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M UN DO E M M OV IM EN TO : GL OB AL IZ AÇ ÃO , C ON FL IT OS E P AN DE M IA M UNDO EM M OVIM ENTO: GLOBALIZAÇÃO, CONFLITOS E PANDEM IA > EN SIN O M ÉDIO Área do conhecim ento: Ciências H um anas e Sociais Aplicadas Ciências H um anas Angela Rama Gislane Azevedo Isabela Gorgatti Leandro Calbente Reinaldo Seriacopi Ár ea d o co nh ec im en to : Ci ên ci as H um an as e S oc ia is A pl ic ad as > EN SI N O M ÉD IO H um an as Ci ên ci as 9 7 8 6 5 5 7 4 2 1 2 4 6 ISBN 978-65-5742-124-6 MANUAL DO PROFESSOR M UN DO E M M OV IM EN TO : GL OB AL IZ AÇ ÃO , C ON FL IT OS E P AN DE M IA Ár ea d o co nh ec im en to : Ci ên ci as H um an as e S oc ia is A pl ic ad as EN SI N O M ÉD IO H um an as H um an as Ci ên ci as Angela RamaAngela RamaAngela RamaAngela RamaAngela RamaAngela RamaAngela RamaAngela RamaAngela RamaAngela Rama Gislane AzevedoGislane AzevedoGislane Azevedo Isabela GorgattiIsabela GorgattiIsabela Gorgatti Leandro CalbenteLeandro CalbenteLeandro Calbente Reinaldo Seriacopi CÓ DI GO D A CO LE ÇÃ O 02 15 P2 12 04 CÓ DI GO D O VO LU M E 02 15 P2 12 04 13 8 PN LD 2 02 1 • Ob je to 2 Ve rs ão su bm et id a à av al ia çã o M at er ia l d e di vu lg aç ão DIV-PNLD_21_3075-PRISMA-HUM-GIRA-MP-V6-Capa.indd All PagesDIV-PNLD_21_3075-PRISMA-HUM-GIRA-MP-V6-Capa.indd All Pages 16/04/21 17:2216/04/21 17:22 PRISMA 1a edição São Paulo – 2020 Ár ea d o co nh ec im en to : Ci ên ci as H um an as e S oc ia is A pl ic ad as > EN SI N O M ÉD IO > EN SI N O M ÉD IO H um an as Ci ên ci as Maria Angela Gomez Rama • Mestra em Ciências (Geografia Humana) pela Universidade de São Paulo (USP). • Bacharela e licenciada em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP). • Especialista em Ensino de Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). • Licenciada em Pedagogia pela Universidade de Franca (Unifran-SP). • Formadora de professores. Atuou como professora no Ensino Fundamental e Médio das redes pública e privada e no Ensino Superior. Gislane Campos Azevedo Seriacopi • Mestra em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). • Professora universitária, pesquisadora e ex-professora de História do Ensino Fundamental e Médio nas redes pública e privada. Isabela Gorgatti Cruz • Bacharela em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP). • Especialista em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). • Editora de livros didáticos. Leandro Calbente Câmara • Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP). • Bacharel em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). • Mestre em Ciências (História Econômica) pela Universidade de São Paulo (USP). • Editor de livros didáticos. Reinaldo Seriacopi • Bacharel em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). • Bacharel em Jornalismo pelo Instituto Metodista de Ensino Superior (IMS-SP). • Editor especializado na área de História. MANUAL DO PROFESSOR M UN DO E M M OV IM EN TO : GL OB AL IZ AÇ ÃO , C ON FL IT OS E P AN DE M IA D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 1D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 1 23/09/2020 23:0823/09/2020 23:08 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Prisma : ciências humanas : mundo em movimento : globalização, conflitos e pandemia : ensino médio / Maria Angela Gomez Rama ... (et al.). – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2020. Área do conhecimento : Ciências humanas e sociais aplicadas Vários autores : Gislane Campos Azevedo Seriacopi, Isabela Gorgatti Cruz, Leandro Calbente Câmara, Reinaldo Seriacopi Bibliografia ISBN 978-65-5742-123-9 (aluno) ISBN 978-65-5742-124-6 (professor) 1. Ciências (Ensino médio) 2. Tecnologia I. Seriacopi, Gislane Campos Azevedo II. Cruz, Isabela Gorgatti III. Câmara, Leandro Calbente IV. Seriacopi, Reinaldo 20-44113 CDD-372.7 Índices para catálogo sistemático: 1. Ciências : Ensino médio 372.7 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 Copyright © Maria Angela Gomez Rama, Gislane Campos Azevedo Seriacopi, Isabela Gorgatti Cruz, Leandro Calbente Câmara e Reinaldo Seriacopi, 2020 Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira Direção editorial adjunta Luiz Tonolli Gerência editorial Flávia Renata Pereira de Almeida Fugita Edição João Carlos Ribeiro Junior (coord.) Bárbara Berges, Carolina Bussolaro, Maiza Garcia Barrientos Agunzi, Siomara Sodré Spinola Preparação e revisão de textos Maria Clara Paes (sup.) Danielle Costa, Diogo Souza Santos, Eliana Vila Nova de Souza, Felipe Bio, Fernanda Rodrigues Baptista, Graziele Cristina Ribeiro, Jussara Rodrigues Gomes, Kátia Cardoso da Silva, Lívia Navarro de Mendonça, Rita Lopes, Thalita Martins da Silva Milczvski, Veridiana Maenaka Gerência de produção e arte Ricardo Borges Design Daniela Máximo (coord.), Sergio Cândido Imagem de capa Anton Balazh/Shutterstock.com Arte e Produção Vinicius Fernandes (sup.) Ana Suely Silveira Dobon, Karina Monteiro Alvarenga, Jacqueline Nataly Ortolan, Marcelo Saccomann (assist.) Diagramação C2 Artes Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga Licenciamento de textos Érica Brambila, Bárbara Clara (assist.) Iconografia Priscilla Liberato Narciso, Ana Isabela Pithan Maraschin (trat. imagens) Ilustrações Andreia Vieira, Davi Augusto, Eber Evangelista, Leandro Ramos, Ricardo Sasaki, Sonia Vaz Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada. Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD CNPJ 61.186.490/0016-33 Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375 Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à EDITORA FTD. Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 www.ftd.com.br central.relacionamento@ftd.com.br D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21-AVU.indd 2D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21-AVU.indd 2 24/09/2020 01:3124/09/2020 01:31 APRESENTAÇÃO Diariamente, somos bombardeados por notícias e informações na internet, na televisão, nos jornais, o que torna muito difícil entender o que acontece no mundo e identifi car aquilo que é signifi cativo para nós e que pode infl uenciar nosso cotidiano e impactar nossa comunidade. Se muitas vezes você tem a sen- sação de que não consegue analisar satisfatoriamente esse imenso volume de informações, saiba que não está sozinho. As Ciências Humanas e Sociais Aplicadas são uma ferramenta importante para nos ajudar a refl etir sobre o mundo em que vivemos. Os saberes desenvolvidos pela História, pela Geografi a, pela Sociologia e pela Filosofi a permitem mobilizar competências e habilidades fundamentais para o exercício do pensamento crítico, essencial para transformarmos as informações recebidas diariamente em conhe- cimentos capazes de nos ajudar a modifi car a realidade que nos cerca. Para auxiliá-lo nessa tarefa, selecionamos um conjunto de temas importan- tes para a compreensão dos tempos atuais. Por meio de textos, mapas, gráfi cos, tabelas, fotografi as e muitos outros documentos, você terá condições de interpre- tar e analisar criticamente não só a sua realidade, mas o mundo de uma maneira mais ampla. Com isso, esperamos ajudá-lo no exercício da cidadania e no desen- volvimento de práticas colaborativas que contribuam para a construção de uma sociedade mais justa, em busca do bem-estar coletivo. Esperamos oferecer o conhecimento necessário para você desenvolver uma visão crítica da realidade e se sentir seguro para adotar uma postura protagonista em seu dia a dia. Osautores D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 3D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 3 23/09/2020 23:0823/09/2020 23:08 FI LI PE R O CH A 10 FI LI PE R O CH AUNIDADE 10 1 ■ Ilustração de Filipe Rocha, 2020. O mundo globalizado “Antes o mundo era pequeno/porque a Terra era grande/Hoje o mundo é muito grande/porque a Terra é pequena”. Esses versos da canção “Parabolicamará”, de Gilberto Gil (1942-), abordam as transforma- ções pelas quais a humanidade passou ao longo dos últimos séculos. Se no tempo das Grandes Navegações do século XV a Terra parecia grande porque o contato entre povos de diferentes continentes era difícil e restrito a poucas pessoas, nos dias de hoje a Terra parece pequena. Os avanços da tecnologia, dos transportes e das comunica- ções encurtaram as distâncias, aproximaram as pessoas, as culturas e as economias. Vivemos em um mundo globalizado. Nesta unidade veremos o impacto dessas mudanças nas sociedades contemporâneas. 1. Como você interpreta os versos da canção: “Antes o mundo era pequeno” e “Hoje o mundo é muito grande”? Você concorda com essa ideia? Por quê? 2. Como você observa os impactos da globa- lização em seu dia a dia? NÃO ESCREVA NO LIVRO D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 10D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 10 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 1111 PLANEJAMENTO FINANCEIRO Quando falamos em planejamento financeiro, parece que estamos falando de algo muito dis- tante, que só tem a ver com empresas ou com pessoas que têm muito dinheiro. O planejamento financeiro, porém, deve fazer parte da vida de todas as pessoas, de todas as classes sociais, seja para planejar as compras do supermercado ou a aquisição de um novo aparelho celular; seja para planejar gastos de estudos ou de uma viagem. Assim, o planejamento financeiro – que inclui o consumo consciente – deve ter como principal objetivo o alcance de nossas metas e sonhos. A proposta deste projeto é realizar estudos de caso para saber como as pessoas organizam o orçamento individual e familiar. No final, sugerimos a elaboração de vídeos informativos de como organizar as finanças, dirigidos à comunidade. D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 11D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 11 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 CAPÍTULO 6 Economia global: disputas e tensões BR EN D AN S M IA LO W SK I/A FP 94 Em agosto de 2020, o governo dos Estados Unidos declarou que desejava proibir no país aplicativos de redes sociais de uma empresa chinesa. O governo Trump acusou a empresa responsável pelo aplica- tivo de espionagem e afirmou que ela estaria colaborando com a China para obter informações privadas de cidadãos estadunidenses. Em resposta, o governo chinês fez duras declarações contra os Estados Unidos. De acordo com Wang Wengbin (1971-), porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, o governo estadunidense estaria colo- cando “interesses egoístas acima dos princípios de mercado e da norma internacional”. Além disso, Wengbin acusou os Estados Unidos de fazerem “uma manipulação e uma repressão política arbitrárias que só podem levar ao seu próprio declínio moral e prejudicar sua imagem”. A questão em torno dos aplicativos de redes sociais é apenas um exemplo da crescente tensão entre os Estados Unidos e a China. Um dos motivadores dessa tensão é o acelerado crescimento econômico da China nas últimas décadas, que transformou o país oriental em um dos polos mais importantes da economia global. Esse desenvolvimento é visto com desconfiança pelos Estados Unidos, já que há o temor de que a China se torne uma potência geopolítica capaz de superar a influência estadunidense em muitas regiões do planeta. Essa disputa econômica é um exemplo recente de enfrentamento pelo controle da economia global. Essas disputas remontam aos pro- cessos históricos de formação de redes econômicas que interligam o mundo. Neste capítulo, vamos estudar esse processo e as tensões criadas por ele ao longo do tempo. ■ O presidente estadunidense Donald Trump, à esquerda, e o presidente chinês Xi Jinping (1953-), à direita, na reunião dos países do G20. Osaka (Japão), 2019. Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 94D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 94 23/09/2020 13:5523/09/2020 13:55 Observe abaixo a reprodução de Guernica, produzida em 1937, pelo pintor espanhol Pablo Picasso. Nessa obra, que representa um dos principais símbolos dos reflexos da guerra e uma manifestação a favor da paz, o artista retratou o ataque à região do País Basco. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> ■ PICASSO, P. Guernica. 1937. Óleo sobre tela, 351 cm x 782 cm. Em seguida, leia um trecho da Declaração sobre medidas para eliminar o terrorismo internacional, da Organização das Nações Unidas (ONU), Resolução 49/60 da Assembleia Geral, parágrafos 2 e 3. [...] 2. Atos, métodos e práticas de terrorismo constituem uma grave violação dos propósitos e prin- cípios das Nações Unidas, o que pode representar uma ameaça à paz e segurança internacionais, comprometem as relações amigáveis entre os Estados, dificultam a cooperação internacional e visam à destruição de direitos humanos, liberdades fundamentais e bases democráticas da sociedade; 3. Atos criminosos pretendidos ou calculados para provocar um estado de terror no público em geral, em um grupo de pessoas ou em indivíduos para fins políticos são injustificáveis em qualquer circunstância, independentemente das considerações de ordem política, filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa ou de qualquer outra natureza que possam ser invocadas para justificá-los. [...] ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Assembleia Geral. Declaração sobre medidas para eliminar o terrorismo internacional. Genebra, 1995. p. 4. Disponível em: https://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/49/60. Acesso em: 30 ago. 2020. [Tradução nossa.] 1. O bombardeio de Guernica, retratado por Picasso, remete a um ataque aéreo provocado por aviões alemães durante a Guerra Civil Espanhola. Como o terror da guerra é representado na obra? 2. Com base no que foi estudado neste capítulo, aponte como é possível relacionar a imagem de Picasso à declaração da ONU sobre o terrorismo. 3. Guernica é um exemplo de obra de arte que denuncia práticas violentas praticadas contra populações civis. Assim como ela, existem muitos outros exemplos de obras de arte que fazem esse tipo de denúncia. Com a ajuda de seus colegas, pesquise outros exemplos e montem uma galeria digital sobre o tema. © S U CC ES SI O N P AB LO P IC AS SO / AU TV IS , B RA SI L, 2 02 0. M U SE U N AC IO N AL C EN TR O D E AR TE R EI N A SO FI A, M AD RI , E SP AN H A. F O TO : J O SE PH M AR TI N / AL BU M /F O TO AR EN A NÃO ESCREVA NO LIVRO 51 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 51D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 51 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 Abertura dos capítulos Todos os capítulos iniciam-se com algum assunto do presente, para que você possa começar a entender como as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas se relacionam com o seu cotidiano. Atividades Conjunto de atividades que aparece ao final de muitos capítulos. É o momento em que você aplica os saberes apreendidos e exercita sua reflexão a respeito de diferentes temas estudados. Linguagens e leituras Esta atividade trabalha habilidades de leitura e interpretação de diferentes tipos de documentos, como mapas, gráficos, tabelas, charges, fotografias, textos impressos etc. Muitas vezes, você será convidado a relacionar informações em documentos distintos. A seção encontra-se no meio dos capítulos, mas pode aparecer também ao final deles. Esta coleção é composta de seis volumes. A seguir apresentaremos algumas das principaiscaracterísticas das obras. Este ícone aparece junto das atividades em que é proposto o trabalho em grupo. 106 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. Leia os textos a seguir: [...] [...] Braudel definia a economia mundial como “uma soma de áreas individua- lizadas, econômicas e não econômicas, [estendendo-se] para além das fronteiras de outras grandes divisões históricas… A economia mundial é a maior superfície vibradora possível, que não somente aceita a conjuntura, mas, em certa profun- didade ou nível, a cria. É a economia mundial em todos os eventos que cria a uniformidade de preços numa área imensa, como um sistema arterial distribui sangue por todo um organismo vivo. É uma estrutura em si mesma.” [...] [...] GALL, N.; RICUPERO, R. Globalismo e Localismo: quais são os limites da competição e da segurança?. Braudel Pappers, São Paulo, n. 17, 1977. Disponível em: http://www.normangall.com/brazil_art3.htm. Acesso em: 30 ago. 2020. [...] “uma alternativa à China, incluindo trazer de volta para CASA nossas empre- sas e fabricar nossos produtos nos EUA”. Em sua opinião, “as grandes quantidades de dinheiro feito e roubado pela China aos EUA, ano após ano, durante décadas, devem ACABAR e acabarão”, afirmou o mandatário. “Não precisamos da China e, na verdade, estaríamos melhor sem eles. LIY, M. V.; LABORDE, A. Trump intensifica guerra comercial com a China com elevação generalizada de impostos. El país, [s. l.], 23 ago. 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/23/internacional/1566564039_314372.html. Acesso em: 30 ago. 2020. a) A partir do que foi estudado no capítulo, aponte as interpretações possíveis para a abordagem prevista no primeiro trecho. b) Analise a relação entre os dois trechos, julgando, principalmente, a adequação das falas presentes no segundo trecho. 2. Observe o mapa e a imagem de satélite a seguir. Fonte: IBGE EDUCA. Você sabe o que é anamorfose? Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/ professores/educa-recursos/20815-anamorfose.html. Acesso em: 30 ago. 2020. Mundo: Produto Interno Bruto (PIB) proporcional a cada país, 2016 ESTADOS UNIDOS CANADÁ MÉXICO BRASIL FRANÇA ESPANHA ITÁLIA ÍNDIA CHINA JAPÃO AUSTRÁLIA RÚSSIA COREIA DO SUL ALEMANHA REINO UNIDO Produto Interno Bruto (PIB) (em bilhões de US$) Até 500,0 De 500,1 a 1.000,00 De 1.000,1 a 5.000,00 De 1.218,2 a 18.624,5 AL LM AP S D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 106D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 106 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 CONHEÇA SEU LIVRO Nossa comunidade Por meio desta seção, você e seus colegas desenvolverão um projeto que impactará a comunidade em que vivem. É o momento de exercerem o protagonismo. São dois projetos por livro, cada um composto de quatro etapas que aparecem ao final de cada capítulo. Abertura das unidades Texto e imagem apresentam o tema central da unidade. Também encontram-se perguntas que auxiliam na reflexão sobre o assunto. Muitas imagens presentes nas aberturas são trabalhos de artistas plásticos contemporâneos. Todos os volumes estão divididos em quatro unidades, e cada unidade tem dois capítulos. D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21-AVU.indd 4D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21-AVU.indd 4 24/09/2020 01:3224/09/2020 01:32 INVESTIGAÇÃO> Estudo de recepção da arte A arte é uma forma de expressão cultural ancestral, que se manifesta por meio de uma grande variedade de linguagens (arquitetura, desenho, escultura, pintura, dança etc.) e é capaz de provocar a sensibilidade das pessoas. Na atualidade, a arte – para além dos espaços fechados de museus, cinemas, casas de espetáculos e galerias – está presente nas ruas e nas redes, conquistando o espaço digital. Com a internet, o acesso a essas manifestações tornou-se muito fácil. Você pode assistir a espetáculos de música, dança, peças de teatro ou visitar museus sem sair de casa. Para aprofundarmos as reflexões sobre o assunto, este projeto abordará as artes visuais no ambiente digital. Para isso, usaremos como prática de pesquisa a recepção da arte, que, em síntese, compreende a ideia de que a obra se completa por meio da relação com o observador. O projeto se desdobrará em duas etapas principais. I. Pesquisa e planejamento O primeiro passo é mapear os recursos para o conhecimento da arte no ambiente digital (galerias, exposições, plataformas, entre outros). Muitos museus e galerias, por exemplo, oferecem por meio da internet passeios virtuais por seus acervos. Em seguida, cada grupo escolhe um tema central. As possibilidades são muitas, como autorretratos, releituras de obras, paisagens, infância, vida urbana, vida rural, arte indígena etc. Na sequência, elaborem coletivamente um roteiro de perguntas. ■ GORKY, A. After Khorkum. 1940-1942. Óleo sobre tela, 91,4 cm x 121,3 cm. MU SE U D E AR TE D O IN ST IT U TO D E CH IC AG O, E UA . F O TO : Á LB U M F O TO AR EN A 40 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 40D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 40 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 O roteiro deve conter questões objetivas, como “qual o nome do artista”, “de que ano é a obra”, “qual a técnica utilizada”, entre outras; e questões subjetivas, relacionadas às percepções, aos sentimentos, às sensações e à recepção que a obra causou em você e em seus colegas. Exemplos de perguntas: “O que mais me chamou a atenção nessa obra?”, “Que sentimento essa obra desperta em mim?”, “Existe algo nela que me agrada ou me incomoda? O quê?” Com o roteiro pronto, os grupos devem acessar os sites previamente mape- ados e desenvolver a pesquisa, selecionando pelo menos cinco obras dentro do tema escolhido. Uma vez selecionadas as obras, o grupo responde coletivamente às perguntas objetivas. Já as perguntas subjetivas do roteiro devem ser respondidas de forma individual. Os grupos devem se reunir e compartilhar as experiências. Finalizada essa etapa, dá-se início ao desenvolvimento do produto. II. Preparação e produção do fazer artístico Há duas possibilidades de produção: a) desenvolvimento de uma produção artística baseada na recepção que as obras selecionadas provocaram no grupo; cada estudante deverá desenvolver a sua. b) montagem de uma exposição aberta à comunidade a partir das obras acessadas nas plataformas virtuais, acrescidas das percepções do grupo sobre cada uma delas. Como conclusão do projeto, poderá ser realizada uma roda de conversa sobre a experiência. ■ POLLOCK, J. A chave. 1946. Óleo sobre linho, 149,8 cm x 208,3 cm.© T H E PO LL O CK -K RA SN ER F O U N D AT IO N /A U TV IS , B RA SI L, 2 02 0. M U SE U D E AR TE D O IN ST IT U TO D E CH IC AG O, E UA . FO TO : Á LB U M /F O TO AR EN A 41 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 41D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 41 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 A internet e o protagonismo juvenil É bem provável que você já tenha acessado a internet em busca de vídeos nos quais professores explicam algum conteúdo sobre o qual você desejava se aprofun- dar ou sobre o qual você tenha procurado informações complementares para temas estudados em sala de aula. De fato, a internet facilitou muito as pesquisas e, durante a pandemia da covid-19, se revelou uma importante aliada dos estudantes. No período em que as aulas esti- veram suspensas em razão da necessidade de isolamento social a fim de evitar a propagação do vírus, diversos estudantes enfrentaram dificuldades para continuar seus estudos. Nesse contexto, a internet e a solidariedade, somadas, formaram uma dupla exemplar. Na cidade de Paulínia, localizada no Grande Recife (PE), assim que as aulas foram suspensas, em março de 2020, Jéssica Ângela e Felipe José, dois estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio Escritor José de Alencar, decidiram ajudar seus colegas que se preparavam para prestar o Enem. Juntos, eles criaram um projeto ao qualderam o nome de “Estude Comigo”. A ideia dos jovens era realizar, para seus colegas, conferências on-line em um aplicativo da internet, com dicas para a criação de planos de estudo. A iniciativa, no entanto, cresceu mais do que eles imaginavam. A procura foi grande e, com o sucesso da ideia, os jovens entraram em contato com professo- res que aderiram ao projeto e passaram a ministrar aulas voluntariamente. Mesmo assim, Jéssica e Felipe não abriram mão de suas participações nas conferências ao vivo porque a ideia inicial do projeto era a de “estudante dar dica para estudante”, ou seja, de produzir conteúdo próprio destinado aos colegas. ■ Estudante assiste a uma aula on-line em sua casa, durante a pandemia da covid-19. Presidente Prudente (SP), 2020. 148 DIÁLOGOS> EU TAMBÉM POSSO> AD RI AN O K IR IH AR A/ PU LS AR IM AG EN S D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21-AVU.indd 148D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21-AVU.indd 148 23/09/2020 23:2623/09/2020 23:26 O projeto “Estude Comigo” mostrou como a internet pode contribuir para o protago- nismo juvenil e, ao mesmo tempo, beneficiar a comunidade. Outro exemplo nesse sentido pode ser observado em Acaraú, no litoral cearense. Nessa cidade, estudantes da Escola Estadual de Educação Profissional Marta Maria Giffoni de Sousa decidiram encontrar formas de auxiliar os colegas da escola a ter um melhor desempenho na disciplina de Matemática. Essa iniciativa deu origem ao projeto “Be!Math: A tecnologia como figura de mediação pedagógica”. Contando com o auxílio de professores da escola, os alunos elaboraram inicial- mente um questionário para identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos colegas nessa disciplina. A partir daí, os jovens desenvolveram um aplicativo para celular com diversas funcionalidades que auxiliam os estudos. Por meio desse aplicativo, por exemplo, professores enviam para os estudantes vídeos e aulas, textos, lista de exercícios e outros materiais didáticos. Os resultados foram mais do que satisfatórios: depois que o aplicativo foi lançado, em 2018, os professores observaram uma considerável melhora no desempenho dos estudantes nas aulas de Matemática. E mais: o trabalho dos jovens ganhou menção honrosa em um concurso nacional que premia projetos desenvolvidos por estudantes e que ajudam a transformar a realidade de suas comunidades. 1. Em sua opinião, como a tecnologia é capaz de contribuir para a rotina de estudos? Por outro lado, como impedir que essa mesma tecnologia desvie a atenção na hora de estudar? 2. Quais iniciativas com uso de tecnologias você e seus colegas podem colocar em prática em sua escola, com o objetivo de promover melhorias no desempenho dos estudantes? 3. Não desistir dos estudos mesmo diante das adversidades criadas pelo isolamento so- cial é um exemplo de resiliência. Em quais momentos você sente que foi resiliente? Em momentos de dificuldades, que estratégias você utilizou para não desistir de seus objetivos? Comente essas questões com seus colegas. ■ Adolescente realiza suas tarefas escolares usando fones de ouvido e celular. A tecnologia digital e os aplicativos de celular auxiliam nos estudos, especialmente nas situações de isola- mento social, como ocorreu na pandemia da covid-19, em 2020. NÃO ESCREVA NO LIVRO 149 IM G O RT H AN D /G ET TY IM AG ES D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 149D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 149 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 Vale destacar que atualmente a internet desempenha um papel muito importante na disseminação da cultura globalizada. Os conteúdos produ- zidos nas redes sociais circulam rapidamente pelo mundo e influenciam pessoas de diferentes regiões. As plataformas de streaming de filmes e músicas ajudam a disseminar conteúdos globais. A disseminação dessa cultura globalizada não significa, porém, o fim das culturas locais. As comunidades tradicionais (indígenas, ribeirinhos, caiçaras, quilombolas, entre outros), por exemplo, também fazem uso da internet e das tecnologias para disseminar seus valores para além de seus lugares de vivência. Com base nessas evidências, alguns pensadores defendem que a globalização não provoca apenas a homogeneização da cultura, mas também promove processos de heterogeneização cultural, pois jamais houve tanto conhecimento da diversidade cultural do mundo. Essa diversidade de culturas pode contribuir tanto para a solidariedade entre elas quanto para conflitos. Streaming Plataforma que exibe conteúdos multimídia (filmes, músicas etc.) on-line. ■ Festival das Cores (Holi), em Jaipur, no Rajastão (Índia), 2019. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Multiculturalismo, pluralismo cultural, diversidade cultural são termos relacionados à valorização das diversas culturas em uma região, município ou país. Foi com o intuito de preservar o saber dos caiçaras na produção de canoas “de um só pau” que o Instituto Terra Brasilis desenvolveu um projeto que incluiu entrevistas e resultou na produção de um livro, de vídeos e outros documentos sobre esse conhecimento tradicional da região de Ubatuba (SP). Na sua região, existem pessoas ou um grupo com algum conhecimento específico? Junte-se a seus colegas e façam um levantamento sobre o assunto. Posteriormente, organizem uma visita ao local e produzam um relatório para ser apresentado à turma. N EL LE H EM BR Y/ SH U TT ER ST O CK .C O M 21 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 21D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 21 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 Do imperialismo à Guerra Fria Entre os séculos XVI e XVIII, a integração do planeta se acelerou. Ainda assim, a influência econômica das potências europeias estava restrita a algumas regiões da África, da Ásia e da América. Entre o final do século XVIII e meados do século XIX, a Europa iniciou o processo de industrialização, o que deu origem a novas estratégias de domi- nação colonial, visando à exploração de matérias-primas e à venda de mercadorias. Assim teve início a etapa do neocolonialismo. Inglaterra, França, Bélgica e, posteriormente, Alemanha, Itália, Estados Unidos e Japão pas- saram a conquistar territórios coloniais ou exercer influência econômica indireta em regiões da África e da Ásia. O processo de descolonização, que começou após o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), intensificou a integração econômica, cultural e social do planeta, mas até meados do século XX ainda havia um importante fator limitador ao processo de integração global das economias e sociedades: a polariza- ção do planeta durante a chamada Guerra Fria, que teve início após a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria marcou um período de disputa por hegemonia entre as duas superpotências da época: Estados Unidos e União Soviética. A polarização resultou na criação de dois blocos de países, os capitalistas e os comunistas. Havia barreiras polí- ticas que impediam a constituição de amplas relações comerciais ou cultu- rais entre os países dos dois blocos. ■ Oficiais da França e da Alemanha fazendo registros para a partilha da África. Ilustração publicada no Le Petit Journal, em 2 de novembro de 1913. Paris, França. LE EM AG E/ U IG / F O TO AR EN A NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • O processo de exploração colonial de territórios da África e de outras regiões do mundo pelas na- ções europeias a partir de meados do século XIX ficou conhecido como neocolonialismo. Como a imagem representada nesta página contribui para entender esse processo de dominação? 15 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 15D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 15 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 > SAIBA MAIS O quinto poder Direção: Bill Condon. Estados Unidos, 2013. DVD (129 min). O filme conta a história da criação da plataforma da internet lançada em 2006 por Julian Assange e Daniel Domscheit-Berg, que ficou famosa em 2010 por publicargrande quantidade de documentos oficiais do governo dos Estados Unidos. Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá Direção: Silvio Tendler. Brasil, 2006. DVD (90 min). O documentário apresenta a visão crítica do geógrafo brasileiro Milton Santos sobre o processo de globalização. A evolução da web Disponível em: http://www.evolutionoftheweb.com/. Acesso em: 28 ago. 2020. O site apresenta uma linha do tempo interativa dos principais marcos da internet. 1984 George Orwell. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. O romance, publicado originalmente em 1949, apresenta uma sociedade distópica, marcada pela constante vigilância da população e controlada por um Estado autoritário, que presta grandes cultos de personalidade a seu líder político. O protagonista trabalha em um órgão governamental e tem a tarefa de reescrever artigos de jornal do passado de modo a alterar os registros, deixando-os em sintonia com a atual ideologia do governo. Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a globalização Franklin Foer. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. O jornalista Franklin Foer reuniu nesse livro histórias sobre futebol em diversas regiões do mundo. Por meio delas, o autor reflete sobre as características do mundo globalizado e a forma como elas afetam a vida cotidiana de diferentes sociedades. Snowden: um herói do nosso tempo Ted Rall. São Paulo: Martins Fontes, 2015. Versão em quadrinhos da história de Edward James Snowden, ex-administrador de sistemas da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos que revelou ao mundo documentos sigilosos do governo estadunidense. Esses documentos provavam que a NSA praticava espionagem ilegal de e-mails e conversas telefônicas em todo o mundo. Driblando a democracia: como Trump venceu Direção: Thomas Huchon. França, 2018. Vídeo (52 min). Disponível em: https://vimeo. com/295576715. Acesso em: 28 ago. 2020. O documentário mostra como as informações divulgadas pelos usuários das redes sociais contribuíram de maneira significativa para que a empresa Cambridge Analityca tornasse vitoriosa a campanha eleitoral de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. 43 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 43D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 43 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 De mãos dadas Atividades que relacionam temas do capítulo com a sua realidade, como seus amigos, sua escola, seu bairro, seu município etc. Aparece de forma aleatória nos capítulos. Saiba mais Aqui você encontra sugestões de filmes, sites, vídeos, podcasts, livros e outros materiais que ampliam os saberes explorados nas unidades. Leitura de imagem Atividade de leitura e análise de mapas, gráficos, charges e outras linguagens imagéticas. Aparece de forma aleatória nos capítulos. Meus argumentos Momento em que você expõe suas ideias, pois esta seção explora sua capacidade de analisar, refletir e argumentar a respeito de determinado assunto. Aparece de forma aleatória nos capítulos. Eu também posso Esta seção apresenta exemplos de jovens que exerceram o protagonismo e promoveram mudanças na comunidade em que vivem. O texto vem acompanhado de atividades que exploram, entre outros itens, suas competências socioemocionais. Esta seção aparece duas vezes por volume. InvestigAção Esta seção estimula o pensamento crítico. Aliando criatividade com diferentes práticas de pesquisa, você será convidado a solucionar problemas e desafios relacionados ao seu cotidiano. Esta seção aparece duas vezes por volume. Glossário As palavras destacadas nos textos ganham uma explicação aprofundada no glossário. A violência institucional De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 343 agentes da Polícia Civil e da Polícia Militar foram assassinados em 2018, em serviço ou não. Contudo, segundo esse órgão, nesse ano mais de 6 mil pessoas foram mortas por policiais, e o Brasil apresenta um dos piores índices globais de assas- sinatos e outros abusos cometidos por agentes do Estado em todo o mundo. Observe o infográfico. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Se o Estado enquanto instituição máxima de organização das relações sociais tem legitimidade para monopolizar o uso da violência, até que ponto essas ações ocorrem dentro da legalidade e/ou são legitimadas pelas circunstâncias? Como evitar que ocorram abusos? Converse com seus colegas sobre o assunto e, coletivamente, levantem possíveis mecanismos para o combate à violência institucional. Quando o número de mortes provocadas pela polícia é muito alto em relação ao total de mortes violentas intencionais de determinado território, isso pode revelar abusos e uso excessivo por parte da força policial. Tais casos de exercício da violência física e psicológica realizados por agentes do Estado são exemplos da violência institucional. Nos termos colocados pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), o Estado detém o “monopólio legítimo do uso da força”, o que significa que qualquer outra forma de violência que não seja aquela sob o controle do Estado não é legítima. A sociedade e as instituições devem controlar a violência cometida por parte do efetivo poli- cial, que se aproveita do pretexto do combate ao crime e de determinados instrumentos legais para usar a força desmedidamente e cometer atos violentos. Violência em números Fonte: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2019. p. 6-7. Disponível em: www.forumseguranca. org.br/wp-content/ uploads/2019/09/Anuario- 2019-FINAL-v3.pdf. Acesso em: 23 set. 2020. MORTES DE POLICIAIS 343 policiais Civis e Militares assassinados 6.220 vítimas em 2018 17 pessoas mortas por dia Vítimas • 99,3% homens • 77,9% entre 15 e 29 anos • 75,4% negros Mais policiais vítimas de suicídio do que assassinados no horário de trabalho 104 suicídios 11 a cada 100 mortes violentas intencionais foram provocadas pelas Polícias 75% mortos fora de serviço 97% homens 256 vítimas 51,7% negros 65,5% tinham entre 30 e 49 anos 32% foram vítimas de latrocínio Redução de 10,4% em relação a 2017 Crescimento de 19,6% em relação a 2017 MORTES DECORRENTES DE INTERVENÇÕES POLICIAIS ED IT O RI A D E AR TE 69 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 69D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 69 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21-AVU.indd 5D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21-AVU.indd 5 24/09/2020 01:3424/09/2020 01:34 SUMÁRIO O mundo globalizado . . . 10 UNIDADE 1 > Capítulo 1 O que é globalização? . . . . 12 Histórico da globalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 As Grandes Navegações e a construção de um mundo conectado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Do imperialismo à Guerra Fria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Globalização e meio técnico-científico- -informacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 A economia globalizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 Fluxos financeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 Globalização e cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 As críticas ao processo de globalização . . . . . . . . . . . . . . 22 A Primavera Árabe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 > Capítulo 2 Uma era digital . . . . . . . . . . . . . .26 O impacto dos meios de comunicação na cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Uma breve história dos meiosde comunicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 O impacto da internet na cultura . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 A sociedade em rede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 Internet e práticas de sociabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 A sociedade de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34 O papel da internet na sociedade de controle . . . . . . 35 Divisões digitais no mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38 InvestigAção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 Saiba mais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43 As múltiplas faces da violência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 UNIDADE 2 > Capítulo 3 Terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46 O que é terrorismo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Uma definição de terrorismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 O nascimento do terrorismo contemporâneo . . . . . .49 O terrorismo ao longo do século XX . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 O terrorismo no século XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 A Al-Qaeda e os ataques de 11 de setembro . . . . . . . . 52 O Estado Islâmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 A guerra ao terror . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .54 A guerra ao terror e a restrição às liberdades individuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .56 O conceito de Estado de exceção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .58 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59 > Capítulo 4 Violência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Caracterizando a violência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62 A violência intrapessoal e coletiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63 Entendendo a violência no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65 Violências transnacionais e de fronteiras: o crime organizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .66 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .68 A violência institucional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69 Violência contra crianças e adolescentes . . . . . . . . . . . . 70 A violência autodirigida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Eu também posso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Saiba mais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21-AVU.indd 6D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21-AVU.indd 6 24/09/2020 01:3524/09/2020 01:35 A nova ordem mundial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .78 UNIDADE 3 > Capítulo 5 Diplomacia e guerra na ordem mundial . . . . . . . . 80 A diplomacia e a força militar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 Guerra e política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .82 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .83 As ordens mundiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 A ordem mundial europeia entre os séculos XVII e XIX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 Da ordem europeia ao mundo bipolar . . . . . . . . . . . . . . 86 O conceito de território . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 Tensões e conflitos atuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .88 Coreia do Norte: tensão nuclear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .88 Guerra civil na Síria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .89 Extremismo religioso na Nigéria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Conflito na Ucrânia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .92 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93 > Capítulo 6 Economia global: disputas e tensões . . . . . . . . 94 A formação da economia global . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95 O impacto econômico da expansão marítima . . . . . .96 Da expansão marítima à Revolução Industrial . . . . . . 97 A Europa como centro da economia global . . . . . . . . .98 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .99 A economia global contemporânea: da Guerra Fria ao mundo multipolar . . . . . . . . . . . 100 A ascensão econômica da China contemporânea e o colapso do bloco soviético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 Blocos econômicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 Organizações internacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 Disputa Estados Unidos x China . . . . . . . . . . . . . . . . 104 Governo Trump e o crescimento das tensões . . . . . 105 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 InvestigAção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 Saiba mais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Um mundo doente . . . . . . . . 112 UNIDADE 4 > Capítulo 7 Vamos embora daqui . . . . 114 As migrações do século XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 Os fluxos migratórios atuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 A gestão das migrações no século XXI . . . . . . . . . . 118 Os migrantes, suas motivações e diferentes realidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 Refugiados: de onde vêm? Para onde vão? . . . . . . . . 120 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 Refugiados: aceitá-los não é uma questão de escolha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 > Capítulo 8 Saúde global . . . . . . . . . . . . . . . . . 132 Sedentarização e pandemia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 A proliferação de doenças nas comunidades sedentárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 A circulação de pessoas, mercadorias e doenças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 A Peste Negra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 Linguagens e leituras . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . 137 A unificação microbiana do planeta . . . . . . . . . . . 138 A gripe e a globalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 A gripe de 1918 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 Pandemias no século XX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 A globalização e a covid-19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 Efeitos sociais da covid-19 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 A intensificação das desigualdades sociais . . . . . . . . 144 O mundo pós-pandemia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146 Eu também posso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148 Nossa comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150 Saiba mais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 > FICHAS DE AUTOAVALIAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 > BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR . . . . 154 > BIBLIOGRAFIA COMENTADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158 Orientações para o professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161 D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 7D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 7 23/09/2020 23:0823/09/2020 23:08 NESTE VOLUME Objetivos, justificativas, competências e habilidades Você já parou para pensar por que e para que estuda os conteúdos escolares? Eles devem ter importância para sua vida, sendo uma ferramenta a mais para que você, com seus colegas e professores, pensem em solu- ções para diferentes problemas do cotidiano, da sociedade brasileira e do mundo em geral. Apresentamos, a seguir, as justifi cativas (importância) e os objetivos (para que) de cada unidade deste livro e também indicamos competências e habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cujos textos se encontram ao fi nal do livro. UNIDADE 1 O mundo globalizado Justificativa • Por que é importante estudar este conteúdo? Vivemos em um mundo integrado, no qual é possível se comunicar de forma instantânea com pessoas de qualquer parte do planeta e se deslocar rapidamente por grandes distâncias. Esse processo de integração, chamado de globalização, possui uma longa história. Estudar esse processo e compreender como ele está relacionado com o desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação é fundamental para refl etir criticamente sobre o mundo em que vivemos e pensar em formas de agir para construir uma sociedade justa. Objetivos • Devo estudar este conteúdo para... 1. Compreender o conceito de globalização e os efeitos sociais, econômicos e culturais desse processo, refle- tindo criticamente sobre a organização das sociedades contemporâneas. 2. Reconhecer que a integração do planeta remonta ao século XVI e caracterizar cada uma dessas etapas. 3. Relacionar a globalização ao desenvolvimento científi co e tecnológico, compreendendo os mecanismos de reprodu- ção da economia capitalista no mundo contemporâneo. 4. Reconhecer como as crises econômicas mundiais, que caracterizam a economia globalizada, infl uenciam a vida fi nanceira no plano pessoal e familiar. 5. Analisar os efeitos da globalização sobre a cultura, identi- fi cando elementos da cultura global no cotidiano. 6. Compreender o processo de homogeneização da cultura, refl etindo criticamente sobre a difusão de valores, ideias e costumes de países economicamente dominantes. 7. Valorizar o multiculturalismo, reconhecendo as pos- sibilidades de difusão das culturas locais no mundo contemporâneo. 8. Conhecer as críticas à globalização, de modo a refl etir e buscar soluções para desigualdade social. 9. Refl etir sobre tecnologias de informação e comunicação no presente e no passado e os seus impactos nas práticas culturais e sociais dos grupos humanos. 10. Confrontar diferentes narrativas sobre o impacto da intenet na cultura e na vida cotidiana. 11. Identifi car obstáculos de acesso a tecnologias de informa- ção e comunicação, pensando em possíveis soluções para a exclusão digital e discutindo seu uso responsável e ético. Competências e habilidades Competências gerais 1, 2, 3, 5, 8 e 10 Competências específi cas 1, 2, 4, 5 Habilidades EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS106, EM13CHS202, EM13CHS204, EM13CHS401, EM13CHS403, EM13CHS502, EM13CHS504 UNIDADE 2 As múltiplas faces da violência Justificativa • Por que é importante estudar este conteúdo? O mundo contemporâneo é marcado por múltiplas formas de violência. Refl etir sobre as causas e os impactos sociais das práticas de violência é uma maneira de compreender a organi- zação social mais ampla e o cotidiano no qual estamos inseridos. Além disso, essa refl exão é fundamental para a adoção de ações visando à construção de uma sociedade mais pacífi ca. Objetivos • Devo estudar este conteúdo para... 1. Distinguir os diferentes signifi cados atribuídos ao termo terrorismo em distintos espaços e tempos. 