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ATIVIDADE AVALIATIVA 3 – ECONOMIA POLÍTICA ___________________________________________________________________________ Karl Marx, nascido de 1818 na Alemanha, contribuiu muito para o debate da economia política com o seu livro O Capital (1867). O intuito da obra é, como já diz o seu subtítulo, realizar críticas às ideias “clássicas” da economia política (ricardiana e smithiana). O autor tenta de forma multidisciplinar entender o processo de formação do capitalismo, empregando alguns dos conceitos fundamentais para a compreensão do funcionamento do modo de produção capitalista. O sistema produtivo em questão, que segundo o autor é insuficiente e gera desemprego compulsório, é formado por classes, as quais se baseiam nos regimentos da propriedade privada e, consequentemente, desemboca-se na retenção dos meio de produção. O materialismo-histórico-dialético conduz Marx na investigação das contradições da formação e do processo de continuidade do sistema produtivo capitalista. A sua extensa obra toca em várias questões e reflexões acerca do processo capitalista. Vamos nos conter aqui em trabalhar dois eixos centrais no entendimento da formação do capital. O primeiro se refere à compreensão de Marx quanto ao conceito de valor. Neste ponto devemos sinalizar qual a principal diferença teórica entre Marx e os autores clássicos da economia política (Ricardo e Smith). O entrelaço realizado entre a forma dinheiro e a forma mercadoria constituem a abordagem do segundo eixo. Os mecanismos que relacionam as duas formas se direcionam na construção do capital. Aqui, é fundamental entendermos a substância do dinheiro como capital, diferenciando-se do seu inverso: capital como dinheiro. TEORIA DO VALOR EM MARX O valor para Marx não é determinado pela utilidade da mercadoria, mas sim pelo trabalho empregado na sua formação. A questão é mais profunda e complexa em sua teoria, uma vez que a mercadoria tem duplo caráter. Se baseando na observação materialista dos processos, Marx denomina de trabalho concreto todo empenho físico-material realizado na formação da mercadoria. Tal forma de trabalho é o que determina o valor-uso da mercadoria. O conceito de valor-uso para o autor não pode ser ressignificado como utilidade, visto que este termo se refere a um processo de valorização subjetiva: um bem tem diferentes utilidades para diferentes pessoas. Marx simboliza o valor-uso como o fruto da relação direta do homem com a mercadoria, dado que suas propriedades materiais tenham a capacidade de suprir as necessidades humanas. Por outro lado, também é apresentado o conceito de trabalho abstrato, o qual é a realização ou valoração não material de uma mercadoria. Sua consequência é a criação de um valor abstrato, chamado de valor-troca, o qual é aceito socialmente. A dissonância entre a realização do trabalho concreto com o abstrato, em uma mesma mercadoria, gera a contradição fundamental do capitalismo: o valor de uso não é necessariamente igual ao valor de troca (as horas trabalhadas em uma mercadoria podem não corresponder diretamente ao seu valor). A concretização de tal processo contraditório se realiza a partir do momento em que uma mercadoria (corpórea) é composta por duas substâncias ao mesmo tempo, o valor-troca e o valor-uso. A transmutação dos valores ocorre na transição das mercadorias no mercado. Ora uma mercadoria se apresenta em valor de troca (pra quem vende) e ora ela se torna valor de uso (pra quem compra). Em resumo, podemos dizer que o valor-uso, que é determinado pelo trabalho abstrato, se refere às necessidades humanas de uma sociedade em determinado contexto histórico. Já o valor- troca é um valor abstrato, que não representa as necessidades, sendo apenas uma abstração produtiva, que acaba por distorcer as relações materiais da mercadoria. Vamos usar um exemplo para concretização conceitual. Imaginemos dois períodos históricos: antes da pandemia e durante a pandemia. Quando observamos a fabricação de máscaras artesanais (fabricadas por costureiros e costureiras) nestes dois períodos, supondo que máscaras eram confeccionadas antes da pandemia, conseguimos observar o movimento de dissociação do valor de uso com o valor de troca. Para produzir uma máscara, utiliza-se uma quantidade x de pano, uma quantidade y de elástico, uma quantidade z de linha e uma agulha. Todos esses materiais foram produzidos por alguém, ou seja, existe trabalho concreto (valor de uso) nas suas composições físicas. Um(a) costureiro(a) soma à quantidade de trabalho concreto dos materiais o seu trabalho concreto de confecção da máscara. O resultado final é o tempo total de trabalho utilizado para a produção da mercadoria, o que determina o valor de uso. Quando essa máscara entra no mercado, a transmutação do valor acontece. Pra trocá-la por outra mercadoria, o seu valor é estimado em termos de troca (valor de troca), abstraindo-se o trabalho concreto empregado na sua confecção. O trabalho abstrato é regido por uma espécie de contrato social, visto contexto histórico vigente. Pensemos no valor de troca de uma máscara antes da pandemia e durante a pandemia: a mudança é radical, visto toda conjuntura vivenciada. Contudo, o trabalho concreto continua o mesmo. Usa-se o mesmo tempo de trabalho para produzir os materiais e a própria máscara. VALOR PARA MARX E PARA OS CLÁSSICOS Smith e Ricardo vêm o trabalho como a fonte do valor, ou seja, o valor é determinado pela quantidade de horas trabalhadas. Marx vai mais fundo na questão. Assim como os autores clássicos, ele