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Análise das Demonstrações Contábeis Unidade 1 Um overview sobre demonstrações contábeis Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria MICHEL TEIXEIRA PEREIRA AUTORIA Michel Teixeira Pereira Sou formado em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor do Departamento de Administração do Centro de Ensino Grau Técnico Curitiba, com experiência em ministrar as disciplinas de Contabilidade Societária, Análise das Demonstrações Contábeis, Economia e Mercado, Gestão da Qualidade e Contabilidade Introdutória. Possuo experiência profissional em empresa de gestão financeira, onde trabalhei com avaliação de empresas e gestão de recursos por meio de indicadores econômicos e financeiros. Também fui assistente contábil e financeiro em empresas da área de comunicação (TV, rádio e jornal) com ênfase em gestão contábil e financeira. Atuei no setor bancário com atendimento a empresas de pequeno e médio portes realizando visitas técnicas e negociações. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Objetivos e usuários da análise das demonstrações contábeis ........................................................................................................ 10 Conceitos e objetivos da análise das demonstrações ........................................ 10 Usuários da análise das demonstrações contábeis .............................................. 16 Finalidades da análise das demonstrações contábeis ....................................... 19 Padronização e limitação na análise das demonstrações contábeis ........................................................................................................22 Padronização na análise das demonstrações contábeis ...................................22 Modelos de padronização ........................................................................................................25 Limitações da análise das demonstrações contábeis .........................................27 Estrutura das demonstrações contábeis ..........................................32 Principais alterações introduzidas no Brasil pela Lei nº 11.638/2007 e complementos ..................................................................................................................................32 Balanço Patrimonial (BP) ............................................................................................................33 Demonstrações de resultados .............................................................. 41 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) .................................................... 41 Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) ..........................45 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) ...................... 46 7 UNIDADE 01 Análise das Demonstrações Contábeis 8 INTRODUÇÃO Esta unidade visa introduzir o leitor no estudo das principais características da Análise das Demonstrações Contábeis. O que pretende a análise de balanços? Quais são os seus métodos? Quem a usa? Qual a sua validade? Qual a sua confiabilidade, extensão e profundidade? Onde obter os dados contábeis sobre a empresa? Quais informações são possíveis obter com a análise de balanço? A presente obra foi preparada de forma bastante objetiva e direta e busca integrar teoria e prática. Espero que este livro possa ser uma efetiva contribuição não somente para a sua formação acadêmica, leitor, mas também para o seu aprimoramento e evolução profissional. Faça uma boa leitura e mergulhe de cabeça neste universo! Análise das Demonstrações Contábeis 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo(a) à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Interpretar os objetivos, quem são os usuários e finalidades das análises das demonstrações contábeis. 2. Parafrasear a padronização e os limites da análise das demonstrações contábeis. 3. Identificar a estrutura das demonstrações contábeis e o Balanço Patrimonial. 4. Interpretar a Demonstração do Resultado do Exercício, a Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados e a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Análise das Demonstrações Contábeis 10 Objetivos e usuários da análise das demonstrações contábeis OBJETIVO: Ao término desta competência, você será capaz de entender a finalidade das demonstrações contábeis. Quais são elas? Quem são os seus usuários? Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Conceitos e objetivos da análise das demonstrações Figura 1 – Análise das demonstrações contábeis Fonte: Freepik A comunicação internacional proporcionada pela globalização reforçou a necessidade de as empresas apresentarem relatórios contábeis harmônicos, com alto grau de comparabilidade entre os países. A contabilidade é a principal linguagem de comunicação dos agentes econômicos na busca de oportunidades de investimentos e na avaliação do risco de suas transações. Por consequência, a evidenciação da informação contábil deve ser a mais homogênea possível nos diferentes países. Análise das Demonstrações Contábeis 11 A contabilidade aborda a mensuração e a supervisão do patrimônio. É aplicada em entidades em geral, sendo utilizada com a finalidade de gestão e controle. As informações contábeis são evidenciadas com base nas demonstrações contábeis, as quais seguem uma formatação padrão, com variações específicas para bancos e seguradoras, por exemplo, as quais seguem uma legislação especial. As demonstrações contábeis apresentam diversas finalidades, dependendo do propósito de quem as analisa. Devem ser elaboradas impreterivelmente na moeda corrente do país (em real, no caso brasileiro). É interessante observar que elas se complementam e são consistentes entre si, pois há uma lógica que permite comparar dados de uma demonstração contábil com os de outras ao longo do tempo. O lucro apresentado na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), por exemplo, tem efeito no Patrimônio Líquido (PL) refletido no Balanço Patrimonial (BP) e, casualmente, no passivo circulante, se houver dividendos a pagar, ou até mesmo no caixa, se houver dividendos a pagar no próprio exercício social (SAPORITO, 2015). Por meiodas demonstrações contábeis, é possível examinar a situação da companhia para a qual foram elaboradas. Entretanto, às vezes, é necessário transformar os dados em informações úteis, como indicadores, para que possam contribuir para o entendimento e objetivo do analista. Nesse contexto, o analista é quem irá definir quais são as partes de interesse do seu objeto do estudo. Se a finalidade for a obtenção de crédito no curto prazo, normalmente se avaliam a situação financeira, a situação estrutural e o desempenho da empresa. Geralmente, para fins de análise, esses são os três componentes avaliados em uma companhia. Sendo assim, faz-se necessária a transformação dos dados brutos contidos nas demonstrações contábeis em indicadores que possam contribuir para o processo de avaliação de cada um desses três componentes em que a companhia foi dividida. Após a obtenção dos indicadores, é possível compará-los ao longo do tempo. Análise das Demonstrações Contábeis 12 A análise das informações contábeis permite uma avaliação da situação econômica, financeira e de desempenho da entidade, bem como fazer inferências sobre tendências e perspectivas futuras. Os investidores e credores são os destinatários prioritários das demonstrações contábeis, já que os investidores basicamente tomam decisões de compra, manutenção e venda, e os credores tomam decisões associadas à concessão de crédito à empresa (HENDRIKSEN; BREDA, 1999). O