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Unidade I Teorias Contábeis e os Relatórios Básicos Fundamentos Contábeis Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria DANIELI PULGA AUTORIA Danieli Pulga Sou bacharel em Administração e especialista em Administração Financeira, Contábil e Controladoria, com uma experiência profissional na área financeira e de custos de mais de 10 anos. Trabalhei em empresas prestadoras de serviços aplicando todo o conhecimento da Administração e da Contabilidade, implantando métodos de controle e rotinas de trabalho. Essas experiências contribuíram para minha formação profissional e, em paralelo, venho realizando trabalhos como docente há quase 9 anos. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Introdução à contabilidade .....................................................................10 Percurso histórico das Ciências Contábeis .................................................................. 10 Conceitos e definições ................................................................................................................ 13 Usuários da contabilidade ........................................................................................................ 15 Pessoa física e pessoa jurídica .............................................................................................. 17 Atos e fatos administrativos ou contábeis .................................................................... 18 Fatos permutativos e fatos modificativos ................................................... 18 Postulados, Princípios e Convenções da Contabilidade ........... 20 Postulados ........................................................................................................................................... 20 Princípios ...............................................................................................................................................22 Convenções.........................................................................................................................................25 A Técnica Contábil e os Relatórios Básicos ..................................... 30 Escrituração – métodos e sistemas .................................................................................. 30 Introdução ao lançamento .......................................................................................................33 Livros contábeis ............................................................................................................34 Relatórios contábeis na tomada de decisão .............................................................. 36 O Comitê de Pronunciamentos Contábeis ...................................... 40 Conhecendo órgãos normativos e fiscalizadores .................................................. 40 Comitê de Pronunciamentos Contábeis ........................................................................42 Pronunciamento Conceitual Básico (R2): Objetivo da elaboração e divulgação do relatório contábil-financeiro .........................................47 7 UNIDADE 01 Fundamentos Contábeis 8 INTRODUÇÃO Você já parou para pensar em contabilidade? Já percebeu que você tem contato imediato com algo dessa área praticamente todos os dias? Agora você deve estar se perguntando: Como assim? Contabilidade é uma ciência específica e somente contadores têm contato com a contabilidade! Estou aqui para desmistificar essa ideia de que contabilidade é só para contadores. Você, enquanto pessoa física, correntista bancário que adquire bens, gerencia seus negócios ou os negócios de terceiros é alguém que tem contato com a contabilidade sim! Para entender melhor e descobrir onde vocês esbarram, venha estudar esta unidade letiva e mergulhar neste universo! Fundamentos Contábeis 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Compreender a origem da Contabilidade e a utilização nos dias de hoje; 2. Definir os conceitos que fazem parte da Contabilidade e a importância deles na gestão financeira e patrimonial; 3. Aplicar os conceitos e técnicas à rotina gerencial; 4. Identificar e conhecer sobre órgãos que interferem nas normas e técnicas contábeis. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Fundamentos Contábeis 10 Introdução à contabilidade OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funciona a contabilidade e quais são os seus pilares. Toda vez que falamos nesse assunto, parece haver conceitos muito distintos e isso é uma verdade. No entanto, será muito fácil e esclarecedor, pois a partir desses conceitos, você poderá entender o quanto a contabilidade está presente em seu dia a dia tornando mais simples a forma de lidar com questões relacionadas à área. Além disso, você conhecerá um pouco mais desse mundo de “fazer contas” e quem sabe até sempre em alta! E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Percurso histórico das Ciências Contábeis A contabilidade é uma ciência, com seus conceitos, princípios e regras utilizados por muitos. Com ela, há um amplo mercado profissional com diversas áreas de atuação. No Brasil e no mundo, conceitos e técnicas da contabilidade são utilizados como recursos para controle e respaldo de dados e informações. Há alguns anos, grandes empresas apresentaram necessidades de controle e proteção ao seu patrimônio, desenvolvendo métodos extremamente eficazes, evitando fraudes e desvios monetários. Até mesmo o Estado se utiliza dos métodos contábeis para conhecer e controlar o rendimento das grandes áreas produtivas, aplicando a cobrança de impostos e arrecadações de recursos para a gestão do país. Atividades e práticas de contabilidade acompanham e evoluem juntamente com a história da humanidade, existindo desde que se iniciaram a organização de recursos para garantir a sobrevivência do homem. A partir da necessidade do ser humano em realizar mudanças nômades, por exemplo, foi preciso conhecer sobre os recursos disponíveis, de modo que pudesse ser realizado um planejamento para as próximas temporadas. Fundamentos Contábeis 11 Até esse momento, o processo de quantificação sobre as métricas dos recursos disponíveis ocorria de maneira informal e intuitivae sem qualquer método desenvolvido por especialistas. A mensuração dos itens foi realizada sem muito progresso até a criação das ciências e técnicas matemáticas, além do crescimento das atividades comerciais, mercantis e bancárias, vivenciadas períodos depois. Figura 1 - Papiro, tipo de planta adaptada pelos egípcios para registrar os números resultantes da agricultura Fonte: Wikimedia Commons Se analisarmos os fatos, a contabilidade é uma ciência tão antiga quanto a própria humanidade. Existem autores que consideram que o próprio homem das cavernas já contabilizava seus instrumentos de caça. Porém, foi na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, atualmente região do Iraque, que foram encontrados os primeiros registros patrimoniais. Seguindo pela história, no Baixo Nilo, os egípcios com sua técnica milenar da agricultura, contabilizavam a produção e seus estoques de mantimentos em papiros e, então, tivemos nossos primeiros livros contábeis. Os fenícios, grandes navegadores, formam outro povo contribuinte, pois registravam suas operações de troca por meio de símbolos. Lembra-se dos Romanos? Aquele povo que quase dominou o mundo? Bem, sabemos que foi um povo que expandiu seu domínio por uma região muito grande. Devido à forma de organização das informações Fundamentos Contábeis 12 e anotações patrimoniais, considera-se que foram os criadores de um sistema jurídico de contabilidade. No final da Idade Média, com o aquecimento do comércio na Europa, mais especificamente na Itália, que surgiu a necessidade de escrituração dos itens patrimoniais para a visão do consumidor e do fornecedor e aí surgiu a sistematização dos controles. Nesse período, um frade franciscano chamado Lucca Paccioli, foi o criador do método das partidas dobradas, no qual todo crédito precisa de um lançamento a débito de igual valor. Esse tem sido o método mais popular da contabilidade (GONÇALVES, 2019). Com o avanço dos tempos, especificamente no período da história da Europa, aproximadamente entre meados do século XIV e o fim do século XVI, os cálculos contábeis foram desenvolvidos por meio de termos conhecidos por nós até os dias atuais, tais como: débitos, créditos, razão, balanços e demonstrações de resultado. REFLITA: Onde você vê ou ouve falar de débito e crédito? Em que contexto esses termos fazem parte do seu cotidiano interferindo no patrimônio? Reis e Silva (2008) relatam importantes fatos sobre a história da contabilidade no Brasil. Nesse cenário, contadores e provedores da fazenda registravam o patrimônio e chegaram junto com a família real. Para qualificar os profissionais da época, foram ministradas aulas de ensino contábil e surgiu também a mais antiga associação da classe, chamada “Associação dos Guarda Livros da Corte”. Em 1870 foi publicado o Decreto Imperial nº4475 que regulamentou a profissão de guarda-livros, que é como a profissão de contador era chamada nesse período. No entanto, foi no ano de 1932, no governo de Getúlio Vargas que a profissão de contabilidade trouxe melhorias para a profissão de contador onde foram estabelecidas novas condições para seu registro. O