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Aula 05 - Ação Penal

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Aspectos Processuais Penais | 
Ação Penal 
www.cenes.com.br | 1 
 
 
 
 
 
DISCIPLINA 
ASPECTOS PROCESSUAIS PENAIS 
 
CONTEÚDO 
Ação Penal 
Aspectos Processuais Penais | 
Ação Penal 
www.cenes.com.br | 2 
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Aspectos Processuais Penais | 
Ação Penal 
www.cenes.com.br | 3 
Sumário 
Sumário ............................................................................................................................ 3 
1 Ação Penal ................................................................................................................. 5 
1.1 Condição da ação penal ............................................................................................................ 5 
1.2 Condições genéricas da ação penal ........................................................................................... 8 
1.2.1 Possibilidade jurídica do pedido ................................................................................................................... 9 
1.3 Legitimidade ad causam ........................................................................................................... 9 
1.3.1 Legitimidade ativa ....................................................................................................................................... 10 
1.3.2 Legitimidade passiva ................................................................................................................................... 11 
1.3.3 Legitimidade da pessoa jurídica .................................................................................................................. 12 
1.4 Interesse de agir .................................................................................................................... 14 
1.4.1 Necessidade ................................................................................................................................................ 15 
1.4.2 Adequação .................................................................................................................................................. 15 
1.4.3 Utilidade ...................................................................................................................................................... 16 
1.4.3.1 Interesse de agir e a prescrição em perspectiva ............................................................................... 16 
1.5 Justa causa ............................................................................................................................ 17 
1.5.1 Justa causa duplicada .................................................................................................................................. 18 
1.6 Condições específicas da ação penal ....................................................................................... 19 
1.7 Classificação das ações penais condenatórias ......................................................................... 21 
1.7.1 Ação penal de iniciativa pública .................................................................................................................. 21 
1.7.1.1 Ação penal pública incondicionada ................................................................................................... 21 
1.7.1.2 Ação penal pública condicionada a representação ........................................................................... 22 
1.7.1.3 Ação penal pública subsidiária da pública ......................................................................................... 23 
1.7.2 Ação penal de iniciativa privada ................................................................................................................. 24 
1.7.2.1 Ação penal privada personalíssima ................................................................................................... 24 
1.7.2.2 Exclusivamente privada ..................................................................................................................... 25 
1.7.2.3 Ação penal privada subsidiária da pública ........................................................................................ 26 
1.8 Princípios da Ação Penal ........................................................................................................ 26 
1.8.1 Princípios comuns ....................................................................................................................................... 27 
1.8.1.1 Princípio da inércia (ne procedat iudex ex officio) ............................................................................. 27 
1.8.1.1.1 Habeas corpus .............................................................................................................................. 28 
1.8.1.1.2 Execução penal ............................................................................................................................. 29 
1.8.1.2 Princípio do ne bis in idem ................................................................................................................. 29 
1.8.1.2.1 Sentença absolutória por juízo incompetente ............................................................................. 30 
1.8.1.2.2 Jurisprudência ............................................................................................................................... 30 
1.8.2 Princípio da intranscendência ..................................................................................................................... 32 
1.9 Princípios específicos da ação penal pública ........................................................................... 33 
1.9.1 Princípio da obrigatoriedade ...................................................................................................................... 33 
1.9.1.1 Controle da obrigatoriedade ............................................................................................................. 34 
1.9.1.2 Ação penal privada subsidiária da pública ........................................................................................35 
1.9.1.3 O MP pode pugnar a absolvição do réu ............................................................................................ 35 
1.9.1.4 Exceções a obrigatoriedade .............................................................................................................. 35 
1.10 Princípio da obrigatoriedade (da ação penal pública) .............................................................. 36 
1.11 Exceções ao princípio da obrigatoriedade ............................................................................... 36 
Aspectos Processuais Penais | 
Ação Penal 
www.cenes.com.br | 4 
1.11.1 Acordo de Leniência (art. 87, Lei n. 12.529/11) ..................................................................................... 37 
1.11.2 Colaboração Premiada (art. 4º, Lei n. 12.850/13) .................................................................................. 38 
1.11.3 Acordo de não persecução penal (art. 28-A do CPP) ............................................................................. 40 
1.12 Princípio da indisponibilidade (da ação penal pública) ............................................................ 41 
1.13 Exceção ao Princípio da indisponibilidade (Suspensão Condicional do Processo) ...................... 41 
1.14 Princípio da (in)divisibilidade da ação penal pública ................................................................ 44 
2 Princípios da Ação Privada ....................................................................................... 45 
2.1 Princípio da Oportunidade da Ação Privada ............................................................................ 45 
2.2 Princípio da Disponibilidade ................................................................................................... 46 
2.3 Princípio da Indivisibilidade .................................................................................................... 46 
2.3.1 Fiscalização pelo Ministério Público do princípio da indivisibilidade ......................................................... 48 
3 Ação penal pública condicionada à representação ................................................... 50 
3.1 Natureza jurídica ................................................................................................................... 51 
3.2 Formalidade (dispensada) ...................................................................................................... 52 
3.3 Legitimidade para o Oferecimento ......................................................................................... 53 
3.4 Possibilidade de Retratação da Representação ....................................................................... 56 
3.4.1 Exceção à possibilidade de retratação da representação ........................................................................... 56 
3.4.2 Eficácia objetiva da representação ............................................................................................................. 57 
3.5 Requisição do Ministro da Justiça ........................................................................................... 59 
3.5.1 Possibilidade de retratação da requisição .................................................................................................. 60 
3.5.2 Não sujeição a prazo decadencial ............................................................................................................... 60 
4 Extinção da Punibilidade na Ação Penal Privada.......................................................................... 61 
4.1.1 Decadência .................................................................................................................................................. 62 
4.1.2 Natureza jurídica da decadência ............................................................................................................ 62 
4.1.3 Prazo para a decadência ........................................................................................................................ 63 
4.1.4 Forma de contagem do prazo decadencial ............................................................................................ 63 
4.1.5 Não aplicabilidade da suspensão ou interrupção do prazo ................................................................... 64 
4.1.6 Decadência Imprópria ................................................................................................................................. 65 
4.1.7 Renúncia ao direito de queixa .................................................................................................................... 66 
4.1.7.1 Renúncia tácita ou explicita ............................................................................................................... 67 
4.1.8 Perdão do ofendido .................................................................................................................................... 68 
4.1.9 Perempção .................................................................................................................................................. 71 
4.1.10 Decadência ............................................................................................................................................. 72 
4.2 Ação Penal Privada Subsidiária da Pública .............................................................................. 73 
5 Referências Bibliográficas ........................................................................................ 74 
 
 
Aspectos Processuais Penais | 
Ação Penal 
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1 Ação Penal 
Pensando o processo penal como um todo, para que possamos nos situar no 
conteúdo, o momento em que se insere o estudo da ação penal é posterior ao 
recebimento dos autos de inquérito policial, ou seja, após realizadas as investigações 
preliminares, quando o Delegado de Polícia elabora o relatório final do inquérito e, 
encaminha ao juízo competente para que se proceda os tramites legais. Neste 
momento, após verificar que constam nos autos do inquérito policial elementos 
suficientes para o oferecimento da denúncia, o Ministério Público ou, no caso da ação 
penal privada, o ofendido ou seu representante legal, poderá demandar em juízo. 
 
Assim, nas palavras de Guilherme Nucci (2020) a ação penal pode ser entendida como 
“o direito do Estado-acusação ou do ofendido de ingressar em juízo, solicitando a 
prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao 
caso concreto”. O autor defende ainda que é justamente através da ação penal que o 
Estado consegue exercer sua pretensão punitiva diante de uma infração penal 
procedente. 
 
Desta forma, o direito de ação se traduz na possibilidade que o indivíduo possui de 
deduzir uma pretensão, podendo ser tanto cível quanto penal, pois a teoria geral do 
processo se aplica em ambos os casos, em juízo, através de uma ação penal, ou seja, 
a ação penal materializa o direito de ação. 
 
1.1 Condição da ação penal 
Muito embora o direito de ação seja garantido a todos, sendo exercido através de 
uma ação penal, o sujeito só alcançará sua pretensão se cumprir com alguns requisitos 
essenciais, as chamadas condições da ação penal. Nas palavras de Eugênio Pacceli 
(2021) “as denominadas condições da ação, no processo penal brasileiro, condicionam 
Aspectos Processuais Penais | 
Ação Penal 
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o conhecimento e julgamento da pretensão veiculada pela demanda ao 
preenchimento prévio de determinadas exigências, ligadas ora à identidade das 
partes, com referência ao objeto da relação de direito material a ser debatida, ora à 
comprovação da efetiva necessidade da atuação jurisdicional”. 
 
