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DESCRIÇÃO A origem e a organização da Psicologia e os movimentos da Psicologia no século XX. PROPÓSITO Compreender que o conhecimento de facetas diversas do campo da Psicologia e de seus desenvolvimentos ao longo do século XX e XXI instrumentaliza profissionais a multiplicar suas capacidades e abordagens. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer os movimentos históricos que contribuíram para a organização da Psicologia como ciência MÓDULO 2 Identificar os movimentos da Psicologia do século XX MÓDULO 3 Examinar o marco histórico, os conceitos fundamentais e os métodos da Psicologia Cognitiva MÓDULO 4 Relacionar a Psicologia do século XX com a Psicologia do século XXI INTRODUÇÃO Estudar a história de uma ciência, de uma área do conhecimento humano, permite-nos compreender o propósito, a utilidade desse conhecimento em nossas vidas, em nossa prática profissional e em como exercemos nossa profissão. A Psicologia como uma profissão é restrita ao psicólogo e à psicóloga, devidamente inscritos em um conselho regional de Psicologia. No entanto, a Psicologia como ciência embasa o trabalho de psicólogos, pedagogos, professores, gestores e de qualquer outro profissional que necessite compreender o ser humano para manejar comportamento e cognição dentro de sua prerrogativa profissional. Algumas práticas da Psicologia são, portanto, restritas aos seus profissionais, mas o uso do conhecimento, em interseção com outras profissões, após uma formação de nível superior, para atuar na pedagogia, na docência, na gestão de pessoas, no desenvolvimento de soluções e produtos para as pessoas é possível e desejável. Essa é nossa proposta para você. Vamos nessa? MÓDULO 1 Reconhecer os movimentos históricos que contribuíram para a organização da Psicologia como ciência PERSPECTIVA E ZEITGEIST TODO PONTO DE VISTA É A VISTA DE UM PONTO. LER SIGNIFICA RELER E COMPREENDER, INTERPRETAR. CADA UM LÊ COM OS OLHOS QUE TEM. E INTERPRETA A PARTIR DE ONDE OS PÉS PISAM. TODO PONTO DE VISTA É UM PONTO. PARA ENTENDER COMO ALGUÉM LÊ, É NECESSÁRIO SABER COMO SÃO SEUS OLHOS E QUAL É SUA VISÃO DE MUNDO. ISSO FAZ DA LEITURA SEMPRE UMA RELEITURA. A CABEÇA PENSA A PARTIR DE ONDE OS PÉS PISAM. PARA COMPREENDER, É ESSENCIAL CONHECER O LUGAR SOCIAL DE QUEM OLHA. VALE DIZER: COMO ALGUÉM VIVE, COM QUEM CONVIVE, QUE EXPERIÊNCIAS TEM, EM QUE TRABALHA, QUE DESEJOS ALIMENTA, COMO ASSUME OS DRAMAS DA VIDA E DA MORTE E QUE ESPERANÇAS O ANIMAM. ISSO FAZ DA COMPREENSÃO SEMPRE UMA INTERPRETAÇÃO. (BOFF, 1999) Sem a pretensão de analisar a complexidade revelada nessas poucas linhas do texto de Leonardo Boff, uma palavra atende ao nosso propósito inicial: Perspectiva. Em perspectiva, estudamos Psicologia, em perspectiva, usamos do conhecimento da Psicologia. Fundamentalmente, em perspectiva, buscamos compreender a complexidade dos fenômenos humanos, as pessoas e, também, os eventos históricos da Psicologia. ATENÇÃO Não conseguimos estudar Psicologia desconsiderando o Zeitgeist. Uma ciência não se desenvolve no vácuo, ela usa a tecnologia disponível de sua época e tenta dar respostas às perguntas que são feitas. Essas perguntas (as indagações dos filósofos e dos cientistas) consideram o acúmulo de conhecimento até aquele ponto da história. ZEITGEIST O espírito de uma época. As necessidades de uma época. O clima intelectual e cultural de uma época. A tecnologia está mais avançada no século XXI. Podemos dizer que, atualmente, os filósofos e os cientistas podem fazer perguntas mais complexas, pois detêm mais conhecimentos do que os filósofos e cientistas de meados do século XIX, quando surgiu a Psicologia Científica. Uma frase atribuída a Sir Isaac Newton (1643-1727), cientista do século XVII e cavaleiro da Coroa Real Inglesa, traduz bem essa ideia: javascript:void(0) SE ENXERGUEI UM POUCO MAIS LONGE, FOI POR ESTAR EM PÉ SOBRE OMBROS DE GIGANTES. Fonte: Nicku/Shutterstock Não é recomendado julgar e/ou refutar um dado histórico se você estiver pensando com a cabeça do século XXI, a partir de suas ideias preconcebidas e do que você acha certo ou errado, ou seja, do seu sistema de crenças, de sua perspectiva, eventualmente, nutrida pelo senso comum, pelo conhecimento popular que não tenha sido testado e analisado pelo método da Filosofia ou da ciência. Segundo Schultz (2019), é necessário um distanciamento: ou seja, afastar-se momentaneamente do seu sistema de crenças e também do seu conhecimento do século XXI. Compreenda a perspectiva e o Zeitgeist do momento histórico que estiver estudando. Em ciência, não achamos, não deduzimos, sem antes observar, experimentar, demonstrar evidências. Em ciência, não existe o óbvio. Tudo precisa ser investigado e evidenciado. Com essa postura, você absorverá melhor o conteúdo, compreenderá melhor a nossa história, e, assim, perceberá o propósito e a utilidade daquele conhecimento para não cometer os mesmos erros dos nossos antepassados, para prospectar o futuro, ou compreender como chegamos até o nosso momento histórico do século XXI. Em ciência, algumas vezes, para acertar é necessário errar. É a partir dos erros que alguns pesquisadores ficam inquietos, buscam evidências válidas e fidedignas para refutar o erro e alcançar evidências de maior qualidade. Os erros são tão relevantes quanto os acertos. VAMOS ANALISAR UM EXEMPLO PRÁTICO DO QUE TRATAMOS ATÉ AQUI? O que você diria se disséssemos que sua inteligência e suas características de personalidade podem ser medidas pelo tamanho de sua cabeça e do formato do seu crânio? Isso faria sentido? Pode parecer estranho, mas os primeiros indivíduos a tentar entender como funcionava a mente humana partiram do método de dissecação de corpos e do exame do cérebro, buscando compreender sua estrutura e a relação entre suas partes e as funções que desempenhava. Vamos conhecer um pouco mais sobre os caminhos dos estudiosos da mente. SAIBA MAIS Nos dias atuais, afirmamos que a Frenologia é uma pseudociência, mas, em 1796, o alemão Franz Joseph Gall (1758-1828) exerceu influência na Psicologia e na psiquiatria com essa teoria. Com a Frenologia, Gall acreditava ser possível estudar as aptidões mentais analisando o tamanho e o formato do crânio. Por muitos anos, o tamanho e o formato do crânio de Gall e de outros estudiosos da Frenologia foram considerados, por eles mesmos, o padrão de excelência e um exemplo do melhor da espécie humana. Atualmente, essa ideia é um absurdo. No entanto, não podemos achar que esse conhecimento seja inútil, pois, em ciência, não chegamos a conclusões simplesmente por pensarmos que algo é obviamente verdadeiro ou falso. Precisamos buscar evidências. Isso quer dizer que só foi possível descartar essa teoria, porque esta foi posta à prova. Entretanto, as ideias de Gall de que algumas características são específicas de certas áreas do cérebro se sustentaram em momentos posteriores. Em ciência, aproveitamos o que é útil, como uma evidência consistente, e descartamos o resto, mas sem esquecer esse resto, pois, assim, evitamos cometer os mesmos erros no futuro (ao menos isso é o desejável). A Psicologia é recheada de exemplos de acertos e erros. Os erros nem sempre são oriundos de pseudociências, mas podem ser também resultado do método científico levado a sério, ético e rigoroso (errar faz parte – perceba, com humor, que “herrar é umano” –, mas permanecer nesse “herro” é obscurantismo). Entendemos como pseudociência algo que se diz ciência, mas que não é. Até nos dias atuais, precisamos ficar atentos e ser críticos. Podemos encontrar informações que se dizem embasadas no método científico, mas são pseudociências. Devemos ter cuidado e não acreditar em tudo, só porque dizem que é ciência. Nessa jornada fantástica, podemos perceber como algumas discussões são fundamentais e demonstrar que teses e hipóteses foram testadas e não se sustentaram quando passaram pela prova, como ocorreu com a Frenologia. Assim, podemos afirmar, em pleno século XXI, com evidênciascientíficas robustas, que somos seres únicos, ninguém é melhor do que ninguém, existe um lugar no mundo para os extrovertidos e para os introvertidos. Não existe raça superior, o melhor tratamento para o doente mental não é ser descartado em um hospício e a orientação sexual de uma pessoa só importa a ela mesma. A Psicologia Científica é autônoma e não se confunde com dogma religioso. Portanto, as discussões polêmicas que as civilizações se propuseram a debater, como a questão da raça, foram submetidas a contestações científicas e amplos estudos e evidências científicas demonstraram sua ineficácia de partida. Por exemplo: a Eugenia como uma hipótese não se sustenta para os seres humanos, pois apresenta sérios conflitos éticos. A homossexualidade não é uma doença para ser tratada. Na escola, não devemos separar as crianças por dificuldades de aprendizado e/ou outras condições como surdez, autismo etc. Entre outras discussões delicadas, só com reflexões e críticas amparadas pela ciência prosseguimos absorvendo as transformações pelas demandas sociais e atuando de forma a promover bem-estar e qualidade de vida. A seguir assista a um vídeo sobre o tema Caminhos e descaminhos da psicologia. Dessas discussões e pesquisas ao longo da nossa história, surgem os argumentos para projetos individualizados para educação, mas sem desconsiderarmos a inclusão, e promovendo uma educação para o convívio com as diferenças. Por exemplo: os doentes mentais, em certas circunstâncias, ficarão internados, mas as comunidades terapêuticas são uma solução viável, em vez de internações de longa permanência. Várias estratégias vêm sendo desenvolvidas a partir de erros e acertos, para promovermos tolerância, compaixão, autocompaixão, saúde, e bem-estar físico e emocional. Buscamos os acertos e as evidências científicas, bem como caminhos mais éticos, humanizados, integradores. Mas, para acharmos a ética, em algum momento da história, foi necessário perdê-la. Para achar nossa humanidade, em algum momento da história, foi necessário nos depararmos com práticas desumanas. Para chegarmos às estratégias e ao manejo que promovem inclusão, foi necessário que vivenciássemos as consequências econômicas, sociais, éticas e políticas das práticas segregacionistas. Infelizmente, não aprendemos com todos os erros e, em parte de nossa civilização e de nossa sociedade, ainda encontraremos mazelas, mas estamos em tempos melhores como humanidade do que já estivemos em outras épocas. A história da Psicologia como ciência demonstra como essa área tem sido importante: Para a escola, os pedagogos, professores e ensinantes compreenderem o desenvolvimento humano e determinarem melhores estratégias de aprendizagem, considerando a maturação biológica, o funcionamento do cérebro e o perfil cognitivo do aprendente. Para organizações e instituições desenvolverem melhores práticas na gestão de pessoas. Para o estabelecimento de tratamentos mais humanizados na saúde mental, bem como de práticas para a promoção de saúde, negócios e neuromarketing. Para psicoterapia, para avaliação psicológica, neuroPsicologia, entre outras possibilidades de atuação do psicólogo e da psicóloga. Os eventos históricos são fundamentais para evitar equívocos e não repetir algumas práticas que trouxeram mais confusão do que solução. Analisar a história, compreender nosso passado, ajuda-nos a imaginar o futuro e a direcionar melhor nossos esforços. Essa história é nossa. Ela é sua. É da nossa civilização, para o bem ou para o mal. A Psicologia como ciência e profissão, no Brasil do século XXI, tem sido posicionada de modo a evitar os erros da história, buscando o caminho do bem, promovendo os direitos universais humanos, a inclusão, a tolerância, a ciência, mas sabendo que: todo ponto de vista é a vista de um ponto (BOFF, 1999). Por onde começamos? A Psicologia, como ciência, foi influenciada por inúmeros pensadores, cientistas, movimentos e áreas. Citamos alguns: INFLUÊNCIAS DA FILOSOFIA A história da Psicologia está imersa na história do desenvolvimento do pensamento humano, na história da Filosofia: é assim que a Psicologia se organiza. Até certo ponto, a história da tradição filosófica é a história da Psicologia. Isso inclui o período da Grécia Antiga com os mitos gregos, a exigência racional com Tales de Mileto, Pitágoras, Heráclito e Parmênides, Sócrates, os Sofistas, Platão, Aristóteles. A Filosofia aborda o objeto que deseja conhecer por intermédio da razão, da argumentação (indutiva e dedutiva), da lógica, da retórica. Esses métodos são necessários para questionar o que é o conhecimento, os tipos de conhecimento, o que é verdadeiro nesse conhecimento. A Filosofia também se ocupa das falácias do conhecimento, ou seja, dos erros da argumentação filosófica, mas que convencem e enganam. Uma falácia do conhecimento sempre vem disfarçada de boas intenções e, eventualmente, confirma ideias do senso comum, confirma os desejos e as opiniões de algumas pessoas, e por isso convence os mais ingênuos. O papel da Filosofia, de apontar as falácias do conhecimento, é fundamental para nossa civilização, para os psicólogos, para os educadores (ensinantes), para os gestores, para o cidadão. As falácias do conhecimento estão em nosso passado, mas também no presente. O pensamento filosófico é uma vacina poderosa contra o obscurantismo e contra tais falácias, pois desenvolve o pensamento crítico. INFLUÊNCIA DE MOVIMENTOS E ESTUDOS René Descartes. Fonte: Wikipedia Mecanicismo, a doutrina filosófica do século XVII, pela qual todos os fenômenos se explicam pela causalidade; pela discussão dos Racionalistas (tese) e dos Empiristas (antítese) e pela síntese do filósofo Immanuel Kant, no século XVIII. René Descartes (1596-1650). A publicação relevante para nossa discussão é de 1637: Discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência. javascript:void(0) Charles R. Darwin. Fonte: Wikipedia A Origem das Espécies (1872), livro publicado por Charles R. Darwin (1809-1882), abordou o desenvolvimento filogenético das espécies, incluindo a espécie humana. Isso aproxima os seres humanos de outras espécies que habitam o planeta em uma corrida por adaptabilidade e sobrevivência. Nossa espécie Homo sapiens (homem sábio), com as características morfológicas atuais, tem 350 mil anos; as características comportamentais modernas, cerca de 50 mil anos. Essas evidências são importantes para a delimitação da Psicologia como ciência e para o movimento do Funcionalismo com o estudo do papel adaptativo da consciência, em vez do seu conteúdo. EMPIRISMO Há vários representantes no movimento conhecido como Empirismo inglês. Destaque para a “mente como uma tabula rasa”, na publicação Ensaio Sobre o Entendimento Humano, do filósofo John Locke (1632-1704). Desde o início da Idade Moderna até a época do Iluminismo, os filósofos especularam sobre o funcionamento da mente humana, com o intuito de determinar por meio de quais processos o conhecimento é produzido. A ideia de que a faculdade da razão era o que possibilitava o saber não era exatamente nova: já na Grécia Antiga e durante a Idade Média atribuía-se à razão essa função. No entanto, a compreensão de seu funcionamento ainda representava um desafio. John Locke concebeu a mente como uma espécie de folha em branco, ou tabula rasa, onde a experiência sensorial deixava suas impressões, assumindo, assim, que não havia pressupostos preestabelecidos, tanto para o pensar quanto para o agir. Outros pensadores, como René Descartes e Gottfried Leibniz (1646-1716), posicionavam-se de maneira diferente em relação à questão, pois, para eles, havia funções da consciência humana que não poderiam ser resultado da mera experiência sensorial, como as categorias do pensamento, o mecanismo das inferências lógicas, a noção de causalidade e o sentido do propósito. Independentemente do mecanismo, para os pensadores iluministas, aespeculação precedente abriu uma porta para o funcionamento da mente humana que não poderia mais ser fechada. O debate sobre o mecanismo racional envolvia desde a ideia de que uma porção “divina” nos oferecia o sentido da verdade, do belo e do correto, até uma crítica necessária da “Razão Pura”, empreendida por Immanuel Kant. Outros pensadores afirmaram ainda que as ideias deviam seu processo de construção às dinâmicas sociais, interpretações e relações do sujeito com o meio. Nesse contexto, destaca-se o pensamento dialético de Hegel (1770-1831). O conceito de dialética apresentado pelo autor defende que os seres humanos constroem e reconstroem os seus conceitos. Seja em expedientes sociais, seja nas concepções artísticas, para Hegel, esse processo deve ser descrito como uma espiral constante. As sociedades – e os indivíduos que nelas vivem – estão sempre ancorados em teses, naturalizadas em seu cotidiano e assumidas como verdadeiras. Entretanto, no processo histórico, essas teses são constantemente contrastadas, negadas, enfrentadas, e desse enfrentamento, entre tese e antítese, emerge sempre algo novo, uma síntese (por isso espiral), que, posteriormente, será consolidada no meio social, tornando-se a tese então vigente. Fonte: Chantal de Bruijne/Shutterstock INFLUÊNCIA DA PSICOFÍSICA A Psicofísica demarca uma mudança de abordagem. Eventualmente, você pode ler que a Psicologia, em sua fundação, rompe com a Filosofia, mas essa afirmação está equivocada. PSICOFÍSICA Psicofísica é a relação entre um estímulo em seu aspecto físico e a resposta consciente do sujeito. Toda ciência precisa de uma base filosófica consistente para operar: a isso chamamos de bases epistemológicas. javascript:void(0) javascript:void(0) EPISTEMOLOGIA Filosofia da ciência ou, dependendo do momento histórico, teoria do conhecimento. A inovação dos psicofísicos é empregar o método experimental para estudar uma Psicologia Sensorial, uma Fisiologia experimental, não romper com o pensamento filosófico, buscando evidências empíricas por meio do método experimental e de resultados reprodutíveis. É fundamental conseguir dados constantes, não apenas as especulações, induções e deduções filosóficas. A teoria da evolução das espécies, os avanços da Fisiologia experimental com os psicofísicos, correlacionando nosso aparato sensorial à mente humana, a rigor, aos estados conscientes dessas sensações, além do Zeitgeist do século XIX, impulsionaram a criação do primeiro laboratório de Psicologia, em 1879, na Alemanha. SENSAÇÕES Tecnicamente, na Psicologia Científica, as sensações são os nossos sentidos: visão, audição, olfação, paladar, tato, propriocepção. Isso se difere da percepção. Enquanto as sensações são descritas puramente em termos fisiológicos e por uma linguagem neural (sinapses), as percepções são descritas como uma função psicológica. SAIBA MAIS Para compreender o plano de fundo e o Zeitgeist do século XIX, é preciso considerar que os métodos das ciências naturais estavam em alta, e a Psicologia precisava seguir esse caminho. A Fisiologia foi uma resposta possível. O espírito metódico e rigoroso dos pensadores alemães construiu o ambiente propício para o desenvolvimento de uma Fisiologia experimental. javascript:void(0) Aparelhos tecnológicos estavam sendo desenvolvidos. Além disso, a influência do Empirismo inglês, que preconizava a necessidade de se estudar os sentidos e como estes podem levar ao erro, foi fundamental em um contexto social em que havia urgência de se fazer ciência, devido à predominância do espírito positivista, que defendia o método experimental. Nesse contexto, o conhecimento científico era considerado a via mais segura para se construir um conhecimento verdadeiro. ORIGENS E CIENTISTAS No século XX, a medida em Psicologia, ou seja, a mensuração de construtos psicológicos, era, basicamente, de natureza cognitiva, por intermédio de testes psicológicos das diferenças individuais. Isso quer dizer compreender as particularidades de uma pessoa, por exemplo, mensurando o nível de inteligência ou investigando os traços de sua personalidade e correlacionando a dificuldades escolares ou ao desempenho em determinada área no mercado de trabalho. Na Psicologia, considerando a segunda metade do século XIX, as primeiras medidas não eram de natureza psicológica, mas Psicofísicas – uma Psicologia Sensorial. Essa influência da Fisiologia, por meio das primeiras medidas Psicofísicas, buscava as regularidades e os padrões da nossa Fisiologia, ou seja, o geral, não o particular ou as singularidades. SINGULARIDADES O que não é padrão, o que se tem de resultado ímpar em uma movimentação que tende a ser recorrente. WILHELM M. WUNDT (1832-1920) javascript:void(0) Ficou registrado na história como o responsável pelo marco fundante da Psicologia Científica. Foi esse pesquisador que, em 1879, delimitou em seu laboratório, fundado na Universidade de Leipzig, na Alemanha, o Psychologische Institut (Instituto Psicológico). https://commons.wikimedia.org/ Wilhelm M. Wundt Outros psicofísicos precederam o primeiro laboratório de Psicologia e trabalharam juntos (ou separados) a Wundt. Lembre-se de que uma ciência não se desenvolve no vácuo, mas em um continuum de acúmulo de conhecimento e tecnologia. Os psicofísicos estavam abrindo as portas para uma Psicologia Científica, e Wundt era um deles. Eles concordavam entre si e/ou se criticavam. Acertaram e erraram. Mas sempre persistiram. ERNST WEBER (1795-1878) Desenvolveu estudos para discriminar a distância tátil perceptível entre dois pontos (limiar de dois pontos), ou seja, a relação de uma estimulação física (sensação) e uma percepção (mental). https://commons.wikimedia.org/ Ernst Weber (1795-1878) GUSTAV THEODOR FECHNER (1801-1887) Fechner disputa com Wundt o título de pioneiro da Psicologia Experimental e da própria Psicologia, embora suas primeiras contribuições para as ciências tenham se desenvolvido nos campos da matemática e da física. Posteriormente, devido a uma crise pessoal e influenciado pelo filósofo alemão Friedrich Schelling (1775-1854), passou a interessar-se por questões psicológicas e religiosas. https://commons.wikimedia.org/ Gustav Theodor Fechner De acordo com sua concepção de Paralelismo Psicofísico, as realidades física e psíquica não estariam em oposição, mas constituiriam aspectos de uma mesma realidade essencial. Fechner demonstrou que o mundo mental e o mundo material estão relacionados quantitativamente; e que se pode medi-los. HERMANN VON HELMHOLTZ (1821-1894) Foi pioneiro em medir a velocidade do impulso nervoso, de uma estimulação sensorial tátil até a resposta, ou seja, o movimento motor resultante. Para a Psicologia, isso foi importante na ideia de que o pensamento e o movimento se seguem um ao outro, e o intervalo entre um pensamento e um movimento resultante poderia ser medido. https://commons.wikimedia.org/ Hermann von Helmholtz Esses estudos, inovadores na época, foram gradualmente encorajando Wundt a conseguir os recursos e o espaço necessários para fundar um Instituto de Psicologia na Universidade de Leipzig. Antes desses estudos, a mente humana era abordada apenas pelos argumentos filosóficos, fundamentais, mas incapazes de demonstrar como a mente funciona e/ou se estrutura em aspectos fisiológicos. https://en.wikipedia.org/ Wilhelm Wundt (sentado) com colegas em seu laboratório psicológico, o primeiro desse tipo. Wundt prosseguiu usando o método experimental, mas diferentemente de seus antecessores e contemporâneos, estava mais focado em delimitar o campo da nova ciência (Psicologia) e o seu objeto de estudo (consciência). Buscou definir a consciência e descrever o caráter de seus elementos básicos. A maneira de estudá-la foi a introspecção, ou seja, a observação da experiência consciente. Uma forma de auto-observação guiada. O exame do próprio estado mental. Mas negou que a Psicologia seriacapaz de estudar funções superiores. Alguns pesquisadores seguiram Wundt, mas outros o contestaram, desenvolvendo uma Psicologia não wundtiana: Hermann Ebbinghaus (1850-1909) estudou a aprendizagem e memória (funções superiores). Franz Brentano (1838-1917) fez uma distinção entre o conteúdo mental e a atividade mental. Muitos cientistas somaram esforços para delimitar esse campo de estudo no século XIX e essa nova Psicologia resultou em duas escolas: o Estruturalismo e o Funcionalismo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTUDAMOS EVENTOS HISTÓRICOS QUE ESTÃO NO ALICERCE DA PSICOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA E UMA PROFISSÃO. QUAIS CUIDADOS DEVEMOS TER, PARA ESTUDAR DETERMINADO CONTEÚDO DA NOSSA HISTÓRIA, PARA TORNÁ-LO ÚTIL E SIGNIFICATIVO NO TEMPO PRESENTE: A) Considerar o Zeitgeist e usar do conhecimento do senso comum para dar sentido em minha vida cotidiana. B) Usar o método filosófico para evitar as falácias do conhecimento e o método científico para coletar evidências. C) Usar o método filosófico para, por meio da razão, desenvolvermos o conhecimento científico. D) Todo ponto de vista é a vista de um ponto. O método científico nem sempre trará um resultado para a Psicologia, como uma ciência e uma profissão, por causa dos erros e das pseudociências. 2. A PSICOLOGIA CIENTÍFICA É DO SÉCULO XIX E ROMPE COM A FILOSOFIA PARA DELIMITAR-SE COMO UMA CIÊNCIA. EVENTO QUE É UM MARCO DE 1879 COM WUNDT FUNDANDO O PRIMEIRO LABORATÓRIO DE PSICOLOGIA EXPERIMENTAL. ANALISE ESSA AFIRMAÇÃO E RESPONDA: A) Afirmativa correta. A Psicologia deixa de ser estudada pela Filosofia e passa a ser investigada pelo método científico. B) Afirmativa correta. Por uma exigência do positivismo, a Psicologia abandona a Filosofia. C) Afirmativa errada. A Psicologia Científica, como a conhecemos, foi fundada no século XX por Titchener nos Estados Unidos da América. D) Afirmativa errada. A Psicologia Científica amplia a abordagem dos fenômenos psicológicos pelo método experimental, mas não rompe com a Filosofia. GABARITO 1. Estudamos eventos históricos que estão no alicerce da Psicologia como uma ciência e uma profissão. Quais cuidados devemos ter, para estudar determinado conteúdo da nossa história, para torná-lo útil e significativo no tempo presente: A alternativa "B " está correta. Ao ler sobre esses eventos e essas ideias, é natural interpretá-los a partir de determinado ponto de vista e, eventualmente, compará-los ao tempo presente e ao meu sistema de crenças que vai julgar o certo e o errado, tipicamente, pelas ideias do senso comum. Mas, em ciência, usamos o método filosófico para delimitar as bases epistemológicas e o método científico para colher as evidências. 2. A Psicologia Científica é do século XIX e rompe com a Filosofia para delimitar-se como uma ciência. Evento que é um marco de 1879 com Wundt fundando o primeiro laboratório de Psicologia Experimental. Analise essa afirmação e responda: A alternativa "D " está correta. Toda ciência, para operar, necessita dos argumentos filosóficos para delimitar o seu campo de estudo e os seus métodos. Chamamos isso de bases epistemológicas. MÓDULO 2 Identificar os movimentos da Psicologia do século XX ESTRUTURALISMO Na transição do século XIX para o início do século XX, a Psicologia alcançou visibilidade nas universidades dos Estados Unidos e da Europa, notadamente na Alemanha, e o ritmo de seu desenvolvimento foi marcado pelos movimentos do Estruturalismo e do Funcionalismo. Fonte: https://pt.wikipedia.org Edward B. Titchener Em 1896, nos Estados Unidos, o britânico Edward B. Titchener (1867-1927), discípulo de Wundt, divulgou um projeto diferente do de seu professor, em termos epistemológicos. Titchener e seus colaboradores identificaram mais de 40 mil qualidades e sensações, e afirmavam que cada elemento era consciente e poderia ser combinado para formar percepções e ideias. Esses elementos eram determinados pela qualidade, intensidade, duração e nitidez. Todos os processos conscientes e perceptuais poderiam ser reduzidos a esses elementos que, em última análise, são os átomos do pensamento. O reducionismo de chegar ao átomo do pensamento era uma exigência do Zeitgeist – aproximar a Psicologia das ciências naturais e do espírito positivista. Titchener treinou vários observadores a descrever o seu estado consciente em vez de descrever o estímulo, por intermédio de uma introspecção experimental sistemática. O pesquisador criticava que, até então, os instrumentos de medida da Fisiologia experimental aplicados à Psicologia, como taquistoscópio e o cronoscópio, eram mais importantes do que o próprio observador. Por isso, havia a urgência em treiná-los para empregar a introspecção. Fonte: www.grahamfoundation.org Edward B. Titchener, Um fantasma do curso das fibras no cérebro humano, 1895, Photographic Album on Psychological Instruments, EUA. Fonte: Nikita/Shutterstock EXERCÍCIO O que você vê? Uma maçã? Resposta errada. Um objeto vermelho? Resposta errada. Analise suas sensações e descreva essa percepção, detalhando sua experiência consciente. A diferença entre luz e sombra, de tons, intensidade, duração e nitidez dessa experiência consciente. Pois é, não é fácil compreender a introspecção experimental sistemática. FUNCIONALISMO O norte-americano William James (1842-1910) publicou, em 1890, o texto Princípios da Psicologia, que se transformou nas bases do Funcionalismo nos Estados Unidos no século XX. Ele foi um representante da escola do pragmatismo e do Funcionalismo. James não estava interessado nos átomos do pensamento, mas na experiência imediata que um objeto impunha à consciência, ou seja, um fenômeno. Suas principais teorias são os estudos sobre a emoção, sua origem e função, com grande impacto para a Psicologia no século XX. Fonte: Autor/Shutterstock William James (1842-1910) James acreditava que uma alteração fisiológica no organismo levaria a uma emoção, ideia que foi corroborada em um estudo independente pelo fisiologista Carl G. Lange (1834-1900), psicólogo dinamarquês. Na perspectiva desses autores, não experimentamos uma emoção se não houver uma alteração fisiológica no organismo. Assim, o corpo reagiria de modo diverso aos eventos ambientais causadores de emoções, e as experiências emocionais nada mais seriam do que uma tentativa de dar sentido à alteração no organismo. EXEMPLO Se você escuta um barulho muito alto, como uma explosão, esse evento ambiental vai aumentar seu batimento cardíaco, causar sudorese, respiração mais rápida e curta, e o resultante disso é sua percepção de medo. Essa é a teoria James-Lange para explicar uma emoção. Os funcionalistas sofreram influência da teoria da evolução das espécies e estavam mais interessados no papel adaptativo da consciência, dos hábitos, da emoção, ou seja, em suas respectivas funções. Para os funcionalistas, isso era mais válido e pragmático do que investigar o conteúdo da consciência em termos estruturais. javascript:void(0) PRAGMATISMO Doutrina da Filosofia que define os critérios de utilidade do conhecimento. No início do século XX, entre 1901 e 1913, a Psicologia norte-americana vivenciou o debate, muitas vezes, fundamentalista e não amistoso, entre estruturalistas e funcionalistas. Na Europa, observamos outras discussões. A HISTÓRIA EM PERSPECTIVA Fonte: https://pt.wahooart.com A Marcha da Humanidade, por David Alfaro Siqueiros. Nesse pequeno espaço, é difícil contar tudo o que acontecia na Europa e nos Estados Unidos, pois existiam intercâmbios e influência mútua, mas é uma escolha didática destacar aquilo que era mais evidente nessas localidades. Igualmente difícil é narrar todas as influências, perspectivas e os acontecimentos que tiveram impacto na formação da Psicologia como ciência entre 1879 e o fim do século XX, pois a proposta deste tema é dar uma visão panorâmica. [...] A CABEÇA PENSA A PARTIR DE ONDE OS PÉS PISAM [...] (BOFF, 1999) Antes de prosseguirmos,vamos analisar o que se desenvolveu ao longo do século XX, por influência da Psicologia do século XIX. UMA HISTÓRIA À PARTE A Psicanálise é uma história à parte da Psicologia, mas que exerce grande influência nos psicólogos, pedagogos, médicos psiquiatras, neurocientistas, entre outros interessados no estudo das funções psicológicas humanas. Erros de tradução colocam Sigmund S. Freud (1856-1939), em certos livros, como um teórico do instinto, mas isso está equivocado. A palavra instinto não se aplica a Freud, pois ele não usou o termo Instinkt (instinto, em alemão). Para os seres humanos, ele usou Trieb, traduzido como impulso ou pulsão. Fonte: https://commons.wikimedia.orgk Sigmund S. Freud Freud também apresenta sua teoria sobre o desenvolvimento psicossexual (fase oral, anal, fálica, período de latência, genital). Lembra-se de quando abordamos o tópico perspectiva e Zeitgeist? Nesse aspecto, do desenvolvimento psicossexual, a Psicanálise é mal compreendida por leigos e pelo senso comum. ATENÇÃO Não reproduza esses enganos, mas busque compreender a perspectiva do autor. De maneira geral, uma teoria do impulso, como compreensão do funcionamento humano, concentra-se em explicar como o nosso comportamento mantém o organismo em equilíbrio. A experiência psicológica de um desequilíbrio interno seria um impulso, ou seja, o “energizador” do comportamento. Por exemplo, a sede é um desconforto psicológico para a necessidade de ingestão de líquidos. As teorias do impulso explicam comportamentos e são focadas nas causas, em nosso funcionamento interno, na Fisiologia e/ou na estrutura da nossa mente. Não é incomum compararmos a proposta libidinal (Energia mental) de Freud com um sistema hidráulico. Imagine uma caixa de água sendo abastecida: se a boia da caixa falhar, a água escorrerá por um mecanismo de escape para fora da casa, um meio simples de segurança para sua casa não ser inundada pela água. Vamos descrever com essa analogia o funcionamento da mente humana na perspectiva desse autor: à medida que os impulsos corporais acumulam energia (por analogia, a água de nosso sistema hidráulico), a experiência psicológica resultante é um aumento da ansiedade, um desconforto psíquico. Então, é preciso proteger, por meio de um mecanismo de escape (como aquele presente na caixa-d’água), nossa saúde física e mental (para evitar a inundação de nossa residência). Freud descreverá minuciosamente esses mecanismos de defesa. Ele elenca três estruturas do aparato psicológico humano que vivem em uma interação dinâmica e, digamos, medindo forças: https://www.wikiart.org A girafa ardente, por Salvador Dalí Id (evita a dor e maximiza o prazer). https://www.wikiart.org Figura Clássica e Cabeça (inacabada), por Salvador Dalí Ego (o aspecto racional da personalidade). https://www.wikiart.org A Madonna de Port Lligat, por Salvador Dalí Superego (a introjeção da moral da sociedade em nossa estrutura de personalidade). O Id, como uma estrutura psíquica inata, é regido pelo princípio do prazer e pela busca da satisfação imediata; representa, por analogia, a pressão da água que chega à nossa caixa. Essa pressão é constante e buscamos objetos que sejam capazes de satisfazer o desconforto psíquico. Como não podemos atender às pressões mais primitivas em busca do prazer, devido à ação do Superego e dos mecanismos de defesa, eventualmente, adoecemos, pois não podemos buscar os objetos que, de fato, desejamos. Esse adoecimento, muitas vezes, não apresenta os motivos para consciência (para o ego). A produção intelectual da Psicanálise, inicialmente, foi direcionada para a saúde mental e para o tratamento clínico de enfermidades mentais. Uma inovação para a época. Durante o século XX, a Psicanálise foi empregada de maneira mais ampla para compreender diversas manifestações humanas, uma vez que se constitui como uma teoria da personalidade e do desenvolvimento humano. Pode ser aplicada na Psicopedagogia, na Psicoterapia, na Educação, na Saúde e para práticas institucionais e comunitárias. A Psicanálise sofreu algumas variações, ao longo do século XX, nas mãos de outros autores que discordaram de certos aspectos da abordagem de Freud e/ou ampliaram algo que anteriormente não tinha sido abordado ou aprofundado. Para encerrar esse tópico, falaremos sobre Carl Gustav Jung, cuja teoria dos tipos psicológicos é amplamente utilizada como orientação profissional, no levantamento do estilo de aprendizagem de uma pessoa e seus interesses; isso pode ser utilizado no planejamento de projetos educacionais, bem como na seleção de pessoas em recursos humanos. https://de.wikipedia.org Carl Gustav Jung Carl Gustav Jung (1875-1961) foi um discípulo de Freud, mas romperam relações por divergências teóricas. O seu sistema é conhecido como Psicologia Analítica que é aplicada na psicoterapia, em saúde mental e na avaliação da personalidade. A tipologia de Myers-Briggs (classificação tipológica de Myers-Briggs) é um instrumento padrão-ouro para avaliação da personalidade (MBTI). Outro teste que é amplamente utilizado no Brasil é o Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI). Ambos os recursos são de uso restrito do psicólogo e da psicóloga. Fonte: https://pt.wikipedia.org Sigmund Freud, Stanley Hall, Carl Gustav Jung, Abraham Arden Brill, Ernest Jones e Sándor Ferenczi em fotografia de 1909. No Brasil, o uso e a comercialização de testes psicológicos são restritos aos profissionais da Psicologia com inscrição ativa em um conselho regional de Psicologia. Existem questões técnicas e psicométricas delicadas para garantir a correta utilização e fazer inferências corretas sobre a população brasileira. PSICOMÉTRICAS Trata-se do embasamento para a medida em Psicologia. javascript:void(0) BEHAVIORISMO (COMPORTAMENTALISMO) O Behaviorismo, também conhecido como Comportamentalismo, tem como objeto de estudo a análise científica dos comportamentos humano e animal. Busca descrever as circunstâncias relevantes para que um comportamento seja instalado no repertório comportamental de uma pessoa e o que é preciso para modificar esse comportamento, quando necessário. Desse modo, é possível evidenciar por que determinada pessoa se comporta dessa ou daquela maneira, os motivos de alguma decisão, e prever e alterar os possíveis comportamentos futuros. Nenhum sistema teórico, ou perspectiva psicológica, como vimos, surge em um vácuo, mas pelo acúmulo de conhecimento e pelo avanço da tecnologia. O Behaviorismo foi um protesto contra a Psicologia Wundtiana, a consciência como objeto de estudo e a introspeção como um método. BEHAVIORISMO Behaviorismo é um neologismo, criação de uma nova palavra a partir de outra já existente. Behavior (inglês) = comportamento. ORIGEM DO BEHAVIORISMO Em 1913, John Broadus Watson publicou o artigo A Psicologia como um behaviorista a vê, no qual expõe os principais posicionamentos científicos da Psicologia Comportamental. Watson propõe defini-la como uma ciência do comportamento, já que esta é fisicamente observável: é possível ver as pessoas andarem, comerem, conversarem, mas é difícil observar seus pensamentos e sentimentos. Vamos ver um exemplo. javascript:void(0) javascript:void(0) Podemos dizer que comemos porque sentimos fome. Você já parou para pensar nos eventos que fazem parte dessa contingência, ou seja, da probabilidade de um evento ser causado por outro evento? JOHN BROADUS WATSON John Broadus Watson (1878-1958) foi um cientista que fez conferências em que rejeitava as abordagens estruturalistas e funcionalistas e afirmava o abandono de métodos introspectivos. Inseriu a Psicologia como uma ciência que deveria ter um objeto natural e aplicações práticas para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Estudou os reflexos aprendidos e as reações emocionais básicas (incondicionadas – medo, raiva, amor) e complexas (condicionadas). autor/shutterstock MOMENTO 1 Podemos dizer que houveum período de privação de comida. autor/shutterstock MOMENTO 2 Durante essa privação, os processos associados à homeostase causam a sensação de fome materializada na consciência através de pensamentos sobre comida e/ou estratégias para saciar a fome (ir a uma lanchonete ou fritar um ovo na cozinha). autor/shutterstock javascript:void(0) MOMENTO 3 Com a sensação, você se dirige à cozinha, para fritar um ovo ou outro alimento de sua preferência, ou vai até uma lanchonete, e come. HOMEOSTASE Processo fisiológico que faz a manutenção da vida e busca o equilíbrio interno no organismo; por exemplo, a experiência na consciência de sede e fome é resultado de processo homeostático. Os momentos 1 e 3 podem ser observados diretamente. O momento 2 é encoberto aos olhos de um observador externo e só pode ser descrito pela introspecção, mas esse método é falho, na medida em que dois ou mais introspectistas podem experimentar ideias diferentes a respeito do fato. Essa é uma crítica feita pelos funcionalistas para os estruturalistas, embora os funcionalistas tenham continuado com a introspecção até o manifesto behaviorista de 1913. Os introspectistas, pela Psicologia Wundtiana, tratariam o momento 2, a sensação de fome, como a causa do momento 3, o comportamento de comer. Essa é a base do pensamento mentalista ingênuo, crítica feita pelos behavioristas: “como, porque sinto fome”. Se a fome é resultado da privação de comida, pode-se desconsiderar a causa mental, os pensamentos, a sensação, porque não é possível estudar os eventos só acessíveis pela introspecção. A tese do Behaviorismo é se preocupar somente com os fatos naturais, facilmente mensuráveis. Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) recebeu influência de Watson e Thorndike e estabeleceu a distinção entre o Behaviorismo radical e o metodológico, além de descrever a aprendizagem por contingência (probabilidade de um evento ser causado por outro; relação entre eventos ambientais). Fonte: https://commons.wikimedia.org Burrhus Frederic Skinner Skinner buscava descrever contingências, como elas ocorrem e são mantidas. O Behaviorismo apresenta protocolos interessantes para o manejo do comportamento na escola, nas organizações etc. Na perspectiva desse autor, o cérebro é um depositário de contingências, ou seja, armazena nossas experiências e os padrões do nosso repertório comportamental. As ideias essenciais de Skinner são reveladas em algumas frases: SEJA INATO OU ADQUIRIDO, O COMPORTAMENTO É SELECIONADO POR SUAS CONSEQUÊNCIAS. (SKINNER, 1983, p.155) UM EU OU UMA PERSONALIDADE É, NA MELHOR DAS HIPÓTESES, UM REPERTÓRIO DE COMPORTAMENTO PARTILHADO POR UM CONJUNTO ORGANIZADO DE CONTINGÊNCIAS. (SKINNER, 1974, p.130) O COMPORTAMENTO É UMA FUNÇÃO CONJUNTA DE CONTINGÊNCIAS FILOGENÉTICAS, AQUELAS QUE OPERAM NOS AMBIENTES ANCESTRAIS DURANTE A EVOLUÇÃO DE UMA ESPÉCIE, E DE CONTINGÊNCIAS ONTOGENÉTICAS, AS QUE OPERAM DURANTE A INTERAÇÕES DE UM ORGANISMO COM SEU AMBIENTE, DURANTE SUA PRÓPRIA VIDA. (SKINNER, 1966) PSICOLOGIA DA GESTALT A Psicologia da Gestalt é uma importante perspectiva da Psicologia. Foi crítica à Psicologia Wundtiana; à Lei do Efeito, de Thorndike (1874-1949), nos Estados Unidos; e à Psicologia do Reflexo, de Pavlov (1849-1936), na Rússia. PSICOLOGIA DA GESTALT Não confunda com Gestalt terapia, pois são movimentos diferentes. javascript:void(0) As principais personalidades desse movimento foram: Max Wertheimer (1880-1943); Kurt Koffka (1886-1941); Wolfgang Köhler (1887-1967). Os gestaltistas aceitavam o objeto de estudo da Psicologia Wundtiana, a consciência, mas negavam-se a aceitar que o seu estudo acontecesse pela busca de seus elementos. Nesse aspecto, concordavam com a crítica que William James estabeleceu aos estruturalistas. De certo modo, a Psicologia da Gestalt foi um movimento funcionalista, mas ao estilo alemão; foi influenciada pela Filosofia de Immanuel Kant (1724-1804), e de Franz Brentano e pelo movimento fenomenológico alemão. Max Wertheimer foi o precursor da Psicologia da Gestalt, sendo o principal fundador desse movimento. Em 1912, descreveu o movimento Phi, um fenômeno que demonstrou as propriedades da percepção humana e serviu de base para a tese inicial da Gestalt se opor a outros sistemas teóricos. Fonte: https://pt.wikipedia.org MOVIMENTO PHI No fenômeno Phi, uma sequência de imagens foi apresentada, na época, por um taquistoscópio, com um intervalo de tempo de 60 milissegundos, dando a ilusão que era a javascript:void(0) mesma imagem se movimentando. Ao demonstrar uma ilusão, ou seja, um movimento aparente, os gestaltistas constataram que a consciência, a percepção do movimento, não poderia ser analisada a partir dos seus elementos sensoriais, premissa da Psicologia de Wundt. Como o movimento aparente não é real, não possui os dados sensoriais concretos de um movimento. A Psicologia da Gestalt também criticou a ideia de que a percepção seria a soma de elementos básicos, tese atomista defendida por Wundt. Os cientistas defendiam que uma percepção não dependia de processos mentais superiores ou de aprendizagem, mas os dados da percepção estavam presentes no próprio estímulo apreendido pela percepção, em um todo, não no somatório de partes elementares. A seguir assista a um vídeo sobre o tema Gestalt e seu desenvolvimento. A TERCEIRA FORÇA DA PSICOLOGIA: HUMANISMO O Humanismo é um movimento, uma perspectiva teórica da Psicologia, do início da década de 1960. Todas as perspectivas analisadas até aqui têm por base uma doutrina filosófica – o Determinismo, ambiental no caso do Behaviorismo, psíquico no caso da Psicanálise; os movimentos anteriores recebiam uma influência muito grande da Fisiologia e do Determinismo biológico. DETERMINISMO Segundo essa perspectiva, eventos ordenados podem ser explicados por leis simples. Da mesma maneira, eventos psicológicos e/ou comportamentais são regidos por essas leis (propriedades). O Humanismo evidencia outra doutrina filosófica: o livre-arbítrio, que preconiza que as pessoas dirigem seus atos de modo consciente, independentemente de determinações psíquicas, cognitivas ou ambientais. O objeto de estudo do Humanismo não é a consciência ou o comportamento, tampouco a percepção, mas os interesses e valores humanos. Os humanistas se opunham ao mecanicismo e ao materialismo da cultura ocidental da época. javascript:void(0) As escolas com as quais os humanistas rivalizavam eram o Behaviorismo e a Psicanálise; criticavam que os dois sistemas ofereciam uma visão da natureza humana limitada e depreciativa. Entre muitas influências, destacamos Gordon Allport (1897-1967), com o livro A natureza do preconceito, de 1954. Allport utilizou a expressão Humanismo de forma pioneira, em 1930. Fonte: https://www.psychologicalscience.org Gordon Allport Além de Allport, as principais referências da terceira força da Psicologia são: Kenneth B. Clark (1914-2005), militante dos direitos civis e representante do Zeitgeist da época – mesmo que não associado diretamente ao movimento do Humanismo; Abraham Maslow (1908-1970); Carl Rogers (1902-1987). Abraham Harold Maslow foi um precursor do movimento da Psicologia Humanista. Defendia a capacidade de autorrealização de cada pessoa e criou a famosa pirâmide de necessidades. Embora seja uma teoria muito criticada dentro da Psicologia e careça de evidências para generalizar diversas populações, é amplamente utilizada, principalmente, em treinamentos para o desenvolvimento de pessoas. Fonte: https://en.wikipedia.org Abraham Harold Maslow Na perspectiva desse autor, todos temos tendência a buscar uma realização pessoal, que só é alcançada quando atingimos as prioridades dos degraus da pirâmide, da base para o topo. A ideia da hierarquia é criticada, sem dúvida temos necessidades que são fisiológicas, psicológicas e sociais. pirâmide de Maslow Pesquisas que buscaram evidências da hierarquia em cinco níveis, em amostrasmais amplas de pessoas, sugerem que é coerente pensar em apenas dois níveis que são necessidades por deficiência e necessidade por crescimento. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTUDAMOS INÚMEROS SISTEMAS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA, QUE SURGIRAM POR DIVERGÊNCIAS DO OBJETO DE ESTUDO E DO MÉTODO EMPREGADO PARA ESTUDÁ-LO. DAS ALTERNATIVAS ABAIXO, IDENTIFIQUE AQUELA QUE CARACTERIZA O BEHAVIORISMO. A) Busca da objetividade do método científico, abandonando a introspecção, para compreender como os conteúdos mentais influenciam comportamentos. B) Busca da compreensão das motivações humanas e dos comportamentos de autorrealização. C) Uso da observação sistemática e do método experimental para descrever as circunstâncias em que um comportamento ocorre e modificá-lo, se necessário. D) Estudo da percepção humana, de suas propriedades e análise do comportamento pela reestruturação do campo perceptual. 2. A FRASE “O TODO É MAIS IMPORTANTE QUE O SOMATÓRIO DAS PARTES” EXPRESSA UMA REFLEXÃO QUE NOS É DADA PELA PSICOLOGIA DA GESTALT, NO ESTUDO DA CONSCIÊNCIA E DA PERCEPÇÃO. ANALISE AS SENTENÇAS ABAIXO E IDENTIFIQUE AQUELA QUE MELHOR EXPRESSA OS ARGUMENTOS QUE DEFENDEM ESSA IDEIA. A) Evidências de um experimento que demonstrou que um movimento aparente não era real e que não podia ser compreendido por teses atomistas, pois o fenômeno simplesmente acontecia e não podia ser explicado, mas era apreendido pela consciência. B) O fenômeno Phi demonstrava os átomos da percepção consciente do movimento. Tal fenômeno demonstrou que o movimento como um todo é mais importante e pode ser percebido pela consciência pela apresentação sucessiva de estímulos a 60 milissegundos. C) Descrevendo em detalhes o estado consciente em vez de descrever o estímulo, do movimento Phi, ou movimento aparente, por meio de uma introspecção experimental sistemática, que era um método falho na perspectiva gestaltista. D) A Psicologia da Gestalt amplia a abordagem dos estruturalistas pelo método experimental, demonstrando como podemos analisar comportamentos estudando contingências. GABARITO 1. Estudamos inúmeros sistemas teóricos da Psicologia, que surgiram por divergências do objeto de estudo e do método empregado para estudá-lo. Das alternativas abaixo, identifique aquela que caracteriza o Behaviorismo. A alternativa "C " está correta. O Behaviorismo refuta o estudo da mente humana, rompe com o modelo da Psicologia Wundtiana e elege o comportamento observável como objeto de estudo. 