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Apoio Institucional:
Projeto Editorial
Isio Ghelman
Ilustração
Félix Reiners
Produção Gráfica
PIC Comunicação
Apoio Institucional
Centro de Integração Empresa-Escola - CIEE
FICHA CATALOGRÁFICA
N64n Niskier, Arnaldo
Na ponta da língua : total / Arnaldo Niskier;
ilustrações de Félix Reiners. - São Paulo : CIEE,
2009.
623p. ; il.
1. Língua Portuguesa - uso correto 2. Gramática
portuguesa I. Niskier, Arnaldo II. Reiners, Félix
III. Título
CDU : 800.6 (81)
Entre aqueles que, por ofício ou arte, lidam diariamente com
os mistérios e armadilhas da língua portuguesa, corre uma frase que,
com certo toque de ironia, ilustra bem as dificuldades enfrentadas
por quem pretende falar e escrever com clareza: o que fazer com um
idioma em que se usa um “pois não” para dizer sim, e um “pois sim”,
para dizer não?
Ironias à parte, é preciso reconhecer que dominar o português
não é tarefa fácil, vários fatores conspiram para enfraquecer sua
preservação e identidade do último idioma nascido do latim: a
má qualidade do ensino; o baixíssimo índice nacional de leitura;
a invasão de novas palavras e modos de expressão, intensificada
pela globalização; o desprestígio entre seus próprios falantes; e
– por último, mas não menos importante – o terror que desperta
nos alunos, soterrados por milhares de regras, exceções, paradoxos
e, agora, pelas mudanças introduzidas pela mais recente reforma
ortográfica.
O CIEE sempre se preocupou com o tema, desenvolvendo
cursos de educação a distância; colunas veiculadas na nossa
revista Agitação e a série de livros Na ponta da língua reafirma sua
confiança no interesse do estudante em compensar, com esforço
pessoal, as reconhecidas deficiências de seu aprendizado e busca
sempre auxiliá-lo nessa empreitada.
Este Na ponta da língua total, já adaptado à reforma
ortográfica, mostra que cultivar o idioma pátrio pode ser nada
complicado e até divertido. Com humor e domínio do tema, o
professor Arnaldo Niskier oferece valiosas pílulas de conhecimento,
explicando de maneira clara as normas da gramática, entremeadas
com trechos de grandes escritores e curiosidades sobre a comunidade
lusófona.
Uma primeira
palavra
Afinal, se o grande desafio é despertar no jovem o interesse pela
língua portuguesa, contamos com um poderoso aliado: o estudante
está cada vez mais consciente de que o domínio do próprio idioma
é um valioso investimento para o sucesso na futura carreira, ao abrir
uma enorme janela de possibilidades, pois propicia melhor qualidade
de leitura, fortalece o espírito crítico e pavimenta novas perspectivas
profissionais, ao melhorar a comunicação, tanto oral como escrita.
Assim, caro leitor, percorra as páginas seguintes e divirta-se
aprendendo. Ou, se preferir, aprenda divertindo-se – já que este é
um clássico caso em que a ordem dos fatores não altera o resultado.
Boa leitura.
Ruy Martins Altenfelder Silva
Presidente do Conselho de Administração do
Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE/SP e
presidente do Conselho Diretor do CIEE Nacional.
“Oh! Bendito o que semeia livros ... / livros à mão cheia ... /
E manda o povo pensar!” Este verso do nosso grande poeta Castro
Alves, escrito há muitos e muitos anos, mantém-se mais atual do que
nunca e reflete bem o pensamento e a filosofia que norteia as ações
do Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE: criar condições para
o povo pensar, em especial as futuras gerações de profissionais,
é o único caminho para o desenvolvimento de uma nação de fato
independente.
É verdade que não é apenas o livro o único instrumento
capaz de construir o conhecimento e solidificar as estruturas de um
povo. Existe a oralidade, responsável por manter tradições seculares
no seio de sociedades que sequer conheceram a forma escrita de
expressão. E dentro dessa maneira de comunicação, atualmente os
meios podem ser os mais variados, como os eletrônicos, onde se
destacam a televisão, o rádio, o telefone, a Internet, entre muitos
outros.
Mas o certo é que a base de todo o nosso conhecimento
e inteligência aplicada está no registro escrito. Por mais que os
arquivos sejam digitais, seu conteúdo inevitavelmente se consolida
em relatórios escritos, documentos formalizados por meio da língua.
É por isso que o poeta Castro Alves complementou seus versos
dizendo: “O livro caindo n’alma é germe – que faz a palma, é chuva
– que faz o mar.” A escrita é uma semente que germina muito mais
do que uma simples mudinha, transformando-se em árvore que
dará novos frutos e sementes; muito mais do que uma simples gota,
gera uma cachoeira com energia suficiente para romper obstáculos e
esculpir novos caminhos, mesmo em solo árido e pedregoso.
E o livro, assim como qualquer outra forma de comunicação
escrita, é dependente da constituição das regras gramaticais da
língua que, no caso do português, são muitas e bastante complexas.
Se o idioma inglês prescinde de acentos, o português os utiliza em
profusão. Se em algumas línguas as opções linguísticas são poucas,
no português elas são muitas e de estilos muito diferentes.
A beleza da língua
A atual reforma ortográfica do nosso idioma, que entrou em
vigor recentemente, aboliu acentos e reduziu regras para tornar a
língua portuguesa do poeta Olavo Bilac e de todos nós “menos inculta
e mais bela”.
As regras que estão em vigor são apresentadas neste livro com
a clareza e o estilo coloquial de Arnaldo Niskier, um acadêmico que
ensina a língua sem academicismos. Apenas com aplicações práticas.
Um livro que reúne o conteúdo de seus quatro volumes anteriores,
acrescido de algumas novidades.
Uma publicação que daria ao próprio Olavo Bilac, se estivesse
vivo, maiores motivos para justificar outros versos do soneto Língua
Portuguesa: “Amo o teu viço agreste e o teu aroma / De virgens selvas
e de oceano largo! / Amo-te, ó rude e doloroso idioma...”
Luiz Gonzaga Bertelli
Presidente Executivo do Centro de Integração
Empresa-Escola – CIEE e presidente da Academia
Paulista de História – APH.
Simplificação. Esta parece ser a palavra de ordem para as
coisas do cotidiano mais recente. A sociedade, de maneira geral,
busca formas de transformar a prática do dia a dia em algo menos
complexo, mais direto e objetivo, com menos voltas e redemoinhos.
Quando a tecnologia e, dentro dela, mais especificamente a
informática invadiu nosso ambiente, ficamos mergulhados em um
mundo repleto de novas possibilidades e facilidades, envolto em
uma propaganda que se mostrou, ao longo dos tempos, enganosa.
Trata-se da promessa de que, com a informatização dos meios
de produção e de administração, o ser humano teria mais tempo
livre para o lazer e o tão sonhado ócio. Surgiram até teorias sobre
o ócio criativo, que deram conta de direcionar o tempo livre que
teríamos para algo profundamente produtivo para o indivíduo e,
consequentemente, para toda a sociedade.
Tudo isso aconteceria em decorrência da simplificação dos
processos, que passariam a ser realizados com os recursos da
tecnologia, muito mais ágeis e eficientes do que as mentes e as mãos
humanas poderiam dar conta.
Mas a promessa não se concretizou. As inovações tecnológicas
chegaram, se reinventaram, evoluíram, sem que o ócio se efetivasse
na vida das pessoas. E é neste sentido que cabe uma reflexão
importante: qualquer que seja a evolução ou a simplificação dos
fatos da vida, ela dependerá sempre, e felizmente, das pessoas.
Pessoas que interagem e criam diferenciais por meio da
língua, da comunicação. Este é o fator distintivo de todas as
civilizações: a composição de uma língua própria, mantida em
sua essência através dos tempos, mas renovada a cada dia como
elemento vivo da sociedade.
Simplificar para
renovar
Simplificação. Esta também foi uma das premissas para que a
língua portuguesa, falada em diversos países ao redor do mundo, fosse
reformada. Unificação. Outro motivo para que o idioma português
recebesse algumas novas regras e pudesse ser comum atodos os seus
“parlantes”.
No entanto, como uma nova ortografia encontra resistências
nos cérebros adormecidos pela prática rotineira, o acadêmico Arnaldo
Niskier encontrou uma forma de simplificar as novidades e relança
agora um compêndio com as quatro edições de Na ponta da língua,
atualizadas com as novas regras ortográficas.
Um trabalho de largo fôlego, que mais uma vez recebe total
apoio institucional do Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE,
uma instituição empenhada em simplificar a vida profissional do
jovem estudante, oferecendo oportunidades de estágio em todo o
Brasil e conhecimentos para aumentar sua empregabilidade.
Paulo Nathanael Pereira de Souza
Presidente Emérito do CIEE e presidente da
Academia Paulista de Educação – APE.
Introdução
Trata-se de uma feliz iniciativa do CIEE/SP. Com o grande
sucesso que representou o lançamento, de forma parcelada,
dos quatro livros, sob o título Na ponta da língua, distribuídos a
estagiários e aprendizes, tornou-se necessária a edição, num só
volume, dos cerca de 2.300 verbetes constantes desta série, o que
ora fazemos com imenso prazer.
Aqui está consolidada esta colaboração ao aperfeiçoamento do
uso da língua portuguesa, considerada pelo escritor José Saramago,
prêmio Nobel de Literatura, como “muito linda”. Com a adoção do
Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa, a partir
de 2009, tornou-se mais imperiosa do que nunca a necessidade de
dominar os seus conceitos básicos, como é o nosso propósito. Todos
os verbetes aqui colocados obedecem aos postulados do Acordo, o
que torna o seu uso oportuno e adequado.
Os jovens leitores irão reparar, nesta obra, que procuramos
construí-la com frases correntes e uma pitada de bom-humor,
como é do agrado do nosso público, constituído basicamente de
estagiários e aprendizes, espalhados em todo o País.
O Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE, que é uma
entidade filantrópica, oferece esta colaboração ao sistema nacional,
como forma também de valorização da língua portuguesa, hoje
falada por 235 milhões de pessoas que constituem, em oito países,
a comunidade lusófona.
Arnaldo Niskier
da Academia Brasileira de Letras – ABL e
presidente do CIEE/Rio.
Fruta indigesta
“Comeu tanta jaboticaba que passou
mal.”
A fruta já é pesada, escrita de maneira
errada fica mais pesada ainda.
Frase correta: Comeu tanta jabuticaba que passou mal.
A língua portuguesa tem sofrido agressões vergonhosas.
Não é o povo que fala do seu jeito peculiar, mas
profissionais liberais, formados em nível superior, que não
sabem se expressar, escrevem mal e são pouco afeiçoados à
leitura. Quem não lê, como é sabido, dispõe de um vocabulário
extremamente limitado. Ao lado do estímulo à leitura, com a
valorização das bibliotecas públicas,
infelizmente em número insuficiente,
em nosso País, devemos contar com
o apoio dos grandes veículos de
comunicação de massa, como agora
se faz, divulgando sem mistério os
segredos da língua portuguesa.
11
X X X
Menoridade
Ainda não posso dirigir,
pois sou menor.
Isso mesmo, ninguém
é “de menor” e muito
menos “de maior”. A
preposição de nestes
casos é totalmente
dispensável. k
Exagero
“O aluno queria ter uma ortografia correta.”
Veja: Ortografia já quer dizer grafia correta, portanto “ortografia
correta” é um pleonasmo, uma redundância.
3
Desrespeitoso
“Respondeu mal ao pai e depois ficou
à sentir remorso.”
Não acredito nesse remorso. Quem
usa acento grave indicativo de crase
antes de verbo (“à sentir”) não é
sincero.
Aprenda: não se craseia o a antes de
verbo.
Período correto: Respondeu mal ao
pai e depois ficou a sentir remorso.
Recomendação Médica
“O médico recomendou repouso durante a convalescência”
A palavra convalescência não faz parte do novo Vocabulário
Ortográfico - Só há convalescença
Frase correta: O médico recomendou repouso durante a
convalescença.
Andança inútil
“Chegava sempre atrasado ao
trabalho porque ia de a pé.”
Merecia ser descontado. Não
diga nem escreva: “ia de a
pé”.
Frase certa: Chegava sempre
atrasado ao trabalho porque ia
a pé.
Atenção: também não se deve
usar “de a cavalo” e sim a
cavalo.
Acertando o
feminino
Temos que acabar com os
marajás e as maranis do serviço
público.
Essa frase, que certamente já foi
proferida por algum político em
campanha eleitoral, apresenta o
feminino correto de marajá, que
é marani, e não “marajoa”, nem
“marajoara”.
=
=
=
Tratar mal
O patrão costumava destratar seus empregados. João ficou zangado
e quis distratar o contrato de trabalho.
Destratar é insultar, tratar mal.
Distratar é desfazer, romper (um contrato).
4
Situação problemática
“João ficou extático ao ver o seu estrato do banco.”
Pobre rapaz! Está tudo errado. As palavras todas inadequadas
(extático / estrato) e, certamente, ele sem um tostão.
Observe:
Extático – êxtase, contemplativo
Estático – parado durante algum tempo
Estrato – estender para cima, tipo de nuvem
Extrato – documento bancário
Período correto: João ficou estático ao ver o seu extrato do banco.
Em Portugal, berço da nossa língua, certas palavras
têm um significado. No Brasil, hoje com 183 milhões
de habitantes, as mesmas palavras, além de serem
pronunciadas de outra forma, também apresentam
significado distinto. É o caso, para dar só um exemplo, da
palavra rapariga. Recomenda-se cuidado, pois, ao recorrer ao
dicionário, o chamado “pai dos burros”, quando se for examinar
esta ou aquela palavra. Não se deve comer gato por lebre.
22
Uma corrida
“Corre o médico e o massagista
para socorrer o jogador do
Flamengo.” (TV Globo, 25/10/97).
Já não bastou a desgraça de o
Flamengo ter perdido por 4x0
do Internacional. O locutor
global agrediu o idioma,
deixando de usar corretamente
o verbo: Correm o médico e o
massagista...
R
G
Cuidado com a disenteria
Se o Severino pedir a “sua chefa” para sair mais cedo para ir à
Maternidade porque sua mulher foi internada, não terá autorização,
pois “a chefa”, só como piada. O certo é a chefe, ou o chefe.
A mulher de Severino deu à luz um menino saudável, isto quer dizer
que nasceu um bebê. A mãe dá à luz, isto é, dá o bebê ao mundo.
Severino ficou tão nervoso que teve disenteria. Dor de barriga
mesmo! Disenteria é uma palavra cuja grafia suscita dúvidas, até
porque a maior parte das pessoas pronuncia o primeiro e com som
de i. Mas não duvide, a grafia correta é disenteria.
Privilégio ou previlégio?
Conseguir um emprego hoje é um privilégio.
Escreva sempre assim, pois caso contrário ficará
desempregado.
5
Fluminense
Já se conhece a verdadeira causa do rebaixamento do Fluminense
F.C., do Rio de Janeiro, para a segunda divisão. Foi o cartaz afixado
por sua torcida, na sede de Álvaro Chaves: “Parabéns presidente
pelo seu trabalho. Pena que o senhor está sercado por pessoas que
não merecem está ao seu lado.” O certo: “Parabéns, presidente, pelo
seu trabalho. Pena que o senhor esteja cercado por pessoas que não
merecem estar ao seu lado.” Se o português está ruim, imaginem o
futebol.
TV Educativa
Uma professora de Vitória
conversava com o apresentador
do programa Um salto para
o futuro, da TVE do Rio: “Por
que ‘houveram’ tantas coisas
no caminho?” Cheguei a passar
mal. O nome do programa
deveria mudar para “Um salto
para o passado”. Isso é o que se
chama ensinar errado.
Frase correta: Por que houve
tantas coisas no caminho?
Cafajeste
Você é um cafajeste!
Calma, leitor, isto é apenas
um exemplo. Se você quiser
insultar alguém por escrito,
escreva sempre cafajeste
(com j); do contrário, o
insulto sairá pela culatra.
Bacalhau
Há uma comida que faz o maior
sucesso: é o bacalhau à Gomes de
Sá, adorado pelos portugueses.
Esse a é craseado, o que sempre
acontece quando está implícita a
expressão “à maneira de”. Se errar
o acento, é indigestão na certa.
Educação pela TV
“Ó xente, my God, eu lhe ajudo.
Eu lhe amo.
Eu lhe respeito.”
Uma telenovela da Globo fez
essa mistura infernal de inglês e
uma equivocada regência verbal.Abusa-se do “lhe”, esquecendo-
se o pobre verbo transitivo direto.
Quem ajuda, ajuda alguém.
Quem ama, ama alguém. Quem
respeita, respeita alguém. Assim,
o certo é: Eu o ajudo. Eu o amo.
Eu o respeito. O resto é ignorância
propriamente dita.
a
a
a
A hora da fome
Meio-dia e meia é a hora do almoço. Jamais diga “meio-dia e
meio”. Meio é advérbio (invariável), e meia é a metade, a metade
da hora, isto é, 12 horas mais meia hora. Preste atenção para falar
certo ou você não matará a fome.
6
Na residência paulista do Morumbi, encontrei uma vez
o ex-presidente Jânio Quadros. Já havia abandonado
a política. O ambiente era propício, por isso perguntei-
lhe sobre o que talvez tenha sido a sua frase mais famosa.
Resposta: “A imprensa inventou o “fi-lo porque qui-lo”.
Minha frase foi outra: “Fi-lo porque quis.” Nota-se que foi
utilizada a ênclise (incorporação de um vocábulo átono ao que
vem antes, pronunciando-se como um só).
33
dAcidente e
incidente
O funcionário da fábrica sofreu
um acidente. Todos os seus
colegas lamentaram o incidente.
Preste atenção:
Acidente – desastre
Incidente – acontecimento,
episódio
Perturbação
“Brigou com a mulher em
casa e chegou ao trabalho
meio pertubado.”
Cuidado! O certo é
perturbado, senão a
perturbação fica ainda
maior.
Procurando tu
A música popular brasileira faz
sucesso no mundo inteiro. Pena
que determinadas letras agridam o
vernáculo de forma tão frontal, como
numa música bastante conhecida:
“Morena diga, onde que tu tava,
passei a noite procurando tu.”
O certo seria: “Morena, diga, onde
você estava...”
Cuidado com a trombada
A Linha Amarela veio ao encontro das expectativas do povo
carioca, já o obelisco construído no final de Ipanema foi de
encontro à vontade dos moradores da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Aprenda: ao encontro de significa a favor de, no mesmo sentido, e
de encontro a significa no sentido oposto, contra.
7
Por amor ou desamor?
Observem o diálogo das personagens Fernando e Milena da novela
Por amor, que foi transmitida, pela TV Globo, em 1997.
Fernando: “Aprendi que não se deve chegar muito perto do fogo.”
Milena: “Adorei o comentário, entre eu e o fogo.”
Os pronomes eu e tu precedidos de preposição (a, entre, até, etc.)
transformam-se em mim e ti. Deveria ter sido dito pela Milena:
“Entre mim e o fogo”.
Há exceção quando funcionam como sujeito do verbo no infinitivo
que se segue. Exemplo: Isto é para eu fazer.
Acertando no sorvete
“Aproveitando o calor, vá a uma
sorveteria, peça um sorvete de
frocos.”
Muito bem! Tanto faz frocos ou
flocos. As duas palavras existem
e constam tanto dos dicionários
quanto do Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, da ABL.
Ultraje ao ouvido
A Sadia faz uma publicidade de lascar na televisão.
Utilizando o conjunto Ultraje a Rigor, emprega o
seguinte refrão: “A gente somos inútil”. Seríamos inúteis
se ficássemos calados diante dessa triste concordância.
A gente é útil, falando corretamente a língua
portuguesa.
Vem pra Caixa você também!
É um bom convite? Não! O certo é Venha para Caixa você também!
ou Vem pra Caixa tu também! Os criadores da lamentável frase
argumentam, simploriamente, que o vem é mais eufônico. Ora, se
a nossa língua fosse se guiar apenas e tão somente pela eufonia
para estabelecer suas regras, certamente, não teríamos os verbos
abundar e disputar.
C
C
C
C
C
C
8
Você precisa
saber
A expressão ipso facto
significa por isso, pelo
mesmo fato.
A greve do magistério
causou, ipso facto, prejuízo
aos alunos que perderam
muitos dias de aula.
Um dia, recebi um telefonema do meu querido amigo
Roberto Carlos. Ele queria saber se poderia usar, na
mesma quadra de uma de suas composições, pronomes
misturados da 2a e 3a pessoas. Mesmo sabedor da liberdade
literária, que é dada aos poetas, disse ao nosso maior
cantor que era preferível acatar a concordância pronominal,
empregando em cada quadra um só tratamento. É isso aí, bicho.
44
Mesmerizar
Quem não aprecia a revista
Veja? Às vezes, entretanto, os
seus redatores exageram. No
número de domingo, 16/11/97
(página 108), foi empregado
o verbo mesmerizar com a
maior tranquilidade. Procurei
no Aurélio, no Caldas Aulete,
no Antenor Nascentes, nada.
Agora, já tem no novo
Vocabulário Ortográfico.
Carne fraca
“A dona de casa comprou
2 Kgs. de carne.”
Cuidado! O símbolo de
quilograma escreve-se com
letras minúsculas e sem o
s de plural, nem ponto na
abreviatura kg.
O mesmo se aplica a outras
unidades de medida como: 6
km, 25 cm, 10 t, 9 l, 153 m, etc.
Curiosidade
O poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, que foi
apaixonado por Marília, conhecido pelo pseudônimo de Dirceu,
era português, nascido na cidade do Porto, em 1744. Não chegou a
casar com sua amada porque aconteceu a Inconfidência Mineira e
ele foi condenado ao degredo (1792), morrendo, em Moçambique,
em 1810.
Tráfego e
tráfico
Quem viaja, não gosta
de tráfego nas estradas.
Tráfico é de drogas,
sempre desaconselhável.
\
9
Verbo querer
“Se eu quizesse ele voltava pra mim.”
Escrevendo deste modo, não! As diferentes formas do verbo querer
são sempre escritas com s (quis, quisesse, quiseste, etc.).
Período correto: Se eu quisesse ele voltava pra mim.
Eu te amo você
A música com este verso pode
ser gostosa e a cantora Marina
excelente, mas os autores, em
geral, precisam pensar um
pouco mais na língua pátria e
não esquecer a concordância.
É uma tremenda paulada nas
nossas cabeças. Não podemos
e não devemos misturar os
pronomes.
Obrigado ou obrigada?
As mulheres devem dizer obrigada, os homens obrigado.
O sexo de quem fala ou escreve é que determina o uso da palavra no
masculino ou no feminino.
$ $ $
Plano real
O eminente político alertou a população sobre o perigo iminente
de quebra da normalidade democrática, quando surgiram os
problemas com a estabilidade da nossa moeda.
Cuidado ao usar as palavras eminente e iminente — elas são
parônimas (têm grafia parecida). Preste atenção:
Eminente – célebre, notável, ilustre.
Iminente – aquilo que está para acontecer, próximo.
Infração ou
inflação?
“As últimas notícias dos jornais
têm deixado o Sr. Antônio
preocupado com a infração do
seu dinheiro.”
Errado, infração é violação de
uma lei, transgressão.
O certo é inflação –
desequilíbrio econômico,
o bicho-papão da nossa
economia.
10
A apresentadora Xuxa Meneghel explodiu de felicidade
quando anunciou, na TV Globo, a gravidez sonhada. A
primeira pergunta do Faustão foi se ela iria parar de fazer
o seu programa. Resposta: “Só por uns tempos, para poder
xuxar a criança, depois do nascimento.” Assim, ao lado do
bebê, nasceu também mais um verbo na língua portuguesa. O
xuxar certamente virá para ficar.
55
Cassetada
No programa Casseta e Planeta, da TV Globo,
na Terça Nobre de 2/12/97, a atriz Maria Paula,
falando sobre Nova Iorque: “É uma cidade que
tem muitos arranha-céu”. Logo em seguida,
colocou pior ainda: “muitos arranhas-céu”.
O plural de arranha-céu é arranha-céus.
A origem deste substantivo composto é a
tradução do inglês sky-scraper, nome dado
aos prédios muito altos. Faz-se o plural apenas
da segunda palavra, céu, porque a primeira
arranha é verbo e permanece inalterada.
Exceção: quando são dois verbos, o segundo
vai para o plural.
Exemplo: O lambe-lambe tirava retrato na
praça. O plural: Os lambe-lambes tiravam
retrato na praça.
Raspadinha
Bigode se rapa ou se raspa?
Bigode se rapa, assim como barba, axilas, pelos em geral. O que se
raspa é parede, porta, taco e, agora, até bilhete de loteria.
Você precisa saber
Escreva e diga:
Chegou aos dez (minutos) para as dez e não “às dez para as dez”
porque se refere a minutos, portanto, não cabe às (feminino), que
é usado no caso de horas.
11
12
Parada geral?
Na manhã de 2 de maio, o locutor de uma conhecida estação
de rádio saiu-se com a seguinte pérola: “Se houver a greve dos
caminhoneiros os postos de combustíveis serão prejudicados.”
Preste atenção: nas palavras compostas, nas quaishá preposição
entre elas, somente a primeira deverá ser pluralizada.
O posto de combustível – os postos de combustível.
O comunicador deveria ter dito: Se houver a greve dos
caminhoneiros os postos de combustível serão prejudicados.
Férias
Entrar em férias ou entrar de
férias?
Para a língua portuguesa,
tanto faz! Para o patrão,
o importante é que você
descanse e volte com bastante
disposição para o trabalho.
Estupro
“O marginal foi preso por
crime de estrupo.”
Além de ser um crime bárbaro,
não existe a palavra “estrupo”.
O nome do delito é estupro.
Frase correta: O marginal foi
preso por crime de estupro.
z
Acidente doméstico
“A empregada queimou a tauba de passar roupa.”
Pudera! Até o ferro ficou com raiva. A palavra “tauba” não existe —
é um vício de linguagem. O vocábulo certo é tábua.
Frase correta: A empregada queimou a tábua de passar roupa.
12
Cai não cai
“Quebrou a perna e precisou usar moletas.”
Não vai conseguir amparo para andar com “moletas”.
Esta palavra foi usada inadequadamente.
Veja:
Moleta – pedra de mármore para moer tinta; figura vazada no
centro e forma de estrela
Muleta – bastão de apoio para os coxos
Período correto: Quebrou a perna e precisou usar muletas.
Houve um tempo, na educação brasileira, em que a
utilização de antologias ajudava muito a valorizar a nossa
literatura. Pequenas biografias, somadas umas às outras,
compunham um harmonioso panorama dos nossos mitos.
Ninguém saía da escola sem saber algo sobre os maiores
escritores brasileiros e portugueses. As antologias sumiram.
Perdeu com isso a nossa cultura.
13
66
Mau despertar
“Quando me acordei estava só.”
O verbo acordar, no sentido de despertar do sono, não é reflexivo.
O verbo acordar-se (reflexivo) significa estar de acordo.
Período correto: Quando acordei estava só.
O “h” da questão
“Os seus contos eram ilariantes.”
Escrever ilariante seria hilariante, se não fosse trágico.
Para quem não se lembra: hilariante significa engraçado, que
produz alegria.
Preste atenção: não confunda hilariante com hilário (relativo a hilo
e traficante de cavalos e burros) ou hilária (planta gramínea) –
Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa de Caldas Aulete.
No Novo Aurélio – O Dicionário da Língua Portuguesa / Século XXI
a palavra hilária é, também, uma planta, mas o vocábulo hilário
aparece como sinônimo de hilariante.
E E E E E
13
Aniversário do vovô
Eram tantas as velas do bolo que
o senhor pediu aos netos que
assoprassem para ajudá-lo a apagá-las.
E os netos gostaram muito da ideia!
O verbo correto é assoprar ou soprar?
Os dicionários registram os dois verbos
com o mesmo significado: agitar com
sopro, dirigir o sopro sobre o fogo para
apagar ou avivar.
Portanto, já sabem: soprem ou
assoprem as velas do bolo de seu
aniversário.
Exportação/importação
O Brasil exporta milhões de sacas de arroz durante o ano.
O Rio de Janeiro importa carne da Argentina.
Aprenda:
Exportar é vender para fora de um município, estado ou país.
Exemplo: Teresópolis exporta couve-flor para o município do Rio de
Janeiro.
Importar é trazer de fora para um município, estado ou país.
Exemplo: Os brasileiros importam produtos de beleza de Paris.
Entretanto, cuidado! Seria redundante dizer que “O Brasil importou
petróleo de outros países”. Se importamos só pode ser de outro país,
a não ser que se nomeie o país. Exemplo: Importamos petróleo da
Arábia Saudita.
1 1 1
14
Maldade pura
“Não se deve assustar
crianças pequenas
com bichos-papão.”
“Bichos-papão”?
Esses, sim, são
capazes de assustar
qualquer criança.
O plural do nome
composto bicho-
papão (substantivo
+ substantivo) é
bichos-papões,
os dois termos são
pluralizados.
Período correto: Não
se deve assustar
crianças pequenas
com bichos-papões.
Indigestas
1 – “Geraldo comeu um sanduíche de mortandela
na hora do recreio e passou tão mal que teve de
voltar pra casa.”
Claro! O certo é mortadela. Mortandela, nem
pensar, dá indigestão!
2 – “João pediu um mixto quente na lanxonete da
esquina.”
Não foi atendido. Nem poderia...
O certo é misto-quente e lanchonete.
Diplomacia
O embaixador e a embaixatriz compareceram às festividades em
homenagem ao Centenário da Academia Brasileira de Letras. A
embaixadora da Polônia não pôde estar presente.
Veja: O substantivo masculino embaixador possui dois femininos
com significados diferentes;
embaixatriz – é a esposa do embaixador.
embaixadora – é a mulher que exerce o cargo de embaixador.
)
)
)
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Adentrar
Há muitos anos, o jornal paulista
A Gazeta Esportiva tinha um
cronista chamado Olímpicus
que usava muito a expressão
“os dois times adentraram o
gramado”. Era esquisito, mas
estava certo. O verbo adentrar é
transitivo direto.
Hoje, a expressão está em
desuso, mas de vez em quando
ainda aparece um locutor
esportivo que a utiliza. Questão
de gosto.
Ascensão
“Ela buscava ascenção social,
porque não queria ser uma
excessão no grupo.”
Cuidado! Ela correu o risco
de não ter sucesso. O certo é
ascensão, com sc primeiro e s
depois e exceção, com xc e ç.
Período correto: Ela buscava
ascensão social, porque não
queria ser uma exceção no
grupo.
15
Pediram-me uma explicação para a diferença entre
dicionário e vocabulário. O primeiro dá a palavra e o
seu significado. O segundo dá a palavra ou o verbete
apenas com a sua grafia, para que se saiba como é escrita.
Em ambos os casos, a disposição é em ordem alfabética.
77
Xuxa e moela
“A história revela como ela se relacionou com os moradores
daquele lugar e as lições que aprendeu.” (O Globo, de 25/12/97,
em matéria sobre o especial de Xuxa na televisão.)
Trata-se de um erro relativamente comum, com o emprego do
cacófato “como ela”.
Moela, diz o dicionário da ABL, “é o terceiro estômago
das aves”. Deve-se evitar isso, ainda mais agora que a
apresentadora está grávida.
Quanto ao cacófato, é o vício de locução que consiste no mau
som resultante de duas palavras ou de sílabas ou letras de
diferentes palavras.
Maktub
O escritor Paulo Coelho faz sucesso num jornal com a sua
seção Maktub. Em árabe, a palavra significa “estava escrito”.
Na seção de 25/12/97, o autor de Brida, escrevendo sobre os
defeitos de um nosso amigo, iniciou a frase assim: “O julgamos
com uma severidade que devíamos usar para nós mesmos.”
Há quem considere possível essa forma de expressão, mas
não é a mais aconselhável. Não devemos iniciar uma frase
com pronome pessoal do caso oblíquo. O correto seria: “Nós o
julgamos com uma severidade...”
Telefonema
“O marido ficou aguardando
a telefonema da mulher.”
Errado! A palavra telefonema
é masculina. Espere sempre
um telefonema, caso
contrário correrá o risco de
esperar sentado.
>
16
Fubecada
Essa quem me contou foi o acadêmico Josué Montello. Havia uma
reação muito grande contra o uso indiscriminado de palavras
inglesas, em nossa língua. Chegou-se até a condenar o consagrado
futebol, proveniente de football. Uns puristas queriam trocá-la por
balípodo, outros por fubeca. Não deu pé, ficou mesmo futebol.
Fubecada, hoje, quer dizer paulada, batida, choque.
Espanadô
Vejam o exemplo a seguir. Acredito
que, na letra da música Nuvem
de gafanhoto, de Guinga e Aldir
Blanc, houve exagero. Nossa língua
foi massacrada: “Aí, desse jeito,
meu sinhô, viro um espanadô.” E
mais adiante: “Os lambari num qué
cardume pra se haver no avulso e a
cobra d’água num impulso quer cortar
os pulso.” Assim é um pouco forte.
Aposentadoria
O Sr. José conseguiu um diferimento do prazo para a quitação
dos seus débitos para com a Previdência Social, e só depois o
deferimento da sua aposentadoria.
Muito bem! O senhor mereceu a aposentadoria, pois usou as
palavras diferimento e deferimento, adequadamente. Preste
atenção: Diferimento – adiamento.
Deferimento – aprovação.
Convite
“Os noivos fizeram questão
de entregar o seu convite de
casamento em mãos.”
O casal correu o risco de ficar com
a igreja vazia.
Você fica em pés? O certo é em
mão. Ao escrever num envelope,
coloque sempre em mão.
Assoprarou
soprar
Fez aniversário? Parabéns!
Comemore soprando ou
assoprando as velas do
bolo. As duas formas estão
corretas. Cuidado só para
não exagerar no vento. Pode
atrair resfriado.
Comendo certo
“Paulo comeu um
omelete.”
Cuidado! Coma uma
omelete (substantivo
feminino). O Paulo
correu o risco de ter
uma indigestão. E ainda
por cima, a omelete faz
mal ao colesterol.
2 2 2
@ @ @
17
Segundo o filólogo Antônio Houaiss, a língua
portuguesa cresce toda noite. O Vocabulário Ortográfico
da Academia Brasileira de Letras, por ele organizado,
registra a existência de 350 mil verbetes. Numa nova
edição, forçosamente, terá pelo menos mais 50 mil verbetes,
contemplando sobretudo a parte técnica. Quem poderia
pensar no verbo deletar, hoje tão popular, há 25 anos?
88
Despreparo a metro
“Motorista, quantos milímetros falta para chegar ao metro?”
Telecurso, TV Globo, 3/12/97, às 6h45min, ensinando a usar
múltiplos e submúltiplos, mas esquecendo o português.
Devemos cuidar sempre da concordância.
O certo é: “Motorista, quantos milímetros faltam...”
O amanhecer
“É verdade que às seis horas
amanhece o dia?”
Não! Isto nunca aconteceu!
Todos os dias, por volta das
seis horas, amanhece.
“Amanhece o dia” é chover
no molhado. Se você acha
razoável “amanhecer a noite”,
então, use à vontade esta
redundância.
Água ruim
“Tomou um copo d’água
saloba e não gostou.”
Cuidado, esta água mata!
O certo é salobra, que
significa com gosto de sal,
meio repugnante.
Cuidado com a
crase
“Comprei um carro à álcool.”
Atenção! Compre um carro a
álcool.
Álcool é um substantivo
masculino e não se usa crase
antes de palavra masculina.
Exemplos: Ele anda a cavalo.
Sem crase, pois cavalo é um
substantivo masculino.
m m m m
18
Onde/ aonde/ de onde?
Onde está você?
Aonde você vai?
De onde (ou donde) você veio?
O uso de onde, aonde e de onde (ou donde) não é tão difícil.
Preste atenção: Com verbos que indicam permanência, como o verbo
estar, usamos onde. (Exemplo: Onde eu estava fazia muito calor.)
Com verbos que indicam movimento, como o verbo ir, usamos aonde,
quando se referir ao destino (Exemplo: Aonde você quer ir?). Com
verbos que se referem a procedência, usamos de onde ou donde
(Exemplo: De onde você saiu? Donde você surgiu?).
Cuidado para não errar
“Ele fez um grande erro, casando-se com aquela moça, tão mais
nova.”
Erro não se faz, se comete.
Período correto: Ele cometeu um grande erro, casando-se com
aquela moça, tão mais nova.
Não duvide!
“Posso escrever cincoenta?”
Não! Nem em cheques,
nem em lugar nenhum. Use
sempre cinquenta.
“Sicrano ou
siclano?”
O correto é Sicrano e sempre
com inicial maiúscula, assim
como Fulano e Beltrano.
(
9
19
Sem confusão
Dona Ambrósia faz a melhor
ambrosia que já comi.
Perfeito! Vamos entender:
Ambrósia – nome próprio
feminino (antropônimo) e
também nome de uma planta.
Ambrosia – doce de leite com
ovos
Para D. Marcos Barbosa, tradutor de O pequeno
príncipe, letras de música não se constituem em
poesias. Ele defendia essa tese, completando com o
pensamento que, por isso mesmo, não era obrigatório
respeitar todas as regras gramaticais quando se tratava de
dar letra a uma bonita música. Tudo seria válido na busca
da rima. Nem todos os cultores da língua pensam assim. A
maioria exige rigor em tudo.
99
Pretensiosa ou
pretenciosa?
“Ana é considerada
muito pretenciosa pelos
vizinhos.”
A moça pode até ser muito
vaidosa e convencida, mas
pretensiosa é com s, pois
é uma palavra derivada
de pretensão. Pretensão e
água benta...
Frase correta: Ana é
considerada muito
pretensiosa pelos
vizinhos.
Muito próprio
Nome próprio deve ter acento gráfico?
Claro! Os nomes próprios estão sujeitos às mesmas regras dos
nomes comuns.
20
Curiosidade
Conta-se que o doce ambrosia alimentava os deuses dos
Olimpo e que é nove vezes mais doce que o mel, tornando
imortais aquele que dele provassem.
Ambrosia é um substantivo comum feminino. Você já
experimentou esse doce?
Desidratação
A personagem Branca, da
novela Por amor (Rede Globo,
1997), mandou a empregada
providenciar nova rodada de
sucos, porque, com aquele
calor, as pessoas teriam
“disidratação”.
Cuidado! O certo é
desidratação (perda de água
do corpo).
Quem sabe, ela errou porque
estava desidratada?
Acordo
“A funcionária preferiu
um acordo amigável
com a empresa em que
trabalhava.”
Atenção! Para ser acordo já
é amigável. Basta escrever
ou dizer acordo. Devemos
evitar as repetições inúteis.
Marcelo, para com isso
De novo na novela Por amor, da Rede Globo, foi cometido um erro,
já comentado por nós. Agora foi o personagem Marcelo: “Entre eu e
ela”. O certo é: Entre mim e ela. Entre é uma preposição, exigindo o
pronome na forma oblíqua tônica.
Princípio
A princípio significa no começo.
Em princípio significa em tese.
Vejamos dois exemplos:
As coisas iam muito bem a
princípio. Depois é que se
complicaram.
Só em princípio todos são
iguais perante a lei...
Infinitivo
Pessoas recebem salário para trabalhar ou para trabalharem?
Tanto faz. O infinitivo regido de preposição (exceto a, que
normalmente exige singular) pode variar ou não. O importante
é que todos (principalmente os nossos políticos) trabalhem de
maneira consciente, para que possamos ter um país bem melhor.
Colocar
É correto empregar o verbo
colocar no sentido de colocar
um problema, uma questão?
Não. Você deve expor uma
questão. Deve apresentar um
problema que venha a surgir.
Asseguro que, assim sendo,
terá muito mais chance de
resolvê-lo. Se você vier a
“colocá-lo”, poderá esquecer
o lugar e não encontrar mais a
solução.
J
J
J
21
Nem sempre os neologismos são recebidos de
braços abertos pelos puristas da língua. É natural
essa resistência. Mas o progresso tem lá o seu preço.
O novo dicionário de latim do Vaticano incluiu 15 mil
neologismos, entre os quais play-boy (juvens voluptarii)
e strip-tease (sui ipsius nuatores). Enquanto as coisas
não melhoram, recomenda-se tomar uma dose de uísque
(vischium). Modernidade é isso aí.
1010
Começou a começar
“A partir de” é uma expressão muito utilizada. O seu significado
é “a começar de”.
É errado dizer que “o novo decreto começará a vigorar a partir da
próxima segunda-feira”. Deixar assim é como se disséssemos que
começou a começar. É muito começo, não é não?
Escrevendo
corretamente
(com ss e ss).
(com ss e
x) – ano em que o mês
de fevereiro tem 29
dias.
(com h)
– sacrifício de pessoas.
Camisa furada
O Ministério da Saúde parece que não tem jeito de acertar. Está
distribuindo à população 50 milhões de camisinhas para prevenir
contra a AIDS, mas deixou passar um bárbaro erro de português
nas embalagens: “Concerve em lugar fresco”, com c. Essa doença
também é muito grave. O correto é conserve, com s.
v v v
22
Rui Barbosa
“O grande Rui foi, de fato, o Águia de Haia?”
Não! O notável baiano foi a Águia de Haia. É a águia que simboliza
talento, perspicácia e inteligência.
“O águia” é cabra safado, velhaco e espertalhão – isto o Rui
Barbosa, certamente, não foi.
Desastre de trem
“Severino chegou atrasado
ao trabalho porque o trem
descarrilhou em Paciência.”
Errado! Os trens descarrilam;
de carril (trilho) só pode sair
descarrilar, descarrilamento,
ainda que certos dicionários
registrem descarrilhar e até
desencarilhar.
Convite errado
“Caso eu for ao cinema, vou
convidá-lo.”
Não aceite o convite! Caso
exige o verbo no presente ou
no pretérito imperfeito do
subjuntivo, e não no futuro.
Preste atenção: Caso eu vá ao
cinema... ou Caso eu fosse ao
cinema...
23
Lendo André Maurois (1885 – 1967)
Émile Salomon Wilhelm Herzog Maurois, conhecido como André,
nasceu na França. Alcançou notoriedade principalmente pelas
biografias literárias publicadas, romances, memórias de guerra
e ensaios. Pertenceu à Academia Francesa. No Rio de Janeiro é
homenageado, tendo um colégio estadual com o seu nome.
Entre suas principais obras citamos: Os silêncios do coronel Bamble,
Climato, Olímpio ou a vidade Victor Hugo e Prometeu ou a vida de
Balzac.
Ler é sempre altamente gratificante, mesmo sendo um ato solitário
é um processo dinâmico. Certo estava André Maurois quando
garantia que “a leitura de bom livro é um diálogo incessante: o livro
fala e a alma responde”.
Respostas aos leitores
1 - Roberto Mauro (Rio de Janeiro/RJ)
Tanto faz: porcentagem ou percentagem — as duas
palavras constam do Novo Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa.
2 - Fábio Tubbs (Belo Horizonte/MG)
Fumar provoca diversos males à sua saúde. O uso da
crase, antes de pronome possessivo, é facultativo.
Os pronomes possessivos são: meu, teu, seu, minha,
tua, sua, nosso, vosso, nossa, vossa e seus plurais.
3 - José Carlos (Angra dos Reis/RJ)
As palavras história e estória causam controvérsia.
Estória aparece em diversos dicionários, inclusive
no Houaiss, significando narrativa, ficção, conto e
novela. Muitos filólogos não recomendam o uso do
vocábulo estória, afirmando que história é tanto
para fatos notáveis ocorridos na vida dos povos,
como, também, para narração, enredo, trama ou
fábula.
4 - Maria Antônia (Friburgo/RJ)
Mesmo parecendo estranho, o verbo crer apresenta
as formas: eu cria (Pretérito Imperfeito do Indicativo)
e ele creu ( Pretérito Perfeito do Indicativo), etc. O
verbo crer é irregular.
São irregulares os verbos de determinada
conjugação que não acompanham o respectivo
paradigma.
24
Palavras viram epidemia. A denúncia é do escritor
e jornalista Ruy Castro, que acusa alguns jornalistas
de infestar as suas matérias de expressões como ícones,
emblemáticos e bagatelas, com ou sem razão. Rachel de
Queiroz sugeria a busca da originalidade, em nossos textos,
mesmo que seja só na aplicação de um ou outro adjetivo. O
exagero é que incomoda – e deve ser evitado.
1111
Irritação justa
“José irritou-se quando
ficou ao par do
assunto.”
Claro! Jamais use ao
par, a não ser no caso
de câmbio. O correto é
ficar a par do assunto.
Mulher bonita
“Maria é considerada uma
tigresa pelos colegas do
escritório.”
Perfeito! A forma tigresa é
usada quando queremos
fazer referência a mulher
muito bonita e não à
fêmea do tigre. Esta é
tigre fêmea.
Molhado
“O patrão quer ‘enxugar’ a máquina
administrativa da empresa.”
Com que toalha? Os jornalistas,
também, são muito dados a “enxugar”
isso e aquilo. O verbo enxugar não deve
ser usado no sentido de resumir e suprir.
Enxugar é secar, tirar a umidade. Não
mude o sentido das palavras.
Somos todos intertrouxas?
A American On Line (AOL) , como provedora, teve 30 milhões de
internautas. Pela fortuna de 166 bilhões de dólares, comprou a
Time-Warner. Na campanha brasileira, falou em “mais maior” e
“mais melhor”. Certamente, para fazer gracinha. É uma forma de
deseducação que merece o nosso mais veemente protesto.
f f f
25
Nacionalidade ou naturalidade
Em uma das apresentações do Vídeo Show/TV Globo, fevereiro/98, a
atriz e modelo Luana Piovani, paulista, referindo-se à sua mudança
de sotaque, pois passou a viver no Rio: “Mudei de nacionalidade”.
Como?!
Nacionalidade: país de nascimento, condição própria de cidadão
de um país.
São Paulo é um estado e não um país, com todo o respeito aos
paulistas e aos paulistanos.
Luana, mesmo sendo uma loura lindíssima, não tinha o direito
de cometer tal gafe. Deveria ter dito: mudei de naturalidade
(município ou estado de nascimento).
Não confundam nacionalidade com naturalidade.
Cuidado, Vanucci!
Fernando Vanucci, na TV
Globo, na segunda noite do
Carnaval de 98:
“A Imperatriz hoje está
‘paroxítona’. MARAVILHOSA.”
Paroxítona agora virou
adjetivo? Só mesmo o
Vanucci.
Triste advogado
“O juiz não aceitou o
mandato de segurança
impetrado pelo advogado.”
Nem poderia! É terrível um
advogado cometer tal erro.
Observe:
Mandato: missão, poderes
políticos outorgados pelo
povo a um cidadão, por
meio de voto.
Mandado de segurança:
garantia constitucional
para proteção de direito
individual líquido e certo.
Uma fera
A atriz Andrea Guerra, atuando
como repórter no Baile das
Panteras/ Carnaval 98:
“José Reinaldo, quantos anos já
fazem que você promove esse
baile?”
Certamente, faz muito tempo. O
verbo fazer, quando usado para
designar tempo, é impessoal, como
o verbo haver. Portanto, o certo é:
Quanto anos já faz...
É importante notar que, em caso
de locução verbal, o verbo que
acompanha o fazer também fica no
singular.
Exemplo: Está fazendo dois anos
que ela não brinca o Carnaval.
Código de trânsito
“Os motoristas vivem dando
freiadas para não ser multados
pelos controladores do trânsito.”
O certo é freada. Evite ser multado,
respeitando a lei.
26
Na sociedade do conhecimento, em que vamos
chegando, não se pode mais prescindir do emprego
dos computadores. Também a internet passa a ser uma
realidade do nosso cotidiano. Temos experimentado
a alegria de receber uma imensa correspondência por
intermédio da internet, como aconteceu com um diplomata
brasileiro servindo em Assunção, Paraguai. Está empolgado com
o que tem lido aqui, segundo ele, “material de primeira para quem
deseja conhecer melhor a língua portuguesa”.
1212
Olha a confusão
“Marina saiu cedo da sua sessão de
trabalho, pois não queria perder a
cessão do filme Titanic, cujo ingresso
foi uma seção da Rádio JB.”
Preste atenção para acertar sempre:
Seção (ou secção) – parte de um
todo, segmento. Exemplo: Trabalho
na seção de arquivo.
Sessão – período de tempo. Exemplo:
Fui à sessão das 16h.
Cessão – é o ato de ceder. Exemplo:
Ele conseguiu a cessão do auditório.
O período correto é: Marina saiu
cedo da sua seção de trabalho, pois
não queria perder a sessão do filme
Titanic, cujo ingresso foi uma cessão
da Rádio JB.
Hora certa
Só existe uma forma correta de
abreviar as horas. Não esqueça que
vivemos no Brasil, portanto, nada de
cópias do horário estrangeiro.
Veja bem:
: abrevia-se com h, jamais “hs”.
Minutos: abrevia-se min, jamais “m”
ou “mins”.
Exemplos: 20h30min; 8h; 21h50min.
Religião e
cidadania
Faz-se muita confusão
entre israelense e
israelita. O primeiro é
o cidadão do Estado de
Israel. Israelita é o que
pertence à religião judaica
ou ao povo de Israel.
Assassinaram o
caranguejo
“No coquetel em
homenagem à conhecida
escritora, ofereceram pitu,
sururu e carangueijo.”
Um prato indigesto, pois
caranguejo não tem i.
p p p p
27
Haja vista
“Pedro foi demitido do
trabalho haja visto seu mau
comportamento.”
Cuidado! haja vista é o
correto o substantivo vista
fica sempre no feminino,
como na expressão ponto
de vista.
Coitada da Milena!
A personagem Milena, da novela
Por amor, veiculada em 1998, pela
Rede Globo, agrediu a língua pátria,
quando disse em alto e bom som:
— “Não posso engordar uma grama
sequer...”
Cuidado! Grama, substantivo
feminino, é capim. Será que comer
capim emagrece? A atriz tem, de
fato, um corpo escultural, mas
grama, quando se refere a peso, é
um substantivo masculino.
Exemplo: Ana perdeu muitos
gramas depois da caminhada.
Um frangaço
É boa ideia cada clube de futebol
ter o seu boletim ou a sua revista
interna. Ajuda na comunicação.
Mas é preciso caprichar no idioma,
como o Fluminense F.C não o fez.
O seu boletim informativo engoliu
verdadeiros frangaços, como a
separação sucessiva do sujeito e do
predicado por vírgulas indecorosas
(“Os portadores de tickets,
poderão...”).
De quebra, uma crase inoportuna:
“Aberto de terça-feira à domingo.”
Não se usa o acento grave,
indicativo da crase, no a antes de
substantivo masculino.
Exceção: aquele, aqueles, aquilo
(pronomes demonstrativos) que, em
razão de começarem por a, podem
ser fundidos com a preposição a.
Adolescente
irritante
“A adolescente irritava a
mãe mascando, sempre,
um chicletes.”
Certamente, a irritação da
senhora era ainda maior,
pois o certo é um chiclete.
Igualmente: um chope, um
clipe, um drope, e não:
um chopes, um clipes, um
dropes. Existe, ainda, a
variante chiclé. Um chiclé,
dois chiclés.
Erro grave
“Tadeu foi um dos que
mais errouna prova do
concurso público.”
Bem feito! A expressão
um dos que exige o
verbo no plural.
Período correto: Tadeu foi
um dos que mais erraram
na prova do concurso
público.
w w w w w w w
28
Foi assinado pelos oito países da comunidade lusófona
o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Brasil e
Portugal já se acertaram, inovando em aproximadamente
400 palavras. Há algumas nações africanas que ainda
resistem à ideia, mas pode ser que a diplomacia brasileira
vença a “parada”.
1313
Televisão
estranha
“Geraldo comprou uma
televisão a cores, que vive
dando defeito.”
Essa TV dará problemas!
Você diz filme “a preto e
branco”? O correto é: em
cores, em preto e branco.
Tratamento certo
“Vossa Excelência estejais tranquilo, que o povo acredita em vós.”
Não pode haver tranquilidade com tal concordância pronominal.
Os pronomes de reverência e de tratamento designam a segunda
pessoa, mas levam o verbo para a terceira pessoa.
Frase correta: Vossa Excelência esteja tranquilo...
Para você recordar os pronomes de tratamento:
Você (tratamento familiar);
Senhor, senhora (tratamento cerimonioso).
Pronomes de reverência:
Vossa Senhoria (para funcionários públicos graduados);
Vossa Excelência (para autoridades);
Vossa Alteza (para príncipes);
Vossa Majestade (para reis);
Vossa Santidade (para o papa);
Vossa Eminência (para os cardeais);
Vossa Reverendíssima (para sacerdotes, em geral);
Vossa Magnificência (para reitor de universidade).
29
Gostando de ler
“Ele levantou os ombros, olhou para o papel, e tornou a recitar a
composição, mas já então sem tremuras, acentuando as intenções
literárias, dando relevo às imagens e melodia aos versos. No fim,
confessou-me que era a sua obra mais acabada; eu disse-lhe que
sim; ele apertou-me muito a mão e predisse-me um grande futuro”
(Machado de Assis – Memórias póstumas de Brás Cubas).
Preferência
duvidosa
“Eu prefiro mais a
profissão de comissária
de bordo.”
Não! “Prefiro mais” é
errado. A força do prefixo
(pre) dispensa o advérbio
(mais).
Diga sempre: Prefiro a
profissão de comissária
de bordo. Prefiro sair
sozinha. Prefiro comer
carne branca. Nada mais!
Estranha
quilometragem
Temos visto anúncios por
aí, inclusive na televisão,
sobretudo com a aprovação
do novo Código Brasileiro
de Trânsito, abreviando
quilômetro desta forma:
Km. Está errado. Repetimos
para você lembrar sempre:
o certo é km com k
minúsculo. São convenções
internacionais, que não
podemos tropicalizar.
Tentativa inútil
“Dez anos são pouco tempo para se tentar recuperar uma floresta?”
