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1997-tcc-jfccruz

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade 
Curso de Ciências Econômicas 
Monografia 
INFLAÇÃO E 
POLÍTICA ECONOMICA NO BRASIL 
A Utilização da 
Correção Monetária Durante o 
Regime Militar (1964-1985) 
Aluno: José Flávio Costa da Cruz 
Orientador: Alfredo José Pessoa de Oliveira. 
av Prof. gameno eida 
Esta monografia foi submetida à 
Coordenação do Curso de Ciências Econômicas, 
como requisito parcial necessário à obtenção 
do Titulo de Bacharel em 
Ciências Econômicas, outorgado pela 
Universidade Federal do Ceará. 
José Flávio Costa da Cruz 
Monografia aprovada em 2-± de fevereiro de 1997. 
	 YfreJosé o Prof.: Al 	Pessoa de Oliveira 
Orientador 
Prof : Eurípedys Ewbank Rocha 
Agradecimentos 
Agradecimento inicialmente à minha mãe, por ter me gerado e formado. 
Agradeço ao incansável Professor-Orientador Alfredo por sua 
determinação, orientação, paciência, compreensão e principalmente pelo 
conhecimento transmitido. 
Agradeço também aos Professores Agamenon e Eurípedys pela 
competente e decisiva contribuição dada ao trabalho. 
Agradeço ao Professor Jair pelo incentivo, apoio e por sua orientação 
inicial. 
Agradeço à todos, amigos, companheiros de trabalho, funcionários desta 
instituição, que de alguma maneira contribuíram para a elaboração, formação e 
conclusão deste trabalho. 
Agradecimento especial ao principal motivo por estarmos aqui. Deus. 
Dedicação 
à Evaneide, 
minha esposa. 
Lista de Tabelas 
Tabela 1 	 Página 
América Latina - Inflação de 1950 à 1975 	 04 
Tabela 2 
Índice de preços da Alemanha e Hungria 	 07 
Tabela 3 
Inflação e PIB no Brasil (1956-1985) 	 18 
Tabela 4 
Financiamentos e empréstimos no mercado financeiro 	24 
Tabela 5 
Aplicações financeiras (1963-1968) 	 25 
Tabela 6 
Índice de salário mínimo (1963-1968) 	 25 
Tabela 7 
Câmbio/Exportações/Importações (1965-1974) 	 28 
Tabela 8 
Saldo da balança comercial (1974-1981) 	 32 
Tabela 9 
Taxa de juros internacionais 	 33 
Tabela 10 
Indicadores do serviço da divida externa (1978-1982) 	36 
Tabela 11 
Preços criticos da economia brasileira (1981-1985) 	 37 
Tabela 12 
Inflação, PIB e câmbio (1979-1984) 	 38 
Índice 
1. Introdução 	 01 
2 Inflação e Indexação 	 02 
2.1 Conceitos de Inflação 	 02 
2.2 Os Efeitos da Inflação 	 09 
2.3 Indexação 	 13 
3. A Implantação da Correção Monetária na Economia Brasileira 	16 
3.1 Condições que permitiram a implantação da Correção Monetária 	16 
3.2 0 Processo de implantação da Correção Monetária 	 20 
3.3 A Consolidação da Correção Monetária e o Milagre Brasileiro 	27 
3.4 Um Longo Período de Desequilíbrios 	 32 
3.5 A Nova República 	 41 
4. Conclusão 	 43 
5. Bibliografia 	 45 
1 - Introdução 
A inflação e a indexação brasileira sempre foram e vão ser objeto de 
estudo por dos economistas ou não-economistas. A nossa economia neste 
século conviveu sistematicamente com a inflação ou com as inflações, sem que 
os agentes econômicos pudessem se salvaguardar das suas consequências. 
Os índices inflacionários assumem níveis alarmantes e insuportáveis no 
início das décadas de 60 e 80. Portanto o que fazer nestas situações? 
Combater a inflação pelas suas causas, combatê-la via indexação ou combatê-
Ia desindexando a economia. Obviamente que a resposta vai depender da 
situação em que o país se encontra. 
O presente trabalho tentará mostrar como se comportou a economia 
brasileira durante os 22 anos que o país estava sob o regime militar, analisando 
principalmente a relação inflação x indexação, ou seja, mostrar porque na 
década de 60 optou-se pela utilização da indexação e na década de 80 a opção 
foi desindexar a economia. 
O primeiro capítulo conceitua a inflação e suas causas, mostrando os 
estágios que ela pode assumir, crônica e hiperinflação. E a seguir mostra como 
a inflação afeta a economia de um país. Neste caso veremos como este "mal" 
afeta os agentes econômicos. Veremos no final do capítulo o que é correção 
monetária e a sua distinção em relação a indexação, mostrando as diversas 
características e regras a serem obedecidas. 
No capítulo seguinte, objeto principal deste trabalho, iniciaremos 
discutindo as condições que permitiram a adoção da correção monetária, 
passando por sua implantação e aperfeiçoamento, dando um enfoque especial 
às consequências da introdução da correção monetária na nossa economia, 
mostrando porque a utilização da correção como instrumento de política 
econômica foi benéfica para a economia. Por fim abordaremos a questão da 
generalização da indexação e a inércia inflacionária, causas principais de 
recentes fracassos econômicos. 
2 - Inflação e Indexação 
2.1 - Conceitos de Inflação 
A inflação de constitui em um processo de contínuo aumento do nível 
geral de preços. Ao analisar esta afirmação Griffiths(1981) a divide em duas 
importantes partes: 1a) Processo contínuo - a inflação é um processo dinâmico. 
Uma simples alta de preços não pode e não deve ser considerada como 
inflação, porque a própria economia trata de ajustar-se a esta nova situação e 
2a) Aumento no nível geral de preços. A variação medida pela inflação é, na 
verdade, uma média de variação de preços. Portanto, existem aumentos de 
preços abaixo do índice como também acima dele, em virtude deste aumento 
não ocorrer na mesma proporção para todos os preços de bens e serviços. 
Diversas são as formas de denominar a inflação e esta denominação é 
dada, normalmente, de acordo com a causa inicial do processo inflacionário. É 
salutar lembrar que a inflação pode ter uma ou mais de uma causa. Vejamos 
os casos mais relevantes. 
Inflação de Demanda - Surge quando a demanda agregada se eleva, 
ficando acima do produto nacional, isto à pleno emprego. Em termos mais 
específicos, a inflação de demanda ocorre quando há uma procura superior a 
oferta de um bem ou serviço, mas que só será efetivada caso haja uma 
respectiva expansão monetária. A inflação de demanda também se justifica por 
questões estruturais; quando as ofertas dos diversos setores crescem 
diferentemente, principalmente em economias subdesenvolvidas, criam-se 
situações de estrangulamento, como por exemplo: oferta inelástica de alimentos 
para uma crescente urbanização; má distribuição de renda; baixa inserção 
econômica no comércio internacional, principalmente por rigidez nas 
importações. 
Inflação de Custos - Levando em conta a questão dos salários. Quando 
os trabalhadores estão muito organizados, com sindicatos fortes, podem haver 
ganhos salariais que extrapolem o nível do aumento da produtividade. 
2 
Ocorrendo isto haverá elevação dos custos empresariais. Como os empresários 
não vão querer ter os seus lucros reduzidos, devido à elevação dos custos eles 
elevam o seus preços, fazendo com que novamente os trabalhadores busquem 
reajustes salariais, dando início, assim, ao conflito distributivo entre lucros e 
salários. A inflação de custos também pode ocorrer quando existe monopólio ou 
oligopólio cartelizado na produção de bens intermediários, por exemplo. Os 
empresários deste setor elevam os preços para aumentarem os seus lucros, em 
contrapartida elevam os custos das empresas que se utilizam destes bens no 
processo produtivo. Estas obviamente elevarão os seus preços, para não terem 
os lucros reduzidos. 
Inflação Importada - A inflação importada ocorre normalmente quando 
existe um aumento de preços internacionais(movimento externo) de bens 
importados, desde que este bens sejam necessários e primordiais ao país, não 
havendo ou apenas existindo uma pequena produção interna, que não é 
suficiente para atender ao mercado interno. O caso do petróleo é exemplar, 
como veremos no próximo capítulo. Este movimento de elevação de preços 
também pode ter origem interna. O governo utiliza a taxa de câmbio para 
estimular as exportações, e ele o faz através da desvalorização da moeda. Em 
contrapartida,há o encarecimento dos produtos importados. Esta elevação de 
preços tanto será prejudicial ao país, em termos de componente inflacionário, 
quanto maior for a sua dependência externa. 
Inflação Inercial - A inflação inercial está associada aos processos 
inflacionários elevados. Ela surge quando há elevação de preços decorrente de 
uma inflação passada, levando em conta as expectativas e/ou o conflito 
distributivo, onde cada agente econômico visa manter a sua participação 
relativa na renda. "A inflação torna-se inercial quando os contratos tem 
cláusulas de indexação que restabelecem seu valor real após intervalo fixo de 
tempo"(Árida & Lara-Resende, 1986, pag 17). No caso brasileiro a inflação 
inercial ficou tão evidente que acabou gerando o termo "cultura inflacionária", 
pois tal procedimento predominou nos últimos anos da nossa economia. 
3 
A teoria econômica classifica a inflação em função da intensidade e da 
velocidade do processo, São várias as nomenclaturas, no entanto, vamos nos 
ater somente as definições de inflação crônica e hiperinflação. 
Inflação crônica, utilizando o conceito de Lara-Resende(1989), é um 
processo de alta generalizada de preços em ritmo acelerado e por um período 
de tempo suficientemente longo para que sejam desenvolvidos mecanismos 
generalizados de indexação retroativa dos contratos. 