2. Compreender a defi nição de terrorismo no mundo con- temporâneo, distinguindo-o de outras práticas violentas no presente. 3. Identifi car características das ações terroristas e analisar se na sociedade brasileira atual há eventos desse tipo de ação. 4. Refl etir sobre diferentes formas de representar a questão da violência contra populações civis, especialmente naquilo que confi gura práticas terroristas. 5. Compreender o terrorismo no século XXI como um fenô- meno amplo, praticado por grupos diversos, refl etindo criticamente sobre representações disseminadas nos meios de comunicação que o associam a grupos específi cos. 6. Relacionar o conceito de Estado de exceção à Guerra ao Terror, refl etindo sobre ameaças à vida, à democracia, e propor soluções para a proteção contra o terrorismo e a manutenção das liberdades individuais. 7. Entender as diferentes formas de violência e suas motivações, refl etindo sobre a situação dos jovens que convivem com elas. 8. Reconhecer os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 como parâmetros fundamen- tais para identifi car violências individuais ou coletivas. 9. Analisar a violência no Brasil atual, utilizando coleta e análise de informações em diferentes tipos de linguagem. 10. Compreender as consequências da violação de direitos das crianças e dos adolescentes em seu desenvolvimento físico, psicológico e social. 11. Identifi car as causas da violência autodirigida, refl etindo sobre a saúde física e mental dos jovens e buscando ações para promovê-la. Competências e habilidades Competências gerais 1, 7, 8, 9 e 10 Competências específi cas 1, 2, 5 e 6 Habilidades EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS106, EM13CHS204, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS504, EM13CHS604, EM13CHS605, EM13CHS606 D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 8D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 8 23/09/2020 23:0823/09/2020 23:08 UNIDADE 3 A nova ordem mundial Justificativa • Por que é importante estudar este conteúdo? As relações entre diferentes atores globais, como os Estados nacionais, as grandes corporações, organismos internacionais, entre outros, têm impacto direto no cotidiano de todos. Assim, estudar a ordem mundial e suas transformações ao longo do tempo é uma forma de melhor compreender as condições de vida e o modo como a sociedade se organiza, permitindo lançar um olhar crítico sobre o mundo e ajudando a construir ações que tragam prosperidade para todos. Objetivos • Devo estudar este conteúdo para... 1. Entender o papel da diplomacia e do poder militar na ordem mundial contemporânea, relacionando-o às princi- pais tensões e confl itos atuais. 2. Relacionar o surgimento dos Estados centralizados à cons- trução de um sistema internacional de regulamentações da diplomacia e das práticasconsideradas legais em tempo de guerra. 3. Identifi car os distintos atores (Estados nacionais, grandes corporações, organismos internacionais etc.) que agem de modo a assegurar seus interesses no mundo contemporâ- neo multipolar. 4. Analisar o processo de formação da economia global con- temporânea, entendendo os deslocamentos do centro econômico do planeta a partir da Baixa Idade Média. 5. Relacionar a hegemonia econômica ao poder político e militar dos Estados ao longo da história moderna e con- temporânea, refl etindo sobre participação desigual dos países no cenário global. 6. Analisar se a riqueza de um país garante boas condições de vida à população, refl etindo sobre a relevância da eco- nomia no cotidiano e apontando como é possível medir o desenvolvimento humano na comunidade escolar. 7. Avaliar os aspectos favoráveis e desfavoráveis do papel das organizações fi nanceiras internacionais na implementação de reformas neoliberais nos países. 8. Analisar tensões econômicas e políticas atuais entre China e Estados Unidos, refl etindo sobre seus desdobramentos e buscando combater manifestações de xenofobia contra chineses nos Estados Unidos e em outros países. Competências e habilidades Competências gerais 1, 5, 7, 9 e 10 Competências específi cas 1, 2, 5 e 6 Habilidades EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS104, EM13CHS201, EM13CHS202, EM13CHS204, EM13CHS205, EM13CHS503, EM13CHS504, EM13CHS603, EM13CHS604, EM13CHS605 UNIDADE 4 Um mundo doente Justificativa • Por que é importante estudar este conteúdo? O mundo vem sendo marcado por grandes crises huma- nitárias, entre elas o crescimento do número de refugiados e a disseminação da pandemia global de covid-19. Para enten- der as causas dessas crises e seus impactos na vida de todos, é fundamental relacioná-las com o processo de globalização e as transformações econômicas, sociais, políticas e culturais do mundo contemporâneo para evitar novas crises no futuro. Objetivos • Devo estudar este conteúdo para... 1. Analisar fl uxos migratórios no século XXI, relacionando-os ao à globalização atual e aos avanços das tecnologias de comunicação e transporte. 2. Diferenciar os principais conceitos relacionados aos fl uxos migratórios, como migrantes, refugiados e deslocados internos. 3. Analisar dados sobre os fl uxos migratórios atuais refl etindo sobre suas múltiplas causas. 4. Desenvolver argumentos que promovam os Direitos Humanos, com foco para os refugiados e os deveres da comunidade internacional de protegê-los, buscando con- tribuir para a integração dessas pessoas à sociedade. 5. Discutir a situação dos refugiados no Brasil, desenvolvendo a empatia, o pensamento crítico, a defesa dos Direitos Humanos e o exercício da cidadania por meio de ações voltadas para a integração desses “novos brasileiros”. 6. Entender como as pandemias afetaram as sociedades humanas ao longo da história, refl etindo sobre os desafi os do mundo e do Brasil pós-covid-19 e a luta por direitos que minimizem os impactos da doença entre os grupos mais vulneráveis. 7. Compreender que as doenças e pandemias devem ser pen- sadas nos contextos de diferentes temporalidades e espaços, refl etindo sobre a exploração dos recursos naturais e as possi- bilidades de práticas que visem à sustentabilidade ambiental. 8. Comparar as pandemias surgidas ao longo do século XX com a pandemia de covid-19, de modo a identifi car que surgiram e se difundiram em um contexto de crescimento da interven- ção humana sobre a natureza e do processo de globalização. 9. Identifi car os efeitos sociais e econômicos da covid-19 no planeta e no Brasil, refl etindo sobre o mundo que estamos construindo e como fazer dele um lugar mais justo, inclusivo e solidário. Competências e habilidades Competências gerais 1, 2, 3, 4, 7, 8, 9 e 10 Competências específi cas 1, 2, 4, 5 e 6 Habilidades EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS104, EM13CHS105, EM13CHS106, EM13CHS201, EM13CHS202, EM13CHS203, EM13CHS204, EM13CHS403, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS504, EM13CHS603, EM13CHS604, EM13CHS605 D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 9D3-CH-EM-3075-V6-INICIAIS-001-009-LA-G21.indd 9 23/09/2020 23:0823/09/2020 23:08 FI LI PE R O CH A 10 FI LI PE R O CH AUNIDADE 10 1 ■ Ilustração de Filipe Rocha, 2020. O mundo globalizado “Antes o mundo era pequeno/porque a Terra era grande/Hoje o mundo é muito grande/porque a Terra é pequena”. Esses versos da canção “Parabolicamará”, de Gilberto Gil (1942-), abordam as transforma- ções pelas quais a humanidade passou ao longo dos últimos séculos. Se no tempo das Grandes Navegações do século XV a Terra parecia grande porque o contato entre povos de diferentes continentes era difícil e restrito a poucas pessoas, nos dias de hoje a Terra parece pequena. Os avanços da tecnologia, dos transportes e das comunica- ções encurtaram as distâncias, aproximaram as pessoas, as culturas e as economias. Vivemos em um mundo globalizado. Nesta unidade veremos o impacto dessas mudanças nas sociedades contemporâneas. 1. Como você interpreta os versos da canção: “Antes o mundo era pequeno” e “Hoje o mundo é muito grande”? Você concorda com essa ideia? Por quê? 2. Como você observa os impactos da globa- lização em seu dia a dia? NÃO ESCREVA NO LIVRO D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 10D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 10 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 1111 PLANEJAMENTO FINANCEIRO Quando falamos em planejamento financeiro, parece que estamos falando de algo muito dis- tante, que só tem a ver com empresas ou com pessoas que têm muito dinheiro. O planejamento financeiro, porém, deve fazer parte da vida de todas as pessoas, de todas as classes sociais, seja para planejar as compras do supermercado ou a aquisição de um novo aparelho celular; seja para planejar gastos de estudos ou de uma viagem. Assim, o planejamento financeiro – que inclui o consumo consciente – deve ter como principal objetivo o alcance de nossas metas e sonhos. A proposta deste projeto é realizar estudos de caso para saber como as pessoas organizam o orçamento individual e familiar. No final, sugerimos a elaboração de vídeos informativos de como organizar as finanças, dirigidos à comunidade. D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 11D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 11 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 CAPÍTULO 1 O que é globalização? ■ Grupo de amigos se reúne para comer pizza. Fotografia de 2015. Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítu- lo e sobre o trabalho com as atividades. M O N KE Y BU SI N ES S IM AG ES /S H U TT ER ST O CK .C O M O hábito de consumir pizza é muito forte no Brasil. Dados de 2018 da Associação de Pizzarias Unidas de São Paulo indicam que o Brasil produz 1 milhão de pizzas por dia. Esse alimento, que já está profundamente inserido na cultura bra- sileira, é um dos efeitos da globalização, um processo de integração econômica, social e cultural do planeta. A origem da pizza tal como a conhecemos hoje remonta ao século XVIII, quando surgiram estabele- cimentos que produziram as primeiras pizzas na região de Nápoles, no sul do atual território da Itália. De acordo com historiadores, as pizzas napolitanas começaram a utilizar molho de tomate como parte de sua cobertura apenas no século XIX. O tomate não é um produto de origem europeia; ele era cultivado por povos da América e começou a ser levado para a Europa no século XVI. A partir de meados do século XIX, imigrantes napolitanos introduzi- ram as receitas de pizza na América. No Brasil, há registros de pizzarias inauguradas no início do século XX. A pizza, porém, só se popularizou após o término da Segunda Guerra Mundial. Até então, até mesmo um italiano que vivesse fora de Nápoles dificilmente conheceria essa iguaria. A pizza se tornou popular em todo o mundo por volta da metade do século XX. Atualmente,é possível consumir pizza em muitos países, com combinações variadas de ingredientes e temperos. A versão brasi- leira tem suas características próprias e o mesmo ocorre com as versões produzidas em diversos outros países, inclusive na Itália. Sem o processo de globalização, a pizza poderia ter se mantido como um produto local. Além disso, talvez sua receita não tivesse incor- porado o tomate e outros ingredientes comuns nas pizzas que conhecemos nos dias de hoje. Neste capítulo, vamos conhecer a dinâmica da globalização e seus efeitos sociais, econômicos e culturais. 12 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21-AVU.indd 12D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21-AVU.indd 12 24/09/2020 01:0824/09/2020 01:08 Histórico da globalização Você já deve ter lido textos na imprensa ou assistido a vídeos na televisão ou na internet sobre a globalização do planeta e o modo como isso afeta a vida de todos. Esse conceito é muito importante para enten- der o processo de formação do mundo contemporâneo e o modo como nossa sociedade se organiza atualmente. O que significa falar em mundo globalizado? Será que a globalização é um fenômeno recente? Pensar sobre essas questões pode nos ajudar a refletir criticamente sobre nosso mundo e o processo de globalização. Quando os pesquisadores das Ciências Humanas afirmam que nosso mundo é globalizado, eles se referem ao processo de integração de dife- rentes regiões do planeta. Essa integração ocorre no presente pelos meios de comunicação e de transporte. O desenvolvimento tecnológico per- mitiu as trocas instantâneas de informações e mensagens e a criação de meios de transporte mais rápidos, possibilitando interconectar diferentes regiões do mundo e criar relações globais entre territórios distantes. Atualmente, uma pessoa pode enviar uma mercadoria ou se deslo- car do Brasil para a Europa ou para a Ásia em menos de um dia. Também é possível utilizar plataformas digitais para assistir a aulas ou palestras de qualquer parte do mundo em tempo real. A globalização, portanto, está associada à redução das distâncias e à possibilidade de estabelecer contatos imediatos, mas ela não se resume ao fato de podermos nos comunicar e nos deslocar rapidamente. A globalização envolve processos e acontecimentos locais capazes de afetar e transformar outras regiões do mundo de forma recíproca. Uma epidemia, por exemplo, pode ter início na Europa e se alastrar pela Ásia ou pela América, tornan- do-se uma pandemia. Uma crise econômica nos Estados Unidos pode gerar crises na África ou na Oceania. Pesquisadores, como o soci- ólogo Göran Therborn (1941-), defendem que o atual processo de globalização tem uma histó- ria que remonta ao século XVI, quando um amplo processo de integração do planeta começou a ganhar força. ■ Robô realiza cirurgia cardíaca minimamente invasiva (MIS) em um paciente. As ferramentas cirúrgicas se encontram nas extremidades dos braços do robô, controlados remotamente por um cirurgião, que assiste a uma imagem tridimensional do local da operação por meio de um endoscópio, acoplado a um dos braços do robô. Califórnia (Estados Unidos), 2019. Pandemia Enfermidade epidêmica que se alastra por diver- sas partes do mundo. PE TE R M EN ZE L/ S CI EN CE P H O TO L IB RA RY /F O TO AR EN A 13 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 13D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 13 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 As Grandes Navegações e a construção de um mundo conectado No final do século XV, os europeus tinham contato apenas com algumas regiões da África e da Ásia. Essa realidade começou a mudar em 1492, quando embarcações enviadas pelos reis da Espanha chegaram ao continente ame- ricano, como resultado do processo de expansão marí- tima europeia. Os portugueses deram os primeiros passos nesse pro- cesso ao conquistar Ceuta, no norte da África, em 1415. Nas décadas seguintes, amplia- ram seus conhecimentos do oceano Atlântico e conquista- ram territórios, estabelecendo feitorias em posições estraté- gicas na costa africana. Ao contornar o sul da África, os navegadores portu- gueses passaram a explorar o oceano Índico e, em 1498, Vasco da Gama (1469-1524) comandou uma expedição que chegou a regiões do subcontinente indiano. Assim, no final do século XV, portugueses e espanhóis iniciavam uma nova etapa de integra- ção de diferentes regiões do planeta. O processo de expansão marítima euro- peia, posteriormente chamado de Grandes Navegações, se ampliou a partir do século XVI. Nesse período, portugueses, espanhóis, ingleses, holandeses e franceses começaram a conquistar territórios na América, África, Ásia e Oceania. Os territórios conquistados foram transformados em colônias europeias, que passaram a ser exploradas para produzir riquezas. A primeira etapa de globa- lização do planeta foi o colonialismo. Feitoria Fortaleza construída com a finalidade de explorar riquezas e proteger o território. ■ Vista do Porto de Cádiz (detalhe), na Espanha, mostrando a comercialização de produtos provenientes das “Índias Ocidentais”, ou seja, da América. Litografia colorida. 1565. Biblioteca Nacional de Paris, França. BI BL IO TE CA N AC IO N AL , P AR IS ,F RA N ÇA . F O TO : B RI D G EM AN IM AG ES /E AS YP IX B RA SI L Fonte: DUBY, G. Atlas histórico mundial. Barcelona: Larousse Editorial, 2018. p. 152. Trópico de Capricórnio Trópico de Câncer Equador Círculo Polar Antártico Círculo Polar Ártico 0° 0° OCEANO ÍNDICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO M er id ia no d e G re en w ic h ÁSIA OCEANIA ÁFRICA EUROPAAMÉRICA DO NORTE AMÉRICA CENTRAL AMÉRICA DO SUL Morte de Fernão de Magalhães (1521)Bartolom eu D ias San Salvador (1432) Fernão de M agalhães JAPÃO Filipinas Cochim Calicute (1434) Goa Veneza PORTUGAL ESPANHA Lisboa Sevilha Palos Ceuta (1415) Cabo Bojador (1434) REINO DA GUINÉ (1434-1462) REINO DO CONGO (1452-1485) Moçambique (1456) Cabo da Boa Esperança (1437) Porto Seguro (1500) Cabo Verde (1456) Açores (1428) Sebas tião Elca no (15 22) Madeira (1420) Melinde (1458) (1519-1521) LIN H A D O TR A TA D O D E TO R D E S ILH A S 0 3555 Rotas das navegações portuguesas Rotas das navegações espanholas Primeiras viagens Vasco da Gama Pedro Álvares Cabral Cristóvão Colombo Fernão de Magalhães e Sebastião Elcano (primeira viagem de circum-navegação) Navegações portuguesas e espanholas, séculos XV e XVI D AC O ST A M AP AS 14 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21-AVU.indd 14D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21-AVU.indd 14 24/09/2020 01:1024/09/2020 01:10 Do imperialismo à Guerra Fria Entre os séculos XVI e XVIII, a integração do planeta se acelerou. Ainda assim, a influência econômica das potências europeias estava restrita a algumas regiões da África, da Ásia e da América. Entre o final do século XVIII e meados do século XIX, a Europa iniciou o processo de industrialização, o que deu origem a novas estratégias de domi- nação colonial, visando à exploração de matérias-primas e à venda de mercadorias. Assim teve início a etapa do neocolonialismo. Inglaterra, França, Bélgica e, posteriormente, Alemanha, Itália, Estados Unidos e Japão pas- saram a conquistar territórios coloniais ou exercer influência econômica indireta em regiões da África e da Ásia. O processo de descolonização, que começou após o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), intensificou a integração econômica, cultural e social do planeta, mas até meados do século XX ainda havia um importante fator limitador ao processo de integração global das economias e sociedades: a polariza- ção do planeta durante a chamada Guerra Fria, que teve início após a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria marcou um período de disputa por hegemonia entre as duas superpotências da época: EstadosUnidos e União Soviética. A polarização resultou na criação de dois blocos de países, os capitalistas e os comunistas. Havia barreiras polí- ticas que impediam a constituição de amplas relações comerciais ou cultu- rais entre os países dos dois blocos. ■ Oficiais da França e da Alemanha fazendo registros para a partilha da África. Ilustração publicada no Le Petit Journal, em 2 de novembro de 1913. Paris, França. LE EM AG E/ U IG / F O TO AR EN A NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • O processo de exploração colonial de territórios da África e de outras regiões do mundo pelas na- ções europeias a partir de meados do século XIX ficou conhecido como neocolonialismo. Como a imagem representada nesta página contribui para entender esse processo de dominação? 15 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 15D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 15 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 A Guerra Fria terminou no início da década de 1990, com a reunificação da Alemanha, a extinção da União Soviética e a derrocada do comunismo, principalmente no Leste Europeu. A partir daí, houve uma intensificação do processo de integração do planeta, possibilitado tanto pelo fim das barreiras políticas criadas no mundo bipolar quanto pela profunda interação entre ciência e técnica, iniciada nos anos 1970, no período chamado técnico-científico-infor- macional, que vivenciamos até os dias atuais. O desenvolvimento tecnológico criou um mercado global. O mundo conectado em rede possibilitou que o capitalismo se consolidasse como um sistema hegemônico, estendendo-se sobre territórios que adotavam o socialismo. Na ordem globalizada contemporânea, mesmo países comunistas, como China, Cuba e Coreia do Norte, estão inter- ligados por processos econômicos, sociais e culturais do mundo globalizado. Em Cuba, por exemplo, há práticas capitalistas, como o turismo e a instalação de empresas multinacionais do setor hoteleiro em território cubano. No meio técnico-científico-informacional, pode-se dizer que o mundo “encolheu”. Podemos conhecer lugares distantes por meio do computador, do tablet, do celular ou da televisão. A internet nos permite conversar com as pessoas sem levar em conta as distâncias e nos dá a sensação de estar- mos ao mesmo tempo em todos os lugares. No mundo globalizado, filmes, séries e programas de televisão disseminam valores, ideias e hábitos da cultura de diferentes povos. Além disso, há intensos fluxos globais de informações, mercadorias, pessoas, serviços e capi- tais; empresas utilizam filiais espalhadas pelo mundo, fragmentando as etapas de fabricação e montagem de mer- cadorias, produzindo componentes e partes de um mesmo objeto em diferentes lugares. Globalização e meio técnico- -científico-informacional ■ Pastor de ovelhas fala ao celular, carregado por meio de painéis solares transportados por burros, em Sanliurfa (Turquia), 2016. ■ A ilustração representa o “encolhimento” do mundo promovido pela evolução dos transportes. H AL IL F ID AN /A N AD O LU A G EN CY /G ET TY IM AG ES Fonte dos dados: HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 2003. p. 220. Experiência do espaço e do tempo 1500-1840 1850-1930 anos 1950 anos 1960 1500-1840 1850-1930 anos 1950 anos 1960 A melhor média de velocidade das carruagens e dos barcos a vela era de 16 km/h As locomotivas a vapor alcançavam em média 100 km/h e os barcos a vapor, 57 km/h Aviões a propulsão: 480-640 km/h Jatos de passageiros: 800-1100 km/h Ilustração sem escala, para fins didáticos. RE N AT O B AS SA N I 16 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21-AVU.indd 16D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21-AVU.indd 16 24/09/2020 01:1124/09/2020 01:11 Comunicação de massa é um termo que se refere às informações que chegam a uma grande quantidade de receptores ao mesmo tempo, partindo de um único emissor. Essas informações são provenientes de mídias criadas e desenvolvidas graças ao desenvolvimento tecnológico, como jornais, revistas, livros, rádio, televisão, cinema e internet. A relação entre os meios de comunica- ção e o processo de globalização é explorada no texto a seguir. Após a leitura, responda às questões: [...] Os meios dominantes de comunicação estão em poucas mãos [...]. O controle do ciberespaço depende das linhas telefônicas e não é nada casual que a onda de privatizações dos últimos anos, no mundo inteiro, tenha arrancado os telefones das mãos públicas para entregá-los aos grandes conglomerados da comunicação. [...] A televisão aberta e por cabo, a indústria cinematográfica, a imprensa de tiragem massiva, as grandes editoras de livros e de discos e as emissoras de rádio de maior alcance também avançam, com botas de sete léguas, para o monopólio. [...] atualmente, metade de todo o dinheiro que o planeta gasta em publicidade vai parar no bolso de apenas dez conglomerados, que açambarcaram a produção e a distribuição de tudo o que se relaciona com imagem, palavra e música. [...] A tecnologia põe a imagem, a palavra e a música ao alcance de todos, como nunca antes ocorrera na história humana, mas essa maravilha pode se transfor- mar num logro para incautos se o monopólio privado acabar impondo a ditadura da imagem única, da palavra única e da música única. Ressalvadas as exceções, que afortunadamente existem e não são poucas, essa pluralidade tende, em regra, a nos oferecer milhares de possibilidades de escolher entre o mesmo e o mesmo. Como diz o jornalista argentino Ezequiel Fernández-Moores, a propósito da informação: “Estamos informados de tudo, mas não sabemos de nada”. GALEANO, E. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 280-286. 1. O autor escreveu esse texto no final da década de 1990, momento em que ocorria grande concentração de empresas de mídia nas mãos de poucos grupos econômi- cos. Você acha que a preocupação do autor, expressa no último parágrafo, ainda é pertinente nos dias de hoje? Justifique sua opinião. 2. No texto, o autor afirma que a tecnologia coloca a imagem, a palavra e a música ao alcance de todos. Você concorda? Por quê? 3. O jornalista argentino Ezequiel Fernández-Moores diz que “estamos informados de tudo, mas não sabemos de nada”. Discuta essa frase com seus colegas. 4. Como você interpreta o trecho no qual o autor do texto afirma que “essa pluralidade tende, em regra, a nos oferecer milhares de possibilidades de escolher entre o mesmo e o mesmo”? DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO 17 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 17D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 17 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 A economia globalizada Na economia globalizada, uma decisão econômica tomada, por exemplo, por uma empresa multinacional com sede na França gera con- sequências em diferentes localidades, distantes do país de origem. Assim, um trabalhador de uma montadora de automóveis francesa instalada no Brasil pode perder o emprego caso a matriz dessa empresa tenha decidido fechar a filial brasileira e instalá-la em outro país ou substituir a mão de obra da linha de montagem por robôs. Com a informatização e a evolução dos meios de transportes e comunica- ção, as empresas multinacionais estão fragmentando as etapas de produção entre suas filiais espalhadas pelo mundo ou firmando acordos de parceria com outras indústrias, com o objetivo de minimizar custos, aumentar a produtividade e, consequente- mente, obter lucros maiores. Assim, no caso da montadora francesa, a empresa tem sua administração central na França e pode ter seu departamento de marketing instalado nos Estados Unidos, proje- tar o veículo no Japão, montá-lo no Brasil, com peças fabricadas no México ou em qualquer outro país que lhe ofereça vantagens compa- rativas (mão de obra, matéria-prima, energia, transportes, menores impostos etc.). Nessa organização da economia global, as empresas multinacionais também vêm sendochamadas de transnacionais, pois operam no espaço geográfico mundial como se não existissem fronteiras entre os países. Cada vez mais, as empresas são empresas-redes, nas quais a interação no nível mundial de concepção, fabricação e distribuição dos produtos se encontra subordinada às suas sedes. Fluxos financeiros A produção de objetos é o aspecto mais visível da economia global. Cabe destacar, porém, que os fluxos de capitais financeiros são o que melhor caracterizam o processo de globalização, já que circulam 24 horas por dia, em tempo real e sob a forma de uma vasta rede de computa- dores conectados à internet, favorecendo a troca de capitais financeiros entre diferentes centros. O dinheiro tornou-se virtual, números nas telas dos computadores. ■ A economia globalizada faz com que a extrema pobreza afete também países ricos, como os Estados Unidos, em decorrência do desemprego causado pela transferência de empresas para países mais pobres, entre outros fatores. Em 2018, só no estado da Califórnia havia mais de 130 mil pessoas sem moradia. Na foto, acampamento de sem-teto montado ao longo do rio Santa Ana, em Anaheim, Califórnia (Estados Unidos), 2018. RO BY N B EC K/ AF P 18 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 18D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 18 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 Os mercados de capitais são globalmente integrados e interdepen- dentes. Bancos, seguradoras, fundos de pensão e bolsas de valores estão interconectados. Transações financeiras com valores extrema- mente elevados são realizadas diariamente. O capital é transportado de um país para outro em questão de segundos. A maior parte das transações financeiras globais é realizada nos grandes centros financeiros mundiais, concentrados principalmente nos Estados Unidos (Nova York, San Francisco, Chicago, Boston, Washington), na Europa (Londres, Zurique, Genebra, Luxemburgo, Frankfurt), no Japão (Tóquio, Osaka) e na China (Hong Kong, Xangai, Shenzhen), prin- cipais economias do mundo globalizado. Em muitas das transações realizadas, principalmente nas bolsas de valores, os capitais são especulativos (hot money), ou seja, aplicados a curto prazo, com o obje- tivo de gerar lucro rápido. Os investidores não criam empresas ou novos negócios, não geram novos empregos e não compram equipamentos e matéria-prima. Eles inves- tem, sobretudo, em títulos da dívida pública de governos e em ações de empresas já existentes. Os países emergentes são os principais destinos dos capitais especulativos, pois oferecem, em troca do risco, juros altos aos investidores. Como as bolsas de valores estão interconectadas, ao menor sinal de insegurança, como instabilidade polí- tica e/ou econômica, os capitais são transferidos rapidamente para outros países, em busca de investimentos mais seguros. A “fuga” repentina de capitais pode gerar graves crises financeiras no sistema financeiro global. As economias emergentes são as principais pre- judicadas, como ocorreu com o México (1994), países do Sudeste Asiático (1997), Rússia (1998), Brasil (1999), Turquia e Argentina (2001), Grécia (2010), Espanha, Portugal e Irlanda (2013). ■ Pedestres passam em frente a placar eletrônico de uma corretora de valores que exibe cotação de ações, em Tóquio (Japão), 2019. Fundo de pensão Entidade fechada de aposentadoria, organi- zada por empresas com o objetivo de realizar inves- timentos para garantir uma complementação da aposentadoria. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Uma das características da economia globalizada são as crises constantes. Ter a vida financeira organizada ajuda a enfrentar essas situações. Foi buscando ajudar seu pai a se organizar que a jovem Natália Rodrigues começou a entender de finanças e se tornou uma influenciadora digital de sucesso. Após assistir a seus vídeos (em seu canal Nath Finanças), produza um texto com seus argumentos sobre como organizar a vida financeira. Os vídeos podem ajudar nas etapas do projeto Nossa comunidade. KI M K YU N G -H O O N /R EU TE RS /F O TO AR EN A 19 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 19D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 19 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 Globalização e cultura Vimos como a pizza, um produto originário de Nápoles, na Itália, se disse- minou pelo mundo e passou a fazer parte das tradições culinárias de diferentes países. Esse é um bom exemplo do efeito da globalização da cultura no mundo contemporâneo. A interligação do planeta não promoveu apenas a criação de uma economia globalizada, mas também de uma cultura global que afeta e se relaciona com as diferentes culturas. Além da pizza, é possível lembrar outros exem- plos culinários que se espalharam ao redor do mundo. O sushi, por exemplo, é um alimento tradicional do Japão que pode ser consumido em muitos países do mundo. O shawarma é um lanche típico de muitas regiões do Oriente Médio que se tornou muito popular na Europa, mas também pode ser encontrado em grandes cidades brasileiras. Talvez o melhor exemplo da influência da globalização na ali- mentação é a força das redes de alimentos fast food. Essas redes são marcadas pela criação de um padrão para seus alimentos que pode ser replicado em qualquer país do mundo. Redes muito populares podem ser encontradas em centenas de países, ofe- recendo sempre um menu semelhante. Há variações regionais, como a inclusão de ingredientes típicos de uma cultura, mas, de forma geral, os lanches produ- zidos em uma loja de determinada rede de fast food nos Estados Unidos serão bastante similares aos lanches dessa mesma rede em uma cidade do Vietnã, do Iraque ou do Marrocos. Uma característica central da globalização da cultura é o processo de homo- geneização cultural. O que dá origem a esse processo é o fato de que as trocas culturais no mundo globalizado não ocorrem de forma igualitária. Os países eco- nomicamente dominantes disseminam seus valores, ideias, hábitos e costumes de forma mais intensa. Culturas de países economicamente mais frágeis correm o risco de sofrer um processo de assimilação cultural de valores, ideias, hábitos e costumes estrangeiros que ameaçam tradições locais muito antigas. Esse processo de homogeneização não ocorre apenas no campo alimentar; ele pode afetar o modo de vestir, as celebrações e as festas, a produção artís- tica, as crenças e muitos outros aspectos da cultura de um povo. ■ Jovens saboreiam udon (prato da culinária japonesa) em restaurante de Dubai (Emirados Árabes Unidos), 2020. RI SA L KH AN /S H U TT ER ST O CK .C O M 20 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 20D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 20 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 Vale destacar que atualmente a internet desempenha um papel muito importante na disseminação da cultura globalizada. Os conteúdos produ- zidos nas redes sociais circulam rapidamente pelo mundo e influenciam pessoas de diferentes regiões. As plataformas de streaming de filmes e músicas ajudam a disseminar conteúdos globais. A disseminação dessa cultura globalizada não significa, porém, o fim das culturas locais. As comunidades tradicionais (indígenas, ribeirinhos, caiçaras, quilombolas, entre outros), por exemplo, também fazem uso da internet e das tecnologias para disseminar seus valores para além de seus lugares de vivência. Com base nessas evidências, alguns pensadores defendem que a globalização não provoca apenas a homogeneização da cultura, mas também promove processos de heterogeneização cultural, pois jamais houve tanto conhecimento da diversidade cultural do mundo. Essa diversidade de culturas pode contribuir tanto para a solidariedade entre elas quanto para conflitos. Streaming Plataforma que exibe conteúdos multimídia (filmes, músicas etc.) on-line. ■ Festival das Cores (Holi), em Jaipur, no Rajastão (Índia), 2019. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Multiculturalismo, pluralismo cultural,diversidade cultural são termos relacionados à valorização das diversas culturas em uma região, município ou país. Foi com o intuito de preservar o saber dos caiçaras na produção de canoas “de um só pau” que o Instituto Terra Brasilis desenvolveu um projeto que incluiu entrevistas e resultou na produção de um livro, de vídeos e outros documentos sobre esse conhecimento tradicional da região de Ubatuba (SP). Na sua região, existem pessoas ou um grupo com algum conhecimento específico? Junte-se a seus colegas e façam um levantamento sobre o assunto. Posteriormente, organizem uma visita ao local e produzam um relatório para ser apresentado à turma. N EL LE H EM BR Y/ SH U TT ER ST O CK .C O M 21 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 21D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 21 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 As críticas ao processo de globalização O processo de globalização não beneficiou a todos igualmente. A maioria da população mundial continua sem ter acesso às novas tecnologias e aos novos bens de consumo. Além disso, a pobreza e a concentração de renda cresceram bastante nas últimas décadas. Essa situação resultou na organização de movimentos que se opõem ao processo de globalização. Conhecidos genericamente como movimentos antiglobalização, eles são formados por grupos variados que fazem oposição ao capitalismo financeiro internacional e aos acordos de livre-comércio. Também se manifestam contra a degra- dação ambiental provocada por indústrias, contra o uso do trabalho infantil e a exploração dos trabalhadores, entre outras causas. Um dos primeiros marcos do movimento antiglobalização ocorreu em novembro de 1999, em Seattle, nos Estados Unidos. A cidade estava se preparando para a rodada de negociação da Organização Mundial do Comércio (OMC), que trataria de livre-comércio em escala mundial. Cerca de 100 mil manifestantes foram às ruas para protestar contra o encontro. Um novo marco do movimento ocorreu em 2011, quando centenas de milhares de pessoas acamparam em barracas nas ruas de diversas cidades do mundo para protestar contra a crise econômica iniciada em 2007-2008 e contra a impunidade dos responsáveis. Os grupos escolhiam, principalmente, lugares simbólicos do capi- talismo para montar os acampamentos. O fenômeno ficou conhecido pelo termo occupy, acompanhado do nome da cidade ou do local espe- cífico onde ocorriam as manifestações. Um dos primeiros eventos desse movimento foi o de Nova York, nos Estados Unidos, que ficou conhecido como Occupy Wall Street (Ocupem Wall Street) por ter ocorrido nessa rua, que abriga a bolsa de valores da cidade. Essa tática de protesto se espalhou para diversos lugares do mundo. Nos anos seguintes, esses movimentos cresceram e se tornaram mais coesos, passando até a participar de eleições. Na Grécia, por exemplo, a Frente da Esquerda Anticapitalista Grega (Antarsya, em inglês) se organiza por meio de assembleias locais de militantes (muni- cipais ou de bairro) que participam das eleições. A Espanha também tem um forte movimento anticapitalista, e um de seus principais “braços” é o partido Podemos. 22 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 22D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 22 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 A Primavera Árabe No final de 2010, outro movimento importante de contestação da ordem global teve início. A chamada Primavera Árabe – uma onda de protestos pró-democracia com inúmeras reivindicações, incluindo pautas que questionam o processo de glo- balização – ocorreu no norte da África e no Oriente Médio. Em alguns países, a manifestação levou à renúncia de presidentes, como ocorreu na Tunísia e no Egito, ambos governados por ditadores. Por causa da grande repres- são governamental contra os manifestantes, muitos movimentos arrefeceram. Foi o que aconteceu na Argélia, na Síria, em Omã, Bahrein e Kuwait. Nos anos seguintes, as liberdades conquistadas em alguns desses países sofreram retrocessos: em 2013, um golpe militar derrubou o governo egípcio, eleito democraticamente. ■ Pessoas agitam bandeiras da Líbia e seguram uma ilustração representando o então líder líbio, Muammar Gaddafi, para comemorar a entrada de combatentes rebeldes em Trípoli, durante manifestação próximo ao tribunal de Benghazi (Líbia), 2011. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em 2018, o Banco Mundial divulgou dados segundo os quais 3,4 bilhões de pessoas, quase metade da população mundial, vivem com menos de 3,20 dólares por dia. Em 2020, a organização não governa- mental Oxfam divulgou que 2 153 bilionários, que representam os 1% mais ricos do mundo, possuem mais dinheiro do que 60% da população mundial. Diante dessa realidade, propostas para minimizar as desigualdades sociais, como taxar as grandes fortunas, têm ganhado cada vez mais impulso. Com base em seus conhecimentos e no contexto apresentado, qual a sua proposta para a construção de um mundo mais igualitário? Organize seus argumentos para uma roda de conversa com a turma. ES AM A L- FE TO RI /R EU TE RS /F O TO AR EN A 23 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 23D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 23 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. Observe a imagem ao lado. Trata-se da capa da edição especial da revista estadunidense Time. Anualmente, essa revista elege uma personalidade do ano com base em suas realizações, po- sitivas ou negativas, que influenciaram o mundo naquele pe- ríodo. A imagem de capa selecionada é da edição de 2011, que elegeu como personalidade do ano “o manifestante”. A partir da análise da imagem, responda ao que se pede. a) O desenho do “manifestante” permite situá-lo em algum país específico? Por que a revista decidiu representá-lo dessa maneira? Formule hipóteses para responder aos questionamentos. b) A capa é um registro do início da década de 2010. Você acredita que a figura do manifestante continua relevante? Justifique sua resposta com exemplos concretos. 2. Leia a frase transcrita a seguir. Depois, elabore sua argumenta- ção para a defesa ou crítica da ideia proposta, de forma oral: TI M E M AG AZ IN E AN G EL I/F O LH A D E S. PA U LO 0 8. 06 .2 00 0/ FO TO AR EN A ■ Capa da revista Time (edição especial "Personalidade do ano"), 2011. [...] as redes de alimentação, como os fast food, traduzem bem a concepção de cultura de consumo, que ocorre mais em virtude da marca do que propriamente da relação necessidade/ benefício do produto. Evidencia-se, na sociedade de consumo, uma necessidade de adquirir, inclusive alimentos, sob uma escolha que, muitas vezes, é coletiva e não pessoal. [...] GUERRA, C. S.; CARDOSO, F. B. S. A influência da cultura do consumo na alimentação humana: a (in) sustentabilidade do consumo de proteína animal. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E CONTEMPORANEIDADE, 4. Anais [...]. Santa Maria: UFSM, 2017. p. 5-10. Disponível em: http://coral.ufsm.br/congressodireito/anais/2017/5-10.pdf. Acesso em: 29 ago. 2020. ANGELI. Folha de S.Paulo, 8 jun. 2000. 3. A charge reproduzida ao lado foi criada pelo cartu- nista paulistano Angeli, em 2000. Ela retrata uma situa- ção muito comum nos gran- des centros urbanos do Brasil e do mundo. Observe-a com atenção e depois responda às questões abaixo. a) Qual é a realidade mos- trada pela charge? b) Qual é a relação entre globalização e acesso desigual? 24 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 24D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21.indd 24 23/09/20 19:3323/09/20 19:33 PLANEJAMENTO DO TRABALHO E DIAGNÓSTICO DA REALIDADE Em toda família ou grupo de amigos, sempre tem aquela pessoa que, apesar de ganhar menos do que outros, consegue guardar dinheiro e ficar sem dívidas. Também existem aqueles que, mesmo ganhando mais do que os outros, se descontrolam e vivem endividados. Nesta etapa, vocês irão elaborar um estudo de caso para tentar entender essas situações.O estudo de caso é uma prática de pesquisa muito usada nas Ciências Humanas e Sociais, que consiste em estudar ou analisar em profundidade uma situação ou um grupo de indivíduos. O caso a ser estudado pode ser considerado representativo de muitos outros. Nesta atividade serão avaliados aspectos particulares do orçamento individual ou familiar. Analisando a forma como as pessoas organizam seus orçamentos de forma particular, é possí- vel observar fatores que influenciam sua situação financeira, como renda, contas fixas (água e luz, por exemplo), hábitos de consumo etc. Em primeiro lugar, vocês vão elaborar uma entrevista para buscar entender como as pessoas controlam suas finanças no dia a dia e verificar a seguinte hipótese: Quem é organizado em relação aos seus ganhos e pagamentos consegue poupar mais do que quem não se organiza? Recomendamos que façam uma entrevista do tipo estrutural, ou seja, que siga uma estrutura de perguntas preestabelecida. A padronização é importante para que os diferentes entrevistadores possam obter respostas para as mesmas perguntas. Sugerimos algumas questões para compor o questionário a ser aplicado durante a entrevista: • Idade, profissão, escolaridade. • Você sabe quais são seus ganhos mensais? Se a resposta for positiva, como tem conheci- mento de seus ganhos? • Você sabe quais são seus gastos mensais? Se a resposta for positiva, como tem conheci- mento de seus gastos? (Se possível, solicitar que a pessoa informe como faz essa anotação: caderninho, tabela, computador, aplicativo.) • Você gasta mais do que ganha? • Você consegue poupar? Com que frequência? • Se você poupa, sabe quanto rendem seus investimentos? • Caso não poupe, você gostaria de poupar? • Você costuma fazer contas antes de adquirir um produto ou compra por impulso? (Por exemplo, tem um valor fechado para gastos de supermercado?) • Você possui hábitos cotidianos que levam a economizar bens ou produtos e gastar menos dinheiro? • Você paga crediário ou financiamento? De que tipo? • Você possui dívidas? Em que tipo de instituição (banco, cartório, loja de penhores etc.)? • Você sabe quanto paga de juros mensais e anuais? • Você acha que gasta seu dinheiro de forma adequada? Por quê? • Você costuma usar cartão de crédito? Se usa, consegue ter controle sobre seus gastos? Organizem-se em grupos de quatro integrantes e preparem-se para as entrevistas. Cada grupo deverá entrevistar quatro pessoas. É importante marcar a entrevista com antecedência. As respostas devem ser anotadas ou gravadas (áudio). É necessário pedir autorização do entrevistado no caso de gravação da voz. Por fim, o clima de cordialidade deve acompanhar o entrevistador do início ao fim. Etapa 1 25 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21-AVU.indd 25D3-CH-EM-3075-V6-U1-C1-010-025-LA-G21-AVU.indd 25 24/09/2020 01:1224/09/2020 01:12 CAPÍTULO 2 Uma era digital Atualmente, é muito comum lermos ou escutarmos nos meios de comunicação que vivemos em uma era digital. Afinal, parte importante de nossas interações sociais ocorre pela internet, por meio de compu- tadores, aparelhos celulares e outros dispositivos eletrônicos. A internet tal qual a conhecemos é uma invenção recente. Foi apenas na década de 1990 que os serviços domésticos de internet começaram a ser comercializados em diversas partes do planeta, ou seja, esse meio de comunicação se tornou popular há apenas 30 anos. Apesar de ser uma invenção recente, grande parte da sociedade brasileira já faz uso da internet cotidianamente. Uma pesquisa divul- gada em 2020 indicou que 89% das crianças e adolescentes brasileiros se conectam à internet. Esse elevado índice de acesso ao mundo digital fez dessa tecnologia de comunicação uma ferramenta essencial no coti- diano das pessoas, que a utilizam para estudos, diversão, compras etc. Essa pesquisa também revelou outro aspecto do desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação: a desigualdade de acesso. Os dados demonstraram que 3 milhões de crianças e adolescentes brasileiros não se conectam à internet e 1,4 milhão jamais teve acesso a essa ferramenta. Se a internet é importante para a realização de muitas tarefas cotidianas, a exclusão digital pode agravar problemas sociais e intensificar as desigualdades sociais no mundo. Neste capítulo, vamos refletir sobre o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação no presente e no passado, analisando o seu impacto nas práticas culturais dos grupos humanos, bem como nas organiza- ções sociais. Dessa forma, será possível lançar um olhar crítico para a questão, refletindo sobre as contradições e potencialidades do desenvolvimento dessas tecnologias. ■ Imagem digital representando conceito de computação em nuvem. Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. BL AC KB O AR D /S H U TT ER ST O CK .C O M 26 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 26D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 26 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 O impacto dos meios de comunicação na cultura A palavra cultura é muito utilizada em nosso cotidiano. Frequentemente, nós a utilizamos para nos referir a produções artísticas variadas, como músicas, filmes, livros, histórias em quadrinhos, pinturas, esculturas, entre outras. Porém, o conceito de cultura tem um signifi- cado muito mais amplo. Esse termo se refere a todo tipo de prática que transforma o meio em que seres humanos vivem. Assim, as técnicas de trabalho, as ferra- mentas e tecnologias, os saberes e tradições, os costumes e hábitos, a forma como as pessoas interagem, são todas manifestações das culturas humanas. Ao longo do tempo e em diferentes espaços, as culturas humanas variaram enormemente. Sociedades e grupos humanos criaram culturas próprias, a partir de suas necessidades e modos de organização. Além disso, diferentes culturas estabelecem relações entre si, o que provoca transformações e o surgimento de novas práticas culturais. Esse processo de troca cultural foi possi- bilitado, em diferentes períodos da história humana, por deslocamentos populacionais e trocas comerciais entre diferentes culturas. Além disso, o desenvolvimento de diferentes meios de comunicação impulsionou essas trocas. Nesse processo, a invenção e o desen- volvimento das tecnologias de informação e comunicação tiveram grande importância. A invenção da prensa, no século XV, do rádio, do telefone, da televisão e da internet, ao longo dos séculos XIX e XX, marcaram e marcam a forma como as sociedades humanas promo- vem trocas culturais. Atualmente, como já vimos, a utilização de aparelhos celulares, conectados à internet, possibilita uma integração instantânea entre pessoas de qualquer região do planeta, pro- movendo intensas trocas culturais. Conhecer brevemente a história desse processo pode nos ajudar a refletir sobre o mundo em que vivemos. Veja o infográfico a seguir. ■ Archibald M. Low, cientista britânico, autor de ficção científica, diretor do British Institute of Technology e presidente do British Interplanetary Society, demonstra um sistema de TV desenvolvido por ele. Londres (Inglaterra), 1928. FO X PH O TO S/ H U LT O N A RC H IV E/ G ET TY IM AG ES 27 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 27D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 27 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 Uma breve história dos meios de comunicação As tecnologias de informação e comunicação possuem uma longa história, que remonta aos primeiros grupos humanos. O infográfico a seguir faz um recorte dessa história partindo da invenção da imprensa até o desenvolvimento da internet, desta- cando alguns marcos essenciais para a compreensão do mundo contemporâneo. SÉCULO XV: INVENÇÃO DA PRENSA DE GUTENBERG No século XV, o alemão Johann Gutenberg (c. 1400-1468) desenvolveu uma forma de prensa que utilizava as letras do alfabeto. Essa invençãopermitiu sua rápida disseminação pela Europa e pelo mundo, barateando a produção de livros, panfletos e jornais, o que impulsionou a expansão da imprensa. SÉCULO XIX (DÉCADA DE 1830): INVENÇÃO DOS TELÉGRAFOS O telégrafo é uma tecnologia que permite a transmissão de informações por meio de cabos e corrente elétrica. Inventado por volta de 1830, ele possibilitou o envio de mensagens a longas distâncias, causando um impacto considerável na administração dos Estados nacionais, na organização de ações militares e na circulação de informações entre empresas e pessoas. SÉCULO XIX (DÉCADA DE 1870): INVENÇÃO DO TELEFONE Em 1876, Alexander Graham Bell (1877-1922) patenteou o aparelho de telefone, porém a disseminação da nova invenção foi bastante lenta. As ligações telefônicas se popularizaram apenas nas primeiras décadas do século XX. Assim como o telégrafo, o telefone teve um impacto significativo na organização social, já que acelerou a circulação de informações entre áreas distantes. FINAL DO SÉCULO XIX: INVENÇÃO DO CINEMA O cinema teve início no final do século XIX e resultou na criação de uma nova linguagem. A possibilidade de exibir imagens em movimento provocou mudanças importantes na forma como as sociedades humanas percebem e pensam o mundo. Em pouco tempo, o cinema se popularizou e se disseminou pelo planeta. AU TH EN TI CA TE D NE W S/ GE TT Y IM AG ES , S SP L/ GE TT Y IM AG ES , AK IF CA KM AK /S HU TT ER ST O CK .C O M , U NI VE RS AL H IS TO RY A RC HI VE / UN IV ER SA L I M AG ES G RO UP /G ET TY IM AG ES 28 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 28D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 28 23/09/20 20:5223/09/20 20:52 > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Elabore uma tabela no caderno, registrando nela os meios de comunicação que você mais usa em seu cotidiano. Indique a finalidade (informação, comunicação, diversão, estudo) e a frequência de uso (dias por semana). Por que você usa esses meios? Que outros meios você gostaria de usar? Compartilhe essas informações com a turma. INÍCIO DO SÉCULO XX: INVENÇÃO DO RÁDIO O rádio surgiu nas duas primeiras décadas do século XX. O fato de o aparelho não precisar de fios para transmitir informações a longas distâncias facilitou a difusão do novo meio de comunicação, transformando-o em um instrumento central para a compreensão da vida política e social de um longo período do século XX. FINAL DO SÉCULO XX: COMPUTADORES PESSOAIS, APARELHOS CELULARES E INTERNET Na década de 1970, os primeiros microcomputadores pessoais começaram a ser comercializados no mundo. Aos poucos, a nova invenção se popularizou e se transformou em um importante meio de comunicação. Isso foi acelerado ainda mais com o surgimento da internet doméstica, principalmente a partir da década de 1990. O computador se transformou em um aparelho que combina as potencialidades dos diferentes meios de comunicação. Os celulares começaram a se desenvolver no mesmo período, tornando-se populares também nessa década. Atualmente, grande parte da população utiliza esses aparelhos para se comunicar e usar a internet. INÍCIO DO SÉCULO XX (ENTRE AS DÉCADAS DE 1920 E 1940): SURGIMENTO DA TELEVISÃO As primeiras televisões foram criadas na década de 1920. Duas décadas depois, milhões de residências nos Estados Unidos contavam com o aparelho televisivo. Ainda assim, até meados do século, a televisão era menos popular do que o rádio em muitos países. KR SM AN O VI C/ SH UT TE RS TO CK .C O M , J AK KA PA N/ SH UT TE RS TO CK .C O M , FE R GR EG O RY /S HU TT ER ST O CK .C O M , P O M P O M /S HU TT ER ST O CK .C O M Fontes: CHALLONER, J. 1 001 invenções que mudaram o mundo. São Paulo: Sextante, 2014. BRIGGS, A.; BURKE, P. Uma história social da mídia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. 29 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 29D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 29 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 O impacto da internet na cultura O desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação ao longo do tempo provocou mudanças nas práticas culturais. Novas experiências foram incorporadas ao cotidiano das pessoas ou popularizadas, como o hábito de ler romances, após o advento da imprensa, ou de ir ao cinema, depois da criação da indústria cinematográfica. Contudo, esse processo algumas vezes resulta na destruição ou no enfraquecimento de práticas culturais tradicionais, promovendo processos de homogeneização cultural. Em geral, há uma relação de mão dupla entre desenvolvimento dos meios de comunicação e cultura. Com a popularização da internet, a partir da década de 1990, não foi diferente. As pessoas começaram a criar formas de expressão como memes, emoticons, stickers e gifs, que atu- almente estão muito disseminadas na comunicação cotidiana. Além disso, a internet provocou mudanças na própria maneira como as pessoas se comunicam, transformando radicalmente as relações interpessoais. Durante muitos séculos, as cartas eram a principal forma de comunicação entre pessoas que se encontravam distantes umas das outras. A comunicação podia levar meses, sobretudo se essas pessoas estivessem em continentes diferentes. Com a invenção do telefone e do fax, as distâncias foram encurtadas, mas a internet ampliou enormemente as possibilidades de comunicação entre as pessoas. Ela tornou possível enviar mensagens instantâneas para qual- quer parte do planeta. Atualmente, vivemos em um mundo no qual prati- camente não há mais limites de tempo e espaço para a comunicação humana, o que provoca profundas mudan- ças no modo de viver da sociedade, trazendo inúmeros benefícios, mas também malefícios. Alguns pesquisadores defendem, por exemplo, que o uso excessivo de meios de comunicação digitais contribui para ampliar os níveis de estresse e de ansiedade das pessoas. ■ Emoticons, usados nas mídias sociais. TO ST PH O TO /S H U TT ER ST O CK .C O M 30 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 30D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 30 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 Os gráficos abaixo trazem dados da pesquisa sobre o uso da tecno- logia da informação e comunicação (TIC) no Brasil em 2018. Observe os dados e responda às questões. Fonte: IBGE EDUCA. Uso de internet, televisão e celular no Brasil. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://educa.ibge. gov.br/jovens/materias-especiais/20787-uso-de-internet- televisao-e-celular-no-brasil.html. Acesso em: 28 ago.2020. Fonte: IBGE EDUCA. Uso de internet, televisão e celular no Brasil. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/ jovens/materias-especiais/20787-uso-de-internet-televisao-e- celular-no-brasil.html. Acesso em: 28 ago.2020. 1. Considerando o primeiro gráfico, o que podemos afirmar sobre o acesso à internet nos domicílios brasileiros em 2018? 2. Que diferenças entre os domicílios aparecem no primeiro gráfico? Que fatores poderiam explicar essas diferenças? Com base nesses dados, po- demos afirmar que existe uma democratização desse serviço? 3. Qual é a principal finalidade do uso da internet, conforme apontam os dados do segundo gráfico? Como essa tecnologia tem influenciado a comunicação, conforme a pesquisa? 4. Sistematize os dados sobre seus hábitos de uso da internet em um gráfico que registre os tipos de atividade e o tempo gasto em cada uma e com- partilhe com a turma. Ao final, reúnam os dados em uma única tabela e reflitam sobre o uso consciente desse recurso. Brasil: utilização da internet, por situação de domicílio (%), 2018 Brasil: pessoas que acessaram a internet (%), 2018 Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 0 20 40 60 80 100 % 79,1 83,8 49,2 72,1 83,0 33,1 69,1 77,2 44,2 84,8 86,5 59,4 81,1 84,0 61,4 83,5 86,4 56,5 Total Urbana Rural 20 40 60 80 100 Brasil Urbana Rural 0 % Finalidade de acessoà internet 95,7 88,186,1 63,2 95,9 88,686,7 65,7 93,6 83,780,3 36,9 Enviar ou receber mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos diferentes de e-mail Conversar por chamadas de voz ou vídeo Assistir a vídeos, inclusive programas, séries e �lmes Enviar ou receber e-mail SO N IA V AZ SO N IA V AZ DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO 31 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 31D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 31 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 https://educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/20787-uso-de-internet-televisao-e-celular-no-brasil.html. https://educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/20787-uso-de-internet-televisao-e-celular-no-brasil.html. ■ Página da Wikipédia, 18 set. 2020. A sociedade em rede Para entender melhor o impacto da internet na cultura, é importante conhecer algumas das ideias de Manuel Castells (1942-). O sociólogo espanhol formulou o conceito de sociedade em rede para analisar o impacto da rede mundial de computadores na organização das socie- dades contemporâneas. Castells afirma que vivemos em uma sociedade em rede, já que nosso mundo está cada vez mais organizado em “um conjunto de nós interconectados”. Para ele, a internet possibilitou a criação de relações de cooperação entre os indivíduos que não existiam antes. Essa coopera- ção se concretiza na utilização da internet para a construção cooperativa de conteúdos e para a expressão de ideias de forma interativa. Um exemplo é a criação de códigos de programas livres. Esse tipo de programa de computador frequentemente é resultado do trabalho de uma comunidade de pessoas para construir variadas ferramentas, como processadores de texto, navegadores de internet ou editores de imagem, entre muitas outras possibilidades. Essas ferramentas nem sempre são elaboradas com o intuito de obter lucros. Elas são livres e abertas a qualquer pessoa que deseje utilizá-las. Além disso, usuários podem modificar o código desses programas criando outras funcionalidades ou resolvendo problemas funcionais já existentes. Outra forma de prática colaborativa é a criação de conteúdos com- partilhados em diferentes plataformas da internet. Esses conteúdos são muito variados, como tutoriais que ensinam a realizar alguma atividade, palestras, aulas ou apresentações artísticas. Esses conteúdos muitas vezes são produzidos por meio do diálogo e da interação entre usuários. Um exemplo de produção de conteúdos de forma colaborativa é a Wikipédia, uma enciclopédia construída por usuários da rede. H TT PS :// PT .W IK IP ED IA .O RG 32 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 32D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 32 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 Internet e práticas de sociabilidade Outro efeito do impacto da internet nas práticas culturais contem- porâneas, segundo Manuel Castells, é a introdução de novas práticas de sociabilidade. O sociólogo defende que a internet ajuda a poten- cializar práticas de sociabilidade tradicionais, como os encontros com amigos ou familiares. De acordo com o pensador, o uso de e-mails, chats e redes sociais variadas ajuda a ampliar a participação dos indivíduos na vida em comunidade e a fortalecer seus laços sociais. Além disso, a internet possibilita a construção dos chamados laços sociais fracos: os laços sociais fortes compreendem vínculos sólidos, como as relações familiares ou amizades de longa duração; já os laços sociais fracos são mais efêmeros e podem ser desfeitos rapidamente. Um exemplo é a criação de um grupo de pessoas que compartilham o interesse por um seriado ou prática esportiva e gostam de trocar infor- mações sobre esse hobby. Antes do advento da internet, os laços sociais fracos eram muito menos frequentes, já que demandavam grande esforço dos indivíduos para construí-los. Atualmente, porém, é possível construir e recons- truir laços a todo o momento. Uma comunidade em uma rede social ou um grupo de conversa em um apli- cativo de troca de mensagens, por exemplo, podem ser criados e exclu- ídos com facilidade, mas permitem intensa troca de ideias e informações enquanto se mantêm ativos. Para Castells, esse aspecto inten- sifica o caráter em rede da sociedade contemporânea, que potencializa a cooperação entre os indivíduos. Além disso, ao contrário do que muitas vezes se propaga no discurso midiático, esses laços não provocam o rompimento dos laços sociais fortes entre os indivíduos e podem até mesmo criá-los. Prática de sociabilidade Envolve os diferentes modos como os indi- víduos se relacionam entre si. Uma festa é um exemplo de prática de sociabilidade. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em grupo, conversem sobre as seguintes questões: Vocês costumam usar as redes sociais para se relacionar com as pessoas? Como vocês avaliam sua interação com outras pessoas? Vocês criaram laços sociais fortes e duradouros por meio da internet? Que cuidados vocês tomam ao se relacio- narem nas redes sociais? 10,739,935 ED IT O RI A D E AR TE ■ Ilustração representando notificações em rede social. 33 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 33D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 33 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 A sociedade de controle Para Manuel Castells, a internet é um meio de comunicação capaz de causar impactos positivos nas práticas culturais contemporâneas, reforçando principal- mente a cooperação e a troca entre os indivíduos. Entretanto, outros pensadores das Ciências Humanas e Sociais enfatizam os aspectos negativos da internet sobre a cultura. Vimos, por exemplo, que a internet pode promover processos de homoge- neização cultural e que o desenvolvimento desigual das tecnologias de informação pode reforçar as desigualdades regionais do planeta. Outra crítica importante em relação à internet parte da ideia de que o mundo digital funciona como um dispositivo para a construção de uma sociedade de controle. Essa perspectiva é bastante inspirada nos conceitos desenvolvidos pelo filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), que, por sua vez, foi fortemente influen- ciado pelas teorias de Michel Foucault (1926-1984), para o qual a sociedade faz uso abusivo do poder por meio das instituições. Segundo Deleuze, a partir das décadas finais do século XX, as sociedades humanas começaram a praticar uma nova forma de exercício do poder. No seu entendimento, até esse período, o poder era exercido de modo a garantir a discipli- narização dos indivíduos em instituições fechadas e limitadoras. Nessas instituições, os indivíduos eram submetidos a processos de subjetivação, de modo a se tornarem trabalhadores disciplinados, capazes de cumprir horários e regras estabelecidas nos espaços de trabalho, como a fábrica, ou de estudo, como a escola. Para o filósofo, as transformações tecnológicas e econômicas provocaram mudanças importantes nas relações de trabalho. Mais do que sujeitos capazes de cumprir ordens e respeitar horários, no mundo globalizado a flexibilização do tempo e do espaço, bem como a capacidade de explorar cada vez mais a criatividade do trabalhador, tornaram-se características fundamentais para a produção de riquezas. ■ Cena do filme 1984, de Michael Radford (Reino Unido, 1984, 113 min), baseado na obra homônima de George Orwell, publicada em 1949, cujo tema central é a sociedade de controle. RO SE M BL U M /V IR G IN F IL M /A LB U M /F O TO AR EN A 34 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 34D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 34 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 O papel da internet na sociedade de controle Para assegurar essa flexibilização, foram criados dispositivos que permitem um controle contínuo dos sujeitos. A internet desempenha um papel fundamental no funcionamento desses dispositivos. Toda a atividade de um indivíduo na internet pode ser registrada e controlada. É possível identificar os sites visitados, as pesquisas feitas em mecanismosde busca, as conversas e as interações em redes sociais, os locais onde a internet foi acessada, a forma como foram feitas tran- sações bancárias, entre muitas outras informações. Tudo isso permite, de acordo com as teorias de Deleuze, criar uma vigilância irrestrita. Essa vigilância pode ser usada para penalizar indiví- duos que contestam a ordem bem como disseminar ideias, saberes e informações que naturalizam a ideia de que todos devem estar o tempo todo disponíveis para atender às necessidades produtivas do capitalismo. Um exemplo é o papel que a internet desempenha na “dissolu- ção das fronteiras entre tempo privado e profissional, entre traba- lho e consumo”, o que significa que, muitas vezes, não há separação clara entre a jornada de trabalho diária e o tempo de descanso. Muitos tra- balhadores utilizam a internet para continuar resolvendo questões pro- fissionais, mesmo quando estão fora de seu horário de trabalho. Esse pro- cesso de flexibilização só se tornou possível graças ao desenvolvimento de ferramentas digitais que permi- tem levar o trabalho para dentro das moradias dos indivíduos. Nessa perspectiva, a cultura que se cria na internet não é tanto baseada na ideia de colaboração, mas na criação de formas cada vez mais complexas de controle da vida dos indivíduos. ■ Na capital inglesa há cerca de 500 mil câmeras de monitora- mento, e uma pessoa que trafega na rua é filmada cerca de 300 vezes por dia. Londres (Inglaterra), 2015. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • A partir de sua experiência cotidiana na internet, é possível ir contra os dispositivos de controle que atuam nesse meio de comunicação? Em caso positivo, de que maneira isso pode ser feito? Discuta essa questão com seus colegas. JO H N D W IL LI AM S/ IS TO CK /G ET TY IM AG ES 35 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 35D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 35 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 Divisões digitais no mundo Desde 2001, o Fórum Econômico Mundial publica anualmente o Relatório Global de Tecnologia da Informação, que tem o objetivo de avaliar como o desen- volvimento tecnológico tem impactado e beneficiado as economias e o bem-estar das populações. O relatório indica a propensão dos países para aproveitar as oportunidades oferecidas pelas tecnologias de informação e comunicação. Segundo o Relatório Global de Tecnologia da Informação publicado em 2016, nenhum país obteve o índice máximo. Dos 139 países avaliados em 2016, 28 apresentaram indicadores elevados de propensão para o aproveitamento das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Esse bloco é constituído por nações que investem fortemente em pesquisa e desenvolvimento voltados à produção de conhecimento, novas tecnologias, robó- tica, telecomunicações, informática etc. Cingapura aparece como líder do ranking, seguida de Finlândia, Suécia, Noruega e Estados Unidos. Um segundo bloco é constituído por 48 países em posição intermediária, entre eles o Brasil. O terceiro bloco é formado por 63 países que apresentam dificuldades para alavancar investimentos em pesquisa e desen- volvimento de novas tecnologias, bem como promover a disseminação do uso das TICs pela população. Observe o mapa. Fonte: FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL. Relatório Global de Tecnologia da Informação. Genebra, 2016. Disponível em: http://www3.weforum.org/ docs/GITR2016/WEF_GITR_Full_Report.pdf. Acesso em: 16 set. 2020. Mundo: propensão para aproveitar as tecnologias da informação e comunicação, 2016 Trópico de Capricórnio Trópico de Câncer Equador M er id ia no d e G re en w ic h Círculo Polar Antártico Círculo Polar ÁrticoCírculo Polar Ártico 0° 0° OCEANO ÍNDICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICOOCEANO PACÍFICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO 0 2665 Sem dados MaiorMenor D AC O ST A M AP AS 36 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 36D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 36 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 http://www3.weforum.org/docs/GITR2016/WEF_GITR_Full_Report.pdf O mapa revela um enorme contraste entre os países em sua capacidade de pro- duzir, difundir e garantir o acesso às tecnologias de informação e comunicação. Entre os 28 países com indicadores elevados de propensão para aproveitar as TICs, nenhum faz parte do grupo dos mais desenvolvidos, conforme classificações da ONU. Enquanto sete dos 10 países mais bem colocados no ranking são europeus, a maioria dos países analisados ocupa posição intermediária ou apresenta baixos indicadores, como muitos localizados na América Latina, no Leste Europeu, na Ásia Meridional, no Sudeste Asiático e na África. No Relatório de 2016, o Brasil ocupava a 72a posição. Em grande parte dos chamados países emergentes, as inovações no campo da informação e da comunicação acontecem com base em estruturas insuficientes e ultrapassadas, que dificultam e encarecem o acesso de parcela significativa da população. O uso eficiente e democratizado das TICs é capaz de ampliar o capital humano, econômico, cultural, social e político, permitindo aos indivíduos aproveitar diversas oportunidades, de modo a reduzir as desigualdades nas sociedades contemporâ- neas. No entanto, se as oportunidades de acesso permanecem sob o domínio de parcelas privilegiadas da população, a difusão das TICs pode contribuir para a repro- dução das desigualdades. ■ A menina Waibai Buka (em pé, ao centro) acessa a internet pela primeira vez em uma escola de Camarões, 2017. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em grupo, analisem e discutam as seguintes questões: Que situações de dificuldade de acesso às tecnologias de informação e comunicação (TICs) vocês observam em seu meio (moradia, escola, trabalho)? Como essas dificuldades se relacionam com a desigualdade social existente no Brasil? © U N IC EF /U N 01 43 47 6/ PR IN SL O O 37 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 37D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 37 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> Observe a imagem abaixo e leia o texto a seguir. Em seguida, responda ao que se pede. FI LI PE R O CH A Tecnologias e dispositivos que produzem ou armazenam dados de nossas atividades diárias: 1; 6; 14. Videovigilância: as imagens podem ser interceptadas. 2. Medidores de eletricidade e ter- mostatos: fornecem informação sobre hábitos. 3; 4. Televisores inteligentes e con- soles de videogames: possuem câmeras e microfones. 5. Controles biométricos de entra- da e saída. 7. Monitoramento remoto no trabalho: capturas de tela para medir a produtividade do trabalhador. 8. Bases de dados pessoais: podem conter dados fiscais e de saúde dos clientes. 9. Sensores de contagem de pes- soas: monitoram o fluxo de compradores e os tempos de compra. 10. Cartões de fidelidade: em troca de descontos, criam perfis do comprador. 11. iBeacons: enviam ofertas para celulares próximos. 12. Wi-fi gratuito: pode ser oferecido em troca do acesso ao perfil do Facebook. 13. Bilhetes de transportes públicos: cartões recarregáveis que produ- zem dados de deslocamentos. 14. Redes de bicicletas públicas: re- gistro dos trajetos. 15. Carros: existem sistemas para ler as placas. 16. Telefonia móvel: permite geo- localizar os aparelhos. 17. Câmeras térmicas e sensores so- noros: medem o fluxo de pedes- tres e níveis de ruído. 18. Mobiliário urbano que detecta a presença de pedestres. 19. Sistemas de estacionamento: o pagamento com cartão de vagas azuis e verdes gera dados do usuário. UMA VIDA VIGIADA 38 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21-AVU.indd 38D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21-AVU.indd 38 24/09/2020 01:0424/09/2020 01:04 [...] Na verdade, cada vez que visitamos uma página com o computador, o celular ou o tablet, recebemos dezenas de pedidos de instalação de cookies. Somos, portanto, o produto, porque em troca da informação que obtemos fornecemos detalhes sobre nossa atividadeon-line e, frequentemente, dados pessoais como nome e localiza- ção, hábitos, cartão de crédito etc., sobre os quais não temos nenhuma maneira de controlar para onde eles vão. [...] O Facebook, rede social utilizada por mais de um bilhão de pessoas por mês, dispõe dos dados que o usuário deposita voluntariamente nele, mas também faz inferências com base em nossas interações com pessoas e informações, compar- tilha-as com terceiros e desenvolve um perfil único que permite determinar o que aparece no nosso mural, tanto por parte de nossos amigos como de anunciantes. [...] Outra área em que a coleta de dados está se tornando cada vez mais impor- tante é o espaço público. Nosso descuidado passeio pelas ruas é cada vez menos anônimo e os sensores que leem os identificadores únicos e a geolocalização dos nossos dispositivos, as câmeras de imagem térmica e de videovigilância, redes sem fios, lâmpadas inteligentes ou sensores de leitura automática de placas de automóveis nos incorporam de forma rotineira a bases de dados públicos e privados que em algum lugar servem a alguém para obter um lucro que não conhecemos nem controlamos. [...] CLAVELL, G. G. O que acontece com nossos dados na internet? El País, 15 jun. 2015. Disponível em: https://brasil.elpais.com/ brasil/2015/06/12/tecnologia/1434103095_932305.html. Acesso em 28 ago. 2020. 1. Observe as tecnologias e os dispositivos representados na ilustração e indique quais deles você conhece e quais são novidade para você. 2. Escolha dois dos dispositivos representados na imagem e cite suas vantagens e des- vantagens para o usuário. 3. Como o princípio de sociedade de controle é evidenciado no texto e na ilustração? 4. Segundo o texto, os usuários de internet não têm total controle sobre seus dados, sendo difícil manter a privacidade. Organizados em grupos, pesquisem formas de pro- teger a privacidade na internet e elaborem uma cartilha para ser divulgada nas redes sociais da escola. 5. Em sua comunidade, existem dispositivos de vigilância? Em caso positivo: a) De que tipo eles são? b) Eles estão concentrados em alguma localidade específica? c) Quem tem acesso a eles? d) Você acredita que os sistemas de vigilância variam de acordo com a localidade e o nível de renda da população local? Por quê? e) Qual é a sua opinião sobre o uso desses dispositivos? Reúna-se com os colegas e compartilhem as respostas. 39 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 39D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 39 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 https://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/12/tecnologia/1434103095_932305.html INVESTIGAÇÃO> Estudo de recepção da arte A arte é uma forma de expressão cultural ancestral, que se manifesta por meio de uma grande variedade de linguagens (arquitetura, desenho, escultura, pintura, dança etc.) e é capaz de provocar a sensibilidade das pessoas. Na atualidade, a arte – para além dos espaços fechados de museus, cinemas, casas de espetáculos e galerias – está presente nas ruas e nas redes, conquistando o espaço digital. Com a internet, o acesso a essas manifestações tornou-se muito fácil. Você pode assistir a espetáculos de música, dança, peças de teatro ou visitar museus sem sair de casa. Para aprofundarmos as reflexões sobre o assunto, este projeto abordará as artes visuais no ambiente digital. Para isso, usaremos como prática de pesquisa a recepção da arte, que, em síntese, compreende a ideia de que a obra se completa por meio da relação com o observador. O projeto se desdobrará em duas etapas principais. I. Pesquisa e planejamento O primeiro passo é mapear os recursos para o conhecimento da arte no ambiente digital (galerias, exposições, plataformas, entre outros). Muitos museus e galerias, por exemplo, oferecem por meio da internet passeios virtuais por seus acervos. Em seguida, cada grupo escolhe um tema central. As possibilidades são muitas, como autorretratos, releituras de obras, paisagens, infância, vida urbana, vida rural, arte indígena etc. Na sequência, elaborem coletivamente um roteiro de perguntas. ■ GORKY, A. After Khorkum. 1940-1942. Óleo sobre tela, 91,4 cm x 121,3 cm. MU SE U D E AR TE D O IN ST IT U TO D E CH IC AG O, E UA . F O TO : Á LB U M F O TO AR EN A 40 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 40D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 40 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 O roteiro deve conter questões objetivas, como “qual o nome do artista”, “de que ano é a obra”, “qual a técnica utilizada”, entre outras; e questões subjetivas, relacionadas às percepções, aos sentimentos, às sensações e à recepção que a obra causou em você e em seus colegas. Exemplos de perguntas: “O que mais me chamou a atenção nessa obra?”, “Que sentimento essa obra desperta em mim?”, “Existe algo nela que me agrada ou me incomoda? O quê?” Com o roteiro pronto, os grupos devem acessar os sites previamente mapeados e desenvolver a pesquisa, selecionando pelo menos cinco obras dentro do tema escolhido. Uma vez selecionadas as obras, o grupo responde coletivamente às per- guntas objetivas. Já as perguntas subjetivas do roteiro devem ser respondidas de forma individual. Os grupos devem se reunir e compartilhar as experiências. Finalizada essa etapa, dá-se início ao desenvolvimento do produto. II. Preparação e produção do fazer artístico Há duas possibilidades de produção: a) desenvolvimento de uma produção artística baseada na recepção que as obras selecionadas provocaram no grupo; cada estudante deverá desenvolver a sua. b) montagem de uma exposição aberta à comunidade a partir das obras acessadas nas plataformas virtuais, acrescidas das percepções do grupo sobre cada uma delas. Como conclusão do projeto, poderá ser realizada uma roda de conversa sobre a experiência. ■ POLLOCK, J. A chave. 1946. Óleo sobre linho, 149,8 cm x 208,3 cm.© T H E PO LL O CK -K RA SN ER F O U N D AT IO N /A U TV IS , B RA SI L, 2 02 0. M U SE U D E AR TE D O IN ST IT U TO D E CH IC AG O, E UA . FO TO : Á LB U M /F O TO AR EN A 41 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21-AVU.indd 41D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21-AVU.indd 41 24/09/2020 01:0424/09/2020 01:04 ANÁLISE DE CASO Depois de realizadas as entrevistas, vocês irão analisar as respostas obtidas e verificar quais delas chamaram mais a atenção. Organizem as respostas montando uma nuvem de palavras ou um mapa mental com expres- sões ou trechos das falas dos entrevistados. Compartilhem o resultado com os demais grupos e verifiquem se a hipótese levantada na etapa 1, sobre organização de ganhos e despesas, pode ser verificada: as pessoas que têm alguma organização orçamentária poupam mais e se endividam menos? Dicas para fazer um mapa mental. • Numa folha, ou no computador, façam um desenho que represente o conceito central das informações coletadas na entrevista. Se preferirem, pode ser apenas uma palavra represen- tativa. Esse desenho ou essa palavra deve ficar na parte central do mapa. • Da imagem ou da palavra central devem partir setas para outras palavras, frases ou imagens, e dessas partem outras. Veja um exemplo: Etapa 2 Agora vocês farão o estudo de caso propriamente dito. Reúnam-se com os demais grupos e, com base nas respostas obtidas nas entrevistas, separem os entrevistados em quatro tipos de caso: 1. Pessoa que anota o que ganha e o que gasta, mas que tem financiamento ou dívida. 2. Pessoa que anota o que ganha e o que gasta e guarda algum dinheiro. 3. Pessoa que não anota o que ganha e o que gasta e tem financiamento ou dívida. 4. Pessoa que não anota o que ganha e o que gasta e guarda algum dinheiro. Em seguida, cada grupo escolherá um caso para investigar mais a fundo. Retomem os registros das entrevistas, verificando quais são as principais dificuldades das pessoas no que se refere ao planejamento financeiro. Caso necessitem conversar com um dos entrevistados para esclarecer algum ponto, esse é o momento. Registremas principais conclusões e compartilhem com os demais grupos. Assim a turma poderá ter um panorama geral sobre a relação de cada tipo de caso com o planejamento financeiro. BE TO C EL LI 42 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 42D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21.indd 42 23/09/20 20:3523/09/20 20:35 > SAIBA MAIS O quinto poder Direção: Bill Condon. Estados Unidos, 2013. DVD (129 min). O filme conta a história da criação da plataforma da internet lançada em 2006 por Julian Assange e Daniel Domscheit-Berg, que ficou famosa em 2010 por publicar grande quantidade de documentos oficiais do governo dos Estados Unidos. Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá Direção: Silvio Tendler. Brasil, 2006. DVD (90 min). O documentário apresenta a visão crítica do geógrafo brasileiro Milton Santos sobre o processo de globalização. A evolução da web Disponível em: http://www.evolutionoftheweb.com/. Acesso em: 28 ago. 2020. O site apresenta uma linha do tempo interativa dos principais marcos da internet. 1984 George Orwell. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. O romance, publicado originalmente em 1949, apresenta uma sociedade distópica, marcada pela constante vigilância da população e controlada por um Estado autoritário, que presta grandes cultos de personalidade a seu líder político. O protagonista trabalha em um órgão governamental e tem a tarefa de reescrever artigos de jornal do passado de modo a alterar os registros, deixando-os em sintonia com a atual ideologia do governo. Como o futebol explica o mundo: um olhar inesperado sobre a globalização Franklin Foer. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. O jornalista Franklin Foer reuniu nesse livro histórias sobre futebol em diversas regiões do mundo. Por meio delas, o autor reflete sobre as características do mundo globalizado e a forma como elas afetam a vida cotidiana de diferentes sociedades. Snowden: um herói do nosso tempo Ted Rall. São Paulo: Martins Fontes, 2015. Versão em quadrinhos da história de Edward James Snowden, ex-administrador de sistemas da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos que revelou ao mundo documentos sigilosos do governo estadunidense. Esses documentos provavam que a NSA praticava espionagem ilegal de e-mails e conversas telefônicas em todo o mundo. Driblando a democracia: como Trump venceu Direção: Thomas Huchon. França, 2018. Vídeo (52 min). Disponível em: https://vimeo. com/295576715. Acesso em: 28 ago. 2020. O documentário mostra como as informações divulgadas pelos usuários das redes sociais contribuíram de maneira significativa para que a empresa Cambridge Analityca tornasse vitoriosa a campanha eleitoral de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. 43 D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21-AVU.indd 43D3-CH-EM-3075-V6-U1-C2-026-043-LA-G21-AVU.indd 43 24/09/2020 01:0424/09/2020 01:04 https://vimeo.com/295576715 http://www.evolutionoftheweb.com/ 44 UNIDADE 44 1. Como vimos, a violência pode assumir for- mas muito variadas. Com base nos exem- plos citados, descreva os tipos de violência que você observa com mais frequência no seu cotidiano. 2. Existem muitas formas de violência dentro do ambiente escolar. Uma delas é conheci- da atualmente como bullying. Por que você acha que ela ocorre? Que medidas podem ser tomadas para evitar essa prática? As múltiplas faces da violência A violência se manifesta das mais dife- rentes maneiras: assaltos, agressões físicas e verbais, violência doméstica, ações arbitrárias da polícia, guerras, atentados terroristas, assé- dios morais e sexuais, supressão dos direitos civis, práticas de tortura, entre muitos outros exemplos. Não importa como ela se apre- senta: a violência choca e suas práticas devem ser combatidas. Nesta unidade veremos algumas dessas manifestações de violência e suas consequências. 2 NÃO ESCREVA NO LIVRO D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 44D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 44 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 PA U LO IT O 45 ■ ITO, P. Não quero ter que achar que isso é normal, 2014. Grafite em muro da Vila Madalena, em São Paulo (SP). , 2014. Grafite em muro da Vila Madalena, ■■■ ITO, P. ITO, P. ITO, P. Não quero ter que achar que isso é Não quero ter que achar que isso é Não quero ter que achar que isso é normalnormalnormal. 2014. Grafite em muro da Vila Madalena, , 2014. Grafite em muro da Vila Madalena, . 2014. Grafite em muro da Vila Madalena, , 2014. Grafite em muro da Vila Madalena, em São Paulo (SP).em São Paulo (SP).em São Paulo (SP). D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21-AVU.indd 45D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21-AVU.indd 45 24/09/2020 00:5224/09/2020 00:52 CAPÍTULO 3 Terrorismo Em junho de 2019, o político alemão Walter Lübcke (1953-2019) foi executado a tiros em sua casa, no estado alemão de Hesse. Lübcke, um político do mesmo partido da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, vinha recebendo ameaças de grupos de extrema-direita que defendem ações terroristas na Alemanha. Esses grupos perseguiam o político pelo fato de ele se posicionar a favor de refugiados que vivem em território alemão. O assassinato de Lübcke não foi o único cometido por grupos que agem de forma terrorista no país. De acordo com dados de institutos de pesquisa da Alemanha, entre 2016 e 2019, houve pelo menos 16 mortes provocadas por ações terroristas promovidas por grupos de extrema-direita. Além disso, milhares de outros crimes foram cometidos por esses grupos extremistas. Os participantes desses movimentos são indivíduos insatisfeitos com os rumos políticos da Alemanha, que acreditam serem capazes de enfraquecer o governo por meio de ações violentas e levar ao poder grupos ou partidos que defendam ideias de extrema-direita. Essa situação é um exemplo do papel que as ações terroristas desempenham na ordem política contemporânea. Assim como os movimentos de extrema-direita na Alemanha, existem muitos outros grupos espalhados pelo mundo que empregam ações terroristas para atingir fins políticos. Esses grupos defendem ideologias muito diversas, portanto não representam um fenômeno exclusivo da extrema-direita. Neste capítulo, vamos analisar a história do terrorismo e o modo como esse tipo de ação se tornou uma estratégia utilizada por vários grupos, em diversas partes do mundo, na tentativa de alcançar mudanças políticas. ■ Ativistas de extrema direita usando máscaras gritam slogans durante a marcha dos veteranos no centro da cidade de Kiev (Ucrânia), 2020. Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítu- lo e sobre o trabalho com as atividades. PA VL O G O N CH AR /S O PA IM AG ES /L IG H TR O CK ET /G ET TY IM AG ES 46 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 46D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 46 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 BO U RE IM A H AM A/ AF P ■ Oficiais do exército nigerino inspecionam carro pertencente à Acted, no local onde seis integrantes da organização francesa de ajuda humanitária, juntamente com o guia local e o motorista, foram mortos por homens armados não identificados, na Reserva Kouré, a cerca de 60 km de Niamei (Níger), 2020. O que é terrorismo? Nas últimas décadas, o conceito de terrorismo passou a ser utilizado com frequência nos meios de comunicação. Ataques contra populações civis em diferentes regiões do mundo, como os que ocorreram em uma aldeia no estado de Borno, na Nigéria, em junho de 2020, são classificados como atos terroristas pela imprensa e por autoridades. Afinal, o que são atos terroristas e por que são assim classifica- dos? Qualquer ataque praticado contra uma população civil é uma ação terrorista? O que diferencia uma guerra de um ataque terrorista? Essas questões foram analisadas por diversos pensadores das Ciências Humanas e Sociais. O professor israelense Ariel Merari (1939-), um importante espe- cialista em terrorismo, afirma que essetipo de prática é “um modo de luta”. Merari diz que o terrorismo pode ser definido de diferentes maneiras, embora quase sempre assuma uma conotação negativa. A maioria das pessoas associa ataques terroristas a valores morais negati- vos, como covardia ou desumanidade, mas, segundo o pesquisador, há quem entenda os atos terroristas como ações que combatem injustiças, podendo, inclusive, assumir uma dimensão revolucionária. Essa polarização, segundo Merari, cria dificuldades para uma análise crítica do fenômeno do terrorismo, já que diferentes agentes sociais podem utilizá-lo de acordo com seus interesses, atacando grupos e movimentos adversários. Determinado grupo político, por exemplo, pode chamar de terrorista um grupo que luta por mudanças sociais, assim como esse grupo pode classificar os governantes de seu país como terroristas, ao denunciar ações do governo. Para evitar que qualquer tipo de ação de luta possa ser considerado terrorista, Merari e outros cientistas sociais elaboraram uma conceitua- ção mais delimitada de terrorismo. 47 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 47D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 47 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 Uma definição de terrorismo O terrorismo no mundo contemporâneo pode ser definido, segundo Ariel Merari, como uma forma de ação violenta promovida – principal- mente, mas não exclusivamente – por indivíduos ou grupos em tempos de paz (sem uma declaração formal de guerra convencional). Além disso, o terrorismo é uma ação com motivação política que envolve quase sempre alvos não militares ou populações civis como forma de lutar contra o Estado e seus agentes. Por isso, o terrorismo é realizado, na maioria das vezes, por grupos que não controlam as ins- tituições políticas, mas que visam modificar essa situação. Em síntese, o terrorismo pode ser classificado como uma violência insurrecional. Essa definição de terrorismo pode nos ajudar a analisar e classifi- car ações violentas praticadas no presente, mas é importante destacar que o terrorismo não é uma prática recente. Na realidade, ao longo da História, diferentes grupos utilizaram estratégias violentas que podem ser classificadas como terroristas. Um dos exemplos mais antigos registrados pelos historiadores é a organização dos zelotes na Antiguidade, na região da atual Palestina. Esse território fazia parte do Império Romano e os zelotes formavam um grupo de hebreus que desejava expulsar os romanos dessas terras. Nos primeiros anos da era cristã, os zelotes promoveram ataques contra as forças romanas com o objetivo de instaurar o terror e incentivar um levante popular contra o Império. As forças romanas, porém, reprimiram o movimento, dominando o controle da região. Mais de 2 mil hebreus acu- sados de envolvimento no movimento foram crucificados pelos romanos. Outro episódio ocorreu no século IV. Sob o domínio do Império Romano, em uma época marcada por intenso confronto entre o paganismo e o cris- tianismo, a Alexandria, no Egito, foi palco de um dos mais violentos conflitos religiosos da Antiguidade. No ano 390, com a oficialização do cristianismo, as teorias científicas pagãs passaram a representar uma ameaça aos preceitos da fé e ao poder político da Igreja nas- cente. Segundo historiadores, em 391, uma multidão enfurecida de extre- mistas cristãos atacou a Biblioteca de Alexandria, centro do conhecimento do mundo antigo. A biblioteca sofreu vários ataques até ser completamente destruída em 646. Ao longo dos séculos, outros movi- mentos fizeram uso de estratégias terroristas, mas foi no início da era con- temporânea que o termo terrorismo passou a ser utilizado para definir as ações de um grupo específico. Violência insurrecional Forma de violência praticada com o objetivo de lutar contra a ordem social estabelecida. ■ DUDLEY, R. A. O incêndio da Biblioteca de Alexandria em 391 d.C. ca. 1910. Litografia. Ilustração publicada em Hutchinsons history of the nations. BR ID G EM AN IM AG ES /E AS YP IX B RA SI L 48 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21-AVU.indd 48D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21-AVU.indd 48 24/09/2020 00:5224/09/2020 00:52 O nascimento do terrorismo contemporâneo O terrorismo no mundo contemporâneo pode ser definido, de modo geral, como uma ação violenta praticada por grupos que não controlam as instituições políticas. O termo terrorismo se originou na época da Revolução Francesa (1789-1799), em referência às ações dos jacobinos no período do Terror (1793-1794). Os jacobinos formavam um dos grupos que disputavam o con- trole do Estado francês durante a Revolução, representando os interesses da pequena burguesia e de setores populares da sociedade francesa. Em 1792, com o fim da monarquia na França e a instituição de uma República, os jacobinos passaram a controlar o governo. No ano seguinte, a crise social e as disputas políticas começaram a ameaçar esse controle. Para se fortalecer, os jacobinos utilizaram estratégias violentas contra seus opositores – ou mesmo contra aliados vistos com descon- fiança. Cerca de 300 mil franceses foram presos, acusados de serem inimigos da Revolução. Esse período foi chamado de O Grande Terror, Terror Jacobino ou, simplesmente, Terror. Entre os principais alvos do Tribunal estavam represen- tantes da alta burguesia. O Terror foi um período caracterizado por um governo que exerceu o medo como forma de controle social. Por essa razão, muitos pesquisado- res classificam esse modelo de terrorismo de Estado. Assim, em sua origem, as práticas ter- roristas estavam associadas ao Estado e apenas posterior- mente passaram a denominar grupos que não controlam o governo. ■ A EXECUÇÃO de Robespierre e seus apoiadores em 28 de julho de 1794. [18--?]. Aquarela, 116 cm x 90 cm. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Ao longo do tempo, diferentes tipos de comportamento foram considerados atos de terrorismo. Reúnam-se em grupos e listem ações que possam ser caracterizadas como terroristas, na atualidade. Com base nesse levantamento, analisem se há na sociedade brasileira eventos que se aproximem de comportamentos considerados terroristas e discutam as ideias do grupo, justificando seus pontos de vista. BI BL IO TE CA N AC IO N AL D A FR AN ÇA , P AR IS 49 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 49D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 49 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 O terrorismo ao longo do século XX A partir da segunda metade do século XIX e o início do século XX, o terrorismo começou a assumir a configuração contemporânea, passando a ser praticado contra o Estado. Aproveitando o contexto de desmantelamento dos grandes impérios Russo, Otomano e Austro-Húngaro e da emergência da democracia e do nacionalismo, grupos e organizações terroristas começaram a se organizar na Europa. Na Rússia, tiveram início, no século XIX, movimentos revolucionários que lutavam contra o poder do czar, governante absolutista do país. A primeira organização político-terrorista da história, o Narodnaya Volia (Vontade do Povo), foi responsável pelo assassinato do czar Alexandre II, em 1881. Outro movimento terrorista importante nesse contexto teve origem no território da atual Sérvia. O movimento Mão Negra, que defendia a emancipação da região do Império Austro- -Húngaro, planejou e executou o assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro, o arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria, e sua esposa, Sofia Chotek. Esse episódio foi o estopim da Primeira Guerra Mundial. Ao longo do século XX, outros movimentos organizaram ações terroristas para fins políticos. A partir da segunda metade do século, o terrorismo passou a ter um caráter predominantemente internacional, resultado dos avanços tecnológicos e de comunicação, que permitiram aos grupos e organizações cruzar fronteiras para promover ataques, espalhando o medo em uma escala inédita. Sequestros de voos internacionais e atentados em paísesfora da área de reivindicação dos grupos, atingindo pessoas de diversas nacionalidades, são característicos desse momento. Muitos movimentos terroristas tinham propostas emancipacionistas, baseadas em valores nacionalistas. O IRA (Irish Republican Army, traduzido como Exército Republicano Irlandês) e o ETA (Euskadi Ta Askatasuna, traduzido como Pátria Basca e Liberdade) estão entre as organizações que se destacaram nesse período. H .B IL BA O /E U RO PA P RE SS /G ET TY IM AG ES ■ Manifestação em defesa dos direitos dos prisioneiros do ETA, em Bilbao (Espanha), 2020. 