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American Way of Business e o Golpe de 1964

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Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ 
Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFCH 
Instituto de História – IH 
 
 
 
 
AMERICAN WAY OF BUSINESS: EMPRESARIADO 
BRASILEIRO E NORTE-AMERICANO NO CAMINHO DO 
GOLPE EMPRESARIAL-MILITAR DE 1964 
 
 
Martina Spohr Gonçalves 
 
 
 
 
 
 
2016 
 
 
 
 
ii
 
 
AMERICAN WAY OF BUSINESS: EMPRESARIADO 
BRASILEIRO E NORTE-AMERICANO NO CAMINHO DO 
GOLPE EMPRESARIAL-MILITAR DE 1964 
 
Martina Spohr Gonçalves 
 
 
Tese de doutoramento apresentada ao Curso de Doutorado do 
Programa de Pós-graduação em História Social do Instituto de 
História da UFRJ como parte dos requisitos necessários à 
obtenção do título de doutor em História Social. 
Linha de pesquisa: Sociedade e Política 
Orientador: Renato Luís do Couto Neto e Lemos 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2016 
 
 
 
 
iii
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tese de doutoramento apresentada ao Curso de Doutorado 
do Programa de Pós-graduação em História Social do 
Instituto de História da UFRJ como parte dos requisitos 
necessários à obtenção do título de doutor em História 
Social. 
 
 
 
Aprovada por: 
____________________________________________________________ 
Prof. Dr. Renato Luís do Couto Neto e Lemos - Presidente 
____________________________________________________________ 
Prof. Dr. Demian Bezerra de Melo 
____________________________________________________________ 
Profª. Drª Vírginia Fontes 
____________________________________________________________ 
Profª. Dr. Hernán Ramiréz 
____________________________________________________________ 
Prof. Dr. Pedro Henrique Pedreira Campos 
 
 
 
 
 
iv
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CIP – Catalogação na Publicação 
 
Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). 
 
 
 
G635a Gonçalves, Martina Spohr. 
 American way of business: empresariado brasileiro e norte-
americano no caminho do golpe empresarial-militar de 1964 / 
Martina Spohr Gonçalves. – Rio de Janeiro, 2016. 
 356 f. 
 
 Orientador: Renato Luís do Couto Neto e Lemos. 
 Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 
Instituto de História, Programa de Pós-Graduação em História Social. 
 
 
 1. Política externa. 2. Golpe empresarial-militar de 1964. 3. 
Brasil-Estados Unidos. 4. Empresariado. I. Lemos, Renato Luís do 
Couto Neto e, oriente.. II. Título 
 
 
 
 
 
 
v
Dedicatória 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho ao meu querido pai, Gustavo, ao meu irmão, Conrado e ao meu avô 
Comandante Spohr, em memória. 
 
 
 
 
vi
Agradecimentos 
 
 
 
 Muitas pessoas foram essenciais nessa longa estrada. Primeiramente gostaria de 
agradecer ao meu orientador de anos, que me acompanha desde a graduação, me estimulando 
e contribuindo como mais ninguém com a minha trajetória acadêmica, meu parceiro de longa 
data, Renato Lemos, muito obrigada pela parceria e pelo trabalho de sempre. Tenho muito 
orgulho de ser sua orientanda. Agradeço também a sempre gentil e assertiva Virginia Fontes 
pelas valiosas sugestões na qualificação e ao amigo Demian Melo, pela leitura acurada na 
qualificação e pelos debates ao longo dos anos. Aos colegas do Coletivo Mais Verdade, 
Rejane Caroline Hoeveler, Luiz Mario Behrnken, Elaine Bortone, João Roberto Lopes Pinto, 
Ana Carolina Reginatto e todos do nosso grupo. 
 Gostaria de agradecer imensamente ao meu orientador no estágio de Doutorado 
sanduíche realizado na Brown University, professor James Green. Seu apoio e generosidade 
foram cruciais para a execução desta tese e para o aproveitamento do meu período em 
Providence. Quero agradecer também ao amigo André Pagliarini pela ajuda de sempre, pelas 
encomendas trazidas e pela troca de ideias, e a todos os colegas da Brown University. 
Agradeço Stacey Chandler, arquivista da JFK Library, pela ajuda e disposição de sempre ao 
longo dos frios meses de pesquisa. Aos arquivistas do National Archives e a Amy Fitch, 
arquivista do The Rockefeller Archive Center. 
 Agradeço aos colegas do CPDOC, Renan Marinho, Nixon Marques, Carolina 
Gonçalves e a toda equipe da Documentação pelo apoio em todos os momentos e pelo 
trabalho em equipe incrível que temos ao longo desses anos, segurando a barra com as minhas 
ausências. Um obrigada especial à minha amiga, parceira, irmã, comadre e grande 
profissional Daniele Amado, essa tese não seria possível sem seu apoio profissional e pessoal, 
muito obrigada. Agradeço a Celso Castro, pelo estímulo e incentivo, autorizando a licença 
para a realização do estágio-sanduíche e pelas demais ausências necessárias para execução 
desta tese. Muito obrigada, sem seu apoio não seria possível chegar aos resultados dessa 
pesquisa. 
 Agradeço também à minha família, minha mãe, irmãs Verena e Bárbara, Nild, Avós, 
primos tios e tias pela torcida de sempre, pelo apoio incondicional principalmente no período 
em que estive morando no exterior sozinha. Vocês são meu principal suporte. Ao meu 
companheiro, Eduardo Ives, não tenho nem palavras para agradecer toda a parceria nos meses 
 
 
vii
que estive nos Estados Unidos e pela força que me deu nesta reta final, sem você não 
conseguiria enfrentar esse desafio, obrigada pela paciência, compreensão e estímulo, me 
jogando para o alto quando achava que nada ia dar certo. Quero agradecer minhas amigas da 
vida, Vanessa Hacon, parceira intelectual e amiga de infância, obrigada pelos debates e pelos 
momentos de desespero do Doutorado compartilhados, Adelly Constantini, Catarina Peixoto, 
obrigada amigas. Valeu por tudo. Agradeço aos amigos novos e antigos no geral, pelos 
momentos de descontração e respiro ao longo do processo. Agradeço também minha 
fisioterapeuta e amiga Fernanda Magalhães, salvadora da minha dor de coluna pelas sessões 
incríveis durante esses anos todos, e pelo compartilhamento das angústias e questões da vida. 
 Por fim, agradeço à CAPES pela bolsa de Doutorado regular e pela bolsa de estágio 
sanduíche, em parceria com a Comissão Fullbright, do Departamento de Estado dos Estados 
Unidos, os quais agradeço imensamente pelo estímulo. Aos funcionários e coordenadores do 
PPGHIS ao longo de todo curso, muito obrigada. Agradeço a Flávio Mello pela revisão dos 
originais e à Ayra Garrido, pelo trabalho inserindo a documentação na base de dados e pelos 
trabalhos conjuntos de revisão da tese, obrigada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
viii
 
RESUMO 
American way of business: empresariado brasileiro e norte-americano no 
caminho do golpe empresarial-militar de 1964 
 
 
Martina Spohr Gonçalves 
 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Renato Luís do Couto Neto e Lemos 
 
 
Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em História, 
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, 
como parte dos requisitos à obtenção do título de Doutor em História Social. 
 
 
Este trabalho apresenta uma pesquisa sobre a construção da elite orgânica transnacional 
representante dos interesses do empresariado brasileiro e norte-americano ao longo da década 
de 1960. A participação do empresariado norte-americano e sua entrada efetiva nas mais altas 
instâncias que conduziram os rumos da política externa norte-americana para a América 
Latina, a Aliança para o Progresso, tinham como objetivo estabelecer uma dinâmica 
contrarrevolucionária preventiva dianteda conjuntura da Guerra Fria no mundo. Os interesses 
econômicos e políticos da elite orgânica norte-americana pautou o desenvolvimento do 
programa da Aliança e possibilitou a aproximação de seus interesses aos da elite orgânica 
brasileira, ambos preocupados com a segurança de seus investimentos diante do regime 
político brasileiro, com graves elementos de crise nos anos 1960, principalmente durante o 
governo João Goulart (1961-1964). Essa tese pretende demonstrar como a elite orgânica 
transnacional pode ser entendida como uma das principais protagonistas da consecução do 
golpe empresarial-militar brasileiro em 1964. 
 
 
 
Palavras-chave: Política Externa. Brasil-Estados Unidos. Empresariado. Golpe empresarial-
militar de 1964. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ix
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
American way of business: Brazilian and US businessmen in the way of 
corporate-military coup of 1964 
 
 
Martina Spohr Gonçalves 
 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Renato Luís do Couto Neto e Lemos 
 
 
 
Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
História, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro 
– UFRJ, como parte dos requisitos à obtenção do título de Doutor em História Social. 
 
This paper presents a research of the construction of the transnational elite organic 
representative of the Brazilian and US businessmen interests throughout the decade of 1960. 
The participation of the American business community and its effective entry into the highest 
levels that led to the foreign policy directions of the US to Latin America, the Alliance for 
Progress, aimed to establish a preventive counterrevolutionary dynamic during the Cold War. 
The economic and political interests of American organic elite guided the development of the 
Alliance program and allowed the approach of their interests to the Brazilian organic elite, 
both concerned about the safety of their investments on the Brazilian political system, with 
serious crisis elements in the 1960s, especially during the João Goulart’s government (1961-
1964). This thesis aims to demonstrate how the transnational elite organic can be understood 
as one of the main protagonists of the achievement of the Brazilian corporate-military coup in 
1964. 
 