Costuma-se denominar de crônica a inflação ocorrida na América Latina 
no período compreendido entre as décadas de 60 e 70. É certo que tal processo 
não ocorreu em todos os países, como observamos na Tabela 01. 
TABELA 1 
AMÉRICA LATINA - INFLAÇÃO de 1950 à 1975 
A - Variações entre médias anuais 
	
B - Dezembro à Dezembro 
Ano 1950/54 1955/59 1960/64 1965/69 1970/72 1973 1974 1975 
País A A A A A B B B 
Argentina 15,2 34,5 23,0 22,3 34,5 43,9 39,9 334,8 
Bolívia 55,6 68,1 6,8 5,7 4,7 34,7 39,1 6,0 
Brasil 14,2 21,4 53,8 35,1 19,6 13,6 34,1 30,8 
Chile 30,0 - 24,6 25,5 41,2 507,7 373,9 340,7 
Equador 3,4 0,2 3,5 4,4 7,1 20,6 21,2 13,2 
México 7,1 8,1 2,1 3,4 5,3 20,2 20,9 13,3 
Paraguai 59,8 15,3 6,1 2,2 4,4 14,1 21,9 8,8 
Peru 8,4 7,4 7,4 12,0 6,3 13,7 19,1 24,0 
Uruguai 8,3 16,1 26,3 69,3 36,9 77,1 107,2 66,8 
Venezuela 1,8 1,6 0,7 1,4 2,9 5,1 12,2 7,3 
FONTE: FMI 
Extraído: Pinto, Aníbal. Raízes estruturais da inflação na América Latina, in Pinto, Assael, 
Prado & Marinho. Inflação recente no Brasil e na América Latina. Graal. Rio de 
Janeiro. 1978. 
Em alguns países o desenvolvimento trouxe desajustes para a 
economia como altas inflações. De acordo com Pinto(1978), estes desajustes 
atenuaram diferenças entre o sistema produtivo e a infra-estrutura e entre o 
4 
sistema financeiro e o produtivo mas, em contrapartida, agravaram a brecha 
entre o crescimento da demanda urbana, a oferta de alimentos e a 
incompatibilidade de um crescimento interno, conjugada com a baixa 
capacidade de importação, mostrando claramente uma inflação crônica 
estrutural. 
Denomina-se de crônica a inflação entre 1973-1975 ocorrida na 
Argentina, como mostra a Tabela 1, quando alguns fatores contribuíram 
sobremaneira para a elevação do índice inflacionário, quais sejam: a estrutura 
política(regime militar); a estrutura econômica do país(diferença muito grande 
do setor primário para os setores secundário e terciário) e a ocorrência da 
inflação importada(via 1°. choque do petróleo). 
A hiperinflação ocorre em período no qual o índice de preços aumenta de 
forma acelerada e a depreciação do valor da moeda é bem rápida, sendo os 
seus efeitos mais nefastos. A moeda é utilizada somente como unidade de 
conta e, consequentemente, como meio de troca para as operações financeiras. 
A hiperinflação é tão degenerativa, que os próprios índices de preços não são 
aceitos(devido a defasagem entre a coleta e a divulgação dos dados), 
resultando numa perda para aqueles que utilizarem tal índice. As formas de 
financiamento do setor público se contraem, a fuga de capital aumenta com a 
instabilidade, reduzindo a poupança interna desestruturando o modo de 
financiamento interno. 
O ponto culminante é quando há rejeição total da moeda, fazendo com 
que o público e o mercado prefiram uma divisa mais forte(geralmente o dólar) 
como moeda básica para reajustes dos contratos. 
Philip Cagan(Cagan apud Griffits op cit) define hiperinflação como um 
processo que se inicia no mês em que o aumento de preços é maior que 50% e 
perdure até o mês anterior em que o índice de preços seja menor que 50%, 
permanecendo neste patamar por, pelo menos, um ano. 
Então a questão fundamental é saber porque o índice inflacionário se 
mantém tão elevado. De acordo com a visão monetarista, é devido ao ciclo 
hiperinflacionário, ou seja, o déficit público é financiado pela expansão 
5 
monetária que aumenta a inflação, esta por sua vez, aumenta o déficit via efeito 
Olivera- Tanzi1, além do que preços e taxa de câmbio sobem mais rapidamente 
do que a expansão monetária. A ótica estruturalista questiona principalmente o 
"por que" dos déficits, das emissões(moeda e título), dos desajustes cambiais, 
ou seja problemas vinculados a desequilíbrios estruturais da economia. 
Portanto a análise estruturalista busca primeiro o diagnóstico da inflação, para 
depois definir como combatê-la. 
Observamos ao longo da história alguns exemplos clássicos de inflação 
crônica, além dos casos mais recetemente citados(América Latina), podemos 
evidenciar via Tabela 2 o caso alemão e húngaro, frequentemente analisados 
nos manuais sobre a inflação. 
O processo inflacionário alemão iniciou-se com o financiamento de déficit 
público via emissão monetária e foi fortemente agravado pelas enormes 
reparações de guerra que a Alemanha teve que pagar. A instabilidade política e 
a desorganização econômica não permitiu estruturar um cronograma de 
pagamento das reparações de guerra, principalmente devido a não formulação 
de uma política fiscal. A conjunção destes fatores lançou dúvidas acerca de 
uma possível estabilidade monetária, tanto internamente como externamente. 
Com isso a inflação reduzia cada vez mais a arrecadação, fazendo com que o 
governo emitisse mais moeda para contrabalançar esta perda, gerando por 
conseguinte uma nova inflação. 
' Este efeito consiste no hiato temporal entre o fato gerador da receita e a sua respectiva arrecadação, já que esta 
não é corrigida monetariamente, ou seja, há uma proporção inversa entre taxa de inflação e arrecadação tributária. 
6 
TABELA 2 
ÍNDICE DE PREÇOS DA ALEMANHA E HUNGRIA 
Alemanha (marco) - A Hungria (pengo) - B 
Base 100 em 1913 Base 100 em 1939 
1922/AGO 	19.202 1945/JUL 105 
OUT 	56.101 AGO 171 
NOV 	115.101 SET 379 
DEZ 	147.479 OUT 2.431 
1923/JAN 	278.500 NOV 12.979 
ABR 	521.200 DEZ 41.478 
JUN 	1.938.500 1946/JAN 72.330 
AGO 	94.404.100 FEV 435.887 
SET 2.394.889.300 MAR 1.872.913 
NOV 	72,57 x 10 ABR 35.790.361 
FONTE: A - Spohr, P. A hiperinflação da Alemanha, in A economia da inflação. UFRS. Rio 
Grande do Sul, 1992. 
B - Griffiths(1981) 
Os agentes econômicos não mais preferiam liquidez em marco, devido 
aos absurdos índices inflacionários, mais especificamente, a moeda nacional 
tinha perdido as funções tradicionais, e seria substituída pelo dólar e outras 
divisas fortes. 
O caso Húngaro se assemelha muito com o alemão porque a 
arrecadação fiscal era menor que as despesas, incluída aqui também as 
reparações de guerra, no caso à União Soviética. O déficit fiscal era quase que 
totalmente financiado pela emissão monetária, ou seja, era o déficit que gerava 
inflação, e esta via efeito Olivera-Tanzi realimentava-o. 
A análise sobre o caso Húngaro recai sobre a inclusão do pengo fiscal2 
para pagamentos de impostos. Utilizado inicialmente para evitar o aumento do 
déficit público, o pengo fiscal também foi utilizado, devido a reivindicação dos 
contribuintes, para a correção dos depósitos à vista, gerando uma expansão 
monetária incontrolável. 
2 0 pengo fiscal foi umaunidade de conta planejado para que os impostos nâo sofressem o efeito Olivera-Tanzi. 
7 
No caso brasileiro não vamos nos ater rigidamente à distinção numérica 
da definição de inflação e hiperinflação porque, como veremos neste trabalho, a 
inflação não trouxe consequências tão nefastas como apregoada pela teoria 
econômica, principalmente devido a utilização da indexação na nossa 
economia. 
8 
2.2 - Os Efeitos da Inflação 
Historicamente todo o sistema econômico e, inclusive, o político, acaba 
modificando-se devido às constantes perdas de valor real da moeda causada 
pela inflação. A análise aqui estuda os efeitos da inflação sobre os agentes 
econômicos: os assalariados; as empresas e o setor público. 
As pessoas que possuem rendimentos fixos(assalariados, pensionistas, 
etc.) são atingidos diretamente pela inflação pois têm o seu poder aquisitivo 
continuamente reduzido. Não havendo possibilidade de atrelar a alta de preços 
ao reajuste dos rendimentos, passa a existir uma relação direta entre o tempo e 
perda do poder de compra, ou seja, quando mais tempo o trabalhador reter 
seus rendimentos, mais ele estará perdendo. Os trabalhadores buscam 
basicamente duas formas de atenuar tal perversidade: l a) privilegiando e 
antecipando o consumo, segundo Kalecki(1983) os trabalhadores gastam tudo 
o que ganham. Quando os trabalhadores recebem os seus salários, há uma 
tendência de antecipação de consumo. É a possibilidade de compra hoje devido 
as dificuldades de indexação da moeda. Só que existe uma dificuldade de 
efetivação deste consumo, e que, de acordo com Langoni(1975, pag 35) , os 
consumidores "... esbarram na relativa rigidez da oferta de bens e serviços à 
curto prazo, e o resultando é a sanção, pela sociedade, do crescimento nos 
preços que até então só existia apenas na imaginação dos indivíduos". É a 
inflação de demanda. 2a) reivindicação salarial. É notório que os trabalhadores 
tentarão recompor as perdas advindas do processo inflacionário, e, com isso, 
vão se sobressair os segmentos mais organizados, que normalmente estão em 
setores oligopolizados da economia, criando situações distintas, quais sejam: 
distorções salariais entre categorias, e, auto-alimentação da inflação caso haja 
ganho reais3, dessa forma a atitude dos trabalhadores fomenta a espiral salário-
preços. 
