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Fisioterapia Aquática Apresentação Iniciamos a disciplina Fisioterapia Aquática, uma modalidade terapêutica de suma importância ao fisioterapeuta. Desafiadora e complexa devido às suas especificidades, a água, quando utilizada de forma correta, pode oferecer inúmeros benefícios aos indivíduos. Nesse sentindo, é essencial que o profissional conheça tais benefícios, pois ao entender de que forma a água se relaciona com o meio e com os corpos, ele saberá como orientar os seus pacientes. É importante ressaltar que essa modalidade evoluiu consideravelmente nos últimos anos, apesar de sua prática ser considerada milenar. Nesse contexto, será notável ao longo desse curso o quanto a evolução tecnológica e científica contribuiu para o que conhecemos hoje como Fisioterapia Aquática. A partir desse material, você aprenderá sobre os fatos históricos, os conceitos físicos básicos e os efeitos fisiológicos da Fisioterapia Aquática, como também as principais patologias e seus tratamentos. Por fim, você verá também como a hidroterapia é dinâmica e versátil, tanto pela diversidade de condutas que podem ser propostas, como também pelas pessoas com diferentes condições físicas que podem ser contempladas. Unidade 1 - A hidroterapia e seus princípios básicos Histórico da hidroterapia Já é difundida em nossa sociedade a importância do exercício físico durante a reabilitação e prevenção de disfunções musculoesqueléticas, objetivando uma melhora na capacidade física em geral, bem como mantendo a funcionalidade dos indivíduos. Ainda assim, a forma de prescrever o exercício físico pode ser muito variada, e nos últimos anos há uma crescente no desenvolvimento de diferentes modalidades terapêuticas, aliadas à evolução técnico-científica. Nesse contexto, a hidroterapia vem se consolidando como modalidade terapêutica alternativa para patologias que contemplam diversas áreas comuns ao fisioterapeuta como, por exemplo, a traumatologia, a reumatologia, a neurologia e a cardiorrespiratória. Originada das palavras gregas hydro (água) e therapéia (tratamento), é uma abordagem que atua preventivamente e durante a reabilitação. Podemos defini-la como a aplicação externa da água com finalidade terapêutica, utilizando piscinas aquecidas e outros implementos ou acessórios específicos como recurso fisioterapêutico. Os principais benefícios que o ambiente aquático oferece são: aumento da circulação sanguínea, redução do impacto articular, maior controle corporal, condicionamento cardiorrespiratório e relaxamento muscular, fatores estes que contribuem diretamente na qualidade de vida dos pacientes. Sendo assim, neste tópico você verá que, apesar de apresentar evidências técnico-científicas recentes sobre os benefícios de sua utilização, a hidroterapia (ou fisioterapia aquática) já foi descrita há 5 mil anos, por seu uso terapêutico. O uso da água desde a antiguidade Desde a origem das primeiras civilizações, a água era vista como um elemento sagrado, além de ser considerada um elemento fundamental para a vida. Através dela, eram realizados diversos rituais de adoração, entre eles os de batismo, ainda comum entre muitos povos. Nesse mesmo período, durante os banhos de imersão já se observavam propriedades curativas. Segundo Buchman (2001, p. 12), autor do livro Terapia pela água: “[...] A terapia pela água é tão antiga quanto o homem, e é uma ironia que uma medicina tão antiga e natural tenha que ser redescoberta a cada era [...]”. Em 2400 a.C., período conhecido como Primeiras Civilizações, a cultura de povos indianos, egípcios, assírios e hindus já utilizava a água em instalações higiênicas e no combate à febre. Em culturas orientais, os relatos falam sobre banhos de imersão por longos períodos de tempo. As termas romanas de Bath também foram descritas por seus poderes curativos. Na Grécia Antiga, entre 500 e 300 a.C., Hipócrates (considerado o “Pai da medicina”), sugeriu a utilização da água no tratamento de diversas doenças da época, incluindo reumatismos e paralisias. Sua maneira racional, e até então inédita, de pensar no processo saúde-doença, fez com que esta civilização observasse os benefícios dos banhos de imersão e das terapias quentes/frias. Somado a isso, Hipócrates registrou o uso de compressas úmidas, “bolsas” de água quente, e aplicação de lama como forma de estratégias adjacentes ao tratar seus pacientes. Já no século IV, durante o Império Romano, surgiram banheiros públicos que incluíam balneário e ginásio em suas estruturas. Inicialmente, este uso era restrito aos imperadores e aos atletas. Porém, aos poucos, as demais pessoas tiveram acesso, conforme demonstrado na Figura 1. Culturalmente, as fontes de águas termais eram medicinais, destacando-se a hidroterapia como tratamento de patologias com técnicas semelhantes às gregas. .Posteriormente, entre os séculos V e XV, com a transição do Império Romano para a Idade Média, a hidroterapia caiu no esquecimento devido às imposições do cristianismo, que considerava práticas envolvendo o uso da água como um ato pagão, visto que o cuidado com o corpo e a beleza não eram encorajados. Porém, em outras culturas como árabes e bizantinas, as práticas de origem grega foram mantidas, contribuindo para o desenvolvimento da hidroterapia e da prevenção de doenças através dos cuidados com o corpo. Durante o Renascimento, entre os séculos XVI e XVIII, houve uma mudança na forma de entender o mundo, onde a civilização começou a buscar respostas e a desenvolver suas ideias a partir de preceitos da Roma antiga. Sendo assim, foi possível que estudiosos escrevessem tratados sobre as propriedades da água, bem como de seus benefícios curativos. Dentre eles, destaca-se a obra do ano de 1571 De Termis, de Andrea Bacius. Porém, foi no século XIX, Idade Contemporânea, que a hidroterapia começou a se consolidar. Com a utilização de compressas, banhos de imersão e duchas, pesquisadores desenvolveram técnicas de tratamento, que, aos poucos, foram sendo aceitas pelas comunidades médicas da época. Dentre eles, o austríaco Winterwitz fundou a Escola de Hidroterapia e Centro de Pesquisa em Viena, sendo reconhecido como um dos maiores nomes da prática ao fundamentar as bases fisiológicas da hidroterapia. Nos Estados Unidos, Dr. Simon Baruch, escreveu livros sobre o tratamento de doenças como neurite e gota utilizando a hidroterapia. Sendo assim, pelo mundo, foram construídas diversas casas de banho (Spas), explorando também o conceito de hidroginástica. A evolução técnico- científica da época e a disseminação dos Spas pela Europa, permitiu então que duas técnicas utilizadas até hoje nascessem por volta de 1930: Bad Ragaz e Halliwick. Foi a Santa Casa do Rio de Janeiro que teve o papel de trazer a hidroterapia científica para o Brasil, em 1922, através do fisiatra Artur Silva. O serviço contava com banhos salgados (utilizando água do mar) e doces. Apesar de estar presente em nossa história desde esta época, somente a partir da década de 80 essa prática se difundiu em nosso País, possibilitando que portadores de diversas doenças (neurológicas, reumatológicas, ortopédicas) desenvolvessem força muscular e mobilidade articular, permitindo assim, maior independência funcional em suas atividades diárias. A hidroterapia nos dias atuais Conforme mencionado anteriormente, foi na década de 80 que a prática de hidroterapia se fortaleceu no nosso País. Isso ocorreu devido ao surgimento de publicações científicas entre 1970 e 1990 pelo mundo, demonstrando efetivamente seus benefícios, propiciando sua inclusão em centros de reabilitação. Tais publicações foram impulsionadas pelo desenvolvimento no estudo da Física, que visava levar o homem ao espaço. Atualmente, esta prática sempre é realizada em piscina aquecida e coberta, preconizando a orientação do fisioterapeuta, uma vez queeste profissional é quem definirá qual método será empregado para tratar o paciente (por exemplo Watsu, Bag Ragaz) (Figura 2), de acordo com a patologia apresentada. Existem diversas regras e normativas técnicas que a ser seguidas na implementação de uma piscina terapêutica, as quais serão apresentadas ao longo dessa disciplina. Portanto, hoje, a hidroterapia é considerada uma terapia complementar, que possui um modelo de treinamento individualizado por meio de exercícios personalizados, proporcionando resultados bastante satisfatórios aos pacientes. Conceitos físicos básicos A Física é um campo amplo da ciência, a qual abrange o estudo dos fenômenos naturais. De forma convencional, os conceitos englobados por ela são ensinados de forma individual, mas quando postos em prática observamos que os fenômenos na verdade são contínuos e interligados. No que tange a prática de hidroterapia, compreender as propriedades físicas da água é fundamental ao fisioterapeuta na hora de montar seu raciocínio clínico. Tais propriedades serão subdivididas em 3 áreas: Hidrostática: Onde serão abordados os efeitos da imersão; Hidrodinâmica: A qual estuda o movimento da água ou do corpo; Termodinâmica: Observando as transferências de calor no meio aquático e os estados físicos da matéria. Porém, antes de falar especificamente sobre cada uma delas, você revisará alguns conceitos físicos que são importantes para melhor compreendê-las. Massa Define-se massa como a quantidade de matéria ou substância contida em um corpo, sendo uma propriedade específica do mesmo, independente do ambiente em que ele se encontra (na água, na terra ou no espaço) ou de sua temperatura (CAROMANO; NOWOTNY, 2002). A unidade usual de massa é a grama, expressa pela letra “g”, então, se um objeto possui 10 gramas, escrevemos abreviadamente 10 g. Quando trabalhamos com escalas maiores de massa, podemos utilizar o recurso dos prefixos gregos, utilizados como multiplicadores unitários, sendo o mais recorrente deles, o kilo, representado pela letra “k”, que significa 1000 (mil). Por isso, para objetos muito grandes e pessoas, ao invés de escrevermos 80.000 gramas, simplificamos a escrita para 80 kg (80 quilogramas). No cotidiano, o conceito de massa e peso são utilizados com a mesma finalidade. Porém, é importante ressaltar que o peso é uma grandeza de força, como você verá. Exemplificando: Ao subir em uma balança para se pesar, uma pessoa lê 75 kg no visor, e conclui então que “pesa” 75 kg. No entanto, a balança é um aparelho que mensura a massa dos objetos e pessoas, portanto, o correto é concluir que a pessoa na verdade possui 75 kg de massa corporal. Peso O conceito físico de peso é de suma importância, sendo ele uma grandeza de força. Retomando esse conceito de forma básica, um objeto com massa m quando está submetido a uma aceleração a,isto é, quando sua velocidade está sendo alterada constantemente, dizemos que está recebendo uma força F. Em outras palavras, isso quer dizer que somos todos objetos sob o ponto de vista físico, e estamos constantemente em aceleração para baixo. Parece estranho? Vamos a mais um exemplo. Por exemplo, quando pulamos, essa aceleração torna-se evidente, pois ao chegar no topo do salto somos “acelerados” para baixo, chegando ao solo novamente, não descendo mais que isso porque o chão nos “segura”. Ao longo de seus estudos, certamente você já deve ter ouvido falar sobre a estória do físico Newton, que após sentar abaixo de uma macieira teve sua cabeça atingida por uma maçã. No entanto, quem poderia imaginar que uma dor de cabeça resultaria em tantos avanços para a ciência? A partir disso, Newton descreveu esse fenômeno chamado de força como sendo a multiplicação da massa de um objeto por sua aceleração, que entendeu como sendo a gravidade, e é por isso que a unidade de força é mundialmente conhecida como Newton, ou apenas “N” de forma abreviada. Essa relação ao longo da história ficou conhecida como Segunda Lei de Newton, como mostrada na Expressão 1: Como nosso estudo diz respeito ao comportamento mecânico de corpos submetidos somente à aceleração da gravidade, entramos em uma situação de particularidade da força peso, na qual entende-se como a força com a qual ele é atraído de forma gravitacional para a Terra (BECKER; COLE, 1997). Portanto, o peso é uma relação da massa de um corpo (m) com a aceleração da gravidade (g) a qual está submetido, e obtemos seu valor através da multiplicação dos mesmos, como está representado na fórmula: Já a aceleração da gravidade (Figura 3) varia de acordo com a distância do corpo em relação ao centro da Terra. Isto significa que em locais de maior altitude a gravidade será menor quando comparada a locais que estão à nível do mar. Por se tratar de um parâmetro que varia conforme o local, principalmente para fins didáticos e contas que não requerem extrema precisão, é comum que se utilize seu valor médio na superfície terrestre, que vale em torno de 9,8 m/s². Densidade e densidade relativa Define-se densidade como a quantidade de massa ocupada por determinado volume em certa temperatura. Esse conceito expressa a capacidade de ocupar um volume no espaço, e explica porque alguns materiais de mesma massa ocupam mais volume do que outros. É uma grandeza expressa em gramas por centímetro cúbico (g/cm3). Para exemplificar, suponhamos um cubo que tem massa de 5 gramas e tem 1 centímetro de lado. Este cubo ocupa 1 centímetro cúbico no espaço, que pode ser expresso em notação volumétrica por 1 cm³. A densidade deste objeto, portanto, é 5 g/cm³. A fórmula da densidade é basicamente a razão entre a massa de um corpo pelo volume que este ocupa, podemos observar como segue.: Assim como no conceito de massa, muitas vezes trabalhamos com escalas maiores de grandeza, então é conveniente utilizar outras unidades que tornam melhor o entendimento desta grandeza para o problema em questão. Por vezes, utilizamos o quilograma por metro cúbico (kg/m³), obtemos essa unidade multiplicando a unidade de g/cm³ por 1000 (mil), como demonstrado: A densidade da água, que vale 1 g/cm³, pode ser expressa também como 1000 kg/m³. Em termos práticos, imagine construir uma caixa de madeira com 1 metro nos três lados e enchê-la de água, dentro da caixa então terá 1000 kg de água. Como comentado anteriormente, alguns materiais ocupam mais volume no espaço do que outros, tendo eles a mesma massa, é a partir dessa ideia que surge o conceito de que há materiais mais densos do que outros. A tabela que segue exemplifica valores de densidade para diversos materiais. Você pode se perguntar porque na tabela acima existem dois valores médios para a densidade da água, isto será explicado na sequência. Apesar da densidade da água ser considerada em torno de 1 g/cm³, temos que ter em mente que é um parâmetro que muda conforme a temperatura, através do fenômeno de dilatação. Isso não diz respeito somente à água, todos os materiais têm sua densidade alterada pela temperatura do ambiente em que se encontram. Na grande maioria dos casos com que trabalhamos, os materiais tendem a se expandir quando a temperatura aumenta, e tendem a se retrair quando esta diminui. Neste sentido, conforme aumentamos a temperatura de uma massa de água, ela passa a aumentar o volume que ocupa no espaço, ou seja, começa a dilatar. Um exemplo comum que podemos utilizar como referência, é quando colocamos para esquentar uma panela de água, e esta fica no limite para transbordar. Alguns minutos após estar sob aquecimento, é perceptível que o recipiente comece a transbordar levemente, devido à dilatação do corpo líquido, isto é, a mesma massa de água passa a exigir um recipiente com mais volume, que por definição é uma redução da sua densidade. Apesar da água se comportar como o esperadona faixa dos 4 °C até os 100 °C, para temperaturas muito baixas, mais precisamente na faixa dos 0 °C até os 4 °C, essa relação entre densidade e temperatura é inversa, ou seja, diminuindo a temperatura a água tem sua densidade levemente reduzida. Curiosidade: Você já ouviu falar do “mar morto”? Localizado no Oriente médio, ele é um grande lago de água salgada, abastecido pelo rio Jordão. Possui altas concentrações de sal quando comparado a outros mares, fazendo com que sua densidade fique em torno de 1,12 g/ml, o que impossibilita a reprodução de vida marinha. Daí a razão de ele ficar conhecido como “ mar morto”. Além disso, devido à alta densidade da água em relação a do corpo humano, qualquer pessoa consegue flutuar nele facilmente. Já a densidade relativa, diz respeito à relação da massa de um volume de determinada substância, quando comparada a massa do mesmo volume de água. Sendo assim, em um corpo, a composição entre massa magra e massa gorda definirá a densidade relativa individual. Você verá este conceito segundo Skinner e Thomson: A água pura (4º C) possui densidade (g/cm³) de 1,00; a média do corpo humano é de 0,97 e a densidade do ar é de 0,001. Uma pessoa ou objeto flutuará se sua densidade for menor que 1,0, afundará se tiver densidade maior que 1,0 e ficará logo abaixo da superfície se for igual a 1,0. Normalmente, o corpo das mulheres possui densidade relativa menor quando comparado ao dos homens, enquanto que bebês e idosos possuem densidade relativa menor do que adultos em geral, por possuírem mais tecido adiposo. Esse conceito também muda de acordo com a região do corpo analisada, onde você vai notar que membros inferiores flutuam menos em relação aos superiores, por serem mais densos. Dica: O conceito de densidade relativa deve ser levado em consideração quando você for elaborar um plano de tratamento individualizado para o seu paciente, de acordo com a patologia que ele possuir. Logo, fique atento a algumas condições específicas durante a avaliação física, como hipertonia (aumento de tônus muscular) e hipertrofia (aumento do trofismo muscular), onde o segmento afunda mais facilmente devido a uma maior densidade. Bem como em hipotonias (diminuição do tônus muscular) e atrofias (diminuição e perda de função muscular), nas quais os segmentos apresentam maior flutuação por ser menos densos. Princípios físicos hidrostáticos da água Conforme mencionado anteriormente, a hidrostática é a área de estudo da física que observa os fluidos em equilíbrio estático. Após ter revisado conceitos físicos básicos, você compreenderá a sua relação com as forças físicas da água e sua influência na prática de hidroterapia. Lei de Pascal- Pressão hidrostática A pressão hidrostática é a força que um fluido exerce em contato com a área de um corpo, onde P é pressão, F é força e A é área, sendo expressa em Newtons por metro quadrado.: Blaise Pascal, no século XVII, descreveu esta lei como a variação de pressão de um fluido exercida de forma igual sobre todas as áreas da superfície de um corpo, sendo proporcional à profundidade e à densidade do fluido. Logo, quanto mais profundo está o corpo, maior a pressão exercida sobre ele. Na prática da hidroterapia, o uso desta propriedade traz benefícios quanto ao equilíbrio e à coordenação motora por promover melhor sustentação corporal, redução de edemas através da facilitação do retorno venoso e incremento na capacidade respiratória ao oferecer resistência à expansão de músculos torácicos e abdominais. Porém, este mesmo incremento que ocorre na capacidade respiratória, pode ser prejudicial aos pacientes que possuem capacidade vital pulmonar reduzida. Uma vez que, se submersos a maiores profundidades (acima do próximo xifoide) podem apresentar dificuldade para vencer a resistência imposta na caixa torácica, devido ao aumento da pressão hidrostática. Sendo assim, a avaliação física e os exames complementares durante a anamnese são essenciais ao fisioterapeuta antes de elaborar um plano de tratamento para o paciente. Na Figura você pode observar que as setas indicam a pressão hidrostática