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Amar Como Jesus Ama

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Seria difícil pensar em um único tema mais falado, mais cantado e mais
celebrado do que o amor. No entanto, em parte por ser tão familiar, o amor é
quase sempre tido como favas contadas e com frequência é entendido
erradamente pelas mesmas pessoas que mais falam a respeito. E, encaremos a
realidade: isso é verdade até mesmo na igreja. Somos gratos a Philip Ryken por
essa análise maravilhosamente renovada e bíblica do que o amor verdadeiro é,
quando o vemos na perfeita pureza de Cristo. Ao mesmo tempo simples e
profundo, esse livro certamente questionará suas pressuposições sobre o amor
e o ajudará a ver o amor autêntico sob uma luz inteiramente nova.
John MacArthur, pastor na área de ensino da igreja Grace Community
Church, Sun Valley, Califórnia, Estados Unidos, e autor de vários livros
Usando um esquema peculiar, Ryken torna compreensível o Capítulo do Amor,
escrito por Paulo, por meio de relances da vida de Jesus e dos discípulos. Dessa
maneira, ele nos mergulha no amor superabundante de Jesus e nos anima a
passá-lo adiante. Que esse livro o cubra por completo com a plenitude do amor
exuberante do Deus triúno!
Marva J. Dawn, professora de Teologia Espiritual na Regent College e
autora de Truly the community
Philip Ryken destaca o que é verdadeiramente importante quando se concentra
no atributo central que, em teoria, deve caracterizar aqueles que seguem
Jesus: que amemos uns aos outros. E a definição de amor que ele apresenta não
é uma abstração teórica, mas é solidamente personificada pelo próprio Jesus.
Não consigo imaginar um livro mais oportuno do que esse ou uma mensagem
de que a igreja precise mais desesperadamente do que o chamado a amar como
Jesus amou. Ryken prestou um grande favor a todos nós, levando-nos como um
pastor a buscar o aspecto central de nosso chamado para sermos como Jesus.
Carolyn Custis James, presidente da Synergy Women’s Network e autora
de When life and beliefs collide
Boa parte de seguir Jesus é uma questão de sermos lembrados daquilo que
aprendemos no passado. Eu aprendi que ele me amou primeiro e que seu amor
está no âmago da minha pequena capacidade de amar os outros. Eu aprendi
certa vez que, quando meu amor se acabasse, ele permaneceria comigo e me
reabasteceria até transbordar. Eu aprendi essas coisas, mas tinha esquecido
delas. Serei sempre grato a Philip Ryken por esse importantíssimo lembrete.
Michael Card, músico, professor de Bíblia e autor de A better freedom
Com base em um estudo cuidadoso, imerso na Escritura e muito consciente do
mundo em que vivemos e das experiências pelas quais as pessoas passam,
Ryken mostra como podemos amar com o tipo de amor que Deus demonstrou
por nós. Essas qualidades fizeram de Ryken um de meus autores favoritos, e
também de minha esposa.
Ajith Fernando, diretor de ensino da Mocidade para Cristo, Sri Lanka e
autor de A supremacia de Cristo (Shedd)
Outra contribuição notável de Philip Ryken, a qual, na minha condição de
seguidor de Cristo, me desafia lá no íntimo do meu ser. Se, de fato, tudo se
resume ao amor — ao amor de Deus por um mundo perdido e ferido —, então a
pergunta é: como seguidor de Cristo, até que ponto estou imitando esse amor?
Caso ousemos pensar que estamos amando como Cristo, esse olhar perspicaz
sobre o Capítulo do Amor nos levará a repensar o assunto.
Emery Lindsay, bispo-presidente da junta diretiva da denominação Church
of Christ (Holiness), nos Estados Unidos
Existem muitas exposições de 1Coríntios 13, mas bem poucas mostram como o
amor de Deus em Cristo Jesus é a melhor de todas as exibições e a mais
verdadeira personificação do amor. Analisando o Capítulo do Amor por esse
prisma, Ryken dá grande clareza à meditação de Paulo sobre o amor e mostra
como esse amor nos leva de volta a uma renovada adoração de Cristo. Refletir
sobre como Cristo, mediante sua vida e morte, faz com que 1Coríntios 13 salte
aos nossos olhos é algo que nos leva a ver com clareza a frequente ausência de
amor em nossa própria vida, desnuda todas as noções de amor que são pouco
mais do que conversa mole sentimental e dá ao amor uma robustez e
concretude que é parte integrante de confiar em Cristo e segui-lo.
D. A. Carson, professor-pesquisador de Novo Testamento na Trinity
Evangelical Divinity School, e autor de Cristo e cultura (entre muitos outros
publicados por Vida Nova)
Amar como Jesus ama é profundamente instrutivo sobre a natureza do
verdadeiro amor cristão, sobre a magnitude das manifestações desse amor pelo
próprio Jesus e sobre as maneiras como nós, seus seguidores, devemos exibir
seu amor em nossa vida. Esse estudo honra a Cristo de duas maneiras:
destacando-o como o grande amante que é e chamando-nos a imitar nosso
Senhor em uma vida que é cada vez mais a vida de amor que ele manifestou.
Meditação sobre o amor de Cristo e sobre amar como Jesus — é isso que esse
livro incentiva com grande perspicácia e profundidade.
Bruce Ware, professor de Teologia Cristã no Southern Baptist Theological
Seminary e autor de Teísmo aberto (Vida Nova)
O amor incondicional de Deus detona todas as nossas categorias condicionais.
É indomável e indiscriminado. Surge em nosso caminho sem nenhum mérito
nosso. É mão única vertical, mas constrange a uma expressão horizontal. O
amor da parte de Deus inevitavelmente se mostra no amor pelos outros. E é
isso que Philip Ryken demonstra tão bem. Escrevendo como alguém que é ao
mesmo tempo pastor e erudito, Ryken faz um apelo apaixonado à igreja para
que redescubra aquilo que Francis Schaeffer chamou de “a derradeira
apologética”, a saber, o amor. Isso é o que mais importa.
Tullian Tchividjian, autor de Fora de moda (Cultura Cristã)
Como alguém que tem conhecido a alegria, experimentado a disciplina e
provado a comunhão do amor de Deus por mais de quarenta anos, encorajo-o a
ler esse livro. Escrito por um homem que ama a Deus e é profundamente
amado por ele, essa obra olha para o amor de Deus com ponderação,
perspicácia e cuidado.
James MacDonald, pastor titular da igreja Harvest Bible Chapel, em
Rolling Meadows, em Illinois, Estados Unidos, e autor de Senhor,
transforma minha atitude antes que seja tarde demais (Vida Nova)
Amor é uma palavra que muitos tendem a usar de uma maneira que faz com
que perca sua força. Mas esse problema é agravado quando Jesus — o amante
supremo de Deus e do homem — é apresentado de forma reducionista e inócua,
como um amante passivo que aceita tudo. Mas, ao examinar essa obra do dr.
Ryken, encontramos o amor multifacetado de Jesus exibido como pano de fundo
de 1Coríntios 13. Esse amor também é exibido gloriosamente com mais clareza
na obra consumada de Jesus na cruz. O amor de Deus, conforme apresentado
nesse livro, desafiará e inspirará todos os que o lerem a exibi-lo para suplantar
os estereótipos de amor que permeiam o nosso mundo.
Eric Mason, pastor principal da igreja Epiphany Fellowship, 
Filadélfia, Pensilvânia
Existem dois livros que causaram um impacto permanente em mim e mudaram
o curso da minha vida. O primeiro chegou às minhas mãos na faculdade,
enquanto procurava respostas para a vida. Cristianismo básico (Ultimato), de
John Stott, me ajudou a conhecer Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador.
Agora, Amar como Jesus ama está me ensinando a viver uma vida cristã
vitoriosa até que, pela graça de Deus, eu seja chamado para ir para meu lar
eterno. O livro não trata apenas de conhecer o amor de Deus em Cristo, mas de
viver o amor de Deus. É a mais esplêndida exposição sobre o amor de Deus que
já li. Leia-a você mesmo para entender a luta de viver pela graça de Deus e
para se envolver nessa luta. Creio que esse livro transformará o mundo ao
nosso redor.
I. Henry Koh, coordenador de Korean Ministries, Mission to North
America, Presbyterian Church in America
O texto de 1Coríntios 13 é com certeza um dos capítulos mais conhecidos e ao
mesmo tempo menos compreendidos de toda a Bíblia. Lido com sinceridade em
incontáveis cerimônias de casamento, nós concordamoscom um balançar da
cabeça, mas sem considerar como as palavras de Paulo podem ter um propósito
bem mais profundo do que simplesmente ser uma bênção matrimonial. E é
exatamente isso que Ryken deu à igreja: um novo olhar sobre essa passagem
desafiadora, não mais presa a questões de casamento, mas exposta
eloquentemente ao longo da vida de Cristo. Ryken revela uma visão
surpreendentemente profunda e iluminadora para cada crente, e não apenas
para noivos e noivas.
Phil Vischer, criador das animações computadorizadas O que está na
Bíblia? e Os vegetais, autor de Me, myself & Bob
Insistirei para que todos os pequenos grupos de nossa igreja estudem esse livro
em um futuro próximo. Sabemos que Jesus nos deu a ordem de fazer discípulos
de todas as nações, e dizemos que isso significa que devemos aprender com
Jesus para que possamos nos tornar parecidos com ele. Mas como fazemos
isso? O dr. Ryken apanhou o grande capítulo da Bíblia sobre o amor e nos
mostrou como era o amor na vida de Jesus, em termos práticos. O livro é
bíblico e prático e, ao mesmo tempo que condena nossa falta de amor, também
nos incentiva. Eu o recomendo muitíssimo a todos os que têm um desejo
profundo de se tornarem completos em Cristo.
Greg Waybright, pastor titular da igreja Lake Avenue Church, Pasadena,
Califórnia, Estados Unidos
CDD 241.677
18-
0777
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Ryken, Philip Graham
Amar como Jesus ama : um novo olhar sobre
1Coríntios 13 
/ Philip Graham Ryken ; tradução de Marcio L.
Redondo. 
-- São Paulo: Vida Nova, 2018.
 
ISBN 978-85-275-0865-0
Título original: Loving the way Jesus loves
1. Amor – Aspectos religiosos 2. Cristianismo –
Doutrina bíblica 3. Bíblia. N.T. Coríntios -
Crítica, interpretação, etc. I. 
Título II. Redondo, Marcio L.
 
 
 
Índices para catálogo sistemático: 1. Amor – Aspectos religiosos
- Cristianismo
©2012, Philip Graham Ryken
Título do original: Loving the way Jesus loves,
edição publicada por CROSSWAY (Wheaton, Illinois, EUA).