50 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 50D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 50 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 Observe abaixo a reprodução de Guernica, produzida em 1937, pelo pintor espanhol Pablo Picasso. Nessa obra, que representa um dos principais símbolos dos reflexos da guerra e uma manifestação a favor da paz, o artista retratou o ataque à região do País Basco. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> ■ PICASSO, P. Guernica. 1937. Óleo sobre tela, 351 cm x 782 cm. Em seguida, leia um trecho da Declaração sobre medidas para eliminar o terrorismo internacional, da Organização das Nações Unidas (ONU), Resolução 49/60 da Assembleia Geral, parágrafos 2 e 3. [...] 2. Atos, métodos e práticas de terrorismo constituem uma grave violação dos propósitos e prin- cípios das Nações Unidas, o que pode representar uma ameaça à paz e segurança internacionais, comprometem as relações amigáveis entre os Estados, dificultam a cooperação internacional e visam à destruição de direitos humanos, liberdades fundamentais e bases democráticas da sociedade; 3. Atos criminosos pretendidos ou calculados para provocar um estado de terror no público em geral, em um grupo de pessoas ou em indivíduos para fins políticos são injustificáveis em qualquer circunstância, independentemente das considerações de ordem política, filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa ou de qualquer outra natureza que possam ser invocadas para justificá-los. [...] ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Assembleia Geral. Declaração sobre medidas para eliminar o terrorismo internacional. Genebra, 1995. p. 4. Disponível em: https://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/49/60. Acesso em: 30 ago. 2020. [Tradução nossa.] 1. O bombardeio de Guernica, retratado por Picasso, remete a um ataque aéreo provocado por aviões alemães durante a Guerra Civil Espanhola. Como o terror da guerra é representado na obra? 2. Com base no que foi estudado neste capítulo, aponte como é possível relacionar a imagem de Picasso à declaração da ONU sobre o terrorismo. 3. Guernica é um exemplo de obra de arte que denuncia práticas violentas praticadas contra populações civis. Assim como ela, existem muitos outros exemplos de obras de arte que fazem esse tipo de denúncia. Com a ajuda de seus colegas, pesquise outros exemplos e montem uma galeria digital sobre o tema. © S U CC ES SI O N P AB LO P IC AS SO / AU TV IS , B RA SI L, 2 02 0. M U SE U N AC IO N AL C EN TR O D E AR TE R EI N A SO FI A, M AD RI , E SP AN H A. F O TO : J O SE PH M AR TI N / AL BU M /F O TO AR EN A NÃO ESCREVA NO LIVRO 51 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 51D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 51 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 O terrorismo no século XXI Na passagem do século XX para o século XXI, a maior integração do mundo promovida pela globalização possibilitou a prática de ações terroristas em diferentes regiões. Alguns grupos passaram a organizar ataques em diferentes países visando instalar o terror para fortalecer suas causas. Assim, grupos extremistas de direita ou esquerda, fun- damentalistas religiosos e nacionalistas, entre outros, vêm utilizando estratégias terroristas para alcançar seus objetivos. Para compreender o terrorismo no século XXI, é preciso analisá- -lo como um fenômeno amplo e que pode ser mobilizado por grupos com crenças e características muito diversas. Além disso, é importante entender que não há uma visão de mundo que tenha maior ou menor afinidade com as estratégias terroristas, para evitar a reprodução acrítica de representações sociais muito disseminadas nos meios de comunica- ção que associam o terrorismo a práticas de grupos específicos. Militantes ligados a essa organização executaram, entre outros aten- tados, o que destruiu as torres gêmeas do World Trade Center, na cidade de Nova York, Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, que causou a morte de quase 3 mil pessoas. A Al-Qaeda e os ataques de 11 de setembro A Al-Qaeda se organizou durante a Guerra do Golfo (confronto entre Kuwait e Iraque ocorrido entre 1990 e 1991), na qual os Estados Unidos apoiaram o Kuwait e instalaram tropas na península Arábica, berço do profeta Maomé e sede dos principais santuários do islamismo. A invasão ocidental, somada à miséria e à destruição causadas pelo conflito, criou um cenário favorável ao fundamentalismo religioso. Osama Bin Laden, criador e líder da Al-Qaeda, apesar de se opor ao Iraque, não aceitava a permanência dos soldados estadunidenses no ter- ritório e iniciou uma campanha de resistência contra os ocidentais que controlavam militarmente a região e tinham muita influência política. Fundamentalista Relativo a fundamen- talismo, movimento conservador que defende interpretações rígidas de doutrinas ou ideias. ■ Pessoas fogem após desmoronamento da Torre Norte no atentado de 11 de setembro às torres gêmeas do World Trade Center (WTC), em Nova York (Estados Unidos), 2001. JO SE JI M EN EZ /P RI M ER A H O RA /G ET TY IM AG ES 52 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 52D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 52 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 O Estado Islâmico Os métodos da Al-Qaeda serviram de modelo para um grupo que se formou no noroeste do Iraque, no início do século XXI, e se expandiu para outras regiões. Liderado pelo iraquiano Abu Bakr al-Baghdadi, o autodenominado Estado Islâmico tornou-se conhecido ao disseminar pela internet vídeos de execuções de reféns e de destruição de monumentos históricos não identificados com a cultura islâmica. Em março de 2015, outro grupo fundamentalista islâmico afiliou-se ao Estado Islâmico: o Boko Haram, que desde 2009 promove ataques terroristas e sequestros na Nigéria e atualmente controla o nordeste do país. O grupo, cujo nome significa “educação ocidental é proibida”, defende a implantação de um regime fundamen- talista islâmico na região, de população majoritariamente muçulmana. Desde a escalada dos conflitos, estima-se que mais de 2 milhões de pessoas tenham se deslocado para outras regiões da Nigéria ou para países vizinhos, como Chade, Camarões e Níger, na tentativa de fugir da dominação ostensiva do grupo. ■ Homens sob telhado destruído de uma residência atingida durante tiroteio entre Zakir Rashid Bhat, conhecido como Zakir Musa, líder de um grupo militante filiado à Al-Qaeda, na vila de Dadasara, no sul de Tral, Caxemira (Índia), 2019. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em 2015, houve um atentado contra o jornal francês Charlie Hebdo, que feriu e matou pessoas. O atentado foi realizado como retaliação às charges satíricas feitas pelo jornal sobre o profeta muçul- mano Maomé e causou grande comoção. Pesquise notícias sobre o evento e elabore uma lista de argumentos que você considera necessários para compreender os pontos de vistas de ambos os lados. Como seria possível encontrar uma solução pacífica para esse conflito? D AN IS H IS M AI L/ RE U TE RS /F O TO AR EN A 53 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 53D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 53 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 A guerra ao terror Os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 provocaram uma resposta imediata dos Estados Unidos. Quando ocorreram, o presidente republicano George W. Bush, que governouo país de 2001 a 2009, estava no início do seu primeiro mandato. A resposta estadunidense deu início a uma política externa agressiva, visando combater potenciais grupos terroristas e assegurar interesses geopolíticos e econômicos do país. Essa política, que foi chamada de Guerra ao terror, tem desdobramentos até os dias de hoje. No início de 2001, forças estadunidenses invadiram o Afeganistão, onde, acreditava-se, Bin Laden estaria escondido. A ação militar derru- bou o governo dos religiosos fundamentalistas da milícia Talibã, que controlava o país desde 1996. Cabe ressaltar que o Talibã é um grupo provincial e não participou de ataques aos países ocidentais. Embora tenha sido desti- tuído do governo formal, o grupo se tornou ainda mais influente depois da invasão. Em março de 2003, os governos dos Estados Unidos e da Inglaterra lideraram uma coalizão militar que invadiu o Iraque e depôs o presidente Saddam Hussein, apesar da oposição do Conselho de Segurança da ONU, do governo de diversos países e da opinião pública internacional. A alegação de que o Iraque contava com armas de destruição em massa foi posteriormente desmentida por diversas autoridades. Economicamente, a invasão impactou o mundo. Além de interromper a produção ira- quiana de petróleo, a instabilidade política causada no Oriente Médio fez que o preço do produto disparasse. Em 2003, quando os Estados Unidos chegaram à região, o preço do barril custava em torno de US$ 25. Cinco anos mais tarde, em 2008, os preços do barril chegaram a US$ 140. A retirada completa das tropas estadu- nidenses do Iraque aconteceu em 2011, após nove anos de ocupação. ■ Cena do filme Guerra ao terror, de Kathryn Bigelow (Estados Unidos, 2008). FI LM E D E KA TH RY N B IG EL O W . G U ER RA A O T ER RO R. E UA , 2 00 8. SU M M IT E N TE RT AI N M EN T/ EV ER ET T CO LL EC TI O N /F O TO AR EN A 54 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 54D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 54 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 Ainda assim, os conflitos provocados pela presença do Estado Islâmico fizeram que novas tropas fossem enviadas ao país em 2014. No início de 2020, cerca de 5 mil soldados estaduniden- ses ainda ocupavam o território. A ocupação do Afeganistão por forças estrangeiras deve se prolongar por mais tempo. Embora a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) tenha retirado suas tropas do território em 2014, o governo estadunidense prorrogou sua ação no país, alegando que era preciso treinar as forças armadas afegãs para enfrentarem o fortalecimento do Talibã. Os atentados terroristas realizados no século XXI atingiram praticamente todas as regiões do globo, vitimando milhares de pessoas. Apesar do destaque dado pela mídia aos ataques ocorridos na Europa e nos Estados Unidos, o Oriente Médio, a África e a Ásia concentram o maior número de vítimas do terrorismo: mais de 21 mil, em 2015. No mesmo período, aproximadamente 600 pessoas perderam a vida em atentados realizados na Europa, incluindo a parte europeia da Turquia. Os grupos terroristas que causaram mais mortes no ano de 2015 foram o Estado Islâmico, o Boko Haram, o Talibã e a Al-Qaeda. Fonte: INSTITUTE FOR ECONOMICS & PEACE. Global terrorism index 2019 – Measuring the impact of terrorism. Sydney, 2019. p. 8-9. Disponível em: http://visionofhumanity.org/app/uploads/2019/11/GTI-2019web.pdf. Acesso em: 28 ago. 2020. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • O Instituto de Economia e Paz, com sede na Austrália, elaborou, em 2019, um relatório sobre o nú- mero de mortes decorrentes de atos terroristas, apontando uma grande redução desses números nos últimos anos, principalmente a partir de 2014. O mapa acima analisa o impacto do terrorismo nos diferentes países. Com base nos dados do mapa, analise como podemos compreender o impacto do terrorismo nas regiões detalhadas no texto (em especial, Oriente Médio, África e Europa) e na distribuição desses atos no cenário global. Mundo: o impacto do terrorismo, 2019 Trópico de Capricórnio Trópico de Câncer Equador M er id ia no d e G re en w ic h Círculo Polar Antártico Círculo Polar Ártico 0° 0° OCEANO ÍNDICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO 0 3140 Muito alto Alto Médio Baixo Muito baixo Sem impacto Não incluído Escala do impacto do terrorismo 010 8 6 4 2 D AC O ST A M AP AS 55 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21-AVU.indd 55D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21-AVU.indd 55 24/09/2020 00:5424/09/2020 00:54 http://visionofhumanity.org/app/uploads/2019/11/GTI-2019web.pdf A guerra ao terror e a restrição às liberdades individuais A guerra ao terror foi acompanhada de uma política externa mais agressiva como forma de combate aos grupos praticantes de ações terroristas e de medidas que restringem as liberdades individuais. Em seguida, no dia 26 de outubro de 2001, o governo estadunidense criou o USA Patriot Act, que reforçou o direito do Estado de manter estrangeiros presos sem julga- mento, negando-lhes seus direitos de defesa, inclusive aqueles existentes em tempos de guerra. Em nome da proteção de seu território, os Estados Unidos começaram a enfra- quecer as garantias fundamentais dos regimes democráticos, como a liberdade individual. Outro exemplo de como o governo dos Estados Unidos ampliou seus poderes de modo a violar garantias individuais foi a concessão de autorização para investigar e arma- zenar dados privados dos cidadãos. Conversas telefônicas, registros de navegação na internet ou dados bancários passaram a ser interceptados e analisados pelo governo. Agentes de inteligência adquiriram o poder de espionar os cidadãos, restringindo a liber- dade individual de manifestação ou organização. Muitas pessoas investigadas foram postas sob vigilância apenas pelo fato de fazerem críticas ou se oporem ao governo. Essas medidas não foram adotadas apenas nos Estados Unidos, mas em diver- sos países. Em 2015, por exemplo, a França adotou medidas de exceção chamadas de Vigipirate, após ter sofrido ataques terroristas em seu território. Criado na década de 1990, o plano foi reformulado de modo a ampliar as atribuições do governo francês visando a garantir maior eficácia no combate a grupos terroristas. Com a participação das forças armadas, o programa permitiu a adoção de medidas que ampliaram os mecanismos de vigilância em território francês, que vigoram até o presente. O programa, porém, recebe críticas de alguns setores da sociedade, para os quais esses mecanismos infringem direitos individuais dos cidadãos. ■ Homem protesta contra o Patriot Act durante comício anarquista no último dia da Convenção Nacional do Partido Democrata, em Boston, Massachusetts (Estados Unidos), 2004. M IC H AE L SP RI N G ER /G ET TY IM AG ES 56 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 56D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 56 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 O conceito de Estado de exceção Os Estados nacionais, em nome do combate ao terrorismo global, passaram a intensificar suas atribuições, o que vem ameaçando as liber- dades individuais em países democráticos. O filósofo italiano Giorgio Agamben (1942-) tem se dedicado a ana- lisar problemas de filosofia política no mundo contemporâneo por meio do conceito de Estado de exceção. Esse conceito, que começou a ser desenvolvido no século XIX e ganhou maior destaque no início do século XX, foi utilizado na defesa do direito dos Estados de ampliar seus poderes em situações emergenciais, passando por cima das leis comuns, mesmo que isso implicasse a violação dos direitos dos cidadãos. O maior exemplo dessa política foi a Alemanha nazista. Em fevereiro de 1933, os nazistas criaram um decreto que impunha um Estado de exceção em toda a Alemanha. As leis regulares deixaram de ser aplicadas e o governo tinha o direito de criar novas medidaspara perseguir e punir grupos que ameaçassem os interesses do Estado. Para Agamben, a guerra ao terror vem sendo utilizada como pretexto para a criação de um Estado de exceção permanente nas democracias con- temporâneas, o que implica o fortalecimento cada vez maior dos Estados em detrimento das liberdades dos cidadãos, ameaçando a democracia. ■ Comício do Partido Nazista em Nuremberg (Alemanha), 1937. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em contraposição ao Estado de exceção, temos a construção histórica do Estado de direito, que pro- move a segurança e a estabilidade por meio das leis. Tendo em vista a necessidade da elaboração de normas para o combate ao terrorismo, aponte os setores da sociedade que deveriam ser consultados e por quais razões os seus argumentos deveriam ser considerados para que as leis sejam efetivas e não impliquem um Estado de exceção. BE RL IN ER V ER LA G/ AR CH IV /P IC TU RE A LL IA N CE /G ET TY IM AG ES 57 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 57D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 57 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> Leia os textos abaixo. O primeiro se refere ao pensamento de Marshall McLuhan (1911-1980), um dos primeiros teóricos da comunicação; o segundo é um trecho da obra 1984, uma distopia futurista escrita em 1949 por George Orwell (1903-1950): A ‘aldeia global’ representava a transformação do mundo linear, especializado e visual – criado pela mídia impressa –, num mundo simultâneo e multissensorial – propiciado pela mídia eletrônica. Antes, era uma coisa atrás da outra, uma de cada vez. Hoje, é tudo ao mesmo tempo, em todo lugar. Na ‘aldeia global’ tudo se fala, tudo se ouve. A internet criou um novo espaço para o pensamento, para o conhecimento e para a comunicação. Esse espaço não existe fisicamente, mas virtualmente. É o ciberespaço. O espaço virtual é formado por cada computador e por cada usuário conectado nessa imensa rede. Não há como escapar. O cibe- respaço tomou conta do planeta. GUIZZO, E. Internet. São Paulo: Ática, 1999. p. 41-42. […] Não encontrara dificuldades em relação à viagem, e a experiência com que a garota lidava com as coisas era tão evidente que ele não sentia tanto medo quanto normalmente sentiria. Ao que tudo indicava, podia confiar nela para encontrar um lugar seguro. Em geral, não se podia supor que a pessoa estivesse muito mais segura no campo do que em Londres. Não havia teletelas, claro, mas sempre se corria o risco de que o lugar fosse vigiado por microfones escondidos, que haveriam de captar e identificar a voz de quem aparecesse por ali; além disso, não era fácil viajar sozinho sem atrair atenção. Para distâncias inferio- res a 100 quilômetros, não era necessário visto no passaporte, porém às vezes havia patrulhas nas estações ferroviárias e os guardas pediam os documentos de qualquer membro do Partido que encontrassem pela frente, submetendo-os a perguntas inconvenientes. ORWELL, G. 1984. Tradução de Alexandre Hubner e Heloisa Jahn. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 120-121. 1. Com base no que foi estudado no capítulo e nas ideias expostas no texto referente ao pensamento de McLuhan, justifique como a internet está relacionada à prevenção do terrorismo e à possibilidade de promoção da cultura de paz. 2. No futuro imaginado por George Orwell, o mecanismo de vigilância estabelecido era tão eficiente que as pessoas se sentiam constantemente sob controle, justamen- te por estarem mergulhadas em uma rede. Como podemos relacionar a distopia criada pelo autor aos conceitos de terrorismo e de guerra ao terror analisados no capítulo? 3. Apesar de não haver consenso em relação ao termo terrorismo, existem alguns pontos comuns encontrados nas definições dadas pelos Estados, organizações internacionais e estudiosos sobre o assunto. Destaque os pontos que caracterizam as ações terroristas de uma forma mais ampla. 58 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 58D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 58 23/09/20 21:1123/09/20 21:11 BUSCANDO NOVOS CONHECIMENTOS E SOLUÇÕES Agora, vocês vão buscar uma saída para os casos nos quais vocês detectaram necessidade de melhor organização do orçamento e de conhecimento de formas de investi- mento, lembrando que os exemplos podem servir para outras pessoas da comunidade. A educação financeira é importante para todos que desejam ter uma vida financeira mais estável, independen- temente de classe social. Pesquisem soluções de educação financeira e investimento. Para isso vocês podem dividir a pesquisa por tema. Por exemplo: 1. Como fazer uma tabela de orça- mento mensal e anual. 2. Como calcular juros mensais e anuais. 3. Opções e tipos de investimentos. Sugestões de links para consulta: CÂMARA DOS DEPUTADOS. Escola Vir tual de Cidadania. Educação financeira. Brasília, DF, 2020. Disponível em: https://escolavirtualdecidadania.camara.leg.br/ site/843/educacao-financeira/. Acesso em: 30 ago. 2020. CVM EDUCACIONAL. Escola de Educação Financeira. Programa Bem-estar Financeiro – Módulo 3: controle financeiro. Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://www.investidor.gov.br/ portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/menu/Menu_Academico/Programa_Bem- Estar_Financeiro/Apostilas/apostila_03-bef-controle_financeiro.pdf. Acesso em: 31 ago. 2020. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Caderno de Educação Financeira – Gestão de finanças pes- soais. Brasília, DF, 2013. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/content/cidadaniafinanceira/ documentos_cidadania/Cuidando_do_seu_dinheiro_Gestao_de_Financas_Pessoais/caderno_cida- dania_financeira.pdf. Acesso em: 2 set. 2020. FAVELADO INVESTIDOR. Vídeos. Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UC_ IVY7OXbXLHAFoBcS4Sy4Q. Acesso em: 2 set. 2020. SUA ESCOLA, nossa escola – Educação financeira. 2017. Vídeo (24min38s). Publicado pelo canal TV Escola. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=N_T5sNwaUHQ. Acesso em: 31 ago. 2020. VIDA E DINHEIRO. Disponível em: https://www.vidaedinheiro.gov.br/?doing_wp_cron=159873 8016.6608779430389404296875. Acesso em: 30 ago. 2020. Etapa 3 EX CE L 59 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 59D3-CH-EM-3075-V6-U2-C3-044-059-LA-G21.indd 59 23/09/20 21:1223/09/20 21:12 https://www.investidor.gov.br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/menu/Menu_Academico/Programa_Bem-Estar_Financeiro/Apostilas/apostila_03-bef-controle_financeiro.pdf https://www.bcb.gov.br/content/cidadaniafinanceira/documentos_cidadania/Cuidando_do_seu_dinheiro_Gestao_de_Financas_Pessoais/caderno_cidadania_financeira.pdf https://www.youtube.com/channel/UC_IVY7OXbXLHAFoBcS4Sy4Q https://www.youtube.com/watch?v=N_T5sNwaUHQ https://www.vidaedinheiro.gov.br/?doing_wp_cron=1598738016.6608779430389404296875 https://escolavirtualdecidadania.camara.leg.br/site/843/educacao-financeira/ CAPÍTULO 4 Violência O cartum reproduzido a seguir e as manchetes de notícia apresen- tadas na sequência trazem à tona um aspecto da realidade comum a muitos jovens no Brasil e em muitos outros países: conviver de perto com a violência. Vamos refletir sobre isso? Homem é morto em tentativa de assalto na zona sul de São Paulo NAVARRO, I. Homem é morto em tentativa de assalto na zona sul de São Paulo. 25 maio 2020. R7. Disponível em: https://noticias.r7.com/sao-paulo/homem-e-morto-em-tentativa-de-assalto-na-zona-sul-de-sao-paulo-24052020. Acesso em: 2 set. 2020. Adolescente de 14 anos morre durante operação das polícias Civil e Federal no Rio de Janeiro ADOLESCENTE de 14 anos morre durante operação das polícias Civil e Federal no Rio de Janeiro. Folha de Pernambuco, 19 maio 2020. Disponível em: https:// www.folhape.com.br/noticias/adolescente-de-14-anos-morre-durante-operacao-das-policias-civil-e-fed/141004/. Acesso em: 2 set. 2020. Policial militar é executado a tiros na Zona Leste de São Paulo COLOMBO, A. Policial militar é executado a tiros na Zona Leste de São Paulo. G1,20 jun. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao- paulo/noticia/2020/06/20/policial-militar-e-executado-a-tiros-na-zona-leste-de-sao-paulo.ghtml. Acesso em: 2 set. 2020. Funai e polícia confirmam morte de 4º indígena assassinado no Maranhão em um mês e meio FUNAI e polícia confirmam morte de 4º indígena assassinado no Maranhão em um mês e meio. Valor econômico. 13 dez. 2019 Disponível em: https://valor.globo. com/brasil/noticia/2019/12/13/funai-e-policia-confirmam-morte-de-4o-indigena-assassinado-no-maranhao-em-um-mes-e-meio.ghtml. Acesso em: 2 set. 2020. Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítu- lo e sobre o trabalho com as atividades. CABRAL, I. Jornal Violento. Diário de Natal, 31 out. 2007. IV AN C AB RA L 60 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21-AVU.indd 60D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21-AVU.indd 60 24/09/2020 01:1824/09/2020 01:18 O uso do termo violência no dia a dia, infelizmente, não é algo incomum em nosso cotidiano. A violência é frequentemente mostrada nos meios de comunicação, está presente nas ruas, na internet e nas residências de muitas famílias. Você sabe explicar o significado do vocábulo? ■ Estudantes da rede pública, na Marcha Contra a Violência nas ruas da Vila do João, no Complexo da Favela da Maré, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), 2017. A palavra violência deriva do termo em latim violentia, usado ori- ginalmente para descrever o ato de usar a força contra o direito e a lei. Na maior parte das vezes nós nos referimos à violência como se fosse um sinônimo de violência física. Existem, porém, outras formas de violência. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a violência representa o “uso intencional da força ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”. Os atos violentos, sejam eles provocados ou gratuitos, físicos ou psi- cológicos, reais ou simbólicos, provocam humilhações e sofrimento às vítimas, portanto não devem ser aceitos socialmente e constituem uma transgressão da ética e da cidadania em uma sociedade. Entender as diferentes formas de violência e suas motivações é objeto de estudo das Ciências Humanas, que nos permitem compre- ender esse fenômeno tão diverso para que seja possível combatê-lo. Esse é o tema que vamos estudar ao longo deste capítulo. LU CI AN A W H IT AK ER /P U LS AR IM AG EN S 61 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 61D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 61 23/09/20 23:0523/09/20 23:05 Caracterizando a violência O termo violência é usado, de modo geral, para descrever inúmeros tipos de ações provocadas por um indivíduo ou grupo contra outro, ou mesmo por parte de um Estado contra um indivíduo ou grupo. A maioria das pessoas compreende a violência, principalmente, como sinônimo de violência física, como agressões e homicídios, mas ela nem sempre ela é explícita, física ou deliberada, podendo assumir inúmeras formas e afetar as vítimas em diferentes intensidades. Uma maneira de iniciar nosso estudo, portanto, é falando da Declaração dos Direitos Humanos. Leia o fragmento de texto apresentado. Aos 70 anos, Declaração Universal dos Direitos Humanos é mais importante do que nunca A Declaração Universal dos Direitos Humanos chega aos 70 anos nesta segunda- -feira (10), uma oportunidade de enfatizar as importantes conquistas do documento das Nações Unidas e lembrar o mundo de que os direitos humanos de milhões ainda estão sendo violados diariamente. [...] AOS 70 anos, Declaração Universal dos Direitos Humanos é mais importante do que nunca. Nações Unidas Brasil, 10. dez. 2018. Disponível em: https://nacoesunidas.org/aos-70-anos-declaracao-universal-dos-direitos-humanos-e-mais- importante-do-que-nunca/. Acesso em: 02 set. 2020. BECK, A. Armandinho Quatro. Florianópolis: Edição do autor, 2015. p. 34. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, publicada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no dia 10 de dezembro de 1948, estipula um conjunto de liber- dades fundamentais a todos os cidadãos. Elas podem ser civis ou políticas e incluem o direito à vida, à igualdade perante a lei, à liberdade de expressão, à moradia digna, ao trabalho, à educação à saúde, entre outros. A universalidade desses direitos significa que eles valem para toda pessoa, desde o momento em que ela nasce, independentemente de idade, gênero, cor da pele, nacionalidade, religião ou posição social. Nem mesmo um Estado legítimo pode violar os direitos humanos que todos nós, cidadãos, temos assegurados. A garantia dos direitos humanos universais existe na forma de tratados e de leis internacionais e, quando eles são violados, podemos considerar uma forma de violência. AR M AN D IN H O, D E AL EX AN D RE B EC K 62 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 62D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 62 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 A violência intrapessoal e coletiva A violência intrapessoal abrange diversas formas de violência cometidas por um indivíduo contra outro. Ela pode ser física, psicoló- gica, moral, sexual, econômica ou social, deliberada ou não, ocorrendo em função das mais variadas motivações. A violência coletiva abrange as formas de violência cometidas por grupos de pessoas ou pelo Estado contra determinado indivíduo ou grupo. Podemos enquadrar nessa categoria vários tipos de atos que permeiam as sociedades, como guerras e conflitos armados, terrorismo, perseguições étnicas ou religiosas, discriminação, intolerância, precon- ceito, exclusão e injustiças sociais. De modo geral, podemos classificar as formas de violências em: • Violência física: uso da força física, como agres- sões ou homicídios. • Violência econômica: roubos, furtos, golpes, fraudes etc. • Violência sexual: impo- sição de desejos sexuais sem o consentimento da vítima, como assédio ou estupro. • Violência moral e (ou) psicológica: opressão psicológica, como humi- lhação e bullying. • Violência social: repres- são, exclusão e opressão de grupos minoritários em uma sociedade. • Violência estrutural: ações violentas geradas pela sociedade, a exemplo da repressão política e da exploração econômica. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • É importante reconhecer todas as formas de violência, de que maneiras elas violam os direitos hu- manos e que tipos de danos podem causar às vítimas, para que possamos denunciá-las. Em grupo, conversem sobre as formas de violência interpessoais e coletivas explicitadas no texto e reflitam sobre suas motivações e consequências. GALVÃO, B. Mapa da violência. Vale paraibano. São José dos Campos, mar. 2012. BR U N O G AL VÃ O 63 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 63D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 63 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 A violência física e letal no mundo A violência física, como o próprio nome sugere, caracteriza qualquer ato vio- lento com utilização da força física contra um indivíduo ou grupo. Quando ela é intrapessoal ou coletiva, é realizada por uma pessoa ou grupo contra um indiví- duo ou grupo: brigas e (ou) agressões deliberadas que causam ou não ferimentos ou qualquer tipo de dano físico, ou, em determinados casos, a violência letal ou homicídio. Podemos considerar que tais atos têm motivações que, na maior parte dos casos, podem ser bem definidas: apropriação de bens da vítima, crimes de ódio, crimes passionais, desentendimentos por questões específicas e (ou) relaciona- das ao crime organizado – combatido pelos Estados –, que ocorre em âmbito de trânsitos e comércio internacionais e ilegais, cujas relações são favorecidas pela globalização. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), a América Latina é a região mais violenta do mundo e o Brasil figura entre os paísesmais violentos do continente latino-americano, sobretudo no que se refere à taxa de homicídios para cada cem mil habitantes, como pode ser observado no mapa a seguir. Como podemos explicar esse fenômeno em nossa sociedade? Por que vivemos em um país tão violento e o que pode ser feito para mudar essa rea- lidade? Essas são perguntas que desafiam até mesmo especialistas. A seguir vamos considerar algumas razões importantes para nos ajudar no entendimento desse cenário. Fonte: UNODC. Global Study on Homicide: executive summary, 1919. p. 14. Disponível em: https://www.unodc.org/ documents/data-and-analysis/gsh/Booklet1.pdf. Acesso em: 28 ago. 2020. Mundo: taxa de homicídios por país, 2017 Trópico de Capricórnio Trópico de Câncer Equador M er id ia no d e G re en w ic h Círculo Polar Antártico Círculo Polar Ártico 0° 0° OCEANO ÍNDICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO 0 3 140 Até 1 De 1,1 a 10 De 10,1 a 20 De 20,1 a 40 Mais de 40 Sem dados Homicídios (a cada 100 000 pessoas) D AC O ST A M AP AS 64 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 64D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 64 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 https://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/gsh/Booklet1.pdf Entendendo a violência no Brasil Em 2017, ocorreu no Brasil uma média de 31,6 mortes violentas para cada 100 mil habi- tantes, o maior nível histórico da violência letal no país. Como pode ser observado no mapa ao lado, a violência não ocorre de maneira uni- forme pelo território brasileiro. Entre os muitos fatores que contribuem para esse cenário, podem ser citados os seguintes: Desigualdade social: a dificuldade de ascensão social e de acesso aos bens e ao consumo por grande parte da população exerce influência sobre os altos índices de criminalidade, impulsionando o crime organi- zado e gerando maiores índices de violência econômica e violência letal. Urbanização: as áreas urbanas apresentaram ao longo do tempo um crescimento rápido e desordenado, levando à formação de aglome- rações subnormais (favelas) e espaços periféricos nos quais a população não tem acesso a serviços públicos adequados e a oportunidades de desenvolvimento, contribuindo para gerar criminalidade e aumentar as taxas de violência. Falta de oportunidades e de um ambiente seguro: a educa- ção de qualidade, o ambiente familiar adequado e a oportunidade de desenvolvimento pessoal são negados a muitos jovens das periferias brasileiras, muitos dos quais acabam se tornando infratores e come- tendo crimes. Crime organizado: além das desigualdades sociais, outros fatores influenciam, como a impunidade, o acesso relativamente fácil a armas de fogo e a atuação de grupos criminosos organizados, em especial aqueles que atuam no narcotráfico. Fonte: IPEA. Atlas da Violência, 2019. p. 13. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/ images/stories/PDFs/relatorio_ institucional/190605_atlas_da_ violencia_2019.pdf. Acesso em: 28 ago. 2020. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • De acordo com o mapa, quais Estados apresentam as menores e as maio- res taxas de homicídio no país? Em grupo, pesquisem sobre os tipos de violência registrados com maior frequência em seu estado e quais me- didas o governo adota para tentar impedir que essa prática se perpetue. D AC O ST A M AP AS Brasil: taxas de homicídios por UF, 2017 Equador 0° 50° O OCEANO ATLÂNTICO Trópico de Capricórnio OCEANO PACÍFICO 0 600 RN BA MT RO AC AM RR AP PA MA TO PI MS GO DF MG ES RJ RS SP PR SC CE PB PE AL SE De 10 a 24,9 De 25 a 38,9 De 39 a 48,9 De 49 a 62,9 Taxa de homicídios por UF em 2017 (a cada 100 mil habitantes) 65 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 65D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 65 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/190605_atlas_da_violencia_2019.pdf Violências transnacionais e de fronteiras: o crime organizado Algumas formas de violência são tão bem articuladas, que sua abrangência vai além do âmbito nacional, conectando diversos países em uma rede de criminalidade. Essas formas de violência envolvem o crime organizado em suas diferentes ações, como: • Contrabando: consiste na prática de importar ou exportar, ilegalmente e sem registro ou pagamento de impostos, mercadorias e bens de consumo. Os principais produtos são armas de fogo, cigarros e produtos eletrônicos, entre outros. O trânsito internacional de mercadorias ilegais envolve em muitos casos a participação de agentes do Estado, dependendo de falsificações e da corrupção para seu funcionamento. • Tráfico internacional de drogas (narcotráfico): envolve a produção, trans- porte e comercialização de drogas ilícitas, fenômeno global que movimenta R$ 17 bilhões por ano apenas no Brasil, proporcionando não apenas a perpe- tuação das atividades criminosas de grupos organizados, mas também um problema de saúde pública global. Em geral, os países periféricos são os prin- cipais centros produtores, e os principais mercados consumidores são os países desenvolvidos do ocidente. • Tráfico de pessoas: a Organização das Nações Unidas (ONU) caracteriza esse tráfico como o recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas, por meio do uso da força ou outras formas de coerção, para fins de exploração. Esse tipo de tráfico tem como principais vítimas mulheres e crianças, com o objetivo de exploração sexual. Contudo, também se destacam outras finalidades, como o comércio ilícito de órgãos e exploração de mão de obra em situações análogas à escravidão. Vale ressaltar que nenhuma dessas formas de violência pra- ticadas por grupos criminosos internacionais ocorre sem a existência de um mercado con- sumidor. Dessa maneira, os consumidores também partici- pam do tráfico internacional e alimentam sua existência. ■ Imagem da campanha contra o tráfico de pessoas, lançada pelo Ministério Público do Mato Grosso (Brasil), em 2017. A iniciativa teve o objetivo de sensibilizar a população na luta contra essa prática. M IN IS TÉ RI O P Ú BL IC O D O M AT O G RO SS O 66 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 66D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 66 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 O narcotráfico e as vítimas da guerra às drogas no Brasil No Brasil e na América Latina, de modo geral, o crime organizado e os grupos relacionados ao narcotráfico influenciam cerca de 25% a 70% de todos os homicídios na região, de acordo com dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). Em 2006, o Brasil aprovou a atual Lei de Drogas que se articula em torno de dois pilares: de um lado, a prevenção ao uso indevido dessas substâncias e a reinserção social de usuários e dependentes, de outro a repressão à produção e ao tráfico ilícito desses entorpecentes. De fato, ao longo dos últimos anos, o tráfico de drogas se tornou o tipo de crime que mais tem levado pessoas à cadeia no Brasil. Dados do Departamento Penitenciário Nacional revelam que cerca de 21% da população car- cerária masculina e cerca de 51% da população carcerária feminina são de pessoas envolvidas com esse tipo de crime. Contudo, diversos especialistas entendem que a política de repressão adotada no país provoca o aumento nos índices de violência e não sua redução. Entre 2009 e 2016, mais de 20 mil pessoas – entre elas agentes de segurança pública – morreram em ações policiais tentando combater o tráfico. A maior parte eram homens jovens, negros e moradores em regiões periféricas. Em razão desse grande número de mortes, muitos especialistas em segu- rança pública questionam até que ponto essa política está sendo eficaz. Um dos argumentos é de que o uso da força policial muitas vezes não elimina o problema em sua raiz, pois esses grupos criminosos são substituídos por outros, iniciandonovos conflitos pelo controle de territórios. ■ Tanque de guerra em intervenção para combate ao tráfico de drogas na comunidade da Rocinha, Rio de Janeiro (RJ), 2017. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • Observe as duas imagens acima. O que a fotografia revela? Qual a crítica que a charge expressa em relação à situação exibida na fotografia? CAZO. Intervenção militar no Rio, 2018. Jornal da Cidade, 19 mar. 2018. CA ZO ED UA RD O A N IZ EL LI /F O LH AP RE SS 67 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 67D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 67 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 De acordo com o IPEA, a taxa de homicídios entre jovens no Brasil é de 60,9 por 100 mil habitantes. Esses jovens, em sua maioria, são negros, de família pobre e moradores das periferias urbanas, que acabam entrando para o mundo do crime e do tráfico de drogas ou sendo vítimas aleatórias da violência, por falta de alternati- vas. Muitos desses jovens convivem com a violência dentro de casa. Leia a seguir a letra de um rap para a realização das atividades. Rap da felicidade [...] Eu só quero é ser feliz Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é E poder me orgulhar E ter a consciência que o pobre tem seu lugar [...] Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer Com tanta violência eu sinto medo de viver Pois moro na favela e sou muito desrespeitado A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado Eu faço uma oração para uma santa protetora Mas sou interrompido a tiros de metralhadora Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela O pobre é humilhado, esculachado na favela Já não aguento mais essa onda de violência Só peço a autoridade um pouco mais de competência RAP da felicidade. Intérpretes: Cidinho & Doca. Compositores: Cidinho; Doca; Malboro; Selva. Columbia Records. Rio de Janeiro, 1994. Em grupo, pensem em argumentos para responder às seguintes questões: 1. É possível afirmar que existe uma relação entre a violência e as questões sociais nas cidades brasileiras? Justifiquem. 2. Em relação ao trecho da letra da canção Rap da felicidade, do artista Cidinho, que crítica é feita à sociedade e ao poder público em relação à violência nas periferias? Justifiquem. 3. Que ações poderiam ser tomadas pelo poder público e pela sociedade, de modo geral, para reduzir a violência nas periferias e oferecer melhores condições de vida a essas populações? Reflitam sobre essa questão e apresentem sugestões. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO 68 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 68D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 68 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 A violência institucional De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 343 agentes da Polícia Civil e da Polícia Militar foram assassinados em 2018, em serviço ou não. Contudo, segundo esse órgão, nesse ano mais de 6 mil pessoas foram mortas por policiais, e o Brasil apresenta um dos piores índices globais de assas- sinatos e outros abusos cometidos por agentes do Estado em todo o mundo. Observe o infográfico. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Se o Estado enquanto instituição máxima de organização das relações sociais tem legitimidade para monopolizar o uso da violência, até que ponto essas ações ocorrem dentro da legalidade e/ou são legitimadas pelas circunstâncias? Como evitar que ocorram abusos? Converse com seus colegas sobre o assunto e, coletivamente, levantem possíveis mecanismos para o combate à violência institucional. Quando o número de mortes provocadas pela polícia é muito alto em relação ao total de mortes violentas intencionais de determinado território, isso pode revelar abusos e uso excessivo por parte da força policial. Tais casos de exercício da violência física e psicológica realizados por agentes do Estado são exemplos da violência institucional. Nos termos colocados pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), o Estado detém o “monopólio legítimo do uso da força”, o que significa que qualquer outra forma de violência que não seja aquela sob o controle do Estado não é legítima. A sociedade e as instituições devem controlar a violência cometida por parte do efetivo poli- cial, que se aproveita do pretexto do combate ao crime e de determinados instrumentos legais para usar a força desmedidamente e cometer atos violentos. Violência em números Fonte: FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2019. p. 6-7. Disponível em: www.forumseguranca. org.br/wp-content/ uploads/2019/09/ Anuario-2019-FINAL-v3.pdf. Acesso em: 23 set. 2020. MORTES DE POLICIAIS 343 policiais Civis e Militares assassinados 6.220 vítimas em 2018 17 pessoas mortas por dia Vítimas • 99,3% homens • 77,9% entre 15 e 29 anos • 75,4% negros Mais policiais vítimas de suicídio do que assassinados no horário de trabalho 104 suicídios 11 a cada 100 mortes violentas intencionais foram provocadas pelas Polícias 75% mortos fora de serviço 97% homens 256 vítimas 51,7% negros 65,5% tinham entre 30 e 49 anos 32% foram vítimas de latrocínio Redução de 10,4% em relação a 2017 Crescimento de 19,6% em relação a 2017 MORTES DECORRENTES DE INTERVENÇÕES POLICIAIS ED IT O RI A D E AR TE 69 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 69D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 69 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 http://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Anuario-2019-FINAL-v3.pdf Violência contra crianças e adolescentes São diversas as formas de violência contra crianças e adolescentes que merecem destaque, portanto iremos iniciar com aquelas perpe- tuadas por adultos e que envolvem tanto maus-tratos físicos como emocionais: Omissão: ocorre quando os responsáveis e a sociedade, de modo geral, não proveem os cuidados ou não atendem às necessidades básicas para o desenvolvimento emocional, social e físico da vítima. São diversos os casos de negligência que podem ser enquadrados nessa categoria, como descuidos com a higiene e alimentação, a privação de medicamen- tos e serviços médicos, a privação da educação, entre outros exemplos. Trabalho Infantil: é considerado uma forma de violência e um crime o ato de envolver crian- ças ou adolescentes a qualquer tipo de atividade relacionada ao trabalho obrigatório, regular e rotineiro, remunerado ou não. Violência física e sexual: casos de agressões e abusos físicos ou sexuais são comuns contra crianças e adolescentes. No Brasil, os homicídios representam cerca de metade das mortes envolvendo adolescentes do sexo masculino, enquanto a forma de violência mais comum entre adolescentes de ambos os sexos que dão entrada em unidades de saúde é o estupro, que, na maior parte dos casos, ocorre na própria casa da vítima. A maioria dessas vítimas são meninas e os agressores, em sua maioria, aqueles que convivem com elas (pais, padrastos e familiares). Também se enquadram na categoria de violência sexual vender ou expor materiais voltados à pornografia infantil, como registros de fotos e vídeos que contenham nudez de teor sexual ou cenas de sexo envolvendo crianças ou adolescentes. ■ Pessoas portam cartazes com os dizeres "Crianças não estão à venda" e "Nenhuma a menos", durante manifestação "Salvem as crianças" em frente ao edifício do Capitólio, em Saint Paul, Minnesota (Estados Unidos), 2020. ■ Logo do Eu me protejo. O grupo é um coletivo que desenvolveu uma cartilha para orientar crianças e adolescentes a se proteger do abuso sexual. ST EP H EN M AT U RE N /G ET TY IM AG ES EU M E PR O TE JO 70 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 70D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 70 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 A violência autodirigida Nem sempre a violência é um ato dirigido ao outro. As agressões a si próprio são uma preo- cupação em diversas sociedades e a violência autoinfligida compreende tanto as autoagressões como os comportamentos suicidas, os quais são, em muitos casos,motivados por atos de violência repetidos contra a vítima. O primeiro passo para combater esse problema é reconhecê-lo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 800 mil suicídios são registrados por ano em todo o mundo, e esse número é particularmente alarmante entre jovens entre 15 e 29 anos. O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens nessa faixa etária. ■ Cartaz da Campanha Setembro Amarelo, criado pela Prefeitura Municipal de São João do Nepomuceno (MG), 2019. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Vamos falar sobre depressão? Uma das principais causas de violência autodirigida diz respeito aos preconceitos que ainda cercam esse transtorno mental e ao fato de não falarmos abertamente sobre o problema, dificultando seu combate. O primeiro passo é reconhecer que a depressão não é exclusiva de adultos nem uma forma de chamar a atenção, trata-se de uma doença. Discuta com seus colegas: 1. Como podemos fazer para ajudar as pessoas ao nosso redor que apresentam sintomas de depressão? 2. O que significa oferecer suporte emocional a pessoas com depressão? 