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DANIELA SANTOS ROCHA HIPOTIREOIDISMO Hipotireoidismo é causado pela deficiência do hormônio tireoideano. É diagnosticado por meio de características clínicas, como aparência facial típica, fala lenta e voz grossa e pele seca, com baixas concentrações de hormônios tireoidianos. A conduta é o tratamento da causa subjacente e administração de tiroxina. O hipotireoidismo ocorre em qualquer idade, mas é particularmente comum em idosos, em que ele pode estar presente de maneira sútil e ser difícil de reconhecer. O hipotireoidismo pode ser • Primário: causado por doença na tireoide • Secundário: causado por doença no hipotálamo ou na hipófise Tireoide e eixo tireoidiano____________________ Hipófise A hipófise é uma glândula que se localiza na sela túrcica, que se conecta ao hipotálamo através do pedúnculo hipofisário. É dividida em adeno-hipófise, também chamada de hipófise anterior e neuro- hipófise, também chamada de hipófise posterior. Na adeno-hipófise são produzidos e secretados seis hormônios importantes: 1. Hormônio tireotrófico (TSH): controla a secreção de tiroxina e da tri-iodotironina pela glândula tireoide; 2. Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH): controla a secreção de alguns hormônios adrenocorticais; 3. Hormônio folículo estimulante (FSH) e luteinizante (LH): controlam o crescimento dos ovários e testículos, e suas atividades hormonais e reprodutivas; 4. Prolactina: responsável pelo desenvolvimento da glândula mamária e pela produção de leite; 5. Somatotrofina (GH): promove o crescimento de todo o organismo. É válido ressaltar que na adeno-hipófise há 05 tipos celulares responsáveis pela produção e secreção dos hormônios supracitados, são eles: Tireotropos: responsáveis pela produção de TSH; Corticotropos: responsáveis pela produção de ACTH; Gonadotropos: responsáveis pela produção de LH E FSH; Lactotropos: responsáveis pela produção de prolactina; Somatotropos: responsáveis pela produção de GH. Além disso, cerca de 30-40% das células da adeno- hipófise são somatotrópicos, ou seja, células responsáveis pela produção de hormônio de crescimento, e apenas 20% são corticotrópicos, que secretam ACTH. Os outros tipos celulares, apesar de secretar hormônios potentes, correspondem a apenas 3-5% do total de células da adeno-hipófise. Na neuro-hipófise, são secretados dois hormônios: 1. Hormônio antidiurético (ADH): controla a excreção da água na urina; 2. Ocitocina: auxilia na ejeção de leite pelas glândulas mamárias para o mamilo durante a sucção. Hipotálamo O hipotálamo é responsável por controlar a secreção hipofisária através de sinais hormonais e nervosos. Na adeno-hipófise, a secreção é controlada por hormônios hipotalâmicos liberadores e hormônios hipotalâmicos inibidores, que chegam na região DANIELA SANTOS ROCHA anterior da hipófise através dos vasos portais hipotalâmico-hipofisários. Por outro lado, na neuro- hipófise, a secreção é controlada por sinais neurais vindos do hipotálamo. Os principais hormônios liberadores e inibidores hipotalâmicos são: 1. Hormônio liberador de tireotropina (TRH) 2. Hormônio liberador de corticotropina (CRH) 3. Hormônio liberador do hormônio de crescimento (GHRH) 4. Hormônio liberador da gonadotropina (GnRH) 5. Hormônio inibidor da prolactina (PIH) O hormônio liberador de tireotropina (TRH), liberado pelo hipotálamo, age nos tireotropos, localizados na hipófise, estimulando a secreção de TSH. Tireoide A tireoide é uma das maiores glândulas endócrinas, e é responsável pela secreção dos hormônios tiroxina e tri-iodotironina, comumente conhecidos como T3 e T4, respectivamente. Esses hormônios são responsáveis por aumentar o metabolismo do organismo. A secreção dos hormônios tireoidianos (T3 e T4) é controlada, principalmente, pelo TSH (hormônio tireoestimulante) secretado pela hipófise anterior. Cerca de 93% dos hormônios liberados pela tireoide consistem em tiroxina (T3), e 