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA
Rua Antônio Carlos Tacconi, 63, São Paulo, SP, 04810-020
vidanova.com.br | vidanova@vidanova.com.br 1.ª edição: 2018
Proibida a reprodução por quaisquer meios, 
salvo em citações breves, com indicação da fonte.
Todas as citações bíblicas sem indicação da versão foram traduzidas
diretamente da English Standard Version (ESV). As citações com indicação da
versão in loco foram traduzidas diretamente da New International Version
(NIV).
DIREÇÃO EXECUTIVA
Kenneth Lee Davis GERÊNCIA EDITORIAL
Fabiano Silveira Medeiros EDIÇÃO DE TEXTO 
Lucília Marques
Rosa Ferreira PREPARAÇÃO DE TEXTO
Victória Cardoso
Marcia B. Medeiros REVISÃO DE PROVAS 
Abner Arrais
GERÊNCIA DE PRODUÇÃO 
Sérgio Siqueira Moura DIAGRAMAÇÃO 
Wirley - Layout Produção Gráfica CAPA 
Lico Rolim
CONVERSÃO PARA EPUB 
SCALT Soluções Editoriais
A 
LISA MAXWELL,
meu primeiro, único e verdadeiro amor,
e a
JESUS CRISTO,
a eterna fonte de todo verdadeiro amor
SUMÁRIO
Prefácio
1 Nada sem amor
2 Amor que é melhor que a vida
3 O amor não é irritável
4 O amor e sua santa alegria
5 O amor espera
6 O amor em toda a sua amplitude
7 O amor tem esperança
8 O amor não é egoísta
9 O amor suporta todas as coisas
10 O amor confia
11 O amor perdoa
12 O amor nunca falha
Índice de passagens bíblicas
PREFÁCIO
“Escrever sobre o amor de Deus é privilégio e
responsabilidade supremos do teólogo cristão.” Assim diz
Kevin Vanhoozer, que leciona teologia na Wheaton College.
Além de privilégio e responsabilidade, escrever sobre o
amor de Deus também é a suprema humilhação de um
teólogo.
Presume-se que só um enamorado é capaz de escrever
sobre o amor. Mas, se existe uma área na minha vida em
que sei que não alcanço o caráter de Cristo, essa área é
amar a Deus e a meu próximo verdadeiramente. Ainda
assim, meu coração, que às vezes é sem amor, é forçado a
dar testemunho da verdade do amor de Deus em Jesus
Cristo.
Este livro começou praticamente com a última série de
sermões que preguei na Décima Igreja Presbiteriana da
Filadélfia. O amor daquela congregação — um amor sincero
e como o de Cristo — ajudou a sustentar meu ministério ali
por quinze anos. No entanto, apesar de todo o amor que
partilhamos como família da igreja, ainda assim
descobrimos que tínhamos um espaço aparentemente
infinito para crescer no amor de Deus. Estudar 1Coríntios
13 de uma forma cristocêntrica nos ajudou — assim como
espero que venha a ajudar você — a aprender a amar do
mesmo modo que Jesus ama.
Como demonstração de amor, vários amigos e colegas
ajudaram a melhorar este livro enquanto era preparado
para publicação. Lynn Cohick, David Collins, Lois Denier,
Tom Schwanda e LaTonya Taylor leram o manuscrito,
fazendo as correções necessárias e sugerindo inúmeras
maneiras de reforçar a exposição e a aplicação do texto
bíblico. Robert Polen conferiu fatos e prestou ajuda
administrativa. Nancy Ryken Taylor preparou as perguntas
de estudo. Marilee Melvin participou das revisões finais.
Lydia Brownback e outros amigos da editora Crossway
editaram o livro e conduziram carinhosamente a produção
do livro até a hora da impressão. Esses esforços de amor
ajudarão você a ver, com mais clareza, o amor de Jesus nas
páginas deste texto.
Enquanto eu estudava 1Coríntios 13, li o testemunho
dado por alguém da World Harvest Mission que expressa
minha própria necessidade de ter mais do amor de Jesus.
Um missionário escreveu:
Ao voltar para casa depois de um dia distribuindo ajuda
humanitária, fui para a cozinha, onde estava minha filha
de três anos de idade. Ela estava fazendo um desenho de
nossa família. Notei que no desenho eu parecia estar a
certa distância do restante da família e tinha a testa
claramente franzida.
— Esse é o papai? — perguntei.
— É, sim — veio a resposta meio tímida.
— Por que eu estou com a testa franzida?
Ela disse:
— Papai, é que você nunca mais dá um sorriso.
O homem começou a pedir ajuda. “Orem por mim”, ele
escreveu. Quero “aplicar essa mensagem do amor de Deus
neste coração frio e duro”. A oração do missionário é a
minha oração também, e espero que você a torne sua
oração enquanto lê este livro: “Senhor Jesus, aplica o
evangelho do teu amor ao meu coração frio e duro”.
Philip Ryken
Wheaton College
1
NADA SEM AMOR
Se eu doar tudo o que tenho e se eu entregar meu corpo
para ser queimado, mas não tiver amor, nada obtenho.
(1CO 13.3)
E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: “Falta-lhe
uma coisa: vá, venda tudo o que tem e dê aos pobres, e
você terá um tesouro no céu; e venha me seguir”.
(MC 10.21)
Não há nada de que eu mais precise em minha vida do que
mais do amor de Jesus. Preciso de mais de seu amor por
minha esposa — a mulher a quem Deus me chamou para
servir até a morte. Preciso de mais de seu amor por meus
filhos e pelo restante de minha família. Preciso de mais de
seu amor pela igreja, incluindo aqueles irmãos e irmãs na
fé que às vezes é difícil amar. Preciso de mais de seu amor
pelos meus semelhantes que ainda precisam ouvir o
evangelho e por todos os perdidos e pessoas solitárias que
estão perto do coração de Deus, mesmo quando estão longe
dos meus pensamentos.
Aonde quer que eu vá e em cada relacionamento que
tenho na vida, preciso de mais do amor de Jesus. A área em
que eu mais preciso desse amor é no meu relacionamento
com o próprio Deus, o Amante da minha alma. E você? Está
amando da maneira que Jesus ama? Ou precisa de mais do
amor dele em sua vida — mais amor por Deus e pelas
outras pessoas?
O CAPÍTULO DO AMOR
Um dos primeiros lugares em que as pessoas procuram
amor na Bíblia é 1Coríntios 13. É uma das passagens mais
famosas da Escritura, principalmente porque é lida com
bastante frequência em casamentos. Algumas pessoas a
chamam de o “Capítulo do Amor”, o que é apropriado
porque menciona amor (agape)explícita e implicitamente
mais de uma dúzia de vezes.
O texto de 1Coríntios 13 é o mais completo retrato do
amor na Bíblia. Um professor de literatura diria que é um
encômio, que é “uma expressão formal ou exagerada de
louvor”.1 O Capítulo do Amor é uma canção que exalta o
amor e na qual o apóstolo Paulo demonstra a necessidade
do amor (v. 1-3), esboça a natureza do amor (v. 4-7) e
comemora a permanência do amor (v. 8-13) como o maior
dos dons de Deus.
Por mais familiar que seja, esse capítulo não é tão bem
compreendido quanto deveria ser. Para começar, em geral,
as pessoas o leem fora de contexto. É verdade que às vezes
começam lendo o final de 1Coríntios 12.31, em que Paulo
diz “Eu lhes mostrarei um caminho ainda mais excelente”.
Esse é um bom lugar para começar, porque o capítulo 13 é
“o caminho mais excelente” que o apóstolo tinha em mente.
Mas há um contexto mais amplo a considerar — um
contexto que muitos leitores deixam de perceber. Conforme
Gordon Fee escreve em seu comentário, “o caso de amor
das pessoas com esse capítulo sobre o amor também tem
permitido que seja costumeiramente lido sem levar em
conta o seu contexto, o que não o torna menos verdadeiro,
mas faz com que se perca muita coisa de vista”.2
Uma forma de garantir que não deixemos de perceber
aquilo que Deus tem para nós em 1Coríntios 13 é lembrar
quem eram os coríntios e o que Deus lhes disse nessa
carta. Se havia uma coisa de que os coríntios precisavam,
era de mais do amor de Jesus. A igreja estava
profundamente dividida quanto a teologia, prática, classes
sociais e dons espirituais. Alguns diziam que seguiam
Paulo. Outros seguiam Pedro ou Apolo — “meu apóstolo é
melhor do que o seu!”. E havia aqueles — e essa era a
forma suprema de superioridade espiritual — que
afirmavam seguir a Cristo. Havia conflitos parecidos acerca
de ministério, com vários coríntios afirmando que seus
dons carismáticos eram o suprassumo do cristianismo —
“meu ministério é mais importante do que o seu!”. Essa foi
a questão no capítulo 12, em que o apóstolo lembrou aos
coríntios de que, embora a igreja seja composta de muitas
partes, todos pertencemos a um único corpo.
De modo que, quando Paulo escreveu sobre o amor no
capítulo 13, ele não estava tentando dar às pessoas algo
bonito para ler nos casamentos. Afinal, o amor sobre o qual
ele escreve aqui não é o eros (o amor romântico do desejo),
mas o agape (o amor altruísta de irmãos e irmãs em
Cristo). Então, em vez de preparar as pessoas para o
casamento, o apóstolo estava tentando desesperadamente
mostrar a uma igreja cheia de cristãos egocêntricos que
existe uma maneira melhor de viver — não apenas no dia
de você se casar, mas todos os dias pelo resto da sua vida.
Em primeiro lugar, o Capítulo do Amor não é para amantes,
mas para todas as pessoas sem amor na igreja que acham
que seu jeito de falar sobre Deus, ou de adorar a Deus, ou
de servir a Deus, ou de ofertar a Deus é melhor do que o de
todas as outras pessoas.
Esse é outro erro que muitas pessoas cometem: tendemos
a ler 1Coríntios 13 como uma passagem bíblica que dá
ânimo, promove o bem-estar e está repleta de pensamentos
agradáveis sobre o amor. Em vez disso, para mim, a
passagem é quase aterrorizante, porque estabelece um
padrão para o amor que eu sei que jamais conseguirei
atingir.
Nenhum de nós vive com esse tipo de amor, e existe um
jeito fácil de prová-lo: comece a ler pelo versículo 4 e, cada
vez que você encontrar a palavra “amor”, substitua-a pelo
seu nome. Por exemplo: “O Phil é paciente e bondoso; o
Phil não inveja nem se vangloria; não é arrogante ou
grosseiro. Ele não insiste em que as coisas sejam feitas do
seu jeito; não fica irritado nem ressentido; não se alegra
com a injustiça, mas se regozija com a verdade. O Phil sofre
tudo, crê em tudo, espera tudo, suporta tudo. O Phil nunca
falha”. Faça você mesmo esse exercício e descobrirá como
me sinto: absolutamente nada amoroso.
