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1 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS 2 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999 atua no mercado capixaba, des- tacando-se pela oferta de cursos de gradua- ção, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimen- to: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sem- pre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com cons- ciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institui- ções avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. MISSÃO Formar profissionais com consciência cida- dã para o mercado de trabalho, com ele- vado padrão de qualidade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. VISÃO Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci- da nacionalmente como referência em qualidade educacional. GRUPO MULTIVIX 3 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte) As imagens e ilustrações utilizadas nesta apostila foram obtidas no site: http://br.freepik.com Brígido, Cláudia. Organização e Gestão de Serviços Públicos Municipais / Cláudia Brígido. – Serra: Multivix, 2019. FACULDADE CAPIXABA DA SERRA • MULTIVIX EDITORIAL Catalogação: Biblioteca Central Anisio Teixeira – Multivix Serra 2019 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. Diretor Executivo Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretora Acadêmica Eliene Maria Gava Ferrão Penina Diretor Administrativo Financeiro Fernando Bom Costalonga Diretor Geral Helber Barcellos da Costa Diretor da Educação a Distância Flávio Janones Coordenadora Acadêmica da EaD Carina Sabadim Veloso Conselho Editorial Eliene Maria Gava Ferrão Penina (presidente do Conselho Editorial) Kessya Penitente Fabiano Costalonga Carina Sabadim Veloso Patrícia de Oliveira Penina Roberta Caldas Simões Revisão de Língua Portuguesa Leandro Siqueira Lima Revisão Técnica Alexandra Oliveira Alessandro Ventorin Graziela Vieira Carneiro Design Editorial e Controle de Produção de Conteúdo Carina Sabadim Veloso Maico Pagani Roncatto Ednilson José Roncatto Aline Ximenes Fragoso Genivaldo Félix Soares Multivix Educação a Distância Gestão Acadêmica - Coord. Didático Pedagógico Gestão Acadêmica - Coord. Didático Semipresencial Gestão de Materiais Pedagógicos e Metodologia Direção EaD Coordenação Acadêmica EaD 4 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Aluno (a) Multivix, Estamos muito felizes por você agora fazer parte do maior grupo educacional de Ensino Superior do Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional. A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoei- ro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999, no mercado capixaba, destaca-se pela oferta de cursos de graduação, pós-graduação e extensão de qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, tanto na mo- dalidade presencial quanto a distância. Além da qualidade de ensino já comprova- da pelo MEC, que coloca todas as unidades do Grupo Multivix como parte do seleto grupo das Instituições de Ensino Superior de excelência no Brasil, contando com sete unidades do Grupo en- tre as 100 melhores do País, a Multivix preocupa- -se bastante com o contexto da realidade local e com o desenvolvimento do país. E para isso, pro- cura fazer a sua parte, investindo em projetos so- ciais, ambientais e na promoção de oportunida- des para os que sonham em fazer uma faculdade de qualidade mas que precisam superar alguns obstáculos. Buscamos a cada dia cumprir nossa missão que é: “Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores.” Entendemos que a educação de qualidade sempre foi a melhor resposta para um país crescer. Para a Multivix, educar é mais que ensinar. É transformar o mundo à sua volta. Seja bem-vindo! APRESENTAÇÃO DA DIREÇÃO EXECUTIVA Prof. Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretor Executivo do Grupo Multivix 5 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS > FIGURA 1 - Ciclo de políticas públicas 39 > FIGURA 2 - Planejamento urbanístico 98 > FIGURA 3 - Plano Diretor da Cidade 99 6 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO SUMÁRIO 1 CONTEXTO HISTÓRICO DO FEDERALISMO BRASILEIRO E RELAÇÕES INTERGOVERNAMENTAIS 15 INTRODUÇÃO 15 1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO FEDERALISMO BRASILEIRO E RELAÇÕES INTERGOVERNAMENTAIS 16 1.1.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A DESCENTRALIZAÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA 20 1.1.2 NOVAS AGENDAS MUNICIPAIS 24 CONCLUSÃO 28 2 ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO GOVERNAMENTAL: UMA PERSPECTIVA TEÓRICA 30 INTRODUÇÃO 30 2.1 ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO GOVERNAMENTAL: UMA PERSPECTIVA TEÓRICA 31 2.1.1 O CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 38 CONCLUSÃO 41 UNIDADE 1 UNIDADE 2 7 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO SUMÁRIO 3 REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA GARANTIA DE DIREITOS NO ESTADO MODERNO 44 INTRODUÇÃO 45 3.1 REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA GARANTIA DE DIREITOS NO ESTADO MODERNO 45 3.1.1 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL 47 3.2 O MUNICÍPIO E A PROVISÃO DE SERVIÇOS DE INTERESSE PÚBLICO 54 CONCLUSÃO 55 4 ARCABOUÇO NORMATIVO PARA GARANTIA DE SERVIÇOS ESSENCIAIS – PARTE I 58 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 58 4.1 SERVIÇOS ESSENCIAIS E EMPODERAMENTO MUNICIPAL 60 4.2 GESTÃO DE TRANSPORTE URBANO 64 4.3 GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS 68 4.4 GESTÃO DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA, ESGOTO E DRENAGEM 71 4.5 GESTÃO DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA 72 4.6 GESTÃO DOS SERVIÇOS FUNERÁRIOS 73 CONCLUSÃO 74 UNIDADE 3 UNIDADE 4 8 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO SUMÁRIO 5 ARCABOUÇO NORMATIVO PARA GARANTIA DE SERVIÇOS ESSENCIAIS - PARTE II 77 INTRODUÇÃO 78 5.1 ESTATUTO DA CIDADE E PLANO DIRETOR 79 5.2 GESTÃO DO COMÉRCIO AMBULANTE 82 5.3 GESTÃO DE MERCADOS, FEIRAS E ARTESANATO 84 5.4 GESTÃO DA EDUCAÇÃO MUNICIPAL 85 5.5 GESTÃO MUNICIPAL EM SEGURANÇA PÚBLICA86 CONCLUSÃO 89 6 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DESAFIOS E PERSPECTIVAS MUNICIPAIS NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS 91 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 92 6.1 CONTEXTUALIZANDO AS DEMANDAS POR PROTEÇÃO SOCIAL 92 CONCLUSÃO 101 REFERÊNCIAS 102 ICONOGRAFIA UNIDADE 5 UNIDADE 6 9 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO ICONOGRAFIA ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS 10 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO BIODATA DA AUTORA Cláudia Aparecida Pereira Brígido Graduada em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Pós-graduada em Estudos da Criminalidade e Segurança Pública pelo Centro de Estudos da Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (CRISP/UFMG). Mestre em Ciências Sociais pela PUC-Minas. Doutora em Ciências Sociais pela PUC-Minas. Pesquisadora do Centro de Estudos em Segurança Pública da PUC-Minas e da visão mundial para diagnóstico nacional das medidas socioeducativas em meio aberto. Professora orientadora da pós-graduação a distância da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Consultora do Instituto Polos de Pesquisa. JUSTIFICATIVA O desafio desta disciplina é discutir as diversas atribuições constitucionais da União, dos estados e dos municípios para, ao final, apontar desafios e constrangimentos na provisão de serviços públicos municipais. Nesse sentido, ao conhecer as distin- tas fases do ciclo de políticas, os quais se dividem em elaboração, implementação e avaliação, você terá melhores condições de contribuir com intervenções assertivas no seu posicionamento como cliente dos serviços públicos e como agente de mudanças no seu campo de atuação profissional. 11 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO ENGAJAMENTO Antes de iniciar a disciplina, reflita e, se preferir, tome nota das suas ideias: • Em que medida a diversidade de informações e de estímulos, característica das sociedades contemporâneas, pode provocar mudanças na prestação dos serviços públicos? • De que maneira a participação social em espaços públicos e em assuntos de interesse público pode se transformar em prestação de serviços públicos? • Como a Constituição Federal estabelece os papéis dos entes federados na organização e prestação de serviços públicos que garantem o desenvolvimen- to de funções sociais nas cidades? • Quais são os limites e os desafios da gestão das cidades a partir de uma políti- ca urbana voltada à moradia, saneamento, infraestrutura urbana, transporte e tantos outros direitos que garantem a dignidade da pessoa no contexto urbano? • São essas e muitas outras questões que nortearão o seu estudo, suas inquie- tações. A compreensão da estrutura legal, das competências administrativas, das regras normativas, o arcabouço legal, as distribuições de poderes e tantos outros temas é que elucidarão as relações entre interesses públicos e serviços públicos. