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DURANTE FILHO_2010-POLICIAMENTO COMUNITARIO ESCOLAR

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ 
 
ELIÉSER ANTONIO DURANTE FILHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ESCOLAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIGUAÇU 
2010
 
 
 
 
 
ELIÉSER ANTONIO DURANTE FILHO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ESCOLAR 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como requisito 
parcial para obtenção do título de 
Especialista em Gestão de Polícia 
Comunitária, pela Universidade do Vale 
do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu. 
 
Orientador: Prof. Dr. Sandro Sell. 
 
 
 
 
 
 
 
BIGUAÇU 
2010
 
 
 
ELIÉSER ANTONIO DURANTE FILHO 
 
POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ESCOLAR 
 
Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Especialista em 
Gestão de Polícia Comunitária e aprovada pelo Curso de Pós-Graduação da 
Universidade do vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu. 
 
 
 
Área de Concentração: _______________________ 
 
 
 
Biguaçu, 21 de agosto de 2010. 
 
 
 
 
 
 
Prof. Dr. Sandro Sell 
UNIVALI – CE de Biguaçu 
Orientador 
 
Prof. _________________ 
UNIVALI – CE de _______ 
Membro 
 
Prof. __________________ 
UNIVALI – CE de ________ 
Membro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicatória 
 
Ao meu bom Deus pela oportunidade e 
constante iluminação. 
 
À minha doce e amada Lilian pelo esforço 
dispensado durante os milhares de 
quilômetros viajados, sempre 
demonstrando distinta paciência, 
companheirismo e extrema alegria que 
serviram de fonte de inspiração para que 
este trabalho pudesse acontecer. 
 
E à minha querida mãe pelo apoio e 
especial atenção conferidos durante a 
elaboração desta monografia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradecimento 
 
Ao amigo e Professor Dr. Sandro Sell, 
pessoa excepcional que soube 
compartilhar de modo inteligível do seu 
conhecimento transcendente e visão 
distinta em relação ao universo social 
contemporâneo. Agradeço sinceramente 
a este grande mentor que, ao abrilhantar 
os momentos de orientação, lapidou as 
idéias deste aluno, potencializando 
produção de conhecimentos e 
possibilitando compreender a importância 
da inovação ideológica sobre a arte de se 
pensar e fazer polícia. 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O trabalho tem por finalidade demonstrar que a estratégia institucional de Polícia 
Comunitária é uma alternativa possível aos métodos tradicionais de combate ao 
crime (policiamento tradicional) e sugerir o Policiamento Comunitário Escolar como 
intervenção policial especializada. Com base na percepção e experiência do autor 
corroborada pelo levantamento bibliográfico e análise de conteúdos, os dados e a 
discussão demonstram que a Polícia Comunitária é o modelo preventivo que está 
em sintonia com os ideais de um Estado Democrático de Direito, que melhor 
representa o novo paradigma da democracia participativa e possibilita restabelecer a 
credibilidade da polícia. Apesar de não existir um consenso na doutrina em relação 
aos resultados efetivos de diminuição da criminalidade por falta de análises 
acuradas dos resultados e políticas públicas continuadas, conclui-se que o 
Policiamento Comunitário Escolar é uma real possibilidade de reaproximação cidadã 
entre polícia e comunidade. Prova ser uma estratégia inteligente de implementar o 
policiamento comunitário para formar comunidades escolares autossustentáveis em 
segurança, incluindo no seu repertório de êxitos a prevenção do crime, a redução do 
medo e a construção de práticas legítimas de segurança. 
 
 
Palavras-chave: Escola. Polícia Comunitária. Polícia Militar. Segurança Pública. 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This study aims to demonstrate that the institutional strategy of a Community Police 
is a possible alternative to the traditional methods of combating crime (traditional 
policing) and to suggest the Scholastic Community Policing as a cop specialized 
intervention. Based on perception and the author´s experience helped by literature 
review study and content´s analysis, the data and discussion show us that 
Community Policing is the preventing model that is in sintony with the ideals 
Democratic State of Right, which better represents the new paradigm of participatory 
democracy and allows restoration of police credibility. Although there is no 
consensus on the doctrine in relation to actual results of reduced crime due to lack of 
a accurate analysis of results and public policy continued, it is concluded that the 
Scholastic Community Policing is a real possibility of rapprochement citizen between 
police and community. It proves to be a smart strategy to implement community 
policing as a form to achieve self-sustainable security in school communities, 
including in their repertoire of successes: crime prevention, reduction of fear and 
building legitimate security practices. 
 
 
Keywords: School. Community Policing. Military Police. Public Safety. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................10 
2 POLÍCIA MILITAR E A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
DE 1988 ....................................................................................................................12 
2.1 SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 .............................12 
2.2 POLÍCIA MILITAR E SUAS ATRIBUIÇÕES LEGAIS...................................14 
2.3 ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR....................................................................17 
2.3.1 Polícia Ostensiva Preventiva .................................................................17 
2.3.2 Polícia Ostensiva Repressiva ................................................................18 
2.4 SEGURANÇA PÚBLICA E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA ........................20 
2.4.1 Polícia Comunitária: Convergindo Para Uma Nova Ideologia ...............23 
3 POLÍCIA COMUNITÁRIA: UMA FILOSOFIA EM ASCENSÃO...........................25 
3.1 POLÍCIA, PODER DE POLÍCIA E COMUNIDADE ......................................25 
3.2 POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ...................30 
3.3 MODELO TRADICIONAL VERSUS COMUNITÁRIO...................................35 
3.3.1 Filosofia de Origem................................................................................36 
3.3.2 Missão Policial e a Importação de Modelo ............................................37 
3.3.3 O Mito policial e as ocorrências do cotidiano.........................................38 
3.3.4 Origem da Informação ...........................................................................42 
3.3.5 Atuação Policial .....................................................................................42 
4 POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ESCOLAR ....................................................44 
4.1 COMUNIDADE ESCOLAR COMO FOCO DO POLICIAMENTO 
COMUNITÁRIO.........................................................................................................44 
4.1.1 Educação Social e o Papel Pedagógico do Policial...............................51 
 
 
 
4.1.2 Possíveis Desvios por Parte da Polícia, da Escola e da Comunidade ..57 
4.2 SUGESTÕES DE MACROINTERVENÇÕES ..............................................60 
4.3 SUGESTÕES DE MICROINTERVENÇÕES................................................66 
5 CONCLUSÃO .....................................................................................................68 
6 REFERÊNCIAS ..................................................................................................71 
 
 
10 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Não há dúvida de que se está vivenciando um importante momento de 
intensas mudanças no cenário social contemporâneo. Um contexto de extrema 
relevância no desenvolvimento da sociedade, que enseja superação de paradigmas, 
especialmente nas questões de Segurança Pública. 
Invariavelmente, uma ocasião deveras complexapara as organizações 
policiais, particularmente para as Polícias Militares - talhadas dentro de uma lógica 
digna de um Estado de Polícia - uma vez que se solidifica a idéia de democracia 
participativa, fruto de um legítimo Estado de Direito. 
Tradicionalmente as Polícias Militares de toda Federação adotam como 
principal estratégia institucional de policiamento o combate profissional do crime. 
Forças de combate tipicamente militares, disciplinadas e tecnicamente sofisticadas, 
caracterizam-se por serem reativas e atuarem precipuamente sob o enfoque de 
controle do crime enquanto missão exclusiva da polícia. 
Operacionalmente sua principal tecnologia é o rádiopatrulhamento – patrulha 
motorizada suplementada por rádio transmissor – que atua de modo a criar uma 
sensação de onipresença, cuja eficiência é medida pelo tempo de resposta aos 
chamados emergenciais. 
Contudo, percebe-se que o modelo tradicional de polícia não tem respondido 
às expectativas de uma sociedade genuinamente democrática, cuja dinâmica social 
atual não permite mais a inércia dos segmentos policiais em insistirem na 
manutenção de um ciclo vicioso de prestação de serviço com qualidade duvidosa. 
Nesse aspecto, o policiamento tradicional vem mostrando-se bastante falho 
na sua capacidade de controlar, prevenir e analisar as causas do crime, levando a 
efeito o distanciamento entre polícia e comunidade. 
Observando as diversas experiências das organizações policiais de países 
modernos de tradição democrática, e mesmo nos países de cultura oriental, e seus 
esforços no sentido de buscarem mecanismos alternativos ao policiamento 
convencional, o presente trabalho busca permear o avanço em relação à mudança 
de paradigma institucional das Polícias Militares, defender a Polícia Comunitária 
como a filosofia de trabalho que melhor coaduna com os preceitos constitucionais de 
segurança cidadã e, perante a forte tendência das forças policiais em se 
11 
 
 
especializarem cada vez mais, propor o Policiamento Comunitário Escolar como 
forma de instrumentalização específica de intervenção policial nos moldes 
comunitário. 
12 
 
 
2 POLÍCIA MILITAR E A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITU IÇÃO 
FEDERAL DE 1988 
 
2.1 SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 
 
 
Com a redemocratização do país, período pós-1985, e o surgimento de um 
Estado Democrático de Direito, amplas conquistas ascenderam, dentre elas o 
nascimento da Constituição da República de 1988, também batizada de 
“Constituição Cidadã”. Assim chamada por Ulysses Guimarães1, a nova Carta 
Magna, quantificou sobremaneira direitos e garantias fundamentais, priorizando o 
cidadão brasileiro e revelando seu verdadeiro espírito democrático. 
Não obstante, a Constituição de 1988 elevou a matéria “Segurança” ao 
status de direito e garantia fundamental, conforme caput do art. 5º 2. Souza Neto, 
(2008) assevera que o direito à segurança deve ser universalizado equitativamente, 
ou seja, estar indistintamente ao alcance de todos. Esse entendimento se extrai da 
leitura do caput do art. 144 da CF/88, que alude ser segurança pública dever do 
estado, razão de ser direito e responsabilidade de todos, devendo ser exercida para 
a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. 
Sob essa ótica, pode-se afirmar que Segurança Pública , enquanto direito 
inalienável do ser humano, é uma necessidade, uma aspiração básica de qualquer 
pessoa e de fundamental importância na sensação de bem estar. Está intimamente 
ligada ao processo de desenvolvimento de uma nação, a sua qualidade de vida e na 
consecução do Bem Comum3. 
 