O AMOR COMO MARCA INDISPENSÁVEL
O problema é que o amor deve ser a característica
definidora do nosso cristianismo. Jonathan Edwards disse
que o amor é, dentre todas as virtudes do Novo
Testamento, aquela em que “mais se insiste”.3 Com certeza
Paulo insiste no amor em 1Coríntios 13.1-3, passagem em
que ele apresenta um argumento lógico que demonstra a
necessidade do amor. O amor é tão essencial que sem ele
não somos nada.
De acordo com os cânones da literatura antiga, em geral
um encômio começa com uma comparação em que o autor
apanha aquilo que ele quer louvar e o compara com alguma
outra coisa. Isso está bem próximo daquilo que o apóstolo
Paulo faz em 1Coríntios 13: Ele apanha o amor e faz uma
série de comparações condicionais para mostrar como o
amor é necessário. Cada comparação tem alguma relação
com dons ou realizações espirituais — coisas que cristãos
talentosos e virtuosos têm ou fazem. A ideia básica é, de
acordo com Charles Hodge, que “o amor é superior a todos
os dons extraordinários”.4
Paulo começa com o falar em línguas, que é um dom que
alguns coríntios tinham, e outros não. Mas, mesmo que de
fato tivessem o dom, eles não eram nada sem o amor: “Se
eu falar nas línguas de homens e de anjos, mas não tiver
amor, sou um gongo barulhento ou um címbalo que retine”
(v. 1).
“Falar nas línguas de homens” é comunicar a verdade
espiritual por meio do miraculoso dom de enunciação em
uma língua humana. “Falar nas línguas de anjos” é um dom
ainda maior, pois é falar o próprio idioma do céu. Paulo não
minimiza esse dom da eloquência celestial, mas diz que
sem o amor ele não é nada.
Alguns estudiosos acreditam que, quando Paulo falou
sobre um “gongo barulhento”, estava se referindo aos
jarros ocos de bronze que eram usados como caixas de
ressonância nos teatros da antiguidade — um sistema
greco-romano para a amplificação do som.5 Então, a ideia
básica deve ter sido que, sem o amor, nossas palavras
produzem apenas “um som vazio procedente de um vaso
oco e sem vida”.6 Outros creem que Paulo estava se
referindo aos gongos que eram usados para adorar
divindades pagãs, tais como a deusa Cibele.7 Nesse caso,
ele está dizendo que, sem amor, somos meros pagãos. A
imagem nesse versículo sempre me lembra o programa de
televisão The gong show [O show do gongo], que foi
transmitido na década de 1970 e no qual julgava-se a
capacidade de os concorrentes cantarem ou dançarem.
Caso os juízes não gostassem de determinado número, eles
se levantavam e batiam em um enorme gongo para acabar
com a apresentação. Gongos podem fazer muito barulho,
mas não produzem muita música.
Címbalos produzem música quando usados da maneira
certa. Mas, se alguém fica martelando em um címbalo, o
barulho é ensurdecedor. Não importa quanto sejamos
dotados de dons, é assim que ficamos, caso não usemos
nossos dons de uma maneira amorosa. Ninguém consegue
ouvir o evangelho anunciado pela vida de um cristão sem
amor. As pessoas só ouvem “bangue, bangue, bangue, pam,
pam, pam”! Colocando a metáfora em linguagem
contemporânea: “Se eu usar a internet para o evangelho,
mas não tiver amor, sou apenas um blogue ruidoso ou um
tuíte sem sentido”.8
No versículo 2, Paulo começa relacionando outros dons,
muitos dos quais já foram analisados no capítulo 12. Ele
menciona profecia: “se eu tiver poderes proféticos”.
Alguém com esse dom pode predizer o futuro ou tem uma
percepção sobrenatural para interpretar o que está
acontecendo no mundo do ponto de vista de Deus. Paulo
menciona o dom de discernir “todos os mistérios e todo o
conhecimento”. A palavra “todos” é enfática. A pessoa que
tem esse dom espiritual tem uma compreensão abrangente
dos grandes mistérios de Deus, inclusive dos planos dele
para o futuro, à semelhança dos mistérios que o profeta
Daniel revelou ao rei Nabucodonosor na Babilônia. Com
“conhecimento”, o apóstolo quer dizer conhecimento
espiritual da verdade bíblica — algo que a mente humana
só consegue saber mediante a revelação do Espírito Santo.Os coríntios tinham dons de conhecimento e
discernimento, conforme Paulo diz várias vezes nessa carta
(e.g., 1.5; 8.1). Mas, sem amor, alguém que tem esses dons
não é nada. Um homem pode ter uma visão mística; uma
mulher pode conhecer os profundos mistérios de Deus.
Mas, sem amor, esses dons proféticos e intelectuais não são
nada. De modo que Paulo diz: “Se eu tiver poderes
proféticos e entender todos os mistérios e todo o
conhecimento [...], mas não tiver amor, não sou nada”
(13.2). Ninguém se importa com o quanto sabemos a menos
que também saiba quanto nos importamos.
Considere agora o dom da fé absoluta. Paulo diz: “Se eu
[...] tiver toda a fé, a ponto de mover montanhas, mas não
tiver amor, não sou nada” (v. 2). Aqui o apóstolo não está se
referindo à fé salvadora, mediante a qual cada crente
confia inicialmente em Cristo para a salvação, mas ao dom
extraordinário que alguns crentes têm de confiar em Deus
naquilo que parece impossível, em especial no trabalho da
igreja de Deus e no crescimento do seu reino. Genádio de
Constantinopla afirmou que “com a palavra ‘fé’ Paulo não
quer dizer a fé comum e universal dos crentes, mas o dom
espiritual da fé”.9 Anthony Thiselton descreve o que o
apóstolo chama de “toda fé” como “uma fé particularmente
robusta, contagiante, ousada, confiante [...] que executa
uma tarefa especial dentro de uma comunidade que
enfrenta problemas aparentemente insuperáveis”.10 Essa fé
tem o poder de mover montanhas, conforme Jesus disse a
seus discípulos. Em outras palavras, mediante a graça de
Deus, a fé consegue realizar o impossível. Mas, sem amor,
até mesmo esse tipo de fé não é nada.
No versículo 3, Paulo passa dos dons que temos para as
boas obras que realizamos. Aí seu argumento chega ao
ponto alto: “Se eu doar tudo o que tenho e se entregar meu
corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada
obtenho”. Esses dois exemplos são excepcionais. Bem
poucas pessoas vendem todos os seus bens terrenos e
doam aos pobres 100% do dinheiro recebido. Bem poucas
pessoas sofrem o martírio por meio do ato de sacrifício da
própria vida. Essas são duas das maiores coisas que
alguém pode chegar a fazer por Cristo. Com certeza, as
pessoas que fazem isso merecem algum tipo de
recompensa! Ainda assim, até mesmo as maiores boas
obras podem ser feitas sem amor. Elas podem, em vez
disso, ser feitas para alimentar nosso orgulho espiritual ou
para obter algo de Deus. Mas nem mesmo as dores
terríveis de martírio nas chamas são suficientes. A menos
que sejamos motivados por um amor genuíno por Deus,
tudo isso não vale nada. O amor de Deus é a única coisa
que importa.
Entenda que, quando Paulo nos dá essa lista de coisas
que, sem amor, não são nada, ele está de fato incluindo
todos os nossos dons e aquilo que chamamos de realizações
espirituais. Não importa o que Deus nos tenha dado e não
importa o que tenhamos feito para Deus, sem amor isso não
significa nada. Deus talvez nos conceda o dom de ajudar ou
de hospitalidade, de ensino ou de administração. Talvez
tenhamos o privilégio de ter uma posição de liderança
espiritual, servindo como presbíteros ou diáconos na igreja.
Deus talvez permita que sirvamos como missionários ou
evangelistas ou servos dos pobres. Ainda assim — o que é
chocante —, é possível usarmos nossos dons para o
ministério sem ter amor no coração por ninguém, exceto
por nós mesmos. Somos tão egoístas, que é até mesmo
possível fazermos algo que parece ser para outra pessoa,
quando na verdade é para nós — para melhorar nossa
própria reputação ou insuflar nossa satisfação pessoal.
Paulo não está negando o valor dos dons espirituais nem
minimizando a importância do ministério na igreja.
Louvado seja Deus por profetas e mártires! Mas ele está
dizendo que cada dom espiritual tem de ser usado de uma
maneira amorosa. O que mais importa não é quanto nós
somos cheios de dons, mas quanto somos amorosos.
Conforme Jonathan Edwards disse: “Não importa o que se
faça ou sofra, se o coração não for entregue a Deus, na
realidade nada foi dado a ele”.11
Entenda que essa mensagem é para pessoas na igreja.
Não é basicamente para os incrédulos, mas para cristãos
com dons e talentos que estão ativamente servindo no
ministério. Em vez de nos felicitar por todas as coisas que
fazemos para Deus, ou de olhar com superioridade para
pessoas que não servem a Deus da mesma maneira que nós
servimos, ou de pensar que estamos certos e todos os
outros estão errados, Deus está nos chamando a fazer tudo
por amor. Caso contrário, estaremos fazendo tudo à toa.
O HOMEM QUE ACREDITAVA SABER AMAR
Ao ler os versículos iniciais de 1Coríntios 13, fico a
imaginar qual a esperança que existe para mim. Não
conversei com anjos, até onde sei, nem movi montanhas
nem sofri até a morte. Fiz muito menos — bem pouco, na
verdade —, e até mesmo aquilo que fiz foi feito com bem
menos amor do que deveria.
No entanto, sei que no evangelho existe esperança para
pecadores sem amor. Um bom lugar para ver essa
esperança é em uma história que Marcos contou sobre
Jesus. Sempre que falamos de amor, temos de voltar para
Jesus. O amor descrito no Capítulo do Amor é, na realidade,
o amor dele. De modo que, à medida que formos estudando
cada expressão de cada versículo de 1Coríntios 13,
retornaremos repetidas vezes à história de Jesus e seu
amor. Jamais aprenderemos a amar mediante o
desenvolvimento desse amor a partir de nosso próprio
coração, a não ser que tenhamos mais de Jesus em nossa
vida. A Escritura diz: “Nós amamos porque ele nos amou
primeiro” (1Jo 4.19). Uma vez que isso é verdade, a única
maneira de nos tornarmos mais amorosos é termos mais do
amor de Jesus, conforme o encontramos no evangelho.
O texto de Marcos 10 conta a história de um homem que
Jesus encontrou na estrada para Jerusalém. As pessoas
costumam chamá-lo de “o jovem rico” ou “o jovem rico e
poderoso”, mas, por razões que logo ficarão claras, também
poderíamos chamá-lo de “o homem que achava que sabia
como amar”.
