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História da América Contemporânea II

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98
Unidade II
Unidade II
5 SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E GUERRA FRIA
Ainda inconformados com o resultado da Primeira Guerra Mundial (1914‑1918), por conta das 
imposições geopolíticas que tiveram de acatar, Alemanha, Itália e Japão vão se unir em torno de um 
objetivo comum: expandir seu domínio territorial, à força, para crescer econômica e militarmente. 
Nascia, assim, o Eixo, formado inicialmente por esses três países e apoiado depois por outras 
nações. Seu espírito expansionista vai encontrar, na contramão, os interesses dos norte‑americanos, 
ingleses, franceses e soviéticos, potências militares que não vão tolerar de braços cruzados os 
movimentos do nazifascismo.
Surgiam, dessa forma, os Aliados, que também mais tarde seriam defendidos por diversos outros 
países, inclusive o Brasil. Dessa maneira, o que hoje pode parecer um absurdo histórico tornou‑se 
inevitável: mais de 70 nações seriam levadas à Segunda Guerra Mundial (1939‑1945), provocando a 
morte de mais de 60 milhões de pessoas entre civis e militares. Para historiadores, trata‑se do evento 
mais violento e que mais matou em toda a História.
Muito mais do que a Primeira, a guerra de 1939‑1945 merece sem dúvida 
alguma ser chamada de mundial. Propagou‑se por toda a Europa, desde 
o cabo Norte até a Sicília, de Brest ao Volga. Entrou pelo norte da África 
antes de estender‑se ao Oriente Próximo e de atingir uma grande parte do 
Extremo Oriente e do Pacífico. As operações que ocorreram em tais teatros 
de guerra foram favorecidas por novos sistemas de armas que surgiram, 
revolucionando os recursos táticos e estratégicos. Tal como o havia idealizado 
Ludendorff em 1918, a guerra foi total. Mobilizou todas as forças morais e 
físicas dos beligerantes com a implantação de sistemas de propaganda e de 
economias de guerra.
Finalmente, o segundo conflito mundial foi absoluto não só pela amplidão 
dos massacres sistemáticos, pelo emprego de meios de destruição maciços ou 
pela irrupção das paixões, mas também pelo seu desfecho. Contrariamente 
ao que parecia constituir uma tradição, a guerra não se encerrou por uma 
paz negociada, ou mesmo ditada, mas pela capitulação total dos vencidos. 
Fenômeno sem precedente na história moderna dos países civilizados 
(MASSON, 2011, p. 13).
O gesto inicial, aquele que deflagra a Guerra, é a invasão alemã à Polônia. Os alemães, liderados por 
Adolph Hitler, e italianos, comandados por Benito Mussolini, vão se tornar os principais protagonistas 
do Eixo. A propaganda nazista promete (ou impõe) ao mundo um novo poder. Um emblemático 
99
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
filme documentário encomendado pelo próprio Hitler, O Triunfo da Vontade, produzido em 1934, 
todo gravado na cidade de Nuremberg durante um Congresso do seu Partido Nacional‑Socialista dos 
Trabalhadores Alemães, anuncia para o mundo como Hitler enxerga a Alemanha ressurgida das cinzas 
da Primeira Guerra: um império a ser respeitado e temido.
Forças do Eixo vão aos poucos conquistando territórios estratégicos, como Paris, capital francesa, 
em 1940, e impondo o nazifascismo sobretudo à Europa. Hitler leva adiante o plano de construir 
campos de concentração, que abrigarão milhões de judeus, ciganos e prisioneiros de guerra em 
geral. Há relatos de diversas experiências desenvolvidas nesses lugares a título de testar a eficácia 
de venenos e outros compostos químicos para a matança de pessoas, indiscriminadamente. O mais 
famoso dos campos foi o de Auschwitz, na Polônia, destino final de aproximadamente 300 mil presos, 
grande parte dos quais, morta por envenenamento, com gás, em galerias subterrâneas.
A esse plano orquestrado pelo próprio Hitler, ou Führer, como ele era mais conhecido, deu‑se o nome de 
Holocausto. Dentre os motivos que inspiravam o líder alemão, a visão etnocêntrica extremista da “pureza” da 
raça ariana, contra as “impurezas” sobretudo dos judeus, justificou um dos maiores movimentos de eugenia 
(matança indiscriminada e planejada de outra etnia, buscando isolar uma determinada tendência étnica).
 Saiba mais
Embora Hitler tenha entrado para a História como o grande genocida do 
séc. XX, países como os Estados Unidos e a Rússia já praticavam a eugenia 
contra as suas populações antes que o ditador da Alemanha o fizesse. O 
documentário Homo Sapiens 1900, dirigido por Peter Cohen, resgata com 
riqueza de detalhes essa obsessão pela pureza racial e as suas atrocidades.
HOMO sapiens 1900. Direção: Peter Cohen. Suécia, 1998. 89 min.
Com o fortalecimento das democracias na segunda metade do século XX e a criação de órgãos 
humanitários internacionais, a ideia de aprisionar e matar pessoas por conta de sua origem étnica pareceria 
insustentável nos dias atuais, ainda que se tratasse de prisioneiros de guerra. Somente por meio de atos 
extremos, como os terroristas, isso seria possível diante das instituições que conhecemos atualmente, 
como a ONU – Organização das Nações Unidas, criada em 1948, três anos após o fim da Segunda Guerra.
O governo brasileiro, então liderado por Getúlio Vargas (1930 – 1945), apesar de ter declarado 
imparcialidade em 1939, vai apoiar os Aliados e declarar guerra à Alemanha e à Itália, depois que 
um navio brasileiro é atingido no Atlântico por forças do Eixo. Cerca de 25 mil pracinhas, como eram 
chamados os soldados brasileiros, são enviados para combater na Itália, em 1942. Eles integram a Força 
Expedicionária Brasileira (FEB). “Ninguém sabia o que era um combate, dos generais aos soldados mais 
rasos. Aprendemos a guerrear nas dificuldades”, lembra um dos ex‑combatentes brasileiros, Júlio do 
Valle, aos 93 anos de idade, em entrevista publicada pela edição brasileira do jornal El País em 20/4/2014 
(consulta em 26/3/2015). Conta o ex‑pracinha:
100
Unidade II
Sofríamos bastante com as baixas temperaturas. A neve chegava até o 
joelho. Recebemos uma capa de gabardina grande, horrível, de 12 quilos e 
que com a chuva ficava muito pesada para carregar. Quando o comando 
norte‑americano viu aquilo, mandou recolher na hora as gabardinas 
(ROSAS, 2014).
O gaúcho Getúlio Vargas chegara ao poder em 1930 respaldado pelos militares durante um 
conturbado período político. Sob proteção de uma junta militar, Getúlio assume a Presidência e coloca 
um ponto final na Velha República, período também conhecido pelo apelido “café com leite” – quando 
os presidentes eram indicados por uma oligarquia rural formada pelos estados de São Paulo (forte 
produtor de café) e de Minas Gerais (grande produtor de leite), de modo que se revezassem no poder, 
alternadamente, um paulista e um mineiro.
Figura 38 – Presidentes Getúlio Vargas, à esquerda, e Franklin Roosevelt, ao centro
Disponível em: https://bit.ly/3NVU4oI. Acesso em: 16 jun. 2022. 
É nesse período que surge nos Estados Unidos, por iniciativa do presidente Franklin Roosevelt, a 
chamada “política de boa vizinhança”, estratégia do governo americano de estreitar relacionamento 
com países latino‑americanos – Brasil, inclusive. Os Estados Unidos ainda sofrem as consequências do 
crash da bolsa de valores de Nova Iorque, que leva o país à profunda crise econômica. Mais do que isso, 
não quer ficar para trás em relação às influências políticas que Alemanha e Itália são capazes de gerar, 
inclusive para países da América Latina.
[...] os EUA da década de 1930, debilitados pela Grande Depressão, não 
pareciam tão temíveis e dominadores quanto antes. O abandono, por 
Franklin D. Roosevelt, das canhoneiras e fuzileiros de seus antecessores 
podia ser visto não apenas como “política de boa vizinhança”, mas também 
(erroneamente) como um sinal de fraqueza. A América Latina da década 
de 1930 não se inclinava a olhar para o Norte. Mas, visto do outro lado do 
Atlântico, o fascismo sem dúvida parecia a história de sucesso da década. 
101
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Se havia um modelo no mundo a ser imitado por políticos promissores de 
um continente que sempre recebera inspiração das regiões culturalmente 
hegemónicas, esses líderes potenciaisde países sempre à espreita da receita 
para tornarem‑se modernos, ricos e grandes, esse modelo certamente podia 
ser encontrado em Berlim e Roma, uma vez que Londres e Paris não mais 
ofereciam muita inspiração política, e Washington estava fora de ação 
(HOBSBAWM, 1995, p. 136).
O governo americano precisa ampliar seus mercados para intensificar a recuperação da sua economia. 
E não demora a estabelecer parcerias com o Brasil para fornecimento de tecnologia – o que interessa ao 
governo brasileiro, que aproveita a oportunidade para desenvolver sua indústria –, bem como garantir 
o fornecimento de matéria‑prima para atender às necessidades industriais americanas. Além disso, 
claro, estreitam‑se as relações políticas, o que será importante alguns anos depois durante a Segunda 
Guerra, como veremos em seguida. A cantora e dançarina Carmem Miranda e o personagem de desenho 
animado Zé Carioca tornam‑se ícones da cultura brasileira nos Estados Unidos e da aproximação entre 
os dois países nessa época.
Um episódio marcante, em 1942, que ficaria conhecido como “O trampolim para a vitória”, ajudaria a 
inserir o Brasil no contexto da Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos precisavam de um ponto de apoio 
na América do Sul para de lá enviar tropas à África e Europa com mais segurança. E Natal, capital do Rio 
Grande do Norte, está localizada no ponto sul‑americano mais próximo daqueles continentes. O Brasil cedeu 
o acesso para as tropas norte‑americanas e, dessa forma, aviões vindos da América do Norte passaram a se 
preparar em Natal antes de alcançar a África, estabelecendo uma nova e bem‑sucedida rota. Ao permiti‑lo, o 
Brasil estimulou um efeito colateral, o desenvolvimento da região potiguar, que ganhou notoriedade.
