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RESUMO Constituição, conceito, classificações

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RESUMO Constituição: conceito, conteúdo e classificações
INTRODUÇÃO[footnoteRef:1] [1: Esse arquivo é um resumo; vários trechos e referências a outros autores foram suprimidos. Para acesso ao texto completo consulte a obra original.] 
O vocábulo "Constituição" tem no verbo latino constituere sua origem etimológica e sua conformação semântica, vez que o mesmo exterioriza o ideal de constituir, criar, delimitar abalizar, demarcar'. O termo exprime, pois, o intuito de organizar e de conformar seres, entidades, organismos.
É nessa acepção que se pode considerar a Constituição enquanto o conjunto de normas fundamentais e supremas, que podem ser escritas ou não, responsáveis pela criação, estruturação e organização político-jurídica de um Estado. 
Torna-se, pois, a Constituição, um documento essencial, imprescindível. Todo Estado a possui. Porque todo Estado precisa estar devidamente conformado, com seus elementos essenciais organizados, com o modo de aquisição e o exercício do poder delimitados, com sua forma de Governo e Estado definidas, seus órgãos estabelecidos, suas limitações fixadas, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias asseguradas. 
Em suma, a Constituição é a reunião das normas que organizam os elementos constitutivos do Estado. Todavia, o termo “Constituição” e sua conceituação estão permanentemente em crise, pois os estudiosos não entram em consenso quanto à sua definição. Porém, como Constituições são organismos vivos, documentos receptivos aos influxos da passagem do tempo, em constante diálogo com a dinâmica social, sempre haverá alguma dificuldade em sua delimitação, haja vista sua mutação constante, seu caráter aberto e comunicativo com outros sistemas.
Apesar de na doutrina encontrarmos vários e diferentes conceitos para o termo "Constituição", J.J. Gomes Canotilho considera que uma constituição ideal deve conter os seguintes elementos:
a) deve ser escrita;
b) deve possuir um conjunto de direitos e garantias individuais;
c) deve estabelecer expressamente o princípio da separação dos poderes;
d) deve adotar um sistema democrático formal.
Em razão de a Constituição tratar dos assuntos mais importantes do Estado, ela ocupa no ordenamento jurídico uma posição diferenciada. Poderia ser visualmente ilustrado da seguinte maneira:
Essa estrutura é conhecida como "pirâmide de Kelsen"[footnoteRef:2]. Ela foi pensada pelo professor austríaco para explicitar a ideia de que existe hierarquia entre as normas que integram o ordenamento jurídico, vale dizer, as normas não têm a mesma importância e, por isso, não podem ser colocadas no mesmo patamar (no mesmo plano). Assim, existirão normas que serão superiores e normas que serão inferiores. As inferiores são consideradas normas fundadas pelas superiores (que, por isso, são chamadas de fundantes) e delas retiram seu fundamento de validade, sua razão de existir. [2: Hans Kelsen é um dos juristas mais importantes da história da Teoria do Direito, tendo escrito em 1934 uma obra que é referência mundial no assunto, chamada "Teoria Pura do Direito"] 
A Constituição Federal de 1988 foi elaborada pelo chamado "Poder Constituinte Originário" e promulgada em 05/10/1988. Nossos representantes (eleitos pelo povo), se reuniram em uma Assembleia Nacional Constituinte e, de fevereiro de 1987 até outubro de 1988, se dedicaram à redação da nossa atual Constituição. Essas normas, que foram feitas pelo Poder Originário durante o período citado, são chamadas de normas constitucionais originárias.
Eis um questionamento importante: de outubro de 1988 até o presente momento, nossa Constituição manteve exatamente a mesma redação? Não. Ela foi objeto de diversas emendas constitucionais, que alteraram vários dos seus artigos. Por que isso ocorre? Ora, as Constituições não podem ser imutáveis (ou imodificáveis), pois elas precisam se adaptar às mudanças sociais e à evolução histórica, senão seus textos perdem a sintonia com a realidade. Assim, vez ou outra, nossa Constituição passa por modificações, que nada mais são do que pequenos ajustes que pretendem rejuvenescer seu texto e melhor adequá-lo ao momento histórico. Elas são elaboradas pelo chamado Poder Constituinte Derivado (representado pelo Congresso Nacional) e, por essa razão, também podem ser chamadas de normas constitucionais derivadas.
Em nossa Constituição existem normas constitucionais que são originárias (pois estão no texto constitucional desde 5/10/1988) e normas constitucionais que são derivadas, que foram sendo inseridas ao longo das últimas três décadas. Más repare: pouco importa se a norma constitucional é originária ou derivada, ela é constitucional e, por isso, situa-se no topo da pirâmide de Kelsen, no ponto mais alto do ordenamento jurídico. Isso significa que não há hierarquia entre normas constitucionais originárias e normas constitucionais derivadas, já que, rigorosamente, todas as normas constitucionais estão no mesmo plano, se situam no mesmo patamar.
Apesar de não haver hierarquia entre normas constitucionais originárias e derivadas, há uma importante diferença entre elas. As normas constitucionais originárias não podem ser declaradas inconstitucionais, sendo sempre constitucionais (afinal, elas representam a própria Constituição). Já as normas constitucionais derivadas (as emendas constitucionais) devem ser produzidas em obediência as regras que o Poder Originário inseriu na Constituição quando a elaborou. Isso significa que uma emenda constitucional que desobedeça às normas que regulamentam a sua feitura poderá ser declarada inconstitucional. Em outras palavras: as normas constitucionais originárias não podem ser objeto do controle de constitucionalidade; já as normas constitucionais derivadas podem.
Igualmente importante destacar que não há hierarquia entre as normas constitucionais em razão do conteúdo. Em outras palavras: não seria correto dizer que o art. 5° da Constituição, que consagra direitos e garantias individuais e coletivos é, do ponto de vista hierárquico, superior a um outro artigo constitucional que trate de um tema de menor relevância, como, por exemplo, o art. 242 que, em seu g 2°, determina que "O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal". Independentemente do assunto tratado, se a norma é constitucional ela é superior e está no topo do ordenamento jurídico.
Olhando agora para as normas infraconstitucionais (que são assim chamadas porque estão abaixo da Constituição), tampouco há hierarquia entre elas, pois estão todas elas no mesmo patamar: num nível inferior ao da Constituição. Por isso, leis complementares não são superiores às leis ordinárias ou às medidas provisórias. Todas elas (as infraconstitucionais) inovam no ordenamento jurídico, podem prever direitos, deveres e obrigações.
No mesmo sentido, e ao contrário do que muitos podem imaginar, também não há hierarquia entre leis federais, estaduais e municipais: todas são leis, são normas infraconstitucionais.
Não pense que a lei editada pela União, por ter abrangência nacional, é superior a uma lei editada por um Estado ou por um Município. Por isso, se houver um conflito entre essas leis, a solução não será dada por critério hierárquico. Teremos que verificar qual ente da federação (União, Estados-membros ou Municípios) possui a competência para legislar sobre o tema. Se, por exemplo, a competência para legislar é dos Estados, a lei estadual vai prevalecer; se é dos Municípios, a lei municipal prevalecerá.
