Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade Curso de Ciências Econômicas Monografia INFLAÇÃO E POLÍTICA ECONOMICA NO BRASIL A Utilização da Correção Monetária Durante o Regime Militar (1964-1985) Aluno: José Flávio Costa da Cruz Orientador: Alfredo José Pessoa de Oliveira. av Prof. gameno eida Esta monografia foi submetida à Coordenação do Curso de Ciências Econômicas, como requisito parcial necessário à obtenção do Titulo de Bacharel em Ciências Econômicas, outorgado pela Universidade Federal do Ceará. José Flávio Costa da Cruz Monografia aprovada em 2-± de fevereiro de 1997. YfreJosé o Prof.: Al Pessoa de Oliveira Orientador Prof : Eurípedys Ewbank Rocha Agradecimentos Agradecimento inicialmente à minha mãe, por ter me gerado e formado. Agradeço ao incansável Professor-Orientador Alfredo por sua determinação, orientação, paciência, compreensão e principalmente pelo conhecimento transmitido. Agradeço também aos Professores Agamenon e Eurípedys pela competente e decisiva contribuição dada ao trabalho. Agradeço ao Professor Jair pelo incentivo, apoio e por sua orientação inicial. Agradeço à todos, amigos, companheiros de trabalho, funcionários desta instituição, que de alguma maneira contribuíram para a elaboração, formação e conclusão deste trabalho. Agradecimento especial ao principal motivo por estarmos aqui. Deus. Dedicação à Evaneide, minha esposa. Lista de Tabelas Tabela 1 Página América Latina - Inflação de 1950 à 1975 04 Tabela 2 Índice de preços da Alemanha e Hungria 07 Tabela 3 Inflação e PIB no Brasil (1956-1985) 18 Tabela 4 Financiamentos e empréstimos no mercado financeiro 24 Tabela 5 Aplicações financeiras (1963-1968) 25 Tabela 6 Índice de salário mínimo (1963-1968) 25 Tabela 7 Câmbio/Exportações/Importações (1965-1974) 28 Tabela 8 Saldo da balança comercial (1974-1981) 32 Tabela 9 Taxa de juros internacionais 33 Tabela 10 Indicadores do serviço da divida externa (1978-1982) 36 Tabela 11 Preços criticos da economia brasileira (1981-1985) 37 Tabela 12 Inflação, PIB e câmbio (1979-1984) 38 Índice 1. Introdução 01 2 Inflação e Indexação 02 2.1 Conceitos de Inflação 02 2.2 Os Efeitos da Inflação 09 2.3 Indexação 13 3. A Implantação da Correção Monetária na Economia Brasileira 16 3.1 Condições que permitiram a implantação da Correção Monetária 16 3.2 0 Processo de implantação da Correção Monetária 20 3.3 A Consolidação da Correção Monetária e o Milagre Brasileiro 27 3.4 Um Longo Período de Desequilíbrios 32 3.5 A Nova República 41 4. Conclusão 43 5. Bibliografia 45 1 - Introdução A inflação e a indexação brasileira sempre foram e vão ser objeto de estudo por dos economistas ou não-economistas. A nossa economia neste século conviveu sistematicamente com a inflação ou com as inflações, sem que os agentes econômicos pudessem se salvaguardar das suas consequências. Os índices inflacionários assumem níveis alarmantes e insuportáveis no início das décadas de 60 e 80. Portanto o que fazer nestas situações? Combater a inflação pelas suas causas, combatê-la via indexação ou combatê- Ia desindexando a economia. Obviamente que a resposta vai depender da situação em que o país se encontra. O presente trabalho tentará mostrar como se comportou a economia brasileira durante os 22 anos que o país estava sob o regime militar, analisando principalmente a relação inflação x indexação, ou seja, mostrar porque na década de 60 optou-se pela utilização da indexação e na década de 80 a opção foi desindexar a economia. O primeiro capítulo conceitua a inflação e suas causas, mostrando os estágios que ela pode assumir, crônica e hiperinflação. E a seguir mostra como a inflação afeta a economia de um país. Neste caso veremos como este "mal" afeta os agentes econômicos. Veremos no final do capítulo o que é correção monetária e a sua distinção em relação a indexação, mostrando as diversas características e regras a serem obedecidas. No capítulo seguinte, objeto principal deste trabalho, iniciaremos discutindo as condições que permitiram a adoção da correção monetária, passando por sua implantação e aperfeiçoamento, dando um enfoque especial às consequências da introdução da correção monetária na nossa economia, mostrando porque a utilização da correção como instrumento de política econômica foi benéfica para a economia. Por fim abordaremos a questão da generalização da indexação e a inércia inflacionária, causas principais de recentes fracassos econômicos. 2 - Inflação e Indexação 2.1 - Conceitos de Inflação A inflação de constitui em um processo de contínuo aumento do nível geral de preços. Ao analisar esta afirmação Griffiths(1981) a divide em duas importantes partes: 1a) Processo contínuo - a inflação é um processo dinâmico. Uma simples alta de preços não pode e não deve ser considerada como inflação, porque a própria economia trata de ajustar-se a esta nova situação e 2a) Aumento no nível geral de preços. A variação medida pela inflação é, na verdade, uma média de variação de preços. Portanto, existem aumentos de preços abaixo do índice como também acima dele, em virtude deste aumento não ocorrer na mesma proporção para todos os preços de bens e serviços. Diversas são as formas de denominar a inflação e esta denominação é dada, normalmente, de acordo com a causa inicial do processo inflacionário. É salutar lembrar que a inflação pode ter uma ou mais de uma causa. Vejamos os casos mais relevantes. Inflação de Demanda - Surge quando a demanda agregada se eleva, ficando acima do produto nacional, isto à pleno emprego. Em termos mais específicos, a inflação de demanda ocorre quando há uma procura superior a oferta de um bem ou serviço, mas que só será efetivada caso haja uma respectiva expansão monetária. A inflação de demanda também se justifica por questões estruturais; quando as ofertas dos diversos setores crescem diferentemente, principalmente em economias subdesenvolvidas, criam-se situações de estrangulamento, como por exemplo: oferta inelástica de alimentos para uma crescente urbanização; má distribuição de renda; baixa inserção econômica no comércio internacional, principalmente por rigidez nas importações. Inflação de Custos - Levando em conta a questão dos salários. Quando os trabalhadores estão muito organizados, com sindicatos fortes, podem haver ganhos salariais que extrapolem o nível do aumento da produtividade. 2 Ocorrendo isto haverá elevação dos custos empresariais. Como os empresários não vão querer ter os seus lucros reduzidos, devido à elevação dos custos eles elevam o seus preços, fazendo com que novamente os trabalhadores busquem reajustes salariais, dando início, assim, ao conflito distributivo entre lucros e salários. A inflação de custos também pode ocorrer quando existe monopólio ou oligopólio cartelizado na produção de bens intermediários, por exemplo. Os empresários deste setor elevam os preços para aumentarem os seus lucros, em contrapartida elevam os custos das empresas que se utilizam destes bens no processo produtivo. Estas obviamente elevarão os seus preços, para não terem os lucros reduzidos. Inflação Importada - A inflação importada ocorre normalmente quando existe um aumento de preços internacionais(movimento externo) de bens importados, desde que este bens sejam necessários e primordiais ao país, não havendo ou apenas existindo uma pequena produção interna, que não é suficiente para atender ao mercado interno. O caso do petróleo é exemplar, como veremos no próximo capítulo. Este movimento de elevação de preços também pode ter origem interna. O governo utiliza a taxa de câmbio para estimular as exportações, e ele o faz através da desvalorização da moeda. Em contrapartida,há o encarecimento dos produtos importados. Esta elevação de preços tanto será prejudicial ao país, em termos de componente inflacionário, quanto maior for a sua dependência externa. Inflação Inercial - A inflação inercial está associada aos processos inflacionários elevados. Ela surge quando há elevação de preços decorrente de uma inflação passada, levando em conta as expectativas e/ou o conflito distributivo, onde cada agente econômico visa manter a sua participação relativa na renda. "A inflação torna-se inercial quando os contratos tem cláusulas de indexação que restabelecem seu valor real após intervalo fixo de tempo"(Árida & Lara-Resende, 1986, pag 17). No caso brasileiro a inflação inercial ficou tão evidente que acabou gerando o termo "cultura inflacionária", pois tal procedimento predominou nos últimos anos da nossa economia. 3 A teoria econômica classifica a inflação em função da intensidade e da velocidade do processo, São várias as nomenclaturas, no entanto, vamos nos ater somente as definições de inflação crônica e hiperinflação. Inflação crônica, utilizando o conceito de Lara-Resende(1989), é um processo de alta generalizada de preços em ritmo acelerado e por um período de tempo suficientemente longo para que sejam desenvolvidos mecanismos generalizados de indexação retroativa dos contratos. Costuma-se denominar de crônica a inflação ocorrida na América Latina no período compreendido entre as décadas de 60 e 70. É certo que tal processo não ocorreu em todos os países, como observamos na Tabela 01. TABELA 1 AMÉRICA LATINA - INFLAÇÃO de 1950 à 1975 A - Variações entre médias anuais B - Dezembro à Dezembro Ano 1950/54 1955/59 1960/64 1965/69 1970/72 1973 1974 1975 País A A A A A B B B Argentina 15,2 34,5 23,0 22,3 34,5 43,9 39,9 334,8 Bolívia 55,6 68,1 6,8 5,7 4,7 34,7 39,1 6,0 Brasil 14,2 21,4 53,8 35,1 19,6 13,6 34,1 30,8 Chile 30,0 - 24,6 25,5 41,2 507,7 373,9 340,7 Equador 3,4 0,2 3,5 4,4 7,1 20,6 21,2 13,2 México 7,1 8,1 2,1 3,4 5,3 20,2 20,9 13,3 Paraguai 59,8 15,3 6,1 2,2 4,4 14,1 21,9 8,8 Peru 8,4 7,4 7,4 12,0 6,3 13,7 19,1 24,0 Uruguai 8,3 16,1 26,3 69,3 36,9 77,1 107,2 66,8 Venezuela 1,8 1,6 0,7 1,4 2,9 5,1 12,2 7,3 FONTE: FMI Extraído: Pinto, Aníbal. Raízes estruturais da inflação na América Latina, in Pinto, Assael, Prado & Marinho. Inflação recente no Brasil e na América Latina. Graal. Rio de Janeiro. 