 
Key-words: Foreign policy. Brazil-United States. Businessmen. Corporate-military coup of 
1964. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
x
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
 
ADP - Ação Democrática Parlamentar 
AEF - American Economic Foundation 
AIA - American International Association for Economic and Social Development 
AID - Agency of International Development 
AIFLD - American Institute of Free Labor Development 
ALALC – Associação Latino-Americana de Livre Comércio 
AMFORP - American & Foreign Power Company 
BAC – Business Advisory Council 
BCIU - Business Council for International Understanding 
BGLA - Business Group for Latin America 
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento 
BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico 
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CBAP - Comissão Brasileira da Aliança para o Progresso 
CED - Committe of Economic Development 
CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe 
CFR - Council for Foreign Relations 
CIA – Central Intelligency Agency 
CIAP - Inter-American Committee on the Alliance for Progress 
CIES - Conselho Interamericano de Desenvolvimento Econômico e Social 
CIESP - Centro das Indústrias do Estado de São Paulo 
CNC – Confederação Nacional do Comércio 
CNI – Confederação Nacional da Indústria 
COCAP - Comissão de Coordenação da Aliança para o Progresso 
COMAP - Commerce Committee for Alliance for Progress 
CONCLAP - Conselho Nacional das Classes Produtoras 
COPLAN - Comissão Nacional de Planejamento 
CSN - Conselho de Segurança Nacional 
 
 
xi
CYCIP - Conselho Interamericano de Comércio e Produção 
EBAPE – Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV 
ECLA – Espaço Cultural Latino-Americano 
EUA – Estados Unidos da América 
FGV - Fundação Getúlio Vargas 
FIEL - Fundación de Investigaciones Económicas Latinoamericanas 
FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo 
FM - Fundación Mediterránea 
FMI – Fundo Monetário Internacional 
GAP - Grupo de Assessoria Parlamentar 
GED - Grupo de Estudo e Doutrina 
GLC - Grupo de Levantamento da Conjuntura 
GOP - Grupo de Opinião Pública 
GPE - Grupo de Publicações/Editorial 
IA-ECOSOC - Inter American Economic and Social Council 
IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática 
IBRE - Instituto Brasileiro de Economia 
ICA - International Cooperation Administration 
IDA - Associação Internacional de Desenvolvimento 
IEERAL - Instituto de Estudios Económicos de La Realidad Argentina y Latinoamericana 
IESC - International Executive Service Corps 
IFC - Corporação Financeira Internacional 
ILO - International Labor Organization 
IMC Global - International Mineral and Chemical Corporation 
INES - Instituto Nacional de Estudos Superiores 
IPES - Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros 
ITT – International Telephone and Telegraph Corporation 
IUPERJ - Instituto Universitário de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro 
LAIC - Latin American Information Committe 
LDN - Liga da Defesa Nacional 
MIT - Massachusetts Institute of Tecnology 
OEA - Organização dos Estados Americanos 
ONGs - Organizações Não-Governamentais 
 
 
xii
ONU – Organização das Nações Unidas 
OPA - Operação Pan Americana 
OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte 
PEI – Política Externa Independente 
PRP - Partido Republicano Progressista 
PSB - Partido Socialista Brasileiro 
PSD – Partido Social Democrático 
PSP - Partido Social Progressista 
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro 
REDETRAL - Resistência Democrática dos Trabalhadores Livres 
RM - Rearmamento Moral 
SAM - Society for Advancement of Management 
SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial 
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial 
SESC - Serviço Social do Comércio 
SESI - Serviço Social da Indústria 
SFICI - Serviço Federal de Informação e Contrainformação 
SUDENE – Superintendência do Desenvolvimento no Nordeste 
TEAM - Technical Experienced Associates Mobilized 
TIAR - Tratado Interamericano de Assistência Recíproca 
TFP - Tradição Família e Propriedade 
UDN - União Democrática Nacional 
UNE - União Nacional dos Estudantes 
USIS – United States Information Agency 
USAID - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional 
VITA - Volunteers for International Technical Assistance 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
xiii
 
Sumário 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1 
Fontes de pesquisa ...................................................................................................................... 8 
Estrutura da tese........................................................................................................................ 11 
1. ELITE ORGÂNICA TRANSNACIONAL: CONCEITUAÇÃO E DEBATE .................... 13 
1.1 Estado e classe dominante: conceituação e debate da noção de Estado ......................... 13 
1.2 Formação do Estado, sociedade civil e empresariado nos Estados Unidos.................... 29 
1.3 Formação do Estado, sociedade civil e empresariado no Brasil..................................... 37 
1.4 O segundo pós-guerra e a transnacionalização do capital .............................................. 43 
1.5 Elite orgânica transnacional: conceituação e debate ...................................................... 52 
2. A ESTRUTURA DA ELITE ORGÂNICA NOS ESTADOS UNIDOS E A ALIANÇA 
PARA O PROGRESSO: ESTRATÉGIA ANTICRISES ......................................................... 58 
2.1 A organização da elite orgânica norte-americana ...........................................................59 
2.2 Da sociedade civil à sociedade política: a frente móvel de ação empresarial no governo 
John F. Kennedy (1961-1963) .............................................................................................. 84 
2.2.1. John F. Kennedy e seu staff: a elite orgânica na sociedade política ....................... 84 
2.2.2 A visão antiempresarial do governo de John F. Kennedy ....................................... 88 
2.2.3 A organização da sociedade política norte-americana: o aprofundamento das 
relações entre governo e empresa privada na política externa ......................................... 92 
2.3 Aliança para o Progresso e empresa privada: ação de classe e política externa ........... 102 
2.3.1 Punta del Este e a política externa norte-americana .............................................. 102 
2.3.2 O papel da empresa privada na Aliança para o Progresso ..................................... 108 
2.3.3 - O Commerce Committee for Alliance for Progress (COMAP) e o Business Group 
for Latin America (BGLA) ............................................................................................. 115 
2.4 Segurança de investimentos e política externa: Aliança para o Progresso e o programa 
contrarrevolucionário dos Estados Unidos ......................................................................... 127 
2.5 - Partindo para a ação: a difusão do american way of business ................................... 147 
3. A ALIANÇA PARA O PROGRESSO E O BRASIL: A POLÍTICA EXTERNA NORTE-
AMERICANA NO PAÍS ....................................................................................................... 156 
3.1 A organização da elite orgânica brasileira .................................................................... 156 
3.2 A política externa independente (PEI) brasileira: de Kubitschek a Goulart................. 164 
3.2.1 A Operação Pan-Americana (OPA), A Aliança para o Progresso e a PEI ............ 164 
3.2.2 A queda de Jânio Quadros e a subida de Goulart: contornos de uma crise ........... 194 
3.3 - A sociedade política brasileira e a Aliança para o Progresso: reflexo da política 
externa norte-americana nos governos Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961-1964)
 ............................................................................................................................................ 202 
 
 
ii
3.4 - As relações Brasil-Estados Unidos via Aliança para o Progresso ............................. 209 
3.5 - Balanços e perspectivas da Aliança para o Progresso: a Segunda Reunião Anual do 
Conselho Econômico e Social Interamericano da OEA ..................................................... 219 
3.6 - A Aliança para o Progresso e o empresariado no Brasil ............................................ 221 
4. ELITE ORGÂNICA TRANSNACIONAL E AÇÃO POLÍTICA ..................................... 226 
4.1 A organização transnacional do empresariado: a entrada da elite orgânica norte-
americana no Brasil ............................................................................................................ 226 
4.2 Elite orgânica transnacional: integração do empresariado brasileiro e norte-americano
 ............................................................................................................................................ 235 
4.2.1 As eleições legislativas de 1962 e o financiamento internacional......................... 236 
4.2.2 A missão Draper no Brasil .................................................................................... 239 
4.2.3 IPES, as congêneres internacionais e sua influência no Brasil.............................. 245 
4.2.4 A “Reunião Informal dos Homens de Negócios”: elite orgânica transnacional e a 
Aliança para o Progresso ................................................................................................ 247 
4.2.5 A visita de San Thiago Dantas a John F. Kennedy ............................................... 259 
4.2.6 Os Senior Specialists Corps Committee ................................................................ 260 
4.2.7 A elite orgânica transnacional e os militares ......................................................... 265 
5. GOLPE EMPRESARIAL-MILITAR DE 1964 E A BUSCA DE LEGITIMAÇÃO DO 
REGIME ................................................................................................................................. 270 
5.1 A historiografia e a participação dos Estados Unidos no golpe empresarial-militar de 
1964 .................................................................................................................................... 270 
5.2 Em busca de legitimidade: a elite orgânica transnacional na legitimação do golpe 
empresarial-militar de 1964 ................................................................................................ 299 
5.3 A historiografia do golpe e seus executores: as críticas de Lincoln Gordon, Glycon de 
Paiva e Paulo Ayres Filho .................................................................................................. 311 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 318 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 323 
ANEXOS ................................................................................................................................ 330 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Buscamos, ao longo de nossa pesquisa, demonstrar como o relacionamento entre os 
empresariados norte-americano e brasileiro contribuiu para o golpe empresarial-militar de 
1964. Nossa pesquisa busca demonstrar como a exportação do american way of business para 
a América Latina, e mais especificamente para o Brasil, serviu como estratégia da elite 
orgânica transnacional para garantir seus investimentos através da estabilidade política e 
econômica de seus países. No caso brasileiro, este movimento foi um forte elemento na 
construção do caminho do golpe no ano de 1964. 
Para que fosse possível o desenvolvimento de uma dinâmica internacional que 
envolvesse a “nata” do empresariado brasileiro e norte-americano em prol de um objetivo 
ideológico maior era preciso que, em ambas as sociedades, a classe dominante se auto 
reconhecesse enquanto tal, e compreendesse seu espaço e lugar dentro da dinâmica político-
ideológica interna e externa aos seus países. 
A conscientização de classe foi, então, crucial para a composição e participação 
política deste grupo como militantes da causa empresarial. Não seria possível trabalhar com o 
conceito de elite orgânica transnacional caso essa consciência de classe não estivesse 
amadurecida o bastante. O fato é que, mesmo com as dinâmicas internas e a falta de 
homogeneidade inerente à formação de classes, uma parte desta, aquela mais “consciente” de 
seu papel de classe, tomou os rumos da dinâmica política, possibilitando assim a construção 
desta conjuntura. 
Podemos afirmar que a elite orgânica nacional, liderada pelo IPES (Instituto de 
Pesquisa e Estudos Sociais)1, possuía relações diretas com a elite orgânica norte-americana. O 
lançamento da Aliança para o Progresso (Alpro), no ano de 1961, parte da estratégia norte-
americana de entrada na política econômica dos países periféricos, pode e deve ser entendida 
 