Dez anos é muito pouco tempo para se reparar o mal que o
Homem faz a si próprio, devastando as florestas.
Veja bem: o verbo ser fica no singular quando o predicativo é
constituído por palavras como: muito, pouco, bastante, suficiente,
nada, etc.
Para você relembrar:
predicativo – indica a qualidade, ou maneira de ser do sujeito
– segue o verbo ser e seus sinônimos, ou um verbo intransitivo.
Exemplo: A floresta foi muito devastada (predicativo).
c
: : : :
30
Ver direito
“Geraldo, eu não lhe vi na
fila do cinema.”
Ainda bem! Quem diz: “eu
não lhe vi” não merece
mesmo ser visto.
O verbo ver é transitivo
direto – quem vê, vê
alguma coisa – não pede
preposição, portanto deve
ser usado com o pronome
o e suas variações, e
jamais com o pronome
lhe.
O mesmo acontece com os
verbos amar, adorar, etc.
Exemplos: Eu não o vi. Ela
o ama.
Mortos sem sepultura
Um amigo, cheio de superstição, aproximou-se de mim e
confidenciou que havia levado um susto, na véspera, quando o
locutor de televisão falou em necropsia. Perguntou, desconfiado:
“Não é necrópsia?”
Tive que explicar mais um mistério da língua portuguesa. Diz-se
necropsia, pois não é acentuada. Entretanto, são aceitas as formas:
autópsia e autopsia. Todas com o mesmo significado.
Observação: Os legistas preferem o termo necropsia, considerando
a palavra autópsia inadequada, tendo em vista o significado
do prefixo auto: próprio de si mesmo. Como um indivíduo pode
dissecar o próprio cadáver? Não é de morte? Você escolhe uma
forma ou outra.
Uma questão de
distância
Este lápis é meu.
Esse lápis é meu.
Aquele lápis é meu.
Devemos tomar cuidado com os
pronomes demonstrativos. Veja
bem como usá-los:
Este(s), esta(s) e isto – referem-
se ao que está perto de quem
fala (1a pessoa). Referem-se
também ao tempo presente –
este ano, esta semana;
Esse(s), essa(s) e isso – referem-
se ao que está próximo da
pessoa com quem se fala (2a
pessoa);
Aquele (s), aquela(s) e aquilo
– referem-se ao que está longe
tanto da 1a, quanto da 2a pessoa
(pronome de 3a pessoa).
q
31
São feitos concursos para juízes, no Brasil inteiro, e
os resultados têm sido lastimáveis. A reprovação em
massa ocorre principalmente porque os candidatos
não sabem nada de português, como se fosse possível
exercer a profissão sem o domínio da nossa língua. Sou
francamente favorável a que se exija o português nos bancos
escolares, inclusive nas universidades. Está mais que na hora
de reverter essa triste situação.
1414
Debate
“O debate será cara
à cara?”
“Cara à cara?” Vai
acabar em briga.
O certo é cara a
cara (sem crase).
Entre palavras
repetidas, o a é,
simplesmente,
preposição. Não
tem sentido, pois,
o sinal indicativo
de crase. Outros
exemplos: gota
a gota, frente a
frente, etc.
32
Eleição
“Com o sistema das urnas eletrônicas, o escrutíneo dos votos é
bem mais rápido.”
Será? Acho que “escrutíneo” atrapalha qualquer eleição. Eleição
é coisa séria, não se pode errar. A ortografia é escrutínio (com
io).
Período correto: Com o sistema das urnas eletrônicas, o
escrutínio dos votos é bem mais rápido.
Gostando de
ler
“Gosto muito de crianças
/ Nunca tive um filho
meu / Um filho!... não
foi de jeito... / Mas trago
dentro do peito / Meu
filho que não nasceu.”
(Manuel Bandeira)
Injustiça
“Nada mais prazeiroso do que
justiça para os inocentes.”
Tudo bem! Mas, “prazeiroso” é
uma injustiça! Esta palavra não
existe.
O certo é prazeroso (prazer +
oso)
Em tempo: o sufixo oso se anexa
a uma palavra para formar outra
com a ideia de abundância.
Conceituação
Substantivo: é uma palavra variável com que nomeamos os seres da
natureza em geral.
Ser é tudo que existe: Antônio, casa, sapato, Sol, etc.
Para entender melhor, acompanhe os exemplos de substantivos:
comum: livro, cadeira, homem, etc.
próprio: Brasil, José, Colégio Pedro II, etc.
simples: rádio, Bahia, lua, etc.
composto: grão-duque, beija-flor, aguardente, etc.
coletivo: alcatéia, esquadrilha, arquipélago, etc.
abstrato: amor, ciúme, paixão, etc.
concreto: madeira, menino, dedo, etc.
Qualidade?
“A ombridade é uma das maiores qualidades que se espera de um
homem.”
Escrito deste jeito é defeito!
O certo é hombridade com h inicial e significa: nobreza de caráter,
dignidade.
T T T
33
Triste realidade
“A criança de rua trás a amargura por traz dos seus olhos tristes.”
Não aumente a tristeza, acerte ao escrever!
O certo é: A criança de rua traz a amargura por trás dos seus olhos
tristes.
Veja bem:
Traz com z é verbo trazer.
Trás com s é preposição e entra nas locuções prepositivas.
Exemplo:
Por trás, atrás, de trás.
O que é coletivo?
O empregado da fazenda usava a matilha para trazer o alavão, o
fato e a manada de volta para o estábulo.
Veja bem: matilha (de cães), alavão (de ovelhas leiteiras), fato (de
cabras) e manada (de bois) são substantivos coletivos.
Para você recordar:
Coletivo – “diz-se do substantivo que, no singular, designa várias
pessoas, animais ou coisas”.
Exemplos:
Povo (coletivo de pessoas)
Esquadrilha (coletivo de aviões)
Boana (coletivo de peixes miúdos)
Cáfila (coletivo de camelos), etc.
Olha a hora!
“Otávio faltou ao trabalho hoje. Quando acordou já passavam das
8h.”
Cuidado! Além de perder a hora, acordou mal.
O certo é: Quando acordou já passava das 8h.
Preste atenção: Com a expressão passar de, na indicação de horas,
o verbo deve ficar no singular, não importando o número que
determina as horas.
Exemplos:
Passavade 10h.
Passou de 5h.
Passará de 24h.
34
O acadêmico Afrânio Coutinho defende a existência de
uma língua brasileira. Ele reclama que o País amadureceu
e merece ter uma língua própria, que permitiria aceitar
como válida a existência de pronomes átonos no início das
frases (tipo “me ajude que eu preciso”). Mas, enquanto isso
não acontece, vale mesmo é a língua portuguesa, em que essas
agressões ao vernáculo são condenáveis.
1515
O susto
“A cozinheira levou um enorme
susto quando o bujão de gás
explodiu.”
Não é para menos! Com “bujão
de gás” a cozinha poderia ir
pelos ares. O certo é botijão
de gás (recipiente de gás
combustível).
Não confunda! A palavra bujão
existe e significa rolha de
madeira ou metálica, tampão.
Agressão desnecessária
“Não devemos agredir àqueles que, por ventura, discordem de
nossas opiniões.”
Seria uma agressão dupla. O advérbio que significa por acaso é
porventura (uma palavra só).
Observe: por ventura (separado) significa por felicidade.
Período correto: Não devemos agredir aqueles que, porventura,
discordem de nossas opiniões.
O nome da flor
O admirável ator Sérgio Britto disse:
crisantemo (sílaba tônica: te).
Muita gente fala assim. O correto é
crisântemo (palavra proparoxítona
– acentuada – sílaba tônica:
sân). Quem nos ensina é Antenor
Nascentes. Vamos aprender?
Infeliz
“Espero que você seje feliz.”
Será muito difícil, pois “seje”
e “esteje” são formas que
não existem na nossa língua.
O correto é seja e esteja.
Seja um amante da língua
pátria.
35
Geladeira vazia
“Na geladeira tem leite,
queijo e iogurte.”
Esta geladeira está é vazia! Na
geladeira não tem.
O melhor é dizer: Na geladeira
há leite, queijo e iogurte. O
verbo haver é que funciona
como sinônimo de existir.
Decoração malfeita
“Vou encarpetar a sala do meu
novo apartamento.”
Garanto que não vai ficar bom.
O certo é: Vou acarpetar a sala
do meu novo apartamento.
Não esqueça: você manda
forrar a sala com carpete, logo
acarpeta-a.
A perigosa concordância
“Precisam-se de digitadores.”
Errado! O certo é: Precisa-se de digitadores. Preste atenção! Quando
há uma preposição entre o verbo e o elemento no plural, o verbo
fica no singular.
Exemplos: Precisa-se de empregados.
Trata-se de pessoas educadas.
Assiste-se a bons vídeos.
Acabou-se com os doces no jantar.
Observação: Quando não houver a preposição entre o verbo e o
elemento no plural, aí, então, o verbo fica no plural.
Exemplos:
Vendem-se casas.
Acabaram-se os doces.
Exagero
“Os organizadores da greve
declararam que havia 1,5 milhões
de pessoas que aderiram ao
movimento.”
Cuidado ao escrever! O certo é: 1,5
milhão.
Usamos milhões a partir de 2.
Exemplos: 2,8 milhões; 9,7 milhões,
etc. Mesmo utilizando os algarismos,
devemos manter a correção da
concordância.
Formidável?
O formidável incêndio
matou dezenas de
pessoas.
Calma, amigos. Eu não
sou sádico, nem estou
elogiando o incêndio. O
sentido original (cada
vez menos usado) da
palavra formidável
é: medonho, colossal,
pavoroso.
> > > > >
. . . > >
36
Nós, brasileiros, gostamos de modismo. A língua
portuguesa também é vítima desse hábito. Sempre se
pronunciou Roraima (rãi), o estado da região Norte. Quando
aquele estado estava em pauta, por causa do incêndio de
grandes proporções, que lá ocorreu, ouvia-se nas rádios e TVs:
Roráima (com som aberto no ai). Já não bastava o fogo?
1616
Ao Millor, com carinho
Millor Fernandes lançou o desafio para que se esclareça se a
expressão à beça tem ou não crase. Beça é substantivo de gíria,
encontrado no vocabulário oficial de Portugal. A locução à beça
significa “muito”, “em grande quantidade”, “em grande cópia”.
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras, coloca a expressão com crase. O Aurélio
também. Fico, modestamente, com eles.
Cuidado com a dengue!
“D. Sebastiana foi mordida pelo mosquito que causa a dengue.”
Devemos tomar todas as precauções contra o mosquito, mas
mosquito tem dente? Claro que não! Mosquito, portanto, não dá
mordidas, dá picadas.
3 3 3 3 3 3
37
Crase indevida
“Dirigiu-se à Exma. Sra. Senadora
com muita delicadeza.”
Não adianta a delicadeza, usando
o acento grave indicativo de crase,
antes de pronome de tratamento
(“à Exma. Sra.”)
Jamais faça isso! Não cabe crase
nesse caso.
Em tempo: também não se usa
crase antes dos pronomes pessoais
do caso reto: eu / tu / ele / ela /
nós / vós / eles / elas.
Frase correta: Dirigiu-se a
Exma. Sra. Senadora com muita
delicadeza.
Descrição/discrição
“Otávio, ao depor na delegacia, usou descrição na discrição da
briga dos vizinhos.” Que indiscrição! O certo é: Otávio, ao depor na
delegacia, usou discrição na descrição da briga dos vizinhos.
Preste atenção:
discrição: sensatez, reserva ao falar, prudência.
descrição: é ato de descrever, exposição.
Defronte ou
defronte de?
Espere-me defronte do
banco.
Se você estiver “defronte
ao” banco, talvez não
consiga encontrá-la.
Preposição no meio
“As reuniões da empresa ocuparam todos os salões-de-convenções
do hotel.” Nada disso! O plural de salão-de-convenção é salões-de-
convenção.
Veja bem: nos substantivos unidos por preposição varia somente o
primeiro elemento.
Exemplos: Banana de pijama – bananas de pijama
Pão de mel – pães de mel
Dona de casa – donas de casa
Serviço militar
Roberto serviu no Exército e Ricardo na Marinha.
Muito bem! Todo jovem, na idade certa, tem que prestar o serviço
militar. Jamais diga: “servir o Exército”, “servir a Marinha” ou
“servir ao Exército”.
Com o sentido de prestar serviço militar, o verbo servir rege a
preposição em.
Recordação: No (preposição em + artigo o).
Na (preposição em + artigo a).
Missa certa
Constantemente, no obituário dos
jornais, aparecem participações
de falecimento, convidando, em
seguida, para “missa de sétimo dia”.
Atenção, a missa é do sétimo dia e
não “de sétimo dia” como aparece
grafado. Falar e escrever bem a nossa
língua não faz mal a ninguém.
O O O O O O O
38
Com características de vocabulário universal, o
historiador Sérgio Correa da Costa lançou o livro Palavras
sem fronteira, inicialmente editado em francês. São cerca
de três mil exemplares de determinada língua e que se
encontram no uso comum de outra. Como aconteceu com o
francês e o inglês. Há também a presença de palavras da nossa
língua, como piranha, pirarucu, banana e inhame, hoje usuais
em outros idiomas. Como curiosidade, o reconhecimento que
ombudsman é palavra sueca e robot provém da língua checa.
1717
Outra vez concordância
Rádio CBN – numa madrugada de 98: “A dupla Jacqueline e Sandra
conquistaram mais uma etapa do campeonato de vôlei de praia.”
Por favor! A dupla conquistou mais uma etapa e o locutor perdeu o
campeonato da língua portuguesa. Foi derrotado pela concordância.
Abreviatura certa
“Ela mora na Rua Gal.
Polidoro.”
Gal? Só a cantora! A
abreviatura de general é Gen.
Triste comunicado
“O policial comunicou o
delegado a fuga dos presos.”
Assim não é possível! Você
pode e deve comunicar algo
(a fuga dos presos) a alguém
(ao delegado), portanto é
incorreto dizer: “comunicou
o delegado”.
O certo é: O policial
comunicou ao delegado
a fuga dos presos (verbo
comunicar: transitivo direto
e indireto).
Obedecer é a
questão
O verbo obedecer é hoje usado
exclusivamente com regência
indireta: obedecer ao pai, às
leis, obedecer-lhe. Conquanto
seja transitivo indireto, o verbo
obedecer admite a construção
passiva: “A lei foi obedecida.”
39
Gravidez animal
“As cadelas ficam
prenhas?”
O dicionário do Aurélio
diz que sim: forma
popular-variante de
prenhe. Prefira prenhe.
Tanto as cadelas como
as vacas, as éguas,
as elefantas... ficam
prenhes.
A dificuldade de um s
“O chassis do carro do Sr. Antônio está empenado.”
Coitado! Que prejuízo!
Use a palavra chassis (com s final) só se for plural. Exemplo: Os
caminhões estavam com os chassis enferrujados.
No singular diga sempre: o chassi. Da mesma forma: o croqui, o
lambri (para o singular)e os croquis, os lambris (para o plural).
Observe: a palavra sursis (suspensão condicional da pena) é assim
grafada (com s final), por tratar-se de estrangeirismo, mas se
pronuncia sursi e não sursis.
Reunião importante
“A diretoria fez uma reunião à portas fechadas.”
Cuidado! Para que a reunião seja perfeita, é melhor realizá-la a portas
fechadas.
Preste atenção: antes de palavra no plural não se usa o a com o acento
grave indicador de crase ( ` ). Exemplos: a pauladas, a cacetadas, etc.
Observação: o acento grave só aparece se existir as antes da palavra
no plural, como em: às vezes, às claras, às escuras, etc.
A novela das 8
A linda atriz Cássia Kiss, a Isabel
da novela Por amor (1998), saiu-
se com esta: “Leve para o Arnaldo
dar a sua rúbrica”. A personagem
agrediu a nossa língua.
O certo é rubrica – palavra
paroxítona (acentuação tônica
na penúltima sílaba – bri) e não
proparoxítona (acentuação tônica
na antepenúltima sílaba – ru).
Doença braba
14/1/98, programa Túnel do Tempo.
O ator Felipe Camargo observa que a sujeira nas praias está
tornando a situação braba.
Braba ou brava? Tanto faz, contanto que você faça a sua parte no
que tange à higiene. Povo civilizado é povo limpo.
m
40
Já vimos que o modismo é uma característica nossa:
nas roupas, na comida, nos hábitos e até na língua
portuguesa falada e escrita. Não use “a nível de”. Esta
expressão não existe, o que existe, significando à mesma
altura, é ao nível do mar. Sempre será possível, com um
pouco de esforço, trocar o antipático modismo “a nível de”.
Afinal, reunião “a nível de diretoria” é apenas uma forma
incorreta de dizer reunião de diretoria.
1818
Idioma infartado
“Um noticiário de televisão
informou a morte por
infarte de um político.”
Você pode dizer enfarte
ou infarto, entretanto a
segunda forma é preferível.
Jamais use “infarte”. Você
pode infartar!
Obra complicada
Foi publicado num jornal carioca: “Ainda está em obras os
aposentos que serão de Sasha na casa da Xuxa...”
Se são obras no plural, como é que o verbo ficou no singular?
Assim não há obra que resista.
Período correto: Ainda estão em obras os aposentos que serão de
Sasha na casa da Xuxa.
Descanso
merecido
Ao chegar em casa, coloco
rapidamente meus chinelos
ou minhas chinelas?
As duas formas estão
corretas. O importante é que
você fique livre dos sapatos
que teve que usar o dia
inteiro. Relaxar é bom!
Resfriado brabo
“José teve um resfriado
tão forte que o médico
recomendou uma radiografia
da caixa toráxica.”
Não! A palavra certa é
torácica, com c, e não com x.
A letra x só entra em tórax.
Cuidado! Senão a cura do
resfriado vai demorar.
41
Gastança
“O desperdiço do dinheiro público é um absurdo injustificável.”
Absurdo duplo! O correto é: O desperdício do dinheiro público é um
absurdo injustificável.
Preste atenção: as duas formas existem, mas desperdiço é forma
verbal (eu desperdiço - 1a pessoa do singular, do Presente do
Indicativo do verbo desperdiçar) e desperdício (gasto ou despesa
inútil, esbanjamento) é substantivo.
Dedo-duro
“André foi taxado de ‘dedo-duro’
pelos colegas.”
Nada disso! Taxado (com x) é
o verbo taxar, no particípio, e
refere-se a tributar.
O correto é: André foi tachado de
“dedo-duro” pelos colegas.
Tachar (com ch) significa acusar.
Namoro rompido
André, tentando reatar o namoro,
escreveu para a sua amada:
“Mariana, ti gosto muito!”
Escrevendo desse jeito, não dá
para a moça acreditar! O correto
é: Mariana, gosto muito de ti.
Para escrever bonito não precisa
inventar. Quem gosta, gosta de
alguém ou de alguma coisa.
Pedrada
TV Globo – Novela Era uma vez, maio/98. O grande ator Cláudio
Marzo, o Dr. Xistos, atropelou o nosso vernáculo, num diálogo com a
Bruna (Andréia Beltrão): “A dívida do seu pai é vultuosa”, e repetiu
a pedrada, minutos depois. Vultuosa? O certo é vultosa.
Veja a diferença: Vultosa – de grande vulto, volumosa. Exemplo:
despesas vultosas, dívida vultosa.
Vultuosa – atacada de vultuosidade (estado mórbido em que a face
e os lábios se incham e avermelham muito).
Além de antipático, o Dr. Xistos merece ficar vultuoso, não?
Telemancada
Numa manhã de maio/98, na TV Globo, o Telecurso 2000 dava o
endereço para os candidatos aos exames supletivos:
“Inscrições em Brasília na Secretaria Estadual de Educação – Palácio
Burity.”
Secretaria Estadual em Brasília? Que estado? Brasília é capital, é o
Distrito Federal ou o pessoal do Telecurso não sabe isso?
g g g
42
Só os adjetivos são suscetíveis de grau superlativo,
pois só eles encerram ideia de qualidade, que pode ser
elevada em sua significação. São errados superlativos como
“tantíssimo”, por exemplo. Pelo mesmo motivo, a expressão
“coisíssima nenhuma” é tolerada apenas em linguagem
coloquial.
1919
Boas notícias?
“Fico no aguardo de boas
notícias para breve.”
Se assim for, fique sentado
para não se cansar.
O correto é: Fico ao aguardo
de boas notícias para breve.
As pessoas ficam à espera e
não “na” espera.
Cuidado com o
colesterol
“Comer muito ovo cosido
aumenta o colesterol?”
Se você escrever cosido com s,
com certeza aumentará muito
mais o seu colesterol.
Aprenda o certo: Comer muito
ovo cozido aumenta o colesterol.
Cozido - com z, porque vem do
verbo cozer (preparar alimentos
ao fogo).
Coser - com s, significa costurar.
Nada bom
Isto é ruim!
Nunca é demais repetir: ruim
(adjetivo que significa mau,
perverso, estragado, preju-
dicial) é palavra oxítona,
portanto diga sempre: ru-ím
(o acento foi colocado para
mostrar a pronúncia).
Viagra
TV Globo, Brasília, 27/5/98, às 6h 55min.
“Os homens não têm mais vergonha de encarar a impotência de
frente.”
Existe outra maneira de encarar o assunto?
O verbo encarar já traz o elemento cara. Se não for de frente,
como será?
�
�
43
Abaixo do nível
“Só pode ter dois palanques a nível estadual quem tem 50% das
intenções de voto.”
Foram palavras do presidente nacional do PT, José Dirceu.
É incrível como os nossos políticos custam a entender que a expressão
correta é em nível de. O que fazer, para mudar a situação?
Insistimos: Não use a expressão “a nível de”.
Brasil pentacampeão
Devagarinho, a seleção brasileira vai melhorando o seu desempenho.
(junho/98)
Preste atenção: palavras oxítonas (acento tônico na última sílaba)
recebem o sufixo zinho para formar o diminutivo. Exemplos:
Colar – colarzinho. Amor – amorzinho. Sofá – sofazinho. Café –
cafezinho
No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da ABL, em
relação a devagar, são admitidos os diminutivos: devagarinho e
devagarzinho. Prefira usar devagarzinho.
Sem solução
“Ante ao exposto, espero
uma solução rápida para
o problema.”
Assim, não vai haver
solução. Use ante o
e nunca “ante ao”.
Portanto, escreva: Ante
o exposto, espero uma
solução rápida para o
problema.
Zoar
O verbo zoar é muito utilizado pelos
adolescentes do Rio de Janeiro. Sair
para zoar é frequentar festas, em geral
de menores, onde há muito consumo
de bebida. As festas costumam acabar
em pancadaria, pois são caracterizadas
pela violência. O verbo zoar é
intransitivo e está no Dicionário do
Aurélio, significando soar fortemente,
ter som forte e confuso.
O bom cifrão
Dinheiro é coisa de que todo mundo precisa. Acerte ao escrever.
No cifrão só existe um traço: $, apesar de muita gente usar dois. Há
máquinas que só registram dois traços, porém não estão certos.
Veja: R$ 0,50; R$ 100,00
Observação: ao usar o símbolo do real não deixe espaço entre ele e o
número. Isso evita a fraude.
44
A busca da rima é, às vezes, penosa. Por isso, nem sempre
os melhores poemas são os que têm rima. Podem se bastar
com o ritmo. Em tempo de Copa do Mundo, há um certo
exagero no uso de expressões populares. A pior que existe por
aí é o “Guenta que é penta”, usada na televisão. Como ninguém
usa o verbo guentar, até porque ele não existe, resta reclamar da
excessiva criatividade dos nossos redatores de publicidade.
2020
Advérbios
Mariana talvez concorde em casar com o Mário.
Para entendera dúvida da moça, aprenda: talvez é advérbio de
dúvida.
Para saber mais:
Advérbios – são palavras invariáveis (não têm plural, nem gênero)
que modificam os verbos, os adjetivos ou outros advérbios.
Tipos de advérbios:
de dúvida: talvez, quiçá, acaso, porventura, etc.
de intensidade: muito, pouco, bastante, assaz, etc.
de lugar: abaixo, acima, aqui, ali, cá, lá, etc.
de modo: bem, mal, assim, asperamente, delicadamente, etc.
de tempo: amanhã, hoje, cedo, tarde, agora, outrora, etc.
Irritação
“Joaquim anda um tanto
quanto irritado com a filha
adolescente.”
A forma correta é um tanto
ou quanto.
Escreva certo para não
aumentar a irritação
do Joaquim e de todos
aqueles que um tanto
ou quanto não admitem
erros na escrita da língua
portuguesa.
45
Tristes salários
“Devido à precaridade de recursos, o governo nunca pode pagar o
que os professores merecem e deviam receber.”
Escrevendo desse jeito, a situação dos professores ainda piora.
Devido à precariedade... é a forma correta.
Não são raras as confusões feitas com as terminações idade e iedade
para formação de substantivos.
Usa-se idade quando o adjetivo termina simplesmente em ar.
Exemplos:
Elementar – elementaridade.
Singular – singularidade.
Preste atenção: a palavra precariedade vem de precário (que não
termina em ar).
A palavra é intercomplementaridade e não “intercomplemen-
tariedade”, como se ouve por aí, porque vem da palavra
intercomplementar (que termina em ar).
Usa-se a terminação iedade quando o adjetivo termina em ário,
ório.
Exemplos:
Precário - precariedade.
Contraditório - contraditoriedade.
Semelhança
“Mariana é uma sósia perfeita da lindíssima Malu Mader.”
“Uma” sósia? Impossível! Se a moça, de fato, é parecida com a
bonita e talentosa atriz, ela será um sósia de Malu Mader.
Cuidado! Sósia é substantivo sobrecomum (designa pessoas e tem
um só gênero) e no caso deve ser usado sempre no masculino (o
sósia, um sósia).
Outros substantivos sobrecomuns:
Um indivíduo, a criança, a pessoa, o cônjuge, etc.
Observação:
Alguns dicionaristas modernos incluem o substantivo sósia entre os
comuns de dois gêneros, mas, pela sua origem, sósia é uma palavra
masculina.
46
Gente educada
“O comprimento aos vizinhos faz parte da boa educação.”
Os vizinhos não vão gostar! A palavra certa é cumprimento.
Veja a diferença:
Comprimento – grafado com o é uma das três medidas de extensão
(as outras duas são: largura e altura).
Cumprimento – escrito com u é o ato ou efeito de cumprimentar,
uma saudação.
Verbo infeliz
SBT, Programa Márcia/Julho/98.
Na semana passada, a apresentadora Márcia falou em alto e bom
som: “estrupar”
O verbo estuprar já é triste, ainda mais pronunciado erradamente.
Curto-circuito
Só pode ter havido um curto-circuito, na Rádio CBN. O seu locutor,
no dia 7/6/98, às 12h25min, caprichou na notícia sobre o GP do
Canadá:
“Trata-se de um ‘circuíto’”... (acento para mostrar a pronúncia do
locutor).
Circuito, circuito, circuito, por favor!
Novela das seis
Novela Era uma vez (TV Globo)/julho/1998. Diálogo dos personagens
Horácio (Marcos Frota) e Bruna (Andréia Beltrão) sobre a fortuna que
ele iria receber num novo negócio:
“É milhões! É milhões! É milhões!” – disse o ator, atropelando a
concordância.
Terrível, não? Quando haverá mais cuidado com os textos das
novelas?
São milhões! São milhões! São milhões! de pessoas, inclusive
crianças, que ficam ouvindo estas barbaridades.
47
Respostas aos leitores:
1. Elson da Costa e Silva (Rio de Janeiro/RJ).
A abreviatura de apartamento é ap ou apart, não
sendo aceito “apto”, que como o próprio leitor
colocou significa capaz, hábil.
2. Ana Maria Soares (Barbacena/MG).
Verbos defectivos são aqueles que não têm a
conjunção completa. São três tipos:
Impessoais: usados só na 3a pessoa do singular – são
as ações dos fenômenos da natureza: chover, nevar,
ventar, trovejar, etc.
Unipessoais: indicam vozes ou ruídos peculiares a
determinados animais: cacarejar, latir, miar, coaxar,
etc.
Não têm algumas formas: para evitar confusão com
outros verbos (falir – não tem a 1a pessoa do singular
= ao verbo falar) ou por eufonia. Exemplo: abolir.
48
O Brasil estreou com o pé direito, na Copa do Mundo na
França, derrotando a Escócia por 2 a 1. Mas houve muita
agressão ao vernáculo por parte da crônica esportiva,
como, aliás, era esperado. Desde a expressão “estrea
vitoriosa” até o uso indiscriminado de palavras inglesas,
assistiu-se a um verdadeiro festival. No caso de “estrea”, lembro
de uma consulta que fiz ao filólogo Antenor Nascentes sobre o
nome “Andreia”. Disse-me ele: “Andrea é nome próprio masculino
e não é português. Na nossa língua, use a palavra Andreia, com i
como estreia”. Nunca esqueci a lição do mestre.
2121
Kilt/saiote
Os escoceses são grandes
torcedores de futebol.
Usaram em Paris, na
Copa do Mundo, trajes a
caráter, ou seja, vestiram
os seus saiotes tradicionais
e tocaram as gaitas de
fole. A nossa imprensa
escreveu muito sobre os
“kilts coloridos”. Se existe
a palavra saiote, por
que utilizar kilt? Só para
demonstrar erudição?
Bebeto e o corner
O atacante Bebeto foi encarregado pelo técnico Zagallo (ele escreve
com dois eles, o que se há de fazer?) de bater todos os escanteios
que nos fossem favoráveis. E foram muitos. Os locutores abusaram
da palavra inglesa “corner”. É certo que aportuguesamos a palavra
football, que virou mesmo futebol. Balípodo não colou. Mas para
corner existe escanteio. Vamos jogar pra escanteio a palavra
corner?
49
Expressão meio torta
Gosto muito do estilo do locutor paulista Sílvio Luiz, do SBT. Ele é
bastante espirituoso, além de impor um certo respeito em virtude dos
seus cabelos brancos. Só não dá para concordar com o que disse:
—“A bola chegou à área meia torta...”
Se a meia estiver torta, você endireita. Se for bola, é meio torta. O
Sílvio Luiz deveria ter desentortado essa.
Vale recordar: Meio é advérbio e advérbio é palavra invariável.
Meia – substantivo (usada com sapato) ou significando metade (meia
hora).
Que império era
esse?
Logo depois, o mesmo
profissional da televisão, cheio
de empolgação, anunciou que
“estão tristes os torcedores do
país do Sol nascentes”.
Quantas vezes ele acha que
o Sol nasce, todos os dias?
Usou o plural (nascentes)
indevidamente.
Deveria ter dito: Estão tristes
os torcedores do país do Sol
nascente.
Assassinaram os camarões
O jogo foi fraco e não passou de 1 x 1. Áustria e Camarões estrearam
com o pé esquerdo na Copa. Um locutor carioca, de início
empolgado com a atuação dos craques africanos, chamava-os
indistintamente de camarônicos, camaroneiros, camaroneses e
camaronenses. É muita imaginação.
Os adjetivos pátrios que nomeiam a pessoa nascida em Camarões
são: camaronês e camaronenses. O resto é assassinato da língua
portuguesa.
Em tempo: camaroneiro é barco de pesca de camarões.
A falta de Romário
Dunga, na TV Globo, falando
sobre a sua amizade com
Romário:
— “É um amigo para o resto da
vida. Faz muita falta. Gostaria
que ele estivesse com nós
agora.”
Seria tão mais eufônico se o
capitão da equipe brasileira
tivesse utilizado a forma
conosco (pronome pessoal
do caso oblíquo). Como disse,
equivaleu a um chute na canela.
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50
Menos
audiência
Que Romário é um craque
(palavra aportuguesada
do inglês), ninguém
duvida. Mas, é claro,
ninguém imagina que
ele seja bom em tudo. Os
comentários do artilheiro,
na Rede Globo, vez por
outra resvalam na falta
de familiaridade com o
nosso idioma, como na
repetição do abominável
“menas” em lugar de
menos, tão mais simples e
correto.
Atenção, Romário, menos
é um advérbio, portanto,
palavra invariável e, se
você não corrigir isso
provocará menos sucesso
na líder de audiência.
Um erro cheio de superstição
Falar de improviso não é para qualquer um. Tem os seus mistérios
e as suas dificuldades. O locutor de Japão x Croácia, na TV Globo,
anunciou pomposamente: “Hoje, Pelé falará sobre a ‘supertição’ no
futebol”. Tenho plena convicção de que o Rei do Futebolfalou sobre
a superstição, com s e tudo.
51
Agressão
“À saída do jogo, o
rapaz foi agredido pelos
assaltantes de forma
crucial.”
A violência é terrível e
tem que ser resolvida
pelas autoridades. Cabe
a nós lamentar e escrever
corretamente. A palavra
“crucial” está colocada
de maneira inadequada.
A palavra adequada é
cruciante.
Observe:
Crucial – que tem forma
de cruz e, também, difícil,
árduo, capital.
Cruciante – torturante
Frase correta “À saída do
jogo, o rapaz foi agredido
pelos assaltantes de forma
cruciante.
Não tem muito cabimento o que o locutor
Cléber Machado fez, na Copa do Mundo. Chamar o
maranhense Oliveira, que se naturalizou belga, de
“Oliverrá”, francamente, foi um exagero. O nome dele
não foi naturalizado. Já imaginaram se o Zico tivesse o seu
nome vertido para o japonês? Ou se o Donato, naturalizado
espanhol, passasse a ser o “Don Ato”?
2222
Pelo meio
Numa Copa do Mundo, com 32 países, foram muitos jogos e
as emissoras de rádio e televisão obrigaram-se a um enorme
desdobramento, para cobrir tudo o que fosse possível. Na
partida Holanda x Coréia do Sul, o comentarista do SBT
caprichou na ausência do plural:
“Eles entra pelo meio... “
Uma forma bastante singular de cortar o plural.
O correto é: Eles entram pelo meio.
Um boteco
esquisito
Até o Ratinho foi parar
em Paris, para cobrir a
Copa do Mundo.
Pensando bem, por
que não? Só que ele
armou um boteco
esquisito, na capital
francesa: “Botéco do
Ratinho”, com acento
e tudo. É claro que
demos o teco nesse
boteco.
Por que o acento?
Não há regra de
acentuação que o
justifique.
x x x
52
Gol contra do Romário
Grande atleta, goleador de primeira, Romário deu diversos chutes
na língua portuguesa, como comentarista da Rede Globo. No Brasil x
Dinamarca, saiu-se com esta pérola: “Agora é diferente. É uma Copa
do Mundo aonde que o Brasil...”
Seria muito mais fácil ter dito: “É uma Copa do Mundo em que o
Brasil...” É claro que não se exigia nem se exige dele ser bom em
tudo, mas não custava nada caprichar um pouco mais. Inteligência
ele tem – e muita.
Gol contra
Cissa Guimarães é uma
simpatia, além de muito
inteligente. Filha de professor.
Só que, no afã de falar o que
o povo gosta de ouvir, iniciou
o sorteio de mais um carro Gol
com a seguinte frase:
“Oi, gentem, são uma hora da
tarde!”
Está bem que ela criou um
neologismo (gentem), mas
ficaria melhor se dissesse “é
uma hora da tarde”. Soaria
gostoso e correto aos nossos
ouvidos.
Entorse
No jogo contra a Dinamarca (Brasil 3 x 2), o Ronaldinho levou um
pontapé por trás. Pura covardia, o que não o impediu de dar dois
passes geniais para Rivaldo e Bebeto. Mas na hora de contar o que
houve, o locutor caprichou:
“Parece que ele sofreu um entorse.”
Errado. O que ele sofreu, mas continuou no jogo, foi uma entorse.
Entorse é um substantivo feminino.
Um espinho no
caminho
Eu vou, tu vais, ele vai.
Presente do indicativo do
verbo ir. Dunga fez uma frase,
na TV Globo (4/7/98), em
que se machucou: “Tu não
vai querer colher rosa, sem se
machucar no espinho”. Esse
espinho ficou atravessado.
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53
Ventos muito fortes
A Televisão Francesa caprichou na
imagem: “Ventos hoje de 11 Kmh.”
Uma convenção internacional, reunida
em Sèvres, na França, estabeleceu
padrões que, pelo visto, a sua televisão
não tomou conhecimento. Foi lá que
se definiu o que é o metro. No caso,
a velocidade é medida por km/h
(quilômetros horários).
É sempre bom repetir:
Escreva sempre km, m, h, etc. com
letra minúscula e sem plural. Não
existe: kms, ms, hs, etc.
Larga mesmo
Na minha opinião, Júnior é um dos maiores jogadores brasileiros de
todos os tempos. Gosto de vê-lo brilhar, apesar da idade, no futebol
de areia. Classe é classe. Só que, como comentarista, na Copa do
Mundo, arranjou um jeito original de espinafrar o juiz que ficava em
cima do muro:
“Parece uma largatixa!”
O que é isso, amigo? O pequeno sáurio chama-se lagartixa.
De cabelo em pé
Quem zela pela língua portuguesa ouviu as transmissões esportivas
de cabelo em pé, como se costuma dizer. Fomos espectadores ou
expectadores dessas barbaridades?
O espectador é aquele que vê, que assiste à...
O expectador é o que está na expectativa de..., à espera de...
Portanto, o certo, no caso, é espectador.
Ficamos na expectativa que acerte sempre o uso destes vocábulos.
54
É preciso cuidado com certas invenções de palavras que
se constituem, na verdade, em interpretações individuais
do vernáculo. Nisso se inclui o “imexível” do ex-ministro
Antônio Magri e, mais recentemente, em plena Copa do
Mundo, o “indescrezível” do capitão Dunga, depois da linda
vitória sobre a Dinamarca. Certamente, foi uma sensação
muito esquisita do grande jogador. Será que ele não quis dizer
indescritível?
2323
Não foi culpa do
juiz
Quando se começou a tentar
explicar a derrota do Brasil para
a França, na final da Copa do
Mundo, o comentarista Arnaldo
César Coelho, da TV Globo,
apitou, desafinando:
“O juiz marroquino passou
desapercebido”.
Vale recordar: desapercebido –
desprevenido.
despercebido – não percebido.
Frase correta: O juiz marroquino
passou despercebido.
Curiosidade
A capoeira é originária de Angola, na África, e era uma forma
de luta entre os negros. Atualmente é muito praticada e os seus
componentes demonstram capacidade de ataque e defesa sem,
contudo, atingir, efetivamente, os adversários. A destreza vale
muito mais do que a força muscular. O berimbau de barriga é
o instrumento musical que acompanha os capoeiristas, sendo a
dança muito comum na Bahia.
55
56
Pegadinha
do Faustão
Dia de decisão da
Copa do Mundo,
todo mundo
nervoso, inclusive
o Faustão. Ele
disse para o
goleiro Barbosa,
da Copa de 50:
“Esperamos que o
Taffarel hoje esteje
inspirado.”
O verbo estar,
no Presente do
Subjuntivo, é que
eu esteja, que tu
estejas, que ele
esteja...
O “esteje” do
Faustão foi um
autêntico gol
contra do grande
apresentador.
Talvez fosse o
começo do 3 a 0.
Novela
Júlia, jornalista, personagem interpretada
pela atriz Débora Bloch, na novela
Andando nas nuvens (Rede Globo/
outubro/99), não podia dizer, mas disse:
— “Isto não é ‘com nós’.” Terrível não?
Conosco, Júlia, uma jornalista não pode
desconhecer o uso dos pronomes pessoais
do caso oblíquo.
Romário
Quando tentou explicar a má atuação
de Ronaldo, na decisão da Copa, o
artilheiro Romário comentou: “Algumas
coisas da seleção precisam ser melhores
explicadas”.
Houve um exagero na frase do Romário.
Bastaria dizer: Algumas coisas precisam
ser melhor explicadas.
Soaria muito melhor aos nossos ouvidos.
Galvão Bueno
Sem dúvida, Galvão Bueno comandou com muita competência as
transmissões da Rede Globo na Copa. O que não impediu que errasse
na partida final. Preocupado, quando ainda estava zero a zero,
saiu-se com esta: “Está chegando facilmente os franceses...”
Estão chegando deveria ter dito. Mas, desculpamos o grande
locutor, pois todo mundo ficou nervoso naquele jogo que acabou
com o nosso sonho de alcançar, em Paris, o pentacampeonato.
7 7 7
56
57
Hora extra
“Para melhorar o orçamento, José resolveu fazer algumas horas extra.”
Não vai dar certo!
O correto é: horas extras.
Preste atenção: Quando se usam prefixos sozinhos, eles se comportam
como nomes comuns, portanto variáveis, então, deve-se escrever:
Os prós e os contras;
Os micros;
As mínis;
Atividades extras, etc.
Troca-troca
“O cavaleiro dirigia seu carro em alta velocidade, desrespeitou o
guarda e foi parar na sela da delegacia.”
Tudo errado! Respeite o Código Brasileiro de Trânsito e veja o
significado correto das palavras:
Cavaleiro: indivíduo que anda a cavalo
Cavalheiro: senhor
Sela: arreio de cavalgadura
Cela: aposento de prisioneiro em delegacias ou penitenciárias ou de
frades e freiras num convento.
Período correto: O cavalheiro dirigia seu carro em alta velocidade,
desrespeitou o guarda e foi parar na cela da delegacia.
O penta não veio
“O rendimento da Seleção Brasileira deixou muitoà desejar.”
Nossa derrota foi terrível! Já que não acertamos no futebol,
acertemos no Português.
Preste atenção: O rendimento deixou muito a desejar. Não pode
haver o acento grave indicador de crase antes de verbo porque
nesta situação o a é preposição ou pronome pessoal oblíquo, não
havendo, portanto, a fusão de dois a [a (artigo) + a (preposição) = à].
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57
Frequentemente, ouvimos pessoas ilustres e locutores
de rádio e televisão pronunciando “récorde”, embora
se grafe recorde. Nos dicionários a palavra consta como
paroxítona, isto é, sem acento, portanto devendo ser
pronunciada recórde. Não devemos nos acanhar em falar
diferente, o importante é falar certo. A língua portuguesa
agradece...
58
2424
Carrasco
“Aquela professora se tornou uma carrasca para com os alunos.”
Ela se tornou um carrasco e não uma carrasca.
Carrasco é substantivo sobrecomum, isto é, apresenta um só
gênero gramatical para designar pessoas do sexo masculino ou
do sexo feminino.
Outros substantivos sobrecomuns: pessoa, vítima, cônjuge,
indivíduo, criança, criatura, apóstolo.
Relâmpagos
“O temporal era tão grande
que o céu todo relampiava.”
O céu não “relampiava” e
sim relampeava.
O verbo é relampear e não
“relampiar”.
Aliás, relampear tem outras
formas que podem ser
empregadas:
Relampejar, relampaguear,
relampadejar, relampadear
e lampejar.
58
Família reunida
“Aos domingos, à noite, ceiamos todos juntos.”
Todos passam bem depois dessa refeição? A forma verbal
“ceiamos” é indigesta. O verbo cear apresenta um i nas formas
rizotônicas.
Revendo o presente do indicativo do verbo cear: ceio / ceias /
ceia / ceamos / ceiais / ceiam.
Frase correta: Aos domingos, à noite, ceamos todos juntos.
59
A grande diferença
“É isso que me difere de você!”
Assim, a diferença vai ficar cada vez
maior. O correto é: É isso que me
diferencia de você. Observe:
Diferir significa ser diferente e não
tornar diferente.
Namorar certo
“Namoro com a Cláudia
há dois anos.”
Errado! O certo é:
Namoro a Cláudia.
Quem namora com
acaba não casando.
Repetência
“Os alunos que estão com notas baixas correm o risco de repetir de
ano.”
O risco torna-se muito maior escrevendo assim. Repetir o ano é a
forma correta.
Outra vez o perigo
“Antônio tem certeza que vai passar de ano.”
Se escrever assim, o Antônio será reprovado!
Passar o ano é o certo, embora quase todos digam passar “de” ano.
Botando banca
“Este livro é encontrado nas
principais bancas-de-jornais.”
Errado! O plural de banca-de-
jornal é bancas-de-jornal.
Preste atenção: o substantivo
composto, cujos nomes são
ligados por uma preposição,
somente o primeiro termo vai
para o plural. Exemplos:
Cama de casa / camas de
casal.
Jornal de bairro / jornais de
bairro.
Pão de queijo / pães de
queijo.
Furacão
No último capítulo da
excelente série Hilda Furacão
apareceu estampado num
cartaz: “Fronteira à 100 m.”
Por favor! Jamais usem o
acento grave indicativo de
crase antes de numeral. O
certo é: Fronteira a 100 m. A
exceção é para o à ou às antes
das horas.
Exemplos:
Às 10h30min
À 1h
Às 12h
K
K
K
K
59
Um decreto, assinado em Portugal, modificou
algumas regras da ortografia da língua portuguesa,
que foram mudadas nos países lusófonos, isto é,
aqueles cujo povo tem como língua nacional o português.
Desde 1992 esse assunto é discutido exaustivamente.
Dependerá de cada presidente determinar a data para que
isso aconteça, em cada um dos lugares. Esperemos pelo Novo
Acordo Ortográfico.
2525
Outra de novela
Na novela Torre de Babel veiculada pela TV Globo em 1998,
Ângela, personagem de Cláudia Raia, saiu-se com a seguinte
pérola: “Eu sabia que haviam complicações.”
Convém esclarecer, mais uma vez, que o verbo haver é impessoal
e, portanto, fica na terceira pessoa do singular, quando significa:
existir, acontecer e fazer (indicando tempo decorrido).
A atriz deveria ter dito: Eu sabia que havia complicações.
Todo o cuidado é pouco quando falamos para milhões de
espectadores.
Amizade
“O amigo que mais gosto é Pedro.”
Garanto que Pedro não acredita nessa amizade.
O verbo gostar (quem gosta, gosta de) é transitivo indireto,
isto é, precisa da preposição de.
Observe:
A presença do pronome relativo (que) atrai a preposição para
antes dele.
Período correto: O amigo de quem mais gosto é o Pedro.
60
Preocupações justas
1. “D. Geralda está muito preocupada porque os vizinhos
‘destorceram’ os fatos que ela contou.”
O certo é: D. Geralda está muito preocupada porque os vizinhos
distorceram os fatos que ela contou. Veja bem:
Distorcer – desvirtuar, mudar o sentido.
Destorcer – endireitar, desfazer torcedura.
2. “O tráfego da Avenida Brasil preocupa os engenheiros de
trânsito porque não está fruindo bem.”
O correto é: O tráfego da Avenida Brasil preocupa os engenheiros de
trânsito porque não está fluindo bem. Veja bem:
Fluir – correr (líquido); passar (tempo); escoar (tráfego).
Fruir – desfrutar, gozar.
Afirmação errada
“Ao fazer tal afirmativa, ela não estava de toda errada.”
Estava totalmente errada! O certo é: Ao fazer tal afirmativa, ela não
estava de todo errada.
Observe: a expressão de todo é uma locução adverbial, portanto
invariável. Significa: totalmente, completamente.
Aberto ou fechado
Veja a pronúncia certa das palavras:
Algoz – fale sempre com o o fechado (algôz) como na palavra impôs.
Torpe – fale sempre com o o fechado (tôrpe).
Obeso – fale sempre com o e aberto (obéso).
Obsoleto – fale sempre com o e aberto (obsoléto).
Coeso – fale sempre com o e aberto (coéso).
Atenção: as palavras acima não são acentuadas, o acento foi colocado
para ajudar o entendimento da pronúncia correta. A única que é
acentuada é impôs.
Retorno às aulas
Docentes e discentes já voltaram às escolas para o retorno às aulas.
Preste atenção nas palavras:
Docente – relativo a professores.
Discente – relativo a alunos.
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61
Respostas aos leitores
1. Rosa M. Lessa (Rio de Janeiro/RJ)
Os diminutivos com os sufixos zinho e zito fazem o
plural da seguinte forma: o plural da palavra original
sem o s + o plural do sufixo (zinhos ou zitos).
Exemplos:
Papel + zinho — papéi + zinhos = papeizinhos.
Flor + zinha — flore + zinhas = florezinhas.
Botão + zinho — botõe + zinhos = botõezinhos.
2. Anna Maria de Bethencourt (Rio de Janeiro/RJ)
Jamais use o pronome pessoal do caso reto eu em
Você precisa
saber
O verbo constituir é
transitivo direto. Exemplo:
Esses parágrafos constituem
o núcleo da obra.
O verbo constituir-se
rege a preposição em: Esses
parágrafos constituem-se
no núcleo da obra.
O verbo implicar, no
sentido de envolver ou
ter como consequência,
é transitivo direto, isto
implica dizer que não aceita
a preposição em, ou seja,
isto implica aquilo e não
naquilo.
Tempo de eleição
“Chegou a hora do povo
decidir quem será o nosso
presidente.”
É uma decisão séria e
precisa ser tomada com
cuidado. Comece pela frase
certa: Chegou a hora de o
povo decidir quem será o
nosso presidente.
Observe: o povo é o sujeito
do verbo decidir e o
sujeito nunca é regido de
preposição, logo não cabe a
contração da preposição de
+ o artigo o = do, bastando
o artigo o antes de povo.
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�
�
62
fim de frase, neste caso use o pronome oblíquo mim.
Exemplos:
Para eu fazer.
Para eu levar.
Este bordado foi feito por mim.
Ela trouxe o presente para mim.
Observe, entretanto, outras situações em que o mim
não está no final da frase:
É fácil para mim aceitar as novas regras (para mim
completa o sentido de fácil).
Depois da preposição entre devemos utilizar o
pronome mim. Exemplos:
Entre mim e ti há uma grande amizade.
Entre mim e ele só restou a tristeza.
3. José Jacintho Figueroa (Rio de Janeiro/RJ)
Toda vez que você puder substituir mau por bom o
mau é com u. Quando você puder substituir o mal
por bem, o mal é com l. Exemplos:
Ele é um mau (bom) funcionário.
Ele foi mal (bem) no concurso.
Atenção:
Mal como advérbio é invariável.
Mal (substantivo) tem o plural: males.
Mau é adjetivo e o plural é maus.
Exemplos:
A inveja éo mal (substantivo) de todos os tempos.
Todos sofrem os males (substantivo) deste tempo.
Ele não é mau (adjetivo) professor.
Eles são maus (adjetivo) alunos.
Todos se saíram mal (advérbio) nas provas.
63
Vocês já devem ter observado, diversas vezes, a
palavra sic em declarações de alguém nos jornais,
onde aparece entre parênteses (sic). É uma palavra de
origem latina e significa: assim, deste modo. A colocação
do (sic) serve para mostrar ao leitor que foi desse modo
que a pessoa falou.
2626
Dívida
“A dívida do Soares aumentou de tamanho.”
Claro! Escrevendo assim, a dívida ficará ainda maior.
O verbo aumentar pede a preposição em e não “de”.
Escreva: A dívida do Soares aumentou em tamanho.
Término do namoro
“Antônio deixou a namorada porque não queria ser um
impecilho à sua vida.”
O rapaz fez bem, escrevendo desse jeito, seria de fato um
estorvo na vida da moça.
A palavra não é “impecilho”. A palavra certa é empecilho, que
significa: impedimento, obstáculo, empeço, estorvo.
Semelhança
“A menina correu tanto que
chegou esbaforida, porque
estava espavorida com medo
do pivete que a assaltou.”
A frase está perfeita.
Veja as palavras: esbaforida
e espavorida são parônimas,
isto é, têm sons semelhantes
e significados diferentes:
Esbaforida – ofegante, com a
respiração entrecortada pelo
cansaço ou pela pressa.
Espavorida – cheia de pavor,
apavorada, aterrada.
64
Remédio
“O médico receitou
uma pomada para uso
esterno.”
Assim não cura o
machucado. Escreva
externo e veja a diferença:
Externo – exterior, do
lado de fora.
Esterno – osso dianteiro
do peito.
Incerteza
“Joana preocupa-se, pois
considera o seu futuro
bastante inserto.”
Desse modo, o futuro da
moça será muito triste. A frase
correta é: Joana preocupa-se,
pois considera o seu futuro
bastante incerto.
Incerto – cheio de dúvidas.
Inserto – inserido.
Eleição
“Meu vizinho participará do próximo preito eleitoral, como
candidato a deputado estadual.”
Assim, certamente não será eleito. Pleito é o termo correto.
Veja a diferença entre as palavras:
Pleito – demanda, disputa, luta.
Preito – homenagem.
Novela
Novela Meu bem querer, TV Globo, setembro/98. O ator Cláudio
Correia e Castro, que fez o papel de um padre na novela das 7h,
falou: “Ele só deu uma ou duas telefonemas.”
Cuidado! Telefonema é uma palavra masculina, logo o certo é: um
ou dois telefonemas
Café da manhã perigoso
“João gosta de ovos mechidos no café da manhã.”
Assim o rapaz começa mal o dia. Preste atenção: o correto é ovos
mexidos. Depois da sílaba me inicial usa-se x e não ch. Exemplos:
Mexer
Mexicana
Mexerica
Mexilhão, etc.
Exceção única: mecha e seus derivados que são escritos com ch.
U
65
66
Respostas aos leitores
1. Celeste Antunes Dias (Conceição de Macabu/RJ)
A palavra arroz tem plural sim! É arrozes. Não é
comum, mas é o certo. Exemplo: arroz-doce —
arrozes-doces.
2. Simoni de Alcântara (Rio de Janeiro/RJ)
O verbo polir pode ser usado no presente do
indicativo e no presente do subjuntivo, por mais
estranho que pareça. Veja:
Pulo, pules, pule, polimos, polis, pulem (presente/
indicativo).
Pula, pulas, pula, pulamos, pulais, pulam (presente/
subjuntivo).
Cuidado para não confundir o verbo polir com o
verbo pular, pois têm formas comuns. Exemplos:
Pule (verbo polir – 3a pessoa do singular do presente
do indicativo).
Pule (verbo pular – 1a e 3a pessoas do singular do
presente do subjuntivo).
Pula (verbo polir – 1a e 3a pessoas do singular do
presente do subjuntivo).
