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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS MARINA DAS NEVES GOMES AVALIAÇÃO DO EFEITO GENOTÓXICO DA ELETROTERAPIA EM ASSOCIAÇÃO À NANOTECNOLOGIA Rio de Janeiro 2015 ii MARINA DAS NEVES GOMES AVALIAÇÃO DO EFEITO GENOTÓXICO DA ELETROTERAPIA EM ASSOCIAÇÃO À NANOTECNOLOGIA Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências Farmacêuticas. Orientadores: Profª. Drª. Carla Holandino Quaresma Prof. Dr. Alvaro Augusto da Costa Leitão Rio de Janeiro 2015 iii MARINA DAS NEVES GOMES AVALIAÇÃO DO EFEITO GENOTÓXICO DA ELETROTERAPIA EM ASSOCIAÇÃO À NANOTECNOLOGIA Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências Farmacêuticas. Aprovada em: Orientador: ________________________________________ Profª. Drª. Carla Holandino Quaresma Faculdade de Farmácia – UFRJ ________________________________________ Prof. Dr. Alvaro Augusto da Costa Leitão Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho - UFRJ Banca Examinadora: ________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Ricci Júnior Faculdade de Farmácia – UFRJ _________________________________________ Profa. Marcia Alves Marques Capella Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho - UFRJ _______________________________________ Prof. Dr. Rodrigo Soares Fortunato Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho - UFRJ ________________________________________ Prof. Dr. Alexadre dos Santos Pyrrho Faculdade de Farmácia – UFRJ Revisor iv Dedico este trabalho ao meu saudoso e amado pai, à minha pequena Heloisa e à minha família. Eles são o meu apoio, onde sinto calma, paz e amor. Minhas conquistas só foram possíveis porque eles estavam lá, me ajudando, trazendo tranquilidade, me incentivando com cada palavra, gesto e sorriso. v AGRADECIMENTOS Meu primeiro agradecimento é para a Profª Drª Carla Holandino, não apenas por ter sido minha professora na graduação, orientadora no mestrado e no atual trabalho, mas por ter me aceito no seu laboratório e, principalmente por ter me apresentado uma série de procedimentos complementares na medicina, o que me fez “pensar fora da caixa” como se diz popularmente. Para mim ela é uma excelente pesquisadora, principalmente na área da homeopatia e da eletroterapia, e não sei se por coincidência, ou por respeitá-la e ter uma grande admiração pelo seu trabalho, acabei me apaixonando e me envolvendo com as duas áreas. Agradeço toda a orientação do Prof. Dr. Alvaro Leitão. Considero o Prof. Alvaro um orientador ideal, aquele que está ao seu lado na bancada, da mesma forma que está ao seu lado corrigindo seu texto, nos detalhes. Um mestre que em meio a sorrisos e gritos “à moda italiana” faz de tudo para conseguir o melhor para o laboratório, e desta forma cativa a todos. Agradeço ao Prof. Dr. Rodrigo Fortunato e ao MSc. Igor Monteiro todo o apoio nos ensaios. Vocês foram fundamentais nos ensinamentos, no acompanhamento e principalmente ao demonstrarem a forma tranquila e eficiente que trabalham. Ao Prof. Dr. Cristiano Ponte, por todo o treinamento na manipulação de animais, na construção do micromanipulador, equipamento essencial para o trabalho, pela ajuda nos ensaios cardíacos, e principalmente pela enorme amizade e carinho. Ao Prof. Dr. Rodrigo Bissagio pela ajuda no tratamento dos animais e na microscopia e por toda tranquilidade e carinho que tratou nosso trabalho. A Profª. Drª. Luisa Endres Ribeiro da Silva e ao Prof. Dr. Marcos Telló pela colaboração com os cálculos. A Profª. Drª. Helena Zamith que nos ajudou em muitas dúvidas de protocolo dos ensaios de genotoxicidade, sempre muito atenciosa. vi A Profª Drª. Morgana Castelo Branco e ao MSc. Venicio Veiga pela ampla contribuição em toda a parte de microscopia do trabalho. Ao veterinário patologista Dr. Nelson Bretas que nos auxiliou com a leitura das lâminas de microscopia e acrescentou muito com suas colocações e questionamentos. Aos meus queridos orientados Ana Carolina de Carlos, Bruno Carneiro, Juan Martinez, Kelly Abrahão, Maria Luíza Honório e Mariana Maia. Vocês foram essenciais para o desenvolvimento deste trabalho. Aprendemos, estudamos, discutimos, rimos e até cantamos durante este tempo. Espero ter ensinado o tanto quanto aprendi com vocês. Agradeço a Janine Cardoso, Leonardo Vidal, Gleyce Moreno Barbosa e Bruna Peçanha técnicos de extrema competência, que mantêm toda organização e estrutura dos laboratórios e ainda conseguem tempo para ajudar a montar protocolos, e realizar os experimentos com muita paciência e disposição. Aos amigos do Laboratório de Radiobiologia Molecular, Gabriela, Jéssica, Juliana, João, Stephan, Tula, obrigada pelas informações, pelos momentos de descontração, por terem me recebido tão bem. Um agradecimento especial a Tatiana que nos auxiliou com alguns questionamentos que geraram novos ensaios e a Rita de Cássia, a Ritinha, sempre muito carinhosa, atenciosa e animada, um agradecimento por manter o laboratório funcionando e por ter “dado um jeitinho” sempre que precisávamos. A Grethel Mejia, colombiana querida, que me auxiliou com os experimentos de cometa, com muita calma e disposição. Aos amigos do Laboratório Multidisciplinar de Ciências Farmacêuticas, Ana Paula, Francielle, Fortune, Isadora, Vânia e principalmente a Gleyce e ao Felipe por toda a ajuda no desenvolvimento deste trabalho. A Profa. Drª. Yraima Cordeiro, banca de acompanhamento por todas as contribuições e ao Prof. Dr. Alexandre Pyhrro que além de me acompanhar nas bancas de acompanhamento do mestrado e doutorado, fez diversos questionamentos e correções que somaram muito ao projeto e na finalização deste trabalho. vii Aos velhos e novos amigos por acompanharem mais uma jornada. Ao Instituto Federal do Rio de Janeiro, onde me formei e hoje sou professora, por toda colaboração para a realização deste trabalho, pelos editais com os quais consegui dar andamento ao projeto, e pela equipe de farmácia que compreendeu e contribuiu no uso do laboratório. E meu agradecimento maior, a minha família, por terem me apoiado sempre, em todas as minhas escolhas, pelos conselhos sempre no momento certo, pelo amor incondicional, devo tudo a vocês. A minha mãe, a pessoa mais incrível que conheço, lutadora, justa, inteligente, cheia de ideais e idéias maravilhosas, apoiadora em tudo que faço. Aos meus amados irmãos Luiza, João Paulo, Priscilla e Bernardo, meu sobrinho Pedro, a pessoinha mais encantadora, a Dita por todos os cuidados e ajuda e ao meu companheiro de passeios e brincadeiras Alpes. Agradeço, ao meu esposo, Nelson, pelas palavras de incentivo, pelo amor. Passamos juntos por esta difícil fase de conclusão de trabalho e unidos nos esforçamos e nos apoiamos. Te amo e agradeço sempre por ter você na minha vida. E principalmente um agradecimento cheio, repleto, de muito amor e saudades ao meu pai, Heitor Flavio, que nos deixou há pouco tempo apenas em matéria, pois, seus ensinamentos, colocações e principalmente, seu apoio repercutem, e muito, em nós. Lembrar de suas palavras, de seus gestos, foram incentivos muito importantes para a conclusão deste trabalho. E claro, um agradecimento especial a essa filha linda, Heloisa, que carrego comigo, a quem eu já amotanto e de forma tão intensa. Mesmo sem saber é a maior incentivadora da conclusão desta jornada! viii “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.” Friedrich Nietzsche ix LISTA DE FIGURAS Figura 1. Mapa do mundo com os tipos de câncer mais comuns, para o sexo feminino (primeiro gráfico) e para o sexo masculino (segundo gráfico), simbolizados por cor............................................................................................. 25 Figura 2. Mortalidade por câncer, no Brasil, dada em porcentagem, para homens e mulheres, entre os anos de 2002 e 2012............................................. 26 Figura 3. Representação esquemática da corrente contínua, ou seja, corrente que não possui sua polaridade modificada ao longo do tempo............................ 29 Figura 4. Gráfico representando a corrente alternada......................................... 30 Figura 5. Esquema representativo da inserção de eletrodos no tumor por meio da cerclagem......................................................................................................... 36 Figura 6. Esquema representativo dos mecanismos de ação da eletroterapia no tratamento de tumor, separando os fenômenos que ocorrem no tecido em contato com o pólo positivo, ânodo, dos que ocorrem no pólo negativo, cátodo. 40 Figura 7. Representação esquemática do ciclo catalítico da glutationa.............. 46 Figura 8. Eventos da divisão celular.................................................................. 63 Figura 9. Representação esquemática do sistema experimental de 24 poços usado para estímulo elétrico in vitro..................................................................... 71 Figura 10. Foto do micromanipulador, construído para melhor inserção das agulhas nos animais............................................................................................. 78 Figura 11. Imagem ilustrativa dos lóbulos do fígado de um camundongo. Lóbulo mediano, esquerdo, direito e o lóbulo caudado........................................ 79 Figura 12. Sistema experimental para estímulo elétrico in vivo........................... 81 Figura 13. Foto demonstrando a aplicação de ETT em camundongo................. 83 Figura 14. Esquema demonstrando os tempos de cada carga aplicada nos camundongos........................................................................................................ 