Qualquer que seja nossa maneira de chamá-lo, esse
homem estava interessado na vida eterna e supunha que
havia alguma coisa que pudesse fazer para obtê-la. Assim,
ele correu até Jesus, ajoelhou-se diante dele e fez esta
pergunta: “Bom Mestre, o que tenho de fazer para herdar a
vida eterna?” (v. 17). Com essas palavras, o homem estava
levantando a mais importante de todas as questões
espirituais: a vida eterna. Todos estamos destinados a
morrer. Portanto, se existe algo como a vida eterna, todos
os esforços para obtê-la valem a pena. Mas o problema é
que aquele homem estava fazendo uma suposição
incorreta. Ele supunha que a salvação vem em
consequência de fazer, e não de crer. De maneira que
perguntou a Jesus o que tinha de fazer para obter a vida
eterna.
Essa suposição é incorreta porque nenhum de nós é bom
o suficiente para ser salvo pelas coisas boas que faz. Todos
temos feito um número excessivo de coisas erradas, e não o
suficiente de coisas certas. Além disso, mesmo as coisas
certas que temos feito foram feitas até certo ponto ou de
forma errada ou pelo motivo errado. Então, Jesus disse ao
homem: “Ninguém é bom, exceto um, que é Deus” (v. 18).
Ninguém é bom: nem o jovem que estava conversando com
Jesus, nem você, nem eu, nem ninguém. Só Deus é
perfeitamente bom.
Para provar isso, Jesus recitou o padrão da justiça de
Deus. “Você conhece os mandamentos”, ele disse ao
homem: “Não mate; não cometa adultério; não roube; não
dê falso testemunho; não engane; honre seu pai e mãe” (v.
19). Se esses mandamentos soam familiares, é porque
estão nos Dez Mandamentos que Deus deu a Moisés no
monte — a lei eterna de Deus.
Todavia, quero considerar esses mandamentos a partir de
uma perspectiva ligeiramente diferente. Esses
mandamentos não são apenas as leis de Deus, mas também
exibem o amor que Deus exige. Cada mandamento exige
que amemos nosso próximo. Quando Deus diz: “Não mate”,
ele está nos dizendo para amar nossos semelhantes,protegendo a vida deles. Quando diz: “Não cometa
adultério”, está nos dizendo para amar as pessoas,
defendendo a pureza sexual delas. E assim por diante.
Preservar a propriedade, honrar a reputação ou posição
social de alguém — todas essas coisas são formas de
demonstrar amor. Poderíamos tomar todos os
mandamentos que Jesus menciona e resumi-los assim:
“Ame seu próximo como a si mesmo”. Na verdade, foi
exatamente dessa forma que Jesus de fato os resumiu no
Evangelho de Mateus, quando disse que o primeiro e
grande mandamento é amar a Deus de todo o coração e
que o segundo grande mandamento é amar o próximo.
De modo que esta foi a resposta que Jesus deu ao jovem
rico quando ele perguntou o que tinha de fazer para herdar
a vida eterna: “Eu lhe direi o que você tem de fazer. Se
você quer ser salvo, tudo o que tem de fazer é amar o seu
próximo”.
“Bem, isso é fácil!” — o homem pensou consigo. “Nunca
matei ninguém, nem dormi com a mulher de outro homem,
nem me envolvi em roubo de carruagens”. O que ele disse
em voz alta foi: “Mestre, tudo isso tenho guardado desde
minha juventude” (Mc 10.20). Se tudo o que é preciso para
obter a vida eterna é evitar quebrar os grandes
mandamentos, o jovem achava que havia cumprido tudo
direitinho. Jesus não estava lhe dizendo nada que ele já não
soubesse. Ele tinha aprendido isso tudo na escola sabatina!
Mas entenda o que o homem estava realmente dizendo.
Se essas leis mostram o amor que Deus exige, então ele
estava afirmando que sabia como amar, que em seu
coração ele já tinha amor suficiente.
Isso é o que você diria? Você se apresentaria perante
Deus e diria: “Eu venho amando as pessoas a vida inteira”.
É claro que jamais sairíamos por aí dizendo isso, pelo
menos não nessas palavras; mas, ainda assim, é dessa
maneira que muitos de nós agimos. Geralmente, a maioria
de nós tende a crer que está se saindo muito bem, no que
se refere a amar as outras pessoas. Portanto, raramente
nos arrependemos da falta de amor em nosso coração.
Perdemos de vista o fato de que aprender a amar como
Jesus é uma de nossas maiores prioridades. Esquecemos de
orar para que o Espírito Santo nos torne melhores no dever
de amar.
Isso tudo se aplicava ao jovem rico. Jesus lhe mostrou que
ele não era quem pensava ser em matéria de amor, e fez
isso submetendo o jovem a um teste simples e objetivo.
“Falta-lhe uma coisa”, disse Jesus, admitindo por um
momento que o homem de fato guardava os mandamentos
de Deus. “Vá, venda tudo o que tem e dê aos pobres, e você
terá um tesouro no céu; e venha seguir-me” (v. 21).
Esse foi o teste do amor generoso. O homem afirmava que
nunca tinha enganado ninguém. Agora Jesus estava pondo
sua palavra em xeque: “Você nunca enganou ninguém? É
isso mesmo? Vamos pôr isso à prova. Que dizer dos pobres?
Como seres humanos semelhantes a você, como pessoas
feitas à imagem de Deus, eles têm direito à sua compaixão.
Ora, você os ama o suficiente para doar aquilo que tem,
para que eles possam ter aquilo de que necessitam?”. Ao
exigir compaixão pelos pobres, Jesus estava pondo à prova
o amor daquele homem pelo próximo. Ao mesmo tempo,
também estava pondo à prova o amor do homem por Deus.
Ele ainda reivindicava o direito de ser senhor de sua
própria vida? Ou renunciaria a todos os seus próprios
recursos e confiaria somente em Jesus?
Infelizmente o homem falhou nessa prova. O Evangelho
de Mateus nos diz que ele ficou “desanimado com aquelas
palavras” e “foi embora triste, pois tinha muitos bens” (v.
22). A palavra grega para “desanimado”, ou “deprimido” é
stugnasas, que dá a ideia de choque ou desânimo. A
verdade espiritual é que o coração daquele homem estava
exposto. Embora achasse que sabia como amar, ficou claro
que ele amava o dinheiro mais do que amava Jesus e as
outras pessoas.
O SALVADOR AMOROSO
Meu propósito ao contar essa história é, em parte, nos
convencer de que não amamos muito mais do que aquele
homem amava. Na verdade, se Jesus nos apresentasse a
mesma exigência — dar aos pobres tudo o que temos —, a
maioria de nós logo apresentaria uma longa lista de
motivos pelos quais não deveríamos fazê-lo. Diríamos que
nem todo mundo é chamado a vender todos os seus bens.
Jesus disse àquele homem para se desfazer de tudo o que
tinha, mas seu chamado não é o nosso chamado. Temos de
suprir as necessidades de nossa família e cuidar de nossas
próprias necessidades básicas, sem mencionar dar nosso
dinheiro para sustentar outros tipos de trabalho do reino —
e não apenas alimentar os pobres.
Todas essas objeções são bem razoáveis, mas o
verdadeiro problema para a maioria de nós é que sempre
queremos impor limites ao nosso amor. Estamos prontos a
dar, mas só quando temos algo sobrando. Estamos
dispostos a nos importar, contanto que isso não seja
inconveniente demais. Somos capazes de amar, desde que
as pessoas nos retribuam com amor.
De fato, temos de admitir que não amamos do modo que
Jesus ama. Podemos não ser nada sem amor, mas
infelizmente não somos nada parecidos com os amantes
que Deus quer que sejamos. O apóstolo Paulo estava
disposto a admitir isso. Observe que em 1Coríntios 13 ele
usa a primeira pessoa do singular. Em vez de dizer aos
coríntios: “Se vocês falarem as línguas de homens e de
anjos e tiverem poderes proféticos e assim por diante”, ele
diz: “Se eu fizer essas coisas sem amor, não sou nada”. O
apóstolo não está simplesmente repreendendo, mas
incluindo a si mesmo e dando testemunho daquilo que
havia aprendido sobre seu próprio coração pecador. Paulo
tinha todos esses dons espirituais: línguas, profecia,
conhecimento e fé. Ele havia doado seus bens e oferecido
seu próprio corpo até a morte. Mas sabia que isso não era
absolutamente nada e que ele mesmo não era nada sem
amor.
Infelizmente, ao contrário de Paulo, o jovem rico, no
Evangelho de Marcos, não estava pronto para confessar a
falta de amor em seu coração pecador. Isso nos leva àquilo
que talvez seja o detalhe mais notável dessa passagem. No
versículo 20, o jovem rico se vangloriou de que havia
guardado todas as leis de Deus sobre amar o próximo. A
Bíblia diz que, quando o homem disse isso, Jesus olhou para
ele e “o amou” (v. 21).
Esse detalhe é notável porque uma das pessoas mais
difíceis de amar é o pecador presunçoso, que acha que
conseguiu vencer na vida espiritual. Esse jovem rico era
um sabichão. Tinha uma opinião tão elevada de si mesmo,
que se recusava a confessar seu pecado. A maioria de nós
não teria sentido absolutamente nenhuma afeição por esse
homem. Mas Jesus o amou. Na verdade, foi somente porque
Jesus amou esse homem que aplicou nele o teste do amor
generoso. Jesus queria que ele visse que não era o amante
que achava que era e que precisava de mais do amor de
Jesus em sua vida.
Esse detalhe notável nos dá um vislumbre do amor que
Jesus tem por nós. Não somos em nada mais amáveis do
que o homem que achava que sabia como amar. Mas Jesus
ainda olha para nós com um coração de amor. De igual
maneira, ele nos ajuda a ver que não somos os amantes que
pensamos que somos. Mas ele não para por aí. Mediante
sua morte na cruz, oferece perdão para nosso coração sem
amor. Então, ele nos envia o Espírito Santo, para que
possamos começar a amar do jeito que ele ama.
Não somos nada sem amor — essa é a mensagem de
1Coríntios 13.1-3. Mas Jesus não faz nada sem amor — essa
é a mensagem de Marcos 10 e, na verdade, a mensagem de
tudo o mais em toda a Bíblia. Foi amor que trouxe Jesus do
céu para Belém, que o levou a realizar milagres e pregar o
evangelho, que o conduziu em meio aos sofrimentos do
Calvário e da cruz e que o exaltou à glória. Jesus Cristo é a
encarnação eterna do amor de Deus. Por isso, é com amor
que ele olha agora para nós — com tanto amor quanto o
que ele teve pelo homem que encontrou em Marcos 10.