atuando sobre o segmento corporal, a qual aumenta de acordo com a profundidade. // Princípio de Arquimedes – Flutuação: Junto à Lei de Pascal, o Princípio de Arquimedes (ou Lei do empuxo) fundamenta os princípios hidrostáticos da água e embasa o estudo do que entendemos como a interação entre corpos sólidos e corpos fluidos. Skinner e Thomson (1985, p. 4-22) abordam o postulado do físico-matemático grego Arquimedes de Siracusa, o qual refere que “todo corpo mergulhado num fluido recebe um impulso de baixo para cima igual ao peso do volume do fluido deslocado. Por esse motivo, os corpos mais densos que a água, afundam, enquanto os menos densos flutuam. ” Sendo assim, a flutuação que ocorre em um corpo imerso na água é resultante da força de oposição entre o empuxo e a gravidade. Outros conceitos que são observados durante a flutuabilidade de um corpo são o seu centro de gravidade e o centro de flutuação, como veremos na Tabela. A flutuação é um fenômeno que ocorre em corpos sólidos menos densos do que a água, e permite ao fisioterapeuta elaborar formas de executar movimentos que não conseguem ser realizados em solo, inicialmente. Além disso, você tem a oportunidade de propor atividades em diferentes planos (ortostase, decúbito dorsal etc), e pode utilizar implementos chamados vulgarmente de “flutuadores” que funcionam como boias, controlando o equilíbrio de pressão e empuxo constantes no segmento corporal desejado, acarretando em uma estabilidade assistida para o paciente que se encontra no meio aquático. Na Figura 7 é possível ver um exemplo desse objeto. Explicando: Você já deve ter tido a impressão de que quando está imerso na água, parece sentir-se mais leve dentro dela do que quando está fora. Isto é uma forma de perceber a força empuxo atuando, em sentido contrário à força peso, gerando assim o que é chamado de “peso aparente”. Princípios físicos hidrodinâmicos da água A hidrodinâmica, ou mecânica dos fluidos, estuda o movimento de fluidos e a sua interação com a superfície de corpos sólidos. Ela é influenciada por fatores como aceleração, força e velocidade. Neste tópico, veremos algumas de suas aplicabilidades no ambiente aquático. Movimentos de fluxo O movimento de fluxo é definido como a relação entre a pressão e a velocidade de um fluido com o corpo que está se movimentando na água. Quando o movimento ocorre de forma suave e lenta, observa-se o chamado fluxo laminar, no qual as moléculas de água movimentam-se paralelamente e não se cruzam. Em contrapartida, se o movimento ocorre de forma rápida e com fluxo desigual, percebe-se o fluxo turbulento, onde ocorrem cruzamentos e oscilações nas moléculas gerando “redemoinhos”. Portanto, ao deslocar-se durante o fluxo laminar torna-se mais fácil manter o equilíbrio, onde a velocidade se mantém constante e as moléculas de água estão alinhadas. Porém, é possível utilizar a turbulência como conduta durante o tratamento do seu paciente, como por exemplo, se o seu objetivo for aumentar resistência muscular. Na Figura é possível observar como os corpos se movem em meio aquático. No ponto A, ocorre o fluxo laminar e no ponto B, o fluxo turbulento. Força de arrasto Ao movimentar-se em meio aquático, o corpo promove uma diferença de pressão com a água, formando um ponto de esteira (mais conhecido como força de arrasto), devido ao fluxo turbulento e à viscosidade da água. Fatores como a velocidade e a forma do objeto ou corpo deslocado, também influenciam essa força. Estando à frente do corpo, essa diferença de pressão é maior, enquanto que atrás torna-se menor. Sendo assim, quando uma pessoa se desloca atrás de outra na piscina, a que está posicionadaatrás sente maior facilidade durante o trajeto, visto que está sendo “puxada” pelo arrasto que foi promovido pela primeira, de certa forma, o corpo que guia o movimento cria uma situação de sucção dentro do fluido. Desse modo, esta força pode ser usada a favor do tratamento do paciente, promovendo uma facilitação de marcha no meio aquático. Este fator, somado a outras propriedades físicas da água, faz com que alguns indivíduos que não conseguem realizar movimentação ativa fora d’água, relatem maior independência dentro da piscina, ainda que com auxílio de seus terapeutas. Coesão, adesão, tensão superficial, refração e viscosidade A água é uma substância química composta por 2 moléculas de hidrogênio e 1 de oxigênio (H2O). Por serem moléculas polares, elas podem se atrair e se ligar em outras moléculas de água, através de pontes de hidrogênio. Sendo assim, durante este subtópico, você verá resumidamente como isto ocorre e demais propriedades hidrodinâmicas e ópticas que estão ligadas às moléculas, bem como a forma com a qual elas se relacionam com o meio aquático. Coesão e Adesão: Primeiramente, falaremos das forças de coesão e adesão. A coesão é a capacidade das moléculas de água permanecerem juntas e atraídas em uma superfície. Observamos esta força ao notar que a água se mantém fluida e unida, criando assim uma película de alta tensão, e por isso quando “derramada”, forma um caminho, um rastro contínuo na superfície. Diferente da coesão, a adesão é a força de atração entre a água e outras moléculas (polares), permitindo que ela se misture com outras substâncias com essa mesma característica. Essa propriedade possibilita então que a água se misture com álcoois, sabão, vinagre e cetonas. Tensão superficial: A tensão superficial é um fenômeno físico, gerado pelas forças de adesão e coesão. Ela ocorre quando a camada superior de um líquido atua como uma membrana elástica, permitindo que algumas matérias mais densas que o líquido flutuem sem aderir na água. Por exemplo, um inseto “caminhando” sobre a piscina sem se molhar. Neste caso, a pressão exercida pelo peso do inseto através da área de contato de suas patas é menor do que a tensão superficial da água. Refração: Já a refração é considerada um efeito visual de distorção de imagem que ocorre devido à passagem de luz entre meios de diferentes densidades. Ao observar a piscina, estando do lado de fora, você pode ter a impressão de que ela possui menos profundidade. Esse efeito também ocorre observando um corpo submerso na água, o qual parecerá “achatado”. Viscosidade: Por fim, a viscosidade é o atrito que ocorre entre as moléculas de água, oferecendo resistência durante a movimentação. Esta propriedade é dependente da temperatura a qual está submetida. Sendo assim, os líquidos que fluem de forma lenta são considerados de alta viscosidade, e os que fluem de forma rápida possuem baixa viscosidade. Termodinâmica da água Por fim, neste tópico falaremos sobre as propriedades ligadas à temperatura da água, ou seja, os processos de transferência e retenção de calor. No que diz respeito à reabilitação no meio aquático, o coeficiente de temperatura é importante, tanto pelos seus efeitos fisiológicos como para proporcionar maior conforto aos pacientes. A temperatura média corporal é de 37 °C, com pequenas variações de acordo com a região. Através de termorreceptores e do hipotálamo, o corpo humano faz o equilíbrio da temperatura corporal de forma autônoma, onde fatores como a atividade metabólica e condições do meio externo também influenciam. Neste subtópico, você verá especificamente de quais formas ocorrem as transferências de calor na água. Não há um consenso na literatura sobre o coeficiente de temperatura ideal da água durante os exercícios. Porém, você deve levar em conta que ao realizar exercícios ativos, a velocidade e intensidade destes pode influenciar no aumento da temperatura corporal, ou seja, recomenda- se manter a piscina menos aquecida nestes casos (em torno de 32 °C). Agora, caso o seu objetivo seja promover analgesia e relaxamento, esta temperatura deve ser mais elevada, porém não ultrapassar os 35 °C. Durante a prática de hidroterapia, os efeitos da temperatura podem ser observados no corpo humano através das alterações nas frequências cardíacas e pressão arterial, visto que o corpo emite uma série de respostas cardiovasculares enquanto transfere calor ao meio e mantém suprimento suficiente de sangue aos órgãos e músculos. Sendo assim, temperaturas mais elevadas para pacientes cardiopatas não são recomendadas. Calor específico Suponhamos que durante a leitura deste material, você sentiu vontade de preparar um café para tomar. Então, ao colocá-lo em uma xícara de alumínio, você sente que este recipiente fica muito quente, e então opta por colocar o café em uma xícara de porcelana. Por que será que essa reação ocorre se o café estava na mesma temperatura? Isto acontece devido à uma propriedade chamada de calor específico, a qual pode ser definida como a quantidade de calor necessária para variar a temperatura de um material. Em termos práticos, ela diz respeito ao quanto um material pode variar sua temperatura a partir de uma quantidade de energia fornecida ou retirada dele. No exemplo citado, o alumínio é um material que consegue ter sua temperatura variada muito facilmente a partir da energia térmica fornecida pelo café quente, enquanto a porcelana sob a mesma energia térmica, apresenta uma variação em sua temperatura que pode ser considerada muito menor do que a do material metálico. Ao falar de materiais como a água, Guimarães e Boa (1997) citam que ao fornecer 1 caloria a 1 grama de água, sua temperatura será elevada em 1 °C. Para a água em seu estado sólido, o gelo, são necessárias apenas 0,55 calorias para elevar em 1 °C e a mesma 1 grama de material, aproximadamente 55%, a menos de energia para uma mesma variação térmica. Ao observar este exemplo, pode-se concluir que a água em seu estado líquido, funciona como um bom reservatório térmico. Não podemos esquecer que trocas de energia também dizem respeito ao resfriamento e que a água, por possuir um calor específico alto, demora tanto para ser aquecida como para ser resfriada. Na prática da terapia aquática, a água da piscina demora para atingir a temperatura almejada. Porém, uma vez alcançada, o resfriamento da água ocorrerá de forma lenta após o desligamento dos aquecedores. Para contemplar melhor como os fenômenos termodinâmicos estão relacionados com a água, é importante a compreensão de como os materiais trocam de estado físico e quais as decorrências desse processo. A água, principal objeto de estudo desse material, mantém-se no estado líquido por praticamente toda nossa escala termométrica, dos 0 °C até os 100 °C, e essa elevação de temperatura ou resfriamento, consegue ser mensurada a partir do calor específico, como citado anteriormente. Então, como o gelo ou o vapor se formam? Se resfriarmos uma porção de água líquida em temperatura ambiente, por exemplo, colocando-a no congelador, eventualmente atingirá os 0 °C, mas esta porção de água não se transforma instantaneamente em gelo, ela permanece por uns instantes em um limiar onde permanece líquida, mesmo estando a 0 °C. A troca de estado ocorre somente quando a massa de água seguir no resfriamento, a ponto de “perder” uma parcela extra de energia necessária para ocorrer a troca do estado físico da matéria, para então entrar no estado sólido e virar gelo. Esta parcela de energia a ser “perdida” apenas para trocar de estado líquido para sólido (ou vice-versa, de sólido para líquido, vulgo “derretimento”) é chamada de calor latente de solidificação. Este fenômeno não é observado apenas no momento de congelamento da água, mas também na sua vaporização. Quando esquentamos uma massa de água na temperaturaambiente até seu ponto de ebulição, ela não se torna vapor instantaneamente, a água começa inicialmente a borbulhar, e precisa manter-se em aquecimento, para então “receber” uma parcela extra de energia e entrar no estado gasoso. Essa parcela extra de energia para a troca do estado líquido para o gasoso é chamada de calor latente de vaporização. No entanto, você pode se perguntar por que então uma chaleira de água em aquecimento começa a exalar vapor antes mesmo que a água comece a borbulhar, curioso, não? Isto se trata de um outro fenômeno que observamos em muitas situações do dia a dia: a evaporação da água. Em outras palavras, a evaporação da água é a capacidade que ela tem de tornar-se vapor e misturar- se com o ar muito antes de atingir sua temperatura de ebulição. O ar atmosférico em certas condições tem a capacidade de “roubar” para si as moléculas da água que estão muito próximas da interface água-ar, deixando-as suspensas. Este fenômeno ocorre quando deixamos roupas para secar num varal a céu aberto, onde o vento consegue arrancar as partículas de água do tecido, ou quando a água de uma piscina térmica fica muito aquecida sem nenhum tipo de climatização ou ventilação, e é visível o vapor exalando para o ambiente. Sintetizando A Unidade 1 teve como proposta introduzir os alunos aos princípios básicos de fisioterapia aquática, ou hidroterapia, uma modalidade terapêutica consolidada em nos dias atuais pela relevância nas condições clínicas e qualidade de vida dos pacientes. Iniciamos nosso trajeto com um breve histórico do que há na literatura sobre a evolução desta prática, nem sempre tão difundida ao longo do tempo. Observamos a conexão da água como elemento primordial da vida, até o seu uso elaborado nos dias atuais, respeitando a evolução técnico-científica de cada época. Como vimos, após os povos se estabelecerem e construírem o que conhecemos como “primeiras civilizações” surgiram os primeiros registros do uso da água de forma terapêutica. Logo, civilizações gregas e romanas, reconhecidas pelos seus filósofos e imperadores, elaboraram tratamentos com maior rigor teórico. A Europa, considerada berço cultural do ocidente, relacionou-se com a água de diferentes maneiras por toda sua história, e foi a partir do século XIX que começou a consolidar a prática de hidroterapia pelo mundo. Além disso, os alunos podem perceber o recente, porém em crescimento, avanço da prática no Brasil. É evidente que cada uma das modalidades terapêuticas que a Fisioterapia utiliza possui suas particularidades e oferece seus próprios recursos. Nesse contexto, a disciplina também surge como propósito de clarificar a complexidade desta terapia através do entendimento sobre os fenômenos nos quais ela se fundamenta. Portanto, com a retomada de conceitos físicos básicos como massa, peso e densidade, os alunos puderam entender a importância de conhecer as características dos corpos para, posteriormente, relacioná-los com as propriedades físicas da água. Alguns conceitos de maior complexidade, explicamos trazendo exemplos do cotidiano e com ilustrações, que permitiram aos alunos uma visualização destes. Apropriados dos conceitos físicos básicos, aprofundamos nosso conhecimento ao abordar as propriedades hidrostáticas, hidrodinâmicas e termodinâmicas da água. Começando pela hidrostática, essencial para compreender os pontos chaves da terapia aquática: flutuação e pressão. Logo, a hidrodinâmica se fez essencial por suas propriedades de fluxos através de turbulência e arrasto, de suma importância durante a elaboração de condutas facilitadoras ou resistentes aos pacientes. Por fim, a termodinâmica explicitou como os estados físicos da água funcionam e as noções básicas sobre a interferência da temperatura na água. Através do conteúdo discorrido nesta unidade, o aluno é capaz de compreender o que virá na sequência. Apropriado das interações dos fenômenos da Fisioterapia Aquática, ele estará apto para associar seus conhecimentos com sua futura prática de fisioterapeuta. Unidade 2 - A hidroterapia e seus efeitos terapêuticos no corpo humano Efeitos fisiológicos e terapêuticos da hidroterapia No decorrer da disciplina de fisioterapia aquática, você irá perceber como o universo dessa modalidade terapêutica é vasto devido às suas especificidades. Aprofundaremos o conhecimento sobre o que essas propriedades causam no corpo humano e de que forma podem ser usadas para beneficiar os pacientes. A utilização da água para fins terapêuticos é realizada de diversas formas, desde o começo da história da humanidade, embasada na sabedoria popular até chegar ao escopo das ciências da saúde. Porém, nesta disciplina, enfocaremos nos efeitos que a imersão propõe em pacientes que possuem diferentes patologias e de qual maneira podemos utilizá-los a fim de alcançar o objetivo terapêutico estipulado, preconizando que a prática da hidroterapia seja prescrita em um formato individualizado e sistematizado, baseado em evidências científicas. Primeiramente, você irá entender de forma aprofundada como os conceitos de temperatura, pressão hidrostática e flutuação atuam nos diferentes sistemas do corpo humano durante a imersão e também a importância do exercício físico em geral para a prevenção e reabilitação de patologias. Em seguida, apresentaremos os conceitos básicos da fisiologia, visando a compreensão acerca da relação da hidroterapia. Outro ponto que deve ser considerado neste momento é a relevância deste conhecimento para o seu cotidiano profissional. Afinal, talvez você não considere do seu interesse ser um terapeuta que trabalha diariamente na água, mas pode se especializar em fisioterapia neurofuncional em solo, por exemplo, e encaminhar para a hidroterapia um paciente com paralisia cerebral como complemento ao seu tratamento. Logo, é seu dever como fisioterapeuta estar ciente do funcionamento desta modalidade para dialogar e elaborar um plano terapêutico congruente aos objetivos de ambos. Exercícios físicos como modalidade terapêutica O fisioterapeuta da atualidade não é mais um profissional que atua somente no escopo da reabilitação. Somos agentes de promoção em saúde, elaboramos condutas com o intuito de prevenir patologias, objetivamos o bem-estar dos indivíduos e, acima de tudo, prezamos pela qualidade de vida dos nossos pacientes. Logo, ao avaliar um indivíduo que chega relatando possuir determinada patologia, não foque somente no diagnóstico que ele traz consigo, mas realize uma anamnese completa que englobe os sinais, sintomas, queixa principal e as limitações funcionais, caso houver. Desse modo, ele se sentirá ouvido e com suas queixas acolhidas. Somado a isso, durante a elaboração do plano terapêutico, considere os objetivos práticos a fim de motivar seu paciente, como, por exemplo, alcançar um livro na estante ou até algo mais complexo, como voltar a fazer algo que há algum tempo sente-se impedido. Os modelos de atenção ao paciente comumente utilizados indicam que o seu processo de acompanhamento deve ser composto por exames, avaliação, diagnóstico, plano de atendimento, prognóstico, intervenção e resultados. Tais itens podem ser modificados de tempos em tempos, de acordo com a evolução natural da patologia e da intervenção aplicada. No item específico de intervenção, podemos destacar os exercícios terapêuticos, como práticas do fisioterapeuta que almejam diminuir a restrição de tarefas e promover aquisição ou manutenção de habilidades. Nesse contexto, a fisioterapia contemporânea preconiza que a reabilitação é um processo que quanto mais ativo ocorrer, mais benefícios trará para o paciente. Isso significa que estimular a prática de exercícios terapêuticos e a retomada de atividades de vida diária, dentro do possível, acelera a recuperação. Isso, somado ao crescente número de publicações na área de exercícios físicose saúde, fez com que viabilizasse uma mudança na forma de enxergar os exercícios terapêuticos e a importância da manutenção da saúde como um todo. Portanto, pensando no conceito de saúde trazido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1947, o qual aborda que “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença e enfermidade”, exercícios físicos ao longo da vida são fortemente