1 O IPES – Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais – foi fundado em 1961 com o objetivo de reunir empresários e 
demais interessados na divulgação de teses anticomunistas. “O IPÊS desenvolveu intensa propaganda 
anticomunista através de cursos, semanários, conferências públicas e artigos enviados para os jornais, cujo 
conteúdo versava invariavelmente sobre as vantagens do regime democrático e da livre iniciativa. Publicou e 
distribuiu grande número de livros, folhetos e panfletos de oposição ao governo Goulart e de combate aomarxismo, entre os quais o livreto Nossos males e seus remédios, destinado aos empregados da indústria e do 
comércio, e o livro UNE, instrumento de subversão, de Sônia Seganfredo, dirigido aos estudantes universitários. 
Para atingir o grande público, o instituto produziu uma série de 14 filmes de doutrinação democrática, que foram 
apresentados em todo o país.” LAMARÃO, Sérgio. Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais. In: ABREU, Alzira 
Alves de et al (coords.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. 
Disponível em: <http://www.cpdoc.fgv.br>. Acesso em: 01 abr. 2014. 
 
 
2
também como uma estratégia anticrises no nível ideológico. A nosso ver, a participação norte-
americana no golpe de 1964 foi muito além da Operação Brother Sam, estudada desde a 
década de 19702, quando então soubemos do envio de navios para garantir uma possível 
resistência ao movimento das tropas. A entrada da Aliança no Brasil e a participação ativa do 
empresariado representante do capital multinacional e associado em defesa de seus interesses 
particulares - torna a questão de sua inserção no processo de tomada do poder em 1964 ainda 
mais evidente. 
Do lado norte-americano, observava-se uma preocupação crescente dos grandes 
empresários com a imagem de suas firmas nos países da América Latina. Colocando nisso a 
pitada do discurso anticomunista e temos um belo caldo histórico “conspiracionista”. Esta 
inter-relação e a percepção militante da necessidade intervencionista do empresariado 
brasileiro e norte-americano no processo político internacional possibilitaram a construção de 
uma rede internacional de interesses mútuos, uma verdadeira elite orgânica transnacional 
atuante. 
A criação do programa da Aliança pode ser compreendida, dentro do contexto da 
política internacional, como uma estratégia anticrises desenvolvida pelo presidente Kennedy e 
seu staff com a finalidade de prevenir qualquer eventual direcionamento da política externa 
latino-americana que possibilitasse um afastamento da órbita norte-americana. Em nosso 
entendimento, a condução da Alpro teve um caráter contrarrevolucionário preventivo3. Esta 
característica possuía íntima relação com o posicionamento dos empresários no período de 
crise orgânica do regime político brasileiro na primeira metade da década de 19604. O 
lançamento da Aliança coincidiu com a fundação do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais 
(ambos no ano de 1961) cuja atuação no processo do golpe de 1964 tinha, claramente, um 
caráter contrarrevolucionário preventivo como estratégia anticrises na esfera política 
brasileira. 
Desta maneira, podemos resumir os elementos destacados - apontando para a 
composição e o caráter do golpe de 1964 e o posterior regime político inaugurado com o 
 
2 Para a pesquisa inaugural sobre o tema, ver PARKER, Phylis. 1964: o papel dos Estados Unidos no golpe de 
Estado de 31 de março. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1977. 
3 Tratamos desta caracterização no capítulo 2 desta tese. Estamos definindo basicamente que a Aliança para o 
Progresso foi pensada como uma estratégia anticrises diante do quadro político internacional da Guerra Fria. O 
caráter contrarrevolucionário preventivo da Aliança se resumiu ao combate ao avanço do comunismo nos países 
do continente através do desenvolvimento econômico e na busca pela garantia do modus operandi do 
capitalismo, através da exportação do american way of business para a América Latina. 
4 Para a caracterização da crise orgânica do regime político brasileiro na primeira metade da década de 1960, ver 
MELO, Demian Bezerra de. O plebiscito de 1963: inflexão de forças na crise orgânica da década de 1960. 
Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal Fluminense, Niterói. 2009. 
 
 
3
processo de tomada do Estado - como empresarial-militar. Essa definição busca aprofundar o 
termo civil-militar consagrado na historiografia, utilizando os termos empresarial e militar 
para qualificar o elemento civil indicando o protagonismo do empresariado no processo do 
golpe. Em nenhum momento deixamos de considerar a existência de outros grupos da 
sociedade civil que contribuíram com o processo, tais como estudantes, Igreja, imprensa e etc. 
O objetivo do uso do termo empresarial-militar é mostrar a especificidade dos líderes do 
golpe. 
Buscamos também indicar como a inserção internacional do empresariado e sua força 
econômica se tornaram um dos principais componentes políticos do processo. Sua influência e 
participação ao longo do regime comprova a entrada destes grupos economicamente 
fortalecidos na esfera da sociedade política, tanto no Brasil como nos Estados Unidos. Isso é 
evidenciado a partir do momento em que estes intelectuais orgânicos passam a assumir os 
altos postos políticos de ambos os países. Sendo assim, o que tivemos no Brasil foi 
efetivamente um golpe empresarial-militar, com um regime de mesma natureza inaugurado 
em 1964 e encerrado somente com a mudança das “regras do jogo” constitucionais em 1988. 
A conturbada década de 1960, no Brasil e no mundo, permanece suscitando questões, 
curiosidades e interesse acadêmico. Marcada pela proeminência estadunidense em 
contraponto à crescente força da política soviética, bem como a polarização mundial 
produzida pela Guerra Fria, suscitou inúmeros estudos historiográficos ao longo dos anos. No 
Brasil, particularmente, muitos estudiosos voltaram sua atenção para o desenvolvimento de 
uma perspectiva historiográfica que se pretende hegemônica, na qual a percepção da crise dos 
anos 1960 é interpretada de maneira muitas vezes reduzida em sua complexidade. Esta 
complexidade, que jamais deveria ser esquecida, é reduzida à polarização entre elementos 
explicativos nos quais a memória ou o esquecimento prevalecem como pano de fundo. 
O interesse acadêmico, constante na área da História, vem sendo ampliado pela 
divulgação da temática na mídia, mais especificamente a partir do governo da presidenta 
Dilma Rousseff. A retirada da renovação ad eternum dos documentos com restrições de 
acesso à informação, promulgada na Lei de Acesso à Informação de 18 de novembro de 
20115, onde o mais alto nível de restrição, o ultrassecreto, passa a ser publicizado após 25 
anos de sua produção, foi o primeiro ganho no que diz respeito ao acesso à documentação 
pública relativa à ditadura militar. A lei anterior previa 50 anos de sigilo, prorrogáveis 
 
5 A Lei de Acesso à Informação foi regulamentada em 16 de maio de 2012. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em 22 mai. 2012; 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/Decreto/D7724.htm>. Acesso em 22 mai. 2012. 
 