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Bem-vindo à disciplina Organização e Gestão de Serviços Públicos Municipais. O objetivo desta disciplina é fomentar discussões qualificadas acerca da gestão e da organização dos serviços públicos, dando enfoque à divisão de atribuições e poderes entre os entes federados no processo de elaboração e implementação de políticas públicas. 12 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO É de suma importância compreender os desafios enfrentados na gestão governa- mental, considerando as limitações constitucionais e as diversas atribuições dos municípios na provisão de serviços públicos. Assim, ao se aprofundar nesses aspectos fundamentais, tão caros à gestão de serviços públicos, se ampliará a visão sistêmica sobre políticas públicas e sobre os fatores determinantes do processo de descentrali- zação preconizado pela Constituição Federal de 1988. A disciplina contribuirá para desvendar aspectos preponderantes da distribuição de recursos e de poderes no nosso modelo de federação tripartida, demonstrando os limites e perspectivas de cada ente federado, proporcionado uma análise crítica e multidisciplinar do processo de prestação de serviços municipais. Assim, inicialmente será apresentada a contextualização histórica da conformação do desenho federativo brasileiro, considerando o processo de divisão de poderes e atribuições do Estado brasileiro, dando enfoque à Carta Magna de 1988 e ao proces- so de descentralização dos serviços públicos municipais. Posteriormente, serão apre- sentados os principais modelos de análise de políticas públicas e das fases do seu ciclo. Na sequência serão discutidos os movimentos sociais e sua importância no processo de garantia de direitos, culminando na razão principal da Administração Pública, que é o serviço público. Após apresentados todos esses elementos, tão caros à gestão pública, serão discutidas as especificidades na provisão de serviços muni- cipais, e, por fim, serão apresentados os desafios e as perspectivas da Administração Pública para organização e gestão de serviços públicos municipais. Fica aqui um convite a você. Aproprie-se de todo o material disponibilizado, partici- pe dos fóruns e exponha suas ideias e percepções de maneira a enriquecer cada vez mais o universo social e profissional de todos, num processo de construção mútua de conhecimentos. Que, ao final desta disciplina, você alcance os objetivos propostos, os quais se tradu- zem na troca de conhecimento e experiências tão fundamentais ao processo de aprendizado. Boa leitura! 13 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO OBJETIVOS DA DISCIPLINA Ao final desta disciplina, esperamos que você seja capaz de: • Identificar os principais arcabouços teóricos que sustentam o campo das polí- ticas públicas. • Analisar a gestão governamental no sistema federativo brasileiro e os fatores intervenientes na provisão de serviços públicos municipais. • Analisar como os cenários político e social contribuem na conformação dos serviços públicos municipais. • Articular as perspectivas normativas e pragmáticas na gestão de serviços públicos essenciais, como: transporte urbano; resíduos sólidos; abastecimento de água, esgoto e drenagem; iluminação pública; serviços funerários; comércio ambulante; mercados, feiras e artesanato; educação e segurança pública. 14 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: UNIDADE 1 > Identificar as similaridades e diferenças dos modelos federativos. > Debater sobre o processo de descentralização de atribuições para os entes federados. > Analisar o papel dos municípios no contexto da prestação de serviços públicos. 15 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO 1 CONTEXTO HISTÓRICO DO FEDERALISMO BRASILEIRO E RELAÇÕES INTERGOVERNAMENTAIS Nesta unidade você estudará as características da forma de governo federalista,fazendo um resgate histórico do modelo adotado pelos Estados Unidos, admitindo ser essa a principal fonte de influência do federalismo brasileiro. O contrato federativo só se sustenta através de um pacto constitucional, com dire- trizes e normas garantidas por uma Constituição Federal, e através de uma estrutu- ra composta por um governo central e entes subnacionais soberanos e autônomos com definição geográfica e uma série de competências e direitos garantidos por leis. Assim, a base para a prestação de serviços públicos depende do complexo processo de descentralização de poder e de atribuições dos entes federados e, mais especifica- mente, dos novos arranjos institucionais propostos pela Constituição Federal de 1988 com a criação de novas agendas municipais. Não podemos perder de vista nosso compromisso maior, que é compreender a orga- nização e gestão de serviços públicos municipais. É essencial conhecer os arranjos que sustentam o processo de descentralização de poderes e de atribuições desde a União até os municípios, como veremos nesta unidade. INTRODUÇÃO A questão federativa exerce influência direta nas decisões governamentais no plano horizontal através do exercício dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e no plano vertical através dos três níveis de governo, mas, também, na prática da vida cotidiana enquanto clientes dos serviços prestados pelo Estado. Para entender como o Estado age e através de quais instituições ele atua é de fundamental importân- cia compreender a distribuição de poderes, os arranjos institucionais que limitam as 16 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO vontades dos governantes e garanta o equilíbrio de forças entre os entes envolvidos, a alternância de poder enquanto pressuposto de regimes democráticos, a participação social nas esferas públicas e outros aspectos. Entender como se dá a aplicação desse modelo federalista adotado no Brasil, tendo como desafio as especificidades de um país de dimensões continentais, com 5.570 municípios distribuídos pelo território nacional, é o pressuposto básico para analisar a provisão de serviços para todos os cidadãos, indistintamente. Como você verá, o caso brasileiro guarda algumas peculiaridades que merecem atenção, desde a sua distribuição trina de poderes até os mecanismos de freios e contrapesos criados para garantir equilíbrio entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. 1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO FEDERALISMO BRASILEIRO E RELAÇÕES INTERGOVERNAMENTAIS A ideia do federalismo vem da expressão em latim foedus-eris, que significa alian- ça. O principal aspecto defendido é a aliança indissolúvel entre nações independen- tes. Estudos publicados na obra “O federalista” dos americanos, Alexandre Hamilton, James Madison e John Jay, os quais foram apresentados em reuniões na Filadélfia em 1787, com a finalidade de elaborar uma nova Constituição americana, serviram de influência para o modelo adotado no Brasil desde 1889. No caso norte-americano, a nova constituição viria a substituir os artigos da confede- ração, modelo vigente desde 1781. No modelo de confederação americano os Esta- dos não deviam obediência ao congresso, de modo que esse não tinha como cobrar o cumprimento das leis. Aliás, não existiam leis, o que regulava juridicamente a confe- deração era um Tratado, que podia ou não ser cumprido. Uma das diferenças cruciais, quando comparado com o modelo de federação. Uma das deficiências da confederação é que nela a União legisla para os Estados e não para os cidadãos. Outra deficiência é a inexistência de um tribunal supremo do Poder Judiciário capaz de interpretar e aplicar as leis em última instância e superar decisões conflitantes das judicaturas dos Estados. 