objetivo primordial da contabilidade é fornecer informações úteis para seus usuários, que auxiliem na tomada de decisões. O trabalho do profissional de contabilidade inicia-se com a interpretação e o registro dos fatos econômicos, ou seja, a escrituração. Em seguida, por meio da elaboração das demonstrações contábeis, verifica-se a posição econômica, financeira e patrimonial da empresa. Dessa forma, a Norma Brasileira de Contabilidade NBC TG 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis, editada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), define que: As demonstrações contábeis são uma representação estruturada da posição patrimonial e financeira e do desempenho da entidade. O objetivo das demonstrações contábeis é o de proporcionar informação acerca da posição patrimonial e financeira, do desempenho e dos fluxos de caixa da entidade que seja útil a um grande número de usuários em suas avaliações e tomada de decisões econômicas. (CFC, 2017, on-line) Nesse sentido, as demonstrações contábeis retratam a situação atual da companhia, da mesma forma que uma fotografia retrata um determinado momento no tempo. ACESSE: Para saber mais, leia a NBC TG 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis, Clique aqui. Abordar a análise das demonstrações contábeis pode ser um assunto extremamente amplo. Porém, de forma sucinta, é possível resumi-la como uma “técnica” que visa à coleta de dados e apuração de Análise das Demonstrações Contábeis http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=57 13 indicadores que possibilitam avaliar a capacidade de solvência (situação financeira), compreender a estrutura patrimonial (situação patrimonial) e analisar a capacidade da entidade de gerar bons resultados (situação econômica). SAIBA MAIS: Para saber mais sobre o objetivo da contabilidade, leia o artigo: “O real objetivo da Contabilidade” (LUNELLI, s.d, on-line), Clique aqui. O analista de demonstrações contábeis exerce importante tarefa dentro do processo contábil. Enquanto o contador procura captar, organizar e compilar dados, oferecendo como produto final as demonstrações contábeis, o analista se preocupa com as informações ali contidas. Para que os dados das demonstrações contábeis sejam úteis, a NBC TG Estrutura Conceitual – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro (CFC, 2011) elenca algumas características fundamentais da informação. Características qualitativas fundamentais (CFC, 2011, p. 12-13). Leia a definição das características qualitativas fundamentas na NBC TG Estrutura Conceitual. São elas: • Relevância. • Materialidade. • Representação fidedigna. Características qualitativas de melhoria (CFC, 2011, p. 14-16). A definição das características qualitativas de melhoria na NBC TG Estrutura Conceitual são: • Comparabilidade. • Verificabilidade. • Tempestividade. • Compreensibilidade. Análise das Demonstrações Contábeis http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/real-objetivo-da-contabilidade.htm 14 SAIBA MAIS: Para saber mais, faça uma leitura completa da NBC TG Estrutura Conceitual – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, Clique aqui. Essas características são muito importantes para tornar melhor a informação divulgada. Daí a importância de transformar dados em informação inteligível. Na Figura 2, é possível observar a sequência do processo de análise das demonstrações contábeis. Figura 2 – Sequência do processo de análise Fatos ou eventos econômicos- financeiros Demonstrações financeiras = dados Informações financeiras para a tomada de decisões Processo Contábil Técnicas de Análise de balanços Fonte: Matarazzo (2010, p. 4). As análises das demonstrações contábeis podem gerar como produto relatórios escritos em linguagem corrente. É recomendado o uso de gráficos como auxílio para simplificar conclusões mais complexas. O analista tem a função de elaborar um relatório de análise dirigido a leigos, mesmo que não o sejam, pois o objetivo é simplificar a leitura das demonstrações contábeis a qualquer dirigente da companhia, gerente de banco ou outras pessoas interessadas. Por outro lado, as demonstrações contábeis não têm nenhuma preocupação nesse sentido e seguem normas específicas de divulgação. As demonstrações contábeis exprimem termos técnicos e suas notas explicativas, às vezes, são singulares a tal ponto que permitem frequentemente manipulações e acobertamentos. Assim, a análise das demonstrações contábeis deve assumir também a função de tradução dos elementos nelas contidos. Exemplo: O que se pode incluir em um relatório de análise de balanços, segundo Matarazzo (2010, p. 6), são: • A situação financeira. • A situação econômica. Análise das Demonstrações Contábeis http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_1374.pdf 15 • O desempenho. • A eficiência na utilização dos recursos. • Os pontos fortes e fracos. • As tendências e perspectivas. • O quadro evolutivo. • A adequação das fontes às aplicações de recursos. • As causas das alterações na situação financeira. • As causas das alterações na rentabilidade. • A evidência de erros da administração. • As providências que deveriam ser tomadas e não foram. • A avaliação de alternativas econômico-financeiras futuras. Muitas podem ser as finalidades de analisar as demonstrações contábeis. O relatório elaborado dependerá do objetivo da análise e carregará características de cunho pessoal do analista. Dois analistas com vivências e experiências diferentes podem até chegar a uma mesma conclusão, mas a elaboração do relatório será diferente. Outro aspecto que influencia na preparação do relatório são os interesses dos seus usuários. Existem aqueles que querem uma análise rápida e o objetiva; por outro lado, há também outros que desejam a informação detalhada e minuciosa. Normalmente, o analista prepara indicadores para a análise. Na Figura 3, verifica-se o processo que o analista realiza nas Etapas 1, 2 e 3. O gestor ou usuário realiza apenas a Etapa 4. Figura 3 – Processo de tomada de decisão na análise de balanços 1. Escolha de indicadores 2. Comparação com padrões 3. Diagnóstico ou conclusões 4. Decisões Análise Fonte: Matarazzo (2010, p. 7). Análise das Demonstrações Contábeis 16 Analistas que demonstrem maior nível de experiência poderão apresentar conclusões bem próximas.Entretanto, raramente apresentarão conclusões exatamente iguais. Por meio de estudos e interpretações de dados extraídos das demonstrações financeiras, a análise de balanços tem por finalidade prestar informações sobre a situação econômica e financeira da entidade, para que as pessoas interessadas possam tomar decisões. Para Iudícibus (2017, p. 9), as demonstrações contábeis são úteis para os usuários para tomada de decisões, como: • Definir quando comprar, manter ou vender instrumentos patrimoniais. • Avaliar a administração da entidade quanto à responsabilidade que lhe tenha sido conferida e quanto à qualidade de seu desempenho e de sua prestação de contas. • Avaliar a capacidade de a entidade pagar seus empregados e de realizar sua prestação de contas. • Avaliar a segurança quanto à recuperação dos recursos financeiros emprestados à entidade. • Determinar políticas tributárias. • Determinar a distribuição de lucros e dividendos. • Elaborar e usar estatísticas da renda nacional. • Regulamentar as atividades das entidades. Usuários da análise das demonstrações contábeis A necessidade de interpretação das informações contábeis pode ser diversificada, assim como há uma variedade dos possíveis usuários desse material. Os resultados obtidos nas análises destinam-se a um grupo muito abrangente de usuários, que utilizarão