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Seria difícil pensar em um único tema mais falado, mais cantado e mais celebrado do que o amor. No entanto, em parte por ser tão familiar, o amor é quase sempre tido como favas contadas e com frequência é entendido erradamente pelas mesmas pessoas que mais falam a respeito. E, encaremos a realidade: isso é verdade até mesmo na igreja. Somos gratos a Philip Ryken por essa análise maravilhosamente renovada e bíblica do que o amor verdadeiro é, quando o vemos na perfeita pureza de Cristo. Ao mesmo tempo simples e profundo, esse livro certamente questionará suas pressuposições sobre o amor e o ajudará a ver o amor autêntico sob uma luz inteiramente nova. John MacArthur, pastor na área de ensino da igreja Grace Community Church, Sun Valley, Califórnia, Estados Unidos, e autor de vários livros Usando um esquema peculiar, Ryken torna compreensível o Capítulo do Amor, escrito por Paulo, por meio de relances da vida de Jesus e dos discípulos. Dessa maneira, ele nos mergulha no amor superabundante de Jesus e nos anima a passá-lo adiante. Que esse livro o cubra por completo com a plenitude do amor exuberante do Deus triúno! Marva J. Dawn, professora de Teologia Espiritual na Regent College e autora de Truly the community Philip Ryken destaca o que é verdadeiramente importante quando se concentra no atributo central que, em teoria, deve caracterizar aqueles que seguem Jesus: que amemos uns aos outros. E a definição de amor que ele apresenta não é uma abstração teórica, mas é solidamente personificada pelo próprio Jesus. Não consigo imaginar um livro mais oportuno do que esse ou uma mensagem de que a igreja precise mais desesperadamente do que o chamado a amar como Jesus amou. Ryken prestou um grande favor a todos nós, levando-nos como um pastor a buscar o aspecto central de nosso chamado para sermos como Jesus. Carolyn Custis James, presidente da Synergy Women’s Network e autora de When life and beliefs collide Boa parte de seguir Jesus é uma questão de sermos lembrados daquilo que aprendemos no passado. Eu aprendi que ele me amou primeiro e que seu amor está no âmago da minha pequena capacidade de amar os outros. Eu aprendi certa vez que, quando meu amor se acabasse, ele permaneceria comigo e me reabasteceria até transbordar. Eu aprendi essas coisas, mas tinha esquecido delas. Serei sempre grato a Philip Ryken por esse importantíssimo lembrete. Michael Card, músico, professor de Bíblia e autor de A better freedom Com base em um estudo cuidadoso, imerso na Escritura e muito consciente do mundo em que vivemos e das experiências pelas quais as pessoas passam, Ryken mostra como podemos amar com o tipo de amor que Deus demonstrou por nós. Essas qualidades fizeram de Ryken um de meus autores favoritos, e também de minha esposa. Ajith Fernando, diretor de ensino da Mocidade para Cristo, Sri Lanka e autor de A supremacia de Cristo (Shedd) Outra contribuição notável de Philip Ryken, a qual, na minha condição de seguidor de Cristo, me desafia lá no íntimo do meu ser. Se, de fato, tudo se resume ao amor — ao amor de Deus por um mundo perdido e ferido —, então a pergunta é: como seguidor de Cristo, até que ponto estou imitando esse amor? Caso ousemos pensar que estamos amando como Cristo, esse olhar perspicaz sobre o Capítulo do Amor nos levará a repensar o assunto. Emery Lindsay, bispo-presidente da junta diretiva da denominação Church of Christ (Holiness), nos Estados Unidos Existem muitas exposições de 1Coríntios 13, mas bem poucas mostram como o amor de Deus em Cristo Jesus é a melhor de todas as exibições e a mais verdadeira personificação do amor. Analisando o Capítulo do Amor por esse prisma, Ryken dá grande clareza à meditação de Paulo sobre o amor e mostra como esse amor nos leva de volta a uma renovada adoração de Cristo. Refletir sobre como Cristo, mediante sua vida e morte, faz com que 1Coríntios 13 salte aos nossos olhos é algo que nos leva a ver com clareza a frequente ausência de amor em nossa própria vida, desnuda todas as noções de amor que são pouco mais do que conversa mole sentimental e dá ao amor uma robustez e concretude que é parte integrante de confiar em Cristo e segui-lo. D. A. Carson, professor-pesquisador de Novo Testamento na Trinity Evangelical Divinity School, e autor de Cristo e cultura (entre muitos outros publicados por Vida Nova) Amar como Jesus ama é profundamente instrutivo sobre a natureza do verdadeiro amor cristão, sobre a magnitude das manifestações desse amor pelo próprio Jesus e sobre as maneiras como nós, seus seguidores, devemos exibir seu amor em nossa vida. Esse estudo honra a Cristo de duas maneiras: destacando-o como o grande amante que é e chamando-nos a imitar nosso Senhor em uma vida que é cada vez mais a vida de amor que ele manifestou. Meditação sobre o amor de Cristo e sobre amar como Jesus — é isso que esse livro incentiva com grande perspicácia e profundidade. Bruce Ware, professor de Teologia Cristã no Southern Baptist Theological Seminary e autor de Teísmo aberto (Vida Nova) O amor incondicional de Deus detona todas as nossas categorias condicionais. É indomável e indiscriminado. Surge em nosso caminho sem nenhum mérito nosso. É mão única vertical, mas constrange a uma expressão horizontal. O amor da parte de Deus inevitavelmente se mostra no amor pelos outros. E é isso que Philip Ryken demonstra tão bem. Escrevendo como alguém que é ao mesmo tempo pastor e erudito, Ryken faz um apelo apaixonado à igreja para que redescubra aquilo que Francis Schaeffer chamou de “a derradeira apologética”, a saber, o amor. Isso é o que mais importa. Tullian Tchividjian, autor de Fora de moda (Cultura Cristã) Como alguém que tem conhecido a alegria, experimentado a disciplina e provado a comunhão do amor de Deus por mais de quarenta anos, encorajo-o a ler esse livro. Escrito por um homem que ama a Deus e é profundamente amado por ele, essa obra olha para o amor de Deus com ponderação, perspicácia e cuidado. James MacDonald, pastor titular da igreja Harvest Bible Chapel, em Rolling Meadows, em Illinois, Estados Unidos, e autor de Senhor, transforma minha atitude antes que seja tarde demais (Vida Nova) Amor é uma palavra que muitos tendem a usar de uma maneira que faz com que perca sua força. Mas esse problema é agravado quando Jesus — o amante supremo de Deus e do homem — é apresentado de forma reducionista e inócua, como um amante passivo que aceita tudo. Mas, ao examinar essa obra do dr. Ryken, encontramos o amor multifacetado de Jesus exibido como pano de fundo de 1Coríntios 13. Esse amor também é exibido gloriosamente com mais clareza na obra consumada de Jesus na cruz. O amor de Deus, conforme apresentado nesse livro, desafiará e inspirará todos os que o lerem a exibi-lo para suplantar os estereótipos de amor que permeiam o nosso mundo. Eric Mason, pastor principal da igreja Epiphany Fellowship, Filadélfia, Pensilvânia Existem dois livros que causaram um impacto permanente em mim e mudaram o curso da minha vida. O primeiro chegou às minhas mãos na faculdade, enquanto procurava respostas para a vida. Cristianismo básico (Ultimato), de John Stott, me ajudou a conhecer Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador. Agora, Amar como Jesus ama está me ensinando a viver uma vida cristã vitoriosa até que, pela graça de Deus, eu seja chamado para ir para meu lar eterno. O livro não trata apenas de conhecer o amor de Deus em Cristo, mas de viver o amor de Deus. É a mais esplêndida exposição sobre o amor de Deus que já li. Leia-a você mesmo para entender a luta de viver pela graça de Deus e para se envolver nessa luta. Creio que esse livro transformará o mundo ao nosso redor. I. Henry Koh, coordenador de Korean Ministries, Mission to North America, Presbyterian Church in America O texto de 1Coríntios 13 é com certeza um dos capítulos mais conhecidos e ao mesmo tempo menos compreendidos de toda a Bíblia. Lido com sinceridade em incontáveis cerimônias de casamento, nós concordamoscom um balançar da cabeça, mas sem considerar como as palavras de Paulo podem ter um propósito bem mais profundo do que simplesmente ser uma bênção matrimonial. E é exatamente isso que Ryken deu à igreja: um novo olhar sobre essa passagem desafiadora, não mais presa a questões de casamento, mas exposta eloquentemente ao longo da vida de Cristo. Ryken revela uma visão surpreendentemente profunda e iluminadora para cada crente, e não apenas para noivos e noivas. Phil Vischer, criador das animações computadorizadas O que está na Bíblia? e Os vegetais, autor de Me, myself & Bob Insistirei para que todos os pequenos grupos de nossa igreja estudem esse livro em um futuro próximo. Sabemos que Jesus nos deu a ordem de fazer discípulos de todas as nações, e dizemos que isso significa que devemos aprender com Jesus para que possamos nos tornar parecidos com ele. Mas como fazemos isso? O dr. Ryken apanhou o grande capítulo da Bíblia sobre o amor e nos mostrou como era o amor na vida de Jesus, em termos práticos. O livro é bíblico e prático e, ao mesmo tempo que condena nossa falta de amor, também nos incentiva. Eu o recomendo muitíssimo a todos os que têm um desejo profundo de se tornarem completos em Cristo. Greg Waybright, pastor titular da igreja Lake Avenue Church, Pasadena, Califórnia, Estados Unidos CDD 241.677 18- 0777 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 Ryken, Philip Graham Amar como Jesus ama : um novo olhar sobre 1Coríntios 13 / Philip Graham Ryken ; tradução de Marcio L. Redondo. -- São Paulo: Vida Nova, 2018. ISBN 978-85-275-0865-0 Título original: Loving the way Jesus loves 1. Amor – Aspectos religiosos 2. Cristianismo – Doutrina bíblica 3. Bíblia. N.T. Coríntios - Crítica, interpretação, etc. I. Título II. Redondo, Marcio L. Índices para catálogo sistemático: 1. Amor – Aspectos religiosos - Cristianismo ©2012, Philip Graham Ryken Título do original: Loving the way Jesus loves, edição publicada por CROSSWAY (Wheaton, Illinois, EUA). Todos os direitos em língua portuguesa reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA Rua Antônio Carlos Tacconi, 63, São Paulo, SP, 04810-020 vidanova.com.br | vidanova@vidanova.com.br 1.