De forma suscinta, Guilherme Nucci (2020) denomina as condições da ação como 
pressupostos processuais e, define-os como sendo “requisitos necessários para a 
existência e a validade da relação processual, permitindo que o processo possa atingiro seu fim”. Isto é, ainda que a prestação jurisdicional seja um direito do Estado-
acusador e do ofendido ou seus representantes legais, se no ajuizamento da ação 
penal faltarem pressupostos processuais, o magistrado sequer analisará o mérito da 
questão, tampouco declarará como procedente a pretensão do autor. 
 
Em que pese a matéria de Processo Civil ser completamente diferente do Processo 
Penal, as duas compartilham algumas premissas básicas e introdutórias quando o 
assunto é a teoria geral do processo. Assim, com o passar do tempo, surgem diversas 
teorias a respeito da condição da ação, tanto no cível quanto no penal, mas, 
atualmente, uma posição vem ganhando força, com a chamada teoria da asserção – 
in statu assertionis –, é adota hoje por ambos os Códigos. 
 
De acordo com a teoria da asserção, os pressupostos processuais devem ser, desde 
logo, indicados pelo autor na petição inicial, no Processo Civil, ou na denúncia ou na 
queixa-crime, no Processo Penal. Neste sentido, Renato Brasileiro de Lima (2020) 
afirma que, 
a presença das condições da ação deve ser analisada pelo juiz com base nos elementos 
fornecidos pelo próprio autor em sua petição inicial, que devem ser tomados por verdadeiros, 
sem nenhum desenvolvimento cognitivo. As condições da ação exercem, pois, uma clara 
função de filtro processual. Justamente para distinguir as questões que constituem as 
condições da ação daquelas relativas ao mérito [...]. Se o juiz constatar a ausência de uma 
condição da ação mediante uma cognição sumária, deverá extinguir o processo sem resolução 
do mérito por carência de ação. 
 
Aspectos Processuais Penais | 
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Aprofundando mais nos aspectos penais da teoria, verificada a ausência de elementos 
essenciais, que conferem a ausência de procedibilidade a peça acusatória, cabe ao 
magistrado rejeitá-la, com base no art. 395 do Código de Processo Penal. Em 
consonância, afirma Renato Brasileiro de Lima (2020) “em sede processual penal, a 
presença dessas condições da ação deve ser analisada por ocasião do juízo de 
admissibilidade da peça acusatória. A denúncia ou queixa deve ser rejeitada pelo 
magistrado quando faltar condição para o exercício da ação penal (CPP, art. 395, II)”. 
 
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: 
I - for manifestamente inepta; 
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; 
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. 
 
 
Observe alguns julgados do Superior Tribunal de Justiça sobre o assunto: 
RECURSO ESPECIAL. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA EM RELAÇÃO AO CRIMEPREVISTO NO ART. 60 DA 
LEI N. 9.605/98. SUPERVENIÊNCIA DE ELEMENTOSENSEJADORES DA AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA 
PARA A PERSECUÇÃO PENAL.JUÍZO DE MÉRITO. RECONSIDERAÇÃO DO DESPACHO QUE RECEBEU DE 
DENÚNCIA.INADMISSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL E NECESSIDADE DERESGUARDO DA 
SEGURANÇA JURÍDICA. APLICAÇÃO DA TEORIA DA ASSERÇÃO AODIREITO PROCESSUAL PENAL. 
RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. [...] 4. Isso porque, ao proferir decisão positiva de admissibilidade da 
denúncia e atestar a existência das condições da ação e dos pressupostos processuais positivos, o 
magistrado ultrapassa uma fase processual, surgindo, a partir daí, não mais um juízo sobre a viabilidade 
da denúncia, mas sim um juízo de mérito, ensejando a prolação de sentença condenatória ou 
absolutória, conforme o caso, sendo aplicável a teoria da asserção. 5. Recurso especial improvido. 
(STJ - REsp: 1354838 MT 2012/0247449-2, Relator: Ministro CAMPOS MARQUES (DESEMBARGADOR 
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CONVOCADO DO TJ/PR), Data de Julgamento: 02/04/2013, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: 
DJe 05/04/2013) 
 
No mesmo sentido, podemos destacar outro julgado do STF que, embora tenha 
decido sobre a matéria de competência, que é um pressuposto processual da validade, 
faz uso de uma premissa aplicável as condições da ação. 
[...] IV - A fixação da competência jurisdicional no direito processual penal deve ser feita com base no 
conjunto de fatos evidenciados pelos elementos de informação colhidos na fase inquisitorial e pela 
narrativa formulada na peça acusatória, in statu assertionis, ou seja, à luz das afirmações do órgão 
acusatório. 
(AgRg no RHC 123.770/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 08/09/2020, DJe 
15/09/2020). 
 
 
1.2 Condições genéricas da ação penal 
Assim, considerando que o recebimento da peça acusatória está condicionado ao 
preenchimento de alguns critérios específicos, chamados de condição de condição da 
ação, é certo dizer que, determinadas ações priorizam alguns critérios mais do que 
outros, por isso, classificamos como condições genéricas e condições específicas. 
 
Como bem destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) “no âmbito processual penal, as 
condições da ação subdividem-se em condições genéricas, assim compreendidas 
como aquelas que deverão estar presentes em toda e qualquer ação penal, e 
condições específicas (de procedibilidade), cuja presença será necessária apenas em 
relação a determinadas infrações penais, certos acusados, ou em situações específicas, 
expressamente previstas em lei”. 
 
Assim, as condições genéricas da ação penal podem ser classificadas como: a 
possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade ad causam. 
Aspectos comumente aplicados no âmbito cível, exceto por algumas ressalvas, pois, 
em que pese a teoria geral do processo ser a mesma para ambas as esferas (penal e 
cível), o Código de Processo Civil de 2015 modificou algumas questões. 
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Ação Penal 
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1.2.1 Possibilidade jurídica do pedido 
De acordo com a doutrina de Renato Brasileiro de Lima (2020) a condição de 
possibilidade jurídica do pedido, pode ser definida como sendo “o pedido formulado 
pela parte deve se referir a uma providência admitida pelo direito objetivo, ou seja, o 
pedido deve encontrar respaldo no ordenamento jurídico, referindo-se a uma 
providência permitida em abstrato pelo direito objetivo”. Isto é, a possibilidade 
jurídica do pedido se traduz na adequação do fato praticado a norma legal, só é 
possível pleitear por algo previsto em lei. 
 
O critério da possibilidade jurídica do pedido sofreu grandes alterações no âmbito do 
processo civil, pois, com o advento do Novo Código em 2015, a condição deixou de 
ser mencionada expressamente no texto legal, portanto, atualmente, são 
considerados no processo civil apenas os critérios da legitimidade e o interesse de 
agir. Contudo, na esfera penal, esse critério nunca foi um aspecto tão relevante diante 
dos outros, uma vez que, o pedido de uma ação penal condenatória não vincula o 
juízo, tratando-se, portanto, de uma questão de mérito. 
 
Neste sentido, Eugênio Pacelli (2021) destaca que, obviamente “nas ações penais não 
condenatórias (ação de revisão, mandado de segurança, habeas corpus etc.) o 
interesse de agir, como condição da ação, pode perfeitamente ser aplicável ao 
processo penal, com a mesma configuração que lhe dá a chamada teoria geral do 
processo”, mas a situação não é a mesma diante de uma ação penal condenatória, ao 
passo que a possibilidade jurídica do pedido será julgada como uma questão de 
mérito, fazendo coisa julgada material. 
 
1.3 Legitimidade ad causam 
De acordo com a teoria geral do processo, a legitimidade pode ser definida como 
sendo a pertinência subjetiva da demanda, ou seja, a legitimidade traduz o conteúdo 
da demanda com os sujeitos do fato. No entanto, como você já sabe, essa questão se 
adapta muito melhor ao processo civil, no âmbito processual penal, alguns aspectos 
devem ser considerados. 
 