essas informações principalmente como ferramenta para tomada de decisões de financiamento e investimento. Análise das Demonstrações Contábeis 17 Em tempos passados, a análise das demonstrações contábeis era utilizada preponderantemente por instituições financeiras com o propósito de avaliar os riscos de crédito. Entretanto, no decorrer do tempo, estabeleceu-se como instrumento de auxílio gerencial e provedor de informações para investidores. Os usuários das demonstrações contábeis, sejam eles internos ou externos, têm diferentes necessidades a serem satisfeitas. Silva (2012) elenca alguns possíveis usuários das demonstrações contábeis e o que pretendem eles com a análise. Usuários internos da entidade • Sócios e gestores: • Aumentar ou reduzir investimentos. • Aumentar o capital ou emprestar recursos. • Expandir ou reduzir as operações. • Comprar/vender à vista ou a prazo instituições financeiras, clientes e fornecedores em geral. Usuários externos da entidade • Instituições financeiras: • Conceder ou não empréstimos. • Estabelecer termos do empréstimo (volume, taxa, prazo e garantias). • Clientes e fornecedores em geral • Avaliar com vistas à concessão ou não de crédito, com quais valor e prazo. • Informar sobre a continuidade operacional da entidade, especialmente quando há um relacionamento a longo prazo com ela, ou dela depender como fornecedora importante. Análise das Demonstrações Contábeis 18 • Investidores • Adquirir ou não o controle acionário. • Investir ou não em ações na bolsa de valores. • Avaliar o risco inerente ao investimento e potencial de retorno proporcionado (dividendos). • Comissão de Valores Mobiliários (CVM) • Observar se as demonstrações contábeis de uma empresa de capital aberto respondem aos requisitos legais do mercado de valores mobiliários, como periodicidade de apresentação, padronização e transparência. • Poder Judiciário • Proceder à solicitação e apreciação objetiva de perícia. • Fiscalização tributária • Buscar indícios de sonegação de impostos. • Comissões de licitação • Avaliar o vulto dos equipamentos e instalações, do capital de giro próprio, da solidez econômico-financeira, buscando identificar se há garantia acessória para o início ou continuidade no fornecimento dos bens ou serviços. A Lei nº 8.666/1993, que institui normas para licitações e contratos da Administração Pública, em seu art. 31, estabelece que a exigência de índices [constantes em editais de licitação] limitar-se-á à demonstração da capacidade financeira do licitante com vistas aos compromissos que terá de assumir caso lhe seja adjudicado o contrato, vedada a exigência de valores mínimos de faturamento anterior, índices de rentabilidade ou lucratividade. Estabelece ainda que a comprovação de boa situação financeira da empresa será feita de forma objetiva, por meio do cálculo de índices contábeis previstos no edital e devidamente justificados no processo administrativo da licitação que tenha dado início ao certame licitatório, Análise das Demonstrações Contábeis 19 vedada a exigência de índices e valores não usualmente adotados para a correta avaliação de situação financeira suficiente ao cumprimento das obrigações decorrentes da licitação. • Empregados e sindicatos • Informar sobre a estabilidade e a lucratividade de seus empregadores (solvência, distribuição de lucros etc.). • Avaliar a capacidade que tem a entidade de prover sua remuneração, seus benefícios de aposentadoria e oferta de oportunidades de emprego. Na concepção de Hendriksen e Breda (1999), os investidores e credores são os destinatários prioritários das demonstrações contábeis, já que os investidores basicamente tomam decisões de compra, manutenção e venda, e os credores tomam decisões associadas à concessão de crédito à empresa. Finalidades da análise das demonstrações contábeis Vistos os diversos usuários da análise das demonstrações contábeis e os seus múltiplos interesses em relação às empresas analisadas, vamos agora entender o que pretendem eles com essas informações. Iniciamos com dois exemplos práticos: uma instituição financeira pode utilizar a análise como forma de decidir se concederá um empréstimo de curto prazo a uma empresa. Um investidor do mercado de capitais pode valer- se da análise dessa empresa para decidir se compra ou não suas ações. Evidentemente, o foco de análise de uma instituição financeira será muito diferente daquele do investidor, pois os interesses nos resultados da análise que ambos fazem são diferentes. O gerente do banco está interessado principalmente na capacidade de pagamento do empréstimo e nos juros da operação em curto prazo, e o investidor procura elementos para avaliar se vale a pena participar da companhia na condição de acionista, vislumbrando os ganhos futuros que poderão ocorrer. Análise das Demonstrações Contábeis 20 É importante observar que nem todas as instituições financeiras utilizam a análise das demonstrações contábeis para tomar decisões no curto prazo. Se uma mesma companhia solicitasse um financiamento de vários anos, a prioridade do gerente de banco passaria a ser a capacidade de quitação da dívida que essa empresa teria a longo prazo. Nesse caso, entende-se que o investidor poderia tanto ter seus interesses mais direcionados a curto prazo, priorizando ganhos a curto prazo, como também poderia ter horizontes a longo prazo. De acordo com a necessidade específica de cada usuário, podem ser criados diferentes modelos de análise das demonstrações contábeis (RIBEIRO, 2014). Há uma tendência de o analista atribuir maior importância aos conceitos que se associem mais diretamente aos interesses do usuário em relação à companhia estudada. A análise das demonstrações contábeis é, portanto, um instrumento flexível que permite a seus usuários valorizar o que for mais importante para a sua necessidade específica. Não existe uma única forma de analisar as demonstrações contábeis. Há conceitos de análise cuja relevância relativa pode mudar de um usuário para outro. Assim, é fundamental que, antes de se iniciar um processo de análise das demonstrações contábeis, seja bem definido qual é o objetivo do usuário nessa análise, ou seja, que uso será feito dela. Análise das Demonstrações Contábeis 21 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste item, vamos resumir tudo o que vimos. Você deveter aprendido que o objetivo primordial da contabilidade é fornecer informações úteis, que auxiliem na tomada de decisões de seus usuários. Para que essas informações contábeis sejam úteis, a NBC TG Estrutura Conceitual elenca algumas características fundamentais da informação. O preparador das demonstrações contábeis deve orientar-se por essas características na elaboração dos demonstrativos, para que o analista tenha informações úteis na hora da análise. O trabalho do analista é interpretar, analisar e comparar de forma a tornar o conteúdo perceptível a todos os usuários. Os usuários podem ser externos ou internos à empresa, pessoa física ou jurídica, com os mais diversos interesses na interpretação das demonstrações contábeis. E aí? Você já se interessou em analisar a situação econômico-financeira de alguma empresa/instituição? Análise das Demonstrações Contábeis 22 Padronização e limitação na análise das demonstrações contábeis OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender o porquê da padronização das demonstrações contábeis. Você também vai entender as limitações que ocorrem na análise. Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Padronização na análise das demonstrações contábeis As demonstrações contábeis são a linguagem dos negócios. Por isso, é importante que sejam padronizadas, tornando-se intelegíveis universalmente. Vamos a um exemplo: uma consulta médica é um processo de análise no qual a primeira etapa é realizada na recepção do consultório. Naquele local, é preenchida a ficha do paciente com conteúdo que vai desde o nome, dados e patologias, até os motivos que levaram o paciente à consulta. Em alguns casos, é realizada a medição de temperatura e pressão antes de sua entrada no consultório. Quando iniciado o atendimento, o médico dispõe dessas informações previamente coletadas, que serão complementares durante a consulta. As demonstrações contábeis devem ser preparadas para análise, da mesma forma que um paciente se submete a exames médicos (SAPORITO, 2015). O médico realiza seu diagnóstico, podendo constatar uma emergência e indicar a internação ou simplesmente prescrever um medicamento e solicitar que o paciente volte em outro dia, caso sua enfermidade não se resolva. Em outras situações, o médico solicita que o paciente faça exames específicos e volte para uma nova consulta com os resultados. Nesse caso, podemos inferir da situação que o profissional Análise das Demonstrações Contábeis 23 médico percebeu não ter elementos suficientes para chegar a uma conclusão definitiva, ou seja, faltam-lhe partes essenciais do que está analisando para que possa chegar a um entendimento. Os resultados dos exames solicitados, que o paciente deverá portar na consulta seguinte, ajudarão o médico a decidir o encaminhamento que dará ao tratamento. Assim sendo, não se trata de uma ciência exata, mas sim de uma opinião com base em uma série de informações. Há casos em que dois médicos de uma mesma especialidade concordam no encaminhamento e tratamento dado a um determinado paciente. Entretanto, um dos médicos pode indicar cirurgia e o outro pode julgar mais conveniente um tratamento medicamentoso. Caberá ao paciente escolher qual das opiniões seguirá. Entende-se que o processo de análise aplicado a uma consulta médica pode ser flexível. Duas partes podem constituir distintas conclusões, ou seja, há a possibilidade de que profissionais respeitáveis de uma mesma área médica, em função de suas experiências e crenças, discordem ou recomendem diferentes tipos de tratamento. O mesmo raciocínio pode ser aplicado à área de análise das demonstrações contábeis. Antes de se iniciar uma análise, deve-se atentar para o detalhamento das demonstrações contábeis. Esse trabalho é conhecido como padronização e consiste em uma crítica às contas, bem como na transcrição delas para um modelo previamente definido. Assim, Matarazzo (2010) explica que a padronização é feita pelos seguintes motivos: • Simplificação – um Balanço Patrimonial (BP) apresentado segundo a Lei das S.A., compreende diversas contas. Isso dificulta sua visualização como um todo. Assim, a simplificação consiste em reduzir o número de contas do BP, ou seja, unindo aquelas contas que fazem sentido estarem juntas. • Comparabilidade – toda companhia tem seu próprio plano de contas, com maior ou menor grau de detalhes e com rubricas das quais é difícil descobrir a origem. Como uma análise se baseia em comparação, só faz sentido analisar um BP após o Análise das Demonstrações Contábeis 24 seu enquadramento em um modelo que permita comparação com BPs de outras empresas. Há, como exceção, companhias que operam em ramos nos quais existe um plano de contas legal obrigatório (como acontece com bancos e seguradoras). • Adequação aos objetivos de análise – normalmente, há pelo menos uma conta que deve sempre ser reclassificada: Duplicatas Descontadas. Do ponto de vista contábil, é uma dedução de Duplicatas a Receber; do ponto de vista de financiamentos, entretanto, é um recurso tomado pela empresa em bancos, devido à insuficiência de recursos próprios. Em nada é diferente de empréstimos bancários, do ponto de vista financeiro. Por esse motivo, as Duplicatas Descontadas devem figurar no Passivo Circulante. • Precisão nas classificações de contas – com frequência, encontrarem-se demonstrações contábeis com falhas nas classificações de contas. Como é o exemplo de certos investimentos de caráter permanente que aparecem no Ativo Circulante, ou despesas do próprio exercício que figuram como Despesas do Exercício Seguinte. Gastos indevidamente lançados como Ativo Diferido quando deveriam fazer parte das despesas ou perdas do exercício, empréstimos de curto prazo que aparecem no Exigível a Longo Prazo. Todos esses detalhes distorcem o BP. Uma padronização rigorosa deve corrigir isso. • Descoberta de erros – há casos de erros, intencionais ou não, verificados nas demonstrações contábeis. O analista experiente pode desconfiar de itens que normalmente são usados para manipulação e solicitar esclarecimentos à companhia em análise. • Intimidade do analista com as demonstrações contábeis da empresa – a padronização obriga o analista a pensar em cada conta das demonstrações contábeis e a decidir sobre sua consistência com outras contas, sobre a classificação que deve dar a ela, enquanto a transcreve para um modelo predefinido de padronização. Ao realizar esse trabalho, o analista adquire grande familiaridade com os números da companhia e, em consequência, passa a visualizar detalhes que, de outra forma, não conseguiria. Análise das Demonstrações Contábeis 25 Modelos de padronização A seguir é apresentado o modelo de padronização do Balanço Patrimonial (BP). Quadro 1 – Padronização do Balanço Patrimonial Obs.: Valores fictícios. Fonte: Matarazzo (2010). No Quadro 2, é possível verificar a padronização da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Análise das Demonstrações Contábeis 26 Quadro 2 – Padronização da Demonstração do Resultado do Exercício Obs.: Valores fictícios. Fonte: Matarazzo (2010). No Quadro 3, verifica-se a padronização da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). Quadro 3 – Padronização da Demonstração dos Fluxos de Caixa Simbologia: NCG = Necessidade de Capital de Giro. Obs.: Valores fictícios. Fonte: Matarazzo (2010). Análise das Demonstrações Contábeis 27 Prezado(a) estudante, fique tranquilo(a)! Esses são apenas modelos padronizados das demonstrações contábeis que veremos adiante. Limitações da análise das demonstrações contábeis Podemos considerar que a análise das demonstrações contábeis é um conjunto de técnicas capazes de transformar valores monetários das mais diversas contas abrangidas nas demonstrações em indicadores capazes de trazer informações úteis para o entendimentoda situação econômica e financeira da empresa analisada. No entanto, por ser uma das mais importantes ferramentas no auxílio à tomada de decisões, muitas vezes pode criar expectativas que estão acima de suas reais possibilidades, principalmente para aqueles que estão iniciando na área. É importante entender que há algumas limitações inerentes ao processo de análise das demonstrações contábeis. As primeiras decorrem da própria qualidade das demonstrações analisadas. Se as demonstrações contábeis não são confiáveis, do ponto de vista de fidedignidade dos números e da efetiva obediência às normas contábeis em sua elaboração, não há processo de análise que possa trazer conclusões seguras. Outro fator que não pode deixar de ser citado entre as limitações é a ausência da captação dos efeitos da inflação nas demonstrações contábeis. Mesmo que a inflação no Brasil no período Pós-Real (cuja circulação começou em 1994) não seja tão expressiva quanto já foi no passado, ela tem efeitos nos valores reais de várias contas e grupos mensurados pela contabilidade. Na hipótese de o nível de inflação anual ficar em patamares acima dos atuais, os números mostrados