O portal G1 rememora o significado daquele momento para a população local:
Um aeroporto com uma média de 200 voos diários, avenidas asfaltadas e a 
Base Naval do Alecrim foram marcas importantes do período. Mas, outras 
coisas menos relevantes, contudo muito apreciadas, também surgiram com 
a presença dos soldados americanos. Natal foi a primeira cidade brasileira 
a ter coca‑cola, ketchup, óculos de aviador e calças jeans. Os natalenses 
também adicionaram ao idioma nativo expressões da língua inglesa, como o 
ok e o bye‑bye (HOLDER, 2012).
Os próprios presidentes Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos, e Getúlio Vargas, do Brasil, chegam 
a se encontrar e discutir, em Natal, em 1943, sobre o possível envio de tropas brasileiras para a Europa. 
Os alemães, a essa altura, não apenas já sabiam do funcionamento da base sul‑americana, mas, 
supostamente, poderiam enviar submarinos ao nordeste brasileiro. O clima de hostilidade era intenso. 
Aproximadamente 10 mil soldados americanos viviam na cidade potiguar nesse momento, o equivalente 
a 20% da população local. Destaca o portal G1:
Mas nem só de romances e novos costumes viveu a cidade. O clima de guerra 
também se espalhou por Natal. Os natalenses conviviam com o black‑out, 
102
Unidade II
momento de apagar as luzes. A população tinha que ficar na escuridão, 
todas as noites, a partir de uma hora determinada. A medida fazia parte da 
estratégia de proteção militar (HOLDER, 2012).
Desde 1942, a aparente hegemonia militar do Eixo começava a dar sinais de enfraquecimento. 
Os japoneses são vencidos pelos americanos de modo irreversível em batalhas aeronavais no Oceano 
Pacífico, entre maio e junho do mesmo ano, no Mar do Coral e em Midway, e os alemães sofrem uma 
derrota decisiva imposta pelos russos em Stalingrado, em batalha que custou 1,5 milhão de vidas e 
durou cerca de um ano. Uma conhecida tática de guerra nazista, baseada na velocidade dos ataques 
e da conquista de territórios, já não surtia o efeito inicial. Em 1943, os norte‑americanos e os ingleses 
tomam o sul da Itália e iniciam o cerco a Mussolini, que será derrotado mais tarde em Roma. Em 1944, o 
Brasil envia cerca de 25 mil combatentes para se somarem às forças aliadas e ajudar os Estados Unidos 
a tomarem o Sul da Itália.
Alguns passos estratégicos finais são importantes para o desfecho da guerra. Um deles é a participação 
da Libéria. Mais de 100 anos antes, em 1822, os Estados Unidos haviam criado a Libéria, na região oeste 
da África, a partir da compra de terras, com o objetivo de levar para lá ex‑escravos americanos, cuja 
liberdade havia sido formalmente conquistada – a escravidão nos Estados Unidos acaba antes que no 
Brasil. Pois seria em solo liberiano, mais de um século depois, que os Aliados poderiam contar com um 
ponto de reabastecimento crucial para chegar tanto à Europa quanto ao Oriente.
Até que em 6 de junho de 1944 acontece o emblemático “Dia D”, o mega‑ataque por parte 
dos Aliados que combina operações marítimas e aéreas na Normandia, ao noroeste da França, ao 
longo de aproximadamente 80 quilômetros de costa. Mais de 200 mil soldados chegam por meio de 
milhares de navios de guerra e mercantes aliados. Centenas de embarcações anfíbias descarregam 
homens, tanques, canhões, mantimentos e munição. Cerca de outros 25 mil soldados para‑quedistas 
chegam de madrugada, reduzindo as possibilidades de serem flagrados. As forças do Eixo não estavam 
preparadas para essa investida.
 Observação
O Brasil não assume uma posição clara contra o nazifascismo assim que a 
guerra se inicia. Getúlio Vargas se mantém neutro, em posição até confortável, 
na medida em que continuava a manter relações tanto com os Estados Unidos 
quanto com a Alemanha. Somente a partir de ataques alemães a navios 
brasileiros é que Vargas, sem muitas alternativas, junta‑se aos Aliados.
A reconquista de Paris – tomada pelos alemães em 1940 – é o passo fundamental para a ofensiva 
decisiva contra Hitler, que pressionado de todos os lados cometerá suicídio, em 30 de abril de 1945, em 
Berlim. O ataque anfíbio do Dia D é tido como o maior da história. O fator surpresa – os alemães sabiam 
que essa investida era iminente, mas não tinham como saber quando nem por que acessos exatamente 
ela aconteceria – somado ao número extraordinário de combatentes garantiram o sucesso da ação. 
Depois de perder a Primeira Guerra, a Alemanha perde também a Segunda.
103
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Um dos capítulos mais dramáticos e emblemáticos da guerra ainda estava por vir, apesar de os 
resultados finais estarem praticamente definidos com a derrota imposta aos alemães, italianos e ao 
desmantelamento das esquadras japonesas. Acreditava‑se na ideia de que os japoneses prolongariam 
a resistência até os últimos homens – eles já adotavam, inclusive, a prática do suicídio dos pilotos 
kamikazes, que se chocavam propositalmente contra navios Aliados.
Figura 39 – Adolph Hitler (à esquerda) e Benito Mussolini, 
chefes de Estado da Alemanha e da Itália, respectivamente
Disponível em: https://bit.ly/3mHQEtF. Acesso em: 16 jun. 2022. 
Pois nos dias 6 e 9 de agosto de 1945, bombardeiros norte‑americanos B‑29 lançam duas bombas 
nucleares sobre o Japão, a primeira contra a cidade de Hiroshima e a segunda em Nagasaki. O mundo 
ainda não conhecia o poder de destruição nuclear, nem seus sinais pirotécnicos que entrariam para a 
história, os cogumelos gigantes de fogo e fumaça, que podem alcançar 18 quilômetros de altura. A onda 
de calor irradiada do ponto de impacto varre o que encontra pela frente por longas extensões, podendo 
cobrir cidades inteiras.
Poucos dias depois, e ainda contabilizando seus milhares de mortos – que chegariam a 
aproximadamente 250 mil, incluindo‑se os feridos que morreriam nos meses posteriores por conta de 
queimaduras e da radiação –, o governo japonês assina a sua rendição. Terminava ali a Segunda Guerra 
Mundial, um dos mais desoladores eventos da modernidade, que pode ter levado à morte, segundo 
registros, dezenas de milhões de pessoas de todo o mundo, entre soldados e civis, além de ter deixado 
mais dezenas de milhões de feridos e mutilados.
A inusitada demonstração de poder contra os japoneses, considerada uma espécie de ato final da 
guerra, muitodebatida até hoje por razões éticas, não apenas impressionou a população mundial, mas 
funcionou como aviso da capacidade armamentista a que o homem teria chegado – um alerta para as 
próximas décadas, quando as nações voltariam a se ver sob ameaça de uma guerra mundial. Os horrores 
de Hiroshima e Nagasaki ficariam para sempre. Os chefes de Estado nunca mais quiseram assistir a 
outra explosão nuclear. Até porque novos testes atômicos, após a guerra, apontaram que o poder de 
aniquilamento desses artefatos teriam chegado, já em 1952, ao equivalente a 5 mil vezes o poder 
destrutivo da bomba de Hiroshima. A União Soviética teria sido capaz de desenvolvê‑la. É sobre esse 
novo momento que passamos a pensar, o pós‑guerra.
104
Unidade II
Países europeus membros da Otan
Países europeus membros do Pacto de Varsóvia
Países europeus neutros
Figura 40 – A Otan e o Pacto de Varsóvia, no imediato pós‑Segunda Guerra
Disponível em: https://bit.ly/39k6tUp. Acesso em: 16 jun. 2022.
Embora os Estados Unidos e a União Soviética (URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, 
que existiu entre 1922 e 1991) fossem aliados no decorrer da Segunda Guerra, eles viriam se tornar, 
com o final dos combates, oponentes entre si. Ambos tinham visões de mundo diferentes e excludentes, 
defendiam sistemas econômicos antagônicos – os americanos, o capitalismo; os soviéticos, o socialismo 
– e se encontravam em posição de lutar por uma hegemonia mundial. Composta por diversos países da 
região da Eurásia (parte da Europa e da Ásia), a URSS era um poderoso bloco geopolítico governado de 
Moscou, a capital russa. Os Estados Unidos, por sua vez, continuavam contando com aliados importantes 
na Europa, a exemplo da Inglaterra. O clima para o surgimento de um novo ciclo de conflitos estava 
posto. Era o início da Guerra Fria, que duraria mais de 40 anos, entre 1945 a 1989, e que ganhou esse 
nome porque, ao final, nem um tiro seria disparado.
A Segunda Guerra Mundial mal terminara quando a humanidade mergulhou 
no que se pode encarar, razoavelmente, como uma Terceira Guerra Mundial, 
embora uma guerra muito peculiar. Pois, como observou o grande filósofo 
Thomas Hobbes, “a guerra consiste não só na batalha, ou no ato de lutar: 
mas num período de tempo em que a vontade de disputar pela batalha é 
suficientemente conhecida” (Hobbes, capítulo 13). A Guerra Fria entre EUA 
e URSS, que dominou o cenário internacional na segunda metade do breve 
século XX, foi sem dúvida um desses períodos. Gerações inteiras se criaram 
à sombra de batalhas nucleares globais que, acreditava‑se firmemente, 
podiam estourar a qualquer momento e devastar a humanidade. Na verdade, 
mesmo os que não acreditavam que qualquer um dos lados pretendia atacar 
105
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
o outro achavam difícil não ser pessimistas, pois a Lei de Murphy é uma das 
mais poderosas generalizações sobre as questões humanas (“Se algo pode 
dar errado, mais cedo ou mais tarde vai dar”) (HOBSBAWM, 1995, p. 223).
