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44 10.2 República Velha (1889–1930) Com a proclamação da República e o fi m do regime monárquico, o Brasil passou a ser regido por uma constituição republicana (a partir de 1891). O voto não era secreto e era permitido somente aos homens acima de 21 anos. Mulheres e analfabetos (maioria da população), soldados e sacerdotes também estavam impedidos de votar, de modo que mesmo num regime republicano o voto era para poucos. Esse contexto possibilitou o domínio dos fazendeiros durante as eleições, pois as oligarquias estaduais se organizavam para fiscalizar os votos “prometidos”. Essa dinâmica ficou conhecida como “voto de cabresto”, uma das principais características da política nesse período (LEAL, 1986). Apesar da abolição da escravatura, a limitação de direitos civis dificultou a conquista de direitos sociais e de um Estado que garantisse a igualdade a toda a população. 10.3 Era Vargas (1930–1945) O governo do presidente Getúlio Vargas se iniciou com a Revolução de 1930. Ele trouxe avanços como a Constituição de 1934, que assegurava direitos políticos para a população e permitia o voto feminino (analfabetos permaneciam impedidos). Pautado no populismo e na propaganda nacionalista, o governo de Vargas buscou enfraquecer o poder das oligarquias cafeeiras e se centralizar no Executivo. Além disso, o Estado investiu no desenvolvimento da indústria nacional — por exemplo, com a criação da Petrobrás. No entanto, em 1937, iniciou-se a ditadura do Estado Novo, tirando o poder das instituições e centralizando as decisões políticas nas mãos do presidente até 1945. 10.4 República Populista (1945–1964) Durante o período da República Populista, o Estado voltou a reconhecer direitos políticos como o voto. Além disso, os representantes da população voltaram a ser eleitos pelo voto popular. A transferência da capital do País para Brasília e as reformas de base (reforma universitária, reforma agrária, reforma política) prometidas pelo presidente João Goulart acirraram as tensões políticas. Os setores conservadores da sociedade, influenciados pelo contexto internacional de disputas 45 entre governos capitalistas e governos socialistas, articularam uma reação para impedir um possível mandato de orientação comunista no Brasil. Deu-se início, em 1964, por meio de um golpe de Estado que impediu o presidente eleito João Goulart de concluir o seu mandato, a uma ditadura militar no Brasil. 10.5 Ditadura Militar (1964–1985) Ainda num regime republicano, a Ditadura Militar concentrou o poder nas mãos do Executivo. O Congresso Nacional foi fechado e o governo foi marcado pela perseguição a seus opositores, bem como pela censura à liberdade de expressão. Generais do Exército assumiram a presidência da República e muitos opositores foram obrigados a se exilar. A tortura foi prática recorrente como meio de desmantelar organizações políticas de orientações políticas distintas daquela do governo. Os únicos partidos políticos com permissão de funcionamento eram o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (Arena), emulando uma democracia que na prática não existia, as eleições eram manipuladas. 10.6 Nova República ou redemocratização (a partir de 1985) Com o fim do regime ditatorial, o Brasil passa por um processo de redemocratização. Partidos políticos voltar a atuar e em 1988 é criada a Constituição Federal que prevalece até os dias atuais. A Carta Magna foi criada num contexto político que visava à superação do autoritarismo e à garantia de direitos sociais para toda a população. Nesse contexto, o presidente da República e os representantes legislativos voltam a ser escolhidos pelo voto popular, o Congresso volta a funcionar e os analfabetos passam a ter direito ao voto. O Estado é colocado como o principal assegurador de direitos básicos como saúde, educação e moradia. Você pode considerar que, apesar de se caracterizar como um sistema político republicano, o Brasil passou por períodos em que o Estado Democrático de Direito não prevaleceu. Durante os seus dois regimes ditatoriais, o poder se concentrou na presidência, e o Poder Legislativo e o Judiciário foram sufocados. 