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CURSO TÉCNICO Para-raios para aplicação em redes de distribuição, subestações e linhas de transmissão 3 a 7 de novembro, 2003 Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro I ÍNDICE Tema abordado Página I. Natureza das sobretensões, class ificação dos isolamentos, efeitos das sobretensões sobre os solamentos e princípios básicos de coordenação do isolamento 1 I.1 Natureza das sobretensões 1 I.1.1 Sobretensões temporárias 2 I.1.2 Sobretensões de frente lenta 5 I.1.3 Sobretensões de frente rápida 6 I.1.4 Sobretensões de frente muito rápida 7 I.2 Classificação da isolação e efeito das sobretensões sobre os isolamentos 8 I.3 Princípios básicos de coordenação do isolamento 18 I.3.1 Método estatístico de coordenação do isolamento 18 I.3.2 Método determinístico (ou convencional) de coordenação do isolamento 19 I.4 Referências bibliográficas 23 II Evolução do s dispositivos de proteção contra sobretensões 27 II.1 Centelhadores com dielétrico de ar 28 II.2 Pára-raios tipo expulsão 29 II.3 Pára-raios de Carbeto de Silício (SiC) 30 II.4 Pára-raios de Óxido de Zinco (ZnO) sem centelhadores 31 II.5 Pára-raios de Óxido de Zinco (ZnO) com centelhadores 32 II.6 Pára-raios de Óxido de Zinco ZnO com invólucro polimérico 33 III Aplicação de pára-raios 37 III.1Terminologia aplicada aos pára-raios 37 III.1.1 Tensão nominal 37 III.1.2 Máxima tensão contínua de operação 37 III.1.3 Corrente de referência 37 III.1.4 Tensão de referência 38 III.1.5 Disrupção 38 III.1.6 Tensão disruptiva 38 III.1.7 Corrente de descarga 38 III.1.8 Corrente de descarga nominal do pára-raios 39 II Tema abordado Página III.1.9 Tensão residual 39 III.1.10 Corrente de seguimento ou corrente subseqüente 39 III.1.11 Capacidade de absorção de energia 39 III.1.12 Estabilidade térmica do pára-raios 40 III.2 Classificação dos pára-raios 40 III.2.1 Pela corrente de descarga nominal 40 III.2.2 Pela classe de descarga de linhas de transmissão ou corrente de longa duração 41 III.2.3 Pela classe de alívio de sobrepressão ou corrente suportável de falta 41 III.3 Característica de proteção dos pára-raios 43 III.3.1 Característica de proteção dos pára-raios com centelhadores 43 III.3.2 Característica de proteção dos pára-raios sem centelhadores 44 III.4 Princípio de operação dos pára-raios 46 III.4.1 Princípio de operação dos pára-raios com centelhadores 46 III.4.2 Princípio de operação dos pára-raios sem centelhadores 48 III.5Critérios para seleção e aplicação dos pára-raios na proteção dos sistemas elétricos 57 III.6Referências bibliográficas 72 IV. Pára-raios para aplicação em redes de distribuição 74 IV.1 Aspectos construtivos 74 IV.2 Critérios básicos para seleção dos pára-raios para redes de distribuição 79 IV.3 Análise do efeito dos cabos de ligação na proteção dos equipamentos 85 IV.4 Referências bibliográficas 87 V. Pára-raios para aplicação em subestações 88 V.1 Aspectos construtivos 88 V.1.1 Pára-raios de ZnO com invólucro de porcelana 89 V.1.2 Pára-raios de ZnO com invólucro polimérico 90 V.2 Desempenho dos pára-raios instalados em subestações 96 V.3 Critérios para a seleção e aplicação dos pára-raios para subestações 100 III Tema abordado Página V.3.1 Seleção dos pára-raios adequados e determinação das suas características de proteção 100 V.3.2 Seleção ou determinação da suportabilidade da isolação 112 V.3.3 Avaliação da coordenação do isolamento 112 V.4 Referências bibliográficas 118 Anexo: Método sugerido pelo Guia de Aplicação de Pára-raios Texto original desenvolvido e proposto pela Comissão de Estudos CE 37-4 do COBEI / ABNT 119 VI Descargas atmosféricas em linhas de transmissão 129 VI.1 Aspectos a serem considerados no estudo da incidência de descargas atmosféricas em linhas de transmissão 129 VI.1.1 Característica das descargas e freqüência de ocorrência 129 VI.1.2 Parâmetros característicos das correntes de descarga 133 VI.2 Descargas atmosféricas em linhas de transmissão 137 VI.2.1 Incidência das descargas atmosféricas diretas em linhas de transmissão 137 VI.2.2 Desempenho das linhas de transmissão devido a descargas atmosféricas 140 VI.2.2.1 Descargas incidindo diretamente sobre linhas de transmissão sem cabos pára-raios 141 VI.2.2.2 Descargas incidindo diretamente sobre linhas de transmissão com cabos pára-raios 145 VI.2.2.3 Efeito das descargas atmosféricas em caso de falha de blindagem de linhas protegidas com cabos pára-raios 158 VI.2.2.4Tensões induzidas por descargas atmosféricas incidindo nas proximidades das linhas de transmissão e redes de distribuição 158 VI.3 Referências bibliográficas 160 VII Método s empregados para a melhoria do desempenho das linhas de transmissão 162 VII.1 Aumento da isolação das linhas de transmissão 163 VII.2 Melhoria do sistema de aterramento 165 VII.3 Instalação de cabos pára-raios e/ou melhoria do ângulo de blindagem 167 VII.4 Pára-raios 168 IV Tema abordado Página VII.5 Referências bibliográficas 169 VIII Pára-raios para aplicação em linhas de transmissão 170 VIII.1 Histórico 170 VIII.2 Princípio de funcionamento dos pára-raios de linha 171 VIII.3 Aplicação e localização dos pára-raios 174 VIII.3.1 Aplicação de pára-raios em estruturas localizadas em regiões com solos de elevada resistividade 176 VIII.3.2 Aplicação de pára-raios em estruturas localizadas em regiões montanhosas 176 VIII.3.3 Aplicação de pára-raios em estruturas localizadas próximas às subestações 176 VIII.3.4 Aplicação de pára-raios em linhas novas 177 VIII.3.5 Aplicação de pára-raios em linhas existentes 178 VIII.4 Experiência das empresas brasileiras na instalação e no desempenho de pára-raios de linha 179 VIII.5 Estudo de caso: análise de uma Linha de transmissão de 230 Kv 182 VIII.5.1 Estudo de desempenho da linha 184 VIII.5.2 Estudo de capacidade de absorção de energia pelos pára-raios 188 VIII.5.3 Estudo simplificado de análise de investimento 189 VIII.6 Referências bibliográficas 190 IX Ensaios em pára-raios 192 IX.1 Classificação dos ensaios 192 IX.1.1 Ensaios de tipo 192 IX.1.2 Ensaios de rotina 192 IX.1.3 Ensaios de recebimento 192 IX.2 Normas técnicas aplicáveis a ensaios em pára-raios 192 IX.2.1 Ensaios aplicados a pára-raios com centelhadores 194 IX.2.2 Ensaios aplicados a pára-raios sem centelhadores 195 IX.3Verificação das características de proteção e de operação 196 IX.3.1 Ensaios de verificação das características de proteção 197 IX.3.2 Ensaios de verificação das características de operação 201 IX.4 Ensaios aplicáveis a pára-raios poliméricos 210 IX.5 Referências bibliográficas 210 V Tema abordado Página X Monitoramento e diagnóstico de pára-raios 212 1 I Natureza das sobretensões, classificação dos isolamentos, efeitos das sobretensões sobre os isolamentos e princípios básicos de coordenação do isolamento. I.1 Natureza das sobretensões Os sistemas elétricos estão submetidos esporadicamente a várias formas de fenômenos transitórios, envolvendo variações súbitas de tensão e corrente provocadas por descargas atmosféricas, faltas no sistema ou operação de disjuntores e chaves seccionadoras. Os estudos das sobretensões nos sistema elétricos tem adquirido uma maior importância nos últimos anos, a medida que se tem elevado os níveis de tensão dos sistemas e devido a necessidade de sistemas cada vez mais confiáveis e econômicos. Uma sobretensão pode ser definida como qualquer tensão entre fase e terra, ou entre fases, cujo valor de crista excede o valor de crista deduzido da tensão máxima do equipamento (Um.√2 / √3 ou Um.√2, respectivamente). Entende-se por tensão máxima de um sistema, a máxima tensão de linha eficaz que pode ser mantida em condições normais de operação, em qualquer instante e em qualquer ponto do sistema. A determinação das sobretensões que podem ocorrer em um sistema elétrico é de fundamental importância, uma vez que fornece subsídios para a coordenação do isolamento de redes de distribuição, linhas de transmissãoe substações, bem como para a especificação dos equipamentos. De uma maneira acadêmica, as sobretensões podem ser classificadas em dois grupos: - Sobretensões de origem externa, provenientes de causas externas ao sistema considerado, como por exemplo as descargas atmosféricas que agem diretamente sobre os sistemas elétricos ou nas suas proximidades. - Sobretensões de origem interna, causadas por eventos dentro do sistema em consideração, tais como curto-circuitos ou manobras de equipamentos. Os níveis das sobretensões de origem interna podem ser determinados a partir de avaliações durante a fase projeto, que consistem em: estudar as condições de ocorrência de curto-circuito no sistema e determinar as possíveis sobretensões causadas pelas operações de manobra. Essa classificação não atende, no entanto, aos interesses relacionados a especificação dos equipamentos, sendo mais adequada a seguinte classificação para as sobretensões, definida pela norma NBR 6939/99 /1/ de acordo com a forma da sobretensão, sua duração e seu efeito sobre a isolação ou sobre o dispositivo de proteção: 2 • Sobretensão temporária – caracterizada por uma sobretensão de freqüência fundamental de duração relativamente longa. Podem originar-se de faltas, operações de chaveamento (como por exemplo rejeição de carga), condições de ressonância, não linearidades (ferro- ressonâncias) ou por uma combinação dessas. • Sobretensão transitória – caracterizada por uma sobretensão de curta duração, de alguns milisegundos ou menos, oscilatória ou não oscilatória, usualmente fortemente amortecida. De acordo com a NBR 6939/99, as sobretensões transitórias apresentam a seguinte classificação: - Sobretensões de frente lenta: sobretensão transitória, usualmente unidirecional, com tempo até a crista tal que 20 µs < T1 ≤ 5000 µs, e tempo até o meio valor (na cauda) T2 ≤ 20 ms. Podem originar-se de faltas, operações de chaveamento ou descargas atmosféricas diretas nos condutores de linhas aéreas. - Sobretensões de frente rápida: sobretensão transitória, usualmente unidirecional, com tempo até a crista tal que 0,1 µs < T1 ≤ 20 µs, e tempo até o meio valor (na cauda) T2 ≤ 300 µs. Podem originar-se de operações de chaveamento, descargas atmosféricas ou faltas - Sobretensões de frente muito rápida: sobretensão transitória, usualmente unidirecional, com tempo até a crista tal que T1 ≤ 0,1 µs, duração total Tt ≤ 3 ms, e com oscilações superimpostas de freqüências 30 kHz < f < 100 MHz. Podem originar-se de faltas ou operações de chaveamento em subestações isoladas a gás (GIS); • Sobretensão combinada (temporária, frente lenta, frente rápida e frente muito rápida) - consiste de duas componentes de tensão simultaneamente aplicadas entre cada um dos terminais de fase de uma isolação fase-fase (ou longitudinal) e a terra. É classificada pela componente de maior valor de crista. Podem ter qualquer uma das origens mencionadas acima. Ocorrem entre as fases de um sistema (fase-fase) ou na mesma fase entre partes separadas de um sistema (longitudinal). I.1.1 Sobretensões temporárias: As sobretensões temporárias são caracterizadas por suas amplitudes, forma de onda e duração. Todos esses parâmetros dependem da origem das sobretensões e as amplitudes e forma de onda podem inclusive variar durante o seu período de ocorrência. 