Por último, repare que na pirâmide de Kelsen, abaixo das normas infraconstitucionais, temos as normas infralegais. Essas são normas secundárias que não podem gerar direitos, deveres ou prever obrigações. Por serem inferiores ás normas infraconstitucionais (que são chamadas também de normas primárias), as secundárias devem obediência a elas, podendo ser invalidadas e retiradas do ordenamento em caso de desrespeito. Em outras palavras: pense em um decreto regulamentar (que é uma norma infralegal). Ele foi editado para regulamentar uma lei. Elenão cria direitos e deveres, ele só facilita a aplicação de uma lei (ela sim cria os direitos e deveres). E se esse decreto desrespeitar a lei (desobedece-la) ele deverá ser retirado do nosso ordenamento jurídico.
1.2. Constituição: estrutura
Estruturalmente, nossa Constituição pode ser dividida em três partes:
(i) preâmbulo;
(ii) parte permanente (ou parte dogmática) e
(iii) ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias).
O preâmbulo é a primeira parte que você nota na Constituição. 
De início, é preciso conhecer o entendimento firmado pelo STF relativamente ao preâmbulo: ele não é uma norma jurídica, não é uma norma constitucional. Representa um "recado" do legislador constituinte a nós, que somos os destinatários da Constituição. Ele vem antes do texto constitucional, como se fosse uma "carta de intenções" que resume as posições ideológicas (os valores e as intenções) do Poder Constituinte Originário (que é o poder que faz, que elabora, a Constituição). Sua importância é histórica, de guia/diretriz interpretativa. 
Como nossa Corte Suprema (o STF) já definiu que o preâmbulo não é norma constitucional, como responder aos seguintes questionamentos?
(i) Uma lei que violar o preâmbulo da Constituição Federal pode ser considerada inconstitucional?
- Não. Afinal, se o preâmbulo não é uma norma jurídica, ele não pode ser considerado uma norma constitucional. Logo, ele não serve de parâmetro (de paradigma) para a declaração de inconstitucionalidade de uma lei. 
(ii) O preâmbulo é norma de repetição obrigatória paia as demais esferas da federação? Ou seja: os preâmbulos das Constituições estaduais devem reproduzir o preâmbulo da Constituição Federal?
- O STF entende que não. Afinal, se ele não é norma jurídica, não vincula as Constituições estaduais. Por isso, os preâmbulos das Constituições estaduais podem ser diferentes.
Quanto à parte permanente (ou dogmática) da Constituição: ela representa o texto constitucional propriamente dito e se inicia no art. 1° e vai até o 250. São os artigos que organizam o Estado, estruturam os Poderes e estabelecem os direitos e as garantias fundamentais. Essa parte é chamada de "permanente" não porque esses artigos sejam imutáveis e não possam ser modificados: eles podem sim ser alterados por meio das emendas constitucionais feitas pelo Poder Derivado Reformador. O nome dessa parte ("permanente") foi dado justamente para diferencia-la do último fragmento da Constituição, que é a parte transitória.
A parte transitória da Constituição é chamada de ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). Seu intuito é o de facilitar a passagem de uma ordem jurídica antiga para a nova. Numa metáfora, é como se o ADCT fosse um "colchão", que vai amortecer essa mudança de uma Constituição para outra, facilitando o processo de substituição de quando do advento de uma nova Constituição, garantindo a segurança jurídica e evitando o colapso entre um ordenamento jurídico e outro. Suas normas são formalmente constitucionais, embora, no texto da CF/88, apresente numeração própria (veja ADCT —Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). Assim como a parte dogmática, a parte transitória pode ser modificada por reforma constitucional. Além disso, também pode servir como paradigma para o controle de constitucionalidade das leis.
2. CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO
2.1. Introdução
Uma vez que o termo “Constituição” tem mais de um sentido, existem várias concepções que o interpretam dentro do Direito Constitucional, cada qual construída a partir de uma distinta forma de entender e explicar o Direito. Em que pese serem todas muito diversas e possuírem bases teóricas muitas vezes opostas, são de grande valia doutrinária, pois foram possivelmente adequadas em algum momento histórico e fornecem os elementos para a síntese dialética que o constitucionalismo contemporâneo oferta hoje.
Far-se-á referência, nos itens seguintes, aos sentidos e as concepções de maior repercussão que disputam a conceituação adequada do termo.
2.2. Constituição sob o prisma sociológico
Ao conceito sociológico associa-se o alemão Ferdinand Lassalle que, em sua obra "A essência da Constituição", sustentou que a Constituição seria o produto da soma dos fatores reais de poder que regem a sociedade.
Segundo esta concepção, a Constituição é um reflexo das relações de poder vigentes em determinada comunidade política. Assemelhada a um sistema de poder, seus contornos são definidos pelas forças políticas, econômicas e sociais atuantes e pela maneira como o poder está distribuído entre os diferentes atores do processo político. Isso significa que Constituição real (ou efetiva) é, para o autor, o resultado desse embate de forças vigentes no tecido social.
Oposta a esta, tem-se a Constituição escrita (ou jurídica) que, ao incorporar num texto escrito esses fatores reais de poder, os converte em instituições jurídicas. Todavia, essa Constituição escrita não passa de um mero "pedaço de papel", sem força diante da Constituição real, que seria a soma dos fatores reais de poder, isto é, das forças que atuam para conservar as instituições jurídicas vigentes.
Como num eventual embate entre o texto escrito e os fatores reais de poder estes últimos sempre prevalecerão, deverá a Constituição escrita sempre se manter em consonância com a realidade, pois, do contrário, será esmagada (como uma simples "folha de papel") pela sua incompatibilidade com o que vige na sociedade.
Por outro lado, quando há inequívoca correspondência entre a Constituição real e a escrita, estaremos diante de uma situação ideal, em que a Constituição é compatível com a realidade que ela pretende normalizar. Deste modo, para Ferdinand Lassalle, só é eficaz aquela Constituição que corresponda aos valores presentes na sociedade.
	Síntese: Ao conceito sociológico associa-se o alemão Ferdinand Lassalle que sustentou que a Constituição seria o produto da soma dos fatores reais de poder que regem a sociedade.
2.3. Constituição sob o aspecto político
A percepção de Carl Schmitt, elaborada na clássica obra "Teoria da Constituição", ventila um novo olhar sobre o modo de se compreender a Constituição: não mais arraigada à distribuição de forças na comunidade política, agora a Constituição corresponde à "decisão política fundamental" que o Poder Constituinte reconhece e pronuncia ao impor uma nova existência política.
Sob o prisma político, portanto, pouco interessa se a Constituição corresponde ou não aos fatores reais de poder, o importante é que a Constituição se apresente enquanto o produto de uma decisão de vontade que se impõe, que ela resulte de uma decisão política fundamental oriunda de um Poder Constituinte capaz de criar uma existência política concreta, tendo por base uma normatividade escolhida.
Para o autor, a concepção de Constituição passa ainda pela aceitação de que o documento constitucional é um conjunto de normas que não estão conectadas por nenhuma unidade lógica. Os dispositivos só se assemelham no aspecto formal, pois estão todos inseridos num mesmo documento e não podem ser alterados por lei ordinária; sob o ponto de vista material os dispositivos integrantes da Constituição variam: enquanto uns são cruciais para a comunidade (porque referem-se à estruturação do Estado ou aos direitos fundamentais), outros só estão ali para se protegerem de uma modificação por lei ordinária, pois não trazem conteúdo de grande relevância jurídica e política.
A leitura que o autor faz dessa diversidade de normas na Constituição cria uma dicotomia que as divide em "constitucionais" (aquelas normas vinculadas à decisão política fundamental) e em "leis constitucionais" (aquelas que muito embora integrem o texto da Constituição, sejam absolutamente dispensáveis por não comporem a decisão política fundamental daquele Estado).