Aspectos Processuais Penais | 
Ação Penal 
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Como bem destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) “quanto à legitimidade ativa no 
processo penal, temos que, nashipóteses de ação penal pública, por força do art. 129, 
I, da Constituição Federal, o titular da ação penal será o Ministério Público; nas 
hipóteses de ação penal de iniciativa privada, será legitimado a agir o ofendido, ou 
seu representante legal”. Isto é, diante de um processo penal de natureza 
condenatória, a pretensão punitiva será sempre uma prerrogativa do Estado, através 
do Ministério Público. 
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; 
 
Assim, em que pese a conduta criminosa lesar o bem jurídico de um particular (vítima), 
este não poderá exercer diretamente a sua pretensão punitiva contra o autor da 
prática delitiva, pois esta é uma prerrogativa é necessariamente do Estado. Por fim, é 
válido destacar que, a “legitimidade ad causam não se confunde com legitimatio ad 
processum, fenômeno relacionado à capacidade de estar em juízo, tida como 
pressuposto processual de validade. Essa capacidade processual refere-se à 
capacidade de exercer direitos e deveres processuais, ou seja, de praticar validamente 
atos processuais” (LIMA, 2020). 
 
1.3.1 Legitimidade ativa 
As ações penais podem ser divididas em públicas e privadas, cabendo no primeiro 
uma subclassificação, que seriam as ações públicas incondicionadas ou condicionadas 
a representação do ofendido. Essa classificação não é puramente teórica, repercutindo 
diretamente na legitimidade ativa da ação penal – prerrogativa conferida ao indivíduo 
para ingressar com uma demanda penal em juízo. 
 
Neste sentido, Eugenio Pacelli (2021) afirma que, “à exceção do habeas corpus e da 
revisão criminal, o processo penal brasileiro impõe, como regra, a exigência de que 
somente determinadas pessoas possam promover a ação penal”. Essa regra é adotada 
precipuamente nas ações penais públicas, cujo titular é o Ministério Público (art. 129, 
I da CF), ainda que para isso, nas ações públicas condicionadas a representação, 
precisem do consentimento da vítima. Lembrando que, no caso das ações públicas, 
ainda será “reservado a determinadas pessoas, em situações específicas, o direito à 
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atividade subsidiária, em caso de inércia estatal, e à iniciativa exclusiva do particular, 
em atenção às peculiaridades de algumas infrações penais e das consequências 
específicas que delas resultam” (PACELLI, 2021). 
 
Por outro lado, nas ações penais privadas, ainda que a pretensão punitiva seja do 
Estado, a legitimidade ativa da ação recai sobre o ofendido ou seus representantes 
legais – cônjuge, ascendente, descendente e irmão –, cabendo a estes ingressar com 
a demanda em juízo, através da queixa-crime. Restando, neste caso, ao Ministério 
Público, atuar como mero fiscal da lei. 
 
Assim, neste aspecto, como bem destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) “a queixa-
crime também pode ser oferecida por curador especial (CPP, art. 33), pelos sucessores 
do ofendido, em caso de morte ou declaração de ausência (CPP, art. 31), ou até mesmo 
por entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem 
personalidade jurídica, assim como associações, especificamente destinadas à defesa 
dos interesses e direitos do consumidor (Lei nº 8.078/90, art. 80, c/c art. 82, III e IV)”. 
 
1.3.2 Legitimidade passiva 
Possui legitimidade passiva na ação penal o réu, ou seja, aquele sujeito, maior de 18 
anos, apontado na inicial acusatória como provável autor do delito, uma vez que os 
menores de 18 anos são considerados inimputáveis e não cometem crimes, mas sim 
ato infracional, regulado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, perante a Vara 
da Infância e da Juventude. Nas palavras de Renato Brasileiro de Lima (2020) “no polo 
passivo, a legitimação recai sobre o provável autor do fato delituoso, com 18 (dezoito) 
anos completos ou mais, já que a própria Constituição Federal estabelece que os 
menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis (art. 228)”. 
Art. 228, CF. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às 
normas da legislação especial. 
 
Assim, para que a peça acusatória atenda ao critério da legitimidade passiva e seja 
recebida pelo magistrado, o autor deverá relatar os fatos e requerer a condenação da 
mesma pessoa – com 18 anos completos –, caso contrário, se requerer a condenação 
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de pessoa diversa daquela incriminada nos fatos, a peça acusatória será rejeitada, pela 
falta de condição da ação. 
 
Em contrapartida, se o autor da inicial acusatória descrever os fatos e requerer a 
condenação da mesma pessoa, de modo que a ilegitimidade passiva venha a ser 
suscitada apenas em sede de manifestação da defesa, se reconhecida, ensejará a 
absolvição do acusado e afetará o mérito da questão, a decisão fará coisa julgada 
material, situação diversa da rejeição por falta de condição da ação. 
 
1.3.3 Legitimidade da pessoa jurídica 
Em um primeiro momento, tratar sobre a legitimidade da pessoa jurídica – PJ no 
direito penal soa estranho aos nossos ouvidos, mas sim, embora a PJ seja uma ficção 
jurídica, poderá figurar tanto como sujeito ativo, quanto como sujeito passivo no 
processo penal, observados alguns critérios específicos. 
 
A legitimidade ativa da pessoa jurídica pode surgir diante da inércia do real titular da 
ação penal, o Ministério Público, que, ao deixar de oferecer a denúncia no prazo legal, 
abre a possibilidade para que o ofendido, seu representante legal ou seus sucessores 
ingressem em juízo com a demanda, neste caso, dizemos que a ação penal será 
privada subsidiária da pública. Essa possibilidade encontra fundamento no art. 5º, LIX 
da Constituição Federal e no art. 29 do Código de Processo Penal. 
Art. 5º [...] 
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for 
intentada no prazo legal. 
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for 
intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-
la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, 
fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de 
negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. 
 
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Além disso, Renato Brasileiro de Lima (2020) destaca mais uma possível situação em 
que a Pessoa Jurídica poderia atuar como sujeito ativo na ação penal, “supondo-se que 
uma pessoa jurídica seja vítima de um crime de difamação, o que é plenamente 
possível, já que referido ente é dotado de honra objetiva, sendo possível a imputação 
de fato ofensivo a sua reputação, poderá figurar no polo ativo de queixa-crime por 
ela proposta em face do suposto autor do delito”. 
 
Certo, então, quanto a legitimidade ativa, já vimos que é totalmente possível uma 
pessoa jurídica ingressar em juízo ocupando o polo ativo da ação penal, seja na ação 
penal privada subsidiária da pública, seja na ação penal privada, quanto a isso não 
resta dúvida. No entanto, o ponto divergente neste aspecto é com relação à 
legitimidade passiva da PJ, uma vez que para ela ocupar o polo passivo da demanda 
precisa, em tese, ter cometido algum crime. 
 
Para solucionar essa questão, surgem duas teorias, uma delas defende que a pessoa 
jurídica, justamente por ser uma ficção jurídica, não poderá cometer crimes e, 
consequentemente, não será legítima para ocupar o polo passivo de uma demanda 
penal, mas uma outra vertente, aceita pela doutrina e pelos tribunais superiores, 
reconhece o contrário. A doutrina majoritária afirma que, ainda que seja um sujeito 
imaterial, a pessoa jurídica pode incorrer na prática de crimes ambientais. 
Art. 225. CF [...] 
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarãoos infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
 
Por fim, é válido destacar que, há muito imperava no direito penal brasileiro a teoria 
Lembrando que a prerrogativa do ofendido para ingressar com ação penal 
subsidiária da pública surge somente após o esgotamento do prazo do Ministério 
Público para oferecer a denúncia. 
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da dupla imputação, posição ainda aceita por doutrinadores como Renato Brasileiro 
de Lima (2020) o qual defende que, “em relação à legitimação passiva da pessoa 
jurídica, tem-se admitido o oferecimento de denúncia em face da pessoa jurídica pela 
prática de crimes ambientais, desde que haja a imputação simultânea do ente moral 
e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, já que não há como se 
compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa 
física, que age com elemento subjetivo próprio”. No entanto, atualmente, a 
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal afastou a necessidade de utilização da 
teoria da dupla imputação, ou seja, hoje é possível acusar somente uma pessoa 
jurídica pela prática de um crime ambiental. 
 