3 As sobretensões temporárias são de natureza oscilatória, de baixa amplitude (em geral inferior a 1,5 pu), duração relativamente longa (tempo de duração superior a dezenas de milisegundos) e fracamente amortecida ou não amortecida. Essas sobretensões também chamadas de sobretensões sustentadas permanecem no sistema até que o sistema seja modificado ou que a causa que lhe deu origem seja eliminada. Apesar das suas amplitudes serem inferiores às demais sobretensões, as sobretensões temporárias podem ser determinantes no projeto dos isolamentos internos e externos e na especificação dos equipamentos, que terão de suportar a essas sobretensões por um longo tempo. No caso dos pára-raios, por exemplo, as sobretensões temporárias têm importância fundamental na definição da tensão nominal do pára-raios, tomando-se como base a necessidade dos pára-raios serem capazes de absorver a energia associada a essas sobretensões. Para fins de coordenação do isolamento, a sobretensão temporária representativa é considerada como tendo a forma da tensão normalizada de freqüência fundamental de curta duração (1 minuto). Sua amplitude pode ser definida por um valor máximo assumido, um conjunto de valores de crista ou uma distribuição estatística completa de valores de crista. A amplitude selecionada da sobretensão temporária representativa deve levar em conta: - a amplitude e duração da sobretensão real em serviço; - a característica amplitude / duração da suportabilidade a freqüência fundamental da isolação considerada Se esta última característica não for conhecida, a amplitude selecionada pode ser definida como sendo igual à máxima sobretensão real em serviço, que tenha uma duração real de menos que um minuto, e a duração pode ser considerada como de um minuto. As sobretensões temporárias são geralmente causadas por: - Faltas nos sistemas - Perda súbita de carga (rejeição de carga); - Efeito ferranti; - Ressonância e ferro-ressonância; - Sobretensões longitudinais durante sincronização Em sistemas com tensões máximas de operação até 242 kV, geralmente as faltas que ocorrem nos sistemas são as responsáveis pelas máximas amplitudes das sobretensões temporárias. O tipo de falta mais comum que aparece em um sistema é o curto-circuito monofásico. A ocorrência de uma falta fase-terra em um dado ponto do sistema, acarreta na elevação de tensão nas fases sãs, sendo a amplitude diretamente relacionada com o tipo de aterramento do neutro do sistema no ponto em consideração. A duração da sobretensão corresponde a duração da falta. 4 As amplitudes das sobretensões temporárias devido a faltas que ocorrem nos sistemas podem ser determinadas, de forma simplificada, pela equação a seguir: TOVSIST. Amplitude da sobretensão no ponto considerado; K Fator de sobretensão (fator de aterramento), dependente do tipo de aterramento do neutro do sistema; Umax Amplitude da máxima tensão fase-terra de operação do sistema antes da ocorrência da falta = Um / √3 O fator de aterramento consiste na relação entre o máximo valor eficaz de tensão fase-terra de freqüência fundamental em uma fase sã, durante uma falta fase-terra afetando uma ou mais fases em qualquer ponto do sistema, e o valor eficaz de tensão fase-terra de freqüência fundamental que seria obtido no mesmo local na ausência de tal falta, ou seja, em condições de regime permanente. Desprezando o efeito da resistência de falta, o fator de aterramento para uma falta fase-terra pode ser definido por: Z0 Impedância de seqüência zero do sistema → Z0 = R0 + jX0 Z1 Impedância de seqüência positiva do sistema → Z1 = R1 + jX1 Para sistemas com neutro efetivamente aterrado (0 ≤ X0 / X1 ≤ 3 e 0 ≤ R0 / X1 ≤ 1) o fator de aterramento é inferior a 1,4, ou seja, as sobretensões temporárias atingem no máximo 80% da tensão fase-fase do sistema. A tensão nas fases sãs será: TOVSIST. ≤ 1,4 . Umax. A duração das sobretensões devido a uma falta fase-terra para um sistema efetivamente aterrado é normalmente inferior a 0,2 segundos para proteção de linha e 1 segundo no caso de proteção de “Back-up” . Para sistemas com neutro isolado as sobretensões nas fases sãs podem exceder à tensão fase-fase do sistema, ou seja, o fator de aterramento é de 1,73 ou acima. Isto se deve ao fato de que esse tipo de sistema é acoplado à terra através de suas capacitâncias parasitas. A tensão nas fases sãs será: TOVSIST. ≈ 1,73 . Umax. , ou acima A duração da falta pode ser de poucos segundos a algumas horas, em função da corrente de falta bem como do dispositivo de detecção / abertura da falta. max.SIST UKTOV ⋅= ⋅± + ⋅ ⋅= 3j Z Z2 Z Z3 5,0K 1 0 1 0 5 A Tabela I.1 apresentaos valores típicos normalmente utilizados para o fator de aterramento em função do tipo de aterramento do neutro do sistema. Tabela I.1 - Fatores de aterramento – Valores típicos Tipo de Sistema Caracterização Fator de aterramento K A Multi aterrado ≤ 1,30 B Eficazmente aterrado ≤ 1,40 C Não eficazmente aterrado 1,73 D Isolado ≥ 1,73 (1,90) Maiores informações referentes às sobretensões temporárias, tais como suas causas e características principais, podem ser encontradas em literaturas específicas /2/ e /3/. I.1.2 Sobretensões de frente lenta As sobretensões de frente lenta se caracterizam como sobretensões entre fase- terra ou entre fases, em um dado ponto do sistema, devido a operação de um equipameto de manobra, uma falta ou a outra causa qualquer, cuja forma de onda apresente tempos até a crista com durações entre algumas dezenas e alguns milhares de microsegundos e tempos até o meio valor (tempos de cauda) com durações da mesma ordem de magnitude. Essas sobretensões em geral são fortemente amortecidas. Para fins de coordenação do isolamento, a forma de onda da tensão representativa é o impulso de manobra normalizado utilizado nos ensaios, apresentando tempo até a crista de 250 µs, e tempo até o meio valor de 2500 µs. As sobretensões de frente lenta normalmente se originam de: - Energização e religamento de linhas; - Aplicação e eliminação de faltas; - Rejeição de carga; - Energização de transformadores; - Chaveamento de correntes capacitivas e indutivas; - Descargas atmosféricas distantes do ponto considerado nos condutores fase de linhas aéreas. Em muitos dos casos, a amplitude e duração dessas sobretensões dependem dos parâmetros do sistema, da sua configuração e das condições em que o sistema se encontra no instante da manobra. Assim, para uma determinada condição de manobra pode-se obter diferentes valores de sobretensões, uma vez que esse valor dependerá não somente da dispersão nos instantes de fechamento do disjuntor, como também do instante da onda de tensão onde ocorreu o fechamento. 6 Esta variação significativa na amplitude das sobretensões faz com que seja extremamente difícil prever o valor máximo de sobretensão que irá ocorrer para uma manobra específica. Daí advém o conceito de sobretensão de manobra estatística, definida como uma sobretensão de manobra, aplicada a um dado equipamento, devido a uma perturbação específica no sistema, cujo valor de crista tem uma probabilidade estatística de 2% de ser excedido. U2% = U50 . ( 1 + 2,05 . σ ) No caso de descargas atmosféricas incidindo nos condutores fase de linhas aéreas, sobretensões de frente lenta ocorrem quando a corrente de descarga que incide sobre o condutor é suficientemente baixa para não provocar a disrupção da isolação da linha e quando a descarga ocorre a uma distância suficientemente longa do ponto considerado, de modo a produzir uma sobretensão de menor amplitude e de frente lenta, devido aos efeitos de atenuação e distorção na onda de tensão. Maiores informações referentes as sobretensões de frente lenta, suas causas e características principais, podem ser obtidas nas referências /2/ e /3/. I.1.3 Sobretensões de frente rápida: As sobretensões de frente rápida se caracterizam como sobretensões entre fase- terra ou entre fases, em um dado ponto do sistema, devido a uma descarga atmosférica ou a outra causa qualquer, cuja forma de onda apresente tempos até a crista com durações entre 0,1 µs a 20 µs e tempos até o meio valor (tempos de cauda) até 300 µs. Essas sobretensões em geral são fortemente amortecidas. Para fins de coordenação do isolamento, a forma de onda da tensão representativa é o impulso atmosférico normalizado utilizado nos ensaios, apresentando tempo até a crista de 1,2 µs, e tempo até o meio valor de 50 µs. A amplitude representativa é dada ou como um valor máximo assumido ou por uma distribuição de probabilidade de valores de crista em função da taxa de retorno das sobretensões. As sobretensões de frente rápida normalmente se originam de: - Sobretensões devido às descargas atmosféricas incidindo diretamente nos condutores fase de linhas aéreas, nos cabos pára-raios ou nas estruturas de linhas de transmissão ou por descargas a terra ou em estruturas próximas à linha considerada (sobretensôes induzidas); - Sobretensões devido às descargas atmosféricas afetando as subestações; - Operações de manobra e faltas. 