pela contabilidade podem ficar bastante alterados. Entre o momento que se faz uma análise e a data de elaboração das demonstrações que servem de base para ela, podem ocorrer mudanças significativas na empresa que não foram incluídas no processo de estudo. Por exemplo, uma análise que faz uso de demonstrações que se referem às atividades do fim do ano, mas que são analisadas apenas em março do ano seguinte pode concluir que a empresa praticamente não Análise das Demonstrações Contábeis 28 tem endividamento, ainda que em fevereiro esta tenha feito um grande empréstimo. Isso quer dizer que a dívida da organização pode aumentar sem que o analista responsável pela análise tome conhecimento disso. Com isso, fica fácil concluir que, quanto maior é a defasagem temporal entre as demonstrações analisadas e o momento da análise, maior é o risco de as demonstrações não mais refletirem a realidade da empresa estudada. É preciso ter em mente que os estudos de análise com base em demonstrações contábeis são válidos para os períodos específicos de tais demonstrações e não podem ser entendidos como válidos para estendê-los no futuro. Os resultados dos estudos são sobre o passado da empresa estudada; julgá-los como tendência para o futuro, além de altamente arriscado, não é correto. O fato de uma empresa apresentar retornos crescentes nos últimos três anos não é um argumento válido para inferir que no próximo ano o retorno será ainda maior, até porque, dependendo da economia, do mercado de atuação da empresa e das decisões tomadas por sua administração, o retomo obtido pode ser muito menor e até negativo. A análise por meio de índices deve ser realizada com muito cuidado e critério técnico rigoroso, haja vista suas limitações. Existem entidades que operam simultaneamente em vários ramos de atividade, o que pode levar à não existência de concorrentes com o mesmo perfil econômico. Em tais situações, a análise de um usuário externo se torna mais complexa, em razão de não haver acesso às informações contábeis separadas de cada uma das atividades exploradas pela companhia. Por outro lado, quando a multiplicidade de atividades é explorada por um conglomerado de empresas, no qual cada uma desempenha uma atividade específica, a análise fica mais objetiva, pois o analista poderá analisar não somente a empresa holding, mas também cada empresa do grupo em si, comparando os dados com os respectivos concorrentes setoriais. (SILVA, 2012, p. 10) Dessa forma, é esperado que as empresas holding sejam uma forma mais fácil de analisar um conglomerado de companhias e atividades. Análise das Demonstrações Contábeis 29 VOCÊ SABIA? Holding: é uma empresa que possui a maioria das ações de outras empresas e detém o controle de sua administração e das políticas empresariais. Trata-se de uma sociedade gestora de participações sociais que administra conglomerados de um determinado grupo. Outros casos de distorções das demonstrações contábeis são os efeitos da inflação. Empresas com dívidas de longo prazo contratadas em moeda estrangeira podem apresentar um alto lucro ao final de um exercício caso a cotação da moeda tenha caído em relação ao exercício anterior. Nessa situação, o analista deve atentar-se para o volume de resultados estritamente operacional versus os resultados financeiros. Distorções poderão surgir quando comparadas empresas do mesmo segmento que tenham e não tenham contraído empréstimos em moeda estrangeira. O analista poderá trabalhar com softwares ou modelos de planilhas que façam os ajustes necessários, de forma a expurgar os efeitos da inflação, ou trabalhar com demonstrativos já corrigidos pelo método de correção integral. Algumas companhias de capital aberto disponibilizam na web acesso a suas demonstrações contábeis em dólar. (SILVA, 2012, p. 10) No caso de adoção de práticas contábeis diferentes entre as diversas companhias de um mesmo segmento, sem dúvida, os indicadores apurados serão distorcidos. Critérios diversos na avaliação dos estoques, taxas de depreciação utilizadas e forma de contabilização dos contratos de leasing são apenas alguns exemplos (SILVA, 2012). O analista irá desempenhar melhor o seu papel à medida que conhecer os princípios e as convenções contábeis, visto que a falta de conhecimento pode ser um limitador para sua capacidade de julgamento dos índices e quocientes obtidos. Análise das Demonstrações Contábeis 30 VOCÊ SABIA? Leasing: negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica na qualidade de arrendadora e pessoa física ou jurídica na qualidade de arrendatária, que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora segundo especificações da arrendatária, para uso próprio desta. Mesmo em um ambiente de convergência às normas internacionais de contabilidade, em que mais de 100 países passaram a adotar as International Financial Reporting Standards (IFRS) do International Accounting Standards Board (IASB), que é a organização internacional sem fins lucrativos que publica e atualiza as IFRS em língua inglesa, o analista poderá se deparar, por exemplo, com critérios diversos de valoração de ativos e passivos entre empresas do mesmo segmento econômico. A metodologia aplicada para ajustes ao valor presente e mensuração do valor justo sendo divergentes poderá acarretar sérias distorções na apuração do valor patrimonial e nos resultados das empresas analisadas. Visando minimizar as distinções entre as nações, o principal objetivo das International Financial Reporting Standards (IFRS) divulgadas pela IFRS é adequar as demonstrações contábeis, de modo que possam ser comparáveis entre si, fazendo com que se tenha maior credibilidade no que diz respeito à transparência, responsabilidade e eficiência aos mercados financeiros em todo o mundo (IFRS, 2019). As notas explicativas devem trazer informações sobre os princípios contábeis adotados pela companhia. Sendo assim, o analista deve se debruçar sobre elas a fim de identificar possíveis distorções caso a empresa adote práticas não condizentes com a melhor técnica contábil e também verificar se as práticas adotadas estão em sintonia com as dos concorrentes. Análise das Demonstrações Contábeis 31 Além da leitura das notas explicativas, o acompanhamento das notícias veiculadas sobre a empresa e seu segmento econômico pode revelar eventos subsequentes à data de levantamento das demonstrações contábeis, que sinalizem problemas de continuidade ou ampliação da própria atividade econômica da empresa analisada. A leitura atenta do Relatório dos Auditores Independentes, em especial dos possíveis destaques quanto aos critérios e práticas contábeis utilizados, permitirá aoanalista identificar a aderência das demonstrações contábeis aos Princípios Contábeis e saber se elas foram elaboradas com um mínimo de qualidade. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste item, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a padronização das demonstrações contábeis é necessária já que não se trata de uma ciência exata, mas de uma opinião com base em uma série de informações. Assim, o processo de análise pode ser flexível no momento em que diferentes partes podem construir entendimentos que não levam a uma única e indiscutível conclusão. Desse modo, a padronização é feita por motivos de simplificação, comparabilidade, adequação aos objetivos de análise, precisão nas classificações de contas, descoberta de erros e intimidade do analista com as demonstrações contábeis da empresa. Por fim, é importante entender que há algumas limitações inerentes ao processo de análise das demonstrações contábeis, como os efeitos da inflação e do câmbio. Você sabia que é possível analisar as demonstrações contábeis de qualquer empresa de capital aberto no Brasil? Análise das Demonstrações Contábeis 32 Estrutura das demonstrações contábeis OBJETIVO: Esta competência é de fundamental importância para toda a análise das demonstrações contábeis. Pelo entendimento da estrutura contábil, podem-se desenvolver avaliações mais acuradas das empresas. Mais especificamente, todo processo de análise requer conhecimentos sólidos da forma de contabilização e apuração das demonstrações contábeis, sem os quais ficam seriamente limitadas as conclusões extraídas sobre o desempenho da empresa. Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Principais alterações introduzidas no Brasil pela Lei nº 11.638/2007 e complementos No Quadro 4, é possível visualizar as principais alterações no Balanço Patrimonial (BP) trazidas pela Lei nº 11.638/2007. Quadro 4 – Nova estrutura do Balanço Patrimonial Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Análise das Demonstrações Contábeis 33 No Quadro 5, visualizam-se as principais alterações nas demonstrações contábeis obrigatórias trazidas pela Lei nº 11.638/2007. Quadro 5 – Nova composição das demonstrações contábeis obrigatórias Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Balanço Patrimonial (BP) Apresenta a situação patrimonial e financeira da empresa em determinado momento (período/data). A informação é de natureza estática e, provavelmente, sua estrutura será diferente algum tempo após seu encerramento. Diversas informações relevantes de tendências podem ser extraídas de seus grupos de contas. Assim, o balanço servirá como elemento de partida indispensável para o conhecimento da situação econômico- financeira de uma empresa. Compõe-se de três partes essenciais: Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. Cada uma dessas partes apresenta suas diversas contas classificadas em “grupos”. O conceito de balanço origina-se do equilíbrio dessas partes, situando-se o passivo e o patrimônio líquido no lado direito e o ativo do lado esquerdo. Sendo sua identidade básica aprsentada na Figura 4. Análise das Demonstrações Contábeis 34 Figura 4 – Conceito de balanço ATIVO = PASSIVO + PATRIMÔNIO LÍQUIDO Fonte: Elaborada pelo autor (2021). Sua estrutura configura-se da seguinte forma: Figura 5 – Estrutura do balanço PATRIMÔNIO LÍQUIDO PASSIVO ATIVO Fonte: Elaborada pelo autor (2021). No Ativo, relacionam-se todas as aplicações de recursos efetuadas pela empresa. Esses recursos podem estar distribuídos em ativos circulantes (caixa, contas a receber em curto prazo) e ativos não circulantes (realizável em longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível). Somente compõem o Ativo de uma entidade os itens que promovem a geração de benefícios econômicos futuros. Bens nos quais não exista nenhum comprador potencial no mercado e que também não possam representar um benefício para a empresa não são classificados no Ativo. Conceito conhecido como a essência sobre a forma, ou seja, a essência econômica prevalece sobre a forma jurídica. SAIBA MAIS: Sobre o conceito de a essência sobre a forma na NBC TG Estrutura Conceitual, Clique aqui. O Passivo identifica as exigibilidades da empresa e suas obrigações cujos valores encontram-se investidos em ativos. Classificam-se em Passivo Circulante (curto prazo) e Passivo Não Circulante (longo prazo). O Passivo é composto de todas as obrigações atuais da entidade, geradas por eventos ocorridos no passado, cuja liquidação futura exigirá um desembolso de caixa da empresa. Análise das Demonstrações Contábeis http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_1374.pdf 35 O Patrimônio Líquido é representado pela diferença entre o total do Ativo e do Passivo em determinado momento e identifica os recursos próprios da empresa, sendo formado por: Capital investido pelos sócios (CAPITAL SOCIAL) + Lucros gerados nos exercícios, que foram retidos na empresa (LUCROS NÃO DISTRIBUÍDOS) O que determina a classificação entre curto e longo prazo? O exercício social ou ciclo operacional. A lei estabelece ser de longo prazo valores com vencimento após o término do exercício social seguinte. Normalmente, o exercício social coincide com o ano-calendário (inicia em 1º de janeiro e termina em 31 de dezembro), mas isso é relativo em cada empresa. NOTA: Ciclo operacional equivale ao tempo despendido por uma companhia desde a aquisição de matérias-primas (indústria) ou mercadorias (comércio) até o recebimento da venda. O Exercício Social é definido no estatuto da empresa. Companhias como estaleiros, atividades na pecuária ou agrícola podem ter ciclo operacional muito maior que o ano-calendário. Alterando o que seria curto e longo prazo para a maioria dos casos. Para estruturar o Balanço Patrimonial, os grupos e as contas são dispostos em ordem decrescente de liquidez para o ativo e decrescente de grau de exigibilidade para o passivo. Quadro 6 – Estrutura básica do Balanço Patrimonial Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Análise das Demonstrações Contábeis 36 Observe, no Quadro 7, como estão dispostas as contas no Balanço Patrimonial. Comentaremos algumas em seguida. Quadro 7 – Estrutura mais completa do Balanço Patrimonial Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Os valores do Balanço Patrimonial consideram a posição no momento de sua apuração e não a continuidade do negócio. O Balanço Patrimonial não reflete o futuro (tendência) dos ativos operacionais da empresa. Análise das Demonstrações Contábeis 37 Como devem ser registrados os valores das contas no Balanço Patrimonial? • Contas a receber (circulante) – valor dos títulos a receber líquido de estimativas de não recebimento (perdas) [Duplicatas descontadas e Provisão para Devedores Duvidosos – PDD]. • Aplicações em instrumentos financeiros – pelo valor econômico (valor justo) ou pelo valor principal atualizado de juros e outros rendimentos previstos na operação. • Estoques – custo de compra ou de fabricação (custo histórico). Deduzir do valor calculado estimativa de eventuais perdas caso o preço de mercado dos estoques seja inferior [diferentes critérios de avaliação possíveis, só um aceito pela lei]. • Ativo Imobilizado – custo de aquisição líquido da depreciação (tangíveis), amortização (intangíveis) e exaustão (recursos naturais). Ao final de cada exercício social, a empresa deve aplicar o teste de recuperabilidade dos ativos (impairment1). • Participações relevantes em Coligadas e Controladas – método de equivalência patrimonial. • Ativos Realizáveis e Passivos – de maneira geral, todos os ativos realizáveis e passivos, notadamente de longo prazo, devem ser avaliados a valor presente pela taxa de juros de mercado. • Empréstimos – não exigem a destinação específica de recursos. • Financiamentos– devem apresentar uma destinação aos recursos, como aquisição de máquinas e equipamentos, aquisição de veículos, edificações etc. • Passivos – com encargos financeiros explícitos, são avaliados pelo valor atualizado até a data do balanço. Em moeda estrangeira, são convertidos em moeda nacional pela taxa de câmbio vigente na data do balanço. 