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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA VARA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA COMARCA DE RONDONÓPOLIS/MT 
 
GABRIEL MATOS, já devidamente qualificado nos autos da Ação Penal que lhe move a Justiça Pública, processo em epígrafe, por seu advogado infra-assinado (procuração em anexo), vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, apresentar.
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEIO DE MEMORIAIS
com fundamento nos art. 403 §3º do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e direito a seguir colocadas: 
I - DOS FATOS
Foi apresentada a denuncia em face do réu, imputando-lhe incursos nas penas dos artigos 147 do Código Penal.
Sob a alegação de que no dia 03 de março de 2018, por volta das 20h00min, no bar Mendes, situado na Avenida Amazonas n.º 310, nesta Comarca, o denunciado ameaçou causar mal injusto e grave contra Maria, sua esposa e companheira há 12 (doze) anos. 
Isso porque, conforme consta dos autos de investigação em anexo, na data e local dos fatos, o denunciado teria encontrado sua esposa acompanhada de um sujeito desconhecido. Questionada sobre sua identidade, a vítima revelou ao denunciado que seria Marcos, sujeito com o qual mantinha um relacionamento extraconjungal há 8 (oito) meses. Ainda, a vítima também revelou ao acusado que desejava se separar. Surpreendido com tais revelações, o denunciado disse em alto e bom tom que “jamais aceitaria a separação”, causando à vítima fundado temor de mal injusto e grave, afinal, segundo informações repassadas pela própria vítima aos policiais, o denunciado estaria bastante irritado com toda aquela situação (termos de depoimentos de fls. 07/09). 
Após a ameaça, o acusado evadiu o local. Entretanto, por volta das 23h00min do mesmo dia, a vítima, acompanhada por Policiais Militares, encontraram o acusado quando ele se encontrava em sua residência. E, neste momento, foi imediatamente autuado em flagrante. 
Deste modo, imputou ao denunciado a pratica do crime de ameaça, com incurso nas iras do artigo 147, “caput” do Código Penal.
A audiência de de Instrução e Julgamento foi designada para o dia 10 de maio de 2018, às 16h30min horas. Na data designada, aberta a audiência, a vítima foi ouvida e, na sequência, procedeu-se os depoimentos das testemunhas de acusação. Ato contínuo, as testemunhas de defesa foram ouvidas. Entretanto, neste momento, mesmo sob os protestos da Defesa do Acusado, o MM Juiz indeferiu todas as perguntas formuladas pela defesa que diziam respeito à discussão havida entre vítima e Réu no bar.
O argumento utilizado pelo Magistrado para indeferir tais questionamentos foi de que a resposta a essas perguntas se constituíram em opinião pessoal das testemunhas, o que não é permitido.
Não havendo diligências complementares, a audiência foi encerrada, com o Juiz invocando o §3º do artigo 403 do CPP para determinar a abertura de vistas sucessivas às partes para apresentação de alegações finais por meio de memoriais escritos.
II – DA TEMPESTIVIDADE
Nos termos do art. 403, §3º do CPP o juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. 
Considerando que o acusado foi intimada no dia 10 de maio de 2018 para sua apresentação, esse teria até 15/05/2018 para apresentar sua defesa.
Sendo assim é tempestiva a presente resposta à acusação.
III. PRELIMINARES
III.1 - DA INÉPCIA DA DENÚNCIA EM RELAÇÃO AO DELITO PREVISTO NO ART. 147 DO CP (AMEAÇA)
Como se sabe, a peça acusatória deve ser apresentada contendo o máximo de informações possíveis sobre os fatos apurados para, assim, garantir ao Acusado o direito pleno de contra-argumentação (contraditório e ampla defesa). 
Observa-se que o Ministério Público, sem narrar os fatos com todas as suas circunstâncias, busca a responsabilização do acusado pela prática do crime previsto no art. 147 do CP. Ressalte-se que o único argumento utilizado foi de que o Acusado causou mal injusto e grave utilizando, para tanto, somente o depoimento prestado pela vítima. 
Nesse ponto, a falta de clareza da denúncia é expressiva. A simples leitura da denúncia não possibilita, sequer minimamente, a compreensão do ambiente fático. Além disso, não há qualquer apontamento das circunstâncias que subsidiaram tal conduta delitiva. 
Assim, pergunta-se: 
i) Em quais circunstâncias esse crime foi praticado? 
ii) Qual foi o teor da conversa entre o acusado e a ofendida? 
iii) Qual o real receio ou temor causado à vítima pela frase dita pelo Acusado?
Evidentemente, caso essas informações estivessem inseridas na denúncia, o Acusado poderia adequadamente se defender. Entretanto, evidentemente não é isso que ocorre. Novamente percebe-se nessa imputação a mais significativa ofensa aos Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa inserta na denúncia.