recomendados como forma de prevenir a aquisição de doenças crônicas e se manter mental, social e fisicamente saudável. E, no caso de aquisição de patologias, manter os indivíduos ativos, sob acompanhamento de profissional especializado, é essencial para que não haja piora nas condições clínicas e ocorram melhoras na qualidade vida dessas pessoas. Além disso, nos últimos anos foi possível observar grandes mudanças na percepção dos indivíduos em relação às próprias condições de saúde, o que proporcionou uma transformação por parte dos profissionais no momento de avaliar e tratar seus pacientes, como mencionado inicialmente. Logo, com o intuito de qualificar a assistência, é essencial ao fisioterapeuta compreender que por trás de uma patologia há uma limitação funcional que pode levar à incapacitação. Além disso, nos últimos anos foi possível observar grandes mudanças na percepção dos indivíduos em relação às próprias condições de saúde, o que proporcionou uma transformação por parte dos profissionais no momento de avaliar e tratar seus pacientes, como mencionado inicialmente. Logo, com o intuito de qualificar a assistência, é essencial ao fisioterapeuta compreender que por trás de uma patologia há uma limitação funcional que pode levar à incapacitação. Paralelo a isso, nas últimas décadas, houve um crescente interesse por parte dos pesquisadores em compreender melhor de que forma a água contribui para a reabilitação dos indivíduos. De modo geral, podemos dizer que a principal vantagem dessa modalidade é a diminuição nas forças de sobrecarga articular. Sendo assim, reduzindo a queixa álgica e ganhando amplitude de movimento, é possível melhorar a qualidade dos movimentos no segmento tratado. Nesse sentido, a hidroterapia foi se consolidando ao longo do tempo como modalidade alternativa e complementar para uma série de diagnósticos, desde as lesões osteomusculares até as neurológicas. Nosso foco não é abordar cada uma delas, mas analisar de que maneiras a terapia aquática contribui para a reabilitação dos pacientes e diminuição das limitações funcionais. Porém, é importante que você saiba que as piscinas terapêuticas também são utilizadas por pessoas que desejam se manter saudáveis e ativas, como é o caso dos praticantes de hidroginástica e natação. Tenha em mente que a recuperação da função motora e a reabilitação de disfunções musculoesqueléticas em meio aquático se destacam pela possibilidade de realizar movimentos que, em tratamentos no solo, não conseguiriam ser executados ou que seriam feitos com maior dificuldade ou dor intensa. Isso ocorre devido às propriedades físicas hidrostáticas e hidrodinâmicas que atuam no incremento da amplitude de movimento articular, na diminuição da tensão muscular e no fortalecimento. Temperatura Nessa modalidade de tratamento, você já sabe que a água é nosso recurso primordial. Falando um pouco sobre suas particularidades, ela é considerada um elemento com boa capacidade térmica, pois notamos que, ao atingir determinada temperatura, consegue mantê-la por um longo tempo. Além disso, conceitos já estudados, como viscosidade e gravidade, são atuantes nesse elemento. A temperatura é um fator muito importante no ambiente de reabilitação aquática, uma vez que, além da questão de conforto e relaxamento que pode promover ao paciente, ela interfere nas condutas que são planejadas, por exemplo, temperaturas mais elevadas geram grande trabalho ao sistema respiratório. Os exercícios físicos realizados em ar ambiente permitem ao corpo transferir e perder calor por meio do mecanismo de sudorese em que a água contida em um corpo é eliminada na superfície do corpo devido ao aumento da temperatura do mesmo. Já durante a imersão, estando a pele em contato com água, o corpo dissipa calor de maneira diferente. Para compreender de que forma a temperatura do corpo humano interage com a temperatura do meio aquático, observe o Diagrama. Por meio desses dois mecanismos, a movimentação no meio aquático promove trocas de calor constantes entre o corpo e a água aquecida. Apesar de explicados separadamente, é importante ressaltar que, assim como os demais conceitos físicos abordados durante a disciplina, são fenômenos que ocorrem simultaneamente e com alterações (como aumentar ou diminuir alguns graus Celsius) sentidas pelos pacientes. Além disso, essas transferências de calor podem aumentar ou diminuir, de acordo com a velocidade e/ou intensidade dos exercícios aquáticos propostos pelo terapeuta. Os principais efeitos fisiológicos que a temperatura da água promove são a diminuição na tensão muscular, e, consequentemente, redução das dores articulares e alívio das contraturas musculares. Somado a isso, nota-se a diminuição na rigidez articular e do tônus muscular, possibilitando trabalhar a melhora na amplitude de movimento e na flexibilidade de segmentos que, em solo, apesar de serem utilizadas outras técnicas de mobilização, não alcançam esse relaxamento pleno. Observando o processo de analgesia que ocorre localmente em nível muscular, é decorrente do fato de que, ao aumentar a temperatura da piscina, ocorre maior vasodilatação a nível periférico acarretado pelo incremento na circulação sanguínea como um todo. Além disso, conforme veremos especificamente sobre o sistema nervoso periférico, há uma dessensibilização das terminações nervosas livres, aumentando o limiar de suporte à dor dos pacientes. Sendo assim, ao fazer a escolha da temperatura ideal, devem ser levados em consideração os principais objetivos terapêuticos do plano de tratamento. De modo geral, ao indicar exercícios físicos aeróbicos de maior intensidade, são recomendadas temperaturas menos aquecidas (entre 26 ºC e 28 °C), visto que o corpo em meio aquático conduz muito rapidamente a temperatura, o que pode levar os indivíduos à exaustão facilmente devido à demanda ventilatória gerada. Porém, abaixo de 25 °C, torna-se difícil para o corpo manter o nível de temperatura central, prejudicando na execução dos exercícios terapêuticos. Já os exercícios aquáticos realizados em torno de 33 ºC são voltados para a reabilitação de disfunções musculoesqueléticas e neurológicas, devido aos benefícios citados acima, como redução de dor, aumento da amplitude de movimento e modulação de tônus muscular. No entanto, é importante ressaltar que as temperaturas acima de 35 °C são consideradas altas e que a partir de 37 °C há um importante aumento no débito cardíaco e no trabalho respiratório, o que pode ser prejudicial aos pacientes, principalmente se a sessão de atendimento for mais longa. Exemplificando: Durante a caminhada ou deslocamento pela água, um indivíduo reduz sua temperatura corporal mais facilmente (em decorrência dos mecanismos de condução e convecção que ocorrem durante o trajeto) quando comparado a outro indivíduo que permanece em repouso na piscina. Estima-se que a água conduza a temperatura 25 vezes mais rápido que o ar. Pressão hidrostática A pressão hidrostática é definida como a pressão exercida pela água sobre corpos e objetos que estão em imersão, e é explicada pela Lei de Pascal, a qual assegura que, quando um corpo é imerso na água, a pressão exercida sobre ele distribui-se igualmente pela sua superfície. No entanto, ao aumentar a profundidade do corpo imerso e a densidade da água em que está inserido, a pressão hidrostática aumenta também. Sendo assim, sabendo quequanto maior a profundidade da água, maior pressão é exercida no corpo, o aumento da pressão hidrostática causa efeitos fisiológicos no corpo, como limitar ou reduzir o edema devido à compressão variável nos vasos sanguíneos, favorecer o retorno venoso, diminuir a expansibilidade pulmonar e redirecionar o fluxo sanguíneo central para a periferia corporal. De modo geral, ao realizar condutas que objetivam o fortalecimento muscular com o paciente submerso, estão atuantes os princípios físicos da hidrostática (pressão hidrostática e flutuação), pois eles geram resistência constante aos movimentos executados. Como decorrência da necessidade de o sistema respiratório precisar trabalhar para vencer a resistência imposta pela pressão hidrostática, ocorre fortalecimento dos músculos respiratórios, podendo contribuir com as trocas gasosas e o condicionamento aeróbico. É importante lembrar que a pressão hidrostática fundamenta as condutas de fortalecimento muscular como um todo na hidroterapia, visto que a resistência gerada por ela é considerada constante e multidimensional. Logo, você pode utilizar implementos para um segmento específico que deseje fortalecer, mas saiba que a simples imersão já representa uma resistência e, no caso de alguns pacientes com menos massa muscular, é um esforço considerável o fato de simplesmente estar na água. Sabendo da proporcionalidade da pressão em relação à imersão, observa-se que os pacientes apresentam maior dificuldade para realizar exercícios aquáticos quanto mais imersos estão. Assim, perto da superfície da água, onde a pressão hidrostática e a profundidade são proporcionais, eles apresentam maior facilidade na execução das condutas propostas. Você pode usar esse conhecimento como forma de facilitar ou dificultar uma conduta que deseja executar. Exemplificando: Corridas realizadas em grandes profundidades (modalidade também conhecida como deep running) utilizam a resistência da água e a profundidade como um incremento. É necessário que o praticante esteja utilizando um colete na região lombar, permitindo sua flutuação, para que consiga fortalecer seu sistema musculoesquelético sem sofrer o impacto articular. Através do treinamento dessa modalidade, podem ser utilizados outros implementos a fim de aumentar a complexidade do exercício. Flutuação Entre todas as forças envolvidas na terapia aquática, além da pressão hidrostática, a flutuação é uma das que mais importa ao fisioterapeuta na hora de propor condutas. Você já sabe que todos os corpos físicos que estão no solo, no ar ou sob a água sofrem a ação gravitacional, e que, quando em meio aquático, essa força é contrariada pela força de empuxo, explicada pelo princípio de Arquimedes. Sendo assim, a flutuação só é possível em corpos sólidos que possuem densidade menor que a água, enquanto os são mais densos afundam. Vale ressaltar que a flutuação pode ser auxiliada por implementos conhecidos como flutuadores ou aquatubos. Nesse sentindo, é importante que o paciente esteja familiarizado com a própria capacidade de flutuabilidade, uma vez que será feito uso dela ao executar técnicas específicas discutidas adiante. Um corpo humano, ao estar parcialmente submerso na água, manifesta a sensação de estar somente carregando a massa que está acima dela. Portanto, é possível utilizar esse recurso para realizar um aumento no percentual de sustentação do peso, de acordo com o seu objetivo terapêutico. Por exemplo, durante o início de um processo de reabilitação, o paciente pode começar seus exercícios na parte mais funda da piscina, com flutuação total. Aos poucos, pode ser aumentada a descarga de peso como forma de incremento. Observe a Tabela, que apresenta as porcentagens de sustentação do corpo. Podemos destacar entre os benefícios que a flutuação proporciona a diminuição do impacto articular como um dos principais, sendo esse o motivo das principais indicações dessa modalidade. Através da diminuição do impacto, o paciente que apresenta uma queixa álgica sente reduzir sua sensibilidade à dor. Dessa forma, é possível trabalhar em maiores amplitudes de movimento, com mínima (ou inexistente) dor, reestabelecendo a flexibilidade e movimentos funcionais. Outra possibilidade que a flutuação proporciona é iniciar a realização de um movimento sem nenhuma sustentação de peso (na piscina) e fazer uma transição gradual para o apoio completo, em solo. O que contribui para a correta execução do movimento, sem medo de queda, aumentando o equilíbrio e a propriocepção muscular. Os efeitos citados acima também influenciam na confiança e na autopercepção do paciente, que se sente mais motivado para encarar o desafio. Dica: A flutuabilidade será uma aliada durante a realização de terapias em meio aquático. Então, procure permitir ao paciente que vivencie as sensações de boiar (sob sua orientação enquanto profissional) em diferentes posições. Para facilitar, é importante dar comandos verbais como “encha os pulmões de ar” ou “tente relaxar sua musculatura”. Dessa forma, os pulmões atuarão como boias naturais, o que aumentará o deslocamento de água, facilitando a sustentação do corpo no meio aquático. Não se esqueça de permanecer junto ao paciente e, inicialmente, utilize flutuadores. Repercussões da hidroterapia nos sistemas do corpo humano Veremos, a partir de agora, como conceitos e princípios atuam diretamente nos diferentes sistemas do corpo humano. Atente-se ao fato de que iremos estudar separadamente cada um dos principais sistemas para facilitar a compreensão, mas esteja ciente de que as alterações citadas aqui acontecem simultaneamente, visto que o corpo humano apresenta um funcionamento complexo e interdependente. Os efeitos fisiológicos consistem em todos aqueles acontecimentos que ocorrem em nível celular no organismo humano, causando alterações na função e na estrutura dos sistemas, o que gera adaptações positivas ou negativas à saúde dos indivíduos. É importante esse conhecimento para elaborar condutas adequadas para as especificidades apresentadas pelo paciente. Os efeitos fisiológicos que ocorrem em decorrência da imersão em meio aquático são primordialmente causados pelas propriedades físicas da água, já citadas ao longo da unidade. No entanto, outras questões, como profundidade da piscina, intensidade do exercício e modalidade da atividade realizada influenciam diretamente esses efeitos. E não se esqueça de levar em conta a condição clínica prévia do indivíduo submetido ao tratamento. No geral, exercícios terapêuticos prescritos adequadamente ao gosto e necessidade do indivíduo geram benefícios psicológicos também (sempre importante considerar o bem-estar do seu paciente), uma vez que a realização de uma atividade física, ou até mesmo o processo de reabilitação, ocasiona a liberação de hormônios responsáveis pelas sensações de prazer e bem- estar. Além disso, o fato de ter um compromisso e socializar com outros indivíduos contribui para a disposição física e redução de níveis de depressão. Os benefícios psicológicos citados ocorrem devido à melhora das queixas álgicas, da amplitude de movimento e da flexibilidade muscular, permitindo maior autonomia e retomada de atividades de vida diária. Como consequência, os pacientes se sentem mais independentes e motivados quanto ao plano terapêutico. Também cabe ao profissional procurar formas lúdicas e diversificar as condutas no cotidiano. Assim, sabe-se que a hidroterapia contribui para a aptidão física e permite a aquisição de novos aprendizados, dois fatores essenciais no acompanhamento de idosos, por exemplo. Por fim, estudos científicos demonstraram que, para determinados pacientes submetidos ao tratamento com hidroterapia, ocorrem avanços significativos na autoeficácia para o exercício, nos sintomas psicológicos e na sua qualidade de vida. Reforçam ainda a importância de utilizarestratégias motivacionais para estimular os indivíduos a melhorarem seu desempenho físico e a serem protagonistas dos seus próprios processos de reabilitação. Dica: Ao iniciar um tratamento com seu paciente, elabore algum tipo de material informativo sobre os efeitos positivos do que está sendo proposto para seu paciente e de que forma ele pode dar continuidade em outros ambientes. Além disso, é possível auxiliar na aquisição ou mudança de hábitos por meio da exemplificação de casos bem-sucedidos de mudanças. Provavelmente, isso irá motivar o indivíduo a dar o seu melhor e a encarar o desafio com maior autonomia. Não esqueça de usar uma linguagem clara e simplificada. Sistema musculoesquelético Músculos, tendões, ligamentos e ossos são particularmente conhecidos pelos fisioterapeutas. Embora faça parte do cotidiano do profissional conhecer o ser humano como um todo, as lesões musculoesqueléticas contribuíram para a difusão do trabalho do fisioterapeuta. Atualmente, observa-se que há uma importante prevalência de lesões em decorrência do processo de envelhecimento normal e dos hábitos que nossa sociedade vem adotando. Compreende-se que as incapacitações e limitações funcionais decorrem tanto de fatores de risco inerentes ao indivíduo como de fatores ambientais e de exposição. Sobre sua caracterização, acredita-se que em torno de 40% da composição do corpo humano seja de musculoesquelético, o qual chamaremos de sistema, e falaremos dessa estrutura de forma geral, visto que é a sua totalidade que permite ter estabilidade e produzir movimentos através da fixação dos músculos aos ossos por tecidos conjuntivos (tendões). Suas funções principais consistem em produção de força para manter a sustentação corporal, produção de força para permitir a locomoção/respiração e a produção de calor para manter a homeostase corporal. A Figura ilustra uma representação estrutural do musculoesquelético, formado pelo feixe de fibras musculares que, por sua vez, contêm as unidades de fibra muscular com suas incontáveis miofibrilas. Além da unidade estrutural de fibra muscular citada, os feixes de fibras musculares estão sobrepostos em diversas camadas, de forma multidirecional. Lembre-se também de que é nesse sistema que ocorre a contração muscular, importante mecanismo para o fisioterapeuta, através de impulsos nervosos que chegam até a fibra muscular. Logo, quando há o aumento da massa de um músculo acontece o que denominamos hipertrofia, e, quando há sua diminuição, atrofia. A tonicidade muscular é outra propriedade importante do musculoesquelético que o fisioterapeuta deve avaliar. Denomina-se tônus muscular um certo grau de resistência à palpação, estando o músculo em repouso. Nesse caso, o tônus normal é resultante de uma baixa frequência de impulsos nervosos com origem na medula espinhal. Como mencionado anteriormente, observamos um cenário bastante alarmante quanto às disfunções musculoesqueléticas de escopo diverso, como lesões em músculos, articulações, tendões e ligamentos musculares. Isso, somado à degeneração natural do sistema em decorrência do envelhecimento, faz com que muitos indivíduos necessitem de atendimento especializado a fim de reduzir suas limitações funcionais. Em paralelo, há uma crescente demanda de atenção especializada para prevenção, uma vez que vem acontecendo uma mudança importante no modelo de atenção ao paciente. Muitos indivíduos mantêm uma prática de exercícios terapêuticos, mesmo após a melhora do quadro álgico, por compreenderem que viver de forma ativa é fundamental para manutenção da saúde. A reestruturação das fibras musculares, que contribui para a melhora da função motora, decorre do aumento da circulação sanguínea e da diminuição dos efeitos gravitacionais (lei do empuxo). Tendo em vista a influência da pressão hidrostática e das transferências de calor decorrentes da temperatura no meio aquático, observamos que ocorre maior vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo, chegando em nível muscular, em razão do incremento na circulação sanguínea. Durante a imersão, o débito cardíaco no coração aumenta, gerando maior fluxo sanguíneo, que chega até os músculos e, consequentemente ao aumento desse fluxo, também é transportado mais oxigênio para nutrir os tecidos, reduzindo assim espasmos e dores musculares. Em seguida, a flutuação que é promovida pela lei do empuxo permite ao indivíduo que se desloque de forma mais livre e em maiores amplitudes de movimento, uma vez que, junto