3. Que tipos de atitude devemos evitar quando lidamos com uma pessoa próxima com depressão? Ainda segundo a OMS, aproximadamente 300 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão e, em muitos casos, essa doença passa despercebida, é negligenciada ou subestimada. Os sintomas da depressão são variados, como agressividade, anedonia (perda da capacidade de sentir prazer), apatia, tendência ao isolamento, irritação e inquietude, entre outros. Em muitos casos, a depressão pode se desenvolver ou se intensificar em função do ambiente em que a pessoa está inserida, muitas vezes no próprio núcleo familiar, e à falta de suporte emocional. PR EF EI TU RA M U N IC IP AL D E SÃ O JO ÃO N EP O M U CE N O, M IN AS G ER AI S 71 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21-AVU.indd 71D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21-AVU.indd 71 24/09/2020 01:1824/09/2020 01:18 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. Observe e interprete a charge a seguir, relacionando-a às vítimas aleatórias da violência no Brasil, sobretudo aquelas que são atingidas de forma acidental em tiroteios, pelas chamadas “balas perdidas”. 2. Leia o trecho de reportagem selecionado a seguir e relacione-o à charge acima, indi- cando que forma de violência está sendo abordada. Para a polícia, todo mundo é traficante”, diz mãe de jovem morto pela PM Moradores do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, zona norte do Rio, classificaram como violenta uma ação de policiais militares, na madrugada de ontem, que termi- nou com dois homens mortos durante a disputa de um torneio de futebol no local. [...] ALMEIDA, P. “Para a polícia, todo mundo é traficante”, diz mãe de jovem morto pela PM. UOL, 16 ago. 2020. Disponível em: https:// noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/08/16/operacao-da-pm-no-morro-dos-macacos.htm. Acesso em: 2 set. 2020. BRUM, R. De onde veio a bala? Tribuna do Norte, 18 mar. 2018. DUKE. O Tempo, 22 set. 2019. RO D RI G O B RU M D U KE 72 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 72D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 72 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 3. Leia o depoimento a seguir e defina o tipo de violência praticado e o meio utilizado. Pesquise sobre o assunto, se necessário, e em seguida argumente de maneira a con- cordar ou refutar a atitude da escola em relação à vítima. [...] “Como se não bastasse a humilhação de ter fotos minhas íntimas divulgadas na internet por um garoto da escola, percebi o quanto professores/as e a coorde- nação não sabiam o que fazer nessas situações. Fui punida com suspensão junto com o garoto, mesmo eu sendo a vítima. Descobri que o que ele fez comigo chama revenge porn. Ninguém me disse que isso é crime, estavam muito ocupados me culpabilizando por eu ter confiado nele. [...] POR QUE discutir gênero na escola? Ação educativa/JADIG – Jovens Agentes pela igualdade de gênero na escola, 2016. Disponível em: https://acaoeducativa.org.br/wp-content/uploads/2016/09/publicacao_porquediscutirgeneronaescola.pdf p. 20. Acesso em: 2 set. 2020. 4. Leia o depoimento a seguir e realize a atividade proposta. Depressão, bullying e conflitos nas escolas seriam minimizados com apoio psicológico. [...] A escola contempla uma diversidade de relações interpessoais que pode ser considerada desafiadora. De um lado, professores que precisam saber lidar com as demandas de aprendizagem e, por vezes, comportamentos inadequados de alunos. De outro, estudantes que necessitam de atenção dos profissionais de educação e, em alguns casos, não conseguem entender os sentimentos próprios de cada fase da vida. Além disso, a família também cumpre um papel fundamental nessa dinâmica, seja por parte da expectativa dos pais em relação à instituição ou ao desempenho dos filhos. “Nós estamos vivendo um período em que as crianças, os jovens e os educado- res estão precisando demais de apoio psicológico. Os pais estão assumindo mais de uma função para conseguir sobreviver e com isso não têm tempo suficiente para acompanhar o desenvolvimento cognitivo, social e emocional de seus filhos como realmente gostariam. A instituição escolar precisa do apoio assim como os pais”, enfatiza a neuroeducadora Cristine Calazans, que também é psicopedagoga. [...] TUCHLINSKI, C. Depressão, bullying e conflitos nas escolas seriam minimizados com apoio psicológico. Estadão, 10 out. 2019. Disponível em: https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,depressao-bullying-e-conflitos-nas-escolas- seriam-minimizados-com-apoio-psicologico,70003044703. Acesso em: 2 set. 2020 • No Brasil, o acompanhamento psicológico de estudantes e professores não era obriga- tório em 2020. Escreva um texto argumentando por que esse tipo de acompanhamen- to é importante e que formas de violência ele poderia combater. Utilize informações do texto para corroborar sua opinião. 5. Reúna-se com seus colegas e, em grupo, troquem ideias sobre a importância do acompanhamento psicológico nos casos de depressão, bullying e outras formas de violência. 73 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 73D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 73 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,depressao-bullying-e-conflitos-nas-escolas-seriam-minimizados-com-apoio-psicologico,70003044703 Combatendo a violência invisível A violência está presente no cotidiano de diversas pessoas e em formatos varia- dos. Para alguns, ela se manifesta de modo mais imediato, na criminalidade que afeta um bairro, nas interações escolares ou mesmo na dinâmica dentro das casas. Há, porém, outras formas de manifestação da violência e, muitas vezes, ela ocorre de maneira praticamente invisível, como o assédio moral, o assédio sexual e o relacio- namento abusivo, por exemplo. Pelo fato de serem, em geral, mais sutis, esses casos passam despercebidos aos olhos dos que estão ao redor e, não raramente, nem mesmo a própria pessoa tem consciência de que está sendo vítima desse tipo de violência. Essa questão em torno da violência invisível despertou a atenção de alguns estudantes, que decidiram agir. Foi o que fez um grupo de adolescentes da Escola Municipal “Leonor Pinto Thomaz”, na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo. Inspirados nas aulas de ética, solidariedade e cidadania, esses jovens produzi- ram na própria escola um filme de curta-metragem, intitulado Prelúdio, no qual mostram como os relacionamentos baseados no ciúme, na possessividade, na ten- tativa de controle sobre a vida do companheiro ou da companheira podem ser considerados abusivos. A repercussão do trabalho dos estudantes foi bastante posi- tiva e o curta-metragem chegou a ganhar um prêmio do Concurso Nacional de Curtas promovido pela Câmara dos Deputados, em Brasília. ■ Artistas expressam suas ideias sobre paz, desarmamento e rejeição às várias formas de violênciapor meio de grafites pintados no Muro da Paz, em Santiago (Chile), 2017. Foi também sobre esse tema que a estudante Raylyne Ribeiro, da Escola Estadual de Ensino Médio “Irmão Guerini”, na cidade de Caxias do Sul (RS), pensou ao desen- volver o projeto “Romantização do ciúme nos relacionamentos entre jovens: do ciúme às relações abusivas”. FR ÉD ÉR IC S O LT AN /C O RB IS /G ET TY IM AG ES 74 DIÁLOGOS> EU TAMBÉM POSSO> D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21-AVU.indd 74D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21-AVU.indd 74 24/09/2020 01:1924/09/2020 01:19 O primeiro passo da estudante na elaboração do projeto foi aprofundar o assunto a partir de estudos científicos, compreendendo melhor suas dimen- sões e aplicações à realidade brasileira. Para a proposta de seu projeto, Raylyne optou por desenvolver um jogo que traz à discussão situações que envolvem o ciúme, possibilitando uma melhor com- preensão do que é a violência nessas circunstâncias. O trabalho de Raylyne, desenvolvido ao longo do 2o ano do Ensino Médio, recebeu algumas premiações e foi sele- cionado para compor a 18a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), em São Paulo (SP). Em sua pesquisa, a estudante concluiu que as taxas de femi- nicídio e de outros crimes decorrentes do relacionamento abusivo só tendem a diminuir se essas questões forem enfren- tadas como um problema social. Tanto o curta-metragem feito pelos estudantes de Sorocaba como a pes- quisa desenvolvida pela estudante gaúcha possuem pontos em comum e apontam a necessidade de debater o que é a violência e o modo como ela se faz presente nas relações sociais e, por vezes, nas relações afetivas. 1. Pensando nos recursos utilizados nos dois projetos desenvolvidos pelos estudantes para tratar de um tema tão complexo quanto a violência, reúnam-se em grupo e debatam sobre a opção por esses meios e levan- tem outras possibilidades de linguagem para trabalhar, debater e cons- cientizar as pessoas sobre o tema. 2. Podemos considerar que a violência é um tema que envolve diferen- tes setores de nossa sociedade. Quando consideramos a violência de gênero, em especial, a situação da mulher é desfavorável em relação à do homem. Em grupo – de formação preferencialmente heterogênea –, procurem identificar de que forma os homens podem participar e con- tribuir para esse debate, aprofundando a questão de como alguém que não sofre violência de modo direto pode agir para evitá-la e combatê-la. ■ RIBEIRO, R. Detrás das flores. 2018. Grafite sobre tela , 42 cm × 29,7 cm. RA YL YN E RI BE IR O NÃO ESCREVA NO LIVRO 75 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 75D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 75 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NA REALIDADE Após as conclusões das entrevistas e pesquisas, vocês vão montar roteiros para minicur- sos de educação financeira. Os roteiros serão utilizados na gravação de pequenos vídeos, que poderão ser postados, enviados por mensagens instantâneas ou até mesmo apresentados em um dia especial para a comunidade. Depois, com o roteiro pronto e ensaiado, é só gravar! Por que fazer um roteiro? A famosa frase “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” pode passar a impressão errada de que gravar um vídeo é uma tarefa espontânea que, mesmo de improviso, pode obter bons resul- tados. No mundo real, produzir vídeos requer um mínimo de compreensão e domínio de aspectos técnicos e comunicacionais estabelecidos pelo cinema e pela televisão os quais também são válidos para as mídias digitais. Chamamos a esse conjunto de conhecimentos de “linguagem audiovisual” e, depois de definida a ideia que se quer produzir, vamos ao passo seguinte: a escrita do roteiro. O que é um roteiro? Numa definição simples, o roteiro é um texto técnico que descreve em detalhes o que será produzido. Ele deve usar termos de fácil entendimento para os realizadores do vídeo e respeitar algumas convenções desse tipo de linguagem. O roteiro audiovisual convencional deriva do formato script, que se usa ainda hoje nas peças teatrais e que foi adaptado, quase sem mudanças, para as produções de rádio na primeira metade do século XX. O roteiro para vídeo deve ser mais completo, ainda que não seja tão deta- lhado como os roteiros de cinema. Um formato bastante funcional é o “Roteiro em duas colunas”, que separa a informação visual (o que deve aparecer na tela) da informação sonora, isto é, aquela que indica os sons (inclusive falas) que serão sobrepostos às imagens. [TÍTULO DO VÍDEO] (Sinopse: breve descrição da obra) Vídeo Áudio [CENA 1] (Externa Diurna. Num parque público, Mariana e Pedro, dois colegas de escola se encontram) [Sons de pássaros cantando ao fundo. Trilha sonora bem-humorada. O volume diminui quando os personagens começam a falar] Mariana (ofegante) — Oi Pedro, tudo bem? Desculpe o atraso… corri muito… Pedro (desanimado) — Tudo bem, relaxa, não veio mais ninguém do grupo. Mariana — Como assim? Temos que entregar o vídeo amanhã! É trabalho que vale nota. Pedro — Acho que a gente vai ter que se virar em dois mesmo. Você trouxe a câmera? Mariana — Sim, mas o roteiro tem papel pra galera toda! Como a gente vai fazer? — Bom, eu trouxe o roteiro. Vamos ter que sentar naquele quiosque ali e adaptar a ideia. Ainda bem que eu trouxe a caneta. — (resignada) — Bora lá… [CENA 2] (No quiosque) (…) [CENA 3] (…) (…) [FICHA TÉCNICA] Nomes e funções dos participantes: roteirista, diretor, operador de câmera, editor, etc. [REFERÊNCIAS] Trilhas musicais utilizadas citando a fonte e, se for o caso, nome e autor do texto original que foi adaptado. Etapa 4 (…) Indica continuidade. Cada cena indica uma divisão da narrativa, quando há mudança de assunto, de tempo ou de lugar. 76 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 76D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 76 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 > SAIBA MAIS Cidade de Deus Direção: Fernando Meirelles. Brasil, 2002. DVD (130 min). Baseado no romance do escritor Paulo Lins, retrata o crescimento do crime organizado na Cidade de Deus, favela que começou a se formar no Rio de Janeiro na década de 1960. O filme acompanha a vida de diversos personagens cujas histórias se entrelaçam. Considerado um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro, chegou a ser indicado a quatro Oscars. Extraordinário Direção: Lee Hirsch. Estados Unidos, 2011. DVD (99 min). O documentário acompanha a história de cinco adolescentes, nos Estados Unidos, que sofrem, diariamente, diversas formas de assédio: verbal, físico e psicológico. O filme revela a estrutura perversa desse tipo de violência. Morro da favela André Diniz. São Paulo: Leya, 2011. Quadrinhos a respeito da história de Maurício da Hora, fotógrafo autodidata, nascido e criado no Morro da Providência, no Rio de Janeiro. A história aborda diferentes aspectos do dia a dia em uma favela carioca e o convívio do fotógrafo com as diferentes formas de violência. Manual prático do ódio Ferréz. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. Romance do escritor Reginaldo Ferreira da Silva, mais conhecido como Ferréz, cuja história se passa em uma região periférica da cidade de São Paulo e tem como pano de fundo a violência urbana, que afeta o cotidiano de seus moradores. Núcleo de Estudos da Violência Disponível em: https://nev.prp.usp.br/. Acesso em: 2 set. 2020. Fundado em 1987, o Núcleo de Estudos da Violência é um centro de apoio à pesquisa científica voltado para a discussão de temas relacionados à violência, democracia e direitos humanos. Pertence à Universidade de São Paulo e reúne profissionais de diferentes áreas do conhecimento, como cientistas sociais, historiadores, estatísticos, psicólogos, entre outros. Eu me protejo Disponível em: https://www.eumeprotejo.com/. Acesso em: 2 set. 2020. Trata-se de um coletivo formado por profissionais de diversas áreas do conhecimento que desenvolveu e disponibiliza no site uma cartilha ilustrada com o objetivode ensinar as crianças a se protegerem do abuso sexual. Setembro Amarelo Disponível em: https://www.setembroamarelo.com/. Acesso em: 2 set. 2020. Página da campanha Setembro Amarelo, criada em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), com diversas orientações para o combate ao suicídio. 77 D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 77D3-CH-EM-3075-V6-U2-C4-060-077-LA-G21.indd 77 23/09/20 23:0223/09/20 23:02 78 UNIDADE 78 3 A nova ordem mundial Em 1991, a União Soviética (URSS) se frag- mentou, e o mundo bipolar, que se dividia entre o bloco comunista, liderado pela União Soviética, e o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, se encerrou. A partir daí se configurou uma nova ordem mundial, e atualmente vivemos o que chamamos de mundo multipolar. Nessa confi- guração, diversos atores em diferentes partes do planeta exercem importantes papéis polí- ticos, econômicos e militares. Além de grandes potências, como Estados Unidos, China e Rússia, temos a força dos blocos econômicos, das grandes empre- sas transnacionais e dos bancos exercendo influên cia ao redor do planeta. Nesta unidade estudaremos essa nova ordem mundial. 1. Em um mundo multipolar como o atual, os chamados Estados-nação têm a mesma força que tinham em décadas anteriores? Justifique sua resposta. 2. Em grupo, discutam qual é o poder de in- fluência do Brasil nessa nova ordem mundial. NÃO ESCREVA NO LIVRO ■ LOPEZ, F. J. B. Mergulhadora. 2016. Xilogravura em cores sobre papel kozo, 167 cm x 227 cm. D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 78D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 78 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 O BR A D E FA BR IC IO L O PE Z. C O LE ÇÃ O P AR TI CU LA R. F O TO : E VE RT O N B AL LA RD IN 7979 MEDIAÇÃO DE CONFLITOS O conflito é inerente às relações humanas e, portanto, co-construído. Partindo dessa pre- missa, podemos buscar alternativas pacíficas para a resolução de conflitos, entre elas a mediação. A mediação se aplica a quase todas as situações conflitivas, sobretudo àquelas com as quais as partes envolvidas possuem algum vínculo. Para efetivarmos este projeto, vamos utilizar a pesquisa de campo, acompanhada de observação, tomada de notas e elaboração de relatório. As informações coletadas servirão de base para o produto final do projeto, uma apresentação de teatro. MEDIAÇÃO DE CONFLITOS D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 79D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 79 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 CAPÍTULO 5 Diplomacia e guerra na ordem mundial Em junho de 2020, a agência de notícias do governo da Coreia do Norte publicou um artigo com duras críticas aos Estados Unidos. No texto, os coreanos denunciavam ações tomadas pelo governo estadu- nidense tidas como ameaças ao país asiático, por exemplo, operações militares próximo a suas fronteiras. O artigo denunciou também que essas ações comprometem acordos previamente estabelecidos entre os dois países visando à dimi- nuição das tensões na península da Coreia. Para os norte-coreanos, os estadunidenses continuam utilizando a ameaça militar como forma de desestabilizar o governo da Coreia do Norte. Esse artigo exemplifica as tensões entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte. Elas remontam a meados do século XX, quando teve início uma guerra entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, a Guerra da Coreia (1950-1953). Desde então, os dois países vêm provocando no mundo o constante temor de um conflito internacional. Nos últimos anos, porém, essas tensões intensificaram-se, com a suspeita de que a Coreia do Norte tenha desenvolvido armas nucleares. Para evitar um conflito, diversos atores internacionais tentam negociar um acordo de paz entre as duas Coreias. Países e organizações internacio- nais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), vêm fazendo esforços para mediar um acordo entre os dois países por vias diplomáticas. Outro caminho utilizado por atores internacionais é a pressão militar. Essa estratégia foi utilizada em inúmeras ocasiões pelos Estados Unidos, que inclusive apoiaram a Coreia do Sul durante a Guerra da Coreia. Apesar de intensa, a pressão militar também não assegurou o fim das tensões na península coreana. Esse é apenas um exemplo de tensão regional que ameaça a paz no mundo contempo- râneo. Neste capítulo, vamos entender o papel da diplomacia e da força militar na organiza- ção da ordem mundial e como essas duas formas de ação estão relacionadas com alguns dos principais focos de tensão no cenário atual. ■ Em meados de 2019, os líderes estadunidense, Donald Trump (1946-), e norte- -coreano, Kim Jong-un (1984-), reuniram-se na fronteira entre as duas Coreias, naquele que foi considerado um encontro histórico, para tentar retomar diálogos sobre a desnuclearização. Panmunjom (Coreia do Sul), 2019. Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. KE VI N L AM AR Q U E/ RE U TE RS /F O TO AR EN A 80 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21-AVU.indd 80D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21-AVU.indd 80 24/09/2020 00:1224/09/2020 00:12 A diplomacia e a força militar Já vimos como, ao longo do tempo, diferentes sociedades estabele- ceram relações entre si. A integração econômica e cultural entre diversos países, ocorrida a partir do processo de globalização, é um exemplo disso. Nesse caso, esse movimento foi marcado por acordos, compromissos e diálogos entre diferentes governos visando ao benefício recíproco. Esse tipo de ação promoveu o desenvolvimento da diplomacia. As práticas diplo- máticas, porém, são muito antigas. Exis - tem inúmeros regis- tros his tóricos, desde a Antiguidade, do cos- tume de enviar em- baixadores para re pre- sentar os interesses de um povo em território estrangeiro. O embai- xador é o indivíduo que tem a missão de ne gociar acordos e enviar mensagens vi- sando à manutenção da harmonia entre as sociedades. Os gregos antigos, por exemplo, enviaram ocasionalmente embaixa- dores ao território de outros povos para construção de alianças, acordos políticos ou econômicos. Posteriormente, em especial a partir da Idade Moderna, tornou-se cada vez mais comum a criação de embaixadas permanentes em territórios estrangeiros. No entanto, nem sempre as relações entre diferentes sociedades se deram com base em mecanismos diplomáticos. Houve também ações violentas, baseadas no exercício da força militar, visando submeter os povos derrotados às determinações e aos interesses dos povos vencedores. Nesse caso, é possível falar no uso da força militar como uma peça importante na organização das relações internacionais. O uso da força militar também é muito antigo. Existem diversos exem- plos de guerras entre sociedades desde a Antiguidade. Esses conflitos foram motivados por razões diversas, como o interesse em ocupar novos territórios, a busca por prisioneiros que seriam escravizados, a exploração de recursos econômicos, disputas religiosas ou culturais, entre outras. ■ COYPEL, A. Luis XIV (1638-1715) recebendo o embaixador persa Mohammed Reza Beg na Galerie des Glaces em Versalhes. 1715. Óleo sobre tela, 70 cm x 153 cm. A missão persa foi enviada com o objetivo de obter apoio militar francês na defesa do território da Pérsia. PA LÁ CI O D E VE RS AL H ES , F RA N ÇA . F O TO : B RI D G EM AN 81 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 81D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 81 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 Guerra e política Ao longo da história, tanto a diplomacia quanto o uso da força militar perme- aram as relações internacionais. Essas duas dimensões parecem distintas, porém muitos pensadores enfatizam que, na realidade, existe uma espécie de continuidade entre a negociação e a guerra. Essa ideia foi defendida,por exemplo, pelo teórico de guerra alemão Carl von Clausewitz (1780-1831). Na obra Da guerra, publicada após sua morte em 1832, Clausewitz sintetiza a relação entre o uso da força militar e a diplomacia. De acordo com ele, “a guerra não é mais que a continuação da política por outros meios”. Além disso, ela “não é somente um ato político, mas um verdadeiro instrumento da política, seu prosseguimento por outros meios”. Para o pensador alemão, a guerra seria um dos instrumentos da ação política. Assim, quando os mecanismos diplomáticos não asseguram os interesses de uma nação, o governante pode recorrer a dispositivos militares para atingi-los. A tese de Clausewitz nos ajuda a compreender a dinâmica histórica que marcou as sociedades ocidentais a partir do surgimento dos primeiros Estados centralizados. Entre os séculos XV e XVII, foi se consolidando uma série de regras que visavam regulamentar o exercício da diplomacia entre os Estados europeus, bem como esta- belecer as práticas consideradas legais em tempo de guerra, visando à proteção das populações civis e inibindo práticas tidas como bárbaras entre os próprios militares. Isso deu origem a um sistema interna- cional que se disseminou pelo planeta e é fundamental para a compreensão da ordem internacional da atualidade. A forma como as tensões e os conflitos atuais se resolvem ainda está profundamente associada a esse sistema que, como analisado por Clausewitz, utiliza tanto a diplomacia quanto a guerra para assegurar os interesses das diferentes nações do planeta. ■ Clausewitz defendia que a guerra fazia parte dos instrumentos à disposição dos governantes para fortalecer o Estado. Essa seria uma das maneiras de explicar a participação popular nas ações militares da Revolução Francesa (1789-1799). SCARPELLI, T. Tomando a Bastilha. Ilustração para Storia de costume dei popoli, de Paolo Lorenzini, 1934. CO LE ÇÃ O P AR TI CU LA R. F O TO : © L O O K AN D L EA RN /B RI D G EM AN IM AG ES /E AS YP IX B RA SI L 82 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 82D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 82 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 Leia o texto a seguir e responda às questões. 1885 – Conferência de Berlim partilha África entre potências ocidentais Convocada para 15 de novembro de 1884, por iniciativa do chanceler prussiano Otto von Bismarck, a Conferência de Berlim terminou seus trabalhos em 26 de fevereiro de 1885. Os 14 países europeus presentes e os Estados Unidos entenderam-se, enfim, sobre os conflitos coloniais que assolavam o continente africano. O rei dos belgas, Leopoldo II, obteve na partilha o Congo a título “pessoal”. A Grã-Bretanha assumiu sua hegemonia sobre uma faixa que ia do Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, até o Cairo e a Alexandria, no Egito. A França se viu contemplada com as terras ao sul do Saara, e a Alemanha, com a África do oeste. A Conferência de Berlim decidiu também sobre a livre navegação de navios cargueiros pelos rios Congo e Níger. [...] Como resultado da disputa, as fronteiras africanas foram divididas geometricamente em 50 territórios irregulares, ignorando fronteiras linguísticas e culturais já estabelecidas pela popu- lação africana autóctone. Esse novo mapa da África foi imposto sobre mais de mil culturas e regiões. A nova delimitação dividia grupos coerentes de pessoas e mesclava grupos díspares, resul- tando em conflitos étnicos que foram, por décadas, manipulados pelos colonizadores em busca do controle político do território. [...] ALTMAN, M. Hoje na História: 1885 – Conferência de Berlim partilha África entre potências ocidentais. Opera Mundi, 26 fev. 2020. Disponível em: https://operamundi.uol.com.br/hoje-na-historia/9977/hoje-na-historia-1885-conferencia-de-berlim-partilha-africa-entre-potencias- ocidentais. Acesso em: 16 ago. 2020. 1. A Conferência de Berlim foi um evento diplomático que reuniu potências europeias e os Estados Unidos com o objetivo de discutir a dominação do continente africano. De acordo com o texto, os resultados da Conferência trouxeram resultados positivos para as populações africanas? Justifique sua resposta. 2. Em relação ao papel da diplomacia nas atuais relações internacionais, você considera que determi- nados grupos são beneficiados em prejuízo de outros? Explique. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO ■ Conferência de Berlim sobre a questão do Congo, novembro de 1884 a fevereiro de 1885. CO LE ÇÃ O P AR TI CU LA R. F O TO : P H O TO 12 /U IG /G ET TY IM AG ES 83 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 83D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 83 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 https://operamundi.uol.com.br/hoje-na-historia/9977/hoje-na-historia-1885-conferencia-de-berlim-partilha-africa-entre-potencias-ocidentais As ordens mundiais O mundo contemporâneo está organizado segundo uma ordem multipolar. Isso significa que existem variados atores que agem de modo a assegurar seus interesses em diferentes partes do planeta. Esses atores são formados pelos Estados nacionais, por grandes corporações, organis- mos internacionais, organizações não governamentais e associações da sociedade civil. O alcance e a influência desses atores são variados. Alguns Estados nacionais possuem maior influência que outros. Há corporações presentes em diferentes países capazes de influenciar as decisões internacionais, prejudicando os interesses de alguns Estados. Algumas organizações não governamentais e organismos internacionais também desempenham papel importante em acordos entre nações. Por isso, não é possível pensar as relações internacionais sem destacar o papel desses múl- tiplos atores. Além disso, para compreender a atual ordem mundial, é importante entender seu processo histórico de formação e desenvolvimento. A ordem mundial europeia entre os séculos XVII e XIX Os primeiros Estados nacionais europeus, Portugal e Espanha, começaram a ser formar na Baixa Idade Média (século XI ao século XV). Nos séculos seguintes, esse modo de organização do governo se consolidou na Europa. Com isso, os diferentes Estados europeus passaram a disputar a hegemonia no continente. Um Estado hegemônico é aquele capaz de impor seus interesses sobre os demais por meios diplomáticos, militares ou econômicos. As disputas por hegemonia criaram inúmeros conflitos militares entre diferentes Estados euro- peus. Isso resultou, entre 1618 e 1648, na Guerra dos Trinta Anos. A princípio, esse conflito opôs Estados católicos e Estados protestantes, mas aos poucos se transformou em uma disputa pelo poder que ameaçou a estabilidade de todo o continente. ■ Além de um conflito religioso, a Guerra dos Trinta Anos foi um conflito político-militar resultante de uma crise geral que se abateu sobre a Europa no século XVII. CALLOT, J. A destruição de uma aldeia. 1633. Placa 7 de Misérias e infortúnios da guerra. Gravura, 15 cm x 25 cm. M U SE U H IS TÓ RI CO A LE M ÃO , B ER LI M . F O TO : © D H M /B RI D G EM AN 84 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 84D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 84 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 O Tratado de Vestfália e o princípio do equilíbrio do poder A Guerra dos Trinta Anos foi encerrada com a assinatura do Tratado de Vestfália (1648), que estabeleceu um foro inter- nacional para evitar novas guerras generalizadas. Esse tratado foi o ponto de partida para uma série de dispositivos diplomáticos e organizações internacionais criados com o objetivo de manter a paz entre as nações. Políticos e diplomatas euro- peus passaram a defender o equilíbrio do poder no con- tinente. A ideia central desse equilíbrio era que nenhuma nação poderia prevalecer sobre as demais. Acreditavam, assim, que o equi- líbrio evitaria a guerra, já que esta traria mais prejuízos do que ganhos. Esse arranjo, porém, não impediu novos conflitos. Entre meados dos séculosXVII e XVIII, a Inglaterra e a França tornaram-se as principais potências da Europa. Com isso, disputaram a hegemonia no continente por meio de diversas guerras. São exemplos o apoio francês à luta de independência das 13 colônias inglesas na América (a partir de 1776) e o combate inglês às tropas napoleônicas (entre 1803 e 1815). A Inglaterra acabou prevalecendo sobre a França nesses embates, tornando-se a principal potência mundial do início do século XIX até o final da Primeira Guerra Mundial, em 1918. Além do fortalecimento da Inglaterra, esse período foi marcado pela transformação da Europa no centro da ordem mundial graças ao desenvolvimento tecnológico, militar e econômico de parte dos países do continente. ■ Mapa-múndi da Federação Imperial, mostrando a extensão do Império Britânico, em 1886. Na parte superior do mapa, estão os dizeres “Liberdade”, “Fraternidade” e “Federação”. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • Os mapas são representações gráficas do espaço numa visão vertical. Muitas vezes, ao observar um mapa, podemos identificar informações sobre a intenção de sua autoria. Quais elementos permitem inferir que o mapa acima foi encomendado pelo Império Britânico? Como essa nação está represen- tada no mapa? E as outras nações, como foram representadas? LI VR AR IA B RI TÂ N IC A, L O N D RE S, IN G LA TE RR A. 85 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 85D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 85 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 Da ordem europeia ao mundo bipolar Durante o século XIX, por meio de ações militares e diplomáticas, os europeus estenderam seus domínios para diversas regiões do planeta. Foi nesse contexto que ocorreu a dominação imperialista de grandes regiões da Ásia e da África. Esse processo criou novas tensões entre os Estados europeus, envolvendo a disputa pelos territórios conquistados. Ainda assim, não ocorreram conflitos que envolveram a maior parte dos países europeus na segunda metade do século XIX. No início do século XX, porém, essa realidade mudou. A crescente rivalidade entre a Alemanha e a Inglaterra provocou o colapso das soluções diplomáticas que asse- guraram até então o equilíbrio europeu, o que ocasionou a Primeira Guerra Mundial. Esse conflito marcou o início do declínio da Europa como centro da ordem mundial. A destruição sem precedentes causada pela guerra enfraqueceu as potên- cias europeias. Suas economias foram arrasadas, o que também gerou a diminuição de seu poderio militar. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos se desenvolviam de forma acelerada. Ao final da guerra, o país já era a principal potência econômica do planeta. Esse movimento de enfraquecimento da força internacional da Europa e do fortaleci- mento do país norte-americano foi intensificado com a Segunda Guerra Mundial. Esse conflito foi também resultado de tensões que se acumulavam na Europa desde o século XIX e envolvia a luta pela hegemonia econômica, política e diplomática no continente. Mas seu principal resultado foi o fim da ordem mundial centrada na Europa. Assim, ao final do conflito, o mundo foi dividido em uma ordem bipolar: Estados Unidos e União Soviética passaram a disputar a hegemonia global, sobretudo por meio de estratégias militares e diplomáticas. ■ A rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética levou à Guerra Fria (1945 a 1991), marcada por tensões entre as duas superpotências e seus simpatizantes. A ilustração ao lado simboliza a disputa entre as duas nações nesse período. BR AT IS H KO K O N ST AN TI N /S H U TT ER ST O CK .C O M 86 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 86D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 86 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 O conceito de território Entre os séculos XVII e XIX, ocorreu uma profunda redefinição das fronteiras nacionais. Essa mudança foi acompanhada por uma nova pac- tuação sobre a soberania desses Estados no controle de seus espaços internos. É dessa associação entre o exercício do poder e um espaço internacionalmente delimitado que nasce a ideia de território como conhecemos hoje. A partir do Tratado de Vestfália, foi estabelecido que cada Estado da Europa exerceria sua soberania, determinando o conjunto de regras que viria a ser aplicado em toda a extensão de suas fronteiras inter- nas. Foram definidos, assim, a Constituição e outras leis, os contratos que mediam as relações sociais entre os habitantes, as instituições, o mercado e o próprio Estado. É da necessidade de respeito à sobera- nia territorial nacional que nasce também a moderna concepção do Direito como uma dis- ciplina cujo objetivo é analisar a Constituição e assegurar o cumprimento das leis. Além disso, a definição do territó- rio foi fundamental para o avanço do sistema capitalista. Somente com a defi- nição do responsável pela administração de determinado espaço é que foi possível estabelecer a regulamentação dos mer- cados internos e as regras para as trocas externas entre os países. Nesse contexto, devemos pensar o con- ceito de território como um espaço delimitado e determinado por regras e relações de poder entre a sociedade, com toda sua diversidade histórica, o mercado, as instituições e o Estado. O resultado dessas relações confere uma característica própria a cada Estado territo- rial, além de um senso de coletividade que se transforma em identidade cultural, que pode se modificar ao longo do tempo de acordo com os acontecimentos históricos. ■ Reprodução de capa de publicação impressa da atual Constituição brasileira. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em grupo, discutam as diferenças e semelhanças na formação territorial dos Estados-nação euro- peus e na formação do território brasileiro. RE PÚ BL IC A FE D ER AT IV A D O B RA SI L 87 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 87D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 87 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 Tensões e conflitos atuais O mundo bipolar se encerrou no início da década de 1990. Com a queda do regime soviético, uma nova ordem multipolar foi estabelecida. Nesse contexto, os Estados Unidos ainda são o prin- cipal centro econômico mundial, mas outros atores se fortaleceram e passaram a rivalizar com o país norte-americano. A China é o maior exemplo. No entanto, além dela há outras potências regionais, como a Rússia, a Turquia e os países que formam a União Europeia. Com o fim do mundo bipolar, muitos pensadores acreditaram que as tensões e os conflitos que marcaram o mundo durante a segunda metade do século XX se resolveriam e que no século XXI predominaria uma paz mais duradoura. Entretanto, não é isso que vem acontecendo nas últimas décadas. Uma série de conflitos regio- nais ameaçam a ordem mundial e trazem o risco de uma nova guerra generalizada entre as nações. Vejamos a seguir alguns dos principais focos de tensão e conflito no mundo contemporâneo. Fonte: COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS. Global conflict tracker. Nova York, 2020. Disponível em: https://www.cfr.org/global-conflict- tracker/?category=us. Acesso em: 28 ago. 2020. Mundo: alguns dos principais focos de tensão e conflito, 2017 Equador0° Trópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico Trópico de Câncer 0° M er id ia no d e G re en w ic h Círculo Polar Ártico OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ÍNDICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO COREIA DO NORTESÍRIA NIGÉRIA UCRÂNIA 0 3065 Significante Crítico Impacto nos interesses dos Estados Unidos Coreia do Norte: tensão nuclear A tensão entre a Coreia do Norte e os países ocidentais, principalmente com os Estados Unidos, vem desde a Guerra da Coreia. Em 2002, a situação adquiriu maior complexidade, quando o então presidente estadunidense George W. Bush afirmou que a Coreia do Norte, o Irã e o Iraque constituíam o “eixo do mal” – países acusados de apoiar o terrorismo e produzir armas de destruição em massa.Temendo uma invasão liderada pelos Estados Unidos, os norte-coreanos aceleraram as pes- quisas para o desenvolvimento de armas nucleares. Desde então, os Estados Unidos vêm lidando com a tensão de forma diplomática, impondo sanções econômicas na tentativa de forçar os norte-coreanos a desistirem do programa nuclear. No entanto, também foram feitas ameaças explícitas de uma ação militar contra o país. Com isso, a península coreana continua sendo um foco de tensão internacional que pode culminar em uma guerra nuclear de grandes proporções. ER IC SO N G U IL H ER M E LU CI AN O 88 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 88D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 88 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 Guerra civil na Síria Em 2011, teve início uma série de manifestações populares contra o governo sírio, que reprimiu violentamente os protestos. A repressão levou a população a se armar e a se organizar em grupos de combate às forças de segurança, mergulhando a Síria em uma violenta guerra civil. Desde então, o país está dividido entre forças leais ao presidente Bashar Al-Assad (1965-) e grupos contrários ao regime. A guerra interna pelo poder abriu lacunas para que o Estado Islâmico ganhasse força. A facção já controlou mais de 50% do território sírio desde 2012. A expansão do Estado Islâmico do Iraque para a Síria preocupa os Estados vizi- nhos assim como as grandes potências militares, notadamente Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia, que, com o apoio da Turquia e da Arábia Saudita, já realizaram centenas de ataques aéreos contra alvos do Estado Islâmico em território sírio. Em 2017, o governo sírio declarou que o Estado Islâmico havia sido expulso do país. A situação é bastante complexa. O governo sírio, os rebeldes, os curdos, os Estados vizinhos e as potências mundiais têm o Estado Islâmico como inimigo comum e desejam o fim das ações do grupo. Ao mesmo tempo, Estados Unidos, França e Reino Unido apoiam os grupos rebeldes por considerarem o governo de Assad antidemocrático e prejudicial à Síria. Já a Rússia apoia o regime do líder sírio e é contra a derrubada do governo. Essa situação cria um impasse, dificultando uma solução para o conflito que, até 2020, havia contabilizado cerca de 400 mil mortos e mais de 11 milhões de refugiados e deslocados internos. ■ Há quase dez anos em guerra civil, a população síria se defrontou com um desafio extra em função da pandemia da covid-19. Faltam remédios, alimentos e condições básicas de moradia, como o acesso à água. Na foto, pessoas aguardam chamada para oração antes de comerem uma refeição fornecida por um grupo de voluntários, em Atarib, zona rural de Aleppo (Síria), 2020. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • De acordo com a ONU, em 2019, havia cerca de 5,6 milhões de refugiados sírios em busca de abrigo em outros países. Considerando que as relações internacionais ficam evidentes em situações de conflito, como você considera que os outros países e as organizações internacionais devem atuar diante da guerra na Síria? Argumente considerando como esses atores têm agido desde o início dos conflitos na região. KH AL IL A SH AW I/R EU TE RS /F O TO AR EN A 89 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 89D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 89 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 Extremismo religioso na Nigéria Desde sua independência, em 1960, a Nigéria enfrenta conflitos internos. O país é constituído por cerca de 250 grupos étnicos e dividido entre cristãos e muçulmanos. Com isso, diferentes grupos disputam o poder no país. Em 2002, surgiu o grupo extremista islâmico Boko Haram, que declara ter como principal objetivo consolidar a Nigéria como um país islâmico, a partir da instala- ção de tribunais especializados na aplicação da sharia, as leis islâmicas baseadas no Alcorão, em outros textos sagrados e nas interpretações dos líderes religiosos. Para alcançar seus objetivos, o grupo faz uso de diversas ações terroristas. O financiamento para suas ações é obtido principalmente por meio de assaltos a bancos e lojas comerciais e sequestros de pessoas com o consequente pagamento de resgates. O sequestro de aproximadamente 200 meninas em abril de 2014 (muitas delas continuaram desaparecidas por vários anos e algumas perderam a vida) pelo grupo extremista Boko Haram chamou a atenção internacional para a ameaça que representa e para a incapacidade do governo nigeriano de contê-lo. O Boko Haram controla grandes porções de território no norte da Nigéria. Frequentemente, o grupo faz incursões em Camarões, país vizinho. Em 2015, decla- rou lealdade ao Estado Islâmico. No mesmo ano, os Estados Unidos anunciaram o aumento da ajuda militar à Nigéria para combater o grupo extremista. Em 2016, com a ajuda de militares de Chade, Camarões e Níger, as Forças Armadas da Nigéria conseguiram limitar as ações do Boko Haram no nordeste do país. No entanto, o grupo continua executando ataques e exercendo considerável influência no restante do território. ■ Refugiados na área da Garagem Muna, em Maiduguri (Nigéria), 2017. PA U L CA RS TE N /R EU TE RS /F O TO AR EN A 90 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 90D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 90 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 Conflito na Ucrânia A crise na Ucrânia começou em novembro de 2013, com protestos populares contra a decisão do governo de se aproximar da Rússia. Depois de uma violenta repressão das forças de segurança do Estado contra os manifestantes, o número de participantes aumentou, assim como a pressão sobre o presidente. Em fevereiro de 2014, um ano antes do término de seu mandato, Viktor Yanukovych fugiu do país. Com o vácuo de poder criado pela situação, a Rússia passou a interferir mais ativamente na Ucrânia. Em março de 2014, citando a necessidade de proteger os direitos dos cidadãos russos que vivem na Crimeia, região localizada no sudeste da Ucrânia, a Rússia ordenou a invasão e a anexação da região ao território russo. Essa ação incentivou movimentos separatistas pró-Rússia em outras regiões da Ucrânia, especialmente em Donetsk e Luhansk, onde foram realizados referendos para declarar a indepen- dência, não reconhecidos pelo governo ucraniano e pela comunidade internacional. A crise agravou as relações entre a Ucrânia e a Rússia. O conflito também aumentou as tensões nas relações da Rússia com os Estados Unidos e a União Europeia, complicando as perspectivas de cooperação em outros lugares, incluindo questões de terrorismo, controle de armas e uma solução política para a guerra civil na Síria. Desde fevereiro de 2015, Ucrânia, Rússia, França e Alemanha, por meio dos acordos diplomáticos, buscam soluções para um cessar-fogo. Entretanto, a região ainda é um importante foco de tensão internacional. ■ Em fevereiro de 2020, forças apoiadas pela Rússia atacaram tropas ucranianas em Donbass, leste da Ucrânia, causando destruição e morte. Na foto, militar ucraniano verifica um porta-aviões blindado na linha de frente com separatistas apoiados pela Rússia, próximo à Aldeia Krasnogorivka, região de Donetsk (Ucrânia), 2020. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Embora o Brasil seja um país democrático e não seja conhecido pela existência de confrontos polí- ticos violentos, a presença de conflitos é parte da vivência em sociedade. Em grupo, reflitam sobre os conflitos sociais existentes no país. Indiquem ao menos dois deles e proponham maneiras de resolvê-los e de evitar que ocorram novamente. AN AT O LI I S TE PA N O V / A FP 91 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 91D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 91 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 Leia o texto a seguir e responda às questões. A volta de um mundo bipolar? Com o fim da guerra fria, o confronto entre Washington e Moscou parecia ceder lugar a um mundo unipolar, sob a égide dos Estados Unidos, de sua visãode mundo e de suas instituições, assim como de sua supremacia econômica e militar. Aos poucos, no entanto, os fatos mostraram que não era bem assim. [...] O fato é que o novo século trouxe de volta a geopolítica e, com ela, a fisionomia de um novo mundo multipolar, que inclui igualmente potências médias e líderes regionais, tais como a Índia, o Brasil, o México, a Indonésia e a África do Sul, entre outros. [...] Em meio a diferentes geometrias, desenhadas por uma multiplicidade de polos de poder e por um emaranhado de atores, as relações entre os Estados Unidos e a China despontam, com crescente nitidez, como o principal eixo estruturante de um novo ordenamento mundial. A relação entre as duas potências, seja de cooperação ou de conflito, deverá plasmar a ordem internacional do século 21. [...] A recente visita do presidente Donald Trump à China, explícita ou implicitamente, consagrou a natureza especial desse relacionamento e apontou para uma nova bipolaridade nas relações mundiais. [...] O monitoramento dos investimentos chineses em tecnologias sensíveis ou a exigência das autoridades chinesas para a transferência de tecnologias por parte de investidores norte-americanos sinalizam que o novo normal do intercâmbio sino-americano possa ser o de um equilíbrio instável, marcado pela alternância entre momentos de cooperação e de conflito. [...] Possivelmente uma combinação instável de ambos, que, no dia a dia, tem por pano de fundo uma disputa, silenciosa, mas efetiva, entre as duas superpotências por mercados e áreas de influência. AMARAL, S. A volta de um mundo bipolar? O Estado de S. Paulo, 9 jan. 2018. Disponível em: https://opiniao.estadao.com.br/ noticias/geral,a-volta-de-um-mundo-bipolar,70002143518. Acesso em: 17 ago. 2020. 1. Por que o autor do texto vislumbra a possibilidade da volta de um mundo bipolar? 2. Você concorda com essa opinião? Justifique sua resposta. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO 92 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 92D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21.indd 92 23/09/2020 13:5223/09/2020 13:52 https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-volta-de-um-mundo-bipolar,70002143518 PLANEJANDO OS TRABALHOS A mediação é um meio alternativo e pacífico de resolução dos conflitos entre duas ou mais partes, sejam elas indivíduos, grupos ou nações, e que, por meio de técnicas para mediar as relações, buscam, por si mesmas e com o auxílio de uma terceira pessoa, o mediador, a melhor alternativa para a pacificação do conflito. Com base nessas premissas, vamos praticar a mediação de conflitos e envolver a comuni- dade para que a mediação seja adotada como prática recorrente para a solução dos problemas e questões presentes no dia a dia das interações comunitárias. Vamos concretizar essa prática por meio de uma encenação teatral, na qual todos os estudantes deverão se envol- ver, cada um executando uma tarefa, respeitando as habilidades e preferências individuais. Para que vocês possam iniciar os trabalhos, é necessário dividi-los em dois momentos: 1. Primeiro, a simulação de uma sessão de mediação de conflitos em classe, envolvendo todos os colegas. Dessa forma, serão trabalhadas algumas técnicas que nortearão a apre- sentação do produto final para a comunidade. A base para a escolha do caso que será mediado na simulação será a pesquisa de campo. 2. Posteriormente, a apresentação teatral da sessão de mediação, realizada em sala de aula, contemplando as pesquisas e relatórios que servirão de base para o roteiro da peça. A apresentação deverá incluir toda a comunidade escolar e a do entorno da escola. Em conjunto, com a ajuda do professor, elaborem o cronograma para as atividades, consi- derando as tarefas. A mediação é um meio alternativo de resolução de conflitos, assim como a negociação, a arbitragem e a conciliação, compondo o sistema “multiportas” de resolução de conflitos, incluindo o acesso ao judiciário. Cada modalidade de resolução de conflitos se vale de técni- cas e ferramentas para a sua efetivação. Algumas ferramentas servem para todas as modalidades, como a comunicação não vio- lenta. Já a voluntariedade (a vontade das partes em participar das sessões) é exigida apenas em casos de mediação, pois, para outras, a parte pode ser obrigada, por força de lei ou con- trato, a participar do processo. Neste projeto, especificamente, a mediação é tratada de forma genérica. A ênfase é dada à comunicação não violenta pelo fato de abordar habilidades como empatia, escuta ativa, observação, entre outras. Etapa 1 O LG AS TR EL N IK O VA /S H U TT ER ST O CK .C O M 93 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21-AVU.indd 93D3-CH-EM-3075-V6-U3-C5- 078-093-LA-G21-AVU.indd 93 24/09/2020 00:1624/09/2020 00:16 CAPÍTULO 6 Economia global: disputas e tensões BR EN D AN S M IA LO W SK I/A FP 94 Em agosto de 2020, o governo dos Estados Unidos declarou que desejava proibir no país aplicativos de redes sociais de uma empresa chinesa. O governo Trump acusou a empresa responsável pelo aplica- tivo de espionagem e afirmou que ela estaria colaborando com a China para obter informações privadas de cidadãos estadunidenses. Em resposta, o governo chinês fez duras declarações contra os Estados Unidos. De acordo com Wang Wengbin (1971-), porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, o governo estadunidense estaria colo- cando “interesses egoístas acima dos princípios de mercado e da norma internacional”. Além disso, Wengbin acusou os Estados Unidos de fazerem “uma manipulação e uma repressão política arbitrárias que só podem levar ao seu próprio declínio moral e prejudicar sua imagem”. A questão em torno dos aplicativos de redes sociais é apenas um exemplo da crescente tensão entre os Estados Unidos e a China. Um dos motivadores dessa tensão é o acelerado crescimento econômico da China nas últimas décadas, que transformou o país oriental em um dos polos mais importantes da economia global. Esse desenvolvimento é visto com desconfiança pelos Estados Unidos, já que há o temor de que a China se torne uma potência geopolítica capaz de superar a influência estadunidense em muitas regiões do planeta. Essa disputa econômica é um exemplo recente de enfrentamento pelo controle da economia global. Essas disputas remontam aos pro- cessos históricos de formação de redes econômicas que interligam o mundo. Neste capítulo, vamos estudar esse processo e as tensões criadas por ele ao longo do tempo. ■ O presidente estadunidense Donald Trump, à esquerda, e o presidente chinês Xi Jinping (1953-), à direita, na reunião dos países do G20. Osaka (Japão), 2019. Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 94D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 94 23/09/2020 13:5523/09/2020 13:55 Baixa Idade Média: principais circuitos comerciais ER IC SO N G U IL H ER M E LU CI AN O Equador Trópico de Câncer 0º 0º M er id ia no d e G re en w ic h Bagdá Tabriz Bucara Samarcanda Ormuz Mascate Áden Jidá Cambaia Calicute Coulão Cantão Quanzhou Hangzhou Malaca Palimbão Cairo Alexandria Basra Veneza Caffa Constantinopla Gênova Bruges Troyes Pequim Caracórum V IV I II VI VII VIII III OCEANO PACÍFICO OCEANO ÍNDICO Mar do Sul da China Mar da China Oriental Baía de Bengala Mar da Arábia Mar M editerrâneo Mar Negro M ar Verm elho Mar Cáspio 0 1035 Área dos circuitosI 95 A formação da economia global O processo de globalização criou uma economia internacional marcada pela interligação de todo o planeta. Assim, atividades econômicas de um país são afeta- das e afetam as atividades de outras regiões do globo. Atualmente, porém, há países com maior influência que outros, caracterizando uma economia global multipolar. O principal centro econômico do planeta aindasão os Estados Unidos, país que detém o maior Produto Interno Bruto (PIB) do planeta. Os fluxos financeiros, as ino- vações tecnológicas e a capacidade de produção de riqueza dos Estados Unidos fizeram com que o país passasse a exercer grande influência na economia global. O papel desempenhado pelos Estados Unidos como centro econômico do mundo é relativamente recente. Até o início do século XX, era a Europa – sobretudo a Inglaterra – que ocupava essa posição. Entretanto, por muito tempo, a Europa ocupou uma posição periférica na dinâmica econômica que se organizou a partir das rotas comerciais que uniam o continente a regiões da Ásia e da África. Essas rotas começaram a se intensificar a partir da Baixa Idade Média (séculos XI-XV), criando sistemas econômicos regionais. Nesse período, os europeus tinham grande interesse em produtos como espe- ciarias e tecidos de luxo, que só podiam ser encontrados em mercados da Ásia, especialmente nos impérios que se formaram na China e no subcontinente indiano, e enfrentavam grande dificuldade para obtê-los, pois contavam com poucos recur- sos para negociar com os impérios orientais. A Europa, portanto, tinha pouco controle sobre a dinâmica comercial que interli- gava Ásia, África e Europa. A situação começou a mudar no século XV, quando teve início o processo de expansão marítima de países europeus. ■ Mapa representando os principais circuitos comerciais que se formaram durante a Baixa Idade Média. Cada círculo é um circuito que interligava diferentes regiões. Fonte: MARKS, R. B. The origins of the modern world. Maryland (Estados Unidos): Rowman & Littlefield Publishers, 2019. D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 95D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 95 23/09/2020 13:5523/09/2020 13:55 96 O impacto econômico da expansão marítima Até o final do século XV, os europeus enfrentavam duas grandes limi- tações relacionadas à expansão comercial. A primeira era a distância entre os centros comerciais europeus e os mercados orientais. Para obter espe- ciarias e outros produtos valiosos, os europeus precisavam negociar com intermediários, que controlavam trechos importantes das rotas comer- ciais com destino aos territórios da China e do subcontinente indiano. Essa situação se agravou em 1453, quando os turcos otomanos tomaram a cidade de Constantinopla, no atual território da Turquia. Essa região tinha localização estratégica nas rotas comerciais, o que limitou ainda mais o acesso europeu aos produtos orientais. A segunda limitação era a falta de mercadorias que despertassem o interesse dos comerciantes do Oriente. Nesse período, o desenvolvi- mento tecnológico da China e dos impérios indianos era superior ao dos europeus, o que possibilitava a produção de manufaturas de melhor qua- lidade e menor preço. As únicas mercadorias valiosas de que os europeus dispunham eram os metais preciosos. A prata, em especial, era extremamente valiosa no Oriente. A China utilizava esse metal como base de seu sistema monetário e precisava de grande quantidade do material para manter sua economia em funcionamento. Até o século XV, grande parte da prata obtida pelos europeus era negociada no Oriente. Entretanto, o metal não era abun- dante na Europa, o que limitava o comércio. A expansão marítima ajudou os europeus a superarem as limitações. Os portugueses conseguiram criar uma rota marítima até o Oriente, con- tornando o continente africano pelo oceano Atlântico. Já os espanhóis, ao chegarem à América, em 1492, con- quistaram os impérios Asteca e Inca, que controlavam grandes minas de ouro e prata. Assim, no século XVI, os comer- ciantes europeus começaram a ampliar seu acesso às valiosas mer- cadorias do Oriente. ■ VAN STREEK, J. Natureza-morta com um mouro. Sem data. Óleo sobre tela, 90,5 cm × 80 cm. Na obra, aparece em destaque uma vasilha chinesa, um dos produtos que despertavam o interesse dos europeus. CO LE ÇÃ O P AR TI CU LA R D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 96D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 96 23/09/2020 13:5523/09/2020 13:55 97 Da expansão marítima à Revolução Industrial Após chegarem à América, os europeus utilizaram estratégias militares para explorar as riquezas do continente, o que provocou o massacre das populações ameríndias no início do século XVI. No mesmo período, nave- gantes portugueses também utilizaram estratégias militares para atacar portos e embarcações no Oriente a fim de obter acordos comerciais. Ainda assim, os fluxos econômicos entre a Europa e o Oriente continuaram desfavoráveis para o continente europeu. Segundo pes- quisadores, 3/4 da prata obtida nas minas americanas entre 1500 e 1800 foi enviada para a China. A força econômica da região fica ainda mais evidente ao analisar a produção do período. A China e a Índia produziam cerca de 60% de todas as manufaturas do planeta por volta de 1750. Tecidos produzidos no subconti- nente indiano e na China circulavam pelo mundo, atendendo a demanda da Europa e das colônias na América. Esse contexto começou a mudar ao longo do século XVIII, com a Revolução Industrial e o desenvolvimento militar europeu. Assim, houve a expansão da produção de mercadorias na Europa e vitórias importantes de forças euro- peias, especialmente inglesas, sobre sociedades do Oriente. Esse foi um fator que possibilitou a transformação de regiões do subcontinente indiano em colônias inglesas. ■ Damas da corte preparando seda recém-tecida, atribuído ao Imperador Huizong (1082-1135). > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • O processo de construção econômica envolve, além de questões monetárias, diferentes dimensões sociais e geográficas. Com base nessas premissas, analise o mapa da página 95 e o texto das páginas seguintes e elabore um quadro no qual constem os pontos favoráveis e desfavoráveis para a parti- cipação da China e da Europa na economia do período. Depois, escreva no caderno um pequeno texto argumentativo refletindo se no presente a tecnologia possibilita ou não a superação das dificuldades e o aprimoramento ou não das vantagens nas relações econômicas. P RI SM A BI LD AG EN TU R/ U N IV ER SA L IM AG ES G RO U P/ G ET TY IM AG ES D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 97D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 97 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 Países selecionados: participação da produção mundial de manufatura (1750- 1900) 0 20 10 30 60 50 40 70 Ano Em % 1800 1830 1860 1880 19001750 Europa China Estados Unidos Índia 98 A Europa como centro da economia global Ao longo do século XIX, diversos países europeus iniciaram a industrialização de suas economias, o que aumentou significativamente a produção de mercado- rias no continente, superando o resto do mundo. Em 1900, a Europa produzia 60% das manufaturas globais; a China, 7%; e a Índia, 2%. Os Estados Unidos também se industrializaram nessa época, produzindo cerca de 20% das manufaturas. ■ Gráfico mostrando a evolução da produção de manufaturas no mundo, entre 1750 e 1900. Fonte: MARKS, R. B. The origins of the modern world. Maryland (Estados Unidos): Rowman & Littlefield Publishers, 2019. É importante destacar que nesse processo de deslocamento do centro econô- mico global do Oriente para a Europa, houve uma relação profunda entre avanço industrial e desenvolvimento militar. A partir da Revolução Industrial, a Inglaterra e outros países europeus passaram a utilizar a energia do carvão para o desenvolvi- mento de embarcações militares mais eficientes. Além disso, em meados do século XIX, as inovações industriais e tecnológicas possibilitaram a criação de armas de fogo mais eficientes e a descoberta da eficácia do quinino na cura da malária. Todas essas invenções ajudaram a expansão militar europeia sobre territórios da África e da Ásia. Esses territórios foram transformados em zonas coloniais que ajudaram a expan- dir a economia europeia.Nesse sentido, é importante perceber que o fortalecimento econômico dos países europeus foi possibilitado não apenas por práticas comer- ciais e inovações produtivas, mas também pelo uso da força militar para subordinar outros territórios aos interesses econômicos dos Estados europeus. Entretanto, ao mesmo tempo em que o uso da força militar contribuiu para o fortalecimento dos países europeus, intensificou tensões entre esses países. Essas tensões culminaram em duas guerras mundiais na primeira metade do século XX. Do ponto de vista econômico, essas guerras provocaram o deslocamento do centro dinâmico da economia global da Europa para os Estados Unidos e a União Soviética. SO N IA V AZ D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 98D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 98 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 99 Observe a charge abaixo e as definições de eurocentrismo. Em seguida, responda às questões. [...] ... co njunto de práticas representativas que participam da produção de concepções do mundo que 1) dividem os componentes do mundo em unida- des isoladas; 2) desagregam suas histórias de relacionamento; 3) convertem a diferença em hie- rarquia; 4) naturalizam essas representações; e 5) intervêm, ainda que inconscientemente, na reprodução das atuais rela- ções assimétricas de poder” (Coronil, 2000, pp. 89-90) [...] BORTOLUCI, J. H. Para além das múltiplas modernidades: eurocentrismo, modernidade e as sociedades periféricas. PLURAL. Revista do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 53-80, 2009. Disponível em: https://pesquisa-eaesp.fgv. br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/arquivos/ para_alem_das_multiplas_modernidades_ eurocentrismo_modernidade_e_as_ sociedades_perifericas.pdf. p.60. Acesso em: 1 set. 2020. (Tradução dos autores.) 1. Na charge, temos sentados à mesa os representantes da Inglaterra, da Alemanha, da Rússia, da França e do Japão. Em pé, atrás das pessoas à mesa, há o representante da China. Com base na análise da charge, comente as intenções do grupo sobre a China. 2. A partir dos assuntos traba- lhados no capítulo e da de- finição presente no trecho acima, indique a relação es- tabelecida entre o eurocentrismo e a participação da Europa no cenário global. 3. Podemos considerar que a charge se relaciona, em certa medida, à defi- nição de eurocentrismo? ■ Charge de Henri Meyer para o jornal francês Le Petit Journal, edição de 16 de janeiro de 1898. BI BL IO TE CA N AC IO N AL D A FR AN ÇA , P AR IS . DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 99D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 99 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 https://pesquisa-eaesp.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/arquivos/para_alem_das_multiplas_modernidades_eurocentrismo_modernidade_e_as_sociedades_perifericas.pdf 100 A economia global contemporânea: da Guerra Fria ao mundo multipolar Com o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a organização da economia global passou por mudanças importantes. A nova organização da economia ao final da guerra foi marcada pela existência de dois centros distintos e rivais: o bloco capita- lista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco comunista, liderado pela União Soviética. As trocas comerciais entre os países dos dois blocos foram limitadas. Além disso, um aspecto importante da economia nesse contexto é que os Estados Unidos e a União Soviética dedicavam parcela importante de seus recursos em investimentos militares e tecnológicos visando ampliar sua influência e tornar-se a potência hege- mônica no planeta. Nesse contexto do pós-guerra também estava ocorrendo o processo de descolo- nização da Ásia e da África, formando novos atores de influência econômica global. A Índia, por exemplo, deixou de ser um território colonial inglês e passou por um lento processo de desenvolvimento industrial ao longo do século XX. Além disso, a partir dos anos 1960, algumas nações da Ásia atravessaram um momento de intenso desenvolvimento econômico. Coreia do Sul, Taiwan (Formosa), Hong Kong e Cingapura – conhecidos como Tigres Asiáticos – foram impulsionados pelo desenvolvimento industrial do Japão, iniciado na década de 1950. Essas nações experimentaram a expansão econômica principalmente graças a altas taxas de poupança, elevados índices de investimento e baixos salários pagos à mão de obra qualificada. Os setores de eletroeletrônicos, vestuário e informática foram os que mais cresceram. No final da década de 1970, foi a vez dos novos Tigres: Indonésia, Tailândia e Malásia. ■ O desenvolvimento acelerado dos Tigres Asiáticos é resultado da política econômica conhecida como plataforma de exportação. Com ela, os países promovem diversos incentivos para a entrada de multinacionais de elevada tecnologia, objetivando a produção de eletrônicos para a exportação. Vista aérea noturna do centro de Hong Kong (China), 2019. LE U N G CH O PA N /S H U TT ER ST O CK .C O M D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 100D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 100 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 101 A ascensão econômica da China contemporânea e o colapso do bloco soviético Outro aspecto central para a compreensão da economia global contemporânea é o papel desem- penhado pela China. Na primeira metade do século XX, após intensas lutas, o país conquistou sua autonomia (1912) e passou por uma revolução comunista (1949). Devido a divergências ideológicas, seguiu um rumo político e econômico autônomo e não alinhado ao bloco comunista soviético. Já na segunda metade do século XX, a China começou a se tornar um centro econômico dinâmico, marcado por um rápido desenvolvimento industrial, que ganhou força a partir da década de 1980, quando o país iniciou reformas para adotar um socialismo de mercado, abrindo sua economia para comercializar com países capitalistas. Esse processo possibilitou também o rápido crescimento econô- mico do país, que vem se tornando desde então uma das principais potências mundiais. A expansão da capacidade produtiva fez da China um dos maiores exportadores de mercadorias do planeta. Em 2020, a China já tinha o segundo maior PIB do mundo. Além disso, analistas acreditam que o país pode se tornar a primeira economia do planeta até 2030. Ao contrário da China, no início da década de 1990, a União Soviética entrou em colapso, levando ao fim do bloco comunista. Esse processo foi provocado, entre outros fatores, pelo declínio econômico do bloco, que não conseguiu manter seu crescimento econômico ao longo do tempo. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • Compare as tabelas e responda: Os países mais ricos são os que apresentam maior IDH? Reflita sobre a situação e pesquise mais informações. Com base nos dados, é possível afirmar que a riqueza de um país garante qualidade de vida para seus cidadãos? Converse com seus colegas sobre esse tema. Fonte: WORLD BANK. Gross domestic product 2019. Washington, DC, 2019. Disponível em: https://databank.worldbank.org/data/ download/GDP.pdf. Acesso em: 30 ago. 2020. Fonte: PNUD. Human Development Reports. Nova York, 2019. Disponível em: http://hdr.undp.org/en/content/2019-human- development-index-ranking. Acesso em: 30 ago. 2020. Mundo: maiores economias, 2019 Posição País PIB (em milhões de dólares) 1 Estados Unidos 21.427,7 2 China 14.342,9 3 Japão 5.081,7 4 Alemanha 3.845,6 5 Índia 2.875,1 6 Reino Unido 2.827,1 7 França 2.715,5 8 Itália 2.001,2 9 Brasil 1.839,7 10 Canadá 1.736,4 11 Rússia 1.699,8 12 Coreia do Sul 1.642,3 13 Espanha 1.394,1 14 Austrália 1.392,6 15 México 1.258,2 Mundo: maiores IDH, 2019 Posição País IDH 1 Noruega 0,954 2 Suíça 0,946 3 Irlanda 0,942 4 Alemanha 0.939 5 Hong Kong (China) 0.939 6 Austrália 0.938 7 Islândia 0.938 8 Suécia 0.937 9 Cingapura 0.935 10 Países Baixos 0.933 11 Dinamarca 0.930 12 Finlândia 0.925 13 Canadá 0.922 14 Nova Zelândia0.921 15 Reino Unido 0.920 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 101D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 101 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 https://databank.worldbank.org/data/download/GDP.pdf http://hdr.undp.org/en/content/2019-human-development-index-ranking 102 Blocos econômicos Após o colapso da União Soviética, a economia global passou a se articular com múltiplos centros regionais. Nesse cenário, os blocos econômicos e as organizações internacionais desempenham um papel muito importante. Um bloco econômico é uma organização que reúne diferentes países visando ao fortalecimento das relações econômicas e políticas entre seus membros. Existem diferentes tipos de blocos econômicos, com maior ou menor integração. A União Europeia, bloco econômico que em 2020 reunia 27 países da Europa, tem sua origem em acordos comerciais estabelecidos na década de 1950. Esses acordos foram ampliados nas décadas seguintes até culminarem na criação de um espaço comum pelo qual pessoas, mercadorias, serviços e recursos podem circular livremente. Atualmente, cidadãos europeus podem cruzar as fronteiras dos países-membros da União Europeia sem a necessidade de documen- tos ou autorizações especiais. Além disso, existe uma moeda comum e órgãos centrais de caráter administrativo, como a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu. Esse processo de integração ajudou a transformar a Europa em um importante centro econômico do mundo contemporâneo. Em 2016, o Reino Unido iniciou o processo de saída da União Europeia, apelidado de Brexit. O principal argumento dos apoiadores era o de que a nação perdia autonomia sobre seu território, enquanto os contrários à saída alegavam que a aliança com a UE fortalecia a economia. Além da União Europeia, existem outros blocos econômicos, como o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), constituído por Estados Unidos, Canadá e México; a União Africana (UA), que reúne 54 países da África; e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, além de Bolívia como Estado associado. A Venezuela já fez parte do bloco, mas foi suspensa. Esses blocos econômicos não apresen- tam o mesmo nível de integração que a União Europeia, mas desempenham um papel importante na intensificação e no fortalecimento das economias dos países que os formam. ■ Bandeiras da União Europeia (UE) em frente ao edifício-sede da Comissão Europeia, em Bruxelas (Bélgica), 2019. EQ RO Y/ SH U TT ER ST O CK .C O M D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 102D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 102 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 103 Organizações internacionais A origem das organizações internacionais remonta aos Acordos de Bretton Woods firmados em 1944, que definiram as bases para a reestruturação dos países afetados pela Segunda Guerra Mundial. Para isso, foram criadas insti- tuições internacionais, como o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Por meio dessas instituições, foram feitos investimentos em países europeus para evitar o avanço de ideias comunistas no pós-guerra. O crescimento econômico a partir de uma lógica capitalista era visto como uma forma de diminuir a influência soviética no continente. Com o fim do bloco comunista, essas instituições se fortaleceram ainda mais e começaram a pressionar governos de países em desenvolvimento na adoção de medidas alinhadas aos interesses das grandes potências econômicas do planeta, principalmente, os Estados Unidos. Dessa forma, o FMI passou a fomen- tar políticas internacionais nas quais os Estados participantes deveriam reduzir a intervenção governamental na economia nacional e proporcionar meios para investimentos do capital internacional no país, medidas conhecidas como refor- mas neoliberais. Essas reformas ampliaram as trocas comerciais no mundo, mas também enfraqueceram o controle de muitos Estados sobre suas economias. Além disso, intensificaram as desigualdades sociais e a concentração de renda. QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 53. ■ Na tirinha, Quino satiriza a influência que os organismos internacionais possuem sobre a soberania dos países. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Considerando as informações apresentadas sobre o modo como os blocos econômicos e as orga- nizações internacionais atuam nas economias locais, mencione pontos favoráveis e desfavoráveis às pressões externas (de outros países ou organizações) para a estruturação interna de um país. Para levantar esses argumentos, lembre-se de apontar os limites das influências sobre os países. © JO AQ U IM S . L AV AD O T EJ Ó N (Q U IN O ), TO D A M AF AL D A/ FO TO AR EN A D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21-AVU.indd 103D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21-AVU.indd 103 24/09/2020 00:2224/09/2020 00:22 104 Disputa Estados Unidos x China As relações comerciais entre os Estados Unidos e a China remontam à década de 1980, quando os dois países iniciaram um processo de aproximação diplomática. Apesar de o sistema socialista chinês ter se mantido, esse período foi marcado pelas reformas econômicas que visavam à abertura de mercado. Para os Estados Unidos, essas reformas significavam a expansão da dinâmica capitalista pelo planeta. Com a queda do bloco soviético, o socialismo de mercado chinês continuou sendo visto como um importante aliado na sustentação e na expansão do capi- talismo global. No final da década de 1990, por exemplo, a crise econômica que afetou muitos países da Ásia fortaleceu a importância regional da China. O país era visto como um ponto de apoio para a expansão do modelo econômico neoliberal defendido pelos Estados Unidos. Essa configuração, porém, começou a mudar no final dos anos 2000. Nessa época, a economia chinesa se modernizava rapidamente, o que tornava suas expor- tações mais competitivas. Além disso, a China ocupa uma posição estratégica na Ásia, podendo influenciar as dinâmicas políticas de muitos países da região. Diante desse contexto, a China estava se tornando uma potência regional que ameaçava a influência estadunidense em muitos países. Essa combinação de grande expansão econômica e fortalecimento político fez com que o governo dos Estados Unidos passasse a observar o país não mais como um aliado, mas como um grande concorrente. Dessa forma, as disputas entre os Estados Unidos e a China ganharam cada vez mais importância no contexto global, pois as duas nações buscam a hegemonia no mundo contemporâneo e visam ampliar sua influência política, cultural e econômica no mundo. ■ JOSWIG, D. Disputa comercial USA – China. A charge ironiza as políticas estadunidenses que visam restringir o crescimento da economia chinesa. D O M IN IK JO SW IG D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 104D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 104 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 105 Governo Trump e o crescimento das tensões Ao final do governo de Barack Obama (2009-2017), os Estados Unidos já se posicio- navam de forma crítica diante do avanço econômico da China. Essa situação seguiu uma intensa radicalização após a posse de Donald Trump como presidente do país, em 2017. Seu governo foi marcado por uma série de ações visando transformar a China em uma das principais ameaças ao desenvolvimento dos Estados Unidos. Por meio de declarações agressivas em suas redes sociais e intenso uso de pro- paganda, Trump e seus aliados fortaleceram a desconfiança da opinião pública sobre o país oriental. Além disso, foram tomadas diversas medidas visando conter o cres- cimento econômico da China. Em 2019, por exemplo, o governo dos Estados Unidos passou a perseguir um grande conglomerado de telecomunicações chinês, ao defender a proibição global de suas operações. Essa corporação tem um papel importante no fornecimento de equipamentos necessários paraa criação de redes sem fio pelo planeta. De forma semelhante, em 2020, o governo Trump defendeu medidas para proibir o funcionamento de duas redes sociais chinesas de grande influência no planeta. Alegando o risco de espionagem, o governo determinou que a empresa chinesa deve vender suas redes sociais para empresas estadunidenses ou ser banida dos EUA. Esses dois exemplos demons- tram a relação profunda entre disputa política e econômica e o crescimento das tensões entre os dois países. Essa situação pode se agravar ainda mais, já que o governo chinês vem agindo para enfraquecer a influência estaduni- dense. Por isso, essa disputa pode se tornar um dos principais focos de tensão no mundo contemporâneo. ■ Donald Trump discursa durante sua campanha para a presidência, em Saint Louis, Missouri (Estados Unidos), 2016. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Nos últimos anos, vêm ocorrendo manifestações xenófobas contra chineses nos Estados Unidos. Discutam em grupo a respeito das relações que a xenofobia possui com as situações apresentadas no capítulo, refletindo se esse comportamento está presente no Brasil. G IN O S AN TA M AR IA /S H U TT ER ST O CK .C O M D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21-AVU.indd 105D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21-AVU.indd 105 24/09/2020 00:2324/09/2020 00:23 106 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. Leia os textos a seguir: [...] [...] Braudel definia a economia mundial como “uma soma de áreas individua- lizadas, econômicas e não econômicas, [estendendo-se] para além das fronteiras de outras grandes divisões históricas… A economia mundial é a maior superfície vibradora possível, que não somente aceita a conjuntura, mas, em certa profun- didade ou nível, a cria. É a economia mundial em todos os eventos que cria a uniformidade de preços numa área imensa, como um sistema arterial distribui sangue por todo um organismo vivo. É uma estrutura em si mesma.” [...] [...] GALL, N.; RICUPERO, R. Globalismo e Localismo: quais são os limites da competição e da segurança?. Braudel Pappers, São Paulo, n. 17, 1977. Disponível em: http://www.normangall.com/brazil_art3.htm. Acesso em: 30 ago. 2020. [...] “uma alternativa à China, incluindo trazer de volta para CASA nossas empre- sas e fabricar nossos produtos nos EUA”. Em sua opinião, “as grandes quantidades de dinheiro feito e roubado pela China aos EUA, ano após ano, durante décadas, devem ACABAR e acabarão”, afirmou o mandatário. “Não precisamos da China e, na verdade, estaríamos melhor sem eles. LIY, M. V.; LABORDE, A. Trump intensifica guerra comercial com a China com elevação generalizada de impostos. El País, [s. l.], 23 ago. 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/23/internacional/1566564039_314372.html. Acesso em: 30 ago. 2020. a) A partir do que foi estudado no capítulo, aponte as interpretações possíveis para a abordagem prevista no primeiro trecho. b) Analise a relação entre os dois trechos, julgando, principalmente, a adequação das falas presentes no segundo trecho. 2. Observe o mapa e a imagem de satélite a seguir. Fonte: IBGE EDUCA. Você sabe o que é anamorfose? Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/ professores/educa-recursos/20815-anamorfose.html. Acesso em: 30 ago. 2020. Mundo: Produto Interno Bruto (PIB) proporcional a cada país, 2016 ESTADOS UNIDOS CANADÁ MÉXICO BRASIL FRANÇA ESPANHA ITÁLIA ÍNDIA CHINA JAPÃO AUSTRÁLIA RÚSSIA COREIA DO SUL ALEMANHA REINO UNIDO Produto Interno Bruto (PIB) (em bilhões de US$) Até 500,0 De 500,1 a 1.000,00 De 1.000,1 a 5.000,00 De 1.218,2 a 18.624,5 AL LM AP S D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21-AVU.indd 106D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21-AVU.indd 106 24/09/2020 00:2324/09/2020 00:23 http://www.normangall.com/brazil_art3.htm https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/23/internacional/1566564039_314372.html https://educa.ibge.gov.br/professores/educa-recursos/20815-anamorfose.html 107 a) O primeiro mapa é uma “anamorfose geográfica”, o que representa que cada país foi redesenhado de modo proporcional a seu Produto Interno Bruto. Como podemos relacionar o mapa aos temas estuda- dos no capítulo? b) A foto de satélite apresenta o acesso dos países à internet. Nela conseguimos observar quais regiões e países participam mais inten- samente do ambiente digital. Essa participação on-line se relacionaria de algum modo à economia global analisada no capítulo? Justifique sua resposta. c) Com base no que foi estudado no capítulo, para além do PIB, IDH e de outros índices, que elemento você consideraria importante para indicar o seu próprio desenvolvimento pessoal, que não seja relacio- nado ao aspecto financeiro? 3. Observe novamente a foto da abertura do capítulo, na página 94, e a charge reproduzida na página 104. Compare-as e depois responda: a) Em relação à imagem da abertura, você acredita que o fotógrafo a produziu de forma intencional, buscando transmitir uma mensagem? Em caso afirmativo, qual seria essa mensagem? b) Em sua opinião, em que aspectos a foto e a charge se aproximam ou se distanciam? Fonte: OLIVEIRA, A. J. Mapa mostra todos os dispositivos conectados à internet. Galileu, 2 set. 2014. Disponível em: https://revistagalileu.globo. com/Tecnologia/Internet/noticia/2014/09/mapa-mostra-todos-os-dispositivos-conectados-internet-do-mundo.html. Acesso em: 30 ago. 2020. Mundo: conexão à internet por país, 2014 JO H N M AT H ER LY /@ AC H IL LE AN D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21-AVU.indd 107D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21-AVU.indd 107 24/09/2020 00:2424/09/2020 00:24 https://revistagalileu.globo.com/Tecnologia/Internet/noticia/2014/09/mapa-mostra-todos-os-dispositivos-conectados-internet-do-mundo.html INVESTIGAÇÃO> 108 Os discursos de candidatos a cargos públicos são produzidos para a comunica- ção com os cidadãos e consistem em um dos elementos mais importantes da prática política. Esses discursos são sempre muito pensados e existem profissionais espe- cializados em sua produção, justamente devido ao impacto que têm na divulgação das ideias políticas e na sua aceitação junto aos eleitores. As estruturas de textos de discursos podem ser melhor entendidas quando os pensamos a partir do que é chamado de análise do discurso. Entendendo que existe uma relação entre a elaboração dos textos com o seu contexto de produção, e que esses são atravessados por ideologias, a análise do discurso estuda as estruturas de um texto para compreender as construções ideológicas que estão presentes nele e como elas influenciam seus sentidos. Para entendermos melhor as estratégias de construção desse tipo de texto, vamos analisar um trecho do discurso de posse do presidente estadunidense Donald Trump, pronunciado em 20 de janeiro de 2017, em que ele trata das relações estran- geiras dos Estados Unidos: [...] Por muitas décadas enriquecemos a indústria estrangeira às custas da indústria americana; Subsidiamos os exércitos de outros países enquanto permitíamos ao muito triste esgotamento de nosso poder militar; Nós defendemos as fronteiras de outros países enquanto nos recusamos a defender as nossas próprias; E gastamos trilhões e trilhões de dólares além-mar, enquanto a infraestrutura dos Estados Unidos caiu em degradação e deterioração. Nós tornamos outros países ricos enquanto a riqueza, a força e a confiança do nosso país se dissipou no horizonte. Uma por uma, as fábricas fecharam e deixaram nosso solo sem nem pensar nos milhões e milhões de trabalhadores americanos que foram deixados para trás. A riqueza da nossa classe média foi arrancada de suas casas e depois redistribuída ao redor do mundo. Mas isso é o passado, e agora nós estamos olhando só para o futuro. Nós reunidos aqui hoje estamos emitindo um novo decreto a ser ouvido em todas as cidades, em todas as capitais estrangeiras e em todos os corredores do poder. Deste dia em diante, uma nova visãovai governar nossa terra. Deste dia em diante, vai ser só a América primeiro, a América primeiro. [...] VEJA e leia íntegra do discurso de posse de Donald Trump. G1, 20 jan. 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/ noticia/veja-integra-do-discurso-de-posse-de-donald-trump.ghtml. Acesso em: 18 set. 2020. Para analisar o discurso contido nesse texto, podemos pensar em algumas estra- tégias discursivas, nas palavras e termos escolhidos para transmitir sentidos: D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21-AVU.indd 108D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21-AVU.indd 108 24/09/2020 00:2524/09/2020 00:25 https://g1.globo.com/mundo/noticia/veja-integra-do-discurso-de-posse-de-donald-trump.ghtml 109 a) Palavras de promessa: prometem e apresentam cenários futuros, mas tentando mostrá-los como realistas, passando a sensação de credibilidade, como na passa- gem: “Deste dia em diante, uma nova visão vai governar nossa terra”. b) Palavras de decisão: apresentam um quadro negativo, de desordem, e propõem ações para resolver essas anormalidades, como no trecho: “a infraestrutura dos Estados Unidos caiu em degradação e deterioração. […] Mas isso é o passado, e agora nós estamos olhando só para o futuro.”. c) Palavras de justificação: defendem uma tomada de decisão, mostrando a razão de ser de uma ação, como no trecho: “Nós tornamos outros países ricos enquanto a riqueza, a força e a confiança do nosso país se dissipou no horizonte”. Além dessas estratégias discursivas, para atingirem efetivamente seu público, os discursos políticos estão sempre submetidos às condições: • de simplicidade: considerando que os públicos dos discursos são sempre variados, buscam valores compartilhados que possam ser compreendidos pela maioria; • de credibilidade: construir imagens que permitam a identificação do público, mos- trando o político como alguém lúcido, que tem autoridade e virtudes; • de dramatização: construir argumentos que emocionem o público, que o atinjam não só na razão, mas também na emoção. Pensando nessas estratégias da análise do discurso, a turma deve se dividir em grupos para produzir um debate político. Para isso, sigam estas etapas: 1. Cada grupo deve definir a plataforma política de seu candidato, especificando suas propostas para os temas: educação, cultura, economia, saúde, projetos sociais e meio ambiente. 2. A partir das propostas políticas definidas, cada grupo deve se utilizar das estratégias de análise do discurso para apresentar a plataforma do candidato. O material pode ser escrito ou gravado, na forma de uma propaganda a ser veiculada no horário eleitoral. 3. As plataformas dos candidatos devem ser postas em discussão em um debate. Coletivamente os grupos devem estabelecer as seguintes regras: • discutir como serão sorteados os temas; • elaborar e organizar as perguntas que serão feitas aos candidatos; • definir o tempo que cada candidato terá para pergunta, resposta e réplica. 4. Após o debate, a classe deve se reunir para discutir a performance dos candidatos. Se for possível, o debate deve ser gravado, e as falas de cada lado podem ser analisadas coletivamente utilizando recursos da análise do discurso. D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 109D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 109 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 110 Etapa 2 PESQUISA DE CAMPO A segunda etapa dos trabalhos consiste em uma pesquisa de campo. Durante sua realização, vocês devem fazer observações, tomar notas e elaborar relatórios que irão auxiliar na escrita do roteiro da apresentação teatral. Formem dois grupos para executar as seguintes tarefas: Grupo 1 – Mapear situações de conflito na sala de aula ou na escola que possam servir de base para a simulação. Trata-se da pesquisa de campo preliminar para definir o conflito que será trabalhado. Pode ser algum fato ocorrido na escola e que tenha gerado um conflito, seja entre colegas, professores e estudantes, direção e estudantes, ou uma situação externa ao ambiente escolar, envolvendo, por exemplo, os vizinhos da escola. Observem, pesquisem, analisem e procurem chegar a um consenso a respeito do caso que melhor se ajuste à atividade proposta. Ao final, elaborem um relatório sobre o caso que esco- lheram para ser apresentado. Para ilustrar, imaginem um estudante que é constantemente excluído pelos colegas por ocasião da execução de trabalhos coletivos. Em dado momento, o estudante excluído decide agir de forma não convencional e agride fisicamente um dos colegas fora da escola, em vez de procurar apoio de um professor ou da coordenação da escola. Nesse caso, a tarefa seria identificar as partes, o contexto, as necessidades não atendidas e as posições assumidas por cada parte, sem prejulgamentos. Grupo 2 – Analisar os casos trazidos pelos colegas do grupo 1 e transcrevê-los em forma de roteiro para a simulação. Trata-se da construção da argumentação baseada nos fatos recolhidos na pesquisa de campo do grupo1 para a elaboração do roteiro. Esse tipo de guia para a peça teatral deverá conter: • caracterização das partes envolvidas; • descrição das necessidades de cada uma delas; • enumeração dos argumentos de cada uma das partes para exprimir suas necessidades e reivindicar sua satisfação; • atuação do mediador. Nesta etapa, não é necessário pensar em um desfecho para o caso. Apenas descrevam a situação de conflito, qualifiquem as partes e busquem elementos para reforçar as posições de cada uma delas, ou seja, descrevam o contexto em que se dá o conflito. Informações pertinentes sobre a relação entre as partes, suas necessidades e como dese- jariam que fossem atendidas serão objeto da mediação e deverão ser abordadas e coletadas na próxima etapa. M AR IS H /S H U TT ER ST O CK D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 110D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 110 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 > SAIBA MAIS Instituto Rio Branco Disponível em: http://www.institutoriobranco.itamaraty.gov.br/historia. Acesso em: 20 ago. 2020. Órgão do governo federal criado em 1945 que forma diplomatas responsáveis por representar o Brasil no exterior, entre outras atividades. Organização dos Estados Americanos (OEA) Disponível em: http://www.oas.org/pt/default.asp. Acesso em: 20 ago. 2020. Fundada em 1948, a organização reúne 35 países da América e é o principal fórum governamental, político, jurídico e social do continente americano. Organização das Nações Unidas (ONU) Disponível em: https://nacoesunidas.org. Acesso em: 20 ago. 2020. Site oficial da ONU no Brasil. Fundada em 1945, a ONU é uma organização internacional cujo objetivo é trabalhar pela paz e pelo desenvolvimento mundiais. Organização Mundial do Comércio (OMC) Disponível em: https://www.wto.org/. Acesso em: 20 ago. 2020. Formada por mais de 160 países, essa organização internacional criada em 1995 tem por finalidade discutir as estruturas comerciais do mundo, criando regras e acordos sobre o comércio. Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) Disponível em: http://pt.reingex.com/ASEAN-Associacao-Nacoes-Sudeste-Asiatico.asp. Acesso em: 20 ago. 2020. Organização intragovernamental formada por dez países do Sudeste asiático: Tailândia, Vietnã, Camboja, Filipinas, Brunei, Cingapura, Indonésia, Laos, Malásia e Mianmar. Em 2010, a associação firmou acordo com a China, criando a terceira maior área de livre comércio do mundo. União Europeia Disponível em: https://europa.eu/european-union/index_pt. Acesso em: 20 ago. 2020. Site oficial da União Europeia, bloco econômico e político formado por 27 países europeus. União Africana Disponível em: https://au.int/. Acesso em: 20 ago. 2020. Fundada em 2002, a organização internacional reúne os 54 países do continente africano e foi criada com o objetivo inicial de promover o crescimento do continente e o desenvolvimento da economia de seus países-membros. Mercado Comum do Sul (Mercosul) Disponível em: https://www.mercosur.int/. Acessoem: 20 ago. 2020. Página oficial do Mercosul, bloco econômico formado por quatro países-membros – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – e mais cinco associados. Banco Mundial Disponível em: https://www.worldbank.org/pt/country/brazil. Acesso em: 20 ago. 2020. Instituição financeira internacional que realiza empréstimos para países em desenvolvimento. 111 D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 111D3-CH-EM-3075-V6-U3-C6-094-111-LA-G21.indd 111 23/09/2020 13:5623/09/2020 13:56 http://www.oas.org/pt/default.asp http://www.institutoriobranco.itamaraty.gov.br/historia https://nacoesunidas.org https://www.wto.org/ http://pt.reingex.com/ASEAN-Associacao-Nacoes-Sudeste-Asiatico.asp https://europa.eu/european-union/index_pt https://au.int/ https://www.mercosur.int/ https://www.worldbank.org/pt/country/brazil 112 UNIDADE 112 1. A covid-19 evidenciou as desigualdades so- ciais do mundo, provocando impactos muito maiores às minorias sociais. Você percebeu essa realidade em sua comunidade? Conte para os colegas suas observações a respeito. 2. A xenofobia, ou seja, a aversão ao estran- geiro, vem ganhando contornos cada vez mais evidentes em muitos países. Em sua opinião, esse problema é observado no Brasil? Justifique sua resposta. NÃO ESCREVA NO LIVRO Um mundo doente O ano de 2020 entrou para a história como o ano em que a humanidade conheceu os perigos da covid-19, doença provocada por um vírus com fácil capacidade de propaga- ção, que espalhou o medo e provocou muitas mortes no mundo. Essa crise sanitária de pro- porções globais é um dos muitos problemas observados na atualidade. As desigualdades sociais, a xenofobia e as guerras mostram que ainda há muitas coisas a serem tratadas pela humanidade. 4 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 112D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 112 24/09/20 13:5624/09/20 13:56 J.B O RG ES 113 ■ BORGES, J. A briga dos dragões. 2013. Xilogravura, 49,5 cm × 34 cm. D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 113D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 113 24/09/20 13:5624/09/20 13:56 CAPÍTULO 7 Vamos embora daqui Observe a charge reproduzida abaixo e realize a leitura do frag- mento de reportagem apresentado em seguida. Situação em Roraima Com o agravamento da crise econômica e social na Venezuela, o fluxo de cidadãos venezuelanos para o Brasil cresceu maciçamente nos últimos anos. Entre 2015 e maio de 2019, o Brasil registrou mais de 178 mil soli- citações de refúgio e de residência temporária. A maioria dos migrantes entra no País pela fronteira norte do Brasil, no Estado de Roraima, e se concentra nos municípios de Pacaraima e Boa Vista, capital do Estado. [...] CRISE migratória venezuelana no Brasil. UNICEF, [c. 2019]. Disponível em: unicef.org/brazil/crise- migratoria-venezuelana-no-brasil. Acesso em: 4 set. 2020. IOTTI. Imigrantes. GaúchaZH, 30 ago. 2018. Disponível em: gauchazh.clicrbs.com. br/opiniao/iotti/noticia/2018/08/iotti- imigrantes-cjlg9m2i305g301qkuvju49ib.html. Acesso em: 4 set. 2020. IO TT I Migrantes, imigrantes, refugiados... São muitos os termos usados para se referir a indivíduos que se deslocam de seu país ou região de origem. As migrações sempre fizeram parte da história da humanidade e contribuíram para moldar o mundo tal como o conhecemos. Entretanto, nunca o número de pessoas vivendo fora de seu país de origem foi tão alto como no século XXI. Ao mesmo tempo, cresceu, a rejeição aos imigrantes e refugiados. Casos de intolerância e preconceito contra estrangeiros ocorrem em diversos lugares do mundo, inclusive no Brasil. Diante dessa realidade, os jovens desempenham um papel importante no sentido de cola- borar para a inclusão social dessas pessoas, lembrando que muitos de nós, brasilei- ros, somos descendentes de imigrantes. Acolher bem os estrangei- ros que escolhem o Brasil como seu novo lar é uma maneira de exercer a cidadania e promo- ver o convívio harmonioso em nossa sociedade. 