As inevitáveis tensões entre esses dois mundos, o comunista e o capitalista, foram reproduzidas 
mundialmente, acentuando em nível global a divergência que tomava conta das duas potências 
econômicas e militares. Em poucos anos, os americanos anunciam a criação da Otan – Organização do 
Tratado do Atlântico Norte, aliança militar instituída em 1949 entre Estados Unidos, França, Inglaterra 
e outras nações. O acordo previa a automática reação solidária entre os países membros em caso de 
ataque inimigo. De outro lado, em 1955, a União Soviética responde com a criação do Pacto de Varsóvia, 
instituído na capital polonesa entre a própria URSS, Polônia, Alemanha Oriental, Checoslováquia, 
Hungria, Bulgária e Romênia. Era inevitável considerar a possibilidade da Terceira Guerra Mundial. 
Gestos, símbolos e gastos apontavam nessa direção.
A peculiaridade da Guerra Fria era a de que, em termos objetivos, não 
existia perigo iminente de guerra mundial. Mais que isso: apesar da retórica 
apocalíptica de ambos os lados, mas sobretudo do lado americano, os 
governos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de forças 
no fim da Segunda Guerra Mundial, que equivalia a um equilíbrio de poder 
desigual mas não contestado em sua essência. A URSS controlava uma parte 
do globo, ou sobre ela exercia predominante influência – a zona ocupada 
pelo Exército Vermelho e/ou outras Forças Armadas comunistas no término 
da guerra – e não tentava ampliá‑la com o uso de força militar. Os EUA 
exerciam controle e predominância sobre o resto do mundo capitalista, além 
do hemisfério norte e oceanos, assumindo o que restava da velha hegemonia 
imperial das antigas potências coloniais. Em troca, não intervinha na zona 
aceita de hegemonia soviética. (HOBSBAWM, 1995, p. 223).
Entretanto, a guerra se daria, na verdade, em torno de ameaças, demonstrações de força – inclusive 
desportivas, em Olimpíadas –, informações, capacidade armamentista e tecnológica e uma bilionária 
corrida espacial, coroada pela chegada do homem à Lua em 1969, quando lá desembarcaria o comandante 
da Apolo 11, o americano Neil Armstrong. Antes dele, o russo Yuri Gagárin tornou‑se o primeiro homem 
a viajar no espaço. Feitos como esses dominavam a agenda internacional, como parte de uma estratégia 
de enfraquecer moralmente o adversário.
Assim que a URSS adquiriu armas nucleares – quatro anos depois de 
Hiroshima no caso da bomba atômica (1949), nove meses depois dos EUA no 
caso da bomba de hidrogênio (1953) – as duas superpotências claramente 
abandonaram a guerra como instrumento de política, pois isso equivalia 
a um pacto suicida. [...] Contudo, ambos usaram a ameaça nuclear, quase 
com certeza sem intenção de cumpri‑la, em algumas ocasiões: os EUA 
para acelerar as negociações de paz na Coréia e no Vietnã (1953, 1954), a 
URSS para forçar a Grã‑Bretanha e a França a retirar‑se de Suez em 1956. 
Infelizmente, a própria certeza de que nenhuma das superpotências iria de 
106
Unidade II
fato querer apertar o botão nuclear tentava os dois lados a usar gestos 
nucleares para fins de negociação, ou (nos EUA) para fins de política interna, 
confiantes em que o outro tampouco queria a guerra. Essa confiança 
revelou‑se justificada, mas ao custo de abalar os nervos de várias gerações. 
A crise dos mísseis cubanos de 1962, um exercício de força desse tipo 
inteiramente supérfluo, por alguns dias deixou o mundo à beira de uma 
guerra desnecessária, e na verdade o susto trouxe à razão por algum tempo 
até mesmo os mais altos formuladores de decisões (HOBSBAWM, 1995, p. 3).
A bem da verdade, o resultado das explosões em Hiroshima e Nagazaki 20 anos antes era uma 
referência bastante incômoda e temida. Nenhum dos dois lados queria, de fato, ter de enfrentar ataques 
de destruição em massa, o que significava aniquilar civis. O nível de cuidado era tal, que registros dão 
conta de que em 1963, os líderes das duas potências, Nikita Kruchev (URSS) e John Kennedy (EUA), 
chegaram a instituir um “telefone vermelho”, de comunicação por satélite, capaz de transmitir textos 
e gráficos, para a eventual necessidade de se esclarecer ou desfazer qualquer dúvida que colocasse o 
mundo em perigo.
Figura 41 – A corrida espacial leva o homem à Lua em 1969
Disponível em: https://bit.ly/3HipV0f. Acesso em: 16 jun. 2022. 
Foi nesse período que um movimento anticomunista chamado Macartismo se tornou bastante 
conhecido nos Estados Unidos, liderado por Joseph McCarthy (daí o nome). McCarthy fundou o Comitê 
de Atividades Antiamericanas, responsável por uma espécie de patrulha anticomunista.
Na prática, o órgão monitorava a vida de cidadãos comuns e personalidades, como artistas e 
intelectuais, que pudessem de algum modo ajudar a propagar ideias de esquerda. O medo do comunismo 
que assombrava os Estados Unidos naquele momento chegou ao auge. Espionagem, contraespionagem, 
delações fundadas ou infundadas, uma verdadeira guerra informacional e subterrânea envolvia as 
instituições políticas –partidos, poderes, governo, lideranças, sindicatos etc. Esse sentimento se replicava 
em grande parte dos países aliados dos Estados Unidos. Os “inimigos comunistas” poderiam surgir ou se 
organizar e fortalecer em qualquer país. O Macartismo se torna referencial nos primeiros anos da década 
de 1950 mas perde força a partir de 1957.
107
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
 Saiba mais
O filme Boa noite, e Boa Sorte relembra a atuação do jornalista Edward 
Murrow, que desmascara o senador Joseph McCarthy e a sua “caça às 
bruxas”, apontando mentiras que deram sustentação às perseguições aos 
supostos comunistas.
BOA noite, e boa sorte. Direção: George Clooney. EUA, 2005. 90 min.
Enquanto o Macartismo floresce nos Estados Unidos, inicia‑se mais um governo de Getúlio Vargas 
no Brasil, em 1951, dessa vez pelo voto direto. Vargas já não governa sob a tutela dos militares, como no 
período anterior (1930‑45). Ao contrário, será pressionado também por eles ao promover um governo 
considerado instável e temeroso.
A ascensão e radicalização dos movimentos populares fora do controle 
estatal são considerados os principais fatores desencadeadores da crise 
política que levaria ao fim o governo Vargas. De acordo com essa linha 
interpretativa, as classes dominantes ficaram temerosas com o avanço 
dos movimentos populares e discordaram do modo como o governo 
respondeu às exigências e demandas sociais que irromperam no cenário 
político. A oposição ao governo varguista foi crescendo paulatinamente 
à medida que o país era agitado por manifestações de protesto e greves 
trabalhistas. Críticas e pressões oposicionistas minaram rapidamente a 
estabilidade governamental. Na área da política institucional, os principais 
grupos oposicionistas ao governo de Getúlio Vargas faziam parte da 
União Democrática Nacional (UDN), que o acusavam constantemente 
de planejar um golpe em conluio com líderes sindicais objetivando criar 
um regime socialista no país (CANCIAN, 2013).
Pressionado por todos os lados, o suicídio de Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954 pode ter 
colocado fim às intenções de um golpe militar que, em razão disso, precisou ser engavetado, até que 
encontrasse, dez anos depois, um momento político propício.
O presidente se encontrava no Palácio do Catete, quando redigiu uma 
“carta‑testamento” e suicidou‑se com um tiro no peito. O impacto 
provocado pela notícia do suicídio de Vargas e a divulgação da 
carta‑testamento foi intenso e acabou se voltando contra a oposição. 
Grandes manifestações populares de apoio ao ex‑presidente estouraram 
em várias cidades do país. Comícios organizados por líderes sindicais 
e políticos ligados ao getulismo responsabilizavam a UDN e o governo 
norte‑americano pelo fim dramático de Getúlio. Órgãos de imprensa, 
108
Unidade II
como o jornal O Globo entre outros, e a embaixada dos Estados Unidos 
foram alvo de ataques populares. Greves de trabalhadores também 
ocorreram como forma de protesto (CANCIAN, 2013).
Figura 42 – O periódico Última Hora anuncia o suicídio de Getúlio Vargas
Disponível em: https://bit.ly/3NV8ULS. Acesso em: 16 jun. 2022. 
De volta ao contexto continental, é preciso destacar que foi da América Central que surgiram dois 
movimentos revolucionários que mudaram a fisionomia política da América Latina. Na Nicarágua, o líder 
revolucionário Augusto César Sandino é lembrado até hoje como herói nacional. O mesmo acontece em 
Cuba em relação a Ernesto “Che” Guevara. Ambos inscrevem seu nome na história ao resistirem armados 
às forças ditatoriais locais fortemente apoiadas pelos norte‑americanos. Por interesses geopolíticos, 
Estados Unidos e Grã‑Bretanha competem por influência sobre a Nicarágua. Em 1907, os americanos 
apoiam a revolução que depõe o então presidente liberal e ditador José Santos Zelaya e intervêm em 
órgãos estratégicos de governo, como o Banco Central. A presença do poder americano na Nicarágua, 
habitual, torna‑se ostensiva.
Em 1927, Sandino lidera uma rebelião contra a presença das forças norte‑americanas no país. Por 
meio de guerrilha, ele resiste até 1933, quando os Estados Unidos se retiram do país, após um processo 
eleitoral que define Juan Bautista Sacasa como presidente. Sacasa é um dos membros revolucionários 
que, ao lado de Sandino, deu início à revolta contra os americanos. Entretanto, diante da promessa 
americana de que a Nicarágua promoveria eleições para presidente, Sacasa se acomoda e acaba eleito. 
Ele e Sandino se reconciliam. No ano seguinte, o general Anastasio Somoza, sobrinho de Sacasa, no 
controle da Guarda Nacional, executa Sandino. E mais dois anos depois, lidera um golpe de Estado e se 
declara presidente. Os Somoza vão governar a Nicarágua por cerca de 40 anos.
Em 1962, o país vê nascer a Frente Sandinista de Libertação Nacional – FSLN, movimento de caráter 
libertário, cujo nome é uma homenagem ao revolucionário Sandino. A Frente dá início a uma revolução 
em 1978, processo que se estenderá até 1990. Cria a Junta de Governo de Reconstrução Nacional, 
coordenada por Daniel Ortega. Em 1985 a Junta é dissolvida, e Daniel Ortega prossegue como presidente. 