1 Ulysses Silveira Guimarães (nascido em 6 de outubro de 1916, na cidade de Itirapina, São Paulo, 
falecido em 12 de outubro de 1992, no litoral de Angra dos Reis, Rio de Janeiro) foi um político e 
advogado brasileiro que teve grande papel na oposição à ditadura militar e na luta pela 
redemocratização do Brasil. Exerceu a presidência da Câmara dos Deputados em três períodos 
(1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988), presidindo a Assembléia Nacional Constituinte, em 1987 à 
1988. A nova Constituição, na qual Ulysses teve papel fundamental, foi promulgada em 5 de Outubro 
de 1988, tendo sido por ele chamada de Constituição Cidadã, pelos avanços sociais que incorporou 
no texto. 
2 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade [...] (Constituição Federal de 1988) 
3 Os valores da preeminência da pessoa, da liberdade individual, da igualdade fundamental entre os 
homens e da fraternidade foram, portanto, os inspiradores do conceito de Bem Comum , 
materializando uma visão tomista que conduz ao seguinte entendimento: Ideal de convivência que, 
transcendendo à busca do bem-estar, permite constru ir uma sociedade onde todos, e cada 
um, tenham condições de plena realização de suas po tencialidades como pessoa e de 
13 
 
 
De acordo com o Manual Básico da Escola Superior de Guerra, conceitua-se 
Segurança Pública 4 como sendo a garantia da manutenção da Ordem Pública, 
mediante a aplicação do Poder de Polícia, prerrogativa do Estado. 
Por sua vez, a expressão Ordem Pública 5 é tida por muitos juristas como 
sendo de definição etérea (vaga e ampla), que varia no tempo e no espaço, sendo 
mais fácil a sua percepção na vida social. 
De acordo com o Decreto nº 88.777/83, que aprova o Regulamento para as 
Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares, Ordem Pública define-se como 
sendo o conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da 
Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse 
público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado 
pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem 
comum.6 
Apesar da dificuldade de aferição dos conceitos de Ordem Pública e de 
Segurança Pública , o constituinte soube inter-relacioná-los de maneira adequada. 
Portanto, guardada a correta grandeza entre estes conceitos jurídicos imprecisos, 
pode-se concluir que a atividade de Segurança Pública , associada à da 
Tranquilidade Pública e da Salubridade Pública , compõe aspectos ou elementos 
fundamentais da Ordem Pública . 
Nota-se, ainda, que o constituinte passou a dispensar maior preocupação 
com a Segurança Pública, quando no Título V da Carta Magna, que cuida “Da 
Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”, dedicou o Capítulo III, “Da 
Segurança Pública”, integralmente ao tema, conforme redação dada pelo art. 144. 
 
conscientização e prática de valores éticos, morais e espirituais. (MANUAL BÁSICO DA ESG, 
2009, p.12-13) 
4 A Segurança Pública pressupõe, portanto, a participação direta do Estado, da Sociedade e de seus 
membros, observadas as normas jurídicas que limitam e definem suas ações. Entende-se como 
componentes do Estado o conjunto de todos os níveis de competência da Administração Pública – 
Federal, Estadual e Municipal . (MANUAL BÁSICO DA ESG, 2009, p.60) 
5 A garantia do exercício dos direitos individuais e a manutenção da estabilidade das instituições, bem 
como o bom funcionamento dos serviços públicos e o impedimento de danos sociais, caracterizam a 
Ordem Pública , objeto da Segurança Pública. Os serviços públicos incluem todas as atividades 
exercidas pelo Estado, com ênfase nas administrativas, de polícia, de prestação de serviços, 
judiciárias e legislativas. Ordem Pública é a situação de tranqüilidade e norma lidade cuja 
preservação cabe ao Estado, às Instituições e aos m embros da Sociedade, consoante as 
normas jurídicas legalmente estabelecidas. (MANUAL BÁSICO DAESG, 2009, p.60) 
6 Nº 21, do art. 2º, do Decreto nº 88.777, de 30 Set. 83. 
14 
 
 
Outrossim, “deu dignidade constitucional a órgãos policiais até então 
inexistentes em termos constitucionais, como a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia 
Ferroviária Federal e as Polícias Civis.” (LAZZARINI, 1999, p. 70) 
O aludido artigo 144 preceitua, ainda, que a Segurança Pública do país será 
realizada pela Polícia Federal (inc. I), Polícia Rodoviária Federal (inc. II), Polícia 
Ferroviária Federal (inc. III), Polícias Civis (inc. IV), Polícias Militares e Corpo de 
Bombeiros Militares (inc. V) e, por assemelhação, as Guardas Municipais (§ 8º), 
desta forma atendendo duplamente “aos reclames sociais e a redução da 
possibilidade de intervenção das Forças Armadas na segurança interna”. (MORAES, 
2000, p. 623) 
A previsão constitucional dos órgãos policiais é taxativa, sendo vedada, em 
qualquer esfera estatal, a criação de qualquer outro organismo policial encarregado 
pela Segurança Pública, além dos existentes. Por outro lado, o escalonamento dos 
segmentos policiais, previstos no texto legal, não indica, em absoluto, condição 
hierárquica entre os órgãos policiais, não havendo qualquer relação de subordinação 
entre eles. (LAZZARINI, 1999). 
Dessa leitura dinâmica que se faz do art. 144 da CF/88 é que se pode 
vislumbrar as diferentes competências dos órgãos policiais, que se encontram bem 
definidas no aludido artigo, proporcionando aos seus respectivos membros a 
correspondente autoridade na área de sua atuação. 
 
 
2.2 POLÍCIA MILITAR E SUAS ATRIBUIÇÕES LEGAIS 
 
 
A Polícia Militar, instituição permanente e regular, organizada com base na 
hierarquia e disciplina militares, possui atribuições definidas na Constituição Federal 
de 1988 e legislação infraconstitucional complementar. 
Basicamente, as organizações Policiais Militares são estruturadas em 
órgãos de Direção, de Execução e de Apoio, de acordo com as finalidades 
essenciais do serviço policial e as necessidades de cada unidade da federação.7 
 
7 Art. 5º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. 
15 
 
 
Os órgãos de Direção realizam o comando e a administração da 
Corporação, competindo-lhes, em regra, a organização da Polícia Militar, bem como, 
a coordenação, controle e fiscalização dos demais órgãos estruturais. Os órgãos de 
Apoio realizam as atividades-meio 8 da Corporação, atendendo às necessidades de 
pessoal, de animais e de material de toda Polícia Militar, enquanto que, os órgãos de 
Execução são constituídos pelas unidades operacionais e realizam as atividades-
fim 9 da Polícia Militar.10 
Da combinação da leitura dos §§ 5º e 6º, do art. 144 do texto constitucional, 
tanto a Polícia Militar quanto o Corpo de Bombeiro Militar são consideradas forças 
auxiliares e reserva do Exército. E, junto com as Polícias Civis, subordinam-se aos 
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. Ainda nesse 
sentido, observa-se a dimensão da missão constitucional Policial Militar no contexto 
da Segurança Pública do país, a qual cabe a polícia ostensiva e a preservação da 
ordem pública. 
Ao abordar a atribuição constitucional da Polícia Militar, Álvaro Lazzarini é 
categórico ao afirmar que, da “exegese do art. 144 da Carta, na combinação do 
caput com o seu § 5º, deixa claro que na preservação da ordem pública a 
competência residual de exercício de toda atividade policial de segurança pública, 
não atribuída aos demais órgãos, cabe à Polícia Militar”. (LAZZARINI, 1999, p. 104) 
Permeando o universo jurídico, a função Policial Militar caracteriza-se, em 
regra, pela atividade de polícia administrativa, agindo a priori, preventivamente. De 
acordo com a legislação infraconstitucional, a Policial Militar foi instituída para a 
manutenção da ordem pública e a segurança interna nos Estados, nos Territórios e 
no Distrito Federal.11 
Não obstante a competência constitucional da Polícia Militar, a legislação 
específica definiu uma série de outras atribuições. Dentre elas, destaca-se a de 
executar com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares das Forças 
 
8 São aquelas que, embora não constituindo a finalidade da Corporação, são indispensáveis como 
apoio à consecução dos seus objetivos. Denominam-se ainda de institucionais, adjetivas ou 
instrumentais. Exemplos: pessoal, logística, ensino, dentre outras. (VALLA, 1999, p. 205) 
9 São aquelas que dizem respeito diretamente aos objetivos específicos da Corporação, e aos 
propósitos que determinam a sua criação e que justificam a sua existência. Denominam-se ainda 
funcionais e substantivas, como por exemplo: os órgãos intermediários de comando, as unidades 
operacionais de policiamento ostensivo, de busca, salvamento e combate a incêndios. (VALLA, 1999, 
p. 205) 
10 Arts. 6º, 7º e 8º, da Lei Estadual nº 6.774, de 08 Jan. 76 (Lei de Organização Básica da PMPR) 
11 Art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº 2.010/83). 
16 
 
