que não permite ser questionada ou discutida. A monopolização da administração pode parecer fácil em um primeiro momento, mas não transforma positivamente as realidades, enquanto a democrática permite envolver histórias, afetos e significados de todos os atores para planejar, fazer e avaliar as intervenções necessárias (MAERSCHNER et al., 2014). O profissional, apesar de sua dedicação para a produção de saúde, se depara, em nosso país, com ambientes insalubres e remuneração reduzida, e quando entram em contato com o paciente, suas histórias e necessidades vivencia diversos conflitos internos que geram sofrimento psíquico e o acometimento de doenças de fundo laboral. Em meio a todas estas questões, o trabalhador precisa lidar, ainda, com a inconsistência de ações de educação permanente e carência de insumos e equipamentos que produzem uma assistência desumanizante e de má qualidade, desmotivando o profissional para mudanças (LIMA et al., 2014). 168 Não é produtivo a imposição de ações sem os esclarecimentos e entendimento de todos os atores sobre “o porquê” e o “para que”. Trabalhar no SUS não é apenas depositar seus princípios (universalidade, integridade e equidade), mas o profissional precisa refletir sobre de que forma a filosofia do sistema de saúde pode ser validada na prática e quais os empecilhos individuais e coletivos atravancam esse avanço. O equilíbrio das relações de poder descentraliza as decisões e aumenta a união da equipe (PAVAN; TRAJANO, 2014). A PNH não pode se tornar mais um instrumento para a cobrança de metas e pressão dos trabalhadores, isso demonstraria autoritarismo e vai contra tudo que a política prega, além de que o desejo de contemplar integralmente uma população não é a única força motriz para melhorar os processos de trabalho. Os gestores precisam estar preparados para lidar com o coletivo, mas nem sempre percebemos muito investimento nesse sentido (PAVAN; TRAJANO, 2014). Em qualquer tipo de trabalho as relações estabelecidas entre profissionais, seus líderes e os clientes podem gerar satisfação ou sofrimento. No que tange às equipes multiprofissionais, essas relações são ainda mais íntimas, considerando que suas atividades necessitam do contato direto com seus pares e clientes e sua satisfação ou insatisfação refletirá diretamente sobre suas entregas e as complicações decorrentes de suas atividades, como os acidentes de trabalho (LIMA et al., 2014). Três fatores se destacam na busca por mudanças positivas na atenção à saúde, a cultura organizacional, a equipe e a autonomia, além das ações de educação permanente na humanização e hospitalidade e participação em programas de acreditação. Entretanto, quando trazemos essas ideias para o campo prático esbarramos em sobrecarga de atividades, que coloca o profissional na posição de escolher entre o cuidado individualizado e todas as outras atividades que são de sua responsabilidade. Independente do caminho escolhido, provavelmente esse profissional não atenderá às necessidades e expectativas de suaclientela, mas prestará um cuidado padronizado e impessoal (CALEGARI; MASSAROLLO; SANTOS, 2015). Nenhum cuidado ou atendimento de qualidade pode ser pensado fora da perspectiva da humanização. Ela é um instrumento empoderador dos grupos e transformador da realidade, independente da forma que essa se apresenta. Pode parecer um paradoxo trabalhar a humanização com humanos, mas os desafios que gestores, profissionais da saúde e usuários enfrentam no contexto das desigualdades sociais, procura mecanismos que os leve ao menor sofrimento e, consequentemente, pode bloquear sentimentos buscando diminuir as emoções negativas. Está nas mãos de todos os trabalhadores repensar suas práticas de cuidados e seus impactos na vida do outro e sensibilizar seus pares e a população para seus direitos e deveres. 169 HUMANIDADES E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE: A LITERATURA COMO ELEMENTO HUMANIZADOR PARA GRADUANDOS DA ÁREA DA SAÚDE Carina Camilo Lima Soemis Martinez Guzman Maria Auxiliadora Craice De Benedetto Dante Marcello Claramonte Gallian [...] Humanização e formação em saúde O termo humanização comporta uma gama de acepções e, também, implica controvérsias. No entanto, quando se fala em desumanização, sucede o contrário. Parece que todos compreendem seu significado, quer seja de uma forma intuitiva ou quer seja por terem sofrido as suas consequências em alguma esfera de suas vidas. Já Ortega y Gasset , em 1925, chamava a atenção para a desumanização que se verificava na nova arte que então surgia, a qual deixou de ilustrar os dramas e as paixões da vida humana e passou a permitir que os artistas adaptassem suas abstrações para exprimirem seus sentimentos. Defendia a ideia de que uma arte que propôs uma obra puramente estética e que, portanto, afastou-se da figura humana seria aceita apenas por determinado tempo, por uma minoria constituída de artistas ou adeptos do puro prazer estético. Para o autor, não é possível que um objeto estético desvinculado da vida das pessoas seja entendido como objeto de pura criação