ª edição: 2018 Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em citações breves, com indicação da fonte. Todas as citações bíblicas sem indicação da versão foram traduzidas diretamente da English Standard Version (ESV). As citações com indicação da versão in loco foram traduzidas diretamente da New International Version (NIV). DIREÇÃO EXECUTIVA Kenneth Lee Davis GERÊNCIA EDITORIAL Fabiano Silveira Medeiros EDIÇÃO DE TEXTO Lucília Marques Rosa Ferreira PREPARAÇÃO DE TEXTO Victória Cardoso Marcia B. Medeiros REVISÃO DE PROVAS Abner Arrais GERÊNCIA DE PRODUÇÃO Sérgio Siqueira Moura DIAGRAMAÇÃO Wirley - Layout Produção Gráfica CAPA Lico Rolim CONVERSÃO PARA EPUB SCALT Soluções Editoriais A LISA MAXWELL, meu primeiro, único e verdadeiro amor, e a JESUS CRISTO, a eterna fonte de todo verdadeiro amor SUMÁRIO Prefácio 1 Nada sem amor 2 Amor que é melhor que a vida 3 O amor não é irritável 4 O amor e sua santa alegria 5 O amor espera 6 O amor em toda a sua amplitude 7 O amor tem esperança 8 O amor não é egoísta 9 O amor suporta todas as coisas 10 O amor confia 11 O amor perdoa 12 O amor nunca falha Índice de passagens bíblicas PREFÁCIO “Escrever sobre o amor de Deus é privilégio e responsabilidade supremos do teólogo cristão.” Assim diz Kevin Vanhoozer, que leciona teologia na Wheaton College. Além de privilégio e responsabilidade, escrever sobre o amor de Deus também é a suprema humilhação de um teólogo. Presume-se que só um enamorado é capaz de escrever sobre o amor. Mas, se existe uma área na minha vida em que sei que não alcanço o caráter de Cristo, essa área é amar a Deus e a meu próximo verdadeiramente. Ainda assim, meu coração, que às vezes é sem amor, é forçado a dar testemunho da verdade do amor de Deus em Jesus Cristo. Este livro começou praticamente com a última série de sermões que preguei na Décima Igreja Presbiteriana da Filadélfia. O amor daquela congregação — um amor sincero e como o de Cristo — ajudou a sustentar meu ministério ali por quinze anos. No entanto, apesar de todo o amor que partilhamos como família da igreja, ainda assim descobrimos que tínhamos um espaço aparentemente infinito para crescer no amor de Deus. Estudar 1Coríntios 13 de uma forma cristocêntrica nos ajudou — assim como espero que venha a ajudar você — a aprender a amar do mesmo modo que Jesus ama. Como demonstração de amor, vários amigos e colegas ajudaram a melhorar este livro enquanto era preparado para publicação. Lynn Cohick, David Collins, Lois Denier, Tom Schwanda e LaTonya Taylor leram o manuscrito, fazendo as correções necessárias e sugerindo inúmeras maneiras de reforçar a exposição e a aplicação do texto bíblico. Robert Polen conferiu fatos e prestou ajuda administrativa. Nancy Ryken Taylor preparou as perguntas de estudo. Marilee Melvin participou das revisões finais. Lydia Brownback e outros amigos da editora Crossway editaram o livro e conduziram carinhosamente a produção do livro até a hora da impressão. Esses esforços de amor ajudarão você a ver, com mais clareza, o amor de Jesus nas páginas deste texto. Enquanto eu estudava 1Coríntios 13, li o testemunho dado por alguém da World Harvest Mission que expressa minha própria necessidade de ter mais do amor de Jesus. Um missionário escreveu: Ao voltar para casa depois de um dia distribuindo ajuda humanitária, fui para a cozinha, onde estava minha filha de três anos de idade. Ela estava fazendo um desenho de nossa família. Notei que no desenho eu parecia estar a certa distância do restante da família e tinha a testa claramente franzida. — Esse é o papai? — perguntei. — É, sim — veio a resposta meio tímida. — Por que eu estou com a testa franzida? Ela disse: — Papai, é que você nunca mais dá um sorriso. O homem começou a pedir ajuda. “Orem por mim”, ele escreveu. Quero “aplicar essa mensagem do amor de Deus neste coração frio e duro”. A oração do missionário é a minha oração também, e espero que você a torne sua oração enquanto lê este livro: “Senhor Jesus, aplica o evangelho do teu amor ao meu coração frio e duro”. Philip Ryken Wheaton College 1 NADA SEM AMOR Se eu doar tudo o que tenho e se eu entregar meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada obtenho. (1CO 13.3) E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: “Falta-lhe uma coisa: vá, venda tudo o que tem e dê aos pobres, e você terá um tesouro no céu; e venha me seguir”. (MC 10.21) Não há nada de que eu mais precise em minha vida do que mais do amor de Jesus. Preciso de mais de seu amor por minha esposa — a mulher a quem Deus me chamou para servir até a morte. Preciso de mais de seu amor por meus filhos e pelo restante de minha família. Preciso de mais de seu amor pela igreja, incluindo aqueles irmãos e irmãs na fé que às vezes é difícil amar. Preciso de mais de seu amor pelos meus semelhantes que ainda precisam ouvir o evangelho e por todos os perdidos e pessoas solitárias que estão perto do coração de Deus, mesmo quando estão longe dos meus pensamentos. Aonde quer que eu vá e em cada relacionamento que tenho na vida, preciso de mais do amor de Jesus. A área em que eu mais preciso desse amor é no meu relacionamento com o próprio Deus, o Amante da minha alma. E você? Está amando da maneira que Jesus ama? Ou precisa de mais do amor dele em sua vida — mais amor por Deus e pelas outras pessoas? O CAPÍTULO DO AMOR Um dos primeiros lugares em que as pessoas procuram amor na Bíblia é 1Coríntios 13. É uma das passagens mais famosas da Escritura, principalmente porque é lida com bastante frequência em casamentos. Algumas pessoas a chamam de o “Capítulo do Amor”, o que é apropriado porque menciona amor (agape)explícita e implicitamente mais de uma dúzia de vezes. O texto de 1Coríntios 13 é o mais completo retrato do amor na Bíblia. Um professor de literatura diria que é um encômio, que é “uma expressão formal ou exagerada de louvor”.1 O Capítulo do Amor é uma canção que exalta o amor e na qual o apóstolo Paulo demonstra a necessidade do amor (v. 1-3), esboça a natureza do amor (v. 4-7) e comemora a permanência do amor (v. 8-13) como o maior dos dons de Deus. Por mais familiar que seja, esse capítulo não é tão bem compreendido quanto deveria ser. Para começar, em geral, as pessoas o leem fora de contexto. É verdade que às vezes começam lendo o final de 1Coríntios 12.31, em que Paulo diz “Eu lhes mostrarei um caminho ainda mais excelente”. Esse é um bom lugar para começar, porque o capítulo 13 é “o caminho mais excelente” que o apóstolo tinha em mente. Mas há um contexto mais amplo a considerar — um contexto que muitos leitores deixam de perceber. Conforme Gordon Fee escreve em seu comentário, “o caso de amor das pessoas com esse capítulo sobre o amor também tem permitido que seja costumeiramente lido sem levar em conta o seu contexto, o que não o torna menos verdadeiro, mas faz com que se perca muita coisa de vista”.2 Uma forma de garantir que não deixemos de perceber aquilo que Deus tem para nós em 1Coríntios 13 é lembrar quem eram os coríntios e o que Deus lhes disse nessa carta. Se havia uma coisa de que os coríntios precisavam, era de mais do amor de Jesus. A igreja estava profundamente dividida quanto a teologia, prática, classes sociais e dons espirituais. Alguns diziam que seguiam Paulo. Outros seguiam Pedro ou Apolo — “meu apóstolo é melhor do que o seu!”. E havia aqueles — e essa era a forma suprema de superioridade espiritual — que afirmavam seguir a Cristo. Havia conflitos parecidos acerca de ministério, com vários coríntios afirmando que seus dons carismáticos eram o suprassumo do cristianismo — “meu ministério é mais importante do que o seu!”. Essa foi a questão no capítulo 12, em que o apóstolo lembrou aos coríntios de que, embora a igreja seja composta de muitas partes, todos pertencemos a um único corpo. De modo que, quando Paulo escreveu sobre o amor no capítulo 13, ele não estava tentando dar às pessoas algo bonito para ler nos casamentos. Afinal, o amor sobre o qual ele escreve aqui não é o eros (o amor romântico do desejo), mas o agape (o amor altruísta de irmãos e irmãs em Cristo). Então, em vez de preparar as pessoas para o casamento, o apóstolo estava tentando desesperadamente mostrar a uma igreja cheia de cristãos egocêntricos que existe uma maneira melhor de viver — não apenas no dia de você se casar, mas todos os dias pelo resto da sua vida. Em primeiro lugar, o Capítulo do Amor não é para amantes, mas para todas as pessoas sem amor na igreja que acham que seu jeito de falar sobre Deus, ou de adorar a Deus, ou de servir a Deus, ou de ofertar a Deus é melhor do que o de todas as outras pessoas. Esse é outro erro que muitas pessoas cometem: tendemos a ler 1Coríntios 13 como uma passagem bíblica que dá ânimo, promove o bem-estar e está repleta de pensamentos agradáveis sobre o amor. Em vez disso, para mim, a passagem é quase aterrorizante, porque estabelece um padrão para o amor que eu sei que jamais conseguirei atingir. Nenhum de nós vive com esse tipo de amor, e existe um jeito fácil de prová-lo: comece a ler pelo versículo 4 e, cada vez que você encontrar a palavra “amor”, substitua-a pelo seu nome. Por exemplo: “O Phil é paciente e bondoso; o Phil não inveja nem se vangloria; não é arrogante ou grosseiro. Ele não insiste em que as coisas sejam feitas do seu jeito; não fica irritado nem ressentido; não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. O Phil sofre tudo, crê em tudo, espera tudo, suporta tudo. O Phil nunca falha”. Faça você mesmo esse exercício e descobrirá como me sinto: absolutamente nada amoroso. O AMOR COMO MARCA INDISPENSÁVEL O problema é que