Pula (verbo pular – 3a pessoa do singular do presente
do indicativo).
Somente pelo sentido da frase você saberá, nestes
casos, se o verbo é polir ou pular.
66
Um dispositivo legal permitiu que a Academia Brasileira
de Letras lançasse no mercado o seu Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, em 1998, esgotado desde
1985. Isso foi feito, numa coedição com a Imprensa Nacional,
dispondo o documento de cerca de 360 mil verbetes, 6.242 dos
quais novos. O VOLP é polêmico – e é isso exatamente que se
deseja, para que ele possa ser aperfeiçoado pela ABL a cada ano.
67
2727
Vocabulário ou
dicionário?
Até Machado de Assis, no conto
intitulado “Dicionário”, fez confusão
entre os termos. Mas é preciso
esclarecer: o vocabulário traz apenas
a grafia correta da palavra e a sua
categoria gramatical; o dicionário,
mais completo, traz a palavra,
a categoria gramatical e o seu
significado. O mais novo Dicionário
do Aurélio, que é o mais famoso de
todos, contém 435 mil verbetes.
Palavras estrangeiras
Há inúmeros vocábulos de origem estrangeira hoje adotados pelo
Vocabulário da Academia. A explicação (lógica) da Comissão de
Lexicografia da ABL, constituída de eminentes filólogos, é bem
simples: nos tempos de globalização, como desconhecer expressões
que são usuais, como hardware, software, internet, intranet e
output?
Por que deletar
Dentro desse critério, a palavra deletar, que já constava de
diversos dicionários, encontrou guarida no VOLP. Não foi o caso
de “printar”. Ela não foi acolhida pelos brasileiros porque pode
ser simplesmente substituída por imprimir. “Se há uma boa
palavra em nossa língua, com o mesmo significado, por que forçar
a situação?”, explicou-nos o professor Antônio José Chediak,
coordenador-geral do trabalho trazido a lume.
67
A presença do hebraico
Sabe-se que o Imperador D. Pedro II, a poeta Cecília Meireles e muitos
religiosos são fãs da língua original da Bíblia. Feito um criterioso
levantamento pela Comissão de Lexicografia, com a ajuda do rabino
Sérgio Margulies, chegou-se ao total de 16 palavras a serem inseridas
no trabalho. Para uma comunidade de 140 mil membros, como é a
israelita, o número não é dos mais expressivos. Entraram no primeiro
VOLP verbetes como Chanuká (festas das luzes), bris (circuncisão), chalá
(tipo de pão), tsedaká (uma boa ação, no ideal de justiça), gefiltefish
(bolinho de peixe, doce ou salgado) e shofar (instrumento que é
utilizado em cerimônias religiosas, especialmente para anunciar o ano
novo judaico).
Palavras árabes
Da cultura árabe, o Vocabulário recebeu uma consistente
colaboração, que vem desde a primeira edição, elaborada sob a
direção do acadêmico Antônio Houaiss. Palavras como alcachofra,
alface, armazém e alforria já se encontram há muito em uso
na nossa língua. Um esclarecimento: o prefixo al, em árabe,
corresponde ao nosso artigo definido o. Armazém, em português,
constitui uma corruptela do al. É a voz do povo que fez assim.
A travessia
Um dos romances de maior êxito do escritor Carlos Heitor Cony é o
que se intitula Pessach, a travessia. A palavra pessach, portanto,
integra a literatura brasileira, por uma das suas penas mais
brilhantes. Significa a festa da liberdade, que relembra a saída dos
judeus do Egito, para a travessia de 40 anos no deserto. Foi nessa
ocasião que Deus entregou a Moisés os 10 Mandamentos. Pessach
passou a figurar no Vocabulário da Língua Portuguesa.
Casa x móveis
“Os móveis da casa de D. Sônia estão sem lustro.”
De fato, os móveis devem estar bem feios.
Veja a diferença:
Lustro – espaço de 5 anos
Lustre – brilho e, figuradamente, candelabro
Frase certa: Os móveis da casa de D. Sônia estão sem lustre.
68
Agradecimento
“Agradeci Joana pelo presente que me mandou.”
Errado! Agradeci a Joana é a frase correta.
Preste atenção: O verbo agradecer pede objeto indireto de pessoa
e objeto direto de coisa. Quem agradece, agradece alguma coisa
(objeto direto) a alguém (objeto indireto).
Para você recordar: os objetos indiretos vêm sempre acompanhados
de preposição.
Resposta ao leitor
1. Valéria Fátima de Athaíde (Rio de Janeiro/RJ)
Para escrever o verbo visar é preciso que você pense
sempre no sentido, pois, dependendo, muda a
regência verbal.
Veja: no sentido de mirar é transitivo direto (não
exige preposição).
Ex.: Ele visava o alvo e acertou no muro.
No sentido de dar visto é transitivo direto (não exige
preposição).
Ex.: O gerente do banco visou o cheque.
No sentido de ter por objetivo é transitivo indireto(exige a preposição a).
Ex.: O aluno visava a uma universidade pública.
Q
69
Sei da dificuldade de inúmeras pessoas com
palavras terminadas em são, ssão ou ção. Uma
dica: todos
os substantivos
derivados dos verbos
ter e torcer são escritos
com ção. Vejam: reter
– retenção; manter -
manutenção; distorcer –
distorção.
2828
Diálogo
“A moça disse ao namorado: não quero lhe falar.”
Nem o namorado vai querer falar com ela.
Atenção: Apesar de muito popularizada esta construção está
errada. Nas locuções verbais em que o verbo principal estiver
no infinitivo (falar) ou no gerúndio (falando) precedido de
partícula atrativa (não) o pronome deve ser colocado antes do
verbo auxiliar (quero) ou depois do verbo principal, mas nunca
entre ambos.
O certo é: não lhe quero falar ou não quero falar-lhe.
Cansaço
“O empregado ficou prostado de
tanto cansaço.”
Não é pra menos! A palavra
“prostado” não existe. O correto
é prostrado (particípio do verbo
prostrar) – abatido, derribado,
desfalecido, enfraquecido.
Situação difícil
“A situação estava grave
e porisso ele chamou a
mãe.”
Assim só agravará a
situação. Não esqueça:
Por isso é sempre
separado.
Queda feia
“O menino caiu do muro e fraturou o omoplata.”
Coitada da criança, mas quebrou o osso errado.
A frase certa: O menino caiu do muro e fraturou a omoplata.
Omoplata é um substantivo feminino.
70
Compra certa
Antônia comprou duas blusas cor de rosa e duas camisas cor de carne.
Perfeito! A moça ficará elegante.
Preste atenção: cor de rosa e cor de carne são adjetivos compostos
invariáveis e exceções à regra de que adjetivos que indicam cor
devem concordar com o nome a que se referem. Exemplos:
Saias vermelhas.
Meias brancas.
Peças cor-de-rosa.
Biquínis cor-de-carne.
Outra exceção: os adjetivos turquesa e pastel, também, são
invariáveis. Exemplos:
Maiôs turquesa.
Tons pastel.
Susto
“A moça grávida ficou
impressionada ao ler sobre
as crianças xipófagas.”
Claro! Não existe a palavra
xipófagas, como se
costuma dizer e escrever.
A palavra certa é:
xifópagas (duas pessoas
que nascem ligadas,
geralmente, na altura
do tórax, pelo apêndice
xifóide).
Eleição
“Tempo de eleição é a hora da
prova dos nove.”
Escreva corretamente: prova
dos noves.
Os nomes dos algarismos,
quando usados como
substantivos, são flexionados
em número, isto é, têm plural.
Estas novelas...
17/9/98 – Meu bem querer. O ator Lúcio Mauro, no papel de
presidente da Câmara Municipal de São Tomás de Traz, ao empossar
o Prefeito Inácio (Nuno Leal Maia) disse: “Ler a leitura”. Isto é uma
redundância, um pleonasmo (excesso ou desperdício de palavras
numa frase).
Será que foi por isso que o Prefeito Inácio morreu?
F
71
Respostas aos leitores
1. Leocádia Jacintha dos Santos (São Gonçalo/RJ)
O modo Imperativo Afirmativo é formado da seguinte
maneira: tu e vós do Presente do Indicativo sem o s
e as demais pessoas (você, nós, vocês) do Presente
do Subjuntivo. Não se usa a 1a pessoa do singular.
Exemplo:
vê tu
veja você
vejamos nós
vede vós
vejam vocês
2. Ana Maria Saraiva da Cunha Mendes (Rio de
Janeiro/RJ)
O verbo gerir é irregular. No Presente do Indicativo
o e do radical muda para i na 1a pessoa do singular.
Veja:
eu giro – nós gerimos
tu geres – vós geris
ele gere – eles gerem
72
Para todos aqueles que se preocupam em escrever a
nossa língua corretamente, o x e o ch são motivo de muitas
dúvidas: enxarcado ou encharcado? Quando o en é prefixo,
usado para se formar uma palavra derivada, respeita-se a
grafia da palavra primitiva. Observe: enchente, enchimento
(vêm de cheio), encharcar (vem de charco), enchocalhar (vem de
chocalho), etc.
2929
Singular
“Nem um, nem outro
candidato às próximas
eleições compareceram ao
debate.”
Muito feio! A falta e a escrita.
A expressão nem um, nem
outro determina o verbo no
singular.
Frase correta: Nem um, nem
outro candidato às próximas
eleições compareceu ao
debate.
A salada
Marcos de Castro, ele mesmo um grande redator, reclama da
salada em que se transformaram os nomes próprios em jornais,
revistas e livros: “Há uma absoluta falta de critério, o que leva
uns a escrever Ayrton Senna, outros Airton Senna”. Bem, para dar
a nossa contribuição, já vimos Rui Barbosa com y e Antônio sem
acento, como se não houvesse uma regra determinando isso tudo.
Angelical
A apresentadora de programas infantis, Angélica, da Rede Globo
de televisão, aparece no vídeo, fazendo uma propaganda para
divulgar o ensino no país, cometendo um deslize em nossa língua:
“repetir de ano”.
Assim, a educação ficará cada vez pior.
Repetimos para você acertar sempre.
O correto: Repetir o ano.
73
Com quem fica a razão?
É preciso esclarecer que o indivíduo deve escrever o seu nome como
foi registrado na certidão de nascimento. Não importa se foi com y
ou i, com ou sem acento. Mas nós, quando o escrevermos, devemos
respeitar as regras da ortografia, sob pena de virar bagunça.
Chuva
“Derrepente caiu um grande temporal e inundou a cidade.”
Deve ter sido uma grande enchente, por causa do “derrepente”. Esta
palavra não existe. De repente – escreve-se separado.
Período correto: De repente caiu um grande temporal e inundou a
cidade.
De repente, nunca mais se esqueça como se escreve de repente.
Queimadura
“O Sol emite raios infravermelhos e ultravioletas.”
Atenção! Assim é queimadura na certa.
Infravermelho: é flexionável, isto é, tem plural.
Ultravioleta: é invariável, não admite plural.
Diga, então: O Sol emite raios infravermelhos e ultravioleta.
Timidez
“João é tão tímido que nunca vai à
festas.”
Não devemos usar crase quando um
a está no singular, antes de uma
palavra no plural, pois, nesse caso,
o a é preposição, não havendo a
(preposição) + a (artigo definido) = à.
Veja a diferença: Nunca vou às festas
– ocorre o acento indicativo da crase,
pois há a contração do a (preposição)
+ as (artigo definido) = às.
Os bordéis
e a
confusão
O plural de bordel
(prostíbulo, s.m.)
é bordéis. Outra
coisa é Bordéus,
cidade francesa,
que os franceses
chamam de
Bordeaux.
6
74
Respostas aos leitores
1. Geraldo da Cunha (Rio de Janeiro/RJ)
O termo carioca só deve ser empregado em relação
à cidade do Rio de Janeiro. Quando se tratar do
Estado do Rio de Janeiro, o adjetivo fluminense é que
deve ser usado. Carioca e fluminense são adjetivos
pátrios.
2. Olívio B. Cordeiro (Rio de Janeiro/RJ)
O estado nordestino é grafado com h.
(sem h e com acento agudo) é o acidente geográfico.
Preste atenção: os derivados do nome do estado
(Bahia) são grafados sem acento – baiano,
baianidade.
75
Há muita gente escrevendo, hoje, sobre a língua
portuguesa. Um dos melhores livros é A imprensa e
o caos na ortografia, do jornalista Marcos de Castro,
com quem trabalhei na redação da Manchete. Ele receia
que o português possa se afundar como língua de cultura,
advertindo: “Nenhuma língua vive se não tiver ortografia
estável”.
3030
Porta errada
“José saiu apressado pela aquela porta.”
Perdeu tempo! É errada a construção “pela aquela” – pela é o
resultado da combinação da preposição per (antiquada) com o
artigo a, na forma arcaica la, e como não se emprega o artigo
antes dos demonstrativos não devemos escrever “pela aquela”.
O certo é: José saiu apressado por aquela porta.
Neném
“Márcia é uma neném
bonita.”
Deste jeito fica feia. Neném é
um substantivo masculino.
Já as palavras nenê e nené
têm os dois gêneros. A frase
correta: Márcia é um neném
bonito.
76
Você precisa
saber
A expressão latina ipsis
verbis – com as mesmas
palavras, textualmente.
Uma senhora pediu que
suas determinações fossem
escritas ipsis verbis no
testamento que fizera.
Aterragem/aterrissagem
O avião aterrou normalmente e os passageiros aplaudiram.
Parabéns para o piloto. Aplausos para a nossa língua.
Aterrar é verbo e indica o ato de um aeroplano descer à terra. O
substantivo correspondente é aterragem.
A maioria das pessoas diz e escreve aterrissar e aterrissagem, o que
também está certo.
Cuidado que “aterrisagem”não existe.
Vem de encontro
Numa entrevista radiofônica, a excelente atriz Eva Wilma falava
sobre o seriado Mulher, como parte de uma ampla campanha de
prevenção do câncer no colo do útero. De repente, ela confessou:
“Isso vem de encontro ao que penso sobre a matéria”.
Se foi de encontro, bateu. O certo é ir ao encontro.
Repetimos, neste livro, esta informação para que você jamais vá de
encontro à língua portuguesa.
Projeto infeliz
“Enviamo-lhes o projeto para
exame.”
Escrito assim, certamente, o
projeto não agradou.
Enviamos-lhes é a forma
correta. Os pronomes lhe e lhes,
ao se juntarem, encliticamente
(depois do verbo) a uma forma
verbal, não produzem nenhuma
alteração.
Nervosismo
“A tenção nervosa de Joana piorou, mesmo depois de tomar muitos
calmantes.”
Não vai melhorar!
O certo é tensão (com s) que significa: qualidade ou estado do que
é tenso, estado em que se é levado além de um limite normal de
emoção.
Tenção – o mesmo que intenção, resolução
Intervir
“Meu pai queria que eu intervisse
na briga dos meus irmãos.”
Não se meta em confusão! O
verbo intervir é composto do
vir e por ele se conjuga. Logo, o
período correto é: Meu pai queria
que eu interviesse (imperfeito do
subjuntivo do verbo intervir) na
briga dos meus irmãos.
Visse é o imperfeito do
subjuntivo do verbo ver.
77
Respostas aos leitores
1. Fabrício T. Devanier (Caxambu/MG)
São chamados de anômalos os verbos de grandes
irregularidades nos seus radicais, que são formados a
partir de diferentes verbos.
Veja: o verbo ser é anômalo (muito irregular),
originário das formas latinas sedere e esse. Exemplo:
sou, és, é, somos, sois, são.
O verbo ir também é anômalo, originário das formas
latinas: ire, vadere e fugere. Exemplo:
irei, irás, irá
vou, vais, vá
fui, foste, foi
2. Roberto Lustosa de S. Campinho (Rio de Janeiro/RJ)
Devemos usar a palavra vitrina, pois vitrine é um
galicismo (palavra ou expressão francesa usada na
língua portuguesa ou em outra língua qualquer).
78
É surpreendente e altamente gratificante anunciar que
a 5a edição do Vocabulário da Língua Portuguesa está
praticamente esgotada. Assim se comprova o interesse do
nosso povo pela língua portuguesa. Nova edição sairá em
breve, com novas palavras.
3131
Benefício para a educação
Na primeira edição do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa havia verbetes ausentes, que hoje não poderiam estar
de fora. Exemplo: teleducação, teleconferência, multimídia.
Como a educação brasileira ficaria sem essas expressões, que
configuram os termos básicos da educação a distância, hoje
modalidade das mais utilizadas no mundo desenvolvido?
Vergonha
“A aluna apresentou o trabalho com
grande espontaniedade.”
Ela deve ter ficado envergonhada, com
o erro.
O certo é espontaneidade – qualidade
de espontâneo, de livre vontade,
naturalidade.
Lembre-se: a palavra
“espontaniedade” não existe.
Agravante
“Havia um agravante, no
acidente em questão: o
motorista dirigia alcoolizado.”
Além de ter que pagar a
multa, escrevendo deste jeito o
acidente tornou-se mais grave.
Atenção: a palavra agravante,
como substantivo, é do
gênero feminino: Havia uma
agravante é o correto.
Sempre alerta!
“As crianças estavam
alertas.”
Cuidado! Alerta como
advérbio é uma palavra
invariável.
Escreva certo: As
crianças estavam alerta.
& & &
79
Situação difícil
“O médico estava preocupado porque a situação do doente parecia
insolvível.”
Certamente, o paciente não ficará curado!
A frase correta é: O médico estava preocupado porque a situação do
doente parecia insolúvel.
Observe:
Insolúvel – o que não pode ser resolvido, o que não tem solução.
Insolvível - o que não pode pagar.
Turismo infeliz
“A viajem a Foz do Iguaçu foi
muito divertida.”
Não acredito! Deve ter sido bem
aborrecida.
O correto: A viagem a Foz do
Iguaçu foi muito divertida.
Viajem (com j) é a forma verbal
da 3a pessoa do plural do
presente do subjuntivo do verbo
viajar.
Viagem (com g) é o substantivo.
A mesma paixão
Tanto o pai quanto o filho
são loucos por futebol.
Ótimo! É uma paixão
saudável.
Quando os elementos de
um sujeito composto (pai
e filho) estão ligados por
tanto... quanto, o verbo
vai para o plural.
Exame de saúde
“Apesar de o candidato não ter apresentado excelente desempenho
físico, eu examinei-o e aprovei.”
Errado! O certo é: Eu examinei-o e 0 aprovei. Nas orações
coordenadas [frases com conjunções coordenativas (e)], quando se
usa a ênclise (pronome oblíquo depois do verbo), o pronome deve
ser repetido.
h
h
h
80
Respostas aos leitores
1. Flávia Maria da Cunha Borges (Rio de Janeiro/RJ)
A palavra nenhures existe, sim. É um advérbio de
lugar, que significa em nenhum lugar, em nenhuma
parte. É o oposto de algures.
2. Solange P. Mayor (Duque de Caxias/RJ)
Próclise é a colocação do pronome oblíquo antes do
verbo. Podemos dizer que o pronome está proclítico.
Na nossa língua, usamos mais a forma enclítica, isto
é, o pronome depois do verbo. Exemplos:
Não me pergunte nada – pronome antes do verbo –
próclise.
Ele olhou-me assustado – pronome depois do verbo
– ênclise.
Existe também a mesóclise: Ser-me-ia grato ler todo
o jornal (pronome no meio do verbo).
3. José Luís F. Fernandes (Queimados/RJ)
Urgir é um verbo defectivo, que não pode ser
conjugado em todas as pessoas. No caso, só se
conjuga nas terceiras pessoas.
Veja: urge, urgem, urgia, etc.
Urgir – significa ser urgente.
81
A preocupação com a regência verbal é muito
grande e o assunto merece atenção. Regência verbal
é a relação que se estabelece entre os verbos e os seus
complementos, podendo ligar-se a estes complementos
das seguintes maneiras:
Diretamente – sem o auxílio de preposição, o complemento
será o objeto direto e o verbo será transitivo direto.
Indiretamente – com o auxílio de preposição, o complemento
será o objeto indireto e o verbo será transitivo indireto.
Não esqueçam que há verbos que pedem objeto direto (sem
preposição) e objeto indireto (com preposição) na mesma frase.
Veja: Maria
ganhou um
livro (objeto
direto) do seu
pai (objeto
indireto).
3232
Coisas do coração
Numa discussão entre namorados, no Metrô/Estácio, outro dia,
ouvi maravilhado a morena dizer ao rapaz:
— Você tem sido um cardisplicente.
Ele achou que era uma ofensa e quase brigou feio com ela, que
se apressou a explicar:
— É isso mesmo. Você desdenha do próprio coração...
Acidente
ecológico
“O acidente com o navio
petrolheiro causou graves
danos à costa brasileira.”
Não só sujou o mar,
como, também, a língua
portuguesa. Não existe a
palavra “petrolheiro”. O
correto é navio petroleiro.
Cidadão paulista
Fernando diz sempre que é um
cidadão paulista e paulistano.
Ele está certo! Por quê? Porque
nasceu na cidade de São Paulo
(paulistano) e, logicamente, no
Estado de São Paulo (paulista),
portanto, tem direito aos dois
adjetivos pátrios.
Se ele tivesse nascido em Bauru, não
seria paulistano, somente paulista.
82
Eleição sofrida
No segundo turno, as emissoras de televisão capricharam na
cobertura. E alguns repórteres não estiveram à altura dos cuidados
devidos com a língua portuguesa. Um deles, empolgado com o
primeiro resultado, que era o do Rio de Janeiro, saiu-se com esta: “A
percentagem dos votos garantem a Garotinho a vitória”. Ele devia
ser condenado a repetir: Garante, garante, garante.
Completamento
Há certas expressões que
deixam a gente assustado.
A Embratel, quando recebe
uma ligação, dos Estados
Unidos, coloca uma voz
maviosa que nos diz: “Para
o completamento da sua
chamada...”
Primeiro, o susto; depois,
a acomodação. A palavra
existe e está registrada no
Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa. Só que
é mesmo feia...
Polissemia
Há vários leitores solicitando o
significado da palavra polissemia.
Resposta: é a propriedade que
tem a mesma palavra de assumir
significados diferentes.
Exemplos: Lúcia bateu a porta.
(fechou).
Roberto bateu o carro. (trombou).
Meu coração bate rápido. (pulsa).
Vaidade
“Sônia é o tipo de mulher quevive preocupada com o seu
vestiário.”
Não adianta! Assim, jamais será
uma moça elegante.
A frase correta é: Sônia é o tipo
de mulher que vive preocupada
com o seu vestuário.
Veja a diferença:
Vestuário – é o traje, a
indumentária, as roupas que
usamos.
Vestiário – é um local para
trocar de roupa. Existe,
normalmente, em clubes,
colégios, etc.
Felicidade para os
mato-grossenses
Parece coisa pouca, mas
não é: Uma revista semanal
importante descobriu que a
preposição que antecede o
nome Mato Grosso é de, e não
a contração do, como a grande
imprensa insiste em usar.
Observe: O estado de Mato
Grosso; os mato-grossenses
vivem em Mato Grosso.
(colaboração de CZ - leitor
cuiabano).
83
Respostas aos leitores
1. Anália F. Sérvulo (Rio de Janeiro/RJ)
Mínimo é o superlativo absoluto sintético de
pequeno.
Alguns adjetivos apresentam o superlativo absoluto
sintético de forma irregular. Outros exemplos:
Grande – maior
Bom – ótimo
Mau – péssimo, etc.
2. Kátia Maria das Neves (São Gonçalo/RJ)
Palavra primitiva é aquela que serve de base para
a formação de outras palavras, que chamamos de
derivadas. Observe:
palavra primitiva palavras derivadas
Amor amoroso, desamor, etc.
Flor florista, floração, floreira, etc.
Calor calorento, caloroso, etc.
Pedra pedregulho, pedreira, etc.
3. Sebastião de Almeida Telles (Rio de Janeiro/RJ)
A palavra privilégio é sempre com i. Eu sei que muita
gente importante fala “previlégio”, mas não está
certo. É inaceitável.
84
Hoje há uma vigilância cada vez maior em relação à
língua portuguesa. Os próprios leitores não se contentam
com soluções que não tenham lastro na gramática. Um
deles nos telefonou, para duvidar de duas expressões, na
crônica de João Ubaldo Ribeiro em O Globo. Saiu a palavra
“pólipo”. O leitor prefere “polipo”. As duas formas estão
corretas. A outra dúvida referia-se à palavra do cronista: “Estou
despolipado”. (tiraram-lhe um pólipo do corpo). Aí é preciso
esclarecer que se trata de uma inovação do escritor baiano. No
futuro, quem sabe, poderá entrar no Vocabulário Ortográfico?
3333
Inverno na
primavera
“O frio que atingiu o Sul do
país obrigou o gaúcho a usar
o ponche.”
Pobre gaúcho! Continuou com
frio. A capa quadrangular,
com uma abertura no meio,
por onde se enfia a cabeça
é poncho. Ponche é uma
bebida, que geralmente leva
frutas picadas.
Cachorro frio
“Marli comeu um cachorro-quente e a salchicha não lhe fez bem.”
Não é para menos! Deste jeito deve ter tido uma baita dor de
barriga. O certo é salsicha. Preste atenção à grafia e à pronúncia
desta palavra.
Mudança impossível
“Rogério mudou para a casa da sogra.”
Assim, se arrependerá. Para trocar de residência, ir morar em outro
endereço, o verbo é pronominal: mudar-se, portanto o correto é:
Rogério mudou-se para a casa da sogra.
O verbo mudar (intransitivo, isto é, sem complemento) significa
transformar-se.
Exemplo: Ele mudou (está mudado).
| | | | |
85
Raiva inútil
“Quando Maria ficava furiosa nada a detia.”
Ficou furiosa à toa. O verbo deter está conjugado errado. O correto é
nada a detinha.
Preste atenção: o verbo deter, nesta frase, tem que concordar com
o tempo e modo do verbo ficar (ficava – pretérito imperfeito do
indicativo).
Para você recordar o pretérito imperfeito do indicativo do verbo
deter: detinha/detinhas/detinha/detínhamos/detínheis/detinham.
Pesca errada
“João resolveu dedicar-se à
psicultura, pois mora perto de um
entreposto de pesca.”
Não vai dar certo! A criação de peixes
é piscicultura. A palavra “psicultura”
não existe. Ninguém cria almas...
Área de lazer
“Os adolescentes fizeram um pedido, por escrito, ao síndico,
reivindicando uma área para recriação.”
Escrevendo assim, não conseguirão. O certo é área para recreação
(lazer). Veja a diferença:
Recriação – nova criação
Recreação – lazer
Exemplo: Pecado capital é recriação de uma novela antiga, que
tinha o mesmo nome.
Saudade
“O general tinha
saudade dos
decretos-lei.”
Errado! O plural
de decreto-lei é
decretos-leis.
Pecado capital
Na novela global, num capítulo de novembro / 98, um diálogo entre
Francisco Cuoco e Carolina Ferraz:
— “A partir do momento que lhe conheci, constatei que isso não
poderia continuar assim.”
Ele ficaria feliz se tivesse dito a conheci, que é o certo. E poderia
trocar o “constatar”, que é galicismo, por verificar. A emoção não
deve sacrificar a razão.
L
86
Respostas aos leitores
1. Denise Ferreira dos Santos (Magé/RJ)
A pronúncia correta da palavra poça é fechada
(pôça). Não se pode falar poça (póça) porque
confundiria com possa (o verbo poder - 1a e 3a
pessoas do singular do presente do subjuntivo).
2. Alberto Maria Ferreira (Rio de Janeiro/RJ)
Diabete ou diabetes – substantivo comum-de-dois
gêneros, isto é, tem os dois gêneros (masculino e
feminino).
Exemplos: A diabete é uma doença muito ingrata.
O diabetes é um distúrbio metabólico.
3. Sandra Falzer (Rio de Janeiro/RJ)
, em língua portuguesa, significa palavra
em cuja formação entram elementos de idiomas
diferentes.
Exemplo: biologia – bio (vem do latim e significa
vida) + logia (vem do grego e significa estudo ou
ciência) = ciência que estuda a vida.
87
Na Academia Francesa, não há dúvida: se você
vai escrever uma carta, o tratamento é “Senhora
Ministro”. Mas as mulheres, se assim o desejarem,
podem se considerar “Ministras”, mesmo sabendo que
cometem um erro linguístico. O veredito da Academia
Francesa é claro: “O masculino é exigido para designar
funções e cargos do serviço público e de todas as profissões
regulamentadas”. Justificativa dos imortais franceses: “Herdeiro
do neutro latino, o masculino tem um valor genérico ao nomear
um sujeito de direito independente do sexo do indivíduo”.
3434
Você precisa saber
A diferença de uma crase:
Matar a fome – é comer.
Matar à fome – é provocar a
morte de alguém.
A diferença de uma vírgula:
Não tenha cuidado!
Não, tenha cuidado!
Futebol e cultura
Falar de improviso tem lá os seus riscos. Os locutores esportivos
não têm outro jeito. Veja-se o que ocorreu com o premiado
Galvão Bueno, nas semifinais do Campeonato Brasileiro de Futebol
(dezembro/98):
“É sempre bom lembrar de que a Portuguesa, pelo retrospecto...”
Esse “de que” não é necessário. Bastaria a expressão lembrar que.
A nível de
Outra, na mesma data (6/12/98), quem cometeu foi o grande
humorista Tom Cavalcanti, de quem somos admiradores. Não
teve graça alguma ele dizer, com toda pompa:
“Não posso proclamar por quem eu torço a nível de Brasil.”
Mais de uma vez, já tratei neste livro, sobre a impropriedade
da expressão “a nível de”. O correto é em nível de. Ele, que é
cearense, deveria saber que “a nível de” é relativo ao mar. No
Ceará há praias lindíssimas.
\ \ \ \ \ \
88
Esquecimento
Não houve quem não gostasse do filme Esqueceram de mim. Pelo
sucesso, teve até sequência. Mas a língua portuguesa sofreu com a
tragédia vivida pelo pequeno Macaulay Culkin. As formas corretas
seriam: Esqueceram-se de mim ou Esqueceram-me. Não ia ficar tão
bonito, mas seria o certo.
Uma confraternização esquisita
“Depois da vitória sobre o Vasco, no Japão, viu-se o lateral Roberto
Carlos confraternizar-se com a torcida do Real Madri.”
Não existe isso. Confraternizar já indica reciprocidade. Portanto, o se
é perfeitamente dispensável.
Derrota
“O Vasco perdeu do Real
Madri.”
Escrevendo “perdeu do Real
Madri” a derrota fica, até,
maior e mais triste.
Prefira: perder para.
Frase certa: O Vasco perdeu
para o Real Madri.
Coisas da pronúncia
Outro dia, foi o Max, da seleção brasileira de voleibol, que virou
“Maquis” para os nossos comentaristas que cobriam o Campeonato
Mundial. Com inveja, o pessoal do futebol agora inventou o “Alequis
Alves”. Não seria tão mais fácil pronunciar Alex Alves?
É fantástico
No domingo, 22/11/98, a
excelente jornalista Glória
Maria disse para quem
quisesse ouvir: “É torpe!”
Só que ela pronunciou
“tórpe” (com ó aberto).
O certo é torpe (com ô
fechado).
Grande ofensa
“João ficou triste porqueofendeu aos amigos.”
Os amigos se sentiram duplamente ofendidos. O verbo ofender é
transitivo direto, isto é, não pede preposição.
Veja a frase correta: João ficou triste porque ofendeu os amigos.
}
}
}
}
89
As dúvidas em relação a nossa língua continuam
e continuarão sempre. Há inúmeras palavras, cujas
pronúncias são sempre questionadas. Récorde ou
recorde? Recorde (sílaba tônica cor). Diga sempre
necropsia, pudica, ibero e crisântemos. Nossos ouvidos
agradecem.
3535
Pavor
“Ana ficou com hogerisa
ao namorado.”
Coitado do rapaz! Nem
vai saber que sentimento
é este.
A palavra correta é
ojeriza (sem h, com j e z)
e quer dizer: má vontade,
aversão, antipatia a
pessoa ou coisa. Tenha
ojeriza a escrever errado.
Confusão
“Os lutadores estavam no
centro do rinque, enquanto os
patinadores faziam suas evoluções
no ringue.”
Não vai dar certo, vai ter gente
machucada. Veja a diferença:
Ringue – é o tablado onde se
realizam lutas de boxe e outras.
Rinque – é a pista de patinação.
Semelhança
“Os filhos são tal
qual os pais.”
Assim, as crianças
são completamente
diferentes. A frase
certa: Os filhos são
tais quais os pais.
É uma questão de
concordância.
Serviço malfeito
“Algum de nós faremos o serviço.”
Certamente, o serviço sairá malfeito!
Veja a frase correta: Algum de nós fará o serviço.
Preste atenção: Quando o pronome indefinido está no singular
(algum) o verbo concorda com ele (fará).
^
^
90
Avião perigoso
“O avião deu um voo
razante.”
Cuidado! Assim, o avião
pode cair.
Rasante vem de raso, é,
portanto, com s.
Lembre-se: s entre
vogais tem som de z.
Informação
O uréter é um dos dois canais que
conduzem a urina dos rins à bexiga.
A informação está correta, mas
prefira dizer ureter (palavra
oxítona), apesar de alguns
dicionários registrarem uréter (com
acento por ser palavra paroxítona
terminada em r).
Mau investimento
“O governo emite parte do dinheiro arrecadado, dos impostos, em
educação.”
Pobre do povo! Emitindo dinheiro, a educação cada vez vai piorar
mais.
Veja a diferença:
Emitir - lançar fora
Imitir - investir
Frase certa: O governo imite parte do dinheiro arrecadado, dos
impostos, em educação.
Pedido errado
“O advogado alegou a existência de alguns atenuantes, para
justificar o pedido de redução de pena de seu cliente.”
Claro que o juiz não vai conceder. A palavra atenuante, assim como
agravante, é feminina, quando se trata de substantivo.
Frase correta: O advogado alegou a existência de algumas
atenuantes, para justificar o pedido de redução de pena de seu
cliente.
Grande culpa
“A culpa é minha. Não tem nada haver contigo.”
Escrevendo desse jeito, você passa a ser culpado em dobro.
O certo é: Não tem nada a ver contigo.
A confusão é compreensível, pois o h não tem som.
O sentido da frase aponta para o verbo ver precedido da preposição
a. Percebe-se bem o verbo ver, trocando-se o a por que.
Veja: A culpa é minha. Não tem nada que ver contigo.
=
=
=
=
91
Houve época em que a arte da declamação tinha uma
presença certa nos saraus literários do Rio de Janeiro.
Depois, saiu de moda. A declamadora Rachel Stivelman,
num belíssimo CD intitulado Poesia plural, tornou possível
a apreciação de 28 poemas de autores como Fernando
Pessoa, Vinícius de Moraes, Manoel Bandeira e Carlos
Drummond de Andrade, entre outros, numa representação que
nos enche de emoção. Por que não reviver essa arte tão bonita?
3636
Língua tupi
Nos séculos XV e XVII, a língua tupi era amplamente falada
no Brasil, inclusive por escritores como o padre Antônio Vieira
e Gregório de Matos. Assim, é natural que muitos acidentes
geográficos tivessem nomes indígenas, como Paraná (mar),
Pará (rio), Sergipe (rio do siri), Paraíba (rio ruim) e Pernambuco
(mar com fendas). Ipanema, tão linda, é nome de lugar
fedorento. Você sabia?
Com c ou com s?
“O violinista não participou
do conserto porque seu
violino estava no concerto.”
A frase foi escrita com as
palavras trocadas.
O certo é: O violinista não
participou do concerto
porque seu violino estava no
conserto.
Veja bem:
Concerto (com c) – obra
musical para um ou vários
instrumentos.
Conserto (com s) – é o ato ou
efeito de consertar, colocar
em bom estado o que está
quebrado ou rasgado.
92
Descobrimento do
Brasil
O desfile das escolas de samba
é o ponto máximo do carnaval
carioca. Entretanto, não se
admite mais a versão de que
a esquadra de Cabral chegou
à nossa terra por acaso, em
consequência de uma calmaria.
Essa afirmação subestima
não só o descobridor, mas,
principalmente, o rei de
Portugal, que teria sido o
responsável pelas instruções
dadas a Pedro Álvares Cabral.
Babel
Na novela Torre de Babel,
que pôde ser assistida em
1998, a pergunta foi feita
objetivamente:
— “Nesse negócio só entrou as
ações?”
Até o Jamanta sabia que se
deve utilizar o plural. A frase
correta:
— Nesse negócio só entraram
as ações?
A confusão da Torre de Babel
original parece que contagiou
os autores da telenovela.
Carnaval
O Carnaval inspira diversas e bonitas licenças poéticas. Mas
também enseja erros gramaticais e de história que convêm
registrar, para que não virem regras oficiais. Já não se vai cobrar
dos sambistas a colocação correta dos pronomes pessoais átonos,
pois isso em música se libera. Mas há fatos que não devem merecer
interpretações equivocadas. Depois para consertar, na escola, é uma
grande dificuldade.
Só no plural
1.“Maria só gosta de dormir de bruço.”
Vai ter pesadelo! Para ter bons sonhos, Maria só deve gostar de
dormir de bruços (sempre no plural).
2. “Alguém pode sofrer de hemorroida?”
Não! O sofrimento ficará ainda maior. A palavra certa é:
hemorroidas (sempre usada no plural).
3. “João trabalhou tanto que ficou com olheira.”
Coitado do João! O correto é: olheiras, palavra também grafada só
no plural.
93
Mensagem fajuta
“O chefe pediu que passasse cinco faxes.”
Garanto que as pessoas não receberam as
mensagens. O correto é: O chefe pediu que
passasse cinco fax.
Preste atenção: as palavras terminadas em x
com valor de ks não variam em número, isto é,
não mudam no plural.
Exemplos:
Um telex / dois telex.
A xérox (dicionários e o Vocabulário
Ortográfico apresentam, também, xerox sem
acento) / as xérox (as xerox).
O cóccix / os cóccix.
Sem acento
“O relatório que José apresentou omitiu vários ítens.”
Pior ainda! Omitiu, também, o conhecimento da regra de
acentuação. A palavra itens não é acentuada.
Preste atenção: as palavras terminadas em em ou ens só têm acento
tônico em dois casos:
1o) se forem oxítonas.
2o) se tiverem mais de uma sílaba.
Exemplos:
Item, itens, hifens, germem, etc. (não têm acento por causa do 1o
caso) – são todas paroxítonas.
, bens, trem, trens, etc. (não têm acento por causa do 2o caso)
– são todas monossílabas.
Além, alguém, ninguém, amém, etc. (são acentuadas) – todas são
oxítonas e têm mais de uma sílaba.
Exceções em relação ao 2o caso:
Ele tem – eles têm.
Ele vem – eles vêm.
Para não confundir o singular com o plural, mesmo sendo
monossílabos, os dois têm acento no plural.
X
94
Respostas aos leitores
1. Djanira Freitas Leão (Belo Horizonte/MG)
Vossa Majestade, Vossa Excelência, Sua Majestade e
Sua Excelência são pronomes de tratamento e estão
certos. Veja o uso desses pronomes:
Vossa Majestade e Vossa Excelência – quando nos
dirigimos diretamente a pessoa.
Exemplos: Vossa Excelência já almoçou?
Vossa Majestade falará, agora, ao povo?
Sua Majestade e Sua Excelência – quando falamos da
pessoa.
Exemplos: Sua Excelência, o Governador, fará, amanhã,
uma entrevista coletiva.
Sua Majestade caiu doente.
2. Antônio Maria de O. Neto (Rio de Janeiro/RJ)
A palavra arco-íris é um substantivo masculino
invariável, isto é, não tem plural.
Exemplos: O arco-íris apareceu depois da chuva.
Ontem vi três arco-íris.
3. Lúcia Helena de Barcellos e Souza (Guadalupe/RJ)
Se você nasceu na capital de Santa Catarina
(Florianópolis) é florianopolitana e esta palavra é um
adjetivo, sim (adjetivo pátrio).
4. David Peruzzi Damasceno(Santo Antônio de Pádua/
RJ)
O plural do substantivo composto pôr do sol é pores do
sol.
Veja: a regra diz que nas palavras ligadas pela
preposição de e suas contrações só a primeira vai para o
plural, logo a primeira palavra (pôr) assume o plural de
um substantivo terminado em r (pores).
95
Todos os anos são anos da língua portuguesa. Foi o
comentário que ouvimos, a propósito da campanha
promovida pela Academia Brasileira de Letras, no
sentido de fazer de 1999 “o ano da língua portuguesa”.
É preciso valorizar o idioma, insistir para que se fale e se
escreva melhor, a partir de ações educativas concretas.
3737
É fria
“A água se solidifica a zero graus centígrados.”
Garanto que não virou gelo.
O numeral zero deixa a palavra seguinte no singular.
Frase correta: A água se solidifica a zero grau centígrado.
Defesa inglória
Observe: Há vários adjetivos terminados em neo (espontâneo,
contemporâneo, etc).
Na formação dos substantivos derivados desses adjetivos, cai a
vogal o e se junta o sufixo – idade, formando o ditongo – ei.
Exemplos: espontâneo – espontaneidade
contemporâneo - contemporaneidade
96
Batida feia
Um jornal carioca,
entusiasmado com a
assinatura do convênio
de educação a distância
com o Canadá, publicou
que “este convênio veio
de encontro ao grande
interesse do Governador”.
Se é verdade, houve uma
grande batida. O convênio
veio ao encontro do. Se foi
de encontro a, bateu.
Cuidado com a diferença:
Ao encontro de – em
busca de; em favor de.
De encontro a – no
sentido oposto a; em
contradição com; contra.
Você precisa saber
A diferença entre os verbos:
Caçar – matar ou capturar animais. Exemplo: Caçar paca.
Cassar – tornar sem efeito ou nulo. Exemplo: Cassar o mandato.
A diferença entre as locuções ao invés de (ao contrário de) e em
vez de (no lugar de).
Exemplos:
Ao invés de falar, ele se calou (falar é contrário de calar).
Em vez de comer espinafre, comeu repolho (houve apenas uma
troca do espinafre pelo repolho).
As palavras terminadas em au fazem o plural acrescentando
apenas s e as palavras terminadas em al fazem o plural em ais.
Exemplo:
Degrau - degraus.
Jornal – jornais.
Desculpa
fajuta
“Desculpem a nossa
falha técnica.”
Constantemente,
ouvimos os locutores
dizendo esta frase.
Não desculpamos,
não! Quem desculpa,
desculpa alguém,
de alguma coisa.
Sendo assim, a frase
que deve ser dita
após algum problema
técnico é: Desculpe-
nos da nossa falha
técnica.
~ ~ ~
x
x
x
97
Crime duplo
“De acordo com as leis que estão vigindo, roubar é crime.”
Roubar é muito feio e escrever errado, também!
O verbo é viger (segunda conjugação) e não “vigir”.
O correto é: De acordo com as leis que estão vigendo, roubar é crime.
Preste atenção:
Viger (estar em vigor, vigorar) é um verbo defectivo. Só é conjugado
nas formas em que ao g segue-se o e. Exemplos: vige, vigem, etc.
Bimensal ou bimestral?
“Ana escreve duas vezes por mês para uma revista bimestral.”
Há alguma coisa errada com essa publicação.
Deve-se tomar muito cuidado com as palavras bimensal e
bimestral. Elas têm significados diferentes.
Preste atenção:
significa que aparece ou se realiza duas vezes por mês.
quer dizer de dois em dois meses.
Se a Ana escreve duas vezes por mês a revista é bimensal e não
bimestral.
Conceituação
Artigo é palavra variável, que se antepõe ao substantivo para
indicar-lhe o gênero ou o número.
Há dois tipos de artigos:
Definido: o (os), a (as) – junta-se ao substantivo para indicar que
se trata de um ser determinado entre outros da mesma espécie – já
se sabe o que ou quem é.
Exemplo: O cantor foi muito aplaudido durante o show.
Indefinido: um (uns), uma (umas) – emprega-se para mencionar
um ser qualquer entre outros da mesma espécie – não se sabe o que
ou quem é.
Exemplo: Um cantor foi muito aplaudido durante o show.
Veja bem: O artigo definido também se usa com referência à
espécie inteira. Exemplo: O limão é fruta ácida (isto é: todo limão).
98
Respostas aos leitores
1. Ângela F. Perault (Belo Horizonte/MG)
O uso do acento grave, indicativo da crase, antes dos
pronomes adjetivos possessivos (minha, tua, sua,
etc.) é facultativo, isto é, você pode usá-lo ou não.
Veja os exemplos: Não voltarei à/a tua sala.
Entregue o presente a/à minha mãe.
2. Frederico Antunes da S. Filho (Niterói/RJ)
Pronome reflexivo é um pronome pessoal oblíquo
que se refere ao sujeito de uma oração.
Exemplo: Ele se cortou (ele – sujeito)
3. Maria Antônia Ozires de Almeida (Rio de Janeiro/
RJ)
A letra w pode ser substituída por v ou u em palavras
aportuguesadas.
Veja:
Suéter (do inglês sweater).
Sanduíche (do inglês sandwich).
Deve ser, entretanto, empregada em:
Abreviaturas e símbolos usados internacionalmente.
Exemplos: w (watt); kw (quilowatt).
Em nomes próprios estrangeiros:
Exemplos: Wagner, Darwin, etc.
99
O que é um Vocabulário Onomástico? Trata-se de
uma coleção de nomes próprios. De acordo com a Lei
no 5.765, de 1972, a Academia Brasileira de Letras tem
a obrigação de lançar esse trabalho, o que foi feito ao
correr do ano de 1999, graças a uma equipe especializada,
sob a coordenação do professor Antônio José Chediak.
3838
Arrumação da casa
“D. Sônia mobilhou a casa, mas não ficou satisfeita.”
Pudera! Não existe o verbo “mobilhar”, o verbo é mobiliar.
A frase correta: D. Sônia mobiliou a casa.
Atenção para a sílaba tônica e o acento gráfico de algumas
formas.
Para você recordar:
Eu mobílio / tu mobílias / ele mobília.
Propaganda
enganosa
“A cartomante anunciava
que podia advinhar o futuro
de qualquer pessoa.”
Com todo o respeito,
“advinhar” é impossível,
pois esta palavra não se
escreve assim. Adivinhar
não tem d mudo, pois vem
de divino.
Demais e de mais
Cuidado ao usar! São muito parecidas, mas são diferentes.
Preste atenção. Numa frase, toda vez que você puder substituir
o demais por muito, escreva demais e se, ao contrário,
substituir por de menos escreva de mais.
Exemplos: Comeu demais e teve dor de barriga. (Substitui-se o
demais por muito, logo escreve-se demais).
No jantar havia convidados de mais. (Substitui-se o de mais
por de menos, pois com a palavra muito não faz sentido, logo
escreve-se de mais – separado).
100
Cuidado que
a casa cai!
“É bom morar em
casa germinada?”
É muito perigoso!
Casa germinada
deve estar cheia de
germes.
Prefira morar em
casa geminada –
casa de paredes
duplas, construídas
duas a duas.
Penteado feio
“A avó da menina desfeava o cabelo da neta para fazer uma trança.”
Coitadinha! A criança vai ficar feia porque desfear é espalhar a feiura.
Período correto: A avó da menina desfiava o cabelo da criança para
fazer uma trança.
Desfiar / é separar os fios.
Incompetência
“De um modo geral, os operários são
competentes.”
Isto é uma incompetência!
Veja bem: De modo geral, os
operários são competentes é o correto.
Não há necessidade do inconveniente
artigo indefinido um (e suas flexões)
antes de geral. Exemplos:
De maneira geral, e não de “uma
maneira geral”.
De forma geral, e não de “uma forma
geral”.
$
$
$
101
Curiosidade
O verbo xaropear significa aborrecer, amolar, chatear.
Xaropear os amigos é uma forma de afastá-los de você.
Perfumado
“Ganhou um perfume francês, quando aspirou-lhe ficou com dor de
cabeça.”
Garanto que não é culpa do perfume. Foi a maneira de sentir o
cheiro – “aspirou-lhe”. O verbo aspirar no sentido de sentir o odor é
transitivo direto, portanto não admite complemento com o pronome
oblíquo lhe – a ele.
Período correto: Ganhou um perfume francês, quando o aspirou
ficou com dor de cabeça.
Respostas aos leitores
1. Francisco T. Fialho (Rio de Janeiro/RJ)
A palavra cognome significa apelido, alcunha e pode
ser usada, também, para indicar o nome de guerra
ou pseudônimo de uma pessoa.
2. Celina de Almeida F. Pires (Rio de Janeiro/RJ)
A palavra afim é um adjetivo e significa que
apresenta afinidade, objetivos comuns, e diz-se de
pessoa vinculada a outra por parentesco.
Exemplos: O cunhado é um parente afim.
Sempre tive ideias afins com meumarido.
3. Christianne P. Bastos (Rio de Janeiro/RJ)
As conjunções são sempre palavras invariáveis, isto é,
não têm flexão de gênero, número e grau.
Na maioria das vezes ligam orações.
Exemplo: Não tenho medo de avião, porém
(conjunção coordenativa adversativa) prefiro andar
de ônibus.
102
“Um povo só começa a perder a sua independência,
a sua dignidade, a sua existência autônoma, quando
começa a perder o amor ao idioma natal.” O poeta
Olavo Bilac escreveu e nós continuamos a lutar para que a
língua portuguesa seja, de fato, um instrumento para nossa
independência e autonomia. Temos certeza que uma nação cujo
povo domine o seu idioma é mais forte e mais feliz.
3939
Espanta turista
Uma conhecida cidade serrana
colocou no seu portal de entrada:
“Sejam benvindos!”
Os visitantes se sentem mal. O
correto é bem-vindos (duas palavras
separadas por hífen). Benvindo
(escrito junto) é nome de pessoa,
portanto sempre com letra maiúscula.
É bem-vindo o seu interesse em
aprender sempre mais.
Tartufoar, um novo verbo?
O Governador Itamar Franco, na briga da moratória com o Governo
Federal, criou um novo verbo: tartufoar. O substantivo tartufo
existe. Quer dizer falso profeta, hipócrita. Mas o verbo, para
caracterizar governadores que estão fingindo concordância para
pagar as dívidas, começa agora a sua carreira. Será que vai pegar?
Ou será tartufar?
Má colocação
“Sônia foi a cesta colocada num concurso, mas só aproveitaram
três pessoas.”
Cesta é uma caixa, um recipiente e até um aro de ferro guarnecido
com uma rede de malha usada nos jogos de basquete. Nunca uma
colocação em um concurso.
Sônia foi a sexta colocada num concurso, mas só aproveitaram três
pessoas – é o período correto.
Veja: cesta e sexta – palavras que têm a mesma pronúncia,
porém com significados diferentes, são chamadas de homônimas
homófonas.
103
Fiel ao português
Um diretor da Escola de Samba Gaviões da Fiel, feliz com a vitória no
Carnaval de 99, conclamou a sua torcida à comemoração:
— “Haverá chops pra todo mundo.”
Não existe esse plural, popularizado em São Paulo. Mesmo que a
cerveja role, o plural de chope é chopes. Se for diferente é porque
entrou água.
Brasil
“O Brasil é um país que vai
prá frente?”
Assim, não! Pra é redução de
para + a, não tendo acento
gráfico, porque se trata de
palavra monossílaba átona.
Interdição justa
“A lanchonete foi interditada, ontem, porque o material usado para
fazer os sanduíches estava deteriorizado.”
Já deveria ter sido interditada há muito tempo.
Não existe a palavra “deteriorizado” e nem o verbo “deteriorizar”.
A palavra certa é deteriorado, do verbo deteriorar.
Verbos abundantes
Diversos verbos têm particípio duplo. A forma regular, com a
terminação do, deve ser acompanhada dos auxiliares ter ou haver.
Já a forma irregular pede os auxiliares ser ou estar.
Veja os exemplos:
Verbo aceitar – aceitado (particípio regular) / aceito (particípio
irregular).
Ela havia aceitado o presente do ex-namorado.
O presente do ex-namorado foi aceito por ela.
Verbo entregar – entregado (particípio regular) / entregue
(particípio irregular).
O carteiro tinha entregado a correspondência.
A correspondência foi entregue pelo carteiro. W W W
104
Você precisa saber
A expressão latina ipsis litteris
– com as mesmas letras,
igualmente.
Só repita ipsis litteris o que for
verdadeiro.
Respostas aos leitores
1. Carlos Alberto Brotto (Vila Velha/ES)
A palavra telefonema é um substantivo masculino,
portanto você só pode dar ou receber um
telefonema.
2. Brenda Apiacá (Niterói/RJ)
A frase correta: “Eles são de um time de gente
sem vergonha que roubou a carne do churrasco e
bebeu a cerveja.” Os verbos roubar e beber têm
que concordar com um time de gente, portanto no
singular.
3. Sônia Valéria dos S. Pinho (Magé/RJ)
A única maneira correta de escrever horas, usando
o seu próprio exemplo é: 13h45min. Não se admite
abreviar horas com “hs” e muito menos minutos com
“m”, que é a abreviatura de metro, na qual também
não se deve colocar s. Escreva sempre: 250 m, 1 m,
etc.
105
Na literatura brasileira, o escritor João Ubaldo
Ribeiro é um dos mais talentosos. Na crônica Ficando
maluco devagarzinho, de 28/2/99, ele desafia os seus
leitores de O Globo a me escrever, em virtude da frase:
“... o povo não é como eu.” Com a ironia de sempre, ele
afirma: “Digo é como eu. Cartas protestando contra este
pronome aí devem ser dirigidas ao editor desta página,
pelo amor de Deus, ou ao dr. Arnaldo Niskier, na Academia”.
É claro que não há erro, mas apenas uma discreta indução
antropofágica no “como eu”. Se ele tivesse escrito “que nem
eu”, questão de gosto, não haveria qualquer dúvida. O estilo
de João Ubaldo é primoroso. Não merece qualquer reparo.