Anteriormente, vimos como o Capítulo do Amor soa
ridículo quando substituímos a palavra amor pelos nossos
próprios nomes. Mas é bem diferente quandocolocamos
Jesus no quadro. Se 1Coríntios 13 é um retrato do amor,
então ele é realmente um esboço do Salvador que
encontramos nos Evangelhos: “Jesus é paciente e bondoso;
Jesus não inveja nem se vangloria; não é arrogante ou
grosseiro. Jesus não insiste em que as coisas sejam feitas
do seu jeito; não fica irritado nem ressentido; não se alegra
com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Jesus sofre
tudo, crê em tudo, espera tudo, suporta tudo. Jesus nunca
falha”.
Paulo nos incentiva a ler o Capítulo do Amor de uma
forma cristocêntrica, mediante a mudança expressiva que
ele faz entre, de um lado, os versículos 1 a 3, em que fala
na primeira pessoa, e, de outro, os versículos 4 a 8, em que
o amor é personificado. Primeiro, o apóstolo nos diz o que
ele não consegue fazer sem amor; em seguida, nos diz o
que só o amor consegue fazer.12 E o motivo pelo qual o
amor consegue fazer todas essas coisas é que ele se
encarnou em Jesus Cristo.
Jesus é tudo o que eu não sou. Só ele tem “o amor divino
que a todo amor excede”.13 Essa percepção não me
pressiona; ela me liberta, porque o amor de Jesus é tão
grande, que ele ama até a mim. E, porque me ama, ele
prometeu me salvar, me perdoar e me transformar. Não
somos nada sem amor. Mas, quando conhecemos Jesus, que
não faz nada sem amor, ele nos ajudará a amar do jeito que
ele ama.
Em uma carta posterior aos coríntios, Paulo deu
testemunho do amor de Jesus, que tem o poder de
transformar vidas, que inverte totalmente nossas afeições
ao nos obrigar a parar de amar a nós mesmos e começar a
amar os outros: “Pois o amor de Cristo nos controla, porque
chegamos a esta conclusão: que um morreu por todos,
portanto todos morreram; e ele morreu por todos, para que
aqueles que vivem já não vivam para si mesmos, mas para
aquele que por causa deles morreu e ressuscitou” (2Co
5.14,15) — o Salvador, que morreu e ressuscitou para que
você conseguisse viver com o amor dele.
Eu o convido a receber o amor dele em sua vida. Confesse
que você não é o amante que deveria ser e peça a Jesus
para mudar seu coração. Diga algo assim: “Jesus, tu és
tudo o que eu não sou. Tu és puro amor, e eu sou apenas o
pecador sem amor que tu sempre soubeste que eu seria.
Mas, em teu amor perfeito, peço que perdoes meus
pecados odiosos e ensines meu coração sem amor a amar
do jeito que tu amas”.
GUIA DE ESTUDO
As pessoas falam sobre alguém ser “um amor de pessoa”,
sobre “fazer amor” e sobre a perda de pessoas “amadas”.
Nós até dizemos que “amamos” sorvete ou determinado
local. Tendo em vista a maneira de falarmos sobre o amor,
não é de admirar que a palavra tenha perdido a força. Mas
um novo olhar para 1Coríntios 13 nos lembra como é belo o
amor que imita a Cristo.
1. Fale sobre uma ocasião em que alguém de fora de sua
família fez algo que demonstrou amor por você. O que fez
com que aquele ato ou expressão de amor fosse
significativo para você?
2. Leia o conhecido Capítulo do Amor em 1Coríntios 13.1-
13. O que poderia ser diferente em sua igreja, caso esse
capítulo fosse aplicado principalmente ao amor pelos
outros membros do corpo de Cristo, e não ao amor entre
os casais?
3. O que distingue atos de misericórdia feitos sem amor
daqueles atos que são motivados pelo amor? A pessoa que
é objeto desses atos ou um observador consegue dizer a
diferença?
4. O texto de 1Coríntios 13.1 nos diz que dons espirituais
oferecidos sem amor são como um gongo barulhento ou
um címbalo que retine. Em que aspectos um cristão sem
amor é como um gongo barulhento? Qual a impressão que
uma pessoa com fé e conhecimento, mas sem amor, dá
aos incrédulos?
5. Uma boa ilustração do amor de Jesus pelos pecadores se
encontra em Marcos 10. Leia os versículos 17-27. Qual foi
a motivação do jovem ao perguntar a Jesus como podia
ser salvo? Fundamente sua resposta com o que está
escrito no texto.
6. Como se pode ver o amor de Jesus por aquele homem em
Marcos 10.17-27?
7. Em Marcos 10.17-27, Jesus respondeu à pergunta do
homem dizendo que ele precisava amar o próximo. Em
última análise, o jovem falhou no teste do amor porque
não estava disposto a vender todos os seus bens e dar o
dinheiro aos pobres. Por que esse homem foi incapaz de
abrir mão daquilo que tinha? Pensando em termos mais
gerais, por que é especialmente difícil para os ricos
entrar no reino de Deus? Que desafios espirituais eles
enfrentam que os pobres não?
8. Em 1Coríntios 13.3 lemos que apenas abrir mão de
nossos bens e dá-los aos pobres não é suficiente. O que
mais é necessário? Por que as boas obras não são
suficientes sem o amor?
09. Pense na última vez em que você foi confrontado com
as necessidades de um estranho. Você passou no teste do
“amor”? Em caso negativo, qual foi o impedimento?
10. Que limites você é tentado a impor ao seu amor? O que
você pode fazer para remover alguns desses limites e
verdadeiramente amar o próximo como a si mesmo?
1Oxford English dictionary, verbete “encomium”, 13. ed.
2Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians, New International
Commentary on the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1987), p. 626
[edição em português: 1Coríntios: comentário exegético, tradução de Marcio
Loureiro Redondo (São Paulo: Vida Nova, a ser publicado)].
3Jonathan Edwards, Charity and its fruits (1852; reimpr. Edinburgh: Banner
of Truth, 2005), p. 1 [edição em português: A caridade e seus frutos: uma
exposição clássica sobre o amor, tradução de Tiago F. Cunha (s.l.: KDP, 2016)].
4Hodge, An exposition of the First Epistle to the Corinthians (reimpr.,
London: Banner of Truth, 1958), p. 264.
5Anthony C. Thiselton, The First Epistle to the Corinthians, New
International Greek Testament Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 2000),
p. 1036.
6W. W. Klein, “Noisy gong or acoustic vase? A note on 1Cor 13.1”, New
Testament Studies 32 (1986): 286-9.
7J. Moffatt, The First Epistle of Paul to the Corinthians, Moffatt New
Testament Commentary (London: Hodder & Stoughton, 1938), p. 192.
8Josh Moody fez essa comparação em um sermão pregado em 19 de
setembro de 2010, na College Church, em Wheaton, nos Estados Unidos.
9Genádio de Constantinopla, “13:1-3 The law of love”, citado em Gerald Bray,
org., New Testament, 1-2 Corinthians, Ancient Christian Commentary on
Scripture (Downers Grove: InterVarsity, 1999), vol. 7, p. 131.
10Thiselton, First Epistle to the Corinthians, p. 1041.
11Edwards, Charity, p. 57.
12Outro insight totalmente novo do sermão de Josh Moody sobre essa
passagem.
13O autor está citando o título do hino Love divine, all loves excelling, da
autoria de Charles Wesley. (N. do T.)
2
AMOR QUE É MELHOR QUE A VIDA
O amor é bondoso.
(1CO 13.4)
Mas, quando a bondade e a benignidade de Deus nosso
Salvador apareceram, ele nos salvou não por causa de
obras feitas com justiça por nós, mas de acordo com sua
própria misericórdia, mediante a lavagem regeneradora e
renovadora do Espírito Santo, que ele derramou ricamente
sobre nós por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador.
(TT 3.4,5)
Os sofrimentos terrenos de Elizabeth Payson Prentiss foram
lentos e dolorosos.1 Ela lutou a vida toda contra a insônia e
fortes dores de cabeça que a deixavam exausta. Ela
também sofreu a dor da perda: dois de seus filhos
morreram, um logo depois do outro. Depois disso, a saúde
frágil da mãe enlutada quase se foi. Em profunda angústia
de alma, ela exclamou: “Nosso lar está despedaçado;
nossas vidas, arrasadas; nossas esperanças,
esfrangalhadas; nossos sonhos, acabados. Acho que não
consigo viver por nem mais um instante”.2
Ainda assim, durante aqueles dias sombrios e de
desespero, quando suas dores e perdas a levaram a pensar
que não conseguiria viver nem mais um dia, Elizabeth
Payson Prentiss nunca perdeu a esperança no amor de
Deus. Na verdade, bem naqueles dias ela começou a
escrever um hino pedindo a Jesus mais do seu amor. “Mais
amor por ti, ó Cristo”, ela orou. “Mais amor por ti.” Então,
ela pediu a Deus para que ele usasse astristezas terrenas
que ela sentia para ensiná-la a amar:
Outrora por alegria terrena eu ansiava; procurava paz e
descanso;
agora só a ti eu busco; dá-me o que é melhor.
Esta será toda minha oração: “Mais amor por ti, ó Cristo;
mais amor por ti, mais amor por ti!”.
Que a tristeza opere, envia pesar e dor;
doces são teus mensageiros, doce é o seu refrão,
quando cantam comigo: “Mais amor por ti, ó Cristo;
mais amor por ti, mais amor por ti!”.
O que Elizabeth Prentiss encontrou, quando perdeu todas
as esperanças na própria vida, foi um amor que é melhor
que a vida. Tempos depois, ela escreveu: “Amar mais a
Cristo é a necessidade mais profunda, o grito constante da
minha alma. [...] Lá fora no bosque, e na minha cama. e na
charrete, quando estou feliz e ocupada, e quando estou
triste e ociosa, o sussurro continua a subir, pedindo mais
amor, mais amor, mais amor!”.3
UM RETRATO DO AMOR
Onde uma alma sofredora consegue encontrar mais amor
por Cristo e mais amor por outras pessoas? Estamos
encontrando esse amor em 1Coríntios 13, o Capítulo do
Amor na Bíblia, o qual o apóstolo Paulo escreveu para
ajudar a igreja em Corinto— uma igreja cheia de dons, mas
ainda assim dividida — a aprender a amar.
Paulo começou demonstrando que o amor é
absolutamente indispensável. Nada mais importa, apenas o
amor. Não importa quanto sejamos dotados de dons ou o
que façamos para Deus — sem amor, não somos nada.
