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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MATERIAL DE APOIO Profa. Dra. Luziene Dantas de Macedo O QUE É ECONOMIA? O que significa definir a Economia como Ciência? Ciência: “conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a experiência dos fatos, por um método próprio” (VIAN, 2005, p. 15). Economia é uma parte bem definida das Ciências Sociais. Objeto de análise: COMPORTAMENTO ECONÔMICO DOS INDIVÍDUOS E ORGANIZAÇÕES. A palavra Economia vem do grego oikos (casa) e nomos (norma, lei): oikonomia (administração de uma unidade habitacional). “Quando comparada aos fatos químicos, físicos e biológicos, os fatos econômicos são muito mais complexos devido aos fatores envolvidos, e suas variáveis nem sempre podem ser quantificadas em níveis precisos; mas, dentre as ciências humanas, a economia é a que proporciona maior grau de exatidão. A introdução de procedimentos estatísticos – teoria estática da probabilidade – na investigação dos fatos econômicos aumentou o grau de precisão na economia” (VIAN, 2005, p. 15). Ao contrário das ciências exatas, a ECONOMIA não é desligada da concepção de mundo do investigador (ideologia), além do mais os economistas trabalham com informações e dados oferecidos pelo mundo. As teorias econômicas e os estudos empíricos refletem a ‘visão de mundo’ de quem as elabora. Economia e ideologia se expressa na existência de várias escolas1 que se apoiam em metodologias e fundamentos conflitantes entre si. Economia ou Economia Política? 1 Por exemplo a Escola da Economia Política estuda os interesses diversos dos agentes, pressupondo que possuem desigualdades de poder e que agem, frequentemente, de forma irracional; a Escola Neoclássica, pressupõe que, embora os agentes tenham interesses diversos, possuem igualdade de condições econômicas e agem de forma racional (VIAN, 2009). 2 A expressão Economia Política: utilizada pelos economistas clássicos2. Ênfase nas relações sociais de produção. Com a consolidação da análise neoclássica, a partir de 1870, começou a ser utilizado apenas o termo Economia. Predomina uma visão mais técnica do sistema econômico. A Economia moderna pode ser subdividida em Economia Descritiva, Economia Aplicada e Teoria Econômica. • Economia Descritiva: analisa fatos particularizados, sem lançar mão de análise teórica. Utiliza dados empíricos e análise comparativa. • Economia Aplicada: utiliza a estrutura geral de análise fornecida pela Teoria Econômica, para explicar as causas e o sentido das ocorrências relatadas pela Economia Descritiva. Exemplo: Economia do Meio Ambiente, Economia do Setor Público, Desenvolvimento Econômico, etc. • Teoria Econômica: Analisa o funcionamento de um sistema econômico. Divide-se em dois grandes grupos: ▪ Microeconomia: analisa o comportamento das firmas e dos indivíduos ou famílias, preocupando-se com a formação dos preços e o funcionamento do mercado de cada produto individual; ▪ Macroeconomia: analisa dos grandes agregados nacionais, o funcionamento do conjunto da economia de um país. Se desenvolveu a partir de 1930. Ele explica, por exemplo, por que as economias crescem. Suas grandes questões: • Como funciona a economia nacional? Por que alguns países crescem mais rápido do que outros? • Como entender os grandes debates sobre política econômica? Como reduzir a taxa de desemprego? • Como melhorar a capacidade de tomada de decisões sobre negócios? Qual o melhor momento para se endividar? 3 A Economia e as outras ciências • Economia e política. • Economia e História • Economia e Geografia • Economia e Sociologia • Economia, Matemática e Estatística • Psicologia. Economia: princípios, escolhas, organização. Para Chang (2015, p. 36), o tema dos estudos econômicos deveria ser a economia – a qual envolve dinheiro, trabalho, tecnologia, comércio internacional, impostos e outras coisas relativas às formas como produzimos bens e serviços, distribuímos os rendimentos gerados nesse processo e consumimos as coisas produzidas – em vez de “a vida, o universo e tudo o mais” (ou “quase tudo”) como pensam muitos economistas. Para o pensamento neoclássico (dominante no período de 1870-1930), Economia é um estudo do método de alocação de meios físicos e humanos ESCASSOS (recursos) entre fins alternativos. 