artística; e desvincular a vida pessoal e social do artista de sua criação não teria êxito para a criação de uma arte pura. Em outro âmbito, porém de forma semelhante, o ser humano doente e, portanto, fragilizado necessita, mais do que qualquer outra pessoa, ser contemplado em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos: físico, mental, emocional, social, cultural e espiritual. Em nosso país, a experiência cotidiana do atendimento da pessoa nos serviços de saúde e os resultados de pesquisas de avaliação desses serviços demonstraram que a qualidade da atenção ao usuário é uma das questões mais críticas do sistema de saúde brasileiro. Uma pesquisa de opinião pública conduzida pelo Ministério da Saúde do Brasil demonstrou que, na avaliação dos usuários, a forma do atendimento, a capacidade demonstrada pelos profissionais de saúde para compreender suas demandas e suas expectativas são fatores que chegam a ser mais valorizados que a falta de médicos, a falta de espaço nos hospitais e a falta de medicamentos. LEITURA COMPLEMENTAR 170 A avaliação inicial atraiu a atenção para as questões relacionadas ao que se convencionou chamar desumanização em saúde, e resultou em várias ações que culminaram com a instituição da Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde, o Humaniza SUS. Desde então, em ambulatórios e hospitais públicos, vêm sendo desenvolvidas ações que visam proporcionar maior conforto aos pacientes e familiares, tais como: melhora do acolhimento na porta de entrada, mediante a participação de funcionários capacitados para tal; implementação dos Serviços de Ouvidoria e Capelania; colocação de placas de identificação do paciente e seu médico nos leitos, para que pacientes possam ser chamados por seus nomes; aplicação de questionários para avaliação da satisfação dos usuários e outras medidas paras otimização e integração do atendimento aos pacientes usuários do sistema de saúde. Documentos divulgados pelo Ministério da Saúde têm explicitado as iniciativas relativas à humanização, iniciativas essas em que, de acordo com Deslandes (2006), podem ser identificados diversos sentidos, entre os quais citamos: oposição à violência institucional; qualidade do atendimento, associando excelência técnica com capacidade de acolhimento e resposta; cuidados com as condições de trabalho dos profissionais e ampliação da capacidade de comunicação entre usuários e serviços. Apesar dos avanços, o Humaniza SUS tem enfrentado críticas e desafios desde a sua criação, especialmente pela tendência em se tornar uma “escola”, não no sentido de promoção de cursos, e sim pela unificação de discursos. Além disso, as estratégias públicas de humanização incluem programas de “treinamento” os quais vêm sendo desenvolvidos na intenção de promover “habilidades humanísticas” que seriam integradas às competências técnicas do profissional da saúde. Ao se analisarem, entretanto, os resultados de tais abordagens ou programas, levando-se em consideração as opiniões e sentimentos dos que estão sendo treinados ou “educados”, percebe-se claramente que os resultados obtidos nem sempre são os almejados. Fica cada vez mais evidente que o tema humanização em saúde é extremamente complexo e envolve as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Cecílio aponta para o risco de que programas de “qualificação” e “humanização” do atendimento possam contribuir para uma instrumentalização e excessiva formalização do encontro profissional de saúde/usuário, dificultando que sejam constituídas relações terapêuticas entre ambos, as quais são genialmente ilustradas por Tolstoi na descrição da relação que se estabeleceu entre o servo Guerassin e seu senhor no conto A Morte de Ivan Ilitch. Teixeira Coelho, inspirado na obra de Montesquieu, nos apresenta uma visão mais ampla acerca da questão, referindo-se à humanização como um processo contínuo da ampliação da esfera do ser que vai bem além de um conjunto específico de competências e habilidades. Os seguintes sintomas da desumanização ainda tão presentes no cuidado à saúde do povo brasileiro – filas desnecessárias; descaso e descuidado com as pessoas; incapacidade de lidar com histórias de vida, sempre singulares e complexas; práticas 171 éticas descabidas, como: a discriminação, a intimidação, a submissão a procedimentos e práticas desnecessárias; a exclusão e o abandono, talvez as experiências mais bárbaras às quais as pessoas podem ser submetidas – refletem quão importantes têm se mostrado esses questionamentos em relação ao Humaniza SUS. Fica claro que a efetividade de qualquer programa de humanização dependerá dos atores que atuam no cuidado aos usuários dos sistemas de saúde, ou seja, dos profissionais da área de saúde. Assim, investir em sua formação acadêmica e fomentar o profissionalismo são condições essenciais para o preparo de profissionais que demonstrem, em seu comportamento, que são merecedores da confiança que recebem dos pacientes por estarem trabalhando para o seu bem. Swick identifica nove atitudes que caracterizam o profissionalismo médico, entre os quais citamos: busca de altos padrões éticos e morais; compromisso contínuo com a busca de excelência, graças à constante aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de novas habilidades; capacidade para lidar com altos graus de complexidade e incerteza; manifestação do que o autor chama de valores humanísticos, o que envolve empatia e compaixão, honestidade e integridade, cuidado e altruísmo, respeito pelos outros e lealdade; e, finalmente, reflexão sobre decisões e ações. Quando transportamos essas ideias para nosso contexto, fica fácil compreender que essas atitudes dizem respeito a qualquer profissional de saúde que poderia ser considerado humanizado. As propostas de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos Cursos de Graduação da área de Saúde, elaboradas pelas Comissões de Especialistas de Ensino e homologadas emoutubro de 2001, também demonstram a preocupação dos educadores brasileiros para a formação de profissionais “humanizados”. As DCNs recomendam que devam ser contemplados elementos que promovam competências para o estudante se desenvolver intelectual e profissionalmente, com a possibilidade de vir a ser autônomo em caráter permanente, ou seja, percorrer o caminho de formação acadêmica e/ou profissional que não termina com a concessão do diploma de sua graduação. O Conselho Nacional de Educação, ao instituir as DCNs para os cursos na área de saúde, em especial para a Medicina e Enfermagem, sugere um corpo de disciplinas que fundamentariam a aquisição de todas as atribuições que um profissional pode e deve possuir para a sua plena realização na prática de sua profissão. As DCNs recomendam a formação de um profissional capaz de atuar de acordo com uma visão biopsicossocial que leva em consideração as necessidades sociais da saúde, com ênfase no SUS. O perfil almejado do formando egresso/profissional é um enfermeiro ou médico com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Para cumprir seu intento, os conteúdos curriculares devem contemplar não apenas as Ciências Biológicas e da Saúde, mas, também, as Ciências Humanas e Sociais. Assim, as questões referentes à humanização não foram esquecidas na elaboração das propostas das DCNs. 172 As instituições de Ensino Superior têm enfrentado um grande desafio para compor uma carga horária a ser cumprida para a integralização dos currículos de forma a considerar todos esses aspectos. Apesar da ampla liberdade garantida a essas instituições para o cumprimento de tal desafio, o modelo predominante de ensino e prática das Ciências da Saúde, enfocado na fragmentação, especialização e avanços tecnológicos, tem reinado todo-poderoso desde há algumas décadas. Assim, o ensino da biomedicina ainda tende a ocupar um papel predominante na grade curricular dos cursos de graduação na área de saúde, os quais apresentam a estruturação de seus currículos centrados em disciplinas relacionadas às Ciências Naturais, cuja abordagem, em geral, é pautada no cuidado do corpo como matéria separada da mente e da esfera humanística, o que tem contribuído para a formação de profissionais com perfil eminentemente técnico e cientificista. Tal modelo começou a se desenvolver com o Iluminismo dos séculos XVII e XIX, e ganhou força graças ao estabelecimento da visão positivista do paradigma cartesiano- newtoniano nos diferentes campos do conhecimento. Incontáveis são as vantagens advindas desse modelo, o qual foi o responsável pela supressão ou diminuição de grande parte do sofrimento humano decorrente de enfermidades e traumatismos. No entanto, uma constatação quase sempre presente nos mais variados cenários de ensino e prática da Medicina é a de que profissionais, estudantes da área de saúde e pacientes não estão totalmente satisfeitos, pois sentem que algo está faltando. As questões concernentes ao que se convencionou chamar desumanização em saúde ilustram tal ideia. Certamente, as Humanidades, em especial a Literatura, têm muito a contribuir para o desenvolvimento das Ciências da Saúde, na medida em que nos tornam mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade e o semelhante. A revalorização das Humanidades é uma necessidade no caminho para uma prática da saúde menos compartimentada e mais humana, pois elas auxiliam a compreensão da subjetividade e a complexidade presentes no ser humano. Por meio das Humanidades, os graduandos têm a oportunidade de fomentar sentimentos empáticos, reais e diferenciados no que diz respeito ao cuidado do outro, o que traz um potencial de melhoria em sua vida pessoal e formação. FONTE: LIMA, C. C. et al. Humanidades e humanização em saúde: a literatura como elemento humanizador para graduandos da área da saúde: a literatura como elemento humanizador para graduandos da área da saúde. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 18, n. 48, p. 139-150, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832014000100139&lng=pt&tlng =pt. Acesso em: 6 out. 2020. 