17 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO Em linhas gerais, a confederação possui um Tratado, um arcabouço jurídico que pode ser rompido a qualquer momento, já a federação possui uma Constituição, um arcabouço jurídico com fundamentos de relações recíprocas, um contrato de aliança indissolúvel. No caso norte-americano, as 13 colônias independentes do Reino Unido se dispu- nham a abrir mão de sua soberania em prol de um modelo de federação. Cada Esta- do independente abriria mão de sua soberania em prol de um estado-nação forte para defender os interesses de cada estado membro. Assim, a Constituição de 1788 carregava o desafio de implantar um sistema representado por um governo central autônomo e ao mesmo tempo independente. Para Limongi (1988), a questão da obediência dos Estados era central para os federa- listas, caso contrário, as resoluções ou ordens que pretendiam ter força de lei seriam apenas conselhos ou recomendações. Esta era a base para a criação de um sistema político que preservasse a independência dos Estados membros, ao mesmo tempo em que promovia a sua ligação com um governo central, através de um pacto firma- do por meio da Constituição. Para Madison, um dos autores da obra “O federalista”, a instalação de uma repúbli- ca, na qual os governados escolheriam um pequeno número de governantes, seria a solução. Assim, como forma de garantir a autonomia constitucional, houve uma divi- são dos poderes em executivo, legislativo e judiciário, como forma de controle. De modo geral, a obra registra a necessidade de se criar instituições capazes de controlar as vontades do homem, ou seja, freios e contrapesos entre diversas esferas de poder. A argumentação acerca desse controle se dá pela afirmação de que os homens são ambiciosos e, uma vez que são homens que governam homens, necessitam de um controle para evitar abusos de poder. Dessa maneira, seriam necessárias instituições que controlassem o poder evitando a tirania. O modelo federal, desde as origens, contrapõe-se à forma absolutista e férrea do Esta- do unitário, monárquico, centralizador e despótico. No modelo proposto pelos fede- ralistas, o Poder Judiciário foi pensado como instituição de controle, porém, desti- tuído de poder de iniciativa, o que poderia torná-lo mais fraco perante as demais instituições de decisão, como o senado e câmara dos deputados, em que a ação de um pode moderar a ação do outro. Como forma de regular esta fragilidade foi cria- da a corte suprema. Em específico, a criação de um senado seria fundamental para 18 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO corrigir os erros que a própria legislação cometesse, evitando, assim, a aprovação de leis e emendas que possam prejudicar ao povo. Enfim, o senado deverá defender os interesses do povo americano. Como visto, em linhas gerais, o modelo federalista americano tinha como pano de fundo a proteção mútua frente aos interesses particulares, no qual a transferência da soberania para um poder central seria a solução. Para os autores de “O federalista”, o grande desafio e o que se desejava naquelas convenções na Filadélfia, em 1787, era a criação de um governo nacional suficientemente forte para exercer certos poderes gerais, mas não tão poderoso ao ponto de ameaçar as liberdades individuais. Já no caso brasileiro, a formação do Estado federativo se deu de cima para baixo, pois já havia um governo central, estabelecido pelo Imperador D. Pedro II, contudo, era preciso autonomia frente às províncias e às instituições que eram fracas admi- nistrativamente. No Brasil as províncias não tinham autonomia política, o que provo- cou reações que culminaram, em novembro de 1889, na deposição de Pedro II e na instauração da república federativa brasileira. É possívelconcluir que, na concepção original do federalismo americano, as forças convergiram para o centro, configurando um movimento centrípeto – um movimen- to de concentração de forças em um governo central, unindo as 13 colônias indepen- dentes para a criação de uma federação. O caso brasileiro se configura pelo deslo- camento do poder central em direção à periferia, um movimento centrífugo – um movimento no sentido de manter a união dos estados existentes, dando autonomia para os entes federados. Apesar de a característica do federalismo brasileiro ser centrí- fugo, na prática ele tem um viés centrípeto com concentração no aparato central de poder. Enquanto novidade, o que a Constituição Federal de 1988 traz é uma gama de competências para estados e, principalmente, para os municípios, mas sem muito equilíbrio entre União, estados, Distrito Federal e municípios. O objetivo do federalismo, seja ele centrípeto ou centrífugo, está na aliança, na união conveniente para todas as partes envolvidas, seja por motivos de proteção e segu- rança ou por interesses de ordem econômica. De fato, o caminho entre a criação das duas federações é bastante diverso e pode indicar que o federalismo se apresenta como uma forma de governo baseada na heterogeneidade dos Estados e no qual se divide territorialmente o poder devido à extensão territorial, descentralizando as arenas de decisão, repartindo as competências e preservando a autonomia política das unidades federadas. 19 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO Especificamente no caso do Brasil, a implementação de um modelo federalista em um Estado-nação tão extenso e complexo depende da manutenção de direitos sociais, o que somente será alcançado com a descentralização do poder federal e com autonomia dos estados e municípios. É evidente que, apesar dos diversos arranjos institucionais adotados pelas federações, a adesão ao pacto federativo pressupõe a garantia dos direitos constitucionais. A falta de cumprimento dessas garantias enfraqueceria as democracias, o que, consequen- temente, seria uma ameaça ao pacto. Assim, os mecanismos constitucionais que garantem a função de constrangimento do poder central se materializam na Cons- tituição, na autonomia fiscal e administrativa das esferas de governo, na presença de um poder judiciário capaz de dirimir conflitos intergovernamentais, na distribuição e n descentralização de poder para legislar e para executar políticas sociais, a exemplo da saúde, da educação e do meio ambiente. O artigo intitulado “Imitação ou coerção? Constituições estaduais e centraliza- ção federativa no Brasil”, de Cláudio Gonçalves Couto, traz contribuições muito importantes para entendimento da distribuição de poderes federativos através das Constituições. O texto está disponível no site da Revista de Administração Pública. A Constituição brasileira regula e garante a existência e a autoridade de vários centros de poderes, com características de um sistema federal vertical. Significa dizer que cada estado membro tem sua própria constituição, o que garante a sua autonomia. Os entes subnacionais possuem fontes de receita próprias, em cada esfera, com parti- cipação na distribuição equilibrada de rendas e receitas tributárias. A repartição de competência, prevista na Carta Magna, é que vai determinar o grau de constrangi- mento do governo central, se mais centralizado ou descentralizado. 20 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Do ponto de vista da caracterização do modelo federativo brasileiro, historicamen- te, no período da República o federalismo era caracterizado como dual, com um poder central sem muitas interferências nos assuntos estaduais. A constituição de 1934 estabelece um federalismo muito característico pela cooperação, uma forma de colaboração entre os próprios estados, principalmente os mais pobres, mas com concentração de poder no governo central. As demais constituições trataram de expandir o poder federal criando dependência cada vez maior das autoridades esta- duais com relação ao poder central, reforçando a necessidade de cooperação para prestação de serviços. O processo de centralização do poder foi mais evidenciado no sistema constitucional de 1967/69, o qual se diz ter estrangulado a federação. A União mutilou a autono- mia dos estados, condicionou, planejou e coibiu a capacidade dos entes federados, obrigando-os a adaptar suas constituições a determinados princípios da Constituição Federal, além de partilhar com os municípios a arrecadação de impostos. O grande desafio da Constituição Cidadã de 1988 foi alterar o poder político e finan- ceiro do governo central, dando mais condições de governabilidade e autonomia aos estados e municípios. 1.1.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A DESCENTRALIZAÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA A Constituição Federal de 1988 reafirma a forma de governo federalista ao afirmar que a República Federativa do Brasil é formada pela aliança indissolúvel entre União, estados e municípios. Mais especificamente, o artigo 21 deixa claro que compete à União manter relação com estados estrangeiros e que a pessoa jurídica de direito público internacional é a República Federativa do Brasil, limitando os poderes da União enquanto pessoa jurídica de direito público interno. O texto registra que os conflitos de competências devem ser dirimidos por Lei Nacio- nal, que abrange todos os entes, e todos devem cumpri-la por ser de âmbito nacional. Ou seja, é uma competência legislativa exclusiva da União, uma vez que os demais entes federados não possuem competência legislativa. No que tange à Lei Federal, essa se aplica apenas à União, excluindo os demais entes federados, os quais devem ter leis próprias para tratar do assunto. 