salto maior, no entanto, aconteceu em 1943, quando foi sancionada a Lei nº6141 tratando do ensino comercial e também das diretrizes para o Fundamentos Contábeis 13 ensino de contábeis, sendo, no ano de 1945, publicado o Decreto nº7938 responsável por consolidar o ensino da contabilidade. Por fim, no ano de 1946, no Governo de Gaspar Dutra, foi publicado o Decreto nº9295 dispondo sobre a criação dos Conselhos Federais e Regionais de Contabilidade, como também definiu os perfis dos profissionais da área contábil. Conceitos e definições Já estudamos até aqui o surgimento e a evolução da contabilidade e como ocorreu a construção do seu campo de aplicação. Convém, portanto, conhecermos de fato qual a definição do termo antes de estudarmos os outros aspectos. Na literatura, algumas definições estão disponíveis de forma complementar. Assim, Marion (2005) disserta que a contabilidade é o instrumento que auxilia a administração a tomar decisões através de mensuração monetária dos dados econômicos e apresentando-os em forma de relatórios que auxiliam na tomada de decisão. De acordo com Padoveze (2014), A contabilidade é a ciência que estuda o Patrimônio. Almeida (2016) complementa que a contabilidade é importante para manter o monitoramento das atividades empresariais e também prestar contas aos usuários interessados nas entidades por meio das suas demonstrações contábeis. Por fim, Ribeiro (2017, s. p.) afirma que “a contabilidade, portanto, é uma ciência social que tem por objeto o patrimônio das entidades econômico-administrativas e seu principal objetivo é controlar o patrimônio das entidades em decorrência de suas variações”. Em outras palavras, a contabilidade é uma ciência que se utiliza de métodos e técnicas de registro e controle do patrimônio de uma entidade. Inclusive, temos aqui grandes caracterizadores dessa ciência, pois o patrimônio é o objeto de estudo e controlar o patrimônio é o objetivo da contabilidade. IMPORTANTE: Patrimônio é o objeto da contabilidade. Controlar o patrimônio é o seu objetivo. Fundamentos Contábeis 14 Para entender sobre o que se trata o patrimônio, é importante compreender sobre o princípio da entidade. Nesse sentido, de acordo com a Resolução CFC n° 750/1993, alterada pela Resolução CFC n° 1.282/2010, em seu artigo 4° e parágrafo único, são apresentados os seguintes conceitos a respeito desse princípio: Art. 4º O Princípio da ENTIDADE reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por consequência, nesta acepção, o Patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição. Parágrafo único – O PATRIMÔNIO pertence à ENTIDADE, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova ENTIDADE, mas numa unidade de natureza econômico- contábil. Para cumprir com o seu objetivo, a contabilidade tem como atribuições: captar, registrar, acumular, resumir e apresentar as informações pertinentes ao objeto de estudo. Essas atribuições se relacionam com a contabilidade mutuamente. Observe a relação entre os elementos na figura a seguir. Figura 2 - Atribuições da contabilidade Patrimônio Apresentar Captar Resumir Acumular Registrar Fonte: Elaborado pela autora (2021). Fundamentos Contábeis 15 É necessário captar informações e dados através de documentos e sistemas. Podemos observar melhor essa atribuição se pensarmos que existem notas fiscais e contratos com informações de objetos e valores de transações. Essas informações contribuirão para o registro, ou seja, de forma sistemática e padronizada, os dados serão escritos e guardados. Acumular esses dados ou informações possibilitará a mensuração. Afinal, é importante sabermos o que temos e também quanto temos de forma resumida, para uma leitura facilitada. Quando se trata de elaborarmos relatórios para os devidos interessados, temos através da contabilidade a possibilidade de apresentar essas informações em um padrão universal de fácil entendimento. Imagine que você é gestor de uma grande corporação e que recebe a oferta de compra de parte desse conglomerado. Como você aconselharia o proprietário a formar o preço de venda e a defender esse valor? Acertou se você pensou em acionar a contabilidade e se utilizar dos relatórios por ela apresentados, bem como das explicações e análises por ela realizadas. Podemos concluir então que através dos registros e relatórios contábeis é possível aprimoraro controle do patrimônio, formando um pilar seguro, onde você pode embasar a tomada de decisões. Usuários da contabilidade Outro ponto importante a lembrar é que os administradores não são os únicos interessados nas informações contábeis. São considerados usuários da contabilidade todos aqueles que têm algum tipo de interesse nas informações de determinada corporação, são eles: Fundamentos Contábeis 16 Figura 3 - Usuários das informações contábeis Informações Contábeis Investidores Clientes Funcionários Stakeholders Governo Analistas de mercado Bancos Fornecedores Fonte: Elaborado pela autora (2021). Nesse sentido, os autores Bifi et al. (2017) e Ribeiro (2017) afirmam que os usuários podem ser categorizados em oito tipos, tais quais: • Investidores - (acionistas, sócios) que procuram estar “por dentro” das informações de rendimento e lucratividade para tomarem decisões de investimento. • Stakeholders - (demais interessados no bom e perfeito funcionamento da organização) cobrança de medidas e resultados. • Analistas de mercado - que poderão identificar itens que agreguem valor ou não à organização. • Bancos - que periodicamente solicitam relatórios contábeis para analisar e determinar escores de crédito às organizações. • Fornecedores - também voltados para análise e concessões de crédito. • Clientes - que poderão sentir-se mais confiantes ao transacionar itens com entregas e prazos. • Funcionários - interessados em formar carreiras dentro das organizações. • Governo - um grande interessado em conhecer a renda e o crescimento das áreas produtivas, pelas quais também recebe Fundamentos Contábeis 17 recursos em seus caixas para realizar a gestão da grande máquina que é o país. Sobre os usuários da contabilidade, Ribeiro (2017, s. p.) esclarece o seguinte: Os usuários das informações contábeis são pessoas físicas e jurídicas que as utilizam para registrar e controlar a movimentação de seus patrimônios, bem como aqueles que, direta ou indiretamente, tenham interesse nesse controle; na apuração de resultados; na avaliação da situação patrimonial, econômica e financeira; na análise do desempenho e do desenvolvimento da entidade, como titulares (empresas individuais), sócios, acionistas (empresas societárias), gerentes, administradores, governo (fisco), fornecedores, clientes, bancos, etc. É possível perceber, por meio da classificação dos usuários da contabilidade fornecida pelos autores, que a maioria deles estão indiretamente ligados à entidade. Pessoa física e pessoa jurídica Após observarmos todos os usuários, podemos dizer de uma forma resumida que a contabilidade é mantida para as pessoas físicas e para as pessoas jurídicas, ou seja, qualquer um dos dois pode perfilar algum dos tipos de usuários citados anteriormente. No entanto, é possível que você esteja se perguntando: o que é uma pessoa física e uma pessoa jurídica? Essa diferenciação é simples. Qualquer ser humano é uma pessoa física e uma empresa é uma pessoa jurídica. Uma pessoa jurídica não tem vontade própria. Normalmente é formada por uma ou mais pessoas físicas que, em comum acordo, iniciam uma sociedade e tomam decisões no decorrer da vida. O Código Civil pontua muitas diferenças entre ambas, mas aqui observaremos que uma pessoa jurídica só passa a existir a partir da disposição de uma pessoa física em investir tempo e recursos. Fundamentos Contábeis 18 IMPORTANTE: O Governo, através da Receita Federal, utiliza-se de um documento de onze dígitos, chamado Cadastro de Pessoa Física (CPF), para identificar os contribuintes. Utiliza-se de outro código com catorze dígitos para identificar as pessoas jurídicas, o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Ambos contêm informações sobre movimentação financeira e patrimonial dos contribuintes. Atos e fatos administrativos ou contábeis Vamos retomar o raciocínio onde uma ou mais pessoas físicas iniciam uma sociedade que dá origem a uma pessoa jurídica com o intuito de lucro e continuidade. Para que isso aconteça, os diretores ou administradores da empresa ou os próprios sócios nessas posições praticam atos administrativos ou empresariais. Ou seja, a administração patrimonial faz-se pela prática dos atos. Alguns desses atos podem afetar o patrimônio empresarial e passam a ser chamados de fatos. EXEMPLO: periodicamente o sócio faz visitas ao gerente da conta bancária, com o intuito de relacionamento, não afetando o patrimônio da empresa. No entanto, se ele decide encerrar a conta no banco, temos então um fato, que ocasionará uma modificação patrimonial. Fatos permutativos e fatos modificativos Os fatos contábeis podem ocorrer de duas formas: na primeira delas, o patrimônio sofre uma alteração apenas em qualidade e na outra, sofre alteração em quantidade. A primeira vamos chamar de fatos permutativos, onde ocorrem alterações dos itens patrimoniais, sem modificação de valores, por exemplo, a compra de materiais para estoque, utilizando dinheiro do caixa. O segundo tipo de fato chamaremos de