1.4 Interesse de agir 
A respeito da teoria geral do processo, o interesse de agir é caracterizado pela 
existência de uma lide, um conflito cujo qual não se pode solucionar sem o auxílio do 
poder judiciário. Nas palavras de Renato Brasileiro de Lima (2020) “a ideia de interesse 
de agir ou de interesse processual está relacionada à utilidade da prestação 
jurisdicional que se pretende obter com a movimentação do aparato judiciário. Deve-
se demonstrar, assim, a necessidade de se recorrer ao Poder Judiciário para a 
obtenção do resultado pretendido, independentemente da legitimidade da 
pretensão”. 
 
 
 
No âmbito do direito penal, essa possibilidade não é verificada especificamente como 
um conflito de interesses, como no direito civil, pois, os dois interesses envolvidos 
estão relacionados com o Estado, ambos são interesses públicos e devem ser 
preservados. Além disso, outro aspecto que se difere no âmbito do processo penal e 
do cível, é que no penal a pretensão não precisa ser resistida. A regra é que o réu não 
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seja submetido a nenhuma pena antes que seja garantido a ele o devido processo 
legal. Desta forma, analisando e adaptando o conceito de lide utilizado por Carnelutti, 
Eugênio Pacelli (2021) afirma que “passaríamos, assim, à teoria que define a lide como 
uma pretensão insatisfeita, independentemente da resistência do réu”. 
 
1.4.1 Necessidade 
O critério da necessidade pressupõe que, a lide só será levada ao crivo judicial, pois 
não é possível resolvê-la de forma extrajudicial. No entanto, essa máxima funciona 
melhor no âmbito processual civil, uma vez que, os princípios processuais penais 
asseguram que ninguém será processado e julgado sem a observância do devido 
processo legal, sendo oportunizado, na esfera judicial, o contraditório e a ampla 
defesa. 
 
No mesmo sentido, Renato Brasileiro de Lima (2020) afirma que “essa necessidade é 
implícita na ação penal condenatória, já que, em virtude do princípio do nulla poena 
sine judicio, nenhuma sanção penal poderá ser aplicada sem o devido processo legal, 
ainda que o acusado não tenha interesse em oferecer qualquer resistência. A ação 
penal é, por conseguinte, uma ação necessária. Logo, o exame da “necessidade” para 
a verificação do interesse de agir é dispensável, pois está in re ipsa”. 
 
Em outras palavras, significa dizer que o critério da necessidade, no direito penal, 
diante da impossibilidade de julgar o indivíduo submetendo-o a uma pena, senão 
pelo meio judicial, se torna praticamente dispensável, pois, é fato que estará sempre 
preenchido. 
 
1.4.2 Adequação 
No critério da adequação, diferente do que ocorre no direito processual civil que 
existem diversas possibilidades de ingresso em juízo, a ação penal só será iniciada 
com a inicial acusatória, seja através da queixa crime na ação privada, seja através da 
denúncia nas ações públicas. 
 
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De acordo com Renato Brasileiro de Lima (2020) “se essa adequação é assaz 
importante no processo civil, é interessante perceber que, em uma ação penal 
condenatória, tal condição não ostenta grande relevância, já que não há espécies 
distintas de ações penais condenatórias. De fato, sempre que o órgão ministerial ou o 
querelante pleiteiam a aplicação do direito de punir, o fazem por meio de uma ação 
penal condenatória”. 
 
O critério da adequação só será considerado com mais afinco nas ações penais não 
condenatórias, pois, é neste momento que podemos intentar as ações distintas, como, 
por exemplo, os embargos de terceiros, habeas corpus, mandado de segurança 
criminal e o incidente de restituição de coisa apreendida. Neste momento, a 
interposição de peça distinta da adequada fere o princípio da adequação e prejudica 
o intento da pretensão jurisdicional. 
 
1.4.3 Utilidade 
A utilidade se traduz na máxima de que o provimento jurisdicional atenda a pretensão 
do agente, ou seja, a ação intentada deve produzir um resultado final útil. Nas palavras 
de Renato Brasileiro de Lima (2020) “consiste na eficácia da atividade jurisdicional para 
satisfazer o interesse do autor. Só haverá utilidade se houver possibilidade de 
realização do jus puniendi estatal, com eventual aplicação da sanção penal adequada. 
 
No mesmo sentido, Guilherme Nucci (2020) afirma que, o interesse-utilidade se traduz 
na máxima de que a “ação penal precisa apresentar-se útil para a realização da 
pretensão punitiva do Estado. Vislumbrando-se, por exemplo, a ocorrência de causa 
extintiva da punibilidade, é natural deixar o processo de interessar ao Estado, que não 
mais possui pretensão de punir o autor da infração penal”. 
 
1.4.3.1 Interesse de agir e a prescrição em perspectiva 
A prescrição em perspectiva, também conhecida como prescrição virtual, é aquela em 
que o juiz reconhece a extinção da punibilidade de forma antecipada, pois, diante de 
uma eventual condenação, a pena imposta ao agente será aniquilada pela prescrição 
da pretensão punitiva retroativa e, ainda que de forma indireta. 
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Como bem destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) a prescrição em perspectiva “deve 
ser compreendida como o reconhecimento antecipado da prescrição, em virtude da 
constatação de que, no caso de possível condenação, eventual pena que venha a ser 
imposta ao acusado inevitavelmente será fulminada pela prescrição da pretensão 
punitiva retroativa, tornando inútil a instauração do processo penal”. Desta forma, o 
fenômeno do reconhecimento da prescrição em perspectiva enseja o não 
recebimento da ação, com a consequente desconsideração do mérito, em decorrência 
da falta de utilidade do provimento jurisdicional. 
 
No entanto, a promulgação da Lei 12.234/10 revogou o § 2º do art. 110 do Código 
Penal, dispositivo que autorizava a consideração do termo inicial para fins de 
prescrição, a data anterior à do recebimento da denúncia ou da queixa. Com a 
alteração do dispositivo a prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito 
em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, passou a ser 
regulada pela pena aplicada ao indivíduo, não podendo, em nenhuma hipótese, 
considerar como termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. Portanto, a partir 
de 2010, a prescrição em perspectiva não pode mais ser suscitada como fundamento 
para rejeição da denúncia, apenas no decorrer do processo. 
 
Em consonância com esse entendimento, dispõe a súmula 438 do Superior Tribunal 
de Justiça que, “é inadmissível a extinçãoda punibilidade pela prescrição da pretensão 
punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou 
sorte do processo penal”. (SÚMULA 438, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/04/2010, 
DJe 13/05/2010) 
 
1.5 Justa causa 
Uma parcela da doutrina também considera a justa causa como uma das condições 
genéricas da ação penal, mas essa posição não é pacífica no ordenamento jurídico, 
pois, alguns autores consideram que a justa causa esteja compreendida no interesse 
de agir, por isso, não elencamos ela anteriormente como uma das condições, junto 
com a possibilidade jurídica do pedido, a legitimidade da parte (legitimidade ad 
causam) e o interesse de agir. 
 
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Assim, dizemos que a ação penal é provida de justa causa quando ela dispõe de 
suporte probatório mínimo para ingressar com a demanda em juízo. Isto é, o critério 
da justa causa deve se fazer presente desde o inquérito policial, uma vez que, a 
denúncia só será oferecida se existir prova da materialidade e indícios suficientes de 
autoria, considerando que está só será comprovada no decorrer da instrução 
processual. Se não forem demonstrados indícios suficientes de autoria e 
materialidade, a denúncia deverá ser rejeitada com base no art. 395, III do Código de 
Processo Penal, por ausência de justa causa. 
 
 
 
1.5.1 Justa causa duplicada 
A justa causa duplicada presume que, a ação penal, além de demonstrar naturalmente 
os indícios suficientes de autoria e materialidade, precisa comprovar uma outra causa 
específica. Podemos citar como um exemplo de situação que se exige a comprovação 
da justa causa duplicada os crimes de lavagem de capitais, que, para ensejar a 
condenação do agente pressupõe a prática de um crime anterior. 
 
Nas palavras de Renato Brasileiro de Lima (2020), no caso dos crimes de lavagem de 
capital, “não basta demonstrar a presença de lastro probatório quanto à ocultação de 
bens, direitos ou valores, sendo indispensável que a denúncia também seja instruída 
com suporte probatório demonstrando que tais valores são provenientes, direta ou 
indiretamente, de infração penal (Lei nº 9.613/98, art. 1º, caput, com redação dada 
pela Lei nº 12.683/12)”. 
 