21 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO Lei Nacional - Código Penal, Código Tributário, Código Civil, Código de Trânsito, Lei 8666/90 que trata de licitações, Consolidação das Leis do Trabalho etc. Lei Federal - Lei 8112/90, Estatuto dos Servidores Públicos Federais. As demais esferas de governo possuem leis específicas para seus servidores públicos. A questão da centralização no governo central é caracterizada pelo processo de transferência de poder, através de recursos, de autoridade e de responsabilidade do governo federal para os governos locais. Um aspecto fundamental de mensuração da distribuição de poder é a participação e influência dos cidadãos nas decisões e no controle sobre os governos locais como forma de controlar o clientelismo e a corrup- ção. Clientelismo: prática eleitoreira em privilegiar um grupo de pessoas em troca de votos. Troca de favores entre os poderosos e os eleitores. Um dos grandes legados da CF/88 foi a ampliação dos direitos sociais e a munici- palização das políticas. Mas, o grande desafio repousa na cooperação entre os entes federados, considerando a competição e a concorrência política imposta pelo multi- partidarismo eleitoral, característico no Brasil. Assim, com o objetivo de minimizar o problema, algumas estratégias de cooperação vão sendo criadas em algumas áreas específicas, surgindo diversas formas de desfragmentação, como agências metropo- litanas, consórcios, autarquias e outros. É um processo de descentralização da execução das políticas com limitações dos entes subnacionais para legislar sobre elas. A autoridade para legislar sobre os temas que mais impactam a vida social ainda é de competência privativa da união. Assim 22 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADECAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO sendo, a União legisla sobre os principais temas que os estados e os municípios deve- rão executar, caracterizando um processo de centralização de poder decisório do governo federal. Significa que ou a União centraliza o poder decisório no sentido de que todas as disposições relevantes, nas mais variadas áreas de políticas públicas, ou são atribuições exclusivas da União, ou a União pode legislar sobre elas. No direito eleitoral só a União pode legislar sobre o processo das eleições, logo, toda decisão é jogada para o centro do poder decisório. Para algumas políticas, o processo de descentralização está relacionado à estadualiza- ção, e outros à municipalização. Isso envolve um processo de reformas, com impactos consideráveis, em um país com desigualdades sociais, econômicas e administrativas, o que requer arranjos institucionais para manutenção das relações intergovernamen- tais. Relações intergovernamentais: relações existentes entre os governos federal, estadual e municipal. A redução das desigualdades, por exemplo, requer uma mobilização horizontal dos poderes e uma mobilização vertical dos níveis de governo, para que, dentro dos limites de suas competências, essas relações intergovernamentais garantam a elabo- ração e a implementação de políticas adequadas. 23 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO As transferências de recursos e atribuições entre governos ocorreram mais efeti- vamente na década de 1990, com ampliação do acesso a serviços nas áreas da previdência, da saúde e da educação. Arranjos governamentais proporcionaram a inclusão de estados e municípios em políticas universais a partir de decisões tomadas na Assembleia Constituinte, com decisões que romperam com anti- gos paradigmas de inclusão social com acesso a direitos previdenciários, por exemplo, apenas para cidadãos inseridos no mercado de trabalho. Saiba mais sobre a inclusão dos outsiders com a leitura do artigo Democracia e redução da desigualdade econômica no Brasil: a inclusão dos outsiders, escri- to por Marta Arretche, disponível na internet. Para Arretche (2018), o período de transição para a democracia contemporânea marcou a tomada das principais decisões de inclusão de cidadãos na esfera política, tanto pela universalização do sufrágio quanto através das políticas de inclusão em sistemas universais de saúde e educação, com participação dos três níveis de gover- no. A democratização do acesso a políticas sociais, com inclusão de beneficiários à previdência e à saúde sem vinculação ao mercado formal de trabalho, revela a neces- sidade de cooperação federativa. Com efeito, estados e municípios passaram a se responsabilizar e se organizar, através de consórcios, associações e outros arranjos, para a provisão de serviços públicos. O que não resulta, segundo a autora, na eliminação de fatores que produzem as desi- gualdades de oportunidades educacionais nos níveis médio e superior de ensino, na eliminação de desigualdades raciais e gênero e cor no mercado de trabalho, entre tantos outros fatores. Fato é que o Estado – qualquer Estado – é produtor de igualdades e de desi- gualdades simultaneamente, porque suas políticas atingem categorias dife- rentes de beneficiários e, principalmente, dimensões diferentes da vida de um mesmo indivíduo. (ARRETCHE, Marta, 2018, p. 17). 24 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Por fim, se a Constituição Cidadã, de 1988, tratou de incluir cidadãos até então excluí- dos da sua cartela de clientes de serviços púbicos, o efeito não poderia ser outro senão a responsabilização do Estado na descentralização desses serviços, o que implica relações intergovernamentais cooperativas com responsabilização de esta- dos e municípios. O caso do meio ambiente é um bom referencial para compreender o processo de descentralização e de participação através de um Comitê Interministerial, Comitê Orientador e outros fóruns, com objetivo de elaborar e implementar ações integra- das entre os estados, Distrito Federal, municípios e iniciativa privada, com vistas ao gerenciamento dos resíduos sólidos. Ainda que a Política Nacional do Meio Ambien- te tenha sido criada em 1981, foi em 2010 que a Política Nacional de Resíduos Sóli- dos foi instituída por Lei (12.305/2010) e regulamentada por Decreto (7.404/ 2010). Saiba mais sobre Resíduos sólidos com a leitura do livro Resíduos sólidos: impac- tos, manejo e gestão ambiental, de Rildo Pereira Barbosa e Francini Imene Dias Ibrahin. 1.1.2 NOVAS AGENDAS MUNICIPAIS A efetiva participação dos municípios na provisão de serviços inaugura uma nova agenda governamental e novos arranjos institucionais que garantam a capacidade de operacionalização. Isso implica uma série de constrangimentos, principalmente constitucionais, com relação à prestação de serviços. De fato não há nenhuma compe- tência privativa dos municípios prevista na CF/88, mas o que temos são responsabili- dades municipais na execução de ações de zeladoria, proteção e cuidado do interes- se coletivo em cooperação com demais entes federados. 25 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO A CF/88 prevê, em seu artigo 22, competências privativas da União, as quais não são delegáveis, para legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho, águas, energia, emprego, seguridade social, diretrizes da educação nacional, normas de licita- ção e contato. O artigo 23 trata de competências comuns a todos os níveis de governo, as quais tratam de ações próprias do estado social com a cooperação dos entes federa- dos na sua execução, incluindo o município. O artigo 24 trata de competências concorrentes, na qual a União edita normas gerais de determinada matéria, e estados e Distrito Federal podem legislar sobre assuntos específicos. O que temos é a União legislando e iniciando matéria em qualquer área de políticas públicas. O município acaba por ser um executor de políticas federais, com pouca autonomia na elaboração dessas. E mais, com outro fator relevante, que é a dependência de receita. A União tem papel redistributivo das receitas, com repasses de recursos aos entes federados. Os estados e o Distrito Federal podem arrecadar recursos com a instituição de impostos e contribuições em diversas áreas, tais como: • transmissão causa mortis, • circulação de mercadorias, • transporte interestadual e intermunicipal, • comunicação e • propriedade de veículo automotor. Já os municípios podem arrecadar recursos dos impostos: • sobre propriedade predial e terrenos urbanos, • transmissão inter vivos e • serviços de qualquer natureza. 26 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A participação municipal é parte de um processo cercado de constrangimentos que envolvem a assunção de novas atribuições na prestação de serviços públicos e a dependência normativa, administrativa e orçamentária da União. Correntes teóricas neoinstitucionalistas buscam explicações para processos de dependência institucional no campo das políticas públicas. Para alguns teóri- cos, a dificuldade de as instituições romperem com as regras e decisões toma- das ao longo do tempo reforçam a replicação de políticas pouco efetivas. Assim, uma sequência de intervenções públicasao longo do tempo pode influenciar decisões futuras, e as instituições optam pela manutenção das ações antigas, tornando a mudança difícil. Há, então, um legado do passado, uma trajetória das normas e das instituições exer- cendo influência sobre as escolhas futuras. O processo de concentração de poder no governo central ainda é um traço visível da governança. Ainda que a Constituição reconheça e tente empoderar os municípios como entes federativos, as antigas esco- lhas governamentais ainda limitam e constrangem a sua atuação na prática. As cidades brasileiras padecem de um dilema, que é autonomia regulada. Os recur- sos são concentrados na União, que é quem reparte com estados e municípios a receita arrecadada com o Imposto de Renda e o Imposto sobre Produtos Industria- lizados. Esse modelo de repartição é desigual. Para Arretche (2018), as cidades da região metropolitana ficariam prejudicadas, porque a maioria delas tem característi- cas de cidades dormitórios e seus moradores trabalham, consomem e produzem nas capitais, as quais concentram atividades econômicas e, consequentemente, possuem maior arrecadação via ICMS e ISS. Assim, as cidades têm que contar com os recursos limitados, aqueles provenientes de fontes já existentes sem muita liberdade de ação. Para Arretche (2018), muitos municípios usam estratégias que garantam sua existência, por exemplo, aumentan- do o valor venal dos imóveis para aumentar o IPTU, ou se declarando como município urbano para cobrar IPTU, porque é a única fonte de receita. 