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História da América I AULA 1

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História da América I
Aula 1: Povos ameríndios originais
Apresentação
Nesta aula, estabeleceremos uma relação de diálogo com o processo de ocupação do território americano, observando que ela se deu de forma diferenciada por causas diversas, como a questão climática, os obstáculos naturais, a necessidade humana de reproduzir e dominar a natureza etc.;
Veremos também que, entre os povos ameríndios, os níveis diferenciados de desenvolvimento cultural foi decorrente da própria necessidade dos povos de intervir no meio ambiente para tornar possível a vida naquele território.
Objetivos
Compreender o estudo sobre a origem da ocupação do continente americano.
Compreender as teses mais aceitas pela arqueologia continental.
Entender o processo de ocupação diferenciada do continente, que provocou a concentração populacional na área central continente e na região andina, onde hoje está Peru.
Compreender as diferenças no nível de desenvolvimento técnico dos diversos povos indígenas.
Ocupação do território americano
A ocupação do território americano é um tema bastante controverso. De certo, sabemos que os ameríndios estavam aqui quando os europeus desembarcaram nas costas do continente.
Mas por que é importante saber a origem dos primeiros americanos e quando eles entraram no continente?
Porque a partir desse conhecimento é possível compreender alguns aspectos importantes da forma de ocupação do continente.
Poderemos analisar as origens de muitos dos aspectos culturais desenvolvidos em nosso continente e compreender questões referentes ao uso ou não de instrumentos de trabalho por esses povos que ocuparam todo o continente americano.
Ou seja, o trabalho realizado pela arqueologia americana é fundamental para compreender as organizações sociais dos povos ameríndios antes da chegada dos europeus.
Duas teses básicas se confrontam quando nos remetemos à origem de seres humanos no continente americano:
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A primeira defende um único ponto de entrada de grupos humanos oriundos da Ásia.
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A segunda defende as múltiplas entradas de origens e em tempos diferentes.
Estreito de Bering
A primeira tese é defendida basicamente pela arqueologia estadunidense. Eles acreditam que a entrada de humanos no continente americano se deu através do Estreito de Bering há cerca de 12.000 anos.
Essa tese se sustenta em descobertas arqueológicas feitas há mais de meio século na região do Alaska. Lá foram descobertos fósseis humanos, alguns muito bem preservados pelas baixas temperaturas.
Esses fósseis de homo sapiens oriundos da Ásia levou os arqueólogos do continente americano a aceitar a tese de que “ao fim da última era glacial, quando o Estreito de Bering era na verdade uma ligação entre os continentes asiático e americano, grandes levas de grupos humanos migraram por aquela área continental em busca de alimentos. A partir do Alaska, então, ocuparam o continente”.
No entanto, a partir da década de 1970, houve um grande desenvolvimento na arqueologia de outras partes do continente.
Arqueólogos chilenos, peruanos, mexicanos e brasileiros desenvolveram pesquisas sobre a ação das culturas humanas em seus territórios e algumas descobertas colocaram em xeque a tese da entrada única pelo Estreito de Bering. Os arqueólogos questionavam, principalmente, a datação de 12000 anos como limite.
Uma das mais importantes descobertas foi a do fóssil de Luzia. Encontrada em Lagoa Santa, Minas Gerais, esse fóssil recebeu datação entre 11500 e 16400 anos, ou seja, não poderia o ser humano ter entrado no continente há 12000 anos, pelo norte, e estar em 11500 anos no meio da parte sul do continente.
A partir daí foram feitas novas descobertas no Chile e Peru que levaram a novos questionamentos. Desta vez, o ponto principal não era a data, mas a origem cultural, pois objetos descobertos não conectavam os povos que ali viviam com as sociedades de origem asiática. Apresentavam uma inclinação cultural para povos africanoides, a exemplo dos encontrados na Austrália, Nova Zelândia, Papua.
 Crânio de Luzia. | Fonte: Gian Cornachini. Disponível em: Wikimedia. Acesso em: maio 2019.
 Reconstituição de Luzia. | Fonte: Dornicke. Disponível em: Wikimedia. Acesso em: maio 2019.
Essas descobertas, somadas àquela feita no Brasil, gerou a tese da múltipla entrada em múltiplas datas.
Hoje, a datação mais aceita pela arqueologia internacional para a origem do homem americano gira em torno de 30000 a 35000 anos. Uma datação bastante elástica, que circunscreve a migração para o continente americano na última era glacial, que ocorreu entre 50000 a.C. e 12000 a.C.
É importante ressaltar que uma boa parte da arqueologia estadunidense ainda se mantém apegada à tese da entrada única pelo Estreito de Bering e atribui essas datações mais antigas a erros técnicos.
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Por outro lado, existe também a tese da arqueóloga brasileira, Niéde Guidon, que afirma que o ser humano está em nosso continente há pelo menos 100 mil anos.
A imensidão do continente americano foi povoada de forma bastante heterogênea, obedecendo aos limites das condições ambientais e climáticas. Nas áreas mais hostis do continente a ocupação se deu em menor escala, mas essa regra não segue uma lei de proporção direta, ou seja, isso não significa dizer que áreas generosas eram populosas.
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A ocupação do território
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Ao longo do tempo, as áreas que foram conhecendo uma grande concentração populacional, foram aquelas em que as exigências ambientais e climáticas levaram o ser humano a desenvolver a agricultura.
O controle da produção de gêneros alimentícios gerou segurança para as sociedades e permitiu um grande aumento populacional em áreas como a Mesoamérica (América Central).