2. A frase “O todo é mais importante que o somatório das partes” expressa uma reflexão que nos é dada pela Psicologia da Gestalt, no estudo da consciência e da percepção. Analise as sentenças abaixo e identifique aquela que melhor expressa os argumentos que defendem essa ideia. A alternativa "A " está correta. O experimento do movimento aparente (fenômeno Phi) apresentou uma ilusão, que demonstrou que uma percepção consciente não poderia ser descrita por um dado sensorial, uma vez que o movimento não era real, mas ilusório. MÓDULO 3 Examinar o marco histórico, os conceitos fundamentais e os métodos da Psicologia Cognitiva INTRODUÇÃO A Psicologia Cognitiva traduz, em essência, o que é a ciência psicológica. Percorrer a história da Psicologia é uma viagem fantástica. Sabe o porquê? Tudo é cognição. Cérebro e as funções cognitivas Sabemos que essa afirmação, por hora, talvez não faça muito sentido. No entanto, a partir de agora é importante você se lembrar da diferença entre a Psicologia do senso comum e a Psicologia científica. Vamos analisar alguns exemplos? Pense nos seguintes eventos da vida, que são psicológicos: Fonte: Freepik A DOR Fonte: Freepik A TENSÃO PRÉ-MENSTRUAL autor/shutterstock A DEPRESSÃO PÓS-PARTO O senso comum, quando utiliza a expressão “é psicológico”, tipicamente está fazendo menção a algo que é inventado e/ou uma frescura e/ou que podemos mudar se tivermos força de vontade. Força de vontade não é um construto que explica um comportamento motivado – essa é uma visão equivocada do senso comum. Vamos aprender que tudo é psicológico do ponto de vista da Psicologia Cognitiva (científica). Você já parou para analisar algo a seu respeito, por exemplo, sobre seu estilo cognitivo? Pare agora por alguns minutos e pense sobre você. CONSTRUTO Objeto de estudo da psicologia enquanto uma ciência e uma profissão. Um construto psicológico é um conceito ideativo, hipotético, com uma finalidade científica predeterminada. Por exemplo, personalidade, cognição e resiliência são construtos javascript:void(0) psicológicos. Uma auto análise sobre o estilo cognitivo Agora vamos refletir sobre alguns dos exemplos que vimos: Freepik Por que algumas pessoas, diante de alguns eventos, alteram seu humor – por exemplo, na tensão pré-menstrual – e outras não? javascript:void(0) Freepik Por que alguns eventos resultam em depressão em algumas pessoas e em outras não? Já tentou refletir sobre a depressão pós-parto? Todas as mulheres ficam deprimidas depois de darem à luz? Você já parou para pensar por que algumas pessoas relatam serem felizes e gozar de bem- estar e outras pessoas não, mesmo quando as circunstâncias (o meio) estão favoráveis? O que é felicidade? O que é bem-estar e qualidade de vida? Lembra-se da proposta de viajar pela história da Psicologia para entender que tudo é psicológico, tudo é cognição? Vamos lá! CONCEITO E PRINCÍPIOS DA PSICOLOGIA COGNITIVA A Psicologia Cognitiva pode ser definida como uma área de conhecimento que analisa os processos internos implicados na forma como as pessoas extraem sentido do ambiente – interno (fisiológico) e externo (cultura) – e decidem quais ações são apropriadas. Estuda a atividade e a estrutura do cérebro para compreender a cognição e o comportamento humano. javascript:void(0) Cérebro humano e a cognição. Fonte: Freepik. Fonte: Freepik. A investigação dos processos cognitivos inclui: Fonte: Flaticon ATENÇÃO Fonte: Flaticon PERCEPÇÃO Fonte: Flaticon APRENDIZAGEM Fonte: Flaticon MEMÓRIA Fonte: Flaticon MOTIVAÇÃO Fonte: Flaticon LINGUAGEM Fonte: Flaticon RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Fonte: Flaticon RACIOCÍNIO Fonte: Flaticon PENSAMENTO ATENÇÃO O pensamento é a “cereja do bolo” da Psicologia Cognitiva, principalmente clínica. Existe diferença entre a Psicologia Cognitiva aplicada à clínica, seus métodos e objetos de estudo, e a Psicologia Cognitiva enquanto um sistema teórico da Psicologia. A perspectiva teórica vai explicar o psicológico como um todo, definir e descrever os processos cognitivos, por exemplo. Gradualmente, ao longo desta leitura, você compreenderá melhor essa distinção. Existem processos psicoterapêuticos que podem atuar no manejo da dor, da irritabilidade, da angústia, da ansiedade etc. Mudar determinado padrão de comportamento, determinado padrão cognitivo (um perfil cognitivo) – obviamente quando necessário e desejado –, porém, exige investimento e engajamento da pessoa no processo de mudança, que pode ser conduzido, por exemplo, em uma terapia cognitivo-comportamental. Tudo é psicológico, e chamamos esse tipo de trabalho de reestruturação cognitiva, ou seja, ensinar uma pessoa a reinterpretar eventos e utilizar essas informações para motivar comportamentos mais adaptados e funcionais em suas vidas, ou seja, buscar qualidade de vida e bem-estar. TUDO É PSICOLÓGICO Para Sternberg (2016), a Psicologia Cognitiva é o estudo de como as pessoas percebem, aprendem, lembram-se de algo e pensam sobre informações. Podemos descrever as áreas do cérebro ativas na percepção, no aprendizado, na lembrança e no pensamento. A Psicologia Cognitiva vai estabelecer como tais informações são CODIFICADAS, INTERPRETADAS E UTILIZADAS. Dito de outra forma, a reestruturação cognitiva significa: javascript:void(0) Fonte: Unsplash Ensinar a pensar diferente sobre si próprio (o eu, o ego). Fonte: Unsplash Ensinar a pensar diferentesobre o mundo (as pessoas e os acontecimentos) Fonte: Unsplash Ensinar a pensar diferente sobre o futuro. Esses três fatores compõem a tríade cognitiva, na expressão teórica do autor da Psicologia clínica Aaron Beck (2013). RESUMINDO A Psicologia estuda como o indivíduo dá significado ao ambiente, a partir dos seus processos internos, permitindo a sua ressignificação. Você deve estar dizendo “certo, entendi tudo”, mas, afinal, o que é interpretar e decidir? A forma como decidimos as ações que são apropriadas e/ou simplesmente como agimos, nos comportamos e/ou interpretamos os eventos depende de nossa evolução ontogenética. EVOLUÇÃO ONTOGENÉTICA Trata-se do ciclo da vida, do ciclo de desenvolvimento do organismo (pessoa) ao longo da vida, desde o desenvolvimento embrionário javascript:void(0) ONTOGENIA é o desenvolvimento de um organismo. Já FILOGENIA é o desenvolvimento da espécie, por exemplo, de nossa espécie, Homo sapiens sapiens. (O sapiens repete duas vezes, isso mesmo, está correto!) MAS COMO FAZER ESSA INTERPRETAÇÃO? A Psicologia Cognitiva adota o determinismo como um pressuposto epistemológico. Eventos no decorrer de nosso desenvolvimento podem resultar em um ambiente propício para desenvolvermos resiliência ou não, assim como em mais ou menos controle emocional e psicológico. Podemos ter uma vulnerabilidade a desenvolver transtornos de humor, por exemplo, a depressão. Segundo o paradigma de diátese-estresse, pessoas vulneráveis cognitivamente desenvolvem psicopatologias ao passar por eventos estressores. COMO DESENVOLVEMOS ESSA VULNERABILIDADE? O modelo de desenvolvimento ontogenético explica. Tudo vai depender da história de aprendizagem da pessoa (de seu desenvolvimento ontogenético). Vejamos: 1 Imagine que uma criança não tem as suas necessidades psicológicas básicas atendidas. NECESSIDADES PSICOLÓGICAS BÁSICAS ATENDIDAS javascript:void(0) A psicologia trata o tema com base em teorias diferentes, mas podemos entender as necessidades psicológicas em um âmbito geral como: Fisiológicas: sede, fome e sexo; Psicológicas: autonomia, relacionamento e competência; Sociais: afiliação e intimidade, realização e poder. Esses são alguns poucos exemplos. Na infância, as necessidades emocionais fundamentais são: vínculos seguros, autonomia, liberdade de expressão, espontaneidade e lazer, limites realistas e autocontrole. Na adolescência, essa ausência pode resultar em esquemas cognitivos disfuncionais em graus de impacto variados. 2 Um esquema cognitivo pode ser positivo ou negativo, adaptado ou desadaptado. Se seu padrão de respostas está desadaptado ao meio e/ou com respostas (comportamentos) muito exacerbados, a Psicologia clínica pode ajudar. Sabe o porquê? Tudo é psicológico, e podemos mudar algumas coisas – outras não, e há aquelas de difícil mudança. A visão é monista, ou seja, não dualista (mente-corpo). Trata-se de uma visão integrada e holística. Falar da mente, do psicológico, ou do cérebro é falar da mesma coisa com vieses diferentes. Vejamos alguns exemplos: Tomar uma medicação para depressão resulta em mexer na bioquímica do cérebro regulando algo que estava em desequilíbrio. Fazer psicoterapia (Psicologia clínica) também mexe com essa bioquímica do cérebro regulando algo que estava em desequilíbrio. A psicoterapia resulta em plasticidade neural. PLASTICIDADE NEURAL Trata-se da mudança do sistema nervoso em decorrência dos eventos da vida, da experiência, do comportamento. Podemos pensar a plasticidade neural por dois vieses básicos: estrutural, por conexões sinápticas; ou funcionais, que se traduzem por mudanças no comportamento e/ou no perfil cognitivo. Trata-se da mesma coisa, ou seja, plasticidade neural, explicada por vieses diferentes. Tanto manejo medicamentoso quanto psicoterapia agem sobre o cérebro, sobre o psicológico, apenas operam com mecanismos distintos. Nessa perspectiva, não existe um corpo adoecendo uma mente, ou uma mente adoecendo um corpo. O que vai existir é uma pessoa saudável, relativamente saudável, ou não saudável, em uma abordagem simplista e didática a respeito dos estados de saúde e de qualidade de vida de uma pessoa. O que importa, neste momento, é compreendermos essa visão da Psicologia Cognitiva contemporânea. Não se trata de um reducionismo materializante, mas de uma visão javascript:void(0) integrativa entre Psicologia, Ciências da Saúde, Ciências Sociais e Neurociências. Com essa ideia de base, os determinantes do comportamento podem ser analisados: Fonte: Freepik Em um aspecto físico (mapeamento neurológico). Fonte: Freepik Em um aspecto psicológico (sensopercepção, atenção, pensamento, memória, volição, emoções, sentimentos etc.). Fonte: Flaticon Em um aspecto ambiental/funcional (mapeamento cultural, socioeconômico etc.). ATENÇÃO Isso não significa dividir uma pessoa em três coisas diferentes, pois, como demonstrado, essa divisão é meramente didática. Uma pessoa é inteira e indivisível. Falar do psicológico, da mente, ou do cérebro é falar da mesma coisa, em perspectivas didáticas diferentes, que permitam trabalhos diferentes. Nada mais, nada menos. QUAL O MOTIVO DESSA DIVISÃO DIDÁTICA? É simples. Existe uma grande quantidade de variáveis que exercem influência em como os neurônios codificam as informações, e isso gradualmente vai determinar nossa estrutura de personalidade e nosso repertório comportamental. Quer alguns exemplos dessas variáveis? 1 Uma mulher que durante a gestação sofra descargas hormonais, bem-estar e estresse. Estilos parentais e ocorrências no meio externo (sol e chuva). OCORRÊNCIAS NO MEIO EXTERNO Em países com menos sol, estatisticamente, há mais prevalência de depressão e ideação suicida na população do que países com mais sol. javascript:void(0) 2 Tudo isso influencia em quem somos, em nosso estilo de agir e de tomar decisões, em nossa forma de interpretar os eventos, sejam os externos, sejam os internos (mudanças do próprio corpo). RESUMINDO A Psicologia Cognitiva estuda o indivíduo em diferentes aspectos: ambiental, psicológico e físico. OS MARCOS HISTÓRICOS RELATIVOS AO SURGIMENTO DA PSICOLOGIA COGNITIVA Questionar como o cérebro ou a mente funciona e, fundamentalmente, o que motiva o comportamento está na base de nossa discussão. Podemos buscar esse entendimento na Filosofia e nas Ciências. As respostas que a Psicologia Cognitiva adota não são fruto de um único autor. Certamente, na Psicologia Cognitiva, há alguns marcos históricos, que podem ser antigos, modernos ou contemporâneos. Veja alguns desses marcos: Ainda devemos compreender que existem duas modalidades de Psicologia Cognitiva, uma básica e outra aplicada. Veja a definição de cada modalidade: CIÊNCIA BÁSICA Busca delimitar uma área de conhecimento, definir construtos, construir e testar hipóteses, elaborar teorias que possam descrever os fenômenos. javascript:void(0) CIÊNCIA APLICADA Utiliza as diversas formas de conhecimento e a ciência básica para encontrar soluções para a vida das pessoas. As teorias de uma ciência aplicada são construídas com um viés de prática, ou seja, em nosso caso, no fazer do(a) psicólogo(a). Esses são modelos de ciência interdependentes, e essa divisão, muitas vezes, é meramente didática. O que é relevante é o uso que se faz da ciência, sendo básica ou aplicada. Na Psicologia Cognitiva aplicada, vamos encontrar, por exemplo, as teorias das práticas clínicas. Na Psicologia Cognitiva básica, vamos encontrar algumas teorias sobre como nosso aparato cognitivo funciona, ou seja, esse modelo vai responder a três perguntas fundamentais: 1 Quais são os processos cognitivos? javascript:void(0) 2 Como eles funcionam? 3 Quais as variáveis intervenientes que podemos identificar e descrever? VARIÁVEIS INTERVENIENTES Por exemplo, estados internos que motivam um comportamento, como o comportamento criativo, entre outros. No escopo da Psicologia Cognitiva básica, surgem teoriasda linguagem, da memória, da atenção, da percepção etc., ou seja, o que chamamos de processos cognitivos básicos. A Psicologia Cognitiva estuda, principalmente, alguns construtos que explicam como nos motivamos (comportamentos motivados), como criamos (criatividade), resiliência, autoeficácia, crenças, entre outras variáveis que exercem influência em nosso comportamento. javascript:void(0) RESUMINDO A Psicologia Cognitiva usa a ciência básica e a ciência aplicada para estudar as diversas variáveis que influenciam o comportamento do indivíduo. MARCOS HISTÓRICOS O ano é 1956... Esse foi um ano de grande relevância para coroar o movimento da Psicologia Cognitiva. O cientista cognitivo Noam Chomsky fez uma exposição sobre uma teoria para a linguagem (um processo cognitivo) para o famoso e internacionalmente conhecido Massachusetts Institute of Techonology (MIT). Nessa mesma ocasião, George Miller (1920-2012) apresentou o que ficou conhecido por o mágico número 7 na memória de curto prazo (outro processo cognitivo) e Newell (1927-1992) e Simon (1916-2001) expuseram seu modelo de solução de problemas (General Problem Solver), precursor do desenvolvimento de programas de inteligência artificial. Solução de problemas e tomada de decisões são duas grandes áreas de interesse de cientistas cognitivos. Fonte: Wikipedia Noam Chomsky. Fonte: Wikipedia. RECOMENDAÇÃO Pesquise sobre essas personalidades e suas produções teóricas. Isso poderá enriquecer muito sua compreensão da Psicologia Cognitiva. Fim dos anos 1950 e década de 1960... Você deve ter percebido que o ano de 1956 é especial, mas a Psicologia Cognitiva está sendo construída em um continuum histórico, e não brotou nesse marco. Há outros trabalhos da década de 1950 que são referência do movimento que chamamos de revolução cognitivista. Destacamos alguns marcos desse continuum histórico. Fonte: Baseado no conteudista Marcos históricos da Psicologia Cognitiva no final dos anos 1950 e na década de 1960. Vamos conhecer um pouco mais sobre esses marcos. No fim dos anos 1950 e na década de 1960, os sistemas clínicos (ciência aplicada) começam a ganhar forma, e surgem as terapias cognitivas. A tradição filosófica tratou do tema do funcionamento da mente, da consciência, com base em seus métodos, que fundamentalmente englobam o manejo da palavra, a elaboração de ideias, a lógica, a dialética, mas não a experimentação. Fonte: Wilhelm Wundt. Fonte: Wikipedia Wilhelm Wundt. Fonte: Wikipedia Como você viu na cronologia sobre os Marcos históricos, Wilhelm Wundt demarcou o primeiro laboratório de Psicologia. Curiosamente, os objetos de estudo são os processos elementares da percepção e a velocidade de processos mentais. Isso não quer dizer que Wundt rompeu com a Filosofia, mas buscou demarcar a Psicologia como uma ciência experimental. Seu método de estudo era a introspecção. Percepção e velocidade de processamento da informação são objetos de estudo da Psicologia Cognitiva. Por seu objeto de interesse ser estudado desde o período da Filosofia antiga, fica difícil demarcar onde e quando a Psicologia Cognitiva se constituiu. A ilustração a seguir demonstra o desenvolvimento da Psicologia Cognitiva: Fonte: Baseado no conteudista Desenvolvimento da Psicologia Cognitiva. O movimento que ficou conhecido como revolução cognitivista é mais bem identificado, por seus métodos, pela analogia ao processamento computacional, pelo uso de tecnologia para demonstrar suas teorias, e tem como marco a conferência no MIT de proeminentes cientistas cognitivos em 1956. A formação da Psicologia Cognitiva, contudo, é demarcada formalmente, pelos historiadores da Psicologia, nas décadas de 1950 até 1970. A Psicologia Cognitiva resgata a história do estudo da mente que foi negligenciada pela força do Behaviorismo como um sistema teórico dentro da Psicologia. Para entender o Cognitivismo, é necessário compreender a história da Psicologia. Edward Chace Tolman (1886-1959), um behaviorista, declarou que o Behaviorismo de Watson foi um alívio, pois trazia cientificidade para a Psicologia, mas não foi um “watsoniano”. Fonte: Wikipedia Edward Chace Tolman. Fonte: Wikipedia. Tolman tentou superar o monismo materialista de Watson (pensamento com hábito). De certa forma, esse autor estabelece os alicerces para o Cognitivismo, pois afirma que aprendizagem não é mudança no comportamento, mas aquisição de novos conhecimentos/cognições. Apresenta as definições de um comportamento intencional – tal intencionalidade, embora existente, é um evento particular ao organismo, uma variável interveniente, e não estaria ao alcance dos instrumentos objetivos da ciência. EXEMPLO Tolman diria, por exemplo, que a fome é a intencionalidade para o comportamento de comer. Isso significaria ver a mente no comportamento, ou seja, falar da mente sem recorrer a teses mentalistas e a métodos não científicos. O ponto-chave para entender a revolução cognitivista (uma revolução lenta que demorou décadas para se consolidar) é perceber os esquemas dos modelos behavioristas. As contingências behavioristas baseadas na obra do Watson eram respondentes, em outras palavras, um estímulo que gera uma resposta, podendo ser representada da seguinte maneira: RESPOSTA Ocorrência do comportamento operante. Uma resposta que ocorre sem um estímulo eliciador é emitida. Aplica-se tanto ao responder a um estímulo discriminativo como ao responder de maneira indiscriminada. javascript:void(0) As contingências operantes baseadas na obra do Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) eram de três termos, um estímulo discriminativo (Sd), um comportamento (R) e uma consequência (S). A visão didática pode ser compreendida nos esquemas a seguir. Fonte: Baseado no conteudista Contingências behavioristas Observe que, nas contingências behavioristas (respondentes e operantes), a relação entre um estímulo e uma resposta é direta, não mediada. Nesse modelo teórico, o sistema nervoso era visto como um depositário de contingências, passivo, que apenas codificava em uma linguagem neural (eletroquímica) e armazenava as experiências. Uma vez diante de um estímulo eliciador ou discriminante, gerava uma resposta – de fato, “uma tábula rasa”. A inovação do Cognitivismo foi buscar compreender as operações internas do organismo, ou seja, estudar o efeito dos processos cognitivos e como esses medeiam comportamentos. O esquema a seguir ilustra essas operações: INOVAÇÃO DO COGNITIVISMO Foco no estudo das variáveis intervenientes. Fonte: Baseado no conteudista Operações internas do organismo. RESUMINDO O cérebro, no Cognitivismo, é ativo, coordena e faz a mediação de comportamentos. Para o Behaviorismo, o importante não é saber o que causa os comportamentos, mas explicar e descrever em que circunstâncias eles acontecem. O Cognitivismo quer compreender o que javascript:void(0) causa um comportamento, quais as fontes de um comportamento motivado, por exemplo, a criatividade, a arte etc. Na atualidade, são sistemas teóricos que se complementam. Ainda existem profissionais que são behavioristas radicais, pois o Cognitivismo não veio para substituir esse modelo comportamentalista, mas para ampliá-lo. Na década de 1970, os temas do momento era o Cognitivismo e a Computação. Eram temas discutidos com a mesma intensidade que a civilização debate hoje inteligência artificial, automação e as Neurociências. VAMOS FAZER UM EXERCÍCIO! 1. IMAGINE QUE UM INDIVIDUO TENHA MOTIVAÇÃO PARA A ARTE, A CORRENTE QUE BUSCA COMPREENDER AS CAUSAS DESSA MOTIVAÇÃO É CHAMADA DE: A) Behaviorismo B) Cognitivismo GABARITO 1. Imagine que um individuo tenha motivação para a arte, a corrente que busca compreender as causas dessa motivação é chamada de: A alternativa "B " está correta. Enquanto o Behaviorismo busca explicar as circunstâncias em que um comportamento acontece, o Cognitivismo busca identificar as causas de determinado comportamento.OS PRINCIPAIS REPRESENTANTES DA PSICOLOGIA COGNITIVA E SUAS CONTRIBUIÇÕES A Neurociência Cognitiva, a Psicofisiologia e a Computação, na era informacional, constituem um Zeitgeist. Não se trata de estabelecer um monismo materialista e reduzir os eventos comportamentais e os processos cognitivos em termos físico-químicos – até porque os modelos computacionais e das Neurociências não conseguem explicar tudo –, mas sim de superar uma influência do dualismo e do realismo como uma base epistemológica presente na história da Psicologia e desenvolver um olhar mais integrativo. Para chegarmos até aqui, no que chamamos de Psicologia Cognitiva, muitos pesquisadores somaram esforços em um movimento histórico e epistemológico. Não necessariamente eram psicólogos ou estavam envolvidos em uma revolução cognitiva, apenas estavam fazendo ciência que fosse útil para o Zeitgeist que vivenciavam em suas épocas. ZEITGEIST O espírito de uma época, o clima intelectual e cultural de uma época. javascript:void(0) Para conhecer alguns dos principais nomes da Psicologia Cognitiva e a contribuição de seus trabalhos, assista ao vídeo a seguir. COMPARAÇÃO DOS MÉTODOS DE PESQUISA NA PSICOLOGIA COGNITIVA Existe uma Ciência Cognitiva e uma Psicologia Cognitiva. A Ciência Cognitiva inclui a Psicologia Cognitiva, mas também outros modelos com interesses e métodos de investigação distintos. São modelos que se complementam em certos contextos e estudos, mas também divergem. Podemos identificar algumas abordagens da Ciência Cognitiva: Psicologia Cognitiva Neuropsicologia Neurociências Ciência Cognitiva Computacional O MÉTODO DAS NEUROCIÊNCIAS As Neurociências buscam evidências de como a interação de áreas no cérebro resultam em cognição, uma vez que apenas apontar uma localização (blobology) está caindo em desuso, e até os modelos computacionais estão buscando correlações com o cérebro. Nas Neurociências, vamos encontrar as evidências científicas que são levantadas pelo uso da tecnologia, especialmente o uso de técnicas de neuroimagem, que são capazes de demonstrar atividades em regiões e circuitos do sistema nervoso central, durante um processamento sensorial, motor ou cognitivo. Exame cerebral. Fonte: Freepik. A organização de nosso sistema nervoso, basicamente, traduz-se por atividades excitatórias (ativação) e inibitórias (inibição), algo como sim e não. As estruturas como hipotálamo, feixe prosencefálico medial, área septal, córtex cerebral e córtex pré-frontal esquerdo estão relacionadas à aproximação. Fonte: Freepik Representação do cérebro humano. Fonte: Freepik. Enquanto o córtex pré-frontal direito e a amígdala, à evitação. Existem correlações na literatura entre um sistema de ativação comportamental e um sistema de inibição comportamental e características da personalidade, por exemplo, o neuroticismo e a extroversão. Constantemente, a atividade cortical vai gerenciar as metas conscientes dos indivíduos. Por exemplo, quando um indivíduo durante a perda de peso pensa: Fonte: Freepik Devo comer? (Sistema de ativação comportamental) Fonte: Freepik Fonte: Freepik Fonte: Freepik Não devo comer? (Sistema de inibição comportamental). As interpretações cognitivas oriundas de nossas crenças, sistemas de crenças, pensamentos, sentimentos e humor a respeito das coisas também vão ativar os sistemas de ativação e inibição comportamental. Agir ou não agir? Fazer ou não fazer? Respostas automáticas ou voluntárias? Todas essas perguntas têm respostas que envolvem mecanismos complexos que nos impulsionam ou nos inibem diante das situações de desempenho. Tais sistemas se formam em decorrência de sua evolução ontogenética, e isso determina sua maneira de ser. Muitas evidências das Neurociências Cognitivas vão apoiar a ideia de que as pessoas apresentam características que evidenciam um sistema de inibição comportamental (por exemplo, neuroticismo) ou um sistema de ativação comportamental (por exemplo, extroversão). Veja a seguir como o sistema dorsal, o sistema ventral e a amígdala influenciam as respostas comportamentais: SISTEMA DORSAL Um sistema dorsal é composto por hipocampo, regiões dorsais do cíngulo anterior e córtex pré- frontal. Esse sistema está relacionado à regulação dos estados afetivos, eliciando respostas comportamentais contextualmente apropriadas, e também está relacionado à cognição (memória e atenção). SISTEMA VENTRAL O sistema ventral é composto por circuitos envolvendo amígdala, ínsula, corpo estriado ventral, regiões ventrais do cíngulo anterior e córtex órbito-frontal. É um sistema que está relacionado às etapas de identificação do significado emocional de estímulos e de produção dos estados afetivos. Esse sistema também recebe aferências de áreas sensoriais primárias e de associação. AMÍGDALA A amígdala estimula respostas automáticas diante de um evento ameaçador, por exemplo: ativação do sistema nervoso simpático estimulando o núcleo hipotalâmico lateral; estimulação do núcleo paraventricular do hipotálamo para liberação de hormônios de estresse; e estimulação do nervo facial trigêmeo para expressão facial de medo. Richard J. Davidson, em seu livro O estilo emocional do cérebro, mostra os resultados de uma pesquisa que indicam que o temperamento típico observado em crianças, quanto a características típicas de uma inibição ou ativação comportamental em situações de desempenho, não é permanente em um indivíduo. Isso contraria alguns trabalhos que apontam a personalidade como características constantes e formadas precocemente. Mesmo com as divergências, a discussão de tais sistemas (ativação e inibição) envolve aspectos muito interessantes das bases neurobiológicas da personalidade e dos sistemas cognitivos, no que se refere ao processamento e às interpretações dos eventos que nos circundam. Se tais características são permanentes ou podem variar no desenvolvimento da pessoa é outra análise. Existem pesquisas muito relevantes evidenciando a relação de nossa cognição, de como interpretamos eventos, com a Neurobiologia e a de nosso comportamento típico com as diversas situações ambientais aversivas ou favoráveis. RESUMINDO O sistema nervoso humano exerce atividades de ativação e inibição, ou seja, influencia em decisões, como: Posso? Não posso? O MÉTODO DA PSICOLOGIA COGNITIVA (PESQUISA BÁSICA) Diversos são os métodos que podemos identificar, com e sem o uso de tecnologia. Optamos por apresentar uma metodologia de baixo custo e que é responsável por grandes paradigmas da Psicologia Cognitiva quanto às etapas de processamento da informação e do planejamento de uma resposta (comportamento). Trata-se da cronometria mental. A cronometria mental é utilizada para construir modelos do processo cognitivo. Podemos discutir por meio de tarefas se a informação tem um processamento serial, ou seja, uma etapa cognitiva é concluída antes de outra começar, ou um processamento em paralelo, ou seja, dois ou mais processos cognitivos ocorrem ao mesmo tempo. Tarefas de compatibilidade estímulo- resposta, como efeito Simon e efeito Stroop, são clássicos da Psicologia Cognitiva. Fonte: Freepik. Fonte: Freepik. Na tarefa de Stroop, o voluntário nomeia a cor na qual o nome das cores é apresentado – por exemplo, VERMELHO ou VERMELHO. O voluntário é mais rápido em processar e executar a resposta quando o nome da palavra é congruente com a cor que deve nomear. VAMOS FAZER UM EXERCÍCIO! Nomeie a cor das palavras nas listas a seguir e perceba em qual delas você será mais rápido(a) e obterá maior acurácia (acertos). Lembre-se de que você precisa dizer o nome da cor, e não ler a palavra. Primeira lista: VERDE VERMELHO AZUL AMARELO AZUL AMARELO ROXO Segunda lista: VERDE VERMELHO AZUL AMARELO AZUL AMARELO ROXO As pesquisas básicas em Psicologia Cognitiva vão estabelecer como processamos os estímulos (a entrada da informação); como nosso sistema atentivo gerencia (alocação de recursoscognitivos); e como construímos nossa percepção, processamos os pensamentos e tomamos uma decisão. Veja a seguir um modelo de processamento da informação: Fonte: Baseado no conteudista Fonte: Baseado no conteudista Modelo de processamento de informação RESUMINDO A cronometria mental auxilia a Psicologia Cognitiva a identificar os modelos de processamento da informação. O MÉTODO DA PSICOLOGIA COGNITIVA (APLICADA) A terapia cognitiva-comportamental é um modelo para a atuação na Psicologia clínica que, tradicionalmente, busca correlacionar o pensamento, a emoção e o comportamento. Veja como esse modelo funciona: O modelo clínico cognitivo propõe que pensamentos disfuncionais influenciam o humor, o comportamento. Pensamentos automáticos são ideias que invadem sua mente e são um produto de seu sistema de crenças. Seu sistema de crenças pode ser adaptado e funcional ou produzir distorções cognitivas. Distorções cognitivas e pensamentos automáticos disfuncionais estão na base de desordens psíquicas e são comuns a todos os tipos de transtornos psicológicos. TIPOS DE TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS Uma pessoa que sofre de fobia social pode interpretar uma ida a um restaurante com os colegas de trabalho da seguinte maneira: Pensamento automático: Vou derrubar minha bandeja; Emoção: Ansiedade; javascript:void(0) Efeito: Mãos suadas, respiração acelerada; Resultado: Evita o refeitório; Consequência: Não interage com os colegas de trabalho adequadamente. Por meio de nosso sistema de crenças, interpretamos: a nós mesmos (crenças sobre nossas próprias capacidades; o outro (o quanto somos otimistas sobre as pessoas); o meio em que vivemos (o quanto acreditamos que estamos seguros, o meio nos oferece as condições para vivermos e nos desenvolvermos); e o futuro (o quanto somos otimistas a respeito do futuro). O terapeuta promove o que chamamos de reestruturação cognitiva, ou seja, perceber os eventos e interpretar as ideias de uma maneira mais funcional. O objetivo é desenvolver qualidade de vida e, para isso, também se utiliza de técnicas comportamentais, por exemplo, treinamento em habilidades sociais. RESUMINDO A terapia cognitiva-comportamental auxilia na identificação de distorções cognitivas e na promoção da reestruturação cognitiva. A NEUROPSICOLOGIA No Brasil, a Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 002/2004 reconhece a Neuropsicologia como uma especialidade em Psicologia que atua no diagnóstico, no acompanhamento, no tratamento e na pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento, sob o enfoque da relação entre esses aspectos e o funcionamento cerebral. Utiliza-se, para isso, de conhecimentos teóricos angariados pelas Neurociências e pela prática clínica, com metodologia estabelecida experimental ou clinicamente. A Neuropsicologia atua na reabilitação cognitiva e na avaliação psicológica. Fonte: Freepik. Fonte: Freepik. PREMISSAS E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PSICOLOGIA COGNITIVA O pensamento é um ponto central para a Psicologia Cognitiva, e saber como ele opera sobre a motivação parece um bom lugar para começar. Segundo Reeve (2006), os pesquisadores, após a revolução cognitiva, voltaram sua atenção para destrinchar quais as bases cognitivas do pensamento sobre: vontade, otimismo, eficácia, sucesso, realização, autoestima, autoeficácia, meta, planejamento, criatividade, escolha, persistência, desempenho, crenças, valores, sucesso, fracasso, empreendedorismo etc. No início dos anos 1970, o Zeitgeist da Psicologia definitivamente era cognitivo, e tais construtos foram amplamente estudados. A vontade não é um constructo psicológico capaz de explicar a complexidade e a variabilidade do comportamento motivado humano, até porque nosso comportamento e nosso perfil cognitivo são predeterminados em decorrência de nossa evolução ontogenética e de muitas outras variáveis que exercem influência sobre nós. CONSTRUCTO PSICOLÓGICO São conceitos ideativos e intencionais que foram criados ou são utilizados com uma finalidade científica com base em uma definição operacional e constitutiva. É o primeiro passo para a construção de uma teoria. javascript:void(0) Pense em um adicto (dependente químico). O trabalho psicológico de reabilitação estará pautado na força de vontade da pessoa? A resposta é, absolutamente, não. O trabalho será investigar a tríade cognitiva, como o pensam Força de vontade, como um motivador de comportamentos, é uma ideia associada à Psicologia do senso comum, e não à Psicologia Cognitiva científica. Fonte: Freepik. Fonte: Freepik. A vontade, como um construto para explicar um comportamento motivado, foi utilizada no século XVII, com René Descartes (1596-1650). Depois, foi substituída pelo instinto, com Charles Darwin (1809-1882), e, por fim, pelas teorias de impulso, com Sigmund Freud (1856- 1939), um psicanalista, e Clark L. Hull (1884-1952), um neobehaviorista. O próximo movimento que construiu teorias para explicar o comportamento motivado, e que permanece até hoje, foi o Cognitivismo da década de 1950. Os psicólogos passaram a investigar as bases cognitivas da motivação não como vontade ou instinto. Os motivos por déficits (impulsos) explicam parte do comportamento motivado, mas não sua totalidade. A Psicologia Cognitiva passa a elaborar modelos teóricos para explicar aquilo que as Neurociências ainda não conseguem demonstrar, por exemplo, o motivo pelo qual tais características variam de pessoa para pessoa. A Neurociência Cognitiva pode demonstrar áreas ativas em um processo criativo, mas não consegue explicar, por exemplo, como a criatividade acontece, onde ela está no cérebro. ATENÇÃO Ainda não é possível fazer ligações, uma a uma, entre as áreas do cérebro e os processos cognitivos. A forma como o cérebro implementa vários processos cognitivos, como nosso sistema de crenças, permanece um mistério. A Psicologia Cognitiva interpretou que uma emoção não ocorre sem a avaliação do indivíduo e que é esta avaliação que causa a emoção, não o evento. Essa contribuição teve bastante impacto na Psicologia. Vejamos um exemplo: Pense em duas pessoas trabalhando no mesmo ambiente de trabalho. A gerência do setor é agressiva e autoritária Um dos indivíduos fica extremamente estressado. Diariamente, sente raiva, tristeza, angústia e medo, em vários momentos do dia. O outro indivíduo é resiliente à situação e, embora fique preocupado com seu colega, a rotina de trabalho não o afeta tanto A produtividade do primeiro indivíduo deixa a desejar levando em conta sua potencialidade, pois a interpretação cognitiva dos eventos não é favorável, e seu humor se mantém deprimido. O segundo indivíduo vivencia um estado de humor normal, mantém uma produtividade constante, uma conduta proativa, pois entende que é a única forma de conseguir uma promoção e/ou conquistar um ambiente de trabalho melhor. No ambiente de trabalho, suas emoções são tristeza, medo, raiva e repulsa, experimentando afetos negativos ao longo do dia. Ele acaba com uma autoestima prejudicada, não conseguindo construir crenças positivas a seu respeito. Consegue vivenciar, ao longo do dia, emoções como a alegria, mesmo que, em alguns momentos, sinta raiva ou fique triste, diante de condutas aversivas de seu gerente. Seu comportamento reflete sua insatisfação, o que dificulta perspectivas melhores de trabalho. É um forte candidato ao desamparo aprendido. Seu estado de afeto é positivo e, ao longo do dia, experimenta menos afetos negativos. Em resumo, você pode mudar as avaliações cognitivas dos eventos e, com isso, mudar sua emoção e seu comportamento. Não se engane: a tarefa de uma reestruturação cognitiva nem sempre é fácil, mas é possível e demonstrada empiricamente pela clínica cognitiva. RESUMINDO A Psicologia Cognitiva busca identificar o motivo pelo qual as características variam de pessoa para pessoa. O QUE VOCÊ APRENDEU A Psicologia estuda como o indivíduodá significado ao ambiente, a partir dos seus processos internos, permitindo a sua ressignificação. A Psicologia Cognitiva estuda o indivíduo em diferentes aspectos: ambiental, psicológico e físico. A Psicologia Cognitiva usa a ciência básica e a ciência aplicada para estudar as diversas variáveis que influenciam o comportamento do indivíduo. O cérebro, no Cognitivismo, é ativo, coordena e faz a mediação de comportamentos. Para o Behaviorismo, o importante não é saber o que causa os comportamentos, mas explicar e descrever em que circunstâncias eles acontecem. O Cognitivismo quer compreender o que causa um comportamento, quais as fontes de um comportamento motivado, por exemplo, a criatividade, a arte etc. Na atualidade, são sistemas teóricos que se complementam. O sistema nervoso humano exerce atividades de ativação e inibição, ou seja, influencia em decisões, como: Posso? Não posso? A cronometria mental auxilia a Psicologia Cognitiva a identificar os modelos de processamento da informação. A terapia cognitiva-comportamental auxilia na identificação de distorções cognitivas e na promoção da reestruturação cognitiva. A Psicologia Cognitiva busca identificar o motivo pelo qual as características variam de pessoa para pessoa. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. GODOFREDO ERA UM JOVEM DE 19 ANOS QUE ACABARA DE INGRESSAR NA FACULDADE. COMO ERA DO INTERIOR, SAIU DA CASA DOS PAIS E FOI MORAR NA CAPITAL COM OUTRO RAPAZ, DA MESMA CIDADE, QUE TAMBÉM ENTROU NA FACULDADE. DEPOIS DE POUCOS MESES, GODOFREDO NÃO FEZ NENHUM NOVO AMIGO. “AS PESSOAS NÃO SÃO CONFIÁVEIS NA CIDADE GRANDE”, PENSAVA. NO INÍCIO, CONSEGUIA IR ÀS AULAS, MAS ESSA AÇÃO COMEÇOU A FICAR MUITO DIFÍCIL PARA ELE, E SUA FREQUÊNCIA FOI GRADUALMENTE CAINDO NAS AULAS. ELE TINHA MEDO DE ESTAR COM AS PESSOAS. QUANDO NÃO AGUENTAVA MAIS, VOLTOU PARA CASA COM UM PENSAMENTO FIXO NA CABEÇA: “EU NÃO SOU CAPAZ, E TUDO EM MINHA VIDA DÁ ERRADO.” QUAL A FONTE DESSE PENSAMENTO? A) Pensamento automático; B) Sistema de crenças; C) Um neurônio; D) Uma emoção. 2. O CÉREBRO É UM ÓRGÃO ATIVO QUE FAZ MEDIAÇÃO DE COMPORTAMENTO, E NÃO APENAS UM DEPOSITÁRIO DE CONTINGÊNCIAS POR MERA CODIFICAÇÃO NEURONAL. IDENTIFIQUE O SISTEMA TEÓRICO QUE FAZ OPOSIÇÃO A ESSA IDEIA: A) Psicologia Cognitiva; B) Conexionismo; C) Funcionalismo; D) Behaviorismo. GABARITO 1. Godofredo era um jovem de 19 anos que acabara de ingressar na faculdade. Como era do interior, saiu da casa dos pais e foi morar na capital com outro rapaz, da mesma cidade, que também entrou na faculdade. Depois de poucos meses, Godofredo não fez nenhum novo amigo. “As pessoas não são confiáveis na cidade grande”, pensava. No início, conseguia ir às aulas, mas essa ação começou a ficar muito difícil para ele, e sua frequência foi gradualmente caindo nas aulas. Ele tinha medo de estar com as pessoas. Quando não aguentava mais, voltou para casa com um pensamento fixo na cabeça: “Eu não sou capaz, e tudo em minha vida dá errado.” Qual a fonte desse pensamento? A alternativa "B " está correta. Os pensamentos automáticos são um produto de crenças disfuncionais e de distorções cognitivas.Godofredo está fazendo inferências errôneas com base em algumas distorções cognitivas, atividade complexa para explicarmos apenas com um viés das Neurociências, sendo necessária uma interpretação de uma teoria clínica, da Psicologia aplicada. 2. O cérebro é um órgão ativo que faz mediação de comportamento, e não apenas um depositário de contingências por mera codificação neuronal. Identifique o sistema teórico que faz oposição a essa ideia: A alternativa "D " está correta. No Comportamentalismo, o sistema nervoso era visto como um depositário de contingências, passivo, que apenas codificava em uma linguagem neural(eletroquímica) e armazenava as experiências.Diante de um estímulo eliciador ou discriminante, o sistema nervoso geraria uma resposta– de fato, “uma tábula rasa”. A inovação do Cognitivismo foi buscar compreender as operações internas do organismo, ou seja, estudar o efeito dos processos cognitivos e como esses medeiam comportamentos.O cérebro, no Cognitivismo, é ativo, coordena e faz a mediação de comportamentos. Para o Behaviorismo, o importante não é saber o que causa os comportamentos, mas explicar e descrever em que circunstâncias eles acontecem.O Cognitivismo quer compreender o que causa um comportamento, quais as fontes de um comportamento motivado, por exemplo, como a criatividade, a arte etc.Na atualidade, são sistemas teóricos que se complementam, e ainda existem profissionais que são behavioristas radicais.O Cognitivismo não veio para substituir esse modelo comportamentalista, mas para ampliá - lo. MÓDULO 4 Relacionar a Psicologia do século XX com a Psicologia do século XXI A PSICOLOGIA NO SÉCULO XXI Assista a seguir a uma entrevista com o Prof. Roberto Sena Fraga Filho sobre o tema Psicologia Positiva. Observamos que a Psicologia se organiza e se desenvolve a partir da evolução do pensamento do ser humano. Desde a Grécia Antiga, passando pela Filosofia medieval e avançando nos períodos moderno e contemporâneo, até os dias atuais, sempre existiu um filósofo indagando sobre a natureza do homem e buscando compreender como o pensamento funciona, para revelar o que motiva a nossa espécie e justificar o nosso comportamento. O avanço da tecnologia, ao longo da história, também impulsionou, obviamente, o desenvolvimento da Psicologia, como ciência autônoma e como profissão. Por tecnologia, entendemos não apenas aquela que está em nossas mãos, como os smartphones. Para chegarmos até o século XXI, gradualmente evoluímos o nosso jeito de pensar. Por esse motivo, desenvolvemos tecnologias de acordo com a necessidade do ambiente e sempre em um continuum histórico de acúmulo de conhecimento. Por exemplo: 800 mil anos atrás dominamos o fogo; 8 mil anos atrás, a agricultura; atualmente temos smartphones; amanhã, robôs. Essa é a ideia e a tônica: pensar nesses movimentos históricos, no acúmulo de conhecimento, no desenvolvimento do pensamento humano e na tecnologia. Estamos interessados no tempo presente, mas queremos saber como evoluímos o nosso pensamento, nossos processos cognitivos, as emoções e o comportamento, além de nos interessar o papel dessa evolução para adaptabilidade da espécie. Assim, conseguimos prospectar nosso futuro, fundamentalmente analisando o impacto das tecnologias em nossas vidas, ou seja, analisamos o passado para buscar compreender as consequências da inteligência artificial, da automação no futuro, em nossa empregabilidade, por exemplo. No século XIX, vimos a Psicologia demarcar a sua área de conhecimento, não apenas utilizando os métodos da Filosofia, mas empregando o método científico. Em 1879, o objeto de estudo da Psicologia era a consciência, e o método foi a introspecção. Em 1913, abandonamos o estudo da consciência e passamos a focar no comportamento, por meio da observação. Na década de 1950, voltamos a estudar a consciência e também o comportamento, mas, então, a Psicologia era cognitiva. Os processos cognitivos e como estes modulam o comportamento eram o interesse dos psicólogos. O impacto da tecnologia, o modelo computacional e as Neurociências são importantes impulsionadores dessa parte da história, até os dias atuais. Em paralelo ao desenvolvimento da Psicologia, temos a história da Psicanálise, em suas sucessivas tentativas de compreender a aprimorar um sistema clínico que atue eficazmente no sofrimento psíquico do ser humano. Na década de 1960, o Humanismo criticou a Psicanálise e o Behaviorismo. Estabeleceu que estudar a personalidade humana, o seu potencial criativo e a tendência do aprimoramento do ego seriam objetos de estudo da Psicologia. Os humanistas, diferentemente de sistemas teóricos anteriores, acreditavam que a personalidade era moldada pelo presente, como o percebemos de modo consciente,ao contrário das experiências da infância, da Psicanálise, e do modelo do Determinismo ambiental, do Behaviorismo. Entretanto, quando surge uma nova escola de Psicologia, uma nova perspectiva teórica, a outra não é abandonada por completo, pois as diversas escolas coexistem ou se transformam. A Psicologia também viu o movimento da Gestalt, a era das testagens psicológicas (que é forte no século XXI), entre outros movimentos que duram até os dias atuais. Mas, no século XXI, a Psicologia apresentou uma proposta nova? O MOVIMENTO DA PSICOLOGIA POSITIVA A Psicologia Positiva como um movimento, um sistema dentro da Psicologia, é humanista? Em certos aspectos sim, em outros não. A Psicologia Positiva recebe influências do Humanismo, mas é um movimento que ocorre na transição do século XX para o século XXI. Vamos nos lembrar de que uma ciência não se desenvolve no vácuo. Um sistema teórico surge em uma área de conhecimento, basicamente, para preencher lacunas abertas, para estabelecer uma crítica (antítese) ou para inovar. De certa maneira, a Psicologia Positiva cumpre esses três papéis. TANTO A PSICOLOGIA POSITIVA QUANTO O HUMANISMO PROCURAM SABER: O QUE AS PESSOAS QUE SÃO FELIZES TÊM QUE OS DEMAIS NÃO TÊM? Essa pergunta é totalmente diferente de procurarmos saber como as pessoas psicologicamente doentes se diferenciam dos demais. A Psicologia Humanista também enfatizou aspectos positivos do desenvolvimento das pessoas e buscou compreender as razões dos comportamentos motivados, mas seu status científico, por diversas razões, não causou grande impacto na Psicologia dentro de uma perspectiva metodológica (metodologia científica). Maslow reconheceu a limitação de sua teoria dentro de uma perspectiva científica, mas também, que não existiria outra maneira para estudar os aspectos da autorrealização e, talvez, pudesse ter a esperança de que um dia seus estudos alcançariam confirmações. Mesmo sem estudos atuais que tragam evidências contundentes acerca da hierarquia de necessidades, em cinco pontos, empiricamente, a abordagem de Maslow é amplamente utilizada em certos contextos. Como vimos, a hierarquia em apenas dois eixos possui evidências que podemos generalizar para diversas populações. QUAL A INOVAÇÃO DA PSICOLOGIA POSITIVA? A Psicologia Positiva tenta compreender alguns adjetivos que são muito admirados quando os encontramos nas pessoas e superar as limitações pouco científicas do Humanismo. Vamos falar um pouco sobre Martin Seligman, psicólogo norte-americano, nascido em 1942, que ficou conhecido por sua teoria do desamparo aprendido, tanto pela qualidade dos achados, mas também pelas críticas ao desenho experimental que resultava em sofrimento para as cobaias. Foi presidente da Associação Americana de Psicologia (APA) no ano de 1997 e, em conjunto com Christopher Peterson (1950-2012), publicou Character, Strengths and Virtues (Caráter, Forças e Virtudes). Fonte: https://commons.wikimedia.org Martin Seligman Nesse livro, os autores estabelecem um contraponto para o DSM (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais norte-americano). Enquanto o DSM é utilizado para compreensão de psicopatologias e tratamento (doenças mentais ou do comportamento), o Character, Strengths and Virtues é utilizado para a análise das virtudes, potencialidades do indivíduo e para o seu desenvolvimento. QUAL FOI A INOVAÇÃO DESSA PUBLICAÇÃO? Ela sistematizou as forças de caráter e virtude tanto quanto os manuais nosológicos (Classificação Internacional de Doenças – CID) sistematizam doenças. A Psicologia Positiva, além de pensar os indivíduos, também pensa em instituições positivas que fomentem espaço para o desenvolvimento das virtudes. Além disso, pessoas positivas geram ambientes positivos. PSICOLOGIA POSITIVA VERSUS