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PREFÁCIO
Estas primeiras palavras são, talvez, parte de um primeiro con-
tato entre você e a Casa do Saber. Ou são um passo a mais em 
uma aproximação que finalmente aconteceu. De uma forma 
ou de outra, saiba que estamos felizes e agradecemos por ter 
você por perto. Saiba que será um prazer acompanhar você ao 
longo de suas jornadas de conhecimento e conte conosco para 
celebrar as vitórias e ajudar em qualquer desafio. Para falar mais 
objetivamente sobre este e-book, ele é um compilado dos ma-
teriais complementares de cursos realizados com a professora 
Maytê Carvalho (“A Arte de Comunicar: Persuasão, Negociação 
e Oratória”, 2021), Pedro de Santi (“Vida Conectada: O Que Está 
Em Jogo e Como Somos Afetados”, 2020) e o professor Clóvis 
de Barros Filho (“Por Uma Vida Bem Vivida”, 2020; e “Manual 
Filosófico Para Viver Melhor”, 2021). Você fará uma imersão, 
portanto, em um panorama amplo de filosofia, psicanálise e co-
municação. Apesar de eles não substituírem o acompanhamen-
to das aulas, você encontrará alguns recursos e provocações 
que certamente vão evidenciar a pista básica de que você está 
no caminho certo: o surgimento de ainda mais perguntas e a 
sensação de que ainda há muito mais para conhecer. 
A dúvida é um primeiro motor poderoso para o conhecimento 
e, por mais que nem sempre seja capaz de nos levar na direção 
que queremos, ainda é o método mais eficaz para essa finali-
dade. Certezas raramente nos movimentam e com frequência 
podem nos fazer reféns de maneiras limitantes de existir. Ao 
ler esta linha você pode se perguntar (ou já ter se perguntado) 
“tudo bem, mas como estas diferentes ideias podem me aju-
dar com uma dor de agora?” Esta é uma pergunta totalmente 
legítima e que, creio eu, todos que se propuseram a enfrentar a 
área de “humanidades” já se fizeram. O pensador anglo-ganês 
Kwame Anthony Appiah usa uma metáfora que ilustra bem uma 
resposta. Imagine-se perdido em uma grande cidade, cada vez 
mais fundo no labirinto de ruas, e você quer saber onde está. 
Para isso, sobe em um observatório e olha a cidade de cima. De 
repente, o mapa começa a fazer sentido: ali onde você deveria 
ter virado à direita e virou à esquerda, lá a loja com o gato na 
janela, apenas poucas quadras do jardim que você só encon-
trou depois. Ao voltar para o labirinto, você anda com muito 
mais confiança. Por mais que você não tenha sido visitado por 
questões mais “existenciais”, não pense que este tipo de saber 
não é para você: muitos dos desafios que nos confrontam no 
dia a dia são superados mais facilmente se antes visitamos as 
ideias mais fundamentais. Estes aprendizados ampliam nossa 
capacidade de pensar sobre a vida que levamos e o que impor-
ta nela. 
Desejamos boas leituras, bons estudos e deixamos um con-
selho: persista. A proposta da Casa do Saber é, desde sua 
fundação, reunir aprendizado e prazer. Faz parte de uma reflex-
ão madura, no entanto, entender que o conhecimento exige 
de nós uma série de investimentos – tempo, atenção, ener-
gia, entrega e desprendimento. É possível até mesmo que o 
processo cause desconfortos, mas a recompensa por isso é 
insubstituível. Este compromisso deve ser reafirmado constan-
temente, mas é um preço baixo a se pagar por um contato com 
ideias, conceitos e propostas que são capazes de levar você 
para mais perto de si e do mundo. Esperamos que este conta-
to seja repleto de novas descobertas e estimule você a seguir 
adiante em um caminho que leva a diferentes perspectivas e 
que permitirá você a construir a sua própria, de forma muito 
mais fundamentada e autêntica.
GUILHERME PERES 
Head de curadoria 
VIDA CONECTADA: 
COMO VIVER MELHOR 
NO MUNDO ON–LINE
com Pedro De Santi
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Aula 1
Quais os impactos da hiperconectividade e das relações interligadas 
na transformação da complexidade humana? O que a psicanálise tem 
a dizer a respeito? Compreender tais ambivalências, numa tentativa 
de perceber as dimensões conflitivas dessas transformações é o fio 
condutor desse diálogo.
Este evento que estamos vivenciando, propiciado pela internet, só pode ser 
comparado, em sua medida, com a invenção da escrita ou do livro, com uma 
diferença muito grande entre si: a velocidade que estas invenções tecno 
informacionais chegam à sociedade. Estamos vivenciando tal processo em 
seu desenvolvimento pleno.
Levando em consideração que a tecnologia nasce e se estabelece para 
nos poupar de certas funções laborais, é importante destacar que ela levanta 
inúmeras dúvidas, uma vez que sua essência é tornar-se obsoleta. Aqui 
encontramos seu elemento nevrálgico: a contradição e a ambivalência. 
Em “Fedro”, Platão nos conta a história de um Faraó que ao se deparar 
com a invenção da escrita demonstra certa resistência, pois crê que tal 
tecnologia seria a causa do “esquecimento das mentes que a utilizarão”. 
Esse exemplo demonstra como muitas vezes a transformação do real é 
recebida criticamente, representando um temor diante do novo e da 
transformação da natureza. O ser humano só existe graças à mutação 
da natureza, do avanço tecnológico, do fogo, do arado, dos meios de r 
esistência. Uma reflexão importante que podemos constatar é que se 
estivéssemos enfrentando a pandemia de COVID-19 neste ano, sem o 
nível de integração tecnológica e o impacto das redes na vida cotidiana, 
o distanciamento físico que vivenciamos hoje seria também um isolamento 
social, na medida em que os meios de relacionamento e interação foram 
transformados. No entanto, a internet, ao mesmo tempo que fornece 
acesso à informação e ao conhecimento de forma ampla, também evidencia 
os processos desiguais de privação.
A realidade virtual não é real, não é efetiva e tangível, mas sim uma forma 
de apego ao fictício. Porém, a mente também é uma categoria, um espaço 
virtual sem localização específica no corpo, que sabemos que existe através 
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de um processo amplo e integrado. A internet de certa forma nos leva a um 
lugar, à uma experiência que em sua forma é parecida com a nossa mente. 
Nossa mente é um espaço virtual que faz a intermediação com o mundo. 
Freud trabalha com o conceito de uma realidade psíquica, ao tratar dos 
pacientes tidos como histéricos e que sofriam de reminiscência de memórias 
dolorosas, memórias traumáticas e reprimidas que acabavam refletindo 
em sintomas físicos. Utilizando da técnica da associação livre de forma 
a construir e reconstruir o que fora perdido e poder conviver com esta 
 memória, concluiu que o sintoma seria uma forma de expressão daquelas 
representações que se encontravam no inconsciente.
Uma lembrança é produzida no momento do lembrar, o contexto presente 
evoca uma representação formada cada vez que se lembra, tornando a sua 
realidade de forma a sustentar o desejo, uma autoconfiança, independente da 
sua correspondência. “A realidade tal qual percebia e lida por mim não é nem 
um delírio, muito menos o mundo objetivo. A realidade interna não passa de 
uma ponte entre o mundo interno (subjetivo e complexo) e o mundo externo 
(igualmente complexo).
Donald Woods Winnicott, importante psicanalista inglês, trabalha com 
o conceito de um “espaço da ilusão”, um espaço do mundo virtual e 
fantástico que serve não para nos alienar da realidade, mas para nos 
levar ao encontro desta nova realidade.
Johan Huizinga, em sua obra “Homo Ludens”, analisa a característica do 
ser humano em buscar o prazer, o jogo e criar os “espaços de fantasia”, 
com a capacidade de criar uma realidade para si e também para o outro. 
Criamos um espaço de jogo porque nele há regras, distante do caos da 
realidade. Estar na Internet não é entrar num mundo que nos aliena do 
mundo real, mas sim entrar em um campo com potencial simbólico, com 
sinais, com agrupamentos sociais, com mobilizações, com atividades, 
com conteúdos diversos.
As comparações proporcionadas pela TV e pela Internet, nos levam a 
questionar a alienação, de modo que a Escola de Frankfurt analisaa 
cultura de massa como alienante, entendendo uma relação imbricada 
com as mídias (TV, rádio, jornal). O ambiente da Internet, em contraposição, 
é um ambiente ativo, onde se cria, se destrói, onde se está integrado 
ativamente com diversas pessoas.
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A internet, pode então ser compreendida como um espaço lúdico de 
acesso à informação, ao resto do mundo e aos outros, um espaço de 
transicionalidade e fantasia. Nunca tanta gente teve acesso a tanta 
informação ao mesmo tempo, porém é importante salientar a diferença 
de informação, de conhecimento e, por fim, de sabedoria. Excesso 
de acesso pode revelar sintomas curiosos. Ter acesso é valioso, mas seu 
excesso pode ser prejudicial e atingir níveis patológicos de dependência.
Neste mundo contemporâneo podemos observar uma espécie de cultura 
do narcisismo, uma espécie de inflexão no mundo, que se apresenta como 
alta modernidade. Christopher Lasch, em “Cultura do Narcisismo”, propõe 
uma análise da cultura estadunidense e da sociedade do consumo. Nessa 
sociedade, de certa forma marcada por um sentimento de potência do 
mundo pós-Segunda Guerra, surge um sentimento coletivo de impotência 
frente ao mundo da década de 70. Por entendê-lo cada vez menos, os 
sentimentos que visavam mudá-lo aos poucos foram sendo interiorizados 
dando espaço para uma mudança do eu, individualizada. Isto configura 
a cultura do narcisismo, uma cultura de defesa diante de um mundo 
traumático e excessivo, formada para cuidar daquilo que achamos 
possível alcançar, fruto de um desamparo.
Os condomínios são um excelente exemplo da desistência de um mudo 
que não se pode compreender. O afastamento do espaço urbano, em busca 
de um um ambiente controlado, afastado da cidade e construído dentro de 
uma bolha, ilustra tal narcisismo. No limite, cada construção urbana visa ser 
um condomínio por conta da violência, do perigo, mas também por conta 
do sentimento de afastamento e de incompreensão do mundo.
Nossa energia oscila para fora (objeto da ação) e para dentro (da memória 
e da introspecção), de forma a recolher e gastar energia. Somos chamados 
para fora o tempo inteiro, o que nos rouba o tempo de repouso, caracterizando 
um conflito contemporâneo: não há mais um momento para recolher energia 
e produzir memórias, consolidar os conhecimentos, por isso muitas vezes 
temos dificuldade em diferenciar uma notícia real de uma notícia falsa, pois 
além de estarmos lotados de informações e conteúdos, não temos tempo 
de assimilar todas as informações e concretizá-las em uma memórias 
consolidadas. 
