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2009 ArquiteturA Prof.ª Keila Tyciana Peixer Prof.ª Luciana Budag Copyright © UNIASSELVI 2009 Elaboração: Prof.ª Keila Tyciana Peixer Prof.ª Luciana Budag Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 720 P379c Peixer, Keila Tyciana. Caderno de estudos : arquitetura / Keila Tyciana Peixer [e] Luciana Budag, Centro Universitário Leonardo da Vinci. – Indaial : Grupo UNIASSELVI, 2009. x ; 152 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-144-6 1. Arquitetura. I. Budag, Luciana. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Núcleo de Ensino a Distância. III. Título. Impresso por: III ApresentAção Prezado(a) acadêmico(a)! Estamos iniciando os estudos de Arquitetura! A disciplina que se inicia apresenta conceitos fundamentais de arquitetura, para que o tecnólogo em Negócios Imobiliários possa caracterizar as obras de arquitetura e compreender os projetos arquitetônicos. A atuação no mercado imobiliário, através da identificação de oportunidades e da realização de atividades de comercialização de imóveis, exige o conhecimento da obra arquitetônica, no que se refere à identificação dos elementos que a compõem, a sua caracterização e compreensão da sua relação com o homem e seu contexto; e o conhecimento do projeto arquitetônico, no entendimento do seu processo de elaboração, dos elementos que o compõem e da sua forma de representação. Neste Caderno de Estudos, abordaremos, na Unidade 1, os conceitos fundamentais de arquitetura, caracterizando os elementos que a definem: forma, tecnologia, programa e contexto, e apresentando um panorama da arquitetura brasileira contemporânea. Na Unidade 2, apresentaremos a profissão do arquiteto urbanista, incluindo a regulamentação e as atribuições profissionais. A Unidade 3 contempla a representação dos projetos de arquitetura, compreendendo as fases e os elementos do projeto arquitetônico e as convenções do desenho arquitetônico. Esperamos que esses estudos contribuam para a sua formação profissional, e que os conteúdos apresentados neste caderno de ensino possibilitem a aprendizagem de conceitos de arquitetura que enriqueçam a sua atuação no mercado imobiliário. Vamos ao estudo do nosso caderno? Prof.ª Keila Tyciana Peixer Prof.ª Luciana Budag IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII sumário UNIDADE 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA .................................... 1 TÓPICO 1 – ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS .............................................. 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3 2 ARQUITETURA: ORIGEM E EVOLUÇÃO ................................................................................. 3 2.1 ARQUITETURA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA ..................................................... 4 2.2 ARQUITETURA MEDIEVAL .............................................................................................. 4 2.3 ARQUITETURA NO RENASCIMENTO ........................................................................ 5 2.4 ARQUITETURA NO SÉCULO XIX.................................................................................... 6 2.5 ARQUITETURA MODERNA .............................................................................................. 7 3 SIGNIFICADO DA ARQUITETURA ............................................................................................ 9 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 11 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 12 TÓPICO 2 – FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA ................................................................ 13 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 13 2 FORMA ................................................................................................................................................ 13 3 FORMA E ESPAÇO ........................................................................................................................... 14 4 ORGANIZAÇÕES ESPACIAIS ...................................................................................................... 16 4.1 ORGANIZAÇÃO CENTRALIZADA ................................................................................ 16 4.2 ORGANIZAÇÃO LINEAR .................................................................................................... 17 4.3 ORGANIZAÇÃO RADIAL .................................................................................................. 18 4.4 ORGANIZAÇÃO AGLOMERADA .................................................................................... 19 4.5 ORGANIZAÇÃO EM MALHA ............................................................................................ 19 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 21 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 22 TÓPICO 3 – ARQUITETURA E TECNOLOGIA ............................................................................ 23 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23 2 TECNOLOGIA DA ARQUITETURA ............................................................................................ 23 3 SISTEMAS ESTRUTURAIS ........................................................................................................... 24 4 CONFORTO AMBIENTAL .............................................................................................................. 26 5 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL .................................................................................................. 27 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 29 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................30 TÓPICO 4 – PROGRAMA ARQUITETÔNICO ............................................................................ 31 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 31 2 EXIGÊNCIAS DO TEMA ................................................................................................................. 31 3 NECESSIDADES E ASPIRAÇÕES DOS USUÁRIOS ............................................................... 32 4 FATORES SOCIOCULTURAIS ...................................................................................................... 32 5 FATORES ECONÔMICOS .............................................................................................................. 32 6 RESTRIÇÕES LEGAIS ..................................................................................................................... 32 7 FLEXIBILIDADE E PERMANÊNCIA DO PROGRAMA ARQUITETÔNICO ..................... 33 VIII LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 35 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 39 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 40 TÓPICO 5 – ARQUITETURA E CONTEXTO ................................................................................. 41 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 41 2 CONTEXTO NATURAL ................................................................................................................... 41 3 CONTEXTO CULTURAL ................................................................................................................. 42 RESUMO DO TÓPICO 5..................................................................................................................... 44 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 45 TÓPICO 6 – ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA .......................................... 47 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47 2 A FORMAÇÃO DA ARQUITETURA MODERNA NO BRASIL............................................. 47 2.1 O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE NO RIO DE JANEIRO .................... 48 2.2 O PAVILHÃO DO BRASIL NA EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE NOVA IORQUE ....................................................................................................................................... 48 2.3 O CONJUNTO DA PAMPULHA........................................................................................ 49 2.4 A NOVA ARQUITETURA BRASILEIRA ........................................................................ 50 3 A MATURIDADE DA ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA ...................................... 51 4 ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL ................................................................. 52 4.1 RECICLAGEM DE EDIFÍCIOS DE INTERESSE HISTÓRICO ............................... 52 4.2 EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS ................................................................................................. 54 4.3 EDIFÍCIOS COMERCIAIS .................................................................................................... 56 4.4 EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS .................................................................................................. 57 4.5 EQUIPAMENTOS CULTURAIS ........................................................................................ 58 4.6 EQUIPAMENTOS DE ESPORTE E LAZER ................................................................... 60 4.7 EDIFÍCIOS EDUCACIONAIS ............................................................................................. 