modificativo, pois ocorrerá uma alteração no patrimônio, porém de forma quantitativa, ou seja, o fato Fundamentos Contábeis 19 será gerador de um resultado de lucro ou prejuízo, podendo aumentar ou diminuir o patrimônio líquido dessa entidade. SAIBA MAIS: Quer se aprofundar ainda mais nesse tema? Leia o artigo A evolução da contabilidade ao longo da história do Brasil. O estudo da evolução dessa ciência possibilita compreender seu cenário no mundo moderno. Assim, o objetivo desse estudo é analisar as principais mudanças nas práticas contábeis ao longo da história no Brasil. Clique aqui para acessar. RESUMINDO: Neste capítulo, você aprendeu que a contabilidade é uma ciência tão antiga quanto a própria humanidade. Lucca Paccioli foi o criador do método das partidas dobradas, no qual todo crédito precisa de um lançamento a débito de igual valor. Esse tem sido o método mais popular da contabilidade. Foi em 1905, no governo do Presidente Eurico Gaspar Dutra, que a contabilidade foi reconhecida como profissão. A contabilidade é a ciência que estuda o patrimônio. São considerados usuários da contabilidade todos aqueles que têm algum tipo de interesse nas informações de determinada corporação. Observamos todos os usuários e podemos dizer de uma forma resumida que a contabilidade é mantida para as pessoas físicas e para as pessoas jurídicas. Fundamentos Contábeis https://core.ac.uk/download/pdf/229768282.pdf 20 Postulados, Princípios e Convenções da Contabilidade OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender que estamos falando da contabilidade sendo utilizada por pessoas físicas e jurídicas com interesses em informações. Também falaremos que em uma sociedade de pessoas físicas, que é a pessoa jurídica, os sócios e gestores tomam decisões que poderão alterar qualitativamente e quantitativamente o patrimônio da entidade. Postulados Já falamos que um dos objetivos da contabilidade é registrar fatos de forma que sejam visíveis e de fácil entendimento. Foi no momento de registrar esses fatos que surgiu a necessidade de criar regras e padronizar a forma de realização dos registros. Então, mediante dúvidas e resoluções, os antigos contadores adotaram regras que passaram a ser aceitas e seguidas por todos. Essas regras básicas são denominadas princípios contábeis, que sustentam a estrutura teórica para escrituração e análise contábil. Para ilustrar a importância dos princípios, utilizaremos, como muitos autores, o “edifício contábil”. Favero et al. (2009) conceitua os postulados como princípios de fato reconhecido, mas não demonstrados. Além disso, esses princípios podem ser entendidos como uma proposição não evidente nem demonstrável, que pode ser admitido como um princípio de um sistema dedutível, de uma operação lógica ou de um sistema de normas práticas.No Brasil, as normas e práticas da contabilidade categorizam os postulados de maneira muito abrangente, uma vez que se relacionam com o ambiente e as condições adequadas para se executar a contabilidade, na qual temos dois postulados: o Postulado da Entidade Fundamentos Contábeis 21 Contábil e o Postulado da Continuidade. Ou seja, de forma resumida, os postulados podem ser entendidos como elementos vitais, básicos e de estruturação da contabilidade, sendo a base da construção, ou seja, a base da contabilidade. Vejamos então o conceito dos dois postulados. • Entidade: esse postulado define que a contabilidade de uma entidade (empresa ou pessoa) não pode ser confundida com a contabilidade dos membros que a possuem. A escrituração de uma empresa tem que ser completamente separada da escrituração de seus proprietários. Isso significa que, se determinado bem é de posse da pessoa jurídica, ela deverá ser registrada como tal e não será considerada de posse do sócio, pessoa física. Na prática, esse postulado evita que se misturem as contas e os bens dos sócios com as contas e os bens da empresa. • Continuidade: a própria palavra nos remete ao entendimento de que não haverá extinção. A empresa deve ser avaliada e escriturada, na suposição de que a entidade nunca será extinta. Os ativos dessa empresa serão avaliados partindo desse pressuposto, porém, ao contrário disso, caso esteja ocorrendo um encerramento de atividades, mudarão os critérios de avaliação dos ativos. Esse postulado também baliza a apuração dos resultados. Logo, imagine que você decide abrir uma empresa. O objetivo é que ela cresça e perdure ao longo dos tempos e passe de geração em geração. Sobre a utilidade dos postulados na contabilidade (FAVERO et al., 2010, p. 35) afirma: Pode-se dizer que os postulados representam o alicerce sobre o qual se desenvolve todo o raciocínio contábil. Assim, verifica-se que os postulados representam para a contabilidade as vigas balizadoras necessárias para o alcance dos objetivos que é a geração de informações para a tomada de decisão. Portanto, na contabilidade, essa classificação de elementos envolve um campo de aplicação mais abrangente ligando-se com certos aspectos do ambiente que cerca o campo e as condições em que a contabilidade deve atuar. Nesse sentido, Iudícibus (2004) afirma que os Fundamentos Contábeis 22 postulados são uma proposição ou observação de certa realidade que pode ser considerada não sujeita à verificação ou axiomática. Os aspectos que envolvem os postulados, podem ser considerados meras exposições de verdades. No entanto, por serem essenciais ou não especificarem o campo dos princípios contábeis seguintes, muitas vezes deixam de ter utilidade. Princípios O termo “princípio” na contabilidade é entendido por Hendriksen e Van Breda (2015) como uma lei ou regra geral adotada ou considerada como diretriz de ação: uma base aceita de conduta ou prática. De acordo com Reis (1996, p. 32), “os princípios fundamentais da contabilidade representam a estrutura teórica das doutrinas da ciência contábil”. Para que a escrituração acontecesse de forma assertiva e imune a dúvidas, numa tentativa de normalizar e se chegar a uma melhor forma de controle do patrimônio, a resolução estabelecida pelo Conselho Federal de Contabilidade, CFC n° 1,282/2010, classifica os princípios como forma de exteriorização de critérios aceitos pela maioria dos contadores. Além desses, podemos citar princípios que partem desde o atributo monetário aos princípios técnicos de operacionalização contábil. Esses princípios são: • Denominador comum monetário - esse princípio trata de que a contabilidade deve ser feita em uma única moeda e que todos os itens devem ser avaliados por essa mesma moeda. No Brasil, a moeda oficial é o Real, logo, mesmo que um determinado item seja adquirido em outra moeda, dólar, por exemplo, o registro deverá ser convertido e realizado em reais. Da mesma forma que a avaliação de bens. De acordo com Reis (2017, p. 80): O Princípio do Denominador Comum Monetário representa uma qualidade agregativa da contabilidade, procurando assemelhar ativos e passivos a uma mesma unidade monetária, que é a moeda corrente do país. Dessa forma, as demonstrações contábeis são apresentadas com uniformidade e padrão, de forma a facilitar a análise dessas demonstrações pelos usuários da contabilidade. Fundamentos Contábeis 23 • Competência de exercícios - a) Princípio da realização da receita: O Princípio de Realização da Receita consiste em registrar a receita no momento da sua realização; b) Princípio do confronto das despesas com as receitas: de acordo com esse princípio, as despesas incorridas, relativas às receitas reconhecidas, devem ser objeto de registro contábil em igual momento do reconhecimento da receita. Esses princípios são aplicados para a contabilização das receitas e das despesas. Podemos dizer que ambas passam por dois momentos possíveis de contabilização dos fatos: o momento econômico (de sua ocorrência ou geração) e o momento financeiro (de sua efetivação financeira, através do pagamento ou recebimento). Considerando a necessidade de optar por um dos dois momentos, foi estabelecido que as receitas e as despesas devem ser contabilizadas quando ocorrem, ou seja, no momento econômico de sua geração e não quando recebidas ou pagas. Essa decisão tornou-se o princípio da competência do exercício, em que as receitas e as despesas devem ser contabilizadas como tais, no momento de sua ocorrência, independentemente de seu pagamento ou recebimento. Um exercício contábil é o período de um ano em que se faz a apuração do resultado. Nem sempre o exercício contábil coincide com o ano civil, podendo ser determinado pela empresa. No entanto, ele deve ter 12 meses. Vale ressaltar que a legislação comercial e fiscal exige no mínimo um balanço patrimonial e uma demonstração dos resultados de cada exercício. • Regime de caixa - existe outra forma de registro das contas contábeis. Porém, sua aplicação é restrita a entidades sem fins lucrativos. Nesse tipo, no que chamamos regime de caixa, as receitas são contabilizadas no momento do recebimento e as despesas no momento do pagamento. Também é um método utilizado para alguns relatórios financeiros. Fundamentos Contábeis 24 Figura 4 – Análise de relatório contábil Fonte: Freepik • Custo como base de valor - esse princípio diz que as aquisições de ativos deverão ser contabilizadas pelo seu valor histórico, ou seja, pelo valor de compra ou aquisição. Um exemplo disso é a compra de um