114 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 114D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 114 24/09/20 03:2824/09/20 03:28 gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/iotti/noticia/2018/08/iotti-imigrantes-cjlg9m2i305g301qkuvju49ib.html https://www.unicef.org/brazil/crise-migratoria-venezuelana-no-brasil As migrações do século XXI O ato de migrar corresponde, de modo geral, ao deslocamento de indivíduos de um país para outro ou de uma região para outra dentro do mesmo país, com objetivo de se estabelecerem no local de destino. Entre outras razões, as pessoas se deslocam para estudar, constituir uma família, superar dificul- dades econômicas, fugir de circunstâncias que colocam em risco sua sobrevivência. Quando a migração ocorre entre países denominamos de migrações internacionais. O termo "imigração" se refere à entrada no país de destino e a palavra "emigração" se refere à saída do país de origem. No mundo atual, entre os grupos que se deslocam de um país para outro, destacam-se os de refugiados, que são obrigados a deixar seu país de origem (migração forçada) devido a circunstâncias que colocam em risco sua integridade física. De acordo com o Estatuto dos Refugiados, da Organização das Nações Unidas (ONU), é considerada refugiada a pessoa que: [...] temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacio- nalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em conseqüência de tais acon- tecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele.. ESTATUTO dos Refugiados. ONU, 1951. Disponível em: acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BDL/ Convencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugiados.pdf. p.2. Acesso em: 4 set. 2020. ■ Em razão da guerra civil, os sírios representam atualmente uma grande parcela dos refugiados globais. Na foto, crianças sírias aguardam em fila distribuição de alimentos em um campo de refugiados em Aleppo (Síria), 2016. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), existem milhões de pessoas ao redor do mundo consideradas deslocados internos, retornados, apátridas, asilados políticos ou re- querente de asilos. Em grupo, pesquisem o significado desses conceitos e no que eles diferem daqueles apresentados nesta página. FA TI H A KT AS /A N AD O LU A G EN CY /G ET TY IM AG ES Diante de tais ameaças, qualquer indivíduo pode solicitar refúgio em outro país. O refugiado deve ser protegido de acordo com o Direito internacional mediante comprovação de seu status. Neste capítulo, vamos analisar a questão dos refugiados, entre outras questões relaciona- das aos fluxos migratórios no século XXI, que constituem o que muitos consideram uma “crise migratória sem precedentes”, sobretudo na Europa. 115 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 115D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 115 24/09/20 03:2824/09/20 03:28 https://acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BDL/Convencao_relativa_ao_Estatuto_dos_Refugiados.pdf Os fluxos migratórios atuais Você já se deparou com alguma notícia ou reportagem sobre imigrantes internacionais no Brasil? Na atualidade, em um mundo onde o espaço é caracterizado por fluxos cada vez mais rápidos e intensos, as migrações internacionais são um dos fenômenos mais significativos. Como vimos, os fluxos migratórios ocorrem por diferentes motivos e, nas últimas décadas, têm apresentado algumas características próprias. A intensificação dos fluxos De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), entre 1980 e 2019 o número de migrantes internacionais mais do que dobrou, sobretudo no período entre os anos 2000 e 2010. Por que esses fluxos se intensificaram tanto? São muitas as respostasa essa questão. A tabela ao lado evidencia o número de imi- grantes globais e o percentual de migrantes na composição da população mundial em dife- rentes momentos. A intensificação dos fluxos migratórios está relacionada, entre outros fatores, ao processo de globalização propiciado pelo desenvol- vimento das tecnologias de comunicação e transporte que, ao reduzir o espaço-tempo, facilitam os movimentos populacionais. Além disso, o desenvolvimento da internet e da tele- fonia celular permite ao migrante manter contato com familiares em seu país de origem e até mesmo trabalhar por conta própria ou para uma empresa de qualquer parte do mundo. ■ Imigrante utilizando telefone celular com recurso de geolocalização para traçar rota terrestre próximo à fronteira da Bósnia e Herzegovina com a Croácia, 2018. Migrantes na composição da população mundial – 1995 a 2019 Ano Migrantes (em milhões) % da população mundial 1980 102 2,3 1985 113 2,3 1990 153 2,9 1995 161 2,8 2000 174 2,8 2005 192 2,9 2010 221 3,2 2015 249 3,4 2019 272 3,5 Fonte: UN DESA, 2008, 2019a, 2019b. In: World Migration Report 2020. International Organization for Migration. p. 21. Disponível em: un.org/sites/un2.un.org/files/wmr_2020.pdf. Acesso em: 4 set. 2020. M AC IE J L U CZ N IE W SK I/N U RP H O TO /G ET TY IM AG ES 116 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 116D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 116 24/09/20 03:4724/09/20 03:47 https://www.un.org/sites/un2.un.org/files/wmr_2020.pdf Os fluxos migratórios internacionais As migrações internacionais podem ser classificadas em migrações intracontinentais (dentro de um mesmo continente) ou migrações intercontinentais (entre diferentes conti- nentes). Atualmente, nota-se um predomínio dos fluxos intracontinentais, como evidencia o gráfico a seguir. De modo geral, os países periféricos são as principais áreas de repulsão ou países de emi- gração. Países mais desenvolvidos, que apresentam Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) altos ou muito altos, tendem a exercer maior atração sobre os migrantes, se caracterizando como áreas de atração ou países de imigração. Esses países apresentam atualmente o maior número de imigrantes na composição de suas populações. Observe os gráficos a seguir. Nas últimas décadas, contudo, devido às dificuldades envolvidas no ato de emigrar para nações desenvolvidas e grande intensidade dos fluxos migratórios, países emergentes têm atraído cada vez mais migrantes. As migrações contemporâneas não se resumem, portanto, às migrações entre o Sul geopolítico (periféricos e emergentes) e o Norte geopolítico (desenvolvi- dos). Elas já foram superadas pelas migrações Sul-Sul, realizadas entre países do Sul geopolítico. Fonte: UNITED NATIONS. International Migration Report – 2017, p. 6. Disponível em: www.un.org/en/development/desa/population/ migration/publications/migrationreport/docs/MigrationReport2017_ Highlights.pdf. Acesso em: 4 set. 2020. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Realize uma pesquisa para descobrir as principais origens de imigrantes no Brasil do século XXI e se existe, em seu município, algum local onde eles se reúnem ou alguma feira ou evento cultural com presença marcante de imigrantes. Fonte: UNITED NATIONS. International Migration Report – 2017, p. 11. Disponível em: www.un.org/en/development/desa/population/ migration/publications/migrationreport/docs/MigrationReport2017_ Highlights.pdf. Acesso em: 4 set. 2020. Migrantes internacionais por região de origem e destino, 2017 Am ér ic a La tin a e Ca rib e África Desconhecido Oceani a A m éri ca do No rte Ás ia Europa Ásia Ásia 63 milhões Europa Ásia 7 milhões Europa Europa 41 m ilhões Europa Ásia 20 milhões Am érica do Norte Ásia 17 m ilhões Eu rop a Am éri ca do No rte 8 m ilh õe s Am ér ica La tin a e C ar ib e Am ér ica d o No rte 26 m ilh õe s África África 19 milhões Eu ro pa Áf ric a 9 m ilh õe s Europa América Latina e Caribe África Ásia América do Norte Oceania Desconhecido Países com maior número de imigrantes, 2017 (em milhões) 0 10 20 30 40 50 Estados Unidos Arábia Saudita Alemanha Rússia Reino Unido Emirados Árabes Unidos França Canadá Austrália Espanha Itália Índia Ucrânia Turquia África do Sul Cazaquistão Tailândia Paquistão Jordânia Kuwait 49,8 12,2 12,2 11,7 8,8 8,3 7,9 7,9 7,0 5,9 5,9 5,2 5,0 4,9 4,0 3,6 3,6 3,4 3,2 3,1 2017 Em milhões SO N IA V AZ SO N IA V AZ 117 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 117D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 117 23/09/2020 18:5623/09/2020 18:56 www.un.org/en/development/desa/population/migration/publications/migrationreport/docs/MigrationReport2017_Highlights.pdf www.un.org/en/development/desa/population/migration/publications/migrationreport/docs/MigrationReport2017_Highlights.pdf A gestão das migrações no século XXI Leia o trecho a seguir, extraído da Declaração Universal dos Direitos Humanos: [...] Artigo 13 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar. [...] DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Unicef Brasil. Disponível em: unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 4 set. 2020. Migrar é um direito de todos, porém, diante dos intensos fluxos migratórios atuais, alguns Estados têm dificultado a entrada de migrantes em seu território. O jornalista britânico Tim Marshal (1959-) cunhou o termo “era dos muros” para se referir ao momento atual, cada vez mais caracterizado pela construção de barreiras físicas destinadas a limitar a entrada de migrantes. Países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos, nações da União Europeia, Japão e Austrália são os destinos almejados por grande parte dos migrantes. Em sua maioria, essas nações também se caracterizam por suas políticas antimigratórias. Distinguir legalmente refugiados cujas alegações são comprovadas dos migrantes que solici- tam refúgio é uma tarefa árdua e demorada, levando muitos migrantes a ficar detidos por meses em centros de acolhimento provisórios, onde aguardam para que seus casos sejam analisados. ■ A maioria dos migrantes que tentam entrar de modo irregular no território estadunidense vem do México e é capturada pela Polícia de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos. Na foto, um visitante caminha ao lado da barreira erguida na fronteira dos Estados Unidos com o México, em Playas de Tijuana, Baja Califórnia (México), 2020. G U IL LE RM O A RI AS /A FP 118 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 118D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 118 24/09/20 03:2924/09/20 03:29 https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos Os mi grantes, suas motivações e diferentes realidades O termo migrante abrange realidades diversas. Existem migrantes altamente quali- ficados que optam por trabalhar em outros países onde encontram mais oportunidades, caracterizando o fenômeno denominado “fuga de cérebros”. Outros são trabalhadores de baixa qualificação, que deixam seu país por motivos econômicos ou devido à ocorrência de desastres ambientais, entre outras razões. Em ambos os casos, a principal motivação é a busca por melhores condições de vida. Os migrantes que não possuem docu- mentação necessária para permanecer no país de destino são considerados imigrantes irregulares e correm risco de deportação. Essas pessoas também enfrentam dificulda- des no país de destino em relação a língua, alimentação, religião e hábitos culturais, além de muitas serem vítimas da xenofobia (pre- conceito contra estrangeiros) por parte da população local. ■ Atual mente, milhares de migrantes buscam entrar ilegalmente na zona daUE para, posteriormente, se deslocar aos outros países do bloco, levando a atritos entre as nações da UE. Na foto, um imigrante em busca de asilo observa por trás de uma cerca de arame farpado sob a bandeira da União Europeia, em 2019. Depor tação Processo pelo qual um Estado expulsa determinado indivíduo ou grupos de indivíduos estrangeiros do país em questão e veta seu direito de retorno, mandando-os de volta ao país de origem. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Pessoas contrárias à presença de imigrantes em seus países costumam dizer frases como: “A imigra- ção acaba com a economia do país”; “Eles vêm para nosso país roubar nosso trabalho”; “Seremos invadidos por criminosos e terroristas”. • Escolha uma das frases e elabore argumentos para refutar as opiniões apresentadas. Converse com seus colegas sobre o perigo da xenofobia em uma sociedade democrática. Font e: BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria de Assuntos Legislativos. Pensando o Direito. n. 57. Brasília, DF, 2015. Disponível em: pensando.mj.gov.br/wp-content/uploads/2015/12/PoD_57_ Liliana_web3.pdf. Acesso em: 4 set. 2020 Brasi l: principais difi culdades enfrentadas por imigrantes, 2015 Ac es so a s er viç os Do cu me nt aç ão Inf or ma çã o Idi om a Di scr im ina çã o Fin an ce ira s Tra ba lho Su bs ist ên cia Ou tra s0 5 10 15 20 25 % 16,24 21,74 13,98 2,15 5,91 5,91 20,63 5,38 8,06 SO N IA V AZ IS LA N D ST O CK /A LA M Y/ FO TO AR EN A 119 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 119D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 119 23/09/2020 18:5623/09/2020 18:56 pensando.mj.gov.br/wp-content/uploads/2015/12/PoD_57_Liliana_web3.pdf Refugiados: de onde vêm? Para onde vão? Todos os refugiados são migrantes, mas nem todos os migrantes são refugiados. Esses termos, muitas vezes empregados como sinônimos, possuem significados bas- tante diferentes e, portanto, o caso dos refugiados merece atenção especial quando discutimos as questões migratórias no século XXI. Segundo dados da Acnur referentes a 2018, aproximadamente 70,8 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar em razão da viola- ção de direitos humanos básicos e, desse total, cerca de 25,9 milhões de pessoas foram consi- deradas refugiadas de acordo com a legislação internacional. Nesse mesmo ano, cerca de 57% dos refugiados globais eram provenientes de apenas três países: Afeganistão (2,7 milhões), Sudão do Sul (2,3 milhões) e Síria (6,7 milhões), todos eles afetados por guerras civis e nos quais a população sofre constantes violações aos direitos humanos. A maior parte (cerca de 80%) desses refugiados vive atualmente em países vizinhos, que fazem fronteira com as nações citadas, mas também existem refugiados em países da União Europeia e inclusive no Brasil. Fonte dos dados: UNHCR/ACNUR. Deslocamento global supera 70 milhões, e chefe da Agência da ONU para Refugiados pede maior solidariedade na resposta. 19 jun. 2019. Disponível em: acnur.org/ portugues/2019/06/19/deslocamento-global-supera-70-milhoes/. Acesso em: 4 set. 2020. Mundo: países que abrigaram mais refugiados, 2019 (em milhões) Em milhões 0 1,0 2,0 3,0 4,0 Tu rq uia 3,7 1,4 1,2 1,1 1,1 Pa qu ist ão Ug an da Su dã o Al em an ha Observe o gráfico acima e o mapa a seguir para melhor entendimento desse cenário. Fonte de dados: UNHCR/ACNUR. Deslocamento global supera 70 milhões, e chefe da Agência da ONU para Refugiados pede maior solidariedade na resposta. 19 jun. 2019. Disponível em: acnur.org/portugues/2019/06/19/deslocamento-global-supera- 70-milhoes/. Acesso em: 4 set. 2020. Mundo: países que abrigaram a maior quantidade de refugiados, 2019 Trópico de Capricórnio Trópico de Câncer Equador M er id ia no d e G re en w ic h Círculo Polar Antártico Círculo Polar Ártico 0° 0° OCEANO ÍNDICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO 0 3 140 De 1,5 a 3,7 milhões Quantidade de refugiados De 1,1 a 1,5 milhões TURQUIA PAQUISTÃO UGANDA SUDÃO ALEMANHA 3,7 milhões 1,4 milhão 1,2 milhão 1,1 milhão 1,1 milhão SO N IA V AZ D AC O ST A M AP AS 120 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 120D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 120 24/09/20 03:4924/09/20 03:49 https://www.acnur.org/portugues/2019/06/19/deslocamento-global-supera-70-milhoes/ https://www.acnur.org/portugues/2019/06/19/deslocamento-global-supera-70-milhoes/ https://www.acnur.org/portugues/2019/06/19/deslocamento-global-supera-70-milhoes/ Os refugiados do século XXI É importante conhecer o perfil dos refu- giados do século XXI. Primeiro porque eles representam uma parcela significativa dos migrantes neste milênio. Depois, para com- preendermos que, quando se trata de fluxos migratórios, eventos e mudanças em curso nas escalas local e regional têm impacto global. No mundo contemporâneo, os assuntos rela- cionados às migrações devem, portanto, ser geridos de forma planetária. Leia este depoimento e, em seguida, o cartum. Meu nome é Mohammad, eu sou afegão. Tenho 42 anos. Deixei meu país por causa dos talibãs que me vigiavam e me ameaçavam. Durante 22 anos eu combati o Talibã. Eu treinava soldados, pois fui major do exército. [...] Eu amo meu país e amarei pra sempre. Os talibãs me dis- seram: ‘Vamos te matar.’ Eu disse a eles que não tinha medo. Eles me responderam: ‘Se você não tem medo, podemos matar seus filhos’ Eu fugi para salvá-los. Deixei meu país e vim para a Europa com minha mulher e meus dois filhos [...]. A viagem durou um mês [...]. Da Turquia, pegamos um caiaque para oito pessoas – mais caro, porém menos perigoso que um barco cheio de migrantes – chegamos à Grécia e depois passamos pela Macedônia, Sérvia, Croácia, Eslovênia, Áustria, Bélgica e Calais. Fizemos a viagem juntos. Minha esposa tem 30 anos e queria que fôssemos para o Reino Unido, onde vivem sua tia, seu irmão, primos e primas [...]. LEQUETTE, S; LE VERGOS, D. (org.). Décamper. Paris: Éditions La Découverte, 2016. p. 99. (Tradução nossa). Um refugiado deve, ou deveria, receber proteção e garantia de direitos fundamentais em qual- quer lugar do mundo, mas cada país trata a questão de forma diferente e a população se divide entre o desejo de acolher ou não esses refugiados, o que gera tensões internas e internacionais. Tomando como ponto de partida o depoimento apresentado e a análise do cartum, realize as atividades propostas. 1. Com base no entendimento dos conceitos de refugiado e migrante, o indivíduo cuja história é re- latada no texto deve ter status de refugiado reconhecido? Justifique. 2. Interprete o cartum apresentado, apontando exemplos de dificuldades que os refugiados encon- tram durante seus deslocamentos e nos países onde acabam solicitando refúgio. 3. Discuta com seus colegas a realidade enfrentada pelos refugiados no mundo e crie uma expressão artística para representá-la: painel, grafite, charge, HQ, letra de rap etc. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> BENETT. Refugiados. Twitter, 3 jul. 2016. Disponível em: https://twitter.com/ Benett_/status/749786798902153217. Acesso em: 04 set. 2020. BE N ET T NÃO ESCREVA NO LIVRO 121 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 121D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 121 23/09/2020 18:5623/09/2020 18:56 https://twitter.com/Benett_/status/749786798902153217 Refugiados: aceitá-los não é uma questão de escolha É dever da comunidade internacional, previsto por lei, proteger aqueles que estão fugindo da guerra e de perseguições. Proteger os refugiados também é um dever cívico, principalmente porque parte significativa deles é menor de 18 anos. Devemos considerar, primeiramente, que essas pessoas não são responsáveis pelos conflitos e guerras que ocorrem em seus países. Muitas delas tinham uma vida estruturada, uma família e, de uma hora para outra, foram forçadas a se deslocar. Qualquer um de nós pode viver essa experiência um dia e, diante dessa situação,gostaríamos que nossos direitos fossem respeitados. A Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951 reconhece os direitos dos refugiados globais e deveres das nações que recebem solicitantes de refúgio. Desde 1967, um protocolo com essa finalidade foi assinado por diversos países que reconheceram a necessidade de cooperação com a Acnur para garantir os direitos desses indivíduos. Esse comprometimento envolve acolher os indivíduos cujas alegações são com- provadas, oferecendo a documentação necessária para sua regularização, além de ajudá-los em sua integração ao novo país, de modo que possam viver livres de estigmas e preconceitos, ter acesso a serviços básicos, trabalhar e se adaptar ao novo idioma, se for o caso, e à cultura local. Entretanto, na maior parte dos países que acolhem refu- giados, parte da população ainda é contrária ao acolhimento dessas pessoas. ■ O governo canadense adota uma política de abertura em relação ao acolhimento de refugiados, acreditando que essa medida é benéfica ao país, que lida com o envelhecimento da população e baixa densidade demográfica. Na foto, uma menina no colo do pai, recém-chegados da Síria ao Aeroporto Internacional Pearson Toronto, em Mississauga, Ontário (Canadá), 2015. M AR K BL IN CH /R EU TE RS /F O TO AR EN A 122 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 122D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 122 23/09/2020 18:5623/09/2020 18:56 Os campos de refugiados Atualmente, há mais de 450 campos de refugiados oficiais admi- nistrados pela ONU e por organizações não governamentais (ONGs), como a Médicos sem fronteiras, com população total estimada em mais de seis milhões de pessoas. Esses complexos destinados ao acolhimento de refugiados são cada vez mais comuns em diversos países e, sobretudo naqueles localizados próximos às principais áreas de repulsão. Os campos de refugiados servem para que essas pessoas possam aguardar, temporariamente e em segurança, a resolução de sua situ- ação. Entretanto, em função da multiplicação dos conflitos globais e do aumento do número de refugiados, esses campos têm se dissemi- nado e se tornado permanentes. Alguns deles existem há mais de vinte anos e sua estrutura e organização ganharam características comuns às pequenas cidades, com comércio, igrejas, campos de futebol e outros elementos que tornam a vida mais tolerável nesses locais. LE O N H AR D F O EG ER /R EU TE RS /F O TO AR EN A 123 ■ Em 2015, o governo da Hungria construiu uma cerca na fronteira com a Sérvia para conter a chegada de refugiados. O então primeiro- ministro Viktor Orbán (1963-) declarou que o bloqueio da rota utilizada pelos refugiados para chegar a países do norte da Europa tinha o intuito de “salvar os valores cristãos da Europa”. A foto mostra migrantes caminhando em direção à fronteira austríaca, em Hegyeshalom (Hungria), 2015. D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 123D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 123 24/09/20 03:3424/09/20 03:34 ■ O campo de refugiados de Zaatari, montado em 2012 no meio do deserto da Jordânia, é o segundo maior do mundo e abriga mais de 80 mil refugiados sírios. Na foto, pessoas transitam por uma rua do assentamento, próximo à cidade fronteiriça de Mafraq (Jordânia), 2020. M U H AM M AD H AM ED /R EU TE RS /F O TO AR EN A Enquanto os campos estruturados por governos e entidades costumam estar situados em áreas isoladas e periféricas, como uma forma de afastar essa população “indesejada”, os acampamentos informais se instalam muitas vezes no espaço das cidades, passando a fazer parte da paisagem urbana. A partir de 2015 acampamentos clandestinos começaram a se formar nas ruas de Paris, abrigando, na época, mais de três mil pessoas em situação precária. A “Jungle” de Calais, maior campo de refugiados informal da Europa, também situado na França, foi evacuado em 2016 e chegou a contar mais de oito mil habitantes. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em 2020, o mundo se viu diante de uma pandemia causada pelo novo coronavírus. Em muitos paí- ses, medidas restritivas de isolamento foram adotadas para conter a disseminação do vírus. Você já imaginou como o impacto de uma pandemia pode ser ainda mais dramático entre populações que se encontram confinadas em campos de refugiados? Faça uma pesquisa on-line sobre a situação de campos de refugiados ao redor do mundo em meio à pandemia da covid-19. Em seguida, produza um texto apresentando uma síntese das informações mais relevantes. 124 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 124D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 124 23/09/2020 18:5623/09/2020 18:56 A situação dos refugiados no Brasil e a mobilização da sociedade Seguindo uma tendência mundial, o Brasil vem recebendo um número cada vez maior de pedidos de refúgio. A lei federal no 9.474 de 1997, que con- templa o Estatuto dos Refugiados de 1951, garante esse direito a todos aqueles que ingressam no país. De acordo com dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), só em 2018 foram mais de 80 mil solicitações de refúgio, a maior parte (61.681) por venezuelanos. No entanto, apesar do número elevado de migrantes que solicita refúgio no Brasil, apenas uma pequena parte desses indivíduos tem seu status de refugiado reconhecido. Até 2018, o governo brasileiro havia concedido status de refu- giado a 11.231 pessoas, a maioria delas proveniente de Síria, República Democrática do Congo e Angola. Contudo, nesse mesmo ano, apenas 6.554 mantinham essa condição no país. Os demais se naturalizaram brasileiros, retornaram ao país de origem ou tiveram revogada a condi- ção de refugiado por outras situações. Apesar de parecer reduzido, esse número caracteriza um aumento significativo no número de refugiados reconhecidos no Brasil, que atualmente é o país da América do Sul com maior número de refugiados em seu território. Observe os gráficos a seguir. ■ Muitos venezuelanos têm adentrado o território brasileiro pelo estado de Roraima, buscando fugir da profunda crise em seu país. Na foto, acampamento destinado a abrigar refugiados venezuelanos em Boa Vista (RR), 2018. Fonte: BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Refúgio em números 4ª edição. Disponível em: https://www.justica.gov.br/seus- direitos/refugio/anexos/RefgioemNmeros_2018.pdf. Acesso em: 4 set. 2020. Brasil: número de refugiados reconhecidos, 2011 e 2018 Deferido e acumulado Reassentamento acumulado Acumulado histórico Ano 2011 2012 2013 2014 20162015 2017 2018 0 6 000 4 000 2 000 8 000 10 000 12 000 4 035 4 284 4 975 7 262 8 493 9 552 10 145 11 231 514 558 624 667 682 3 521 3 726 4 351 6 595 7 811 8 839 9 426 10 512 713 719 719 Refugiados Fonte: BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Refúgio em números 4ª edição. Disponível em: https://www.justica.gov.br/seus- direitos/refugio/anexos/RefgioemNmeros_2018.pdf. Acesso em: 4 set. 2020. Brasil: percentual de refugiados residentes de cada nacionalidade, 2018 Sír ia Re p. De m. do Co ng o An go la Co lôm bia Ve ne zu ela Pa qu ist ão Ira qu e Bo lív ia Pa les tin a Ma li Ou tro s 9 36 7 233 2 2 2 19 15 Países Em % 0 5 10 15 20 25 30 35 40 EV AR IS TO S A/ AF P SO N IA V AZ SO N IA V AZ 125 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 125D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 125 23/09/2020 18:5623/09/2020 18:56 Para lidar com o número elevado de migrantes que não atende aos crité- rios necessários para o reconhecimento da condição de refugiado, o Brasil criou o visto humanitário. Esse status regido exclusivamente por leis brasileiras foi criado com o objetivo de facilitar o acolhimento de indivíduos vítimas de crises econômicas e ambientais em seus países, a exemplo de milhares de haitianos que buscam ingressar no Brasil desde 2010, quando um ter- remoto atingiu opaís, agravando sua situação econômica. Diante do grande número de pessoas que recebem visto humanitário no país, o governo brasileiro, a Acnur e inúmeras ONGs realizam ações voltadas à integração desses indivíduos na sociedade brasileira, como inserção no mercado de tra- balho, adaptação à língua e à cultura, garantia de assistência social e jurídica, entre outras. Apesar dos avanços nas leis migratórias, é preciso que o governo brasileiro aperfeiçoe sua estrutura de acolhimento aos refugiados e migrantes que recebem visto humanitário, uma vez que a maior parte do auxílio a essas pesssoas ocorre em escala municipal, com grande envolvimento da sociedade civil, sobretudo de igrejas, ONGs, associa- ções e voluntários. Entretanto, parte da população não vê com bons olhos a abertura do país aos refugiados. A discriminação ainda se faz presente e os refu- giados enfrentam dificuldades semelhantes às de outros migrantes no país. Uma recomendação da Acnur para reduzir o estigma e o precon- ceito é o uso do termo “novos brasileiros” para se referir a essas pessoas, buscando melhorar sua adaptação ao país. ■ Refugiados haitianos em frente à Paróquia Nossa Senhora da Paz, em São Paulo (SP), 2015. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Considerando as necessidades de refugiados e migrantes que recebem visto humanitário no Brasil, converse com os colegas e busquem respostas para a seguinte questão: Como é possível contri- buir para a integração desses “novos brasileiros” no país? Pesquisem notícias e exemplos de ações voltadas a essa finalidade ou defendam, por meio de argumentos, ações que serviriam para ajudar essas pessoas a se integrar à nossa sociedade. D U D A BA IR RO S/ FO TO AR EN A 126 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 126D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 126 23/09/2020 18:5623/09/2020 18:56 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. Leia o texto extraído da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em seguida, observe a foto e leia a legenda. Com base na análise dos docu- mentos, comente a situação dos imigrantes. [...] Artigo 1 Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. [...] DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Unicef Brasil. Disponível em: unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 4 set. 2020. ■ Um grupo de imigrantes levanta cartazes diante do Ministério de Assuntos Internos para exigir direito integral de residência. Lisboa (Portugal), 2019. H O RA CI O V IL LA LO BO S/ CO RB IS /G ET TY IM AG ES 127 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 127D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 127 24/09/20 03:5424/09/20 03:54 https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos 2. Analise a charge reproduzida abaixo. PISMESTROVIC, P. Entre o ruim e o pior. Charge publicada em https://politicalcartoons.com/ sku/168495/, em 5 de setembro de 2015. Responda: a) As pessoas representadas na imagem são migrantes ou refugiadas? Justifique. b) Atualmente, há um grande debate sobre a importância de diferenciarmos esses dois termos. Em sua opinião, qual é a relevância desse debate no contexto atual? 3. Analise o mapa a seguir e depois responda às questões. a) Quais são as regiões que tradicionalmente atraem mais imigrantes? O que podemos dizer sobre seu nível de desenvolvimento? b) Quais são as regiões que vêm atraindo mais imigrantes? O que podemos dizer sobre seu nível de desenvolvimento? c) Quais são as regiões de emigração no planeta? Caracterize-as do ponto de vista econômico, político e social. Fonte: ORGANISATION INTERNACIONALE POUR LES MIGRATIONS. État de la migration dans le monde – 2015, p. 39. Disponível em: publications.iom.int/fr/system/files/pdf/wmr2015_fr.pdf. Acesso em: 28 ago. 2020. Mundo: diversificação dos destinos das migrações, 2015 Equador0° Trópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico Trópico de Câncer 0° M er id ia no d e G re en w ic h Círculo Polar Ártico OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ÍNDICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO São Salvador Guatemala Buenos Aires Porto Alegre São Paulo Rio de Janeiro Casablanca Rabat Argel Fez Kavarna Budapeste Moscou Mardin Alepo Cairo Calcutá Mumbai Kuala Lumpur Harare Johanesburgo Cidade do Cabo Bangcoc Nova Délhi Guangzhou Seul Tóquio Shangai Shenzhen Hong Kong Ho Chi Minh Cingapura Cidade do México Tijuana 0 3075 Novos centros de crescimento da migração internacional Fontes de migrantes internacionais e/ou internos Centros tradicionais de crescimento da migração internacional Capital de país Cidade PE TA R PI SM ES TR O VI C/ CA G LE C AR TO O N S ER IC SO N G U IL H ER M E LU CI AN O 128 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 128D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 128 24/09/20 03:3524/09/20 03:35 https://politicalcartoons.com/sku/168495/ 4. Leia o excerto do texto. Depois, responda às questões. Algumas pessoas têm me questionado por que países árabes não recebem refugiados. Na verdade, recebem e bastante. O Líbano, que tem pouco mais de 4 milhões de habitantes, possui 1,1 milhão de refugiados. Seria o equivalente aos EUA terem 75 milhões de refugiados ou o Brasil, 50 milhões. A Jordânia é outra nação árabe que recebe enorme quantidade de refugiados. Ao todo, são 664 mil. [...] Estes países recebem mais refugiados porque possuem fronteiras com nações em conflito e abriram suas portas para eles. No caso da Turquia, com a Síria e Iraque. No caso do Líbano e da Jordânia, com a Síria. No caso do Irã, com o Iraque e o Afeganistão. No caso do Paquistão, com o Afeganistão. No caso da Etiópia, com a Eritréia e Somália. Curiosamente, a Síria, durante a Guerra do Iraque, recebeu mais de 1 milhão de refugiados iraquianos, dando saúde e educação gratuita a todos. Se houver uma guerra civil na Venezuela, dezenas de milhares podem buscar refúgio no Brasil. Em números proporcionais, segundo a ONU, como curiosidade, o Líbano recebe 183 refugiados por mil habitantes. A Jordânia, 87. Turquia, 32. A Suécia, 17. E os EUA? Apenas 0,8 refugiados por mil habitantes – isto é, cerca de 200 vezes menos do que o Líbano. Somente uma parcela minoritária dos refugiados vai para nações mais distan- tes. Os EUA, por exemplo, recebiam refugiados apenas após um processo de 20 etapas, considerado um dos mais severos do mundo – agora não recebem mais temporariamente. E possuem o Oceano Atlântico como barreira. [...] CHACRA, G. Quais países recebem mais refugiados no mundo? Estadão, 2017. Disponível em: internacional.estadao.com.br/ blogs/gustavo-chacra/quais-paises-recebem-mais-refugiados-no-mundo. Acesso em: 2 set. 2020. a) Você concorda com a ideia de que a Europa está “submergida” por uma crise mi- gratória? Justifique sua resposta. b) Caracterize a distribuição da população de refugiados entre a Europa e o Oriente Médio. 5. Imagine a seguinte situação hipotética: Você é um jovem de 17 anos que mora em Mogadíscio, capital da Somália. Seu pai está desaparecido há mais de dez anos. Você acredita que sua mãe partiu para procurá-lo, mas não tem notícias dela há um ano. Você está com cada vez mais dificuldade de juntar dinheiro e os combates se aproximam do local onde você mora. Você tem medo de ser recrutado como soldado ou informante pelos rebeldes islâmicos. Então você decide fugir para ter uma vida melhor e sem medo. Você ouviu falar que na Alemanha era mais fácil para os menores obter o estatuto de refugiado e, portanto, ser protegido. Você então decide juntar os 500 dólares que conseguiu economizar com dificuldade e partir em direção à Europa. • A situação hipotética descrita no texto acontece diariamente na vida de milhares de jovens refugiados no mundo. Imagineque você é o personagem citado e escreva um texto contando como foi o seu percurso até a Alemanha e se você conseguiu realizar o pedido de asilo. 129 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 129D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 129 23/09/2020 18:5623/09/2020 18:56 internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/quais-paises-recebem-mais-refugiados-no-mundo 6. Leia o fragmento a seguir. ‘Resposta da Europa à crise de migrantes não está funcionando’, afirma especialista da ONU "Construir cercas, usar gás lacrimogênio e outras formas de violên- cia contra migrantes e requerentes de asilo, detenção, suprimir acesso a itens básicos como abrigo, alimentação ou água ou usar linguagem ameaçadora ou discurso de ódio não parará os migrantes que tentam vir para a Europa”, adicionou. Ele lembrou que a soberania territorial é uma questão de con- trole de fronteira, de conhecer quem entra e quem deixa o país e jamais esteve relacionada à blindagem de fronteiras para a migra- ção. “Fronteiras democráticas são porosas por natureza. Fornecer aos migrantes e requerentes de asilo soluções de mobilidade legais e seguras irá garantir este controle”, sublinhou. CRÉPEAU, F. "Resposta da Europa à crise de migrantes não está funcionando", afirma especialista da ONU. Nações Unidas Brasil, 25 ago. 2015. Disponível em: https://nacoesunidas.org/resposta-da-europa-a- crise-de-migrantes-nao-esta-funcionando-afirma-especialista-da-onu/. Acesso em: 20 set. 2020. • Explique a utilização do termo “era dos muros”, criado pelo jornalista britânico Tim Marshal para se referir ao momento atual do mundo, no contexto de intensificação dos fluxos migratórios contemporâneos, re- lacionando-o às ideias expostas no trecho reproduzido acima. 7. Leia o texto abaixo e depois responda à questão. Desfocar os termos “refugiados” e “migrantes” tira atenção da pro- teção legal específica que os refugiados necessitam, como proteção contra o refoulement e contra ser penalizado por cruzar fronteiras para buscar segurança sem autorização. Não há nada ilegal em procurar refúgio – pelo contrário, é um direito humano universal. Portanto, mis- turar os conceitos de “refugiados” e “migrantes” pode enfraquecer o apoio a refugiados e ao refúgio institucionalizado em um momento em que mais refugiados precisam de tal proteção. Nós precisamos tratar todos os seres humanos com respeito e digni- dade. Nós precisamos garantir que os direitos humanos dos migrantes sejam respeitados. Ao mesmo tempo, nós também precisamos forne- cer uma resposta legal e operacional apropriada aos refugiados, por conta de sua situação difícil e para evitar que se diluam as respon- sabilidades estatais direcionadas a eles. Por essa razão, o ACNUR sempre se refere a “refugiados” e “migrantes” separadamente, para manter clareza acerca das causas e características dos movimentos de refúgio e para não perder de vista as obrigações específicas voltadas aos refugiados nos termos do direito internacional. ACNUR. “Refugiados” e “Migrantes”: Perguntas Frequentes. 22 mar. 2016. Disponível em: http://www.acnur. org/portugues/noticias/noticia/refugiados-e-migrantes-perguntas-frequentes/. Acesso em: 20 set. 2020. • Qual é a diferença entre os termos “migrante” e “ refugiado”? Por que é importante deixar clara essa diferença? Refoulement Palavra francesa que, no contexto, significa o ato de impedir ou negar a entrada dos refugiados nos países de destino. 130 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 130D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21-AVU2.indd 130 24/09/20 03:3524/09/20 03:35 https://nacoesunidas.org/resposta-da-europa-a-crise-de-migrantes-nao-esta-funcionando-afirma-especialista-da-onu/ https://www.acnur.org/portugues/2016/03/22/refugiados-e-migrantes-perguntas-frequentes/ Etapa 3 TRANSFORMANDO A REALIDADE O objetivo desta etapa é a simulação de uma sessão de mediação em sala de aula a partir de todas as informações coletadas e trabalhadas na etapa anterior. Para a realização da simulação, definam quem irá representar as seguintes personagens: Mediador: conduzirá a sessão, fazendo perguntas e estimulando o diálogo entre as partes. O mediador não oferece soluções para as demandas das partes; seu papel é o de facilitador do diálogo, administrando a sessão de forma que seja garantida a igualdade entre os envolvidos. Co-mediador: irá auxiliar o mediador, podendo perguntar, anotar observações e falas das partes ao longo da sessão. Partes: cada uma deverá narrar os fatos, expressar suas necessidades, argu- mentar sobre elas e expor como gostaria que fossem atendidas. Cada parte deve observar, sob a orientação do mediador, o tempo de fala e de escuta. Quando uma parte estiver falando, a outra ouve, e vice-versa. Muitas vezes, constata-se que uma das partes só queria ser ouvida. Observadores: os que não estiverem representando as personagens acima serão divididos em quatro grupos e atuarão como observadores de cada uma das perso- nagens, tomando nota de suas observações, da postura da parte observada e do que fariam se estivessem na sua posição. Preparem o ambiente para a simulação da mediação de conflitos: disponham uma mesa e quatro cadeiras no centro da sala, uma para cada personagem. Mediador e co-mediador sentam-se lado a lado e as partes também. Um dos objetivos da media- ção é fazer com que as pessoas se posicionem lado a lado, e não em confronto. Cada participante se apresenta e informa os demais sobre o seu papel no con- texto, começando pelo mediador, depois o co-mediador e, em seguida, as partes, começando por aquela que teve a iniciativa pela mediação, de acordo com as orien- tações. A partir das apresentações, as partes começam a relatar suas histórias e apresentar seus argumentos. O papel do mediador é direcionar o diálogo, mantendo o respeito entre as partes para que elas possam, por si mesmas, chegar à melhor solução para o conflito. É importante ter em mente que nem sempre haverá uma solução e que a principal função da mediação é restabelecer o diálogo entre as partes para que elas possam chegar à melhor alternativa para um acordo. Após a realização dessa etapa, os observadores deverão expor suas considera- ções para a turma. Ao final, avaliem a atividade realizada, levando em consideração: a atuação de cada participante, incluindo os observadores, a condução da mediação e seu desfecho. Elaborem um relatório das atividades e utilizem essas informações para a cons- trução do roteiro. 131 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 131D3-CH-EM-3075-V6-U4-C7-112-131-LA-G21.indd 131 23/09/2020 18:5623/09/2020 18:56 CAPÍTULO 8 Saúde global No início de 2020, começaram a circular as primeiras notícias de uma nova e desconhecida doença surgida na China. Em pouco tempo, ela se espalhou pelo mundo e começou a ser estudada pelos pesquisadores. Descobriram que se tratava de uma doença causada por um vírus da família coronavírus, que se transmite com grande facilidade entre os seres humanos e provoca infecções respiratórias. A doença, que foi chamada de covid-19, se alastrou por quase todo o planeta. No final de julho de 2020, milhões de pessoas já haviam ado- ecido e centenas de milhares haviam morrido. Só no Brasil, o número de mortos passava dos 100 mil. Essa pandemia teve um impacto sem precedentes no mundo, para- lisando as economias e obrigando bilhões de pessoas a permanecer em isolamento social para tentar evitar a propagação do vírus. O impacto dessa doença foi tamanho que a historiadora Lilia Moritz Schwarcz (1957-) defende a ideia de que ela representa o marco final do século XX. De acordo com a pesquisadora, um novo período histórico teve início em 2020. Em um contexto de grande transformação, é sempre difícil encon- trar respostas sobre o futuro das sociedades humanas. Os efeitos da pandemia são imprevisíveis, podendo provocar rupturas signi- ficativas na forma como o mundo se organiza. Em um cenário de incertezas, é importantelançar um olhar para a história de modo a entender como outras pandemias afetaram as sociedades humanas e quais caminhos podem nos ajudar a superar os desafios do presente. Assim, este capítulo traça um panorama geral da história das pandemias e suas relações com a organização das sociedades humanas, visando fornecer ele- mentos para refletirmos sobre o mundo que poderemos construir. ■ "Que sentimento o mundo vai carregar depois desse tempo?”, frase do Projeto 108, criado pelo fotógrafo paulistano Lucas Pacífico. Foram 108 dias de projeções com frases poéticas para conectar as pessoas no isolamento de suas casas durante a pan- demia da covid-19. São Paulo (SP), 2020. Consultar as Orientações para o professor para obter mais informações sobre o capítulo e sobre o trabalho com as atividades. 132 PR O JE TO "1 08 " ( 20 20 ) - L U CA S B. P AC ÍF IC O (F O TÓ G RA FO ) @ LU CA SP AC IF IC O D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 132D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 132 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 Sedentarização e pandemia A pandemia da covid-19 é causada por um tipo de coronavírus, denominado pelos pesquisadores de SARS-CoV-2. Essa não é a primeira vez que um coronavírus provoca uma doença grave em seres humanos. Em 2002, outro coronavírus, denominado SARS-CoV-1, se espalhou pela China e por outros países, provocando 8 mil casos e matando 774 pessoas. Em 2012, o coronavírus MERS-Cov se espalhou pela penín- sula Arábica, infectando 2,5 mil pessoas e matando 858 pessoas até novembro de 2019. Essa doença ainda não foi controlada e continua provocando novos casos na região. Esses são apenas alguns exemplos recentes de doenças que se dis- seminaram por diferentes partes do planeta, provocando pandemias que ameaçam a vida humana. Desde o surgimento dos primeiros grupos humanos, vírus, bacté- rias, fungos, protistas, príons e vermes provocam uma série de doenças que podem provocar danos à saúde ou a morte. Isso é resultado das interações que as sociedades e os grupos humanos estabelecem com o meio no qual estão inseridos. As doenças e pandemias possuem uma história e precisam ser pensadas a partir das relações que os grupos humanos estabelecem em diferentes tempo- ralidades e espaços. Nesse caso, alguns pesqui- sadores das Ciências Humanas e Sociais afirmam que um momento central para compre- ender a história das pandemias é o processo de sedentariza- ção dos grupos humanos. Esse processo ocorreu em diferentes períodos, mas os pesquisadores acreditam que ele teve início por volta de 10000 a.C. e foi marcado pelo surgimento das primeiras comuni- dades que viviam de forma sedentária, abandonando o modo de vida nômade que marcava os grupos humanos até então. Além disso, esse processo foi acompanhado do desenvolvimento das técnicas agrícolas e da domesticação de animais, que passaram a viver próximos das comunidades humanas. ■ Imagem digital do coronavírus SARS-CoV-2. 133 RA D O SL AV Z IL IN SK Y/ M O M EN T/ G ET TY IM AG ES D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 133D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 133 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 A proliferação de doenças nas comunidades sedentárias O processo de sedentarização provocou grandes mudanças no ambiente em que viviam os seres humanos. Como explica o antropó- logo americano James C. Scott (1936-), a organização das comunidades sedentárias implicou um aumento da densidade demográfica dos grupos humanos. Além disso, a criação de animais e as práticas agrícolas for- maram uma nova paisagem com nichos ecológicos que até então não existiam. Diversas formas de vida passaram a interagir nesses novos espaços, o que possibilitou o surgimento de doenças zoonó- ticas desconhecidas. Para Scott, o período de sedentarização foi o mais mortí- fero da existência humana, já que inúmeras doenças começaram a se manifestar e se disseminar pelas comunidades humanas. O fato de essas comunidades serem marcadas por uma maior densidade demográfica contribuiu para inten- sificar o impacto e a mortalidade dessas doenças. Muitas das doenças surgidas nesse período passaram a fazer parte da história humana, provocando diversas pandemias ao longo do tempo. Um exemplo é a varíola, uma das enfermidades que mais pro- vocaram mortes ao longo do tempo. Uma das hipóteses defendidas por pesquisadores é de que a varíola se originou de um vírus que afetava os camelos. A partir da domesti- cação, esse animal foi levado da Ásia para o leste da África, entre 3 e 4 mil anos atrás. Na África, ele começou a interagir em um novo nicho ecológico, e o vírus que ele transportava se disseminou para roedores, evoluindo e se adaptando aos seres humanos. Aos poucos, ele deixou de ser um vírus que afetava os animais e se transformou em um vírus exclusivo dos seres humanos, provocando a varíola. Assim, a transformação do espaço provocou efeitos imprevistos sobre a natureza, dando origem a uma nova doença que matou milhões de pessoas ao longo dos séculos. Como veremos, processos semelhantes se repetiram ao longo do tempo, inclusive na atual pandemia da covid-19. ■ Ilustração asteca do século XVI mostra vítimas de varíola, doença que existia no norte da Europa no ano 600. A varíola foi introduzida no México pela expedição espanhola de Pánfilo de Narváez e invadiu a capital asteca Tenochtitlan no final de 1520. Doenças zoonóticas Doenças transmitidas por animais aos seres humanos. 