109
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Figura 43 – Nicarágua, no destaque
Disponível em: https://bit.ly/3Qqcek6. Acesso em: 16 jun. 2022. 
Em Cuba acontece outro processo revolucionário que, da mesma forma, implica as forças contrárias 
estadunidenses. É na pequena e estratégica ilha que acontece, em 1959, um dos mais conhecidos 
movimentos políticos do século XX, liderado por Fidel Castro. O país era então presidido por Fulgêncio 
Batista, alinhado política e economicamente com os Estados Unidos – época em que Cuba era um 
destino turístico regular até mesmo para marinheiros americanos, que usavam a ilha para se divertir, 
sobretudo em prostíbulos e bares, quando retornavam de exercícios militares. A determinação de Fidel 
no sentido da libertação tanto econômica quanto moral da ilha em relação aos Estados Unidos embalava 
a visão de mundo dos insurgentes. A ilha se tornaria socialista, em meio a uma América capitalista.
Figura 44 – Fidel Castro
Disponível em: https://bit.ly/3MVcFQe. Acesso em: 16 jun. 2022.
110
Unidade II
Entre os anos 1950 e 1960, o cenário mundial é o da Guerra Fria, protagonizada pelos Estados Unidos 
e pela União Soviética. A tomada do poder em Cuba vai se tornar um fato tão expressivo externamente 
quanto para o próprio país. Afinal, a ilha está a menos de 200 km de Miami, Flórida, EUA. Assim que Fidel 
Castro institui o sistema econômico socialista e declara apoio aos soviéticos, as tensões aumentam, na 
medida em que Cuba pudesse vir a servir aos camaradas como uma estratégica base militar.
Em 1961 é deflagrado um movimento contrarrevolucionário, com apoio e coordenação americanos: 
um grupo paramilitar cubano de pouco mais de mil homens exilados pelo novo regime político, treinado 
e apoiado pela Agência Central de Inteligência (CIA), promove a Invasão da Baía dos Porcos, ao sul da ilha 
de Cuba, com a intenção de derrubar o governo castrista. John Kennedy, eleito presidente dos Estados 
Unidos há apenas alguns meses, apoia a ação informalmente, para não correr o risco de vincular seu 
governo oficialmente à ação e acabar acirrando ainda mais a tensão internacional com o Leste Europeu.
Mas a tentativa é frustrada e, mais que isso, vai elevar bastante o risco da deflagração de uma guerra 
mundial. Os contrarrevolucionários não conseguem resistir a mais de três dias, graças à também bem 
treinada e armada defesa cubana, então apoiada pela URSS. E o que o ataque consegue gerar é um 
mal‑estar decisivo para que os soviéticos decidam instalar dezenas de mísseis atômicos em Cuba. Não 
bastasse o gesto atrapalhado e considerado provocativo, os Estados Unidos vinham intensificando sua 
posição ofensiva na Europa com a instalação de mísseis nucleares na Itália, Inglaterra e Turquia, países 
vizinhos à União Soviética.
A reação soviética parece óbvia e muda o status da Guerra Fria. Apesar do medo recíprocoda 
capacidade de destruição que existe entre Estados Unidos e URSS – o que garantia o aparente controle 
da situação –, a chegada de mísseis soviéticos em Cuba vai se tornar um dos momentos mais aflitivos da 
segunda metade do século XX. Para o pesquisador da Universidade Nacional de Brasília, Carlos Federico 
Domingues Ávila,
A humanidade prendeu a respiração naquela semana de outubro de 1962. 
Entre os dias 22 e 28, o planeta acompanhou, incrédulo, a mais grave 
de todas as crises do período da Guerra Fria, a tensão entre os blocos 
capitalista e comunista, liderados, respectivamente, por Estados Unidos e 
União Soviética, entre 1947 e 1991. Documentos secretos recentemente 
disponibilizados no Brasil e em outros países confirmam a extrema 
gravidade daquele episódio. O mundo esteve à beira da Terceira Guerra, 
do holocausto nuclear e, eventualmente, do extermínio da humanidade. 
Quase meio século depois, a crise dos mísseis soviéticos em Cuba ainda é 
motivo de debates acalorados.
A descoberta de bases soviéticas em território cubano, onde eram montados 
42 mísseis de alcance intermediário com ogivas nucleares dez vezes mais 
poderosas que as lançadas contra Hiroshima, e com capacidade para atingir 
quase todo o território dos Estados Unidos – bem como outros países do 
continente americano –, deu início à crise sem precedentes no pós‑Segunda 
Guerra. Em 22 de outubro de 1962, o então presidente dos Estados Unidos, 
111
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
John F. Kennedy (1917‑1963), anunciou em rede nacional de rádio e 
televisão a imposição do que chamou de “quarentena”, que, na verdade, 
era um bloqueio naval, estendido a todos os navios suspeitos de transportar 
armas ofensivas em direção à ilha de Cuba, que adotara o socialismo em 
1961 e se aproximara da URSS.
Kennedy também exigiu a imediata retirada dos mísseis e bombardeiros 
soviéticos do país caribenho, determinou rigorosa prontidão das Forças 
Armadas americanas em todo o planeta e manifestou interesse numa 
saída negociada que pusesse fim ao conflito. Ao mesmo tempo, o governo 
revolucionário comandado por Fidel Castro desde 1959 anunciou mobilização 
nacional em Cuba e a disposição de resistir em caso de invasão da ilha. O 
governo soviético, então dirigido pelo premier Nikita Kruschev (1894‑1971), 
anunciou medidas semelhantes, ainda que menos ostensivas. Outros países 
também reagiram à situação tão preocupante criada na bacia do Caribe 
(ÁVILA, 2012).
A revista Veja, que já era um conhecido periódico àquele tempo, estampou a manchete “A crise dos 
mísseis – o dia em que chegamos perto do fim”, posicionando o leitor sobre o nível de perigo a que se 
chegou, trazendo na capa três ícones mundiais e protagonistas do episódio: Fidel Castro, John Kennedy 
e Nikita Kruschev, respectivamente os Chefes de Estado de Cuba, Estados Unidos e União Soviética. Sob 
olhar jornalístico, mais humanizado e até dramático, foi dessa forma que a revista narrou o que teria 
sido o momento‑chave da crise:
A intrepidez do comandante vermelho durou onze dias repletos de temores, 
reuniões secretas, mobilizações militares e lances de desespero. Ironia 
suprema, Nikita Kruschev, o soberano de um império que se vangloria de sua 
frieza e destemor diante do sentimentalismo dos ocidentais, foi o primeiro 
a sucumbir. Na noite do dia 26, a Casa Branca recebia uma mensagem 
incomum. No lugar dos comunicados impessoais e sisudos geralmente 
assinados por Kruschev, chegava uma carta extensa e franca, claramente escrita 
sob extrema comoção. Concluiu‑se que os nervos de aço de Kruschev 
haviam fraquejado – ele tomara para si a decisão de oferecer um acordo 
aos americanos, e redigira a carta de próprio punho, sem consultar a cúpula 
comunista. Sua proposta: Kennedy prometeria jamais atacar Cuba, todos os 
mísseis iriam embora. “Entendemos perfeitamente que, se atacarmos vocês, 
vocês responderão da mesma forma”, escreveu Kruschev. “Somos pessoas 
normais, que compreendemos e avaliamos corretamente a situação. Só 
lunáticos e suicidas poderiam agir de outra forma. Não queremos destruir 
seu país, mas sim, apesar das nossas diferenças ideológicas, competir 
pacificamente, e não por meios militares. Somente um louco é capaz de 
acreditar que as armas são os principais meios de vida de uma sociedade. 
Se as pessoas não mostrarem sabedoria, elas entrarão em confronto, e a 
exterminação recíproca começará.”
112
Unidade II
Os americanos foram dormir otimistas com a chance de acordo, mas ainda 
teriam mais um dia de angústia pela frente. Provavelmente convencido 
pelos camaradas de partido, Kruschev divulgou outra mensagem, desta vez 
de forma pública, colocando outra exigência na conta dos americanos: a 
remoção de seus mísseis na Turquia, vizinha da URSS. Moscou comparava 
a presença das armas dos EUA no país à ameaça dos mísseis soviéticos 
em Cuba. Kennedy lustrou a cara‑de‑pau e decidiu ignorar o segundo 
recado: preparou uma resposta apenas para a carta original de Kruschev. 
Inacreditavelmente, os momentos de espera por uma definição do russo 
foram, na verdade, os mais perigosos dos treze dias de crise. Se houve um 
dia em que a pior das guerras esteve mesmo perto de começar, esse dia foi 
sábado, 27 de outubro de 1962 (VEJA, 1962).
Figura 45 – Capa da revista Veja da edição de outubro de 1962
Disponível em: https://bit.ly/3mMMhNP. Acesso em: 10 jun. 2015.
A crise é contida, mas a intolerância de parte a parte faz com que a ameaça se mantenha latente. A 
ONU – Organização das Nações Unidas – passará a ser um palco importante dos debates internacionais. 
De algum modo, a entidade ajuda a regular as tensões, fazendo crer que há espaço onde quebra‑cabeças 
diplomáticos possam ser montados a partir do esforço de todos. Durante um dos encontros promovidos 
pela Organização nesse período, dezembro de 1964, um dos líderes mais reconhecidos da revolução 
cubana e ministro de governo, Ernesto “Che” Guevara, chega a apelar pelo fim do monitoramento 
militar americano e pelo direito à soberania de Cuba no sentido de consolidar seu sistema socialista.
113
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Exemplo de aplicação
Pesquise e leia na internet matérias jornalísticas recentes sobre a reaproximação entre Cuba e 
Estados Unidos, após mais de 50 anos de rompimento diplomático. Procure compreender, em especial, 
o chamado “embargo econômico” imposto a Cuba desde 1962, seus efeitos e a possibilidade iminente 
de sua suspensão.
