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Direito Penal Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Fato Típico • Introdução; • Noções Preliminares; • Elementos do Fato Típico; • Conduta; • Resultado; • Nexo Causal; • Tipicidade; • Conclusão. · Estudar o primeiro elemento do conceito analítico de crime, ou seja, o fato típico; · Identificar alguns pontos extremamente importantes na ocorrên- cia de um crime, entre eles, qual foi a conduta do agente, qual foi o resultado de sua conduta, qual foi a sua motivação ao realizar a sua conduta etc; · Apurar o que, efetivamente, o agente fez e se sua conduta, numa primeira análise, enquadra-se na descrição realizada pela Lei para a infração penal. Como primeiro elemento do conceito de crime, o fato típico desempenha importante função de separar, ainda que de forma não conclusiva, as condutas que se caracterizam como crimes e aquelas que não têm a possibilidade de receber esse enquadramento. OBJETIVO DE APRENDIZADO Fato Típico Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Fato Típico Introdução O conceito analítico de crime é: Importante! Crime é um fato típico, antijurídico e culpável. Importante! Esse conceito, ainda que não seja unânime, é o mais aceito pelos autores que se dedicam ao estudo do Direito Penal. Um detalhe que precisamos destacar é que, na análise de casos concretos, o cor- reto é analisar os elementos do crime de acordo com a ordem apresentada nesse conceito, ou seja, em primeiro lugar se analisa se ocorreu um fato típico, em seguida, se o fato é antijurídico e, por fim, verifica-se a culpabilidade. Noções Preliminares Antes de iniciarmos o estudo do fato típico, vamos conhecer três assuntos que serão de grande importância. Fato Atípico e Atipicidade Penal O estudo do fato típico nos levará a comparar condutas que potencialmente se caracterizam como crimes com seus elementos formadores, sendo que o resulta- do, ao término dessa comparação, pode ser de dois tipos: • Se a conduta se amoldar perfeitamente aos elementos do fato típico (que estudaremos em seguida) falamos que há tipicidade na conduta do agente; • Por outro lado, se a conduta não se enquadrar em alguns dos elementos do fato típico, iremos falar que essa conduta é atípica, ou seja, não se caracte- riza como sendo uma infração penal. O Código Penal O Código Penal – Decreto-lei n.º 2.848/40, possui uma importante divisão que precisamos conhecer: • Parte Geral: engloba os Artigos 1º a 120 e tem a função de descrever ele- mentos sobre a caracterização dos crimes, quais são as formas de conduta, quais são as motivações do agente que possuem relevância para o Direito 8 9 Penal, quais são as penas que podem ser aplicadas, a forma de cumprimen- to dessas penas etc.; • Parte Especial: engloba os artigos 121 e seguintes e tem como principal fun- ção apresentar as normas penais incriminadoras, ou seja, a descrição das con- dutas que se caracterizam como crimes e suas respectivas penas. É importante destacar que, em regra, as normas contidas na Parte Geral são aplicadas a todos os crimes, mesmo aqueles previstos nas Leis Penais Extravagan- tes – salvo se nelas houver alguma indicação em contrário. Normas Penais Incriminadoras As Normas Penais Incriminadoras são aquelas que apresentam a descrição das condutas que se caracterizam como crime, sendo que elas são criadas utili- zando uma forma especial chamada de tipo penal. O tipo penal é formado, basicamente, por três elementos: Figura 1 • Nomen Juris: é o nome dado pelo legislador ao crime. Não é um elemento obri- gatório, sendo que há no Código Penal alguns crimes sem nome e em algumas Leis Penais Extravagantes nenhum dos crimes apresenta esse elemento; • Preceito Primário: nele se encontra a descrição da conduta que se caracteri- za como crime. Especial destaque deve ser dado para o chamado núcleo do tipo, que é o verbo ou os verbos que indicam como a conduta se desenvolve, em especial, se ela é um fazer (uma ação) ou um não fazer (uma omissão); • Preceito Secundário: nele é apresentada a previsão de sanção que será aplica- da para aquele que cometer a infração penal. Aqui falamos em pena comina- da, ou seja, pena prevista. Nesse elemento do tipo penal, precisamos destacar as seguintes partes: » Tipo de pena privativa de liberdade cominada – que nos crimes sempre deve estar presente, sendo que neles há duas possibilidades: a reclusão e a detenção; » O tempo da pena privativa de liberdade cominada; » A aplicação ou não da pena de multa: quando aplicada, ela pode ser cumu- lativa ou alternativa com a pena privativa de liberdade. 