46 10.7 Formas de exercício do poder Como você observou, o governo de um país pode alternar diversas formas de exercício do poder dentro de um mesmo regime. A seguir, você vai ver quatro das principais formas de exercício de poder: autoritarismo, republicanismo, democracia e anarquismo. Você deve considerar que, entre a definição teórica e a política na prática, há questões particulares de cada país que assume um tipo de regime. A democracia efetivada no Brasil possui um contexto histórico e social distinto daquele da democracia norte-americana, por exemplo. Aqui, você vai ver elementos fundamentais de cada modelo. Os governos autoritários se caracterizam, de modo geral, pela despolitização da população, o fim da soberania popular (por meio do voto) e a ausência de parlamento. Ainda que apresentem uma roupagem democrática, as instituições representativas são esvaziadas e o poder político se concentra numa pessoa ou grupo. São governos antidemocráticos, na medida em que não permitem a livre manifestação política. Além disso, o poder não é limitado. Atualmente, podem existir mesmo em regimes com eleições e diversos partidos políticos. O consenso é sobreposto pela autoridade do governo, que pode se manter utilizando instrumentos tradicionais da política, como o Exército e a burocracia (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998). Já os governos republicanos têm como principal característica sua estrutura baseada no direito do povo e na soberania popular. Ao contrário dos governos monárquicos, em que o chefe de Estado tem seu poder legitimado pela tradição e pelo direito hereditário, na República o chefe é eleito pelo povo de modo direito ou indireto. O governo é voltado para a coisa pública e o bem comum. A legitimação do poder pelo voto popular e uma legislação escolhida pelo povo por meio de um parlamento caracterizam os governos democráticos modernos. O estabelecimento de três poderes visa a instituir um equilíbrio de forças. O Poder Legislativo é responsável pela formulação das leis, enquanto o Executivo se encarrega da sua aplicação. A participação política da população se dá por meio do voto direto ou indireto, pois todos são iguais perante a lei na escolha de seus representantes legislativos e executivos. Os mandatos dos políticos possuem um período limitado e as eleições são marcadas pela disputa de mais de um partido político. Uma vez que é impossível que cada 47 indivíduo vote diretamente em cada questão coletiva, os representantes legislativos — eleitos pelo povo — assumem a tomada de decisão no parlamento. Cada regime democrático apresenta uma maneira de organizar seus três poderes. No presidencialismo, o Executivo (presidente da República) e o Legislativo são escolhidos pelo voto direito, como no caso do Brasil. Já no parlamentarismo, os deputados são eleitos pelo voto direto e posteriormente elegem o representante do Executivo (primeiro-ministro). No contexto democrático, o indivíduo assume o papel de cidadão. Assim, ele tem o direito de participar da vida política por meio de mecanismos de participação direta na tomada de decisões, como em plebiscitos sobre questões em comum, ou por meio da participação em organizações que influenciam as decisões políticas. Já o modelo anarquista apresenta uma visão política baseada na negação de toda autoridade e na liberdade dos indivíduos. O anarquismo implica a libertação de todo poder superior, seja ele ideológico, político, econômico ou jurídico (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998). Veja: A recusa do Estado por parte do Anarquismo está intimamente ligada à sua concepção de autoridade. O Estado, em toda a sua organização de pirâmide burocrática, é o órgãorepressivo por excelência. Como tal, priva o indivíduo de toda a liberdade, chamando unicamente para si a capacidade de agir e a possibilidade de definir a liberdade, impondo uma série de obrigações e de comportamentos a que o indivíduo não pode fugir. É isto que o Anarquismo pretende combater. Enquanto órgão de repressão, o Estado é visto pelo Anarquismo com capacidade de intervenção global na vida do indivíduo, na sua vida econômica, na sua existência social como também na sua capacidade de desenvolvimento ético e independente (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 95). Essa perspectiva parte da ideia de que toda autoridade é uma forma de opressão, por isso há uma negação do Estado e das leis. A burocracia estatal é fortemente criticada, mas o anarquismo vai mais além. Ele propõe que os indivíduos também se libertem do domínio religioso, que oprime por meio de doutrinas morais, e do domínio econômico, considerando o sistema de exploração capitalista como a perversão da liberdade humana. Ao mesmo tempo em que o homem, no anarquismo, deve viver sem um governo que oriente suas ações, os indivíduos devem se organizar socialmente a partir de ações livres e autônomas. A autogestão aparece como meio de socialização da propriedade privada e do poder político. Ou seja, o poder não deixa de existir; ele só deixa de estar concentrado no Estado (em forma de dominação) e passa a se 48 expressar na maior participação de cada indivíduo nas decisões políticas (CORRÊA, 2012). 