“Che”, como é chamado, reclama de voos norte‑americanos de reconhecimento (gravação de 
imagens) não autorizados em espaço aéreo cubano, assim como de estranhas abordagens marítimas nos 
arredores da ilha, entre outras iniciativas americanas beligerantes. Exige liberdade e encerra seu discurso 
entoando o lema “pátria ou morte”. É ovacionado pela plenária durante minutos. A ONU disponibiliza um 
vídeo desse discurso em: http://www.un.org/content/es/_vidout/video740.shtml. Médico e argentino, 
“Che” é amigo pessoal de Fidel desde 1954, quando Castro já liderava um grupo de exilados cubanos no 
México. Ambos são confidentes, dividem os principais momentos da revolução desde a estratégia inicial, 
tornam‑se parceiros e símbolos do anti‑imperialismo norte‑americano, como eles mesmos se definiam.
Figura 46 – O argentino Ernesto “Che” Guevara
Disponível em: https://bit.ly/39nk0KF. Acesso em: 16 jun. 2022.
A atuação de “Che” (expressão que ele usa sempre que se dirige a alguém) não se limita aos desafios 
da América Latina. Sob forte influência literária de esquerda, fomentada desde a adolescência, o líder 
sonha em levar o socialismo a toda a América Latina. Ele ainda lutará no Congo (África), e ao voltar à 
América Latina, na Bolívia. Era conhecido pelo modo implacável como lidava com os inimigos. É, até 
hoje, muito criticado pelo elevado número de mortes que impôs aos adversários políticos.
114
Unidade II
Em 1965, “Che” parte de Cuba para o Congo, país considerado estratégico para a Guerra 
Fria, onde ele lidera uma tentativa frustradade promover os ideais de esquerda contra a ordem 
capitalista local. A ideia de que a experiência da revolução e algumas centenas de homens 
bastariam para disseminar o ideal socialista cai por terra, uma vez que a própria sociedade 
local não se convence a aderir ao movimento. Pouco tempo depois Guevara é convencido pelos 
próprios cubanos a regressar. Ele voltará, mas dessa vez determinado a combater na Bolívia, onde 
espera ter mais sucesso. Não terá. As condições da guerrilha serão diferentes, o seu conhecimento 
geográfico mais limitado e a própria população, a exemplo da do Congo, não estará disposta 
a servir aos anseios de uma revolução. “Che” será preso e morto, como ainda veremos no final 
desta unidade.
A notícia de que “Che” havia escrito um diário durante sua estada no Congo é revelada em 
2000. Assim a Folha de S. Paulo registrou a informação, destacando os momentos finais da 
trajetória do líder:
Um capítulo secreto da história dos movimentos revolucionários dos anos 
1960 acaba de ser desvendado. Depois de mais de 30 anos, está sendo 
publicado o diário de Che Guevara na guerra do Congo, uma tentativa 
fracassada de levar a revolução cubana para a África. [...]
Guevara embarcou para a aventura africana em 1965, aos 37 anos, 
usando o codinome “Tatu” (número três em swahili). Seu projeto era 
aproveitar sua experiência como líder da revolução cubana para abrir 
um front contra o “imperalismo yankee” num momento de turbulência 
política na África. [...]
Guevara chegou ao leste do Congo acompanhado por 300 soldados cubanos 
com o objetivo de liderar os grupos rebelados que se apresentavam como 
herdeiros das idéias de Lumumba. Mas tudo que ele planejou deu errado. 
“Essa é a história de um fracasso”, escreveu Guevara num dos trechos do 
diário publicados pelo jornal Guardian.
Guevara esperava encontrar revolucionários, mas achou líderes mais 
preocupados em brigar entre si e desviar dinheiro da guerrilha para se 
embriagarem com prostitutas em luxuosos hotéis de capitais africanas.
“A idéia que nos guiou era assegurar que homens experientes em batalhas 
de libertação lutem lado a lado com homens sem experiência e tragam o 
que nós chamamos de “cubanização” dos congoleses. Mas o que se verá 
é o exato oposto: a congolização dos cubanos que ocorreu durante esse 
período”, escreveu Guevara.
Numa carta escrita para Fidel Castro, Guevara revela seu desapontamento 
com o movimento: “Eu queria fazer uma frente única para continuar a luta 
115
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
pela libertação da África, mas fomos afetados pelo atraso e pela falta de 
desenvolvimento político‑ideológico da população.”
Em novembro de 1965, Guevara desistiu de “liberar um país que não quer 
lutar” e pediu ajuda a Cuba para resgatar seus soldados. Che queria ficar 
no Congo como um exemplo de dever revolucionário, mas acabou sendo 
convencido a voltar para Havana (GRINBAUM, 2000).
Maria Paula Araújo ressalta que:
Nunca será demais reforçarmos a ideia do impacto da Revolução Cubana 
e, em especial, da figura de Che Guevara, para os jovens de esquerda, 
não só da América Latina mas de todo o mundo. Régis Debray, na época 
um jovem escritor francês, recém‑saído da universidade, que veio para 
a América Latina lutar com Che Guevara, tornou‑se um exemplo para 
inúmeros outros jovens europeus. Debray seguiu com Guevara para a 
Bolívia, onde ficou preso por quatro anos. O guevarismo – e sua noção 
particular de heroísmo, combate, ação e urgência revolucionária, na 
qual se justificava matar e morrer pela revolução – foi particularmente 
marcante para os militantes da luta armada na América Latina (ARAÚJO, 
2008, p. 254).
Não exatamente movidos pelos mesmos sonhos de “Che”, mas como se estivessem sintonizados 
com ele ao menos em seu espírito ousado e crítico, jovens de toda parte farão dos anos 1960 um 
marco que ganhará o nome de “contracultura”, período em que muitos valores estabelecidos passarão 
a ser questionados e combatidos. É como se houvesse chegado a hora de se discutir a legitimidade dos 
sistemas instituídos, principalmente o capitalista, mas também o socialista. Como se “Che” tivesse sido 
capaz de se antecipar a uma ideia cuja hora estivesse por chegar.
Jovens começam a se organizar e expressar seu repúdio à insensibilidade para questões humanas 
centrais, como os direitos civis e políticos mais elementares, e a defender outras maneiras de pensar a 
arte, a cultura e a própria ideia de felicidade. Nudismo, emancipação sexual e outras práticas libertárias 
ganham força e expressão. Diversos movimentos civis encontram na contracultura a atmosfera ideal 
para a sua eclosão. Dentre os muitos gestos que ajudam a ilustrar essas iniciativas está a nudez praticada 
em grandes shows de rock nos Estados Unidos. O guitarrista Jimi Hendrix torna‑se um ícone mundial 
nesse período.
116
Unidade II
Figura 47 – Flagrante do mais famoso festival de música 
da contracultura: Woodstock – “3 dias de paz e música”
Disponível em: https://bit.ly/3mP757i. Acesso em: 16 jun. 2022.
A postura ocidental beligerante, com tendências para a guerra, é discutida em diversas partes do 
mundo, principalmente nos próprios Estados Unidos, que, além de serem um dos protagonistas da 
Guerra Fria, enfrentam uma guerra que se torna emblemática, contra o Vietnã do Norte, comunista. 
O Vietnã do Sul, capitalista, e o do Norte disputam entre si a hegemonia na região. A disputa tem 
importância geopolítica, por conta das repercussões do resultado quer para o sucesso do comunismo, 
quer para o sucesso liberal, capitalista. Embora já apoiassem o Vietnã do Sul com todo tipo de recurso, 
será a partir de 1965 que os Estados Unidos entrarão na guerra efetivamente.
A capacidade fotográfica da imprensa de registrar a dor e a perda de vidas é maior e tecnicamente 
superior àquela que se tinha na Segunda Guerra. Os efeitos midiáticos junto à sociedade americana 
são agora muito mais intensos. Soldados que também são filhos, netos, primos, amigos morrem aos 
milhares sob as objetivas atentas, fortalecendo a percepção de que a guerra é equivocada, desastrosa e 
irremediável. Os resultados militares não são aqueles que os americanos vislumbravam inicialmente, a 
guerra dura mais do que se poderia imaginar, de 1959 a 1975, e até hoje milhares de famílias americanas, 
além de inúmeros ex‑combatentes, veem a guerra como um erro histórico.
 Lembrete
A Guerra do Vietnã é lembrada até hoje por grande parte da sociedade 
americana como um equívoco histórico, por ter levado à morte tantos 
jovens americanos e também vietnamitas desnecessariamente. Inúmeros 
ex‑combatentes amputados (por conta de minas terrestres) ainda protestam 
pelas consequências.
117
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
A contracultura atinge seu momento mais marcante em 1968. Até hoje ele é chamado por muitos de 
“o ano que não terminou”, por conta de ter estabelecido uma espécie de marco, já que é a partir dele que 
a juventude, principalmente no Ocidente, passa a se comportar de forma mais intensa, participativa e 
questionadora em relação à ordem estabelecida. Os movimentos são pacíficos, em forma principalmente 
de grandes concentrações em vias públicas, e eventualmente provocam choques com as diversas polícias 
locais. O repúdio não se limita à visão de mundo ocidental, mas se opõe também às intolerâncias 
comunistas e ao modo como o socialismo restringe as liberdades. Sinal de que a sociedade civil não 
suporta mais conviver com os efeitos da Guerra Fria, como o permanente estado de medo.
6 DITADURAS MILITARES
Para o Brasil, os anos da contracultura coincidem com o período da segunda ditadura militar vivida 
pelo País no século XX (depois que Getúlio Vargas instaurou o Estado Novo entre 1937 e 1945). Em 1961, 
o presidente Jânio Quadros, há meses no poder, renuncia, abrindo a vaga para o vice‑presidente, João 
Goulart. À época, presidente e vice eram eleitos separadamente, não havia a necessidade de estarem 
vinculados entre si, ao mesmo partido político.E o vice de Jânio era tido como um simpatizante do 
comunismo – ele estava, aliás, em visita oficial à China comunista quando da renúncia do titular. De 
acordo com a Comissão Nacional da Verdade, instituída pela Presidência da República e que pesquisou 
sobre a violação de direitos durante a ditadura militar (1964‑1985):
Segundo os líderes do golpe, Joao Goulart era um agente da subversão no 
pais, perigoso para a segurança nacional, abertamente identificado com o 
comunismo internacional. Em um regime presidencialista como o brasileiro, 
no qual o chefe do Executivo possuía um grande poder discricionário, sua 
posse seria fatalmente um veículo desagregador da ordem e da segurança 
nacional (BRASIL, 2014, p. 94).
