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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS – CAA DEPARTAMENTO DE AGRONOMIA FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS Prof. Marcelo M. L. Müller AULA 2 – Reação do solo e calagem PLANO DE AULA I. OBJETIVOS: ministrar, aos alunos do Curso de Fertilidade do Solo e Nutrição de plantas, o conteúdo sobre reação do solo e calagem, seus efeitos sobre a fertilidade e a produtividade das culturas. II. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 2.1. INTRODUÇÃO 2.2. CONCEITOS RELATIVOS À ACIDEZ 2.3. ORIGEM DA ACIDEZ DOS SOLOS 2.4. NEUTRALIZAÇÃO DE ÁCIDOS E SOLOS. 2.5. RELAÇÕES ENTRE CÁTIONS TROCÁVEIS E pH. 2.6. MÉTODO LABORATÓRIAL DE DETERMINAÇÃO DA NECESSIDADE DE CALAGEM 2.6.1. ELEVAÇÃO DO V%; 2.6.2. NEUTRALIZAÇÃO DE Al E ELEVAÇÃO DE Ca E Mg; 2.6.3. USO DE TAMPÃO SMP III. LITERATURA RECOMENDADA KIEHL, E.J. Reação do Solo – acidez e alcalinidade. In: ______. Manual de edafologia. São Paulo: Editora Agronômica Ceres, 1979. p.246-262. (capítulo 16) QUAGGIO, J.Q. Acidez e calagem em solos tropicais. Campinas: Instituto Agronômico, 2000. 111p. MELLO, F.A.F. et al. Reação do solo. In: ________. Fertilidade do solo. São Paulo: Nobel, 1983. p. 53-72. (Capítulo 4) PAVAN, M.A.; MIYAZAWA, M. Lições de fertilidade do solo: pH. Londrina: IAPAR, 1997. 47p. (IAPAR. Circular, 93) INSTITUTO DA POTASSA & FOSFATO. Manual internacional de fertilidade do solo. Tradução e adaptação de Alfredo Scheid Lopes. 2.ed. Piracicaba: POTAFOS, 1998. p.23-34. 2.1. INTRODUÇÃO A reação do solo é um dos primeiros fatores a serem conhecidos em uma gleba destinada ao cultivo. Isto porque, caso ela não seja favorável, medidas corretivas deverão ser tomadas com boa antecedência aos cultivos. Juntamente com a matéria orgânica do solo, a reação ácido-base é fundamental para a expressão da fertilidade do solo e produtividade das culturas. Sabe-se, há muito, que os solos apresentam reação ácida, neutra ou alcalina (Mello et al, 1983). Até mesmo antes da descoberta do caráter ácido de certas substâncias, o homem, empiricamente, conhecia a necessidade de aplicação de calcário para corrigir características indesejáveis de alguns solos (acidez) para a produção agrícola. Gregos e romanos faziam uso de margas (calcário friável + argila) para melhorar a produtividade das culturas (Quaggio, 2000). No Brasil, a condição desfavorável de reação do solo mais comum é a acidez excessiva, provocada pela intensa ação dos processos de intemperismo e lixiviação durante a formação e evolução dos solos. De fato, solos ácidos são comuns em regiões de clima tropical e subtropical úmidos, onde as temperaturas médias são mais elevadas e as precipitações pluviométricas são, comumente, maiores ou mais concentradas (intensas) em determinadas épocas do ano. Maiores índices de precipitação ou de intensidade pluviométrica provocam lixiviação mais intensa das bases do solo (Ca, Mg, K e Na), as quais abandonam as camadas mais próximas da superfície em direção às partes mais profundas do perfil do solo, sendo substituídas nos colóides do solo pelos íons ácidos (H e Al). Segundo Quaggio (2000), cerca de 70% da superfície territorial brasileira é composta por solos ácidos, sendo que em 40% destes solos a produtividade das culturas é reduzida à metade como efeito da acidez, sendo o consumo de calcário (corretivo de acidez) por hectare cultivado próximo a ⅓ da quantidade média necessária estimada. Embora prevaleça, no território nacional, a condição de solo ácido, há regiões em que a reação do solo é, predominantemente, alcalina. Exemplo disso são os solos alcalinos do nordeste brasileiro. Por ser uma região onde os climas árido e semi-árido são bastante representativos, o processo de lixiviação torna-se insignificante, ocorrendo, em vez dele, fluxo ascendente da solução do solo, trazendo para as camadas mais superficiais do perfil as bases solúveis das porções mais profundas do solo. O acúmulo de bases nestas camadas mais superficiais resulta na alcalinização dos solos. 2.2. CONCEITOS RELATIVOS À ACIDEZ Do ponto de vista químico, o conceito mais simples de ácido é suficiente para ilustrar as idéias relacionadas à acidez dos solos. Segundo a teoria de Arrhenius, ácidos são substâncias que, em solução aquosa, liberam hidrogênio (H + ), de acordo com a seguinte reação: HA H + + A - (equação 1) Em solução aquosa, o ácido HA dissocia-se, total ou parcialmente, no cátion H + (hidrogênio) e no anion A - , de acordo com a sua natureza. Ácidos fortes dissociam-se completamente, enquanto ácidos fracos, cuja reação é muito mais similar à reação ácida dos solos, dissociam-se pouco. Ainda segundo Arrhenius, bases são substâncias que, em solução aquosa, liberam hidroxila (OH - ). Com o passar do tempo, a aplicação da teoria de Arrhenius mostrou-se insuficiente para explicar as características ácidas ou básicas de todas as substâncias. Algumas substâncias orgânicas, por exemplo, apresentavam propriedades básicas mesmo sem liberar OH - . Surgiu, então, a teoria de Bronsted e Lowry, segundo a qual ácidos são substâncias doadoras de H + e bases são substâncias receptoras de H + . Neste caso, o consumo de H + por uma substância faz com que a concentração de hidrogênio livre diminua, tornando o meio menos ácido, ou seja, mais básico. Como exemplo temos a reação do Al 3+ com H2O, sendo o Al 3+ um dos principais componentes da acidez dos solos: Al 3+ + H2O Al(OH) 2+ + H + (equação 2) ácido base base ácido A reação acima pode continuar ocorrendo entre o Al(OH) 2+ e H2O, liberando um H + a cada molécula de água hidrolisada. A acidez ou a alcalinidade (basicidade) depende das concentrações relativas entre os íons H + e OH - , expressas pelo número de H + e OH - por unidade de volume de solução. A acidez é representada, portanto, em moles de H + por litro de solução, sendo que 1 mol de H + equivale a 6,02 x 10 23 íons H + . A alcalinidade, por sua vez, é representada em moles de OH - por litro de solução. Por conta dos ácidos fracos dissociarem-se muito pouco, ocorrem nas soluções aquosas concentrações muito baixas de íons hidrogênio, tão baixas que seria difícil representá-las (0,000001 mol de H + /Litro). Por isso, o conceito de pH foi introduzido para representar a concentração de íons hidrogênio, sendo definido da seguinte forma: pH = log 10 1/[H + ] = - log 10 [H + ] (equação 3) Assim, se houver uma concentração 0,000001 molar (mol/L) ou 10 –6 M em H + , o pH resultante será: pH = - log 10 [10 -6 ] = - [-6] = 6 O mesmo ocorre com relação ao íon OH - : pOH = log 10 1/[OH - ] = - log 10 [OH - ] (equação 4) Ocorre que as concentrações de H + e OH - são dependentes e inversamente proporcionais. Quando uma aumenta a outra diminui e vice-versa. Simplificadamente, os valores das concentrações de H + e OH - multiplicas resultam sempre no valor 10 -14 , a constante de dissociação ácido-base. Conseqüentemente: pH + + pOH - = 14 (equação 5) A equação facilita o entendimento da escala de pH, que vai de 0 a 14, e facilita o entendimento do ponto de neutralidade do sistema, pois, quando neutro, o sistema apresenta valores iguais de pH e de pOH, daí, modificando a equação 5 temos: pH + + pH + = 14 2 pH + = 14 pH + neutro = 7 Soluções com pH abaixo de 7 são ácidas e soluções com pH acima de 7 são alcalinas. Embora a escala de pH varie de O a 14, em solos os valores se situam, comumente, entre 3 e 10. Nos solos brasileiros as variações de pH são mais comuns entre 4,0 a 7,0, ou seja, de solo ácido (figura 1). Figura 1. Representação da escala de acidez em pH (potencial de hidrogênio). Fonte: PAVANe MIYAZAWA (1997). Como a escala de pH é uma escala logarítmica, a alteração de uma unidade de pH representa 10 vezes a alteração na concentração de H + . Por exemplo, a mudança do pH de um solo de 4,0 para 5,0, via uso de corretivo de acidez do solo, significa que na nova situação (pH 5,5) existe uma concentração de H + que é dez vezes menor (0,0001 M H + 0,00001 M H + ). Cabe ressaltar que o conceito de pH para solos está relacionado com a maneira de determinação, que comumente é feita em água, na proporção de 1:2,5 entre terra e água. O pH é, portanto, medido nessa suspensão de terra em equi1íbrio com água. Se o pH for medido em uma relação 1:1, ele será ligeiramente mais baixo; em uma suspensão 1:5, por exemplo, ele será mais alto. Se o pH for medido em soluções salinas, e freqüentemente ele é determinado em soluções de cloreto de potássio (KCl) 1N ou de cloreto de cálcio (CaCl2) O,1M, ele será mais baixo. A diferença será de até uma unidade ou mais no primeiro caso, e de menos de uma unidade no segundo caso, mas as diferenças variam bastante de solo para solo. ACIDEZ DO SOLO Quanto à acidez do solo, denomina-se acidez ativa a fração ou parte do hidrogênio que está dissociado e, portanto, na forma de H + na solução. A parte não dissociada do hidrogênio, ligada à fração sólida (colóides) é chamada acidez potencial. Nos solos, a maior parte do hidrogênio não está dissociada, o que significa que o comportamento dos solos assemelha-se ao de ácidos fracos. Além do H, o Al é bastante associado com a acidez dos solos, sendo comum a afirmação de que o Al é um dos principais responsáveis pela acidez do solo nas regiões tropicais. Portanto, o papel do Al deve ser estudado com maior detalhe. Existem no solo diversos minerais que contêm apreciáveis teores de alumínio, principalmente os minerais de argila (filossilicatados – sílica e alumina) e os óxidos de alumínio. Em condições ácidas ( [H + ]), o alumínio pode surgir em solução, na forma de cátion Al 3+ , às custas da dissolução daqueles minerais, conforme a reação: Al(OH)3 + 3H + A1 3+ + 3H2O (equação 2) Por outro lado, quando em solução na forma do íon Al 3+ , o alumínio pode ligar-se aos íons OH - , oriundos da dissociação das moléculas de água, formando hidróxido de Al e originando uma sobra de íons H + . A1 3+ + 3H2O Al(OH)3 + 3H + (equação 2) Portanto, o alumínio está em equilíbrio dinâmico com a acidez ativa do solo. Quanto menor o pH, maior é o aparecimento do alumínio na solução como cátion trocável. O Al é responsável por parte dos efeitos desfavoráveis da acidez dos solos sobre os vegetais, mas isto já é mais um problema de nutrição vegetal e não de química do solo. Em condições de acidez elevada podem também ocorrer teores de manganês em níveis tóxicos e até mesmo de ferro. 