o amor deve ser a característica definidora do nosso cristianismo. Jonathan Edwards disse que o amor é, dentre todas as virtudes do Novo Testamento, aquela em que “mais se insiste”.3 Com certeza Paulo insiste no amor em 1Coríntios 13.1-3, passagem em que ele apresenta um argumento lógico que demonstra a necessidade do amor. O amor é tão essencial que sem ele não somos nada. De acordo com os cânones da literatura antiga, em geral um encômio começa com uma comparação em que o autor apanha aquilo que ele quer louvar e o compara com alguma outra coisa. Isso está bem próximo daquilo que o apóstolo Paulo faz em 1Coríntios 13: Ele apanha o amor e faz uma série de comparações condicionais para mostrar como o amor é necessário. Cada comparação tem alguma relação com dons ou realizações espirituais — coisas que cristãos talentosos e virtuosos têm ou fazem. A ideia básica é, de acordo com Charles Hodge, que “o amor é superior a todos os dons extraordinários”.4 Paulo começa com o falar em línguas, que é um dom que alguns coríntios tinham, e outros não. Mas, mesmo que de fato tivessem o dom, eles não eram nada sem o amor: “Se eu falar nas línguas de homens e de anjos, mas não tiver amor, sou um gongo barulhento ou um címbalo que retine” (v. 1). “Falar nas línguas de homens” é comunicar a verdade espiritual por meio do miraculoso dom de enunciação em uma língua humana. “Falar nas línguas de anjos” é um dom ainda maior, pois é falar o próprio idioma do céu. Paulo não minimiza esse dom da eloquência celestial, mas diz que sem o amor ele não é nada. Alguns estudiosos acreditam que, quando Paulo falou sobre um “gongo barulhento”, estava se referindo aos jarros ocos de bronze que eram usados como caixas de ressonância nos teatros da antiguidade — um sistema greco-romano para a amplificação do som.5 Então, a ideia básica deve ter sido que, sem o amor, nossas palavras produzem apenas “um som vazio procedente de um vaso oco e sem vida”.6 Outros creem que Paulo estava se referindo aos gongos que eram usados para adorar divindades pagãs, tais como a deusa Cibele.7 Nesse caso, ele está dizendo que, sem amor, somos meros pagãos. A imagem nesse versículo sempre me lembra o programa de televisão The gong show [O show do gongo], que foi transmitido na década de 1970 e no qual julgava-se a capacidade de os concorrentes cantarem ou dançarem. Caso os juízes não gostassem de determinado número, eles se levantavam e batiam em um enorme gongo para acabar com a apresentação. Gongos podem fazer muito barulho, mas não produzem muita música. Címbalos produzem música quando usados da maneira certa. Mas, se alguém fica martelando em um címbalo, o barulho é ensurdecedor. Não importa quanto sejamos dotados de dons, é assim que ficamos, caso não usemos nossos dons de uma maneira amorosa. Ninguém consegue ouvir o evangelho anunciado pela vida de um cristão sem amor. As pessoas só ouvem “bangue, bangue, bangue, pam, pam, pam”! Colocando a metáfora em linguagem contemporânea: “Se eu usar a internet para o evangelho, mas não tiver amor, sou apenas um blogue ruidoso ou um tuíte sem sentido”.8 No versículo 2, Paulo começa relacionando outros dons, muitos dos quais já foram analisados no capítulo 12. Ele menciona profecia: “se eu tiver poderes proféticos”. Alguém com esse dom pode predizer o futuro ou tem uma percepção sobrenatural para interpretar o que está acontecendo no mundo do ponto de vista de Deus. Paulo menciona o dom de discernir “todos os mistérios e todo o conhecimento”. A palavra “todos” é enfática. A pessoa que tem esse dom espiritual tem uma compreensão abrangente dos grandes mistérios de Deus, inclusive dos planos dele para o futuro, à semelhança dos mistérios que o profeta Daniel revelou ao rei Nabucodonosor na Babilônia. Com “conhecimento”, o apóstolo quer dizer conhecimento espiritual da verdade bíblica — algo que a mente humana só consegue saber mediante a revelação do Espírito Santo.Os coríntios tinham dons de conhecimento e discernimento, conforme Paulo diz várias vezes nessa carta (e.g., 1.5; 8.1). Mas, sem amor, alguém que tem esses dons não é nada. Um homem pode ter uma visão mística; uma mulher pode conhecer os profundos mistérios de Deus. Mas, sem amor, esses dons proféticos e intelectuais não são nada. De modo que Paulo diz: “Se eu tiver poderes proféticos e entender todos os mistérios e todo o conhecimento [...], mas não tiver amor, não sou nada” (13.2). Ninguém se importa com o quanto sabemos a menos que também saiba quanto nos importamos. Considere agora o dom da fé absoluta. Paulo diz: “Se eu [...] tiver toda a fé, a ponto de mover montanhas, mas não tiver amor, não sou nada” (v. 2). Aqui o apóstolo não está se referindo à fé salvadora, mediante a qual cada crente confia inicialmente em Cristo para a salvação, mas ao dom extraordinário que alguns crentes têm de confiar em Deus naquilo que parece impossível, em especial no trabalho da igreja de Deus e no crescimento do seu reino. Genádio de Constantinopla afirmou que “com a palavra ‘fé’ Paulo não quer dizer a fé comum e universal dos crentes, mas o dom espiritual da fé”.9 Anthony Thiselton descreve o que o apóstolo chama de “toda fé” como “uma fé particularmente robusta, contagiante, ousada, confiante [...] que executa uma tarefa especial dentro de uma comunidade que enfrenta problemas aparentemente insuperáveis”.10 Essa fé tem o poder de mover montanhas, conforme Jesus disse a seus discípulos. Em outras palavras, mediante a graça de Deus, a fé consegue realizar o impossível. Mas, sem amor, até mesmo esse tipo de fé não é nada. No versículo 3, Paulo passa dos dons que temos para as boas obras que realizamos. Aí seu argumento chega ao ponto alto: “Se eu doar tudo o que tenho e se entregar meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada obtenho”. Esses dois exemplos são excepcionais. Bem poucas pessoas vendem todos os seus bens terrenos e doam aos pobres 100% do dinheiro recebido. Bem poucas pessoas sofrem o martírio por meio do ato de sacrifício da própria vida. Essas são duas das maiores coisas que alguém pode chegar a fazer por Cristo. Com certeza, as pessoas que fazem isso merecem algum tipo de recompensa! Ainda assim, até mesmo as maiores boas obras podem ser feitas sem amor. Elas podem, em vez disso, ser feitas para alimentar nosso orgulho espiritual ou para obter algo de Deus. Mas nem mesmo as dores terríveis de martírio nas chamas são suficientes. A menos que sejamos motivados por um amor genuíno por Deus, tudo isso não vale nada. O amor de Deus é a única coisa que importa. Entenda que, quando Paulo nos dá essa lista de coisas que, sem amor, não são nada, ele está de fato incluindo todos os nossos dons e aquilo que chamamos de realizações espirituais. Não importa o que Deus nos tenha dado e não importa o que tenhamos feito para Deus, sem amor isso não significa nada. Deus talvez nos conceda o dom de ajudar ou de hospitalidade, de ensino ou de administração. Talvez tenhamos o privilégio de ter uma posição de liderança espiritual, servindo como presbíteros ou diáconos na igreja. Deus talvez permita que sirvamos como missionários ou evangelistas ou servos dos pobres. Ainda assim — o que é chocante —, é possível usarmos nossos dons para o ministério sem ter amor no coração por ninguém, exceto por nós mesmos. Somos tão egoístas, que é até mesmo possível fazermos algo que parece ser para outra pessoa, quando na verdade é para nós — para melhorar nossa própria reputação ou insuflar nossa satisfação pessoal. Paulo não está negando o valor dos dons espirituais nem minimizando a importância do ministério na igreja. Louvado seja Deus por profetas e mártires! Mas ele está dizendo que cada dom espiritual tem de ser usado de uma maneira amorosa. O que mais importa não é quanto nós somos cheios de dons, mas quanto somos amorosos. Conforme Jonathan Edwards disse: “Não importa o que se faça ou sofra, se o coração não for entregue a Deus, na realidade nada foi dado a ele”.11 Entenda que essa mensagem é para pessoas na igreja. Não é basicamente para os incrédulos, mas para cristãos com dons e talentos que estão ativamente servindo no ministério. Em vez de nos felicitar por todas as coisas que fazemos para Deus, ou de olhar com superioridade para pessoas que não servem a Deus da mesma maneira que nós servimos, ou de pensar que estamos certos e todos os outros estão errados, Deus está nos chamando a fazer tudo por amor. Caso contrário, estaremos fazendo tudo à toa. O HOMEM QUE ACREDITAVA SABER AMAR Ao ler os versículos iniciais de 1Coríntios 13, fico a imaginar qual a esperança que existe para mim. Não conversei com anjos, até onde sei, nem movi montanhas nem sofri até a morte. Fiz muito menos — bem pouco, na verdade —, e até mesmo aquilo que fiz foi feito com bem menos amor do que deveria. No entanto, sei que no evangelho existe esperança para pecadores sem amor. Um bom lugar para ver essa esperança é em uma história que Marcos contou sobre Jesus. Sempre que falamos de amor, temos de voltar para Jesus. O amor descrito no Capítulo do Amor é, na realidade, o amor dele. De modo que, à medida que formos estudando cada expressão de cada versículo de 1Coríntios 13, retornaremos repetidas vezes à história de Jesus e seu amor. Jamais aprenderemos a amar mediante o desenvolvimento desse amor a partir de nosso próprio coração, a não ser que tenhamos mais de Jesus em nossa vida. A Escritura diz: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19). Uma vez que isso é verdade, a única maneira de nos tornarmos mais amorosos é termos mais do amor de Jesus, conforme o encontramos no evangelho. O texto de Marcos 10 conta a história de um homem que Jesus encontrou na estrada para Jerusalém. As pessoas costumam chamá-lo de “o jovem rico” ou “o jovem rico e poderoso”, mas, por razões que logo ficarão claras, também poderíamos chamá-lo de “o homem que achava que sabia como amar”. Qualquer