1978. Em alguns países o desenvolvimento trouxe desajustes para a economia como altas inflações. De acordo com Pinto(1978), estes desajustes atenuaram diferenças entre o sistema produtivo e a infra-estrutura e entre o 4 sistema financeiro e o produtivo mas, em contrapartida, agravaram a brecha entre o crescimento da demanda urbana, a oferta de alimentos e a incompatibilidade de um crescimento interno, conjugada com a baixa capacidade de importação, mostrando claramente uma inflação crônica estrutural. Denomina-se de crônica a inflação entre 1973-1975 ocorrida na Argentina, como mostra a Tabela 1, quando alguns fatores contribuíram sobremaneira para a elevação do índice inflacionário, quais sejam: a estrutura política(regime militar); a estrutura econômica do país(diferença muito grande do setor primário para os setores secundário e terciário) e a ocorrência da inflação importada(via 1°. choque do petróleo). A hiperinflação ocorre em período no qual o índice de preços aumenta de forma acelerada e a depreciação do valor da moeda é bem rápida, sendo os seus efeitos mais nefastos. A moeda é utilizada somente como unidade de conta e, consequentemente, como meio de troca para as operações financeiras. A hiperinflação é tão degenerativa, que os próprios índices de preços não são aceitos(devido a defasagem entre a coleta e a divulgação dos dados), resultando numa perda para aqueles que utilizarem tal índice. As formas de financiamento do setor público se contraem, a fuga de capital aumenta com a instabilidade, reduzindo a poupança interna desestruturando o modo de financiamento interno. O ponto culminante é quando há rejeição total da moeda, fazendo com que o público e o mercado prefiram uma divisa mais forte(geralmente o dólar) como moeda básica para reajustes dos contratos. Philip Cagan(Cagan apud Griffits op cit) define hiperinflação como um processo que se inicia no mês em que o aumento de preços é maior que 50% e perdure até o mês anterior em que o índice de preços seja menor que 50%, permanecendo neste patamar por, pelo menos, um ano. Então a questão fundamental é saber porque o índice inflacionário se mantém tão elevado. De acordo com a visão monetarista, é devido ao ciclo hiperinflacionário, ou seja, o déficit público é financiado pela expansão 5 monetária que aumenta a inflação, esta por sua vez, aumenta o déficit via efeito Olivera- Tanzi1, além do que preços e taxa de câmbio sobem mais rapidamente do que a expansão monetária. A ótica estruturalista questiona principalmente o "por que" dos déficits, das emissões(moeda e título), dos desajustes cambiais, ou seja problemas vinculados a desequilíbrios estruturais da economia. Portanto a análise estruturalista busca primeiro o diagnóstico da inflação, para depois definir como combatê-la. Observamos ao longo da história alguns exemplos clássicos de inflação crônica, além dos casos mais recetemente citados(América Latina), podemos evidenciar via Tabela 2 o caso alemão e húngaro, frequentemente analisados nos manuais sobre a inflação. O processo inflacionário alemão iniciou-se com o financiamento de déficit público via emissão monetária e foi fortemente agravado pelas enormes reparações de guerra que a Alemanha teve que pagar. A instabilidade política e a desorganização econômica não permitiu estruturar um cronograma de pagamento das reparações de guerra, principalmente devido a não formulação de uma política fiscal. A conjunção destes fatores lançou dúvidas acerca de uma possível estabilidade monetária, tanto internamente como externamente. Com isso a inflação reduzia cada vez mais a arrecadação, fazendo com que o governo emitisse mais moeda para contrabalançar esta perda, gerando por conseguinte uma nova inflação. ' Este efeito consiste no hiato temporal entre o fato gerador da receita e a sua respectiva arrecadação, já que esta não é corrigida monetariamente, ou seja, há uma proporção inversa entre taxa de inflação e arrecadação tributária. 6 TABELA 2 ÍNDICE DE PREÇOS DA ALEMANHA E HUNGRIA Alemanha (marco) - A Hungria (pengo) - B Base 100 em 1913 Base 100 em 1939 1922/AGO 19.202 1945/JUL 105 OUT 56.101 AGO 171 NOV 115.101 SET 379 DEZ 147.479 OUT 2.431 1923/JAN 278.500 NOV 12.979 ABR 521.200 DEZ 41.478 JUN 1.938.500 1946/JAN 72.330 AGO 94.404.100 FEV 435.887 SET 2.394.889.300 MAR 1.872.913 NOV 72,57 x 10 ABR 35.790.361 FONTE: A - Spohr, P. A hiperinflação da Alemanha, in A economia da inflação. UFRS. Rio Grande do Sul, 1992. B - Griffiths(1981) Os agentes econômicos não mais preferiam liquidez em marco, devido aos absurdos índices inflacionários, mais especificamente, a moeda nacional tinha perdido as funções tradicionais, e seria substituída pelo dólar e outras divisas fortes. O caso Húngaro se assemelha muito com o alemão porque a arrecadação fiscal era menor que as despesas, incluída aqui também as reparações de guerra, no caso à União Soviética. O déficit fiscal era quase que totalmente financiado pela emissão monetária, ou seja, era o déficit que gerava inflação, e esta via efeito Olivera-Tanzi realimentava-o. A análise sobre o caso Húngaro recai sobre a inclusão do pengo fiscal2 para pagamentos de impostos. Utilizado inicialmente para evitar o aumento do déficit público, o pengo fiscal também foi utilizado, devido a reivindicação dos contribuintes, para a correção dos depósitos à vista, gerando uma expansão monetária incontrolável. 2 0 pengo fiscal foi umaunidade de conta planejado para que os impostos nâo sofressem o efeito Olivera-Tanzi. 7 No caso brasileiro não vamos nos ater rigidamente à distinção numérica da definição de inflação e hiperinflação porque, como veremos neste trabalho, a inflação não trouxe consequências tão nefastas como apregoada pela teoria econômica, principalmente devido a utilização da indexação na nossa economia. 8 2.2 - Os Efeitos da Inflação Historicamente todo o sistema econômico e, inclusive, o político, acaba modificando-se devido às constantes perdas de valor real da moeda causada pela inflação. A análise aqui estuda os efeitos da inflação sobre os agentes econômicos: os assalariados; as empresas e o setor público. As pessoas que possuem rendimentos fixos(assalariados, pensionistas, etc.) são atingidos diretamente pela inflação pois têm o seu poder aquisitivo continuamente reduzido. Não havendo possibilidade de atrelar a alta de preços ao reajuste dos rendimentos, passa a existir uma relação direta entre o tempo e perda do poder de compra, ou seja, quando mais tempo o trabalhador reter seus rendimentos, mais ele estará perdendo. Os trabalhadores buscam basicamente duas formas de atenuar tal perversidade: l a) privilegiando e antecipando o consumo, segundo Kalecki(1983) os trabalhadores gastam tudo o que ganham. Quando os trabalhadores recebem os seus salários, há uma tendência de antecipação de consumo. É a possibilidade de compra hoje devido as dificuldades de indexação da moeda. Só que existe uma dificuldade de efetivação deste consumo, e que, de acordo com Langoni(1975, pag 35) , os consumidores "... esbarram na relativa rigidez da oferta de bens e serviços à curto prazo, e o resultando é a sanção, pela sociedade, do crescimento nos preços que até então só existia apenas na imaginação dos indivíduos". É a inflação de demanda. 