O tempo do mundo moderno é o futuro, o projeto, a retenção, a renúncia em 
processo. Já no mundo contemporâneo vivemos o fim das utopias, em um 
tempo em que o futuro parece ter acabado. Hoje sonhamos com distopias, 
o tempo de hoje se chama “cada instante”, e deve ser repleto de gozo.
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Aula 2
O objetivo deste encontro é avançar mais no conceito das relações 
sobre a cultura do narcisismo, seus efeitos, ante uma hiperconectividade. 
Quais os potenciais riscos que podemos enfrentar neste caminho 
que vem se firmando? Até chegarmos nos novos sofrimentos 
humanos, nas novas doenças da alma, que são características 
deste ambiente contemporâneo.
A nossa rotina em comum, muitas vezes é agitada e carece de tempo, 
a experiência de estar na rede também é dispendiosa, muitas vezes 
alterando a própria experiência com o tempo. A intensidade constante 
é característica do mundo contemporâneo e esta excessividade transforma 
um processo mental adaptativo num processo patológico.
O melhor processo adaptativo que podemos utilizar para situações de 
intensidade excessiva chama-se sobressalto ou susto. Ao enfrentarmos 
uma situação intensa o corpo e a mente preparam uma resposta, em um 
estado adaptativo, que após este estímulo volta a desacelerar. Porém, 
no ambiente contemporâneo acrescentamos a esta situação uma categoria 
nova, as “crises crônicas”.
O que deveria ser feito para se desligar desta rotina cada vez mais estressante 
e massante seria uma desaceleração gradativa, de forma a acalmar este estado 
de cansaço, mas o stress nos impede, pois o sobressalto deixa o corpo em 
estado de prontidão. O estresse deixa este corpo exausto e em consequência 
destas ações podemos observar a insônia, estado que não permite o adormecer 
e o descanso.
Uma outra característica muito comum, fruto do medo da vida contemporânea, 
é a dependência. De modo geral, o vício de substâncias lícitas ou ilícitas, que 
ativam um mecanismo rápido de recompensa, (cada vez mais banalizado) 
requer sempre uma maior exposição e consumo para se alcançar a satisfação.
A cultura é um fator fundamental a ser analisado, uma vez que cada local possui 
uma dinâmica específica que requer a adoção de certas medidas de reação 
para cada tipo de anseio. Os conflitos internos, os questionamentos pessoais, 
a sensação de não se reconhecer em sua própria vida, porque sentimos 
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de certa forma, são reações ao ambiente. Por onde passamos há excesso 
de demandas, criadoras de experiências mais reativas do que ativas.
Quando paramos de correr, ganhamos pela primeira (vez em muito tempo) 
a condição de reflexão. Ganhar um tempo de vazio, um espaço para o 
recolhimento, equivale a abrir um espaço para que a reflexão aconteça. 
Ao se querer mais dessa desconexão, no entanto, o afastamento para a 
mbientes controlados e isolados podem gerar estigma, depressão ou 
outros sintomas onde o sofrimento e a felicidade estão ligados às 
 dinâmicas culturais.
As dinâmicas de dependência ou adição, podem ser interpretadas no sentido 
romano, onde quando uma pessoa contraia uma dívida frente outra pessoa 
e não conseguia quitá-la, ela era adicta ao outro, somado a outra pessoa 
como escrava.
Joyce McDougall, analisa uma “neo-necessidade”, onde aquilo que se tem 
dependência passa a ser básico para a sua natureza de forma que é uma 
necessidade primária. Quando realizamos um ato que necessitamos, 
dependemos da sensação de prazer (geradora de alívio), porque a privação 
causa dor e sofrimento pela abstinência. Um desejo frustrado é sim ruim, 
mas a dependência evidencia um lugar de dor. E esta dependência não 
pode ser deslocada, só se realizando com o objeto de dependência.
No filme Trainspotting (1996), podemos observar como a dependência tem 
o poder de condicionar um ser a ser apenas a resposta da sua dependência, 
denotando alguém que não consegue, acima de tudo, uma auto sustentação. 
O processo de desenvolvimento vai em direção automática à uma autonomia, 
porém, uma pessoa dependente não atinge sua autonomia, permanecendo 
numa posição infantilizada, transferindo apenas esta dependência para outras 
coisas, ou pessoas, ou substâncias. Como saber se temos relações afetivas 
por desejo ou por dependência?
Para Winnicott, a saúde mental é ter capacidade de estar só, senão somos 
capazes de ficarmos sós, acabamos dependendo de nos conectar com 
alguém com uma enorme presença o tempo todo.
Adela Stoppel, teórica da psicanálise com crianças, analisa a relação de 
dependência das crianças com a internet, numa crítica à letargia do uso 
de celulares e tablets para acalmar os filhos. Tal uso, que exclui as conexões 
necessárias entre as crianças da brincadeira, entorpece suas interações 
através da tela, impossibilitando o aprendizado oriundo da espera e do 
vazio. Como resultado, não se aprende a ter paciência, mantendo um 
fluxo incessante de conectividade.
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O Narcisismo e o Complexo de Édipo, principais conceitos trabalhados 
por Freud, e posteriormente por Lacan, nos mostram que ao nos constituirmos 
passamos por processos formadores básicos. Esses processos, de fusão 
e separação, nos ajudam a entender o desenvolvimento infantil. Esta fase 
tem início no corte do cordão umbilical, onde a criança, em desamparo 
e dependência, necessita de alguém queocupe a função de “maternidade”, 
que acolhe, recebe e garante a sobrevivência neste período de completa 
dependência. Esse primeiro momento se intitula narcisismo, uma vez que 
há uma fusão completa mãe-criança. A criança é totalmente voltada para 
o “outro” e acredita que o outro está totalmente voltado para si, formando 
um todo que nada falta, uma cela narcísica que passa para a criança a 
sensação de onipotência, podendo ser observado em um desespero 
carente por reconhecimento.
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Aula 3
O Narcisismo, termo apropriado à maneira de Freud, trabalhado mais 
especificamente na obra “Introdução ao Narcisismo”, muitas vezes 
relacionado ao termo autoestima, é um investir em si mesmo, mas 
é também um limite entre seres, onde acaba um indivíduo e começa 
outro. Quanto mais intolerante somos com o que é diferente de nós, 
mais narcísicos somos, quanto mais tolerantes menos narcísicos somos. 
Porém, todos precisamos ter, em certa medida, uma dose de narcisismo 
para conseguirmos vislumbrar nosso próprio “eu”. A criança, por volta do 
primeiro ano de idade, começa a criar uma representação de si. Segundo 
Freud, é o momento em que ela se separa do outro, e ao surgir um “eu”, 
automaticamente se apresenta um “não-eu”.
O narcisismo secundário seria o retorno da libido desde o objeto, um 
olhar do outro sobre aquela criança, que é a função materna, seja da 
pessoa ou das pessoas que ocupam esta função.
Jacques Lacan, autor francês importante de uma segunda geração 
da psicanálise, na tentativa de estudar a paranoia, utiliza-se deste 
conceito dando visibilidade a alguns pontos interessantes da teoria 
em seu modo de ver. Esta fase de desenvolvimento, para Lacan, é 
intitulada de estágio do espelho. Uma criança colocada em frente 
ao espelho aos seis meses de idade ainda não seria capaz de se 
reconhecer, pois não saberia interpretar a própria imagem. No entanto, 
por volta dos 18 meses de vida, ela seria capaz de se reconhecer 
e de reconhecer o outro. Desse modo, a interação com o mundo 
exterior nos ajuda, portanto, a reconhecer nossa própria imagem.
O susto em frente ao espelho, das câmeras, é dado por atualizar uma 
definição que temos de nós mesmos, tendo em vista que o homem 
cria uma representação si. Tal representação muitas vezes não se encaixa 
no instante e por isso causa certa estranheza. A partir da primeira 
representação gera-se portanto uma auto imagem.
As duas principais decorrências que podemos observar é a do “eu” 
que vem de fora. Já a segunda surge a partir das representações que 
temos de nós. Na primeira ocorrência o acesso ao real se dá por meio 
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de uma intermediação, por meio do espelhamento dos outros. Aqui nos 
constituímos através do olhar do outro. O “eu” está no ponto cego de 
si mesmo.
A frustração tem origem justamente no contraste entre o “eu ideal” e 
o “eu real”, por não conseguirmos realizar o que desejaríamos fazer.
O primeiro pensamento de quem vai ter um filho é o de conseguir preencher 
 este hiato, projetando expectativas pessoais, sonhos e uma esperança 
de que esta criança corresponda a essa expectativa, a esta significação. 
A grande questão que este movimento e as eventuais reflexões que esta 
criança pode chegar, direcionam uma indagação que as perseguirá até 
o final da vida: “O que preciso ser para o outro gostar de mim?”. O narcisismo 
é um desespero em tentar corresponder o desejo do outro. “Eu desejo ser 
desejado”, é uma grande oferta de comportamentos e ações; o que explica 
as posturas vistas nas redes sociais.
A ilusão de uma unidade, de uma cela narcísica, cessa justamente em 
outro momento importante, que é o complexo de Édipo, onde este núcleo 
é quebrado e a criança passa a encarar o mundo.
Édipo fundamentalmente quer dizer que uma criança em desamparo, ao 
nascer, precisa ser amparada por um outro humano. O cuidado pode ser 
tido como uma função materna e o papel da exposição (ao mundo, à lei, 
ao outro) uma função paterna. A composição destes papéis implica em 
uma quebra progressiva da cela narcísica, quando se percebe que a figura 
materna não vive em função dela. Neste segundo momento, a criança 
percebe uma separação de que este outro que ela depende tanto também 
deseja outras coisas que não ela e esta outra figura, objeto do desejo 
e do tempo materno, gera uma triangulação, que aparece idealizada 
na figura paterna. A criança percebe esta outra função do desejo materno, 
seja o trabalho, seja o companheiro, apresentando a frustração e 
compreensão de uma nova cela narcísica, entre a função materna 
e a função paterna.
Na última fase temos um corte simbólico, a ruptura total da célula narcísica, 
intitulada de “castração”, ao perceber que não há para onde voltar. Portanto, 
estamos livres no mundo para construir um universos novo de desejos.
Quem passa pelas três fases de Édipo é chamado neurótico, um sujeito 
que sabe se sentir incompleto, sabe que é imperfeito, mas sonha com 
o futuro, criando desejos para substituir aquele objeto que falta. Nasce 
então a vida como ela é, para uma abertura para a vida da negociação, 
da espera, dos símbolos.
