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Código Logístico 57274 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6408-3 9 788538 764083 C IÊ N C IA P O L ÍT IC A E T E O R IA D O E ST A D O D éb ora Ferrazzo Ciência Política e Teoria do Estado IESDE BRASIL S/A 2018 Débora Ferrazzo Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ F431c Ferrazzo, Débora Ciência política e teoria do estado / Débora Ferrazzo. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2018. 150 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6408-3 1. Ciência política. I. Título. 17-46749 CDD: 320 CDU: 32 © 2018 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: arsenisspyros/iStockphoto Débora Ferrazzo Doutoranda em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em Teoria, Filosofia e História do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e gra- duada em Direito pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb). Integrante do Núcleo de Estudos Filosóficos (Nefil/UFPR) e do Núcleo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional (Furb). Pesquisadora no Grupo de Pesquisas em Pensamento Jurídico Crítico Latino- americano (Unesc). Professora de graduação e especialização em cursos da área de Direito. Sumário Apresentação 7 1 Ciência política e Teoria geral do Estado 9 1.1 A natureza política do ser humano: o que é política? 9 1.2 Diferença entre ciência política e Teoria geral do Estado 12 1.3 A relação entre ciência política e outras ciências sociais 15 2 Sociedade e política 21 2.1 Sociedade e classes sociais 21 2.2 Evolução das sociedades e estruturas de poder 25 2.3 Sociedade civil e movimentos sociais 27 2.4 Sociedade, instituições políticas e controle social 30 3 O Estado no pensamento político ocidental 35 3.1 Definições e classificações do Estado 35 3.2 Teorias sobre a origem do Estado 40 3.3 Formas de Estados, formação e extinção 42 4 Formação do Estado moderno 49 4.1 Contexto histórico da formação do Estado moderno 49 4.2 Teorias contratualistas e a separação dos poderes do Estado 54 4.3 Elementos constitutivos do Estado 58 5 Relações do Estado e estruturas de poder 63 5.1 Caracterização do poder do Estado 63 5.2 Soberania e autonomia 71 5.3 Limitações da soberania e da autonomia 74 6 Formas de governo e sistemas de governo 77 6.1 Classificações de tipos de governo 77 6.2 Sistemas de governo: presidencialismo e parlamentarismo 82 6.3 O instituto do impeachment e as experiências brasileiras 86 7 Democracia: experiência e perspectivas teóricas 93 7.1 Conceito, origem e evolução histórica da democracia 93 7.2 Experiências de democracia no Ocidente 96 7.3 Cidadania e participação política 99 8 Partidos políticos, sistemas eleitorais e mandatos 105 8.1 Partidos políticos 105 8.2 Sistemas eleitorais 110 8.3 Mandatos políticos e formas de limitação 113 9 Ideologia, pensamento político e fronteiras teóricas entre os Estados modernos 117 9.1 Conceitos de ideologia e sua relação com a política 117 9.2 Principais ideologias políticas: socialismo, liberalismo e social-democracia 121 9.3 Pensamento político e Estados 125 10 Crises das instituições políticas modernas 131 10.1 Regimes totalitários e a negação da democracia 132 10.2 Grupos sociais de pressão política e o Estado 136 10.3 Crises no Brasil e no mundo: corrupção e outras ameaças à democracia 138 Gabarito 143 Apresentação As páginas seguintes foram cuidadosamente planejadas para que possamos construir co- nhecimentos no campo das teorias políticas e do Estado. Ao longo de dez capítulos, buscamos articular conteúdos clássicos dessas áreas com debates atuais e urgentes, como a questão das crises políticas, que é, ora de diferentes, ora de semelhantes maneiras, compartilhada por todo o mundo contemporâneo. Também incluímos as especificidades da crise brasileira, com a manifestação de fenômenos como os impeachments, a instabilidade do poder judiciário, entre outros. Ao revisitarmos as mais antigas preocupações que afligem o pensamento político, podemos perceber que há elementos comuns entre todas as épocas históricas, como a corrupção no exercício do poder ou a legitimação democrática dos governos, temas que são discutidos desde a filosofia grega antiga. Isso mostra que a sucessão das épocas na história da humanidade não ocorre de maneira uniforme e linear, mas sim cíclica, tendendo a reviver experiências e crises do passado. Entretanto, será que somos capazes de aprender com essas crises? É por isso que organizamos esta obra, tomando o elemento político como fio condutor, com a intenção de contribuir para a compreensão e o aprofundamento de temas e teorias que envolvem a ciência política e a formação e caracterização dos Estados, desde a Antiguidade até o momento presente, aproveitando suas continuidades e descontinuidades em favor de nosso aprendizado. Eventualmente, os capítulos trazem a indicação de leituras e fontes selecionadas com cautela e rigor científico, que permitem saciar a curiosidade por novos saberes de maneira abrangente e objetiva. Cada um deles também traz distintas perspectivas, de modo a oportunizar o diálogo com diferentes orientações teóricas, sejam elas críticas ou conservadoras. Esse é justamente um dos pressupostos mais importantes da construção do estudo de ciência política e Teoria geral do Estado, em especial por se tratar de uma disciplina tão urgente e necessária em nossos tempos. Bons estudos! 1 Ciência política e Teoria geral do Estado Por volta do século IV antes de Cristo, o filósofo Aristóteles afirmou em A política, uma obra muito famosa, que “o homem é um animal político” (2002, p. 14). Desde então a humanidade busca compreender o sentido dessa afirmação e, com base nessa inquietação, desenvolveu-se a ciência política. A ideia de ciência assume um sentido muito próprio em nosso tempo, sob a influência das tecnologias e das profundas mudanças culturais. Ela tem um lugar privilegiado na explicação do mundo e construção do saber, mas também se torna mais complexa e se divide em vários campos, como em ciências exatas, naturais, humanas, ou ainda suas variações e subdivisões. Todas elas são influenciadas pela política e se relacionam de alguma forma. Dito isso, nosso primeiro desafio será buscar compreender qual o sentido de animal político atribuído ao ser humano, como isso se rela- ciona com o desenvolvimento de uma “ciência política” e como essa ciência se inter-relaciona com as demais, em especial com a Teoria geral do Estado. 1.1 A natureza política do ser humano: o que é política? Não conhecemos a data precisa em que o filósofo Aristóteles afirmou que “o homem é um animal político, por natureza, que deve viver em sociedade” (ARISTÓTELES, 2002, p. 14), mas sabemos que esse filósofo nasceu em 384 a.C., em Estagira – sendo por isso conhecido como O Estagirita1. Para ele, a distinção entre o homem e os outros animais se dá pelo dom da palavra, uma vez que estes possuem somente a voz. A palavra permite entender o que é justo e o que é injusto, possibilitando ao ser humano – naquela época Aristóteles falava somente no homem, mas hoje precisamos reco- nhecer homens e mulheres – diferenciar o bem e o mal. Com a fala, o ser humano pode se comu- nicar e, devido a essa comunicação, formaram-se as sociedades. Desse modo, Aristóteles concluiu que é da natureza do homem viver em sociedade. Com base nessa simples ideia, O Estagirita escreveu, no século IV a.C., uma das obras mais influentes na história da humanidade: A política. Norberto Bobbio (2004) explica que o termo política tem origem na palavra grega pólis2, atribuída a tudo o que se relacionava à cidade. E foi esse livro, escritohá mais de 2 mil anos, que permitiu a expansão do termo. Inclusive, essa obra é considerada o primeiro tratado sobre o assunto: nela são discutidas as formas de governar, as fun- ções do Estado e outros temas, todos ocupados da reflexão de como o ser humano se relaciona em sociedade e como exerce o poder no espaço público, ou seja, por meio do Estado. Assim, tudo o que é feito no âmbito da convivência em sociedade é política, que vai além da ideia de um congresso, uma câmara de deputados ou uma prefeitura, por exemplo. 1 Cidade que na Antiguidade pertencia à Macedônia. Hoje é situada na Grécia, na região da Calcídica, no golfo do Rio Estrimão. 2 Modelo de organização das antigas cidades gregas do período arcaico até o clássico. Vídeo Ciência Política e Teoria do Estado10 Ao reconhecermos a natureza política do ser humano, precisamos refletir sobre o que signi- fica política. Não é algo fácil, afinal, no decorrer da história, essa ideia assumiu diversos sentidos. No entanto, com as contribuições de Nicola Abbagnano (2007) – filósofo e historiador que escre- veu um dos mais importantes dicionários de Filosofia de nosso tempo –, podemos nos arriscar a citar os principais sentidos da política e compreender que sua concepção no mundo antigo é bas- tante diferente daquela do mundo moderno. Encontramos na sistematização de Abbagnano (2007) o primeiro sentido de política, origi- nado ainda em Aristóteles, num livro que conhecemos pelo título de Ética. Nele há reflexões sobre o que deve ser o bem e o que deve ser o bem supremo. Esses seriam os objetos de estudo da ciência mais importante, justamente a política, uma vez que ela determina quais são as outras ciências ne- cessárias em uma cidade. É também por meio da política que se decide o que deve ser delegado a cada cidadão, pois ele deve aprender o que e na medida em que a política lhe determina para servir à cidade. Se a entendermos do mesmo modo que Aristóteles, a reconheceremos como “doutrina do direito e da moral”. Foi o que o filósofo inglês Thomas Hobbes fez: seguiu a tradição iniciada por Aristóteles e relacionou a política com a ética, a “ciência do justo e do injusto”. O segundo sentido de política a trata como Teoria do Estado e tem suas bases na nossa