2.3. ORIGEM DA ACIDEZ DOS SOLOS Admitindo que a capacidade de troca de cátions medida a pH 7 tem um valor constante, o solo será tanto mais ácido, quanto menos dessa capacidade de troca for ocupada por cátions básicos, tais como cálcio, magnésio, potássio e sódio. A acidificação do solo consiste, portanto na remoção dos cátions básicos do complexo de troca catiônica, em cujo lugar de adsorção surgem os cátions ácidos como o hidrogênio e o alumínio. Solos podem ser naturalmente ácidos, seja pela própria pobreza dos materiais de origem, que podem ter teores baixos de cátions básicos, seja por condições de pedogênese ou de formação do solo, que podem favorecer a remoção de elementos químicos do solo. Além disso, os solos podem ter a sua acidez aumentada por cultivos e adubações, que podem conduzir à perda de cátions básicos e liberação de H + no meio. Como nos solos, de forma geral, predominam as cargas negativas, os cátions são retidos nestas. Se são adicionados sais neutros ao solo, no máximo pode haver troca iônica entre os cátions adicionados e os cátions trocáveis já existentes. A acidificação do solo ocorre quando são adicionados ânions ao solo sem os cátions básicos correspondentes. Isto corresponde a adicionar co- íons à solução do solo, que passam a exigir, para manutenção da eletroneutralidade, a presença de cátions básicos, que saem do complexo de troca para a solução. Os ânions da solução do solo, se houver percolação de água, são removidos, arrastando com eles cátions básicos. Há 2 maneiras principais de adicionar ânions sem cátions básicos ao solo e gerar acidificação. A 1 a maneira ocorre, naturalmente, pela dissociação do gás carbônico, de acordo com o equilíbrio: CO2 + H2O H + + HCO3 - (equação 6) Assim, são introduzidos em solução o íon hidrogênio e o ânion bicarbonato, HCO3 - . Imediatamente o hidrogênio transfere-se para a fase sólida do solo e libera um cátion trocável. Portanto, pode haver remoção de bases do solo por lixiviação de bicarbonato. A reação 6 é favorecida por valores de pH mais elevados. Valores de pH mais baixos e, portanto, maiores concentrações de H + , tornam a dissociação menos importante e chegam a impedi- la a pH abaixo de 5,2. Portanto, em solos muito ácidos não é provável uma grande acidificação por bicarbonato. A segunda grande causa de acidificação dos solos, a mais importante, é ocasionada pelos fertilizantes acidificantes adicionados ao solo. Tomando como exemplo o sulfato de amônio, um dos fertilizantes de maior poder de acidificação, tem-se as seguintes reações: (NH4)2SO4 2NH4 + + SO4 2- (equação 7) 2NH4 + + SO4 2- + 4O2 - 2NO3 - + 4H + + 2H2O + SO4 2- (equação 8) Portanto, o cátion amônio (NH4 + ) adicionado ao solo transforma-se em um ânion. A conseqüência é a liberação, para cada fórmula de (NH4)2SO4, de 4 íons H + , ficando os anions SO4 - e NO3 - livres, exigindo pois, como no caso anterior, que cátions básicos passem para a solução do solo, ficando assim sujeitos à lixiviação através do perfil e proporcionando uma acidificação do solo. Na prática, a acidificação só não atinge o máximo teórico permitido pela equação 8, porque grande parte dos íons NO3 - e uma menor dos íons SO4 são absorvidos pelas plantas, reduzindo as perdas. Quando o amônio provém da mineralização da matéria orgânica, o resultado da nitrificação é também acidificante, de uma forma similar ao processo da equação 6. 2.4. NEUTRALIZAÇÃO DE ÁCIDOS E SOLOS Solos são semelhantes a ácidos fracos, principalmente pelo fato de apenas uma fração da acidez total manifestar-se como acidez ativa (pH), ficando a maior parte da acidez na forma de acidez potencial (H+Al), correspondendo ao hidrogênio não dissociado. A neutralização de um ácido pode ser representada por: HA + NaOH NaA + H2O Da mesma maneira, ocorreria a neutralização de um solo: Solo-H + NaOH Solo-Na + H2O Na neutralização de solos é muito utilizado o carbonato de cálcio, que é um sal básico. A reação resultante é: CaCO3 + H2O Ca 2+ + HCO3 - + OH - (Calcário calcítico) CaMg(CO3)2 + 2 H2O Ca 2+ + Mg 2+ + 2HCO3 - + 2OH - (Calcário dolomítico) HCO3 - + H + H2O + CO2 OH - + H + H2O Solo-H2 + Ca 2+ + HCO3 - + OH - Solo-Ca + 2H2O + CO2 (figura 2) LIXIVIAÇÃO Figura 2. Representação das prováveis reações químicas no solo com adição de calcário dolomítico. Fonte: PAVAN (1983) 1 . Tal como ácidos fracos, os solos apresentam considerável poder tampão, o que faz com que o pH varie pouco quando são adicionadas pequenas quantidades de ácido ou base. Se forem adicionadas quantidades crescentes de CaCO3 a vários solos e for medido o pH resultante após algum tempo de incubação, são obtidas curvas de neutralização como as da figura 3. Os solos diferem nas necessidadesde CaCO3 para proporcionar uma mesma mudança de pH. Daí diz-se que os solos diferem em poder tampão. Figura 3. Curvas de neutralização de 5 amostras de solos com CaCO3, 18.837 (Regossolo), 18.801 (Latossolo vermelho-amarelo fase arenosa), 18.897 (Latossolo vermelho-amarelo húmico), 18.819 (Latossolo vermelho-escuro) e 18.831 (Cambissolo). RAIJ et al. (1979). Fonte: RAIJ (1983) 2 . Essas diferenças são devidas à CTC, que é maior em solos mais ricos em matéria orgânica e/ou com teores mais elevados de argila e, ainda, quando a argila apresenta maior atividade de superfície (carga). 