 
Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, 
a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o 
exercício dos poderes constituídos.12 
Compete ainda ao referido órgão policial, atuar de maneira preventiva, como 
força de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a 
perturbação da ordem13 e atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da 
ordem, precedendo o eventual emprego das Forças Armadas.14 
Loureiro, (2004) em seu artigo “As Polícias Militares na Constituição Federal 
de 1988: polícia de segurança pública ou forças auxiliares e reserva do Exército?”, 
denomina a função de “força auxiliar e reserva do Exército” como sendo uma função 
eventual e secundária. De acordo com esse entendimento, a Polícia Militar deverá 
também atender à convocação, inclusive mobilização, do Governo Federal em caso 
de guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave perturbação da ordem ou 
ameaça de sua irrupção, subordinando-se à Força Terrestre para emprego em suas 
atribuições específicas de polícia militar e como participante da Defesa Interna e da 
Defesa Territorial.15 Poderá, ainda, ser convocada, em seu conjunto, a fim de 
assegurar à Corporação o nível necessário de adestramento16 e disciplina. 
Dessa composição textual, observa-se que há um sistema de competências 
da União e dos Estados-Membros em relação à ordem pública do país, ligado às 
condições dos governos estaduais, ante situações de agravamento interno, de 
manterem a ordem pública nos estados em nível desejável ao bem estar coletivo. 
Tanto é a importância do papel das Polícias Militares, dentro do Sistema de 
Segurança Pública Nacional, que nos casos de falência operacional dos demais 
órgãos policiais, que os tornem inoperantes ou incapazes de dar conta de suas 
atribuições, como nos casos de greve, paralisação, etc., a competência da Polícia 
Militar, na preservação da ordem pública, será estendida, englobando a competência 
dos demais órgãos. (LAZZARINI, 1999) 
 
12 Letra “a”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº 
2.010/83). 
13 Letra “b”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº 
2.010/83). 
14 Letra “c”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº 
2.010/83). 
15 Letra “d”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº 
2.010/83). 
16 Atividade destinada a exercitar o policial militar individualmente e em equipe, desenvolvendo-lhe a 
habilidade para o desempenho das tarefas para as quais já recebeu a adequada instrução. (nº 2, do 
art. 2º, do Decreto nº 88.777, de 30 Set. 83) 
17 
 
 
Assim, pode-se afirmar convictamente que a Polícia Militarpossui valiosa 
importância no contexto da Segurança Pública do país. Como assevera Lazzarini, 
(1999) é verdadeira força pública da sociedade e constitui órgão de preservação da 
ordem pública para todo o universo da atividade policial. 
 
 
2.3 ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR 
 
2.3.1 Polícia Ostensiva Preventiva 
 
 
Compete exclusivamente à Polícia Militar, órgão de preservação da ordem 
pública, desenvolver a atividade de polícia ostensiva, preventiva, fardada, portanto, 
administrativa, ressalvadas exceções constitucionais expressas, como as referentes 
às polícias rodoviárias e ferroviárias federais (art. 144, §§ 2º e 3º da CF/88). 
“O adjetivo ostensivo refere-se à ação pública da dissuasão, característica 
do policial fardado e armado, reforçado pelo aparato militar utilizado, que evoca o 
poder de uma corporação eficientemente unificada pela hierarquia e disciplina”. 
(LAZZARINI, 1999, p. 104) 
“O policial-militar desenvolve sua missão de forma a ser identificado. 
Observado, previne delitos, intimida a ação do marginal, que vendo sua presença e 
a força que representa, não encontra condições de agir”. (ARDUIN, 2001, p. 2) “Para 
o exercício da polícia preventiva, não resta dúvida, é conditio sine qua non a 
ostensividade”. (LAZZARINI, 1999, p. 103) 
Portanto, de modo invariável, é incongruente se falar em atividade 
operacional da Policia Militar dissociada da idéia de ostensividade. Essa 
característica é de importância tal que, além de inibir a atuação criminosa, propicia 
uma rápida e fácil identificação deste aparato de Segurança Pública colocada à 
disposição da sociedade. 
É justamente através da ação de presença combinada com a identificação 
do armamento, equipamento, viatura e aprestos, que são formas complementares 
de reconhecimento (ostensividade), é que a Polícia Militar, quando da realização do 
policiamento ostensivo preventivo, intenta transmitir à comunidade a tão almejada 
18 
 
 
sensação de segurança, pela certeza da cobertura policial-militar, buscando 
resultados concretos de prevenção. 
Nessa mesma linha de raciocínio, o legislador não discordou ao prever que 
compete às Polícias Militares executar com exclusividade, ressalvadas as missões 
peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela 
autoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da 
ordem pública e o exercício dos poderes constituídos.17 
Dentre as variáveis de policiamento ostensivo realizado pelas Polícias 
Militares, também previstas em legislação específica, pode-se destacar: ostensivo 
geral, urbano e rural; trânsito urbano e rodoviário, estes nas rodovias estaduais, 
observadas as condições fixadas pelo Código de Trânsito Brasileiro, e portuárias; 
florestal, de mananciais e de preservação ambiental; guarda das sedes dos poderes 
estaduais; segurança externa dos estabelecimentos penais dos estados; 
radiopatrulhamento terrestre, aéreo, lacustre e fluvial (a pé, montado, motorizado, 
embarcado e aerotransportado); a polícia judiciária militar; prestação assistencial e 
socorro em geral. 
Isto explica o porquê da Polícia Militar estar presente em todos os Estados e 
na maioria de seus municípios. É o órgão de Segurança Pública que se vê 
diuturnamente. De todas as polícias, a militar é a que está mais próxima da 
população, a qual, quer seja pelo seu caráter ostensivo ou pelo conhecido número 
emergencial (o 190), torna-se referência de socorro à população diante do abalo de 
sua segurança (VALLA, 1999). 
 
 
2.3.2 Polícia Ostensiva Repressiva 
 
 
Como bem salientado no tópico anterior, “a atuação policial militar, como 
polícia administrativa, é eminentemente preventiva, objetivando dissuadir a quebra 
da ordem pública”. (VALLA, 1999, p. 86) 
 
17 Letra “a”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº 
2.010/83). 
19 
 
 
No entanto, haverá casos em que a Polícia Militar deverá restabelecer a 
ordem pública, chamada também de repressão imediata, que pode também ser 
considerada uma forma indireta de prevenção. 
Tão logo haja a manifestação da ruptura da ordem pública, a Polícia Militar, 
de imediato, deverá amparar o cidadão que teve seus direitos e garantias violados, 
procedendo as diligências necessárias à captura dos delinquentes. 
Para Álvaro Lazzarini, esta atuação repressiva por parte da Polícia Militar 
situa-se no segundo segmento do Ciclo de Persecução Criminal, que ocorre entre o 
instante da quebra da ordem pública e sua restauração: 
 
[...] é o de menor duração no ciclo, mas nem por isso menos importante, 
pois é nele que tem início a persecução criminal [...] a quebra da ordem 
ocorrerá quando um ou mais elementos – segurança, tranqüilidade e 
salubridade – for prejudicado. [...] Em havendo infringência de dispositivo 
tipificado nas leis penais, inicia-se a atividade de polícia judiciária, que pode 
ser comum ou militar, estadual ou federal, dependendo da esfera de poder 
e competência do órgão judicial que apreciará o fato [...] ocorrendo o ilícito 
penal, os atos de polícia que incidirem sobre eles serão de polícia judiciária, 
conhecida por polícia repressiva, que, na verdade auxilia a repressão 
criminal, privativa do Poder Judiciário e feita através da imposição da pena. 
[...] neste caso o policial civil ou militar rege-se pelas normas do Direito 
Processual Penal, estando ações sob a égide do Poder Judiciário, 
destinatário final da ocorrência, além do controle externo pelo Ministério 
Público, [...] A atitude policial é de repressão imediata. As medidas tomadas 
pela Polícia são de ofício, pois independem de autorização superior e 
visam, em qualquer hipótese, restabelecer a ordem pública, sendo 
utilizadas, sempre, ações de contenção. (LAZZARINI, 1999, p. 94-95) 
 
A Polícia Militar, além de atuar repressivamente no combate a 
macrocriminalidade e ao crime organizado, na hipótese de agravamento do quadro 
ou quebra da ordem, com ameaças à integridade física da sociedade, riscos sob as 
propriedades públicas ou privadas, comprometendo o cumprimento das leis, 
alterando o clima pacífico e harmonioso de convivência social, sob a direção do 
Governo Estadual, compete também a adoção de medidas repressivas que visem o 
restabelecimento da ordem, fazendo valer o seu caráter e sua condição de força 
militar estadual (VALLA, 1999). 
 