7 O efeito das sobretensões devido às descargas atmosféricas nas subestações e suas taxas de ocorrência dependem basicamente de: - do desempenho das linhas aéreas conectadas a subestação frente às descargas atmosféricas; - do arranjo físico da subestação, seu tamanho e, em particular, do número de linhas conectadas a ela; - do valor instantâneo da tensão de operação (no momento da descarga). A severidade das sobretensões atmosféricas no equipamento da subestação é determinada pela combinação desses três fatores e diversas etapas são necessárias para assegurar uma adequada proteção /2/. Sobretensões de manobra de frente rápida ocorrem quando o equipamento é conectado ou desconectado do sistema através de conexões curtas, principalmente em subestações. Sobretensões de frente rápida podem também ocorrer quando da ocorrência de uma disrupção na isolação externa de um equipamento. Tais eventos podem causar solicitações particularmente severas sobre isolações internas próximas (por exemplo sobre enrolamentos) /2/. Como a ocorrência simultânea de sobretensão de manobra de frente rápida em mais de uma fase é altamente improvável, pode-se assumir a não existência de sobretensões entre fases com amplitudes maiores do que as sobretensões entre fase e terra. Maiores informações referentes as sobretensões de frente rápida, suas causas e características principais, podem ser obtidas na referência /2/. I.1.4 Sobretensões de frente muito rápida: Sobretensões de frente muito rápida são decorrentes da operação de seccionadores ou de faltas dentro de uma subestação isolada a SF6 (GIS), devido à disrupção rápida da isolação gasosa e à propagação praticamente não amortecida do surto dentro da GIS. Suas amplitudes são rapidamente amortecidas ao sair da GIS, por exemplo nas buchas, e seus tempos de frente são geralmente aumentados, atingindo a faixa dos tempos representativos de sobretensões de frente rápida. Sobretensões de frente muito rápida podem também ocorrer em transformadores secos de média tensão com conexões curtas aos equipamentos de manobra. A forma da sobretensão é caracterizada por um rápido aumento da tensão até um valor próximo a seu valor de crista, resultando num tempo de frente geralmente inferior a 0,1 µs. Para operações de seccionadores esta frente é tipicamente seguida por uma oscilação com freqüências acima de 1 MHz. A duração dessas sobretensões é inferior a 3 ms, podendo ocorrer várias vezes. A amplitude da sobretensão depende do projeto construtivo do seccionador e da configuração da subestação. 8 Nos terminais de equipamentos conectados a uma GIS através de uma linha aérea de transmissão de alta tensão curta, as oscilações das sobretensões apresentam freqüências na faixa de 0,2 MHz a 2,0 MHz e amplitudes de até 1,5 vezes a tensão de descarga. Por outro lado, o conteúdo de freqüências das sobretensões pode ainda causar grandes solicitações internas em enrolamentos de transformadores por causa de ressonâncias em parte dos enrolamentos. A representação desse tipo de sobretensão em laboratório ainda não pode ser estabelecida, uma vez que padronizações adequadas não estão disponíveis até o presente momento. Detalhes sobre as classes e formas das solicitações de tensão, definidas pela NBR 6939/99 são apresentados na Figura I.1 /1/. Figura I.1 – Representação das c lasses e formas das solicitações de tensão I.2 Class ificação da isolação e efeito das sobretensões sobre os isolamentos Os isolamentos abrangem os espaçamentos de ar, os isolamentos sólidos e os imersos em liquido isolante e os gases, podendo ser classificados como sendo para uso externoou interno. É sabido que diversos fatores influenciam a rigidez dielétrica da isolação, entre os quais podem ser citados /2/: - a amplitude, forma do impulso e a polaridade da tensão aplicada; - a distribuição do campo elétrico na isolação: campo elétrico uniforme ou não uniforme, eletrodos adjacentes ao espaçamento considerado e seu potencial; 9 - o tipo de isolante utilizado, se gasoso, líquido, sólido ou compósito; - o conteúdo de impurezas e a presença de não-homogeneidades localizadas; - o estado físico da isolação: temperatura, pressão e outras condições ambientais, solicitações mecânicas, etc; - a deformação da isolação sob solicitação, os efeitos químicos, os efeitos de superfície dos condutores, etc. Para o estudo de sobretensões, há a necessidade de se diferenciar o comportamento dos materiais isolantes, pois o efeito das sobretensões sobre os isolamentos dos sistemas elétricos / equipamentos depende basicamente das características de suportabilidade e de regeneração da isolação. A importância desta classificação pode ser observada quando se consideram os critérios probabilísticos de projeto e os critérios de ensaio. A falha de isolamento em um transformador, por exemplo, resulta na queima do transformador e na necessidade de sua retirada do sistema. Já em uma linha de transmissão, a disrupção do isolamento externo de uma cadeia de isoladores acarreta no desligamento transitório ou permanente do sistema, sem no entanto provocar danos permanentes à cadeia. Desta forma, há a necessidade de se diferenciar os tipos de isolação em função do seu comportamento frente a uma descarga. Dentro desse conceito, as isolações podem ser classificadas, de acordo com a NBR 6939/99, como isolação auto-recuperante ou isolação não auto-recuperante. As isolações auto-recuperantes são aquelas que recuperam integralmente as suas propriedades isolantes após a ocorrência de uma descarga disruptiva provocada pela aplicação de uma tensão de ensaio. Os isolamentos externos em ar, alguns isolamentos internos em gás e alguns isolamentos liquidos apresentam propriedades auto-recuperantes. Em um sistema elétrico, esse tipo de isolação pode ser encontrado nas superfícies externas de cadeias de isoladores; parte externa das buchas e transformadores, bem como nos isolamentos em ar, correspondentes aos espaçamentos entre condutores, condutor-estrutura e barramento-estrutura. A descarga disruptiva num espaçamento em ar é fortemente dependente da configuração do espaçamento, da polaridade e da forma da onda da tensão aplicada. Além disso, as condições atmosféricas relativas afetam a rigidez dielétrica, independentemente da forma e da polaridade da solicitação de tensão aplicada. As características da rigidez dielétrica do ar, provenientes de medições em laboratório, são referidas às condições atmosféricas normalizadas de referência, definidas na NBR 6936: - temperatura: 20°C; - pressão: 101,3 kPa (1013 mbar); - umidade absoluta: 11 g/m3. 10 As isolações não auto-recuperantes são aquelas que perdem parcialmente ou não recuperam integralmente as suas propriedades isolantes após a ocorrência de uma descarga disruptiva provocada pela aplicação de uma tensão de ensaio, ou seja, após uma descarga ocorre a danificação parcial ou total das suas propriedades dielétricas. Os dielétricos sólidos apresentam propriedades não recuperantes. A isolação não auto-recuperante é normalmente uma parte interna dos equipamentos de um sistema de potência e consiste de uma combinação de diferentes tipos de materiais sólidos, liquidos ou gasosos. Sua finalidade é prover a separação entre diferentes elementos condutores sem que haja falhas quando submetidas a condições operativas. Equipamentos importantes, tais como transformadores de distribuição e de força, parte interna de transformadores de corrente e de potencial, entre outros, apresentam esse tipo de isolamento. É importante ressa ltar que as definições ac ima aplicam-se somente quando a descarga disruptiva é causada pela aplicação de uma tensão de ensaio durante um ensaio dielétrico. Descargas disruptivas que ocorrem nos sistemas podem fazer com que uma isolação auto-recuperante perca parcialmente, ou completamente, as suas propriedades isolantes originais. O comportamento de suportabilidade de uma isolação frente às sobretensões apresenta, em geral, uma natureza aleatória. Uma isolação submetida a uma solicitação dielétrica devido a uma sobretensão, poderá apresentar descarga. Portanto, é possível associar o comportamento do material isolante à probabilidade de falha da isolação. Se considerarmos sobretensões de mesma forma de onda porém com diferentes amplitudes, é possível associar para cada amplitude Vi uma probabilidade de falha da isolação P(Ui), estabelecendo-se uma relação P (U) definida como função probabilidade de descarga da isolação considerada, conforme Figura I.2. Figura I.2 – Curva de probabil idade de descarga da isolação 11 A probabili dade de falha para isolações auto-recuperantes pode ser facilmente determinada através da realização de ensaios elétricos, os quais têm por finalidade a obtenção da tensão com 50% de probabilidade de descarga (tensão crítica de descarga da isolação). Dois métodos de ensaios têm sido usualmente utilizados: - Método d os níveis múltiplos: Este método consiste em aplicar sobre o isolamento uma quantidade N (pelo menos dez) de impulsos em cada um dos níveis de tensão de ensaio, mantendo- se a forma de onda definida. A variação da amplitude entre os níveis de tensão ∆U deve ser aproximadamente igual ao desvio padrão σ. Para cada amplitude de tensão deve-se aplicar N solicitações. A probabilidade de falha do isolamento, para cada solicitação, poderá ser definida pela relação n/N, onde n corresponde ao número de falhas verificadas no isolamento para uma dada solicitação. Quanto maior o número de aplicações N, mais exatos serão os resultados obtidos. A partir dos resultados obtidos é traçada em um papel adequado, uma reta que melhor