veículo, que sofre desvalorização rapidamente. No entanto, o registro é feito a partir do valor de compra, mesmo que tenha sido desvalorizado. A Deliberação CVM nº 29/1986 menciona que no Brasil o Princípio do Custo como Base de Valor poderia ser intitulado “O Princípio do Custo Histórico Corrigido como Base de Valor”. Há uma restrição a esse princípio em situações em que em uma aquisição, o valor de custo é superior ao valor de venda ou mercado, então devemos avaliar esse ativo pelo mercado. Cabe colocarmos nesse princípio outra situação muito comum, que é o tratamento e registro de mercadorias em estoque. No caso de empresas comerciais, com a finalidade de revenda, existe a intenção de obtenção de lucro. Logo, o princípio do custo como base de valor diz que os bens adquiridos devem ser registrados pelo preço de compra ou o chamado preço de custo. Mesmo sabendo que será vendido por valor maior ao custo de aquisição, o registro deve ser efetuado e mantido pelo preço de custo. Fundamentos Contábeis 25 Quando ocorrer a venda, a mercadoria sairá do estoque e a baixa de estoque deverá ser realizada novamente pelo preço de custo. O valor da venda será registrado em uma conta chamada receita, pelo preço de venda, ou seja, muito provavelmentepor um valor maior. Logo, a diferença entre os valores da receita de vendas, menos o valor do custo da mercadoria vendida, significa o lucro bruto na venda de mercadorias. • Essência sobre a forma - A essência sobre a forma é destacada pela Deliberação CVM nº 29/86 no Item 1, parágrafo 2º, como conceito-chave e não como princípio contábil. Esse princípio é relacionado com os aspectos legais e fiscais que levam a determinadas interpretações sobre alguns eventos. Para a contabilidade deve prevalecer a natureza econômica do evento a ser registrado e não a forma em que está legalmente apresentado. Um bom exemplo disso é o leasing financeiro, cuja forma são as despesas de aluguel. No entanto, a essência do evento é a compra de um ativo. • Princípios conforme deliberações - os princípios de contabilidade diferem em terminologia de acordo com o órgão contábil que os instituiu. Veremos cada um a seguir. Convenções As convenções fazem restrições aos princípios contábeis. Podem ser consideradas como normas ou até mesmo como um guia prático para o trabalho do contador. Sobre as convenções, Reis (2017, p. 81) afirma que: As Convenções Contábeis são consideradas restrições aos princípios de contabilidade e também são chamadas de Qualificações Contábeis. As Convenções Contábeis complementam os Postulados e Princípios Contábeis, auxiliam o profissional da Contabilidade nas instruções finais a fim de encontrar a direção norteada pelo Princípio Contábil. Além disso, as convenções descrevem e limitam como devem ser feitos os registros. Conheça mais sobre cada um em seguida. Fundamentos Contábeis 26 • Objetividade: a Convenção da Objetividade determina que as mensurações devem estar comprovadas por documentos e critérios objetivos e se não houver documentação, que possam ser corroboradas por consenso de profissionais qualificados (REIS, 2017). O contador deve ser objetivo ao efetuar a escrituração de um fato. Deve se apoiar em elementos objetivos, evitando o máximo possível qualquer subjetividade, lembrando que a contabilidade é uma ciência exata. O lançamento registrado deve ser avalizado por um documento hábil respaldando a mensuração do objeto. • Competência: de acordo com Reis (2017), o Princípio de Competência determina que os efeitos das transações devem ser registrados no momento em que eles ocorrem independentemente da realização financeira, do recebimento ou do pagamento. O Princípio da Competência pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas. • Conservadorismo: o profissional da contabilidade deve considerar os valores de forma mais conservadora possível quando se encontrar frente a duas ou mais opções de mensuração para um mesmo fato, sem se desviar dos princípios contábeis. Nesses casos, deve considerar os menores valores para o ativo e maiores valores para o passivo (REIS, 2017). Em situações de dúvida, o contador deve optar pela forma mais conservadora de escrituração. Para o caso de dúvida, fazer o lançamento de todas as despesas sempre que possível. No caso de receita, se houver dúvida, não se deve lançar. • Materialidade: o profissional da área contábil deve avaliar a relação custo benefício da informação prestada por ele, enfatizando a influência da informação negada para o usuário à luz dessa relação custo benefício (REIS, 2017). Voltamos à questão da exatidão, agora, com um olhar para o custo-benefício da informação. O contador deve sempre buscar a exatidão numérica do lançamento, levando em consideração que o custo não seja prejudicial à empresa. Aqui, a tratativa de lançamentos com valores maiores deve ser Fundamentos Contábeis 27 mais cautelosa, enquanto a tratativa de lançamentos de valores menores exige menos rigor. • Consistência ou uniformidade: a Convenção da Consistência diz respeito à manutenção dos critérios de mensuração para que as demonstrações contábeis possam ser comparadas com clareza e consistência. As mudanças de critério devem ser reveladas em notas explicativas (REIS, 2017). Depois que o contador adotou determinado critério de avaliação de um ativo ou passivo, ele deverá adotar esse critério consistentemente e uniformemente ao longo dos anos. Como as informações e os registros contábeis perduram durante toda a existência da entidade, o critério deve se manter inalterado. Existe a possibilidade de alteração, no entanto, ela deverá ser evidenciada em nota explicativa. Mudanças não devem ser repetitivas. • Comentários: a contabilidade se utiliza de uma metodologia prática e demanda informações dos diversos usuários da informação contábil que podem se alterar com o passar do tempo. Inclusive, muitas normas foram alteradas mediante fatos que aconteceram no meio corporativo de grandes empresas trazendo a necessidade de mudanças e melhorias nos controles. • Registro pelo valor original: esse princípio determina o registro dos ativos e passivos pelo seu valor original em moeda nacional. Posteriormente pode haver atualização dos valores registrados decorrentes do Custo Corrente, Valor Realizável, Valor Presente, Valor Justo e Atualização Monetária. De acordo com Reis (2017, p. 83): Custo corrente é o valor do custo histórico, considerando- se o desgaste pelo estado atual do bem e nos casos do passivo, o valor a ser pago sem descontos no período da demonstração contábil. Valor Realizável é o valor pelo qual o bem consegue ser realizado em casos de venda ordenada e para o passivo é o valor a ser pago sem descontos no curso normal das operações da entidade. Valor Presente nos casos do ativo é o valor atual dos fluxos de caixa futuros a ser gerado por esse ativo, enquanto que no passivo é o valor atual dos pagamentos necessários para saldá-lo. Valor Justo é o valor pelo qual um ativo pode Fundamentos Contábeis 28 ser trocado, e um passivo o valor pelo qual o bem pode ser saldado em condições normais de negociação, ou seja, o valor de mercado para a transação. • Atualização monetária: é a correção do valor registrado contabilmente pelo índice de desvalorização da moeda. A atualização monetária não implica em ganho, mas sim somente trazer o valor registrado ao valor atual devido à perda de valor causada pela inflação. O princípio da Atualização Monetária constante na Resolução CFC nº 750/93 foi extinto como princípio pela Resolução nº 1.282/2010. Todavia, o processo de atualização monetária passou a ser tratado como uma forma de variação do custo histórico e está contido no princípio de Registro Pelo Valor Original (art. 7º, parágrafo 1º, II, “e” da Resolução CFC nº 1.282/2010). • Evidenciação: toda e qualquer informação que não for considerada como suficientemente explicativa deverá ser reforçada com notas explicativas. Informações necessárias à facilitação do entendimento dos relatórios devem fazer parte das notas explicativas, sejam detalhamentos de números ou qualificação às informações numéricas. • Oportunidade: o Princípio da Oportunidade refere-se à integridade dos registros e das informações que devem ser apresentadas de forma tempestiva, ou seja, devem ser registradas todas as variações sofridas pelo patrimônio da entidade no momento em que elas ocorrem. As informações provenientes desses registros devem ser relevantes, oportunas e confiáveis. Todavia, algumas vezes, é difícil mensurar o valor exato a ser registrado, nesses casos os cálculos devem ser efetuados por estimativa. • Atualização monetária: o Princípio de Atualização Monetária implica em atualizar os valores da Demonstração Contábil, a fim de compensar as perdas ocasionadas pela inflação. O princípio da Atualização Monetária, constante na Resolução CFC nº 750/1993, foi extinto como princípio pela Resolução nº 1.282/2010. Todavia, o processo de atualização monetária passou a ser tratado como Fundamentos Contábeis29 uma forma de variação do custo histórico e está contido no princípio de Registro Pelo Valor Original (art. 7º, parágrafo 1º, II, “e” da Resolução CFC nº 1.282/2010). SAIBA MAIS: Quer se aprofundar ainda mais nesse tema? Leia o artigo Estudo sobre os princípios contábeis praticados no Brasil e sua evolução histórica até os dias atuais. Esse