Desta forma, constitucionais são somente aquelas normas que fazem referência à decisão política fundamental, constituindo o que hoje denominamos de "normas materialmente constitucionais". Todos os demais dispositivos inseridos na Constituição,mas estranhos a esses temas, são meramente leis constitucionais, isto é, nos dizeres atuais: somente formalmente constitucionais.
	Síntese: A percepção de Carl Schmitt ventila um novo olhar sobre o modo de se compreender a Constituição: não mais arraigada à distribuição de forças na comunidade política, agora a Constituição corresponde à "decisão política fundamental" que o poder constituinte reconhece e pronuncia ao impor uma nova existência política.
2.4. Constituição em sentido jurídico
Na percepção jurídica a Constituição se apresenta enquanto norma superior, de obediência obrigatória e que fundamenta e dá validade a todo o restante do ordenamento jurídico.
Esta concepção foi construída a partir das teses do mestre austríaco Hans Kelsen, o autor da Teoria Pura do Direito. A teoria pura não é somente o título de uma obra e sim de um empreendimento que tencionava livrar o Direito de elementos estranhos a uma leitura jurídica de seu objeto — isto é, visava desconsiderar a influência de outros campos do conhecimento como o político, social, econômico, ético e psicológico, uma vez que estes em nada contribuíam para a descrição das normas jurídicas —possibilitando que o Direito se elevasse à posição de verdadeira ciência jurídica.
Kelsen estruturou o ordenamento de forma estritamente jurídica, baseando-se na constatação de que toda norma retira sua validade de outra que lhe é imediatamente superior.
Segundo o autor, no mundo das normas jurídicas uma norma só pode receber validade de outra, de modo que a ordem jurídica sempre se apresente estruturada em normas superiores fundantes —que regulam a criação das normas inferiores — e normas inferiores fundadas — aquelas que tiveram a criação regulada por uma norma superior.
Essa relação de validade culmina em um escalonamento hierárquico do sistema jurídico, uma vez que as normas nunca estarão lado a lado, ao contrário, apresentarão posicionamentos diferenciados em graus inferiores e superiores.
Para exemplificar sua teoria, Kelsen sugere que partamos de um fenômeno jurídico individual, como uma sentença. Acaso se pergunte por que a mesma é obedecida, o autor soluciona a questão remetendo o questionador ao código que autoriza ao juiz decidir o caso através da prolação da decisão — já que o código funciona como norma superior fundante que confere validade jurídica à sentença.
Mas a esta pode seguir-se outra pergunta, relativa à razão de o código ser válido. Por mais uma vez Kelsen nos remete a norma superior que dá validade ao código: o legislador está devidamente autorizado pela Constituição a editar as leis; deste modo, ao fazê-lo, está obedecendo a Constituição.
Esta última, todavia, também compõe o sistema normativo e, como todas as outras normas, depende que algo lhe confira validade: se uma norma somente adquire tal status a partir de uma outra norma, será preciso admitir que existe uma norma fundamentando a Constituição.
Pode ser que a atual Constituição vigente em determinado Estado tenha sido criada mediante uma lei autorizada pela Constituição anterior, retirando sua validade deste documento. Mas este último também pode ter sua validade questionada e assim sucessivamente, até se chegar à primeira Constituição daquele Estado, provavelmente criada através da emancipação de um Estado frente a outro —revolução ou declaração de independência.
Ainda assim, frente a essa primeira Constituição (que não esteja em disputa e seja, portanto, eficaz), a questão da validade permaneceria imperiosa, principalmente porque se não for devidamente resolvida, toda a cadeia de fundamentação deixa de fazer sentido: afinal, acaso se perca o fundamento da Constituição, esta não estará apta a validar mais nada, os códigos perderiam seu suporte e, por conseguinte, os atos que nele se fundamentam também. O sistema desmoronaria.
Essa cadeia de validade ou hierarquia do Direito deve, portanto, encontrar um ponto final sob pena de se chegar ao infinito, já que toda norma dependerá de uma superior e assim indefinidamente.
A busca por esse último alicerce da ordem normativa levou Kelsen a construir a teoria da norma fundamental, que irá justificar a validade objetiva de determinada ordem jurídica positiva. Chega-se a esta norma básica quando não se admite um único passo para trás na cadeia de validade jurídica, pois ela será a norma superior por excelência, única a não depender de outra que lhe dê suporte.
E esta independência é característica que decorre do próprio sentido que ela possui: não é um documento factual, mas sim algo pressuposto. 
Ao se valer, pois, dessa pressuposição — de que há uma norma básica, através da qual todas as outras podem ser identificadas numa sequência de atribuição de validade —, Kelsen demonstrou se submeter à influência de Kant no que diz respeito a aceitação de que em todo ramo do conhecimento haverá de se reconhecer alguma pressuposição.
Para finalizar a análise da concepção jurídica, deve-se dizer ainda que foram desenvolvidos dois sentidos para o vocábulo "Constituição":
(i) no primeiro, lógico-jurídico, "Constituição" significa a "norma fundamental hipotética", que não é posta, mas sim pressuposta, e que positiva apenas o comando "obedeçam a Constituição positiva";
(ii) o segundo, jurídico-positivo, traz "Constituição" como norma positiva suprema, que fundamenta e dá validade a todo o ordenamento jurídico, somente podendo ser alterada se obedecidos ritos específicos.
Em conclusão, a concepção puramente normativa da Constituição não considera se o documento constitucional é estabelecido por alguma vontade política, tampouco se reflete fielmente os fatores reais de poder que regem a sociedade. Ao contrário, vê a Constituição enquanto um conjunto de normas jurídicas prescritivas de condutas humanas, devidamente estruturadas e hierarquizadas num ordenamento escalonado, que encontra seu fundamento de validade definitivo e último na norma fundamental, ponto de convergência de todas as normas integrantes do sistema jurídico e fundamento de validade transcendental de toda a estrutura normativa.
	Síntese: Na percepção jurídica, a Constituição se apresenta enquanto norma superior, de obediência obrigatória, que fundamenta e dá validade a todo o restante do ordenamento jurídico.
Esta concepção foi construída a partir das teses do mestre austríaco Hans Kelsen, que estruturou o ordenamento deforma estritamente jurídica, baseando-se na constatação de que toda norma retira sua validade de outra que lhe é imediatamente superior.
2.5. Concepção culturalista da Constituição (a busca por alguma conexão entre os sentidos anteriormente apresentados)
Esta acepção desenvolve-se a partir da consideração de que a Constituição é um produto da cultura, pois assim como a cultura é o resultado da atividade criativa humana, o Direito também o é.
Para esta concepção, a Constituição se fundamenta simultaneamente em fatores sociais, nas decisões políticas fundamentais (frutos da vontade política do poder constituinte) e também nas normas jurídicas de dever ser cogentes. Com isso, congrega todas as concepções anteriores, criando o ambiente jurídico favorável ao surgimento de uma Constituição total, com aspectos econômicos, morais, sociológicos, filosóficos e jurídicos reunidos com o fito de construir uma unidade para a Constituição.
Esse conceito de Constituição total agrega, numa mesma e unitária perspectiva, variados aspectos (econômicos, morais, sociológicos, filosóficos e jurídicos), o que afasta a visão estreita acarretada pelo isolacionismo das acepções anteriormente estudadas.