84 Figura 15. Esquema respresentando a eritropoiese, ou seja, a sequência para a formação de eritrócitos no sangue periférico..................................................... 86 Figura 16. Foto do camundongo, anestesiado e na posição de decúbito dorsal, em placa de isopor, apresentando três eletrodos fixados externamente, por meio de um fio de aço inserido subcutaneamente............................................... 89 x Figura 17. Camundongo com cateter intravascular inserido na artéria carótida, após anestesia..................................................................................................... 90 Figura 18. O grupamento tiol reage com o DTNB-2, clivando o disulfeto, levando a formação de 2-nitro-5-benzoato (TNB-2) que possui uma cor amarela intensa a 412 nm..................................................................................... 93 Figura 19. Por detecção espectrofotométrica é possível monitorar glutationa, empregando-se como substância cromogênica o ácido 5,5'-ditio-bis-(2- nitrobenzóico), DTNB.......................................................................................... 94 Figura 20. Resposta da cepa TA97 para o ensaio de AMES.............................. 100 Figura 21. Resposta da cepa TA98 para o ensaio de AMES.............................. 101 Figura 22. Resposta da cepa TA100 para o ensaio de AMES............................ 102 Figura 23. Resposta da cepa TA102 para o ensaio de AMES............................ 103 Figura 24. Foto das lâminas de histologia do lóbulo do fígado de camundongos C57BL/6......................................................................................... 106 Figura 25. Análise da quantidade de micronúcleos em eritrócitos de sangue periférico de camundongos................................................................................. 107 Figura 26. Gráfico do resultado da medição de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) e da frequência cardíaca (FC) ao longo do tempo.................. 109 Figura 27. Resultado da leitura das amostras pelo método de Amplex red........ 110 Figura 28. Resultado da leitura das amostras pelo método de quantificação do grupamento Tiol.................................................................................................. 111 xi LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro 1. Relação das cepas de Salmonella typhimurium (TA97, TA98, TA100 e TA102), com caráter genético relevante e o que causam os agentes mutagênicos nestas cepas (MARON & AMES, 1983)........................................................................ 68 Quadro 2. Quadro resumindo os quatro tempos de retiradas de alíquotas das cepas TA97, TA98, TA100 e TA102, após passagem de corrente elétrica contínua, na ausência de nanopartículas de L-tirosina e quando acrescentados da suspensão de nanopartículas, nos três fluxos, anódico (FA), catódico (FC) e eletro-iônico (FEI)....... 73 Quadro 3. Resumo dos efeitos dos anestésicos xilazina e cetamina, utilizados nos experimentos in vivo (adaptado de Bayer, 2014).......................................................... 76 Quadro 4. Divisão dos grupos de animais para o ensaio de genotoxicidade............... 82 Tabela 1. Ensaio de citotoxicidade das cepas TA97, TA98, TA100 e TA102, após estímulo com cargas de 1,44 C; 2,16 C; 2,88 C e 3,6 C, na ausência de nanopartículas e na presença de nanopartículas de L-tirosina..................................... 98 xii LISTA DE EQUAÇÕES Equação 1. Reação de eletrólise da água decorrente dos efeitos do polo positivo (ânodo-oxidação): liberação de oxigênio, íons hidrogênio e acidificação do meio eletrolítico........................................................................... 38 Equação 2. Reação de eletrólise da água decorrente dos efeitos do polo negativo (cátodo-redução): liberação de íons hidroxila e de gás hidrogênio....... 38 Equação 3. Sequência de reações que ocorrem no ânodo gerando cloraminas............................................................................................................ 39 Equação 4. Reação de elimação do radical superóxido, catalisada pela enzima superóxido dismutase (SOD), enzima que acelera a dismutação do radical superóxido, quando em pH fisiológico, formando peróxido de hidrogênio e oxigênio........................................................................................... 43 Equação 5. Reação de Fenton, nome dado à oxidação de ferro (II) a ferro (III) pelo peróxido de hidrogênio, produzindo espécies com alto poder oxidante como o radical hidroxil.......................................................................................... 43 Equação 6. Reação que representa o equilíbrio entre a glutationa reduzida, GSH e a glutationa oxidada GSSG (dimerizada da GSH)................................... 46 xiii LISTA DE ANEXOS Anexo 1. Preparo de soluções............................................................................ 144 Anexo 2. Aprovação do Comitê de Ética de no Uso de Animais da Universidade Federal do Riode Janeiro sob o número de referência FARMACIA011-06/16....................................................................................... 147 Anexo 3. Aprovação do Comitê de Ética de no Uso de Animais do Instituto Federal do Rio de Janeiro sob o número de referência 003-2014..................... 148 xiv SÍMBOLOS E UNIDADES A ............................ Ampère A/O/A ............................ Água/óleo/água BPF ............................ Baixo ponto de fusão BSA ............................ Albumina de soro bovino, do inglês bovine serum albumin C ............................ Coulomb C/cm ............................ Coulomb por centímetro C/s ............................ Coulomb por segundo CC ............................ Corrente contínua Cél/mL ............................ Células por mililitro DC ............................ Débito cardíaco DCM ............................ Diclorometano DDP ............................ Diferença de potencial DNA ............................ Ácido desoxirribonucleico, do inglês deoxyribonucleic acid EDTA ............................ Etilenodiaminotetracético EMS ............................ Etilmetanosulfonato ERO ............................ Espécie reativa de oxigênio ETT ............................ Eletroterapia FA ............................ Fluxo anódico FC ............................ Fluxo catódico FEI ............................ Fluxo eletro-iônico J/m2 ............................ Joule por metro quadrado LB ............................ Lysogeny-Broth mA ............................ Miliampère MEVB ............................ Meio Vogel-Bonner mg/kg ............................ Miligrama por kilograma mg/mL ............................ Miligrama por mililitro mM ............................ Milimolar NCE ............................ Eritroblasto normocromático, do inglês normochromatic erythrocytes nM ............................ Nanomolar ºC ............................ Graus Celsius p/v ............................ Peso por volume PAS ............................ Pressão arterial sistólica PAD ............................ Pressão arterial diastólica PBS ............................ Tampão salina fosfato, do inglês phosphate buffered saline PCE ............................ Eritroblasto policromático, em inglês polychromatic erythrocyte PCL ............................ Poli-ε-caprolactona PFN ............................ Ponto de fusão normal pH ............................ Potencial hidrogeniônico PVA ............................ Álcool polivinílico, do inglês polyvinyl alcohol RVPT ............................ Resistência vascular periférica total UFC ............................ Unidade formadora de colônia UV-C ............................ Ultravioleta C V ............................ Volts xv RESUMO GOMES, Marina das Neves. Avaliação do efeito genotóxico da eletroterapia em associação à nanotecnologia. Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Ciências Farmacêuticas) - Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Câncer é uma das principais causas de morte no mundo, e até 2030 estima- se 21 milhões de mortes por esta doença. O tratamento desta enfermidade pode ser por método convencional, como com o uso de radioterapia, cirurgia e quimioterapia ou complementar e/ou alternativo, como, por exemplo, com uso de corrente elétrica constante. O uso da corrente elétrica constante no tratamento do câncer é chamado de eletroterapia tumoral (ETT). Na ETT o tecido é tratado com uma corrente constante de baixa intensidade (20 A a 200 mA), por meio de dois ou mais eletrodos, colocados dentro do tumor ou próximo ao mesmo. Os eletrodos são conectados a uma fonte elétrica que gera a energia necessária para assegurar um fluxo de corrente. A ETT pode ser aplicada em combinação com outras terapias, como com a adição do ácido aminado L-tirosina, na forma encapsulada de nanopartículas (Nps) de poli-Ɛ-caprolactona. A reação deste ácido aminado com derivados de cloro, gerados na estimulação elétrica, leva à geração de cloraminas, que são agentes indutores de apoptose. O mecanismo de ação da ETT possui algumas vertentes, mas, ainda não foi completamente elucidado. Por exemplo, não se tem esclarecido o papel de espécies reativas de oxigênio na ETT. Também não se tem respostas quanto à sua atividade genotóxica e mutagênica, dado fundamental para a aceitação do tratamento por agências regulatórias. A ação da ETT na fisiologia cardíaca também não é explicada. Desta