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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE 
SOCIAL, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL, ÉTICA E 
DIREITOS HUMANOS 
 
 2 
 
 
 
SUMÁRIO 
 .................................................................................................................................... 1 
 .................................................................................................................................... 1 
COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS ...... 1 
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3 
2. POR QUE DISCUTIR ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS 
DE ASSISTENTES SOCIAIS ...................................................................................... 5 
Figura 1 ...................................................................................................................... 5 
2.1 Atribuição Privativa e Competência Profissional na lei de 
Regulamentação da Profissão ................................................................................. 7 
2.2 O “Chão” do Exercício Profissional: A Vida cotidiana num Contexto de 
Regressão de Direitos da Classe Trabalhadora ..................................................... 9 
2.1.1 Vida Cotidiana e Valores ............................................................................................... 10 
2.3 Destituição de Direitos da Classe Trabalhadora e Contrarreforma nas 
Políticas Sociais ...................................................................................................... 12 
3. ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS E COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS .......... 17 
3.1 Mediações Constitutivas das Atribuições, Demandas e Requisições .. 22 
3.2 Definição dos Termos ............................................................................... 24 
3.2.1. Atribuições ...................................................................................................................... 24 
3.2.2. Requisições .................................................................................................................... 25 
3.2.3. Demandas ...................................................................................................................... 25 
3.2.3 Competências ............................................................................................................ 28 
4. ANÁLISE DAS EXPRESSÕES EMPÍRICAS DAS ATRIBUIÇÕES, 
DEMANDAS E REQUISIÇÕES CAPTADAS NAS FONTES CONSULTADAS ....... 30 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 33 
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 35 
 
 
 
 
 
 
 3 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Muitos aspectos envolvem algo que é, aparentemente, simples: a manutenção 
de um segredo. Se essa atitude já envolve questões e dilemas quando em relação 
interpessoal, pois implica desde a possibilidade e o dever daquele que guarda o 
segredo de se omitir em revelá-lo até a necessária proteção da intimidade do sujeito 
que apresenta o aspecto de sua vida que não quer que sejam conhecido por outrem, 
todos esses aspectos complexificam-se ainda mais nos termos do sigilo profissional. 
Pelo exercício de sua profissão, cabe ao assistente social o direito de não revelar a 
informação obtida do usuário que o fez na confiança de resguardo da matéria sigilosa. 
 Na língua portuguesa, segredo e sigilo são sinônimos. Ao verificar as diversas 
definições de sigilo profissional pode-se observar sua similitude tanto enquanto direito 
 4 
 
 
como dever do profissional em não divulgar informações colhidas ou obtidas em 
decorrência de seu trabalho. Não são todas as profissões que devem a obrigação do 
sigilo e isso já seria revelador da disposição social que é atribuída a algumas 
profissões de terem o dever e o direito de mantê-lo. Ora é consenso que o profissional 
conheça todos os elementos necessários para o bom cumprimento de seu trabalho, 
desde as condições institucionais até as informações obtidas na sua relação com o 
usuário. O sigilo profissional não é absoluto, no caso do Serviço Social, esse elemento 
abre a possibilidade de esse profissional avaliar, subjetivamente, se deve manter ou 
divulgar o fato sigiloso, devendo prevalecer o disposto no Código de Ética Profissional 
do Assistente Social atentando para o conteúdo ético-político dos princípios que o 
regem. 
A análise do sigilo profissional a partir da ética mostra que se está diante de 
algo complexo, que não se limita a um preceito legal. Quer dizer, o seu entendi- mento 
remete as questões: 
• Para quem?; 
• Com qual necessidade?; 
• Para quê? 
• E em que condições? 
 
Essas questões não podem ser pensadas abstratamente, mas sim a partir das 
situações concretas nas quais estão inseridas, pois interrogam a multiplicidade de 
demandas que lhe são colocadas na comunicação de uma informação. 
Sobre as competências profissionais e as atribuições privativas de assistentes 
sociais. desenvolve primeiramente uma reflexão a respeito do impacto das condições 
objetivas para o trabalho profissional para, posteriormente, apresentar e problematizar 
um conjunto de ações desenvolvidas pelo Conjunto CFESS-Cress na afirmação das 
atribuições privativas e, especialmente, das competências profissionais desta 
categoria. 
 
 
 
 
 
 
 5 
 
 
 
 
 
 
2. POR QUE DISCUTIR ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS 
DE ASSISTENTES SOCIAIS 
 
Figura 1 
 
 
As campanhas do dia 15 de maio, Dia do(a) Assistente Social, são uma 
deliberação dos Encontros Nacionais do Conjunto CFESS- -Cress do ano de 2015, o 
tema escolhido foi: “Assistente social: atribuições, competências e defesa das 
políticas públicas”. Assim, sob o slogan — criado pela equipe que elaborou a 
campanha e aprovado pela diretoria do CFESS, após consulta aos Cress — o 
Conjunto CFESS-Cress comunica: “Assistente social: profissional de luta, 
profissional presente! Pelas políticas públicas, pelos direitos humanos”. Para o 
Conjunto CFESS-Cress, priorizar a reflexão sobre as atribuições e competências 
profissionais nos debates em torno da data significa: 
 6 
 
 
• Iniciar as comemorações em torno dos oitenta anos da profissão, tomando 
como marco a criação do primeiro curso de Serviço Social em 1936, que hoje pertence 
à PUC-SP. Assim, estão previstas diversas iniciativas de debate no sentido de refletir 
sobre a profissão, situada no contexto da sociedade de classes no Brasil, reafirmando 
que as “comemorações” não ocorrem numa perspectiva endógena. 
• Trazer as comemorações sobre a profissão no contexto do potencial de 
seus(suas) trabalhadores(as), para a construção de um país comprometido com as 
históricas reivindicações da classe trabalhadora, uma vez que, por exemplo, a defesa 
de políticas públicas demarca um posicionamento contra a livre concorrência, os 
ditames do mercado e defende a centralidade do papel do Estado na correlação de 
forças postas da relação capital versus trabalho. 
• Promover uma reflexão sobre atribuições e competências é discutir a 
particularidade da intervenção profissional na divisão social etécnica do trabalho, num 
contexto contemporâneo, em que empregadores vêm buscando ditar como e de que 
forma devem trabalhar os(as) assistentes sociais. 
Assim, hoje, profissionais de Serviço Social atuam em programas e projetos 
governamentais federais que determinam não apenas quais serviços devem ser 
desenvolvidos nos municípios — por meio do repasse de financiamento —, mastambém vêm buscando determinar como deverão intervir os(as) profissionais que lá 
atuam, inclusive assistentes sociais. Tal determinação tem vindo por meio de vários 
documentos sobre como, de que forma e com quais profissionais a categoria de 
assistentes sociais deve intervir. Isso também vem ocorrendo nos outros espaços 
ocupacionais — a exemplo do socio jurídico e do empresarial —, sendo cada vez 
mais demandados para desenvolver iniciativas que buscam determinar quais são as 
suas competências profissionais, muitas vezes, chocando-se com as atribuições 
privativas. 
Portanto, discutir as atribuições privativas e competências profissionais de 
assistentes sociais é discutir a profissão. E esse debate se faz a partir de uma nítida 
concepção de profissão, aquela que se forja na ruptura com o conservadorismo que 
marcou o início da atividade e que está expressa no atual Código de Ética do(a) 
Assistente Social, na lei de regulamentação da profissão de 1993 e nas diretrizes 
curriculares da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social 
(Abepss). 
 