Um processo inflacionário afeta as empresas de variadas formas, senão 
vejamos: dos lucros contabilizados pela empresa, parte são reais e parte para 
3 A este respeito, ver Griffiths(1981) 
9 
repor o ativo fixo. Portanto, se a tributação incidir sobre o lucro total e não 
somente sobre o lucro real, a empresa estará se descapitalizando e, se houver 
um planejamento interno de expansão com base no lucro total, esquecendo-se 
de recompor o ativo fixo, a empresa também encontrará dificuldades; outra 
forma pelo qual as empresas são prejudicadas é em relação à incerteza. 
Obviamente a incerteza gerada pela inflação afeta toda a economia, preferimos 
citá-la aqui porque o empresário assume o risco do investimento. A inflação cria 
uma atmosfera de incertezas e, com isso, passa a existir dificuldades de se 
fazer planejamento a longo prazo, principalmente quando se projeta a 
lucratividade em função das rentabilidades futuras. Por conta disso, aumenta a 
participação do Estado na economia, de acordo com Viana(1984, pag 23) "... se 
o setor privado retrai seu investimento em setores de maturação demorada, a 
oferta destes bens passa a ser efetuada pelo Estado". Esta situação perdurou 
na economia brasileira da década de 30 até a década de 80, e só não continuou 
devido à crise fiscal do estado. 
Certas empresas conseguem elevar os seus preços no mesmo nível da 
inflação ou até mesmo acima dos índices inflacionários. Normalmente esta 
situação ocorre quando ela opera em monopólio, oligopólio ou em cartel. Sendo 
assim, nem a rápida deterioração dos preços que ocorre na economia afeta 
estas empresas, já que possuem total controle sobre a área onde atuam. 
Assim como os assalariados, as empresas tentam não sofrer com a 
inflação, atuam gerando estoques, em detrimento da utililização do mercado 
financeiro. Isto só é possível se a taxa de juros for inferior ao índice 
inflacionário, reduzindo, o financiamento interno a longo prazo. 
As instituições financeiras, melhor representadas pelos bancos 
comerciais, são beneficiadas pela existência de processos inflacionários. 
Quando ocorre um depósito à vista em um banco, alguns procedimentos são 
adotados. Existe a divisão deste depósito em três partes: a primeira fica no 
próprio banco, para a cobertura dos saques, a segunda é destinada ao BACEN, 
como depósito compulsório e a terceira é aplicada em títulos indexados. Com 
10 
certeza haverá retorno de rendimento, desde que a taxa de retorno da aplicação 
seja maior que a taxa de inflação do período. 
A forma dos bancos ganharem com a inflação é também através da 
intermediação financeira, ou seja, ele capta recursos a uma determinada taxa e 
empresta estes mesmos recursos a uma taxa superior, esta diferença, é 
chamada de spread. 
O setor público perde arrecadação tributária com as altas taxas de 
inflação. E o chamado efeito Olivera-Tanzi. Outro agravante é o estímulo à 
inadimplência, devido a falta de correção de valores de impostos. A inflação por 
outro lado, enquanto tributo sobre moeda, se contrapõe à esta perda da 
arrecadação tributária. O setor público, ao emitir moeda, permite que 
assalariados e empresas tenham maiores recursos a sua disposição, com isso 
aumenta a demanda por bens e serviços, se esta demanda não for 
acompanhada de um aumento na oferta, haverá um correspondente aumento 
no nível de preços e, consequentemente, redução da quantidade comprada, 
sendo a parcela não consumida transferida para as empresas(em forma de 
lucro) e para o setor público(em forma de tributos), este processo é denominado 
de imposto inflacionário. 
A redução da arrecadação tributária, mais a redução do imposto 
inflacionário aliados à falta de credibilidade do governo provocarão, de acordo 
com Langoni(1975, op cit, p 44), um "estímulo" do governo em gerar mais 
inflação, através da emissão de moeda, pois assim elevaria-se o imposto 
inflacionário, só que os agentes econômicos irão se desvencilhar mais 
rapidamente da moeda. 
Como vimos até aqui a inflação reduz consideravelmente a poupança 
total(considerando uma economia sem indexação ou com aplicações financeiras 
que não acompanhem a taxa de inflação), com isso, o governo é forçado a 
gerar poupança pública como modo de financiamento para os investimentos. 
Para que isto ocorra o governo pode optar por três caminhos. O primeiro é 
emitir moeda. Quando o governo opta por emissão de moeda tanto para gerar 
poupança pública e/ou para financiar o seu déficit, ele está iniciando um ciclo 
11 
gerador de inflação, como já foi descrito anteriormente, ou seja, ao tomar tal 
decisão o Governo está ratificando a inflação. A segunda opção seria através da 
emissão de títulos. Neste momento temos a comparação entre taxa de retorno 
destes e a inflação esperada. Obviamente que o governo só irá vender títulos 
públicos se eles tiverem uma taxa de juros maior que o índice inflacionário do 
período. Contudo os agentes econômicos não tem condições de prever qual 
será o índice inflacionário, somente existirá uma expectativa sobre de quanto 
será a inflação, ou seja, há uma "confiança" por parte dos agentes em relação a 
taxa de inflação prevista. Quanto maior for a inflação ou a dificuldade de se 
prevê-la, menor vai ser a confiança do mercado. Outro ponto fundamental é que 
os títulos emitidos tenham alta liquidez. A sua conversão tem que ser segura e a 
tempo certa. 
O último caminho seria a obtenção de poupança externa. Neste ponto 
entram em questão as variáveis institucionais, como a credibilidade do país 
frente aos credores internacionais e o prazo definanciamento adotado. 
12 
2.3 - Indexação 
A inflação estimula a rapidez do consumo, o endividamento, a rejeição à 
moeda, a diminuição de poupança, seja ela pública ou privada. A diminuição de 
poupança aliada ao quadro de incertezas advindas com o processo inflacionário 
desencoraja o setor privado no âmbito dos investimentos. 
A inflação destrói completamente a moeda, retirando-lhe suas funções 
básicas, quais sejam: reserva de valor, unidade de conta e meio de troca, 
impondo rejeição ao padrão monetário. 
Quando os mecanismos do mercado não conseguem reagir plenamente 
as distorções causadas pela inflação, acabam sendo criadas situações que 
realmente obstacularizam o desenvolvimento econômico, por isso, o governo é 
impelido a controlar e a reduzir a inflação e, principalmente, a corrigir as 
distorções causadas por esta, com este intuito bem como para tornar a 
convivência com a inflação mais pacífica é que o governo adota a correção 
monetária. 
O significado do termo indexação é o atrelamento da variação de um 
parâmetro ou variável às flutuações de um índice econômico(Viana, op cit, p 
43). Como por exemplo, temos: os reajustes salariais são corrigidos via variação 
nos índices de produtividade, os reajustes dos alugueis corrigidos de acordo 
com a variação do índice geral de preços, etc. Existe também uma abrangência 
nesta definição e, dentro desta abrangência, há uma particularidade. Esta é a 
forma de distinguir bem a diferença entre indexação e correção monetária. 
Simonsen(1975) define correção monetária como o reajuste periódico e 
automático de determinados valores de acordo com certos índices que 
traduzem a taxa de inflação. Portanto a indexação deve ser adotada para 
atualizar valores dos contratos, corrigir as distorções dos balanços das 
empresas e recompor o poder arrecadatório do Governo, via eliminação parcial 
ou total do efeito Olivera-Tanzi. 
Uma questão discutível é de quando realmente deveria ser adotada a 
correção monetária. Particularmente, concordo com os dois autores antes 
13 
citados, quando eles apregoam que a correção monetária deve ser introduzida 
em uma situação inflacionária, ou seja, diante da expectativa de não haver 
redução da inflação, a longo prazo, sendo desaconselhável sua adoção nos 
casos em que a inflação seja transitória. Além disso, há também o "feedback" 
por parte dos agentes econômicos, influenciando tal adoção, como lembra 
Simonsen(1975, p 143), " ... tal resposta depende da confiabilidade da opinião 
pública na estabilidade monetária ". 
Como veremos no próximo capítulo, a correção monetária foi instituída no 
Brasil em julho de 1964 como cláusula de exceção e com objetivos básicos, 
justamente para viabilizar contratos e operações financeiras de médio e longo 
prazos e corrigir as distorções fiscais. Daí o seu caráter de excepcionalidade. 
Agora deve ficar claro que a indexação não deve ser utilizada, enquanto 
instrumento de política econômica, como meio para acabar com a inflação, e, 
sim, para tornar o seu convívio menos doloroso. Porque ao adotar a indexação 
o governo opta por uma "administração" gradual da inflação. 
Um ponto a ser discutido, e destacado no capítulo seguinte, é a 
substituição da forma de financiamento do déficit público, passando da emissão 
da moeda para a emissão de títulos, isso graças a introdução da correção 
monetária. Tal medida foi muito importante para o Brasil, principalmente entre 
os anos de 1964 e 1966, em contrapartida realimentou a inflação. 
No estudo de Bresser & Nakano(1986) existem os fatores que aceleram, 
mantém e sancionam a inflação. Esta manutenção da inflação, ou inércia 
inflacionária, pode ser causada por dois fatores. Conflito distributivo e 
indexação. Com relação à indexação, ela provoca um efeito multiplicador de 
preços, até o momento em que todos os preços tiverem subido no mesmo nível 
da variação inicial da inflação, provocando uma nova inflação, que será 
posteriormente repassada como na situação anterior. 