que seja nossa maneira de chamá-lo, esse homem estava interessado na vida eterna e supunha que havia alguma coisa que pudesse fazer para obtê-la. Assim, ele correu até Jesus, ajoelhou-se diante dele e fez esta pergunta: “Bom Mestre, o que tenho de fazer para herdar a vida eterna?” (v. 17). Com essas palavras, o homem estava levantando a mais importante de todas as questões espirituais: a vida eterna. Todos estamos destinados a morrer. Portanto, se existe algo como a vida eterna, todos os esforços para obtê-la valem a pena. Mas o problema é que aquele homem estava fazendo uma suposição incorreta. Ele supunha que a salvação vem em consequência de fazer, e não de crer. De maneira que perguntou a Jesus o que tinha de fazer para obter a vida eterna. Essa suposição é incorreta porque nenhum de nós é bom o suficiente para ser salvo pelas coisas boas que faz. Todos temos feito um número excessivo de coisas erradas, e não o suficiente de coisas certas. Além disso, mesmo as coisas certas que temos feito foram feitas até certo ponto ou de forma errada ou pelo motivo errado. Então, Jesus disse ao homem: “Ninguém é bom, exceto um, que é Deus” (v. 18). Ninguém é bom: nem o jovem que estava conversando com Jesus, nem você, nem eu, nem ninguém. Só Deus é perfeitamente bom. Para provar isso, Jesus recitou o padrão da justiça de Deus. “Você conhece os mandamentos”, ele disse ao homem: “Não mate; não cometa adultério; não roube; não dê falso testemunho; não engane; honre seu pai e mãe” (v. 19). Se esses mandamentos soam familiares, é porque estão nos Dez Mandamentos que Deus deu a Moisés no monte — a lei eterna de Deus. Todavia, quero considerar esses mandamentos a partir de uma perspectiva ligeiramente diferente. Esses mandamentos não são apenas as leis de Deus, mas também exibem o amor que Deus exige. Cada mandamento exige que amemos nosso próximo. Quando Deus diz: “Não mate”, ele está nos dizendo para amar nossos semelhantes,protegendo a vida deles. Quando diz: “Não cometa adultério”, está nos dizendo para amar as pessoas, defendendo a pureza sexual delas. E assim por diante. Preservar a propriedade, honrar a reputação ou posição social de alguém — todas essas coisas são formas de demonstrar amor. Poderíamos tomar todos os mandamentos que Jesus menciona e resumi-los assim: “Ame seu próximo como a si mesmo”. Na verdade, foi exatamente dessa forma que Jesus de fato os resumiu no Evangelho de Mateus, quando disse que o primeiro e grande mandamento é amar a Deus de todo o coração e que o segundo grande mandamento é amar o próximo. De modo que esta foi a resposta que Jesus deu ao jovem rico quando ele perguntou o que tinha de fazer para herdar a vida eterna: “Eu lhe direi o que você tem de fazer. Se você quer ser salvo, tudo o que tem de fazer é amar o seu próximo”. “Bem, isso é fácil!” — o homem pensou consigo. “Nunca matei ninguém, nem dormi com a mulher de outro homem, nem me envolvi em roubo de carruagens”. O que ele disse em voz alta foi: “Mestre, tudo isso tenho guardado desde minha juventude” (Mc 10.20). Se tudo o que é preciso para obter a vida eterna é evitar quebrar os grandes mandamentos, o jovem achava que havia cumprido tudo direitinho. Jesus não estava lhe dizendo nada que ele já não soubesse. Ele tinha aprendido isso tudo na escola sabatina! Mas entenda o que o homem estava realmente dizendo. Se essas leis mostram o amor que Deus exige, então ele estava afirmando que sabia como amar, que em seu coração ele já tinha amor suficiente. Isso é o que você diria? Você se apresentaria perante Deus e diria: “Eu venho amando as pessoas a vida inteira”. É claro que jamais sairíamos por aí dizendo isso, pelo menos não nessas palavras; mas, ainda assim, é dessa maneira que muitos de nós agimos. Geralmente, a maioria de nós tende a crer que está se saindo muito bem, no que se refere a amar as outras pessoas. Portanto, raramente nos arrependemos da falta de amor em nosso coração. Perdemos de vista o fato de que aprender a amar como Jesus é uma de nossas maiores prioridades. Esquecemos de orar para que o Espírito Santo nos torne melhores no dever de amar. Isso tudo se aplicava ao jovem rico. Jesus lhe mostrou que ele não era quem pensava ser em matéria de amor, e fez isso submetendo o jovem a um teste simples e objetivo. “Falta-lhe uma coisa”, disse Jesus, admitindo por um momento que o homem de fato guardava os mandamentos de Deus. “Vá, venda tudo o que tem e dê aos pobres, e você terá um tesouro no céu; e venha seguir-me” (v. 21). Esse foi o teste do amor generoso. O homem afirmava que nunca tinha enganado ninguém. Agora Jesus estava pondo sua palavra em xeque: “Você nunca enganou ninguém? É isso mesmo? Vamos pôr isso à prova. Que dizer dos pobres? Como seres humanos semelhantes a você, como pessoas feitas à imagem de Deus, eles têm direito à sua compaixão. Ora, você os ama o suficiente para doar aquilo que tem, para que eles possam ter aquilo de que necessitam?”. Ao exigir compaixão pelos pobres, Jesus estava pondo à prova o amor daquele homem pelo próximo. Ao mesmo tempo, também estava pondo à prova o amor do homem por Deus. Ele ainda reivindicava o direito de ser senhor de sua própria vida? Ou renunciaria a todos os seus próprios recursos e confiaria somente em Jesus? Infelizmente o homem falhou nessa prova. O Evangelho de Mateus nos diz que ele ficou “desanimado com aquelas palavras” e “foi embora triste, pois tinha muitos bens” (v. 22). A palavra grega para “desanimado”, ou “deprimido” é stugnasas, que dá a ideia de choque ou desânimo. A verdade espiritual é que o coração daquele homem estava exposto. Embora achasse que sabia como amar, ficou claro que ele amava o dinheiro mais do que amava Jesus e as outras pessoas. O SALVADOR AMOROSO Meu propósito ao contar essa história é, em parte, nos convencer de que não amamos muito mais do que aquele homem amava. Na verdade, se Jesus nos apresentasse a mesma exigência — dar aos pobres tudo o que temos —, a maioria de nós logo apresentaria uma longa lista de motivos pelos quais não deveríamos fazê-lo. Diríamos que nem todo mundo é chamado a vender todos os seus bens. Jesus disse àquele homem para se desfazer de tudo o que tinha, mas seu chamado não é o nosso chamado. Temos de suprir as necessidades de nossa família e cuidar de nossas próprias necessidades básicas, sem mencionar dar nosso dinheiro para sustentar outros tipos de trabalho do reino — e não apenas alimentar os pobres. Todas essas objeções são bem razoáveis, mas o verdadeiro problema para a maioria de nós é que sempre queremos impor limites ao nosso amor. Estamos prontos a dar, mas só quando temos algo sobrando. Estamos dispostos a nos importar, contanto que isso não seja inconveniente demais. Somos capazes de amar, desde que as pessoas nos retribuam com amor. De fato, temos de admitir que não amamos do modo que Jesus ama. Podemos não ser nada sem amor, mas infelizmente não somos nada parecidos com os amantes que Deus quer que sejamos. O apóstolo Paulo estava disposto a admitir isso. Observe que em 1Coríntios 13 ele usa a primeira pessoa do singular. Em vez de dizer aos coríntios: “Se vocês falarem as línguas de homens e de anjos e tiverem poderes proféticos e assim por diante”, ele diz: “Se eu fizer essas coisas sem amor, não sou nada”. O apóstolo não está simplesmente repreendendo, mas incluindo a si mesmo e dando testemunho daquilo que havia aprendido sobre seu próprio coração pecador. Paulo tinha todos esses dons espirituais: línguas, profecia, conhecimento e fé. Ele havia doado seus bens e oferecido seu próprio corpo até a morte. Mas sabia que isso não era absolutamente nada e que ele mesmo não era nada sem amor. Infelizmente, ao contrário de Paulo, o jovem rico, no Evangelho de Marcos, não estava pronto para confessar a falta de amor em seu coração pecador. Isso nos leva àquilo que talvez seja o detalhe mais notável dessa passagem. No versículo 20, o jovem rico se vangloriou de que havia guardado todas as leis de Deus sobre amar o próximo. A Bíblia diz que, quando o homem disse isso, Jesus olhou para ele e “o amou” (v. 21). Esse detalhe é notável porque uma das pessoas mais difíceis de amar é o pecador presunçoso, que acha que conseguiu vencer na vida espiritual. Esse jovem rico era um sabichão. Tinha uma opinião tão elevada de si mesmo, que se recusava a confessar seu pecado. A maioria de nós não teria sentido absolutamente nenhuma afeição por esse homem. Mas Jesus o amou. Na verdade, foi somente porque Jesus amou esse homem que aplicou nele o teste do amor generoso. Jesus queria que ele visse que não era o amante que achava que era e que precisava de mais do amor de Jesus em sua vida. Esse detalhe notável nos dá um vislumbre do amor que Jesus tem por nós. Não somos em nada mais amáveis do que o homem que achava que sabia como amar. Mas Jesus ainda olha para nós com um coração de amor. De igual maneira, ele nos ajuda a ver que não somos os amantes que pensamos que somos. Mas ele não para por aí. Mediante sua morte na cruz, oferece perdão para nosso coração sem amor. Então, ele nos envia o Espírito Santo, para que possamos começar a amar do jeito que ele ama. Não somos nada sem amor — essa é a mensagem de 1Coríntios 13.1-3. Mas Jesus não faz nada sem amor — essa é a mensagem de Marcos 10 e, na verdade, a mensagem de tudo o mais em toda a Bíblia. Foi amor que trouxe Jesus do céu para Belém, que o levou a realizar milagres e pregar o evangelho, que o conduziu em meio aos sofrimentos do Calvário e da cruz e que o exaltou à glória. Jesus Cristo é a encarnação eterna do amor de Deus. Por isso, é com amor que ele olha agora para nós — com tanto amor quanto o que ele teve pelo homem que encontrou em Marcos 10. Anteriormente, vimos como o Capítulo do Amor soa ridículo quando substituímos a palavra amor pelos nossos próprios nomes. Mas é bem diferente quandocolocamos Jesus no quadro. Se 1Coríntios 13 é um retrato do