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Ao tratarmos de uma sociedade narcísica, podemos observar um sintoma 
da falha da função paterna, algo sobre a autoridade. Com a internet é importante 
saber filtrar quais os tipos de conteúdo que a criança tem acesso, sem privar 
do acesso propriamente dito. Estes desejos e a cultura narcísica geram uma 
busca por uma dependência, o anseio de algo que o contemple, uma vez 
que não se conseguiu uma liberdade e autonomia próprias, ou um lugar de 
ação no mundo.
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Aula 4
O objetivo desta aula é o reconhecimento e a possibilidade de 
mudança que podemos enfrentar a partir das relações hiperconectadas. 
Entender algumas dinâmicas do indivíduo na sociedade na perspectiva 
da  ambivalência nos permite perceber o que se ganha e o que se perde, 
bem como o papel de uma experiência coletiva de conectividade.
Um ponto marcante nesta relação com as mídias é a falta de privacidade, 
na medida que transformamos o que nos é mais íntimo em algo exposto 
e aberto em uma mídia social. O lugar ocupado anteriormente pela confissão 
é substituído por cada publicação realizada, e embora haja uma característica 
puramente transitória e efêmera, há um elemento que as tornam eternas. 
Cada publicação, cada informação que produzimos na Internet vira dado 
quantificado e transformado para uso de marketing, alimentando bancos 
de dados.
A internet nunca foi livre, sempre esteve vinculada aos interesses e arti 
culações comerciais e a captura de informações que alimentam ferramentas 
de controle social. Quem possui condições financeiras para comprar estes 
dados têm absoluta vantagem sobre quem não têm acesso. A conectividade 
passa aumentar as desigualdades (sociais e financeiras) e a iminência da 
defasagem de certas funções laborais.
A pandemia nos explica que muitos recursos pensados para atender situações 
emergenciais podem funcionar bem, como por exemplo o trabalho remoto. 
Algumas conformações pré-estabelecidas foram completamente modificadas, 
por exemplo, é possível que tenhamos um sistema híbrido de ensino, ou 
o trabalho em alguns setores específicos jamais será o mesmo.
Toda esta tensão gerada pelas transformações tecnológicas acompanha 
o paradoxo entre o desenvolvimento e o medo de tornar-se obsoleto. 
A paranoia, um dos três grandes grupos de psicose na psicopatologia 
psicanalítica, é a ideia de um excesso de presença. Com a cultura do 
desamparo e do excesso, a ruptura com a terceira fase de Édipo não 
ocorre, gerando sinais de uma “paranoia social”.
Melanie Klein entende que para uma criança pequena não há vazio, nem 
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silêncio. Sua experiência é sempre com o outro, ela não se sente plenamente 
vazia, ora pode ser a presença de uma “mãe boa”, ou de uma “mãe ruim”, uma 
posição entendidacomo esquizo-paranóide, uma fragmentação persecutória. 
A paranoia é uma grande teoria da conspiração que a verdade é contingente.
Elias Canetti em seu livro “Massa e Poder”, onde relaciona o poder à paranoia, 
entende que aquele que ocupa o poder sente que sua posição é cobiçada e 
decide aniquilar os inimigos.
Piera Aulagnier em “A violência da interpretação”, propõe que a dinâmica da 
função paterna se transforma em “um perseguidor”. Esta função aparece com 
a finalidade de frustrar, de impedir. Quando a criança entende que esta função, 
causadora de frustração, é fruto das regras (seja por causa de uma lei ou pela 
crença no certo), a criança permite essa função paterna operar. Nesta reflexão, 
a criança perceberia um gozo sádico de frustrá-la, a bel-prazer, despojando-a 
da função paterna e se transformando no ser que quer perseguir.
A melhor política do século XXI que podemos observar é a organização social 
pelas redes, o poder de mobilização e união de grupos, totalmente diferente 
de um ambiente político cada vez mais polarizado, como visto no Brasil com 
o estreitamento das potências políticas. 
Manuel Castells em “Redes de Indignação e Esperança” narra como no século 
XXI podemos observar um ambiente de manifestação social que não nasce em 
um líder, mas sim na horizontalidade que ultrapassa hierarquias. São diversas 
vozes a bradar sem bandeiras.
Gustavo Lebon, em “A multidão” propõe entender como se forma uma multidão, 
os comportamentos de massa: a massa violenta e a massa revolucionária. Freud 
entende a psicologia das massas como unidades, operando pelas lógicas de 
pertencimento. Para Antonio Negri, sobretudo em “Multidão” não podemos tratar 
esta massa como uma massa infantilizada, ingênua, desprovida de atuação e 
informação. Pelo contrário, tal modo de mobilização atualmente revela inúmeros 
indivíduos ao lado um do outro, protestando por direitos e melhores condições 
de vida.
Todos estes movimentos apontam para um mundo líquido e hiper individualizado, 
curiosamente, em contraposição ao fato de que nas redes podemos compartilhar 
ideias, nos mobilizar, transformá-la em um instrumento de poder civil. Ao passo 
em que nos tornamos mais individualistas, nunca pudemos tanto interagir de 
 forma a criar novas conformações, novas redes de ligação, novos conflitos 
e novas possibilidades de sociabilidade. 
Constituir um psiquismo que anteriormente não se tinha liberdade de ter, 
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criar um self e uma autonomia para voltarmos a sonhar e a desejar, são 
caminhos possíveis para não implodirmos com esta hiperconectividade, 
para que ela faça cada vez mais parte de nossa vida, na iminência da inovação 
e não da destruição.
A ARTE DE COMUNICAR: 
PERSUASÃO,NEGOCIAÇÃO 
E ORATÓRIA
com Maytê Carvalho
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Este material é exclusivo para os inscritos no curso “A Arte de Comunicar: 
Persuasão, Negociação e Oratória”, com Maytê Carvalho, realizado 
pela Casa do Saber em março e abril de 2021. É proibida a reprodução 
ou divulgação deste material, parcial ou em sua totalidade, sem 
autorização. Os direitos autorais são exclusivos da Casa do Saber.
suporte@casadosaber.com.br
AVISO
CONTEÚDO 
ISADORA JARDIM SALAZAR 
Curadora
APROVAÇÃO
MAYTÊ CARVALHO 
Professora
DESIGN 
DEBORAH KUTNIKAS 
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QUEM PRODUZIU O MATERIAL
FALE COM A GENTE
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Entender a arte de comunicar talvez seja uma das grandes questões 
no desenvolvimento das sociedades. A persuasão, em suas diferentes 
formas, tornou-se fundamental no desdobramento das relações, sejam 
elas oriundas da esfera pública ou privada. Neste material complementar, 
a Casa do Saber reuniu os principais conceitos e teorias dos cursos 
“Persuasão e Influência: O Poder da Fala” e “A Arte de Comunicar: 
Persuasão, Negociação e Oratória”. Para além dos principais conceitos, 
tabelas, referências bibliográficas e complementares para seu aprendizado, 
este material foi pensado, também, a partir das questões mais relevantes 
trazidas por alunas e alunos durante as aulas. 
Agradeço pela participação de todas e todos nesta jornada e desejo 
que a busca pelo conhecimento de vocês seja infinita. 
Isadora Jardim Salazar 
@jardimsalazar
APRESENTAÇÃO
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UM POUCO 
DE FILOSOFIA
Aristóteles e as raízes 
da comunicação Ocidental
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FICHA TÉCNICA
Origem, nascimento e morte: Estagira, 384 a.C. — Atenas, 322 a.C..
Área do conhecimento: Filosofia Clássica, Epistemologia – ramo da filosofia 
dedicado a pensar as origens, processos e limites dos diferentes saberes
Principais Obras: Metafísica, Ética a Nicômaco, Política, Retórica
Discípulo da Academia de Platão durante 19 anos, Aristóteles foi um 
dos maiores filósofos clássicos ocidentais. O desenvolvimento da 
tradição filosófica clássica tem em Platão e em Aristóteles suas duas 
vertentes principais, seus dois grandes eixos e, sobretudo na Idade 
Média, o platonismo e o aristotelismo inspiraram inúmeras elaborações 
de teorias filosóficas e teológicas.
Em 343 a.C., Aristóteles passa a ser tutor do mais importante conquistador 
da antiguidade: Alexandre, O Grande. O pensador foi conselheiro do 
líder de um dos principais reinos da antiguidade, o Reino da Macedônia. 
Em 335 a.C., Aristóteles deixa Alexandre e volta para Atenas, onde funda 
o Liceu.
Segundo a filósofa brasileira Marilena Chauí, se devemos a Sócrates 
o início da filosofia moral, devemos a Aristóteles a distinção entre saber 
teorético - ou teórico - e o saber prático. O saber teorético é o conhecimento 
dos seres e fatos por si só existentes, independentes da intervenção 
humana e oriundo da natureza. O saber prático é o conhecimento do 
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que apenas existe como consequência das ações humanas e, portanto, 
depende de nós.
Para além das inúmeras elaborações sobre as diferentes áreas do 
saber, Aristóteles dedicou boa parte de seus estudos à compreensão 
da comunicação, suas vertentes e regras. Autor da grande e clássica 
obra “Retórica”, um dos principais filósofos da história do Ocidente 
desenvolveu teorias sobre a arte do bem falar. A retórica de Aristóteles 
é, então, desenvolvida a partir de três pilares: Ethos, Pathos e Logos:
ETHOS 
Diz respeito ao caráter de quem fala. É a credibilidade e um dos 
principais aspectos que fazem com que uma pessoa acredite em 
quem enuncia o discurso - uma união de histórico pessoal 
e reputação.
PATHOS 
Diz respeito às emoções, ou melhor, às paixões. Um discurso 
que baseia-se no pathos apela para a empatia e as vulnerabilidades 
daqueles que recebem o discurso - faz com que as pessoas 
se emocionem. 
LOGOS 
Diz respeito à razão, ou seja, às provas lógicas e racionais que 
o enunciador emprega ao seu discurso. Se pathos apela para 
emoções, logos apela para pesquisas, dados, gráficos e números 
que comprovem sua tese.