2a) reivindicação salarial. É notório que os trabalhadores tentarão recompor as perdas advindas do processo inflacionário, e, com isso, vão se sobressair os segmentos mais organizados, que normalmente estão em setores oligopolizados da economia, criando situações distintas, quais sejam: distorções salariais entre categorias, e, auto-alimentação da inflação caso haja ganho reais3, dessa forma a atitude dos trabalhadores fomenta a espiral salário- preços. Um processo inflacionário afeta as empresas de variadas formas, senão vejamos: dos lucros contabilizados pela empresa, parte são reais e parte para 3 A este respeito, ver Griffiths(1981) 9 repor o ativo fixo. Portanto, se a tributação incidir sobre o lucro total e não somente sobre o lucro real, a empresa estará se descapitalizando e, se houver um planejamento interno de expansão com base no lucro total, esquecendo-se de recompor o ativo fixo, a empresa também encontrará dificuldades; outra forma pelo qual as empresas são prejudicadas é em relação à incerteza. Obviamente a incerteza gerada pela inflação afeta toda a economia, preferimos citá-la aqui porque o empresário assume o risco do investimento. A inflação cria uma atmosfera de incertezas e, com isso, passa a existir dificuldades de se fazer planejamento a longo prazo, principalmente quando se projeta a lucratividade em função das rentabilidades futuras. Por conta disso, aumenta a participação do Estado na economia, de acordo com Viana(1984, pag 23) "... se o setor privado retrai seu investimento em setores de maturação demorada, a oferta destes bens passa a ser efetuada pelo Estado". Esta situação perdurou na economia brasileira da década de 30 até a década de 80, e só não continuou devido à crise fiscal do estado. Certas empresas conseguem elevar os seus preços no mesmo nível da inflação ou até mesmo acima dos índices inflacionários. Normalmente esta situação ocorre quando ela opera em monopólio, oligopólio ou em cartel. Sendo assim, nem a rápida deterioração dos preços que ocorre na economia afeta estas empresas, já que possuem total controle sobre a área onde atuam. Assim como os assalariados, as empresas tentam não sofrer com a inflação, atuam gerando estoques, em detrimento da utililização do mercado financeiro. Isto só é possível se a taxa de juros for inferior ao índice inflacionário, reduzindo, o financiamento interno a longo prazo. As instituições financeiras, melhor representadas pelos bancos comerciais, são beneficiadas pela existência de processos inflacionários. Quando ocorre um depósito à vista em um banco, alguns procedimentos são adotados. Existe a divisão deste depósito em três partes: a primeira fica no próprio banco, para a cobertura dos saques, a segunda é destinada ao BACEN, como depósito compulsório e a terceira é aplicada em títulos indexados. Com 10 certeza haverá retorno de rendimento, desde que a taxa de retorno da aplicação seja maior que a taxa de inflação do período. A forma dos bancos ganharem com a inflação é também através da intermediação financeira, ou seja, ele capta recursos a uma determinada taxa e empresta estes mesmos recursos a uma taxa superior, esta diferença, é chamada de spread. O setor público perde arrecadação tributária com as altas taxas de inflação. E o chamado efeito Olivera-Tanzi. Outro agravante é o estímulo à inadimplência, devido a falta de correção de valores de impostos. A inflação por outro lado, enquanto tributo sobre moeda, se contrapõe à esta perda da arrecadação tributária. O setor público, ao emitir moeda, permite que assalariados e empresas tenham maiores recursos a sua disposição, com isso aumenta a demanda por bens e serviços, se esta demanda não for acompanhada de um aumento na oferta, haverá um correspondente aumento no nível de preços e, consequentemente, redução da quantidade comprada, sendo a parcela não consumida transferida para as empresas(em forma de lucro) e para o setor público(em forma de tributos), este processo é denominado de imposto inflacionário. A redução da arrecadação tributária, mais a redução do imposto inflacionário aliados à falta de credibilidade do governo provocarão, de acordo com Langoni(1975, op cit, p 44), um "estímulo" do governo em gerar mais inflação, através da emissão de moeda, pois assim elevaria-se o imposto inflacionário, só que os agentes econômicos irão se desvencilhar mais rapidamente da moeda. Como vimos até aqui a inflação reduz consideravelmente a poupança total(considerando uma economia sem indexação ou com aplicações financeiras que não acompanhem a taxa de inflação), com isso, o governo é forçado a gerar poupança pública como modo de financiamento para os investimentos. Para que isto ocorra o governo pode optar por três caminhos. O primeiro é emitir moeda. Quando o governo opta por emissão de moeda tanto para gerar poupança pública e/ou para financiar o seu déficit, ele está iniciando um ciclo 11 gerador de inflação, como já foi descrito anteriormente, ou seja, ao tomar tal decisão o Governo está ratificando a inflação. A segunda opção seria através da emissão de títulos. Neste momento temos a comparação entre taxa de retorno destes e a inflação esperada. Obviamente que o governo só irá vender títulos públicos se eles tiverem uma taxa de juros maior que o índice inflacionário do período. Contudo os agentes econômicos não tem condições de prever qual será o índice inflacionário, somente existirá uma expectativa sobre de quanto será a inflação, ou seja, há uma "confiança" por parte dos agentes em relação a taxa de inflação prevista. Quanto maior for a inflação ou a dificuldade de se prevê-la, menor vai ser a confiança do mercado. Outro ponto fundamental é que os títulos emitidos tenham alta liquidez. A sua conversão tem que ser segura e a tempo certa. O último caminho seria a obtenção de poupança externa. Neste ponto entram em questão as variáveis institucionais, como a credibilidade do país frente aos credores internacionais e o prazo definanciamento adotado. 12 2.3 - Indexação A inflação estimula a rapidez do consumo, o endividamento, a rejeição à moeda, a diminuição de poupança, seja ela pública ou privada. A diminuição de poupança aliada ao quadro de incertezas advindas com o processo inflacionário desencoraja o setor privado no âmbito dos investimentos. A inflação destrói completamente a moeda, retirando-lhe suas funções básicas, quais sejam: reserva de valor, unidade de conta e meio de troca, impondo rejeição ao padrão monetário. Quando os mecanismos do mercado não conseguem reagir plenamente as distorções causadas pela inflação, acabam sendo criadas situações que realmente obstacularizam o desenvolvimento econômico, por isso, o governo é impelido a controlar e a reduzir a inflação e, principalmente, a corrigir as distorções causadas por esta, com este intuito bem como para tornar a convivência com a inflação mais pacífica é que o governo adota a correção monetária. O significado do termo indexação é o atrelamento da variação de um parâmetro ou variável às flutuações de um índice econômico(Viana, op cit, p 43). Como por exemplo, temos: os reajustes salariais são corrigidos via variação nos índices de produtividade, os reajustes dos alugueis corrigidos de acordo com a variação do índice geral de preços, etc. Existe também uma abrangência nesta definição e, dentro desta abrangência, há uma particularidade. Esta é a forma de distinguir bem a diferença entre indexação e correção monetária. Simonsen(1975) define correção monetária como o reajuste periódico e automático de determinados valores de acordo com certos índices que traduzem a taxa de inflação. Portanto a indexação deve ser adotada para atualizar valores dos contratos, corrigir as distorções dos balanços das empresas e recompor o poder arrecadatório do Governo, via eliminação parcial ou total do efeito Olivera-Tanzi. Uma questão discutível é de quando realmente deveria ser adotada a correção monetária. Particularmente, concordo com os dois autores antes 13 citados, quando eles apregoam que a correção monetária deve ser introduzida em uma situação inflacionária, ou seja, diante da expectativa de não haver redução da inflação, a longo prazo, sendo desaconselhável sua adoção nos casos em que a inflação seja transitória. Além disso, há também o "feedback" por parte dos agentes econômicos, influenciando tal adoção, como lembra Simonsen(1975, p 143), " ... tal resposta depende da confiabilidade da opinião pública na estabilidade monetária ". Como veremos no próximo capítulo, a correção monetária foi instituída no Brasil em julho de 1964 como cláusula de exceção e com objetivos básicos, justamente para viabilizar contratos e operações financeiras de médio e longo prazos e corrigir as distorções fiscais. Daí o seu caráter de excepcionalidade. Agora deve ficar claro que a indexação não deve ser utilizada, enquanto instrumento de política econômica, como meio para acabar com a inflação, e, sim, para tornar o seu convívio menos doloroso. Porque ao adotar a indexação o governo opta por uma "administração" gradual da inflação. Um ponto a ser discutido, e destacado no capítulo seguinte, é a substituição da forma de financiamento do déficit público, passando da emissão da moeda para a emissão de títulos, isso graças a introdução da correção monetária. Tal medida foi muito importante para o Brasil, principalmente entre os anos de 1964 e 1966, em contrapartida realimentou a inflação. No estudo de Bresser & Nakano(1986) existem os fatores que aceleram, mantém e sancionam a inflação. Esta manutenção da inflação, ou inércia inflacionária, pode ser causada por dois fatores. Conflito distributivo e indexação. Com relação à indexação, ela provoca um efeito multiplicador de preços, até o momento em que todos os preços tiverem subido no mesmo nível da variação inicial da inflação, provocando uma nova inflação, que será posteriormente repassada como na situação anterior. A inércia inflacionária pode ocorrer por projeções de índices de preços do passado para o futuro e do presente para o futuro, como foi observado no Brasil recentemente. A inflação era e ainda é um fenômeno tão comum que um aumento de um determinado bem provoca elevação de preços de outros, 14 mesmo que aquele não faça parte da estrutura de custo deste. Este fenômeno :doi absorvido pela sociedade através da cultura inflacionária. Por isso, há consenso entre os economistas para que o índice da correção monetária seja menor do que o índice geral de preços, já que este índice irá servir de base para inflação esperada. Portanto, a criação de um redutor inflacionário é uma forma de reduzir as expectativas institucionalizadas. Outro fator de consenso é o caráter parcial que a indexação deve ter. Vejamos o seguinte: a produção de café é reduzida, devido a uma forte geada ocorrida, com isso o seu preço se eleva, passando a ser um fator alimentador da inflação. Este fator também poderia ter origem externa, ou , um realinhamento de preços públicos. Para que estes aumentos não sirvam de base elimina-se a indexação de qualquer alta de preços momentânea. Teoricamente estes dois últimos pontos existem no sentido de uma melhor "administração" da inflação. É salutar lembrar que a redução de uma inflação inicial constante só se efetivará se forem assumidos tais compromissos: redutor inflacionário e indexação parcial. Há um certo receio quando da adoção da correção monetária, o da perpetuação da inflação. Portanto, o que gera a adoção de tais medidas é uma expectativa futura de redução da inflação. A partir do próximo capítulo, que irá abranger todo o período da república em que os militares estiveram no poder, falaremos sobre a utilização da correção monetária na economia brasileira, abordando a sua implantação, propósitos, e quais os resultados obtidos. Falaremos também como e porque ocorreu a generalização da indexação na economia brasileira. 