trabalho trata da evolução histórica dos princípios contábeis no Brasil sob o ponto de vista legal e literário, mencionando as diversas denominações atuais e passadas que a doutrina e a legislação adotaram, mas tomando como diretriz a Resolução do CFC nº 750 de 1993. Clique aqui para acessar. RESUMINDO: Chegamos ao final de mais uma seção desta unidade, na qual tratamos inicialmente os aspectos conceituais e introdutórios, os conceitos que fazem parte da contabilidade e a importância deles na gestão financeira e patrimonial, de modo que inicia a sua familiarização em aspectos do tema que estão relacionados à contabilidade e aos principais escopos de observação da sua composição. Você deve ter aprendido que é de extrema importância para o profissional que atua no âmbito da contabilidade reconhecer os componentes e processos da ciência que estuda o patrimônio, bem como os elementos que contribuem para a normatização das práticas no Brasil. Também podemos relembrar que os postulados, os princípios e as convenções norteiam os contadores sobre como tratar as informações e como registrá-las. Além disso, existe um padrão de registro para que qualquer usuário da informação contábil esteja apto à leitura e ao entendimento dela. Por fim, o aprendizado do capítulo possibilita o conhecimento sobre os principais elementos que o profissional em contabilidade precisa utilizar para desempenhar as atividades de maneira ética e assertiva. Fundamentos Contábeis https://periodicos.uni7.edu.br/index.php/revistadecontabilidade/article/view/13 30 A Técnica Contábil e os Relatórios Básicos Objetivo: Vimos até aqui os conceitos introdutórios da contabilidade, as regras básicas para registro dos fatos ocorridos em uma entidade, úteis e necessárias para o conhecimento dos diversos usuários. Agora, vamos entrar nos usos da contabilidade como ferramenta operacional de forma que cumpra com seus objetivos. Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Escrituração – métodos e sistemas O objetivo da contabilidade é controlar o patrimônio fornecendo informações que prestem auxílio durante o processo de tomada de decisão, quanto aos domínios financeiros em uma entidade. Entretanto, para que isso aconteça, é preciso entender que os profissionais da área da contabilidade fazem uso de alguns instrumentos específicos com a finalidade de realizar o fornecimento das informações garantindo a confiabilidade do que está sendo direcionado. Essas técnicas realmente existem e são o que de fato é utilizado para subsidiar o processo de tomada de decisão na gestão das entidades quanto ao gerenciamento financeiro. Ao entender que a contabilidade é composta por um conjunto de teorias, conceitos e técnicas utilizadas para atingir o objetivo de controlar uma massa patrimonial (PADOVEZE, 2014), devemos lembrar dessa ciência como o principal instrumento para o controle do patrimônio. Nesse sentido, afirma-se que: Como ciência de controle do patrimônio empresarial, ela teve de fazer diversas ramificações ou especializações para poder atender melhor aos diversos aspectos de controles patrimoniais que foram surgindo e que mereciam atendimento especial face às necessidades de informações dos diversos usuários internos e externos. De qualquer forma, o método contábil é o único e é utilizado indistintamente para atender a todos os segmentos específicos da contabilidade. (PADOVEZE, 2014, s. p.) Fundamentos Contábeis 31 Alguns elementos são importantes para o processo de construção das ferramentas que torna possível a operacionalização das técnicas contábeis. Na tabela a seguir podemos observar os segmentos que facilitarão a didática dessa ciência: Tabela 1 - Segmentos da contabilidade Fonte: Padoveze (2014). Nesse momento, vamos nos atentar ao primeiro ponto, a escrituração, que é o primeiro passo antes de partir para qualquer outra área da contabilidade. A escrituração é uma técnica de lançar apontamentos em livros. Com a tecnologia, parece um pouco ultrapassado pensarmos em lançamentos em livros, no entanto, a contabilidade, mesmo utilizando a tecnologia, gera lançamentos em livros. Os registros Fundamentos Contábeis 32 são realizados ao longo de um exercício contábil e ao seu final, os livros são impressos, registrados e guardados ou apresentados aos usuários de interesse. É importante lembrar de que toda a movimentação patrimonial de uma entidade estará registrada e impressa em um livro, devidamente documentado. REFLITA: Independente do sistema utilizado para registro, o método de registro deverá ser único! O método utilizado é o método das partidas dobradas. Explicando o método, podemos dizer que tem esse nome porque o mesmo valor é lançado em duas contas (itens patrimoniais ou de resultado) no mínimo, através dos débitos e créditos. De acordo com Kettle e Schnetzler (2020, p. 23), o método das partidas dobradas (MPD) “refere-se a um método de registro adotado pela ciência contábil no decorrer de sua história. Este método é a base da escrita contábil que é sustentada por teorias que, amparadas em suas Escolas, procuraram explicar os porquês da forma de se fazer tal escrita”. REVISANDO: vale lembrar do Renascimento, quando Lucca Paccioli criou o método das partidas dobradas, onde para um débito existe um ou mais créditos de igual valor ou vice-versa. O método decorre da seguinte forma: Partida == Registro == Escrituração == Lançamento É importante salientar que a finalidade de se lançar em dois lugares é manter a equação de trabalho ou de equilíbrio patrimonial em situação de igualdade. Isso nos faz lembrar que a contabilidade, em alguns momentos, é simbolizada pela balança, representando equilíbrio, igualdade. Fundamentos Contábeis 33 Figura 5 - A balança simboliza o equilíbrio do patrimônio de uma entidade Fonte: Pixabay Introdução ao lançamento Lançamento é o registro ou a escrituração de cada transação ou evento econômico nos livros contábeis. O lançamento deve conter a data, a conta de débito, a conta de crédito, o histórico e o valor. As informações que compõem o lançamento devem ser originadas ou baseadas em um documento que o habilite chamado documento hábil. Nenhum lançamento poderá ser feito nos livros contábeis sem que haja um documento como respaldo das informações, comprovando-as tanto em nível fiscal, quanto em nível comercial e mesmo em nível de controle patrimonial. Essa documentação pode ser de origem interna ou externa. São exemplos de documentação externa: recibos de depósitos bancários, comprovantes de aplicações financeiras, cópias de cheques, notas fiscais, faturas, escrituras, duplicatas, recibos em geral etc. Certamente você já utilizou e já teve conhecimento de pelo menos três desses documentos. Os documentos internos podem ser as requisições de almoxarifados, comunicados de transferência, notificações, notas de débito ou crédito, relatórios de despesas de viagem etc. Fundamentos Contábeis 34 Livros contábeis É importante retomar o fato de que a tecnologia veio como uma ferramenta que agrega valor e promove agilidade e segurança da informação. No entanto, a didática é construída em cima de uma contabilidade tradicional. Alguns termos podem parecer antigos e inadequados ou até mesmo sem muita relação com a prática contábil atual, mas ainda assim, fazem parte da ciência e são a base conceitual para o funcionamento e aplicação do método. Sobre a escrituração contábil e os livros contábeis, Moreira (2017, p. 7) afirma: Com o surgimento, o desenvolvimentoda contabilidade e a escrituração de seus registros contábeis, surgiram muitas ferramentas fundamentais ligadas a ela, e uma delas são os livros Diários e o Razão. O preenchimento do livro Diário deve obedecer ao método das partidas dobradas, e sua escrituração deve ser individualizada e respeitar a ordem cronológica das operações da entidade, sendo dispensável a sua escrituração. Com a escrituração do livro-razão e as informações fornecidas através dele, a empresa terá um melhor controle de seu patrimônio, além dessas informações conduzirem a resultados positivos para melhor administração de todas as entidades empresarias. Outro principal livro contábil é o livro diário, que através de sua escrituração registra completamente as operações que abrangem o patrimônio, durante o decorrer de um período, e ao contrário do livro-razão, o diário deve ser legalizado e seu uso é obrigatório, e onde se escritura todas as operações contábeis da entidade. Seu registro deve obedecer às regras de escrituração cronológica de seus atos, que serão as operações da atividade que possam vir ou alterar o contexto patrimonial da empresa. Os próprios livros aos quais o autor de refere eram utilizados pelos contadores ao registrarem os fatos. Atualmente, eles são chamados de livros, contém a mesma essência, porém são relatórios gerados e apresentados, mas ainda são chamados de livros. São dois: • Livro diário: É um livro contábil de preenchimento obrigatório (exigido por lei), onde são lançadas as operações do dia a dia de uma entidade. Nele, são registrados os fatos contábeis em partidas Fundamentos Contábeis 35 dobradas, ou seja, os totais de débito e de crédito deverão ser sempre iguais. Os lançamentos devem ser realizados em ordem cronológica, com individualização, clareza e referência ao documento hábil, todas as operações ocorridas e quaisquer outros fatos que