A inércia inflacionária pode ocorrer por projeções de índices de preços do 
passado para o futuro e do presente para o futuro, como foi observado no Brasil 
recentemente. A inflação era e ainda é um fenômeno tão comum que um 
aumento de um determinado bem provoca elevação de preços de outros, 
14 
mesmo que aquele não faça parte da estrutura de custo deste. Este fenômeno 
:doi absorvido pela sociedade através da cultura inflacionária. 
Por isso, há consenso entre os economistas para que o índice da 
correção monetária seja menor do que o índice geral de preços, já que este 
índice irá servir de base para inflação esperada. Portanto, a criação de um 
redutor inflacionário é uma forma de reduzir as expectativas institucionalizadas. 
Outro fator de consenso é o caráter parcial que a indexação deve ter. 
Vejamos o seguinte: a produção de café é reduzida, devido a uma forte geada 
ocorrida, com isso o seu preço se eleva, passando a ser um fator alimentador 
da inflação. Este fator também poderia ter origem externa, ou , um 
realinhamento de preços públicos. Para que estes aumentos não sirvam de 
base elimina-se a indexação de qualquer alta de preços momentânea. 
Teoricamente estes dois últimos pontos existem no sentido de uma 
melhor "administração" da inflação. É salutar lembrar que a redução de uma 
inflação inicial constante só se efetivará se forem assumidos tais compromissos: 
redutor inflacionário e indexação parcial. Há um certo receio quando da adoção 
da correção monetária, o da perpetuação da inflação. Portanto, o que gera a 
adoção de tais medidas é uma expectativa futura de redução da inflação. 
A partir do próximo capítulo, que irá abranger todo o período da república 
em que os militares estiveram no poder, falaremos sobre a utilização da 
correção monetária na economia brasileira, abordando a sua implantação, 
propósitos, e quais os resultados obtidos. Falaremos também como e porque 
ocorreu a generalização da indexação na economia brasileira. 
15 
- A implantação da correção monetária na economia brasileira 
3.1- Condições que permitiram a implantação da correção monetária 
E mais fácil adotar medidas políticas e/ou econômicas em uma ditadura do 
que numa democracia. O Ato Institucional no. 1 de 1964 possibilitou, ao governo 
militar, atacar dois graves problemas da época: a inflação e o sub-
desenvolvimento. Com os decreto-lei o governo, praticou várias reformas como 
a administrativa, a bancária e a fiscal, já que o sistema político foi alterado com 
o advento do regime militar. Alguns aspectos favoreceram a adoção da correção 
monetária, e estes, utilizando a denotação de Campos(1975), são as pré-
condições políticas, históricas e econômicas que possibilitam tal tratamento. 
3.1.1 - Condições políticas 
No pós guerra, o Brasil apoiava-se basicamente, na agricultura e tinha 
grande dependência externa. O governo, então, cria uma consciência nacional 
para o desenvolvimento, seguindo linhas cepalinas através do plano de Metas. 
Um dos assessores econômicos, Roberto Campos, propõe ao presidente um 
programa de estabilização monetária, com traços indexantes, mas todo o 
programa é rejeitado. 
Juscelino deixava a presidência para Jânio, sob uma relativa estabilidade 
política, mas em compensação haviam três pontos a serem atacados, quais 
sejam: uma alta inflação(mais de 30% ao ano), um déficit do balanço de 
pagamentos de cerca de 300 milhões de dólares(Chacel & Simonsen, 1970), 
além de certa convulsão social, devido às greves e a falta de planejamento 
administrativo de Brasília. Dado este quadro, Jânio tenta, no início, obter apoio 
do Congresso para as medidas necessárias e amargas que planejava tomar, no 
entanto, não logra êxito, justamente por requerer maior poder, tanto político 
16 
como econômico. O presidente, então frustrado em sua proposta inicial e na 
tentativa de coagir o congresso, renuncia. Este é o primeiro passopara a volta 
dos militares ao poder. 
O Vice-Presidente João Goulart só assume o cargo com a reformulação 
do sistema de governo para parlamentarismo. Este sistema foi comandado pelo 
lo Ministro Tancredo Neves até o plebiscito proposto por Goulart, que retoma o 
poder via presidencialismo. 
João Goulart, que não concorreu com Jânio e, sim, era vice na chapa do 
Marechal Lott, assume o poder com medidas populistas tais como a não 
correção dos valores das tarifas públicas e medidas que afetavam sobremaneira 
o déficit público, tipo: permitir despesas sem a respectiva receita orçamentária. 
Goulart estava mais preocupado com a situação política, com a volta do 
presidencialismo e com as agitações constitucionais. Segundo Chace! e 
Simonsen(1970)..."são esses poderes que possibilitaram ação de saneamento 
financeiro e de correção econômica, de outro modo dificilmente realizáveis 
numa democracia plenamente representativa". 
3.1.2 - Condições Históricas e Econômicas 
No período do governo Juscelino Kubistschek, o Brasil passou por uma 
boa fase de crescimento mas, em compensação, houve a volta da inflação(com 
início a partir da década de 50). Só em 1957(Tabela 3) é que a taxa de variação 
no índice de preços tem uma queda considerável devido, principalmente, as 
grandes safras, reduzindo assim, os preços agrícolas que se contrapuseram às 
elevações dos preços industriais. 
Em 1958 entra em voga o programa de estabilidade monetária, visando 
combater a inflação mas, abandonado logo em seguida. O último ano deste 
governo se caracteriza por comprometer o perfil da dívida externa via déficit no 
balanço de pagamentos, para permitir a manutenção do nível de crescimento. 
17 
TABELA 3 
INFLAÇÃO E PIB NO BRASIL (1956-1985) 
ANO TAXA DE VARIAÇÃO DO 
ÍNDICE DE PREÇO 
TAXA DE VARIAÇÃO 
DO CRESCIMENTO DO 
PIB 
1956 24,4 3,2 
1957 7,0 8,1 
1958 24,3 7,7 
1959 39,5 5,6 
1960 30,5 9,7 
1961 47,7 10,3 
1962 51,3 5,3 
1963 81,3 1,5 
1964 91,9 2,9 
1965 34,5 2,7 
1966 38,3 5,1 
1967 25,0 4,8 
1968 25,4 9,3 
1969 20,2 9,0 
1970 19,3 9,5 
1971 19,5 11,3 
1972 15,5 10,4 
1973 15,1 11,4 
1974 35,4 9,4 
1975 29,4 5,4 
1976 46,3 9,7 
1977 38,8 5,7 
1978 40,8 5,0 
1979 77,2 6,4 
1980 110,2 7,2 
1981 95,2 - 1,6 
1982 99,7 0,9 
1983 211,0 - 3,2 
1984 223,8 3,5 
1985 235,1 - 1,9 
FONTE: 1. INSTITUTO BRAS. DE ECONOMIA-FGV. LANGONI, C.G. A economia da trans 
formação. Olímpio. Rio de Janeiro. 1975. 
2. CONJUNTURA ECONÔMICA. VIANA, P. J., Inflação x Indexação. Uma contribui 
ção ao tema. FIEC/IEL. 1984 
3. Castelo Branco, Flávio. A aceleração inflacionária e as políticas de estabilização 
dos anos 80. IPEA. Rio de Janeiro. 1989. 
18 
Para atenuar as dificuldades provocadas pelo déficit na balança de 
pagamentos, Jânio Quadros consegue empréstimos externos que, somados ao 
resultado positivo da balança comercial reverte tal déficit. Internamente inicia-se 
o descontrole monetário, fiscal e creditício. É o início da crise dos anos 60. 
Depois de um hiato sem políticas econômicas definidas é elaborado em 
1962, para ser implantado em 1963, o Plano Trienal de Desenvolvimento 
Econômico e Social. Além de propor a elevação da renda nacional, o plano 
tentava reduzir a pressão inflacionária causada, principalmente, pelo déficit do 
governo. Três fatores, de acordo com Lara-Resende(1982), foram 
preponderantes para a aceleração da inflação(passando de 30,5% em 1960 
para 51,3% em 1962): 1°) péssimo ano agrícola -com crescimento de apenas 1% 
contra uma rápida expansão populacional; 2°) a inflação corretiva, que, naquele 
momento, foi um processo de realinhamento de preços relativos, envolvendo 
reajustes(preços públicos), eliminação de subsídios(trigo e petróleo) e 
desvalorização da moeda e, por fim 3°) o aperto de liquidez real, tanto em 
função da alta inflacionária como também em função da limitação da expansão 
do crédito. 
O que gerou a inflação(81,3% a.a., Tabela 3) ascendente, no último 
governo civil antes de 1964 foram basicamente: o déficit fiscal do governo e os 
reajustes salariais desordenados. Além disso a partir de 1961 há um brutal 
declínio na taxa de crescimento do PIB, elevando assim a capacidade ociosa da 
economia. 
19 
3.2 - O Processo de Implantação da Correção Monetária 
3.2.1 - O Combate a Inflação como Prioridade 
O Programa de Ação Econômica de Governo(PAEG), lançado em 
novembro de 1964, diagnosticou que a inflação existente era uma inflação de 
demanda, com três características básicas: déficit do tesouro, aumentos 
salariais acima do aumento da produtividade e excessiva expansão do crédito. 
O déficit público foi combatido muito mais por aumento da arrecadação do que 
por redução dos gastos. O PAEG visava basicamente reacelerar o ritmo do 
desenvolvimento econômico e reduzir progressivamente o processo 
inflacionário. 
Os investimentos e a política fiscal, que permitiram resultados satisfatórios 
neste período, basearam-se numa reforma tributária3, a qual lançou a 
Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional, permitindo uma modificação na 
forma de financiar o déficit. Antes emitindo papel-moeda e, agora, emitindo 
títulos públicos chegando inclusive, a financiá-lo totalmente, como ocorreu em 
1966, conseguindo eliminar um forte componente inflacionário. 