obra já conhecida: A política – sim, ainda estamos trilhando pelas ideias de Aristóteles. A essa altura ficamos tentados a perguntar: mas, afinal, ninguém mais falou sobre política? Como temos refle- tido desde o início, esse é um conceito bastante complexo e muita coisa já foi dita a respeito dele, Aristóteles foi só o começo – um começo fundamental, mas só o começo. Então, para a política como Teoria do Estado, fica reservada a tarefa de discutir qual a melhor constituição. Consciente de que não era possível haver um modelo ideal para todas as sociedades, Aristóteles se preocupou em descrever a melhor constituição e levou em consideração diferen- tes situações que cada cidade poderia vivenciar. Com base nessas condições, ele descreveu como seriam as constituições mais aptas a satisfazer os ideais das pessoas. Como Teoria do Estado, a política tem duas funções: descrever a constituição ideal – a melhor em um sentido absoluto – e descrever a melhor constituição em determinadas condições. Abbagnano (2007, p. 901-902) explica que o terceiro sentido de política a identifica como a “arte ou ciência do governo”, ideia desenvolvida por Platão na obra Político. Nela, o filósofo (nascido por volta de 428 a.C. e mestre de Aristóteles) denominou a política como ciência régia. O próprio Aristóteles também reconheceu esse sentido e afirmou que haveria uma terceira tarefa da política: investigar como surge um governo e como ele pode manter-se no poder pelo maior tempo possível. O quarto sentido de política é relacionado ao estudo dos “comportamentos intersubjetivos” (p. 900-902). Para compreendê-lo, precisamos dar um salto na história e chegar ao século XVII, quando o filósofo francês Auguste Comte (1798-1857) começou a desenvolver suas ideias. Comte acreditava que os fenômenos da política se sujeitavam a leis invariáveis. Inspirado nos métodos das ciências naturais para estudar a sociedade, ele descobriu fenômenos regulares por meio da observação, ou seja, baseado em um método empírico. Para Comte, o conhecimento assim cons- truído era o “conhecimento científico” ou “positivo” (BOTTOMORE, 2001, p. 290), de modo que o Ciência política e Teoria geral do Estado 11 consideramos o fundador do positivismo3. A proposta de Comte identificou os sentidos de política e de sociologia, os quais foram difundidos sobretudo na obra Sistema de política positiva. Pouco tempo depois de Comte, e sob a influência de seu pensamento, o jurista italiano Gaetano Mosca (1858-1941) conceituou política como a “ciência da sociedade humana” (ABBAGNANO, 2007, p. 902), pelo fato de o termo sociologia proposto por Comte ainda não ter convencido totalmente a comunidade científica. Hoje, compreendemos que a política não pode ser definida dessa maneira e percebemos que a Sociologia se consolidou no campo das ciências. Sintetizando nossas ideias... Podemos concluir que o objeto de estudo da política em Aristóteles é um em sua obra Ética (que se ocupa do bem e do bem supremo, do justo e do injusto) e outro em A política (que trata das constituições, sua abran- gência e tudo relacionado a elas, é o princípio de uma ideia de Teoria geral do Estado). Para Platão, em Político, e para Aristóteles, ainda em A política, esse objeto de análise é o governo, sua origem e subsistência. Finalmente, para Comte, em sua obra Sistema de política positiva (ca. 1851-1854), a política refere-se à investigação sobre relacionamentos intersubjetivos. Ele inaugura a abordagem positivista da ciência e da própria política enquanto ciência moderna. Ainda sobre política, não podemos nos esquecer de uma figura muito importante: o filó- sofo ateniense Sócrates (470/499-399 a.C.), que, mesmo sem deixar escritos (ele preferia ensinar nas praças), passou muitas lições sobre política e a respeito da moral do homem. Algumas des- sas lições chegaram até nós na forma de diálogos, registrados por Platão em diversas obras. Em A República, Político ou As leis, Platão também apresentou reflexões a respeito do Estado e sua forma ideal. Aristóteles, por sua vez, ao apresentar uma sistematização das cidades-Estados de seu tempo, também mostrou modos de melhorá-las, por isso pode ser considerado o fundador das ciências do Estado (GAMA, 2005, p. 14-15). Com relação a Sócrates, para alguns talvez a maior lição política que o filósofo deixou como legado para seus contemporâneos – e também para nós – seja aquela ilustrada em sua morte. Condenado pela pólis, mesmo sabendo que era inocente, o filósofo recusou-se a fugir e aceitou sua sentença. Ainda há indagações a respeito de por que ele aceitou passivamente o destino que lhe foi designado: seria para mostrar à sociedade ateniense a importância de cumprir a lei do Estado, mesmo sendo injusta? Seria para provar sua inocência? Ou seria simplesmente por não suportar 3 O positivismo se expressava como uma corrente filosófica. Posteriormente, esse termo assumiu inúmeras formas de manifestação, como é o caso do positivismo jurídico. A orientação positivista via na ciência o único guia para a vida individual ou em sociedade. Para essa corrente, a ciência era o único conhecimento possível e método válido, tudo o que era construído fora dela e dos seus métodos não podia ser considerado conhecimento (ABBAGNANO, 2007, p. 909). Ciência Política e Teoria do Estado12 viver em uma sociedade com leis tão injustas? Independentemente da resposta, uma coisa é certa: na Antiguidade grega, a lei, a política e o justo andavam (ou deveriam andar) juntos. Após esse passeio pela história do pensamento político, podemos perceber que, desde Aristóteles, um dos pontos mais importantes no que se refere à política é a sua relação com a ética. Compreendemos que tanto a política quantoa ética se referem à vida prática do ser humano, mas a concepção de política na Antiguidade é muito diferente daquela de política no mundo moderno. Sob a influência de Platão e Aristóteles, a política dizia respeito à atividade humana em busca de um fim específico, como o bem comum, a justiça ou a liberdade, e, por isso, a ética se estabele- cia como desenvolvimento natural da intencionalidade política e ambas (política e ética) tinham o mesmo sentido. Por outro lado, no mundo moderno, e sob a influência do pensador italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), surge a concepção de política como gestão do poder, tendo em vista não mais o bem comum como horizonte, agora o poder em si, ou seja, a conservação do poder a qualquer custo – e disso decorre o inevitável conflito entre ética e política. Maquiavel, que viveu entre os séculos XV e XVI, escreveu a célebre obra O príncipe, é tido como o pensador que reduziu a política a um simples instrumento de domínio (ABBAGNANO, 2007, p. 903-904). 1.2 Diferença entre ciência política e Teoria geral do Estado Como vimos, não há um sentido ou definição universal sobre política. Não apenas o conceito da palavra pode ser estabelecido de maneiras diferentes, mas também a forma como o conhecimento produzido em torno da política pode se submeter a diversas abordagens e métodos científicos. Simultaneamente, a política pode influenciar a ciência, mas, antes de refletirmos sobre isso, vamos buscar com- preender a origem do desenvolvimento científico da política e sua relação com o Estado, ou melhor dizendo, sua relação com o que hoje chamamos de Teoria geral do Estado. Foi no final do século XIX que a ciência política apareceu como disciplina autônoma. No ano de 1872, o sociólogo francês Emile Boutmy (1835-1906) fundou a Escola Livre de ciências políticas4, que provocou o surgimento de inúmeras instituições relacionadas ao estudo da ciência política. As obras (consideradas clássicas), produzidas sob essa influência, mostraram profunda preocupação com temas como o direito e o pensamento constitucional. Após a fundação da es- cola francesa, começou um longo e lento processo de delimitação do campo de estudo da Ciência Política e diversos cientistas pesquisadores da disciplina se destacaram. Chama atenção o fato de que as outras ciências foram fundadas com grandes obras ou por uma personalidade destacada – a exemplo de Auguste Comte, fundador da Sociologia e do positivismo, como falamos anteriormen- te –, no entanto, a ciência política, por sua vez, não se absteve disso (CAMINAL BADIA, 2006, p. 27). Contudo, é importante darmos destaque à obra Elementos de ciência política5, do italiano Gaetano Mosca, que teve sua primeira parte publicada no ano de 1896. Foi a partir desse momento que a expressão ciência política foi empregada originalmente. 4 Em francês, École Libre des Sciences Politiques. 