11 A SOCIOLOGIA E O ESTUDO DA POLÍTICA A sociologia política estuda os sistemas políticos, as instituições do governo, as relações de poder que os indivíduos estabelecem entre si, a forma como uma sociedade delibera coletivamente decisões, entre outras questões relacionadas à dinâmica do poder e aos fenômenos políticos. A política é uma área de conhecimento humano que surgiu na Antiguidade Clássica. Até o século XIX, período em que as disciplinas das ciências sociais passaram a ser divididas, a sociologia, a educação, a economia e outras ciências estavam inseridas no pensamento político. Na Grécia Antiga, a política era compreendida a partir das ações dos indivíduos na pólis. Já na Idade Média, a política estava vinculada às disputas pelo poder, às guerras e à administração dos bens comuns. A nobreza e o clero compunham a elite social que tomava decisões. Foi só no século XIX que a política se associou ao debate sobre constitucionalismo e Estado de Direito. O estudo da política pela sociologia e pela ciência política se desenvolveu associando as relações de poder à esfera estatal. Nessa perspectiva, o Estado e as suas instituições se tornaram o principal objeto de estudo desses campos de conhecimento. Mas se durante muitos anos o poder foi analisado como fenômeno indissociável do Estado, com o passar do tempo novos estudos passaram a considerar que as relações de poder não se restringem ao contexto estatal. Assim, a política passa a ser considerada também nas relações cotidianas, nas microesferas da sociedade, bem como nas grandes organizações. 11.1 A sociologia e o exercício do poder O sociólogo alemão Max Weber (1994) contribuiu com o desenvolvimento da sociologia e da ciência política ao analisar o poder e as formas de dominação na sociedade. O exercício do poder, para esse autor, está relacionado à capacidade que um indivíduo/grupo tem de impor sua vontade aos outros. Já a dominação, uma forma de expressão do poder, reside na capacidade de se exercer autoridade sem que os 49 dominados resistam. Quem obedece-o faz acreditando ser sua própria vontade. Weber também apresenta três tipos ideais de dominação. Veja a seguir. Dominação tradicional: tem como base de legitimação os costumes e as tradições de determinada região/sociedade. Por exemplo: o patriarcalismo. Dominação carismática: tem como base de legitimação uma devoção afetiva a um senhor devido às suas qualidades. Por exemplo: um líder que é visto como herói, salvador e que tem seus apoiadores como discípulos. Dominação racional legal: tem como base de legitimação um estatuto, um conjunto de regras. A obediência não se dá a um líder, e sim às normas e leis estabelecidas. Por exemplo: burocracia e poder conferido a cada cargo. Na prática, a dominação pode apresentar características de um ou mais tipos. Os três conceitos são nomeados como ideais: são uma tipologia, uma ferramenta para se analisar a complexidade da vida real e para se identificarem as nuances da autoridade. A dominação racional legal é típica dos Estados modernos, que têm toda a sua organização baseada na racionalidade burocrática. O Estado moderno detém o monopólio do uso da força em determinado território. Ou seja, cada Estado possui os meios e está autorizado a exercer a violência em seus domínios. No entanto, o fato de o Estado ter esse controle não quer dizer que o uso da violência seja necessário para que o seu poder seja reconhecido (WEBER, 1994). O conceito de legitimidade de Weber é a chave para se entender que nas sociedades modernas a dominação do Estado acontece porque os indivíduos se submetem às regras sem que o uso da força física seja necessário. O uso potencial, e não efetivo, da violência confere legitimidade à dominação da sociedade pelo aparelho estatal. Assim, a noção de sistema político se refere à estabilidade do exercício do poder em sociedades complexas por meio de mecanismos sofisticados de dominação. Ao longo do século XX, esses mecanismos tornaram-se cada vez mais refinados. Os estudos políticos passaram a reconhecer que as estruturas de poder não estão apenas em órgãos do Estado, mas também em instituições sociais. Dessa forma, reconheceram que o poder ultrapassa a esfera estatal. O pensamento político de Weber foi fundamental para o estabelecimento de diversas teorias políticas e de 50 uma sociologia política que investiga, por meio de um olhar qualitativo, o sentido das ações e as crenças que orientam as formas de poder e dominação na vida moderna. Os primeiros estudos sociológicos sobre política se concentravam no poder do Estado. Ao longo do século XX, as análises sobre política consideraram as mudanças sociais e políticas, o processo de globalização e as questões relacionadas ao poder e às formas de governo. Foi com o surgimento da ideia de pós-modernidade, no final do século XX, que o Estado deixou de ser considerado o principal eixo de poder das sociedades complexas. A sociedade passou a ser vista como uma esfera repleta de centros de poder. Esse novo olhar sobre o poder e a política reconhece o peso da dimensão simbólica nos processos políticos, econômicos e culturais. Em outras