PSICOLOGIA COGNITIVA VERSUS NEUROCIÊNCIAS Um cérebro emocional se desenvolveu e funciona de modo adaptativo, em respostas psicológicas e ambientais, aos estímulos do meio destinados para nos afastar do perigo e nos aproximar de recompensas. Fonte: https://br.Psicologia-online.com Estruturas do Sistema Límbico De acordo com Bear, Connors e Paradiso (2017), o sistema límbico é descrito como o principal circuito mediador de nossas emoções. É um conjunto de estruturas situadas em regiões inferiores ao córtex. Ele integra uma série de áreas e se comunica com todo o sistema nervoso, demonstrando a interação entre essas áreas e estruturas com a finalidade de produzir, gerenciar uma função. A especialização de determinadas áreas do cérebro não é questionada, por exemplo, as áreas de linguagem e de memória. Mas pensar que é a interação de diversas estruturas que gerencia aspectos do nosso funcionamento e comportamento é muito atrativo e atual. A Psicologia Positiva não refuta as Neurociências, pois compreende a importância das redes neurais e como as informações são processadas. A Psicologia Positiva trabalha com parâmetros fenomenológicos da consciência, baseada em teorias da informação. Busca a compreensão dos acontecimentos, dos fenômenos e suas respectivas interpretações, e não apenas por meio do processamento das redes neurais, dos aspectos psicofisiológicos ou não conscientes. PSICOLOGIA POSITIVA: UM PROJETO PARA PSICOLOGIA DO SÉCULO XXI Seligman apresenta uma reflexão do papel da Psicologia para o nosso século: o desenvolvimento de forças de caráter e de valores como uma proposta para saúde mental. Sabedoria e conhecimento Forças que envolvem a aquisição e a utilização do conhecimento. Criatividade, pensamento crítico, gostar de aprender, curiosidade. Coragem Forças emocionais que envolvem o exercício da vontade para alcançar metas perante a oposição, externa e interna. Honestidade e perseverança. Humanidade Ajudar os outros. Amar, ser amado, bondade, habilidades sociais. Justiça Ações cívicas para promover uma vida comunitária saudável. Liderança, cidadania, integridade. Temperança A busca pelo equilíbrio, misericórdia, humildade, autorregulação, prudência. Transcendência Perceber a beleza, bom humor, gratidão, espiritualidade. Isso não significa abandonar os estudos das funções cognitivas e como elas modulam o comportamento, tampouco abandonar a Psicologia clínica em suas diversas modalidades. Continuamos em interseção com as Neurociências, com a discussão sobre a tecnologia, como incorporá-la à Psicologia, e o impacto dela em nossas vidas. Como um projeto para o século XXI, a Psicologia Positiva propõe rompermos com os discursos tradicionais e buscar novas práticas em como avaliar e desenvolver as forças de caráter e virtude nas pessoas, nas organizações e nas instituições. ATENÇÃO Um alerta que já tratamos é contra as falácias do conhecimento: muitas pessoas pegam carona na Psicologia para propor soluções e serviços para população. Algumas palavras da moda como coaching e Psicologia Positiva podem estar associadas a práticas meramente comerciais que não resultam no real desenvolvimento de pessoas, mas apenas fazem uma persuasão verbal, convencem, não são transformadoras da realidade. Por esse motivo, buscar um psicólogo para discutir sobre o seu desenvolvimento pessoal pode ser um exercício que trará melhores frutos para você, para o seu tempo e o seu investimento financeiro. O psicólogo terá toda a bagagem histórica, poderá avaliar a sua personalidade com cientificidade e tecnicidade. Poderá avaliar o seu perfil cognitivo, as maneiras que você usa para tomar uma decisão, suas forças de caráter e virtudes, utilizando as práticas psicológicas refinadas ao longo de mais de um século. Para a Psicologia Positiva, os pontos fortes de uma pessoa são tão importantes quanto as vulnerabilidades. Práticas no mercado que atuam com a Psicologia Positiva focadas nos pontos fortes cometem um erro técnico. Uma avaliação global é necessária. O profissional de Psicologia possui conhecimento técnico e a prerrogativa profissional para avaliar sua saúde mental, seu perfil de personalidade,perfil cognitivo e correlacionar com os seus pontos fortes, suas forças de caráter e virtudes. Esses dois aspectos compõem um projeto mais sustentável para o seu desenvolvimento pessoal. Existem muitas variáveis que impactam o nosso comportamento e, para um projeto sustentável no médio e longo prazo, para que você mude a sua vida, busque o desenvolvimento das suas forças de caráter e virtude, o profissional qualificado no mercado é da Psicologia com uma inscrição ativa em um conselho profissional (Conselho Regional de Psicologia). A Psicologia como ciência e a Psicologia Positiva funcionam muito bem em interseção com outras áreas de atuação, dentro das prerrogativas profissionais próprias das áreas de: pedagogia, licenciaturas, gestão, desenvolvimento de soluções e produtos para pessoas, entre outros. Agir com ética, cientificidade e tecnicidade, em acordo com sua formação, é seguro para o cidadão, para nossos filhos, pais, irmãos, familiares e amigos. PSICOLOGIA POSITIVA E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL Orientação profissional, no século XXI, é uma expressão que substitui a conhecida orientação vocacional. Podemos usar outras expressões, por exemplo, orientação de carreira, eleição de carreira ou gestão da carreira. O trabalho do orientador profissional implica qualquer etapa da vida que esteja associada ao mercado de trabalho. Fonte: https://pt.wikipedia.org A Primeira Revolução Industrial foi, no final do século XVIII, marcada pela tecnologia da máquina a vapor e a produção em larga escala. Fonte: https://www.teslasociety.com Na Segunda Revolução Industrial, no final do século XIX, as tecnologias que vimos foram a eletricidade e, na Filosofia, a discussão da sociedade industrial com os filósofos Marx e Engels. Fonte: https://pt.wikipedia.org Na Terceira Revolução Industrial, nas primeiras décadas do século XX, vivenciamos as tecnologias da automação e o conceito de taylorismo, menor jornada de trabalho com aumento da produção e Henry Ford e as linhas de produção. Essas transformações, nas sociedades capitalistas e, fundamentalmente, no Ocidente, resultaram em algumas consequências para a vida das pessoas. Atualmente, vivenciamos a Quarta Revolução Industrial, também chamada de indústria 4.0. O termo sociedade da informação, em vez de sociedade pós-industrial, demarca essa revolução. Tecnologia, inteligência artificial, robôs, profissões do futuro são discussões do nosso momento histórico, do nosso Zeitgeist. Fonte: https://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao Perfil demográfico da população, comparando o ano de 2010 e a projeção para o ano de 2060. O perfil populacional está mudando e, com isso, as características do mercado de trabalho também mudam. As necessidades das pessoas ao longo da história, principalmente com o advento da tecnologia, mudam. Compreender essas mudanças e o impacto da tecnologia na vida das pessoas e desenvolver as forças de caráter e virtude para o futuro é o projeto da Psicologia como uma profissão do futuro. O desafio é compreender o perfil de cada pessoa, levando em consideração o seu desenvolvimento ontogenético. Isso implica compreender em que época essa pessoa se desenvolveu, como ela formou seus valores e suas forças de caráter e como a Psicologia pode auxiliar cada geração a lidar com as demandas da sociedade 4.0. Cada geração apresenta um estilo próprio na maneira de aprender e se desenvolver. Cada geração possui forças de caráter e virtude desenvolvidas, de acordo com a necessidade de seu tempo, com a influência do momento cultural em que viveu, dos acontecimentos políticos e econômicos que vivenciou. Baby Boomers: Nascidos entre 1940 e 1960 Geração X: Nascidos entre 1961 e 1980 Geração Y: Nascidos entre 1981 e 1995 Geração Z: Nascidos entre 1996 e 2010 Geração Alpha: Nascidos depois de 2010 Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal POR QUE SE DIZ QUE A PSICOLOGIA É UMA PROFISSÃO DO FUTURO? Porque é uma ciência e uma profissão que foi desenvolvida na pressão da história, sempre preocupada em compreender o ser humano em seu tempo, com raízes na Filosofia e no método científico. No século XXI, a Psicologia como uma profissão do futuro significa o desenvolvimento de forças de caráter e virtudes das pessoas, bem como de suas habilidades emocionais e comportamentais (as chamadas soft skills). Um projeto de desenvolvimento pessoal significa compreender a história de aprendizagem, que é diferente de pessoa para pessoa, mas vinculada a um período cultural de determinada época. Desenvolver uma pessoa é investigar as fragilidades, descartar patologias ou encaminhar para um cuidado de saúde, quando necessário. Esses cuidados, associados ao levantamento das virtudes e das forças de caráter, resultam em um projeto para um desenvolvimento individual, personalizado, para o florescimento das soft skills de uma pessoa, com ética, cientificidade e tecnicidade, necessárias para a segurança e o respeito à população. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SISTEMATIZAMOS ALGUNS DOS PRINCIPAIS EVENTOS HISTÓRICOS QUE ESTÃO NO ALICERCE DA PSICOLOGIA COMO UMA CIÊNCIA E UMA PROFISSÃO. ESSA DIVERSIDADE DE SISTEMAS TEÓRICOS DA PSICOLOGIA SE DÁ POR DIVERGÊNCIAS DO OBJETO DE ESTUDO E DO MÉTODO EMPREGADO PARA ESTUDÁ-LO. A PSICOLOGIA POSITIVA SE CARACTERIZA: A) Pela busca da objetividade do método científico, abandonando a introspecção, para compreender como os conteúdos mentais influenciam comportamentos. B) Pela busca de compreender as forças e a virtude do caráter de uma pessoa. C) Pelo uso da observação sistemática e do método experimental para descrever as circunstâncias que um comportamento ocorre e modificá-lo, se necessário. D) Pelo estudo da percepção humana, suas propriedades e análise do comportamento pela reestruturação do campo perceptual. 2. SISTEMA ANALÍTICO DA PSICOLOGIA NO SÉCULO XXI QUE COMPREENDE O CÉREBRO COMO UM ÓRGÃO ATIVO, FENOMENOLÓGICO CONSCIENTE. A PSICOLOGIA TENTA COMPREENDER ALGUNS ADJETIVOS QUE SÃO MUITO ADMIRADOS QUANDO OS ENCONTRAMOS. DE QUAL SISTEMA ESTAMOS FALANDO? A) Psicologia Cognitiva. B) Conexionismo. C) Funcionalismo. D) Positivismo. GABARITO 1. Sistematizamos alguns dos principais eventos históricos que estão no alicerce da Psicologia como uma ciência e uma profissão. Essa diversidade de sistemas teóricos da Psicologia se dá por divergências do objeto de estudo e do método empregado para estudá-lo. A Psicologia Positiva se caracteriza: A alternativa "B " está correta. O psicólogo Martin Seligman publicou, com Christopher Peterson, um texto que sistematiza o que chamaram de forças de caráter e virtudes, estabelecendo um contraponto aos manuais dos transtornos mentais e do comportamento. 2. Sistema analítico da Psicologia no século XXI que compreende o cérebro como um órgão ativo, fenomenológico consciente. A Psicologia tenta compreender alguns adjetivos que são muito admirados quando os encontramos. De qual sistema estamos falando? A alternativa "D " está correta. A Psicologia Positiva visa construir processos singulares, menos científicos e mais sociais e relacionados a dinâmicas sociais. No limite, percebemos que esse movimento tenta superar as limitações pouco científicas do Humanismo. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS A produção de paradigmas tem sido a identidade da Psicologia. Conta a história que nascemos formalmente introspectivos com Wundt, nos anos de 1873 e 1879, respectivamente, com a publicação dos Princípios de Psicologia fisiológica, e a abertura do primeiro laboratório de Psicologia Experimental, na Alemanha. Até os dias atuais, ainda não encontramos uma grande teoria compatibilizadora, única metodologia ou definição para os seus construtos e as mesmas definições operacionais. Somos uma ciência ainda pré-paradigmática. O resultado é que, na Psicologia, encontramos profissionais que são comportamentalistas, cognitivistas, psicanalistas, humanistas, existencialistas, dentreoutras possibilidades. Existem também os que se dedicam a estudar os processos psicológicos básicos, o social, o desenvolvimento humano, a psicoterapia, a psicoFisiologia e outros campos de interesse. Além disso, há a Psicologia aplicada ao trânsito, à escola, às instituições, às organizações, entre outras áreas de atuação. A Psicologia é plural como profissão e como ciência, fazendo interseção com diversas outras áreas de conhecimento. Muitas profissões se beneficiam da Psicologia como ciência: pedagogos, professores, gestores, marketing, entre outros. Em todas as formas de atuação do psicólogo, em todas as áreas, tenha convicção de que a Psicologia apresenta paradigmas capazes de compreender com profundidade a complexidade do comportamento humano. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALLPORT, G. W. The nature of prejudice. 3. ed. Wokingham: Addison-Wesley, 1954. ANTUNES, M. A. M. Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos e perspectivas. In: Psicologia Escolar e Educacional, v. 12, n. 2, p. 469-475, 2008. BEAR, M. F.; CONNORS B. W.; PARADISO M. A. Neurociências: Desvendando o Sistema Nervoso. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. BECK, J. S. Terapia Cognitivo-Comportamental Teoria e Prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. BOFF, L. A águia e a galinha. 4. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 1999. DAVIDSON, R. J.; BEGLEY, S. O estilo Emocional do Cérebro. 1. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2013. REEVE, J. Motivação e Emoção. 4. ed. São Paulo: LTC, 2006. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2019. EXPLORE+ Assista ao filme Nise: O coração da Loucura, dirigido por Roberto Berliner. Nise da Silveira foi pioneira na Psicologia Analítica (Psicologia Junguiana) no Brasil. Para saber sobre a Lei do efeito, pesquise sobre o experimento clássico da caixa de problemas do Thorndike. Para saber mais sobre o Reflexo Condicionado, pesquise sobre o experimento clássico do cão de Pavlov. Se gostou da perspectiva do Humanismo, leia o livro Torna-se Pessoa, de Carl Rogers. Leia o artigo Modulações dos efeitos Simon e Stroop espacial por tarefas prévias de compatibilidade espacial, de Roberto Sena Fraga-Filho e colaboradores, e compreenda como é feita uma pesquisa experimental na área da cognição utilizando a cronometria mental. Leia o artigo Métodos de investigação em história da Psicologia, de Marina Massini. Leia o artigo História da Psicologia, de William Gomes. CONTEUDISTA Roberto Sena Fraga Filho CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DEFINIÇÃO A importância da linguagem e os centros de controle da linguagem no cérebro humano. Funções executivas clássicas; processamento encefálico de funções executivas; memória de trabalho; controle inibitório; flexibilidade cognitiva e redes frontais executivas. Emoções primárias, secundárias e de fundo; teorias da emoção; amígdala e medo; córtex pré-frontal e processamento emocional da tomada de decisão. PROPÓSITO Perceber que a linguagem, os comportamentos motivados, nossas emoções e as funções executivas são essenciais para respostas adequadas à vivência em sociedade como conhecemos, compreendendo, dessa forma, que identificar as bases neurais de tais processos é importante para que se entenda as diferentes respostas humanas, bem como suas adaptações. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os principais locais de processamento da linguagem no cérebro humano MÓDULO 2 Reconhecer as principais funções cognitivas processadas pelo controle executivo, discernindo a relevância de tais processos na adequação de respostas ao ambiente MÓDULO 3 Identificar a importância do processamento de emoções na tomada de decisões, a influência dos estados motivacionais e os locais encefálicos relacionados aos sentimentos INTRODUÇÃO IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO: Um professor em uma sala de aula (virtual ou não). Ele precisa explicar conceitos específicos sobre determinado assunto aos seus alunos. Para tal, ele organizou previamente um plano de aula, no qual estruturou suas ideias principais e a ordem dos assuntos que serão abordados. O professor inicia sua fala, e os alunos ouvem o discurso e fazem anotações em seus cadernos, tablets e smartphones. A comunicação se estabeleceu e foi bem-sucedida. O professor conseguiu com sucesso passar sua mensagem, que foi transmitida por meio do uso da linguagem verbal e não verbal. Além de sua fala, o professor providenciou imagens sobre o assunto em questão, que isso facilitou o entendimento da matéria. Nesse processo, tanto o professor quanto os alunos realizaram diversas atividades, na sala ou mesmo antes de chegar a ela; das mais simples (como amarrar o cadarço do tênis) às mais complexas (como elaborar esquemas, gráficos e imagens que facilitem a compreensão de determinado conteúdo). Fonte: Shutterstock FUNÇÕES EXECUTIVAS AÇÕES E ATITUDES DIRETAMENTE ASSOCIADAS A PARTES ESPECIFICAS DO CÉREBRO Por isso, todas essas atitudes são funções executivas, que estão diretamente ligadas a partes específicas de nosso cérebro. Ao mesmo tempo, não somos capazes de compreender como aconteceria a cena hipotética que mencionamos sem imaginarmos se o professor chegou bem-humorado ou não, ou se algum aluno sequer anotou uma frase, já que se recusava a dar atenção àquele que lhe deu nota 2,0 na prova anterior. Fonte: Shutterstock Você já se deu conta de como seriam as relações humanas se elas fossem desprovidas de emoção? TALVEZ NÃO, MAS A VERDADE É QUE AS EMOÇÕES SÃO TÃO NECESSÁRIAS COMO HABILIDADES ADAPTATIVAS QUANTO OS MECANISMOS DE TOMADA DE DECISÃO. DESSA FORMA, COMPREENDER COMO A EMOÇÃO É PROCESSADA NO CÉREBRO PODE TRAZER INFORMAÇÕES RELEVANTES SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO EM DIFERENTES SITUAÇÕES. É EXATAMENTE ISSO QUE VAMOS ESTUDAR AGORA! MÓDULO 1 IDENTIFICAR OS PRINCIPAIS LOCAIS DE PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM NO CÉREBRO HUMANO POR QUE ESTUDAR A LINGUAGEM? Mas, o que é linguagem, afinal? Podemos defini-la como um sistema de comunicação com regras específicas para que um emissor envie mensagens a um receptor, de maneira que a mensagem principal seja compreendida. Fonte: Shutterstock Os sistemas de comunicação abrangem algumas especificações. São elas: Clique nos itens a seguir. SISTEMA DE COMUNICAÇÃO PRÓPRIO AVANÇO TECNOLÓGICO EVOLUÇÃO HUMANA Embora alguns animais, incluindo primatas não humanos, possuam sistemas de comunicação próprios, a linguagem humana, sem dúvidas, é a mais complexa. Basta observarmos como a língua de determinado local sofre mudanças com o tempo: recebe novas palavras, criam-se neologismos, termos, gírias. Com o avanço da tecnologia e das realizações humanas em todas as áreas, novas palavras e novos vocabulários são criados a fim de acompanharem o desenvolvimento da sociedade. Sem contar as palavras que são absorvidas das mais diversas línguas e modificadas para se ajustarem às regras gramaticais de outra localidade. Com certeza, nossas tataravós não saberiam dizer o que é um drone ou um smartphone. Entretanto, ambos fazem parte de nossa vida no presente e sabemos seus significados e suas funções. A linguagem, portanto, é uma adaptação fundamental na evolução dos seres humanos, e não é formada apenas de sons específicos, mas envolve ainda gestos e expressões faciais, que trazem emoção ao discurso. Durante muito tempo, o estudo da linguagem humana limitou-se a ensaios e testes com pacientes com lesões cerebrais, cujos danos restringiram aspectos da linguagem. Porém, com o avanço da tecnologia de imagens, foi possível inserir a Neurociência no processo de investigação das áreas cerebrais voltadas à linguagem, o que possibilitou uma compreensão maior do fenômeno. ALGUNS ASPECTOS DA LINGUAGEM A linguagem pode ser desmembrada em componentes mais específicos; por exemplo, a linguagem verbal inclui a vocalização de sons e a compreensão dos mesmos via sistema auditivo. Dessa maneira, dependendo do tipo de linguagem utilizada,haverá um pareamento de sistemas para a compreensão da mensagem. Quando a linguagem utilizada for escrita, o sistema visual será encarregado de receber tais estímulos. Se a linguagem utilizada for o braille, por exemplo, o sistema somestésico será o primeiro a receber as informações necessárias para que a comunicação ocorra. Linguagem verbal javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Shutterstock BRAILLE Sistema de escrita com pontos em relevo que as pessoas privadas da visão podem ler pelo tato e que lhes permite também escrever; anagliptografia. SISTEMA SOMESTÉSICO O sistema somestésico está ligado à percepção tátil. Fonte: Shutterstock Quando comparamos a linguagem verbal falada com a linguagem escrita, por exemplo, entendemos que a primeira possui fortes bases neurais, uma vez que, nos primeiros meses de vida, os seres humanos já são capazes de iniciar processos de aprendizagem neste campo. Ao passo que a escrita ocorre em etapas posteriores da vida e depende de uma educação formal, o que nem sempre ocorre. No entanto, a linguagem deve ser considerada universal, no sentido de que todas as sociedades apresentam sistemas bem definidos de regras e se comunicam, ao menos, verbalmente. A universalidade da linguagem nos traz a ideia de que tal fenômeno é inato ao ser humano e que, provavelmente, existam áreas específicas no cérebro para o processamento desses dados. Linguagem universal Fonte: Shutterstock Seguem, então, alguns conceitos comuns utilizados na área de linguagem: FONEMA São unidades formadoras das palavras. São sons distintos, cuja junção resulta em palavras e frases. SINTAXE Estrutura de regras gramaticais para associação de palavras em frases. SEMÂNTICA Trata-se da compreensão do significado das palavras. PROSÓDIA São inflexões, entonações de voz, gestos e expressões faciais que acompanham a fala. ÁREAS ENCEFÁLICAS ENVOLVIDAS NA FALA Você já se deu conta que a associação entre regiões cerebrais e a fala é uma descoberta relativamente recente? EXATAMENTE! DURANTE MUITO TEMPO, ACREDITOU-SE QUE TODOS OS PROCESSOS DE REGULAÇÃO DA FALA SE DAVAM APENAS EM NÍVEIS INFERIORES, MAIS ESPECIFICAMENTE OS MÚSCULOS DA BOCA, LÍNGUA E LARINGE. A partir de 1770, vieram os primeiros indícios de que áreas encefálicas estariam associadas a problemas na fala. Porém, em 1863, o neurologista francês Paul Broca publicou um artigo relatando vários casos de indivíduos com lesões nos lobos frontais, especificamente no hemisfério esquerdo, nos quais a linguagem estava comprometida. No ano seguinte, Broca propôs que havia dominância do hemisfério esquerdo no que diz respeito à linguagem em relação ao hemisfério direito. PAUL BROCA javascript:void(0) Paul Broca (1824-1880) nasceu na França. Logo após concluir o curso de Medicina na Universidade de Paris (1844), tornou-se professor de Patologia Cirúrgica. Sua maior contribuição à Neurologia foi a identificação, no cérebro, do centro do uso da palavra (área de Broca). Confira, então, alguns aspectos relacionados as áreas encefálicas e a relação entre os problemas na fala. PROCEDIMENTO DE WADA O procedimento de Wada – uma técnica mais moderna desenvolvida por Juhn Wada no Instituto Neurológico de Montreal – pode comprovar tal afirmativa. Esse procedimento consiste na administração de um barbitúrico de ação rápida pela artéria carótida de apenas um dos lados do pescoço, o que faz com que apenas um hemisfério seja anestesiado. Dentre os efeitos transitórios, estão: paralisia do corpo no lado contralateral à injeção e problemas na execução de tarefas que, especificamente, são controladas pelo hemisfério anestesiado. Observe a figura: Utilizando anestésicos de ação rápida, é possível anular as funções de um único hemisfério e observar as atividades que ele regula. Dessa forma, foi possível associar a anestesia do hemisfério esquerdo e a total incapacidade de fala. Em 96% dos destros e em 70% dos canhotos, o hemisfério esquerdo é dominante para a fala. Apenas em uma parcela muito pequena da população observa-se bilateralidade da fala. javascript:void(0) Fonte: Shutterstock Procedimento de Wada ÁREA DE BROCA A área que Broca identificou como a responsável pela articulação da fala acabou ficando conhecida como área de Broca. Complementando o estudo, o neurologista alemão Karl Wernicke mostrou que lesões no hemisfério esquerdo, fora da área de Broca, também resultam em dificuldades na fala. Tal área ficou conhecida como área de Wernicke e localiza-se próximo ao córtex auditivo e ao giro angular. Apesar de tais áreas, ainda hoje, serem implicadas em aspectos da linguagem, sabe-se que seus limites não estão totalmente esclarecidos e podem ser ainda mais abrangentes. javascript:void(0) Fonte: Shutterstock Componentes principais do sistema de linguagem no hemisfério esquerdo JUHN WADA Juhn Wada (Japão, 1924) desenvolveu pesquisas na área de epilepsia, incluindo sua descrição do teste de Wada para domínio hemisférico cerebral da função da linguagem. Suas principais áreas de interesse são: assimetrias do cérebro humano e neurobiologia da epilepsia. Além disso, há variações entre os indivíduos, já que existem questões genéticas associadas à linguagem. Como o cérebro e suas estruturas são plásticos e mutáveis frente aos diferentes estímulos ao longo da vida, os circuitos podem sofrer variações de um indivíduo para o outro. KARL WERNICKE Karl Wernicke (1848-1905) nasceu na região da Prússia (onde hoje é a Polônia/Alemanha). Estudou Neurologia, buscando identificar doenças nervosas de áreas específicas do cérebro. Dedicou-se a pesquisar distúrbios que implicam na funcionalidade da fala e escrita. O ESTUDO DAS AFASIAS E O MODELO DE WERNICKE-GESCHWIND Você já percebeu que parte dos estudos sobre a linguagem e sua associação com áreas encefálicas advém da análise de casos de afasias? É ISSO MESMO! A AFASIA É A PERDA PARCIAL OU COMPLETA DA FALA, RESULTANTE DE LESÕES ENCEFÁLICAS. NA MAIORIA DAS VEZES, ISSO ACONTECE SEM QUE HAJA PERDA COGNITIVA OU DA CAPACIDADE DE MOVER OS MÚSCULOS ENVOLVIDOS NA FALA. A afasia de Broca é caracterizada pela perda da capacidade de fala, com preservação da compreensão do que é ouvido ou lido. Pessoas com essa síndrome apresentam fala difícil e telegráfica com recorrente anomia, ou seja, incapacidade de encontrar nomes. Tal anomia é seletiva, uma vez que palavras de conteúdo, como substantivos, verbos e adjetivos, são frequentemente utilizadas. Já palavras de função, como artigos, conjunções e pronomes, não são utilizadas e não fazem parte das frases. Conclui-se que a afasia de Broca está relacionada a algum tipo de dificuldade motora na articulação da fala, uma vez que a compreensão é mantida, porém a externalização das palavras, não. Fonte: Shutterstock AFASIA DE BROCA Também conhecida como afasia motora ou não fluente, pois a pessoa tem dificuldade em falar mesmo que possa entender a linguagem falada ou lida. Caracterizada por dificuldades no discurso, incluindo uma ampla gama de sintomas. O discurso dos pacientes é frequentemente telegráfico e custoso, vindo em rompantes desiguais. javascript:void(0) Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre afasias. Wernicke sugeriu que a área lesada na afasia de Broca poderia ser responsável pelo controle motor na articulação de sons e palavras. Tal ideia faz sentido quando percebemos que a área de Broca está localizada próximo à área do córtex motor, que controla a boca e a língua. Entretanto, em alguns pacientes com essa síndrome, observa-se a possibilidade de eles falarem palavras como bee (abelha, em inglês), mas nota-se igualmente a incapacidade de pronunciar palavras foneticamente similares como be (ser, em inglês). Conclui-se, portanto, que o problema estaria na distinção entre palavras de função e palavras de conteúdo, e não em problemas meramente motores, como muitos pesquisadores da área afirmam. Acompanhe mais alguns aspectos sobre a afasia de Wernicke.TAREFA NÃO VERBAL Devido ao fluxo de fala incompreensível, é difícil verificar com a afasia de Wernicke se está havendo ou não compreensão do que é dito ou escrito. Dessa forma, designa-se determinada tarefa não verbal para verificar a compreensão do paciente. Por exemplo, pode-se pedir ao indivíduo que coloque determinado objeto sobre outro. O que se observa é que não há capacidade de compreensão mesmo para tarefas simples como essa. SONS DE ENTRADA Da mesma maneira que a área de Broca fica perto de regiões motoras que controlam boca e língua, a área de Wernicke localiza-se próximo ao córtex auditivo. Tal associação pode induzir à ideia de que tal área está relacionada aos sons de entrada e seus significados. Em outras palavras: seria uma área de formação de memória entre sons e seus significados, o que gera a compreensão da palavra propriamente dita. REGULAÇÃO DA LINGUAGEM Ainda em seu estudo com afásicos, Wernicke propôs um modelo de processamento de linguagem no encéfalo, o qual foi complementado por Norman Geschwind. Esse modelo, conhecido por Modelo de Wernicke-Geschwind, acaba sendo uma simplificação do que ocorrem em termos de regulação da linguagem na realidade. NORMAN GESCHWIND Norman Geschwind (1926-1984) nasceu nos Estados Unidos e teve como foco de interesse a Neurologia Comportamental. Curiosamente, ele ingressou em Harvard para estudar Matemática; porém, a Psicologia chamou sua atenção ao observar os soldados na Segunda Guerra Mundial (quando ele serviu ao Exército), agindo de forma irracional nos combates. Para compreendermos esse modelo, vamos considerar duas situações distintas: repetição de palavras e a leitura em voz alta de um texto escrito. javascript:void(0) REPETIÇÃO DE PALAVRAS Nesse caso, as informações chegam ao encéfalo via sistema auditivo até o córtex auditivo. Este, por sua vez, processa as informações recebidas, as quais somente serão reconhecidas como palavras com significado quando processadas na área de Wernicke. As palavras serão finalmente pronunciadas depois que as informações chegarem à área de Broca, onde comandos neurais serão enviados às regiões motoras responsáveis pelo controle da língua e dos músculos associados à fala. Fonte: Shutterstock Repetição de palavras faladas (Modelo de Wernicke-Geschwind). LEITURA EM VOZ ALTA DE UM TEXTO ESCRITO Já nessa situação, em que a tarefa é a leitura de um texto escrito, o processo final é similar, mas o início difere pelo fato de o sistema de entrada ser o visual, e não o auditivo. Nesse caso, as informações chegam ao córtex visual, são processadas e passam ao giro angular, onde serão novamente processadas e transformadas em sinais de saída para a área de Wernicke, como se fossem sinais falados, e não escritos. O processo final é o mesmo do caso anterior, com as informações sendo levadas à área de Broca e, então, para o córtex motor. Fonte: Shutterstock Repetição de palavras escritas (Modelo de Wernicke-Geschwind) SIMPLIFICAÇÕES DO MODELO DE WERNICKE- GESCHWIND Embora coerente, o modelo acaba simplificando demais certos aspectos. Por exemplo, as informações visuais podem chegar diretamente à área de Broca, sem passar pelo giro angular. As informações visuais não precisam ser transformadas em informações auditivas, como sugerido. Além disso, sabe-se atualmente que os danos nas afasias de Broca e Wernicke dependem da extensão das áreas lesadas e de regiões não mencionadas no modelo, como o núcleo caudado e o tálamo (ambas áreas subcorticais). Outro aspecto importante reside no fato de que, em um acidente vascular cerebral (AVC), a borda limítrofe das lesões é variável, o que pode incluir ou não áreas de relevância à linguagem e que acabaram excluídas do modelo. Foram reportados ainda estudos que evidenciam a recuperação de áreas lesadas, ou ainda a substituição de função por áreas anteriormente não relacionadas à linguagem, o que agrava a compreensão dos quadros. Vários casos de afasia são acompanhados de disfunções da fala e da compreensão ao mesmo tempo. Dessa forma, foram propostos modelos mais complexos de análise, mas que mantêm alguns aspectos básicos do modelo de Wernicke-Geschwind. Fonte: Shutterstock AFASIA DE CONDUÇÃO Clique nas setas para ver o conteúdo. Fonte:Shutterstock Feixe arqueado – fibras responsáveis pela conexão entre as áreas de Broca e Wernicke. Outro tipo de afasia existente é a afasia de condução, na qual ocorre desconexão entre as áreas de Broca e Wernicke. Tal perda de conectividade ocorre devido a lesões no fascículo arqueado, um conjunto de fibras que conectam ambas as áreas de linguagem. Nesse tipo de afasia, a compreensão e a fala são mantidas. Entretanto, como há perda da comunicação entre as áreas, há perda da capacidade de repetir palavras. O paciente até pode ouvir uma palavra ou frase e compreender o que foi dito, mas será incapaz de repeti-la em voz alta da forma correta. ESPECIALIZAÇÃO HEMISFÉRICA Quando Paul Broca apresentou seus trabalhos sobre a prevalência do hemisfério esquerdo na formação da linguagem, a comunidade científica entendeu e aceitou que haveria dominância de tal hemisfério em relação ao direito, que teria apenas funções secundárias e coadjuvantes. Entretanto, o conceito de dominância hemisférica tornou-se ultrapassado; o que se entende atualmente é o conceito de especialização, e não dominância. A especialização hemisférica se traduz em hemisférios distintos, cada qual especializado em um grupo de funções. Porém, ambos trabalham em conjunto, integrados por milhões de fibras denominadas comissuras cerebrais. Fonte: Shutterstock Comissuras cerebrais O conceito de especialização é correlacionado a outros dois conceitos: o de lateralidade e assimetria. Clique nos itens a seguir. LATERALIDADE ASSIMETRIA A lateralidade ocorre quando não há bilateralidade em alguma função e algum hemisfério acaba sendo responsável por determinada função majoritariamente. O conceito de assimetria é mais amplo e pode ser considerado sob a ótica de diversas modalidades: assimetrias morfológicas, funcionais e comportamentais. ASSIMETRIAS MORFOLÓGICAS Uma observação precisa ser feita para que nenhuma informação seja considerada de forma simplista. O conceito de especialização hemisférica não pode ser traduzido como se o hemisfério esquerdo fosse inteiramente responsável pela fala e o direito, pelas javascript:void(0) emoções, por exemplo. Tais fatos incorrem em afirmações que carecem de necessária comprovação científica. Se quiser se aprofundar nesse assunto, visite o Explore+ ao final no tema. Ainda sobre esse estudo, utilizou-se pacientes cujas comissuras foram seccionadas a fim de evitar crises epilépticas fortes, é possível pesquisar as especialidades hemisféricas fornecendo estímulos que serão processados apenas por um lado do cérebro. Por meio de tais estudos, foi possível localizar as especializações e associá-las aos seus respectivos hemisférios, como também perceber o papel das comissuras na integração dos hemisférios. Por exemplo, quando falamos, veiculamos tanto informações cognitivas quanto afetivas, e isso se dá por integração entre os hemisférios. A prosódia é codificada pelo hemisfério direito, enquanto o esquerdo regula a compreensão linguística e a fala. Fonte: Shutterstock Especialização hemisférica COMISSURAS Conjunto de fibras que têm a função de ligar um hemisfério do cérebro a outro. javascript:void(0) Acredita-se que a única generalização permitida quando se trata de especialização hemisférica é a de que o hemisfério esquerdo trata de funções mais específicas, enquanto o direito regula funções mais globais. Com o avanço das técnicas de imagem, foi possível observar em mais detalhes a ativação de partes específicas do encéfalo quando da execução de determinadas tarefas. Os resultados obtidos por ressonância magnética funcional de interferência (IRMf) e tomografia por emissão de pósitrons (TEP) mostramcerta bilateralidade na execução de tarefas ligadas à linguagem, indo de encontro ao que se observa majoritariamente por meio de exames com pacientes lesionados ou em situações de anestesia hemisférica, como no teste de Wada. Fonte: Shutterstock VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A IDEIA DE HEMISFÉRIOS DOMINANTES NÃO É MAIS ACEITA DESDE QUE SE ENTENDEU QUE OS HEMISFÉRIOS SE COMPLEMENTAM EM FUNÇÕES, NÃO NECESSARIAMENTE EXECUTANDO AS MESMAS AÇÕES, MAS ESPECIALIZANDO-SE. SOBRE A FALA E ESPECIALIZAÇÃO HEMISFÉRICA, É POSSÍVEL AFIRMAR QUE: A) O hemisfério esquerdo é o único responsável pela execução da fala. B) Ambos os hemisférios estão envolvidos na construção da linguagem. C) As comissuras permitem a comunicação entre neurônios do mesmo hemisfério. D) Tanto em indivíduos destros quanto em indivíduos canhotos observa-se em igual proporção a dominância do hemisfério esquerdo. 2. GRANDE PARTE DOS ESTUDOS QUE DERAM ORIGEM À ÁREA DE NEUROCIÊNCIA DA LINGUAGEM ADVÉM DE PACIENTES COM LESÕES ORIUNDAS DE CIRURGIAS OU LESÕES CAUSADAS POR ACIDENTES VASCULARES QUE CULMINARAM EM AFASIAS ESPECÍFICAS. ENTRETANTO, EMBORA NOS OFEREÇAM INFORMAÇÕES RELEVANTES SOBRE FUNÇÕES COMPROMETIDAS A PARTIR DAS LESÕES, ALGUNS DADOS CONTRAPÕEM TAIS ESTUDOS. ASSINALE A AFIRMATIVA CORRETA SOBRE O ASSUNTO: A) As afasias podem variar em sintomas devido ao tamanho e à região das lesões que as geraram, trazendo alguns indícios de que as regiões definidas originalmente possuem limites variáveis. B) Apesar de as técnicas de imagem serem resultados mais específicos, a observação de sintomas em afásicos traz mais detalhes sobre as áreas estudadas. C) As áreas de Broca e Wernicke são específicas, respectivamente, no controle de compreensão da linguagem e controle do aspecto motor da linguagem. D) As lesões que resultam em afasias fornecem dados bastante acurados sobre a localização dos circuitos referentes à formação de linguagem, tanto em compreensão quanto em resposta motora. GABARITO 1. A ideia de hemisférios dominantes não é mais aceita desde que se entendeu que os hemisférios se complementam em funções, não necessariamente executando as mesmas ações, mas especializando-se. Sobre a fala e especialização hemisférica, é possível afirmar que: A alternativa "B " está correta. Apesar de a maioria das regiões designadas para a fala estarem localizadas no hemisfério esquerdo, o conjunto de informações resultantes da fala inclui processamento linguístico do hemisfério esquerdo, mas também processamento prosódico, o qual é resultado do hemisfério direito. 2. Grande parte dos estudos que deram origem à área de Neurociência da Linguagem advém de pacientes com lesões oriundas de cirurgias ou lesões causadas por acidentes vasculares que culminaram em afasias específicas. Entretanto, embora nos ofereçam informações relevantes sobre funções comprometidas a partir das lesões, alguns dados contrapõem tais estudos. Assinale a afirmativa correta sobre o assunto: A alternativa "A " está correta. As lesões que ocasionam afasias são, normalmente, oriundas de AVCs, os quais podem variar em extensão e fatores associados. Dessa maneira, os dados relacionados a tais condições podem não ser exatamente específicos em termos de localização e função relacionada. Os exames de imagens podem proporcionar mais dados associados, facilitando o estudo de tais regiões no encéfalo. MÓDULO 2 RECONHECER AS PRINCIPAIS FUNÇÕES COGNITIVAS PROCESSADAS PELO CONTROLE EXECUTIVO, DISCERNINDO A RELEVÂNCIA DE TAIS PROCESSOS NA ADEQUAÇÃO DE RESPOSTAS AO AMBIENTE CONTROLE EXECUTIVO A IMPORTÂNCIA DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS Já parou para pensar sobre qual a Importância das funções executivas? TODOS OS DIAS, EXECUTAMOS DIVERSAS ATIVIDADES E RESPONDEMOS AO AMBIENTE COM COMPORTAMENTOS NORMALMENTE ADEQUADOS ÀS SITUAÇÕES. VAMOS AO TRABALHO, À FACULDADE, DIRIGIMOS, PEGAMOS TRANSPORTES, DEPARAMO-NOS COM PESSOAS, POR VEZES DESCONHECIDAS, E LIDAMOS COM SITUAÇÕES, ORA CORRIQUEIRAS, ORA DESAFIADORAS Em paralelo, para criar respostas adequadas aos estímulos, nosso encéfalo (composto por cérebro, cerebelo, tronco encefálico), por meio de suas inúmeras e complexas conexões neurais, processa tais estímulos e adiciona ainda componentes emocionais, memórias e outros aspectos que compõem nossas reações. Em outras palavras, nossas ações externalizadas são resultado de uma série de processos executivos coordenados, ou seja, existe um comando executivo atuando a todo momento na mediação de nossas respostas frente aos estímulos recebidos constantemente. Fonte: Shutterstock Componentes do encéfalo. POR EXEMPLO, IMAGINE-SE NA SEGUINTE SITUAÇÃO: Você está entrando em um restaurante para almoçar com seu chefe. Você nunca esteve nesse restaurante; ainda assim, você sabe exatamente o que fazer. Você decide o prato que vai pedir levando em consideração suas preferências alimentares, o custo-benefício de seu pedido e sua dieta recém-iniciada. Paralelamente, você está preocupado com as respostas que dará ao seu chefe, já que, claramente, esse almoço é um teste. Você decide rapidamente quais informações dará e de que maneira o fará utilizando a linguagem adequada à situação. Com certeza, não trará à tona o atraso do mês anterior, a não ser que seu chefe aborde o assunto. Você provavelmente não vai beber do copo dele nem dar uma garfada no risoto de camarão que ele pediu. Também não contará piadas. Por que trouxemos tal exemplo? PORQUE, EMBORA PAREÇAM AÇÕES COMUNS, PESSOAS COM DISFUNÇÕES EXECUTIVAS, DEPENDENDO DA REGIÃO AFETADA, PODEM TER DIFICULDADES PARA ATUAR EM TAL SITUAÇÃO. ATENÇÃO Na verdade, o domínio executivo permite que consigamos planejar, flexibilizar quando necessário e autorregular nossos processos mentais e comportamentais. O CASO PIONEIRO O conceito de função executiva veio da percepção de que indivíduos com sérios problemas comportamentais e de personalidade podem apresentar resultados normais (ou até superiores em desempenho) em testes cognitivos padronizados. É o caso de Phineas Gage, o indivíduo cujo acidente com uma barra de ferro modificou sua vida e as pesquisas sobre o funcionamento do cérebro (na verdade, encéfalo). Fonte: Wikipédia Simulação dos danos de conectividade e crânio de Phineas Gage Em 1848, Gage, que trabalhava na construção de uma estrada de ferro nos Estados Unidos no auge de seus 25 anos de idade, teve a cabeça atravessada de baixo para cima por uma barra de ferro de 1m de comprimento e 30mm de diâmetro. Incrivelmente, foi levado com vida ao hospital, onde detectou-se a perda de parte do lobo frontal esquerdo. Gage perdeu a visão e ficou com o rosto paralisado no lado onde a barra o atingiu. Embora suas funções cognitivas estivessem aparentemente intactas, Gage foi incapaz de retornar ao trabalho devido a mudanças drásticas em seu comportamento. Dentre elas, apresentava-se mais agressivo e menos respeitoso com quem interagisse, principalmente se fosse contrariado. Passou parte de sua vida posterior ao acidente exibindo-se em circos com sua barra de ferro. Faleceu junto à família de mal epiléptico. O caso relatado nos mostra a importância da função executiva ou do controle executivo. Phineas apresentou resultados adequados em testes padronizados de funções cognitivas como memória, capacidade de realizar cálculos, além de testes relacionados à linguagem. Entretanto, sua convivência em sociedade e a execução de seu trabalho foram afetados de forma drástica por mudanças nas funções executivas. Um dos axiomas da Neuropsicologia diz que o funcionamento executivo adequado gera autonomia ao indivíduo em relação ao meio ambiente. Confira alguns aspectos importantes desse tema: Clique nos itens a seguir. javascript:void(0) AUTONOMIA PERDIDA X LESÕES AUTONOMIA PERDIDA X MEIO AMBIENTE Nesse caso, quando a autonomia é perdida por lesões específicas em áreas relacionadas ao controle executivo, perde-se parte da capacidade adaptativa ao ambiente. A perda de autonomia emrelação ao ambiente está relacionada ao fato de que os estímulos externos, em situações onde a função executiva não está preservada, acabam por se tornar prevalentes em relação às vontades e aos planejamentos do indivíduo. AXIOMAS Axioma, originário da Lógica, corresponde a uma sentença inicial ou fundamento de alguma teoria sobre a qual se desenvolvem novos conceitos. Para compreender essa relação entre autônima perdida e o meio ambiente é necessário analisar um dos principais testes de função executiva: Você conhece o teste de Stroop ou teste de interferência cor-palavra? Neste teste, é pedido ao indivíduo que diga em voz alta, o mais rápido que conseguir, o nome das cores de uma sequência dada (figura 10). No primeiro caso, o estímulo é a imagem de círculos de cores diferentes. Na segunda etapa, ocorre o teste de interferência propriamente dito. O estímulo, agora, consiste na mesma sequência de cores. Porém, em vez de círculos coloridos, aparecem os nomes de cores impressos em cores incongruentes. AGORA É COM VOCÊ! FAÇA O TESTE DE STROOP! Instrução: Você irá precisar de um marcador de tempo, um cronômetro para esse teste. ETAPA 1: Leia em voz alta, o mais rápido que conseguir, o nome das cores disponíveis na figura. Marque o tempo que você gastou para realizar essa leitura. ETAPA 2: Leia em voz alta, o nome escrito das cores na figura. Marque, também, o tempo que você gastou para realizar essa leitura. Teste de Stroop. À esquerda, prancha com estímulos de denominação de cores. À direita, prancha com estímulos de interferência cor-palavra (os nomes são impressos em cores incongruentes). QUAL O TEMPO QUE VOCÊ GASTOU PARA REALIZAR A LEITURA DE CADA TESTE? Neste teste, com os tempos anotados em cada tarefa, verifica-se que pessoas cujas funções executivas estão íntegras, ocorre uma diferença de, em média, dez segundos entre a primeira etapa e a segunda. Fonte: Shutterstock No entanto, como tal teste comprova a integridade (ou não) das funções executivas? Entenda! A leitura exerce certo predomínio sobre a denominação de cores em pessoas alfabetizadas. Dessa maneira, o estímulo sensorial da palavra escrita acaba sendo mais forte do que o estímulo de denominação da cor impressa. Para obter sucesso no teste, o indivíduo deve suprimir a tendência natural de ler a palavra escrita, o que indica flexibilidade e autonomia sobre os estímulos ambientais. Já os indivíduos que não possuem as funções executivas íntegras levam muito mais tempo para executar a segunda parte do teste, pois tendem a verbalizar o nome da cor impressa. COMPONENTES PREFERENCIAIS DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS Clique nas setas para ver o conteúdo. Existem diversas abordagens ao se nomear as funções executivas (FE). É possível encontrar listas extensas do que seriam ou são tais funções. Porém, antes disso, é importante compreender que a ideia de controle executivo é algo maior, por trás de funções cognitivas como a memória e a atenção, por exemplo. Além disso, tal controle superior tem por objetivo, dependendo da situação, exercer um direcionamento de nossas funções cognitivas. Em outras palavras, existem funções cognitivas que nos permitem compreender o mundo, dar atenção aos estímulos adequados e reagir a eles. Acima de tais funções, está o comando executivo gerenciando como todas essas funções serão orquestradas a fim de retornar uma ação adaptativa. Apesar de ser possível encontrar listas com componentes distintos, entende-se que os principais elementos de controle executivo são: Clique nos itens a seguir. MEMÓRIA DE TRABALHO FLEXIBILIZAÇÃO COGNITIVA CONTROLE INIBITÓRIO Esse tipo de memória gerencia a nossa capacidade de reter e manipular informações distintas por curto espaço de tempo. Tal função permite que consigamos realizar tarefas sequenciais com início, meio e fim, sem se perder em meio às informações. Indivíduos com lesões no córtex pré-frontal podem apresentar distúrbios de memória de trabalho e, com isso, tornam-se incapazes de ler um texto extenso ou cozinhar, por exemplo. Ao ler um texto, é necessário memória de trabalho para que se possa lembrar do parágrafo anterior e dar sentido ao que se está lendo. É esse tipo de memória que possibilita a realização de cálculos mentalmente e a estruturação de pensamentos complexos que dependam de várias informações simultâneas. Essa função executiva visa sustentar ou alternar atenção em resposta a diferentes demandas ou, ainda, auxilia a aplicar diferentes regras a situações adequadas. Por exemplo, um indivíduo faz seu caminho até a faculdade todos os dias. Entretanto, em um dia específico, pode ser que ele necessite passar no banco antes de ir à faculdade e, assim, terá de modificar seu trajeto habitual. Parece algo simples de se fazer, já que há um objetivo: passar no banco. Entretanto, pessoas com lesões do córtex pré-frontal podem se mostrar incapazes de reorientar seus trajetos, já que a “regra” original é manter o caminho até a faculdade diariamente. É a habilidade utilizada no controle de nossos impulsos, a fim de que resistamos a distrações e hábitos e consigamos parar antes de reagir. Esse tipo de controle permite a atenção seletiva e sustentada, além da capacidade de priorizar tarefas a fim de alcançar objetivos pré- estabelecidos. Está correlacionada diretamente aos processos de controle emocional. Em resumo, o controle executivo é evocado quando é necessário suplantar respostas prepotentes, ou seja, respostas habituais e que são mais fortes do que as novas ações requeridas. Em outras palavras, as funções executivas são necessárias quando é preciso atuar de forma contrária a um hábito fortemente adquirido. HÁBITO FORTEMENTE ADQUIRIDO Quando alguma ação é repetida por nós muitas vezes, cria-se um hábito. Neurologicamente, isso significa que houve a criação de um circuito específico que se repete em looping toda vez que um gatilho é apresentado. É o caso da mulher que, todo dia, pontualmente às 15h, deixa sua mesa de trabalho e vai até a cantina do trabalho comprar um bolo. Talvez ela nem esteja com fome, talvez esteja entediada, mas, para quebrar a rotina, inseriu esse hábito. Logo, o gatilho, nesse caso, pode ser o tédio em meio ao trabalho da tarde. Toda vez que esse gatilho se apresenta, a mulher associa a ele uma ação, que, no caso, é a compra (e consequente ingestão) do bolo. Tal circuito é quase automático, pois uma ação ou percepção leva à outra, e as respostas são quase imediatas. Entretanto, caso ela resolva abandonar esse hábito, terá de utilizar suas funções executivas para suplantar a vontade de obter recompensa imediata comendo o doce. ATENÇÃO O controle executivo atua de forma antagônica às formas automáticas de processamento. Estas formas automáticas de processamento de estímulos exercem o controle bottom-up, ou javascript:void(0) seja, de baixo para cima, significando que os estímulos sensoriais (sentidos) e suas associações criaram um hábito. REDES EXECUTIVAS FRONTAIS: ANATOMIA DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS Uma vez que entendemos que as funções executivas são vitais para a adaptação ao ambiente, resta conhecer as regiões responsáveis por tal atuação. Os primeiros indícios de localização de um sistema de controle executivo advêm de estudos em lesões cerebrais que resultam em síndromes cognitivas peculiares, como as observadas no caso de Phineas Gage. Tais síndromes levam a localizações que remetem às regiões de lobos frontais. Fonte: Shutterstock Lobos cerebrais Durante algum tempo, entendeu-se que os lobos frontais eram o epicentro das funções executivas, visto que alojam uma série de áreas importantes relacionadas a processos cognitivos, como linguagem e áreas motoras, por exemplo. Entretanto, a maior parte das síndromes que levam a disfunções de comportamento convergem para a região específica do córtex pré-frontal (CPF). Tal região é dividida em 3 partes: córtex dorsolateral, córtex orbitroventral e córtex frontomedial.Fonte: Shutterstock Regiões do córtex pré-frontal O córtex pré-frontal possui inúmeras conexões com áreas cerebrais. Compreenda mais algumas: O CPF possui grande número de conexões com áreas cerebrais que processam informações externas, incluindo todos os sistemas sensoriais, além de áreas motoras corticais, assim como informações internas das estruturas límbicas (centro da emoção) e mesoencefálicas. Logo, o CPF exerce importante função ao processar inúmeras informações internas e externas a fim de orientá-las no alcance de objetivos específicos. Não basta ver, ouvir e compreender informações; elas precisam ser coordenadas para gerar respostas adequadas. Grande parte dos dados sobre o CPF advém, como dito anteriormente, de estudos em pacientes com lesões da área. A seguir, descreveremos algumas das funções executivas impactadas por danos no CPF. Confira, então, alguns aspectos relacionados córtex pré-frontal: CONTROLE INIBITÓRIO Pacientes com danos no CPF podem apresentar um comportamento conhecido como perseveração (ou perseverância), que consiste em manter comportamentos desencadeados por estímulos sensoriais, mas sem dar a eles a devida adequação circunstancial. É o caso de um indivíduo que, a cada vez que se depara com um copo de água, não resiste e toma todo o líquido, mesmo sem saber a quem pertence. PLANEJAMENTO Mesmo quando lesões do CPF mantêm intactas as unidades básicas de comportamento, a capacidade de organização pode ser perdida. Um indivíduo com lesões específicas no CPF pode apresentar dificuldades em ordenar certos comportamentos, como, por exemplo, a execução de uma receita. AVALIAÇÃO DE CONSEQUÊNCIAS Para gerar comportamentos direcionados a objetivos, é necessária a capacidade de avaliar as consequências de diversas ações. Pacientes com lesões do CPF, especialmente na área orbital, mostram-se incapazes de avaliar os prós e contras de suas ações, o que resulta em decisões ruins em curto, médio e longo prazos. Pesquisas na área (DAMASIO, 1996) mostraram que o córtex pré-frontal orbital é capaz de associar pistas afetivas às decisões a serem tomadas, e tal associação emocional gera alto peso na tomada de decisões. Lesões nessa área específica tornam indivíduos inaptos em vários testes simples de tomada de decisão. APRENDIZAGEM E UTILIZAÇÃO DE REGRAS A habilidade de abstrair e generalizar regras é de extrema importância no contexto da aprendizagem. Entretanto, quando se perde tal função executiva, o indivíduo perde a capacidade de aplicar regras e moldá-las aos diferentes contextos. Nesses casos, a pessoa terá de lidar com cada nova situação na base de erros e acertos, pois é incapaz de reutilizar e adaptar regras aprendidas. Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre a aprendizagem e a utilização de regras. Como você pode observar com o vídeo, essas funções e habilidades são desenvolvidas no Córtex pré-frontal, esse desempenha um papel relevante no controle executivo. Entretanto, algumas síndromes chamadas disexecutivas foram associadas a regiões não frontais. Vale destacar, que devido ao grande alcance de técnicas de imagem, é possível estabelecer que tais síndromes causadas por lesões situadas fora dos lobos frontais, mas em regiões ricamente associadas a eles por conexões podem ser diagnosticadas. VOCÊ JÁ COMPREENDEU A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE EXECUTIVO EM NOSSA VIDA. NO ENTANTO, A PERGUNTA NATURAL QUE PODERIA SURGIR A PARTIR DE TAIS CONHECIMENTOS É: TODOS NASCEM COM A PLENITUDE DE SUAS FUNÇÕES EXECUTIVAS? A resposta para essa pergunta é não! Mas, uma boa notícia é que tais funções e habilidades podem ser desenvolvidas ao longo da vida, a partir dos estímulos corretos. Em parte, não nascemos com elas porque os lobos frontais são os últimos a serem finalizados em termos de desenvolvimento cerebral. Por outro lado, ao longo da vida, concomitantemente ao desenvolvimento de tais estruturas, temos experiências e estímulos que auxiliam no desenvolvimento cada vez maior dessas habilidades, como é possível observar no gráfico a seguir. Fonte: Neurology, Weintraub e colaboradores, 2013. Curva de desenvolvimento de funções executivas Como mostra o gráfico, as funções executivas começam a ser desenvolvidas logo após o nascimento, com uma janela de oportunidade entre as idades de 3 e 5 anos. O crescimento em tais habilidades continua até a adolescência e o início da fase adulta. A proficiência começa a ocorrer em fases mais tardias da vida. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS FUNÇÕES EXECUTIVAS SÃO ESSENCIAIS PARA A ADAPTAÇÃO DOS INDIVÍDUOS AO AMBIENTE E PERMITEM QUE AS RESPOSTAS E O COMPORTAMENTO SEJAM ADEQUADOS ÀS DIFERENTES SITUAÇÕES. APESAR DE EXISTIREM UMA SÉRIE DE FUNÇÕES CLASSIFICADAS COMO EXECUTIVAS, O CONTROLE EXECUTIVO PODE SER ENTENDIDO COMO: A) Uma série de regiões cerebrais relacionadas ao comportamento em sociedade. B) O controle inibitório exercido pelo córtex pré-frontal em quaisquer situações. C) A coordenação de diversas funções cognitivas a fim de gerar respostas adaptadas ao ambiente. D) A função principal do córtex pré-frontal, a única estrutura envolvida no controle de funções superiores. 2. DENTRE AS VÁRIAS FUNÇÕES EXECUTIVAS, UMA É PARTICULARMENTE IMPORTANTE PARA QUE SE LEVE UMA VIDA NORMAL EM TERMOS DE EXECUÇÃO DE TAREFAS ORGANIZADAS. PACIENTES COM LESÕES NO CÓRTEX PRÉ-FRONTAL EM ÁREAS ESPECÍFICAS PODEM ENCONTRAR DIFICULDADES EM LER TEXTOS, ORGANIZAR TAREFAS E LEMBRAR-SE DE SUA ÚLTIMA REFEIÇÃO, POR EXEMPLO. TAL FUNÇÃO EXECUTIVA ESTÁ RELACIONADA A: A) Controle inibitório. B) Planejamento. C) Memória de trabalho. D) Atenção. GABARITO 1. As funções executivas são essenciais para a adaptação dos indivíduos ao ambiente e permitem que as respostas e o comportamento sejam adequados às diferentes situações. Apesar de existirem uma série de funções classificadas como executivas, o controle executivo pode ser entendido como: A alternativa "C " está correta. As funções executivas são, na verdade, o gerenciamento cerebral das principais funções cognitivas, e isso é feito por diversos circuitos. Dentre eles, alguns específicos envolvendo os lobos frontais e as áreas não corticais associadas. 2. Dentre as várias funções executivas, uma é particularmente importante para que se leve uma vida normal em termos de execução de tarefas organizadas. Pacientes com lesões no córtex pré-frontal em áreas específicas podem encontrar dificuldades em ler textos, organizar tarefas e lembrar-se de sua última refeição, por exemplo. Tal função executiva está relacionada a: A alternativa "C " está correta. A Memória de trabalho é aquela que confere ao indivíduo a capacidade de reter, por curto espaço de tempo, algumas informações a fim de manipulá-las em contextos distintos. A perda de tal capacidade é extremamente limitante, impedindo que funções simples, como a leitura de um texto ou a execução de tarefas ordenadas, sejam executadas. MÓDULO 3 IDENTIFICAR A IMPORTÂNCIA DO PROCESSAMENTO DE EMOÇÕES NA TOMADA DE DECISÕES, A INFLUÊNCIA DOS ESTADOS MOTIVACIONAIS E OS LOCAIS ENCEFÁLICOS RELACIONADOS AOS SENTIMENTOS O QUE É EMOÇÃO? Fonte: Shutterstock É possível encontrar diversas definições de emoção, variando entre significados puramente linguísticos e outros mais biológicos. Compreenda mais alguns aspectos: Clique nos itens a seguir. BIOLÓGICO PERCEPÇÃO ESTADOS EMOCIONAIS Do ponto de vista biológico, as emoções representam um conjunto de reações fisiológicas, químicas e neurais que atuam como base para a organização de respostas comportamentais correspondentes. É importante compreender que as emoções são igualmente geradas e gerenciadas por sistemas neurais, os quais são capazes de lidar não somente com as respostas dadas frente às emoções, mas também com a percepção delas. Outro aspecto importante é a adaptação que os estados emocionais configuram para a sobrevivência da espécie. Sem as emoções, é muito difícil gerar respostas adequadas aos diferentesestímulos. Acompanhe um exemplo de como as emoções são essenciais em nosso dia a dia: Imagine a seguinte situação: Se um aluno perdesse a capacidade de se sentir triste após ser reprovado em uma prova, talvez não mobilizasse esforços a fim de obter melhor nota no próximo exame. Em casos mais drásticos, animais que não apresentam respostas comportamentais de medo quando ameaçados por predadores terão poucas chances de sobrevivência. Fonte: Shutterstock CLASSIFICAÇÃO DAS EMOÇÕES HUMANAS As emoções podem ser classificadas de três maneiras: emoções primárias; emoções secundárias e emoções de fundo. As emoções primárias são inatas, ou seja, é comum a todos os seres humanos, independentemente de fatores socioculturais. Fonte: Shutterstock O primeiro pesquisador a estudar o assunto foi ninguém menos que Charles Darwin. Ele observou que algumas expressões emocionais eram similares em diferentes culturas. Atualmente, os pensamentos de Darwin a respeito de emoções primárias foram corroborados por pesquisadores, em especial Paul Ekman, da Universidade da Califórnia. Basicamente, o consenso entre os pesquisadores da área reside nas seguintes emoções primárias: alegria, tristeza, medo, nojo, raiva e surpresa. Provavelmente consideradas inatas por serem indicadores de comportamentos de sobrevivência conservados na espécie humana. NA FIGURA É POSSÍVEL IDENTIFICAR ALGUMAS EMOÇÕES PRIMÁRIAS. OBSERVE A IMAGEM E TENTE PERCEBER AS SEGUINTES EMOÇÕES: ALEGRIA, MEDO, SURPRESA, NOJO E RAIVA. javascript:void(0) javascript:void(0) CHARLES DARWIN Charles Darwin (1809-1882) nasceu na Inglaterra e tem seu nome imediatamente ligado à Teoria da Evolução, pelo lançamento de sua obra A origem das espécies. Originário de família de cientistas, Darwin, após abandonar o curso de Medicina, viajou por vários países (inclusive o Brasil), ainda na primeira metade do século XIX, a fim de coletar informações sobre o que chamaria de “seleção natural das espécies”. Este conceito é a base de sua obra. PAUL EKMAN Paul Ekman um dos mais renomados psicólogos contemporâneos. Aprofundou e sistematizou o estudo sobre expressões faciais humanas e criou um método para sua identificação. Além de autor de muitos livros e largamente premiado, já prestou consultoria para órgãos internacionais de investigação e até mesmo para series televisivas, como Lie to me. Fonte: Shutterstock Emoções primárias demonstradas por expressões faciais. Seguem, então, alguns conceitos comuns utilizados na área de linguagem: EMOÇÕES SECUNDÁRIAS As emoções secundárias são aquelas relacionadas a fatores socioculturais e, portanto, variam de um indivíduo para o outro, como, por exemplo, a vergonha. Determinado ato pode ser vergonhoso para uns, mas não para outros, dependendo das crenças e dos costumes de determinada sociedade, ou mesmo da formação pessoal do indivíduo. EMOÇÕES DE FUNDO Por fim, as emoções de fundo são aquelas relacionadas a estados de bem ou mal-estar, e podem ser associadas à percepção de estados internos do indivíduo. Portanto, sua classificação com as emoções não é consenso entre os pesquisadores. Um exemplo de emoção de fundo seria uma percepção de falta de energia (não cansaço) por parte de alguém. ATENÇÃO Não confundir expressão emocional e experiência emocional. Enquanto a experiência faz referência aos estados emocionais que vivenciamos, como ansiedade, tristeza ou raiva, a expressão está relacionada às mudanças fisiológicas resultantes da base neural das emoções, como respostas hormonais, motoras e comportamentais. AS TEORIAS SOBRE EMOÇÕES Várias teorias foram postuladas sobre como as emoções são formadas e processadas. Entretanto, duas teorias são de especial interesse, por serem, de certa forma, antagônicas, apesar de não haver consenso no meio científico sobre qual se aplica à realidade de forma plena. Uma dessas teorias é a dos pesquisadores William James e Carl Lange e foi proposta em 1884. javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Shutterstock WILLIAM JAMES William James (1842-1910) William James nasceu nos EUA. Sua formação foi na área de Medicina, Psicologia e Filosofia. Apesar de sua contribuição à Psicologia, seu maior destaque é com a teoria filosófica chamada Pragmatismo. CARL LANGE Carl Georg Lange (1834-1900) nasceu na Dinamarca e teve na Psicologia e Neurologia suas maiores área de investigação. É também conhecido por seus estudos na área da depressão e por sua relação com elementos biológicos. Em outras palavras, segundo os autores, sentimos tristeza porque começamos a chorar; sentimos felicidade porque sorrimos, e assim por diante. Dessa maneira, a ideia central é a de que alterações de nossos estados corporais são capazes de provocar emoções específicas. Segundo a teoria de James-Lange, a base das emoções estaria na captação de estímulos emocionais, os quais seriam processados via córtex sensorial, desencadeando respostas motoras específicas (riso, choro, taquicardia etc). Tais mudanças seriam percebidas no córtex cerebral, provocando então a percepção da emoção em si. Fonte: Shutterstock Esquema da Teoria de James-Lange, reproduzido a partir do livro Neurociência da mente e do comportamento. Já no século XX, a teoria sofreu críticas frente a algumas constatações, como o fato de algumas alterações corporais ocorrerem frente a emoções diferentes. Por exemplo, como posso identificar corretamente o medo com base na taquicardia, se a mesma também ocorre em situações de surpresa e até alegria? Um dos principais opositores da Teoria de James-Lange foi o americano Walter Cannon. Ele propôs que, enquanto a informação emocional é processada pelo encéfalo, são geradas respostas corporais e a consciência da emoção simultaneamente. javascript:void(0) Fonte: Shutterstock Processamento das emoções segundo Walter Canon. WALTER BRADFORD CANNON (1871-1945) Médico de formação, dedicou-se a pesquisas na área dos sistemas nervoso e digestivo e do comportamento do coração, por meio de investigações experimentais. ONDE ESTÃO AS EMOÇÕES? Após as teorias das emoções ganharem os pesquisadores da área, buscou-se procurar efetivamente as áreas cerebrais responsáveis pelos fenômenos emocionais. Quem primeiro postulou a localização de tais regiões foi o anatomista americano James Papez, trazendo a público a ideia de sistemas e circuitos, e não somente áreas isoladas no cérebro. As estruturas identificadas por Papez, em conjunto, ficaram conhecidas como Circuito de Papez e incluíam o córtex cingulado, o hipocampo, o hipotálamo e os núcleos anteriores do javascript:void(0) tálamo. Estruturas relacionadas ao Circuito de Papez, posteriormente chamado de sistema límbico. JAMES WENCESLAS PAPEZ (1883-1958) Formado em Medicina, dedicou-se aos estudos da Neurologia, buscando novos conceitos para explicar a emoção. Embora ele não tenha mencionado o lobo límbico de Broca, outros pesquisadores observaram que seu circuito era muito semelhante ao grande lobo límbico identificado por Paul Broca. Apesar de alguns locais efetivamente serem importantes para os circuitos de emoção, outros foram acrescentados posteriormente, como a amígdala, que desempenha papel fundamental nas emoções negativas (como o medo e a raiva) e o córtex pré-frontal. Por sua vez, não há evidências de que o hipocampo esteja envolvido na formação de emoções, apesar de participar do processo de desenvolvimento de memórias, incluindo as emocionais. A seguir, abordaremos as duas principais estruturas cujas funções estão consolidadas em termos de gerenciamento das emoções: amígdala e córtex pré-frontal Estruturas modernas do sistema límbico AMÍGDALA A amígdala é uma estrutura localizada no polo do lobo temporal e recebe conexões de todas as áreas sensoriais, com exceção do sistema olfatório, e conexões provenientes do neocórtex, giros para-hipocampal e cingulado. Ela também se conecta-se ao hipotálamo. Localização da amígdala nos dois hemisférioscerebrais As amígdalas possuem uma função extremamente importante no desenvolvimento e nas demonstrações das emoções. Por isso, conheça mais alguns aspectos importantes dessa área cerebral: Clique nos itens a seguir. ASPECTO 01 Sua função está ligada fortemente ao medo e à ansiedade. Estudos realizados com primatas não humanos, cujas amígdalas eram lesionadas bilateralmente por medicamento, demonstraram perda das respostas de medo. Os macacos ganharam docilidade e tenderam a ignorar situações comuns de perigo. Era como se não temessem mais seus predadores ou situações perigosas, chegando mesmo a manipular cobras sintéticas, por exemplo. ASPECTO 02 Além de outras associações (como formação de memórias emocionais negativas), a amígdala foi relacionada ainda ao fenômeno de formação do medo condicionado. Isso foi demonstrado, entre outros experimentos, quando ratos eram expostos inicialmente a um breve estímulo auditivo e pequenos choques. Após o condicionamento, apenas o estímulo auditivo era suficiente para gerar ativação da amígdala e respostas de medo, como aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial e secreção de hormônios, como os glicocorticoides. javascript:void(0) javascript:void(0) ASPECTO 03 Logo, constatou-se que a amígdala exerce papel primordial em detectar ameaças do ambiente e gerar os comportamentos adequados a elas. Lesões da amígdala levam à perda da capacidade de reconhecer perigos e ameaças, o que pode ser prejudicial à sobrevivência, deixando indivíduos sujeitos a situações reais de perigo. CÓRTEX PRÉ-FRONTAL O córtex pré-frontal corresponde à porção mais anterior do lobo frontal e pode ser dividido em três regiões: orbitofrontal, ventromedial (relacionada à emoção) e dorsolateral (relacionada a funções cognitivas). Localização das regiões ventromediais e orbitofrontais do córtex pré-frontal. [...] OS ESTUDOS NESSA ÁREA INICIARAM-SE APÓS O CLÁSSICO DE PHINEAS GAGE, MENCIONADO javascript:void(0) ANTERIORMENTE. PORÉM, O GRUPO DO NEUROLOGISTA PORTUGUÊS ANTÔNIO DAMÁSIO CONTRIBUIU BASTANTE PARA O ESTUDO DO CÓRTEX PRÉ-FRONTAL. ELES IDENTIFICARAM UM HOMEM CUJA PERDA DE PARTE DO CÓRTEX PRÉ- FRONTAL SE DEU DEVIDO À RETIRADA CIRÚRGICA DA REGIÃO EM TRATAMENTO, EM RAZÃO DE UM TUMOR AGRESSIVO. (DAMÁSIO, 1996) ANTÓNIO ROSA DAMÁSIO (PORTUGAL, 1944) Neurocientista português que tem como foco de seus estudos o cérebro humano e as emoções. Sua maior e mais impactante contribuição ao campo da Psicologia foi mudar a concepção que havia acerca da relação “razão x emoção”; quase subordinando a primeira à segunda. Nesse contexto, o homem também passou a apresentar condutas alteradas, principalmente no que dizia respeito a julgamentos e tomadas de decisão, que eram constantemente inapropriadas. Você saia, que em testes realizados, puderam perceber que os indivíduos, a fim de tomares decisões acertadas, além do componente racional, necessitam de uma espécie de antecipação emocional, a qual pode gerar modificações fisiológicas que podem ser perceptíveis ou não (como sudorese, taquicardia, entre outras). TAL HIPÓTESE É DENOMINADA HIPÓTESE DO MARCADOR SOMÁTICO E PROPÕE javascript:void(0) BASICAMENTE QUE, QUANDO ANTECIPAMOS ALGUM TIPO DE EMOÇÃO, REGIÕES ESPECÍFICAS DO CÉREBRO SÃO ATIVADAS EXATAMENTE COMO SE ESTIVÉSSEMOS VIVENCIANDO-A. DESSA MANEIRA, INDIVÍDUOS COM LESÕES NO CÓRTEX PRÉ-FRONTAL PERDEM A CAPACIDADE DE ANTECIPAR TAIS ESTADOS, E ISSO OS LEVA A TOMAR DECISÕES ERRÔNEAS. MOTIVAÇÃO Fonte: Shutterstock Com certeza, você já ouviu, especialmente em ambiente educacional, alguém falar em motivação. Porém, o que significa motivação para você? Quando nos sentimos motivados, temos a tendência de realizar algo ou ir ao encontro de alguma coisa. Não é basicamente essa a ideia que você tem? ATENÇÃO Em Neurociências, podemos chamar tal fenômeno de estado motivacional. Tais estados geram comportamentos motivados. Assim, a motivação está associada ao movimento. Por exemplo, o estado motivacional de frio nos leva ao comportamento motivado de buscar agasalho. É muito comum associarmos motivação a questões emocionais, quase como se fosse uma emoção por si só. Entretanto, quando tratamos de motivação e comportamentos motivados em neurociências, estamos falando de questões que dizem respeito à adaptação e sobrevivência. Basicamente, a regulação da motivação pode ser dividida em dois sistemas: sistema apetitivo e sistema defensivo ou aversivo. Fonte: Shutterstock SISTEMA APETITIVO X SISTEMA DEFENSIVO Clique nas figuras abaixo para ver as informações. Sistema apetitivo Esse sistema está relacionado à sobrevida e procriação, portanto inclui estados motivacionais de fome, sede, regulação da temperatura e sexo, por exemplo. Sistema defensivo ou aversivo Já o sistema defensivo está associado a situações de perigo e ameaça e, portanto, gera comportamentos motivados de esquiva e fuga. javascript:void(0) javascript:void(0) No sistema apetitivo, existem órgãos importantes, como o hipotálamo, participando do processo de controle de ingestão alimentar. Tal controle envolve a liberação de neurotransmissores e hormônios, em um arranjo complexo a fim de manter a homeostasia. Apesar de entendermos por que os organismos buscam comida, água, dentre outros fatores de sobrevivência, ainda existe a dúvida sobre o que nos leva a determinados comportamentos geradores de prazer, como comprar, jogar, dentre inúmeras outras atividades. A resposta reside na obtenção de recompensa; dessa forma, muitos dos comportamentos podem ser motivados por recompensas que não necessariamente têm a ver com a manutenção da espécie no planeta, mas, sim, com a busca pela sensação de prazer. HOMEOSTASIA O conceito de homeostase foi desenvolvido por Walter Cannon [já citado anteriormente]. Ele realizou trabalhos em fisiologia experimental, denominando homeostase como o princípio de “meio interno em que o sangue e os demais fluidos que circundam as células constituem o meio interno com o qual ocorrem as trocas diretas de cada célula e, por isso, deve ser mantido sempre com parâmetros adequados à função celular, independentemente das mudanças que possam estar ocorrendo no ambiente externo”. Assim, propôs que a função final de todos os mecanismos fisiológicos é a manutenção da homeostase, que deve ser compreendida como “a manutenção da estabilidade do meio interno”. (SOUSA; SILVA; GALVÃO-COELHO, 2015) REFORÇO E RECOMPENSA Como os pesquisadores conseguem estudar motivação e comportamentos motivados em animais? Utilizando técnicas de autoestimulação elétrica. Em experimentos clássicos da década de 1950, no Instituto de Tecnologia da Califórnia, posicionaram um rato em uma caixa com uma alavanca. javascript:void(0) Quando pressionada a alavanca, um breve estímulo era acionado por meio de eletrodos colocados em regiões específicas do encéfalo do animal. Inicialmente, o rato pressionava a alavanca de maneira randômica, porém, depois de um tempo, o animal permanecia próximo, pressionando-a incessantemente, a ponto de evitar água e comida. Fonte: Shutterstock Autoestimulação elétrica. Por esses experimentos, entendemos que a recompensa (no caso, o estímulo elétrico em regiões específicas) reforçava o comportamento de puxar a alavanca. Por que comemos? Porque o ato de comer nos reforça o comportamento de buscar comida, já que o alimento é necessário para a sobrevivência. A região e os circuitos que configuram as vias de recompensa e reforço estão associados às fibras liberadoras de dopamina (neurotransmissor), originárias da área tegmentar ventral e se projetam para o prosencéfalo. Sistema dopaminérgico mesocorticolimbico Neste vídeo, você aprofundará seu conhecimento sobre reforço, recompensa e motivação. Os experimentos demarcaram um momento marcante para identificação das emoções e como elas estão associadas ao cérebro. Compreenda mais alguns aspectos: Clique nas setas para ver o conteúdo. No mesmo modelo de experimentocitado anteriormente, os pesquisadores injetaram drogas bloqueadoras de receptores dopaminérgicos, ou seja, impediram a atuação da dopamina, causando diminuição na autoestimulação. Esses experimentos sugerem fortemente que há reforço de certos comportamentos associados a recompensas naturais, como água e alimentos. Interessante frisar que áreas dopaminérgicas cerebrais são ativadas em antecipação à recompensa propriamente dita. É o que ocorre quando vemos o garçom vindo em nossa direção com o prato que escolhemos. O cérebro percebe o que está por vir e já ativa áreas relacionadas à recompensa em si. Uma dúvida recorrente quando o assunto é o sistema de reforço e recompensa é a seguinte: como se estabelecem os vícios? Basicamente, em situações nas quais buscamos avidamente por uma recompensa de forma incessante e repetitiva, a fim de obter o que a Neurociência chama de resposta hedônica (prazer). Podemos utilizar como exemplo a nicotina para explicar o processo que se forma no cérebro. Este composto, presente em altas doses no cigarro, atua diretamente nos circuitos encefálicos de motivação de comportamento. Logo, a ligação da nicotina a seus receptores em neurônios dopaminérgicos estimula a liberação da dopamina em tais circuitos, reforçando o comportamento pela busca da droga. O problema de tal reforço comportamental (além dos malefícios da própria nicotina em si em outras regiões do organismo) é o efeito de tolerância. Tal efeito se dá como ajuste para a estimulação acentuada frente ao uso crônico da substância, fazendo com que a resposta à nicotina diminua. Para obter os mesmos efeitos, serão necessárias, daí por diante, doses cada vez maiores da droga. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SEGUNDO A TEORIA DE JAMES-LANGE, AS SENSAÇÕES PERIFÉRICAS NOS FORNECEM SUBSTRATO PARA AS EMOÇÕES; LOGO, SENTIMOS TRISTEZA PORQUE CHORAMOS, E ASSIM POR DIANTE. APESAR DE DESACREDITADA DURANTE UM TEMPO, A IDEIA ORIGINAL RESSURGIU COM O ADVENTO DA TEORIA DO MARCADOR SOMÁTICO, DE ANTÔNIO DAMÁSIO. DE QUE MANEIRA SE DÁ TAL ASSOCIAÇÃO? A) Segundo a Teoria do Marcador Somático, os indivíduos necessitam do componente emocional para a tomada de decisão em maior proporção do que a análise racional de fatos. B) Segundo Damásio, a percepção de fatores somáticos corporais afetaria de forma negativa a percepção de informações cognitivas, o que levaria a decisões ruins. C) A antecipação emocional que se dá via marcadores somáticos oferece pistas importantes na tomada de decisão quando analisadas com fatos. D) Damásio sugere que as emoções são afetadas diretamente pelas reações corporais que temos frente às situações cotidianas; dessa maneira, a Teoria de James-Lange é corroborada por completo. 2. OS COMPORTAMENTOS MOTIVADOS SÃO FREQUENTEMENTE DESENCADEADOS POR ESTADOS MOTIVACIONAIS INTERNOS. DESSA MANEIRA, A PERCEPÇÃO DE SENSAÇÕES E MODIFICAÇÕES SOMÁTICAS SE TRADUZ EM COMPORTAMENTO ESPECÍFICO, O QUE NOS LEVA À BUSCA POR RECOMPENSAS. QUANDO OBTEMOS A RECOMPENSA, ACIONAMOS CIRCUITOS CONHECIDOS, QUE, EM CONTRAPARTIDA, REFORÇAM TAIS AÇÕES. FOI DEMONSTRADO QUE, ANTES MESMO DE TERMOS A RECOMPENSA EM MÃOS, ÁREAS DO CÉREBRO JÁ SE ENCONTRAM ATIVAS, COMO SE ESTIVÉSSEMOS REALMENTE VIVENCIANDO O PROCESSO. DENTRE AS SITUAÇÕES A SEGUIR, QUAL NÃO SE RELACIONA COM A GERAÇÃO DE REFORÇO POSITIVO? A) Ingerir alimento saboroso. B) Beber água gelada no calor. C) Vestir um casaco em situação de frio. D) Fugir de situação potencialmente perigosa. GABARITO 1. Segundo a Teoria de James-Lange, as sensações periféricas nos fornecem substrato para as emoções; logo, sentimos tristeza porque choramos, e assim por diante. Apesar de desacreditada durante um tempo, a ideia original ressurgiu com o advento da Teoria do Marcador Somático, de Antônio Damásio. De que maneira se dá tal associação? A alternativa "C " está correta. Segundo a Teoria do Marcador Somático, as modificações somáticas que nos acometem, ainda que imperceptíveis, atuam como direcionadores na tomada de decisão. Dessa forma, corrobora, em certo aspecto, com a ideia de que sistemas periféricos têm influência na maneira como sentimos. Entretanto, Damásio deixa claro que não há necessidade de que tais alterações sejam processadas conscientemente. 2. Os comportamentos motivados são frequentemente desencadeados por estados motivacionais internos. Dessa maneira, a percepção de sensações e modificações somáticas se traduz em comportamento específico, o que nos leva à busca por recompensas. Quando obtemos a recompensa, acionamos circuitos conhecidos, que, em contrapartida, reforçam tais ações. Foi demonstrado que, antes mesmo de termos a recompensa em mãos, áreas do cérebro já se encontram ativas, como se estivéssemos realmente vivenciando o processo. Dentre as situações a seguir, qual NÃO se relaciona com a geração de reforço positivo? A alternativa "D " está correta. O enunciado da questão já nos dá pistas de que, ao falarmos de reforço positivo, estamos nos referindo ao reforço relacionado à recompensa, como estudamos nesse módulo. A situação de fugir de uma situação potencialmente perigosa não se enquadra nesse processo, especialmente porque a ação do indivíduo não provém de uma experiência de recompensa, mas, sim, de aversão. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao chegarmos ao fim deste tema, esperamos que você tenha percebido a importância de reconhecer que, como humanos, somos seres extremamente complexos e que até mesmo atitudes mais simples – como observar uma paisagem, cantarolar uma música, decidir se ignoro ou reajo a uma provocação – são fundamentadas por bases neurais, que também são complexas. No entanto, outro ponto merece destaque: esse conhecimento, especialmente acerca da linguagem, das funções executivas, da emoção, deve levar-nos a tomar consciência daquilo que nos define como espécie. Isso permite que compreendamos como as respostas que damos a situações cotidianas são padronizadas, do ponto de vista neurológico. Ao mesmo tempo, tal como o próprio desenvolvimento do cérebro se deu por adaptações, como vimos, cada indivíduo também é capaz de adaptar-se às circunstâncias que o envolvem, até mesmo em situações limites (como no caso de Phineas Gage). Isso caracteriza a importância do indivíduo, inclusive no contexto da espécie. É exatamente aqui que gostaríamos que você percebesse a importância de, cada vez mais, conhecer e se aprofundar no fantástico mundo da mente humana. Aproveite cada indicação feita no Explore + e nas referências a seguir. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BEAR, M.; CONNORS, B.; PARADISO, M. Neurociências: Desvendando o sistema nervoso. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. CENTER ON THE DEVELOPING CHILD AT HARVARD UNIVERSITY. How Early Experiences Shape the Development of Executive Function. 2011. CENTER ON THE DEVELOPING CHILD AT HARVARD UNIVERSITY. How Early Experiences Shape the Development of Executive Function. 2012. DAMASIO, A. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. MARCHETTI, P. et al. Influência da lateralidade nas assimetrias morfológicas e funcionais em indivíduos sedentários. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano VII, nº 22, out/dez 2009. p. 08-14. SOUSA, M.; SILVA, H.; GALVÃO-COELHO, N. Resposta ao estresse I: homeostase e a teoria da alostase. Estudos de Psicologia. Vol. 20, no.1, Natal, jan/mar 2015. WEINTRAUB, S. Cognition Assessment Using the NIH Toolbox. Neurology, 80 (Suppl 3), March 12, 2013. EXPLORE+ Confira o artigo: Influência da lateralidade nas assimetrias morfológicas e funcionais em indivíduos sedentários. Consulto o Jornal de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria ele é uma excelente fonte de artigos sobre bases neurobiológicas dos distúrbios de linguagem. A Universidade de Harvard disponibiliza em seu site excelentes materiais sobre as funções executivas. Um deles é o guia absolutamente completo sobre o desenvolvimento de funções executivas desde a infância atéa fase adulta e sobre como desenvolvê-las de forma contínua (material disponível em inglês). Vale a pena conferir. Pesquise sobre o Dr. António Damásio que é uma referência no âmbito do processamento das emoções pelo cérebro. É possível encontrar vídeos deles em plataformas como Youtube. Vale a pena ouvi-lo. CONTEUDISTA Virgínia Baptista Chaves Duarte de Lima CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DEFINIÇÃO Conceito de sensação, atenção e memória. Apresentação da neurociência do processo sensoperceptivo e da integração sensório-motora, bem como do processo sensório-motor, das teorias e funções do processo atencional, da neurociência da atenção e do processo mnemônico. PROPÓSITO Compreender os processos cognitivos sensação, atenção, memória e a integração sensório-motora desde suas definições, teorias subjacentes e funções aos substratos neurais relacionados a elas. PREPARAÇÃO Para um melhor aproveitamento deste tema, você pode utilizar um modelo físico ou 3D do cérebro. Ainda, pode se valer de sites ou aplicativos para recorrer a modelos 3D virtuais. Recomenda-se que você esteja familiarizado com noções básicas de Neurociências; em especial, Neurociência Cognitiva. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os substratos neurais subjacentes ao processo sensoperceptivo e atencional MÓDULO 2 Identificar os substratos neurais subjacentes ao processo mnemônico e sensório-motor INTRODUÇÃO Neste tema, exploraremos três funções cognitivas (sensopercepção, atenção e memória) e abordaremos a integração sensório-motora, função executada pelo sistema nervoso (SN). Conheceremos essas diferentes funções e as relacionaremos com áreas específicas do SN. Vamos, agora, identificar os conceitos fundamentais para a compreensão dessas funções. Mas, para isso, cabe ressaltar dois importantes pontos: Ponto 1 As funções cognitivas somente são separadas com fins didáticos, uma vez que, no mundo concreto, atuam de forma integrada. Sob coordenação das funções executivas, o indivíduo, ativado por uma emoção, motiva-se na direção de focar a atenção em determinado estímulo, que será processado pela sensopercepção, gerando o traço necessário para a memória e o consequente aprendizado. É o que está representado na figura 1. Ponto 2 O desenvolvimento das estruturas do SN subjacentes a cada uma das funções cognitivas tem correlação direta com o desempenho do sujeito naquela função específica, uma vez que cada avanço no substrato neurobiológico subjacente (aumento do número de neurônios, ou de sinapses, ou mesmo o fortalecimento das redes) representa também um ganho funcional. Assim, é esperado que indivíduos de diferentes idades e perfis de estimulação tenham desempenhos funcionais também diferentes. javascript:void(0) SENSOPERCEPÇÃO Não se preocupe com esse termo novo. Logo você vai compreendê-lo! Fonte: Autor. Figura 1 - Integração das funções cognitivas. MÓDULO 1 Identificar os substratos neurais subjacentes ao processo sensoperceptivo e atencional Preste atenção ao seu ambiente neste momento. Volte-se para o seu ambiente externo e interno. Você consegue perceber diferentes cores, brilhos, movimentos, sons, o toque do seu corpo na cadeira, nas roupas, no seu sapato, a temperatura das superfícies que toca, do ar, eventuais cheiros, perfumes, sabores. Só podemos ter a sensação de nosso ambiente porque uma linha de processamento neural está funcionando de forma integrada e coordenada. Em especial porque o nosso cérebro – principal órgão do sistema nervoso central (SNC) e responsável pela compreensão do que sentimos em uma percepção – está íntegro! SENSAÇÃO: DEFINIÇÃO Para definirmos o que é sensação, vamos recordar uma questão filosófica que está proposta na atividade de reflexão a seguir: Se uma mulher fala em uma sala e não há homem algum para ouvi-la, ainda assim ela está certa? RESPOSTA Essa ironia nasceu de uma velha charada: Se uma árvore cai na floresta e não há ninguém para ouvir, ainda sim ela produz som? E é assim que Sternberg (2008) começa sua apresentação acerca da sensação. E mostra que, diferentemente do que se tem no senso comum, na área das neurociências cognitivas, o termo sensação se reduz à mera resposta relacionada aos nossos sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar. Ou seja: é a capacidade que nosso corpo tem de receber os estímulos do meio externo e permitir (através de células receptoras) que sejam compreendidos pelos neurônios. Portanto, voltando à charada, antes que aconteça a sensação, há o mundo externo (a árvore que cai e produz o som, por exemplo) que será captado pelos sentidos. NEUROCIÊNCIA DO PROCESSO SENSOPERCEPTIVO Nosso aparato sensorial é formado pelos órgãos sensoriais (olhos, ouvidos, pele, língua, nariz), os nervos (que levam as informações dos órgãos dos sentidos até o SNC) e o córtex cerebral (onde o estímulo será processado em diferentes áreas a depender da modalidade sensorial: visual, tátil etc.). No cérebro, as informações sensoriais se conjugam numa percepção. Fonte: dmitroscope/Shutterstock javascript:void(0) SAIBA MAIS Segundo Lent (2008), diferentemente de sua definição no senso comum, as percepções para as neurociências cognitivas são aqueles produtos da sensação (ou seja, proveniente dos sentidos). Por esse motivo, está cada vez mais frequente na literatura da área a grafia sensopercepção, já que se trata de um processo intrinsecamente integrado Quando vemos um objeto (uma bola vermelha, por exemplo), neurônios sensoriais em nossa retina realizam a transdução das ondas luminosas em impulsos nervosos, que seguem pelo nervo óptico até núcleos específicos do tálamo, uma estrutura dupla (ou seja, presente nos dois hemisférios cerebrais), conforme indica a figura 2: TRANSDUÇÃO Na linguagem das ciências biológicas e afins, chama-se transdução quando um tipo de sinal é transformado em outro a fim de cumprir determinada finalidade. No exemplo dado, as ondas luminosas sofrem transdução para impulsos nervosos. Fonte: decade3d - anatomy online/Shutterstock Figura 2 - Tálamo (em amarelo). O tálamo, então, encaminha os impulsos visuais até as áreas sensoriais primárias (no exemplo, área visual primária, no córtex occipital). Na área visual primária, haverá apenas o processamento da cor e do formato; e separadamente. Em seguida, o estímulo será encaminhado para processamento nas áreas secundárias (no exemplo, área visual secundária, ainda no córtex occipital) e nas áreas de associação javascript:void(0) multimodais (junção têmporo-parieto-occipital), onde será formada a percepção do objeto visto como um todo, a fim de ser reconhecido como uma “bola vermelha”. Vale ressaltar que os estímulos sensoriais seguem este padrão: JUNÇÃO TÊMPORO-PARIETO-OCCIPITAL Não se preocupe! Você entenderá o que isso significa ainda neste tema! ÓRGÃO SENSORIAL TÁLAMO CÓRTEX Com exceção dos estímulos sensoriais olfativos, que não passam pelo tálamo e são enviados do bulbo olfatório diretamente para o córtex cerebral. PROCESSAMENTO CONTRALATERAL javascript:void(0) Um ponto curioso e relevante sobre a sensopercepção é que ela é processada no córtex contralateral ao estímulo. Isso significa que os estímulos percebidos no lado esquerdo do corpo são processados nas estruturas cerebrais do lado direito e vice-versa. Isso se dá porque as fibras neurais se cruzam no nível da ponte (estrutura componente do tronco cerebral): os prolongamentos do córtex cerebral direito cruzam na ponte e passam a enervar o lado esquerdo do corpo e vice-versa. É importante citar que essas vias são: AFERENTES Carregam informações sensoriais da periferia até o SNC. Isso é de especial relevância para a sensopercepção. EFERENTES Levam comandos do SNC até a periferia. Isso é relevante para o comportamento motor (como veremos mais à frente neste tema). Segundo Thompson (2005), é provável que essa característica tenha sido adaptativa em algum momento da evolução das espécies. Assim, espera-se quelesões cerebrais em um dos hemisférios produzam efeitos (sensoriais e motores) no lado contralateral do corpo. ÁREAS FUNCIONAIS – CÓRTICES PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO E CÓRTEX ASSOCIATIVO Para ser percebido, um estímulo é processado em diferentes áreas do SNC. Essas áreas, de acordo com Fuentes et al. (2008), são organizadas hierarquicamente e ficaram conhecidas como unidades funcionais, proposta de Alexander Luria, um dos pesquisadores mais proeminentes da Neuropsicologia. Luria formulou uma compreensão de que o córtex está organizado nas seguintes unidades funcionais: javascript:void(0) Fonte: Wikimedia ALEXANDER LURIA Alexander Romanovich Luria (1902-1977) foi um psicólogo soviético, considerado o pai da Neuropsicologia moderna, sendo inclusive o criador desse termo. Embora a ideia original de sistema funcional seja de outro conterrâneo seu, Pyotr Kuzmicj Anokhin (1898-1974), Luria conseguiu ampliá-la, aplicando-a ao sistema nervoso central humano. Fonte: Kruszielski (s.d.) ÁREAS BÁSICAS E UNOMODAIS Como as áreas visuais primárias do córtex occipital e as áreas motoras primárias do giro pré-central do córtex frontal, por exemplo, que lidam apenas com uma modalidade sensorial. Nesse caso, a visual e a auditiva, respectivamente. ÁREAS SECUNDÁRIAS Como as áreas associativas visuais, que nos permitem a compreensão perceptual, com mais sentido, dos estímulos visuais. ÁREAS TERCIÁRIAS Como as áreas de associação multimodais, que integram e processam diversas modalidades sensoriais para criar uma percepção completa do estímulo que ao mesmo tempo seja visual, espacial, auditivo e mnemônico. São exemplos a junção têmporo-parieto-occipital e o córtex pré-frontal (CPF). Nota: Mnemônico é referente à memória (do grego mnémé). Na figura 3, vemos algumas das mais relevantes áreas do córtex cerebral. Fonte: Ciências e Cognição. Figura 3 - Divisão do encéfalo de acordo com seus córtices funcionais. NO PROCESSO DE PERCEPÇÃO, O ESTÍMULO TRAFEGA DAS ÁREAS FUNCIONAIS PRIMÁRIAS (CÓRTEX SENSORIAL UNIMODAL) PARA AS SECUNDÁRIAS E FINALMENTE PARA AS DE ASSOCIAÇÃO (TERCIÁRIAS). ESSE CAMINHO É CONHECIDO COMO PROCESSAMENTO BOTTOM-UP (DE BAIXO PARA CIMA). (MATLIN, 2004) SOMATOTOPIA Os estímulos sensoriais táteis são processados no córtex sensorial primário, localizado no giro pós- central, no lobo parietal, como mostra a figura 4: Fonte: Baseado em Lent (2008) e Thompson (2005). Figura 4 - Córtex sensorial primário. Perceba que essa região apresenta uma organização topográfica, em que cada parte do corpo é processada por uma sub-região de neurônios nesse giro em torno do cérebro. Assim, com estudos de neuroanatomia funcional, foi possível conhecer esse mapa, que relaciona áreas do corpo a áreas cerebrais responsáveis por seu processamento. SAIBA MAIS A extensão cortical da área não guarda correspondência com a extensão anatômica da parte do corpo, e sim com sua importância. Por exemplo: as áreas sensoriais corticais dos lábios e dedos das mãos são maiores do que as das costas ou pernas, mesmo que estas últimas sejam bem maiores no corpo que as primeiras. LESÕES CEREBRAIS E DEFICIÊNCIAS NO PROCESSAMENTO SENSOPERCEPTIVO Reconhecendo que a topografia cerebral é relevante para a construção dos estímulos sensoriais, é possível compreender que lesões em diferentes regiões componentes do caminho da informação acarretam sintomatologias diversas. javascript:void(0) A tabela 1 apresenta os quadros patológicos mais frequentes quando se trata de lesões adquiridas em diferentes áreas do SN responsáveis pela sensopercepção. Note que os lobos mais importantes para essa função cognitiva são o occipital, o temporal e o parietal. Lobo de localização da lesão Área funcional Efeitos Nome da disfunção Occipital Córtex visual primário Incapacidade de receber informação visual e perda de visão Cegueira cortical Córtex visual secundário Incapacidade de reconhecer e de identificar visualmente objetos Agnosia visual Incapacidade de compreender os sinais gráficos da escrita Cegueira verbal ou alexia Temporal Córtex auditivo primário Incapacidade de receber informação sonora e perda de audição Surdez cortical Córtex auditivo secundário Incapacidade de reconhecer e de identificar sons vulgares Agnosia auditiva Incapacidade de interpretar o significado do discurso oral Surdez verbal Parietal Córtex somatossensorial primário Incapacidade de receber informação sensorial e perda da sensorial tátil, térmica e álgica (ligada à dor) Anestesia cortical Córtex somatossensorial secundário Incapacidade de reconhecer um objeto pelo tato e de localizar sensações táteis e térmicas do corpo Agnosia somatossensorial ou assomatognosia Tabela 1 – Disfunções da sensopercepção mais frequentes por lesões adquiridas. Fonte: Brandão (2004); Fuentes et al. (2008); Lent (2008); Sohlberg e Mateer (2011). SINTOMATOLOGIAS Na linguagem das Ciências Biológicas e na forma como utilizada aqui, significa conjuntos de sintomas de doenças. Ainda sobre a integração do processo entre sensação e percepção (sensopercepção), um conceito importante é o de contínuo perceptivo: (...) DEVERÍAMOS VER ESSES PROCESSOS COMO PARTE DE UM CONTÍNUO. A INFORMAÇÃO FLUI PELO SISTEMA. A PERCEPÇÃO ACONTECE À MEDIDA QUE OBJETOS DO AMBIENTE COMUNICAM ESTRUTURA DO MEIO INFORMACIONAL [EXTERNO] QUE, AO FINAL, CHEGAM A NOSSOS RECEPTORES SENSORIAIS, LEVANDO À IDENTIFICAÇÃO INTERNA DE OBJETOS. (STERNBERG, 2008) Juntamente com a compreensão do contínuo perceptivo, outro conceito complementar é o de adaptação sensorial. De acordo com Sternberg (2008), as células receptoras estão em constante adaptação à estimulação recebida pelos sentidos. Isso nos permite parar de detectar a presença de um estímulo e detectar outro, alterando assim nossa sensopercepção. A PARTICIPAÇÃO DO INDIVÍDUO NO PROCESSO PERCEPTIVO Uma série de estudos em Psicologia Cognitiva defende a participação colaborativa do conhecimento prévio do indivíduo na formação de um percepto. Desde os estudos da Psicologia da Gestalt, o enfoque dado à percepção da forma baseava-se na noção de que o todo difere da soma de suas partes. Essa abordagem mostrou-se útil particularmente para entender como são percebidos os grupos de objetos ou mesmo as partes de objetos para formar todos integrais: tendemos a perceber uma configuração visual apenas como uma organização dos elementos distintos em uma forma coerente e estável. O observador atribui certa parte sobre as sensações que esteja experimentando, contribuindo ativamente para o processo de perceber e, assim, de compreender e aprender sobre o mundo ao seu redor. Segundo Sohlberg e Mateer (2011), esse tópico é de especial interesse para educadores e profissionais das áreas de Psicologia e outras modalidades de habilitação e reabilitação neuropsicológica cognitiva. javascript:void(0) Fonte: Generation/Shutterstock PERCEPTO De acordo com Sternberg (2008), é a representação mental de um estímulo percebido. Para uma revisão aprofundada sobre a participação do indivíduo no processo perceptivo, consulte essa obra. Lá também