7% são tri-iodotironina (T4). No entanto, nos tecidos, quase toda a tiroxina é convertida em tri-iodotironina, que é cerca de quatro vezes mais potente que a tiroxina, mas está em menor quantidade no sangue e persiste por um tempo muito curto. Ao serem liberados no sangue, os hormônios tireoidianos ligam-se às proteínas plasmáticas. Porém, devido à alta afinidade da ligação, esses hormônios – sobretudo a tiroxina) são liberados de forma lenta para as células teciduais. Nas células-alvo, esses hormônios ligam-se às proteínas intracelulares, são armazenadas e, lentamente, utilizadas ao longo de dias ou semanas. Regulação da secreção dos hormônios tireoidianos Para manter o nível ideal de secreção de hormônio tireoidiano, mecanismos específicos de feedback agem no hipotálamo e na hipófise anterior, com o fito de controlar a secreção tireoidiana. Através de um feedback negativo, quando estão em grandes quantidades nos líquidos corporais, os hormônios tireoidianos inibem a hipófise, reduzindo a liberação de TSH, e o hipotálamo, reduzindo a liberação de TRH. Por outro lado, quando os níveis de hormônios estão reduzidos, ocorre um feedback positivo, estimulando a hipófise e o hipotálamo a liberar mais TSH e TRH, respectivamente. A síntese dos hormônios tireoidianos requer iodo. O iodo, ingerido na alimentação e na água como iodeto, é ativamente concentrado pela tireoide e convertido em iodo orgânico (organificação) dentro das células foliculares pela peroxidase tireoidiana. As células foliculares circundam um espaço preenchido por coloide, que consiste em tireoglobulina, uma glicoproteína que contém tirosina em sua matriz. A tirosina em contato com a membrana das células foliculares é iodada em 1 (monoiodotirosina) ou 2 (di- DANIELA SANTOS ROCHA iodotirosina) locais e depois acoplada para produzir 2 formas de hormônio tireoidiano. • Di-iodotirosina + di-iodotirosina → T4 • Di-iodotirosina + monoiodotirosina → T3 • Ativam a transcrição nuclear de um grande número de genes, fazendo com que seja sintetizado um grande número de enzimas, proteínas estruturais e de transporte e de outras substâncias. • Aumentam a atividade metabólica celular com o aumento do número e a atividade das mitocôndrias elevando a taxa de formação de trifosfato de adenosina (ATP) para fornecer energia para as funções celulares. • Aumentam o transporte ativo de íons através de membranas celulares aumentando assim a taxa metabólica corporal através do aumento da ativação da bomba de sódio e a produção de calor. • Promoção do crescimento e desenvolvimento do cérebro durante a vida fetal e nos primeiros anos de vida pós-natal. Na fase de criança determinam a maturação dos ossos e o fechamento das epífises. • Influenciam o metabolismo dos carboidratos estimulando a captação rápida de glicose pelas células, aumento da glicólise, da gliconeogênese, da taxa de absorção pelo trato gastrointestinal e da secreção da insulina. • Influenciam no metabolismo de lipídios, os quais através dos hormônios tereoideanos são mobilizados rapidamente do tecido adiposo, o que reduz os acúmulos de gordura do organismo e aumenta a concentração de ácidos graxos livres no plasma e acelera amplamente sua oxidação pelas células. • Aumentam a taxa metabólica basal em 60% a 100% pelo fato de aumentarem o metabolismo em quase todas as células corporais. • Devido ao aumento no metabolismo provocado pelos hormônios tireoideanos, os tecidos utilizam o oxigênio mais rápido que o normal e há uma liberação aumentada de produtos metabólicos. Esses efeitos aumentam a vasodilatação e conseqüentemente o fluxo sangüíneo, levando-se também, desta forma, o débito cardíaco. • Apresentam um efeito direto sobre a excitabilidade do coração, o que eleva a freqüência cardíaca. • A elevação da atividadeenzimática provocada pelos hormônios tireoideanos provoca um aumento da força de contração cardíaca. • A freqüência e a profundidade da respiração são aumentados devido