61 4.8 EDIFÍCIOS HOSPITALARES .............................................................................................. 63 4.9 TERMINAIS DE TRANSPORTE ....................................................................................... 64 4.10 INTERVENÇÕES URBANAS ............................................................................................. 65 RESUMO DO TÓPICO 6..................................................................................................................... 67 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 68 UNIDADE 2 – A PROFISSÃO DO ARQUITETO E URBANISTA ............................................. 69 TÓPICO 1 – REGULAMENTAÇÃO DO PROFISSIONAL .......................................................... 71 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 71 2 A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO.................................................................................. 72 3 LEGISLAÇÃO .................................................................................................................................... 73 3.1 EXERCÍCIO E O REGISTRO PROFISSIONAL ............................................................. 73 3.2 EXERCÍCIO ILEGAL DA PROFISSÃO ............................................................................ 73 3.3 ACOMPANHAMENTO DA OBRA ................................................................................... 75 3.4 REGISTRO DE EMPRESAS .................................................................................................. 75 3.5 ÉTICA PROFISSIONAL ......................................................................................................... 76 4 O SISTEMA CONFEA/CREAS ....................................................................................................... 77 4.1 CONFEA – CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA ........................................................................................................................... 77 4.2 CREA – CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA ........................................................................................................................... 78 4.2.1 ART – Anotação de Responsabilidade Técnica ............................................................... 79 IX RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 80 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 81 TÓPICO 2 – ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS.............................................................................. 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 83 2 ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS .................................................................................................. 83 3 RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS ................................................................................. 85 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 89 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 92 UNIDADE 3 – REPRESENTAÇÃO DE PROJETOS DE ARQUITETURA ................................ 93 TÓPICO 1 – FASES DO PROJETO ARQUITETÔNICO ..............................................................95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95 2 ESTUDOS PRELIMINARES ........................................................................................................... 95 3 ANTEPROJETO.................................................................................................................................. 96 4 PROJETO ARQUITETÔNICO EXECUTIVO ............................................................................... 96 4.1 MEMORIAL DESCRITIVO E PLANILHA QUANTITATIVA DE MATERIAIS ........................................................................................................................ 97 5 PROJETOS COMPLEMENTARES ................................................................................................. 97 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 99 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 100 TÓPICO 2 – ELEMENTOS DO PROJETO ARQUITETÔNICO .................................................. 101 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 101 2 PLANTA BAIXA ................................................................................................................................. 102 2.1 GRAFISMO ................................................................................................................................. 103 2.2 PLANTA BAIXA HUMANIZADA .................................................................................... 104 2.3 PLANTA BAIXA EXECUTIVA ........................................................................................... 104 3 CORTES ............................................................................................................................................... 107 4 ELEVAÇÕES/FACHADAS ............................................................................................................... 109 4.1 GRAFISMO ................................................................................................................................. 111 5 PLANTA DE SITUAÇÃO ................................................................................................................. 112 6 PLANTA DE LOCALIZAÇÃO/IMPLANTAÇÃO ....................................................................... 113 7 PLANTA DE COBERTURA ............................................................................................................. 114 8 PROJETOS COMPLEMENTARES ................................................................................................. 115 8.1 PROJETO ESTRUTURAL ...................................................................................................... 115 8.2 PROJETO DE INSTALAÇÕES HIDROSANITÁRIAS ................................................ 116 8.3 PROJETO DE INSTALAÇÕES ELÉTRICAS ................................................................... 118 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 120 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 123 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 124 TÓPICO 3 – CONVENÇÕES DO DESENHO ARQUITETÔNICO............................................ 125 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 125 2 PADRONIZAÇÃO DOS DESENHOS TÉCNICOS .................................................................... 125 3 FORMATOS DO PAPEL (NBR 10068) ........................................................................................... 126 4 DOBRADURA DAS PRANCHAS (NBR 13142) .......................................................................... 128 5 CALIGRAFIA TÉCNICA (NBR 8402) ............................................................................................ 129 6 TIPOS DE PAPEL ............................................................................................................................... 129 7 APLICAÇÃO DE LINHAS EM DESENHOS (NBR 8403) .......................................................... 130 X 8 ESCALAS ............................................................................................................................................. 131 8.1 ESCALA NATURAL ............................................................................................................... 131 8.2 ESCALA DE AMPLIAÇÃO ................................................................................................... 132 8.3 ESCALA DE REDUÇÃO ........................................................................................................ 133 8.4 ESCALAS GRÁFICAS ............................................................................................................ 133 9 LINHAS DE COTA ............................................................................................................................ 134 9.1 COTAS DE NÍVEL .................................................................................................................... 135 10 SÍMBOLOS GRÁFICOS ................................................................................................................. 135 10.1 REPRESENTAÇÃO DE PAREDES ................................................................................... 135 10.2 REPRESENTAÇÃO DE PORTAS ...................................................................................... 136 10.3 REPRESENTAÇÃO DE JANELAS ................................................................................... 141 10.4 REPRESENTAÇÃO DE PEÇAS SANITÁRIAS ............................................................ 144 10.5 TEXTURAS ............................................................................................................................... 146 10.6 REPRESENTAÇÃO DA VEGETAÇÃO ........................................................................... 147 10.7 REPRESENTAÇÃO DE AUTOMÓVEIS ......................................................................... 