palavras, a comunicação não é apenas um meio de expressão; é uma fonte de poder. O desenvolvimento da tecnologia, de espaços virtuais, também passou a ser considerado, visto que uma nova realidade exige novos conceitos. Ao adotar uma visão sistêmica da política, a sociologia reconhece diversos elementos que estão relacionados com o exercício do poder, como movimentos não partidários, sindicatos e grupos de pressão. Os regimes democráticos dão espaço para a manifestação política de diversos setores da sociedade, que muitas vezes influenciam as decisões e medidas adotadas pelo Estado. Esses setores buscam influenciar o poder público para que atenda a seus interesses (GOZETTO, 2008). Sindicatos e algumas organizações não governamentais (ONGs) realizam esse papel. Entre os principais grupos de pressão, na perspectiva da sociologia política, estão aqueles ligados à produção agrária, aos trabalhadores industriais, aos segmentos empresariais, a questões de gênero, raça, classe, meio ambiente, entre diversas pautas. (PORTELLA, 2009) Assim, a sociologia estuda temas como: fenômenos de natureza global, o modo como as lideranças exercem sua autoridade em diversos países e a maneiracomo a política é vista pelos indivíduos. Essa percepção de que o poder e a política se fazem presentes em diversas esferas da sociedade orienta a sociologia política a investigar quais mecanismos os indivíduos/grupos utilizam para fazer seus interesses prevalecerem. As formas de participação política, os movimentos sociais, os atores sociais que se destacam na esfera política e os processos decisórios, bem como a 51 política e as novas formas de comunicação (as redes sociais, por exemplo), são temas que estão na agenda de pesquisa da sociologia política contemporânea. 12 MODELOS DE DEMOCRACIA: DEMOCRACIA DIRETA, REPRESENTATIVA E PARTICIPATIVA O que você entende por democracia? Alguns a definem como “a presença de eleições”; outros afirmam que seja “um sistema de acordo com o qual a maioria decide”, ou um “governo feito pelo povo”. Cada uma dessas respostas tem um fundo de verdade, mas nenhuma, por si só, define o conceito por completo. Democracia é um conceito muito complexo, desenvolvido ao longo de séculos até que chegássemos à definição atual. Por ser proveniente de várias fontes históricas, sofreu inúmeras mudanças. A etimologia da palavra remonta ao grego: demos, que significa povo, e kratos, que significa poder. “O poder do povo”, portanto, é a definição mais primitiva. Define-se o Estado Democrático de Direito com base no respeito à pluralidade de ideias e no amplo debate. (PORTELLA, 2009) Na democracia, o governo é descentralizado, as eleições são livres e periódicas, e é permitido que o cidadão tenha participação política na sociedade, direito que lhe é assegurado pela própria Constituição Federal, segundo a qual “todos somos iguais perante a lei” 12.1 Democracia direta e as suas principais características O sistema segundo o qual os cidadãos debatem em público e deliberam questões relativas aos seus interesses pessoais ou coletivos pode ser chamado de democracia direta. A democracia como regime político teve origem na Grécia, mais precisamente em Atenas, após um período de muitas crises e regime ditatorial. Naquele tempo, a população se reunia em assembleias populares, que aconteciam nas ágoras — praças públicas — para discutir e decidir sobre leis e questões de interesse de todos (Figura 1). 52 Fonte: www.vivadecora.com.br Algumas correntes defendem o surgimento da democracia já nas organizações tribais, quando teria sido utilizado para a tomada de decisões. O entendimento predominante, no entanto, é que tenha surgido na civilização grega. Na visão dos gregos, o exercício de opinião estava restrito aos membros da mesma cidade-Estado, reservando, assim, essa deliberação a uma parcela específica da população. (PORTELLA, 2009) Em regra, todo cidadão poderia falar ao povo, bastando estar em dia com os direitos políticos, ou seja, não dever ao tesouro do Estado, ter bons costumes, honrar os seus pais, obedecer às convocações militares e não ter covardia, ressalvando aqui a exclusão de mulheres e escravos, por não serem considerados cidadãos. A democracia ateniense atribuiu ao povo o poder de eleger os governantes e tomar importantes decisões como instituição de novas leis, declaração de guerra e tratados de paz. A democracia direta tem como uma das suas principais características o fato de a população não delegar o seu poder de decisão, pois o cidadão expressa, de maneira pessoal e direta, a sua opinião. Era assim que aconteciam as assembleias atenienses nas praças públicas, de forma horizontal. Esse modelo funcionou na Grécia Antiga da forma como foi criado, pois o seu contingente populacional era pequeno, permitindo que se reunissem em praça pública, de modo que todos pudessem participar