represente esses pontos, determinando-se dessa forma, o valor com 50% de probabilidade de falha da isolação. - Método d os acrésc imos e decrésc imos ( Up and Down) O método dos acréscimos e decréscimos (ou “Up and Down”), consiste em aplicar sobre o isolamento em análise uma solicitação de tensão Uk próxima do valor com 50% de probabilidade de falha. Também é escolhido um degrau de tensão ∆U, aproximadamente igual ao desvio-padrão σ. Se a tensão Uk não causar descarga disruptiva no isolamento, a próxima solicitação terá uma amplitude Uk + ∆U. Se ocorrer uma descarga disruptiva durante a solicitação Uk, a próxima solicitação deverá apresentar uma amplitude Uk - ∆U. O mesmo procedimento deverá se repetir para as demais aplicações. Devem ser aplicadas pelo menos 20 solicitações de tensão. O valor de tensão com 50% de probabilidade de falha (U50) e seu respectivo desvio padrão σ, podem ser obtidos a partir das equações abaixo: nv Número de descargas ou não descargas, dependendo qual o menor ∆U Degrau de tensão utilizado durante o ensaio 250 U n Un U v vv ∆± ⋅ = ∑ ∑ ( ) U n n Un Un U t t vv vv ∆⋅+ ⋅−⋅ ⋅ ∆ = ∑ ∑ ∑ ∑ 047,0 62,1 2 2 δ 12 O sinal da equação para a determinação de U50 é negativo quando o cálculo se baseia em descargas e positivo em caso contrário. Existe ainda a possibilidade de se utilizar o método dos acrésc imos e decrésc imos expandido, cujo procedimento de ensaio é semelhante ao método dos acréscimos e decréscimos descrito anteriormente, porém são considerados sete impulsos por nível de tensão, ao invés de um impulso do método anterior. Nesse método, a tensão de ensaio é aumentada para Uk + ∆U, se não ocorrer descarga em nenhuma das sete aplicações. Apesar desse método ser mais exato, há a necessidade de um maior tempo de laboratório para a sua realização. Exemplo 1 - Procedimentos para a determinação da tensão crítica de descarga (tensão com 50% de probabilidade de descarga) para impulso atmosférico em umisolador polimérico, aplicado a sistemas com tensão nominal de 230 kV, pelo método dos acréscimos e decréscimos. Os valores obtidos durante o ensaio estão apresentados na Tabela I.2 abaixo: Tabela I.2 – Resultados obtidos durante o ensaio Aplicação Polaridade positiva Polaridade negativa Uens (kV) descarga não desc. Uens (kV) descarga não desc. 1 1507 X 1557 X 2 1462 X 1510 X 3 1507 X 1559 X 4 1462 X 1512 X 5 1416 X 1557 X 6 1462 X 1512 X 7 1507 X 1557 X 8 1462 X 1513 X 9 1507 X 1557 X 10 1462 X 1513 X 11 1507 X 1557 X 12 1462 X 1512 X 13 1417 X 1557 X 14 1462 X 1513 X 15 1507 X 1467 X 16 1462 X 1513 X 17 1507 X 1560 X 18 1462 X 1513 X 19 1417 X 1557 X 20 1462 X 1513 X 21 1507 X 1559 X 22 1462 X 1513 X 23 1507 X 1560 X 24 1462 X 1512 X 13 Tabela I.2 – Resultados obtidos durante o ensaio (continuação) Aplicação Polaridade positiva Polaridade negativa Uens (kV) descarga não desc. Uens (kV) descarga não desc. 25 1507 X 1560 X 26 1461 X 1513 X 27 1417 X 1559 X 28 1462 X 1513 X 29 1417 X 1468 X 30 1462 X 1513 X 1416 0 5 1467 0 2 1462 5 10 1512 2 13 1508 10 0 1557 13 0 A partir dos valores apresentados na tabela acima é possível obter, com base nas equações apresentadas, os seguintes valores para as tensões com 50% de probabilidade de descarga, polaridades positiva e negativa, e seus respectivos desvios padrão: Tensão crítica de descarga Desvio-padrão Polaridade positiva 1469,0 18,0 Polaridade negativa 1528,5 10,5 (*) Considerou-se para a determinação dos parâmetros, o número de descargas No caso de isolações não auto-recuperantes, não é viável economicamente definir-se a probabilidade de falha através de ensaios elétricos. Para esse tipo de isolação, a suportabilidade elétrica pode ser alterada devido a dois fatores: o primeiro, em virtude dos ciclos térmicos e mecânicos que alteram a composição física e química dos materiais isolantes, tendendo a reduzir a suportabilidade, que deve ser portanto projetada a partir de ensaios de envelhecimento acelerado. O segundo fator, corresponde a uma excessiva tensão em um determinado ponto específico da isolação, resultando em um processo de ionização sustentado que pode acarretar uma falha localizada na isolação e posterior dano total a isolação. Desta forma, uma isolação não auto-recuperante deve ser projetada de modo que a tensão de início de ionização em pontos críticos seja bastante superior à máxima solicitação a que a isolação possa estar submetida sob condições de regime normal de operação /3/. Uma vez conhecida a probabilidade de 50% de falha de uma isolação, é possível se obter uma dada probabilidade (p) de suportabilidade dessa isolação, para uma determinada solicitação de tensão, a partir da equação mostrada abaixo: 14 UP Tensão suportável da isolação para uma probabilidade p. U50 Tensão com 50% de probabilidade de falha. Z Valor obtido da Tabela A.1, apresentada no Anexo A /4/ σ Desvio padrão, o qual depende praticamente do tipo de solicitação, sendo considerado 3% para impulsos atmosféricos e 6% para impulsos de manobra. Com base nessa equação é possível definir alguns conceitos de suportabilidade, fundamentais para a seleção dos pára-raios e para o estudo de coordenação do isolamento: - Tensão Crítica de Descarga do isolamento (U50): Corresponde a amplitude de tensão, para uma determinada forma de onda, que aplicada a um determinado tipo de isolação tem 50% de probabilidade de provocar a falha dessa isolação. Para avaliação de riscos de falha de uma isolação, é conveniente expressar as curvas de probabilidade de descarga em termos da sua tensão crítica de descarga. Uma curva típica da tensão crítica de descarga de um dielétrico em função do tipo de solicitação é apresentada na Figura I.3. Vd representa a tensão crítica de descarga da isolação. Figura I.3 – Característica ‘tensão crítica de descarga x tempo” para um material isolante ( )σ⋅−⋅= Z1UU 50P 15 - Tensão suportável assumida convencional de impulso atmosférico (ou de impulso de manobra): Valor de crista especificado de uma tensão de impulso atmosférico (ou de manobra), para o qual o número de descargas disruptivas tolerado é zero, ou seja, não deve ocorrer descarga disruptiva na isolação submetida a um número determinado de aplicações, em condições especificadas. Este conceito é aplicável somente a isolações não auto-recuperantes. UCONV. Tensão suportável assumida convencional de impulso atmosférico (ou de impulso de manobra) σ Desvio padrão - Tensão suportável estatística de impulso atmosférico (ou impulso de manobra): Valor de crista de uma tensão de ensaio de impulso atmosférico (ou de manobra), para o qual a probabilidade de ocorrerem descargas disruptivas na isolação é de 10%, ou seja, a probabilidade de suportabilidade da isolação é de 90%. Esse conceito é aplicável a isolações auto-recuperantes. UEST Tensão suportável estatística de impulso atmosférico (ou de manobra) σ Desvio padrão As tensões suportáveis assumida convencional e estatística para impulsos atmosféricos e de manobra são genericamente denominadas como nível de isolamento a impulso atmosférico ou de manobra, respectivamente. Desta forma, podemos considerar as seguintes definições: TSNIA Tensão suportável nominal para impulso atmosférico (estatística ou convencional) TSNIM Tensão suportável nominal para impulso de manobra (estatística ou convencional) Os valores de crista das tensões suportáveis normalizados de impulso atmosférico e de manobra são definidos pela NBR 6939/99, em função das tensões máximas dos equipamentos. ( )δ⋅−⋅= 29,11UU 50.CONV ( )δ⋅−⋅= 31UU 50.CONV 16 Exemplo 2 – A partir dos resultados obtidos no exemplo 1, determinar as tensões suportáveis estatísticas de impulso atmosférico do isolador para as polaridades positivas e negativas. Considere os fatores de correção devido às condições atmosféricas de 0,95 e 0,96 para as polaridades positiva e negativa, respectivamente. Os valores de tensão crítica de descarga obtidos para o isolador nas polaridades positiva e negativa foram de 1469,0 kV e 1528,5 kV, respectivamente. Considerando o fator de correção devido às condições atmosféricas, os valores de tensão crítica de descarga corrigidos são de 1395,6 kV para a polaridade positiva e 1467,4 kV para a polaridade negativa. Como os valores referentes aos desvios padrão obtidos foram inferiores a 3% do valor obtido para a tensão crítica de descarga, será considerado o desvio de 3%. Polaridade positiva: UEST. = 1395,6 . ( 1 – 1,29 . 0,03 ) ⇒ UEST. = 1342 kV Polaridade negativa: UEST. = 1467,4 . ( 1 – 1,29 . 0,03 ) ⇒ UEST. = 1411 kV Exemplo 3 – Calcular o risco de falha de um equipamento com isolação não auto- recuperante apresentando uma tensão suportável assumida convencional para impulso de manobra de 1050 kV, com σ = 6%, em condições atmosféricas padronizadas, para uma sobretensão de 2,9 pu em um sistema de 460 kV. Para uma isolação não auto-recuperante: UCONV. = U50 . ( 1 – 3 . σ ) 1050 = U50 . ( 1 – 3 . 0,06 ) ⇒ U50 = 1050 / 0,82 ⇒ U50 = 1281 kV Uma sobretensão de 2,9 pu eqüivale a: 2,9 x ( 460 . √2 / √3 ) = 1090 kV 1090 = 1281 . ( 1 – Z . 0,06 ) ⇒ 0,06 . Z = 1 – (1090 / 1281) ⇒ Z = 2,49 Da Tabela A.1, para Z = 2,49 → F(2,49) = 1 – (0,5 + 0,4936) = 0,0064 A probabilidade de falha da isolação para uma sobretensão de manobra de 2,9 pu será de 0,64%. - Tensão suportável normalizada de freqüência fundamental de curta duração: Valor eficaz especificado da tensão de freqüência fundamental, que um equipamento deve suportar em condições de ensaio especificadas e durante um período de tempo igual a 1 minuto. Os valores eficazes das tensões suportáveis normalizados de freqüência fundamental de curta duração são definidos pela NBR 6939/99, em função das tensões máximas dos equipamentos. 