1 O termo se refere à redução ao valor recuperável de bens ativos. Análise das Demonstrações Contábeis 38 Com encargos financeiros classificados no passivo circulante, são apurados pelo seu valor presente. Obrigações de curto prazo são ajustadas sempre que produzirem efeitos relevantes. Capital Social – Lei nº 6.404/1976, art. 182: A conta do capital social discriminará o montante subscrito e, por dedução, a parcela ainda não realizada. Capital Social Capital Social Subscrito (-) Capital Social a Integralizar SAIBA MAIS: Leia a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, Clique aqui. RESERVAS DE CAPITAL Ganhos patrimoniais não relacionados com os valores integrantes do Ativo e que, por isso, não podem ser computadas na apuração do resultado. As reservas de capital somente poderão ser utilizadas para: • Absorção de prejuízos que ultrapassarem os lucros acumulados e as reservas de lucros (art. 189, parágrafo único). • Resgate, reembolso ou compra de ações. • Resgate de partes beneficiárias. • Incorporação ao capital social. • Pagamento de dividendo a ações preferenciais, quando essa vantagem lhes for assegurada. O art. 182 § 1º (BRASIL, 1976) diz que serão classificadas como Reservas de Capital: Análise das Demonstrações Contábeis http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm 39 • A contribuição do subscritor de ações que ultrapassar o valor nominal e a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal que ultrapassar a importância destinada à formação do capital social, inclusive nos casos de conversão em ações de debêntures ou partes beneficiárias. • O produto da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição. • O resultado da correção monetária do capital realizado, enquanto não capitalizado. A reserva constituída com o produto da venda de partes beneficiárias poderá ser destinada ao resgate desses títulos. AJUSTES DE AVALIAÇÃO PATRIMONIAL Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência: • (+-) as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valores atribuídas a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a valor justo, nos casos previstos nesta lei ou em normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, com base na competência conferida pelo § 3º do art. 177. RESERVAS DE LUCROS Serão classificadas como reservas de lucros as contas constituídas pela apropriação de lucros da companhia. O estatuto poderá criar reservas desde que, para cada uma: • Indique, de modo preciso e completo, a sua finalidade. • Fixe os critérios para determinar a parcela anual dos lucros líquidos que serão destinados à sua constituição. • Estabeleça o limite máximo da reserva. O saldo das reservas de lucros, exceto as para contingências, de incentivos fiscais e de lucros a realizar, não poderão ultrapassar o capital social. Análise das Demonstrações Contábeis 40 Atingindo esse limite, a assembleia deliberará sobre a aplicação do excesso na integralização/aumento do capital social ou na distribuição de dividendos. AÇÕES EM TESOURARIA • Representam a compra no mercado acionário das próprias ações pela empresa. • Mantêm-se guardadas para posterior revenda. • As ações em tesouraria deverão ser destacadas no balanço como dedução da conta do patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição. PREJUÍZOS ACUMULADOS Art. 5º – No encerramento do exercício social, a conta de lucros e prejuízos acumulados não deverá apresentar saldo positivo. Parágrafo único. Eventual saldo positivo remanescente na conta de lucros e prejuízos acumulados deverá ser destinado para reserva de lucros, nos termos dos arts. 194 a 197 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, ou distribuído como dividendo. (SILVA, 2012, p. 46-47). Na publicação do balanço patrimonial, constará somente saldo quando existir prejuízos acumulados. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você verificou quais são as demonstrações contábeis obrigatórias no Brasil. Viu a estrutura completa do Balanço Patrimonial e como devem ser registrados os valores das suas contas. É importante lembrar que as sociedades por ações são orientadas pela Lei nº 6.404/1976, legislação que orienta os contadores na excelência da preparação das demonstrações contábeis. Análise das Demonstrações Contábeis 41 Demonstrações de resultados OBJETIVO: Esta competência é de fundamental importância para toda análise das demonstrações contábeis. Pelo entendimento da estrutura contábil, podem-se desenvolver avaliações mais acuradas das empresas. Mais especificamente, todo processo de análise requer conhecimentos sólidos da forma de contabilização e apuração das demonstrações contábeis, sem os quais ficam seriamente limitadas as conclusões extraídas sobre o desempenho da empresa. Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) visa a fornecer os resultados, seja lucro ou prejuízo, auferidos pela empresa em determinado período (exercício social), os quais são transferidos para contas do patrimônio líquido. O lucro ou prejuízo é resultante de receitas, custos e despesas incorridos pela empresa no período e apropriados segundo o regime de competência, ou seja, independentemente de serem esses valores pagos ou recebidos. Análise das Demonstrações Contábeis 42 Quadro 8 – Estrutura da Demonstração do Resultado do Exercício de acordo com a Lei nº 6.404/1976 RECEITA OPERACIONAL BRUTA Vendas de Produtos Vendas de Mercadorias Prestação de Serviços (-) DEDUÇÕES DA RECEITA BRUTA Devoluções de Vendas Abatimentos Impostos e Contribuições Incidentes sobre Vendas = RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA (-) CUSTOS DAS VENDAS Custo dos Produtos Vendidos Custo das Mercadorias Custo dos Serviços Prestados = RESULTADO OPERACIONAL BRUTO (-) DESPESAS OPERACIONAIS Despesas Com Vendas Despesas Administrativas (-) DESPESAS FINANCEIRAS LÍQUIDAS Despesas Financeiras (-) Receitas Financeiras Variações Monetárias e Cambiais Passivas (-) Variações Monetárias e Cambiais Ativas OUTRAS RECEITAS E DESPESAS Resultado da Equivalência Patrimonial Venda de Bens e Direitos do Ativo Não Circulante (-) Custo da Venda de Bens e Direitos do Ativo Não Circulante = RESULTADO OPERACIONAL ANTES DO IMPOSTO DE RENDA E DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL E SOBRE O LUCRO (-) Provisão para Imposto de Renda e Contribuição Social Sobre o Lucro = LUCRO LÍQUIDO ANTES DAS PARTICIPAÇÕES (-) Debêntures, Empregados, Participações de Administradores, Partes Beneficiárias, Fundos de Assistência e Previdência para Empregados (=) RESULTADO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO Fonte: Matarazzo (2010). • Receita Bruta: Por regime de competência. • (-) Deduções: descontos incondicionais; devoluções; abatimentos e impostos incidentes sobre vendas (ICMS é o mais comum). • Receita Líquida = Receita Bruta (-) Deduções. Análise das Demonstrações Contábeis 43 • (-) Custo da Mercadoria Vendida (CMV), Custo do Produto Vendido (CPV), Custo do Serviço Prestado (CSP): O custo no período é influenciado pelo método de avaliação de estoques usado e pelo método de custeio (no caso do custo industrial). • CMV = Estoque Inicial (EI) + Compras (CO) – Estoque Final (EF) (Semelhante nas Indústrias). • ReceitaOperacional Líquida ou Lucro Bruto = Receita Líquida (-) CMV. DEFINIÇÃO: O montante apurado do lucro bruto destina-se a cobrir as despesas operacionais, despesas financeiras, despesas de impostos (imposto de renda) e remunerar os proprietários da empresa por meio de geração de lucro líquido. Despesas com vendas – constam, entre outras, as comissões sobre vendas, despesas com salários dos vendedores, promoções, publicidade, provisão para devedores duvidosos etc. Despesas administrativas – incluem salários do pessoal da administração, encargos sociais, honorários da diretoria, despesas legais e judiciais, material de escritório etc. Despesas financeiras líquidas – a atual Lei nº 6.404/1976 entendeu que as despesas financeiras e as receitas financeiras como itens operacionais, apresentando-se geralmente por seu valor líquido, ou seja, do montante de despesas financeiras incorridas no período, são deduzidas das receitas financeiras auferidas. Evidentemente, se