forma, este trabalho se propõe a ampliar os conhecimentos sobre a ETT, especificamentes nos tópicos citados. Para tal, avaliou-se a mutagenicidade pelo teste de mutação reversa bacteriana (teste de AMES) em ensaios in vitro, com cepas de Salmonella typhimurium (TA97, TA98, TA100 e TA102). A carga utilizada foi de 1,44 C na ausência de Nps e 2,16 C na presença das mesmas. O resultado do ensaio demonstrou que a corrente elétrica não leva à mutagenicidade. Foram analisados danos no cromossomo ou segregação cromossômica através da quantidade de micronúcleos, em sangue periférico de camundongos C57Bl/6, utilizando-se uma xvi carga de ETT de 2,4 C, e, não se observou alterações deste tipo no ensaio. Examinou-se a resposta cardíaca dos camundongos C57Bl/6 durante a aplicação de 2,4 C por meio de análise eletrocardiográfica e aferição da pressão arterial sistólica, diastólica e média, onde se observou uma elevação da pressão arterial sistólica acompanhada da pressão arterial diastólica, além de diminuição da frequência cardíaca. O estresse oxidativo causado pelo tratamento por ETT foi verificado in vivo, em camundongos C57Bl/6, pelos ensaios de Amplex Red e de quantificação de tiol. Estes ensaios indicaram que a passagem de corrente elétrica não aumentou os níveis de espécies reativas de oxigênio no fígado, em camundongos C57Bl/6. Alterações histológicas em hepatócitos tratados por ETT, em camundongos C57Bl/6, foram analisadas por microscopia óptica e foram encontradas alterações histológicas em hepatócitos tratados com o fluxo catódico, alterações como hiperemia e degeneração moderada. Um maior número de dados sobre o mecanismo de ação da terapia é necessário, mas, os resultados obtidos neste estudo são favoráveis à terapia, demonstrando sua segurança a curto e longo prazo, fator indispensável para seu uso em larga escala e aprovação por agências regulatórias. Palavras-chave: Eletroterapia tumoral; Nanotecnologia; Genotoxicidade; Mutagenicidade; Espécies reativas de oxigênio xvii ABSTRACT GOMES, Marina das Neves. Evaluation of the genotoxic effect of electrotherapy in association with nanotechnology. Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Ciências Farmacêuticas) - Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Cancer is one of the leading causes of death in the world, and it is estimated that 21 million people will have died of this disease by 2030. This infirmity can be treated with conventional method, e.g. with use of radiotherapy, surgery and chemotherapy, or with complementary and/or alternative method, e.g. with use of constant electric current. The use of constant electric current in the treatment of cancer is called tumoral electrotherapy (ETT). In ETT, the tissue is treated with a low intensity constant current (20 A to 200 mA), through one or more electrodes, placed inside the tumor or next to it. The electrodes are connected to an electrical source that generates the necessary energy to assure a current flow. The ETT can be applied in combination with other therapies, e.g. with the addition of amino acid L- tyrosine, in the encapsulated form of poly-Ɛ-caprolactone nanoparticles(Nps). The reaction of this amino acid with chlorine derivatives generated in the electric stimulation produces chloramines, which are apoptosis inducing agents. The mechanism of action of ETT has some components, but hasn’t yet been completely elucidated. For instance, the role of reactive species of oxygen in the efficacy of ETT is unclear. There are no clues as to its genotoxic and mutagenic activities, which is fundamental information for the acceptance of the treatment by regulatory agencies. The action of ETT in cardiac physiology remains unexplained as well. Thus, this work intends to broaden the knowledge of ETT, specifically in the aforementioned topics. To this aim, mutagenicity was evaluated through bacterial reverse mutation test (Ames test) in in vitro assays, with Salmonella typhimurium strains (TA97, TA98, TA100 and TA102). In the absence of Nps, a dose of 1.44 C was used, and a dose of 2.16 C was used in their presence. The result of the assay demonstrated that the electric current does not lead to mutagenicity. Possible damages to chromosome or chromosome segregation were analysed through micronucleus frequency, in peripheral of C57Bl/6 mice, using 2.4 C, and the results were negative. The cardiac response of C57Bl/6 mice during the application of 2.4 C was examined through electrocardiographic analysis and systolic, diastolic and average arterial pressure, and an elevation of the systolic arterial pressure followed by an elevation of the xviii diastolic arterial pressure, as well as a lower heart rate, was observed. The oxidative stress caused by treatment with ETT was verified in vivo, in C57Bl/6 mice, through Amplex Red and thiol quantification assays. These assays indicated that the passage of electric current did not increase the levels of reactive oxygen species in the liver, in C57Bl/6 mice. Histologic alterations in hepatocytes treated with ETT, in C57Bl/6 mice, were analysed through optical microscopy, and histologic alterations, such as hyperemia and moderate degeneration, were found in hepatocytes treated only with the cathodic flow. More information on the mechanism of action of this therapy is necessary, but the results obtained in this study are favorable to the therapy, demonstrating its safety in short and long term – which is indispensable for its use on a large scale and its approval by regulatory agencies. Keywords: Electrotherapy tumoral; Nanotechnology; Genotoxicity; Mutagenicity; Reactive oxygen species xix SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................... 21 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 Câncer........................................................................................................ 24 1.1.1 Modalidades convencionais de tratamento contra o câncer........ 26 1.1.2 Tratamento complementar e alternativo contra o câncer............. 27 1.2 Eletricidade - Conceitos Básicos................................................................ 28 1.2.1 Corrente elétrica........................................................................... 29 1.3 Uso da eletricidade na saúde..................................................................... 30 1.4 Eletroterapia tumoral.................................................................................. 31 1.4.1 Pioneirismo da ETT...................................................................... 32 1.4.2 Aplicação da Eletroterapia Tumoral............................................. 33 1.4.2.1 Eletrodos......................................................................... 34 1.4.2.2 Dose................................................................................ 37 1.4.2.3 Mecanismo de ação da eletroterapia.............................. 37 1.4.2.3.1 Espécies reativas de oxigênio .......................... 41 1.4.2.4 Vantagens e desvantagens do tratamento tumoral por eletroterapia................................................................................ 47 1.4.2.5 Alterações cardíacas com tratamento por corrente elétrica........................................................................................ 49 1.4.2.6 Associações da eletroterapia com outras terapias........ 50 1.4.2.7 Aplicação da ETT em animais........................................ 53 1.4.2.8 Resultados da aplicação de ETT em humanos..........,.. 56 1.5 Avaliação do potencial genotóxico............................................................ 61 1.5.1 Ensaio de mutação reversa bacteriana........................................ 61 1.5.2 Micronúcleo ................................................................................. 62 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral........................................................................................... 65 2.2. Objetivos Específicos................................................................................ 65 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Material..................................................................................................... 66 3.2 Preparo da suspensão de nanopartículas de L-tirosina............................ 66 3.3 Ensaio de mutagênese in vitro pelo método de AMES.............................. 67 3.3.1 Cepas bacterianas........................................................................ 67 3.3.2 Manutenção das cepas bacterianas............................................. 69 3.3.3 Obtenção das culturas bacterianas para experimentos............... 69 3.3.4 Sistema experimental in vitro....................................................... 70 3.3.5 Ensaio de citotoxicidade celular bacteriana após estímulo elétrico................................................................................................... 71 3.3.6 Ensaio de mutagênese pelo método de AMES............................ 72 3.4 Ensaios in vivo........................................................................................... 74 3.4.1 Animais......................................................................................... 74 3.4.2 Sistema experimental in vivo........................................................ 75 xx 3.4.3 Protocolo e carga de corrente elétrica aplicada............................ 77 3.4.4 Preparo do material para ensaio do micronúcleo........................................................................................... 