Dessa forma, requer-se a nulidade absoluta do processo a partir do recebimento da denúncia, por ofensa aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório (art. 5°, LV, CF), da culpabilidade e da presunção de inocência (art. 5°, LVII, CF), e em conformidade com o art. 564, III, a, do CPP. 
Após a declaração da referida nulidade, requer-se a reconsideração do recebimento da denúncia em questão para considerá-la inepta, vez que não houve a clara descrição fática dos elementos e circunstâncias que serviram de base para esse juízo de imputação, em conformidade com o art. 395, I, CPP. 
III.2 AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA (ART. 395, III do CPP).
Na denuncia foram imputados ao réu o crime de corrupção passiva disposto no art. 147 do CP.
Art. 147 - Ameaçar alguém por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção de um a seis meses ou multa
Alternativamente, tal questão pode ser analisada (e resolvida) também sob o prisma da ausência de justa causa para a ação penal. Afinal, infere-se dos autos que a denúncia quanto a este tipo penal está baseada única e exclusivamente no termo de declaração da ofendida. 
Há, no referido documento, apenas uma manifestação unilateral da ofendida, relatando ter sido vítima do suposto crime de ameaça narrado da denúncia. Nenhum outro elemento foi produzido! Justamente por isso, o Acusado não teve a oportunidade de apresentar sua versão quanto a estes fatos. 
Considerando apenas a declaração da suposta vítima como base para a oferecimento da denúncia, resta demonstrada, de forma inequívoca, a ausência de justa causa. Em resumo, o Ministério Público optou por não recolher indícios mínimos de autoria para promover a ação penal. Insiste-se: não há prova, indício ou referência da prática de qualquer crime. 
O acusado foi denunciado pelo simples fato de figurar como suposto autor de um delito, cujo elemento de informação baseia-se única e exclusivamente em uma manifestação unilateral da suposta vítima. Assim sendo, caso não se entenda inépcia da denúncia, requer, alternativamente, que a mesma seja rejeitada em razão da ausência de justa causa, diante da ausência de elementos que justifiquem o oferecimento da presente denúncia em relação ao crime previsto no art. 147 do CP, em conformidade com o art. 395, III, CPP
III.3 DA NULIDADE EM RAZAO DA NEGATIVA DE PERGUNTAS AS TESTEMUNHAS. CERCEAMENTO DE DEFESA
Qualquer violação à norma legal que traga prejuízo às partes, é passível de anulação. Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.
Desta forma, para a alegação de nulidade no processo, é fundamental a demonstração do prejuízo sofrido pela parte.
No caso, na audiência de instrução, todas as perguntas formuladas pela Defesa, que diziam respeito à discussão havida entre vítima e Réu no bar, foram indeferidas pelo MM Juiz.
O argumento utilizado pelo Magistrado para indeferir tais questionamentos foi de que a resposta a essas perguntas se constituíram em opinião pessoal das testemunhas, o que não é permitido.
Ora, no caso acima é evidente a ofensa a direitos constitucionalmente protegidos, o contraditórioe à ampla defesa, ou seja, violação ao devido processo legal, pois não houve observância quanto as regras da ordem de interrogatório.
O art. 5º, LV da CR/88 traz:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
 Veja o que traz o art. 400, do CPP:
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.
§ 1o As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.
§ 2º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes. 
No caso todas as perguntar as testemunhas foram indeferidas, sendo elas essenciais para esclarecimento dos fatos no processo, causando assim, cerceamento de defesa, uma vez que tal indeferimento acarretou limitação a sua ampla defesa e produção de provas.
Por se tratar de um ato referente ao direito de defesa e garantia essencial ao processo penal, a não observância causa nulidade absoluta, sendo o direito de defesa condição essencial de qualquer processo, vez que se não houver estará ferindo o Estado Democrático de Direito.
Causando consequentemente sua nulidade absoluta por ofensa a ampla defesa e do contraditório com base nos arts. 5°, LV, CF, e 400 do CPP e em conformidade com o art. 564, III, e, do CPP. 
IV. DO MÉRITO
IV.1 DA AUSÊNCIA DE TIPICIDADE.
A inicial acusatória imputa ao acusado a prática do delito de ameaça, previsto no artigo 147 do Código Penal. 
De acordo com Cézar Roberto Bittencourt, tem-se que: “O crime de ameaça consiste na promessa feita pelo sujeito ativo de um mal injusto e grave feita a alguém, violando sua liberdade psíquica. O mal ameaçado deve ser injusto e grave.”
Ainda, segundo o mesmo autor, a “ameaça para constituir crime deve ser idônea, séria e concreta, sendo capaz de causar efetivo medo à vítima”. 