Profecia sem amor, teologia sem amor, fé sem amor, ação
social sem amor, até mesmo martírio sem amor são todos
igualmente sem valor. Nada pode compensar a ausência de
amor. João Crisóstomo ia mais longe. Quando pregou sobre
essa passagem à sua congregação em Constantinopla, em
algum momento durante o século quarto, Crisóstomo disse:
“Se eu não tiver amor, não sou apenas inútil, mas
definitivamente um estorvo”.4
O problema é que somos menos amorosos do que
pensamos ser e ainda menos do que deveríamos ser. Se não
quisermos ser um estorvo, precisamos, portanto, aprender
a amar. O texto de 1Coríntios 13 esclarece, ao oferecer um
esboço da natureza do amor: “O amor é paciente e
bondoso; o amor não inveja nem se vangloria; não é
arrogante ou grosseiro. Ele não insiste em que as coisas
sejam feitas do seu jeito; não fica irritado nem ressentido;
não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a
verdade. O amor sofre tudo, crê em tudo, espera tudo,
suporta tudo. O amor nunca acaba” (v. 4-8).
Crisóstomo descreveu esses versículos como “um esboço
da beleza incomparável do amor, ornamentando a imagem
do amor com todos os aspectos de excelência moral, como
se estivesse usando muitas cores”.5 O que torna esses
versículos tão belos é que eles realmente são um retrato de
Jesus e de seu amor. A técnica literária que Paulo usa aqui
tem o nome de personificação. Ele apanha a ideia de amor
e descreve o que o amor faz, como se o amor fosse uma
pessoa. Mas é claro que o amor é uma pessoa, porque Jesus
Cristo é a encarnação do amor de Deus. Portanto, tudo o
que esses versículos dizem sobre o amor é característico de
Jesus. Seu amor é paciente e bondoso; não é arrogante nem
fica irritado; crê e suporta todas as coisas; nunca falha.
Então, se quisermos saber com que o Capítulo do Amor se
parece quando é vivenciado, tudo o que precisamos fazer é
olhar para a pessoa e obra de Jesus Cristo.
Vemos a humildade amorosa de Jesus ao deixar a glória
do céu para assumir a carne de nossa humanidade. Vemos
sua paciência amorosa com todas as pessoas que o
comprimiam em busca de cura. Vemos sua submissão
amorosa no Getsêmani, quando, a caminho da cruz, Jesus
não insistiu em fazer sua própria vontade. Vemos sua
perseverança amorosa na maneira de sofrer pelo pecado.
Vemos sua misericórdia amorosa no perdãoque ofereceu a
seus inimigos. Vemos sua confiança amorosa de que o Pai o
ressuscitaria da sepultura. Do começo ao fim, nossa
salvação toda é uma história do amor infalível de Jesus, o
amor de Deus por nós em Cristo — aquilo que C. S. Lewis
chamou de “amor doação” de Deus.6
Uma forma de enxergarmos o amor de Jesus é ilustrar
com sua vida e ministério o Capítulo do Amor. Esta será
nossa abordagem no estudo de 1Coríntios 13: Apanhar o
que esse capítulo diz sobre o amor e ver como Jesus nos
mostra cada aspecto particular do amor. Ao longo do
estudo acompanharemos o curso da vida terrena de Jesus,
sua morte salvífica e sua ressurreição gloriosa.
Ao seguirmos a cronologia de Jesus e de seu amor, nem
sempre seguiremos a ordem exata de 1Coríntios 13. Esse
método parece apropriado para o nosso estudo, porque
esse capítulo é um retrato, e não uma biografia. O texto de
1Coríntios 13 nos apresenta um quadro multifacetado do
amor. Para ver esse quadro da forma mais clara possível,
vamos associar cada palavra com Cristo, e então fazer
novas associações com a nossa vida. O amor que Jesus
demonstrou por nós revela-se o mesmo amor que ele quer
que demonstremos pelos outros. Ele não nos ama apenas
por nossa causa, mas também para amar outros por meio
de nós, conforme aprendemos a amar como ele ama.
SOBRE A BONDADE
Começamos com um aspecto do amor que pode parecer
uma virtude débil. A Escritura diz que o amor é “bondoso”
(1Co 13.4). A maioria das pessoas aprecia a bondade — em
especial quando alguém é bondoso com elas —, mas nós
talvez não levemos isso muito a sério. Falamos sobre ser
“bondosos com os animais” ou demonstrar “bondade com
estranhos”. Ser bondoso é compartilhar algum doce ou
ajudar uma velhinha a atravessar a rua. Mas, se isso é tudo
o que a bondade faz, então dizer que “o amor é bondoso”
seria exaltar o amor numa proporção muito menor do que
ele merece. Na verdade, se o amor é “bondoso” apenas no
sentido convencional da palavra, então a Bíblia estaria
colocando o amor em um nível que todos podemos alcançar
— mesmo sem a graça de Deus — porque todo mundo é
capaz de mostrar pelo menos um pouco de bondade.
Contudo, se achamos que bondade é algo pequeno,
certamente não conhecemos o pleno significado bíblico de
bondade nem entendemos a extraordinária bondade de
Deus. Porque, quando estudamos o que a Bíblia diz sobre
esse assunto, logo descobrimos que a bondade é um
chamado sublime e que toda a história da salvação pode
ser entendida como uma operação graciosa da bondade
extraordinária de Deus em relação a nós, em Jesus Cristo.
A palavra que Paulo usa para bondade em 1Coríntios 13.4
ocorre uma única vez. Essa é a única passagem em que a
palavra aparece na Bíblia ou em qualquer outro texto
antigo (com exceção de fontes cristãs posteriores que, pelo
que se presume, tomaram o termo emprestado de Paulo). O
apóstolo era muito talentoso no uso das palavras, e a
palavra que parece que ele inventou neste caso
(chresteuetai) é um verbo. De modo que, em vez de dizer “o
amor é bondoso”, talvez devamos traduzir a frase por algo
assim: “o amor demonstra bondade”.7
Este é um bom ponto para mencionar uma característica
importante de 1Coríntios 13: As palavras que esse capítulo
usa para descrever o amor não são substantivos, mas
verbos (há pelo menos quinze deles). Isso significa que,
quando Paulo diz que o amor é isto e não é aquilo, ele não
está nos dando uma definição abstrata ou filosófica, nem
está descrevendo um sentimento que temos em nosso
coração. Em vez disso, está falando sobre algo que nós
fazemos — o amor como uma ação, não como uma afeição.
Conforme Henry Drummond escreveu em seu famoso
livreto The greatest thing in the world, o amor “não é uma
espécie de emoção repleta de entusiasmo”, mas “uma
expressão profunda, forte e enérgica [...] da natureza
semelhante a Cristo no mais pleno desenvolvimento dela”.8
Essa profunda verdade — que o amor é um verbo ativo —
nos ajuda a entender o ensino bíblico sobre o amor de uma
maneira extremamente prática. Muitos cristãos se
preocupam por não se sentirem de determinada maneira
em relação a Deus: “Eu sei que devo amar a Deus”,
dizemos, “mas nem sempre me sinto muito amoroso.Deve
ter alguma coisa errada com as minhas emoções! Eu digo
que sigo a Deus, mas às vezes nem mesmo tenho certeza de
que o amo”. Assim, ficamos imaginando como podemos ter
mais sentimento amoroso por Deus.
O Capítulo do Amor nos ensina que a natureza do amor é
o que o amor faz. “Ao contrário de outros amores”, escreve
o teólogo francês Ceslaus Spicq, “que podem permanecer
ocultos no coração, para a caridade é essencial se
manifestar, demonstrar a si própria, fornecer provas,
exibir-se”.9 Isso não quer dizer que o amor seja algo que
nunca sentimos ou que algum dia devamos parar de pedir
ao Espírito Santo que encha nosso coração com uma
afeição mais calorosa por Deus. No entanto, quando se
trata de amor, nossos atos são, em todos os aspectos, tão
importantes quanto o que dizemos com as palavras ou
sentimos no coração, ou até mais importantes. O apóstolo
João disse: “Filhinhos, não amemos de palavra ou de boca,
mas com ações e em verdade” (1Jo 3.18). Paulo via o amor
da mesma maneira. Ele acreditava em amar por meio de
ações, não apenas mediante palavras ou sentimentos. O
amor é como vivemos para Deus, mesmo quando acontece
de não nos sentirmos particularmente amorosos.
Quando Paulo tomou a bondade e a transformou em um
verbo ativo, ele começou com uma palavra que aparece
com bastante frequência no Novo Testamento: o
substantivo mais comum para “bondade” (chrestos). Vemos,
por exemplo, essa palavra em Gálatas 5, em que aparece na
lista do “fruto do Espírito” (v. 22). Também a vemos em
Colossenses 3, em que Paulo a menciona como uma das
virtudes que o povo cristão deve vestir como parte de nosso
vestuário espiritual diário (v. 12). Em outras passagens, ele
diz que a bondade é uma característica do ministério dos
apóstolos (2Co 6.6) e nos ordena que sejamos bondosos uns
com os outros (Ef 4.32).
Quando interpretamos essas passagens no seu todo,
vemos que a bondade é uma das virtudes comuns da vida
cristã. Ser bondoso é ser “afetuoso, generoso, atencioso,
prestativo”.10 Para mostrar que essa bondade é um verbo,
Gordon Fee a define como “bondade ativa em favor de
outrem”.11 Outros comentaristas descrevem uma pessoa
bondosa como alguém que está “disposto a ser útil” e “a
fazer o bem a outros espontaneamente” — as definições
que enfatizam a prontidão e a ânsia da bondade em se
envolver no serviço a outros.12 Lewis Smedes chama a
bondade de “prontidão do amor para melhorar a vida de
outra pessoa”.13
Alguns comentaristas ligam a bondade à paciência, que
também é mencionada no versículo 4. Eles acham que
Paulo tem em mente a bondade com os inimigos, com as
pessoas que nos trataram mal. Por esse motivo, em sua
exposição dessa passagem, João Crisóstomo perguntou
como devemos reagir aos ressentimentos irados e ao
impulso de nos vingarmos de pessoas que nos maltratam:
“Não apenas suportando com grandeza de caráter”, ele
disse (que é onde entra a paciência), “mas também
acalmando e consolando”, para que possamos “amenizar a
dor e curar a ferida” de um relacionamento rompido.14 Às
vezes descreve-se alguém que é “bondoso demais” como
uma pessoa “que mata com bondade”, mas, de acordo com
a Escritura, também nos é possível curar com nossa
bondade, trazendo esperança e cura para pessoas
destroçadas.
A BENIGNIDADE DE DEUS
A melhor maneira de aprender esse tipo de bondade é vê-la
no caráter de nosso Deus, cujo amor está sempre pronto
para melhorar a vida dos outros.
O título deste capítulo — “O amor que é melhor que a
vida” — vem de uma frase que certa vez o rei Davi disse a
respeito de Deus. Davi começou o salmo 63 afirmando que
sua alma estava sedenta de Deus, tal como um moribundo
em um deserto árido. Então, quando começou a louvar e
bendizer a Deus, ele explicou por que Deus merecia sua
adoração: “Porque teu amor inabalável é melhor que a vida,
meus lábios te louvarão” (Sl 63.3).