O diagnóstico era de que os salários teriam aumentado mais do que o 
aumento da produtividade, gerando inflação de custos, com isso o governo criou 
uma fórmula para o cálculo do salário mínimo. Este cálculo se constituía no 
seguinte: o valor do salário ficou baseado na média dos últimos 24 meses do 
ano anterior e uma estimativa de inflação estipulada pelo governo. Como o 
governo fazia sempre subestimação, os trabalhadores tiveram os seus salários 
reais reduzidos drasticamente. Somente em 1968 é que houve modificação na 
lei, como veremos mais adiante. 
A política monetária e de crédito foi a mais leve das três medidas básicas 
de combate a inflação. Se no primeiro momento houve certo aperto na 
'Para um estudo mais aprofundado ver F.A. Oliveira, Autoritarismo e Crise Fiscal no Brasil (1964-1984), Hucitec, 
Sao Paulo, 1995 
20 
liquidez(de 1965 até o início de 1966), o posterior afrouxamento destas duas 
políticas, reverteu esta tendência. Um dos principais fatores que distorceram o 
objetivo da flexibilidade desta política foi a entrada líquida do capital externo, ,já 
que o governo visava somente uma expansão três vezes menor do que a 
ocorrida. No final de 1966 o aperto monetário surte efeito mas a retração do 
crédito ao setor privado não decresce tanto. 
3.2.2 - A Adoção da Correção Monetária 
A correção monetária era pouco utilizada antes de 1964, merecendo 
destaque somente o reajuste do ativo imobilizado das empresas por um índice 
fornecido pelo Conselho Nacional de Economia, em 1958, e a correlação 
contratual estipulada em 1962 dos financiamentos habitacionais com o salário 
mínimo. 
Utilizando o trabalho de Chacel e Simonsen(1970), veremos em que áreas 
foi empregada a correção monetária com o advento do governo militar. Nesse 
regime, a correção monetária passa por uma institucionalização, atingindo 
áreas como a fiscal, o mercado imobiliário, o de capitais e a política salarial. 
Neste momento a correção monetária é utilizada somente como um instrumento 
de combate a inflação. 
Em termos de política fiscal, o governo agiu, através da lei no. 4357/64, de 
seguinte forma: instituiu uma correção(estipulada pelo Ministério do 
Planejamento) aos débitos fiscais. Com isso, acabava-se com o estímulo ao não 
pagamento de impostos além do que as multas e os juros porventura advindos 
seriam calculados sobre o novo montante, já que as Obrigações Reajustáveis 
do Tesouro Nacional, como o próprio nome diz, manteria o valor real de títulos 
ou dívidas, no caso atrelada a ela, por meio de reajustes periódicos. 
O interessante é que o governo poderia atrasar os seus débitos que não 
teria a sua dívida reajustada. A correçãodo ativo imobilizado, que antes era 
21 
obrigatória, tornou-se compulsória e, além disso, eliminou o critério arbitrado 
pelo Conselho Nacional de Economia para corrigi-lo. 
Este imposto foi revogado no final de 1964, com vigência a partir de janeiro 
de 1967.0 governo visava aumentar, rapidamente, a arrecadação. Por isso é 
que a correção monetária, instituída nas depreciações que beneficiava as 
empresas, teve caráter gradativo. Foi criada, também, a correção para o capital 
de giro das empresas. 
Esta foi mais uma forma de não prejudicar as empresas, e, por fim, foi 
criada a correção monetária do imposto sobre lucros imobiliários. Era cobrada 
uma aliquota de 5% sobre a diferença entre o valor da renda e o valor da 
aquisição, corrigido monetariamente. 
A partir da Lei n°. 4380/64, o governo tentava solucionar o problema do 
déficit habitacional, e, para isso, deu condições para surgimentos de novos 
financiamentos. Num primeiro momento, é criado o Banco Nacional de 
Habitação(BNH) com o intuito de repassar recursos captados por entidades 
para o público, que pagariam prestações reajustadas a cada dois meses, de 
acordo com a variação do salário mínimo. 
Entre essas entidades destacou-se a Sociedade de Crédito Imobiliário. 
Esta sociedade é uma instituição privada captadora de recursos, através das 
letras imobiliárias, que eram corrigidas monetariamente a cada três meses pela 
ORTN. Mas até 1966 não havia recursos suficiente, tanto por captação pública 
como por recursos compulsórios. Com o intuito de elevar recursos para o 
financiamento é criado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço(Lei no. 
5.107/66). 
Os recursos deste fundo também eram corrigidos. Outra importante 
medida em termos de mercado imobiliário foi a correção monetária dos 
alugueis. De acordo com a Lei n°. 4944/64, os novos contratos seriam 
reajustados pela variação do salário mínimo, para os contratos firmados antes 
da promulgação da lei, a correção era em função da inflação pós 1964 e da 
restauração da perda anterior a este período. 
22 
Era praticamente impossível vender títulos rendendo em torno de 8% 
quando a inflação passava de 50% ao ano. Com o intuito de reverter este 
quadro, o governo lança, através da Lei n°. 4357/64, as ORTN. A partir de 1965 
ocorre uma tentativa de reorganização do mercado de capitais frente a inflação 
existente. Para isto acontecer, a correção monetária é estendida as letras de 
câmbio, debêntures, depósitos a prazo e certificados, tendo os reajustes uma 
periodicidade inferior a um ano. 
Todavia, o mercado acabou forçando o governo a reduzir este prazo para, 
no mínimo, seis meses e a modificar, também, a forma de vinculação. Enquanto 
o governo pretendia esta vinculação a posteriori, o mercado a exigia a priori. 
O PAEG tinha também como finalidade impedir reajustamentos que 
provocassem distorções e também aumentos acima da elevação da 
produtividade. Por isso, as medidas foram: fixar os salários com base na medida 
real dos últimos 2 anos e reajustar de acordo com a taxa de produtividade mais 
a metade da inflação programada pelo governo para o período seguinte(esses 
reajustes eram anuais). A questão fundamental é que o chamado resíduo 
inflacionário contribuiu para reduzir o valor do salário, já que as inflações 
previstas pelo governo sempre foram subestimadas. 
3.2.3 - Os Efeitos da Adoção da Correção Monetária 
Sem a menor dúvida, a instituição da correção monetária foi fundamental 
para a posterior desempenho da economia brasileira. O que é difícil dizer, como 
coloca Simonsen, é que não é fácil submeter essa opinião a provas 
quantitativas, inclusive com relação, também, a inflação, pois há dificuldades de 
mensurar tal correlação. 
Os efeitos aqui identificados terão sequência de acordo com o item 
anterior(2.2.2). Com a implantação da correção monetária, foi desistimulada, 
consideravelmente, a impontualidade, que acabava gerando uma sonegação 
fiscal. Esta correção, se não eliminou, pelo menos atenuou a tributação sobre 
23 
os ganhos ilusórios das empresas, tornando-se um imposto mais justo. Este 
acréscimo de arrecadação permitiu ao governo aperfeiçoar o sistema, deu um 
maior realismo na tributação, diminuindo assim tanto a evasão como a própria 
sonegação. Só para exemplificar, o déficit governamental em 1966 foi 
nominalmente igual ao 1965, o que já representa uma queda de 30%(Viana, 
1984) em termos reais. Um dos motivos que permitiram tal resultado, também 
foi a reativação da economia. 
O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço(FGTS), através de sua 
vinculação à correção monetária, permitiu que o Banco Nacional da Habitação 
contribuísse, sobremaneira, para o bom desempenho da construção civil, além 
da correção das hipotecas e aluguéis, fatores também estimulantes. 
TABELA 4 
FINANCIAMENTOS E EMPRÉSTIMOS NO MERCADO FINANCEIRO 
VALORES EM MILHÕES DE CRUZEIROS CORRIGIDOS 
ANOS EMPRÉSTIMOS FINANCIAMENTOS 
1964 22.090 24.563 
1965 65.964 77.213 
1966 174.212 471.547 
1967 1.674.480 2.662.187 
1968 1.617.578 4.074.593 
FONTE: CHACEL & SIMONSEN. A correção monetária. APEC. Rio de Janeiro. 1970. 
A elevação dos empréstimos/financiamentos é muito significativa como se 
vê na tabela 4. 0 investidor, ao vislumbrar opções no mercado, tal como aplicar 
o seu dinheiro com segurança e, principalmente, com retorno acima do índice 
da inflação, ele certamente o fará como podemos verificar na tabela 5. Vemos 
que, após a introdução da correção monetária, há crescente interesse pelas 
aplicações financeiras. 
24 
TABELA 5 
APLICAÇÕES FINANCEIRAS (1963-1968) 
VALORES CORRIGIDOS EM MILHÕES DE CRUZEIROS EM DEZEMBRO DE 1968 
ANO DEP. A 
PRAZO 
LETRAS DO 
BCO.BRASIL 
ORTN LETRAS DE 
CÃMBIO 
SISTEMA DE 
HABITAÇÃO 
TOTA 
1963 1.149 217 - 479 3 1.848 
1964 933 831 30 830 1 2.625 
1965 976 226 252 1.481 1 2.936 
1966 1.627 2 633 1.367 34 3.663 
1967 1.870 1 722 2.603 280 5.476 
1968 2.396 0 810 4.657 832 8.695 
FONTE: CHACEL & SIMONSEN. (1970) 
É salutar lembrar também que, ao invés da forma compulsória de vender 
títulos, temos a partir de 1964, a forma voluntária de compra de títulos públicos 
federais. 
Através da nova forma de cálculo do salário mínimo, que incluía um 
reajustamento pela média e não pelo pico, os trabalhadores saíram 
prejudicados, sem contar com a desestruturação política dos sindicatos, devido 
ao novo regime(Via Ato Institucional n° 2). Com isso, os acordos e dissídios 
sempre eram calculados abaixo dos índices inflacionários. Essas medidas foram 
bastante prejudiciais aos trabalhadores, como podemos obeservar na Tabela 6. 