82 3.4.5 Obtenção de sangue para periférico ensaio de micronúcleo....... 87 3.4.6 Eletrocardiograma....................................................................... 88 3.4.7 Registros da pressão arterial e da frequência cardíaca com cateter intravascular.............................................................................. 89 3.4.8 Avaliação e quantificação de espécies reativas de oxigênio .... 91 3.4.8.1 Tratamento dos animais................................................. 91 3.4.8.2 Manipulação do fígado................................................... 91 3.4.8.3 Dosagem de proteínas................................................... 92 3.4.8.4 Detecção de geração de espécie reativa por Amplex Red............................................................................................. 93 3.4.8.5 Quantificação do grupamento Tiol.................................. 94 3.4.9 Estudo histológico por microscopia óptica................................... 95 3.5 Avaliação estatística.................................................................................. 96 4. RESULTADOS 4.1 Resultados in vitro...................................................................................... 97 4.1.1 Ensaio de citotoxicidade celular bacteriana após estímulo elétrico ....................................................................................... 97 4.1.2 Ensaio de mutagênesepelo método de AMES.......................... 99 4.2 Resultados in vivo.................................................................................... 104 4.2.1 Escolha da carga de corrente elétrica a ser aplicada nos ensaios........................................................................................ 104 4.2.2 Estudo histológico por microscopia óptica.................................. 104 4.2.3 Ensaio de micronúcleo com sangue periférico........................... 106 4.2.4 Registros da pressão arterial e da frequência cardíaca com cateter intravascular.................................................................. 107 4.2.5 Avaliação e quantificação de espécies reativas de oxigênio total............................................................................................ 109 4.2.6 Detecção de geração de espécie reativa por Amplex Red............................................................................................. 109 4.2.7 Quantificação do grupamento Tiol................................................ 111 5. DISCUSSÃO 112 6. CONCLUSÃO 121 7. PERSPECTIVAS 123 REFERÊNCIAS 126 21 INTRODUÇÃO Dentre os vários efeitos da interação de correntes elétricas com o material biológico destacamos a atividade antitumoral que originou a eletroterapia tumoral (ETT). Na ETT os eletrodos são colocados de forma invasiva, na região a ser tratada, por onde ocorre passagem de corrente elétrica contínua constante, de baixa intensidade, o que resulta em destruição celular (NORDENSTRÖM, 1983, 1984; TELLÓ et al., 2004; VEIGA et al., 2005). Os estudos da eletroterapia tumoral tiveram início, na década de 70, com um médico radiologista sueco, Björn E. W. Nordenström. Em 1983, Nordenström publicou um livro com resultados do tratamento de 26 tumores pulmonares em 20 pacientes (alguns pacientes apresentavam mais de um nódulo nos pulmões). Nestes, obteve uma regressão em 12 dos tumores, sem sinal de reaparecimento dos mesmos após um período entre 2 a 5 anos (NORDENSTRÖM, 1983). Em 1987 levou sua experiência para a China e em 1989, a ETT foi aprovada pelo Ministério de Saúde Pública da China como uma das opções de tratamento para tumores (XIN, 1994, 1998). Vários têm sido os trabalhos publicados mostrando os resultados positivos da ETT para o tratamento de tumores em humanos, animais e em cultura de células (TAYLOR et al., 1994; XIN, 1998; WEMYSS-HOLDEN et al., 2000; HOLANDINO et al., 2001; FOSH et al., 2003; von EULER et al., 2001, 2003; MORRISON et al., 2004; VEIGA et al., 2005; JARQUE et al., 2007; TELLÓ et al., 2007; CAMPOS et al., 2010). O mecanismo de ação da ETT ainda não foi completamente compreendido. Entretanto, alguns aspectos importantes foram elucidados. No tratamento eletroquímico as principais reações anódicas envolvem a formação de oxigênio, a acidificação do pH, devido aos íons de hidrogênio liberados e a formação de cloro. No cátodo, o hidrogênio é formado e íons hidroxila são liberados, levando assim, a alcalinização do meio. Esta variação de pH e os produtos de eletrólise formados parecem ser os responsáveis pela destruição das células após aplicação da corrente elétrica de baixa intensidade (VEIGA et al., 2000; von EULER et al., 2002; HOLANDINO et al., 2014). 22 Detecta-se ainda, a ocorrência de necrose, induzida tanto pela estimulação anódica quanto catódica e movimento eletroosmótico da água, na direção do cátodo, causando desidratação na área anódica e edema na catódica (VIJH, 2004). A estimulação anódica leva também a geração de espécies oxidantes denominadas de cloraminas. Cloraminas orgânicas são formadas pela reação de aminas, como as que estão presentes nos ácidos aminados, com ácido hipocloroso (FURNESS-GREEN et al., 1998; VEIGA et al., 2000, 2005). A cloramina é capaz de inibir o ciclo celular, de maneira tempo-dose dependente, induzindo a morte celular, por processo apoptótico (NAITO et al., 1997). Estudos espectrofotométricos mostram que ao incubar diferentes ácidos aminados com HOCl, aqueles são convertidos imediatamente (dentro de segundos) em cloraminas, que tem um pico de absorção característico em 252 nm. Nesta relação de ácidos aminados para HOCl (4:1), não houve HOCl detectável remanescente depois de ter sido adicionado as misturas de ácidos aminados (ENGLERT & SHACTER, 2002). As cloraminas têm diferentes níveis de estabilidade, dependendo da química do grupo amino modificado; por exemplo, lisina e arginina podem ser de longa e de curta duração, respectivamente, pois, têm grupos amino adicionais que podem reagir com HOCl para formar cloramina de diferentes estabilidades (ENGLERT & SHACTER, 2002). Durante a ETT não ocorrem variações significativas na temperatura dos tecidos e órgãos e, portanto, a morte celular não pode ser atribuída a variações térmicas (DAVID et al., 1985; TELLÓ et al., 2004). Em contrapartida, Jarm e colaboradores demonstraram que a aplicação de corrente contínua induz danos vasculares na região tumoral, que levam a diminuição da perfusão sanguínea e da oxigenação, comprometendo, consequentemente, a nutrição do tumor (JARM et al., 2003). Além disso, estudos realizados com culturas de células evidenciaram que a morte celular pode estar associada a alterações morfológicas significativas, induzidas pela estimulação elétrica, tais como: modificação de glicoconjugados da superfície; aparecimento de blebs; rupturas na membrana plasmática; alterações nas mitocôndrias; inchaço celular; rarefação da matriz extracelular; formação de debris e condensação da cromatina (HOLANDINO et al., 2000, 2001; 2014; VEIGA et al., 2000, 2005). 23 A eletroterapia também pode ser associada ao ácido aminado L-tirosina. A inclusão destes ácidos aminados em sistemas nanoparticulados de poli-ε- caprolactona potencializou em cerca de 6.000 vezes as taxas de mortalidade de células tumorais, ao se tratar melanomas murinos resistentes a múltiplas drogas (linhagem B16F10), no uso associado à estimulação elétrica (CAMPOS et al., 2010). Os promissores resultados obtidos em modelos in vitro foram extrapolados para camundongos inoculados com melanoma MDR (B16F10), os quais foram tratados com ETT associada à nanopartículas de L-tirosina (TEIXEIRA, 2010). Clinicamente a ETT tem demonstrado ser uma terapia segura, efetiva, de fácil manuseio e baixo custo, quando comparada a terapêuticas usuais, que pode ser utilizada em pacientes refratários aos tratamentos convencionais (TELLÓ et al., 2004). Entretanto, o mecanismo de ação, envolvido com esta atividade antitumoral, ainda não é totalmente compreendido, apesar dos promissores resultados clínicos. Desta forma, a avaliação do mecanismo de ação, do potencial mutagênico e do potencial genotóxico da corrente elétrica contínua é um passo fundamental para a aceitação do tratamento pelas agências reguladoras de saúde e para consolidação desta terapêutica anticâncer. 24 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 Câncer Câncer é uma doença provocada por células incapazes de formar estruturas funcionais estáveis, que se multiplicam de forma anárquica, podendo invadir o organismo e afetar qualquer órgão do corpo (FLOOR et al., 2012). As populações de células cancerosas revelam muitas propriedades bioquímicas e biológicas, algumas comuns à maioria dos tipos de câncer, e outras específicas para os diferentes tipos de tumores. Entre as características comuns sabe-se que em um processo de vários passos, adquirem uma sucessão de particularidades, como autossuficiência em fatores de crescimento, ausência de sensibilidade a fatores de inibição de crescimento, fuga do fenômeno de apoptose, potencial de divisão ilimitado, angiogênese, metástase, reprogramação metabólica e evasão do sistema imune (FLOOR et al., 2012). No mundo, o cânceré uma das principais causas de morte por doença, e foi responsável por 7,6 milhões de mortes em 2008 (WHO, 2015). Estes números deverão aumentar para 21 milhões até 2030 (WHO, 2015). A Figura 1 representa através de um mapa-múndi os tipos de câncer que ocorrem com maior frequência, no sexo masculino, que são os de pulmão e brônquios, seguidos de próstata, e no sexo feminino, onde a maior incidência acontece com câncer de mama (ACS, 2011; WCRF, 2015). No Brasil, a mortalidade por câncer vem aumentando ao longo dos anos. A Figura 2 representa um gráfico da taxa de mortalidade por câncer, no Brasil, dada em porcentagem, por tempo, em anos, no período de 2002 a 2012. Neste gráfico é possível verificar um aumento de cerca de 2,4 % de novos casos em 10 anos, ou seja, cerca de 4 milhões e 800 mil mortes no país, causadas por câncer (INCA, 2015a). 