amor, então ele é realmente um esboço do Salvador que encontramos nos Evangelhos: “Jesus é paciente e bondoso; Jesus não inveja nem se vangloria; não é arrogante ou grosseiro. Jesus não insiste em que as coisas sejam feitas do seu jeito; não fica irritado nem ressentido; não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Jesus sofre tudo, crê em tudo, espera tudo, suporta tudo. Jesus nunca falha”. Paulo nos incentiva a ler o Capítulo do Amor de uma forma cristocêntrica, mediante a mudança expressiva que ele faz entre, de um lado, os versículos 1 a 3, em que fala na primeira pessoa, e, de outro, os versículos 4 a 8, em que o amor é personificado. Primeiro, o apóstolo nos diz o que ele não consegue fazer sem amor; em seguida, nos diz o que só o amor consegue fazer.12 E o motivo pelo qual o amor consegue fazer todas essas coisas é que ele se encarnou em Jesus Cristo. Jesus é tudo o que eu não sou. Só ele tem “o amor divino que a todo amor excede”.13 Essa percepção não me pressiona; ela me liberta, porque o amor de Jesus é tão grande, que ele ama até a mim. E, porque me ama, ele prometeu me salvar, me perdoar e me transformar. Não somos nada sem amor. Mas, quando conhecemos Jesus, que não faz nada sem amor, ele nos ajudará a amar do jeito que ele ama. Em uma carta posterior aos coríntios, Paulo deu testemunho do amor de Jesus, que tem o poder de transformar vidas, que inverte totalmente nossas afeições ao nos obrigar a parar de amar a nós mesmos e começar a amar os outros: “Pois o amor de Cristo nos controla, porque chegamos a esta conclusão: que um morreu por todos, portanto todos morreram; e ele morreu por todos, para que aqueles que vivem já não vivam para si mesmos, mas para aquele que por causa deles morreu e ressuscitou” (2Co 5.14,15) — o Salvador, que morreu e ressuscitou para que você conseguisse viver com o amor dele. Eu o convido a receber o amor dele em sua vida. Confesse que você não é o amante que deveria ser e peça a Jesus para mudar seu coração. Diga algo assim: “Jesus, tu és tudo o que eu não sou. Tu és puro amor, e eu sou apenas o pecador sem amor que tu sempre soubeste que eu seria. Mas, em teu amor perfeito, peço que perdoes meus pecados odiosos e ensines meu coração sem amor a amar do jeito que tu amas”. GUIA DE ESTUDO As pessoas falam sobre alguém ser “um amor de pessoa”, sobre “fazer amor” e sobre a perda de pessoas “amadas”. Nós até dizemos que “amamos” sorvete ou determinado local. Tendo em vista a maneira de falarmos sobre o amor, não é de admirar que a palavra tenha perdido a força. Mas um novo olhar para 1Coríntios 13 nos lembra como é belo o amor que imita a Cristo. 1. Fale sobre uma ocasião em que alguém de fora de sua família fez algo que demonstrou amor por você. O que fez com que aquele ato ou expressão de amor fosse significativo para você? 2. Leia o conhecido Capítulo do Amor em 1Coríntios 13.1- 13. O que poderia ser diferente em sua igreja, caso esse capítulo fosse aplicado principalmente ao amor pelos outros membros do corpo de Cristo, e não ao amor entre os casais? 3. O que distingue atos de misericórdia feitos sem amor daqueles atos que são motivados pelo amor? A pessoa que é objeto desses atos ou um observador consegue dizer a diferença? 4. O texto de 1Coríntios 13.1 nos diz que dons espirituais oferecidos sem amor são como um gongo barulhento ou um címbalo que retine. Em que aspectos um cristão sem amor é como um gongo barulhento? Qual a impressão que uma pessoa com fé e conhecimento, mas sem amor, dá aos incrédulos? 5. Uma boa ilustração do amor de Jesus pelos pecadores se encontra em Marcos 10. Leia os versículos 17-27. Qual foi a motivação do jovem ao perguntar a Jesus como podia ser salvo? Fundamente sua resposta com o que está escrito no texto. 6. Como se pode ver o amor de Jesus por aquele homem em Marcos 10.17-27? 7. Em Marcos 10.17-27, Jesus respondeu à pergunta do homem dizendo que ele precisava amar o próximo. Em última análise, o jovem falhou no teste do amor porque não estava disposto a vender todos os seus bens e dar o dinheiro aos pobres. Por que esse homem foi incapaz de abrir mão daquilo que tinha? Pensando em termos mais gerais, por que é especialmente difícil para os ricos entrar no reino de Deus? Que desafios espirituais eles enfrentam que os pobres não? 8. Em 1Coríntios 13.3 lemos que apenas abrir mão de nossos bens e dá-los aos pobres não é suficiente. O que mais é necessário? Por que as boas obras não são suficientes sem o amor? 09. Pense na última vez em que você foi confrontado com as necessidades de um estranho. Você passou no teste do “amor”? Em caso negativo, qual foi o impedimento? 10. Que limites você é tentado a impor ao seu amor? O que você pode fazer para remover alguns desses limites e verdadeiramente amar o próximo como a si mesmo? 1Oxford English dictionary, verbete “encomium”, 13. ed. 2Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians, New International Commentary on the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1987), p. 626 [edição em português: 1Coríntios: comentário exegético, tradução de Marcio Loureiro Redondo (São Paulo: Vida Nova, a ser publicado)]. 3Jonathan Edwards, Charity and its fruits (1852; reimpr. Edinburgh: Banner of Truth, 2005), p. 1 [edição em português: A caridade e seus frutos: uma exposição clássica sobre o amor, tradução de Tiago F. Cunha (s.l.: KDP, 2016)]. 4Hodge, An exposition of the First Epistle to the Corinthians (reimpr., London: Banner of Truth, 1958), p. 264. 5Anthony C. Thiselton, The First Epistle to the Corinthians, New International Greek Testament Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 2000), p. 1036. 6W. W. Klein, “Noisy gong or acoustic vase? A note on 1Cor 13.1”, New Testament Studies 32 (1986): 286-9. 7J. Moffatt, The First Epistle of Paul to the Corinthians, Moffatt New Testament Commentary (London: Hodder & Stoughton, 1938), p. 192. 8Josh Moody fez essa comparação em um sermão pregado em 19 de setembro de 2010, na College Church, em Wheaton, nos Estados Unidos. 9Genádio de Constantinopla, “13:1-3 The law of love”, citado em Gerald Bray, org., New Testament, 1-2 Corinthians, Ancient Christian Commentary on Scripture (Downers Grove: InterVarsity, 1999), vol. 7, p. 131. 10Thiselton, First Epistle to the Corinthians, p. 1041. 11Edwards, Charity, p. 57. 12Outro insight totalmente novo do sermão de Josh Moody sobre essa passagem. 13O autor está citando o título do hino Love divine, all loves excelling, da autoria de Charles Wesley. (N. do T.) 2 AMOR QUE É MELHOR QUE A VIDA O amor é bondoso. (1CO 13.4) Mas, quando a bondade e a benignidade de Deus nosso Salvador apareceram, ele nos salvou não por causa de obras feitas com justiça por nós, mas de acordo com sua própria misericórdia, mediante a lavagem regeneradora e renovadora do Espírito Santo, que ele derramou ricamente sobre nós por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador. (TT 3.4,5) Os sofrimentos terrenos de Elizabeth Payson Prentiss foram lentos e dolorosos.1 Ela lutou a vida toda contra a insônia e fortes dores de cabeça que a deixavam exausta. Ela também sofreu a dor da perda: dois de seus filhos morreram, um logo depois do outro. Depois disso, a saúde frágil da mãe enlutada quase se foi. Em profunda angústia de alma, ela exclamou: “Nosso lar está despedaçado; nossas vidas, arrasadas; nossas esperanças, esfrangalhadas; nossos sonhos, acabados. Acho que não consigo viver por nem mais um instante”.2 Ainda assim, durante aqueles dias sombrios e de desespero, quando suas dores e perdas a levaram a pensar que não conseguiria viver nem mais um dia, Elizabeth Payson Prentiss nunca perdeu a esperança no amor de Deus. Na verdade, bem naqueles dias ela começou a escrever um hino pedindo a Jesus mais do seu amor. “Mais amor por ti, ó Cristo”, ela orou. “Mais amor por ti.” Então, ela pediu a Deus para que ele usasse astristezas terrenas que ela sentia para ensiná-la a amar: Outrora por alegria terrena eu ansiava; procurava paz e descanso; agora só a ti eu busco; dá-me o que é melhor. Esta será toda minha oração: “Mais amor por ti, ó Cristo; mais amor por ti, mais amor por ti!”. Que a tristeza opere, envia pesar e dor; doces são teus mensageiros, doce é o seu refrão, quando cantam comigo: “Mais amor por ti, ó Cristo; mais amor por ti, mais amor por ti!”. O que Elizabeth Prentiss encontrou, quando perdeu todas as esperanças na própria vida, foi um amor que é melhor que a vida. Tempos depois, ela escreveu: “Amar mais a Cristo é a necessidade mais profunda, o grito constante da minha alma. [...] Lá fora no bosque, e na minha cama. e na charrete, quando estou feliz e ocupada, e quando estou triste e ociosa, o sussurro continua a subir, pedindo mais amor, mais amor, mais amor!”