9 UNIDADE Fato Típico Elementos do Fato Típico Dada a importância que o Princípio da Legalidade possui para o Direito Penal, não é de se estranhar que o primeiro elemento do conceito de crime esteja extre- mamente atrelado ao que a Lei estabelece como sendo crime. No fato típico, vamos analisar a conduta do agente que gera um resultado que está previsto na Lei. Os elementos do fato típico são os seguintes: FATO TÍPICO CONDUTA RESULTADO NEXO CAUSAL TIPICIDADE Figura 2 Fonte: Acervo do Conteudista Vamos conhecer cada um desses elementos. Conduta Podemos definir a conduta como sendo um fazer (ação) ou um não fazer (omis- são) humana, consciente e voluntária, que se destina a realizar uma finalidade. Isto é, é a forma como a intenção do agente se exterioriza. Formas de Conduta A conduta pode ser: • Um fazer → nesse caso, temos os crimes de ação ou crimes comissivos; • Um não fazer o que a Lei determina → neste caso, temos os crimes omissivos. Nos crimes comissivos (crimes de ação), falamos que o tipo penal é proibitivo. Código Penal Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 10 11 Observe que o crime de furto é um crime comissivo; o núcleo do tipo (o verbo “subtrair”) indica uma ação. Dessa forma, por ser ter um tipo penal proibitivo, essa norma penal deve ler interpretada da seguinte forma: Importante! É proibido subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Quem realizar esse tipo de conduta está passívelda sanção de reclusão, de um a quatro anos, além da multa. Importante! Já os crimes omissivos possuem o chamado tipo penal mandamental, em que o legislador estipula que o agente, diante da situação descrita no preceito primário, deve realizar uma determinada conduta. O tipo penal dá uma ordem, um manda- mento. Caso ele não faça o que a Lei determina, estará praticando um crime. Código Penal Omissão de notificação de doença Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Em relação a esse crime omissivo, observe os seguintes detalhes: • O núcleo do tipo é o verbo deixar, que indica uma inação; • A ordem dada pelo legislador não se destina a todas as pessoas, mas somente ao médico que atenda a uma pessoa cuja doença é de notificação compulsória; • A omissão não é simplesmente deixar de fazer algo, mas deixar de realizar a ordem dada pela Lei. Não há Conduta Por não haver consciência e voluntariedade, não há conduta em situações como: • Nos atos reflexos; • No sonambulismo. Elementos Objetivos da Conduta Na análise dos elementos objetivos da conduta, deve ser realizada uma verificação se a conduta (ação ou omis- são do agente) está adequada à forma como o crime está descrito na norma penal. Aqui não se deve aferir as intenções do agente, mas somente o que ele fez. Figura 3 Fonte: pixabay.com 11 UNIDADE Fato Típico José da Silva dá um soco no rosto de Benedito de Oliveira, causando uma fratura no nariz da vítima. Essa conduta, em uma primeira análise, pode se enquadrar como sendo o cri- me descrito no Artigo 129 do Código Penal – Lesão corporal. Vamos ver o tipo penal básico desse crime. Código Penal Lesão corporal Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Na análise dos elementos objetivos da conduta, precisamos realizar a seguin- te verificação: A conduta de José da Silva – ao efetuar o soco – ofendeu a integridade corporal ou a saúde de Benedito de Oliveira? Nesse caso, a resposta somente pode ser sim. Isso significa que os elementos objetivos do tipo penal estão presentes na conduta do agente. Elementos Subjetivos da Conduta Na análise dos elementos subjetivos, vamos verificar a motivação, a finalidade da conduta do agente. Aqui nos interessam dois conceitos: • Dolo; • Culpa. Dolo Há duas formas de dolo: • Dolo direto; • Dolo indireto. Essas duas formas estão previstas na Lei, da seguinte forma: Código Penal Art. 18 - Diz-se o crime: Crime doloso I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; 12 13 No dolo direto, a conduta do agente é voltada para atingir um resultado que ele verifica como possível e que ele deseja. Voltando ao exemplo do soco, José da Silva, ao desferir o soco em Benedito de Oliveira quer, de forma inequívoca, provocar-lhe uma lesão corporal. Agora, analise o exemplo a seguir. Um dentista, para economizar com mate- riais, aplica uma injeção em um paciente e utiliza uma seringa que, anteriormente, já havia sido utilizada em outra pessoa. Em razão da contaminação da seringa, o paciente desenvolve uma séria