4040
Luz fraca
“Meu avô teve que usar óculos
cedo porque estudava a luz da
lamparina.”
Claro! O velho lia quase no
escuro.
À luz da lamparina é o correto.
Nas locuções prepositivas com
palavra feminina, coloca-se
o acento grave indicador da
crase sobre o a.
Outros exemplos: à força de, à
míngua de, à custa de, à cata
de, etc.
106
Perfumadíssimo
“A adolescente foi apanhada em fragrante, furtando um vidro
de perfume.”
O ambiente deve ter ficado cheiroso, apesar de ato tão feio.
Observe:
Fragrante – com perfume, perfumado
Flagrante – evidente, apanhado no momento que comete a
ação
Período correto: A adolescente foi apanhada em flagrante,
furtando um vidro de perfume.
Chuvarada
“Os temporais, em São Paulo, têm
causado verdadeiras cataclismas.”
O problema já é grande,
escrevendo “cataclismas” ainda
fica maior. Não existe esta palavra.
Preste atenção: cataclismos é
um substantivo masculino que
significa grandes inundações,
dilúvio.
Frase correta: Os temporais, em São
Paulo, têm causado verdadeiros
cataclismos.
Mais chuva
“Ontem, choveu granito.”
Nunca choveu “granito”.
Graças a Deus!
Ontem choveu granizo – é a
frase correta.
Veja a diferença:
Granito – grão pequeno /
rocha / sol ou calor forte após
muitos dias de chuva.
Granizo – tipo de chuva na
qual as gotas de água se
congelam ao atravessar uma
camada de ar frio, caindo sob
a forma de pedras de gelo.
Sem perdão
“Perdoei Fernando da dívida.”
Não deveria! Escrevendo desta maneira, não merecia perdão.
O verbo perdoar é transitivo direto para coisa, pedindo objeto
direto e transitivo indireto para pessoa, pedindo objeto indireto.
Frase correta: Perdoei ao Fernando a dívida.
Objeto indireto / objeto direto
Lembrete:
Objeto direto – sem preposição
Objeto indireto – com preposição
Beleza pura
“A bahia de Guanabara é linda.”
Ela continua linda e só ficará feia
se escrevermos “bahia”. A frase
correta: A baía de Guanabara é
linda.
Bahia (com h) só o nome do
estado; nos outros casos (mesmo
em palavras derivadas do nome
do estado) não se usa h.
Exemplo: Os baianos gostam de
coco-da-baía.
107
Você precisa saber
Políndromo – é o termo
usado para palavras ou
expressões que são iguais
lidas normalmente ou de trás
para a frente.
Exemplos: ama; ata; Amor a
Roma.
Respostas aos leitores
1. Luciana de Almeida Fraga (Rio de Janeiro/RJ)
O plural de escrivão é escrivães e o feminino é
escrivã.
2. Fernando José Tobias (Rio de Janeiro/RJ)
Na frase: Já contei isto a você milhões de vezes a
figura de linguagem usada é chamada de hipérbole.
(exagero usado para chamar a atenção).
3. Fátima Pereira da Cunha (Mesquita/RJ)
Apraz é a 3a pessoa do singular do Presente do
Indicativo do verbo aprazer (causar prazer, agradar,
deleitar).
4. Jordão Antônio de C. Noronha (Barbacena/MG)
As conjunções, além de ligarem orações, ligam
também termos da mesma função sintática.
Exemplos: Maria viajou, mas Pedro ficou no Rio (mas
– conjunção ligando as duas orações).
Maria e Pedro viajaram (e – conjunção ligando os
sujeitos Maria e Pedro, que são termos da mesma
função sintática).
108
Quero prestar uma sentida homenagem a um dos meus
maiores ídolos, no campo da filologia. A morte do Acadêmico
Antônio Hoauiss foi um duro golpe, na luta emdefesa da língua
portuguesa. O que de melhor se pode fazer, agora, é prosseguir
nos seus sonhos pela valorização do nosso idioma e para que
se implemente o Acordo Ortográfico de Unificação da Língua
Portuguesa, reunindo as oito nações do mundo lusófono.
4141
Casamento feliz
“Maria casou com Jorge acerca
de vinte anos e são felizes até
hoje.”
Só acertou no marido! A língua
portuguesa não está feliz, porque
a locução prepositiva acerca de
está mal colocada. O certo é: há
cerca de.
acerca de – sobre, a respeito de
há cerca de – faz
aproximadamente
Meu mal querer
Na novela Meu bem querer (99) todos os pares amorosos dizem:
“Eu lhe amo”. Está errado!
Repetimos mais uma vez: o verbo amar é transitivo direto,
portanto pede objeto direto.
O pronome pessoal do caso oblíquo lhe funciona como objeto
indireto, portanto não cabe na frase que pede objeto direto.
Os pronomes pessoais do caso oblíquo que funcionam como objeto
direto são o ou a.
Frase correta: Eu o amo / Eu a amo.
Tombo feio
TV Record, programa Note e anote, no último dia 3/3/99 – Ana
Maria Braga, dando dicas de decoração para mesa de Páscoa: “As
plantas devem ser cortadas em degrais.”
Terrível! O plural de degrau é degraus.
109
Economia difícil
“As medidas econômicas não
agradaram a população.”
Claro! Estão todos preocupados.
Se o problema é tão sério, pelo
menos acertemos, escrevendo
certo: As medidas econômicas
não agradaram à população.
Aprenda: no sentido de
satisfazer, o verbo agradar é
transitivo indireto, logo use
agradaram à [a (artigo) + a
(preposição) = à].
Velhice
“Quando as pessoas
envelhecem ficam rabujentas?”
Claro que não! Principalmente,
grafando dessa maneira. Não
seja rabugento. Escreva esta
palavra sempre com g.
Período correto: Quando as
pessoas envelhecem ficam
rabugentas?
Seriedade
“Mário é um homem seríssimo.”
Será mesmo? O grau superlativo absoluto sintético do adjetivo sério
é seriíssimo e não “seríssimo”.
Preste atenção: para se fazer, corretamente, o superlativo absoluto
sintético devemos acrescentar o sufixo – íssimo ao radical seri (que
já termina em i), logo teremos: seri + íssimo = seriíssimo.
Assim será com todas as palavras cujo radical termine em i.
Exemplo: Comprei um cobertor maciíssimo. (macio – maci + íssimo
= maciíssimo)
Recém-terminada
Num dos últimos capítulos
da novela Meu bem querer
(1999), uma atriz escorregou
quando falou: récem-nascidos
(acento colocado erradamente,
para mostrar a pronúncia da
pamonheira/vereadora).
A palavra é recém (vem de
recente, que teve sua última
sílaba (te) suprimida), oxítona,
terminada em em, portanto
devendo ser acentuada.
Sabatina do Senado
Ao ser questionado pelos senadores,
uma autoridade federal disse:
“Nunca quis prejudicar ao meu
país”. Cometeu dois erros:
1o) Nunca quis – cacofonia
(encontro de fonemas de diferentes
vocábulos, originando uma terceira
palavra, no caso caquis).
2o) O verbo prejudicar é transitivo
direto, portanto não admite a
preposição (ao = preposição a +
artigo o).
Deveria ter dito: Nunca desejei
prejudicar o meu país.
g
g
g
110
Respostas aos leitores
1. Josefa Fátima de Assis Gomes (Rio de Janeiro/RJ)
Traz (com z) é a 3a pessoa do singular do verbo
trazer, no Presente do Indicativo. Não confunda com a
preposição trás (com s e acento), que atualmente só se
usa nas locuções adverbiais (para trás, por trás) e na
locução prepositiva por trás de.
2. Dominique Matias de Souza (Barra da Tijuca/RJ)
Somente os pronomes indefinidos que são usados
sozinhos são invariáveis. Aqueles que acompanham os
substantivos variam de acordo com eles.
Exemplos:
invariáveis variáveis
Ele é tudo para mim. Outro dia eu o vi.
Alguém telefonou? Outros dias virão.
3. Marta Moreira (Rio de Janeiro/RJ)
A diferença entre folha e página é que numa folha há
duas páginas.
4. Marisa Chaves (Teresópolis/RJ)
“... o mesmo número de turistas que esteve no
Revéillon” é a frase certa. O verbo (esteve) deve
concordar com o número de turistas. Você estava certa!
111
Às vezes pode ser coisa dos astros. No mesmo dia
(19/3/1999), duas publicações do Rio descuidaram-
se no trato da língua portuguesa. Enquanto uma
delas, comentando o êxito da série Chiquinha Gonzaga,
lamentava que “houveram deslizes”, a outra contava a
caçada a um jacaré de 80 quilos, no Recreio dos Bandeirantes:
“Foi difícil, mas laçei o bicho”. Entre o “houveram” que deveria
ser houve e o lacei com a cedilha, o abismo da falta de cuidado
com a língua portuguesa. O que se pode fazer?
4242
Elevador
enguiçado
“Este elevador não serve ao
último andar.”
Assim, não sairá do térreo.
O verbo servir, no sentido de
prestar serviço, é transitivo
direto, isto é, pede objeto
direto, complemento sem
preposição.
Frase correta: Este elevador
não serve o último andar.
Suave veneno / 1999
As novelas têm exagerado nas afrontas à nossa língua.
A Leonor, brigando com o marido, na novela:
— “Não foi eu quem começou.”
Desse jeito, o veneno não é nada suave. É mortal!
A 1a pessoa do singular (eu) do verbo ser, no pretérito perfeito
do indicativo, é fui e não foi, que é a 3a pessoa do singular.
A frase que a atriz deveria ter dito é: Não fui eu quem começou.
Cuidado: Os verbos ser e ir são muito irregulares (anômalos),
sendo que o pretérito perfeito, o pretérito mais que perfeito
do indicativo e os tempos pretérito imperfeito e o futuro do
subjuntivo são conjugados totalmente iguais. Você só poderá
saber se é verbo ser ou ir pelo sentido da frase.
Exemplo: Não fui eu quem começou. (verbo ser)
Não fui ao cinema. (verbo ir)
(
(
(
(
(112
Má compreensão
“O texto da carta não estava
intelegível.”
Nem poderia! A palavra
“intelegível” não existe. A
palavra certa é inteligível (que
se compreende bem). Lembre-
se: inteligível é relativo a
inteligência.
Bom parto
Todas as mulheres da minha
família têm gravidezes felizes.
Ótimo! Melhor ainda porque o
plural de gravidez foi escrito
corretamente.
Lembre-se sempre: gravidezes
é o plural de gravidez.
Falando certo
Veja como se pronunciam estas palavras:
Isto é ruim. (ruím – acento colocado para mostrar a pronúncia
correta)
Diga sempre não aos tóxicos. (A pronúncia deste x não é ch e sim ks).
É sempre bom receber um dinheiro extra. (Êxtra – acento colocado
para mostrar a pronúncia correta).
Não tinha subsídios para fazer a palestra. (A pronúncia correta é com
som de ss e não z).
Grosseria
“O rapaz não se conformou com a
estupideza da namorada.”
Nem ele, nem ninguém. Não
existe a palavra “estupideza”.
Frase correta: O rapaz não se
conformou com a estupidez da
namorada.
Sofrimento exagerado
“Maria sofre muito quando a
herpes a ataca.”
Coitada! O herpes é muito
desconfortável e ainda piora se for
chamado de “a herpes”.
Preste atenção: herpes é um
substantivo masculino.
Frase certa: Maria sofre muito
quando o herpes a ataca.
113
Ignorância!
“A senhora ficou descansada quando ouviu que o seu filho estava
malferido.”
Pobre senhora! Como é triste desconhecer o significado das palavras,
leva as pessoas a deduções erradas. Malferido não quer dizer com
poucos ferimentos e, sim, ferido mortalmente.
Não deixe que dúvidas como essa impeçam a compreensão de um
texto. Consulte sempre um dicionário.
Respostas aos leitores
1. Lia da S. Ramos Neta (Rio de Janeiro/RJ)
Não existe a forma “chego” como particípio do verbo
chegar, somente chegado.
Exemplo: Ela havia chegado atrasada para o jantar.
Chego – é a 1a pessoa do singular do Presente do
Indicativo do verbo chegar.
2. Carlos Antônio de A. Madeira (Rio de Janeiro/RJ)
A palavra testemunha é um substantivo feminino,
não existindo o seu masculino. Gramaticalmente
conhecida como substantivo sobrecomum.
Exemplos: Antônio foi a testemunha principal do
processo. (O substantivo Antônio é que nos diz que a
testemunha foi do sexo masculino)
Maria era a testemunha mais aguardada no
julgamento. (O substantivo Maria é que nos diz que a
testemunha era do sexo feminino)
3. Dr. Magno Paranhos de Castro (Rio de Janeiro/RJ)
Solecismo é víciode linguagem – colocação
inadequada de algum termo, contrariando a norma
culta.
Exemplos: Me esqueci. (Em lugar de: Esqueci-me)
Não falou-me sobre o assunto. (Em lugar de: Não me
falou sobre o assunto)
114
Com o ressurgimento da epidemia de cólera no Paraná,
retornou a dúvida: a doença deve ser nomeada como
palavra feminina ou masculina? O Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa da ABL e o novo Dicionário do Aurélio
registram-na como substantivo feminino e masculino.
Entretanto, o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa
de Caldas Aulete só faz referência à cólera como palavra feminina.
O nosso saudoso Antônio Houaiss, em seu dicionário, admite que a
palavra cólera seja masculina, somente em relação à doença. Vocês
devem decidir como usá-la: o cólera ou a cólera. O importante,
mesmo, é acabar com a epidemia.
4343
Horripilante
“O filme de terror provocou-me
arripios.”
Que terror! A palavra “arripios”
não existe.
Frase correta: O filme de terror
provocou-me arrepios.
Arrepio – tremor resultante de
frio, medo, etc.
Concordância verbal
Um quinto dos deputados
presentes foi contra o projeto e
quatro quintos dos deputados
foram favoráveis.
O projeto foi aprovado. Ganhou a
democracia e a língua portuguesa
foi acatada. Com numerais
fracionários (um quinto, quatro
quintos, dois terços, etc.) o verbo
deve concordar com o numerador
da fração.
Exemplos:
Um décimo dos alunos saiu cedo.
No auditório, permaneceram três
quartos dos ouvintes.
L
L
115
Crime sem
solução
Nem um nem outro
suspeito admitiu que
havia praticado o
homicídio.
Quanto a descobrir
quem é o culpado, é
problema da Polícia e
da Justiça.
O período, entretanto,
está escrito
corretamente, pois a
expressão nem um nem
outro só admite o verbo
no singular.
Regência verbal
Jos´aspira a uma vida digna.
Ótimo! Aspiração perfeita.
O verbo aspirar, no sentido de almejar, querer, é transitivo indireto
(precisa da preposição a).
Atenção: Quando o verbo aspirar é usado no sentido de inspirar,
sorver, é transitivo direto, portanto deve ser usado sem preposição.
Exemplo: Aspirava o ar seco daquela região.
Show do milhão... de erros
Sucesso de Ibope, o Show do milhão, de Sílvio Santos, exibe uma série
impressionante de erros. A pergunta “Que sentido é usado para leitura
no método braile”, se olfato, tato, paladar ou visão ficou sem resposta.
Fora outras. Não custa, na próxima série, tomar mais cuidado.
Respeitabilidade geral
“Os Estados Unidos é respeitado por todas as nações do mundo.”
Cuidado! Quando o sujeito da oração é os Estados Unidos, o verbo
ficará sempre no plural, pois o nome daquele país indica pluralidade.
Frase correta: Os Estados Unidos são respeitados por todas as nações
do mundo.
À toa?
“Andei à-toa, procurando um livro. Descobri que está esgotado.”
Lamentável! Lamentável, também, o uso inadequado do hífen (à-toa).
Preste atenção: à toa (sem hífen) é adjetivo e significa qualquer, sem
importância.
À toa (sem hífen) é locução adverbial e significa em vão.
Período correto: Andei à toa, procurando um livro. Descobri que está
esgotado.
+ + +
116
Respostas aos leitores
1. Susana da Veiga Sidônio (Rio de Janeiro/RJ)
A palavra correta é pantomima (representação teatral
em que a palavra é substituída por gestos e atitudes).
2. Celeste Maria Fonseca dos Santos (Rio de Janeiro/RJ)
A palavra especímenes é também o plural de
espécimen.
O outro plural é espécimens.
Cuidado, entretanto, com a pronúncia destas palavras.
São todas proparoxítonas (a sílaba tônica é a
antepenúltima) e consequentemente acentuadas, o que
certamente ajuda a pronunciá-las corretamente.
3. Marcos Tadeu J. Filho (Nova Iguaçu/RJ)
O superlativo absoluto sintético de magro é macérrimo.
Apesar de ser muito usada a forma magérrimo, ainda
não conseguiu se impor à língua escrita.
117
O artigo 1o da Declaração Universal dos Direitos
Humanos determina: “Todos os homens nascem livres
e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros com
espírito de fraternidade”. Fraternidade: amor ao próximo,
harmonia, paz. É preciso saber o significado desta palavra e
usá-la em todos os momentos.
4444
Etc. e tal
Há uma polêmica a respeito
da vírgula (sim ou não)
antes da palavra etc., que
significa “e outras coisas”.
O Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa,
elaborado pelo saudoso
acadêmico Antônio Houaiss,
adota a vírgula, enquanto
outros autores dizem ser ela
desnecessária. Ficamos, por
hábito, com a versão do
Vocabulário. Assim, pode
servir de exemplo a frase:
“Comprei na loja meias,
camisas etc.”
Recado de sempre
“Os sábios falam porque têm o que dizer; os tolos, porque têm
que falar.” (Platão)
i
i
118
Tentativas inúteis
“A mulher tentou todas
as estratagemas possíveis
para que o marido não a
abandonasse.”
Garanto que ficou sem o
esposo. Não há homem que
suporte “as estratagemas”
de uma mulher.
Esta palavra não é feminina e
sim do gênero masculino: os
estratagemas.
Período correto: A
mulher tentou todos os
estratagemas possíveis
para que o marido não a
abandonasse.
Pontuação culpada
Com a polêmica criada pelo Governo a respeito do que se pretende
com o ponto e vírgula, no caso das aposentadorias, o assunto tem
mesmo é que ser decidido no Supremo Tribunal Federal, onde são
dirigidas as dúvidas sobre a nossa Constituição. A lei fala em tempo
de contribuição e depois idade. Do jeito que se colocou o ponto e
vírgula, segundo a Academia Brasileira, ele substitui a conjunção
e. Portanto, as exigências são cumulativas. Mais um elemento para
complicar a vida do nosso trabalhador. Eis o texto polêmico: “É
assegurada a aposentadoria, no regime geral da Previdência Social,
nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições: 35 anos de
contribuição, se homem, e 30 anos, se mulher; 65 anos de idade, se
homem, e 60 anos, se mulher”. Agora, é esperar a manifestação do
Supremo. Enquanto isso, o trabalhador sofre.
Comemoração
“Quando o time de futebol
do Flamengo faz um gol,
os foguetes começam a
espoucar.”
Vamos comemorar certo? O
verbo “espoucar” não existe.
Frase correta: Quando o time
de futebol do Flamengo
faz um gol, os foguetes
começam a espocar.
Espocar – estourar, explodir.
Duplo acerto
A professora chamou
atenção dos alunos que
estavam jogando os
gizes pela janela da sala
de aula.
Muito bem! A professora
acertou duas vezes:
corrigindo a atitude
dos alunos e usando
corretamente o plural da
palavra giz (gizes).
Penteado feio
“No dia do casamento, a noiva foi ao cabelereiro para ficar bem
arrumada.”
Coitada! Vai ficar feia. A palavra “cabelereiro” não existe.
Se você quer ficar com cabelos bonitos deve ir ao cabeleireiro.
Z
Z
Z
Z
Z
119
Respostas aos leitores
1. Domênico T. Salvatori (São Paulo/SP)
Jamais escreva ou diga rúbrica (acento colocado para
mostrar a sílaba tônica, errada). A pronúncia certa é
rubrica (palavra paroxítona e não proparoxítona).
2. Osvaldo A. Biasoti (Nova Iguaçu/RJ)
“O que é um clássico?” Se a referência é livro,
trata-se dos que foram produzidos com base na
Antiguidade greco-romana ou nos séculos XVI a
XVIII, ou todos aqueles que modificaram a nossa
visão do mundo, como afirma o escritor Ezra Pound.
Exemplo: a Bíblia.
3. Jesuína Francisca da Silva (Rio de Janeiro/RJ)
O superlativo absoluto sintético de cruel é
crudelíssimo e de doce é dulcíssimo.
O susto
“Pedro tirou um estrato da sua conta bancária e levou um enorme
susto.”
Coitado! Jamais tire um “estrato” do banco – é impossível.
Num banco você só pode tirar: extrato.
Veja a diferença:
Extrato – aquilo que tirou de, que se extraiu de coisa extraída de
outra.
Estrato – camada formada pelas rochas sedimentares.
Observe: o perfume é um extrato, pois é um produto industrial, uma
essência aromática que se extrai de uma outra substância.
} } }
120
Machado de Assis tinha grande admiração por José
de Alencar. Eles chegaram a conviver, no Rio de Janeiro,
embora Alencar fosse bem maisvelho. Uma frase do autor
de Iracema que era muito apreciada por Machado: “A língua
é instrumento do espírito”. Quando todos acreditarem nisso,
sem dúvida, teremos progredido.
4545
Diversão sadia
Ir ao circo é uma das
formas de entretimento.
Sem dúvida! Vá ao circo
e leve as crianças.
A palavra entretimento é
muito usada. Se preferir,
use entretenimento.
Ambas têm o mesmo
significado: diversão,
distração.
Passagem de autoridades
“Hoje, passarão nesta rua o prefeito e o governador.”
Garanto que não ficarão satisfeitos.
Frase correta: Hoje, passará nesta rua o prefeito e o governador.
Observe: Sujeito composto (o prefeito e o governador) e posposto,
isto é, colocado depois do verbo (predicado verbal) leva este para
o singular.
Curiosidade
O acordo que um
país faz com a China
e o Japão é chamado
sino-nipônico.
121
Trabalhador doente
“A caixa toráxica do trabalhador da usina
de asfalto ficou comprometida, segundo o
pneumologista.”
A “caixa toráxica” deve ter prejudicado
ainda mais o trabalhador, porque esta
palavra está grafada erradamente.
O adjetivo que se refere a tórax é torácico.
Frase correta: A caixa torácica do
trabalhador da usina de asfalto ficou
comprometida, segundo o pneumologista.
Nem tanto!
“Ana é tão inteligente que se considera uma excessão.”
Nem tão inteligente assim! A palavra “excessão” é uma exceção.
Escreva sempre: exceção (com x, c e ç).
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa nasceu em
13 de junho de 1888 ou a 13 de
junho de 1888?
As duas construções estão
corretas. Tanto faz. Você
escolhe se quer usar a
preposição em ou a antes de
qualquer data.
Importante é relembrar o
verso: “Tudo vale a pena se
a alma não é pequena”, do
famoso poeta português,
Fernando Pessoa.
Grande esperança
“Há de existir pessoas honestas neste país.”
Pessoas honestas? Claro que existem, mas o verbo haver (há) está
errado.
Frase correta: Hão de existir pessoas honestas neste país.
Preste atenção: Nas locuções verbais, se o verbo principal (existir)
é pessoal, o auxiliar deve ser flexionado, de acordo com o sujeito.
No caso, o sujeito está no plural (pessoas), logo hão de existir e
não “há” de existir, porquanto existir é verbo pessoal. Se, porém,
o verbo principal fosse haver, então diríamos: há de haver, pois
pessoas passaria a objeto direto e não haveria sujeito, por ser o
verbo haver impessoal, no sentido de existir.
Com ou sem
preposição
João precisa repouso para
poder trabalhar amanhã.
Ou seria: João precisa
de repouso para poder
trabalhar amanhã.
Tanto faz. O verbo precisar
pode ser usado com ou sem
a preposição (de).
O importante é que você
descanse hoje para poder
enfrentar mais uma semana
de trabalho.
6
122
Respostas aos leitores
1. Natália Santos de Mesquita (Nilópolis/RJ)
Os verbos ter e haver podem e são conjugados
independentemente. Eles são chamados de verbos
auxiliares, quando unidos a outro verbo, chamado
de principal, nos tempos compostos.
Exemplo: Eu havia falado com João.
2. Carla de Araújo T. Santé (Duque de Caxias/RJ)
O verbo é intransitivo quando não precisa de
qualquer complemento. Ele sozinho se basta, dando
a comunicação completa.
Exemplos: Ontem, choveu.
O avô do João morreu.
3. Fábio Pereira Cardoso (Rio de Janeiro/RJ)
Os pronomes classificados como indefinidos
são aqueles que dão sentido vago ou exprimem
quantidade indeterminada das coisas. Por isso têm
esse nome.
Exemplos: Alguém esteve aqui.
Ele comeu uns sanduíches e saiu.
123
Olavo Bilac, grande poeta e muito conhecido pela
maior parte dos brasileiros, sempre valorizou a nossa
língua. São dele os versos: “Amo o teu viço agreste e o
teu aroma/De virgens selvas e de oceano largo!/Amo-te,
ó rude e doloroso idioma”. Queremos chamar a atenção
dos leitores da importância de falar e escrever corretamente
a língua portuguesa. Olavo Bilac, certamente, agradeceria.
4646
Curiosidade
Substantivos pátrios –
Quem nasce em Juiz de Fora
é juizforano, no Rio Grande
do Norte é potiguar, em
Jerusalém é hierosolimita e
no Afeganistão é afegão.
Inapetência
“D. Maria destrinchou o
frango assado, mas ninguém o
comeu.”
Certamente porque a senhora
usou um verbo inadequado.
Trinchar é o verbo correto,
isto é, cortar em pedaços.
Destrinchar ou destrinçar
significam expor com
minúcias, resolver, desenredar.
Período correto: D. Maria
trinchou o frango assado, mas
ninguém o comeu.
Erro via internet
O leitor Danilo Gomes, de
Blumenau, Santa Catarina,
anotou o seguinte erro da
apresentadora Ana Maria
Braga (nota enviada via
internet):
“O congestionamento
nas estradas está muito
grande, deixe para viajar
amanhã. Hoje, prefira ficar
aqui com nós.”
Assim não dá! Hoje,
prefira ficar aqui conosco,
deveria ter dito a simpática
apresentadora.
Conosco - pronome pessoal
do caso oblíquo.
Para sua reflexão
“A subida é cada vez mais custosa, mas também cada vez mais
exaltante porque nos leva às alturas.” (Pio XII)
A A A
124
Regência verbal
Leo reparou no corpo da Valéria quando a conheceu na
videolocadora.
O rapaz acertou duas vezes: na beleza da moça e no emprego do
verbo reparar.
Reparar – no sentido de observar, é transitivo indireto (reparar
em), logo o seu complemento (objeto indireto) deve ser precedido
de preposição (no corpo).
Quando o verbo reparar for usado no sentido de consertar, é
transitivo direto, e seu complemento (objeto direto) não precisa de
preposição.
Exemplo: Leo reparou o carro para ir a Teresópolis. (o carro – objeto
direto)
Se o rapaz emagrecer, ganhará um prêmio da namorada.
O rapaz acertou outra vez. Nesta frase, o verbo ganhar é transitivo
direto e indireto.
Um prêmio – objeto direto (sem preposição).
Da namorada – objeto indireto (com preposição).
Pudicícia
“Sônia é uma moça púdica.”
Será mesmo? Cuidado com a palavra pudica, ela é paroxítona (a
sílaba tônica é a penúltima – di) e não proparoxítona (a sílaba
tônica seria a antepenúltima – pu).
Pudica – que tem pudor, recatada, tímida e envergonhada.
Você precisa saber
Verbo defectivo é aquele ao qual faltam pessoas, tempos ou modos.
Exemplo:
Miar (e todos os outros verbos que determinam as vozes dos animais).
Ventar (e todos os outros verbos que determinam os fenômenos da
natureza).
Verbo impessoal é aquele que é empregado sem sujeito. São os
verbos que indicam fenômenos da natureza; o verbo haver, indicando
tempo (há 5 anos) e no sentido de existir (há pessoas) e o verbo fazer
indicando tempo (faz oito anos).
125
Respostas aos leitores
1. Selma de Andrade Parente (Rio de Janeiro/RJ)
Substantivos epicenos são aqueles que têm um só
gênero para determinar o sexo masculino e feminino
dos animais e somente dos animais. Usa-se a palavra
macho (para animais do sexo masculino) e fêmea (para
animais do sexo feminino).
Exemplos: baleia fêmea, onça macho, cobra fêmea, etc.
2. Salvador Pereira da Silva Motta (Rio de Janeiro/RJ)
O subjuntivo é conhecido como modo da irrealidade,
isto é, indica fatos problemáticos, irreais, duvidosos ou
apenas possíveis.
Exemplo: Se eu fosse / quando você puder, etc.
126
O Rio de Janeiro recebeu 49 chefes de Estado, em
junho de 1999, com as suas respectivas delegações. A
cidade preparou-se para ficar mais bonita, limpa e segura
e, assim, recepcionou os visitantes que participaram da
Cimeira. Substantivo feminino, muito usado em Portugal,
sua origem significa cúpula, que fica no cimo, no alto. Foi um
encontro da cúpula dos dirigentes europeus, do Mercosul e do
Caribe. Desejamos que grandes decisões tenham sido tomadas e
que todos sejamos beneficiados.
4747
Apelo
Não cansamos de repetir: O verbo
amar é transitivo direto, portanto não admite o pronome oblíquo
lhe e sim o pronome oblíquo o.
Chega de dizer e cantar “eu lhe amo”.
Agora mesmo há uma música lançada pela magnífica Maria
Bethânia, na qual ela repete diversas vezes esta frase. Até o verso
da música soaria melhor se fosse eu o amo.
Para reflexão
“Nunca deixe que o Sol se ponha, sem que hajam desaparecido,
também, os seus rancores.” (MahatmaGandhi)
127
Plural obrigatório
“Os Estados Unidos não participou
da Cimeira.”
Claro que não! Foi um encontro
dos dirigentes da América Latina,
Comunidade Européia e Caribe.
A ausência americana, entretanto
não justifica o verbo errado.
Quando o sujeito de uma oração
for os Estados Unidos o verbo
sempre deve ficar no plural.
Curiosidade e humor
A escritora inglesa Agatha Christie, que sempre escreveu romances
policiais, tendo publicado uma grande quantidade de livros com
tradução no mundo inteiro é responsável pela piada: “Um arqueólogo
é o melhor marido que uma mulher pode querer; quanto mais velha ela
fica, mais ele se interessa por ela”. Para você recordar:
Arqueólogo – especialista em arqueologia (ciência que estuda a vida e
a cultura dos povos antigos por meio de escavações de corpos, objetos
ou através de documentos, monumentos, etc., por eles deixados.
Por que Santo Antônio e São Pedro?
Principalmente na época das festas juninas e julianas, Santo
Antônio, São João e São Pedro são homenageados pelos fiéis.
Entenda por que usamos Santo e São para nomear os santos.
Usa-se a forma Santo quando o nome começa por vogal ou h.
Exemplo: Santo Inácio, Santo Agostinho, Santo Hilário, etc.
Usa-se a forma São quando o nome começa por consoante.
Exemplo: São Benedito, São Cristóvão, São Judas Tadeu, etc.
Bom conselho
D. Joana aconselhou os netos a
obedecer o Código Brasileiro de
Trânsito, não dirigindo além da
quilometragem determinada nas
placas. A senhora acertou duas
vezes: deu um bom conselho e
acertou no complemento do verbo
aconselhar. Observe: O verbo
aconselhar pode ser construído
com objeto direto ou indireto de
pessoa (os netos / aos netos).
Pedido inútil
“Tobias vive reinvindicando
aumento de salário ao gerente
da fábrica em que trabalha.”
Coitado! Assim não vai
conseguir. Não existe o verbo
“reinvindicar”, portanto não
existe “reinvindicando”. O
verbo é reivindicar. Frase certa:
Tobias vive reivindicando
aumento de salário ao gerente
da fábrica em que trabalha.
128
Você precisa saber
Os nomes dos dias da semana e os nomes dos meses do ano são
sempre escritos com letra minúscula.
Observe: Ontem, foi segunda-feira, mês de novembro.
Respostas aos leitores
\
1. América F. de Souza (Rio de Janeiro/RJ)
é um advérbio de tempo se classificado
gramaticalmente, como você pediu.
As classes de palavras invariáveis são: preposição,
advérbio, conjunção e interjeição.
2. Mário da Silva Fernandes (Rio de Janeiro/RJ)
Você não deve dizer “depois eu falo consigo”.
Consigo, se e si são pronomes reflexivos, isto é,
referem-se ao próprio sujeito do verbo (na sua frase,
eu é o sujeito).
129
Na novela das 7, da TV Globo (veiculada em 1999) –
Andando nas nuvens – havia um personagem vivido
pelo ator Taumaturgo Ferreira, que só mereceu elogios.
Com excelente interpretação, ele fazia o papel de um
cidadão galanteador, malandro e pernóstico, que só falava
usando os verbos na segunda pessoa. Brilhante o texto
sem qualquer derrapada. É difícil falar usando o pronome
tu, principalmente para nós que estamos habituados no
tratamento você. Sorte nossa! Nossos ouvidos foram brindados
com a atuação do Átila.
4848
Doença errada
“O gado da fazenda pegou a
epidemia de aftosa.”
Impossível! A palavra epidemia
tem o radical grego demo, que
significa povo.
Aftosa é doença própria de
animais quadrúpedes, logo só
podemos usar epidemia para
doenças que dão em gente.
Esquecimento duplo
“Antônio chegou atrasado, pois esqueceu-se do compromisso
com o João.”
Lamentável o esquecimento do Antônio. Falhou com o amigo e
com a língua portuguesa.
Não se deve usar: “pois esqueceu-se”.
O pronome oblíquo se deve ficar proclítico, isto é, antes do
verbo, porque a conjunção pois o atrai.
Frase correta: Antônio chegou atrasado, pois se esqueceu do
compromisso com o João.
Curiosidade
Decassegui é o nome dado aos brasileiros que vão trabalhar no
Japão.
130
Boa leitura
“Antônio acabou de ler um livro com duzentos e oitenta e cinco
páginas.”
Ler é um ótimo passatempo, mas cuidado com o número de páginas.
O numeral deve concordar com o substantivo páginas, que é
feminino, plural.
Frase certa: Antônio acabou de ler um livro com duzentas e oitenta e
cinco páginas.
Locução
invariável
“Pedro chegou sorrateiramente
de maneiras que ninguém o
viu.”
Nem poderia! Desse jeito é
impossível.
“De maneiras que” está errado.
O correto é: Pedro chegou
sorrateiramente de maneira
que ninguém o viu.
Não são pluralizadas as
locuções conjuntivas.
Outras locuções conjuntivas
que não variam: de forma que,
de sorte que, de jeito que, etc.
Habitação
“O homem habita a Terra” ou
“O homem habita na Terra”?
Tanto faz! Podemos habitar
algum lugar ou em algum
lugar. O importante é que o
homem preserve essa Terra
para que seus descendentes
continuem habitando-a.
A beleza da atriz
“Malu Mader é a artista
portadora das mais belas
sombrancelhas da TV.”
Que maldade! A atriz não
merece. Não existe a palavra
“sombrancelhas”. O certo é
sobrancelhas.
Frase correta: Malu Mader é
a artista portadora das mais
belas sobrancelhas da TV.
131
Doença de pele
“A eczema no rostinho do bebê
não melhorou depois de ter
colocado o remédio.”
Não há remédio que cure “a
eczema”. Esta palavra é masculina
– o eczema.
Período correto: O eczema no
rostinho do bebê não melhorou
depois de ter colocado o remédio.
Respostas aos leitores
1. Raphael Soares da S. Ramos (Rio de Janeiro/RJ)
Língua morta é aquela que já foi usada e que hoje
não é mais falada por qualquer povo, de qualquer
parte do mundo.
Exemplo: latim
2. Fabíola Pereira da Cunha (Rio de Janeiro/RJ)
O Imperativo Afirmativo do verbo fazer é feito da
mesma forma que os demais (tu e vós do Presente
do Indicativo, cortando o s e as demais pessoas do
Presente do Subjuntivo).
Veja: faze tu
faça você
façamos nós
fazei vós
façam vocês.
3. Solônio Salles de A. Schimit (Rio de Janeiro/RJ)
Crase não é nome de acento e sim a junção do artigo
a + a preposição a = à.
Devemos utilizar o sinal indicativo da crase quando
houver necessidade do uso da preposição a e do
artigo a. Para facilitar substitua o a por para a,
fazendo sentido poderá ser usada a crase.
Exemplos:
Maria foi à cidade de Niterói (Maria foi para a
cidade de Niterói).
Maria foi a Niterói (você não pode dizer Maria foi
para a Niterói, logo não há crase).
132
Inegavelmente a televisão e a Informática são
responsáveis pela introdução de novos termos na nossa
língua. Os termos estrangeiros estão por aí, dominando
a todos, dos adultos às crianças. É um tal de “micrar”
(colocar no micro), “acessar” (ter acesso), “becapear” (salvar
em disquete), etc. Já a TV importa termos que passam a ser
usados pelo povo no seu dia a dia. Aqui sempre falamos em
sinal de trânsito e hoje farol e semáforo são palavras difundidas
pelos noticiários das diferentes regiões brasileiras, e que não são
mais desconhecidas por aqui. Nada contra! É até saudável este
intercâmbio linguístico. E os modismos? A velha Roraima (era
falada com som anasalado) foi transformada em Roráima (acento
colocado para mostrar a pronúncia). Será isto um progresso?
4949
Prato complicado
“Maria fez uma lasanha
com creme de maizena
e cobriu com mussarela,
mas ninguém da sua casa
gostou.”
Claro! Ela errou nos
ingredientes. Preste
atenção; o certo é:
maisena (mesmo que na
famosa caixa amarela
apareça grafada com z) e
muçarela (os zz do italiano
“mozzarela” produzem c ou
ç em português).
Tudo claro
“Seus motivos para tal atitude foram os mais claros possíveis.”
Não! Tudo escuro! O certo é: Seus motivos para tal atitude foram o
mais claro possível.
Nas expressões: o mais possível / o menos possível / o melhor
possível / o pior possível / o maior possível / o menor possível
/ quanto possível, a palavra possível fica invariável, não
importando a disposição dos elementos na oração.
133
Curiosidade II
Antônio Gonçalves Teixeira e Souza é considerado o pai do romance
brasileiro, pois é oautor de O filho do pescador, primeiro romance
publicado no Brasil. Nasceu em Cabo Frio, em 1812, e morreu
tuberculoso, em 1861.
Casa de leis
“É atribuição da
Câmara dos Deputados
legisferar.”
Não é não! “Legisferar”
não existe. A palavra
certa é legiferar – fazer
leis, legislar.
Frase correta: É atribuição
da Câmara dos Deputados
legiferar.
Excesso de preocupação
“A mãe da Ana está preocupada
porque a menina vive sassaricando!”
A menina já é levada, e se vive
“sassaricando”, ela jamais tomará
jeito.
Preste atenção: a palavra correta
é saçaricando (saracoteando,
divertindo-se à larga).
Período correto: A mãe da Ana está
preocupada porque a menina vive
saçaricando.
Mistério descoberto
Descobri por que a
comunicação por telefone não
anda bem. A lindíssima Ana
Paula Arósio vem pedindo na
TV: “Faz um 21!” O Imperativo
Afirmativo do verbo fazer
na 3a pessoa do singular é
faça (tirada do Presente do
Subjuntivo) e na 2a pessoa
do singular é faze (tirada
do Presente do Indicativo,
cortando o s).
Logo, não há beleza que
justifique o erro.
O correto é: Faça um 21!
Curiosidade I
O tribunal condenou o uxoricida
a vinte anos de prisão.
Claro! Quem comete um crime
tem que pagar.
Preste atenção: uxoricida –
aquele que mata a própria
mulher [uxor (origem latina)
– mulher casada / cida (origem
latina) – aquele que mata].
Exemplos:
Homicida – aquele(a) que mata
alguém
Inseticida – que mata insetos
V V V
134
V V V
Respostas aos leitores
1. Wellington N. Ferreira (São João de Meriti/RJ)
A palavra friorento existe, sim. Faz parte da classe
gramatical dos adjetivos. Não é uma locução
adjetiva. As locuções são formadas por mais de uma
palavra. O adjetivo friorento é derivado de frio.
2. Flávio Serafim Gomes (Rio de Janeiro/RJ)
A mesóclise (pronome no meio), dependendo do
local em que estamos ou para quem escrevemos,
é uma construção aceitável. Se você considera
pedantismo, não use.
Eis os exemplos:
Encontrar-me-ei amanhã com o juiz.
Ser-me-á impossível chegar cedo.
135
O leitor Nilson Marcelo Pereira da Silva, da Escola
Técnica Visconde de Mauá, em Marechal Hermes,
escreveu-nos sobre o Canal Futura, que começou
uma aula de História com esta palavra na tela:
“expancionista”. O rapaz ficou espantado e nós também. A
palavra é expansionista, quem é adepto do expansionismo,
tendência a se ampliar, se alargar. É preciso mais cuidado.
5050
Para reflexão
“Seria feliz se da minha boca
em vez de vãs palavras saíssem
chuvas e sementes.”
(Artur E. Benevides, da
Academia Cearense de Letras)
Curiosidade oriental
é planta em bandeja. Árvores e arbustos plantados em
pequenas bandejas que os mantêm, com podas constantes,
num tamanho mínimo. Uma prática milenar na China e no
Japão, sendo que neste país há o bonsai mais antigo do mundo,
com cerca de 1.500 anos.
A curiosidade maior é que os frutos dessas árvores minúsculas
são de tamanho normal.
A palavra bonsai já consta do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da ABL.
Divergências
“Não devem haver divergências entre nós.”
Escrito desta maneira, haverá muitas divergências.
A forma “devem haver” está errada, pois se trata de locução
verbal terminada pelo verbo haver, com sentido de existir, logo
impessoal. Quando o verbo principal de uma locução verbal é
impessoal, impersonaliza, também, o auxiliar, portanto deve
haver e não “devem haver”.
Frase correta: Não deve haver divergências entre nós.
136
Você precisa saber
Escreva sempre: Dê-me o livro.
Não comece uma frase em língua escrita por um pronome
pessoal do caso oblíquo. Agora, em linguagem oral, não se
envergonhe de pedir: Me dê o livro. Neste caso, o correto seria
artificial.
Há verbos que não podem ser totalmente conjugados, isto é, não
existem algumas pessoas. São chamados de verbos defectivos.
Exemplos:
Fenômenos da natureza (chover, ventar, etc.) só existem na 3a
pessoa do singular – Ventou ontem. / Choverá amanhã?
Vozes de animais (latir, miar, etc.) só existem na 3a pessoa do
singular – O gato mia.
Verbos: abolir, falir. Não se diz: eu “abolo”.
Algumas pessoas do verbo falir se confundem com o verbo falar.
É muita pobreza
Num domingo de setembro
de 1999, a empregada do
Sai de Baixo, a aplaudida
atriz Márcia Cabrita, disse:
“mendinga”. Que tristeza!
Não existe esta palavra. O
correto é: mendiga.
Será que foi de propósito?
X ou CH?
Cartaz de feira: “Xuxu barato!”
Nem a Xuxa admitiria isto. Escreva
sempre chuchu, senão o barato sai
caro.
Refletindo
“Às vezes, ouço passar o vento; e
só de ouvir o vento passar vale a
pena ter nascido.”
(Fernando Pessoa)
Economizando palavras desnecessárias
O assunto foi decidido no “âmbito” da família. Basta: pela família.
O rapaz conseguiu um trabalho de “natureza” temporária. Basta:
trabalho temporário.
Maria está com problemas de “ordem” financeira. Basta: problemas
financeiros.
N N N
n n n
137
Respostas aos leitores
1. Andréia P. Correia (Teresópolis/RJ)
Os pronomes são substantivos quando substituem o
nome e adjetivos quando acompanham o nome.
Veja: Maria saiu. Ela não voltará cedo. (Ela é pronome
substantivo porque está substituindo o nome Maria).
Pedro ama sua namorada. (sua é pronome adjetivo
porque está acompanhando o nome namorada).
2. Ricardo Aleixo D. Barros (Nova Iguaçu/RJ)
Seu amigo tem razão. A frase: Ele não vai a festas
sozinho está correta. Não se usa crase no a antes de
palavras no plural.
3. João Paulo B. Rodriguez (Rio de Janeiro/RJ)
Na frase: Aluga-se casa, há voz passiva, sim! É a voz
passiva sintética ou pronominal. Casa é alugada, é
voz passiva analítica (verbo ser + particípio do verbo
principal).
138
Nosso compromisso com o Timor Leste tem tudo a
ver com o lado cultural. É um país de fala portuguesa
e onde as milícias indonésias cometem um verdadeiro
genocídio em virtude do que elas entendem que seja uma
incompatibilidade de língua e de religião. O Brasil, dentro da
Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa, tem a obrigação
de liderar o movimento de defesa dos timorenses.
5151
Mau marceneiro
“Pedro cortou o dedo quando
cerrava o tronco da árvore.”
O rapaz errou duplamente: abateu
uma árvore e trocou o verbo.
Observe:
Cerrar – fechar.
Serrar – cortar.
Período correto: Pedro cortou o
dedo quando serrava o tronco da
árvore.
Mau pagador
“João não conseguiu saudar sua dívida na loja de eletrodomésticos.”
Por quê? Porque, além de caloteiro, feriu a nossa língua.
Veja a diferença:
Saudar – cumprimento.
Saldar – pagar.
Frase correta: “João não conseguiu saldar sua dívida na loja de
eletrodomésticos.”
Caetano Veloso
Estamos preocupados com a situação vivida pelo povo do Timor
Leste, que não pode se expressar livremente em português, é bom
lembrar o excelente cantor Caetano Veloso. Caetano canta que
“minha língua é minha pátria”. Façamos coro com ele.
j j j
139
Má amazonas
“A moça caiu da cela do
cavalo.”
Claro! Ela deveria é ser presa
numa cela.
Preste atenção:
Cela – aposento de presos, em
penitenciárias, quarto dos frades
ou de freiras, nos conventos.
Sela – assento sobre o que
monta o cavaleiro.
Frase correta: “A moça caiu da
sela do cavalo.”
Mal pegado
Novela Suave veneno, dia 14/9/98. A personagem interpretada pela
excelente atriz Glória Pires saiu-se mal, soltando “ter pego”.
A Lavínia andava cheia de problemas, mas poderia não aumentar,
agredindo a língua portuguesa.
O verbo pegar não é abundante, isto é, não admite dois particípios.
A forma pego é a 1a pessoa do singular do presente do indicativo do
verbo pegar. O particípio deste verbo é pegado.
Forma correta: ter pegado (no pretérito impessoal composto do
modo infinitivo composto).
Má pianista
“A menina não tocava bem no
piano de calda da sua avó.”
Nem poderia... calda só de doce. O
piano tem cauda.
Frase correta: “A menina não
tocava bem no piano de cauda da
sua avó.”
Reprovação
A Unifenas (Universidade de
Alfenas, MG) cresceu muito,
menos nos cuidados com a
língua. Fez um anúncio em
que se refere aos seus “cinco
câmpus”. Ora,se resolveu
escrever em latim a palavra
campus, o plural é campi. O
melhor teria sido usar mesmo
a língua portuguesa e ficar
com campo/campos. Pra que
sofisticar e errar o plural?
140
Respostas aos leitores
1. Renato dos Santos (Rio de Janeiro/RJ)
O século 21 só começou no dia 1o de janeiro de
2001. É fácil entender: Se o século 1 foi do ano 1
ao 100, o século 2 começou no ano 101 e, assim,
sucessivamente.
2. Ivone Mollica (Rio de Janeiro/RJ)
O superlativo absoluto sintético de antigo é
antiquíssimo (assim com acento agudo). Quaisquer
outras formas não são recomendáveis.
3. Ana Maria T. Teixeira (Rio de Janeiro/RJ)
Não há como confundir a conjugação dos verbos ir e
vir no Pretérito Imperfeito do Indicativo.
Veja:
Verbo ir
ia / ias / ia / íamos / íeis / iam.
Verbo vir
vinha / vinhas / vinha / vínhamos / vínheis / vinham.
141
O humorista Jô Soares ficou nervoso porque ouviu
uma referência nossa à palavra empregabilidade, hoje
muito utilizada por economistas e administradores.
Disse que nunca ouviu nem leu esse termo em
qualquer vocabulário. Informo que na quarta edição do
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, o vocábulo
empregabilidade apareceu em grande estilo. A Comissão de
Lexicografia aprovou o seu emprego.
5252
Triplo acordo
João acorda cedo para trabalhar.
Ótimo! Hábito bastante saudável.
Preste atenção: O verbo acordar, no sentido de despertar do
sono, não é reflexivo.
O verbo acordar-se (reflexivo) tem outros significados:
Acordar-se – recordar-se, lembrar-se.
Exemplo: Pedro não se acorda de ter visto o amigo na rua.
Acordar-se – estar acordado, estar combinado.
Exemplo: Patrão e empregado se acordaram sobre o aumento.
Divisão exata
“É pena não poder dividir esta
fruta em duas metades iguais.”
Difícil, não? A cada uma de duas
partes iguais em que se divide
alguma coisa dá-se o nome de
metade, logo as metades têm de
ser iguais e sempre são duas.
Isto é conhecido como
pleonasmo ou redundância.
Basta dizer: É pena não poder
dividir esta fruta em duas
metades.
Curiosidade
Gregório de Matos foi o primeiro grande poeta brasileiro.
Nasceu em 1633, em Salvador, na Bahia. Seus poemas
denunciam a ganância e a busca do prazer pelos poderosos. Por
isso, ganhou o apelido de Boca do Inferno.
142
Tragédia pública
“A falta de médicos nos hospitais públicos é tão grande ao ponto de
pessoas ficarem esperando mais de 12 horas para serem atendidas.”
Enquanto não se resolve o problema da saúde, vamos resolver a
correção na escrita.
Não use “ao ponto de” e sim a ponto de, que é uma locução
prepositiva.
Ganho ou ganhado?
Antônia havia ganhado um carro na Raspadinha, mas perdeu o
bilhete.
Que azar! Só acertou no verbo ganhar. Com os verbos ter e haver você
pode usar as formas ganhado ou ganho, pois ambas estão corretas.
O verbo ganhar é abundante, isto é, no modo infinitivo tem dois
particípios.
Castigo
“Os maus políticos
deveriam ter seus mandatos
caçados.”
Assim seria castigo
dobrado.
Caçar – é perseguir a tiro
Cassar – é fazer cessar os
direitos políticos ou de
cidadão.
Frase correta: Os maus
políticos deveriam ter seus
mandatos cassados.
Você precisa saber
Não se usa crase antes de palavra masculina, a única exceção é
quando se subentender a expressão à moda de ou à maneira de.
Exemplos: Andei a cavalo (não pode haver crase porque cavalo é
palavra masculina).
Escreve à Machado de Assis (à maneira de Machado de Assis).
Comprou uma cadeira à Luís XV (à moda de Luís XV).
Tombo desnecessário
“A secretária subiu na mezinha e
caiu.”
Coitada! Levou um tombo e deu
um tombo na língua portuguesa.
Preste atenção: Mezinha é termo
usado em medicina.
Mesinha – diminutivo de mesa.
Frase correta: A secretária subiu
na mesinha e caiu.
143
Respostas aos leitores
1. Leonardo José da S. Gomes (Rio de Janeiro/RJ)
Não tenha dúvida: o plural de hambúrguer é
hambúrgueres. A palavra segue a regra geral:
vocábulos terminados em r fazem o plural
acrescentando es.
2. Pedro Paulo Affonso (Petrópolis/RJ)
O uso do acento indicador de crase é facultativo
antes dos pronomes possessivos femininos.
Exemplos: Hoje dei um presente à/a minha mãe.
Saudamos à/a nossa professora.
3. Maria Antônia A. Marques (Rio de Janeiro/RJ)
Os verbos que não pedem preposição antes dos
seus complementos são chamados transitivos
diretos. Há também os transitivos indiretos (pedem
preposição), transitivos diretos e indiretos (têm
dois complementos – um com preposição e outro
sem) e intransitivos (não pedem complemento).
Veja os exemplos:
Ela encontrou o livro. (Verbo transitivo direto.)
João acredita em Deus. (Verbo transitivo indireto.)
A criança ganhou a boneca da tia. (Verbo transitivo
direto e indireto.)
Pedro morreu. (Verbo intransitivo.)
144
Temos batalhado muito para que a televisão ajude a
criar o gosto pela leitura. É hora de elogiar o que fez a
telenovela Terra Nostra. A bela Ana Paula Arósio afirmou
num dos capítulos que aprendeu português nos livros do
poeta Castro Alves. Isso ajuda. Parabéns à Rede Globo!
5353
Conceituação
Os substantivos variam em:
Gênero (masculino e feminino) – havendo, também, os
substantivos:
Sobrecomuns (só um gênero para pessoas de ambos os sexos).
Exemplos: a criança, a testemunha, a vítima, etc.
Epicenos (só um gênero para designar animais de um e outro
sexo). Exemplos: a baleia, o tatu, a borboleta, etc.
Comuns-de-dois gêneros (uma só forma para os dois gêneros).
Exemplos: o artista/a artista; o selvagem/a selvagem; o dentista/a
dentista, etc.
Número (singular e plural). Exemplo: casa (singular) e casas
(plural).
Grau (aumentativo e diminutivo, que se podem expressar
analítica ou sinteticamente).
Exemplos:
Casarão: grau aumentativo sintético.
Casita: grau diminutivo sintético.
Casa grande: grau aumentativo analítico.
Casa pequena: grau diminutivo analítico.
145
Curiosidade
Etólogo é aquele
que estuda o
comportamento
das espécies
animais no seu
meio natural.
Todos nós devemos
ser um pouco
etólogos.