na assembleia. À medida que as sociedades se avolumavam numericamente e a organização da sociedade se tornava mais complexa, o sistema 53 da democracia direta foi se tornando inviável. Afinal, como se viabilizaria, por exemplo, a contabilização dos votos de uma população abundante? Assim, em razão da impossibilidade de se operacionalizar a democracia direta em grandes sociedades, surgiu a chamada democracia representativa. Na atualidade, o modelo aplicado na Suíça é o maior exemplo de democracia semidireta que existe. Ele é assim classificado porque coexistem dois sistemas democráticos: o direto, em que a população participa diretamente da tomada de decisões, e o representativo, por meio dos deputados eleitos. (PORTELLA, 2009) O sistema suíço prevê uma prática de consulta popular bem intensa, pois ao menos quatro vezes ao ano os suíços recebem, nas suas residências, envelopes requerendo a opinião dos cidadãos em determinados assuntos. Ou seja, nesse modelo, a participação da população sobre a política do País é muito forte, característica inerente à democracia direta. No Brasil, a democracia direta se manifesta por meio de instrumentos ainda pouco utilizados, apesar de normatizados na Constituição Federal, que assim define (BRASIL, 1988): Art. 14 A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I — plebiscito; II — referendo; III — iniciativa popular. 12.2 Modelo da democracia representativa e a sua aplicação Atualmente, quando falamos em democracia, fazemos referência à democracia representativa na maioria das vezes. Esse modelo elege os seus governantes por meio do voto popular por um período de tempo determinado, em que o cidadão delega o seu poder de decisão para uma pessoa que o representará perante as decisões políticas, ou seja, legitimado pela soberania popular. De forma bem sucinta, esse seria um bom conceito para democracia representativa, sem desconsiderar a existência da democracia direta. No entanto, como visto anteriormente, ela se torna de difícil operacionalização em grande escala. De forma majoritária, o conceito moderno de democracia representativa é conhecido pela forma de democracia eleitoral e plebiscitária existente. Essa noção de democracia está diretamente ligada ao ideal de 54 participação popular que começou a ser difundido ainda na Grécia Antiga. Nas monarquias absolutistas, durante a Idade Média, a representatividade começou a se formar, dando início ao que temos hoje como modelo de representação. Naquele tempo, os reis convocavam grandes assembleias para tomar importantes decisões. Como a população já era mais numerosa e encontrava-se espalhada, as localidades enviavam representantes para as assembleias. Essas pessoas corriam a comunidade buscando reclamações e solicitações endereçadas ao rei. As reclamações e solicitações eram lidas pelo representante na presença de todos, sendo que o rei respondia a cada uma das questões propostas e, de posse das respostas, o representante devolvia o resultado para a comunidade. (Mariana Portella, 2009) A forma da representatividade evoluiu quando os reis começaram a precisar de mais recursos para manter a máquina do Estado, que dependia diretamente do consentimento das pessoas. Foi quando surgiu, mais precisamente na Inglaterra, a decisão do rei para que os representantes tomassem decisões em nome da comunidade. Com o passar dos séculos, o poder dos representantes só aumentou, e a questão dos representantes acabou se associando, de forma definitiva, ao conceito de democracia que se entende no mundo ocidental. O Brasil é uma democracia representativa, apesar de possuir instrumentos da democracia direta à disposição. Podemos depreender essa definição do texto do art. 1º da Constituição Federal, que trata o Brasil como uma república democrática, em que todo poder pertence ao povo, que pode exercê-lo diretamente ou por meio dos seus representantes. Para Bonavides (2000, p. 354), tal modelo tem, hoje, como principais bases: A soberania popular, o sufrágio universal, a observância constitucional,o princípio da separação dos poderes, a igualdade de todos perante a lei, a manifesta adesão ao princípio da fraternidade social, a representação como base das instituições políticas, limitação de prerrogativas dos governantes, Estado de Direito, temporariedade dos mandatos eletivos, direitos e possibilidades de representação, bem como das minorias nacionais, onde estas porventura existirem. Um elemento muito importante para a democracia representativa são os partidos políticos, que, além de mediar os interesses dos órgãos representativos, também possuem o fator decisivo na intermediação entre os cidadãos eos seus representantes, pois existe a necessidade, ao menos no Brasil, do mandato partidário. A Figura 2 mostra um exemplo de plenário.
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