2.5. RELAÇÕES ENTRE CÁTIONS TROCÁVEIS E pH A figura 4 é uma representação esquemática da relação existente entre os cátions trocáveis e o pH, no caso de um solo com uma importante parte da capacidade de troca representada por hidrogênio. Este hidrogênio, conforme já explicado, precisa ser neutralizado para liberar as cargas 1 PAVAN, M.A. Ação dos corretivos e fertilizantes na dinâmica de íons no solo. In: IAPAR. Curso de atualização em fertilidade do solo. Londrina: IAPAR, p.47-64, 1983. 2 RAIJ, B. van Acidez do solo e calagem. In: IAPAR. Curso de atualização em fertilidade do solo. Londrina: IAPAR, p.65-86, 1983. que se encontram não dissociadas, o que se dá com elevação do pH. Por esta razão, nesses casos faz-se referência a cargas dependentes de pH. Na figura, a CTC é representada por um reservatório. No fundo estão as bases trocáveis e elas determinam o valor do pH do solo. Acima das bases está o alumínio e acima deste o hidrogênio. Na neutralização da acidez, primeiro é neutralizado o alumínio,que desaparece a valores de pH em torno de 5,5. Figura 4. CTC do solo visualizada como um reservatório ligado à escala de pH, que indica o nível atingido pelas bases. Se a acidez do solo for neutralizada (pH), o nível de bases sobe, e vice-versa. Note-se que alumínio e bases são trocáveis. A soma desses cátions tem sido chamada de CTC efetiva, representando a CTC operante no solo em condições naturais. E preciso cuidado ao ler certos trabalhos porque, quando é feita referência à CTC, pode ser o caso da CTC a pH 7 ou da CTC efetiva. Às vezes diz-se que a calagem aumenta a CTC dos solos, o que só pode dizer respeito à CTC efetiva, que realmente aumenta quando a neutralização da acidez ultrapassar os níveis de alumínio da figura 4. Note-se que, com a saída do alumínio trocável do complexo de troca, a chamada CTC efetiva pode variar bastante, não sendo uma característica (fixa) do solo, como o é a CTC a pH 7. A CTC é representada por T e a soma de bases por S. Antes se usava também valor H para a acidez potencial, mas isto numa época em que o alumínio era ignorado como componente da acidez. Hoje a acidez potencial do solo é representada por H+Al. Assim, pode-se escrever: T = S + H + A1 S = Ca + Mg + Na + K A parte da CTC ocupada pelas bases trocáveis, expressa em termos de porcentagem, é a saturação de bases, representada pelo V. V = 100 S T A saturação de alumínio, representada por m, é a porcentagem da CTC efetiva ocupada pelo elemento. M = Al x 100 S + Al Diferentemente da saturação de alumínio, a saturação de cada base é representada, especificamente, pelo símbolo de cada elemento e expressa em percentual (Ca%, Mg%, K% e Na%). Estas saturações são porcentagens das cargas totais, ou seja, da CTC total, ocupadas pelos elementos individualmente. Ca % = Ca x 100 Mg % = Mg x 100 K % = K x 100 S + H + Al S + H + Al S + H + Al 2.6. MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DA NECESSIDADE DE CALAGEM CONCEITUAÇÃO DA NECESSIDADE DE CALAGEM Necessidade de calagem é, na verdade, a quantidade de corretivo de acidez necessária para neutralizar a acidez do solo, de uma condição inicial até uma condição desejada, independentemente se o corretivo é o calcário calcítico (CaCO3), dolomítico [CaMg(CO3)2] ou, até mesmo, a cal (CaO). O corretivo padrão é o carbonato de cálcio (CaCO3) finamente moído, atribuindo-se a ele um valor de 100. Qualquer outro corretivo terá sua eficiência (poder relativo de neutralização total - PRNT) expresso em termos de equivalente CaCO3. O CaCO3 apresenta uma coincidência numérica que muito facilita os cálculos de necessidade de calagem. Um cmolc de CaCO3, que pesa 0,5 g, por 1 dm 3 de terra, corresponde a 1 tonelada ha -1 de CaCO3 para a camada de 20 cm. INCUBAÇÃO COM CARBONATO DE CÁLCIO Consiste na obtenção de curvas como as da figura 3. Para isso, quantidades crescentes de CaCO3 são adicionadas a várias amostras de um solo, ficando incubadas por vários dias com determinado teor de água. Se o corretivo for finamente moído e a mistura com o solo for bem feita, o equilíbrio aparente pode ser conseguido em poucos dias. Após a incubação é lido o pH, obtendo-se curvas do tipo das apresentadas na figura 3. É importante que o pH seja lido nas condições em que ele é determinado rotineiramente, em geral com relação de solo para água de 1:2,5. O método de incubação com CaCO3 não é prático para uso rotineiro, sendo mais usado em trabalhos de pesquisa e, principalmente, para aferir os outros métodos. De curvas como as da figura 3, pode-se obter a necessidade de calagem para atingir qualquer valor de pH. Existem vários métodos de determinação da necessidade de calagem em solos. Em uso nos laboratórios de rotina de análise de solo do Brasil existem três, além de algumas variações locais para os mesmos métodos. 