148 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 149 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 150 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 151 1 UNIDADE 1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você estará apto(a) a: • compreender os elementos fundamentais envolvidos no conceito de arquitetura; • caracterizar a forma arquitetônica; • compreender o significado da tecnologia na arquitetura; • identificar os elementos que definem o programa arquitetônico e sua influência na arquitetura; • analisar a inserção da obra arquitetônica no seu contexto natural e cultural; • reconhecer o panorama atual da arquitetura brasileira. Esta unidade está dividida em seis tópicos. Ao final de cada um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS TÓPICO 2 – FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA TÓPICO 3 – ARQUITETURA E TECNOLOGIA TÓPICO 4 – PROGRAMA ARQUITETÔNICO TÓPICO 5 – ARQUITETURA E CONTEXTO TÓPICO 6 – ARQUITETURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ARQUITETURA: INTRODUZINDOCONCEITOS 1 INTRODUÇÃO Arquitetura, em uma conceituação mais ampla, pode ser entendida como a arte e a técnica de organizar e configurar os espaços a fim de construir o ambiente propício à vida humana. Entretanto, em um mundo complexo e sujeito a mudanças tão aceleradas, o conceito de arquitetura, assim como o das demais artes, técnicas e ciências está sempre em contínua reelaboração. Etimologicamente, o termo “arquitetura” vem da junção das palavras gregas arché, que significa “primeiro” ou “principal”, e tékton, que possui o significado de “construção”. Ao longo da história, a arquitetura apresentou diversos significados, considerando os aspectos culturais, sociais, econômicos e tecnológicos de cada período histórico. UNI Caro(a) estudante, veremos agora a evolução do conceito de arquitetura desde a sua origem até os dias atuais, identificando os elementos essenciais envolvidos no seu significado. 2 ARQUITETURA: ORIGEM E EVOLUÇÃO A seguir, estudaremos a arquitetura desde sua origem e evolução; da Antiguidade clássica, medieval, no Renascimento, século XIX, até a arquitetura moderna. UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA 4 2.1 ARQUITETURA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA Os estudos sobre arquitetura têm origem já no século IV a.C. Vários arquitetos gregos e romanos escreveram livros sobre arquitetura em anos anteriores ao nascimento de Cristo. Dentre eles, o mais importante é o engenheiro e arquiteto romano Marcos Vitrúvio Polião, que viveu no século I a.C. e deixou como legado os “Dez Livros de Arquitetura” (De Architectura Libri Decem), em aproximadamente 40 a.C. Vitrúvio definiu a arquitetura através de três grandes sistemas: “a arquitetura deve proporcionar solidez, utilidade e beleza” (em latim, língua do texto original, firmitas, utilitas, venustas). A solidez se refere aos sistemas estruturais, às tecnologias, à qualidade dos materiais utilizados. Segundo Vitrúvio, “solidez pode ser conseguida quando as fundações são plantadas em solo firme e os materiais são sabiamente escolhidos”. A utilidade aborda a condição dos espaços criados para atender aos objetivos dos usuários, e a maneira como estes espaços se relacionam. Para Vitrúvio, a condição é atendida “quando o arranjo dos ambientes é correto e não apresenta obstáculos ao uso, e a cada categoria do edifício é assegurada sua adequação e propriedade”. A beleza se refere às questões estéticas envolvidas na construção, que nos instigam à contemplação e à fruição. Beleza significava, para o arquiteto romano, que “a aparência da obra é agradável e de bom gosto, e seus elementos são proporcionados de acordo com os princípios da simetria”. Os “Dez Livros de Arquitetura” consistem no único tratado europeu do período grego-romano que chegou aos nossos dias e serviu de fundamentação a diversos textos sobre construções e arquitetura desde a Antiguidade. Essa obra serviu de inspiração dos arquitetos, principalmente durante o Renascimento. 2.2 ARQUITETURA MEDIEVAL A Idade Média, período entre os anos de 450 e 1450, fez pouco uso dos escritos de Vitrúvio. Os construtores dessa época abandonaram desde o princípio as referências aos padrões tradicionais e evitaram associar a arquitetura a considerações teóricas absolutas. A atividade de projeto era considerada de um modo estritamente empírico, como uma sucessão de escolhas entre muitas possibilidades igualmente incertas. A análise construtiva era a essência da prática arquitetônica, que era atributo de profissionais que mantinham os conhecimentos interdisciplinares nos segredos das corporações, confundindo-se a figura do arquiteto com a do mestre de obras. TÓPICO 1 | ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS 5 Segundo Benevolo (1987), o projeto de um edifício concluía-se espontaneamente durante a execução, não havendo uma definição antecipada do efeito de cada solução. Por outro lado, a continuidade da tradição assegurava a concordância das sucessivas intervenções e o entendimento entre as várias pessoas responsáveis por elas. Não existia, portanto, uma distinção exata entre projetistas e executantes, mas, sim, uma hierarquia entre pessoas que tinham a seu cargo uma maior ou menor responsabilidade: o mestre ocupava-se de todo o organismo, mas definindo durante a execução, até certo ponto tinha liberdade para inventar. 2.3 ARQUITETURA NO RENASCIMENTO Por volta de 1420, o Renascimento surgiu na Itália através de um grupo de artistas florentinos (Donatello, Brunelleschi, Paolo Ucello e Masaccio) que buscaram a substituição de uma orientação particular, recebida em herança, por uma escolha geral e consciente. Os elementos da arte receberam uma formulação universal, baseada no conhecimento da natureza (em sentido filosófico: essentia vel natura, isto é, a realidade universal e inteligível das coisas) e da Antiguidade clássica concebida como uma segunda natureza. O Renascimento fez ressurgir a estética de Vitrúvio e todas as demais lições de seus “Dez Livros de Arquitetura” através de Leon Battista Alberti (1404-1472), o teórico do Renascimento. Para os arquitetos renascentistas, a redescoberta da Antiguidade significou imitação das formas antigas em busca de regularidade formal. Segundo Benevolo (1987), a nova orientação metodológica faz com que a personalidade individual seja reavaliada. A substituição dos hábitos variáveis dos construtores medievais, de uma tradição recebida em herança para uma tradição construída racionalmente, coloca os projetistas perante uma nova responsabilidade. Antes a sua relação com a tradição era um ato coletivo de gosto e de formação, comum a todos aqueles que tinham sido educados em determinado lugar e em determinada época, e a nova cultura se apresenta como um sistema de formas universais, independentes dos lugares e das épocas, e os projetistas participam nela com uma atitude de decisão individual. O projeto transita entre dois lados, deve transferir valores intelectuais ao mundo sensível e adaptar-se à evidência racional das regras e aplicá-las livremente. Tem, portanto, um aspecto universal igual para todos, e um aspecto particular, sempre diferente, e que está a cargo da escolha do artista. O Renascimento apresenta um método peculiar de projeto, que é o desenho em perspectiva, permitindo que cada particularidade do edifício seja definida previamente e proporcionando também um meio para controlar antecipadamente os resultados finais. A idealização do projeto cabe ao arquiteto, UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA 6 que desenha o projeto completo do edifício, enquanto o mestre construtor executa a realização manual dos trabalhos definidos em projeto. Passa a consolidar-se o afastamento entre o projeto e a execução. Os períodos que se seguiram, Maneirismo, Barroco e Neoclássico, apresentaram-se como a interpretação das regras pelas quais, a partir do Renascimento, regula-se a experiência arquitetônica. O vocabulário clássico subsistiu através de outras maneiras de compor espaços. 2.4 ARQUITETURA NO SÉCULO XIX Ao final do século XVIII, a Revolução Industrial provocou sucessivas alterações no modo de vida e na arte, agora ao alcance de um número crescente de pessoas. O que era antes restrito aos intelectuais e aos mais ricos, passou a ser de domínio de todos. O período neoclássico é caracterizado pela pluralidade de estilos, motivado pelo desejo de manter a continuidade com o passado. As referências aos estilos do passado podem aplicar-se indiferentemente em todos os lugares, porque se baseiam em informações que estão à disposição de qualquer um. O progresso advindo dessa época se refletiu nas construções. A máquina passou a adquirir importância no campo da construção e da decoração, mas é utilizada como simples meio de fabricar, em grandes quantidades, objetos semelhantes aos que, antigamente, eram realizados de maneira artesanal. Segundo Benevolo (1987), essa mudança leva a uma nítida separação entre a técnica e a composiçãoarquitetônica e a uma distinção entre os conceitos de construção, que apresenta um caráter utilitário, e a arquietura, com um maior valor artístico. A técnica baseia-se em regras científicas próprias e não pode acompanhar a pluralidade de estilos. O conceito de estilo fica assim limitado, sendo considerado um revestimento decorativo que muitas vezes se aplica a uma determinada estrutura de suporte. É a partir deste período que se definiu uma clara diferenciação entre o arquiteto e o engenheiro, ao arquiteto cabe a ação decorativa e ao engenheiro às demais atividades. A possibilidade de ampla divulgação das ideias permitiu o conhecimento