27 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO Outro fator que afeta as agendas municipais é a execução de políticas sociais. Nesses casos, o município não tem autonomia sobre os valores aplicados, uma vez que o governo federal regula o patamar de gastos e a forma de execução. A Lei de respon- sabilidade social limita as finanças municipais, deixando pouca margem para inves- timentos em serviços. O município não pode gastar mais do que 60% com pessoal, 18% com previdência e não pode se endividar mais que uma vez e meia a sua arre- cadação líquida. Os municípios podem ser entendidos como executores de políticas federais no cuida- do com serviços de saúde, educação, transporte, vias públicas e iluminação públi- ca, reforçando a ideia de que o Estado brasileiro adota um modelo de gestão que concentra muita capacidade de iniciativa regulatória no governo federal. 28 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO CONCLUSÃO O conteúdo desta unidade tem fundamental importância para o entendimento da forma de governo federativa e as peculiaridades do modelo brasileiro, seus impactos na gestão administrativa em todos os níveis de governos e as limitações e constran- gimentos impostos pela Constituição Federal ao município para provisão de serviços públicos. A centralidade das mudanças difundidas pela Constituição Federal de 1988 é um marco para a efetiva aplicação do ideal federativo, com distribuição de poderes e manutenção da soberania dos entes federados. Contudo, como pode-se perceber, ainda há muitas limitações a serem vencidas, ainda é preciso romper com antigos paradigmas e velhas políticas que ainda não desconcentraram poder nem garanti- ram autonomia. A partir do conhecimento adquirido é possível problematizar como as disputas governamentais de poderes e de recursos públicos afetam diretamente a vida dos cidadãos enquanto clientes e portadores de direitos. Assim, compreendendo as limi- tações e os avanços alcançados, podemos problematizar o papel dos poderes execu- tivo, legislativo e judiciário, assim como o papel da União, dos estados e municípios, garantindo a efetiva manutenção de direitos. 29 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: > Identificar os principais arcabouços teóricos que sustentam o campo das políticas públicas. > Discutir sobre o processo de elaboração e execução de políticas públicas. > Demonstrar as principais limitações de cada fase do ciclo de políticas públicas. UNIDADE 2 30 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 2 ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO GOVERNAMENTAL: UMA PERSPECTIVA TEÓRICA Nesta unidade, você conhecerá os principais suportes teóricos que embasaram a análise de políticas públicas, com apresentação de alguns modelos teóricos desen- volvidos para compreender as ações políticas empreendidas pelo Estado. A partir desse arcabouço teórico, se avançará na análise do ciclo de políticas públicas, as quais são formuladas e executadas a partir de demandas sociais e institucionais. Analiticamente, entender que nem todo problema social se converte em problema público é o primeiro e um dos mais importantes passos no processo de produção das políticas públicas. Com efeito, existem fatores incidindo sobre decisões governa- mentais, e conhecer a maneira como as instituições têm se organizado para a provi- são de serviços nas sociedades contemporâneas, caracterizadas pela diferenciação social, pela diversidade de ideias e interesses, contribui para desvendar as mudanças conceituais e as novas formas de cooperação intergovernamental. Significa, com isso, reconhecer as diferentes respostas governamentais aos proble- mas públicos enfrentados. E mais, significa que há limitações normativas e pragmá- ticas incidindo sobre os serviços públicos de interesse local. INTRODUÇÃO O campo de estudos dedicado à análise de políticas públicas surgiu na Administra- ção Pública, com estudos muito voltados para a contribuição na proposição de ações e estratégias para melhoria do desempenho do Estado. Outras correntes teóricas trataram de compreender as mudanças sociais, as quais impulsionaram transforma- ções significativas na maneira como o Estado trata e soluciona problemas públicos. 31 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO Fazer análise de políticas pública significa, conforme Secchi (2016), gerar informações, argumentos e consensos que forneçam uma base mais sólida à tomada de decisão pública. Com efeito, essas decisões governamentais podem ser tomadas consideran- do aspectos interdisciplinares, valores, ideias e aspirações nas mais diversas esferas de negociações, considerando uma enormidade de aspectos que se traduzem em boas e más decisões. O desafio desta unidade é compreender as contribuições teóricas, a partir de um resgate histórico, e os resultados práticos das políticas públicas. Desde a análise de um problema até a implementação de políticas públicas, serão explorados um universo de fatores dependentes e independentes exercendo influências tanto nos resultados como nos processos. 2.1 ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO GOVERNAMENTAL: UMA PERSPECTIVA TEÓRICA “Enfim, instituições e desenvolvimento são mutuamente endógenos, e o máxi- mo que podemos pretender é identificar seus recíprocos impactos” (Przeworski). Analisar políticas públicas é compreender como e por que o Estado age nas suas esferas de governança. Conceitualmente, grosso modo, as políticas públicas podem ser entendidas como as decisões governamentais, as ações que serão implementa- das pelos atores da Administração Pública com a finalidade de resolver os problemas identificados pela sociedade e pelacomunidade política. Logo, elas são os resulta- dos das negociações, das barganhas, das diversidades de ideias e interesses, às vezes dentro de uma mesma instituição ou de um grupo social. Conforme Secchi (2016), sem usar métodos analíticos, uma decisão pública pode ser pautada pela repetição, imitação, preconceito ou autointeresse. Mas como alguns temas ou questões são contemplados e outros não? Com efeito, é preciso entender como as ideias surgem, como surgem novos assuntos políticos, por que alguns se tornam relevantes para os governantes, quais atores parti- cipam na construção dos problemas, entre outras questões pertinentes. 32 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Historicamente, é nos EUA que a política pública surgiu como área de conhecimen- to e disciplina acadêmica, conforme Souza (2006), sem estabelecer relações com as bases teóricas sobre o papel do Estado, passando direto para a ênfase nos estudos sobre a ação dos governos. Para a autora, a introdução da política pública como ferra- menta das decisões do governo é produto da Guerra Fria e da valorização da tecno- cracia como forma de enfrentar suas consequências. Os estudos iniciais centraram esforços predominantemente na área da Adminis- tração Pública, com atenção nas questões operacionais como campo de análise. O objetivo principal era a proposição de ações e estratégias que pudessem melhorar o funcionamento do Estado e das políticas. Recentemente, têm ganhado visibilidade e credibilidade estudos que se interessam por todo tipo de questão e consideram as partes que se interconectam com objetivo de compreender as regras que regem o sistema como um todo. O grande desafio dos analistas é entender não só os resultados, mas também o emaranhado de relações entre instituições políticas e seus atores. Significa reconhecer as demandas e apoios que se apresentam, (inputs) que, por sua vez, produzem as decisões e ações (outputs). Os primeiros trabalhos e as primeiras menções com relação à necessidade de uma análise científica sobre as políticas públicas são creditadas a Harold Lasswell, no ano de 1936. De acordo com Souza (2006), o autor introduz a expressão policy analysis (análise de política pública) como forma de conciliar conhecimento científico com a produção empírica dos governos e também como forma de estabelecer o diálo- go entre cientistas sociais, grupos de interesse e governo. Identificado como um teórico eminentemente elitista, seus primeiros trabalhos se dedicavam a entender o comportamento das massas e como elas seguiam suas lideranças. Lasswell deu uma grande contribuição