ao aquecimento da água, a sobrecarga articular é diminuída em meio aquático. Portanto, há uma melhor atuação dos músculos, redução do impacto na articulação e os segmentos corporais afetados podem ser movidos de forma multidirecional, o que muitas vezes não é possível em solo motivado pela queixa álgica e diminuição de mobilidade articular. Outras propriedades importantes atuam diretamente no sistema musculoesquelético, como as chamadas forças resistivas, que compreendem a força de coesão, força frontal e força de arrasto. A aplicação específica dessas forças pode auxiliar os pacientes a executarem determinado movimento, ou dificultá-lo, e caberá ao profissional elaborar sua conduta. Os exercícios que fortalecem a musculatura em ambiente aquático associam situações de instabilidade postural para promover também equilíbrio corporal. Nesse caso, forças citadas como de arrasto e turbulência atuam como um incremento, e implementos aquáticos podem ser aproveitados pelo fisioterapeuta. Sendo assim, utilizando as propriedades da água no ambiente aquático, você pode elaborar um plano terapêutico que objetive manejo da dor, manutenção da amplitude de movimento, ganho de força muscular e consequentemente reestabelecimento da função muscular do segmento tratado. Tais benefícios também se aplicam às populações saudáveis, que podem praticar hidroterapia e/ou hidroginástica com o intuito de manter sua flexibilidade, seus músculos ativos e a boa capacidade cardiorrespiratória. Sistema cardiovascular O sistema cardiovascular atua na circulação do sangue, realizando o transporte de nutrientes e oxigênio até os tecidos por meio dos vasos sanguíneos e do coração. Os vasos sanguíneos são estruturas que conduzem o sangue ao longo do corpo, sendo diferenciados como artérias, veias e vasos capilares. De maneira geral, podemos dizer que as artérias conduzem o sangue oriundo do coração, enquanto as veias carregam o sangue de volta até ele; e não podemos esquecer do coração, órgão primordial, que tem o papel de bombear o sangue através dos vasos citados anteriormente. A circulação do sangue no corpo humano ocorre de duas maneiras, as chamadas grande e pequena circulações. A grande circulação é sistêmica e compreende o trajeto que o sangue percorre desde o coração até as células, bem como seu retorno. Já a pequena circulação é pulmonar e diz respeito ao trajeto do sangue originado do coração até os pulmões e vice-versa. O exercício físico a longo prazo contribui para a manutenção do sistema cardiovascular. A prática regular de atividades físicas já está mundialmente reconhecida como maneira de prevenir eventos cardiovasculares, como hipertensão arterial sistêmica ou o acidente vascular cerebral. Na atualidade, esse assunto ganha muito destaque quando associado às altas taxas de obesidade. Percebemos que a mudança na composição corporal das pessoas, que vêm acontecendo ao longo do tempo, modificou o perfil de patologias, tornando-as mais crônicas. Dessa maneira, a prática de hidroterapia a longo prazo contribui para maior condicionamento aeróbico, pelo incremento no sistema respiratório, fortalecimento nos músculos respiratórios e maior demanda circulatória. Observa-se que a regularidade desse tratamento contribui inclusive para a redução da pressão arterial sistêmica, como veremos mais adiante. Em relação a outrosefeitos, é essencial entender que a pressão hidrostática exercida pela água atua constantemente no corpo, aumentando a circulação sanguínea, uma vez que propicia o retorno de sangue através das veias (chamaremos de retorno venoso). Logo, de acordo com a profundidade de imersão, o sangue modifica a distribuição por todos os segmentos, principalmente em nível periférico. Em decorrência disso, há também uma diminuição na resistência vascular periférica, e, como consequência do incremento na circulação sanguínea, o coração precisa aumentar suas contrações para circular mais volume, de maneira que ocorre aumento no débito cardíaco. Outro efeito da água no sistema cardiovascular diz respeito a sua temperatura: sabendo que existe aumento no débito cardíaco em consequência do incremento na circulação sanguínea de maneira geral, as temperaturas elevadas acarretam elevação na frequência cardíaca em razão do aquecimento dos vasos sanguíneos. Mas, após um tempo de exercício, ocorre adaptação sistêmica ao exercício e a frequência cardíaca volta para o seu basal. Sistema respiratório O sistema respiratório tem como função principal abastecer os tecidos com oxigênio e remover dióxido de carbono deles; é composto por diversas partes, sendo os pulmões os responsáveis por realizar a troca gasosa, contendo estruturas menores denominadas brônquios, bronquíolos e alvéolos pulmonares, que juntos formam a chamada árvore brônquica. Além deles, fossas nasais, faringe, laringe e traqueia atuam na condução do ar para dentro e para fora (Figura 4). O processo de troca gasosa ocorre por meio da inspiração, em que há a entrada do ar nos pulmões pela contração do músculo diafragma e dos músculos intercostais, e pela expiração, em que ocorre a saída do ar dos pulmões através do relaxamento das musculaturas citadas no processo de inspiração. Além disso, para que o oxigênio do ar presente na respiração chegue até os tecidos em nível celular, é necessário que uma proteína, conhecida como hemoglobina, faça seu transporte (ela está presente nas hemácias das células). Então, o oxigênio atinge os capilares sanguíneos e o gás carbônico é liberado de volta no ar, ocasionando um processo denominado hematose. É importante conhecer as capacidades e os volumes pulmonares para entender a influência da hidroterapia nesse sistema, explicados separadamente na Quadro. Os volumes, se somados, traduzem o máximo que o pulmão pode alcançar em ml. Já as capacidades são as somas específicas dos volumes citados acima. Associando a ação da pressão hidrostática ao aumento da circulação de sangue venoso periférico que se direciona à caixa torácica, podemos observar que ocorre um incremento importante no trabalho respiratório (ou esforço) do paciente. Isso acontece em decorrência da diminuição da expansibilidade torácica imposta pela pressão hidrostática e, a longo prazo, contribui para o fortalecimento da musculatura respiratória, que precisa superar tal resistência. Portanto, em razão do aumento no trabalho respiratório, acontece uma diminuição no volume de reserva expiratório e na capacidade vital, variando de acordo com o nível de imersão do paciente, sendo a imersão mais profunda (por exemplo, até o processo xifoide) um maior incremento. Esse incremento pode favorecer o indivíduo pelo aumento da circulação pulmonar e pelo fortalecimento da musculatura respiratória, que precisa estar mais atuante para vencer a resistência imposta pela pressão hidrostática. Mas é preciso atenção, pois em pacientes com doença pulmonar prévia, que traz redução da capacidade vital, a pressão hidrostática pode não permitir a expansibilidade dos pulmões. Nesse caso, adapte sua conduta e permita que esse paciente fique imerso em níveis mais baixos. Sistema endócrino-renal O sistema endócrino-renal atua como um importante regulador das funções do nosso corpo, principalmente em relação ao metabolismo basal. Em nível celular, ele é o responsável pelos mais diversos tipos de reações químicas que acontecem envolvendo o que chamamos de hormônios, entre outras substâncias. Para compreender melhor a natureza dessas reações, lembre-se que os hormônios são substâncias químicas carregadas por outras células a fim de controlar determinada estrutura. Por exemplo, pense que a glândula tireoide secreta o hormônio tireóideo, responsável por atuar na velocidade das reações químicas nas células. As principais glândulas endócrinas envolvidas nesses processos são a hipófise, tireoide, adrenais, pâncreas, ovários nas mulheres e testículos em homens, e cada uma delas possui diversos hormônios envolvidos na regulação do corpo humano. Pensando especificamente na função do sistema renal, ele auxilia no controle da homeostase, do volume e na composição de sangue, pela excreção de substâncias tóxicas com um processo de filtração. No que concerne à hidroterapia, as patologias que acometem o sistema endócrino-renal se beneficiam de forma mais indireta, uma vez que dificilmente algum paciente que possui somente uma alteração hormonal procurará especificamente esse tratamento. Contudo, como veremos, existem benefícios secundários que auxiliam em outros sistemas do corpo humano. Em especial, pacientes que apresentam diabetes mellitus apresentam redução nos níveis de insulina (um hormônio secretado pela glândula pâncreas) quando praticam atividade física regular, outro potencial efeito da terapia aquática (associada à medicação). Sendo assim, quando o corpo está sob os efeitos da imersão, ocorre uma redistribuição dos fluidos e líquidos corporais, conforme mencionado sobre o sistema cardiovascular. Logo, há um incremento importante na diurese, e consequentemente aumento da circulação sanguínea. Outro efeito importante e bastante positivo aos pacientes é a redução dos edemas, decorrente do aumento de outra rota importante de circulação: a linfática. Além disso, relacionando o aumento da circulação sanguínea como um todo e o consequente aumento da função das glândulas adrenais, observa-se que a imersão prolongada contribui para a redução dos níveis de pressão arterial, que está associado a um melhor funcionamento do sistema cardiovascular. Sistema nervoso central e periférico Junto ao endócrino-renal, o sistema nervoso central é responsável por grande parte das funções que dizem respeito ao controle corporal, como as contrações musculares e movimentações viscerais. Sua função principal é processar as informações que chegam e emitir respostas adequadas a elas. Complexo, é o sistema que mais recebe demandas sensoriais e que aciona comandos em direção ao corpo todo. Sua estrutura básica é composta pelo encéfalo e pela medula espinhal. O encéfalo abriga o cérebro, cerebelo, ponte e bulbo, estando protegido pelo crânio, e sua unidade básica é uma célula famosa chamada neurônio. Embora o funcionamento dessas estruturas seja bastante interligado, é através do córtex cerebral que ocorrem as principais operações e onde estão depositadas as informações essenciais. Portanto, é um sistema que faz a integração de grande parte dos processos por meio do eixo medula espinhal (encéfalo). Além disso, é nessa localidade que estão as áreas motoras, responsáveis por permitirem a movimentação ativa de músculos esqueléticos. Outra maneira de explicar sua estrutura é pela emissão de respostas sensoriais e motoras que são emitidas por esse sistema. Ou seja, por intermédio do sistema nervoso periférico são mandadas informações até o sistema nervoso central pelos chamados neurônios aferentes. Em contrapartida, os neurônios eferentes emitem uma resposta do sistema nervoso central até as células-alvo. Quanto ao sistema nervoso periférico, trata-se de um sistema totalmente relacionado ao central, composto por nervos (cranianos e espinhais) e gânglios. Sua principal função é conduzir informações ao sistema nervosocentral. Seus nervos interligam o sistema nervoso central com diversas partes do corpo e transmitem os impulsos nervosos até eles. São subdivididos em 31 pares de nervos espinhais e em 12 pares de nervos cranianos. Além disso, diferenciam-se pela sua função, como aferentes (ou sensitivos), eferentes (motores) ou mistos. Já os gânglios nervosos ligam-se aos nervos, próximos à coluna vertebral e servem para conduzir a informação entre neurônios e as demais estruturas do organismo. As patologias neurológicas representam outro campo de expansão das pesquisas em hidroterapia. Visualiza-se que pacientes com sequelas neurológicas importantes alcançam objetivos nesse cenário terapêutico e se beneficiam dessa prática. Inclusive, existem modalidades de tratamento específicas dentro da hidroterapia voltadas para esse grupo de pacientes. Assim, relacionando esse conhecimento com a prática de hidroterapia, estudos observaram que os efeitos terapêuticos da água, como temperatura e pressão hidrostática, também geram benefícios quanto ao manejo de dor. Isso ocorre devido à redução da sensibilidade das terminações nervosas livres, estruturas microscópicas que são responsáveis pela recepção das sensações em nível local no tecido e também pela diminuição dos níveis de epinefrina (um neurotransmissor envolvido na percepção dolorosa), assim os pacientes apresentam um maior limiar de resistência à dor, o que contribui para a execução de condutas não toleradas em solo. Em algumas patologias, em que há lesão em nível de sistema nervoso central, o tônus do músculo apresenta uma excitabilidade aumentada ou diminuída, o que denominamos hipertonia ou hipotonia. Nesses casos, a terapia na água contribui promovendo um relaxamento desse tônus; no caso das hipertonias, pela vasodilatação periférica e diminuição da carga sobre os segmentos. Outras patologias de origem central ou neurodegenerativas, como a doença de Parkinson, beneficiam-se da hidroterapia. Acredita-se que, através da flutuação, seja possível treinar o equilíbrio e a marcha de maneira segura, capacidades bastante prejudicados nessa patologia. Por fim, com o intuito de realizar movimentos controlados, é necessário que ocorra interação do indivíduo com a atividade proposta e o ambiente onde está inserido. Dessa forma, reforçamos que o meio aquático é um espaço motivador e que permite também a socialização de indivíduos, oferecendo diferentes formas de realizar até as mais complexas atividades do cotidiano. Nesse sentido, é possível ao terapeuta propor condutas que diminuam a dor do paciente, elevem a mobilidade corporal e sejam capazes de executar posturas difíceis de serem realizadas em solo. Curiosidade: É estimado que um indivíduo possua mais de 100 bilhões de neurônios. Entre as mais diversas classificações entre eles, os neurônios eferentes, responsáveis por levar a resposta motora até o musculoesquelético, são denominados neurônios motores somáticos. Sintetizando Ao final dessa unidade, compreendemos todos os benefícios que a água é capaz de proporcionar aos indivíduos que buscam realizar seu tratamento ou sua reabilitação por meio dela. Em decorrência do fato de que ela representa nosso principal recurso terapêutico, precisamos ter sempre em mente que suas especificidades farão toda a diferença no desfecho que estamos procurando. Ou seja, além de conhecer os seus efeitos, é necessário elaborar um plano terapêutico que seja adequado ao que o seu paciente necessita. Para isso, retomamos a importância da realização de exercícios físicos como forma de se manter ativo e saudável, como também para reabilitação. Logo, a hidroterapia pode ser considerada uma maneira de se exercitar com qualidade, segurança e ainda alcançar objetivos funcionais. Se for necessário tratar patologias crônicas, ela se caracteriza como um tratamento que tem um caráter mais lúdico e motivacional, que também vai variar de acordo com a sua criatividade durante as condutas propostas. Em seguida, abordamos os principais efeitos terapêuticos proporcionados pela água: flutuação, pressão hidrostática e temperatura, assim como seus conceitos básicos, focando na atuação profissional, voltada também para o tratamento de algumas patologias. Portanto, os conceitos foram usados para compreendermos sua relação com cada um dos sistemas do corpo humano. Ressaltamos que a modalidade da hidroterapia vem evoluindo nos últimos tempos e ainda se faz necessário o desenvolvimento de mais estudos científicos com nível alto de evidência. No entanto, o entendimento das propriedades da água e efeitos no corpo humano já é sedimentado e fortemente recomendado. Unidade 3 - Avaliação e tratamento do paciente na fisioterapia aquática Avaliação e acompanhamento em fisioterapia aquática A fisioterapia aquática, ou hidroterapia, é uma modalidade que vem ganhando muita visibilidade no campo da reabilitação, devido aos inúmeros benefícios que proporciona aos pacientes. Dentre eles, destaca-se a redução da descarga de peso articular, o manejo da dor e a facilitação de transferências posturais que podem ser realizadas em meio aquático. É fundamental ao fisioterapeuta compreender a atuação das propriedades; e, nesse momento, lembre-se que elas acontecem simultaneamente, desde o primeiro contato do corpo humano com a água. Logo, além das inúmeras indicações existentes, também veremos que há contraindicações para essa prática, que pode não ser benéfica quando indicada erroneamente. Primeiramente, retomaremos a importância da realização de uma avaliação completa de um paciente. Avaliar algo, ou uma situação, é uma atitude comum do funcionamento humano que nos permite elaborar um raciocínio sobre o que se está apresentando à nossa frente. Dessa maneira, podemos dizer que a avaliação, em geral, é a observação de algo, quando se identificam alguns fatores essenciais com o intuito de evitar situações de risco. É possível aplicar esse conceito a momentos do cotidiano, como, por exemplo, ao cuidar de uma criança brincando, deslocando-se no trânsito, entre outras situações. Quando, porém, trazemos esse conceito para a área da saúde, avaliar alguém adequadamente engloba mais fatores. Normalmente, temos mais tempo para realizar uma observação completa, e é recomendado que, após esse momento, o profissional dispense um tempo para elaborar um raciocínio clínico e, posteriormente, um plano de tratamento individualizado. Com o intuito de aprimorar as avaliações ou anamneses, foram desenvolvidos, ao longo do tempo, alguns sistemas específicos que objetivam não perder nenhum detalhe importante – e que, ao mesmo tempo, respeitam a singularidade de cada indivíduo. Nesse caso, alguns pontos da avaliação são comuns a todas as especialidades; e outros fatores são específicos do tipo de modalidade terapêutica com que se está trabalhando, como veremos ao longo deste tópico. Dito isso, é fundamental compreender que avaliar um paciente não se restringe a empreender em uma série de perguntas ou somente percorrer um roteiro. Uma boa anamnese compreende a associação das informações observadas com o seu conhecimento prévio sobre o assunto, e a experiência do profissional é um fator que contribui para o resultado. No entanto, este último é um aspecto que não depende somente do profissional, mas também das suas vivências ao longo do tempo. O objetivo de realizar uma avaliação completa é permitir que seja elaborada uma hipótese de trabalho, voltada para o problema que o paciente apresenta. Em um primeiro momento, fique atento ao motivo que levou o indivíduo a procurar atendimento e verifique se ele necessita de algum outro tipo de atenção, pois saber encaminhar o paciente também faz parte de uma boa avaliação. Antes de chegar às especificidades da avaliação em hidroterapia, vejamos os principais pontos que compõem uma anamnese básica até o planode tratamento (que abordaremos detalhadamente em outro tópico). Lembre-se de que essa é uma sugestão de raciocínio, isto é, na sua prática profissional, existirá mais liberdade para elaborar uma avaliação que seja adequada ao seu modelo de trabalho, respeitando os elementos básicos necessários para atingir um objetivo. Dica: A fim de não perder de vista outros pontos que possam ser importantes durante o exame físico (além da queixa principal), é recomendável utilizar um sistema avaliativo que englobe a saúde do indivíduo como um todo. Desse modo, é possível analisar a influência de fatores externos e dos demais sistemas no problema que o paciente está relatando. Muito importante: anote todas as