2.6.1. ELEVAÇÃO DA SATURAÇÃO EM BASES (MÉTODO OFICIAL NO PARANÁ) Para os cálculos são necessários os valores de H+Al (acidez potencial), Ca, Mg, K (e Na) e as seguintes equações: T = S + H + A1 S = Ca + Mg + K (+ Na) V = 100 S T O cálculo da necessidade de calagem para elevar a saturação de bases é simples. Necessidade de calagem (t ha -1 ) = (V2 – V1) T x p PRNT Sendo: - V1 o valor da saturação de bases inicial; - V2 o valor da saturação de bases que se pretende atingir; - T o valor da CTC calculada (S + H + Al); - PRNT o poder relativo de neutralização total do corretivo. - p o fator de correção para profundidade de incorporação: Para calcular a necessidade de calagem para elevar a saturação de bases, é preciso saber até quanto se quer chegar, ou seja, qual o valor desejado de V2. Como as culturas e os cultivares dentro de uma mesma cultura variam em tolerância à acidez, variam também as necessidades de calagem. Contudo, do ponto de vista prático não é viável um ajuste muito rigoroso do pH para cada caso. O que se fez foi estudar a resposta de diferentes culturas à calagem, por meio de ensaios nos quais se eleva a saturação por bases e se mede o desenvolvimento e a produtividade das plantas, chegando-se então a uma faixa de variação de V que propicie boa produtividade agrícola (tabela 1). Como evolução deste método, tem-se estudado a substituição da saturação de bases em conjunto, o V%, pelo uso das saturações de cada base. No caso de um V2 de 70%, mais adequado a culturas exigentes e solos menos intemperizados da região centro-sul do Brasil, a N.C. tem sido calculada para que Ca represente 50-60% e que Mg represente outros 10-15%, restando outros 3- 5% para ocupaçãopelo K. 0-10 cm, p = 0,5 0-20 cm, p = 1,0 0-30 cm, p = 1,5 Tabela 1. Faixas de valores de saturação de bases (V%) para calagem. Fonte: Raij et al. (1979). 2.6.2. NEUTRALIZAÇÃO DE ALUMÍNIO E ELEVAÇÃO DE CÁLCIO E MAGNÉSIO A idéia antiga de ser o alumínio trocável o principal componente negativo relacionado à acidez dos solos, levou ao desenvolvimento de um critério de determinação de calagem baseado na neutra1ização do alumínio. O cálculo da quantidade a aplicar é simples. A necessidade de calagem, em t/ha de CaCO3 é igual a 1,5 x [Al]. O fator 1,5 é utilizado para aumentar a quantidade de calcário em 50%, o que se faz necessário porque devido a imperfeições na mistura de corretivos com solos, ocorre neutralização de hidrogênio antes que todo o alumínio seja neutralizado. A tentativa do método é gerar no solo a reação balanceada de 1 equivalente de CaCO3 com 1 equivalente de Al 3+ , neutralizando o Al 3+ . Como as doses determinadas por este método são geralmente baixas, introduziu-se como critério complementar, cálculos para garantir teores mínimos de Ca + Mg de 2,0 cmolc dm -3 , em solos com menos de 2% de M.O., e de 3,0 cmolc dm -3 quando o solo possuir teor maior de M.O.. Assim, calculando-se a N.C. para neutralizar o Al e para aumentar os teores de Ca + Mg, adota-se como N.C. o maior valor entre os dois cálculos. O fator 1,5 também tem sido modificado para 2,0, dependendo da textura do solo. Se argilosa, usa-se 2,0 e se de textura média ou arenosa usa-se 1,5. Em alguns casos, há interesse de calcular a calagem visando diminuir a saturação de alumínio a valores considerados “aceitáveis”. Trata-se de um critério interessante para solos que têm teores muito elevados de alumínio e uma pequena proporção de hidrogênio na CTC, ou seja, quando a acidez depende quase que exclusivamente do Al, uma condição rara nos solos brasileiros. Este critério é útil para estudos de melhoramento de plantas visando a tolerância a alumínio. Existem solos que apresentam teores baixos de alumínio,mas também não contêm muito cálcio e magnésio. Nesses casos é adotada a prática de adicionar calcário para elevar os teores de cálcio e magnésio, a um mínimo de 2 meq/100 cm 3 para solos mais arenosos (matéria orgânica até 2%) ou 3 meq/100 cm 3 para solos com teores de matéria orgânica acima de 2%. Os critérios de neutralização de alumínio e de elevação de cálcio e magnésio devem ser aplicados concomitantemente e o maior dos dois valores será a quantidade a aplicar. Isto porque, ao neutralizar o alumínio, ocorre a elevação de cálcio e magnésio e V e vice-versa. Deve-se, também, considerar o fator de calagem do corretivo a utilizar. 