Tacos soltos
“D. Rosa mandou fazer a calefação do piso de sua sala, para
consertar os tacos soltos.”
Não pode ter dado certo. Será que pegou fogo nos tacos?
Observe:
Calefação – aquecimento
Calafetação – ação de calafetar, tapar, vedar.
Período correto: D. Rosa mandou fazer a calafetação do piso de sua
sala, para consertar os tacos soltos.
Constatar
Se você pode evitar os chamados galicismos, por que não fazer? No
editorial de um jornal carioca, lemos três vezes a palavra “constatar”,
de origem francesa. Seria tão mais fácil usar, por exemplo, a palavra
verificar. Ou se faz isso para demonstrar erudição?
Galicismo ou francesismo – estrangeirismo, palavra calcada no
francês.
Temporal
“José não viajou por
causa de que choveu.”
Errado! José não viajou
porque choveu ou por
causa da chuva.
Não existe “por causa
de que”.
Herança paterna
“O imóvel foi doado aos filhos, mas
em usofruto do pai.”
Coitado dos herdeiros, assim não
terão nenhum benefício desse
imóvel. O correto é usufruto (com
u), não existe a palavra “usofruto”.
Usufruto – ato ou efeito de usufruir,
desfrutar, gozar.
Para sua reflexão
“Gostar é provavelmente a
melhor maneira de ter, ter
deve ser a pior maneira de
gostar.”
(José Saramago)
Você precisa saber
Tanto o molho de tomate
quanto o molho de chaves
devem ser falados com o tônico
fechado (môlho).
- - - -
s s s s
146
Respostas aos leitores
1. Magdalena S. Soares (Rio de Janeiro/RJ)
O pronome Vossa Eminência (V. Ema) é usado para
cardeais, logo não o use quando escrever para o
Padre Marcelo, coloque no envelope: Ilmo. Sr./Padre
Marcelo.
2. Maria Eugênia de A. A. Souza (Rio de Janeiro/RJ)
Você tem razão. Alguns diminutivos podem ser
considerados pejorativos e graçola é um deles.
147
Há uma grande preocupação, no Brasil, com
respeito ao aperfeiçoamento da língua portuguesa.
O deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB de São Paulo)
apresentou à Câmara um projeto de lei prevendo
inclusive multas para quem utilizar em excesso palavras
estrangeiras, em especialanglicismos. A Academia Brasileira
de Letras é muito respeitada, nesse instrumento legal. Vamos
acompanhar de perto a discussão em torno da iniciativa
parlamentar, que tem amplos méritos.
5454
Você precisa saber
A nossa língua sofreu inúmeras influências, inclusive temos
palavras que são oriundas dos indígenas, os habitantes
originais desta terra chamada Brasil. É o caso de pipoca, que
vem do tupi pi’poka, significando estalando a pele do milho.
Interessante, concordam?
Homem irado
“Todos comentam que
Pedro é um homem
irracível.”
Se ele souber, vai ficar
mais irado ainda.
Não existe a palavra
“irracível”.
A palavra é irascível
(pessoa que se irrita
com facilidade). O sc de
irascível é dígrafo.
Informática
Cobol é uma linguagem de computador, logo diga sempre: a
cobol (no singular) e as cobóis (no plural).
Homenageando Djavan
“É um milagre tudo o que Deus criou pensando em você.”
148
O insubstituível Cabral
Faleceu o poeta João Cabral de Melo Neto (outubro/99). Deixou-nos
a sua poesia – Morte e Vida Severina.
— O meu nome é Severino,/não tenho outro de pia. / Como há
muitos Severinos, / que é santo de romaria, / deram então de me
chamar / Severino de Maria; / como há muitos Severinos / com mães
chamadas Maria, / fiquei sendo o da Maria /do finado Zacarias.
/ Mas isso ainda diz pouco: / há muitos na freguesia, / por causa
de um coronel que se chamou Zacarias / e que foi o mais antigo
senhor / desta sesmaria. / Como então dizer quem fala /ora a Vossas
Senhorias? / Vejamos: é o Severino da / Maria do Zacarias, / lá da
serra da Costela, limites da Paraíba. / Mas isso ainda diz pouco: /
se ao menos mais cinco havia / com nome de Severino / filhos de
tantas Marias, / mulheres de outros tantos, / já finados, Zacarias, /
vivendo na mesma serra / magra e ossuda em que eu vivia.
Sangue demais
“José teve uma hemorragia de sangue
estomacal muito séria.”
Desse jeito, ele perdeu mais sangue
ainda.
Hemorragia só pode ser de sangue.
Preste atenção: hemo (sangue) + ragia
(derramamento) = hemorragia –
derramamento de sangue.
Não escreva “hemorragia de sangue”,
para não cometer um pleonasmo (uso
de termos desnecessários numa frase).
Frase correta: José teve uma
hemorragia estomacal muito séria.
Viva o dia!
Todo dia, João trabalha todo o dia,
pois vive de biscate.
Observe:
Todo dia – significa qualquer dia.
Todo o dia – significa o dia inteiro.
s s s
149
Torcendo
errado
“Um grupo de garotos
torceu para o Vasco no
jogo com o Flamengo
na decisão da Copa do
Brasil.”
Foi por isso que o clube
de São Januário perdeu
a Copa.
O verbo torcer, no
sentido de torcedor,
não aceita a preposição
“para” e sim a
preposição por e suas
variações.
Frase correta: Um grupo
de garotos torceu pelo
Vasco no jogo com o
Flamengo na decisão da
Copa do Brasil.
Respostas aos leitores
1. Antônio Carlos de Jesus e Souza (Rio de Janeiro/RJ)
Grafemas são as letras, símbolos gráficos que
formam as palavras, que constituem a base da língua
escrita.
2. Marina D. da C. Sotero (Rio de Janeiro/RJ)
Você está certa. O sujeito oculto é hoje chamado
de implícito na desinência verbal, por diversos
gramáticos. Acho esta, inclusive, uma nomenclatura
mais adequada – o pronome não aparece na frase,
mas está implícito.
Exemplo: Iremos ao cinema às 18h. (Sujeito nós –
implícito na desinência verbal).
3. Selma de A. A. Matozo (Friburgo/RJ)
A diferença entre as locuções adverbiais e as
prepositivas é que estas sempre terminam com uma
preposição e aquelas começam na maioria das vezes
com uma preposição.
Exemplos:
à toa/às claras/de repente, etc. – locuções
adverbiais
acima de/ além de/ a par de, etc. – locuções
prepositivas
150
Às vésperas do último capítulo da novela Andando
nas nuvens (1999), a adolescente Joana deu um recado
para os jovens: — “Lendo se aprende a escrever”. No
programa Sai de Baixo foi a vez do Miguel Falabela, através
do personagem Caco Antibes, recomendando à empregada
Neide Aparecida que ela deveria estudar português para não
falar errado. É o poder da televisão, prestando um serviço à
comunidade. Mais uma vez a Rede Globo está de parabéns.
5555
Você precisa saber
É melhor presentear alguém
com um ramalhete ou
ramilhete de flores. “Bouquet”
é uma palavra importada da
França – um estrangeirismo,
conhecido como galicismo.
A pedra preta preciosa é
ônix (acentuada porque é
paroxítona, terminada em x) e
não “onix” (oxítona).
Solidão
“Antônio e Maria vivem só.”
Bem feito! Cuidado com a palavra só. Ela é invariável quando o
só (advérbio) puder ser substituído por somente (advérbio). Se a
frase fizer sentido, substituindo-se o só por sozinho, ele é variável,
isto é, faz plural: sós.
Frase correta: Antônio e Maria vivem sós.
Mau agouro
“A atitude do rapaz pronunciava algo ruim.”
Certamente! Escrevendo assim...
O verbo para esta frase não é pronunciar e sim prenunciar.
Veja a diferença:
Prenunciar – anunciar com antecedência.
Pronunciar – exprimir verbalmente, articular.
Frase correta: A atitude do rapaz prenunciava algo ruim.
151
Pagamento
“O tesoureiro pagou o funcionário, mas ele não ficou satisfeito.”
Cuidado com o verbo pagar. Ele é transitivo direto e indireto, isto é,
ele pede complementos – paga-se alguma coisa (objeto direto) a
alguém (objeto indireto, com preposição).
Período correto: O tesoureiro pagou ao funcionário, mas ele não
ficou satisfeito.
Senão
“Não saia agora, se não você
vai pegar o temporal antes de
chegar a sua casa.”
Certamente, molhou-se todo. O
correto é senão.
Senão (junto) é usado quando
significa: caso contrário, mas
sim, a não ser.
Não sendo assim, é que se usa
se não (separado).
Nesta frase, o senão está no
sentido de caso contrário.
Período correto: Não saia agora,
senão (caso contrário) você
vai pegar o temporal antes de
chegar a sua casa.
Quadro feio
“A lindíssima moça pousou para o pintor. A tela não fez sucesso.”
Nem poderia. O verbo usado (pousou) está errado.
Veja a diferença:
Posou (verbo posar) – serviu de modelo.
Pousou (verbo pousar) – baixou, desceu à terra.
Período correto: A lindíssima moça posou para o pintor. A tela não
fez sucesso.
b
b
b
152
Antipatia
gratuita
Sempre me simpatizei
com a Nair, mas ela
jamais gostou de mim.
Já descobri o porquê
de tanta antipatia. O
verbo simpatizar não é
pronominal, logo não
admite ser acompanhado
pelos pronomes oblíquos
(“me simpatizei”).
Período correto: Sempre
simpatizei com a Nair,
mas ela jamais gostou de
mim.
Respostas aos leitores
1. “Jean” – crispim@lutarc.com.br
Toda vez que puder substituir o “a” por existe ou
tem, será há (verbo haver) e não a preposição a.
Logo: mais de um século.
2. Sofia Argentino A. Souto (Rio de Janeiro/RJ)
O superlativo absoluto sintético de nobre é
nobilíssimo.
É aceitável nobríssimo, mas nunca “nobílimo”. Já o
adjetivo fácil faz o superlativo facílimo.
Recomendamos a leitura
“A Carolina” é um poema que Machado de Assis dedicou à sua
amada, quando da sua morte.
A Carolina
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.
Trago-te flores, restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
153
Nosso alfabeto voltará a ter oficialmente 26 letras,
pois o k, o y e o w serão recolocados. Serão usados em:
nomes próprios e seus derivados
nomes de lugar e seus derivados
siglas e símbolos
5656
Recomendação
Leia Dom Casmurro,
obra-prima de Machado
de Assis, publicada, pela
primeira vez, em 1899,
para conhecer e formar
uma opinião em relação
à personagem Capitu,
filha de um modesto
funcionário público e
a “primeira amiga” de
Bentinho, filho de um
político e fazendeiro.
Comemoração
perigosa
“Joãodisse que vai tomar
toda a champanhe que
ganhar no Natal.”
Além de passar mal,
champanhe é uma palavra
masculina porque se
trata de um vinho. Beba o
champanhe com moderação.
Período correto: João disse
que vai tomar todo o
champanhe que ganhar no
Natal.
154
Sem seriedade
“Apesar dos avisos dos superiores
o assessor tergiverça nos assuntos
mais sérios.”
Isto não vai dar certo! Não
há chefia que aguente quem
“tergiverça”. Este verbo não é com
ç e sim com s: tergiversar, que
significa, em sentido figurado,
ser evasivo, torcer a realidade dos
fatos.
Frase correta: Apesar dos
avisos dos superiores o assessor
tergiversa nos assuntos mais
sérios.
Economizando palavras
desnecessárias
Decisão de “alcance” internacional.
Basta: decisão internacional.
Crime de “característica” sexual.
Basta: crime sexual.
“Casos” de reprovação. Basta:
reprovações.
Você precisa saber
O plural de cidadão é cidadãos, não se admitindo outra forma.
O verbo lembrar-se é transitivo indireto, isto é, seu complemento
precisa de preposição; já o verbo lembrar é transitivo direto, isto é,
seu complemento não precisa de preposição.
Exemplos: Lembrei-me do aniversário dele.
Lembrei o aniversário dele.
O correto é para eu fazer, porque o pronome pessoal do caso
reto eu é o sujeito do verbo fazer, que está no Infinitivo. Jamais um
pronome pessoal do caso oblíquo (mim) pode ser sujeito.
Filme duvidoso
“O filme não fez sucesso por
causa do protogonista?”
Sem dúvida! A palavra
“protogonista” não existe. O
certo é protagonista.
Frase correta: O filme não
fez sucesso por causa do
protagonista?
Muita sede
“Pedro estava com tanta
sede que mal podia esperar
encontrar um bebedor.”
Coitado! Vai continuar com
sede.
Preste atenção:
– aquele que bebe
ou bebedoiro –
aparelho que fornece água.
Período correto: Pedro
estava com tanta sede que
mal podia esperar encontrar
um bebedouro.
Preços altos
“Nos meses de festas, os
comerciantes baixaram os preços.”
Além de não ser verdade, tome
cuidado com o verbo. Caso haja
complemento (objeto direto) na
frase, use o verbo abaixar.
O verbo baixar deve ser sem
complemento, isto é, verbo
intransitivo – Os preços baixaram.
Frase correta:
Nos meses de festas, os
comerciantes abaixaram os preços
(objeto direto).
3 3 3 # # #
155
Respostas aos leitores
1. Maria José F. Santeiro (Rio de Janeiro/RJ)
O verbo assistir, no sentido de dar ajuda, dar
assistência, é transitivo direto, isto é, o complemento
é sem preposição, logo a frase correta é: Ele assistiu o
paciente.
2. Nelson José de A. Ramos (Rio de Janeiro/RJ)
Toda a conjugação do verbo pôr é com s, jamais com
z. Exatamente igual ao verbo querer (sempre com s).
Exemplo: pus, pusera, pôs, pusesse, etc.
156
A dupla Sandy e Júnior já vendeu mais de 6 milhões de
discos. Uma conquista rara, se levarmos em conta a idade
dos irmãos. Um dos seus êxitos é a música Imortal. Pena
só que haja, na letra, uma confusão, que pode levar os fãs
a não entender o correto tratamento entre mim e você. Não
custa nada observar isso. A educação brasileira agradece.
5757
Excesso
“Se o rapaz beber
demais é capaz de entrar
em coma alcoólica.”
Coma é palavra
masculina. O feminino
(“coma alcoólica”) foi
usado indevidamente.
Período correto: Se o
rapaz beber demais
é capaz de entrar em
coma alcoólico.
Você precisa saber
Sente-se à mesa para almoçar ou jantar. Se você senta na mesa
quer dizer que você se coloca sobre ela e não se deve comer em
cima da mesa.
Todos os substantivos abstratos derivados de adjetivos devem ser
escritos com z se usarem os sufixos ez e eza.
Exemplos: bela – beleza / macio – maciez / sórdido – sordidez /
grande – grandeza
Derrapada na concordância
Aconteceu na novela Vila Madalena, no capítulo do dia 13/12/99.
Disse uma excelente atriz: “De quem é estas cartas?”
Feio, não? A frase deveria ter sido: De quem são estas cartas?
Se acertasse na concordância, quem sabe teria melhor sorte na
novela?
157
Time derrotado
“O time adentrou no gramado com ares de vencedor, mas acabou
perdendo o jogo.”
Certamente! O verbo adentrar é transitivo direto, isto é, seu
complemento é sem preposição.
Período correto: O time adentrou o gramado com ares de vencedor,
mas acabou perdendo o jogo.
Mudança de
combustível
“O motorista de táxi adaptou
o motor do seu carro para
combustível à gás.”
Acertou na economia e errou
na colocação da crase.
Não se usa o sinal indicador
de crase antes de palavra
masculina.
Período correto: O motorista de
táxi adaptou o motor do seu
carro para combustível a gás.
Avós atrasados
“Eles saíram tão tarde, de
formas que não chegaram a
tempo de assistir ao casamento
do neto.”
Lamentável! Escrevendo desse
modo só resta lamentar...
“De formas que” está
errado, pois se trata de uma
locução conjuntiva, portanto
invariável: de forma que.
Período correto: Eles saíram
tão tarde, de forma que não
chegaram a tempo de assistir
ao casamento do neto.
Maestro não foi
batuta
Na minha querida Rede
Vida de Televisão, o maestro
Rafael Righini perdeu o
ritmo. Anunciou assim o seu
programa dominical: “Eu
te convido, você não pode
perder”.
Não deveria ter misturado os
tempos verbais e os pronomes
na mesma frase. Saiu do tom.
5
158
Faltosos
Um e outro funcionário
faltaram ontem ao trabalho.
Se não fosse o problema da
falta, estaria tudo certo.
A expressão um e outro admite
o verbo no plural, o que é
mais aceitável, e também no
singular.
Observe no singular: Um e
outro funcionário faltou ontem
ao trabalho.
Respostas aos leitores
1. José Antônio T. Santos (São João de Meriti/RJ)
Na frase “Os rapazes saíram”, a classe gramatical
do os é artigo definido, mas a função sintática é
adjunto adnominal.
2. Ana Paula de Affonso G. Souza (Rio de Janeiro/RJ)
A palavra ínterim é acentuada porque é
proparoxítona. Todas as proparoxítonas são
acentuadas. Já as palavras item/itens não são
acentuadas, pois não há motivo para tal.
3. Maria Antônia M. A. Diaz (Rio de Janeiro/RJ)
A diferença entre os tempos Pretéritos Perfeito
e Imperfeito é que este se relaciona a fato não
terminado ou que demorou a terminar e naquele o
fato é passado e concluído, respectivamente.
159
Está bem próximo o 500o (quingentésimo – numeral
ordinal) ano do descobrimento do Brasil. Os jesuítas
introduziram uma didática nova, pioneira na missão
católica, na qual tanto a língua quanto os costumes dos
índios foram preservados. As gramáticas e catecismos eram
em tupi-guarani. Em 1727, o rei D. João V proibiu, entre
os colonos, o emprego da língua geral – o tupi. A bem da
verdade, a língua portuguesa, ao ganhar novos termos (sabiá,
Niterói, Ipanema, cipó, etc.), herdados do vocabulário indígena,
ficou ainda mais expressiva. É nossa obrigação cultivá-la.
5858
160
O início de tudo
“Os portugueses conquistaram a
simpatia dos índios, dando-lhes
bujingangas.”
Cuidado! A palavra é bugigangas
(com três g).
Período correto: Os portugueses
conquistaram a simpatia dos índios,
dando-lhes bugigangas.
Curiosidade
Literatura de cordel – é um nome
que veio de Portugal, significando:
folhas soltas, escritas e expostas
à venda montadas em cordões ou
cordéis. São impressas em papel
ordinário, medindo cerca de 11 cm
x 16 cm. Os temas tradicionais dos
cordéis vêm através do romanceiro,
como as narrativas de Malasarte,
Carlos Magno, etc. Os folhetos de
cordel são apresentados por poetas
populares – cantadores – e têm
grande importância para a literatura
brasileira.
Má ideia
“D. Joana mandou
enladrilhar a cozinha
do seu apartamento.”
Não deve ter ficado
satisfeita. Não existe
o verbo “enladrilhar”.
Cobrir com ladrilhos é
ladrilhar.
Frase correta: D. Joana
mandou ladrilhar
a cozinha do seu
apartamento.
? ? ?
/ / /
161
Dentes feios
“Pedro comprou um
dentifrício com bicabornato,
mas seus dentes não ficaram
claros.”
Claro que não! Não existe
a palavra “bicabornato”. A
palavra é bicarbonato.
Período correto: Pedro
comprou um dentifrício
com bicarbonato,mas seus
dentes não ficaram claros.
Ranking
Outro dia, o jornal Folha de S.
Paulo fez o “ranqueamento” das
universidades brasileiras. Logo
depois, o Bom Dia, Brasil (TV
Globo) colocou o estado da Paraíba
em segundo lugar no “ranking da
produção de abacaxis”.
Por que usar a palavra ranking ou
ranqueamento?
Não seria mais fácil e lógico
utilizar a palavra classificação?
Essa mania de sofisticar a língua,
sem necessidade, é um verdadeiro
abacaxi.
Cuidado com o cigarro
Dê-me um maço de cigarros e uma caixa de fósforos.
Correto! O melhor é não fumar, mas se você fuma compre um maço
de cigarros e uma caixa de fósforos.
Observe: Tanto a palavra maço quanto a palavra caixa determinam
que há mais de um cigarro e mais de um fósforo, respectivamente.
A emoção do artista
Falando sobre os seus lindos filhos, Sandy e Júnior, cantores, no
programa do Faustão, o pai, muito emocionado, disse:
— Muito obrigado a todo mundo aqui da Globo, que sempre nos
apoiaram.
E agora? Certo ou errado?
O cantor usou a figura de sintaxe conhecida como silepse de
número.
Preste atenção: Silepse é a concordância com a ideia e não com a
palavra escrita. No caso, todo mundo dá ideia de plural, daí o uso do
verbo apoiaram (no plural).
E a questão da eufonia? Ficaria melhor se o artista tivesse dito:
— Muito obrigado a todo mundo aqui da Globo, que sempre nos
apoiou.
Respostas aos leitores
1. José Mário de O. Souza (Rio de Janeiro/RJ)
Antes de nome feminino de pessoa, o uso do acento
grave indicador da crase é facultativo.
Exemplo: Dei o livro à/a Sônia.
2. Carlos Eduardo T. Jacinto (Petrópolis/RJ)
é o nome dado aos erros na grafia,
flexão, pronúncia ou significado de uma palavra.
Cacoépia é apenas em relação à pronúncia errada.
Você precisa saber
Na numeração dos artigos de uma lei, deve-se usar os numerais
ordinais até o 9 (nono). A partir do artigo 10, usam-se os numerais
cardinais.
Exemplo: Artigo 23 e não 23o (vigésimo terceiro).
O feminino de anfitrião é anfitrioa ou anfitriã (pessoa que recebe
os convidados em casa).
As palavras estrangeiras que têm equivalente na língua
portuguesa devem ser grafadas na nossa língua.
Exemplo: futebol e não football.
Usa-se por quê (separado e com acento circunflexo) somente
no fim de uma frase e por que (separado e sem acento) em frases
interrogativas.
Exemplos: João chegou tarde, por quê?
Por que João chegou tarde?
7 7 7
162
A literatura pode e deve ser considerada uma arte. O
escritor é um artista que usa a palavra no lugar das tintas
e telas do pintor e dos instrumentos do músico. As primeiras
manifestações da literatura, aqui no Brasil, ocorreram no
século XVI, ficando conhecidas como quinhentismo. Refletiam
as opiniões dos europeus sobre a nova terra recém-descoberta
– literatura informativa. O primeiro texto deste tipo foi a carta
de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, D. Manuel, relatando o
descobrimento do Brasil. A seguir surgiu a literatura dos jesuítas cujo
objetivo era catequizar
os índios. O baiano
Gregório de Matos foi o
primeiro grande poeta
brasileiro (1633/1696).
5959
Para reflexão
“A pintura é uma poesia que se vê e não se ouve e a poesia é uma
pintura que se ouve e não se vê.”
(Leonardo Da Vinci)
Falar difícil
Não sabemos se é moda, mas o fato é que há uma certa tendência,
hoje em dia, de falar difícil. Uma conhecida colunista, outro dia,
elogiou as “características calipígias da cantora Simone”. Seria
mais fácil escrever sobre suas belas nádegas. Pelo menos, era essa a
intenção. Já o governador Itamar Franco chamou o atual presidente
de anfótero (aquele que reúne em si qualidades opostas). Fernando
Collor já tinha chamado Ulisses Guimarães de bonifrate (fantoche)
e Leonel Brizola disse que “o povo brasileiro vai manifestar sua
repulsa a essa arca de Noé, esse contubérnio”. Essa última palavra
quer dizer camaradagem. Não seria melhor falar ao povo com mais
simplicidade? Haveria certamente maior compreensão. A escumalha
(ralé) agradece.
163
Quase... Quase
“Está próximo o quinto centenário da descoberta do Brasil.”
Não estrague a festa. Fale e escreva direito. A palavra “descoberta”
está mal empregada.
Veja a diferença:
Descoberta – invenção (de coisa que não existia).
Descobrimento – ato de descobrir (coisa que já existia).
Frase correta: Está próximo o quinto centenário do descobrimento
do Brasil.
Ano bissexto?
2000 é um ano que tem 366 dias.
O último ano bissexto foi 1996. O
astrônomo Alexandre Cherman, da
Fundação Planetário da Cidade do
Rio de Janeiro, explica a origem do
termo bissexto:
“Na época em que Júlio César
encomendou a reforma do calendário
ao astrônomo grego Sosígenes (45
a.C.), os meses eram divididos em
três partes: “calendas”, “nonas” e
“idos”. O primeiro dia de um mês
era chamado “kalendae” (que deu
origem ao termo calendário), e os
demais eram contados de trás para
a frente, num curioso e intrincado
sistema. O dia 2 de janeiro, por
exemplo, era “antediem IV nonas
januarii”. Ao decidir incorporar um
dia ao mês de fevereiro, Júlio César
não criou um novo dia (assim como
foi criado o dia 29 de fevereiro), mas
preferiu repetir um dia já existente
(algo como 28 de fevereiro e 28
de fevereiro novamente). Este dia
repetido, em latim, chamava-se “bis
VI antediem calendas martis”, ou
simplesmente “bissextum”.
Você precisa saber
Os verbos que indicam
movimento mudam de sentido
de acordo com a preposição
usada (a ou para)
Exemplos: Vou a São Paulo
(vou e volto).
Vou para São Paulo (vou
de mudança ou por algum
tempo).
A diferença entre:
Emergir – vir à tona
Imergir – mergulhar
164
a
a
a
Curiosidade
O feminino do
substantivo varão,
que significa
homem, é varoa,
virago ou ainda,
segundo alguns
gramáticos,
matrona.
Conhecendo a poesia de Gregório de
Matos
Esta poesia é um soneto, pois é composta de dois quartetos e dois
tercetos.
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
e na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
Observe os quartetos: O primeiro verso do primeiro quarteto rima
com o primeiro verso do segundo quarteto e assim sucessivamente.
E o vento levou...
Diálogo da dublagem do filme:
“Não pode ter passado desapercebido o meu amor por você...”
Repetimos, mais uma vez, a diferença entre as palavras
desapercebido e despercebido porque elas continuam sendo
questionadas pelos leitores.
Apesar de alguns dicionários registrarem as palavras desapercebido
e despercebido como sinônimas, elas têm apenas o som parecido,
isto é, são parônimas.Veja a diferença:
Despercebido – a que não se prestou atenção, que não se viu.
Desapercebido – desprevenido, desacautelado.
Teria ficado bem melhor se Clark Gable tivesse sido dublado assim:
“Não pode ter passado despercebido o meu amor por você...”
165
Quem afirmou foi o escritor José Saramago: “Não
podemos permanecer no domínio das palavras vazias.
É hora de fazer algo concreto para que livros brasileiros
circulem adequadamente em Portugal, e vice-versa. A
criação de uma bienal, a primeira das quais no Rio de
Janeiro, seria um passo decisivo para que se estabelecesse
a harmonia pretendida entre os escritores irmãos.” Este é
igualmente o nosso pensamento. O que falta para implementar?
6060
Aluno difícil
“A professora vive brigando com José porque ele é muito
irriquieto.”
Assim, José vai ficar mais levado ainda.
Não existe a palavra “irriquieto”. O vocábulo certo é irrequieto.
Período correto:
A professora vive
brigando com José
porque ele é muito
irrequieto.
Atraso feio
“D. Maria pediu ao marido que se
apreçasse porque estavam atrasados
para ocasamento da sobrinha.”
O casal não vai chegar a tempo! O
verbo não é “apreçasse”.
Veja a diferença:
Apreçar – perguntar ou ajustar o
preço.
Apressar – acelerar.
Período correto: D. Maria pediu ao
marido que se apressasse porque
estavam atrasados para o casamento
da sobrinha.
Reflexão
“Assim como dizem
que as guerras
aproximam os povos,
as discordâncias de
ideias aproximam
os amigos.” (Alceu
Amoroso Lima
– Harmonia dos
contrastes)
166
Injustiça
“O censo de justiça
daquele patrão é
questionável.”
Claro que sim! Ele
certamente é injusto.
Observe a diferença:
Censo – recenseamento
Senso – faculdade de
julgar.
Frase correta: O senso
de justiça daquele
patrão é questionável.
Você precisa saber
É correto o uso da expressão
a gente, mas o verbo
obrigatoriamente deve ser usado no
singular.
Exemplo: A gente vai à cidade.
Boa cozinheira
“D. Antônia tampou a panela do feijão para engrossar o caldo e
apurar o sabor.”
Muito bem! Além de ser boa cozinheira, D. Antônia usou o verbo
tampar corretamente.
Tampe só o que tem tampa – panelas, garrafas, caixas, etc.
Use o verbo tapar para tudo que não tem tampa – tape os ouvidos,
tape os olhos, tape o buraco, etc.
Sentou mal?
“João não pôde se
sentar no banco
da praça porque
o acento estava
molhado.”
É impossível! Acento
é um sinal gráfico ou
tom de voz. A palavra
certa é assento (com
dois s) – lugar de se
sentar.
Caso de doença
“O pai do José teve uma aneurisma e
está internado no hospital.”
Já não basta a gravidade do
caso? Aneurisma é uma palavra
masculina.
Período correto: O pai do José teve
um aneurisma e está internado no
hospital.
u
167
u u u
Respostas aos leitores
1. Guiomar A. Alencar (Rio de Janeiro/RJ)
O preconceito quanto ao uso da locução a gente é
descabido. Entretanto, use-a sempre com o verbo no
singular.
Exemplos: A gente foi ao cinema, ontem.
Hoje, a gente vai dormir mais cedo.
2. José Luiz de C. Amaral (Rio de Janeiro/RJ)
Solecismo é o vício de linguagem. É o desvio das
regras da norma culta em relação à sintaxe (parte da
gramática que trata da disposição das palavras na
frase e das frases no período).
Exemplo: Não abandone-me aqui sozinha – é um
solecismo, pois o correto é: Não me abandone aqui
sozinha (o não atrai o pronome oblíquo me).
3. Cândida Carlota de Oliveira (Rio de Janeiro/RJ)
Prefira escrever xampu (sem acento, pois é palavra
oxítona terminada em u) que consta do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia
Brasileira de Letras. Shampoo é em inglês.
4. Arthur de F. Frazel (Rio de Janeiro/RJ)
Zero é um numeral cardinal, não havendo qualquer
palavra que corresponda a ele como numeral ordinal,
que inicia em primeiro.
168
Perfeição
A excelente Fátima
Bernardes, a musa
do penta, sempre
irrepreensível, disse:
“O Felipão recebeu
muitas críticas do povo
brasileiro.”
Perfeito! A palavra
crítica é proparoxítona
e continua acentuada.
Atenção: todas as
palavras proparoxítonas
são acentuadas.
A conquista, em 2002, do pentacampeonato de futebol
teve um significado muito maior do que se imagina. Dois
bilhões de pessoas assistiram à final pela televisão e assim
tomaram conhecimento de que existe um país imenso, na
América do Sul, que fala a Língua Portuguesa e pratica um
futebol maravilhoso, a despeito de tudo. O mundo passou a
conhecer mais o Brasil. Vocês já imaginaram a felicidade do povo
lusófono com a nossa conquista?
X X X
Deslize do meu
xará
O querido Arnaldo César
Coelho mostrou por escrito:
“O melhor da Copa, na minha
opinião, foi ‘Cafú”.
Isso nosso capitão não
merecia. O apelido do
jogador é uma palavra
oxítona terminada em u,
não podendo, por isso, ser
acentuada: Cafu.
Exame médico
“O médico examinou a
caixa toráxica do jogador.”
Certamente, ficou
preocupado. O nome do
esqueleto do tórax não é
escrito com x e sim com c –
torácica.
Frase correta: O médico
examinou a caixa torácica
do jogador.
k
169
6161
170
Conquista nada fluida
Felipão, na TV Globo, após a vitória histórica de 2 x 0 sobre a
Alemanha:
“Jogamos um futebol consistente e recebemos do Brasil fluídos
positivos.”
O apresentador Luís Roberto, no Rio, gostou tanto que repetiu a
palavra “fluído”...
Naquela hora valia tudo, mas fluído é o particípio do verbo fluir.
O que os brasileiros mandaram para a seleção foram fluidos –
pronunciamos fluidos.
Homenagem a Felipão
1- O técnico do nosso time pentacampeão foi homenageado pelo
apresentador Faustão, no programa do dia 11/8/2002. Felipão fez a
seguinte declaração: “Tive uma certa ansiosidade.”
Se ele tivesse tido uma certa ansiedade (aflição, agonia) não teria
sofrido tanto. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa,
da Academia Brasileira de Letras e os dicionários não registram a
palavra “ansiosidade”, logo ela não existe.
2- Marcos Frota, que participou daquele Domingão do Faustão, fez o
seguinte comentário sobre Felipão: “Ele tem honrabilidade.”
Todos os brasileiros sabem que Scolari é um cidadão honesto,
honrado, isto é, observa os princípios que pautam os deveres da
moral. Entretanto, ele não tem “honrabilidade” porque esta palavra
também não faz parte do Vocabulário e dos dicionários.
O simpático ator deveria ter dito: Ele tem honradez (qualidade de
honrado).
170
= = =
Time do futuro
“A seleção brasileira de juniores tem treinado diariamente.”
Muito bem! Assim, poderemos ficar esperançosos quanto ao sucesso
da equipe nas copas futuras.
O plural de júnior é juniores, que se pronuncia juniôres (acento
colocado para mostrar o som fechado na sílaba tônica da palavra).
171171
Excesso de barulho
“A senhora idosa não conseguiu dormir com a zuada das
crianças, comemorando a vitória brasileira.”
Deve ter sido um barulho infernal, “zuada” é uma palavra
inexistente.
O verbo é zoar (com o) que significa ter som forte e
confuso, logo, da mesma forma: zoada e zoeira.
Frase correta: A senhora idosa não conseguiu dormir com
a zoada das crianças, comemorando a vitória brasileira.
Desvio
O veterano locutor Sílvio Luís, que merece todo o nosso respeito, ao
narrar na Band um jogo da última Copa do Mundo:
“A bola não desviou-se um milímetro.”
A partícula não atrai o pronome, obrigando a próclise.
O certo seria:
A bola não se desviou um milímetro.
Estamos conversados, grande Sílvio Luís?
f f f
172
O psicanalista Luiz Alberto Pinheiro de Freitas é o
autor do livro Freud e Machado de Assis, no qual ele
considera o personagem Bentinho, do famoso romance
Dom Casmurro, um homossexual enrustido. O dr. Freitas
afirma que “ele diz que Capitu ama Escobar, mas quem
ama Escobar é ele. É Freud quem aponta para esse tipo
de pessoa que o escritor percebeu, que tem uma paixão
homossexual pelo outro, mas diz que é a mulher que tem. Não
é nenhuma invenção minha. E Machado insinua isso em vários
momentos do livro.” Segundo o próprio dr. Freitas, Machado
de Assis antecipou aspectos que seriam estudados por Freud 25
anos depois. Indiscutível a grandiosidade do nosso Bruxo do
Cosme Velho. Machado de Assis era dono de uma criatividade
poderosa. É importante lembrar que a primeira edição de Dom
Casmurro foi em 1899.
172
Relendo Machado
“Quantos olhos, tantas vistas. Essa variedade é que torna
suportável este mundo, pela satisfação das aptidões, das
situações e dos temperamentos. O contrário seria o pior dos
castigos.” (Machado de Assis – A Semana 1/1896)
R
6262
Selvageria
Atualmente são menos de 300
aborígines que habitam o território
nacional.
É lastimável, mas é verdade! Entretanto,
aborígines ou aborígenes?
Tanto faz! Os dois termos constam do
Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira
de Letras/1999 e significam indígenas,
habitantes primitivos de um país.
O que importa é que preservemos
os que restaram, resguardando seus
hábitos e costumes, enfim a cultura
indígena – não é favor! É atendimento
a um dispositivo constitucional.
173173
Sem problemas
Não há mais qualquer problema
entre mim e ti.
Ótimo! Perfeita a construção.
Após umapreposição, devemos
usar pronomes pessoais do caso
oblíquo; só usamos pronomes retos
após preposição, se o pronome for
sujeito do verbo. (Não há diferença
entre eu procurar a minha
felicidade e tu procurares a tua).
Visão errada
“Quando eu ver tua irmã,
falarei com ela.”
A moça não vai querer esse
encontro. O verbo ver está
conjugado errado. A 1a pessoa
do singular (eu) do futuro do
subjuntivo do verbo ver é vir
e não “ver”.
Preste atenção à conjugação:
vir, vires, vir, virmos, virdes,
virem.
Período correto: Quando eu
vir tua irmã, falarei com ela.
a
a
a
G
Difícil de entender?
O ano de 2002 foi o segundo ano do primeiro decênio do século XXI.
Perfeito! Não há motivos para quaisquer dúvidas.
Relembre: decênio (década) é o período de dez anos e estamos no
decênio que começou no dia 1o de janeiro de 2001, data que também
marcou o início do século XXI.
Curiosidade
Ao fenômeno que
atribui à coisa
(substantivo) fatos
próprios de seres
animados é conhecido
por metagoge.
Exemplos: A Natureza
sorriu / A árvore chora
/ Os céus falam.
Punição justa
“O comportamento
indevido do servidor
implicou em suspensão por
três dias.”
A punição seria mais justa
se o complemento do
verbo implicar estivesse
correto. Este verbo, no
sentido de acarretar,
é transitivo direto, e o
complemento, o objeto
direto, não admite
preposição.
Frase correta: O
comportamento indevido
do servidor implicou
suspensão por três dias.
174174
K
Ovos perigosos
“As pessoas precisam evitar comer ovos estalados
porque aumentam o índice de colesterol.”
Se o ovo é um perigo para o aumento da taxa de
colesterol, o ovo “estalado”, então, faz muito mais
mal. A forma correta é estrelado, em forma de estrela.
Período correto: As pessoas precisam evitar comer ovos
estrelados porque aumentam o índice de colesterol.
Sucesso empresarial
“Os lucros da empresa de João treplicaram ano passado.”
Não acredito! O verbo treplicar não foi usado adequadamente.
Observe:
treplicar – responder a uma réplica (muito usado no Direito).
triplicar – três vezes mais, multiplicar por três.
Recordando: As palavras treplicar e triplicar são parônimas, isto é,
têm forma semelhante e sentido diferente.
Frase correta: Os lucros da empresa de João triplicaram ano
passado.
r
Final feliz
O rapaz estudou bastante para o concurso. Conseguiu bastantes
livros para se preparar devidamente.
Com certeza foi aprovado. Quem estuda consegue realizar seus
objetivos.
A palavra bastante, quando advérbio, é invariável; quando for
adjetivo, concorda com o substantivo, isto é, tem singular e plural.
Para você saber se o bastante é advérbio basta substituí-lo pelo
advérbio muito (O rapaz estudou muito).
175
Um texto retirado da internet, publicado no jornal
Correio Braziliense, é um alerta: “Se a frase de Monteiro
Lobato sobre um ‘país ser feito com homens e livros’
estiver correta, estamos longe de constituir uma nação”.
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) mostra gritante carência de bibliotecas públicas. Das
5.506 prefeituras do país, 69% têm apenas uma. Nas localidades
com até 20 mil habitantes (74,8% do total – 4.119 municípios) 935
cidades não dispõem de qualquer biblioteca. Sem comentários!
dMomento lindo
O verso de uma letra da
música “Emoções”, de Roberto
Carlos, escorrega no pronome
demonstrativo: “Quando eu
estou aqui, eu vivo ‘esse’
momento lindo.”
Há estreita relação entre os
pronomes pessoal do caso reto
eu e o demonstrativo este, isto
é, usa-se este em referência a
seres que se encontram perto
do falante (no caso eu).
Seria mais emocionante se o
rei tivesse cantado: “Quando
eu estou aqui, eu vivo este
momento lindo.”
Malhando a língua portuguesa
No colégio Múltipla Escolha, onde tudo acontece na novela
Malhação, da TV Globo, foi explicado aos alunos que o verbo amar
é transitivo direto. Maravilha! Ficamos felizes porque se ouve
muito “lhe amo” nas novelas, o que está errado.
Entretanto, quando o professor deu o exemplo do que explicara,
estragou tudo: “eu amo a você”.
Deveria ter dito: eu amo você ou eu a amo.
6363
175
176176
Curiosidade
A frase “O sertanejo é, antes de
tudo, um forte” foi escrita no
jornal O Estado de S. Paulo por
Euclides da Cunha, que se tornou
famoso com a publicação do
livro Os Sertões, em 1902, o qual
foi composto pela coletânea de
reportagens anteriores, naquele
periódico.
Conhecendo nossos
escritores
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (1866-1909) nasceu em Santa
Rita do Rio Negro, município de Cantagalo (RJ). Foi prosador,
ensaísta, jornalista, historiador, sociólogo, professor e poeta.
Desde cedo, Euclides da Cunha demonstrou inclinação para a
literatura e começou escrevendo versos e crônicas para jornais. Seu
livro mais famoso Os Sertões retrata uma raça sofrida e se tornou
um documento decisivo na conquista da consciência brasileira,
pois descreve a terra e a gente sertaneja. O escritor foi assassinado
a tiros, no Rio de Janeiro, por Dilermando de Assis, que sentiu sua
honra ultrajada. Obras do autor: Castro Alves e seu tempo (1907);
Contrastes e Confrontos (Porto/Portugal 1909); Canudos (Diário de
uma expedição 1939).
C
C
C
C
C
Comemoração
“Em 2002, o livro Os Sertões,
de Euclides da Cunha,
fizeram 100 anos.”
Assim, o grande escritor
dispensaria qualquer
homenagem.
O verbo fazer, no sentido de
tempo decorrido (passado)
ou seguido de condições
meteorológicas, deve ser
sempre usado no singular.
Frase correta: Em 2002, o
livro Os Sertões, de Euclides
da Cunha, fez 100 anos.
C
Decisão errada
“A moça comunicou o pai a decisão de que iria morar sozinha.”
Certamente, ele ficou preocupado.
O verbo comunicar no sentido de fazer saber, participar, é transitivo
direto e indireto, isto é, você comunica algo a alguém, logo é
incorreto dizer “comunicou o pai” e sim ao pai (objeto indireto).
Período correto: A moça comunicou ao pai a decisão de que iria
morar sozinha.
177177
Faqueiro desfalcado
“D. Joana descobriu que faltavam diversas colherinhas do seu
faqueiro de prata.”
Em faqueiro que se preza não há “colherinhas”.
1o– O diminutivo de colher é colherzinha.
2o – O plural de colherzinha é colherezinhas.
Período correto: D. Joana descobriu que faltavam diversas
colherezinhas do seu faqueiro de prata.
Mau comportamento
“O rapaz cometeu um deslise imperdoável com a futura sogra.”
Quem comete um “deslise” não pode ser perdoado, pois esta
palavra escrita com s é inadequada ao sentido da frase.
Observe:
deslise (verbo) – 1a e 3a pessoas do singular do presente do
subjuntivo do verbo deslisar (tornar liso, plano).
deslize (substantivo) – desvio do bom caminho, falha, falta, quebra
do bom procedimento.
Frase correta: O rapaz cometeu um deslize imperdoável com a futura
sogra.
H
178
Com o avanço inexorável da internet, há uma
tendência universal de valorização da língua inglesa,
como instrumento de comunicação global. Hoje, de
tudo o que sai na internet nada menos de 75% são
escritos na língua de Shakespeare, o que revela um
predomínio assustador. Sabem qual é a percentagem em
português? Cerca de 0,8%. É preciso que haja uma reação.
Preferência
duvidosa
As pessoas preferem ir de
carro lanchar, utilizando o
drive-thru (passar direto)
e se empanturram de hot-
dogs (cachorros-quentes) e
sundays (sorvetes). Não é o
ideal nem para a saúde nem
para a língua portuguesa.
Fim de
romance
João dizia que estava
in loving com a
nova namorada.
Tenho certeza que
esse namoro não foi
duradouro. Se ele
estivesse amando a
moça, talvez o fosse.
Entrando na
moda
A moça entrou na
boutique (esta palavra
vem do francês) para
comprar um par de
óculos coloridos porque é
fashion. Garanto que se
entrasse numa loja para
comprar óculos coloridos
porque estão na moda
pagaria bem menos e
respeitaria mais a língua
portuguesa.
\
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Aéreas
Se as companhias de aviação não usassem o termo over-booking,
será que não teríamos menos problemas com o excesso de venda debilhetes de passagem aérea?
Por que quando viajamos de avião temos que fazer o check-in
(registro de chegada) e check-out (registro de saída) nos balcões
dos aeroportos?
Por que quando um passageiro consegue transferir seu bilhete
aéreo da classe econômica para primeira classe ou executiva usa-se
o termo upgrade (estar melhorando, estar progredindo)?
$ $ $Uma corrida
No fim de semana fui
testemunha de um fato que se
tornou corriqueiro. O freguês
de Ipanema pediu à delivery
(empresa) que enviasse um
moto-boy (menino), com a
pizza (também não é palavra
brasileira) calabresa bem
quentinha. A explicação dele,
pelo telefone, foi bem clara:
“Rápido, estou morrendo de
hungry!” Não seria melhor se o
infeliz estivesse com fome?
Música, sempre música
A adolescente gosta de ouvir música no CD player.
Ai! Que saudade do tempo em que se ouvia rádio e se colocava um
disco de vinil na vitrola. Não se discute a qualidade do som desses
novos aparelhos, entretanto, preferiria que houvesse um termo em
nossa língua para designá-lo.
Boa alimentação
Uma senhora contratou um
personal diet, depois de ler
uma reportagem da revista
Veja, pois precisava emagrecer
e não sabia que dieta seria
mais indicada.
Bem feito! Não perdeu 1
grama.
Se tivesse consultado um (a)
nutricionista, certamente teria
emagrecido.
180
Tenho sido muito perguntado sobre a língua
portuguesa falada. Pode-se classificá-la em dois
níveis: a culta ou padrão e a coloquial ou popular.
As gírias são um exemplo de linguagem coloquial.
É oportuno lembrar que a localização geográfica traz
muitas diferenças no linguajar das pessoas. O falar de um
nordestino e o de um gaúcho denunciam essa diferença,
constituindo os dialetos (variedades regionais de uma língua)
e os regionalismos ou falares quando as diferenças regionais
não bastam para criação de um dialeto. Tenho sentido a
preocupação das pessoas em falar bem e isso é ótimo.
Construção sólida
Antes de construir a casa
foi feita terraplanagem ou
terraplenagem no terreno?
Tanto faz. Ambos os termos
são corretos, pois constam
do Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras.
O importante é que o terreno
seja bem aplainado através
de uma terraplanagem ou
terraplenagem bem-feita.
Blusa feia
“A moça não gosta mais da blusa preta porque ela está russa.”
Certamente a blusa deve estar horrível.
O adjetivo “russa” está mal colocado.
Veja a diferença:
russa – relativo à Rússia
ruça – desbotada
Período correto: A moça não gosta mais da blusa preta porque
ela está ruça.
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180
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Sem freio
“O motorista não conseguiu freiar o carro.”
Não deve ter conseguido, também, evitar o acidente.
O verbo que designa usar o freio é frear (sem i) e não “freiar”.
Estranho? Não obstante, correto.
Quando o acento tônico recai na raiz do verbo, isto é, nas formas
rizotônicas, acrescenta-se o i (eu freio). Nas outras não se admite o i
(nós freamos).
Frase correta: O motorista não conseguiu frear o carro.
Mais você
Com toda ênfase, uma simpática apresentadora de TV soltou essa
pérola: “Houveram muitos motivos.”
Nem pude ouvir os motivos, o “houveram” machucou os meus
ouvidos.
O verbo haver no sentido de existir ou no sentido de tempo
decorrido deve ser usado sempre no singular.
Frase correta: muitos motivos.
Sem exclusividade
“A moça declarou que tem o
monopólio exclusivo do coração
do namorado.”
Será verdade? Ela está
exagerando, não deve ser bem
assim. O monopólio (posse,
direito ou privilégios) só pode
ser exclusivo por definição, logo
houve uma redundância, inútil.
Frase correta: A moça declarou
que tem o monopólio do coração
do namorado.
z
Pobres sogras!
Um outdoor da SINAF Seguros
apresenta a seguinte frase:
“Quando sua sogra for
embora, você vai saber o
valor que ela tinha.”
Que “ela tinha”? Será que a
intenção, agora, é enlatar as
sogras?
Deve-se evitar o cacófato
(som desagradável ou palavra
obscena proveniente da união
das sílabas finais de uma
palavra com as iniciais da
seguinte). Q Q Q
182
Você precisa saber:
Salvo as exceções, usa-se x depois:
da sílaba en: enxaguar, enxame, enxuta, enxergar
da sílaba me: mexicano, mexer
de ditongos: faixa, peixes, caixa
182
Relendo Machado
“Andará a Terra com dores de parto, e alguma coisa vai sair dela,
que ninguém espera nem sonha? Tudo é possível! Assim, podemos
fazer uma astronomia nova; todos os planetas são filhos do
consórcio da Terra e do Sol, cuja primogênita é a Lua, anêmica e
solteirona. Os demais planetas nasceram pequenos, cresceram com
os anos, casaram e povoaram o céu com estrelas.” (Machado de
Assis – A Semana I/1894)
Respostas aos leitores
1 - Maria Antônia de Jesus Franco – Duque de Caxias/RJ
Plural de mau-caráter (mau com u em oposição a bom) é
maus-caracteres. Pode soar mal, mas é o correto.
2 - Juscelino Avelar dos Santos – Deodoro/Rio
As formas caibo e caiba são as primeiras pessoas do
singular do verbo caber, nos presentes do indicativo e
subjuntivo, respectivamente.
3 - Pedro Affonso de M. Mattos – Copacabana/Rio
A palavra tênis é acentuada, atendendo à regra:
paroxítona terminada em i e u seguidos ou não de s.
Outros exemplos: lápis/táxi/bônus.
183
Soube, através da internet, que uma pesquisa realizada
nos Estados Unidos mostrou que as mulheres falam o
dobro dos homens. Enquanto nós usamos, em média, 1.500
palavras por dia, elas usam no mínimo 3.000. A explicação
também está na internet: elas falam muito porque precisam
repetir as palavras, “até que os homens entendam”...
183
Curiosidade
Verso é uma linha de qualquer poesia. Um soneto é uma
composição poética com 14 versos, sendo dois quartetos e dois
tercetos. Qualquer poesia que tenha mais ou menos versos não
pode ser chamada de soneto.
Boa promessa
O rapaz conseguiu manter a palavra dada à namorada:
permaneceu abstêmio durante o carnaval.
Parabéns! Pôde brincar à vontade e cumpriu a promessa.
abstêmio – aquele que se abstém de bebidas alcoólicas.
Quaresma
“As quaresmeras da minha rua
ainda não deram flores este
ano.”
Pelo jeito, essa rua não ficará
florida.
O nome da árvore não é
“quaresmera”. A palavra
certa é quaresmeira – árvore
nativa do Brasil, cuja época de
maior floração é justamente
na quaresma, o que lhe valeu
o nome.
Frase correta: As quaresmeiras
da minha rua ainda não deram
flores este ano.
E E E E E
6666
183
184184
Barata tonta
No intervalo de um jogo Corinthians x São Caetano (TV Record):
“Interrompemos a transmissão do jogo para anunciar que a polícia
acaba de desbaratinar uma quadrilha de ladrões de automóveis...”
É impossível “desbaratinar” qualquer quadrilha, pois este verbo não
existe. O verbo correto é desbaratar, que significa destroçar, vencer,
derrotar, malbaratar, etc.
O locutor deveria ter dito: Interrompemos a transmissão do jogo
para anunciar que a polícia acaba de desbaratar uma quadrilha de
ladrões de automóveis...
Político assíduo
“O bom deputado deve estar sempre presente às seções do
Congresso.”
No Congresso Nacional há diversas seções: Seção de Pessoal, Seção
de Anais, Seção de Publicações, etc. Entretanto, a atuação política
de um deputado não é nas “seções” do Congresso e sim nas sessões.
Observe:
seção – repartição, divisão.
sessão – tempo em que uma assembléia, um congresso, um corpo
deliberativo ou consultivo se mantém em reunião, estudando,
discutindo e resolvendo questões; espetáculo (sessão de cinema),
etc.
Frase correta: O bom deputado deve estar sempre presente às
sessões do Congresso.
1 1 1
Você precisa saber
Os substantivos derivados dos verbos terminados em itir são
grafados com ss.
demitir – demissão
emitir – emissão
admitir – admissão
transmitir – transmissão
1 1 1
185185
Uma questão de
pontualidade
“Sequer sair comigo você
precisa ser pontual.”
Assim, nem chegando na hora.
A palavra sequer (escrita junto)
é um advérbio que significa
pelo menos ou ao menos,
o que não faz sentido neste
período.
Observe: se quer (separado) é
usado como caso queirae o se
é uma conjunção condicional.
Período correto: Se quer
sair comigo você precisa ser
pontual.
))))
Relendo Machado
“Oh! Ainda agora me não
esqueceram os discursos que
ouvi, nem os artigos que
li por esses tempos atrás,
pedindo a eleição direta! A
eleição direta era a salvação
pública. Muitos explicavam:
direta e censitária. Eu, pobre
rapaz sem experiência, ficava
embasbacado quando ouvia
dizer que todo o mal das
eleições estava no método;
mas, não tendo outra escola,
acreditava que sim, e esperava
a lei.” (Machado de Assis – A
Semana II / 1896)
Surpresa infeliz
“O rapaz não ficou feliz com a
surpresa inesperada.”
Nem poderia. Toda surpresa
é inesperada, caso contrário
não seria surpresa – não há
surpresa esperada. Mais um
caso de redundância.
Frase correta: O rapaz não
ficou feliz com a surpresa.
É preciso mudar
Pedro garante que não
houve qualquer melhora na
distribuição de renda.
Melhora ou melhoria? As
duas palavras são sinônimas.