de diversas definições de arquitetura, que sugerem visões românticas comparadas com a música. Goethe (1749-1832), por exemplo, dizia que “a arquitetura é música petrificada”, enquanto Schelling (1775-1854) enunciava que a “arquitetura é a forma artística inorgânica da música plástica.” (LEMOS,1995). Na França, dois pensadores arquitetos expuseram suas teorias, antevendo a teorização da arquitetura moderna. Eungéne Emmanuel Viollet-Le-Duc (1814- 1879), o grande esteta de seu tempo, afastou a presença até então obrigatória de Vitrúvio. Segundo Lemos (1995), a natureza da teoria de Viollet-Le-Duc foi a TÓPICO 1 | ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS 7 objetividade. O arquiteto francês foi buscar a beleza nas relações geométricas e graficamente determinava, ou comprovava, as leis da harmonia que engrandeciam a composição arquitetônica. Sua “teoria do triângulo” foi uma inovação e, para ele, naquela figura geométrica estava a “chave do mistério”. Outro arquiteto francês, Leonce Raymond, no seu Traité d’architecture, de 1860, procurava a “verdade” na arquitetura, através da frase “o bom é o fundamento do belo e as formas de arte devem ser sempre verdadeiras”. IMPORTANT E Ao final do século XVIII, vimos que o progresso advindo com a Revolução Industrial provocou mudanças na arquitetura. Ao estudar o período moderno, veremos surgir um novo elemento significativo na definição de arquitetura: o espaço. 2.5 ARQUITETURA MODERNA No final do século século XIX e início do século XX, as definições de arquitetura assumiram posturas diversas, fazendo surgir o espaço como um elemento significativo. Para Lemos (1995), foi Auguste Perret (1874-1954) o primeiro a dizer que “arquitetura é a arte de organizar o espaço e é pela construção que ela se expressa”. E ainda, que “móvel ou imóvel, tudo aquilo que ocupa o espaço pertence ao domínio da arquitetura”. Durante o século XX, especialmente entre as décadas de dez e cinquenta se consolidou a arquitetura moderna, inserida no contexto artístico e cultural do Modernismo. Não existe, entretanto, um ideário moderno único, suas características podem ser encontradas em origens diversas como a Bauhaus, na Alemanha; em Le Corbusier, na França; em Frank Lloyd Wright, nos EUA ou nos construtivistas russos, alguns ligados à escola Vuthemas, entre muitos outros. Foi nos CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) que essas referências encontraram um instrumento de convergência, produzindo um ideário de aparência homogênea, resultando no estabelecimento de alguns princípios que foram seguidos por inúmeros arquitetos. Uma das principais características dos arquitetos modernos é a recusa dos estilos históricos, principalmente no que se refere ao uso de ornamentos. Produzir uma arquitetura sem ornamentos tornou-se regra para alguns. Outra característica importante eram os conceitos de industrialização, economia e design. Acreditava-se que o arquiteto era um profissional responsável pela construção do ambientes econômicos, limpos e úteis. UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA 8 Duas frases se tornaram a síntese do ideário moderno: menos é mais (“less is more”, do arquiteto Mies Van der Rohe) e a forma segue a função (“form follows function”, do arquiteto protomoderno Louis Sullivan). Os novos materiais – o ferro, o vidro e o concreto armado – apresentam aos arquitetos novas possibilidades de projeto: paredes ou coberturas inteiramente transparentes, apoios delicados e arrojadas estruturas suspensas. Ao mesmo tempo, são apresentados novos temas - estações ferroviárias, pontes, estabelecimentos industriais e prédios para escritórios - completamente distintos dos monumentos do passado e, consequentemente, propícios a uma nova interpretação arquitetônica desligada dos estilos históricos. Em “Por uma arquitetura”, Le Corbusier define que: A arquitetura é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes reunidos sob a luz. [...] Utilizamos a pedra, a madeira, o cimento; com eles fazemos casas, palácios; é a construção. [...] Mas, de repente, você me interessa fortemente, você me faz bem, sou feliz, digo é belo. Eis aí a arquitetura. A arte está aqui. Minha casa é prática. Obrigado, assim como obrigado aos engenheiros das estradas de ferro e à Companhia Telefônica. Vocês não tocaram meu coração. Mas as paredes se elevam no céu em uma ordem tal que fico comovido. Sinto suas intenções. Vocês são delicados, brutais, encantadores ou dignos. Suas pedras me dizem. Vocês me prendem a esse lugar e meus olhos contemplam. Meus olhos contemplam algo que enuncia um pensamento. Um pensamento que se ilumina sem palavras nem sons, porém unicamente com prismas que mantêm relações entre si. Esses prismas são tais que a luz os detalha claramente. Essas relações nada têm de necessariamente prático ou descritivo. São a linguagem da arquitetura. Com materiais brutos, sobre um programa mais ou menos utilitário que vocês ultrapassam, vocês estabeleceram relações que me comoveram. É a ‘arquitetura’. (LE CORBUSIER, 1998). No texto escrito em 1952, “Considerações sobre arte contemporânea”, o arquiteto brasileiro Lucio Costa apresenta a influência de Le Corbusier sobre sua obra e define o que entende por arquitetura: Arquitetura é, antes de qualquer coisa, construção; mas construção concebida com o propósito primordial de ordenar o espaço para determinada finalidade e visando determinada intenção. E nesse processo fundamental de ordenar e expressar-se ela se revela igualmente arte plástica, porquanto nos inúmeros problemas com que se defronta o arquiteto desde a germinação do projeto até a conclusão efetiva da obra, há sempre, para cada caso específico, certa margem final de opção entre os limites máximo e mínimo determinados pelo cálculo, preconizados pela técnica, condicionados pelo meio, reclamados pela função ou impostos pelo programa, cabendo, então, ao sentimento individual do arquiteto (ao artista, portanto) escolher, na escala dos valores contidos entre tais limites extremos, a forma plástica apropriada a cada pormenor em função da unidade última da obra idealizada. A intenção plástica que semelhante escolha subentende é precisamente o que distingue a arquitetura da simples construção. Por outro lado, a arquitetura depende ainda, necessariamente, da época da sua ocorrência, do meio físico e social a que pertence, da técnica TÓPICO 1 | ARQUITETURA: INTRODUZINDO CONCEITOS 9 decorrente dos materiais empregados e, finalmente, dos objetivos visados e dos recursos financeiros disponíveis para a realização da obra, ou seja, do programa proposto. Pode-se, então, definir a arquitetura como construção concebida com a intenção de ordenar plasticamente o espaço em função de uma determinada época, de um determinado meio, de uma determinada técnica, de um determinado programa e de uma determinada intenção. (COSTA, 1997). A trajetória do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer segue um caminho até certo ponto balizado pelas convicções de seus mestres, Lucio Costa e Le Corbusier, mas não deixa de ter suas peculiaridades. Reconhecido pelas formas revolucionárias de seu estilo arquitetônico, Oscar Niemeyer vê a arquitetura de forma única: “De um traço nasce a arquitetura. E quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nívelsuperior de uma obra de arte.” (NIEMEYER, 1993). NOTA Para aprofundar seus estudos sobre a história da arquitetura, sugerimos a leitura do livro “Introdução à Arquitetura”, de Leonardo Benevolo. 3 SIGNIFICADO DA ARQUITETURA As definições de arquitetura, ao longo do tempo, apresentam uma clara imprecisão de seu significado. Muitas vezes poéticos, os termos são duplamente enganosos, primeiro porque não definem a arquitetura e, segundo, porque não definem a si mesmos. Somente no final do século século XIX e início do século XX, as definições de arquitetura incorporaram um elemento significativo: o espaço. Até então, todos relacionavam a arquitetura com a construção e a beleza. Para Zevi (1996), o espaço interior é protagonista do fato arquitetônico, e completa: “a definição mais precisa que se pode dar atualmente da arquitetura é a que leva em conta o espaço interior. E é o homem que, movendo-se no edifício, dá ao espaço a sua realidade integral”. O espaço constitui o caráter essencial da arquitetura, mas não é o suficiente para defini-la. Cada edifício caracteriza-se por uma pluralidade de elementos que podem ser aqui definidos como forma, tecnologia, programa e contexto. Segundo Ching (2002), alguns desses elementos podem dominar enquanto outros desempenham um papel secundário na organização de um edifício. Entretanto, esses elementos devem estar inter-relacionados para formarem um todo integrado que contenha uma estrutura unificadora e coerente. UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA 10 ESTUDOS FU TUROS Os próximos tópicos abordarão os elementos que compõem a arquitetura: forma, tecnologia, programa e contexto. 