provoquem variações patrimoniais. Nesse livro deve conter: • Data da operação (transação). • Título da conta débito e da conta crédito. • Valor do débito e do crédito. • Histórico (alguns dados fundamentais sobre a operação em registro: número da nota fiscal, cheque, terceiros envolvidos etc. O histórico deve ser o mais breve possível, escrito de forma reduzida). Observe na figura a seguir a representação gráfica de um modelo de livro diário com alguns itens obrigatórios. Figura 6 - Modelo de livro diário Fonte: Elaborado pela autora (2021). • Livro-razão é um livro fundamental ao processo contábil e exigido pela legislação brasileira para empresas cuja tributação do Imposto de Renda seja com base no lucro real. Por meio desse livro é possível controlar separadamente o movimento de todas as contas. O controle individualizado das contas é Fundamentos Contábeis 36 importante para se conhecer os seus saldos, possibilitando a apuração de resultados e elaboração de demonstrações contábeis, como o balancete de verificação do livro-razão, balanço patrimonial etc. Através desse livro, temos o detalhamento por contas individuais dos lançamentos realizados no diário, sendo usado para resumir e totalizar esses lançamentos por conta ou subconta. A figura a seguir demonstra a representação gráfica de um modelo de livro-razão com alguns itens específicos desse exemplo. Figura 7 - Modelo de livro-razão Fonte: Elaborado pela autora (2021). Relatórios contábeis na tomada de decisão As informações contidas nos relatórios contábeis, ou demonstrações financeiras, são utilizadas pelos gestores da entidade com os objetivos de: prestar contas, fornecer informações e ser um instrumento de subsídio para tomada de decisões no aspecto econômico-financeiro de uma entidade. No entanto, além dos acionistas, credores e gestores, outros atores também podem fazer uso dessas informações, como o governo e seus órgãos de fiscalização. Para estar em conformidade com as exigências da organização e de seus usuários, as demonstrações financeiras costumam ter periodicidade mensal, trimestral ou anual, a depender da finalidade e das políticas da empresa. De acordo com Marion (2009, p. 46): Fundamentos Contábeis 37 Os dados coletados pela contabilidade são apresentados periodicamente aos interessados de maneira resumida e ordenada, formando, assim, os relatórios contábeis. Os relatórios são elaborados de acordo com as necessidades dos usuários. Evidentemente, um relatório sobre o resultado anual de uma farmácia destacará muito menos pormenores que o de uma siderúrgica, que, normalmente, tem um número elevado de proprietários, grande volume de negócios, diversos tipos de impostos a recolher, operações em muitas agências bancárias. Os registros realizados nos livros contábeis cooperam com as etapas do processo contábil. Esse processo obedece um movimento que podemos chamar de fluxo contábil, que de acordo com Silva, Nardi e Ribeiro (2015) é capaz de reconhecer, mensurar e reportar a realidade do desempenho econômico e financeiro da empresa de modo a fornecer informações aos usuários para auxiliá-los no processo de tomada de decisão, dando a eles bases consistentes para análise da companhia e consequente iniciativa quanto à alocação de recursos. De forma resumida, podemos descrever o fluxo contábil da seguinte maneira: Figura 8 - Resumo do fluxo contábil Captar Registrar Acumular Resumir Apresentar Partida dobrada Diário Razão Balancete Demonstrações financeiras Fonte: Elaborado pela autora (2021). Fundamentos Contábeis 38 As principais informações contidas nesses registros revelam o patrimônio da empresa, as obrigações com terceiros, as operações de entradas e as saídas de capital, entre outras atividades do âmbito financeiro que são realizadas pela entidade. Os autores Silva e Souza (2011, p. 69) afirmam que “os registros contábeis realizados periodicamente pelas empresas são a fonte dos dados para o processo de elaboração das Demonstrações Financeiras”. Os relatórios contábeis podem compreender diversos tipos, porém o art. 176 da Lei n° 6.404/1976 estabelece que a empresa, ao final de cada exercício social, tem o dever de elaborar algumas demonstrações financeiras, com o intuito de informar com transparência a situação do patrimônio da entidade e as mutações ocorridas no período. Sendo assim, se caracterizam como relatórios obrigatórios os seguintes: a. Balanço Patrimonial (BP). b. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). c. Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA). d. Demonstração das Origens e Aplicações de Recurso (DOAR) — no caso de Sociedades Anônimas. O Conselho Federal de Contabilidade institui normas para a elaboração de cada um desses relatórios, no entanto, a configuração pode mudar de empresa para empresa, uma vez que as informações a serem fornecidas variam de acordo com a constituição dessa sociedade, assim como seu setor de atuação e a dimensão do negócio. Fundamentos Contábeis 39 SAIBA MAIS: Quer se aprofundar ainda mais nesses assuntos correlatos aos relatórios contábeis e sua participação nos processos de decisão? Então, leia o artigo Assimetria informacional no mercado de capitais do Brasil: os relatórios contábeis são capazes de reduzir o risco de investimento?. Baseado na Teoria Positiva Contábil e na Teoria Moderna do Portfólio, o artigo foi desenvolvido com o intuito de verificar se as informações contábeis são eficientes a ponto de influenciar o risco de investimentos no mercado acionário brasileiro. Clique aqui para acessar. RESUMINDO: Agora, para garantir que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir mais uma vez todo o assunto que trabalhamos. Vimos que a contabilidade é o conjunto de teorias, conceitos e técnicas utilizadas para atingir o objetivo de controlar uma massa patrimonial e que a escrituração é uma técnica de lançar apontamentos em livros. Além disso, aprendemos que lançamentoé o registro ou a escrituração de cada transação ou evento econômico nos livros contábeis. Por fim, vimos que os relatórios contábeis são uma peça fundamental para o processo de gerenciamento e tomada de decisão nas empresas. A tecnologia veio como uma ferramenta que agrega valor e promove agilidade e segurança da informação, no entanto, a didática é construída em cima de uma contabilidade tradicional. Fundamentos Contábeis https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rcmccuerj/article/view/32364 40 O Comitê de Pronunciamentos Contábeis OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender que no Brasil e no mundo a contabilidade é utilizada como método e técnicas de escrituração e registro dos fatos econômicos das empresas. Para que seja utilizado um padrão único e assertivo existem órgãos reguladores e fiscalizadores. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então, vamos lá. Avante! Conhecendo órgãos normativos e fiscalizadores Neste capítulo, entenderemos melhor alguns órgãos que interferem nas normas e técnicas contábeis. Todas as atividades do campo contábil no território brasileiro são regulamentadas no âmbito federal por um conselho da profissão. Dessa forma, é importante que, inicialmente, você conheça, de forma rápida, sobre o que é o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e qual o seu papel no mundo prático e teórico da contabilidade. Conforme pudemos conhecer ao longo da disciplina, a contabilidade é repleta de técnicas e métodos com algumas normas para que sejam realizados os seus procedimentos, essas normas são estabelecidas, regulamentadas e fiscalizadas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC). O CFC é uma autarquia criada para regular a conduta dos profissionais de contabilidade no Brasil, estabelecendo algumas regras sobre as práticas envolvidas. Veja o que diz a sua apresentação: O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) é uma Autarquia Especial Corporativa dotada de personalidade jurídica de direito público. Criado e regido por legislação específica, o Decreto-Lei nº 9.295, de 27 de maio de 1946, o CFC possui estrutura, organização e funcionamento regulamentados pela Resolução CFC nº 1.370, de 8 de dezembro de 2011, que aprova o Regulamento Geral dos Conselhos de Fundamentos Contábeis 41 Contabilidade. O CFC é integrado por um representante de cada estado e mais o Distrito Federal, no total de 27 conselheiros efetivos e igual número de suplentes – Lei nº 11.160/05 -, e tem, dentre outras finalidades, nos termos da legislação em vigor, principalmente a de orientar, normatizar e fiscalizar o exercício da profissão contábil, por intermédio dos Conselhos Regionais de Contabilidade, cada um em sua base jurisdicional, nos Estados e no Distrito Federal; decidir, em última instância, os recursos de penalidade imposta pelos Conselhos Regionais, além de regular acerca dos princípios contábeis, do cadastro de qualificação técnica e dos programas de educação continuada, bem como editar Normas Brasileiras de Contabilidade de natureza técnica e profissional. (CFC, on-line) Dentre suas diversas atribuições legais, também é responsável por criar novas normas e regras de funcionamento ou modificações em normas existentes que garantam a confiabilidade e a lisura do exercício da profissão dentro dos domínios nacionais, no entanto, esse olhar também tem o intuito da convergência da