Para a teoria culturalista não parece adequado explicar a Constituição como um mero fato social, como pretenderam os adeptos da concepção sociológica. Isso porque em que pese as perspectivas social, econômica e história influenciarem, claro, o desenvolvimento da ordem jurídica, esta última não se reduz a um simples produto das infraestruturas sociais. 
Também a limitação da Constituição à decisão política fundamental tem sua importância —especialmente no que se refere à robustez conferidaà doutrina do poder originário enquanto tradução da vontade política da nação —mas não explica satisfatoriamente o conceito. 
Por último, a percepção jurídica também não parece, aos partidários da leitura culturalista, uma acepção completa haja vista se dissociar em demasia das bases empíricas que a produziram, desconsiderando completamente a realidade social concreta que ela visa normalizar.
É nesse sentido que alguns autores têm demonstrado inequívoca predileção pelo culturalismo como forma de entender e explicar o conceito de Constituição. 
	Síntese: Esta acepção desenvolve-se a partir da consideração de que a Constituição é um produto da cultura, pois assim como a cultura é o resultado da atividade criativa humana, o Direito também o é.
Para esta concepção, a Constituição se fundamenta simultaneamente em fatores saciais, nas decisões políticas fundamentais (frutos da vontade política do poder constituinte) e também nas normas jurídicas de dever ser cogentes.
3. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
Não de maneira uníssona, a doutrina, no intuito de classificar as Constituições, apresenta variados critérios tipológicos, alguns meramente formais, outros pretensamente substanciais Na tentativa de sistematizar os mais usuais utilizados pelos diversos autores pátrios, analisaremos, a seguir, os considerados tradicionais e úteis à compreensão adequada do tema.
3.1. Quanto à origem
a) Democrática
Igualmente denominada promulgada, popular ou votada, esta Constituição tem seu texto construído por intermédio da participação do povo, de modo direto ou indireto (por meio de representantes eleitos). Homenageia o Princípio Democrático na medida em que confirma a soberania popular, demonstrando que Governo legítimo é aquele que se constrói afirmando a vontade e os interesses de seus governados.
São promulgadas as Constituições que se originam de um órgão constituinte composto de representantes do povo, eleitos para o fim de as elaborar e estabelecer. Como exemplo desta tipologia, podemos citar as Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988.
b) Outorgada
Considera-se outorgada (ou imposta, ditatorial, autocrática e carta constitucional) a Constituição que é construída e estabelecida sem qualquer resquício de participação popular, sendo imposta aos nacionais como resultado de um ato unilateral do governante. O povo não participa do seu processo de formação, sequer indiretamente. Outorgada é a Constituição em que não há colaboração do povo na sua elaboração: o Governo a concede.
Usualmente são Constituições ditatoriais e, como exemplo, podemos citar a Constituição francesa de 1814, que Luís XVIII, valendo-se de poderes de monarca absoluto, outorgou ao país, bem como as Constituições Brasileiras de 1824, 1937, 1967 e a EC n° 1/1969.
c) Cesarista
Similarmente à outorgada, a Constituição intitulada cesarista tem seu texto elaborado sem a participação do povo. No entanto, e diferentemente daquela, para entrar em vigor dependerá de aprovação popular que a ratifique depois de pronta.
Nada obstante a população ser chamada ao processo de formação do documento constitucional, não há que se falar em texto democrático exatamente porque tal integração se dá apenas formalmente, através da concordância popular a um documento já pronto, inteiramente formatado, sem nenhuma possibilidade de inserção de conteúdo novo.
A participação dos indivíduos, nesses casos, não é realmente democrática —afinal ocorre no intuito de conferir aparência de legítima (de roupagem democrática) à tirânica e autoritária vontade do detentor do poder. 
d) Dualistas (ou convencionadas)
Também intituladas pactuadas, as Constituições dualistas —absolutamente antiquadas em face do constitucionalismo contemporâneo —são formadas por textos constitucionais que nascem do instável compromisso (ou pacto) entre forças opositoras, no caso entre o monarca e o Poder Legislativo (representação popular), de forma que o texto constitucional se constitua alicerçado simultaneamente em dois princípios antagônicos: o monárquico e o democrático.
Em resumo, as Constituições dualistas são o produto desse precário diálogo entre a monarquia enfraquecida de um lado e a burguesia em franca ascensão de outro, representando um texto que limita o poder do rei — já que o submete aos esquemas constitucionais — e acaba por cristalizar as chamadas "monarquias constitucionais" ou "representativas", em claro abandono das "monarquias absolutas".
3.2. Quanto à estabilidade (mutabilidade ou processo de modificação)
a) Imutável
Reconhecida também pelos termos "granítica", "intocável" e "permanente, é uma Constituição dotada de uma fantasiosa pretensão à eternidade. Não permite qualquer mudança de seu texto, pois não prevê procedimento de reforma, e baseia-se na crença de que não há órgão constituído com legitimidade suficiente para efetivar alterações num texto criado por uma "entidade suprema e superior" (normalmente considerada divina).
Atualmente está completamente em desuso e é apenas uma reminiscência histórica — porquanto inimaginável na atualidade um documento constitucional que ignore, em absoluto, os influxos sociais e políticos.
A estabilidade das Constituições é importante para assegurar certa permanência e durabilidade das instituições, mas não deve ser absoluta, significando imutabilidade. Não há Constituição imutável diante da realidade social cambiante, pois não é ela apenas um instrumento de ordem, mas deverá sê-lo, também, de progresso social. Deve-se assegurar certa estabilidade constitucional, sem prejuízo da constante adaptação das constituições às exigências do progresso, da evolução e do bem-estar social.
A doutrina enumera as leis fundamentais antigas, como o Código de Hamurabi e a Lei das XII Tábuas, como exemplos de Constituições imutáveis.
b) Transitoriamente imutável
Visando preservar a redação original de seu texto nos primeiros anos de vigência, determinadas Constituições impedem a reforma de seus dispositivos por certo período. Foi o que fez a Constituição Imperial de 1824, que estabeleceu, no art. 174 que seu texto somente poderia ser modificado após 4 anos de sua vigência.
c) Fixa
Igualmente intitulada silenciosa — já que não há em seu texto o procedimento de modificação de seus dispositivos —, reconhece a possibilidade de seu texto sofrer reforma, porém apenas pelo órgão que a criou (poder constituinte originário). Hoje tidas por relíquias históricas podem ser exemplificadas pelo Estatuto do Reino da Sardenha de 1848 (que depois vem a ser a Constituição da Itália) e a Constituição Espanhola de 1876.
d) Rígida
A alteração desta Constituição é possível, mas exige um processo legislativo mais complexo e solene do que aquele previsto para a elaboração das demais espécies normativas, infraconstitucionais. Tais regras diferenciadas e rigorosas são estabelecidas pela própria Constituição e tornam a alteração do texto constitucional mais complicada do que a feitura das leis comuns.
Temos como exemplo de Constituição rígida a Constituição Federal de 1988, que exige o respeito a um procedimento bem mais severo e rigoroso do que aquele estabelecido para a construção da legislação ordinária para a aprovação de suas emendas constitucionais — conforme dispõe o art. 60, CF/88, há que haver a aprovação em cada Casa do Congresso Nacional, Câmara dos Deputados e Senado Federal, em dois turnos, em cada qual sendo necessária a obtenção da maioria de 3/5 dos componentes da Casa respectiva.