 
 
 
20 
 
 
2.4 SEGURANÇA PÚBLICA E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA 
 
 
Conforme inovação constitucional, o texto legal da Constituição Federal de 
1988 deu uma nova dimensão à temática “Cidadania e Segurança Pública”. 
Dimensão esta que nasceu em contrapartida ao antigo regime de governo ditatorial, 
que se caracterizava, conforme Zaffaroni, (2003) pelo latente Estado de Polícia. 
Época em que participação popular era secundária e prevalecia a submissão do 
povo às imposições de um poder maior18. 
Contudo, conforme enfatizado em 2.1, a Constituição da República 
Federativa do Brasil, promulgada em 1988, inaugurou um novo cenário social, 
intitulado Estado Democrático de Direito. Regime no qual se pretende prover a paz 
social, na medida em que se resolvem melhor os conflitos sociais e a incidência do 
Estado de Polícia é contida19. 
Por consequência, um quadro relativamente mais complexo para as 
instituições Policiais, em especial para as Polícias Militares dos Estados, pois 
caracteriza-se justamente pelo antagonismo ao regime de governo anterior, 
responsável pelos principais estigmas que assolam a imagem das corporações 
militares20. Sobre este novo quadro, Marcineiro se posiciona: 
 
[...] fruto das liberdades individuais, da livre manifestação da pluralidade 
cultural e das garantias pessoais, entre outras, fazendo com que as 
organizações encarregadas de preservar a ordem pública tenham que 
desenvolver estratégias que incluam o cidadão no processo de construção 
da ordem desejada, que respeitemos direitos e garantias individuais, 
mesmo daqueles que tenham infringido o código de convivência social, 
enfim, que seja garantida a condição de cidadão. (MARCINEIRO, 2009, p. 
76-77) 
 
Portanto, é crível que diante desta inovada conjuntura social, o grande 
desafio das organizações policiais, seja pautar seu mister sobre a idéia da 
 
18 O estado de direito é concebido como o que submete todos os habitantes à lei e opõe-se ao estado 
de polícia, onde todos os habitantes estão subordinados ao poder daqueles que mandam. 
(ZAFFARONI, 2003, p. 41) 
19 O volume de conflitos suspensos por um estado será o indicador de sua vocação de provedor de 
paz social e, por conseguinte, de sua força como estado de direito. (ZAFFARONI, 2003, p. 42) 
20 No artigo “A Crise de Identidade das Policias Militares Brasileiras: Dilemas e Paradoxos da 
Formação Educacional”, a autora, ao comentar sobre a mobilização das agencias policiais no 
combate aos virtuais “inimigos do regime militar”, corrobora, em nota, sobre a conseqüente 
fragilização da auto-imagem da corporação policial que foi, em boa medida, contaminada pela 
memória ainda viva dos duros anos de repressão política. (MUNIZ, 2001) 
21 
 
 
Democratização da Segurança Pública. Estreitar laços de confiança com a 
sociedade civil, com o escopo de garantir a participação popular através do livre 
exercício da cidadania e da construção de um Estado efetivamente Democrático. 
No preâmbulo constitucional, a Carta Magna institui o Estado Democrático 
de Direito destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a 
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça 
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, 
fundada na harmonia social. 
E em seu art. 1º e § único, além de estabelecer o fortalecimento da 
Federação, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito 
Federal, declarar seus princípios fundamentais e ratificar a soberania popular, 
instituiu a democracia participativa como um novo paradigma a ser quebrado. 
Essa inovação constitucional pode ser considerada um avanço no processo 
de alargamento da democracia, podendo ser observado, inclusive, nas questões 
afetas à Segurança Pública. A constituição passou a tratar do assunto de maneira a 
envolver os cidadãos na participação da construção de uma sociedade mais segura, 
que viva em pleno equilíbrio e em busca do desenvolvimento e do bem comum. 
(MARCINEIRO, 2009) 
O art. 144 da CF/88 abarca essa idéia visionária ao expressar, 
taxativamente, que a Segurança Pública, que sempre foi um dever do Estado e 
direito de todo cidadão, seja também responsabilidade de todos. “Não é, portanto, só 
o Estado que tem responsabilidade sobre a segurança pública”, mas “toda 
comunidade de cidadãos tem tal responsabilidade nos limites constitucionais e 
infraconstitucionais”. (LAZZARINI, 2003, p. 228) 
Além de identificar a contribuição de cada segmento policial na preservação 
da ordem pública, observa-se que o aludido artigo reafirma a idéia de exercício de 
cidadania, de participação popular na construção da paz social, ratificando, assim, a 
idéia de que exercício de cidadania e participação popular coexistem sobremaneira, 
sendo indissociáveis uma da outra. 
“O legislador, ao incluir no texto constitucional que todos, além de terem 
direito à segurança pública, também têm responsabilidade, divide com a sociedade o 
ônus do Estado de garantir que a ordem pública seja preservada.” (MARCINEIRO; 
PACHECO, 2005, p. 45) 
22 
 
 
Ao esmiuçar o art. 144 da CF/88, percebe-se a importância da compreensão 
de alguns termos transcritos no dispositivo legal. Dessa forma permite-se 
contextualizar a base legal e a nova tendência de se fazer polícia, facilitando assim 
seu correto direcionamento. 
Assim, o primeiro a ser destacado é o termo preservação. Um termo que foi 
incluído pelo legislador pela primeira vez na Constituição, em substituição ao termo 
manutenção. Possui maior propriedade e amplitude, e abrange tanto os termos 
manutenção, como os de prevenção e de restauração da ordem pública. 
(LAZZARINI, 1999) 
Adiante, é importante saber a que conceito preservação se refere, ou seja, 
ao conceito de ordem pública. Na seção 2.1, a ordem pública pode ser também 
compreendida pelo uso do termo sensação de segurança. Nesse enfoque, pode-se 
afirmar que a pretensa ordem pública nada mais é do que a ausência de desordens 
e, quando devidamente assegurada, garante também a tranqüilidade, a segurança e 
a salubridade públicas. 
Assim, de forma mais ampla e prática, Nazareno Marcineiro conceitua ordem 
pública, considerando sua forma justa de construção, fruto da parceria existente 
entre os agentes da preservação e membros da comunidade: 
 
A ordem pública, portanto, não é algo que se impõe. Ela deve ser 
construída numa parceria sinérgica de todos os atores sociais, onde os 
agentes públicos de segurança participam como catalisadores do sistema, 
valendo-se do conhecimento técnico-profissional que dispõe e das 
informações do ambiente em que está inserido e onde deve agir. 
(MARCINEIRO, 2009, p. 82) 
 
Compreendida a composição do termo preservação da ordem pública, o 
legislador inclui, ainda, no texto do art. 144, que além de direito, a Segurança 
Pública é responsabilidade de todos, sugerindo ao cidadão uma co-responsabilidade 
pela preservação da ordem pública. 
Para Marcineiro, (2009) essa responsabilidade social mais abrangente, 
sugerida pelo legislador, está ligada à visão de que a quebra da ordem pública é 
decorrente do modelo social concebido em nossa sociedade, da qual todo cidadão 
faz parte. Sendo indispensável a participação e o comprometimento coletivo em todo 
e qualquer processo de transformação. 
23 
 
 
Neste caso, o cidadão é sutilmente responsabilizado pela Lex Major. Sem 
imposição, o cidadão é incentivado a reconhecer na participação social e na 
conjugação de esforços o verdadeiro caminho para se alcançar a qualidade de vida 
da comunidade. 
 
 
2.4.1 Polícia Comunitária: Convergindo Para Uma Nova Ideologia 
 
 
Ao mesmo tempo em que a Constituição Federal de 1988 marca o início de 
um novo cenário social, começa a se delinear a idéia de Democratização da 
Segurança Pública, talvez o mais recente e maior desafio das organizações policiais, 
onde a participação do cidadão na construção de uma sociedade mais segura 
reafirma a idéia do exercício de cidadania. 
Esta nova dimensão dada pela Carta Magna sobre “Cidadania e Segurança 
Pública”, é uma idéia extraída da compreensão do caput do art. 144, que sugere ao 
cidadão uma co-responsabilidade pela preservação da ordem pública. Este turbilhão 
de idéias converge para uma nova forma de se fazer polícia. Uma tendência que tem 
se firmado no Brasil e no mundo, embora ainda em processo de transformação. 
Fica nítido que a busca deste despertar para se trabalhar o exercício de 
cidadania e a consecução da Segurança Pública é mesmo atribuição dos órgãos de 
segurança, através do incentivo desta nova ideologia, intitulada no Brasil e em 
outros lugares do mundo como Polícia Comunitária. 
Abordando a questão da mudança ou transformação da cultura dos 
segmentos policiais brasileiros e apontando para a Polícia Comunitária como a nova 
tendência da arte de se fazer polícia, Ricardo B. Balestreri, em sua obra “Direitos 
Humanos: coisa de polícia”, assim assevera: 
 
As forças de segurança pública no Brasil, muito mais do que mudanças (e 
elas estão paulatinamente sendo realizadas e consistem em 
encaminhamentos importantes), precisam de transformação, de construção 
de uma cultura nova, que resgate profundamente significados e que aclare 
aos seus operadores - e à sociedade – a missão singular que lhes foi 
democraticamente reservada. [...] Um passo bastante intuitivo e feliz nessa 
direção foi a eleição do modelode polícia comunitária como o mais 
desejável para a polícia brasileira [...] (BALESTRERI, 2003, p. 49) 
 
24 
 
 
A adoção desta nova filosofia de trabalho busca romper os antigos 
paradigmas do policiamento tradicional – reativo e focado nos chamados 
emergenciais – para um novo paradigma, onde comunidade, polícia e demais 
segmentos da sociedade unem esforços na busca pela solução dos problemas de 
Segurança Pública. 
As evidências atuais demonstram que as organizações policiais de 
excelência haverão de envidar todos os esforços na busca pelo estreitamento de 
laços de confiança mútua com as comunidades, para que, através de parcerias 
estabelecidas, respeitando-lhes as peculiaridades, percepção e características 
sócio-econômicas e culturais, identifiquem, priorizem e ajam criativamente sobre os 
problemas locais de segurança. 
Explicitando seu entendimento sobre o papel da polícia no século XXI, 
Marcineiro e Pacheco, (2005) afirmam que os tempos atuais impõem às instituições 
policiais a necessidade de atuarem dentro de uma filosofia de trabalho baseada na 
busca da garantia dos direitos e da dignidade da pessoa humana, capaz de 
constituir parcerias para construção de uma comunidade mais segura e menos 
violenta. 
Portanto, falar em exercício de cidadania e em Democratização da 
Segurança Pública implica em observar as entrelinhas constitucionais. A própria 
CF/88, de forma subliminar, aponta para a direção da adoção do modelo de Polícia 
Comunitária, justamente por apresentar-se como uma nova ideologia que entende 
como essencial o respeito aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, 
visando a construção de uma sociedade mais segura através da parceria sincera e 
de confiança entre a polícia e a comunidade. (MARCINEIRO, 2009) 
25 
 