TABELA 6 
ÍNDICE DE SALÁRIO MÍNIMO (1963-1968) 
	
ANO BASE 1963 
ANO FGV DIEESE 
1963 100,0 100,0 
1964 97,1 105,0 
1965 90,8 96,8 
1966 
1967 90,6 89,2 
1968 94,8 91,6 
FONTE: 
	
FGV (ÍNDICE DO CUSTO DE VIDA DO RIO DE JANEIRO). 
DIEESE (ÍNDICE DO CUSTO DE VIDA DE SÃO PAULO), 
EXTRAÍDO: Lara-Resende, André. A política brasileira de estabilização. Pesquisa Planejamento 
Econômico. (1982). 
25 
Como vimos no início do trabalho, quando existe inflação ocorrem 
distorções na economia, fazendo com que alguém ganhe em detrimento de 
outrem. Com a introdução da correção monetária há uma modificação da 
distribuição da renda. De acordo com Chacel e Simonsen(1970) os maiores 
beneficiários foram os compradores de títulos, os proprietários de imóveis e as 
concessionárias dos serviços públicos, e, os maiores prejudicados foram os 
trabalhadores. 
Além disso alguns pontos merecem destaque: o lançamento das ORTN's 
permitiu ao governo financiar parte ou totalidade do seu déficit através do 
lançamento destes títulos públicos, permitindo uma redução da emissão da 
moeda e teoricamente uma redução da inflação; o próprio déficit foi reduzido, 
principalmente pela correção dos impostos, com relação à perda de valor real 
do salário, temos um fator inibidor da inflação de custos. 
A expansão do mercado de capitais permitiuuma maior constituição de 
poupança. A poupança foi destinada ao setor produtivo, contribuindo, junto com 
a opção pelo desenvolvimento do país e a certeza estabelecida pelo regime 
militar, para transformar um quadro de declínio em um certo crescimento, 
apesar de não ser o objetivo principal. 
26 
3.3 - A Consolidação da Correção Monetária e o Milagre Brasileiro 
3.3.1 - O aperfeiçoamento da indexação 
A partir de 1964, a Instituição da Correção Monetária permitiu uma certa 
convivência com a inflação, mas, só em 1968, com as reformas ocorridas 
tornou-se mais coerente com a realidade. 
No campo fiscal houve uma proposta, através do decreto Lei n°. 62, que 
acabava de vez com o imposto sobre os lucros ilusórios. Este decreto seria o 
aperfeiçoamento do cálculo da manutenção do capital de giro, contudo, o 
governo temendo a possível não aceitação de cálculos mais complexo o que 
levaria a uma baixa na arrecadação, o substituiu pelo decreto lei no. 401 de 
1968. Basicamente, este trazia no seu bojo um desconto de no máximo 20% do 
imposto devido, referente à manutenção do capital de giro. 
A inflação corretiva, incorporada por lei aos alugueis contratados antes de 
1964, trazia consigo dois problemas: 1o) tinha um cálculo muito complicado, e 
por isso teve várias vezes seu índice calculado pelo Conselho Nacional de 
Economia e, 20) este índice estava se tornando um componente forte nos 
cálculos da inflação. Portanto, o governo Costa e Silva procurou atenuar tais 
reajustes. O plano de habitação encontrou também dificuldades: falta de 
conhecimento econômico; o saldo devedor superava em termos normais o valor 
financiado e; disparidade entre a ORTN e os salários(os salários não 
acompanhavam a correção das ORTN's). Esta diferença, a partir de 1968, pode 
ser contornada através do plano de equivalência salarial. 
Para tentar acabar com a sonegação fiscal, existente em relação aos 
títulos pré-fixados - a tributação incidia sobre a parte que excedesse a correção 
das ORTN's - o governo, em 1969, promulgou o decreto lei no. 403. A nova 
tributação incidia sobre rendimento nominal do título e era cobrada na fonte e 
não no resgate, e, esta incidência do imposto era inversamente proporcional ao 
tempo da aplicação. 
27 
As desvalorizações cambiais existentes até o meio do ano de 1968 não 
tinham caráter ordenado, com reajustes inconstantes e com um intervalo de 
tempo muito grande entre um e outro, porque a inflação, mesmo decrescendo, 
ainda era elevada(Tabela 3). Através de uma resolução do Banco Central, em 
agosto de 1968, dá-se início a uma política de minidesvalorizações cambiais. 
TABELA 7 
CÂMBIO/EXPORTAÇÕES/IMPORTAÇÕES (1965-1974) 
ANO TAXA DE CÂMBIO 
OFICIAL (A) 
(MOEDA NAC./US$) 
EXPORTAÇÃO (B) 
(US$ 106) 
IMPORTAÇÃO (C) 
(US$ 106) 
1965 1,9 1.596,0 941,0 
1966 2,2 1.741,0 1.303,0 
1967 2,7 1.654,0 1.441,0 
1968 3,4 1.881,0 1.855,0 
1969 4,1 2.311,0 1.933,0 
1970 4,6 2.739,0 2.507,0 
1971 5,3 2.904,0 3.245,0 
1972 5,9 3.991,0 4.235,0 
1973 6,1 6.199,2 6.192,2 
1974 6,8 7.951,0 12.641,3 
FONTE: A - BANCO CENTRAL DO BRASIL 
B e C - IBGE 
EXTRAÍDO: A ordem do progresso. (1992) 
O prazo dos reajustes foi reduzido e, consequentemente, o valor das 
minidesvalorizações. Esta regularidade, foi um instrumento considerável para 
retirar o efeito da inflação sobre as exportações. Isto tudo para atender a uma 
maior inserção brasileira no comércio internacional, já que, de acordo com a 
Tabela 7, houve aumento nas exportações como também nas importações. 
28 
3.3.2 - Crescimento Económico: A Prioridade 
O governo militar foi extremamente feliz ao reduzir gradativamente a 
inflação, eleita inclusive como prioridade mas, no início do regime a taxa de 
crescimento do PIS se manteve baixa, como já vinha ocorrendo anteriormente. 
O fundamental foi a restauração da credibilidade da política econômica que 
permitiu o estabelecimento posterior de níveis altíssimos de crescimento 
econômico - pois, de certa forma, já havia sido feito o ajustamento, e, agora era 
momento de o país desenvolver-se. A capacidade ociosa da indústria somados 
á rápida expansão do comércio internacional, a elevação dos preços dos 
produtos primários e a excessiva liquidez do sistema monetário internacional, 
integraram as condições internas e externas que facilitaram, de acordo com 
Batista(1987), o crescimento da economia brasileira conhecido como o "Milagre 
Econômico". 
A análise sobre o desenvolvimento do período fica mais clara quando 
fazemos através dos números(Tabela 3). A taxa média de crescimento do 
período(1967 à 1973) foi de 10,6%. A inflação baixou de 25,0% em 1967 para 
15,1% em 1973. 0 déficit público foi sendo reduzido gradativamente até se 
tornar superávit em 1973(Viana,1984), a poupança interna aumentou 
consideravelmente. A arrecadação líquida do FGTS passou de CR$ 225 bilhões 
para CR$ 1.910 bilhões e os depósitos de poupança aumentaram mais ainda, 
56 vezes o valor inicial, que era de CR$ 37 bilhões, ficando um pouco superior 
ao saldo do FGTS(Chacel e Simonsen, 1970). 
29 
3.3.3. 0 Controle da Inflação 
Ficou claro que, a partir da implementação do plano estratégico de 
desenvolvimento(1967) o controle da inflação subordinou-se à retomada do 
crescimento econômico, por isso mesmo havendo redução do índice, esta 
ocorreu de maneira gradativa e em menor escala. 
Para descrever as políticas adotadas citamos o financiamento do déficit via 
venda de títulos públicos, isto(evitando a emissão da moeda) aperfeiçoou a 
máquina arrecadatória permitindo uma maior receita. O governo também 
reordenou de forma apreciável o seu gasto, dando prioridade as obras de infra-
estrutura. 
A principal preocupação do regime militar com relação à política monetária 
e de crédito, era manter os meios de pagamentos em uma proporção constante 
em relação ao produto. Com isso, evitaria-se crises de liquidez que pudessem 
deprimir a atividade econômica. A própria venda de títulos públicos federais foi 
utilizada como meios de contração monetária, tendo como contraponto a 
política expansiva do crédito e a entrada de capitais estrangeiros. Esta última 
inclusive foi um fator considerável no aumento da liquidez, o que obrigou ao 
governo instituir depósitos obrigatórios sobre a contrapartida em moeda 
nacional, evitando a repercussão inflacionária. 
Foram tentadas também redução das taxas internas de juros reais que 
cresceram, a partir de 1964, até ficarem positivas. Uma explicação possível 
para este aumento foi a forte demanda de recursos, por isso é que o governo 
incentivou a redução dos custos operacionais do sistema bancário, além de 
uma maior participação de títulos públicos nas carteiras dos bancos. 
Apesar de ter modificado o cálculo do reajuste salarial(o resíduo 
inflacionário não foi subestimado nos últimos 12 meses), o trabalhador 
continuou a perder poder de compra. Esta política, que perdurou de 1964 à 
1972, contribuiu para esfriar a demanda existente, anterior ao regime militar, e 
baixou consideravelmente o valor real do salário mínimo a ponto de redistribuir 
30 
renda para os mais abastados, detentores de poder de compra dinâmico do 
sistema. 