5 Em italiano, Elementi de scienza política. Vídeo Ciência política e Teoria geral do Estado 13 Então, se a ciência política como é compreendida contemporaneamente não tem um funda- dor, a política, por sua vez, deve seu desenvolvimento inicial às contribuições de Aristóteles, como pudemos observar até aqui. O uso do termo ciência pelos filósofos antigos não caracteriza o estágio atual de desenvolvimento do conhecimento humano. Como explicado anteriormente, a ciência tem assumido um sentido específico nos últimos séculos, uma vez que a humanidade começa a abandonar os antigos mitos que explicavam o mundo para buscar na observação, nos testes, enfim, nos diversos métodos, uma forma de compreendê-lo. Assim como na ciência, a política também começou a assumir métodos rigorosos para sis- tematizar seus objetos de estudo e apresentar seus pressupostos, construindo, dessa forma, seus procedimentos científicos. Atualmente, podemos situá-la no grande grupo das ciências sociais e há uma variedade expressiva de abordagens sobre a política. Sua delimitação enquanto ciência é muito ampla, apesar de alguns autores, como Bonifácio de Andrada (1930-), considerarem que o surgimento e a consolidação de outras ciências, como a Sociologia, a Economia e a própria Teoria do Estado, tenham esvaziado os conteúdos da ciência política (ANDRADA, 1998, p. 16). Dessa forma, ao considerarmos que há essa ampla variedade de estudos no âmbito da ciência política, podemos defini-la como o “conjunto das atividades necessárias ao governo de um país [e seus] elementos essenciais, sem os quais não pode haver governo” (ABBAGNANO, 2007, p. 901). É o caso da autoridade política, que envolve um poder institucionalizado (nós o reconhecemos no Estado), e a obe- diência dos cidadãos. Esse poder precisa ser legítimo, ou seja, contar com o consentimento democrático, e implica no dever de respeitar as leis e submeter-se às punições quando não as cumprir. No ano de 1948, na cidade de Paris, a Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura (UNESCO, 1948) promoveu uma conferência internacional sobre métodos em ciência política e um dos objetivos era delimitar a abrangência dos estudos dessa ciência. Ao fim dos tra- balhos, foi apresentada uma proposta de divisão temática, sintetizada no Quadro 1 a seguir: Quadro 1 – Campos de estudo da ciência política Campo de estudo Temas abrangidos Teoria política Teoria política (conceitos básicos) História das ideias políticas Instituições políticas A constituição Governo nacional Governo regional e local Administração pública Economia e funções sociais do governo Comparativo de instituições políticas Grupos, partidos e opinião pública Partidos políticos Grupos e associações Participação cidadã no governo e administração Opinião pública Relações internacionais Política internacional Organismos internacionais e administração Direito internacional Fonte: Elaborado pela autora com base em UNESCO, 1948. Ciência Política e Teoria do Estado14 Podemos perceber que o campo de estudo da ciência política, mesmo com o “esvaziamento” promovido pela emancipação de outras ciências, ainda é bastante amplo. Um dos seus principais campos é a Teoria geral do Estado. Levando em consideração que por vezes os objetos de estudo das duas disciplinas são confundidos, é importante distingui-las. Na ciência política, estudamos o poder e aspectos relacionados a ele. Nas sociedades con- temporâneas, quem exerce o poder é o Estado, então podemos dizer que o poder é instituciona- lizado – no entanto, ambos não devem ser confundidos: o Estado incorpora o poder, mas não se funde a ele. No campo da Teoria geral do Estado, estudamos justamente essa delimitação do poder político, o poder exercido pelo ente estatal. Com essas considerações preliminares, podemos iden- tificar alguns traços que distinguem ambas as disciplinas (GAMA, 2005, p. 7-10): • A ciência política é mais abrangente que a Teoria geral do Estado, que se ocupa das abs- trações, ou seja, de identificar aspectos gerais nos Estados, e por isso não oferece soluções para situações concretas – em razão disso, há doutrinadores que não concordam em con- siderar a Teoria geral do Estado um ramo dentro da ciência política. • A ciência política estuda o poder, ciente de que algumas relações de poder se desenvolvem dentro da esfera estatal. É mais dinâmica que a Teoria geral do Estado. • A ciência política tem abordagem mais concreta, pois analisa, reflete e conclui seus temas, diferente da Teoria geral do Estado, que tem abordagem mais abrangente e menos profunda. • As investigações e conclusões da ciência política dão subsídios, ou seja, informações mais detalhadas, que são fundamentais para que a Teoria geral do Estado possa elaborar suas próprias formulações. • A ciência política admite uma construção interdisciplinar de seus conhecimentos, pois busca seus subsídios em diversas outras ciências, como na economia, antropologia, en- tre outras. • No âmbito do Direito, a Teoria geral do Estado busca dados especialmente nos chamados ramos do Direito Público (como é o casodo Direito Constitucional), enquanto a ciência política pode ir além, retirando informações também do âmbito privado do Direito e da sociedade (como já mencionamos, é o caso das relações intersubjetivas). • Por fim, a ciência política trabalha também com problemas concretos, enquanto a Teoria geral do Estado, quando muito, reúne as problemáticas encontradas. Com base nessas distinções, epistemologicamente (veja a explicação sobre o termo na pró- xima página) podemos concluir que a essência de uma teoria é justamente procurar formulações gerais que possam oferecer uma explicação universalista para os fenômenos estudados. A ciência, por outro lado, é mais ampla e pode comportar em cada campo diversas teorias. No campo da ciência jurídica, por exemplo, temos a Teoria geral do Direito, a Teoria geral do Processo, a própria Teoria geral do Estado, entre outras. Além de poder reunir várias teorias, a ciência não fica presa à busca pelas abstrações e universalizações, ela pode – e frequentemente o faz – analisar situações específicas, casos concretos e buscar uma explicação científica para cada fenômeno estudado, seja ele único, comum ou recorrente. Ciência política e Teoria geral do Estado 15 O professor Ricardo Gama, em seu livro Ciência política (2005, p. 17), defende que o estudo dessa disciplina é mais importante que o da Teoria geral do Estado. Ele entende que a primeira oportuniza mais condições de desenvolvimento de nosso senso crítico e de nossa criatividade, enquanto a segunda investiga e descreve os fenômenos, mas não possibilita a reflexão crítica. E a você? O que parece? Já que falamos em epistemologia... o que é isso? O termo epistemologia é de origem grega e atualmente o empregamos com dois sentidos distintos: para nos referirmos a uma teoria do conhecimento ou à filosofia da ciência. Abbagnano (2007, p. 392) explica que no nosso tempo a questão do conhecimento e da ciência se entrelaça e às vezes até se confunde. Por que o filósofo afirma isso? Como vimos, na modernidade – e sob a influência de teóricos como Auguste Comte – reconhecemos a possibilidade de produzir conheci- mento somente por meio da ciência. Os saberes elaborados sem respeitar um método científico não são mais considerados válidos. É nesse ponto que reduzimos o conhecimento à ciência. E, com o hiperdesenvolvimen- to das ciências, hoje falamos em teorias do conhecimento ou filosofia das ciências em diversos campos, sendo que, para tratar desses assuntos, empregamos conceitos como epistemologia política, epistemologia jurí- dica, entre outros. 1.3 A relação entre ciência política e outras ciências sociais Das relações entre a ciência política e outras áreas do saber, talvez a mais complexa se dê justamente com a Teoria geral do Estado, já que ambas se desen- volvem em campos de investigações que se inter-relacionam e se influenciam reci- procamente. Agora que já formulamos algumas distinções entre essas disciplinas, podemos refletir sobre essa relação e outros campos do conhecimento científico. Mais que isso: é possível pensar sobre a importância de ver o mundo interdisciplinarmente e como a política influencia as outras ciências. Com relação à interdisciplinaridade6, a primeira evidência que encontramos acerca de sua importância é o fato de que a política é estudada por diversas ciências e cada uma delas lança 6 A palavra interdisciplinaridade significa a junção de diversas disciplinas para compreender um tema comum. É empregada, por exemplo, quando, para compreendermos o sentido de uma constituição, buscamos na história o con- texto em que tal constituição foi criada; na Sociologia compreende as relações sociais que a definiram; na Economia os interesses de mercado que exerceram influência e assim por diante. Nessa perspectiva, todas as informações confluem para explicar o mesmo objeto de estudo e assim conseguimos chegar a uma compreensão mais profunda e ampla da realidade (WOLKMER, 2005, p. 15-16). Vídeo Ciência Política e Teoria do Estado16 sobre a política diferentes perspectivas. Assim, temos a Antropologia Política, a História Política, a Filosofia Política, a Economia Política, a Sociologia Política e muitas outras. Em cada uma dessas ciências, a política é analisada com base nos métodos científicos específicos adotados e, por isso, as conclusões podem ser diferentes. Isso porque o mesmo objeto visto por vários ângulos – e sob métodos diferentes – será compreendido e descrito de maneiras distintas. Em suma: o tema da política não é específico de sua ciência porque sua complexidade não só permite como exige uma abordagem interdisciplinar, em especial pelas ciências sociais e humanas. Por isso, praticamente todos os cursos de graduação compreendem em suas grades curriculares a disciplina de Ciência Política, acrescentam a disciplina de Teoria geral do Estado ou ainda variações de ambas. Sobre a maneira como essas disciplinas se relacionam, podemos começar citando o Direito Constitucional. Bonavides (2010) explica que, no campo das ciências jurídicas, a ciência política – antes de se consolidar como disciplina autônoma na França – pertencia quase totalmente ao Direito Constitucional. Mesmo emancipadas, a relação entre as disciplinas nunca se desfez, pois, no âmbito do Direito, é o ramo constitucional que se ocupa da coisa política, das instituições do Estado e do espaço público no qual os fenômenos políticos se desenvolvem. Na modernidade, as constituições são o princi- pal instrumento de limitação do poder estatal e de prevenção contra abusos e autoritarismos no exercí- cio do poder político. A eficácia desse documento está relacionada a fatores sociais, visto que sociedades instáveis e atrasadas economicamente, conforme exemplifica o autor, tendem a ter instituições políticas oscilantes – e, nesse caso, menos eficaz será o Direito Constitucional. Com relação à Economia, e ainda de acordo o raciocínio de Bonavides (2010), essa é a dis- ciplina que analisa os aspectos econômicos incidentes sobre a sociedade e como eles se determi- nam reciprocamente. Além disso, examina a formação das