O governo de João Goulart – ou Jango, como é mais conhecido – é conturbado e incomoda alguns 
setores da sociedade e os militares, estes sempre alertas ao contexto internacional da Guerra Fria. O 
clima de instabilidade política potencializado pelo receio de que Jango enveredasse pelo caminho do 
socialismo, como acontecera com Cuba, leva o país a um nível de instabilidade que aos olhos mais 
conservadores justifica uma tomada de posição radical. E a partir de uma sucessão de manobras 
decididas no interior da cúpula militar do País, o exército acaba depondo o presidente em 31 de março 
de 1964. Jango busca exílio no Uruguai.
Em 1964, o governo João Goulart via‑se acuado: as direitas civis alardeavam 
que as reformas de base visavam comunizar o país; o Congresso Nacional, 
de maioria conservadora e, em boa parte, representante dos grandes 
latifundiários, recusava‑se a aprovar o projeto de reforma agrária sem 
indenizações aos proprietários; as esquerdas, que lutaram para garantir 
sua posse, exigiam veementemente a realização imediata das reformas, 
sem acordos ou recuos. De aliadas, tornaram‑se ferozes contestadoras. 
Concomitantemente, os setores militares golpistas já se articulavam visando 
destituir o presidente. Nesse contexto de ebulição política e crescente 
118
Unidade II
radicalização, das esquerdas e das direitas, o Comício de 13 de março de 
1964, realizado na Estação Ferroviária Central do Brasil, no centro do Rio 
de Janeiro (então Estado da Guanabara), pode ser considerado um estopim 
para os acontecimentos que se seguiram. No famoso comício, organizado 
pelo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e apoiado por Goulart, o 
presidente discursou sobre a necessidade de mudanças estruturais para 
o desenvolvimento e a diminuição das desigualdades socioeconômicas 
no país. O carro‑chefe desse debate era o seu comprometimento com a 
realização de uma reforma agrária urgente, que tinha como primeiro passo 
o anúncio do decreto da Superintendência da Política da Reforma Agrária, a 
Supra, que possibilitava a desapropriação de terras às margens de rodovias 
e ferrovias federais. Os pronunciamentos do presidente causaram grande 
comoção em setores conservadores que desejavam sua derrubada do 
governo. O medo da radicalização dessas medidas e de um suposto “perigo 
comunista” levou milhares de pessoas às ruas nas “Marchas da Família 
com Deus pela Liberdade”, organizadas por clérigos e entidades femininas, 
realizadas em várias cidades do país, sendo em algumas delas apoiadas pelos 
seus governantes. Assim como esses setores da classe média, a burguesia 
industrial ligada ao capital externo temia que medidas nacionalistas e 
progressistas de Goulart se recrudescessem, uma vez que contrariavam seus 
interesses econômicos. O apoio desses setores da sociedade civil fez com 
que vários historiadores e demais pesquisadores caracterizassem o golpe de 
1964 como “civil‑militar” e não somente militar, como já se convencionou 
denominar (ARAÚJO, 2013, p.15).
A decisão de depor Jango é atribuída ao necessário cuidado com a integridade institucional do País. A 
percepção de que o Brasil vive em desordem extrapola os limites do jogo político e supostamente é uma 
ameaça também às instituições, servindo como justificativa para que as forças armadas administrassem 
diretamente a crise. Humberto de Alencar Castelo Branco, um dos generais que articulam o golpe, é 
empossado dias depois como primeiro presidente do novo regime.
Dentre os compromissos que a junta militar assume imediatamente junto à sociedade há a promessa 
da convocação de eleições presidenciais em janeiro de 1966, quando provavelmente o País já estaria 
estável institucionalmente (o período político que antecedeu à saída de Jânio Quadros e que continuou 
lhe sucedendo com a crise gerada pela sua renúncia trazia à tona, segundo os militares, uma série de 
ameaças comunistas internacionais, tal qual a justificativa alegada por Getúlio Vargas em 1937 para 
liderar o golpe que instaurou o Estado Novo).
Nem mesmo a imprensa interpreta o momento como um golpe de Estado. A título de exemplo, 
conforme no site http://acervo.folha.com.br/, do jornal Folha de S. Paulo, estas são as manchetes de 
11 edições diárias do jornal a partir do dia 31 de março de 1964, data da deposição do presidente 
João Goulart:
119
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
• 31/3 – Os Clubes Naval e Militar tomam posição conjunta.
• 1/4 – Segundo Exército domina o Vale do Paraíba.
• 2/4 – Congresso declara Presidência vaga; Mazzilli assume.
• 3/4 – Lacerda propõe: eleição já do novo presidente.
• 4/4 – Kruel diz à Folha por que Goulart caiu. O Congresso vai eleger o novo presidente na próxima 
semana.
• 5/4 – Governadores: Castelo Branco para presidente.
• 6/4 – Hoje no Senado projeto de eleição indireta.
• 7/4 – Combate sistemático ao comunismo e à corrupção.
• 8/4 – Articula‑se o nome de Kruel para presidente.
• 9/4 – Iminente a decretação de lei de emergência.
• 10/4 – Vigora desde ontem o Ato Institucional.
Outros jornais igualmente importantes e representativos da chamada grande imprensa adotam 
comportamento editorial similar. É notório que essa postura jornalística não é contestadora ou ao menos 
crítica. Ao contrário, as chamadas de capa vão reportando o dia a dia como se nada de especial estivesse 
em curso. Alguns jornais se protegem das críticas a essa apatia destacando que aquele momento, de 
extrema conturbação, exigia uma posição firme de defesa das instituições, e que não se podia perceber 
até então que os militares não cumpririam a promessa de convocar eleições assim que possível. Daí 
a ideia, para muitos, de que o golpe, na verdade, não se dá no início do processo, em 1964, mas no 
decorrer dele, a partir do ponto em que os militares decidem não mais deixar o poder.
Outro exemplo da postura tolerante da imprensa na época, este mais veemente a favor da decisão 
militar, traz na capa do diário Correio da Manhã de 1º/4/64 um texto que se inicia assim:
“Fora! (título). A Nação não mais suporta a permanência do sr. João Goulart 
à frente do Governo. Chegou‑se ao limite final a capacidade de tolerá‑lo 
por mais tempo. Não resta outra saída ao sr. João Goulart senão entregar o 
governo [...].”
Matéria publicada pela Carta Capital em 17/1/2014, assinada por Marsílea Gombata, dá publicidade 
à tese de doutorado da historiadora Beatriz Kushnir, segundo a qual a imprensa brasileira acabou por se 
acomodar à censura que vigorou no país de 1964 a 1985:
A resistência, quando houve, deu‑se na imprensa alternativa, enquanto 
os grandes veículos se adaptaram para conseguir coexistir com os 
censores exigidos pelos militares. A tese é defendida pela historiadora 
120
Unidade II
Beatriz Kushnir, que mergulhou em documentos do Arquivo Nacional 
para destrinchar a ação dos censores nas redações dos principais jornais 
do País. [...] No livro, que é nada palatável para a imprensa brasileira e 
foi pouco divulgado, a doutora em história lembra que antes mesmo 
de os militares tomarem o poder, a própria imprensa pedia o golpe em 
colunas e editoriais, como o Fora!, no qual o Correio da Manhã pediu a 
saída de João Goulart em 1º de abril de 1964, data em que o golpe foi 
consolidado (GOMBATA, 2014).
Aos olhos dos próprios militares, o queestá em curso é uma revolução. Portanto, necessária e 
justificável. Estes são os dois primeiros parágrafos do primeiro Ato Institucional baixado pelo novo 
governo, o AI‑1, assinado pelo general do exército Arthur da Costa e Silva em 9/4/1964:
É indispensável fixar o conceito do movimento civil e militar que acaba 
de abrir ao Brasil uma nova perspectiva sobre o seu futuro. O que 
houve e continuará a haver neste momento, não só no espírito e no 
comportamento das classes armadas, como na opinião pública nacional, 
é uma autêntica revolução.
A revolução se distingue de outros movimentos armados pelo fato de que nela se traduz, não o 
interesse e a vontade de um grupo, mas o interesse e a vontade da Nação (BRASIL, 1964).
Em seu artigo nono, o documento assegura a convocação de eleições presidenciais, o que ajuda a 
justificar o próprio Ato: “Art. 9º – A eleição do Presidente e do Vice‑Presidente da República, que 
tomarão posse em 31 de janeiro de 1966, será realizada em 3 de outubro de 1965�. Eleições que jamais 
se realizarão. O Artigo seguinte, menos observado quando da publicação do Ato, é que vai provocar 
consequências bastante sérias:
Art. 10 – No interesse da paz e da honra nacional, e sem as limitações previstas 
na Constituição, os Comandantes‑em‑Chefe, que editam o presente Ato, 
poderão suspender os direitos políticos pelo prazo de dez (10) anos e cassar 
mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluída a apreciação 
judicial desses atos (BRASIL, 1964).
O ano de 1966 é atropelado pelo governo, e ao perceber que os militares tomaram gosto pela 
administração do Estado, setores organizados começam a reagir. A própria imprensa, no início conivente 
ou indiferente, já não enxerga mais o governo como antes. Denúncias de abusos de poder de todo tipo 
se acumulam. Estudantes reagem, vão para as ruas, e pouco a pouco a atmosfera do país vai dando 
lugar a pedidos de mudança e manifestações contra o governo. Não vai demorar para que os militares 
interpretem as manifestações como uma renovada ameaça à segurança nacional.
Até que, em 1968, o governo baixa o AI‑5 – Ato Institucional número 5, que, na prática, aprofunda 
a tomada de poder iniciada em 1964, suspendendo os poderes do Congresso Nacional, assim como dos 
121
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
partidos políticos e sindicatos, entre muitas outras arbitrariedades. A imprensa passa a ser monitorada 
e censurada diretamente, sem subterfúgios. As polícias dispõem do direito de prisão sem flagrante 
nem mandado judicial, mediante avaliação de risco à ordem e, claro, à segurança nacional. É, agora, 
indiscutivelmente, um golpe de Estado.