Sócrates
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A tabela a seguir foi retirada da obra “Persuasão: Como usar a retórica 
e a comunicação na sua vida pessoal e profissional’’. Acompanhe algumas 
estratégias de oratória a partir do uso do Ethos, do Pathos e do Logos:
ETHOS PATHOS LOGOS
Antídoto Pessoal Histórias Argumentos
Por que eu? Emoções Benefícios
Depoimento Apelo emocional 
(Raiva, Amor, Frustração)
Fatos
Testemunha Storytelling Imagens
Histórico Empatia Dados
História de sucesso Vulnerabilidade Estatísticas
Credibilidade Pesquisas Científicas
Valores Atributos do Produto
Ideologia Estudo de Caso
TODA HISTÓRIA SOBRE A BRIGA 
ENTRE PLATÃO E ARISTÓTELES
Paulo Niccoli Ramirez
ASSISTIR
APRENDA MAIS COM A CASA DO SABER:
https://www.youtube.com/watch?v=L_O-yzXA-sw
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ABORDAGENS PERSUASIVAS 
DE CONHECIMENTO 
Provocação, Intimidação, 
Sedução e Tentação
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Existem quatro tipos de narrativas que são essenciais para observarmos 
como falamos com os outros e como falam conosco. Não é somente 
no mundodo trabalho que exercemos a retórica: estamos utilizando-a 
constantemente em nossa esfera pessoal. Esses quatro estilos de 
narrativa, a Provocação, a Intimidação, a Sedução e a Tentação servem 
como “estímulos” para que o outro realize a atividade que você gostaria 
que fosse realizada. Entenda um pouco mais com exemplos:
PROVOCAÇÃO 
Faz-se uma imagem negativa da competência do outro. 
Exemplo: Eu duvido que você consiga realizar essa atividade
INTIMIDAÇÃO
A fala contém um valor negativo que representa uma ameaça 
ao outro: Se você não realizar essa atividade, não ganhará 
sua recompensa.
SEDUÇÃO
É criada uma imagem positiva do outro com uma fala sedutora. 
Exemplo: Você é tão capaz, com certeza conseguirá realizar 
essa atividade. 
TENTAÇÃO
É oferecido ao outro um valor positivo para a ação. 
Exemplo: Se você realizar sua atividade, receberá 
sua recompensa. 
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MAIS ALGUMAS TÉCNICAS 
DO DISCURSO 
Espelhamento, Triangulação 
e Escassez e Urgência
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É preciso entender as nuances por trás dos discursos que recebemos 
e que enunciamos. O Isopraxismo, a Triangulação e a Escassez 
e Urgência são técnicas para que a comunicação seja ainda mais 
elaborada e conduzida a partir dos objetivos do emissor da fala.
ISOPRAXISMO / ESPELHAMENTO 
Essa técnica consiste no ato de copiar o outro para criar uma 
situação mais confortável, gerar confiança por meio da mimesis 
– que em grego significa algo como “copiar o outro” - ao criar 
semelhança com a maneira com que o receptor do seu discurso 
fala ou se comporta. 
TRIANGULAÇÃO 
Um triângulo possui três pontas, certo? Esta técnica usa o triângulo 
como a figura que liga você, a pessoa com quem você fala e um 
terceiro sujeito, que não está na conversa. Com essa técnica você 
despertará o desejo do outro ao demonstrar que você – ou o seu 
produto – é desejado por outras pessoas. 
ESCASSEZ E URGÊNCIA 
Tática que preocupa-se em causar ao receptor uma noção de 
urgência, um gatilho de escassez que faz com que a pessoa 
afetada pelo discurso sinta a necessidade de adquirir o que 
você oferece. Um exemplo clássico é a propaganda de televisão 
que diz “É SÓ AMANHÃ!”
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FALÁCIAS 
Identifique as falácias 
mais comuns nos discursos 
cotidianosa
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AD HOMINEM ABUSIVA 
É uma falácia que consiste no ataque pessoal ao receptor da fala. Esta 
comunicação tenta acessar diretamente o caráter da primeira pessoa 
que iniciou um a crítica, por exemplo:
A: “Faça mais exercícios, vai melhorar sua qualidade de vida”
B: “Mas você faz exercícios todos os dias e fuma”.
Neste diálogo, B, ao invés de rebater a primeira afirmação com alguma 
fala lógica, dados ou informação que enriqueça o debate iniciado, 
preferiu atacar um hábito particular de A. 
AD HOMINEM CIRCUNSTANCIAL
Esta falácia questiona a imparcialidade da pessoa que propõe o questionamento. 
Por exemplo:
A: “Faça mais exercícios, vai melhorar sua qualidade de vida”
B: “Você só diz isso pois é dono de uma academia!”
AD HOMINEM TU QUOQUE
Esta falácia também é conhecida como a “falácia da hipocrisia”.Observe 
que B, ao questionar A, aponta que o discurso inicial parte de uma atitude 
hipócrita. 
A: “Faça mais exercícios, vai melhorar sua qualidade de vida”.
B: “Mas você também ficou anos sem se preocupar com sua 
qualidade de vida”
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AD BACULUM
Também chamada de “argumento do porrete”, essa falácia acontece 
numa fala intimidadora que age através do medo para manipular o ouvinte. 
Essa falácia é muito utilizada por pessoas influentes, ou seja, que possuem 
um ETHOS notório. 
AD POPULUM
Esta falácia consiste em afirmar que determinada proposição é verdadeira 
e válida pelo simples argumento de que uma maioria numérica de pessoas 
concorda com ela. Por exemplo “9 a cada 10 maquiadoras recomendam 
este batom, adquira já”.
AD VERECUNDIAM
O apelo à autoridade é o método desta falácia. De maneira lógica, 
o emissor da fala valida sua afirmação ao buscar a palavra 
ou reputação de alguma autoridade no assunto específico.
AD MISERICORDIAM
Esta falácia evoca o PATHOS do receptor da fala. O emissor afirma 
que será muito mais feliz ou realizado caso 
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A HABILIDADE 
ESSENCIAL 
O profissional do futuro 
é um bom comunicador
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Hard skills e soft skills são palavras em inglês que fazem parte do 
vocabulário dos negócios há algum tempo. Entretanto, essas 
habilidades não são somente importantes para o mercado norte 
–americano – são notáveis capacidades que devem ser reconhecidas 
e aprimoradas. 
HARD SKILLS 
Em tradução literal, habilidades/competências “duras” – são 
habilidades que podem ser aprendidas e facilmente quantificadas, 
são tangíveis. Você aprende hard skills na sala de aula, com livros 
e apostilas, ou até mesmo no trabalho. São consideradas hard skills: 
Graduações e especializações, como cursos técnicos e cursos 
em universidades. 
SOFT SKILLS 
Em tradução literal, habilidades/competências “suaves” – são 
competências subjetivas. Também são conhecidas como people 
skills – habilidades com pessoas - ou interpersonal skills – habilidades 
interpessoais. As soft skills são características da personalidade que 
possuem influência sobre os relacionamentos no ambiente de trabalho 
e, por consequência, sobre a produtividade da equipe. São consideradas 
soft skills: critical thinking (pensamento crítico), decision making 
(tomada de decisão), empathy (empatia), ethics (ética), flexibility 
(flexibilidade, alternativa: resilience - resiliência), leadership (liderança)
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A IMPORTÂNCIA 
DO STORYTELLING
Crie narrativas 
bem estruturadas
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Saber como contar histórias é uma ferramenta de poder, uma forma 
de entrar na cabeça de outra pessoa e plantar sementes, de convencer 
inconscientemente. Assim, a utilização de metáforas e de analogias 
é importante e podem dar a uma verdade pessoal a aparência de 
uma verdade universal. Na vida contemporânea, em meio ao caos 
das muitas informações que recebemos o tempo todo, a história 
é formadora de sentido: não é à toa que há tantas parábolas e 
pequenas histórias em textos bíblicos. Neste sentido, o poder de 
sedução de uma história é menos temporário que o de outras 
técnicas, pois permite que as pessoas olhem para determinadas 
situações através de outros pontos de vista.
As nossas más decisões não são ruins em função dos fatos, mas 
pela ausência de uma história que dê sentido a eles: as pessoas 
não são racionais e ninguém sabe exatamente o que quer. Assim, 
usar o ímpeto de desejos universais é uma boa estratégia, porque 
em um mundo artificial todos são um pouco carentes de atenção. 
Contar uma história é com certeza uma das formas de suprir a 
carência dos sujeitos.
Há, basicamente, seis tipos de histórias que podem ser contadas: 
aquela que explica quem o falante é (que deve ser contada dependendo 
da imagem que se quer passar de si. Histórias de autorreveleção, 
com exposição de falhas, por exemplo, costumam abrir caminho 
para a empatia), a que explica por que ele está naquele lugar, 
história de visão (que não se trata apenas de um mero relato, 
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mas que leva os ouvintes a sentirem emoções diversas), histórias 
de ensinamentos, histórias de valores (que se usa de muitos exemplos 
e que, se contada da maneira correta, pode gerar engajamentos) 
e a história que visa a mostrar que o falante pensa de forma 
semelhante a seus ouvintes (que serve para construir aliados, 
criar conexões). Ao contar uma história, no entanto, deve-se tomar 
cuidado com a vaidade (usar mais “nós” e menos “eu”, conectando 
os ouvintes), com excessiva autoridade, com a insinceridade e com 
a ostentação.
Na sociedade em que vivemos, constantemente permeada por 
transformações, vemos um “myth gap”, que pode ser preenchido 
pela religião, pela ciência ou pelo entretenimento: esta inadequação 
é muito utilizada por publicitários. Osmitos são, hoje, relacionados 
a mentiras, mas, na verdade, codificam valores, pois apresentam 
uma explicação a fatos que a racionalidade não alcança. Há algo 
de ritualístico no mito, que precisa possuir uma referência universal 
(usando-se do mais básico e fundamental conceito, um mito consegue 
alcançar mais gente).
Dessa forma, não seria por acaso que grandes líderes e grandes 
empresas de sucesso possuem não somente narrativas de storytelling 
bem estruturadas, mas também amplamente conhecidas. Storytelling 
significa, em tradução literal para o português: “narração de uma 
história”; na tradução prática, podemos dizer que é o que incentiva 
a criação de uma narrativa bem pensada nos discursos, sobretudo 
os persuasivos. 
Marcas devem estar atentas não só ao conteúdo que criam, mas 
à narrativa por trás dele e, também ao ETHOS que constroem no 
decorrer do tempo. Ele pode estar presente desde a elaboração 
inicial de uma campanha de marketing até o atendimento dos clientes 
– um storytelling é uma ferramenta que também está presente em 
e-mails, textos informativos e na fala dos CEOs das empresas.
APRENDA MAIS COM A CASA DO SABER:
STORYTELLING: A IMPORTÂNCIA 
DE UMA HISTÓRIA BEM CONTADA 
Augusto Uchôa
ASSISTIR
https://www.youtube.com/watch?v=FVUi7KnT2v4&ab_channel=CasadoSaber
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COMUNICAÇÃO 
NÃO VIOLENTA 
Opte pela assertividade inteligente, 
não pela agressividade
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A comunicação não-violenta (CNV) foi desenvolvida pelo psicólogo 
estadunidense Marshall Rosenberg (1934-2015) e é uma prática de 
entendimento mútuo que melhora a qualidade das nossas relações, 
seja no trabalho ou nas esferas da vida pessoal. Essa técnica é baseada 
na comunicação pessoal empática e parte de quatro etapas para 
ser realizada: Observação, sentimentos, necessidades, e pedidos. 