Precisamos, mesmo, que
haja alguma melhora na
distribuição de renda para o
povo ter melhoria de vida.
186
É preocupante o descaso de diversos profissionais
de diferentes áreas com a língua portuguesa. Alegam
essas pessoas que a simples troca de um z por um s não
muda o valor de uma petição advocatícia, a receita de
um médico ou, ainda, o relatório de um administrador.
Puro engano: um texto mal escrito abala a imagem do
profissional que o escreveu e, sem dúvida, desqualifica o
trabalho. Tenha cuidado com o que falar e escrever, pois sua
imagem profissional estará sempre sendo avaliada.
186
6767
Sem esperança
Num capítulo, da novela Esperança, veiculada pela TV Globo,
a personagem Beatriz, conversando com a mãe, D. Francisca,
“mão de ferro”, sobre a falta do pai: “Fazem quatro anos que
ele morreu...”
Já estou ficando sem esperança de que os textos das novelas
respeitem a nossa língua. Afinal a moça era a “professorinha”
do lugar e deveria saber que o verbo fazer no sentido de tempo
decorrido ou seguido de condições meteorológicas deve ser
sempre usado no singular.
Beatriz deveria ter dito: Faz quatro anos que ele morreu.
Questão de gosto
Você gosta de bala de tamarindo?
Tamarindo ou tamarino? Tanto faz, o gosto azedinho é o
mesmo. Além destas duas formas, ainda existe tamarinho.
Sem flor
“A senhora colheu diversas
hortências para enfeitar a casa,
mas as flores logo murcharam.”
Claro! As flores enfeitam a
casa e a vida da gente, mas
“hortências” só enfeiam. A
ortografia desta palavra é com s.
Período correto: A senhora
colheu diversas hortênsias para
enfeitar a casa, mas as flores
logo murcharam.
>
187187
Mudança de vida
“O rapaz mudou-se para uma xácara e não conseguiu se adaptar à
vida no campo.”
Não há quem aguente tal mudança, pois a palavra “xácara” foi
usada indevidamente.
Observe:
xácara – narrativa popular em verso.
chácara – pequena propriedade campestre.
Período correto: O rapaz mudou-se para uma chácara e não
conseguiu se adaptar à vida no campo.
Diplomacia
Uma edição da revista Veja
publicou nas páginas amarelas:
“Depois de um longo hiato de
catorze meses, agora existe uma
embaixadora americana em
Brasília.”
Embaixadora está certo? Não é
embaixatriz? A revista acertou.
Observe:
embaixadora – representante
diplomática, mulher profissional
da diplomacia.
embaixatriz – mulher de
embaixador.
Ventania
“O vento zumbia tanto que assustou as crianças que brincavam no
pátio da escola.”
Não é possível! Assim não era vento e sim uma nuvem de insetos. Os
insetos zumbem, o vento zune.
Período correto: O vento zunia tanto que assustou as crianças que
brincavam no pátio da escola.
Dúvida
A menina não sabia se
aquela casa pendurada
no teto do seu quarto
era de marimbondo ou
de maribondo.
Tanto faz, as duas
formas são corretas;
entretanto, mexer em
casa de maribondo ou
marimbondo não é boa
coisa.
2 2 2
@ @ @
188188
É preciso cuidado!
“Me arrependo imensamente, porque acabei sendo presidente para
ser ator de alguma maneira.”
Assim se pronunciou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
no encontro com atores, lamentando não ter aceitado o convite de
Glauber Rocha para participar do filme Terra em transe.
A frase de FHC apresentou duas impropriedades:
1a) – Sua excelência deveria ter tido cuidado em não iniciar uma
frase com pronome oblíquo – Se tivesse dito: Arrependo-me teria
dado um bom exemplo e a norma culta agradeceria, pois é inegável
que ele é um homem de saber notório.
2a) – Alguma maneira – soou mal – cacófato desnecessário.
Respostas aos leitores
1 - Jacintho de A. Magalhães – Méier/Rio
Mesmo considerando pernosticismo, prefira dizer e
escrever trezentos gramas de presunto. A palavra
grama é masculina. Se uma quantidade maior de
pessoas falar corretamente, vai chegar o dia em que as
pessoas deixarão de olhar para você com desconfiança.
Insista!
2 - Ana Maria Pedreira dos Santos – Mesquita/RJ
Não há erro em usar a gente. Cuidado apenas para não
errar na concordância verbal: a gente vai, a gente foi, a
gente chegou, etc. (os verbos sempre no singular).
3 - Edson de Almeida Alves – Flamengo/Rio
A locução prepositiva é a união de dois ou mais termos
para representar uma preposição. Todas as locuções
prepositivas terminam com uma preposição.
Exemplos: a par de / através de / a fim de, etc.
189
Há grande preocupação com as interferências
estrangeiras na língua portuguesa. Lembro a influência
da África, que com a chegada dos escravos ao Brasil, entre
os séculos XVI e XIX, vindos de diversas tribos, cada uma
delas com línguas diferentes, deram ao nosso idioma diversos
substantivos como samba, maracatu (danças); cachaça,
vatapá, quiabo (bebida e alimentos), além de adjetivos
(macambúzio, caçula) e até verbos (batucar, xingar, cochilar).
Não podemos negar essa realidade, mesmo sabendo que são
vocábulos totalmente incorporados à nossa língua.
m m m m
6868
189
Crime terrível
“O crime de sequestro é
considerado hodiondo.”
De fato, é um crime terrível,
mas se for considerado
“hodiondo”, fica pior
ainda. Esta palavra não
existe.
O vocábulo correto que
significa horrendo,
pavoroso, medonho é
hediondo.
Frase correta: O crime de
sequestro é considerado
hediondo.
Nem tanto!!!
“Era conhecido como um advogado abalisado pelas petições
apresentadas em juízo.”
Um advogado “abalisado” não deveria ser tão competente assim. A
palavra correta é abalizado com z, do verbo abalizar, que ao pé da
letra significa: marcado por balizas e também, notável, respeitável,
idôneo.
Frase correta: Era conhecido como um advogado abalizado pelas
petições apresentadas em juízo.
190190
Faça sua escolha
“Maria foi convidada para a primeira vernissage de um pintor
desconhecido.”
Não há pintor que faça sucesso, apresentando seus trabalhos em
“uma vernissage”.
Vernissage é uma palavra francesa masculina, que significa:
recepção que precede a abertura de uma exposição de quadros.
Observe: O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da ABL,
registra também o termo vernissagem, aportuguesado e, neste
caso, como um substantivo feminino. Escolha: o vernissage ou a
vernissagem.
Ruim de bola
Kleber Machado, num jogo São Paulo x Palmeiras (TV Globo):
“A bola sobrou e o palmeirense toca nela.”
Cacófato puro. Canela é boa com arroz-doce.
Relembrando:
Cacófato é o som e às vezes a palavra (até obscena) proveniente da
união das sílabas finais de uma palavra com as iniciais da seguinte.
9 9 9
Inapetência
“O neto de D. Maria não quis comer bolachas com requejão, no
café da manhã, alegando falta de apetite.”
A criança estava certa. Não existe a palavra “requejão”. Se lhe
fosse oferecido requeijão, talvez o menino tivesse gostado.
Você precisa saber:
O verbo hastear é irregular, isto é, o e do radical transforma-
se em ei nas formas rizotônicas: hasteio / hasteias / hasteia /
hasteamos / hasteais / hasteiam.
Não há vogal entre o g e o n na grafia correta do verbo impugnar.
191
( ( (
191
Videocassetada
Numa entrega de prêmios no Domingãodo Faustão, a bela
assistente do apresentador escorregou, citando a premiação do
telespectador “Naiscimento”.
Essa foi de morte!
É preciso tomar cuidado com a pronúncia do dígrafo sc, que soa
como ci ou ce.
Exemplo: nascer (ce).
A moça deveria ter dito: Nascimento (ci).
Travessia inútil
“O rapaz vadiou o rio
para cortar caminho.”
Garanto que não chegou
ao lugar que queria.
Observe:
vadiar – ficar ocioso.
vadear – atravessar um
rio (a pé ou a cavalo).
Frase correta: O rapaz
vadeou o rio para cortar
caminho.
Dá uma subidinha
A linda atriz e modelo Franciely Freduzeski, que atuava no
programa Zorra Total, falando sobre os seus hábitos, deu o seguinte
depoimento: “Como um pouco de tudo. As únicas restrições são
carne vermelha e refrigerante que não como há muito tempo.”
Como pode ser tão linda “comendo refrigerante”? Refrigerantes e
quaisquer outros líquidos são bebidos e não comidos.
192
Foi indiscutível o sucesso da novela O Clone e
bastante relevante a abordagem feita pela autora
sobre o sério problema das drogas. A mídia deu muita
atenção ao assunto. Um jornal carioca publicou que o
Nando, no final da história, seria salvo de overdose. Aí
complicou... Segundo os médicos, ninguém sobrevive a
uma overdose (dose excessiva). Por que o uso da palavra
estrangeira para identificar uma situação tão grave?
192
6969
Queda inevitável
“O menino quase levou um
tombo porque tropeçou no
cardarço do seu tênis.”
Deveria ter caído. Qualquer
“cardarço” leva uma pessoa
ao chão, pois esta palavra
não existe.
Período correto: O menino
quase levou um tombo
porque tropeçou no
cadarço do seu tênis.
Escrevendo corretamente
comissão (com ss) – grupo de pessoas com funções especiais,
ou incumbidas de tratar de determinado assunto.
sucesso (com c e ss) – acontecimento, conclusão, resultado
feliz, bom êxito.
assessor (com ss e ss) - auxiliar, assistente, ajudante.
193193
Subentendido
“José, criança pequena, não subtendeu a conversa dos pais.”
Nem poderia... O verbo está mal colocado, não é “subtender” e sim
subentender.
Veja a diferença:
subentender – perceber, entender o que não estava exposto ou
bem explicado.
subtender – estender por baixo.
Frase correta: José, criança pequena, não subentendeu a conversa
dos pais.
J
J
J
Remédio
homeopático
“Os remédios da
Homeopatia devem ser
tomados gota à gota.”
Um remédio tomado
“gota à gota”,
certamente, não fará bom
efeito.
Não se usa sinal grave
indicativo da crase entre
palavras repetidas.
Frase correta: Os remédios
da Homeopatia devem ser
tomados gota a gota.
Muita dor
“Um surto de cachumba
maltrata as crianças de um
bairro carioca.”
Caxumba, escrita com x, que
é o correto, já é uma doença
bastante dolorosa, se for
escrita com “ch”, certamente
maltratará muito mais. Se o
surto for num determinado
bairro da Zona Norte deve-
se escrever: “Caxumba no
Cachambi”.
Galanteio infeliz
O rapaz querendo agradar a namorada disse que adorava o
jeito hodierno de ser que ela sempre demonstrava.
A moça ficou ofendida, pensando que jeito hodierno era
algum nome feio, palavrão até...
Coitado! Só quis falar difícil, hodierno é sinônimo de
moderno, atual, relativo aos dias de hoje.
Seja hodierno, mas não exagere.
194194
Ator acarinhado
Entrevista dada pelo ator Tiago Lacerda ao Faustão, na TV Globo: “A
minha vida mudou muito. O carinho das pessoas aumentaram...”
Não é carinho demais? O verbo (aumentar) precisa concordar com o
núcleo do sujeito (O carinho).
O rapaz deveria ter dito: A minha vida mudou muito. O carinho das
pessoas aumentou.
A gente ou agente?
“O senhor idoso falou com agente sobre a situação política da
Argentina.”
Garanto que ninguém entendeu. Agente só se for secreto, pessoa
de confiança que se encarrega de missões sigilosas, diplomáticas,
políticas, etc.
Frase correta: O senhor idoso falou com a gente sobre a situação
política da Argentina.
Relendo Machado
“Um economista apareceu esta semana lastimando
a sucessiva queda de câmbio e acusando por ela o
ministro da Fazenda. Não lhe contesta inteligência,
nem probidade, nem zelo, mas nega-lhe tino e,
em prova disto, pergunta-lhe à queima-roupa:
Por que não vende a Estrada Central do Brasil? A
pergunta é tal que nem dá tempo ao ministro para
responder que tais matérias dependem de estudo,
em primeiro lugar, e, em segundo lugar, que ao
Congresso Nacional cabe resolver por último.”
(Machado de Assis – A Semana II/1896)
195
Rebate falso
“Adolescentes fizeram uma bomba
caseira, usando o dinamite que furtaram
de uma obra de desmonte a fogo.”
Ainda bem! Bomba feita com “o
dinamite” não oferece qualquer perigo.
Este substantivo é feminino – a dinamite.
Período correto: Adolescentes fizeram uma
bomba caseira, usando a dinamite que
furtaram de uma obra de desmonte a fogo.
O escritor Deonísio da Silva escreveu De onde vêm as
palavras – Frases e curiosidades da Língua Portuguesa
publicados pela Editora Mandarim. São dois volumes
muito interessantes, nos quais o autor explica não só a
origem das palavras, como também informa os leitores
sobre expressões muito usadas e que a maioria desconhece o
significado. Exemplo: Bateu as botas: “morreu, é uma variante
das tradicionais esticou as canelas, abotoou o paletó, partiu
desta para melhor. O curioso, porém, é que se aplica apenas a
morto adulto, do sexo masculino, que tenha o costume de andar
de botas ou ao menos calçado”. É dele essa explicação.
Perfume inodoro
“A menina ganhou um perfume do namorado, mas não gostou da
flagrância.”
Nem poderia. Esse perfume não tem cheiro. A palavra flagrância foi
usada indevidamente.
Observe:
flagrância – momento em que se verifica um ato flagrante;
substantivo pouco usado, derivado do verbo flagrar, que significa
surpreender e também se consumir em chamas, arder.
fragrância – perfume, cheiro, odor.
Período correto: A menina ganhou um perfume do namorado, mas
não gostou da fragrância.
7070
195
196196
Relendo
Machado
“Qualquer um de nós teria
organizado este mundo
melhor do que saiu. A
morte, por exemplo, bem
podia ser tão somente a
aposentadoria da vida,
com prazo certo. Ninguém
iria por moléstia ou
desastre, mas por natural
invalidez; a velhice,
tornando a pessoa incapaz,
não a poria a cargo dos
seus ou dos outros.”
(Machado de Assis – A
Semana II / 1896)
Excesso de poder
“As novas diretoras da empresa estão se sentindo todas-poderosas.”
Elas estão enganadas. Não têm tanto poder assim.
Nos adjetivos compostos (todo-poderoso) só há flexão (de gênero
e de número) no segundo elemento, isto é, o primeiro elemento é
invariável.
Lembre-se sempre que a exceção acontece, apenas, com o adjetivo
composto surdo-mudo, em que os dois elementos variam: surda-
muda / surdas-mudas / surdo-mudo / surdos-mudos.
Frase correta: As novas diretoras da empresa estão se sentindo todo-
poderosas.
`
Olhos bastante fechados
“A moça serrou os olhos, pois a sala estava muito iluminada.”
Coitada! Se alguém serrar os olhos, certamente irá perdê-los.
Observe:
serrar – é o ato de quem usa a serra, cortar.
cerrar – fechar.
Período correto: A moça cerrou os olhos, pois a sala estava muito
iluminada.
Presença certa
“Um ou outro palestrante
comparecerão ao seminário
para falar sobre o tema
combinado.”
É preferível que não haja
palestra.
A expressão um ou outro exige
o verbo no singular e fica fácil
de se entender o porquê, pois
o ou mostra que apenas uma
pessoa comparecerá.
Período correto: Um ou outro
palestrante comparecerá ao
seminário para falar sobre o
tema combinado.
197197
Deseducação
“Compareca a sua agencia para regularizacao de excesso sobre
limite de credito ocorrido. Caso ja tenha regularizado pedimos,
nao considerar este aviso.” O aviso a gente tem que desconsiderar
porque há muito erros de português. A Caixa Econômica tem o
Crédito Educativo. É hora de abrir inscrições internas. Observe:
compareça – com cedilha (ç).
Antes de possessivo, o acento grave indicativo de crase é
facultativo: à sua / a sua.
agência– palavra paroxítona terminada em ditongo deve ser
acentuada.
regularização – com cedilha (ç) e til (˜).
crédito – acentuada porque é uma palavra proparoxítona e todos os
vocábulos proparoxítonos são acentuados.
já – acentuada porque é um oxítono tônico.
pontuação – a vírgula colocada depois da forma verbal pedimos
deveria estar depois da palavra regularizado.
não – com til (˜).
Texto correto: Compareça à sua agência para regularização de
excesso sobre limite de crédito ocorrido. Caso já tenha regularizado,
pedimos não considerar este aviso. Com quem ficou o saldo?
v v v
Insatisfação
“O dono da empresa esperava um superávite
ainda maior do que a sua fábrica apresentou.”
Claro! Quem escreve “superávite” merece ter
um deficit (em latim).
Para acertar, escreva: superávit.
Em tempo: superávit é diferença a mais entre
receita e despesa e deficit é o antônimo de
superávit.
Os dicionários registram superávit (com
acento) e superavit (sem acento) porque é
uma palavra latina. Registram, também, a
palavra défice como sinônima de deficit.
Período correto: O dono da empresa esperava
um superávit ainda maior do que a sua
fábrica apresentou.
Você
precisa
saber
Antes de verbo
não se admite
o acento grave
indicativo de
crase, mesmo
que este verbo
faça parte de
uma expressão.
Exemplo: O
rapaz começará
o curso a partir
do próximo mês.
M M M
198
Há uma grande reação, na França, ao uso de
palavras inglesas. Os franceses detestam o que
chamam de “franglais”. Exemplo disso é a palavra
gol, internacionalizada, mas que na França se chama
“but” (pronuncia-se bit). Os brasileiros nem ligam, fiéis
ao conselho do escritor Eça de Queiroz: “Um homem só deve
falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra.
Todas as outras, as deve falar mal, orgulhosamente mal, com
aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro.”
Anexo certo
Segue anexa a ficha do aluno
ou Segue em anexo a ficha
do aluno. São frases corretas.
Observe: Anexo concorda
em gênero e número com o
termo a que se refere; já em
anexo não varia.
É fria!
“A água se solidifica a zero
graus centígrados.”
Garanto que não virou gelo.
O numeral zero deixa a
palavra seguinte no singular.
Frase correta: A água se
solidifica a zero grau
centígrado.
Amizade
“O amigo que mais gosto é o Pedro.”
Garanto que o Pedro não acredita nesta amizade.
O verbo gostar (quem gosta, gosta de) é transitivo indireto,
isto é, precisa da preposição de.
Observe: A presença do pronome relativo (que) atrai a
preposição para antes dele.
Período correto: O amigo de que mais gosto é o Pedro.
f f f
7171
198
199199
Curiosidades
A palavra vetérrimo existe. É o superlativo absoluto sintético de
velho, entretanto é pouco usada.
O adjetivo abacial significa de abade. Exemplo: A solidariedade
abacial era esperada por todos.
Velhice
“Quando as pessoas envelhecem
ficam rabujentas?”
Claro que não! Principalmente,
grafando dessa maneira.
Não seja rabugento. Escreva
esta palavra sempre com g.
Período correto: Quando as
pessoas envelhecem ficam
rabugentas?
Inapetência
“D. Maria destrinchou o frango
assado, mas ninguém o comeu.”
Certamente porque a senhora
usou um verbo inadequado.
Trinchar é o verbo correto, isto
é, cortar em pedaços.
Destrinchar ou destrinçar
significam expor com minúcias,
resolver, desenredar.
Período correto: D. Maria
trinchou o frango assado, mas
ninguém o comeu.
Duplo acerto
A professora chamou atenção dos
alunos que estavam jogando os
gizes pela janela da sala de aula.
Muito bem! A professora
acertou duas vezes: corrigindo
a atitude dos alunos e usando
corretamente o plural da palavra
giz (gizes).
Respeitabilidade
geral
“Os Estados Unidos é respeitado
por todas as nações do mundo.”
Cuidado! Quando o sujeito
de uma oração é os Estados
Unidos, o verbo ficará sempre
no plural, pois o nome daquele
país indica pluralidade.
Frase correta: Os Estados Unidos
são respeitados por todas as
nações do mundo.
Planeta Terra
O homem habita a Terra? ou O homem habita na Terra?
Tanto faz! Podemos habitar algum lugar ou em algum lugar, o
importante é que cuidemos do nosso planeta para que tenhamos
condições de habitá-lo.
200
Numa entrevista ao jornal Folha Dirigida, o professor
e gramático Evanildo Bechara, membro da Academia
Brasileira de Letras, declarou que “o mau uso da língua
portuguesa deve-se, na maioria das vezes, a deficiências
culturais que também se manifestam em outros níveis”.
A visão do mestre Bechara foi mais abrangente quando
abordou que a crise não é do idioma e sim “da cultura das
pessoas que falam a língua”.
Lágrimas de
crocodilo
“Os olhos da moça umideceram,
pois ela se emocionou com as
palavras do namorado.”
Será? Não acredito na emoção
dela. Os olhos “umideceram”? O
verbo “umidecer” não existe. O
verbo correto é umedecer, com
e. Umedecer é tornar-se úmido
(ligeiramente molhado).
Período correto: Os olhos da
moça umedeceram, pois ela se
emocionou com as palavras do
namorado.
Sem moral
“Ele não tem idoniedade moral para opinar sobre assunto
tão delicado.”
Não deve ter mesmo. Não existe a palavra “idoniedade”.
A forma correta é idoneidade (qualidade de quem é
idôneo; aptidão; competência; capacidade).
Período correto: Ele não tem idoneidade moral para
opinar sobre assunto tão delicado.
S
p p p p
7272
200
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Absurdo no domingão
O nosso querido Faustão, elogiando um cantor:
“Parabéns a Alexandre Pires, que faz um sucesso absurdo na
Europa.”
Um sucesso pode ser absurdo? Até pode se for considerado uma
quimera (sonho), uma utopia.
Entretanto, o significado mais comum desta palavra é: contrário à
razão, disparatado, tolo, inepto e, certamente, o apresentador usou
absurdo no sentido de enorme. Doeu nos ouvidos.
Conceito duvidoso
O suplemento da revista Veja
(Veja Rio), a propósito de um bom
restaurante no Leblon, publicou:
“No ano passado, garfou também
o primeiro lugar na recém-criada
categoria quilo.”
O verbo garfar (revolver ou rasgar
com garfo) existe e é usado,
também, como gíria, aí significando
prejudicar, lesar.
No caso, o restaurante da zona sul
carioca lesou os outros concorrentes?
Ou a revista usou o verbo garfar com
o sentido de ganhar? Não ficou claro
para os leitores.
Bebida estrangeira
João gosta de tomar uma
dose de whisky antes do
jantar.”
Desde que João não exagere
na bebida, tudo bem!
Mas, já temos a forma
aportuguesada: uísque.
Atenção: Mesmo que você
prefira o produto importado,
use a grafia nacional.
Frase preferível: João gosta
de tomar uma dose de
uísque antes do jantar.
Sem professores
“Faltava professores na
escola do filho de D. Sônia.”
Assim, a criança ficará sem
aula durante muito tempo.
Não há motivo para o verbo
(faltava) da frase estar
no singular, pois ele deve
concordar com o sujeito
(professores), que está no
plural.
Frase correta: Faltavam
professores na escola do filho
de D. Sônia.
Fora de horário
“A adolescente ganhou um castigo
porque chegou atrasada à escola.”
Não vai servir de lição “ganhar um
castigo” porque o verbo ganhar dá
sempre a ideia de receber alguma
coisa boa (ganhou um prêmio).
Prefira o verbo sofrer.
Período correto: A adolescente
sofreu um castigo porque chegou
atrasada à escola.
202
Agora é crime! Uma lei sancionada pelo Prefeito
do Rio de Janeiro prevê pagamento de multa dos
responsáveis pela grafia errada em placas, letreiros,
faixas, etc. A nova lei, certamente, trará benefícios
para todos nós se a língua portuguesa for efetivamente
respeitada. Acreditamos que doendo no bolso haverá mais
cuidado.
Vaidade feminina
Temos certeza que todas as
mulheres capricham sempre
na maquiagem quando vão a
festas.
Maquiagem ou maquilagem?
Tanto faz. As duas formas
são corretas e estão no
Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa da
Academia Brasileira de Letras.
O que mais importa, neste
caso, é que todas fiquem
muito bem maquiadas (ou
maquiladas).
Essa é de morte
Com as melhores intenções colocaram uma faixa naentrada do
Cemitério S. João Batista, no Rio de Janeiro, com os seguintes
dizeres: “Não coloque água em seus vasos e sim areia, para
evitar a ploriferação de mosquitos Aedes aegypti (Dengue)”.
O nome do bandido do mosquito está escrito em latim e
corretamente. Mas quem inventou “ploriferação”? Assim vai ser
um perigo. Esta palavra não existe.
O vocábulo correto é proliferação, que significa multiplicação,
reprodução.
A faixa correta: Não coloque água em seus vasos e sim
areia, para evitar a proliferação de mosquitos Aedes aegypti
(Dengue).
7373
202
203203
Relendo Machado
“A sorte é tudo. Os acontecimentos tecem-se como as peças de
teatro e se representam da mesma maneira. A única diferença é
que não há ensaios; nem o autor nem os atores precisam deles.
Levantado o pano, começa a representação, e todos sabem os
papéis sem os terem lido. A sorte é o ponto.” (Machado de Assis / A
Semana I / 1894)
Muita visão
Com vistas a diminuir
a violência urbana no
Rio de Janeiro, a polícia
teve seu contingente
aumentado.
Com vistas ou com vista
a? Tanto faz, as duas
formas são corretas. O
que interessa mesmo é
que a atuação policial, de
fato, tenha sucesso.
Paixão sem sabor
Na novela das seis, da Rede Globo, a personagem Diana, vivida pela
atriz Letícia Spiller, declarando seu amor a Alexandre: “Você já sabe
que eu te entreguei a minha vida a você”.
Nem dá para acreditar. Excesso e mistura de pronomes.
O verbo entregar é transitivo direto e indireto, isto é, a minha vida
é o objeto direto e a você o objeto indireto. O pronome pessoal do
caso oblíquo te é desnecessário nessa construção.
Diana deveria ter dito: Você já sabe que eu entreguei a minha vida
a você.
c
: : :
Disse-me-disse
“A vizinhança maldosa espalha
que as mocinhas do condomínio
não valhem nada.”
Mentira! Ainda mais usando o
verbo valer erradamente: “não
valhem”.
O verbo valer é irregular,
entretanto o lh surge na 1a
pessoa do singular do presente
do indicativo e nas dela
derivadas, logo a 3a pessoa do
plural é: valem.
Período correto: A vizinhança
maldosa espalha que as
mocinhas do condomínio não
valem nada.
204204
Mau
policiamento?
Saiu publicado num jornal:
“Para a governadora, via
não está má policiada.”
Assim está péssima! O
antônimo de má é boa.
Experimentem substituir,
na frase acima, a palavra
“má” por boa. Faz
sentido? Agora usem bem,
cujo antônimo é mal.
Período correto: Para a
governadora, via não está
mal policiada.
Convite infeliz
“O rapaz convidou Maria para ir
ao cinema ao invés de convidar
Joana.”
Certamente, foi ao cinema
sozinho. A locução “ao invés de”
significa ao contrário de. Usa-se
só neste sentido.
Se usar sempre em vez de estará
sempre certo, pois ela significa
em lugar de, em substituição a,
mas também é aceita no sentido
de contrário de. Esqueça do “ao
invés de”.
Período correto: O rapaz
convidou Maria para ir ao
cinema em vez de convidar
Joana.q
V
Retorno ao lar
“Voltei à casa mais cedo porque estava com dor de cabeça.”
Quando cheguei “à casa”, a dor aumentara sensivelmente! Por quê?
Pela colocação indevida do acento grave indicativo de crase.
Entenda: Neste caso não houve a fusão de a (preposição) + a
(artigo). O a antes de casa é apenas preposição – Voltei para casa.
Venho de casa.
Porém, em se tratando de casa, trazendo qualquer elemento, mesmo
sendo a minha, há fusão da preposição com o artigo e a crase far-
se-á necessária. Vou à casa de praia, herança de meus pais.
Período correto: Voltei a casa mais cedo porque estava com dor de
cabeça.
205
Quando a ideia é boa, merece registro. O Instituto
Embratel 21, em associação com a Biblioteca Nacional,
criou a Biblioteca Digital Multivisão, a partir de Guaratiba
(RJ). Vai abastecer inicialmente 43 bibliotecas públicas
equipadas com antenas para uso em banda larga. Moral da
história: mais acesso ao conhecimento e a demonstração de que
devemos mesmo caminhar para a automatização das bibliotecas
públicas brasileiras. Sem contar na sua indispensável ampliação.
Assim se divulgará melhor a língua portuguesa e os valores da sua
literatura.
Comentário exagerado
Arnaldo César Coelho, ex-juiz e atual comentarista de futebol,
estava tão excitado na decisão do campeonato, no jogo Santos x
Corinthians, que deixou escapar: “a bola entrando pra dentro da
área.”
Já pensaram se ela tivesse “entrado pra fora”? Com certeza, o
Santos não teria alcançado a tão cobiçada vitória, que representou
o título de Campeão Brasileiro.
Devemos ter cuidado ao falar, evitando as redundâncias. Bastava
ter dito: a bola entrando na área.
7474
205
T T T
206206
Relendo Machado
“A organização social podia ser dispensada. Entretanto, é prudente
conservá-la por algum tempo, como um recreio útil. A invenção de
crimes, para serem publicados à maneira de romances, vale bem
o dinheiro que se gasta com a segurança e a justiça públicas.”
(Machado de Assis / A Semana I / 1893)
Deu no Domingão
1- Entrevistada pelo Faustão, Alexandra, mulher do Rogério do
Corinthians, tentando minimizar a derrota do clube do marido: “O
Corinthians veio de duas campanhas maravilhosas e conquistaram
dois títulos no começo deste ano.”
E a concordância verbal?
A esposa do jogador deveria ter dito: O Corinthians veio de duas
campanhas maravilhosas e conquistou dois títulos no começo deste
ano.
2- O craque Robinho, do Santos, lá pelas tantas, respondendo a uma
pergunta do apresentador: “A gente vamos...”
Não temos nada contra o uso da expressão a gente, mas, por favor,
o verbo que a acompanha deve ser usado no singular.
A gente vai, Robinho. Nem campeão tem direito a isso. E ele é muito
bom de bola.
3- O jogador Diego, forçado pelo Faustão a admitir que logo irá se
casar, disse: “Robinho vai casar antes de eu”.
O pronome eu não está na função de sujeito, logo, deveria ter sido
substituído pelo pronome oblíquo.
Diego, outro campeão do Santos, deveria ter dito: Robinho vai casar
antes de mim.
4- Faustão, se referindo ao sucesso do cantor Daniel: “carreira tão
belíssima”.
O superlativo absoluto sintético (belíssima) já diz tudo. Usa-se tão
para o grau comparativo de igualdade (A carreira de Daniel é tão
bela quanto a de Caetano Veloso).
Bastava dizer: Daniel tem uma carreira belíssima.
207207
Premiação
“O ex-Presidente americano recebeu o Prêmio Nóbel da Paz.”
Assim, parece até que ele não merecia a homenagem.
A palavra Nobel é oxítona (a sílaba tônica é a última, logo se deve
pronunciar Prêmio Nobel sem acento porque não há regra que o
justifique).
Frase correta: O ex-Presidente americano recebeu o Prêmio Nobel da
Paz.
É fantástico!
Regina Casé, numa reportagem excelente sobre os motoristas que
estão colocando insulfilme nos vidros dos carros para fugir dos
assaltos, falou: “Vou te dar de graça...”
Não havia necessidade dessa redundância.
Ela deveria ter dito: É de graça! ou Vou te dar...
Pintando...
“O pintor não acabou o
trabalho na casa de D. Sônia,
porque ficou faltando dar
mais uma mão de tinta na
sala.”
Coitada da D. Sônia, não terá
sua casa pronta tão cedo.
A palavra “mão” foi usada
indevidamente.
Período correto: O pintor
não acabou o trabalho na
casa de D. Sônia, porque
ficou faltando dar mais uma
demão de tinta na sala.
208
No futebol, a televisão tem dado um show de
desrespeito à nossa língua. Muitos cometeram
muitos erros. Em compensação, o Faustão trouxe, da
cidade paulista de Suzano, a Professora Magna e seus
alunos, que, além do entusiasmo e credibilidade que dá à
educação, demonstrou que quando as aulas vão ao encontro
do interesse dos alunos a aprendizagem está garantida. Ela
fez uma pesquisa entre as crianças de sua turma sobre o cantor
preferido. Ganhou o Daniel. Então, desenvolveu um projeto em
que passou a ensinar através das letras das músicas do artista
escolhido. Foi um sucesso absoluto e certamente um exemplo a
ser seguido.
Desfile infeliz
“A nova modelo não se
sobressaiu no desfile.”
Essa moça jamais será uma
estrela. Uma boa modelo “não
se sobressai”.O verbo sobressair não
é pronominal, portanto
dispensa o pronome oblíquo.
Frase correta: A nova modelo
não sobressaiu no desfile.
Relendo Machado
“Estava na redação do Diário
do Rio, quando ali entrou um
homem pequenino, magro,
ligeiro. Não foi preciso que me
dissessem o nome; adivinhei
quem era. Gonçalves Dias!
Fiquei a olhar, pasmado, com
todas as minhas sensações e
entusiasmos da adolescência.
Ouvia cantar em mim a famosa
Canção do Exílio.” (Machado
de Assis – A Semana I – 1893)
Censura
“O rapaz taxou a namorada de
desonesta.”
Além do verbo taxar estar
empregado erradamente na
frase, será que a moça merecia
a ofensa?
Observe:
taxar (com x) – tributar,
estabelecer taxa
tachar (com ch) – censurar,
notar defeito
Frase correta: O rapaz tachou a
namorada de desonesta.
7575
208
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Panela tricolor
Juca Kfouri, apresentador do programa Bola na Rede, da Rede TV,
comentando o gol do Romário numa vitória do Fluminense sobre o
Corinthians:
“Ele deu um tapa nela!”
Bola é que combina com futebol. Panela, não!
Devemos sempre evitar os cacófatos (som desagradável proveniente
da união da última sílaba com a primeira sílaba da palavra
seguinte).
O grande jornalista deveria ter dito: — Ele deu um tapa na bola.
Disque-mensagem
Em Teresópolis há um serviço de comunicação telefônica que
se propõe as mais diferentes mensagens, desde felicitações de
aniversários, pedidos de reconciliação, etc.
Num dos oferecimentos, aparece a proposta “obrigado pela
estadia”.
Será que eles telefonam também para saber da carga e descarga de
navios?
Observe:
estada – ato de estar, permanência, demora.
estadia – prazo concedido para carga e descarga de um navio no
porto.
Há dicionários que consideram estas palavras sinônimas. Entretanto,
quando quiser agradecer a alguém, onde esteve hospedado, prefira
dizer: Obrigado pela estada.
> > > . . .
. . . > > >
Incerteza
“Joana foi inserta na resposta que deu
ao namorado.”
O rapaz não pode ter gostado. A palavra
“inserta” foi usada inadequadamente.
Observe:
Inserta – introduzida, inserida
Incerta – imprecisa, não é certa
Período correto: Joana foi incerta na
resposta que deu ao namorado.
210
Nem tão normal
Numa excelente apresentação de um dos programas Os Normais,
o ator Luís Fernando Guimarães, engraçado como sempre, assim se
expressou:
“As coisas estão meio tensas entre eu e ela.”
Ela era a excelente atriz Fernanda Torres.
O sujeito desta oração é as coisas, logo o uso do pronome pessoal
eu é indevido. Ele deve ser substituído pelo pronome oblíquo mim.
O ator deveria ter dito: As coisas estão meio tensas entre mim e ela.
Centenário?
Numa edição da tarde do Jornal RJ/TV/TV Globo uma repórter,
congratulando-se com as atletas Adriana e Shelda, do vôlei de
praia, fez menção às noventa e tantas medalhas conquistadas pela
dupla e perguntou se chegariam ao “centenário”.
Claro que desejamos que elas cheguem a fazer 100 anos.
Entretanto, em relação às medalhas, poderão alcançar a 100a
(centésima) – numeral ordinal.
Fica combinado assim?
Irritação irritante
O rapaz ficou tão irritado que xingou o amigo, mas se desculpou,
dizendo: “Fiquei fora de si.”
Impossível! Como alguém pode ficar fora de si? Seria o mesmo que
ficar fora de outra pessoa.
Os pronomes devem sempre combinar. Não xingue ninguém, mesmo
que você fique fora de si.
Período correto: O rapaz ficou tão irritado que xingou o amigo, mas
se desculpou, dizendo: Fiquei fora de mim.
210
211
A Academia Brasileira de Letras se dispõe a relançar
alguns dos seus documentos básicos. Em boa hora.
Quando presidi a casa, de 1998 a 1999, tive o privilégio,
trabalhando com base no inesquecível filólogo Antônio
Houaiss, de promover a segunda edição do Vocabulário
Ortográfico, que não saía há 18 anos. Depois, foi a vez do
minivocabulário, de muito sucesso. E com apoio no professor
Antônio José Chediak, lancei o primeiro Vocabulário Onomástico da
Língua Portuguesa (da ABL). Fico feliz com a continuidade que se
anuncia.
Bomba no
vestibular
“Mário não passou no
vestibular, mas estava melhor
preparado que os outros
colegas.”
Isto não deve ser verdade.
Qualquer verbo no particípio
(preparado) não deve ser
acompanhado de melhor
(superlativo absoluto sintético
de bom). Prefira, nestes casos,
usar mais bem.
Período correto: Mário não
passou no vestibular, mas
estava mais bem preparado que os outros colegas.
3 3 3 3 3 3
7676
211
Curiosidade
Vocabulário Onomástico é aquele que apresenta nomes próprios.
São registrados os nomes de pessoas (antropônimos) e os lugares
(topônimos) entre outras nomenclaturas, como por exemplo
hierônimos (nomes que se referem a datas sagradas e conceitos
religiosos – Alá / Natal / Pessach, etc.).
212212
Você precisa saber
As expressões “de maior”
e “de menor” devem ser
evitadas, pois ao omitirmos a
palavra idade, o que estaria
correto, o de é desnecessário.
Diga sempre ele é de maior
idade ou ele é maior; ele é de
menor idade ou ele é menor.
Coitado do general
Uma placa indicativa de rua do
centro de São Paulo apresenta o
seguinte: “Rua Gal. Osório”.
Coitado do general.
A abreviatura correta de general é
Gen. Em consideração e respeito
ao herói da Guerra do Paraguai,
a placa deveria ser mudada: Rua
Gen. Osório.
O O O
Prejuízo total
“A empresa que não tem grandes lucros investe menos,
consequentemente não aumenta seus lucros, caindo assim num ciclo
vicioso.”
É prejuízo na certa. A expressão “ciclo vicioso” está errada.
Período correto: A empresa que não tem grandes lucros investe
menos, consequentemente não aumenta seus lucros, caindo assim
num círculo vicioso.
Relendo Machado
“Eu não sou Deus, leitor; não criei este mundo, tanto que lhe
acho algumas imperfeições, como a de nascerem as uvas verdes,
para engano das raposas. Eu as faria nascer maduras e talvez já
engarrafadas. Mas criticar obra feita não custa; Deus não podia prever
que os homens não se limitassem a falsificar eleições e fizessem o
mesmo com o vinho.” (Machado de Assis / A Semana II / 1897)
Muito trabalhoso
“O trabalho doméstico absolve todo o dia de uma dona de casa.”
Absolve? De fato o trabalho doméstico é tão duro que perdoa todos
os pecados da dona de casa, mas não é este o caso.
Veja:
Absolver – perdoar, remir
Absorver – consumir, sorver, esgotar, exaurir.
Frase correta: O trabalho doméstico absorve todo o dia de uma dona
de casa
213213
Açúcar amargo
Na propaganda de um grande show de Roberto Carlos, no Aterro do
Flamengo, afirmava-se o seguinte:
“Em homenagem aos 90 anos do bondinho do Pão de Açucar.”
Acontece que a palavra açúcar é escrita assim, com acento. É
palavra paroxítona terminada em r. Leva sempre acento, até para
que o açúcar não fique amargo.
Respostas aos leitores
1- Daniel Francisco Dantas Lopes – Belo Horizonte/MG
Verbo rir é irregular, isto é, não segue o padrão dos
verbos terminados em ir (3a conjugação) como partir,
que é regular. Entretanto, a forma eu rio (1a pessoa
do singular do presente do indicativo) é correta, não
tendo nada a ver com o rio, acidente geográfico. São
apenas palavras homônimas homófonas (mesmo som)
e homógrafas (mesma grafia), mas com significados
diferentes.
2- Paulo José de A. Santelmo – Campo Grande/Rio
A palavra costa existe e significa litoral, a costa
brasileira, isto é, o mar que margeia o nosso país.
Quando nos referimos à parte posterior do tronco
humano, a palavra adequada é costas (sempre no
plural).
3- Aldo Venino de M. Soares – Tijuca/Rio
A frase de Machado de Assis a que você se refere e
que publicamos na coluna Na Ponta da Língua (“Os
acontecimentos tecem-se com as peças de teatro e se
representam da mesma maneira”) apresenta, de fato,
um cacófato. Até o grande Machado de Assis cometeu
os seus deslizes.
214
Os responsáveis pelas placas de sinalização de ruas e
estradas deveriam se preocupar não só com a indicação
correta dos locais, mas, também, com a ortografia.
Vejam só: na entrada da cidade de São Paulo, há uma
placa indicando a direção para“Pacaembú”. Todas as
palavras oxítonas terminadas em i e u não são acentuadas.
A única possibilidade é quando o i ou o u formam hiato com a
vogal anterior, como é o caso de Grajaú. Lamentável! Assim se
perde o caminho.
Relendo Machado
“O que mais me encanta na humanidade é a perfeição. Há
um imenso conflito de lealdades debaixo do sol. O concerto
de louvores entre os homens pode dizer-se que é já música
clássica. A maledicência, antigamente uma das pestes da terra,
serve hoje de assunto a comédias fósseis, a romances arcaicos.”
(Machado de Assis / A Semana I / 1893)
Passagem
preferencial
No meio do trânsito
engarrafado, a ambulância
tocava a sirena.
Sirena ou sirene? Tanto
faz, as duas formas estão
corretas (sempre com s)
e os motoristas devem
dar passagem, pois numa
ambulância há sempre
alguém, precisando de
socorro imediato.
Você precisa saber
O verbo abolir é defectivo, isto é, tem a conjugação
incompleta. Portanto, não se usa a forma “abulo”, devendo
esta ser substituída por um sinônimo: elimino, suprimo, etc.
7777
214
215215
Atenção à crase
“A menina vai à aula de segunda à sexta, mas não tem tido bom
aproveitamento.”
Certamente é o excesso de crases. A segunda crase é desnecessária
(“de segunda à sexta”).
Observe: as expressões casadas sempre vêm acompanhadas de duas
preposições ou de dois artigos. Se a primeira (de segunda) não
tiver a preposição acompanhada do artigo a segunda não leva o
acento grave indicativo da crase. Caso contrário (da primeira parte
à última) a segunda palavra deve ser craseada.
Período correto: A menina vai à aula de segunda a sexta, mas não
tem tido bom aproveitamento.
Sem amor
“Joana viu os namorados se abraçar
e se beijar, mas não sentiu grandes
amores entre eles.”
Certamente não há amor. Quando o
infinitivo for pronominal ou exprimir
reciprocidade é obrigatória a flexão
verbal.
Período correto: Joana viu os
namorados se abraçarem e se
beijarem, mas não sentiu grandes
amores entre eles.
Tempestade
“Apanhou tanta chuva que chegou enxarcado ao trabalho.”
Quem chega “enxarcado” vai ficar resfriado.
Observe: as palavras derivadas mantêm o x ou o ch das
primitivas (charco / encharcado).
Período correto: Apanhou tanta chuva que chegou encharcado
ao trablho.
Curiosidade
Os verbos que
terminam em oer têm
i e acento agudo na 3a
pessoa do singular do
presente do indicativo:
O rapaz rói as unhas
/ Dói a minha perna,
mas não doem as
minhas costas.
g
g
216
Bola fora
William Bonner, falando
sobre o pênalti na vitória do
Fluminense num jogo contra o
Botafogo, no Jornal Nacional:
“O zagueiro colocou uma mão
na bola...”
Mamão??? Era jogo de futebol
ou feira?
Devemos sempre evitar os
cacófatos.
Ele deveria ter dito: O zagueiro
colocou uma das mãos na
bola ou O zagueiro colocou a
mão na bola.
m
216
Mal preso
“O rapaz prendeu o aviso no
quadro mural com taxas.”
Garanto que o papel caiu. A
palavra “taxas” (com x) está
mal empregada.
Observe:
taxa – imposto
tacha – pequeno prego de
cabeça larga e chata.
Frase correta: O rapaz prendeu
o aviso no quadro mural com
tachas.
m m m
Brincadeira sem graça
“O síndico fez um parquinho de recriação para as crianças do
prédio.”
Nenhuma criança vai conseguir brincar num parquinho de
“recriação”.
Observe:
recriar – criar novamente
recrear – divertir
Frase correta: O síndico fez um parquinho de recreação para as
crianças do prédio.
217
Sou amigo e fã da Xuxa há muitos anos. Desde os
tempos da Manchete, onde ela começou pelas mãos
habilidosas de Maurício Sherman. Hoje, com enorme
sucesso, sua responsabilidade aumentou. Por isso, ao lançar
o vídeo Xuxa para baixinhos no 3, deveria tomar cuidado
com a grafia das palavras. Há plurais discutíveis, uma profusão
de porques de todo jeito e, numa cantoria, aparece um “ah,
muleque” (escreve-se moleque). Sem contar que a sua vaquinha
faz “mú”, que se escreve sem acento. A menos que seja um som
diferente, ainda desconhecido.
Decepção
“O rapaz chegou cedo no
cinema, mas a namorada não
apareceu.”
Bem feito! Levou o “bolo”
da moça. O verbo chegar
pede a preposição a e não
a preposição em, isto é,
ninguém chega “no cinema”.
Período correto: O rapaz
chegou cedo ao cinema, mas
a namorada não apareceu.
Você precisa saber
As formas verbais aprazo e aprouve estão corretas. São do
verbo aprazer: nas primeiras pessoas do singular do presente do
indicativo e do pretérito perfeito do indicativo, respectivamente.
Esculacho
Transmissão da Rádio Globo/CBN:
“Com o 3o gol, a Ponte Preta
esculachou o Flamengo.”
É uma boa ideia adotar a linguagem
de marginais? Não podemos
esquecer que crianças e adolescentes
podem começar a repetir o que
ouvem tanto no rádio quanto na TV.
7878
217
Relendo Machado
“Eu gosto de catar o
mínimo e o escondido.
Onde ninguém mete o
nariz, aí entra o meu com a
curiosidade estreita e aguda
que descobre o encoberto.”
(Machado de Assis / A
Semana II – 1900)
218218
Sem discussão
“O rapaz interviu na discussão, mas não lhe deram atenção.”
Ninguém daria atenção a quem “interviu”. Esta forma verbal está
errada. O verbo intervir (tomar parte, colocar-se entre) é conjugado
pelo verbo vir (vim/vieste/veio/viemos/viestes/vieram) logo, a 3a
pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo é interveio.
Período correto: O rapaz interveio na discussão, mas não lhe deram
atenção.
Ora, ora!
“Por hora, o rapaz não vai sair
da empresa em que trabalha.”
Assim fica parecendo que ele
tem hora marcada para deixar
o emprego. Observe:
por hora – espaço de tempo,
60 minutos.
por ora – por enquanto.
Período correto: Por ora, o
rapaz não vai sair da empresa
em que trabalha.
Exagero
Uma coluna social de um jornal
carioca agrediu a nossa língua
com uma crase indevida: “a
anfitriã ia de mesa em mesa
cumprimentando à todos.”
Esta crase é um exagero.
É preciso mais atenção à
revisão dos textos. Não se
usa o sinal grave, indicativo
de crase, antes de pronomes
indefinidos (todos), logo o
correto seria estar escrito...
cumprimentando a todos.
Falta de cuidado
Encontramos espalhadas pela cidade as placas: “Obras à 200m,
Obras à 100m, Obras à 50m”.
A prefeitura do Rio não podia evitar tanta crase errada? Ou temos que
torcer para que a obra acabe logo, a fim de evitar a nossa vergonha?
Recordando: não se usa o acento indicativo de crase antes dos
numerais. Exceção para as horas: às 9h / às 17h, etc.
Aconteceu no Fantástico
A excelente jornalista Glória Maria, num dos programas do Fantástico,
conseguiu complicar a expressão receptação de mercadorias, pois
exclamou: “recepciação” de mercadorias. Muito mais difícil, não?
Em tempo:
receptação – o crime de comprar, receber ou ocultar
conscientemente produtos de crime.
receptador – aquele que recepta, receptor, encobridor.
g g g
g g g
219
Na novela das seis, Sabor da paixão, da TV Globo,
foi criado um personagem analfabeto. Louvável e
corajosa atitude, pois o analfabetismo é, ainda, uma triste
realidade entre nós. Entretanto, o rapaz foi alfabetizado na
decorrência dos capítulos e ficou muito feliz. Isto é bom, pois
mostrou que sempre é tempo para aprender.
219
7979
Você precisa saber
Encontro consonantal
perfeito ou próprio acontece
quando as consoantes estão
numa mesma sílaba (fra-se/
ca-pri-cho) e imperfeito
ou impróprio quando as
consoantes estão em sílabas
separadas (cos-ta/sub-lin-
gual).
Fora de
julgamento
“Os foras da lei merecem
ser julgados e punidos.”
Assim, não merecem nada.
Esta expressão (fora-da-lei)
é invariável, isto é, não tem
singular nem plural.
Período correto: Os fora da
lei merecem ser julgados e
punidos.
Curiosidade
A palavra hircino só pode
ser usada em relação a bode,
portanto barba hircina é uma
locução adjetiva que significa
barba de bode. Considerar a
barba de alguém hircina não
é nada gentil. Pode dar bode!
Relendo Machado
“Quem nunca invejou, não sabe o que é padecer. Eu sou uma
lástima. Não posso ver uma roupinha melhor em outra pessoa,
que não sinta o denteda inveja morder-me as entranhas. É uma
comoção tão ruim, tão triste, tão profunda, que dá vontade de
matar. Não há remédio para esta doença.” (Machado de Assis –
Bons Dias! Notas Semanais – 1889)
�
�
220220
Ave em extinção
“As ararinhas estão em extinção porque não vivem mais no seu
habitat natural.”
Até as aves não aguentam tal pleonasmo (redundância): “habitat
natural”.
Em tempo: habitat – lugar específico com características ecológicas,
habitado por um organismo ou uma população. Em alguns
dicionários esta palavra aparece acentuada (hábitat). O Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia
Brasileira de Letras registra apenas
a forma latina, sem acento
(habitat).
Período
correto: As
ararinhas
estão em
extinção
porque não
vivem mais no
seu habitat.
Vampiromania
Num capítulo da novela Beijo do vampiro/TV Globo, o Promotor
(ator Marco Ricca) irritado, para a cunhada cega (Júlia Lemmertz):
“Eu te pedi pra você não estragar o nosso passeio.”
Não há irritação que permita a mistura de pronomes, principalmente
quando se trata de um personagem (Promotor Público) que deveria
falar corretamente a língua portuguesa.
Fala recomendável: Eu lhe pedi pra você não estragar o nosso
passeio ou Eu te pedi pra tu não estragares o nosso passeio (a 2a
pessoa é pouco usada entre nós).
221
221
Sem revisão
Um jornal carioca publicou o seguinte: “Na
história da sua vida ainda vai aparecer
essas três marcas.” Por onde anda o revisor
que permitiu isso? É preciso atenção na
concordância verbal.
Frase correta: Na história da sua vida ainda
vão aparecer essas três marcas.
Conhecendo nossos escritores
Henrique Maximiano Coelho Neto – (1864/1934)
Filho de comerciante português com uma índia civilizada, nasceu na
cidade maranhense de Caxias, passando a viver no Rio de Janeiro a
partir dos seis anos de idade. Aqui estudou nos colégios São Bento
e Pedro II. Iniciou o curso de Direito em São Paulo, transferindo-se
para Recife, mas não chegou a concluí-lo. Participou de atividades
abolicionistas e, em 1886, iniciou-se no jornalismo. Casado com
Maria Gabriela Brandão (Gaby), teve com ela 14 filhos. Foi membro
da Academia Brasileira de Letras.
Maldade
“Pedro insiste em destorcer tudo que sua irmã diz.”
Esquisito isto!
Atenção aos dois verbos:
Destorcer – tornar direito
Distorcer – mudar o sentido
Período correto: Pedro insiste em distorcer tudo que sua irmã diz.
222
Numa sessão da Academia Brasileira de Letras, o
imortal Evanildo Bechara, grande filólogo brasileiro,
apresentou moção de crítica aos parâmetros curriculares
nacionais, elaborados pelo MEC. A razão: o desprezo
demonstrado pela norma culta da língua portuguesa. Ali
existe uma defesa exagerada da linguagem popular, o que
deve causar grandes embaraços aos professores de Português.
O assunto será tratado de forma rigorosa pela ABL.
Eleições
Desejamos serem os candidatos
mais éticos e respeitosos na
propaganda política.
Perfeito! Não só a mensagem,
mas também a flexão do
infinitivo.
Observe: O infinitivo deve ser
flexionado quando os sujeitos
forem diferentes. O sujeito do
verbo desejamos é nós (oculto)
e o de serem é os candidatos.
Zorra total
Numa noite de sábado, uma
linda moça morena, instigada
a tirar a roupa para passar
no detector de metais, disse
que sua saia era enfeitada de
“losângulos”.
Coitada! A atriz fez uma
“zorra” com a nossa língua.