11 Neste tópico, buscamos construir conceitos sobre arquitetura. Você pôde perceber que: • Ao longo da história, a arquitetura apresentou diversos significados, considerando os aspectos culturais, sociais, econômicos e tecnológicos de cada período histórico. Somente no final do século XIX e início do século XX, as definições de arquitetura incorporaram o espaço como elemento essencial. Até então, todos relacionavam a arquitetura com a construção e a beleza. • O espaço vivenciado constitui a essência da arquitetura, mas não é o suficiente para defini-la. A forma, a tecnologia, o programa e o contexto são elementos que compõem a obra arquitetônica. Todos esses elementos devem ser percebidos e experimentados. RESUMO DO TÓPICO 1 12 Caro(a) acadêmico(a), para melhor fixar o conteúdo apresentado neste tópico, sugerimos que você efetue seguinte atividade: 1 A partir da sua compreensão do texto até agora estudado (Tópico 1) e da visão dos vários autores apresentados, componha um conceito de arquitetura. AUTOATIVIDADE 13 TÓPICO 2 FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A arquitetura começa a existir à medida que o espaço passa a ser organizado por elementos materiais. O espaço é material e sua forma visual depende da organização dos limites espaciais definidos pela forma. Os espaços são dotados de características formais que interferem nas condições físicas e psicológicas dos usuários. Torna-se importante, então, a disponibilidade de um referencial de análise que possibilite o entendimento da forma espacial. Esse instrumental implica o conhecimento das características de composição, isto é, nas diversas maneiras de organização dos espaços arquitetônicos. UNI Cabe-nos, agora, estudar o conceito e o referencial de análise da forma arquitetônica. 2 FORMA Forma é um termo abrangente que comporta e admite diferentes significados. Segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2004), a forma se refere aos limites exteriores da matéria de que é constituído um corpo, em que se conferem a este feitio uma configuração, um aspecto particular. Em arte e projeto, frequentemente, o termo é utilizado para expressar a estrutura formal de um trabalho, ou seja, a maneira de dispor e coordenar os elementos e partes de uma composição de maneira a produzir uma imagem coerente. (CHING, 2002). A forma nos informa sobre a natureza da aparência externa do objeto. Tudo que se vê possui forma. A percepção da forma é o resultado de uma interação entre o objeto físico e o meio de luz ainda como transmissor de informação, e as condições e imagens que prevalecem no sistema nervoso do observador, que é, em parte, determinado pela própria experiência visual. UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA 14 Para perceber a forma, é necessário que existam variações, ou seja, diferenças no campo visual. As diferenças acontecem por variações de estímulos visuais, em função dos contrastes dos elementos que configuram um determinado objeto ou coisa. Para Ching (2002), as formas apresentam propriedades visuais de tamanho, cor e textura. O tamanho refere-se às dimensões físicas de comprimento, largura e profundidade de uma forma. As dimensões determinam as proporções de uma forma, mas sua escala é determinada por seu tamanho em relação a outras formas de seu contexto. A cor é um fenômeno de luz e percepção visual que pode ser descrito em termos da percepção que um indivíduo tem de matiz, saturação e valor total. Cor é o atributo que mais claramente distingue uma forma de seu ambiente. Também afeta a atração visual de uma forma. A textura é a qualidade visual e especialmente tátil conferida a uma superfície pelo seu tamanho, formato, disposição e proporção das partes. A textura também determina o grau em que as superfícies de uma forma refletem ou absorvem a luz incidente. 3 FORMA E ESPAÇO O espaço é definido, segundo Ching (2002), por elementos horizontais e verticais. O plano de base é um elemento horizontal que define um campo de espaço simples. O plano superior é um elemento horizontal localizado acima da cabeça, definindo um volume de espaço entre ele e o plano do solo. Os planos verticais têm uma presença maior no campo visual do que os planos horizontais e são, portanto, mais eficazes para definir um volume isolado de espaço e proporcionar um sentido de fechamento e privacidade para seus usuários. Além disso, têm a competência de separar um espaço de outro e estabelecer um limite comum entre os ambientes interno e externo. FONTE: CHING, 2002 FIGURA 1 – PLANO DE BASE, PLANO SUPERIOR E PLANOS VERTICAIS TÓPICO 2 | FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA 15 A forma como se configuram os elementos horizontais e verticais gera e define tipos específicos de espaços. O plano de base pode ser elevado, estabelecendo uma separação visual entre seu campo e aquele do solo circundante, ou rebaixado, descrevendo uma depressão no plano do solo e utilizando as superfícies verticais da área rebaixada para definir um volume no espaço. O plano superior é representado nos edifícios pela sua cobertura, que não somente abriga os espaços interiores das intempéries como também exerce impacto sobre a forma geral do edifício. A forma do plano superior é determinada pelo material, pela geometria e pelo seu sistema estrutural. Os elementos verticais, segundo Ching (2002), também desempenham papéis importantes na construção de formas e espaços arquitetônicos. FONTE: As autoras FONTE: As autoras FONTE: As autoras FONTE: As autoras FIGURA 2 – PLANO DE BASE ELEVADO, FÓ- RUM ROMANO, ROMA, ITÁLIA FIGURA 3 – PLANO DE BASE REBAIXADO, JAR- DIM DE VERSAILLES, FRANÇA FIGURA 4 – PLANO SUPERIOR EM ABÓ- BADA, GALLERIA VITTORIO EMANUELLE, MILÃO, ITÁLIA FIGURA 5 – PLANO SUPERIOR HORIZON- TAL, PALÁCIO DA ALVORADA, BRASÍLIA/DF UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA 16 FONTE: As autoras FONTE: As autoras FONTE: Google earth, 2008 FIGURA 6 – PLANO VERTICAL ÚNICO, ARCO DE TITO NO FÓRUM ROMANO, ROMA, ITÁLIA FIGURA 7 – PLANOS VER- TICAIS PARALELOS, UFIZZI, FLORENÇA, ITÁLIA FIGURA 8 – FECHAMENTO, PLACE DES VOSGES, PARIS, FRANÇA 4 ORGANIZAÇÕES ESPACIAIS IMPORTANT E Agora apresentaremos as formas básicas em que se organizam os espaços de um edifício. 4.1 ORGANIZAÇÃO CENTRALIZADA A organização dosespaços depende de condições específicas referentes ao programa arquitetônico, como proximidades funcionais, necessidades dimensionais, classificação hierárquica de espaços e requisitos indispensáveis para acesso, iluminação ou vista, e ao terreno, que possam limitar ou incentivar a forma ou o tipo de organização. Para Ching (2002), as organizações espaciais podem ser centralizada, linear, radial, aglomerada, em malha. A organização centralizada consiste em um espaço central dominante ao redor do qual uma série de espaços secundários é agrupada. Esse tipo de organização apresenta um caráter geométrico. TÓPICO 2 | FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA 17 FONTE: Ching (2002) O espaço central, unificador da organização, tem, geralmente, uma forma regular e apresenta dimensões suficientes para reunir um número de espaços secundários ao redor de seu perímetro. Os espaços secundários da organização podem ser equivalentes entre si, em termos de função, forma e tamanho, e criar uma configuração global geometricamente regular e simétrica em relação a um ou dois eixos, ou podem diferir entre si, a fim de responder às exigências individuais de função, hierarquia ou entorno, resultando em uma configuração global, geometricamente irregular e até assimétrica. (CHING, 2002). A organização centralizada permite o crescimento e possibilita uma série de variações e complexidades. FIGURA 9 – TIPOS DE ORGANIZAÇÃO CENTRALIZADA 4.2 ORGANIZAÇÃO LINEAR A organização linear consiste em uma sequência linear de espaços repetitivos. Esses espaços podem estar diretamente relacionados um ao outro ou ligados através de um espaço linear separado. (CHING, 2002). FONTE: Ching (2002) Esse tipo de organização pode realizar-se através da repetição de espaços semelhantes em termos de tamanho, forma e função, ou diferentes entre si. FONTE: Ching (2002) FIGURA 10 – ORGANIZAÇÃO LINEAR COM ESPAÇOS DIRETAMENTE RELACIONADOS E SEPARADOS FIGURA 11 – ORGANIZAÇÃO LINEAR POR REPETIÇÃO DE ELEMENTOS SEMELHANTES E DIFE- RENTES ENTRE SI UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA 18 A organização linear pode ser reta, segmentada ou curvilínea. FONTE: Ching (2002) É possível hierarquizar a organização, destacando a importância de determinados espaços através de sua forma, tamanho ou pela sua localização. FONTE: Ching (2002) A organização linear proporciona flexibilidade, podendo adaptar-se às diferentes condições de terreno, permitindo realizar adições ao longo dos eixos. FIGURA 12 – ORGANIZAÇÃO LINEAR POR RETA, SEGMENTADA E CURVILÍNEA FIGURA 13 – ORGANIZAÇÃO LINEAR COM ESPAÇOS HIERARQUIZADOS 4.3 ORGANIZAÇÃO RADIAL A organização radial consiste em um espaço central dominante, a partir do qual organizações lineares de espaço se estendem de maneira radial. (CHING, 2002). Nesse tipo de organização, assim como nas organizações centralizadas, o espaço central tem geralmente forma regular. Os eixos lineares para os quais o espaço central se estende podem ser semelhantes um ao outro em termos de forma e comprimento e manter a regularidade da forma global da organização. Mas podem também diferir um do outro para atender às necessidades individuais de função e contexto. (CHING, 2002). TÓPICO 2 | FORMA E ESPAÇO NA ARQUITETURA 19 FONTE: Ching (2002) FIGURA 14 – ORGANIZAÇÃO RADIAL 4.4 ORGANIZAÇÃO AGLOMERADA A organização aglomerada se baseia em espaços agrupados pela proximidade ou pelo fato de compartilharem uma característica ou relação visual. Os espaços apresentam, frequentemente, funções semelhantes e uma característica visual comum, como o formato ou a