173 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Existem grandes desafios para os gestores dos serviços que almejam criar a base de uma cultura organizacional humanizada que valoriza pessoas, preza por relações de qualidade entre trabalhadores da saúde. • Os resultados esperados na implantação da PNH traduzem algumas das insatisfações mais antigas e recorrentes dos serviços de saúde, como a redução de filas e resolutividade no atendimento. • No desafio para a construção de uma saúde pública de qualidade, os gestores devem estar abertos para identificar as reais fragilidades do SUS e as possibilidades de mudança. • Discutir ações de segurança e cuidado centrado no paciente fortalece o trabalho de humanização no campo da integralidade e respeito aos indivíduos. • A gestão tradicional de caráter centralizador e autoritário gera a alienação do trabalhador e impede a transformação positiva da realidade dos serviços de saúde. 174 1 No decorrer do Tópico 3, discutimos o trabalho do gestor dentro da perspectiva da Humanização em Saúde. Com base nesses conhecimentos, analise as afirmações e marque V para aquelas que você considera verdadeiras e F para falsas. ( ) O perfil do serviço de saúde e a cultura da melhoria contínua está ligado ao perfil do gestor, que deve focar nas das atividades administrativas para prover melhores condições de saúde. ( ) Um dos maiores desafios para gestores do SUS é o seu financiamento que atende, no mínimo, 75% da população que não tem plano particular com menos da metade dos recursos investidos em saúde no Brasil. ( ) Na ocorrência de um evento adverso na prestação do cuidado o gestor deve estar atento para afastar a equipe responsável ou suspender o uso de insumos ou medicamentos. ( ) A PNH não pode se tornar mais um instrumento para a cobrança de metas e pressão dos trabalhadores, isso demonstraria autoritarismo e vai contra tudo que a política defende. ( ) Durante a formulação dos planos estaduais e municipais o poder público deve considerar as ideias de humanização apenas para melhorar a cordialidade dos profissionais com a comunidade. ( ) Na cogestão, os apoiadores institucionais trabalham como pontes entre a gestão e os profissionais ( ) Durante o desenvolvimento de seu trabalho o gestor deve se manter atento à imagem que sua equipe passa ao usuário, a agilidade na resolução de problemas, definir responsabilidades e priorizar sempre a satisfação. a) ( ) V – F – V – F – F – F – V. b) ( ) V – F – V – V – V – F – V. c) ( ) F – V – V – F – V – V – V. d) ( ) F – F – V – F – V – V – V. e) ( ) F – V – F – V – F – V – V. 2 Segundo o Ministério da Saúde, existem grandes desafios para a melhoria e fortalecimento do SUS que, em diferentes graus, necessitam do empenho dos gestores, exceto: a) ( ) Fortalecer os processos de regionalização cooperativa e solidária. b) ( ) Aumentar o envolvimento da lógica privada na organização das redes de saúde. c) ( ) Garantir recursos suficientes para o financiamento do SUS. d) ( ) Qualificar o sistema de cogestão. e) ( ) Superar a disputa de recursos entre os entes federados. AUTOATIVIDADE 175 3 Para atender os pressupostos da PNH existem alguns eixos de trabalho no campo da gestão dos serviços de saúde. Na sua opinião, por qual motivo é importante que no gerenciamento da PNH seja realizado o planejamento, monitoração e avaliação das ações? 4 Os desafios e entraves apresentados por um serviço de saúde em relação à qualidade recaem normalmente sobre o gestor que, para vencer estes desafios, deve trabalhar algumas qualidades, dentre elas: a) ( ) Pragmatismo, sensibilidade, amabilidade e permissibilidade. b) ( ) Visão clara, foco na estrutura física, pragmatismo e sensibilidade. c) ( ) Visão clara, sensibilidade,distanciamento e determinação. d) ( ) Pragmatismo, hierarquização e determinação. e) ( ) Sensibilidade, visão clara, pragmatismo e determinação. 5 Sem dúvidas, gerenciar um serviço de saúde com qualidade nem sempre é uma tarefa fácil, porém o profissional que atua nessa área deve sempre se aprimorar sobre as questões técnicas e políticas, pois existem diversas forças que disputam poder e geram conflitos. De qual forma o gestor pode manejar estas disputas? 176 REFERÊNCIAS ALVES, A. C. et al. Parto humanizado e gestão pública: estudo de caso do ISEA – Campina Grande – PB. Revista Pensamento e Realidade, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 1, 2015. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/pensamentorealidade/article/ view/22862. Acesso em: 6 jun. 2020. ANDRADE, C. G. de; COSTA, S. F. G. da; LOPES, M. E. L. Cuidados paliativos: a comunicação como estratégia de cuidado para o paciente em fase terminal. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 9, p. 2523-2530, 2013. Disponível em: https:// www.scielo.br/pdf/csc/v18n9/v18n9a06.pdf. Acesso em: 6 jun. 2020. AZEREDO, Y. N.; SCHRAIBER, L. B. Violência institucional e humanização em saúde: apontamentos para o debate: apontamentos para o debate. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 9, p. 3013-3022, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ csc/v22n9/1413-8123-csc-22-09-3013.pdf. Acesso em: 6 jun. 2020. BACKES, M. T. 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