Não existe essa palavra. As
figuras geométricas que
enfeitavam a saia eram
losangos.
8080
222
Encontro da
saudade
“Os ex-alunos costumavam
reunirem-se uma vez por
ano.”
Escrito assim, acredito que
muitos faltaram ao encontro.
Nas locuções verbais (dois
verbos juntos) não se
flexiona o que estiver no
infinitivo.
Frase correta: Os ex-alunos
costumavam reunir-se uma
vez por ano.
Curiosidade
A locução adjetiva asas
papilionáceas significa asas
de borboleta. Normalmente,
não é usada – é mais uma
curiosidade.
223223
Você precisa saber
Diz-se que uma oração sem sujeito é aquela que traz um verbo
impessoal (sempre usado na 3a pessoa do singular).
Verbos impessoais: todos os que indicam fenômenos da natureza
(chover, anoitecer, ventar, entardecer, etc.) e os verbos haver (no
sentido de existir, acontecer), fazer, estar e ser (no sentido de
tempo).
Exemplos: Choveu muito / muitas crianças / Fazia calor /
Estava quente / Era verão
Relendo Machado
“Trata-se de mudar a capital do Rio de Janeiro para outra cidade
que não fique sendo um prolongamento da Rua do Ouvidor. A
questão é escolher entre tantas cidades. A ideia legislativa até agora
é Teresópolis; assim se votou ontem na assembléia. Em verdade,
Teresópolis está mais livre de um assalto, é fresca, tem terras de
sobra, onde se edifiquem para oficiar, para legislar e para dormir.”
(Machado de Assis – A Semana I/1893)
Sem cal
“O cal usado para limpar o muro foi
insuficiente.”
Usando “o cal”, certamente o muro ficou,
ainda, mais sujo. Preste atenção: A palavra
cal é um substantivo feminino, não
permitindo o uso do artigo definido o.
Frase correta: A cal usada para limpar o
muro foi insuficiente.
Fim de romance
“O rapaz que simpatizávamos tanto
terminou o namoro com a filha da vizinha.”
Lamentável, mas o verbo simpatizar
é transitivo indireto, portanto exige a
preposição com na construção das orações
(“que simpatizávamos tanto”) em que ele
aparece. Período correto: O rapaz com que
simpatizávamos tanto terminou o namoro
com a filha da vizinha.
Turismo
“No Rio de Janeiro,
o Passo Imperial, na
Praça XV, é um lugar
que deve ser visitado
por todos.”
Claro, mas escrito
desse jeito, o turista
passará bem longe.
Observe:
passo – 1a pessoa
do singular do verbo
passar / maneira de
andar.
paço – palácio real ou
episcopal.
Período correto: No
Rio de Janeiro, o Paço
Imperial, na Praça XV,
é um lugar que deve
ser visitado por todos.
224
A televisão veiculou a campanha do teste do
pezinho. Entretanto, o médico que passava a
mensagem da importância desse exame, dizia que ele
é “gratuíto” (acento colocado para mostrar a pronúncia
errada do locutor). A ideia foi ótima, pois esclarece a
opinião pública da necessidade de levar os bebês para fazer
o teste. O que não foi bom foi a falta de respeito pela nossa
sofrida língua portuguesa. Já imaginaram se a televisão fosse
mais atenta, quantas pessoas poderiam aprender que a palavra
é gratuito (túi), gratuitamente?
Desobediência
“As crianças pulavam na
sala. Mandei-as sentarem,
mas continuaram pulando.”
Assim, ninguém merece ser
obedecido.
Observe: Quando depois do
verbo principal (mandei)
houver um pronome oblíquo
(as) use o infinitivo no
singular.
Período correto: As crianças
pulavam na sala. Mandei-as
sentar, mas continuaram
pulando.
Estrada difícil
“O rapaz enfrentou uma enorme serração, na serra de
Teresópolis, ao voltar para o Rio de Janeiro.”
Coitado! Deve ter “cortado um dobrado”, pois “serração” vem
de serra (verbo serrar, cortar), o que não dá sentido à frase. A
palavra adequada é cerração (com c), do verbo cerrar (fechar).
Frase correta: O rapaz enfrentou uma enorme cerração, na serra
de Teresópolis, ao voltar para o Rio de Janeiro.
8181
224
225225
Relendo Machado
“É minha opinião que não se
deve dizer mal de ninguém,
e ainda mesmo da polícia.
A polícia é uma instituição
necessária à ordem e à vida
de uma cidade.” (Machado de
Assis – A Semana II – 1896)
Benjamin Constant: escola de ou para
cegos?
Um candidato à presidência da República, no Rio, foi inquirido se,
eleito, daria um bom aumento de salário aos professores do Instituto
Benjamin Constant, órgão do Governo Federal.
Esse candidato, na frente dos presentes, perguntou, assustado, a um
assessor: “O que é isso?”
Foi-lhe dada a resposta:
“É uma escola de cegos.”
Pergunta-se: de cegos ou para cegos?
É claro que a resposta é a segunda afirmativa. E que isso não impeça
o aumento.
Você precisa saber
As expressões em frente de
e defronte de são sinônimas,
isto é, ambas significam diante
de,frente a frente. Exemplo:
“Parei o carro em frente do (ou
defronte do) mercado.”
�
Ajuda desnecessária
“A filha veio ajudar-lhe a fazer a limpeza da casa.”
Não precisava.
O verbo ajudar, no sentido de prestar ajuda, é transitivo direto, seu
complemento, objeto direto, não precisa de preposição, e, no caso
de pronome oblíquo, não se usa o “lhe” e sim o/a.
Frase correta: A filha veio ajudá-la a fazer a limpeza da casa.
226226
Mudança de vida
Num capitulo da novela Esperança, a lindíssima atriz Ana Paula
Arósio, encarnando a personagem Camille, no dia seguinte à sua
chegada ao cortiço para viver com o marido, confessou à Nina:
“Estou meia perdida.”
Se ela estava “meia perdida” não conseguiria se adaptar à pobreza
do lugar.
A moça deveria ter dito: Estou meio perdida, pois meio é advérbio,
portanto, palavra invariável.
Curiosidade
A palavra pigérrimo existe, sim. É o superlativo absoluto sintético do
adjetivo preguiçoso.
Noivo atrasado
“Deu oito horas e o
noivo da jovem não
chegou.”
Acredito que o rapaz
não virá. Ao contrário
dos verbos fazer e
haver, que não variam
quando indicam tempo,
o verbo dar concorda
com o número de horas,
a menos que se use a
palavra relógio como
sujeito (O relógio deu
oito horas).
Período correto: Deram
oito horas e o noivo da
jovem não chegou.
Sem conhecimento
“A adolescente disse para o
rapaz que não lhe conhecia.”
É verdade! Escrito assim é
impossível.
É um erro muito comum a troca
do pronome o (e variações) por
lhe. Devemos ter em mente
que o pronome oblíquo o deve
ser usado como objeto direto
(conheço-o) e o lhe como objeto
indireto. Tudo depende da
regência do verbo.
Período correto: A adolescente
disse para o rapaz que não o
conhecia.
227
Os responsáveis pela programação de um canal de
televisão deveriam se preocupar com mensagens também
positivas, haja vista a penetração e o envolvimento desse
meio de comunicação com o povo em geral. Parabéns ao
autor do texto da novela Desejos de Mulher quando colocou
Renato, personagem do excelente ator Cássio Gabus Mendes,
incentivando o filho adolescente a ler Machado de Assis. Um
exemplo a ser seguido.
Relendo Machado
“Tantas pessoas têm já visto o bacilo vírgula e toda a mais
pontuação bacilar, que não se me dá dizer que o vi também. Um
homem capaz não pode existir sem ter visto, uma vez que seja,
essa extraordinária criatura. Quero crer que todas essas vírgulas
que vou deitando entre as orações, não são mais que bacilos, já
sem veneno, temperando assim a patologia com a ortografia – ou
vice-versa.” (Machado de Assis – A Semana I – 1894)
Estudo errado
“O rapaz estudou tanto à noite que
ficou com olheira.” Ninguém fica
com “olheira”, porque estudou. A
palavra “olheira” não existe, ela só
deve ser usada no plural: olheiras.
Período correto: O rapaz estudou
tanto à noite que ficou com
olheiras.
x x x
8282
227
Contra o povo
Na excelente novela Porto dos Milagres, veiculada pela Tv Globo, a
vice-prefeita Epifânia, personagem representada pela atriz Cláudia
Alencar, que exerceu o cargo de prefeita durante a viagem de félix
a Salvador, resolveu fazer bonito, dizendo: “ Quero ir de encontro
às necessidades do povo”. Coitado do povo! Se a prefeita fosse
“de encontro às necessidades do povo” não teria conseguido a
simpatia das pessoas. Bateria feio: Observe a diferença:
de encontro à - contra / ao encontro de – a favor
Frase correta: Quero ir ao encontro das necessidades do povo.
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Coração de estudante
Num capítulo da novela, o Prefeito da cidade, querendo incentivar o
então futuro genro a ingressar na carreira política, disse: “Eu ensino
você.” Neste caso, o verbo ensinar é transitivo indireto, isto é, seu
complemento pede preposição ou pronome oblíquo. O sogro deveria
ter falado: Eu ensino a você ou Eu lhe ensino. Está ensinado?
Desanimação
A grande atriz Glória Pires,
que tão bem interpretou
o papel de Júlia na novela
Desejos de mulher, falou
para o Chico: “Vamos se
animar?” Fica difícil! A
forma verbal vamos (1a
pessoa do plural) exige
também o pronome
pessoal do caso oblíquo
da 1a pessoa do plural:
nos. Júlia deveria ter dito:
Vamos nos animar?
Curiosidades
Usam-se os termos:
Apócrifo – para os textos que não se
conhece o autor.
Ateu – para aquele que não acredita
em Deus.
Agnóstico – para aquele que não
acredita em nada.
Escrevendo corretamente
Palavras com s com som de z:
casado – mausoléu – pêsames
Observe: o s entre duas vogais tem
som de z.
Você precisa saber
Os adjetivos bom, mau, grande e pequeno apresentam os
graus superlativo e comparativo de forma especial, daí ótimo,
péssimo, máximo e mínimo (superlativo absoluto sintético das
palavras acima) e melhor, pior, maior e menor (comparativo de
superioridade).
Nem para dar ênfase use a forma verbal há (verbo haver), no
sentido de tempo, com atrás, logo a frase: “Há vinte anos atrás”
é redundante, isto é, repetição desnecessária. Você deve dizer:
vinte anos ou Vinte anos atrás.
Mantenha a calma
Rubinho Barrichelo, depois de obter um 2o lugar no GP da Inglaterra:
“Se você não manter a calma, acaba se dando mal.”
Quando ele acertar no verbo, talvez consiga chegar ao alto do
pódio. Nosso bom piloto deveria ter dito: Se você não mantiver a
calma acabará se dando mal (no futuro). Ou, então: Se você não
mantém a calma acaba se dando mal (no presente).
229
Em 2002 comemorou-se os 80 anos da Semana de Arte
Moderna – um festival que aconteceu em São Paulo, em
1922 – que marcou o movimento de renovação da cultura
brasileira. Mário de Andrade e Graça Aranha (escritores),
Anita Malfatti e Di Cavalcanti (pintores), Ronald de Carvalho
e Guilherme de Almeida (poetas) e Villa-Lobos (músico) foram,
entre outros, os principais mentores do movimento. Registramos,
aqui, a nossa homenagem aos responsáveis pelas novas propostas
para a arte e sua função social na vida dos brasileiros.
Doença
maldita
“Há muitos doentes
graves em decorrência
da epidemia de dengue
que assola o nosso
estado.”
Que tristeza! Os doentes
não são graves e sim
o estado deles é que é
grave.
Período correto: Há
muitos doentes em
estado grave em
decorrência da epidemia
de dengue que assola o
nosso estado.
Relembrando a semana de arte moderna
“Que importa que o homem amarelo ou a paisagem louca, ou o
gênio angustiado, não sejam o que se chama convencionalmente
reais? O que nos interessa é a emoção que nos vem daquelas cores
intensas e surpreendentes, daquelas formas estranhas inspiradoras
de imagens que nos traduzem o sentimento patético ou satírico do
artista.” (Graça Aranha – Conferência de inauguração da Semana
de Arte Moderna – Teatro Municipal, 13/02/1922 – São Paulo)
8383
229
G
Sem abrangência
“José procurou fazer uma pesquisa
abranjente sobre a epidemia de
dengue.”
Não conseguiu! Não é possível fazer
uma pesquisa “abranjente”, pois esta
palavra está escrita erradamente. A
palavra correta é abrangente (com g).
Frase correta: José procurou fazer
uma pesquisa abrangente sobre a
epidemia de dengue.
230
Um pouco de incompreensão
“O rapaz não foi compreensível com a irmã quando ela brigou com
o namorado.”\ Coitada da moça! Ela estava precisando de apoio.
Observe:
compreensivo – quem tem a capacidade de compreender.
compreensível – aquilo ou aquele que pode ser compreendido.
Período correto: O rapaz não foi compreensivo com a irmã quando
ela brigou com o namorado.
Curiosidade
A locução adjetiva
(duas ou mais
palavras com valor
de adjetivo) garra
aquilina significa
garra de águia.
{{{{{{
Implicância?
Claro que não! Ser bom motorista
implica conhecer as normas de trânsito.
Perfeito! O verbo implicar, no sentido
de envolver ou ter como consequência,
é transitivo direto, isto implica dizer
que ele não aceita a preposição “em”,
ou seja, isto implica aquilo e não
“naquilo”.
Uma questão de pronúncia
A Directv (TV por satélite) anunciou no canal
509 (TNT): “Aqui você vê os melhores róstos
(acento colocado para mostrar a pronúncia
errada)do mundo do cinema.” Só pode
falar assim quem for muito cara de pau...
A primeira sílaba da palavra rostos é
fechada.
Bom princípio
Principiou a escrever o
livro ontem de manhã.
Ótimo! O verbo
principiar antes de
verbo no infinitivo
(escrever) exige
preposição, sendo a
mais frequente o a
(a escrever) e mais
raramente o por ou o de.
Antes de andar
“O bebê começou a gatinhar, vivia o dia inteiro no chão.”
Viver de gatinhas, tudo bem! “Gatinhar”? Esse verbo não existe.
O verbo é engatinhar, que significa andar com as mãos pelo chão.
Período correto: O bebê começou a engatinhar, vivia o dia inteiro
no chão.
231
Qualquer pessoa que ligar para NET(TV a cabo) ficará
muito tempo aguardando, apesar da informação que
a espera será em torno de um minuto. Ouve-se a mesma
mensagem dezenas de vezes e o pior: fica-se sabendo que
farão “ações relâmpagos”. Explicada a demora, não? Nas
palavras compostas de dois substantivos, quando o segundo
limita ou explica o significado do primeiro, só este é pluralizado
(ações relâmpago). É o caso também de cavalo-vapor/cavalos-
vapor, caneta-tinteiro/canetas-tinteiro, etc.
Corrida inútil
“O rapaz vive correndo atrás do prejuízo, mas sua vida continua
difícil.” E continuará difícil por muito tempo ainda.
Não se deve “correr atrás do prejuízo”. Quem vai querer “pegar”
o prejuízo? Deve-se correr atrás do lucro, para acabar com o
prejuízo. Prefira dizer ou escrever: O rapaz vive correndo atrás do
lucro, mas sua vida continua difícil.
Tenor na área
“O tenor cantou uma área da
ópera Aída, mas não foi muito
aplaudido.”
Não podia ser diferente. A
palavra “área” atrapalhou a
apresentação do artista.
Observe:
Área – superfície
Ária – peça de música para
uma só voz
Recordando: As palavras
área e ária são homônimas
homófonas, isto é, têm
pronúncia igual, mas grafia e
sentido diferentes.
Período correto: O tenor cantou
uma ária da ópera Aída, mas
não foi muito aplaudido.
8484
231
232
Conhecendo nossos escritores
Luís Carlos Martins Pena (1815/1848) era carioca. Desde cedo
demonstrou vocação artística. Aprendeu pintura, escultura e
arquitetura na Escola Imperial de Belas Artes. Falava fluentemente
o francês, o inglês e o italiano. Deixou-nos 26 peças teatrais (20
comédias e 6 dramas). Faleceu quando voltava ao Brasil, sendo
sepultado em Lisboa.
Principais obras: O juiz de paz da roça (comédia); Os irmãos
das almas (comédia); O cigano (drama); O noviço (comédia) e O
caixeiro da taverna (comédia).
Lendo Martins Pena
“No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na
cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência
para vê-la e a alcançar. Todo homem pode ser rico, se atinar com
o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e
pertinácia são poderosos auxiliares.” (primeira fala do personagem
Ambrósio da peça O noviço – Martins Pena)
Goleada
“O rapaz foi assistir o jogo do
América e o time perdeu.”
O time deu azar? Não! O
complemento do verbo assistir
é que foi o culpado. Este verbo,
no sentido de presenciar, é
transitivo indireto, isto é, seu
complemento (objeto indireto)
precisa de preposição.
Período correto: O rapaz foi
assistir ao jogo do América e o
time perdeu.
Aliás, como torcedor do AFC,
gostaria que ele parasse de
perder.
Grande perda
“O América perdeu do
Flamengo com o resultado de
3x0.”
Vermos nosso time perder é
triste, mas pelo menos vamos
ganhar na língua portuguesa:
prefira perder para e não
“de”.
Frase correta: O América
perdeu para o Flamengo com
o resultado de 3x0.
K
K
K
K
232
z z z
233233
Plural de diminutivo
O plural do substantivo diminutivo pastelzinho é pasteizinhos e não
“pastelzinhos”.
O plural dos diminutivos é assim:
1) faz-se o plural do substantivo na forma normal – pastéis
2) corta-se o s – pastei
3) Coloca-se o sufixo zinhos – pasteizinhos (sem acento, pois não
há na palavra qualquer razão para o acento).
Nada inocente
Márcio Garcia, que comandava muito bem o programa Gente
Inocente, disse num domingo:
“Acabou as férias!”
O eterno problema da concordância verbal. Quando conseguiremos
a concordância daqueles que entram nas nossas casas através da
TV, sobre a importância de falar corretamente a língua portuguesa?
O verbo desta frase (acabou) precisa concordar com o sujeito (as
férias).
O apresentador deveria ter dito: — Acabaram as férias!
Curiosidade
Redondilhas são versos
de cinco ou sete sílabas
poéticas, sendo estes
chamados de redondilha
maior e aqueles de
redondilha menor.
? ? ?/ / /
Você precisa saber
Alguns verbos que têm duplo
particípio:
acender – acendido – aceso
eleger – elegido – eleito
exaurir – exaurido – exausto
isentar – isentado – isento
romper – rompido – roto
234
O programa Fantástico, da TV Globo, que entra em
nossas casas todos os domingos, apresenta um quadro
muito interessante: “Me leva Brasil”, comandado por
Maurício Kubrusly. Entretanto, o pronome pessoal do caso
oblíquo me começando a frase é lamentável. Concordo:
escrever Leva-me Brasil, que seria o correto, ficaria muito
esquisito. Falar tudo bem, mas deixar escrito é péssimo. Que
tal arranjar outro título? Imaginação não falta.
234
8585
Falta de respeito
“As pessoas fizeram tanto borborinho dentro da igreja que até o
padre lhes chamou atenção.”
As pessoas erraram duplamente:
1o) Igreja é um lugar de respeito, não de falatórios.
2o) A palavra que demonstra o som confuso causado pelas
pessoas é burburinho, pois o vocábulo “borborinho” não
existe.
Período correto: As
pessoas fizeram tanto
burburinho dentro da
igreja que até o padre
lhes chamou atenção.
Curiosidade
O adjetivo pátrio ludovicenses denomina as pessoas naturais,
isto é, nascidas em São Luís, capital do Maranhão. Por quê?
Porque Luís veio de Ludovico – Ludwig (germânico) e quem
nascesse em S. Ludovico seria ludovicense e, assim, também
quem nasce em S. Luís.
235235
Relendo José de
Alencar
“Seus olhos já não têm aqueles
fulvos lampejos, que despedem
nos salões, e que, a igual do
mormaço, crestam. Nos lábios,
em vez de cáustico sorriso,
borbulha agora a flor d’alma a
rever os íntimos enlevos.” (José
de Alencar – do romance Senhora
– pág. 16/Coleção Livros – O
Globo)
Entendendo José
de Alencar
Fulvos lampejos –
amarelados (fulvos) clarões,
brilhos, centelhas (lampejos)
Crestam – queimam de leve,
tostam
Cáustico sorriso – irônico,
mordaz sorriso
Enlevos – encantos
Conhecendo nossos escritores
José Martiniano de Alencar (1829/1877) nasceu na cidade de
Mecejana, no Ceará. Desde cedo aprendeu a gostar de ler, a sós
ou em voz alta nos serões familiares, quando através dos mais
diferentes tipos de textos desenvolveu mais a sua imaginação, já
sendo ele por natureza uma pessoa imaginativa, sentimentalista
e taciturna. Desde os 13 anos já se dedicava à narrativa histórica,
sempre se aplicando em aumentar a sua cultura literária. Leu
sempre os grandes autores estrangeiros, os romances famosos,
os historiadores, os cronistas brasileiros, etc. Concluído o curso
jurídico, em Olinda / PE, fixou residência no Rio de Janeiro onde
passou a exercer a advocacia e a escrever para a imprensa. A partir
de 1851 começou a fase mais intensa da produção intelectual de José
de Alencar. Teve participação na política nacional como deputado-
geral pelo Ceará e Ministro da Justiça. Em 1857 publicou O Guarani,
romance histórico que obteve grande sucesso e popularidade àquela
época e sempre. Outras obras do escritor: Cinco minutos (1860);
Lucíola (1862); A pata da gazela (1870); Senhora (1875).
236
Casa dos Artistas III
Sílvio Santos referindo-se a vaca
Paloma, que vivia na Casa dos
Artistas disse que ela estava “meia
murcha”. Meia é sinônimo de
metade.
Será que somente metade do
animal estava triste?
O apresentador deveria ter dito:
meio murcha, pois a palavra meio,
gramaticalmente classificada, é
advérbio, logo invariável.
Fã de Timóteo desliza
Quando a moça saiu da Casa dos Artistas III, falou ao Sílvio Santos
sobre o seu sucesso, depoisde ter participado do programa:
“Um rol de oportunidade que se abriram.”
O verbo (abrir) deveria ter concordado com a expressão rol de
oportunidade, isto é, ficar no singular: Um rol de oportunidade que
se abriu.
Fale, Luísa Ambiel
A linda moça, que foi atração na banheira do Gugu, e na Casa dos
Artistas III. São dela as seguintes observações:
1 – Alguns artistas “fala”...
Luísa esqueceu que o verbo deve, obrigatoriamente, concordar com
o sujeito.
Correto: Alguns artistas falam...
2 – Referindo-se a uma observação de outra participante da Casa,
Carola, perguntou: Por que a boca dela é melhor que a do Sérgio?
Deve-se evitar a cacofonia, isto é, o som desagradável (cadela)
proveniente da união das sílabas finais de uma palavra com as
iniciais da seguinte.
Você precisa saber
A palavra cônjuge é um
substantivo sobrecomum,
isto é, nome que tem somente
um gênero, para determinar
pessoa do sexo masculino e
feminino. Portanto, diga e
escreva sempre: o cônjuge,
tanto para o marido quanto
para a esposa. Não existe “a
cônjugue”.
237
A veneração dos heróis e o respeito aos símbolos da
nossa história parece que se encontram em pleno declínio,
não se sabe exatamente com que vantagem. A televisão
aberta tem colaborado (e muito) para que isso aconteça,
quando o ideal é que fizesse exatamente o contrário. Por que
não tentar reverter essa situação, a partir mesmo do processo de
valorização da nossa língua e da nossa literatura?
Cegueira
“Geralda vive falando mal dos outros, mas não encherga os seus
próprios defeitos.”
Além de faladeira, quem não “encherga” deve ser cega. O verbo é
enxergar (com x).
Período correto: Geralda vive falando mal dos outros, mas não
enxerga os seus próprios defeitos.
Jogo de xadrez
“O rapaz colocou o rei do adversário em xeque, movendo o seu
próprio pião.”
Será que conseguiu ganhar o jogo? Não acredito! Não existe “pião”
no jogo de xadrez. Observe:
pião – brinquedo
peão – peça do jogo de xadrez / trabalhador (peão de obra).
Período correto: O rapaz colocou o rei do adversário em xeque,
movendo o seu próprio peão.
8686
237
238238
Você precisa saber
A forma verbal tenho sido amado é um tempo composto
(pretérito perfeito composto do indicativo) da voz passiva
e é formado pelos verbos auxiliares ter ou haver (tenho ou
hei) + o verbo ser no particípio (sido) + particípio do verbo
principal (amado).
Situação difícil
“A vida de Paulo está cada vez pior e o rapaz quer reverter essa
situação.”
Não vai conseguir melhorar de vida. O verbo reverter está mal
empregado. Ele deveria ter usado o verbo inverter.
Observe:
reverter – voltar ao ponto de partida.
inverter – virar em sentido contrário.
Período correto: A vida de Paulo está cada vez pior e o rapaz quer
inverter essa situação.
Muito tempo
“Devem fazer vinte anos que minha mãe vive fora do Brasil.”
Escrito assim não dá para acreditar.
O verbo fazer quando designa tempo é impessoal, isto é, não
há sujeito na oração, logo fica invariável, devendo ser usado no
singular.
O mesmo deve acontecer quando o verbo fazer estiver junto com
outro verbo, desempenhando o papel de um só verbo, formando o
que se chama de locução verbal (verbo dever é o auxiliar e o verbo
fazer o principal).
Neste caso os dois verbos devem ficar no singular.
Período correto: Deve fazer vinte anos que minha mãe vive fora do
Brasil.
U
239239
Telefonema esperado
Antônio falou para a namorada: “Estou no aguardo de seu
telefonema.”
Pode ser que a moça desista de ligar.
Prefira usar a forma aguardando e não “no aguardo”.
Período correto: Antônio falou para a namorada: “Estou
aguardando seu telefonema.”
Recordando: a palavra telefonema é masculina (o telefonema / um
telefonema).
Curiosidade
Antero de Quental (1842/1891),
poeta português do século XIX,
apesar de herdeiro de grande
fortuna, que lhe permitiu viver
dos rendimentos, foi acometido
de psicose maníaco-depressiva,
que o levou ao suicídio. Suas
principais obras: a 1a edição dos
Sonetos de Antero (1861); Odes
modernas (1865) e Primaveras
românticas (1872).
Lendo Quental
“Na mão de Deus, na Sua
mão direita,
Descansou afinal meu
coração.
Do palácio encantado da
ilusão
Desci a passo e passo a
escada estreita.”
(Antero de Quental – do
soneto Na mão de Deus)
j
Sem qualidade
“A moça foi convidada
para um coquitel, mas
não gostou do que foi
servido.”
Nem poderia gostar!
Num “coquitel” o
serviço jamais seria
bom, pois essa palavra
não existe.
Período correto: A
moça foi convidada
para um coquetel, mas
não gostou do que foi
servido.
Fala inútil
A mãe disse à filha adolescente, que fala
ao telefone durante muito tempo: “Isto é
desperdício de dinheiro.”
Assim, a menina não lhe dará ouvidos.
Observe:
desperdiço – é a 1apessoa do singular
do presente do indicativo do verbo
desperdiçar.
desperdício – substantivo – ato ou efeito
de desperdiçar, esbanjamento.
Período correto: A mãe disse à filha
adolescente, que fala ao telefone durante
muito tempo. “Isto é desperdício de
dinheiro.”
240
O meu amigo Ernane Galvêas é um estudioso da
educação brasileira, a par de ser o economista
consagrado e por todos admirado. Ele me recomendou a
leitura do livro História da educação no Brasil, de Otaíza
de Oliveira Romanelli (Editora Vozes), o que fiz com muito
prazer. Deu para perceber, nele, uma grande preocupação
com o que a antiga lei brasileira chamava de “Comunicação e
Expressão”, hoje “Códigos e Linguagens”.
Preferência duvidosa
“Prefiro mil vezes mais pizza
calabresa.”
Duvido! Quem prefere alguma
coisa não precisa dizer “prefiro
mais”, “mil vezes” ou “prefiro
mil vezes mais”. A ideia de
superioridade já está contida no
verbo preferir.
Frase correta: Prefiro pizza
calabresa.
Ortografia
Ele é adepto da meditação transcendental.
São muitos n? Não importa, é a grafia correta.
Recordando: a palavra ortografia significa escrever
corretamente os vocábulos, logo não se deve dizer “ortografia
correta”, pois seria uma redundância.
Violência
A maioria das autoridades policiais lutam contra a violência
urbana ou A maioria das autoridades policiais luta contra a
violência urbana? Tanto faz! O que importa é lutar até acabar
ou diminuir, consideravelmente, esse grande problema social.
Observe: Os chamados coletivos partitivos (expressões que
designam parte de um todo) como a maioria, a maior parte
de, etc., admitem as duas concordâncias, isto é, o verbo pode
aparecer tanto no plural quanto no singular. Entretanto, a
segunda forma soa melhor aos nossos ouvidos.
8787
240
241241
Fratura do fêmur
“O rapaz sofreu uma fratura femural em decorrência do acidente de
moto.”
Coitado! Uma fratura “femural” deve doer muito mais.
Apesar do substantivo fêmur (osso da coxa) ser escrito com u, o
adjetivo relativo a fêmur é femoral (com o).
Frase correta: O rapaz sofreu uma fratura femoral em decorrência do
acidente de moto.
Curiosidade
Não se deve escrever “e, etc.”
porque etc. é uma abreviatura
da expressão latina et coetera,
que quer dizer: e outras
coisas. Escrevendo assim fica
“e e outras coisas” (repetição
desnecessária).
Casamento duvidoso
“Falta seis meses para o casamento de Maria.”
Assim, é capaz de não haver casamento.
Como o verbo (faltar) vem antes do sujeito, dá a impressão que
não varia. Entretanto, o verbo faltar é regular e como tal deve ser
flexionado normalmente.
Frase correta: Faltam seis meses para o casamento de Maria.
Relendo
Machado
“A poesia, meus amigos,
está em tudo. Na guerra
como no amor.” (Machado
de Assis – A Semana
I/1896)
b
Injustiça
“Joana ficou ofendida ao ouvir tantos opróbios do namorado.”
Escrevendo assim, a moça ficou uma “fera”. A palavra “opróbio”
não existe. O vocábulo correto é opróbrio (injúria, desonra).
Período correto: Joana ficou ofendida ao ouvir tantos opróbrios do
namorado.
Você precisa saber
Use sempre letra maiúscula quando escrever os nomes das regiões
brasileiras: Norte, Nordeste, Sul, etc.
Vivemos na Região Sudeste.
242
Quando estive em Cuiabá, visitando o governadorDante de Oliveira, dele recebi como presente o livro
As construtoras da nação: professoras primárias na
Primeira República. Um belíssimo estudo da especialista
Lúcia Muller, que fez doutorado na UFRJ, demonstrando
largamente o sacrifício e a dedicação dos mestres à escola
pública, desde os primeiros tempos do século passado. E
como foram amorosas no trato da língua portuguesa.
Perigo
“Pedro tomou o remédio
em demasia porque não
usou o conta-gota.”
Não adiantaria ele
usar o “conta-gota”. O
substantivo composto
correto é conta-gotas. A
nossa língua só admite
conta-gotas, tanto para
o singular quanto para o
plural.
Curiosidade
A palavra espuriedade é um substantivo derivado que
determina a qualidade de espúrio (suposto, hipotético,
adulterado, modificado, ilegítimo).
Dinheiro fácil
“José recorreu ao amigo quando ficou sem dinheiro.”
Perfeito! Certamente, o amigo emprestou dinheiro a José porque
ele não agrediu a língua portuguesa.
Observe: o verbo recorrer, no sentido de pedir ajuda, deve ser
acompanhado da preposição a: recorrer a (recorreu ao amigo).
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242
243243
Conhecendo nossos escritores
Mário de Andrade Quintana (1906/1994) – Gaúcho, da cidade
de Alegrete, estudou no Colégio Militar de Porto Alegre, mas não
terminou o curso. Foi poeta, contista, cronista, jornalista e tradutor.
Seu primeiro livro publicado foi A rua dos cataventos (1940), uma
coletânea de sonetos. Recebeu inúmeros prêmios literários, inclusive o
Prêmio Machado de Assis, da ABL (1980). Faleceu em Porto Alegre.
Principais obras: Canções (1945); Sapato florido (1947); Poesias (1961);
Na volta da esquina (1979); Esconderijo do tempo (1980) e Baú dos
espantos (1987), entre outros.
Sucessão
“José sucedeu o antigo chefe
do departamento financeiro da
empresa na qual trabalha.”
Não vai dar certo! O verbo
suceder no sentido de substituir
é transitivo indireto, logo seu
complemento exige preposição,
não sendo adequada a forma “o
antigo chefe”.
Período correto: José sucedeu ao
antigo chefe do departamento
financeiro da empresa na qual
trabalha.
Sucesso verdadeiro?
“O sucesso nos estudos implica
em dedicação e persistência.”
Assim, não dá para acreditar.
O verbo implicar no sentido
de acarretar, pressupor,
trazer como consequência,
é transitivo direto, isto é,
não é recomendável o uso da
preposição em, nem qualquer
outra.
Frase correta: O sucesso nos
estudos implica dedicação e
persistência.
“Talherar”
Num conhecido restaurante do Rio de Janeiro, o freguês pediu uma
faca ao garçom. Resposta:
“Tenha calma! Só vamos talherar a sua mesa depois do pedido.”
“Talherar?” O freguês, certamente, não teve seu pedido atendido,
pois esse verbo não existe, isto é, não consta do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa da ABL, nem de qualquer
dicionário.
Já pensaram se a moda pega?
F
Lembrando Quintana
“O passado nunca conhece o seu lugar. O passado está sempre
presente.” (Mário Quintana)
244
Cada vez é maior o número de pessoas que fica mais
tempo diante da televisão. Numa cidade francesa
(Cannes), realiza-se todo ano o Mercado Internacional
de Programas de Televisão, resultando a apresentação do
estudo para medir a audiência televisiva. No continente
americano, o Brasil ocupa o 3o lugar, os Estados Unidos
ficaram em primeiro, sendo o segundo lugar dado ao México.
Aqui, a assistência média nacional de TV, por pessoa, é de 3h
49min, diariamente. Já pensaram na responsabilidade daqueles
que fazem a nossa televisão?
Sem fome
“Precisam-se de colaborações
para acabar com a fome.”
O problema é sério, mas a
concordância verbal, agredindo
a língua portuguesa, também é
um problema sério. A partícula
se não é pronome apassivador,
isto é, não há voz passiva e,
sim, indeterminação do sujeito:
Quem precisa de colaborações?
Alguém. De colaborações (no
plural) é objeto indireto e não
sujeito, logo o verbo fica no
singular.
Período correto: Precisa-se de
colaborações para acabar com
a fome.
Negócio demorado
“Aluga-se casas, na Região dos Lagos, para a temporada de
verão.” Garanto que o locador não conseguirá alugar essas
casas. A concordância verbal está errada. O sujeito (casas) no
plural exige, também, o verbo no plural (alugam). A partícula
se (aluga-se) mostra a voz passiva: casas são alugadas.
Frase correta: Alugam-se casas, na Região dos Lagos, para a
temporada de verão.
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245245
Você precisa saber
A nomenclatura sujeito indeterminado é assim nomeado em todas
as gramáticas, quando não se sabe determinar o sujeito de uma
oração. Há duas maneiras de se indeterminar o sujeito: 1o – verbo na
3a pessoa (singular ou plural) – Dizem que você não gosta mais de
mim; 2o – o pronome se junto ao verbo – Vive-se mal sem saúde.
Inválido
“Não valhes o que comes!”
Nem o que escreves! Não existe a forma verbal “valhes” do verbo
valer, que é irregular.
Não vale escrever a 2a pessoa do singular do presente do indicativo
do verbo valer com lh.
Recordando o presente do indicativo: valho / vales / vale / valemos
/ valeis / valem.
Período correto: Não vales o que comes!
Sem medo
“As plantas medraram no solo fértil.”
Perfeito! Não pense que as plantas tiveram medo do chão.
Nesta frase, o verbo medrar significa crescer, vingar, entretanto,
este verbo também pode significar ter medo (Ele medrou (teve
medo) quando foi assaltado por três homens).
Relendo Machado
“O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede.
Conheço um que já devorou três gerações da minha família.”
(Machado de Assis)
6
246246
O clone
Na novela das 8, que fez muito sucesso, Deusa, a mãe do Leo,
repreendendo o filho que passara a noite fora de casa: “Você está
querendo deixar a gente nervoso.”
Que perigo! Uma clonagem errada da língua portuguesa?
A palavra nervoso é um adjetivo (masculino) que tem que concordar
com o substantivo gente (feminino).
A mãe do clone deveria ter dito: Você está querendo deixar a gente
nervosa.
Mau começo
No primeiro capítulo da novela Desejos de mulher, veiculada pela
TV Globo, apareceu, escrito na telinha: “Segunda-feira 22 hs”, “No
mesmo dia 8:40 hs.”
Por que imitar o povo americano que registra as horas, usando dois
pontos para separar os minutos?
Por que colocar hs? Esta abreviatura não existe.
Aqui no Brasil é assim: 22h / 8h40min.
Como contribuir?
“Os bons cidadãos devem contribuir com o crescimento do país.”
Escrevendo assim, a contribuição é dispensada.
Observe:
contribuir com – expressar o valor, diz o tipo de ajuda: (O cidadão
contribuiu com cem reais para o orfanato).
contribuir para – cooperar, ajudar, colaborar.
Frase correta: Os bons cidadãos devem contribuir para o crescimento
do país.
247
O sucesso das Escolas de Samba, no Carnaval brasileiro, é
incontestável. No Rio de Janeiro, milhares de pessoas foram
ao Sambódromo para torcer por suas escolas preferidas. Em
2002, fiquei muito feliz com os temas escolhidos, pois além
de homenagearem coisas nossas, a Unidos da Tijuca trouxe
um enredo que, particularmente, me encantou: “O Sol brilha
eternamente sobre o mundo de Língua Portuguesa.”
Unidos da Tijuca
Ao relembrar os Países cujos povos falam a nossa língua, a escola
ressaltou, inclusive, a luta do Timor Leste “pela liberdade de
expressão”. O samba-enredo deixou uma lição para todos nós,
no belíssimo verso: “A minha língua é minha Pátria, é minha fé!”
Parabéns aos autores: Haroldo Pereira, Valtinho Júnior e Wantuir,
este também o intérprete.
Vencedora
A Estação-Primeira, a nossa
querida Mangueira, mereceu
o primeiro lugar daquele
carnaval. Fez um belíssimo
desfile com um tema que lavou
a nossa alma: “Brazil com z
é pra cabra da peste. Brasil
com s é Nação do Nordeste”.
Ousamos completar: Chega
de escreverem Brasil com z no
exterior. Brasil é sempre com s.
9090
247
Salgueiro
Nosso povo precisa
retomar a esperança
que consagrou o
temperamento alegre do
brasileiro. O Salgueiro,
com sua bateria
iluminada, cantou o
samba-enredo: “Asas de
um sonho. Viajando com o
Salgueiro, o orgulhode ser
brasileiro.”
248248
Império Serrano
O samba-enredo Aclamação
e Coroação do Imperador
da Pedra do Reino: Ariano
Suassuna fez justiça ao
homenagear o nosso
grande escritor e membro
da Academia Brasileira de
Letras. Suassuna é o autor de
O auto da compadecida e de
O santo e a porca, peças de
muito sucesso.
Curiosidades carnavalescas
A origem do vocábulo carnaval é duvidosa, segundo Antenor
Nascentes – “primitivamente designativo da terça-feira gorda,
tempo a partir do qual a Igreja suprime o uso da carne.” Teria vindo
do Latim: Carne, vale! (Adeus, carne!) que, modificado, chegou a
Carnaval.
entrudeiro – é sinônimo de carnavalesco.
entrudo – antigo folguedo carnavalesco, oriundo de Portugal, que
consistia em lançar água, com limões de cheiro e outros meios, uns
nos outros.
Você precisa saber
Os numerais que designam o ano não devem ter as classes
separadas por um ponto nem por intervalo, como acontece com os
demais. Exemplo: Mais de 2.000 pessoas compuseram as alas da
Escola-Campeã de 2002.
d
249249
Respostas aos leitores
1- Roberto Luís da Silva – Copacabana – Rio
O jornal O Globo está corretíssimo. O plural da
palavra refrão é refrãos, conforme você leu.
Existe, também, a forma refrães, entretanto não está
correto, exatamente o plural defendido por você:
“refrões”, que não existe.
2- Carlos Eduardo Moreira – Tijuca – Rio
A locução é através de. Nunca use somente “através”.
Exemplo: Soube da notícia através de seu telefonema
e não “através seu telefonema”.
3- Josélia Maria da F. Santino – Belford Roxo/RJ
A forma verbal “reteu” não existe. O verbo reter é
derivado do verbo ter e deve ser conjugado como
se fora o próprio verbo ter, logo a forma correta é
reteve (3a pessoa do singular do pretérito perfeito do
indicativo)
Recordando: retive / retiveste / reteve / retivemos /
retivestes / retiveram
250
Em 2008 foi comemorado o centenário de morte
do grande Machado de Assis. Que tal começarmos a
homenageá-lo, lendo os seus livros?
Sugerimos que comecem por Dom Casmurro, que conta a
história de Capitu, personagem tão conhecida e discutida.
Leiam, leiam sempre!
Muita chuva
“Diversos estados brasileiros sofreram as consequências das
cataclismas.”
As chuvas causaram muitos danos, mas com “as cataclismas”,
certamente, houve danos, até, na língua portuguesa. Esta
palavra é um substantivo masculino – cataclismo (inundação,
dilúvio).
Frase correta: Diversos estados brasileiros sofreram as
consequências dos cataclismos.
Curiosidade
Antífrase é a
nomenclatura dada para
a maneira de se falar,
usando palavras que têm
sentido contrário ao que
realmente se pensa. A
antífrase pode exprimir
ironia ou escrúpulo de
dizer o que se sente.
Exemplo: Aquela moça é
linda! (ironia – acha-se
que é feia).
Visão errada
“Ao meu ver, José errou nos cálculos da conta da feira.”
Com certeza! O erro começou na expressão “ao meu ver”.
Prefira dizer e escrever: a meu ver.
Frase correta: A meu ver, José errou nos cálculos da conta da
feira.
& & &
9191
250
251251
Mais e melhor
Há mais pessoas más no mundo do que se possa imaginar, mas
ainda existe muita gente boa.
O período é verdadeiro e o uso das palavras mais, más e mas está
perfeito.
Observe:
mais – advérbio de intensidade.
más – adjetivo, antônimo de boas.
mas – conjunção coordenativa adversativa que designa oposição.
Você precisa saber
Usar corretamente aonde – onde.
aonde – com verbos que indicam
movimento. São eles: ir, levar, chegar,
dirigir-se – Aonde eles irão amanhã?
onde – com ideia de lugar, lugar
físico – Onde você estuda? Maria foi à
cidade onde você cresceu.
Mal acabado
O grafite da lapiseira
acabou e a moça não
pôde terminar o texto
que estava escrevendo.
Com “esse grafite”,
não há lapiseira que
aguente.
A palavra grafite é
feminina.
Período correto: A
grafite da lapiseira
acabou e a moça não
pôde terminar o texto
que estava escrevendo.
Sem condições
“João demonstrou ser inepto para a função que lhe foi confiada na
empresa.”
Não é verdade! O rapaz pode até não ter a aptidão necessária, mas
não é um idiota. O termo “inepto” está usado indevidamente.
Observe:
inepto – sem inteligência, idiota.
inapto – falta de aptidão para algo.
Período correto: João demonstrou ser inapto para a função que lhe
foi confiada na empresa.
h
h
h
Relendo Machado
“O adjetivo é a alma do idioma, a
sua porção idealista e metafísica. O
substantivo é a realidade nua e crua, é
o naturalismo do vocabulário.”
(Machado de Assis – Contos escolhidos
– Teoria do medalhão)
2 2 2
252
É verdade que existem inúmeras diferenças entre
a língua portuguesa usada aqui entre nós e aquela
falada e escrita em Portugal. O Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de
Letras, por exemplo, já registra a palavra mouse, mas
os portugueses preferem usar o vocábulo rato (tradução
do inglês mouse). Lá, o telefone celular é conhecido como
telemóvel e os arquivos são
ficheiros. O registro vale
apenas como curiosidade
– falamos a mesma língua
– isto é, nada impede que
nos entendamos muito
bem com nossos irmãos
lusitanos.
Erro histórico
“O menino ficou impressionado quando leu que Tiradentes, o
herói da Inconfidência Mineira, foi decaptado.”
Não poderia ser diferente. Aqui houve uma dupla injustiça: com
o nosso alferes que não morreu “decaptado” e com a língua
portuguesa porque não existe o verbo “decaptar”. O verbo
correto é decapitar (degolar, cortar a cabeça).
Período correto: O menino ficou impressionado quando leu que
Tiradentes, o herói da Inconfidência Mineira, foi decapitado.
Relendo Pessoa
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser
nada.
À parte disso, tenho em
mim todos os sonhos
do mundo.” (Álvaro de
Campos – heterônimo de
Fernando Pessoa – poema
Tabacaria)
Curiosidade
Fernando Pessoa (1888/1935)
criou os heterônimos, isto
é, inventou personagens
que tinham estilos literários
diferentes, biografias próprias
e obra paralela à dele, portanto
não foram meros pseudônimos.
Alberto Caiero, Ricardo Reis
e Álvaro de Campos foram os
heterônimos mais importantes do
grande poeta português.
9292
252
253253
Você precisa saber
Usar porque, por que, porquê e por quê.
Porque (junto e sem acento) é a conjunção subordinativa causal que
inicia as orações subordinativas adverbiais causais: José não veio
porque estava doente.
Por que (separado e sem acento)
Nas frases interrogativas diretas ou indiretas: Por que você chorou?
(interrogação direta); Gostaria de saber por que você chorou
(interrogação indireta)
Quando é antecedido da palavra razão, motivo ou causa ou quando
equivale à expressão o motivo pelo qual ou a razão pela qual: Não
sei a razão por que ele chorou.
Porquê (junto e acentuado) quando for substantivo, sempre
antecedido dos artigos definido (o) e indefinido (um): Sei o porquê
do choro dela; Há sempre um porquê para alguém chorar.
Por quê (separado e acentuado) no final das frases ou períodos:
Você chorou por quê?; Ela chorou. Por quê?
Curiosidade
A palavra guaraná
é um substantivo
masculino, portanto
peça um guaraná,
dois guaranás, mas
uma Coca-Cola.
3 3 3
Convite recusado
“Convidou os amigos a visitar a
instância em que vivia com a família.”
Claro que os amigos declinaram do
convite.
Quem quer visitar uma “instância”?
Observe:
Instância – foro, juízo, o que é
solicitado.
Estância – lugar, moradia, residência,
fazenda.
Período correto: Convidou os amigos a
visitar a estância em que vivia com a
família.
254254
Saída inútil
“Carlos saiu do Brasil afim de estudar no exterior.”
Certamente, não vai gostar da experiência. A expressão correta é “a
fim de”, isto é, deve ser grafada separadamente.
Observe:
a fim de – para, no sentido de finalidade.
afim – ligação, proximidade, no sentido de afinidade.
Período correto: Carlos saiu do Brasil, a fim de estudar no exterior.
Correspondência infeliz
A moça escreveu para o namorado: “Pra mim relembrar
sempre de você”.
Que tristeza! O pronome pessoal do caso oblíquo“mim”
foi tão mal colocado que o rapaz preferiria, até, ser
esquecido.
“Mim” não pode relembrar nada, isto é, “mim” não
pode exercer a função sintática de sujeito.
Período correto: A moça escreveu para o namorado: “Pra
eu relembrar sempre de você”.
Sem segurança
O locutor de uma emissora confundiu-se e lá pelas tantas disse: “...
impetrou mandato de segurança.” A palavra “mandato” não foi
usada adequadamente.
Observe a diferença:
mandato – missão, delegação, função, representação delegada
pelo povo ou por uma classe de cidadãos (O mandato do nosso
presidente é de quatro anos).
mandado – ato de mandar, incumbência, mandado judicial.
O locutor deveria ter feito referência a mandado de segurança.
255
A importância da internet é irrefutável; entretanto, o
Brasil ocupa o triste quadragésimo terceiro lugar de uma
lista de 72 países, em termos de acesso ao milagre virtual,
ganhando apenas da África. É claro que a necessidade do
computador e da internet na educação hoje é primordial, pois
o seu advento passou a modificar a capacidade de aprender,
de pensar e de criar das pessoas. Como tudo isso deve acontecer
na escola, esses equipamentos não podem ser objetos de luxo de
uma elite privilegiada e, sim, precisam ser considerados recursos
didáticos prioritários dentro das nossas escolas. Cadê recursos pra
isso tudo?
Preocupação
dividida
A personagem Edna, interpretada
pela excelente atriz Nívea Maria,
da novela O clone, dividiu ao
meio sua preocupação, quando
disse: “Estou meia preocupada...”
Meia significa metade (meia
garrafa de vinho, meio-dia e
meia) ou serve para usar no pé
(Ela perdeu um pé da sua meia
de lã).
Na citação da atriz, a palavra
adequada é um advérbio (meio),
portanto, invariável.
Ela deveria ter dito: Estou meio
preocupada.
Você precisa saber
O verbo reaver significa: haver de novo, recuperar e segue a
conjugação do verbo haver, mas sem o h. É irregular e defectivo
(não é conjugado em todas as pessoas). Lembre-se: só apresenta
as formas em que mantém o v, como: reavi, reouve, reaverei,
etc. Observe: não se conjuga no presente do subjuntivo nem no
imperativo negativo.
9393
255
256256
Casa dos Artistas
Num dos programas de maior sucesso do SBT, Alexandre Frota, um
dos participantes, tropeçou na língua portuguesa quando mandou
um recado para sua mulher: “Daqui a pouco vamos se ver.”
Se o rapaz usou a forma verbal vamos (1a pessoa do plural do
presente do indicativo do verbo ir) não poderia ter usado o se
(pronome pessoal do caso oblíquo) que é da 3a pessoa e sim nos (1a
pessoa do plural).
Alexandre deveria ter dito: Daqui a pouco vamos nos ver.
Relendo Machado
“Quando outro dia fui a enterrar o nosso velho
livreiro, vi entrar, já acabada a cerimônia e
o trabalho, um bando de crianças que iam
divertir-se. Iam alegres, como quem não pisa
memórias nem saudades. As figuras sepulcrais
eram, para elas, lindas bonecas de pedra.”
(Machado de Assis – A Semana I/1896)
Absurdo no ar
EUA em guerra
Uma edição de O Jornal da Ponte que foi entregue aos passageiros
que faziam o percurso aéreo Rio – S. Paulo trazia a seguinte
manchete: “Oposição dizem ter localizado paradeiro de mulá Omar.”
A notícia era importante, mas escrita assim perdeu até a veracidade.
A concordância verbal “foi pelos ares” na guerra contra a língua
portuguesa.
Manchete correta: Oposição diz ter localizado paradeiro de mulá
Omar.
L
257
Nada inocente
O ator Maurício Mattar, no programa Gente Inocente (TV Globo):
“A gente deve permanecer sempre com um sorriso no rosto.”
E ele queria um sorriso em que outro lugar?
Sorria sempre, mas evite ser redundante.
| | | | |
257
Curiosidade
As palavras monorema e direma são termos propostos pelo
gramático alemão Sechehaye. A primeira serve para designar a frase
de uma só palavra e a segunda é usada para a oração composta de
duas palavras.
Exemplo:
Sonho. Ele? Fala! (monoremas).
Tu saíste? / Ele viajou (diremas).
Anormal
O Rui, personagem do engraçadíssimo Luís Fernando Guimarães, no
programa Os Normais, saiu-se com a seguinte frase: “Eu arreio as
calças.”
A forma verbal “arreio” é a 1a pessoa do singular do verbo arrear,
que significa pôr arreios em. O verbo adequado seria arriar (descer,
baixar).
Se foi mais uma brincadeira do Rui, dessa vez ele exagerou. Deveria
ter dito: Eu arrio as calças.
u
Badalação
“Os sinos da capela suaram para avisar a chegada
do prefeito.”
Será que os sinos sentem calor?
Só assim se explicaria eles “suarem”. O verbo “suar”
é inadequado a esta frase. O verbo correto é soar.
Frase correta: Os sinos da capela soaram para avisar
a chegada do prefeito.
258
As notícias sobre a educação brasileira são
alarmantes: o resultado do ENEM (Exame Nacional do
Ensino Médio) de 2001 mostrou que o aproveitamento
dos alunos piorou em relação ao ano de 2000; o Brasil foi o
último colocado entre 32 nações no Programa Internacional
de Avaliação de Alunos; um cidadão analfabeto, inscrito pelo
programa Fantástico da rede Globo de Televisão, no vestibular
de Direito de uma universidade carioca, não só foi aprovado
como ficou classificado em 9o lugar e aquela mesma pessoa foi
aprovada no vestibular de Letras de outra universidade do Rio
de Janeiro, e também passou. O que mais poderia faltar? O MEC
mexeu nos exames de seleção – e fez muito bem.
Calor excessivo
“A moça soou tanto a blusa que
até manchou o tecido.”
Garanto que a mancha vai custar a
sair. Não há calor que justifique o
emprego desta forma verbal (soou
– verbo soar).
Observe:
soar – emitir ou produzir som,
ecoar – Os gritos de raiva da moça
soaram quando viu sua blusa
manchada.
suar – transpirar.
Período correto: A moça suou tanto
a blusa que até manchou o tecido.
Muito tempo
“Vão fazer dezoito anos que Maria saiu do Brasil.”