17 - Faixas para a tensão máxima do equipamento: A NBR 6939 / 1999 define as tensões máximas normalizadas dos equipamentos, as quais são divididas em duas faixas: - Faixa 1: Superior a 1,0 kV e igual ou inferior a 245 kV. - Faixa 2: Superior a 245 kV. Afaixa 1 abrange os sistemas de distribuição e de transmissão. Os diferentes aspectos operacionais devem, no entanto, serem levados em consideração na seleção do nível de isolamento nominal do equipamento. Para sistemas situados na faixa 1, o principal risco para os equipamentos advém das descargas atmosféricas diretas, indiretas e induzidas nas redes de distribuição e linhas de transmissão aéreas conectadas. Em sistemas com cabos não conectados a linhas aéreas, as sobretensões devido a faltas ou operações de manobra tem maior probabilidade de ocorrência. Em casos raros, entretanto, sobretensões de origem atmosférica induzidas podem também ser geradas. Para sistemas situados na faixa 2, em adição aos fatores da faixa 1, sobretensões de manobra tornam-se fenômenos importantes, aumentando sua importância para sistemas com tensões mais elevadas. De acordo com a NBR 6939/99, o nível de isolamento normalizado do equipamento é definido pelas seguintes tensões suportáveis normalizadas: • Para equipamentos na Faixa 1: - Tensão suportável normalizada de impulso atmosférico, e - Tensão suportável normalizada de freqüência fundamental de curta duração; • Para equipamentos na Faixa 2: - Tensão suportável normalizada de impulso de manobra, e - Tensão suportável normalizada de impulso atmosférico; Os níveis de isolamento normalizados definidos pela NBR 6939/99, estão apresentados nas Tabelas A.2 e A.3 do Anexo A. É importante salientar que a característica de suportabilidade de um material isolante é dependente das condições ambientais e da altitude. As características dielétricas de um isolante se reduzem para altitudes superiores a 1.000 metros acima do nível do mar, a uma proporção de aproximadamente 1% para cada 100 metros acima de 1.000 metros. Assim sendo, fatores de correção devem ser considerados quando da análise de suportabilidade da isolação submetida ao meios externos e a altitudes acima do nível considerado. 18 Maiores informações referentes a isolação dos equipamentos e o efeito das solicitações de tensão sobre os isolamentos podem ser obtidos nas normas de Coordenação do Isolamento, referências /1/ e /2/. I.3 Princípios básicos de coordenação do isolamento Os transformadores e demais equipamentos do sistema devem suportar as sobretensões que podem ocorrer nos sistemas elétricos, de modo a permitir que esses realizem a sua função de transportar energia de forma contínua, confiável e econômica. Para tal, é necessário que as características de isolação dos equipamentos e das redes elétricas sejam compatíveis com as sobretensões encontradas no sistema. A norma NBR 6939 / 1999 define a coordenação do isolamento como um conjunto de procedimentos utilizados na seleção de equipamentos elétricos, tendo-se em vista as tensões que podem se manifestar no sistema e levando-se em conta as características dos dispositivos de proteção, de modo a reduzir a níveis econômico e operacionalmente aceitáveis, a probabilidade de danos aos equipamentos e/ou interrupções do fornecimento de energia, causadas por aquelas tensões. Em outras palavras, a coordenação do isolamento é um processo de correlação da suportabilidade dielétrica dos equipamentos elétricos com as sobretensões esperadas e as características dos equipamentos para proteção contra surtos. A coordenação de isolamento envolve a determinação das sobretensões aos quais as redes de distribuição, linhas de transmissão e equipamentos no interior da subestação estão submetidos, seguido da seleção adequada das suportabilidades elétricas e das distâncias de isolamento, levando-se em consideração as características dos dispositivos de proteção disponíveis. Existem dois métodos em uso para se definir a coordenação do isolamento em função das sobretensões transitórias: o método determinístico (ou convencional) e o método estatístico. No entanto, muitos dos procedimentos aplicados são uma mistura de ambos os métodos. Por exemplo, alguns fatores utilizados no método determinístico foram derivados de considerações estatísticas ou algumas variações estatísticas têm sido desprezadas no método estatístico. I.3.1 Método estatístico de coordenação do isolamento /2/ O método estatístico tenta quantificar o risco de falha através de uma análise numérica de natureza estatística das sobretensões e da suportabilidade elétrica da isolação, para ser utilizado como índice de segurança na determinação da isolação. Esse método é baseado na freqüência de ocorrência de uma origem específica, na distribuição da probabilidade de ocorrência de sobretensões devido a esta origem, e na probabilidade de descarga da isolação. 19 Alternativamente, o risco de falha pode ser determinado combinando a sobretensão e o cálculo de probabilidade de descarga simultaneamente, impulso por impulso, levando em conta a natureza estatística das sobretensões e das descargas por procedimentos adequados, por exemplo: usando método de Monte Carlo. Repetindo os cálculos para diferentes tipos de isolações e para diferentes estados da rede a taxa de falha total do sistema, devido a falhas da isolação, pode ser determinada. Assim, a aplicação da coordenação do isolamento estatística dá a possibilidade de estimar a freqüência das falhas diretamente como uma função dos aspectos de projeto do sistema considerado. Em princípio, mesmo a otimização do isolamento pode ser possível, se os custos das falhas puderem ser relacionados aos diferentes tipos de faltas. Na prática isto é muito difícil devido a dificuldades de se avaliar as conseqüências mesmo para falhas da isolação em diferentes modos de operação do sistema e devido à incerteza do custo da energia não suprida. Assim, é usualmente melhor sobredimensionar ligeiramente a isolação do sistema do que otimizá-la. O projeto da isolação do sistema baseia-se então na comparação dos riscos correspondentes às diferentes alternativas. A aplicação desse método é mais apropriada à isolação auto-recuperante, na qual sua suportabilidade estatística pode ser determinada através das descargas disruptivas. I.3.2 Método determinístico (ou convencional) de coordenação do isolamento O método determinístico é normalmente aplicado quando nenhuma informação estatística, obtida mediante ensaios, sobre possíveis taxas de falha do equipamento esperadas durante a operação, está disponível /2/. Este método é baseado no dimensionamento dos isolamentos de maneira que esses apresentem níveis de suportabilidade mínimos superiores às máximas sobretensões possíveis de serem impostas ao isolamento, através da utilização de uma margem de segurança. O nível de isolamento é determinado de forma a se obter uma margem suficiente entre a máxima sobretensão e a mínima suportabilidade. Essa margem, definida como margem de proteção, determina um fator de segurança que não deve ser inferior a um valor adequado, em função da experiência das instalações existentes, e destina-se a cobrir as incertezas na determinação das sobretensões, incluindo o efeito – distância ou desvios nas características do isolamento dos equipamentos e do dispositivo de proteção que resultem em falha do equipamento. Tensão mínima suportável do isolamento MP = ----------------------------------------------------------------- Máxima sobretensão imposta ao isolamento 20 A Tabela I.3, apresenta as margens de proteção usualmente recomendadas entre o nível de suportabilidade da isolação e a máxima tensão imposta ao isolamento: Tabela I.3 – Margens de proteção recomendadas Tensão máxima de operação (kVef) Sobretensões atmosféricas Sobretensões de manobra 1 a 245 > 245 1,20 1,25 ----- 1,15 O método determinístico é o único que pode ser utilizado no dimensionamento de isolamentos não auto-recuperantes, visto não ser possível expressar o comportamento estatístico desses isolamentos frente às sobretensões. Pela equação acima fica evidente a necessidade de se reduzir o efeito das máximas sobretensões que são impostas aos isolamentos dos equipamentos e sistemas, garantindo assim um aumentona confiabilidade desses. Dentre os possíveis dispositivos atualmente utilizados para reduzir o efeito das sobretensões sobre os equipamentos instalados nas redes elétricas, o pára-raios tem se mostrado como o mais eficaz. Os pára-raios tem como função principal limitar as sobretensões transitórias elevadas nos terminais dos equipamentos por ele protegidos a níveis pré-estabelecidos, de modo que o isolamento desses equipamentos não fiquem com as suas características afetadas após a ocorrência de uma sobretensão. Geralmente, a tensão máxima imposta ao isolamento do equipamento protegido é superior a tensão nos terminais dos pára-raios, devido a presença de oscilações nos cabos de ligação e da distância elétrica entre os pára-raios e o equipamento protegido. Esta elevação de tensão ocorre pelo efeito dos cabos de conexão e pelo efeito da distância de separação, e será discutida em seções posteriores. Desta forma, a tensão nos terminais do equipamento protegido deve incluir o efeito da distância de separação entre o pára-raios e o equipamento protegido, quando esse for significativo. Caso contrário, a tensão nos terminais do equipamento protegido é igual ao nível de proteção oferecido pelo pára-raios acrescido da queda de tensão nos seus cabos de conexão. De forma simplificada, quando os efeitos de separação entre o pára-raios e o equipamento protegido ou das conexões de ligação do pára-raios podem ser considerados desprezíveis, existem três relações de proteção em uso que comparam os níveis de proteção dos pára-raios com os níveis de suportabilidade do equipamento protegido correspondentes, conforme mostram as equações abaixo: 21 TSIACF Tensão suportável de impulso atmosférico cortado do equipamento NPFO Nível de proteção do pára-raios para frente de onda TSNIA Tensão suportável nominal de impulso atmosférico do equipamento NPIA Nível de proteção do pára-raios para impulso atmosférico TSNIM Tensão suportável nominal de impulso de manobra do equipamento NPIM Nível de proteção