25 Figura 1. Mapa do mundo com os tipos de câncer mais comuns, para o sexo feminino (primeiro gráfico) e para o sexo masculino (segundo gráfico), simbolizados por cor. A legenda indica a relação entre a cor apresentada no mapa e o tipo de câncer mais comum no país. Observa-se que no sexo masculino os tipos de câncer mais comuns são os de pulmão e brônquios, apresentados na cor azul, seguidos do câncer de próstata, de coloração roxa e no sexo feminino a maior incidência ocorre para o câncer de mama, visualizada em cor rosa. Fonte: adaptado de ACS, 2011. 26 Figura 2. Mortalidade por câncer, no Brasil, dada em porcentagem, para homens e mulheres, entre os anos de 2002 e 2012. Observa-se um aumento na mortalidade, causada por câncer, em 10 anos (2002 a 2012). Fonte: adaptado de INCA 2015a. 1.1.1 Modalidades convencionais de tratamento contra o câncer Importantes avanços na abordagem do câncer aconteceram nos últimos anos, porém, a escolha do tratamento varia de acordo com o estadiamento da doença - local do tumor primário e tipo celular, tamanho e extensão do tumor, se há propagação para linfonodos, presença de metástase, e grau de malignidade - as características biológicas do tumor, bem como das condições do paciente (NCI, 2015). Entre as modalidades convencionais de tratamento do câncer, mais utilizadas, tem-se a radioterapia, a cirurgia e a quimioterapia (INCA, 2015b). A radioterapia tem o seu fundamento na destruição de células através da radiação ionizante. Pode ser utilizada para dar alívio ao paciente e melhorar sua qualidade de vida, diminuir o tamanho dos tumores, diminuir ou estancar hemorragias ou atuar sobre outros sintomas, como dor. Nesta terapia existe o risco de toxicidade tardia, geralmente decorrente de alterações inflamatórias nos locais que receberam radiação. Este risco depende da dose utilizada e da área acometida, bem como da aparelhagem e do tipo de energia utilizada (ALMEIDA, 2004). 27 A cirurgia continua sendo uma das principais modalidades de tratamento dentro da oncologia para a maioria dos tumores sólidos. O câncer, em sua fase inicial, pode ser controlado e/ou curado, através do tratamento cirúrgico, quando este é o tratamento indicado para o caso. É um tratamento radical, que compreende a remoção do tumor primário, com margem de segurança e, se indicada, a retirada dos linfonodos das cadeias de drenagem linfática do órgão-sede do tumor primário. A margem de segurança, na cirurgia oncológica, varia de acordo com a localização e o tipo histológico do tumor. Ao contrário do tumor benigno, cuja margem de segurança é o seu limite macroscópico, o câncer, pelo seu caráter de invasão microscópica, exige ressecção mais ampla (INCA, 2015c). A quimioterapia é o método que utiliza compostos químicos, chamados quimioterápicos. Quando usados no tratamento de doenças causadas por agentes biológicos ou quando aplicada no combate ao câncer, a quimioterapia é chamada de quimioterapia antineoplásica. Estes agentes afetam tanto as células normais como as tumorais, porém, eles acarretam maior dano às células malignas do que às dos tecidos normais, devido às diferenças quantitativas entre os processos metabólicos dessas duas populações celulares. Por também atuarem em células normais, os quimioterápicos são responsáveis por inúmeras reações adversas e efeitos colaterais (ALMEIDA, 2004). 1.1.2 Tratamento complementar e alternativo contra o câncer Tratamento complementar e alternativo referem-se a qualquer prática médica ou produto que não fazem parte do padrão de cuidados médicos (BONACCHI et al., 2014). O termo complementar refere-se a tratamentos que são utilizados concomitantemente ao tratamento padrão e alternativo refere-se aos tratamentos que são usados no lugar do tratamento convencional. Os tratamentos convencionais são baseados em evidências científicas, já os tratamentos alternativos e complementares possuem benefícios, comparados aos tratamentos convencionais, porém, não se tem dados completos sobre sua segurança e seu mecanismo de ação (VICKERS, 2004; CASSILETH, 2012). 28 Entre os tratamentos complementares e/ou alternativos podemos citar abordagens mente-corpo (meditação, relaxamento, hipnoterapia), a acupuntura, a homeopatia, a terapia nutricional (dieta macrobiótica, vegetarianismo), a medicina tradicional chinesa, terapias baseadas em eletricidade, envolvendo o uso de campos pulsados, campos magnéticos, corrente alternada e corrente constante (BONACCHI et al., 2014; OCCAM, 2015). Este trabalho abordará a terapia complementar/alternativa baseada em eletricidade, mais especificamente a terapia que faz uso de corrente elétrica contínua constante. 1.2 Eletricidade - Conceitos Básicos A base para que exista um fenômeno elétrico é a carga elétrica. A matéria é composta de átomos e estes de um núcleo com prótons e nêutrons; em volta do núcleo, gravitam os elétrons. Portanto, existem em cada átomo dois tipos de carga elétrica, a carga do próton e a do elétron, que por convenção, foram denominadas de carga positiva e carga negativa, respectivamente. No Sistema Internacional de Unidades (S.I.), a unidade de carga é o Coulomb (C) (CHAVES, 2001). Quando modificado por uma força externa (ex. reações químicas, calor, luz, campo eletromagnético), um átomo pode perder ou ganhar elétrons, alterando sua carga e adquirindo propriedades elétricas. Neste processo, passa a ser chamado de íon. O íon ao adquirir um ou mais elétrons possui carga negativa e recebe o nome de ânion; quando perde um ou mais elétrons, recebe o nome de cátion, ficando com carga positiva. Os íons estão presentes em soluções eletrolíticas que compõem os tecidos biológicos (CHAVES, 2001). Os íons são livres para se moverem e os tecidos humanos são bons condutores, ou seja, o corpo humano permite que a eletricidade flua. Este fluxo de íons de um lugar para o outro através da matéria é denominado corrente elétrica (CHAVES, 2001). 29 1.2.1 Corrente elétrica O deslocamento de cargas elétricas, íons ou elétrons, constitui uma corrente elétrica. A intensidade da corrente elétrica é a medida da quantidade de carga que passa, por unidade de tempo, através de um corpo condutor. No S.I. a unidade de intensidade da corrente é 1 C / s (1 coulomb por segundo). Esta unidade é denominada de ampère (A), em homenagem ao físico francês André-Marie Ampère, que viveu no século XIX e contribuiu significativamente para o desenvolvimento do eletromagnetismo (MÁXIMO & ALVARENGA, 2000). A corrente pode ser de uma maneira geral, dividida em contínua ou alternada. A corrente contínua não tem sua polaridade alterada, flui sempre em um sentido, podendo ser constante (CC) quando seu gráfico é dado por um segmento de reta constante, ou seja, não variável, comumente encontrado em pilhas e baterias, ou pulsante (CP), quando passam periodicamente por variações, não sendo necessariamente constantes entre duas medidas em diferentesintervalos de tempo (Figura 3). Já na corrente alternada (CA), ocorre mudança de polaridade; assim, o fluxo de elétrons que carrega a energia elétrica dentro de um fio, não segue um sentido único, ora os elétrons vão para frente, ora para trás, mudando de rota 120 vezes / seg (Figura 4). A energia elétrica no caso do Brasil, em geral, é gerada sob a forma alternada (AMARAL, 2005). Figura 3. Representação esquemática da corrente contínua, ou seja, corrente que não possui sua polaridade modificada ao longo do tempo. A corrente contínua pode ser do tipo pulsante, quando passa periodicamente por variações em um intervalo de tempo, representada pelo gráfico A, ou contínua, representada, no gráfico B, com um segmento de reta constante, ou seja, não variável. Fonte: autoria própria. 30 Figura 4. Gráfico representando a corrente alternada. Esta corrente é invertida periodicamente, ou seja, ora é positiva e ora é negativa, fazendo com que os elétrons executem um movimento de vai-e- vem. Este tipo de corrente é o que encontramos quando medimos a intensidade na rede elétrica residencial. Fonte: autoria própria. 1.3 Uso da eletricidade na saúde A energia elétrica, quando aplicada como tratamento para transtornos médicos, é conhecida pelo nome de eletroterapia. Seu uso remonta de 46 a.C., quando Scribonius Largus, médico do imperador romano Claudius, descobriu que o estimulo elétrico recebido ao encostar em enguias elétricas, aliviava a dor, causando dormência (HILLS & STEBBING, 2014). Desde então, a eletricidade vem sendo usada terapeuticamente ao longo da nossa história, passando pela criação de máquinas eletrostáticas no século XVIII, por Benjamin Franklin e, pelo físico italiano Luigi Galvani, pioneiro nos estudos da eletrofisiologia (JOHN & REED, 2001). No entanto, o interesse de seu mecanismo e possível uso terapêutico diminuiu até 1959, quando Humphrey e Seal apresentaram resultados encorajadores com tratamento de tumores de sarcoma em ratos (HUMPHREY & SEAL, 1959). Na prática médica atual, o uso de energia elétrica é aceito em uma variedade de especialidades médicas, como neurologia e psiquiatria, sendo comum em pacientes com transtorno depressivo, manias e esquizofrenia, na fisioterapia e no manejo da dor (HILLS & STEBBING, 2014). O uso de eletroterapia para tratamento de pacientes com Parkinson foi aprovada em 2002 pelo Food Drug Administration (FDA) - agência que regulamenta medicamentos e alimentos nos Estados Unidos da América - (HILLS & STEBBING, 2014). 