.3 UM RETRATO DO AMOR Onde uma alma sofredora consegue encontrar mais amor por Cristo e mais amor por outras pessoas? Estamos encontrando esse amor em 1Coríntios 13, o Capítulo do Amor na Bíblia, o qual o apóstolo Paulo escreveu para ajudar a igreja em Corinto— uma igreja cheia de dons, mas ainda assim dividida — a aprender a amar. Paulo começou demonstrando que o amor é absolutamente indispensável. Nada mais importa, apenas o amor. Não importa quanto sejamos dotados de dons ou o que façamos para Deus — sem amor, não somos nada. Profecia sem amor, teologia sem amor, fé sem amor, ação social sem amor, até mesmo martírio sem amor são todos igualmente sem valor. Nada pode compensar a ausência de amor. João Crisóstomo ia mais longe. Quando pregou sobre essa passagem à sua congregação em Constantinopla, em algum momento durante o século quarto, Crisóstomo disse: “Se eu não tiver amor, não sou apenas inútil, mas definitivamente um estorvo”.4 O problema é que somos menos amorosos do que pensamos ser e ainda menos do que deveríamos ser. Se não quisermos ser um estorvo, precisamos, portanto, aprender a amar. O texto de 1Coríntios 13 esclarece, ao oferecer um esboço da natureza do amor: “O amor é paciente e bondoso; o amor não inveja nem se vangloria; não é arrogante ou grosseiro. Ele não insiste em que as coisas sejam feitas do seu jeito; não fica irritado nem ressentido; não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. O amor sofre tudo, crê em tudo, espera tudo, suporta tudo. O amor nunca acaba” (v. 4-8). Crisóstomo descreveu esses versículos como “um esboço da beleza incomparável do amor, ornamentando a imagem do amor com todos os aspectos de excelência moral, como se estivesse usando muitas cores”.5 O que torna esses versículos tão belos é que eles realmente são um retrato de Jesus e de seu amor. A técnica literária que Paulo usa aqui tem o nome de personificação. Ele apanha a ideia de amor e descreve o que o amor faz, como se o amor fosse uma pessoa. Mas é claro que o amor é uma pessoa, porque Jesus Cristo é a encarnação do amor de Deus. Portanto, tudo o que esses versículos dizem sobre o amor é característico de Jesus. Seu amor é paciente e bondoso; não é arrogante nem fica irritado; crê e suporta todas as coisas; nunca falha. Então, se quisermos saber com que o Capítulo do Amor se parece quando é vivenciado, tudo o que precisamos fazer é olhar para a pessoa e obra de Jesus Cristo. Vemos a humildade amorosa de Jesus ao deixar a glória do céu para assumir a carne de nossa humanidade. Vemos sua paciência amorosa com todas as pessoas que o comprimiam em busca de cura. Vemos sua submissão amorosa no Getsêmani, quando, a caminho da cruz, Jesus não insistiu em fazer sua própria vontade. Vemos sua perseverança amorosa na maneira de sofrer pelo pecado. Vemos sua misericórdia amorosa no perdãoque ofereceu a seus inimigos. Vemos sua confiança amorosa de que o Pai o ressuscitaria da sepultura. Do começo ao fim, nossa salvação toda é uma história do amor infalível de Jesus, o amor de Deus por nós em Cristo — aquilo que C. S. Lewis chamou de “amor doação” de Deus.6 Uma forma de enxergarmos o amor de Jesus é ilustrar com sua vida e ministério o Capítulo do Amor. Esta será nossa abordagem no estudo de 1Coríntios 13: Apanhar o que esse capítulo diz sobre o amor e ver como Jesus nos mostra cada aspecto particular do amor. Ao longo do estudo acompanharemos o curso da vida terrena de Jesus, sua morte salvífica e sua ressurreição gloriosa. Ao seguirmos a cronologia de Jesus e de seu amor, nem sempre seguiremos a ordem exata de 1Coríntios 13. Esse método parece apropriado para o nosso estudo, porque esse capítulo é um retrato, e não uma biografia. O texto de 1Coríntios 13 nos apresenta um quadro multifacetado do amor. Para ver esse quadro da forma mais clara possível, vamos associar cada palavra com Cristo, e então fazer novas associações com a nossa vida. O amor que Jesus demonstrou por nós revela-se o mesmo amor que ele quer que demonstremos pelos outros. Ele não nos ama apenas por nossa causa, mas também para amar outros por meio de nós, conforme aprendemos a amar como ele ama. SOBRE A BONDADE Começamos com um aspecto do amor que pode parecer uma virtude débil. A Escritura diz que o amor é “bondoso” (1Co 13.4). A maioria das pessoas aprecia a bondade — em especial quando alguém é bondoso com elas —, mas nós talvez não levemos isso muito a sério. Falamos sobre ser “bondosos com os animais” ou demonstrar “bondade com estranhos”. Ser bondoso é compartilhar algum doce ou ajudar uma velhinha a atravessar a rua. Mas, se isso é tudo o que a bondade faz, então dizer que “o amor é bondoso” seria exaltar o amor numa proporção muito menor do que ele merece. Na verdade, se o amor é “bondoso” apenas no sentido convencional da palavra, então a Bíblia estaria colocando o amor em um nível que todos podemos alcançar — mesmo sem a graça de Deus — porque todo mundo é capaz de mostrar pelo menos um pouco de bondade. Contudo, se achamos que bondade é algo pequeno, certamente não conhecemos o pleno significado bíblico de bondade nem entendemos a extraordinária bondade de Deus. Porque, quando estudamos o que a Bíblia diz sobre esse assunto, logo descobrimos que a bondade é um chamado sublime e que toda a história da salvação pode ser entendida como uma operação graciosa da bondade extraordinária de Deus em relação a nós, em Jesus Cristo. A palavra que Paulo usa para bondade em 1Coríntios 13.4 ocorre uma única vez. Essa é a única passagem em que a palavra aparece na Bíblia ou em qualquer outro texto antigo (com exceção de fontes cristãs posteriores que, pelo que se presume, tomaram o termo emprestado de Paulo). O apóstolo era muito talentoso no uso das palavras, e a palavra que parece que ele inventou neste caso (chresteuetai) é um verbo. De modo que, em vez de dizer “o amor é bondoso”, talvez devamos traduzir a frase por algo assim: “o amor demonstra bondade”.7 Este é um bom ponto para mencionar uma característica importante de 1Coríntios 13: As palavras que esse capítulo usa para descrever o amor não são substantivos, mas verbos (há pelo menos quinze deles). Isso significa que, quando Paulo diz que o amor é isto e não é aquilo, ele não está nos dando uma definição abstrata ou filosófica, nem está descrevendo um sentimento que temos em nosso coração. Em vez disso, está falando sobre algo que nós fazemos — o amor como uma ação, não como uma afeição. Conforme Henry Drummond escreveu em seu famoso livreto The greatest thing in the world, o amor “não é uma espécie de emoção repleta de entusiasmo”, mas “uma expressão profunda, forte e enérgica [...] da natureza semelhante a Cristo no mais pleno desenvolvimento dela”.8 Essa profunda verdade — que o amor é um verbo ativo — nos ajuda a entender o ensino bíblico sobre o amor de uma maneira extremamente prática. Muitos cristãos se preocupam por não se sentirem de determinada maneira em relação a Deus: “Eu sei que devo amar a Deus”, dizemos, “mas nem sempre me sinto muito amoroso.Deve ter alguma coisa errada com as minhas emoções! Eu digo que sigo a Deus, mas às vezes nem mesmo tenho certeza de que o amo”. Assim, ficamos imaginando como podemos ter mais sentimento amoroso por Deus. O Capítulo do Amor nos ensina que a natureza do amor é o que o amor faz. “Ao contrário de outros amores”, escreve o teólogo francês Ceslaus Spicq, “que podem permanecer ocultos no coração, para a caridade é essencial se manifestar, demonstrar a si própria, fornecer provas, exibir-se”.9 Isso não quer dizer que o amor seja algo que nunca sentimos ou que algum dia devamos parar de pedir ao Espírito Santo que encha nosso coração com uma afeição mais calorosa por Deus. No entanto, quando se trata de amor, nossos atos são, em todos os aspectos, tão importantes quanto o que dizemos com as palavras ou sentimos no coração, ou até mais importantes. O apóstolo João disse: “Filhinhos, não amemos de palavra ou de boca, mas com ações e em verdade” (1Jo 3.18). Paulo via o amor da mesma maneira. Ele acreditava em amar por meio de ações, não apenas mediante palavras ou sentimentos. O amor é como vivemos para Deus, mesmo quando acontece de não nos sentirmos particularmente amorosos. Quando Paulo tomou a bondade e a transformou em um verbo ativo, ele começou com uma palavra que aparece com bastante frequência no Novo Testamento: o substantivo mais comum para “bondade” (chrestos). Vemos, por exemplo, essa palavra em Gálatas 5, em que aparece na lista do “fruto do Espírito” (v. 22). Também a vemos em Colossenses 3, em que Paulo a menciona como uma das virtudes que o povo cristão deve vestir como parte de nosso vestuário espiritual diário (v. 12). Em outras passagens, ele diz que a bondade é uma característica do ministério dos apóstolos (2Co 6.6) e nos ordena que sejamos bondosos uns com os outros (Ef 4.32). Quando interpretamos essas passagens no seu todo, vemos que a bondade é uma das virtudes comuns da vida cristã. Ser bondoso é ser “afetuoso, generoso, atencioso, prestativo”.10 Para mostrar que essa bondade é um verbo, Gordon Fee a define como “bondade ativa em favor de outrem”.11 Outros comentaristas descrevem uma pessoa bondosa como alguém que está “disposto a ser útil” e “a fazer o bem a outros espontaneamente” — as definições que enfatizam a prontidão e a ânsia da bondade em se envolver no serviço a outros.12 Lewis Smedes chama a bondade de “prontidão do amor para melhorar a vida de outra pessoa”.13 Alguns comentaristas ligam a bondade à paciência, que também é mencionada no versículo 4. Eles acham que Paulo tem em mente a bondade com os inimigos, com as pessoas que nos trataram mal. Por esse motivo, em sua exposição dessa passagem, João Crisóstomo perguntou como devemos reagir aos ressentimentos irados e ao impulso de nos vingarmos de pessoas que nos maltratam: “Não apenas suportando com grandeza de caráter”, ele disse (que é onde entra a paciência), “mas também acalmando e consolando”, para que possamos “amenizar a dor e curar a ferida” de um relacionamento rompido.14 Às vezes descreve-se alguém que é “bondoso demais” como uma pessoa “que mata com bondade”, mas, de acordo com a Escritura, também nos é possível curar com nossa bondade, trazendo esperança e cura para pessoas destroçadas. A BENIGNIDADE DE DEUS A melhor maneira de aprender esse tipo de bondade é vê-la no caráter de nosso Deus, cujo amor está sempre pronto para melhorar a vida dos outros. O título deste capítulo — “O amor que é melhor que a vida” — vem de uma frase que certa vez o rei Davi disse a respeito de Deus. Davi começou o salmo 63 afirmando que sua alma estava sedenta de Deus, tal como um moribundo em um deserto árido. Então, quando começou a louvar e bendizer a Deus, ele explicou por que Deus merecia sua adoração: “Porque teu amor inabalável é melhor que a vida, meus lábios te louvarão” (Sl 63.3). A versão King James usa uma terminologia ligeiramente diferente. Ela diz: “Tua benignidade é melhor que a vida”. As palavras “amor inabalável” e “benignidade” são tentativas de tomar a profunda