Há, todavia, uma leve divergência doutrinária a respeito desta classificação. Alexandre de Moraes entende ser a Constituição de 1988 super-rígida, pois, além de suscetível a processo legislativo diferenciado, possui, segundo o autor, normas imutáveis (as cláusulas pétreas, constantes do art. 60, § 4°, CF/88). 
Não é este, todavia, o entendimento da doutrina majoritária, que compreende a Constituição de 1988 enquanto rígida, sob a justificativa de que o que caracteriza a rigidez é exatamente o procedimento diferenciado de alteração —marcado por quórum de votação qualificado, rejeição aoturno único, ampliação das discussões — e não a existência de um núcleo insuperável, insuscetível à ação restritiva ou abolitiva do poder reformador, que pode existir ou não nos documentos rígidos.
Por fim, outro exemplo de Constituição notadamente rígida é a dos Estados Unidos da América, que somente pode ser modificada se a proposta de alteração for aprovada por 2/3 dos componentes das duas Casas do Congresso (Câmara de Representantes e Senado) e se, depois disso, for ratificada por três quartos dos Estados da Federação nas Assembleias Legislativas ou em Convenções estaduais.
e) Flexível
Contrapõe-se à rígida, uma vez que pode ser modificada por intermédio de um procedimento legislativo comum, ordinário, não requerendo qualquer processo específico para sua alteração.
O impacto mais relevante da adoção de um texto classificado como flexível é a inexistência de supremacia formal da Constituição sobre as demais normas, afinal todas são elaboradas, modificadas e revogadas por rito idêntico. Nesse sentido, a própria lei ordinária contrastante com o teor do texto constitucional, o altera. Por outro lado, nota-se entre o texto constitucional e o restante do corpo normativo uma supremacia material, de conteúdo —sendo constitucionais aquelas normas que regulamentam a estrutura política do Estado.
Tradicionalmente a doutrina aponta a Constituição inglesa como exemplar de texto flexível. Outros textos flexíveis são os da Nova Zelândia, da Finlândia e da África do Sul.
f) Transitoriamente flexível
Possuidora de flexibilidade temporária, autoriza durante certo período a alteração de seu texto através de um procedimento mais simples, baseado no rito comum; vencido este primeiro estágio, passa a somente permitir a modificação de suas normas por intermédio de um mecanismo diferenciado, quando, então, passa a ser considerada rígida.
Porque tal Constituição não é ao mesmo tempo flexível e rígida (é primeiro flexível, e depois passa a condição de documento rígido) não pode ser intitulada semirrígida ou semiflexível (tipologia apresentada no item seguinte). Constitui uma forma autônoma, cunhada doutrinariamente para dar conta de Constituições como a de Baden, de 1947 ou a da Irlanda de 1937.
g) Semirrígida
Estamos diante de uma Constituição semirrígida —também conhecida como semiflexível — quando o mesmo documento constitucional pode ser modificado segundo ritos distintos, a depender de que tipo de norma esteja para ser alterada. Neste tipo de Constituição, alguns artigos do texto (os que abrigam os preceitos mais importantes) compõem a parte rígida, de forma que só possam ser reformados por meio de um procedimento diferenciado e rigoroso, enquanto os demais (que compõe a parte flexível) se alteram seguindo processo menos complexo, menos dificultoso.
No Brasil, a Constituição do Império de 1824 caracterizava-se pela semi-rigidez. É o que seu artigo 178 dispunha que se consideravam como constitucionais apenas as matérias que se referissem aos limites e tribulações do poder político e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos. Tudo o mais, embora figurasse na Constituição por não ser constitucional, podia ser alterada por lei ordinárias.
3.3. Quanto à forma
a) Escrita
Escrita é a Constituição na qual todos os dispositivos são escritos e estão inseridos de modo sistemático em um único documento, de forma codificada —por isso se diz que sua fonte normativa é única. A elaboração do texto pelo órgão constituinte se dá num momento único. 
Estas Constituições são instrumentais e conferem ao documento constitucional vantajosos atributos, tais como o efeito racionalizador, o efeito estabilizante, a segurança jurídica, a calculabilidade e a publicidade das normas.
b) Não escrita
É aquela Constituição na qual as normas e princípios encontram-se em fontes normativas diversas, todas de natureza constitucional e de mesmo patamar hierárquico, sem qualquer precedência de uma sobre as demais.
Contrariamente às Constituições escritas —onde todas as normas constitucionais podem ser encontradas em um único documento —nas Constituições não escritas, em razão de as fontes normativas constitucionais serem múltiplas, as normas constitucionais estão esparsas e podem ser encontradas tanto nos costumes e na jurisprudência dos Tribunais, como nos acordos, convenções e também nas leis.
Mas atenção: a Constituição não escrita não possui somente normas não escritas. Ao contrário, é formada pela junção destas com os textos escritos! Como exemplo, além das Constituições de Israel e a da Nova Zelândia, podemos mencionar a Constituição inglesa.
No mais, quanto à forma, as constituições são escritas ou não escritas, conforme se achem consolidadas em texto formal e solene, ou se baseiem em usos e costumes, convenções e textos esparsos, bem assim na jurisprudência sedimentada em torno desses elementos de índole constitucional.
3.4. Quanto ao modo de elaboração
a) Dogmática
Também denominada ortodoxa, traduz-se num documento necessariamente escrito, elaborado em uma ocasião certa, historicamente determinada, por um órgão competente para tanto. Retrata os valores e os princípios orientadores da sociedade naquele específico período de produção e os insere em seu texto, fazendo com que ganhem a força jurídica de dispositivos cogentes, de observância obrigatória.
Percebe-se que a inserção dos valores e princípios que regulam a vida em sociedade em determinado momento histórico no texto maior os transforma em dogmas —não por outra razão as Constituições assim formadas recebem a denominação de dogmáticas.
b) Histórica
Sempre não escrita, é uma Constituição que se constrói aos poucos, em um lento processo de filtragem e absorção de ideais por vezes contraditórios; não se forma de uma só vez como as dogmáticas. Em verdade, é o produto da gradativa evolução jurídica e histórica de uma sociedade, do vagaroso processo de cristalização dos valores e princípios compartilhados pelo grupo social. Como exemplo contemporâneo de Constituição histórica, temos a inglesa.
Em termos de estabilidade, pode-se dizer que a histórica é mais duradoura e sólida, enquanto a dogmática apresenta sensível tendência à instabilidade. Isso porque enquanto a histórica é resultado de uma paulatina maturação dos diferentes valores que existem na sociedade — o que resulta em uma constituição demoradamente pensada e acordada pelas distintas forças políticas atuantes — a dogmática, no mais das vezes, sedimenta valores contingenciais, interesses passageiros, e estes, conforme vá se alterado o tecido social, vão se tornando obsoletos, inadequados, o que acarreta a necessidade de seguidas modificações do texto para que a indispensável correspondência entre a Constituição e a realidade a ser normalizada seja mantida.
3.5. Quanto à extensão
a) Analítica
Igualmente apresentada como "prolixa" (ou "longa", "ampla", larga", "extensa"), sua confecção se dá de maneira extensa, ampla, detalhada, já que regulamenta todos os assuntos considerados relevantes para a organização e funcionamento do Estado e muito mais.