 
3 POLÍCIA COMUNITÁRIA: UMA FILOSOFIA EM ASCENSÃO 
 
3.1 POLÍCIA, PODER DE POLÍCIA E COMUNIDADE 
 
 
Da célebre frase de Honoré de Balzac, “os governos passam, as sociedades 
morrem, a polícia é eterna”, pressupõe-se que sociedade e Estado são 
indissociáveis da idéia de Polícia. Desde que se têm notícias, os grupos humanos 
organizam alguma forma de instituição para limitarem os atos considerados avessos 
a ordem. Podemos afirmar que o nascedouro da instituição comumente chamada de 
Polícia foi originário dessa necessidade social de segurança. (MARCINEIRO; 
PACHECO, 2005) 
“Desde que o homem concebeu a idéia de Governo, ou de um poder que 
suplantasse o dos indivíduos, para promover o bem-estar e a segurança dos grupos 
sociais, a atividade de polícia surgiu como decorrência natural.”21 Para os autores 
José Maria Rico e Luis Salas, a idéia de Polícia, dentro do contexto de sua evolução 
histórica, pode ser assim definida: 
 
A polícia é, [...] uma instituição social cujas origens remontam às primeiras 
aglomerações urbanas, motivo pelo qual ela apresenta a dupla originalidade 
de ser uma das formas mais antigas de proteção social, assim como a 
principal forma de expressão da autoridade. Encontra-se, portanto, 
intimamente ligada à sociedade pela qual foi criada, e seus objetivos, a sua 
forma de organização e as suas funções devem adaptar-se às 
características sócio-políticas e culturais da comunidade em que ela deverá 
atuar. (apud MARCINEIRO; PACHECO, 2005, p. 22) 
 
A Polícia, vista através da nova conjuntura social brasileira, vai muito além 
do fiscalizar e do garantir o cumprimento da lei. Representação do braço forte do 
Estado no controle legítimo das transgressões à ordem e instituída para a 
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, a 
Polícia tem um papel social primordial no desenvolvimento da qualidade de vida e na 
busca pela corporização dos direitos e garantias consignadas na Constituição e em 
leis que os materializam. 
Numa sociedade policiada “há de estar garantida a convivência pacífica de 
todos os cidadãos de tal modo que o exercício dos direitos de cada um não se 
 
21 CURSO NACIONAL DE PROMOTOR DE POLÍCIA COMUNITÁRIA, 2008, p. 24. 
26 
 
 
transforme em abuso e não ofenda (...) o exercício dos direitos alheios”. (CAETANO 
apud LAZZARINI, 1999, p. 239) 
Para que a Polícia possa então, definitivamente, exercer o papel social que 
lhe compete, o Estado lhe confere o Poder de Polícia, fundamento básico para as 
ações das polícias. Sobre o tema, Álvaro Lazzarini assim leciona: 
 
Daí dizermos que o Poder de Polícia, que legitima o poder da polícia e a 
própria razão desta existir, é um conjunto de atribuições da Administração 
Pública, como poder público e indelegável aos particulares, tendentes ao 
controle dos direitos e liberdades das pessoas, naturais ou jurídicas, a ser 
inspirado nos ideais do bem comum, e incidentes não só sobre elas, como 
também em seus bens e atividades. (LAZZARINI, 1999, p. 239) 
 
Neste mesmo diapasão, Helly Lopes Meirelles conceitua Poder de Polícia 
como sendo “a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e 
restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da 
coletividade ou do próprio Estado”. (MEIRELLES, 2003, p. 127) 
De maneira mais simples, Di Pietro também assevera que poder de polícia é 
“a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em 
benefício do interesse público”. (DI PIETRO, 2000, p. 110) 
Percebe-se, portanto, que da necessidade de regular a vida do homem em 
sociedade, nasce o Poder de Polícia. E por consequência, a Polícia, sob a forma de 
organização, é a mais perfeita manifestação do poder público do Estado, atuando 
com o fim de assegurar a estabilidade estatal e preservar a ordem social, prevenindo 
e reprimindo delitos e suprindo a necessidade básica do direito a segurança. 
Sob a nova perspectiva constitucional, tendo por base o Estado Democrático 
de Direito, Lazzarini, (2002, p. 228) leciona que “voltou-se ao tempo em que Polícia 
e a comunidade se integravam para, em conjunto, produzir segurança pública”. 
Coadunando com a temática, MARCINEIRO, (2009) ao expressar sua 
convicção pessoal sobre a evolução para a filosofia de Polícia Comunitária, afirma 
que a essência deste trabalho está em perfeita sintonia com o exercício do poder de 
polícia num Estado Democrático de Direito, onde as ações estão voltadas para a 
preservação da ordem pública e engajada na construção de comunidades mais 
seguras e solidárias. 
Sob estas perspectivas, necessário se faz ter uma breve noção de 
comunidade e como esta se inter-relaciona com a polícia, sob a ótica da 
27 
 
 
Democratização da Segurança Pública, apregoada no art. 144 da Constituição 
Federal de 1988. 
Embora muitos utilizem o termo comunidade como sinônimo de sociedade, 
organização social, etc., não há efetivamente uma concordância quanto a sua 
natureza. Veja a definição dada para comunidade, segundo o dicionário de 
sociologia digital: 
 
É essencialmente ligada ao solo, em virtude dos seus componentes viverem 
de maneira permanente em determinada área, além da consciência de 
pertencerem, ao mesmo tempo, ao grupo e ao lugar, e de partilharem o que 
diz respeito aos principais assuntos das suas vidas. Têm consciência das 
necessidades dos indivíduos, tanto dentro como fora do seu grupo imediato 
e, por essa razão, apresentam tendência para cooperar estritamente22. 
 
Na Grande Enciclopédia Larousse Cultural, comunidade pode ser definida 
de algumas formas, dentre as quais se destacam: 
 
1. Estado do que é comum; paridade; comunhão, identidade: comunidade 
de sentimentos. – 2. Conjunto de provas unidas por interesses, hábitos ou 
opiniões comuns. - 3. Conjunto de cidadãos de um Estado, de habitantes de 
uma cidade com afinidades socioeconômicas ou geográficas. [...] – Sociol. 
Agrupamento social que se caracteriza por acentuada coesão baseada no 
consenso espontâneo dos indivíduos que o constituem.23 
 
Ou ainda: 
 
Uma coletividade podeser definida como C. quando os seus membros 
agem reciprocamente e em relação aos outros que não pertencem à 
coletividade sobrepondo, mais ou menos conscientemente, os valores, as 
normas, os costumes, os interesses da coletividade, considerada como um 
todo, àqueles pessoais ou do próprio subgrupo ou de outras coletividades; 
ou quando a consciência de interesses comuns, ainda que indeterminados, 
o senso de pertencer a uma entidade sociocultural positivamente avaliada e 
à qual se adere afetivamente, e a experiência de relações sociais que 
envolvem a totalidade da pessoa, se tornam, de per si, fatores 
desencadeantes de solidariedade. Isso não exclui a presença de conflitos 
da coletividade considerada, nem de formas de poder ou de dominação. 
(GALLINO, 2005, p. 139) 
 
O que se observa é que alguns autores concordam que a comunidade tem 
um locus territorial específico, geralmente limitado. Mas essa perspectiva geográfica, 
 
22Disponível em <http://www.prof2000.pt/users/dicsoc/soc_c.html#comunidade>. Acessado em: 28 
mar. 2010. 
23 Rocha, R. Grande Enciclopédia Larousse Cultural. Ed. Universo Ltda. 1988, p. 1550. 
28 
 
 
por si só, não é suficiente para compreender sua complexidade em termos de 
Polícia Comunitária. 
Arrisca-se, inclusive, a traçar algumas características comuns de 
comunidade para que se possa compreendê-la na prática: forte solidariedade social, 
aproximação dos homens e mulheres em frequentes relacionamentos interpessoais, 
discussão e soluções de problemas comuns e sentido de organização possibilitando 
uma vida social durável.24 
Contudo, Marcineiro (2009), após algum tempo de militância na mobilização 
de comunidades na implantação do policiamento comunitário, percebeu que os 
critérios de definição de comunidade tradicionais não atendem às demandas da 
construção da segurança com a participação de todos. Concluiu que, para que se 
tenha êxito nas ações de Polícia Comunitária, as ações devem estar focadas no que 
ele denomina de comunidade de interesse da segurança pública, que nada mais são 
do que as pessoas que impactam e são impactadas pelas posturas e ações das 
pessoas envolvidas nos problemas de segurança. 
Objetivamente, a comunidade pode englobar “todo mundo, desde os líderes 
comunitários formais e informais, tais como os presidentes de associações cívicas, 
sacerdotes e educadores, até os organizadores de atividades comunitárias e até os 
cidadãos comuns da rua”. (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 2003, p. 3) Contudo, 
apesar de todas as variações que a noção de comunidade pode apresentar, é crível 
que a criminalidade, a desordem e o medo do crime possam gerar uma comunidade 
de interesses dentro de uma comunidade geográfica. Essa comunidade de 
interesses, quando devidamente incentivada e enfatizada dentro daquele locus 
territorial, pode servir de porta de entrada dos policiais comunitários naquela 
geografia, na mesma medida em que contribui para que os moradores daquela 
localidade trabalhem em forma de parceria com a polícia. 
É a partir do estímulo dessa comunidade de interesses e do trabalho 
conjunto com as autoridades cívicas eleitas, da comunidade de negócios, da mídia e 
de outras instituições, que se encontra o caminho do êxito da Polícia Comunitária. 
Através dessa reunião de esforços entre polícia, cidadãos e segmentos sociais, é 
que se proporcionará uma melhoria da qualidade de vida social dos indivíduos que 
 