informações, pois, se deixarmos para lembrar posteriormente, pode acabar perdendo algum detalhe valioso. Particularidades da avaliação no ambiente aquático Após compreender os principais fundamentos de uma avaliação fisioterapêutica, aprofundaremos nosso conhecimento em relação às particularidades que devem ser analisadas quando um paciente que pretende fazer seu tratamento em meio aquático é avaliado. É recomendável que seja seguido um roteiro semelhante ao citado no Quadro 1 e que colete o máximo de informações que o indivíduo conseguir fornecer. Associe isso ao conhecimento específico sobre a patologia que ele apresenta, e direcione a avaliação aos poucos. Exemplificando: Imaginemos que chega até o seu consultório um paciente que reclama de dor e perda de força em membro superior direito, mas, especificamente, na articulação do ombro. Durante a avaliação inicial, mesmo sabendo que a queixa principal era em uma articulação específica, foi realizado teste de força e verifi cou-se a mobilidade articular em ambos os membros superiores e fez uma boa inspeção nas demais articulações desse segmento. Posteriormente, aplicou-se os testes específicos de ombro no local referido. Em suma, foi feita uma avaliação completa, sem perder o foco do problema principal. Outro detalhe importante da avaliação inicial, é que ela deve ser realizada em terra. Embora o paciente esteja procurando o tratamento em ambiente aquático, a primeira parte, que contempla as informações básicas e o exame físico, deve ser realizada em um local adequado, como em uma sala com maca, por exemplo. Isso se deve ao fato de que, além de ser impossível visualizar o paciente adequadamente na piscina, existe a possibilidade de, a partir dessa conversa, precisar contraindicar a modalidade, devido a algum sinal de alerta observado, conforme veremos no tópico de contraindicações. Com o intuito de apresentar cada especificidade da avaliação no meio aquático, estruturaremos um modelo em nove etapas. Elas podem ser reorganizar a depender do gosto do profissional, mas não deve ser excluído nenhum desses pontos, pois todos são fundamentais para elaborar seu plano de tratamento. Vale ressaltar que os pontos 1 e 2 devem ser questionados ainda em meio terrestre. Presença de controle esfincteriano: A incontinência intestinal ou da bexiga, quando não controlada, representa uma contraindicação para realizar a hidroterapia. Essa é uma comorbidade comum em pacientes neurológicos, e, embora muitos indivíduos aprendam a manejar sua incontinência, é preciso saber se ela está controlada para não prejudicar a higiene do ambiente aquático e das demais pessoas que compartilham o uso dele; Existência de fobia em relação à água: Algumas pessoas podem apresentar medo excessivo da água. Embora pareça algo óbvio, devemos questionar o paciente sobre sua percepção de estar imerso em uma piscina, mesmo ao seu lado. Um nível baixo de medo é tolerável, uma vez que devemos respeitar a água e ser cautelosos; porém, um medo incontrolável, que atue como um fator estressor, é um alerta de que esta modalidade não será benéfica para este indivíduo; Entradas e saídas na piscina: Aqui, está o início da avaliação em meio aquático e talvez um dos pontos aos quais é mais necessário estar atento. Primeiramente, é sugerido classificar quanto ao deslocamento, ou seja, se o paciente entra e sai de forma independente, semidependente ou dependente. Se ele se desloca independentemente, é preciso avaliar se ele necessita de algum apoio e descrevê-lo, como o uso de uma barra lateral, por exemplo. No caso de o deslocamento ser semidependente, observe se ele faz uso de alguma órtese, como uma muleta, ou se ele necessita entrar ao lado do profissional, como forma de segurança. Sendo um paciente dependente, ele pode necessitar entrar na piscina com auxílio da cadeira de rodas ou com a ajuda de mais pessoas, transferindo-o manualmente para o meio aquático. A entrada na piscina também deve ser classificada quanto à estrutura utilizada: borda, escada ou rampa. No caso de bebês, entram sempre no colo do terapeuta; Adaptação ao meio líquido: Mesmo que o indivíduo não relate fobia em relação à água ou informe que já realizou algum tipo de atividade em meio aquático, é essencial que seja feita a adaptação ao meio líquido, pois nem sempre é possível prever como ele reagirá em um primeiro contato. Para iniciar a adaptação, pode-se demonstrar ao paciente quatro passos: i) assoprar a água; ii) fazer borbulhas com a boca dentro da água; iii) realizar uma expiração com o nariz embaixo da água; e, iv) expirar com nariz e boca ao mesmo tempo. Alguns cuidados: sempre oriente a inspiração pelo nariz e demonstre primeiro como fazer, pedindo que repita na sequência. Além de realizar essa adaptação respiratória, circule com o paciente na parte rasa para ele se familiarizar com o ambiente. Esse processo de adaptação pode levar em torno de três atendimentos. Caso o paciente não se mostre confortável ou não consiga alcançar um controle respiratório, talvez seja necessário contraindicar a modalidade; Flutuabilidade: Neste momento, relembre as propriedades de densidade da água e de que forma o peso do paciente influencia na sua capacidade de flutuar. Para isso, registre se ele está no peso ideal, acima ou abaixo. Pode-se calcular o índice de massa corporal (IMC) para ter um parâmetro mais objetivo. Outro teste que deve ser realizado é auxiliar o paciente a boiar. Com a sua ajuda, posicione o indivíduo de forma neutra na água, ou seja, em supino com os braços ao longo do corpo. Na sequência, avise o paciente que irá soltá-lo brevemente, a fim de observar como o efeito metacêntrico atuará, e retorne o apoio. Sendo assim, observando qual parte do corpo afunda mais profundamente, saberemos onde posicionar algum implemento flutuador para estabilização na piscina, podendo ser em cervical, quadril, joelhos ou tornozelos; Rotações: Durante a execução do boiar, observe também a ocorrência de rotações do corpo no meio aquático. Se a pessoa utiliza o efeito metacêntrico em flutuação, ela não realiza rotações, pois seu corpo encontra um equilíbrio entre os centros de gravidade e flutuação. As rotações podem ser longitudinais, para direita ou esquerda, no caso de presença de hipertonia muscular, hemiplegias, escolioses, amputação unilateral, assimetrias posturais e próteses de quadril, por exemplo. Também podem ser verticais, em pacientes paraplégicos ou que têm mais massa magra no segmento inferior, obesos, com hidrocefalia e com amputação bilateral, rotando de forma vertical e anterior ou posterior para dentro da água. Por fim, podem ser combinadas, quando o paciente roda de forma longitudinal e vertical ao mesmo tempo, deslocando mais de uma articulação, como no caso de doenças reumáticas, por exemplo. As rotações estão diretamente ligadas à flutuabilidade. É importante atentar para o uso de flutuadores e para a estabilização dos segmentos; Força muscular: Foi desenvolvida por Skinner e Thomson uma Escala de Oxford adaptada para o meio aquático, a fim de avaliar a força muscular. Observe que, em 0, não há contração muscular;e, em 5, está o nível mais alto de força. É importante registrar bilateralmente qual músculo está sendo avaliado; Equilíbrio estático e dinâmico: Observe se o paciente consegue manter equilíbrio estático estando imerso a nível do processo xifoide ou cervical. Além disso, fique atento se ele precisa realizar “turbilhonamento” (mexer seus braços rapidamente) para manter-se equilibrado. Quanto ao equilíbrio dinâmico, descreva a marcha do paciente em meio aquático, observando se ele consegue deslocar-se independentemente ou precisa estar apoiado nas barras laterais ou no profissional; Intensidade da dor: Ao entrar na piscina com o paciente, sempre peça para que ele gradue a dor que está sentindo (caso a sinta). Ela pode ser classificada de 0 ao 10, em que 0 é sem dor, e 10 é a pior dor sentida. Realizadas as avaliações em solo e no meio aquático, deve ser elaborado um raciocínio clínico, a fim de estruturar um plano de tratamento que englobe as metas e as condutas que pretende realizar. Indicações da fisioterapia aquática A indicação dessa modalidade terapêutica está diretamente relacionada aos benefícios que as propriedades da água trazem ao paciente, ou seja, para indicar essa prática, é importante refletir sobre o problema principal e o diagnóstico fisioterapêutico que se apresenta ao profissional. Um programa de hidroterapia apresenta inúmeras vantagens, bastante conhecidas, como a flutuabilidade, diminuição do desconforto, resistência muscular constante, relaxamento, entre outros. Além disso, tem o componente social e mental que não devem ser esquecidos uma vez que permitem a socialização e aumentam a sensação do bem-estar, o que é positivo para a saúde dos indivíduos como um todo. Destaca-se, também, a possibilidade de progredir com maior segurança após uma lesão musculoesquelética, no meio aquático, onde facilmente são implementados apoios, e o paciente tem mais tempo para executar um movimento com qualidade e de forma gradual, gerando uma experiência positiva. No que se referem às indicações propriamente ditas, podemos classificá-las por patologias ou por prejuízo funcional. No geral, a fisioterapia aquática está indicada para: preparação de pré- operatório e pós-operatório de lesões musculoesqueléticas; tratamento de processos inflamatórios do tecido conjuntivo; na dor miofascial e na fibromialgia; reabilitação de traumas, como entorses, lesões ligamentares, contusões, fraturas. Algumas das patologias que mais apresentam resultados durante a reabilitação aquática são as artroses, discopatias degenerativas, hérnias discais, espondilolisteses, e uma gama de patologias neurológicas e de origem reumatológica. No entanto, como não tratamos o diagnóstico clínico, mas o diagnóstico baseado em nossa avaliação, é interessante que ocorra a indicação dessa modalidade terapêutica quando forem observadas as seguintes condições no seu exame físico: presença de edema; diminuição da amplitude de movimento; redução da força muscular; prejuízos no equilíbrio, propriocepção e coordenação motora; descondicionamento físico ou diminuição da capacidade aeróbica; alterações no padrão de marcha e queixas álgicas no geral. Dessa forma, será possível elaborar o seu plano de tratamento focado nas necessidades funcionais do seu paciente, e não somente no diagnóstico clínico que ele traz consigo. Contraindicações da fisioterapia aquática Embora a hidroterapia promova diversos benefícios, ela também apresenta algumas desvantagens em relação a outras modalidades de tratamento. Esse é um ambiente que demanda um investimento profissional e financeiro alto. Somado a isso, é necessário que o fisioterapeuta que deseja trabalhar nesse ambiente se especialize por meio de cursos de extensão e realize um treinamento para atuar em possíveis emergências na água. Em relação às contraindicações propriamente ditas, destaca-se a incontinência intestinal ou urinária, visto que há o risco de contaminar a piscina; mulheres em período menstrual devem utilizar proteção íntima. Nesse mesmo contexto, úlceras, feridas abertas ou incisões cirúrgicas não fechadas também contraindicam a prática. Outro fator ao qual o profissional deve estar atento é quanto à presença de febre ou algum processo infeccioso em percurso, já que a temperatura da piscina pode aumentar a cascata inflamatória. Pacientes com distúrbios convulsivos que não estão controlados com medicação ou com condições cardíacas avançadas, também não devem realizar hidroterapia. Observe, nessa situação, como é importante realizar uma boa avaliação e colher informações sobre os demais sistemas. Além disso, relembrando a influência da pressão hidrostática na caixa torácica, pacientes com capacidade vital abaixo de 1 litro não devem praticar fisioterapia aquática, devido à intensa resistência imposta pela água na caixa torácica. Existem outras particularidades menos comuns que também são consideradas contraindicações, por exemplo, o medo excessivo da água, ou fobia, alergia a algum produto químico utilizado na manutenção da piscina ou presença de algum processo hemorrágico ativo. Por fim, em pacientes que têm algum dispositivo no corpo que serve como conexão a equipamentos, deve estar envolto por materiais que não permitam o contato com a água, como é o caso de acesso a bombas de insulina e osteotomias. Precauções na fisioterapia aquática A precaução diz respeito a um cuidado antecipatório que se deve ter, a fim de evitar que algum mal aconteça ao paciente, ou seja, prevenir eventual prejuízo. Nesse sentido, existem algumas situações particulares que não significam que é preciso contraindicar a prática no meio aquático, mas que o cuidado deve ser redobrado. Primeiramente, é preciso atenção a lesões e feridas recém-fechadas, para que não haja risco de contaminação da piscina. Se o paciente está usando alguma proteção de contato sobre elas, verifique se a proteção está adequada e se não ocorre nenhum tipo de vazamento. Tenha cuidado com o uso de traqueostomias. Também recomenda-se que esses pacientes não fiquem imersos abaixo da linha da cintura. Em pacientes que têm cardiopatias ou pneumopatias, atenção com a intensidade do exercício, com a temperatura elevada e com os sintomas referidos por eles. Qualquer desconforto diferente do usual deve ser motivo de alerta, uma vez que somente as propriedades da água já representam um incremento importante no funcionamento corporal. Em relação a pacientes com disfunções neurológicas ou demais indivíduos que necessitam de maior apoio do terapeuta durante os atendimentos, certifique-se de deixá-los confortáveis nesse meio e com a estabilização corporal adequada. Outra precaução que diz respeito a todos os pacientes, e não apenas a populações específicas, são as precauções de entradas e saídas da piscina. Observe se os indivíduos estão com maior dificuldade para acessar a água ou se estão fazendo tal deslocamento da forma usual. Mantenha os apoios necessários e os dispositivos de auxílio à disposição de todos. Por fim, outra orientação bastante válida diz respeito ao auxilio pessoal. Dependendo do nível funcional em que seu paciente se encontre, é recomendável que ele tenha um acompanhante para ajudar na preparação para terapia (trocar de roupa e carregar objetos pessoais), assim como no momento de saída, quando é necessário colocar uma roupa seca, tomar banho etc. Embora, para alguns, essas sejam atividades corriqueiras, para muitas pessoas elas representam um potencial desafio e um grande esforço. Planos de tratamento Vejamos os possíveis planos de tratamento que associam todas as informações trazidas pelo paciente com a avaliação inicial e específica que foi realizada. A fim de compreender as formas e os diferentes tipos de planos de tratamento que existem, é necessário entender a relevância clínica de um plano bem estruturado,com metas e condutas reais e individualizadas. Por meio de um sistema de avaliação estruturado e completo, é possível elaborar um raciocínio clínico e alcançar o diagnóstico funcional do seu paciente. Um diagnóstico bem elaborado é a chave para planejar intervenções adequadas e contribuir para um plano de tratamento factível. Sendo assim, ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o momento de elaborar um plano de tratamento pode ser mais simples do que parece. Uma vez que foram coletadas todas as informações do seu paciente, realizado o exame físico e com auxílio dos exames complementares, é imprescindível aliar esses dados ao conhecimento disponível da literatura de forma a concluir por um diagnóstico fisioterapêutico. O que fazer a seguir? Estabelecer as metas ou objetivos e, para cada um deles, descrever um plano sobre como alcançar. No que tange ao aspecto de determinação de metas, seja claro e conciso. Não estipule prazos que não sejam possíveis de executar e nem almeje objetivos que serão impossíveis de atingir. Seja ético e honesto frente aos desejos manifestados pelo paciente. Esse é um ponto que nós, como profissionais da saúde, devemos priorizar, uma vez que nosso trabalho lida diariamente com a expectativa das pessoas. O que fazer, porém, quando nos deparamos com um indivíduo com inúmeros aspectos para serem trabalhados? Por exemplo, um paciente com doença de Parkinson, que, além de apresentar um comprometimento neurológico importante, também tem prejuízo na mecânica ventilatória e queixas álgicas, devido à imobilidade de alguns segmentos? Separe as metas em prazos curto, médio e longo. Se necessário, diferencie as metas e condutas por sistemas. Dessa forma, não trataremos somente as queixas principais, mas o indivíduo como um todo. Certamente, o processo de elaboração e acompanhamento de um tratamento pode não ser linear. Normalmente, ocorrem adversidades no caminho. No entanto, quanto mais bem preparado e estruturado for o plano do profissional, menor é o risco de ser surpreendido negativamente. Alguns fatores externos podem não ser modificáveis como se gostaria, como por exemplo, prescrever que o paciente frequente a piscina três vezes na semana e ele, por questões pessoais, poder ir somente duas. Outra coisa que pode ocorrer é perceber, no decorrer do tratamento, que o paciente precisa ser encaminhado para alguma modalidade complementar, a fim de alcançar as metas estipuladas. Isso é bastante comum de acontecer com fisioterapeutas que atendem pacientes com lesões osteomusculares e não conseguem progredir somente com tratamento em solo, precisando encaminhar para a hidroterapia. É necessário ser flexível e acomodar o plano de uma forma que as metas não sejam prejudicadas. Como elaboras um plano de tratamento Vamos fazer um breve checklist dos itens abordados: Avaliação realizada; Diagnóstico estabelecido; Metas estipuladas; bullet Chegou o momento de elaborar o plano de tratamento para o seu paciente. Retomando a elaboração das metas, perceba como é importante ter em mente o que é preciso alcançar para que o processo de prescrição de condutas vá ao encontro delas e seja lógico. Por definição geral, podemos dizer que um plano engloba tudo o que será necessário fazer, orientar ou recomendar ao paciente. Até esse ponto, isso é universal para todas as modalidades de tratamento. Mas e na fisioterapia aquática, quais são as diferenças para traçar este caminho? Estamos abordando uma modalidade um tanto quanto específica, que já começa diferenciada devido ao principal “equipamento” de que o fisioterapeuta faz uso: a água (ou a piscina em si). Dessa forma, será necessário determinar alguns fatores antes de chegar à elaboração das condutas propriamente ditas. Primeiro, a frequência de atendimentos: normalmente, os atendimentos de fisioterapia aquática acontecem de duas a três vezes por semana, em torno de 45 minutos. A frequência é influenciada por questões como disponibilidade do paciente e também do terapeuta envolvido. Em segundo, desde o início, tenha em mente as precauções necessárias para tomar com aquele indivíduo. Se ele necessitar entrar com algum dispositivo de auxílio na piscina, seu centro ou local da atividade está preparado para fornecer isto? Nenhum outro paciente estará fazendo uso do mesmo dispositivo no momento? Em terceiro lugar, certifique-se novamente de que o paciente pode realizar hidroterapia. Fique atento aos sinais de alerta e tenha em mente que, embora esse recurso proporcione inúmeros benefícios, ele pode não ser indicado a todos os tipos de pacientes. Outros aspectos relacionados à logística do centro de reabilitação, como organização dos horários e número de pessoas sendo atendidas ao mesmo tempo na piscina, abordaremos no decorrer da