encontrará mais dados sobre a Psicologia da Gestalt. A ATENÇÃO A atenção é um dos temas mais intrigantes e populares da Neuropsicologia na atualidade. Diante da enorme quantidade de estímulos que recebemos em nossas mais diversas atividades, manter a atenção por longos períodos e em mais de uma atividade tem sido cada vez mais requerido. As funções cognitivas não são estanques; acontece o mesmo com a sensopercepção e a atenção: ambos os processos funcionam coordenadamente; só podemos perceber ao que estamos atentos, mas, do mesmo modo, um estímulo sensorial de relevância pode capturar nossa atenção. Fonte: ESB Professional/Shutterstock ATENÇÃO: DEFINIÇÃO Vamos iniciar este assunto fazendo um exercício. Está pronto? Experimente focar a sua atenção nos estímulos visuais no seu entorno; ao mesmo tempo, preste atençãoàs sensações táteis que vêm do contato do seu corpo com as roupas e a cadeira; agora, ao mesmo tempo, procure perceber se há algum odor adocicado ao seu redor. E ainda junte a isso tudo prestar sua atenção aos estímulos sonoros. Tudo ao mesmo tempo! Descreva como foi essa experiência. RESPOSTA Foi possível prestar atenção em todos? Ou você sentiu a sua atenção “pular” de um estímulo a outro? Esse exercício nos dá muitas pistas de como opera essa função cognitiva. javascript:void(0) A atenção inclui a concentração de atividade mental que permite selecionar alguns aspectos do mundo sensorial de maneira eficiente, enquanto outros aspectos (fora da atenção) não são processados em detalhes. A atenção, portanto, é um processo que exige de nós uma percepção direcionada, durante certo tempo. Como você identificou, é nossa capacidade de concentrar os processos mentais em somente uma tarefa, reduzindo o foco nas demais. O PROCESSO ATENCIONAL – TEORIAS E FUNÇÕES De acordo com Matlin (2004), pode-se considerar dois aspectos principais da atenção: ALERTA Estado geral de sensibilização, relacionado à vigília e consciência. FOCALIZAÇÃO Quando a atenção está sobre certos estímulos do ambiente interno (neurobiológicos) ou externo do indivíduo. Veremos mais adiante que os diferentes aspectos da atenção têm processamento em áreas diferentes do SNC. O exercício anterior também nos auxilia a compreender a teoria do filtro atencional, ou do gargalo. Ela indica que, num conjunto de variados estímulos a perceber, nossa atenção apenas tem espaço para processar alguns deles de cada vez, como um gargalo ou funil. Podemos pensar também na ideia de um foco de luz, dinâmico, sobre um grande palco, só podendo iluminar parte do cenário. Ali, no foco central da iluminação, estaríamos conscientemente respondendo a uns estímulos e negligenciando outros. O esquema da figura 5 nos apresenta um modelo de como a atenção e o processamento consciente se organizam. No centro do modelo (em vermelho) estão os conteúdos que, estando atento, o sujeito pode processar conscientemente e até descrever. Ao redor (em laranja), os conteúdos que estão sendo manipulados pela atenção, que incluem o círculo interno, porém com parte do processamento não completamente consciente. E em cinza (círculo maior, que inclui os outros dois), está o universo de estímulos a que o indivíduo está exposto. Fonte: Adaptado de Sternberg (2008) e Fuentes et al. (2008) Figura 5 - Processamento consciente de informações na atenção. FUNÇÕES DA ATENÇÃO A atenção possui diferentes níveis de funcionamento, também conhecidos como funções da atenção. A tabela 2 inclui os principais tipos e suas definições. Aqui, abordaremos a atenção focada, mantida ou sustentada, seletiva, alternada e dividida. Função Definição Atenção focada Resposta básica ao estímulo. Exemplos: girar a cabeça na direção de um estímulo auditivo; quando dirigindo, desviar-se de um obstáculo na estrada. Atenção mantida ou sustentada Manutenção da atenção ao longo do tempo durante atividade contínua; memória de trabalho: sustentação e manipulação ativa da informação; capacidade de estar em prontidão, por um período prolongado, para responder a determinadas alterações na situação de estímulos, ou ao aparecimento de um estímulo-alvo específico. Inclui as funções sondagem javascript:void(0) (busca ativa por um estímulo) e vigilância (prontidão para responder a um estímulo-alvo). Exemplo: quando dirigindo, permanecer atento por longos períodos, na expectativa de novos obstáculos na estrada. Atenção seletiva Livre da distratibilidade; escolha dos estímulos relevantes; procura ativa de um estímulo-alvo; busca por estímulos específicos; foco da atenção aos relevantes e inibição dos irrelevantes; capacidade de focar e selecionar um estímulo e ignorar vários outros que estejam viáveis no momento. Fundamental para compreensão verbal e resolução de problemas. Exemplos: inibir o barulho do ar-condicionado da sala durante uma conferência; quando dirigindo, não ser distraído por eventos que tirem a atenção da estrada. Atenção alternada Capacidade de flexibilidade mental; alternar entre estímulos diferentes. Exemplo: quando dirigindo, observar possibilidade de ultrapassagem, olhando retrovisores, observando buzinas e faróis de outros veículos. Atenção dividida Habilidade para responder simultaneamente a duas tarefas; distribuição dos recursos atencionais. Nessas situações, há um deslocamento coerente e distribuído dos recursos atencionais. Todos os estímulos são relevantes, porém o organismo deve responder concomitantemente aos diferentes estímulos que são apresentados, que podem variar tanto em características espaciais quanto temporais. Exemplo: quando dirigindo, ser capaz de conversar, ouvir rádio, usar mãos ao volante e câmbio, pés aos pedais. Tabela 2 - Funções da atenção e suas definições. Fonte: Fuentes et al. (2008); Lent (2008); Sohlberg e Mateer (2011). MEMÓRIA DE TRABALHO javascript:void(0) Não se preocupe com o termo! Você o entenderá no próximo módulo! DISTRABILIDADE É a incapacidade de selecionar estímulos externos que não tenham importância para determinada interação com o ambiente externo. Assim, na atenção seletiva, o indivíduo é capaz de tal seleção (daí o nome dessa função). PROCESSOS AUTOMÁTICOS E CONTROLADOS Na teoria cognitiva sobre atenção, registra-se a ideia de que os indivíduos possuem uma quantidade de recursos atencionais limitada. De acordo com essa ideia, algumas ações requerem mais recursos atencionais do que outras: ações novas, referentes a novos aprendizados, requerem muita atenção em seu aprendizado e em seu desempenho, mas, com o passar do tempo, demandam cada vez menos recursos atencionais, passando a ser desempenhadas automaticamente. Tal funcionamento faz parte da função adaptativa cerebral que, ao automatizar tarefas, melhora a economia cognitiva, deixando disponíveis recursos atencionais para que o indivíduo possa se engajar em tarefas concomitantemente. Mas deve estar claro que, em nossa mente, a maioria dos processos cognitivos se dá de forma automática. Fonte: fizkes/Shutterstock SAIBA MAIS Para saber mais sobre os processos cognitivos de forma automática, vale conhecer a obra O novo inconsciente, de Marco Callegaro (2011), também indicada no Explore+ ao final deste tema. Normalmente, o aprendizado de tarefas novas envolve a utilização de quase todos os recursos atencionais, e o indivíduo não consegue desempenhar mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Esses processos são do tipo controlado (o indivíduo está conscientemente engajado na ação) e requerem um controle cognitivo maior, usando as funções executivas. Conforme a repetição, os processos controlados passam a ser desempenhados como do tipo automático (que se refere a tarefas superaprendidas, que já não requerem quase nenhum recurso atencional). O comparativo a seguir resume as características dos processos controlados e automáticos: Processo controlado Esforço intencional Conhecimento consciente Realizados serialmente Consomem mais tempo Tarefas novas ou com variabilidade Níveis elevados de processamento cognitivo Processo automático Pouco ou nenhum esforço intencional Sem consciência Realizados em paralelo Rápidos Tarefas conhecidas, com prática Níveis baixos de processamento cognitivo Processos controlados e automáticos e o uso de recursos atencionais. Fonte: Fuentes et al. (2008); Matlin (2004); Sternberg (2008); Sohlberg e Mateer (2011). Assista ao vídeo “Atenção e aprendizagem” e aprofunde seus conhecimentos sobre a temática “Processo da mente: atenção”. PROCESSOS BOTTOM-UP E TOP-DOWN O cérebro é limitado em sua capacidade de processar todos os estímulos sensoriais presentes no mundo físico a qualquer momento e confia no processo cognitivo de atenção para concentrar os recursos neurais de acordo com as contingências do momento. Nesse sentido, a atenção pode ser categorizada,segundo Katsuki e Constantinidis (2013), em duas funções distintas: Atenção bottom-up (de baixo para cima) Referente à orientação puramente por fatores externos direcionados a estímulos destacados por causa de suas propriedades inerentes ao fundo – por exemplo, um barulho muito alto, uma luz que se acende num ambiente de penumbra. Atenção top-down (de cima para baixo) Refere-se a orientações internas de atenção baseadas em conhecimento prévio, planos ou metas atuais – como prestar atenção a uma aula. O conceito de atenção top-down, de acordo com Cosenza e Guerra (2001), funde-se com o tipo de processamento controlado da atenção e é de especial interesse para o aprendizado escolar, por exemplo. NEUROCIÊNCIA DA ATENÇÃO Como já vimos, dois aspectos principais (alerta e focalização) formam a atenção. Mecanismos envolvidos na atenção, segundo Brandão (2004) e Fuentes et al. (2008), dependem de uma rede nervosa que inclui porções anteriores e posteriores do sistema nervoso, e lesões nessa rede alteram a capacidade da pessoa em direcionar a atenção para determinados setores do ambiente. Em relação ao estado de alerta, a área mais atuante é o Sistema Atencional Reticular Ascendente (SARA), localizado no tronco encefálico. Em relação ao que se pretende estudar em Neurociência Cognitiva (com ênfase na função cognitiva que ora estudamos), merece destaque a focalização. ATENÇÃO É o Sistema Atencional Posterior (SAP) que tem por função orientar a atenção; ou seja, é responsável pela atenção focada e seletiva, como vimos na tabela 2. Já o Sistema Atencional Anterior (SAA) é responsável também pela atenção seletiva; e pela atenção sustentada e dividida. Assim, realiza o recrutamento atencional para detectar estímulos e controlar áreas cerebrais para o desempenho de tarefas cognitivas complexas. As áreas cerebrais envolvidas no SAA são o córtex frontal, o giro cingulado anterior e os gânglios da base. A figura 6 resume as áreas do SNC que participam dos diferentes sistemas atencionais citados. Fonte: Brandão (2004) e Fuentes et al. (2008). Figura 6 - Áreas cerebrais envolvidas com a atenção. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DE ACORDO COM AS UNIDADES FUNCIONAIS DEFINIDAS POR LURIA, PODEMOS AFIRMAR QUE DAS SEGUINTES ÁREAS, RELEVANTES PARA O PROCESSO SENSOPERCEPTIVO, CONFIGURAM ÁREAS PRIMÁRIAS, EXCETO: A) Giro pós-central B) Córtex visual primário C) Giro temporal superior D) Junção têmporo-parieto-occipital 2. O CÓRTEX PRÉ-FRONTAL É UMA ÁREA DO LOBO FRONTAL IMPORTANTE PARA O ENGAJAMENTO DO INDIVÍDUO EM FUNÇÕES COGNITIVAS COMPLEXAS. EM RELAÇÃO À ATENÇÃO, ELE ESTÁ ATRELADO AO DESEMPENHO DAS SEGUINTES FUNÇÕES ATENCIONAIS, EXCETO: A) Vigilância B) Sondagem C) Atenção seletiva D) Alerta GABARITO 1. De acordo com as unidades funcionais definidas por Luria, podemos afirmar que das seguintes áreas, relevantes para o processo sensoperceptivo, configuram áreas primárias, exceto: A alternativa "D " está correta. Embora seja uma área importante para o processo sensopercetivo (dando significado ao percepto formado pelas sensações), a junção têmporo-parieto-occipital é uma área de associação. O giro pós- central, o córtex visual primário e o giro temporal superior são áreas primárias, processando, respectivamente, estímulos de natureza tátil, auditiva e visual. 2. O córtex pré-frontal é uma área do lobo frontal importante para o engajamento do indivíduo em funções cognitivas complexas. Em relação à atenção, ele está atrelado ao desempenho das seguintes funções atencionais, exceto: A alternativa "D " está correta. A função alerta se refere à consciência ou vigília do indivíduo e é desempenhada pelo SARA (Sistema Reticular Ativador Ascendente), localizado no tronco encefálico. MÓDULO 2 Identificar os substratos neurais subjacentes ao processo mnemônico e sensório-motor CONCEITOS Retomando a função principal do cérebro – que é a adaptação –, temos na memória uma de suas principais aliadas. Ao aprender sobre o ambiente, o indivíduo pode fazer projeções e modular o seu comportamento com base em experiências anteriores. MEMÓRIA: DEFINIÇÃO De acordo com Baddeley et al. (2011), a memória pode ser definida como a capacidade de adquirir (registrar), armazenar e recordar informações. Tem como função situar e adaptar o indivíduo ao meio, modificar comportamentos em função das novas aprendizagens e experiências anteriores. Fonte: wan wei/Shutterstock O PROCESSO MNEMÔNICO – TEORIAS E FUNÇÕES FASES DA MEMÓRIA Vimos que a memória é um processo composto por outros três: o de adquirir (aquisição), armazenar (consolidação) e recuperar (evocar) informações disponíveis. Em termos das Neurociências Cognitivas, o processo de memorização pode ser dividido em três fases principais: FASE 1 Aquisição (a formação do traço de memória). javascript:void(0) FASE 2 Retenção ou armazenamento (quando estratégias de armazenamento fortalecem o traço mnemônico, organizando a informação adquirida). FASE 3 Recuperação (a ativação do traço adquirido, ou o lembrar propriamente dito). Na figura 7, usamos a referência da seta como a passagem do tempo. Dessa maneira, os processos são sucessórios e relativamente independentes. ATENÇÃO Não pode haver recuperação de uma informação que não tenha sido armazenada (consolidada), assim como não pode haver retenção de uma informação que não tenha sido adquirida. As informações, para serem lembradas, precisam ter sido adquiridas (com especial participação da atenção, tratada no módulo anterior) e, posteriormente, retidas (armazenamento), ou seja, elas precisam ser consolidadas organizadamente na rede de informações pertinentes prévias. Fonte: Autor. Figura 7 - Fases da memória Segundo Cosenza e Guerra (2001) e Sohlberg e Mateer (2011), alguns aspectos facilitam o processo de retenção: javascript:void(0) javascript:void(0) Repetição da informação. Relevância emocional para o indivíduo. Boa qualidade do sono após a aquisição. Estratégias adequadas de dar sentido à nova informação em relação às que coexistem na mesma rede (fazer relações entre a informação nova e as anteriormente aprendidas). De acordo com Sara (2000) e Nader e Einarsson (2010), dois processos podem ser descritos no período de armazenagem da informação: CONSOLIDAÇÃO Envolve a transformação dos traços mnésicos transitórios em mais duráveis e estáveis. RECONSOLIDAÇÃO Representa uma atualização do novo traço após novo aprendizado, a partir de sua integração com traços antigos, fortalecendo-o. TEORIA DA DEGENERAÇÃO Como citamos nos processos de sensopercepção e atenção, o conjunto de estímulos a que um sujeito está exposto é sempre maior que a capacidade de seu sistema cognitivo de processá-lo. E, ainda assim, nem todos os estímulos que nossa sensopercepção e atenção possam processar serão consolidados na memória. Segundo Gazzaniga (1995), não havendo uma boa estratégia de retenção, muitos estímulos podem sofrer esquecimento, ou degeneração. A teoria da degeneração da memória afirma que esquecemos porque não utilizamos as informações e, assim, elas desaparecem com o tempo, como um processo natural do cérebro, obedecendo a uma espécie de lei do uso e desuso. A figura 8 representa a curva de esquecimento de um aprendizado verbal ao longo do tempo. Observa- se que a retenção da informação (o que fora efetivamente recordado do que foi adquirido) decai muito rapidamente, apenas restando, ao longo de um mês, uma pequena parcela do que foi aprendido. Aqui, mais uma vez se ressalta o papel do indivíduo no processo cognitivo, pois tende a ser mantido o conjunto de informações que faça sentido para aquele indivíduo de forma particular. javascript:void(0) javascript:void(0) Fonte: Adaptado e traduzido de Wixted e Ebbesen (1997). Figura 8 - Curva de esquecimento. Assista ao vídeo “Memória e Aprendizagem” e aprofunde seus conhecimentos sobre esta temática. CLASSIFICAÇÃO DA MEMÓRIA QUANTO AO TEMPO Uma classificação temporalda memória se refere à quantidade de tempo em que a informação é mantida no cérebro. Assim, temos 3 classificações: MEMÓRIA SENSORIAL MEMÓRIA DE CURTO PRAZO MEMÓRIA DE LONGO PRAZO (MLP) MEMÓRIA SENSORIAL Dura poucos segundos, referindo-se aos conteúdos advindos do sistema sensoperceptivo. MEMÓRIA DE CURTO PRAZO De duração limitada (20-30 segundos) e com capacidade também limitada (de 5 a 7 itens, decaindo com o tempo). Um dos modelos que melhor explica a memória de curto prazo é a memória operacional (ou memória de trabalho), como veremos neste módulo. MEMÓRIA DE LONGO PRAZO (MLP) De duração ilimitada (de segundos a anos, podendo chegar a ser permanente) e capacidade ilimitada (não se conhece o tamanho da MLP humana). E persiste indefinidamente. MEMÓRIA OPERACIONAL (OU MEMÓRIA DE TRABALHO) O modelo mais bem aceito para explicar a memória de curto prazo é o proposto por Baddeley (2011), que nos apresenta o conceito de memória de trabalho (ou memória operacional), baseado em três componentes principais: alça fonológica, esboço visuoespacial e retentor episódico, organizados por um quarto componente, o executivo central, que se ocupa da manipulação online de informações atuais, integrando funções atencionais e conteúdo da memória de longo prazo (MLP). MANIPULAÇÃO ONLINE Para entender melhor o conceito de manipulação online: “A MT [Memória de Trabalho], portanto, é basicamente realizada online, ou seja, exerce a função de gerenciar o nosso contato com a realidade, decide o que ficará guardado ou não na memória declarativa ou procedural ou o que deverá ser evocado dessas memórias.” (FARIA & MOURÃO Jr., 2013) ALÇA FONOLÓGICA COMPONENTE VISUOESPACIAL RETENTOR EPISÓDICO EXECUTIVO CENTRAL ALÇA FONOLÓGICA De acordo com Zanella e Valentini (2016), este componente é responsável por fornecer armazenamento temporário de material linguístico: aquisição de vocabulário, compreensão da leitura, escrita, habilidades aritméticas e resolução de problemas matemáticos. O principal objetivo da alça fonológica é armazenar padrões sonoros desconhecidos enquanto a memória permanente de registros está sendo construída. COMPONENTE VISUOESPACIAL Zanella e Valentini (2016) também afirmam que este componente possui funções semelhantes às da alça fonológica; envolve informações visuais e espaciais, armazenando-as temporariamente de forma restrita. Esse componente possui papel fundamental na formação da imagem mental. javascript:void(0) RETENTOR EPISÓDICO Também conhecido como buffer episódico, garante a capacidade de armazenamento temporário e limitado das informações contidas em um código multimodal, proporcionando, assim, não só um mecanismo para modelar o ambiente, mas também a criação de novas representações cognitivas, que poderão facilitar a resolução de problemas. EXECUTIVO CENTRAL Segundo Gazzaniga (1995), este componente dá suporte às funções cognitivas superiores de gerenciamento das múltiplas tarefas cognitivas e comportamentais voltadas a um objetivo. A memória de trabalho é responsável pelo armazenamento de informações pelo período de utilização (resolução de problemas), por isso depende da atenção. Sendo um modelo da memória de curto prazo, configura o estágio responsável por tornar conscientes as informações transferidas da memória sensorial (imediata) e de longo prazo para que o indivíduo possa manipular ativamente as informações. Embora seja dinâmica, possui pouca capacidade (cerca de 7 itens apenas podem ser processados ao mesmo tempo) e tem uma duração limitada (dependente de enquanto durar a atenção naquele estímulo, mas, geralmente, poucos segundos). De acordo com Zanella e Valentini (2016), a memória de trabalho é um sistema de capacidade limitada que permite o armazenamento e a manipulação temporária de informações verbais ou visuais necessárias para tarefas complexas, como a compreensão, o aprendizado, o raciocínio e o planejamento. Quando o indivíduo ouve uma palavra, o som é encaminhado para a memória sensorial, as experiências com a língua permitem que a pessoa reconheça o padrão de sons, em seguida a palavra é encaminhada para a memória de trabalho onde a informação será processada. Entretanto, o processo de reconhecer o significado da palavra é desenvolvido na memória de longo prazo: local de armazenamento permanente de informações. SISTEMAS MÚLTIPLOS DE MEMÓRIA As pesquisas em Neurociências Cognitivas, segundo Helene e Xavier (2003) e Squire (2013), trouxeram o conhecimento de que a memória se constitui por componentes que são mediados independentemente por diferentes módulos do sistema nervoso, mas de maneira cooperativa. Sobre a MLP, tem-se, a partir desses estudos, a divisão da memória em dois grandes sistemas: explícito e implícito, que dependem do conteúdo da seguinte subdivisão: MEMÓRIA EXPLÍCITA (OU DECLARATIVA) Refere-se a conteúdos mais conscientes e é dividida em episódica (informações que de alguma forma encontram uma correlação têmporo-espacial) e semântica (que abarca os conceitos ou esquemas). MEMÓRIA IMPLÍCITA (NÃO DECLARATIVA) Está relacionada a condicionamentos, pré-ativação e hábitos motores em geral; são memórias não conscientes. O comparativo a seguir apresenta as diferenças e subdivisões dos dois sistemas. MLP explícita (ou declarativa) Capacidade de armazenamento e recordação consciente de experiências prévias (“o quê”). Acumula informação tanto do tipo espacial quanto temporal. Subsistemas: (1) Episódico: permite o resgate de eventos pessoais com rótulo temporal; bastante suscetível à perda de informação. (2) Semântico: fatos e conceitos. MLP implícita (não declarativa) Capacidade de armazenamento e recordação não consciente de experiências prévias (“como”). Consolidação exige treino. O deficit nessa memória pode interferir na aquisição de habilidades rotineiras. Subsistemas: (1) Habilidades e hábitos adquiridos e treinados progressivamente, tais como os desenvolvidos em tarefas como andar de bicicleta, fazer pontos de costura, ou jogar bola com maestria. (2) Pré-ativação (ou priming), relacionado ao funcionamento do córtex cerebral, por exemplo, como observado nas listas de recordação com dicas. (3) Condicionamento clássico, como observado nas respostas emocionais de medo, com ativação da amígdala. (4) Aprendizagem não associativa. Memória de longo prazo e divisão em sistema explícito e implícito. Fonte: Baddeley et al. (2011); Fuentes et al. (2008); Matlin (2004); Sternberg (2008). ATENÇÃO Lembre-se de que estamos nos referindo a certos neurônios, também denominados amígdalas cerebelosas (identificadas na figura 9), a fim de diferenciá-los dos órgãos homônimos (também denominados tonsilas palatinas), localizados entre a boca e a faringe. Se, por exemplo, em algum momento deste tema, você se lembrou de ligar para sua avó e combinar com ela a que horas poderá levá-la amanhã ao hospital, você usou sua memória declarativa (consciente). E se você for até lá de bicicleta, usará sua memória implícita (não consciente) ao pedalar. NEUROCIÊNCIA DA MEMÓRIA Os múltiplos sistemas de memória são independentes porque se baseiam em estruturas (ou redes) neurais um tanto independentes também. Assim, diferentes tipos de memória – e de processos da memória – podem ser atribuídos ao funcionamento adequado de diferentes áreas neurais, conforme aponta a figura 9. Fonte: Adaptado de Morris e Maisto (2004). Figura 9 - Áreas cerebrais envolvidas na memória. CPF = córtex pré-frontal; MCP = memória de curto prazo; MLP = memória de longo prazo. Destaca-se o papel fundamental do córtex pré-frontal para a memória de curto prazo (em especial quando assume-se o modelo de memória operacional). Em relação à neurobiologia da memória de longo prazo (MLP), está bem estabelecido o papel do hipocampo para a consolidação das memórias, embora essa estrutura só esteja responsável pelo armazenamento temporário da informação: as memórias já consolidadas são armazenadas em diferentesregiões do córtex cerebral, dependendo de o conteúdo da informação ser visual, emocional, verbal, entre outros. Com especial atenção, destacamos que a amígdala e o hipocampo (também na figura 9) não são locais de armazenamento de informação, mas participam do processo de formação (consolidação e reconsolidação) de memórias. Esse é um ponto de bastante confusão e erro. A figura 9 destaca a localização do hipocampo, estrutura responsável pela consolidação das memórias, especialmente às MLP explícitas. Baddeley et al. (2011) e Callegaro (2011) afirmam que essa estrutura não está plenamente desenvolvida na criança em torno dos 2 anos de idade. Isso poderia explicar, ao menos em parte, o fenômeno da amnésia infantil. Em termos neurobiológicos, o processo de memorização requer mudanças em propriedades neurais como a excitabilidade da membrana do neurônio e o fortalecimento sináptico, ou seja, da comunicação entre os neurônios. Alguns princípios, segundo Squire (2013), ajudam-nos a compreender os mecanismos moleculares e neurais implicados na aprendizagem e na memória: existem múltiplos sistemas de memória no cérebro; aprendizagem e memória de curto e longo prazo envolvem mudanças na rede neural existente. Essas mudanças, segundo Nader e Einarsson (2010), envolvem múltiplos mecanismos celulares em neurônios existentes; e memória de longo prazo (MLP), que requer a síntese de novas proteínas. PROCESSOS DA MENTE: INTEGRAÇÃO SENSÓRIO-MOTORA O conceito de integração se mostra essencial para o funcionamento da mente e, assim, do indivíduo em interação com seu meio. No processo de integração sensório-motora, fica evidente que o sistema nervoso (SN) trabalha de forma coordenada e dinâmica. Vamos abordar a relação íntima e necessária entre os aspectos cognitivos e motores. Esse é um dos aspectos mais ricos do funcionamento cognitivo, especialmente quando se pensa em aprendizados motores como a fala, a escrita, o uso de ferramentas e instrumentos em geral. INTEGRAÇÃO SENSÓRIO-MOTORA: DEFINIÇÃO A integração sensório-motora pode ser definida como o processo segundo o qual o cérebro organiza as informações com a finalidade de dar uma resposta adaptativa adequada, que pode configurar um comportamento motor. É responsável por estruturar as sensações do próprio corpo e do ambiente a fim de possibilitar seu uso apropriado no ambiente. Portanto, podemos explicar a integração sensório- motora como a habilidade inata de organizar, interpretar sensações e responder apropriadamente ao ambiente, de forma funcional. Fonte: Tasty_Cat/Shutterstock O PROCESSO SENSÓRIO-MOTOR O desenvolvimento da integração sensorial se inicia ainda na vida intrauterina e ocorre devido à interação do indivíduo com o ambiente por meio de respostas que se mostram adaptativas ou não ao contexto, o que leva ao aprendizado. Nos períodos iniciais da vida, o indivíduo detém a capacidade de organizar inputs sensoriais experimentando sensações, porém inicialmente incapazes de dar significado a elas. Conforme o avanço do desenvolvimento, o indivíduo passa a reunir condições (em termos de maturidade neurológica, inclusive) para controlar seus comportamentos e aprender com os respectivos feedbacks do meio externo. javascript:void(0) Fonte: Katy Flat/Shutterstock INPUTS SENSORIAIS Inputs sensoriais referem-se às funções receptivas; à capacidade para selecionar, adquirir, classificar e integrar as informações, isto é, sensação, percepção, atenção e concentração. A seguir, recordaremos as unidades funcionais que vimos no módulo 1 e, também, como acontece o processo de integração sensório-motora: PROCESSAMENTO BOTTOM-UP E TOP-DOWN NA INTEGRAÇÃO SENSÓRIO-MOTORA É necessário recordar as unidades funcionais apontadas por Luria. A integração sensório-motora é a fina coordenação entre os dois tipos de processamento. Sigamos com um simples exemplo para podermos compreender como esse processo se dá: Ao verificar uma caixa [visão – processo bottom-up (percepção)]; O indivíduo pode decidir apanhá-la (informação decisional que surge de áreas de associação frontal e segue para as áreas primárias motoras – top-down); Supondo seu conteúdo e seu peso (presunção também organizada por áreas corticais superiores – top-down); Entretanto, ao levantar a caixa, nota que o peso é bem menor do que o imaginado (Percepção - processo bottom-up); Informação que rapidamente chega ao córtex e refaz o planejamento motor para aliviar a força imprimida pelos braços (processo top-down). O exemplo nos demonstra a atuação dinâmica entre os dois processos, o mesmo que ocorre quando ouvimos uma pergunta e a respondemos, porém, modulando a altura de nossa voz devido a qualquer mudança ambiental. Ou quando supomos uma palavra escrita num texto e a lemos. Ocorre ainda quando somos capazes de andar em nossa casa no escuro, pois sabemos o mapa espacial do local, embora possamos usar prontamente o tato caso sintamos qualquer mudança no ambiente físico, como um móvel fora do lugar. ESTÁGIOS DO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO SENSÓRIO- MOTORA O processo de integração sensório-motora, segundo Molleri et al. (2010), acontece em 5 estágios: 1 - Registro sensorial: é o reconhecimento da sensação. 2 - Orientação e atenção: é a atenção seletiva específica ao estímulo. 3 – Interpretação: é o significado da sensação. Este componente é cognitivo, pois interpretamos a sensação à luz da experiência e de aprendizados anteriores, além de atribuirmos caráter emocional às sensações. 4 - Organização da resposta: organizada cognitiva, afetiva e motoramente. 5 - Execução da resposta: o último estágio da integração sensorial e o único que pode ser diretamente observado. Isso traz fundamentos para se pensar nos comportamentos (muitos deles motores, como a fala e as respostas emocionais, o deslocamento do indivíduo pelo ambiente) resultantes dos processos de integração sensorial e nas bases sensoriais da autorregulação. NEUROCIÊNCIA DA INTEGRAÇÃO SENSÓRIO- MOTORA No processo sensório-motor, o cérebro organiza as informações captadas sensorialmente a fim de dar uma resposta adaptativa adequada ao ambiente, organizando as sensações do próprio corpo para utilizá-lo de modo eficiente. O SN é o responsável pela integração das diversas sensações recebidas e dos comportamentos efetuados pelo indivíduo como respostas a essas sensações. De acordo com Matlin (2005), o SNC localiza, classifica e organiza os impulsos sensoriais e transforma as sensações em percepção para que o indivíduo possa interagir com o meio, organiza as informações visuais, auditivas, táteis, olfativas e gustativas, bem como informações sobre gravidade e movimento, e consequentemente as ordena em um plano de ação. Na figura 10, pode-se observar o caminho percorrido pela informação numa tarefa que exemplifica a integração sensório-motora: repetir uma palavra ouvida. Fonte: Adaptado e traduzido de Binder (2015). Figura 10 - Caminho da informação na tarefa de repetir uma palavra ouvida (áreas de 1 a 5). 1 – O input sensorial auditivo chega ao córtex auditivo primário. 2 – É encaminhado para a área de Wernicke. 3 – Uma área de associação têmporo-parietal, onde é processada a compreensão do que se foi pedido; através do fascículo arqueado. 4 – Um feixe de axônios que comunica áreas têmporo-parietais com áreas motoras de associação –, ele chega à área de Broca – no córtex motor secundário, específica para a produção de palavras. 5 – Finalmente é encaminhado para a área motora primária, para que se produzam os comportamentos motores na boca, na língua e no diafragma, efetivando a produção da fala. Como se trata de uma integração de áreas, é razoável supor que lesões ou mau funcionamentos em regiões específicas podem levar a disfunções no desempenho do indivíduo em tarefas sensório- motoras. A tabela 5 apresenta os mais importantes quadros conhecidos derivados de lesões em áreas motoras. Lobo de localização da lesão Área funcional Efeitos Nomeda disfunção Frontal Córtex motor primário Incapacidade de executar movimentos finos e precisos Paralisia cortical Córtex motor secundário Incapacidade de organizar e de planear os movimentos numa sequência unificada Apraxia Incapacidade de se expressar escrevendo Agrafia ou apraxia da escrita Incapacidade de Afasia ou apraxia se expressar falando de linguagem Tabela 5 - Disfunções motoras mais frequentes por lesões adquiridas. Fonte: Brandão (2004); Fuentes et al. (2008); Lent (2008); Sohlberg e Mateer (2011). ATENÇÃO Nas áreas de saúde e educação, é fundamental que se avalie a integridade de aspectos sensoriais e motores quando se realiza a observação de tarefas que envolvam a integração sensório-motora. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. DE ACORDO COM BADDELEY, A MEMÓRIA TEM COMO FUNÇÃO SITUAR E ADAPTAR O INDIVÍDUO AO MEIO, MODIFICAR COMPORTAMENTOS EM FUNÇÃO DAS NOVAS APRENDIZAGENS E EXPERIÊNCIAS ANTERIORES. CONSIDERE OS PROCESSOS A SEGUIR: I – INDUÇÃO II – ADAPTAÇÃO III – AQUISIÇÃO IV – RECUPERAÇÃO V – RETENÇÃO VI – CONSOLIDAÇÃO MARQUE A ALTERNATIVA QUE INDICA A SEQUÊNCIA TEMPORAL DE PROCESSOS NA MEMORIZAÇÃO DE UM CONTEÚDO NOVO: A) I, II, IV B) III, VI, IV C) III, IV, VI D) II, VI, IV 2. CONSIDERE A TAREFA DE RESPONDER COM UM SINAL DE LEVANTAR AS MÃOS SEMPRE QUE, NUMA TELA PROJETANDO IMAGENS, APARECER A FIGURA DE UM TRIÂNGULO. SOBRE TAL TAREFA, É INCORRETO AFIRMAR QUE: A) A tarefa depende das funções cognitivas atenção e integração sensório-motora. B) A tarefa somente inclui a participação de áreas de associação. C) O comportamento motor na tarefa é um exemplo de processamento top-down. D) A tarefa exemplifica a integração entre os processamentos bottom-up e top-down. GABARITO 1. De acordo com Baddeley, a memória tem como função situar e adaptar o indivíduo ao meio, modificar comportamentos em função das novas aprendizagens e experiências anteriores. Considere os processos a seguir: I – Indução II – Adaptação III – Aquisição IV – Recuperação V – Retenção VI – Consolidação Marque a alternativa que indica a sequência temporal de processos na memorização de um conteúdo novo: A alternativa "B " está correta. Para a memorização de um conteúdo novo, primeiro realizamos o processo de aquisição de uma nova informação; em seguida, o conteúdo é retido (ou consolidado) para depois ser recuperado. Memória é a capacidade para adquirir (registrar), armazenar e recordar informações. 2. Considere a tarefa de responder com um sinal de levantar as mãos sempre que, numa tela projetando imagens, aparecer a figura de um triângulo. Sobre tal tarefa, é incorreto afirmar que: A alternativa "B " está correta. A tarefa citada, como exemplifica a integração entre os processamentos bottom-up e top-down, necessariamente inclui áreas primárias (sensorial, visual e motora) tanto para a percepção do estímulo (triângulo), quanto para a resposta motora correspondente. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse tema, estudamos sobre quatro processos da mente. Identificamos que a sensação, a atenção, a memória e a integração sensório-motora são consideradas processos da mente porque se caracterizam como funções cognitivas, desempenhadas pelo indivíduo no processo de adaptação ao meio em que vive. Cada processo de adaptação, desde perceber a árvore que cai na floresta a aumentar o tom de nossa voz ao responder a uma pergunta (porque o ambiente tornou-se mais barulhento), só é acessível porque nosso sistema nervoso está organizado de forma a percebê-lo. É graças à integração de áreas do sistema nervoso que podemos, efetivamente, também nos integramos ao meio que nos cerca, valorizando uma de nossas maiores habilidades, totalmente integrada ao SN: a capacidade de adaptação. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BINDER, J. R. The Wernicke area: Modern evidence and a reinterpretation. In: Neurology, dez. 2015, v. 85, n. 24, pp. 2170-2175. BRANDÃO M. L. As bases biológicas do comportamento: introdução à Neurociência. São Paulo: EPU, 2004. CALLEGARO, M. O novo inconsciente: Como a terapia cognitiva e as neurociências revolucionaram o modelo do processamento mental. Porto Alegre: ArtMed, 2011. COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: ArtMed, 2001. FARIA, E.; MOURÃO JÚNIOR, C. Os recursos da memória de trabalho e suas influências na compreensão da leitura. In: Psicologia: ciência e profissão. v. 33, n. 2, Brasília, 2013. FUENTES, D. et al. Neuropsicologia: teoria e prática. 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EXPLORE+ Para aprofundar mais seus estudos sobre o tema: Leia os livros: O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, de Oliver Sacks. Neurociência da mente e do comportamento, de Roberto Lent. O novo inconsciente, de Marco Callegaro. Assista aos vídeos: Da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia. Caso você tenha domínio do inglês, veja os da Society for Neuroscience (a maior associação de Neurociência do mundo). Aplicativos: Interaja com alguns aplicativos de estimulação de funções cognitivas, como o BrainHQ, Cognif e Lumosity. Pesquise sobre: O Museu Itinerante de Neurociências – uma iniciativa focada na promoção da alfabetização e difusão científica. CONTEUDISTA Érica de Lana Meirelles CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DESCRIÇÃO A origem, o objeto de estudo, os princípios e as características do comportamentalismo ou behaviorismo em sua versão metodológica, criado pelos precursores Watson, Thorndike e Pavlov. Skinner e seus estudos, que originaram o behaviorismo radical. O condicionamento operante, a teoria da aprendizagem de Skinner e as suas aplicações. PROPÓSITO Compreender a importância da Psicologia da Educação Comportamentalista para a formação docente, indicando seus principais representantes e a aplicabilidade dos seus conceitos à prática pedagógica. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer os aspectos da Psicologia Comportamentalista, seu objeto de estudo e suas principais características MÓDULO 2 Distinguir os princípios teóricos dos precursores da Psicologia Comportamentalista: Watson, Thorndike e Pavlov MÓDULO 3 Identificaras principais características das teorias de Skinner e do behaviorismo radical MÓDULO 4 Reconhecer os impactos do behaviorismo na constituição de uma Psicologia da Educação Comportamentalista Fonte: Adike/Shutterstock INTRODUÇÃO Assista ao vídeo a seguir para conhecer mais sobre as “Psicologias” na vida do professor. O século XIX é chamado de o século da Ciência pelos estudiosos da organização de um campo científico. O campo possui regras e um fetichismo de que tudo no mundo poderia ser explicado pela pesquisa e fundamentação metodológica da Ciência. Já o século XX é chamado de o século da Pedagogia pelo enorme crescimento da educação formal e informal. Iniciamos o século com um mundo no campo, vinculados a uma economia natural, e terminamos com a maior parte da população do mundo nas cidades, marcados pela educação, uma marca de hierarquia e componente de disputa social. Foi tudo muito rápido! Para entender tamanha aceleração, precisamos amarrar essas pontas. A Psicologia é um campo fundamental para entender o tamanho e o impacto da educação no mundo atual. Vista de maneira científica pela Pedagogia, um desafio fundamental era como o ato de educar poderia ser mais eficiente. O casamento entre a Educação e a Psicologia passa pelos estudos de como funciona a mente em aprendizado, em especial a das crianças. Você deve estar ainda mais motivado para estudar este tema, que aborda um importante movimento: o comportamentalismo, chamado por muitos de behaviorismo, e que constitui, juntamente com o humanismo e o cognitivismo, as três grandes escolas teóricas da Psicologia da Educação. MÓDULO 1 Reconhecer os aspectos da Psicologia Comportamentalista, seu objeto de estudo e suas principais características PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO – EM BUSCA DA INTERDISCIPLINARIDADE Fonte: REDPIXEL.PL/Shutterstock PSICOLOGIA COMPORTAMENTALISTA: DO QUE ESTAMOS FALANDO? Podemos considerar a Psicologia da Educação como a área da Psicologia que estuda os fundamentos psicológicos, os processos e os fatores psíquicos que intervêm em todas as situações educativas. A existência da Psicologia da Educação é um exemplo de interdisciplinaridade. Ela une a visão da Psicologia aos estudos da Pedagogia. Fonte:Shutterstock Fonte: Ollyy/Shutterstock VOCÊ SABE O QUE É INTERDISCIPLINARIDADE? EXPLICAÇÃO Dicio (Dicionário Online de Português) apresenta o seguinte verbete sobre o significado de interdisciplinaridade: Substantivo feminino; Qualidade do que é interdisciplinar comum a duas ou várias disciplinas: há interdisciplinaridade quando o professor de Biologia trabalha juntamente com o de Química; Capaz de estabelecer relações entre duas ou mais disciplinas, ou áreas do conhecimento, com o intuito de melhorar o processo de aprendizagem, estreitando a relação entre professor e aluno. A interdisciplinaridade é, então, a integração entre duas ou mais áreas do conhecimento, seus conceitos e suas teorias, com a finalidade comum do estudo de um fenômeno. javascript:void(0) É o que acontece na Psicologia da Educação, em que o fenômeno estudado é o ato educativo, os processos de ensino e aprendizagem. AS “PSICOLOGIAS” NA VIDA DO PROFESSOR Fonte: Wavebreakmedia/Shutterstock A Psicologia da Educação, para Foulin e Mouchon (2000), reivindica para si qualquer estudo que trate das estruturas e dos mecanismos psicológicos passíveis de intervir em uma situação educativa, de maneira formal ou informal. Os processos de ensino e aprendizagem são tão complexos, que é comum a outras ciências, além da Pedagogia, debruçarem-se sobre eles. Mesmo considerando apenas a Psicologia, ousamos utilizar, no subtítulo desta introdução, o termo no plural (“Psicologias”). VAMOS PENSAR EM QUANTAS “PSICOLOGIAS” PODEM AJUDAR O PROFESSOR? Fonte:Shutterstock Fonte: Diki Prayogo/Shutterstock São inúmeras as contribuições: Compreensão do processo de aprendizagem e seus estágios, ao longo das idades do ciclo vital; Fundamentação das estratégias de avaliação; Apoio à resolução de dificuldades de relacionamento no ambiente educativo; Conhecimento mais aprofundado do aluno, além do autoconhecimento do próprio professor; Aprimoramento da didática utilizada pelo professor; Fundamentação dos processos de intervenção e de orientação pedagógica; Incentivo à criação de uma disciplina positiva e criativa no ambiente escolar; Subsídio à compreensão das diferenças e das dificuldades de aprendizagem; Aprimoramento da compreensão da dinâmica dos grupos. Ou seja, podemos dizer que a Psicologia da Educação auxilia o professor em duas grandes tarefas: A compreensão dos processos de ensino e aprendizagem, e o diagnóstico de situações e variáveis que neles interfiram; A intervenção nos processos de ensino e aprendizagem, planejando atividades mais significativas e adequadas aos alunos, e prevenindo o fracasso e a evasão escolar. DESENVOLVIMENTO INFANTIL Fonte: Monkey Business Images/Shutterstock O estudo da Psicologia em seu princípio e a sua busca sobre o funcionamento da mente humana rapidamente alcançaram os estudos e a percepção de que uma criança vivia fases específicas em seu desenvolvimento. Essas fases foram percebidas e pensadas por autores diversos, como por exemplo, Freud (1856-1939), um dos nomes mais importantes da Psicologia, que definiu as cinco fases do desenvolvimento psicossocial: Fonte:Shutterstock Sigmund_Freud/Fonte: Wikipédia 1 Fase Oral 2 Fase Anal 3 Fase Fálica 4 Fase Latência 5 Fase Genital As três primeiras fases (oral, anal e fálica) são fases infantis fundamentais. Freud explicita a importância dos primeiros cinco anos de vida como cruciais para a formação da personalidade adulta. Repare que o alemão não define as maneiras de educar, mas mostra como, nesse caso, a Psicanálise debruça-se na tentativa de compreender a educação infantil. Outros olhares sobre o desenvolvimento da educação passaram por fases diversas; temos contribuições importantes do cognitivismo para a adoção dos modelos atuais. Daqui por diante buscaremos as referências sobre um dos grandes movimentos que fazem parte do desenvolvimento de uma Psicologia da Educação. javascript:void(0) Fonte:Shutterstock Fonte: Evgeny Atamanenko/Shutterstock CONTRIBUIÇÕES IMPORTANTES DO COGNITIVISMO Fonte:Shutterstock Fonte: Indagação COMPORTAMENTALISMO OU BEHAVIORISMO: COMEÇANDO O ESTUDO O nome behaviorismo se origina do inglês behavior, que significa comportamento, daí a escola teórica ser também chamada de comportamentalismo. Como já vimos, o comportamentalismo compõe, com o humanismo e o cognitivismo, as três grandes escolas teóricas da Psicologia da Educação. Cada uma dessas escolas tem fundamentos filosóficos, objetos de estudo e metodologias próprios. No caso do comportamentalismo, o objeto de estudo é o comportamento objetivamente verificado, analisado e controlado, visando à sua modificação. O quadro a seguir faz uma breve comparação entre as três escolas teóricas: Humanismo Cognitivismo Comportamentalismo Estuda o ser humano (a pessoa) integralmente, suas semelhanças e diferenças. Estuda a cognição humana. Estuda o comportamento do homem, muito semelhante ao do animal, entendido como fenômeno observável, e os estímulos que o produzem e podem modificá-lo, modelá-lo. Valoriza as sensações, os sentimentos, as expectativas, as relações humanas, os Valoriza as operações mentais, a linguagem, a memória e a percepção. Valoriza a conduta social considerada adequada. interesses e as motivações. Aprendizagem como desenvolvimento do self, consolidação da autoimagem. Aprendizagem como desenvolvimento progressivo do aparato cognitivo do ser humano, sendo capaz de resolver situações-problema cada vez mais complexas. Aprendizagem como modificação controlada do comportamento mediante a repetição e aplicação de estímulos. Conhecimento construído, educação sem regras rígidas e definidas. Conhecimento construído pelosprocessos mentais do ser humano diante dos estímulos do mundo que o cerca. Conhecimento como uma resposta do organismo a modificações ambientais ou estímulos, adquiridos por meio de esquemas de reforço positivo e negativo. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal ERA UMA VEZ... O BEHAVIORISMO O cenário da Psicologia no início do século XX era marcado por uma forte reação ao mentalismo – doutrina segundo a qual a mente é a realidade fundamental, mas sem explicar os comportamentos – e pela busca do rigor científico e do purismo metodológico nas pesquisas. Assim, surgiu uma imediata oposição entre o comportamentalismo e a Psicanálise, de conotação mentalista, com os estudos de Freud sobre o inconsciente do homem e preocupado com os aspectos internos do ser humano. Também havia nesse cenário uma forte influência do positivismo e das ideias de teóricos como Augusto Comte (1798-1857). javascript:void(0) Fonte:Shutterstock Auguste Comte | Fonte: Wikipédia POSITIVISMO É uma corrente teórica baseada na noção de progresso contínuo da humanidade. Seu pensamento postula a existência de uma marcha contínua e progressiva que a humanidade teria como fio condutor. Auguste Comte, criador do positivismo, considerava o progresso uma constatação histórica que deveria nortear a ação humana e ser constantemente reforçado. As ciências positivas teriam a sua mais forte expressão na Sociologia, ciência da qual Comte é considerado o fundador. VOCÊ SABIA QUE O LEMA DA BANDEIRA BRASILEIRA, “ORDEM E PROGRESSO”, É DE INSPIRAÇÃO POSITIVISTA? SAIBA MAIS John Stuart Mill (1806-1873) incorporou ao positivismo elementos políticos com um espoco moral e ético, reforçando o molde de uma teoria política positivista, fundada na ordem e no conhecimento para se alcançar o progresso. No caso brasileiro, a teoria encontrou ressonância na política, mais especificamente no início do período da Primeira República, com o marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), primeiro presidente do Brasil, e outros políticos que participaram do governo e que tinham fortes influências positivistas. Esse era o cenário ideal para o surgimento, em 1913, do texto manifesto escrito por John B. Watson, autor que estudaremos mais adiante em A Psicologia como um comportamentalista a vê. Watson defendia a ideia de que a Psicologia não deveria pesquisar os processos internos da mente, mas sim o comportamento humano que, por ser observável, visível, deveria ser o objeto de uma ciência positivista. Mais tarde, em 1914, Watson publicou uma obra intitulada Behavior, em que abordou mais uma vez o conceito de Psicologia do Comportamento. Por isso Watson é considerado o pai do comportamentalismo, difundindo a crença de que é possível prever e controlar toda conduta humana, com base no estudo do meio em que o indivíduo vive. RESUMINDO Watson argumentava que havia pouca precisão nos conceitos utilizados pela Psicologia, além da necessidade de métodos de pesquisa mais rigorosos. A Psicologia deveria ser uma ciência aplicada, com resultados práticos na sociedade. OS QUATRO GRANDES VULTOS DA PSICOLOGIA COMPORTAMENTALISTA javascript:void(0) O quadro a seguir mostra os quatro mais conhecidos teóricos da Psicologia Comportamentalista, cujas obras abordaremos nos próximos módulos. autor/shutterstock WATSON (1878-1958) autor/shutterstock THORNDIKE (1874-1949) autor/shutterstock PAVLOV (1849-1936) autor/shutterstock SKINNER (1904-1990) Para Watson, era possível conduzir diferentes indivíduos a determinados papéis sociais controlando o ambiente e estimulando-os por meio de treinamentos. Nesse sentido, a citação a seguir exprime, de maneira muito polêmica, a essência do comportamentalismo: DÊ-ME UMA DÚZIA DE CRIANÇAS SAUDÁVEIS, BEM FORMADAS, E MEU PRÓPRIO MUNDO ESPECIFICADO PARA FAZÊ-LOS CRESCER E, GARANTO, QUALQUER UM QUE EU PEGUE AO ACASO POSSO TREINÁ-LO PARA SE TRANSFORMAR EM QUALQUER TIPO DE ESPECIALISTA QUE EU PODERIA ESCOLHER – MÉDICO, ADVOGADO, ARTISTA, COMERCIANTE CHEFE E, SIM, ATÉ MESMO MENDIGO E LADRÃO, INDEPENDENTEMENTE DOS SEUS TALENTOS, SUAS INCLINAÇÕES, TENDÊNCIAS, HABILIDADES, VOCAÇÕES E RAÇA DOS SEUS ANTEPASSADOS. (WATSON, 1925 apud OSTERMANN e CAVALCANTI, 2011) EXEMPLO Já percebeu, quando você era aluno, ou circulando por uma escola, que em muitas salas normalmente havia o barulho, os diálogos, mas em algumas salas o silêncio dominava? Os alunos temiam a força do professor e como ele seria capaz de ameaçá-los. A cópia do quadro se dava em produção industrial, ininterrupta, e caso algum aluno se levantasse contra o “domínio” de turma do professor, era quase um assombro! De certa forma, esse professor reproduz a citação anterior: os condicionamentos, a repetição para que o professor impusesse o seu planejamento e obtivesse o resultado esperado. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. LEIA A AFIRMATIVA A SEGUIR: O BEHAVIORISMO SURGIU NO INÍCIO DO SÉCULO XX, REALIZANDO FORTES CRÍTICAS AO ______________ E INFLUENCIADO PELA CORRENTE TEÓRICA INTITULADA _______________ . AS DUAS PALAVRAS QUE COMPLETAM CORRETAMENTE A FRASE ACIMA SÃO: A) Condicionamento – Psicanálise. B) Positivismo – humanismo. C) Mentalismo – positivismo. D) Mentalismo – metodologia científica. E) Cognitivismo – humanismo. 2. O OBJETO DE ESTUDO DO COMPORTAMENTALISMO É: A) O comportamento do homem, entendido como fenômeno observável. B) A percepção, o pensamento e a memória, o modo como o homem percebe o mundo. C) Os processos inconscientes e a sua influência sobre o ser humano. D) O significado de estar vivo como ser humano, aprimorando constantemente o self. E) A relação entre o corpo e a mente do indivíduo, que é analisado por meio das formas de representação do mundo. GABARITO 1. Leia a afirmativa a seguir: O behaviorismo surgiu no início do século XX, realizando fortes críticas ao ______________ e influenciado pela corrente teórica intitulada _______________ . As duas palavras que completam corretamente a frase acima são: A alternativa "C " está correta. Por focalizar o estudo do comportamento observável, o behaviorismo ou comportamentalismo fazia duras críticas às abordagens teóricas, como a Psicanálise e o humanismo, que davam ênfase aos processos internos do homem. O positivismo, fundado em princípios da ordem e do conhecimento para se alcançar o progresso, influenciou a corrente comportamentalista, que privilegiava a pesquisa experimental rigorosa e as influências do meio, modelando o comportamento humano através dos estímulos que o indivíduo recebe. 2. O objeto de estudo do comportamentalismo é: A alternativa "A " está correta. Skinner confirma e reitera as críticas ao cognitivismo e à Psicanálise, afirmando que os psicólogos cognitivistas apontavam sobre as representações e argumentavam que elas eram as únicas coisas que poderiam ser vistas, mas que não afirmavam sua interferência ao processá-las. Por outro lado, os psicanalistas teriam se voltado para a teoria. (SKINNER, 1999) As outras opções de resposta indicam, respectivamente, os objetos de estudo das seguintes escolas teóricas: Alternativa B – Cognitivismo - A percepção, o pensamento e a memória, o modo como o homem percebe o mundo; Alternativa C – Psicanálise - Os processos inconscientes e a sua influência sobre o ser humano; Alternativa D – Humanismo - O significado de estar vivo como ser humano, aprimorando constantemente o self. Alternativa E – Trata-se de uma leitura equivocada da noção de representação do mundo pela Psicanálise. MÓDULO 2 Distinguir os princípios teóricos dos precursores da Psicologia Comportamentalista: Watson, Thorndike e Pavlov WATSON, THORNDIKE E PAVLOV: O BEHAVIORISMO CLÁSSICO OU METODOLÓGICO Fonte: Lia Koltyrina/Shutterstock A PSICOLOGIA COMO UM COMPORTAMENTALISTA A VÊ No módulo anterior, caracterizamos o comportamentalismo ou behaviorismo que constitui, junto com o humanismo e o cognitivismo, as trêsgrandes escolas teóricas da Psicologia da Educação. Vimos o contexto em que surgiu e que o seu objeto de estudo é o comportamento objetivamente observado, analisado e controlado, visando à sua modificação e ao seu controle. Identificamos quatro teóricos que são referências do comportamentalismo: a primeira geração de behavioristas, constituída por Watson, Thorndike e Pavlov, que abordaremos neste módulo, e Skinner, que será visto no módulo 3. A construção de um diálogo a partir daqui será fundamental. Nesse sentido, coloque-se no papel correto, reflita como se você fosse o professor. Chegou a hora de abordar uma escola fundamental para a Psicologia da Educação: o comportamentalismo. O comportamentalismo, mesmo levantando polêmicas e sofrendo críticas, teve impacto profundo no cenário da Psicologia, nos seus desdobramentos para a Educação e tem ainda muita atualidade. Vamos conhecer os precursores do comportamentalismo e seus estudos mais importantes, começando pelo “pai” dessa linha teórica. JOHN B. WATSON, O CRIADOR DO BEHAVIORISMO QUEM FOI WATSON? Ao apresentarmos a biografia mais extensa do teórico, não quer dizer que você precise decorar os fatos e as datas relacionados à vida dele, mas conhecer esses aspectos ajuda a compreender o contexto em que viveu e que pode ter influenciado a sua obra. Fonte:Shutterstock John Broadus Wason | Fonte: Wikipédia 1 John Watson foi um psicólogo norte-americano e é reconhecido como o pai do behaviorismo metodológico, que na Psicologia é também conhecido como comportamentalismo. Mesmo tendo nascido em uma família religiosa, na idade adulta se opunha abertamente à religião. Ingressou na Furman University e, ao fim de cinco anos, recebeu o grau de mestre. Em seguida, matriculou-se na Universidade de Chicago, onde cursou Psicologia e começou a desenvolver suas teorias baseadas no behaviorismo. Influenciado por figuras como Vladimir Bekhterev e Ivan Pavlov, partiu dos princípios da fisiologia experimental para investigar os aspectos do comportamento. Em sua tese para o grau PhD em Neuropsicologia, analisou a relação entre o comportamento dos ratos de laboratório e o sistema nervoso central. Permaneceu na Universidade de Chicago como pesquisador. 2 3 Em 1908, passou a lecionar Psicologia Experimental e Comparada na Johns Hopkins University, em Baltimore, onde contou com a criação de um laboratório de Psicologia Animal. Em 1913, John Watson publicou um artigo intitulado A Psicologia como um comportamentalista a vê, em que estabelece as bases da nova corrente da Psicologia, contrária à Psicanalise de Freud, a qual considerava fantasiosa. Foi contrário, também, à noção de hereditariedade e sua influência nos tipos de personalidade, que atribuía exclusivamente à experiência e ao condicionamento do comportamento. Com uma passagem pelo exército e a campanha devido à eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, Watson participou de uma campanha militar na França. Posteriormente, em 1915, foi nomeado presidente da Associação Psicológica Americana (APA). Em 1918, retornou às suas investigações, estudando a primeira infância. Em 1920, foi convidado a deixar a Universidade após vir a público o seu relacionamento com sua assistente Rosalie Rayner. 4 5 John Watson, então, ingressou em uma agência de publicidade, tornando-se, posteriormente, presidente da J. Walter Thompson, uma das maiores empresas de publicidade dos Estados Unidos. Paralelamente, dedicou-se à divulgação de suas teorias, publicou: Behaviorism (1925) e Atendimento psicológico de lactentes e crianças (1928). Em 1957, já aposentado, recebeu o prêmio da APA pelas contribuições para a Psicologia. Pouco antes de sua morte, queimou grande parte de seus documentos e escritos inéditos. John Watson faleceu em Nova York, nos Estados Unidos, no dia 25 de setembro de 1958. Fonte: eBiografia 6 APA Associação Americana de Psicologia, fundada em 1892 e em atividade. O SURGIMENTO DO COMPORTAMENTALISMO METODOLÓGICO OU CLÁSSICO javascript:void(0) Fonte: Fizkes/Shutterstock Já dissemos que o manifesto lançado por Watson, em 1913, é tido como o marco zero do surgimento do comportamentalismo, também chamado de behaviorismo. Nele, Watson defendeu o abandono dos estudos voltados para os processos psíquicos internos e a adoção da observação direta do comportamento como o único método possível para uma psicologia científica. Inaugurou, assim, o primeiro movimento do comportamentalismo, chamado de metodológico. Mais tarde surgiria outro movimento, o comportamentalismo radical, desenvolvido por Skinner. PODE SER REDUNDANTE, MAS O COMPORTAMENTALISMO VÊ O COMPORTAMENTO COMO UMA FORMA DOS ORGANISMOS VIVOS FUNCIONAREM E REAGIREM AO AMBIENTE. POR ISSO, WATSON AFIRMAVA QUE O ESTUDO DO MEIO EM QUE O INDIVÍDUO VIVE POSSIBILITA A PREVISÃO E O CONTROLE DO SEU COMPORTAMENTO, AS AÇÕES E AS HABILIDADES DE UM INDIVÍDUO SÃO DETERMINADAS POR SUAS RELAÇÕES COM O MEIO. CONSEQUENTEMENTE, UMA CRIANÇA PODERIA SER MOLDADA UTILIZANDO-SE TÉCNICAS DE CONDICIONAMENTO DO SEU COMPORTAMENTO. Watson era especialista em Psicologia Animal, também chamada de Psicologia Comparada, e os estudos sobre o comportamento de animais, estabelecendo analogias com os seres humanos, foram frequentes na sua obra e na dos dois outros precursores do behaviorismo: Thorndike e Pavlov. Fonte:Shutterstock Fonte: Gorodenkoff/ Shutterstock Sua obra também é caracterizada pela preocupação com a metodologia das pesquisas, trazendo a valorização da Psicologia Experimental, com estudos realizados em laboratório, as condições de realização e os resultados rigorosamente controlados, sofrendo forte influência dos trabalhos de Pavlov. Considerava a aprendizagem como o resultado da associação entre estímulos (E) e respostas (R) e a isso chamou de condicionamento. A manipulação dos estímulos poderia aumentar a frequência das respostas ou, ao contrário, inibi-las, diminuindo a frequência e até fazendo com que desaparecessem. No vídeo a seguir o professor Caio Abitbol Carvalho nos apresenta a relação entre cientificismo, experiência e Pedagogia. EDWARD L. THORNDIKE E A CONEXÃO ENTRE A EXPERIÊNCIA VIVIDA E A RESPOSTA DADA PELOS SUJEITOS O psicólogo norte-americano Edward L. Thorndike era um comportamentalista com todas as características: fazia experimentos de laboratório com animais, generalizando as conclusões aos comportamentos humanos; e estudava o comportamento e a sua modificação aplicando o conexionismo, a relação entre estímulos e respostas. Fonte:Shutterstock Edward Lee Thorndike / Fonte: Wikipédia Fonte: Africa Studio/ Shutterstock Um de seus experimentos mais conhecidos foi o da utilização de caixas-problema (puzzle boxes) para estudar como os animais aprendem. Eram caixas fechadas que continham uma pequena alavanca que, quando pressionada, permitia ao animal escapar. EXEMPLO Thorndike colocou um gato faminto dentro da caixa e um pedaço de carne do lado de fora. A seguir, observou e registrou cuidadosamente as tentativas e o tempo que o animal levou para escapar e obter a comida. De início, o gato apertava a alavanca por simples acaso, saía da caixa e recebia o alimento. Com a repetição da situação, no entanto, o animal buscava pressionar a alavanca e, progressivamente, chegava mais rapidamente a abrir a porta da caixa porque, segundo Thorndike, tinha recebido um prêmio imediatamente após executar a ação. Fonte:Shutterstock Caixa-problema utilizada no experimento de Thorndike AS LEIS DE THORNDIKE Com base em seus experimentos, Thorndike enunciou três conhecidas leis da aprendizagem: LEI DO EFEITO A aprendizagem, conexão entre um estímulo e uma resposta, será fortalecida se for acompanhada de uma satisfação (recompensa) e enfraquecida se for acompanhada de um estímulo desagradável (punição). LEI DA PRONTIDÃO OU DA MATURIDADE ESPECÍFICA Para que a conexão entre um estímulo e uma resposta seja efetivamente realizada e a aprendizagem ocorra,é necessário um estado do organismo que a favoreça. LEI DO EXERCÍCIO OU DA REPETIÇÃO Quanto mais vezes for realizada a conexão entre um estímulo e uma resposta, mais duradouro será o comportamento aprendido. PAVLOV, UM CIENTISTA RUSSO QUE CONDICIONAVA CACHORROS Assista ao vídeo a seguir para conhecer a história sobre o cão de Pavlov. COMO PAVLOV REALIZOU O CONDICIONAMENTO CLÁSSICO COM CÃES Conheça a seguir as etapas desenvolvidas por Pavlov: ANTES DO CONDICIONAMENTO - PRIMEIRA ETAPA Pavlov apresentou a carne (estímulo incondicionado) ao cachorro, provocando uma resposta incondicionada, espontânea: a salivação do animal. ANTES DO CONDICIONAMENTO - SEGUNDA ETAPA Um segundo depois apresentou o estímulo sonoro de uma campainha (estímulo neutro), que não provocava a salivação do animal. DURANTE O CONDICIONAMENTO - TERCEIRA ETAPA Apresentou ao cão os dois estímulos, sucessivas vezes, produzindo uma associação entre os dois. ANTES DO CONDICIONAMENTO - QUARTA ETAPA Após algumas associações, o som da campainha tornou-se um estímulo condicionado, pois, quando era apresentado sem a presença do alimento, o cão reagia com a salivação, agora uma resposta condicionada. RESUMINDO Pavlov concluiu que o cão “aprendeu”, ou seja, foi condicionado a salivar ao som da campainha, o que não era seu comportamento natural. Isso era o que ele chamou de condicionamento clássico ou respondente. O condicionamento respondente é a forma de aprendizagem que ocorre quando dois estímulos são realizados de maneira repetida em um período de tempo. O resultado é que o primeiro estímulo predispõe à ocorrência do segundo estímulo aquele que está aprendendo. Existe uma grande polêmica sobre a generalização desses resultados obtidos com animais aos seres humanos, mas é inegável que os princípios do condicionamento clássico são utilizados, ainda, no adestramento de animais. Fonte:Shutterstock Fonte: Vellicos/Shutterstock Vejamos alguns exemplos com os alunos: 1. Nas escolas com fortes problemas disciplinares, como, por exemplo, nas cadeias e nos reformatórios, as aulas têm a designação de sujeitos que possuem “notoriedade” e são nomeados de “xerifes” ou algo afim. Eles têm função de estabelecer ou levar códigos externos para dentro do espaço de sala em troca de benefícios, como mais acesso a algumas áreas e até redução de penas ao coletivo se as aulas transcorrerem com “tranquilidade”. 2. Quando o professor deseja que todos façam silêncio, ele é responsável por executar um gesto repetido, ou um comando reconhecido, e todos devem parar. O condicionamento tem várias relações com os condicionamentos implementados e a obrigatoriedade de atender àquela hierarquia. 3. Outro exemplo é o das escolas que exigiam que todos os alunos ficassem de pé quando o professor entrasse em sala. A ideia de que era o momento de prestar atenção, ou do início da aula era o objetivo condicionado. Esses exemplos são simplórios e têm a função de ampliar a observação, sendo mais complexos se analisarmos individualmente cada uma dessas funções. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE O COMPORTAMENTALISMO OU BEHAVIORISMO, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) Adota o conceito de consciência descrito por John B. Watson no manifesto A Psicologia como um comportamentalista a vê. B) Apresentou uma única corrente: o comportamentalismo metodológico. C) Teve a sua difusão a partir da publicação do livro Walden II. D) Aceita como válidos somente os métodos objetivos, rejeita a introspecção e o estudo dos processos humanos internos. E) Usa como método somente a análise sistêmica de seres humanos, pois rejeita a transposição de resultados obtidos com animais para investigar a ação humana. 2. O PSICÓLOGO E FISIOLOGISTA RUSSO IVAN PAVLOV DEMONSTROU EXPERIMENTALMENTE, EM SEUS ESTUDOS COM UM CÃO, O CONDICIONAMENTO CLÁSSICO. É CORRETO DIZER QUE, APÓS O CONDICIONAMENTO: A) Pavlov ensinou o cão a salivar diante de animais de brinquedo. B) O som da campainha tornou-se um estímulo condicionado pelo cão, pois, quando era apresentado sem a presença do alimento, o animal reagia com a salivação. C) Pavlov apresentava os estímulos alimento e campainha sempre separados por um longo intervalo de tempo. D) Pavlov, em seu experimento, extinguiu totalmente o comportamento do cão de salivar diante da apresentação da comida. E) Pavlov cria um ambiente em que, por condicionamento, ele pode obrigar os animais, e em teoria os humanos, a obedecerem à sua vontade por desejo. GABARITO 1. Sobre o comportamentalismo ou behaviorismo, é correto afirmar que: A alternativa "D " está correta. O comportamentalismo defende os métodos objetivos e o rigor experimental da pesquisa e rejeita o estudo dos processos humanos internos, por meio de métodos como a introspecção (reflexão que a pessoa faz sobre o que ocorre no seu íntimo, sobre suas experiências, emoções e seus sentimentos). Vamos ao comentário das quatro alternativas de resposta: Alternativa A – É incorreta porque John B. Watson rejeitava os estudos sobre a consciência e demais processos internos e defendeu essa ideia no manifesto A Psicologia como um comportamentalista a vê. Alternativa B – O comportamentalismo teve duas correntes: o comportamentalismo metodológico, dos precursores do movimento, como Watson, e o comportamentalismo radical, desenvolvido por Skinner. Alternativa C – A difusão do comportamentalismo se deu a partir da publicação do manifesto A Psicologia como um comportamentalista a vê, de John B. Watson. Walden II, com o subtítulo Uma Sociedade do Futuro, foi publicado por Skinner quando o comportamentalismo já estava totalmente difundido. Alternativa E – O comportamentalismo comumente utiliza as metodologias e os resultados da Psicologia Comparada estabelecendo analogias entre os resultados conseguidos com a análise de animais e o aprendizado de humanos. 2. O psicólogo e fisiologista russo Ivan Pavlov demonstrou experimentalmente, em seus estudos com um cão, o condicionamento clássico. É correto dizer que, após o condicionamento: A alternativa "B " está correta. A sequência correta do experimento do “cão de Pavlov”, que torna a opção B correta, é: 1ª etapa/2ª etapa – ANTES DO CONDICIONAMENTO: Pavlov apresentou a carne (estímulo incondicionado) ao cão, provocando uma resposta incondicionada, espontânea: a salivação do animal. Um segundo depois, apresentou o estímulo sonoro de uma campainha (estímulo neutro), que não provocava a salivação do animal. 3ª etapa – DURANTE O CONDICIONAMENTO: Apresentou ao cão os dois estímulos, sucessivas vezes, produzindo uma associação entre os dois. 4ª etapa – APÓS O CONDICIONAMENTO: Após algumas associações, o som da campainha tornou-se um estímulo condicionado, pois, quando era apresentado sem a presença do alimento, o cão reagia com a salivação, agora uma resposta condicionada. Resumindo, Pavlov concluiu que o cão “aprendeu”, ou seja, foi condicionado a salivar ao som da campainha, o que não era seu comportamento natural. MÓDULO 3 Identificar as principais características da teoria de Skinner e do behaviorismo radical SKINNER E O SURGIMENTO DO BEHAVIORISMO RADICAL PREMISSA No módulo 2, caracterizamos o behaviorismo chamado de clássico ou metodológico, segundo o qual a Psicologia não deve estudar os processos internos da mente, mas sim o comportamento. Este é visível e observável por uma ciência que se pretende positivista. Nesse contexto, são os estímulos do ambiente que geram e modificam o comportamento humano. Estudamos um pouco da obra de três comportamentalistas clássicos: Watson, o criador da linha teórica; Thorndike e as suas três leis da aprendizagem: a lei do efeito, a lei da prontidão ou da maturidade específica e a lei do exercício ou da repetição; e Pavlov e a formulação teórica do condicionamento clássico ou respondente. Neste módulo, conheceremos o criador do behaviorismo radical ou neobehaviorismo, Burrhus Frederic Skinner. QUEM FOI BURRHUS FREDERIC SKINNER?Burrhus Frederic Skinner foi um psicólogo norte-americano, amplamente influenciado pelo behaviorismo de J. B. Watson, que atuou na década de 1940 e foi responsável pela criação do behaviorismo radical com uma proposta filosófica sobre o comportamento humano. Fonte:Shutterstock Burrhus Frederic Skinner | Fonte : Wikipédia 1 Skinner nasceu na Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 1904. Filho de um advogado e de uma dona de casa, desde cedo teve interesse no comportamento dos animais. Ingressou no Hamilton College, em Nova York, com o objetivo de se tornar escritor. Em 1926, concluiu o bacharelado em Literatura Inglesa e Línguas Românicas. Durante dois anos se dedicou a escrever, mas concluiu que lhe faltavam habilidades literárias. 2 3 Em 1928, ingressou no curso de pós-graduação em Psicologia pela Universidade de Harvard, embora nunca tivesse estudado Psicologia antes. Concluiu o mestrado em 1930 e o doutorado em 1931, permanecendo, até 1936, como pesquisador na universidade. No mesmo ano, começou a lecionar na Universidade de Minnesota, onde permaneceu por nove anos. Entre 1945 e 1947, lecionou na Universidade de Indiana, onde se tornou presidente do Departamento de Psicologia. Em 1948, retornou à Harvard como professor titular. 4 Skinner, influenciado pela teoria dos reflexos condicionados de Pavlov e pelo estudo do comportamento de John B. Watson, buscava explicar a conduta dos indivíduos como um conjunto de respostas fisiológicas condicionadas e se dedicou ao estudo das possibilidades que ofereciam o controle científico da conduta mediante técnicas de reforço (estímulo do comportamento desejado). Para ele, a aprendizagem gestava-se na capacidade de estimular ou reprimir comportamentos, desejáveis ou indesejáveis. Fonte:Shutterstock Experimento de condicionamento, estudantes no laboratório de Psicologia Experimental da Faculdade de Psicologia (UNMSM) – Lima, Peru, 1999. Fonte: Wikipédia Sua relação com o behaviorismo de Watson resultou no desenvolvimento de sua própria versão, o behaviorismo radical. Tal corrente era contra as causas internas (mentais) como explicação da conduta humana, opondo-se, também, à realidade e à atuação dos elementos cognitivos – opondo-se à concepção de Watson. Para Skinner, o indivíduo era um ser único, homogêneo e não um todo construído de corpo e mente. Skinner escreveu vários livros e artigos sobre a teoria do comportamento, o reforço e a teoria da aprendizagem. Foi radical ao rejeitar a maioria das teorias no campo da Psicologia e levantou diversas polêmicas. Sua crítica mais sistêmica foi ao pensamento de Sigmund Freud. Ele acreditava que examinar os motivos inconscientes dos seres humanos não daria resultados, pois, em sua análise, a única coisa que valia investigar era o comportamento. A ORIGEM DO BEHAVIORISMO RADICAL Muitos consideram o norte-americano Burrhus F. Skinner como o mais legítimo representante do comportamentalismo. Realmente, ele foi incansável na tarefa de demonstrar a possibilidade de controlar e modelar o comportamento humano por meio da manipulação de estímulos do ambiente. Skinner criou a corrente do comportamentalismo chamado de radical, ou linguístico (devido ao grande interesse de Skinner pelos estudos da linguagem), ou ainda neobehaviorismo. Matos (1995) afirma que o termo radical buscou dar conta de dois sentidos. A princípio, por negar de maneira radical a existência de algo que escapasse ao mundo físico, que não tivesse uma existência identificável no espaço e no tempo (a mente, a consciência e a cognição); depois, por abarcar, radicalmente, todos os fenômenos comportamentais. Após estudar profundamente o condicionamento clássico ou respondente, investigado por Pavlov, três questões o preocuparam: O animal se mantinha totalmente passivo, apenas sofrendo a ação dos estímulos apresentados. No comportamento, especialmente o humano, qualquer resposta está relacionada com uma pluralidade de fatores, tem múltiplas causas e não é provocada por um único estímulo. Os estímulos provocam respostas (comportamentos) diferentes em indivíduos distintos. Skinner também foi influenciado pelos estudos do behaviorismo metodológico de Watson e de Thorndike, em especial pela lei do efeito – a aprendizagem, conexão entre um estímulo e uma resposta, será fortalecida se for acompanhada de uma satisfação (recompensa) e enfraquecida se for acompanhada de um estímulo desagradável (punição). Recordaremos a seguir a lei do efeito, de Thorndike: Fonte:Shutterstock ATENÇÃO Skinner desenvolveu, então, os estudos que deram origem à nova corrente teórica do comportamentalismo. A “CAIXA DE SKINNER” Assista ao vídeo a seguir para conhecer mais sobre a Caixa de Skinner e outras experiências de Psicologia Comportamentalista Aplicada. Agora, vamos conhecer um resumo do procedimento experimental que Skinner utilizou com ratos: Fonte:Shutterstock imagem 2 – Fonte: Psicoativo Fonte:Shutterstock imagem 1 – Fonte: Psicoativo De acordo com Nunes e Silveira (2008), um ser humano pode apresentar ações similares quando, por exemplo, aperta um botão de um aparelho para obter água. Em todas as vezes que sentir sede, havendo no ambiente tal aparelho, sua ação será apertar o botão do bebedouro e saciar a sede. Cada vez que isso acontece, o indivíduo é reforçado pela saciação da sede que sentia. ATENÇÃO Skinner afirmava que não era necessário condicionar todos os comportamentos, pois uma aprendizagem condicionada seria generalizada para todas as situações semelhantes. Continuando o experimento, depois de realizado o condicionamento da resposta desejada, Skinner efetivou sua extinção. Cada vez que o rato se aproximava da alavanca, recebia um choque. Depois de algum tempo, o animal não mais apresentava o comportamento de pressionar a alavanca, que havia sido condicionado. Esse comportamento desapareceu, foi extinto. Assim Skinner considerou superada a questão da passividade do indivíduo, presente no condicionamento clássico ou respondente estudado por Pavlov. Estava descoberto o condicionamento operante. VAMOS, AGORA, COMPARAR OS DOIS TIPOS? Condicionamento clássico (Pavlov) Condicionamento operante (Skinner) Estímulos Simples associação entre os estímulos. O comportamento desejado é seguido de consequências agradáveis, positivas (reforço). Comportamento Reflexos, respostas automáticas. Comportamentos inéditos, ainda não apresentados pelo sujeito. Resposta emitida Involuntária. Voluntária. Papel do sujeito Passivo, apenas recebe o estímulo e Ativo, o sujeito age para receber o reforço. emite a resposta. Aprendizagem Aprende a associação entre os estímulos. Discriminação das circunstâncias (sem o reforço e com o reforço). Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal A NOSSA COLEÇÃO DE CONCEITOS DE SKINNER Conceito de condicionamento operante É o processo de aprendizagem provocado pela apresentação de um estímulo após o comportamento, com o intuito de aumentar ou diminuir sua frequência, causando a associação entre o comportamento e a sua consequência. Tal método difere do condicionamento clássico, no qual o sujeito tem um comportamento ativo que opera no ambiente para gerar as consequências desejadas. Conceito de reforço É a contingência apresentada após o comportamento, com o objetivo de aumentar, diminuir ou extinguir um comportamento. São três os tipos de reforço: autor/shutterstock REFORÇO POSITIVO Recompensa pelo comportamento que se deseja condicionar. Como, por exemplo, um cão que recebe um biscoito (reforço mediante recompensa ou prêmio) sempre que atende à ordem de sentar (comportamento). Fonte: Gray Kotze/Shutterstock autor/shutterstock REFORÇO NEGATIVO Retirada de uma consequência desagradável quando ocorre o comportamento que se deseja condicionar. Como, por exemplo, o uso de protetor solar (o comportamento) para evitar as queimaduras solares e a possibilidadedo câncer de pele (reforço mediante a remoção do estímulo aversivo). Fonte: Kleber Cordeiro/Shutterstock. Fonte: Kleber Cordeiro/Shutterstock autor/shutterstock PUNIÇÃO Consiste em provocar uma condição desagradável, na tentativa de eliminar um comportamento não desejado. Como, por exemplo, uma criança que faz uma travessura (comportamento) e perde o direito de brincar no playground (punição). Fonte: Fizkes/Shutterstock PROBLEMATIZANDO A TEORIA DE SKINNER O comportamentalismo em geral, e principalmente Skinner, sofreram muitas críticas e levantaram grandes polêmicas, não apenas por causa dos seguidores da Psicanálise, do humanismo e do cognitivismo, mas também pela própria essência das formulações teóricas apresentadas. Escolhemos três para que você reflita sobre elas, mas, por uma questão de imparcialidade, apresentaremos a resposta do comportamentalismo a cada uma. VAMOS FAZER UM EXERCÍCIO? E se você pudesse perguntar a Skinner sobre as polêmicas acerca de suas teorias? Responda e compare seu texto com o texto apontado na ilustração abaixo, em que um estudante pesquisa sobre a obra de Skinner e questiona essas críticas: TEORIA 1: COMO É POSSÍVEL PROPOR UMA TEORIA DA APRENDIZAGEM, DESCONHECENDO FATORES COMO A MOTIVAÇÃO, OS PROCESSOS COGNITIVOS, A EMOÇÃO E OS SENTIMENTOS DO SER HUMANO? RESPOSTA SKINNER O objeto de estudo do behaviorismo não envolve os aspectos mentalistas, mas o comportamento observável do homem. Deseja observar, controlar e modificar o comportamento, mediante a utilização de reforços. “Como a ciência do comportamento continuará a aumentar o uso eficaz desse controle, é agora mais importante do que nunca, compreender o processo implicado e prepararmo-nos, nós mesmos, para os problemas que certamente surgirão.” (SKINNER, 1981). javascript:void(0) TEORIA 2: COMO É POSSÍVEL REFORÇAR O COMPORTAMENTO QUE SE DESEJA CONDICIONAR O TEMPO TODO, PARA QUE ELE SEJA MANTIDO? RESPOSTA SKINNER O comportamento condicionado tem permanência e adquire, com o tempo, certa variedade de manifestações, a não ser que se realize a extinção do comportamento pela utilização de um novo esquema de reforços. “Os resultados experimentais são bastante precisos para sugerir que, em geral, o organismo desenvolve certo número de respostas para cada resposta reforçada. Nós veremos, entretanto, que os resultados dos esquemas de reforçamento não são sempre redutíveis a uma equação simples de input com output.” (SKINNER, 1981) TEORIA 3: COMO É POSSÍVEL, SENDO TÃO GRANDE A VARIEDADE DE COMPORTAMENTOS HUMANOS, REFORÇAR CADA UM DELES, PARA QUE SEJAM CONDICIONADOS DE MANEIRA SATISFATÓRIA? RESPOSTA SKINNER O comportamentalismo não pretende condicionar cada comportamento humano. O condicionamento proporciona a generalização do que foi aprendido para situações semelhantes, atendendo a todas as possibilidades de comportamento. javascript:void(0) javascript:void(0) “Dividimos o comportamento em unidades rápidas e rígidas e depois nos surpreendemos ao constatar que o organismo menospreza os limites por nós colocados. É difícil conceber duas respostas que não tenham algo em comum... elementos são reforçados onde quer que ocorram. (...) O reforço de uma resposta aumenta a probabilidade de todas as respostas que contêm os mesmos elementos.” (SKINNER, 1981) SAIBA MAIS SOBRE A POLÊMICA ENTRE SKINNER E CHOMSKY Já dissemos que uma das várias áreas de interesse de Skinner era a linguagem. Ele publicou, em 1957, um livro muito importante chamado Comportamento Verbal (Verbal Behavior), em que considera a linguagem como adquirida, passando de contingências comportamentais simples para complexas mediante associações, imitação e reforçamento. Noam Chomsky, linguista, filósofo, sociólogo e ativista político norte-americano, considerado o pai da Linguística moderna, e de orientação cognitivista, criticou duramente a concepção de linguagem apresentada por Skinner. Fonte: Wikipédia Linguagem aprendida (Skinner) autor/shutterstock Linguagem não aprendida (Chomsky) Autor da “Teoria Gerativa”, Chomsky tem como pressuposto que os seres humanos nascem geneticamente dotados de uma faculdade da linguagem (uma espécie de módulo mental específico para a língua), ela não é aprendida (CHOMSKY, 2002). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O BEHAVIORISMO RADICAL FOI PROPOSTO POR B. F. SKINNER, PSICÓLOGO NORTE-AMERICANO. SOBRE A VISÃO DE APRENDIZAGEM DESSA ESCOLA TEÓRICA, CONSIDERE AS SEGUINTES AFIRMATIVAS: A APRENDIZAGEM POR CONDICIONAMENTO IMPLICA A EXPOSIÇÃO DIRETA ÀS CONTINGÊNCIAS DE REFORÇO A APRENDIZAGEM POR CONDICIONAMENTO É A ASSOCIAÇÃO ENTRE ESTÍMULO E RESPOSTA. A APRENDIZAGEM DESCRITA POR SKINNER É O CONDICIONAMENTO RESPONDENTE. REFORÇOS SÃO CONDIÇÕES QUE PODEM AUMENTAR, DIMINUIR OU EXTINGUIR A EMISSÃO DE UMA RESPOSTA. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) As afirmativas I, III, e IV são corretas. B) As afirmativas I, II e IV são corretas. C) Apenas a afirmativa IV é verdadeira. D) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras. E) Apenas a afirmativa I é verdadeira. 2. NUMERE A SEGUNDA COLUNA, FAZENDO A CORRESPONDÊNCIA À PRIMEIRA, QUANTO AOS TIPOS DE REFORÇO ESTUDADOS POR SKINNER. 1. REFORÇO POSITIVO 2. REFORÇO NEGATIVO 3. PUNIÇÃO ( ) EM UMA LOJA DE BRINQUEDOS, BERNARDO CHORA E SE ATIRA NO CHÃO, PEDINDO QUE OS PAIS COMPREM UM CARRINHO, E OS PAIS COMPRAM, SATISFAZENDO A VONTADE DO MENINO. ( ) NA AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, MARIANA FEZ BAGUNÇA, AGIU AGRESSIVAMENTE COM OS COLEGAS E RESPONDEU DE MANEIRA POUCO EDUCADA AO PROFESSOR. ESTE A RETIROU DA ATIVIDADE E AVISOU QUE DIMINUIRIA UM PONTO DA NOTA DA PROVA DE MARIANA. ( ) SABENDO QUE, ÀS SEXTAS-FEIRAS, O TRÂNSITO NO CAMINHO DA CASA AO TRABALHO É MUITO INTENSO, SÉRGIO SAI PELO MENOS MEIA HORA MAIS CEDO, SENÃO CHEGARÁ ATRASADO. A SEQUÊNCIA DE NÚMEROS QUE EXPRESSA A CORRESPONDÊNCIA ADEQUADA ENTRE AS DUAS COLUNAS É: A) 3 - 2 - 1 B) 3 - 1 - 2 C) 1 - 3 - 2 D) 1 - 2 - 3 E) 2 - 1 - 3 GABARITO 1. O behaviorismo radical foi proposto por B. F. Skinner, psicólogo norte-americano. Sobre a visão de aprendizagem dessa escola teórica, considere as seguintes afirmativas: A aprendizagem por condicionamento implica a exposição direta às contingências de reforço A aprendizagem por condicionamento é a associação entre estímulo e resposta. A aprendizagem descrita por Skinner é o condicionamento respondente. Reforços são condições que podem aumentar, diminuir ou extinguir a emissão de uma resposta. Assinale a alternativa correta. A alternativa "D " está correta. Segundo Skinner, a aprendizagem por condicionamento implica atividade de quem aprende em buscar ou evitar contingências, que ele chamou de reforços. Estes, apresentados após as respostas, podem aumentar, diminuir ou extinguir a emissão delas, como apresentam as afirmativas I e IV. No entanto, na afirmativa II, ao falar da aprendizagem como associação entre estímulo e resposta, refere-se ao condicionamento clássico ou respondente, formulado pelos pioneiros do comportamentalismo, como Watson e Pavlov, e na afirmativa III, o correto seria dizer que: “A aprendizagem descrita por Skinner é o condicionamento operante”. 2. Numere a segunda coluna, fazendo a correspondência à primeira, quanto aos tipos de reforço estudados por Skinner. 1. Reforço positivo 2. Reforço negativo 3. Punição ( ) Em uma loja de brinquedos, Bernardo chora e se atira no chão, pedindo que os pais comprem um carrinho, e os pais compram, satisfazendo a vontade do menino. ( ) Na aula de Educação Física, Mariana fez bagunça, agiu agressivamente com os colegas e respondeu de maneira pouco educada ao professor. Este a retirou da atividade e avisou que diminuiria um ponto da nota da prova de Mariana. ( ) Sabendo que, às sextas-feiras, o trânsito no caminho da casa ao trabalho é muito intenso, Sérgio sai pelo menos meia hora mais cedo, senão chegará atrasado. A sequência de números que expressa a correspondência adequada entre as duas colunas é:A alternativa "C " está correta. Skinner descreveu três tipos de reforço: O reforço positivo ancora-se na recompensa por se fazer de forma estruturada. A punição é o combate ao comportamento que deve ser abandonado, aproximando-se de um exercício de constranger o erro. E, por fim, quase como uma consequência, o reforço negativo, ao mudar o comportamento não desejado e fazer a suspensão da consequência desagradável se o comportamento for ao caminho desejado. MÓDULO 4 Reconhecer os impactos do behaviorismo na constituição de uma Psicologia da Educação Comportamentalista A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO COMPORTAMENTALISTA E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO ENSINO E NA APRENDIZAGEM Fonte: Microgen/Shutterstock A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO No módulo anterior, abordamos um dos mais importantes teóricos do comportamentalismo: Burrhus F. Skinner. Enquanto Watson foi considerado fundador dessa escola teórica, criando o behaviorismo metodológico, Skinner, com os seus experimentos e a proposição do condicionamento operante, criou o behaviorismo radical. As principais diferenças entre ambos os behaviorismos podem ser resumidas da seguinte forma: BEHAVIORISMO METODOLÓGICO Watson Comportamento reflexo ou respondente. Comportamento produzido por estímulos do ambiente. Condicionamento clássico. BEHAVIORISMO RADICAL Skinner Comportamento operante. Comportamento ativo do sujeito sobre o ambiente, reforçado por suas consequências. Condicionamento operante. Veremos algumas implicações do que podemos chamar de Psicologia da Educação Comportamentalista sobre o ensino e a aprendizagem. A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO COMPORTAMENTALISTA Começaremos definindo a aprendizagem para o comportamentalismo ou behaviorismo. Vale a pena lembrar três premissas básicas do comportamentalismo: 1. A aprendizagem se refere às repostas ou aos comportamentos observáveis e mensuráveis. 2. Alguns mecanismos de aprendizagem utilizados por animais são semelhantes e utilizados por seres humanos. 3. A base para a compreensão da aprendizagem é o processo elementar de relacionamento entre estímulos e respostas. ATENÇÃO Assim, para essa escola teórica, aprendizagem é o processo de mudança do comportamento do indivíduo em função de sua interação com o meio, dos estímulos externos a que é submetido, das contingências de reforço etc. Ensinar, consequentemente, é controlar esses estímulos, modelando o comportamento no sentido desejado pelo sujeito e pela sociedade em geral. Isso fica claro quando Skinner afirma que o comportamento é seguido pelo reforço, na medida em que ele não o persegue ou ultrapassa. Explica-se o desenvolvimento de uma espécie e o comportamento de um membro da espécie pela ação seletiva das contingências de sobrevivência e contingências de reforço. Para Skinner (1981), tanto a espécie como o comportamento do indivíduo se desenvolvem quando são modelados e mantidos pelos seus efeitos sobre o mundo à sua volta. Dos teóricos comportamentalistas que estudamos, sem dúvida foi Skinner o que mais se preocupou com a Educação e realizou trabalhos nessa área. APLICAÇÕES DO BEHAVIORISMO RADICAL DE SKINNER À EDUCAÇÃO Estes são alguns dos pensamentos de Skinner sobre a Educação: Skinner sistematizou a sua teoria da aprendizagem em um livro chamado Tecnologia do Ensino (1975a), em que trata do impacto de suas teorias a longo prazo. Chama a atenção como uma tecnologia do ensino: o comportamentalismo aumentaria a produtividade do professor, pois permitiria que ensinasse mais – mais em determinada matéria, mais matérias, a mais alunos. Não considera que trate de um “alargamento” no sentido industrial, pois não identifica ser mais produtivo ao ato de trabalhar mais. Ao contrário, aponta que motiva trabalhar em melhores condições e a troco de melhores recompensas. (SKINNER, 1975) São estas as etapas do ensino, de acordo com o comportamentalismo de Skinner: 1ª ETAPA Estabelecimento dos comportamentos desejados (formulação de objetivos instrucionais). 2ª ETAPA Análise da tarefa de aprendizagem (estabelecimento da ordem dos passos da instrução a ser realizada). 3ª ETAPA Execução do programa de instrução (reforço gradual das respostas corretas). PRINCÍPIOS DA TEORIA DA APRENDIZAGEM DESENVOLVIDA POR SKINNER Segundo Case e Bereiter (1984), a teoria da aprendizagem de Skinner possui os seguintes os princípios: Identificar os reforçadores potenciais disponíveis e eficazes para o aprendiz em questão; Identificar e descrever objetivamente o comportamento desejado; Descrever o comportamento inicial, ou de entrada, do aprendiz; A partir do comportamento de entrada, definir uma série de comportamentos capazes de conduzir ao comportamento final desejado, em uma sucessão na qual cada teste represente uma pequena modificação do precedente; Passar os estudantes pela sequência de comportamentos, fazendo uso de demonstrações e instruções, conjugadas a reforços positivos das variações de comportamento produzidas na direção desejada; Por meio da prática, reforçada, assegurar que cada comportamento seja bem aprendido antes de avançar para o passo seguinte. EXEMPLOS DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO COMPORTAMENTALISTA NOS TRABALHOS DE SKINNER Podemos mencionar a existência de uma Psicologia da Educação Comportamentalista não apenas pelas visões de aprendizagem dos pioneiros do behaviorismo metodológico, Watson, Thorndike e Pavlov, mas principalmente pelos trabalhos de Skinner. Skinner enunciou o conceito de aprendizagem como a aquisição de novos conhecimentos, expressos por mudanças comportamentais, por intermédio de estímulos do meio, que chamou de reforços, modelando os comportamentos desejados, e estudou a aprendizagem de seres humanos e animais. Duas famosas aplicações das teorias de Skinner à Educação, e que nos autorizam a falar da existência de uma Psicologia da Educação Comportamentalista, são a instrução programada e as máquinas de ensinar, que tiveram sucesso na década de 1960 e no início dos anos 1970. INSTRUÇÃO PROGRAMADA A instrução programada era um material de ensino, impresso (apostilas e livros), que obedecia aos princípios elaborados por Skinner para a aprendizagem: Permite definir os objetivos operacionais do que se pretende realizar com os alunos, relativo a conhecimentos, habilidades e atitudes; O conteúdo é apresentado, ordenado em sequência lógica, em pequenas quantidades, que crescem gradativamente em profundidade e extensão; A cada porção de conteúdo apresentada, exige-se uma resposta imediata, uma atividade por parte do educando; A porcentagem de erro por parte do aluno deve ser mínima ou igual a zero e, para isso, podem ser apresentadas pistas da resposta correta, induzindo ao acerto. Após cada esforço do aluno para dar uma resposta correta, segue-se uma recompensa imediata; Permite ao aluno evoluir no material e desenvolver-se em seu próprio ritmo. Há avaliação constante do progresso do aluno e do programa quanto à sua efetividade. Para compreender melhor o que é a instrução programada, vejamos dois exemplos: Exemplo 1: autor/shutterstock Exemplo 2: autor/shutterstock MÁQUINAS DE ENSINAR Podemos dizer que Skinner foi um precursor da inserção das tecnologias na Educação. Uma das maneiras de emprego da instrução programada era por meio de máquinas programadas com um sistema eletrônico, indicando os passos que os estudantes deveriam seguir para realizar os estudos e apresentando vários exercícios que deveriam ser respondidos individualmente. Cada resposta era corrigida na mesma hora e a percepção do acerto era considerada por Skinner como um reforço positivo. Cada aluno resolvia os exercícios em seu tempo. O professor atuava como um monitor, tirando dúvidas sobre a utilização das máquinas e explicando apenas o necessário para cada atividade. Para Skinner, a apresentação de um material deveria ser cuidadosamente planejada, e cada problema deveria depender da resposta ao anterior, tendo em vista um progresso contínuo atéa aquisição de um repertório complexo. Passos adicionais devem ser introduzidos caso, e onde, os alunos encontrem dificuldades, até que finalmente o material atinja o ponto em que as respostas do aluno estejam quase sempre certas. (SKINNER, 1975) VOCÊ SABIA QUE SKINNER APLICOU OS SEUS PRINCÍPIOS TEÓRICOS À EDUCAÇÃO DE JOVENS INFRATORES? Na década de 1970, desenvolveu um trabalho no Kennedy Youth Center, um centro de recuperação de jovens em conflito com a lei. AS PRISÕES E ESCOLAS PARA DELINQUENTES JUVENIS SÃO OUTROS LUGARES NOS QUAIS A MODIFICAÇÃO DE COMPORTAMENTO SUBSTITUIU AS MEDIDAS PUNITIVAS. ESSAS INSTITUIÇÕES NÃO SÃO PLANEJADAS PARA PUNIR APENAS O MAU COMPORTAMENTO NO PASSADO, MAS TAMBÉM DURANTE O ENCARCERAMENTO, NO SENTIDO QUE OS PRISIONEIROS TENDEM A RECEBER ATENÇÃO DAS AUTORIDADES DA PRISÃO PRINCIPALMENTE QUANDO SE COMPORTAM MAL. HÁ POUCOS INCENTIVOS EM UMA PRISÃO POR COMPORTAR-SE BEM. ISSO NÃO PRECISA SER ASSIM. EM UM EXPERIMENTO EM UMA ESCOLA PARA DELINQUENTES JUVENIS NOS EUA, OS GAROTOS RECEBERAM UMA CHANCE. ELES PODERIAM, SE QUISESSEM, FICAR SEM FAZER NADA DURANTE O DIA. ELES PODERIAM SE SENTAR EM UM BANCO, COMER REFEIÇÕES NUTRITIVAS, MAS NÃO MUITO INTERESSANTES, DORMIR NO DORMITÓRIO DURANTE A NOITE. ENTRETANTO, SE GANHASSEM PONTOS, PODERIAM RECEBER COMIDA MAIS INTERESSANTE, TER ACESSO A MESAS DE BILHAR, TELEVISORES, ALUGAR UM QUARTO PRIVATIVO OU MESMO COMPRAR UM TEMPO FORA DA INSTITUIÇÃO. ELES GANHAVAM PONTOS EM PARTE REALIZANDO SERVIÇOS DE LIMPEZA, MAS A MAIORIA, ESTUDANDO COM INSTRUÇÃO PROGRAMADA. MUITOS DESSES MENINOS FORAM ABANDONADOS PELOS SISTEMAS EDUCACIONAIS AOS QUAIS FORAM EXPOSTOS. E AGORA ELES DESCOBRIRAM QUE SÃO CAPAZES DE APRENDER A LER, ESCREVER E FAZER ARITMÉTICA SIMPLES. OS MENINOS PARTICIPARAM DO EXPERIMENTO APENAS POR POUCOS MESES, MAS A TAXA DE RECIDIVA FOI GRANDEMENTE ALTERADA. AO FINAL DE UM ANO APÓS A LIBERTAÇÃO, 25 POR CENTO ESTAVAM NOVAMENTE EM APUROS, MAS A QUANTIA SERIA DE 85 POR CENTO EM OUTROS CASOS. AO FINAL DO SEGUNDO ANO, 50 POR CENTO ESTAVAM EM APUROS E, APÓS TRÊS ANOS, HAVIA POUCA EVIDÊNCIA DA EFETIVIDADE DO PROGRAMA. OS MENINOS VOLTARAM AO MUNDO NO QUAL MUITAS CONTINGÊNCIAS ERRADAS PREVALECIAM. MESMO ASSIM, O EXPERIMENTO RENDEU MAIS DO QUE CUSTOU, NO QUE DIZ RESPEITO AO INTERESSE DO GOVERNO. (SKINNER, 1979) Agora, o professor Caio Abitbol Carvalho fala um pouco mais sobre a experiência de Skinner. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. EM UMA ESCOLA, A DIREÇÃO CONVIDOU UMA ESPECIALISTA NA TEORIA DE SKINNER PARA FAZER UMA SESSÃO DE ESTUDOS COM OS PROFESSORES. UM DOS ASPECTOS QUE MAIS CHAMOU A ATENÇÃO DOS PROFESSORES FOI: A) Deve ser evitada a utilização de qualquer tipo de elogio ou prêmio. B) A punição somente deve ser utilizada, como reforço, na impossibilidade de aplicação de reforços positivos (elogios, premiações). C) O reforço positivo é a única intervenção capaz de motivar o aluno para a aprendizagem. D) O ensino baseado nos princípios de Skinner dispensa o planejamento. E) O uso do reforço positivo precisa estar condicionado ao término do processo de educação. 2. AO VOLTAR DA ESCOLA, ONDE TEVE UMA REUNIÃO COM OS PROFESSORES, UMA MÃE FICOU PREOCUPADA COM AS NOTAS BAIXAS QUE O FILHO TEVE NO BIMESTRE. EM CASA, COMBINOU COM O MENINO QUE ELE SERIA DISPENSADO DE AJUDAR NA LIMPEZA DA CASA, TAREFA DOMÉSTICA DE QUE ELE MENOS GOSTA, CASO SE DEDICASSE AOS ESTUDOS E AS NOTAS MELHORASSEM. A LIBERAÇÃO CONTINUARIA ATÉ O FINAL DO ANO, SE AS NOTAS SE MANTIVESSEM NA MÉDIA. O MENINO FEZ O COMBINADO. NO BIMESTRE SEGUINTE, AS NOTAS AUMENTARAM SIGNIFICATIVAMENTE E A LIBERAÇÃO DO AUXÍLIO NA LIMPEZA DA CASA FOI IMPLANTADA, COM A POSSIBILIDADE DE MANUTENÇÃO ATÉ O FINAL DO ANO. ESSA MÃE FEZ USO DE UM DOS MAIS IMPORTANTES CONCEITOS DO CONDICIONAMENTO OPERANTE, CRIADO POR SKINNER, QUE É: A) Reforço positivo. B) Reforço negativo. C) Punição. D) Compreensão empática. E) Condicionamento operante. GABARITO 1. Em uma escola, a direção convidou uma especialista na teoria de Skinner para fazer uma sessão de estudos com os professores. Um dos aspectos que mais chamou a atenção dos professores foi: A alternativa "B " está correta. Skinner propõe que se evite o uso de punições, utilizando alguns argumentos: os estímulos aversivos empregados na punição podem se limitar a uma situação imediata e não obrigatoriamente modificarão o comportamento futuramente; comportamentos severamente punidos desencadeiam respostas emocionais que podem dificultar o condicionamento. Nas demais alternativas, temos: Alternativa A – É contrária à proposta de Skinner, de utilização de reforços positivos para alcançar as aprendizagens desejadas. Alternativa C – Fala apenas do reforço positivo, quando Skinner descreveu mais dois tipos de reforço: o negativo e a punição. Alternativa D – É incorreta porque o ensino baseado nos princípios de Skinner demanda a elaboração de um planejamento detalhado (formulação de objetivos, análise da tarefa, estabelecimento de etapas). Alternativa E – Está incorreta, pois Skinner salientou que cada resposta deveria ser corrigida na mesma hora, e a percepção do acerto era considerada como reforço positivo. 