 7 
 
 
 
 
 
2.1 Atribuição Privativa e Competência Profissional na lei de 
Regulamentação da Profissão 
 
Figura 2 
 
 
Uma profissão só se afirma e se desenvolve se responder às demandas postas 
pelos diferentes segmentos da sociedade. Somos sabedores que o Serviço Social 
(Iamamoto, 1995) atua sobre interesses contraditórios e somente por um polo pode 
fortalecer o outro. Assim, desde a ruptura com oconservadorismo que caracterizou a 
emergência da profissão (o que não quer dizer que não exista o conservadorismo 
entre nós, na profissão), viemos construindo um projeto profissional em que a questão 
social — matéria que justifica o fazer profissional — é vista como produto e cria do 
modo de produção capitalista. 
Portanto, seus efeitos não podem ser enfrentados de forma moralizante e de 
responsabilidade individual. Seu enfrentamento deve se dar coletivamente. Por isso o 
compromisso do Código de Éticado(a) Assistente Social (CFESS, 2012a) com a 
liberdade como valor ético central e a defesa da democracia e dos direitos humanos. 
Os princípios do Código afirmam ainda a importância de um projeto profissional 
vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária. Logo, o Código 
 8 
 
 
de Ética nega valores corriqueiros da sociedade capitalista, como, por exemplo, o 
individualismo e a competividade. Trazer para o debate não apenas as atribuições 
privativas, mas as competências profissionais, coloca em cena não somente aquilo 
que, pela lei, é função exclusiva do Serviço Social, mas também aquilo que 
potencialmente podemos/devemos desenvolver no trabalho profissional. Afinal, na 
lei de regulamentação da profissão (Lei n. 8.662/1993), os artigos 4° e 5° tratam, 
respectivamente, das competências e atribuições privativas de profissionais do 
Serviço Social. Iamamoto (2012), pautada em parecer da lavra de Sylvia Terra, 
sistematiza: “No sentido etimológico, a competência diz respeito à capacidade de 
apreciar, decidir ou fazer alguma coisa, enquanto a atribuição é uma prerrogativa, 
privilégio, direito e poder de realizar algo” (p. 37). 
Assim, as atribuições privativas são aquelas que se referem diretamente à 
profissão, como a atribuição privativa de coordenar cursos, bem como equipes de 
Serviço Social nas instituições públicas e privadas. E competênciassão aquelas ações 
que os(as) assistentes podem desenvolver, embora não lhes sejam exclusivas. 
Entretanto, a aplicação da lei de regulamentação — a partir das experiências 
de fiscalização realizadas pelos Cress — mostrou que há algumas repetições do que 
se lista como atribuições privativas no artigo que trata das competências. Por isso, o 
citado parecer de Terra (2000) entende que quando há essas repetições no item 
competências, elas são entendidas automaticamente como atribuições privativas. 
Sabendo ainda que sejam necessárias as regulamentações profissionais, o 
reconhecimento da relevância de uma profissão vem da capacidade de resposta de 
seus(suas) próprios(as) profissionais. 
Esse reconhecimento o Serviço Social conseguiu rapidamente, uma vez que o 
processo de profissionalização foi rápido, pois duas décadas após a fundação da 
primeira escola já havia a lei de regulamentação da profissão (Lei n. 3.252/1957), 
sendo que mais à frente foi promulgado o Decreto n. 994/1962, que complementou a 
primeira regulamentação, instituindo o Conselho Federal e os conselhos regionais da 
profissão. Afinal, se reconhecemos que o Serviço Social, como todas as outras, é uma 
profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho (Iamamoto, 1992), possui, 
consequentemente, uma particularidade no campo do trabalho coletivo. 
Sabe se, por outro lado, o quanto a divisão entre as profissões (e ocupações) 
é resultado da forma alienada de como o trabalho se dá na sociedade capitalista. 
Portanto, uma profissão se legitima a partir das respostas que consegue emitir para 
 9 
 
 
usuários(as) dos seus serviços e para seus(suas) contratantes. E estas — as 
respostas — podem ser maiores ou menores, dependendo da competência do coletivo 
profissional. No caso do Serviço Social, tal debate não pode ser realizado sem a 
clareza dos distintos interesses que envolvem o contratador do trabalho profissional e 
a população usuária dos seus serviços. 
Para uma reflexão sobre as atribuições privativas e competências profissionais, 
faz-se importante, portanto, uma reflexão a respeito do “chão” em que se dá o 
exercício profissional. 
 
2.2 O “Chão” do Exercício Profissional: A Vida cotidiana num Contexto de 
Regressão de Direitos da Classe Trabalhadora 
 
Figura 3 
 
 
 
 O “chão” do exercício profissional, para o qual queremos chamar a atenção, 
é primeiramente aquele onde se dá todo o agir histórico: o cotidiano. Afinal, a vida 
cotidiana é insuprimível e existe em todas as sociabilidades humanas. A outra 
 10 
 
 
característica do “chão” que queremos ressaltar é a forma como os direitos da classe 
trabalhadora vêm sendo tratados, tema fundamental para assistentes sociais, uma 
vez que atendem à classe trabalhadora ao mesmo tempo que fazem parte dela. Se a 
vida cotidiana é insuprimível, certamente ganha contornos próprios diante da 
alienação na sociedade de classes. 
2.1.1 Vida Cotidiana e Valores 
 
O cotidiano faz parte da vida. Em todos os momentos históricos os homens 
vivem no cotidiano. É quando damos respostas para as questões que emergem no 
dia a dia, seja na esfera privada, profissional, no âmbito do lazer, do descanso etc. 
Lidamos com muitas informações e, pela agilidade, — diga-se de passagem, cada vez 
mais requerida nesse trato —, pouco paramos para refletir sobre o que pensamos, 
falamos e fazemos. 
O fato de que todas as suas capacidades se coloquem em funcionamento 
determina também, naturalmente, que nenhuma delas possa realizar-se, nem de 
longe em toda sua intensidade. O homem da cotidianidade é atuante e fruidor, ativo e 
receptivo, mas não tem nem tempo nem possibilidade de se absorver inteiramente em 
nenhum desses aspectos; por isso, não pode aguçá-los em toda intensidade. (Heller, 
1992, p. 17-18) 
As características do cotidiano são: a heterogeneidade (o desenvolvimento de 
diferentes ações simultaneamente, ainda que haja uma hierarquia entre elas; por 
exemplo, na sociedade de classes o trabalho alienado é a principal atividade), a 
imediaticidade (uma relação automática entre o pensamento e a ação) e a 
superficialidade extensiva (uma vez que há o desenvolvimento simultâneo de 
diferentes ações, o indivíduo domina apenas superficialmente a realidade e os 
conhecimentos que mobiliza) (Netto, 2000). 
Se o cotidianoé insuprímivel, também é importante dizer que nem por isso é 
necessariamente sempre alienador, pois se vivêssemos em outra ordem societária, 
com valores emancipatórios hegemônicos, daríamos respostas mais qualificadas, 
ainda que imediatas, e manejando conhecimentos distintos ao mesmo tempo. No 
cotidiano, o indivíduo vive o mundo a partir do “eu”. Somente quando ele supera essa 
singularidade pode ter acesso à consciência humano-genérica. 
 11 
 