Sobrevindo a justa causa posteriormente, ainda que a denúncia tenha sido 
rejeitada, nada obsta que o Ministério Público ofereça a ação novamente, uma vez 
que, neste caso, a decisão do magistrado não faz coisa julgada material – já que 
não há análise do mérito. 
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1.6 Condições específicas da ação penal 
Diferente das condições genéricas, as condições específicas da ação penal só estão 
presentes em algumas ações penais. Também denominadas condições de 
procedibilidade, são aquelas condições que se aplicam apenas em determinadas 
situações e estão associadas a possibilidade jurídica do pedido. Portanto, como bem 
destaca Guilherme Nucci (2020) “quando não está presente uma condição de 
procedibilidade, significa que inexiste possibilidade jurídica para ser ajuizada ação 
penal”. Vejamos alguns exemplos. 
 
REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO 
A manifestação do ofendido nas ações públicas condicionadas a representação é 
uma condição de procedibilidade da ação, a qual não poderá ser desencadeada sem 
a anuência da vítima. A representação pode ser feita diante da autoridade policial, 
do promotor de justiça e, até mesmo, do magistrado, pois, como trata-se apenas de 
uma manifestação de vontade para prosseguir com a investigação policial, não exige 
nenhum rigorismo formal. 
 
REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA 
Existem alguns crimes, especialmente aqueles que protegem a figura do Presidente 
da República ou os Chefes de Governo Estrangeiro, que exigem a participação 
discricionária do Poder Executivo, através do Ministério Público. Assim, nestes casos, 
como destaca Guilherme Nucci (2020) “a requisição é a exigência legal que o 
Ministro da Justiça encaminha ao Ministério Público de que seja apurada a prática 
de determinada infração penal e sua autoria”. 
 
No mesmo sentido, Renato Brasileiro de Lima (2020) afirma que, “a requisição do 
Ministro da Justiça, nos mesmos moldes que a representação do ofendido, tem 
natureza jurídica de condição específica de procedibilidade, funcionando como 
mera autorização para proceder, permissão para que o processo penal possa ser 
instaurado, manifestação da vontade do Ministro da Justiça no sentido de que 
possui interesse na persecução penal”. A requisição será dirigida ao Procurador-
Geral de Justiça ou ao Procurador-Geral da República, munida de todas as 
informações necessárias para a investigação do fato e de sua autoria. 
 
AUTORIZAÇÃO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS PARA A INSTAURAÇÃO DE 
PROCESSO CONTRA O PRESIDENTE 
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A condição específica da autorização da Câmara dos Deputados para a instauração 
de processos contra o Presidente da República, Vice-Presidente e os Ministros de 
Estados, está prevista no art. 51, inciso I da Constituição Federal. Portanto, diante de 
um crime de responsabilidade (infração político administrativa), cuja qual não enseja 
uma condenação criminal, praticado, por exemplo, pelo Presidente da República, é 
necessário que a Câmara dos Deputados, por 2/3 de seus membros, autorize a 
instauração do processo. 
 
Ainda, é válido ressaltar que, a exigência de autorização da Câmara dos Deputados 
se estende para além dos crimes de responsabilidade, no caso dos crimes comuns 
praticados pelo Presidente da República, no exercício da função ou em razão dela, 
para a instauração do processo se faz necessário o preenchimento da condição 
específica. 
 
PROVAS NOVAS 
As provas novas surgem como um requisito específico da ação, no caso de 
arquivamento de inquérito policial por falta de provas, ao passo que, a investigação 
só poderá ser retomada com o aparecimento de novas evidências. Esse também é 
o entendimento manifestado na Súmula 524 do Supremo Tribunal Federal e no art. 
18 do Código de Processo Penal. 
 
Súmula 524 – STF. Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a 
requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem 
novas provas. 
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade 
judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá 
proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia. 
 
LAUDO PERICIAL NOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE IMATERIAL 
No caso da prática de crimes contra a propriedade imaterial, a lei estabelece 
expressamente que, para caracterizar o delito, seria necessária a realização de laudo 
pericial. Obviamente, quando se tratar de grande quantidade, é pacífico nos 
tribunais superiores o entendimento de que não é necessário examinar todos os 
produtos, pois a falsificação é notória. Assim, neste caso, será aceito o laudo pericial 
feito por amostragem. 
 
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1.7 Classificação das ações penais condenatórias 
De acordo com Renato Brasileiro de Lima (2020) “ação penal condenatória é aquela 
em que é deduzida em juízo a pretensão punitiva, por meio da denúncia ou da queixa, 
imputando-se ao acusado a prática de conduta típica, ilícita e culpável, a fim de que 
seja proferida sentença em que se torne concreta a sanção que a lei prevê em abstrato, 
quer no sentido da imposição de pena privativa de liberdade (sentença condenatória), 
quer no sentido da aplicação de medida de segurança (sentença absolutória 
imprópria)”. Assim, as ações penais condenatórias podem ser classificadas em ações 
penais privadas e públicas, as quais dão origem a seguinte ramificação. 
 
1.7.1 Ação penal de iniciativa pública 
As ações penais de iniciativa pública são aquelas que possuem como legitimado ativo 
o Ministério Público,que inauguram o procedimento com o oferecimento da denúncia 
– inicial acusatória – perante a justiça. 
 
1.7.1.1 Ação penal pública incondicionada 
Considerando que, em regra, o titular das ações penais é o Ministério Público, a 
grande maioria dos crimes se procedem mediante ação penal pública incondicionada. 
Tanto é assim que, no Código Penal, se o tipo penal se manter omisso quanto a ação 
penal aplicada a determinada conduta, presume-se que será a ação será pública 
incondicionada. 
 
A peça inicial que inaugura essa ação penal é a denúncia, oferecida pelo Ministério 
Público (legitimado ativo), independente da manifestação do ofendido. Além disso, 
de acordo com Eugenio Pacelli (2020) “do dever estatal da persecução penal resulta, 
como regra, que o Ministério Público é obrigado a promover a ação penal, se diante 
de fato que, a seu juízo, configure um ilícito penal. Daí a regra básica da ação penal 
pública incondicionada, qual seja, o denominado princípio da obrigatoriedade”. 
 
Isto é, pautado no princípio da obrigatoriedade, sempre que o Ministério Público 
estiver diante de uma ação penal pública incondicionada, na condição de legitimado 
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ativo, e esta ação dispor de indícios suficientes de autoria e prova da materialidade 
do crime, bem como dos pressupostos gerais e, se for o caso, específicos, será 
obrigado a agir de ofício e ingressar com a demanda em juízo – através da denúncia. 
 
1.7.1.2 Ação penal pública condicionada a representação 
Assim como a ação pública incondicionada, a ação penal pública condicionada a 
representação tem como legitimado ativo o Ministério Público que, munido da 
anuência do ofendido, de seu representante legal ou, a depender da conduta 
praticada, de requisição do Ministro da Justiça, deverá oferecer denúncia (art. 24, CPP). 
 
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do 
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro 
da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para 
representá-lo. 
 
Assim, como vimos anteriormente, a requisição do ofendido trata-se de uma condição 
específica de procedibilidade da ação penal condicionada, pois, sem a anuência da 
vítima, do Ministro da Justiça ou daquele que tiver qualidade para representá-lo, a 
denúncia será rejeitada desde logo. 
 
 
 
Portanto, como bem destaca Guilherme Nucci (2020), coube ao Código Penal 
esclarecer no tipo penal se a conduta será processada mediante ação penal privada 
Lembrando que, considera-se representação toda manifestação inequívoca por 
parte da vítima ou seu representante legal, no sentido de querer ver o possível 
criminoso processado. A manifestação pode ser feita diante da autoridade 
policial, do promotor de justiça e, até mesmo, do magistrado, pois, como trata-
se apenas da exteriorização da vontade do indivíduo para prosseguir com a 
investigação policial, não exige nenhum rigorismo formal. 
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ou pública, se condicionada a representação ou não. Segundo o autor, “deve-se 
analisar o tipo penal incriminador existente na Parte Especial do Código Penal (ou em 
legislação especial); caso não se encontre nenhuma referência à necessidade de 
representação ou requisição, bem como à possibilidade de oferecimento de queixa, 
trata-se de ação penal pública incondicionada. Por outro lado, deparando-se com os 
destaques ‘somente se procede mediante representação’ (ex.: art. 153, § 1.º, CP) ou 
‘procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça’ (ex.: art. 145, parágrafo único, 
CP), está-se diante de ação penal pública condicionada. E caso se encontre a especial 
referência ‘somente se procede mediante queixa’ (ex.: art. 145, caput, CP), evidencia-
se a ação penal privada”. 
 