infecção que necrosa uma área de sua boca. Figura 4 Fonte: pixabay.com Em uma situação como essa, fica claro que o agente não desejava provocar a séria lesão corporal no paciente (como vimos, sua intenção era a de “economizar”); con- tudo, em razão de sua formação, fica claro que ele, ao realizar essa conduta, assumiu o risco de produzir o resultado. Esse resultado era previsível e, mesmo assim, ele, de forma consciente, assumiu o risco que ela ocorresse. Assim forma, ele responderá pela lesão corporal dolosa que praticou. Culpa Há certas atividades humanas que, apesar de representarem risco para as pessoas, não podem ser retiradas de nosso cotidiano, em razão da necessida- de. É o que acontece com a direção de veículos, o manuseio de guindastes, o manuseio de substâncias químicas, a utilização de fogo para cozinhar etc. Nessas atividades, contudo, o agente deve se comportar de forma a minimi- zar a possibilidade de que haja riscos para outras pessoas – a isso chamamos de dever objetivo de cautela (ou dever objetivo de cuidado). Assim, na condução de um veículo, você deve respeitar o limite de velocidade na via, dirigir somente se for habilitado, somente ultrapassar em locais permitidos etc. Se há desrespeito ao dever objetivo de cautela e o resultado acontece, precisa- mos verificar se o agente agiu em uma das modalidades de culpa, ou seja, a im- prudência, a negligência ou a imperícia. Na imprudência, estão presentes dois elementos: • O imprudente é aquele que faz algo com desrespeito do dever objetivo de cautela; • Enquanto a sua conduta se desenvolve, ocorre o resultado. 13 UNIDADE Fato Típico É imprudente o motorista de um veículo que dirige sem o dever objetivo de cui- dado, ultrapassa o semáforo vermelho e atropela um pedestre que está atraves- sando a via na faixa de segurança. Figura 5 Fonte: pixabay.com Na negligência, há também dois elementos: • O negligente é aquele que deixa de fazer algo que seria exigível e, dessa for- ma, deixa de observar o dever objetivo de cuidado; • Nessa modalidade de culpa, há dois momentos distintos: » Um em que o negligente deveria fazer algo e não fez; » Outro em que ocorre o resultado. É negligente o motorista que constata que seu veículo está com problemas no sis- tema de freios e, mesmo assim, ele anda com o veículo. Ao andar com o veículo por uma rua, ele tenta frear, não consegue em razão do defeito, e vem a atropelar um pedestre, provocando morte dele. Somente devemos destacar esses dois momentos distintos: • O momento em que ele constata o defeito e não realiza o imediato conserto; • O momento posterior, em que ele vem a atropelar o pedestre em razão de não conseguir frear o veículo. Já na imperícia temos uma situação diferente, pois o imperito é aquele que, mesmo tendo autorização para realizar certa atividade, não possui a necessária habilidade e, em razão disso, pratica o crime. Um motorista devidamente habilitado nunca dirigiu uma grande caminhonete com câmbio automático; porém, não respeitando o dever objetivo de cuidado, na primeira vez que dirige esse tipo de veículo, faz isso em alta velocidade e, por não possuir a devida habilidade, sobe numa calçada ao fazer uma curva, atropela e mata um pedestre. Observe que o motorista, em nosso exemplo, tem autorização para dirigir o veículo; contudo, não tem a devida habilidade – é o que vulgarmente chamamos de “barbeiro”. 14 15 Se ele não possui autorização para realizar uma determinada tarefa e mes- mo assim o faz, causando o resultado, ele será imprudente e não imperito. Observe que um caso concreto pode abranger mais de uma modalidade de culpa. Um motorista sabe que seu veículo está com problemas no sistema de freios, mas, mesmo assim, ele continua a transitar com ele. Mesmo sabendo do defeito, ele di- rige em alta velocidade e não respeita um semáforo vermelho. Em razão dessa com- binação de fatores, ele não consegue frear o veículo, atropela e mata um pedestre que está atravessando a via na faixa de pedestres. Nesse caso, falamos que ele foi imprudente e negligente. Algumas outras características dos crimes culposos precisam ser destacadas: • Nesses crimes, o agente não deseja o resultado. Nesses exemplos, os moto- ristas somente querem utilizar seus veículos para se deslocar, não havendo intenção de provocar lesões ou mortes; • O resultado é previsível; contudo, na situação concreta, não é previsto pelo mo- torista. É o caso de alguém que está em alta velocidade, dirigindo em uma via pública em razão de estar atrasado para o trabalho. É