15 - A implantação da correção monetária na economia brasileira 3.1- Condições que permitiram a implantação da correção monetária E mais fácil adotar medidas políticas e/ou econômicas em uma ditadura do que numa democracia. O Ato Institucional no. 1 de 1964 possibilitou, ao governo militar, atacar dois graves problemas da época: a inflação e o sub- desenvolvimento. Com os decreto-lei o governo, praticou várias reformas como a administrativa, a bancária e a fiscal, já que o sistema político foi alterado com o advento do regime militar. Alguns aspectos favoreceram a adoção da correção monetária, e estes, utilizando a denotação de Campos(1975), são as pré- condições políticas, históricas e econômicas que possibilitam tal tratamento. 3.1.1 - Condições políticas No pós guerra, o Brasil apoiava-se basicamente, na agricultura e tinha grande dependência externa. O governo, então, cria uma consciência nacional para o desenvolvimento, seguindo linhas cepalinas através do plano de Metas. Um dos assessores econômicos, Roberto Campos, propõe ao presidente um programa de estabilização monetária, com traços indexantes, mas todo o programa é rejeitado. Juscelino deixava a presidência para Jânio, sob uma relativa estabilidade política, mas em compensação haviam três pontos a serem atacados, quais sejam: uma alta inflação(mais de 30% ao ano), um déficit do balanço de pagamentos de cerca de 300 milhões de dólares(Chacel & Simonsen, 1970), além de certa convulsão social, devido às greves e a falta de planejamento administrativo de Brasília. Dado este quadro, Jânio tenta, no início, obter apoio do Congresso para as medidas necessárias e amargas que planejava tomar, no entanto, não logra êxito, justamente por requerer maior poder, tanto político 16 como econômico. O presidente, então frustrado em sua proposta inicial e na tentativa de coagir o congresso, renuncia. Este é o primeiro passopara a volta dos militares ao poder. O Vice-Presidente João Goulart só assume o cargo com a reformulação do sistema de governo para parlamentarismo. Este sistema foi comandado pelo lo Ministro Tancredo Neves até o plebiscito proposto por Goulart, que retoma o poder via presidencialismo. João Goulart, que não concorreu com Jânio e, sim, era vice na chapa do Marechal Lott, assume o poder com medidas populistas tais como a não correção dos valores das tarifas públicas e medidas que afetavam sobremaneira o déficit público, tipo: permitir despesas sem a respectiva receita orçamentária. Goulart estava mais preocupado com a situação política, com a volta do presidencialismo e com as agitações constitucionais. Segundo Chace! e Simonsen(1970)..."são esses poderes que possibilitaram ação de saneamento financeiro e de correção econômica, de outro modo dificilmente realizáveis numa democracia plenamente representativa". 3.1.2 - Condições Históricas e Econômicas No período do governo Juscelino Kubistschek, o Brasil passou por uma boa fase de crescimento mas, em compensação, houve a volta da inflação(com início a partir da década de 50). Só em 1957(Tabela 3) é que a taxa de variação no índice de preços tem uma queda considerável devido, principalmente, as grandes safras, reduzindo assim, os preços agrícolas que se contrapuseram às elevações dos preços industriais. Em 1958 entra em voga o programa de estabilidade monetária, visando combater a inflação mas, abandonado logo em seguida. O último ano deste governo se caracteriza por comprometer o perfil da dívida externa via déficit no balanço de pagamentos, para permitir a manutenção do nível de crescimento. 17 TABELA 3 INFLAÇÃO E PIB NO BRASIL (1956-1985) ANO TAXA DE VARIAÇÃO DO ÍNDICE DE PREÇO TAXA DE VARIAÇÃO DO CRESCIMENTO DO PIB 1956 24,4 3,2 1957 7,0 8,1 1958 24,3 7,7 1959 39,5 5,6 1960 30,5 9,7 1961 47,7 10,3 1962 51,3 5,3 1963 81,3 1,5 1964 91,9 2,9 1965 34,5 2,7 1966 38,3 5,1 1967 25,0 4,8 1968 25,4 9,3 1969 20,2 9,0 1970 19,3 9,5 1971 19,5 11,3 1972 15,5 10,4 1973 15,1 11,4 1974 35,4 9,4 1975 29,4 5,4 1976 46,3 9,7 1977 38,8 5,7 1978 40,8 5,0 1979 77,2 6,4 1980 110,2 7,2 1981 95,2 - 1,6 1982 99,7 0,9 1983 211,0 - 3,2 1984 223,8 3,5 1985 235,1 - 1,9 FONTE: 1. INSTITUTO BRAS. DE ECONOMIA-FGV. LANGONI, C.G. A economia da trans formação. Olímpio. Rio de Janeiro. 1975. 2. CONJUNTURA ECONÔMICA. VIANA, P. J., Inflação x Indexação. Uma contribui ção ao tema. FIEC/IEL. 1984 3. Castelo Branco, Flávio. A aceleração inflacionária e as políticas de estabilização dos anos 80. IPEA. Rio de Janeiro. 1989. 18 Para atenuar as dificuldades provocadas pelo déficit na balança de pagamentos, Jânio Quadros consegue empréstimos externos que, somados ao resultado positivo da balança comercial reverte tal déficit. Internamente inicia-se o descontrole monetário, fiscal e creditício. É o início da crise dos anos 60. Depois de um hiato sem políticas econômicas definidas é elaborado em 1962, para ser implantado em 1963, o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social. Além de propor a elevação da renda nacional, o plano tentava reduzir a pressão inflacionária causada, principalmente, pelo déficit do governo. Três fatores, de acordo com Lara-Resende(1982), foram preponderantes para a aceleração da inflação(passando de 30,5% em 1960 para 51,3% em 1962): 1°) péssimo ano agrícola -com crescimento de apenas 1% contra uma rápida expansão populacional; 2°) a inflação corretiva, que, naquele momento, foi um processo de realinhamento de preços relativos, envolvendo reajustes(preços públicos), eliminação de subsídios(trigo e petróleo) e desvalorização da moeda e, por fim 3°) o aperto de liquidez real, tanto em função da alta inflacionária como também em função da limitação da expansão do crédito. O que gerou a inflação(81,3% a.a., Tabela 3) ascendente, no último governo civil antes de 1964 foram basicamente: o déficit fiscal do governo e os reajustes salariais desordenados. Além disso a partir de 1961 há um brutal declínio na taxa de crescimento do PIB, elevando assim a capacidade ociosa da economia. 19 3.2 - O Processo de Implantação da Correção Monetária 3.2.1 - O Combate a Inflação como Prioridade O Programa de Ação Econômica de Governo(PAEG), lançado em novembro de 1964, diagnosticou que a inflação existente era uma inflação de demanda, com três características básicas: déficit do tesouro, aumentos salariais acima do aumento da produtividade e excessiva expansão do crédito. O déficit público foi combatido muito mais por aumento da arrecadação do que por redução dos gastos. O PAEG visava basicamente reacelerar o ritmo do desenvolvimento econômico e reduzir progressivamente o processo inflacionário. Os investimentos e a política fiscal, que permitiram resultados satisfatórios neste período, basearam-se numa reforma tributária3, a qual lançou a Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional, permitindo uma modificação na forma de financiar o déficit. Antes emitindo papel-moeda e, agora, emitindo títulos públicos chegando inclusive, a financiá-lo totalmente, como ocorreu em 1966, conseguindo eliminar um forte componente inflacionário. O diagnóstico era de que os salários teriam aumentado mais do que o aumento da produtividade, gerando inflação de custos, com isso o governo criou uma fórmula para o cálculo do salário mínimo. Este cálculo se constituía no seguinte: o valor do salário ficou baseado na média dos últimos 24 meses do ano anterior e uma estimativa de inflação estipulada pelo governo. Como o governo fazia sempre subestimação, os trabalhadores tiveram os seus salários reais reduzidos drasticamente. Somente em 1968 é que houve modificação na lei, como veremos mais adiante. A política monetária e de crédito foi a mais leve das três medidas básicas de combate a inflação. Se no primeiro momento houve certo aperto na 'Para um estudo mais aprofundado ver F.A. Oliveira, Autoritarismo e Crise Fiscal no Brasil (1964-1984), Hucitec, Sao Paulo, 1995 20 liquidez(de 1965 até o início de 1966), o posterior afrouxamento destas duas políticas, reverteu esta tendência. Um dos principais fatores que distorceram o objetivo da flexibilidade desta política foi a entrada líquida do capital externo, ,já que o governo visava somente uma expansão três vezes menor do que a ocorrida. No final de 1966 o aperto monetário surte efeito mas a retração do crédito ao setor privado não decresce tanto. 