2.6.3. USO DO TAMPÃO SMP O uso de soluções tampão para a determinação da necessidade de calagem de solos é bastante comum, consistindo em geral em métodos rápidos e precisos. Nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina é utilizado o tampão SMP como método oficial (de Shoemaker, McClean e Pratt, autores do método). A determinação da necessidade de calagem é bastante simples. Adiciona-se um volume da solução tampão a uma quantidade de solo, promovendo agitação e esperando até o estabelecimento do equilíbrio. O pH da suspensão, representado por pH SMP, é lido e quanto maior for a acidez potencial do solo, maior será a queda de pH da solução tampão em relação ao pH inicial. Cada 0,1 unidade de decréscimo de pH na suspensão de equilíbrio (solo-SMP) corresponde a uma N.C. de 1,0 t/ha, para elevar o pH do solo a 6,5. A calibração do método é feita correlacionando o pH SMP de uma série de solos com a necessidade de calagem para elevar o pH, em geral a 6,5, 6,0 ou mesmo 5,5, sendo essa necessidade de calagem determinada por incubação com CaCO3, como descrito em anteriormente. No fim, obtêm-se tabelas como a tabela 3, nas quais lê-se diretamente a necessidade de calagem a partir do pH SMP e sempre que o pH do solo estiver abaixo do especificado. Tabela 2. Determinação da necessidade de calagem de solos com base no pH SMP. pH da suspensão solo : solução SMP Necessidade de calagem para pH em H2O 5,5 6,0 6,5 CaCO3 em meq 100 cm -3 de solo ou t ha -1 6,9 - - 0,4 6,8 - - 0,8 6,7 - 0,3 1,2 6,6 - 0,5 1,5 6,5 0,1 0,7 2,0 6,4 0,2 0,9 2,3 6,3 0,3 1,1 2,8 6,2 0,5 1,4 3,3 6,1 0,7 1,8 3,8 6,0 0,9 2,2 4,5 5,9 1,1 2,7 5,2 5,8 1,4 3,2 6,1 5,7 1,7 3,8 6,9 5,6 2,0 4,4 7,9 5,5 2,4 5,1 8,9 5,4 2,8 5,8 10,1 5,3 3,2 6,7 11,2 5,2 3,7 7,6 12,5 5, 1 4,4 8,5 13,8 5,0 5,0 9,5 15,3 4,9 5,5 10,5 16,7 4,8 6,1 11,6 18,3 Fonte: Raij et al. (1979). a) Este método consiste na extração do alumínio, do cálcio e do magnésio trocáveis com um a solução 1M de KCL . A fórmula utilizada para estimar a necessidade de calagem (NC) segundo a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, capítulo 8, adotada a partir de 1999 é: O Termo NC é a necessidade de calagem, CA, a correção da acidez em função do valor da saturação por alumínio (valor m%) de cada cultura, que no caso do sorgo é de 15%, e da capacidade tampão do solo, valor Y. O componente CD na equação é a correção da deficiência nos teores de cálcio e do magnésio. Pelo exposto, a expressão parcial da CA é: Os valores de Y são uma função do poder tampão do solo e da textura, portanto solos arenosos(0- 15% argila), Y= 0 a 1;solos com textura média (15-35% argila), Y=1 a 2; solos argilosos (35-60% argila), Y=2 a 3 e solos muito argilosos (maior 60% argila), Y=3 a 4. O Al +3 , a acidez trocável, expressa em Cmolc /dm3, mt, máxima saturação por Al, em % e CTC efetiva, valor t, em Cmolc/dm3. Se nesta expressão valores negativos tiverem sido obtidos, consideramos CA=0, para efeito de cálculos, ficando a NC somente com o segundo termo da fórmula geral, ou seja o termo CD, que é a correção da deficiência de Ca e do Mg. A correção da deficiência de Ca e de Mg, o termo CD, é dado pela expressão: Os valores Ca e Mg são expressos em Cmolc /dm 3 e o valor X é baseado na necessidade destes cations pela cultura, no caso do sorgo, X=2 A expressão geral da necessidade de calagem considerando os dois termos dimensionados é: Nos Estados do Mato grosso e Mato Grosso do sul, A NC tem sido estimada pelo uso das expressões: NC (t/ha) = Al 3+ x 2, baseado na eliminação do Al trocável e, NC (t/ha) = Al 3+ x 2 + 2 - (Ca 2+ + Mg 2+ ), baseado na eliminação e na elevação dos teores de cálcio e do magnésio b) Este método, teve sua origem no Estado de São Paulo ,em trabalhos de Catani e Gallo,1955, seguidos por Raij et al.(1979) e por último a versão em uso, proposta por Quaggio et al. (1983). É baseado na correlação do pH do solo com a saturação por bases requer, em rotina laboratorial, a determinação de Ca, Mg, K, em alguns casos também o Na, além da determinação de H+Al (acidez potencial ), extraídos com acetato de cálcio 0,5M, ajustado ao pH 7. A fórmula para o cálculo da Necessidade de Calagem, em toneladas/hectare é representada pela expressão: onde a CTC representa a soma das bases Ca, Mg, K e Na com os valores da acidez potencial ( H + Al ), expressos em Cmolc dm 3 . O valor V2 é a saturação de bases que se deseja elevar e V1 a saturação original do solo através a análise química . No caso do sorgo, recomenda-se valores de V2 entre 50% e 60%. Independente do método a ser usado, recomenda-se quando for conveniente a correção da quantidade de calcário a um valor de 100%, através a expressão: Escolha do calcário A indústria de calcário coloca no mercado produtos com ampla variação na granulometria, nos teores de cálcio e magnésio e no PRNT. Cabe ao técnico, com base na análise de solo, na exigência da cultura e no preço do calcário, analisar as várias alternativas oferecidas e decidir qual a solução mais técnica e econômica. A decisão final, entre outras informações, o preçopor tonelada efetiva é uma variável de grande interesse e para tal a seguinte relação deve ser usada: No Brasil, há preferência pelo uso de calcários dolomíticos e magnesianos sobre os calcíticos visando a manutenção de