31 Outros efeitos da interação de correntes elétricas, mais especificamente da corrente elétrica contínua constante, com o material biológico, incluem ação antibacteriana (TIEHM, LOHNER & AUGENSTEIN, 2009; MAHAPATRA et al., 2011; WEI, ELEKTOROWICZ & OLESZKIEWICZ, 2011), antifúngica (BARBOSA, 2011) e antiparasitária (HEJAZI, ESLAMI & DALIMI, 2004; GOMES et al., 2012), regeneração de lesões cutâneas (HUCKFELDT et al., 2007; TALEBI et al., 2007; JENNINGS, CHEN & FELDMAN, 2008; ZUZZIA et al., 2013; BEHEREGARAY et al., 2014), aceleração da cicatrização de fraturas ósseas (WANG et al., 1998; CIOMBOR & AARON, 2005) e reparo e regeneração de nervos (MENDONÇA, BARBIERI & MAZZER, 2003; ACKERMANN et al., 2011). Uma das mais interessantes ações biológicas da corrente elétrica contínua é seu uso complementar/alternativo no tratamento do câncer. Esta atividade antitumoral é chamada de eletroterapia tumoral (ETT) (NORDENSTRÖM, 1983, 1984, 1989). 1.4 Eletroterapia tumoral Na eletroterapia tumoral o tecido é tratado com uma corrente contínua constante de baixa intensidade (entre 20 A e 200 mA), por meio de dois ou mais eletrodos, colocados dentro do tumor ou próximo ao mesmo. Desta forma, a CC cria um fluxo de elétrons entre o ânodo, polo positivo, o qual gera um fluxo anódico e o cátodo, polo negativo, que gera um fluxo catódico, dentro do tumor. Os eletrodos são conectados a uma fonte elétrica que gera a energia necessária para assegurar um fluxo de corrente adequado (NILSSON et al., 2000; VEIGA et al., 2005, CIRIA et al., 2013; HOLANDINO et al., 2014). 32 1.4.1 Pioneirismo da ETT Em meados do ano de 1776, Eason sugeriu que a eletricidade poderia ter um papel no tratamento de tumores, ao relatar o caso de uma paciente com tumor de mama que teve seu ombro atingido por um raio e após esta ocorrência, apresentou remissão da doença (DAVID et al., 1985). Durante o século XIX alguns relatos do efeito antitumoral da corrente elétrica foram documentados e em 1959, Humphrey e Seal apresentaram resultados encorajadores com sarcomas subcutâneos em ratos (HUMPHREY & SEAL, 1959). Em seguida a esta publicação, uma série de ensaios foram conduzidos, com base nos estudos in vitro e em modelos de tumores em animais, como melanomas, tumores hepáticos e pulmonares, em ratos e suínos. O médico sueco, radiologista, Björn E. W. Nordenström, na década de 70 tratou pacientes com câncer de pulmão primário pela aplicação de corrente elétrica entre dois eletrodos de fios de platina. Estes pacientes foram, por várias razões, impróprios para o tratamento cirúrgico, radioterápico ou quimioterápico. Na aplicação, o ânodo foi inserido centralmente no tumor e o cátodo a uma distância de cerca de duas vezes o diâmetro do tumor, a partir do ânodo. A voltagem aplicada foi de 10 V, sendo a média da carga aplicada de 80 C / cm3 do diâmetro do tumor (NORDENSTRÖM, 1978). Os pacientes foram anestesiados antes do tratamento e não indicaram desconforto durante a aplicação. Com os dados, Nordenström publicou um estudo em 1978 (NORDENSTRÖM, 1978), relatando o tratamento de cinco pacientes e em 1983, um livro descrevendo os resultados do total de 26 tumores pulmonares em 20 pacientes (alguns pacientes apresentavam mais de um nódulo nos pulmões) (NORDENSTRÖM, 1983). A regressão foi obtida pelo radiologista em 12 dos 26 tumores e nestes não houve sinais de retorno da doença após acompanhamento de 2 a 5 anos. Nordenström observou neste estudo que tumores com diâmetros maiores que 3 cm não responderam bem ao tratamento (NORDENSTRÖM, 1983). Em outro dos seus estudos publicou resultados positivos no tratamento de uma paciente com câncer de mama. O acompanhamento por mamografia, repetida em intervalos de 6 meses nos dois anos após o tratamento, não apresentou retorno do tumor (AZAVEDO, SVANE & NORDENSTRÖM, 1991). 33 Em 1993 Nordenström fundou a International Association for Biologically Closed Electric Circuits in Medicine and Biology (IABC). O grupo, do qual foi o primeiro presidente é composto por médicos, biólogos, biofísicos, engenheiros, educadores e profissionais de negócios. Atualmente, cerca de 300 membros estão engajados na pesquisa da área, em diferentes países como Alemanha, Austrália, Brasil, China, Coréia, Cuba, Dinamarca, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Hungria, Indonésia, Japão e Suécia (IABC, 2015a). Uma grande quantidade de dados clínicos, abrangendo mais de 2.000 casos de vários tipos de tumores, tanto benignos como malignos, tratados entre os anos de 1987 e 1992, foi discutido, em 1993, na primeira conferência do IABC em Estocolmo, Suécia, e posteriormente publicado (XIN, 1994). Um segundo simpósio internacional sobre o tratamento eletroquímico de câncer foi realizado em Pequim, China, em 1998, onde se relatou que o tratamento foi estabelecido em 1.260 hospitais em toda a China. O professor Xin Yu-Ling e colegas de trabalho no The China-Japan Friendship Hospital, em Pequim, organizaram cursos de pós-graduação sobre ETT e até 1998, mais de 2.000 médicos foram formados na área. Cerca de 10.000 pacientes com diferentes tipos de tumores tinham sido tratados nos últimos 10 anos, indicando uma substancial experiência clínica deste método (XIN, 1998). Björn Nordenström em sua publicação de1978 sugeriu que os efeitos antitumorais ocorriam devido aos produtos tóxicos provenientes das reações eletroquímicas induzidas no mesmo (NORDENSTRÖM, 1978), e que existem circuitos biologicamente fechados de corrente elétrica no corpo (NORDENSTRÖM, 1984). Nordenström faleceu em 2006 como professor emérito de radiologia diagnóstica no Instituto Karolinska, na Suécia (IABC, 2015b). 1.4.2 Aplicação da Eletroterapia Tumoral Vários têm sido os trabalhos publicados mostrando os resultados positivos da ETT para o tratamento de tumores, em humanos, animais e em cultura de células. A seguir descrevem-se as características do tratamento, seu provável mecanismo de ação e os resultados obtidos de aplicações in vitro e in vivo. 34 1.4.2.1 Eletrodos O eletrodo usado na ETT deve ser inerte e não pode ser susceptível a oxidações. Alguns materiais como platina, ouro e aço inoxidável, têm sido utilizados na clínica e, entre estes, a resposta, independe do tipo de material utilizado na confecção do eletrodo (DAVID et al., 1985; MIKLAVČIČ et al., 1993; KIM et al., 2007). O uso de eletrodos de ouro pode levar ao acúmulo do metal, porém, a morte celular não tem relação com a quantidade deste material acumulado (MIKLAVČIČ, FAJGELJ & SERŠA, 1994). Na clínica, algumas dúvidas existem sobre a disposição dos eletrodos, assim como da quantidade a ser usada; a localização; a distância entre os eletrodos, dentre outros fatores (CIRIA et al., 2013). Nordeströn em seus estudos inseria o ânodo centralmente no tumor e o cátodo a uma distância de cerca de duas vezes o diâmetro do tumor, a partir do ânodo. A lógica que Nordenströn utilizava na disposição dos eletrodos era que o campo elétrico negativo do cátodo empurraria as células tumorais, que se presume serem carregadas negativamente, para longe do mesmo e, portanto, impediria a metástase (NORDESTRÖN, 1978). No início dos estudos na China, Xin e colaboradores modificaram a técnica e ambos, cátodo e ânodo, foram inseridos no tumor, sendo os ânodos no centro do tumor e os cátodos na periferia do mesmo. Esta modificação tinha por objetivo proteger o tecido normal da destruição celular e demonstrou aumentar o efeito terapêutico (XIN et al., 1997). Em outro trabalho tratou-se melanoma B-16 e fibrosarcoma SA-I em camundongos com diferentes configurações de eletrodos. Quando um eletrodo era inserido centralmente no tumor o outro, de polaridade oposta, era inserido de forma subcutânea na vizinhança do tumor. Usaram-se três eletrodos no tumor e dois no tecido subcutâneo. Quando os eletrodos inseridos no tumor eram catódicos, o tumor regrediu mais rápido, mas não houve diferença estatística entre a eficácia das duas polaridades em relação à diminuição do tumor (MIKLAVČIČ et al., 1993). 35 Na mesma linha de estudo, tratou-se fibrosarcoma SA-1. Os eletrodos foram inseridos de duas diferentes formas, um eletrodo no tumor e o outro por via subcutânea 5 - 8 mm da borda do tumor; ou ambos os eletrodos por via subcutânea na vizinhança do tumor 5 - 8 mm de distância das bordas. O primeiro foi considerado como eletroterapia catódica, quando o eletrodo inserido diretamente no tumor foi negativo e anódica quando a polaridade foi invertida. Em todas as configurações obteve-se atraso no crescimento do tumor, entretanto, sem diferença estatisticamente significativa (MIKLAVČIČ, FAJGELJ & SERŠA, 1994). A inserção dos eletrodos é um parâmetro crucial para o sucesso do tratamento, porém a distribuição mais adequada ainda não foi determinada (JIMÉNEZ et al., 2011). A distância entre os eletrodos também não é padronizada nos trabalhos. Xin e colaboradores afirmaram que o diâmetro de alcance de morte celular pela eletroterapia era de 3 cm, em torno de cada eletrodo e, portanto, a distância entre os eletrodos não deveria ser superior a 3 cm (XIN et al., 1997). Desta forma, nem a geometria do eletrodo, nem sua distribuição são tratadas de forma adequada, sendo, no geral, a determinação destes dados empírica. Visando minimizar este problema de padronização quanto à inserção dos eletrodos, Telló e colaboradores desenvolveram um esquema de disposição dos eletrodos denominado de cerclagem monopolar (Figura 5). Na cerclagem, o tumor é envolvido por um fio de aço inoxidável e este é conectado a uma fonte de corrente contínua constante. O segundo polo (negativo ou positivo) é conectado a uma placa metálica externa à região do tumor (TELLÓ et al., 2007). 