 
4
indefinidamente, e vedava à sociedade civil o acesso a informações do período. Além da 
promulgação da nova Lei de Acesso à Informação, a presidenta estabeleceu em maio de 2012 
a Comissão da Verdade, suscitando novamente debates acalorados acerca da punição de 
agentes da ditadura. Com o objetivo de buscar a “verdade” histórica do período e promover a 
reconciliação nacional, a Comissão pretendeu examinar as violações dos direitos humanos em 
um extenso período, entre os anos de 1946 e 1988. A Comissão pretendeu levantar nomes, 
locais e instituições denunciando os agentes da repressão, sem o poder de punir, devido à Lei 
de Anistia de 1979. Apesar da inexistência do caráter punitivo, devemos destacar a 
importância da retomada, pelo governo federal, dos debates e da busca pela reparação às 
vítimas da repressão promovida pela ditadura. 
Além do posicionamento oficial do governo, vemos diversos movimentos ocorrendo 
na sociedade civil. Os atos de denúncia a torturadores ainda vivos, os chamados escrachos 
(baseados no movimento de denúncia da localização de torturadores na Argentina eno Chile, 
prática promovida nestes países há muitos anos) feitos pelo movimento Levante Popular da 
Juventude em todo Brasil, bem como a manifestação ocorrida em frente ao Clube Militar no 
Rio de Janeiro em março de 2012, contra a comemoração do aniversário do golpe 
empresarial-militar pelos militares, demonstram uma mudança de posição de setores da 
sociedade brasileira frente à memória do regime militar. Movimentos como estes e como a 
Mostra Cinema pela Verdade, promovida pelo Instituto Cultura em Movimento (ICEM), em 
parceria com o Ministério da Justiça, via Comissão de Anistia, para exibir filmes sobre o 
período em 85 universidades de todo o país, são extremamente importantes para a ativação do 
debate acerca das questões inerentes ao regime militar e sua memória. Dentre os filmes 
escolhidos para esta amostra, estão Hércules 56, Condor e Cidadão Boilesen. Este último nos 
interessa particularmente, pois introduz a questão da efetiva participação dos empresários no 
processo de derrubada do governo João Goulart (1961-1964), tema desta tese. 
O documentário Cidadão Boilesen demonstra claramente a rede formada na segunda 
metade da década de 1960 em torno, basicamente, de empresários e militares no Brasil diante 
da crise política então instalada no país. Com depoimentos de diferentes personagens e 
testemunhas, traz confirmações da participação política dos empresários no processo. 
Depoimentos de diretores do Destacamento de Operações de Informações - Centro de 
Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), como o delegado Paulo Bonchristiano, Robert 
Corrigan, cônsul dos Estados Unidos em São Paulo, Peter de Vos, oficial do consulado dos 
Estados Unidos em São Paulo, Arthur Moura, adido militar dos Estados Unidos no Brasil em 
1968, e de políticos como o ex-governador de São Paulo Paulo Egídio Martins, confirmando a 
 
 
5
participação militante do empresário dinamarquês Henning Boilesen, presidente da Ultragás, 
em diferentes momentos políticos do país, antes e depois da queda de Goulart, reforçam a 
importância de estudos nesta direção. Para chegar ao financiamento da Operação 
Bandeirantes (OBAN), ponto principal do documentário, os diretores reconstroem a trajetória 
de Boilesen até sua morte em abril de 1971, quando foi justiçado por membros do Movimento 
Revolucionário Tiradentes (MRT) e da Aliança Libertadora Nacional (ALN). René Dreifuss6, 
primeiro a apontar a importância da questão e aprofundar o tema através de extensa pesquisa 
nos arquivos do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES), reconstruiu este movimento 
político-militar-empresarial de maneira brilhante. A produção historiográfica do período 
muitas vezes relega a segundo plano a participação desta fração da classe dominante como 
determinante e influente no processo. Autores como Argelina Cheibub Figueiredo7, Daniel 
Aarão Reis8 e Jorge Ferreira9, dentre outros10, subestimam em suas análises a importância da 
conspiração empresarial-militar para o sucesso do golpe e para a definição dos rumos do 
regime pós-64. 
São, contudo, numerosas e expressivas as informações sobre o relacionamento 
político-empresarial desenvolvido na primeira metade da década de 1960, bem como os 
desdobramentos da ação política dos empresários brasileiros, articulados com parceiros norte-
americanos, na derrubada de João Goulart. O intercâmbio desenvolvido entre o empresariado 
do hemisfério permitiu a ampliação da atuação política destes empresários em seus 
respectivos países. 
Em nossa concepção, o golpe de Estado ocorrido no ano de 1964 possuiu um caráter 
de classe. Além disso, possuiu um caráter civil que merece uma qualificação mais ampla. A 
definição do golpe como civil-militar reduz bastante sua caracterização. A expressão “civil”, 
introduzida pelos próprios militares a fim de dividir em duas partes a sociedade, civis e 
militares, deve ser tomada com cuidado. A participação civil no golpe pode muitas vezes ser 
 
6 DREIFUSS, René Armand. 1964: a conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis 
(RJ): Vozes, 2006. 
7 FIGUEIREDO, Argelina Cheibub. Democracia ou Reformas? Alternativas democráticas à crise política: 
1961-1964. São Paulo: Paz e Terra, 1993. 
8 REIS, Daniel Aarão. Democracia, esquerdas e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. 
9 FERREIRA, Jorge. O nome e a coisa: o populismo na política brasileira. In: O populismo e sua história. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira. 2001. FERREIRA, Jorge. O governo Goulart e o golpe civil-militar de 1964. In: 
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Org.). O Brasil Republicano: o tempo da 
experiência democrática – da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Livro 3. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2003. 
10 Para debate sobre o revisionismo historiográfico a respeito do golpe de 1964, ver TOLEDO, Caio Navarro de. 
1964: Golpismo e democracia. As falácias do revisionismo. Crítica Marxista, Campinas: Revan, n. 19, 2004; e 
MELO, Demian Bezerra. A miséria da historiografia. Outubro: n. 14, 2o Sem. p. 111-130. São Paulo: Alameda, 
2006. 
 
 
6
confundida e trabalhada de maneira reducionista e esvaziada. Temos visto alguns colegas 
historiadores levantando o debate acerca do apoio da sociedade ao movimento ocorrido em 
196411. Aqui encontramos alguns problemas e questões que deveriam ser levados em 
consideração ao se partir deste tipo de afirmativa. Em primeiro lugar, devemos problematizar, 
além do conceito por trás da expressão “civil”, o conceito de sociedade. Esta não pode ser 
tratada como um bloco homogêneo, praticamente personificado, como um agente específico 
que pode ter posicionamento frente aos acontecimentos. A sociedade, principalmente a 
sociedade brasileira da década de 1960, é extremamente complexa. Afirmar um apoio ou uma 
oposição sistemática requer o aprofundamento deste debate.12 Porém, é necessário destacar e 
problematizar essa questão para que não se caia nas armadilhas reducionistas vistas nos 
últimos tempos. Junto a isso, devemos buscar a qualificação do debate deste componente civil 
do golpe. 
Pretendemos qualificar a parcela do componente civil do golpe perpetrado em 1964. 
Falamos aqui da existência de uma elite orgânica13 transnacional. O maior cuidado a se tomar 
é o de não analisar tal elite orgânica transnacional como um bloco homogêneo, como um 
grupo concordante e unívoco, mas sim como um grupo heterogêneo trabalhando em prol de 
um objetivo especificamente dado pela conjuntura histórica. 
Suponhamos que a utilização do termo “civil” seja plausível. Para tal, devemos nos 
perguntar quem seriam estes atores políticos. E é preciso definir que sociedade é esta: é uma 
sociedade personificada em apoio ao golpe, uma parcela desta sociedade, uma classe, uma 
 
11 Como exemplo, podemos citar artigo do historiador Carlos Fico no jornal O Globo de 15 de fevereiro de 2014 
onde afirma que “Talvez se possa dizer que o maior avanço da historiografia recente consista nessa busca de 
objetividade: hoje podemos nos lembrar de que setores significativos da sociedade apoiaram a derrubada de João 
Goulart” e a entrevista do historiador Daniel Aarão Reis, na mesma data e jornal onde afirma “A grande 
novidade nessa última década é que se fortaleceu uma corrente crítica à principal tendência da historiografia 
sobre o período. A história da ditadura que ainda permanece hegemônica no Brasil, encarnada em grande parte 
pelo Arquivo Nacional e em certa medida pela Comissão Nacional da Verdade, se recusa a considerar a ditadura 
nas suas complexas relações com a sociedade brasileira. Imagina que a ditadura foi imposta de cima para baixo e 
enfatiza, quase que exclusivamente, a resistência à ditadura”. Para o artigo completo, ver: 
<http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2014/02/15/carlos-fico-os-riscos-de-uma-leitura-vitimizadora-do-
golpe-de-1964-524445.asp>.Acesso em 31 jul. 2014. Para a entrevista, ver: 
<http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2014/02/15/daniel-aarao-reis-as-conexoes-civis-da-ditadura-
brasileira-524443.asp>. Acesso em 31 jul. 2014. Em ambos os autores, a sociedade brasileira é compreendida de 
maneira simplificada e personificada. 
12 Para excelentes reflexões sobre o tema, ver o atual livro MELO, Demian (Org.). A miséria da historiografia: 
uma crítica ao revisionismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Consequência, 2014. 
13 O conceito de elite orgânica foi desenvolvido por René Dreifuss. Para a década de 1960, define: “Neste caso 
particular, entende-se por elite orgânica os líderes e membros que faziam parte da estrutura formal do complexo 
IPES/IBAD, bem como associados, ativistas, indivíduos e grupos ligados a esse complexo, de tal forma que seus 
esforços e aqueles das organizações a que pertenciam eram sincronizados e coordenados pelo IPES ou apoiaram 
diretamente sua campanha”. DREIFUSS, René Armand. Op. cit., Nota 2, p. 227. Este debate será aprofundado 
no capítulo 1 desta tese. 
 