A política de controle de preços envolvia os preços agrícolas e os 
industriais. Com relação aos preços agrícolas existia um preço mínimo para 
garantir a sua renda, mas não poderia haver elevação acima da inflação. Já os 
preços industriais tinham diversos controles. As empresas seriam beneficiadas 
se mantivessem os seus preços dentro de margens fixadas pelo governo, ou 
vinculados com o aumento dos custos. Esta política foi utilizada como 
complemento das políticas monetária e fiscal. 
31 
3.4 - Um Longo Período de Desequilíbrios 
3.4.1 - As Modificações na Economia Internacional 
No final de 1973, ocorre o 1°. Choque do petróleo. O preço desse produto 
é mais do que quadruplicado(Goldenstein, 1986). Com isso, o Brasil teve um 
aumento considerávelno valor das importações, já que 80% do consumo 
interno era importado e, pelo menos a curto prazo, não havendo alternativa. 
Este aumento nas importações reverteu o superávit ocorrido na balança 
comercial em 1973(Tabela 7) , num déficit em 1974. 
TABELA 8 
SALDO DA BALANÇA COMERCIAL (1974-1981) 
ANO EXPORTAÇÃO (B) 
(US$ 106) 
IMPORTAÇÃO (C) 
(US$ 106) 
BALANÇA 
COMERCIAL 
(US$ 106) 
1974 7.951,0 12.641,3 - 4.690, 3 
1975 8.669,9 12.210,3 - 3.540,4 
1976 10.128,3 13.383,0 - 2.254,7 
1977 12.120,1 12.023,0 97,1 
1978 12.658,9 13.683,1 - 1.024,2 
1979 15.244,4 18.083,1 - 2.838,7 
1980 20.132,4 22.955,2 - 2.822,8 
1981 23.293,0 22.090,6 - 1.822,4 
FONTE: 	IBGE 
EXTRAÍDO: ORDEM E PROGRESSO. (1992) 
Em função deste choque ocorreu uma alta nas taxas de juros 
internacionais. As mais importantes, como a prime-rate e a libor chegaram em 
1973 a 9,7% e 14% respectivamente quando em 1972, elas giravam em torno 
de 8%. Nos anos posteriores ao choque, houve um declínio destas 
taxas(principalmente a prime-rate) por causa do ajustamento a nova situação e 
ao boicote dos árabes, retornando ao nível de 1972, somente em 1977. 0 
32 
aumento inicial destas taxas elevou o pagamento de juros referente ao principal 
da dívida externa contraída. 
TABELA 9 
TAXA DE JUROS INTERNACIONAIS 
ANO E.U.A. 
PRIME-RATE 
REINO UNIDO 
LIBOR 
1972 7,7 8,5 
1973 9,7 14,0 
1974 10,2 12,7 
1975 7,2 12,0 
1976 6,2 15,0 
1977 7,7 7,6 
1978 11,8 12,3 
1979 15,0 14,6 
1980 21,5 17,5 
1981 15,7 14,9 
1982 14,5 13,4 
1983 10,5 9,8 
FONTE: BACEN e CONJUNTURA ECONÔMICA 
EXTRAÍDO: OLIVEIRA, Alfredo.J.P. O impacto da transferência financeira para o exterior no 
desequilíbrio fiscal brasileiro. uma análise das políticas fiscais na década de 80. 
Dissertação de mestrado. Fortaleza. CAEN. 1993. p. 50. 
Além da elevação das taxas de juros, os países industrializados 
impuseram uma redução de preços aos produtos primários, essenciais nas 
exportações dos países subdesenvolvidos como o Brasil, prejudicando 
sobremaneira o intercâmbio brasileiro. A situação só não foi pior por dois 
motivos: 1°) uma política de promoção das exportações, que quase duplicou em 
quatros anos o valor de US$ 6,2 bilhões em 1973 e 2°) uma captação de 
recursos externos, principalmente beneficiada pela posterior redução dos juros. 
33 
Esta captação só foi possível por dois motivos ,como coloca Goldenstein 
(1986): 1°) os empréstimos externos continuavam bem mais baratos do que os 
captados em moeda nacional e, 2°) estímulo do governo Geisel para que os 
governos estaduais, municipais e empresas em geral obtivessem recursos 
externos. 
3.4.2 m A Volta da Aceleração da Inflação 
Diversos foram os fatores que contribuíram para a volta mais drástica de 
altos índices inflacionários. Estes fatores tanto foram internos quanto externos. 
Internamente uma expansão monetária, onde o planejamento orçamentário 
sempre ficou abaixo da realidade até mesmo para atender o nível de 
investimento desejado por parte dos empresários no mercado brasileiro; um 
desequilíbrio na política fiscal, permitindo que o excelente superávit de 1974 
decline até virar déficit(1977) e; também o fraco desempenho da agricultura 
principalmente em 1975, devido a secas e geadas, fazendo com que neste ano 
e no seguinte houvesse elevação de preços e consequentemente elevação da 
inflação. 
A elevação dos produtos importados, já em 1974, afetou sobremaneira as 
importações do país. Entre os produtos importados temos o petróleo, o trigo, 
produtos semimanufaturados e manufaturados, ou seja, produtos primordiais e 
que mostram o alto grau de dependência externa, criando uma situação de 
inflação importada. 
Além disso temos dois outros aspectos: 1°) os produtos nacionais que 
tinham certa reserva de mercado, acompanhavam as elevações dos produtos 
internacionais, justamente por não atender a demanda interna e 2°) em termos 
de produtos agropecuários houve um estímulo as exportações, devido a alta de 
preços internacionais, provocando, assim um desabastecimento interno, onde a 
demanda supera a oferta. 
34 
3.4.3 - Alterações nos Cálculos da Correção Monetária 
Como podemos observar na Tabela 3 houve uma redução da inflação de 
1976 para 1977. Este fato ocorreu devido a três fatores: aperto monetário, 
contenção dos gastos públicos e uma redução da correção dos títulos públicos. 
Esta redução ocorria porque, como coloca Marinho(1978), o coeficiente de 
correção, que era calculado sobre a base da inflação passada, agora leva em 
conta uma média entre as taxas passadas e as previstas para o futuro. 
Introduziu-se, nas taxas futuras, um coeficiente fixo de multiplicação que veio 
substituir o chamado resíduo inflacionário. E estes coeficientes sempre ficavam 
abaixo da inflação, caso esta passasse de 15%. Por exemplo: se a inflação 
fosse de 30%, o coeficiente de correção monetária seria de 27%. 
A generalização da indexação foi preponderante para a retomada da 
inflação a partir de 1979, principalmente por encurtar os prazos entre as 
correções. Neste período se destaca a redução do prazo dos reajustes salariais 
de doze para seis meses. Esta visava minimizar as perdas dos assalariados, 
mas o aumento da inflação no ano, não permitiu que isto ocorresse. 
3.4.4 - O Segundo Choque Externo 
Quando João Figueiredo assume, tenta-se manter o ritmo de crescimento 
acelerado da economia, ampliando a capacidade de produção de bens de 
capital e incentivando a política de exportação que à época visava reduzir o 
déficit da balança comercial. 
Este rumo tomado se sustentava também em condições externas 
favoráveis, mas o que ocorre é o 2°. choque do petróleo, elevando o seu preço 
em mais 134%, passando de US$ 91,9, em 1978 para US$ 215,2 em 
1980(Goldenstein, 1986), fazendo com que as despesas com importações se 
elevassem substancialmente, gerando como ocorrido no 1°. choque do petróleo, 
novos déficits na balança comercial(Tabela 8). 
35 
Observando o comportamento das taxas de juros internacionais na tabela 
9, constatamos que após passado o impacto do 1°. choque do petróleo ocorre 
uma certa acomodação destas taxas em um nível semelhante ao praticado no 
anterior. 
As taxas de juros internacionais elevaram-se bastante após o 2°. choque 
do petróleo, no entanto esta está mais ligada à política econômica praticada no 
1°. governo de Reegan, do que ao 2° choque do petróleo. 
A elevação da prime-rate foi seguida pelas outras taxas de juros 
internacionais, principalmente devido a um sincronismo entre os países 
industrializados, fazendo com que a partir deste momento fosse muito mais 
oneroso captar recursos no exterior. Além disto, o Brasil foi bastante atingido 
pela ruptura de créditos voluntários externos, que impediu o reescalonamento 
das dívidas que tiveram os serviços onerados. 
TABELA 10 
INDICADORES DO SERVIÇO DA DÍVIDA EXTERNA (1978-1982) 
ANO JUROS SERV. DÍVIDA SV/PIB (%) SV/EXPORT(%) 
1978 2.696 7.919 4 63 
1979 4.186 10.571 5 69 
1980 6.311 11.321 5 56 
1981 9.161 15.402 6 66 
1982 11.353 18.305 7 91 
FONTE: BACEN 
EXTRAÍDO: Goldenstein (1986). 
O efeito mais imediato e perverso foi a elevação do custo da dívida 
externa. Como podemos ver na tabela os juros da dívida se elevam em mais de 
320%, aumentando em três pontos percentuais sua participação em relação ao 
PIB. O mais alarmante é o valor do serviço da dívida em 1982, causado pela 
elevação das taxas de juros internacionais, sendo quase igual ao valor das 
exportações do período(US$ 19.395 milhões), criando uma situação 
36 
insustentável, devido a falta de um reescalonamento por parte do capital 
externo. 
3.4.5. As Diversas Medidas Econômicas Adotadas 
A aceleração inflacionária dos anos 80, que na realidade começou a 
delinear-se já em 1979, deve-se em grande parte a brusca mudança no padrão 
de relacionamento entre o Brasil e os credores internacionais. Os fatores 
externos, como o 2° choque do petróleo, a elevaçãodas taxas de juros 
internacionais, acabaram prejudicando a sustentabilidade do modo de 
financiamento existente na década anterior. 