O AI‑5 aprofundava a autorização para as cassações políticas, estabelecendo 
que o presidente da República, sem as limitações previstas na Constituição, 
poderia suspender os direitos políticos de qualquer cidadão pelo prazo de 
dez anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais. O 
mencionado ato também suspendia as garantias constitucionais ou legais 
de vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício 
em funções por prazo certo. Ficava suspensa (artigo 10o) a garantia do 
habeas corpus, instrumento usado por prisioneiros e perseguidos políticos 
do regime para garantir sua vida e liberdade. Finalmente, todas as ações 
facultadas ao presidente não eram passíveis de recurso legal. O AI‑5 excluía 
de apreciação judicial todos os atos alcançados por ele e por seus atos 
complementares, bem como os respectivos efeitos. O país não tivera, em 
toda a sua vida republicana, um conjunto de medidas que concentrasse 
tanto poder discricionário nas mãos de um chefe de Estado. Punido com a 
decretação de recesso, o Congresso sofreu, em acréscimo, o imediato expurgo 
de parlamentares. Houve dezenas de cassações na Câmara baseadas no AI‑5. 
Começando com Marcio Moreira Alves e Hermano Alves, 51 deputados do 
MDB e 37 da Arena foram privados de seus mandatos. No Senado, houve a 
acusação de oito senadores. Assembleias estaduais foram fechadas, como 
as do Rio de Janeiro e de São Paulo (COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE, 
2014, p. 101).
Os argumentos do governo para justificar o AI‑5 continuam sendo os mesmos que justificaram a 
tomada de poder de 1964, supostas ameaças de esquerda fortalecidas pelo comunismo internacional. 
É preciso lembrar que o contexto internacional é o da Guerra Fria. Há apenas alguns anos, 1962, a crise 
dos mísseis entre URSS e os Estados Unidos levara o mundo a acreditar que a terceira guerra mundial 
estaria a um passo. Isto é, a argumentação pode, de fato, fazer sentido para quem queira acreditar no 
discurso oficial.
 Observação
Na reunião da cúpula militar que institui o Ato Institucional nº 5 em 1968, 
além dos generais, 23 ministros participam e se pronunciam individualmente. 
Por detrás de suas falas, sirenes policiais indicam o clima de tensão no entorno 
do Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Essa reunião foi gravada e o seu 
áudio está disponível em: https://bit.ly/2NCEsGu. Acesso em: 10 jun. 2015.
122
Unidade II
O período compreendido entre 1968 e 1973 será chamado mais tarde de “anos de chumbo”, em 
alusão à munição das armas de fogo. É o período mais violento vivido pelo Brasil recentemente no campo 
político, sob todo tipo de violação de direitos. Prisões arbitrárias, tortura, assassinatos, perseguições 
ideológicas, desaparecimento de presos políticos, muitos dos quais jamais seriam reencontrados. 
Algumas das principais redações jornalísticas chegam a contar com um censor de corpo presente, um 
agente do governo preparado para supervisionar o conteúdo editorial.
Na área do entretenimento, incluindo cinema, rádio, televisão, teatro e espetáculos, acontece o 
mesmo. Todo conteúdo de comunicação e arte, bem como o jornalístico e publicitário, está sob censura 
prévia (dependendo de autorização por escrito) ou posterior, com sansões que incluem até a prisão, nos 
casos mais extremos – sempre em nome da segurança nacional.
A sociedade vai reagir das mais diversas formas e na medida do possível. A música de protesto será 
uma delas. Em plena ditadura, 1973, Chico Buarque de Holanda grava “Apesar de você”, canção que se 
torna um dos hinos para os movimentos de esquerda da época. O desafio artístico de conseguir driblar a 
censura e obter autorização para a publicação acaba funcionando como prova de criatividade nos mais 
diversos setores das artes. A letra da canção é emblemática:
Apesar de você
Amanhã vai ser outro dia (x 3)
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu‑se de inventar o perdão.
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
123
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza
Agora tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar.
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença.
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia.
Cimo vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente.
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Fonte: Holanda (1970).
124
Unidade II
A censura não se limita a aspectos estritamente políticos, alcança também questões ligadas, 
por exemplo, à sexualidade e ao erotismo, assim como a todas as esferas da vidahumana em que o 
conservadorismo moral possa estabelecer limites. Nada escapa à censura nesse período. Alternativas 
como o funk, por exemplo, teriam sido impossíveis naquele período. A censura obrigava até autores 
e diretores de telenovelas a refazerem cenas e capítulos considerados inapropriados à moralidade 
pública, pelas mais diversas razões. Jornais alternativos, como O Pasquim, atuavam como trincheiras de 
resistência mantidas com humor, irreverência e espírito crítico.
Outras ditaduras militares, não por coincidência, surgem por meio de golpes de Estado e vão 
varrendo a América Latina durante a Guerra Fria (1945 – 1991). Todas elas se caracterizam por pelo 
menos três denominadores comuns: a) os golpes são justificados sempre de acordo com motivos 
muito semelhantes: supostas ameaças comunistas à segurança nacional, apoiadas provavelmente pelo 
comunismo internacional; b) os Estados Unidos apoiam todas essas iniciativas, uma vez que elas apontam 
para um suposto inimigo comunista que, em última instância, ameaça a segurança norte‑americana; e 
c) em graus de intensidade diferentes, todos esses governos adotam o terror como parte da sua política 
de Estado e padrão de conduta repressiva.
Em outras palavras, essa onda ditatorial está mais subordinada a uma certa lógica histórica do que 
a mera coincidência. A presença hegemônica americana está no epicentro dessa tendência continental. 
Por conta da profunda polarização internacional entre esquerda e direita e do medo permanente de 
manobras geopolíticas, os Estados Unidos não querem – ou não podem – permitir que o socialismo 
conquiste pontos estratégicos no cone sul. Cuba já é preocupante, um alerta para a possibilidade real 
da disseminação do socialismo no continente. O ideário marxista é então assustador para o mundo 
capitalista e, por extensão, seus governos representantes. Além disso, a instabilidade econômica que 
assola a região como um todo após a Segunda Guerra Mundial gera uma atmosfera conveniente para 
os discursos que reivindicam a ordem como condição para a recuperação econômica.
 Lembrete
Karl Marx foi o fundador da doutrina comunista. Atribui‑se a ele a crítica 
mais contundente já elaborada contra os ideais do capitalismo. Sua obra 
mais famosa é O Capital. Ele extrapolou o olhar de economista e propôs ao 
mundo um projeto político, em nome da igualdade social, uma vez que ele 
via o capitalismo como caminho para a injustiça social e para a dominação 
de uma classe de pessoas (proprietários de meios de produção) sobre outra 
(o operário).
Assim o professor Enrique Serra Padrós, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul, sintetiza a ideia:
Na origem das ditaduras latino‑americanas de segurança nacional (SN), 
situam‑se, pelo menos, dois fatores geradores de inúmeros desdobramentos 
e que, nas suas possibilidades de combinação, constituem elementos 
125
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
elucidativos para a compreensão dessas experiências. De um lado, o fator 
repressivo de tais sistemas decorreu da pressão exercida pelo capital 
internacional e pelas elites locais, para a imposição de um novo modelo 
de acumulação. Por outro, os regimes de SN resultaram da radicalização 
das contradições de classe e do avanço de projetos reformistas ou 
revolucionários, principalmente a partir da vitória da Revolução Cubana. 
Uma das principais premissas da Doutrina de Segurança Nacional (DSN), 
marco de diretrizes gerais presentes nas ditaduras da região, é a rejeição 
da ideia da divisão da sociedade em classes, pois as tensões entre elas 
entram em conflito com a noção de unidade política, elemento basilar 
daquela. Segundo os princípios da DSN, o cidadão não se realiza enquanto 
indivíduo ou em função de uma identidade de classe. É a consciência de 
pertencimento a uma comunidade nacional coesa que potencializa o 
ser humano e viabiliza a satisfação das suas demandas. Nesse sentido, 
qualquer entendimento que aponte a existência de antagonismos sociais 
ou questionamentos que explicitem a dissimulação de interesses de classe 
por detrás dos setores políticos dirigentes é identificado como nocivo 
aos interesses da “nação” e, portanto, deve ser combatido como tal. Mais 
do que isso, tal coesão política pressupõe o fim do pluralismo político, 
condição essencial para a resolução dos conflitos e de seus elementos 
centrífugos (PADRÓS, 2008, p. 143).
Nascerá, em 1975, uma iniciativa que dará nome a essa preocupação orquestrada: Operação Condor, 
uma aliança estabelecida entre os governos ditadores que incrementa o esforço de cooperação que já 
existia entre as ditaduras militares na região no sentido de combater o comunismo. O acordo, como 
que por mágica, apaga as fronteiras entre os países envolvidos no que diz respeito à perseguição e 
captura de suspeitos ou insurgentes. Para o historiador, mestre e doutor em ciências sociais Vitor 
Amorim de Angelo:
O nome do acordo era uma alusão ao condor, ave típica dos Andes e símbolo 
do Chile. Trata‑se de uma ave extremamente sagaz na caça às suas presas. 
Nada mais simbólico do que batizar a aliança entre as ditaduras de Operação 
Condor. Não à toa, foi justamente o Chile, sob os auspícios do governo de 
Augusto Pinochet, que assumiu a dianteira da operação.
Além do Chile, fizeram parte da aliança: Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai 
e Uruguai. Nos anos 1980, o Peru, então sob uma ditadura militar, também 
juntou‑se ao grupo. Pode‑se dizer que a operação teve três fases. A primeira 
consistiu na troca de informações entre os países‑membros. A segunda 
caracterizou‑se pelas trocas e execuções de opositores nos territórios dos 
países que formavam a aliança. A terceira ficou marcada pela perseguição e 
assassinato de inimigos políticos no exterior – muitas vezes no próprio exílio 
(ANGELO, 2008).