uma relação Ca : Mg de 3:1 a 5:1. Para a cultura do sorgo, resultados experimentais mostraram que esta relação pode ser mais ampla (Ca : Mg = 10:1), sem prejuízo da produção, desde que o teor de magnésio no solo esteja acima de 0,5 cmolc/dm 3 de solo. Entretanto, devido a maior exigência da soja ao magnésio, em área utilizadas com a rotação soja - milho, o teor de magnésio no solo, nesta situação, deve ser de no mínimo 1 cmolc/dm 3 . Caraterísticas da qualidade dos materiais corretivos As principais características relacionadas com a qualidade dos corretivos são: teor de neutralizantes ( poder de neutralização-PN), tamanho das partículas , forma química dos neutralizantes e natureza geológica. O teor de neutralizantes (PN) é determinado diretamente com ácido clorídrico e expresso em %. A conversão dos óxidos de Ca e de Mg em "CaCO3 equivalente" é denominado Valor Neutralizante - VN. Por essa razão, o CaCO3 possui um valor VN igual a 100%. O VN do MgCO3 é 119, o CaO, este valor é de 179 e o VN do MgO, 248. Esses números mostram que os óxidos de Ca e de Mg neutralizam a acidez do solo na ordem de 1,79 e de 2,48 vezes mais quando comparados com o poder neutralizante dos carbonatos. Desta forma podemos, através da análise química dos corretivos, calcular o E CaCO3 , por exemplo: Material A = 25% CaO e 15% MgO - ( 25 x 1,79 + 15 x 2,48 ) = 82% Material B = 60% CaO e 12% MgO - ( 60 x 1,19 + 12 x 2,28 ) = 137,2% Como ilustração, um material que possua um PN de 110%, significa que 100 kg deste material tem a mesma capacidade neutralizante de 110 kg de CaCO3. Há casos que o VN superestima a capacidade de neutralização do corretivo (PN), isso se deve a algumas frações insolúveis de Ca e de Mg que não participam da neutralização da acidez do solo. A legislação brasileira não exige teores mínimos de E CaCO3. Porém, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento recomenda que a soma dos óxidos de Ca e de Mg não deve ser menor que 38% e o PRNT não inferior a 67%. Há resultados experimentais que apontam valores de E CaCO3 menores que 80% indicativos de má qualidade do corretivo. A granulometria, segundo a legislação brasileira (ABNT), deve seguir as seguintes características: 95% do material deve passar na peneira 10 (2mm), 70% deve passar na peneira 20 (0,84mm) e 50% passar na peneira 50 (0,30mm). Através as frações granulométricas pode-se estimar a reatividade do material corretivo, em função das peneiras usadas: Fração granulométrica Peneira ABNT Reatividade % > 2,00 mm Retida no. 10 0 0,84 - 2,00 mm Passa no.10, retida no 20 20 0,30 - 0,84 mm Passa no.20, retida no 50 60 £ 0,84 mm Passa no.50 100 Fonte: Adaptada de CFSEMG-5 a Aproximação, 1999 A combinação do PN com a reatividade (RE) , permite estimamos o Poder Relativo de Neutralização total (PRNT), através a seguinte fórmula: PRNT= PN x RE / 100 Quanto a forma química dos corretivos, ressalta-se que os óxidos de Ca e de Mg, têm reação instantânea com a água, formando hidróxidos, Estes hidróxidos , apresentam reatividade muito mais alta que os carbonatos, porém apresentam algumas desvantagens : a) devem ser imediatamente incorporados, pois devido a umidade e na presença de CO2 tornam-se enpedrados e carbonatados, b) são muito cáusticos, c) devido sua elevada finura perdem-se facilmente com o vento durante a aplicação, e d) finalmente são de custo bem elevado. Não foram observadas diferenças no aumento do pH do solo quando se comparou os calcários dolomíticos com os calcíticos. Existem dois critérios para classificação dos calcários: a. pelos teores de MgO calcíticos (< 5 dag/kg de MgO) magnesianos (entre 5 e 12 dag/kg de MgO) e dolomíticos (> 12 dag/kg de MgO ) b. pelos valores de PRNT Grupo A (PRNT entre 45 e 60%) Grupo B (PRNT entre 60,1 e 75%) Grupo C (PRNT entre 75,1 e 90%) e Grupo D (PRNT maior que 90%). Do exposto, observa-se que a decisão baseada nos teores de MgO serão em função da análise química do solo e dos valores de Ca e Mg nas mesmas, porquanto aquelas baseadas nos valores de PRNT, aspectos econômicos são importantes como também preferir-se materiais pertencentes ao Grupo D ou próximos à ele. Aplicação do calcário Os materiais corretivos comumente usados na agricultura são rochas moídas, sendo elas misturas de calcita e dolomita , as quais possuem em suas composições carbonatos de cálcio e de magnésio que são pouco solúveis. As rochas calcárias calcinadas que contem óxidos de cálcio e magnásio (cal virgem) ou os materiais hidratados oriundos dos óxidos, os hidróxidos de Ca e de Mg (cal hidratada), apesar de serem mais solúveis que os carbonatos, têm sido menos usados na agricultura. Recomenda-se que a aplicação do calcário seja a mais uniforme possível, em toda extensão do terreno, de modo que haja a mais íntima mistura com as partículas do solo, aumentando a superfície de contato. A incorporação do calcário deverá ser a mais profunda possível, de preferência a profundidades maiores que 20 cm. Esta observação ainda é mais relevante quando se recomenda