4 ECONOMIA: CIÊNCIA DA ESCASSEZ3 OU DAS ESCOLHAS. Realidade do ser humano: i) recursos limitados; 2) necessidades ou desejos ilimitados. Estas duas realidades definem a escassez. As escolhas feitas pelos indivíduos, empresas ou governo determinam as escolhas da sociedade, cuja essência deve responder a três questões fundamentais4: no nível econômico, o que produzir? E o que reservar às gerações futuras? No nível tecnológico, como produzir? No nível social, Para quem produzir? RECURSOS OU FATORES DE PRODUÇÃO 3 Escassez: situação em que os recursos são limitados e podem ser utilizados de diferentes maneiras, de tal modo que devemos sacrificar uma coisa por outra. 4 Com base em Mendes (2004), qualquer economia, ao alocar recursos escassos, deve levar em consideração aos problemas fundamentais, que se constituem nas funções de um sistema econômico: o que produzir? Como produzir? Para quem produzir? O que reservar para as gerações futuras? É considerada uma quarta função. Este é um problema de manutenção e ampliação da capacidade produtiva da economia. UM BOM SISTEMA ECONÔMICO NÃO DEVE LEVAR EM CONTA APENAS O NÍVEL DE BEM-ESTAR ATUAL DA POPULAÇÃO, MAS TAMBÉM COM O DAS GERAÇÕES FUTURAS. A DEMANDA É CRECENTE, TANTO POR CAUSA DO CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO COMO ELEVAÇÃO DA RENDA A LONGO PRAZO (MENDES, 2004). 5 A definição de economia pelo pensamento neoclássico é fundamentada pela RACIONALIDADE. Aqui o ‘homem econômico’ não age por caridade ou capricho, mas objetivando o interesse próprio. Consumidor: maximizar a satisfação, dado o seu nível de renda. Produtor: maximizar seu lucro5, dados os seus recursos (ou fatores de produção). Existe um problema econômico que acompanha a Economia: RESULTARÁ O COMPORTAMENTO MAXIMIZANTE INDEPENDENTE DE CADA AGENTE EM BEM-ESTAR SOCIAL? Smith deu uma resposta quando apresentou a sua doutrina da “mão invisível”. “Mão invisível” MERCADO: arranjo que permite os agentes trocarem bens e serviços. As decisões tomadas no mercado são o resultado da interação das ações dos agentes econômicos, que procuram maximizar seu próprio interesse. “Não é da benevolência do açougueiro, do padeiro, do cervejeiro que esperamos obter nosso jantar, mas da consideração aos seus próprios interesses. Não enfocamos o caráter humanitário deles, mas seu amor- próprio, e nunca falamos a eles das nossas próprias necessidades, mas das vantagens deles. [O homem] é guiado por uma mão invisível para promover um fim que não era intenção dele...Ao perseguir seus próprios interesses, ele promove com frequência o interesse da sociedade mais efetivamente do que quando pretende promove-lo de verdade” (SMITH, 1994 Apud O’SULLIVAN, 2004). • A busca do interesse próprio pode permitir o bem da sociedade. • Mas também pode levar a comportamentos contraproducentes – as falhas de mercado6. 5 A teoria econômica reconhece que nem todas as empresas tentam maximizar o lucro sempre, uma vez que há também outros objetivos, entre os quais se destacam a participação no mercado (o chamado market-share) e o nível de produção, mas ele é certamente um dos seus objetivos. Afinal umaempresa não pode existir, em longo prazo, se não tiver um razoável retorno para os seus fatores de produção (MENDES, 2004). 6 Custo > benefício. Falha de mercado envolve poluição do ar e da água, excesso de exploração de recursos naturais como pescado e floresta. 6 Escolha individual: o cerne da economia Como as pessoas tomam as decisões: 1 – Recursos são escassos: as pessoas enfrentam tradeoffs7. • Exemplos de tradeoffs: armas e alimentos, meio ambiente limpo e um alto nível de renda; eficiência8 e igualdade9. 