3.2.2 - A Adoção da Correção Monetária A correção monetária era pouco utilizada antes de 1964, merecendo destaque somente o reajuste do ativo imobilizado das empresas por um índice fornecido pelo Conselho Nacional de Economia, em 1958, e a correlação contratual estipulada em 1962 dos financiamentos habitacionais com o salário mínimo. Utilizando o trabalho de Chacel e Simonsen(1970), veremos em que áreas foi empregada a correção monetária com o advento do governo militar. Nesse regime, a correção monetária passa por uma institucionalização, atingindo áreas como a fiscal, o mercado imobiliário, o de capitais e a política salarial. Neste momento a correção monetária é utilizada somente como um instrumento de combate a inflação. Em termos de política fiscal, o governo agiu, através da lei no. 4357/64, de seguinte forma: instituiu uma correção(estipulada pelo Ministério do Planejamento) aos débitos fiscais. Com isso, acabava-se com o estímulo ao não pagamento de impostos além do que as multas e os juros porventura advindos seriam calculados sobre o novo montante, já que as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional, como o próprio nome diz, manteria o valor real de títulos ou dívidas, no caso atrelada a ela, por meio de reajustes periódicos. O interessante é que o governo poderia atrasar os seus débitos que não teria a sua dívida reajustada. A correçãodo ativo imobilizado, que antes era 21 obrigatória, tornou-se compulsória e, além disso, eliminou o critério arbitrado pelo Conselho Nacional de Economia para corrigi-lo. Este imposto foi revogado no final de 1964, com vigência a partir de janeiro de 1967.0 governo visava aumentar, rapidamente, a arrecadação. Por isso é que a correção monetária, instituída nas depreciações que beneficiava as empresas, teve caráter gradativo. Foi criada, também, a correção para o capital de giro das empresas. Esta foi mais uma forma de não prejudicar as empresas, e, por fim, foi criada a correção monetária do imposto sobre lucros imobiliários. Era cobrada uma aliquota de 5% sobre a diferença entre o valor da renda e o valor da aquisição, corrigido monetariamente. A partir da Lei n°. 4380/64, o governo tentava solucionar o problema do déficit habitacional, e, para isso, deu condições para surgimentos de novos financiamentos. Num primeiro momento, é criado o Banco Nacional de Habitação(BNH) com o intuito de repassar recursos captados por entidades para o público, que pagariam prestações reajustadas a cada dois meses, de acordo com a variação do salário mínimo. Entre essas entidades destacou-se a Sociedade de Crédito Imobiliário. Esta sociedade é uma instituição privada captadora de recursos, através das letras imobiliárias, que eram corrigidas monetariamente a cada três meses pela ORTN. Mas até 1966 não havia recursos suficiente, tanto por captação pública como por recursos compulsórios. Com o intuito de elevar recursos para o financiamento é criado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço(Lei no. 5.107/66). Os recursos deste fundo também eram corrigidos. Outra importante medida em termos de mercado imobiliário foi a correção monetária dos alugueis. De acordo com a Lei n°. 4944/64, os novos contratos seriam reajustados pela variação do salário mínimo, para os contratos firmados antes da promulgação da lei, a correção era em função da inflação pós 1964 e da restauração da perda anterior a este período. 22 Era praticamente impossível vender títulos rendendo em torno de 8% quando a inflação passava de 50% ao ano. Com o intuito de reverter este quadro, o governo lança, através da Lei n°. 4357/64, as ORTN. A partir de 1965 ocorre uma tentativa de reorganização do mercado de capitais frente a inflação existente. Para isto acontecer, a correção monetária é estendida as letras de câmbio, debêntures, depósitos a prazo e certificados, tendo os reajustes uma periodicidade inferior a um ano. Todavia, o mercado acabou forçando o governo a reduzir este prazo para, no mínimo, seis meses e a modificar, também, a forma de vinculação. Enquanto o governo pretendia esta vinculação a posteriori, o mercado a exigia a priori. O PAEG tinha também como finalidade impedir reajustamentos que provocassem distorções e também aumentos acima da elevação da produtividade. Por isso, as medidas foram: fixar os salários com base na medida real dos últimos 2 anos e reajustar de acordo com a taxa de produtividade mais a metade da inflação programada pelo governo para o período seguinte(esses reajustes eram anuais). A questão fundamental é que o chamado resíduo inflacionário contribuiu para reduzir o valor do salário, já que as inflações previstas pelo governo sempre foram subestimadas. 3.2.3 - Os Efeitos da Adoção da Correção Monetária Sem a menor dúvida, a instituição da correção monetária foi fundamental para a posterior desempenho da economia brasileira. O que é difícil dizer, como coloca Simonsen, é que não é fácil submeter essa opinião a provas quantitativas, inclusive com relação, também, a inflação, pois há dificuldades de mensurar tal correlação. Os efeitos aqui identificados terão sequência de acordo com o item anterior(2.2.2). Com a implantação da correção monetária, foi desistimulada, consideravelmente, a impontualidade, que acabava gerando uma sonegação fiscal. Esta correção, se não eliminou, pelo menos atenuou a tributação sobre 23 os ganhos ilusórios das empresas, tornando-se um imposto mais justo. Este acréscimo de arrecadação permitiu ao governo aperfeiçoar o sistema, deu um maior realismo na tributação, diminuindo assim tanto a evasão como a própria sonegação. Só para exemplificar, o déficit governamental em 1966 foi nominalmente igual ao 1965, o que já representa uma queda de 30%(Viana, 1984) em termos reais. Um dos motivos que permitiram tal resultado, também foi a reativação da economia. O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço(FGTS), através de sua vinculação à correção monetária, permitiu que o Banco Nacional da Habitação contribuísse, sobremaneira, para o bom desempenho da construção civil, além da correção das hipotecas e aluguéis, fatores também estimulantes. TABELA 4 FINANCIAMENTOS E EMPRÉSTIMOS NO MERCADO FINANCEIRO VALORES EM MILHÕES DE CRUZEIROS CORRIGIDOS ANOS EMPRÉSTIMOS FINANCIAMENTOS 1964 22.090 24.563 1965 65.964 77.213 1966 174.212 471.547 1967 1.674.480 2.662.187 1968 1.617.578 4.074.593 FONTE: CHACEL & SIMONSEN. A correção monetária. APEC. Rio de Janeiro. 1970. A elevação dos empréstimos/financiamentos é muito significativa como se vê na tabela 4. 0 investidor, ao vislumbrar opções no mercado, tal como aplicar o seu dinheiro com segurança e, principalmente, com retorno acima do índice da inflação, ele certamente o fará como podemos verificar na tabela 5. Vemos que, após a introdução da correção monetária, há crescente interesse pelas aplicações financeiras. 24 TABELA 5 APLICAÇÕES FINANCEIRAS (1963-1968) VALORES CORRIGIDOS EM MILHÕES DE CRUZEIROS EM DEZEMBRO DE 1968 ANO DEP. A PRAZO LETRAS DO BCO.BRASIL ORTN LETRAS DE CÃMBIO SISTEMA DE HABITAÇÃO TOTA 1963 1.149 217 - 479 3 1.848 1964 933 831 30 830 1 2.625 1965 976 226 252 1.481 1 2.936 1966 1.627 2 633 1.367 34 3.663 1967 1.870 1 722 2.603 280 5.476 1968 2.396 0 810 4.657 832 8.695 FONTE: CHACEL & SIMONSEN. (1970) É salutar lembrar também que, ao invés da forma compulsória de vender títulos, temos a partir de 1964, a forma voluntária de compra de títulos públicos federais. Através da nova forma de cálculo do salário mínimo, que incluía um reajustamento pela média e não pelo pico, os trabalhadores saíram prejudicados, sem contar com a desestruturação política dos sindicatos, devido ao novo regime(Via Ato Institucional n° 2). Com isso, os acordos e dissídios sempre eram calculados abaixo dos índices inflacionários. Essas medidas foram bastante prejudiciais aos trabalhadores, como podemos obeservar na Tabela 6. TABELA 6 ÍNDICE DE SALÁRIO MÍNIMO (1963-1968) ANO BASE 1963 ANO FGV DIEESE 1963 100,0 100,0 1964 97,1 105,0 1965 90,8 96,8 1966 1967 90,6 89,2 1968 94,8 91,6 FONTE: FGV (ÍNDICE DO CUSTO DE VIDA DO RIO DE JANEIRO). DIEESE (ÍNDICE DO CUSTO DE VIDA DE SÃO PAULO), EXTRAÍDO: Lara-Resende, André. A política brasileira de estabilização. Pesquisa Planejamento Econômico. (1982). 25 Como vimos no início do trabalho, quando existe inflação ocorrem distorções na economia, fazendo com que alguém ganhe em detrimento de outrem. Com a introdução da correção monetária há uma modificação da distribuição da renda. De acordo com Chacel e Simonsen(1970) os maiores beneficiários foram os compradores de títulos, os proprietários de imóveis e as concessionárias dos serviços públicos, e, os maiores prejudicados foram os trabalhadores. Além disso alguns pontos merecem destaque: o lançamento das ORTN's permitiu ao governo financiar parte ou totalidade do seu déficit através do lançamento destes títulos públicos, permitindo uma redução da emissão da moeda e teoricamente uma redução da inflação; o próprio déficit foi reduzido, principalmente pela correção dos impostos, com relação à perda de valor real do salário, temos um fator inibidor da inflação de custos. A expansão do mercado de capitais permitiuuma maior constituição de poupança. A poupança foi destinada ao setor produtivo, contribuindo, junto com a opção pelo desenvolvimento do país e a certeza estabelecida pelo regime militar, para transformar um quadro de declínio em um certo crescimento, apesar de não ser o objetivo principal. 