24 CURSO NACIONAL DE PROMOTOR DE POLÍCIA COMUNITÁRIA, 2008, p. 38. 
29 
 
 
integram uma comunidade geográfica, criando um sentimento verdadeiro de 
pertencimento. 
Entretanto, sabe-se que a atual sociedade, essencialmente imediatista e 
consumista, sob a influência do Sistema Capitalista, está cada vez mais egocêntrica 
e de difícil mobilização na busca por melhorias sociais.25 E é, neste complexo 
cenário social hostil que o policial se apresenta como articulador social, incumbido 
da nobre tarefa de contribuir com a resolução dos problemas comunitários. 
Mas, isoladamente, a Polícia não atinge resultados satisfatórios no 
enfrentamento à criminalidade e no resgate da sensação de segurança, tanto quanto 
se agisse em parceria com a comunidade. 
Neste aspecto, Skolnick e Bayley, (2006) ensinam que a participação da 
comunidade é indispensável para a redução da criminalidade e para o aumento da 
sensação de segurança. O maior desafio era justamente tornar a polícia e as 
comunidades por ela policiadas co-produtoras da prevenção do crime, uma vez que 
os métodos tradicionais de policiamento não estavam sendo eficientes. 
Os autores explicam, com base em pesquisas realizadas nos Estados 
Unidos26, que algumas atitudes como o aumento de número de policiais, o 
patrulhamento motorizado ao acaso, a composição de viaturas com dois policiais, a 
diminuição do tempo de resposta das chamadas emergenciais, entre outros, não 
eram medidas suficientes para atender às necessidades e aos anseios da 
população. (SKOLNICK; BAYLEY, 2006) 
Sobre o tema, James K. Stewart, nomeado em 1982, pelo então Presidente 
Americano Ronald Reagan, para ser Diretor do Instituto Nacional de Justiça, 
escreveu: 
 
Não se pode esperar que a polícia controle sozinha o crime. Os cidadãos 
são uma parte essencial da equação [...] o papel das pessoas na ajuda da 
manutenção da paz é crucial. A não ser que a vítimas e as testemunhas 
relatem os crimes, tragam informações, acompanhem o caso todo, e 
participem ativamente dos esforços organizados para a prevenção do crime, 
nosso sistema de justiça não pode funcionar como ele deveria. (STEWART 
apud SKOLNICK; BAYLEY, 2006, p. 69) 
 
25 O artigo “Modernidade Líquida: análise sobre o consumismo e seus impactos na Sociedade” busca, 
reportando-se ao pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, mais especificamente do 
Capítulo II (Individualidade), do livro “Modernidade Líquida”, investigar os impactos provocados nas 
mais variadas esferas pessoais carreados pela passagem do “antigo mundo” para a pós-modernidade 
e, de modo mais pontual, no que tange aos padrões comportamentais marcados pelo individualismo 
e, sobretudo, pelo consumo. 
26 SKOLNICK, Jerome H.; Bayley, Davis H. Nova Polícia: Inovações na Polícia de Seis Cidades 
Norte-Americanas. São Paulo: Edusp, 2006. (Série Polícia e Sociedade, nº 2) 
30 
 
 
 
Construir um elo de confiança com a comunidade não é tarefa fácil. Exige 
uma abordagem especial. Lidar com a repressão da criminalidade é mais fácil para 
Polícia do que saber ouvir as reclamações e sugestões da comunidade e se 
posicionar diante da participação popular nas tomadas de decisões no processo de 
democratização da segurança. 
Mas é somente através desta efetiva participação social, através da 
cooperação dos cidadãos integrantes da comunidade e da polícia, unidos por um 
interesse comum, é que se tornará possível a construção de uma sociedade melhor 
e mais segura. 
 
 
3.2 POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 
 
 
Vivemos atualmente num quadro social de extrema complexidade, onde até 
mesmo as necessidades básicas dos cidadãos são difíceis de serem atendidas 
dignamente. De um lado, desigualdades latentes na distribuição de renda com a 
consequente marginalização das economias emergentes. De outro, o ressurgimento 
de ódios ideológicos, a segregação e o isolamento social dos indivíduos nos grandes 
centros. 
Toda essa conjuntura desequilibrada, de pobreza, má distribuição de renda, 
desestrutura familiar, etc., desagregam as pessoas, aumentam as distâncias e o 
individualismo, e acentuam as crises nas relações interpessoais, provocando cada 
vez mais conflitos sociais, tensões, disputas e, por consequência, a aniquilação da 
sociedade. 
Esse teatro atual de desigualdade social, onde opulência convive lado a lado 
com miséria, dando publicidade notória às injustiçassociais, faz com que a violência, 
resultado lógico de tanta dissiparidade, ganhe intensidade e proporcione um 
aumento da criminalidade, trazendo reflexos diretamente nas questões de 
Segurança Pública. 27 
 
27 Sociedades desiguais não são necessariamente criminógenas, assim como pobreza, sozinha, não 
gera crime. Mas ambas são condicionantes que, somados a outros fatores criminógenos, influenciam 
no crescimento da criminalidade e violência. 
31 
 
 
Diante desse delicado contexto social, as organizações policiais vêm 
envidando esforços no sentido de buscarem mecanismos alternativos ao 
policiamento convencional, com o escopo de fazer frente à criminalidade e melhor 
atender às necessidades e os anseios sociais. 
Neste momento, sob a égide do novo regime democrático, os diversos 
segmentos policiais brasileiros avançam em relação à mudança de filosofia de 
trabalho. Mudança esta intitulada mundialmente de Polícia Comunitária. Filosofia 
praticada em diversos países do mundo, que acabou ganhando força no Brasil nos 
anos 90. 
Polícia Comunitária, portanto, é o novo paradigma a ser implementado pelas 
instituições policiais. Isoladamente não se pode atingir resultados satisfatórios no 
combate à criminalidade e no aumento da sensação de segurança dos cidadãos 
apenas focando suas energias no policiamento reativo e sem a participação ativa da 
própria comunidade policiada. 
Para compreendermos a magnitude do tema, Skolnick e Bayley, fazendo 
uma leitura global de suas experiências com o policiamento comunitário do cenário 
mundial, assim concluem: 
 
O policiamento comunitário é a nova filosofia do policiamento profissional 
nas democracias industriais do mundo. De Londres a Perth [na Austrália], 
de Detroit a Cingapura, os administradores da polícia estão falando nele. 
Representa progresso e inovação. Onde quer que haja mudança, o 
policiamento comunitário é a palavra de ordem. Segundo seus defensores, 
o policiamento comunitário gera segurança pública e diminui as taxas de 
criminalidade, reduz o medo do crime e faz o público se sentir menos 
desamparado, refaz a conexão da polícia com públicos desinformados, 
levanta o moral policial, e torna a polícia mais sujeita à prestação de contas. 
O policiamento comunitário surgiu como a principal alternativa estratégica 
para as práticas tradicionais, que, em toda parte, atualmente são 
consideradas um fracasso. (SKOLNICK; BAYLEY, 2006, p. 119) 
 
Neste diapasão, observa-se que a Constituição Federal de 1988, no caput 
do art. 144, concebe a Polícia Comunitária como nova filosofia de trabalho e modelo 
a ser adotado pelas instituições policiais brasileiras, ao expressar que Segurança 
Pública, além de dever do Estado e direito de todo cidadão, também é 
responsabilidade de todos. 
Assim, observa-se a perfeita sintonia e conexão da filosofia de Polícia 
Comunitária com o exercício de cidadania e a democratização da Segurança 
32 
 
 
Pública. O texto legal reafirma estes ideais e sugere a construção da paz social 
através de esforços conjugados entre polícia e comunidade. 
Observa-se, entretanto, que as expressões Polícia Comunitária (filosofia de 
trabalho) e Policiamento Comunitário (ato de policiar junto à comunidade) são 
usadas eventualmente na doutrina de forma indistinta, quando na prática 
representam termos técnicos diferentes com definições próprias. 
Para elucidar a confusão existente entre os termos, socorremo-nos dos 
ensinamentos de Bondaruk e Souza, (2007), extraída da obra “Polícia Comunitária: 
polícia cidadã para um povo cidadão”: 
 
A atividade de Polícia Comunitária é um conceito mais amplo que abrange 
todas as atividades voltadas para a solução dos problemas que afetam a 
segurança de uma determinada comunidade, que devam ser praticadas por 
órgão governamental ou não. A Polícia Comunitária envolve a participação 
das seis grandes forças da sociedade, frequentemente chamadas de “os 
seis grandes”. São eles a polícia, a comunidade, autoridades civis eleitas, a 
comunidade de negócios, outras instituições e a mídia. Já o Policiamento 
Comunitário é uma atividade específica da polícia, compreendendo todas 
as ações policiais decorrentes desta estratégia. (BONDARUK; SOUZA, 
2007, p. 48-49) 
 