 
Para isso, tem que suspender a heterogeneidade da vida cotidiana (processo 
esse entendido como homogeneização do ser singular em direção ao humano-
genérico). E as formas privilegiadas para suspensão são: 
• O trabalho criador, 
• A arte, 
• A ciência, 
• A ética. Não tem como o indivíduo ficar permanentemente “suspenso”, mas, 
ao voltar ao cotidiano, ele o percebe de forma diferente. 
Diversas pesquisas têm mostrado que os(as) assistentes sociais afirmam seu 
compromisso com a democracia, com os direitos e com o projeto ético-político do 
Serviço Social. Também nas provas de concurso ou seleção pública para empregos, 
as questões referentes ao Código de Éticado(a) Assistente Social não costumam ter 
problemas para ser respondidas corretamente por profissionais da área. 
Assim, partir da constatação de que tanto verbalizam como sabem 
teoricamente sobre quais são os princípios do projeto profissional. Mas será que 
realmente internalizaram seus valores? É preciso ter claro que a categoria de 
assistentes sociais não está imune ao caldo conservador da sociedade brasileira. Mas 
se opta por valores conservadores — ainda que discordemos —, essa tem que ser 
uma escolha consciente, e não como vem se dando na maioria das vezes, como um 
“autoengano”. 
O “autoengano” referido se dá pelo discurso de que “o que penso e faço como 
profissional pode ser distinto do que penso e faço fora do trabalho”. É como se 
houvesse uma “muralha chinesa”: ao chegar ao trabalho, dou um“stop” nos meus 
valores e, ao colocar o crachá, o jaleco ou um uniforme, ou mesmo ao bater o ponto, 
“plim!”, tenho em mim os valores do projeto ético-político. Isso é impossível, pois as 
ações desenvolvidas no cotidiano formam um continuum. Afinal, “não sou um(a) em 
casa e outro(a) no trabalho”. Trago em mim valores, e esses são fortes. São como 
bússolas para a imediaticidade do cotidiano. 
Não paro para pensar, nem ligo para o Cress frente a uma situação que 
necessita de uma resposta profissional imediata: faço, mesmo que depois não o 
fizesse com a mesma intenção. O cotidiano é o espaço das respostas imediatas em 
todas as esferas da nossa sociabilidade, inclusive as relativas ao trabalho. Logo, se 
estivermos mais qualificados(as), daremos, no trabalho, respostas melhores. 
 12 
 
 
Se efetivamente internalizarmos os valores do projeto ético-político, que são 
emancipatórios, daremos respostas emancipatórias para a “dureza” do dia a dia — 
que naturaliza a desigualdade social, estimula o preconceito, desqualifica os 
indivíduos fora do padrão dominante etc. —, tanto no trabalho como nas outras esferas 
da sociabilidade. 
2.3 Destituição de Direitos da Classe Trabalhadora e Contrarreforma nas 
Políticas Sociais 
 
Figura 4 
 
 
Desde o primeiro governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) até o governo 
atual do PT, o Brasil cumpre um conjunto de medidas preconizadas pelo Banco 
Mundial, dentre as quais destacamos: a contrarreforma da previdência do(a) 
trabalhador(a) regido(a) pela Consolidação das Leis Trabalhistas(CLT) no governo 
de FHC; a contrarreforma do servidor público, regido pelo Regime Jurídico Único 
(RJU) no início do primeiro governo Lula; a publicação das Medidas Provisórias ns. 
664 e 665, que afetam tanto trabalhadores(as) regidos(as) pela CLT, como o servidor 
público, regido pelo RJU; os avanços — tanto nos governos do PSDB como nos do 
PT — nos processos de privatização do público; por fim, a desregulamentação dos 
direitos trabalhistas por meio do projeto de terceirização. 
 13 
 
 
Sobre a privatização do espaço público, o projeto mais “imponente” é a 
proposta da criação de fundações públicas de direito privado. Essa iniciativa propõe 
que o poder público institua fundações estatais com personalidade jurídica de direito 
privado em diferentes áreas consideradas de atividade estatal, mas não exclusivas do 
Estado. 
A proposta da criação das fundações parte do principal argumento para a 
“reforma” do Estado apregoada pelo governo do PSDB e revisitada pelo governo do 
PT, que é a ineficácia do Estado, sendo razões centrais para isso a estabilidade de 
servidores(as) públicos(as), a burocracia, que dificultaria a agilidade na gestão — 
tanto para compra de insumos e materiais, como para poder demitir funcionários(as) 
— e a necessidade de um melhor gerenciamento. Segundo Granemann (2011), 
existem várias questões problemáticas nessa proposição, como: 
• A contratação de servidores(as) seria por meio de concurso, mas via CLT, e 
não mais pelo RJU, consagrado como o modelo único de contratação para os(as) 
servidores(as), pela Constituição Federal de 1988; 
• Não está ainda devidamente claro, mas supõe-se que a remuneração dos(as) 
trabalhadores(as) estará subordinada ao contrato de gestão que cada fundação firmar 
com o Estado e com agentes do mercado; 
• Cada fundação terá seu próprio plano de carreira, emprego e salários. Isso, 
consequentemente, fragilizará a organização dos(as) trabalhadores(as); 
• As fundações receberiam subsídios públicos, mas não contribuiriam para a 
formação do fundo público; 
• O controle social se tornará inexistente, com a criação de conselhos “moldados 
nas grandes empresas capitalistas, inclusive ao usar terminologias ali nascidas e 
aplicadas”, como “conselho curador, diretoria executiva, conselho fiscal e conselho 
consultivo social”, sendo que se cita “sociedade civil” apenas na composição do 
conselho consultivo social. 
Na mesma linha do projeto de fundação cabe ainda destacar a criação, no 
último dia do segundo mandato de Lula, da Empresa Brasileira de Serviços 
Hospitalares (Ebserh), que, apesar de diversas manifestações contrárias por parte dos 
segmentos universitários, tem avançado em muitas universidades. 
A Ebserh se constitui também numa empresa pública de direito privado (nos 
moldes das fundações estatais de direito privado), vinculada ao Ministério da 
Educação, com a “missão” de reestruturar os hospitais universitários que hoje 
 14 
 
 
integram o maior complexo hospitalar do Brasil, pois são 47 hospitais, distribuídos em 
33 universidades federais do país (Correia, 2014). Sobre a desregulamentação dos 
direitos trabalhistas, a ofensiva atual em curso é o Projeto de Lei n. 4.330, conhecido 
como projeto da terceirização, que pretende regulamentar a terceirização nas 
atividades-fim, uma vez que hoje formalmente só estão garantidas para as atividades-
meio. 
Dados coligidos pela revista Carta Capital indicam que o salário de 
terceirizados(as) é 24% menor que de empregados(as) formais; que terceirizados(as) 
trabalham, em média, três horas a mais; que sofrem mais acidentes de trabalho — 
por exemplo, na Petrobras, mais de 80% dos(as) trabalhadores(as) mortos(as) em 
serviço entre 1995 e 2013 eram subcontratados(as); e que estão mais sujeitos(as) aos 
mecanismos que tentam burlar os direitos trabalhistas, pois, entre 2010 e 2014, cerca 
de 90% dos(as) trabalhadores(as) resgatados(as) nos dez maiores flagrantes de 
trabalho escravo eram terceirizados(as). 
Conforme Correia (2008 e 2010), todas essas medidas não estão sendo 
realizadas aleatoriamente. Numa leitura rápida dos documentos do Banco Mundial, 
identifica-se — e os documentos são cristalinos — que tais ações dosgovernos 
brasileiros respondem a um conjunto de prescrições para países como o Brasil. O 
afrontamento dos direitos da classe trabalhadora se espalha em diferentes nuances. 
Assistentes sociais, profissionais historicamente com inserção na esfera estatal — 
mas não somente —, vêm tendo suas condições de trabalho afetadas, com a redução 
de recursos e “enxugamento” das políticas sociais, mas vêm também sofrendo “na 
carne” esse afrontamento. 
Tem crescido o número de profissionais contratados(as) por frágeis vínculos — 
como RPA (Recibo de Pagamento Autônomo) —, como também tem ocorrido em 
diferentes municípios, em especial nos estados do Centro-Oeste e em Minas Gerais, 
a contratação de assistentes sociais por pregão, em que, por meio do oferecimento 
do menor preço (leia-se menor salário), assistentes sociais (e não apenas esses) são 
“contratados(as)”. 
Na esfera fora do Estado, também tem se intensificado a exploração da força 
de trabalho de assistentes sociais. Empresas que, a partir dos anos 1990, diminuíram 
ou fecharam os setores de Serviço Social, têm “reabsorvido” o trabalho de 
assistentes sociais por meio de duas estratégias: uma pela contratação de empresas 
de “consultoria” de Serviço Social, que, sem vínculo com o empregador, atendem 
 15 
 