ideia veterotestamentária de amor pactual e expressá-la de uma maneira compreensível para nós. Davi estava louvando a Deus por sua fidelidade absoluta em manter as promessas de amor que ele havia feito ao seu povo, salvando-o e sendo seu Deus eterno. Foi por causa de sua benignidade que Deus tornou Abraão uma grande nação, livrou Israel do Egito, estabeleceu o reino de Davi, resgatou da Babilônia o remanescente de seu povo e realizou muitos outros atos poderosos de libertação salvadora. O que o Antigo Testamento chama de “benignidade” é nada menos do que a salvação total. E, no entendimento de Davi, conhecer tamanha bondade é melhor que a própria vida. O Novo Testamento fala em termos parecidos, colocando a bondade de Deus no contexto de salvar seu povo. O apóstolo Paulo disse aos romanos que a bondade de Deus nos leva ao arrependimento (Rm 2.4). Disse ainda que é por causa da bondade de Deus que o evangelho é pregado a todas as nações (Rm 11.22). Mas talvez a máxima expressão da bondade de Deus surja na carta de Paulo a Tito: Mas, quando a bondade e a benignidade de Deus nosso Salvador apareceram, ele nos salvou não por causa de obras feitas com justiça por nós, mas de acordo com sua própria misericórdia, mediante a lavagem regeneradora e renovadora do Espírito Santo, que ele derramou ricamente sobre nós por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, para que, sendo justificados por sua graça, nos tornássemos herdeiros segundo a esperança de vida eterna (3.4-7). Não se deve subestimar a bondade! Talvez sejamos tentados a vê-la como algo pequeno, mas aqui a Bíblia considera tudo o que Deus tem feito para nossa salvação e chama de bondade sua cura salvadora. Considere, então, a benignidade de Deus, conforme resumida em Tito 3. Para começar, a bondade de Deus é um amor salvador. A Escritura diz que, quando apareceu a benignidade de Deus — essa é uma referência a Jesus vir ao mundo —, “ele nos salvou” (Tt 3.5). A maneira mais geral e abrangente de descrever o que Deus tem feito por nós é simplesmente dizer que ele nos salvou. Jesus é o Salvador, aquele que traz libertação do pecado e da morte. Ele nos salva do castigo que nossos pecados merecem, o que é nada menos do que a condenação eterna. Portanto, quando dizemos que Deus é bondoso, estamos dizendo que ele nos resgatou de uma eternidade no inferno. A bondade de Deus é também um amor misericordioso — um amor demonstrado a pessoas que nem mesmo merecem ser amadas. A passagem de Tito 3.5 deixa claro que, quando Deus nos salvou, isso aconteceu “não por causa de obras feitas por nós com justiça, mas segundo sua própria misericórdia”. Nós não nos salvamos. Não conseguimos nos habilitar para o céu com base nas coisas justas que temos feito. Leon Tolstoi estava certo quando disse que não havia cumprido nem um milésimo dos mandamentos de Deus — não porque não tivesse tentado, mas porque era incapaz de cumpri-los.15 Esse é também o nosso problema — nós não fazemos nem conseguimos fazer todas as coisas justas que sabemos que devemos fazer. Por isso, se Deus nos salva, é apenas por sua misericórdia bondosa e amorosa. Não é porque sejamos amáveis, mas porque ele é amor. Além disso, a bondade de Deus é um amor transformador de vidas. O texto de Tito 3.5 diz que Deus nos salva “mediante a lavagem regeneradora e renovadora do Espírito Santo”. A regeneração é a obra íntima em que Deus Espírito Santo dá vida nova e eterna a um pecador sem vida. Aqui a obra de transformação de vida chama-se “a lavagem regeneradora”. Isso nos lembra o batismo cristão, o sacramento que usa água para simbolizar a purificação. Quando a bondade de Deus entra em sua vida, ela elimina todos os seus pecados. Também torna você uma pessoa totalmente nova. Isso acontece imediatamente quando o Espírito assume o controle, mas depois continua pelo resto da sua vida. Existe “regeneração”, que é umnovo nascimento espiritual, mas existe também “renovação”, que é a obra contínua do Espírito Santo. Deus está nos fazendo e nos refazendo como pessoas totalmente novas. Não somos aquilo que éramos no passado — louvado seja Deus! Não continuaremos sendo aquilo que somos — louvado seja de novo, pois essa é a bondade de Deus. Certa vez ouvi um pai dizer que sentia como se alienígenas tivessem assumido o controle do corpo de seu filho. De uma hora para outra, o rapaz havia se tornado mais respeitoso, obediente, arrependido, disciplinado, compassivo e ensinável — tudo o que um pai deseja de um filho. Então o pai percebeu que era isso mesmo: um poder alienígena e sobrenatural havia assumido o controle de seu filho. Alguém estava vivendo dentro dele! Era o Espírito Santo de Deus com todo o seu poder transformador de vida. A benignidade divina salvadora e transformadora de vida também é um amor generoso. Em sua bondade, Deus nos enviou o Espírito Santo, “que ele derramou sobre nós profusamente por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” (v. 6). Esse versículo dá testemunho da bondade triúna de Deus. Há um único Deus em três pessoas, cada uma cheia de benignidade. Já vimos a bondade do Filho, em vir e ser nosso Salvador, e a bondade do Espírito, em nos regenerar e renovar. Aqui vemos a bondade do Pai, em nos enviar o Espírito por meio do Filho. O que a Bíblia enfatiza especialmente é a generosidade desse dom. O Espírito Santo é algo que Deus tem derramado profusamente. O Espírito é o melhor de todos os dons, porque ele é o dom do próprio Deus. E, quando Deus derrama esse dom, não é apenas um gotejamento, mas um manancial. Há muito mais que podemos dizer sobre a benignidade de Deus. O texto de Tito 3.7 explica por que Deus tem derramado seu Espírito sobre nós e em nós: “Para que, sendo justificados pela sua graça, pudéssemos nos tornar herdeiros de acordo com a esperança da vida eterna”. Esse versículo demonstra a justiça e a graciosidade do amor de Deus. Em nossa justificação, Deus declara que somos justos. Ele perdoa nossos pecados por meio da morte expiatória de Jesus Cristo. Ele também nos adota como seus próprios filhos e filhas amados. O grande pastor presbiteriano Henry Boardman disse: “A adoção é a maior prova de amor que alguém pode conceder a outrem, com exceção de morrer por ele; e Cristo fez as duas coisas por nós”.16 Então, Deus faz algo mais: Ele nos concede a herança da vida eterna, prometendo que viveremos com ele em seu reino glorioso para todo o sempre. A benignidade de Deus nunca chega ao fim, porque ele continua agindo graciosamente em nosso favor para sempre. Sua bondade é um amor eterno. A partir do momento em que experimentamos a bondade de Deus — sua bondade salvadora, misericordiosa, generosa, transformadora de vida e eterna por nós em Jesus Cristo —, nunca mais conseguimos pensar que a benignidade é algo pequeno e insignificante. A benignidade de Deus se estende até a eternidade. Ela realmente é melhor que a vida, porque, quando Deus nos salva em seu amor, viveremos para sempre. SEJA BONDOSO Você já experimentou a bondade de Deus? Será que você consegue dizer: “Deus tem sido tão bondoso comigo! Deus Pai me adotou como seu filho amado. Jesus Cristo tem transformado minha vida. Mediante sua morte na cruz, ele perdoou todos os meus pecados. Ele me deu seu Espírito Santo e me prometeu vida eterna. Sou alguém que tem se beneficiado da benignidade de Deus”? Todo aquele que é capaz de dar testemunho da bondade de Deus é chamado a mostrar aos outros a bondade divina. Essa é a questão prática tanto em Tito quanto em 1Coríntios. Quando 1Coríntios 13 nos diz que “o amor é bondoso”, não está apenas definindo amor para nós; também está nos dizendo como viver. O mesmo vale para Tito 3. A razão pela qual Paulo fala a Tito a respeito da benignidade de Deus é para que ele ajude pessoas de sua igreja a aprenderem a amar. O contexto é importante. Tito era o pastor em Creta, e os cretenses não eram muito bondosos. Ao que parece, precisavam ser lembrados de não dizer coisas ruins sobre os outros e de não entrar em discussões inúteis (Tt 3.2). Isso não causa surpresa, tendo em vista o que o versículo 3 diz sobre como costumavam viver: passando os dias “na maldade e na inveja, odiados pelos outros e odiando uns aos outros”. Nós mesmos poderíamos fazer a mesma confissão, porque temos a mesma necessidade espiritual. Não somos amorosos por natureza, mas inimigos. É por isso que temos a mensagem evangélica da bondade salvadora de Deus. Quando o apóstolo quis ajudar as pessoas a aprenderem a amar, ele não lhes deu simplesmente uma longa lista do que fazer e do que não fazer; também lhes contou a história de Jesus e de seu amor — a bondade com que Deus em Cristo transforma vidas. Quando essa história se torna nosso próprio testemunho, mediante a fé em Jesus Cristo, podemos então viver com o mesmo tipo de amor. Conforme Paul Miller escreve em seu livro Love walked among us: “O amor não começa com amar, mas com ser amado [...] só podemos dar aquilo que temos recebido”.17 Portanto, somente por meio da fé em Cristo podemos começar a amar do jeito que Jesus ama. Conhecer a bondade de Deus nos capacita a começar a mostrar a bondade de Deus. Todos os dias temos oportunidades de melhorar a vida de outros por meio da bondade, o que em alguns casos pode vir a ser uma bondade salvadora. Não que possamos chegar a ser salvadores de alguém ou a purificar alguém de seu pecado. Seria loucura tentar. Mas uma coisa que podemos fazer é apresentar o Salvador às pessoas, contando-lhes acerca de Jesus e de seu amor. A maior bondade que podemos chegar a mostrar a alguém é compartilhar o evangelho. Por isso, seja bondoso com vizinhos e estranhos da forma mais bondosa: convidando-os para ir à igreja, conversando com eles sobre assuntos espirituais e testemunhando a eles sobre Jesus Cristo. O trabalho amoroso de evangelismo pessoal é a maior bondade do mundo. A bondade que somos chamados a mostrar é também uma bondade