 
7
parcela de classe? No nosso entender, estamos falando de uma sociedade complexa e que 
deve ser compreendida a partir da perspectiva gramsciana de Estado ampliado14. Ao falar em 
sociedade, entendemos que o conceito de sociedade civil cunhado pelo senso comum, e por 
muitos analistas sociais das áreas de pesquisa de temas correlatos, não dá conta das dinâmicas 
existentes em sociedades socialmente complexificadas como a brasileira. Entendemos 
também ser um equívoco descolar a compreensão de sociedade civil de uma compreensão do 
conceito de Estado, tratado muitas vezes da mesma maneira personificada, como algo que fala 
por si próprio. 
Quando falamos em sociedade civil nestes termos, estamos pensando em uma 
sociedade estratificada e dividida em classes sociais. Pensemos então a partir desta afirmação: 
se estamos tratando de um golpe de Estado perpetrado por uma dada classe social, conforme 
nossa percepção, não se pode deixar de analisar e qualificar os componentes desta classe, que 
sem dúvida alguma, não é homogênea. Sua dinâmica conjugada à conjuntura brasileira da 
década de 1960 nos fornece indicações para justificar nossa pauta para a compreensão do 
golpe. Sendo assim, cunhamos em nosso trabalho a qualificação do golpe perpetrado em 1964 
como um golpe empresarial-militar. 
Estamos tratando o golpe como um movimento de uma parcela da classe dominante 
em busca da construção de um novo regime que atenda aos interesses deste grupo. 
Exatamente isso: novo regime. Este também é ponto de extrema relevância para a 
interpretação deste processo histórico. 
A crise dos anos sessenta foi uma crise orgânica de um regime político. A diferença 
entre crise de regime e crise de governo é crucial. Temos visto debates em torno da 
responsabilização de João Goulart e de seu staff pelo golpe, caracterizando-o como a 
consequência da crise do governo de João Goulart (1961-1964). Alguns acadêmicos e 
estudiosos chegam a cobrar destes um posicionamento mais ativo frente à movimentação dos 
acontecimentos de 196415. Ora, não estamos tratando de uma crise personificada por João 
Goulart ou Leonel Brizola. Estamos tratando da crise de um regime político. Falamos, 
portanto, de diferentes regimes políticos brasileiros. O golpe de Estado em 1964 resultou do 
momento histórico marcado pela crise estrutural do populismo. A mudança na dinâmica social 
proporcionou o embate entre diferentes setores das classes dominantes e dominadas. 
 
14 Trataremos deste tema no capitulo 1 desta tese. 
15 Referimo-nos aqui ao mesmo grupo de historiadores e cientistas sociais que defendem a participação da 
sociedade no golpe de 1964 de maneira pouco problematizada. Algumas publicações podem ser destacadas, 
dentre elas os seguintes livros: REIS, , Daniel Aarão. Ditadura e Democracia no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 
2014; e FICO, Carlos. O golpe de 1964: momentos decisivos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014. 
 
 
8
Portanto, o início do regime em 1964, pautado pelas mudanças constitucionais e legais 
ao longo dos anos, teria seu final, segundo nossa percepção, apenas em 1988, quando então 
ocorreu uma mudança efetiva no regime político brasileiro, com a promulgação da 
Constituição de 1988 e as eleições diretas. Essa periodização é fundamentada pelo debate que 
apresentamos acerca do regime político populista em crise nos anos sessenta e a posterior 
inauguração do regime político que irá perpassar o período acima relacionado. Sendo assim, o 
que temos em 1964 não é a crise do governo João Goulart. É a crise do regime político 
populista. A passagem do regime regido pela Constituição de 1967 (emendada quase 
inteiramente em 1969) e pelas eleições indiretas para presidente da República no ano de 1985, 
por exemplo, para o novo regime político democrático instalado com a nova Carta Magna em 
1988, iniciado efetivamente com a eleição direta do presidente Fernando Collor de Mello em 
1989. 16 
 
Fontes de pesquisa 
Desenvolvemos ampla pesquisa documental para esta tese. O trabalho se dividiu 
basicamente em dois períodos, por conta do “estágio sanduíche” realizado nos Estados Unidos 
entre setembro de 2014 e junho de 2015. A primeira fase da pesquisa foi realizada nos 
arquivos brasileiros nos dois primeiros anos e a segunda, apesar do pouco tempo de 
realização, produziu a maior parte das fontes utilizadas neste trabalho. 
No CPDOC, trabalhamos com os arquivos de Paulo Ayres Filho, Gustavo Capanema, 
Luiz Simões Lopes, Antônio Azeredo da Silveira, Oswaldo Aranha, João Goulart, Getúlio 
Vargas, Hermes Lima, Roberto Campos, Paulo Nogueira Batista, Eugênio Gudin, Anísio 
Teixeira, Clemente Mariani, Juracy Magalhães, Negrão de Lima e Georges Maciel. As fontes 
levantadas nesses arquivos foram trabalhadas em grande parte no capítulo 3. O arquivo de 
Paulo Ayres Filho foi o principal corpus documental encontrado no CPDOC. 
Paulo Ayres Filho foi um dos fundadores do IPES. Em depoimento17, relatou sua 
participação na fundação do instituto e alguns elos importantes de relacionamento com os que 
 
16 Este é um ponto muito relevante para o debate acerca da periodização do regime político pós 1964. Porém, não 
caberia no escopo deste trabalho desenvolver de maneira aprofundada tais questões. Deixamos aqui breves 
indicações para orientar nossa compreensão. Para uma ótima proposta de periodização, ver: LEMOS, Renato. 
Contrarrevolução e ditadura: ensaio sobre o processo político brasileiro pós-1964. Marx e Marxismo, Niterói, 
2012. 
17 Refiro-me ao depoimento de Paulo Ayres Filho ao projeto História Oral do Exército em: MOTTA, Aricildes 
de Moraes. (Coord.). 1964 - 31 de março: o movimento revolucionário e a sua história. Rio de Janeiro: 
Biblioteca do Exército Editora., 2003. Vol. 07. 
 
 
9
ele mesmo chama de “amigões”, Gilbert Huber Jr. e João Baptista Leopoldo Figueiredo, 
ambos fundadores e membros atuantes do IPES. Encontramos muitos textos em defesa da 
empresa privada e análises sobre questões político-econômicas brasileiras em seu acervo. 
Desde a década de 1950, Ayres Filho se preocupava com os rumos da política nacional, 
divulgando princípios liberais e anticomunistas. 
Junto ao acervo de Paulo Ayres Filho, destacamos o acervo do IPES Rio depositado 
no Arquivo Nacional, onde empreendemos uma pesquisa mais aprofundada sobre o 
relacionamento existente entre o instituto e as associações empresariais norte-americanas. 
Nossa pesquisa foi realizada de maneira bastante ampla nos arquivos norte-
americanos. Para isso, pudemos contar com uma bolsa de estudos18 durante a pesquisa para 
empreender uma busca nos arquivos depositados em diferentes instituições dos Estados 
Unidos. Foram pesquisados os arquivos da família Rockefeller, depositados no The 
Rockefeller Archive Center. Além dos papéis pessoaisda família, encontramos vasta 
documentação da atuação da Fundação e do Grupo Rockefeller e da Fundação Ford, bem 
como arquivos pessoais de personalidades que tinham algum tipo de ligação com estas três 
instâncias. O arquivo pessoal de David Rockefeller foi consultado em parte, pois ainda não foi 
totalmente liberado para consulta. Os trabalhos analisados sobre a relação Brasil - Estados 
Unidos no período não utilizam esta documentação, tornando-a uma fonte praticamente 
inédita no que diz respeito à atuação da família Rockefeller no Brasil. 
Ainda nos Estados Unidos, empreendemos pesquisas na Biblioteca John F. Kennedy 
(BJFK) nos seguintes fundos: Jack N. Behrman (secretário assistente de Assuntos 
Internacionais do Departamento de Comércio entre 1961 e 1962), onde encontramos uma 
subdivisão do Latin American Business Committe (LAPC); James Standford Bradshaw 
(conselheiro-assistente de Assuntos Públicos para a América Latina da AID entre 1962 e 
1965; integrante do subcomitê de “questões culturais” do LAPC); Arthur Schlesinger Jr. (um 
dos três assistentes especiais para assuntos latino-americanos do presidente Kennedy); 
President´s Office, documentos oficiais da presidência de Kennedy; National Security Files, 
fundo oficial sobre Segurança Nacional, mais especificamente a subdivisão Business 
Committee for Latin America e Teodoro Moscoso (coordenador da Aliança para o Progresso). 
Informações adicionais foram encontradas nos seguintes fundos: David E. Bell (diretor 
da USAID entre 1963 e 1966); Samuel E. Belk (membro do Conselho de Segurança Nacional 
 
18 Entre setembro de 2014 e junho de 2015 fui bolsista da CAPES/Fulbright no estágio de doutorado “sanduíche” 
na Brown University sob orientação do professor James Green. 
 