 
aos(às) seus(suas) trabalhadores(as); outra por meio do atendimento via call center, 
em que os(as) trabalhadores(as) das empresas ligam para um número telefônico e 
são atendidos(as) e orientados(as) por um(a) profissional de Serviço Social que não 
conhecem, e este(a) também não conhece o cotidiano do local de trabalho de onde 
fala esse(a) trabalhador(a) (Botão, 2015). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A discussão que aqui se faz sobre o trabalho profissional, por outro lado, não 
se descola da formação profissional. Assim, devem considerar as seguintes 
constatações e inquietações: 
• O quadro do aligeiramento da formação profissional em todos os níveis da 
formação, especialmente na graduação e no mestrado (importante para a formação 
de professores(as) para a área de Serviço Social). Para onde vão a pesquisa e a 
extensão. 
• Tão importantes para o projeto de formação profissional expresso nas diretrizes 
curriculares da Abepss — nessa rapidez? 
• O fato de a formação em Serviço Social ter se constituído como nicho de 
mercado, refletindo, principalmente, na expansão da modalidade do ensino a distância 
enquanto expressão máxima da precarização do ensino superior, pois essa realidade 
impõe limites à formação profissional. Como ensinar sem o debate cotidiano emsala 
de aula? Como formar alunos(as) críticos(as) sem o movimento estudantil? Como 
assegurar as competências teórico-metodológicas de modo consistente com o 
recurso a apostilas, em detrimento dos livros? Como garantir campos de estágio em 
conformidade com nossas normativas sobre a supervisão direta com elevado número 
de matrículas? 
o avanço da contrarreforma do Estado e da 
reestruturação produtiva na década atual do século 
XXI tem “aprimorado” as suas ações, apresentando 
significativas consequências para a classe 
trabalhadora, como aquelas aqui tratadas, com 
impacto direto para o trabalho de assistentes sociais. 
 
 16 
 
 
• Por último, mas não menos importante, o panorama da expansão do ensino 
superior público, que vem sendo materializada sem a infraestrutura física e de pessoal 
e com projetos pedagógicos, reduzindo-se, muitas vezes, apenas ao ensino. 
Tais inquietações evidenciam, portanto, que as condições de reprodução desse 
perfil profissional encontram-se também impactadas pelo conjunto de contrarreformas 
aludidas, em decorrência de que é preciso reconhecer e enfrentar as dificuldades reais 
postas por esse mesmo “chão” ao projeto profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 17 
 
 
 
3. ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS E COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS 
 
 Estandonítido que o quadro em que exercem o Serviço Social hoje é bastante 
desafiador, considerando, por outro lado, que o acúmulo dos debates coletivos em 
torno das atribuições privativas e competências profissionais nos parece um bom 
arsenal para encará-lo. Ou seja, se não temos dúvida sobre o que dizer das nossas 
atribuições privativas, é necessário que se afirme que isso é uma conquista da 
organização política da profissão desde as suas origens, mesmo que com 
perspectivas políticas distintas. 
Ainda que não tenham dúvida, tal ponto não é necessariamente um bálsamo 
perfeito. Por isso, temos que ficar atentos(as) para a importância da garantia do 
direito à existência de profissões regulamentadas. Ademais, o status de profissão 
liberal nos possibilita organizá-la por meio do conselho profissional. Assim, essa 
defesa deve ser permanente. Mas, com certeza, o que precisa ser discutido hoje de 
forma mais urgente é: que competências profissionais temos?Quais podemos 
afirmar? O ponto de partida para essa reflexão é a clareza da função social da 
profissão: o seu trato com as diferentes expressões da questão social. 
Aqui então se desconhecem todas as possibilidades fora desse circuito, como 
o Serviço Social clínico, que psicologia a desigualdade social. Não podemos também 
ficar reféns de uma visão generalista da questão social, razão pela qual se fala em 
expressões, as quais se materializam em diferentes demandas (aparentes e não 
aparentes) no multifacetado universo dos serviços sociais organizados segundo a 
setorialidade das políticas sociais que fragmentam a questão social. 
Esses serviços, por sua vez, engendram processos coletivos de trabalho que, 
nem por isso, deixam de requerer competências profissionais particulares, lembrando 
que entendemos que o trabalho coletivo expressa uma busca de resposta às 
necessidades dos(as) usuários(as). Cabe lembrar que esse movimento é 
contraditório: ao mesmo tempo que pode descaracterizar nossas atribuições 
privativas, pode também apresentar novas e importantes demandas para a profissão. 
Essa contradição sublinha a importância de não perdermos de vista a função social 
da profissão, para oferecer respostas qualificadas e posicionadas a esse contexto, 
 18 
 
 
mas também sem “engessarmos” o trabalho, por não conseguirmos captar o 
movimento tendencial das demandas a ele colocadas. 
A resposta a essas demandas, por parte de assistentes sociais, está posta no 
campo das suas possíveis competências; logo, essa ação não lhes éexclusiva. Ser 
competente aqui é articular a dimensão ético-política, teórico- -metodológica e técnico-
operativa. Competência, nos moldes aqui tratados, não é mérito individual, e sim 
resultado de um projeto que se constrói coletivamente nos serviços, que se 
retroalimenta da produção intelectual da profissão e da sua organização político-
profissional. 
Assim, a responsabilidade não pode repousar exclusivamente em profissionais 
nos diferentes serviços dos “quatro cantos” do país. A universidade, por meio da 
extensão, da pesquisa e do conhecimento que daí gera, tem um papel fundamental. 
As entidades da categoria, como a Abepss e o Conjunto CFESS-Cress, também 
contribuem para a qualificação da formação e na luta pelas garantia das condições 
éticas e técnicas do trabalho profissional. A defesa das prerrogativas profissionais e o 
debate sobre o fato de outras profissões e/ou ocupações estarem, em tese, 
assumindo o que era historicamente realizado pelo Serviço Social, avançará, sim, com 
um posicionamento dos órgãos de fiscalização da profissão. 
Mas a realidade não se restringe apenas às normas e às leis: é na prática que 
se materializa o que é, legitimamente, campo de intervenção de uma profissão. Assim, 
também a ação crítica e consciente de profissionaisé fundamental. Reconhecendo 
isso é que o Conjunto CFESS-Cress vem desenvolvendo ações afirmativas no sentido 
de demarcar as atribuições privativas e competências profissionais, bem como 
atividades de formação que buscam refletir sobre a potencialização da profissão e do 
trabalho de seus(suas) profissionais. 
• No eixo das ações afirmativas das atribuições privativas e competências 
profissionais, gostaríamos de destacar algumas ações desenvolvidas pelo CFESS: a 
Política Nacional de Fiscalização, elaborada em 1996 e revista em 2007, que se 
estrutura em três dimensões: afirmativa de princípios e compromissos históricos; 
político-pedagógica; e normativo- -disciplinadora. Essa concepção de fiscalização não 
está preocupada com a dimensão punitiva, e sim com a educativa. Sendo assim, 
contribui para a defesa das atribuições privativas e, especialmente, para a 
materialização das competências profissionais, uma vez que busca aprimorar o 
trabalho profissional de assistentes sociais; 
 19 
 
