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Gestão de Financiamento Aula 04 Financiamento de capital de giro Objetivos Específicos • Identificar as formas de financiamento de capital de giro, bem como o risco associado a essas operações. Temas Introdução 1 Capital de giro 2 Fontes de financiamento 3 Risco inerente às operações Considerações finais Referências Crisanto Soares Ribeiro Professor Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão de Financiamento 2 Introdução Olá, aluno! Nesta aula, estudaremos as principais formas de financiamento de capital de giro disponíveis no mercado, compreendendo como avaliar os custos e, ainda, os riscos envolvidos nas operações. Mas, antes, vamos entender o que é capital de giro. Por meio de exemplos práticos, mostraremos como devem ser avaliadas as alternativas de financiamento disponíveis objetivando uma decisão mais segura para a empresa. 1 Capital de giro O capital de giro pode, segundo a percepção de Assaf Neto (2010), apresentar inúmeras interpretações de acordo com os critérios ou estudos desenvolvidos. No conceito restrito, representa os Ativos Circulantes de uma empresa; já no sentido amplo, envolve os valores necessários ao financiamento de suas atividades operacionais, iniciado na compra dos insumos até o efetivo recebimento das vendas. A administração do capital de giro envolve basicamente as decisões de compra e venda tomadas pela empresa, assim como suas atividades operacionais e financeiras. A importância do capital de giro varia em função das características da empresa, do desempenho da economia e da relação risco/rentabilidade desejada. Figura 1 – Ciclo operacional Espera PMEMP PT PMF PMPF Ciclo de caixa (financeiro) Ciclo operacional total Ciclo econômico PME ou PMV PMC Fonte: Assaf Neto (2010). O Capital de Giro Líquido (CGL), também chamado de Capital Circulante Líquido (CCL), representa a diferença entre os Ativos e Passivos Circulantes. Quando as aplicações de recursos superam as fontes, demanda por parte da empresa a captação de novos recursos para suportar os investimentos realizados. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão de Financiamento 3 Em um enfoque mais rigoroso, Assaf Neto (2010) afirma que o CCL representa a parcela dos recursos de longo prazo aplicados em itens do Ativo Circulante. Outro conceito importante é o Capital de Giro Próprio (CGP), que representa a diferença entre o Patrimônio Líquido e os Ativos Não Circulantes: Realizável a Longo Prazo, Investimentos, Imobilizado e Intangível. 1.1 Exemplo A empresa “Vento em Popa” apresentou, no último ano em exercício, o seguinte Balanço Patrimonial. Tabela 1 – Balanço Patrimonial Ativo R$ mil Passivo R$ mil Ativo circulante 300 Passivo circulante 157 Caixa 50 Fornecedores 100 Contas a receber 175 Obrigações trabalhistas 35 Estoques 75 Obrigações fiscais 22 Ativo não circulante 127 Passivo não circulante 70 Realizável a longo prazo 12 Financiamentos 70 Investimentos 5 Patrimônio líquido 200 Imobilizado 100 Capital social 150 Intangível 10 Reservas de lucro 50 Ativo total 427 Passivo total 427 Diante dos dados apresentados, vamos apurar os indicadores de capital de giro buscando identificar como a empresa está financiando suas atividades operacionais. Lembre-se de que o Capital de Giro Líquido resulta da diferença entre os Ativos e Passivos Circulantes. Então, vejamos: CCL = Ativo Circulante - Passivo Circulante CCL = 300 - 157 = 143 CGP = Patrimônio Líquido - Ativo Não Circulante CCL = 200 - 127 = 73 Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão de Financiamento 4 Portanto, as fontes naturais de crédito e o Capital de Giro Próprio (resultante da diferença entre o Patrimônio Líquido e os valores classificados no Ativo Não Circulante) mostraram- se insuficientes para a cobertura da necessidade de capital de giro da empresa. Logo, é necessário que a empresa capte recursos da ordem de R$ 70.000,00 no mercado financeiro. Esse tipo de situação é mais comum do que se imagina no cotidiano das empresas. Vamos, agora, estudar as principais fontes de financiamento do capital de giro existentes no mercado. 2 Fontes de financiamento A forma mais comum de financiar a necessidade de capital de giro, segundo Ross, Westerfield e Jaffe (2002) é recorrer a operações de empréstimos de curto prazo, até porque elas não exigem garantias. Normalmente, essas linhas se caracterizam pela disponibilização de limites de créditos na conta da empresa. Mas as empresas podem, também, buscar recursos de capital de giro ofertando garantias de Ativos Circulantes, como: Contas a Receber e Estoques. Vamos, então, conhecer as principais modalidades a partir de agora. 