26 3.3 - A Consolidação da Correção Monetária e o Milagre Brasileiro 3.3.1 - O aperfeiçoamento da indexação A partir de 1964, a Instituição da Correção Monetária permitiu uma certa convivência com a inflação, mas, só em 1968, com as reformas ocorridas tornou-se mais coerente com a realidade. No campo fiscal houve uma proposta, através do decreto Lei n°. 62, que acabava de vez com o imposto sobre os lucros ilusórios. Este decreto seria o aperfeiçoamento do cálculo da manutenção do capital de giro, contudo, o governo temendo a possível não aceitação de cálculos mais complexo o que levaria a uma baixa na arrecadação, o substituiu pelo decreto lei no. 401 de 1968. Basicamente, este trazia no seu bojo um desconto de no máximo 20% do imposto devido, referente à manutenção do capital de giro. A inflação corretiva, incorporada por lei aos alugueis contratados antes de 1964, trazia consigo dois problemas: 1o) tinha um cálculo muito complicado, e por isso teve várias vezes seu índice calculado pelo Conselho Nacional de Economia e, 20) este índice estava se tornando um componente forte nos cálculos da inflação. Portanto, o governo Costa e Silva procurou atenuar tais reajustes. O plano de habitação encontrou também dificuldades: falta de conhecimento econômico; o saldo devedor superava em termos normais o valor financiado e; disparidade entre a ORTN e os salários(os salários não acompanhavam a correção das ORTN's). Esta diferença, a partir de 1968, pode ser contornada através do plano de equivalência salarial. Para tentar acabar com a sonegação fiscal, existente em relação aos títulos pré-fixados - a tributação incidia sobre a parte que excedesse a correção das ORTN's - o governo, em 1969, promulgou o decreto lei no. 403. A nova tributação incidia sobre rendimento nominal do título e era cobrada na fonte e não no resgate, e, esta incidência do imposto era inversamente proporcional ao tempo da aplicação. 27 As desvalorizações cambiais existentes até o meio do ano de 1968 não tinham caráter ordenado, com reajustes inconstantes e com um intervalo de tempo muito grande entre um e outro, porque a inflação, mesmo decrescendo, ainda era elevada(Tabela 3). Através de uma resolução do Banco Central, em agosto de 1968, dá-se início a uma política de minidesvalorizações cambiais. TABELA 7 CÂMBIO/EXPORTAÇÕES/IMPORTAÇÕES (1965-1974) ANO TAXA DE CÂMBIO OFICIAL (A) (MOEDA NAC./US$) EXPORTAÇÃO (B) (US$ 106) IMPORTAÇÃO (C) (US$ 106) 1965 1,9 1.596,0 941,0 1966 2,2 1.741,0 1.303,0 1967 2,7 1.654,0 1.441,0 1968 3,4 1.881,0 1.855,0 1969 4,1 2.311,0 1.933,0 1970 4,6 2.739,0 2.507,0 1971 5,3 2.904,0 3.245,0 1972 5,9 3.991,0 4.235,0 1973 6,1 6.199,2 6.192,2 1974 6,8 7.951,0 12.641,3 FONTE: A - BANCO CENTRAL DO BRASIL B e C - IBGE EXTRAÍDO: A ordem do progresso. (1992) O prazo dos reajustes foi reduzido e, consequentemente, o valor das minidesvalorizações. Esta regularidade, foi um instrumento considerável para retirar o efeito da inflação sobre as exportações. Isto tudo para atender a uma maior inserção brasileira no comércio internacional, já que, de acordo com a Tabela 7, houve aumento nas exportações como também nas importações. 28 3.3.2 - Crescimento Económico: A Prioridade O governo militar foi extremamente feliz ao reduzir gradativamente a inflação, eleita inclusive como prioridade mas, no início do regime a taxa de crescimento do PIS se manteve baixa, como já vinha ocorrendo anteriormente. O fundamental foi a restauração da credibilidade da política econômica que permitiu o estabelecimento posterior de níveis altíssimos de crescimento econômico - pois, de certa forma, já havia sido feito o ajustamento, e, agora era momento de o país desenvolver-se. A capacidade ociosa da indústria somados á rápida expansão do comércio internacional, a elevação dos preços dos produtos primários e a excessiva liquidez do sistema monetário internacional, integraram as condições internas e externas que facilitaram, de acordo com Batista(1987), o crescimento da economia brasileira conhecido como o "Milagre Econômico". A análise sobre o desenvolvimento do período fica mais clara quando fazemos através dos números(Tabela 3). A taxa média de crescimento do período(1967 à 1973) foi de 10,6%. A inflação baixou de 25,0% em 1967 para 15,1% em 1973. 0 déficit público foi sendo reduzido gradativamente até se tornar superávit em 1973(Viana,1984), a poupança interna aumentou consideravelmente. A arrecadação líquida do FGTS passou de CR$ 225 bilhões para CR$ 1.910 bilhões e os depósitos de poupança aumentaram mais ainda, 56 vezes o valor inicial, que era de CR$ 37 bilhões, ficando um pouco superior ao saldo do FGTS(Chacel e Simonsen, 1970). 29 3.3.3. 0 Controle da Inflação Ficou claro que, a partir da implementação do plano estratégico de desenvolvimento(1967) o controle da inflação subordinou-se à retomada do crescimento econômico, por isso mesmo havendo redução do índice, esta ocorreu de maneira gradativa e em menor escala. Para descrever as políticas adotadas citamos o financiamento do déficit via venda de títulos públicos, isto(evitando a emissão da moeda) aperfeiçoou a máquina arrecadatória permitindo uma maior receita. O governo também reordenou de forma apreciável o seu gasto, dando prioridade as obras de infra- estrutura. A principal preocupação do regime militar com relação à política monetária e de crédito, era manter os meios de pagamentos em uma proporção constante em relação ao produto. Com isso, evitaria-se crises de liquidez que pudessem deprimir a atividade econômica. A própria venda de títulos públicos federais foi utilizada como meios de contração monetária, tendo como contraponto a política expansiva do crédito e a entrada de capitais estrangeiros. Esta última inclusive foi um fator considerável no aumento da liquidez, o que obrigou ao governo instituir depósitos obrigatórios sobre a contrapartida em moeda nacional, evitando a repercussão inflacionária. Foram tentadas também redução das taxas internas de juros reais que cresceram, a partir de 1964, até ficarem positivas. Uma explicação possível para este aumento foi a forte demanda de recursos, por isso é que o governo incentivou a redução dos custos operacionais do sistema bancário, além de uma maior participação de títulos públicos nas carteiras dos bancos. Apesar de ter modificado o cálculo do reajuste salarial(o resíduo inflacionário não foi subestimado nos últimos 12 meses), o trabalhador continuou a perder poder de compra. Esta política, que perdurou de 1964 à 1972, contribuiu para esfriar a demanda existente, anterior ao regime militar, e baixou consideravelmente o valor real do salário mínimo a ponto de redistribuir 30 renda para os mais abastados, detentores de poder de compra dinâmico do sistema. A política de controle de preços envolvia os preços agrícolas e os industriais. Com relação aos preços agrícolas existia um preço mínimo para garantir a sua renda, mas não poderia haver elevação acima da inflação. Já os preços industriais tinham diversos controles. As empresas seriam beneficiadas se mantivessem os seus preços dentro de margens fixadas pelo governo, ou vinculados com o aumento dos custos. Esta política foi utilizada como complemento das políticas monetária e fiscal. 31 3.4 - Um Longo Período de Desequilíbrios 3.4.1 - As Modificações na Economia Internacional No final de 1973, ocorre o 1°. Choque do petróleo. O preço desse produto é mais do que quadruplicado(Goldenstein, 1986). Com isso, o Brasil teve um aumento considerávelno valor das importações, já que 80% do consumo interno era importado e, pelo menos a curto prazo, não havendo alternativa. Este aumento nas importações reverteu o superávit ocorrido na balança comercial em 1973(Tabela 7) , num déficit em 1974. TABELA 8 SALDO DA BALANÇA COMERCIAL (1974-1981) ANO EXPORTAÇÃO (B) (US$ 106) IMPORTAÇÃO (C) (US$ 106) BALANÇA COMERCIAL (US$ 106) 1974 7.951,0 12.641,3 - 4.690, 3 1975 8.669,9 12.210,3 - 3.540,4 1976 10.128,3 13.383,0 - 2.254,7 1977 12.120,1 12.023,0 97,1 1978 12.658,9 13.683,1 - 1.024,2 1979 15.244,4 18.083,1 - 2.838,7 1980 20.132,4 22.955,2 - 2.822,8 1981 23.293,0 22.090,6 - 1.822,4 FONTE: IBGE EXTRAÍDO: ORDEM E PROGRESSO. (1992) Em função deste choque ocorreu uma alta nas taxas de juros internacionais. As mais importantes, como a prime-rate e a libor chegaram em 1973 a 9,7% e 14% respectivamente quando em 1972, elas giravam em torno de 8%. Nos anos posteriores ao choque, houve um declínio destas taxas(principalmente a prime-rate) por causa do ajustamento a nova situação e ao boicote dos árabes, retornando ao nível de 1972, somente em 1977. 