 
• A campanha em defesa do concurso público para assistentes sociais em 
diferentes espaços sócio-ocupacionais. Entendemos que a defesa do concurso faculta 
experiências profissionais com maior possibilidade de autonomia profissional, pois o 
locus do exercício profissional se dá, possivelmente, longe do clientelismo, 
protecionismo e mandonismo, que ainda caracterizam muitas das ocupações dos 
postos de trabalho; 
• A participação em diversos espaços sobre a gestão do trabalho, com destaque 
para o Fórum Nacional de Trabalhadores e Trabalhadoras do Sistema Único de 
Assistência Social (FNTSUAS) 
• Em que temos acompanhado de perto a regulamentação das ocupações 
previstas na legislação em vigor 
• E para o Fórum das Entidades Nacionais de Trabalhadores da Área da Saúde 
(Fentas), com destaque para a Resolução n. 383/1999, que caracteriza o(a) assistente 
social como profissional da saúde. Nesses fóruns, num diálogo permanente com 
representantes de outras profissões, vamos demarcando as particularidades do 
Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho; 
• As publicações de diversas resoluções do CFESS, que orientam e disciplinam 
o exercício da profissão. Algumas das mais importantes nesse sentido são: a 
Resolução n. 493/2006 (referente às condições técnicas e éticas de trabalho), a 
Resolução n. 533/2008 (que regulamenta a supervisão direta de estágio no Serviço 
Social); a Resolução n. 556/2009 (que se refere aos procedimentos para efeito da 
lacração do material técnico sigiloso do Serviço Social); a Resolução n. 557/2009 (que 
dispõe sobre a emissão de pareceres, laudo, opiniões técnicas conjuntos entre o(a) 
assistente social e outros(as) profissionais); e a Resolução n. 569/2010 (que trata 
sobre a vedação da realização de terapias associadas ao título e/ou ao exercício 
profissional do(a) assistente social); 
• A elaboração de documentos que se constituem em subsídios para o trabalho 
profissional, como os parâmetros de atuação na política de saúde (CFESS, 2010) e 
na de assistência social (CFESS, 2011), bemcomo os subsídios para atuação na área 
da educação (CFESS, 2013) e para o trabalho no sociojurídico (CFESS, 2014b). 
Esses documentos partem de uma concepção ampla de Serviço Social, ou seja, não 
reduzem a intervenção profissional ao trato direto com usuários(as) 
• Ainda que seja essa a maior frente de trabalho e não menos importante, 
 20 
 
 
• E, por isso, apontam competências profissionais na esfera da gestão dos 
serviços e na formulação da política, na assessoria, na mobilização popular, no 
planejamento, nos espaços de controle social etc. Esses documentos avançam no 
delineamento das competências profissionais, de forma objetiva e com clara direção 
ético-política e teórico-metodológica. Posicionam-se contrariamente a um conjunto de 
solicitações equivocadas, dirigidas a profissionais de Serviço Social e muitas vezes 
restritivas de sua autonomia técnica. Durante muito tempo, foi lugar-comum dizer que 
assistentes sociais sabiam dizer o que não era sua competência, mas não sabiam 
informar quais eram. 
Entendemos que a reafirmação desse tipo de frase hoje é um equívoco, pois a 
produção do conhecimento e, especialmente, os documentos aqui citados, sem 
esquematismos e reducionismos, se constituem em referências sobre o que compete 
a profissionais de Serviço Social. Embora eles não abarquem a totalidade dos 
espaços ocupacionais em que a profissão tem sido convocada a intervir, estamos 
cientes de que alcançam os mais significativos e expressivos segmentos do mercado 
de trabalho brasileiro. 
Além das ações que acabamos de tratar, gostaríamos de destacar também um 
conjunto de atividades/reflexões que o CFESS vem desenvolvendo sobre as 
competências e atribuições profissionais. É, em sua maioria, atividades de formação 
teórica, ética, política etc., que constroem um acúmulo para ações futuras. Assim, 
gostaríamos de chamar atenção para: — a promoção de seminários nacionais e outros 
eventos, de acesso gratuito, com transmissão on-line e publicação dos textos, 
problematizando temas relevantes para a profissão. No ano de 2015, por exemplo, o 
Conjunto CFESS-Cress promoveu o seminário “ServiçoSocial e diversidade trans: 
exercício profissional, orientação sexual e identidade de gênero em debate”, a partir 
de uma série de demandas que estavam chegando sobre o posicionamento de 
assistentes sociais no atendimento a pessoas trans, especialmente referentes à atual 
normatização do processo transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS). 
As discussões desse seminário atualmente alimentam o Conjunto CFESS-
Cress no processo de estudo com vista à publicação de uma possível resolução sobre 
o tema do exercício profissional que se realiza nesse âmbito; 
• A realização de campanhas nacionais que, ao questionarem valores da 
moralidade conservadora da sociedade brasileira, impactam também os sujeitos da 
profissão. Assim, as campanhas realizadas — combate ao racismo; 
 21 
 
 
• Pela liberdade de orientação e expressão sexual; 
• Em defesa do trabalho e dos direitos humanos — são convites ético-políticos à 
categoria profissional. Fazem-nos refletir sobre nossas atribuições e competências e 
sobre o seu potencial enquanto luta pelos direitos humanos; 
• À edição, há mais de uma década, do curso Ética para Agentes Multiplicadores 
(as), do Projeto Ética em Movimento do CFESS, que anualmente capacita um(a) 
representante de cada Cress do país e este(a) reproduz a capacitação em seu estado. 
• O curso — composto pelos conteúdos “Ética e sociedade”, “Ética e práxis 
profissional”, “Ética e direitos humanos” e “Ética e instrumentos processuais” — vem 
se mostrando uma estratégia importante para a internalização dos valores do atual 
Código de Ética junto a parcelas significativas da categoria de assistentes sociais; — 
o investimento na comunicação, entendendo-a tanto como peça importante na 
socialização do conhecimento para a categoria, quanto também como disputa pela 
hegemonia dos meios de comunicação. 
Assim, a Política Nacional de Comunicação do Conjunto CFESS- -Cress vem 
sendo uma ação estratégia de fortalecimento das ações previstas pelo CFESS; — a 
clareza sobre os limites dos espaços de controle social (notadamente os conselhos 
de direitos e de política e as conferências), mas, ao mesmo tempo, o entendimento 
de que podem ainda ser espaços de luta e construção de consciência crítica. 
 Por isso, temos uma atuação crítica no Conselho Nacional de Saúde (CNS) 
— e em suas diversas comissões, em especial na Comissão Nacional de Ética em 
Pesquisa (Conep), e atualmente no intenso debate para a criação de uma resolução 
específica para a pesquisa no campo das ciências humanas e sociais —, no 
Conselho Nacionaldos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), em especial 
nesse momento, acompanhando todos os debates sobre a tentativa de redução da 
maioridade penal e fazendo incidência, com o movimento social da área, contra a 
proposta desse projeto de lei no Legislativo; no Conselho Nacional dos Direitos do 
Idoso (CNDI) e no Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos 
Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT); 
Ao mesmo tempo que o CFESS está nos espaços institucionais de 
participação, temos clareza da importância de se fortalecer a organização da 
sociedade civil. Política se faz na rua. Por isso, também estãonesses espaço e 
gostaríam de ressaltar a inserção no Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do 
Adolescente (FNDCA), Fórum Nacional de Assistência Social (FNAS), Fórum 
 22 
 
 
Nacional pela Reforma Urbana (FNRU) e na Frente Nacional contra a Privatização da 
Saúde. 
 