1.7.1.3 Ação penal pública subsidiária da pública 
A espécie de ação penal pública subsidiária da pública também não é totalmente 
aceita pela doutrina e, a respeito de sua aplicação surgem diversos posicionamentos. 
No entanto, podemos verificar facilmente essa possibilidade na Lei dos Crimes Contra 
o Sistema Financeiro, quando a redação do art. 27 autoriza a possibilidade do 
indivíduo, “quando a denúncia não for intentada no prazo legal, o ofendido poderá 
representar ao Procurador-Geral da República, para que este a ofereça, designe outro 
órgão do Ministério Público para oferecê-la ou determine o arquivamento das peças 
de informação recebidas”. 
 
Além disso, podemos citar como outro exemplo de ação penal pública subsidiária da 
pública, o art. 2º, § 2º do Decreto Lei n. 201/67, o qual dispõe sobre os crimes de 
responsabilidade de prefeitos e vereadores, de modo que, “se as providências para a 
abertura do inquérito policial ou instauração da ação penal não forem atendidas pela 
autoridade policial ou pelo Ministério Público estadual, poderão ser requeridas ao 
Procurador-Geral da República”. Contudo, especialmente com relação a esse 
dispositivo, a doutrina é categórica ao afirmar não foi recepcionado pela Constituição 
Federal, uma vez que, por ser anterior a promulgação da Carta Magna de 1988, viola 
o disposto no art. 109 da CF quando atribui a Justiça Federal uma função não prevista 
em lei. 
 
Ainda, como um terceiro exemplo da aplicação desta medida, podemos citar o art. 80 
do Código de Defesa do Consumidor, que autoriza, no processo penal atinente aos 
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crimes previstos neste código, bem como a outros crimes e contravenções que 
envolvam relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do Ministério 
Público, como legitimado, dentre outros, as entidades e órgãos da Administração 
Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, aos quais também é 
facultado propor ação penal subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prazo 
legal. Assim, é justamente neste ponto que se verifica a possibilidade do ingresso da 
ação pública subsidiária da pública, uma vez que estamos falando de dois entes 
públicos (Ministério Público e os ententes da administração direta e indireta). 
 
Por fim, é importante frisar novamente que, embora exista algumas situações que 
vislumbrem a possibilidade de ingressar com a chamada ação penal pública 
subsidiária da pública, não existe posição pacífica na doutrina penal com relação a 
esse tema. 
 
1.7.2 Ação penal de iniciativa privada 
Diferente da ação penal pública que possuem como titular o Ministério Público, as 
ações privadas são de titularidade do ofendido e seus representantes legais, por meio 
de um advogado. Como bem destaca, Renato Brasileiro de Lima (2020) “certos crimes 
atentam contra interesses tão próprios da vítima que o próprio Estado transfere a ela 
ou ao seu representante legal a legitimidade para ingressar em juízo”. A ação penal 
de iniciativa privada possui como peça inaugural a queixa-crime, instrumento pelo 
qual o advogado busca a prestação jurisdicional do Estado em face do prejuízo da 
vítima. 
 
Lembrando que, ainda que a ação seja de iniciativa privada, a pretensão punitiva 
continua sendo do Estado, que será o responsável por cominar pena a determinado 
crime. 
 
1.7.2.1 Ação penal privada personalíssima 
Conforme vimos acima, em regra, são legitimados para ingressar com a ação privada 
o ofendido, seus representantes legais – cônjuge, ascendente, descendente ou irmão 
–, o curador especial ou, em caso de morte ou ausência, pelos sucessores da vítima. 
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No entanto, em determinadas situações, é possível que somente a pessoa do ofendido 
seja legítimo para ingressar com a demanda perante o judiciário e, em caso de morte, 
a possiblidade de intentar ação penal privada se extingue. É o caso da ação penal 
privada personalíssima,Atualmente, temos como único exemplo de ação personalíssima o crime de 
induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento nos crimes praticados 
contra o casamento, pois, neste caso, o único legitimado para ingressar com a 
demanda em juízo é o nubente que, teoricamente, tenha sido ludibriado e induzido a 
erro na celebração do matrimonio, não podendo ser substituído por um representante 
legal ou sucessor, por exemplo. 
 
Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento 
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, 
ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e 
não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por 
motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. 
 
1.7.2.2 Exclusivamente privada 
A ação exclusivamente privada é a regra entre as ações de iniciativa privada e poderá 
ser intentada pelo ofendido, seus representantes legais – cônjuge, ascendente, 
descendente ou irmão –, o curador especial ou, em caso de morte ou quando 
declarado sua ausência, pelos sucessores da vítima. 
 
Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá 
intentar a ação privada. 
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão 
judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, 
ascendente, descendente ou irmão. 
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Uma divergência que pode surgir neste ponto é quanto a inclusão do companheiro 
no conceito de cônjuge. Parte da doutrina compreende que o companheiro possui 
legitimidade para ingressar com ação penal privada representando o acusado, uma 
vez que a própria Constituição Federal o equipara, para todos os efeitos, ao cônjuge. 
Contudo, outra corrente, mais garantista, afirma que o companheiro não possui 
legitimidade ativa para intentar ação penal, pois, incluí-lo no rol de legitimados 
implicaria em uma analogia in malam partem, com efeitos penais – prática vedada no 
direito penal. 
 
1.7.2.3 Ação penal privada subsidiária da pública 
A ação penal privada subsidiária da pública não é originalmente privada, na realidade 
o direito de ação privada subsidiária da pública surge da inércia do Ministério Público, 
titular da ação penal privada, que se mantem inerte diante das três medidas que pode 
tomar – propor arquivamento, denunciar ou requerer diligências, no prazo de 05 dias 
se o acusado estiver preso e 10 dias se o acusado estiver solto. 
 
Assim, determina o art. 5º, LIX da Constituição Federal que, “será admitida ação 
privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal”. No 
mesmo sentido, dispõe o art. 29 do Código de Processo Penal que, “será admitida 
ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, 
cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia 
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, 
interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a 
ação como parte principal”. 
 
1.8 Princípios da Ação Penal 
O estudo do direito em si nasce com o intuito de regular a vida, o comportamento e 
as relações existentes na sociedade de uma forma geral, e é por isso, que as normas 
não surgem de uma simples inspiração divina, ou em tese, não deveriam. Como o 
direito surge para regular as relações existentes na sociedade, as normas devem 
refletir o cenário social da época, adotando como base os costumes, os princípios e a 
doutrina. 
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Assim, nesta unidade, vamos falar a respeito dos princípios da ação penal, tratando 
de forma conjunta, os princípios comuns aplicáveis a ação penal pública e privada. 
 
1.8.1 Princípios comuns 
Para facilitar sua compreensão a respeito dos princípios da ação penal, entendemos 
por bem, apresentar aqueles comuns, aplicáveis tanto a ação penal privada quanto a 
ação penal pública, de forma conjunta, uma vez que se aplicam a ambas as situações. 
 
 
 
1.8.1.1 Princípio da inércia (ne procedat iudex ex officio) 
Trata-se de uma característica da jurisdição, segundo a qual determina que o processo 
não poderá ser iniciado de ofício pelo juiz, ele deve ser provocado por uma das partes. 
Nas palavras de Renato Brasileiro de Lima (2020) o princípio da inércia “funciona como 
consectário do direito de ação, e dele deriva a diretriz segundo a qual o juiz não pode 
dar início a um processo sem que haja provocação da parte. Dele também deriva a 
proibição de que o juiz profira um provimento sobre matéria que não tenha sido 
trazida ao processo por uma das partes (princípio da correlação entre acusação e 
sentença)”. 
 