36 Figura 5. Esquema representativo da inserção de eletrodos no tumor por meio da cerclagem. Em A podemos visualizar uma foto, do fio de aço, que irá circundar o tumor, envolto nos dedos de uma mão, representando a forma que será inserido no tumor. A Figura B transpõe a representação de uma disposição normal dos eletrodos e a figura C a cerclagem do tumor, com estimulação pelo polo negativo. D é uma foto obtida durante o tratamento de câncer de mama de uma gata, por eletroterapia, com cerclagem feita com fios de aço, onde a estimulação foi realizada pelo polo negativo. Fonte: TELLÓ et al., 2007. 37 1.4.2.2 Dose Na eletroterapia tumoral a dose é calculada como produto da intensidade de corrente (ampère) vezes o tempo de aplicação (segundos), sendo a carga resultante dada em coulomb. Existe uma correlação direta entre a carga aplicada e a regressão do volume tumoral (GRIFFIN et al., 1994; ROBERTSON et al., 1998; YEN et al., 1999; TURLER et al., 2000; REN et al., 2001). Modelos matemáticos permitem sugerir que a eficácia do tratamento com corrente elétrica depende da carga e da susceptibilidade do tumor à ETT (CABRALES et al., 2008). Pode-se aplicar a carga de duas formas, tendo ambas resultados similares: por meio de voltagem, ou seja, a voltagem é mantida constante e a intensidade de corrente é variável, devido à mudança da resistência elétrica do tumor; ou por meio da corrente, onde esta é mantida com intensidade constante, sendo a voltagem variável, de acordo com a resistência do tumor (PUPO et al., 2011). Desta forma, verifica-se que não há ainda um método único, padronizado, para a aplicação da ETT. A duração do tratamento é uma variável adicional, podendo durar desde alguns minutos até várias horas (NILSSON et al., 2000), em função do estado clínico do paciente, do tipo de tumor, dentre outros aspectos. De uma forma geral, no tratamento clínico de humanos, algumas faixas específicas são utilizadas, a saber: voltagem, entre 6 e 12 V; faixa de corrente: 80 a 100 mA; tempo de tratamento: 20 a 120 min; carga aplicada: 80 a 1500 C. Entretanto, todos estes parâmetros dependem da consistência, do tamanho e tipo de tumor, além do estado clínico do paciente (NILSSON et al., 2000; CIRIA et al., 2013). 1.4.2.3 Mecanismo de ação da eletroterapia O mecanismo de ação da ETT ainda não foi completamente elucidado. Entretanto, alguns aspectos importantes estão bem esclarecidos. Considerando que ânodo é o local onde ocorre oxidação, isto é perda de elétrons, e o cátodo é o local das reações de redução, ou seja de ganho de elétrons, a equação de eletrólise da água indica a geração de gás oxigênio e íons hidrogênio, em cada um dos respectivos polos. Como consequência, há a acidificação do pH, devido aos íons de hidrogênio liberados no ânodo (Equação 1). 38 2 H2O(l) O2(g) + 4 H + (aq) + 4 e - Equação 1. Reação de eletrólise da água decorrente dos efeitos do polo positivo (ânodo-oxidação): liberação de oxigênio, íons hidrogênio e acidificação do meio eletrolítico. No cátodo, gás hidrogênio é formado e íons hidroxila são liberados, levando assim, a alcalinização do meio (Equação 2) (VIJH, 2004). 2 H2O(l) + 2 e - H2(g) + 2 OH − (aq) Equação 2. Reação de eletrólise da água decorrente dos efeitos do polo negativo (cátodo-redução): liberação de íons hidroxila ede gás hidrogênio. Nessas condições não fisiológicas, de pH diferenciado, proteínas podem sofrer desnaturação e precipitar (LI et al., 1997). Além disso, os produtos de eletrólise colaboram para a destruição das células após aplicação da corrente elétrica de baixa intensidade em ambos os polos (MORRIS, MARINO & GONZALEZ, 1992; VEIGA et al., 2000; von EULER et al., 2002; VIJH, 2004; HOLANDINO et al., 2014). A estimulação anódica leva também a geração de espécies denominadas de cloraminas (Equação 3), que se formam a partir da reação do ácido hipocloroso, com o grupo amina dos ácidos aminados presentes no meio eletrolítico (VEIGA et al., 2000, 2005). O cloro também é um produto gerado da aplicação de CC no ânodo (VIJH, 2004). O potencial oxidante das cloraminas, assim como a apoptose decorrente da ação destas espécies foi descrita previamente por outros autores em diferentes modelos experimentais (ENGLERT & SHACTER, 2002; WAGNER et al, 2002). A 2 Cl − (aq) Cl2(aq) + 2 e - 39 B Cl2(g) + H2O HClO(aq) + H + (aq) + Cl - (aq) C HClO(aq) H + (aq) + ClO - (aq) D Equação 3. Sequência de reações que ocorrem no ânodo gerando cloraminas. Na primeira equação (A) têm-se a formação do átomo de cloro. O ânion cloreto, íon com carga negativa, ao perder um elétron, fica com o número de elétrons igual ao número de prótons, assim, forma-se o cloro. Em uma reação secundária (B), o cloro produzido no ânodo reage com água produzindo o ácido hipocloroso, íons hidrogênio e cloreto. Logo em seguida, o ácido hipocloroso se dissocia formando o ânion hipoclorito (C). A última equação (D) representa a formação de cloramina, agente indutora de apoptose, a partir da reação de um ácido aminado com o ácido hipocloroso, do qual o cloro se combina com o grupo amina do ácido aminado, formando cloramina e água. A cloramina é capaz de inibir o ciclo celular, de maneira tempo-dose dependente, induzindo a morte celular (NAITO et al., 1997; ENGLERT & SHACTER, 2002). Detecta-se ainda, a ocorrência de necrose, induzida tanto pela estimulação anódica quanto catódica (MORRIS, MARINO & GONZALEZ, 1992), porém, este processo ocorre de maneira mais intensa durante a estimulação catódica (MIKLAVČIČ et al., 1993; HOLANDINO et al., 2014). Verifica-se também o movimento eletroosmótico da água, ou seja, o campo elétrico faz com que se forme um fluxo de água intersticial, na direção do cátodo, causando desidratação na área anódica e edema na catódica (NORDESTRÖN, 1983; VIJH, 2004; TELLÓ et al., 2007). Na Figura 6 pode-se ver um esquema representando os mecanismos de ação da ETT, de forma resumida, diferenciando os acontecimentos que ocorrem no ânodo e no cátodo. 40 Figura 6. Esquema representativo dos mecanismos de ação da eletroterapia no tratamento de tumor, separando os fenômenos que ocorrem no tecido em contato com o polo positivo, ânodo, dos que ocorrem no polo negativo, cátodo. Podemos distingui-los principalmente pela variação do pH (alcalinização decorrente das reações catódicas e acidificação oriunda das reações anódicas). Além das reações eletrolíticas, destacamos os fenômenos de desidratação e edemaciamento do tecido, detectados no ânodo e cátodo, respectivamente. O potencial oxidante das cloraminas, assim como a apoptose induzida por estas espécies, também contribui com os mecanismos antitumorais da eletroterapia. Fonte: adaptado de Weinberg, 1996. Durante a ETT não ocorrem variações significativas na temperatura dos tecidos e órgãos e, portanto, a morte celular não pode ser atribuída a variações térmicas (DAVID et al., 1985; MIKLAVČIČ et al., 1993; TELLÓ et al., 2004). Em contrapartida, a aplicação de CC parece provocar uma oclusão vascular (MIKLAVČIČ et al., 1997a) e induzir danos vasculares na região tumoral, que levam a diminuição da perfusão sanguínea e da oxigenação, comprometendo, consequentemente, a nutrição do tumor (JARM et al., 2003). Além disso, estudos realizados com culturas de células evidenciaram que a morte celular pode estar associada a alterações morfológicas significativas, induzidas pela estimulação elétrica, tais como: modificação de glicoconjugados da superfície; aparecimento de blebs; rupturas na membrana plasmática; alterações nas mitocôndrias; inchaço celular; rarefação da matriz extracelular; formação de debris e condensação da cromatina (HOLANDINO et al., 2000, 2001, 2014; VEIGA et al., 2000, 2005). 41 Em um estudo histológico, realizado por Chou e colaboradores, foram observadas alterações celulares, em tumores de fibrossarcoma em ratos, após o tratamento com corrente elétrica. As células tumorais sem tratamento apresentaram- se em forma de fuso, e os núcleos na forma oval. Após 1 h do tratamento, utilizando carga de 10 C, notou-se uma estrutura celular anormal, com margens não demarcadas e com presença de vacúolos, núcleos e nucléolos de formas irregulares. Vinte e quatro horas após o tratamento havia grande transtorno da estrutura celular e uma maior vacuolização do citoplasma e do núcleo (CHOU et al., 1997). Na revisão de Nilsson é possível analisar alguns estudos, in vitro, utilizando tratamento com corrente constante, que discutem a influência do próprio campo elétrico, gerado pela corrente elétrica, na sobrevivência e proliferação das células (NILSSON et al., 2000). Para melhor compreender a ação do campo elétrico, Wartenberg e colaboradores aplicaram um campo de cerca de 4 V / m, por meio de corrente elétrica do tipo pulsante, o que gera cerca de 5 mA de intensidade, por 24 h, em células de mucosa bucal (linhagem UMSCC-14C). Os dados deste estudo evidenciaram que o tratamento resultou na geração de espécies reativas de oxigênio (ERO), que por sua vez, podem ter induzido a cascata de sinalização apoptótica (WARTENBERG et al., 2007). Pupo e colaboradores acreditam que o mecanismo de ação da eletroterapia pode ser explicado pelas espécies reativas de oxigênio. Os campos elétricos, por meio destas espécies, oxidariam as membranas e induziriam quebras no DNA, gerando assim a letalidade celular (PUPO, JIMÉNEZ & CABRALES, 2011). 