aos efeitos causados pelos hormônios tireideanos como a maior taxa metabólica basal que aumenta a utilização de oxigênio e a formação de dióxido de carbono. • Aumentam a taxa de produção de secreções digestivas e a mobilidade do trato gastrointestinal. • Provocam efeitos excitatórios sobre o sistema nervoso central aumentando a velocidade do pensamento. Epidemiologia________________________________________ • É o agravo mais comum da tireoide • Prevalecia de 2% na população geral • Prevalência de 15% em pessoas com mais de 60 anos • 8x mais comum em mulheres do que em homens • Principal forma de apresentação (95%) alterações da tireoide→hipotireoidismo primário DANIELA SANTOS ROCHA Classificação__________________________________ • Hipotireoidismo primário: tireoide • Hipotireoidismo secundário: hipófise • Hipotireoidismo terciário: hipotálamo • Hipotireoidismo secundário e Hipotireoidismo terciário denominados central Hipotireoidismo Primário O hipotireoidismo primário decorre de doença na tireoide; o TSH é elevado. A causa mais comum é autoimune. Habitualmente resulta de tireoidite de Hashimoto e, em geral, associa-se a bócio firme ou, mais tarde no processo da doença, à tireoide fibrótica diminuída, com pouca ou nenhuma função. A 2ª causa mais comum é o hipotireoidismo pós- terapêutico, em especial após tratamento com radioiodo ou cirurgia para hipertireoidismo ou bócio. Hipotireoidismo durante o tratamento com excesso de propiltiouracila, metimazol e iodo desaparece após a suspensão do tratamento. A maioria dos pacientes com bócio que não seja por tireoidite de Hasmimoto é eutireoidea ou apresenta hipertireoidismo, mas pode ocorrer hipotireoidismo com bócio no bócio endêmico por causa da deficiência de iodo. A deficiência de iodo diminui a hormoniogênese tireoidiana. Em resposta, o TSH é liberado, provocando aumento da tireoide e captação ávida de iodo, causando, assim, o bócio. Se a deficiência de iodo for grave, o paciente torna-se hipotireoidiano, o que é raro nos Estados Unidos desde o advento do sal iodado. A deficiência de iodo pode causar hipotireoidismo congênito. Em regiões no mundo todo com deficiência grave de iodo, o hipotireoidismo congênito (anteriormente denominado cretinismo endêmico) é uma das principais causas de deficiência intelectual. Defeitos enzimáticos hereditários raros podem alterar a síntese de hormônios tireoidianos e causar hipotireoidismo com bócio. Hipotireoidismo pode ocorrer em pacientes que utilizam lítio, talvez pelo fato de o lítio inibir a liberação de hormônios pela tireoide. O hipotireoidismo também pode ocorrer em pacientes que utilizam amiodarona ou outros fármacos que contêm iodo e em pacientes que utilizam interferon-alfa, e também naqueles tomando inibidores de ponto de controle ou inibidores de tirosinoquinase para câncer. O hipotireoidismo pode resultar de radioterapia para câncer de laringe ou linfoma de Hodgkin. A incidência de hipotireoidismo permanente após radioterapia é alta e a função da tireoide (por meio da medida do TSH sérico) deve ser avaliada em intervalos de 6 a 12 meses. (tireoidite de Hashimoto (>90%); Tireoidite subagudas (granulomatosa ou linfocitária); Tireoidite pós parto; tratamento da doença de Graves; Doença infiltrativa. Ectopia, agenesia e hipoplasia tireoidiana (hipocongenito) -Defeitos da biossíntese hormonal: grave deficiência de iodo (bócio endêmico); drogas: antitireoidianos, lítio, iodo, amiodarona. Hipotireoidismo secundário (central) O hipotireoidismo secundário ocorre quando o hipotálamo produz TRH insuficiente ou a hipófise produz TSH insuficiente. Às vezes, a secreção deficiente de TSH decorrente da deficiência de TRH é denominada hipotireoidismo terciário. • Síndrome de Sheeran • Tumores de hipófise, hipotálamo • Cirurgias, radioterapia • Doenças infiltrativas hipofisárias, hipotalâmicas. Hipotireoidismo subclínico O hipotireoidismo subclínico é a elevação do TSH sérico em pacientes com sintomas