do pára-raios para impulso de manobra O método determinístico para a definição da coordenação do isolamento tem sido bastante utilizado para sistemas elétricos em todas as faixas de tensão, em especial para sistemas até 245 kV. O princípio básico da coordenação do isolamento pelo método determinístico está ilustrado na Figura I.4. A curva superior indica a característica de suportabilidade da isolação, no caso um transformador, enquanto que a curva inferior indica a característica do dispositivo de proteção. Figura I.4 – Princípio básico da coordenação do isolamento pelo método determinístico NPFO TSIACF MP1 = NPIA TSNIA MP2 = NPIM TSNIM MP3 = 22 No caso de surtos de manobra, a máxima sobretensão imposta ao sistema pode ser determinada conhecendo-se a distribuição das sobretensões de manobra registradas ao longo da linha (V50) e o seu respectivo desvio padrão σV, considerando-se uma sobretensão de manobra cujo valor de crista tem uma probabilidade estatística de 2% de ser excedida. Utilizando-se uma margem de proteção de 1,15 entre a sobretensão máxima e a tensão suportável mínima, haverá uma probabilidade muito pequena de descarga no isolamento, sendo possível determinar a sua tensão crítica de descarga, conforme mostrado a seguir: Tensão suportável mínima do isolamento MP = 1,15 = ------------------------------------------------------------- V50 ( 1 + 2,05 . σV ) Tensão suportável mínima do isolamento = UMIN. = U50 . ( 1 – 3 . σD ) U50 é a tensão crítica de descarga do isolamento auto-recuperante para atender as condições de coordenação do isolamento. Exemplo 4 – Utilizar o método determinístico de coordenação do isolamento para determinar as margens de proteção oferecidas pelo pára-raios a um equipamento com tensão máxima de operação de 145 kV, apresentando uma tensão suportável para impulso atmosférico de 550 kV. Dados do pára-raios: Tensão nominal: 120 kV Tensão residual para impulso íngreme - 10 kA: 344 kV Tensão residual p/ impulso atmosférico - 10 kA: 324 kV Tensão residual p/ impulso de manobra - 0,5 kA: 244 kV Desprezar os efeitos dos cabos de conexão e da distância de separação entre o pára-raios e o equipamento a ser protegido. Determinação da margem de proteção 1 (ondas de frente íngreme) TSIACF = 1,15 . TSNIA → TSIACF = 1,15 . 550 → TSIACF = 633 kV NPFO = 344 kV ( )V50.MAX 05,21VV σ⋅+⋅= ( ) ( )D V50 50 31 05,21V15,1 U σ⋅− σ⋅+⋅⋅= 23 Determinação da margem de proteção 2 (impulso atmosférico normalizado) TSNIA = 550 kV NPIA = 324 kV Determinação da margem de proteção 3 (impulsos de manobra) TSNIM = 0,83 . TSNIA → TSNIM = 0,83 . 550 → TSNIM = 457 kV NPIM = 244 kV I.4 Referências bibliográficas /1/ NBR 6939 / 1999 – “Coordenação do Isolamento - Procedimento” – 1o Projeto de Revisão da NBR 6939 / 1987. /2/ Draft da NBR 8186 / 2000 – “Coordenação do Isolamento – Guia de Aplicação”. /3/ Dájuz, Ary. Et alii, “Transitórios Elétricos e Coordenação de Isolamento – Aplicação em Sistemas de Potência de Alta Tensão”, Furnas Centrais Elétricas, Universidade Federal Fluminense / EDUFF, 1987. /4/ Lapponi, J. C., “Estatística usando EXCEL 5 e 7”, Lapponi Treinamento e Editora Ltda., 1997. /5/ Dájuz, Ary. Et alii, “Equipamentos Elétricos – Especificação e Aplicação em Subestações de Alta Tensão”, Furnas Centrais Elétricas, Universidade Federal Fluminense / EDUFF, 1985 /6/ Harper, G. E., “Técnicas Computacionales en Ingenieria de Alta tensión”, Editora Limusa, 1987. /7/ Gervás, F., “Guia para la Coordinación de Aislamiento en Subestaciones de Alta Tension”, 1981. /8/ Chagas, F. A. & Verdolin, R. T., “Análise Estatística dos Resultados dos Ensaios de Alta Tensão”, I Encontro Nacional sobre Técnicas de Ensaios de Alta Tensão, São Paulo, Novembro – 1987. NPFO TSIACF MP1 = 344 633 MP1 = %8484,1MP1 == 324 550 MP2 = %7070,1MP2 ==NPIA TSNIA MP2 = NPIM TSNIM MP3 = 244 457 MP3 = %8787,1MP3 == 24 Tabela A.1 – Área submetida pela curva normal reduzida de 0 a Z /4/. Z 0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09 0,00 0,5000 0,5040 0,5080 0,5120 0,5160 0,5199 0,5239 0,5279 0,5319 0,5359 0,10 0,5398 0,5438 0,5478 0,5517 0,5557 0,5596 0,5636 0,5675 0,5714 0,5753 0,20 0,5793 0,5832 0,5871 0,5910 0,5948 0,5987 0,6026 0,6064 0,6103 0,6141 0,30 0,6179 0,6217 0,6255 0,6293 0,6331 0,6368 0,6406 0,6443 0,6480 0,6517 0,40 0,6554 0,6591 0,6628 0,6664 0,6700 0,6736 0,6772 0,6808 0,6844 0,6879 0,50 0,6915 0,6950 0,6985 0,7019 0,7054 0,7088 0,7123 0,7157 0,7190 0,7224 0,60 0,7257 0,7291 0,7324 0,7357 0,7389 0,7422 0,7454 0,7486 0,7517 0,7549 0,70 0,7580 0,7611 0,7642 0,7673 0,7704 0,7734 0,7764 0,7794 0,7823 0,7852 0,80 0,7881 0,7910 0,7939 0,7967 0,7995 0,8023 0,8051 0,8078 0,8106 0,8133 0,90 0,8159 0,8186 0,8212 0,8238 0,8264 0,8289 0,8315 0,8340 0,8365 0,8389 1,00 0,8413 0,8438 0,8461 0,8485 0,8508 0,8531 0,8554 0,8577 0,8599 0,8621 1,10 0,8643 0,8665 0,8686 0,8708 0,8729 0,8749 0,8770 0,8790 0,8810 0,8830 1,20 0,8849 0,8869 0,8888 0,8907 0,8925 0,8944 0,8962 0,8980 0,8997 0,9015 1,30 0,9032 0,9049 0,9066 0,9082 0,9099 0,9115 0,9131 0,9147 0,9162 0,9177 1,40 0,9192 0,9207 0,9222 0,9236 0,9251 0,9265 0,9279 0,9292 0,9306 0,9319 1,50 0,9332 0,9345 0,9357 0,9370 0,9382 0,9394 0,9406 0,9418 0,9429 0,9441 1,60 0,9452 0,9463 0,9474 0,9484 0,9495 0,9505 0,9515 0,9525 0,9535 0,9545 1,70 0,9554 0,9564 0,9573 0,9582 0,9591 0,9599 0,9608 0,9616 0,9625 0,9633 1,80 0,9641 0,9649 0,9656 0,9664 0,9671 0,9678 0,9686 0,9693 0,9699 0,9706 1,90 0,9713 0,9719 0,9726 0,9732 0,9738 0,9744 0,9750 0,9756 0,9761 0,9767 2,00 0,9772 0,9778 0,9783 0,9788 0,9793 0,9798 0,9803 0,9808 0,9812 0,9817 2,10 0,9821 0,9826 0,9830 0,9834 0,9838 0,9842 0,9846 0,9850 0,9854 0,9857 2,20 0,9861 0,9864 0,9868 0,9871 0,9875 0,9878 0,9881 0,9884 0,9887 0,9890 2,30 0,9893 0,9896 0,9898 0,9901 0,9904 0,9906 0,9909 0,9911 0,9913 0,9916 2,40 0,9918 0,9920 0,9922 0,9925 0,9927 0,9929 0,9931 0,9932 0,9934 0,9936 2,50 0,9938 0,9940 0,9941 0,9943 0,9945 0,9946 0,9948 0,9949 0,9951 0,9952 2,60 0,99530,9955 0,9956 0,9957 0,9959 0,9960 0,9961 0,9962 0,9963 0,9964 2,70 0,9965 0,9966 0,9967 0,9968 0,9969 0,9970 0,9971 0,9972 0,9973 0,9974 2,80 0,9974 0,9975 0,9976 0,9977 0,9977 0,9978 0,9979 0,9979 0,9980 0,9981 2,90 0,9981 0,9982 0,9982 0,9983 0,9984 0,9984 0,9985 0,9985 0,9986 0,9986 3,00 0,9987 0,9987 0,9987 0,9988 0,9988 0,9989 0,9989 0,9989 0,9990 0,9990 3,10 0,9990 0,9991 0,9991 0,9991 0,9992 0,9992 0,9992 0,9992 0,9993 0,9993 3,20 0,9993 0,9993 0,9994 0,9994 0,9994 0,9994 0,9994 0,9995 0,9995 0,9995 3,30 0,9995 0,9995 0,9995 0,9996 0,9996 0,9996 0,9996 0,9996 0,9996 0,9997 3,40 0,9997 0,9997 0,9997 0,9997 0,9997 0,9997 0,9997 0,9997 0,9997 0,9998 3,50 0,9998 0,9998 0,9998 0,9998 0,9998 0,9998 0,9998 0,9998 0,9998 0,9998 3,60 0,9998 0,9998 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 3,70 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 3,80 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 0,9999 3,90 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 4,00 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 25 Tabela A.2 Níveis de isolamento normalizados para 1 kV << Um ≤≤ 245 kV Tensão máxima do equipamento Um [kVeficaz] Tensão suportável normalizada de freqüência fundamental de curta duração [kVeficaz] Tensão suportável normalizada de impulso atmosférico [kVcrista] 0,6* (nota 1) 4* - 1,2* 10 30* 3,6 10 2040 7,2 20 4060 12 28 60 75 95 15* 34* 95110* 17,5 38 7595 24 50 95 125 145 36 70 145 170 200* 52 95 250 72,5 140 325350* 92,4* 150* 380* 185 450 123 (185) 450 230 550 145 (185) (450) 230 550 275 650 170 (230) (550) 275 650 325 750 245 (275) (650) (325) (750) 360 850 395 950 460 1050 NOTAS 1 O nível de isolamento correspondente à Um = 0,6 kV só é aplicável a secundário de transformador, cujo primário tem Um superior a 1 kV. 2 Se os valores entre parêntesis forem considerados insuficientes para provar que as tensões suportáveis fase- fase especificadas são satisfeitas, ensaios adicionais de suportabilidade fase-fase são necessários. * Indica valores não constantes na IEC 60071-1. 26 Tabela A.3 – Níveis de isolamento normalizados para Um >> 245 kV Tensão suportável normalizada de impulso de manobra Tensão máxima do equipamento Um [kVeficaz] Isolação longitudinal (nota 1) [kVcrista] Fase-terra [kVcrista] Fase-fase (relação para o valor de crista fase-terra) Tensão suportável normalizada de impulso atmosférico [kVcrista] 300 750 750 1,50 850 950 750 850 1,50 950 1050 362 850 850 1,50 950 1050 850 950 1,50 1050 1175 420 850 850 1,60 1050 1175 950 950 1,50 1175 1300 420/460* 950 1050 1,50 1300 1425 525 950 950 1,70 1175 1300 525/550* 950 1050 1,60 1300 1425 950 1175 1,50 1425 1550 550* 950 1300 1,50 1550 1675 765 1175 1300 1,70 1675 1800 765/800* 1175 1425 1,70 1800 1950 1175 1550 1,60 1950 2100 NOTAS 1 Valor da componente do impulso do ensaio combinado aplicável. 2 A introdução de Um 1050 kV e 1200 kV e das tensões suportáveis associadas estão sob consideração. * Indica valores não constantes na IEC 60071-1. 