Ou seja, a CNV parte da troca do julgamento pela observação, da 
capacidade de empatia e autoempatia, da diferenciação de sentimentos 
e não-sentimentos e da arte de fazer pedidos para propiciar às pessoas 
melhores condições de conexão e diálogo. 
APRENDA MAIS COM A CASA DO SABER:
Neurociência e comunicação não-violenta 
Diálogo com Flavia Feitosa 
e Claudia Feitosa-Santana
ASSISTIR
https://www.youtube.com/watch?v=CmE1vUS-Tk4&ab_channel=CasadoSaber 
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SEMIÓTICA
Entenda o estudo dos signos
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A semiótica ou semiologia (do grego semeîon, “signo”, “sinal”) tem 
como objetivo explicar a criação e o funcionamento dos vários sistemas 
de signos, sinais e símbolos utilizados por todo e qualquer grupo 
de indivíduos para a expressão e a comunicação de ideias, sentimentos, 
emoções, desejos e necessidades. Mas a semiótica vai além desse 
primeiro objetivo: com efeito, o exercício semiótico nos possibilita 
levantar o véu das aparências que nos envolvem, demonstrando 
como nada é “inocente”. 
Tudo é resultado de uma construção de signos e a semiótica, por 
sua vez, os habilita assim a questionar as várias formas de poder 
e manipulação das ações dos sujeitos - seja através da fala, da arte, 
da escrita -, contribuindo para desenvolver nossa liberdade de 
consciência e uma análise minuciosa das comunicações que nos 
cercam e nos atingem.
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Na área da semiótica, Algirdas Greimas foi um dos mais notáveis 
pensadores. Entre suas descobertas mais relevantes está o chamado 
“Quadrado de Greimas”, um diagrama usado na análise estrutural 
de relações entre signos.
Algirdas Julien Greimas nasceu em Tula na até então Rússia, em 
9 de março de 1917 e faleceu em Paris, em 27 de fevereiro de 1992. 
Sua abordagens fazem parte do leque de teorias notórias dentro 
da semiótica e seus trabalhos realizados no século XX demonstram 
a atualidade de sua análise - além de ter sido o autor utilizado em 
nosso curso. 
APRENDA MAIS SOBRE SÍMBOLOS 
E LINGUAGEM COM A CASA DO SABER
A REALIDADE TRANSFORMADA 
EM SÍMBOLOS 
Luís Mauro Sá
ASSISTIR
https://www.youtube.com/watch?v=uqzhpI4p7Kg&ab_channel=CasadoSaber
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ÉTICA PROTESTANTE E O 
ESPÍRITO DO CAPITALISMO
Como a cultura de um povo pode 
influenciar na sua negociação.
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Max Weber (1864 - 1920) ao publicar em 1905 a obra “A Ética 
Protestante e o Espírito do Capitalismo” recorreu à sociologia 
da religião para explicar o sistema capitalista moderno ocidental. 
Weber atribui ao Protestantismo - religião cristã que surge para 
questionar princípios da Igreja Católica - uma grande influência 
na formação do capitalismo moderno. Segundo o autor, as religiões 
de origem protestante negam o ócio valorizado pelo então influente 
catolicismo e estipulam um novo estilo de vida voltado inteiramente 
ao trabalho e à racionalidade. 
Segundo o catolicismo, o ser humano é falho e está certamente 
apto a pecar. Para obter a salvação, necessita arrepender-se de 
seus filhos pecados por meio da confissão perante o meu padre. 
A predestinação católica para uma vida santa está voltada para o 
isolamento do mundo, em que monges e padre se distanciam da 
sociedade para não serem tentados por ela. Weber sinaliza que, 
segundo a ética protestante, a vida de santidade deve ser buscada 
constantemente e em meio à sociedade e ao cotidiano. Através 
de seu trabalho, o indivíduo se dedica inteiramente a Deus e abdica 
os prazeres mundanos. Desta forma a conduta racional e de planejamento 
constante do cotidiano do sujeito protestante passa a ser um estilo 
de vida que sustenta e solidifica a ética do trabalho e do lucro tão 
benéfica ao capitalismo. 
O dever profissional do protestante é dedicar seu trabalho a Deus. 
A riqueza e o acúmulo recebem uma visão positiva dentro da esfera 
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religiosa. O Homem, através de seu mérito pessoal, busca o 
“reino dos céus” à medida que nega as tentações e se dedica 
somente ao trabalho. Surge então a ascese intramundana a partir 
da ideologia protestante ocidental. moderna
Essa introdução teórica se faz necessária pois o comportamento, 
ou melhor, a ética de vida e de trabalho dos países em que a religião 
protestante é predominante torna-se particular em relação não só 
a outros países do mundo, mas sobretudo aos de ética católica 
– Estados Unidos, Noruega, Islândia são, por exemplo, países de 
ética protestante. Mesmo os que se consideram não religiosos 
dentro de determinado país acabam por serem incluídos nas dinâmicas 
culturais oriundas de diversos universos, sobretudo do universo 
religioso. Atente-se aos costumes, religiosidades e hábitos de 
outras culturas antes de iniciar uma negociação internacional. 
Repare minuciosamente como aquele país lida com o trabalho, 
com a intimidade das relações e quais podem ser os possíveis 
códigos para uma boa negociação. Pesquisa sobre o governo, 
sistemas econômicos e funcionamento das instituições. Por aqui, 
uma breve explicação conceitual sobre os países protestantes, 
mas existem inúmeras a serem feitas.
APRENDA MAIS COM A CASA DO SABER:
MAX WEBER E O ESPÍRITO 
DO CAPITALISMO 
Paulo Niccoli Ramirez
ASSISTIR
https://www.youtube.com/watch?v=cCqwh-oxEMk&t=34s&ab_channel=CasadoSaber
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COMO ESCREVER 
E-MAILS PERSUASIVOS 
A comunicação escrita 
também deve ser eficiente
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Em um mundo hiperconectado, sobretudo em tempos de pandemia, 
as relações de trabalho passaram a depender - ainda mais - dos 
relacionamentos estabelecidos e cultivados on-line. Para além das 
“tabelas em anexo”, atualmente nossos e-mails são peça chave para 
tomada de decisões em grupo, elaboração de produtos e dinâmicas 
de trabalho. Ainda na internet, a implementação de plataformas 
digitais que compõem o uso dos correios eletrônicos, demandam 
expertise e tato no manejo cotidiano.
É preciso importar-se com a comunicação em todas as esferas da 
nossa vida pessoal e profissional. Assim como preparamos nossa 
voz, nossa respiração e identidade visual para apresentações e 
negociações pessoalmente, escrever bem- e de maneira persuasiva 
– também é uma demanda do profissional do presente e, sobretudo, 
do profissional do futuro. Na tabela a seguir você poderá acompanhar 
e aplicar a sua rotina de trabalho algumas técnicas para a boa escrita 
de um e-mail persuasivo. Mais do que isso, os exemplos a seguir 
podem sofrer alterações estratégicas e, também, podem servir como 
técnica para abordagens realizadas em outras plataformas digitais.
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SEU NOME
NOME RECEPTOR
TÍTULO
Desperte a curiosidade ou coloque o nome da 
pessoa (endosso) que conhece o contato que 
você quer abordar (triangulação). Uso de Ad 
Verecundiam + Ethos são infalíveis.
INTRODUÇÃO
Vá direto ao ponto. Valorize o tempo do seu interlocutor 
que recebe muitos e-mails todos os dias. Filtre ao máximo 
tudo o que pode fazer, não enfeite demais e seja sucinto.
“RECHEIO”
Agregue valor. Faça uma venda consultiva: seu prospect 
precisa perceber que o seu contato é importante e que 
o principal objetivo dessa conexão é oferecer um benefício 
concreto para um possível problema - dê uma dica “grátis” 
para gerar reciprocidade. Por exemplo, se você vende 
soluções para blogueiros, compartilhe uma dica que 
vai ajudá-lo a gerar mais engajamento - logo você 
estabelece autoridade e mostra que tem muito a agregar.
FINALIZAÇÃO
Ofereça um benefício claro. Lembre-se: é um e-mail 
de apresentação comercial, ou seja, a venda será 
fechada depois. Para que a conversa possa seguir 
em outro contexto ou meio de comunicação, é 
importante que a pessoa percebe o que pode 
ganhar com você. Portanto, mostre como você 
pode ajudar na solução “Tenho outras dicas 
interessantes que podem aumentar ainda mais 
xxx do seu blog” por ex.
FIM
Call to action eficiente. Se você não disser o que 
quer, como o seu interlocutor poderá responder? 
Vamos fazer uma call para eu te apresentar nosso 
projeto amanhã 14h ou quinta às 18h, qual dia e 
horário funcionam melhor para você?
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INDICAÇÃO DE LEITURA 
DA CASA DO SABER:
COMO ESCREVER 
E-MAILS CLAROS, 
CONCISOS E ADEQUADOS
Vivian Rio Stella
2019
ANTES DE IR, UMA ÚLTIMA PALAVRINHA...
Foi uma honra compartilhar o conteúdo teórico conceitual 
sobre Comunicação e também minhas experiências empíricas 
com vocês durante essa jornada! Espero que todo esse saber 
seja aplicado com consciência, ética e responsabilidade, seja 
no ambiente corporativo ou nas relações interpessoais de vocês
Maytê Carvalho
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LIVROS
LIVROS, FILMES E DOCUMENTÁRIOS:
Persuasão — Como Usar a Retórica e a Comunicação 
Persuasiva na Sua Vida Pessoal e Profissional, Maytê Carvalho
Retórica, Aristóteles
A Sociedade da Sedução: Democracia e Narcisismo 
na Hipermodernidade Liberal, Gilles Lipovetsky
A arte da sedução, Robert Greene
As Armas da Persuasão: Como Influenciar 
e Não se Deixar Influenciar, Robert Cialdini
O Que é Poder, Byung Chul Han
Never Split The Difference, Chris Voss
A Inteligência do Carisma, Heni Ozi Cukier
O Mal- Estar na Civilização Sigmund Freud
Como Vencer Um Debate Sem Precisar 
Ter Razão, Arthur Schopenhauer
O Corpo em Terapia: a abordagem 
bioenergética, Alexander Lowen
Psicologia de Massas e o Fascismo, 
Wilhelm Reich
The Future of Power: Its Changing Nature 
and Use in the Twenty-first Century, Joseph Nye
Speech Craft, Joshua Gunn
Semiótica: Objetos e práticas, Nilton Hernandes Ivã Carlos Lopes
Comunicação não-violenta: Técnicas para aprimorar relacionamentos 
pessoais e profissionais, Marshall Rosenberg
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Harvard Law School, Deal Negotiation 
and Dealmaking: What to Do On Your Own — LER
TED Talks: Life Hacks — Documentário (Netflix)
FILMES
OUTROS
APROFUNDE SEUS CONHECIMENTOS TAMBÉM 
PELO CANAL DA CASA DO SABER NO YOUTUBE
Silicon Cowboys
Steve Jobs: The Billion Dollar Hippie
O Discurso do Rei
Sociedade dos Poetas Mortos
Prenda-me se for capaz
VIPs
Parasita
The Inventor: Out For Blood In Silicon Valley
Como se comunicar bem? 