0 32 aumento inicial destas taxas elevou o pagamento de juros referente ao principal da dívida externa contraída. TABELA 9 TAXA DE JUROS INTERNACIONAIS ANO E.U.A. PRIME-RATE REINO UNIDO LIBOR 1972 7,7 8,5 1973 9,7 14,0 1974 10,2 12,7 1975 7,2 12,0 1976 6,2 15,0 1977 7,7 7,6 1978 11,8 12,3 1979 15,0 14,6 1980 21,5 17,5 1981 15,7 14,9 1982 14,5 13,4 1983 10,5 9,8 FONTE: BACEN e CONJUNTURA ECONÔMICA EXTRAÍDO: OLIVEIRA, Alfredo.J.P. O impacto da transferência financeira para o exterior no desequilíbrio fiscal brasileiro. uma análise das políticas fiscais na década de 80. Dissertação de mestrado. Fortaleza. CAEN. 1993. p. 50. Além da elevação das taxas de juros, os países industrializados impuseram uma redução de preços aos produtos primários, essenciais nas exportações dos países subdesenvolvidos como o Brasil, prejudicando sobremaneira o intercâmbio brasileiro. A situação só não foi pior por dois motivos: 1°) uma política de promoção das exportações, que quase duplicou em quatros anos o valor de US$ 6,2 bilhões em 1973 e 2°) uma captação de recursos externos, principalmente beneficiada pela posterior redução dos juros. 33 Esta captação só foi possível por dois motivos ,como coloca Goldenstein (1986): 1°) os empréstimos externos continuavam bem mais baratos do que os captados em moeda nacional e, 2°) estímulo do governo Geisel para que os governos estaduais, municipais e empresas em geral obtivessem recursos externos. 3.4.2 m A Volta da Aceleração da Inflação Diversos foram os fatores que contribuíram para a volta mais drástica de altos índices inflacionários. Estes fatores tanto foram internos quanto externos. Internamente uma expansão monetária, onde o planejamento orçamentário sempre ficou abaixo da realidade até mesmo para atender o nível de investimento desejado por parte dos empresários no mercado brasileiro; um desequilíbrio na política fiscal, permitindo que o excelente superávit de 1974 decline até virar déficit(1977) e; também o fraco desempenho da agricultura principalmente em 1975, devido a secas e geadas, fazendo com que neste ano e no seguinte houvesse elevação de preços e consequentemente elevação da inflação. A elevação dos produtos importados, já em 1974, afetou sobremaneira as importações do país. Entre os produtos importados temos o petróleo, o trigo, produtos semimanufaturados e manufaturados, ou seja, produtos primordiais e que mostram o alto grau de dependência externa, criando uma situação de inflação importada. Além disso temos dois outros aspectos: 1°) os produtos nacionais que tinham certa reserva de mercado, acompanhavam as elevações dos produtos internacionais, justamente por não atender a demanda interna e 2°) em termos de produtos agropecuários houve um estímulo as exportações, devido a alta de preços internacionais, provocando, assim um desabastecimento interno, onde a demanda supera a oferta. 34 3.4.3 - Alterações nos Cálculos da Correção Monetária Como podemos observar na Tabela 3 houve uma redução da inflação de 1976 para 1977. Este fato ocorreu devido a três fatores: aperto monetário, contenção dos gastos públicos e uma redução da correção dos títulos públicos. Esta redução ocorria porque, como coloca Marinho(1978), o coeficiente de correção, que era calculado sobre a base da inflação passada, agora leva em conta uma média entre as taxas passadas e as previstas para o futuro. Introduziu-se, nas taxas futuras, um coeficiente fixo de multiplicação que veio substituir o chamado resíduo inflacionário. E estes coeficientes sempre ficavam abaixo da inflação, caso esta passasse de 15%. Por exemplo: se a inflação fosse de 30%, o coeficiente de correção monetária seria de 27%. A generalização da indexação foi preponderante para a retomada da inflação a partir de 1979, principalmente por encurtar os prazos entre as correções. Neste período se destaca a redução do prazo dos reajustes salariais de doze para seis meses. Esta visava minimizar as perdas dos assalariados, mas o aumento da inflação no ano, não permitiu que isto ocorresse. 3.4.4 - O Segundo Choque Externo Quando João Figueiredo assume, tenta-se manter o ritmo de crescimento acelerado da economia, ampliando a capacidade de produção de bens de capital e incentivando a política de exportação que à época visava reduzir o déficit da balança comercial. Este rumo tomado se sustentava também em condições externas favoráveis, mas o que ocorre é o 2°. choque do petróleo, elevando o seu preço em mais 134%, passando de US$ 91,9, em 1978 para US$ 215,2 em 1980(Goldenstein, 1986), fazendo com que as despesas com importações se elevassem substancialmente, gerando como ocorrido no 1°. choque do petróleo, novos déficits na balança comercial(Tabela 8). 35 Observando o comportamento das taxas de juros internacionais na tabela 9, constatamos que após passado o impacto do 1°. choque do petróleo ocorre uma certa acomodação destas taxas em um nível semelhante ao praticado no anterior. As taxas de juros internacionais elevaram-se bastante após o 2°. choque do petróleo, no entanto esta está mais ligada à política econômica praticada no 1°. governo de Reegan, do que ao 2° choque do petróleo. A elevação da prime-rate foi seguida pelas outras taxas de juros internacionais, principalmente devido a um sincronismo entre os países industrializados, fazendo com que a partir deste momento fosse muito mais oneroso captar recursos no exterior. Além disto, o Brasil foi bastante atingido pela ruptura de créditos voluntários externos, que impediu o reescalonamento das dívidas que tiveram os serviços onerados. TABELA 10 INDICADORES DO SERVIÇO DA DÍVIDA EXTERNA (1978-1982) ANO JUROS SERV. DÍVIDA SV/PIB (%) SV/EXPORT(%) 1978 2.696 7.919 4 63 1979 4.186 10.571 5 69 1980 6.311 11.321 5 56 1981 9.161 15.402 6 66 1982 11.353 18.305 7 91 FONTE: BACEN EXTRAÍDO: Goldenstein (1986). O efeito mais imediato e perverso foi a elevação do custo da dívida externa. Como podemos ver na tabela os juros da dívida se elevam em mais de 320%, aumentando em três pontos percentuais sua participação em relação ao PIB. O mais alarmante é o valor do serviço da dívida em 1982, causado pela elevação das taxas de juros internacionais, sendo quase igual ao valor das exportações do período(US$ 19.395 milhões), criando uma situação 36 insustentável, devido a falta de um reescalonamento por parte do capital externo. 3.4.5. As Diversas Medidas Econômicas Adotadas A aceleração inflacionária dos anos 80, que na realidade começou a delinear-se já em 1979, deve-se em grande parte a brusca mudança no padrão de relacionamento entre o Brasil e os credores internacionais. Os fatores externos, como o 2° choque do petróleo, a elevaçãodas taxas de juros internacionais, acabaram prejudicando a sustentabilidade do modo de financiamento existente na década anterior. TABELA 11 PREÇOS CRÍTICOS DA ECONOMIA 3RASILEIRA (1981-1985) ANO Preços Externos (a) Preço Petróleo (b) Juros Externos (c) 1980 13,7 100,0 16,4 1981 9,1 104,8 14,9 1982 2,0 97,9 13,4 1983 1,6 88,7 9,9 1984 2,4 88,4 9,2 1985 0,0 83,3 8,0 a) - IPA-USA; b) Valores em 1980 e c) Libor, taxa média anual FONTE: Castelo Branco(1989) Vê-se facilmente que no início da década há uma forte influência da inflação importada, principalmente pela forte dependência externa. Na medida que ocorre redução tanto dos preços como dos juros, há também redução da influência destes fatores sobre a inflação brasileira. A evolução da estrutura dos preços reais básicos da economia, como coloca Castelo Branco(1989), tem relação muito estreita também com a alta ocorrida na inflação na primeira metade da década de 80. Se não vejamos: 37 queda na produção agrícola em três anos(1982, 1983 e 1986); elevação em termos reais dos preços públicos no início da década; e política salarial que permitiu aumentos reais aos trabalhadores organizados. Além disto, o governo toma medidas que são contrárias ao seu pensamento como: criação de uma pré-fixação para a correção monetária e cambial, que acabou gerando uma política monetária expansiva, e o mais curioso, uma valorização cambial, indo de encontro à que se propunha a maxidesvalorização do cruzeiro em 1979 e 1983. Para complicar ainda mais a situação, ocorrem os fatores já citados, política salarial e preços externos inflacionários. Com o advento da recessão, o governo é impelido a adotar medidas ortodoxas, principalmente no campo monetário-fiscal. Esta nova tendência estava vinculada aos novos acordos com o FMI, que obrigava o governo a adotar certas medidas, como redução dos gastos, desvalorizações cambiais e contenção de crédito, ou seja, uma política interna recessiva, que teoricamente iria ser compensada pela expansão das exportações e redução das importações. TABELA 12 INFLAÇÃO, PIB E CÂMBIO (1979-1984) ANO Taxa de Inflação Taxa Crescimento -PIB Taxa de Câmbio efetiva 1979 77,2 6,4 100,00 1980 110,2 7,2 81,2 1981 95,2 - 1,6 79,8 1982 99,7 0,9 94,5 1983 211,0 - 3,2 88,8 1984 223,8 3,5 89,9 * Valores em 1979 FONTE : Inflação e indexação(1984) Castelo Branco(1989) 38 O governo federal tentou reduzir o excesso de demanda e gerar superávites no balanço comercial, no entanto, não logrou êxito com relação à queda da inflação, ou seja, a implantação da ortodoxia não culminou com a redução da inflação. Sobre isso, Bresser4 comenta: ... "de fato, a inflação brasileira já naquela época era uma inflação inercial. Havia repasse automático da inflação para os preços", o autor prossegue dizendo que "este processo é garantido tanto pelo caráter oligopolizado e cartelizado da nossa economia como pela indexação altamente avançada". O regime ortodoxo em 1984 é gradativamente podado, tanto por reequilíbrio das contas externas, como por mudanças políticas dificultando assim rígidos controles monetários, apesar do Brasil ainda ser monitorado pelo FMI. A economia retoma uma trajetória de crescimento e a inflação se estabiliza em um patamar levemente superior aos 200% anuais. Esta estabilidade indexada, cria a inflação inercial, sem contudo esquecermos outros fatores preponderantes para a manutenção e elevação da inflação, como a busca por reajustes e/ou ganhos reais em termos de salários e o aumento do dispêndio governamental. Para o início do ano de 1985, o Brasil já sente dificuldades em obter novo acordo com o FMI. A dificuldade maior foi o descontrole inflacionário, causando principalmente, como coloca Bresser5, elevação real dos salários, elevação dos juros reais e especulação de preços de alguns setores, elevando-os acima da taxa de inflação corrente. A equipe econômica retoma a teoria ortodoxa para tentar frear a inflação, inclusive tomando a velha atitude de controlar as tarifas públicas com intuito de reter o "grande mal brasileiro". Neste momento, quando o Brasil passa por mudanças, inclusive políticas, surgem duas importantes propostas para reduzir e/ou acabar com o grau de indexação da economia brasileira. São elas: 1°) a criação de uma moeda 4 Bresser Pereira, Luiz C. A dívida e a inflação. A economia dos anos Figueredo 1979-1985. Gazeta mercantil, São Paulo. 