metodológica para a análise de políticas públi- cas. De acordo com Secchi (2016), o governo americano passou a utilizar seu modelo nas decisões sobre investimentos em infraestrutura e programas sociais, culminando na formação de profissionais para análise e planejamento administrativo nas áreas de segurança nacional, gestão orçamentária, gestão econômica e saúde pública. Para os estudiosos das correntes elitistas, o foco de análise está centrado nas desi- gualdades sociais. Assim, os resultados das políticas públicas são previamente defi- nidos pelos interesses das elites, pois são elas que detêm recursos organizacionais da sociedade e das classes dominantes. Tal modelo defende que toda sociedade 33 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO é desigual e que nelas há, sempre, uma classe minoritária detentora de poder em contraposição a outra classe destituída de poder. Em suma, o que os teóricos elitistas defendiam é que as massas seguiam as elites e as lideranças pelo poder de influên- cia que essas detinham, seja a partir das dimensões sociais, da produção cultural ou econômica. Ainda sobre as principais contribuições teóricas na análise de políticas públicas, Herbert Simon, na década de 1940, foi o autor que introduziu o conceito de raciona- lidade limitada dos decisores públicos, reconhecendo que o “ciclo das políticas” seria composto por inteligência, desenho e escolha. Conforme Souza (2006), o autor reco- nhecia uma série de limitações, como informação incompleta ou imperfeita, tempo para a tomada de decisão, autointeresse dos decisores, etc., mas que poderiam ser solucionadas com a criação de regras e incentivos que tornassem previsíveis as ações dos atores. Assim, a criação de estruturas eficientes moldaria o comportamento dos atores na direção de resultados desejados. Novos estudos, na mesma época, lançam luz sobre os demais centros de poder da sociedade, para além do poder das elites. Denominada de corrente pluralista, os estu- diosos identificam o poder nas questões mais específicas, questões que provocam coalizões entre grupos de interesses que lutam por seus objetivos. Esses novos estu- dos reconhecem o poder e valorizam a disposição dos atores nas disputas políticas, reconhecendo as chances de alcançarem resultados favoráveis aos seus interesses. Para David Easton, um dos principais teóricos da corrente pluralista, a produção de políticas públicas depende dos ciclos de produção e da interação dentro do sistema político, como um sistema de comportamento aberto. Para o autor, existem influên- cias de outros sistemas operando sobre as políticas públicas, logo não é possível desconsiderar os sistemas internos e os subsistemas, como os partidos, a mídia e os grupos de interesse, os quais provocam reflexos nos outputs e influenciam resulta- dos e efeitos. Ou seja, a política pública é um sistema, uma relação entre formulação, resultados e o ambiente (SOUZA, 2006). Nas décadas de 1960 e 1970, as correntes de pensamento pluralistas defendiam o pensamento predominante de que são as demandas e os apoios dos grupos de pres- são que vão estabelecer as políticas públicas, numa vertente marcada pela teoria marxista do Estado. O modelo de classes, marxista, propõe um aparato teórico de pouca abrangência para a análise de políticas públicas, pois parte das relações entre 34 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO economia, classes sociais e Estado, considerando que as relações de classes são essencialmente relações de poder. As primeiras críticas às correntes pluralistas foram elaboradas por Charles Lindblom, que propôs a incorporação de outras variáveis à formulação e à análise de políticas públicas. Para o autor, as eleições, as burocracias, os partidos e os grupos de inte- resse exercem influência significativa nas relações de poder (SOUZA, 2006). Assim, Lindblom sugeriu que os meios e os fins fossem escolhidos de forma simultânea, num processo incremental de pequenas decisões subsequentes, resolvendo, assim, o problema de interdependência em políticas públicas. O incrementalismo, preconizado por Lindblom, recebe novas adesões e críticas. As principais críticas focalizaram no comportamento e no formato das instituições, dando início a estudos neoinstitucionalistas, principalmente a partir dos modelos desenvolvidos por Theodore Lowi. O autor sugeriu uma classificação das políticas públicas a partir de uma associação entre o formato das políticas públicas e os tipos de conflitos existentes. As políticas foram divididas em constitutivas, regulatórias, distributivas e redistributivas, conforme seu caráter mais ou menos conflitivo. As políticas constitutivas são associadas à criação e transformação das próprias regras do jogo, são políticas que definem procedimentos na arena dos atores gover- namentais. Lei que obriga partidos políticos a escolherem seus candidatos em proces- sos internos de seleçãoe, posteriormente, apresentarem listas fechadas aos eleitores (SECCHI, 2012). As políticas regulatórias são, conforme Marques e Faria (2013), aquelas em que o Estado estabelece regras para o funcionamento de atividades produzidas externa- mente a ele, estabelecendo padrões de comportamento, serviços ou produtos. 35 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO Lei que obriga os motociclistas a usar capacetes e roupa adequada, com objetivo de resolver os problemas de acidentes com motocicletas (SECCHI, 2012). As políticas distributivas envolvem recursos ilimitados, os quais podem privilegiar determinados grupos de interesses. Programa de crédito a baixo custo, oferecido a pequenos empreendedores que queiram montar o próprio negócio (SECCHI, 2012). Por fim, as políticas redistributivas, aquelas que envolvem a distribuição de recursos finitos e atingem um número maior de pessoas, muitas vezes beneficiárias de polí- ticas sociais e políticas sociais universais, sistema tributário, sistema previdenciário, entre outros. A instituição de um novo imposto sobre grandes fortunas, que transfira renda de classes abastadas para um programa de distribuição de renda para famí- lias carentes (SECCHI, 2012). Nos Estados Unidos, a década de 1970 foi marcada pelo surgimento de progra- mas de pós-graduação em políticas públicas em universidades, com grandes 36 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO contribuições conceituais e metodológicas para a análise de políticas públicas. De acordo com Secchi (2016), o caráter tecnocrático predominava com forte ênfase na eficiência econômica. Na década de 1980, proliferaram as publicações de manuais metodológicos para a análise racionalista de política pública com ênfase na aprova- ção de projetos governamentais em que os ganhos sociais superassem a expectativa de gastos públicos (SECCHI, 2006). Por fim, o modelo analítico neoinstitucionalista dos anos de 1980 é apontado como a grande referência teórica para os estudos de políticas públicas. Na visão neoinsti- tucionalista, o papel da liderança é estimular e adequar visões do mundo em muta- ção, redefinindo significados e compromissos. Significa que a arquitetura institucio- nal exerce forte influência nos resultados políticos, considerando que existem formas de premiar ou coagir os indivíduos, as quais estimulariam ou limitariam as suas ações. No neoinstitucionalismo, as instituições ganham status de atores políticos e deixam de ser consideradas apenas como o reflexo de forças sociais. As preferências e signi- ficados desenvolvem-se por meio de uma combinação de educação, doutrinamento e experiência, sendo assim as lideranças passam a ocupar lugar de destaque nesse processo por serem fornecedoras de informações e por negociarem concessões e troca de favores. Os teóricos defendem que atores institucionais maximizam seus resultados pactuando ações que eles têm certeza de que conseguirão resolver. Assim, as redes de relações das políticas públicas acabam por promover o entrelaça- mento entre instituições e indivíduos, os quais agem, também, conforme suas identi- dades. Dito de outra maneira, os atores racionalizam decisões conforme os múltiplos papéis que desempenham, seja como político, servidor público, chefe de família ou cidadão. A grande contribuição do neoinstitucionalismo está na importância dada ao fator institucional para explicação de acontecimentos políticos concretos, centrando seu foco nas ações realizadas pelos burocratas e suas relações entre si e com outros grupos. A inovação no campo teórico está pautada na inclusão dos diversos fatores institucio- nais que exercem influência no processo de tomada de decisões e nos resultados polí- ticos, além da grande contribuição de modelos baseados em observações empíricas. Ainda com relação ao modelo teórico neoinstitucionalista, existem três escolas de pensamento dentro desse modelo: • institucionalismo histórico; • institucionalismo da escolha racional; • institucionalismo sociológico. 