A versão King James usa uma terminologia ligeiramente
diferente. Ela diz: “Tua benignidade é melhor que a vida”.
As palavras “amor inabalável” e “benignidade” são
tentativas de tomar a profunda ideia veterotestamentária
de amor pactual e expressá-la de uma maneira
compreensível para nós. Davi estava louvando a Deus por
sua fidelidade absoluta em manter as promessas de amor
que ele havia feito ao seu povo, salvando-o e sendo seu
Deus eterno. Foi por causa de sua benignidade que Deus
tornou Abraão uma grande nação, livrou Israel do Egito,
estabeleceu o reino de Davi, resgatou da Babilônia o
remanescente de seu povo e realizou muitos outros atos
poderosos de libertação salvadora. O que o Antigo
Testamento chama de “benignidade” é nada menos do que
a salvação total. E, no entendimento de Davi, conhecer
tamanha bondade é melhor que a própria vida.
O Novo Testamento fala em termos parecidos, colocando
a bondade de Deus no contexto de salvar seu povo. O
apóstolo Paulo disse aos romanos que a bondade de Deus
nos leva ao arrependimento (Rm 2.4). Disse ainda que é por
causa da bondade de Deus que o evangelho é pregado a
todas as nações (Rm 11.22). Mas talvez a máxima
expressão da bondade de Deus surja na carta de Paulo a
Tito:
Mas, quando a bondade e a benignidade de Deus nosso
Salvador apareceram, ele nos salvou não por causa de
obras feitas com justiça por nós, mas de acordo com sua
própria misericórdia, mediante a lavagem regeneradora e
renovadora do Espírito Santo, que ele derramou
ricamente sobre nós por meio de Jesus Cristo, nosso
Salvador, para que, sendo justificados por sua graça, nos
tornássemos herdeiros segundo a esperança de vida
eterna (3.4-7).
Não se deve subestimar a bondade! Talvez sejamos
tentados a vê-la como algo pequeno, mas aqui a Bíblia
considera tudo o que Deus tem feito para nossa salvação e
chama de bondade sua cura salvadora. Considere, então, a
benignidade de Deus, conforme resumida em Tito 3.
Para começar, a bondade de Deus é um amor salvador. A
Escritura diz que, quando apareceu a benignidade de Deus
— essa é uma referência a Jesus vir ao mundo —, “ele nos
salvou” (Tt 3.5). A maneira mais geral e abrangente de
descrever o que Deus tem feito por nós é simplesmente
dizer que ele nos salvou. Jesus é o Salvador, aquele que
traz libertação do pecado e da morte. Ele nos salva do
castigo que nossos pecados merecem, o que é nada menos
do que a condenação eterna. Portanto, quando dizemos que
Deus é bondoso, estamos dizendo que ele nos resgatou de
uma eternidade no inferno.
A bondade de Deus é também um amor misericordioso —
um amor demonstrado a pessoas que nem mesmo merecem
ser amadas. A passagem de Tito 3.5 deixa claro que,
quando Deus nos salvou, isso aconteceu “não por causa de
obras feitas por nós com justiça, mas segundo sua própria
misericórdia”. Nós não nos salvamos. Não conseguimos nos
habilitar para o céu com base nas coisas justas que temos
feito. Leon Tolstoi estava certo quando disse que não havia
cumprido nem um milésimo dos mandamentos de Deus —
não porque não tivesse tentado, mas porque era incapaz de
cumpri-los.15 Esse é também o nosso problema — nós não
fazemos nem conseguimos fazer todas as coisas justas que
sabemos que devemos fazer. Por isso, se Deus nos salva, é
apenas por sua misericórdia bondosa e amorosa. Não é
porque sejamos amáveis, mas porque ele é amor.
Além disso, a bondade de Deus é um amor transformador
de vidas. O texto de Tito 3.5 diz que Deus nos salva
“mediante a lavagem regeneradora e renovadora do
Espírito Santo”. A regeneração é a obra íntima em que
Deus Espírito Santo dá vida nova e eterna a um pecador
sem vida. Aqui a obra de transformação de vida chama-se
“a lavagem regeneradora”. Isso nos lembra o batismo
cristão, o sacramento que usa água para simbolizar a
purificação. Quando a bondade de Deus entra em sua vida,
ela elimina todos os seus pecados. Também torna você uma
pessoa totalmente nova. Isso acontece imediatamente
quando o Espírito assume o controle, mas depois continua
pelo resto da sua vida. Existe “regeneração”, que é umnovo nascimento espiritual, mas existe também
“renovação”, que é a obra contínua do Espírito Santo. Deus
está nos fazendo e nos refazendo como pessoas totalmente
novas. Não somos aquilo que éramos no passado — louvado
seja Deus! Não continuaremos sendo aquilo que somos —
louvado seja de novo, pois essa é a bondade de Deus.
Certa vez ouvi um pai dizer que sentia como se
alienígenas tivessem assumido o controle do corpo de seu
filho. De uma hora para outra, o rapaz havia se tornado
mais respeitoso, obediente, arrependido, disciplinado,
compassivo e ensinável — tudo o que um pai deseja de um
filho. Então o pai percebeu que era isso mesmo: um poder
alienígena e sobrenatural havia assumido o controle de seu
filho. Alguém estava vivendo dentro dele! Era o Espírito
Santo de Deus com todo o seu poder transformador de
vida.
A benignidade divina salvadora e transformadora de vida
também é um amor generoso. Em sua bondade, Deus nos
enviou o Espírito Santo, “que ele derramou sobre nós
profusamente por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” (v.
6). Esse versículo dá testemunho da bondade triúna de
Deus. Há um único Deus em três pessoas, cada uma cheia
de benignidade. Já vimos a bondade do Filho, em vir e ser
nosso Salvador, e a bondade do Espírito, em nos regenerar
e renovar. Aqui vemos a bondade do Pai, em nos enviar o
Espírito por meio do Filho. O que a Bíblia enfatiza
especialmente é a generosidade desse dom. O Espírito
Santo é algo que Deus tem derramado profusamente. O
Espírito é o melhor de todos os dons, porque ele é o dom do
próprio Deus. E, quando Deus derrama esse dom, não é
apenas um gotejamento, mas um manancial.
Há muito mais que podemos dizer sobre a benignidade de
Deus. O texto de Tito 3.7 explica por que Deus tem
derramado seu Espírito sobre nós e em nós: “Para que,
sendo justificados pela sua graça, pudéssemos nos tornar
herdeiros de acordo com a esperança da vida eterna”. Esse
versículo demonstra a justiça e a graciosidade do amor de
Deus. Em nossa justificação, Deus declara que somos
justos. Ele perdoa nossos pecados por meio da morte
expiatória de Jesus Cristo. Ele também nos adota como
seus próprios filhos e filhas amados. O grande pastor
presbiteriano Henry Boardman disse: “A adoção é a maior
prova de amor que alguém pode conceder a outrem, com
exceção de morrer por ele; e Cristo fez as duas coisas por
nós”.16
Então, Deus faz algo mais: Ele nos concede a herança da
vida eterna, prometendo que viveremos com ele em seu
reino glorioso para todo o sempre. A benignidade de Deus
nunca chega ao fim, porque ele continua agindo
graciosamente em nosso favor para sempre. Sua bondade é
um amor eterno.
A partir do momento em que experimentamos a bondade
de Deus — sua bondade salvadora, misericordiosa,
generosa, transformadora de vida e eterna por nós em
Jesus Cristo —, nunca mais conseguimos pensar que a
benignidade é algo pequeno e insignificante. A benignidade
de Deus se estende até a eternidade. Ela realmente é
melhor que a vida, porque, quando Deus nos salva em seu
amor, viveremos para sempre.
SEJA BONDOSO
Você já experimentou a bondade de Deus? Será que você
consegue dizer: “Deus tem sido tão bondoso comigo! Deus
Pai me adotou como seu filho amado. Jesus Cristo tem
transformado minha vida. Mediante sua morte na cruz, ele
perdoou todos os meus pecados. Ele me deu seu Espírito
Santo e me prometeu vida eterna. Sou alguém que tem se
beneficiado da benignidade de Deus”?
Todo aquele que é capaz de dar testemunho da bondade
de Deus é chamado a mostrar aos outros a bondade divina.
Essa é a questão prática tanto em Tito quanto em
1Coríntios. Quando 1Coríntios 13 nos diz que “o amor é
bondoso”, não está apenas definindo amor para nós;
também está nos dizendo como viver. O mesmo vale para
Tito 3. A razão pela qual Paulo fala a Tito a respeito da
benignidade de Deus é para que ele ajude pessoas de sua
igreja a aprenderem a amar.
O contexto é importante. Tito era o pastor em Creta, e os
cretenses não eram muito bondosos. Ao que parece,
precisavam ser lembrados de não dizer coisas ruins sobre
os outros e de não entrar em discussões inúteis (Tt 3.2).
Isso não causa surpresa, tendo em vista o que o versículo 3
diz sobre como costumavam viver: passando os dias “na
maldade e na inveja, odiados pelos outros e odiando uns
aos outros”. Nós mesmos poderíamos fazer a mesma
confissão, porque temos a mesma necessidade espiritual.
Não somos amorosos por natureza, mas inimigos.
É por isso que temos a mensagem evangélica da bondade
salvadora de Deus. Quando o apóstolo quis ajudar as
pessoas a aprenderem a amar, ele não lhes deu
simplesmente uma longa lista do que fazer e do que não
fazer; também lhes contou a história de Jesus e de seu
amor — a bondade com que Deus em Cristo transforma
vidas. Quando essa história se torna nosso próprio
testemunho, mediante a fé em Jesus Cristo, podemos então
viver com o mesmo tipo de amor. Conforme Paul Miller
escreve em seu livro Love walked among us: “O amor não
começa com amar, mas com ser amado [...] só podemos dar
aquilo que temos recebido”.17 Portanto, somente por meio
da fé em Cristo podemos começar a amar do jeito que Jesus
ama. Conhecer a bondade de Deus nos capacita a começar
a mostrar a bondade de Deus.
Todos os dias temos oportunidades de melhorar a vida de
outros por meio da bondade, o que em alguns casos pode
vir a ser uma bondade salvadora. Não que possamos
chegar a ser salvadores de alguém ou a purificar alguém de
seu pecado. Seria loucura tentar. Mas uma coisa que
podemos fazer é apresentar o Salvador às pessoas,
contando-lhes acerca de Jesus e de seu amor. A maior
bondade que podemos chegar a mostrar a alguém é
compartilhar o evangelho. Por isso, seja bondoso com
vizinhos e estranhos da forma mais bondosa: convidando-os
para ir à igreja, conversando com eles sobre assuntos
espirituais e testemunhando a eles sobre Jesus Cristo. O
trabalho amoroso de evangelismo pessoal é a maior
bondade do mundo.