2.1 Hot money É a denominação para operações de empréstimos de curtos e curtíssimos prazos, normalmente de um a 29 dias, utilizadas na cobertura de necessidades mais perenes de caixa, por parte das empresas. A formação de taxa para o hot money é definida pela taxa do CDI do dia da operação acrescida dos custos do PIS (1,65%) e do COFINS (4,00%) sobre o faturamento da operação (BRADESCO, [s. d.]). Dependendo da instituição financeira, essa modalidade poderá ser contratada a taxas pré-fixadas, pós-fixadas ou flutuantes. Cabe considerarmos que, devido ao fato de ser uma operação com custos apurados diariamente, evidencia um comportamento linear. No site do Banco Central do Brasil, você poderá acessar as taxas praticadas pelas instituições financeiras nas principais modalidades de crédito, não só adotadas para empresas mas também para pessoas físicas. 2.1.1 Exemplo A empresa “Suprimentos Leves Ltda.” buscou o Banco Y para viabilizar o pagamento da folha salarial de seus colaboradores, no montante de R$ 12.500,00. O gerente informou que Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão de Financiamento 5 a operação mais adequada naquele momento, já que era por apenas dois dias úteis, seria o hot money. Além dos juros diários de 1,50% a.m. e 1,75% a.m., o gerente informou que a empresa incorreria em spread de 0,08% ao dia, IOF de 0,0041% cobrados diariamente e, ainda, teria de contratar um seguro de R$ 500,00. Confira, agora, como determinar o custo efetivo da operação em reais e os percentuais pelo período e por dia. Os juros e o spread foram calculados considerando a seguinte formulação: O IOF foi apurado aplicando-se o percentual de 0,0041% a.d. pelo saldo devedor. Observe: 1° dia = 12.500,00 * 0,000041 = 0,51 2° dia = 12.516,25 * 0,000041 = 0,51 Valor liberado = 12.500,00 - 0,51 – 0,51 – 500,00 = 11.998,97 Custos em Reais = 12.533,56+ 0,51 +0,51 + 500,00 = 13.034,59 Custo Efetivo para o período = -1 * 100 = 8,63% Custo efetivo diário = 1 - 0,0863 - 1 * 100 = 4,23% Solução 1° dia Hot Money 12.500,00 IOF 0,51 Juros + spread 0,0013 16,25 Saldo devedor 12.516.25 2° dia Saldo devedor 12.516,25 IOF 0,51 Juros + Spread 0,0014 17,31 Saldo devedor 12.533,56 Valor liberado 11.998,97 Custo em Reais 13.034,59 Custo efetivo para o período 8,63% Custo efetivo diário 4,23% 11.998,97 13.034,59 Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão de Financiamento 6 Como pode ser constatado, o pagamento dos encargos spread, IOF, juros e, ainda, a contratação da operação de seguro elevaram significativamente o valor da operação. Portanto, na ocasião em que decidirmos contratar uma operação, não podemos apenas checar as taxas praticadas, mas sim o custo efetivo da operação. 2.2 Desconto de títulos É uma operação de crédito típica do sistema bancário, que envolve principalmente duplicatas, notas promissórias, fatura de cartão de crédito e cheques pré-datados. A instituição concede empréstimo mediante a garantia de um título representativo de um crédito futuro. Na realidade, é uma operação de antecipação de recebíveis por meio da cessão de seus direitos a um mutuante. O valor liberado ao tomador é sempreinferior ao valor nominal (resgate) dos títulos, em função da cobrança antecipada dos encargos financeiros (ASSAF NETO, 2010). 2.2.1 Exemplo A empresa “Come Mais Ltda.” resolveu descontar um título de R$ 5.000,00 junto a um banco 36 dias antes do seu vencimento. A taxa de desconto cobrada é de 2,6% a.m., sendo de 0,0041% a.d. o IOF incidente sobre a operação. O banco cobra, ainda, uma Taxa de Abertura de Crédito (TAC) de 1,5% sobre o valor nominal do título no ato da liberação dos recursos. Veja como calcular o valor do desconto e o custo efetivo mensal do empréstimo: Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão de Financiamento 7 Perceba a importância de se avaliar o custo das operações de forma efetiva, a taxa de juros inicialmente informada era de 2,6% ao mês; mas, com as taxas cobradas, ela subiu para 4,15%. 2.3 Contas garantidas Consiste na abertura de uma conta com limite de crédito garantido pela instituição financeira. O tomador ou mutuário da operação saca recursos até o limite contratado, objetivando suprir suas necessidades mais imediatas de caixa (ASSAF NETO, 2010). Sua movimentação é efetivada geralmente mediante a utilização de cheques, podendo ser admitidos depósitos para cobrir ou reduzir o saldo devedor existente. Os encargos financeiros são calculados sobre o saldo que permanecer a descoberto e cobrados dos clientes, normalmente no primeiro dia útil do mês seguinte ao de movimentação (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, [s. d.]). 