 
10
norte-americano entre 1959 e 1965); Papers of John F. Kennedy. Presidential Papers. White 
House Staff Files of Carmine S. Bellino (documentos reunidos por Carmine S. Bellino, 
consultor especial do presidente Kennedy (1961-1963); McGeorge Bundy (conselheiro 
especial do presidente Kennedy para assuntos de Segurança Nacional). A biblioteca contém 
cerca de 400 fundos, sendo muitos deles arquivos pessoais. No National Archives (NARA II), 
consultamos a documentação dos seguintes fundos: COMAP (tem uma subdivisão chamada 
Brazil Studies), parte do Record Group 40, referente aos papéis do Departamento de 
Comércio dos Estados Unidos; Office Files of the Deputy Assistant Secretary for Inter-
American Affairs, parte do Record Group 59; USIA Publications, parte do Record Group 306. 
A pesquisa nos Estados Unidos foi extremamente profícua e surpreendente. Foram 
digitalizados mais de 1.300 documentos destes fundos, e criada uma base de dados para a 
recuperação de suas informações. Os documentos levantados foram utilizados praticamente ao 
longo de toda a tese, tendo especial atenção nos capítulos 2 e 4. 
A pesquisa em fontes nos Estados Unidos foi desenvolvida praticamente durante a 
maior parte do “estágio sanduíche” nos arquivos depositados na John F. Kennedy Library, em 
colaboração com o projeto intitulado Opening Archives19, desenvolvido por James Green e 
seus alunos na Brown University. A primeira etapa do trabalho, lançado on line em março de 
2014, digitalizou cerca de 10.000 documentos do Departamento de Estado dos Estados 
Unidos com temas relacionados ao Brasil. A segunda etapa foi realizada na John. F. Kennedy 
Library. Sendo assim, minha pesquisa é parte integrante desse projeto, realizado em conjunto 
com a Brown University. Toda a documentação por mim levantada foi digitalizada e 
posteriormente será disponibilizada no site do Opening Archives. O levantamento feito nos 
arquivos da John F. Kennedy Library e a consulta à documentação foram realizados de três a 
quatro vezes por semana, e superou em muito as expectativas iniciais da pesquisa. 
Além da pesquisa principal realizada na JFK Library em Boston, no mês de março de 
2015 foram feitas duas viagens a dois outros arquivos previstos no plano de pesquisa: o 
National Archives, em Washington, e o The Rockefeller Archive Center em Nova York. O 
levantamento e digitalização das fontes encontradas nestes dois arquivos foram feitos a partir 
do mesmo padrão que vinha sendo realizado no arquivo em Boston. A documentação prevista 
para consulta no estágio está digitalizada e indexada em uma base de dados criada para o 
desenvolvimento da pesquisa, pensada em conjunto com os orientadores. Após a volta, a 
 
19 Disponível em: <http://library.brown.edu/openingthearchives/?lang=pt>. Acesso em: 01 ago. 2016. 
 
 
11
pesquisa foi complementada a partir da análise de fontes depositadas no CPDOC e no 
Arquivo Nacional. 
 
Estrutura da tese 
No capítulo 1, pretendemos enquadrar a formação do Estado, tanto no Brasil quanto 
nos EUA, nas singularidades das respectivas formações sociais capitalistas, onde brotam as 
classes e suas elites orgânicas. Além disso, pretendemos desenvolver questões relacionadas à 
nossa interpretação conceitual baseada nos conceitos gramscianos de sociedade política, 
sociedade civil e intelectualidade orgânica, e do conceito de elite orgânica cunhado por René 
Dreifuss, com o objetivo de caracterizar a formação de uma elite orgânica transnacional, 
destacando principalmente os anos 60. 
No capítulo 2, interpretaremos a forma como a elite orgânica norte-americana, 
representada por parte do setor empresarial do país, se movimentou dentro do Estado nos 
Estados Unidos, demonstrando, através do conceito gramsciano de frente móvel, sua 
passagem da sociedade civil à sociedade política norte-americana. Destacaremos a Aliança 
para o Progresso e a estrutura montada pelo capital privado dos Estados Unidos para 
divulgação e execução dos projetos da Alpro, suas críticas e seu posicionamento político. 
No capítulo 3, analisaremos a participação e o posicionamento do empresariado 
brasileiro frente às investidas norte-americanas na Aliança para o Progresso, bem como a 
atuação dos empresários norte-americanos na divulgação das teses da Alpro na América 
Latina, mais especificamente no Brasil. 
No capítulo 4, discutiremos a organização transnacional do empresariado a partir das 
organizações da elite orgânica transnacional, que possuem ou não vínculo direto com a 
sociedade política de seus países. Pretendemos avaliar como estas atuaram de maneira 
contrarrevolucionária dentro do Brasil no período de instabilidade gerado pela crise dos anos 
sessenta. Diante disso, avaliaremos a capacidade de ação política independente do Brasil a 
partir deste relacionamento entre organizações congêneres e de seus intelectuais orgânicos. 
No capítulo 5, desenvolveremos o posicionamento desta elite orgânica transnacional 
frente ao primeiro governo do regime militar presidido pelo marechal Castelo Branco (1964-
1967). O foco deste capítulo estará em demonstrar a preocupação desta elite com a 
legitimação do regime instalado a partir do ano de 1964, principalmente no âmbito 
internacional, pois o golpe de classe ocorrido no mesmo ano gerou desconforto e 
desconfiança no âmbito internacional. 
 
 
12
Na conclusão, observaremos se os nossos objetivos e hipóteses iniciais apresentados 
no preâmbulo desta introdução foram alcançados, buscando demonstrar até onde conseguimos 
tratá-las da forma proposta, indicando eventuais dificuldades e desdobramentos da pesquisa 
desenvolvida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. ELITE ORGÂNICA TRANSNACIONAL: CONCEITUAÇÃO E DEB ATE 
 
Após a Segunda Guerra Mundial, com a mudança na configuração do capitalismo e de 
suas relações sociais, observamos a evolução da luta de classes no Brasil e no mundo. A 
transnacionalização do capital, unida às novas demandas da economia dos países capitalistas, 
possibilitou a inserção da dinâmica internacional ao espaço nacionalda luta por interesses de 
classe. No Brasil e nos Estados Unidos, países em foco no nosso estudo, vemos a construção 
de uma elite orgânica, representante dos interesses do capital estrangeiro e alinhada aos 
preceitos do capitalismo em sua nova fase. Com a ampliação, a partir de final dos anos 1950, 
da importância destes grupos, observamos a imediata conjugação de interesses com grupos de 
mesmo tipo em outros países, tanto da Europa quanto da América Latina. 
Para compreender como este processo pôde ser desenvolvido, devemos analisar alguns 
pontos principais, focos do presente capítulo: a formação do Estado e a evolução da luta de 
classes nos Estados Unidos e no Brasil, os desdobramentos do pós Segunda Guerra Mundial, 
a transnacionalização do capital e a construção desta elite orgânica transnacional. 
 
1.1 Estado e classe dominante: conceituação e debate da noção de Estado 
 
Neste ponto, trazemos para o debate alguns autores que possuem interessantes 
propostas de compreensão da noção de Estado. Tais autores têm em comum a compreensão da 
organização da sociedade em classes, seus conflitos e as relações de exploração e de 
dominação. A luta de classes serve como pano de fundo principal para a interpretação de 
Antonio Gramsci, Ralph Miliband e Nicos Poulantzas1. Porém, é importante destacar que 
existem diferenças em suas análises. 
No âmbito do marxismo, Miliband e Poulantzas2 empreenderam um debate público 
bastante frutífero, gerando uma série de livros e artigos interessantes para fundamentar a 
interpretação do Estado capitalista. 
 
1 GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. v. 2. ; ______. 
Cadernos do Cárcere. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, v. 3. ______. Cadernos do Cárcere. 4. 
ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, v. 4; MILIBAND, Ralph. O Estado na sociedade capitalista. 
Rio de Janeiro: Zahar, 1972; POULANTZAS, Nicos. Poder político e classes sociais. : Porto: Portucalense, 
1971. 
2 Por questões de opção metodológica, trabalharemos somente com o livro Poder político e classes sociais de 
Poulantzas. Entendemos que o debate apresentado contribui para contextualizar teoricamente nossa opção 
interpretativa. Não pretendemos utilizar ao longo da tese os conceitos de Estado de Poulantzas e Miliband. Nossa 
 
 
 
14
Ficamos aqui com a interpretação de Poulantzas em Poder político e classes sociais. 
Nesta obra, o autor problematiza a questão do Estado a partir da interpretação deste como 
estrutura. A função deste Estado seria política, buscando uma coesão social. Partindo desta 
perspectiva, é exigida do Estado capitalista a reprodução das relações de produção capitalista 
e das relações de dominação da burguesia sobre as demais classes sociais.3 
O debate foi gerado após Miliband apresentar suas teses em O Estado na sociedade 
capitalista. Miliband traz uma compreensão sobre a formação do Estado em países de 
capitalismo avançado, como os Estados Unidos, e de suas classes dominantes, apontando para 
inserção destas elites econômicas na formação destes Estados. Primeiramente, destaca ser 
importante definir a existência de uma classe dominante que de fato exerça um poder 
econômico decisivo em uma determinada sociedade. Miliband – e esse é um dos motivos da 
crítica feita por Poulantzas – coloca na formação da organização interna da empresa 
capitalista grande responsabilidade nos administradores de empresas, que não são os 
proprietários, mas sim os gerentes destas,4 dizendo que estes constituem uma nova classe. Em 
sua crítica, Poulantzas considera Miliband empiricista, trabalhando com fatos concatenados 
sem nenhuma explanação teórica de fundo. Para ele, Miliband tem dificuldade em 
compreender as classes sociais e o Estado como estrutura objetiva, reduzindo muitas vezes a 
relação entre as classes sociais e dessas com o Estado às relações interpessoais de indivíduos 
que compõem o grupo social e os indivíduos que compõem o aparato estatal. 
Nesse ponto, Poulantzas problematiza os autores que, diferentemente de Miliband, 
promovem a separação entre Estado e sociedade civil. As interpretações que separam estas 
esferas impossibilitam a compreensão da relação do Estado com a luta de classes: 
 
Com efeito, sendo por um lado os agentes da produção concebidos 
originariamente como indivíduos-sujeitos e não como suportes de estruturas, 
é impossível constituir a partir deles as classes sociais; sendo, por outro lado, 
 
escolha, como será apontada mais à frente, será pelo conceito de Estado Ampliado cunhado por Gramsci. Será 
essa a teoria condutora de nossas análises ao longo dos capítulos. 
3 CODATO, Adriano. Poulantzas, o estado e a revolução. Crítica Marxista, São Paulo, n. 27, p. 65-85, 2008. p. 
65-85. Neste texto, Codato faz uma interessante interpretação das fases do pensamento e dos escritos de 
Poulantzas, nos quais não entraremos. Destacamos, porém, que estamos seguindo a interpretação de sua primeira 
fase, exposta no livro Poder político e classes sociais, de Poulantzas. 
4 Cf. BURNHAM, James. The managerial revolution: what is happening in the World. New York: John Day, 
1941. 
BOTTOMORE, Tom. Burguesia : BOTTOMORE, Tom (Ed.). Dicionário do pensamento marxista. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 1988.Para introdução ao debate sobre a “revolução dos gerentes”, ver o verbete de Tom 
Bottomore, “Burguesia”, Op. cit. 
 