37 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO O institucionalismo histórico centra sua atenção no próprio Estado, dando ênfase aos atores estatais e aos poderes a eles conferidos e à influência das instituições no resultado das políticas. O institucionalismo da escolha racional, que surgiu no contexto do estudo de comportamentos no interior do congresso dos Estados Unidos, defende que as insti- tuições diminuem os custos de transação de modo a propiciar aos parlamentares os benefícios da troca, permitindo a adoção de leis estáveis. Assim, os comportamen- tos dos atores políticos são determinados por cálculos estratégicos, esses cálculos se baseiam nas expectativas com relação ao comportamento dos demais atores. O institucionalismo sociológico se distingue pelo modo de encarar as relações entre as instituições e a ação individual, considerando que os indivíduos são induzidos pela sua socialização a desempenharem papéis específicos, rompendo com a concepção tradicional que separa instituição e cultura. Essa corrente passa a considerar que as regras informais e os sistemas de símbolos exercem importante influência nas deci- sões políticas. De maneira geral, as bases conceituais do neoinstitucionalismo destacam a impor- tância das instituições no processo de produção de políticas públicas e corroboram no sentido de reorientar a análise dirigindo atenção não apenas para as instituições em si, mas também para os atores políticos e o conjunto de procedimentos formais e informais desempenhados por eles. Uma boa dica para aprofundar seu conhecimento no tema é o artigo inti- tulado “Análise de políticas públicas no Brasil: de uma prática não nomea- da à institucionalização do campo de públicas”. A autora, Marta Farah, faz a reconstituição das origens e do desenvolvimento da atividade de análise de políticas, centrando seu estudo nas políticas públicas nos EUA e no Brasil e o processo de modernização do Estado. O texto está disponível para download no site da Revista de Administração Pública, vol. 50, n.6. 38 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Por fim, a análise de políticas públicas propõe a compreensão de um universo de fatores dependentes e independentes, exercendo influências tanto nos resultados como nos processos. Assim, os atores precisam construir suas ideologias e pautas reivindicatórias, baseadas em princípios inerentes aos grupos de interesses, por meio de uma agenda pública. Quando a sociedade se organiza nas ruas, ela está, de alguma forma, demons- trando sua insatisfação com o poder público, além de estar pressionando outros grupos de interesses a aderirem ao movimento. Somente a partir da identificação de problemas públicos que se abre a possibilida- de para entrada do tema na agenda governamental, para então iniciar o ciclo das políticas públicas, conforme você verá a seguir. 2.1.1 O CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS De início, pode-se afirmar que um problema social, percebido como uma demanda da sociedade, só se torna um problema público após sua inclusão na agenda política, quando atores políticos consideram a possibilidade de resposta e de solução pública. A abordagem do ciclo de políticas públicas enfatiza, conforme Souza (2006), a defi- nição de agenda (agenda setting) e pergunta por que algumas questões entram na agenda política, enquanto outras são ignoradas. Algumas vertentes do cicloda polí- tica pública focalizam mais os participantes do processo decisório, outras, o processo de formulação da política pública. É preciso indagar como algumas questões chamam atenção a ponto de entrarem na agenda política. Para alguns autores, o processo de tornar um problema social em problema público não pode ser considerado linear, mas pode identificar atores públicos como grandes orquestradores do processo de inclusão na agenda. Nesse sentido, existem redes de atores atuando nas mais diversas esferas, construindo e reconstruindo complexas relações e interações de interesses. As redes de políticas 39 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO permitem entender como agentes formulam e colocam em prática programas de governo, considerando as interações e conflitos provocados pelos agentes envolvidos nos processos e até mesmo dos subgrupos constituídos com vistas a interesses mais específicos. O processo de entrada de um problema na agenda pública pode depender da maneira como a questão se torna evidente para os grupos de interesses. A midiatiza- ção, as mobilizações sociais, as iniciativas externas, as demandas eleitorais, as mobili- zações corporativistas políticas e diversas outras estratégias são definidoras dos acor- dos e negociações entre atores políticos. A sociedade civil organizada tem o poder de levar para a gestão pública assuntos de interesse social, aqueles que merecem uma resposta governamental. Essas respostas são oferecidas à sociedade na forma de políticas públicas. Existe, então, um ciclo que vai conformar as políticas públicas e que começa com a definição de um problema de grande relevância pública, formulação de políticas que atendam à demanda e o processo de implementação das ações que visem resolver o problema inicialmente apontado. Finalmente, segue a fase de avaliação das políticas públicas. As etapas identificadas não são, necessariamente, dependentes umas das outras, mas são complementares. Assim, ao dividir o agir público em fases parciais do processo político-administrativo de resolução de problemas, o policy cycle acaba por revelar as constelações de poder, as redes e práticas em cada uma das fases. FIGURA 1 - CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Formulação Avaliação Implementação Fonte: Elaborada pela UOL EDTECH, 2019. 40 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A fase de formulação é o momento de escolha das ações que resolvam o problema ou a questão apontada. As ideias apresentadas no processo de formulação são cons- truídas em meio aos grupos de especialistas das áreas de interesses, podendo sofrer toda a sorte de negociações e barganhas. Existem diversos atores envolvidos com a formulação das políticas públicas, esses agentes formuladores precisam ter habilidade para entender os fatos que cercam um problema, suas causas e os efeitos. O primeiro passo é a realização de diagnósti- co do problema para a proposição de respostas. Assim, o processo de elaboração de políticas envolve questões como a divisão de posições políticas, em que os fins e as metas devem estar claros para alcance dos resultados, além da elaboração de objeti- vos quantificáveis, permitindo, assim, a avaliação e monitoramento das ações. A fase de formulação e a fase seguinte, de implementação, não são independentes. Pelo contrário, ambas podem sofrer influências, principalmente em função do status e do lugar ocupados por seus agentes. A fase de implementação da política pública é entendida como o momento de colocar em prática, como o processo de consecução dos objetivos das políticas previamente estabelecidos na etapa de elaboração. Nessa fase, o desafio do analista é entender que o processo de produção de uma política reflete a maneira como as redes de políticas se organizam e que a forma com que planejam a execução das ações, por grupos de agentes operacionais, revela o fosso entre as duas fases. Significa assumir que existe um distanciamento entre os agentes formuladores e os imple- mentadores que pode colocar em risco todo o processo de políticas públicas. Por fim, a fase de avaliação é o momento de apreciar os programas implementados com ênfase nos impactos causados. No que tange à Administração Pública, um dos problemas apontados se refere à escassa utilização da avaliação como instrumento de gestão no setor público. Instrumento esse capaz de possibilitar rearranjos que resultem em ações mais propositivas, que resultem em readequação de rotas para alcance de resultados propostos, retroalimentando o ciclo. Processos de aprendizagem política e administrativa encontram-se em todas as fases do ciclo político, e não apenas a fase final, a avaliação. É preciso retroalimentar o processo de maneira dinâmica, pois os problemas sociais também se reinventam e se reconfiguram, necessitando, assim, de novas práticas e intervenções. Significa dizer que, para a efetiva prestação de serviços públicos, aqueles que, conforme Mukai 41 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO (1996), se caracterizam por constituir uma atividade essencial para a comunidade, é indispensável a observância de todas as fases do ciclo da política e o comportamento dos atores. Ao se entender que determinados atores defendem grupos de interesses e disputam por poder no campo das políticas, entende-se, também, a importância da participação social nessas arenas, com objetivo de garantir a continuidade dos serviços públicos. O artigo “Políticas de educação integral em tempo integral à luz da análise do ciclo da política pública”, de Cláudia Parente, traz a análise de políticas por meio da compreensão do seu ciclo, desde a fase da agenda até a avaliação. O texto está disponível para download no site da revista Educação e Realida- de, vol. 43, n.2. CONCLUSÃO O campo de estudos sobre políticas públicas tem avançado com a contribuição de diversas áreas de conhecimento, o que provocou a ampliação dos modelos de análi- se nos últimos 60 anos. Desde os primeiros modelos teóricos e analíticos, ocorreram deslocamentos do campo de estudos, saindo de uma visão pautada na racionalidade dos processos de decisão, a qual centrava seu foco no comportamento racional dos indivíduos, para uma visão institucional e multidisciplinar dos fatores que exercem influência nas decisões governamentais. Ao deslocar o foco de atenção da análise de políticas públicas, os principais estudos acabam por ampliar, também, o campo de análise do ciclo das políticas públicas. O deslocamento do campo de atenção para a fase de formação de agenda e de imple- mentação das políticas públicas aponta para uma mudança de paradigma, uma guinada nos estudos sobre o conjunto das ações implementadas pelo Estado. 