claro que é possível prever que essa conduta pode causar um acidente, mas, isso não passa pela cabeça do motorista, que somente está pensando em não chegar atrasado; • Outra questão importante é que o resultadoé imprescindível para esses crimes. Se um motorista está em alta velocidade numa via, não respeita o semáforo vermelho e, mesmo assim, não lesiona ou mata alguém, não podemos falar em crime culposo. Por essa razão, os crimes culposos não admitem tentativa. Excepcionalidade da Culpa Os crimes dolosos são a regra no Direito Penal; assim, quando analisamos um tipo penal, precisamos entender que ele é doloso, ou seja, que o agente quer o resultado ou assumiu o risco de provocá-lo. Todos os crimes do Código Penal são dolosos e somente alguns deles admitem também a modalidade culposa. Observe que no Código Penal não há nenhum crime que somente admite a forma culposa. Mas como saber que um crime também admite a modalidade culposa? Ex pl or Quando o crime admitir a modalidade culposa, o legislador, expressamente, rea- liza essa indicação. É o que acontece com o homicídio e a lesão corporal. 15 UNIDADE Fato Típico Código Penal Art. 121 (...) Homicídio culposo § 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. Art. 129 (...) Lesão corporal culposa § 6° Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano. Não havendo essa expressa indicação, o crime não admite a forma culposa, so- mente possuindo a forma dolosa. Resultado O resultado é o elemento que, como o próprio nome indica, advém da conduta do autor do crime; contudo, não se confunde com essa conduta. JOSÉ DESEJA MATAR PAULO JOSÉ EFETUA UM DISPARO DE ARMA CONTRA PAULO PAULO É ATINGIDO PELO DISPARO PAULO MORRE CONDUTA RESULTADO Figura 6 Fonte: Acervo do Conteudista Há duas espécies de resultados no Direito Penal: • O resultado jurídico; • O resultado naturalístico. O resultado jurídico está presente em todos os crimes, pois ele significa que a conduta do agente se choca com a Lei Penal, produzindo esse tipo de resultado. Já o resultado naturalístico ocorrerá quando a conduta do agente causar mudança no mundo perceptível pelos sentidos; nem sempre acontece em to- dos os crimes. Considerando a existência ou não do resultado naturalístico, os crimes podem ser classificados de três formas distintas: 16 17 • Crimes materiais: são aqueles em que o resultado naturalístico, necessaria- mente precisa acontecer para que haja a consumação do crime. É o caso do homicídio. Código Penal Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Para que esse crime esteja plenamente caracterizado é necessário que ocorra o resultado, ou seja, a morte da vítima. Crimes formais: neles, o resultado naturalístico está previsto no tipo penal, contudo, ele não precisa acontecer para que o crime se consume. É o caso da extorsão mediante sequestro. Código Penal Extorsão mediante sequestro Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para ou- trem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos. Ao contrário do que muita gente pensa, para que esse crime se consume basta que alguém seja sequestrado com a finalidade de se obter um resgate para que haja a sua libertação, não sendo necessário que: • Haja um pedido de resgate; • Que o resgate seja pago. Observe, nesse particular, a presença no tipo penal das elementares com o fim de obter – ela faz toda a diferença, pois com ela se indica que o resultado pretendido pelo agente (o recebimento do resgate), apesar de previsto no tipo penal, não precisa ocorrer. Basta que haja na conduta a finalidade de se obter aquele resultado. Dessa forma, o crime estará plenamente caracterizado se ocorrer o seques- tro com essa finalidade e os autores forem presos mesmo antes de realizarem qualquer pedido de resgate ou de receberem qualquer valor para liberar a vítima. • Crimes de mera conduta: como o próprio nome já indica, nesses crimes, há somente a conduta do agente, sendo que ela, por si só, já se caracte- riza como crime, não havendo a necessidade de ocorrência de qualquer resultado naturalístico – na verdade, ele é impossível ou não previsto para a infração penal. É o caso do crime de posse ilegal de arma. 17 UNIDADE Fato Típico Estatuto do Desarmamento – Lei n.