misericordiosa, o que significa que podemos mostrá-la a pessoas que nem sequer a merecem. Nas palavras de Lewis Smedes: “Bondade é o poder que move uma pessoa egocêntrica a ajudar os fracos, os feios, os feridos e a passar a cuidar de outros sem expectativa de receber qualquer recompensa”.18 É fácil demais dividir o mundo entre pessoas que merecem nossa ajuda e pessoas que não merecem. Se Deus dividisse o mundo dessa maneira, nenhum de nós jamais conseguiria ajuda dele, porque nenhum de nós jamais a mereceria. Mas nós somos os beneficiários de bondade imerecida. De nossa parte, nós agora somos chamados a mostrar bondade altruísta às próprias pessoas que têm sido maldosas conosco. O amor doação de Deus, escreve C. S. Lewis, permite-nos “amar aquilo que não é amável por natureza”.19 Quando a Bíblia nos diz para sermos bondosos com nossos inimigos, como acontece com frequência, ela quase sempre nos diz para fazermos algum tipo de bem a eles (e.g., Mt 5.44; Rm 12.21; 1Ts 5.15; 2Tm 2.24). Somos chamados não apenas a tolerar as pessoas, mas também a tratá-las com bondade. Não espere que os outros sejam agradáveis com você antes de ser agradável com eles, mas trate as pessoas de forma tão bondosa quanto Deus o tratou por meio da cruz de Jesus Cristo. “Se eu posso escrever uma carta maldosa”, escreveu Amy Carmichael, “falar uma palavra maldosa, ter um pensamento maldoso — tudo isso sem sentir tristeza e vergonha —, então não conheço nada do amor do Calvário”.20 Que mais podemos dizer acerca da bondade que Deus nos chama a mostrar a outras pessoas? Deve ser uma bondade generosa. Dê mais — e não menos — à caridade evangélica. Passe mais tempo — e não menos — com os doentes e os sem-teto, com crianças carentes e pessoas na prisão. É claro que há horas em que a misericórdia nos ensina a dizer não a um pedido de ajuda, porque só alimentará um vício destrutivo ou uma dependênciaprejudicial. Mas, em vez de pensar “Como posso me livrar de fazer isso?”,ou justificar nosso desejo de não nos envolver, nosso primeiro instinto deve ser sempre o de ver se existe uma maneira de ajudar. Às vezes, nossa bondade pode até mesmo ser uma bondade transformadora de vida, em especial quando mostramos bondade espiritual às pessoas. Normalmente, pensamos em bondade da perspectiva da realização de alguma tarefa prática para ajudar alguém com uma necessidade física. Mas, conforme destacado por Jonathan Edwards em seu ensino sobre 1Coríntios 13, devemos tentar mostrar bondade à alma das pessoas. Como conseguimos isso? Edwards disse que conseguimos fazer isso ao levá-las ao conhecimento das grandes coisas da religião; e ao aconselhar e advertir outros, e ao estimulá- los a cumprir seu dever e a dedicar uma atenção oportuna e minuciosa ao bem-estar de suas próprias almas; e, de novo, ao darmos uma repreensão cristã àqueles que podem estar fora do caminho do dever; e ao sermos bons exemplos para eles, o que é uma das coisas mais necessárias e comumente a mais eficaz de todas para a promoção do bem da alma. 21 Em linguagem simples, mostramos benignidade ao partilharmos as Escrituras, ao darmos conselhos espirituais sábios, ao oferecermos palavras ternas de repreensão, quando realmente necessárias, e, acima de tudo, ao sermos um exemplo piedoso. Todos esses são atos de bondade que o Espírito Santo pode usar para o bem da alma de outras pessoas. É claro que a nossa bondade jamais poderia ser eterna como é a bondade de Deus. No entanto, ainda há uma maneira de sermos um reflexo da bondade eterna de Deus em nossa vida, e essa maneira é nunca parar de mostrar bondade. Se continuarmos sendo bondosos, isso fará uma diferença para Cristo e seu reino. Em geral as pessoas pensam na bondade como algo pequeno. Porém, se cada crente assumisse um compromisso pessoal com a bondade, isso mudaria o mundo. Os perdidos seriam encontrados. Os moribundos seriam libertados. Os indignos receberiam graça. Os sem amor e os impossíveis de amar seriam amados com um amor eterno. Tertuliano nos conta que, nos dias da igreja primitiva, os pagãos às vezes chamavam os cristãos de chrestiani em vez de christiani.22 As duas palavras soam parecidas, mas havia outra razão para a confusão. Christiani significa “cristãos”, mas chrestiani vem da palavra grega para “bondade”. De acordo com Tertuliano, mesmo quando os crentes não eram conhecidos como o povo de Cristo, ainda eram conhecidos como o povo da bondade, e essa bondade conduzia outros a Cristo. E quanto a nós? Será que somos conhecidos como pessoas de bondade, ou será que na maioria das vezes as pessoas associam o cristianismo a atitudes de mesquinhez, crítica e hipocrisia? Nosso chamado é para viver com tanto amor que a bondade se torne sinônimo de cristianismo. Às vezes dizemos que as pessoas saberão que somos cristãos por causa do nosso amor, mas aqui está outra maneira de dizer a mesma coisa: eles saberão que somos cristãos por causa da nossa bondade. GUIA DE ESTUDO Alguns anos atrás, houve um movimento para incentivar as pessoas a praticar “atos aleatórios de bondade” em favor de estranhos. Pensava-se em coisas simples, tais como deixar um valor no caixa para ajudar a pagar o pedido da pessoa que está no carro atrás de você, no drive-thru — o tipo de coisa que faria a outra pessoa sorrir de surpresa e gratidão. Mas a definição bíblica de benignidade é muito mais profunda. É amor em ação para o benefício espiritual dos outros. 1. Como é que a cultura de hoje define o amor? Em geral, em que uma pessoa comum baseia a confiança de que seu cônjuge ou familiares a amam? 2. Foi assim que João Crisóstomo, um pregador do século 4, definiu mostrar bondade àqueles que nos têm feito mal: “Não apenas suportando com grandeza de caráter, mas também acalmando e consolando” para “amenizar a dor e curar a ferida” de um relacionamento rompido. Dê exemplos de como você tem visto a bondade curar relacionamentos rompidos. 3. Leia Tito 2.1-15 e 3.1-3. Com base nesses versículos, que problemas eram visíveis na igreja de Tito? 4. Leia Romanos 2.4 e 11.22 e Tito 3.4-7. Cite algumas características da definição bíblica de bondade, conforme ela se manifesta por meio de Cristo. 5. Como a bondade de Deus nos afeta, tanto a curto quanto a longo prazo, no tempo presente e por toda a eternidade? 6. De acordo com Tito 3.4-7, por que Deus tem derramado essa bondade sobre nós? 7. Jesus contou uma história sobre a impressão que passamos quando demonstramos bondade pelos outros (Lc 10.30-37). Que partes dessa história devem ter sido surpreendentes ou ofensivas para o especialista em leis religiosas com quem Jesus estava conversando? 8. Que paralelos você consegue identificar entre a bondade do bom samaritano (Lc 10.30-37) e a bondade que Deus demonstra por nós? 9. Com base em Lucas 10.30-37, o que podemos aprender sobre as formas de demonstrar autêntica bondade bíblica por outra pessoa? Como isso difere da definição de bondade que o mundo adota? 10. Pense na última vez em que você encontrou uma pessoa necessitada. Você agiu mais como o bom samaritano ou como o sacerdote e o levita? O que o motivou ou impediu de demonstrar bondade? 11. Pense em alguém que talvez não pareça merecer o seu amor — alguém a quem você poderá mostrar bondade nesta semana. Que tipo de gesto você fará por ele ou por ela em nome de Cristo? Compartilhe seu plano com alguém a quem você possa prestar contas pela execução do plano. 1Conforme narrado em Melissa Howard, “Understanding More love to thee, o Christ”, disponível em: http://christianmusic.suite101.com/article.cfm/understanding_more_love_to_the e_o_christ, acesso em 7 set. 2009. 2Elizabeth Payson Prentiss em William J. Peterson; Ardythe Peterson, The complete book of hymns: inspiring stories about 600 hymns and praise songs (Carol Stream: Tyndale, 2006), p. 348. 3Elizabeth Payson Prentiss, citado em Robert J. Morgan, Then sings my soul: 150 of the world ’s greatest hymn stories (Nashville: Thomas Nelson, 2003), p. 133. 4John Chrysostom, “Homilies on the Epistles of Paul to the Corinthians”, 32.6, in: Gerald Bray, org., New Testament, 1-2 Corinthians, Ancient Christian Commentary on Scripture (Downers Grove: InterVarsity, 1999), vol. 7, p. 131. 5Ibidem, p. 131. 6C. S. Lewis, The four loves (New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1960), p. 11 [edição em português: Os quatro amores, tradução de Paulo Salles (São Paulo: Martins Fontes, 2005)]. 7Anthony C. Thiselton, The First Epistle to the Corinthians, New International Greek Testament Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 2000), p. 1047. 8Henry Drummond, The greatest thing in the world (New York: Grosset & Dunlap, s.d.), p. 28 [edições em português: A maior coisa do mundo, tradução de Almir dos Santos Gonçalves (Rio de Janeiro: JUERP, 1969); Amor: a melhor coisa do mundo, tradução de Edson Bini (São Paulo: Via Leitura, 2014)]. 9Ceslaus Spicq, “Agape”, in: Theological lexicon of the New Testament, tradução para o inglês e organização de J. D. Ernest (Peabody: Hendrickson, 1994), 3 vols. 10Ceslaus Spicq, Agape dans le Nouveau Testament (Paris: Études Bibliques, 1959), 2:151. 11Gordon D. Fee, The First Epistle to the Corinthians, New International Commentary on the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1987), p. 636 [edição em português: 1 Coríntios: comentário exegético, tradução de Marcio Loureiro Redondo (São Paulo: Vida Nova, a ser publicado)]. 12Veja Charles Hodge, An exposition of the First Epistle to the Corinthians (reimpr. London: Banner of Truth, 1958), p. 269; Jonathan Edwards, Charity and its fruits (1852; reimpr. Edinburgh: Banner of Truth, 2005), p. 96 [edição em português: A caridade e seus frutos: uma exposição clássica sobre o amor, tradução de Tiago F. Cunha (s.l.: KDP, 2016)]. 13Lewis B. Smedes, Love within limits: a realist’s view of 1 Corinthians 13 (Grand Rapids:
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