também discorda da utilidade como determinante de valor, dando ênfase à valorização via trabalho. Porém, a questão para o autor é mais complexa, não sendo apenas uma simples realização do valor pelo trabalho. A diferença fundamental de Marx para os outros dois autores está na diferenciação do trabalho concreto para o trabalho abstrato. Smith e Rircado tem uma visão mais generalista da situação, pois consideram o trabalho como uma forma integra e puramente aplicável. Marx vai além, mostrando que nem todo trabalho concreto gera valor, pois existe o fator de abstração de trabalho, que é aquilo que vai determinar o valor de troca da mercadoria. A contradição entre o concreto e o abstrato é o que destoa o valor de uso com o de troca, no qual os bens são validados dentro do mercado. Assim, pode-se afirmar que os valores comedidos dentro de uma sociedade não representam puramente o trabalho concreto (de fato), uma vez que para Marx é o trabalho abstrato que forma o valor de troca. O autor busca, com esses pressuposto, criticar a ideia de valor dos clássicos, tentando mostra que o valor existente pode não ser representante do trabalho. O CIRCUITO DA MERCADORIA EM MARX Para entender o modelo de produção vigente, é necessário compreender a forma de circulação dos bens. Karl Marx diferencia, em primeira vista, o mercantilismo do capitalismo por meio dos circuítos das mercadorias. Devemos denotar os dois componentes usados nestes circuitos. Primeiro temos a mercadoria (M), aquilo que é produzido ou extraído da natureza, composto por insumos e trabalho. Em segundo lugar temos o dinheiro, equivalente universal, representante dos valores de troca das mercadorias e ao mesmo tempo mercadoria (ouro). O primeiro circuito abordado é o da mercadoria virando dinheiro, que vira outra mercadoria. Neste caso, o dinheiro age apenas como um facilitador das trocar, meio representativo, no qual um vendedor está disposto a aceitar e o comprador está disposto a pagar. O dinheiro do período histórico era o ouro (ou/e a prata), o qual também é uma mercadoria. Desta forma, um bem produzido, constituído de trabalho concreto (e valor de uso), é voltado para a venda, e não para o consumo do seu produtor. Neste momento, o valorde uso da mercadoria é transmutado em seu valor de troca. O vendedor, almejando o consumo de outro bem, aceita trocar a mercadoria por ele produzida por dinheiro, o intermediário de trocas. Como o dinheiro é aceito socialmente, este individuo vai usá-lo para adquirir outra mercadoria de mesmo valor de troca que a vendida por ele, a qual passa ter valor de uso para aquele que a compra. Em suma, a mercadoria vira dinheiro, e o dinheiro vira outra mercadoria, mas a equivalência permanece. O que muda é a forma da mercadoria. Esse tipo de intercâmbio de mercadorias é o que define o mercantilismo. M-D-M A economia capitalista funciona de outra forma, invertendo-se o circuito. Neste modelo o dinheiro funciona como capital e multiplica-se, “quase magicamente”. O detentor do dinheiro, o capitalista, passa a aquirir mercadorias não para sustentar suas necessidades, mas para transformar esta em mais dinheiro. Com esse objetivo em mente, o dinheiro deixar de ser usado como meio de troca e se torna capital, uma vez que o poder aquisitivo é usado para se produzir mercadorias progressivamente. O dinheiro em sua forma capital compra insumos, equipamentos e força de trabalho. Esses fatores em conjunto (que também são mercadorias) geram a mercadoria em produção (M-M’), a qual se direciona para o mercado e é trocada por dinheiro. Todavia, essa quantia de dinheiro do fim do circuito é maior do que a quantidade inicial, existindo-se assim um mais valor no processo produtivo. A mais-valia é a apropriação de parte da força de trabalho pelo capitalista, o qual a compra por um valor de troca e a “consome” seu valor de uso no processo produtivo. A diferenciação entre o valor de uso e o valor de troca do trabalho, é o que vai ser apropriado, a mais- valia. D-M-D’ O processo é cíclico e acumulativo. Marx supõe que boa parcela do mais-valia retorna ao momento inicial do circuito, produzindo-se cada vez mais, gerando-se retornos crescentes ad infinitum. O CAPITAL É DINHEIRO E O DINHEIRO É CAPITAL? Na teoria de Marx, no circuito D-M-D’, temos o dinheiro agindo como capital, ou seja, esse recurso deixa de ser apenas um simples intermediário de trocas para agir mais imperativamente, adquirindo meios de produção. Desta forma, o uso do dinheiro pelo capitalista não tem a finalidade de adquirir valor de uso, o qual iria suprir suas necessidades. Visa-se a obtenção de recursos para produzir mais mercadorias, a quais não serão utilizadas pelo capitalista, mas se direcionaram ao mercado de bens, objetivando-se mais dinheiro (pela apropriação da mais-valia). Logo, podemos concluir que o dinheiro é (ou age como) capital. A finalidade é a obtenção do mais-valia, ou seja, de mais valor de troca. Desta forma o circuito do capital é retroalimentado. Contudo, o capital não pode ser dinheiro, pois a função deste e gerar o mais valor e intensificar o processo de produção, e não servir como meio de troca ou como um mero intermediário entre dois bens. De forma geral, o capital é o recurso que é usado na implementação do processo produtivo capitalista, o qual forma a mercadoria. O capital não é transformado em dinheiro no circuito, pois a intenção não é obter valor de uso, assim como o dinheiro faria, mas gerar o mais valor, ampliar o poder (valor) de troca do capitalista.
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