as receitas excederem as despesas, têm-se receitas financeiras líquidas. Exemplos de despesas financeiras: juros de empréstimos e financiamentos, variações monetárias, encargos de mora, descontos concedidos etc. Exemplos de receitas financeiras: juros de aplicações financeiras, descontos obtidos etc. Outras receitas/despesas operacionais – itens que não se enquadram como despesas de vendas, administrativas e financeiras. Em um sentido restrito, podem ainda não ser identificadas como operacionais. Análise das Demonstrações Contábeis 44 Nesse grupo, estão incluídos dividendos recebidos de investimentos societários, variações nos investimentos avaliados pelo método de equivalência patrimonial, receitas de vendas de sucatas etc. O cálculo do imposto de renda a pagar é processado com base no lucro tributável denominado lucro real. O lucro real é igual ao lucro antes do imposto de renda, conforme aparece na Demonstração do Resultado do Exercício, acrescido de determinados ajustes previstos pela legislação. O lucro líquido final é calculado deduzindo-se do lucro líquido, após o imposto de renda, as diversas participações e contribuições previstas no estatuto da companhia. Lucro por ação Exigido pela legislação societária, o Lucro por Ação (LPA) é registrado normalmente logo após o resultado líquido do exercício na DRE. LPA = (Lucro Líquido do Exercício) / (Número de Ações) Exemplo: determinada empresa aferiu lucro líquido de R$ 50.000.000 em determinado exercício social e possui 125.000.000 ações em circulação, seu LPA é: LPA = (R$ 50.000.000) / (125.000.000 ações) LPA= R$ 0,40/ação O LPA é um indicador útil para análise, principalmente por parte dos investidores, que verificam os resultados gerados pela empresa em relação às ações possuídas. Mede o ganho potencial, e não o efetivo, de cada ação, dado que o lucro do exercício não é normalmente todo distribuído. Dividendos no Brasil O valor de dividendos a ser distribuído é de competência dos estatutos da companhia. Não há percentual fixado legalmente e as empresas têm liberdade de estabelecer em seus estatutos o percentual de lucro que deve ser pago aos acionistas. Análise das Demonstrações Contábeis 45 Quando o estatuto for omisso com relação ao montante a ser distribuído, determina a legislação que o dividendo deverá ser de 50% do lucro líquido do exercício. Por outro lado, se o estatuto for omisso e a assembleia geral de acionistas decidir alterá-lo fixando um valor, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25% do lucro líquido do exercício. O dividendo deixa de ser obrigatório caso a administração declare à assembleia geral ordinária ser ele incompatível com a situação financeira da companhia. Juros Sobre o Capital Próprio (JSCP) O JSCP é uma forma de remuneração do capital investido na empresa pelos seus proprietários. Para a companhia, reduzem a carga tributária em razão dos valores pagos serem dedutíveis para o cálculo do Imposto de Renda e Contribuição Social. Para a pessoa física que o recebe, sofrem tributação do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) na alíquota atual de 15%, ao contrário dos dividendos que não são tributados no Brasil. Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) A DLPA promove a integração entre o BP e a DRE. Seu objetivo básico é o de demonstrar a destinação do lucro líquido, ou seja, a parcela distribuída aos acionistas e aquela retida para reinvestimento. A DRE apura o lucro líquido e a DLPA destaca como foi decidida a sua destinação. Pela Lei nº 6.404/1976, a conta Lucros Acumulados no BP não pode apresentar saldo positivo ao final do exercício social. Os resultados apurados no exercício que não foram pagos aos acionistas (permanecem retidos para reinvestimentos) devem obrigatoriamente ser destinados a reservas próprias. Assim, a estrutura da DLPA é apresentada no Quadro 9. Análise das Demonstrações Contábeis 46 Quadro 9 – Estrutura da Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados SALDO INICIAL (+/-) Ajustes de Exercícios Anteriores (-) Parcela de Lucros Incorporada ao Capital Social (+) Reversões de Reservas (+/-) Resultado Líquido do Exercício (-) PROPOSTA DE DESTINAÇÃO DO LUCRO Transferências para Reservas Dividendos a Distribuir Juros Sobre o Capital Próprio (=) SALDO FINAL Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) A DMPL é um demonstrativo contábil mais abrangente que a DLPA. A DMPL abrange todas as contas do Patrimônio Líquido, identificando os fluxos ocorridos entre uma conta e outra, e as variações (acréscimos e diminuições) verificadas no exercício. A DMPL complementa as informações fornecidas pelo BP e pela DRE. Revela, de forma mais elucidativa, a formação e as movimentações das reservas e dos lucros, a apuração dos dividendos do exercício, as variações patrimoniais incorridas nas empresas investidas, entre outras informações e dados relevantes. SAIBA MAIS: A estrutura da DMPL pode ser consultada no Apêndice A da NBC TG 26, Clique aqui. Análise das Demonstrações Contábeis http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTG26(R5).pdf 47 RESUMINDO: E então? Você aprendeu a diferença entre DRE, DLPA e DMPL? Só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você verificou quais são as demonstrações contábeis de resultado obrigatórias no Brasil. Viu a estrutura completa dessas demonstrações e suas peculiaridades. Sem dúvida, a DRE apura o resultado da companhia em determinado exercício e a DLPA e DMPL ajudam a entender a destinação desses recursos na companhia. Análise das Demonstrações Contábeis 48 REFERÊNCIAS BRASIL, Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Lex: Legislação Federal. Disponível em: http://bit.ly/2LOP6Ml. Acesso em: 30 jun. 2021. CFC. Norma Brasileira de Contabilidade Técnica Geral NBC TG 26 (R5) – Apresentação das demonstrações contábeis, Brasília, DF, 2017. Disponível em: http://bit.ly/2YWKPvL. Acesso em: 30 jun. 2021. CFC. Norma Brasileira de Contabilidade Técnica Geral NBC Estrutura Conceitual – Estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro, Brasília, DF, 2011. Disponível em: http://bit.ly/2SdwTMD. Acesso em: 30 jun. 2021. IFRS. Who we are: about us, London, 2019. Disponível em: http://bit.ly/38QkGTG. Acesso em: 30 jun. 2021. IUDÍCIBUS, S. de. Análise de balanços. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2017. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. Acompanha CD-ROM. RIBEIRO, O. M. Estrutura e análise de balanços fácil. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. SAPORITO, A. Análise e estrutura das demonstrações contábeis. Curitiba: Intersaberes, 2015. SILVA, A. A. da. Estrutura, análise e interpretação das demonstrações contábeis. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012. Disponível em: http://bit.ly/2M3x5dc. Acesso em: 13 ago.2019. Análise das Demonstrações Contábeis Objetivos e usuários da análise das demonstrações contábeis Conceitos e objetivos da análise das demonstrações Usuários da análise das demonstrações contábeis Finalidades da análise das demonstrações contábeis Padronização e limitação na análise das demonstrações contábeis Padronização na análise das demonstrações contábeis Modelos de padronização Limitações da análise das demonstrações contábeis Estrutura das demonstrações contábeis Principais alterações introduzidas no Brasil pela Lei nº 11.638/2007 e complementos Balanço Patrimonial (BP) Demonstrações de resultados Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) Demonstração de Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA) Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
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