 
15
o Estado relacionado originariamente com esses indivíduos-agentes 
econômicos, é impossível relacioná-lo com as classes e a luta de classes.5 
 
Poulantzas indica também que o foco na problemática ideológica da separação entre 
Estado e sociedade civil serve para mascarar uma série de problemas reais postos pelo Estado 
capitalista: torna-se impossível pensar a autonomia do modo de produção capitalista do 
econômico e do político, por exemplo. 
Em relação aos administradores de empresa, sua crítica incide na concepção de 
Miliband em relação às classes sociais exposta acima. Poulantzas acredita que os gerentes não 
constituem uma fração distinta da classe capitalista. Concordamos com sua crítica, no sentido 
de que a complexidade da formação da classe dominante não pode ser reduzida e recortada 
dessa forma. Além desta questão, nos incomoda, assim como a Poulantzas, a utilização 
acrítica do termo “elite”, gerando um problema ainda maior quando o mesmo fala de um 
“pluralismo de elites”6: 
 
Esse pluralismo de elites não impede, porém, as distintas elites da sociedade 
capitalista de constituir uma classe econômica dominante, caracterizada por 
um alto grau de coesão e solidariedade, com interesses e objetivos comuns 
que transcendem bastante suas diferenças específicas e suas discordâncias.7 
 
Entendemos que o maior problema nesta proposta de Miliband está na utilização 
acrítica do termo elite. O uso desta categoria – pluralismo de elites – fica bastante complicado 
sem qualquer debate ou definição de seus termos. A proposta de Miliband acerca da 
existência de um “empresarialismo” é interessante, mas seu uso deve ser cauteloso. Ao falar 
de empresarialismo, Miliband considera alguns aspectos do capitalismo pós Segunda Guerra 
Mundial. Segundo ele, um aspecto importante para a compreensão do capitalismo deste 
período está na empresa capitalista. Este capitalismo, principalmente nos países avançados, 
criou condições para a formação de uma “nova classe” administrativa e corporativa. Esta 
“nova classe” – que passa a liderar as empresas capitalistas para além da liderança de seus 
proprietários – amplia as características do desenvolvimento capitalista. Destaca que o 
processo produtivo, apesar das mudanças encontradas na gerência das empresas, permanece5 POULANTZAS, Nicos. Op. cit., p. 135. 
6 Para o autor, este pluralismo de elites acontece a partir da entrada de novos elementos das classes dominantes 
na empresa capitalista. Além dos proprietários, administradores são recrutados dentro das classes proprietárias e 
tradicionais, promovendo uma circulação de elites. A partir de redes de conexões, estes membros dos grupos de 
elite se associam, promovendo uma consciência de classe desta esfera, apesar do pluralismo ali encontrado. 
MILIBAND, Ralph. Op.cit,. p. 56-61. 
7 Idem, p.66 
 
 
16
sendo de dominação e sujeição. Ainda segundo o autor, esta fase demonstra um momento de 
profissionalização dos negócios.8 
Poulantzas critica mais uma vez as teses de Miliband, com a nossa concordância. 
Pontua que a grande questão não seria a existência da participação direta de membros da 
classe capitalista no aparato estatal e governamental, mas, sim, a relação da classe burguesa 
com o Estado como uma relação objetiva. A participação de membros da classe capitalista no 
Estado não é causa, e sim efeito. Poulantzas, ao trabalhar o papel do Estado em relação à sua 
função nas relações entre as classes e as frações dominantes, entende que o Estado aparece, 
nesse contexto, como fator de unidade política no bloco de poder. Passa a constituir o fator de 
organização hegemônica dessa classe ou fração, retirando assim o caráter mais tradicional das 
análises marxistas de que o Estado teria um papel de árbitro. 
 
Vemos assim aparecer mais claramente o papel essencial do Estado como 
fator de unidade política do bloco no poder sob a égide da classe ou fração 
hegemônica – por conseguinte, o seu papel a respeito das classes e frações 
não hegemônicas do bloco no poder - , e como fator de organização dos 
interesses da classe ou fração hegemônica – por conseguinte, o seu papel 
específico em relação a esta.9 
 
O Estado teria então o papel de unificar as diferentes parcelas da classe dominante no 
poder. No momento de formação do Estado capitalista monopolista, a relação do Estado com 
a fração monopolista hegemônica não impede que outras frações da burguesia participem do 
bloco no poder. 
A definição de Estado de Miliband também gerou questionamentos por parte de 
Poulantzas, que considera sua proposta limitada por reduzir o Estado à conduta e ao 
comportamento de seu aparato. Para Miliband: “O Estado significa um número de 
determinadas instituições que em seu conjunto constituem a sua realidade e que interagem 
como partes daquilo que pode ser denominado o sistema estatal.”10 Define ainda cinco 
elementos para o entendimento do Estado: governo, administração, forças militares e polícia, 
judiciário, governo subcentral e assembleias legislativas. As pessoas nessas esferas 
constituiriam a elite estatal. Tal perspectiva reduz a forma de interpretação do Estado, na 
medida em que não leva em consideração as dinâmicas e as relações existentes entre o que ele 
chama de elite estatal e sociedade. 
 
8 Idem, p. 54-56. 
9 POULANTZAS, Nicos. Op. cit., v. 1, p. 149. 
10 MILIBAND, Raplh. Op. cit., p. 66. 
 
 
17
Poulantzas, em sua crítica, propõe uma tese: o sistema de Estado seria composto por 
uma série de aparatos ou instituições, algumas com papel repressivo e outras com papel 
ideológico. O aparato repressivo do Estado é constituído por governo, militares, polícia, 
tribunais e administração. Já o aparato ideológico seria composto por elementos como a 
Igreja, os partidos políticos, os sindicatos, as escolas, a mídia, e, de certo ponto de vista, as 
famílias. Esta visão se aproxima mais às teses desenvolvidas por Gramsci, como veremos 
mais à frente. Em seu texto de resposta, Miliband insiste em sua posição, indicando que o que 
Poulantzas chama de aparelho ideológico não faria parte do Estado, mas, sim, de um sistema 
político. Assim como Poulantzas, discordamos de Miliband. Sistema estatal e sistema 
político, para Miliband, não são sinônimos: ele diz que “se quisermos analisar o papel do 
Estado naquelas sociedades, é preciso considerar a elite estatal, que de fato dirige o poder 
estatal, como uma entidade distinta e separada”11. Definitivamente, a frase é cheia de 
inconsistências. Tanto no que diz respeito à ausência de conceituação do termo elite quanto na 
inclusão desta – seja ela a classe dominante ou parcela desta – como uma entidade distinta e 
separada do aparato estatal. 
Miliband, porém, nos traz informações bastante importantes acerca da presença do 
empresariado no Estado, por nós interpretada a partir da perspectiva gramsciana de Estado 
ampliado, entendendo que a presença desta parcela da classe dominante na sociedade política 
é resultado da luta de classes empreendida dentro da esfera da sociedade civil. 
As teses desenvolvidas pelo pensador italiano Antonio Gramsci, em seus escritos da 
prisão reunidos nos volumes intitulados Cadernos do Cárcere, nos trazem o arcabouço 
teórico para a compreensão do que estamos propondo. São as teses propostas por ele que irão 
nortear toda a nossa análise ao longo da pesquisa.12 A perspectiva de Estado ampliado 
proposta por Gramsci dá conta de importantes aspectos da formação de Estados e suas 
sociedades. 
Entendemos também ser um equívoco descolar a compreensão de sociedade civil13 de 
uma compreensão do conceito de Estado, tratado muitas vezes de maneira personificada, 
 
11 Idem, p. 73. 
12 GRAMSCI, Antonio. Op. cit. v. 2. 
13 O conceito de sociedade civil emerge entre as revolucções busrguesas na Inglaterra no século XVII e na 
França no final do século XVIII. Muitos autores se utilizaram desta terminologia a partir de então sem qualificá-
la a ponto de dar conta da compreensão de sociedades complexas como as dos Estados Unidos e do Brasil. 
 