Garanto que as pessoas não têm saudades dela.
O verbo fazer, designando tempo ou fenômenos da natureza, é
impessoal, isto é, não tem sujeito, logo, fica invariável. Deve ser
usado somente no singular.
Nada muda esta regra, caso o verbo fazer venha acompanhado
de outro verbo: permanecem ambos no singular.
Período correto: Vai fazer dezoito anos que Maria saiu do Brasil.
\ \ \ \ \ \
9494
258
259259
Sem solução
“Devem haver soluções adequadas a cada problema apresentado
pelos funcionários da empresa.”
Fica difícil de acreditar! Assim os funcionários continuarão tendo
problemas.
O verbo haver, no sentido de existir, é exatamente como o verbo
fazer, já explicado, isto é, impessoal.
O mesmo acontece quando o verbo haver se apresenta com outro
verbo, formando uma locução verbal: os dois devem ficar no
singular.
Período correto: Deve haver soluções adequadas a cada problema
apresentdo pelos funcionários da empresa.
Curiosidade
Os verbos considerados
anômalos (muito irregulares)
são aqueles que mudam de
radical. Esta nomenclatura é
usada para os verbos ser e ir.
Observe as mudanças de
radical na conjugação destes
verbos: ser (sou, fui, era) e ir
(vou, fui, ia).
Você precisa saber
Os autores têm posições
diferentes entre as expressões
haja vista e hajam vista,
sendo que a maioria opta pela
invariabilidade, isto é, prefere
haja vista. Entretanto, todos
concordam que não existe a
expressão “haja visto”.
}
}
}
}
Queda fatal
“O passarinho caiu do puleiro e quebrou a asa.”
Certamente, porque estava pousado no lugar errado: no “puleiro”. A
palavra é poleiro e deve assim ser pronunciada po-lei-ro.
Período correto: O passarinho caiu do poleiro e quebrou a asa.
260260
Valor da assiduidade
“Um e outro menino assíduo passará na prova final.”
Possivelmente, haverá repetência!
O substantivo (menino) que segue um e outro fica no singular,
porém o adjetivo (assíduo) e o verbo (passará) devem ser colocados
no plural. Entretanto, não havendo adjetivo, tanto faz.
Frase correta: Um e outro menino assíduos passarão na prova final.
Quase
antipatia
“José simpatizou-se
com a nova vizinha.”
Certamente, a
recíproca não foi
verdadeira.
O verbo desta frase
(simpatizar) não
apresenta a formapronominal.
Frase correta: José
simpatizou com a
nova vizinha.
Relendo Machado
“Tudo é bacilo no homem, o que está dentro do homem, no homem
e fora do homem. A Terra é um enorme bacilo, com os planetas e as
estrelas, bacilos todos do infinito e da eternidade.” (Machado de
Assis – A Semanna I/1896)
261
Em 9 de dezembro comemora-se o Dia Nacional do
Fonoaudiólogo. Trata-se de uma classe que presta
relevantes serviços a quem apresenta problemas da fala
(fonação) e da audição. Na educação, a atuação desses
profissionais é muito importante, facilitando o processo de
aprendizagem, pois a dificuldade da fala e da audição é uma
barreira enorme em qualquer etapa do ensino.
Esquecimento
“O rapaz esqueceu de depositar o
xeque na conta da sua irmã.”
Esse “xeque” estava sem fundos,
pois esta palavra escrita com x era
inadequada ao sentido da frase.
Observe:
xeque – risco, perigo, lance no
jogo de xadrez, soberano árabe.
cheque – documento bancário.
Frase correta: O rapaz esqueceu de
depositar o cheque na conta da
sua irmã.
Reação justa
“Cerca de quatro mil pessoas vaiou o cantor que atrasou o início
do espetáculo.”
Vaia merecida, foi um desrespeito com o público. Entretanto, o
verbo (vaiou) colocado no singular também é um desrespeito à
língua portuguesa.
Quantidade aproximada (cerca de) expressa por palavra no plural
(pessoas) leva o verbo para o plural.
Período correto: Cerca de quatro mil pessoas vaiaram o cantor que
atrasou o início do espetáculo.
Você precisa saber
A 3a pessoa do plural do presente do indicativo do verbo prever
não é mais acentuada. Este verbo segue a conjugação do verbo
ver, logo a forma correta é preveem.
Recordando: vejo / vês / vê / vemos / vedes / veem
prevejo / prevês / prevê / prevemos / prevedes / preveem
9595
261
262262
Grande perda
“Houve perca total das mercadorias da loja do sr. Antônio
porque o incêndio não foi apagado a tempo.”
Além do lamentável acidente um lamentável erro de português:
“perca” é o verbo perder na 3a pessoa do singular do presente
do subjuntivo, não cabendo na construção deste período. A
palavra correta é o substantivo perda.
Período correto: Houve perda total das mercadorias da loja do
sr. Antônio porque o incêndio não foi apagado a tempo.
^
^
Sem conclusão
“João foi ao hospital – estava com muitas dores nas costas – o
médico pneumologista concordou com a opinião do outro médico,
isto é, retificou o diagnóstico do colega.”
Coitado do rapaz! Os médicos que o examinaram estão ou não de
acordo?
O verbo retificar foi usado indevidamente, o verbo que dá sentido a
frase é ratificar.
Observe: retificar – corrigir, emendar
ratificar – confirmar.
Período correto: João foi ao hospital – estava com muitas dores nas
costas – o médico pneumologista concordou com a opinião do outro
médico, isto é, ratificou o diagnóstico do colega.
Antipatia gratuita
“A senhora antipatizou-se comigo sem qualquer motivo.”
Acho que sei o porquê.
O verbo antipatizar não é pronominal, logo não admite o pronome
oblíquo se e sempre vem acompanhado da preposição com – A
senhora antipatizou com ele.
Frase correta: A senhora antipatizou comigo sem qualquer motivo.
263
Pasmo ou pasmado?
“Os delegados ficaram pasmados com a violência urbana de
São Paulo.”
Pasmado ou pasmo? Tanto faz, as duas formas existem. O
que interessa é que, além de espantadas, as autoridades
tomem as devidas providências.
=
=
=
=
263
Relendo Machado
“Li, que um condenado à morte, perguntando-se-lhe, na manhã
do dia da execução, o que queria, respondeu que queria aprender
inglês. Há de ser invenção; mas achei o desejo verossímil, não
só pelo motivo aparente de dilatar a execução, mas ainda por
outro mais sutil e profundo. A língua inglesa é tão universal, tem
penetrado de tal modo em todas as partes deste mundo, que
provavelmente é a língua do outro mundo. O réu não queria entrar
estrangeiro no reino dos mortos.” (Machado de Assis – A Semana
I – 1896)
Charlatanice?
Com o título de Picaretagem
intelectual, um jornal
publicou o término de uma
revista que era veiculada
há 11 anos. No texto da
reportagem aparece
a palavra charlatões,
informando aos leitores
que foi assim que a referida
revista ganhou a capa
da Time. Charlatões ou
charlatães?
Tanto faz! As duas formas
são corretas, isto é, o
vocábulo charlatão
apresenta os dois plurais:
charlatões ou charlatães. Só
é feio fazer charlatanice.
Inoportuno
“A intempestiva intervenção do
deputado acalmou os ânimos dos
debatedores.”
Isto é impossível! Não há ânimo que
se acalme com uma intervenção
intempestiva.
Observe:
intempestiva – inoportuna
tempestiva – oportuna
Não confunda, também, tempestivo
com tempestuoso, que significa
violento.
Não seja tempestuoso, lembre-se
sempre que precisamos aproveitar
os momentos tempestivos para dar
uma opinião.
Frase correta: A tempestiva
intervenção do deputado acalmou os
ânimos dos debatedores.
4 4 4
264
Em 31 de outubro de 1902, nasceu, em Itabira do
Mato Dentro/MG, Carlos Drummond de Andrade,
que foi um dos nossos maiores poetas. Faleceu no Rio
de Janeiro. Em 2002 comemorou-se o seu centenário.
Drummond faz parte da história contemporânea que ele
tão bem deixou registrada na sua prosa e nos seus versos.
Foi sempre ao encontro da experiência coletiva, participando
e se solidarizando social e politicamente, demonstrando a sua
mais íntima compreensão da vida das pessoas.
264
Relendo Drummond
“Ficou um pouco de tudo no pires de porcelana, dragão
partido, flor branca, ficou um pouco de ruga na nossa testa,
retrato. E de tudo fica um pouco. Oh! Abre os vidros de loção e
abafa o insuportável cheiro da memória.” (Carlos Drummond de
Andrade/ Resíduo)
9696
Uma salada complicada
“D. Antônia preparou uma
salada de folhas verdes, mas
o alface já estava velho, meio
amarelado.”
Garanto que essa salada
não ficou boa. Além da má
qualidade da verdura, alface
é um substantivo feminino,
devendo, neste período,
ser antecedido pelo artigo
definido a, e os adjetivos que o
qualificam, obrigatoriamente,
também devem estar no
feminino (velha / amarelada).
Vale recordar: meio é um
advérbio, isto é, uma palavra
invariável (meio amarelada).
Período correto: D. Antônia preparou uma
salada de folhas verdes, mas a alface já
estava velha, meio amarelada.
265265
Submissão
O verbo submeter tem diversos significados: no sentido de
subjugar, dominar, vencer ele é transitivo direto (O Talibã submetia
(subjugava) os afegãos / Os Estados Unidos submeterão (dominarão,
vencerão) os terroristas. Já no sentido de subordinar, de apreciação,
de sujeitar-se, de obedecer, o verbo submeter é transitivo direto e
indireto (O governo americano submeteu (apreciação) sua atuação
ao povo sobre o ataque aos terroristas.)
Apresentação ruim
“A aluna recebeu nota baixa porque apresentou o trabalho mal e
porcamente.”
Coitada da estudante! A expressão “mal e porcamente” é muito
usada, entretanto a palavra “porcamente” é decorrente de
uma invenção popular que acabou sendo incorporada à nossa
linguagem. A palavra original dessa expressão é parcamente, que
significa: moderadamente, sem brilho.
Certamente, dizer ou escrever mal e parcamente é bem mais suave.
De novo...
“O cachorrinho irriquieto atravessou
a rua e foi atropelado.”
Como é complicada a troca de uma
vogal! Viram?
Desta vez a vogal trocada foi o i –
“irriquieto”.
A palavra correta é irrequieto.
Cuidado, também, ao pronunciá-la:
ir-re-qui-e-to.
Período correto: O cachorrinho
irrequieto atravessou a rua e foi
atropelado.
266266
E o acento?
No RJTV/TV Globo, foram levantadas as
mudanças necessárias nas clínicas de cirurgia
plástica e apareceu escrito na telinha, como
recomendação: “centro cirurgico adequado”.
Assim mesmo: “cirurgico”, sem acento –
inaceitável!
Vale recordar: todas as palavras
proparoxítonas são acentuadas, sem exceção,
portanto, cirúrgico, que é proparoxítona (a
sílaba tônica é a antepenúltima) deveria ter
sido grafada com acento – centro cirúrgico
adequado.Muito trabalho
“Mário trabalhou no final de semana, mas não recebeu as horas-
extra.”
Nem vai receber, porque quem espera “horas-extra” não merece ser
pago, pois errou duplamente.
Observe:
1o a expressão hora extra é sem hífen;
2o as duas palavras vão para o plural, isto é, extra concorda com o
termo hora: horas extras.
Período correto: Mário trabalhou no final de semana, mas não
recebeu as horas extras.
X
Você precisa saber
Galicismo é o nome dado a palavra ou expressão francesa usada na
nossa língua ou em outra língua qualquer.
Exemplo: abat-jour.
267
A trova é uma forma de composição poética, ligeira, mais
ou menos popular. A trova é composta de uma quadra,
isto é, de quatro versos de sete sílabas (heptassílabos).
Geralmente, o primeiro verso rima com o terceiro e o segundo
com o quarto. José de Anchieta e Casemiro de Abreu foram
exímios trovadores. E você, já escreveu uma trova? Tente, é fácil!
A vingança do
vizinho
“Carlos ficou indignado com o seu
vizinho, pois jamais pensou em
retalhação.”
Muito feia a atitude do vizinho.
Entretanto, a palavra retalhação foi
usada indevidamente.
Observe:
retalhação – ato de retalhar,
despedaçar, rasgar.
retaliação – desforra, vingança,
represália.
Período correto: Carlos ficou
indignado com o seu vizinho, pois
jamais pensou em retaliação.
9797
267
Trova para os
leitores
Esta trova é em homenagem
Ao leitor que, com presteza,
Busca a perfeita linguagem,
Ama a língua portuguesa.
Última oportunidade
Os professores grevistas, das universidades federais, receberam um
ultimato do governo.
Ultimato ou ultimátum?
Tanto faz! O importante mesmo é que esse tipo de impacto seja
sempre resolvido da melhor maneira para os docentes e discentes.
As duas formas existem e constam do Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras.
Relembrando:
docentes – professores
discentes – alunos
ultimato – declaração final e irrevogável para satisfação de certas
exigências.
268268
Bola fora
Leila (do voleibol) na TV:
“A empatia foi instantânea
entre eu e a Sandra.” Ela é
linda, jogadora formidável,
mas precisa cuidar melhor da
língua portuguesa. O certo
é: Entre mim e a Sandra. O
pronome eu deve ser usado
na função de sujeito e nessa
frase o sujeito é a empatia.
Sempre atrasado
“O rapaz disse que chegaria transantontem de São Paulo, mas
não chegou.” Nem chegará tão cedo! Ninguém pode chegar
“transantontem”, pois esta palavra não existe. O advérbio correto é
trasantontem e até tresantontem.
Período correto: O rapaz disse que chegaria trasantontem de São
Paulo, mas não chegou.
Filhas da mãe
O personagem D. Geralda, dona do Centro Espírita, num capítulo
de uma das novelas das sete, TV Globo, dando uma justificativa à
Rosalva, sua vizinha: “— Voltei meia cansada de Lindóia.”
Será que a senhora ficou apenas com a metade (meia) do corpo
cansado?
O termo correto é meio, advérbio e, portanto, palavra invariável.
D. Geralda deveria ter dito: Voltei meio cansada de Lindóia...
Você precisa saber
A 3a pessoa do plural do presente
do indicativo do verbo vir é vêm.
A forma verbal veem é do verbo
ver. As únicas formas iguais dos
verbos vir e ver são as do futuro
do subjuntivo do verbo ver e
do infinitivo pessoal do verbo
vir, que assim se conjugam: vir
/ vires /vir / virmos / virdes /
virem.
Curiosidade
Quem nasce em Salvador,
capital da Bahia, é
salvadorense, entretanto,
alguns baianos gostam
de ser nomeados
soteropolitanos.
Doença séria
“Um conde, já idoso, faleceu de
efisema.”
Com “efisema” o nobre deve ter
morrido mais rápido.
Esta doença não existe, a
palavra correta é enfisema.
Frase correta: Um conde, já
idoso, faleceu de enfisema.
269
Quem lê está sempre bem informado. Sabe de tudo
que acontece à sua volta e também no mundo, em geral.
A leitura é um dos maiores lazeres que se tem a qualquer
hora e em qualquer lugar. Leia jornais, revistas e livros. Leia
tudo e leia muito.
Igual ou iguais?
TV Globo, jogo São Paulo x Vélez, em Buenos Aires:
“Com esse empate, no 1o tempo, os dois times estão rigorosamente
igual.”
Esse jogo não pode ser 1 a 1, como diz a música popular.
E, não custa nada ter cuidado com a concordância: os dois times
estão rigorosamente iguais.
Curiosidade
O coletivo de
fogos de artifício
é girândola.
Farândola,
também, é um
substantivo
coletivo, mas de
maltrapilhos.
Sem retorno
“Hoje cedo, Pedro foi para a casa da namorada e voltará à tarde.”
Escrevendo assim, ele não retornará tão cedo.
Observe: As preposições a ou para sempre acompanham o verbo
ir. O verbo ir empregado no sentido de não demorar, de retorno
rápido deve ser acompanhado da preposição a. Já a preposição
para acompanha o verbo ir quando o sentido for de demorar, de
fixar residência.
Período correto: Hoje cedo, Pedro foi à casa da namorada e voltará
à tarde.
Atenção: o sinal grave indicativo da crase foi usado (à casa) porque
houve a contração da preposição a com o artigo definido a.
9898
269
270270
Não é fantástico?
O então Ministro da Saúde, José Serra, falando ao Fantástico sobre
o terror da bactéria antraz, querendo nos tranquilizar: “Estamos
alertas!”
Assim, ficaremos mais preocupados. A palavra alerta é um advérbio,
logo invariável – Estamos alerta! Deveria ter dito Sua Excelência.
Entretanto, observe: A palavra alerta pode ser usada como
substantivo (O alerta foi dado) e como adjetivo (A criança alerta
tudo percebe). Nestes casos, a palavra alerta é variável (Os alertas
foram dados / As crianças alertas tudo percebem).
Alerta permanece invariável, também, quando é usada como
interjeição: Alerta! Determinou o ministro às autoridades sanitárias.
Sem quitação
“Os garotos estão quite
com o amigo, pois já
pagaram toda a dívida
contraída.”
Não pode ser verdade!
A palavra quite deve
concordar com a pessoa a
que se refere (os garotos
estão = eles estão é a 3a
pessoa do plural).
Período correto: Os
garotos estão quites com
o amigo, pois já pagaram
toda a dívida contraída.
$
$
$
Você precisa saber
Condes, duques, reis, príncipes,
etc. são títulos de nobreza
muito raros atualmente, mas
ainda existem: a rainha da
Inglaterra é um exemplo.
Os pronomes usados para essas
pessoas são os pronomes de
tratamento, assim usados:
Vossa Majestade – V.M. – reis /
imperadores
Vossa Alteza – V.A. –
príncipes, duques, condes
Vossa Excelência – V.Exa –
altas autoridades em geral
Presença dispensável
“Diversos grãos-duques compareceram às festividades no centro da
praça.”
Uma tristeza! Certamente, nem foram notados.
Ninguém reverencia “grãos-duques”.
Os substantivos compostos cujo primeiro termo é grão pluralizam
somente o segundo: grão-duques.
Frase correta: Diversos grão-duques compareceram às festividades
no centro da praça.
271271
Viagem
cancelada
“Ou o presidente da
empresa ou o seu vice
viajarão para representar
a instituição no congresso
em São Paulo.”
Assim, será melhor cancelar
a viagem.
Havendo ideia de exclusão,
isto é, apenas um deles
viajará, o verbo deve
concordar com o que
estiver mais próximo (o seu
vice), logo deve ficar no
singular.
Período correto: Ou o
presidente da empresa
ou o seu vice viajará para
representar a instituição no
congresso em São Paulo.
Insucesso geográfico
Num programa Domingão do Faustão, o cantor Alexandre Pires
estava feliz, anunciando o sucesso de suas músicas no exterior: “na
Espanha, na Europa, no México...”
Será que a Espanha não pertence mais à Europa?
Será que o rapaz pensa que a Europa é um país?
Nada disso! A Espanha é um país europeu, isto é, fica na Europa,
que é um continente.
;;;
Relendo
Machado
“Cá fora esperava-nos a
noite, felizmente tranquila
e fomos todos para casa,
sem maus encontros, que
andam agora frequentes.
Há muito tiro, muita
facada, muito roubo. A
impunidade é o colchão
dos tempos; dormem-se aí
sonos deleitosos.”
(Machado de Assis – A
Semana II/1896)
$
$
$
272
Tenho sido questionado por professores sobre a
linguagem usada na internet, pois estão preocupadosque os símbolos (O:) = anjo; :) = feliz) e as abreviações
erradas possam prejudicar a gramática. Entendo
que o objetivo de tais sinais seja tornar mais rápida a
comunicação. Entretanto, é preocupante se este recurso
extrapolar o meio virtual. E mais: qual a vantagem de escrever
“poizeh” para dizer pois é? Será que não há um descuido
exagerado com a nossa língua?
Isto é normal?
Numa noite de sexta-feira,
no programa Os Normais, de
enorme sucesso, a personagem
Vani, interpretada pela grande
atriz Fernanda Torres cometeu
um erro feio de concordância
verbal, quando perguntou ao
médico que atendia o seu noivo,
que estava com dor no peito.
“Tudo isso é gases?” Nada
normal, não?
A simpática Vani deveria ter
dito: Tudo isso são gases?
Colaboração de leitor (Carlos Augusto/Rio)
“Na Av. Rodrigues Alves, próximo à Rodoviária Novo Rio, pista
de subida, havia pelo menos dez placas de aviso de obras da
Prefeitura/Rio:obras “à 500m, à 300m, à 200m, à 100m, à 50m.”
Na Av. Brasil, pista de subida, entre Vila Kennedy e Campo
Grande: mais ou menos dez placas da Prefeitura/Rio, também
de aviso de obras do viaduto da Estrada da Posse: retorno
“à 1.000m, à 500m, à 300m, à 200m, à 100m, à 50m (placas
duplas)”
Pode, Prefeito?
Observe a regra: nunca use crase antes de numeral cardinal
(exceção às horas. ex.: às 9h).
Exemplo: O Clube fica a 200km da capital – A oficina fica a
50km do centro.
9999
272
273273
Você precisa saber
A mesóclise (pronome átono dentro de um verbo) só pode acontecer
nas formas do futuro do presente e do futuro do pretérito do
indicativo. Entretanto, quando for exigida a próclise não se admite
a mesóclise.
Exemplo: farei – fá-lo-ei; veria – ver-te-ia
Conhecendo nossos escritores
Graciliano Ramos (1892/1953), alagoano da cidade de Quebrângulo,
além de jornalista e escritor, foi prefeito do município de Palmeira
dos Índios (AL) e dedicou grande parte de sua vida à educação,
tendo, inclusive, fundado uma escola. Problemas de divergências
políticas levaram-no a ser demitido e preso na Penitenciária de
Ilha Grande (RJ), em 1936, onde escreveu Memórias do cárcere,
publicado em 1954, após sua morte.
Obras publicadas: Caetés (1933); S.Bernardo (1934); Angústia (1936);
Vidas secas (1938); Viventes de Alagoas (obra póstuma, 1960).
Droga é droga!
“Os que querem que a maconha seja discriminada, isto é, que o seu
uso deixe de ser crime, estão completamente enganados.”
Essas pessoas estão duplamente erradas:
1o – maconha é droga, faz muito mal à saúde e a sua compra e o seu
uso precisam continuar a ser crime.
2o – o verbo discriminar foi usado indevidamente.
Observe:
Discriminada – (verbo discriminar) – diferençada, separada,
distinguida.
Descriminada – (verbo descriminar) – absolvida de crime,
inocentada.
Atenção: a palavra descriminalização (= descriminação) existe,
pois consta do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da
Academia Brasileira de Letras.
Período correto: Os que querem que a maconha seja descriminada,
isto é, que o seu uso deixe de ser crime, estão completamente
enganados.
W W W
] ] ]
274
Relendo Graciliano Ramos
“Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí,
e fiquei na qualidade de réu. Certamente
já me haviam feito representar esse papel,
mas ninguém me dera a entender que se
tratava de julgamento. Batiam-me porque
podiam bater-me, e isto era natural. Foi
esse o primeiro contato que tive com a
justiça.”
(Graciliano Ramos – Um cinturão/In
Infância/1981)
274
Bebê pesado
Faustão, em um de seus
programas, fez referência
a um bebê que nasceu
pesando “três quilos e
novecentas gramas”.
Pegou mal! A palavra
grama (medida de peso)
é masculina. A grama
(feminina) só o vegetal,
capim.
Um bebê só pode pesar
três quilos e novecentos
gramas.
Curiosidade
No antigo Sião o rei presenteava um súdito cuja situação estava
ruim com um elefante branco, animal sagrado e como tal não podia
exercer qualquer tipo de trabalho. Presente de rei não podia ser
nem vendido nem dado a ninguém. O infeliz que já estava com
dificuldades via sua vida piorar cada vez mais, pois o elefante tinha
que ser alimentado, tratado, etc.
A frase é um elefante branco é muito usada para designar coisas
improdutivas, que não servem para nada. Não dê a um amigo um
presente que seja um elefante branco. Prefira os livros.
Português inocente
No excelente programa Gente
Inocente, que era transmitido
pela TV Globo, houve o
concurso de novos cantores. A
cada voto que uma estreante
recebia do júri, a jovem
Luciana agradecia:
Obrigado!
Assim, ela não estava
agradecendo direito. O certo,
sendo uma linda menina, era
dizer “Obrigada!” Não custa
nada reparar nisto.
Você precisa saber
Para que haja um tritongo é
necessário que as três vogais
estejam na mesma sílaba, caso
contrário há o ditongo (duas
vogais na mesma sílaba).
Observe:
Paraguai (três vogais na mesma
sílaba) tritongo.
Mai-as (três vogais em sílabas
separadas) ditongo.
275
Numa visita à cidade paulista de Bauru, para uma
conferência, serviu de pretexto para conhecer um
curioso protesto, sobretudo de professores, em relação ao
novo Dicionário Houaiss. Reclamaram que o verbete sobre
o famoso “sanduíche bauru” está errado – e isso eles não
admitem. Uma dica para a próxima edição.
Sentimento ruim
“Há políticos que nutrem ódio fidalgal
pelos seus opositores.”
Se esses políticos, de fato, sentissem
“ódio fidalgal” seria mais fácil
resolver os problemas. Entretanto, na
realidade, o adjetivo “fidalgal” foi
mal empregado. O sentimento de ódio
expresso por eles é outro: figadal.
Observe:
Fidalgal (diz respeito a fidalgo) –
cortês, educado, cavalheiro.
Figadal (adjetivo derivado da
palavra fígado) – sentimento hostil,
profundo, intenso.
Período correto: Há políticos que
nutrem ódio figadal pelos seus
opositores.
Televisiva
Um programa do Faustão,
veiculado num domingo
de 2001, apresentou
a opinião de diversas
atrizes sobre o jogador
de futebol detentor das
pernas mais bonitas.
Mônica Carvalho falou:
“As pernas mais bonitas é
a do Raí!” Será que o Raí
só tem uma perna? Então,
as pernas mais bonitas
são as do Raí!
Não custava nada a
moça prestar atenção à
concordância verbal.
100100
275
Namoro proibido
“A mãe da jovem nunca concordou
com aquele namoro e nem
concordará agora.”
Que mãe exagerada! Não há
necessidade de usar e nem, pois a
conjunção nem já corresponde a e
não, logo, houve redundância na
colocação do e antes do nem.
Período correto: A mãe da jovem
nunca concordou com aquele
namoro, nem concordará agora.
276276
Canto desafinado
“O gorgeio dos pássaros
incomodava as pessoas.”
Impossível! O canto dos
pássaros é sempre agradável.
O que incomodou foi o
“gorgeio”, que está escrito
com g e é com j. Frase correta:
O gorjeio dos pássaros
incomodava as pessoas.
Andando para trás
“José não consegue engatar a marcha à ré do carro.”
Certamente, a crase indevida é que está impedindo o rapaz de dar a
marcha a ré, sempre sem crase, ou o carro não pega.
Dando tempo ao
tempo
Marcos Míon, no programa Os
piores clips da MTV, declarou
a respeito do Roni Von: “Galã
atemporal de todos os tempos”.
O rapaz queria dizer que o
artista permanecia bem, apesar
da passagem do tempo. Ficou
feio e nem pareceu elogio.
Conhecendo nossos escritores
A cidade mineira de Codisburgo foi o berço do menino João Guimarães
Rosa (1908/1967) – escritor que revolucionou a prosa de ficção
brasileira. Formou-se em Medicina, apresentando-se como médico
voluntário da Força Pública na Revolução de 32. Estudou diversas
línguas (holandês, inglês, francês, russo, alemão, grego, latim, sueco e
japonês) o que o ajudou na carreira diplomática. Eleito para Academia
Brasileira de Letras em 1963 só tomou posse quatro anos após,
porque ele tinha medo de não aguentar a emoção – 72 horas após
a solenidade, faleceu. Principais obras: Sagarana (Venezuela/1944);
Grande Sertão: Veredas (1956) e Corpo de Baile (1956).
Você precisa saber
Os verbos que denominam as vozes
dosanimais: latir, miar, cacarejar,
etc. são defectivos unipessoais, isto
é, são conjugados apenas nas 3as
pessoas do singular e do plural.
Late / latem; Miava / miavam;
Cacarejou / cacarejaram.
Informação correta
O rapaz informou-a de que o
namoro terminou.
A notícia pode ser triste, mas a
regência do verbo informar está
perfeita. Observe: O verbo informar
pede objeto direto de pessoa
(informou-a) e objeto indireto de
coisa (de que o namoro) ou vice-
versa: objeto indireto de pessoa
(informou-lhe) e objeto direto de
coisa (que o namoro).
277
O dia 11 de setembro de 2001 foi um marco – o atentado
terrorista nos Estados Unidos – negativo, indefensável e
inesquecível para a humanidade. Considero, entretanto,
relevante relembrar a palavra fraternidade, de origem
latina (fraternitate), que significa união ou convivência como
irmãos, harmonia, concórdia, paz. Não é oportuno?
Brinquedo infeliz
“O rapaz comprou três aviãozinhos de pilha para o filho, mas o
menino não gostou dos brinquedos.”
Nem poderia. Nenhuma criança gostaria de brincar com
“aviãozinhos”.
O plural da palavra aviãozinho faz-se da seguinte maneira:
plural de avião (forma normal) – aviões
corta-se o s – aviõe
acrescenta-se o sufixo zinhos, indicador do diminutivo –
aviõezinhos.
Observe: aviãozinho de pilha – aviõezinhos de pilha (só a 1a
palavra vai para o plural, porque é um substantivo composto
ligado por preposição (de)).
Período correto: O rapaz comprou três aviõezinhos de pilha para o
filho, mas a criança não gostou dos brinquedos.
Aula de mestre
“Apesar da maestria
da aula, os alunos não
entenderam o que o
professor ensinou.”
Certamente não prestaram
a devida atenção ao
mestre. Uma aula dada
com maestria é uma aula
de qualidade. Será que
os alunos prefeririam a
palavra mestria? Tanto
faz: maestria e mestria
são palavras sinônimas.
101101
277
278278
Uma “xuxada”
Xuxa, numa aparição no
Domingão do Faustão, deu
apoio à campanha contra o
câncer de mama. Ótimo!
Ficou faltando, entretanto, o
apoio à língua portuguesa,
pois a “rainha dos baixinhos”
começou, assim, sua
mensagem:
“Gente, vamos se unir...”
A apresentadora deveria
ter dito: “Gente, vamos nos
unir...” ou “A gente vai se
unir...”
Curiosidade
O emprego de termos estrangeiros é barbarismo, sim, mas não
apenas isso. Qualquer erro de escrita (cacografia) também é
barbarismo.
Você precisa saber
Os verbos regulares têm a primeira pessoa do plural dos tempos
presente e pretérito perfeito do indicativo absolutamente iguais.
Só o sentido da frase pode mostrar se o tempo é o presente
(atualidade) ou o pretérito perfeito (passado).
Exemplo:
Nós cantamos juntos todos os dias (presente).
Nós cantamos juntos no Natal de 1999 (passado).
Mentira
“O gerente atingiu aos
índices determinados pela
diretoria.”
Não deve ser verdade! O
verbo atingir é transitivo
direto, isto é, não admite
preposição acompanhando
seu complemento. Portanto,
o objeto direto não é “aos
índices” e sim os índices.
Frase correta: O gerente
atingiu os índices
determinados pela diretoria.
g
g
g
f f f
279279
Assertividade
Assertividade. Você já ouviu esta palavra? Trata-se de um termo
da psicologia social, que significa a habilidade que cada um de nós
deve desenvolver para afirmar e assumir as suas próprias opiniões,
os seus pensamentos e as suas crenças perante os outros. Lembre-se
que podemos fazer tudo isso com delicadeza, sem ferir as pessoas.
Você tem sido assertivo? Tente! Será mais feliz.
Infelicidade
“Não namorou tão pouco casou com a mulher que amava.”
Coitado! Deve ter sofrido muito. A expressão tão pouco foi usada
indevidamente.
Observe a diferença:
tão pouco (separado) – muito pouco.
tampouco (junto) – nem.
Período correto: Não namorou tampouco casou com a mulher que
amava.
Entrega demorada
“João comprou uma televisão, em cores, a vista, mas ainda não
recebeu o aparelho em sua casa.”
Assim,vai custar muito a receber a TV.
As locuções adverbiais têm o a inicial acentuado, isto é, levam o
acento grave indicativo da crase.
Recordando: as locuções prepositivas iniciadas por a também têm
crase:
à custa de
à beira de
à maneira de, etc.
Período correto: João comprou uma televisão, em cores, à vista, mas
ainda não recebeu o aparelho em sua casa.
280
A novela das sete, Filhas da mãe, da TV Globo,
apresentou uma atriz que falava muito errado. Aurora,
a personagem interpretada pela atriz Cláudia Ohana,
demonstrou vontade de ter aulas de português para falar
corretamente a nossa língua. Ficou satisfeita em saber que
deve dizer ignorante e não “ingnorante”, ao ser corrigida
pelo personagem do ator Diogo Vilela. A televisão prestou um
serviço à população, mostrando que as pessoas gostam de se
expressar de maneira certa.
Carnaval fora de época
“Um grupo de moças e rapazes foi a
um micareta em Teresópolis.”
Certamente não se divertiram.
Micareta – termo usado na Bahia –
significa carnaval fora de época, é
uma palavra feminina.
Frase correta: Um grupo de moças
e rapazes foi a uma micareta, em
Teresópolis.
Você precisa saber
1. Há diferença entre as expressões
e , isto é, esta significa , e aquela
significa , .
Exemplos:
sou contra o aborto, porém em caso
de estupro é uma solução admitida
pela lei. (a princípio = inicialmente,
no começo).
, somos todos filhos de Deus (em
princípio = antes de tudo).
2. Use sempre para dizer que está
ciente e jamais “ao par”. A expressão
ao par só é admissível para câmbio.
(
(
(
(
(280
102102
Curiosidade
Monossemia é a
palavra que tem um só
significado. Exemplo:
sapato.
Polissemia é
exatamente o oposto
– vários sentidos
para uma mesma
palavra. Exemplo: cabo
(acidente geográfico /
de vassoura / patente
militar).
281281
Relendo Machado
“Esta semana furtaram a um senhor que ia pela rua mil debêntures;
ele providenciou de modo que pôde salvá-los. Confesso que não
acreditei na notícia, a princípio; mas o respeito em que fui educado
para com a letra redonda fez-me acabar de crer que se não fosse
verdade não seria impresso. Não creio em verdades manuscritas.”
(Machado de Assis – A Semana I/1896)
Educação familiar
“Se os pais não conterem os filhos terão a tristeza de vê-los adultos
mal educados.”
Assim, certamente, os filhos darão muito desgosto a seus pais.
A forma verbal “conterem” está mal empregada. O verbo conter é
derivado do verbo ter, devendo, portanto, seguir a sua conjugação.
A frase dá ideia de futuro incerto, logo o tempo deve ser o futuro do
subjuntivo e não o presente pessoal do infinitivo.
Lembre-se: tiver/contiver; tiveres/contiveres; tiverdes/contiverdes,
etc.
Período correto: Se os pais não contiverem os filhos terão a tristeza
de vê-los adultos mal educados.
Mau gosto
“Joana não gostou das roupas
vermelhas-sangue que sua prima
comprou.”
A prima de Joana não ficará
elegante usando roupas
“vermelhas-sangue”.
A palavra composta formada
por um adjetivo (vermelho)
e um substantivo (sangue) é
invariável, isto é, não muda em
gênero nem em número.
Período correto: Joana não gostou
das roupas vermelho-sangue que
sua prima comprou.
282
Excesso de problemas
“O rapaz reclamou, pois suas dificuldades
financeiras quadriplicaram.”
Coitado! Terá, ainda, muitos problemas
financeiros.
O verbo “quadriplicar” não existe. O verbo
certo é quadruplicar (tornar quatro vezes
maior).
Período correto: O rapaz reclamou, pois suas
dificuldades financeiras quadruplicaram.
Consequência desastrosa
“O rapaz é manco, puxa uma perna depois que sofreu o acidente.”
Muito triste! Mas “puxar uma perna” seria pegá-la com as mãos e
arrastá-la.
Quem é manco puxa de uma perna.
Período correto: O rapaz é manco, puxa de uma perna depois que
sofreu o acidente.
282
283
Uma língua se enriquece quando possui dicionários
de boa qualidade. Sob esse aspecto, não podemos nos
queixar. Temos, como é o caso do Aurélio, trabalhos
de primeira ordem. A existência de outros dicionários é
democrática, não traz mal nenhum à língua portuguesa. Ao
contrário.Assim, repetimos mais uma vez uma frase lapidar do
mestre Antônio Houaiss: “Dicionários? Quanto mais, melhor.” Foi
com esse pensamento que demos boas-vindas à nova edição do
dicionário Houaiss.
Amor duvidoso
“O rapaz vive chamando a namorada
de benzinha.”
A moça deve duvidar do amor
dele. A palavra “benzinha” não
existe. O termo correto é benzinho,
substantivo masculino, conforme
consta no Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa, da Academia
Brasileira de Letras.
Frase correta: O rapaz vive chamando
a namorada de benzinho.
Casa da mãe Joana
A origem da expressão casa da
mãe Joana data do século XIV.
Joana, condessa de Provença e
rainha de Nápoles, viveu em meio
a grandes confusões, escondendo-
se na cidade de Avignon, onde
regulamentou os bordéis, em 1347.
À época, casa da mãe Joana era
sinônimo de prostíbulo. Hoje,
a expressão é usada para fazer
referência a um lugar no qual
ninguém manda nem organiza.
Você precisa saber
Jamais use a forma verbal
“tinha chego”, pois o correto
é tinha chegado, um tempo
composto, isto é o verbo
conjugado é o auxiliar (ter)
e o verbo principal (chegar)
vai para o particípio que é
chegado. A forma chego
é a 1a pessoa do singular
do presente do indicativo
do verbo chegar, que não
é um verbo abundante, só
admitindo, portanto, um
único particípio.
L
L
103103
283
284284
CBN privilegiada
Um correspondente internacional da CBN, comentando o poderio
atual das mulheres disse que era um “previlégio”.
Será que a distância fez o repórter esquecer a língua pátria? A
palavra é privilégio, sempre com i na primeira sílaba.
Falar e escrever corretamente não é privilégio e sim uma obrigação
de todos os profissionais da imprensa.
Mala sem jeito
“João comprou um carro novo com
um enorme porta-mala.”
O “porta-mala” pode até ser grande,
mas garanto que não é jeitoso. Este
substantivo composto só deve ser
usado no plural, mesmo em frases no
singular.
Frase correta: João comprou um carro
novo com um enorme porta-malas.
Escorregando com a Argentina
Um locutor de rádio soltou a seguinte pérola: “os argentinos devem
irem em frente...”
A situação daquele povo está dificílima, falando assim, piora tudo.
Deve haver cuidado com a locução verbal: os argentinos devem ir
em frente... seria o correto.
Radiografia
“A jovem tossia tanto que sua
mãe levou-a ao médico para
fazer um raio X do pulmão.”
Coitada! Isto não existe. Vai
continuar tossindo...
Os raios X foram descobertos
por um físico alemão e
estes sim são utilizados nas
radiografias.
Lembre-se sempre: os raios X.
Curiosidade
A palavra mequetrefe, que
é escrita também, assim,
em espanhol, serve para
determinar um sujeito
imprestável, uma pessoa
inconveniente. Tanto na
Espanha como entre nós há
muitos mequetrefes. E você,
conhece algum mequetrefe?
Preferência duvidosa
Dizia o rapaz: — “Prefiro mais as
louras do que as morenas.”
Prefiro que ele fique sozinho.
“Preferir mais” é um pleonasmo,
uma redundância descabida.
O verbo preferir já diz toda a
preferência.
O rapaz deveria dizer: — Prefiro as
louras do que as morenas / Prefiro
as louras às morenas.
285
Um repórter do Fantástico procurou-me com uma
pergunta insólita: “Existe a palavra enganosidade?”.
Disse-me que havia entrevistado diversas pessoas e
algumas delas manifestaram dúvida. Lembrei uma frase
do acadêmico Antônio Houaiss: “A língua portuguesa cresce
à noite.” E completei: “Essa palavra não existe, não está no
Vocabulário da ABL. Só se nasceu ontem à noite...”
Curiosidade
Diacrítico é um sinal
ortográfico que dá às
letras um valor fonográfico
especial. Por exemplo, o
acento circunflexo é um
sinal diacrítico.
Você precisa saber
A palavra aspereza é um
substantivo derivado do adjetivo
áspero, ao qual foi acrescentado
o sufixo eza. Os vocábulos
formados com o sufixo ez
(timidez – tímido e ez) também
são escritos com z.
Porto dos milagres
Alfeu, o marido da Socorrinho, personagem da novela das oito,
que foi veiculada pela TV Globo, acusando a cunhada Genésia:
“Ela tirou uma quantia vultuosa do caixa da loja.”
Ele é que deveria ter ficado com as faces vermelhas de vergonha
pelo comportamento da mulher.
Observe:
vultuosa – congestão da face, atacada e vultuosidade,
vermelhidão.
vultosa – muito grande, polpuda.
Frase correta: Ela tirou uma quantia vultosa do caixa da loja.
i
i
104104
285
Muito frio
“Lá, no Sul do Brasil, fazem
invernos terríveis.”
Escrito assim, não há cobertor
que dê jeito.
O verbo fazer seguido de
condição meteorológica fica
sempre no singular.
Frase correta: Lá, no Sul do
Brasil, faz invernos terríveis.
286286
Você precisa saber
1. A expressão “ganhe grátis” é redundante. Deve-se substituir,
neste caso, o verbo ganhar pelo verbo receber.
2. São aceitas as duas grafias e as duas pronúncias: hieróglifo ou
hieroglifo (a primeira acentuada (proparoxítona) e a segunda
(paroxítona) sem acento).
3. A palavra irascível tem o dígrafo sc que deve ser pronunciado
como se fora um c, isto é, da mesma forma que se pronuncia nascer,
crescimento, etc.
E o chapéu?
Raul Gil disse a um
candidato aos prêmios do
seu programa:
“Se você acertar, continua.
Se errar, o R$ 8.500,00 é
meu.”
Com essa concordância,
vamos tirar o chapéu do
popular apresentador.
O certo: “... se errar, os
R$ 8.500,00 serão meus.”
Criança esperança
O Didi, que há muitos anos está à frente dessa meritória campanha,
que recolhe fundos para crianças carentes, escorregou quando deu a
informação: “Recebemos, até agora, trezentas mil telefonemas.”
Repetiremos sempre: a palavra telefonema é masculina. A
esperança que todos aprendam justifica a nossa insistência.
Renato Aragão deveria ter dito: Recebemos, até agora, trezentos mil
telefonemas. E não é pouco.
287287
Respostas aos leitores
1. Ricardo Tanto H. Fontes – Tijuca/Rio
Prefira usar o particípio irregular com os verbos de
ligação (ser, ficar, permanecer, etc) e o particípio
regular com os verbos auxiliares (ter e haver).
Exemplo:
Eles foram salvos pelo médico.
O médico havia salvado os rapazes.
2. José Maria de Aguiar P. Souza – Cachambi/Rio
As formas verbais do verbo pôr citadas: púnhamos,
puséramos, puséreis e poríeis são acentuadas porque
são palavras proparoxítonas e todos os vocábulos
deste tipo são acentuados. Ainda há outras pessoas do
verbo pôr que são proparoxítonas e consequentemente
acentuadas, como púnheis, poríamos, puséssemos e
pusésseis.
3. Alberto N. de Almeida – Bairro Jabour/Rio
A frase: O espectador interveio na apresentação do
autor é a correta. O verbo intervir é da família do verbo
vir, seguindo exatamente a conjugação deste. Não
existe a forma verbal “viu” na conjugação do verbo vir,
logo não existe, também, a forma “interviu”.
288
Conhecendo nossos escritores
Jorge Leal Amado de Faria (1912-2001), baiano, nasceu na
Fazenda Auricídia, no município de Itabuna. Formou-se em
Direito, mas não exerceu a profissão. Foi deputado federal
por São Paulo (1945) e declaradamente assumiu o papel de
comunista convicto, sendo, inclusive, exilado em diversas fases
da sua vida. Foi um dos maiores escritores que o Brasil já teve,
consagrado mundialmente. Além de prêmios e troféus, fez
da arte de escrever a sua profissão, vivendo exclusivamente
de direitos autorais. Publicou livros em 46 países e os teve
traduzidos em 36 idiomas. Faleceu no dia 6 de agosto passado,
em Salvador.
Principais obras: O país do Carnaval (1931); Jubiabá (1935);
Terras do sem fim (1943); Gabriela, Cravo e canela (1958);
Dona flor e seus dois maridos (1966); Tieta do agreste (1977) e
Navegação de cabotagem (1992).
A morte de Jorge Amado, muito sentida por todos
nós, deixou vaga a cadeira 23, que foi a de Machado
de Assis, na Academia Brasileira de Letras. Surgiu,
assim, uma oportunidade inédita: Zélia Gattai, também
escritora, aceitando ser candidata foi eleita. É a primeira
mulher a ocupar a cadeira deixada pelo marido.
Pressão alta
“A senhora passou
mal e pediu ao
médico que tirasse a
sua pressão.”Não pode ter
melhorado. Pressão
não “se tira”.
Pressão se mede.
Período correto: A
senhora passou mal
e pediu ao médico
que medisse a sua
pressão.
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Aconteceu no caldeirão
1 – Luciano Huck, que apresenta o seu programa nas tardes de
sábado, mais uma vez, escorregou quando disse: “Igual a eu”.
Ele quase se afogou no próprio caldeirão.
Uma dica simples e a mais fácil de todas: o pronome eu é usado
como sujeito, isto é, geralmente sempre antes de um verbo.
O apresentador deveria ter dito: Igual a mim.
2 – Numa das brincadeiras de mímica um participante tentava
passar para o outro grupo um determinado provérbio.
Luciano Huck disse que era uma “expressão idiomática”, como se
nós falássemos inglês.
Provérbio – dito popular expresso em poucas palavras, como, por
exemplo: “Quem tudo quer tudo perde”.
Curiosidade
Saber o século ao qual pertence um ano é simples: caso termine em
00 (zero/zero) basta eliminar os zeros e teremos seu século.
Exemplos: 2000: século XX; 1900: século XIX.
Quando o ano não termina em 00 (zero/zero), aí, então, somamos
1(um) ao número formado pelos algarismos da unidade de milhar e
da centena simples e encontramos o século.
Exemplo: 1889: 18 + 1 = 19 - século XIX ; 2003: 20+1=21 - século XXI
Tentação
Sílvio Santos, apresentando o programa Tentação, gritou para as
pessoas do auditório: “É só três pessoas.”
E a concordância verbal?
Sílvio, são só três pessoas.
Planeta Xuxa
A loura recebeu o Bonde do Tigrão e o seu principal vocalista assim
se pronunciou sobre uma nova composição do grupo: “Nós se
inspiramos.”
Não há inspiração que aguente!
O verbo na primeira pessoa do plural exige que, além do pronome
pessoal do caso reto (nós), o pronome pessoal do caso oblíquo
também seja da primeira pessoa do plural.
O cantor deveria ter falado: Nós nos inspiramos.
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Aconteceu em Porto dos Milagres
1 – Adma (Cássia Kiss) dizendo ao filho Alexandre (Leonardo Brício):
“Não o aborrece, tá?”
O verbo aborrecer foi conjugado erradamente no imperativo
negativo, que é todo formado do presente do subjuntivo (não
aborreças tu / não aborreça você, etc.).
Se a atriz tivesse falado corretamente (Não o aborreça, tá?) talvez o
Félix não tivesse ficado tão encantado pela Rosa Palmeirão.
2- Alfeu, o marido de sobrinho, se referindo à mulher: “Subindo e
descendo pelas escadas para perder algumas gramas”.
O grama, medida de peso, é palavra masculina.
Socorrinho perdeu a compostura ao incorporar a “Bela da Tarde”,
mas não precisa perder nenhum grama.
O mal continua
O pronome lhe continua sendo usado indevidamente pelos atores e
atrizes, na maioria das novelas.
Certamente, quem diz “eu lhe amo”, põe o amor em risco.
O verbo amar é transitivo direto, isto é, seu complemento (objeto
direto), quando for pronominal, só podem ser os pronomes oblíquos
o/a/os/as (você/vocês) e não lhe (a você).
Não há regionalismo que justifique tal agressão à língua
portuguesa.
Pronunciando mal
O programa Domingão do Faustão acompanhou
o caso da tutela de um menino que foi para um
país asiático com o pai, que lá faleceu. As duas
famílias reivindicavam o pátrio poder da criança.
Foi ouvido o ministro da Justiça que disse: “O
governo vai dar um “adevogado”.
Somente um bom advogado (com d mudo)
conseguiria resolver aquele impasse.
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O dia 20 de janeiro é feriado, pois se comemora o dia do
patrono do Rio de Janeiro – São Sebastião. No dia 1o de
março de 1565, Estácio de Sá fundou a cidade de S. Sebastião
do Rio de Janeiro, que recebeu este nome em homenagem ao
santo padroeiro, daí muita gente confundir essas duas datas.
Doeu nos ouvidos
Ana Paula Padrão é uma
jornalista competente,
mas escorregou numa
apresentação do Jornal da
Globo, aquele de fim de
noite, quando soltou um
“por cada”.
Este é um dos cacófatos
que mais doem nos nossos
ouvidos. Nem a beleza da
moça minimiza um erro
desses.
Relendo Machado
“No meio dos graves problemas
sociais, cuja solução buscam
os espíritos investigadores do
nosso século, a publicação de
um manual de confeitaria só
pode parecer vulgar a espíritos
vulgares. É a restauração do nosso
princípio social. O princípio social
do Rio de Janeiro, como se sabe,
é o doce de coco e a compota de
marmelos.” (Machado de Assis –
Notas Semanais / 1878)
A A A
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Enfrentamento perigoso
“Alguém teria coragem
de enfrentar um boi tão
bravo?”
Ninguém!
Quando um pronome
se refere a 3a pessoa,
mas sem determiná-la
precisamente, temos um
pronome indefinido.
Nesta frase há dois
pronomes indefinidos,
com uma característica:
ambos são invariáveis, isto é, não podem
ser flexionados. (alguém e ninguém).
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Você precisa saber
Temos dois infinitivos: o pessoal e o impessoal, sendo este,
simplesmente, o nome do verbo e não se flexiona. Já o infinitivo
pessoal pode ser flexionado (para eu sair, para tu comeres, para ele
viajar, etc.). O infinitivo pessoal é obrigatoriamente flexionado quando
tem sujeito próprio e diferente do da oração principal do período.
Exemplo: Esta é a última oportunidade de você e de seu pai viajarem
a S. Paulo neste mês. (esta é o sujeito da primeira oração e você e de
seu pai o sujeito da segunda oração, próprio da forma verbal viajarem
que está na 3a pessoa do plural do infinitivo pessoal do verbo viajar).
Educação
“O senso escolar mostrou quantas crianças estão fora da escola.”
Excelente medida! Todos devem ajudar. Melhor ainda se a ortografia
for respeitada. Observe a diferença:
senso – faculdade de apreciar, de julgar, entendimento.
censo – conjunto dos dados estatísticos dos habitantes de uma
cidade, província, estado ou nação.
censo escolar – conjunto de dados estatísticos, tendo apenas como
universo as pessoas em idade escolar.
Período correto: O censo escolar mostrou quantas crianças estão fora
da escola.
Viva Alagoas
A linda Thereza Collor fez um belo poema sobre Alagoas. Entre
outras coisas, ela elogia “o pôr do sol num “inegualável” complexo
lagunar.” Está na revista Caras no 338. Tudo bem, mas o adjetivo
correto é inigualável. Aí a paisagem alagoana ficará ainda mais
bonita.
Curiosidade II
Plantação arundinácea
significa plantio de cana.
j
Curiosidade I
Alguns femininos:
cônsul – consulesa
conde – condessa
alcaide – alcaidessa, alcaidina
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O que é latinidade? Apenas um estado de espírito? Não,
podemos afirmar que latinos são os povos que herdaram
de Roma os seus respectivos idiomas. Hoje, há cerca de 1
bilhão de pessoas nessas condições, o que corresponde a 1/6
da população mundial. É por isso que nasceu, com sede em
Florença (Itália), a Academia da Latinidade.
Economizando palavras desnecessárias:
O rapaz conseguiu um trabalho de “natureza” temporária” Basta:
trabalho temporário.
Maria está com sérios problemas de “ordem financeira”. Basta:
problemas financeiros.
Resultado dos temporais
“Parecem eminentes novos
deslizamentos nas encostas da estrada
Rio-Teresópolis, caso as chuvas
continuem”.
O fato é lamentável, principalmente,
numa rodovia tão bem cuidada.
Lamentável, também, o uso indevido
da palavra eminente.
Observe:
eminente – superior, excelente, ilustre,
alto, elevado.
iminente – que ameaça acontecer
breve, que ameaça cair.
Período correto: Parecem iminentes
novos deslizamentos nas encostas da
estrada Rio-Teresópolis, caso as
chuvas continuem.
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Curiosidade
Polissíndeto é o uso excessivo de conectivos, ligando palavras ou
períodos.
Mas não havia ventos e não havia chuva e não havia sol e não
havia calor e não havia frio e a bem da verdade e não havia nada.
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A Casa das 7 Mulheres
Numa chamada de promoção de uma minissérie da TV Globo,
a moça diz para o soldado: “Na paz ou na guerra jamais me
permitirão que lhe namore.”
Esse namoro vai ser difícil! O verbo namorar é transitivo direto, isto
é, seu complemento é um objeto direto, que não admite o pronome
oblíquo lhe, próprio para objetos indiretos.
Observação: Há gramáticos que aceitam o verbo namorar como
transitivo indireto, no sentido