2 – O custo de alguma coisa é aquilo de que você desiste para obtê-la. • Custo de oportunidade: aquilo que devemos abrir mão para obter algum item. 3 – As pessoas racionais pensam na margem. • Os economistas usam a expressão mudança marginal para descrever um pequeno ajuste incremental em um plano de ação existente. 4 – As pessoas em geral exploram as melhores oportunidades de melhorar sua própria situação. • As pessoas reagem a incentivos. Como as pessoas interagem 1 – Há ganhos do comércio. • O comércio pode ser bom para todos. 2 – Os mercados se movem em direção ao equilíbrio. • Os mercados organizam a vida econômica. Uma situação econômica está em equilíbrio quando nenhum indivíduo está em melhor situação se fizesse algo diferente. 3 – Os recursos deveriam ser usados de modo mais eficiente possível para alcançar os objetivos da sociedade. • Os recursos de uma economia são usados eficientemente quando usados de modo a explorar plenamente todas as oportunidades de melhorar a situação de cada um. Ou seja, 7 Situação de escolha conflitante. 8 Eficiência: a propriedade que a sociedade tem de obter o máximo possível a partir de seus recursos escassos. 9 Distribuir a prosperidade econômica de maneira uniforme entre os membros da sociedade. 7 uma economia é eficiente quando usa todas as oportunidades de melhorar a situação de alguns sem piorar a situação de outros. 4 – Os mercados normalmente levam a eficiência. • Uma economia de mercado, na qual os indivíduos são livres para escolher o que consomem e o que produzem, normalmente as oportunidades de ganho mútuo são aproveitadas. A definição de eficiência: todas as oportunidades de melhorar a situação de qualquer um foram exploradas. • Há exceções a esse princípio de que os mercados são geralmente eficientes: são os casos de falhas de mercado. 5 – Quando os mercados não alcançam a eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade. Sistema Econômico Capitalista “Sistema Econômico”: engloba todos os métodos pelos quais os recursos são alocados e os bens são distribuídos. • Elementos básicos: Fatores de produção (inclui os recursos humanos, ou seja, população economicamente ativa, capacidade empresarial e tecnológica, e patrimoniais, ou seja, reservas naturais e capital); Unidades de produção (empresas) (local onde os fatores de produção se transformam em bens e serviços); Instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais (dá forma às atividades desenvolvidas pela sociedade). • Podem ser classificados: Sistema capitalista (ou economia de mercado). Regido pelas forças de mercado (os preços dos bens, serviços e salários são determinados pelo sistema de preço, que atua por meio da oferta e da demanda dos fatores de produção), predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produção. Sistema socialista (ou economia centralizada, ou ainda economia planificada). Predomina a propriedade pública dos 8 fatores de produção. Existe uma autoridade central tomando decisões sobre produção e consumo. Até o início do século XX prevalecia nas economias ocidentais o sistema de concorrência pura (baseada na filosofia do Liberalismo) A partir de 1930, passaram a predominar os sistemas de economia mista (prevalecem as forças de mercado, mas com a atuação do Estado). Comparando os sistemas econômicos Socialismo Você tem duas vacas. O Estado toma uma e a dá a alguém. Comunismo Você tem duas vacas. O Estado toma as duas e lhe dá o leite. Fascismo Você tem duas vacas. O Estado toma as duas e lhe vende o leite. Nazismo Você tem duas vacas. O Estado toma as duas e mata você. Capitalismo Você tem duas vacas. Você vende uma e compra o touro. Fonte: Mendes, 2004. 9 ORGANIZAÇÃO DE UM SISTEMA ECONÔMICO CAPITALISTA SEM GOVERNO. 