unidade. Componentes de um plano de tratamento Por se tratar de uma modalidade muito vasta e que atende a inúmeras patologias, os planos de tratamento também podem ser bastante variados. Falamos muito sobre a importância de montar planos factíveis e adequados às necessidades dos indivíduos, mas não há uma “receita de bolo”. Vejamos quais são os principais componentes de um plano de tratamento que possa ser adaptado a partir da necessidade encontrada. Pensemos que o plano de tratamento será estruturado em torno do diagnóstico fisioterapêutico elaborado pelo profissional, junto às queixas principais trazidas pelo paciente. Tenha em mente que, embora muitas disfunções tenham origem em um único problema, é comum encontrar diferentes problemas nos indivíduos. Nesse sentido, os diagnósticos incluirão aspectos pertinentes a dor, mobilidade, funcionalidade ou condicionamento físico. Portanto, as diferentes atividades e técnicas usadas na água podem começar por meio de movimentos assistidos, até atingir fortalecimento adequado e consequente independência. No caso de pacientes que apresentam condições neurológicas que impossibilitam o fortalecimento de algumas musculaturas, é possível estruturar um tratamento com outros objetivos, como manutenção da amplitude de movimento de determinada articulação, por exemplo. Os planos de reabilitação na hidroterapia têm forma semelhante aos programas feitos para solo. O que difere são as técnicas fisioterapêuticas e os exercícios prescritos e, consequentemente, os implementos de auxílio. O Diagrama mostra os principais componentes de um plano de tratamento em fisioterapia aquática. Embora não seja uma regra, normalmente quando os pacientes procuram a hidroterapia para tratar alguma condição, as queixas de dor trazidas por eles já são crônicas. Logo, outros tratamentos já foram empregados anteriormente à essa fase. No caso de dores crônicas, porém, a própria temperatura contribui para o manejo, e técnicas como alongamento muscular passivo ou deslocamento com o auxílio do terapeuta são utilizadas. Dessa forma, levando em consideração a presença de dor do paciente, podemos estruturar seu plano de tratamento a partir dos componentes citados anteriormente, graduando conforme a progressão do indivíduo e de acordo com os objetivos que foram preestabelecidos pelo profissional. Não esqueça de reavaliar seu paciente e verificar o andamento do plano elaborado. Equipamentos utilizados no ambiente aquático Quando se trata de fisioterapia aquática, a água é o nosso principal “equipamento”. Através dela, podemos facilitar ou dificultar alguma conduta, bem como contar com as suas inúmeras propriedades para obter sucesso nos tratamentos que propomos. Para possibilitar que um centro de reabilitação com piscina terapêutica funcione, é necessário que haja uma estrutura montada, o que não é tão simples. Sendo assim, o cenário de reabilitação não conta somente com a piscina em si. É necessário que o fisioterapeuta tenha equipamentos para contribuir para o seu tratamento. A técnicae o conhecimento que o profissional detém sobressaem-se ao uso de equipamentos terapêuticos, mas muitos deles são fundamentais para o funcionamento básico dessa modalidade, como por exemplo, aqueles implementos que permitem a estabilização do paciente. Os equipamentos citados aqui serão categorizados entre de acesso e terapêuticos, para fins didáticos. Observe que, principalmente entre os equipamentos terapêuticos, existem itens que não são obrigatórios, caracterizam-se apenas como sugestões e uma breve apresentação do que existe atualmente no mercado. Antes de abordá-los especificamente, é importante tratar da importância de mantê-los higienizados e bem conservados, uma vez que apesar de entrarem em contato com a água constantemente, eles estão em contato com a superfície corporal dos pacientes também. Equipamentos de acesso A acessibilidade é um termo comumente utilizado para descrever como deve ser realizado o acesso por parte das pessoas com alguma deficiência ou mobilidade reduzida, garantindo que consigam ter garantido seu direito de transitar e se comunicar nos mesmos ambientes que as pessoas que não têm alguma necessidade especial. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a acessibilidade não diz respeito apenas à organização espacial e arquitetônica, mas também à comunicação e à inclusão das pessoas em sociedade. Nosso foco, porém, será direcionado para o aspecto espacial. Portanto, não pensando somente nas pessoas portadoras de deficiências físicas crônicas, a piscina é um ambiente que necessita de maior segurança no seu entorno. Isso se deve ao fato de que, desde o momento em que o indivíduo coloca seu traje de banho até entrar em contato direto com a água, ele atravessará alguns obstáculos. Nesse sentido, é preconizado que as entradas e saídas da piscina sejam realizadas por meio de equipamentos de acesso como rampa e escada, com corrimão lateral para permitir que o paciente também acesse de forma autônoma com mínimo auxílio. Ter uma cadeira de rodas, própria para banho, também é recomendado, levando em consideração a possibilidade de inserir pacientes com disfunções neurológicas nesse ambiente. Outro ponto essencial que contribui para a segurança do paciente é a utilização de barras laterais no interior da piscina. Por meio do apoio em barras, o paciente que sente pouca confiança no ambiente aquático pode transitar com maior independência e progredir até se sentir confortável. Quanto ao interior da piscina, recomenda-se que o fundo seja plano e que, na presença de desníveis, estes sejam sinalizados adequadamente. Além disso, no piso localizado no entorno, devem ser utilizadas sinalizações e precauções antiderrapantes, contribuindo para o acesso e para a segurança do paciente. Outras questões relacionadas à estrutura física da piscina serão abordadas posteriormente. Por fim, um aspecto que não está diretamente relacionado à acessibilidade, mas ao conforto do paciente e terapeuta, é o uso de traje de banho adequado. Sugere-se que o tronco e parte dos membros inferiores estejam cobertas, assim como os cabelos presos e sustentados por touca específica. Tais medidas contribuem para a manutenção do profissionalismo em uma modalidade que permite constante contato entre o corpo de ambos. Equipamentos terapêuticos Os equipamentos terapêuticos, também conhecidos como implementos aquáticos, são acessórios que auxiliam o terapeuta durante a execução de condutas no meio aquático. Atualmente, existe uma gama bastante diversa de implementos, que objetivam tanto oferecer uma maior resistência ao paciente quanto a assistência adequada, além de permitir uma abordagem lúdica que permite tornar o tratamento mais divertido. Reforçamos que a aquisição desses acessórios varia de acordo as necessidades identificadas durante a elaboração do seu plano de tratamento. Entre as possibilidades, existem equipamentos mais sofisticados, como uma esteira ergométrica aquática ou até implementos que “imitam” o gesto esportivo, como raquetes e tacos, mais específicos na reabilitação de atletas, por exemplo. A constituição dos equipamentos terapêuticos é um aspecto importante no momento de fazer sua escolha. Diferentemente dos equipamentos que apenas facilitam o acesso, diferem-se quanto à sua constituição física/material. É importante relembrar a importância de propriedades como densidade, empuxo e arrasto. Inicialmente, materiais de diferentes densidades facilitam ou dificultam a flutuação. O tamanho de área frontal (área em contato com a superfície da água) influencia a força de arrasto. Os principais materiais utilizados na fabricação desses equipamentos são isopor, inflável, polipropileno, plástico e etil vinil acetato. Sendo assim, abordaremos mais especificamente funções dos implementos. Os flutuadores ou resistores que utilizam a força de empuxo para atuar auxiliam no suporte e sustentação durante a realização de terapia manual e de exercícios ativo-assistidos, por exemplo, os chamados “espaguetes” ou “aquatubos”. Outro exemplo, que atua predominantemente como resistor através do empuxo, são os halteres de etil vinil acetato, variando sua dificuldade de acordo com a densidade do material. Já os resistores de área, que exploram a força de turbulência ou de arrasto, têm pouca flutuação. Sua função é impor resistência através da área frontal. Tal resistência é influenciada pela velocidade de movimento realizada. Como exemplo de resistores de turbulência/arrasto, destacam-se os pés de pato e palmares feitos de Neoprene. Também encontramos os chamados implementos híbridos, que desempenham tanto a função de flutuação, quanto de resistência. Isso acontece em razão de serem pouco densos e com adequada área frontal. Como exemplo, cito o Aquahand, ou “sorriso”, e o “chinelão”. Além desses, existem equipamentos terapêuticos desenvolvidos para trabalhar equilíbrio e propriocepção no meio aquático. São materiais densos, que normalmente ficam posicionados no fundo da piscina. Entre eles, a cama elástica usada no solo pode ser colocada na piscina e podem ser usados tapetes, almofadas de água e os chamados “skates”. Por fim, e muito importante, trataremos dos equipamentos próprios para estabilização do paciente no meio aquático. O uso desses equipamentos pode variar de acordo com a necessidade de suporte que o paciente apresenta. Alguns pacientes, com menor controle corporal, precisarão de maior número de estabilizadores, a fim de auxiliar na flutuação em superfície da piscina. Os principais modelos são o colar cervical, a boia circular e as caneleiras flutuantes. Caso seja necessário, é possível utilizar um “aquatubo” envolto no quadril do paciente para estabilizar essa região também. Conhecendo um setor de fisioterapia aquática Quanto ao funcionamento de um setor de fisioterapia aquática, ou centro de reabilitação aquático, são muitas especificidades a serem abordadas, e é necessário estar apropriado do conhecimento teórico antes de adentrar a prática de hidroterapia. Atualmente, já pode ser observado o crescimento de centros voltados para esse tipo de reabilitação. Porém, esse comportamento é recente: tal tratamento ficava restrito somente aos grandes centros. É claro que, em algumas regiões, talvez não haja indicação para implantar tal estrutura, devido à baixa demanda de usuários ou pela pouca disponibilidade de profissionais capacitados. No entanto, com o aumento do número de pessoas portadoras de doenças crônicas e com a mudança no estilo de vida da sociedade, a hidroterapia tem despertado a atenção da população. Sendo assim, neste tópico, entenderemos os mecanismos que perpassam o funcionamento e a criação de um setor de hidroterapia. A visão contemporânea entende a necessidade do apoio de profissionais de outras áreas, como engenheiros, administradores etc., de forma a estabelecer uma abordagemmultidisciplinar. Logo, o objetivo deste tópico não é substituir a função de tais profissionais, mas apresentar as principais noções para o trabalho em conjunto, em prol da elaboração de um trabalho adequado. Aspectos administrativos Mesmo que o profissional esteja inserido na rotina diária de atendimentos ao paciente, atuando como fisioterapeuta integralmente, é importante ter conhecimento sobre a administração do seu local de trabalho – tanto como funcionário e, de forma mais complexa, como dono do local. Aspectos administrativos englobam não apenas questões financeiras, mas também a logística do setor de trabalho e influenciam diretamente os resultados e satisfação do paciente/cliente. A demanda de trabalho de um setor de hidroterapia normalmente é alta, e é essencial que as funções sejam segmentadas e delegadas. Por exemplo, é necessária a existência de vestiários com instalações para banho. Tal local precisa ser higienizado periodicamente e seguir as orientações sanitárias. Essa tarefa de manter o banheiro limpo e com os produtos de higiene à disposição precisa ser feita por outra pessoa que não seja o fisioterapeuta, secretário etc. Outro aspecto comum e que exige uma logística organizacional diz respeito ao agendamento de atendimentos. Afinal, talvez o secretário que esteja trabalhando nesse setor não saiba o motivo pelo qual não pode haver dez pacientes ao mesmo tempo na piscina. É necessário que esteja à disposição desse profissional a capacidade máxima da piscina, a oferta de profissionais, a atuação de cada um e a frequência de atendimentos de cada paciente. A partir de tais informações, é possível encaixar os pacientes com seus respectivos terapeutas, levando em consideração o funcionamento do setor como um todo. A manutenção dos equipamentos normalmente é uma tarefa que cabe ao fisioterapeuta, uma vez que normalmente é ele quem avalia o estado dos implementos, a conservação dos mesmos e a necessidade de adquirir novos. Além disso, é preciso que se mantenha um número adequado de equipamentos terapêuticos, e principalmente de estabilizadores, para que não faltem implementos ou se inviabilizem as condutas prescritas pelos profissionais. Por fim, talvez seja necessário o envolvimento com a administração técnica desse local de trabalho, ou seja, pode ser de sua responsabilidade contratar profissionais, realizar um controle técnico do local ou analisar a parte fiscal do empreendimento. Tais tarefas podem ser auxiliadas por outros profissionais, mas o fisioterapeuta responsável é capaz de compreender tais aspectos e suas particularidades. Aspectos estruturais Antigamente, no início dos centros de reabilitação, ou “spas”, não existiam leis ou normativas que regulamentassem tal estrutura. Era um processo um tanto mais simples e mais barato. Ao mesmo tempo, pecava em segurança e em opções de tratamento. Como tudo que evoluiu na história da humanidade, a saúde também ganhou um novo formato, mais complexo e incrivelmente tecnológico. Tal evolução envolveu a sociedade como um todo, e, atualmente, a elaboração de projetos como um setor de fisioterapia ou hidroterapia perpassa pelo escopo de diversos profissionais. Assim como citado anteriormente, o profissional não é o responsável pela montagem física do espaço; no entanto, é seu dever compreender o que esse espaço envolve e quais são os pontos fundamentais para o seu funcionamento. Sendo assim, existe uma série de normativas e recomendações técnicas para elaborar esse espaço. No entanto, alguns dos pontos mais relevantes serão mencionados para o seu conhecimento. A estrutura básica de funcionamento de um setor de hidroterapia compreende: Vestiários; Área de recepção; Equipamentos de acesso; Equipamentos terapêuticos; Piscina e sala de máquinas (com aquecedor, termostato). Os equipamentos de acesso e terapêuticos já foram abordados. Além desses, salienta-se a importância de manter as instalações sanitárias adequadas, a fim de minimizar o risco de contaminação da água e a higienização adequada daqueles que acessam a piscina. Além disso, a piscina deve ser preenchida com uma água de qualidade, testada e tratada por profissional capacitado que periodicamente analise a água em laboratório específico, garantindo, assim, a saúde dos usuários do espaço. Por fim, por meio das NBRs 10339 e 9050, desenvolvidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), é possível acessar livremente as regras e definições específicas, que levam em consideração os principais critérios e acessibilidade dos ambientes aqui citados, além de detalhes como as dimensões e características químicas. Dica: O Ministério da Saúde desenvolveu o documento chamado "Normas para projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde" no qual é possível encontrar as principais informações sobre a normatização de projetos arquitetônicos e de engenharia e a orientações sobre o planejamento de redes físicas de saúde. Nele, há informações sobre todos os tipos de unidades, além da hidroterapia. Sintetizando Inicialmente, abordamos a elaboração de um raciocínio clínico desde a chegada do seu paciente até o momento de elaboração de condutas. Tenha sempre em mente o fundamental de uma boa avaliação e associe seu conhecimento teórico ao que o paciente apresenta. A avaliação é o momento que permite a coleta adequada de informações e o questionamento completo de outras possíveis causas para o problema apresentado. O funcionamento do corpo humano é cheio de particularidades e, se observarmos somente seus pedaços, podemos não encontrar as respostas certas. Feita a sua avaliação e o diagnóstico fisioterapêutico, fica bem mais simples elaborar um plano de tratamento, com base nas necessidades do paciente e nos objetivos funcionais. Repassamos todos os componentes que devem constar em um plano de tratamento estruturado adequadamente. Vimos que existem indicações diversas para a prática de hidroterapia. No entanto, como toda modalidade terapêutica, também existem contraindicações e algumas precauções para populações específicas. Saber quando há contraindicações também é importante. Após, revisamos os tipos de equipamentos de acesso e terapêuticos que o fisioterapeuta faz uso durante a reabilitação aquática. Compreendemos suas funções e visualizamos os exemplos mais comuns do cotidiano profissional. Por fim, tratamos do setor de fisioterapia aquática propriamente dito. Foi possível discutir desde a importância das instalações sanitárias até o papel da recepção em uma clínica, ressaltando a existência de normas e leis que cercam a elaboração de um centro especializado de saúde. Unidade 4 - A hidroterapia na prática: especificidades e aplicabilidade O exercício aquático e suas particularidades A hidroterapia é uma modalidade de tratamento que permite o indivíduo se reabilitar utilizando as propriedades da água a seu favor. Atualmente, é possível observar que há uma crescente procura por esse serviço em decorrência do aumento da sobrevida e expectativa de vida das pessoas que convivem com doenças crônicas. Além disso, nos últimos dez anos, a ideia de obter qualidade de vida vem se difundindo na sociedade, que agora compreende que saúde não quer dizer apenas a ausência de doença. Nesse sentido, a hidroterapia é um recurso que gera benefícios psicológicos e concede a socialização do indivíduo. Conforme apresentado durante a disciplina, os benefícios e indicações dessa prática são inúmeros. Por meio do relaxamento, fortalecimento muscular, redução de edemas e alívio da dor, é possível controlar e manejar diversas patologias. Veremos ao longo desta unidade de que maneira – e em quais especificamente – obtemos melhores resultados. As particularidades de água Ao adentrar um centro de reabilitação aquático, você encontrará diversos equipamentose implementos; a maioria deles você, provavelmente, não conhecia até este momento. E, apesar de possuírem várias funções e atuarem como aliados no dia a dia do fisioterapeuta, eles são considerados um complemento para a terapia, pois o principal equipamento é a água. As propriedades físicas da água são capazes de alterar a fisiologia do corpo humano e, quando adequadamente empregadas, são responsáveis por proporcionar benefícios terapêuticos ao corpo humano. Durante a disciplina, falamos inúmeras vezes sobre os efeitos que a água produz, de modo que você compreendesse que, assim como traz benefícios, ela pode prejudicar o indivíduo que possui determinadas condições de saúde. Portanto, lembre-se de realizar uma avaliação bastante completa que analise o paciente de modo geral, a fim de evitar surpresas desagradáveis. Outro ponto importante é o fato de que tudo acontece de forma simultânea nessa modalidade; ou seja, você pode ter vários objetivos com um paciente em um plano de tratamento, já que a água atua de maneira multidirecional. Dentro de