27 II Evolução dos dispositivos de proteção contra sobretensões A função básica dos dispositivos de proteção contra sobretensões é a de reduzir as amplitudes das sobretensões de frentes lenta e rápida nos terminais dos equipamentos ou dos sistemas protegidos a níveis preestabelecidos e operacionalmente aceitáveis, de modo que após a ocorrência destas solicitações a isolação dos equipamentos ou dos sistemas protegidos não fique cmprometida. Dentre os dispositivos existentes para este fim, os pára-raios têm se mostrado geralmente como os mais eficazes e efetivos, tanto sob os pontos de vista técnico e econômico. Os pára-raios quando corretamente selecionados e aplicados possibilitam uma redução nos custos dos demais equipamentos, uma vez que a isolação dos equipamentos constitui uma parcela significativa no custo final de um equipamento, especialmente àqueles aplicados em sistemas de alta e extra alta tensões. É possível definir um pára-raios ideal como sendo um dispositivo de proteção contra sobretensões que apresente as seguintes características: - Apresentar uma impedância infinita entre os seus terminais nas condições de regime permanente do sistema, ou seja, comportar-se como um circuito aberto até a ocorrência de uma sobretensão no sistema; - Ter a capacidade instantânea de entrar em condução quando da ocorrência de uma sobretensão com valor prospectivo próximo ao da tensão nominal do sistema, mantendo esse nível de tensão de início de condução durante toda a ocorrência da sobretensão; - Parar de conduzir, ou seja, retornar a condição de circuito aberto assim que a tensão do sistema retornar ao seu estado inicial. Tal operação não deveria causar nenhum distúrbio ou degradação ao sistema ou ao próprio dispositivo de proteção. No entanto, os pára-raios atualmente disponíveis não têm capacidade de atender plenamente a nenhum dos requisitos do pára-raios ideal, apresentado acima. Atualmente a tecnologia mais aprimorada e próxima de um pára-raios ideal é representada pelo pára-raios de Óxido de Zinco (ZnO) sem centelhadores, os quais representam o estado da arte de uma longa seqüência de desenvolvimentos e aperfeiçoamentos sucessivos que teve início nos centelhadores a ar, ainda hoje utilizados em algumas aplicações específicas. 28 II.1 Centelhadores com dielétrico de ar O primeiro dispositivo utilizado como pára-raios foi um simples centelhador, denominado de centelhador tipo “chifre”, instalado entre a fase e o terra nas terminações de linha e equipamentos importantes, e que utilizava como meio dielétrico o próprio ar. Esse dispositivo, entretanto, apresenta alguns pontos negativos à sua utilização, sendo as suas principais desvantagens: - A forte influência das suas características disruptivas com as condições atmosféricas; - A incapacidade de extinguir na maioria das aplicações o arco elétrico de baixa impedância formado quando da sua disrupção, ocasionando a passagem da corrente de curto-circuito do sistema, corrente essa que será mantida até que a proteção contra sobrecorrentes atue e a falta seja eliminada pelo sistema de proteção; - Durante a operação do centelhador, há um corte brusco da tensão disruptiva (elevado efeito dv/dt), que ocasiona uma solicitação muito severa na isolação entre espiras dos enrolamentos de transformadores e reatores; - A elevada corrente de arco produz uma rápida erosão dos eletrodos dos centelhadores, ocasionando uma variação progressiva nos seus níveis de proteção. Detalhes construtivos dos centelhadores com dielétrico de ar, aplicados em redes de distribuição, são apresentados na Figura II.1. Figura II.1 – Detalhes construtivos dos centelhadores tipo “ chifre” Outro fator crítico para os primeiros projetos de centelhadores, apresentado na Figura II.1 (a) é a disrupção acidental provocada pela “queda” de pássaros, provocando um curto-circuito no sistema seguido pelo seu desligamento. 29 Mais tarde, foi desenvolvido um novo projeto de centelhador onde uma haste metálica foi instalada no ponto central do centelhador, Figura II.1 (b). A distância (d/2) entre a haste central e a extremidade do centelhador deve ser dimensionada de maneira a garantir a suportabilidade dielétrica a freqüência fundamental. Desta forma, a “queda” acidental de pássaros não provoca a disrupção do centelhador evitando, desta forma, a ocorrência de curto-circuitos acidentais. Devido a sua simplicidade e ao baixo custo, este tipo de centelhador ainda hoje é utilizado em aplicações menos críticas, tais como em redes rurais longas. Centelhadores com dielétrico de ar também têm sido utilizados em algumas empresas concessionárias de energia elétrica na entrada de subestações com tensões nominais até 138 kV. Nesta aplicação, a distância entre os centelhadores deve ser ajustada para operar somente em situações transitórias quando o disjuntor da subestaçãoestiver em condição aberta. Detalhes de montagem de um centelhador aplicado na entrada de uma subestação de 138 kV são apresentados na Figura II.2. Figura II.2 - Detalhes de montagem de um centelhador para aplicação na entrada de subestações II.2 Pára-raios tipo expulsão Devido aos problemas encontrados com o uso de centelhadores a ar surgiram, por volta de 1920, os primeiros pára-raios do tipo expulsão. Estes eram constituídos basicamente por dois centelhadores montados em um tubo isolante e conectados em série. Uma vez que os dois centelhadores possuíam diferentes espaçamentos e eram constituídos por diferentes materiais dielétricos, não existia uma 30 distribuição uniforme de tensão entre esses e o início da disrupção era sempre determinado pelo centelhador montado na parte superior do pára-raios. Com a disrupção do centelhador superior, toda a tensão passava a ser aplicada sobre o centelhador inferior, que iniciava o processo de formação do arco no seu dielétrico, constituído por um material fibroso com a propriedade básica de gerar gases que provocavam a deionização do arco, provocando a interrupção da corrente de freqüência fundamental de forma natural quando da passagem da corrente pelo zero. O princípio de funcionamento do pára-raios de expulsão é o mesmo atualmente adotado para os elos fusíveis de expulsão e chaves corta-circuito. A sua principal desvantagem era a vida útil pequena, limitada a durabilidade do material utilizado para a deionização do arco elétrico. II.3 Pára-raios de Carbeto de Sil ício (SiC) Os pára-raios do tipo expulsão tiveram uma vida muito curta, sendo substituídos pelos pára-raios tipo “válvula”, os quais foram desenvolvidos em paralelo com os pára-raios tipo expulsão e acabaram por substituí-los totalmente. Estes pára-raios eram formados basicamente por centelhadores montados em série com resistores não-lineares (denominados nas normas ANSI como elementos válvula). Vários tipos de materiais foram originariamente empregados para a confecção dos resistores não-lineares, tais como Hidróxido de Alumínio, Óxido de Ferro e Sulfeto de Chumbo. Posteriormente, foram desenvolvidos resistores não-lineares de Carbeto de Silício (SiC) formado a partir dos cristais de Carbeto de Silício. Estes pára-raios, ainda hoje utilizados nos sistema elétricos, apresentam um conjunto de centelhadores montados em série os blocos de resistores não-lineares de SiC. Neste tipo de pára-raios os centelhadores apresentam duas funções: (a) "isolar" o pára-raios do sistema sob condições de regime permanente, uma vez que sem a presença dos centelhadores os elementos de SiC apresentam, sob condições normais de operação, uma elevada amplitude de corrente de freqüência fundamental, provocando perdas apreciáveis e um aquecimento excessivo nos resistores não-lineares de SiC, que ocasionaria a sua falha em poucos ciclos; (b) auxiliar na extinção da corrente subsequente que flui através dos elementos não-lineares, quando da proximidade do zero ou da sua passagem pelo zero, dependendo do projeto construtivo do centelhador. Projetos mais modernos, aplicados a pára-raios classe distribuição utilizavam centelhadores parcialmente ativos, formados por resistores equalizadores, utilizados para minimizar o efeito de distribuição não uniforme de tensão ao longo dos centelhadores, especialmente em condições de ambientes poluídos. Projetos de centelhadores mais complexos foram aplicados a pára-raios classe estação. 31 Apesar das melhorias sucessivas, a presença dos centelhadores na montagem dos pára-raios tornou-se indesejável, principalmente devido aos fatores apresentados abaixo: - A montagem dos centelhadores se dá, via de regra, de forma “artezanal” propiciando erros de montagem, detectados somente quando da inspeção através de ensaios de rotina; - Dispersões significativas nos valores das tensões disruptivas de freqüência fundamental e impulsivas; - A disrupção dos centelhadores representa um transitório na tensão, transitório esse que ao atingir os enrolamentos dos equipamentos protegidos pode causar uma solicitação entre espiras muito severa; - A dispersão dos centelhadores dificulta a aplicação de pára-raios em paralelo, fundamental na proteção de grandes bancos de capacitores série, de estações HVDC e alguns sistemas de Extra Alta Tensão, onde elevados níveis de absorção de energia são requeridos pelos pára-raios. A impossibilidade de se obter melhorias tecnológicas substanciais nas propriedades não-lineares dos resistores a base de Carbeto de Silício, visando a redução ou eliminação das correntes subsequentes, limitou a evolução tecnológica desse tipo de varistor. Apesar das limitações tecnológicas, ainda existe uma quantidade siginificativa de pára-raios de SiC instalados nos sistemas elétricos, tanto nas redes de distribuição quanto nas subestações. Ainda é possível se constatar em algumas empresas concessionárias a opção pela aquisição de pára-raios de SiC. II.4 Pára-raios de Óxido de Zinco (ZnO) sem centelhadores A tecnologia dos varistores de SiC perdurou sem concorrência até o final da década de 60, quando um novo tipo de dispositivo utilizado para a proteção contra sobretensões foi desenvolvido pela Matsushita Electrical Co. Ltd. Este dispositivo, formado por elementos cerâmicos a base de Óxido de Zinco (ZnO) e pequenas quantidades de outros óxidos metálicos adicionados ao ZnO, apresenta um elevado grau de não linearidade na sua característica “tensão x corrente”, proporcionando aos elementos de ZnO baixos valores de corrente na região de operação, associado a uma boa estabilidade quando continuamente solicitados pela tensão normal de operação. Esses elementos não-lineares a base de ZnO começaram a ser produzidos em escala industrial a partir de 1968, sendo inicialmente destinados a proteção de circuitos eletrônicos, caracterizados por baixos valores de tensão e de energia. A partir desse desenvolvimento, diversas empresas sob a licença da Matsushita, iniciaram estudos visando o desenvolvimento de resistores não-lineares de alta capacidade de absorção de energia que pudessem ser utilizados em sistemas elétricos de potência. 