As características ambientais impuseram também comportamentos culturais a esses povos. Na maior parte do continente, seja ao norte ou ao sul, o nomadismo ou o seminomadismo eram comportamentos comuns dos povos dos planaltos do atual Estados Unidos, nas florestas equatoriais e tropicais da América do Sul ou ainda nas mais frias do continente, como no Alaska e no Canadá.
Povos nômades
O comportamento cultural nômade se dava de maneira variada e por motivos diferentes.
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No planalto estadunidense os motivos eram as mudanças climáticas sazonais. No inverno, a escassez de alimentos obrigavam os povos que ali viviam a migrar em busca de áreas com maior oferta de alimentos.
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Nos casos das regiões frias do Canadá e das florestas tropicais, as bases populacionais eram mais estáticas, podendo ocupar um território por dez anos ou mais no caso das áreas de florestas.
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No entanto, passado um ciclo de contínua exploração alimentar dessas regiões, as mudanças de localização das tribos eram necessárias para manter a capacidade de provimento de nutrientes.
Como essas sociedades viviam basicamente da caça, da pesca e da coleta de alimentos, sendo a agricultura tratada como forma complementar de obtenção de alimentos, habitar uma área com grande diversidade de fauna e flora eram essenciais e as mudanças também eram fundamentais para que o ambiente explorado pudesse se recuperar.
Comentário
Compreendendo as circunstâncias ... Ainda hoje, podemos observar que tribos indígenas brasileiras que mantêm um comportamento cultural similar ao que observávamos nos tempos coloniais: precisam de uma extensa área territorial, pois como dependem dos recursos naturais para se alimentarem e extraem esses recursos da natureza, transformam a floresta no seu gigantesco supermercado, evitando esgotar os recursos de uma região para permitir a rápida recomposição.
É por isso que as reservas indígenas demarcadas são, normalmente, gigantescas. A relação dos indígenas com a floresta é simbiótica.
Povos sedentários
O sedentarismo na América ocorreu de forma similar ao que ocorreu em outras áreas do mundo.
A agricultura foi sendo desenvolvida para atender às necessidades alimentares dos povos, que ampliavam em número de indivíduos, mas não conseguiam obter da natureza uma fonte regular e permanente derecursos. A domesticação de plantas e animais foi a saída encontrada por diversos povos para garantir a sua existência.
Os povos, que buscaram na agricultura e na criação de animais a saída para suas deficiências alimentares, eram aqueles que habitavam regiões onde a natureza era escassa em recursos.
A necessidade de ocupar regiões escassas em recursos, somada às técnicas desenvolvidas na domesticação de animais e plantas foram os elementos circunstanciais que permitiram a sedentarização de diversos povos na América.
A região da América Central foi a que conheceu o maior nível de sedentarização e durante uma grande extensão temporal. Os arqueólogos apontam vestígios de povos sedentários desde 1000 a.C., com um bom grau de desenvolvimento cultural.
Pouco antes da chegada dos espanhóis na região da América Central existiam diversos povos sedentarizados com níveis elevadíssimos de desenvolvimento cultural naquela região, por exemplo:
Olmecas, Maias e Astecas são apenas alguns dos exemplos que podemos citar de sociedades sedentarizadas daquela região.
Olmecas
Maias
Astecas
Além da América Central, outra região que conheceu desenvolvimento histórico similar foi o altiplano peruano. Ali também se desenvolveu uma sociedade sedentarizada, cuja produção alimentar era feita com a utilização de uma técnica peculiar e típica daquele povo. A produção de alimentos era feita em terraços, ou seja, cortes feitos nas montanhas onde eram plantados diversos tipos de alimentos.
A diferença mais importante entre o processo de sedentarização na América Central e no Altiplano foi o momento em que cada um aconteceu. Enquanto na Mesoamérica, como já vimos, esse processo se deu em milhares de anos; no Altiplano era relativamente recente, quando da chegada dos espanhóis.
Na próxima aula compreenderemos melhor essa temática.
Concluindo...
Observamos, nesta aula, que o processo de ocupação do território americano não aconteceu de forma homogênea e monocultural. Querer unificar esse processo, nomeando os povos que aqui viviam de índios, sem observar suas diferenças culturais e os diferentes processos históricos no desenvolvimento de suas culturas é negar a possibilidade de diversidade cultural entre os seres humanos, ou ainda estabelecer como possível a hierarquização das culturas humanas, como se uma cultura com mais técnicas fosse superior à outra que não precisava das técnicas para obter a sua sobrevivência.
Sejam nômades, seminômades ou sejam sedentarizados, os povos que ocuparam a América antes da chegada dos europeus eram grupamentos humanos organizados em sociedades complexas e com grande aparato cultural, que precisam ser estudados e valorizados. Afinal, muitos dos seus aspectos ainda estão presentes nas sociedades atuais.
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Atividade
Analise as afirmativas a seguir :
I. A forma de ocupação da América foi dada por um único ponto de entrada de grupos humanos oriundos da Ásia.
II. Jamais pode-se defender as múltiplas entradas de origens e em tempos diferentes.
III. A região da América Central foi a que conheceu o maior nível de sedentarização e durante uma grande extensão temporal.
Podemos afirmar que:
a. apenas a afirmativa II está correta.
b. apenas a afirmativa III está correta.
c. apenas as afirmativas II e III estão corretas.
d. todas as afirmativas estão corretas.

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