2. Ao voltar da escola, onde teve uma reunião com os professores, uma mãe ficou preocupada com as notas baixas que o filho teve no bimestre. Em casa, combinou com o menino que ele seria dispensado de ajudar na limpeza da casa, tarefa doméstica de que ele menos gosta, caso se dedicasse aos estudos e as notas melhorassem. A liberação continuaria até o final do ano, se as notas se mantivessem na média. O menino fez o combinado. No bimestre seguinte, as notas aumentaram significativamente e a liberação do auxílio na limpeza da casa foi implantada, com a possibilidade de manutenção até o final do ano. Essa mãe fez uso de um dos mais importantes conceitos do condicionamento operante, criado por Skinner, que é: A alternativa "A " está correta. A única alternativa correta é A – Reforço Positivo (recompensa pelo comportamento que se deseja condicionar). O comportamento desejado pela mãe era a melhora das notas do filho. Para isso, aplicou o reforço positivo da liberação da tarefa doméstica e obteve a modificação comportamental que era necessária. Nas demais alternativas, temos: Alternativa B – O conceito de reforço negativo é a retirada de uma consequência desagradável quando ocorre o comportamento que se deseja condicionar. Alternativa C – A punição é a utilização de uma condição desagradável na tentativa de eliminar um comportamento não desejado. Alternativa D – A compreensão empática é um conceito de Carl Rogers: a capacidade de se colocar no mundo subjetivo do outro e de participar na sua experiência, de ver o mundo como o outro o vê. Alternativa E – O condicionamento operante é um conceito formulado por Skinner, que considera que o comportamento ativo do sujeito sobre o ambiente é reforçado por suas consequências. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Abordamos a Psicologia da Educação Comportamentalista ou Behaviorista e suas principais bases teóricas. Vimos o surgimento do behaviorismo metodológico e seus precursores: Watson, Thorndike e Pavlov, bem como seus experimentos de laboratório com animais, cujos resultados generalizavam aos humanos e construíram o conceito de condicionamento clássico. Foram muitos os antagonismos com a Psicanálise, o humanismo e o cognitivismo. O criador do behaviorismo radical, Burrhus F. Skinner, formulou uma teoria da aprendizagem – o condicionamento operante – em que o indivíduo era ativo na busca dos reforços que modelavam a mudança do seu comportamento. Fez estudos com seres humanos e deixou o legado de aplicações educacionais como a instrução programada e as máquinas de ensinar, entre outros. Sobre o percurso histórico da Educação, considerava que a escola pública teria sido inventada com o objetivo primário de oferecer os serviços de um “tutor particular” a um número maior de estudantes e ao mesmo tempo. Tendo o número de estudantes aumentado, cadaum necessariamente passou a receber menos atenção. Para Skinner, ao atingir a marca de 25 ou 30 alunos, a atenção pessoal tutor-aluno tornou-se esporádica. Os livros teriam sido inventados para fazer uma parte desse trabalho, mas eles não fazem duas coisas importantes: não podem, assim como o tutor, avaliar imediatamente o que cada estudante disse, nem dizer-lhes exatamente o que devem fazer em seguida; as máquinas de ensino e os textos programados foram inventados para restabelecer essas características importantes da instrução tutorial (SKINNER, 1991). AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALLOWAY, T.; WILSON, G.; GRAHAM, J. Sniffy: o rato virtual. Versão Pro 2.0. São Paulo: Thomson Learning, 2006. BEE, H. B. D. A criança em desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 2011. CASE, R.; BEREITER, C. From behaviourism to cognitive behaviourism to cognitive development: Steps in the evolution of instructional design. In: Instructional Science, 13, 1984, p. 141-158. CHOMSKY, N. Novos Horizontes no Estudo da Linguagem e da Mente. São Paulo: Editora Unesp, 2002. FOULIN, J-N.; MOUCHON, S. Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. MATOS, M. A. Behaviorismo metodológico e behaviorismo radical. In: Bernard Rangé(org.). Psicoterapia comportamental e cognitiva: prática, aplicações e problemas. Campinas: Editorial Psy, 1995. NUNES, A. I. L.; SILVEIRA, R. N. Teorias Psicológicas e Aprendizagem. Fortaleza: Realce, 2008. OSTERMANN, F.; CAVALCANTI, C. J. H. Teorias de Aprendizagem. Porto Alegre: Evangraf, 2011. SKINNER, B. F. A Sociedade Não Punitiva. Transcrição e tradução da palestra comemorativa feita por B. F. Skinner depois de receber um doutorado honorífico da Keio University, no Japão, em 25 de setembro de 1979. SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes, 1981. SKINNER, B. F. Cumulative Record – Definitive Edition. Acton, Mass.: Copley Publishing Group, 1999. SKINNER, B. F. Questões recentes na análise comportamental. Campinas: Papirus, 1991. SKINNER, B. F. Tecnologia de Ensino. São Paulo: EPU – Editora Pedagógica e Universitária, 1975. SKINNER, B. F. Walden II: uma sociedade do futuro. São Paulo: Herder, 1975. EXPLORE+ Assista ao vídeo Caixa-Problema de Thorndike para entender, em detalhes, o experimento realizado por Thorndike com as três leis da aprendizagem. Que tal assistir a um vídeo em que o próprio Skinner, de quem falamos tanto no módulo 3, aparece falando sobre a sua obra? Acesse o vídeo B. F. Skinner at the APA Annual Convention 8/10/1990 no YouTube, legendado. Você sabia que Skinner escreveu um livro de ficção científica? Conheça um pouco dessa história neste PDF. A ficção científica teve grande interesse pelos princípios do behaviorismo radical. Deixamos aqui alguns exemplos disso, como também referências para que você leia as obras e assista aos filmes: Laranja Mecânica, livro de Anthony Burgess, publicado em 1962. Situado na sociedade inglesa do futuro, em meio a uma cultura de extrema violência juvenil, um anti-herói adolescente conta suas façanhas e experiências com as autoridades que pretendem corrigir o seu comportamento, utilizando os princípios do condicionamento skinneriano. O livro originou um filme adaptado, produzido e dirigido por Stanley Kubrick, em 1971. 1984, livro publicado pelo escritor britânico George Orwell, em 1949. Critica o stalinismo e o nazismo, descrevendo uma sociedade futurista para a época, dominada pelo onipresente Grande Irmão (Big Brother). Na formulação do texto, recorre aos princípios do comportamentalismo skinneriano enquanto teoria de aprendizagem. Também foi adaptado para o cinema, em 1984. CONTEUDISTA Eloiza da Silva Gomes de Oliveira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DEFINIÇÃO Percepções da atualidade na Psicologia da Educação Humanista com as inteligências múltiplas; a inteligência emocional, seu objeto de estudo; e a importância para a formação do professor. PROPÓSITO Compreender a importância da Psicologia da Educação Humanista para a formação docente, indicando seus principais representantes e a aplicabilidade dos respectivos conceitos à prática pedagógica. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer a importância da Psicologia da Educação Humanista e da Gestalt como sua precursora MÓDULO 2 Distinguir os princípios da teoria de Carl Rogers e a sua aplicabilidade à Educação MÓDULO 3 Identificar atualidades da Psicologia da Educação Humanista, como a teoria das inteligências múltiplas e a abordagem da inteligência emocional MÓDULO 1 Reconhecer a importância da Psicologia da Educação Humanista e da Gestalt como sua precursora INTRODUÇÃO A Psicologia e a Pedagogia têm a sua origem na Grécia, ambas influenciadas pela Filosofia. Os primeiros a abordarem aspectos relacionados à Psicologia foram os filósofos gregos clássicos, há cerca de 200 anos a.C.. javascript:void(0) CERCA DE 200 ANOS A.C O calendário que utilizamos é o chamado Gregoriano, que tem como “marco zero” o nascimento de Cristo, começando a partir daí a contagem dos anos da chamada Era Cristã. A sigla a.C., portanto, significa uma data acontecida antes do nascimento de Cristo. A Pedagogia também teve a sua origem na Grécia Antiga, onde eram chamados de pedagogos os escravos que acompanhavam a educação das crianças. Posteriormente, a Psicologia e a Pedagogia se afirmaram e se desenvolveram como ciências independentes. Observe este quadro, que indica o significado etimológico do nome e o objeto de estudo de cada uma das duas ciências: Significado etimológico da palavra Objeto de estudo Psicologia A expressão Psicologia deriva das palavras gregas psyché (alma, espírito) e logos (estudo, razão, compreensão). Psicologia poderia ser compreendida então, como o "estudo da alma" ou a "compreensão da alma". A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento do ser humano em seus diversos aspectos e em suas diversas manifestações. Pedagogia A palavra “pedagogia” é derivada de dois radicais da língua grega. Sua origem vem de paidos, que significava “criança”. O outro radical é agoge, que pode ser traduzido como A Pedagogia é a ciência que estuda a Educação, os “conduzir” ou “condução”. A origem de pedagogia tinha o significado de “conduzir a criança”, ou seja, ensiná-la e ajudá-la no crescimento. processos de ensino e de aprendizagem em seus múltiplos aspectos. Fontes: Dicionário Etimológico e Gramática.net Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Foi tão grande a afinidade entre a Psicologia e a Educação que uma das áreas de estudo da primeira foi exatamente a “Psicologia da Educação”. Fonte: Shutterstock.com | Por Maros Markovic O QUE É A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO? Sem entrar na polêmica da utilização dos termos Psicologia da Educação e Psicologia Escolar, utilizaremos o primeiro, compreendendo-a como: A PSICOLOGIA EDUCACIONAL PODE SER CONSIDERADA COMO UMA SUBÁREA DA PSICOLOGIA (...) QUE TEM COMO VOCAÇÃO A PRODUÇÃO DE SABERES RELATIVOS AO FENÔMENO PSICOLÓGICO CONSTITUINTE DO PROCESSO EDUCATIVO. ANTUNES, 2008 UMA BREVE VISITA À HISTÓRIA DA PSICOLOGIA O ano de 1879 é reconhecido como o marco do surgimento da Psicologia como ciência. Foi quando W. M. Wundt (1832-1920) fundou o primeiro laboratório de Psicologia Experimental na Universidade de Leipzig (Alemanha). Embora fosse muito diferente da concepção moderna dos laboratórios científicos, ele tem incrível importância histórica. W. M. WUNDT (1832-1920) Wilhelm Maximilian Wundt foi um médico, filósofo e psicólogo alemão. É considerado um dos fundadores da psicologia experimental. javascript:void(0) Fonte:Shutterstock Da esquerda para a direita, Wundt é o terceiro. Os outros homens presentes no laboratório são pesquisadores. Ao estudar a História da Psicologia sempre nos deparamos com a citação da existência de “três grandes forças”: 1ª FORÇA EM PSICOLOGIA: O BEHAVIORISMO Skinner Skinner Também chamado de comportamentalismo,tem como foco a observação e a modificação do comportamento humano. Seu representante mais conhecido foi B. F. Skinner (1904-1990). 2ª FORÇA EM PSICOLOGIA: A PSICANÁLISE Freud Freud Tem como grande descoberta a existência do inconsciente humano. Seu representante mais conhecido foi S. Freud (1856-1939). 3ª FORÇA EM PSICOLOGIA: A PSICOLOGIA HUMANISTA Rogers Rogers Surgiu como uma reação às duas anteriores; valoriza a experiência consciente e trabalha com aspectos como criatividade, percepção, motivação, autorrealização. Seu representante mais conhecido foi C. Rogers (1902-1987). É JUSTAMENTE ESSA “TERCEIRA FORÇA” (OU SEJA, A PSICOLOGIA HUMANISTA) E SEUS IMPACTOS NA EDUCAÇÃO QUE VAMOS CONHECER. De acordo com Schultz e Schultz (2008), a Psicologia da Educação Humanista tem, como aspectos fundamentais: 1 Valorizar a experiência consciente, contrapondo-se à ênfase da Psicanálise nos processos humanos inconscientes. 2 Possuir uma visão positiva e otimista do indivíduo, na integralidade da natureza e da conduta humana (alguns autores chamam a Psicologia humanista de Psicologia positiva). 3 Concentrar-se na liberdade de escolhas, na espontaneidade e no poder de criação do homem. 4 Definir como foco dos estudos tudo que é relevante para a condição humana. GESTALT, UMA TEORIA DA PERCEPÇÃO A Teoria da Gestalt (ou teoria da forma), conhecida pelos estudos da percepção humana e por ter se afirmado como importante escola terapêutica, é considerada uma corrente precursora da Psicologia humanista. Surgiu na Alemanha, na década de 1910, e colocava o ser humano no centro da Psicologia, com o status de protagonista, responsável pelas suas escolhas e crenças. Ela tem importância em várias áreas, como por exemplo: Fonte:Shutterstock O triângulo enxergado ao centro não existe. Ele é formado pela nossa percepção graças ao corte nos três círculos. A Gestalt estuda esse tipo de fenômeno. Agora vamos utilizar o DICIO (Dicionário Online de Português) para verificar o significado do termo Gestalt. Observe o verbete: SIGNIFICADO DE GESTALT substantivo feminino [Psicologia] Teoria segundo a qual os fenômenos psicológicos são configurações, tomadas como organizadas, indivisíveis, articuladas e interligadas. Artes Plásticas. Teoria de que a percepção emocional ou estética de uma obra não está ligada à interpretação do espectador, sendo inerente à sua forma e conteúdo. Pronuncia-se: /guestalt/. Etimologia (origem da palavra gestalt). Do alemão Gestalt. Fonte: dicio.com.br TEÓRICOS MAIS IMPORTANTES DA GESTALT Quatro teóricos foram importantes no movimento gestaltista e, consequentemente, para a Psicologia humanista. Vamos conhecê-los? autor/shutterstock MAX WERTHEIMER (1880-1943) realizou estudos sobre a percepção do movimento. autor/shutterstock KURT KOFFKA (1886-1941) Sistematizou os princípios da Gestalt e relacionou-a com a Psicologia. autor/shutterstock WOLFGANG KÖHLER (1887-1967) Realizou estudos do comportamento de chimpanzés e foi o criador do termo insight, percepção súbita e esclarecedora. autor/shutterstock KURT LEWIN (1890-1947) Tido por muitos como o criador da Psicologia Social, criou a Teoria do Espaço Vital e iniciou os estudos de Dinâmica de Grupo como técnica e procedimento educativo. Antes de continuarmos, é importante explicar dois conceitos que apareceram: INSIGHT TEORIA DO ESPAÇO VITAL INSIGHT É uma percepção mental rápida e clara, uma descoberta, uma revelação. Acontece com frequência quando resolvemos problemas, buscamos a solução, nos debruçamos sobre ele até que, de repente, a solução aparece, como se ela estivesse olhando para nós. Muitas vezes é ilustrado como uma lâmpada que se acende na cabeça de uma pessoa. TEORIA DO ESPAÇO VITAL É o espaço vital ou campo psicológico correspondente a todos os fatos que determinam o comportamento de um indivíduo em certo momento. O meio físico, ou geográfico, faz parte dele como um dos componentes, mas o espaço vital equivale ao mundo que a pessoa o experimenta em determinado momento de sua vida. Leva em conta o próprio indivíduo, o meio e a totalidade dos fatos existentes e mutuamente dependentes naquele momento. Dele fazem parte as necessidades, as crenças, os valores, o sistema perceptivo e o motor do ser humano, por exemplo. Uma das áreas do espaço vital, de grande importância para o ser humano, é aquele onde se situa a escola, a aprendizagem formal e tudo que a ela se relaciona. UMA CURIOSIDADE SOBRE A GESTALT Um dos pontos importantes no estudo da Psicologia Humanista são os chamados testes de percepção, que se baseiam nos princípios e nas leis da Gestalt. Vamos ver dois deles. Preste bastante atenção ao que você percebe primeiro. 1º TESTE Alguns percebem primeiro o perfil de duas pessoas (área em preto); outros percebem a figura de um vaso (área em branco). MAS, POR QUE ISSO OCORRE? Fonte:Shutterstock Fonte: Shutterstock.com | Por Peter Hermes Furian EXPLICAÇÃO Segundo a Gestalt, há uma tendência da percepção em buscar a boa forma, permitindo a relação entre figura e fundo. Essa figura é ambígua, fazendo com que, em um momento, os dois perfis de pessoas sejam figura (percebidos primeiro); em outro momento, os dois perfis se tornam fundo e o vaso aparece como figura. Não é possível ver o vaso e os perfis ao mesmo tempo. 2º TESTE Qual é o segmento de reta maior, A ou B? javascript:void(0) Fonte:Shutterstock Fonte: Shutterstock.com | Por Peter Hermes Furian EXPLICAÇÃO Embora o segmento A pareça maior que o B, os dois têm o mesmo tamanho, é apenas uma ilusão de ótica. Nessa situação, não é possível alcançar o que a Gestalt chama de percepção da “boa forma” porque a imagem não apresenta equilíbrio, simetria, estabilidade, simplicidade e regularidade. ATENÇÃO Esses chamados “testes de percepção” não podem avaliar nada, são apenas exemplos dos princípios da Gestalt. Fonte: Shutterstock.com | Por WAYHOME studio CONCLUSÃO javascript:void(0) TALVEZ VOCÊ ESTEJA SE PERGUNTANDO: QUAL A RELAÇÃO DA GESTALT COM A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO HUMANISTA? Além de precursora da Psicologia da Educação Humanista, a Gestalt influenciou os estudos do desenvolvimento e da aprendizagem humana. Seus princípios são aplicados, por exemplo, na produção de todo o material didático impresso ou virtual, como este que estamos utilizando, tornando-o mais harmonioso e amigável para a percepção dos professores e alunos. Fonte: Shutterstock.com | Por Iakov Filimonov Na sala de aula presencial, dentre a quantidade de estímulos perceptuais existentes, é necessário que o professor, os conceitos e materiais que apresenta, sejam “figura” (prioritários) para a percepção dos alunos a fim de fixar a atenção e a motivação para aprender. Se, ao contrário, forem “fundo” (secundários) para a percepção do aluno, haverá dispersão e desinteresse pela aula. O professor sempre quer que a sua aula seja pregnante. Segundo a Gestalt, a pregnância de um objeto define a rapidez com que é percebido e assimilado, além da eficiência da comunicação da mensagem enviada ao receptor. Apesar de todo esse caminho parecer didático, é possível termos algumas dúvidas: 1 O que isso pode ajudar a um profissional ligado à educação ou a outra área? 2 Será que eu conseguirei entender um aluno? 3 E como posso fazer para conversar com outros profissionais? RESUMO A Psicologia e a Educação são dois campos diferentes, mas que se encontram no século XX. Eles se encontram, pois os dois lidam com a questão de como o aluno passa a ser percebido como alguém diante do ambiente, das trocas. Se ele é alguém, não podemos imaginar que ele seja um gravador, que quando começar a falar sobre baía, morro, montanha, ele automaticamente vá entender tudo o que ouviu. E que depois basta ser cobrado na prova para que prove saber. Fonte: Shutterstock.com | Por Monkey Business Images DICA Um professor deve entender que ele não é o sujeito que vai condicionaro aluno, ou que vai corrigir seu caminho. O melhor que esse profissional pode fazer — como a Psicologia humanista nos mostrou — é pensar que o outro seja um sujeito. Uma pessoa, a qual possui uma teia de relações dinâmicas, que uma vez reconhecida deve ser estimulada. Então, se permitir os insights, se estimular o aluno como centro do seu olhar, terá mais capacidade de que ele o entenda, que construa algum tipo de conhecimento. Vamos entender como funciona Psicologia humanista e Educação na prática: VERIFICANDO O APRENDIZADO A PSICOLOGIA DA GESTALT FOI DESENVOLVIDA POR VÁRIOS ESTUDIOSOS. UM DELES FORMULOU A CONHECIDA TEORIA DO ESPAÇO VITAL, DE GRANDE APLICAÇÃO NA PSICOLOGIA E NA EDUCAÇÃO. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA O NOME DESSE TEÓRICO: A) Sigmund Freud B) Wolfgang Köhler C) Burrhus Frederic Skinner D) Kurt Lewin 2. UMA PROFESSORA SELECIONA COM CUIDADO O MATERIAL QUE VAI UTILIZAR PARA APRESENTAR UM CONCEITO NOVO AOS ALUNOS. ALÉM DISSO, ORGANIZA O ASSUNTO EM GRAUS DE DIFICULDADE E LANÇA MÃO DA VOZ E DOS GESTOS PARA SUBLINHAR OS ASPECTOS MAIS IMPORTANTES. SEGUNDO A GESTALT: A) Ela deseja que a aula e o conteúdo apresentado se tornem figura para os alunos. B) Ela deseja que os alunos não tenham insights durante a aula. C) Ela deseja que a aula e o conteúdo apresentado se tornem fundo para os alunos. D) Ela deseja que a aula não seja pregnante para os alunos. GABARITO A Psicologia da Gestalt foi desenvolvida por vários estudiosos. Um deles formulou a conhecida teoria do espaço vital, de grande aplicação na Psicologia e na Educação. Assinale a alternativa que apresenta o nome desse teórico: A alternativa "D " está correta. Kurt Lewin foi um dos principais teóricos da Gestalt. Foi o fundador da Psicologia social e dos estudos sobre a teoria da dinâmica de grupo, utilizando métodos científicos para estudar os fenômenos que ocorrem em humanos, com aplicações na área organizacional e na Educação. Seu conceito mais conhecido foi o de “espaço vital”, um espaço psicológico e não físico, “(...) a totalidade de fatos que determinam o comportamento do indivíduo num certo momento” (LEWIN, 1973). 2. Uma professora seleciona com cuidado o material que vai utilizar para apresentar um conceito novo aos alunos. Além disso, organiza o assunto em graus de dificuldade e lança mão da voz e dos gestos para sublinhar os aspectos mais importantes. Segundo a Gestalt: A alternativa "A " está correta. Quando um professor dá uma aula, deseja sempre que ele próprio e o conteúdo se tornem “figura”, e não “fundo” para os alunos. Segundo a Gestalt, no processo de percepção, a figura é o elemento percebido primeiro e possui significado, destacando-se do fundo, que é menos significativo. Quanto aos insights, eles são desejáveis, pois constituem percepções rápidas, descobertas ligadas à compreensão, ao conhecimento, à intuição. Aprimoram a capacidade de apreender alguma coisa, pois as soluções de problemas surgem de forma repentina. MÓDULO 2 Distinguir os princípios da teoria de Carl Rogers e a sua aplicabilidade na Educação PREMISSA No módulo anterior... Verificamos a estreita relação entre a Psicologia e a Pedagogia, o surgimento do Humanismo como a “terceira força na Psicologia”, em contraposição à Psicanálise e ao Behaviorismo. Vimos que a Psicologia da Educação Humanista se caracteriza pela visão positiva do ser humano, pela valorização das suas escolhas e pelo foco no que é relevante para a condição humana. Abordamos a Gestalt, também conhecida como Psicologia da forma, como precursora da Psicologia da Educação Humanista e seus vultos mais importantes. Fonte: Shutterstock.com | Por fran_kie AGORA, ESTUDAREMOS UM DOS TEÓRICOS MAIS IMPORTANTES DO HUMANISMO, CRIADOR DA ABORDAGEM EDUCACIONAL CHAMADA “LIBERDADE PARA APRENDER”. PARA MIM, FACILITAR A APRENDIZAGEM É O OBJETIVO ESSENCIAL DA EDUCAÇÃO, A MELHOR MANEIRA DE CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO DO INDIVÍDUO QUE APRENDE E DE APRENDER AO MESMO TEMPO A VIVER COMO INDIVÍDUOS. EU VEJO O PROCESSO QUE PERMITE FACILITAR A APRENDIZAGEM COMO UMA FUNÇÃO CAPAZ DE LEVAR A RESPOSTAS CONSTRUTIVAS, PROVISÓRIAS E EVOLUTIVAS PARA CERTAS INTERROGAÇÕES MUITÍSSIMO IMPORTANTES QUE ASSALTAM OS HOMENS ATUALMENTE. (ROGERS, 1986) VAMOS EXPLICAR MELHOR ESSA CITAÇÃO: Imaginemos uma professora que ama percepção do espaço. Alguém que acha que o homem que entende o espaço, entende melhor a vida. Porém, quando ela fala sobre Geografia física aos alunos, eles querem sair correndo. Pelo que lemos, se essa professora utilizar as ideias de Carl Rogers, ela pode ter alguns resultados diferentes. Se a educação é uma maneira de contribuir para o desenvolvimento do indivíduo, então essa profissional não precisa chegar com a informação que tem, uma vez que se ela faz isso, o aluno não tem o que fazer. Da maneira com a qual essa profissional está agindo, o aluno só ouve, repete, anota, repete para si e esquece. Se ela conseguir que o aluno primeiro perceba que aquele conhecimento é importante, ela dará ferramentas para que ele consiga construir um pensamento sobre aquilo e assim a coisa pode ser diferente. Se, em vez de falar dos tipos de erosão, falar sobre o problema de uma região e pedir para que os alunos, com a ajuda da Geografia, desvendem o que está acontecendo, eles serão despertados pelo senso de empatia, pelo despertar do conhecimento. Fonte: Shutterstock.com | Por Monkey Business Images QUEM FOI CARL ROGERS? Fazendo uma breve biografia acadêmica de Carl Rogers (1902-1987), percebemos que o norte-americano teve uma formação inicial em Ciências Físicas e Biológicas, além de ter frequentado seminário teológico; e somente mais tarde se dedicou aos estudos da Psicologia, área de seu mestrado e doutorado. Fonte:Shutterstock Carl Rogers. Fonte: Bettmann Archive INÍCIO DOS ESTUDOS Tendo iniciados seus primeiros experimentos clínicos ainda apoiados na teoria behaviorista, teria já trabalhado os princípios de ruptura com Freud e Skinner, aproximando-se das proposições de Otto Rank (1884-1939), que já havia se desligado da linha ortodoxa de Freud. INGRESSANDO EM PSICOLOGIA Carl Rogers, trabalhando com as questões da Psicologia e da clínica, passou a perceber que a prática poderia lhe dar mais possibilidades do que as amarras dos velhos conceitos acadêmicos. Isso fez com que o professor Carl Rogers cada vez mais se dedicasse à clínica, quando ele se torna professor universitário em Ohio (EUA), do que necessariamente à reprodução de seus mestres. CRÍTICAS Sua busca era centrar-se no paciente e nas demandas relativas ao paciente; sua produção e suas potencialidades de desenvolvimento e melhoria dos resultados. De todo modo, as críticas iniciais a que foi submetido, justamente por se afastar de pressupostos, naquele momento reconhecidos como clássicos; a relação com os estudantes ávidos por buscar e obter resultados que não se manifestavam somente nos manuais, elevou-o à condição de um autor em evidência na área da Psicologia, tornando-o um sucesso editorial. “PROFESSOR ROGERS” Foi como professor da Universidade de Chicago (EUA) e secretário executivo do Centro de Aconselhamento Terapêutico que ele escreveu seu método de terapia centrada no cliente, mudando a linha de formação dele próprio e se aproximando de pessoas como Kurt Goldstein (1878-1965), formulando uma teoria da personalidade e conduzindo pesquisas sobre a psicoterapia, o que muito pouco era feito com relação à abordagem do momento, a Psicanálise. APROXIMAÇÃO COM A EDUCAÇÃO Em 1957, Rogers passa a ensinar na Universidade de Wisconsin (EUA), onde se graduou; lá ele se aproximou definitivamente da Educação e do potencial de seus estudos para essa outra ciência. Seu estudo de psicoterapia é brilhante, intensivo e controlado, utilizando a psicoterapia em pacientes diagnosticados por esquizofrenia, extrapolando para outras dificuldades que impactavam a vida dos pacientes e seus desenvolvimentos. Seus estudossempre se atentavam ao paciente e às suas relações ambientais, sociais, com ênfase no envolvimento da família; o foco de sua abordagem buscava perceber as relações humanas como elemento primordial. RECONHECIMENTO Desde 1964, Rogers associou-se ao Centro de Estudos da Pessoa, em La Jolla, Califórnia (EUA), entrando em contato com outros teóricos humanistas, como Maslow (1908-1970), e filósofos, como Buber (1878-1965) e outros. Carl Rogers chegou ao auge de sua popularidade, passando a ser considerado referência por muitos, por verem nele uma linha diversa da marcada pelo uso dos medicamentos, das técnicas terapêuticas lineares e dos diagnósticos. A TRAJETÓRIA DE CARL ROGERS PODE PARECER UMA INFORMAÇÃO ENCICLOPÉDICA, MAS NOS AJUDA A COMPREENDER O TRAJETO DE SUA TEORIA. A Psicologia não era um campo consolidado, ainda podemos chamar de campo inicial quando Rogers se interessa por ela e, por conta disso, fortemente dominado pelas relações freudianas. Os estudos sobre comportamento, reprodução, assimilação e as capacidades da mente humana faziam parte dos noticiários, das revistas científicas e eram considerados avanços importantes. Afinal, é importante lembrar que tanto Pedagogia como Psicologia, em termos científicos, como campo de pesquisa, eram relativamente recentes. Ainda que nomes importantes já viessem sinalizando outros caminhos, essa trajetória de rompimento nos dois campos de uma vez (Psicologia e Educação) não foi nada fácil. RESUMINDO A biografia de Rogers humaniza a pesquisa e o desafio vivido para que ela pudesse ter sido empreendida. Ao desenvolver um modelo de Psicologia centrado no paciente, permite um desdobramento de uma educação centrada no aluno. Esse paradigma não tem nada de simples ou pequeno, mas representa efetivamente uma mudança da maneira como o senso comum, ainda atualmente, pensa a Educação. “TERAPIA CENTRADA NA PESSOA”? Foi a abordagem psicoterapêutica criada por Carl Rogers, que considerava a saúde mental como principal questão da Psicologia, contradizendo, por exemplo, a ênfase na neurose, da Psicanálise e na modificação do comportamento observável, do Behaviorismo. O terapeuta precisa criar um clima de empatia, compreensão e aceitação, permitindo ao cliente expressar-se abertamente. Atua como um facilitador, sabendo que o paciente tem recursos para a autocompreensão e para mudar o próprio comportamento. Está fundamentada em três princípios: congruência, vivência livre dos sentimentos e atitudes; consideração positiva incondicional do terapeuta em relação ao paciente; compreensão empática, percebendo o quadro do paciente como se fosse o seu. TODO O TRABALHO DA PSICOTERAPIA SE REFERE A UMA FALHA NA COMUNICAÇÃO. A PESSOA EMOCIONALMENTE DESADAPTADA, O 'NEURÓTICO', TEM DIFICULDADES, EM PRIMEIRO LUGAR, PORQUE ROMPEU A COMUNICAÇÃO CONSIGO PRÓPRIA E, EM SEGUNDO, PORQUE, COMO RESULTADO DESSA RUPTURA, A COMUNICAÇÃO COM OS OUTROS SE VIU PREJUDICADA. (ROGERS, 1997) Ao se tornar "moda" no campo da Educação, Rogers o fez partindo de um preceito fundamental: a educação deve ser centrada no aluno. Não é no problema do aluno, não é na fragilidade do aluno, não é para agradar ao aluno, mas sim no entendimento que é nesse sujeito complexo, cheio de relações, que é diferente, que efetivamente aprende, desenvolve e descobre que deve estar o olhar do educador. Fonte: Shutterstock.com | Por Rawpixel.com CARL ROGERS E A PROPOSTA DE “LIBERDADE PARA APRENDER” A síntese das ideias de Rogers sobre a Educação está no livro Liberdade para aprender (1973), no qual questiona o papel da escola diante das questões sociais e da atualidade. Para ele, o papel da Educação seria o de libertar a curiosidade, a indagação e a criatividade dos alunos, permitindo que busquem seus próprios caminhos. Fala de dois tipos de aprendizagem: a que tem o formato de “tarefa imposta”, meramente intelectual, e a “experiencial”, significativa e repleta de confiança e aceitação mútua, que torna o indivíduo autoconfiante e criativo. Acredita que todos os indivíduos possuem uma potencialidade natural para aprender e que a aprendizagem flui naturalmente quando o aluno escolhe livremente a sua orientação e se defronta com problemas práticos, reais e do seu interesse. O professor é chamado de “facilitador da aprendizagem” porque, segundo Rogers, não se pode ensinar diretamente a alguém, o que se pode é facilitar a aprendizagem. O facilitador disponibiliza aos alunos recursos de aprendizagem (o conhecimento do professor também é um recurso de aprendizagem), cria um clima de confiança e aceitação mútua, permitindo a livre expressão das ideias. Precisa apresentar três qualidades essenciais: Fonte:Shutterstock SAIBA MAIS No livro, também relata algumas experiências bem-sucedidas de aplicação dessa metodologia. Sintetizando, Rogers fala de dez princípios que norteiam a aprendizagem e precisam ser respeitados. Vamos ver quais são: 1 O ser humano possui aptidões naturais para aprender. 2 A aprendizagem autêntica supõe que o assunto seja percebido pelo estudante como relacionado aos seus objetivos e interesses. 3 A aprendizagem, que implica uma modificação profunda da organização interna, representa uma ameaça e o aluno tende a resistir a ela. 4 Essa aprendizagem, que constitui uma ameaça interna, é mais facilmente assimilada quando as ameaças externas são minimizadas. 5 Quando o sujeito se sente pouco ameaçado, a experiência pode ser percebida de maneira diferente e o processo de aprendizagem pode se efetivar de forma positiva. 6 A verdadeira aprendizagem ocorre em grande parte por meio da ação. 7 A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa ativamente do processo. 8 A aprendizagem espontânea envolve a própria personalidade do aluno. 9 Independência, criatividade e autonomia são facilitadas quando a autocrítica e autoavaliação são privilegiadas em relação à avaliação feita por terceiros. 10 A aprendizagem mais importante, no mundo moderno, é aquela que conhece o seu funcionamento e permite ao sujeito a disposição para experimentar e assimilar suas mudanças. Vamos pensar um pouco como a proposta de Rogers é impactante para a sala de aula: EDUCAÇÃO NO SENSO COMUM EDUCAÇÃO EM ROGERS Como o indivíduo aprende? O ser humano, na educação, deve absorver os conhecimentos transmitidos. Como o indivíduo aprende? O ser humano aprende, sempre, em todas as oportunidades, faz parte de seu cotidiano, independentemente da transmissão. O que aprende? Os interesses, objetivos e conteúdos são definidos pela instituição e pelo professor; é função do aluno ouvir. O que aprende? Os interesses do aluno são preponderantes para o aprendizado. Como se comporta? O aluno deve aceitar e repetir a educação recebida já que é para seu bem. Como se comporta? O aluno tende a resistir ao novo, ao que lhe tire da condição de conforto. Como se firma o aprendizado? O aluno aprende por absorção e recebimento das informações. Como se firma o aprendizado? O aluno aprende pelo fazer, pelo interagir, pelo reconhecer. Qual a conclusão? A aprendizagem é padrão e todos os alunos devem receber da mesma forma e eles são classificados em graus. Qual a conclusão? A aprendizagem tem relação com a personalidade do aluno, seus interesses e como recebe a interação com o outro. EXEMPLO Imagine que uma das turmas lecionada por um tutor seja cheia de alunos. COMO PENSAR EM RELAÇÃO À PERSONALIDADE DE CADA UM PARA PODER DAR AULA? Devemos ter em mente que Rogers não está ensinando a dar aulas, mas sim explicando como o aluno aprende, o que chama a sua atenção. EXPLICAÇÃO O tutor deve começar a perceber que o aluno não aprende só com ele, mas sim que o aluno tem um mar de colegas para troca. O que o autor nos traz é incômodo, pois é o conhecimento novo, é a importância de se melhorar o significado, pensar um pouco mais no que o aluno precisa. Uma sugestão seria, na próxima aula de relevo, pedir para os alunos identificarem ondeé a casa deles, quem mora perto de lagoa, mora em morro, em plano, em vale e com isso javascript:void(0) organizar a sala pelas regiões. Assim, eles conversarão sobre o que é morar naquela condição, sobre o que tem de especial ou de problemático. O SEGUIDOR MAIS CONHECIDO DAS IDEIAS DE CARL ROGERS SOBRE EDUCAÇÃO Antes de terminarmos o módulo, vamos falar um pouco de Summerhill, uma escola fundada na Inglaterra, em 1921, pelo educador Alexander Sutherland Neill (1883-1973) e uma das pioneiras nas chamadas "escolas democráticas". Atualmente, Summerhill é dirigida pela filha de Neill, Zoe Readhead e atende alunos que cursam o que corresponde, no nosso sistema, ao ensino fundamental e ao ensino médio. Fonte:Shutterstock Alexander Sutherland Neill Fonte:Shutterstock Escola Summerhill. Fonte: wikimedia.org É caracterizada por dois princípios: a possibilidade de os alunos escolherem se querem ou não assistir às aulas e a realização de assembleias, das quais todos participam, para decidir as normas da escola. QUANDO FAÇO PALESTRA PARA UM GRUPO DE PROFESSORES, COMEÇO POR DIZER QUE NÃO VOU FALAR SOBRE ASSUNTOS ESCOLARES, SOBRE DISCIPLINA OU SOBRE AULAS. DURANTE UMA HORA MEU AUDITÓRIO OUVE EM ENLEVADO SILÊNCIO E, DEPOIS DO APLAUSO SINCERO, O PRESIDENTE ANUNCIA QUE ESTOU PRONTO PARA RESPONDER A PERGUNTAS. PELO MENOS TRÊS QUARTOS DAS PERGUNTAS QUE ME FAZEM VERSAM SOBRE MATÉRIA ESCOLAR E ENSINO. NÃO DIGO ISSO TOMANDO ARES SUPERIORES, DE FORMA ALGUMA. DIGO-O COM TRISTEZA E PARA MOSTRAR COMO AS PAREDES DAS SALAS DE AULAS E OS EDIFÍCIOS COM ASPECTO DE PRISÕES ESTREITAM A VISÃO DOS PROFESSORES, IMPEDINDO-OS DE VEREM AS COISAS VERDADEIRAMENTE ESSENCIAIS DA EDUCAÇÃO. O TRABALHO DELES TRATA COM UMA PARTE DA CRIANÇA QUE ESTÁ ACIMA DO PESCOÇO, E NATURALMENTE, A PARTE VITAL, EMOCIONAL DELA, FICA SENDO TERRITÓRIO ESTRANGEIRO PARA O MESTRE. EU GOSTARIA DE VER UM MOVIMENTO MAIOR DE REBELIÃO ENTRE NOSSOS JOVENS PROFESSORES. EDUCAÇÃO DE ALTO NÍVEL E DIPLOMAS UNIVERSITÁRIOS NÃO FAZEM A MÍNIMA DIFERENÇA NA CONFRONTAÇÃO DOS MALES DA SOCIEDADE. UM NEURÓTICO LETRADO NÃO FAZ DIFERENÇA ALGUMA DE UM NEURÓTICO ILETRADO. (NEILL, 1980) Essa ideia não tem nada de simples. A educação formal, uma vez recebida, mesmo para aqueles que têm excelente desempenho pode não significar nada, mas ser tremendamente relevante a alunos que foram considerados fracos na análise de seus "resultados". Rogers e Neil apontam para o fato de que, quando é o centro, é no sujeito em que observaremos as transformações e é a partir dele que deve ser pensada a educação como um todo. Traços humanos devem ser postos em jogo, devem ser entendidos para que todos os componentes possam ser observados (cotidiano, tensões, medos, transformações) e para que a escola não vire um equivocado palco de disputas de inteligências mal formuladas. EM BUSCA DA INTELIGÊNCIA No processo educativo, professor e aluno experimentam mudanças em suas características pessoais de ser e perceber. QUERO QUE MEUS FILHOS ENTENDAM O MUNDO, MAS NÃO APENAS PORQUE O MUNDO É FASCINANTE E A MENTE HUMANA, CURIOSA. QUERO QUE ELES COMPREENDAM O MUNDO PARA QUE POSSAM FAZER DELE UM LUGAR MELHOR. CONHECIMENTO NÃO É O MESMO QUE MORALIDADE, MAS, SE QUISERMOS EVITAR ERROS PASSADOS E TOMAR RUMOS POSITIVOS, PRECISAMOS ENTENDER. UMA PARTE IMPORTANTE DESSA COMPREENSÃO É SABER QUEM SOMOS E O QUE PODEMOS FAZER (...) AS VIVÊNCIAS DE COMPREENSÃO QUE VERDADEIRAMENTE IMPORTAM SÃO AS QUE FAZEMOS COMO SERES HUMANOS NUM MUNDO IMPERFEITO, QUE PODEMOS AFETAR POSITIVA OU NEGATIVAMENTE. (ROGERS, 1999) A provocação de Carl Rogers nos ajuda a perceber um pouco mais; é só para ficar com a ideia guardada, pois no próximo módulo estudaremos como a Psicologia humanista tem recentemente se dedicado a pensar as inteligências. Fonte:Shutterstock Fonte: Shutterstock.com | Por fizkes RESUMO Estamos indo cada vez mais longe! Podemos entender que Rogers trouxe para a Educação uma mudança fundamental: o olhar sobre o aluno. O ALUNO NÃO É UM AGENTE PASSIVO DO CONHECIMENTO, MAS ELE É O PRÓPRIO PRODUTOR DO CONHECIMENTO. Sabemos que esse conceito é difícil. Imagine alguém chegando em uma sala de professores com essas ideias. Possivelmente, diversos colegas olhariam espantados. Isso se deve ao fato de que nós somos muito acostumados a imaginar que o professor vem para trazer o conhecimento. De fato, tem sentido. Devemos refletir que alguns de nós escolheu uma profissão quando temos um referencial. Por exemplo, alguns querem ser professor porque tiveram um professor fantástico. E não necessariamente estamos falando sobre a aula que aquele professor dava, mas sim pelas trocas que foram feitas, por acreditar nos alunos. Podemos entender em Rogers a questão do desafio, da ação. Vamos entender como funciona Psicologia humanista e Educação na prática: VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. FIEL ÀS IDEIAS DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO HUMANISTA, CARL ROGERS AFIRMA QUE O EDUCADOR, A QUEM CHAMA DE FACILITADOR DA APRENDIZAGEM, DEVE POSSUIR ALGUMAS ATITUDES QUE SÃO CONSIDERADAS BÁSICAS. QUAIS SÃO ELAS? A) Autenticidade, aceitação, incongruência. B) Autenticidade, aceitação, compreensão empática. C) Autoritarismo, aceitação, compreensão empática. D) Autenticidade, aceitação de algumas atitudes dos alunos, compreensão empática. 2. ROGERS ENUNCIOU DEZ PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM A LIBERDADE PARA APRENDER. UM DESSES PRINCÍPIOS É: A) O ser humano não possui motivação natural para a aprendizagem, por isso precisa ser treinado para issoA B) A verdadeira aprendizagem ocorre por meio da atenção na aula e no estudo do conteúdo. C) A aprendizagem autêntica supõe que o assunto seja percebido pelo estudante como relacionado aos seus objetivos e interesses. D) A aprendizagem ocorre por meio de estímulos e reforços, a mudança comportamental ocorre por meio do reforço — estímulo do comportamento desejado. GABARITO 1. Fiel às ideias da Psicologia da Educação Humanista, Carl Rogers afirma que o educador, a quem chama de facilitador da aprendizagem, deve possuir algumas atitudes que são consideradas básicas. Quais são elas? A alternativa "B " está correta. A autenticidade se refere à expressão sincera das próprias ideias, emoções e dos próprios sentimentos. Congruência: consiste na atitude autêntica diante do outro, na capacidade de estabelecer uma relação sem máscaras, genuína e espontânea. Rogers propõe a compreensão empática e a “Aceitação de outro indivíduo, como pessoa separada, cujo valor próprio é um direito. É uma confiança básica — convicção de que a outra pessoa é merecedora de crédito. Apreço pelo aprendiz como ser humano imperfeito, dotado de sentimentos e potencialidades” (ROGERS, 1973). Essa aceitação deve ser relativa a todas as atitudes dos alunos. Todos os princípios da teoria rogeriana apontam a necessidade da educação democrática e nunca do autoritarismo. 2. Rogers enunciou dez princípios que norteiam a Liberdade para Aprender. Um desses princípios é: A alternativa "C " está correta. Um dos princípios da Psicologia da Educação Humanista Rogeriana é a crença no potencial humano. Segundo o autor, cada pessoa tem as respostas e os direcionamentos necessários para conduzir a própria vida. aprendizagem ocorre, em grande parte, por meio da ação e não da atenção na aula e no estudo do conteúdo. O autor afirma que a aprendizagem autêntica requer a motivação oriunda da percepção do aluno de que o que está sendo aprendido é pertinente em relação aos seus objetivos, àquilo que verdadeiramente lhe interessa. MÓDULO 3 Identificar atualidades da Psicologia da Educação Humanista, como a teoria das inteligências múltiplas e a abordagem da inteligência emocional PREMISSA Encerramos o módulo anterior, que nos apresentou Carl Rogers – e as suas ideias sobre a liberdade para aprender e as características do professor “facilitador da aprendizagem” –, um dos mais conhecidos representantes da Psicologia da Educação Humanista. Essacorrente teórica não ficou restrita ao início do século XX, teve seguidores e dissidentes e frutificou em abordagens teóricas como as duas que veremos agora: a teoria das inteligências múltiplas e a teoria da inteligência emocional. Vamos conhecê-las! Este módulo será dedicado ao estudo de duas abordagens da inteligência, bastante contemporâneas e que trazem marcas perceptíveis da Psicologia da Educação Humanista. Fonte: Shutterstock.com | Por Radachynskyi Serhii CONCEITO DE INTELIGÊNCIA Para começar, vamos conceituar inteligência. O termo inteligência tem muitas definições que dependem, inclusive, da escola teórica que a define. Observe estas duas: Karl Jaspers [1883-1969] “A inteligência é a capacidade de utilizarmos um conjunto de instrumentos (atividade sensorial, memória, habilidade psicomotora e verbal e resistência à fadiga), de modo a nos adaptarmos a qualquer problema da vida.” W. Stern [1871-1938] “A inteligência é a capacidade de adaptação a novas situações mediante o emprego consciente dos meios ideativos.” SAIBA MAIS Podemos utilizar também uma definição bastante genérica, mas muito abrangente: a inteligência é o conjunto de todos os atributos intelectuais do indivíduo, incluindo as capacidades de conhecer, compreender, raciocinar, pensar e interpretar. Ela distingue o ser humano dos outros animais, embora estudos mostrem que outras espécies, além do homem, como os macacos e os cães, demonstram sinais de comportamento inteligente. INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: O QUE SÃO? Antes de tratarmos sobre inteligências múltiplas, vamos falar sobre quem é Howard Gardner (1943), um norte-americano, descendente de judeus fugidos do nazismo. Formou-se em Harvard (EUA), onde entrou para estudar História do Direito, mas acabou seguindo os passos do psicanalista Erik Erikson (1902-1994) e mudou a carreira acadêmica para os campos combinados de Psicologia e Educação. Fonte:Shutterstock Howard Gardner Fez parte do Harvard Project Zero, que se destinava inicialmente às pesquisas sobre educação artística. Sua pesquisa era sobre as inteligências múltiplas. Lançou um livro, em 1993, chamado Inteligências múltiplas: teoria na prática, tornando-se um best-seller mundial e projetando o autor e a sua teoria. Os estudos de Howard Gardner sobre a inteligência tiveram grande impacto na Psicologia e na Educação no final do século XX. Gardner contradisse o conceito de QI (Quociente de inteligência) , ainda muito utilizado, e apresentou vários tipos de inteligência com suas respectivas características. Segundo o autor, nós já nascemos com essas inteligências, mas o desenvolvimento delas será determinado não apenas pelos fatores genéticos e neurobiológicos, mas também por fatores ambientais. O viés humanista do pensamento de Gardner pode ser bem percebido nessa citação do autor, ao falar da inteligência da criança e do papel do professor: O MAIOR DESAFIO É CONHECER CADA CRIANÇA COMO ELA REALMENTE É, SABER O QUE ELA É CAPAZ DE FAZER E CENTRAR A EDUCAÇÃO NAS CAPACIDADES, FORÇAS E NOS INTERESSES DESSA CRIANÇA. O PROFESSOR É UM ANTROPÓLOGO, QUE OBSERVA A CRIANÇA CUIDADOSAMENTE, E UM ORIENTADOR, QUE AJUDA A CRIANÇA A ATINGIR OS OBJETIVOS QUE A ESCOLA, O DISTRITO OU A NAÇÃO ESTABELECEU. (GARDNER, 1995) Fonte: Shutterstock.com | Por rozbeh QUOCIENTE INTELECTUAL (QI) O chamado quociente intelectual (QI) era o padrão utilizado para avaliar a inteligência humana aceito no início do século XX e utilizado, por exemplo, para definir o desempenho escolar esperado das crianças, correspondente à idade delas. Os testes de QI, criados pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911,) eram amplamente utilizados e fundamentados na relação entre a idade mental e a idade cronológica. Acreditava- se que era possível verificar, por meio desses testes, se uma criança apresentava um desenvolvimento mental normal, avançado ou com atraso. O psicólogo alemão William Stern sugeriu que os escores dos testes de inteligência podiam ser expressos em termos de um quociente de inteligência ou QI, de acordo com a fórmula: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal EXEMPLO Se um indivíduo tem uma idade mental de 10 anos, segundo o resultado de um teste, e uma idade cronológica de 8 anos, seu QI será de 125. Com o decorrer dos estudos sobre a inteligência humana, Gardner percebeu que o conceito de quociente intelectual era insuficiente para explicar fenômeno tão complexo. Utilizando variadas formas de testagem, inclusive não verbais, estabeleceu que a capacidade cognitiva humana pode ser mais bem descrita como um conjunto de oito capacidades mentais e defendeu uma avaliação completamente diversificada do que ele denomina “inteligências múltiplas”. Esse perfil de inteligências caracteriza cada um de nós, e as múltiplas inteligências são desenvolvidas em diferentes graus. Gardner explica que algumas pessoas são mais capazes em certos setores que em outros, dependendo das inteligências mais desenvolvidas que possuem, mas todos nós somos “inteligentes”. É interessante refletirmos em Gardner que todos nós somos inteligentes, mais para algumas áreas e menos para outras, e que isso define uma identidade intelectual de cada um. Gardner propôs os seguintes tipos de inteligência: LÓGICO-MATEMÁTICA Quantificar dados e avaliar hipóteses. LINGUÍSTICA QI = Idade Mental (IM) x 100 Idade cronológica (IC) Lidar criativamente com palavras e símbolos. CORPORAL-CINESTÉSICA Coordenar mente e corpo. MUSICAL Diferenciar sons, ritmos, tons e timbres. ESPACIAL Perceber o mundo tridimensionalmente. INTERPESSOAL Entender os sentimentos e motivações das pessoas, colocando-se no lugar delas. INTRAPESSOAL Entender a si mesmo e aos seus próprios sentimentos e desejos. NATURALISTA Compreender a relação entre os seres vivos e o ambiente. EXISTENCIAL Questionar o sentido da vida e da morte. SAIBA MAIS Primeiramente foram diagnosticadas as sete primeiras e somente com a continuidade das pesquisas foram reconhecidas a existência de mais duas formas de inteligência (naturalista e existencial). Como disse Gardner em uma de suas obras: [...] PELO MENOS SETE DIFERENTES MODOS DE CONHECER O MUNDO — MODOS QUE EM OUTROS LUGARES EU DEFINI COMO AS SETE INTELIGÊNCIAS HUMANAS. DE ACORDO COM ESTA ANÁLISE, TODOS NÓS ESTAMOS APTOS A CONHECER O MUNDO ATRAVÉS DA LINGUAGEM, DA ANÁLISE LÓGICO- MATEMÁTICA, DA REPRESENTAÇÃO ESPACIAL, DO PENSAMENTO MUSICAL, DO USO DO CORPO PARA RESOLVER PROBLEMAS OU PARA FAZER COISAS, DE UMA COMPREENSÃO DE NÓS MESMOS. ONDE OS INDIVÍDUOS DIFEREM É NO "VIGOR" DESSAS INTELIGÊNCIAS — O ASSIM CHAMADO PERFIL DE INTELIGÊNCIAS — E NA FORMA COMO TAIS INTELIGÊNCIAS SÃO INVOCADAS E COMBINADAS PARA EXECUTAR DIFERENTES TAREFAS, RESOLVER PROBLEMAS VARIADOS E PROGREDIR EM VÁRIAS ÁREAS. (GARDNER, 1994) RESUMO Se unirmos as perspectivas que aprendemos com o Rogers com o tipo de inteligência do Gardner, podemos perceber que cada aluno é um e por isso devemos ofertar possibilidades para que o aprendizado possa se materializar. EXEMPLO Quando pegamos um documento que tem sido muito trabalhado pela escola, como BNCC, em especial quando ela fala das fases do desenvolvimento da criança, os tipos de desenvolvimento que devem ser encorajados em cada fase, podemos reparar que já vimos isso. A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) fala em educação por competência e quando lida com o desenvolvimento infantil aponta que os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento passam por reconhecer uma série de aspectos que percebemos presentes na pesquisa de Gardner. DANIEL GOLEMAN E A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL Vamos encerrar este módulo apresentando um segundo movimento teórico importante na Psicologia e que tem as suas raízes na Psicologia da Educação Humanista. O conceito de inteligência emocional surgiu na década de 1990 e rapidamente ganhou projeção no cenário mundial, provocando polêmicas, consensos e dissensos. Estabelecia umaruptura, de certa forma, com a ênfase na racionalização, base do pensamento científico ocidental, resgatando a importância dos aspectos emocionais. Daniel Goleman (1946) é um psicólogo, escritor e jornalista norte-americano, autor do best- seller Inteligência emocional. Foi aluno no Amherst College e na Universidade da Califórnia, ambos nos EUA. Recebeu o PhD na Universidade de Harvard (EUA) onde também lecionou. Foi jornalista do The New York Times, onde cobria a seção de ciências do comportamento e do cérebro. Fonte:Shutterstock Daniel Goleman O conceito de inteligência emocional está ligado ao de “inteligência social”. Podemos afirmar que um indivíduo emocionalmente inteligente é aquele que consegue identificar e controlar as próprias emoções com mais facilidade. Sua formulação nos faz lembrar o conceito de “inteligência intrapessoal”, de Howard Gardner, que assim a define: (...) O CONHECIMENTO DOS ASPECTOS INTERNOS DE UMA PESSOA: O ACESSO AO SENTIMENTO DA PRÓPRIA VIDA, À GAMA DAS PRÓPRIAS EMOÇÕES, À CAPACIDADE DE DISCRIMINAR ESSAS EMOÇÕES E EVENTUALMENTE ROTULÁ-LAS E UTILIZÁ-LAS COMO UMA MANEIRA DE ENTENDER E ORIENTAR O PRÓPRIO COMPORTAMENTO. A PESSOA COM BOA INTELIGÊNCIA INTRAPESSOAL POSSUI UM MODELO VIÁVEL E EFETIVO DE SI MESMA. UMA VEZ QUE ESTA INTELIGÊNCIA É A MAIS PRIVADA, ELA REQUER A EVIDÊNCIA A PARTIR DA LINGUAGEM, DA MÚSICA OU DE ALGUMA FORMA MAIS EXPRESSIVA DE INTELIGÊNCIA PARA QUE O OBSERVADOR A PERCEBA FUNCIONANDO. (GARDNER, 1995) Fonte: Shutterstock.com | Por Rawpixel.com ATENÇÃO Se a escola fosse um palco linear onde todos fossem iguais e todas suas maneiras de medir fossem idênticas, nossos modelos tradicionais seriam precisos. No entanto, a escola é feita por pessoas, que têm diversas formas de inteligências e experimentos de como desenvolver essa inteligência. Gardner nos faz pensar em pessoas e em como reconhecemos pessoas. O professor também tem as suas inteligências, suas formas de organizar, ordenar, relacionar-se, mas cabe a ele perceber que precisa de conhecimento, instrumentalizações, não para transmitir, mas sim para desenvolver aspectos dessas inteligências. Grande desafio e, para tal, precisamos entender um pouco mais. QUAIS SÃO OS DOMÍNIOS BÁSICOS DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL? A vida atual e os desafios da modernidade fazem com que o conceito de inteligência emocional tenha, atualmente, bastante aplicação. Se pegarmos como exemplo dessa questão os professores, eles estão sendo constantemente desafiados em relação à manutenção da serenidade e do equilíbrio emocional. Segundo Daniel Goleman, no seu livro Inteligência emocional, há cinco domínios básicos a partir dos quais essa inteligência se desenvolve. Vamos ver quais são: AUTOCONHECIMENTO EMOCIONAL Autoconsciência - melhora no reconhecimento e na designação das próprias emoções. AUTOCONTROLE Controle emocional - habilidade do sujeito para gerir as próprias emoções. AUTOMOTIVAÇÃO Persistência - capacidade de canalizar produtivamente as emoções. EMPATIA Reconhecimento das emoções dos outros, capacidade de adotar a perspectiva do outro. SOCIABILIDADE Aptidão social - habilidade em relacionamentos interpessoais. ALGUMAS VANTAGENS DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL Segundo Daniel Goleman, o desenvolvimento da Inteligência Emocional traz inúmeras vantagens não apenas intelectuais, mas na vida afetiva, social, profissional. Pessoas que possuem inteligência emocional bem desenvolvida, dentre outras coisas: 1 Apresentam menor ansiedade e estresse. 