3.1 Mediações Constitutivas das Atribuições, Demandas e Requisições 
 
Figura 5 
 
 
A mediação da Política Social não é circunstancial ao Serviço Social, como 
poderia ser para outros profissionais: é para executá-las que a profissão recebe um 
mandato sócioinstitucional. Não casual o fato de que a profissão cresce na medida 
em que as instituições sociais se colocam aptas para atender as novas necessidades 
de controle da força de trabalho ocupada e excedente. A maneira particular de como 
esse controle será realizada, tem a ver com as conjunturas, mas é da estrutura do 
Estado burguês, como uma estrutura de comando do capital (Mészáros, 2002) que o 
faz buscar estratégias que lhe permitam operar com a gestão da força de trabalho 
visando atacar os problemas do capitalismo em duas frentes: aumento da taxa de 
lucro e contenção do sub-consumo. 
 23 
 
 
O resultado é que, cada vez mais, as políticas sociais vão se tornando 
funcionais às formas de enfrentamento da crise do capital. Nesta pesquisa partimos 
da concepção de que as atribuições, demandas e requisições da profissão indicam a 
sua natureza, seu lugar na divisão social e técnica do trabalho, sua funcionalidade ao 
Estado e suas estratégias de responder à crise do capital. 
Indicam, ainda, a configuração do mercado de trabalho profissional, a peculiar 
maneira de inserção da profissão nos serviços, o perfil esperado, conhecimentos, 
habilidades, valores que estão sendo requeridos a estes profissionais. Para responder 
as demandas que chegam é necessário que o profissional corresponda a um 
determinado perfil. Tal perfil é formado e forjado tanto na formação profissional quanto 
no e pelo mercado de trabalho. Esse perfil recebe os influxos das transformações 
societárias, oriundas da reestruturação produtiva, do tipo de Estado e de suas formas 
de intervenção para o enfrentamento da chamada “questão social”, da sociabilidade 
que se conforme no espírito desse tempo histórico. 
Assim como Amaral e Mota (1998, p.26) considerando que, desvelar as 
demandas é “condição para apreender as mediações que vinculam as ‘reais 
necessidades’” dos processos sociais da sociedade burguesa constituída com as 
exigências colocadas pelo mercado de trabalho profissional”, para o que é importante, 
“refazer - teórica e metodologicamente – o caminho entre a demanda e as suas 
necessidades fundantes (idem, ibidem)”. Nessa direção, pretende-se desenvolver 
duas ordens de questões: 
1) A primeira, refere-se às questões conceituais. Interessa apresentar as 
diversas definições que os termos vêm recebendo na literatura do Serviço Social. 
Parte-se de definições etimológicas para captar os diferentes significados e usos na 
bibliografia da profissão. A importância dessa explicitação remete diretamente à 
questão da interpretação que o assistente social faz de si e da profissão, dado que ela 
conduz o profissional a experiências empíricas que se expressam nas respostas 
profissionais; 
2) A segunda, pretende-se apresentar asrequisições descritas, identificadas 
pelos autores da produção consultada, que se realizam nas políticas de Saúde, 
Assistência Social e Previdência. 
 
 24 
 
 
3.2 Definição dos Termos 
 
3.2.1. Atribuições 
 
Dentre seus significados etimológicos, o conceito atribuição indica ato ou ação 
de um sujeito sobre outro no sentido de concessão, outorgamento, faculdade ou 
mesmo reconhecimento, sendo atribuição o ato de imputar algo a alguém. É utilizado, 
ainda, como competência, prerrogativa, responsabilidade de determinada autoridade, 
responsabilidade própria de um trabalho, cargo, função ou oficio; competência de uma 
atividade profissional. 
 Como verbo pronominal, a palavra é utilizada no sentido de arrogar-se, 
delegar-se. Apesar de seus vários significados, a bibliografia da profissão quando 
aborda a questão das atribuições não a determina como atribuição profissional e 
utilizam, indiscriminadamente, os termos atribuição, atribuições profissionais e 
atribuições profissionais especificas e/ou privativas, nesse caso, sempre reputando à 
Lei de Regulamentação e poucas vezes ela vem seguida do substantivo profissional. 
Tem, encontrado sua utilização como algo delegado por outrem. 
Há casos de uma profunda identificação das atribuições, com um rol de 
atividades a serem realizadas, instrumentos e, até mesmo sua identificação direta com 
os objetivos profissionais. Tal indefinição do conceito atribuição leva a que atividades 
parecidas ou idênticas sejam designadas, ora como atribuições ora como requisições, 
o que demonstra imprecisão. 
 Nesse sentido, algumas questões foram levantadas: De onde vem essa 
dificuldade de adotar uma clara concepção de atribuição? Da realidade ou do 
conceito? O que determina e quem determina as atribuições? Na abordagem a estas 
questões há que se considerar que na mediação do assalariamento, na compra e 
venda da força de trabalho das/os assistentes sociais, na inserção dos assistentes 
sociais na esfera dos serviços, reside uma tensão entre o que a instituição atribui e o 
que a categoria profissional considera ser atribuições profissionais, donde a tensão 
entre (no mínimo) duas fontes diferentes das quais emanam as atribuições: a da 
instituição e a da categoria. Não obstante a falta de determinação e imprecisões 
observadas, a nosso ver, as atribuições privativas são as funções que essa profissão 
desempenha no escopo da divisãosocial e técnica do trabalho. 
 25 
 
 
 Daí ser algo privativo, o caráter privativo relativo às atribuições de uma 
profissão não significa reserva de mercado. Sua observação não depende, apenas, 
da definição da própria categoria, mas não deixa de ter a sua interferência. Melhor 
dizendo, as atribuições privativas expressam o perfil de profissional que se encontra 
no mercado de trabalho, para o qual a formação profissional é central, pois sua função 
precípua é preparar seus profissionais para o desempenho dessas atribuições 
privativas. Isso significa buscar quais os conhecimentos necessários que habilitam 
essa profissão. Em que medida a formação tem permitido desenvolver habilidades 
necessárias às atribuições privativas? 
 
3.2.2. Requisições 
 
Requisição é uma palavra originária do latim requisitio, de requirire que significa 
requerimento, solicitação ou pedido. Ação, ato ou efeito de requisitar; sinônimo de 
pedido e também utilizada no sentido de uma exigência legal: fazer requisição de 
material ou de reclamação. Na linguagem jurídica, requisitar é requerer com 
autoridade ou exigir. Nesse sentido a requisição é a exigência legal, emanada de 
autoridade competente para que se cumpra se preste ou se faça o que esta sendo 
ordenado. 
A requisição pode ser direcionada à prestação de um serviço, entrega decoisas 
ou comparecimento de pessoas. Nessa direção, questionamos: A requisição é sempre 
institucionalizada? Ela emana sempre da instituição? Pode ser acolhida ou não? A 
requisição é o que a instituição já estabelece para o assistente social. Está definida 
nas normas, nos manuais? Podem considerar que existam requisições distintas para 
o assistente social, para a Política, para os Programas, para os Serviços? O material 
indica que, embora sejam mencionadas requisições distintas para sujeitos distintos às 
vezes elas coincidem, causando a aparência de que se trata de uma requisição única. 
 
3.2.3. Demandas 
 
No sentido etimológico, demanda significa procura. Trata-se de ação, ato ou 
efeito de buscar. Também possui sua particular utilização jurídica como processo e/ou 
a ação judicial: demanda judicial. Sinônimo de luta; ação de combater ou confrontar. 
 26 
 