contabilidade brasileira com os padrões internacionais. Essas alterações se tornam necessárias por motivos de modificações de leis e lançadas pelo governo ou até mesmo devido a fraudes ocorridas no meio corporativo. Para esclarecer melhor a necessidade dessa autarquia para a profissão e para a sociedade, podemos citar alguns exemplos de fraudes de grandes empresas que manipularam seus documentos contábeis fazendo com que milhões de acionistas, funcionários e até a sociedade saíssem lesados pela má gestão e por crimes cometidos. Graças à fiscalização os casos foram descobertos. São alguns exemplos: A Enron, empresa de energia americana, localizada em Houston, Texas, que empregava 21.000 funcionários. Decretou falência em 2001 após denúncia de fraude contábil e fiscal. O que houve: inflou os ganhos e diminuiu os prejuízos. Outro caso ocorreu com a Xerox, companhia norte-americana auditada envolvida em escândalo de fraude contábil e fiscal no ano de 2002. O que houve: elevou artificialmente seus resultados e apresentou lucro maior do que o auferido num período de quase cinco anos. Além desses dois escândalos, aconteceram muitos outros que levaram os órgãos reguladores dos países a voltarem sua atenção Fundamentos Contábeis 42 a uma reformulação de normas e procedimentos. Criando normas e leis que regem a política monetária do país, existem órgãos e comitês governamentais, tais como Banco Central do Brasil (Bacen), Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRFB), Superintendência de Seguros Privados (Susep), Federação Brasileira de Bancos (Febraban), além de outros relacionados às áreas produtivas do país, bem como o rendimento e recolhimento de tributos. Esses são órgãos reguladores. Comitê de Pronunciamentos Contábeis Para que a contabilidade Brasileira atenda às leis impostas, devem ocorrer alterações e adaptações, assim, foi criado através da Resolução CFC nº 1.055/2005, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) por meio de uma união de esforços e objetivos comuns das seguintes entidades: • Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca). • Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec Nacional). • B3 Brasil Bolsa Balcão. • Conselho Federal de Contabilidade (CFC). • Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon). • Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). • Entidades representativas de investidores do mercado de capitais. O CPC tem como objetivo o estudo, o preparo e a emissão de documentos técnicos sobre procedimentos de contabilidade, além da divulgação de informações dessa natureza para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, tendo em vista a centralização e uniformização de seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da contabilidade brasileira aos padrões internacionais. Fundamentos Contábeis http://www.portaldecontabilidade.com.br/legislacao/cfc1055.htm http://www.portaldecontabilidade.com.br/legislacao/cfc1055.htm 43 REVISANDO: lembra-se quando falamos dos Princípios e Conven- ções? São procedimentos básicos complementados por novas técnicas ou por aperfeiçoamento de técnicas estudadas e preparadas pelo CPC. A criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis se tornou necessária por colaborar ativamente com a convergência internacional das normas contábeis (redução de custo de elaboração de relatórios contábeis, redução de riscos e custo nas análises e decisões e redução de custo de capital), com a intenção de centralização na emissão de normas dessa natureza (no Brasil, diversas entidades o fazem) e representação e processos democráticos na produção dessas informações (produtores da informação contábil, auditor, usuário, intermediário, academia e governo). Conheça algumas de suas características básicas na figura a seguir. Figura 9 - Características do CPC CPC Estrutura fornecida pelo CFC Autônomo das entidades representadas Pode ser formado por inúmeras entidades Os membros não auferem remuneração Fonte: Elaborado pela autora (2021). Um fato interessante e bastante usual para o nosso aprendizado é trazido por Trazzi e Martins (2018) quando pontuam que em 2009 o CPC emitiu o Pronunciamento para as Pequenas e Médias Empresas (CPC PME), cujo foco incide na melhoria da qualidade e confiabilidade dos relatórioscontábeis dessas instituições comparativamente àqueles preparados por empresas de grande porte. Fundamentos Contábeis 44 O CPC atua dessa forma, ou seja, tentando otimizar as atividades do ambiente contábil e empresarial, de acordo com o contexto de evolução do mercado e as necessidades dos parâmetros contábeis. Para compreender melhor sobre esse órgão, veja como se apresenta o CPC em seu regulamento nos artigos 1 e 2. Art. 1º O Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, idealizado a partir da união de esforços e comunhão de objetivos das entidades que o constituem, por expressa solicitação desses seus membros componentes iniciais, formalmente criado pela Resolução nº. 1.055, de 07 de outubro de 2.005 do Conselho Federal de Contabilidade – CFC, para que este, além de dele participar, lhe desse a infraestrutura de apoio que viabilizasse o alcance de sua missão. Art. 2º O CPC será regido pela Resolução que o criou e, complementarmente, por este Regimento Interno, aprovado unanimemente, em sua versão original, pela Assembleia dos Presidentes das entidades que constam dessa Resolução. (CFC, 2005) Após a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) no Brasil, em 2015, o órgão passou a ser responsável, desde então, pela emissão de pronunciamentos técnicos, interpretações e orientações contábeis em conformidade com o conjunto de normas internacionais. Para entender melhor sobre a emissão dos documentos por esse órgão, veja a seguir o que diz os artigos 13, 14, 18 e 19 da regulamentação do CPC: Art. 13 De acordo com a Resolução CFC nº. 1.055/05, é atribuição do CPC estudar, pesquisar, discutir, elaborar e deliberar sobre o conteúdo e a redação de Pronunciamentos Técnicos, podendo, inclusive, emitir Interpretações, Orientações e Comunicados. Art. 14 Os Pronunciamentos Técnicos estabelecem conceitos doutrinários, estrutura técnica e procedimentos a serem aplicados. Art. 18 Com o objetivo de que todos os documentos emitidos pelo CPC estejam convergentes às normas internacionais de contabilidade emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB), o CPC dará conhecimento público da inclusão de aprimoramentos e Fundamentos Contábeis http://www.facpc.org.br/Arquivos/Imagens/Res_1055.pdf http://www.facpc.org.br/Arquivos/Imagens/Res_1055.pdf 45 de correções em documentos já editados, por meio do documento intitulado “Revisão CPC No “X””. Art. 19 Os Comunicados têm como objetivo chamar a aten- ção para algum esclarecimento adicional sobre a adoção dos Pronunciamentos Técnicos e/ou Interpretações, além de outros comentários sobre a adoção das normas inter- nacionais no Brasil, junto à mídia e demais interessados no tema. Parágrafo único. Os Comunicados do CPC serão seguidos de numeração sequencial, por exemplo, Comunicado CPC Nº “X”. (CFC, 2005) Após a criação do CPC em 2005, numerosas alterações foram introduzidas no Brasil a partir das Leis nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, e 11.941, de 27 de maio de 2009, no intuito de uniformizar as normas brasileiras aos padrões das normas internacionais de contabilidade, as International Financial Reporting Standards (IFRS). No entanto, esse trabalho não é competência exclusiva do CPC, a execução dessas atividades depende de um trabalho integrado entre diversos órgãos e instituições. A seguir, entenda o fluxograma da hierarquia CPC e demais instituições: Figura 10 - Hierarquia de funcionamento, aprovação e pronunciamento do CPC IASB emite IFRS CPC emite pronunciamentos, orientações e interpretações com base nas IFRS Bacen, CVM, SRF, Susep Aprovam em seus âmbitos de atuação pronunciamentos, orientações e interpretações do CPC. Fonte: Marion (2018). Fundamentos Contábeis 46 Marion (2018) aponta a hierarquia de funcionamento, aprovação e pronunciamento do CPC envolvendo alguns órgãos diferentes do que citamos anteriormente. Sá e Malaquias (2012) reafirmam que esse comitê é integrado pela Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca), pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), pela Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC), pela Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e pelo Instituto dos Auditores Independentes (Ibracon). Para maior clareza sobre os órgãos envolvidos com o CPC, analise as siglas referentes a eles na tabela a seguir. Tabela 2 - Siglas Fonte: Elaborado pela autora (2021). É importante salientar que muitas empresas são sociedades de capital aberto, sociedades anônimas ou, em outras palavras, as empresas que abriram seu capital para venda de ações, buscando investidores que passam a ser sócios de pequenas partes do capital social. REVISANDO: o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) deter- mina métodos para elaboração de documentos contábeis. Para viabilizar a interpretação dos investidores e a tomada de decisão, o CPC padronizou os relatórios contábeis de forma que as entidades possam expor de forma detalhada e resumida os dados Fundamentos Contábeis 47 colhidos pela contabilidade, com o objetivo de relatar os principais