Essa Constituição não se preocupa em cuidar apenas de matérias constitucionais, essenciais à formação e organização do aparelho estatal e da vida em sociedade; ao contrário, descreve os pormenores da vida no Estado, através de uma infinidade de normas de conteúdo dispensável à estruturação estatal. É uma Constituição que se desdobra numa infinidade de normas no afã de constitucionalizar todo o conjunto da vida social. Por resultado, temos uma Constituição inchada, com número sempre volumoso de artigos.
Como exemplo, podemos citar justamente nossa Constituição da República de 1988.
b) Concisa
Sintética (concisa, sumária ou reduzida) é a Constituição elaborada de forma breve, com preocupação única de enunciar os princípios básicos para a estruturação estatal, mantendo-se restrita aos elementos substancialmente constitucionais.
Por ser um documento sucinto, elaborado de modo bastante resumido, seu texto se encerra após estabelecer os princípios fundamentais de organização do Estado eda sociedade. Tem-se como exemplo desse tipo de Constituição a dos Estados Unidos da América, de 1787, possuidora de apenas sete artigos originais.
3.6. Quanto ao conteúdo
a) Material
Definida a partir de critérios que envolvam o conteúdo das normas, em uma Constituição deste tipo considera-se constitucional toda norma que tratar de matéria constitucional, independentemente de estar tal diploma inserido ou não no texto da Constituição. A doutrina ainda não pacificou a definição do que seja ou não matéria constitucional, entretanto parece-nos existir acordo no que tange ao reconhecimento de que alguns assuntos seriam indispensáveis a um texto constitucional, por serem essenciais à organização e estruturação do Estado. Este rol mínimo seria formado, ao menos, pelos seguintes temas: estruturação da forma de Estado, regime, sistema e forma de Governo; repartição de atribuições entre os entes estatais; direitos e garantias fundamentais do ser humano.
b) Formal
Nesta acepção, constitucional são todas as normas inseridas no texto da Constituição, independentemente de versarem ou não sobre temas tidos por constitucionais, isto é, assuntos imprescindíveis à organização política do Estado. Em outros termos, são constitucionais os preceitos que compõe o documento constitucional, ainda que o conteúdo de alguns destes preceitos não possa ser considerado materialmente constitucional.
Assim, nas Constituições formais teremos alguns dispositivos só formalmente constitucionais (estão inseridos no documento, mas no que se refere ao conteúdo não podem ser considerados constitucionais), enquanto outros serão formal e materialmente constitucionais, em razão de estarem no texto da Constituição e tratarem de matéria considerada constitucional.
No mais, as explicações postas acima permitem as seguintes conclusões:
(i) o sentido formal de uma Constituição só é possível se ela for escrita, ou seja, se possuir todas as suas normas agregadas em um único documento — afinal é justamente este texto codificado e sistematizado que reunirá a totalidade das normas e princípios constitucionais;
(ii) na acepção formal, como só podem ser consideradas constitucionais as normas integradas ao texto da Constituição, todas as demais normas, independentemente do conteúdo delas, serão consideradas infraconstitucionais, isto é, inferiores à Constituição;
(iii) todas as normas infraconstitucionais, independentemente da matéria que regulem, são inferiores à Constituição, por isso lhe devem respeito e obediência;
(iv) qualquer norma infraconstitucional que contrarie a Constituição será considerada inconstitucional. Nesse sentido, mesmo que uma norma infraconstitucional de conteúdo materialmente constitucional afronte o previsto numa norma constitucional que não tenha conteúdo materialmente constitucional (isto é, seja só formalmente constitucional), esta última prevalecerá; por ser a Constituição —com todas assuas normas — um documento superior aos demais.
(v) Por último, não há hierarquia normativa entre as normas constitucionais; todas possuem o mesmo status, a mesma dignidade normativa, independentemente de qual seja seu conteúdo.
3.7. Quanto à finalidade
a) Garantia
Também denominada "Constituição-quadro", restringe o poder estatal, criando esferas de não ingerência do poder público na vida dos indivíduos. Por possuir um corpo normativo repleto de direitos individuais oponíveis ao Estado, diz-se que traz para os sujeitos liberdades-negativas ou liberdades-impedimentos, que estabelecem espaços de não atuação e não interferência estatal na vida privada.
A Constituição garantia é um documento com "olhar" direcionado ao passado, pois se preocupa em garantir os direitos já conquistados outrora, protegendo-os em face de uma possível (e indesejável) interferência do Estado.
b) Balanço
Igualmente intitulada "Constituição-registro", é própria dos regimes socialistas — as Constituições de 1924, 1936 e 1977 da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas são exemplos. Esta tipologia constitucional, cujo "olhar" se volta para o presente, procura explicitar o desenvolvimento atual da sociedade e ser um espelho fiel capaz de traduzir os patamares em que se encontram a economia e as instituições políticas.
É a Constituição que descreve e registra a organização política estabelecida. Na verdade, segundo essa doutrina, a Constituição registraria um estágio das relações de poder. Por isso é que a URSS, quando alcançado novo estágio na marcha para o socialismo, adotaria nova Constituição, como o fez em 1924, a 1936 e 1977. Cada uma de tais Constituições faria o balanço do novo estágio.
c) Dirigente
Contrapondo-se à Constituição-garantia, consagra um documento engendrado a partir de expectativas lançadas ao futuro, arquitetando um plano de fins e objetivos que serão perseguidos pelos poderes públicos e pela sociedade. É marcada, pois, pela presença de programas e projetos voltados à concretização de certos ideais políticos.
Comum em seu texto é a presença de normas de eficácia programática, destinadas aos órgãos estatais com a inequívoca finalidade de fixar os programas que irão guiar os poderes públicos na consecução dos planejamentos traçados. Tal qual a Constituição de Weimar, de 1919, e a Constituição da República Portuguesa, de 1976, a nossa atual Constituição da República é um dos clássicos exemplos utilizados para apresentar a Constituição dirigente.
3.8. Quanto à interpretação
a) Nominalista
Possuidora de normas tão precisas e inteligíveis que dispensa, para ser compreendida, qualquer outro método interpretativo que não o gramatical ou literal. Todas as possíveis ocorrências constitucionais da vida fática já possuem, previamente, resposta no texto constitucional: basta aplicar na literalidade a norma jurídica cabível na hipótese que solucionada está a controvérsia.
Atualmente é impensável um documento constitucional com dispositivos de conteúdo tão exato e certo que dê conta de abraçar toda a colossal realidade fática (excessivamente complexa) a ser normalizada. A importância dessa tipologia constitucional hoje é, portanto, meramente histórica.
b) Semântica
Em sentido inverso à nominalista, Constituição semântica é aquela cujo texto exige a aplicação de uma diversidade de métodos interpretativos para ser realmente entendido. Nesta tipologia, onde se enquadram os documentos constitucionais atuais, a interpretação literal (ou gramatical) não é suficiente para a compreensão e deve ser aliada a diversos outros processos hermenêuticos no intuito de viabilizar uma ampla assimilação do documento constitucional.
3.9. Quanto à correspondência com a realidade (critério ontológico)
Desenvolvido em meados do século XX pelo alemão Karl Loewenstein, este critério pretende avaliar o grau de comunicabilidade entre o texto constitucional e a realidade a ser normalizada, partindo de uma teoria ontológica das Constituições. 