O núcleo existencial da Polícia Comunitária está na possibilidade de 
estreitar laços mútuos de confiança entre os profissionais da segurança e a 
comunidade como um todo, desde o profissional liberal, comerciantes, membros da 
comunidade escolar, moradores do bairro, etc., para juntos trabalharem essa 
parceria, de forma planejada, em prol da melhoria da qualidade de vida bairrista. 
Já o Policiamento Comunitário, por sua vez, é uma forma de policiar junto 
às comunidades, tendo por premissa a prevenção e a inibição de práticas delituosas 
pela presença ostensiva do emprego policial e, quando necessário for, pelo emprego 
de ações reativas. 
Finalizando a questão sobre o eventual uso indistinto dos termos Polícia 
Comunitária e Policiamento Comunitário, trazemos à baila o posicionamento 
esclarecedor de Nazareno Marcineiro: 
 
A expressão “Policia Comunitária” remete a um significado mais 
abrangente, ou seja, contém todas as atividades relacionadas à resolução 
dos problemas que comprometem a qualidade de vida de uma comunidade. 
(...) O policiamento comunitário também pode ser chamado de 
policiamento de proximidade e constitui-se de um primeiro estágio para 
se evoluir para a filosofia da policia comunitária que, repito, busca engajar a 
33 
 
 
todos na construção de espaços de vida em sociedade mais tranqüilos e 
pacíficos. (MARCINEIRO, 2009, p. 111-112) 
 
Assim, entendemos que a utilização do termo Polícia Comunitária emprega-
se melhor tecnicamente para se referir de maneira mais abrangente à nova ideologia 
de trabalho policial que está se formando. 
A própria utilização da palavra comunitário acaba por despertar as atenções 
das instituições policiais para com suas relações com as comunidades. Ao adicionar 
a palavra comunitário ao policiamento, lembramos às polícias que a comunidade é 
um importante recurso a ser atingido para se alcançar objetivos de redução da 
criminalidade e do medo, restaurar a civilidade nos espaços públicos, garantir os 
direitos individuais e coletivos dos cidadãos e criar comunidades realmente 
democráticas. (TONRY; MORRIS, 2003) 
Portanto, para dar uma real concepção da Polícia Comunitária, no Brasil e 
no mundo, apresentamos alguns conceitos e definições que ajudam a elucidar o 
tema e a contextualizá-lo. 
Para os pioneiros Robert Trojanowicz e Bonnie Bucqueroux, autores do livro 
“Policiamento Comunitário: como começar”, que serviram de fontes de estudos e 
inspiraram aqueles que se propuseram a estudar a filosofia de Polícia Comunitária 
no Brasil, assim consagram: 
 
Policiamento Comunitário é uma filosofia e estratégia organizacional que 
proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na 
premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar 
juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais 
como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em geral 
a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da 
comunidade. (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 2003, p. 4) 
 
Na obra “O que faz a polícia: sociologia da força pública”, Dominique 
Monjardet assim pontua: 
 
A polícia comunitária é primeiro a vontade de renovar a relação entre polícia 
e população fazendo das expectativas, demandas e necessidades 
expressas por ela, localmente, no quarteirão, bloqueio ou no bairro, o 
principio de hierarquização das prioridades policias. (MONJARDET, 2002, p. 
260) 
 
Doutrinariamente, na Polícia Militar do Paraná, a Polícia Comunitária pode 
ser assim compreendida: 
34 
 
 
 
[...] como a conjugação de todas as forças vivas da comunidade (a própria 
comunidade, a comunidadede negócios, as autoridades cívicas eleitas, as 
polícias todas, as outras instituições e autoridades e a mídia), sob a 
coordenação de policiais especialmente designados, no sentido de 
preservar a segurança pública, prevenindo e inibindo os delitos ou adotando 
as providências para a repressão imediata. Deve ser entendida também 
como uma filosofia de atuação da Polícia Militar, marcada pela intensa 
participação da comunidade na resolução dos problemas afetos à 
Segurança Pública. (DIRETRIZ N.º 002/2004 - PM/3) 
 
Para Ferreira, (1995) Polícia Comunitária resgata a essência da arte de 
polícia, pois a recíproca de apoio entre polícia e comunidade se traduz verdadeira. 
Acolhe as expectativas de uma sociedade democrática e pluralista, onde as 
responsabilidades pela mais estreita observância das leis e da manutenção da paz 
não incumbem apenas à polícia, mas, também a todos os cidadãos. 
O próprio autor (FERREIRA, 1995, p. 56-57) apresenta outras definições 
bastante esclarecedoras, que assim seguem: 
 
Polícia Comunitária é uma atitude, na qual o policial, como cidadão, aparece 
a serviço da comunidade e não como uma força. É um serviço público, 
antes de ser uma força pública. (Chief Inspector MATHEW BOGGOT, 
Metropolitan London Police Department) 
 
Polícia Comunitária é uma filosofia organizacional assentada na idéia de 
uma Polícia prestadora de serviços, agindo para o bem comum para, junto 
da comunidade,criarem uma sociedade pacífica e ordeira. Não é um 
programa e muito menos Relações Públicas. (Chief CORNELIUS J. BEHAN, 
Baltimore County Police Department) 
 
Polícia Comunitária é o policiamento mais sensível aos problemas de sua 
área, identificando todos os problemas da comunidade, que não precisam 
ser só os da criminalidade. Tudo o que se possa afetar as pessoas passa 
pelo exame da Polícia. É uma grande parceria entre a Polícia e a 
Comunidade. (Chief BOB KERR, Toronto Metropolitan Police) 
 
Marcineiro (2009), sob a ótica das mais diversas obras por ele citada no livro 
“Teoria de Polícia Comunitária”, faz uma síntese sobre o tema: 
 
[...] polícia comunitária é um conceito amplo, compreendendo o emprego de 
todos os meios possíveis para a solução de problemas, que de alguma 
maneira afetam a segurança de uma comunidade, sendo que esses meios 
podem ser de origem governamental ou não. Vemos, ainda, que a polícia 
comunitária trabalha com o envolvimento de alguns segmentos da 
sociedade, como a comunidade, comerciantes, mídias, outras instituições, 
autoridades civis e a própria polícia. (MARCIENEIRO, 2009, p. 112) 
 
35 
 
 
À luz das concepções de Polícia Comunitária, até então citadas, é possível 
vislumbrar a oportunidade de as instituições imbuídas da preservação da ordem 
pública, estreitarem os laços com os diversos segmentos da sociedade e 
convergirem suas energias na promoção da segurança. 
Em perfeita harmonia com os princípios de uma sociedade democrática, 
tendo por base o livre exercício da cidadania, a Polícia Comunitária se traduz numa 
forma democrática de fazer segurança, visto que a responsabilidade pela 
preservação da ordem pública e a rigorosa observância das leis não são 
responsabilidades apenas dela, mas de todos os cidadãos. 
Baseando-se no estreitamento honesto e duradouro do relacionamento entre 
polícia e comunidades policiadas, proporcionando uma parceria para promoção e 
resolução preventiva dos problemas de segurança, tornando as comunidades mais 
seguras e atrativas para se viver, percebe-se Polícia Comunitária como uma nova 
forma de se pensar e se fazer polícia. Uma estratégia organizacional alternativa e 
inteligente para se formar comunidades autossustentáveis em segurança, cujo 
resultado transpassa a capacidade da polícia de combate ao crime, incluindo no seu 
repertório de êxitos a redução do medo e a efetiva preservação da ordem pública. 
 
 
3.3 MODELO TRADICIONAL VERSUS COMUNITÁRIO 
 
 
De acordo com o que se observa dos estudiosos em Polícia Comunitária, 
fica cada vez mais claro de que não há um consenso muito grande sobre o que vem 
a ser especificamente essa nova ideologia. No entanto, como a concepção de 
Policia Comunitária é algo que ainda está sendo construído, observa-se que em 
alguns pontos o Policiamento Comunitário rompe com o modelo tradicional de 
policiamento. 
Nesse processo construtivo da nova identidade policial, na busca por 
aperfeiçoar a arte de policiar, não se pode perder de vista a pedra angular da Polícia 
36 
 
 
Comunitária, que dentro de um Estado Democrático de Direito, é formar a 
comunidade autossustentável em segurança.28 
Seguimos, portanto, traçando um paralelo entre Policiamento Tradicional e 
Policiamento Comunitário, com o intuito de destacar os contrastes existentes entre 
os dois modelos, possibilitando uma melhor visualização e compreensão das 
nuances que os separam. 
 
 
3.3.1 Filosofia de Origem 
 
 
Dentro da abordagem da filosofia de origem do policiamento tradicional, o 
modelo militar de organização profissional e de estruturação predominantemente 
verticalizado, destaca-se como característica que serve até hoje como fonte de 
inspiração das Polícias Militares. 
Pode-se dizer que as Polícias Militares, ao longo de suas histórias 
particulares, caracterizam-se muito mais como corporação militar do que uma 
organização policial propriamente dita, sendo mais empregadas para os fins de 
segurança interna e de defesa nacional, do que para as funções de preservação da 
ordem pública. (MUNIZ, 2001) 
Em contrapartida, a filosofia de origem do policiamento comunitário se 
aproxima muito mais de uma polícia de defesa social, do que um órgão prestador de 
segurança do Estado. É a polícia que transcende as questões de segurança e passa 
a permear em outras áreas do campo social, em perfeita sintonia com a ideologia de 
Estado de Direito. 
 