A bondade que somos chamados a mostrar é também uma
bondade misericordiosa, o que significa que podemos
mostrá-la a pessoas que nem sequer a merecem. Nas
palavras de Lewis Smedes: “Bondade é o poder que move
uma pessoa egocêntrica a ajudar os fracos, os feios, os
feridos e a passar a cuidar de outros sem expectativa de
receber qualquer recompensa”.18 É fácil demais dividir o
mundo entre pessoas que merecem nossa ajuda e pessoas
que não merecem. Se Deus dividisse o mundo dessa
maneira, nenhum de nós jamais conseguiria ajuda dele,
porque nenhum de nós jamais a mereceria. Mas nós somos
os beneficiários de bondade imerecida.
De nossa parte, nós agora somos chamados a mostrar
bondade altruísta às próprias pessoas que têm sido
maldosas conosco. O amor doação de Deus, escreve C. S.
Lewis, permite-nos “amar aquilo que não é amável por
natureza”.19 Quando a Bíblia nos diz para sermos bondosos
com nossos inimigos, como acontece com frequência, ela
quase sempre nos diz para fazermos algum tipo de bem a
eles (e.g., Mt 5.44; Rm 12.21; 1Ts 5.15; 2Tm 2.24). Somos
chamados não apenas a tolerar as pessoas, mas também a
tratá-las com bondade. Não espere que os outros sejam
agradáveis com você antes de ser agradável com eles, mas
trate as pessoas de forma tão bondosa quanto Deus o
tratou por meio da cruz de Jesus Cristo. “Se eu posso
escrever uma carta maldosa”, escreveu Amy Carmichael,
“falar uma palavra maldosa, ter um pensamento maldoso —
tudo isso sem sentir tristeza e vergonha —, então não
conheço nada do amor do Calvário”.20
Que mais podemos dizer acerca da bondade que Deus nos
chama a mostrar a outras pessoas? Deve ser uma bondade
generosa. Dê mais — e não menos — à caridade evangélica.
Passe mais tempo — e não menos — com os doentes e os
sem-teto, com crianças carentes e pessoas na prisão. É
claro que há horas em que a misericórdia nos ensina a
dizer não a um pedido de ajuda, porque só alimentará um
vício destrutivo ou uma dependênciaprejudicial. Mas, em
vez de pensar “Como posso me livrar de fazer isso?”,ou
justificar nosso desejo de não nos envolver, nosso primeiro
instinto deve ser sempre o de ver se existe uma maneira de
ajudar.
Às vezes, nossa bondade pode até mesmo ser uma
bondade transformadora de vida, em especial quando
mostramos bondade espiritual às pessoas. Normalmente,
pensamos em bondade da perspectiva da realização de
alguma tarefa prática para ajudar alguém com uma
necessidade física. Mas, conforme destacado por Jonathan
Edwards em seu ensino sobre 1Coríntios 13, devemos
tentar mostrar bondade à alma das pessoas. Como
conseguimos isso? Edwards disse que conseguimos fazer
isso
ao levá-las ao conhecimento das grandes coisas da
religião; e ao aconselhar e advertir outros, e ao estimulá-
los a cumprir seu dever e a dedicar uma atenção
oportuna e minuciosa ao bem-estar de suas próprias
almas; e, de novo, ao darmos uma repreensão cristã
àqueles que podem estar fora do caminho do dever; e ao
sermos bons exemplos para eles, o que é uma das coisas
mais necessárias e comumente a mais eficaz de todas
para a promoção do bem da alma.
21
Em linguagem simples, mostramos benignidade ao
partilharmos as Escrituras, ao darmos conselhos espirituais
sábios, ao oferecermos palavras ternas de repreensão,
quando realmente necessárias, e, acima de tudo, ao sermos
um exemplo piedoso. Todos esses são atos de bondade que
o Espírito Santo pode usar para o bem da alma de outras
pessoas.
É claro que a nossa bondade jamais poderia ser eterna
como é a bondade de Deus. No entanto, ainda há uma
maneira de sermos um reflexo da bondade eterna de Deus
em nossa vida, e essa maneira é nunca parar de mostrar
bondade. Se continuarmos sendo bondosos, isso fará uma
diferença para Cristo e seu reino. Em geral as pessoas
pensam na bondade como algo pequeno. Porém, se cada
crente assumisse um compromisso pessoal com a bondade,
isso mudaria o mundo. Os perdidos seriam encontrados. Os
moribundos seriam libertados. Os indignos receberiam
graça. Os sem amor e os impossíveis de amar seriam
amados com um amor eterno.
Tertuliano nos conta que, nos dias da igreja primitiva, os
pagãos às vezes chamavam os cristãos de chrestiani em vez
de christiani.22 As duas palavras soam parecidas, mas havia
outra razão para a confusão. Christiani significa “cristãos”,
mas chrestiani vem da palavra grega para “bondade”. De
acordo com Tertuliano, mesmo quando os crentes não eram
conhecidos como o povo de Cristo, ainda eram conhecidos
como o povo da bondade, e essa bondade conduzia outros a
Cristo.
E quanto a nós? Será que somos conhecidos como
pessoas de bondade, ou será que na maioria das vezes as
pessoas associam o cristianismo a atitudes de mesquinhez,
crítica e hipocrisia? Nosso chamado é para viver com tanto
amor que a bondade se torne sinônimo de cristianismo. Às
vezes dizemos que as pessoas saberão que somos cristãos
por causa do nosso amor, mas aqui está outra maneira de
dizer a mesma coisa: eles saberão que somos cristãos por
causa da nossa bondade.
GUIA DE ESTUDO
Alguns anos atrás, houve um movimento para incentivar as
pessoas a praticar “atos aleatórios de bondade” em favor
de estranhos. Pensava-se em coisas simples, tais como
deixar um valor no caixa para ajudar a pagar o pedido da
pessoa que está no carro atrás de você, no drive-thru — o
tipo de coisa que faria a outra pessoa sorrir de surpresa e
gratidão. Mas a definição bíblica de benignidade é muito
mais profunda. É amor em ação para o benefício espiritual
dos outros.
1. Como é que a cultura de hoje define o amor? Em geral,
em que uma pessoa comum baseia a confiança de que seu
cônjuge ou familiares a amam?
2. Foi assim que João Crisóstomo, um pregador do século 4,
definiu mostrar bondade àqueles que nos têm feito mal:
“Não apenas suportando com grandeza de caráter, mas
também acalmando e consolando” para “amenizar a dor e
curar a ferida” de um relacionamento rompido. Dê
exemplos de como você tem visto a bondade curar
relacionamentos rompidos.
3. Leia Tito 2.1-15 e 3.1-3. Com base nesses versículos, que
problemas eram visíveis na igreja de Tito?
4. Leia Romanos 2.4 e 11.22 e Tito 3.4-7. Cite algumas
características da definição bíblica de bondade, conforme
ela se manifesta por meio de Cristo.
5. Como a bondade de Deus nos afeta, tanto a curto quanto
a longo prazo, no tempo presente e por toda a
eternidade?
6. De acordo com Tito 3.4-7, por que Deus tem derramado
essa bondade sobre nós?
7. Jesus contou uma história sobre a impressão que
passamos quando demonstramos bondade pelos outros
(Lc 10.30-37). Que partes dessa história devem ter sido
surpreendentes ou ofensivas para o especialista em leis
religiosas com quem Jesus estava conversando?
8. Que paralelos você consegue identificar entre a bondade
do bom samaritano (Lc 10.30-37) e a bondade que Deus
demonstra por nós?
9. Com base em Lucas 10.30-37, o que podemos aprender
sobre as formas de demonstrar autêntica bondade bíblica
por outra pessoa? Como isso difere da definição de
bondade que o mundo adota?
10. Pense na última vez em que você encontrou uma pessoa
necessitada. Você agiu mais como o bom samaritano ou
como o sacerdote e o levita? O que o motivou ou impediu
de demonstrar bondade?
11. Pense em alguém que talvez não pareça merecer o seu
amor — alguém a quem você poderá mostrar bondade
nesta semana. Que tipo de gesto você fará por ele ou por
ela em nome de Cristo? Compartilhe seu plano com
alguém a quem você possa prestar contas pela execução
do plano.
1Conforme narrado em Melissa Howard, “Understanding More love to thee, o
Christ”, disponível em:
http://christianmusic.suite101.com/article.cfm/understanding_more_love_to_the
e_o_christ, acesso em 7 set. 2009.
2Elizabeth Payson Prentiss em William J. Peterson; Ardythe Peterson, The
complete book of hymns: inspiring stories about 600 hymns and praise songs
(Carol Stream: Tyndale, 2006), p. 348.
3Elizabeth Payson Prentiss, citado em Robert J. Morgan, Then sings my soul:
150 of the world ’s greatest hymn stories (Nashville: Thomas Nelson, 2003), p.
133.
4John Chrysostom, “Homilies on the Epistles of Paul to the Corinthians”,
32.6, in: Gerald Bray, org., New Testament, 1-2 Corinthians, Ancient Christian
Commentary on Scripture (Downers Grove: InterVarsity, 1999), vol. 7, p. 131.
5Ibidem, p. 131.
6C. S. Lewis, The four loves (New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1960), p.
11 [edição em português: Os quatro amores, tradução de Paulo Salles (São
Paulo: Martins Fontes, 2005)].
7Anthony C. Thiselton, The First Epistle to the Corinthians, New
International Greek Testament Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 2000),
p. 1047.
8Henry Drummond, The greatest thing in the world (New York: Grosset &
Dunlap, s.d.), p. 28 [edições em português: A maior coisa do mundo, tradução
de Almir dos Santos Gonçalves (Rio de Janeiro: JUERP, 1969); Amor: a melhor
coisa do mundo, tradução de Edson Bini (São Paulo: Via Leitura, 2014)].
9Ceslaus Spicq, “Agape”, in: Theological lexicon of the New Testament,
tradução para o inglês e organização de J. D. Ernest (Peabody: Hendrickson,
1994), 3 vols.
10Ceslaus Spicq, Agape dans le Nouveau Testament (Paris: Études Bibliques,
1959), 2:151.
11Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians, New International
Commentary on the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1987), p. 636
[edição em português: 1 Coríntios: comentário exegético, tradução de Marcio
Loureiro Redondo (São Paulo: Vida Nova, a ser publicado)].
12Veja Charles Hodge, An exposition of the First Epistle to the Corinthians
(reimpr. London: Banner of Truth, 1958), p. 269; Jonathan Edwards, Charity
and its fruits (1852; reimpr. Edinburgh: Banner of Truth, 2005), p. 96 [edição
em português: A caridade e seus frutos: uma exposição clássica sobre o amor,
tradução de Tiago F. Cunha (s.l.: KDP, 2016)].
13Lewis B. Smedes, Love within limits: a realist’s view of 1 Corinthians 13
(Grand Rapids:

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