Diogo Arrais
ASSISTIR
Se comunicar com naturalidade 
é sair da caixa 
Augusto Uchoa
ASSISTIR
https://www.pon.harvard.edu/daily/dealmaking-daily/deal-negotiation-and-dealmaking-what-to-do-on-your-own/
https://www.youtube.com/watch?v=6fUWsKdxNos&ab_channel=CasadoSaber
https://www.youtube.com/watch?v=QLg1cWeg4MY&ab_channel=CasadoSaber
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Você é (ou seria) 
um bom líder? 
Diogo Arrais
ASSISTIR
Toda história sobre a briga 
entre Platão e Aristóteles 
Paulo Niccoli Ramirez 
ASSISTIR
Max weber e o espírito 
do capitalismo 
Paulo Niccoli Ramirez 
ASSISTIR
O poder da fala 
Maytê Carvalho 
ASSISTIR
Discursos na cultura 
do cancelamento 
Maytê Carvalho 
ASSISTIR
Por que às vezes fugimos 
dos debates? 
Maytê Carvalho 
ASSISTIR
https://www.youtube.com/watch?v=tylHirx_dq0&ab_channel=CasadoSaber
https://www.youtube.com/watch?v=L_O-yzXA-sw&ab_channel=CasadoSaber
https://www.youtube.com/watch?v=cCqwh-oxEMk&t=34s&ab_channel=CasadoSaber
https://www.youtube.com/watch?v=ZwADZi_tT8k&t=168s&ab_channel=CasadoSaber
https://www.youtube.com/watch?v=cAXQaF4vIIs&ab_channel=CasadoSaber
https://www.youtube.com/watch?v=4KdL8VTEbJ4&ab_channel=CasadoSaber
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Como a gente organiza os nossos 
pensamentos através das palavras
Vivian Rio Stella 
ASSISTIR
Qual imagem você passa? 
Comunicação verbal e não-verbal 
Vivian Rio Stella 
ASSISTIR
Linguagem, poder 
e sociedade 
Vivian Rio Stella 
ASSISTIR
Neurociência e comunicação não-violenta 
Diálogo com Flavia Feitosa 
e Claudia Feitosa-Santana
ASSISTIR
Comunicação e Discursos em Tempos de Pandemia
com Maytê de Carvalho 
e Mario Vitor Santos 
ASSISTIR
https://www.youtube.com/watch?v=4R8aB7pLZHw&ab_channel=CasadoSaber 
https://www.youtube.com/watch?v=u9Ml9OCp6NQ&ab_channel=CasadoSaber 
https://www.youtube.com/watch?v=-1f5TWH_GZQ&t=84s&ab_channel=CasadoSaber
https://www.youtube.com/watch?v=CmE1vUS-Tk4&ab_channel=CasadoSaber 
https://www.youtube.com/watch?v=EE1QkuF6434&t=18s&ab_channel=CasadoSaber
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria Semiótica do Texto. 5ª.ed. São Paulo: 
Ática, 2011.
BRANDÃO, H. H. N. Introdução à Análise do Discurso. 7. ed. Campinas, SP: 
Editora da Unicamp, 1991. 
CHARAUDEAU, P. Discurso das Mídias. Trad. Angela S. M. Corrêa. São Paulo: 
Contexto, 2006). 
FIORIN, J. L. Linguagem e Ideologia. 8. ed. São Paulo: Ática, 2007. 
ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 6. ed. 
Campinas, SP: Pontes, 2005.
REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Comunicação empresarial / 
comunicação institucional: conceitos, estratégias, sistemas, estrutura, 
planejamento e técnicas / Francisco Gaudêncio Torquato do Rego. – São 
Paulo: Summus, 1986.
ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta. Técnicas para aprimorar 
relacionamentos pessoais e profissionais. 3. ed. São Paulo: Ágora, 2006
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relações interpessoais em saúde / Maria Júlia Paes da Silva. – São Paulo: 
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SCHUCH, Patrice. Tecnologias da não-violência e modernização da justiça no 
Brasil. O caso da justiça restaurativa. Civitas-Revista de Ciências Sociais, v. 8, 
n. 3, 2008.
FILE:///C:/USERS/ANA%20LUIZA/DOWNLOADS/IMG_0837(1).JPG
GUIA FILOSÓFICO DAS (NOVAS) 
QUESTÕES DA HUMANIDADE
com Clóvis de Barros Filho
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Um conteúdo original 
da Casa do Saber
Este material foi elaborado pela curadoria da Casa do Saber exclusiva-
mente para o curso Guia Filosófico das (Novas) Questões da Humani-
dade, com o professor Clóvis de Barros Filho, em setembro e outubro 
de 2021. A leitura deste material não substitui as aulas e sua reprodução 
e/ou compartilhamento de forma parcial ou total não é permitida sem a 
autorização expressa de seus criadores. 
QUEM PRODUZIU O MATERIAL 
CONTEÚDO
Guilherme Peres 
Curador da Casa do Saber 
Amanda Péchy
Curadora Assistente da Casa do Saber 
DESIGN 
Ana Luizados Santos
Designer 
FALE COM A GENTE 
suporte@casadosaber.com.br
São Paulo, 2021
AVISO
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ÍNDICE:
APRESENTAÇÃO
AULA 1 - 
PARA O FUTURO E AS INCERTEZAS, 
A CORAGEM E A RESPONSABILIDADE 
AULA 2 - 
PARA O TRABALHO E A REALIZAÇÃO PESSOAL, 
A SIMPLICIDADE E A HUMILDADE
AULA 3 - 
PARA A SOLIDÃO E O INDIVIDUALISMO, 
A GENEROSIDADE E A GRATIDÃO
AULA 4 - 
PARA A DESIGUALDADE E A DISCRIMINAÇÃO, 
O RESPEITO
AULA 5 - 
PARA O ÓDIO E A INTOLERÂNCIA, 
A TOLERÂNCIA E A COMPAIXÃO 
AULA 6 - 
PARA OPINIÕES E A BUSCA DA VERDADE, 
A PRUDÊNCIA E A BOA FÉ
AULA 7 - 
PARA A VIDA COM OS OUTROS, 
GENTILEZA E COMPAIXÃO 
AULA 8 - 
LIDAR (MELHOR) COM A MORTE E O LUTO - 
A CONSCIÊNCIA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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APRESENTAÇÃO 
Este curso ao qual você tem acesso é uma criação inédita da Casa do Saber, 
que desde 2004 tem o privilégio da companhia do professor Clóvis de Bar-
ros Filho. Ao longo dos anos, nós e todo o público fomos presenteados com 
algumas das reflexões mais provocadoras e acessíveis a respeito de nossa 
condição, nosso lugar no mundo e, sobretudo, nossas responsabilidades 
para conosco e com os outros. Explicadores como ele são capazes de mov-
imentar nossos corações e razão. De nos colocar diante de um espelho em 
que nos vemos tal como somos, mas com energia o suficiente para nos aju-
dar a descobrir quem podemos (e queremos) ser. 
Um de seus cursos mais famosos – As Grandes Questões da Humanidade, 
que virou um livro publicado em 2013 –, trazia de forma clara nossa relação 
com as ideias de liberdade, beleza, bem e mal, Deus, justiça, entre outras. 
Na esteira deste momento inédito vivido por todos no último ano, outras 
questões emergiram e se tornaram urgentes. Não que as demais tenham 
perdido relevância, pelo contrário, mas é urgente que tenhamos em mente 
alguns desafios que já se anunciaram e o que podemos fazer para lidar mel-
hor com cada um deles. Ao mesmo tempo, muitas questões podem não 
parecer novas, mas trazem novidades em como se apresentam e nos afetam 
neste contexto para o qual as respostas tradicionais parecem, às vezes, insu-
ficientes. 
Nas páginas a seguir você encontrará algumas leituras complementares às 
aulas do curso Guia Filosófico das Novas Questões da Humanidade. A cada 
encontro o professor Clóvis de Barros Filho apresenta uma questão e quais 
virtudes podem ser desenvolvidas para enfrentá-las. Para além desse de-
senvolvimento individual, uma pretensão desse conjunto de encontros é 
também estimular a reflexão e o desenvolvimento dessas virtudes com uma 
orientação para o coletivo. As duas dimensões estão presentes e são, como 
sempre, dependentes uma da outra. 
Desejamos a todos e todas uma boa jornada de aprendizado. É um prazer ter 
vocês com a Casa do Saber em mais um capítulo da nossa missão de trans-
mitir conhecimento de forma prazerosa. Para isso, ninguém melhor do que 
Clóvis de Barros Filho. Aproveite! 
Equipe da Casa do Saber
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AULA 1
PARA O FUTURO E AS 
INCERTEZAS, A CORAGEM 
E A RESPONSABILIDADE 
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Desde que as ideias sobre nossa relação com o cosmos foram organizadas 
em um sistema chamado “filosofia”, boa parte do pensamento humano foi 
dedicada a entender o sentido da existência. Não apenas nossas possíveis 
origens, mas nosso lugar no desenrolar da vida e, sobretudo, nossos des-
tinos – a curto e a longo prazo. A questão do futuro foi sempre crucial. Na 
Grécia Antiga, berço da filosofia ocidental tal qual a entendemos, conhecer 
os desígnios do destino traçado pelas Moiras poderia ser uma maldição – tal 
qual na vida de Cassandra, que previu a destruição de Tróia e até hoje segue 
como referência àquelas pessoas cujas previsões são desacreditadas –, ou 
uma missão – como em Sócrates, que considerou sua missão colocar à prova 
a declaração do oráculo do Templo de Apolo em Delfos, de que ele seria o 
homem mais sábio da Grécia. 