 
 
 
 
28A idéia de formar comunidades autossustentáveis em segurança (comunidades competentes para 
solucionar seus próprios problemas) é uma possível interpretação dada ao art. 144 da CF/88, que 
norteia o trabalho da Polícia Comunitária. 
37 
 
 
3.3.2 Missão Policial e a Importação de Modelo 
 
 
A militarização das Polícias possui em suas raízes o modelo organizacional 
importado do Exército. Conforme MUNIZ, (2001) a militarização foi muito além da 
simples assimilação deste modelo, pois desde o Segundo Império é que as Policiais 
Militares foram empregadas como forças auxiliares do exército regular tanto nos 
esforços de guerra, quanto nos conflitos internos, além das operações no controle 
de fronteiras da nação. 
Neste sentido, as polícias foram se transformando gradativamente em forças 
aquarteladas, deixando os serviços de proteção da sociedade e suas atividades 
propriamente policiais em segundo plano, e focando cada vez mais sua missão nas 
questões de defesa do Estado. 29 
Claramente, observa-se que o modelo advindo do Exército é extremamente 
autoritário e centralizador, que faz sentido dentro de um Estado de Polícia, onde 
persiste a idéia do intervencionismo como solução para os problemas. Neste 
contexto, a polícia anseia manter um controle social imposto de fora para dentro e 
norteia e tutela a população ao invés de construir com ela alternativas de combate a 
criminalidade e de construção de uma sociedade mais segura. 
No modelo tradicional, pressupõe-se o antagonismo das idéias de controlar 
ou servir a sociedade. Caso a sociedade se comporte como um ente estanque, 
pacífica, que não se rebela, a idéia de servir à boa sociedade é latente. Contudo, se 
a lógica partir do pressuposto de que a sociedade é “inimiga do Estado”, 
comportando-se de forma a não mais se submeter a este poder autoritário, a idéia 
de controlar vem à tona, como nos anos de chumbo da ditadura militar.30 
O policiamento comunitário, no viés contrário, caracteriza-se como sendo um 
modelo democrático de SegurançaPública, um modelo compartilhado entre polícia e 
comunidade, típico de um Estado de Direito. Sua missão primordial é formar a 
 
29 “As cartas constitucionais republicanas anteriores a 1988, não deixam dúvidas quanto à principal 
função das PMs. Tratava-se, primeiro, de salvaguardar a “Segurança Nacional” mobilizando seus 
esforços para a “segurança interna e manutenção da ordem” do Estado. (MUNIZ, 2001, p. 183) 
30 “Não é difícil concluir que o que estava em jogo era, fundamentalmente, a sustentação de uma 
lógica que pressupunha o “Estado contra a sociedade”, ou melhor, uma concepção autoritária da 
ordem pública que excluía os cidadãos de sua produção, uma vez que eles eram percebidos como 
“inimigos internos do regime” que “ameaçavam à tranqüilidade e a paz pública”. [...] cabia às PMs, ir 
para as ruas “manter” a segurança do Estado através da disciplinarização de uma sociedade rebelde 
à “normalidade” e a “boa ordem”. (MUNIZ, 2001, p. 183) 
38 
 
 
comunidade policiada para sua missão constitucional de segurança, repartindo e 
gerenciando políticas de intervenção. 
O modelo contingencial opõe-se a idéia de dirigismo estatal. Como 
alternativa ao tradicional, a idéia de comunidade autossustentável de segurança, 
onde persevera a co-responsabilidade social, induz ao ideal de uma sociedade 
melhor, na medida em que o cidadão, através do efetivo exercício de cidadania, 
contribui com sua cota parte constitucionalmente prevista no art. 144 da Carta 
Magna. 
Dentro da lógica de democratização da segurança e da formação da 
comunidade autossustentável em segurança, o modelo comunitário, por ser bairrista 
na sua essência, é descentralizado para que se tenha a flexibilidade indispensável 
para amoldar as estratégias policiais nos diferentes locais de atuação. 
Por ser um modelo de policiamento que exige adaptação à realidade de 
cada comunidade individualmente, à medida que os laços de relacionamento entre 
polícia e comunidade vão se estreitando e se fortalecendo, a descentralização de 
comando passa a potencializar as atuações policiais, ao mesmo tempo em que 
transforma as responsabilidades, aumentando a autogestão no nível dos 
subordinados e encorajando as iniciativas disciplinadas por parte dos superiores. 
(SKOLNICK; BAYLEY, 2006) 
 
 
3.3.3 O Mito policial e as ocorrências do cotidiano 
 
 
O modelo organizacional das Policiais Militares importado do Exército, cuja 
origem filosófica é proveniente de um modelo essencialmente militar, esconde por 
de trás um mito.31 O mito do policial individual herói, muitas vezes valorizado nos 
filmes hollywoodianos. 
 
31 “Um mito é uma história sobre experiência humana envolvendo o SAGRADO. Nos sistemas de 
crenças religiosas, o mito é muitas vezes usado para explicar as origens de tradições religiosas, como 
nas narrativas sobre o nascimento, vida e morte de Jesus, ou a difícil jornada espiritual de Buda. É 
usado também para ilustrar as muitas maneiras como valores e crenças religiosas fundamentais se 
aplicam às experiências da vida diária. Em suma, o mito serve freqüentemente como uma maneira 
ritualística de afirmar um senso comum do “de onde viemos e como chegamos aqui”. Em sentido 
relacionado e mais amplo, pode ser usado para legitimar sociedades inteiras. Mitos heróicos sobre 
figuras decisivas na formação de nações-estado (tais como heróis revolucionário), por exemplo, 
desempenham papel importante na glorificação e perpetuação de arranjos sociais correntes. O 
39 
 
 
O modelo militar, introjetado no policiamento tradicional, não raras vezes é 
equivocadamente direcionado para esta idéia do mito do heroísmo policial. Pois 
mesmo tendo como um dos mais importantes valores militares a premissa do 
“espírito de corpo”, o modelo militarista acaba valorizando sobremaneira aqueles 
que dentro do grupo se destacam individualmente pelos grandes feitos. 
Como existe uma tendência natural dos policiais a identificarem-se com a 
vida militar e o papel que desempenham perante a sociedade, acabam, 
consequentemente, incorporando aos seus comportamentos as características da 
instituição, passando a agir de acordo com este modelo. 
Destarte, convém destacar que no modelo tradicional, o policial carrega em 
seu âmago o peso da responsabilidade idealizada com base no heroísmo policial, 
que é, pela sociedade e por sua instituição, exigida através do sacrifício da própria 
vida em prol da comunidade, da dedicação exclusiva ao trabalho inclusive em 
períodos de folga, do pleno controle emocional, etc., e até mesmo pela auto-
cobrança, pois muitas vezes o sujeito ingressa na corporação pela identificação 
infantilizada com a figura do super-herói. 
Parafraseando Lima, (2005) o arquétipo de herói por ele idealizado, na figura 
do “guerreiro”, se assemelha muito ao policial comunitário. Pois é o sujeito que irá 
pautar-se na Lex Major, assegurando ao cidadão todos os seus direitos, esteja ele 
figurando na condição de vítima ou vilão. Não irá impor a sua verdade, mas irá 
basear-se na prática do diálogo e no respeito às diferenças para encontrar soluções 
mais adequadas para resolução dos problemas, envidando todos os seus esforços 
no sentido de resgatar o delinquente para o convívio social. Contudo, ressalva que o 
lado bom do arquétipo do “guerreiro”, lado que se assemelha ao perfil do 
comunitário, pode ser transformado em exterminador, recaindo no direcionamento 
do modelo tradicional. Neste caso, seja pelo medo mal trabalhado ou pelo peso do 
mito carregado, o policial acreditando estar fazendo o melhor para a sociedade, verá 
na pessoa do deliquente um inimigo a ser aniquilado. 
 
antropólogo Claude LÉVI-STRAUSS argumentava que a função principal do mito pouco tem a ver 
com a explicação ou justificação da realidade social, mas serve, sim, para corporificar categorias 
lingüísticas básicas , que são fundamentais para qualquer compreensão cultural da realidades. 
Dualidades como amor/ódio, homem/ mulher, bem /mal, alto/baixo situam-se no núcleo da ordem 
cultural que usamos para extrair sentido da realidade. O mito, de acordo com Lévi-Strauss, aplica-se 
a essas categorias de maneiras que as reafirmam como forma legítima de pensar sobre o mundo.” 
(JOHNSON, 1997, p. 137) 
40 
 
 
Essa idéia do mito, do herói que se destaca individualmente, que direciona 
suas energias para grandes ações (focado no destemido), que ilude o sujeito a 
ponto de fazê-lo acreditar que têm que ser um Capitão Nascimento32, está 
completamente obsoleto em relação à maior parte dos desafios que a polícia 
enfrenta no seu dia-a-dia. Esses desafios, que na sua grande maioria, estão 
intimamente ligados aos verdadeiros anseios da comunidade e às ocorrências 
corriqueiras, são tratados pelo modelo tradicional como “policiamento de bagatela”, 
de menor importância, pois o convencional é caracterizado pelas respostas rápidas 
aos crimes sérios, priorizando, por exemplo, roubos a banco e assaltos à mão 
armada, homicídios e sequestros, e todos aqueles delitos envolvendo violência. 
De maneira paradoxal, no policiamento comunitário prevalece a idéia de 
união de esforços, de coletividade trabalhando para um mesmo fim. Aqui reside a 
idéia de que a polícia é o público e o público é a polícia: os policiais são aqueles 
membros da população que são pagos para dar atenção em tempo integral às 
obrigações dos cidadãos. Dentro dessa premissa, o policial comunitário se dilui 
enquanto comunidade, fugindo à concepção do individualismo convencional, e 
ambos, polícia e comunidade em forma de parceria, passam a fazer parte do 
processo de transformação para uma sociedade de não-violência autossustentada. 
Em sintonia com a filosofia de origem do policiamento comunitário, que se 
caracteriza

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