Assim sendo, conclui-se que o crime de ameaça contempla certas elementares que não foram preenchidas no caso concreto: restou ausente a seriedade do mal prometido, capaz de causar medo, temor ou receio efetivo à vítima.
De acordo com Guilherme Nucci, ameaçar significa procurar intimidar alguém, anunciando-lhe a ocorrência de mal futuro, ainda que próximo. Ainda, segundo o autor, requer a lei que haja o anúncio de mal injusto (ilícito ou até mesmo imoral) e grave (sério, verossímil e com capacidade de gerar temor). Portanto, não sendo injusto e grave, a conduta do agente seria atípica.
Da lição da doutrina tem-se que:
O crime de ameaça consiste na promessa feito pelo sujeito ativo de um mal injusto e grave feita a alguém, violando sua liberdade psíquica. O mal ameaçado deve ser injusto e grave.
Nota-se, portanto, que o crime de ameaça contempla elementares que não foram preenchidas no caso em debate: resta ausente o anuncio de mal injusto, capaz de influir negativamente no ânimo da ofendida, e a gravidade causando-lhe temor e receio de que a promessa venha a ser cumprida.
Como já extensamente explanado, ocorreu somente a afirmação de que NÃO ACEITARIA A SEPARAÇÃO, sendo tal afirmação no calor da emoção. 
Ora excelência, aonde esta o mal injusto? Ilícito? Ou Imoral?. Ademais não é comum do homem médio, que tal afirmação cause medo e temor na ofendida.
Afinal, o acusado foi surpreendido com as revelações de sua esposa, com quem convivia há mais de 12 (doze) anos. Sua reação não se deu de maneira extrapolada ou de forma a causar receio ou temor à vítima, mas sim dentro dos limites do possível e do racional, considerando toda a situação de adultério cometida pela esposa do acusado.
Ademais, na produção de provas, principalmente a testemunhal, NÃO houve qualquer depoimento que comprovasse o mal e injusto que sua afirmação provocou, não havendo qualquer provas nos autos de que ocorreu efetivamente ameaça.
Nesta senda, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná já se manifestou pela atipicidade da ameaça condicionada:
APELAÇÃO CRIME. ARTS. 129, § 9º, 147 E 150, § 1º, TODOS DO CÓDIGO PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. AMEAÇA CONDICIONAL. AUSÊNCIA DE TIPICIDADE. ABSOLVIÇÃO. LESÕES CORPORAIS E VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO. CONDENAÇÃO MANTIDA. AUTORIA E MATERIALIDADE SUFICIENTEMENTE COMPROVADAS. PALAVRA FIRME E COERENTE DA VÍTIMA. RELEVÂNCIA PROBATÓRIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO PARA ABSOLVER O RÉU DO CRIME DE AMEAÇA, COM A CONSEQUENTE REDUÇÃO DA CARGA PENAL. (TJPR - 1ª C. Criminal - AC - 873812-9 - Paranavaí - Rel.: Macedo Pacheco - Unânime - J. 21.06.2012) (sem grifos no original)
Portanto, não se pode dar seriedade e idoneidade às palavras proferidas pelo acusado, muito menos se pode comprovar que a intenção do denunciado era de intimidar à vítima, uma vez que a traição é algo que influencia de maneira considerável as reações de um sujeito, o que não se daria de maneira diferente com o acusado. 
Isto posto, é devida a absolvição sumária do Denunciado, uma vez que sua conduta não configura crime, nos termos do art. 397, III, do Código de Processo Penal, que dispõe:
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Restou ausente a seriedade do mal prometido, capaz de causar medo, temor ou receio efetivo à vítima, não caracterizando assim o crime de ameaça previsto no art. 147 do CP, impondo a absolvição sumária do acusado, de acordo com o art. 397, III do CPP.
Nesse sentido, considerando que o fato narrado pela inicial acusatória não constitui o crime de ameaça previsto no art. 147 do CP, requer a absolvição sumária do acusado, de acordo com o art. 397, III do CPP.
VI – DOS PEDIDOS 
 
Por todo o exposto preliminarmente, requer seja:
· declarada a nulidade absoluta do processo, pela inépcia da denúncia (por não conter a clara descrição fática e pela ausência das circunstâncias que serviram de base para a acusação), conforme art. 395, I, CPP. Alternativamente, a denúncia deve ser rejeitada por ausência de justa causa, em atenção ao art. 395, III do CPP.
· Declaração de nulidade absoluta por cerceamento de defesa, a partir da audiência de instrução e julgamento.
· No mérito, requer-se a absolvição sumária do acusado, com fundamento no art. 397, III do CPP, uma vez que o fato narrado na denúncia não constitui crime.
Nesses termos, pede deferimento.
(LOCAL), 14 de maio de 2018. 
[Assinatura do Advogado] 
[OAB...]

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