 
Templo de Apolo em Delfos - Grécia
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Ainda assim, pensar o futuro se tornou uma preocupação que foi além da 
religião ou das representações dos mitos. No teatro, Sófocles (497/496 a.C. 
- 406/405 a.C.) usou o enredo de um homem que quis fugir de seu destino 
e correu de encontro a ele para construir uma das tragédias mais famosas 
da humanidade. Em Édipo Rei (427 a.C.), Laio, rei de Tebas, ouve a profecia 
de que morreria pelas mãos do próprio filho recém-nascido. Ele ordena que 
Jocasta, sua esposa, mate a criança, mas ela a entrega a um servo que a 
abandona. A criança é resgatada, nomeada Édipo e levada a Corinto, onde é 
adotada pelo rei. Ao consultar o oráculo sobre sua origem, ouve que ele es-
tava destinado a desposar sua mãe e assassinar seu pai. Sem saber que não 
é filho dos reis de Corinto, foge da cidade em direção a Tebas. No caminho, 
discute com um velho e o mata, sem saber que aquele era Laio, seu ver-
dadeiro pai. Ao chegar em Tebas, se depara com a esfinge, que aterroriza 
a cidade devorando seus habitantes e viajantes enquanto não solucionar-
em seu enigma – que Édipo rapidamente resolve. A esfinge se joga de um 
penhasco e Édipo é recompensado com o trono da cidade e a mão da rainha 
viúva – Jocasta, sua mãe. É Tirésias, outro profeta, quem revela a Édipo o que 
ele cometeu e, ao final (spoilers), Édipo fura os próprios olhos e parte para o 
exílio, atormentado, em uma das histórias mais famosas da história. 
Cerâmica grega de cerca de 470 a.C. 
retratando Édipo e a esfinge (Museu do Vaticano)
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Alguns dos chamados pré-socráticos, como Demócrito, Heráclito e Par-
mênides, por exemplo, propuseram ideias que, de uma forma ou de outra, 
pautaram algumas das principais visões a respeito do que seria o devir hu-
mano. Seria tudo um aglomerado de átomos desordenados colidindo caoti-
camente, como propôs Demócrito? Um fluxo de transformações constantes 
e intermináveis, de acordo com Heráclito? Ou o que existe é apenas o ser e 
o não-ser, portanto não havemos de nos preocupar com o que (ainda) não 
é? Fiquemos apenas com Heráclito e Parmênides, cujas fontes e relatos são 
mais confiáveis. Veja abaixo, de forma mais direta, exemplos mais claros de 
suas ideias. 
Heráclito mesmo, não obstante sua crença na mudança, admitiu 
que algo não tinha fim. A concepção de eternidade (em oposição 
à duração infinita) que encontramos em Parmênides não existe em 
Heráclito, mas em sua filosofia o fogo central jamais se extingue: o 
mundo “sempre foi, é e sempre será um Fogo sempiterno”. Fogo, no 
entanto, é algo que está em constante mutação, e sua permanência 
é antes a permanência de um processo, e não de uma substância 
(RUSSELL, 2015, p. 74). 
Não podes saber o que não é – é impossível – nem proferi-lo, pois 
é um só o que pode ser pensado e o que pode existir. Como, no 
entanto, pode aquilo que é vir a ser? Ou como poderia ganhar ex-
istência? Se passou a ser, não é; tampouco é se vier a ser no futuro. 
O devir, assim, se extingue, e não se deve falar em desaparecer. 
Aquilo que pode ser pensado e aquilo porque o pensamento existe 
são o mesmo; pois não é possível encontrar pensamento sem algo 
que exista e a respeito do qual ele se exprime. (Parmênides, Sobre a 
Natureza, fragmento 8, apud LEÃO, 1991, p. 48) 
Foi Platão (428/427 a.C. - 348/347 a.C.) quem, em A República (cerca de 375 
a.C.), idealizou a primeira das utopias da filosofia – a cidade ideal, Kallipolis, 
governada por uma aristocracia de sábios, reis filósofos, imaginada na busca 
de um conceito maior sobre a justiça, que passa também sobre o destino da 
alma. Entre os campos da ética e da metafísica, o futuro foi sendo pensado, 
basicamente, a partir destas matrizes. Estoicos como Epiteto, Marco Aurélio 
e Sêneca aconselhavam que não dedicássemos energia ao que não estava 
sob nosso controle (ainda que recomendassem o exercício de lembrar da 
finitude). Com o domínio religioso sobre o pensamento, aangústia ou as pre-
ocupações com o futuro seriam fruto da falta de fé em um plano que descon-
hecemos e que não nos pertence. 
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HERÁCLITO PLATÃO
PARMÊNIDES
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Avancemos até o começo do século 19 na Dinamarca. Educado como 
pastor protestante, Søren Kierkegaard (1813-1855) é considerado o primeiro 
dos existencialistas. O sentido da existência esteve no centro de sua vasta 
produção, apesar de seu curto tempo de vida. Profundamente influenciado 
por Hegel (1770-1831), foi também um dos responsáveis por refutar algumas 
de suas ideias que vinham se tornando dominantes no pensamento europeu. 
Uma de suas proposições mais famosas é de que “o real é racional”. De for-
ma muito sucinta, Kierkegaard interpretou que a mais subjetiva das categorias 
– o “eu” – não pode ser circunscrito e definido de forma tão objetiva. A real-
idade vivida e formadora dessa subjetividade é vivida a partir de valores que 
servem de lentes às próprias realidades objetivas – os fatos. Em suma, va-
lores aos quais somos fiéis influenciam nossa visão da realidade, fazendo da 
minha realidade algo subjetivo a partir de fatos objetivos. O mundo e nossa 
percepção se influenciam e se transformam e fazem de cada pessoa aquilo 
que elas são. 
Essa experiência radical da liberdade é o que causa em nós uma sensa-
ção de angústia. Pense por um instante na consequência dessa conclusão 
para alguém profundamente cristão como Kierkegaard. Origina-se aqui um 
paradoxo: a liberdade, condição fundamental da existência, quando perce-
bida dentro das infinitas possibilidades que nos proporciona, provoca uma 
angústia que nos faz rejeitá-la. Em suas próprias palavras, a angústia difere do 
medo por não ter um objeto específico, mas por ser a “realidade da liberdade 
como possibilidade antes da possibilidade” (Kierkegaard, 2017, p. 49). Assim 
ele descreve esta condição a partir da história de Adão ao consumir o fruto 
proibido em O Conceito de Angústia: 
PARA SABER MAIS: 
clique para assistir
A REPÚBLICA DE PLATÃO
Maurício Marsola
https://youtu.be/8YBne9Ln_38
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Quando, pois, se admite que a proibição desperta o desejo, ob-
tém-se ao invés da ignorância um saber, pois neste caso Adão deve 
ter tido um saber acerca da liberdade, uma vez que o prazer consis-
tia em usá-la. Esta explicação é, portanto, a posteriori. A proibição o 
angustia porque desperta nele a possibilidade da liberdade. O que 
tinha passado desapercebido pela inocência como o nada da an-
gústia, agora se introduziu nele mesmo, e aqui de novo é um nada: 
a angustiante possibilidade de ser-capaz-de. Ela não tem nenhuma 
ideia do que é que ela seria capaz de fazer, pois de outro modo se 
pressupõe, certamente – como em geral sucede – o que só vem 
depois, a distinção entre bem e mal. Existe apenas a possibilidade de 
ser-capaz-de, enquanto uma forma superior da ignorância e enquan-
to uma expressão superior da angústia, porque esta capacidade, 
num sentido superior, é e não é, porque num sentido superior ela a 
ama e foge dela. (KIERKEGAARD, S. 2017, p. 52) 
Søren Aabye Kierkegaard foi um filósofo, teólogo, poeta e crítico social di-
namarquês, amplamente considerado o primeiro filósofo existencialista.) 
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A angústia abre as portas para o vir-a-ser, já que não há um ser fixo, de-
terminado ao qual nos agarrarmos (apesar de a angústia nos fazer desejar 
agarrar algo fixo e que nos dê referências). Devemos, para Kierkegaard, nos 
lançar neste absurdo, o que ele chamou de “salto de fé”: somos uma sínte-
se entre o finito e o infinito, ou seja, estamos inseridos no tempo, em carne 
e osso, mas destinados à indeterminação. Aqui é importante entendermos 
o conceito de repetição. Diferente da rememoração, que teria o sentido do 
passado, a repetição tem o sentido do futuro – em dinamarquês, o termo é 
Gjentagelse, com o sentido de “retomar”, “reapropriar”. É na repetição, por-
tanto, que reside a própria ideia de esperança. A cada momento de retomada 
desse devir de nós mesmos, temos a possibilidade de nos tornarmos quem 
somos. 
Voltei a ser eu mesmo; eis que tenho a repetição; entendo tudo e a 
existência surge-me agora mais bela do que alguma vez (...) Sou de 
novo eu mesmo. Este ‘eu mesmo’, que na estrada ninguém apanharia 
do chão, é outra vez meu. A cisão que havia rio meu ser está anula-
da; eis-me novamente unificado. (KIERKEGAARD, S. 2009, p. 131) 
Essa existência imediata no mundo que detém o privilégio de questionar 
é o que Martin Heidegger (1889-1976) veio a chamar de Dasein, traduzido em 
português como ser-aí. O ser-aí é também um ser-no-mundo à medida que 
habita e existe no mundo, sem estar apenas lançado sobre ele no tempo e no 
espaço. Nós, seres pensantes, não apenas existimos no mundo, mas “te-
mos” o mundo, classificando-o como uma extensão de nós mesmos a par-
tir de nossas interações com nossas realidades imediatas. A compreensão 
desta condição nos lança em infinitas possibilidades, nas quais podemos (ou 
não) assumir nossa existência de forma plena. No entanto, desviamos desse 
compromisso, acabamos por encobri-lo, e é essa fuga de nós mesmos que 
acaba determinando o ser-no-mundo de cada ser-aí. 
Para Heidegger, o traço totalizante e universal do humano é a angústia. 
Mais do que um fenômeno psicológico, ela representa a totalidade da exis-
tência como ser-no-mundo. Ela é diferente do medo, por exemplo, uma vez 
que o medo é decorrente de um objeto (temos medo de algo). A angústia, 
por sua vez, é esse incômodo sem objeto definido que nos empurra em di-
reção a outras fontes de significado como sustentação de nossa existência, 
como anuncia no texto Que é a Metafísica?, publicado em 1929: 
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Na angústia - dizemos nós - ‘a gente se sente estranho’. O que sus-
cita tal estranheza e quem é por ela afetado? Não podemos dizer 
diante de que a gente se sente estranho. A gente se sente total-
mente assim. Todas as coisas e nós mesmo afundamo-nos numa 
indiferença. Isto, entretanto, não no sentido de um simples desapa-
recer, mas em se afastando elas se voltam para nós. Este afastar-se 
do ente1 em sua totalidade, que nos assedia na angústia, nos oprime. 