2 Possuem autoestima mais elevada. 3 Desenvolvem melhores relações sociais. 4 Manifestam maior responsabilidade e comprometimento. 5 Têm maior poder de decisão. 6 Apresentam maior equilíbrio emocional. 7 São mais assertivas, têm metas e objetivos mais claros e persistentes. 8 Manifestam maior compreensão e empatia em relação ao próximo. Resumindo, o autor fala que a inteligência emocional é: (...) A CAPACIDADE DE CRIAR MOTIVAÇÕES PARA SI PRÓPRIO E DE PERSISTIR NUM OBJETIVO APESAR DOS PERCALÇOS; DE CONTROLAR IMPULSOS E SABER AGUARDAR PELA SATISFAÇÃO DE SEUS DESEJOS; DE SE MANTER EM BOM ESTADO DE ESPÍRITO E DE IMPEDIR QUE A ANSIEDADE INTERFIRA NA CAPACIDADE DE RACIOCINAR; DE SER EMPÁTICO E AUTOCONFIANTE. (GOLEMAN, 1996) RESUMO A Psicologia acabou por gerar uma transformação importante na Educação pelo debate sobre o papel dos alunos, com a Gestalt, os insights, as “figuras” e técnicas para podermos efetivamente trabalhar com os alunos. Rogers ajudou a perceber que aluno tem autonomia, tem que ser lidado como indivíduo e que o processo de educação não é um ato fácil, aceito, mas sim um processo de mediação fundamental. Quanto a Gardner e Goleman, pudemos perceber que alunos precisam ser estimulados em suas inteligências, que são múltiplas, apresentam conjuntos emocionais fundamentais e devem estar no olhar do docente, buscando fortalecer o que é mais efetivo e trabalhar para despertar, fundamentar, estruturar as dificuldades que são apresentadas. Sempre com o olhar para o aluno. COMENTÁRIO Na prática, os professores precisam perceber quais os alunos que são fortes em liderança, e contar com eles para ajudá-lo nos trabalhos baseados na solução de problemas. Uma possibilidade é eles ajudarem na integração dos grupos. É necessário ver quem tem mais facilidade física, e os que possuem um fundamento mais estrutural nas operações imediatas têm que ganhar função, participação. Existe um desafio pela frente, mas certamente com um conjunto de possibilidades bem mais ricas. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. HOWARD GARDNER DESENVOLVEU A CONHECIDA TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS. SOBRE UMA DELAS, DIZ GARDNER: “(...) EXECUTAR UMA SEQUÊNCIA MÍMICA OU BATER NUMA BOLA DE TÊNIS NÃO É RESOLVER UMA EQUAÇÃO MATEMÁTICA. E, NO ENTANTO, A CAPACIDADE DE USAR O PRÓPRIO CORPO PARA EXPRESSAR UMA EMOÇÃO (COMO NA DANÇA), PRATICAR UM JOGO (COMO NUM ESPORTE) OU CRIAR UM PRODUTO [...] É UMA EVIDÊNCIA DOS ASPECTOS COGNITIVOS DO USO DO CORPO” (GARDNER, 1995, P. 24). O AUTOR ESTÁ FALANDO DE: A) Inteligência espacial B) Inteligência interpessoal C) Inteligência musical D) Inteligência cinestésica 2. DANIEL GOLEMAN FALA DE CINCO DOMÍNIOS DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL. OBSERVE AS DUAS COLUNAS A SEGUIR. A PRIMEIRA TRAZ O NOME DE CADA DOMÍNIO DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL; A SEGUNDA APRESENTA O CONCEITO DE CADA DOMÍNIO, MAS ESTÁ FORA DE ORDEM. 1 – AUTOCONHECIMENTO EMOCIONAL 2 – AUTOCONTROLE 3 – AUTOMOTIVAÇÃO 4 – EMPATIA 5 – SOCIABILIDADE ( ) CONTROLE EMOCIONAL, HABILIDADE DO SUJEITO PARA GERIR AS PRÓPRIAS EMOÇÕES. ( ) HABILIDADE EM RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS, APTIDÃO SOCIAL. ( ) RECONHECIMENTO DAS EMOÇÕES DOS OUTROS, CAPACIDADE DE ADOTAR A PERSPECTIVA DO OUTRO. ( ) AUTOCONSCIÊNCIA, MELHORA NO RECONHECIMENTO E DESIGNAÇÃO DAS PRÓPRIAS EMOÇÕES. ( ) CAPACIDADE DE CANALIZAR PRODUTIVAMENTE AS EMOÇÕES, PERSISTÊNCIA. NUMERE A 2ª COLUNA NA ORDEM CORRETA, FAZENDO CORRESPONDER AS DUAS COLUNAS. AGORA, ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA A NUMERAÇÃO CORRETA: A) 2 – 5 – 1 – 4 – 3 B) 2 – 5 – 4 – 1 – 3 C) 5 – 2 – 4 – 1 – 3 D) 3 – 1 – 4 – 5 – 2 GABARITO 1. Howard Gardner desenvolveu a conhecida teoria das inteligências múltiplas. Sobre uma delas, diz Gardner: “(...) executar uma sequência mímica ou bater numa bola de tênis não é resolver uma equação matemática. E, no entanto, a capacidade de usar o próprio corpo para expressar uma emoção (como na dança), praticar um jogo (como num esporte) ou criar um produto [...] é uma evidência dos aspectos cognitivos do uso do corpo” (GARDNER, 1995, p. 24). O autor está falando de: A alternativa "D " está correta. O enunciado fala da inteligência corporal – cinestésica, habilidade do uso do corpo todo para expressar ideias e sentimentos e para produzir ou transformar objetos. Ela é responsável pelo controle dos movimentos corporais em situações e ambientes diversos. 2. Daniel Goleman fala de cinco domínios da inteligência emocional.Observe as duas colunas a seguir. A primeira traz o nome de cada domínio da inteligência emocional; a segunda apresenta o conceito de cada domínio, mas está fora de ordem. 1 – Autoconhecimento emocional 2 – Autocontrole 3 – Automotivação 4 – Empatia 5 – Sociabilidade ( ) Controle emocional, habilidade do sujeito para gerir as próprias emoções. ( ) Habilidade em relacionamentos interpessoais, aptidão social. ( ) Reconhecimento das emoções dos outros, capacidade de adotar a perspectiva do outro. ( ) Autoconsciência, melhora no reconhecimento e designação das próprias emoções. ( ) Capacidade de canalizar produtivamente as emoções, persistência. Numere a 2ª coluna na ordem correta, fazendo corresponder as duas colunas. Agora, assinale a alternativa que apresenta a numeração correta: A alternativa "B " está correta. Assim Goleman, em sua obra Inteligência emocional (1996) fala dos cinco domínios da inteligência emocional: 1 — Autoconsciência: reconhecer um sentimento quando ele ocorre — é o fundamento da inteligência emocional. 2 — Lidar com emoções: lidar com os sentimentos para que sejam apropriados é uma aptidão que se desenvolve na autoconsciência. 3 — Motivar-se: pôr as emoções a serviço de uma meta é essencial para centrar a atenção, para a automotivação e o controle, e para a criatividade. 4 — Reconhecer emoções nos outros: a empatia, outra capacidade que se desenvolve na autoconsciência emocional, é a “aptidão pessoal” fundamental. 5 — Lidar com relacionamentos: a arte de se relacionar é, em grande parte, a aptidão de lidar com as emoções dos outros. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos a Psicologia da Educação Humanista e suas principais bases teóricas. O Humanismo surgiu fazendo sérias críticas à abordagem Behaviorista, pelo seu determinismo exacerbado, e à Psicanálise, e sua ênfase nos determinantes inconscientes do comportamento humano. Caracterizada pela visão positiva do desenvolvimento humano, considera a educação um fenômeno complexo demais para ser visto apenas por uma área do conhecimento, propondo abordagens multidisciplinares. A educação exige, primordialmente, o estabelecimento de boas relações interpessoais. Dá ao aluno posição proeminente nos processos de ensino e aprendizagem. Ele, da mesma maneira que o professor, é visto, em primeiro lugar, como uma pessoa, com todas as potencialidades e necessidades dos seres humanos. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ANTUNES, M. A. M. Psicologia escolar e educacional: história, compromissos e perspectivas. In: Psicologia Escolar Educacional. Campinas, v. 12, n. 2, p. 469-475, Dec. 2008. Consultado em meio eletrônico em: 1 set. 2020. GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. GARDNER, H. Estrutura da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 1994. GOLEMAN, D. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996. LEWIN, K. Princípios de psicologia topológica. São Paulo: Cultrix; Editora da Universidade de São Paulo, 1973. MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986. NEILL, A. S. Liberdade sem medo: Summerhill. São Paulo: IBRASA, 1980. ROGERS, C. R. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1997. ROGERS, C. R. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1973. ROGERS, C. R. Liberdade de aprender em nossa década. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. ROGERS, C. R. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2008. EXPLORE+ Se você deseja aprofundar ou reforçar aspectos do conteúdo que foi desenvolvido nos módulos, seguem algumas sugestões: Leia o livro Carl Rogers, de Fred Zimring, da Editora Massangana que fala de um dos principais expoentes da Psicologia da Educação Humanista. Assista ao clássico filme Sociedade dos poetas mortos (1989), onde vários princípios da Psicologia da Educação Humanista podem ser vistos. Busque na web por palestras, debates e vídeos sobre o psicólogo Howard Gardner. Uma delas se chama Para cada pessoa um tipo de educação. CONTEUDISTA Eloiza da Silva Gomes de Oliveira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); DESCRIÇÃO Os fundamentos da Psicologia da Educação na formação de professores centrados no domínio relativo à Educação cognitivista e conectivista. PROPÓSITO Compreender a importância da Psicologia da Educação Cognitivista para a formação docente, indicando seus principais representantes e a aplicabilidade dos respectivos conceitos à prática pedagógica. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer a importância das ideias de Piaget na Psicologia da Educação Cognitivista MÓDULO 2 Definir a teoria de Vygotsky como importante movimento no Cognitivismo MÓDULO 3 Identificar o Conectivismo como uma teoria compatível com a sociedade do conhecimento e a era digital INTRODUÇÃO Vamos começar falando um pouco da Psicologia da Educação, da sua importância e de como é fundamental para os educadores estudá-la. Fonte:Shutterstock Fpnte: Veja | Shutterstock Ela é um ramo da Psicologia que, associada à Pedagogia, tem como foco o ensino e a aprendizagem, suas características, as condições ótimas para que aconteçam e também as dificuldades e os entraves que possam ser enfrentados pelos alunos e professores. Em resumo, os fatores psicológicos envolvidos na Educação. O domínio dos seus conteúdos facilita muito o trabalho do professor, o enfrentamento das situações da prática docente e a seleção das estratégias didáticas que ele vai utilizar. Nesse processo, a Psicologia da Educação atua de duas maneiras: 1 Dá ao professor os conhecimentos necessários para a compreensão do ato educativo e o diagnóstico das condições em que ocorre 2 Permite ao professor praticar a intervenção necessária para corrigir os desvios e aprimorar o ensino e a aprendizagem MÓDULO 1 Reconhecer a importância das ideias de Piaget na Psicologia da Educação Cognitivista Psicologia da Educação trata dos fundamentos psicológicos, dos processos e das consequências psíquicas que estão presentes em uma situação educativa. Uma variedade de movimentos teóricos entra no universo da formação docente e podemos dizer que, embora a Psicologia da Educação não garanta ao professor o sucesso de todas as aulas, oferece a ele uma base de conhecimentos muito valiosa para sua prática. A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO COMPREENDE, POIS, A UTILIZAÇÃO DE CONCLUSÕES OBTIDAS EM DIVERSAS ÁREAS DAS CIÊNCIAS PSICOLÓGICAS SOBRE ASSUNTOS QUE INTERESSAM ESPECIFICAMENTE À EDUCAÇÃO E À INVESTIGAÇÃO DE PROBLEMAS RELACIONADOS ÀS PESSOAS SOB AÇÃO EDUCATIVA. (GOULART, 2009, p. 14) Se os ramos da Psicologia que lidam com a Educação se multiplicam, podemos afirmar que a introdução de aspectos do Cognitivismo e do Conectivismo tornam-se marcantes nas transformações da Educação no século XX. Passando por estudos e experimentos propagados no mundo inteiro, o olhar sobre como se aprende, como é possível melhorar esse processo, marca definitivamente a história das escolas e da Educação. Iniciamos os caminhos da abordagem da escola teórica que se volta para esse estudo: a Psicologia da Educação Cognitivista. Fonte:Shutterstock NadyaEugene | Shutterstock PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO COGNITIVISTA: DE QUE ESTAMOS FALANDO? No âmbito da Psicologia da Educação, três grandes escolas teóricas têm importância: Humanismo Comportamentalismo (ou Behaviorismo) Cognitivismo O Cognitivismo surgiu na década de 1950, mas teve seu impacto no cenário da ciência aumentado na década de 1990, opondo-se ao Comportamentalismo e aos estudos do comportamento observável e as formas de modificá-lo. AO CONTRÁRIO DO COMPORTAMENTALISMO, O COGNITIVISMO ESTUDA O PENSAMENTO, A PERCEPÇÃO, A MEMÓRIA, DESEJA ANALISAR AS FORMAS COMO O SUJEITO PERCEBE O MUNDO E OS MODOS PELOS QUAIS DESENVOLVE AS FUNÇÕES COGNITIVAS. Veja alguns exemplos de funçõescognitivas a seguir: Falar Resolver problemas Memorizar Raciocinar Moreira (1999, p. 3) afirma que “a Psicologia Cognitiva preocupa-se com o processo de compreensão, transformação, armazenamento e utilização das informações, envolvida no plano da cognição”. Sternberg (2010, p.22), conhecido autor cognitivista, faz coro às palavras de Moreira, afirmando que a Psicologia Cognitiva trata do modo como as pessoas percebem, aprendem, recordam e pensam sobre a informação. Com esse campo de estudo, é fácil compreender a aproximação natural com a Educação e os processos de ensino e aprendizagem, constituindo o que chamamos de Psicologia da Educação Cognitivista. COMPARTILHANDO APRENDIZAGENS. UM PSICÓLOGO E FILÓSOFO CHAMADO JEAN PIAGET BIOGRAFIA Começaremos com um resumo da biografia de Piaget, talvez o teórico da Psicologia da Educação Cognitivista mais conhecido. Jean Piaget (1896-1980) é um dos grandes nomes da Psicologia, em especial pelos avanços promovidos na compreensão do funcionamento da inteligência da criança. Alguns professores sinalizam que a razão sai do campo da Filosofia e passa para o campo da Psicologia e, a reboque, para o campo da Educação. Fonte:Shutterstock Legenda: Jean Piaget (1896-1980), 1968. Fonte: Nbmachado. javascript:void(0) JEAN PIAGET Nascido na Suíça e marcado pelas relações familiares preponderantemente calvinistas, tinha no pai, professor universitário de Literatura medieval, o impulso para seu desenvolvimento acadêmico. Uma curiosidade é que Piaget foi considerado, em sua época, um prodígio, com a impressionante marca de ter publicado um texto sobre sua observação do pardal albino, aos 11 anos de idade. Formou-se em Biologia e Filosofia, tendo se doutorado com apenas 22 anos. Já na França, passou ao modismo dos estudos de testes sobre as crianças na busca típica pelo padrão dos moldes do início do século XX. Na França, enquanto participava de estudos de testes sobre as crianças, começou a perceber, pela primeira vez, “padrões de desenvolvimento” – crianças da mesma idade cometiam erros semelhantes. ATUALMENTE PODE PARECER CORRIQUEIRO, MAS PIAGET PASSOU MUITO TEMPO TENTANDO ENTENDER COMO FUNCIONAM AS ESTRUTURAS DO RACIOCÍNIO, EM ESPECIAL DAS CRIANÇAS, E COMO O DESENVOLVIMENTO DE SEU APRENDIZADO PODERIA SER MELHORADO. A pergunta que o movia era: SERÁ QUE PODEMOS FASEAR AS FORMAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL? Fonte:Shutterstock Fonte: Syda Productions | Shutterstock Isso vinha sendo tentado “cientificamente” em muitos centros. Mas Piaget tinha um grande problema de pesquisa em suas mãos. Foi então que, em 1919, Piaget mergulhou na “fronteira final”, ao menos naquele momento, da anatomia humana: dedicou-se a entender as bases da mente humana; foi um marco em sua vida. Piaget iniciou seus estudos experimentais e começou a pesquisar o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de Biologia levou-o a enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como uma evolução gradativa. COMENTÁRIO Você pode imaginar que tipo de testes eram feitos e se podiam ou não colocar as crianças em risco; boa parte das teorias de Piaget foram baseadas em estudos e observações sobre seus filhos, que ele realizou ao lado de sua esposa. Piaget lecionou nas principais universidades do mundo, como a Sorbonne, em Paris; fundou um centro internacional de Epistemologia genética; e, ao longo de sua vida, publicou muito deixando uma enorme contribuição para diversos campos do saber como a Psicologia e Pedagogia. PRINCIPAIS ESTUDOS DE PIAGET É NECESSÁRIO “(...) LEVAR A CRIANÇA A REINVENTAR AQUILO DE QUE É CAPAZ, AO INVÉS DE SE LIMITAR A OUVIR E REPETIR (...)”. (PIAGET, 1998, p. 17) Estágios do desenvolvimento cognitivo do ser humano. Piaget fala de quatro estágios, em que cada um engloba o anterior e o amplia: autor/shutterstock SENSÓRIO-MOTOR autor/shutterstock PRÉ-OPERATÓRIO autor/shutterstock OPERATÓRIO CONCRETO autor/shutterstock OPERATÓRIO FORMAL SENSÓRIO-MOTOR 0 a 24 meses Conhecimento do mundo por meio dos órgãos, dos sentidos e dos movimentos. No fim desse estágio surgem as primeiras operações mentais. PRÉ-OPERATÓRIO 2 a 6 anos A criança já utiliza símbolos, imagens, números, palavras para representar o mundo. O pensamento é imediato e egocêntrico, autocentrado. OPERATÓRIO CONCRETO 7 a 11 anos A criança já possui operações lógicas e as utiliza para conhecer a realidade e explicar os fenômenos. Essas operações precisam de objetos concretos para serem realizadas. OPERATÓRIO FORMAL Adolescência em diante A partir desse momento, os indivíduos realizam abstrações, formulam hipóteses, planejam, deduzem e imaginam soluções para os problemas. Vamos assistir ao vídeo para entender melhor as teorias de Piaget! Podemos resumir esse ciclo de desenvolvimento cognitivo da seguinte forma: Percepção e ação para conhecer o mundo Representação do mundo por meio de símbolos Operações concretas e formais para solucionar problemas SAIBA MAIS Provas Piagetianas Fonte:Shutterstock Fonte: NadyaEugene | Shutterstock Segundo Piaget, é possível avaliar o desenvolvimento cognitivo da criança e conseguir identificar as fases em que ela se encontra nesse desenvolvimento cognitivo. Para isso, ele não utilizou os testes de inteligência existentes, mas criou testes para essas pesquisas: as chamadas Provas Piagetianas de classificação, seriação, espaço, entre outras. Para isso, usou materiais variados: papel, massa de modelar, blocos e palitos de madeira, líquido colorido, e propôs desafios e questões às crianças avaliadas. Desenvolvimento da linguagem. Neste segundo estudo, Piaget considera que a linguagem é produto do desenvolvimento cognitivo do homem, já que é antecedida pela inteligência sensório-motora. Da mesma maneira que o desenvolvimento das operações mentais, o desenvolvimento da linguagem passa por etapas. Observe a linha de tempo do desenvolvimento da linguagem de uma criança. autor/shutterstock LINGUAGEM PRÉ-VERBAL 2 a 10 meses autor/shutterstock LINGUAGEM EGOCÊNTRICA 10 meses a 6 anos autor/shutterstock LINGUAGEM SOCIALIZADA A partir dos 6 anos Desenvolvimento moral. É o terceiro estudo importante de Piaget. Você já percebeu que, para o cientista, tudo acontece de acordo com o desenvolvimento das operações mentais? Fonte:Shutterstock Fonte: ShineTerra | Shutterstock O mesmo ocorre com a moralidade, a relação da criança com as normas e regras. É a partir da interação com pessoas e ambientes que a criança constrói seus valores, princípios e suas normas morais. ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO MORAL ANOMIA javascript:void(0) Característica da criança pequena; ausência da noção de regras; a moral ainda está fora do universo infantil. HETERONOMIA MORAL A criança toma consciência do que pode ou não fazer, mas por meio de regras que vêm do mundo externo, de início compreendidas e aplicadas de forma egocêntrica. AUTONOMIA MORAL Consciência da existência de regras e de que suas aplicações, assim como os julgamentos morais, devem estar fundamentadas em cooperação e respeito mútuos. Para finalizar, vamos “ouvir” Piaget. AFIRMAR O DIREITO DA PESSOA HUMANA À EDUCAÇÃO É POIS ASSUMIR UMA RESPONSABILIDADE MUITO MAIS PESADA QUE A DE ASSEGURAR A CADA UM A POSSIBILIDADE DA LEITURA DA ESCRITA E DO CÁLCULO: SIGNIFICA, A RIGOR, GARANTIR PARA TODA A CRIANÇA O PLENO DESENVOLVIMENTO DE SUAS FUNÇÕES MENTAIS E A AQUISIÇÃO DOS CONHECIMENTOS, BEM COMO DOS VALORES MORAIS QUE CORRESPONDAM AO EXERCÍCIO DESTAS FUNÇÕES, ATÉ A ADAPTAÇÃO À VIDA SOCIAL ATUAL. (PIAGET, 1998, p. 34). javascript:void(0) javascript:void(0) Joa Souza | Shutterstock ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO Para Piaget, a criança se desenvolve cognitivamente por meio de sucessivas equilibrações diante dos desafios, problemas, das questões que incitam a curiosidade (ou desequilíbrios) que a realidade lhe apresenta. Essas equilibrações ocorrem por meio de doisprocessos: Assimilação Tendência dos esquemas mentais que já possui para assimilar coisas novas que a realidade apresenta Acomodação Tendência contrária, dos esquemas mentais se modificarem para atender aos novos conteúdos e experiências Imagine que uma criança esteja aprendendo a reconhecer animais: Até o momento, o único animal que ela conhece, e tem representado mentalmente, é o cachorro. Assim, podemos dizer que a criança possui, em sua estrutura cognitiva, um esquema mental para o cachorro. Quando apresentamos a esta criança, outro animal, como um cavalo, com características semelhantes (corpo coberto por pelo, quatro patas, rabo etc.), ela chamará o cavalo de cachorro, tentando fazer uma assimilação do novo conceito aos esquemas mentais que possui. Quando corrigida por um adulto, afirmando que se trata de um cavalo e não de um cachorro, a criança acomodará aquele estímulo a uma nova estrutura cognitiva, criando um novo esquema mental. Essa criança tem, agora, um esquema para o conceito de cachorro e outro para o conceito de cavalo. Essa é a definição de acomodação, dada por PIAGET (1996, p. 18); chamaremos acomodação (por analogia com os "acomodatos" biológicos) toda modificação dos esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores (meio) ao quais se aplicam. RESUMINDO Assimilação é o processo mental pelo qual se incorporam os dados das novas experiências aos esquemas mentais existentes. É um movimento de integração do meio ao organismo. Acomodação é o processo mental pelo qual os esquemas mentais existentes serão modificados, em função de novas experiências do meio. É um movimento de adequação do organismo ao meio. Vamos analisar dois relatos como exemplos: FONTE:SHUTTERSTOCK FONTE:SHUTTERSTOCK “Acho que consigo pensar essa questão na minha aula. Ensino Matemática e noto que quando apresento a dinâmica dos números inteiros saindo dos números naturais, a turma sofre. Uma vez, vi um professor chegando com encartes de mercado, perguntei o que era aquilo e ele respondeu que era para fazer a aula, que era meu ‘calo’. Ele distribuiu, fez uma brincadeira dando um orçamento por grupo para fazer uma festa, os grupos podiam pedir empréstimo uns ao outros, faziam uma coisa ‘doida’; quando faziam resumo, os grupos sabiam seu gasto, sabiam quanto estavam devendo e o professor dizia que só iria ensinar a eles a ler o que eles sabiam. Poxa, ele tinha resultados muito melhores que do eu!” “Faço isso em História, vi em uma série de TV, tinha que contar sobre uma guerra, eles não entendiam nada, percebi que um garoto fez uma “apropriação” com os termos que ele conhece, reconhecendo as coisas, rolou interesse. A prova foi uma loucura, um tal de ‘dono do morro’, ‘boca de fumo’, mas sabe que eles entenderam?!” VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. MARCO ANTÔNIO MOREIRA (1999) APRESENTA TRÊS PARADIGMAS TEÓRICO-FILOSÓFICOS PARA O ESTUDO DA APRENDIZAGEM: O COMPORTAMENTALISMO (BEHAVIORISMO), O HUMANISMO E O COGNITIVISMO. SÃO PONTOS FUNDAMENTAIS PARA O COGNITIVISMO: A) Ensino centrado no aluno e autorrealização. B) Estudo do pensamento, da percepção, da memória. C) Modelagem do comportamento, reforço e condicionamento. D) Autenticidade, compreensão empática. E) Uso do insight rápido e as interpretações daquilo para entender. 2. JEAN PIAGET FOI UM IMPORTANTE TEÓRICO DA PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO COGNITIVISTA, COM SEUS ESTUDOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA. LEIA COM ATENÇÃO O TEXTO A SEGUIR, SOBRE O DESENVOLVIMENTO DAS OPERAÇÕES MENTAIS DA CRIANÇA: “NESTE ESTÁGIO, QUE VAI DO NASCIMENTO ATÉ APROXIMADAMENTE OS DOIS ANOS DE IDADE, O CONHECIMENTO DO MUNDO PELA CRIANÇA SE DÁ ATRAVÉS DOS ÓRGÃOS DOS SENTIDOS E DOS MOVIMENTOS, SURGINDO AO FINAL AS PRIMEIRAS OPERAÇÕES MENTAIS. NO DECORRER DO PERÍODO, O SER HUMANO ESTABELECE AS BASES FUNDAMENTAIS PARA A CONSTRUÇÃO DAS PRINCIPAIS CATEGORIAS DO CONHECIMENTO, QUE OCORRERÁ DEPOIS.” ASSINALE A ALTERNATIVA QUE INDICA ESSE ESTÁGIO. A) Estágio operatório formal. B) Estágio sensório motor. C) Estágio de assimilação e acomodação. D) Estágio operatório concreto. E) Estágio de incompreensão estrutural. GABARITO 1. Marco Antônio Moreira (1999) apresenta três paradigmas teórico-filosóficos para o estudo da aprendizagem: o Comportamentalismo (Behaviorismo), o Humanismo e o Cognitivismo. São pontos fundamentais para o Cognitivismo: A alternativa "B " está correta. A opção correta é B, o Cognitivismo visa rediscutir, entender as dinâmicas do pensamento humano. Busca notar o que é típico e atípico, recorrente e exceção, a fim de entender sobre o pensamento, a percepção, a memória; deseja fundamentalmente dar vazão à lógica de sujeito, sendo capaz de articular e utilizar seus conhecimentos e suas funções cognitivas para tal. As opções A, D, e E trazem princípios da Psicologia da Educação Humanista, cujo principal teórico foi Carl Rogers. Alguns dos princípios dessa abordagem são: o aluno é o centro do processo educativo, ninguém ensina a ninguém, apenas facilita a aprendizagem do outro; as pessoas aprendem quando isso mantém ou melhora a estrutura do seu ser (self), a autopercepção e a autoestima; o facilitador da aprendizagem (não é utilizado o termo professor) deve ter qualidades de autenticidade e compreensão empática do outro. A resposta C faz referência ao Comportamentalismo, tendo como foco os aspectos observáveis do comportamento humano. Concebe a aprendizagem como modificação do comportamento, modelado e condicionado pela utilização de reforços, estímulos apresentados ou retirados depois que o comportamento é manifestado, com o objetivo de fazer com que ele aumente ou diminua a frequência com que é apresentado. 2. Jean Piaget foi um importante teórico da Psicologia da Educação cognitivista, com seus estudos sobre o desenvolvimento da criança. Leia com atenção o texto a seguir, sobre o desenvolvimento das operações mentais da criança: “Neste estágio, que vai do nascimento até aproximadamente os dois anos de idade, o conhecimento do mundo pela criança se dá através dos órgãos dos sentidos e dos movimentos, surgindo ao final as primeiras operações mentais. No decorrer do período, o ser humano estabelece as bases fundamentais para a construção das principais categorias do conhecimento, que ocorrerá depois.” Assinale a alternativa que indica esse estágio. A alternativa "B " está correta. A opção A corresponde à adolescência em diante, quando os indivíduos se tornam mais conscientes do sentimento dos outros e da realidade, com a superação total do egocentrismo. Tornam-se capazes de pensar abstratamente, superando o concreto, formular hipóteses, planejar, deduzir e imaginar soluções para os problemas. Assimilação e acomodação, apresentadas na opção C, não constituem um estágio do desenvolvimento cognitivo. A criança interage com o mundo, os novos objetos e situações, por meio de equilibrações, que ocorrem por dois processos: a assimilação e a acomodação são processos permanentes nos esquemas mentais, uma vez que buscam entender a dinâmica dos pensamentos a partir de esquemas; além, também, da tendência contrária, dos esquemas mentais ser reordenarem para acomodar as novas experiências. A opção D faz referência ao período entre aproximadamente 7 a 11 anos, fase da escolarização, em que a criança utiliza as operações lógicas que já possui, mas necessita de objetos concretos e situações reais para apoiá-las. A criança não pensa em termos abstratos, nem raciocina a respeito de proposições verbais ou hipotéticas. Já a opção E não deixa a estrutura de conceito em negativa se afastando da proposta apontada. MÓDULO 2 Definir a teoria de Vygotsky como importante movimento no Cognitivismo No módulo anterior, além de ressaltar a importância do estudo da Psicologia da Educação, essencial para a formação e para a prática do professor, apresentamos o Cognitivismo, um dos três movimentos teóricos fundamentais da Psicologia, junto com o Humanismo e o Comportamentalismo.Tendo como foco a cognição, os processos de compreensão, a transformação, o armazenamento e a utilização das informações, o Cognitivismo foi rapidamente incorporado aos estudos pedagógicos, constituindo a Psicologia da Educação Cognitivista. Reconhecemos um grande estudioso dessa área: o psicólogo e filósofo suíço Jean Piaget. Dos seus estudos, selecionamos três fundamentais e muito conhecidos: Teoria dos estágios do desenvolvimento das operações mentais Teoria do desenvolvimento da linguagem Teoria do desenvolvimento da moralidade Vamos tratar, neste módulo, do psicólogo russo Vygotsky e de alguns dos seus seguidores mais importantes. Você vai gostar e aproveitar muito o conteúdo! QUEM FOI VYGOTSKY? Vygotsky foi, durante muito tempo, um ilustre desconhecido para o Ocidente. Nascido em meio à consolidação da crise do czarismo e do estabelecimento da URSS, conclui seus estudos no momento em que se concretizam as mudanças. Atravessa, como intelectual e acadêmico, as crises da Segunda Guerra Mundial e as tensões da Guerra Fria e, apesar de morrer relativamente jovem, seu legado na Universidade de Moscou deixou uma linha de pesquisa fundamental e que se encontraria, tempos depois, com os estudos e desenvolvimentos de outros autores da Psicologia da Educação ocidental. javascript:void(0) Legenda: Lev Semyonovich Vygotsky, autor desconhecido, 1925. Fonte: Inritter. TENSÕES DA GUERRA FRIA Por causa das características da tensão do mundo da Guerra Fria, sabemos pouco de seus feitos acadêmicas. Fruto do forte investimento soviético no campo da Educação e do valor dado aos professores universitários e ao desenvolvimento da criança, sabe-se de sua relevância em um importante congresso em Leningrado e de sua atuação em pesquisas que versavam principalmente sobre o desenvolvimento infantil, as doenças psicológicas, formulando a teoria que o deixaria famoso, associando aspectos da socialização com elementos de cognição e seus impactos psicológicos. SAIBA MAIS Fonte:Shutterstock Legenda: Soldados armados carregam uma faixa com os dizeres "Comunismo", Moscou, 1917. Fonte: Underlying lk. Vygotsky apoiou fortemente a Revolução Russa de 1917, que implantou o regime comunista no país. Com a ascensão de Josef Stalin (1878-1953) ao poder, em 1924, o ambiente cultural na Rússia ficou progressivamente limitado e Vygotsky se indispôs com o regime stalinista, foi preso por subversão e, mais tarde, exilado na Sibéria. Fonte:Shutterstock Legenda: Stalin, Lenin e Kalinin, no VIII Congresso do Partido Comunista da União Soviética, 1919. Fonte: E rulez. Suas ideias foram repudiadas pelo governo soviético e as obras de sua autoria foram proibidas na União Soviética, entre 1936 e 1958, pela censura do regime totalitário russo. Essa proibição fez com que sua obra Pensamento e linguagem só fosse lançada no Brasil em 1962; e A formação social da mente, em 1984, quando o autor começou a ser conhecido em nosso país e estudado nas nossas universidades. ALGUNS CONCEITOS DE VYGOTSKY QUE NOS PERMITEM AFIRMAR QUE ELE É UM TEÓRICO COGNITIVISTA O pensamento cognitivista russo, representado por Vygotsky e seus seguidores, teve forte influência no pensamento educacional brasileiro, na década de 1980, correspondendo à abertura política pós-ditadura militar. Fonte:Shutterstock Legenda: Manifestações pelas eleições diretas para a presidência da República no Plenário da Câmara dos Deputados, Célio Azevedo, 1984. Fonte: Tm. COMENTÁRIO Uma das dificuldades da chegada do pensamento do autor ao Brasil não se dá pela qualidade de sua teoria, mas por fatores ideológicos. A obra de Vygotsky só recebeu a valorização que merecia após a amenização da crise ideológica (Capitalismo Liberal x Comunismo) e do medo de que as bases do pensamento comunista pudessem estar sob o pensamento de qualquer russo. Outra maneira de ver a Psicologia da Educação relacionada ao mundo é um dos principais legados trazidos pelo autor. Vygotsky considera as influências do mundo na formação do Cognitivismo. Vygotsky tem como foco os processos psicológicos chamados de superiores, presentes nos seres humanos, determinados histórica e culturalmente: atenção e memória, raciocínio, capacidade de planejamento, pensamento abstrato, entre outros e, fundamentalmente, a linguagem. Mais cognitivista que isso, é impossível! “CHEGAMOS À CONCLUSÃO DE QUE O MEIO NÃO PODE SER ANALISADO POR NÓS COMO UMA CONDIÇÃO ESTÁTICA E EXTERIOR COM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO, MAS DEVE SER COMPREENDIDO COMO VARIÁVEL E DINÂMICO. ENTÃO O MEIO, A SITUAÇÃO DE ALGUMA FORMA INFLUENCIA A CRIANÇA, NORTEIA O SEU DESENVOLVIMENTO. MAS A CRIANÇA E O SEU DESENVOLVIMENTO SE MODIFICAM, TORNAM-SE OUTROS. E NÃO APENAS A CRIANÇA SE MODIFICA, MODIFICA-SE TAMBÉM A ATITUDE DO MEIO PARA COM ELA, E ESSE MESMO MEIO COMEÇA A INFLUENCIAR A MESMA CRIANÇA DE UMA NOVA MANEIRA. ESSE É UM ENTENDER DINÂMICO E RELATIVO DO MEIO – É O QUE DE MAIS IMPORTANTE SE DEVE EXTRAIR QUANDO SE FALA SOBRE O MEIO NA PEDOLOGIA.” (VIGOTSKI, [1935], 2010) Para entender melhor, vamos aos principais conceitos de Vygotsky: autor/shutterstock MEDIAÇÃO autor/shutterstock INTERAÇÃO autor/shutterstock INTERNALIZAÇÃO autor/shutterstock ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL (ZDP) MEDIAÇÃO O homem é sempre sujeito do conhecimento, mas, para ter acesso a ele, necessita da mediação feita por vários entes: o conhecimento construído pelas gerações anteriores; os instrumentos físicos; os instrumentos simbólicos, como a linguagem, e outros seres humanos. Na escola, por exemplo, os professores e os colegas são agentes mediadores para a construção de novos conhecimentos. INTERAÇÃO Para Vygotsky, o homem está em constante relacionamento com o mundo que o cerca. São as trocas sociais ou interações, principalmente com os outros seres humanos, que possibilitam a aprendizagem e o desenvolvimento. Opondo-se ao inatismo, afirma que, por meio das interações sociais, o indivíduo modifica o mundo (social e físico) e, ao mesmo tempo, é transformado pelo mundo. Segundo o autor, o ser humano não é somente “produto do meio”, mas também construtor do mundo. INTERNALIZAÇÃO O desenvolvimento cognitivo é um processo de internalização, pelo indivíduo, das experiências sociais. Essa apropriação acontece por meio das funções mentais. Assim, as funções psicológicas superiores do ser humano aparecem duas vezes na vida: primeiro, na relação com outras pessoas (interpessoalmente) e, depois, no interior da própria pessoa (intrapessoalmente), elas são internalizadas. ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL (ZDP) A Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação; funções que amadurecerão, mas que estão, presentemente, em estado embrionário (VYGOTSKY, 1999, p. 97). Trata-se, então, da distância entre o nível de desenvolvimento real de uma pessoa, já adquirido ou formado, expresso, por exemplo, pela capacidade de resolver independentemente um problema; e o nível de desenvolvimento potencial, expresso pela capacidade de resolver um problema sob a orientação ou em colaboração com outra pessoa. Fonte:Shutterstock Fonte: ProStockStudio | Shutterstock DOIS TIPOS DE CONCEITOS Por meio da experiência pedagógica, aprendemos que o ensino direto de conceitos sempre se mostra impossível e pedagogicamente estéril. O professor que envereda por esse caminho costuma não conseguir senão uma assimilação vazia de palavras, um verbalismo puro e simples que estimula e imita a existência dos respectivos conceitos na criança, mas, na prática, esconde o vazio. EM TAIS CASOS, A CRIANÇA NÃO ASSIMILA O CONCEITO, MAS A PALAVRA; CAPTA MAIS DE MEMÓRIA DO QUE DE PENSAMENTO E SENTE-SE IMPOTENTE DIANTE DE QUALQUER TENTATIVA DE EMPREGO CONSCIENTE DO CONHECIMENTO ASSIMILADO. No fundo, esse método de ensino de conceitos é a falha principal do rejeitado método puramente escolástico de ensino, que substitui a apreensãodo conhecimento vivo pela apreensão de esquemas verbais mortos e vazios (VYGOTSKY, 2001, p. 247). Vygotsky abordava, no estudo do desenvolvimento cognitivo do homem, dois tipos de conceitos: autor/shutterstock ESPONTÂNEOS (COTIDIANOS) Desenvolvidos na experiência pessoal, cotidiana e concreta da criança. Exemplo Nas atividades práticas, a criança adquire a noção de comida, alimento, como um conceito espontâneo. autor/shutterstock CIENTÍFICOS Adquiridos por meio do ensino sistemático, compõem o sistema organizado de conhecimentos. Exemplo Na escola, ela aprende os conceitos científicos relacionados ao valor nutricional dos alimentos. Finalizando, vamos “ouvir” Vygotsky! DESDE OS PRIMEIROS DIAS DO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA, SUAS ATIVIDADES ADQUIREM UM SIGNIFICADO PRÓPRIO EM UM SISTEMA DE COMPORTAMENTO SOCIAL, E SENDO DIRIGIDAS A OBJETIVOS DEFINIDOS, SÃO REFRATADAS ATRAVÉS DO PRISMA DO AMBIENTE DA CRIANÇA. O CAMINHO DO OBJETO ATÉ A CRIANÇA E DESTA ATÉ O OBJETO PASSA ATRAVÉS DE OUTRA PESSOA. ESSA ESTRUTURA HUMANA COMPLEXA É O PRODUTO DE UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO PROFUNDAMENTE ENRAIZADO NAS LIGAÇÕES ENTRE HISTÓRIA INDIVIDUAL E HISTÓRIA SOCIAL. (VYGOTSKY, 1989, p. 33) autor/shutterstock LURIA E LEONTIEV, PRINCIPAIS SEGUIDORES DE VYGOTSKY Os trabalhos de Vygotsky constituíram uma escola de pensamento cognitivista na Rússia, mesmo com suas obras proibidas durante tanto tempo. Dois dos seus mais conhecidos seguidores, que concretizaram a linha de estudos do desenvolvimento e da aprendizagem do homem conhecida como Pensamento Sócio-Histórico, foram: autor/shutterstock ALEXANDER ROMANOVICH LURIA (1902-1977) autor/shutterstock ALEXEI LEONTIEV (1903-1979) Luria foi convidado, em 1924, a fazer parte do corpo de jovens cientistas do Instituto de Psicologia de Moscou. Lá, conheceu Vygotsky e se associou a Leontiev com o objetivo de estabelecer um novo recorte da Psicologia, relacionando os processos psicológicos com aspectos culturais, históricos e instrumentais, enfatizando o papel fundamental da linguagem. Vamos analisar o relato a seguir: “Em História, noto muito isso, alguns assuntos que eu amo, como Renascimento e Iluminismo, não consigo despertar os pontos, a dinâmica, falando de poesia, galerias, Europa, do que já vi [...] e o aprendizado não se sustenta, fico bravo porque não me dão atenção! Aí, na aula de escravidão quando inicio a falar de profissões, resistência, começo a falar de mãe, de alforria [...], eles vão sendo despertados, querem entender [...], falo da lutas e de um monte de coisas, há uma comunidade histórica, com forte presença negra. Então, eles falam dos avós, das dificuldades da comunidade; vou dando liberdade e eles vão construindo novos discursos que eu – que sou de outra região e tenho outra cor – nunca tinha imaginado. Acho que se considerar um pouco mais posso ter resultados melhores! Com base no conhecimento adquirido até aqui, responda qual seria a justificativa para o relato do professor: RESPOSTA Não sabemos se é só interesse, talvez o processo seja pensar as dinâmicas do desenvolvimento, e de cada fase do desenvolvimento, e associar seu desenvolvimento com a dinâmica de desenvolvimento social. Lembra a fase do tênis, amarrar o tênis não é um processo natural do desenvolvimento; a autonomia para determinadas ações em uma fase, é. Os alunos que moram em uma parte alta da cidade sabem o que é um morro, uma elevação, brincam com a ideia de montanha, a diferença vai ser que cada fase do desenvolvimento – que acontece e é mensurado pela demanda e pelo amadurecimento —,manifesta-se e é observado de modo a perceber o desenvolvimento e, nesse princípio, o professor é fundamental, para entender o que é parte do desenvolvimento, adequar e difundir, mediar. Vamos assistir ao vídeo para entender melhor essa questão! javascript:void(0) VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. LEIA O TEXTO COM ATENÇÃO: “NORMALMENTE, QUANDO NOS REFERIMOS AO DESENVOLVIMENTO DE UMA CRIANÇA, O QUE BUSCAMOS COMPREENDER É ATÉ AONDE A CRIANÇA JÁ CHEGOU, EM TERMOS DE UM PERCURSO QUE, SUPOMOS, SERÁ PERCORRIDO POR ELA. ASSIM, OBSERVAMOS SEU DESEMPENHO EM DIFERENTES TAREFAS E ATIVIDADES, COMO, POR EXEMPLO: ELA JÁ SABE ANDAR? JÁ SABE AMARRAR SAPATOS? JÁ SABE CONSTRUIR UMA TORRE COM CUBOS DE DIVERSOS TAMANHOS? QUANDO DIZEMOS QUE A CRIANÇA JÁ SABE REALIZAR DETERMINADA TAREFA, REFERIMO-NOS À SUA CAPACIDADE DE REALIZÁ-LA SOZINHA. POR EXEMPLO, SE OBSERVAMOS QUE A CRIANÇA JÁ SABE AMARRAR SAPATOS, ESTÁ IMPLÍCITA A IDEIA DE QUE ELA SABE AMARRAR SAPATOS, SOZINHA, SEM NECESSITAR DE AJUDA DE OUTRAS PESSOAS” (OLIVEIRA, 1995, P. 58). NO TEXTO, TEMOS A DESCRIÇÃO DE UM DOS CONCEITOS ENUNCIADOS POR VYGOTSKY, AO ESTUDAR O DESENVOLVIMENTO HUMANO. ESSE CONCEITO É: A) Desenvolvimento real B) Fase egocêntrica da linguagem C) Zona de desenvolvimento proximal D) Desenvolvimento potencial E) Conectivismo cognitivo 2. SEGUNDO REGO (2009, P.93), “VYGOTSKY, INSPIRADO NOS PRINCÍPIOS DO MATERIALISMO DIALÉTICO, CONSIDERA O DESENVOLVIMENTO DA COMPLEXIDADE DA ESTRUTURA HUMANA COMO UM PROCESSO DE APROPRIAÇÃO PELO HOMEM DA EXPERIÊNCIA HISTÓRICA E CULTURAL.” SOBRE A TEORIA DE VYGOTSKY, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) Vygotsky tem uma concepção inatista de que a criança nasce já pronta e só espera o amadurecimento se manifestar, reagindo às pressões do meio. B) Os níveis de desenvolvimento real (aquilo que a criança é capaz de fazer sozinha) e potencial (aquilo que a criança só é capaz de fazer com a ajuda de outro indivíduo) independem da interação com o meio social. C) A criança, ao chegar à escola, já traz uma bagagem de conceitos científicos, que são apenas elaborados e aprimorados pela ação educativa intencional. D) Seus estudos se fundamentam no método e nos princípios teóricos do materialismo histórico- dialético, com forte influência marxista. E) Conectivismo dialoga com as teorias cognitivistas, sendo sua face de proximidade com a Educação. GABARITO 1. Leia o texto com atenção: “Normalmente, quando nos referimos ao desenvolvimento de uma criança, o que buscamos compreender é até aonde a criança já chegou, em termos de um percurso que, supomos, será percorrido por ela. Assim, observamos seu desempenho em diferentes tarefas e atividades, como, por exemplo: ela já sabe andar? Já sabe amarrar sapatos? Já sabe construir uma torre com cubos de diversos tamanhos? Quando dizemos que a criança já sabe realizar determinada tarefa, referimo-nos à sua capacidade de realizá-la sozinha. Por exemplo, se observamos que a criança já sabe amarrar sapatos, está implícita a ideia de que ela sabe amarrar sapatos, sozinha, sem necessitar de ajuda de outras pessoas” (OLIVEIRA, 1995, p. 58). No texto, temos a descrição de um dos conceitos enunciados por Vygotsky, ao estudar o desenvolvimento humano. Esse conceito é: A alternativa "A " está correta. A opção B fala de um conceito piagetiano, o de linguagem egocêntrica. Segundo Piaget, a linguagem egocêntrica é uma das expressões da função simbólica da criança, que surge em torno dos três anos. É uma linguagem baseada em si mesma, sem função comunicativa com os demais.. Quando chega aos seis ou sete anos, a criança abandona o pensamento e a linguagem egocêntricos, surgindo o pensamento lógico concreto e desenvolvendo os aspectos comunicativos da linguagem. A ZDP, mencionada na opção C, é definida por Vygotsky como a distância entre o nível real de desenvolvimento, capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, capacidade da resolução de um problema sob a orientação de um adulto ou em colaboração com outro companheiro mais experiente. Finalmente, o desenvolvimento potencial (opção D) foi descrito acima: ele é expresso pela capacidade de resolução e problemas, estimulados pelo mediador. 2. Segundo Rego (2009, p.93), “Vygotsky, inspirado nos princípios do materialismo dialético, considera o desenvolvimento da complexidade da estrutura