instituições e de fenômenos políticos. O autor ainda destaca que não é necessário ser marxista para reconhecer a influência da economia como elemento fundamental para determinar a politização da sociedade. Vamos articular essa ideia com as do parágrafo anterior: fatores econômicos, como o atraso (objeto de estudo da Economia), podem comprometer a eficácia constitucional (objeto de estudo do Direito Constitucional) e ocasionar a instabilidade política. Marxismo, comunismo e a política Precisamos tomar cuidado para não cair em certas “armadilhas” próprias de nosso tempo, que se dão pelo estágio avançado de desenvolvimento do capitalismo, por tendências políticas conservadoras mundialmente verificadas, entre outros. Uma dessas armadilhas é rejeitar a priori o aporte teórico e científico do marxismo (às vezes sem conhecê- -lo) e outra é identificar marxismo e comunismo como sinônimos. O comunismo detalharemos posteriormente, mas, por hora, vale destacar que os modos de produção – muito mais antigos que a existência de Marx – compreendidos como “comunistas” ressaltam o fato de que o comunismo é muito anterior ao pensamento desse autor. Além disso, o marxismo, enquanto aporte científico e teórico, abrange um amplo rol de contribuições Ciência política e Teoria geral do Estado 17 a diversas ciências, como uma nova metodologia para entender a história das sociedades (o materialismo histórico ou materialismo dialético), a teoria da mais-valia (fundamental para a Economia), entre outras, cujos méritos são reconhecidos até mesmo por intelectuais alinhados ao liberalismo econômico. As obras de Marx desocultaram o elemento político inerente às ciências. Ainda que, historicamente, as sociedades inclinem-se a rejeitar certas ideias e teorias, não podemos nos esquecer de que um cientista, inclusive um cientista político, não pode adotar tal postura. Issoporque o cientista dialoga e reflete sobre todos os argumentos, mesmo aqueles dos quais, a princípio, discorda. E é isso o que permite à ciência evoluir! Ainda em Bonavides (2010), o autor destaca a relação entre ciência política e história. É a história que sistematiza a aglutinação de fatos e experiências e é pelo aporte do historiador que recebemos subsídios para refletir os objetos da ciência política; da mesma forma, o historiador crítico se apoia nos instrumentos da ciência política para compreender e descrever processos e fe- nômenos históricos. E essa tendência de apropriação da ciência política por outras áreas se amplia. Nas últimas décadas, foi a vez da psicologia, que se relacionou com a psicologia social e o behaviorismo, orientação teórica que estuda o comportamento humano (e dos demais animais) e fenômenos como a comunicação (já vimos que a comunicação é atribuída à natureza política do homem). Na abordagem da política pela psicologia, defende-se que os fundamentos do poder são de ordem psicológica e que a ciência política toma como objeto o material humano. Consta ainda a relação entre ciência política e sociologia política, em que ambas compartilham muitos objetos de estudo, como o comportamento político de grupos e indivíduos, os modos como a autoridade política é exercida, as lutas entre classes sociais e seus reflexos políticos, entre outros. Para compreendermos a relação e a própria abordagem interdisciplinar da ciência política, vamos tomar como exemplo o estudo e a compreensão de uma determinada constituição. Com base na história, em especial, na do Direito, podemos compreender o contexto em que as forças sociais se mobilizaram e se reuniram em assembleia constituinte. Podemos também entender a formação de uma sociedade e suas reivindicações específicas, que em eventuais disputas de poder podem ser negociadas ou prevalecer. Além disso, podemos buscar a compreensão dos fatores eco- nômicos e também do contexto político. Todas essas informações podem ser articuladas para compreender uma constituição em es- pecífico ou para buscar aspectos comuns entre as experiências que formam o movimento constitu- cionalista, tal como a motivação comum em assegurar os direitos dos indivíduos e limitar o poder do Estado. Ao considerarmos que uma constituição congrega diversas dimensões, notadamente a política (por exemplo, na organização dos poderes institucionais ou estatais) e a jurídica (ao citar o Ciência Política e Teoria do Estado18 rol de direitos e garantias fundamentais, como no artigo 5º de nossa Constituição7), podemos dizer ela é o cânone jurídico-político de uma sociedade. Nós já comentamos sobre a influência que as ciências produzem umas sobre as outras. No entanto, ainda é importante empreendermos uma última reflexão acerca da influência que a polí- tica exerce sobre as ciências. Há muitas maneiras de abordar esse assunto. Destacamos duas posições importantes e dia- metralmente opostas. A primeira, que acompanha a ciência moderna desde sua origem, sustenta a posição de que a ciência é neutra e imparcial, não se deixa influenciar pelos fenômenos políticos da sociedade em que está inserida. A segunda perspectiva, ao contrário da primeira, defende que todas as ciências são politicamente determinadas, inclusive em razão de fatores econômicos. Nessa última concepção, todas as escolhas do pesquisador (o que, como e por que pesquisar) são definidas politica- mente. As pesquisas que permitem a descoberta de novas tecnologias – novas máquinas, por exemplo, que facilitam e aumentam a produtividade das fábricas – são produto de uma ciência determinada pelos interesses de mercado. Do mesmo modo, as pesquisas que culminam na descoberta de remédios ou doenças quando um cientista segue um método ou adota teorias de um pesquisador europeu, em vez de um africano ou latino-americano, por exemplo, partem de uma escolha que é politicamente de- terminada. Naturalmente, entre ambos os extremos, encontramos inúmeras posições intermediárias e incontáveis interpretações diferentes a respeito da relação entre a política e as demais ciências. Então, sob essas distintas perspectivas, podemos entender que a ciência é neutra e, por isso, não tem compromisso com questões sociais – ao ser neutra, ela é independente da sociedade –, ou podemos ainda defender que ela tem um compromisso político com a sociedade. Esse é um tema que tem relação com a questão da ideologia, como veremos adiante. Considerações finais Como pudemos observar, a política é um dos objetos de reflexão e também uma das preocu- pações mais antigas da humanidade. Apesar das profundas transformações que experimentamos – como o avanço tecnológico, o surgimento do capitalismo, o fim dos poderes absolutos dos reis e a diminuição do poder político da Igreja –, a política persiste como uma das questões mais fun- damentais até nossos dias. Atualmente, o sentido de política e a predisposição social em discuti-la estão “em cheque”, mas isso decorre da crise das instituições, e não da política em si. Agora, já sabe- mos que a política tem muitos sentidos, abrange diversos objetos e mais que isso: ela define nossa vida como indivíduos e sociedade. Com essas bases, podemos avançar e começar a refletir sobre a relação entre a política e a sociedade, espaço esse em que produzimos e reproduzimos nossas vidas, ou seja, em que nos des- cobrimos e nos afirmamos cotidianamente como seres humanos e animais políticos. No próximo capítulo, vamos assumir a abordagem política como referencial para sistematizar os aportes de outras ciências e compreender o processo de formação das sociedades e sua evolução. 7 O artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil diz que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988). Para ler o artigo na íntegra, acesse: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 5 jun. 2018. Ciência política e Teoria geral do Estado 19 Ampliando seus conhecimentos Neste capítulo, comentamos alguns sentidos possíveis do termo política. O filósofo Enrique Dussel sintetizou parte de sua obra para reunir as principais reflexões a respeito da política e a dire- cionou aos jovens, sob o nome 20 teses de política. A seguir há uma passagem da obra em que o autor reflete sobre a essência da política, uma lição urgente para tempos de crise como os que vivemos. 20 teses de política (DUSSEL, 2007, p. 13; 37-38) Para entender o político (como conceito) e a política (como atividade), é necessário deter-se na análise de seus momentos essenciais. Em geral, o cidadão e o político por profissão ou por vocação não tiveram possibilidade de meditar pacientemente sobre o significado de sua função e responsabilidade política. [...] O ofício político pode ser vivido existencial e biograficamente pelo sujeito como uma “profissão” burocrática, em certos casos muito lucrativa, ou como uma “voca- ção” motivada por ideais, valores, conteúdos normativos que mobilizam a subjetividade do polí- tico a uma responsabilidade em favor do outro, do povo [...] “Vocação” significa “ser chamado” (do verbo vocare) a cumprir uma missão. O que “chama” é a comunidade, o povo. O chamado é o que se sente “convocado” a assumir a responsabilidade do serviço. Feliz o que cumpre fielmente sua vocação! Maldito aquele que a trai porque será julgado em seu tempo ou pela história! Dicas de estudo • Muitas das informações discutidas neste capítulo foram buscadas no Dicionário de Filosofia, de Nicola Abbagnano (2007), no verbete “política” (p. 784-785). O ato de consultar regularmente dicionários é importante para aprimorar nosso vocabulá- rio e evitar o uso impreciso de algumas palavras. Nos dicionários de política e de Filosofia, em geral, temos obras sistematizadas por autoresconsiderados referência em suas respec- tivas áreas. É o caso de Nicola Abbagnano, cuja leitura, além de enriquecer nosso vocabu- lário, aperfeiçoa nossos saberes e nos qualifica intelectual e profissionalmente, pelo rigor científico com que desenvolve e sistematiza os conceitos que nos apresenta. • Diante do vasto campo de abrangência e de milhares de obras que já foram escritas sobre a política, destacamos a importância de Aristóteles no cenário da Filosofia. Além das obras que citamos neste capítulo, o filósofo escreveu outras importantes, como A política e Ética a Nicômaco. Ética a Nicômaco foi um livro que Aristóteles escreveu para seu filho (Nicômaco). Nele, o filósofo apresentou as bases para se pensar a ética e a justiça que, conforme mencionamos neste capítulo, eram as temáticas e motivações da política em toda a Antiguidade. A ideia de justiça que Aristóteles defende nesse livro é influente até hoje e consta em inúmeras constituições pelo mundo. Em A política, por sua vez, Aristóteles apresentou um retrato detalhado de como era a sociedade ateniense de seu tempo e relatou desafios e problemas que os governos enfren- tavam – alguns ainda atuais –, como violações de direitos políticos, o favorecimento de Ciência Política e Teoria do Estado20 poucos e exclusão de muitos no acesso aos serviços e poderes do Estado. Ambas, enfim, são obras clássicas e imprescindíveis para nos ajudar a pensar nosso próprio tempo. Atividades 1. Podemos afirmar que o sentido da palavra política existente na Antiguidade é o mesmo ado- tado hoje? Justifique sua resposta. 