orientação, mas podem também apresentar diferenças em termos de tamanho, forma e função, porém relacionados um ao outro pela proximidade ou por um recurso de ordenação como a simetria ou um eixo. (CHING, 2002). Essa organização não se origina de um conceito geométrico rígido, apresentando um caráter flexível, pode aceitar crescimento e mudança sem afetar a sua identidade. FONTE: Ching (2002) FIGURA 15 – ORGANIZAÇÃO AGLOMERADA 4.5 ORGANIZAÇÃO EM MALHA A organização em malha consiste em espaços relacionados entre si, regulados por um padrão ou malha tridimensional. Uma malha é configurada por dois conjuntos de retas paralelas, geralmente perpendiculares, que estabelecem um padrão regular de pontos em suas interseções. (CHING, 2002). UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA 20 FONTE: Ching (2002) Na arquitetura, uma malha, geralmente, é estabelecida por um sistema estrutural composto por colunas e vigas. A organização em malha é caracterizada pela regularidade e continuidade de seu padrão, que estabelece um conjunto estável de referência no espaço. Uma malha pode sofrer transformações para melhor atender ao programa, adaptar-se às condições do terreno, criar uma hierarquia ou possibilitar seu crescimento e expansão, e ainda assim, manter sua identidade como malha na organização dos espaços. Uma parte da malha pode ser subtraída ou acrescentada. É possível tornar uma malha irregular em uma ou mais direções, criando um conjunto de módulos hierárquicos diferenciados pelo tamanho, proporção e localização. Também porções da malha podem deslizar para alterar a continuidade visual e espacial através de seu campo (CHING, 2002). FONTE: Ching (2002) FIGURA 16 – ORGANIZAÇÃO EM MALHA FIGURA 17 – TRANSFORMAÇÕES DA ORGANIZAÇÃO EM MALHA NOTA Para aprofundar os seus conhecimentos sobre forma e espaço, sugerimos a leitura do livro Forma, Espaço e Ordem. Francis D. K. Ching. São Paulo: Editora Martis Fontes, 2002. 21 RESUMO DO TÓPICO 2 Nos estudos referentes à forma e ao espaço na arquitetura, destacamos os seguintes conteúdos, que foram estudados no presente tópico: • A palavra forma apresenta diferentes significados. Em arte e projeto, refere-se à maneira de dispor e coordenar os elementos e partes de uma composição de maneira a produzir uma imagem coerente. • O espaço é definido por elementos horizontais e verticais: plano de base, plano superior e planos verticais. As diferentes maneiras, como esses elementos se configuram, geram e definem tipos específicos de espaços. • O modo de organização dos espaços é incentivado ou limitado por condições específicas referentes ao programa arquitetônico e ao terreno. As organizações espaciais podem ser: centralizada, linear, radial, aglomerada, em malha. Cada tipo de organização apresenta um resultado formal e espacial. 22 Estudamos que as organizações espaciais podem apresentar configuração centralizada, linear, radial, aglomerada e em malha. A partir do referencial de análise apresentado, identifique o modo de organização espacial dominante nas edificações que você conhece: sua casa, local de trabalho, igreja, escola, hospital, prefeitura, centro cultural etc. AUTOATIVIDADE 23 TÓPICO 3 ARQUITETURA E TECNOLOGIA UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO As inovações tecnológicas têm espaço também na construção civil, transformando o canteiro de obras em canteiro de montagem, gerando vantagens como diminuição na geração de entulhos e maior rapidez de execução. A estes conceitos acrescentam-se fatores relativos ao conforto do usuário e ao meio ambiente. Um edifício, além de bem executado, deve apresentar desempenho adequado, de modo a proporcionar conforto aos seus usuários (térmico, acústico e luminotécnico), resistência estrutural, entre outros. E toda a tecnologia utilizada para isso deve gerar o mínimo impacto ambiental, buscando a sustentabilidade na construção de edifícios. UNI Tentemos, agora, compreender o significado da tecnologia na arquitetura. Abordaremos questões referentes ao sistema estrutural do edifício e ao conforto ambiental que este deve proporcionar aos seus usuários, com base em princípios sustentáveis. 2 TECNOLOGIA DA ARQUITETURA A tecnologia (do grego, tékhné, refere-se à arte e logo a tratado) consiste em um conjunto de conhecimentos aplicados à produção de bens, incluindo as técnicas que permitem a organização e a eficiênciado processo produtivo. É entendida como conjunto doutrinário e instrumental para organizar os processos de modificação e de transformação da matéria, da energia, do habitat do homem, portanto capaz de modificar as próprias condições de existência dos grupos humanos. (VIANNA, 1990). A tecnologia da arquitetura refere-se ao tratamento sistemático de todos os fenômenos de transformação artificial do habitat do homem, vistos pela ótica da utilidade social e no respeito aos acontecimentos naturais. 24 UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA Na visão conservadora que caracterizou a tecnologia da arquitetura até pouco tempo atrás, concebia-se a tecnologia como o saber-fazer técnico como o elo entre os dois momentos da arquitetura: o de projeto e a construção, tecnologia confundida com técnica da construção, simples superposição instrumental a um momento de concepção do espaço. Mas Vianna (1990) define que o enfoque tecnológico da arquitetura não mais coincide só com as medidas físicas da construção, mas com o conjunto das operações programáveis para se construir uma outra natureza, alternativa àquela tradicional, correspondente ao mundo físico do conhecido. Tecnologia, neste sentido, é entendida como um modo ou um método de projetação que faz dos dois momentos, da idealização e da realização, não mais uma relação estática de causa e efeito, mas um processo interativo, do influenciar- se recíproco até se chegar a uma nova concepção do próprio espaço. Tecnologia entendida como uma tentativa de se substituir os modelos estáticos e definidos por processos abertos e dinâmicos, individualizando, mais que o tipo funcional da forma arquitetônica, os parâmetros estruturais de transformação e construção do ambiente. (VIANNA, 1990). Na atual sociedade de informação, vivemos um período de grande transformação, em que um novo tipo de construção emerge, quebrando barreiras entre disciplinas profissionais antes separadas e especializadas. Nos projetos atualmente pensados e executados de uma forma totalmente digital, a concepção, a análise estrutural e a escolha material fundem-se e resultam na produção do projeto diretamente através de máquinas de controle numérico. Atualmente, um novo tipo de construção emerge. Vivemos um período de reestruturação produtiva em que os projetos são pensados e executados de uma forma totalmente digital, em um processo de integração entre a concepção, a análise estrutural e a escolha material. A integração entre concepção e construção digital é recente. Ainda é necessária uma investigação multidisciplinar, que permita aprofundar o conhecimento das vantagens, limitações e oportunidades, pois constituem uma grande transformação no processo de construção tradicional, introduzindo novos desafios em todo o processo produtivo. 3 SISTEMAS ESTRUTURAIS O sistema estrutural é formado por elementos estruturais responsáveis por absorver e transmitir os esforços de uma edificação. Caracteriza-se por ser a parte mais resistente de uma construção, sendo essencial para sua segurança e solidez. Podemos citar diferentes sistemas estruturais que podem ser adotados durante a concepção do projeto de uma edificação. A escolha do sistema adequado ocorre em função do uso da edificação, de custos e recursos disponíveis. TÓPICO 3 | ARQUITETURA E TECNOLOGIA 25 Antigamente, nas construções egípcias e na Idade Média, tinha-se o uso da pedra e, no século XVIII, os vãos foram sendo incrementados com o uso da madeira. A partir da Revolução Industrial, começaram a ser utilizadas as estruturas metálicas, que apresentavam vantagens em relação ao uso da madeira, devido à relação entre o peso próprio e as dimensões das peças estruturais, à escassez da madeira e pela suposição de que o ferro fundido fosse mais resistente a incêndios, elevando a segurança das edificações. Posteriormente, com o uso do aço e a invenção do concreto, estes materiais foram tendo suas propriedades melhoradas e o uso cada vez mais difundido. O aço é obtido do carvão mineral ou do minério de ferro, com retirada de impurezas e promoção de adições pela siderurgia. Tem elevada resistência, tanto à compressão quanto à tração. Uma estrutura constituída por materiais metálicos apresenta como principais características: qualidade homogênea, esbelteza das peças resistentes, precisão na fabricação e montagem, necessidade de proteção contra corrosão e incêndios. O concreto é uma mistura de aglomerante com água e agregrados (areia e pedra), que desde o patenteamento do cimento Portland por Joseph Aspdin, em 1824, vem sofrendo sucessivos incrementos de resistência. Associados às armaduras passivas (barras de aço de construção) formam o concreto armado, moldado in loco ou pré-moldado. Atualmente, é o material estrutural mais aplicado em obras civis no mundo, devido à facilidade de criação de qualquer seção, mão de obra barata e não especializada para a confecção e materiais. As principais características do uso do concreto armado são: obtenção de peças monolíticas, alta resistência a choques e vibrações, durabilidade, bom condutor de calor e som, necessidade de escoramentos durante a fabricação, dificuldade de adaptações e reformas. Com o advento do concreto protendido, pôde-se extrair o máximo de eficiência dos materiais de concreto e aço. O concreto protendido é obtido com a utilização de cabos de aço de alta resistência, que são tracionados e fixados no próprio concreto. Os cabos de protensão têm resistência em média quatro vezes maior do que os aços utilizados no concreto armado. Dentro das vantagens que esta técnica pode oferecer, temos a redução na incidência de fissuras, diminuição na dimensão das peças devido à maior resistência dos materiais empregados, possibilidade de vencer vãos maiores do que o concreto armado convencional. A evolução dos materiais permitiu a liberação da função estrutural das paredes. Anteriormente, estas tinham o duplo papel de suportar as cargas dos pavimentos e coberturas e vedar o edifício, isto é, separar o interior do exterior. Apresentavam a função portante, vedante e divisória. Com as estruturas independentes de metal e concreto, as paredes ganharam maior liberdade, dispensando-se a função portante. 