Efetivamente diferente das classificações apresentadas até aqui —que se propunham a analisar os dispositivos constitucionais em si mesmos, sem estabelecer qualquer conexão ou correspondência com o mundo externo —esta classificação se define a partir de um parâmetro extrínseco à Constituição, já que o intuito do autor é examinar o documento constitucional considerando sua maior ou menor proximidade com a realidade do processo de poder. Vejamos quais são as (três) modalidades que surgem a partir dessa tipologia classificatória:
a) Normativa
Nesta Constituição há perfeita sintonia entre o texto constitucional e a conjuntura política e social do Estado, de forma que a limitação ao poder dos governantes e a previsão de direitos à população sejam estritamente observadas e cumpridas. O texto constitucional é de tal forma eficaz e seguido à risca que, na prática, vê-se claramente a harmonia entre o que se estabeleceu no plano normativo e o que se efetiva no mundo fático. O resultado é o reconhecimento de que há verdadeira correspondência entre o que está escrito na Constituição e a realidade, afinal, os processos políticos de poder se submetem àsnormas constitucionais, sendo por elas guiados. Um bom exemplo é a Constituição Americana de 1787.
b) Nominativa
Esta já não é capaz de reproduzir com exata congruência a realidade política e social do Estado, mas anseia chegar a este estágio. Seus dispositivos não são, ainda, dotados de força normativa capaz de reger os processos de poder na plenitude, mas almeja-se um dia alcançar a perfeita sintonia entre o texto (Constituição) e o contexto (realidade). Daí advém a virtude principal deste tipo de Constituição: na sua função prospectiva, de almejar num futuro próximo a adequação ideal entre normas e realidade fálica, é bastante educativa.
Outro ponto de destaque é que, assim como a Constituição normativa, é dotada, inequivocamente, de valor jurídico. Nossa Constituição de 1988 (aliás, como toda Constituição nominal) nasceu com o ideal de ser normativa — isso porque saíamos de uma época ditatorial (Constituição semântica), que somente legitimava o poder autoritário, com o intuito de construir um texto absolutamente compatível com a nova realidade democrática que se instaurava —mas, obviamente, não conquistou essa finalidade, pois ainda hoje existem casos de absoluta ausência de concordância entre o texto constitucional e a realidade. É, pois, um exemplo de Constituição nominal (ou nominalista). Outros exemplos: as Constituições brasileiras de 1934 e 1946.
c) Semântica
É a Constituição que nunca pretendeu conquistar uma coerência apurada entre o texto e a realidade, mas apenas garantir a situação de dominação estável por parte do poder autoritário.
Típica de estados ditatoriais, sua função única é legitimar o poder usurpado do povo, estabilizando a intervenção dos ilegítimos dominadores de fato do poder político. Por essa razão é tida como um simulacro de Constituição, afinal trai o significado do vocábulo "Constituição" que é, necessariamente, um documento limitador do poder, com finalidade garantista, e não um corpo de normas legitimadoras do arbítrio.
Não faltam exemplos na nossa história constitucional de documentos semânticos: além da Carta de 1937, temos as de 1967 e a EC n. 1/1969. 
3.10. Quanto à ideologia (ou quanto à dogmática)
a) Eclética (ou heterogênea)
O convívio harmônico entre várias ideologias é a marca central de seu texto. Nesta tipologia constitucional, por não haver uma única força política prevalente, o texto constitucional é produto de uma composição variada de acordos heterogêneos, que denota pluralidade de ideologias (muitas vezes colidentes) e sinaliza a ocorrência de possíveis duelos (judiciais, legislativos e administrativos) entre os diversos grupos políticos, a serem pacificados pelos operadores jurídicos.
Nossa Constituição de 1988, assim como a portuguesa de 1976, é exemplo fiel desse tipo de texto.
b) Ortodoxa
Esta Constituição é construída tendo por base um pensamento único, que afasta o pluralismo na medida em que descarta qualquer possibilidade de convivência entre diferentes grupos políticos e distintas teorias. Só há espaço para uma exclusiva ideologia —não há espaço para conciliação de doutrinas opostas. São exemplos a Constituição da China, de 1982, e a da extinta União Soviética, de 1977.
3.11. Quanto à unidade documental (quanto à sistemática)
Esta classificação só tem algum sentido para as Constituições escritas, pois é o texto escrito que será unitextual (dando origem à Constituição orgânica) ou pluritextual (estabelecendo a Constituição inorgânica). Passemos ao significado de cada uma delas.
a) Orgânica
Constituição orgânica é aquela disposta em uma estrutura documental única, na qual todos os dispositivos estão articulados de modo coerente e lógico. Não há espaço para identificação de normas constitucionais fora da Constituição —esta última exaure os dispositivos constitucionais, não sendo possível a existência de normas com valor constitucional que estejam fora de seu texto.
Em resumo, nas Constituições orgânicas temos um documento único que concentra todos os preceitos constitucionais, não existindo normas constitucionais esparsas no ordenamento jurídico. Pode-se dizer que todas as Constituições brasileiras são exemplos desta tipologia.
b) Inorgânica
Em contraposição à unitextual, temos a pluritextual (ou inorgânica) que é formada por diversas estruturas documentais, ou seja, suas normas estão dispersas em variados documentos, pois diferentes textos irão compor o que denominaremos "Constituição".
A doutrina apresenta como exemplar desta tipologia a Constituição da França de 1875.
3.12. Quanto ao sistema
Esta classificaçãodivide os texto constitucionais em principiológicos e preceituais, a depender da preponderância de regras ou princípios, vale dizer, do grau de abstração das normas que predominam.
a) Principiológica
Nesta os princípios ganham relevo, são as normas que preponderam. E como princípios possuem grau de abstração significativo, para serem concretizados necessitarão de mediação legislativa ou judicial. A doutrina considera nossa atual Constituição como representante desta modalidade.
b) Preceitual
Constituído conferindo primazia às regras, o texto da Constituição preceituai possui normas com alto grau de precisão e especificidade, o que permite uma imposição direta e coercitiva de seus dispositivos. Em virtude da predominância de normas com grau superior de determinabilidade, as Constituições preceituais tendem a ser excessivamente detalhistas. A Constituição mexicana de 1917 é citada pela doutrina pátria como exemplo.
3.13. Quanto ao local da decretação
a) Heteroconstituição (ou Constituição heterônoma)
Raras são as Constituições que não se originam no Estado que irão viger, surgindo em Estado diverso daquele em que o documento vai valer, ou então elaboradas por algum organismo internacional. A heteroconstituição é, por isso, bastante incomum e causa justificável perplexidade, afinal o documento constitucional vai ser feito fora do Estado onde suas normas produzirão efeitos e regerão normativamente a realidade fática.
São exemplos de Constituição heterônoma as de países como Nova Zelândia, Canadá e Austrália, pois, como integrantes da Commonwealth, suas Constituições foram aprovadas por leis do Parlamento Britânico. Igualmente pode ser citada a Constituição cipriota, produto de acordos feitos em Zurique, na década de 1960, entre Grécia, Turquia e a Grã-Bretanha.
b) Autoconstituição
Também intitulada autônoma, é a Constituição elaborada dentro do próprio Estado que irá estruturar normativamente e reger. Em regra, as Constituições são deste tipo —inclusive a nossa atual, de 1988.