2. Existem diferenças entre ciência política e Teoria geral do Estado? Podemos dizer que uma é mais importante que a outra? Justifique sua resposta. 3. Cite exemplos de temáticas que podem ser estudadas tanto no campo da ciência política quanto no da Teoria geral do Estado. 4. Antes de estudar este capítulo, ao pensar no termo ciência, você percebia alguma relação com a política? E depois de nossos estudos, você continuou tendo as mesmas percepções? Cite exemplos que demonstrem sua visão antes e depois dos nossos estudos. Referências ANDRADA, B. Ciência Política: ciência do poder. São Paulo: LTr, 1998. ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martin Claret, 2002. ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. BOBBIO, N. Política. In: BOBBIO, N.; MATTEUCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de política. 5. ed. Brasília: Editora UnB, 2004. 2v. BONAVIDES, P. Ciência Política. 17. ed. São Paulo: Objetiva, 2010. BOTTOMORE, T. B. Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. CAMINAL BADIA, M. La política y la ciencia política. In: CAMINAL BADIA, M. (Ed.). Manual de Ciencia Política. 3. ed. Madri: Tecnos, 2006. DUSSEL, E. 20 teses de política. São Paulo: Expressão Popular, 2007. GAMA, R. R. Ciência Política. Campinas: LZN, 2005. UN – United Nations Educational Scientific and Cultural Organization. International conference on: methods in political science. Paris, 27 sept. 1948. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001575/157593eb. pdf>. Acesso em: 6 jun. 2018. WOLKMER, A. C. Fundamentos de história do Direito. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. 2 Sociedade e política No capítulo anterior, refletimos sobre o que é política. Essa reflexão nos remeteu ao ambien- te em que a política se concretiza, que é, por excelência, a sociedade humana. Então, com base nas definições anteriormente discutidas – orientação para o bem comum, instrumento de manutenção do poder etc. –, pudemos perceber que qualquer delas requer o espaço fecundo das interações es- tabelecidas entre as pessoas, ou seja, as relações intersubjetivas para se desenvolver. Neste capítulo, nossa tarefa consiste em discutir sobre a sociedade. Vamos compreender as distintas maneiras de descrevê-las e de explicar suas origens e seu desenvolvimento. Depois, che- gamos ao momento contemporâneo e analisamos como as sociedades atuais se organizam e apre- sentam suas reivindicações políticas, por meio do que temos denominado de movimentos sociais. Por fim, estudamos os sentidos possíveis para o conceito de instituições no âmbito da política, bem como a ideia de controle social. 2.1 Sociedade e classes sociais No primeiro capítulo, conforme nossas reflexões, pudemos perceber a im- portância da sociedade para a política. Por isso, nosso segundo passo consiste em compreender minuciosamente as sociedades e uma importante ideia que a acom- panha desde os primórdios, crucial para a definição da política: as classes sociais. Com base nessa compreensão, podemos também analisar a política por uma pers- pectiva mais complexa e perceber como ela se desenvolve não somente no âmbito das relações intersubjetivas, mas também na relação e interação entre diferentes grupos sociais. Isso facilitará a compreensão de temas como o modo de organização das instituições de poder, a disputa pelo poder e outros temas que tentaremos contemplar ao longo desta obra. Para Bastos (2002, p. 23-25), uma das evidências de que o homem é um animal social é o fato de ele ter vivido desde os primórdios de sua existência em sociedade. Por isso, o autor acredita que a sociedade e a evolução do ser humano se confundem, a ponto de a sociedade ter sua origem juntamente da origem da espécie humana. A sociedade não consiste no mero agrupamento de seres, pois outros seres (como abelhas, formigas etc.) também se reúnem em grupos e até mesmo dividem tarefas. No entanto, o autor não reconhece neles a existência de uma sociedade propria- mente dita. Entre seres humanos reunidos em grupo, há um elemento que somente se verifica nas sociedades humanas: a normatividade. Nós lidamos diariamente com essa normatividade, pois ela consiste em nossas leis. As leis determinam como os carros devem transitar, o que é considerado crime (e, portanto, não deve ser praticado), quais são nossos direitos, nossos deveres e assim por diante. Esse conjunto de normas tem o propósito de manter a ordem e, para isso, adota-se um sistema normativo para mantê-la Vídeo Ciência Política e Teoria do Estado22 (seja ela boa ou ruim)1. Consideramos essa normatividade necessária para impor limites e conferir segurança ao convívio social, no entanto, ela também abrange limites morais e éticos (sem necessa- riamente constarem em uma lei jurídica) e influencia nossa conduta por agir em nossa consciência e orientar nossas relações com outras pessoas. Podemos citar como exemplos desses limites as normas jurídicas, a moral e a ética. Diferença entre moral e ética Qualquer explicação que seja muito reducionista será perigosa, pois esse tema é complexo e tem sido pesquisado desde os tempos mais remotos. Entretanto, podemos nos arriscar ao apontar uma das diferenças entre os dois conceitos. A moral é desenvolvida no âmbito individual (nossa consciência e crenças pessoais). Já a ética é desenvolvida no âmbito da sociedade (valores e crenças coletivamente compartilhados). A ética é mais objetiva. Em certo sentido, é considerada a ciência que estuda a moral. Uma revisão mais aprofundada e outras acepções dos termos po- dem ser encontradas em: Figueiredo (2008). Conforme comentamos, neste capítulo nosso objetivo é discutir teorias sobre as origens da sociedade. Todavia, para melhor compreendermos esse tema, antes devemos analisar como se dão as formações sociais humanas, ou seja, como as sociedades se dividem e se organizam internamen- te. Nesse sentido, a ideia mais importante é a de classes sociais e seus elementos, que Dallari (2011, p. 31-54) classifica como: • Finalidade ou valor social: objetivo, aspiração, meta compartilhada pelas pessoas que convivem em sociedade, como por exemplo, o bem comum. • Manifestações de conjunto ordenadas: relaciona-se à ordem social e à ordem jurídica que abrange três requisitos: reiteração, ordem e adequação. A reiteração diz que perma- nentemente a sociedade se manifesta em prol de suas finalidades. A ordem diz quehá normas regendo as manifestações em sociedade. Por fim, a adequação pressupõe que as ações devem se desenvolver em prol do bem comum e, para ser assegurada, a livre mani- festação de ideias é indispensável. • O poder social: que se manifesta de infinitas maneiras. É difícil chegar a classificações do poder, mas há características gerais como a sociabilidade (o poder é um fenômeno da sociedade) e a bilateralidade (o poder está na interação de duas ou mais vontades em que uma prevalece). 1 No item 10.1 “Regimes totalitários e a negação da democracia” do último capítulo de nosso livro, falaremos a respeito dos regimes totalitários e das ditaduras. Por enquanto, para saciar curiosidades, antecipamos que quanto menos legítima for a ordem, ou seja, quanto pior ela for, mais duras serão as regras e mais violenta será a repressão imposta por quem está no exercício do poder político (DUSSEL, 2007). Sociedade e política 23 Os aspectos iniciais a respeito do poder serão abordados no item seguinte, mas como já apontamos, compreender essas estruturas requer também o entendimento do papel das classes sociais. As classes sociais agrupam pessoas e dividem a sociedade sob vários recortes diferentes, como classe econômica, grupo étnico ou racial, comunidade religiosa, entre outros. Esses grupos representam vontades que interagem no espaço público, com predomínio de algumas sobre outras. Essa predominância pode ser definida pela posição e o poder que cada classe ocupa na sociedade. Vejamos mais detalhadamente essa questão. É muito comum ser atribuído ao pensamento marxista a origem do conceito classe social. De fato, as obras de Karl Marx (1818-1883) apresentaram importantes contribuições para chegarmos à forma que atualmente empregamos esse conceito. Entretanto, há autores como Santos (1983, p. 7-9) que recordam que a origem desse conceito é muito mais antiga e consta, inclusive, em do- cumentos egípcios, em relatos a respeito da Grécia Antiga, entre outros. Aristóteles, por exemplo, quando refletiu sobre a política, descreveu uma sociedade dividida em classes (classes de escravos, homens livres e até mesmo classes de ricos e pobres). Nem mesmo os textos bíblicos