26 UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA A prévia escolha da tipologia estrutural fornece subsídios ao partido arquitetônico, por meio da definição de formas, vãos e alturas livres. Por outro lado, pode-se tirar proveito da linguagem estrutural para a estética da arquitetura. 4 CONFORTO AMBIENTAL O conforto ambiental e a eficiência energética das edificações são condições fundamentais para garantir uma edificação de qualidade que apresente como objetivo principal a satisfação do homem. As principais formas de conforto no ambiente construído que os homens buscam são: conforto térmico, conforto acústico e conforto luminotécnico. O conforto térmico na arquitetura pode ser alcançado através do correto posicionamento do edifício no lote e do partido arquitetônico adotado, considerando as questões específicas locais de orientação solar e o direcionamento dos ventos dominantes. Brises, fachadas ventiladas ou ventilação cruzada são também alguns dos recursos que a própria arquitetura pode utilizar para minimizar a carga térmica no interior dos edifícios. O uso de materiais transparentes em fachadas de edificações, adotado sem o necessário cuidado com a entrada de energia solar no ambiente interno, tem se revelado um dos grandes causadores de desconforto térmico, principalmente em climas quentes como o do Brasil. É também um dos grandes fatores responsáveis pelo consumo excessivo de energia para refrigeração e condicionamento do ar. IMPORTANT E Brise, em português, é a abreviação da expressão francesa brise-soleil, cuja tradução literal seria quebra-sol. É um dispositivo arquitetônico utilizado para impedir a incidência direta de radiação solar nos interiores de um edifício. É também um importanteelemento compositivo que foi muito utilizado na arquitetura moderna. O conforto acústico é uma condição importante para alcançar o bem- estar nos ambientes. A ausência de conforto acústico condiciona a nossa saúde e a nossa produtividade. Observa-se que, nas cidades, a qualidade dos ambientes vem sendo comprometida significativamente pelos ruídos urbanos. Além disso, as novas tecnologias da construção vêm tornando o edifício e seus ambientes mais vulneráveis aos ruídos, tanto àqueles vindos do exterior como do interior. As aberturas, por menores que sejam, permitem a propagação do som e a vibração dos materiais. Dessa forma, o tratamento acústico de uma edificação deve ser realizado ainda na fase de projeto. TÓPICO 3 | ARQUITETURA E TECNOLOGIA 27 5 ARQUITETURA SUSTENTÁVEL Contra os ruídos externos, pode-se adotar como meio de proteção a distância da fonte de ruído, a utilização de barreiras sonoras, o posicionamento das aberturas e a utilização de materiais isolantes. Para os ruídos gerados dentro do edifício, as seguintes medidas podem ser consideradas: redução na fonte de ruído, isolamento da fonte através de barreiras absorventes, zoneamento das atividades, redução dos ruídos produzidos por impactos, utilização de superfícies absorventes, utilização de construções herméticas com isolamento acústico, redução da transmissão sônica pelas estruturas mediante descontinuidades. O conforto luminotécnico é necessário para a adequada realização das atividades visuais em ambientes internos, com o máximo de precisão visual, com o menor esforço, com menor risco de prejuízos à vista e com reduzidos riscos de acidentes. A arquitetura apresenta uma série de variáveis que contribuem na iluminação dos ambientes internos como a posição e o dimensionamento das aberturas, o tipo de fechamento utilizado na construção, as características reflexivas dos materiais de revestimento, as cores utilizadas e o uso de sistemas artificiais de iluminação. Entende-se como desenvolvimento sustentável aquele capaz de atender às necessidades das atuais gerações, sem comprometer os direitos das futuras gerações. É na forma como arquitetos e engenheiros se inter-relacionam com as questões ambientais e a escassez de recursos energéticos que se dá a contribuição da arquitetura na sustentabilidade. Segundo a arquiteta Roberta Kronka Mülfarth (Laboratório do Departamento de Tecnologia da FAU-USP), a arquitetura sustentável “é uma forma de promover a busca pela igualdade social, valorização dos aspectos culturais, maior eficiência econômica e menor impacto ambiental nas soluções adotadas nas fases de projeto, construção, utilização, reutilização e reciclagem da edificação, visando à distribuição equitativa da matéria-prima e garantindo a competitividade do homem e das cidades.” (CORBIOLI, 2003). Os conceitos de arquitetura sustentável baseiam-se na utilização de sistemas construtivos e de materiais de acabamento recicláveis, que não causem grande impacto ambiental, que não comprometam o meio ambiente nem a saúde do ser humano que trabalhará na obra ou fará uso da edificação. Na lista destes materiais, incluem-se, por exemplo, produtos como madeira de reflorestamento, cimento, concreto, derivados de petróleo, tintas e vernizes insolúveis em água ou com grande concentração de metal, para citar apenas alguns exemplos. O aço e vidro, embora tenham muita energia incorporada, devido ao processo de fabricação do material, têm seu uso justificado pela possibilidade de reciclagem. 28 UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA A arquitetura sustentável baseia-se também em conceitos de conforto ambiental, através de uma adaptação ao clima, considerando aspectos como insolação, ventos dominantes, características do entorno, para definir o posicionamento no lote, a espessura das paredes, a dimensão das aberturas e os materiais a serem utilizados. O conceito de arquitetura sustentável que está se difundindo no Brasil estabelece o ato projetual consciente que pode ser aplicado tanto em edificações novas como na adaptação de edificações existentes (retrofits). Mas há, ainda, no país um longo caminho a percorrer, principalmente na elaboração de uma legislação que interfira diretamente na sustentabilidade da arquitetura. Vários países no mundo já têm ou estão produzindo leis e incentivos para edificações que sejam projetadas de forma ambientalmente responsável e com alto desempenho. Em muitos deles, existem sistemas de certificação ambiental para edificações. Essa forma de incentivo iniciou na Europa e se difundiu por outros continentes. Entre os principais sistemas de avaliação ambiental de edificações podem-se destacar: LEED (Leadership in Energy and Environmental Design, USA); REEAM e ECOHOMES (BRE Environmental Assessment Method, Reino Unido); CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency, Japão); HQE (Haute Qualité Environnementale dês Batiments, França) e GREEN STAR, Austrália. 29 RESUMO DO TÓPICO 3 Esse tópico abordou vários conteúdos relacionados à tecnologia da arquitetura. Resumidamente, apresentamos tais conteúdos a seguir: • A tecnologia da arquitetura se refere ao conjunto de ações envolvidas no processo de transformação artificial do habitat humano, consideradas sob o aspecto social e ambiental. • Tecnologia não é mais entendida somente como o elo entre o projeto e a construção, mas como um método de projetação que faz dos dois momentos, da idealização e da realização, não mais uma relação estática de causa e efeito, mas um processo interativo, do influenciar-se recíproco até se chegar a uma nova concepção do próprio espaço. • O conceito de sustentabilidade na arquitetura busca a igualdade social, a valorização dos aspectos culturais, a maior eficiência econômica e menor impacto ambiental nas soluções adotadas nas fases de projeto, construção, utilização, reutilização e reciclagem da edificação. 30 Considerando que a arquitetura sustentável se baseia na utilização de materiais construtivos e de acabamento que não causem grande impacto ambiental e no emprego de conceitos de conforto ambiental, analise a sustentabilidade de um edifício que constitui referência arquitetônica em sua cidade. AUTOATIVIDADE 31 TÓPICO 4 PROGRAMA ARQUITETÔNICO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O projeto de arquitetura tem como principal objetivo a geração de soluções físico-espaciais que atendam às necessidades e anseios de um indivíduo ou grupo, para a realização das atividades humanas que precisam de espaços adequados para se realizarem plenamente. A intenção do projeto se resume no programa arquitetônico que apresenta as exigências do tema, necessidades e as aspirações funcionais, sociais, culturais, econômicas e legais. O programa arquitetônico envolve as relações entre indivíduo ou grupo social e o edifício, evidenciando a sua adequação às necessidades dos usuários. UNI Neste tópico, estudaremos os elementos que definem o programa arquitetônico, com vistas a compreender a sua influência na arquitetura. 