2.4 Créditos rotativos São linhas de créditos, abertas pelas instituições financeiras, que objetivam o financiamento das necessidades de curto prazo (capital de giro) das empresas e são movimentadas por meio de cheques (ASSAF NETO, 2010). Os créditos rotativos diferenciam-se das operações de conta garantida por serem operados normalmente com garantias de duplicatas (caução e ou cessão). O limite é definido com base em um percentual calculado sobre o valor caucionado e conforme as duplicatas são resgatadas pelos sacados. O cedente deverá providenciar a substituição dessas duplicatas por outras de forma a manter o limite e a rotatividade de crédito concedido (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, [s. d.]). Por fim, temos de considerar que, ao assumirmos operações financeiras, o risco de nossa empresa aumentará. Vamos procurar entender um pouco mais sobre esse tema. 3 Risco inerente às operações O dilema risco-retorno consiste, na percepção de Assaf Neto (2010), em variável a ser analisada na definição de uma política de financiamento de capital de giro. Se o custo do crédito para curto prazo for mais barato, os resultados da empresa aumentarão, mesmo com o aumento do Passivo Circulante; todavia, se o custo das operações for maior, os resultados serão afetados negativamente. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão de Financiamento 8 3.1 Exemplo O setor financeiro da empresa recebeu propostas de duas instituições financeiras para a captação de recursos necessários ao financiamento de suas atividades operacionais, hoje em torno de R$ 100.000,00. Proposta do Banco A – R$ 100.000,00 com pagamento único daqui a 30 dias, com taxa de 4% a.m. Proposta do Banco B – Difere da proposta do Banco A por cobrar taxa de juros de 6% a.m. Solução: Banco A = R$ 100.000,00 * 0,04 * 1 = R$ 4.000,00 Banco B = R$ 100.000,00 * 0,06 * 1 = R$ 6.000,00 Como podemos constatar, os juros praticados pelo Banco B superam em R$ 2.000,00 os cobrados pelo Banco A. Portanto, se o setor financeiro da empresa optar por contratar a operação no Banco B, os resultados da empresa serão impactados em R$ 6.000,00, o que reduzirá suas margens de ganho; se, ao contrário, optar por contratar a operação no Banco A, o custo do crédito, por ser menor, resultará em margem maior. Você deverá sempre se lembrar de que o custo da operação não envolve apenas a taxa de juros, mas também as tarifas e a reciprocidade exigida pelas instituições financeiras na contratação das operações. Na avaliação de risco, observe a característica do capital de giro (se fixo ou sazonal); afinal, existem setores de atividade que, em certos períodos do ano, demandam mais capital de giro em face das maiores vendas, mas há outros períodos em que o comportamento das vendas é mais linear ao longo do ano. Essas expansões da necessidade de capital de giro podem afetar os indicadores de liquidez e, desta forma, a empresa ao contratar operações, poderá ter maiores custos e consequente perda de rentabilidade (ASSAF NETO, 2010). Assaf Neto (2010) alerta que os investimentos maiores em capital de giro, principalmente em contas a receber e estoques, podem superar o montante do CCL da empresa, ocasionando uma situação denominada “overtrading” ou efeito de tesoura, quando o CCL existente mostra- se insuficiente para a cobertura dos investimentos adicionais em giro. A origem desse quadro pode ser a resultante de vários fatores, segundo Assaf Neto (2010): • Forte expansão do nível de atividade com o objetivo de reduzir a capacidade ociosa. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Gestão de Financiamento 9 • Aumentos de preços dos insumos. • Grandes investimentos em ativos fixos. Considerações finais Nesta aula, mostramos os principais conceitos de capital de giro e o mecanismo de financiamento interno. Abordamos as principais modalidades de financiamento disponíveis no mercado financeiro. Passamos a compreender que, na análise dos recursos tomados, temos de avaliar os juros e os demais custos envolvidos, tais como: impostos e tarifas. Também estudamos o risco envolvido nas operações. Assim, você pôde constatar que, quanto maior for o custo, menores serão os indicadores de liquidez e rentabilidade. Referências ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRADESCO. Hot Money – Mais praticidade para o dia a dia da sua empresa. [s. d.]. Disponível em: <http://www.bradesco.com.br/html/pessoajuridica/solucoes-integradas/emprestimo-e- financiamento/capital-de-giro-hotmoney.shtm>. Acesso em: 12 jan. 2015. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. O que é Conta Garantida Caixa. [s. d.]. Disponível em: <http:// www.caixa.gov.br/empresa/credito-financiamento/capital-de-giro/conta-garantida/Paginas/ default.aspx>. Acesso em: 12 jan. 2015. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. Princípios de administração financeira: corporate finance. São Paulo: Atlas, 2002. http://www.bradesco.com.br/html/pessoajuridica/solucoes-integradas/emprestimo-e- http://www.caixa.gov.br/empresa/credito-financiamento/capital-de-giro/conta-garantida/Paginas/ _GoBack Introdução 1 Capital de giro 2 Fontes de financiamento 3 Risco inerente às operações Considerações finais Referências
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