escaparam de referências às classes sociais. E assim, por razões econômicas ou outras circunstâncias, esse concei- to foi citado por inúmeros teóricos no curso da história. As contribuições de Marx ultrapassaram a dimensão científica estabelecida na época e atribuíram a esse conceito um papel fundamental na explicação da sociedade humana e de sua própria história. Para compreendermos o conceito de classe social em Marx, precisamos antes compreender o modo como ele entendia a sociedade. Segundo Bottomore (2001, p. 432-344), assim como a maioria dos sociólogos, ele também destacou que a sociedade pode ter três sentidos distintos. O primeiro é o de sociedade humana, isto é, a humanidade interagindo entre si. O segundo refere- -se aos diferentes tipos de organização verificados no curso da história, como as sociedades feudal, capitalista, entre outras. Por fim, o terceiro sentido refere-se a sociedades específicas, como a França da Revolução Iluminista, em 1789. A partir desse momento, Marx apresentou uma concepção bem característica, que o diferenciou dos demais sociólogos, cientistas políticos e teóricos em geral. Vejamos a seguir. Em primeiro lugar, Marx alcançou a compreensão de que o indivíduo não é oposto ou an- tagônico à sociedade. Não é necessário um contrato social para remediar tensões entre ele e a sociedade. Para Marx, a própria existência, assim como tudo mais que fazemos, é atividade social. Em segundo lugar, ele não interpretava a sociedade humana como separada da sociedade natural. Enquanto começava a se fortalecer e difundir uma percepção do ser humano (civilizado) como separado da natureza, uma concepção que viria a se tornar hegemônica, ele o entendia como parte do mundo natural e o modo como o ser humano produz e reproduz a vida (pelo trabalho e pela procriação) constitui relação natural e social. Finalmente, temos no pensamento de Marx a con- cepção de tipos de sociedade, embasada na ideia de que o trabalho humano cria e transforma as relações sociais. Diante desse ponto de vista, as forças produtivas se desenvolvem (desenvolvimento tecno- lógico) e a divisão social do trabalho está em permanente transformação, o que constitui as rela- ções sociais de produção, isto é, relações de classe. Vejamos como isso é importante: o modo de Ciência Política e Teoria do Estado24 produção2 – que se refere justamente à forma como o trabalho se desenvolve e como ele é dividi- do – assume um papel de destaque na definição da sociedade. Para Marx, as sociedades mudam quando as forças produtivas entram em conflito com as relações de produção. A isso ele chama luta de classes (BOTTOMORE, 2001, p. 342-344). Finalmente, chegamos ao conceito de classe propriamente dito, embora tudo que comen- tamos anteriormente é relacionado a essa ideia. Em certo momento de sua obra, Karl Marx e Friedrich Engels (1820-1895) afirmaram que “a história de todas as sociedades que até hoje existi- ram é a história da luta de classes” (1999, p. 7). Além disso, a relação de classe existente no modo de produção capitalista (sociedade capitalista) diferencia-se das relações verificadas em outros modos de produção (outros tipos de sociedades). De acordo com os autores, em outras épocas verificava- -se a existência de mais classes sociais, enquanto a sociedade capitalista delimita-se cada vez mais em dois campos opostos: o da burguesia e o do proletariado. Bottomore (2001, p. 61-64) destaca que apesar dessa importante diferenciação, Marx não deixou de perceber que há um sentido co- mum em todas as sociedades. No que diz respeito à divisão fundamental das classes, há a relação entre proprietários das condições de produção e produtores diretos. Ao aplicarmos as categorias marxistas para analisar nossa sociedade, dizemos que seu modo de produção é capitalista e que as relações de produção que a definem se dão entre os proprietários dos meios de produção (burgueses) e os produtores diretos (proletariado/trabalhadores/operá- rios). As primeiras revoluções (inglesa, americana e francesa), que permitiram a substituição do antigo modo pelo modo presente, são atribuídas à classe burguesa, que também foi, outrora, uma classe oprimida. Então, “a burguesia desempenhou na história um papel eminentemente revolucio- nário” (MARX; ENGELS, 1999, p. 10). É importante destacar que há várias perspectivas sobre como analisar a sociedade, as quais Dallari (2011, p. 21-30) divide em duas grandes posições: • a dos que defendem a ideia de uma sociedade natural, em que o homem a organiza se- guindo sua própria vontade e natureza; e • a dos que acreditam que o ser humano é obrigado a viver em sociedade contra a sua von- tade, e uma vez nela inserido, precisa se submeter a limitações as quais podem ser tantas e frequentes a ponto de suprimir sua liberdade individual. Entre os que defenderam a primeira concepção estão Karl Marx e Aristóteles, Dallari ainda acrescenta Cícero (que viveu em Roma no século I a.C.) e Tomás de Aquino (que viveu no período medieval entre 1225 e 1274). Na modernidade, o autor menciona que houve um grande número de teóricos e cientistas que defenderam essa orientação. Do lado oposto encontravam-se os teóricos do contratualismo, cujas teorias acerca do Estado estudaremos no Capítulo 43. Esses autores eram assim denominados porque defendiam que 2 Baseada na concepção de Marx, firmou-se um novo modo de estudar a história por sua explicação sistemática e o entendimento dela como a sucessão de diferentes modos de produção. Nesse sentido, entende-se que os modos de pro- dução definem e de certa forma delimitam períodos da história. O caminho para transformar esses modos de produção – e consequentemente a história – são as revoluções (BOTTOMORE, 2001, p. 267-268). 3 Discutiremos detalhadamente essa questão noitem 4.2: “Teorias contratualistas e a separação dos poderes do Estado”. Sociedade e política 25 a sociedade decorre de um acordo de vontades, uma espécie de contrato hipotético, e negavam o impulso natural do ser humano em viver em sociedade. Embora haja a vontade de viver em so- ciedade, os contratualistas defendiam que esse desejo era motivado por diversos fatores, nenhum deles inerente à natureza do ser humano. O autor ainda menciona aquele que acredita ser o mais remoto precedente do contratualis- mo: Platão. Em A República, o filósofo grego defendeu a construção racional – e não natural – de uma associação humana. Além de Platão, o autor menciona Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704), Montesquieu (1689-1755), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), entre outros. Naturalmente, essas distintas posições terão impacto sobre nossa compreensão acerca desse longo processo de evolução social e também das estruturas de poder que se sucederam. No item seguin- te, observamos essa distinção e analisamos a evolução das sociedades por duas perspectivas: a perspectiva crítica de Marx e a perspectiva positivista de Fustel de Coulanges (1830-1889). 2.2 Evolução das sociedades e estruturas de poder A respeito da origem das sociedades, podemos dizer que a família é uma das suas mais antigas formas. Essa tese foi defendida por Fustel de Coulanges, histo- riador que viveu no século XIX e em 1864 publicou A cidade antiga, sua obra mais conhecida. É notória a influência do positivismo4 em sua obra e, por isso, o consi- deravam um autor conservador. Ele acreditava que atuava como um pesquisador neutro, imparcial e que a história era uma ciência pura, e que o historiador tinha compromisso de identificar fatos, descobrir a verdade e expô-la independentemente das circunstâncias5 (ROIZ, 2011). Agora que conhecemos um pouco mais sobre o pensamento do autor, podemos verificar como ele descreveu a origem das sociedades. Se para Marx o trabalho é o elemento crucial para definir as sociedades, para Coulanges a origem delas e seu desenvolvimento foram determinadas pela religião. Na crença antiga, acredita- va-se que nem mesmo a morte separava o corpo da alma. A morte tornava os antepassados “deuses pessoais” da família, que não podiam ser compartilhados com estranhos. Além disso, os túmulos – moradas eternas desses deuses –, assim como o próprio lar, não poderiam ser removidos, por isso, a propriedade era imprescindível. Apoiado nesses fatores, foram encontradas as bases das socieda- des antigas: religião, família e propriedade. Além disso, o poder era centralizado no homem e era transmitido de pai para filho. Esse direito abrangia três categorias: pai de família, chefe religioso e proprietário ou juiz. Em suma, o poder era absoluto ao âmbito familiar. A primeira instituição da cidade antiga, o casamento, se deu em função da religião. E com base nessa afirmação, verificamos uma rápida síntese acerca do desenvolvimento das sociedades antigas: a religião se desenvolveu junto à sociedade. Lentamente, as famílias se agruparam em 4 Podemos recordar o sentido de positivismo no item 1.1 “A natureza política do ser humano: o que é política?”. 