 
Reivindicação: ação de exigir, reivindicar, de demandar esforços para recuperar algo 
que pertence a outra pessoa. Podemos agrupar os diversos significados etimológicos 
da palavra demanda quatro eixos: 
1) Solicitação de algo, especialmente quando se considera um direito, 
2) Pergunta que se faz a uma pessoa, 
3) Quantidade de mercadorias ou serviços que os consumidores pedem e estão 
dispostos a comprar, oferta de produtos, 
4) Documento através do qual se empreende uma ação judicial contra uma 
pessoa ou entidade para reclamar algo. O material analisado nos leva a 
considerar que chegam para assistentes sociais: 
a) Diferentes tipos de demandas, a depender da região, subpolítica, do programa, 
da instituição/unidade, do campo/área, etc.); 
b) Demandas espontâneas (especialmente na política e nos equipamentos da 
Assistência); 
c) Demandas Imediatas; 
d) Demandas “Indevidas” (Formulação Pouco Clara); 
e) Demandas Secundarias; 
f) Demandas Reprimidas. Tais Terminologias Utilizadas Para Acusar As 
Diferentes Modalidades De Demandas Não Explicitam A Que Efetivamente Se 
Referem. Nota-Se Que O Material Aludido Nem Sempre Considera A Existência De 
Demandas Divergentes Ou Antagônicas Que Emanam Das Necessidades Das 
Classes Sociais. As Demandas Sociais São Produzidas Por Necessidades Sociais 
Que Plasmam O Processo De Reprodução Social Da Sociedade Capitalista, 
Historicamente Colocadas Por Interesses Antagônicos Das Classes Sociais. Em 
Guerra Temos Que 
“As demandas das classes sociais põem e repõem objetos para o Serviço 
Social. Estes encontram-se inscritos nas condições sociais das classes e por 
isso são, de um lado, históricos, transitórios, encerram continuidades e 
rupturas e, de outro, ou não extrapolam o limite material ou mantêm-se no 
nível das necessidades imediatas. Tais demandas convertemse em 
requisições profissionais, cujo atendimento requer a mobilização de um 
determinado nível de racionalidade, de uma parte; limitam e determinam as 
funções profissionais, de outra. (1995, p.199-200- grifos da autora)” 
 
 27 
 
 
Considerando que as necessidades antagônicas das classes sociais se 
convertem em demandas a todas as profissões. As instituições sociais recolhem tais 
demandas e as enquadram aos seus objetivos e finalidades configurando demandas 
institucionais que chegam aos profissionais como .requisições técnico-operativas que, 
através do mercado de trabalho, incorporam as exigências dos sujeitos demandantes. 
Em outros termos, elas comportam uma verdadeira ‘teleologia’ dos 
requisitantes a respeito das modalidades de atendimento de suas 
necessidades. Por isso mesmo, a identificação das demandas não encerra o 
desvelamento das reais necessidades que as determinam (Amaral e Mota, 
1998, p. 25). 
 
Dado que tal movimento vela e revela ao mesmo tempo os interesses 
introjetados nas demandas, é preciso analisá-lo à luz da teoria social de Marx, visando 
captar as mediações que conectam as dimensões universais às singularidades da 
profissão. Mas não e só isso, há ainda a questão de como o assistente social interpreta 
a demanda, as mediações que aí se colocam e a resposta emitida. Em Guerra temos 
que: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O debate sobre demandas e a forma de responder a elas nos encaminha para 
a questão das competências profissionais. 
 
 
“Ao encontrar o seu âmbito de ação delimitado, tanto pelas 
condições acima apontadas quanto por outras determinações 
peculiares aos setores nos quais atua, o assistente social acaba por 
reduzir sua intervenção ao atendimento imediato da demanda, para 
o que aciona níveis de racionalidade os mais elementares possíveis, 
mas que lhe permitem responder às necessidades prático-materiais 
do cotidiano profissional, limitadas ao nível do empírico. (op. cit. os 
grifos são nossos)”. 
 
 
 28 
 
 
3.2.3 Competências 
 
Competência é o substantivo feminino originado do latim competere que 
significa uma aptidão para cumprir alguma tarefa ou função. Sinônimo de 
conhecimento ou âmbito de jurisdição. Significa, ainda, aptidão,conhecimento ou 
capacidade em alguma área específica; atributo legal de um juiz ou funcionário que 
revela a sua capacidade de julgar uma determinada causa; faculdade para apreciar e 
resolver qualquer assunto, estar capacitado para realizar algo. 
A análise da Lei de Regulamentação da profissão, que se constitui no estatuto 
jurídico que dispõe sobre as atribuições privativas e competências dos assistentes 
sociais, indica atribuição privativa como “prerrogativas exclusivas” da prática 
profissional dos assistentes sociais e competência como “capacidade para apreciar 
ou dar resolutividade a determinado assunto, não sendo exclusivas de uma única 
especialidade profissional, mas a ela concernentes em função da capacitação dos 
sujeitos profissionais” (Iamamoto, In: CFESS, 2012, p. 37). 
São competências do assistente social, que a Lei de Regulamentação 
reconhece: implementar, planejar e avaliar políticas sociais. Mais uma vez se 
coloca a mediação da política, donde a importância de se problematizar o modelo de 
política social que se configura como espaço sócio-profissional dos assistentes 
sociais. Cabe lembrar que por toda a trajetória dessa profissão construímos 
competências as quais são legalmente designadas aos assistentes sociais, 
constantes da lei que regulamenta a profissão, atualmente pela lei 8662/93. 
Concebemos que competência e habilidade são dois conceitos que estão 
relacionados. 
A habilidade é conseguir pôr em prática as teorias e conceitos que foram 
adquiridos, enquanto a competência é mais ampla e consiste na articulação entre 
conhecimentos, atitudes e habilidades. Cabe, ainda, uma problematização que toca a 
todos os conceitos e em suas expressões empíricas. É preciso identificar as fontes de 
legitimidade das quais as demandas, requisições, atribuições emanam. Dado que a 
sociedade burguesa se funda no antagonismo de interesses das classes 
fundamentais, tais interesses contraditórios às vezes se confrontam também com os 
interesses do Estado burguês, “como uma precondição essencial para a 
subsequente articulação de todo conjunto“ (Meszáros, 2011a, 108-9), função 
fundamental na garantia da reprodução social do sistema. 
 29 
 
 
Na fase atual do capitalismo, o Estado participa ativamente do processo de 
valorização do valor, ou seja, de acumulação do capital. Ao mesmo tempo em que 
investe em mecanismos de controle daordem social, via instituições e mecanismos 
repressivos, investe em programas focalistas de redução de danos, chamados de 
programas de “transferência de renda” na direção de controle da pobreza que se 
alastra tendo em vista a crise e queda na taxa de lucro do capital. Disso decorre 
também que as instituições jurídico-políticas não apenas mantêm asformas sociais 
da ordem burguesa, como também acirram as formas repressivas que o momento 
econômico-politico exige. 
Com isso é preciso identificar que a configuração atual das políticas sociais 
como espaço sócio-ocupacional engendra demandas, requisições, atribuições 
direcionadas pela lógica da repressão? Os que planejam e propõem as políticas, 
planejam e propõem um perfil de profissional e/ou determinam um conjunto de 
atribuições profissionais? Se se considera o termo demanda no seu sentido de litígio, 
o caminho da demanda não atendida é a sua judicialização? O que se tem feito na 
direção da coletivização da demanda? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 30 
 