2 EXIGÊNCIAS DO TEMA Os diferentes temas de projeto arquitetônico, como edifícios residenciais, comerciais, industriais, educacionais, hospitalares, equipamentos culturais e terminais de transporte, por exemplo, apresentam exigências específicas de programa, que são relacionadas à adequação do espaço para a adequada realização da atividade a que se destinam. As questões a serem consideradas são: a compartimentação e o dimensionamento dos ambientes, as relações espaciais, a população fixa e variável e os fluxos de pessoas, veículos e materiais. 32 UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA 3 NECESSIDADES E ASPIRAÇÕES DOS USUÁRIOS 4 FATORES SOCIOCULTURAIS 5 FATORES ECONÔMICOS 6 RESTRIÇÕES LEGAIS O programa arquitetônico compõe um registro das necessidades e expectativas que os usuários esperam sejam atendidas pelo projeto arquitetônico, almejando que venha a ser o novo edifício capaz, então,de exercer a função para qual foi planejado. O projeto arquitetônico apresenta a espacialização do programa de necessidades estabelecidas pelo cliente. Os fatores sociais e culturais interferem no programa arquitetônico. Os programas são mutáveis no tempo e dependem das características sociais e culturais. O progresso constante, os novos modos de planejar, o desenvolvimento das atividades em geral estão sempre a exigir alterações nos programas dos edifícios. O programa arquitetônico possui interferência também da disponibilidade de recursos e dos prazos exigidos para o projeto e a execução. Esses fatores podem determinar a forma espacial e a tecnologia a ser utilizada, dependendo da flexibilidade dos custos e da disponibilidade de tempo, permitindo que o projeto e a obra sejam executados em curto ou longo prazo, ou ainda que sejam divididos em etapas. As restrições legais limitam o projeto e controlam as edificações, principalmente as urbanas. As restrições podem ser referentes ao código de zoneamento de uso e ocupação do solo, que define o uso permitido, adequado ou restrito para as diversas áreas da cidade, além das dimensões espaciais dos edifícios através de índices urbanísticos como a taxa de ocupação, o coeficiente de aproveitamento, gabarito, recuos entre outros. TÓPICO 4 | PROGRAMA ARQUITETÔNICO 33 IMPORTANT E Antes de continuar, procuraremos entender o que são estes índices urbanísticos: - taxa de ocupação: corresponde ao índice urbanístico que limita a máxima projeção ortogonal possível da área construída sobre um lote; - coeficiente de aproveitamento: é o índice urbanístico que define o potencial construtivo do lote, através do produto entre este e a área do lote; - gabarito: é o índice urbanístico que indica, geralmente, a altura máxima permitida das edificações, podendo ser indicado pelo número de pavimentos ou pela altura em metros; - recuos: corresponde ao índice urbanístico que define a distância que separa as divisas do lote da projeção horizontal da edificação, podendo ser frontal, lateral ou de fundos. O código de obras de um município pode determinar o número de vagas de garagem em função do tipo de uso e do porte da edificação, os vãos de iluminação e ventilação, as dimensões mínimas de certos compartimentos e exigências relativas a tipos específicos de edificação. Outras exigências arquitetônicas também podem ser definidas pelas Prefeituras Municipais, Corpo de Bombeiros, Concessionárias de Serviços Públicos, Ministérios da Marinha, Aeronáutica, Trabalho e Saúde e Órgãos de Proteção ao Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, entre outros. Essas leis surgiram principalmente para se alcançar condições mínimas de higiene, segurança, estabilidade e conforto das edificações. As restrições legais podem apresentar flexibilidade, possibilitando uma gama de soluções arquitetônicas ou podem ser rígidas, determinando o partido arquitetônico. 7 FLEXIBILIDADE E PERMANÊNCIA DO PROGRAMA ARQUITETÔNICO O programa compõe a obra arquitetônica e constitui um elemento importante para que esta se configure em um ambiente propício para o desenvolvimento das atividades humanas individuais e coletivas. Entretanto, não se deve elevar a importância funcional na composição dos edifícios. A arquitetura deve constituir uma ordem espacial que possibilite a realização efetiva de uma multiplicidade de atividades, entendendo que os usos mudam e as construções muitas vezes vão se acomodando. Rossi (1995), quando aborda a permanência histórica dos fatos urbanos, afirma que a função é insuficiente para definir a sua continuidade e, se a origem 34 UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA da constituição tipológica dos fatos urbanos é simplesmente a função, não se pode explicar nenhum fenômeno de sobrevivência: uma função é sempre caracterizada no tempo e na sociedade e o que dela depende intimamente não pode deixar de estar ligado ao seu desenvolvimento. Em antigas construções, as sucessivas adaptações podem, aos poucos, transformar as velhas estruturas em novos programas. Para que essa realidade ocorra, o edifício deve ser maleável, permitindo reformulações. Mas sempre há um limite para as adaptações sucessivas e daí a necessidade da previsão de uma solução para o crescimento planejado. TÓPICO 4 | PROGRAMA ARQUITETÔNICO 35 LEITURA COMPLEMENTAR ARQUITETURA, PROJETO E CONCEITO Carlos Alberto Maciel O texto a seguir faz parte do artigo “Arquitetura, projeto e conceito”, do arquiteto urbanista Carlos Alberto Maciel. Para o autor, a realização de um projeto de arquitetura tem premissas que lhe são próprias: há um programa a ser atendido, há um lugar em que se implantará o edifício e há um modo de construir a ser determinado. Esse conjunto de premissas é elaborado graficamente em um desenho que opera como mediador entre a ideia do projeto e sua realização concreta. Esperamos que o texto a seguir lhe proporcione reflexões sobre a dimensão do programa no projeto arquitetônico. (MACIEL). Acreditava que um navio, de algum modo, deveria ser criado pelo conhecimento do mar, como que moldado pela própria onda!... Mas, na verdade, esse conhecimento consiste em substituir o mar, em nossos raciocínios, pelas ações que ele exerce sobre um corpo, - como se tratasse, para nós, de descobrir as outras ações que a essas se opõem, defrontando-nos tão somente com um equilíbrio de poderes, uns e outros extraídos da natureza, onde não se combatiam utilmente. (VALÉRY, 1996). Os usos e atividades que geralmente dão origem à demanda por um edifício são em geral colocados no início do processo de projeto. Também são colocadas as restrições relativas à economia, um aspecto geralmente desconsiderado ou subestimado pelos arquitetos. Desconsiderar as definições relativas às limitações econômicas ou entendê-las como uma restrição à criação é recorrer à exclusão do problema para buscar uma solução mais simples e fácil. A consideração das questões de economia, quando se opera com recursos limitados, característica recorrente no contexto brasileiro, é, antes de tudo, uma premissa que pressupõe a viabilidade da construção. Sendo assim, ignorar as restrições e limitações de ordem econômica representa em um contexto de escassez um ato de irresponsabilidade em relação ao usuário, no caso de uma relação particular entre arquiteto e cliente, ou em relação à sociedade, no caso em que o cliente se trate de uma instituição pública. Representa ainda um descompromisso do arquiteto com a realização concreta de sua obra. A necessidade da atenção à economia remete à questão do decoro, apontada por Vitruvio: “o decoro é o aspecto correto da obra, que resulta da perfeita adequação do edifício, no qual não haja nada que não esteja fundado em alguma razão”. (VITRUVIO, 1955). 36 UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ARQUITETURA Mesmo em situações em que a escassez não é condição para a realização da arquitetura, o dispêndio excessivo e supérfluo implica em última instância a inserção direta do trabalho do arquiteto no mundo do consumo desenfreado, a promover a não preservação dos recursos naturais disponíveis para o homem no planeta. Como aponta Moneo, A construção de um edifício requer um empenho enorme e um grande investimento. Arquitetura em princípio, quase por princípio econômico, deve ser durável. Os materiais devem assegurar vida longa aos edifícios. Antes um edifício era construído para durar para sempre ou, pelo menos, certamente não esperávamos que desaparecesse. (MONEO, 1985). Ao se estabelecer um programa, surge a necessidade da determinação de dimensões dos espaços a fim de acomodar as diversas atividades propostas para o edifício. Esse dimensionamento se constitui em parte fundamental da interpretação do programa. Como aponta Le Corbusier, a noção da dimensão deve ser algo que ultrapassa a abstração da reprodução de padrões métricos universalmente aceitos, considerando as dimensões e a escala do homem como referência
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