5 Essa orientação é própria do positivismo científico. Vemos essa manifestação no âmbito da ciência jurídica cerca de 70 anos depois, com o jusfilósofo austríaco Hans Kelsen (1881-1973). Sua obra mais importante, Teoria pura do Direito (1934), afirma os mesmos ideais no âmbito da pesquisa jurídica. Vídeo Ciência Política e Teoria do Estado26 frátrias6, que posteriormente originaram tribos, das quais finalmente surgiram as primeiras cida- des. Por isso, o surgimento das primeiras cidades ficou marcado por um governo comum, sob o qual coexistia uma infinidade de pequenos governos. Desse modo, percebemos que Coulanges desloca seu referencial de análise e não reconhece a luta de classes, como fazia seu contemporâneo Marx. Ainda que o historiador tenha relatado al- gumas revoluções antigas, ele não confere a elas um papel central para compreender a evolução das sociedades. Um detalhe importante: ao descrever as revoluções, Coulanges não percebeu a tensão entre as forças produtivas e as relações de produção como motivação de conflitos. Uma crítica a seu trabalho se dá pelo fato de que ele naturalizou relações de opressão entre as classes sociais nas distintas épocas que analisou. Essa mesma naturalização pode ser observada também nas obras de Aristóteles, inclusive na própria Política. Para Aristóteles, a relação entre o senhor e o escravo era natural e até benéfica, pois quando aquele que nasceu para obedecer se en- contra com aquele que nasceu para mandar, a natureza de ambos se completa. Da mesma maneira, Aristóteles considerava a mulher incapaz e o menino incompleto. O menino um dia se tornará homem e será completo e capaz, mas a mulher sempre será incapaz. O pensamento aristotélico, presente naquele tempo, não era um consenso: sofistas e filósofos, inclusive Platão e Sócrates, di- vergiam em diversos pontos. Em Marx verificamos as bases de uma concepção diferente, que evidenciava a importân- cia do trabalho e da propriedade sobre os meios de produção na transformação das sociedades. O autor considerava natural a formação das sociedades, mas isso não significa que ele via do mes- mo modo a relação de dominação entre classes sociais. O fato é que, com base em sua perspectiva, surgiu um modo totalmente novo de dividir os períodos da história7, no entanto, o próprio Marx se deu conta de que não era tão simples caracterizar essa evolução social. Assim, ele descreveu os possíveis modos de produção, mas não estabeleceu uma ordem entre eles, pois acreditava que não era possível estabelecê-los e aplicá-los de maneira homogênea. É importante destacar que por meio dessas reflexões surgiram importantes abordagens que foram além da contribuição da histó- ria científica de matriz positivista. Um dos conceitos importantes que decorrerão dessa percepção é o conceito de elite. As primeiras teorias sobre as elites são motivadas por uma oposição à obra de Marx e são desen- volvidas por Vilfredo Pareto (1848-1923) e Gaetano Mosca. Mosca defendeu a ideia de que todas as sociedades tinham duas classes de pessoas: a governante e a governada. Assim, nos deparamos com uma argumentação que apontava para o estabelecimento das elites nas relações de poder. Mosca também apresentou a ideia de uma classe dirigente, que na obra de outros autores assumiu sentidos diferentes, mas que para ele se definia como minoria organizada ou classe política, que conseguia exercer domínio sobre a maioria desorganizada (BOTTOMORE, 2001, p. 122-123). 6 Divisão das tribos atenienses. 7 Em um primeiro momento, sob influência da ideia de modos de subsistência, própria do século XVIII (caça, pastoreio, agricultura e comércio), Marx e Engels periodizaram a história em quatro épocas: a primeira seria comunal ou tribal primiti- va, chamada de sociedade asiática (ou modo de produção asiático); a segunda, clássica ou antiga, baseada na escravidão; a terceira, consistia no feudalismo, e a quarta, ao capitalismo. Sociedade e política 27 Desse modo, percebemos que a questão do poder está presente em todas as sociedades e sua compreensão se dá de acordo com a abordagem proposta pelos teóricos. Ao poder, são atribuídos diferentes sentidos e graus de importância, mas nenhum teórico ousou ou ousa dizer que essa questão é irrelevante. Atualmente, temos um espaço institucional em que o poder político se manifesta, que con- siste no Estado e suas instituições. Mas também é muito presente a manifestação do poder político por meio dos grupos sociais, os quais designamos por movimentos sociais. Esses grupos podem – e de fato o fazem recorrentemente – aglutinar segmentos ou classes sociais. No próximo capítulo nos concentraremos no estudo acerca do poder político nas instituições (Estado e governo), mas antes vamos nos ocupar de um breve estudo sobre movimentos sociais ea sociedade civil. 2.3 Sociedade civil e movimentos sociais O conceito de sociedade civil tem diversos sentidos, mas o principal na lin- guagem política atual designa um contraste entre sociedade civil e Estado. Em ra- zão desse contraste, os cientistas políticos e teóricos em geral, a exemplo de Bobbio (2007, p. 33-37), afirmam que para compreendermos do que se trata esse conceito, devemos delimitar o que é Estado. É que a sociedade civil se manifesta na esfera das relações não reguladas pelo Estado. Aliás, essa é uma de suas mais comuns definições: conjunto das relações que não são reguladas pelo Estado. Um elemento que caracteriza o Estado e o diferencia da sociedade é o poder coativo. Esse poder permite ao Estado aplicar de modo legítimo a força da lei para regular as relações interindi- viduais que não conseguem se autorregular sozinhas (as relações econômicas, por exemplo, conse- guem). Mesmo com essa definição vaga (que a considera como “o que não é estatal”), decorrem di- versas interpretações. Alguns a identificam com um sentido “pré-estatal” (presente na ideia de que antes do Estado há diversas formas de organização dos indivíduos que são reguladas por ele, mas nunca são suprimidas e têm seu desenvolvimento impedido), há também o sentido de antiestatal (que aglutina espaços onde se manifestam possibilidades de transformação das relações sociais de dominação e de lutas por emancipação – os contrapoderes) ou ainda o sentido de pós-estatal (que pode representar o ideal de uma sociedade sem Estado). Na sociedade civil, podem ser organizados movimentos de reivindicação de direitos, de rei- vindicação e pressão política, entre outros, os quais temos denominado como movimentos sociais. Atualmente, no Brasil e fora dele, uma das mais importantes referências teóricas para compreen- dermos no que esses movimentos consistem é a obra da socióloga e cientista política Maria da Glória Gohn (2004). A autora publicou a Teoria dos movimentos sociais: paradigmas8 clássicos e 8 Gohn (2004, p. 13) propõe um sentido para o conceito paradigma. Para a autora, um paradigma é um conjunto ex- plicativo que reúne teorias, conceitos e ideias que permitem compreender objetos de estudos. Então, um determinado paradigma permite interpretar determinados fenômenos que percebemos na realidade social. No estudo dos movimentos sociais, especificamente não existe um só conceito, mas vários que são distintos justamente porque são interpretados com base em “paradigmas” diferentes. Por isso, a autora divide seu estudo em três paradigmas. Ainda é importante des- tacar que o sentido de paradigma sugerido não é o mesmo apresentado na teoria de Thomas Kuhn (1922-1996), cientista responsável pela difusão desse conceito no âmbito das ciências ocidentais. Na verdade, a definição de Kuhn é a mais influente. Em síntese, o autor afirma: “Considero ‘paradigmas’ as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (KUHN, 1998, p. 13). Vídeo Ciência Política e Teoria do Estado28 contemporâneos, em que, ciente da escassez de pesquisas no Brasil a respeito do tema, assume a responsabilidade de apresentar uma exposição sobre as principais teorias contemporâneas. Dessa forma, o estudo apresentado por ela se divide em três partes: o paradigma norte-americano; os pa- radigmas europeus; e o paradigma latino-americano. Esses paradigmas são divididos desse modo porque reúnem teorias com realidades específicas e diferentes entre si. Vejamos resumidamente como a autora descreve cada um. O paradigma norte-americano começou a se desenvolver nos anos 1980, embasado no diá- logo com o paradigma dos novos movimentos sociais (um dos paradigmas europeus que veremos em seguida). Esse diálogo impactou ambos, tanto que, inclusive, modificou a abordagem europeia. Como resultado desse diálogo, essa corrente teórica modificou-se e se tornou predominante na América. Antes – nos anos 1970 e 1980 –, buscava-se compreender o processo político emba- sado em aspectos econômicos, posteriormente, o paradigma norte-americano concentrou-se no processo político para compreender as bases culturais que o sustentam. As principais teorias desenvolvidas nesse âmbito são sobre ações coletivas (primeira etapa desse paradigma, predominante até os anos 1960, que investigava a ação social e o comportamento coletivo, tendo na psicologia um importante aporte científico); ações coletivas e movimentos so- ciais (influenciados por transformações políticas ocorridas nos Estados Unidos na década de 1960, como as lutas feministas e a guerra do Vietnã; nessa vertente, destacamos a Teoria de Mobilização de Recursos9), e por fim, movimentos sociais na era da globalização e a mobilização política (ini- ciados nos anos 1970, com análise cultural do processo político e críticas à Teoria da Mobilização dos Recursos, devido ao seu enfoque exclusivamente econômico). Na tradição europeia existem dois paradigmas diferentes para entender os movimentos so- ciais, os paradigmas europeus. Um deles é a abordagem marxista e o outro é a abordagem dos novos movimentos sociais. A abordagem marxista concentra-se no processo histórico e na luta de classes. Desse modo, as contradições entre os interesses das classes, assim como a questão do trabalho, são fundamentais para dimensionar e compreender os movimentos sociais. As lutas dos movimentos sociais buscam, principalmente, transformar a realidade e eliminar formas de opressão política, econômica e cul- tural. Quando as classes sociais oprimidas conseguem romper com a ordem dominante, ocorre o que chamamos de revolução. No entanto, Gohn (2004) faz um alerta: é errado interpretá-lo apenas como a análise do movimento operário, uma vez que essa abordagem permitiu também a análise de movimentos de origem não operária. Os novos movimentos sociais explicam a realidade por meio de um recorte mais específico, pelo próprio cotidiano. Esse paradigma não atribui tanta importância ao processo histórico, mas dá ênfase a temas como cultura, identidade, subjetividade