º 10.826/03 Posse irregular de arma de fogo de uso permitido Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Nesse caso, basta que haja a conduta de possuir ou manter a guarda de arma de fogo em desacordo com a Lei. Não é necessário qualquer resultado; não é preciso atirar em alguém, ferir alguém com a arma, ameaçar alguém com a arma etc. Nexo Causal O nexo causal ou relação de causalidade é uma ligação necessária entre a conduta e o resultado, ou seja, o resultado, necessariamente, advém da conduta. CONDUTA NEXO CAUSAL RESULTADO Figura 7 Fonte: Acervo do Conteudista Se o resultado não advém da conduta, o agente: • Não responde pelo resultado; • Eventualmente, responderá por sua conduta se ela se caracterizar como crime. Observe o seguinte exemplo: José deseja matar Maria e oferece um suco en- venenado. A vítima, sem nada saber, aceita e toma a bebida. O veneno utilizado tem por característica provocar a morte somente após 4 horas de sua ingestão, não apresentando sintomas antes disso. Maria se despede de José e sai caminhando. Por estar olhando para seu celular, acaba atravessando uma via sem tomar qualquer tipo de cuidado, é atropelada por um caminhão que por lá passava e vem a morrer de imediato. Figura 8 Fonte: pixabay.com 18 19 Nesse caso: • A conduta de José não causou o resultado morte de Maria, razão pela qual ele não responderá pelo crime de homicídio; • José, contudo, tentou matar Maria, razão pela qual responderá por tentativa de homicídio. Quando falamos em nexo causal estamos nos referindo às causas do resultado, ou seja, tudo aquilo que, efetivamente, contribuiu para o resultado. Quem deu cau- sa ao resultado responde pelo crime. Veja o exemplo a seguir: José, apesar de não possuir CNH, está dirigindo um veículo em via pública, e Maria o acompanha. Durante o trajeto, José para regularmente o veículo em razão de o semáforo estar vermelho. O motorista que vinha logo atrás, distraído com seu telefone celular, não percebe que o trânsito parou e atinge, com violência, o carro de José, provocando uma lesão corporal em Maria. Nesse caso, o fato de José não possuir CNH foi causa para a lesão corporal em Maria? Note que não há nexo causal entre o fato de José não possuir CNH e a lesão provocada em Maria. Dessa forma, ele não responderá por esse crime. Importante! Em situações como essas, precisamos utilizar o Método Hipotético de Eliminação, ou seja, ao analisarmos uma situação concreta, precisamos retirar uma determinada causa e, em seguida, perguntar se o crime ocorreria da mesma forma. Se o resultado for sim, é sinal de que essa causa eliminada não contribui para o resultado. Importante! Nesse caso, vamos eliminar o fato de José não possuir CNH e, em seguida, vamos perguntar – O crime ocorreria da mesma forma? A resposta é sim. Dessa forma, o fato de José não possuir autorização para con- duzir o veículo não causou o resultado, e ele não responderá por ele. Há a possibilidade de um crime possuir mais de uma causa, o que chamamos de concausas, e todos que contribuíram para o resultado responderão por ele. Se hou- ver alguma dúvida, basta realizar o Método Hipotético de Eliminação. Tipicidade Neste último elemento do fato típico, precisamos verificar se: A conduta realizada pelo agente, que provocou o resultado, está prevista na Lei Penal como sendo um crime. 19 UNIDADE Fato Típico Ou seja, precisamos verificar se há previsão na Lei de que aquele proceder, com aquele resultado, ajusta-seao que a Lei Penal estipula como sendo uma in- fração penal. Conclusão A análise do fato típico é imprescindível para que possamos iniciar a aferição se a conduta de alguém caracteriza crime, sendo que essa análise se apresenta bastante complexa, por envolver, necessariamente, os seus quatro elementos. Se o fato for típico, haverá a necessidade de verificarmos os demais elementos caracterizadores do crime, ou seja, a antijuridicidade e a culpabilidade. Por outro lado, se faltar qualquer elemento do fato típico, já podemos afirmar que a conduta não caracteriza crime. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Planalto Constituição Federal. https://goo.gl/zkkqdm Planalto Código Penal. https://goo.gl/NCFfS3 Planalto Código de Processo Penal. https://goo.gl/7awiab Planalto Lei das Contravenções Penais. https://goo.gl/meStBE 21 UNIDADE Fato Típico Referências BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. v. 1. GONÇALVES, V. E, R. Curso de direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2015. (e-book) ISHIDA, V. K. Curso de direito penal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. (e-book) MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 34. ed. São Paulo: Atlas, 2018. SARLET, Ingo Wolfgang; MARIONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 22
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