Não resta nenhum apoio. Só resta e nos sobrevém - na fuga do ente 
– este ‘nenhum’. A angústia manifesta o nada. ‘Estamos suspen-
sos’ na angústia. Melhor dito: a angústia nos suspende porque ela 
põe em fuga o ente em sua totalidade. Nisto consiste o fato de nós 
próprios - os homens que somos – refugiarmo-nos no seio dos en-
tes. É por isso que, em última análise, não sou ‘eu’ ou não és ‘tu’ que 
te sentes estranho, mas a gente se sente assim. Somente continua 
presente o puro ser-aí no estremecimento deste estar suspenso 
onde nada há em que apoiar-se. (HEIDEGGER, 1999, p. 56-57) 
PARA SABER MAIS: 
A angústia tem o nada como causa e efeito, daí sua frase conhecida de 
que “o nada nadifica”. No entanto, essa é a condição que coloca a existên-
cia humana diante dela mesma. A angústia nos alerta para a nossa existência 
finita, colocando a inautenticidade e também a autenticidade como possibili-
dades de nosso ser e nos convoca a sair da inautenticidade em que vivemos 
para assumirmos, então, nossa autenticidade. Esse é o momento de virada 
da existência e quando se mostra o ser-para-a-morte. Não se trata de pensar 
nela constantemente ou algo mais vulgar, mas de entendê-la como um pro-
clique para assistir
KIERKEGAARD: 
ANGÚSTIA E ESPERANÇA
Oswaldo Giacoia Júnior
https://youtu.be/VjGGl4EREAo
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cesso da própria existência como um todo e, de forma muito particular, algo 
único de cada pessoa. É nela que cada um encontra sua verdade no tempo e 
por meio da consciência dela que temos a oportunidade de assumir a vida.
Martin Heidegger foi um filósofo, escritor e professor alemão. Foi um pensador seminal 
na tradição continental e hermenêutica filosófica, e é amplamente reconhecido como 
um dos filósofos mais originais e importantes doséculo XX
Futuro e incerteza se mostram para nós para além da questão da morte, 
mas da própria indeterminação. Não sabemos o que irá acontecer amanhã 
e, quanto mais complexo e caótico se torna o contexto em que vivemos, 
mais essa insegurança aumenta. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos 
em 2018, feita em 24 países com mais de 17 mil pessoas, mostrou que parte 
significativa da população brasileira (e mundial) é pessimista em relação ao 
futuro. 
https://www.ipsos.com/en/beyond-populism-two-years-after
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Neste ponto, vale lembrar da figura de Hans Jonas (1903-1993), aluno 
de Heidegger no final dos anos 1920. Jonas foi um dos maiores pensadores 
a tratar de forma sistemática a questão do desenvolvimento de uma ética 
que levasse em consideração o avanço tecnológico desenfreado vivido pelo 
mundo após a Segunda Guerra Mundial. Judeu, fugiu da Alemanha nazista 
para a Palestina, para depois se juntar ao exército britânico, vendo de perto 
os efeitos da guerra. 
Algumas de suas propostas em obras como O Princípio Vida (1966) e 
O Princípio Responsabilidade (1979) dizem respeito à condução do humano 
para o desenvolvimento de uma ética que fosse além do princípio moral - não 
apenas fazer o certo porque “é certo”, mas porque fazer o bem é próprio de 
uma verdadeira natureza humana. Não se trata, portanto, de um “valor”, mas 
de um “dever”. Desta forma, nossas ações não seriam orientadas por uma lei 
moral, mas pelo bem do mundo que se sobrepõe à nossa vontade. 
Para Jonas, razão e emoção devem ser complementares no que co-
nhecemos por ética. A dimensão objetiva, racional, deve ter uma motivação 
subjetiva que sustente a noção de dever. Aquilo que nossa razão nos mostra 
como relevante de existir e que necessita de nosso cuidado é o que deve 
orientar nossas ações, envolvendo aí o aspecto emocional e psicológico. O 
resultado dessa síntese é a noção de responsabilidade. Este trecho a seguir, 
nas palavras do próprio Jonas, explica essa ideia: 
PARA SABER MAIS: 
clique para assistir
A ÉTICA DA RESPONSABILIDADE
Oswaldo Giacoia Júnior
https://youtu.be/nJm2nofC0Us
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O mistério e o paradoxo da moral é que o eu deve esquecer de si 
mesmo em proveito da causa, de modo a permitir que um eu supe-
rior apareça (na verdade, um bem-em-si). Deve-lhe ser permitido 
dizer: “Eu quero poder encarar-me de frente” (ou submeter-me ao 
julgamento de Deus), mas isso só me será possível caso o que im-
porte aí seja a “causa” e não eu mesmo: nunca posso ser a causa, e 
o objeto do ato será apenas a oportunidade para tal. O homem bom 
não é aquele que se tornou um homem bom, mas aquele que fez o 
bem em virtude do bem. O bem é a “causa” no mundo, na verdade, 
a causa do mundo. A moralidade jamais pode se considerar como 
um fim (...) Não é o próprio dever que é o objeto; não é a lei moral 
que motiva a ação moral, mas o apelo do bem em si no mundo, que 
confronta minha vontade e exige obediência - de acordo com a lei 
moral. Ouvir aquele apelo é exatamente o que a lei moral ordena: isso 
é tão-somente a obediência genérica ao apelo de todos os bens 
dependentes da ação e o seu direito respectivo à minha ação. Ele 
torna meu dever aquilo que a intelecção me mostrou que é digno 
de existir por si mesmo e necessita da minha intervenção. Para que 
algo me atinja e me afete de maneira a influenciar minha vontade é 
preciso que eu seja capaz de ser influenciado por esse algo. Nosso 
lado emocional tem de entrar em jogo. E é da própria essência da 
nossa natureza moral que a nossa intelecção nos transmita um apelo 
que encontre uma resposta em nosso sentimento. É o sentimento de 
responsabilidade. (JONAS, 2006, p. 156-157) 
Apenas o respeito não é suficiente, uma vez que é orientado apenas 
pela razão. O que importa são as coisas em si mesmas e não nossa vonta-
de. O que nos liga às coisas é o sentimento de responsabilidade. Para além 
dessa relação primeira, a responsabilidade também diz respeito ao dever do 
poder. Aqueles que têm mais poder sobre aquilo que necessita de cuidados 
se ligam entre si a partir dessa noção de responsabilidade - é esse relaciona-
mento que orienta esta nova ética proposta por Jonas. O exercício do poder, 
portanto, sem a observância do dever, ou mesmo a negligência e a omissão, 
têm o nome de irresponsabilidade. Essa relação se estende, sobretudo, para 
as criações humanas (que nos humanizam, como a arte, por exemplo) e as 
gerações futuras.
Temos uma obrigação fundamental e uma ligação de responsabilidade 
com aqueles que ainda não nasceram. O que ele sustenta é que neste exer-
cício cada um garante a manutenção da humanidade em todos os seus senti-
dos, numa necessidade paradoxal de desprendimento do eu, mas que ainda 
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assim o sustenta. Desprendimento este que envolve não esperar das gera-
ções vindouras uma recompensa por nossas ações morais – nosso dever é 
garantir que tenham o direito e a possibilidade de existir, ainda que para negar 
aquilo feito em nome delas. Ainda nas palavras de Jonas: 
Ou seja, exatamente aqueles efeitos pelos quais o responsável já não 
poderá responder: a causalidade autônoma da existência protegida 
é o derradeiro objeto do seu cuidado. Em relação a esse horizonte 
transcendente, a responsabilidade, mesmo em sua totalidade, não 
pode ambicionar um papel determinante; pode ambicionar possibil-
itá-lo (ou seja, prepará-lo e manter aberta a oportunidade). O caráter 
vindouro daquilo que deve ser objeto de cuidado constitui o aspecto 
de futuro mais próprio da responsabilidade. Sua realização suprema, 
que ela deve ousar, é a sua renúncia diante do direito daquele que 
ainda não existe e cujo futuro ele trata de garantir. À luz dessa am-
plidão transcendente, torna-se evidente que a responsabilidade não 
é nada mais do que o complemento moral para a constituição on-
tológica do nosso Ser temporal. (JONAS, 2006, p. 186-187) 
Hans Jonas foi um filósofo alemão de origem judia. É conhecido principalmente devido à 
sua influente obra O Princípio Responsabilidade.
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A preocupação com o futuro e a incerteza provocam em nós uma angús-
tia que pode nos paralisar, ou nos convidar assumirmos nossa autenticidade, 
nosso si-mesmo. A angústia nos prepara para esse momento de síntese entre 
corpo e alma, sujeito e natureza, finito e eternidade. Esse tornar-se sujeito 
nos lança ao futuro numa chave de esperança e de dever em relação a algo 
que transcende o indivíduo. É a angústia a responsável, paradoxalmente, por 
nos afligir e nos dar a chave para superá-la. Antes é preciso, porém, dar o 
“salto no abismo”. Abrir mão de si para ser capaz de (re)encontrar a si mes-
mo e, nessa retomada, recomeçar. Esse tipo de pensamento reverbera ainda 
em diferentes vertentes e origens do pensamento, dentro ou fora do que se 
convencionou chamar de “tradição”, e se tornou uma das principais preocu-
pações de parte significativa da intelectualidade. Talvez não do restante do 
mundo. O brasileiro Ailton Krenak anuncia em Ideias para Adiar o Fim do Mun-
do sua versão de uma reflexão a respeito de nossa ligação com o mundo e o 
que ainda há de vir: 
Quando, por vezes, me falam em imaginar outro mundo possível, é 
no sentido de reordenamento das relações e dos espaços, de no-
vos entendimentos sobre como podemos nos relacionar com aquilo 
que se admite ser a natureza, como se a gente não fosse natureza. 
Na verdade, estão invocando novas formas de os velhos manjados 
humanos coexistirem com aquela metáfora da natureza que eles 
mesmos criaram para consumo próprio. Todos os outros humanos 
que não somos nós estão fora, a gente pode comê-los, socá-los, 
fraturá-los, despachá-los para outro espaço. O estado de mundo que 
vivemos hoje é exatamente o mesmo que os nossos antepassados 
recentes encomendaram para nós. Na verdade, a gente vive recl-
amando, mas essa coisa foi encomendada, chegou embrulhada e 
com o aviso: “Depois de abrir, não tem troca”. Há duzentos, trezen-

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