42 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Ao identificar os principais arcabouços teóricos que sustentam o campo das políticas públicas e discutir sobre o processo de elaboração, execução e avaliação, cumpre-se com o objetivo proposto para esta unidade. Nesse sentido, a compreensão sobre os aspectos fundamentais que tornam o processo político cada vez mais político, com incorporação de novos atores em contextos de conflito de interesses, contribui sensi- velmente para uma análise mais sistêmica sobre a organização do Estado. Do ponto de vista da administração pública, o conhecimento pode ser transformado em ações propositivas. Já do ponto de vista social, pode ser transformadoem participação nas esferas que garantam a essencialidade dos serviços públicos. 43 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: > Identificar os marcos normativos de garantia da participação social na gestão pública. > Analisar as principais correntes teóricas de controle e participação social na gestão pública. > Identificar as principais instâncias de participação social implementadas após a Constituição Federal de 1988. UNIDADE 3 44 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 3 REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA GARANTIA DE DIREITOS NO ESTADO MODERNO Nesta unidade será discutida a participação social e a maneira como a sociedade civil tem se inserido nas instâncias de poder como forma de garantir direitos. É atra- vés da presença da sociedade civil na esfera pública que se torna possível compreen- der a influência da participação política, que não é realizada por atores isolados, mas por uma rede de interesses distintos, na conformação de uma política pública. É de suma importância resgatar esses movimentos e as instâncias criadas para inserir a sociedade em espaços antes destinados apenas aos agentes governamentais. Nesse cenário, a participação social na gestão pública é pressuposto para um modelo de democracia participativa, conforme preveem os artigos 198, 204 e 206 da Consti- tuição Federal de 1988. A participação social, através de conselhos de políticas públi- cas e outras instâncias, pode ser entendida como um avanço ao assegurar que cada cidadão exerça seu papel no controle social da gestão pública. Como será visto adiante, o controle social colabora significativamente para manuten- ção da cidadania, além de manter determinado controle sobre as instituições gover- namentais e seus agentes. Experiências implantadas na saúde, educação, segurança pública e outras áreas ilustram a importância do exercício do controle social na pres- tação de serviços públicos. 45 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO INTRODUÇÃO A gestão pública – ações de governo voltadas para atendimento das demandas da sociedade – objetiva gerenciar recursos públicos de forma organizada, com planeja- mento. De modo geral, a organização da gestão pública administra recursos huma- nos, financeiros, materiais, organizacionais e outros, com foco nos resultados, que são os produtos e serviços. Contudo, a participação dos cidadãos na gestão pública implica, de acordo com Gohn (2003), garantia e manutenção do processo democrático a partir da presença da sociedade civil nas políticas públicas. Um dos objetivos dessa participação seria o controle social, uma forma de fiscalização e monitoramento da sociedade civil sobre as ações do Estado. No campo do direito, a participação popular nas políticas públicas é garantida pela Constituição Federal de 1988, mas a regulamentação da matéria se dará por leis espe- cíficas, como, por exemplo, o Estatuto das Cidades e as Leis orgânicas de áreas espe- cíficas. Assim, ao analisar a provisão dos serviços públicos, também se está analisando a maneira como a sociedade participa no processo de elaboração e de implemen- tação das políticas públicas. Esse é o desafio desta unidade: abordar a participação da sociedade civil na gestão pública e os resultados na provisão de serviços públicos. 3.1 REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE A PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA GARANTIA DE DIREITOS NO ESTADO MODERNO É a demanda popular por serviços e por produtos das organizações públicas que tem impulsionado os desafios enfrentados pelos estados. Para Dias (2017), essas deman- das populares provocaram mudanças no modo de pensar e agir dos gestores públicos. 46 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Dias (2017) faz uma diferenciação importantíssima sobre o arcabouço que compõe a política de participação em três níveis: a participação política, a participação social e a participação popular. São modalidades comple- mentares, com áreas de intervenção específicas, que não devem entrar em concorrência ou incompatibilidade nem substituírem-se uma pela outra. Para melhor entendimento, essa e outras discussões estão disponíveis no livro Aspectos atuais e perspectivas para atualização. Desse modo, atores sociais buscam a participação na gestão pública como forma de influenciar as decisões que afetam seu dia a dia, seus direitos e sua forma de garantir serviços. E nesse sentido, conforme Dias (2017), a participação social torna efetivo um direito fundamental da cidadania através do acesso às decisões, e é na participação social que se equilibra a distribuição do poder no sistema político. Em linhas gerais, a participação da sociedade civil na gestão pública é uma conquis- ta, uma forma de garantia da democracia com mais controle e monitoramento das ações do Estado, mas é também um esforço de cidadania. O tema da cidadania pressupõe que ser cidadão é ter direitos civis, políticos e sociais. O exercício da cidadania é, muitas vezes, resultado do processo de lutas que se confi- guram com base nos direitos do cidadão. Assim, a cidadania pode ser entendida como: Um status concedido àqueles que são membros integrais de uma comuni- dade. Todos aqueles que possuem o status são iguais com respeito aos direi- tos e obrigações pertinentes ao status. Não há nenhum princípio universal que determine o que estes direitos e obrigações serão, mas as sociedades nas quais a cidadania é uma instituição em desenvolvimento criam a imagem de uma cidadania ideal em relação à qual o sucesso pode ser medido e em rela- ção à qual a aspiração pode ser dirigida. (MARSHALL, 1967. p. 76). 47 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS MUNICIPAIS SUMÁRIO Historicamente, os direitos de cidadania (civis, políticos e sociais) surgiram na Ingla- terra de forma sequencial. Primeiro vieram os direitos civis, depois deles foram reivin- dicados os direitos políticos e com eles a participação no poder, e por fim, os direitos sociais com proteção à saúde, emprego, pensão, aposentadoria e outros. Mas foram conquistas fruto de muitas lutas, no contexto das revoluções francesas e inglesas, para reconhecimento do indivíduo enquanto unidade política em detrimento dos direitos e liberdades que privilegiavam grupos, corporações e classes. A distinção entre os direitos nos períodos mais antigos se confundiam, pois as insti- tuições eram ao mesmo tempo assembleia legislativa, conselho governamental e tribunal de justiça. Quando as instituições eram devidamente separadas reforçavam as diferenças entre as classes sociais, criando, assim, a distinção de classes e o status a ela atribuído (MARSHALL, 1967). Para o autor, quando os três elementos da cidada- nia se distanciaram uns dos outros logo passaram a parecerem elementos estranhos entre si. O divórcio entre eles era tão completo que é possível, sem distorcer os fatos históricos, atribuir o período de formação da vida de cada uma a um século diferente – os direitos civis ao século XVIII, os políticos ao XIX e os sociais ao XX. O processo de ampliação dos direitos sociais tem como objetivo fomentar a igualda- de de status, uma vez que a estrutura de classes sociais cria desigualdades ao mesmo tempo em que admite a igualdade de participação na sociedade.
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