134 EV ER ET T CO LL EC TI O N /S H U TT ER ST O CK .C O M D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 134D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 134 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 A circulação de pessoas, mercadorias e doenças A transformação da paisagem pela ação humana foi um fator importante no surgimento de muitas doenças. Em uma comu- nidade sedentária na Ásia, há milhares de anos, o vírus do sarampo começou a contaminar os seres humanos. Ainda que de origem incerta, muitos pesquisadores acreditam que ele tenha se desenvolvido a partir da mutação de um vírus bovino. Caso essa comunidade permanecesse isolada, o vírus poderia ter entrado em extin- ção, porém, os grupos sedentários não viviam isolados. Diferentes comunidades estabeleciam redes comerciais que promoviam a circulação de pessoas e mercadorias por grandes regiões. Foram essas redes que possibilitaram a circulação de doenças por diferentes regiões do planeta. Da Ásia, o sarampo se alastrou para o Oriente Médio, o norte da África e regiões da Europa. Durante a Antiguidade, o sarampo provocou grandes e mortais pandemias. Assim como o sarampo, muitas outras doenças passaram a fazer parte da história humana, seguindo as rotas comerciais estabelecidas entre sociedades que se desenvolveram na Europa, Ásia e África ao longo dos séculos. A intensificação das trocas comerciais, acompanhada de maior circula- ção de pessoas, deu origem a grandes epidemias que marcaram a história. Um dos exemplos mais importantes foi a Peste Negra do século XIV. ■ FUERST, P. Médico da peste em Roma. 1656. Gravura em cobre, colorizada posteriormente. > MEUS ARGUMENTOS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Em 2018, a Organização Mundial da Saúde alertou que os casos de sarampo voltavam a crescer em todo o mundo e informou que uma das causas era a resistência de parte da população à vacinação. Certos grupos que se articulam principalmente por meio da internet alegam que impor a obriga- toriedade da vacina é uma prática que fere a liberdade individual dos cidadãos. Outros negam os efeitos imunológicos das vacinas e ainda há aqueles que acreditam que as campanhas de vacinação têm por objetivo beneficiar a indústria farmacêutica. Baseando-se em evidências científicas, que resposta você daria a essas pessoas? 135 CO LE ÇÃ O P AR TI CU LA R D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 135D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 135 23/09/202021:1023/09/2020 21:10 A Peste Negra Entre os séculos V e X d.C., a Europa passou por um período de grande redução do comér- cio, o que interrompeu redes comerciais que interligavam diversas regiões do continente com a África e a Ásia. Essa configuração mudou a partir do século XI. Nesse período, a Europa passou por grandes transformações que provocaram o crescimento das atividades econômicas. Esse processo foi acompanhado do desenvolvimento das cidades, do aumento da população e da abertura de novas rotas comerciais que se conectaram com regiões da África, do Oriente Médio e da Ásia. O processo foi interrompido no início do século XIV por problemas ambientais que afetaram a agricultura e espalharam a fome pela Europa. Esse foi apenas o início de uma crise generalizada, que foi potencializada por uma pandemia de peste bubônica, entre 1348 e 1349. As primeiras notícias sobre a peste na Europa apareceram em 1346, quando comerciantes trouxeram relatos de uma doença que devastava a Índia, a China, a Mesopotâmia, a Síria e outras regiões da Ásia. A doença é transmitida por uma bactéria encontrada em pulgas que vivem em ratos. Os navios e caravanas comerciais eram excelentes meios de transporte para os ratos e suas pulgas, o que ajudou a disseminar a doença pelo Oriente. Assim, a doença foi levada até a Europa, atacando primeiramente cidades portuárias e depois se espalhando pelo con- tinente. Na época, não existiam vacinas ou antibióticos para tratar a doença. A cada cinco pessoas que adoeciam, quatro morriam. O resultado foi uma das maiores catástrofes da história humana. Os pesquisadores calculam que um terço da população europeia tenha morrido por causa da doença. A grande mortalidade aumentou a crise no continente europeu e provocou grandes revoltas de camponeses, o que contribuiu para enfraquecer a sociedade feudal e acelerar o processo de centralização dos Estados nacionais na Europa. Fonte: ISTITUTO GEOGRAFICO DEAGOSTINI. Atlante Storico del Mondo. Novara, 2010. p. 92. Europa: disseminação da peste negra, século XIV OCEANO ATLÂNTICO Mar do Norte Mar Mediterrâneo 0º 50° N M er id ia no d e G re en w ic h 1348 Limite de tempo das áreas de propagação da Peste Negra Áreas onde a mortalidade pela peste é baixa ou zero 0 290 REINO DE CASTELA REINO DA FRANÇA BALEARES CÓRSEGA REP. DE VENEZA SARDENHA SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO REINO DA POLÔNIA REINO DA HUNGRIA REINO DA SUÉCIA REINO DA INGLATERRA REINO DA IRLANDA REINO DA DINAMARCA R E IN O D E P O R TU G A L REINO DE ARAGÃO REINO DE NÁPOLES REINO DA SICÍLIA 1347 1347 1348 1348 1349 1349 13 50 1351 13 49 1349 13 48 13 48 ESTADOS PAPAIS 136 D AC O ST A M AP AS D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21-AVU.indd 136D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21-AVU.indd 136 23/09/2020 23:2723/09/2020 23:27 Por trás de cada uma das mortes pela covid-19, existe uma história de vida. Muitas foram recolhidas em 2020 pelo site Inumeráveis. Leia trechos de algumas delas. Leia também o trecho de uma reportagem publicada no portal O tempo. Em seguida, responda ao que se pede. Testemunhos Izabella Cortesini, falecida aos 15 anos, em São Paulo (SP) “Amável e divertida, estava no Ensino Médio e já sonhava ser advogada.” Testemunho enviado pela prima, Gisele Cortesini CORTESINI, G. Inumeráveis, 26 jun. 2020. Disponível em: https://inumeraveis.com.br/izabella-cortesini/. Acesso em: 2 set. 2020. Evilainy Estefany de Sá Rodrigues, falecida aos 21 anos, em Aracaju (SE) “Em casa, era ela quem resolvia tudo. Da compra do pão, até o pagamento da conta de energia. Do ir ao médico sozinha, até acompanhar alguém também.” Testemunho escrito a partir dos depoimentos da mãe Maria José e da irmã Eduarda. FERREIRA, A. B. Inumeráveis, 13 jun. 2020. Disponível em: https://inumeraveis.com.br/evilainy-estefany-de-sa-rodrigues/. Acesso em: 2 set. 2020. Agenor Vicente do Nascimento, falecido aos 49 anos, em São Lourenço da Mata (PE) “Muito católico, tinha o hábito de ir à missa sempre aos domingos. Devoto de Nossa Senhora que era, passou a todos a crença de que Ela iria curá-lo. De certa forma, a cura chegou... seu sofrimento findou.” Testemunho enviado pelas amigas de Agenor. ATHAYDE, P. de. Inumeráveis, 23 maio. 2020. Disponível em: https://inumeraveis.com.br/agenor-vicente-do-nascimento/. Acesso em: 2 set. 2020. Reportagem “Todas as vezes que vivemos situações como essa na história, de grandes pandemias, além da solidão forçada do isolamento, há a característica dolorosa da morte anônima”, afirma [a historiadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Heloísa Starling]. A falta de um rosto certo ao horror, continua Starling, tira do morto sua identidade. [...] NEGRISOLI, L. Frieza dos números e dor do anonimato: Brasil tem 4.543 mortos pelo coronavírus. O tempo, 27 abr. 2020. Disponível em: https:// www.otempo.com.br/coronavirus/frieza-dos-numeros-e-dor-do-anonimato-brasil-tem-4-543-mortos-pelo-coronavirus-1.2329898. Acesso em: 2 set. 2020. 1. O que mais chamou a sua atenção nesses depoimentos? Algum deles lhe despertou algum tipo de emoção? Compartilhe esse sentimento com seus colegas. 2. Baseado no que você vivenciou a respeito da pandemia ou acompanhou pelos noticiários, como avalia o depoimento da professora Heloísa Starling? 3. Em grupo, respondam: Algum conhecido de vocês faleceu por conta da covid-19? Com base nos depoimentos acima, escrevam um texto sobre uma ou mais pessoas vitimadas pela doença. A partir do texto, produzam um vídeo, um áudio ou uma página de internet como forma de tributo. DIÁLOGOS> LINGUAGENS E LEITURAS> NÃO ESCREVA NO LIVRO 137 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 137D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 137 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 https://www.otempo.com.br/coronavirus/frieza-dos-numeros-e-dor-do-anonimato-brasil-tem-4-543-mortos-pelo-coronavirus-1.2329898 A unificação microbiana do planeta Muitas das doenças que afetam os seres humanos surgiram a partir de sua interação com o ambiente e a transformação da paisagem. Além disso, essas doenças puderam se espalhar por conta das interações entre diferentes grupos humanos ao longo do tempo. Ainda assim, até o século XVI, não existia um processo de uni- ficação das doenças no planeta. Existiam algumas doenças que circulavam apenas pela América ou pela Oceania. Outras circu- lavam em grandes regiões da Europa, África e Ásia, mas eram desconhecidas na América e na Oceania. Isso começou a mudar a partir da chegada dos europeus à América. Com isso, os historia- dores afirmam que teve início a unificação microbiana do planeta. Isso significa que doenças americanas, como a sífilis, foram levadas para a Europa. E doenças europeias, como a varíola, foram levadas para a América e para a Oceania. O resultado disso foi catastrófico principalmente para as populações americanas. Os ameríndios não tinham proteções naturais contra as novas doenças e muitas comunidades foram dizimadas por pandemias trazidas pelos conquistadores europeus. A varíola foi uma das doenças mais letais para as populações americanas. Os pesquisadores estimam que a unificação microbiana do planeta pode ter provocado a morte de até 90% das populações de algumas regiões da América. A disseminação das novas doenças ajudou a desor- ganizar as sociedades americanas e auxiliou a conquista dos grandes impérios americanos (asteca e inca) por espanhóis. ■ PREPARANDO um medicamento à base de guano para tratar a sífilis. Gravura do século XVII. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • A sífilis é uma doença sexualmente transmissível (DST) e a melhor forma de combater as DSTs é por meio da prevenção. Em grupo, pesquisem uma DST, buscando informações sobre forma de trans- missão, sintomas, tratamento e formas de prevenção. Ao final, produzam um vídeo de, no máximo, 2 minutos com as informações levantadas e compartilhecom seus colegas pelas mídias sociais. 138 CH RI ST O PH EL F IN E AR T/ U N IV ER SA L IM AG ES G RO U P/ G ET TY IM AG ES D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 138D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 138 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 A gripe e a globalização A gripe é uma das doenças que se tornou recorrente na história humana a partir do processo de sedentarização e domesticação dos animais há milhares de anos. Os pes- quisadores acreditam que o médico grego Hipócrates (460 a.C-370 a.C.) tenha sido um dos primeiros a registrar uma pandemia de gripe, que afetou cidades gregas em 412 a.C. A gripe é uma zoonose. O vírus que causa a doença é encontrado em aves silves- tres. Com a domesticação dos animais, as comunidades humanas passaram a viver mais próximas de aves, como galinhas. Estas, ocasionalmente, estabeleciam contato com outras aves e podiam se contaminar com o vírus. O porco foi outro animal domesticado pelos primeiros grupos humanos, pas- sando a viver próximo das aves. O vírus da gripe pode passar para o porco, no qual sofre mutações. Essas mutações facilitam a contaminação de seres humanos e per- mitem a disseminação do vírus de pessoa para pessoa. É assim que a gripe salta das aves e se espalha entre humanos. Entretanto, para se transformar em uma pandemia, o vírus da gripe precisa que muitas pessoas vivam próximas umas das outras. Caso isso não ocorra, ele se espa- lharia pouco e desapareceria. Durante muitos séculos, o vírus da gripe se espalhou provocando surtos regio- nais. A doença era bastante mortífera no início, mas aos poucos as pessoas adquiriam resistência. De tempos em tempos, porém, o vírus sofre novas mutações e volta a se tornar perigoso. Foi assim que a gripe se transformou em uma doença que ressurge de forma periódica. No entanto, foi só a partir da globalização que a doença se tornou pandêmica, afetando ao mesmo tempo diferentes regiões do planeta. Os pesquisadores acreditam que o primeiro exemplo tenha ocorrido em 1580, quando uma pandemia de gripe, origi- nada na Ásia, se disseminou pela África, Europa e América. Entre 1700 e 1800, ocorreram outras duas pandemias e no século XIX, houve mais duas. ■ Funcionário do Ministério de Proteção Animal segura um filhote de ave morto durante um abate para conter surto de gripe aviária, em uma fazenda na aldeia de Modeste (Costa do Marfim), 2015. 139 LU C G N AG O /R EU TE RS /F O TO AR EN A D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 139D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 139 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 A gripe de 1918 Uma das principais pandemias de gripe ocorreu em 1918, no final da Primeira Guerra Mundial. Uma das hipóteses sobre a origem da pan- demia é que ela surgiu nos Estados Unidos e se espalhou pelo mundo por conta do intenso deslocamento de pessoas provocado pela guerra. ■ Mapa representando a disseminação da gripe de 1918 pelo mundo. Fonte: SPINNEY, L. Pale rider: the spanish flu of 1918 and how it changed the world. Nova York: PublicAffairs, 2017. ■ Datilógrafa usando máscara, durante a pandemia da gripe de 1918. A disseminação global da gripe de 1918 0º 0º Círculo Polar Ártico Trópico de Câncer Trópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico Equador OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO M er id ia no d e G re en w ic h OCEANO GLACIAL ÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 0 3350 Direção seguida pelo vírus Agosto Setembro Outubro Novembro Disseminação do vírus da gripe Uma característica dessa pandemia é que ela foi marcada por múltiplas ondas. O primeiro caso registrado foi em março de 1918. No meio do ano, a doença parecia ter sido contida. Porém, em agosto, teve início a segunda onda, muito mais mortífera. Ainda houve uma terceira onda mais fraca pos- teriormente. O último caso registrado da pandemia foi em março de 1920. Nesse período, morreram entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas e cerca de um terço da população mundial ficou doente. Os pesquisa- dores acreditam que a gripe matou mais pessoas que todos os mortos da Primeira e da Segunda Guerra Mundiais juntos. Os cientistas ainda não conheciam a causa da gripe, tam- pouco tinham remédios para combatê-la. Por isso, apenas estratégias de isolamento social e utilização da máscara aju- davam a conter a contaminação. Entretanto, poucas ações coordenadas foram tomadas visando controlar a doença, o que ajuda a entender o elevado número de mortes. Essa foi a primeira pandemia que demonstrou como a aceleração dos meios de transporte no planeta também intensifica a disseminação de doenças, o que ameaça a vida de muitas pessoas e contribui para desestabilizar a socie- dade e criar novas crises e tensões sociais. 140 PH O TO Q U ES T/ G ET TY IM AG ES AL LM AP S D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 140D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 140 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 Pandemias no século XX O desenvolvimento de novas vacinas e medicamentos e o avanço do conhecimento médico possibilitaram a elaboração de planos e campanhas de erradicação de muitas doenças. Desde meados do século XIX e, principalmente, ao longo do século XX, houve uma intensa mobilização para criar políticas públicas que se antecipassem às doenças a partir de um cálculo de risco, agindo de modo a evitar que o contágio de uma população se transformasse em uma pandemia global. Nesse processo, a varíola foi erradicada e doenças perigosas no passado, como o sarampo, deixaram de circular em muitos países. Outras campanhas, como a de erradicação da febre amarela, tiveram menos sucesso, e as doenças continuaram a se manifestar com frequência. Ainda assim, apesar do ideal de contenção de novas pandemias, o século XX foi marcado pela emergência de muitas doenças zoonóticas desconhecidas até então. Algumas delas se transfor- maram em pandemias globais. Exemplos dessas novas doenças foram o vírus ebola, surgido no antigo Zaire e Sudão (1976), o vírus Hendra, na Austráilia (1994), o vírus Nipah, na Malásia (1998), diversas variações do vírus da gripe, inclusive o H1N1 em 2009. Além disso, foi nesse contexto que a aids se transformou em uma pandemia global. Os pesquisadores acreditam que o vírus HIV, que provoca a doença, começou a passar de macacos para seres humanos no interior da África no início século XX. Porém, a região era isolada e o vírus se disseminou muito lentamente. Foi apenas na segunda metade do século XX que pessoas contaminadas começaram a circular para outras regiões do mundo, transformando a doença em uma pandemia global. ■ Mulher trabalhando em computador, em Cavite (Filipinas), 2020. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM Observe atentamente a imagem acima. • Compare essa fotografia, de 2020, com a fotografia de 1918, na página anterior. Aponte semelhanças e diferenças entre os dois contextos de pandemia. LU IS A M AR IE C U ES TA /S H U TT ER ST O CK .C O M 141 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 141D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 141 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 Mundo: fl uxo de transmissão da covid-19, até agosto de 2020 0° OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO Equador Trópico de Câncer Círculo Polar Ártico Círculo Polar Antártico Trópico de Capricórnio M er id ia no d e G re en w ic h OCEANO ÍNDICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 0° Infectados que saíram da Ásia Infectados que saíram da Oceania Infectados que saíram da Europa Infectados que saíram da África Infectados que saíram da América do Norte Infectados que saíram da América do Sul Fluxo de infectados por região (considerando local de origem) Proporção de infectados por região* Infectados na Ásia Infectados na Oceania Infectados na Europa Infectados na África Infectados na América do Norte Infectados na América do Sul *Os círculos são utilizados para visualizaraproximada- mente a proporção de infectados entre os continentes. Portanto, não apresentam valores exatos. 0 3195195195195 A globalização e a covid-19 O que há em comum entre os vírus surgidos ao longo do século XX e a pandemia de covid-19 é que todos eles foram possibilitados pelo aumento da intervenção humana na natureza e pelo processo de globalização do planeta. Essas doenças zoonóticas são originárias de animais silvestres que vivem isolados ou com pouco contato com os seres humanos. A exploração de recursos naturais, a construção de estra- das e ferrovias, o comércio de animais silvestres, entre outras práticas econômicas, aproximam os seres humanos desses animais. Além disso, a integração do planeta possibilita a rápida disseminação de uma nova doença para outras regiões do globo. O exemplo da aids é claro. Enquanto as comunidades africanas que tiveram contato com o vírus permaneceram isoladas, a doença teve impacto social local, mas a integração da África à economia globalizada, ao longo do século XX, possibilitou a circulação do vírus no resto do mundo, iniciando uma pandemia. Foi o que ocorreu com a pandemia da covid-19. Os pesquisadores afirmam que o vírus SARS- -CoV-2 é originário de morcegos. Ocasionalmente, esses animais podem contaminar pequenos mamíferos, como os civetas ou os pangolins. Tanto os morcegos quanto os pequenos mamífe- ros são comercializados em algumas regiões da China, onde são transformados em alimento. Atualmente, a principal hipótese sobre a origem dessa pandemia é a de disseminação do vírus a partir de um mercado onde esses animais eram vendidos. Ainda que a China tenha tentado utilizar estratégias de isolamento da população para evitar a propagação do vírus pelo planeta, o intenso processo de globalização e a facilidade de transmissão da doença a transformaram em uma pandemia global em poucos meses. Fonte: Elaborado com base em: NEXTSTRAIN. Genomic epidemiology of novel coronavirus – Transmissions. Disponível em: https:// nextstrain.org/ncov/ global?branchLabel=aa&d= tree,map&p=full&r=region. Acesso em: 2 set. 2020. 142 AL LM AP S D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 142D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 142 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 https://nextstrain.org/ncov/global?branchLabel=aa&d=tree,map&p=full&r=region Efeitos sociais da covid-19 A história das pandemias nos mostra que as doenças não são acontecimen- tos puramente naturais ou inevitáveis. Elas são influenciadas pela ação humana e também afetam a forma como as sociedades se organizam. A peste negra, por exemplo, teve um papel importante no colapso da sociedade feudal. A unificação microbiana do planeta ajudou a desorganizar as sociedades americanas e impulsionou a conquista da América. Essa realidade também ocorre com a pandemia da covid-19. O primeiro alerta oficial da doença foi emitido pelo governo da China em 31 de dezembro de 2019. No dia 13 de janeiro, foi identificado o primeiro caso da doença fora da China. O governo chinês adotou o isolamento completo da província de Wuhan, onde os primeiros casos foram identificados, em 23 de janeiro. Nos meses seguintes, a doença se disseminou pelo mundo. O primeiro caso no Brasil foi identificado no final de fevereiro. Sem medicamentos comprova- damente eficientes contra a covid-19, as principais estratégias para a contenção da doença foram o estabelecimento de isolamento social e o fechamento das fronteiras internacionais. A União Europeia, por exemplo, fechou suas fronteiras em 15 de maio. Outros países, inclusive o Brasil, adotaram estratégias semelhantes. Um dos primeiros efeitos da pan- demia, portanto, foi restringir a circulação de pessoas ao redor do globo. As medidas de quarentena também reduziram a atividade econômica em grande parte do planeta. Essas medidas impactaram diretamente o processo de globalização, estabele- cendo limites à integração do planeta, ainda que de forma temporária. No presente, ainda não é possível afirmar qual será o impacto a longo prazo dessa situação, mas um efeito imediato foi a retração da economia global. O PIB dos Estados Unidos, por exemplo, caiu 32,9% no segundo trimestre de 2020. É importante acrescentar que, além das repercussões de ordem epidemioló- gica e econômica em escala global, a pandemia da covid-19 causou fortes impactos sociais, políticos, culturais e históricos, afetando diretamente o cotidiano das pessoas e diversas atividades. As áreas da educação e da cultura foram das mais atingidas, com o fechamento das escolas e de estabelecimentos culturais, como teatros, cinemas, museus e casas de espetáculos. > DE MÃOS DADAS NÃO ESCREVA NO LIVRO • Como mostram os exemplos históricos, diferentes estratégias podem ser adotadas para evitar que o avanço de doenças contagiosas resulte em epidemias e pandemias. Pensando nisso, organizados em grupos, discutam quais as principais doenças – contagiosas ou não – que afetam a sua região e quais estratégias a comunidade pode adotar para combatê-las. 143 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 143D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 143 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 A intensificação das desigualdades sociais A retração econômica foi acompanhada de uma forte crise social, que vem intensificando as desigualdades sociais do mundo globalizado. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que a pobreza extrema irá dobrar no país. Entre março e julho de 2020, 1,2 milhão de pessoas perderam seus empregos e 600 mil empresas fecharam no país. Esse fato, porém, não impediu que os bilionários brasileiros ficassem R$ 176 bilhões mais ricos no mesmo período. A crise também ampliou as desigualdades econômicas entre homens e mulheres. Mais mulhe- res do que homens perderam seus empregos, e, com o fechamento de escolas na quarentena, muitas mulheres abandonaram seus traba- lhos para cuidar dos filhos em casa. Além disso, a violência domés- tica cresceu no período. Durante a quarentena, houve aumento dos casos de agressão a mulheres praticada por seus maridos, compa- nheiros ou familiares. As taxas de mortalidade da pandemia evidenciam as desigual- dades sociais do país. Na cidade de São Paulo, dados de abril de 2020 indicam que o número de pessoas negras que morreram por causa da doença foi 62% maior do que o de pessoas brancas. A pobreza e o menor acesso aos serviços de saúde explicam essa situação, já que agravam os efeitos da enfermidade. A mortalidade e o impacto da doença também são afetados por desigualdades regionais. Os municípios brasileiros mais pobres são os que apresentam maior vulnerabilidade, contando com menos recursos hospitalares, o que pode provocar um número mais elevado de mortos ou de pessoas com comprometimentos mais sérios, como mostra o mapa acima. NÃO ESCREVA NO LIVRO> LEITURA DE IMAGEM • Analise o mapa que mostra a classificação dos municípios em relação à vulnerabilidade social e iden- tifique as desigualdades existentes entre as diferentes regiões do Brasil. Com base nesses elementos, reflita sobre a seguinte questão: Como as condições socioeconômicas podem ser relacionadas com o quadro de avanço da covid-19? Debata o assunto com seus colegas e depois apresentem a opinião do grupo para a classe. Brasil: classes de vulnerabilidade social, 2020 Equador Trópico de Capricórnio 50° O 0° OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO E D C B A 0 445 Fonte: FIOCRUZ. Estimativa de risco de espalhamento da COVID-19 nos estados brasileiros e avaliação da vulnerabilidade socioeconômica nos municípios. [Rio de Janeiro], 2 abr. 2020. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/40509/5/Relatorios_tecnico_ COVID-19_procc-emap-covid-19-reporte3_resultados.pdf. Acesso em: 23 set. 2020. ■ A e B são os municípios com os melhores índices. C, D e E apresentam alta vulnerabilidade social. 144 ER IC SO N G U IL H ER M E LU CI AN O D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 144D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd144 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 https://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/40509/5/Relatorios_tecnico_COVID-19_procc-emap-covid-19-reporte3_resultados.pdf O mundo pós-pandemia O exemplo mais claro do efeito desigual da doença está relacionado às políticas públicas adotadas para conter a pandemia. Na falta de medicamentos eficazes, o iso- lamento social é a medida com maior impacto na redução do número de doentes e mortos. Estudos indicam que a ação rápida dos governos no início da pandemia é capaz de impedir até 80% das mortes. Por outro lado, a falta de medidas ou de coor- denação das ações provoca mais mortes e aumenta o tempo de circulação da doença. Esses dados demonstram a importância da adoção de medidas políticas de con- tenção da pandemia e de combate aos seus efeitos. Esse contexto de crise é um momento privilegiado para refletirmos sobre o mundo que estamos construindo e sobre as possibilidades de fazer dele um lugar mais justo. A ideia de renda universal é um exemplo. Ela passou a ser defendida por muitos políticos como forma de superar a crise econômica provocada pela pandemia, garantindo que todos tenham a chance de viver de forma digna. Entretanto, para que isso possa se tornar realidade, é necessário que a sociedade civil se organize para lutar por esse direito. Além disso, a crise provocada pela pandemia oferece a oportunidade para refle- tirmos sobre a forma como a economia globalizada se relaciona com a natureza. Como vimos, o surgimento de novas doenças zoonóticas é resultado da exploração cada vez maior da natureza. Muitos pesquisadores afirmam que a pandemia iniciada em 2020 não será a última nem a mais mortífera das pandemias que afetarão o planeta nas próximas décadas. Como explica Edgar Morin (1921-), a “crise planetária põe em evidência a comu- nidade de destino de todos os humanos e sua ligação inseparável com o destino bioecológico do planeta Terra”. Para evitarmos novas pandemias no futuro, é fundamental, por- tanto, refletir sobre o que faremos com o planeta em que vivemos e como podemos nos organizar para assegurar seu equilíbrio. ■ Durante a pandemia da covid-19, houve muitas manifestações de solidariedade ao redor do mundo. Na foto, cestas solidárias penduradas nas janelas, e uma delas exibindo os dizeres: "Quem puder coloque. Quem não puder pegue". Nápoles (Itália), 2020. KO N TR O LA B/ LI G H TR O CK ET /G ET TY IM AG ES 145 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 145D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 145 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 NÃO ESCREVA NO LIVROATIVIDADES> 1. A reportagem abaixo trata da expansão da covid-19 na América Latina. Observe o mapa, leia o texto e responda às questões propostas. A pandemia nas maiores cidades da América Latina, até julho de 2020 Trópico de Capricórnio Trópico de Câncer Equador OCEANO PACÍFICO OCEANO ATLÂNTICO 60º O 0º 0 600 Número de mortes pela pandemia (por 1 milhão de hab.) 100 500 1000 1500 O coronavírus está marcando com tinta indelével as fronteiras da desigualdade nas cidades latino-americanas. [...] Uma análise de dados de quatro das maiores cidades da região revela como o fosso ficou exposto com a pandemia, que se espalhou mais fortemente pelos bairros mais pobres da América Latina urbana. [...] 146 AL LM AP S D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 146D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 146 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 Sob essa realidade, os mais pobres se tornaram ainda mais vulneráveis. Morando em espaços precários, muitas vezes sem infraestrutura básica e compartilhando pequenos espaços com outras pessoas, essa população continuou a trabalhar, muitas vezes usando transporte público, o que a expunha mais ao contágio. Além disso, esse setor geralmente depende da saúde pública, que já tinha longas listas de espera antes da pandemia. [...] GALINDO, J.; ARROYO, L. Os mapas da pandemia revelam as desigualdades na América Latina. El País, 4 ago. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2020-08-04/os-mapas-da-pandemia-revelam-as-desigualdades-na-america- latina.html. Acesso em: 2 set. 2020. a) Faça uma análise do mapa apresentado na reportagem, discutindo a incidência do novo coronavírus nas diferentes regiões da América Latina. b) Escreva um texto discutindo a questão central apresentada na reportagem, de como o avanço do novo coronavírus expõe as desigualdades sociais, a partir da realidade de seu bairro ou município. 2. O texto a seguir foi escrito pelo filósofo francês Edgar Morin em meados de 2020, quando a covid-19 havia infectado cerca de 3 milhões de pessoas em todo o mundo e provocado cerca de 300 mil mortes. [...] Esta é a ocasião para compreender que a ciência, diferente da reli- gião, não tem um repertório de verdades absolutas e que suas teorias são biodegradáveis sob efeito de novas descobertas. As teorias aceitas tendem a se tornar dogmáticas nas cúpulas acadêmicas, e são os desviantes, de Pasteur a Einstein, passando por Darwin e Crick e Watson, os descobridores da dupla hélice de DNA, que fazem com que as ciências progridam. É por isso que as controvérsias, longe de serem uma anomalia, são necessárias a tal progresso. Mais uma vez, frente ao desconhecido, tudo progride por tentativa e erro [...] Os remédios podem aparecer aonde ninguém esperava. Em decorrência disso, seria necessário um verdadeiro debate sobre o antagonismo entre prudência e urgência, ao invés da velha dicotomia daqueles que se prendem a apenas uma das partes: a prudência corre o risco de aumentar o número de vítimas por falta de testes confiáveis; a urgência, por sua vez, pode subestimar os efeitos secundários de um tratamento que tem obtido bons resultados imediatos. Qualquer que seja a decisão, trata-se de um desafio na qual cada escolha comporta um perigo de perdas de vidas humanas. MORIN, E. Um festival de incerteza. Gallimard, 2020. (Tradução: Edgard Carvalho e Fagner França.) Disponível em: http:// www.ihu.unisinos.br/78-noticias/599773-um-festival-de-incerteza-artigo-de-edgar-morin. Acesso em: 2 set. 2020. a) No texto acima, Edgar Morin apresenta uma dicotomia entre ciência e religião. Explique-a. b) Por que, para Morin, a prudência e a urgência estão na base dos debates em torno do desenvolvimento dos medicamentos para a cura da covid-19? Em sua opinião, essa discussão deixa os cientistas diante de um dilema ético? Justifique sua resposta. Dogmático Algo aceito como verdade absoluta. Dicotomia Oposição entre duas coisas, em geral, entre dois conceitos opostos. 147 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 147D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 147 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/599773-um-festival-de-incerteza-artigo-de-edgar-morin A internet e o protagonismo juvenil É bem provável que você já tenha acessado a internet em busca de vídeos nos quais professores explicam algum conteúdo sobre o qual você desejava se aprofun- dar ou sobre o qual você tenha procurado informações complementares para temas estudados em sala de aula. De fato, a internet facilitou muito as pesquisas e, durante a pandemia da covid-19, se revelou uma importante aliada dos estudantes. No período em que as aulas esti- veram suspensas em razão da necessidade de isolamento social a fim de evitar a propagação do vírus, diversos estudantes enfrentaram dificuldades para continuar seus estudos. Nesse contexto, a internet e a solidariedade, somadas, formaram uma dupla exemplar. Na cidade de Paulínia, localizada no Grande Recife (PE), assim que as aulas foram suspensas, em março de 2020, Jéssica Ângela e Felipe José, dois estudantes da Escola de Referência em Ensino Médio Escritor José de Alencar, decidiram ajudar seus colegas que se preparavam para prestar o Enem. Juntos, eles criaram um projeto ao qual deram o nome de “Estude Comigo”. A ideia dos jovens era realizar, para seus colegas,conferências on-line em um aplicativo da internet, com dicas para a criação de planos de estudo. A iniciativa, no entanto, cresceu mais do que eles imaginavam. A procura foi grande e, com o sucesso da ideia, os jovens entraram em contato com professo- res que aderiram ao projeto e passaram a ministrar aulas voluntariamente. Mesmo assim, Jéssica e Felipe não abriram mão de suas participações nas conferências ao vivo porque a ideia inicial do projeto era a de “estudante dar dica para estudante”, ou seja, de produzir conteúdo próprio destinado aos colegas. ■ Estudante assiste a uma aula on-line em sua casa, durante a pandemia da covid-19. Presidente Prudente (SP), 2020. 148 DIÁLOGOS> EU TAMBÉM POSSO> AD RI AN O K IR IH AR A/ PU LS AR IM AG EN S D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21-AVU.indd 148D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21-AVU.indd 148 23/09/2020 23:2623/09/2020 23:26 O projeto “Estude Comigo” mostrou como a internet pode contribuir para o protago- nismo juvenil e, ao mesmo tempo, beneficiar a comunidade. Outro exemplo nesse sentido pode ser observado em Acaraú, no litoral cearense. Nessa cidade, estudantes da Escola Estadual de Educação Profissional Marta Maria Giffoni de Sousa decidiram encontrar formas de auxiliar os colegas da escola a ter um melhor desempenho na disciplina de Matemática. Essa iniciativa deu origem ao projeto “Be!Math: A tecnologia como figura de mediação pedagógica”. Contando com o auxílio de professores da escola, os alunos elaboraram inicial- mente um questionário para identificar as principais dificuldades enfrentadas pelos colegas nessa disciplina. A partir daí, os jovens desenvolveram um aplicativo para celular com diversas funcionalidades que auxiliam os estudos. Por meio desse aplicativo, por exemplo, professores enviam para os estudantes vídeos e aulas, textos, lista de exercícios e outros materiais didáticos. Os resultados foram mais do que satisfatórios: depois que o aplicativo foi lançado, em 2018, os professores observaram uma considerável melhora no desempenho dos estudantes nas aulas de Matemática. E mais: o trabalho dos jovens ganhou menção honrosa em um concurso nacional que premia projetos desenvolvidos por estudantes e que ajudam a transformar a realidade de suas comunidades. 1. Em sua opinião, como a tecnologia é capaz de contribuir para a rotina de estudos? Por outro lado, como impedir que essa mesma tecnologia desvie a atenção na hora de estudar? 2. Quais iniciativas com uso de tecnologias você e seus colegas podem colocar em prática em sua escola, com o objetivo de promover melhorias no desempenho dos estudantes? 3. Não desistir dos estudos mesmo diante das adversidades criadas pelo isolamento so- cial é um exemplo de resiliência. Em quais momentos você sente que foi resiliente? Em momentos de dificuldades, que estratégias você utilizou para não desistir de seus objetivos? Comente essas questões com seus colegas. ■ Adolescente realiza suas tarefas escolares usando fones de ouvido e celular. A tecnologia digital e os aplicativos de celular auxiliam nos estudos, especialmente nas situações de isola- mento social, como ocorreu na pandemia da covid-19, em 2020. NÃO ESCREVA NO LIVRO 149 IM G O RT H AN D /G ET TY IM AG ES D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 149D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 149 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 ATUANDO JUNTO COM A COMUNIDADE A quarta etapa do projeto consiste na preparação do produto final dos trabalhos, ou seja, a encenação teatral de uma sessão de mediação para a comunidade escolar ou do entorno. A partir da experiência anterior, vocês podem aperfeiçoar o roteiro para transformá-lo em uma peça teatral. Vocês poderão incluir no roteiro a cena que deu origem ao conflito para que os espectadores se sintam mais próximos do conflito que será mediado. O objetivo dessa proposta é apresentar para a comunidade a mediação de conflitos como uma ferramenta capaz de pacificar questões conflitivas do dia a dia. Quais são as principais ferramentas para que a mediação de conflitos seja bem-sucedida? Um dos pressupostos da mediação é a comunicação não violenta, que compreende: empatia – colocar-se no lugar do outro; escuta ativa – ouvir para compreender e não para responder, prestando atenção ao sentido das palavras, se necessário, repetindo o que ouviu (parafrasear) para que todos tenham a clareza do que foi exposto; estar atento aos pedidos formulados, tendo sempre em mente que a solução deve partir das próprias partes em conflito. No dia da apresentação, convidem a comunidade para participar do evento como observadora, de modo a contribuir com sugestões. Nem sempre uma sessão de mediação termina com uma solução para o conflito, porém é importante que o diálogo entre as partes seja restabelecido e elas possam, a partir desse momento, buscar alternativas para melhorar a relação interpessoal. Produto final: Teatro como mediação O teatro como produto final do projeto visa à fixação dos conceitos e das técnicas de mediação de conflitos como proposta para envolver a comunidade com os acontecimentos e narrativas do ambiente escolar e da comunidade em geral. A proposta é criar uma dinâmica positiva e participativa, que favoreça o espírito de compreen- são e de cooperação entre as pessoas envolvidas, focando nos interesses e não nas posições escolhidas pelas partes. O roteiro poderá ser o mesmo elaborado para a apresentação em sala de aula, complementado ou não pela situação do conflito na encenação. Além de uma boa narrativa e de um bom roteiro, uma apresentação teatral envolve produção, figurino, cenografia, sonoplastia, ensaios, local adequado, que comporte todas as pessoas con- vidadas, e esforços coletivos para que o evento seja bem-sucedido. Busquem sempre o consenso nas negociações entre colegas, aplicando os conceitos da mediação entre vocês quando houver algum impasse que necessite de uma decisão. É importante não perder o foco nas habilidades e competências de cada um dos envolvidos no momento da divisão de tarefas para definir quem serão os atores, os diretores, produto- res, divulgadores, cenógrafos e figurinistas, a fim de que todas as etapas sejam cumpridas de acordo com o cronograma. O cronograma é parte fundamental para o sucesso do evento. 1. Definam o local, a data e o horário da apresentação e peçam as autorizações necessárias. Calculem o público esperado e verifiquem se o local escolhido comporta esse número de pessoas. 2. Preparem os convites, divulguem o evento pelas redes sociais e produzam cartazes para divulgação fora da escola. 3. Peçam apoio dos professores e envolvam outras pessoas da comunidade escolar. Etapa 4 150 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 150D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21.indd 150 23/09/2020 21:1023/09/2020 21:10 > SAIBA MAIS Contágio Direção: Steven Soderbergh. Estados Unidos, 2011. DVD (106 min). O filme conta a história de uma doença transmitida por um vírus que se alastra com grande facilidade pelo ar. Inicialmente, parecia ser uma gripe, mas com o tempo as pessoas percebem que o vírus tem alto poder de letalidade. Ao mesmo tempo em que mostra cientistas tentando descobrir a cura para a doença, o filme mostra como outros setores da sociedade agem diante da gravidade da pandemia. Aflliction – O ebola da África Ocidental Direção: Peter Casaer. Bélgica/Guiné/Libéria/Serra Leoa, 2015. DVD (70 min). O documentário acompanha a mobilização da população e de profissionais da área da saúde durante um surto de ebola que em 2014 atingiu diversos países da África Ocidental. O filme mostra de perto o trabalho da organização Médicos sem fronteiras. Carta para além dos muros Direção: André Canto. Brasil, 2019. DVD (85 min). Nesse documentário, o diretor refaz a cronologia do vírus da aids e da doença no Brasil. Com entrevistas de diversos especialistas em saúde pública e de pacientes infectados, ofilme aborda o estigma e o preconceito sofrido pelas pessoas que contraíram a doença nos anos 1980 e procura observar o quanto essa situação se modificou ao longo do tempo. Médicos sem fronteiras Disponível em: https://www.msf.org.br/. Acesso em: 2 set. 2020. Página de Médicos sem fronteiras no Brasil, uma organização humanitária internacional, sem fins lucrativos, que oferece ajuda médica a populações em situação de emergência, como catástrofes, epidemias, fome etc. Organização Mundial da Saúde (OMS) Disponível em: https://www.who.int/eportuguese/countries/bra/pt/. Acesso em: 2 set. 2020. Fundada em 1948, trata-se de uma agência especializada em saúde, que tem por objetivo desenvolver ao máximo o nível de saúde da população em todos os países, levando em conta o bem-estar físico, mental e social das pessoas. Subordinada à Organização das Nações Unidas (ONU), está sediada em Genebra, na Suíça. Memorial Vaga-lumes Disponível em: https://memorialvagalumes.com.br/inicio/. Acesso em: 2 set. 2020. O site apresenta um memorial em homenagem às vítimas indígenas da covid-19 no Brasil. Tab Disponível em: https://tab.uol.com.br/edicao/filosofia-e-pandemia/#page7. Acesso em: 2 set. 2020. O tabloide digital aborda vários temas atuais. O link permite acessar uma reportagem sobre a perspectiva filosófica da pandemia: Teria a pandemia nos despertado do sono profundo para buscarmos respostas para a realidade que vivemos? 151 D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21-AVU.indd 151D3-CH-EM-3075-V6-U4-C8-132-151-LA-G21-AVU.indd 151 24/09/20 12:4124/09/20 12:41 https://tab.uol.com.br/edicao/filosofia-e-pandemia/#page7 > FICHAS DE AUTOAVALIAÇÃO Autoavaliação Esta é a hora de se autoavaliar em seu percurso de estudos. Para tanto, sugerimos que retome os objetivos propostos para a unidade. Depois, leia atentamente cada um dos itens relacionados a seguir e escreva em seu caderno como considera seu atual momento de aprendizagem. A resposta para cada um dos itens pode ser sim, não ou em algumas situações. Registre também uma justifi cativa para suas respostas. Unidade 1 Critérios 1. Compreendo o conceito de globalização e consigo empregá-lo para refl etir sobre as mudanças socio- econômicas e culturais no mundo contemporâneo. 2. Identifi co as diferentes etapas do processo de glo- balização e sei caracterizar cada uma delas. 3. Compreendo os mecanismos de reprodução da economia capitalista no mundo contempo- râneo a partir das características do meio técnico-científi co-informacional. 4. Reconheço que, diante das crises constantes que caracterizam a economia globalizada, é impor- tante refl etir sobre a organização da vida fi nanceira no plano pessoal e familiar. 5. Identifico a influência da globalização sobre a cultura no mundo contemporâneo, principal- mente em meu cotidiano. 6. Reconheço que o processo de globalização apro- funda as desigualdades socioeconômicas e sou capaz de dar exemplos que comprovam esse fato a partir de minhas experiências pessoais. 7. Identifico exemplos do impacto das TDICs nas práticas culturais e sociais dos grupos humanos, destacando aspectos positivos e negativos do emprego dessas tecnologias. Comente, a partir dos tópicos acima, seus pontos fortes e os pontos que você ainda precisa trabalhar. Converse com seu professor para, juntos, estabele- cerem um plano de ação. Unidade 2 Critérios 1. Sou capaz de identifi car os diferentes signifi cados atribuídos ao terrorismo ao longo da história e em diferentes contextos. 2. Consigo distinguir atos terroristas de outras práti- cas violentas. 3. Compreendo que o terrorismo no século XXI é um fenômeno amplo, praticado por grupos com crenças e características muito diversas. 4. Entendo o conceito de estado de exceção e sou capaz de associá-lo ao fortalecimento das ações do Estado e das restrições às liberdades individuais. 5. Identifi co exemplos de restrições às liberdades individuais no contexto da naturalização de um estado de exceção. 6. Compreendo que existem diversas formas de vio- lência, que tornam as juventudes vulneráveis. 7. Percebo que a violência está diretamente relacio- nada às desigualdades socioeconômicas e sou capaz de dar exemplos disso a partir da análise da realidade brasileira. 8. Consigo analisar as violações dos direitos humanos quando estudo a questão da violência e suas diversas manifestações. 9. Sou capaz de indicar os impactos que a violência acarreta no desenvolvimento físico, psicológico e social de crianças e adolescentes. 10. Sinto-me confortável para falar sobre questões relacionadas à violência. 11. Percebo que a questão da violência autodirigida é um problema entre as populações jovens. Comente, a partir dos tópicos acima, seus pontos fortes e os pontos que você ainda precisa trabalhar. Converse com seu professor para, juntos, estabele- cerem um plano de ação. NÃO ESCREVA NO LIVRO 152 D3-CH-EM-3075-V6-FINAIS-152-160-LA-G21.indd 152D3-CH-EM-3075-V6-FINAIS-152-160-LA-G21.indd 152 23/09/2020 22:2123/09/2020 22:21 Unidade 3 Critérios 1. Identifico as mudanças advindas com a globalização. 2. Compreendo o período das Grandes Navegações como o início de um processo que culminou com a globalização que vivemos hoje em dia. 3. Sou capaz de identifi car que o centro da econo- mia global variou com de acordo com o tempo. 4. Sou capaz de relacionar a Revolução Industrial com a transformação da Europa em centro da economia global no século XIX. 5. Entendo o significado do conceito “mundo bipolar”. 6. Sou capaz de identifi car as mudanças econô- micas, sociais e políticas observadas no planeta com o fi m da Guerra Fria. 7. Compreendo o signifi cado do conceito “mundo multipolar”. 8. Sou capaz de relacionar os confl itos observa- dos na atualidade entre Estados Unidos e China e relacioná-los com questões ligadas ao poder político e econômico. Comente, a partir dos tópicos acima, seus pontos fortes e os pontos que você ainda precisa trabalhar. Converse com seu professor para, juntos, estabelecerem um plano de ação. Unidade 4 Critérios 1. Identifi co diferentes padrões dos fl uxos populacio- nais ligados aos grandes confl itos e globalização no século XXI. 2. Articulo as escalas estruturais e individuais ao analisar as grandes situações de crise humanitá- ria, como a questão dos refugiados e da pandemia global. 3. Identifico as transformações tecnológicas e os processos históricos que podem infl uenciar ou acelerar as questões relativas a essa crise. 4. Analiso e caracterizo as diferentes tipologias relacionadas ao tópico da migração, refúgio, des- locamento interno e consigo correlacionar com situações contemporâneas. 5. Consigo relacionar o modo de vida das sociedades humanas e sua relação com a história das pande- mias no mundo. 6. Sou capaz de avaliar os impasses ético-morais impostos pelas relações atuais que perpassam as crises humanitárias, como o caso dos cientistas que buscam a cura da covid-19. 7. Compreendo mapas de fl uxos migratórios, disse- minações de doenças e sua relação com as crises atuais. 8. Sou capaz de identifi car situações de violação dos Direitos Humanos relacionadas ao acolhimento de refugiados em âmbito individual ou escala estrutural. Comente, a partir dos tópicos acima, seus pontos fortes e os pontos que você ainda precisa trabalhar. Converse com seu professor para, juntos, estabele- cerem um plano de ação. NÃO ESCREVA NO LIVRO 153 D3-CH-EM-3075-V6-FINAIS-152-160-LA-G21.indd 153D3-CH-EM-3075-V6-FINAIS-152-160-LA-G21.indd 153 24/09/20 12:5024/09/20 12:50 > BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as compe- tências são identifi cadas por números (de 1 a 10) e as habilidades, por códigos alfanuméricos, por exemplo, EM13CHS101, cuja composição é explicada da seguinte maneira: � as duas primeiras letras indicam a etapa da Educação Básica, no caso, Ensino Médio (EM); � o primeiro par de números