todas as propriedades físicas que a água tem, as que influenciam mais especificamente as condutas prescritas pelo fisioterapeuta são a pressão hidrostática e a flutuação. Elas são explicadas por leis físicas muito conhecidas no campo da ciência. Outros conceitos da física também são necessários para uma melhor compreensão do conteúdo abordado até aqui – como as grandezas de massa, peso, força etc. Tudo aos poucos começará fazer sentido na nossa disciplina. Já que chegamos à unidade final, espero que você, agora, reúna toda essa base de conhecimento para “mergulhar de cabeça” na prática da hidroterapia e entender como esta pode beneficiar os indivíduos que possuam a patologia “x” ou “y”, por exemplo. A prescrição de exercícios terapêuticos na piscina Como visto até aqui, prescrever um programa de reabilitação em meio aquático oferece muitas vantagens ao paciente. Mediante propriedades físicas da água, diversos efeitos fisiológicos ocorrem no corpo humano e favorecem a manutenção da saúde. Após avaliar adequadamente, e observando a pessoa em sua singularidade, é necessário elaborar um plano de tratamento que contemple os principais objetivos terapêuticos identificados pelo fisioterapeuta. Tal plano, depois da descrição das metas e objetivos, deve conter as condutas que serão propostas por você. Falaremos mais designadamente, ao longo desta unidade, das condutas possíveis em hidroterapia, os diferentes recursos de tratamento e as principais especificidades dessa terapia. Ressalte-se que o plano do paciente será seu, mas é preciso conhecer as opções de tratamento primeiro. Principais patologias e suas abordagens na hidroterapia O fisioterapeuta da contemporaneidade é um profissional da saúde que atua em um amplo espectro de patologias e em diferentes níveis de atenção. Por intermédio da construção da nossa profissão, pudemos demonstrar à comunidade científica que somos agentes que enxergam para além do momento da reabilitação propriamente dita, visto que na prevenção e na reinserção do indivíduo na sociedade também agimos fortemente. Essa mudança na forma de considerar o trabalho do fisioterapeuta acarreta uma crescente necessidade de construir bases científicas para tal prática, pois sabemos que, por ser uma profissão relativamente nova, muitas técnicas realizadas ainda não possuem evidências sólidas no campo da ciência, apesar de na prática observarmos inúmeros benefícios ao paciente. Tendo em vista a utilização da água para fins terapêuticos desde os primórdios da humanidade, foram desenvolvidas muitas técnicas de tratamento que se diferenciam principalmente pela população que se busca atender. As condutas de cada uma são específicas, mas todas têm em comum a utilização das propriedades físicas da água como principal recurso. Graças à evolução das ciências da saúde, portanto, as patologias foram sendo conhecidas aos poucos. Hoje, o conhecimento sobre a fisiopatologia de cada uma está disponível, o que corrobora com a ideia de que, para qualificar a assistência, devemos saber o que estamos tratando. Apesar de sabermos o diagnóstico, isso não deve ser motivo para nos limitarmos a ele. Somos agentes promotores de saúde e enxergamos o indivíduo por completo. Falando sobre o termo “patologia”, ele é originado das palavras gregas pathos, que quer dizer doença, e logos, que significa estudo. Portanto, é sabido que o estudo das doenças teve seu início por meio dos filósofos gregos e perpassou por diversas fases chegando até ao que conhecemos hoje. Na atualidade, o estudo engloba conceitos aprofundados de áreas como genética humana e biologia molecular. Por causa da evolução do estudo da patologia, ocorreu uma ramificação nessa área e as pessoas começaram a se especializar em determinadas doenças. Sendo assim, é possível observar, hoje, que as patologias estão agrupadas de acordo com o sistema corporal de origem, embora algumas permeiem vários deles. Além disso, com o intuito de qualificar a assistência, os profissionais foram se especializando nesses determinados sistemas; um esquema semelhante ao realizado na prática do fisioterapeuta. Discorreremos também sobre as principais patologias que você poderá encontrar em sua atuação na piscina. Existem inúmeras doenças registradas, contudo, por isso, serão citados alguns exemplos – sempre estude e pesquise acerca da fisiopatologia que seu paciente apresenta. Lesões musculoesqueléticas As patologias que têm origem no sistema musculoesquelético levam muitos indivíduos à incapacidade em nossa sociedade. Elas são resultantes de diversos fatores, modificáveis ou não, tais como: o trabalho que a pessoa realiza, sua composição corporal, a genética e os hábitos diários. Ao longo da vida, todos relatarão alguma queixa relacionada a esse sistema, seja ela passageira, seja ela constante. Tais lesões acometem principalmente os músculos e articulações, além de tendões, ligamentos, nervos e ossos. O surgimento pode ter origem em um trauma súbito ou então ser cumulativo, isto é, estabelecendo-se aos poucos no corpo do sujeito. Por exemplo: as lesões por esforço repetitivo, comumente observadas em ambiente de trabalho manual. Nesse contexto, muitas vezes, pode-se observar que o indivíduo chega tardiamente ao tratamento/reabilitação, o que influencia diretamente a escolha das condutas do fisioterapeuta e, em alguns casos, o prognóstico da lesão. No entanto, independentemente da fase da doença em que ela se encontra, é possível elaborar condutas viáveis e adequadas a seus objetivos. Reforço, aqui, a importância do encaminhamento e diagnóstico precoce, de modo a minimizar sequelas. As lesões que acometem essas estruturas estão bastante presentes no cotidiano do fisioterapeuta, sejam elas no ambiente da terapia em solo, sejam elas em ambiente aquático. Seus impactos vão além das manifestações físicas nos indivíduos, eles afetam também a saúde mental e a economia, em decorrência da incapacidade funcional que podem gerar. Os sintomas mais frequentes das patologias relacionadas a esse sistema são as dores intensas e a redução da amplitude de movimento do segmento afetado que, em casos mais graves, pode levar à perda de funcionalidade e trazer prejuízo às atividades de vida diária, como a impossibilidade de andar, por exemplo. Sendo assim, tais sintomas podem ser tratados no meio aquático por ele promover redução do impacto articular por meio da flutuabilidade e manejo da dor graças à temperatura da água e dessensibilização das terminações nervosas livres. Além disso, muitas pessoas relatam realizar movimentos na piscina que não conseguem fazer em solo por conta da diminuição dos efeitos da gravidade. No Quadro, citam-se as principais patologias desse sistema que se beneficiam dos efeitos da fisioterapia aquática.Dentre todos os benefícios que a hidroterapia promove aos pacientes que possuem lesões musculoesqueléticas, podemos destacar a indicação para aqueles que têm alguma restrição à sustentação de peso. Ou seja, graças aos efeitos da flutuabilidade, realizam-se exercícios no meio aquático sem sobrecarregar as articulações afetadas, com aumento progressivo da sustentação de peso corporal; como no caso da osteoartrose de quadril ou joelho, por exemplo. Retomando a questão da dor: sabemos que não mobilizar um segmento em razão da dor sentida nele pode acabar gerando maior queixa álgica; nesse sentido, por intermédio dos benefícios promovidos pela temperatura e pela facilitação da mobilização passiva ou ativo/assistida, é possível reestabelecer movimentos até então dolorosos em solo. Muitos pacientes chegam à fisioterapia durante a reabilitação de pós-operatórios, visto que, nesse momento, são indicados apenas exercícios isométricos ou majoritariamente passivos. Além disso, o aumento da circulação sanguínea contribui para a redução de edemas. Observam- se incrementos no equilíbrio e na propriocepção, já que a imersão exige do indivíduo constante controle muscular e postural. Não se esqueça que, quanto mais imerso o paciente estiver, mais difícil será manter o equilíbrio. Outra área que parece ganhar espaço entre os praticantes da hidroterapia é em relação ao ajuste de desvios posturais e à promoção do fortalecimento muscular. Afinal, pensando que a fisioterapia pode trazer muitos benefícios para a área de prevenção, é possível elaborar estratégias que contribuam com a saúde em geral do paciente, independentemente de haver uma lesão preestabelecida. Nesse sentido, alterações posturais como escolioses e hiperlordoses também possuem indicação para tratamento em meio aquático, em que pode-se executar alongamentos e mobilizações articulares. A hidroterapia também consegue ser uma alternativa de caráter mais divertido e lúdico para aqueles pacientes que não se adaptarem a outras modalidades de tratamento. Por fim, e de forma bastante relevante, os idosos que muitas vezes têm lesões musculoesqueléticas em detrimento das questões próprias do envelhecimento se referem a um público que se adequa muito a essa modalidade de tratamento. Somando a isso, a manutenção da forma muscular e do equilíbrio atua preventivamente evitando quedas, o que é um sério fator de risco à incapacidade e mortalidade de idosos. Estudos relatam um potencial de aumentar a qualidade de vida dessa população graças às questões de autonomia e socialização que a água proporciona. Explicando: A reabilitação pós-operatória de algumas lesões em específico vem apresentando evidências positivas; como no caso da reabilitação de lesões do ligamento cruzado anterior (LCA), em que, por meio da hidroterapia, o paciente consegue retomar suas atividades de vida diária precocemente graças à melhora do equilíbrio e propriocepção, manutenção da força muscular e redução de edema. Tais fatores levam à execução da marcha precocemente, com maior qualidade de movimento. Disfunções reumatológicas As disfunções reumatológicas podem apresentar sintomatologia semelhante às lesões de origem musculoesquelética, no entanto, a fisiopatologia delas é diferente e possui um caráter mais sistêmico. Ou seja: geralmente, elas acarretam um prejuízo funcional maior, o que facilmente leva à incapacidade Prevalentes em nosso meio, elas podem atingir diversos públicos, desde crianças até idosos, com maior incidência em mulheres. São causadas principalmente por fatores genéticos e fortemente influenciadas por questões ligadas ao estilo de vida, tais como: obesidade, sedentarismo, estresse, ansiedade ou até mesmo por alterações climáticas. A principal característica desse grupo de patologias é a dor intensa; contudo, realizando o tratamento adequado associado às intervenções medicamentosas, pode-se levar uma vida com o mínimo de dor possível e sem prejuízos em relação à funcionalidade e às atividades de vida diária. Outros sinais que podem estar presentes nas doenças reumatológicas são o edema articular, calor local e rubor na região afetada. Fique atento à presença desses sinais durante a avaliação física do seu paciente, pois a queixa de dor e redução da mobilidade articular podem ser confundidas com lesões mais simples, como aquelas originadas somente no sistema musculoesquelético. Na Quadro, são demonstradas as principais patologias reumatológicas que você poderá tratar na fisioterapia aquática. Os benefícios que a hidroterapia promove a essas patologias são semelhantes aos benefícios gerados nas lesões musculoesqueléticas, como manejo das queixas álgicas, relaxamento, manutenção da amplitude de movimento e da força muscular. Por meio disso, torna-se possível que os indivíduos consigam reestabelecer seus movimentos adequadamente e minimizar os impactos funcionais. Entre todas as patologias reumatológicas existentes, a fibromialgia vem ganhando importante destaque na comunidade científica. Ela não possui uma origem bem clara para os pesquisadores, mas seus sintomas podem causar grande desconforto aos indivíduos acometidos. Pode-se observar uma dor muscular generalizada, intensa sensibilidade, e frequentemente são encontradas alterações no padrão de sono, distúrbios psiquiátricos e fadiga intensa. Em razão do difícil manejo de tais sintomas, a hidroterapia tem se mostrado uma terapia alternativa que promove resultados positivos para os pacientes. Mediante sua prática, é possível notar uma melhora na queixa de dor graças à dessensibilização das terminações nervosas livres e, consequentemente, possibilidade de mobilizar os segmentos afetados; ainda que em muitos casos a dor seja difusa e de difícil manejo. Outra doença de etiologia ainda muito desconhecida se trata do lúpus eritematoso sistêmico. De característica autoimune, atinge outros órgãos além do sistema musculoesquelético e se beneficia dos efeitos fisiológicos gerados pela água, citados anteriormente. Por fim, discutiremos uma patologia mais rara, denominada espondilite anquilosante. Esta possui caráter bastante complexo, com prognóstico incapacitante aos indivíduos e causa ainda desconhecida. Comumente, os indivíduos apresentam dor intensa e rigidez articular na coluna vertebral. Progressivamente, pode haver perda de movimentos e o paciente pode deixar de realizar flexão de tronco, por exemplo. Sendo assim, devido ao manejo da dor e mobilização das articulações, a hidroterapia é uma boa opção de tratamento complementar. Distúrbios neurológicos Os distúrbios que têm origem no sistema nervoso central e periférico causam limitações severas no cotidiano dos indivíduos acometidos; podem atingir o cérebro, a coluna vertebral ou os nervos que fazem a conexão entre essas estruturas, apresentando sintomas diversos. Existem inúmeras patologias que pertencem a esse sistema, algumas possuem incidência maior em nosso meio e já podemos encontrar evidências mais formalizadas sobre seu tratamento. Levando em consideração a cronicidade de tais doenças, grande parte dos tratamentos visa à manutenção da saúde do indivíduo quando a reabilitação por completa não é possível de ser alcançada. Comumente, o paciente que apresenta distúrbios neurológicos é assistido por uma equipe multiprofissional, e são necessárias adaptações ao meio em que está inserido a fim de garantir sua acessibilidade e integralidade, conforme visto anteriormente. Em casos mais leves, os indivíduos não exibem restrições ou prejuízos quanto às atividades do cotidiano, como o caso de pessoas com epilepsia que, ao serem medicadas corretamente, levam uma vida normal. Embora a segurança seja um aspecto que você precisa estar sempre atento, redobre o cuidado com esses pacientes. A necessidade de dispositivos de auxílio mais elaborados é um fator que influencia odeslocamento do paciente no meio aquático. Além disso, muitas vezes, essas pessoas precisarão ser estabilizadas na piscina de forma a ficar totalmente sustentadas pela água e por você, visto que possuem importante limitação de movimento ativo. Durante este tópico, abordaremos sobre os principais objetivos do tratamento em hidroterapia para pacientes neurológicos, mas antes vamos visualizar quais as principais patologias desse sistema que são tratadas na piscina: Paralisia cerebral Acidente vascular encefálico Trauma raquimedular Traumatismo cranioencefálico Esclerose múltipla Esclerose lateral amiotráfica Doença de parkinsom Mielomeningocele Disfrofias musculares Cada uma dessas patologias possui uma apresentação bastante variada, posto que a fisiopatologia difere em razão das especificidades da estrutura nervosa afetada. Ao se deparar com um paciente que tem alguma dessas doenças, você precisará buscar o conhecimento mais aprofundado sobre ela, a fim de elaborar um plano de tratamento adequado. Uma característica comum em pacientes neurológicos se refere à alteração do tônus muscular. As lesões que atingem primordialmente o córtex motor, como a paralisia cerebral, costumam causar hipertonia muscular ou padrões mistos de movimento, como as coreoatetoses ou ataxias. Em lesões que atingem a medula espinhal, como os traumas raquimedulares, normalmente, são observadas hipotonia e atrofia muscular. Em doenças como Parkinson e esclerose lateral amiotrófica, é possível observar uma importante rigidez articular com perda progressiva de movimentos, que não são decorrentes de “fraqueza muscular”, mas sim de mecanismos do adoecimento do próprio sistema nervoso do indivíduo. Sabendo que, para cada patologia dessas, será necessário um tipo de abordagem que levará em conta a gravidade do indivíduo. Você precisa ter em mente que tais pacientes apresentam dificuldades em relação ao controle motor e execução do movimento. Em muitos casos, a reabilitação consistirá em reduzir danos e prevenir encurtamentos e deformidades, além de adaptar o indivíduo às tarefas de vida diária, como no caso de doenças neurodegenerativas. Atualmente, pesquisas demonstram que a hidroterapia promove benefícios a esses pacientes por ser um ambiente lúdico e com atividades prazerosas, o que contribui para a aprendizagem motora. Conforme comentamos, a piscina deve estar adaptada ao tratamento deles, de modo que não seja mais uma barreira do cotidiano. Os principais objetivos terapêuticos almejados com tais pacientes são a modulação do tônus muscular, a melhora do equilíbrio, a facilitação de transferências posturais e da marcha, bem como o condicionamento cardiorrespiratório. Além disso, pode-se prevenir contraturas e deformidades musculares por meio da manutenção da amplitude de movimento e do relaxamento muscular que a água proporciona. Curiosidade: Hoje, há diversas opções de elevadores de piscina estacionários no mercado: os chamados “Lift”. Estes funcionam como um equipamento auxiliar para transferências de pessoas com deficiências para o meio aquático, e, inclusive, fontes de águas termais e spas ao redor do mundo têm adquirido o equipamento de modo a promover maior conforto e segurança aos clientes, levando em consideração que muitos idosos frequentam os espaços. Recursos específicos em fisioterapia aquática Chegou o momento de abordarmos as condutas e técnicas de tratamento utilizadas em fisioterapia aquática; durante este tópico, discutiremos os princípios de cada uma e suas indicações. As últimas técnicas – Bad Ragaz, Halliwick e Watsu – são métodos bastante específicos utilizados em hidroterapia, e a melhor forma de se especializar neles é por meio de cursos de extensão. Formalmente, é difícil encontrar o registro dessas técnicas antes da década de 1970. Uma barreira que se encontrava para divulgar os tratamentos na época era a dificuldade em traduzir e adaptar as condutas entre as culturas. Hoje, contudo, vivemos em um cenário muito diferente, visto que o conhecimento está à disposição de todos nós e os meios de tradução são amplamente simplificados. Nesse sentido, sabendo que estamos falando de uma modalidade de tratamento milenar, a evolução técnico-científica da atualidade foi o que permitiu a segmentação entre os métodos e a formalização das indicações e contraindicações. Abordaremos, portanto, as diferentes técnicas e suas particularidades. A escolha das técnicas fisioterapêuticas adequadas deve perpassar pela análise de metas e objetivos estipulados e embasados na avaliação do indivíduo em geral. Ainda assim, os programas de reabilitação aquáticos possuem semelhanças entre aqueles elaborados para o solo. As condutas de aquecimento na piscina são fundamentais, porque permitem que o indivíduo se adéque ao ambiente aquático aos poucos. Para alguns pacientes, esse momento é mais importante do que para outros, tendo em vista a afinidade que estes têm com a água. Tais condutas preparam os sistemas do corpo humano para aquilo que virá na sequência – como as mobilizações articulares e exercícios de fortalecimento muscular. Dessa forma, o corpo não apresentará sinais