32 Os primeiros pára-raios de ZnO desenvolvidos para sistemas de potência foram lançados no mercado no final de década de 70 pela Meidensha Electric Manufacturing Company Ltda. Na década de 80 diversas empresas japonesas, européias e americanas, desenvolveram e produziram para-raios de ZnO para aplicação em redes de distribuição, subestações e linhas de transmissão. Os pára-raios de ZnO são constituídos basicamente por um conjunto de resistores não-lineares à base de ZnO. DA ausência dos centelhadores (elementos indispensáveis na montagem dos pára-raios de SiC) neste tipo de pára-raios deve- se a elevada não-linearidade na característica "tensão versus corrente" dos elementos de ZnO, associadas a sua estabilidade térmica e a sua elevada capacidade de absorção de energia para sobretensões temporárias e transitórias. A não utilização dos centelhadores torna os projetos de pára-raios de ZnO mais simplificados, além de oferecer muitas vantagens em suas características de proteção e de operação. No entanto, pelo fato de não possuírem centelhadores os pára-raios de ZnO além de estarem permanentemente submetidos a tensão fase-terra de operação dos sistemas e a condições climáticas algumas vezes bastante adversas, podem ser eventualmente solicitados por sobretesnões temporárias ou transitórias que impôe aos pára-raios uma quantidade de energia que deve ser dissipada para o meio externo, afim de garantir a estabilidade térmica do pára-raios. Portanto, cuidados devem ser tomados quando da seleção do tipo e das características dos pára- raios, em função das reais necessidades dos sistemas. Pára-raios de Óxido de Zinco (ZnO) sem centelhadores vêm sendo largamente utilizados na proteção dos sistemas elétricos. Em alguns países, como por exemplo o Japão, praticamente a totalidade dos pára-raios instalados em seu sistema elétrico são a base de ZnO sem centelhadores.No Brasil, empresas concessionárias de energia e grandes consumidores industriais vêm adquirindo pára-raios de ZnO, seja na substituição aos pára-raios convencionais de SiC ou em novos projetos. II.5 Pára-raios de Óxido de Zinco com centelhadores Um outro tipo construtivo de pára-raios utilizado principalmente na aplicação em redes de distribuição é o de Óxido de Zinco com centelhadores. Neste projeto, os centelhadores são adicionados em série aos elementos não- lineares de ZnO e têm como função principal "isolar" o pára-raios do sistema sob condições de regime permanente, reduzindo a possibilidade de degradação dos elementos de ZnO, que são geralmente de características inferiores àqueles utilizados na montagem dos pára-raios sem centelhadores. Desta forma, os centelhadores utilizados nesse projeto podem ser de construção simplificada, quando comparados aos utilizados na montagem dos pára-raios de SiC. 33 Entre as vantagens desse tipo de pára-raios em relação aos pára-raios de SiC, pode-se citar a maior não-linearidade na característica "tensão x corrente" dos elementos não-lineares de ZnO, que reduz a amplitude da corrente subsequente a valores muito baixos; e menores valores de tensão residual. As características “tensão x corrente” transitórias dos pára-raios de “desempenho ótimo” (pára-raios ideal), e dos pára-raios de Carbeto de Silício (SiC) e Óxido de Zinco (ZnO) são apresentadas nas Figuras II.3a, II.3b e II.3c. Figura II.3 – Características “ V x I” transitórias dos pára-raios II.6 Pára-raios de Óxido de Zinco (ZnO) com invólucro po limérico Uma evolução tecnológica bastante significativa surgiu em meados da década de 80, com a utilização de invólucros poliméricos. Até então, praticamente todos os pára-raios produzidos utilizavam o invólucro de porcelana. Diversos estudos realizados apontam a penetração de umidade devido a perda de estanqueidade do invólucro de porcelana como sendo a principal causa de falha verificada nos pára-raios ao longo do tempo. A perda de estanqueidade pode se dar por vários motivos: danificação das gaxetas de vedação durante o processo de fechamento dos pára-raios; envelhecimento das gaxetas ao longo do tempo com perda de suas propriedades, facilitando a penetração de umidade; trincas ou fissuras que se formam ao longo do tempo na porcelana ou na cimentação entre a porcelana e as flanges terminais, no caso de pára-raios classe estação; por variações bruscas de temperatura; descolamento da cimentação, entre outras causas. Além da penetração de umidade, outros fenômenos podem provocar a degradação dos elementos não-lineares e dos centelhadores (no caso dos pára- raios de SiC ou ZnO com centelhadores) ao longo do tempo, alterando as 34 características de operação dos pára-raios. Estas alterações podem conduzir o pára-raios a sua degradação total, com a conseqüente passagem da corrente de curto circuito do sistema. Neste caso, devido as características construtivas dos pára-raios de porcelana (espaçamento interno de ar entre a parte ativa do pára-raios e a parte interna do invólucro), a passagem da corrente de falta do sistema acarreta a formação de gases de alta pressão que tendem a provocar a fragmentação do invólucro ou até mesmo a explosão do pára-raios, caso este não possua um dispositivo de alívio de alta pressão. Os dois grandes problemas verificados nos pára-raios ao longo do tempo: perda de estanqueidade e fragmentação com ou sem explosão do invólucro, vêm sendo bastante minimizados pela utilização de pára-raios com invólucro polimérico, que começaram a ser produzidos em escala industrial em meados da década de 80. A experiência de campo tem demonstrado que os pára-raios poliméricos, em especial os projetos sem espaçamentos internos de ar entre as partes ativas e a parte interna do invólucro, são bem menos propensos a perda de estanqueidade por penetração de umidade do que os pára-raios com invólucros de porcelana, reduzindo a causa mais comum de falha nos pára-raios. É importante ressaltar que uma eventual falha do pára-raios não acarreta somente na perda do equipamento, podendo causar também distúrbios severos no sistema, bem como a danificação de outros equipamentos adjacentes (como por exemplo, buchas de transformadores), em caso de fragmentação ou explosão do invólucro isolante ou desprendimento dos elementos de ZnO. Em adição, os pára-raios com invólucro polimérico apresentam outras vantagens adicionais em relação aos pára-raios com invólucro de porcelana, tornando a sua utilização mais atrativa: - Melhor desempenho sob contaminação, bem como uma melhor distribuição de tensão ao longo do pára-raios: A contaminação tem se mostrado um fenômeno bastante crítico para a degradação dos pára-raios de SiC e de ZnO com invólucros de porcelana, especialmente em projetos de pára-raios aplicados a subestações. Depósitos de contaminantes nas superfícies dos invólucros dos pára-raios associados com a umidade, podem causar uma elevação da corrente de fuga pelo invólucro, provocando uma distribuição de tensão não uniforme ao longo dos pára-raios. Esse efeito pode causar um aquecimento excessivo nos elementos de ZnO (pára- raios de ZnO) e alterações significativas nas características disruptivas dos centelhadores (pára-raios de SiC). 35 Além disso, a contaminação do invólucro de porcelana gera o fenômeno de ionização interna, que pode acarretar na degradação dos elementos de ZnO (pára-raios de ZnO) e na degradação dos elementos de SiC e alteração das características disruptivas dos pára-raios (pára-raios de SiC). O efeito da contaminação externa do invólucro, crítico em pára-raios com invólucros de porcelana, é bastante atenuado quando da utilização de invólucros poliméricos. Isto se dá pela maior distância de escoamento dos projetos de pára- raios poliméricos comparados aos de porcelana de mesmo comprimento, associada a capacidade de hidrofobicidade apresentada por materiais poliméricos, especialmente os polímeros a base de silicone. Maiores detalhes sobre os efeitos da contaminação em pár-raios para aplicação em subestações são apresentadas no Capítulo IV. - Redução das perdas de energia provenientes da menor corrente de fuga nos invólucros poliméricos, comparado aos de porcelana; - A maior distância de escoamento do invólucro polimérico, para um mesmo comprimento, o que permite a montagem de pára-raios com invólucros de menor comprimento, facilitando a montagem. Em pára-raios classe estação aplicados em subestações, está redução pode ser de até 40% ou mais; - Menor peso em relação aos pára-raios com invólucro de porcelana (tipicamente menos de 50% do peso no caso de pára-raios sem espaçamentos internos de ar para aplicação em subestações), acarretando em menores esforços mecânicos sobre as estruturas e permitindo uma maior versatilidade na montagem dos arranjos; - Maior facilidade de transporte, armazenamento, manuseio e instalação, proporcionando uma redução significativa de custos. Tais facilidades são mais significativas a medida que se aumenta os níveis de tensão. - Não necessitam, geralmente, de dispositivos de alívio de sobrepressão (pára-raios sem espaçamentos internos de ar para aplicação em subestações), tornando os projetos dos pára-raios mais simples e baratos; - Não apresentam problemas de trincas ou lascas nas saias, ocasionadas por transporte, mau manuseio durante a instalação ou mesmo vandalismo, e que podem vir a comprometer a estanqueidade do pára-raios ao longo do tempo; - Possuem uma melhor capacidade de dissipação de calor, aumentando as suas propriedades térmicas e melhorando a sua capacidade de absorção de energia. 36 Pelo fato de apresentarem menor peso, maior facilidade e flexibilidade de montagem e pela não fragmentação ou explosão do invólucro com desprendimento dos elementos de ZnO, esse tipo de pára-raios tem sido instalado mais próximo aos equipamentos a serem protegidos, melhorando de modo considerável as características de proteção desses equipamentos quando da ocorrência de sobretensões
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