quantidades superiores a 4 toneladas/ha. Nesta situação, sugere-se o parcelamento em duas vezes, ou seja, metade antes da aração e a outra metade após esta operação seguindo-se a esta última, de uma gradagem. Em solos sob plantio direto consolidado é possível aplicar o calcário na superfície, sem a necessidade de revolvimento para incorporação (aração e gradagem). Nesta situação as quantidade são menores, e as recomendações são baseadas na textura do solo : a) Solos argilosos: 1/3 a 1/2 da necessidade de calcário (NC) pelo método de saturação de bases para a camada de 0 - 20 cm. Se maior que 2,5 t/ha, adotar o valor limite; b) Solos de textura média e arenosos: 1/2 da necessidade de calcário(NC) pelo método de saturação de bases para a camada de 0 - 20 cm. Se maior que 1,5 a 2 t/ha, adotar o valor limite. A necessidade de uma nova aplicação de calcário deve ser monitorada pela saturação por bases do solo. Com valores iguais ou superiores a 50% não efetuar a calagem. (Lopes, A.S., comunicação pessoal). Gessagem O gesso agrícola é também denominado fosfogesso. As indústrias de fertilizantes durante o processo de fabricação de superfosfatos, simples e triplo, e fosfatos de amônio, MAP e DAP, usam como matéria prima a rocha fosfática, geralmente a fluorapatita. Esta ao ser atacada com ácido sulfúrico, na presença de água, forma como subprodutos, o sulfato de cálcio , ácido fosfórico e ácido fluorídrico, de acordo com a seguinte equação: Os dados da eficiência industrial, apontam que para cada tonelada de P2O5 obtida , são produzidas 4,5 toneladas de gesso agrícola. Essa relação evidencia o grande acúmulo deste material em plantas industriais ligadas ao setor. O gesso, é o sulfato de cálcio dihidratado apresentando-se na forma de pó branco-amarelado. Sua composição média segundo Vitti e Malavolta (1983) é : Umidade livre 15-17%; CaO 26-28%; S 15-16%; P2O5 0,6 - 0,75%, SiO2 insolúveis 1,26%; Flouretos 0,63% e óxidos de Al e Fe o,37%. O gesso é um sal pouco solúvel ( 2,0 a 2,5 g/L) tem sido empregado na agricultura devido à retirada gradual do enxofre das formulações, concentrações mais elevadas de nutrientes nas formulações comerciais e excessiva produção e alta armazenagem industrial. Sob a ótica agronômica, seu emprego tem sido justificado em duas situações principalmente; a) onde requeiram fornecimento de cálcio e de enxofre e, b) na diminuição de concentrações tóxicas do alumínio trocável nas camadas subsuperficiais com consequente aumento de cálcio nessas camadas, visando-se "melhorar" o ambiente para o crescimento radicular. Na primeira situação, a aplicação de uma toneladade gesso, são adicionados 0,48 Cmolc/dm 3 do elemento. Por outro lado, sabe-se que apenas 250 kg/ha são necessários par atender as necessidades de S às plantas, razão pela qual ao usarmos alguns fertilizantes estamos adicionando também enxofre , por exemplo: o superfosfato simples contem 12% , o sulfato de amônio 24%, o FosMag 11% e fontes menos solúveis, como o fosfato natural parcialmente acidulado, 6%. Estes fatores devem ser considerados, pois as quantidades de enxofre aplicadas através estes produtos podem já ser suficientes para atender as necessidades da cultura. Na segunda situação, o gesso em contato com o solo e com umidade suficiente, sofre inicialmente uma dissolução, segundo a equação: Os íons cálcio e sulfato irão participar de reações de troca catiônica e aniônica na solução do solo. Desta forma, os íons Ca deslocam outros cations como o Al, K, Mg e H, porquanto os íons sulfato formam complexos químicos solúveis neutros como MgSO4 o , K2SO4 o como também AlSO4 o . Estes complexos por apresentarem grande mobilidade, favorecem a descida destes cátions no perfil. Sais que apresentam alta mobilidade, como os nitratos ( exemplo, KNO3 ), que não interagem com a fase sólida, são facilmente arrastados no perfil ocasionando acúmulo nas camadas mais profundas, e em alguns casos levando a deficiência às plantas. Critérios para recomendação de gesso A tomada de decisão sobre o uso do gesso agrícola deve sempre ser feita com base no conhecimento de algumas características químicas e na textura do solo, das camadas subsuperficiais (20 a 40 cm e 30 a 60 cm). Haverá maior probabilidade de resposta ao gesso quando a saturação por Al 3+ for maior que 30 %, (m 3 30%) ou o teor de Ca, menor que 0,4 cmolc/dm 3 de solo. Nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, os valores de m% são £ 20% e a saturação de Ca de 60% na CTC efetiva. Uma vez estabelecida aquelas características, as quantidades sugeridas são: a) solos de textura arenosa (< 15 % de argila) = 0 a 0,4 t/ha; b) solos de textura média (15 a 35 % de argila) = 0,4 a 0,8 t/ha; c) solos argilosos (36 a 60 % de argila) = 0,8 a 1,2 t/ha; d) solos muito argilosos (> 60 % de argila) = 1,2 a 1,6 t/ha. (Alvares et al.; 1999). A aplicação de gesso agrícola deve ser feita a lanço individual ou separadamente com a aplicação do calcário. Alvares et al.(1999)
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