10 Curva de possibilidade de produção (CPP) A decisão sobre o que produzir. Ilustra duas restrições: i) A quantidade dos recursos produtivos é limitada; ii) o nível de tecnologia disponível é determinado. A CPP delimita a combinação de bens e serviços que podem ser produzidos. Pontos dentro da CPP: economia está operando de modo ineficiente (ou com desemprego de recursos) por duas razões: i) os recursos não estão sendo plenamente empregados; ii) os recursos estão sendo utilizados de maneira ineficiente. Qual a noção de eficiência do ponto de vista da CPP? (para pensar). Atenção: A curva de FPP é côncava porque os recursos produtivos não são perfeitamente adaptáveis na produção de diferentes bens. Para aumentar a produção de um bem, torna-se necessário sacrificar progressivamente mais do outro bem. 11 Ela ilustra: combinação de fatores de produção, noção de escassez, noção de custo de oportunidade. Deslocamento da CPP: Depende da aquisição de novos recursos produtivos – recursos naturais, mão-de-obra, capital físico, capital humano, capacidade empreendedora, ou mesmo a CPP se deslocará para fora quando forem realizadas inovações tecnológicas que permitam aumentar a produção de bens e serviços finais a partir da mesma quantidade de recursos. O princípio do custo de oportunidade • PRINCÍPIO do custo de oportunidade O custo de oportunidade de algo consiste no sacrifício de obtê-lo. • O que se sacrifica é a segunda melhor escolha. Para determinar o custo de oportunidade, considera-se apenas a melhor das alternativas possíveis. • Como os recursos são escassos, um aumento na produção de um bem necessariamente reduzirá a produção dos demais bens. Fenômeno que indica que a produção de um bem está sujeita a um custo de oportunidade crescente. • Os preços são uma medida do custo de oportunidade porque fornecem informação sobre o valor de um bem relativamente a outro. 12 • A fronteira de possibilidade de produção ilustra o conceito do custo de oportunidade para a economia inteira. • Explica por que a curva de possibilidade de produção é negativamente inclinada. • Para aumentar o número de missões espaciais por uma unidade, 80 mil computadores devem ser sacrificados. 13 Compartimento da Economia Análise positiva: que é (suas argumentações são confrontadas com a realidade). Dos argumentos positivos são deduzidas as teorias científicas. Análise normativa: como deveria ser (ideia do que é bom, ou do que é ruim, são carregados de valores subjetivos). Liga-se à política econômica. Conhecer a disponibilidade e potencialidade dos recursos produtivos; Propor formas de tornar mais eficiente o uso dos recursos existentes; Analisar sua aplicação no processo produtivo; Melhorar sua aplicação no processo produtivo; Mensurar as perdas e o desperdício; Propor formas de administrar as perdas e o desperdício; Analisar a distribuição dos bens e serviços produzidos entre os participantes do processo de produção. Melhorar a distribuição dos bens e serviços produzidos entre os participantes do processo de produção Quadro 1: Principais análises das economias positiva e normativa. Fonte: Vian (2009, p. 25). Outros argumentos: Normativos: “mais desemprego em troca de menos inflação” – envolve julgamento de valor. Positivos:“o aumento do déficit público reduz o desemprego e aumenta a inflação”. É um argumento positivo porque resulta da experiência empírica e dos postulados da teoria econômica. Atenção: dos argumentos normativos não se podem inferir argumentos positivos, e vice-versa. Exemplo: dos argumentos normativos de que “a caridade é um princípio moral” e de que “todos devem ajudar os seres humanos” só pode seguir um postulado normativo: “os países ricos devem ajudar os países pobres”. Dos argumentos positivos “maior renda gera maior consumo” e a “redução da renda leva a uma redução do consumo”, chega-se ao argumento positivo de que “o consumo depende do nível de renda”. 14 Outros exemplos: São argumentos positivos ou normativos? “São Paulo possui o maior PIB industrial do país”. Positivo. O desemprego de mão-de-obra no Brasil está alto. Positivo. “O aumento do preço da gasolina reduz a quantidade que as pessoas irão comprar”. Positivo “O preço da cesta básica não deve aumentar”. Normativo “Deve-se dar mais importância à questão relativa a fiscalização da emissão de notas fiscais”. Normativo “Há fome e desnutrição nos países pobres”. Positivo.
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