fatos financeiros registrados em um determinado período. Podemos observar a seguir a alteração da CPC 00 (R2) - Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, aprovada em 01/11/2010, divulgada em 10/12/2019: SITUAÇÃO E FINALIDADE DA ESTRUTURA CONCEITUAL SP 1.1 A Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro (Estrutura Conceitual) descreve o objetivo dos conceitos para, relatório financeiro para fins gerais. A finalidade dessa Estrutura Conceitual é: (a) auxiliar o desenvolvimento das Normas Internacionais de contabilidade (IFRS) para que tenham base em conceitos consistentes. (b) auxiliar os responsáveis pela elaboração (preparadores) dos relatórios financeiros a desenvolver políticas contábeis consistentes quando nenhum pronunciamento se aplica à determinada transação ou outro evento, ou quando o pronunciamento permite uma escolha de política contábil; e (c) auxiliar todas as partes a entender e interpretar os Pronunciamentos. (CPC, 2019) Assim como demonstra Ribeiro (2018), entender as atribuições que envolvem o tema CPC é de extrema importância para a profissão contábil, pois busca harmonizar as normas nacionais com as internacionais, influenciando para que o Brasil caminhe para um processo de convergência das normas de contabilidade instituídas nacionalmente para as normas internacionais de contabilidade. Pronunciamento Conceitual Básico (R2): Objetivo da elaboração e divulgação do relatório contábil- financeiro Um relatório contábil-financeiro tem como objetivo fornecer informações contábeis qualitativas e quantitativas de determinada entidade que sejam úteis a investidores e credores para que eles possam tomar decisões a respeito dessa entidade. Veja o que diz o pronunciamento técnico CPC 00 (R2) sobre sua apresentação e seus objetivos: Fundamentos Contábeis 48 1.1 O objetivo do relatório financeiro para fins gerais forma a base dessa Estrutura Conceitual. Outros aspectos dessa Estrutura Conceitual – as características qualitativas de informações financeiras úteis e a restrição de custo sobre tais informações, o conceito de entidade que reporta, elementos das demonstrações contábeis, reconhecimento e de reconhecimento, mensuração, apresentação e divulgação – decorrem logicamente do objetivo. 1.2 Objetivo, utilidade e limitações do relatório financeiro para fins gerais é fornecer informações financeiras sobre a entidade que reporta que sejam úteis para investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, na tomada de decisões referente à oferta de recursos à entidade. (CPC, 2019) O objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informaçõessobre a situação financeira e patrimonial de uma entidade, destacando o desempenho organizacional e as mudanças ocorridas no âmbito financeiro da empresa, de forma que suas informações sejam úteis aos usuários internos e usuários externos. Conheça os usuários do pronunciamento técnico CPC 00 (R2): 1.3 As decisões descritas no item 1.2 dependem dos retornos que os existentes e potenciais investidores, credores por empréstimos e outros credores esperam, por exemplo, dividendos, pagamentos de principal e juros ou aumentos no preço de mercado [...]. 1.4 Para fazer as avaliações descritas no item 1.3, os investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, precisam de informações sobre: (a) os recursos econômicos da entidade, reivindicações contra a entidade e alterações nesses recursos e reivindicações (ver itens de 1.12 a 1.21); e (b) a eficiência e eficácia da administração e do órgão de administração da entidade no cumprimento de suas responsabilidades sobre o uso dos recursos econômicos da entidade. 1.5 Muitos investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, não podem exigir que as entidades que reportam forneçam informações diretamente a eles, devendo se basear em relatórios financeiros para fins gerais para muitas das informações financeiras de que necessitam. Consequentemente, eles Fundamentos Contábeis 49 são os principais usuários aos quais se destinam relatórios financeiros para fins gerais. 1.6 Contudo, relatórios financeiros para fins gerais não fornecem nem podem fornecer todas as informações de que necessitam investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais. Esses usuários precisam considerar informações pertinentes de outras fontes, como, por exemplo, condições e expectativas econômicas gerais, eventos políticos e ambiente político e perspectivas do setor e da empresa. (CPC, 2019) A principal utilidade dos relatórios é prestar informações úteis para auxiliar o processo de decisão. Veja o que o regulamento diz sobre o processo de tomada de decisão por parte desses usuários: 1.7 Relatórios financeiros para fins gerais não se destinam a apresentar o valor da entidade que reporta, mas fornecem informações para auxiliar investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e potenciais, a estimar o valor da entidade que reporta [...]. (CPC, 2019) Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009) relatam que o objetivo das demonstrações contábeis é possibilitar informações relevantes para auxiliar na tomada de decisão dos seus responsáveis, evidenciando a situação econômico-financeira da entidade e seus resultados. Nesse sentido, o CPC demonstra seu uso específico no processo decisório: 1.8 Usuários primários individuais têm necessidades e desejos de informação diferentes e possivelmente conflitantes. Ao desenvolver os Pronunciamentos, busca- se fornecer um conjunto de informações que atenda às necessidades do maior número de principais usuários. Contudo, concentrar-se em necessidades de informação ordinárias não impede que a entidade que reporta inclua informações adicionais que sejam mais úteis para um subconjunto específico de principais usuários. 1.9 A administração da entidade que reporta também está interessada em informações financeiras sobre a entidade. Contudo, a administração não precisa se basear em relatórios financeiros para fins gerais, pois ela pode obter internamente as informações financeiras de que precisa. 1.10 Outras partes, como reguladores e o público em geral, que não investidores, credores por empréstimos e outros Fundamentos Contábeis 50 credores, podem também considerar relatórios financeiros para fins gerais úteis. Contudo, esses relatórios não são direcionados essencialmente a esses outros grupos. 1.11 Em grande medida, relatórios financeiros baseiam- se em estimativas, julgamentos e modelos e, não, em representações exatas. (CPC, 2019) ACESSE: Quer se aprofundar nesse tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: CPC 00 (R2) - Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, disponível em: http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/ Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=80 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a contabilidade é uma ciência que surgiu há muito tempo. Através dessa ciência, são registrados fatos econômicos de entidades que podem ser pessoas físicas ou jurídicas, de forma organizada, obedecendo princípios e convenções norteadoras da forma de registro, com o objetivo de tornar as informações visíveis e de fácil interpretação, pela padronização dos métodos de registro. Devido à demanda dessas informações pelos usuários da contabilidade e por essas informações serem universais, elas devem ser revistas periodicamente e reformuladas de forma que atendam às necessidades das entidades conforme leis e medidas aplicadas pelo Estado, lembrando da consonância com a normas internacionais. Isso se dá principalmente em função de investidores em empresas de capital aberto, que necessitam de informações para tomadas de decisão de investimento e de crédito. Fundamentos Contábeis 51 REFERÊNCIAS ALMEIDA, J. Fundamentos de Contabilidade para os Negócios: introdução à contabilidade. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 2016. BIFI, C. R. et al. Introdução à contabilidade. São Paulo: Saraiva Educação S/A, 2017. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico CPC 00 (R2). 2019. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/ Documentos/573_CPC00(R2).pdf. Acesso em: 29 maio 2021. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, Regimento Interno do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC. 2005. Disponível em: http:// www.cpc.org.br/CPC/CPC/Regimento-Interno. Acesso em: 29 maio 2021. FAVERO, H. et al. Contabilidade - Teoria e Prática. Editora Atlas, 2010. GONÇALVES, M. Contabilidade por partidas dobradas: história, importância e pedagogia (com especial referência à sua institucionalização em Portugal, 1755–1777). De Computis: Revista Española de Historia de la Contabilidad, v. 16, n. 2, p. 69-142, 2019. HENDRIKSEN, E. S.; BREDA, M. F. Teoria da contabilidade. 17 reimp., São Paulo: Atlas, 2015. IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2004. KETTLE, W. M.; SCHNETZLER, R. P. Formação continuada de docentes em ciências contábeis: reflexões sobre o ensino e a aprendizagem do método das partidas dobradas. Custos e Agronegócio online. v. 15, n. 4, Out/Dez – 2019. MARION, J. C. Contabilidade empresarial. Atlas, 2005. MARION, J. C. 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REIS, A. J.; SILVA, S. L. A história da contabilidade no Brasil. Seminário
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