1.4.2.3.1 Espécies reativas de oxigênio A existência de espécies químicas na forma de radicais livres foi descrita pela primeira vez no ano de 1900, quando a decomposição de hexafenietano em dois radicais trifenilmetil foi demonstrada. Porém, reações envolvendo radicais livres em meio biológico só foram consideradas importantes em 1940, com a introdução de técnicas que permitiam detectá-los e com os estudos de cinética das reações envolvendo espécies químicas de meia-vida curta (RIBEIRO et al., 2005). 42 Espécie reativa de oxigênio é um termo coletivo que descreve radicais livres derivados de oxigênio, como o ânion superóxido (O2 •-), radical hidroxil (HO•), peroxil (RO2 •), alcoxil (RO•), bem como espécies não radicais, tais como peróxido de hidrogênio (H2O2) (MATÉS & SÁNCHEZ-JIMÉNEZ, 2000; RAY, HUANG & TSUJI, 2012). O radical superóxido (O2 •-) É a primeira das espécies formadas pela redução do oxigênio por um único elétron. Pode agir como oxidante ou como redutor, dando origem a outras espécies reativas. É formado em todas as células aeróbicas por diferentes vias, como no sistema NADPH citocromo P-450 redutase microssomal, principalmente no retículo endoplasmático liso, que envolve o metabolismo de xenobióticos. Neste último há utilização de oxigênio para hidroxilar as moléculas de xenobióticos, aumentando sua polaridade, e assim, facilitando posteriores reações de conjugação, para excreção pelas vias biliar ou urinária. O radical superóxido é um intermediário neste processo, formando um complexo com o átomo de ferro do citocromo (RIBEIRO et al., 2005). Peróxido de hidrogênio (H2O2) Dois radicais superóxido formam peróxido de hidrogênio, por conversão espontânea e enzimática(Equação 4). Quando em pH fisiológico, a baixa concentração de prótons reduz a taxa de reação espontânea e o peróxido de hidrogênio formado é o produto da reação enzimática para eliminação do radical superóxido pela ação da enzima superóxido dismutase (SOD) (RIBEIRO et al., 2005). A SOD é a enzima chave na eliminação de O2 •- e para agir requer oligoelementos como cobre, zinco e manganês (MICHIELS et al., 1994). São descritas três formas da superóxido dismutase: a CuZnSOD (SOD 1, dependente de cobre e zinco, presente no citoplasma, no compartimento nuclear e nos lisossomas), a MnSOD (SOD 2, dependente de manganês, na mitocôndria) e a CuZnSOD (SOD 3, dependente de cobre e zinco, que se localiza no plasma, linfa, ascite e fluído cérebroespinhal) (ZELHO, MARIANO & FOLZ, 2002). 43 SOD 2O2 •- (aq) + 2H + (aq) H2O2(aq) + O2(g) Equação 4. Reação de elimação do radical superóxido, catalisada pela enzima superóxido dismutase (SOD), enzima que acelera a dismutação do radical superóxido, quando em pH fisiológico, formando peróxido de hidrogênio e oxigênio. Desta forma, as vias que geram superóxido, também podem gerar peróxido de hidrogênio. Além disso, nos peroxissomos há geração de grande quantidade de peróxido de hidrogênio, através da atuação de oxidases envolvidas no catabolismo de ácidos aminados e na oxidação de ácidos graxos (GOUGH & COTTER, 2011). Radical hidroxil (HO•) A reação de Fenton (Equação 5) tem sido proposta como a principal via de geração do radical hidroxil, através da decomposição do peróxido de hidrogênio, catalisada por metal, principalmente por ferro (DIXON & STOCKWELL, 2014). Fe2+ + H2O2 Fe 3+ + OH• + OH- Equação 5. Reação de Fenton, nome dado à oxidação de ferro (II) a ferro (III) pelo peróxido de hidrogênio, produzindo espécies com alto poder oxidante como o radical hidroxil. A produção de espécies reativas de oxigênio, entre outras espécies reativas, é parte integrante do metabolismo humano e é observada em diversas condições fisiológicas. Estas espécies tem importante função biológica e, quando sua produção é exacerbada, o organismo dispõe de um eficiente sistema antioxidante que consegue controlar e restabelecer o equilíbrio, ou seja, o balanço entre espécies químicas oxidantes e redutoras (REDOX) nas células. O estresse oxidativo resulta do desequilíbrio entre o sistema pró e antioxidante, com predomínio dos oxidantes, com dano consequente (MATÉS & SÁNCHEZ-JIMÉNEZ, 2000). Os danos oxidativos podem se acumular e resultar em vários efeitos biológicos, como oxidação de biomoléculas, alterações na transdução de sinal, mutagênese e até morte celular (MATÉS & SÁNCHEZ-JIMÉNEZ, 2000). Existem evidências de que a morte celular provocada pelas espécies reativas de oxigênio pode ocorrer por apoptose (MATÉS & SÁNCHEZ-JIMÉNEZ, 2000). 44 Para se defender da toxicidade das ERO, o organismo apresenta pelo menos, três mecanismos de defesa: prevenção da formação das ERO; reparo das moléculas modificadas; eliminação das espécies reativas de oxigênio. A prevenção da formação de ERO inclui mecanismos antioxidantes, como, por exemplo, a quelação de metais, durante transporte e armazenamento, evitando a reação de Fenton; a organização estrutural do DNA em cromatina (KELL, 2009). O mecanismo de reparo é feito pelo sistema de reparo do DNA, como, por exemplo, o reparo por excisão de bases, através do qual, bases danificadas são removidas pela enzima glicosilase, com restauração da fita de DNA por polimerases e DNA ligase. Outro mecanismo importante é o de excisão de nucleotídeos que permite o reparo de lesões de grandes distorções na hélice do DNA, por meio de proteínas que reconhecem e excisam a área da fita lesada, ressintetizando um novo segmento, livre de erro (ALBERTS, 1997). A eliminação destas espécies oxidantes pode ocorrer por mecanismos enzimáticos ou não enzimáticos. Quando não é enzimático é realizado por compostos, que protegem moléculas da oxidação, por suprimirem, eliminarem ou desativarem a formação de radicais livres, formando um produto estável. No mecanismo enzimático tem-se uma série de enzimas que mantêm a concentração de ERO dentro dos limites fisiológicos, que regulam o nível de moléculas oxidadas e catalisam reações geradoras de equivalentes redutores, nos compartimentos citosólico, mitocondrial e extracelular (RIBEIRO et al., 2005). Quanto ao mecanismo enzimático de eliminação de ERO, podemos destacar algumas enzimas antioxidantes como a SOD, a catalase (Cat) e a glutationa peroxidase (GPx). Como visto anteriormente, a SOD é a enzima chave na eliminação de O2 •-. A Cat está relacionada à conversão de H2O2 em água e oxigênio molecular, complementando a ação da SOD (MICHIELS et al., 1994). A GPx é uma enzima que catalisa a redução do peróxido de hidrogênio e peróxidos orgânicos para seus correspondentes alcoóis, as custas da oxidação de glutationa (LU, 2013). 45 Além das enzimas citadas acima, relaciona-se também com a eliminação de ERO o sistema tiorredoxina que compreende NADPH, tiorredoxina redutase e a tiorredoxina. Este sistema pode fornecer elétrons para uma grande variedade de enzimas sendo importante na síntese de DNA e defesa contra o estresse oxidativo (LU & HOLMGREN, 2014). Já as peroxirredoxinas que exercem seu papel de proteção antioxidante por meio da sua atividade de peroxidase, onde o peróxido de hidrogênio, o peroxinitrito e uma grande variedade de hidroperóxidos orgânicos são reduzidos (WOOD et al., 2003). No mecanismo não enzimático os compostos tiólicos (ocorrência do grupo funcional sulfidrila –SH ligado a uma cadeia carbônica) desempenham um papel importante na manutenção do estado REDOX das células. Entre estes compostos estão a glutationa, a cisteina e as proteínas tiólicas. A homeostase REDOX é particularmente assegurada por glutationa. A glutationa reduzida (GSH) é um tripeptídeo, formado por glicina, ácido glutâmico e cisteína e constitui o tiol redutor mais abundante no meio intracelular. Na sua forma reduzida protege as células de radicais livres, peróxidos e xenobióticos. O conteúdo de GSH no organismo é um forte indicador do respectivo estado fisiológico, pois, sua depleção pode ocasionar danos celulares irreversíveis (FORMAN, ZHANG & RINNA, 2009). A manutenção de níveis de GSH e GSSG é feita às custas de três enzimas: a glutationa oxidase (GO), a glutationa peroxidase (GPx) e a glutationa redutase (GR). As duas primeiras enzimas catalisam a oxidação de GSH à glutationa oxidada (GSSG) e a glutationa redutase, utiliza equivalentes redutores do NADPH para manter a glutationa na forma reduzida, como substrato para glutationa peroxidase (Figura 7). Este sistema é muito eficiente na proteção antioxidante contra o peróxido de hidrogênio, o que auxilia na manutenção de níveis baixos do produto da reação catalisada por SOD (RIBEIRO et al., 2005). 46 Figura 7. Representação esquemática do ciclo catalítico da glutationa. Nas células, a glutationa pode encontrar-se sob a forma de glutationa reduzida (monomérica – GSH) e na forma oxidada (dimérica – GSSG). A GSH precisa ser regenerada através de um ciclo catalítico, onde ocorre a atividade de três grupos de enzimas: a glutationa oxidase (GO), a glutationa peroxidase (GPx) e a glutationa redutase (GR). As duas primeiras enzimas, GO e GPx, catalisam a oxidação de GSH à GSSG e a última, GR, é responsável pela regeneração de GSH, a partir de GSSG, na presença de NADPH Fonte: adaptado de HUBER & ALMEIDA, 2008. O quociente GSH/GSSG reflete o estado redox intracelular. Este ambiente redox está envolvido na regulação de processos celulares importantes, incluindo a diferenciação celular, proliferação e apoptose. A capacidade de sinalização redox vai depender da disponibilidade de grupos tiol ativos. A GSH é o tiol não proteico dominante
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