e interação política. Umas das principais di- vergências entre os novos movimentos sociais e o paradigma marxista é relacionada às contradições do capitalismo na definição dos sujeitos históricos. Essa questão – fundamental para o marxismo – é 9 A Teoria de Mobilização de Recursos deixou de enfocar nos comportamentos coletivos – inclusive rejeitando a psi- cologia – para compreender os movimentos sociais como organizações e essas, como tais, passaram a ser vistas pela ótica da “burocracia de uma instituição”. Sociedade e política 29 desconsiderada pela segunda abordagem, que se ocupa de um sujeito coletivo difuso, que luta contra a discriminação no acesso aos bens da modernidade. A política também ganha destaque nesse se- gundo paradigma (mais do que no paradigma marxista). Nessa abordagem, ela é redefinida e consi- derada uma dimensão na vida social que abrange todas as práticas percebidas em sociedade. Aqui, o processo de luta política cria uma identidade coletiva, isto é, os grupos a constituem, mas não criam as estruturas sociais (ou as relações de produção que, por exemplo, criam as identidades coletivas do proletariado e da burguesia, como a abordagem marxista poderia nos levar a identificar). Já no paradigma latino-americano existe um elemento próprio do continente, que expe- rimentou ao longo de sua história diversas formas de dominação e exploração10. Esse elemento encontra-se nas lutas por emancipação ou libertação. Nesse sentido, destacamos as lutas dos indí- genas, dos negros e das mulheres, além das lutas por moradia, por terras, entre outras. Essas mobilizações foram interpretadas com base nos paradigmas europeus e, por isso, com- preendidas de maneiras diferentes. Por exemplo, quando interpretadas pelo paradigma marxista, as contradições e as lutas sociais são conceitos-chaves para descrevê-las. Por outro lado,quando embasadas na abordagem dos novos movimentos sociais, a autonomia e identidade recebem maior destaque. Naturalmente, nos estudos desenvolvidos no continente, essas abordagens também fo- ram adaptadas e novos instrumentos de análise surgiram, pelo que Gohn (2004) nos apresenta como o paradigma latino-americano dos movimentos sociais. De acordo com a autora, o que di- ferencia esse paradigma dos demais não é o modelo teórico propriamente dito, mas sim as lutas concretas desses povos. Nos anos 1990, dizia-se que na América aconteciam muitas mobilizações populares, po- rém havia pouca teorização sobre elas. Os estudos que surgiram inicialmente nesse período – em especial no Brasil, México, Argentina e Chile – eram concentrados em pós-graduações, porém sem muita apropriação em outros países do continente, embora tenham se intensifica- do na década de 1960. Se por um lado esse foi um momento histórico para o crescimento econômico dos países, por outro foi também um período de defasagem salarial dos trabalhadores e dura repressão polí- tica dos governos militares11. Esses elementos, associados a outros de repressão das lutas sociais, impulsionaram movimentos de resistência e de reivindicação pela democracia. Um detalhe importante: na Europa e nos Estados Unidos ainda repercutiam as mobilizações dos movimentos sociais. Já no Brasil, as organizações coletivas de lutas políticas se concretizaram pelos movimentos populares. 10 O sociólogo peruano Aníbal Quijano (2010, p. 125) explica a diferença entre dominação e exploração: ambas estão relacionadas, mas nem toda dominação implica também em exploração. A exploração, por outro lado, não é possível sem a dominação (2010, p. 125). 11 Veremos essa questão detalhadamente no item 10.1 “Regimes totalitários e a negação da democracia” do último capítulo deste livro. Ciência Política e Teoria do Estado30 Agora que mencionamos os movimentos populares, é oportuno verificarmos como eles se diferenciam dos movimentos sociais. Uma distinção importante é a identificação dos movi- mentos sociais enquanto grupos que compartilham interesses específicos no âmbito da socie- dade civil. Em função desses interesses, questionam-se as estruturas de dominação e busca-se sua transformação. Os movimentos sociais podem representar tanto os interesses do povo quanto de setores dominantes. Os movimentos populares são assim denominados por representarem especificamente as lutas do povo. Sua principal diferença se dá pelo fato de os movimentos sociais poderem repre- sentar tanto interesses do povo quanto representar interesses de elites dominantes. Desse modo, quando os movimentos sociais representam lutas do povo, eles são denominados movimentos po- pulares (CAMACHO, 1987, p. 216-219). Pazello (2010, p. 390) explica que os movimentos popu- lares defendem uma “proposta totalizadora de transformação social”. Já os movimentos sociais concentram pautas específicas contra opressões específicas, sem aspirar a transformação completa da sociedade. Podemos citar como exemplos de movimentos sociais – em um contexto em que nenhum deles percebe ou discute a relação entre a injustiças sociais com as suas condições e dificulda- des específicas – movimentos estudantis, movimentos de greves, associações de moradores etc. Retomaremos algumas dessas ideias adiante12. 2.4 Sociedade, instituições políticas e controle social No curso da história, as sociedades ocidentais consolidaram uma grande instituição em que se concentra o poder político com força coativa: o Estado. No próximo capítulo observaremos mais detidamente essa grande instituição. Antes disso, entretanto, devemos desenvolver uma síntese do que são instituições e um breve panorama acerca de como a sociedade civil exerce forças de controle sobre o poder estatal. Claro, o Estado controla a sociedade com o uso legítimo de leis regulatórias que são obedecidas, mas a sociedade também tem meios de exercer certo controle sobre as instituições públicas, fato que designamos como controle social. A respeito das instituições públicas, nos apoiaremos na teoria do filósofo argentino Enrique Dussel (2007). Ele parte da explicação elementar de que nós desenvolvemos inúmeras atividades em inúmeras esferas de nossa existência, como atividades familiares, esportivas, artísticas, políticas etc. Essas esferas podem ser denominadas campos e em todos os campos exercemos nossa inter- subjetividade. A política, por excelência, é uma atividade própria do campo público. Relacionado à política está o poder, que precisa ter seu exercício confiado a instituições para se concretizar. Para o autor, o conceito de instituições remete a figuras, autoridades e espaços em que o poder político é exercido, ou seja, as representações do poder. 12 A retomada de alguns aspectos sobre os movimentos sociais será feita no item 7.3 “Cidadania e participação políti- ca” do Capítulo 7 e no tópico 10.2 “Grupos sociais de pressão política e o Estado” de nosso último capítulo. Vídeo Sociedade e política 31 Desse modo, podemos dizer que o Estado é uma instituição política. Tribunais, juízes, fun- cionários públicos, repartições públicas etc. são representações e criações da política por meio das quais o poder é exercido. Eventualmente, essas instituições entram em crise e se corrompem, fato que demanda modificações. Retomaremos algumas dessas ideias em outros momentos, por enquanto, sintetizamos que as instituições políticas abrangem suas representações tanto no âmbito da micropolítica quanto na macropolítica. Na micropolítica reúnem-se as lideranças políticas, os partidos políticos e os grupos de pres- são13. O que une todos esses elementos é o escopo ou propósito da micropolítica, que consiste em estudar a questão da liderança e associações para atuação política. Na macropolítica, reunimos as organizações políticas dominantes e o Estado. No curso da história, os estudos da macropolítica analisaram poderes de âmbito individual, como o caso de senhores feudais, príncipes, imperadores etc. A macropolítica seguiu os trabalhos de investigação das lideranças iniciados pela micropolítica (ANDRADA, 1998, p. 33, 47). Atualmente, entendemos que o poder de um único indivíduo não pode ter legitimidade política ou jurídica. Além disso, o campo público não pode ser tratado como privado. Por isso, é possível exercer formas de controle social sobre as instituições públicas, como a fiscalização ou até mesmo a discussão e participação nas deliberações estatais por meio de conselhos de políticas públicas. Esses últimos são órgãos colegiados que contam com a participação de representantes de distintos setores da sociedade civil, representantes do governo, profissionais e segmentos do empresariado. Esses podem ser espaços produtivos de debate e participação democrática, mas também podem ser espaços dominados por elites. Retomaremos esse assunto no Capítulo 7, ao discutirmos sobre as formas de participação política. Considerações finais Com essas reflexões, concluímos o primeiro grande bloco de conteúdos de nosso cur- so. No primeiro e segundo capítulos, discutimos conceitos, ideias e métodos nos quais nos apoiaremos para aprofundar nossos conhecimentos no âmbito da ciência da teoria política e da Teoria do Estado. A percepção de que a sociedade pode ser interpretada e descrita de diversas maneiras é mui- to útil para compreendermos como foram concebidas as ideias predominantes acerca do que é o Estado, o poder político, qual seu propósito ou finalidade. Reconhecemos que possa haver relativa dificuldade acerca dos conteúdos que trabalhamos até aqui, mas garantimos que eles serão neces- sários para o amadurecimento de nossas reflexões. Por outro lado, os temas seguintes podem ser tratados de maneira mais objetiva e simples, uma vez que os conceitos básicos foram elucidados e poderão ser consultados sempre que surgirem dúvidas. 13 Essas categorias serão estudadas no Capítulo 8 “Partidos políticos, sistemas eleitorais e mandatos”
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