Além disso, podemos verificar a aplicação do princípio da inércia implicitamente no 
art. 129, inciso I da Constituição Federal, pois, ao conferir legitimidade ativa ao 
Ministério Público para propor ação penal pública, indiretamente, o legislador retirou 
essa prerrogativa dos outros entes. 
Princípios 
comuns
Princípio da 
inércia
Princípio do ne 
bis in idem
Princípio da 
instranscedência
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Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; 
 
Por fim, é importante destacar a redação do art. 26 do Código de Processo Penal, o 
qual determina que “a ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de 
prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou 
policial”. No entanto, como o Código de Processo Penal é de 1941, anterior a 
Constituição Federal de 1988, o referido dispositivo não foi recepcionado pela Carta 
Magna, pois, é contrário aos princípios legais, neste caso, especificamente, ao 
princípio da inércia. Ainda, alguns autores apontam que, o art. 26 do CPP foi 
tacitamente revogado, pelas normas constitucionais. 
 
1.8.1.1.1 Habeas corpus 
No entanto, embora o princípio da inércia preveja a imobilidade do poder judiciário, 
através da figura do juiz, essa máxima prevalece apenas com relação ao início da ação 
penal e não com toda a atuação jurisdicional. O magistrado é o responsável por 
fiscalizar as garantias e o respeito a liberdade do indivíduo, como, por exemplo, no 
caso do habeas corpus que pode ser concedido de ofício pela autoridade. 
 
Portanto, não confunda a possibilidade de conceder ordem de habeas corpus de ofício 
com a possibilidade de dar início a uma ação penal de ofício. A prerrogativa de 
conceder habeas corpus de ofício pressupõe a existência de uma ação penal anterior 
pendente de julgamento que, o juiz, por atuar como fiscal das garantias e do respeito 
a liberdade do indivíduo, deve se atentar e verificado alguma ilegalidade, sanar de 
ofício, nos termos do art. 654, § 2º do CPP. 
 
Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu 
favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público. 
§ 2º Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de 
habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está 
na iminência de sofrer coação ilegal. 
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1.8.1.1.2 Execução penal 
Diferente da ação penal que, sob nenhuma possibilidade, pode ser iniciada de ofício 
pelo juiz, a execução penal, após uma condenação transitada em julgado, é instaurada 
desde logo pelo magistrado o processo de execução. Em consonância, Renato 
Brasileiro de Lima (2020) afirma que, “transitada em julgado a sentença penal 
condenatória, inicia-se de ofício sua execução, independentemente de qualquer 
iniciativa por parte do autor da ação penal deconhecimento, seja ele o Ministério 
Público ou o querelante”. 
 
1.8.1.2 Princípio do ne bis in idem 
O princípio do ne bis in idem veda que o indivíduo seja processado e penalizado duas 
ou mais vezes pelo mesmo fato, ou seja, ninguém pode ser penalizado pelo mesmo 
ato duas vezes, na mesma esfera jurídica, obviamente. 
 
De acordo com Renato Brasileiro de Lima (2020) o princípio do ne bis in idem é 
“conhecido no direito norte-americano como double jeopardy, ou seja, para se evitar 
o risco duplo, entende-se que, por força do princípio do ne bis in idem (ou da 
inadmissibilidade da persecução penal múltipla), aplicável à ação penal pública e 
privada, ninguém pode ser processado duas vezes pela mesma imputação”. 
 
Assim, embora o princípio do ne bis in idem não esteja previsto de forma expressa no 
texto da Constituição Federal, está garantido no art. 8º da Convenção Americana dos 
Direitos Humanos – Pacto São José da Costa Rica – “o acusado absolvido por sentença 
passada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos”. 
Portanto, considerando que o Brasil é um dos signatário da Convenção, deverá 
respeitar e seguir suas diretrizes. 
 
Lembrando que, o princípio impede tanto a tramitação de um processo igual a outro, 
em se tratando de coisa julgada, quanto a tramitação simultânea de dois processos 
iguais no processo judiciário, é o caso da litispendência. 
 
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1.8.1.2.1 Sentença absolutória por juízo incompetente 
A regra geral é que os crimes sejam processados perante a Justiça Estadual, ela tem o 
que chamamos de competência residual. No entanto, é possível que, determinados 
crimes, em razão de algumas circunstâncias, tenham a sua competência deslocada 
para outras esferas judiciais, seja a Justiça Federal, Militar ou Estadual. Além disso, 
podemos ter também o deslocamento de competência para os Tribunais Superiores, 
é o caso dos crimes comuns praticados pelo Presidente da República, no exercício da 
sua função ou em razão dela, que serão processados e julgados perante o Supremo 
Tribunal Federal. 
 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da 
Constituição, cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: 
[...] 
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os 
membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral 
da República; 
 
Assim, imagine a seguinte situação, supondo que existam dois processos, que versem 
sobre o mesmo fato, com as mesmas partes e a mesma causa de pedir (litispendência), 
um tramitando pela Justiça Estadual e outro pela Justiça Federal. Apesar da Justiça 
Federal ser a competente para julgar determinada causa, o processo que tramitava 
perante a Justiça Estadual termina primeiro, proferindo, o julgador, uma sentença 
absolutória que transita em julgado. Neste caso, diante de uma sentença absolutória, 
ainda que proferida pelo juízo incompetente, segundo entendimento do Supremo 
Tribunal Federa, a decisão deverá prevalecer e o outro processo ser extinto. 
 
1.8.1.2.2 Jurisprudência 
A respeito do princípio do ne bis in idem o Superior Tribunal de Justiça entendeu no 
julgamento do HC 499.179/TO o seguinte, 
 
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AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. INDEFERIMENTO LIMINAR. WRIT IMPETRADO EM 
SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO CABÍVEL. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO REMÉDIO 
CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AO SISTEMA RECURSAL. TRÁFICO DE DROGAS. 
LITISPENDÊNCIA COM OUTRA AÇÃO PENAL. INEXISTÊNCIA DE IDENTIDADE DE IMPUTAÇÕES. 
COAÇÃO ILEGAL NÃO CARACTERIZADA. 1. A via eleita revela-se inadequada para a insurgência 
contra o ato apontado como coator, pois o ordenamento jurídico prevê recurso específico para 
tal fim, circunstância que impede o seu formal conhecimento. Precedentes. 2. Há litispendência 
quando tramitam duas ações penais contra o mesmo réu, com igual objeto, ou seja, tratando 
do mesmo fato criminoso, existindo violação à coisa julgada quando, após o trânsito em 
julgado do mérito da ação penal, nova acusação é formulada versando sobre os mesmos 
ilícitos. 3. Embora a apreensão ocorrida na Ação Penal n. 0008374-12.2018.827.2729 tenha se 
originado do cumprimento de mandado expedido no Processo n. 2018.01.1.005659- 8, neste 
último não foi imputada ao paciente a prática do tráfico de drogas consistente na guarda e 
depósito do haxixe e da maconha, o que foi inclusive advertido pelo Ministério Público do 
Distrito Federal e Territórios, que destacou o fato foi objeto de persecução criminal própria. 4. 
No Processo n. 2018.01.1.005659-8 o paciente foi acusado de expor à venda, utilizando-se 
especialmente do aplicativo WhatsApp, substâncias entorpecentes de diversas naturezas, 
especialmente ecstasy e LSD, imputação que, como visto, não abrangeu a apreensão ocorrida 
em Tocantins. 5. Não há qualquer coincidência entre os aludidos feitos, que tratam de 
imputações completamente distintas, o que afasta a alegação de bis in idem. 
(AgRg no HC 499.179/TO, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 
23/04/2019, DJe 07/05/2019). 
 
Isto é, o Tribunal considera que “há litispendência quando tramitam duas ações penais 
contra o mesmo réu, com igual objeto, ou seja, tratando do mesmo fato criminoso, 
existindo violação à coisa julgada quando, após o trânsito em julgado do mérito da 
ação penal, nova acusação é formulada versando sobre os mesmos ilícitos”, ou seja, a 
ação deve versar sobre o mesmo fato e, no caso objeto da decisão, as ações, embora 
tenham partido do mesmo processo investigatório, deram origem a ações diferentes, 
sendo o indivíduo julgado por condutas distintas. 
 