TABELA 11 
PREÇOS CRÍTICOS DA ECONOMIA 3RASILEIRA (1981-1985) 
ANO Preços Externos (a) Preço Petróleo (b) Juros Externos (c) 
1980 13,7 100,0 16,4 
1981 9,1 104,8 14,9 
1982 2,0 97,9 13,4 
1983 1,6 88,7 9,9 
1984 2,4 88,4 9,2 
1985 0,0 83,3 8,0 
a) - IPA-USA; b) Valores em 1980 e c) Libor, taxa média anual 
FONTE: Castelo Branco(1989) 
Vê-se facilmente que no início da década há uma forte influência da 
inflação importada, principalmente pela forte dependência externa. Na medida 
que ocorre redução tanto dos preços como dos juros, há também redução da 
influência destes fatores sobre a inflação brasileira. 
A evolução da estrutura dos preços reais básicos da economia, como 
coloca Castelo Branco(1989), tem relação muito estreita também com a alta 
ocorrida na inflação na primeira metade da década de 80. Se não vejamos: 
37 
queda na produção agrícola em três anos(1982, 1983 e 1986); elevação em 
termos reais dos preços públicos no início da década; e política salarial que 
permitiu aumentos reais aos trabalhadores organizados. 
Além disto, o governo toma medidas que são contrárias ao seu 
pensamento como: criação de uma pré-fixação para a correção monetária e 
cambial, que acabou gerando uma política monetária expansiva, e o mais 
curioso, uma valorização cambial, indo de encontro à que se propunha a 
maxidesvalorização do cruzeiro em 1979 e 1983. Para complicar ainda mais a 
situação, ocorrem os fatores já citados, política salarial e preços externos 
inflacionários. 
Com o advento da recessão, o governo é impelido a adotar medidas 
ortodoxas, principalmente no campo monetário-fiscal. Esta nova tendência 
estava vinculada aos novos acordos com o FMI, que obrigava o governo a 
adotar certas medidas, como redução dos gastos, desvalorizações cambiais e 
contenção de crédito, ou seja, uma política interna recessiva, que teoricamente 
iria ser compensada pela expansão das exportações e redução das 
importações. 
TABELA 12 
INFLAÇÃO, PIB E CÂMBIO (1979-1984) 
ANO Taxa de Inflação Taxa Crescimento -PIB Taxa de Câmbio efetiva 
1979 77,2 6,4 100,00 
1980 110,2 7,2 81,2 
1981 95,2 - 1,6 79,8 
1982 99,7 0,9 94,5 
1983 211,0 - 3,2 88,8 
1984 223,8 3,5 89,9 
* Valores em 1979 
FONTE : Inflação e indexação(1984) 
Castelo Branco(1989) 
38 
O governo federal tentou reduzir o excesso de demanda e gerar 
superávites no balanço comercial, no entanto, não logrou êxito com relação à 
queda da inflação, ou seja, a implantação da ortodoxia não culminou com a 
redução da inflação. 
Sobre isso, Bresser4 comenta: ... "de fato, a inflação brasileira já naquela 
época era uma inflação inercial. Havia repasse automático da inflação para os 
preços", o autor prossegue dizendo que "este processo é garantido tanto pelo 
caráter oligopolizado e cartelizado da nossa economia como pela indexação 
altamente avançada". 
O regime ortodoxo em 1984 é gradativamente podado, tanto por 
reequilíbrio das contas externas, como por mudanças políticas dificultando 
assim rígidos controles monetários, apesar do Brasil ainda ser monitorado pelo 
FMI. A economia retoma uma trajetória de crescimento e a inflação se estabiliza 
em um patamar levemente superior aos 200% anuais. Esta estabilidade 
indexada, cria a inflação inercial, sem contudo esquecermos outros fatores 
preponderantes para a manutenção e elevação da inflação, como a busca por 
reajustes e/ou ganhos reais em termos de salários e o aumento do dispêndio 
governamental. 
Para o início do ano de 1985, o Brasil já sente dificuldades em obter novo 
acordo com o FMI. A dificuldade maior foi o descontrole inflacionário, causando 
principalmente, como coloca Bresser5, elevação real dos salários, elevação dos 
juros reais e especulação de preços de alguns setores, elevando-os acima da 
taxa de inflação corrente. 
A equipe econômica retoma a teoria ortodoxa para tentar frear a inflação, 
inclusive tomando a velha atitude de controlar as tarifas públicas com intuito de 
reter o "grande mal brasileiro". 
Neste momento, quando o Brasil passa por mudanças, inclusive políticas, 
surgem duas importantes propostas para reduzir e/ou acabar com o grau de 
indexação da economia brasileira. São elas: 1°) a criação de uma moeda 
4 Bresser Pereira, Luiz C. A dívida e a inflação. A economia dos anos Figueredo 1979-1985. Gazeta mercantil, São 
Paulo. 1985. 
Bresser Pereira, op cit. 
39 
atrelada a um indexador que coexistiria paralelamente com o padrão monetário 
atual, extinguindo-o e substituindo-o ao longo do tempo(Árida & Lara Resende), 
2°) substituição plena da moeda com congelamento de preços(Francisco 
Lopes). 
40 
3.5 - A Nova República 
A nova república inicia-se conturbada politicamente. Após longo período, 
o Congresso tem oportunidade de eleger um presidente civil, o eleito fora 
Tancredo Neves que morre logo em seguida. Em seu lugar assume José 
Sarney, que mesmo adepto de medidas heterodoxas, mantém Dorneles no 
comando do Ministério da Fazenda. 
O ministro se apressa em combater gradativamente a inflação e suas 
primeiras atitudes foram: retardar os reajustes das tarifas do serviço público e 
criar uma nova fórmula de correção monetária e cambial, tendo como base 
para novos reajustes à média inflacionária do último trimestre. 
As divergências entre João Sayad(Ministro do Planejamento) e Francisco 
Dorneles(Ministro da Fazenda) tornam-se gritantes, e a discordância chega ao 
ponto máximo quando a inflação atinge 14% em agosto de 1985. Francisco 
Dorneles pediu demissão enquanto, sob o aval de Sarney, Sayad já estudava 
um projeto para desindexar a economia. 
O empresário Dilson Funaro, simpatizante das idéias de Sayad, assume 
o Minitério da Fazenda e imediatamente são tomadas medidas de emergência 
para deter o índice inflacionário como: tabelamento da carne, importação de 
produtos agrícolas e congelamento de preços no varejo. De acordo com Amaral 
Filho, o governo também agiliza e tenta criar situações para gerir o "pacto 
social", em caso de fracasso, estará dando o primeiro passo para implantação 
de um choque heterodoxo. 
No âmbito Tributário, o governo lança algumas medidas ainda no final de 
1985 com o intuito de permitir a implantação do Plano Cruzado. Estas 
resumidamente foram: reforma tributária, visando reforçar o caixa da união; 
maior tributação das aplicações financeiras, visando estimular os investimentos; 
encerramento da conta movimento do Banco do Brasil evitando uma maior 
expansão monetária; unificação dos índices de reajuste e fixação do índice 
nacional de preços ao consumidor, aliado a esses fatores internos temos o fim 
do monitoramento da economia brasileira por parte do FMI. 
41 
A idéia de Lopes se sobrepõe a de Árida e Lara-Resende e o Plano 
Cruzado é implantando em fevereiro de 1986. Este Plano é heterodoxo porque 
está baseado em congelamento de preços e em medidas administrativas(ao 
invés de medidas de mercado) para combater a inflação, ou seja, a 
estabilização ocorrerá devido à coordenação direta das relações econômicas e 
indução de decisões e ações por medidas de natureza administrativas. 
42 
4 - Conclusão 
A correção monetária, também conhecida como indexação visa minimizar 
os efeitos depreciativos da inflação sobre o valor real da moeda, devolvendo-lhe 
as suas funções básicas. 
A utilização da correção monetária, como apregoa a teoria econômica, 
teve as condições proprícias para a adoção no início do regime militar. A alta 
inflação, a instabilidade política e a falta de uma política monetária foram 
preponderantes para a introdução desse poderoso instrumento de política 
econômica. 
Sem dúvida, este instrumento de política econômica pode ser 
considerado um dos mais eficazes no combate à inflação, principalmente de 
1964 à 1973. Podemos observar já no triênio 1964-1967 que ainflação reduz-se 
drasticamente, isto ocorre devido a: nova forma de financiar o déficit - via título 
público; a redução do déficit público - elevação da receita e reajustes salariais 
abaixo da inflação. 
O caráter de excepcionalidade da correção monetária, quando da sua 
adoção que envolvia somente alguns preços, com reajuste normalmente anuais 
e como no caso dos salários com reajustes inferiores ao da inflação, foi 
fundamental como medida de combate a inflação. 
Muito se discute sobre a possibilidade de um país crescer a uma taxa de 
10% ou mais mantendo a sua inflação baixa. O Brasil não só conseguiu crescer 
enormemente(1968 a 1973), como reduziu a taxa de inflação de 25,4% em 
1968 para 15,1% em 1973(a mais baixa do regime militar). Isto tudo graças a 
uma continuidade(ampliação e aperfeiçoamento da indexação) de medidas 
iniciadas em 1964. 
A partir do 1° choque do petróleo, a correção monetária é utilizada, de um 
modo geral, para tornar o convívio com a inflação menos danoso. E a partir de 
1979, exatamente no 2° choque do petróleo, a generalização da indexação foi 
preponderante para a retomada da inflação. 
43 
O processo inflacionário crônico de 1979 à 1985 só contribuiu para o 
desenvolvimento e aperfeiçoamento de contratos com claúsula de correção 
monetária. Estas altas taxas de inflação, seguidas de correções imediatas 
criaram um círculo vicioso, chamado de inércia inflacionária. Este, sem sombra 
de dúvida, o principal problema que a indexação generalizada trouxe para a 
nossa economia. 
44 
5 - Bibliografia 
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