de fadiga tão rapidamente; uma simples forma de aquecer é caminhar com o paciente no interior da piscina. As mobilizações articulares as realizadas conforme a necessidade de seu paciente. Em alguns casos, apenas o alongamento muscular já será o suficiente para manter a amplitude de movimento adequada. Em pacientes com lesões originadas no sistema musculoesquelético e que possuem restrição para mover determinados segmentos, no entanto, pode aproveitar as propriedades físicas da água e mobilizar passivamente a articulação tratada. Com o paciente devidamente aquecido e, se necessário, mobilizado, é hora de fazer mais “esforço” no atendimento. Para realizar o fortalecimento muscular, a água já representa uma resistência, mas que tal incrementar isso? Utilize implementos com maior área frontal para aproveitar a propriedade física do arrasto como um fortalecedor, como os “sorrisos”, por exemplo. A fim de promover equilíbrio e propriocepção, você pode dificultar a etapa de fortalecimento muscular reduzindo a sustentação de peso do paciente e inserindo este em ambientes mais profundos. As etapas anteriores trabalharam o condicionamento físico do paciente, contudo, pensando que você pode ter um atleta em reabilitação no seu centro de fisioterapia, talvez seja necessário utilizar condutas de maior intensidade. Como é o caso do deep running, em que é possível correr dentro da piscina, sem gerar impacto articular e contra a resistência da água. Por fim, recomenda-se que os atendimentos de hidroterapia sejam finalizados com técnicas de relaxamento muscular ou de alongamentos. Dessa forma, os sistemas retornam ao seu funcionamento basal e são diminuídas as tensões musculares que podem ter surgido durante a realização de alguma conduta anterior. Levando em consideração as informações trazidas até aqui, falaremos também acerca dos diferentes tipos de abordagens na terapia aquática, com alguns exemplos de exercícios. Hidrocinesioterapia A cinesioterapia é o “chão” do fisioterapeuta. Embora hoje, muitos profissionais se especializem mediante cursos de extensão (e isso é ótimo), é necessário possuir certa bagagem na área de cinesioterapia para prescrever condutas adequadas e compreender o exame físico do paciente. A terapia por meio do movimento é o que permeia todas as modalidades de tratamento e permite que sejam elaboradas condutas com base nas necessidades de cada um a partir de exercícios terapêuticos. Uma visão atualizada busca realizar tais exercícios com foco na funcionalidade e nas atividades de vida diária, pois compreendemos que o movimento “puro” (flexionar o tronco, por exemplo) vai além de um simples movimento,sendo responsável pela execução de determinadas tarefas. De modo geral, podemos dizer que a cinesioterapia tem como objetivo restaurar ou manter a função motora: absorva esse conceito e aplique isso para a hidroterapia. Não se esqueça que essas práticas são exclusivas do profissional fisioterapeuta, segundo legislação vigente. A hidrocinesioterapia se baseia, portanto, em alguns fatores, como: a realização ativa ou passiva do movimento, a frequência e duração dos exercícios e se eles pertencem a alguma modalidade específica. Durante a imersão, alguns exercícios podem ser realizados passivamente pelo fisioterapeuta em situações em que o paciente não consegue executar o movimento ou quando este não deve fazer, como nos casos de restrições impostas por pós-operatórios. Também pode-se executar movimentos passivos utilizando as propriedades físicas da água. Já os exercícios ativos contam com uma maior participação do paciente, que realiza o movimento com mínima ou nenhuma ajuda do fisioterapeuta. Além disso, é possível resistir a tais movimentos, gerando maior dificuldade: são os chamados exercícios ativos resistidos. Pensando na hidroterapia, quanta resistência conseguimos impor aos pacientes utilizando a água, não é mesmo? As mobilizações articulares que você faz no paciente, os exercícios ativos ou resistidos pertencem à hidrocinesioterapia. Para cada situação tratada, serão escolhidos exercícios terapêuticos visando incrementar a função motora e trabalhar a amplitude de movimento. Para diversificar e tornar o atendimento mais lúdico, utilize os implementos aquáticos a seu favor. Propriocepção e pliometria Os exercícios de pliometria são um método de treinamento em que é realizado o alongamento de determinada musculatura seguido pela ação concêntrica dessa mesma musculatura, formando o chamado ciclo alongamento-encurtamento. Mediante esse ciclo, acredita-se que ocorra um maior recrutamento muscular da região em razão de utilizar a restituição da energia elástica previamente armazenada com o estímulo feito no fuso muscular. É uma técnica empregada principalmente por atletas, pois apresenta maior grau de complexidade. Dividem-se opiniões, porém, quanto ao impacto gerado na articulação, visto que alguns pesquisadores entendem que esta possa gerar lesões no sistema musculoesquelético. Portanto, pensando em reduzir o impacto articular e diminuir a incidência de lesões, tal técnica tem sido estudada em ambientes como a piscina; no entanto, ainda restam algumas dúvidas no que tange à efetividade comparada com a realização em solo. As técnicas de pliometria correspondem basicamente a saltos que podem ser efetivados de diversas formas, como saltos alternados, saltos em apoio unipodal e saltos sobre obstáculos. Além disso, a intensidade é capaz de ser aumentada por meio da mudança de profundidade em que os saltos são feitos. Falando sobre conceitos de profundidade, saltos e apoios, já podemos pensar nos exercícios que buscam incrementar o equilíbrio de indivíduos. Obviamente, a pliometria é uma forma de propiciar equilíbrio, mas como mencionado anteriormente não está indicada para todos os públicos. Por exemplo: um paciente com doença de Parkinson, normalmente, possui alterações no seu equilíbrio e na marcha e serão escolhidas condutas diferentes para esses casos. Os diferentes níveis de imersão influenciam o desequilíbrio do paciente. Ou seja: quanto mais imerso o paciente estiver, mais instável ele estará. Sendo assim, tenha cuidado com a profundidade em que você pretende realizar suas condutas. E, caso faça em profundidades maiores, fique sempre ao lado de seu paciente para evitar intercorrências. Dessa forma, para trabalhar o equilíbrio, exercícios simples como alternar o apoio no qual ele realizará o exercício podem ser utilizados, bem como diminuir a estabilização do paciente. Além disso, você pode usar a cama elástica dentro da água, aumentando a complexidade do exercício. Circuitos dentro da piscina também podem ser montados, contribuindo para o aumento do controle motor, objetivo muito importante para os pacientes com distúrbios neurológicos. Bad ragaz As primeiras descrições desse método datam da década de 1930, na cidade de Bad Ragaz, localizada na Suíça. Naquela época, os tratamentos eram efetivados em fontes termais e em spas e – aos poucos – alguns fisioterapeutas foram estudando a técnica e formalizando sua descrição, conforme a evolução científica ocorrida. Posteriormente, algumas técnicas da facilitação neuromuscular proprioceptiva foram acrescentadas ao método. Os principais objetivos do método de tratamento são reeducar e fortalecer a musculatura, alongar e tracionar a coluna vertebral e modular o tônus muscular. Assim, por intermédio dele e das propriedades físicas da água, é possível atender a indivíduos que possuem diversas patologias. Atualmente, são utilizados “anéis de sustentação” no entorno da coluna cervical, do quadril e nos tornozelos para estabilizar o paciente na água e, dessa forma, realizar exercícios resistidos. Pelos movimentos da facilitação neuromuscular proprioceptiva, pode-se trabalhar tridimensionalmente os movimentos, as chamadas “diagonais funcionais”. Nessa técnica, a resistência imposta ao paciente é o próprio arrasto decorrente do movimento facilitado pelo fisioterapeuta. E espera-se uma resposta isométrica ou isocinética por parte do paciente para cada movimento executado pelo terapeuta. Sendo assim, é fundamental que você pense na mecânica corporal na hora de propor tais condutas. As técnicas empregadas pelos fisioterapeutas durante a execução desse método são a facilitação dos movimentos desejados, com progressão gradual e resistência manual, contando com a participação ativa do paciente. Os exercícios podem ser efetuados de forma isocinética, isotônica, isométrica ou passivamente. Quando são praticados exercícios isocinéticos, o fisioterapeuta realiza uma fixação ao mesmo tempo em que o paciente se movimenta na piscina, mediante movimentos de afastamento e aproximação, e a resistência imposta é oriunda da velocidade aplicada. Nos exercícios isotônicos, o fisioterapeuta utiliza um ponto de fixação móvel e, então, gradua a resistência ao empurrar ou aproximar o indivíduo. Já nos isométricos, o paciente permanece fixo durante o tempo que o fisioterapeuta o empurra contra a água, produzindo, assim, contrações estabilizadoras. Por fim, nos exercícios passivos, o fisioterapeuta permanece fixo e movimenta o paciente pela água para produzir relaxamento, alongamento muscular ou inibição do tônus. Halliwick Os primeiros registros desse método datam da década de 1950, na Inglaterra, por James McMillan, seu idealizador. É bastante aplicado no tratamento da população pediátrica e de pessoas que possuem necessidades especiais edeficiências físicas. Conhecida como o “programa de 10 pontos”, a técnica é baseada em quatro princípios de instrução, que, segundo o criador da técnica, seguem a ordem da aprendizagem motora. Os princípios são a adaptação mental, restauração do equilíbrio, inibição e facilitação dos movimentos. A aplicação na piscina é realizada sem o auxílio de implementos flutuadores e busca-se favorecer a simetria dos hemicorpos do indivíduo tratado, sem fornecer ajuda exagerada, a fim de estimular a autonomia também. Na Quadro, são apresentados os dez pontos que compreendem o programa. Exemplificando: A resistência gerada por meio da turbulência pode ser uma das estratégias utilizadas para dificultar a execução de um movimento desejado. Um exercício capaz de ser realizado é deixar o paciente posicionado em apoio unipodal na piscina no tempo em que o fisioterapeuta corre ao redor dele. Assim, será mais “desafiador” manter a postura ou o equilíbrio estático. Watsu O Watsu surgiu na década de 1980 por Harold Dull, que embasousua técnica a partir do Zen Shiatsu, realizando movimentos e alongamentos semelhantes na superfície da água. A prática do Shiatsu tem origem na cultura oriental e significa “pressão com os dedos”. Sendo assim, acredita-se que, por meio de massagens terapêuticas, é possível reequilibrar o corpo do paciente. Harold Dull associou essa prática oriental aos conceitos ocidentais, utilizando o toque como principal instrumento de tratamento. Considera-se que, ao estar no ambiente aquático, o indivíduo sente maior liberdade para executar movimentos, o que facilita a realização de alongamentos, massagens e mobilizações articulares. As técnicas envolvem massagem e movimentos de segmentos corporais que levam ao alongamento de outro segmento. A propriedade física mais atuante é a força de arrasto e existe uma sequência bastante específica já descrita. Indica-se a prática dessa técnica para aqueles pacientes que desejam alcançar um relaxamento profundo, alívio de dores crônicas, que culminam em benefícios psicológicos e aumentam o bem- estar. Pelas propriedades da água, é possível alcançar uma melhor flexibilidade muscular e ganhar amplitude de movimento. No Quadro, mostram-se as posições realizadas nesse método. O nome quer dizer a posição e o local onde o paciente está em relação ao fisioterapeuta. Pompage A fim de favorecer a analgesia durante a prática de hidroterapia, veremos brevemente uma técnica específica chamada pompage. Com ela, é possível aumentar o aporte sanguíneo local e aumentar a amplitude de movimento no segmento em que está sendo aplicada. Sua atuação ocorre predominantemente na fáscia muscular, a membrana de tecido conjuntivo fibroso que está sobre a musculatura. Pode-se, portanto, mobilizar esse tecido porque ele tem como característica a elasticidade, o que permite o deslizamento dos filamentos de actina para fora dos de miosina (lembre-se da estrutura do musculoesquelético) por meio de um tensionamento passivo feito pelo terapeuta. Essa técnica se divide em três tempos. O tempo 1 é chamado de tensionamento, no qual solicitamos ao paciente que ele solte todo o ar enquanto tensionamos a fáscia da região desejada (sem tracionar o segmento). O tempo 2 é a manutenção da tensão, em que devemos manter por 30 segundos minimamente, a fim de favorecer a elasticidade. E, por fim, o tempo 3: o retorno, que vamos tirando, lentamente, a tensão do musculo. A técnica pode ser realizada em diferentes musculaturas, e é importante que você mantenha seu paciente estabilizado adequadamente no meio aquático. Caso tenha se interessado, pesquise mais sobre o assunto. Com o objetivo de manter ou aumentar a amplitude de tratamento, consegue-se realizar tanto exercícios passivos manuais como passivos pelo arrasto, passivos pelo fluxo da esteira e passivos pela flutuação. Primeiramente, caso esteja fazendo os exercícios passivos manuais, estes podem ser feitos por meio de manipulações articulares, alongamentos musculares ou da própria pompage. Fisioterapia aquática baseada em evidências A evolução científica que vem ocorrendo na área da saúde permite que sejam desenvolvidos estudos e técnicas voltados a diversas modalidades de tratamento. Hoje, quando uma pessoa recebe determinado diagnóstico, ainda que não seja possível de se alcançar a reabilitação completamente, existem diversas opções para a manutenção da qualidade de vida. Nesse sentido, apesar da fisioterapia ser considerada uma ciência nova – e ainda em desenvolvimento –, é de suma importância que a nossa prática profissional seja baseada em dados científicos e fontes seguras de informação; ainda estamos caminhando em direção a um pleno conhecimento sobre nossa atuação, mas já é possível encontrar inúmeros resultados positivos. Se colocássemos o conhecimento em uma escada, poderíamos dizer que aqueles estudos que testam intervenções em grupos de pessoas são os que indicam maior potencial de respostas as nossas perguntas; como os ensaios clínicos randomizados, por exemplo, em que os indivíduos são alocados em determinados tratamentos, a fim de verificar o efeito do que está sendo investigado. Na área da fisioterapia em geral, muitos estudos têm surgido e corroborado o reconhecimento dessa profissão como uma ferramenta de manutenção da vida, tanto na área hospitalar, esportiva, reabilitação motora, e também na fisioterapia aquática. No entanto, alguns profissionais ainda apresentam dificuldades para buscar conhecimentos mais embasados e acabam realizando condutas que não geram tantos benefícios a seus pacientes. A ideia discutida neste tópico, dessa forma, é da importância de fundamentar sua prática do dia a dia em estudos prévios, livros sobre o assunto, cursos de extensão etc. Nessa perspectiva, além de favorecer o tratamento do paciente, você estará colaborando com a prática profissional. A elaboração desse material perpassou por bases de informações sérias, científicas e com fontes seguras. Podemos afirmar que, na atualidade, a fisioterapia aquática representa uma modalidade de tratamento séria, com indicação formal e benefícios bem descritos e reconhecidos. Além disso, o conhecimento sobre as propriedades da água e seus efeitos terapêuticos sedimenta e explica inúmeras condutas elaboradas pelos fisioterapeutas. Avaliação e exames complementares Conversamos bastante durante a disciplina sobre a importância de se realizar uma avaliação completa e que enxergue o indivíduo em geral, não é mesmo? Foi elaborado para você anteriormente um roteiro que aborda os principais pontos que devem ser considerados em uma anamnese. Primeiro no solo, observando as queixas do cotidiano, e, posteriormente, na piscina, em que é possível observar outras propriedades atuando na funcionalidade dos pacientes. Já é consolidada na área da saúde a ideia de que devemos avaliar integralmente o paciente, de modo a elaborar metas e condutas que sejam viáveis e congruentes com os achados clínicos. Apesar de ser uma disciplina específica de hidroterapia, realizar uma boa avaliação se refere a um conhecimento que você deve levar para todas as áreas em que for atuar. Sendo assim, após realizar o exame físico, faça uma análise dos exames complementares que o paciente traz consigo. Alguns dos exames que chegarão até você são: radiografia, ultrassonografia, ressonância magnética, tomografia computadorizada, além de exames de sangue, por exemplo. É importante que você compreenda as informações para que estas colaborem com seus achados durante o exame físico e a inspeção do paciente. Depois, realize uma avaliação dos movimentos funcionais para escolher os objetivos do tratamento e, então, determine as condutas ou os procedimentos hidrocinesioterapêuticos que mais se adéquem a seus achados. Conforme mencionado, a primeira sessão do paciente na água é importante para complementar a avaliação física realizada no solo, uma vez que – nesse momento – você poderá notar a adaptação do indivíduo e habilidades no meio líquido, densidade corporal e flutuabilidade, bem como seu comportamento na piscina. Tratamento Em relação ao tratamento realizado na fisioterapia aquática, ao longo da disciplina foram citados inúmeros estudos e extraídas informações coletadas por pesquisadores para fornecer o melhor embasamento na hora da prática. Algumas patologias amplamente específicas – e não tão incidentes – ainda carecem de maior evidência, levando em consideração os desafios para a realização de estudos sérios em determinadas populações. Em populações de idosos e de atletas, por exemplo, já existe um nível de evidência forte comprovando a eficácia e os benefícios que a hidroterapia pode gerar. Sintetizando Chegamos ao final da nossa disciplina de fisioterapia aquática. Quanto conhecimento e quanta troca interessante até aqui, não é mesmo? Espero que você tenha se apaixonado por mais esterecurso que a fisioterapia possui para tratar dos seus pacientes; provavelmente, seja um dos mais desafiadores. Afinal, a água deve ser utilizada com sabedoria, visto que ela causa muitos efeitos no nosso corpo, desejados ou não. Nesta última unidade, chegamos à parte que todo fisioterapeuta gosta: a hora de tratar. Deixamos um pouco de lado a fisiologia e as avaliações e começamos a debater sobre as patologias e as formas de tratamento. Como citado, se você se interessou pelas técnicas citadas aqui, procure cursos e materiais; aprofunde seu conhecimento! Primeiramente, foram citadas as principais patologias que se beneficiam dessa prática; lembre- se que outras também podem surgir no seu cotidiano, no entanto, por meio do conhecimento da fisiologia e das propriedades físicas da água, você conseguirá elaborar um tratamento adequado. Depois, estudamos as principais modalidades de tratamento dentro da hidroterapia, desde o básico da cinesioterapia até os métodos mais complexos, como Bad Ragaz, Watsu etc. Por fim, reforçou-se a importância de realizar a hidroterapia baseada em evidências, consultando livros sobre o assunto, estudos sérios e bases de dados formais. Essa área da fisioterapia promove tantos benefícios que vem ficando mais claro com o passar do tempo sua relevância clínica para a sociedade. Espero que você tenha gostado de “mergulhar e nadar” comigo nesse mundo tão encantador da fisioterapia aquática.