No entanto, embora prevaleça a sentença proferida por juízo incompetente, essa 
máxima não prevalece se a sentença for fraudulenta. De acordo com o Superior 
Tribunal Federal, no julgamento do HC 84525 decidiu que, 
 
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE AMPARADA EM 
CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA. DECRETO QUE DETERMINA O DESARQUIVAMENTO DA AÇÃO 
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PENAL. INOCORRÊNCIA DE REVISÃO PRO SOCIETATE E DE OFENSA À COISA JULGADA. 
FUNDAMENTAÇÃO. ART. 93, IX, DA CF. I. - A decisão que, com base em certidão de óbito 
falsa, julga extinta a punibilidade do réu pode ser revogada, dado que não gera coisa 
julgada em sentido estrito. II. - Nos colegiados, os votos que acompanham o posicionamento 
do relator, sem tecer novas considerações, entendem-se terem adotado a mesma 
fundamentação. III. - Acórdão devidamente fundamentado. IV. - H.C. indeferido. 
(HC 84525, Relator(a): CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 16/11/2004, DJ 03-12-
2004 PP-00043 EMENT VOL-02175-02 PP-00285 LEXSTF v. 27, n. 315, 2005, p. 405-409) 
 
Na decisão acima, o STF entendeu que, a sentença transitada em julgado com base 
em uma certidão de óbito falsa não faz coisa julgada material e, portanto, poderá ser 
objeto de nova discussão, uma vez que a decisão foi fundada em prova falsa. Examine 
essa situação imaginando a interposição de uma nova ação, com as mesmas partes, o 
mesmo pedido e a mesma causa de pedir, rediscutindo o mérito já analisado na 
sentença transitada em julgado que foi baseada em uma prova fraudulenta, 
considerando o entendimento do STF de que a decisão, sob essa hipótese, não faz 
coisa julgada material, o caso pode ser rediscutido em outro processo, sem 
caracterizar o bis in idem. 
 
1.8.2 Princípio da intranscendência 
Esse princípio informa que a denúncia ou a queixa somente podem ser oferecidas 
contra aquele apontado como provável autor do delito. De acordo com Renato 
Brasileiro de Lima (2020) o princípio da intranscendência determina que, “a ação penal 
condenatória não pode passar da pessoa do suposto autor do crime para incluir seus 
familiares, que nenhumaparticipação teve na infração penal”. 
 
Decorre do princípio da intranscendência da pena, previsto no art. 5º, inciso XLV da 
Constituição Federal, pois, obviamente, se a pena não pode ultrapassar a pessoa do 
condenado, a denúncia não pode recair sobre pessoa diversa daquela que praticou 
ou tenha concorrido para a infração penal, na figura do partícipe ou coautor. 
 
Art. 5º [...] 
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XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de 
reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, 
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do 
patrimônio transferido; 
 
1.9 Princípios específicos da ação penal pública 
Além dos princípios comuns aplicáveis as ações penais públicas e privadas, cada 
espécie deve se atentar aos princípios específicos cabíveis a elas. A partir de agora, até 
o final do material, trabalharemos os princípios específicos aplicáveis as ações penais 
públicas. 
 
1.9.1 Princípio da obrigatoriedade 
O princípio da obrigatoriedade traduz a necessidade de que Ministério Público, 
sempre que tiver indícios suficientes de autoria e prova da materialidade, que possuir 
elementos informativos suficientes do delito e justa causa, deverá, necessariamente, 
adotar uma das condutas que lhe cabem – oferecer denúncia, pugnar pelo 
arquivamento ou solicitar novas diligências – não poderá se manter inerte diante do 
inquérito policial. 
 
Neste sentido, como bem destaca Renato Brasileiro de Lima (2020) “diante da notícia 
de uma infração penal, da mesma forma que as autoridades policiais têm a obrigação 
de proceder à apuração do fato delituoso, ao órgão do Ministério Público se impõe o 
dever de oferecer denúncia caso visualize elementos de informação quanto à 
existência de fato típico, ilícito e culpável, além da presença das condições da ação 
penal e de justa causa para a deflagração do processo criminal”. 
 
No entanto, com relação a previsão legal do princípio da obrigatoriedade, muito 
embora a doutrina defina como base o art. 24 do Código de Processo Penal, não há 
qualquer menção expressa na redação do artigo. De forma implícita o princípio é 
extraído do trecho “nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia”. 
 
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1.9.1.1 Controle da obrigatoriedade 
Como se trata de um princípio impositivo, que gera uma obrigatoriedade ao 
Ministério Público, deve representar alguma consequência se violado. No entanto, 
essa consequência está prevista no art. 28 do Código de Processo Penal, o qual foi 
drasticamente alterado pela Lei 13.964/19, o Pacote Anticrime, que, atualmente, está 
suspenso por conta de uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Portanto, 
analisaremos o controle do princípio da obrigatoriedade antes e depois do Pacote 
Anticrime. 
 
Antes do Pacote Anticrime o art. 28 estabelecia a figura do juiz como sendo um fiscal 
anômalo, desempenhando um papel que, em tese, não era seu. Isto é, verificando que 
estão ausentes as condições da ação, o Ministério Público poderia requerer ao juiz o 
arquivamento do inquérito policial, o qual, por sua vez, teria duas alternativas. Diante 
do pedido de arquivamento, o juiz, concordando com o Ministério Público, poderia 
acatar o pedido e arquivar o inquérito, ou discordando do Ministério Público e 
entendendo que existiam pressupostos suficientes para ingressar com a ação penal, o 
juiz poderia remeter os autos do inquérito ao órgão de revisão do MP, o qual teria a 
palavra definitiva, arquivando ou encaminhando para outro membro do Ministério 
Público ingressar com a demanda. 
 
Depois do Pacote Anticrime, a figura do juiz é dispensada e é o próprio Ministério 
Público que decide pelo arquivamento ou não dos autos de inquérito policial, que, 
após a decisão, serão remetidos ao órgão de revisão do Ministério Público para 
decisão definitiva. 
 
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1.9.1.2 Ação penal privada subsidiária da pública 
O direito a ação penal privada subsidiária da pública surge para a vítima com a inércia 
do Ministério Público em propor ação penal pública no prazo legal. Essa possibilidade 
está prevista no art. 5º LIX da Constituição Federal, à medida que “será admitida ação 
privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal”. 
 
1.9.1.3 O MP pode pugnar a absolvição do réu 
Conforme dispõe o princípio da obrigatoriedade, o Ministério Público deve, 
necessariamente, após receber os autos de inquérito policial, oferecer denúncia, 
propor o arquivamento ou requerer diligências, não podendo, inclusive, se ingressar 
com a ação desistir no decorrer do processo. No entanto, é possível que o Ministério 
Público requeira a absolvição do acusado, quando entender a medida necessária, 
lembrando, é claro, que a manifestação do Promotor de Justiça não vincula a decisão 
do juiz, nos termos do art. 385 do CPP. 
 
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, 
ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer 
agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada. 
 
1.9.1.4 Exceções a obrigatoriedade 
O princípio da obrigatoriedade, como várias coisas no direito, não é absoluto e, 
embora o Ministério Público não possa se manter inerte diante do cometimento de 
uma infração penal, existem algumas alternativas ao oferecimento da denúncia, como 
por exemplo, a transação penal e o parcelamento do débito tributário. 
 
O benefício da transação penal está previsto no art. 76 da Lei 9.099/95, de modo que, 
“havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública 
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor 
a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na 
proposta”. 
 
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Ainda, com relação ao parcelamento do débito tributário, previsto no art. 83, § 2º da 
Lei 9.430/96, determina que, será suspensa a pretensão punitiva do Estado referente 
aos crimes contra a ordem tributária e queles praticados contra a previdência social, 
durante o período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o 
agente dos aludidos crimes estiver incluída no parcelamento, desde que o pedido de 
parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da denúncia criminal. 
 
1.10 Princípio da obrigatoriedade (da ação penal pública) 
Em relação ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, Renato Brasileiro 
Lima explica que os órgãos persecutórios criminais não possuem qualquer critério 
político ou de utilidade social para decidir quanto a sua atuação, sendo incumbo a 
eles o dever de persecução e acusação. Neste sentido, especificamente quanto ao 
órgão do Ministério Público, “se impõe o dever de oferecer denúncia caso visualize 
elementos de informação quanto à existência de fato típico, ilícito e culpável, além da 
presença das condições da ação penal e de justa causa para a deflagração do processo 
criminal” (LIMA, 2020). 
 
Embora não possua status constitucional, este princípio é extraído da legislação 
infraconstitucional, encontrando-se previsto no art. 24 do Código de Processo Penal, 
segundo o qual “Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do 
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da 
Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-
lo”. 
 
1.11 Exceções ao princípio da obrigatoriedade 
As exceções ao princípio da obrigatoriedade consistem em situações nas quais a 
legislação permite a realização de um acordo que possibilita ao Ministério Público 
deixar de ingressar em juízo com uma denúncia, mesmo diante

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