ausentes ou mínimos de hipotireoidismo e concentrações séricas normais de T4 livre. A disfunção de tireoide subclínica é relativamente comum; ocorre em cerca de 15% das mulheres idosas e 10% dos homens idosos, particularmente naqueles com tireoidite de Hashimoto subjacente. Em pacientes com TSH sérico > 10 mU/l, é grande a probabilidade de progressão para hipotireoidismo evidente com concentrações baixas de T4 livre nos 10 anos seguintes. Esses pacientes também são mais propensos a hipercolesterolemia e aterosclerose. Eles devem ser tratados com levotiroxina, mesmo se forem assintomáticos. Para pacientes com concentrações de TSH entre 4,5 e 10 mU/l, tratamento com levotiroxina é razoável se houver sintomas de hipotireoidismo inicial (p. ex., fadiga, depressão). Tratamento com l-tiroxina também é indicado para gestantes e que querem engravidar, a fim de evitar os efeitos deletérios do hipotireoidismo sobre a gestação e o desenvolvimento fetal. Pacientes que não são tratadas devem realizar medidas anuais de TSH e T4 DANIELA SANTOS ROCHA livre para avaliar a evolução da condição se não estiverem Diagnostico diferencial_________________________ • Sobrepeso, obesidade • Demência, depressão • Insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca, anemia. Diagnóstico______________________________________ • Hormônio estimulador da tireoide • T4 livre. A medição sérica do hormônio estimulante da tireoide é o exame mais sensível para o diagnóstico do hipotireoidismo. No hipotireoidismo primário, não há inibição por feedback da hipófise e o TSH sérico está sempre elevado, ao passo que o T4 livre é baixo. No hipotireoidismo secundário, as concentrações de T4 livre e TSH são baixas (às vezes, o TSH é normal, mas com bioatividade reduzida). Muitos pacientes com hipotireoidismo primário apresentam concentrações circulantes normais de T3, provavelmente em virtude do estímulo mantido do TSH sobre a tireoide deficiente, resultando em síntese preferencial e secreção do hormônio biologicamente ativo T3. Consequentemente, o T3 sérico não é um exame sensível para hipotireoidismo. Anemia é frequente, geralmente normocíticanormocrômica e de etiologia desconhecida, mas pode ser hipocrômica, em razão da menorragia, e às vezes macrocítica, em virtude de anemia perniciosa associada ou de absorção reduzida de ácido fólico. A anemia raramente é grave (hemoglobina geralmente > 9 g/dL ou 90 g/L). Na medida em que se corrige o estado hipometabólico, a anemia desaparece, às vezes tomando de 6 a 9 meses. As concentrações de colesterol sérico são habitualmente altas no hipotireoidismo primário, mas menos no hipotireoidismo secundário. Além do hipotireoidismo primário e secundário, outras doenças podem causar diminuição da concentração total de T4, como a tireoidite de Hashimoto e a síndrome do doente Triagem______________________________________________ Há indicação de rastreamento do hipotiroidismo em determinadas populações (p. ex., idosos), nas quais o quadro é relativamente mais prevalente, especialmente porque suas manifestações podem ser sutis. Rastrear dosando os níveis de TSH. Tratamento___________________________________________ DANIELA SANTOS ROCHA Coma mixedematoso__________________________________ Coma mixedematoso é uma complicação potencialmente fatal do hipotireoidismo, que geralmente ocorre em pacientes com longo história de hipotireoidismo. Suas características incluem • Coma com hipotermia extrema (temperatura 24 °C a 32,2 °C) • Arreflexia • Convulsões • Depressão respiratóriacom retenção de dióxido de carbono. Hipotermia grave só pode ser percebida depois que termômetros que mostram leituras baixas são utilizados. O diagnóstico rápido com base na avaliação clínica, história e exame físico é fundamental, porque é provavelmente que ocorra morte sem tratamento rápido. Fatores precipitantes incluem doença, infecção, trauma, fármacos que suprimem o sistema nervoso central e a exposição ao frio.