1985. Bresser Pereira, op cit. 39 atrelada a um indexador que coexistiria paralelamente com o padrão monetário atual, extinguindo-o e substituindo-o ao longo do tempo(Árida & Lara Resende), 2°) substituição plena da moeda com congelamento de preços(Francisco Lopes). 40 3.5 - A Nova República A nova república inicia-se conturbada politicamente. Após longo período, o Congresso tem oportunidade de eleger um presidente civil, o eleito fora Tancredo Neves que morre logo em seguida. Em seu lugar assume José Sarney, que mesmo adepto de medidas heterodoxas, mantém Dorneles no comando do Ministério da Fazenda. O ministro se apressa em combater gradativamente a inflação e suas primeiras atitudes foram: retardar os reajustes das tarifas do serviço público e criar uma nova fórmula de correção monetária e cambial, tendo como base para novos reajustes à média inflacionária do último trimestre. As divergências entre João Sayad(Ministro do Planejamento) e Francisco Dorneles(Ministro da Fazenda) tornam-se gritantes, e a discordância chega ao ponto máximo quando a inflação atinge 14% em agosto de 1985. Francisco Dorneles pediu demissão enquanto, sob o aval de Sarney, Sayad já estudava um projeto para desindexar a economia. O empresário Dilson Funaro, simpatizante das idéias de Sayad, assume o Minitério da Fazenda e imediatamente são tomadas medidas de emergência para deter o índice inflacionário como: tabelamento da carne, importação de produtos agrícolas e congelamento de preços no varejo. De acordo com Amaral Filho, o governo também agiliza e tenta criar situações para gerir o "pacto social", em caso de fracasso, estará dando o primeiro passo para implantação de um choque heterodoxo. No âmbito Tributário, o governo lança algumas medidas ainda no final de 1985 com o intuito de permitir a implantação do Plano Cruzado. Estas resumidamente foram: reforma tributária, visando reforçar o caixa da união; maior tributação das aplicações financeiras, visando estimular os investimentos; encerramento da conta movimento do Banco do Brasil evitando uma maior expansão monetária; unificação dos índices de reajuste e fixação do índice nacional de preços ao consumidor, aliado a esses fatores internos temos o fim do monitoramento da economia brasileira por parte do FMI. 41 A idéia de Lopes se sobrepõe a de Árida e Lara-Resende e o Plano Cruzado é implantando em fevereiro de 1986. Este Plano é heterodoxo porque está baseado em congelamento de preços e em medidas administrativas(ao invés de medidas de mercado) para combater a inflação, ou seja, a estabilização ocorrerá devido à coordenação direta das relações econômicas e indução de decisões e ações por medidas de natureza administrativas. 42 4 - Conclusão A correção monetária, também conhecida como indexação visa minimizar os efeitos depreciativos da inflação sobre o valor real da moeda, devolvendo-lhe as suas funções básicas. A utilização da correção monetária, como apregoa a teoria econômica, teve as condições proprícias para a adoção no início do regime militar. A alta inflação, a instabilidade política e a falta de uma política monetária foram preponderantes para a introdução desse poderoso instrumento de política econômica. Sem dúvida, este instrumento de política econômica pode ser considerado um dos mais eficazes no combate à inflação, principalmente de 1964 à 1973. Podemos observar já no triênio 1964-1967 que ainflação reduz-se drasticamente, isto ocorre devido a: nova forma de financiar o déficit - via título público; a redução do déficit público - elevação da receita e reajustes salariais abaixo da inflação. O caráter de excepcionalidade da correção monetária, quando da sua adoção que envolvia somente alguns preços, com reajuste normalmente anuais e como no caso dos salários com reajustes inferiores ao da inflação, foi fundamental como medida de combate a inflação. Muito se discute sobre a possibilidade de um país crescer a uma taxa de 10% ou mais mantendo a sua inflação baixa. O Brasil não só conseguiu crescer enormemente(1968 a 1973), como reduziu a taxa de inflação de 25,4% em 1968 para 15,1% em 1973(a mais baixa do regime militar). Isto tudo graças a uma continuidade(ampliação e aperfeiçoamento da indexação) de medidas iniciadas em 1964. A partir do 1° choque do petróleo, a correção monetária é utilizada, de um modo geral, para tornar o convívio com a inflação menos danoso. E a partir de 1979, exatamente no 2° choque do petróleo, a generalização da indexação foi preponderante para a retomada da inflação. 43 O processo inflacionário crônico de 1979 à 1985 só contribuiu para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de contratos com claúsula de correção monetária. Estas altas taxas de inflação, seguidas de correções imediatas criaram um círculo vicioso, chamado de inércia inflacionária. Este, sem sombra de dúvida, o principal problema que a indexação generalizada trouxe para a nossa economia. 44 5 - Bibliografia Abreu, Marcelo P. A ordem do progresso. 100 anos de política econômica republicana. Campos. Rio de Janeiro. 1992 Árida, P. & Lara-Resende, André. Inflação Zero. Paz e Terra. Rio de Janeiro.1986. Batista, Jorge C. A estratégia de ajustamento externo do segundo PND. Revista de economia política, V 7, (2), p 66 a 80, abr-jun 1987. Bresser Pereira, Luiz C. & Nakano, Y. Inflação e Recessão. Brasiliense. Brasília.1986 Bresser Pereira, Luiz C. A dívida e a inflação. A economia dos anos Figueiredo 1979-1985. Gazeta Mercantil. São Paulo. 1985. Campos, R. M. Inflação no Brasil - Os princípios da correção monetária, in Formas criativas do desenvolvimento brasileiro. APEC. Rio de Janeiro. 1975. . Castelo Branco, Flávio. Perspectivas da economia brasileira, in A aceleração inflacionária e as políticas de estabilização dos anos 80. IPEA. Rio de Janeiro. 1989. Chacel, Julian & Simonsen, Mário H. A correção monetária. APEC. Rio de Janeiro. 1970. Cysne, Rubens P. & Simonsen, Mário H. Macroeconomia. Rio de Janeiro. 1989. Goldenstein, Sérgio. A dívida externa brasileira. 1964-1982. Evolução e crise. Guanabara. Rio de Janeiro. 1986. Goldsmith, R. Brasil 1850-1984. Desenvolvimento financeiro sob um século de inflação. Harper. São Paulo. 1986. Griffiths, Brian. Inlfação: o preço da prosperidade. Pioneira. São Paulo. 1981 Langoni, Carlos G. A economia da transformação. Olímpio. Rio de Janeiro. 1975. Lara-Resende, André. A política brasileira de estabilização. Pesquisa Planeja jamento Econômico. Rio de Janeiro, V 12, (3), p 757 a 806, dez 1982. Lara-Resende, André. A moeda indexada: uma proposta para eliminar a inflação inercial. Revista de Economia Política. V 5. No 2. Abr-jun 1985. Lara-Resende, André. Da inflação crônica à hiperinflação: observações sobre o quadro recente, in Aceleração recente da inflação. José Mário Rego. Bienal. São Paulo. 1989. 45 Marinho, Luiz C. A inflação no Brasil (1966-1976), in Inflação recente no Brasil e na América Latina. Pinto, Assael, Prado e Marinho. Graal. Rio de Janeiro. 1978. Oliveira, Alfredo.J.P. O impacto da transferência financeira para o exterior no desequilíbrio fiscal brasileiro. Uma análise das políticas fiscais na década de 80. Dissertação de mestrado. Fortaleza. CAEN. 1993. Pinto, Anibal. Raízes estruturais da inflação na América Latina, in Pinto, Assael, Prado & Marinho. Inflação recente no Brasil e na América Latina. Graal. Rio Janeiro. 1978 Simonsen, Mário H. Correção Monetária. A experiência brasileira, in Formas criativas do desenvolvimento brasileiro. APEC. Rio de Janeiro. 1975. Spohr, P. A hiperinflação da Alemanha, in A economia da inflação. UFRS. Rio Grande do Sul. 1992. Viana, Pedro J.R. inflação x indexação. Uma contribuição ao tema. FIEC/IEL. Fortaleza. 1984. 46 Page 1 Page 2 Page 3 Page 4 Page 5 Page 6 Page 7 Page 8 Page 9 Page 10 Page 1 Page 2 Page 3 Page 4 Page 5 Page 6 Page 7 Page 8 Page 9 Page 10 Page 1 Page 2 Page 3 Page 4 Page 5 Page 6 Page 7 Page 8 Page 9 Page 10 Page 1 Page 2 Page 3 Page 4 Page 5 Page 6 Page 7 Page 8 Page 9 Page 10 Page 1 Page 2 Page 3 Page 4 Page 5 Page 6 Page 7 Page 8 Page 9 Page 10 Page 11 Page 12
Compartilhar