 
18
como algo que fala por si próprio.14 E é desta forma que utilizaremos o conceito. Estado, para 
Gramsci, é composto dinamicamente por duas esferas: a sociedade civil e a sociedade política. 
O autor propõe uma visão ampla da noção de Estado, e é isso que nos interessa em 
particular. Para Gramsci, o Estado é visto como uma relação social e não como um sujeito ou 
um objeto, propondo assim uma visão triádica desta relação. O primeiro ponto se refere à 
infraestrutura – estrutura econômica, que envolve as relações de produção e trabalho. Em 
seguida, temos a sociedade civil, um dos planos superestruturais, que organiza os indivíduos 
em aparelhos privados de hegemonia15. Por último, a sociedade política ou Estado no seu 
sentido estrito, segundo plano superestrutural. 
Sua fórmula é proposta da seguinte maneira: 
 
[...] uma vez que se deve notar que na noção geral de Estado entram 
elementos que devem ser remetidos à noção de sociedade civil (no sentido, 
seria possível dizer, de que Estado = sociedade política + sociedade civil, 
isto é, hegemonia couraçada de coerção).16 
 
A sociedade política e a sociedade civil são vistas como uma relação dialética, como 
momentos distintos, combinando identidade e oposição. Devemos ter em mente, no âmbito 
analítico, que a noção gramsciana de Estado apresenta uma distinção entendida pelo próprio 
autor como metodológica, e não orgânica. 
A sociedade é vista por Gramsci como um duplo espaço da luta de classes, na medida 
em que reflete as lutas internas e externas às mesmas. Virgínia Fontes nos traz interessante 
síntese sobre o conceito de sociedade civil presente nos textos do autor italiano: 
 
Em Gramsci, o conceito de sociedade civil procura dar conta dos 
fundamentos da produção social, da organização das vontades coletivas e 
de sua conversão em aceitação da dominação, através do Estado. O fulcro 
do conceito gramsciano de sociedade civil – e dos aparelhos privados de 
hegemonia – remete para a organização (produção coletiva) de visões de 
mundo, da consciência social, de formas de ser adequadas aos interesses do14 A propósito, ver MENDONÇA, Sônia. “Introdução”. In: _______. (Org.). O Estado brasileiro: agências e 
agentes. Niterói: EdUFF, Vício de Leitura, 2005. 
15 Utilizamos a definição de aparelho privado de hegemonia resumida por Carlos Nelson Coutinho: [...] “são 
organismos sociais ‘privados’, o que significa que a adesão aos mesmos é voluntária e não coercitiva, 
tornando-os assim relativamente autônomos em face do Estado em sentido estrito [no contexto, portanto, de sua 
configuração ampliada, isto é, sociedade política + sociedade civil, possível nas conformações sociais do tipo 
“ocidental”; mas deve-se observar que Gramsci põe o adjetivo ‘privado’ entre aspas, querendo com isso 
significar que — apesar desse seu caráter voluntário ou ‘contratual’ — eles têm uma indiscutível dimensão 
pública, na medida em que são parte integrante das relações de poder em dada sociedade.” COUTINHO, Carlos 
Nelson. Marxismo e política: a dualidade de poderes e outros ensaios. São Paulo: Cortez, 1994. p. 54-5. 
16 GRAMSCI, A. Op. cit., v. 2. p. 244. Grifos meus. 
 
 
19
mundo burguês (a hegemonia) ou, ao contrário, capazes de opor-se 
resolutamente a este terreno dos interesses (corporativo), em direção a uma 
sociedade igualitária (‘regulada’) na qual a eticidade prevaleceria (o 
momento ético-político da contra hegemonia). Não há oposição entre 
sociedade civil e Estado, em Gramsci.17 
 
Voltemos ao debate Miliband-Poulantzas e sua compreensão sobre sociedade e seu 
relacionamento com o Estado. A partir desse ponto, passaremos a utilizar a perspectiva 
Gramsciana de sociedade civil e sociedade política como base de nossa compreensão. 
Miliband nos traz dados acerca da presença do empresariado na sociedade política norte-
americana: 
 
Nos Estados Unidos, eram os empresários que constituíam o maior grupo 
ocupacional singular dos gabinetes, entre 1889 e 1949; e do número total de 
membros do gabinete entre tais datas, mais de 60% eram empresários de um 
tipo ou de outro. Nem mesmo durante o governo Eisenhower (1953-1961) 
foi a presença dos empresários nos gabinetes dos Estados Unidos menos 
marcante.18 
 
Completamos essa informação dizendo que no governo John F. Kennedy (1961-1963) 
esta presença também não seria menos marcante, mas disso trataremos no nosso próximo 
capítulo. Miliband separa a presença empresarial em gabinetes de sua participação em esferas 
da administração e no controle do setor público. A nosso ver, todas estas esferas estão dentro 
da percepção gramsciana de Estado, ou seja, esta parcela de classe representada pelo 
empresariado estava liderando o processo tanto na sociedade civil quanto na sociedade 
política de seus países. Portanto, concordamos em parte com as conclusões de Miliband, 
porém a partir de outra perspectiva de Estado. Como no exemplo que se segue, onde o autor 
afirma que os empresários ocupantes destes postos não se considerariam representantes do 
mundo dos negócios em geral: 
 
Pode-se admitir facilmente que os empresários que ingressam no sistema 
estatal, qualquer que seja o seu cargo, não se consideram representantes do 
mundo dos negócios em geral ou menos ainda de suas próprias indústrias ou 
firmas particulares. Mas mesmo que o desejo de pensar em termos 
nacionais seja muito forte, os empresários que estão no governo ou na 
administração muito provavelmente não estarão de acordo com uma 
 
17 FONTES, Virgínia. A sociedade civil no Brasil contemporâneo: lutas sociais e luta teórica na década de 1980 
In: NEVES, Lúcia M. W.; LIMA, Julio C. F. (orgs.). Fundamentos da educação escolar do Brasil 
contemporâneo. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006, pp. 201-240. Retiramos as citações de texto fornecido pela autora 
que reproduz o capítulo mencionado. Neste texto, o trecho citado encontra-se na p. 7. As seguintes citações desta 
referência seguirão a numeração mencionada nesta nota. Grifos da autora. 
18 MILIBAND, Ralph, Op. cit., p. 76. 
 
 
20
política que venha a contrariar aquilo que consideram ser do interesse 
do empresariado, nem muito menos a se tornarem os defensores de tal 
política, uma vez que, quase por definição, estarão propensos a 
acreditar que tal política é inimiga do interesse nacional.19 
 
Para Miliband, este fenômeno é extremamente importante na evolução do capitalismo 
de maneira geral. Aponta a estratificação social e econômica da sociedade como um elemento 
responsável pela própria constituição da classe dominante como classe dirigente, com elevado 
grau de coesão e solidariedade, com objetivos comuns que transcendem suas diferenças e 
discordâncias. 
O Estado capitalista, para o autor, intervém na economia para defender a empresa 
capitalista e a “livre iniciativa”. Para que isso se sustente, o empresariado deve fazer parte do 
que ele chama “elite estatal”. Exemplificando com o caso do posicionamento dos Estados 
Unidos frente a essa conjunção de elementos, diz: 
 
A atitude do governo norte-americano em relações aos países de terceiro 
mundo depende do grau em que aqueles governos favorecem a livre-empresa 
norte-americana. Dentro de tal perspectiva, o mal supremo está obviamente 
na subida ao poder de governo cujo objetivo principal é justamente abolir a 
propriedade privada e a empresa privada, nacional e estrangeira, nos setores 
mais importantes da vida econômica ou em todos eles.20 
 
Miliband continua sua interpretação acerca da superioridade política do empresariado, 
tratando agora da esfera situada fora do sistema estatal, separando artificialmente a dinâmica 
existente entre sociedade civil e sociedade política, no entendimento gramsciano de Estado. O 
empresariado, segundo Miliband, pode estar taticamente dividido, mas sempre 
estrategicamente coeso. Justifica esse ponto dizendo que isso se dá por conta das relações que 
estes homens de negócios possuem com ministros, funcionários civis e outros membros da 
elite estatal. Este grupo definido por Miliband será tratado por nós como “elite orgânica”, 
assim como proposto por René Dreifuss, incluindo em sua conformação tanto membros da 
sociedade civil quanto membros da sociedade política. 
O conceito de elite orgânica aparece para sistematizar e categorizar nossa intenção de 
mostrar como a classe dominante vive politicamente - como o empresariado, parte desta 
classe, milita politicamente em prol de suas demandas políticas, econômicas e 
 
19 Idem, p. 78. Grifos meus. 
20 Idem, p. 108. 
 
 
21
ideológicas - buscando compreender sua inserção social não somente em tempos de revoltas 
ou revoluções, mas sim em sua luta política permanente. 
 
Luta das mais importantes é aquela que se trava durante o preparo para a 
ação, pela potencialização dos atores, no decorrer da normalidade, do dia a 
dia da intervenção ‘fria’ e persistente no conflito de classes, na ação diária, 
constante, sistemática, nos campos ‘frios’ da política. [...] É um esforço, 
portanto, de entender como uma classe economicamente dominante se 
organiza estratégica e taticamente para desenvolver a ação política 
necessária e assegurar a consecução dos seus objetivos: a direção política e 
ideológica da sociedade no duplo exercício gramsciano de força e 
autoridade, de dominação e hegemonia, de violência e civilização.21 
 
O termo “elite” comporta definições e interpretações prévias que podem confundir. 
Alguns críticos apontam para a impossibilidade do uso deste termo pelo marxismo, incluindo-
se aí a proposta gramsciana de interpretação da sociedade. Discordamos desta perspectiva, 
pois Gramsci, apesar de não definir sua concepção de elite de maneira clara, utiliza o termo 
em seus escritos mais de uma vez. 
Portanto, falamos de elite sim, mas nosso trabalho não prevê a compreensão da 
dinâmica social através da teoria das elites – “que consiste na afirmação da presença de 
minorias ativas numa massa passiva desorganizada, isto é, na separação entre governantes

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