 
4. ANÁLISE DAS EXPRESSÕES EMPÍRICAS DAS ATRIBUIÇÕES, 
DEMANDAS E REQUISIÇÕES CAPTADAS NAS FONTES CONSULTADAS 
 
A análise provisória do material resultado de comunicações em eventos, teses 
e dissertações que focam a política de seguridade social demonstra que as 
atribuições, demandas, requisições se repetem nas várias políticas e nas várias 
regiões do país, de modo que não se identificam diferenças entre as regiões, exceção 
feita apenas para projetos desenvolvidos em regiões de fronteira. Percebe-se, ainda, 
que grande parte das demandas reconhecidas pelos profissionais são convertidas em 
demandas institucionais. 
Entretanto, aparece como demanda que merece ser problematizada: 
“atendimento de encaminhamento de outros profissionais que não conseguem 
resolver ou não tem tempo de fazê-lo”. No que se refere à natureza da demanda, 
chama-nos a atenção na área da Saúde para o fato de que todas as atribuições 
reconhecidas pelo profissional como tal (ou atividades reconhecidas como suas) se 
voltam para a adesão do paciente e/ou de sua família (cuidador) ao tratamento, 
desocupação do leito, orientação e ou informação à família ou ao paciente sobre o 
tratamento e, consequentemente, sobre seus direitos. 
Nota-se, aqui, que os diretos do paciente são restritos e ou consequência de 
sua adesão ao tratamento. Cabe observar que a mesma tendência da política de 
Saúde comparece na política de Assistência Social quanto ao atendimento 
individualizado dos sujeitos e das famílias. Espera-se do assistente social que seja 
capaz de escutar, ouvir, para estabelecer um clima de aceitação recíproca bem como 
de proporcionar uma “integração” do usuário no contexto sócio-institucional, no qual 
sua demanda será, em tese, atendida. Não casual que uma das atribuições dos 
profissionais é a “escuta ativa ou qualificada”, termo que comparece na formulação 
de ambformulação de ambas as políticas, na atualidade, como ferramenta ou 
estratégia de gestão. Exemplar aqui é o “acolhimento” que se torna uma tecnologia 
relacional para garantir consenso. Outra constatação refere-se ao fato de que há uma 
introjeção imediata de objetivos institucionais resignificadoscomo objetivos 
profissionais, o que leva, em muitos casos, a que muitos profissionais reconheçam o 
objeto da instituição como idêntico ao da profissão. 
Em geral, parece haver uma desconsideração da mediação das instituições 
enquanto lócus do trabalho profissional, sua dinâmica e estruturas burocráticas e, ao 
 31 
 
 
fazê-lo, o material demonstra que o profissional indica um “dever ser” profissional sem 
referência ao seu “ser” institucional concreto” (WEISSHAUPT, 1985). Por fim, uma 
tendência histórica que é de tributar o reconhecimento profissional a utilização de 
técnicas e ao domínio do instrumental técnico-operativo. Nessa perspectiva, a 
legitimidade profissional seria dada pelo domínio do instrumental, fazendo valer a 
profissão a partir da aplicação da técnica dirigida aos objetivos da instituição. 
O resultado está na capacidade de resolver as situações pontuais e focalizadas 
nas “problemáticas individuais” dos usuários. Aqui, há que se problematizar o 
significado de funções históricas assumidas na reprodução social de indivíduos e 
famílias e da classe trabalhadora como um todo, da reprodução da ideologia burguesa 
(normas e critérios da instituição e da política/programas) e o compromisso com o 
atendimento das demandas do capital, mediatizadas pelo Estado e pelas 
políticas/programas institucionais, que transformam trabalhadores em vulneráveis. 
É preciso levar em consideração o perfil sócio-técnico reforçado aí. Em vários 
trabalhos encontramos, no discurso dos profissionais, a queixa da distancia entre o 
que se problematiza na academia e o trabalho profissional, em muitos casos recaindo 
na crítica da suposta “dicotomia entre teoria e prática”. Há uma tendência, presente 
nas pesquisas, de o assistente social apenas reconhecer como algo próprio da 
profissão as atividades diretas com os usuários (famílias, grupos, comunidades, 
movimentos sociais): 
• Viabilizar acesso, 
• Orientar, 
• Realizar reuniões, 
• Visitas, 
• Encaminhamentos, 
• Entrevista, 
• Atendimento de plantão, 
• Acolhimento, em detrimento das atividades de gestão. 
 
Assim, atribuições que não estejam vinculadas ao atendimento dos usuários, 
tais como: 
• Coordenar, 
• Planejar, 
• Administrar, 
 32 
 
 
• Organizar, 
• Gerir e formular políticas, nem sempre são assumidas pelos profissionais como 
suas atribuições. 
 
Pouca menção se faz as atribuições voltadas para ações de educação ou 
organização popular. Outra ausência sempre sentida é a de não reconhecimento das 
atividades de pesquisa como atribuição, mantendo a concepção equivocada de 
quepesquisa é uma atribuição restrita à academia. 
Portanto, o quetornou evidente até o momento é que muitas vezes a 
preocupação com as atribuições, requisições, demandas (privativas, sociais e 
políticas, institucionais), com o que se faz ou com o que fazer, remete para a questão 
do porque e do para que fazer. 
Se o assistente social não se pergunta sistematicamente pelos objetivos 
profissionais, das classes sociais, distinguindo-os dos institucionais, não consegue 
perceber que os objetivos explicitam intencionalidades. Se isso não ocorre, os 
objetivos aparecem como universais, indiferenciados, inespecíficos sob a aparente 
neutralidade, e podem considerar que é legitimo que todos os agentes possam 
formular objetivos e que estes levariam, necessariamente, ao mesmo resultado. 
Chama-se, aqui, a atenção ao principio do compromisso com a competência e 
com os reais interesses dos usuários, como parte do nosso Código de Ética 
Profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 33 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Então até o momento o tema abordado históricas preocupações da profissão, 
num outro cenário sócio-histórico, o que exige tratá-los na sua historicidade, ou seja, 
no movimento de continuidades e rupturas. Tem observado, portanto, é a manutenção 
de tendências históricas na profissão, algumas delas redimensionadas e/ou 
metamorfoseadas, reposta no “espírito do tempo” da contemporaneidade, dentre as 
quais salientam o retorno às praticas disciplinares de maneira naturalizad. A profissão 
reaparece no desempenho de uma função histórica de “tecnologia de organização do 
cotidiano como manipulação planejada” (NETTO, 1992, p.92). 
 Daí a aparência fluida, sem definição, das requisições profissionais. Já 
observam em outro lugar (Guerra, 1995) que esta indefinição não está na profissão, 
mas “localiza-se na natureza das demandas geradas no confronto das classes sociais 
antagônicas que passa a se constituir nas requisições institucionais que 
historicamente convocam a profissão, atribuindo-lhe um caráter difuso que passa 
como incognoscível” (1995, p.33), Além disso, assim como as demandas sociais, as 
demandas institucionais são de classe e, portanto, permeadas por interesses 
divergentes, embora apareçampara os indivíduos como iguais. 
Ao não distinguir entre objetivos, demandas, requisições impostas das 
assumidas conscientemente, o assistente social corre o risco de ver 
cancelada/comprometida a sua autonomia relativa. A aparente inespecificidade 
operatória da profissão, que não a diferencia de práticas leigas,voluntárias e 
filantrópicas; sua polivalência (que lhe valeu ampliar suas funções e ocupar espaços 
emergentes) a tendência a incorporar tudo àquilo que outros profissionais não fazem, 
põe o nosso exercício profissional conectado e em sintonia com a tendência à 
desespecialização, desprofissionalização, dessubjetivação. 
Elas requisitam procedimentos instrumentais operatórios, padronizados à luz 
da racionalidade formal-abstrata, conectados com o que vem previamente 
estabelecido pela instituição, pelos programas e projetos, pela política social. Assim, 
a racionalidade formal-abstrata orienta as respostas profissionais, sendo essa uma 
das mediações que se interpõem entre as demandas e respostas profissionais. O que 
 34 
 
 
pode ser considerado novo no contexto atual é que, incidindo sobre a intervenção 
profissional, tais políticas, cujo modelo é o de gestão de riscos sociais, não apenas 
criam demandas, mas formatam as respostas, padronizando-as em normas 
operacionais, legislações e procedimentos prévios já elencados no interior das 
próprias políticas, oferecendo ao assistente social um repertório de técnicas e 
instrumentos voltados para o controle da população, concebida como vulnerável. 
Tem se observado a ampliação de competências direcionada para o controle 
do social, que se realiza sutilmente pela via das políticas sociais. Fica evidente que 
ao Serviço Social como objeto de sua própria pesquisa faltam análises dos processos 
sociais à luz da teoria social marxiana. Considera-se, portanto que a pesquisa que de 
conta das condições e relações de trabalho e das mediações que explicam as 
demandas, atribuições e requisições sócio-profissionais e políticas constitui-se em 
requisito essencial e caminho fecundo para qualificar a formação e o trabalho 
profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 35 
 
 
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