126
Unidade II
Sobre os assassinatos e desaparecimentos de presos políticos, o autor resume os números:
Calcula‑se que, apenas nos anos 1970, o número de mortos e 
“desaparecidos” políticos tenha chegado a aproximadamente 290 no 
Uruguai, 360 no Brasil, 2 mil no Paraguai, 3.100 no Chile e impressionantes 
30 mil na Argentina – a ditadura latino‑americana que mais vítimas 
deixou em seu caminho. Estimativas menos conservadoras dão conta de 
que a Operação Condor teria chegado ao saldo total de 50 mil mortos, 
30 mil desaparecidos e 400 mil presos (ANGELO, 2008).
Figura 48 – General Augusto Pinochet
Disponível em: https://bit.ly/3NVe5eM. Acesso em: 16 jun. 2022.
Augusto Pinochet governa o Chile com mãos de ferro entre 1973 e 1990, após liderar o golpe 
de Estado que destituiu o socialista Salvador Allende e que o levou à morte. Também apoiado pelos 
Estados Unidos, Pinochet tornara‑se general justamente sob o governo do seu antecessor. Eis aí outra 
característica recorrente na trama das ditaduras latino‑americanas: os principais articuladores golpistas 
estão sempre entre militares que em algum momento recente haviam sido homens de confiança do 
governo e do chefe a serem derrubados. Allende não aceita a ideia de se render a uma junta militar e 
escolhe o suicídio.
Salvador Allende venceu as eleições presidenciais de 1970 pela Unidade 
Popular (UP) – uma coalizão de esquerda que tinha como eixo os partidos 
Comunista (PC) e Socialista (PS), mais os Radicais, o Partido Social‑Democrata, 
a Ação Popular Independente e o Movimento de Ação Popular Unificado 
(Mapu) – e governou o Chile até o golpe militar de 11 de setembro de 1973, 
comandado pelo general Augusto Pinochet, que iria implantar uma ditadura 
que duraria os 17 anos seguintes. [...]
127
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
A queda de Allende – e é inevitável começar pelo fim – foi o resultado de 
ações legais e extralegais da direita chilena, com inegável apoio externo. Elas 
visavam desagregar paulatinamente a legitimidade do presidente por meio 
de um duplo processo: ataque frontal à legalidade das ações governamentais 
e, simultaneamente, estímulo ao recrudescimento da polarização ideológica,objetivando a neutralização da Democracia Cristã (DC), partido que ocupava o 
centro do espectro político chileno. O objetivo era levar a situação a um 
ponto de desinstitucionalização para, em seguida, desfechar o golpe final 
(AGGIO, 2008, p. 78).
Assim que assume o poder, Pinochet suspende a Constituição, dissolve o Congresso, proíbe o 
funcionamento de partidos políticos e impõe uma severa censura à imprensa. Milhares de pessoas 
seriam presas, muitas das quais foram torturadas e exiladas.
No Chile, imediatamente após o golpe de 1973, foi formada a Junta de 
Governo, composta por Augusto Pinochet (comandante‑em‑chefe do 
Exército), Gustavo Leigh (comandante da Força Aérea), César Mendoza 
(general diretor dos Carabineros) e José Tombio Merino (almirante da Armada) 
e foram anunciados os ministros. Assumiram o mando supremo da nação 
com a missão de “restaurar la chilenidad, la justicia y la institucionalidad 
quebrantadas”.
Os ministérios‑chave foram divididos entre essas quatro forças e nessa 
cúpula rapidamente se passou a discutir a necessidade de reforma da 
Constituição de 1925, com o objetivo precípuo de eliminar os resquícios 
legais que possibilitaram a subida de Salvador Allende ao poder, mesmo com 
uma minoria de votos (ANTUNES, 2008, p. 222).
A ONU, por meio da Comissão dos Direitos Humanos, ainda viria a condenar o líder por abusos 
de poder. A esse respeito, destaca a pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais Priscila 
Antunes que:
Em 16 de dezembro de 1977, ao condenar a atitude chilena, tanto em relação 
ao assassinato do ex‑ministro em Washington, quanto à constante violação 
dos direitos humanos naquele país, a assembleia geral da Organização das 
Nações Unidas (ONU) deu ensejo ao fortalecimento dessa pseudolegitimidade 
imposta pelo governo militar (ANTUNES, 2008, p. 224).
Em 1974, Pinochet cria a Dina – Direção de Inteligência Nacional, órgão de monitoramento, 
perseguição e repressão a subversivos, que ganhará outro nome em 1977, CNI – Central Nacional de 
Informações. Essa é mais uma marca desse tipo de regime: o serviço de inteligência e informação. É 
o que assegura a eficiência da repressão. Tal qual o diagnóstico médico, detectar precocemente as 
iniciativas subversivas é tarefa fundamental para neutralizá‑las, um ensinamento da escola americana.
128
Unidade II
Dessa forma a Dina, organismo técnico‑profissional dependente direto da 
Junta, tornou‑se responsável por coletar e reunir informações provenientes 
“de los diferentes campos de acción”, para auxiliar na produção de toda 
inteligência requerida para a formulação de políticas destinadas a proteger a 
segurança do país. Na prática, esse órgão dependeu diretamente do general 
Augusto Pinochet, pois de acordo com o general Gustavo Leigh, um dos 
principais articuladores do golpe militar, “nadie de la Junta podía meterse 
en la Dina” (ANTUNES, 2008, p. 226).
A Dina faz o serviço “pesado”, pois, diferentemente dos demais órgãos de governo, ela não tem de 
prestar contas a ninguém, exceto ao próprio ditador. Para não embaraçar os assuntos governamentais, 
é na Dina que a repressão política é concentrada, até que os Estados Unidos descubram que ela é 
a responsável pela morte do ex‑chanceler de Salvador Allende exilado em Washington, em 1976, e 
começam a rever o apoio a Pinochet:
O assassinato do general Letelier em 1976 marcaria o ápice do poder 
desses “exterminadores”, mas também o início de sua queda. Ao 
confirmar a relação existente entre esse assassinato e a Dina, o governo 
norte‑americano passou a pressionar o general Pinochet para extingui‑la 
e restaurar o estado de direito. Somada às críticas internas de importantes 
setores de dentro do governo e das Forças Armadas, já descontentes com 
o poder assumido por Contreras, a pressão norte‑americana produziu 
efeito. A atuação da Dina estaria ameaçando a legitimidade que vários 
setores que apoiaram o golpe procuravam construir, não apenas dentro 
do país, mas perante a comunidade internacional. O argumento para a 
extinção da Dina extrapolava a questão dos direitos humanos e atingia 
o questionamento em relação à eficiência da agência de inteligência, 
incapaz de prever possibilidades de guerra entre o país e seus vizinhos, 
que ameaçariam o regime político vigente (POLICZER, 1998, p. 11‑16 apud 
ANTUNES, 2008, p. 229).
Em 1980, o líder chileno consegue aprovação popular por meio de um plebiscito considerado 
manipulado, promulga uma nova constituição e estende o seu mandato presidencial por dez anos. 
Para a oposição, a operação foi fraudulenta, mas na prática funcionou e deu uma década mais a 
Pinochet. Antunes ressalta que “podemos afirmar que o regime militar chileno foi caracterizado por 
um elevadíssimo grau de institucionalização do regime e por uma personificação do poder nas mãos do 
general Pinochet”. Possivelmente, o ditador que mais concentrou poderes em suas próprias mãos.
A ditadura chilena se encerra em março de 1990, com a posse do novo presidente civil, Patricio 
Aylwin, eleito democraticamente, após intensa pressão interna e internacional pela saída de 
Pinochet. Em 1998, aos 83 anos, o ex‑líder é preso em Londres por atos cometidos durante seu 
governo. Em 2004, a Suprema Corte Chilena o colocou em prisão domiciliar pelo desaparecimento 
de nove ativistas da oposição. Ele morre em 2006.
129
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
No Paraguai, o general Alfredo Gustavo Stroessner chega ao governo em maio de 1954, de onde só 
sairia 34 anos depois. O período conturbado que precede a sua ascensão é marcado por sucessivos golpes, 
por meio dos quais Strossner se mantém conectado ao poder. Com o Partido Colorado, conservador, ele 
integra o golpe que faz dele presidente, depondo Federico Chavez, e reelege‑se por sete mandatos – 
sempre de modo duvidoso –, conduzindo uma ditadura que, a exemplo das vizinhas, estabelece controle 
ideológico total e sanções a qualquer cidadão considerado subversivo.
A ditadura de Stroessner tem características adicionais e marcantes: ela começa muito antes que 
as demais, já em 1954, e termina depois que as outras ditaduras, totalizando um período atípico, 
muito longo em comparação com os outros governos autoritários da região e do período. A segunda 
característica diz respeito ao fato de que a sua chegada ao poder não inaugura um período histórico, 
pois o Paraguai já experimenta uma sucessão de golpes e conflitos há décadas. O governo Stroessner 
apenas sucede outros regimes autoritários.
A história do Paraguai é a relação de uma extensa lista de governos 
autoritários e militarizados, com escassas ilhas de períodos democráticos. 
Essa falta de capacitação cívica da sociedade paraguaia explica, por sua 
vez, muitas das dificuldades por que passou a transição pós Stroessner e a 
democracia de baixa qualidade que dela foi gerada como fruto (PA, 2008, 
p. 28. Tradução nossa).
A terceira característica que personaliza o governo Stroessner é o cuidado com as aparências. Apesar 
de se tratar de uma ditadura que como as demais do cone sul é autoritária e violenta, e a despeito 
de ela igualmente lastrear seu discurso pela segurança nacional, o governo mantém uma cuidadosa 
preocupação em simular uma democracia – a ponto, inclusive, de realizar sete eleições presidenciais 
cujos resultados todos já sabem antecipadamente quais serão. Até uma suposta oposição parlamentar 
Stroessner “tem” de enfrentar.
Stroessner atravessou uma época que era adequada a seu modelo (de 
ditadura): os anos de Guerra Fria. Ele se tornou o campeão do anticomunismo 
e exibiria esse fantasma como justificativa das múltiplas violações aos 
direitos humanos, assim como de manutenção do incessante estado de sítio 
e do cerceamento das liberdades públicas. Durante seu governo, milhares 
de paraguaios foram aprisionados e torturados por motivos políticos; o 
exílio, fundamentalmente para a Argentina, foi massivo. O número de 
desaparecidos e mortos pela repressão oscila entre 200 e 300, segundo 
diversas fontes (PA, 2008,

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