3.14. Quanto ao papel da Constituição (ou função desempenhada pela Constituição)
A função que será desempenhada pela Constituição no ordenamento jurídico dá origem à Constituição-lei, à Constituição-moldura e à Constituição-fundamento (ou Constituição-total). Estas se diferenciam a partir da maior ou menor liberdade de atuação atribuída ao legislador ordinário em relação ao texto constitucional, isto é, se distanciam frente à capacidade e autonomia que o legislador possui (ou não) em conformar a ordem jurídica.
a) Constituição-lei
Inviável em documentos rígidos e consagradores do princípio da supremacia formal da Constituição — como é o caso do nosso texto de 1988 —, nesta acepção tem-se Constituições equiparadas às demais leis do ordenamento, desprovidas de status hierárquico diferenciado.
Nesse sentido, como as normas constitucionais estão em idêntico patamar da legislação ordinária, não possuindo superioridade em relação a estas, não são capazes de moldar a atuação do legislador e funcionam, unicamente, como diretrizes não vinculantes.
Em suma, na Constituição-lei a estrutura constitucional é formada por normas que se situam no mesmo nível das demais que compõem o ordenamento, de forma que a Constituição não é vista como parâmetro ordenador do agir legislativo mas, tão somente, como um conjunto de recomendações e orientações indicativas, que não necessariamente serão observadas e cumpridas.
b) Constituirão-moldura
Numa interessante metáfora, nesta concepçãoa Constituição é só a moldura de um quadro vazio, funcionando como limite à atuação do legislador ordinário, que não poderá atuar fora dos limites previamente estabelecidos. Assim como num quadro a pintura está restrita aos limites da moldura que o guarnece, também no ordenamento a atuação legislativa estaria circunscrita ao perímetro estabelecido pela Constituição.
Dessa forma, a preocupação da jurisdição constitucional seria, tão somente, a de verificar se o legislador agiu dentro dos contornos da moldura constitucional, isto é, se o "desenho" legislativo está dentro do quadro ouse extrapolou as bordas definidas. Seguindo com a representação simbólica, é como se não importasse o que o legislador ilustrou no quadro, ao contrário, o que interessa é saber se ele se manteve dentro dos limites do quadro!
c) Constituição-fundamento
Vista enquanto lei fundamental, esta Constituição diferencia as normas constitucionais das demais, na medida em que as situa num plano de superioridade valorativo que as torna cogentes para legisladores e indivíduos. A Constituição é entendida como lei fundamental, não somente de toda a atividade estatal e das atividades relacionadas ao Estado, mas também a lei fundamental de toda a vida social.
A atuação do legislador torna-se abreviada, vez que seu papel está reduzido a interpretar as normas constitucionais e efetivá-las. O espaço de conformação do ordenamento jurídico do legislador fica, pois, encurtado, na medida em que sua atividade legislativa resume-se a um mero instrumento de realização da Constituição.
3.15. Quanto ao conteúdo ideológico (ou quanto ao objeto)
Esta classificação visa identificar o conteúdo ideológico que permeia a construção do texto constitucional.
a) Liberal
Tendo como exemplos clássicos a Constituição dos EUA, de 1787 e a francesa, de 1791, Constituições liberais são aquelas que correspondem às já mencionadas Constituição-garantia. Visam delimitar o exercício do poder estatal, assegurar liberdades individuais, oponíveis ao Estado, e as garantias que assegurem a realização dos direitos por parte dos indivíduos. São Constituições que veem o Estado circunscrito às funções de repressão e proteção, despossuído de políticas de desenvolvimento social e econômico.
b) Social
Típicas de um constitucionalismo pós-liberal, as Constituições sociais passam a consagrar em seus textos não só direitos relacionados à liberdade, mas também prerrogativas de cunho social, cultural e econômico. A atuação do Estado deixa de ser meramente negativa, como era nas Constituições liberais, para se tornar positiva, na medida em que fica claro que as políticas estatais são eficientes vetores para o alcance de uma igualdade material. Como muitas vezes as normas que celebram o agir estatal, na consecução de fins previamente traçados e delineados, são normas programáticas, definidoras de planos para o futuro, é natural a associação entre a Constituição social e a dirigente.
3.16. Outras classificações
Ademais das classificações já sistematizadas, os constitucionalistas pátrios apresentam outras que nos parecem úteis ao entendimento do tema.
a) Suave
É aquela que, numa sociedade extremamente diversificada e fragmentada por interesses plurais, não prevê um único modo de vida e o estabelece como parâmetro exclusivo a ser seguido por seus cidadãos.
Diversamente, a Constituição dúctil (ou suave) assegura várias opções e escolhas de formas de vida, pois sua tarefa não é a de definir qual o único projeto de vida cabível e válido, e sim o de funcionar como um substrato para o desenvolvimento de distintos projetos pessoais. O Direito Constitucional é visto enquanto um conjunto de matérias primas para a composição de um edifício, sendo que a Constituição é a fundação dessa construção. O alicerce (base) dessa obra deverá ser robusto e estável o suficiente para suportar todas as variadas formas de edificação que emergirão das diferentes combinações dos materiais.
b) Plástica
Seria uma Constituição que permitiria constantes releituras, cujo texto seria permanentemente reinterpretado para melhor acompanhar as mutações da sociedade.
Dois pontos ainda são merecedores de destaque:
(i) a plasticidade do documento constitucional não é característica particular de textos flexíveis, afinal, Constituições rígidas podem igualmente estar abertas a novos influxos sociais, políticos, econômicos e culturais que a vida cotidiana oferta. Este é exatamente o caso da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988;
(ii) no direito brasileiro identifica-se a mobilidade interpretativa do texto como o fenômeno da mutação constitucional. Mutação é uma alteração da Constituição que não incide sobre seu texto e sim opera nas normas que pairam subjacentes a ele, de forma que o texto permaneça intacto, íntegro, enquanto o sentido que dele se extrai (a interpretação da norma escrita) é modificada. É, pois, um mecanismo informal de mudança da Constituição, de viés nitidamente hermenêutico, que não atinge o texto e sim a interpretação que se faz dele.
c) Expansiva
Com a pretensão de dar conta de textos constitucionais que, comparativamente aos anteriores que regiam a vida daquele mesmo Estado, têm seu conteúdo ampliado, essa classificação indica Constituições que conferem juridicidade a novas situações e estendem o tratamento jurídico de diversos outros temas já presentes nos documentos constitucionais anteriores.
Como exemplo, pode-se citar nossa Constituição da República de 1988: esta, além do acréscimo feito no tratamento de alguns assuntos, como os direitos e garantias fundamentais —cujo rol foi significativamente incrementado —igualmente trouxe inovações, tal qual a consagração expressa do princípio da dignidade da pessoa humana enquanto fundamento do Estado Democrático de Direito, reconhecendo o legislador constituinte de 1988 que não é a pessoa humana que existe em função do Estado, e sim o contrário.
d) Em Branco
Nesta Constituição, as alterações no texto são viáveis. No entanto os aspectos procedimentais que orientarão as mudanças não estão previstos na Constituição. A reforma, se for feita, subordinar-se-á ao regramento imposto pelo órgão revisor, que estipulará ele mesmo as regras formais e os obstáculos de conteúdo que deverão ser observados quando da reestruturação do documento. Traçando um paralelo, a Constituição em branco não possui um artigo tal qual o art. 60 da atual Constituição brasileira, que direciona o poder reformador quando da feitura das emendas constitucionais, explicitando limitações que rigorosamente deverão ser acatadas. A doutrina cita as Constituições francesas de 1799 e de 1814 como exemplares de Constituições em branco.
Fonte: MASSON, Nathalia. “Manual de Direito Constitucional”. Editora Juspodivm, 2021.

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